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Levy fez parte da ‘farra dos guardanapos’ Trump perde governo de 7 estados e controle da Câmara Pág. 7 Secretário da Fazenda de Cabral presidirá o BNDES de Bolsonaro Especialista em corte, recessão e desemprego de gestões Lula e Dilma olsonaro confirmou, na segunda-feira (12/11), que pretende nomear Joaquim Levy para a presidência do BNDES. Imprensado até por seus apoiadores – um deles chegou a lembrar a relação aprochegada de Levy com o capo da JBS, Joesley Batista, Bolsonaro disse que a decisão de nomear Levy foi “do Paulo Guedes, que pediu um voto de confiança”. Levy foi secretário da Fazenda do governo Sérgio Cabral, no Rio de Janeiro – quando parti- cipou da farra, em Paris, onde a quadrilha de Cabral espargiu euforicamente o resultado da sua corrupção. Página 3 14 e 15 de Novembro de 2018 ANO XXIX - Nº 3.682 Juízes do Trabalho: nem na ditadura o ministério foi extinto Corte de direitos trabalhistas só gerou camelôs Um ano após entrar em vigor, a reforma trabalhista, que retirou direitos funda- mentais dos trabalhadores, não gerou a recuperação do emprego pregada por seus defensores. Segundo dados do IBGE, são 12,5 milhões de desempregados. O número de trabalhadores informais (ca- melôs) cresceu 2,55% e de sem carteira, 5,51%. Página 4 Nas bancas toda quarta e sexta-feira 1 REAL BRASIL Agrotóxicos terão muito espaço no Ministério, diz “Musa do veneno” A deputada Tereza Cristina (DEM-MS), conhecida entre os ruralistas como a “Musa do Ve- neno”, escolhida para assumir o Ministério da Agricultura no governo de Bolsonaro, afirmou na última quinta-feira (8), que as modificações nas regras so- bre agrotóxicos terão “muito espaço” para discussões dentro da pasta. Para ela, o descontrole no uso de veneno na agricultura é “modernização”, é “dar a op- ção do produtor brasileiro usar as mesmas moléculas que são usadas lá fora”. Página 4 A informação oficial forneci- da pelo Twitter e Facebook ao Tribunal Superior Eleitoral de que a campanha de Bolsonaro não pagou pelos impulsiona- mentos de mensagens durante a disputa eleitoral confirma a de- Facebook e Twitter confirmam que Bolsonaro não usou caixa 1 para pagar impulsionamentos núncia feita pela repórter da Fo- lha de S. Paulo, Patrícia Campos Mello. Ela revelou um esquema milionário e ilegal de disparos em massa de mensagens bancadas por empresas privadas em apoio a Jair Bolsonaro. Página 3 O governo do Maranhão editou na manhã desta segunda- feira (12) o decreto que garante “Escolas com Liberdade e Sem Governador do MA faz decreto garantindo liberdade nas escolas Censura no Maranhão”. Assi- nado pelo governador Flávio Dino (PCdoB), o decreto será publicado nesta semana. Pág. 3 MP dá R$ 1,5 bi ao ano a montadoras com isenção fiscal Em menos de 24 horas, com os votos da bancada bolsonarista, foi conver- tida em lei e sancionada a Medida Provisória de Te- mer que garante às monta- doras isenções fiscais de R$ 1,5 bilhão por ano, por um período de 15 anos. Uma orgia de doação do dinheiro público para multinacionais. Pág. 2 Documento contra a extin- ção do Ministério do Trabalho foi assinado pela Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anama- tra), Colégio de Presidentes e Corregedores dos Tribunais Regionais do Trabalho (Cole- precor), Associação Nacional dos Procuradores do Tra- balho (ANPT), e Associação Brasileira dos Advogados Trabalhistas (Abrat) e pelo procurador-geral do Traba- lho, Ronaldo Fleury. Pág. 4 Ato de servidores no Ministério do Trabalho Reprodução Cesar Itiberê - PR Bruno Poletti - Folhapress

Secretário da Fazenda de Cabral presidirá o BNDES de Bolsonaro · da Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT), Ângelo Fabiano Farias da Costa; e a dirigen-te da

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Page 1: Secretário da Fazenda de Cabral presidirá o BNDES de Bolsonaro · da Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT), Ângelo Fabiano Farias da Costa; e a dirigen-te da

Levy fez parte da ‘farra dos guardanapos’

Trump perde governo de 7 estados e controle da CâmaraPág. 7

Secretário da Fazenda de Cabral presidirá oBNDES de BolsonaroEspecialista em corte, recessão e desempregode gestões Lula e Dilma

olsonaro confirmou, na segunda-feira (12/11), que pretende nomear Joaquim Levy para a presidência do BNDES. Imprensado até por seus

apoiadores – um deles chegou a lembrar a relação aprochegada de Levy com o capo da JBS, Joesley Batista, Bolsonaro

disse que a decisão de nomear Levy foi “do Paulo Guedes, que pediu um voto de confiança”. Levy foi secretário da Fazenda do governo Sérgio Cabral, no Rio de Janeiro – quando parti-cipou da farra, em Paris, onde a quadrilha de Cabral espargiu euforicamente o resultado da sua corrupção. Página 3

14 e 15 de Novembro de 2018ANO XXIX - Nº 3.682

Juízes do Trabalho: nem na ditadura o ministério foi extinto

Corte de direitos trabalhistas só gerou camelôs

Um ano após entrar em vigor, a reforma trabalhista, que retirou direitos funda-mentais dos trabalhadores, não gerou a recuperação do emprego pregada por seus defensores. Segundo dados do IBGE, são 12,5 milhões de desempregados. O número de trabalhadores informais (ca-melôs) cresceu 2,55% e de sem carteira, 5,51%. Página 4

Nas bancas toda quarta e sexta-feira

1REAL

BRASIL

Agrotóxicos terão muito espaço no Ministério, diz “Musa do veneno”

A deputada Tereza Cristina (DEM-MS), conhecida entre os ruralistas como a “Musa do Ve-neno”, escolhida para assumir o Ministério da Agricultura no governo de Bolsonaro, afirmou na última quinta-feira (8), que as modificações nas regras so-

bre agrotóxicos terão “muito espaço” para discussões dentro da pasta. Para ela, o descontrole no uso de veneno na agricultura é “modernização”, é “dar a op-ção do produtor brasileiro usar as mesmas moléculas que são usadas lá fora”. Página 4

A informação oficial forneci-da pelo Twitter e Facebook ao Tribunal Superior Eleitoral de que a campanha de Bolsonaro não pagou pelos impulsiona-mentos de mensagens durante a disputa eleitoral confirma a de-

Facebook e Twitter confirmam que Bolsonaro não usou caixa 1 para pagar impulsionamentos

núncia feita pela repórter da Fo-lha de S. Paulo, Patrícia Campos Mello. Ela revelou um esquema milionário e ilegal de disparos em massa de mensagens bancadas por empresas privadas em apoio a Jair Bolsonaro. Página 3

O governo do Maranhão editou na manhã desta segunda-feira (12) o decreto que garante “Escolas com Liberdade e Sem

Governador do MA faz decreto garantindo liberdade nas escolas

Censura no Maranhão”. Assi-nado pelo governador Flávio Dino (PCdoB), o decreto será publicado nesta semana. Pág. 3

MP dá R$ 1,5 bi ao ano a montadoras com isenção fiscal

Em menos de 24 horas, com os votos da bancada bolsonarista, foi conver-tida em lei e sancionada a Medida Provisória de Te-mer que garante às monta-

doras isenções fiscais de R$ 1,5 bilhão por ano, por um período de 15 anos. Uma orgia de doação do dinheiro público para multinacionais. Pág. 2

Documento contra a extin-ção do Ministério do Trabalho foi assinado pela Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anama-tra), Colégio de Presidentes e Corregedores dos Tribunais Regionais do Trabalho (Cole-precor), Associação Nacional dos Procuradores do Tra-balho (ANPT), e Associação Brasileira dos Advogados Trabalhistas (Abrat) e pelo procurador-geral do Traba-lho, Ronaldo Fleury. Pág. 4

Ato de servidores no Ministério do Trabalho

Reprodução

Cesar Itiberê - PR

Bruno Poletti - Folhapress

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2 POLÍTICA/ECONOMIA 14 E 15 DE OUTUBRO DE 2018HP

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Bolsonaro ameaça fazer do Ministério do Trabalho um puxadinho de outro qualquer

Juízes do Trabalho: ‘Nem na ditadura Ministério foi extinto’

Dirigentes do Mi-nistério Público do Trabalho e associa-ções trabalhistas

divulgaram nota repudiando a extinção do Ministério do Trabalho, conforme anun-ciado por Jair Bolsonaro. Segundo as organizações, “a proposta de fusão da pasta com o Ministério da Indústria e Comércio sina-liza negativamente para um retorno do Brasil à década de 1920”.

“Durante os seus qua-se 88 anos de existência, o Ministério do Trabalho passou por várias alterações estruturais, mediante a fu-são e separação de outros ministérios ou secretarias, com acréscimos e diminui-ções de suas competências. Em nenhum momento his-tórico, porém – nem mesmo nos lapsos de intervenção autoritária –, o Ministério do Trabalho perdeu a sua centralidade, o status de ministério ou, mais impor-tante, a condição de órgão federal responsável por gerir e organizar as relações entre capital e trabalho”, diz o documento.

De acordo com o texto, “sob o comando do Minis-tério do Trabalho, o Brasil modernizou e equilibrou as relações de trabalho em sua transição de uma economia eminentemente agrícola para a industrial, possibi-litando o desenvolvimento econômico conjugado com estratégias de proteção física e mental dos trabalhadores, tudo em consonância com os princípios e diretrizes da Constituição de 1988”.

Conforme as organiza-ções, “o Ministério do Tra-balho sempre foi o principal elemento de referência, ao qual foram agregados outros órgãos, segundo a conveni-ência política e organizacio-nal dos períodos respectivos. Jamais o valor ‘trabalho’ foi politicamente secundariza-do, tanto menos omitido”.

As organizações des-tacam a competência do Ministério do Trabalho na política e diretrizes para a geração de emprego e renda

e de apoio ao trabalhador; fiscalização do trabalho, inclusive do trabalho por-tuário, bem como aplicação das sanções previstas em normas legais ou coletivas; política salarial; segurança e saúde no trabalho, entre outras atividades.

“Não fossem as conquis-tas históricas, por si só su-ficientes para justificar a manutenção do Ministério, há que salientar os muitos desafios que se avizinham em futuro próximo, notada-mente no que atine à acele-ração das inovações tecnoló-gicas e a perspectiva de seu profundo impacto no mundo do trabalho”, diz a nota.

“Dessa forma, as signatá-rias posicionam-se contraria-mente à proposta de extinção ou fusão do Ministério do Trabalho, por entender que qualquer iniciativa desse jaez gerará irreversível dese-quilíbrio nas relações entre capital e trabalho”.

O documento é assinado pelo procurador-geral do Trabalho, Ronaldo Cura-do Fleury; o presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), Gui-lherme Guimarães Feliciano; o presidente do Colégio de Presidentes e Corregedores dos Tribunais Regionais do Trabalho (Coleprecor), Wil-son Fernandes; o presidente da Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT), Ângelo Fabiano Farias da Costa; e a dirigen-te da Associação Brasileira dos Advogados Trabalhistas (Abrat) Alessandra Camara-no Martins.

No dia 6, o próprio Mi-nistério do Trabalho já ha-via divulgado nota contra a proposta de Bolsonaro, declarando que “é segura-mente capaz de coordenar as forças produtivas no melhor caminho a ser trilhado pela nação brasileira”.

E o ministro do TST Ale-xandre Agra Belmonte decla-rou que “em um momento de desemprego e trabalho informal, se há um país que precisa de um Ministério do Trabalho, é o Brasil”.

Ato de servidores na Esplanada contra extinção da pasta do Trabalho

Petrobrás: lucro desmente incapacidade de investir

Temer passeia pelo “Sa-lão do Automóvel”, em São Paulo. Foto: Cesar Itiberê-PR

Em menos de 24 horas, foi aprovado no Congresso Nacional e regulamentado por Temer o Projeto de Lei de Conversão (PLV) 27/2018, resultante da Me-dida Provisória 843/18, que garante às montadoras isenções fiscais de R$ 1,5 bilhão por ano, por um período de 15 anos.

Já nos próximos anos, o total da renúncia pode ser ainda maior. Segundo pro-jeções da Receita Federal, o texto original da MP impli-ca renúncia fiscal de cerca de R$ 2,11 bilhões em 2019 e de R$ 1,64 bilhão em 2020.

Temer anunciou que iria regulamentar o projeto du-rante uma vista ao “Salão do Automóvel”, na capital paulista, na quinta-feira (8), antes mesmo de sua aprovação no Senado, que ocorreu também no dia 8.

“Imagina se eu estou aqui prestes a assinar o decreto regulamentar e de repente vem a notícia de que não houve quórum ou que foi desaprovada a medida [no Senado]?”. “Eu sairia debaixo de vaias. Agora vou sair debaixo de aplausos.”, disse Temer aos representantes das multinacionais, após a con-firmação do Senado.

A MP cria o programa denominado “Rota 2030”, que substitui o programa Inovar-Auto, criado por Dilma em 2013, que estipu-lava descontos de até 30% no IPI (Imposto sobre Pro-dutos Industrializados), entre outros benefícios, e que vigorou até 2017.

O programa de Temer continua com as mesmas características de desone-ração de impostos. A MP foi aprovada pelo plenário do Senado, em vinte e dois minutos de sessão. A ma-téria havia sido aprovada, também “a toque de caixa”, na quarta-feira (7) pela Câ-mara dos Deputados.

“Essas isenções repre-sentam uma renúncia fiscal de R$ 2 bilhões e eu não consigo entender como os

governos no Brasil sim-plesmente preferem prio-rizar a indústria automo-bilística e não a questão de remédios”, disse o senador do DF, José Regu-ffe (sem partido), único a votar contra o projeto. “É dinheiro do contribuinte. Não posso concordar”, disse o senador.

Trata-se de uma le-gislação sob medida para acolher interesses do se-tor automotivo, lhes pro-piciando redução de im-postos para realizarem, em tese, investimentos em pesquisa e desenvol-vimento de produtos e tecnologias.

Segundo o artigo 11º. do projeto, as empresas poderão “deduzir do Im-posto sobre a Renda das Pessoas Jurídicas – IRPJ e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL devidos, o valor correspondente à aplica-ção da alíquota e adicional do IRPJ e da alíquota da CSLL sobre até 30% (trin-ta por cento) dos dispên-dios realizados no País”.

Os dispêndios seriam, conforme os incisos sub-sequentes, “ I – pesquisa, abrangidas as atividades de pesquisa básica diri-gida, pesquisa aplicada, desenvolvimento experi-mental e projetos estru-turantes; e II – desenvol-vimento, abrangidas as atividades de desenvol-vimento, capacitação de fornecedores, manufatu-ra básica, tecnologia in-dustrial básica e serviços de apoio técnico”.

O projeto tem ainda o agravante, repetindo o Inovar -Auto, de deixar os beneficiários desamar-rados em relação a pres-tação das contrapartidas que, em princípio, justifi-cariam as desonerações.

O artigo 13º. que disci-plinaria o controle através de um denominado “Gru-po de Acompanhamento do Programa Rota 2030 – Mobilidade e Logística” – composto por represen-tantes do Ministério da Fazenda, do Ministério da Indústria, Comércio

Exterior e Serviços, e do Ministério da Ciência, Tec-nologia, Inovações e Co-municações – fixa em seus incisos que esse grupo “de-verá ser implementado até 31 de dezembro de 2018; II – terá o prazo de seis meses, após sua implemen-tação, para definir os crité-rios para monitoramento e avaliação dos impactos do Programa”.

Com isso, a desonera-ção está garantida, mas o controle – ou, “monitora-mento”, como diz a lei, fica para depois.

Até porque “investi-mento” não é o objetivo das multinacionais. O ob-jetivo delas é obter o maior lucro possível para, prin-cipalmente, remeter para as suas matrizes. No ano passado, o setor triplicou o envio de lucros a suas matrizes no exterior em relação ao ano anterior. De acordo com o Banco Central (BC), foram R$ 232 milhões enviados para fora do país em 2017.

E para aumentarem seus lucros, fazem o que for possível para pagar o me-nor salário que puderem. Isso quando não são agra-ciadas com medidas que permitem a essas empresas reduzirem nominalmente os salários dos trabalhado-res, como foi o caso da farsa do “Programa de Proteção ao Emprego”, criado por Dilma em 2015.

O programa permitiu que as empresas, prin-cipalmente as do setor automobilísticos, redu-zissem os salários em até 30%. O foco do programa era “evitar demissões”. No entanto, não foi o que ocorreu. Em 2015, foram demitidos 14,7 mil traba-lhadores e, em 2016, mais 9,3 mil demitidos.

E como o plano é au-mentar os lucros, as em-presas também deixaram claro que essa medida não reduzirá o valor dos carros no país: “Este não é o objetivo”, disse o pre-sidente da associação das montadoras (Anfavea), Antonio Megale.

A Petrobrás anunciou na terça-feira (6) seu balanço financeiro, registrando um lucro líquido de R$ 6,644 bilhões no 3º trimestre deste ano e de R$ 23,7 bilhões no acumulado do ano.

O resultado do 3º trimestre poderia ter sido melhor não fosse o pagamento, sem necessidade, de R$ 3,5 bilhões a acionistas norte-americanos. Segundo a Petrobrás, excluindo as provisões feitas para paga-mentos nos Estados Unidos, o lucro líquido seria de R$ 10,269 bilhões no 3º trimestre e de R$ 28 bilhões no acumulado do ano.

“Os números divulgados pela Petrobrás são resultado de investimentos feitos ante-riormente, principalmente na produção do pré-sal. O resultado contradiz a declaração de Bolsonaro de que a Petrobrás não tem capacidade de investir”, afirmou o vice-pre-sidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás, Fernando Siqueira.

Em carta a Bolsonaro, a Aepet diz que “a produção de petróleo no país deve ser compatível com o nível de consumo interno, admitindo-se pequena margem de exporta-ção, ao contrário da alienação e extração predatória em benefício de multinacionais, privadas e estatais, estrangeiras”.

“O Brasil tem um mercado interno que é grande, e tem potencial de expansão, ao contrário de muitos países exportadores de petróleo. A melhor forma de utilizá-lo é na criação e suprimento de complexo fabril e no desenvolvimento do consumo interno, como fazem as grandes economias mun-diais”, acrescentou.

A Petrobrás atribuiu o resultado do ter-ceiro trimestre principalmente às maiores margens de lucro nas vendas de derivados no Brasil e nas exportações – impulsiona-das pelo aumento do preço do barril de petróleo – e ao aumento nas vendas de óleo diesel. Além disso, a Petrobrás recebeu R$ 1,6 bilhão do governo federal referente ao programa de subvenção do diesel.

A estatal teve ainda ressarcimento de R$ 1, 7 bilhão de recursos recuperados pela operação Lava Jato.

O faturamento da companhia alcançou R$ 98,26 bilhões no 3º trimestre, uma alta de 16% ante o período entre abril e junho.

O lucro da Petrobrás superou o dos maiores bancos do Brasil. Na semana passada, o Itaú registrou lucro de R$ 6,25 bilhões e o Bradesco, de R$ 5 bilhões. A Vale teve lucro de R$ 5,75 bilhões.

A dívida líquida da Petrobrás aumentou 4%, passando de R$ 280,75 bilhões em de-zembro de 2017 para R$ 291,83 bilhões em setembro deste ano. A companhia disse que o aumento se deve “à depreciação do real frente ao dólar”. Em dólares, a dívida líqui-da da estatal atingiu US$ 72,88 bilhões, o que representa uma redução de 14% em relação a dezembro de 2017.

De acordo com a Companhia, “nossa produção total de petróleo e gás natural nos nove primeiros meses de 2018 foi de 2 milhões 617 mil barris de óleo equivalente (boe), 6% menor em relação ao mesmo período de 2017. Esse desempenho se deve, principalmente, ao desinvestimento [entrega] dos campos de Lapa e Roncador”.

Em suma: a venda de ativos totalizou apenas R$ 3 milhões no trimestre, em função da suspensão, por decisões judi-ciais, de processos de venda da unidade de gasodutos no Nordeste (TAG). No ano, a Petrobrás acumula R$ 16,8 bilhões em “desinvestimentos”.

Conforme a Apet, “a estratégia de desin-vestimento da Petrobrás tem por objetivo transformá-la numa empresa insignifican-te. Todos sabem da importância das pe-troleiras manterem atividades integradas (do poço ao posto). Assim atuam todas as grandes petroleiras do mundo”.

“Portanto, a política de desinvestimento da Petrobrás é uma parte deste processo de entrega do pré-sal e desmonte da petrolífera brasileira. É parte de um plano de ação de um governo de colonizadores, que só pensa em explorar o país e seu povo. Em nenhum momento em seu desenvolvimento”, frisou a Aepet.

A produção industrial de São Paulo, maior e mais desen-volvido parque fabril do país, caiu em setembro pelo tercei-ro mês consecutivo segundo dados detalhados regional-mente divulgados pelo Insti-tuto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na última sexta-feira (09).

O resultado teve grande impacto sobre a média nacio-nal - de -1,8% em setembro ante agosto - por se tratar do estado que representa 33% da produção nacional.

Além disso, não se trata de uma variação negativa qual-quer: apenas de um mês para o outro, o tombo em setembro foi de -3,9% disseminado por quase todos os macrossetores da indústria.

“O retrocesso da indústria brasileira é o retrocesso da indústria paulista”, afirma em análise o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento In-dustrial (IEDI).

A queda no nono mês do ano, igualmente, não se trata de uma informação isolada: encerra um período de três meses em que a indústria paulista acumulou queda de 1% - o primeiro trimestre ne-gativo desde o início de 2017. O setor produtivo do Brasil seguiu a mesma tendência. Antes do tombo de setembro, já havia registrado resultados negativos em agosto (-0,7%) e em julho (-0,2%).

“Foram três meses de per-das recorrentes de produção na série com ajuste sazonal, o que não ocorria desde o final de 2015, um ano de crise aguda para o setor. Em setembro, a retração chegou a -1,8% ante agosto e acabou contaminan-do o desempenho da maior parte de seus segmentos e

dos parques industriais mais importantes do país”, diz o estudo do Iedi.

Além de São Paulo, outros parques industriais represen-tativos do país também viram sua produção ruir em setem-bro. É o caso do Amazonas (-5,2%), Bahia (-3,3%), Paraná (-3,1%), Minas Gerais (-1,9%), Santa Catarina (-1,8%) e Re-gião Nordeste (-1,9%).

“Em outras palavras, re-gionalmente o “núcleo duro” da indústria brasileira não se saiu bem. Mesmo aquelas localidades em que houve melhora, como Rio Grande do Sul, além de Goiás e Espírito Santo, somente recuperaram o tempo perdido, já que tiveram resultados anteriores anêmi-cos, quando não negativos”.

PREVISÕES

“Se este padrão vier a se repetir nos próximos meses, 2018 será ainda mais fraco do que aquela de 2017”, analisa o Iedi. Portanto, não há men-tira maior do que dizer que o país está em um processo ascendente de recuperação econômica.

Questões como o desem-prego e subemprego elevados a níveis de recorde histórico, salários arrochados, investi-mento público em queda e as perspectivas sobre a adoção de uma política econômica ainda mais recessiva e submissa aos interesses do capital financeiro parasitário a partir de 1º de janeiro, refletem também nos índices de confiança e intenção de investimento dos empresá-rios industriais. Em outubro, o índice criado pela Fundação Getúlio Vargas voltou a cair e atingiu níveis semelhantes aos de 2016.

MP isenta montadoras em R$ 1,5 bi por ano com votação relâmpago

Produção industrial de SP tomba -3,9% em setembro

J. AMARO

SP: Temer passeia pelo “Salão do Automóvel”. Foto: Cesar Itiberê/PR

VALDO ALBUQUERQUE

PRISCILA CASALE

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3POLÍTICA/ECONOMIA14 E 15 DE NOVEMBRO DE 2018 HP

Joaquim Levy vai presidir o BNDES de Jair Bolsonaro

Foi também ministro da Fazenda de DilmaCiro: ‘em 9 dias, equipe de Bolsonaro abriu três crises na política externa’

Paulo Guedes e Bolsonaro escolheram Joaquim Levy para o cargo

Reprodução/Facebook

Ex-governador do CE e ex-ministro

Governador Flávio Dino faz decreto garantindo liberdade nas escolas

Filho de Bolsonaro: “se prender 100 mil pessoas , qual o problema nisso?”

G1

O ex-governador Ciro Gomes (PDT) afir-mou, em entrevista a Roberto D’Ávila, da GloboNews, no sábado (10), que as primeiras declarações do novo governo sobre política externa são desastrosas para o Brasil. “Cada declaração mais escandalosa e inábil do que as outras”, disse. “Em nove dias”, disse Ciro, “Paulo Guedes abriu três conflitos desneces-sários. Com o Mercosul, uma declaração de que o bloco não é prioridade. Com a China, os ridículos acenos à ilha de Taiwan fizeram Bolsonaro tomar um editorial de alerta do jornal informal do governo chinês. E esses são nada mais do que o primeiro e o terceiro parceiros comerciais do Brasil. E, por fim, uma declaração boba da mudança da embai-xada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém”. “Isso nos leva para um contexto onde o Brasil nunca teve problemas”, avisou Ciro.

O importante alerta de Ciro Gomes, no entanto, passou desapercebido, por dois mo-tivos. O primeiro foi o destaque exagerado da mídia para o relato que ele fez de mais uma baixaria de Guedes, e que foi desmentida pelo arrivista, sobre que dimensão seria dada às privatizações. Diante de tantas outras aberrações saídas das hostes bolsonaristas nos últimos dias, natural que Ciro admitisse ter realmente partido de Guedes mais esse besteirol. Mas, neste caso, surpreendente-mente, não era de Guedes a fala escatológica. Se fosse o Alexandre Frota, talvez ninguém duvidasse. O segundo motivo foi o foco exa-gerado dado para as críticas dos petistas às declarações do ex-governador sobre os erros do partido.

Leia mais trechos da entrevista de Ciro em www.horadopovo.org.br

SÉRGIO CRUZ

Guedes tenta dar carteirada no Congresso e Bolsonaro cancela reuniões com o Legislativo

“O Congresso é so-berano, independente e não tem prensa por aqui”, disse o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, Tasso Jereissati (PSDB--CE), sobre as declarações de Paulo Guedes, que Bol-sonaro quer entronizar como “ministro da Eco-nomia”, de que é necessá-rio dar uma “prensa” nos parlamentares, para que eles aprovem o ataque à Previdência antes do fim do ano – ou seja, antes da posse de Bolsonaro.

“A primeira coisa que esse governo vai ter de aprender”, disse Jereissa-ti, “é a ter mais cuidado com as palavras”.

Um dos mais notórios apoiadores de Bolsonaro, o deputado Alberto Fra-ga (DEM-DF), também repeliu as declarações de Guedes: “O ministro Paulo Guedes precisa entender que aqui, para votar, tem de ter voto. E hoje não tem. Quem tem de ficar com esse ônus é o novo governo”.

REUNIÕESBolsonaro, no sába-

do (10/11), cancelou as reuniões que estavam marcadas com o presi-dente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), e da

Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), depois que o primeiro defendeu que Bolsonaro encaminhasse sua proposta de “reforma da Previdência” depois de empossado – e o segundo declarou que “o impor-tante é ver se há ou não condições de votar”.

A assessoria de Bol-sonaro, no entanto, não informou o motivo do cancelamento. Apenas emitiu um breve comuni-cado: “O presidente eleito cancelou a visita ao Con-gresso Nacional que faria na próxima terça-feira. Seguirá da Base Aérea di-reto para o CCBB [Centro Cultural Banco do Brasil, onde está sediada sua equipe de transição]”.

Após o cancelamento das reuniões, a presi-dência do Senado emitiu nota, em que Eunício afir-ma que continua pronto “para o diálogo e o enten-dimento sobre assuntos que ele [Bolsonaro] achar que o Congresso e o Sena-do devem avaliar”.

“NÃO QUERO”Na terça-feira (06/11),

Guedes, em reunião com os presidentes do Senado e da Câmara – e com o líder do governo no Se-nado, Fernando Bezerra (MDB-PE) – exigiu que

o Congresso aprovasse imediatamente a mal cha-mada “reforma da Previ-dência”, porque, disse ele, fazer isto no ano que vem seria “tumultuado”.

“Se o sr. acha que vai ser tumultuado ano que vem, imagina como vai ser esse ano”, respondeu Eu-nício Oliveira, segundo seu relato ao site BuzzFeed.

No entanto, Eunício disse a Guedes que “o que eu puder fazer para ajudar, estou pronto”, referindo-se a modificar o Orçamento – a Lei Orçamentária Anual (LOA) – de acordo, pelo menos parcialmente, com o que Bolsonaro e Guedes quisessem.

Mas, disse o presi-dente do Senado, “ele [Guedes] olhou para mim e disse que orça-mento não é importan-te, importante é aprovar Reforma da Previdên-cia. Ele me disse: ‘vocês não aprovam orçamen-to, orçamento eu não quero que aprove não‘”.

Eunício respondeu: “Mas não é o senhor que-rer, a Constituição diz que só podemos sair em recesso após a aprovação [do Orçamento]”.

Continue lendo em www.horadopovo.org.br

C.L.

Presidente da OAS: “fui convocado por Lula para fazer a reforma do sítio”

O depoimento do ex-presidente da OAS, José Aldemário Pinhei-ro, conhecido como Léo Pinheiro, interroga-do pela juíza Gabriela Hardt, no processo da propina que Lula rece-beu, através das obras no sítio de Atibaia, teve uma caracterís-tica diferente daquele de Marcelo Odebrecht.

A diferença é que Pinheiro tratou direta-mente com Lula as obras do sítio pagas pelas OAS.

Disse, na sexta-fei-ra, o ex-presidente da OAS à juíza Hardt:

“Em fevereiro de

O deputado fede-ral Eduardo Bolsonaro (PSL), filho do presi-dente eleito, afirmou em entrevista publi-cada na segunda-feira (12) que quer a crimi-nalização do MST e que “se fosse necessário prender 100 mil pesso-as” não vê problema.

“Eles impõem o ter-ror para ganhar um benefício por outro lado. É isso que a gente visa combater. Isso aí é ter-rorismo. É a intenção de levar o terror para ame-drontar as pessoas. Se fosse necessário pren-der 100 mil pessoas, qual o problema nisso? Eu vejo problema em deixar cem mil pessoas com esse tipo de índole, achando que invasão de terras é algo normal, livres para cometer seus delitos. Esse é meu prin-cipal receio. Eu quero dificultar a vida dessas pessoas”, declarou.

O parlamentar dei-xou clara sua intenção de atuar para tipificar como terrorismo a ação de movimentos sociais como o dos trabalha-dores sem terra. Se a atuação do MST for nesse teor, já existe a lei antiterrorista para enquadrar tal atuação. Mas o que Eduardo Bol-sonaro quer é um meca-nismo específico para criminalizar o MST, o que é um absurdo, é antidemocrático.

Ao defender sua pro-posta de criminalizar o MST, ele contradiz o juiz federal Sérgio

Moro, indicado para o Ministério da Justiça, que disse em entrevista que “não é consistente” classificar os movimen-tos sociais como organi-zações terroristas.

Na entrevista publi-cada pelo jornal “O Esta-do de S. Paulo”, Eduardo Bolsonaro acrescentou que sua proposta tam-bém é criminalizar os comunistas. Ao defender sua ideia, comentou: “Ué, o nazismo é crimi-nalizado”.

E citou países como Ucrânia, Polônia e In-donésia – países go-vernados por cúpulas de dirigentes fascistas – como exemplo de cri-minalização. O filho de Bolsonaro foi ques-tionado que nos EUA, considerado por ele próprio como modelo de democracia, não cri-minaliza os comunistas e o partido é legalizado. Eduardo Bolsonaro saiu pela tangente, lembran-do o período da guerra fria que, segundo ele, os EUA venceram.

O entrevistador ain-da confrontou E. Bol-sonaro que parlamen-tares do próprio PSL, como o general Peter-nelli e o Major Olímpio, já disseram que não vai para frente propostas de criminalização. “A gente sabe que é difícil, mas você apresentando você chama para o de-bate”, saiu-se com essa resposta.

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W. F.

Redes sociais confirmam que campanha de Bolsonaro não pagou os impulsionamentos

A informação oficial, fornecida pelo Twitter e Facebook ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de que a campanha de Jair Bolsonaro não pagou pelos impulsionamentos de mensagens durante a disputa eleitoral deixa o presidente eleito em maus lençóis. A denún-cia, feita pela repórter do jornal “Folha de S. Paulo”, Patrícia Cam-pos Mello, revelou um esquema milionário e ilegal de disparos em massa de mensagens bancadas por empresas privadas em apoio ao candidato do PSL.

Segundo a reporta-gem, as empresas fi-nanciaram Bolsonaro comprando serviços de “disparo em massa” e usando a base de usuários do candidato do PSL ou bases vendidas por agên-cias de estratégia digital.

Os contratos, de até R$ 12 milhões cada um, usaram marketing digital que dispararam centenas de milhões de mensagens no WhatsApp em apoio a Bolsonaro. Isso é conside-rado financiamento em-presarial de campanha, que está proibido desde 2015. É duplamente cri-minoso. Financiamento por empresas e, como não está registrado pela campanha, é também ‘caixa dois’.

Entre as agências que prestaram esses serviços estão a Quickmobile, a Yacows, Croc Services e SMS Market. As infor-mações foram enviadas após o ministro Luís Ro-berto Barroso, relator da prestação de contas de Bolsonaro no TSE, deter-minar que as empresas informem se a campanha pagou pelo impulsiona-mento de conteúdo. Uma

das empresas privadas que bancou os esquemas ilegais de Bolsonaro foi a Havan de Luciano Hang.

“O Twitter Brasil ave-riguou internamente e foi constatado que as contas verificadas do candidato Jair Messias Bolsonaro e do partido político Partido Social Liberal (PSL) – @jairbol-sonaro e @psl_nacional, respectivamente – não contrataram impulsio-namento de qualquer conteúdo, seja este elei-toral ou não”, informou a empresa. Já o Facebook informou que a página e as contas oficiais do can-didato eleito divulgadas pelo próprio TSE “não contrataram impulsio-namento de conteúdos no período entre 16 de agosto de 2018 e 28 de outubro de 2018”.

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2014, possivelmente no final do mês, eu fui convocado pelo ex--presidente Lula para um encontro no Insti-tuto Lula.

“Chegando lá, ele me explicou que queria fazer uma reforma, não era uma reforma grande, num sítio em Atibaia, em uma sala e numa cozi-nha, e também tinha um problema num lago, que estava dando infiltração, se eu podia mandar al-guém, uma equipe para dar uma olhada.”

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C. L.

O governo do Mara-nhão editou na manhã desta segunda-feira (12) o decreto que ga-rante “Escolas com Li-berdade e Sem Censura no Maranhão”.

O decreto do governa-dor Flávio Dino (PCdoB) dispõe sobre as garantias constitucionais no am-biente escolar da rede estadual do Maranhão. O decreto será publicado ainda esta semana no Diário Oficial do Estado, e entra em vigor imedia-tamente.

De acordo com o de-creto, todos os profes-sores, estudantes e fun-cionários das escolas são livres para expressar seu pensamento e suas opiniões no ambiente escolar da rede estadual do Maranhão.

O decreto do gover-

nador estabelece que a Secretaria de Estado da Educação (Seduc) deve promover campa-nha de divulgação nas escolas das garantias asseguradas pelo artigo 206, inciso II, da Cons-tituição Federal, acerca do ensino: “liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber”, bem como dos princípios legais previs-tos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

“No Maranhão segui-mos trabalhando cada vez mais por uma esco-la digna democrática e formadora de cidadãos livres e conscientes de seu papel como protago-nista na transformação da sociedade”, destacou o secretário de Estado

da Educação, Felipe Ca-marão, para o portal do Governo do Maranhão.

De acordo com o de-creto, fica vedado no ambiente escolar: cer-ceamento de opiniões mediante violência ou ameaça; ações ou ma-nifestações que configu-rem a prática de crimes tipificados em lei, tais como calúnia, difama-ção e injúria, ou atos infracionais tipificados; qualquer pressão ou coação que represente violação aos princípios constitucionais e de-mais normas que regem a educação nacional, em especial quanto à liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber.

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Bolsonaro confirmou, na segunda-feira (12/11), que preten-de nomear Joaquim

Levy para a presidência do BNDES.

Imprensado até por seus apoiadores – um deles chegou a lembrar a relação aproche-gada de Levy com o capo da JBS, Joesley Batista (“nós va-mos precisar muito de vocês”, disse Levy a Joesley, durante a segunda posse de Dilma) -, Bolsonaro disse que a decisão de nomear Levy “foi uma de-cisão do Paulo Guedes, que pediu um voto de confiança”.

“A caixa-preta vai ser aber-ta na primeira semana! Não tenha dúvida disso. Se não abrir a caixa-preta, ele está fora, pô”, disse Bolsonaro sobre Levy.

Segundo Bolsonaro, sobre Levy, não há “nada que desa-bone sua conduta”.

Talvez Bolsonaro tenha a opinião de que funcionárias de bordéis podem ser, ao mesmo tempo, excelentes moças de família ou dedica-das esposas.

Pois Levy foi secretário da Fazenda do governo Sérgio Cabral, no Estado do Rio de Janeiro - quando participou da farra, em Paris, onde a quadrilha de Cabral espargiu euforicamente o resultado da sua corrupção, do seu roubo aos cofres públicos, da sua pilhagem ao povo fluminense.

Levy foi, também, secretá-rio do Tesouro de Lula, sob a proteção do hoje presidiário Antonio Palocci – aliás, ope-rador de Lula nos antros da corrupção.

Foi, também, ministro da Fazenda de Dilma, quando afundou o país na recessão.

FESTAQuando foi a Paris, para

a farra com Sérgio Cabral, Levy não notou que havia algo estranho?

Em 2009, a quadrilha de Cabral levou, para essa farra, 150 pessoas para a capital francesa – às custas do dinhei-ro público, que estava sob a responsabilidade de Levy, que era secretário da Fazenda.

O que fez Levy?Bem, Levy foi junto, para

a farra.Somente para dar um exem-

plo: no dia 14 de setembro de 2009, essas 150 pessoas, sob a batuta de Cabral e sua consorte, Adriana Ancelmo, fizeram uma festa noturna em um palacete da Avenue des Champs-Élysées, uma das ave-nidas mais caras (sob qualquer ponto de vista) do mundo.

Nessa festa foram consu-midas 300 garrafas de cham-pagne D. Pérignon (preço: R$ 1.699,90 cada garrafa); para quem não gostava de cham-pagne, foram servidas garra-fas do vinho português Barca Velha (preço: R$ 2.515,12 cada garrafa).

Poupamos ao leitor episó-dios mais constrangedores (v. o livro de Sílvio Barsetti, “A Farra dos Guardanapos: O Último Baile da Era Cabral”, ed. Máquina de Livros, 2018).

Joaquim Levy, que era secretário da Fazenda de Ca-bral, não se escandalizou com nenhum desses episódios, nem com o tamanho da esbór-nia, nem com a comemoração depravada da corrupção.

Pelo contrário, Levy ficou calado sobre o que aconteceu em Paris – só revelado em 2012, quando as fotos (inclusive aquelas em que Levy aparece) foram publicadas pelo ex-go-vernador Antony Garotinho.

Em suma, Levy escondeu a sua participação – e também a de Cabral e a do resto da qua-drilha, hoje, na maior parte, na cadeia ou sob tornozeleira.

Não é uma ilação dizer que ele fez isso porque fazia parte da quadrilha – ou existe outra razão para o seu comporta-mento, tanto a ação, quanto a omissão?

Mas, segundo Bolsonaro, não há “nada que desabone sua conduta”.

JULGAMENTOBolsonaro, na campanha

eleitoral, apresentou-se como adversário da corrupção e do PT – especialmente, de Lula e Dilma.

Certamente, quem escolhe Paulo Guedes – cuja especia-lidade, no mercado financeiro, era dar golpes nos fundos de pensão das estatais – como suposto czar da economia, não é sério na luta contra a cor-rupção, para dizer o mínimo.

A escolha do secretário da Fazenda de Cabral – segundo ele, a pedido de Guedes – ape-nas confirma tal propensão de usar a luta contra a corrup-ção, meramente, como escada política.

Mas Levy foi, também, se-cretário do Tesouro de Lula e Palocci. E ministro da Fazen-da de Dilma.

Como secretário do Tesou-ro, disse um então diretor do BNDES, ele não foi mais que o “secretário da tesoura” – sua especialidade era cortar ver-bas e investimentos, quando esses gastos eram em benefí-cio do país e do povo.

Tudo em nome de uma suposta “austeridade”.

No entanto, em Paris, com Cabral, ele não achou que levar 150 pessoas e consumir 300 garrafas de champagne em uma única noite, num palacete alugado da Avenue des Champs-Élysées, era um desperdício.

Nesse caso, a austeridade que fosse à ponte que partiu.

Quanto à sua performance como ministro da Fazenda, ainda é recente, para que to-dos se lembrem da mistura de incompetência e estupidez ne-oliberal, que afundou o país.

Sob os aplausos de Dilma. Por exemplo:

“[Levy] é um grande ser-vidor público. Acho nocivas as especulações que, vira e mexe, são feitas sobre o mi-nistro Levy, que me obrigam a sistematicamente vir a público e reforçar que ele fica onde está. Isso não contribui para o país.”

Depois, quando se tornou insustentável a manutenção de Levy no Ministério da Fa-zenda, devido à devastação econômica que ele trouxera ao país, disse Dilma:

“Sua presença à frente da Fazenda foi decisiva para que fizéssemos ajustes impres-cindíveis. Joaquim Levy, cuja competência já era conhecida, revelou grande capacidade de agir com serenidade e eficiên-cia sob intensa pressão. Em um momento conturbado da economia e da política, o mi-nistro Joaquim Levy superou difíceis desafios e muito con-tribuiu para a estabilidade e a governabilidade. Agradeço sua colaboração inestimável, que jamais deixarei de reco-nhecer.”

Realmente, o que Bolsonaro se propõe, é continuar, de modo piorado, a destruição de Dilma/Levy e Temer/Meirelles. Só fal-ta promover mais uma festa em Paris, levando Levy a tiracolo...

C.L.

Page 4: Secretário da Fazenda de Cabral presidirá o BNDES de Bolsonaro · da Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT), Ângelo Fabiano Farias da Costa; e a dirigen-te da

4 POLÍTICA/ECONOMIA HP 14 E 15 DE NOVEMBRO DE 2018

A deputada Tereza Cristi-na (DEM-MS), conhecida como a “musa do veneno”, escolhida para assumir

o Ministério da Agricultura no governo do presidente eleito Jair Bolsonaro, afirmou na última quinta-feira (8), que as modifica-ções nas regras sobre agrotóxicos terão “muito espaço” para discus-sões dentro da pasta.

As afirmações aconteceram durante entrevista concedida, em Brasília, após reunião com Bolsonaro. Tereza é presidente da comissão especial da Câmara dos Deputados que aprovou projeto de lei que facilita a liberação dos agro-tóxicos cancerígenos e também é líder da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), a “bancada ruralista”, onde estão os maiores interessados em afrouxar a lei e permitir a ampliação do uso de agrotóxicos.

Na entrevista, Tereza foi ques-tionada sobre se as discussões sobre agrotóxicos terão espaço no ministério. Ela respondeu de forma positiva e defendeu o projeto que flexibiliza a Lei dos Agrotóxicos, aprovado por uma comissão especial da Câmara dos Deputados em junho deste ano.

“Com certeza, terá muito espa-ço de debate ainda. Ele [o projeto] passou na comissão, é um assunto polêmico... A comissão especial trouxe a modernização, é você dar a opção do produtor brasileiro usar as mesmas moléculas que são usadas lá fora através da agilidade, da transparência e da governan-ça”, disse.

A atuação de Tereza Cristina na comissão Especial do agrotóxi-co foi fundamental para o avanço do Projeto de Lei 6299, que estava parado por conta dos protestos da sociedade, de pesquisadores, ambientalistas e especialistas em saúde. O Projeto substitui o ter-mo “agrotóxico”, que é utilizado atualmente, por “defensivo fitos-sanitário e produtos de controle ambiental”. Proposto em 2002 pelo então senador Blairo Maggi, o projeto abraçado por Cristina sofreu muita resistência quando voltou a tramitar neste ano. Fo-ram mais de 20 manifestações da comunidade científica, entre elas o Instituto Nacional do Câncer, a Fiocruz e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.

O projeto muda a norma de aprovação de agrotóxicos. Atual-mente para aprovação de um novo agrotóxico no Brasil é preciso uma análise do IBAMA, da ANVISA e do Ministério da Agricultura. Com a aprovação do projeto será criada uma Comissão Técnica Nacional de Fitossanitários (CTNFito), no âmbito apenas do Ministério da Agricultura. A atual regra proíbe o registro de agrotóxicos que reve-lem características teratogênicas, carcinogênicas, mutagênicas, distúrbios hormonais e danos ao aparelho reprodutor. O art. 22 do projeto determina que só seria proibido o registro de agrotóxicos cancerígeno em caso de “risco ina-ceitável”. O conceito é considerado subjetivo.

O apelido de “Musa do Vene-no”, foi dado para a deputada durante o jantar de comemoração da bancada ruralista em um res-taurante à beira do lago Paranoá, em Brasília, para celebrar a vitória na comissão.

De acordo com a Associação Brasileira de Saúde coletiva

(Abrasco), 22 dos 50 agrotóxicos utilizados no Brasil são proibidos na Europa. São vendidos por multinacionais que dominam o mercado brasileiro, como a Syn-genta (Suíça), Bayer CropScience (Alemanha), Basf (Alemanha), DuPont (Estados Unidos) e FMC Corp (Estados Unidos), que lu-cram mais fora de seus países sede. A primeira empresa vende, por exemplo, o pesticida paraqua-te, banido da União Europeia e considerado “altamente veneno-so” pelos Estados Unidos.

Outro ingrediente é o 2,4-D, chamado de “agente laranja”, pulverizado pelo exército norte--americano na Guerra do Vietnã, deixando sequelas em milhares de crianças durante várias gerações. Já o glifosato é um veneno usado em lavouras de milho e pasto apesar de ser considerado cance-rígeno pela Organização Mundial da Saúde. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) iniciou a revisão da autorização desses produtos: o paraquate e o glisofato seguem há anos sob análise.

Com o projeto, o Brasil está indo na contramão da regulamen-tação dos agrotóxicos na União Europeia e nos Estados Unidos. Nesses países a legislação é ainda mais rígida. No Velho Conti-nente, que tem uma legislação única entre os países do bloco, um agrotóxico é liberado por 10 anos pela Autoridade Europeia para Seguridade Alimentar, que depois desse período pode ou não renovar a autorização. Ela se ba-seia no princípio da precaução, ou seja, nenhuma substância deverá ser aprovada caso haja alguma incerteza científica sobre seu uso. Já nos EUA, a regulamentação dos agrotóxicos passou nos anos 70 das mãos do Departamento de Agricultura para a Agência de Proteção Ambiental, que possui uma equipe de mais de 800 cien-tistas para analisar os efeitos dos agrotóxicos na saúde dos seres humanos e do meio ambiente. A nova ministra é presidente do Sindicato Rural de Jaboticabal e membro do conselho consultivo da Coplana, que vende agrotóxi-cos para seus cooperados em sete cidades do interior de São Paulo. O patrimônio da deputada cres-ceu quase 500 vezes durante seu primeiro mandato: de R$ 10,3 mil em 2014 para R$ 5,1 milhões nes-te ano, segundo autodeclaração patrimonial feita ao TSE.

Executivos diretamente li-gados aos agrotóxicos são seus maiores financiadores. Celso Grieseang, um dos proprietários da Sementes Tropical, empresa que comercializa fungicidas em parceria com a gigante multina-cional Syngenta, está entre seus doadores.

Auxiliares de Bolsonaro dis-seram que a indicação não ti-nha sido política. Horas depois, a Frente Parlamentar Agropecuária desmentiu o presidente e susten-tou que a indicação foi feita pela bancada ruralista, como diz a nota: “A bancada, após consenso entre parlamentares e entidades representativas da Agropecuária, sugeriu o nome da deputada fe-deral Tereza Cristina (DEM-MS), presidente de FPA, para o Ministé-rio da Agricultura. Jair Bolsonaro aceitou a indicação e confirmou o nome da deputada Tereza Cristina para assumir a pasta”.

Jair Bolsonaro disse nesta sexta-feira (9) que não permitirá questões que con-sidere polêmicas nas provas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e que sua equipe “vai vistoriar as provas antes”. A resposta veio imediata, por parte da presidente do Instituto Nacio-nal de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), professora Maria Inês Fini, responsável pela elaboração da prova. “Não é o Governo que manda na prova” disse ela.

“O Inep tem uma diretoria específica de técnicos consagrados que, com a aju-da de uma série de educadores e profes-sores universitários de todas as regiões do país, elaboram a prova”, acrescentou a diretora. Maria Inês não é nenhuma “esquerdista, vermelha, ou coisa que o valha”. Ela estava, inclusive, cotada para assumir o Ministério da Educação do próprio Bolsonaro. Provavelmente já deve ter sido descartada, por defender a autonomia, a pluralidade e a lisura na elaboração das provas. A professora reafirmou que o Inep tem autonomia plena para elaborar as questões, “sem qualquer intervenção do governo”.

Quanto mais Jair Messias Bolsonaro fala, maior é o contingente de brasileiros que percebe nele um enorme desconhe-cimento sobre quase todos os assuntos. Certamente por isso ele ficou de boca calada na maior parte da campanha e desapareceu dos debates. Não sabia que o governo não pode interferir na elabo-ração das provas conduzidas pelo Inep.

Apesar de citar especificamente uma questão identitária, o que, certamente, fez o ex-capitão desrespeitar a diretoria do Inep, foi o tema redacional, que abordou as manipulações de opinião pú-blica feitas por dentro da internet. Deve considerar uma provocação, já que foi denunciado por fazer exatamente isso durante a campanha. O outro tema que o ex-capitão não deve ter digerido muito bem e considerado “doutrinação” foi a questão histórica contendo um pequeno trecho do discurso do ex-presidente João Goulart defendendo a democracia em plena praça pública.

Maria Inês criticou o caráter obtuso daqueles que consideram “doutrinação” debater temas como este. “Em momento algum houve qualquer perspectiva de doutrinação, de valorização de uma posição em detrimento da outra”, disse a diretora do Inep. “Eu só lamento que algumas leituras tenham sido equivo-cadas, mas cada pessoa, cada leitor do mundo faz uma interpretação do texto da maneira como quer, não é? Com a sua cultura, com seus valores e com as suas ideologias”, acrescentou Maria Inês, para quem “a prova é uma oportunidade para jovens interajam com a tipologia de diversos autores, de forma plural”.

SÉRGIO CRUZ

“Não é o Governo que manda na prova”, diz responsável pelo Enem

Musa do veneno diz que agrotóxicos terão muito espaço no seu ministério

SBPC defende aumento da verba para a Ciência no Orçamento 2019

Segundo a líder da bancada ruralista, PL do Veneno, que é criticado pela Anvisa, Fiocruz e até mesmo pela ONU trouxe a “modernização” para o campo

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), apresentou à sena-dora Ana Amélia (PP-RS), re-latora de Ciência e Tecnologia e Comunicações do Projeto da Lei Orçamentária Anual para 2019, juntamente com outras entidades científicas propostas que para o orçamento da área.

Entre os pontos principais, se destacam o aumento de R$ 300 milhões no orçamen-to do CNPq e a eliminação da reserva de contingência para o Fundo Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). As propostas da SBPC para o orçamento também foram apresentadas aos parlamen-tares na audiência pública realizada pela Comissão de Ciência e Tecnologia, Comuni-cação e Informática (CCTCI) da Câmara dos Deputados, no dia 7 de novembro.

O PLOA 2019 está para ser votado no Congresso Nacional

Apelido foi dado para a deputada durante o jantar da bancada ruralista

Maria Inês Fini, diretora do Inep

O reitor da Universi-dade de São Paulo (USP), Vahan Agopyan, afirmou que é impossível um pro-jeto como o Escola sem Partido ser aplicado na instituição. O reitor falou, nesta segunda-feira, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, sobre o papel das universidades, cobrança de mensalidades e a polarização política que atinge as instituições de ensino.

“Os problemas da so-ciedade repercutirem na universidade é uma coisa natural. O que me preocu-pa é explicar o que é uma universidade de pesquisa para a sociedade. A socie-dade não entende a gente”.

Para Vahan, é preci-so ficar claro que a USP

O governador eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), depois já ter im-portado três ministros do governo Temer (PMDB), teceu elogios nesta segunda--feira (12) ao ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (PMDB), cotado para Fazen-da estadual. “Meirelles é o nome dos sonhos para o se-cretariado”, afirmou Doria.

Ao falar sobre a possibili-dade de convidar o peemede-bista para compor seu time, o tucano disse se tratar de um nome “brilhante, é um dos nomes mais qualificados, é brilhante”, emendou.

Meirelles seria o quarto ministro de Temer a integrar chapas do governo paulis-ta. Doria já anunciou em seu secretariado: Gilberto Kassab (PSD), na Casa Ci-vil, e Sérgio Sá Leitão, na Cultura, Rossieli Soares, na Educação.

Meirelles foi presidente do Banco Central na gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ministro da Fazenda de Michel Temer. Também foi presidente do BankBoston dentro outros cargos em bancos de inves-timentos. Nessas eleições, Meirelles foi candidato à Presidência e obteve pouco mais de 1% dos votos válidos na disputa.

A política econômica co-mandada pelo banqueiro cortou direitos dos trabalha-dores, aumentou drastica-mente a miséria e afundou

“Universidade é local de debate”, afirma Vahan, reitor da USP, ao criticar o ‘Escola sem Partido’

Depois de Kassab, Dória diz sonhar com Meirelles

Governo autoriza criação de nova faculdade ligada ao partido da Igreja Universal

contribui para o desenvol-vimento do País e quem lucra com isso é a socie-dade. Como consequência, não faz sentido para ele a cobrança de mensalidades.

“O grosso dos nossos alunos é classe média bai-xa. Não vai poder cobrar U$ 75 mil dólares como Yale, nem os ricos brasilei-ros têm. A última vez que fizemos umas contas, para cobrar em proporção com que o aluno tem, as men-salidades não davam nem 8% do orçamento da USP”, afirmou o reitor.

Mesmo que a lei seja aprovada, Vahan afirma que a autonomia universi-tária, dada pela Constitui-ção, permite com que as ideias de impedir discus-sões políticas, de gênero

o Brasil na recessão atual, jogando milhões de pessoas no desemprego e no subem-prego, continuando o que Dilma vinha fazendo quando era presidente. Meirelles foi presidente do Conselho da J&F Participações, dona da JBS, de 2012 a 2016. Neste período, a JBS foi contem-plada com cerca de 12 bilhões de reais do BNDES. Na JBS, ele embolsou R$ 40 milhões por ano. Segundo ele, para não fazer nada.

Doria pretende indicar um magistrado para comandar a Justiça: o d esembargador Paulo Dimas Mascaretti, ex--presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). A negociação foi fechada no final de semana, segundo o jornal “Estado de S.Paulo”, e envolveu diretamente a cú-pula do Tribunal de Justiça.

TUCANOSDoria não anunciou ne-

e sexualidade vinguem na mais conceituada universi-dade do País.

Ainda, quando questio-nado, Vahan falou sobre a opinião do governador eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), que diz ser a favor do projeto escola sem Partido.

“Na USP, é impossível. Obedecemos às leis, mas coisas que ferem nossa autonomia, a USP não precisa seguir. Isso fere. A universidade é um lo-cus de debate. Formamos cidadãos”. Ao final, quan-do indagado sobre algum aluno denunciar sobre o projeto, o reitor afirmou, “Denunciar para quem? Não vou criar um mecanis-mo de controle ideológico na USP”.

nhum nome do PSDB para o seu secretariado até agora, fato que tem gerado críticas do presidente da sigla em São Paulo, Pedro Tobias. “Acho estranho ele não ter indicado ninguém do PSDB. Doria precisa tratar o partido com mais carinho. O PSDB esteve ao lado dele na campanha”, disse o deputado estadual Pedro Tobias.

Doria está montando sua equipe sem consultar seu partido. O PSDB está fora dos principais cargos polí-ticos do governo. Dos sete secretários anunciados até o momento, nenhum é tu-cano. O PSDB deixará de comandar a partir de 2019 pastas estratégicas como a Casa Civil, que terá como titular Gilberto Kassab, pre-sidente do PSD, e Secretaria de Governo, que terá suas atribuições absorvidas por Rodrigo Garcia (DEM).

Rep

rod

ução

O Ministério da Educação (MEC) autorizou a criação de uma faculdade pela fundação do Partido Republicano Brasileiro (PRB). A Fa-culdade Republicana Brasileira funcionará em Brasília, a partir do ano que vem. A nova sede deve ser aberta em fevereiro, com previsão de lançar o vestibular no primeiro semestre e início das aulas no segundo.

O PRB é comandado por líderes da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), uma das maiores denominações evangélicas do País. Ainda, o partido integra a base governista do presidente Michel Temer (MDB), tem afinida-des ideológicas com o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), além de defender o Projeto Escola Sem Partido.

O primeiro curso credenciado pelo MEC foi o de Ciência Política, com cem alunos, em oito semestres para 2019.

Mantenedora da faculdade, a Fundação Republicana Brasileira, que recebe 20% dos recursos públicos do fundo partidário desti-nado ao PRB (cerca de R$ 680 mil mensais), busca agora aval do MEC para pós-graduação em Gestão Pública, Direito Eleitoral e Política Contemporânea.

O processo de credenciamento foi aberto em 2013 e teve andamento mais célere a partir de 2016, quando os técnicos do MEC iniciaram as visitas à fundação. A autorização foi concedida em agosto, mas veio a público na quarta-feira, quando foi comemorada como fato inédito pelo presidente nacional em exercício do partido, senador e bispo Eduardo Lopes (PRB-RJ).

“A Fundação Republicana é do PRB, e o PRB é o primeiro partido no Brasil a ter uma faculdade. O nome da faculdade vai ser Re-publicana. É a primeira instituição de ensino ligada a um partido político, credenciada pelo Ministério da Educação. Quero aqui cumpri-mentar e parabenizar o PRB, primeiro par-tido no Brasil a ter um instituto de ensino”, afirmou o senador Eduardo Lopes.

O reitor credenciado junto ao MEC, por enquanto, é pastor da Universal, Joaquim Mauro da Silva, tesoureiro nacional do PRB, e antes presidente da fundação mantenedora.

nas próximas semanas, e a proposta apresentada pelo governo é considera preocu-pante pela comunidade cientí-fica nacional, por estar muito aquém das necessidades da área. “Se o sistema nacional de ciência e tecnologia conti-nuar estrangulado em termos de recursos, como está, a pro-dução científica do País, que cresceu rapidamente nas últi-mas duas décadas, poderá vir a cair rapidamente”, alertou o presidente da SBPC, Ildeu de Castro Moreira, durante a audiência desta quarta-feira.

“A gente olha o orçamento proposto para 2019 e tem a impressão de que os recur-sos para o MCTIC subiram, mas para o investimento em ciência e inovação, para as agências de fomento, para os projetos novos de pesquisa, não aumentou nada. Pelo con-trário, congelou mais ainda e até se reduziu, como é o caso do CNPq”, disse Moreira.

“Saúde dos brasileiros deve estar acima dos interesses das multinacionais”, afirmou Marina

A ex-presidenciável Marina Silva (Rede) cri-ticou, neste sábado (10), a escolha da deputada federal Tereza Cristina (DEM) para o Ministério da Agricultura.

“O PL do Veneno já foi condenado pela Anvisa e até pelo Instituto Na-cional do Câncer, mas a futura Ministra da Agri-cultura insiste na ideia de flexibilizar o uso de agrotóxicos? A saúde dos brasileiros deve estar acima de qualquer inte-resse de gigantes mul-tinacionais”, escreveu a ex-senadora em seu

Twitter.Marina já havia critica-

do a fusão dos ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente. “Estamos inau-gurando o tempo trágico da proteção ambiental igual a nada”, “nem bem começou o governo Bolsonaro e o retrocesso anunciado é incalculável”, disse.

Segundo ela, a decisão irá provocar um triplo desastre. “Primeiro, trará prejuízo a governança am-biental; segundo, passará aos consumidores no exte-rior a ideia de que todo o agronegócio brasileiro, em que pese ter aumentado

sua produção por ganho de produtividade, sobre-vive graças a destruição das florestas, sobretudo na Amazônia, atraindo a sanha das barreiras não tarifárias em preju-ízo de todos; e terceiro, empurrará o movimento ambientalista, a ter que voltar aos velhos tem-pos da pressão de fora para dentro, algo que há décadas vinha sendo superado, graças aos su-cessivos avanços que se foi galgando em diferen-tes governos, uns mais outros menos”, explicou Marina.

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5GERAL14 E 15 NOVEMBRO DE 2018 HP

Entidades anunciaram uma agenda de mobilizações contra o fim da Previdência

Social nos dias 22 e 26 deste mês

Covas quer votar reforma da Previdência de SP às presas

Loures mente mas confessa que pegou mala em nome de Temer

Presidente da CNI critica ataquesde Paulo Guedes ao Senai e Sesi

Plenária reuniu representantes de oito centrais na sede do Dieese, em São Paulo

Paim: “Capitalização da Previdência é igual a que causa suicídios de idosos no Chile”

Um ano de reforma trabalhista aumentoua informalidade e precarizou o trabalho

Centrais sindicais convocam dia nacional de luta contra a reforma da Previdência

Senador Paulo Paim: "o Chile é o país onde mais pessoas de 70 e 80 anos estão se suicidando,

porque não têm mais como se manter”.

Em entrevista ao HP, o senador Paulo Paim (PT) disse acreditar que o presidente eleito Jair Bolsonaros (PSL) não tem tempo hábil e encon-trará grande dificuldade em aprovar a Reforma da Previdência de Temer ainda este ano.

Sobre a nova Reforma da Previdência proposta pela equipe econômica de Bolsonaro, que inclui im-plantar um “sistema de capitalização”, o senador lembrou que isso é seme-lhante ao -que foi feito no Chile e “foi um desastre total”. “Matérias publica-das na própria imprensa chilena e em documentos que eu recebi, dizem que devido à Previdência, o Chile é o país onde mais pessoas de 70 e 80 anos estão se suicidando, por-que não têm mais como se manter”.

“Significa privatizar a Previdência, cada um vai depositar o que bem entender numa poupan-ça, que será chamada de

fundo de pensão. O banco vai fazer as aplicações, se aplicou mal, faliu, nin-guém tem nada pratica-mente a receber”.

O chamado “sistema de capitalização” prevê que cada trabalhador deposite sua contribuição indivi-dual numa conta privada para financiar sua futu-ra aposentadoria. Neste modelo de Previdência retira-se a participação

dos patrões e do Tesouro. Ou seja, a lógica passa a ser cada um por si. Com isso, os recursos que são destinados à Seguridade Social pela Constitui-ção poderão ser mais facilmente drenados pelo governo para os bancos, rentistas e fundos es-peculativos, através do pagamento de juros da divida pública.

ANTÔNIO ROSA

Declarações do econo-mista Paulo Guedes, futuro ministro da Economia de Bolsonaro, de que pretende mexer no funcionamento do Sistema S, que engloba entidades do setor indus-trial como Senai, Sesi e Sesc, geraram críticas da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

A entidade já havia se manifestado contrária à proposta de Guedes de acabar com o Ministério da Indústria e Comércio, que será fundido ao super-mistério de Guedes. Sobre esse superministério, o presidente da entidade, Robson Andrade, já havia dito em entrevista que o país não precisava de um “czar” para resolver os problemas da economia.

Em referência a infor-mação de que Guedes tem dito em conversas privadas que pretende “privatizar” o Senai, o empresário afir-mou que é “falta de conhe-cimento” sobre a atuação das instituições.

“Há 100% de transpa-rência”, disse Andrade em matéria publicada pelo Valor Econômico, sobre a prestação de contas das entidades. “Não falo pelos demais, mas todos os con-tratos do Sesi e do Senai estão disponíveis na inter-net para qualquer um ver”, acrescentou.

O futuro ministro tem afirmado ainda que o en-sino técnico poderia ser assumido por um grupo de educação privado, que já atue com ensino básico e

superior, e teria a formação técnica como complemen-tar à grade.

Segundo Robson An-drade, o Senai e o Sesi são referência dentro do Sistema S pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pela Corregedoria-Geral da União (CGU).

Ele informa que o Se-nai recebe anualmente 3,7 milhões de matrículas para qualificação profis-sional em cursos técnicos e de educação continu-ada. Dois navios-escola circulam pela Amazônia para oferecer cursos às comunidades ribeirinhas. O Senai dispõe ainda de 26 institutos de inova-ção. O Sesi, por sua vez, beneficia 1,2 milhão de estudantes por ano.

Em depoimento à Justiça Federal, Rodrigo Rocha Loures, ex-deputado e ex-assessor de confiança do presidente Michel Temer, falou pela primeira vez sobre a mala de dinheiro que recebeu da J&F. Loures entrou em di-versas contradições, mas acabou admitindo que estava ali a pedido do presidente Temer. “O presidente havia pedido para eu ouvir as demandas do grupo”, disse o deputado, ao falar sobre a mala abarrotada de dinheiro. Ele contou que obedeceu Temer porque “eu sou uma pessoa solícita”, mas, tentou convencer o juiz que não fez por mal. “Eu não sou venal, não sou corrupto”, jurou o ex-deputado, com lágrimas nos olhos.

Segundo depoimentos de executivos da J&F, o dinheiro na mala entregue a ele era parte de um suborno que valeria por 20 anos, uma espécie de mesada para o presidente Michel Temer, em troca de atuação de Loures junto ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE. O objetivo era resolver uma disputa sobre o preço do gás fornecido pela Petrobrás a uma termelétrica do grupo JBS. Temer foi denunciado pela Procurado-ria Geral da República por este crime e foi pedido o seu afastamento do cargo, mas ele foi protegido pelo foro privilegiado.

A investigação da Polícia Federal mostrou que Loures atuou no Cade a favor da J&F. Em seu depoimento à Justiça, ele se enrolou ainda mais ao tentar negar. Sua versão ruiu com o trecho onde ele relata sua conversa com Joes-ley. “Ele me diz, atrapalhadamente, ele pega e fala assim: ‘se você resolver esse assunto pra mim, tem lá 5% disso, 5% daquilo’. (…) eu não entendi que foi uma oferta de propina, eu não entendi que ele estava oferecendo a mim esses valores e eu não iria fazer nada por ele, como não fiz”, disse. O fato é que Loures atuou no Cade em nome de Temer e depois recebeu a propina. O resto é encenação.

Numa primeira tentativa de se desvenci-lhar do recebimento da propina, os advogados de Loures haviam criado a versão de que o ex-deputado recebeu a mala “sem saber qual era seu conteúdo”. Nem Rocha Loures conseguiu sustentar essa versão. Ele disse que sabia que havia sim conteúdo ilícito na mala. Sabia, mas tentou jogar uma conversa fiada para cima do juiz de que não queria receber aquele dinheiro. Que quase bateu em Ricardo Saud quando viu a mala. Disse que nunca abriu a mala, mas não explicou o sumiço de R$ 35 mil, dos R$ 500 mil que haviam sido entregues.

Loures foi questionado se tinha sido incumbido por Temer de marcar uma reu-nião com o empresário. O juiz pergunta se ele se encontrou com o empresário no dia 6 de março de 2017 para marcar encontro do empresário com Temer. Ele responde: “aconteceu sim o encontro. Ele me enviou mensagem por telefone, nunca havia enviado uma mensagem. Aliás, eu não tinha o telefone dele, não sei… ele teve o telefone de alguma maneira. Enviou uma mensagem dizendo assim: olá, aqui é o Joesley, você poderia falar? Trocamos mensagens, ele queria um encontro com o presidente”.

Temer autorizou a ida de Joesley ao Jaburu e, segundo Loures, por causa da agenda cheia, Temer recebeu Joesley tarde da noite: “não participei da reunião, só vai à casa do presidente quem é convidado por ele. Aliás, só vai à casa de alguém quem é convidado pelo dono da casa, não por quem está sendo convidado. E é assim. Esse é o protocolo”. A reunião com Temer foi toda gravada por Joesley.

Segundo o jornal O Globo, que teve acesso ao depoimento, Loures deu detalhes do en-contro com Ricardo Saud. “Eu vou até ele, aí ele pe…com essa mala na mão, ele diz assim: ‘olha a sua mala, pega que você vai perder o avião, corre que você vai perder o avião’. Naquele momento, excelência, eu entrei em pânico, no meio da rua e eu sai correndo. As imagens, eu não sabia o que fazer e eu fugi, eu corri. Eu não consegui, eventualmente agredi-lo, se fosse o caso e me desfazer dessa situação. Agir, naquele momento, até pra que ficasse gravado. E o meu inferno começou”.

As centrais sindicais Força Sindical, UGT, CGTB, CSP-Con-lutas, CTB, Nova

Central, CSB, CUT e Inter-sindical, se uniram nesta segunda-feira (12) em uma plenária na sede do Diee-se, em São Paulo, para o lançamento da Campanha Permanente em Defesa da Previdência Pública e Seguridade Social. Duran-te o ato, que contou com a participação de cerca de 300 lideranças de diversos sindicatos, as centrais lan-çaram um documento com propostas que defendem um sistema previdenciá-rio público e solidário, e anunciaram uma agenda de mobilizações contra o fim da Previdência Social nos dias 22 e 26 deste mês.

Foi consenso na fala das lideranças das centrais, que tanto a proposta de reforma da previdência de Temer, e as propostas futuras do presidente eleito, Jair Bolso-naro (PSL), visam retirar di-retos dos trabalhadores para garantir o lucro dos bancos. Antes das intervenções dos representantes das centrais sindicais, os dirigentes as-sistiram uma apresentação de Mario Reinaldo Villa-nueva Olmedo, dirigente da Confederación Fenpruss (Confederación de Profe-sionales de la Salud), que falou sobre a experiência de previdência adotada no Chile e que é semelhante a proposta que está em discussão no Brasil. “No Chile, as AFPs [fundos de pensão privados] fracassa-ram. Não cumpriram o ob-jetivo, pois não dão pensões dignas”, disse.

Segundo o presidente da Central Geral dos Traba-lhadores do Brasil (CGTB), Ubiraci Dantas, o modelo de capitalização da Previ-dência só serve para saciar a sede e ganância do capital financeiro internacional, e ressaltou que as centrais de-ram um passo fundamental ao formar uma frente ampla em defesa da previdência. “Unidos é que vamos der-rotar os ataques do governo Bolsonaro. Ele não teve o apoio da maioria do eleito-rado, teve gente que votou nele porque não queria votar no PT, e teve 89 milhões de eleitores que disseram não à Bolsonaro. Vai ser com toda essa gente que nós vamos barrar as ameaças deste fan-toche do capital financeiro”.

Para o presidente da Força Sindical, Miguel Tor-res “os trabalhadores não querem perder direitos. Não podemos aceitar uma reforma imposta de cima para baixo”, criticou Torres, destacando que a população brasileira quer “uma previ-dência social justa, universal e sem privilégios”.

O presidente da Nova Central, José Calixto Ramos defendeu que o “trabalhador precisa tomar conhecimento de toda agenda de retroces-sos em curso”.

Adilson Araújo, presi-dente da Central dos Tra-balhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), disse que no sistema de capitalização da previdência, “só quem capitaliza é o banqueiro”, destacando que seria trá-gico os brasileiros terem este modelo implantado no país. “Você deposita uma vida, mas não vai conseguir recuperar o que investiu - a tendência é o deságio”, disse Araújo.

Membros da Secreta-ria Executiva Nacional da CSP-Conlutas, Luiz Carlos Prates, o Mancha, disse que “diante dos ataques que es-tão por vir, se faz necessário a unidade para lutar e barrar qualquer reforma, pois o que eles querem é reduzir e aca-bar com direitos”, denunciou Mancha.

Já o secretário-geral da Intersindical, Edson Carnei-ro, o Índio, disse que as cen-trais com suas bases devem aproveitar essa campanha para dialogar com toda a população e mostrar que o que está em risco é o direito de se aposentar. “Precisamos traduzir que a proposta de Bolsonaro significa a entrega das nossas aposentadorias aos bancos, ao rentismo, ou seja, aos milionários por trás do capital financeiro”.

O secretário-geral da Central Única dos Trabalha-dores (CUT), Sérgio Nobre, lembrou que o modelo de ca-pitalização adotado no Chile causou uma tragédia na vida dos aposentados, e que os efeitos podem ser semelhan-tes no Brasil. "Eles tinham um modelo de Previdência muito parecido com o nos-so, que trabalhadores mais novos contribuírem com o benefício dos mais velhos. Com a capitalização, o que se tem são idosos vivendo de favor. Nós somos contra qualquer mudança que tire direitos”, disse Nobre.

De acordo com o repre-sentante da União Geral de Trabalhadores (UGT), Natal Léo, com as propostas que estão sendo divulgadas pelos representantes do governo eleito, “a maioria não vai se aposentar! Por que não cobram a inadimplência dos que devem ao INSS? Por que as propostas são sempre na perspectiva de tirar os nossos direitos?” questionou Léo. Já o representante da CSB, Álvaro Egla, disse que “só unidos e mobilizados, fazendo o que sabemos fazer, que é ir para as ruas e orga-nizar os trabalhadores, que conseguiremos barrar essa proposta nefasta”.

A.R.

Um ano após a refor-ma trabalhista entrar em vigor, com o argumento de que era preciso moder-nizar a CLT para gerar empregos formais, a recu-peração não chegou. São 12 milhões de desempre-gados e só aumentaram os trabalhos intermitentes, temporários, bem como o trabalho informal e ter-ceirizado.

Segundo dados da Pes-quisa Nacional por Amos-tra de Domicílio Contínua (Pnad-Contínua) relati-vos ao trimestre encer-rado em setembro, o nú-meros de trabalhadores informais cresceu 2,55%. Ou seja, 585 mil pessoas passaram a trabalhar por conta própria, sem acesso às garantias asseguradas pela carteira assinada, como 13º salário, férias, depósito do FGTS, segu-ro desemprego. Hoje são 23,5 milhões de pessoas nessa condição.

O número de emprega-dos do setor privado sem carteira assinada cresceu 5,51%, o que representa 601 mil pessoas que pas-saram a trabalhar para empresas sem a assinatura em carteira. Totalizando 11,5 milhões de pessoas nessa situação.

Guilherme Feliciano, presidente da Associação Nacional dos Magistra-dos da Justiça do Traba-lho (Anamatra) diz que “a defesa da reforma se baseava em 3 eixos: es-timular a criação de em-pregos formais, reduzir a litigiosidade na Justiça e trazer segurança jurídica para os empregadores. Não teve geração de em-prego, mas aumento da informalidade. Não se ganhou nada em seguran-ça jurídica, já que temos diversas ações diretas de constitucionalidade e a redução da litigiosidade é questionável”.

O Prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), quer colocar o projeto da Reforma da Previdência Municipal para votar antes do recesso parlamentar de fim de ano. O projeto, que já foi rechaçado pelo funcionalismo, prevê aumento de con-tribuição dos servidores e criação de regime de capitalização para os funcionários que entra-rem após a aprovação da lei, dentre outras maldades.

Para evitar que os professores e demais funcionário se articu-lem para barrar mais

uma vez a proposta, o sucessor de Dória quer colocar o projeto para ser votado nos dois turnos na segunda quinzena do mês de de-zembro antes do natal, evitando que haja uma nova paralisação dos professores, que impu-seram uma vergonhosa derrota ao antigo pre-feito, que mesmo com o uso da força bruta e da violência, não con-seguiu votar o projeto.

Contudo, sindica-listas e vereadores da oposição prevêem “guerra”, caso o pre-feito tente passar o projeto.

O deputado da mala, Loures, com Temer

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INTERNACIONAL 14 E 15 DE NOVEMBRO DE 2018HP6

Senador Sixto Pereira defende camponeses

Ex-primeira-dama das Filipinas, Imelda Marcos, é condenada por corrupção

Diante da resistência imenita agressores sauditas bombardeiam a cidade portuária

Erdogan divulga áudios do assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi

“Cessar-fogo em 30 dias proposto pelos EUA é conversa fiada. Sauditas aumentaram bombardeio após solicitação da Casa Branca”, denuncia Abdul Salam, porta-voz do governo popular do Iêmen

Iemenitas enfrentam o ataque saudita a Hodeidah casa a casa

AFP

ONU denuncia o ataque de EUA com bombas de fósforo branco contra civis na Síria

Senador Sixto Pereira condena ataques da Procuradoria do Paraguai à Suprema Corte

Membro da Comissão de Reforma Agrária do Sena-do e dirigente da Frente Guaçu defende a liberta-ção dos camponeses e a posição dos juízes Arnaldo Prieto e Emiliano Rolón

“A decisão da Suprema Corte do Paraguai pela li-bertação dos camponeses de Curuguaty precisa ser respeitada. A conclusão dos juízes Arnaldo Prieto e Emi-liano Rolón, que atuaram como ministros da Corte, é que o processo foi viciado e que, passados seis anos, não apareceram provas para man-ter presos os trabalhadores rurais”, afirmou o senador Sixto Pereira, membro da Co-missão de Reforma Agrária, em entrevista ao HP.

Na avaliação do senador da Frente Guaçu, “a perseguição da Procuradoria Geral do Estado aos dois juízes é uma afronta à independência do judiciário”. “Precisamos estar vigilantes contra esta ameaça, para que os dois juízes não sejam penalizados pelo Jurado de Julgamento de Magistrados (JEM), como quer a Procura-doria”. Entre as muitas aber-rações do processo, ressaltou, “logo depois do massacre a caixa preta com a filmagem do helicóptero militar simples-mente desapareceu, ela nunca foi encontrada”.

De acordo com Sixto Pe-reira,o massacre ocorrido no assentamento de Marina Kue, em Curuguaty, no dia 15 de junho de 2012, tinha um en-dereço certo: a derrubada do presidente Fernando Lugo, o que acabou ocorrendo uma semana depois, no dia 22. “Por isso se armou um teatro de guerra: para justificar o jul-

gamento político de Lugo, que vinha realizando um governo que começou a tentar regu-lamentar a questão da terra, fazer o ordenamento jurídico”. “No nosso governo começamos a tentar ter estruturas estatais para controlar a utilização de agrotóxicos e não liberamos transgênicos, defendíamos os direitos dos trabalhadores e isso incomodava o capital”, declarou o senador, acrescen-tando que se iniciou a debater a evasão fiscal que compromete a arrecadação do Estado.

Sixto alertou que “como problema fundiário, Curuguaty é ínfimo, mas é significativo pois diz respeito à apropriação ilegal de uma terra pública por parte de um grande empresário”. Entre outros desdobramentos, exemplificou, “é um caso que traz à tona o debate sobre o mo-nocultivo da soja, o problema da concentração e desnacionaliza-ção de terras, da contaminação e violência agrária”.

Da operação em Curuguaty, na qual 324 policiais cercaram 60 camponeses, lembrou o senador, “participaram mem-bros das forças de segurança interna, todas elas treinadas pelos norte-americanos na Es-

cola das Américas no Panamá e na Colômbia”. A denúncia feita por movimentos sociais e organizações de direitos humanos é que foram franco-atiradores, treinados por mi-litares estadunidenses, quem provocaram a carnificina em que morreram 11 agricultores e seis policiais. “Com exceção do nosso governo, sempre houve uma formação política, militar e técnica por parte dos Estados Unidos. Um adestra-mento”, condenou.

O senador lembrou que “desde a época da ditadura de Alfredo Stroessner (1964-1989) sempre foi uma prática corriqueira a repartição de terras de fronteira para es-trangeiros ou empresas mul-tinacionais, principalmente de capital norte-americano, que controlam cerca de 70% da economia paraguaia. Foi algo que se usou para sustentar a ditadura, que se perpetuou e precisa ser enfrentado”. Para Sixto Pereira, “defender os juízes é defender os direitos humanos e a soberania para-guaia contra a voracidade do grande capital”.

LEONARDO W. SEVERO, de Assunção

O comissário da Comis-são Internacional de Di-reitos Humanos da ONU, Haitham Abu Said con-denou, na segunda, dia 11, os repetidos massa-cres cometidos por caças norte-americanos contra civis na aldeia de Hajin, situada na província de Deir Ezzor, a sudeste da Síria.

Nos dias de sábado e domingo foram mortos 33 civis incluindo mulheres e crianças além da destrui-ção de muitas casas.

Abu Said declarou que o uso de bombas de fós-foro branco fere o direito internacional uma vez que se trata de uma arma química banida.

O governo da Síria denuncia ainda que na al-deia de al Sha’afa mais 60 sofreram com os ataques. A denúncia é de que entre os atingidos pelas bombas há mortos e feridos, mas não foi divulgado ainda o número das vítimas fatais.

O vice-ministro do Ex-terior, Ayman Soussan, declarou que o Estado sírio “está no rumo de libertar todo o solo sírio do terrorismo e da ocu-pação indevida de seu território”.

A autoridade síria fa-lou em entrevista a jorna-listas durante a cerimônia de despedida do embaixa-dor russo em Damasco, Alexander Kinshchak.

“Libertar todo o solo sírio do flagelo do terro-rismo e afastar a inter-venção que fere a nossa soberania são objetivos do nosso Estado”.

“Faremos isso através de negociações e mesmo reconciliação, poupando derramamento de sangue, sempre que for possível ou através da ação militar no caso de que alguns ainda alimentem ilusões sobre a viabilidade do projeto ter-rorista”, afirmou o diplo-mata sírio, reafirmando que “a Síria vai defender todos os seus territórios”.

O ministro russo de Assuntos Exteriores, Serguei Lavrov, de-fendeu o diálogo com participação do grupo Talibã, o governo do Afeganistão e a socie-dade civil afegão, junta-mente com o combate contra o movimento terrorista Daesh (o au-toproclamado Estado Islâmico). “A Rússia busca criar as condi-ções propícias para um diálogo de todas as partes da sociedade”, afirmou ao abrir as ses-sões da II Reunião de Moscou sobre as con-versas para buscar a paz, realizada nos dias 9 e 10 de novembro.

“É a primeira vez que uma delegação do Birô político Talibã, com sede em Doha, no Qatar, participa em discussões deste nível”, assinalou. “A tarefa da Rússia, como organizador desta ses-são, consiste em levar à mesa de negociações os sócios e amigos re-gionais do Afeganis-tão, além de oferecer um apoio mundial para um diálogo cons-trutivo entre afegãos”, destacou Lavrov.

O ministro russo afirmou que os pro-blemas desse país podem ser resolvidos unicamente por meios políticos, assim como “mediante a conquista de um consenso nacio-nal” e “a participação de todas as partes em conflito”. O chanceler acrescentou que Mos-cou advoga pela preser-vação do Afeganistão como um país unido e indivisível.

Lavrov disse ainda que o grupo terrorista Daesh está tratando de “transformar o Afega-nistão em trampolim de sua expansão na Ásia Central”, assi-nalando que a Rússia está pronta para fazer tudo o que for possí-vel para “ajudar os afegãos a deter esses planos e erradicar a ameaça terrorista”, segundo informou a agência TASS.

Assistiram também à conferência diploma-

tas e vice-ministros de Exteriores do Paquis-tão, Índia, China, Irã, EUA e alguns outros países da Ásia Central. Apesar de que o movi-mento talibã é forte-mente questionado na Rússia, Moscou há tem-po busca o diálogo com ele como único meio de possibilitar um acordo de paz. As autoridades russas ressaltaram que esta conferência, que finalizou no sábado, 10, teve caráter exclusiva-mente consultivo e, por isso, não houve acordos nem declaração final.

Os talibãs e o gover-no afegão realizaram sua primeira e única reunião em julho de 2015, mas os esforços de aproximação se frustraram. Também fracassaram o denomi-nado Grupo dos Qua-tro (Afeganistão, EUA, Paquistão e China) e as anteriores reuniões a seis partes organizadas pela Rússia.

O porta-voz dos ta-libãs, Mohamad Abas Stanikzai, considerou que a crise afegã tem duas dimensões: uma interna e outra ex-terna. Mas a questão central é a ocupação norte-americana. “O nosso principal objetivo é acabar com a ocupa-ção norte-americana que já dura 17 anos”.

As negociações co-meçam a avançar com os feitos da guerrilha que tem colocado na defensiva os invasores e o exército militar mon-tado sob sua supervisão em apoio ao governo de sustentação da invasão.

“Se os problemas da dimensão externa se resolvem, também poderemos solucionar a interna, incluídos temas tais como a Constituição, direitos humanos, direitos da mulher, drogas e todos os problemas inter-nos”, disse em refe-rencia à presença de tropas estadunidenses na região. Finalmente afirmou que tem boas expectativas acerca da próxima reunião no formato da agora reali-zada em Moscou.

Moscou é sede de rodada pela paz no Afeganistão

Imelda Marcos, esposa do ditador já morto das Filipinas, Ferdinand Marcos, que ficou conhecida pelas cenas em que mostrava pela televisão internacional a sua coleção de mais de mil pares de sapatos feitos a medida, acaba de ser condenada em Manila por uma série de acusações de corrupção.

A já anciã de 89 anos tinha escapado até o momento de responder pelo crime de criar fundações para ocultar as fortunas roubadas ao orçamento nacional durante a longa per-manência no governo de seu marido nos anos sessenta, setenta e oitenta.

O Tribunal Especial Anticorrupção a consi-derou culpada em sete casos e pode sentenci-á-la em até 42 anos de prisão. Imelda Marcos não se apresentou nas audiências e a Corte emitiu uma ordem de prisão em seu nome.

Durante o período mais violento do regime de Marcos, entre 1972 e 1981, 3.240 pessoas foram mortas, outras 70 mil presas e pelo menos 34 mil torturadas, de acordo com a Anistia Internacional.

O tribunal especializado em questões de corrupção financeira do arquipélago asiático também condenou a ex-primeira-dama a pa-gar US$ 200 milhões aos cofres públicos. O processo, que já dura duas décadas, investigou as fundações criadas por Marcos na Suíça entre 1968 e 1986.

As acusações foram apresentadas em 1991 quando ficou público que a mulher do ditador era titular das várias fundações na Suíça que tinham canalizado dinheiro desde as Filipinas. Ela foi ministra de Estado e governadora de Manila, nomeada pelo seu marido. Durante os 21 anos em que Ferdinand Marcos esteve no poder, o casal teria roubado mais de US$ 10 bilhões de recursos públicos.

Desde a queda do ditador em 1986, o gover-no filipino recuperou só 615 milhões de dólares em várias contas internacionais. Apesar de que o atual presidente Rodrigo Duterte em várias ocasiões elogiou Ferdinando Marcos e chamou o seu regime de “uma época de or-dem”, não conseguiu impedir as ações contra os desmandos realizados por ele.

Duterte repatriou os restos de Marcos e os enterrou no Cemitério dos Heróis da ca-pital, e apoiou seus filhos em candidaturas a senadores. A mesma Imelda é hoje deputada nacional. A continuidade dos processos está sendo acompanhada pela oposição e organiza-ções sociais para impedir que, mais uma vez, sejam engavetados.

O presidente turco Recep Erdogan, afirmou no sábado que seu país entregou aos governos dos EUA, França, Inglaterra e Alemanha, além de a Riad, as gravações de áudio com o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi no consulado em Istambul. “Nós demos as fitas. Nós as demos à Arábia Saudita, aos Estados Unidos, alemães, franceses e britânicos, todos eles. Eles ouviram todas as conversas neles. Eles sabem”, afirmou.

O anúncio de Erdogan é feito no momento em que a ditadura saudita está desenca-deando o ataque final ao porto de Hodeidah, no Iêmen, o que poderá provocar, conforme a ONU “a maior fome vista em décadas”, que atingirá até a metade da população, 14 mi-lhões de civis, que dependem do porto para receberem ajuda humanitária, alimentos, remé-dios e combustível. A declara-ção foi feita após a participação de Erdogan nas comemorações do fim da I Guerra Mundial, em Paris.

Os bombardeios sauditas já mataram 56 mil civis, mas só agora, com o cruel assassinato do jornalista, esquartejamento e dissolução do corpo com ácido, foi que a condenação à ditadura saudita logrou rom-per a proteção de Washington e atrair a atenção internacional. Conforme a Reuters, a diretora da CIA, Gina Haspel (também conhecida como Gina a San-guinária) já tinha tido acesso à gravação quando Trump a enviou no mês passado a Istambul.

Fontes asseveraram à Reu-

ters que as gravações em posse dos turcos incluem o assassinato em si e conversas prévias à ope-ração. Foram essas conversas que levaram Ankara a concluir que o assassinato foi premedi-tado desde o início, apesar das proclamações iniciais de Riad de que nada sabia. A premeditação foi admitida pelo promotor sau-dita, Saud al-Mojeb, embora a posição oficial de Riad é de que o príncipe coroado Mohammed bin Salman (MBS) – o herdeiro ao trono – de nada sabia.

Uma fonte familiarizada com as gravações disse que as autori-dades sauditas que ouviram fica-ram horrorizadas. O rei Salman ordenou a demissão de um dos principais assessores do príncipe MBS, Saud al-Qahtani, e mais quatro oficiais pela chacina no consulado. A Reuters afirmou que, no mês passado, recebeu de duas fontes da inteligência – não esclarece de qual país – a informação de que os assassinos no consulado receberam ordens de Qahtani pelo Skype.

Os filhos de Khashoggi pe-diram ao governo saudita que devolva o corpo – até aqui não encontrado – para um sepulta-mento digno. Erdogan pediu a Riad que apresente os assassi-nos, que devem estar entre os 15 sauditas que chegaram à Tur-quia horas antes da chacina e deixaram o país logo depois. “[Os sauditas] sabem com certeza que o assassino ou os assassinos estão entre esses 15. O governo da Arábia Saudita pode divulgar isso fazendo essas 15 pessoas falarem”, disse Erdogan.

Erdogan também acusou o procurador saudita Mojeb que visitou Istambul de “dar descul-

pas, dificultar as coisas”. Não forneceu qualquer informação às autoridades turcas e ainda pediu a entrega dos celulares que o jornalista assassinado deixara com a noiva antes de en-trar na toca do lobo. Na semana passada, outra autoridade turca disse que a Arábia Saudita en-viou duas pessoas, um químico e um toxicologista, a Istambul uma semana após o assassinato de Khashoggi para apagar pro-vas, o que considerou um indício de que os altos escalões de Riad sabiam do crime.

SACO PLÁSTICO“Estou me asfixiando, tire

essa bolsa da minha cabeça”. Estas foram as últimas palavras de Jamal Khashoggi, antes de ser assassinado, conforme a gravação divulgada domingo pela rede Al Jazeera. Khasho-ggi, que vinha denunciando o governo saudita por seu papel criminoso na guerra do Iêmen, morreu asfixiado com uma bolsa de plástico enquanto era torturado, assegurou Nazif Karaman, chefe de investigação do jornal turco Sabah.

Segundo Karaman, o co-mando assassino saudita, in-tegrado por 15 homens, cobriu com plástico o piso do lugar da tortura antes de desmembrar o corpo, em um processo que durou cerca de 15 minutos, dirigido por Salah Al Tubaigy, chefe do Conselho Científico Forense da Arábia Saudita. Os restos de ácido encontrados na residência do cônsul do reinado em Istambul reforçam a tese que o cadáver do jornalista foi dissolvido com produtos quími-cos para, uma vez decomposto, ser jogado no sistema de esgoto.

Com o príncipe coroado MBS tendo que fazer malabarismos para ocultar as digitais no

assassinato do jornalista Jamal Khashoggi e a ditadura saudita inteiramente isolada no mundo inteiro, o chefe do Pentágono, general ‘Cachorro Doido’ Mattis, pela primeira vez veio a público clamar por “cessar fogo no Iê-men dentro de 30 dias”, quando Riad tenta estrangular de vez a altiva, embora paupérrima, na-ção, após amontoar mais tropas no cerco do porto de Hodeidah, pelo qual entra toda a ajuda hu-manitária, remédios, alimentos e combustível de que dependem desesperadamente milhões de iemenitas.

Em suma, Mattis deu 30 dias para a ditadura saudita acelerar a agressão e completar o genocídio – repetindo o conselho do velho Kissinger aos gorilas argentinos, “apressem-se” , quando poderiam determinar que os militares ianques da sala de guerra na capital saudita pa-rem de indicar aos facínoras que alvos devem bombardear. Que muito frequentemente, diga-se, acabam sendo um mercado lotado de gente, um casamen-to, um ônibus escolar ou um funeral. Ou aliviar o bloqueio naval ao Iêmen que, na prática, é garantido pela Quinta Frota norte-americana.

Com o escândalo interna-cional em que se tornou o as-sassinato, esquartejamento, dissolução do corpo em ácido – o que mais faltará nesse show de horrores? – dentro do próprio consulado em Istambul, a di-tadura saudita não estava no melhor momento para regatear uma suspensão dos massacres no Iêmen, se houvesse tal dis-posição em Washington.

Também o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, afir-mou que o Iêmen está “à beira do precipício” e denunciou que “o direito internacional humani-tário foi violado repetidamente”. Ele advertiu que a situação no Iêmen – em clara referência ao cerco a Hodeidah – ameaça se converter “na pior fome que vimos em décadas”.

No porto, o quadro é horren-do. O bombardeio por ar e mar é contínuo. Mais de meio milhão de pessoas está sob risco direto. Apenas no final de semana passado, a organização humani-tária Save The Children relatou que sua equipe em Hodeidah contou cerca de 100 ataques aéreos, cinco vezes mais do que na primeira semana de outubro, quando foi fechado o cerco ao porto. As hordas atacantes, 30 mil, incluem soldados sauditas, dos Emirados e sudaneses, mercenários até milicianos da Al Qaeda. Agora anunciam o desembarque de mais 10.000 agressores.

O bombardeio de uma fábrica causou a morte de um trabalha-dor e deixou outros cinco feridos. Nem mesquitas ou prisões esca-pam das bombas, com mais seis

feridos. Os atacantes tomaram o Hospital Al Thawra, última grande unidade de atendimento médico em operação na região.

As forças iemenitas que de-fendem Hodeidah já contive-ram três ofensivas sauditas, e as estradas que conduzem ao porto estão juncadas de veículos e blindados calcinados. Segundo agência de notícias AFP, no dia 11 morreram 150 pessoas, sendo 32 invasores, 110 defensores e 18 civis.

Apesar das elevadas bai-xas entre os combatentes que enfrentam tanques e caças do exército saudita (com armamen-to, munição e treinamento nor-te-americano, além de indicação de alvos por satélite), o governo popular cobra caro a tomada da cidade portuária defendendo-a casa a casa.

Segundo o porta-voz do governo popular iemenita, Mohammed Abdul-Salam, os sauditas bombardeiam casas para avançar pois, na luta casa a casa não conseguem nenhuma vantagem militar. “O ataque saudita, que só pode ser descrito como um inconcebível crime de guerra, tem causado grave dano à infraestrutura de Hodeidah. Hospitais, escolas, fábricas e silos para o armazenamento de alimentos foram devastados nesta ofensiva”, afirma Salam.

De acordo com o Projeto sobre Eventos e Conflitos Arma-dos, o total de civis mortos desde que a ditadura saudita invadiu o Iêmen é cinco vezes maior do que o até agora estimado, chegando a 56 mil pessoas – em grande par-te, crianças, mulheres, idosos. Os crimes de guerra de MBS no Iêmen incluem a destruição sistemática da infra-estrutura de água potável, causando uma das maiores epidemias de cólera de todos os tempos.

A invasão de tropas sauditas ao Iêmen, para tentar reinstalar no poder um fantoche imposto por Washington e que foi corrido por um levante popular, foi pa-trocinada pelo governo Obama, do reabastecimento aéreo ao bloqueio naval, passando pelas vendas massivas de armas dos EUA e cobertura na ONU, polí-tica mantida por Trump, que até participou de uma dancinha com feudais em Riad. A Rússia, que apóia os esforços da ONU para mediar uma solução política no Iêmen, conclamou a que “todos os portos e aeroportos” do país continuem “abertos e operacio-nais” para a chegada da ajuda humanitária, bens essenciais, combustível e remédios.

A prêmio Nobel da Paz, a ativista iemenita Tawakkol Karman, fez um apelo ao mundo que obrigue a Arábia Saudita a parar a guerra contra o seu país natal. Em conferência realizada em Istambul, na sexta-feira, declarou que “os sauditas de-vem acabar com sua destrutiva intervenção no Iêmen e parar de apoiar bandos terroristas, milícias armadas e mercenários” que destroem o país.

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INTERNACIONAL14 E 15 DE NOVEMBRO DE 2018 HP

Trump aposta na xenofobia e no racismo e colhe derrota nas urnas

ANTONIO PIMENTA

114 milhões votaram nestas intermediárias, 31 milhões a mais que na de 2014

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ROSANITA CAMPOS

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Chanceler Zarif: ameaça “é desespero dos EUA”

Chauvinismo deixa Trump isolado nos atos em Paris pelos 100 anos do fim da I Guerra

Milhares em Roma e outras 50 cidades repudiam decreto anti-imigrante de Salvini

Casa Branca cassa direito de asilo de imigrante ilegalPompeo diz a líderes do Irã que têm que entrar na linha

‘se querem que seu povo coma’

O presidente republicano perdeu o controle da Câmara e governos de 7 estados. Em disputa, 100% das vagas de deputados; 35 das 100 cadeiras do Senado, além de 36 dos 50 estados

Milhares de pessoas se reuniram em Roma e mais de 50 cidades na Itália neste sábado (10) para protestar contra o decreto de segurança anti-imigrante de Matteo Sal-vini, ministro do Interior e líder do partido de extrema direita “Liga” antigamente chamado de Liga do Norte.

Contra a posição da maioria dos italianos o decreto do impopular Matteo Salvini, foi votado na quarta (7) no senado provocando a revolta popular. Associações da sociedade civil e de direitos humanos, sindicatos e de-mais organizações sociais antirracistas e de mulheres se mobilizaram e convocaram pelo facebook a manifestação no centro de Roma com seus membros portando cartazes e faixas com os dizeres “lutar contra o fascismo”, “As vidas negras importam” e “Lar para todos, fronteiras abertas” deixando claro que eram contra o decreto articulado pela extrema direita no governo e exigindo sua revogação no Senado e sua não aprovação na Câmara.

Tanto em Roma quanto nas mais de 50 cidades italianas, marchando sob o sol forte, manifestantes e ativistas também exigiram em palavras de ordem e cartazes “Não a Salvini e ao racismo” portado por um manifestante, Sérgio Serraino, membro de uma associação italiana “Emergência” de apoio aos imigrantes.

Uma grande faixa com os dizeres “Bem-vindo a todos, fronteiras abertas” serviu de ponto de encontro para muitos imigrantes que participaram massivamente do grande encontro solidário “que poderia ter contado com muito mais participantes se a polícia não tivesse impedido que muitos ônibus que os traziam saíssem de suas cidades e chegassem até Roma”, denunciou o ativista Sérgio Serraino.

O decreto muito controverso ainda precisa ser votado na Câmara dos Deputados com votação prevista para o final de novembro.

O texto aprovado até aqui no Senado substitui, entre outras, as autorizações de residência humanitária atualmente conce-didas a 25% dos que pedem asilo que vale por dois anos, e a proteção especial por um período de um ano ou para vítimas de desastres naturais no país de origem que vale por seis meses.

O mesmo texto prevê ainda um procedi-mento de emergência para expulsar qualquer candidato a asilo que seja considerado “peri-goso”, generaliza o uso de pistolas elétricas e facilita a evacuação de edifícios ocupados.

Existem na Itália 146 mil imigrantes (até o final de outubro) esperando por asilo e estes serão reagrupados em grandes centros de triagem para reduzir custos.

Salvini esteve recentemente no Brasil em visita a Bolsonaro. Os dois se conside-ram amigos e os dois são admiradores e amigos de Trump.

Lamentavelmente o futuro presidente do Brasil esqueceu-se do ditado: Dizei-me com quem andas, que te direi quem és.

O secretário de Es-tado norte-americano Mike Pompeo disse que os líderes do Irã têm que entrar na linha “se querem que seu povo coma”.

Frente à declara-ção de Pompeo, de-nítido ranço nazi, o chanceler iraniano Mohamad Javad Zarif disse que a chantagem estadunidense é “uma tentativa desespera-da” da administração de Donald Trump de “impor seus caprichos ao Irã”. “Não esque-ceremos que Pompeo está ameaçando aber-tamente de matar os iranianos de fome, um crime contra a Huma-nidade”, sublinhou.

“Pompeo, assim como seus predeces-sores, também apren-derá que – em que pese as tentativas dos EUA – o Irã não so-mente sobreviverá, senão avançará sem sacrificar sua sobe-rania”, destacou o chefe da diplomacia

iraniana, frisando que o mundo já sabe que não poderá ser “prisioneiro e refém” das políticas norte-a-mericanas.

Zarif apontou os Estados Unidos como responsável por crimes de lesa-humanidade, tanto no Irã como no Iêmen, por haver res-tringido o acesso da po-pulação a alimentos e medicamentos através de sanções unilaterais e injustas, insusten-táveis sob qualquer aspecto.

Participando de um foro europeu em Viena, na Áustria, o presidente do Conse-lho Estratégico de Re-lações Exteriores do Irã, Seyed Kamal Ja-razi, também foi en-fático. “A história do Irã demonstrou que nunca negociamos nossa independência e que resistiremos, a qualquer custo, diante da ingerência e da dominação es-trangeira”, concluiu.

Chefes de estado de 70 países participaram em Paris no final de semana dos atos pelos 100 anos do fim da I Guerra Mundial, que marcou a passagem da guerra a um novo estágio de devastação e carnificina, com 10 milhões de mortos, 30 milhões de mutilados, 3 milhões de viú-vas e seis milhões de órfãos. Uma guerra de bandidos im-perialistas, pelo reparto do mundo e pela rapina. Eleito apelando ao chauvinismo e xenofobia, ficou patente nas cerimônias o isolamento do presidente Donald Trump, que até mesmo se recusou a ir ao Foro da Paz organizado pelo governo francês.

No sábado (10), o presi-dente francês Emmanuel Macron e a primeira-ministra alemã Angela Merkel enca-beçaram a marcha a pé até o túmulo ao soldado desconhe-cido, no Arco do Triunfo, à qual se reuniram o presidente russo Vladimir Putin e o dos EUA, Trump. Também participou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres. Em ritmo de Brexit, a pri-meira-ministra Theresa May ficou em Londres, para outra cerimônia, a que compareceu o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier.

No domingo, soaram os sinos em toda a França, como há um século, às 11 horas do dia 11 do mês 11 de 2018, momento da entrada em vigor do armistício assinado na madrugada no célebre va-gão de trem do comandante

francês Ferdinand Foch na floresta Compiegne. Muitos dos combates mais duros e mais letais ocorreram em trincheiras no norte da França e na Bélgica.

O mesmo Macron que em sua tour na Casa Branca no início do ano se desman-chara em agrados a Trump, se sentiu na obrigação, em casa, de responder ao “Amé-rica First” do presidente bilionário e seu rasgar de acordos internacionais e suas sanções e guerras co-merciais, ao assinalar em seu discurso que “dizer ‘nos-sos interesses primeiro e o que importa os dos outros’ apaga o que uma nação tem de mais precioso, o que a torna viva, o que a torna ex-celente, o que mais importa: seus valores morais”.

Ele também convocou a “somar nossas esperanças ao invés de opor nossos medos” e até ensaiou uma condenação ao chauvinis-mo, impropriamente trata-do como “nacionalismo” em oposição ao “patriotismo”. Em que pese o evidente cinismo das conclamações do presidente francês “pela paz” – nós sabemos o que vocês fizeram na Líbia e na Síria -, suas palavras não deixam de pegar em cheio a Trump, cujo secretário de Estado ousou dizer na semana passada que os líderes do Irã tinham que entrar na linha “se querem que seu povo coma”.

Nas vésperas do ato,

tentativa de Macron de re-abilitar o traidor Pétain, encontrou tamanho repúdio dentro da França, que ele teve de recuar. Pétain, que foi aclamado na I Grande Guerra, rendeu-se a Hitler em 1940 e encabeçou o Es-tado fantoche de Vichy sob a ocupação nazista, perseguiu a Resistência e entregou ju-deus para o extermínio.

O presidente francês con-vocou a rechaçar a fascinação pela revanche, violência e dominação, ao lembrar os milhões que tombaram na I Grande Guerra. Ele assina-lou que “os velhos demônios ressurgem, dispostos a levar a cabo sua obra de caos e mor-te” e advertiu sobre ameaças como a pobreza, a fome, a desigualdade e o aquecimen-to climático. “Nesses quatro anos [1914-1918], a Europa quase se mata a si mesma”, rememorou.

No Foro pela Paz boico-tado por Trump, Merkel em seu discurso manifestou temor pelos avanços das for-ças chauvinistas e xenófobas na Europa na atualidade, e disse que “a paz que desfru-tamos hoje, que às vezes nos parece como algo evidente, está longe de sê-lo, e é pre-ciso lutar por ela”. Três dias antes do ato, a Otan estava encerrando suas maiores manobras militares na Euro-pa, perto da fronteira com a Rússia, em que participaram 50 mil soldados de 31 países.

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O desejo da Europa de criar seu próprio exército e deixar de depender de Wa-shington para a defesa não apenas é “natural”, como “é positivo para o mundo multipolar”, afirmou o presi-dente russo, Vladimir Putin, em entrevista durante as comemorações em Paris do fim da I Guerra Mundial.

“A Europa é uma poderosa união econômica e é natural que eles queiram ser inde-pendentes e soberanos no campo da defesa e seguran-ça”, declarou Putin. Ainda segundo o líder russo, trata-se de “um processo positivo” que “fortaleceria o mundo multipolar”. A proposta foi sugerida na semana passa-da pelo presidente francês Emmanuel Macron.

Já o presidente Donald Trump não achou a menor graça na ideia da Europa ter força militar própria e cha-mou de “muito ultrajante” o comentário de Macron sobre essa necessidade. Trump

Putin diz que exército europeu é “bom para o mundo multipolar”. Já para Trump, ideia “é ultrajante”

aproveitou para voltar a exi-gir que os europeus paguem pela ocupação, o que chamou de “retribuição aos EUA por subsidiar a Otan”.

Depois do entrevero pela mídia, Macron e Trump buscaram amenizar as diver-gências, chamando tudo de “mal-entendido” e dizendo concordar sobre ter “uma Europa mais forte”. Desde o final da II Guerra, os EUA mantêm dezenas de milha-res de soldados e centenas de bases na Europa, especial-mente na Alemanha e Itália.

Sobre as relações de Mos-cou com a Otan e Washin-gton, Putin afiançou que a Rússia está sempre pronta para o diálogo e acrescentou que a bola está agora no ter-reiro dos EUA. “Não somos nós que vamos nos retirar do Tratado INF, são os america-nos que planejam fazer isso”, salientou, sobre o acordo em vigor há 30 anos que proíbe os mísseis de alcance médio e curto.

Já está em vigor a cane-tada de Donald Trump que negou aos imigrantes ilegais o direito de pedir asilo nos EUA e que foi considerada “ilegal” pela principal enti-dade norte-americana de de-fesa dos direitos constitucio-nais, a União Americana das Liberdades Civis (ACLU).

Conforme o arbitrário de-creto de Trump, a imigração vai recusar pedido de asilo a qualquer um que entre no país fora do ponto de entra-da oficial. “A lei dos EUA permite especificamente que os indivíduos solicitem asilo, estejam ou não em um ponto de entrada. É ilegal contornar isso por agência ou decreto presidencial”, afirmou a ACLU.

Trump, que fez da demoni-zação dos imigrantes o centro de sua derrotada campanha nas eleições intermediárias, em que perdeu a Câmara dos deputa-dos e sete governadores, assi-nou a medida antes de viajar a Paris para as comemorações do fim da I Guerra Mundial. Ele também enviou milhares de soldados e arame farpado para a fronteira com o México.

A medida vigora por 90 dias e pode ser renovada, sob o pretexto de que os imigran-tes ameaçam “a integridade de nossas fronteiras, nossa nação”, conforme asseverou o presidente bilionário.

O alvo, claro, é a caravana de milhares de refugiados

que marcham pelas estra-das há um mês, fugindo da miséria e violência de que a centenária intervenção dos EUA na região é um fator essencial. Como visto no golpe em Honduras em 2009 e nas décadas anteriores, com a promoção de grupos de extermínio, tudo acom-panhado pelo mais deletério neoliberalismo e arrocho.

Também a Anistia Inter-nacional repudiou o novo ato de xenofobia e racismo. “Eu vi em primeira mão o impac-to de políticas desumanas e ilegais que traumatizaram as pessoas que fugiam do peri-go quando visitei Tornillo, Texas”, afirmou a dirigente da entidade nos EUA, Mar-garet Huang.

Ela denunciou que “a criminalização dos reque-rentes de asilo, em vez da compaixão, criou algumas das políticas mais vergo-nhosas que já vi neste país”. A ativista acrescentou que essa narrativa de que as pessoas que procuram re-fúgio são “uma ameaça à segurança” não passa de “uma crise fabricada pelo governo Trump enraizada na política do ódio e medo.”

Advogados da ACLU já impetraram em um tribu-nal federal da Califórnia pedido de anulação da or-dem executiva [decreto] de Trump e a suspensão de sua aplicação enquanto não

houver sentença sobre o mé-rito da questão. A entidade acusa o governo de violar as leis de imigração e a de pro-cedimento administrativo e de extrapolação dos poderes executivos além do que a Suprema Corte determina.

Kathryn Hampton, em nome dos “Médicos pelos Direitos Humanos”, adver-tiu que as novas medidas que o Homeland (Segurança Interna) e os agentes de imi-gração passaram a aplicar, impedindo que as pessoas que entrem nos EUA entre as portas de entrada oficial solicitem asilo, “são uma vio-lação direta do Artigo 31 da Convenção dos Refugiados das Nações Unidas, à qual os EUA estão vinculados”.

A questão também cha-mou a atenção do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) que em comunicado declarou que Washington deve garantir que todas as pessoas que chegam ao país fugindo da violência ou per-seguição “recebam proteção sem obstruções”. A nota acrescentou que muitas das pessoas que atualmente se deslocam em caravana pela América Central e México, “estão fugindo da violência ou da perseguição que ame-aça suas vidas e precisam de proteção internacional”.

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A recontagem na Fló-rida, bem como o impasse na Geórgia, chamam a atenção

para a amplitude da derrota do governo Trump nas elei-ções intermediárias, em que perdeu a Câmara dos Depu-tados e sete governadores, após se jogar de cabeça nos comícios e fazer do ataque aos imigrantes, isto é, do racismo e xenofobia, seu principal cabo eleitoral.

Na noite de segunda-feira (12), ainda estavam em aber-to duas cadeiras no Senado (Flórida e Arizona), dois governos estaduais (Flórida e Geórgia) e 13 mandatos de deputado. Conforme o ana-lista Nate Silver, os demo-cratas poderiam conquistar bem mais que as 29 cadeiras já anunciadas.

O que Trump ainda con-seguiu, no conjunto do que estava em disputa, foi man-ter a maioria no Senado mas em um quadro em que das 100 cadeiras, somente 35 estiveram em disputa e, destas, os democratas defen-diam 26, contra apenas 9 dos republicanos. E dependendo das recontagens, mesmo essa maioria pode vir a encolher.

O comparecimento foi o maior dos últimos cinquenta anos e, conforme os núme-ros do New York Times, chegou a 114 milhões de eleitores, muito acima das intermediárias de 2010 (91 milhões) e 2014 (83 milhões). 35 milhões votaram ante-cipadamente. Estavam em disputa 100% dos mandatos de deputado federal (reno-vados a cada dois anos), 33 das 100 cadeiras no Senado – mais duas votações extra-ordinárias de senadores que renunciaram -, e 36 de 50 governos estaduais.

Se houve a “onda azul”, ou não, é uma discussão, mas com 30 milhões a mais de comparecimento às urnas em relação às intermediárias de 2014, essa seria uma boa razão para Trump ter posto de lado a capitalização da situação econômica, tida pela mídia como “boa”, e optado por apavorar seus eleitores via discurso do ódio, contra os imigrantes latinos, a ca-ravana, para garantir sua ida às urnas e pelo menos o Senado. Até milhares de soldados foram deslocados para a fronteira, para ame-açar dar tiro em refugiados e estender arame farpado, para impressionar mais os incautos e racistas.

Os republicanos controla-vam o Congresso – Câmara e Senado – e a grande maioria dos legislativos e dos executi-vos estaduais, o que escorreu entre os dedos. A perda da Câmara, para um lúmpen-bilionário como Trump, com rabo preso por todo lado, significa que não só vai fi-car mais difícil de arrumar verba para seu muro, mas

também que vai estar sujeito a inquirições e, se bobear, até abrem um processo de impeachment – embora fosse brecado no Senado.

O revés fica ainda mais ní-tido nos governos estaduais, em que a proporção republi-canos/democratas era de 2:1 (33 a 16 + 1 independente) e caiu para quase 1:1 (25 a 22, com duas eleições em aberto).

Nos quatro estados que foram decisivos para a vitória de Trump no colégio elei-toral em 2016, Pensilvânia, Michigan, Wiscosin e Ohio, os democratas ganharam a disputa do senado em quatro e a dos governadores em três. Trump só manteve Ohio. Os outros estados perdidos pelos republicanos foram Kansas, Nevada e Novo México. Os democratas não perderam ne-nhum governo que já tinham.

Dos estados mais pesa-dos na economia dos EUA, os republicanos mantém o Texas, roem as unhas sobre a Flórida e suspiram de alívio quanto a Ohio. Mesmo no Texas, na disputa do senado Beto O’Rourke ficou apenas 3 pontos percentuais abaixo de Ted Cruz, que buscava a reeleição - o melhor resulta-do democrata no estado em muito tempo.

A participação das mulhe-res cresceu enormemente, com mais de 100 congressis-tas, entre essas duas depu-tadas muçulmanas – apesar de todo o racismo explícito e perseguição de Trump contra os muçulmanos -, Ilhan Omar e Rashid Tlaib, e a da mais jovem deputada, Alexandria Ocasio-Cortez (veja matéria). Deb Haaland e Sharice Davids se tornaram as primeiras mu-lheres de origem indígena a se elegerem deputadas federais.

Também a participação dos negros, com os candida-tos a governador na Geórgia (Stacey Abrams) e na Flórida (Andrew Gillum), que tiveram uma performance admirável. E referendo devolveu a 1,4 milhão de negros da Flórida a condição de votantes.

“Socialismo”, que no co-ração do império é quase um palavrão, virou tema de cam-panha, com Trump tuitando contra e acusando as mobili-zações de repúdio a seus des-mandos que tomaram as ruas dos EUA nos últimos meses de serem “turbas”. Partidários de Trump exibiam nos comícios cartazes com “Jobs, not mobs” [Empregos, turbas não].

A campanha pelo Medica-re para Todos – a extensão da saúde pública que os aposen-tados já têm há décadas para todos os norte-americanos – alcançou uma amplitude inédita. Também a denúncia da descomunal dívida estu-dantil, com os EUA sendo o único grande país que não tem ensino superior gratuito.

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Assim caminhou a humanidade

WALTER NEVES* e VICTOR DE OLIVEIRA**

ESPECIAL O bioantropólogo Walter Neves, responsável pelo estudo da Luzia, fóssil humano mais antigo das Américas. Foto: Paulo Vitale

Maior especialista mundial na chegada do homem nas Américas, o bioantropólogo Walter Neves tem uma preo-cupação que vem repetindo exaustivamente: o cientista precisa descer do salto alto e explicar ao povo a sua pesquisa e os seus estudos. É o que o motivou a escrever para o HP este artigo sobre evolução humana.

Walter faz parte dos Cien-tistas Engajados, um grupo de pesquisadores, cientistas e acadêmicos que decidiu ter uma participação política ativa. O grupo, que hoje re-úne perto de 400 membros, lançou dois candidatos pelo Partido Pátria Livre, em São Paulo, nas últimas eleições,

o próprio Walter a deputado federal e Mariana Moura a de-putada estadual, obtendo em conjunto mais de 22 mil votos.

Ele é o responsável pelo estudo da Luzia, fóssil huma-no mais antigo das Américas, que o levou a propor o modelo da dupla migração do homem para o continente americano. Hoje vinculado ao Instituto de Estudos Avançados da USP (IEA), Walter criou o Labora-tório de Estudos Ecológicos e Evolutivos Humanos da USP (LEEEH), onde foram desen-volvidas as mais extensas e completas pesquisas arque-ológicas sobre a região de Lagoa Santa (MG), berço do povo de Luzia.

CLOVIS MONTEIRO

(Instituto de Estudos Avançados da USP)má notícia para os cria-cionistas de plantão, e parece que haverá ren-cas deles no próximo governo, é que a nossa existência no planeta pode ser perfeitamente explicada por um pro-cesso evolutivo lento e gradual, não guiado,

assim como ocorreu com os demais seres vivos do plane-ta. Como conta uma famosa anedota, o grande matemático francês Pierre-Simon Laplace, ao apresentar seu mais recen-te trabalho sobre mecânica celeste a Napoleão Bonaparte, o imperador o teria questio-nado por não haver nenhuma menção a Deus no seu ensaio. Laplace teria imediatamente respondido: “Imperador, eu não precisei dessa hipótese”. Não há a menor necessidade de lançar mãos de intervenção divina para explicar e justificar nossa existência. Dezenas de fósseis e centenas de sítios arqueoló-gicos e datações por diferentes métodos comprovam o processo inteiramente natural de ances-tralidade-descendência que nos fez chegar até aqui.

Tudo começou há 7 milhões de anos, com o surgimento dos primeiros primatas bípedes. O primeiro bípede é conhecido como Sahelanthropus tchaden-sis e foi encontrado em 2002 no deserto do Chade. A bipedia é o traço que distingue nossa linhagem, a dos hominínios, da dos chimpanzés, nosso parente mais próximo na Terra, com quem repartimos 98% de nosso genoma. Ou seja, nós humanos não viemos dos chimpanzés. Nós e eles repartimos um an-cestral comum, que viveu há cerca de 8 milhões de anos. Já há vários candidatos para ocupar essa posição, mas o mais festejado é o Graeopithecus freybergi, cujos fósseis foram encontrados recentemente na Grécia e na Bulgária.

No início, a bipedia era faculta-tiva, mas há cerca de 2,5 milhões de anos ela passou a ser estrita-mente terrestre. Esse fenômeno coincide com o surgimento do gênero Homo no registro fóssil. Datam também dessa época três outras características bastante humanas: cérebros maiores do que aqueles dos grandes símios, a fabricação das primeiras fer-ramentas de pedra lascada e a ocupação sustentada das grandes áreas de savana. Até 2 milhões de anos atrás, toda a evolução de nossa linhagem se restringiu ao continente africano.

Mas há 1.8 milhões de anos um de nossos ancestrais mais famosos, o Homo erectus, já pode ser encontrado no Cáuca-so, como atestam os cinco crâ-nios dessa idade exumados nos anos 2000 na jazida de Dmanisi, na República da Georgia. A capacidade craniana desses 5 indivíduos varia entre 650 e 750 cm3 . Por volta de 1.5 mi-lhões de anos atrás esse nosso ancestral, que surgiu na África, já podia também ser visto nas paisagens asiáticas e européias, às vezes com cérebros que atin-giam cerca de 900 cm3.

Se a primeira indústria de pedras lascadas era caracteri-zada apenas por lascas simples, sem retoques, por volta de 1,6 milhão de anos surgiram as pri-meiras ferramentas idealizadas mentalmente, com sinais de

preconcepção. Em outras pa-lavras, foi somente a partir daí que nossos ancestrais passaram a impor sobre a pedra formatos específicos de ferramentas. Coincidentemente, essas pri-meiras ferramentas planejadas só surgem no registro fóssil com o desenvolvimento do cérebro acima de 900cm3.

Por volta de 600 mil anos atrás surgiram os primeiros cabeçudos. Denominado Homo heidelbergensis, esses hominí-nios já apresentam uma capa-cidade craniana muito próxima à nossa, cerca de 1200 cm3. Na Europa esses hominínios deram origem aos neandertais com ca-pacidade craniana de cerca de 1450cm3. Rapidamente esses hominínios se expandiram para o Oriente Médio e Sibéria, seguindo, mais ou menos, os climas frios, já que na Europa, onde surgiram, o clima era bas-tante inclemente. Talvez, por sua grande adaptação ao frio nunca conquistaram a África, eminentemente tropical.

Na África os heidelbergensis deram origem à nossa espécie, por volta de 200 mil anos atrás. Entre essa data e 50 mil anos atrás, nossa espécie ficou restri-ta à África. Foi somente a partir de então que o Homo sapiens espalhou-se por todo planeta, encontrando várias espécies ainda arcaicas pelo caminho. Essa expansão foi rápida. Há 45 mil anos o homem moderno já estava na Austrália e há 14 mil anos, na América.

Pode parecer tentador ima-ginar que nossa espécie está sozinha no planeta há muito tempo, mas na realidade a exis-tência de apenas uma espécie de hominínio na Terra ao mesmo tempo é muito recente do ponto de vista evolutivo. Há cerca de meros 30 mil anos conviviam na Terra pelo menos cinco espécies: nós, praticamente em todo o planeta, os neanderthalensis na Europa, o erectus no sudeste asiático, o Homo floresiensis na Ilha de Flores, também no sudeste asiático, e uma espécie ainda não nominada oficialmen-te conhecida como Denisovanos, na Sibéria.

Não sabemos exatamente como se deu o embate entre o Homo sapiens e os arcaicos que foram encontrando, mas no caso da Europa nossa espécie substituiu completamente os Neandertais em 10 mil anos de convivência. Os últimos Neandertais viveram alí há cerca de 29 mil anos. Até bem pouco, acreditava-se que o homem moderno e o homem de neandertal não trocaram genes, mas hoje sabemos que na verdade houve cruzamen-to biológico entre essas duas espécies, ainda que de forma incipiente. Europeus e asiáticos atuais apresentam cerca de 2 a 4% de genes neandertais. É possível que cruzamento entre

sapiens e outros hominínios arcaicos possa ter ocorrido em outras partes do mundo, mas o registro fossilífero entre 100 e 30 mil anos atrás é extrema-mente pobre fora da Europa e do Oriente Médio.

Como visto, todas as espécies de hominínios arcaicos foram extintas ou assimiladas pelas populações de Homo sapiens. Mas nós também quase nos extinguimos há cerca de 70 mil anos. A explosão de um grande vulcão na Indonésia, mais ou menos nessa época, causou um inverno nuclear de aproxi-madamente 5 anos no planeta. Nossa espécie foi reduzida a meros 10 mil indivíduos, núme-ro esse similar aos chimpanzés hoje existentes, espécie essa considerada em alto risco de extinção. Isso demonstra que não temos nada de especial. Se não tivéssemos a sorte de ter sobrevivido a essa catástrofe, poderia haver uma outra espé-cie de hominínio predominando na Terra hoje, bem como pode-

ria não haver nenhuma.Mas por que o homem mo-

derno saiu retumbantemente da África há cerca de 50 mil anos, tendo colonizado rapi-damente todo o planeta? Os vestígios arqueológicos não deixam dúvidas quanto a isso. Entre 70 e 50 mil anos atrás, na África, ocorreu uma mudança abrupta no cérebro dos sapiens o que levou à uma explosão de sua criatividade, incluindo a tecnológica. Esse episódio é de-nominado a Explosão Criativa do Paleolítico Superior. Foi a partir desse episódio que co-meçamos também a produzir e manipular símbolos. Passamos a atribuir significado a quase tudo em nossa volta, incluindo aí uma significação para a pró-pria vida. Foi a partir daí que nos tornamos os seres existen-ciais e infelizes que somos.

Quais os indicadores arque-ológicos desse episódio? Pri-meiramente o número de ferra-mentas de pedra lascada saltou de 20 para 100. Pela primeira

vez, começou-se a sepultar os mortos de forma ritualística. Osso, dente e chifre passaram a ser usados como matéria prima para a fabricação de adornos e utensílios. Surgiram as primei-ras manifestações artísticas, tais como, a escultura e a pin-tura parietal. Tanto a primeira quanto a segunda têm, de saída, forte viés xamanístico, indican-do, portanto, que o sentimento de religiosidade também fez parte do pacote.

Alguns autores não aceitam esse modelo. Para eles, como tudo mais, a capacidade de expressão simbólica também evoluiu de forma gradual e lenta, podendo ser encontra-da também entre as espécies arcaicas. Por exemplo, foram encontrados recentemente na Espanha grafismos rupestres datados, em princípio, em 65 mil anos. Como nessa época o Homo sapiens ainda não estava presente na Europa, esses autores têm atribuído aos neandertais esses grafismos.

Como todo o resto da vida, nossa evolução se baseou em processos muito simples des-vendados pela primeira vez por Charles Darwin, ainda no sécu-lo XIX. Sua grande sacada foi o mecanismo da seleção natural agindo sobre a variabilidade existente em qualquer popula-ção de seres vivos: os mais aptos sobrevivem mais e deixam um maior número de cópias de seu DNA para as gerações futuras. Com o desenvolvimento da genética no século 20, ficou claro que a combinação entre mutações aleatórias no DNA e seleção natural é a receita para a geração de novas linhagens evolutivas. A grande diversi-dade de espécies existentes é resultado desse algoritmo simples. Portanto, evolução é apenas descendência com modificação. Assim, a comple-xidade não necessariamente é premiada pela evolução. Cabe lembrar que 90% dos seres vi-vos do planeta são constituídos por micro-organismos. A maior evidência de que a evolução não é guiada ou se constitui num exemplo de design inteligente é que 99% das espécies que já existiram na Terra estão extin-tas. Como visto acima, nós tam-bém quase fizemos parte desse grupo. Na evolução, extinção é a regra. Sobrevivência, exceção.

*Walter Neves é arqueólogo, bioantropólogo, responsável pe-los estudos da Luzia, fóssil mais antigo das Américas. Criador do Laboratório de Estudos Eco-lógicos e Evolutivos Humanos da USP (LEEEH), atualmente está vinculado ao Instituto de Estudos avançados da USP. É fundador do grupo Cientistas Engajados.

**Victor de Oliveira é gradu-ando do Instituto de Matemáti-ca e Estatística (IME) da USP e aluno no Instituto de Estudos avançados da USP

Pinturas na caverna de Chauvet, sul da França, datadas entre 35 mil e 40 mil anos atrás