ano3|nmero1|jun-jul-ago2013

distribuiogratuita|vendaproibida

MARCOSVELOSO-HOMENAGEM

OfotgrafoMarcosVelosoeraumseraparentementedesconstrudo,masnenhumartistadasuageraoapresentouumaobratocoerenteeplasticamentedeprofundadelicadezacomoasua.Sensveledespojado,elesabiacaptaraessnciadarealidadesemperderdevistaafunodaartenesseprocesso.svezes,sutilezasprogramadas.Noutras,aoportunidadedoimpondervel:paisagens,gestos,cenashumanas,detalhes.Noinventouaquiloqueosgrandesfotgrafosjnotivessemcriado;nembuscouserdiferente;apenasdeixoufluiroquedentrodeleeraoseuprprioespritodepermanentealegriaedisponibilidadeaosamigosevida.Francisco(Chico)PereiradaSilvaJnior

Iniciadonafotografianocomeodosanos1980,MarcosVelosonasceu(esecriou)nobairrodeJaguaribe,emJooPessoa,em14deagostode1950.FormadoemMedicina,atuounosetorderadiologiadoHospitalUniversitriodaUFPBeissomuitofacilitousuaadaptaoaoslaboratriosfotogrficos.Naverdade,adescobertadanovahabilidadesurgiunumcursorealizadonoCentrodeTecnologiadaUFPB.Depois,foiconvidadoparaumacoletivanaFeiradeTecnologiadeCampinaGrande.Desdeento,foraminmerasexposiespelopasenoexterior.

Em1994,aoladodosjovensfotgrafosManodeCarvalhoeRicardoPeixoto,criouaAgnciaEnsaiodedicadaevoluoequalidadetecnolgicadafotografianacidadedeJooPessoa.Antes,atuounogrupoTraficantesdeImagensemvriosprojetosculturais.ParticipanteativodasassociaesLeHors-LeREDEdeintercmbiocomFranaeSua,respectivamenteemquefoiumembaixadordaregiosertaneja,levandoconsigoosestrangeirosparamemorveisexpediespelosrincesdageografianordestina.Muitasdasimagensqueregistrou,especialmentesobreosertoparaibano,dabelezaexticadapaisagemnordestinaedoscostumesdopovo,ficaramconhecidasinternacionalmente.

Em1995,participoucomoconvidadodaBiennaleInternationaledArtdeGroupe,umdosmaisimportanteseventosartsticosnoSuldaEuropa,emMarselha/Frana,onde,umanoantes,viveubreveperododetrabalho.

MarcosVelosofaleceuem04defevereirode2000,noaugedesuaproduoartsticaenomomentoemqueacabaraderegistrarofolcloredoMaranhoeobairrodoVaradouro,noCentroHistricodeJooPessoa,aoladodoscolegasGustavoMoura,AntnioAugustoFonteseWalterCarvalho.E,quandosepreparavaparaviajaratCubaeFrana.

MarcosVeloso,Viaduto,CentrodeJooPessoa,1997

Apsedieslanadasemperodosirregularesaolongodosltimosseteanos,finalmente,arevistaSegundaPessoaprometetornar-seassduadaquiprafrente.GraasaoEditalProculturadeEstmulosArtesVisuais2010,daFunarte/MinistriodaCultura,quecontemplouapublicaodeoitoedies,trimestrais,pelosprximosdoisanos,almdesuaversonainternet:www.segundapessoa.com.br.

Nossapropostasemantmdesdeseuprimeironmero,de2006:publicarartigos,ensaioseimagensdeautoresbrasileiros,commaiornfaseparaanliseedivulgaodaproduocontemporneadeartesvisuaisnoNordeste.E,destavez,seramplamentedistribuda(gratuitamente)entreartistas,bibliotecaseinstituieseducacionaiseculturaisdopas.

Nestaedio,hespaoparareviveropassadoaotratardavida/obradoartistaFernandoJacksonRibeirosertanejodaParabaenomefundamentalparaacompreensodaesculturabrasileiranosanos1960/70,apartirdoRiodeJaneiro,ondeatuoucomartigosdeStnioSoaresedeWalterGalvo.

Namesmaideiaderevisoereflexo,estoosnecessriosartigossobreartesanato,doestetaeartistaRaulCrdula;sobreartecorreio,deJotaMedeiros;esobreosartistascontemporneospernambucanosBeteGouveiaeMaurcioCastro,deMadalenaZaccara.Aediosecompletacomtextoelucidativosobredireitoautoral,deLuizVidal,eumartigodaprofessoraedesignerAlineBassoqueabordaalinhatnueentrearteemoda.

Ah,eofotgrafoMarcosVeloso,falecidoem2000,ilustraacapaerecebehomenagempstumadarevista.OartistaearquitetoAlmandradefechaestaedionosexplicandoofenmenodasbienaisdearte.

Boaleitura!

editorial editorial

ndice

Arcasmoexpressivo:apoticadeJacksonRibeiro,porStnioSoares 4Umaarteparaaglobarbrie:HlioOiticica/JacksonRibeiro,porWalterGalvo 7Afinal,queartesanato,porRaulCrdula 9Sobreoprocessodemanutenodeumaidentidadenasartesvisuaisnacontemporaneidadepernambucana:BeteGouveiaeMaurcioCastro,porMadalenaZaccara14Costuraspoticas:sensorialidadesdaroupa,porAlineBasso20Artecorreio:aideiaemprocesso,porJotaMedeiros24Deficinciaautoraldasartesvisuais,porLuizVidal 27OfenmenoBienaldeArte,porAlmandrade 30

Este projeto foi contemplado com o Prmio Procultura de Estmulo s Artes Visuais 2010

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tradicionalpraticamentedesapareceu,enquantocomeamaaparecerobjetosnoespaodequaisquermateriaisque,semaislongedasbelas-artes,maisprximasesto,porm,dacriaopopular(PEDROSA,1960).Nomesmosalo,oentodiretordoMuseuNacionaldeBelasArtes,TeixeiraLeite,vemapblicodefenderapremiaodeRibeiro,destacandoavitalidadeesensibilidadedassuasobras:Maisduasqualidades,porm,possveldescobrirnaspeasmencionadas:1)forapotica,aquientrandootermoemsuaacepodepodercriador,inventiva;2)adequaoentreoqueoartistadesejoufazereomaterialdequelanoumo(LEITE,1960).

Nessafase,oartistaconjugavaoferroeapedra,especialmenteogranito.Exemplaresdesseperodoso:Elementar4,dacoleoJosePaulinaNemirovsky,eElementar5,coleoMAC-USP,esseltimoexpostonaIVBienaldeSoPauloeprmioaquisio,em1961.Nessasobras,JacksonRibeirojustapeapedraeoferrocompoucaouquasenenhumatransformaodosmateriais;nessesentido,suapreocupaorevela-seemsituarosmateriaisenquantoformaplsticaematerialidade,elementoscompositivosessesquesesomamedinamizamalinguagemescultrica.Outroaspectoqueconstriavisualidadecaractersticadessasobrasaapropriaodemateriaiscomcertasespecificidadesnocontextomodernoexperimentadocomaindustrializao:porumladoapedra,elementorstico,significativonacomposiodosolo,queseapresentaorganicamentecomonatura,poroutrolado,oferrosucateado,umobjetopr-fabricadodeusoindustrialrevela-secomo,metaforicamente,intervenodohomemsobreanatureza:acultura.Apartirdesseenfoque,aobradeJacksonRibeiromanifestaseuaspectoconceitual,aolidarcomaplasticidadedosobjetosdacomposioecomoconflitonatureza/cultura,ouseja,comformasapropriadasdanaturezaetransformadaspelacultura.

Abreveleituraanteriorcompreende,entreoutrosaspectos,aoresultadodeumjogodesensaesoudecomolidamoscomosensvelnasartes.Essasnoessofundamentaisparasecompreenderapercepoenquantopossibilidadededilogoentreaobradeartee

FernandoJacksonRibeiroacrescentaproduoescultricabrasileiraumestudodeaproximadamentetrsdcadasemumprocessopotico,identificadopeloautorcomoelementares,esculturaseobjetostridimensionaisapartirdoferroemsucataeapedrabruta.Aapropriaodesseselementosdesdobra-senaelaboraodeesculturascujaplasticidadeganhaformadetotem,motivanovasleiturassobreoespao,chegandoelaboraodeumjogointerativoaopbliconaformulaodeperspectivasmltiplaseautnomas.Essatrajetriamarcadaporfasesdeummesmoprocessocujopensamentotransformadortransitaentreaartemodernaecontempornea,nomomentoqueoBrasilvivenciavaumaefervescnciadeideiasnosentidodeumamudanacultural.PoderamosnosdeterapenasemumaesculturaparacercarofenmenoindicadopelaobradeJacksonRibeiro,poissuaplasticidadegeraumsentidoquearticulapensamentoeao,considerandosuaautonomiaesttica.Contudo,noprudenteestabelecerequivalnciadeumaobratotalidadepoticaquemarcaatrajetriadoartista,poisfatalmentenosarriscaramosemtrairumapoticaqueressonanteaoprincpionorteadordaGestalt:otodomaisdoqueasomadaspartes.

Em1956,quandoJacksonRibeirodeixouaParabaemudou-separaoRiodeJaneiro,comeouatrabalharemumafbricademoldurasondetevecontatocomquadrosexemplaresdasvanguardasartsticas.Comeouapintarcommaarico,maslogodeixouatcnicaparalidarcomaesculturadeferrovelho,daqualjulgavapoderaliarseupensamentoartsticoforafsica.SegundoRibeiro,foiapartirdocontatocompeasdeferro,usadasnafabricaodeumaparelhoparaengessarmoldurasdequadros,quesurgiusuaprimeiraescultura,umcristodeferro,queexpsnoVIIISalodeArteModernadoRiodeJaneiro,introduzindo-senocircuitodearte(LISBONA,1974).Noanoseguinte,participoudoIXSalodeArteModerna,ganhouoprmioaquisioefoinotadoporMrioPedrosa,entodiretorartsticodoMuseudeArteModernadeSoPaulo,queescolheudoisdosseustrabalhosparaaVIBienalaoarlivredeAnturpia,naBlgica.Pedrosa(1960)referiu-sesobrasdeJacksonRibeirocomoumautnticoarcasmoexpressivo,eindicavaqueaescultura

Arcasmoexpressivo:apoticadeJacksonRibeiro

StnioSoares

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oobservador,eseassociamosapedraeoferro,materiaisdessacomposio,comseutamanho,suaforma-cor,suatextura,pesooulevezapercebida,enfatizamosqueessaapreenso,necessariamente,umaexperinciadocorpoedopensamentocomocriadoresdesentido,tantodoartistaquantodoobservadordaobra(MERLEAU-PONTY,2006).Aexperinciadoolharestinerenteaumsistemadeexperinciasvividopeloobservador,oqueprovocasuaaproximaonosomentecomaobraemsi,mas,tambm,comoprocessodecriaodoartista,sujeitosnecessriosparafundaressefenmenodacomunicao.Portanto,trata-sedeumpontodevistaquemotivaeimplicaoutrasperceptivas(MERLEAU-PONTY,2006,p.60).

Afasedoselementaresdepedraeferroarrebataprmioseelogiosdacrtica,oartistatemdistinonocircuitodeartenoBrasil,vaiXXXIBienaldeVeneza,IIIBienaldeParis,MostradeArteBrasileiraemTrieste.Em1964,RibeirotrabalhajuntocomAmlcardeCastroeHlioOiticicanaalegoriadoenredoHistriadeumpretovelho,daEscoladeSambaEstaoPrimeiradeMangueira.DuasconstruesdeJacksonRibeiro,queserviramdealegoriasdeumcarrodaescoladesamba,alcunhadaspelacomunidadecomoFaustoeFaustina,foramexpostasnoXIIISalodeArteModerna.Nessesalo,RibeiroganhaoprmioViagemaoexteriore,em1965,muda-separaBarcelonaondefazresidnciaartstica.AntesdepartirparaaEuropa,Ribeiromarca,comduasesculturas,definitivamente,aspginasdaproduoescultricabrasileira:em1964,Fausto,umaconstruodesucata,alegoriadeescoladesamba,premiadanosalomoderno;em1965,constriaesculturapblicaoPorteirodoinfernoparaumaavenidaemJooPessoa.

Oelementoprimeiro,poisogeradordetodaaobra,ogrmendela.Sobreessatotalidadeentoabre-seaimaginaodoespectadorqueassumeaquipapelimportante,direimesmoparticipante,dentrodaobra.Hcomoqueumavisualizaofisionmicadoespectadorqueoratendefantasia,oravisodefiguras,oradescriodemitosetc.(OITICICA,1968a)

Decorrnciasmodulares(fonte:ArquivoProjetoHO)

Porteirodoinferno,JooPessoa,1967

GovernadordaParabaErnaniStyrorecebeJacksonRibeiro,JooPessoa,1976

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nasceapartirdaintervenodeumparticipantequeexpressenasmontagenssuaexperinciasensorialcomoespao,suapercepoenquantopensamentodeperceber.(MERLEAU-PONTY,2006,p.67) Nessesentido,seapercepoindividual,motivaeimplicanovaspercepes,seusresultadossosemprenovoseinfinitos.Semdvida,oprocessopoticodoselementaresdeJacksonRibeirosoexpressesdeumpensamentolatenteesperadeumsoprocriador/interativo.

StnioJosPaulinoSoaresator,cientistasocialehistoriadordaarte.BacharelemCinciasSociaispelaUFPB,emcomumformaonaUniversitLumiereLyon2,Frana.Especialistaemmuseologia,comnfaseemCuradoriaeEducaoemMuseusdeArtecompesquisasobreacoleoMarcantonioVilaadoMACUSP.MestreemEstticaeHistriadaArtepelaUSP,compesquisasobreaobradeJacksonRibeiro.IntegrouasequipesdoMusedesMissionsAfricainsdeLyon(Frana),MuseuAfroBrasil(SP)eMuseudaCasaBrasileira(SP).FoiDiretordeAoCulturaldaFundaoCulturaldeJooPessoa(FUNJOPE).consultordaUNESCO,atuounoInstitutodoPatrimnioHistricoeArtsticoNacionaldoMinistriodaCultura(IPHAN/MINC),eatualmenteestlotadonaSecretariadeDireitosHumanosdaPresidnciadaRepblica.

Referncias

DANTO,Arthur.Atransfiguraodolugar-comum:umafilosofiadaarte.SoPaulo:CosaceNaify,2005.HEIDEGGER,Martin.Aorigemdaobradearte.Lisboa:Edies70,2007.LEITE,JosRobertoTeixeira.OsdelriosdoSr.ReisJnior.ColunaArtesVisuais.[?],04set.1960.LISBONA,Diane.Jackson,avitalidadedoferro.OEstadodoParan,Curitiba,22fev.1974.MERLEAU-PONTY,Maurice.Fenomenologiadapercepo.SoPaulo:MartinsFontes,2006.OITICICA,Hlio.NotasobreaesculturadeFernandoJacksonRibeiro.RiodeJaneiro,1968a.Disponvelem:.Acessoem:02jun.2008._________,Jackson.RiodeJaneiro,1968b.Disponvelem:.Acessoem:02jun.2008.PEDROSA,Mrio.Missocumprida.JornaldoBrasil.RiodeJaneiro,10ago.1960.

Asduasobrasdesucatarevelamoutrafasepoticadoartista,definemsuafiguratotmica,apartirdaacumulaodemateriaisconstruindosentidonoespao,e,nodilogocomopblico,consolidamsuafisionomiaidentificaomticapopular:FaustofoialcunhadopelacomunidadedaMangueiraeoPorteirodoinferno,segundorelatosdeamigoscontemporneosaJacksonRibeiro,foialcunhadoporamigosdoartistaquemoravamemJooPessoa.

EmBarcelona(1965-1967),JacksonRibeiro,empreendeumdesdobramentodessafasepoticadostotensdesucata,apartirdageometrizaobilateral.AlgunsexemplaresdessafaseforamexpostosnoeventoArtenoAterro,em1968,organizadopelocrticodearteFredericoMoraes.DuasesculturasdaFundaoCasadeJosAmrico,emJooPessoa,aesculturadoadaaopresidenteGeisel,em1974,assimcomoaesculturaConstruo3,de1972,pertencenteaoacervoMAMSPsoexemplaresdessafase.Elasmarcamaelaboraobilateral,seguindooprincpiototemdeacumulaodemateriaisdeferro,emboravenhamsugerirgeometricamenteasfiguras.Abilateralidadedaexpressoescultricapreconizaasdecorrnciasmodulares,quemarcamaltimafasedapoticaescultricadeJacksonRibeiro.Nessesentido,Ribeiroelaboraumjogoparticipativo,chamadodeelementares,comnovemdulosgeomtricosdealumnioparacombinaoemontagemfeitaspeloparticipante,quepodeconstruirumtextovisualapartirdeformulaesestticas.Comosmesmosmdulos,produzidosemmadeira,oartistaorganizacomposiesfixasesimtricascomoobrasdeparede,chamadasDecorrnciasmodulares.

ASDECORRNCIASMODULARESDECORREMDOPRINCIPIOTOTEMEFUNDAMESPAOeessaexperinciafazpartedagrandedemoliodoespaoantigodaesculturaedapinturaepropealgoqueapontaparaONOVO:algoqueeliminaapossibilidadedecombinaoecultivaodoespao-formaantigodaesculturaedoTOTEM-FOLCLOREmistificantesanegaoeaeliminaodofolclore(ligadoesteschamadasrazesprimitivasquenadamaissodoqueamanutenodeformasesqulidaseacadmicasdearte)edoespaotradicionaldaesculturatalcomomanifestadapelosrealizadoresdetaisformasdearte,ASDECORRNCIASMODULARESSODECORRNCIASQUEGERAMONOVO!(OITICICA,1968b).

ParaOiticica,asdecorrnciasmodularesresultamdaideiadototem,empreendidaapartirdaexperinciaespao-formadaescultura.Porm,ofenmenoquepulsanacomunicaoartsticadaobradeJacksonRibeiroestnaexperinciadocorpoedopensamentocomocriadoresdesentido,tantodoartistaquantodoobservador/participantedaobra.EmRibeiro,aexperinciavividaeapercepodoespaolevaram-noaexpressaressespassosdoseupensamento,atravsdoseuprocessopotico,masojogodoselementares

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PrimeiraAbordagemImersonoparadigmabarroco,suportetranstemporaldeumaps-modernidade

Umblideconstrutivo,chamarevolucionria,habitaocoraodalinguagemdaarteneoconcretabrasileira,multipolar,plurimimtica,interformal.Arteneoconcreta:sintoma,motivo,ncleoirradiador,soluoepropostadadesmaterializaodaretricadetempo,lugar,dasimbolizaoedadramatizao,daespacializaometafrica,daimanncia,dosensriodosentimentoticovisualdamodernidadeesuasmicromodernidades,uma(micro)modernidadequecomeacomoCubismo,outracomoBarroco,aquelacomeaquaseantesdocomeocomMonet,aquecomeacomDuchamp,aqueterminaemHlioOiticica/JacksonRibeirovrticesdaps-modernidade,picesdavanguardamticados60,neoncretospblicos:ostransobjetosdeHlio,asassemblagesmatricasdeJacksoncaracterizam.

Modernidadenasmodernidadesdesdobrada,eismaisuminstanteinauguraldafesta,umprocesso,umncleoderepresentaocontraaqualseinsurgeaarteconstrutivadeHlio/Jackson:Monet,sculoXIX,revoluoinauguraldeumainvenooperativa,revogaoderitosestticos,adialticadodesenho-suporteestruturadaobravencidapeladialgicamancha/cor.Acorpura.

Construocomluzdasignagemdaobracontraaexteriorizaometafricadosentimentohierarquizadonarradofigurativamentenoquadro.

Avanandoahistria.Nocoraodaarteconstrutivabrasileirahabitaumblidebarroco.Umaespiraldeprogramaodossentidos,deespacializaometafrica,defabulaocientficaarquiteturalviageometria,deambigidadeepluriformalidadeevoluiudesdeobarroco,estelugardassensualidadesformais,dasinterpenetraesestruturais,inoculando-senameduladasmodernidades.

Hsimestaplataformabarrocanaformaenosentidodaarteconstrutivaneoconcreta.HlioCaravaggio

atentandocontraoclassicismo,aacademia,orealismofigurativo,oartistadocristianismolaico,sabotadordatridimensionalidadesimblicadaperspectiva,oqueconcentraasfigurasemprimeiroplano,egosagindonoproscnio,oquearrebanhaascarasdasruas,ascarasdecavalo,parapersonificarseussantostransgressoresabraadoscomprostitutasdastavernas.CaravaggiodisseaHlioOiticica:sejamarginal,sejaheri.

OsmetaesquemasdeHlio,osparanglesvestveis,anovaluzdeCaravaggiopropemumanovaobjetividade.Aobjetividadebarrocaneoconcretaporqueconstrutiva:NoBrasil,osmovimentosinovadoresapresentamestacaractersticanica,umavontadeconstrutivamarcante,atmesmonomovimentode22.DelanasceramanossaarquiteturaeosmovimentosconcretoeneoconcretoescreveHlioemEsquemaGeraldaNovaObjetividade.JayroLuna,crticoquepropeateoriadoneo-estruturalismosemitico,mencionaanoobarrocadomundocomolabirintoreferidaporAfonsoRomanodeSantAnnaquealudeaogeometrismodacomposiodoestilo,baseadanaartecombinatria,tcnicadacombinaoparaaresignificaotpicadoobjetoestruturadoporJacksonRibeiro,aexemplodoobjeto-totem-escultura-monumentopblicoqueseconvencionoudenominarPorteirodoinferno.

ApropsitodoBarrocoafirmaMichaelKitson,escrevendoparaTheHamlynPubishingGroupLimited,em1966:Lana-seaoencontrodassuscetibilidadesemocionaisdoespectador;numgraumuitomaior,foimaisorientadaparaoespectadordoquequalqueroutroestilo.Oseufoconoestdentrodaobradearte,masforadele,noespaodoespectador.

HlioescrevearespeitodoespectadornoEsquemaGeral...,tambmem1966:OproblemadoespectadormaiscomplexonocontextodaNovaObjetividade,jqueessaparticipao,quedeincioseopepuracontemplaotranscendental,semanifestadevriasmaneiras,entreasquais,umaqueenvolvemanipulaoouparticipaosensorialcorporal,umaoutraqueenvolveumaparticipaosemntica.

Umaarteparaaglobarbrie:HlioOiticica/JacksonRibeiro

WalterGalvo

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SegundaabordagemFlashsdaarteconcreta

TheoVanDoesburg,MaxBill,oconcretismosedesdobradoabstracionismo.Radicalidade:fimdarepresentaosensvel,almdacomunicao,umprojetodeintercodificao.Sinal,signo,cdigointercambiantes,projeodeumacontradiscursividaderetrica.MaxBill:daimagemideiaimagemobjeto.Daimagemaoobjeto.Amlgamas:oplsticoeoverbal,ageometriaeamatemtica,aartecinticadorecortesgnico.IvanSerpa.WaldemarCordeiro,osavataresdoconcretonoBrasil.MrioPedrosaocrticodoativismoconcretista.Novarealidade.Arteconcreta:umaNovaObjetividade.

TerceiraAbordagem

Neonconcretismo.Refutaodaradicalidadetericadaarteconcretaqueavanacontraqualquersubjetivismoexpurgandoolricoeaespacialidadevisualpoticadoconstrutivismo.OgritodoManifestoNeoconcretoumareivindicaoqueafirmaumafiliaogenealgicadaartebrasileiraenaAmricaLatinaaoConstrutivismo.OcrticoMrioPedrosaclassificouaspectosdaobradeHlioOiticicaeJacksonRibeirodeneoconstrutivistas.Eis,ento,umcrculoevolucionriodeumaideia-temaorgnicadaartecontemporneabrasileira:umavontadeconstrutiva.

ManifestoNeoconcreto:(...)PropomosumareintegraodoNeoplasticismo,doConstrutivismo,edosdemaismovimentosafins,nabasedesuaconquistadeexpressoedandoprevalnciaobrasobreateoria.SepretendemosentenderapinturadeMondrianpelassuasteorias,seremosobrigadosaescolherentreasduas.Oubemaprofeciadeumatotalintegraodaartenavidacotidianaparece-nospossvelevemosnaobradeMondrianosprimeirospassosnessesentido.(...)Aarteneoconcreta,afirmandoaintegraoabsolutadesseselementos,acreditaqueovocabulriogeomtricoqueutilizapodeassumiraexpressoderealidadeshumanascomplexas,talcomoprovammuitasdasobrasdeMondrian,Malevitch,Pevsner,Gabo,Arpetc.Semesmoessesartistassvezesconfundiamoconceitodaforma-mecnicacomodeforma-expressiva,urgeesclarecerque,nalinguagemdaarteasformasditasgeomtricasperdemocarterobjetivodageometriaparasefazeremveculodaimaginao.

HlioOiticica(ArquivoProjetoHO,RiodeJaneiro)

WalterGalvopoeta,msico,publicitrioejornalista.autordevrioslivrosdepoemas,ensaiosecrnicas.FoiSecretriodeEducaodeJooPessoaeDiretorexecutivodaFundaoCulturaldeJooPessoa-Funjope.editorgeraldoJornalCorreiodaParaba.

Referncias

JANSON,H.W.HistriadaArte.Lisboa:FundaoCalousteGulbenkian,1977.KITSON,Michael.OMundodaarte:enciclopdiadasartesplsticasemtodosostemposobarroco.RiodeJaneiro:JosOlympio,1966.OITICICA,Hlio.Aspiroaograndelabirinto.RiodeJaneiro:Rocco,1986.PEDROSA,Mrio.Mundo,homem,arteemcrise.SoPaulo:Perspectiva,1986.

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ParaquemnoviveunoBrasildeduasdcadasatrs,artesanatonadamaisdoquebugigangasproduzidasporhippiestardios,vendidascomocuriosidadesnasfeirastursticas,caladasdodowntown,estaesrodovirias,aeroportosemercadosdirigidosaoturistadesavisadoqueprocuraumsouvenirparaumamigo.

Desdequeaaventuraneoliberalpassouaassolarnossasvidasapalavraartesanatosaiudonossorepertrioeconmico,socialecultural.Apartirdaodesprezocomaculturadopovotemsidoperversamenteestratgico,desvalorizandoaidentidadecultural,fatorcomplicadornosnegciosglobalizadosqueexigemprodutosenquadradosemnormasdirigidasaumtipodemercadoquesecaracterizaporzeroexpresso,planejadoparanoprovocarnenhumesforomentaldiantedoatodecomprar,eorientadonadireodobaixopreo,facilitandosuamassificao.

Estaestratgiaintroduzoconceitodeque,dopontodevistadoproduto,ousomaisimportantedoqueabelezaemuitomaisimportantedoqueatradiocultural.Istosignificaqueumrecipientedeplsticoser,emtese,melhordoqueumdecermica,poismaisbaratoesubstituigrandepartedasfunesdooutroe,aindamais,suafabricaoedistribuionomercadoatendeaosacordosestabelecidosemfunodaexpansodosistemafinanceiro,comoconhecemoshoje,fortementeexcludentedopontodevistasocialeinjustonombitodasrelaesdetrabalho.Umsistemaquenolevaemcontaasdiferenasentrepovosenaes.

Qualquereconomistadeneoliberal,porm,dirqueoartesanato,comomeiodeproduopr-industrial,umaatividadeeconomicamenteinvivel,edesaconselharsuainclusonosprojetosdedesenvolvimento.So,portanto,incapazesdeimaginarosignificadodarelaonaturalentreohomemeaterra.Jamaispoderosuporqueavidaresidetambmnoatodearar,plantar,colher,moerogroefazeropo,equeafelicidadereside,paramuitos,emapanharobarro,amassar,modelar,pintar,cozereutilizaroutenslioquesurgirdaargilacomoprodutodesuamo,dadignidadedoseutrabalhoedapurezadesuaalma.precisolembrarsemprequeodoobjetofeitoartesanalmente

Afinal,queartesanato?

RaulCrdula

possuiumvaloragregadoinsubstituvel:amarcadamodohomem.

Eisoqueoartesanato:aobramaterialdoarteso;frutodoseutrabalhorealizadoatravsdasmosnaconfecodeobjetosdestinadosaoconfortodohomem,carregadosdeexpressesdacultura,ondeamquina,seutilizada,serapenasferramenta,nuncafatordeterminanteparasuaexistncia.

Oartesanatoinstrumentodemelhoriaedistribuiojustadarendadecomunidadespobres,frutodotrabalhoautnomoevivo,poisoobjetoproduzidopertenceaquemoproduziu,oarteso,diferentementedotrabalhoenterradonasfbricaspelasmosdosoperrios,contrapondo-se,portanto,aosistemadeproduoindustrial.

MesmomarginalizadopelosprogramasdedesenvolvimentoregionaisenacionaisoartesanatocontinuasendonoBrasilumaatividadeculturaldegrandeimportnciaeconmica.Porsuainformalidadeescapadoplanejamentodamacroeconomia,etemcomoreadeatuaoascasasdosartesos,aperiferiadasgrandescidades,longedossistemasurbanosedasregiesfabris,eprincipalmentenomundorural.Masafainadaeconomiacapitalistanoignoraoarteso,poissuamodeobraespecializadssimainteressaaopoderosomercadodetrabalho.

Osnmerossoeloquentes:arevistaExportar&GERNCIA,dedicadapequenaempresaexportadora,noseunmerodemaiode1999anunciouqueomercadointernacionalestdeolhononossoartesanato.Apresentaaseguinteesurpreendenteinformao:estima-sequeoartesanatobrasileiromovimentetrsbilhesdedlares,envolvendooitomilhesequinhentasmilpessoas!

Atradioresidetantonaexpressoqueosobjetostransmitem,comonamaneirapelaqualsofeitos.Umpofrancs,porexemplo.UmaboulangeriedaRuedesLesGravilliers,emParis,queostentaumbrasodosculoXVIII,cujareanomaiordoque25m,fazhojeomesmopoquealimentouasoldadescadeNapoleo.9

Opoeovinhofranceses,opapeldeaquarelaDarchequefeitodamesmamaneirahseissculos,asrendasbelgas,irlandesas,iugoslavasportuguesas,brasileiras,acermicanoindustrialpraticadaemtodoomundo,acachaadeBrejodeAreia,naParaba,oudeMinasGerais,acarnedesoldoSerid,ascharqueadasdoSulaoNorte,acomidadeSantodaBahiadoCandombl,adoariabrasileira,osqueijosdoSerto,osmosaicos,osobjetosfeitosdemarchetaria,marcenaria,carpintaria,funilaria,cantaria,tecelagemmanual,tecelagemderedesdedormir,tranadosdepalha,tranadosdecouro,papelmach,brinquedospopulares,bruxasdepano,cestaria,peleteria,ourivesaria,engastedepedraspreciosas,lapidao,forja,fundio,etantosoutrostiposdeobjetosedetcnicasquequasenosepodenomear,somanifestaesdoartesanato.

Oconceitodeartepopular,noentanto,novigoraemtodoomundo.NasmegalpolescomoNovaYork,SoPaulo,SoFrancisco,Londres,Tquioemesmoemcidadesmenores,mascosmopolitas,hoconceitodeartesanatourbano,ondeoartficealiaastcnicastradicionaisaosestilosdapoca.Exemplodissosoosornatosdaarquiteturaeosutensliosdacasa,desdeaantiguidadeclssica(grega),passandopelorenascimento,pelaartnouveauepelaartdco,atosdiasdehoje,pelaquantidadeequalidadedaproduodeornamentoseutensliosportadoresdosestiloscorrespondentes,deautoriadeartistas/artesoscomoovidreiroGaleojoalheiroLalic,porexemplo.Nesteperodoumfenomenalartista,arquitetoeartesoproporcionouhumanidadeumdosseustesourosmodernos:trata-sedeGaudi,quealmdecriareprojetar,executouornatosemobilirios,utilizandomateriaisdiversos,desdecacosdeazulejoscermica,ladrilhos,entalhesemmadeira,ferrosforjados,vidros,metaisdiversos,pedraserelevosemrebocoeesculturas.Gaudichegouaaliarcomsurpreendentemaestriaoartesanatoeomaterialindustrial,combinando-oscomtotalharmonia.

AutilizaodastcnicasartesanaisporGaudi,decertaforma,determinouoartesanatocontemporneo,consolidadopeloadventodomodernoestilo,isto,amaneiradeagora.Aartnouveautevesequenciacoma

artedco,eemseguidasurgiuaBauhaus,escolaalemresponsvelpelaimplantaodoconceitodedesignmoderno,fechadapelonazismo,masdepoisreabilitada,emboracomoutroconceito,pelaEscoladeUlm(HokschlleFrGestautung),maisvoltadaparaaindustrializao,mastambmdeterminantedosrumosdoartesanatocontemporneo.precisolevaremcontaquenemtudoquedesenhado(designado)podeoudeveserdestinadoproduoindustrial.Omobilirio,acermicautilitria,atecelagemeajoalharia,porexemplo,soatividadestradicionais,masconstantesdoartesanatocontemporneopraticadoatualmentenasmetrpoles.

OBrasiltemseusrepresentantesnestesetor,comooarquitetoedesignerdemobilirioSrgioRodrigues,autordapoltronaMole,oarquitetoartesanalZanini,osjoalheirosCaioMouro,MrcioMattareClementinaDuarte,osceramistasMegumeYuasa,FranciscoBrennandeMigueldosSantos,omestrejardineiroBurleMarx,atapeceiraCeiaColao,entreoutros.

AmodoHomem,noentanto,ofatordeterminantedoartesanato.OViscondedeEccles,nobreinglsqueajudouacriarnosanos60oConselhoMundialdeArtesanato,dizsobreistoque:Aexcelnciadoobjetoartesanalestnofatodequeamodohomemalmdopoderdefazer,tambmtemopodercurar.

Osobjetosartesanaiscarregamaidentidadeeatradioculturaldeseusautores,sejamtradicionaisoucontemporneos.OCaladodeCopacabanaobradearteaplicadadeautoriadeBurleMarx,omaiorpisodemosaicoportugusdomundo,derealizaototalmenteartesanal,temntidaexpressobrasileiracomainflunciaibricadotemaprincipal:asondasdacaladadeCopacabana,queporsuavezsoreproduodasexistentesnoLargodoRossio,emLisboa.ApoltronaMole,asjoiasdeClementina,ascasasdeZaninieascermicasdeBrennand,jcitadas,exaltamasflorestas,asflores,ostroncosdasrvoreseasclareirasdoBrasil.

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ArtesanatoeArte

Nosepodeconfundir,noentanto,artesanatocomarte.Aartecomoconhecemoshojetemamesmaorigemdoartesanatoe,podemosdizerquegrandeparceladesuaproduodependedele.Masnosignificamamesmacoisa.Sucedeque,numavisogreco-clssica,arteetcnicavmdamesmaraizlingustica.Acivilizaocuidoudedividiresteconceitopoisasobrasdosartistasdaantiguidadeclssicaequilibravam-seemdoisextremos:oupendiamparaoidealdaperfeio,desprovidodealma,ouparaoxtaseesttico,massemcompromissocomamaneiradefazer.Aparecemadoissentidosopostosderealizao:pelaperfeiodotrabalho:apolneo(dodeusApolo,protetordohomemcomoserfsico),oupelaqualidadedosentimento:dionisaco(dodeusDioniso,ouBaco,deusdovinho,mastambmdossentimentosedoxtase).EspartaeAtenastraduzembemessadivisodeterritrios,umarealizadaatravsdoidealfsicodotrabalhoeoutraatravsdoidealfilosfico.Oartesanatonitidamenteumaatividadeapolnea,herica,esttica,quandoassumeoconceitodobemacabado,dobemfeito.Aarteindependedisto.MesmoaestticaclssicaquenorteouoRenascimentoesuasconsequncias,novigorounamodernidadeenacontemporaneidade.Aartevistahojemuitomaisporseucontedoticodoqueesttico

Oartesoaquelequesabefazer,oartistaaquelequecria,inventa,concebe.Umdependedooutronomomentoemqueacriaonecessitaderealizaofsica,apresenadeumaobradeartedepintura,porexemplo,somentepossvelseoartistautilizaroartesanatodapinturaparadarluzseussentimentos.Emtodoartistaquetrabalhacomasmosexisteumarteso.NascomunidadesdeartesoscomooAltodoMoura,emCaruaru,geralmenteexistemosMestres,comofoiVitalino,ZCaboclo,ManoelEudxioeGaldino.Estes,porm,tambmsoartistaspoisVitalino,CabocloeEudxiotambmcriaramsuasfiguras,seustemas,quepassaramaserosprottiposdefigurasougruposathojemultiplicadospelosseusseguidores.OcasomaisnotvelmesmoodeVitalinoquedesenhou(designou)umaverdadeiracenasociolgicadavidadoAgreste,

desdeoboiisolado,simblico,quaserupestre,atorebanho,acaa,aretiradadaseca,ascenasdesecaedefartura,ascenasdaviladoAltodoMoura,avidacomum,odia-a-dia,asatividadesdomsticas,asprofisses,oscasostrgicosehumorsticos.NaverdadetodososartesosdoMouraacrescentameventualmentealgumacenaaestepainelsocialqueVitalinoajudouacriar.OcasodeGaldinodiferente,eleumartistaquetrabalhacomacermicaequeabsorveuamaneiradetrabalhardosartesosdoMoura,utilizandoomaterial,aformadetrat-loequeim-loparaexpressarseuuniversofantsticodepoetaecantadoralmdeescultor.comumatividadeartesanalarepetio,atranquilidade,apacincia,aharmoniaeapaz,comoacontecenoAltodoMoura,emTracunhamenoutrascomunidadesdeceramistaselouceiras,nosgruposdebordadeiras,rendeiraseteceles.

Oartesanatotradicionalpopularumaatividadepacfica,enquantoqueaartenonecessitadeser.Oartesanatosocializante,poispossvel,edesejvel,queeleseorganizeemgrupos,associaesoucooperativas,poissuavidaeconmicadepende,emparte,desuacapacidadedeorganizaocoletiva,dasolidariedade,daboadivisodetrabalhoedelucro.

Aconvivnciadoartesanatocomaagriculturaperfeita,pode-sedizerqueele,comoaagricultura,umaatividadesazonal,poisexistenasentressafras,atendeaosmomentosdefaltadecolheita.Napescaoartesanatodaredeforneceaopescadorumadesuasprincipaisferramentas,arede.Masamulherdopescadortambmfazarendadepraia(fil,labirinto,rendadebilro).Diz-sequeondehredehrenda,equandoaredenotrazopeixe,arendapeopeixenamesa.

Emprego,TrabalhoeMercadoHquemacredite,comojcomentamosacima,queoartesanatosignificaapenasaparafernliadebugigangasdosfamigeradosmercadosdeartesanatoqueassolam,emnomedoturismo,nossascidadesdenorteasul.atpossvelquenelesseencontremartesanatoqualidade,

PanelasdeartesosdobarrodaSerradoTalhado,SantaLuziadoSabug,Sertoparaibano.FotografiaRaulCrdula,1980.

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masach-losdependedesorte.Ocomerciantedeartesanatodessesmercados,osfamososintermedirios,comrarssimasehonrosasexcees,tmointeressenicodolucro.Paratantoasutilezacaractersticadobomartesanatoemvezdeagregarvalortorna-seumcomplicadordiantedaguerradomercado.

NoMxicochamamumdeterminadotipodeartesanatovoltadoparaomercadotursticodeartesanatodeaeroporto.Nadamaisindignoparaoartesodaquelepas,altamentepolitizadoeorgulhosodesuasorigensculturais,doquesercomparadocomquemproduzestessouvenirspara,comocomentamos,turistasdesavisados.

Lessetipodeprodutovemdaperiferiadasuaenormecapitalcomofrutodaexploraodecomerciantesinescrupulosos,proprietriosdefbricasdeartesanato,queutilizamapenasamodeobradoartesocomoseelefosseumoperrio,novalorizandoaautoriadoprodutoerecusandoaliberdadeinerenteaoseusistemadetrabalho,fatorquediferenciaaproduodoarteso,comoclassesocial,daproduodooperrio.

NoBrasiltemosvistodoistiposdepolticaemnomedodesenvolvimentodoartesanato.Amaisfrequenteadisseminaodomercadoparaoturismo,incluindo-seaasFeirasdeArtesanato,eventosvoltadosparaamassaeexploradospelosintermediriosemnomedapreservaodaculturaimportantedizerquemuitasvezesesteseventossopatrocinadosporgovernosestaduais.Aoutraatentativadeinseriroartesonomercadoformaldetrabalho:aproletarizaodoarteso.Ambasasaessodevastadoras,ambastiramdoartesoaautonomiaeaforadesuaatividade,drenamsuaeconomiaefazemoartesodesacreditardoseufuturo.

Obinmiotrabalho/empregoestnosfundamentosdequalquerconceito,anliseoudiscussodoartesanato.Aprimeiracoisaqueseapresentanestadiscussoaorigemartesanaldaindstria.Istocriaduasfantasiasmuitoteisaquemsededicaexploraodohomem:afantasiadaculturaoperriacomonicasadaparaoarteso,ouoopostodisto,fantasiadolivremercado.

Proletarizaroartesoumerrosocialcrasso,trata-sedeinverterqualquerpossibilidadededesenvolvimentodaatividadeartesanal.Emnomedeumapretensaseguranasocialqueaprticaafirmanoexistirsugere-sequeoartesoformalizesuarelaodetrabalhocomoEstado,solicita-sequeeletorne-seumcidadopossuidordeumacarteiradetrabalho,quepagueseusimpostosparaterseusdireitoscivis,assimpordiante...

Muitoquebem,todocidadopodeedeveestarligadoformalmenteaoEstado,masistonosignificaqueeletenhaquesofrerasconsequnciasdessevnculo.Nosignifica,porexemplo,queeleaceitepossuiraobrigao

decontribuirsemterdeondetirarestacontribuio,depagarimpostossemterbenefcios,deapresentarofrutodoseutrabalhosemtercrditoparafinanciarosinsumosbsicosdesuaproduo.

Aformalizaoprofissionalprpriaeexataparaaatividadeoperriaouparaquemtemdedependerdeemprego.Osmeioseosmodosqueumaindstriapossuiparaestabelecerumcontratodetrabalhopassampelaformalizaodasituaocivildooperrio.Adevemestarembutidososdireitoseosdeveresdeambasaspartes.Masumartesonoumoperrio,aocontrrio,seuregimedetrabalho,geralmentedomsticoefamiliar,incompatvelcomoshorrioseasmetasdeproduo,especializao,visofragmentadadoproduto,eoutrascaractersticasdotrabalhooperrio.

Oartesodonodoseutempo,doseuespaoedosresultadosdeseusempreendimentos,incluindoosfrutosdoseutrabalho.Elefazseuhorrio,determinasuaproduoeseusmeiosparaalcanarasmetasque,eventualmente,impeasimesmo.Oartesotemumavisocompletadoseuproduto,noparticipaapenasdeumdetalheouumapartedoprodutofinal,comoacontececomooperrio,esendoassimelepodeperfeitamenteprojetarsuaproduoeseuslucros.Aquestodoartesoaliberdade,elepodeatmesmoutilizarseutrabalhoemdoistempos,umparaumaatividadecamponesaeoutroparaoseuartesanato.

Ooperrio,noentanto,necessitaserempregadoparapodertrabalhar,oartesoseautoemprega.Ooperariadoexisteemfunodeumaclassepatronalqueenriquececomotrabalhocativo,poisariquezadoempresariadoindustrialprovmdotrabalhoqueooperrioenterranafbrica,quetransformadoemcapitalparaopatro.Oarteso,aocontrrio,podeserumtrabalhadorlivre,donodoseutrabalhoedeseusfrutos.Oartesocapitalizaoobjetoqueproduz,transforma-osemestoque,capitalmobilizado,riquezapotencial.

Nofundamentalgeraremprego,masgerarrenda,frutodotrabalhoautnomo,livre,capazdecapitalizaraquelequetrabalhou.

Aatividadeartesanalsocializante,comporta,emuitobem,otrabalhoemgrupo.Podetornar-seformalmenteassociativa,oqueseconstituinumfatordesejvel.Umaassociaodeartesoscomcartercooperativopodeperfeitamentesubstituir,ecominmerasvantagens,afiguradointermedirio.Umacooperativaartesanal,porexemplo,podeserresponsvelpelaproduoepelacomercializaodoproduto,envolvendoosdetalhesdemarketing,embalagem,distribuio,representaoeoutrasatividadesinerentesaomercado.Oartesoisolado,porsuavez,dependersempredeumintermedirioparavenderseuproduto.Umexemplotpicodasconsequnciasdesseintermdiofoirelatadopelapesquisadoraecolecionadoradebrinquedos12

popularesMacaoGes.ElacontaqueumadeterminadaartesprodutoradebruxasdepanonoSertodaParabafornecesuasbonecasemsuacasaporoitentacentavoscadaexemplar,noentantoelassovendidasnaslojasdacapitalpordezreais.Suarelaocomointermediriodetalmaneiradependentequeestenolhedmaisdinheiro,trocatodasuaproduoporcestasbsicasfornecidasmensalmente.Almdasvantagenscomerciaisaorganizaocooperativacontacomparceriasdesejveisentresi,hhojeumaredemundialdecooperativasartesanaisqueformamumaconsidervelforaderesistncia.Ajustesdeprodutocomopesoedimenses,detalhestcnicoscomoqueimacermica,correesdedesign,embalagemetransporte,assistnciajurdicaparacrditoseexportao,tudoistopodesertratadocommaisfacilidadeseoartesoestiverorganizadoemumgrupoquetenhacomobaseotrabalhosolidrio.

TemosinformaosobreaChina,ementrevistadasenhoraLeeHan,DiretoradeArtesanatodoMinistriodeIndstriasLigeirasdaquelepasnosanos70,queindicavaqueoartesanatochinsestavaaserviode800milhesdepessoas.Nodesconhecemosasrelaesdeconsumonumpasde2bilhesdehabitantes,masprovavelmentearecenteaceitaodeindstriascapitalistasnosubstituiu,enosubstituirpoisnosetratadesteenfoque,otrabalhoartesanalnaChina.

VimosnacidadedoMxicosupermercadosque,cumprindoleimunicipal,destina20%doseuespaoparaoprodutoartesanalmexicano.Noparaoprodutocompradopelodepartamentodecomercializaodaempresa,issotemosaqui,emboraemmenorproporo,masoprodutooferecidopeloFONART,umFundodeFomentoParaoArtesanatoqueexistianaquelepasnosanos70.

DesdeostemposqueaSUDENEmantinhaaARTENE,quecontavacomumaequipehericalutandoporideiascomoestas.HojenosevemPernambucoouemqualqueroutroestadonordestinoqualquerdiscusso

sobreapromoodoartesanato.Temosvistopolticasassistencialistas,eleitoreiras,paternalistas,showsparaturistasetc.,masnosefalaemfinanciamento,recursostcnicos,estudosdeembalagensetransporte,anlisedeprodutos,controledequalidade,autonomiadeproduoecomercializao,proteocontraaexploraointermediriaetc.Precisa-sedeassistnciasim,masassistnciatcnica,organizacional,contbil,desenvolvimentista.

Fatoquequalquercampanhadepromoodoartesanatonecessitapassarpeloorgulhoqueopovotempelasuacultura.Achamadaclassemdia,toespoliadaemseusdesejosdefelicidade,omercadocertoparaoprodutoartesanalquecontenha,almdascaractersticasdahabilidademanual,ovaloragregadodaalmadopovo.Noexatamenteoqueseoferecequando,emnomedacultura,sepromovemfestivaisdedanaemsicaexgena,carnavaisforadetempoetc.

Oobjetivoprincipalolucro,avendadecerveja,nodasbelasmscarascarnavalescasfeitasporJulioesuafamlia,avendademortalhaseabads,nodasbelasfantasiasconfeccionadaspelascostureirasdeOlinda,eassimsesucedemasinversesdevaloressemquehaja,naverdade,agentesgovernamentaisresponsveisporpolticasouorientaespblicasrealmenteeficientescomafinalidadedepreservar,promover,mantervivaatradioeavozdopovo.

Apesardasdificuldadesporquepassou,aARTENEteveumafunoexcelente:detectarosbolsesdeproduodeartesanatoparausarainformaocomosubsdionumapolticadeimplantaodenovasindstrias.Um

Brincodeprata.Autor:RaulCrdula.Artesos:ourivesdoRecife.Modelo:CristinaCrdula.Fotografia:CarolineAtlas,1991.

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dosprincpiosticosdoscriadoresdaSUDENEeraasensibilidadetradioevocaodecadalugar,decadapovo.Masnotevesucesso,aspressespolticasderrubaramestatarefaaopontodeaARTENE,aqueledignodepartamento,transformar-senumamseralojinhadeartesanatotomedocrequantoqualquerumadaCasadaCultura.famosoocasoqueinvestigamosquandorepresentamosoConselhoMundialdeArtesanatoestecasononico,haveremosdeencontrariguaisemtodooNordesteassistidopelaantigaSUDENE.Trata-sedaimplantaodafbricadesandliasjaponesaBESA,deCampinaGrande,queproduzmilhesdecalados/ms.MasondeesttodaaproduodecaladopopularquesenucleavaemCampinaGrandeatravsdosseusartesos/sapateiros?Eporgravidade,aproduodecouro:osdoiscurtumesepartedorebanhoexistente,desapareceram?Paraondeforamosartesos?VenderpicolnoMenino(EstdiodeFutebolquehomenageiaoPrefeitodacidade)?Quantoserameles?Mil,doismil,dezmil?Provavelmentedezmilpessoas,diretasouindiretamente,perderamsuasfontesdelucro.OpolocaladistadeFranca,emSoPaulo,certamenteumdiafoiumncleodesapateirosigualaoquehaviaemCampinaGrandeantesdaimplantaodaBESA,maslnochegounenhumafbricadesandliasdeborrachasinttica,emvezdissoinvestiramnodesenvolvimentodossapateiros-artesos,quehojeincorporamumdosmelhoresitensdeexportaodoBrasil.

RaulCrdulaFilhoartistavisualecrticodearte(ABCA/AICA).Vice-presidenteparaoNordestedaAssociaoBrasileiradeCrticosdeArte-ABCA.Criadoredirigentedeinstituiesculturais:NAC/UFPB(JooPessoa);MuseudeArteAssisChateaubriand-MAAC(CampinaGrande-PB);CasadaCultura(Recife);FundaoEspaoCulturaldaParaba-Funesc(JooPessoa);OficinaGuaianasesdeGravura(Olinda).FoirepresentantedoBrasilnaConfernciaMundialdeArtesanato,Mxico.RepresentanoBrasilaAssociationCulturelleLeHors-L,deMarselha(Frana).PublicouoslivrosAnos60(Funarte,UFPB),MemriasdoOlhar(ediesLinhaDgua),Fragmentos(ediesFunesc)eUtopiadoOlhar(Funcultura,Fundarpe,GovernodePernambuco).

Pourtreconfirmdansmonidentit,jedpendsentirementdesautres.(HannahArendt)

OhomemcontemporneopassaporumacrisedeidentidadeondeseusconceitoserefernciasculturaissoenfraquecidaspelascontaminaestpicasdaPs-Modernidade.Osacontecimentosqueseprocessamemumdeterminadolocaltmumimpactoimediatosobrepessoaselugaressituadosaumagrandedistncia.Nspassamosporumaespciedehibridizaodevalores,umamisturadeconceitosesmbolosquesodifundidos,otempotodo,pelaculturademassa,criandoumasituaoqueimpedeouobscureceapercepodasidentidadesculturais.

Emnossacontemporaneidadefragmentada,desenvolverumanovaleituradomundo,outraconcepodehistria,inclusiveadaartenospreparaparamelhorcompreendermosasnumerosasediversificadasculturasquesecruzamdentrodouniversomiditicoe,consequentemente,oprocessodehibridizaoquemarcaaproduoartsticaatual.Novosquestionamentosatraemanossaateno.Entreeles,osquesepropemainterrogarsobrecomodentrodeumcontextodeuniversalizaodasmdiasgerandoumafusoconceitualbemcomodarealidadedeummercadomundialdeartequelimitaaproduoartsticasnormasestticaseideolgicasdocircuitoeuro-americanoemquecircunstnciaseporqueprincpiossoproduzidososdiscursostericossobreasartesvisuaisemcentrosnohegemnicos?

Pensarartehojeimplicaemconceb-lacomoumcampoampliado.Issoincluioolharsobreadiversidadedeculturasqueproduzorompimento,cadavezmaispronunciado,defronteirasgeogrficaseestticas.AHistriadaArtehojeconcebidanomaiscomoumahistriaquecontemplaumnicoolharocidentalehegemnico.Cadavezmaissetornanecessriodesenvolverumaticaquecontempleumuniversodecriaomulticulturalsejaelesul-americano,africano,asiticooudaOceania.

Ahistriadarelaoentrearteepolticapontocrucialdesdeosseusprimrdios.Aartesemprefoipolticase

Sobreoprocessodemanutenodeumaidentidadenasartesvisuaisnacontemporaneidadepernambucana:BeteGouveiaeMaurcioCastro

MadalenaZaccara

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pensarmos,porexemplo,emseuscomprometimentoscomreligiooupropagandadosmuitosEstadosaosquaiselaseatrelou.Aideiacontemporneadequeaartepolticapassaporsuacapacidadedereconfigurarosensvel.Correspondeaumateoriaqueseembasanainiciativadeartistasquemergulhamnocampoampliadodacriatividadehumanaondeocarterpolticorelacionadoaofatodeumaintegraodotrabalhoartsticoaoagir.

NicolasBourriaud(2009)teorizouapropostadeumaarteligadaaumaestticarelacionalquecriadiferenanoconsensolegitimadodemundoereligavnculossociaisperdidos.Umaestticaquesepautaemfunodasrelaesinter-humanasqueelasfiguram,produzemoucriam.Omundodaarteedavidaestcadavezmaisfundidoeaesttica,comocinciadosensvel,estemconsonnciacomessenovoolhar.

AarteaquiloqueresistesegundoDeleuze(1999).Emquemedida,pormarteeartistaescapamdasrelaes/condicionantesemummundodeideiaseconceitoscadavezmaisglobalizadoseuniformes?Issoacontecedefato?Como?

Apropostadeumadescolonizaomentalatravsdaqualosestudosps-coloniaispodemrelativizarcondicionamentosearejaraHistriadaArteapartirdeumavisomaisgenerosa,maissensataemaisticapoderesponderaessasquestes.Aartepodeentoseroltimoreservatriodeimaginrioaescapardeserincorporado/apropriadopelosistemaquehojeserveaocapitalismoneoliberal.Talvezamelhordefiniodaprticaartsticaps-colonial,queoptapelaaopoltica,tragaemsiodiscutidoconceitodeutopia.Autopiapermiteoutrolugar,elaqueroutrolugar.Elarefleteumquestionamentocrticodaordemexistenteeabrigaaideiadeoutroterritriohumanopossvel.Elapoderia,portanto,suporeproporarevisodamecnicaocidentaluniversalistaatravsdeumainterculturalidadebaseadaemtrocasemqueasolidariedadeeaparticipaonoselimitemaocontextocolonialistaanterior.

Aliberdadeconceitual,imaginativaeperceptivadasprticasartsticasqueenvolvemapolticapodeabrigarumsonhoparaalmdasservideseumapromessadereconciliaocomohumanoemsuaexpressomaior.Suapropostaencontra-separaalmdasmltiplasgradescomasquaisocapitalburocratizaeregulaaarteincidindoemsuaproduo.ResistirnosignificaserumapocalpticoouumintegradodosquaisnosfalaHumbertoEco(1965).Significaqueaarteofereceumaalternativapossvelaessemundoinjusto.

Pernambucomulticulturalesuaestticaderesistncia

Omulticulturalpareceseramatriaprimadosquestionamentosartsticoscontemporneos.OOcidente(hegemnico),buscandoumaalteridaderedentoraaomarasmo,recorresculturasemergentesqueatendemrapidamenteaoseuchamado.Tudooquepodeserconceituadocomohbridooumarginalouperifricopassou,empoucosanos,aserocentrodasatenese,naturalmente,ocentrodaeconomiacultural.Masatquepontoessaestticaescapadasnovasformasdecolonizaocultural?Essaharmoniapluralistadefatoexiste?

Nosdiasquevivemosapurezacultural,namaiorpartedosdiscursoscontemporneossobrearte,temomesmopeso(erejeio)queaarteacadmicadosculoXIXsuportouemrelaoiconoclastiadamodernidadedoXX.Ofetichismodaalteridadecomumsgrandesmostrasebienaisinternacionaisdacontemporaneidadepareceimplicaremumaestetizaosistematizadadosubalternoenquantooperanointeriordoprpriodiscursodescolonizador.Suaestratgia(odiscursoestticodadiversidade),queseprocessaprincipalmentenosmegaeventosexpositivos,noadeumaharmoniadevozes,mas,namaioriadasvezes,aexpressodeumaespciederacismobranco,capitalistaeocidentalqueabreseussales(ebolsos)paraumanovaordemondeopoliticamentecorretosedistinguepeloseugraudehibridismo.Partindoparaobiolgico,oparaleloodiscursodasmestiagenscoloniaisquegerariamumsermaisforte:omestio.GeraldoMosquerasintetiza:

Narealidadeasconexesexistemsomentenointeriordeumesquemaradialhegemnicoemtornodoscentrosdepoderondeospasesperifricos(amaiorpartedospasesdomundo)ficamsemconexoentreeles,outmcontatosindiretosatravsesobocontroledoscentros.(MOSQUEIRA,Geraldo,1994,p.12)

Aarteperifricainternacionalseapresentaentocomoaquelaquetemumperfildesignadopelasinstituiesdoscentroshegemnicosqueporsuavezdetmopoderdelegitimaonacena(enomercado)atualdaartecontempornea.Operfilexigidoincluiserpoliticamentecorretoatravsdeumpertencimentoaodiscursodominantedoprojetops-colonialedeuma

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coernciacomasexignciasdealteridadedomainstream.

Noquedizrespeitoaomercado,suaestruturarepousaemumainternacionalizaoqueabrangedesdeasgrandessalasdeleilodotipoChristie&SothebyatamultiplicaodasfeirasinternacionaisdeartecontemporneataiscomoArtChicago,ouArtBaselpassandopelasgrandesbienaiscomoasdeVeneza,SoPaulo,Sidney,Dokumentaetc.

Essemercadomundialimplicaemumapadronizaofeitaatravsdasescolhasquerdoscolecionadoresquerdosdiretoresdemuseuoucuradoresquetraduzemastendncias,estiloserefernciascomomesmoritmoqueasgrandescoleesdealtacosturacostumavamfazerdiluindo-se,posteriormente,noprt--porterdasbutiquesmaisrefinadasatchegarsgrandescadeiasdelojaspopulares.

AmultiplicaodosmercadosimplicaemcertadescentralizaodasgrandesmetrpolescomoParis,NovaYorkouLondres,oquegeraria,teoricamente,umahorizontalidadenadifusoecomercializaodaspropostasartsticas.Entretanto,seriaessadescentralizaoreal,umavezquesosEstadosUnidosmonopolizamemtornodametadedomercadodeartemundial?

Ospasesperifricosdificilmenteseposicionamnessacenainternacionaldeformacompetitiva.Mesmocomaajudagovernamental(imprescindvel)noconseguemcolocarasuaproduoartsticadentrodessemercadodecartasmarcadas.Ecomoomundodaarteestsempreemharmoniacomomercadodearteemseuprocessodelegitimaocomoficaentoessaproduoquepodemoschamardemarginalpormaisqueelasejaadotadapelocentrohegemnico?

Aintervenoestataltemmarcadopresenanatentativadeprojetarinternacionalmenteumaproduoartsticanacionalouregionalquenotemoavaldapaisagemfinanceirainternacionalnemoapoiodeumpblicocompradordearte.Porm,deformaaparentemente

contraditria,essainternacionalizaocontribuiu(econtribui)paraacriaodemeios(mercados)paralelosdecaractersticasregionaisquerejeitamoutentamsobreviveratravsdanegaodasleisdemercadointernacionais.Nasce,dessaforma,umcircuitoparaleloaodaszonasdemaiorinfluncia(ecotao)artstica.

SegundoRichardMartel,omercadodearteperifrico-demosatadasemrelaoaospasesexportadoresdeculturaequeatuamcomotermmetrofinanceironalegitimaoartstica(aliadoatodooaparatomiditicoeinstitucionaldisponvel)reagecomopoderesistindocontraaautoridadedominantedasdiversasinstituiessobocontroledamercantilizao(MARTEL,Richard,2009,p.17)tendocomoobjetivoquebraroisolamentoqueteoricamentenoexisteemselevandoemcontaabandeiradaalteridadelevantadapeloscentrosdominantes.OtericocanadenseGuySiouiDurandafirmaque

Umanovadialticageopolticaentreosdefensoresdaglobalizaoneoliberaleosdeumaglocalizaopensarglobal,agirlocal,antiglobalizaoneoliberalredefinirocontextodasrelaesgeraisentreasociedadeeaarte,eentrearteepoltica.(DURAND,GuySioui,2009,p.22)

Umaafirmaoartsticaeculturaldecarterregionalancoradanarealidadedascomunidadeslocaisseriaentoaalternativalcidanaposmodernidade?ParaRoseMarieArbouramodernidadefoiinternacionaleinimigadolocal,acontemporaneidadeinternacionaleintegraolocalporviadiretaouindireta.(ARBOUR,RoseMarie,1986,p.107)

Entreintegraredigerirestariasituadaaresistnciadecartermicropolticoquejfoiteorizadaemvriasaes,inclusivenadcimabienaldeHavana(Resistnciaeintegraonaeradaglobalizao).Dentrodessaperspectivaanootodiscriminadaderesistncianoseriamaisnecessariamenteassociadaaumespritoconservadorereacionrioquesempreesteveligadoslutasantiglobalizao.

Oconceitodemicropolticaestligadoideiadainseronavidacotidiana.Nomaisumfenmenototalizante.Elapodeexistirmargemdoprpriopoder.E,nocasodosartistasetericosligadossartes,atravsdasferramentasprpriasdaarte.

Pernambucocaracterizou-seporser,culturalmentefalando,berodoMovimentoRegionalista,lideradopelosocilogoGilbertoFreyre,bemcomoportersidoumdosprimeirosespaossociaisbrasileirosaabrigaramodernidadenosentidodeatualizaraslinguagensartsticasnacionaiscomasvanguardaseuropeias.Essaplataformaregionalistafoireafirmada,nadcadade70,atravsdoMovimentoArmorialsobalideranadoescritorArianoSuassuna.Apropostaarmorialeraa

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defesadeumaarteeruditaapartirdopopularnatentativadecombateradescaracterizaodaculturabrasileiraedanordestinaemparticular

Aparentementecontraditriaessacondioaindaaparecenaproduoartsticacontemporneapernambucanajuntandolinguagensatuaisaumatradioestticarenovando,dessaforma,nessemomentops-colonialista,seuvocabulriosem,porm,perderovnculocomsuamemria.Essaresistncia&integrao,emplenaeraglobal,seprocessadentroderedes,circuitos,paralelosevaideencontro(deformamicropoltica)hegemoniacentralizadora,monopolizadoraeuniformizadora.Os(porassimdizer)tentculosquedesenvolvemdeterminadoscentrosdeartistaspermitemaolocaldeservistoparaalmdassuasfronteirassem,necessariamente,passarempeloavalhegemnico.

opapeldoscoletivosdeartistasque,emRecife,fazempartedopanoramaculturaldacidade.Essaaoconjuntafaz(oufez)partedavidadamaioriadosartistasatuantesnacapitaldoEstado.Decertaformaessefatonomuitocomumnaregio.ColetivoscomooAteliColetivo(atuantenosanos50)foramsucedidosnacontemporaneidadepelosQuartaZonadeArte,Submarino,BrancodoOlho,entretantosoutros.Cadaumdessesgrupospermiteumaaberturaparaaproduoedifusoartsticaalmdesetornarumaformaderesistncia,desobrevivnciaedealternativapadronizao.Dentrodeumcontextodedominaoesttico/poltico/econmicodeumpasporoutrooudeumaregioporoutraessasprticasencorajamreflexessobreanaturezadaresistnciadasidentidadesameaadas.Nessecontextoessaresistnciacarregaemsitodaumaesperanaalternativa.Comainternacionalizaodosmercados,anovarealidadeeconmicaeadominaoculturalpordeterminadoscentros.Dessaforma,tomandoemprestadasaspalavrasdeMarcJimenez:

Ogritodosartistasnoressoademaneiradiferenteenoseafundamaispelomenosnoaindanooceanodacomunicao,diferentementedaartecontemporneaocidental,presanaarmadilhadocultural,domercadodearteedapromoomiditicaouinstitucional.Eseconfirmaacadadiaqueaquestofilosfica,estticaeartsticacontinuafundamentalmenteeessencialmentepoltica.(JIMENEZ,Marc,2009,p.7)

Estticasderesistnciaemalgunsartistaspernambucanos:BeteGouveia&MaurcioCastro

Fecheoseuolhofsico,paraquevocpossaveracenacomoseuolhoespiritual,entofaacomqueoquadrovolteluzdodiaecomqueosoutrossintam,deforaparadentro,aquiloquevocviunoescuro.CasparDavidFridrich

nessecontextodeperiferiaqueumanovageraodeartistasemerge.Atradioalia-seentoexperimentaocomoprocesso,gerandodiscursosquerenemumainformaoestticaglobalizadaaumaidentidaderegionalepessoal.DessageraofazparteaartistaBeteGouveianascidanausinaSantaInssituadanomunicpiodeguaPreta,Pernambuco,ondepassoutodaainfnciaepartedaadolescnciachegando,aindaadolescente,aRecife,cidadequecanalizaasuaidentidadecomomundo.

ParacompreendermosmelhorotrabalhodeBeteprecisoumacertareflexosobrealgumascaractersticasdesuapocaeseulugar.Espaoetempo.Oprocessodemudanadoruralparaourbano,aheranaromntica/existencialdadcadade70,atransitoriedadedaeramodernaparaaps-modernaeomomentopolticobrasileiroaindasobregimemilitarinterferemnaformaodesuapersonalidadeemarcamoincioedesenvolvimentodesuapesquisaartstica.

Asmudanasnopanoramainternacional,nummundoglobalizado,tmumimpactosignificativonaproduoartsticadesuagerao:aatitudedevasculharmemriaspessoaistorna-seumaformaderesistnciacontraosexcessosdamdiae,acrescentesensaodeanonimato,deindiferena,geradapelaculturademassa,abrecaminhoparaabuscadeumanovaespiritualidade.

Instrospeco,momentosdedesafioeamornaturezafazempartedasuapersonalidade.Trata-sedealgumqueviveemumestadodemutaocontnuo,naprocuraconstantepornovoshorizontes.Buscaqueabrangeumuniversoquevaidainvestigaosistemticadosprocessosemeiosdoseufazerartsticoaumaviagemconstanteemdireoaoseuprpriointerior,oinfinito,odesconhecido.

Acompreensodotodo,douno,doindivisvelgeraumpercursoondemomentosdepurafruioestticanosodescartadoseexpressamumalinhadepensamentoquefeitadeindagaessobreaefemeridadedavida,abanalidadedosdias,omistriodovazioqueorigemefim.Betetratasuaobracomoumaconstanteespeculaofilosficanosentidodecapturar,imortalizaroefmeroqueperpassaosseusmomentos.17

Marcandosensivelmentesuatrajetria,vemostambmsuamilitnciapolticaquesevoltacontraoobscurantismogeradopelogolpemilitarde64deformasimblicaeromntica:aartecontraarepressoquecerceiaaspossibilidadesdenovasdescobertas.Omesmoromantismoqueafazcriarseusdilogoscomourbanopernambucanooucomseuscenriosmarcadospelasinterrogaesintrospectivascomosentimentofundamental:temaqueencontrasuatraduonarepresentaodeumanaturezacarregadadevaloressimblicos.Asolidoqueperpassasuasimagensbemcaractersticadeumajuventudequeviusuaspalavrasdeordemtransformadasemslogansdecamisetasequetentaumdilogocomaprpriasolidodoespectador.

Assimvaiseprocessandosuapotica:oincioenvolvendosuasprimeiraspaisagens,registrosdolitoraldePernambuco.Depois,apesquisa,tentandoumaponteentreaimaginaoearealidade.Apaisagemhumana(tipospopulares,feiras,paisagensdocotidianonordestinoqueelaabordacomacuriosidadeepicuristadeumflneur)seconstituiemoutravertentedeseuprocessodeobservao:avidaemsuavoltainterfere,motivaeexcitaseutrabalho.

Sempreemmutaoreelaborasuaspaisagensrecorrentesquetmsuaidentidadepernambucanamarcadanascenasurbanas,nasmarinhas,naintimidadedoespaoarquitetnico(ondeamemriabarrocadoRecifecolonialestpresente)emquehabita(fig.1).Dessarealidadecotidianaqueenvolvesuamemriaafetivaegeogrficaelavaicaminhandocadavezmaisemdireoaocosmos,aoinfinito,asuamaneiradesentirosublime,osagrado.

Fig1-BeteGouveia,Claroescuro,2009

MaurcioCastro(cidadodacidadedeRecife,nascidoem1962)seinteressoubemjovemporArtesVisuais.FezcursosdepinturaedesenhoeingressounodearquiteturadaUniversidadeFederaldePernambucoqueabandonousemconcluir.Iniciouseuaprendizadoinvestindoemalgumasparcerias.Emsuatrajetria,aaoconjuntafoiumaconstante.Formarateliscoletivosestnagnesedesuaproduo.Oprimeiroaconteceuquandolargouarquitetura.PosteriormentefezpartedoQuartaZonadeArte(1992),TorredePapel,emBarcelona(1966),Submarino(2000),BalneriodeguaFria(2004),BrancodoOlho(2005).AtualmentefazpartedoColetivoPeligro,umnovogrupo,umnovomomento.

MaurcioCastroumhomemurbano.Suasinvestigaesvisammetrpoleeocotidianodeseushabitantescujasmemriassofeitasdosrestosdesuacivilizao.Maurcionoumflneurdacidade,masdeseusdetritos.Elepoderiaserdefinidocomoumsujeitodotipoquedesamassalatariaseapertaparafusos.Algumque,recuperandocarcaaseconectandofios,produzobjetosportadoresdeumaironiafinasobreseusparceirosnesseinciodesculo:ns,osconsumistasdesvairadosdosculoXXI.RecriarobjetosquecarregamseuolharirnicoouinventarnovossemfunoaparenteumadasvertentesdotrabalhodeMaurcioCastro,omagodoslixes,dosferros-velhosedorisosobreeleesobretodosns.Seutrabalhotrazaestticadosready-madesesuasbrincadeiras,permeadasdecertononsense,mostramcertoparentescocomDuchamp.Emboapartedestesobjetossemfunoacitaoculturadesuaregioestpresente.NoVentinhoFrio(2001),porexemplo,(fig.2)eleseutilizadeumventiladorsobreumpotedebarroquerepousasobreumaestruturadeferrorecuperadaqueporsuavezestfixadasobreumamesademadeira.

Ainstalao/objetofazrefernciaimediataconservaodaguanointeriordoNordesteemvasilhasdebarroquemantmatemperaturadestanumclimaquenteeemespaossociaisondeapresenadegeladeirasera(eainda)rara.

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Nestemomento,BeteeMaurcio,partesdeumasociedadecadavezmaishierarquizada,controlada,desigual,hedonistaesubmissaaosinteressesdarentabilidademercantil,ondeparecedistanteopensamentolivreouumaartetransformadoraqueseriauminstrumentodeeducaoepolitizao,agemcomoeducadoresatravsdoresgatedesuasmemrias.Umaticadentrodaesttica.Oartistaamemriadeumaculturaapartirdapremissadequesuaobrarefleteopessoaleosocial.Aoladodaconstruodeummundoprprioelepodeirmaislongeeinterferirnocoletivoapartirdafascinaoqueeleproduznoespectador.Essexamanismoestnaorigemdainflunciaqueaarteexercesobreaspessoas.

Vistaporessengulo,porestesartistas,aobradearteumespaodemanifestaodacultura,dahistriaemaisenfaticamentedeumarealidadevivida,sentidaecompartilhada.Otrabalhodeles,portanto,umaarmapoltica,umespaoderesistncia,pois,mesmoentrecruzadocomoutrosuniversosculturais,ele(atravsdamemria,preservada)noneutroeoseuautoroagentecatalisadordessaconstruoqueincidenapossibilidadedatransformaooudepreservaodosocial.Aartecontemporneapernambucanaaquieagorabuscalinguagenscontemporneas,mas,atravsdelas,faladesuacultura,desuatribo,dasuamemria.

Fig2-MaurcioCastro,Ventinhofrio,Objeto,2001

MadalenaZaccaradoutoraemHistriadaArtepelaUniversitToulouseII,Frana,ProfessoraAssociadadoDepartamentodeTeoriadaArtedaUniversidadeFederaldePernambucoeCoordenadoradoProgramaAssociadodePs-GraduaoemArtesVisuaisUFPE-UFPB.FazpartedoComitdeHistriadaArtedaAssociaoNacionaldePesquisadoresdeArtesPlsticas(ANPAP)etemvrioslivroseartigospublicados.

Referncias

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Aroupaparaalmdamoda

Nestebreveestudodiscutiremosoobjetoroupa.Masaocontrriodoqueseriahabitual,notrataremosdelacomoumsimplesobjetodeconsumo,esimcomoumainterfaceparaassensorialidadesdocorpo.Pensaremossobrearoupacomoumaestimuladora,oumesmocomoumamediadora,dasnossasrelaescomoOutro.Aroupapodeserdescritacomouminvlucro,umasegundapelequaladerimos,apartirdediversospropsitos.SegundoMendona(2006,p.34),asprincipaisnecessidades,oufinalidades,aqueasroupasservem,seresumembasicamenteatrs:proteo,pudoreadorno.Emdiversospovoseemdiversaspocasestiverampresentesumoumaisdessespropsitosparaousoderoupaseadornos.Desdeosprimeirosadereosepinturascorporais,pode-seperceb-los:aproteo,quandoohomembuscanavestimentaoabrigocontraasintempries,ouquandoeleutilizaaroupaparasuaproteoespiritual.Opudorlevando-oacobrircorpo,tantopormotivosreligiosos,quantopormotivosestticos.Eoadorno,quandoohomemsenteanecessidadedeseduzir,adornandoseucorpoparaencantarosexooposto,ouparareverenciaralgumaentidadeespiritual.

Avestimentaummeiodeexpressoindividual,umsignoidentitrio,umaformadecontatocomomundoexterior.Podemosdizeraindaquearoupaocontatomaisprximoquetemoscomesseexterior.CastilhoeMartins(2005,p.36)argumentamaindaqueatravsdaroupaeosadornosdocorpoqueseestabelecemasrelaescommundospossveiseimaginrios,cujossignificadossoatreladosculturalmenteimagemepercepodoser.

Contudo,pensararoupanosdiasdehoje,noslevaasitu-ladentrodeumsistemadenovidadeseobsolescnciaschamadomoda:

Emsentidolato,amodacompreendetodasasmanifestaesexterioresdeusosecostumesconsagradasdentrodeumdeterminadoperodo,desdecomportamentossociaiseconceitosmorais,atoestilo

Costuraspoticas:sensorialidadesdaroupa

AlineBasso

prevalecentenasformasdosobjetosproduzidosedovesturioadotado.Emsentidorestrito,otermoaplica-sestransformaesperidicasnasformasdostrajesedemaisdetalhesdeornamentaopessoal.(MENDONA,2006,P.17)

Essesistema,cclicoeinterminvel,quealimentaasfantasiasdasaparncias,contribuiparasituararoupadentrodeumaintrincadatramasimblicadesubjetividades.Aroupanoapenasroupa,masumaafirmaosocial,intelectualeemocionaldoEu.Elanoserveapenasparacobrirocorpo.Aroupacomunicaquemeusou,quaisasminhaspreferncias,qualomeulugarnomundo.Emumagrandecontradio,elatornaoindivduonico,masaomesmotempopertencenteaumgrupo.Diferente,pormigual.

Masafimdecumprirnossoobjetivonestaempreitada,precisopensararoupaparaalmdasquestesdeindividualidade,paraalmdamoda.Afimdeexplorarasquestessensoriaisquenospropomos,entraremosemoutrouniverso:odaarte.aliqueostemasmaissubjetivossodiscutidos,aliquearoupaescancaraasquestesdocorpo.Somenteaartepodedeslocararoupadeseupatamardeobjetodeconsumo/produtordeidentidade,einseri-lanombitodasensorialidade,comoumobjetoqueproduzsensaes,quegeraindagaesedesejos.

AspreocupaescomavestimentaecomamodasurgemnaarteapartirdoinciodosculoXX.Atento,asrelaesentreamodaeaarteselimitavambasicamenterepresentaodovesturioatravsdaspinturas,desenhosegravuras.Comodesabrochardonovosculo,muitosartistastranspuseramsuasquestesdaarteparaocotidiano,algumasvezesattrazendograndespropostasdereformasocial,entreelasareformadovesturio.

OmovimentoArtsandCraftsiniciouadiscussosobreovesturioaoapresentarnaAlemanhaapropostadosvestidosartsticos.Concomitantementeaisso,algunsartistasdaSecessoVienense,emespecialGustavKlimt,tambminiciaramsuasproduesnombitodamoda.Futurismo,dadasmoeconstrutivismorussosoalguns

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dosmovimentosdevanguardaqueintroduziramoficialmentearoupanouniversoartsticocomoObjetodearte.Emseguida,outrosmovimentoseartistaspassaramaadotaressapreocupao,comooSurrealismo,oOrfismoeaPopart(COSTA,2009).Nosanosde1940e1950,noBrasil,FlviodeCarvalhoiniciasuasreflexessobreumvesturioquefossemaisadequadoaoclimabrasileiro,lutandocontraaimportaodamodaeuropeia.OaugedesuaspesquisasartsticassedcomaapresentaodesuaExperincian.3,umaperformancenaqualeledesfilapelasruasdeSoPaulotrajandoumavesteporeledesenvolvidaapartirdesuasreflexes:umsaiotecommeiaarrastoeblusademangascurtas.Almdessaobra,eleaindadesenvolvevriosartigosemquediscuteamodamasculina,equesoposteriormentepublicadosemumlivro.

Nosanosde1960outrosartistasbrasileirosapresentaramobras-roupa,entreelesHlioOiticica,LygiaClarkeNelsonLeirner.Apsosanosde1980,eatosdiasdehoje,outrosartistascomoLeonilson,MarthaArajo,ElidaTessler,NazarethPacheco,AyrsonHerclito,KarinLambrecht,ErnestoNeto,LauraLima,VigaGordilho,AnaFraga,Marepe,CristinaCarvalhoeChicoDantas(osdoisltimosparaibanos),trouxeramaomundoobrasque,atravsderoupas,invlucrosefragmentosderoupas,discutemquestessobreocorpo,olugar,amemria,apresena/ausncia,oconsumo,entreoutrostemas.

Hoje,nomundotodosepodeobservarobras-roupas,sejaemgalerias,museusoucoleesparticulares.DeacordocomCosta(2009,p.9),aointroduziremseulivroaroupadeartista,aautoraexplicaqueela

[...]hojedesignaumaproduoqueseinserenocampodosnovosmeios,aoladodovdeo,artepostal,cinemadeartista,webarteoutros,jestevepresenteemquasetodososmovimentosartsticosdosculoXX,naformadevestimentassingulares,performances,empacotamentos,estampariasexclusivas,vdeoseoutrastecnologiasecontinuacontemporaneamenteemtransposies,apropriaesevesturiosincomuns,entreoutrasmanifestaes.

Assim,discutiraroupacomoumobjetosensorial,exigequeampliemosnossasfronteiras,etransitemosentreosuniversosdamodaedaarte,transfigurandoasaparnciasparaalmdamoda,eentrecruzandoossignificados.Se[...]amoda,emgrandepartealimenta-sedaarte(COSTA,2009,p.75),entopodemosconcluirqueestudarassubjetividadesdaroupatorna-seumatarefamaisprazerosaefcilquandoapoiadapelasinvestigaesartsticas.Eassimofaremos.

Roupassensoriais

Parailustrarasdiscussessobreaspossibilidadessensoriaisdaroupa,utilizaremosaobraHbito/Habitantes,de1984,daartistaMarthaArajo.Nossaescolharesultanoapenasdabuscaporumartistanordestino,quenosrepresenteemmeioartecontempornea.Mastambm,eespecialmente,pelarelevnciaqueaobraemquestopodeassumirfaceaonossoestudo,conformeesclareceremosmaisadiante.

AartistaMarthaRobertadosSantosArajo,conhecidaartisticamentecomoMarthaArajo,naturaldeMacei,Alagoas.IniciousuaformaonaBahia,passandoaindaporSoPaulo,MaceieRiodeJaneiro.DeacordocomSilvaeBomfim(2007,p.313),suaobraacabouporassumirumalinguagemsincronizadacomasvanguardasdoeixoRio/SoPaulo,emarcadaporexperimentaessensoriais,esculturasinterativasediscussessobreocorpo,oEueoOutro.

Hbito/Habitantes(Fig.1)umadasobrascriadaspelaartistaapartirdeexperimentaesrealizadasnoRiodeJaneiro.compostaporvestesdotipomacaces,quepossuemvriosvelcroscosturadosemsuasuperfcie(VILA,2013,s/n).Aobraexigeaparticipaodoexpectador,quedevevestiraroupaeinteragircomoutroexpectador,igualmentevestido.Dessaforma,osvelcrossegrudamcriandoligaesentreosindivduos,exigindocertoesforoparadesgrudarepromovendoumaexperinciasensorialdecontatoentreosparticipantes.

Fig.1-MarthaArajo,Hbito/Habitantes,198421

Essaexperimentaotraduzemformaderoupaalgumasquestescontemporneasdaarteedocorpo.Elanosquestionaoslimitesdocorpo,oslimitesdoEu,ecomooEuestabelecerelaescomoOutro.Instigasensaes,nomomentoemqueprovocacontatosentreosparticipantesdaexperincia.Otoqueosentidoprimordial,aquece,reconforta.Essemesmotoqueevitadoerepelidopornossasroupas.SimbolicamenteelasnosprotegemdoOutro,imunizando-nosdasexperinciassensoriaisdapele.

Aroupa,comoobjetosimblico,deveserpensadatambmapartirdopontodevistasensorial.EaobradeMarthaArajonoscolocadiantedessequestionamento:comooEupodesentiroOutro?Amoda,enquantoprodutoradeconsumoedeidentidades,emgeralseesquivadasquestesmaisprofundasqueenvolvemesseobjeto.EladiscuteaformacomooEuseapresentaaomundo,masnoabrangeasinter-relaesentreossujeitos,anosernoquetangesquestesdopertencimentodoindivduoaumdeterminadogrupo.Asrelaesquepretendemosdiscutiraquiestomaisligadasaotoque,aosentiroOutro,aoperceber.Edissoamodanotrata.Masaarte,sim.

SegundoOstrower(1999,p.263),

atemticaprincipaldaartecontemporneagiraemtornodequestesntimas,questesexistenciais,numamplolequedesentimentosquevodesdeaangstiaeomedo,coragemfaceaomedo,resignao,esperanae,eventualmente,anovossignificadoshumanosencontradosnoprprioviver.

Aautoraaindadiscuteapercepo,dopontodevistadaarte,edefendequeelaabrange,dentreoutrascoisas,

[...]umprocessoaltamentemisterioso,queoscientistasaindanosabemexplicar:odaconversodedadossensoriaisemnoesno-sensoriais.Evice-versa,apassagemdono-sensorialparanovosdadossensoriais.Apartirdeumacondensaoseletivadeestmulos,aapreensosensorialtransforma-seemprocessodecompreensono-sensorial.Asimagenssetransformamemsignificados.Inversamente,criamosimagens,formassensoriais,paracomunicarossignificados.(OSTROWER,1999,p.51)

Issopodedenotarqueumaobraderoupa-artesensorialcomoadeMarthaArajotemcondiesdedespertarnosexpectadores/usurioscompreensesquevoalmdoobjeto.Compreensesrelacionadasaoespaofsicodocorpoemcontatocomoutroscorpos,aosseuslimites,aumagrandediversidadedeexperinciastteis,entreoutras.EaprpriaexperinciadeinvestirforaparasedesgrudardoOutro,podesetornarumavivnciadeconstruodoEu.Estamosfalandoaquidasrelaesresultantesdessatatilidadeaquearoupasensorialnosincita.

Eamodacomisso?

Percebemos,apartirdestabreveinvestigao,queummesmoobjetopodeserabordadodediferentesformaspelaarteepelamoda.Comoobjetoutilitrio,aroupanosapresentaaomundo,definequemsomos,nossituacomoindivduos.Comoobjetoartsticoelapodenoslevarparadentro,nosapresentarparansmesmos,eaindaassimnosprovocarumnovoolharparaomundoexterior.

Pensararoupacomoumartefatoqueestimulaemediaassensorialidadesdocorpo,noscolocadiantedosdesafiosediscussesdaarte.Masissotambmpodeserdiscutidoepensadopelamoda.Esearoupanaturalmenteumobjetoquecobreocorpo,nadamaisapropriadoqueamodatambmdiscutaessasquestes,partindodaideiadeumcorpoqueatua

[...]comosuportematerial,sensvel,quesearticulacomdiferentescdigosdelinguagem,comoagestualidade,comasensorialidadeecomaprpriadecoraocorprea,eamodaeoseudesigncomoprojeto,processodetransformaodaaparnciaqueobjetivaadiferenciaoouasimilitude.(CASTILHOeMARTINS,2005,p.31)

Somosserescommarcantescaractersticastteis.Sentimosvontadedetocar,semprequevisualizamosalgumasuperfcieinteressante,algumatexturamacia.Especialmenteasmulherestendemnaturalmenteapegarnasroupasdesuasamigas,parasentirotoquedeumarenda,oudeumasedamacia.Seestivermosdiantedeumapessoavestindoumcasacodepele,nossoinstintonoslevaautomaticamenteaexperiment-loatravsdotoque.Eseestivermosemumaregiofria,vamosalmdesseinstintodetoque,sentindovontadedeabraarapessoa,parapodersentirnoprpriocorpoatemperaturaeatexturadaquelematerial.

Otoquenosajudaaperceberomundoesuamaterialidade,nosajudaaprocessarasinformaesvisuaisquenoschegamdele.Amaterialidade,muitasvezes,vemaserumcomponenteimportantenaedificaodosentidoe,porisso,nopodeserdesconsiderada(CASTILHOeMARTINS,2005,p.64).22

Afinaldecontas,nossasroupaspossuemtexturas,sejamlisas,speras,macias,porosasetc.,ensaspercebemoscommaiorclarezaporquepodemostoc-las.

Essasensorialidadenoslevaemdireoaooutro,aoqueveste.Noslevaemdireoaotoque.Eaconscinciadesseinstintotoprimitivopodedespertaroutraspossibilidadesnamoda.Comoporexemplo,aproduoderoupasqueinstiguemocontatoentreaspessoasainteraoapartirdeconstrueselaboradasqueproduzamsuperfciesestimulantes,tecidosdediversostipos,temperaturas,texturasetc.Talvezelapossaatmesmopartirdoprincpiodasroupas-obrassensoriais:provocarocontatodoEucomoOutro.Assim,umprojetoartsticopodefacilmenteseradotadopelamoda,gerandoprodutosprovocantes,interativoseinovadores.

AlineTeresinhaBassodesigneremestrandaemArtesVisuais(UFPB/UFPE).ProfessoradocursodeModa(Unip/JooPessoaeUFC/Fortaleza).

Notas

Osdadosapresentadossobreartistas,perodoseobrasbaseiam-senaspesquisasrealizadasparanossadissertaodemestradopeloPPGAVUFPB/UFPE.Foramutilizadasemsuagrandemaioriafontesdeinternet,ondepesquisamosdiversossitesdeartistas,galeriasdearteemuseus.Algunsdadosforamcoletadosdiretamentecomosartistas,eoutrospartiramdefontesbibliogrficas.Catalogamos107artistasemaisde200obrasenvolvendoaproduoderoupas,emdiversaspartesdomundo,doinciodosculoXXatosdiasatuais.Essasinformaesfazempartedeumatabelaquedesenvolvemoscomomaterialdeapoioaotextodadissertao.

DeacordocomoDicionrioOnlinedePortugus:s.m.(marcaregistrada,dofr.velourscroch)Tecidofabricadoemtirasduplas,aderentes,usadocomofechoouparafixar,umanaoutra,duascoisasdiversasouduaspartesdeumamesmacoisa.Umadastirasteminmeraspequeninasalaseaoutra,outrostantosganchinhos,queseprendemnelascomumasimplespressodosdedos,fazendoasduaspartesaderiremmutuamente.(Disponvelem:,acessadoem10Jul.2013)

Referncias

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23MarcosVeloso,SertodaParaba,1998

Aartecorreio(MailArt)surgiudanecessidadedecomunicaoartsticacomopblico/interferidordoprocesso,co-autordeumresultadonoqualaspossibilidadesdeleiturasomltiplas,variveis.Oveculocorreio,signoinstitucionalperdesuacaractersticaoriginal;aartesubverteanormadopadroesttico.

Pormeiodaartecorreiocirculamasmaisvariadasideias,asmaisdistantestendncias,e,comopartesintegrantesdoprocesso,outrosmedia:aartenoprocessocomunicacionaldodia-a-dia,linguagensgerandolinguagens,numperptuociclo.

OcrticofrancsJeanMarcPoinsot,emseulivroMailartcomunication:adistanceconcept(1971),citaduasobrasdeDuchampligadasaousodocorreio,quepodemosconsiderarprecursorasdaartepostal:umaDomingo,6defevereirode1916,MuseudeArtedaFiladlfia,queseconstituiudeumtextodatilografadosobrequatrocartespostaiscoladosbordacomborda(Cf.Schwarz,1969);aoutra,Podebal/Duchamp,telegramadeNovaYorkdatadode10dejunhode1921,enviadoporDuchampaoseucunhadoJeanCrotti.

Tambmporessapoca,opoetafrancsMallarm,endereouseusenvelopesenigmaticamente,daaexpressoduchampmallarm,cunhadapelopoemsicoamericanoJohnCage.

EmrecentepesquisasobreaobradopintorVicentedoRegoMonteiro,oartistacorreiopernambucanoPauloBruscky(2005)constatouopioneirismodessepintormodernistabrasileirocomocriadordopoemapostalnoanode1956,emParis.

Naprimeirametadedadcadade60,artistasnorte-americanosdogrupoFluxus:KenFridman,YokoOnoeJohnCage,maisoalemoJosephBeuys,osfrancesesRobertFilioueIvesKlein,almdojaponsChiekoShiomi,praticaramaartepostal.RayJohnsonfundouemNovaYork,em1962,aNewCorrespondenceSchoolofArt,dondeforamexpedidospoemaspostais,projetoseideiassobaformadeumsistemadeintercmbioentre

umgrandenmerodeartistas,crticoseamigos.EssaescolafoitransformadanoMarcelDuchampClub,em1971.

NoBrasildesseperodo,surgemosprimeirosartistascorreio.EmseulivroPanoramadasartesplsticasnossculosXXeXXI,ocrticodearteFredericoMorais(1989,p.83)afirmaqueumdosprimeirosgruposaempregarocorreiocomoveculoartsticonoBrasilfoioPoemaprocesso,aindanosanossessenta.Em1970,opoetacearensePedroLyradivulgaatravsdoJornaldoBrasilummanifestodopoemapostal.NosepodeesquecerdafacetasofisticadadosCartemas,de1971,deautoriadodesignerpernambucanoAlosioMagalhes,mosaicopermutvelapartirdeumnicocarto-matrizgerador,reduzidoereproduzidomltiploediminutoemumscartodetamanhonormal.Aindaem1971,omesmoPoinsot,principalanimadordoCentredeRecherchesDArtContemporaindelaFacultdeLettresdeNanterre,organizouasessoEnvoisdaBienaldeParis.

Enquantoisso,noBrasil,aprticadaartecorreio,concebendo-secomoprocessodeinterfernciacriativasobreomeio,tomagrandeimpulsoapartirdaprimeirametadedadcadade1970comPauloBruscky,DanielSantiago,J.Medeiros,AngelodeAquino,ReginaVater,LeonhardFrankDuch,UnhandeijaraLisboa,ReginaSilveira,Samaral,YpirangaFilho,IsmaelAssumpo,CludioFerlauto,FalvesSilva,IvanMaurcio,MaurcioFridman,GabrielBorba,AnnaBellaGeiger,BenFontelesentreoutros.Paraohistoriadordearte,WalterZanini(1977,p.5),ocartopostalcriadopeloprprioartistaeocartopostalalteradoparecetersidoosprimeirosveculosdeexpressodessaarteessencialmenteprocessual.

OpoetaexperimentaluruguaioClementePadin,queem1968haviapublicadoseusTextossignogrficosemcartespostais,organizouem1974aprimeiraexposiodeartepostaldaAmricaLatinaoFestivaldelaPostalCreativa,realizadonaGaleriaUdeMontevidu.Umanodepois,PauloBrusckyeYpirangaFilhorealizaramaIExposioInternacionaldeArtePostalnoHospitalAgamenonMagalhes,nacidadedoRecife.Poressa

Artecorreio:aideiaemprocesso

JotaMedeiros

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pocaaartepostaltorna-sealvodacensura:aIIExposioInternacionaldeArteCorreio,organizadaem1976pelaequipepernambucanaBruscky&Santiago,nochegouaserrealizada,poisseusautoresforampresos.

Porsuavez,oartistaJ.Medeiros,paraibanoradicadoemNataldesde1967,organizanaUFRNaIMostraInternacionaldArteporCorrespondncia(1977),queitineraposteriormenteparaCampinaGrandeeBelm,naParaba.Noanoseguinte,MedeirosrealizanaUFPBaIExposioInternacionaldArteCorreio,emJooPessoa.OutrasmostrasforamrealizadasemNatal,aexemplodaExpotica77comemorativados10anosdopoemaprocesso,eOlhoMgico(1978),sobacuradoriadoartistaFalvesSilva.

Entreasdcadasde1970e1980surgiraminmeraspublicaesinternacionaissobosmaisdiversoslancesgrficos,desdeoenvelopecomoinvlucrodapublicaoproduzidasobsistemacooperativoondeoautoremitiadeterminadonmerodecpiasdeseutrabalhocorrespondenteaonmerodeexemplareseditados,aexemplodePovis/Projeto,deNatal,editadaporJ.Medeiros;Karimbada,deJooPessoaporUnhandeijaraLisboa;fanzinescomoAGaveta,editadoporMarconiNotaro,eAMargem,deNatal,ediodeFalvesSilvaeFranklinCapistrano,ataDoc(K)s,revistatrimestraldevanguardacommaisde400pginas,editadaemoff-setporJulienBlaine,nacidadefrancesadeMarselha.

NaAmricaLatinadofinaldosanos1970einciodosanos80,opoetauruguaioClementePadineditouarevistaOvum,aopassoqueoargentinoEdgardoAntonioVigoeditoulivroscoletivos;noRio,arevista/envelopeExperinciasfoiproduzidapelogrupoBelaboca,integradoporSamaraleJooCarlosSampaio;emRecife,BrusckypublicouMultipostaisePunho,enquantoemNataleditamosContexto,suplementoespecialdARepblica,jornalporta-vozdaartecorreio.Em11dedezembrode1977,ContextoteveediolanadanaaberturadaExpotica,mostracomemorativados10anosdomovimentodoPoemaprocesso.Em1982,oartistaparaibanoRaulCrdulainiciaoprojetoOPasdaSaudade,expostonoMuseudaCidade,emOlinda,Pernambuco,em1985.

TendoJlioPlazacomocurador,aArtePostalfoidestaqueem1984naXVIBienalInternacionaldeSoPaulo,eventoartsticorealizadosobacuradoriadeWalterZanini.EmNatal,aartecorreiotornou-seumaprticaintensa.Almdosjmencionadosartistas,cabecitarnomescomoosdeCarlosJuc,VenncioPinheiro,AvelinodeArajoeCarlosH.Dantas.

Maisrecentemente,outrosnovosprodutoresseinseremnestaprticaartsticadodia-a-dia,comoFbiodiOjuaraePedroCosta.Em1992,ocrticoepoetapotiguarFranklinJorgerealizouoprojetoAmazniavistapelos 25

RefernciasBRUSCKY,Paulo.Arte-correio.In:PECCININI,DaisyValleeMachado(coord.)ARTEnovosmeios/multimeiosBrasil70/80.SoPaulo:FundaoArmandolvaresPenteado,1985,p.77-79.MEDEIROS,J.Artecorreio,artepostal,mailart:aideiaemprocesso.In:PECCININI,DaisyValleMachado(coord.)ARTEnovosmeios/multimeiosBrasil70/80.SoPaulo:FundaoArmandolvaresPenteado,1985,p.287-288.MORAIS,Frederico.PanoramadasartesplsticasnossculosXXeXXI.SoPaulo:InstitutoCulturalIta,1989.POINSOT,JeanMarc.Mailartcomunicationadistanceconcept.PrfacedeJeanClair.Paris:CEDIC,1971.SCHWARZ,Arturo.ThecompleteworksofMarcelDuchamp.Londres:ThamesandHudson,1969.ZANINI,Walter.Aartepostalnabuscadeumanovacomunicaointernacional.In:PECCININI,DaisyValleeMachado(coord.)ARTEnovosmeios/multimeiosBrasil70/80.SoPaulo:FundaoArmandolvaresPenteado,1985,p.81-82.

artistas,reunindoprodutoresdediversospasesnumnicoprotextocoletivo:Amazniareinventadaporartistasdomundointeiro.Jnoano2000,comemorandoosquatrocentosanosdacapitaldoRioGrandedoNorte,FbiodiOjuara,FalvesSilvaeDigenesdaCunhaLimahomenagearamaCidadedoNatalcomumaMostraInternacionaldeArteCorreio.EmjunhodomesmoanoocorreamostraArteConceitualeConceitualismos,umresgatedaproduointermedianoanexodoMAC/USPduranteosanos70,sobacuradoriadeCristinaFreire.

Emnossosdias,aprticadaartecorreioveioproporcionarumintercmbiopermanenteentreosmediaintermedia,taiscomoaxerox,odisco,oCD,ofilme,ovdeoeocorpo,ouseja,aperformancemeiosqueestonocircuitodasideiasedosprojetoscotidianosdoartistamultimedia.Adivulgaodeumeventorelacionadoaqualquerdessesmeiosfeitapormeiodocorreio,noqualasnovaspropostasaboliramostradicionaissuportes;esseveculodeixoudesermerocondutordeumamensagemparaintegrar-seaoseusignificado,assumindoassim,umnovocartersemntico.

Nestaeradatelearte,daestticafractaledarobtica,aartecorreiocontinuaemprocessointensivonomundointeiro,caminhandoparalelamenteaoe-mail@rt,ocorreioeletrnico,quepodeserutilizadodeformaconceitualeutilizaodeequipamentosmultimeioscomoofaxeovdeo,ordioeocinema,dentreoutrasmltiplaspossibilidadespost-modernasdestecomplexocontextoarte/vida.

JotaMedeirosartistamultimdia,curadorecoordenadordaMostraInternacionaldeArtePostaldaUFRN(Natal,2005).

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Odireitonuncavaisuplantaracriao,poiseleprodutodela.

ValelembraraindaqueumaLeiparaserconcretizardeveserfrutolegislativo,ouseja,passarporumadigestoquemuitasdasvezesnocorrespondeaoverdadeiroanseiodosegmentojurisdicionado.PoressemotivoquesemsombradedvidasdefendoquemuitomelhorumanovaLeideDireitosAutoraisparasubstituiraLei9.610/98,queameuver,trata-seapenasdeumameracontrafaodaLeide5988/73comalgunspoucosarremedosparaparecercoisadiversa.

Seassimpensarmos,aoinvsde10anospassadosdeLeiestamoscarregandonaverdade35anos,oquereforacategoricamentepoderdizerqueaatualLeiobsoleta,aindamaisquandopensamosemnovastecnologiasesuportesutilizadosemproldacriao.

bemverdadequeaLeiemvignciacontempladecertomodoconceitosdetratadosinternacionaisdosquaisnossopassignatrio,pormpoderiairmuitoalmeaindatrazerinovaes.

ComomembroefetivodoColegiadoSetorialdeArtesVisuais(2005-2010)[e2013-2014],erepresentandoumabasecomanseiosprpriosediferenciadosnesseprojetomentalizadopeloMinistriodaCultura/Funarte,tiveaoportunidadempardeterumacosmovisodareadeatuao,poisostrabalhosrealizadosnaCmaraeseusgruposchamadostransversaisfixaramumverdadeiropanoramadaculturaeseussegmentosnopas,tudocomsoluesediagnsticosque,nocasodasartesvisuais,jamaisosprpriosintelectuaisdareapoderiamchegaremcurtoespaodetempo.

EssaparticipaoquemeincutiuumposicionamentodiferenciadosobreagestoculturaletambmsobreaprpriaLeiAutoralqueprotegeoartistaesuacriao.

Nocasoespecficodeartesvisuais,dentreasinovaesreferentesaosDireitosAutorais,concluiuqueaLeiespecificamentepoderiaalbergarasseguintessituaes:

a)Umtratamentomaisespecficoparaocampodasartesvisuais.

b)Anecessidadedeumaregulamentaoespecficadaobraderivada,principalmentedaquelasadvindasdareleitura,colagemerefundio;

c)Anecessidadedafixaodaprescriododireitodeaonoprazomximo,emfacedosreflexosdanososqueumaaoilcitapodeprovocaremumaobra.

d)Autilizaodecritriosjurdicosmaisntidosparaacaracterizaodoplgio,comoaplicaodainversodonusdaprovaparabeneficiarapartequepossuioregistrodaobra,dandoassimmaiorrelevoexistnciaderegistroprvio.

e)Diantedafaltadeprevisolegislativadoquantumaserarbitradoatitulodedanosmateriaisnosmesmosmoldesdopargrafonicodoartigo103dalei9.610/98,sugerindoparaimagensumvalorrazovelentre40e100salriosmnimos,dependendodautilizaoilcita,semprejuzoaosdanosmoraisdoautor.

f)Aprevisoautomticaparaqueacessodedireitosautoraisretornepatrimonialmenteaosfamiliaresdoautordeartesvisuaisfalecido,casonohajaprevisoespecficacontratualemcontrrio.

g)Nocasodefalecimento,aextensoparafamiliaresdodireitoirrenunciveleinalienveldoautor,deperceber,nomnimo,cincoporcentosobreoaumentodopreoeventualmenteverificvelemcadarevendadeobradearteoumanuscrito,sendooriginais,quehouveralienado,inclusivesobrasdedomniopblicoe/outombadas;

h)Acriaodecritriosdafiguradotombamentodeobrasdeartevisuais,deformaapreservardivisaseoturismocultural,dandoaprefernciadeaquisioUnio.

i)AnecessidadedeclassificaodasimagensdeobrasquenoestejammaisprotegidaspelaLeideDireitos

Deficinciaautoraldasartesvisuais

LuizVidal

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Autorais,paralivreutilizaopelapopulao,emespecialnaeducaoedifusodasartesvisuaisesuahistria.

j)RegulamentaodaslicenasCreativecommonsemlei.

k)AcriaodeumainstnciaadministrativaespecializadaparaatuarnaresoluodeconflitosnocampodosDireitosAutorais,comorefernciaexterna,semdefenderinteressesespecficos.

l)OretornodoConselhoNacionaldeDireitoAutoral,comatribuiodefiscalizaodoEscritrioCentraldeArrecadaoedefixaodovalordetaxasreferentesaarrecadaoedistribuiodedireitos.

VoltandoLei,recordoqueparamuitosmaiscmodomant-lanospadresatuais,poisumamudanapoderiaprejudicarindelevelmenteasituaodasreasquedemandamexecuo,principalmentequandofalamosdalegiodosrgosqueatuamnagestocoletiva,osquaisdeveriamsofrermaiorregulamentaoespecfica.

Veja-sequealiberdadeimpingidapelaleisemnenhumainterfernciaestatal,mesmoquemnima,provocainmerasdistoreseacabaprincipalmentedilacerandoafunosocialdosdireitosautorais.

CabeaindalembrarqueafunosocialdapropriedadecomeouasertratadaemnossalegislaonosidosdanossaCartaMagnade1888,equenossaleiautoralcomojditovempraticamentede1973.

Ejustamentedanecessidadedesupressodelacunas,dasquaissempreiroexistir,quesefaznecessriaacriaodeumConselhoNacionalcomrespeitabilidadeecredibilidadeparasupririnclusivenormasembranco,asquaisreputo:corpossemalmas.

ProvadequeissopodefuncionaroexemplodoreflexorecentequeoprprioConselhoNacionaldeJustiavemcausando.

Espelhadonisso,epelofatodosartistas/criadores/autoresnecessitaremdetratamentoespecficosoufavorvelacriaodeumConselhoNacionaldeDireitosAutorais,noqueleconselhopolticonosmoldesquejexistiuoutrora,massimumconselhocompapelmuitomaisdefinido,independenteeatuante,inclusivecontendorepresentantescomnotvelsaberdosdiversossegmentosculturais,segmentosculturaisnopodemserconfundidosemhiptesealgumacomorgosparticularesdegestocoletiva,digoissoporqueessesquedevemrespeitareseremsubmissosaforadacultura,docriadoredoespectadorenovice-versa.

Lembroainda,quealmdarevisodaLeideDireitosAutorais,inclusiveparaquesejamefetivamentealbergadososdireitosqueatualmentedeixamadesejarparavriossegmentosdaculturaaexemplodasartesvisuais,artescnicas,circo,teatro,entreoutras,temosaindaanossaportaodesafioatualdocrescenteblocodoMERCOSUL,situaoquenodevedeixardeserrelevadaedaqualdevemosdarexemploaospasesirmos.

Outrodesafioimportanteoderedesenharopapeldagestocoletivadedireitos,poisditagestodeveserexercidacomdiscernimentosocial,papelrelevantequesencontrarplenitudepormeiodainterfernciadeumConselho,formadonospeloEstado,maspelosprpriossegmentosdecriaoculturalatparaquenohajadistoresgrosseirasdotipocobrarpedgioautoraldasquermessesdasigrejinhas,festejosdasassociaesdemoradores,ouaindacercearestudantesateremacessoculturaemseuslivrosdidticos.

Maisespecificamentequantosartesvisuais,minhareadeafinidade,confessoquetenhoressalvaspelomodelopropostodegestocoletivaeseufuncionamento,situaounnimedentreos15participantesquerepresentam15estadosdafederaonoColegiadoSetorialdeArtesVisuais.

PrimeiroporqueaLei9.610/98noenglobaascriaesdeimagensemseuartigo99imaginoquetalvezpelofatodeteremumtratamentodiferenciadodeexecuo28

,segundoporqueagestocoletivanoseresumeaumbancodedadosdeclientesformadosparainterposiodeaes,principalmentereferenteaartistasconsagradosinternacionalmentepormeiodeconvnios,situaoqueveladamentenopassadachamadacaptaodeclientelatorepudiadapelaOAB.

TerceiroaindaporqueaditaAssociaoqueseintitulaNacionalanteaosartistasvisuaiscarecederegulamentaoefetivaepossuisalvoenganomenosartistasbrasileirosinscritosemseubancodedados450nofinalde2009(http://www.autvis.com.br/noticias.php?noticia=136)doqueaprpriaAssociaoProfissionaldosArtistasPlsticosdoParan-APAP/PR,daqualfaoparteequeestatutariamentealmdepoderpraticargestodedireitosautoraispossuiumcadastroquerecentementeultrapassoua850artistasplsticossomentenoEstadodoParan.

LembroaindaqueofatodeditaAssociaoBrasileiradosDireitosdeAutoresVisuaistersupostasparceriascomoutras33associaesnoestrangeiroparadefenderearrecadarvaloresaosartistasaliengenasnoalegitimaparaimperarsozinhasobreoassuntoemnossoterritrio.

Portaisrazesqueagestocoletivadasartesvisuaisdeveserrepensadaemnossopas,desdeasuaregulamentaoefetivaatasuaestruturamnima,lembrandoquenoseriaconvenientejogarforaoesqueletoconquistadoaoslongosdosanospeloEscritrioCentraldeArrecadao,oqualmuitoapssriareformulaobempoderiadarcabotambmdeoutrasreasdaproduoautoralquesomenteamsica.

Talvezaindasejadeseponderartermosumnicorgoparatodasasreasestruturadoparadarcabodaverdadeirasatisfaodesuaexistncia,tudoauditadoporumConselhoNacionalPermanentedeDireitosAutoraiscomoumainstnciatcnicacomestatutoprprioediretamentedesvinculadodecomprometimentogovernamental,mascomparticipaodeste.

Enfim,seaprpriaLeiAutoralincuaemvriosaspectosnocampodasartesvisuais,qualquerdiscussosobreumrgodegestocoletivaparaasartesvisuaisdependernecessariamentederegulamentao,poisosmoldespropostosatentocarecemdelegalidadeenocumpremoanseiodouniversoaqualsedestina.

LuizGustavoVardnegaVidalPintoartistavisual,advogado,sciodoescritrioNoronha&VidalAdvogadosAssociados,MembrodoColegiadoSetorialdeArtesVisuais,presidentedaComissodeAssuntosCulturaisdaOABSeoParan,diretorjurdicodaAssociaoProfissionaldosArtistasPlsticosdoParanecolaboradordoFrumdasEntidadesCulturaisdeCuritiba.

29MarcosVeloso,SertodaParaba,1998

Aproliferaodebienaisdeartenomundo,nasltimasdcadas,chamaaatenoparaoespetculoeabanalizaodachamadaartecontempornea.Conformeotipodepblico,decurador,deartista,depatrocinadorexisteummodelodebienal.Cadaumacomsuasespecificidades,umasprivilegiamauniversalidade,outrasaslinguagensregionais,cadaumaimprimesuamarca.Qualquercoisapodesertransformadaemmaterialartsticoequalquerlugarpodeserestetizado.Temasdosgrandescentroseasdeperiferia.Portrsestumsistemaeconmicoqueenvolvenegcios,turismo,entretenimento,economiacriativa.Essasmostrasnosesustentamdedemandasculturais.Oingredienteculturalcomoaquelapitadadesallanadasobreaporodebatatafrita.

Umabienaldearteserveparaapresentarnovosprodutos,ounovosautoresdeumdj-vuparaaquecerasociedadedamercadoria.Comofimdamodernidadeeashistriasdasgrandesinovaesnaarte,emtermosdenovasformasetcnicasquesurpreendiam,veioumasensaodeesgotamentoesttico.Asoluodomercadofoiinvestirnoinusitadodaideologiadajuventude,noqueparecesererevelarnovostalentos.Notemosmaisassurpresasmodernas,aexemplodoCubismo,ento,reinventam-seoutrascomaajudadodepartamentodemarketing,porqueoconsumoseabasteceatravsdofantasmadonovo.Masaarteprecisamaisdereflexodoquedetalentossurpreendentes.

Asbienaisestoligadasaomercadocomoamantesapaixonados,dependentesumdooutro.Seelasnosocentrosdiretosdeconsumo,estoindiretamenteaserviodoconsumodemercadoriasculturaisedelazer.Oaltocustodesuarealizaoimplicanaparticipaodecisivadeinvestidores,patrocinadorescomexpectativasderetorno.Omontanteconsidervelquemovimentadoanualmentemostraqueomercadoe