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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ GUILHERME NEGRÃO MESSIAS SEGURANÇA DO TRABALHO: A RESPONSABILIDADE PELA INDENIZAÇÃO ACIDENTÁRIA CURITIBA 2012

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

GUILHERME NEGRÃO MESSIAS

SEGURANÇA DO TRABALHO: A RESPONSABILIDADE PELA

INDENIZAÇÃO ACIDENTÁRIA

CURITIBA

2012

GUILHERME NEGRÃO MESSIAS

SEGURANÇA DO TRABALHO: A RESPONSABILIDADE PELA

INDENIZAÇÃO ACIDENTÁRIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiutí do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Professor Mestre Luis Eduardo Muñoz Soto

CURITIBA

2012

TERMO DE APROVAÇÃO

Guilherme Negrão Messias

SEGURANÇA DO TRABALHO: A RESPONSABILIDADE PELA

INDENIZAÇÃO ACIDENTÁRIA

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do grau em Bacharel no Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiutí do Paraná.

Curitiba, _____ de _____________________ de 2012.

___________________________________ Professor Doutor Eduardo de Oliveira Leite

Coordenador do Núcleo de Monografias Curso de Direito da Universidade Tuiutí do Paraná

Orientador:

_____________________________________ Prof. Msc. Luis Eduardo Muñoz Soto

_____________________________________ Prof.

_____________________________________ Prof.

Dedico este trabalho aos meus pais e às minhas irmãs, que sempre estiveram presentes, incentivando, aconselhando e participando, tanto na confecção deste, quanto na conclusão do curso. Mas dedico principalmente ao meu avô, quem me ofereceu as oportunidades e serviu como exemplo de persistência, moral e ética.

Agradeço à minha mãe e ao meu pai pela força, sabedoria e dedicação. Às minhas irmãs pela compreensão nos momentos de dificuldade e pelos conselhos sempre precisos. Aos meus amigos pelos momentos de descontração. Ao meu avô por confiar em mim. E a todos estes pelas alegrias proporcionadas ao longo da vida.

RESUMO

Trata-se das teorias do infortúnio laboral, bem como das espécies de responsabilidade e as hipóteses de exclusão dessa responsabilidade no tocante aos acidentes do trabalho. O estudo das teorias relativas ao infortúnio do trabalho serve de norte para identificar a quem cabe a responsabilidade, e de quem é o dever de arcar com as eventuais despesas decorrentes dos acidentes de trabalho. Neste aspecto, faz-se necessário, também, o estudo das espécies de responsabilidade e os casos concretos, por meio de jurisprudências. Logo, se pretende demonstrar quando e em que caso é dever do empregador pagar a indenização, ao empregado, decorrente de um acidente do trabalho, verificando em quais hipóteses tal indenização não é devida, levando em consideração o entendimento doutrinário e jurisprudencial. Para isso, realizaram-se os estudos de cada teoria referente aos infortúnios laborais, igualmente das espécies de responsabilidade decorrentes do acidente de trabalho (civil, penal e acidentária do trabalho) e as ocasiões em que tal responsabilidade pode ser afastada pelo empregador. Desta análise, pôde-se verificar que as teorias adotadas pelos Tribunais e doutrinadores brasileiros, atualmente, primam pela proteção ao empregado, sujeito hipossuficiente da relação de trabalho, de forma que o empregador responde de forma objetiva, e apenas exime-se da responsabilidade de indenizar o trabalhador em casos que reste claramente comprovada a culpa exclusiva da vítima (incluindo-se a auto lesão dolosa), caso fortuito e força maior, ou fato de terceiros. Palavras chave: Acidentes. Infortúnio. Indenização. Responsabilidade. Exclusão da Responsabilidade.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 7

2 ACIDENTE DO TRABALHO ...................................................................... 10

2.1 CONCEITO ................................................................................................. 10

2.2 TEORIAS DO INFORTÚNIO LABORAL ..................................................... 12

2.2.1 Teoria da responsabilidade extracontratual ................................................ 13

2.2.2 Teoria da responsabilidade contratual ........................................................ 14

2.2.3 Teoria do caso fortuito ................................................................................ 16

2.2.4 Teoria da responsabilidade objetiva ........................................................... 18

2.2.5 Teoria do risco profissional ......................................................................... 21

2.2.6 Teoria do risco de autoridade ..................................................................... 24

2.2.7 Teoria da responsabilidade social .............................................................. 25

3 RESPONSABILIDADES DECORRENTES DO ACIDENTE DE

TRABALHO ............................................................................................... 27

3.1 RESPONSABILIDADE CIVIL ..................................................................... 27

3.2 RESPONSABILIDADE PENAL ................................................................... 31

3.3 RESPONSABILIDADE ACIDENTÁRIA ...................................................... 33

3.4 A DESCARACTERIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE DO

EMPREGADOR ......................................................................................... 35

3.4.1 Nexo causal ................................................................................................ 35

3.4.1.1 Culpa exclusiva da vítima ........................................................................... 38

3.4.1.2 Caso fortuito e força maior ......................................................................... 41

3.4.1.3 Fato de terceiro........................................................................................... 43

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 46

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 50

7

1 INTRODUÇÃO

Desde os tempos mais remotos da humanidade, nas civilizações egípcias,

gregas e romanas, é possível observar que preocupações relativas à saúde ou

doença do trabalho estiveram presentes, mesmo que de forma restrita, já que,

conforme Hertz Jacinto Costa (2006, p. 15), “o trabalho era considerado uma

atividade vil, destinada às camadas mais baixas da sociedade”, consequentemente

não merecendo maiores atenções quanto à segurança de seus diversos

trabalhadores. Como explica, “os escravos poderiam ser mortos ou mutilados por

seus amos, de sorte que, quase não se pode falar de qualquer tipo de proteção

devida em razão de infortúnio resultante do trabalho”. (COSTA, 2006, p. 15).

No direito romano, segundo Jacinto Costa (2006, p. 18), a Lex Acquilia foi a

primeira forma de proteção contra os acidentes decorrentes do trabalho. Contudo,

no período medieval, nos ensinamentos de Rodolfo Andrade de Gouveia Vilela

(2003, p. 38) “as doenças e acidentes eram entendidos como ‘fatalidade’, ‘obra do

azar’, ou como causas desconhecidas”.

O século XIX foi marcado pelos grandes avanços sociais, sendo um dos mais

importantes o desenvolvimento industrial, o qual gerou, nas palavras de Humberto

Theodoro Júnior (1987, p. 1), “esperança do pleno emprego, do trabalho para todos,

com melhores rendimentos para os obreiros, porque a procura de mão de obra

chegou a superar a oferta nos países mais civilizados”.

Porém, em conjunto com o ânimo gerado pelo novo campo de trabalho,

verificou-se rapidamente que o custo para a manutenção do estado industrial era

elevado, principalmente relativo aos riscos que a vida e a saúde humana passaram

a correr em seu convívio íntimo e constante com a maquinaria industrial.

(THEODORO JÚNIOR, 1987, p. 1)

Ainda explica que, na medida em que crescia a indústria, crescia também a

necessidade de normas que pudessem regulamentar os evidentes problemas dos

acidentes que, com enorme frequência, atingiam os operários. Não só a segurança e

a saúde dos trabalhadores estavam em jogo, mas também a própria economia das

empresas que, eventualmente poderiam sofrer com os acidentes de seus

empregados caso tais infortúnios não fossem controlados ou disciplinados

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adequadamente, afetando o equilíbrio da indústria, pelas paralisações das

máquinas, ou pelos pesados ônus que as reparações dos danos poderiam incidir,

conforme a legislação civil comum.

Neste cenário, com o surgimento do trabalho assalariado e a figura do patrão,

decorrente das Revoluções Industriais, é que surgiu também uma visão mais

abrangente quanto às relações entre os empregados e os empregadores, de forma

que o sentido protetivo do trabalhador começou a ganhar forma. (COSTA, 2006,

p.18)

Com rápida evolução industrial, tornou-se inevitável a criação de regras que

disciplinassem a forma com que o trabalho pudesse ser executado, e com elas as

diversas teorias quanto à responsabilidade de indenizar decorrente dos acidentes de

trabalho. (COSTA, 2006, p. 19)

Conforme explica Sergio Pardal Freudenthal (2007, p. 24), “o

desenvolvimento doutrinário em relação aos acidentes do trabalho tem como seu

fator principal a imputação de responsabilidade pelo sinistro”. Segundo ele, as

teorias criadas possuem grande margem de interpretação, “com radical importância

nas transformações que ocorrem na legislação infortunística”.

Atualmente, existe grande discussão no mundo jurídico previdenciário, a

respeito de qual teoria contemporânea é aplicável para o seguro de acidentes do

trabalho. São colocadas em pauta, a teoria do risco profissional, com seu

embasamento na indenização pela responsabilidade objetiva em relação aos

infortúnios do trabalho; e a teoria do risco social, a qual, de forma mais abrangente,

representa a cobertura de todo e qualquer acidente, não fazendo distinção se

relacionado à atividade laboral. (FREUDENTHAL, 2007, p. 25)

Nos ensinamentos de Cláudio Brandão, a teoria adotada no sistema jurídico

brasileiro, atualmente, é a da responsabilidade objetiva, tendo em vista a mudança

de paradigma adotada pelo Código Civil de 2002. Nele podemos observar o artigo

927 em seu parágrafo único1. É a responsabilidade decorrente do exercício de

1 Art. 927. Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quanto a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, riscos para os direitos de outrem.

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atividade de risco, de forma que o ônus para desconstituir o fato alegado pela vítima,

quanto ao infortúnio, caberá ao empregador. (BRANDÃO, p. 228, 229)

Nesse aspecto, para Roland Hasson (2003, p. 39), “(...) as teorias acerca da

responsabilidade por acidente de trabalho tiveram como pano de fundo a evolução

doutrinária da responsabilidade civil do Estado”.

Segundo Rui Stoco, a respeito da responsabilidade objetiva

Tal desenvolvimento inclui o repensar de muitas concepções até então tidas por inabaláveis, ressaltando-se o entendimento – hoje superado – de Von Ihering, de que não poderia haver responsabilidade sem culpa, tanto que o art. 37, §6º, da CF/88 ressalvou a possibilidade de responsabilidade objetiva nas hipóteses que especifica, ademais de outras leis especiais que também afastaram a concepção subjetiva da culpa, como, por exemplo, o Código de Defesa do Consumidor. (STOCO, 2011, p. 181)

Entretanto, como se pretende demonstrar, nem sempre a responsabilização

pelos acidentes de trabalho pode ser atribuída ao empregador que se utiliza dos

meios disponíveis para assegurar ao trabalhador um ambiente seguro e saudável,

caso em que poderemos verificar o desaparecimento do nexo causal, e,

consequentemente, a obrigação de reparar o dano.

Então, o estudo das teorias relativas à responsabilidade civil, penal e

acidentária servirá de norte para que possamos verificar em que casos e de que

maneira é possível eximir a responsabilidade, tanto subjetiva como objetiva, do

empregador nas hipóteses em que os acidentes ocorram por dolo do infortunado (na

tentativa de fraude para receber a indenização ou a estabilidade), culpa exclusiva da

vítima, ou ainda quando não houver nexo causal entre a doença/acidente e a

atividade laboral desenvolvida.

Além das teorias, servirá de base, também, o estudo de casos concretos,

possibilitando identificar quais as teorias mais utilizadas e a tendência do judiciário

brasileiro nas questões relativas ao infortúnio laboral, a exclusão da

responsabilidade do empregador, e as consequências jurídicas de tais atos.

Realizado o introito, a seguir passaremos à análise das teorias que

fundamentam a responsabilidade dos infortúnios laborais, bem como pelas das

espécies de responsabilidade, passando, primeiramente, pelo conceito de acidente

de trabalho.

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2 ACIDENTE DO TRABALHO

2.1 CONCEITO

Devidamente realizada a introdução do presente trabalho, faz-se necessário

o estudo do conceito de acidente do trabalho, para que, posteriormente, possamos

entrar de fato no objeto de estudo, qual seja a responsabilidade pela indenização

decorrente de acidente de trabalho.

A infortunística, nos ensinamentos de Irineu Antônio Pedrotti e William

Antônio Pedrotti

Compreende parte da medicina e do direito em que se estuda a legislação que trata dos riscos comerciais e industriais, acidentais do trabalho e moléstias profissionais. Deriva de infortúnio, que quer dizer desventura, infelicidade, desgraça. (2006, p. 03)

Theodoro Júnior (1987, p. 03), citando Cesarino Júnior, define o infortúnio do

trabalho como “o evento casual, nocivo para a capacidade laborativa e

relacionamento com o trabalho subordinado prestado à empresa”.

O artigo 19 da Lei n.º 8.213/912, Lei da Previdência Social, define o conceito

de acidente de trabalho.

2 Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades

mórbidas: I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social;

II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I.

§ 1º Não são consideradas como doença do trabalho:

a) a doença degenerativa;

b) a inerente a grupo etário;

c) a que não produza incapacidade laborativa;

d) a doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se desenvolva, salvo comprovação de que é resultante de exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho.

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Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

Num conceito mais abrangente, H. Veiga de Carvalho, citado por Cláudio

Brandão acidente e a doença do trabalho é

§ 2º Em caso excepcional, constatando-se que a doença não incluída na relação prevista nos incisos I e II deste artigo resultou das condições especiais em que o trabalho é executado e com ele se relaciona diretamente, a Previdência Social deve considerá-la acidente do trabalho.

Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta lei: I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação;

II - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em consequência de:

a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho;

b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada com o trabalho;

c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de companheiro de trabalho;

d) ato de pessoa privada do uso da razão;

e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de força maior;

III - a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade;

IV - o acidente sofrido pelo segurado, ainda que fora do local e horário de trabalho:

a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa;

b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito;

c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta dentro de seus planos para melhor capacitação da mão-de-obra, independentemente de meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado;

d) no percurso da residência para o local de trabalho ou desde para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado.

§ 1º Nos períodos destinados a refeição ou descanso, ou por ocasião da satisfação de outras necessidades fisiológicas, no local do trabalho ou durante este, o empregado é considerado no exercício do trabalho.

§ 2º Não é considerada agravação ou complicação de acidente do trabalho a lesão que, resultante de acidente de outra origem, se associe ou se superponha às consequências do anterior.

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(...) efeito danoso para a pessoa, verificado pelo exercício do trabalho. Tudo quanto, por este exercício, venha a determinar, direta ou indiretamente, lesão corporal, perturbação funcional ou doença, é acidente do trabalho. (grifos do original) 2 – Quer o trabalho aja, em seu papel nocivo, concentradamente, quer os seus efeitos maléficos se façam sentir a pouco e pouco, tanto que tenha ele agido aguda como cronicamente, de qualquer maneira, enfim, por que se verifiquem as consequências danosas, tudo isso será acidente do trabalho, desde que, para tal resultado, o trabalho tenha contribuído como agente provocador direto ou indireto. (2009, p. 119)

Neste sentido, no conceito de Maria Helena Diniz, o acidente de trabalho é o

infortúnio decorrente da atividade laboral, o qual provoca, “direta ou indiretamente,

lesão corporal, perturbação funcional ou doença que determine morte, perda total ou

parcial, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho”. (2003, p. 433)

Entretanto, os questionamentos a serem realizados em cima de tal conceito

são: a quem cabe o dever da indenização acidentária? Em todos os casos o

acidente ou a doença do trabalho pode ser considerado de responsabilidade do

empregador?

A seguir, passaremos a tratar das teorias do infortúnio laboral, de forma a

preparar terreno para a discussão das espécies de responsabilidade.

2.2 TEORIAS DO INFORTÚNIO LABORAL

Afirma Roland Hasson, quanto à evolução das teorias do infortúnio laboral,

que

Para melhor compreender a evolução da tutela infortunística, não basta o simples passar de olhos pela letra dos diversos diplomas legais editados sobre a matéria. É necessário perquirir no campo histórico os pilares que sustentaram o dever de indenizar e que, sucessivamente, foram deixando de ser utilizados. As leis e as teorias acerca da responsabilidade decorrente de acidente do trabalho não se desenvolveram com igual velocidade. Estas sempre antecederam àquelas, mantendo-se à frente na evolução do assunto. Os reflexos de cada teoria somente eram sentidos no texto legal muito após ter sido concluída a construção doutrinária que a criara.

Conforme explica Jacinto Costa, no Brasil e em outros países, a legislação

tinha por fundamento a responsabilidade do empregador, no tocante ao

13

ressarcimento aos acidentes. Neste sentido, “passou-se a buscar algumas vias

legais que o suportassem”. (COSTA, 2006, p. 29).

Segundo ele (2006, p. 29), “o aparecimento de várias teorias significou

respeitável avanço e contribuição para solução dos conflitos, sedimentando-se não

só nas legislações, bem como, na doutrina e julgados dos Tribunais”.

Em sua obra, o referido autor elenca as sete teorias mais importantes e

conhecidas a respeito do infortúnio laboral, as quais passaremos a tratar a seguir de

forma mais detalhada, visando uma melhor compreensão do tema abordado.

2.2.1 Teoria da Responsabilidade Extracontratual

Também conhecida como Responsabilidade Civil Aquiliana, herdada do

direito romano, e consagrada no Código Civil da França, tal teoria tem sua instrução

normativa no artigo 927 do Código Civil de 2002, o qual dispõe, in verbis que,

“aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”. Sendo

assim, ela deriva da desobediência a um dever legal.

Nos ensinamentos de Maria Helena Diniz

A responsabilidade Extracontratual se resulta do inadimplemento normativo, ou seja, da prática de um ato ilícito por pessoa capaz ou incapaz (Art. 156 CC), da violação de um dever fundado em algum princípio geral de direito (Art. 159 CC), visto que não há vínculo anterior entre as partes, por não estarem ligadas por uma relação obrigacional. A fonte desta inobservância é a lei. É a lesão a um direito sem que entre o ofensor e o ofendido preexista qualquer relação jurídica. Aqui, ao contrário da contratual, caberá à vítima provar a culpa do agente. (DINIZ, 1992, p. 567).

Portanto, conforme a responsabilidade extracontratual, a falta cometida,

mesmo não havendo a intenção de lesionar, obriga o agente infrator a responder

pelos danos causados. Logo, (COSTA, 2006, p. 30) “a imprudência e a negligência

praticada em relação a outrem deve ser reparada”.

Neste sentido, podemos verificar o julgado pelo Tribunal Regional do

Trabalho 9ª Região

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TRT-PR-02-09-2011 ACIDENTE DE TRABALHO. RESPONSABILIDADE CIVIL. Tendo ocorrido acidente de trabalho que autorize afastamento superior a 15 dias, deve ser reconhecida a estabilidade prevista no artigo 118 da lei 8.213/91. Tal disposição estabelece a vedação da despedida arbitrária ou sem justa causa do acidentário pelo período de 12 meses, não condicionando o direito de garantia no emprego à existência de culpa do empregador pela ocorrência do sinistro. Observe-se que o reconhecimento à estabilidade prevista no artigo 118 da lei 8.213/91 não equivale a reconhecer responsabilidade civil do réu em indenizar eventuais danos decorrentes do infortúnio, com base nas normas referentes à responsabilidade extracontratual ou aquiliana (art. 186 e 927 do Código Civil Brasileiro), as quais são fixadas de acordo com as regras próprias da espécie. (TRT-PR-00329-2007-892-09-00-0-ACO-35443-2011 - 3A. TURMA Relator: ARCHIMEDES CASTRO CAMPOS JÚNIOR Publicado no DEJT em 02-09-2011).

Explica, ainda, Freudenthal que a

(...) culpa extracontratual ou aquiliana, tem como base a concepção civilista de culpa, pela qual haveria obrigação indenizatória por parte do empregador a partir da comprovação de sua culpa no sinistro.

Assevera Hasson que

O método era inadequado e, muitas vezes, injusto. Não apenas porque se atribuía o ônus da prova ao hipossuficiente mas também porque eram inúmeros os casos em que inexistia culpa patronal (força maior, por exemplo). (2003, p. 42)

Desta forma, a referida teoria tornou-se insuficiente para o alcance do pleno

ressarcimento no infortúnio do trabalho, já que imputava ao trabalhador/vítima a

prova da culpa do empregador, o que, pela hipossuficiência, é algo de grande

dificuldade ao infortunado. (COSTA, 2006, p. 30).

2.2.2 Teoria da Responsabilidade Contratual

Esta teoria parte do pressuposto que os atos lesivos causados aos

trabalhadores no período laboral são necessariamente resultado do trabalho

realizado, não sendo imprescindível a comprovação de culpa do empregador, mas

sim, apenas, que existe relação de emprego. Há uma norma convencional que

determina o comportamento dos contratantes. (COSTA, 2006).

15

Neste sentido, diante da ocorrência de um acidente ou infortúnio laboral, nas

palavras de Hasson (2003, p. 43), “gerava-se uma presunção relativa de culpa do

empregador, já que era dele o dever de prevenir os acidentes”. Logo, houve, neste

caso, a inversão do ônus da prova com o intuito de “aproximar o trabalhador do

recebimento da indenização”.

Segundo Anníbal Fernandes

Os defensores deste modelo de reparação sustentavam que a responsabilidade do patrão, pelos acidentes, decorria não da culpa aquiliana, mas da relação jurídica estabelecida entre o empregador e o empregado, expressa no contrato individual de trabalho. Tal pacto criava, implicitamente, a obrigação, por parte do patrão, de zelar pela segurança do trabalhador contra todo acidente dito profissional. E de vê-lo incólume ao final da jornada. (1995, p. 47)

Conforme explica Jacinto Costa (2006), nesta teoria ocorre a inversão do

ônus da prova, de forma que em casos de acidente a culpa é presumidamente do

patrão, cabendo ao trabalhador apenas provar existir o contrato de trabalho. Neste

caso, a culpa é presumida, por que há um dever positivo de adimplemento do objeto

do contrato.

Logo, para eximir-se de tal responsabilidade, teria o empregador que

demonstrar que o acidente somente ocorreu por culpa da vítima, força maior, culpa

de terceiros ou vício próprio da coisa, já que o contrato de trabalho impõe a este

último a obrigação de zelar pela segurança de seus trabalhadores.

Cabe lembrar que a inversão do ônus da prova não constitui novidade no

direito do trabalho, como há muito tempo reconhecem a doutrina e a jurisprudência.

Essa inversão pode decorrer da lei ou de criação jurisprudencial, como afirma Caio

Mário da Silva Pereira. (PEREIRA, 2002, p. 266)

Contudo, como explica Jacinto Costa, tal teoria recebeu críticas de

doutrinadores como Raymond Saleilles, o qual sustenta que, tendo em vista as

convenções serem realizadas com base em contrato, bastaria estabelecer uma

cláusula de exoneração do empregador para que os objetivos da teoria fossem

deixados à míngua.

Entre outras críticas à teoria, Hertz Jacinto Costa, citando alguns juristas

elenca ainda mais três defeitos que são imprescindíveis para o entendimento.

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a) Não se deve presumir cláusula contratual tacitamente aceita pelo empregador, segundo a qual assumisse os encargos de segurança de seus trabalhadores;

b) Mesmo dispensados do ônus da prova, continuavam os vitimados obrigados à prova nas hipóteses de ocorrência do caso fortuito;

c) Permite que empregadores e operários ajustem convenção perigosa e imoral de renúncia à reparação dos acidentes do trabalho, gerando a desobrigação dos patrões, inclusive pelas condições de segurança no desenvolvimento da indústria. (2006, p. 32)

Assim, os casos de acidente no trabalho dificilmente eram resolvidos, pois

havia ao empregador a prerrogativa de comprovar que não houve culpa de sua

parte, logo a inexistência de conduta danosa, omissiva ou comissiva. Os casos

concretos demonstram, conforme Roland Hasson, que havia facilidade dos

empregadores em eximir-se da conduta culposa, já que os acidentes ocorriam

dentro das fábricas e empresas, assim as testemunhas, ora empregados, temiam

represálias. Logo, a reparação dos danos causados pelos acidentes de trabalho, de

uma forma eficaz, ainda estava distante. (2003, p. 44)

Outra crítica relevante realizada é a de que a responsabilidade atribuída ao

empregador, nesta teoria, seria iuris tantum, de forma que se este conseguir

demonstrar que agiu com todas as medidas e diligências necessárias, utilizando e

praticando as regras de segurança do trabalho, “fatalmente seria levado a eximir-se

da responsabilidade”. (COSTA, 2006, p. 32).

2.2.3 Teoria do Caso Fortuito

Segundo Maria Helena Diniz

No caso fortuito o acidente que gera o dano advém de: (1) causa desconhecida, como o cabo elétrico aéreo que se rompe e cai sobre fios telefônicos, causando incêndio, a explosão de caldeira de usina, ou a quebra de peça de máquina em funcionamento provocando morte; ou (2) fato de terceiro como greve, motim, mudança de governo, colocação do bem fora do comércio, que cause graves acidentes ou danos devido à impossibilidade do cumprimento de certas obrigações. Sendo absoluto, por ser totalmente imprevisível ou irreconhecível com alguma diligência, de modo que não se poderia cogitar da responsabilidade do sujeito, acarreta das obrigações, salvo se se convencionou pagá-los ou se a lei lhe impõe esse dever, como nos casos de responsabilidade objetiva. (DINIZ, 1996, p. 80).

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Tal teoria, conforme Hertz J. Costa (2006), estabelece que o empregador é

passível de responsabilização pelos danos causados que, mesmo que alheios à sua

vontade, venham a ocorrer. Isso é baseado no princípio da boa fé vigente em todo

contrato. Desta forma, cada uma das partes (estabelecidas no contrato) responde

pelos danos sofridos pela outra. Logo, explica, “todo aquele que obtém utilidade de

uma pessoa tem o dever de assumir os riscos que o emprego ou uso dessa pessoa

origina”. (2006, p. 32).

Neste sentido, a presente teoria assemelha-se à teoria do risco profissional,

sendo diferente apenas em relação à extensão do conceito. Em uma existe um

fundamento basicamente jurídico (caso fortuito). Noutra o fundamento é tríplice,

sendo não somente jurídico, mas também econômico e social.

Contudo, observando os casos julgados, podemos verificar que tal ideia não

vingou, pelo menos no direito brasileiro. Vejamos, quanto a este respeito, o Tribunal

Regional do Trabalho da 9ª Região

TRT-PR-26-06-2009 ACIDENTE DE TRABALHO - CASO FORTUITO - RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR - INEXISTÊNCIA - Caso em que o empregado foi encontrado com traumatismo abdominal em câmara de congelamento, vindo a falecer posteriormente por hemorragia aguda. Não restou comprovada falha no maquinário da ré, nem falta de treinamento do empregado, nem ineficácia dos EPI’s fornecidos, o que afasta dolo ou culpa da empresa quanto ao ocorrido. Ademais, a ausência de certeza quanto à forma em que se deu o acidente, implica reconhecer que se trata de caso fortuito. Logo a imprevisibilidade de tal acidente impede de responsabilizar a empresa pelo infortúnio. Recurso da ré a que se dá provimento. TRT-PR-00305-2007-023-09-00-0-ACO-19883-2009 - 4A. TURMA Relator: SUELI GIL EL-RAFIHI Publicado no DJPR em 26-06-2009

Neste mesmo sentido o TRT de Minas Gerais

TRT/MG – ACIDENTE DO TRABALHO. CASO FORTUITO. Processo 01492-2009-148-03-00-9 RO Data de Publicação 06/07/2010 Órgão Julgador Quinta Turma Relator José Murilo de Morais Revisor Convocada Gisele de Cassia Vieira Dias Macedo EMENTA: ACIDENTE DO TRABALHO. CASO FORTUITO.

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Comprovado que o acidente de trabalho decorreu de caso fortuito, que não poderia ser evitado pelo empregador, não há que se falar em responsabilidade civil, a teor do art. 7º, XXVIII, da CR c/c o art. 186 do CCB, remanescendo, porém, a garantia provisória de emprego de que trata o art. 118 da Lei 8.213/91, cuja configuração independe de dolo ou culpa do tomador dos serviços.

E também o TRT da 5ª Região

Ementa: ACIDENTE DE TRABALHO. CASO FORTUITO. NEXO DE CAUSALIDADE. ROMPIMENTO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E ESTÉTICOS. INDEVIDA. Comprovado que o acidente de trabalho sofrido pelo empregado decorreu de evento objetivamente imprevisível, resta caracterizado o caso fortuito, rompendo, pois, o nexo de causalidade entre a conduta do empregador e o dano sofrido. Indenização por danos morais e estéticos indevida, porque ausente o dever de reparar. Processo 0053500-95.2009.5.05.0132 Recurso ordinário, ac. nº 076113/2011, Relator Desembargador ALCINO FELIZOLA, 4ª. TURMA, DJ 13/09/2011.

Logo, conforme explica Jacinto Costa (2006, p. 33), “o cunho eminentemente

civilista de que se revestia impediu que definitivamente se incorporasse nas

legislações mais avançadas dos países da Europa e América”.

2.2.4 Teoria da Responsabilidade Objetiva

A verificação de que a culpa era ineficaz e insuficiente para a reparação dos

acidentes de trabalho causou uma movimentação para incluir a objetividade na

responsabilidade pelos infortúnios laborais. Deste modo, criou-se a teoria da

responsabilidade objetiva, a qual fazia com que o empregador indenizasse seus

empregados independentemente da ocorrência de culpa. (HASSON, 2003, p. 46)

Ensina Jacinto Costa que a teoria da responsabilidade objetiva teve seu

início na França, nas obras de Saleilles e Josserand, por volta de 1897. (2006, p.33)

Explica Freudenthal que

A responsabilidade objetiva representa um marco doutrinário da indenização por acidente do trabalho sem a definição de culpa. É a base para as teorias do risco profissional e do risco social; responsabilidade objetiva do empregador ou da sociedade; indenização por acidente do trabalho mediante seguro obrigatório sob responsabilidade patronal ou por

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cobertura previdenciária equiparando os acidentes do trabalho e as doenças ocupacionais aos outros riscos. (2007, p. 25)

Afirma Hasson, citando Washington de Barros Monteiro, que

Tal teoria “não visava uma falta imputável a quem quer que seja; considerava apenas um fato material, objetivo, concreto, palpável: o acidente do trabalho”. Comprovada a sua ocorrência, era a empresa plenamente responsável, por determinação legal. (2003, p. 46)

Neste mesmo sentido, assevera Clayton Reis, nas palavras de Carlos

Roberto Gonçalves que

“nos casos de responsabilidade objetiva, não se exige prova de culpa do agente para que seja obrigado a reparar o dano. Em alguns casos ela é presumida pela lei. Em outros, é de todo prescindível, porque a responsabilidade se funda no risco (objetiva propriamente dita ou pura)”. (REIS, 2010, p. 31)

Tal teoria baseia-se no risco criado. Assim, o elemento subjetivo, verificado,

tanto na teoria contratual como na extracontratual, é deixado de lado, passando-se a

observar o fato material, ou seja, o fato de que o risco é decorrente da coisa viciosa

ou perigosa. (COSTA, 2006, p. 33)

Deixado à margem o aspecto subjetivo, bastava apenas a ocorrência do

acidente para que surgisse a obrigação de indenizar. Para o empregador bastava a

ocorrência do infortúnio laboral para que se configurasse a obrigação de indenizar.

Porém, para o Estado, com a simples demonstração do dano e nexo causal, mesmo

não havendo culpa, a obrigação de reparar já se configuraria. (HASSON, p. 47)

Na doutrina de Annibal Fernandes (2003, p. 51)

A teoria avançou mais do que as outras, pois alcançava acidentes provindos de caso fortuito. A explosão de uma caldeira, a ruptura de um volante desafiam precauções minuciosas, sendo impossível impedir os danos decorrentes, era o raciocínio básico.

O Código Civil de 2002 adotou este tipo de responsabilização, conforme

dispõe os arts. 927, parágrafo único e 932, inciso III3, nas atividades consideradas

3 Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:

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como causadoras de risco. Esse entendimento é consagrado tanto na doutrina

quanto na jurisprudência. (STOCO, 2011, p. 183)

Nesta linha de raciocínio dispõe o TRT 9ª Região

TRT-PR-11-11-2011 Atividade de corte de árvore. Acidente de Trabalho. Teoria do risco criado. Responsabilidade solidária. A indenização pelo acidente de trabalho sofrido por trabalhador que atua no corte de árvores deve ser arcada objetivamente pelo lucro das empresas e não pela fome da descendência do empregado falecido, em virtude de um risco criado em proveito da atividade econômica (CLT, art. 2º). Ambas as empresas se beneficiaram do trabalho prestado e houve negligência na não marcação da árvore que caiu sobre o trabalhador, que veio, em virtude disso, a falecer. O risco da atividade econômica faz parte do passivo das empresas e deve ser sustentado por elas, como parte dos custos de produção que será repartido entre todos na sociedade pela transferência aos preços, resultando em concorrência empresarial com sobrevivência das socialmente desejáveis que minimizam os riscos de acidente. Responsabilidade objetiva configurada, acrescida da responsabilidade subjetiva na figura da negligência empresarial que resultou no evento morte, atraindo a incidência dos arts. 186, 927 e 942 do Código Civil. TRT-PR-99537-2006-671-09-00-0-ACO-45068-2011 - 2A. TURMA Relator: PAULO RICARDO POZZOLO Publicado no DEJT em 11-11-2011

Da mesma forma o Tribunal Regional do Rio Grande do Sul

DESEMBARGADOR MARCELO GONÇALVES DE OLIVEIRA Órgão Julgador: 7ª Turma Recorrente: ROQUE DA SILVEIRA RODRIGUES - Adv. Erico Caon Pires Recorrido: ROSA MARIA FLECK DE OLIVEIRA - Adv. Goncalo Souto Meyer Origem: Vara do Trabalho de São Gabriel Prolator da Sentença: JUÍZA JULIANA OLIVEIRA RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DO TRABALHO. NEXO CAUSAL. A responsabilidade do empregador em acidente do trabalho será sempre subjetiva, dependendo da prova do dolo ou culpa, por força do art. 7º, XXVIII, da Constituição Federal. Caso o acidente envolva as circunstâncias de que tratam os artigos 927, parágrafo único, e 932, inciso III, ambos do Código Civil, a responsabilidade do empregador será objetiva, mas em razão de tais circunstâncias e não do acidente em si. Nesses casos a reparação seria devida pelo empreendimento mesmo sendo a vítima um terceiro sem qualquer vínculo, bastando a configuração das hipóteses tratadas nos dispositivos legais. A socialização do dano da vítima de que trata a doutrina civilista sobre responsabilidade civil já está realizada no caso dos acidentes do trabalho, por força do seguro obrigatório pago pelos empregadores e que é gerido pelo INSS. Não evidenciado o nexo causal

(...) III – o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele.

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entre as lesões apresentadas pelo trabalhador e nem a ocorrência do alegado acidente do trabalho, é indevida a condenação ao pagamento de indenização por danos morais, materiais e estéticos, bem como do pagamento das verbas salariais devidas no período estabilitário. (grifo meu)

Entretanto, tal teoria impunha a responsabilidade do empregador apenas

nos acidentes e infortúnios decorrentes da utilização dos objetos laborais dos

empregados, como maquinários e ferramentas. Desta forma, outros tipos de lesão,

tais como hérnia, varizes, acidente in itinere, quedas sofridas pelos operários em

superfícies de pouca altura, etc. não eram abrangidas pela teoria, afastando a

hipótese de indenização decorrente daquelas enfermidades. Daí uma das críticas à

teoria. (COSTA, 2006, p. 34)

2.2.5 Teoria do Risco Profissional

Também denominada, por Alonso Bielsa, como a teoria do risco econômico

industrial, a teoria prevaleceu, segundo Hertz J. Costa, em vários países, como a

Alemanha, Argentina, Chile, Uruguai, entre outros. (2006, p. 34)

A “teoria do risco profissional” baseou-se, nas palavras de Hasson, na “teoria

objetiva elaborada para o Estado”. Nela o elemento da subjetividade foi totalmente

extinto. Logo, mesmo que não haja a incidência de dolo ou culpa por parte do

empregador, todo e qualquer dano causado configuraria a sua responsabilidade, já

que os riscos produzidos são inerentes ao empreendimento econômico realizado.

(HASSON, 2003, p. 47)

Vejamos o julgado do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região

Acórdão do processo 0132500-89.2009.5.04.0030 (RO) Redator: BEATRIZ RENCK Participam: MARIA CRISTINA SCHAAN FERREIRA, REJANE SOUZA PEDRA. Data: 26/10/2011 Origem: 30ª Vara do Trabalho de Porto Alegre EMENTA: DOENÇA PROFISSIONAL EQUIPARADA A ACIDENTE DO TRABALHO. NEXO CAUSAL. RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR. É de se reconhecer a responsabilidade do empregador, em razão do risco profissional, quando a moléstia que acomete o trabalhador ocorre em razão do serviço prestado em favor da empresa, ainda que na condição de concausa.

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Verificou-se, desta maneira, que a lesão, seja funcional ou orgânica, era

gerada em decorrência do trabalho exercido pelo empregado, de modo que por si só

era exposto a uma situação de risco, criado pelo patrão diante da expectativa de

obter vantagens mediante a exploração de determinada atividade econômica.

(HASSON, 2003, p. 28)

Nela, não se cogita a análise de culpa por parte do patrão, pois se

fundamenta na própria atividade empresarial, no risco profissional. Desta forma, o

dano causado é consequência inevitável do trabalho executado. (COSTA, 2006, p.

34)

Leciona Ruprecht que

(...) seu fundamento não está na culpa nem nas relações de tipo contratual, mas na própria atividade empresarial que, em sua essência, constitui um risco totalmente independente das medidas preventivas que se tenham estabelecido. De acordo com esta teoria, não se deve buscar a culpabilidade do empregador, que geralmente não a tem, nem a do trabalhador, vítima das circunstâncias nocivas. Há um risco profissional que é o causador do acontecimento danoso. (Ruprecht, 1996, p. 296)

E continua

A teoria se baseia na ideia de que numa empresa concorrem dois fatores da produção: o fator humano, ou seja, os trabalhadores, e o fator mecânico ou material. Ambos devem ser assemelhados do ponto de vista da reparação pelas deteriorações, tanto em uns como em outros, e este desembolso toca, sem dúvida alguma, à empresa. (Ruprecht, 1996, p. 296)

Esta ideia, e sua aplicação, caminharam para o seguro social obrigatório,

acolhida primeiramente no Decreto Lei n.º 7.036/444, e disposto, atualmente, na Lei

n.º 8.212/1991, lei da Seguridade Social, com respaldo, ainda, na Constituição

Federal/88 em seus artigos 201, inciso I e 7º, inciso XXVIII, respectivamente. O

objetivo é, neste caso, proteger o empregado de qualquer tipo de incapacidade física

ou de ganho, sob a proteção do Estado. (COSTA, 2006, p. 34)

Dispõe tais artigos, in verbis

4 O referido decreto estabeleceu o seguro obrigatório perante a Previdência Social. (HASSON, 2003

p. 51)

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Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;

E também

Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada;

William Beveridge, segundo explica Sergio Pardal Freudenthal, ressalta os

benefícios produzidos por este sistema, tendo os empregados a possibilidade de

obter a indenização devida pelos infortúnios ocorridos, juntamente com os seguros

desenvolvidos pelos empregadores, contra os riscos de sua responsabilidade.

Entretanto

Aponta com bastante afinco as desvantagens que poderiam ser eliminadas com “um novo e diverso sistema”. Por um lado critica “a ameaça ou a prática do litígio: um infortúnio que, muitas vezes, não constitui de maneira nenhuma culpa do empregador e que este não podia prevenir, é tratado por métodos aplicáveis à culpa”, por outro a falta de assistência do empregado, “que sofre pressão para reduzir a sua queixa, para aceitar uma indenização deslealmente inferior à que tem direito”. (2007, p. 27)

Portanto, neste mesmo sentido, o empregador, mesmo antes da ocorrência

de qualquer acidente, já suportava a responsabilização pelo eventual infortúnio

laboral. (HASSON, 2003, p. 51)

Outra crítica a este sistema se dá pelo fato de que as indenizações nem

sempre eram tão eficientes quanto se esperava. Segundo Hasson (2003, p. 54), a

indenização se dava “com um só pagamento, cujo valor era tarifado de acordo com

a parte do corpo atingida. A reparação dava-se uma única vez, cabendo ao

trabalhador administrar a quantia recebida”.

Restando demonstrada a ineficiência da teoria em questão, devido à

onerosa indenização a cargo das empresas, afirma, ainda que

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Se todo o acidente deveria ser indenizado independentemente de culpa, era injusto obrigar apenas o empregador a repará-lo, pois não somente ele era beneficiado com a exploração de sua atividade econômica. Se, muitas vezes, a indenização deveria ser paga pelo resto da vida do trabalhador, era perigoso repassar apenas à empresa o encargo de suportá-la, por isso poderia culminar em falência. (2003, p. 55)

Diante disto, apresentou-se necessária a criação de um sistema que

atendesse as necessidades dos empregados, indenizando-os de forma mais eficaz,

e também protegesse as empresas contra o risco de fracasso.

Assim, pois, a teoria do risco profissional foi deixada de lado, e em seu lugar

sobreveio a “teoria do risco social”, “que impunha a toda a sociedade suportar a

reparação do acidente, por estar o mesmo incluído num risco inerente à atividade

produtiva vital à coletividade”. (HASSON, 2003, p. 55)

2.2.6 Teoria do Risco de Autoridade

A presente teoria fundamenta-se na relação de subordinação ou

dependência entre o trabalhador e o empregador, decorrente do contrato de

trabalho. Desta forma, mantem-se a ideia do risco profissional, porém baseia-se não

no perigo em razão da atividade ou do exercício da profissão, mas sim na relação de

subordinação que o contrato de trabalho impõe ao empregado e empregador.

(COSTA, 2006, p. 37)

Ressalta também que

Há ponderável corrente doutrinária que entende residir na teoria do risco da autoridade a explicação do ressarcimento dos acidentes in itinere, porquanto a autoridade do patrão começa e termina no âmbito de seu estabelecimento, ou, ainda, quando a atividade laboral se estende, fisicamente, fora do mesmo (ex. viajantes comerciais, trabalhadores a domicílio etc.). Ao exemplo podem-se acrescentar os infortúnios sofridos a caminho ou no retorno do trabalho. (2006, p. 37)

Diz o julgado do Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais

Processo: 00720-2005-070-03-00-2 RO Processo (nº antigo): RO -18772/05 Data de Publicação: 02/02/2006 Órgão Julgador: Sexta Turma

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Relator: Emilia Facchini Revisor: Ricardo Antonio Mohallem Divulgação: DJMG . Página 10. Boletim: Sim. Tema: DANO MORAL – RESPONSABILIDADE EMENTA - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR - ATO DO PREPOSTO A responsabilidade do ex-empregador pelos atos dos seus prepostos ou empregados repousa na culpa presumida de ter-se envolvido em culpa “in eligendo” (má escolha do preposto), "in vigilando" (insuficiência de vigilância) e "in instruendo" (por munir seus prepostos de maus instrumentos para reportarem-se à realidade efetivamente construída), pautando-se, antes, pela supressão da agressão proporcionada ao Reclamante injusta a não mais poder. A teoria da representação delitual, referida por Alvino Lima, consiste em afirmar que o ato do preposto é ato do patrão ou comitente, e, consequentemente, a culpa do preposto é a culpa do patrão, por ser prolongamento da atividade deste. Concorrentemente, a teoria do risco, mais precisamente a teoria do risco-autoridade, que procura fundamentar a responsabilidade pelas consequências danosas da atividade decorrente da autoridade exercida sobre o preposto. Portanto, há a assunção dos riscos decorrentes da atividade do preposto, ao mesmo tempo em que se colhem os dividendos desta mesma atividade, da qual se tem a direção e vigilância.

Neste sentido, o operário apenas cumpre suas funções, no horário e local

determinado, e com o material à disposição. Uma vez tendo aceitado o contrato põe

seu trabalho a serviço do patrão, o qual determinará a destinação ou o sentido do

labor. Assim, a autoridade é a causa do risco, tendo como elementos inerentes à

reparação: “a) a existência de um contrato de trabalho; b) nexo causal entre ele e o

acidente; c) a hierarquia do empregador, ou seja, a subordinação do empregado,

isto é, a relação de dependência”. (COSTA, 2006, p. 38)

2.2.7 Teoria da Responsabilidade Social

A responsabilidade social, diferentemente das outras teorias de cunho

individual, avança no sentido de que a sociedade, como um todo, tem o dever de

arcar com os acidentes do trabalho. A responsabilidade é dividida entre todos da

sociedade, já que estes também se beneficiam pelo serviço e bens desenvolvidos

pelos trabalhadores. (COSTA, 2006, p. 38)

A esse respeito, diz Sérgio Pinto Martins (1998, p. 355)

O trabalhador tem as mesmas necessidades no acidente do trabalho que na ocorrência da velhice, do desemprego, invalidez, etc., que deveriam ser

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suportadas pela Previdência Social. É necessário o pagamento de um valor ao segurado em função do infortúnio enquanto permanecer impossibilitado de trabalhar, sendo que a indenização deve ser paga pelo Estado. Não seria apenas em decorrência de atividade perigosa do empregador que seria devida a reparação (como na teoria do risco profissional), nem em relação ao fato de o empregador dirigir o empregado (teoria do risco da autoridade), mas até mesmo seria estendida em relação a outras pessoas que nem mesmo vínculo do emprego possui, como no caso do trabalhador avulso e do autônomo.

Diante destes motivos, a reparação pelos infortúnios laborais passou a ser

considerada como um aspecto da política de seguridade social desenvolvida pelo

Estado. (HASSON, 2003, p. 56)

Segundo afirma Jacinto Costa, grande parte da corrente doutrinária também

denomina essa ideia como “teoria de solidariedade social”, ou “socialização do risco

e da seguridade social”, pois a individualização do risco é superada para um

patamar social. (2006, p. 39)

No Brasil, o seguro de acidentes do trabalho foi inserido na estrutura da

Previdência Social com a Lei n.º 5.316/67, lei a qual adotou a teoria do risco social.

Nela retirou-se o dever de reparação pelos infortúnios da mão dos empregadores,

repassando-o para o Estado. Posteriormente, a Lei n.º 6.367/76 manteve em seu

escopo a presente teoria, a qual impôs definitivamente ao Estado a qualificação de

sujeito responsável pela indenização acidentária, mesmo que não fosse o único a

suportá-la. (HASSON, 2003, p. 56)

Manifesta-se o TRT do Rio Grande do Sul

ACIDENTE DO TRABALHO. TEORIA DO RISCO. RESPONSABILIDADE CIVIL INDEPENDENTE DA PROVA DE CULPA. É aplicável aos casos de acidente do trabalho a responsabilidade civil baseada na teoria do risco. O fato de o art. 7º, XXVIII, da Constituição da República prever o direito a seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, "sem excluir a indenização a que este está obrigado quando incorrer em dolo ou culpa" não afasta a aplicação da teoria do risco. O rol do art. 7º é exemplificativo, tanto que no caput há referência a outros direitos que visem à melhoria da condição social do trabalhador. (...)7º, XXVIII, Constituição (1129006720095040811 RS 0112900-67.2009.5.04.0811, Relator: RICARDO TAVARES GEHLING, Data de Julgamento: 17/05/2012, 1ª Vara do Trabalho de Bagé).

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Porém, explica ainda, a jurisprudência não admitiu, após a Lei 6.367/76, que

se fosse possível imputar a responsabilidade aos empregadores independentemente

de culpa, mesmo com respaldo da teoria objetiva e a do risco profissional. Conforme

o entendimento, a indenização acidentária necessitava do elemento subjetivo para

haver o ressarcimento por parte do Estado, não podendo se confundir com a

indenização civil, que prescindia de prova incontestável da culpa empresarial. (2003,

p. 57)

Indenização. Responsabilidade civil. Indenização acidentária de direito comum. Culpa aquiliana e não culpa objetiva. Onus probandi do empregado. Cerceamento de defesa inexistente. Culpa da empregadora não provada. Improcedência. Recurso não provido. (TJ SP, Ap. 238.998-1, 2ª Cam., Rel. Correia Lima, j. em 07/02/1996)

Decorrente de todas essas evoluções teóricas é possível verificar que a

reparação pelos infortúnios laborais sofreu significativas alterações, tanto em sua

natureza quanto nos próprios fundamentos. Desde a necessidade de comprovação

de culpa até a inexigibilidade da mesma. Nas palavras de Roland Hasson (2003, p.

59), incorporou-se “o espírito previdenciário, abandonando a esfera civil, na qual

atualmente insere-se a responsabilidade do empregador”.

Diante de tal afirmação, passaremos a tratar das espécies de

responsabilidade, iniciando pelo estudo da responsabilidade civil, verificando, com

base na doutrina e na jurisprudência, em qual delas é possível enquadrar o

empregador.

3 RESPONSABILIDADES DECORRENTES DO ACIDENTE DE TRABALHO

3.1 RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR

Na doutrina de Roland Hasson, as várias leis brasileiras editadas no sentido

de regular as indenizações decorrentes dos acidentes de trabalho trataram de modo

diverso quanto à utilização das teorias de responsabilização comum e acidentária de

forma concorrente. (2003, p. 59)

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Inicialmente, a indenização civil e a acidentária eram confundidas em um único instituto, a responsabilidade do empregador pelo acidente de trabalho. Daí porque a lei acidentária pioneira não regulou o concurso dessas reparações. Com o tempo, porém, foram elas sendo separadas e colocadas em esferas distintas, assumindo a legislação e a jurisprudência brasileiras a diversidade dos institutos.

No entendimento de José Cairo Júnior (2008, p. 77), o contrato de trabalho,

por sua característica bilateralidade, origina, às partes a ele ligadas, uma série de

obrigações, tanto para um, quanto para outro. Tais obrigações consistem,

normalmente, para o empregado a prestação do serviço, enquanto que para o

empregador resta o pagamento referente a tal prestação.

Contudo, afirma o autor, existem outras obrigações de natureza acessórias,

as quais são constituídas por lei, acordos ou convenções coletivas, até mesmo no

próprio contrato de trabalho, as quais são válidas, desde que não contrariem “os

princípios reguladores do Direito do Trabalho, em face do princípio protetivo que lhe

é particular”. Dentre estas obrigações de caráter acessório, está, implicitamente,

disposto o dever do empregador de proporcionar ao empregado um ambiente

seguro e saudável. (2008, p. 77)

Não resta dúvida de que a disposição de partes vitais do corpo humano é proibida pelo ordenamento jurídico nacional. Todavia, quando se cuida de dever de custódia ou de segurança, o que se objetiva é a manutenção do estado de saúde físico e psíquico da pessoa, o que é pacificamente aceito quando se trata de contrato de seguro contra acidente e de vida. Muito pelo contrário, o que não produz qualquer efeito é a cláusula que exclua qualquer responsabilidade pelo advento do dano consequente de infortúnio laboral. (CAIRO JÚNIOR, p. 81)

Segundo explica o doutrinador Gustavo Filipe Barbosa Garcia (2011, p. 73),

“o acidente de trabalho, bem como a doença profissional ou do trabalho, podem

acarretar lesões de ordem material e moral, passando a ser devida a respectiva

indenização pelo empregador, quando violado direito de personalidade do

empregado”.

Opostamente ao que ocorre com a responsabilidade acidentária, em que é

necessário classificar o acontecimento do evento danoso como sendo um acidente

laboral, na responsabilidade civil do empregador basta a simples constatação de

seus elementos caracterizadores que, no entendimento de Cairo Júnior, são: a ação

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ou omissão culposa, que segundo ele decorre de natureza contratual, ou seja, pelo

descumprimento contratual de uma regra previamente estabelecia; o nexo de

causalidade e o dano. (2008, p. 96)

Portanto, a teoria aplicável neste caso seria a teoria da responsabilidade

contratual, a qual decorre da simples prova do contrato de trabalho, e em que a

culpa é do empregador presumida, mas que permite prova em contrário, com base

no art. 7º, XXVIII da Constituição/88.

Entretanto, conforme já abordado, o Código Civil de 2002 trouxe consigo

grande mudança quanto às questões de indenização por danos, evidenciadas

principalmente nos artigos 927, parágrafo único, 932, inciso III, bem como no artigo

154 da CLT5, os quais adotam o princípio da responsabilidade objetiva quando do

acidente em razão da natureza da atividade desenvolvida pelo empregador.

(BRANDÃO, 2009, p. 228)

Certifica José Augusto do Nascimento que

Apesar do meu entendimento, ser, como regra, no sentido de que a responsabilidade civil do empregador, por dano decorrente de acidente do trabalho ou doença profissional, é subjetiva, pensamento exposto no decorrer de toda obra, não posso ignorar que inúmeros doutrinadores, advogados, procuradores e juízes do trabalho vêm sustentando a tese de que, em virtude da nova legislação constitucional e infraconstitucional, tal responsabilidade deixou de ser subjetiva, e passou a ser apenas objetiva. (2010, p. 63)

Nesta linha de raciocínio o TRT de Santa Catarina

ACIDENTE DO TRABALHO. INDENIZAÇÃO. ATIVIDADE DE RISCO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. MADEIREIRA. OPERAÇÃO DE MÁQUINA "TUPIA". Em caso de acidente do trabalho, demonstrado o nexo causal com a atividade desenvolvida, é manifesta a responsabilidade civil do empregador pelos danos causados ao empregado com base no art. 2º da CLT, que preconiza que o empregador é aquele que assume os riscos da atividade econômica, e nos preceitos constitucionais que estabelecem o primado da valorização da dignidade humana, do trabalho, da função social da propriedade, da proteção ao meio ambiente e da busca do pleno emprego, a responsabilidade objetiva. Entendimento que encontra respaldo no Enunciado n.º 37, aprovado na 1ª Jornada de Direito Material e

5 Art. 154. A observância, em todos os locais de trabalho, do disposto neste Capítulo, não desobriga

as empresas do cumprimento de outras disposições que, com relação à matéria, sejam incluídas em código de obras ou regulamentos sanitários dos Estados ou Municípios em que se situem os respectivos estabelecimentos, bem como daquelas oriundas de convenções coletivas de trabalho.

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Processual na Justiça do Trabalho, segundo o qual se aplica "o art. 927, parágrafo único, do Código Civil nos acidentes do trabalho. O art. 7º, XXVIII, da Constituição da República não constitui óbice à aplicação desse dispositivo legal, visto que seu caput garante a inclusão de outros direitos que visem à melhoria da condição social dos trabalhadores". Ac. 1ª T. Proc. RO00507-2007-031-12-00-0. Maioria, 28.10.08. Red. Desig.: Juíza Viviane Colucci. Disp. TRT-SC/DOE 09.01.09. Data de Publ. 12.01.09.

Também o TRT 16ª Região

ACIDENTE DE TRABALHO. ATIVIDADE DE RISCO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO EMPREGADOR. A atividade de vigilância em instituição bancária oferece risco superior à média das ocupações humanas, ensejando a responsabilidade objetiva do empregador pelos danos decorrentes de acidente de trabalho (art. 927, parágrafo único, do Código Civil). Recurso Ordinário conhecido e parcialmente provido. 927parágrafo único do Código Civil. (967201000216007 MA 00967-2010-002-16-00-7, Relator: LUIZ COSMO DA SILVA JÚNIOR, Data de Julgamento: 26/10/2011, Data de Publicação: 07/11/2011)

Ainda o recurso de revista julgado pelo Egrégio TST

RECURSO DE REVISTA. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. ASSALTO EM AGÊNCIA BANCÁRIA. ATIVIDADE DE RISCO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO EMPREGADOR. É cabível, no processo do trabalho, a condenação em indenização por dano moral fundada na responsabilidade civil objetiva de que tratam os artigos 186 e 927, parágrafo único, do Código Civil, considerando o disposto nos artigos 2º da CLT e 932, III, do Código Civil. Recurso de revista conhecido, mas desprovido. (822008320065190007 82200-83.2006.5.19.0007, Relator: Márcio Eurico Vitral Amaro, Data de Julgamento: 09/11/2011, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 11/11/2011)

Deste modo, no douto ensinamento de Cláudio Brandão, verifica-se que a

responsabilidade civil do empregador, tendo em vista a dicção do art. 927, par. único

do Código Civil, é considerada como objetiva, baseando-se ainda na teoria do risco

desenvolvido, que pela sua natureza, possa causar risco aos direitos de outrem.

(2009, p. 228)

31

3.2 RESPONSABILIDADE PENAL

No entendimento de José Augusto do Nascimento (2010, p. 295), “a

responsabilidade penal ou criminal é aquela se materializa na ação ou omissão do

profissional do Sistema CONFEA/CREA, quando pratica um ato tipificado como

crime pelo Código Penal”.

Neste aspecto, por ser considerado o tipo de responsabilidade mais grave,

diz-se que a responsabilidade pena não pode ser presumida, tendo que

necessariamente ser provada. Portanto, não é aplicável, pois, a responsabilidade

objetiva na esfera penal, mas sim a responsabilidade subjetiva. (NASCIMENTO,

2010, p. 295)

Conceitua o autor, nas palavras de Maria Helena Diniz, esta espécie de

responsabilidade como a

Responsabilidade que pressupõe lesão aos deveres de cidadãos para com a sociedade, acarretando um dano social determinado pela violação da norma jurídica de caráter penal, exigindo, para restabelecimento do equilíbrio das relações sociais, a aplicação de uma pena ao lesante. Decorre da prática de contravenção penal ou crime, comissivo ou omissivo, praticado pelo agente imputável que for chamado a responder por ela penalmente, arcando, com as consequências jurídicas de seu ato, incorrendo nas sanções previstas na lei penal. O lesante suporta a respectiva repressão. Denomina-se também, responsabilidade penal”. (2010, p. 296, 297)

Explicam José Luiz Dias Campos e Adelina Bitelli Dias Campos que, “na

esfera penal pode-se configurar o crime previsto no art. 132 do CP brasileiro, que é

crime de perigo, originariamente criado objetivando a prevenção de acidentes de

trabalho”.

Aludem os autores jurisprudência a este respeito

TRIBUNAL DE ALÇADA DO RIO GRANDE DO SUL Responsabilidade penal – Empreiteira de construção – Homicídio decorrente de acidente acontecido por falta de segurança – Inobservância de normas relativas a implantação e uso de rede elétrica – Condenação confirmada – Absolvição do engenheiro, responsável pela execução e fiscalização do projeto em si, não quanto às condições de trabalho dos operários, sem qualquer vínculo empregatício com a empresa. Se, em virtude de acidente acontecido por falta de segurança em construção, pela inobservância de normas relativas a implantação e uso de

32

rede elétrica, resulta homicídio, deve ser responsabilizada tão somente a empreiteira, em razão das más condições de trabalho oferecidas, e não também o engenheiro, responsável somente pela execução do projeto em si, e não quanto às condições de trabalho dos operários Ementa oficial: Responsabilidade. Engenheiro responsável por execução e fiscalização de obra. Acidente decorrente de más condições de trabalho oferecidas peça empreiteira com a qual não tinha vínculo. Não se estabelece a responsabilidade. Apelo da acusação improvido. Apelação 286.053.350 – 4ª. C. – j. 18.2.87 – Rel. Juiz José Eugênio Tedesco. (1992, p. 153)

Ainda esclarecem (1992, p. 141) que a Lei da Previdência Social n.º

8.213/91 definem em seu artigo 19, §2º o que se refere à contravenção penal

Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. (...) § 2º - Constitui contravenção penal, punível com multa, deixar a empresa de cumprir as normas de segurança e higiene do trabalho.

Segundo afirma Rodolfo Andrade de Gouveia Vilela, que o art. 132 do

Código Penal tinha como objetivo prevenir os vários acidentes ocorridos naquela

época na construção civil. (2003, p. 80)

Verifica-se, então que a esfera criminal pune o agente impondo um

cumprimento de pena estabelecida em lei. Logo, tem-se como diferença entre a

responsabilização criminal e a civil, conforme Augusto do Nascimento, citando Pablo

Stolze e Pamplona Filho, que

Na responsabilidade civil, o agente que cometeu o ilícito tem a obrigação de reparar o dano patrimonial ou moral causado, buscando restaurar o status quo ante, obrigação esta que, se não for mais possível, é convertida no pagamento de uma indenização (na possibilidade de avaliação pecuniária do dano) ou de uma compensação (na hipótese de não se poder estimar patrimonialmente este dano), enquanto, pela responsabilidade penal ou criminal, deve o agente sofrer a aplicação de uma cominação legal, que pode ser privativa de liberdade (ex.: prisão), restritiva de direitos (ex.: perda da carta de habilitação de motorista) ou mesmo pecuniária (ex.: multa). (2010, p. 302, 303)

33

Logo, em determinadas situações, ocorrendo o infortúnio, além do ilícito civil

é possível caracterizar o ilícito penal, que, nas palavras de Vilela, “atrai a aplicação

de sanção mais rigorosa, de ordem pública, que é a pena”. (2003, p. 81)

Observamos, portanto, que as reponsabilidades civil e criminal são

independentes, podendo ser aplicadas ao mesmo caso sem que se levante a

hipótese de bis in idem, pois tem sua incidência em esferas diferentes. Vale

ressaltar, contudo, o artigo 935 do Código Civil6, o qual dispõe que não há

possibilidade de questionamento sobre a existência de um fato quando tal questão já

houver sido decidida na esfera criminal. (NASCIMENTO, 2010, p. 304)

3.3 RESPONSABILIDADE ACIDENTÁRIA

Conforme mencionado, ao longo da história verificou-se, principalmente

após as revoluções industriais, que a responsabilidade civil do empregador deixou

de ter como fundamento apenas o fator culpa, mas passou a basear-se também nos

riscos decorrentes da atividade laboral. (CAIRO JÚNIOR, 2008, p. 60)

Neste aspecto, segundo o autor, vários países incorporaram em sua

legislação a teoria do risco, deixando de lado o conceito de responsabilidade civil no

tocante a algumas relações jurídicas, como, no caso, as relações de trabalho. Para

tal teoria utilizou-se o termo “responsabilidade acidentária”, com a finalidade de

distinção entre a teoria da responsabilidade civil calcada na culpa. Ambas

coexistem, contudo, devendo ser observados seus critérios específicos. Porém, na

doutrina de Cairo Júnior, a responsabilidade acidentária forma um aspecto especial

da responsabilidade civil, motivo pelo qual se faz necessário seu estudo. (2008, p.

60)

Afirma ainda José Cairo Júnior que

Seguindo a orientação da maioria dos ordenamentos jurídicos, o Brasil instituiu o seguro estatal obrigatório para a cobertura do acidente do trabalho, na forma de uma contribuição social adicional, denominada Seguro Acidente do Trabalho, eliminando a culpa para aferição da

6 Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais

sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal.

34

responsabilidade civil, bastando simplesmente a existência da ação ou omissão, o nexo de causalidade e o dano. A eliminação do elemento anímico da responsabilidade civil importou, como forma de compensação, na limitação do valor da indenização por meio da tarifação prévia. Assim, parte da responsabilidade inicial do empregador, em virtude de danos causados por acidente do trabalho, é legalmente transferida para um órgão do Estado, mais especificamente o Instituto Nacional de Seguridade Social, mediante o pagamento de uma contribuição social complementar, limitando-se, aquela responsabilidade, à reparação pecuniária do lucro cessante. Esse sistema de seguro acidentário, na forma que se apresenta atualmente no Brasil, constitui parte fundamental, porém destacada, da Seguridade Social, posto ser financiada diretamente pelo agente causador do risco, qual seja, o empresário, por meio de um recolhimento mensal variável sobre a folha de pagamento, entre 1% e 3%, de acordo com o grau de risco da sua atividade preponderante, conforme o art. 22, II, da Lei n. 8.212/91

7. (2008, p.

60)

Algumas críticas em relação à responsabilidade acidentária são realizadas

pelo autor. Segundo ele, a indenização não cobre a extensão total do dano causado

ao trabalhador. Afirma que

A deformidade física, as disfunções orgânicas e as doenças ocupacionais originam dor, sofrimento e constrangimento no trabalhador, além de prejudicar sua estética corporal, podendo provocar, na maioria dos casos, sua rejeição pelos demais membros da sociedade. (2003, p. 62)

Logo, conclui, a forma mais eficaz de alcançar a indenização que seja

passível de cobrir os abalos sofridos pelo trabalhador em decorrência de um

infortúnio laboral, é por meio da ação judicial comum, a qual abrange as reparações

de forma mais ampla. (CAIRO JÚNIOR, 2003, p.62)

7 Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social, além do disposto no art.

23, é de: (...) II - para o financiamento do benefício previsto nos arts. 57 e 58 da Lei n

o 8.213, de 24 de julho de

1991, e daqueles concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, sobre o total das remunerações pagas ou creditadas, no decorrer do mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos: a) 1% (um por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante o risco de acidentes do trabalho seja considerado leve; b) 2% (dois por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja considerado médio; c) 3% (três por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja considerado grave.

35

3.4 A DESCARACTERIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR

Estudadas as teorias relativas aos infortúnios laborais, bem como as

espécies de responsabilidade das quais derivam as indenizações em favor dos

trabalhadores, chega-se a hora de verificar o último objeto do presente trabalho, que

são as excludentes de responsabilidade imputadas ao empregador.

Para Clayton Reis (2010, p. 33), “a responsabilidade não é e nem poderá ser

absoluta. Há fatores estranho ao comportamento do agente que são causadores de

dano”.

Assim elucida Cláudio Brandão (2009, p. 254), que

(...) dentre as diversas teorias utilizadas para sustentar a possibilidade de reparação de danos causados sem que tenha por fundamento a culpa, a teoria do risco integral se caracteriza pela manutenção do dever, independentemente de qualquer circunstancia que possa interferir na relação de causalidade. Nas demais modalidades, porém, pode verificar-se a presença de elementos causais que interferem na responsabilização do agente causador do dano. É o reconhecimento da possibilidade de exclusão por determinados fatos que rompem o nexo de causalidade entre o fato gerador e o dano, a exemplo da culpa exclusiva da vítima, fato de terceiro, caso fortuito e força maior.

Nesta linha de pensamento, passaremos por cada uma das causas,

verificando em conjunto o melhor entendimento da doutrina e da jurisprudência

nacional a esse respeito.

3.4.1 Nexo Causal

O nexo causal é o elo entre a conduta realizada pelo agente e o seu

resultado danoso. Ou seja, é o vínculo entre a ação ou omissão com o resultado

produzido. (CAIRO JÚNIO, 2003, p. 41)

Nas palavras de Cláudio Brandão

O nexo de causalidade é o vínculo necessariamente estabelecido entre a ocorrência do infortúnio e a lesão sofrida pelo empregado. É a relação de causa e efeito entre o dano e a desgraça que o atinge, seja esta proveniente do acidente típico ou por extensão, da doença do trabalho ou

36

do trajeto casa – trabalho e vice-versa. “Constitui a relação de causa e efeito entre o evento e o resultado”. (2009, p. 154)

Logo, tem-se que o nexo causal é determinante para a imputação da

responsabilidade acerca de quem será obrigado a indenizar o dano, devendo restar

comprovado que este dano resultou da conduta comissiva ou omissiva do agente.

(NASCIMENTO, 2010, p. 139)

Esclarece Clayton Reis (2010, p. 23) que, “é preciso que o fato decorrente

da violação do direito, seja de natureza evidente e certa, que possa conduzir a

vítima ao direito de obter uma indenização por decorrência desse fato”.

Neste sentido, comenta Rui Stoco (2011, p. 175) que

O nexo causal constitui um dos elementos essenciais da responsabilidade civil. É o vínculo entre a conduta e o resultado. Constitui o segundo pressuposto da responsabilidade civil. (...) Na etiologia da responsabilidade civil, estão presentes três elementos, ditos essenciais na doutrina subjetivista: a ofensa a uma norma preexistente ou erro de conduta, um dano e o nexo de causalidade entre uma e outro.

Em tal linha segue o Tribunal Regional do Trabalho do Paraná

TRT-PR-27-05-2011 INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - DOENÇA DO TRABALHO - Nexo causal configurado - De acordo com o entendimento emanado do laudo pericial, houve conclusão de que as condições em que o trabalho era desenvolvido pelo autor em prol da reclamada, contribuíram como concausa para o agravamento de seu estado clínico. Portanto, tem-se que o reclamante comprovou o nexo de causalidade entre as atividades realizadas no trabalho e a doença desenvolvida. Comprovado o nexo causal entre a atividade laboral e a moléstia que acomete o reclamante, há que se deferir o pagamento de danos morais. TRT-PR-00311-2009-567-09-00-5-ACO-20007-2011 - 4A. TURMA Relator: SÉRGIO MURILO RODRIGUES LEMOS Publicado no DEJT em 27-05-2011 TRT-PR-11-05-2007 DANO MORAL. NEXO CAUSAL CONFIGURADO. CONDIÇÕES DE TRABALHO ERGONOMICAMENTE INADEQUADOS A inaptidão temporária como indicada no laudo pericial enseja também o ressarcimento, pois, no caso em apreço, a causa ou concausa teve origem no desempenho de atividades laborais, frise-se, executadas em ambiente de trabalho ergonomicamente inadequado. Olvidou a empresa-Ré o dever de zelar pela higidez de seus empregados reduzindo-lhes os riscos à saúde (art. 7º, XXII, da CF/88), restando provado o ato lesivo voluntário da empregadora contra a empregada, que lhe causou prejuízo. Recurso da Reclamada a que se nega provimento. TRT-PR-00166-2005-092-09-00-8-ACO-11713-2007 - 1A. TURMA Relator: UBIRAJARA CARLOS MENDES

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Publicado no DJPR em 11-05-2007

Sendo assim, segundo afirma Cairo Júnior, “se o ato ou fato não foi condição

necessária ou não contribuiu de qualquer forma para o evento danoso

(concausalidade), não há que falar-se em responsabilidade civil”. (2003, p. 41)

Desta forma pronunciam-se os tribunais do país. Vejamos o TRT da 13ª

Região

DOENÇA CONGÊNITA. NEXO CAUSAL OU CONCAUSA NAO CONFIGURADOS. DANO MORAL. INDENIZAÇAO INDEVIDA. Tratando-se de doença congênita, sem nexo causal com o trabalho prestado na empresa, e não tendo sido identificada a atividade laborativa como fator de agravamento (concausa), mostra indevida a indenização por dano moral, bem como inviável a concessão da estabilidade acidentária pretendida. (131690 PB 01130.2010.026.13.00-1, Relator: WOLNEY DE MACEDO CORDEIRO, Data de Julgamento: 21/03/2012, Tribunal Pleno, Data de Publicação: 28/03/2012)

O Tribunal Regional do Trabalho do Ceará

DOENÇA OCUPACIONAL. INDENIZAÇÃO. NEXO CAUSAL. INEXISTÊNCIA. O exame das provas constantes dos autos, mormente a perícia audiólogica realizada por perita judicialmente nomeada, revela a inexistência do nexo causal entre a doença apresentada pelo reclamante e a atividade exercida na reclamada. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. (19003020075070009 CE 0001900-3020075070009, Relator: JOSÉ ANTONIO PARENTE DA SILVA, Data de Julgamento: 26/03/2012, Primeira Turma, Data de Publicação: 30/03/2012 DEJT)

Também o TRT do Paraná

TRT-PR-14-09-2012 DANO MORAL - ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO EQUIPARADO A ACIDENTE DE TRABALHO - SINISTRO CAUSADO POR MAL SÚBITO DO EMPREGADO - INEXISTÊNCIA DE RISCO CRIADO PELA ATIVIDADE LABORAL - AUSÊNCIA DE CULPA, NEXO CAUSAL E OFENSA À SAÚDE - INDENIZAÇÃO INDEVIDA. A equiparação de acidente de trânsito a acidente de trabalho para fins previdenciários não gera automático direito a indenização por dano moral; para tanto, há que se provar ofensa à saúde física ou psíquica ligada, por nexo causal, a conduta culposa da empregadora ou a risco inerente à atividade. DANO MATERIAL - USO DO VEÍCULO PARTICULAR DO EMPREGADO A SERVIÇO DA EMPREGADORA - ACIDENTE DE TRÂNSITO - AUSÊNCIA DE PROVA INEQUÍVOCA DE CULPA OU DOLO DO TRABALHADOR - RISCO DO EMPREENDIMENTO - INDENIZAÇÃO DEVIDA. Ao exigir que o empregado utilize veículo particular a serviço da empresa, responde a empregadora por

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eventual sinistro ocorrido nessas condições, a menos que prove culpa ou dolo do empregado, sob pena de transferir a ele o risco do empreendimento. TRT-PR-06020-2011-678-09-00-7-ACO-41631-2012 - 7A. TURMA Relator: BENEDITO XAVIER DA SILVA

E o Colendo TST

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. REINTEGRAÇÃO. NÃO CONSTATADO O NEXO CAUSAL ENTRE A PATOLOGIA E O TRABALHO. Nega-se provimento a agravo de instrumento pelo qual o recorrente não consegue infirmar os fundamentos do despacho denegatório do recurso de revista. (2030008220055150009 203000-82.2005.5.15.0009, Relator: Kátia Magalhães Arruda, Data de Julgamento: 15/02/2012, 5ª Turma, Data de Publicação: DEJT 24/02/2012)

Vários são os julgados neste sentido, negando a indenização à vítima, de tal

modo que, pode-se constatar que o nexo causal é imprescindível para averiguar se

o dano decorreu daquela atividade desenvolvida ou não. Logo, em determinadas

circunstâncias, em que a conduta lesiva ocorre, causando dano, mas, diante da

carência de nexo causal, não se pode atribuir a responsabilidade a um determinado

agente, estaremos perante causas de exclusão do nexo causal. (NASCIMENTO,

2010, p. 140, 141)

No entendimento da doutrina, quatro são os fatores de excluem o nexo

causal, e, consequentemente, a responsabilidade imputada ao agente. Tais são as

principais hipóteses elencadas pela doutrina: Culpa exclusiva da vítima, caso

fortuito, força maior e o fato de terceiro.

3.4.1.1 Culpa exclusiva da vítima

Em alguns casos, rompido o nexo de causalidade entre o dano e a conduta

do agente, o empregador poderá eximir-se da culpa e, portanto, da responsabilidade

civil a ele imputada. A culpa exclusiva da vítima é uma das hipóteses em que se

pode romper o nexo entre o agravo e a conduta, omissiva ou comissiva.

Afirma Rui Stoco que

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Embora a lei civil codificada não faça qualquer menção à culpa exclusiva da vítima como causa excludente da responsabilidade civil, a doutrina e o trabalho pretoriano construíram a hipótese, pois como se dizia no Direito Romano: quo quis ex culpa sua damnum sentit, non intelligitur damnum sentire. (2011, p. 217)

Assim sendo, tem-se que, verificada a culpa exclusiva da vítima, a relação

de causa e efeito entre o ato do agente causador do dano e a lesão percebida pela

vítima não mais se configura. (BRANDÃO, 2009, p. 254)

Portanto, demonstrando, o empregador, que a vítima não agiu com as

diligências e cautelas necessárias, bem como não teve a atenção que a situação

demandava, afastará de si o nexo causal, imprescindível para a constatação da

responsabilidade civil. (NASCIMENTO, 2010, p. 142)

E neste sentido segue o entendimento dos julgadores, tanto no Tribunal

Superior do Trabalho, quanto nos Tribunais Regionais. Segundo o TST

AGRAVO DE INSTRUMENTO. ACIDENTE NO LOCAL DE SERVIÇO. NÃO CARACTERIZAÇÃO COMO ACIDENTE DE TRABALHO. CULPA EXCLUSIVA DO RECLAMANTE. DESPROVIMENTO. Diante da conclusão do eg. TRT no sentido de que o acidente que ocasionou a perda parcial da visão do reclamante, embora ocorrido no local de trabalho, foi causado por culpa exclusiva da vítima, ao fabricar uma -bomba de cal- caseira, não é possível responsabilizar a reclamada, já que não agiu com culpa. Para reforma da v. decisão recorrida nesta instância superior, seria necessário o revolvimento dos fatos e da prova, vedados em sede extraordinária, a teor da Súmula nº 126/TST. Agravo de instrumento desprovido. (370002320095090073 37000-23.2009.5.09.0073, Relator: Aloysio Corrêa da Veiga, Data de Julgamento: 11/10/2011, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 21/10/2011)

O egrégio Tribunal do Trabalho do Maranhão

ACIDENTE DE TRABALHO. CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA. Provado nos autos que não houve culpa da reclamada no acidente de trabalho ocorrido com o de cujus, mas culpa única e exclusiva da vítima, não cabe qualquer reparação, em razão da inexistência de nexo causal do evento com o desenvolvimento da atividade da empresa ou mesmo com a conduta do empregador. Recurso Ordinário conhecido e improvido. (893200900116009 MA 00893-2009-001-16-00-9, Relator: ALCEBÍADES TAVARES DANTAS, Data de Julgamento: 28/09/2011, Data de Publicação: 13/10/2011)

E o TRT da 4ª Região

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ACIDENTE DE TRABALHO. CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA. Demonstrado que o acidente de trabalho típico ocorreu por culpa exclusiva da vítima, merece ser mantida a sentença que indeferiu as indenizações postuladas na inicial. Nega-se provimento ao recurso ordinário dos reclamantes. (...) (9323120105040121 RS 0000932-31.2010.5.04.0121, Relator: LEONARDO MEURER BRASIL, Data de Julgamento: 05/07/2011, 1ª Vara do Trabalho de Rio Grande)

Em alguns casos, o ingresso com reclamatória trabalhista do infortunado,

ocorrendo culpa exclusiva deste, é capaz de suscitar o entendimento de litigância de

má fé.

Neste sentido segue o TRT de Rondônia e do Acre

ACIDENTE DO TRABALHO. CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA. IMPOSSIBILIDADE DE INDENIZAÇAO. Evidenciando-se que o acidente de trabalho decorreu por culpa exclusiva da vítima, afasta-se o nexo causal e a responsabilidade do empregador, o que implica na impossibilidade de se indenizar o reclamante pelos danos morais, estéticos e materiais pretendidos. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. OCORRÊNCIA. Restando sobejamente demonstrado que o autor alterou a verdade dos fatos, objetivando obter provimento judicial favorável à sua pretensão, resta patente a sua litigância de má-fé, devendo ser mantida a condenação o gravame de pagar à parte contrária multa pelo seu comportamento desleal. Apelo desprovido. (827 RO 0000827, Relator: JUIZA FEDERAL DO TRABALHO CONVOCADA ARLENE REGINA DO COUTO RAMOS, Data de Julgamento: 09/06/2011, SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DETRT14 n.106, de 10/06/2011)

Ressalta Cláudio Brandão (2009, p. 255) que, “a circunstância excludente

somente se faz presente quando resultar demonstrado que foi apenas e tão somente

da vítima o ato que gerou o dano”.

E continua

Em havendo culpas concorrentes, cada uma delas será avaliada pelo juiz, a fim de verificar em que contribuiu para a ocorrência do evento danoso, a fim de possibilitar a definição do valor do ressarcimento, na forma prevista no art. 945

8, do CC, ou, como diz Sílvio Rodrigues, “a indenização será

repartida entre os dois responsáveis, na proporção do que for justa”, o que como regra geral importa na divisão pela metade do valor devido (...).

E assim dispõe o Tribunal Gaúcho

8 Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será

fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.

41

Acidente do trabalho. Culpa exclusiva da vítima. Constata-se a ocorrência de culpa concorrente da ré. O certo é que ambas as partes contribuíram para que o acidente viesse ocorrer. Havia risco específico e o relaxamento nos parâmetros de segurança criaram a ocasião para o infortúnio. Apelo provido. (...) (1353420115040731 RS 0000135-34.2011.5.04.0731, Relator: FRANCISCO ROSSAL DE ARAÚJO, Data de Julgamento: 17/05/2012, 1ª Vara do Trabalho de Santa Cruz do Sul)

Desta forma, no ensinamento de Clayton Reis, “havendo concurso de

causas no plano subjetivo, o que deve fazer é partir os ônus do prejuízo,

proporcionalmente à culpa de cada um” (2010, p. 27)

Entretanto, cabe dizer, a empresa ou o empregador, deve demonstrar em

juízo que agiu das formas adequadas, exerceu a fiscalização de forma exaustiva e

implementou todas as medidas de segurança necessárias para neutralizar os

agentes perigosos no ambiente de trabalho, oferecendo e aconselhando o uso dos

EPI’s (equipamentos de proteção individual), e fazendo cumprir as normas de

segurança. (NASCIMENTO, 2010, p. 145)

3.4.1.2 Caso fortuito e força maior

Outras duas causas que eximem o empregador da responsabilidade de

indenizar o trabalhador vítima de acidente de trabalho são as hipóteses de caso

fortuito e a força maior, disposto legalmente no artigo 393, do Código Civil9.

O caso fortuito é considerado como um evento alheio à vontade das partes a

qual não se poderia prever ou evitar. É o fato que mesmo a prudência humana

normalmente não pode antecipar ou combater quando previsto, ainda que

verificando a boa fé dos contratantes. (NASCIMENTO, 2010, p. 146). Cláudio

Brandão, citando Sergio Cavalieri Filho, define o caso fortuito como o “evento

imprevisível e, por isso, inevitável”. (BRANDÃO, 2009, p. 257)

9 Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se

expressamente não se houver por eles responsabilizado. Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.

42

Também nesse sentido seguem os tribunais no Brasil, de forma que,

configurando-se o caso fortuito, não há que se falar em nexo causal,

consequentemente responsabilidade por parte do empregador.

Esse é o entendimento do Tribunal Superior do Trabalho

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA - ACIDENTE DE TRABALHO - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAL E MATERIAL - IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO ANTE A CONSTATAÇÃO DE OCORRÊNCIA DE CASO FORTUITO - INEXISTÊNCIA DE NEXO CAUSAL. A conclusão a que chegou a Corte regional foi lastreada nas provas dos autos, mormente no laudo pericial e no depoimento do próprio reclamante, no sentido da inequívoca ocorrência de caso fortuito, o que exclui a existência de nexo causal, ensejando a improcedência da postulação. Incidência da Súmula nº 126. Agravo de instrumento desprovido. (1839320105040030 183-93.2010.5.04.0030, Relator: Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, Data de Julgamento: 22/08/2012, 4ª Turma, Data de Publicação: DEJT 31/08/2012)

E em mesmo sentido o Tribunal do Rio Grande do Sul

ACIDENTE DO TRABALHO. EXCLUSAO DO NEXO CAUSAL. CASO FORTUITO. É imprescindível para a configuração da responsabilidade civil a prova do nexo causal entre o dano e a conduta daquele a quem se imputa a responsabilidade. Nexo causal e dever de indenizar não subsistem diante de caso fortuito. Inteligência do art. 1.058 do Código Civil de 1916, vigente à época dos fatos (...) (330006620085040812 RS 0033000-66.2008.5.04.0812, Relator: RICARDO TAVARES GEHLING, Data de Julgamento: 26/11/2009, 2ª Vara do Trabalho de Bagé)

Já as hipóteses de força maior, ainda na definição de Cavalieri Filho, citado

por Brandão (2009, p. 257) verifica-se quando “o evento for inevitável, ainda que

previsível, por se tratar de fato superior às forças do agente, como normalmente são

os fatos da Natureza, como as tempestades, enchentes, etc. estaremos em face da

força maior”. Assim, tem-se que o evento, mesmo que previsível, tratando-se de

força maior (forças da natureza, terremoto, raios, ventos, etc.) é inevitável, logo,

também exime o empregador da responsabilidade, nos casos em que ocorra,

conforme dispõe o artigo 501 da CLT10. (NASCIMENTO, 2010, p. 149)

Assim se pronuncia o Tribunal Regional do Trabalho da 14ª Região

10 Art. 501 - Entende-se como força maior todo acontecimento inevitável, em relação à vontade do

empregador, e para a realização do qual este não concorreu, direta ou indiretamente.

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ACIDENTE DE TRABALHO. NEXO DE CAUSALIDADE. INEXISTENTE. DANOS MORAIS E MATERIAIS INDEVIDOS. Evidenciando-se pelo conjunto probatório a inexistência de nexo de causalidade entre a morte do empregado e o acidente de trabalho sofrido nas instalações da empresa, em razão da força maior, improcede a condenação da empregadora ao pagamento de indenização por danos morais e materiais à mãe do obreiro falecido. (749 RO 0000749, Relator: DESEMBARGADORA MARIA CESARINEIDE DE SOUZA LIMA, Data de Julgamento: 06/04/2010, PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DETRT14 n.064, de 07/04/2011)

Cairo Júnior, fazendo referência a Caio Mário, “a imprevisibilidade do

acontecimento não constitui requisito do caso fortuito ou força maior. Basta que,

surgindo o evento, mesmo que previsível, provoque, ‘força indomável e inarredável’”.

Portanto, a carência de providências capazes de impedir que o dano ocorra,

caracterizam a possibilidade de excluir da responsabilidade o empregador, impedido

de garantir a segurança do trabalhador, diante da imprevisibilidade ou até mesmo da

inevitabilidade. (CAIRO JÚNIOR, 2008, p. 43)

3.4.1.3 Fato de terceiro

A presente hipótese equivale-se aos casos fortuitos e a força maior, já que,

como estes, é um elemento estranho à conduta do agente, considerado, também,

como fato inevitável e imprevisível, fazendo desaparecer a relação de causa e efeito

e, portanto, a responsabilidade de reparação do dano causado. (BRANDÃO, 2009,

p. 257)

No conceito de José Augusto do Nascimento (2010, p. 151), “é o ato

praticado por alguém que não seja nem o acidentado, nem o empregador, prepostos

ou profissional responsável pela execução da obra ou serviço”. Entende o autor que

o fato danoso ocorrido durante a jornada laboral não constitui por si só o nexo causal

para fins de responsabilidade civil. Explica que sendo a conduta praticada por

terceiro que não a vítima ou empregador afasta a conexão do dano e a atividade

desenvolvida.

Entretanto, como afirma Rui Stoco, a mencionada hipótese é uma questão

ainda não pacificada, pois também pode importar tanto na aplicação de

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responsabilidade, quanto na isenção de responsabilidade. Assim, segundo o autor,

trazendo a doutrina de Cavalieri Filho, “(...) o fato de terceiro só exclui a

responsabilidade quando rompe o nexo causal entre o agente e o dano sofrido pela

vítima”. (STOCO, 2011, p. 224)

Neste mesmo sentido, explica Cláudio Brandão, segue Venosa, que destaca

a “dificuldade existente na jurisprudência para solucionar casos que envolvem a

situação em tela, que no mais das vezes, leva a decisões baseadas na equidade,

diante da ausência de textos legais que permitam a formulação de entendimentos

pacíficos”. (BRANDÃO, 2009, p. 256)

Verificamos esta divergência nos julgados do TRT da 4ª Região

ACIDENTE DO TRABALHO. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL, MATERIAL E ESTÉTICO. FATO DE TERCEIRO. EXCLUDENTE DO NEXO CAUSAL. INEXISTÊNCIA DE RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR. Acidente ocorrido no local de trabalho, em virtude de fato de terceiro (agressão cometida por colega de trabalho), sem qualquer relação com a atividade desenvolvida pelo trabalhador ou mesmo com qualquer participação do empregador para o evento. Afastada a responsabilidade civil objetiva admissível apenas nos casos em que a atividade laboral importe em risco ao trabalhador, o que não se configura no caso. (...) (6548820105040522 RS 0000654-88.2010.5.04.0522, Relator: CLÓVIS FERNANDO SCHUCH SANTOS, Data de Julgamento: 04/08/2011, 2ª Vara do Trabalho de Erechim) ACIDENTE DO TRABALHO. ACIDENTE DE TRÂNSITO. FATO DE TERCEIRO. TEORIA DO RISCO PROFISSIONAL. LIAME ETIOLÓGICO PRESERVADO. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. CABIMENTO. Havendo prova da ocorrência do dano alegado, bem assim do nexo de causalidade entre a lesão e o trabalho, excluída a hipótese de culpa exclusiva do empregado, ao empregador incumbe a obrigação de indenizar, prevista no art. 927 do CC, por danos causados ao empregado. Criado o risco ao empregado, ainda que inerente à própria profissão - motorista de ônibus -, o fato de terceiro causador de acidente de trânsito não afasta o nexo de causalidade e não elide a responsabilidade do empregador. (...)927CC (306001720095040401 RS 0030600-17.2009.5.04.0401, Relator: MILTON VARELA DUTRA, Data de Julgamento: 08/09/2011, 1ª Vara do Trabalho de Caxias do Sul)

Contudo, afirma seguramente Nascimento que as decisões quanto à

exoneração de responsabilidade civil do empregador vêm crescendo quando

verificado que o terceiro é o verdadeiro causador do dano ou acidente. E assim

segue o Tribunal Maranhense

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ACIDENTE DE TRABALHO. AUSÊNCIA DE CULPA DA EMPREGADORA. FATO DE TERCEIRO. QUEBRA DO NEXO CAUSAL. INDENIZAÇÃO INDEVIDA. Se no momento do acidente, o obreiro não se encontrava no exercício da sua atividade, e se o fato não ocorreu em função dela, não se pode falar em responsabilidade objetiva da empregadora, comportando responsabilização apenas se se verificasse culpa da empresa. A responsabilidade objetiva, na espécie, seria em face do INSS; para a empregadora, seria a subjetiva, em que se exige a presença de três requisitos: dano, nexo causal e culpa (artigo 186 do CC), entretanto, inexistiu culpa, e o nexo foi quebrado por ato de terceiro. Recurso conhecido e não provido. (1468200601216008 MA 01468-2006-012-16-00-8, Relator: ILKA ESDRA SILVA ARAÚJO, Data de Julgamento: 10/02/2009, Data de Publicação: 19/03/2009)

O Tribunal da 14ª Região

ACIDENTE DE TRABALHO. MOTOCICLETA. FATO DE TERCEIRO. AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR. Se o acidente de trabalho foi causado por terceiro que conduzia veículo na contramão de direção, colidindo com a motocicleta regularmente conduzida pelo empregado da empresa recorrente, e não provada qualquer culpa da empregadora, esta não terá responsabilidade civil pelo ocorrido. Na hipótese, o simples fato de a empresa fornecer motocicleta como meio de transporte para o empregado que detém habilitação para dirigi-la, não caracteriza a atividade como de risco, para os fins do parágrafo único do art. 927 do Código Civil Brasileiro. Recurso patronal a que se dá provimento. (541 RO 0000541, Relator: JUIZ FEDERAL DO TRABALHO CONVOCADO SHIKOU SADAHIRO, Data de Julgamento: 30/03/2010, PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DETRT14 n.059, de 05/04/2010)

E também o TRT matogrossense

ACIDENTE DE TRABALHO. RESPONSABILIDADE CIVIL. FATO DE TERCEIRO. EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE. Para o surgimento do dever de indenizar decorrente da responsabilização civil subjetiva, devem restar caracterizados os seguintes requisitos: a) a ação ou omissão do agente; b) relação de causalidade; c) existência de dano; d) dolo ou culpa do agente. Por outro lado, o parágrafo único do art. 927 do CC prevê que a reparação do dano independerá de culpa nos casos previstos em lei ou quando a atividade desenvolvida pelo autor do prejuízo oferecer, por sua natureza, riscos aos direitos alheios. Todavia, a responsabilidade civil não se caracteriza quando verificada qualquer das excludentes do nexo causal, tais como fato de terceiro, caso fortuito, força maior e culpa exclusiva da vítima. Demonstrado nos autos que o acidente de trabalho que vitimou o Autor ocorreu por fato de terceiro, incabível a reparação civil pelo empregador. Recurso a que se nega provimento. (384201108123000 MT 00384.2011.081.23.00-0, Relator: DESEMBARGADORA MARIA BERENICE, Data de Julgamento: 14/12/2011, 2ª Turma, Data de Publicação: 23/01/2012)

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Cláudio Brandão, observando as considerações realizadas por José Aguiar

Dias, afirma que não há norma expressa no Código quando a essa hipótese de

exclusão. Diz que a indenização gira em torno do artigo 930 do Código Civil, o qual

assegura o direito de regresso contra o autor do dano, por parte daquele que

respondeu pela indenização, o que, segundo alega fortalece ainda mais a

controvérsia em cima dessa situação.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme verificamos ao longo do trabalho, nem sempre as relações de

emprego se deram conforme verificamos atualmente, já que antigamente os direitos

dos trabalhadores eram frequentemente tolhidos pelos patrões. Apenas com as

revoluções industriais europeias é que se passou a tratar e positivar normas que

regessem as situações ocorridas na esfera trabalhista. Entretanto, apesar do grande

avanço legislativo e doutrinário, é possível verificar, não só no Brasil, mas como em

todo o mundo, que ainda existem vários casos de abusos aos direitos dos

labutadores. Daí a necessidade da ampla proteção oferecida aos empregados.

Assim, nas questões relativas aos infortúnios e acidentes do trabalho não

poderia ser diferente. Embora ainda haja inúmeras discussões, as teorias que

fundamentam a ideia de reparação de danos por acidentes estão baseadas, em sua

maioria, no risco profissional e na responsabilização objetiva do empregador, que

são aquelas que não dependem da demonstração de culpa. Aí uma característica

claramente protecionista, visando garantir ao hipossuficiente da relação jurídica, no

caso o trabalhador, a devida indenização pelos danos sofridos em decorrência de

acidentes no ambiente de trabalho.

Segundo tema abordado anteriormente, podemos concluir que o acidente de

trabalho, em síntese, é aquele que ocorre por conta do exercício do trabalho a

serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho provocando lesão corporal ou

perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou

temporária, da capacidade para o trabalho.

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Esse conceito está expressamente previsto na Lei da Previdência Social n.º

8.213/1991 em seu artigo 19, seguido pelo artigo 20 do mesmo diploma legal, que,

atualmente, é a legislação mais utilizada para definir e normatizar os infortúnios

laborais.

Apesar de não indicar claramente quais as teorias da responsabilidade que

serão atribuídas ao empregador, fazendo menção apenas de que o pagamento pela

Previdência Social não exclui a responsabilidade civil do empregador ou da

empresa, alguns juristas, como Hertz Jacinto Costa, afirmam que, no que tange os

infortúnios, adotou-se (na referida Lei) a Teoria da Responsabilidade Social.

Entretanto, predomina, tanto entre os doutrinadores quanto nos julgados

analisados, a Teoria do Risco Profissional, a qual muito se assemelha à Teoria da

Responsabilidade Objetiva, já que ambas baseiam-se no risco criado.

Esta teoria (do Risco Profissional) foi adotada pela nossa Constituição

Federal, que apresentou normas de grande importância aos beneficiários da

Seguridade Social, dentre eles, o direito à percepção de pensão por morte, já que a

legislação passada apenas conferia direito ao marido inválido; redução da

aposentadoria por tempo de idade em prol dos trabalhadores rurais, entre outros.

A referida teoria consta no art. 7º, inciso XXVIII da CF/88, conferindo aos

trabalhadores o seguro contra os acidentes do trabalho sob a responsabilidade

exclusiva do empregador, e ainda possibilitando a cumulação de indenizações,

quando este incorrer em dolo ou culpa.

Embora a Consolidação das Leis do Trabalho regule algumas questões

referentes aos acidentes de trabalho, não há indicação das teorias a serem

utilizadas, ficando a disposição a cargo da lei previdenciária, da Constituição e do

Código Civil, em seu artigo 927, parágrafo único, que dispõe sobre a

responsabilidade objetiva.

Porém, em que pese seja imprescindível tal protecionismo, em alguns casos,

conforme os julgados analisados, o empregado de má fé se utiliza desse princípio

para simular acidentes e receber determinadas indenizações que não são realmente

devidas. Ou ainda, por motivos alheios à previsibilidade ou até mesmo irresistíveis à

vontade do empregador, em que este deveria indenizar, mesmo que diligenciando

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da melhor forma possível. Logo, fez-se necessário o estudo das excludentes de

responsabilidade do empregador.

Entretanto, no tocante à exclusão da responsabilidade por parte do

empregador, nada há observado na nossa legislação, restando o encargo à doutrina

e à jurisprudência verificar as hipóteses de excludentes e em que casos são

aplicáveis.

Em resumo, as causas excludentes giram em torno do nexo causal que é o

elo entre a conduta realizada pelo agente e o seu resultado danoso. Assim, caso

não verificado o nexo entre o acidente e a conduta, exime-se o patrão da

consequente responsabilidade de indenizar o trabalhador pelos infortúnios laborais

ocorridos.

O rompimento desse elo se dá, principalmente, nas hipóteses de caso

fortuito e força maior, fato de terceiro, e na culpa exclusiva da vítima. Portanto,

segundo os casos verificados, é pacífico que, se comprovado qualquer destas

quatro hipóteses, o empregador poderá se eximir de indenizar o infortunado.

Concluindo, este trabalho teve como objetivo geral de estudar as teorias

mais relevantes acerca dos infortúnios laborais, e as espécies de responsabilidade

decorrentes dos acidentes no ambiente de trabalho. Como objetivo específico

procurou-se analisar as hipóteses em que o empregador, que aplicou as diretrizes

previstas e agiu com as cautelas necessárias, pode se eximir da responsabilidade

de indenizar o trabalhador alcançado pelo infortúnio laboral, observando os julgados

e a forma que a jurisprudência aplica as teorias estudadas e as espécies de

responsabilidade no âmbito trabalhista.

Neste sentido, ao longo do estudo verificou-se que os objetivos propostos

foram em grande parte cumpridos. Pudemos observar que a teoria predominante no

país é a da responsabilidade objetiva, segundo tema já abordado.

Contudo, pôde-se verificar também, que nem sempre a responsabilização

pelos acidentes laborais pode ser atribuída ao empregador que se utiliza dos meios

disponíveis para assegurar ao trabalhador um ambiente seguro e saudável, caso em

que poderemos verificar o desaparecimento do nexo causal, e, consequentemente,

a obrigação de reparar o dano. A descaracterização da responsabilidade incumbida

ao empregador desaparece quando, observado no caso concreto, existir os

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seguintes elementos: a culpa exclusiva da vítima, caso fortuito e força maior, e o fato

de terceiro, pois nestes casos o que também esvanece é o nexo causal.

Quanto à culpa exclusiva da vítima alguns pontos não puderam ser

abordados como o pretendido, diante da dificuldade na localização de material

doutrinário e jurisprudencial sobre o assunto. São eles a “autolesão” e a

“indisciplina”. A primeira se caracteriza pelo dolo da própria vítima para que ocorra o

infortúnio no sentido de fraudar o empregador, bem como a previdência. A segunda

hipótese se observa nos casos em que a vítima se recusa a utilizar os equipamentos

de segurança (EPI) fornecidos pelo patrão, gerando sua própria insegurança.

Portanto, nestes temas, a produção de prova no caso concreto é

indispensável para que se possa averiguar a quem cabe a responsabilidade de

indenizar o infortúnio ocorrido.

De outra forma, o estudo atendeu às expectativas, já que restou plenamente

demonstrado o entendimento nacional quanto a quem cabe a responsabilidade pela

indenização acidentária, e as respectivas hipóteses passíveis de excluir tal encargo,

normalmente imposta ao empregador.

As preocupações relativas aos acidentes de trabalho são de grande importância no

cenário atual, tendo em vista o crescimento na área da construção civil,

metalúrgicas, entre outras. Portanto, para que, tanto os empregados, quanto o

empregadores, possam conviver em um ambiente saudável, seguro, e até mesmo

justo, faz-se necessário um desempenho em conjunto. Desta forma, poderemos

observar, muito provavelmente, maior evolução nas relações entre empregados e

empregadores.

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REFERÊNCIAS

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STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil. 8ª Edição. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2011. VILELA, Rodolfo Andrade Gouveia. Desafios da Vigilância e da Prevenção de Acidentes do Trabalho. São Paulo: LTr, 2003.