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AEROPORTOS O problema das ocorrências de solo, acidentes e incidentes de rampa. por Célio Eugênio As rampas dos aeroportos correspondem às áreas operacionais dos pátios de manobras, estacionamento e permanência de aeronaves. E em muitos sítios aeroportuários elas são áreas confinadas e congestionadas o suficiente para se tornarem espaços propensos a ocorrências de solo, incidentes e acidentes, eventos que, se ocorrerem, impõem um alto custo financeiro à indústria aeronáutica pelos prejuízos a pessoas e equipamentos que eles podem causar. Quase todos os estudos e pesquisas relacionados com estes tipos de eventos levam-nos a concluir que além de normas, procedimentos e treinamentos adequados, uma mudança na Cultura Organizacional das companhias aéreas, das empresas de serviços auxiliares e das administrações aeroportuárias faz-se urgente, como forma de focar o trabalho coletivo e individual em ações preventivas e na criação de um sistema de segurança e vigilância apropriados, sempre buscando manter a integridade das pessoas e materiais que constroem o dia-a-dia do ambiente de rampa dos aeroportos. Um dos estudos mais completos e interessantes sobre a questão que eu tenho conhecimento foi feito em 2004 pela FAA – Federal Aviation Administration. Ele englobou todos os eventos de rampa envolvendo as empresas aéreas comerciais americanas num período de 17 anos, de 1987 a 2003. Analisando os dados, provenientes de várias fontes, os especialistas reafirmaram que esta questão é uma das mais preponderantes ameaças à Segurança Operacional nos aeroportos. Apesar disto, os entendidos em segurança aérea dizem que a questão não tem nem a atenção dos administradores nem a prioridade que merece no sistema, durante as discussões sobre Segurança Operacional. Para se ter uma idéia da dimensão do problema no âmbito da aviação, só no período que compreendeu o estudo, de 1987 a 2003, as companhias aéreas americanas desembolsaram, em média, 03 bilhões de dólares/ano para fazer frente aos prejuízos causados pelas ocorrências de solo, incidentes e acidentes de rampa em todo o país. Mais de 700 eventos envolvendo 880 aeronaves foram estudados, incluindo 161 acidentes, nos quais 06 destas aeronaves foram totalmente destruídas e outras 132 foram substancialmente danificadas. E para agravar o quadro, houve um total de 18 fatalidades e 149 pessoas feridas, dentre elas 55 com gravidade. E o mais impressionante é que o estudo somente

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AEROPORTOSO problema das ocorrncias de solo, acidentes e incidentes de rampa.por Clio Eugnio

As rampas dos aeroportos correspondem s reas operacionais dos ptios de manobras, estacionamento e permanncia de aeronaves. E em muitos stios aeroporturios elas so reas confinadas e congestionadas o suficiente para se tornarem espaos propensos a ocorrncias de solo, incidentes e acidentes, eventos que, se ocorrerem, impem um alto custo financeiro indstria aeronutica pelos prejuzos a pessoas e equipamentos que eles podem causar.

Quase todos os estudos e pesquisas relacionados com estes tipos de eventos levam-nos a concluir que alm de normas, procedimentos e treinamentos adequados, uma mudana na Cultura Organizacional das companhias areas, das empresas de servios auxiliares e das administraes aeroporturias faz-se urgente, como forma de focar o trabalho coletivo e individual em aes preventivas e na criao de um sistema de segurana e vigilncia apropriados, sempre buscando manter a integridade das pessoas e materiais que constroem o dia-a-dia do ambiente de rampa dos aeroportos.

Um dos estudos mais completos e interessantes sobre a questo que eu tenho conhecimento foi feito em 2004 pela FAA Federal Aviation Administration. Ele englobou todos os eventos de rampa envolvendo as empresas areas comerciais americanas num perodo de 17 anos, de 1987 a 2003.

Analisando os dados, provenientes de vrias fontes, os especialistas reafirmaram que esta questo uma das mais preponderantes ameaas Segurana Operacional nos aeroportos. Apesar disto, os entendidos em segurana area dizem que a questo no tem nem a ateno dos administradores nem a prioridade que merece no sistema, durante as discusses sobre Segurana Operacional. Para se ter uma idia da dimenso do problema no mbito da aviao, s no perodo que compreendeu o estudo, de 1987 a 2003, as companhias areas americanas desembolsaram, em mdia, 03 bilhes de dlares/ano para fazer frente aos prejuzos causados pelas ocorrncias de solo, incidentes e acidentes de rampa em todo o pas.

Mais de 700 eventos envolvendo 880 aeronaves foram estudados, incluindo 161 acidentes, nos quais 06 destas aeronaves foram totalmente destrudas e outras 132 foram substancialmente danificadas. E para agravar o quadro, houve um total de 18 fatalidades e 149 pessoas feridas, dentre elas 55 com gravidade. E o mais impressionante que o estudo somente cobriu 2,5% de todos os eventos reportados nestes 17 anos de intervalo. Isto porque a anlise foi feita somente com a parcela de dados que registrou as ocorrncias mais graves envolvendo as aeronaves norte-americanas, as quais fazem parte de uma gigantesca frota nacional. Algo em torno de 75% dos dados foram tirados do prprio Banco de Dados da FAA, outros 21% do NTSB National Transport Safety Board e os 04% restantes da OSHA Occupational Safety and Health Administration dos Estados Unidos. Ressalta-se que esta ltima instituio, a OSHA, somente considera em seus registros os eventos ocorridos com aeronaves que no tm inteno de voar (em reboque, estacionadas, etc) e que no estejam tripuladas.

As anlises mostraram que as principais causas dos eventos so a no aderncia dos funcionrios s normas e procedimentos e um treinamento inadequado de aerovirios e aeronautas. Segundo os especialistas, todas as aes corretivas, se no forem acompanhadas de uma mudana na Cultura Organizacional de Segurana Operacional das empresas envolvidas com a administrao e com a operao area e aeroporturia, tornam-se incuas.

Operaes de Rampa

Nos Estados Unidos, a maioria das administraes aeroporturias delega as aes de Segurana Operacional nas rampas aos arrendatrios (terceirizados), transferindo obrigaes e especificando o conjunto de responsabilidades em contratos de leasing ou atravs de outros mecanismos formais.

Geralmente, as grandes empresas areas tm seu prprio pessoal de rampa para a execuo de atividades como o abastecimento, a limpeza e a reposio do servio de bordo das aeronaves, o manuseio de cargas e bagagens, a orientao dos veculos e das aeronaves no ptio, o reboque de avies para os hangares e a execuo de pushback (posicionamento da aeronave no ptio para iniciar o taxi-out para decolagem). Contudo, nos aeroportos onde a presena do staff das companhias areas reduzido, estes servios so executados por outras empresas contratadas.

Tudo isto significa dizer que h uma enorme diversidade de aeronaves, equipamentos, veculos automotores e pessoas disputando tempo e espao na rea de rampa dos aeroportos durante as operaes normais do seu dia-a-dia. Para agravar, tambm h que se incluir neste cenrio as equipes-extras de manuteno para servios maiores, os grupos de policiais federais, os fiscais alfandegrios, os funcionrios de empresas de construo civil (quando o aeroporto encontra-se em obras) e os agentes de segurana patrimonial e contra atos terroristas que, reunidos neste ambiente, aumentam significativamente a complexidade de uma operao de solo coordenada e segura.

Fatalidades e Ferimentos

Grande parte dos eventos de rampa, os quais envolvem fatalidades e ferimentos graves, acontece durante a movimentao de sada das aeronaves, com destaque acentuado para as ocorrncias com os avies turbo-hlice. Para se ter uma idia mais apurada da proporo, na contabilizao de 30% das sadas, no perodo estudado, os avies turbo-hlice envolveram-se em 50% das 18 fatalidades e 38% dos ferimentos graves.

O quadro abaixo mostra o perfil das conseqncias provocadas pelas ocorrncias de rampa aos funcionrios e aos usurios das empresas areas americanas no perodo estudado:

PARTE AFETADAFATALIDADESFERIMENTOS GRAVESFERIMENTOS LEVESPASSAGEIROS

02

13

30

PILOTOS

01

01

02

COMISSRIOS

00

05

07

PESSOAL DE TERRA

15

36

55

TOTAL185594Nota: A tabela reproduz a anlise de 727 eventos de rampa no perodo compreendido entre 1987 e 2003.Fonte: ICAO Journal.

As ocorrncias ligadas aos passageiros tm como causas principais o mau posicionamento das escadas nas aeronaves, a desassistncia dos usurios nas operaes de embarque ou desembarque e a negligncia do prprio passageiro durante a sua sada do avio, especialmente quando rejeita auxlio do staff de terra da empresa area, estando carregado de bagagens de mo.

Outros eventos, como a coliso dos Jetways (corredores sanfonados de embarque e desembarque) contra partes da aeronave e danos causados a equipamentos e pessoas pelo Jetblast dos motores (jato de ar proveniente da descarga dos motores a jato em funcionamento), tambm tm lugar de destaque, j que perfazem 5% do total de ocorrncias. Este ltimo, o Jetblast, chega a danificar prdios de terminal de passageiros, pequenas aeronaves e veculos automotores, jetways, hangares e contineres (recipiente de ao para transporte de bagagens e carga nos pores dos avies), alm de ser uma ameaa constante ao pessoal envolvido com as operaes de solo.

Concluso

As reas de rampa dos aeroportos podem ser locais extremamente congestionados e com espaos bastante confinados. A quantidade e a diversidade de aeronaves, veculos automotores, equipamentos e pessoas concentradas nelas podem criar um cenrio vulnervel a eventos aeronuticos indesejveis. Tratar estes ambientes com ateno e prioridade, sob ininterrupta observao e governado por regras rgidas de disciplina operacional torna-se to necessrio quanto se pensar em colocar os avies no ar sem avarias.

Os fatores causais das vrias ocorrncias observadas no estudo da FAA indica-nos que a Cultura Organizacional das empresas envolvidas tambm deve ser tratada com prioridade e respeito redobrados. Muitos aeroportos tm populaes flutuantes de funcionrios e usurios maiores do que as de muitas cidades de pequeno porte ao redor do mundo, o que os faz requerer administraes competentes, conscientizadas e comprometidas com os princpios bsicos de Segurana Operacional.

Alm disto, uma acurada rede de reporte de eventos, com registro em Banco de Dados confiveis, torna-se primordial para uma boa anlise de tendncias, fator que facilita aes pr-ativas e preditivas, as mesmas que antecipam aes corretivas, elevam o alerta situacional do pessoal envolvido nas operaes aeroporturias e elevam a participao na preveno de eventos indesejveis, melhora a gerncia do risco da atividade e mantm a Segurana Operacional em nveis altos.

Agncias reguladoras, administraes aeroporturias, companhias areas, empresas de servios auxiliares de transporte areo e todo o corpo funcional envolvido nas operaes aeroporturias devem se unir para tornar a preveno de ocorrncias de solo, incidentes e acidentes de rampa fatos raros e sem conseqncias nefastas.

A Segurana Operacional depende muito da educao funcional das pessoas e dos administradores. Por isso, mos a obra! O trabalho preventivo no pode parar.

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