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Notificar e executar dívidas à Segurança Social 13.03.2015 | 17:44 Tribunal pronuncia-se sobre requisitos e execução fiscal Segundo decisão do Supremo Tribunal Administrativo (STA) a notificação da liquidação de contribuições à Segurança Social que não foram autoliquidadas, na medida em que se trata de uma liquidação suscetível de alterar a situação tributária do contribuinte, deve, obrigatoriamente, ser efetuada por carta registada com aviso de receção, cabendo a prova da notificação à Segurança Social. Perante a ausência de prova da data notificação, deve considerar-se como momento relevante para efeitos do início do prazo de impugnação a data da citação da execução fiscal, já que se trata do momento em que, com maior segurança, permite afiançar o conhecimento por parte do contribuinte das liquidações que impugnou. O caso Uma contribuinte foi citada no processo de execução fiscal para cobrança de dívidas à Segurança Social, em 24-06-2011. Do registo informático da Segurança Social consta que a contribuinte foi notificada das liquidações em 24-01-2008. A petição inicial de impugnação foi apresentada em 15-09-2011. O tribunal de 1.ª instância considerou que a impugnação foi apresentada fora de prazo, tendo absolvido a Segurança Social da Instância. Inconformada, a contribuinte interpôs recurso para o Supremo Tribunal Administrativo (STA). Apreciação do STA O STA deu razão à contribuinte ao decidir que, de forma a assegurar o direito à tutela jurisdicional efetiva, deve considerar-se como momento relevante para efeitos do início do prazo de impugnação a data da citação, já que se trata do momento que, com maior segurança, permite afiançar o conhecimento por parte da contribuinte das liquidações que impugnou. Tratando-se de uma liquidação suscetível de alterar a situação tributária da contribuinte, a mesma devia, obrigatoriamente, ter sido efetuada por carta registada com aviso de receção. Neste caso, a prova desta notificação não sucedeu e era à Segurança Social que incumbia esse ónus. Perante a ausência de prova da data notificação, impunha-se, no entendimento do STA, saber a partir de que momento se iniciava prazo de impugnação que, à data dos factos era de 90 dias (atualmente é de três meses): se o termo do prazo para pagamento das contribuições em falta ou se a data da citação do contribuinte, que alega ter tomado conhecimento das liquidações apenas nesta altura. Assim, constata-se a tempestividade da impugnação, atendendo a que a data da citação ocorreu em 24-06-2008 e a data da apresentação da petição inicial ocorreu em 15-09-2011, mostrando-se cumprido o prazo de 90 dias, contrariamente ao que considerou o tribunal de 1.ª instância. Referências Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo, de 25 de fevereiro de 2015,

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Notificar e executar dívidas à Segurança Social13.03.2015 | 17:44

Tribunal pronuncia-se sobre requisitos e execução fiscal

Segundo decisão do Supremo Tribunal Administrativo (STA) a notificação da liquidação de contribuições à Segurança Social que não foram autoliquidadas, na medida em que se trata de uma liquidação suscetível de alterar a situação tributária do contribuinte, deve, obrigatoriamente, ser efetuada por carta registada com aviso de receção, cabendo a prova da notificação à Segurança Social.

Perante a ausência de prova da data notificação, deve considerar-se como momento relevante para efeitos do início do prazo de impugnação a data da citação da execução fiscal, já que se trata do momento em que, com maior segurança, permite afiançar o conhecimento por parte do contribuinte das liquidações que impugnou.

O caso

Uma contribuinte foi citada no processo de execução fiscal para cobrança de dívidas à Segurança Social, em 24-06-2011. Do registo informático da Segurança Social consta que a contribuinte foi notificada das liquidações em 24-01-2008.

A petição inicial de impugnação foi apresentada em 15-09-2011. O tribunal de 1.ª instância considerou que a impugnação foi apresentada fora de prazo, tendo absolvido a Segurança Social da Instância. Inconformada, a contribuinte interpôs recurso para o Supremo Tribunal Administrativo (STA).

Apreciação do STA

O STA deu razão à contribuinte ao decidir que, de forma a assegurar o direito à tutela jurisdicional efetiva, deve considerar-se como momento relevante para efeitos do início do prazo de impugnação a data da citação, já que se trata do momento que, com maior segurança, permite afiançar o conhecimento por parte da contribuinte das liquidações que impugnou.

Tratando-se de uma liquidação suscetível de alterar a situação tributária da contribuinte, a mesma devia, obrigatoriamente, ter sido efetuada por carta registada com aviso de receção. Neste caso, a prova desta notificação não sucedeu e era à Segurança Social que incumbia esse ónus.

Perante a ausência de prova da data notificação, impunha-se, no entendimento do STA, saber a partir de que momento se iniciava prazo de impugnação que, à data dos factos era de 90 dias (atualmente é de três meses): se o termo do prazo para pagamento das contribuições em falta ou se a data da citação do contribuinte, que alega ter tomado conhecimento das liquidações apenas nesta altura.

Assim, constata-se a tempestividade da impugnação, atendendo a que a data da citação ocorreu em 24-06-2008 e a data da apresentação da petição inicial ocorreu em 15-09-2011, mostrando-se cumprido o prazo de 90 dias, contrariamente ao que considerou o tribunal de 1.ª instância.

ReferênciasAcórdão   do Supremo Tribunal Administrativo, de 25 de fevereiro de 2015, processo n.º 0383/14Código de Procedimento e de Processo Tributário, artigos 20.º n.º 1, 38.º n.º 1, 102.º n.º 1Código Civil, artigo 279.º 

Acórdão do Supremo Tribunal AdministrativoProcesso: 0383/14

Data do Acordão: 25-02-2015

Tribunal: 2 SECÇÃO

Relator: ASCENSÃO LOPES

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Descritores: EXTEMPORANEIDADEPETIÇÃOCONTAGEM DE PRAZOIMPUGNAÇÃO

Sumário: I - A notificação da liquidação de contribuições à Segurança Social que não foram autoliquidadas e que é susceptível de alterar a situação tributária da contribuinte deve ser efectuada por carta registada com aviso de recepção nos termos do artº 38º nº 1 do CPPT.II - Questionando-se nos autos qual a data a partir da qual se contam os 90 dias previstos no artº 102 nº 1 do CPPT para impugnar se é o termo do prazo para pagamento das contribuições em falta ou se a data da citação da contribuinte que alega ter tomado conhecimento das liquidações apenas nesta altura e não tendo a impugnada demonstrado como era seu

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ónus a data da efectiva notificação da liquidação, entende-se que nas circunstâncias concretas dos autos a salvaguarda do direito constitucional à tutela jurisdicional efectiva nos impõe a consideração da data da citação como sendo aquela que com maior segurança nos pode afiançar o conhecimento por parte da contribuinte das liquidações que agora pretende impugnar, o que determina que seja tempestiva a impugnação apresentada.

Nº Convencional: JSTA000P18633Nº do Documento: SA2201502250383Data de Entrada: 27-03-2014Recorrente: A............Recorrido 1: INSTITUTO DA

SEGURANÇA SOCIAL, I.P.

Votação: UNANIMIDADE

Aditamento:

Texto IntegralTexto Integral: Acordam, em conferência, nesta Secção do

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Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo

1 – RELATÓRIO

A……………., com os demais sinais dos autos, veio deduzir impugnação judicial contra as liquidações efectuadas das contribuições para a segurança social referente aos anos de 2003, 2005, 2008, 2009 e 2010. 

Por sentença de 31 de dezembro de 2013, o TAF de Braga julgou por verificada a excepção da caducidade do exercício do direito de recorrer e consequentemente absolveu da instância a fazenda pública.

Inconformada com o assim decidido, reagiu a recorrente, interpondo o presente recurso com as seguintes conclusões das alegações:

«1 - Prescreve o artigo 38º, nº1 do CPPT que as notificações susceptíveis de alterar a situação tributária dos contribuintes são efectuadas obrigatoriamente por carta registada com aviso de recepção, aplicando-se-lhes as regras sobre a citação pessoal (nº6 do mesmo artigo);2 - O ónus da prova da notificação das liquidações à recorrente era da recorrida Segurança Social que, contudo, não o logrou fazer;3 - Assim, apenas se pode afirmar que a recorrente teve conhecimento das liquidações em questão com a sua citação realizada em 24/06/2011;4 - Pelo que, tendo a petição de impugnação entrado em juízo em 15/09/2011, isto é, dentro do prazo de 90 dias previsto no art. 102º do CPPT, a interposição da mesma terá de considerar-se tempestiva;5 - A douta sentença recorrida incorreu, pois, em erro de julgamento ao fazer errada interpretação e aplicação, entre outros, do disposto nos arts 38º, 39º e 102º, todos do CPPT.Nestes termos, e nos melhores de direito que Vªs Exºs doutamente suprirão, deve o presente recurso ser julgado procedente e consequentemente ser alterada a sentença recorrida por outra que ordene o

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prosseguimento até final dos presentes autos de impugnação judicial.Assim decidindo, farão V.Exªs, Venerando Conselheiros, a habitual JUSTIÇA.»

A entidade recorrida, o Instituto de Segurança Social, IP veio apresentar as suas contra alegações com o seguinte teor:(…)“A sentença proferida neste processo, salvo melhor opinião, não merece qualquer censura ou reparo, ressalvando-se a retificação do erro material que se requereu.Todavia, dela foi interposto recurso, pelo Impugnante A………….. que sustenta a tempestividade da Impugnação.Porém, os argumentos que a Recorrente invoca não parecem ter qualquer razão de ser face aos factos dados como provados.”

O EMMP pronunciou-se emitindo o seguinte parecer:«A recorrente acima identificada vem sindicar a sentença do TAF de Braga, exarada a fls. 153/155, em 31 de Dezembro de 2013.A sentença recorrida julgou caducado o direito de impugnar as liquidações e absolveu a entidade requerida da instância, no entendimento de que a recorrente, a fls. 174 dos autos, admitiu a notificação das liquidações oficiosas de CSS em data anterior à citação para o PEF.A recorrente termina as suas alegações com as conclusões de fls. 182/183, que, como é sabido, delimitam o objecto do recurso, nos termos do estatuído nos artigos 635.º/4 e 639.º-/t do NCPC, e que aqui se dão por inteiramente reproduzidas.A recorrida contra-alegou nos termos de fls. 190 que aqui se dão, também, por reproduzidos.A nosso ver o recurso merece provimento.Nos termos do disposto no artigo 102.º/1/ a) do CPPT, na redacção vigente em 2008 e 2011, a impugnação judicial deve ser deduzida no prazo de 90 dias contados do termo do prazo para pagamento voluntário das prestações tributárias legalmente notificadas ao contribuinte.

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Resulta do probatório que a recorrente foi citada para o PEF em 24 de Junho de 2011, que consta do registo informático remetido pelo recorrido que a recorrente foi notificada das liquidações aqui em causa em 24 de Janeiro de 2008 e que a PI que deu origem à presente impugnação foi apresentada em 15 de Setembro de 2011.Incumbe ao recorrido o ónus da prova da notificação das liquidações oficiosas em causa à recorrente.Uma vez que não se verifica nenhuma das situações referidas no artigo 38.º/3 do CPPT a notificação das liquidações em apreço deveria ter sido feita através de carta registada com aviso de recepção.Nos termos do estatuído no artigo 39.º/3 do CPPT, havendo aviso de recepção a notificação considera-se efectuada na data em que o aviso for assinado.É certo que “A não observância da forma de notificação exigida constituirá uma irregularidade que não afectará o valor da notificação, desde que se comprove que ela foi efectivamente efectuada, pois as formalidades processuais são meios de garantir objectivos e não finalidades em si mesmas.Por isso sempre que seja atingido o objectivo, serão irrelevantes as irregularidades, considerando-se sanada a deficiência”.No caso em análise o recorrido não fez a prova da notificação das liquidações à recorrente em 24 de Janeiro de 2008, pois que não juntou aos autos o aviso de recepção que a lei exige, sendo certo que os registos informáticos do requerido, enquanto meros documentos internos não provam essa notificação.Por outro lado, contrariamente ao que se diz na sentença recorrida, a recorrente, no documento que faz fls. 147 dos autos não admite a notificação das liquidações oficiosas em data anterior.Pelo contrário, a recorrente, expressamente, diz que não é possível determinar se a Segurança Social procedeu à notificação da liquidação, por falta de prova da mesma, e uma vez que aquela confessa a prática do acto tributário da liquidação, a impugnação é o meio adequado para questionar a legalidade do acto, pelo que a demanda é tempestiva. Em conclusão, o recorrido não logrou provar, nos termos legais, que procedeu à

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notificação das liquidações oficiosas à recorrente em 24 de Janeiro de 2008.Do probatório resulta, assim, que a recorrente apenas teve conhecimento das liquidações impugnadas com a citação para o PEF, ocorrida em 24 de Junho de 2011.Uma vez que a PI que deu origem à presente impugnação foi apresentada em 15 de Setembro de 2011, verifica-se que aquando da sua apresentação não se mostrava caducado o direito de impugnação, uma vez que não haviam, ainda decorrido o prazo de 90 dias previsto no artigo 102.º/1/ a) do CPPT.A sentença recorrida merece, pois, censura.Os autos devem baixar à 1ª instância para, fixada a atinente matéria de facto, se conhecer do mérito da causa se a tal nada mais obstar.Termos em que deve dar-se provimento ao presente recurso jurisdicional, revogar-se a sentença recorrida, baixando os autos à 1.ª instância para, fixada a atinente matéria de facto, se conhecer do mérito da causa, se a tal nada mais obstar.»

2 – FUNDAMENTAÇÃO

O Tribunal “ a quo” deu como provada a seguinte factualidade:A) A autora foi citada no processo executivo em 24/06/2011, cf, fls. 9 do apenso;B) Consta de registo informático remetido pela impugnada que a autora foi notificada das liquidações aqui em causa em 24/01/2008;C) A petição inicial que deu origem à presente impugnação foi apresenta em 15/09/2011.

3 – DO DIREITOPara se decidir pela extemporaneidade da petição inicial considerou a decisão recorrida o seguinte:“A……………, NIF ………… e…………., respectivamente, com os demais sinais nos autos, veio deduzi a presente impugnação judicial contra as liquidações efectuadas das contribuições para a Segurança Social, dos anos de 2003, 2005, 2008, 2009 e 2010.

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O Centro Distrital de Braga, do Instituto da Segurança Social, IP, notificado para contestar sustentou a improcedência da acção.

Dada vista ao Exmo. Magistrado do Ministério Público, pelo mesmo foi levantada a questão da caducidade do direito de impugnar, promovendo a solicitação de elementos sobre a data da notificação da liquidação correspondente.*Porque se levanta uma questão de direito, cuja solução prévia, prejudica o conhecimento das demais, cumpre apreciar tal questão.O Tribunal é o competente em razão da matéria e hierarquia.Inexistem nulidades absolutas.Dotadas de personalidade e capacidade judiciárias, as partes são legítimas.Factos provadosCom interesse para a apreciação e decisão da excepção apontada consideram-se provados os factos seguintes:A) A autora foi citada no processo executivo em 24/06/2011, cf. fls. 9 do apenso;B) Consta de registo informático remetido pela impugnada que a autora foi notificada das liquidações aqui em causa em 24/01/2008;C) A petição inicial que deu origem à presente impugnação foi apresentada em 15/09/2011.Factos não provadosInexistem.A base probatória de todos os factos radica nos documentos neles referidos.Os factos e o direitoIncumbe ao Tribunal o conhecimento de todas as questões suscitadas pelas partes, e apenas destas, sem prejuízo de a lei impor ou permitir o conhecimento oficioso de outras: art. 660º n.º 2 Código de Processo Civil (CPC), ex vi do art. 2º al. e) do Código de Processo Tributário (CPT).Por despacho de 19/04/2012, foram declaradas prescritas as dívidas referentes a 03/2003, 03/2005 a 12/2005 cfr. fls. Do apenso.Assim, quanto a estas dívidas verifica-se a inutilidade superveniente da lide.

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No mais, cumpre apreciar a excepção da caducidade do direito.Nos temos do n.º 1 do art. 102.º do CPPT, o prazo para impugnar, é de 90 dias a contar do termo do prazo para pagamento voluntário das prestações tributárias legalmente notificadas ao contribuinte.Ora, como consta nos factos provados, não restam dúvidas que aquele prazo se encontra excedido.Diga-se, ainda, que a dilação dos 3 dias contemplados no n.º 5 do art. 145.º do CPC, uma vez que não se trata de um prazo judicial como se infere do art. 20.º, n.º 1 do CPPT (relativamente a esta matéria veja-se a anotação nº7 do art.º 20 do CPPT de Jorge Lopes de Sousa, Vol. I, pág. 267), é inaplicável no âmbito desta forma processual.No entanto, porque nos presentes autos a questão assume contornos duvidosos, importa atentar e reflectir nos mesmos.Como consta dos fatos provados a Segurança Social, notificada que foi para o efeito, veio juntar registos/prints informáticos com vista a provar a data da notificação das liquidações, que supostamente terá ocorrido em 24/01/2013.Cumprido que foi o contraditório, quanto a esta questão, não podemos deixar de aqui registar alguma estranheza na resposta oferecida pela autora, que consta de fIs. 147 dos autos, onde, pela mesma é dito que pese embora a falta de prova de notificação da liquidação, visto que a Segurança Social, dado o tempo decorrido não logrou obtê-la, admite a sua existência, por a Segurança Social o ter confessado. Ou seja, a autora admite a notificação em data anterior.Assim, não resta senão considerar procedente a excepção invocada e proferir decisão de imediato.

Ora verificada a excepção da caducidade do exercício do direito de recorrer impõe-se absolver a FP da instância, nos termos dos arts. 288,º, n.º 1 al. e); 493.º, nºs 1 e 2; 495.º; todos do CPC, ex vi, al. e) do art. 2.º do CPPT.

Pelo exposto, na procedência da excepção de caducidade do direito de impugnar, absolve-se a Fazenda Pública da instância.

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Custas a cargo da impugnante.

DECIDINDO NESTE STA:

A questão suscitada nos autos é apenas a de saber se ocorre erro de julgamento da sentença recorrida, no segmento em que julgou extemporânea a impugnação e se ao invés do decidido deve ser considerada tempestiva a impugnação de contribuições liquidadas pela Segurança Social por consideração de que foi apresentada dentro do prazo de 90 dias após a citação para os termos do processo executivo fiscal e na ponderação de que não foi provada pela entidade liquidadora a data da notificação das liquidações em causa.Não ocorre qualquer dúvida de que estamos perante uma liquidação susceptível de alterar a situação tributária da contribuinte e assim sendo tem plena aplicação o disposto no artº 38º nº 1 do CPPT pelo que a notificação das liquidações devia, obrigatoriamente, ter sido efectuada por carta registada com aviso de recepção.No caso em análise a prova desta notificação não sucedeu e era à Segurança Social que incumbia esse ónus.E, assim sendo questiona-se se a data a partir da qual se contam os 90 dias previstos no artº 102 nº 1 do CPPT para impugnar é o termo do prazo para pagamento das contribuições em falta ou se a data da citação da contribuinte que alega ter tomado conhecimento das liquidações apenas nesta altura.Entendemos que nas circunstâncias concretas dos autos a salvaguarda do direito constitucional à tutela jurisdicional efectiva nos impõe a consideração da data da citação como sendo aquela que com maior segurança nos pode afiançar o conhecimento por parte da contribuinte das liquidações que agora pretende impugnar.Concordamos com o Mº Pº junto deste STA quando refere que (…), contrariamente ao que se diz na sentença recorrida, a recorrente, no documento que faz fls. 147 dos autos não admite a notificação das liquidações oficiosas em data anterior.Pelo contrário, a recorrente, expressamente, diz que

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não é possível determinar se a Segurança Social procedeu à notificação da liquidação, por falta de prova da mesma, e uma vez que aquela confessa a prática do acto tributário da liquidação, a impugnação é o meio adequado para questionar a legalidade do acto, pelo que a demanda é tempestiva (…).Assim sendo, e considerando a data da citação ocorrida em 24/06/2008 e a data da apresentação da petição inicial em 15/09/2011 mostra-se respeitado o referido prazo peremptório de 90 dias pelo que a petição de impugnação tem de se considerar tempestiva.(abre-se parêntesis para destacar que a caducidade do direito de impugnar, nos termos das disposições conjugadas dos artigos 493.º n.º 1 e 3, 496º, ambos do Código de Processo Civil, 333º do Código Civil e 2 al. e) do CPPT, constitui excepção peremptória, de conhecimento oficioso. O prazo para deduzir impugnação é de natureza substantiva, contínuo e contado de acordo com as regras do art. 279.º do Código Civil (CC) e art. 20.º n.º 1 do Código de Procedimento e de Processo Tributário (CPPT) como se decidiu no Ac. do STA de 14-01-2004, in Proc. 01208/03 in www.dgsi.pt).

Termos em que se impõe a revogação da sentença recorrida, na parte em que considerou extemporânea a impugnação apresentada, e a baixa dos autos ao tribunal “ a quo” para conhecimento do mérito da causa se a tal nada mais obstar.

4- DECISÃO:Face ao exposto acordam os Juízes deste STA em conceder provimento ao recurso, revogando a sentença recorrida e determinando a baixa dos autos à 1ª Instância para conhecimento do mérito da causa se a tal nada mais obstar. 

Custas pela entidade recorrida por ter contra-alegado e decaído.

Lisboa, 25 de Fevereiro de 2015. - Ascensão Lopes (relator) - Ana Paula Lobo - Dulce Neto.

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