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ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA CARLOS HENRIQUE SILVA SEIXAS A IMPORTÂNCIA DA COOPERAÇÃO ESTRATÉGICA NO MERCOSUL FRENTE À NOVA ORDEM MUNDIAL Rio de Janeiro 2011

SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

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Page 1: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA

CARLOS HENRIQUE SILVA SEIXAS

A IMPORTÂNCIA DA COOPERAÇÃO ESTRATÉGICA NO MERCOSUL FRENTE À NOVA ORDEM MUNDIAL

Rio de Janeiro 2011

Page 2: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

FOLHA DE ROSTO

CARLOS HENRIQUE SILVA SEIXAS

A IMPORTÂNCIA DA COOPERAÇÃO ESTRATÉGICA NO MERCOSUL FRENTE À NOVA ORDEM MUNDIAL

Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: CMG (RM1) Caetano Tepedino Martins

Rio de Janeiro 2011

Page 3: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

C2011 ESG

Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG

_____________________________

Assinatura do autor

Biblioteca General Cordeiro de Farias

Seixas, Carlos Henrique Silva A Importância da Cooperação Estratégica no MERCOSUL frente à Nova Ordem Mundial / Contra-Almirante Carlos Henrique Silva Seixas - Rio de Janeiro: RJ, 2011.

67 f.: il.

Orientador: CMG (RM1) Caetano Tepedino Martins Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao

Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2011.

1. Canário Internacional. 2. Regionalização. 3. MERCOSUL e os Acordos. 4. Síntese da Integração entre Argentina e Brasil. 5. Estratégias do MERCOSUL nos Cenários Americano e Europeu.6. Possibilidades de Integração Militar Regional. I.Título

Page 4: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

DEDICATÓRIA

Aos meus pais que contribuíram na

minha formação acadêmica, sempre

com extrema dedicação.

A minha gratidão, em especial a

minha família, pela compreensão

nos momentos de minhas

ausências e omissões, em

dedicação às atividades específicas

da ESG, principalmente em um ano

tão difícil como este de 2011 no meu

convívio familiar .

Page 5: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

AGRADECIMENTOS

Aos meus professores de todas as épocas por terem sido responsáveis por

parte considerável da minha formação e do meu aprendizado. A professora da

Universidade do estado do Rio de Janeiro (UERJ), Miriam Gomes Saraiva, pela

atenção e pela forma como me introduziu no estudo deste tema tão importante

para o desenvolvimento de nosso país. Ao CMG (RM1) Tepedino pela

orientação e paciência em assinalar as alterações a serem efetuadas e apontar

a direção correta a ser seguida.

Aos estagiários da melhor Turma do CAEPE pelo convívio harmonioso de

todas as horas.

Ao Corpo Permanente da ESG pelos ensinamentos e orientações que me

fizeram refletir, cada vez mais, sobre a importância de se estudar o Brasil,

sempre com o propósito de melhorar as condições existentes em nosso país.

Page 6: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

“A dinâmica da integração leva a que, quanto mais se avance, mais complexas se tornem as negociações e maiores sejam

os desafios. (...) Como temos dito, diante de dificuldades a nossa resposta comum deve ser um inequívoco mais Mercosul”.

(Ex-Ministro Luiz Felipe Lampreia1)

1 Matéria publicada no jornal O Globo, editorial- “Pensando o Mercosul”, dia 22/04/1999.

Page 7: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

RESUMO

Este trabalho analisará sucintamente alguns aspectos importantes da

cooperação existente entre os Estados integrantes do MERCOSUL, dando

prioridade aos dois membros de maior valor Político e Estratégico, no caso

Argentina e Brasil. Inicialmente será apresentada uma panorâmica do cenário

internacional, após o que serão mostrados os aspectos da regionalização, para

então chegar-se ao MERCOSUL propriamente dito. Este estudo buscará, ao

longo de seu desenvolvimento, responder ao problema formulado no projeto

inicial deste trabalho, qual seja: “Em que medida é importante manter-se a

estratégia de cooperação entre Argentina e Brasil no MERCOSUL, para fazer

frente à nova ordem mundial? Da mesma forma, visa confirmar ou não, a

hipótese apresentada; qual seja: A cooperação estratégica entre Argentina e

Brasil é importante para o fortalecimento do MERCOSUL, e o consequente

desenvolvimento de ambos Estados. Durante o trabalho será apresentada uma

síntese da integração existente entre Argentina e Brasil, com um pequeno

histórico dos fatos ocorridos mais significativos e, posteriormente, seus

principais interesses e discrepâncias. Será também descrito as estratégias que

vêm sendo adotadas pelo MERCOSUL nos cenários americano e europeu.

Serão identificadas as estratégias que vêm sendo empregadas pelo

MERCOSUL para fazer frente aos demais blocos existentes no continente, e a

maneira como deverá alterar esse relacionamento para se buscar um melhor

desenvolvimento interno do bloco. Existe uma tentativa permanente dos

Estados Unidos da América (EUA) de adotar a Área de Livre Comércio das

Américas (ALCA), neste trabalho será apresentada a maneira como o governo

brasileiro considera que isso deverá ocorrer, para inclusive fortalecer o

MERCOSUL. Será apresentada também a maneira como o MERCOSUL

deverá se relacionar com a União Européia para buscar alcançar algum

proveito da rivalidade existente entre este bloco e os EUA. Para terminar será

analisada a possibilidade de ocorrer uma integração militar na região, avaliando

as ações desenvolvidas na atualidade que poderão contribuir para a referida

integração.

Palavras chave: Cenário Internacional, Regionalização, Cooperação Brasil-

Argentina no MERCOSUL

Page 8: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

ABSTRACT

This work presents a succinct analysis about some important aspects of

the ongoing cooperation between Mercosul states, prioritizing the two members

that have a greater political and strategic value − Argentina and Brazil. Initially

there is an overview of the international scenario, followed by some aspects on

regionalization that finally leads to the Mercosul. This study will try to answer

the problem, initially formulated at the beginning of this work, which is: “In what

measure is it important to maintain the cooperation strategy between Argentina

and Brazil in the Mercosul, so as to cope with the new world order?” In the

same way, this work pretends to confirm or deny the hypothesis formulated, as:

“The strategic cooperation between Argentina and Brazil is important to the

strengthening of the Mercosul, and consequently the development of both

States.” This work also presents a synthesis on the actual interaction between

Argentina and Brazil, along with a brief history of the most significant events

and their main interests and complaints. In addition, there is a description about

the strategies adopted by Mercosul in the American and European scenarios,

as well as the strategies currently applied to confront other economic blocs that

are present in South America, and how to modify such a relationship in order to

work get a better internal development of the bloc. Facing the USA`s

permanent initiative towards the American Free Trade Agreement, there is also

presentation of the Brazilian government’s consideration how to work this subjet

out in a way to improve Mercosul itself. It is also presented a proposal on the

future relationship between Mercosul and the European Union as a means to

exploit some of the rivalry that exists between them. To conclude it will be

considered a possible military integration in the region, analyzing the actions

which are currently going on that could contribute to this integration.

Keywords: Scenario International, Regionalization, Cooperation Brazil-

Argentina in MERCOSUL.

Page 9: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 10 2 CENÁRIO INTERNACIONAL .................................................................... 11 3 REGIONALIZAÇÃO ................................................................................... 16 4 O MERCOSUL E OS ACORDOS ............................................................. 22 4.1 CONCEITO ................................................................................................ 22 4.2 ACORDOS ................................................................................................ 26 5 SÍNTESE DA INTEGRAÇÃO ENTRE BRASIL E ARGENTINA ............... 28 5.1 PRINCIPAIS INTERESSES COINCIDENTES ........................................... 35 5.2 PRICIPAIS DISCREPÂNCIAS ................................................................... 36 6 ESTRATÉGIAS DO MERCOSUL NOS CEN ÁRIOS AMERICANO

EUROPEU ................................................................................................. 39 6.1 PERSPECITVAS ....................................................................................... 39 6.2 O MERCOSUL NA AMÉRICA DO SUL ..................................................... 40 6.3 O MERCOSUL E A ALCA ......................................................................... 43 6.4 O MERCOSUL E A UNIÃO EUROPÉIA .................................................... 45 7 POSSIBILIDADES DE INTEGRAÇÃO MILITAR REGIONAL .................. 49 8 CONCLUSÃO ........................................................................................... 52 REFERÊNCIAS .......................................................................................... 56 APENDICE A – GLOSSÁRIO DE CONCEITOS ........................................ 59 APENDICE B – DEFINIÇÕES IMPORTANTES ......................................... 60

ANEXO A – ÁREA E POLULAÇÃO DOS ESTADOS NTEGRANTES DO MERCOSUL ..................................................................... 62

ANEXO B – PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB) DOS ESTADOS

INTEGRANTES DO MERCOSUL .......................................... 64 ANEXO C – RELAÇÃO COMERCIAL ENTRE BRASIL E O

MERCOSUL ........................................................................... 65

Page 10: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ALAD I Associação Latino-Americana de Integração

ALALC Associação Latino-Americana de Livre Comércio

ALCA Área de Livre Comércio das Américas

ALCSA Área de Livre Comércio da América do Sul

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

C&T Ciência e Tecnologia

CNC Comitê de Negociações Comerciais

CAN Comunidade Andina

CAF Cooperação Andina de Fomento

DEA Drug Enforcement Administration

EUA Estados Unidos da América

FEDER Fundo Europeu de Desenvolvimento Social

FFAA Forças Armadas

FSE Fundo Social Europeu

FOCEM Fundo para Convergência Estrutural do Mercosul

GATT General Agreement on Tariffs and Trade

MINUSTAH Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti

MCCP Mecanismo de Consulta e Concertação Política

MD Ministério da Defesa

MDIC Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio

Exterior

NAFTA North America Free Trade Agreement

OMC Organização Mundial do Comércio

ONG Organizações não Governamentais

ONU Organização das Nações Unidas

OTAN Organização do Tratado do Atlântico Norte

P&D Planeamento e Desenvolvimento

PICAB Programa de Cooperação e Integração entre Argentina e

Brasil

PNID Política Nacional de Indústria de Defesa

UE União Européia

URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

UNASUL União das Nações Sul Americanas

UNHCHR United Nations High Commissioner for Human Rights

USD United States Dollar

USTR United States Trade Representative

Page 11: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

11 1 INTRODUÇÃO

Este trabalho tem o propósito de apresentar leitura abrangente sobre

tema atual e de grande relevância para todos os brasileiros: o desenvolvimento

nacional e regional, associado a uma melhor distribuição de renda, que deve

ser uma preocupação de todos os brasileiros.

O autor já teve oportunidade de pesquisar e escrever sobre o assunto

em diversas ocasiões, em cursos realizados na Marinha do Brasil, no meio

universitário e até mesmo no exterior, no Curso de Promoção a Oficial General,

realizado em Lisboa, Portugal.

O cenário internacional atual apresenta uma grande competição, a nível

mundial, entre as grandes potências pela conquista de novos mercados. Tal

situação se reflete nas estratégias adotadas pelas políticas exteriores desses

atores para alcançar e garantir seus interesses, o que pode ser percebido pela

crescente busca na formação de blocos comerciais regionais, que conferem,

obviamente, maior importância e prestígio político internacional aos principais

Estados envolvidos.

Pode-se considerar em termos políticos e estratégicos a Argentina e o

Brasil como os principais atores integrantes do Mercado Comum do Sul

(MERCOSUL)2, sendo, desta forma, para efeitos acadêmicos, os dois Estados

que serão estudados com maior profundidade neste trabalho.

Antes do comprometimento com o MERCOSUL, ambos Estados

estavam condicionados a alinhamentos automáticos com os principais atores

internacionais3, resultando quase sempre em algum tipo de prejuízo financeiro

e, consequentemente, político. Recentemente, percebe-se uma alteração neste

modelo, devido ao estabelecimento da iniciativa de cooperação iniciada por

ambos os Estados.

Este estudo buscará, ao longo de seu desenvolvimento, responder ao

problema formulado no projeto inicial deste trabalho, qual seja: “Em que

medida é importante manter-se a estratégia de cooperação entre Argentina e

Brasil no MERCOSUL, para fazer frente à nova ordem mundial? Da mesma

forma, visa

2 MERCOSUL – Essa denominação foi definida nas revisões efetuadas pelo embaixador brasileiro Celso Amorim. Inicialmente o significado seria Mercado Comum do Cone Sul, mas ele solicitou a retirada da palavra “Cone”, porque a opinião pública da região Nordeste brasileira poderia interpretar que este seria um Tratado voltado especificamente para a região Sul do país (PEÑA, 2006). 2 No século XIX esse ator era a Grã-Bretanha, no século XX se alinharam com os EUA.

Page 12: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

12 confirmar ou não, a hipótese apresentada; qual seja: A cooperação estratégica

entre Argentina e Brasil é importante para o fortalecimento do MERCOSUL, e o

consequente desenvolvimento de ambos os Estados.

Para efeitos de desenvolvimento do presente trabalho, inicialmente será

descrito o cenário internacional e regional da atualidade, posteriormente como

se iniciou o processo de integração entre os dois Estados com maior projeção

no bloco: Argentina e Brasil, e os principais acordos realizados pelos Estados

durante o processo inicial.

Em continuação, se efetuará uma análise dos diversos interesses

identificados como coincidentes na relação bilateral, e em que grau estão

sendo atendidos no processo de desenvolvimento do bloco regional. Logo

após, serão analisadas as principais discrepâncias na relação entre Argentina e

Brasil, indicando possíveis ações para resolver os problemas surgidos.

Posteriormente, se delineará a estratégia básica do bloco regional no

cenário internacional, em especial quanto aos seguintes cenários:

- O MERCOSUL na América do Sul;

- O MERCOSUL e a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA); e

- O MERCOSUL e a União Européia (UE)

Por último, mas não menos importante, será analisada a possibilidade

de se realizar uma integração entre o Poder Militar dos Estados membros do

bloco.

A metodologia aplicada foi a de pesquisa descritiva, com uma

abordagem qualitativa por meio da exploração de uma diversificada bibliografia

(livros, artigos, periódicos, legislação disponível e “sites” da Internet

relacionados ao assunto). O método científico empregado foi o dedutivo.

Naturalmente este trabalho não tem a pretensão de esgotar o tema,

demasiado amplo, complexo e cheio de alternancias. A proposta é proporcionar

ao leitor uma análise objetiva da cooperação entre os membros do bloco,

enfatizando Argentina e Brasil.

2 O CENÁRIO INTERNACIONAL

Nosso planeta possui muitas incertezas na atualidade. No velho mundo

bipolar, duas potências: Estados Unidos da América (EUA) e a ex-União das

Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) se enfrentaram pela hegemonia,

valendo-se

Page 13: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

13 de todos os recursos políticos e econômicos, buscando uma derrotar a outra

(“NYE”, 2002, não paginado).

Na época da bipolaridade, as opções disponíveis para os países mais

frágeis, que possuíam menos poder Militar e econômico, eram três:

- alinhar-se automaticamente com os EUA e o mundo ocidental

capitalista, receber apoio econômico e militar e, em contrapartida,

comprometer-se a combater o comunismo em toda a sua amplitude;

- alinhar-se ao comunismo, implantando-o como sistema econômico e

social, receber alguma forma de ajuda material e principalmente ajuda

militar, “satelizar-se” e responder aos interesses soviéticos no cenário

internacional;

- integrar-se ao grupo dos não-alinhados e sofrer as conseqüências do

isolamento que naturalmente ocorreria.

Em 1989 houve a queda do muro de Berlim e, consequentemente, a

reunificação da Alemanha. Assim como sua existência simbolizou a divisão do

mundo entre as superpotências, sua queda simbolizou o fim da Guerra Fria4.

Os EUA emergem desse período como o grande vencedor da competição pela

hegemonia mundial, a economia de mercado triunfa frente à economia

centralizada, e a URSS acaba se fragmentando em diversos Estados,

retornando a uma configuração geográfica anterior. O paradigma do modelo

democrático-liberal-capitalista parece ser o que mais se assemelha aos ideais

da humanidade nos tempos atuais, e passa a ser adotado pela maioria dos

Estados.

A partir deste período, identifica-se um cenário internacional multipolar

sob o ponto de vista econômico, onde existem diversos atores importantes,

principalmente com o surgimento dos blocos regionais, realizando a cada dia,

uma busca feroz por novos mercados. No entanto, no campo militar, ficou

estabelecido a unipolaridade dos EUA, com um poderio militar infinitamente

superior a qualquer Estado, ou mesmo perante aos blocos regionais existentes

na atualidade. O cenário internacional passa então a ser uni-multipolar.

Os grandes avanços tecnológicos, principalmente no campo da

informática e das telecomunicações, componentes essenciais à tecnologia de

informação, estão provocando profundas transformações nas relações

internacionais, mediante uma ampla integração dos sistemas financeiros, assim

4 Guerra Fria – Período em que o mundo vivia a ameaça do conflito nuclear, onde as duas grandes potências, EUA e URSS, dividiam o mundo em Comunismo e Capitalismo.

Page 14: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

14 como na produção e no intercâmbio de mercadorias e serviços. Estes avanços

tecnológicos são, também, capazes de transmitir quase que instantaneamente,

a diversas regiões do mundo, tanto os êxitos econômicos iniciais dos países

que se converteram ao capitalismo, como também todas as suas deficiências,

como o aumento do desnível social existente, produzindo uma difusão do

paradigma ocidental, mesmo nas economias mais fechadas como a da China.

Desse modo, podemos chegar à conclusão que o fenômeno da globalização5,

um dos mais espetaculares fenômenos que o final do século XX pôde

presenciar, está diretamente associado a duas causas principais:

- o relativo êxito do modelo liberal-democrático-capitalista, e

- à evolução tecnológica, que torna possível a distribuição do

conhecimento aos locais mais distantes do mundo, difundindo o modelo

vencedor como se fosse um vírus, que nenhum regime político, por mais

fechado que seja, pode tornar-se isento de sua influência.

O desenvolvimento tecnológico é virtualmente tão antigo quanto a

história humana. A novidade é que agora as redes são mais complexas,

incluindo pessoas de diversas classes sociais e regiões distantes. A antiga rota

da seda, que ligava a Europa à Ásia, era um exemplo de globalização

“rarefeita”, que envolvia pequenas quantidades de artigos de luxo para uma

quantidade restrita de clientes. No século XIX houve uma globalização

econômica extraordinária, ocorreu um intercâmbio grande entre as diversas

regiões, gerando a interdependência entre os Estados.

A globalização atual é mais densa e mais rápida, ela modifica as regras

do jogo competitivo entre os Estados, boa parte dessa diferença está

relacionada à revolução da informação. Como argumenta Thomas Friedman, a

globalização contemporânea avança “mais e mais depressa, é mais barata e

mais profunda” 6.

O fim da Guerra Fria iniciou uma nova fase na globalização militar,

tornando-a mais complexa. As disputas antes existentes entre as grandes

potências perderam relevância no equilíbrio de poder. Porém, nos últimos

anos, a importância dada à globalização social aumentou, introduzindo novas

dimensões ao globalismo militar, dando maior ênfase à intervenção humanitária

e ao terrorismo.

5 Globalização - É um fenômeno social que ocorre em escala global. Esse processo consiste em uma integração em caráter econômico, social, cultural e político entre diferentes países (www.brasilescola.com). 6 Friedman, T. The Lexus and The Understanding Globalization. New York: Farrar, Straus and Giroux, 1999. p-7-8.

Page 15: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

15

As questões humanitárias potencializadas com as comunicações

globais, criaram um ambiente de forte pressão na opinião pública mundial e,

principalmente, nas das grandes potências, impondo, de certa forma, algum

tipo de intervenção militar em diversos locais do mundo, como Somália, Bósnia

e Kosovo”(NYE, 2002, p.149).

A opção, nos dias atuais, para a implementação do terrorismo como

arma letal está em pleno andamento, haja vista o ocorrido no território norte-

americano no ataque as “Torres Gêmeas”, no dia 11 de setembro de 2001, e

outros ocorridos em diversas partes do mundo.

Não podemos esquecer que todo esse processo de ataques terroristas,

pelo menos até o presente momento, tem afetado muito mais os Estados

importantes no cenário internacional, com maior poder de influência e decisão

nos destinos da humanidade, que os Estados subdesenvolvidos ou em

desenvolvimento7. No atual cenário, estes últimos estão muito mais

preocupados com seu desenvolvimento econômico e social, que são as

necessidades mais carentes e urgentes de suas sociedades.

É impressionante a grande desigualdade e a distribuição assimétrica dos

benefícios que o processo de globalização está trazendo para os indivíduos de

cada Estado, ou mesmo entre os Estados. Pode-se citar como exemplo o fato

de que em 1998, os três bilionários mais ricos do mundo, acumulavam uma

riqueza em ativos maior do que a renda de seiscentos milhões de habitantes de

Estados menos desenvolvidos ao redor do planeta (NYE, 2002, p.171). Após a

Guerra Fria embarcamos no neoliberalismo, o que veio agravar as diferenças

entre os Estados da periferia.

Nos dias atuais, os aspectos econômicos das relações internacionais

adquirem relevância significativa, influenciando nos aspectos políticos e

militares. Esse processo possui algumas características principais, as quais

serão tratadas a seguir.

A primeira delas é a distribuição geográfica dos mercados, como

consequência da saturação dos mercados dos países mais ricos e o

7.Estados Subdesenvolvidos são aqueles que não permitem que todos os cidadãos desfrutem de uma vida livre e saudável em ambiente seguro. Os em desenvolvimento seriam aqueles que possuem um índice de desenvolvimento humano (IDH) médio para alto, possuem uma base industrial em desenvolvimento. Não existe uma convenção que estabeleça esta diferença, tornando-se a definição subjetiva (Kofi Annan, antigo secretário Geral da Nações Unidas, wiquipedia, 2011).

Page 16: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

16 fortalecimento dos mercados dos países emergentes8, entre os quais podemos

incluir os países do MERCOSUL, que pretende ser um importante pólo de

consumo e produção.

Outra característica importante do cenário internacional é que

atualmente os atores fundamentais - os governos – já não são os

representantes exclusivos dos Estados-Nação, sendo que as empresas

transnacionais e as Organizações Não Governamentais (ONG), possuem um

papel cada vez mais relevante.

As empresas transnacionais, por sua natureza, têm exercido papel

significativo no processo de globalização. No entanto, ainda que atuem em

várias regiões do mundo, estas empresas continuam tendo sede em um

determinado Estado, com o qual jamais deixarão de ter um vínculo e estarão

sempre identificadas e, seguramente, terão compromissos de ordem política e

institucional com suas classes dirigentes. Na última crise mundial, ocorrida em

2008, as empresas norte-americanas, com problemas financeiros, requisitaram

ajuda de suas filiais aqui no Brasil, esse é um bom exemplo das vinculações

nas empresas transnacionais.

Quanto às ONG, essas normalmente elaboram trabalhos mais voltados

para as áreas ecológicas ou humanitárias, o que lhes garante uma capacidade

de projeção e penetração em quase todos os Estados do mundo, com uma

fluidez tal, que dão a impressão de que para elas não existe soberania9. Não

chegam a ter o mesmo poder das empresas transnacionais no cenário

internacional, mas podem influenciar nos assuntos internos dos Estados,

trazendo como conseqüência até mesmo algum problema de caráter

internacional.

A nova ordem mundial, pós guerra fria, apresentou os EUA, Japão e

União Européia como os novos grande atores no cenário internacional, mas a

partir de 2008, houve um enfraquecimento dos Estados componentes do G-810,

8 Países Emergentes – são aqueles países em desenvolvimento, que possuem um IDH entre médio e elevado, os níveis de desenvolvimento econômico e social estão melhorando, fazendo com que o país comece a ganhar prestígio no cenário internacional 9 Soberania é o poder político, de que dispõe o Estado, de exercer o comando e o controle, sem submissão

aos interesses de outro Estado (Houaiss, 1994, p.232). 10 G-8 : composto dos 7 países mais desenvolvidos e industrializados do mundo mais a Rússia. Os integrantes são os seguintes: EUA, França, Alemanha, Reino Unido, Japão, Canadá, Itália e Rússia.

Page 17: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

17 surgindo os BRICS11 como agentes importantes e de relevância na atualidade

em todas as decisões no cenário internacional.

Pode-se concluir, portanto, que vivemos em um mundo repleto de

incertezas, em um cenário que podemos chamar de uni-multipolar, que a

globalização trouxe benefícios e alguns problemas. E que atualmente, os

aspectos econômicos das relações internacionais adquiriram grande

importância, influenciando os aspectos políticos e militares dos Estados.

Os governos dos Estados nesse cenário acabam tendo uma atuação

muito mais limitada, à medida que estão em jogo grandes quantidades de

fatores, que se configuram como uma complexa trama de interesses, tanto

nacionais como internacionais, onde eles têm de conduzir sua política interna e

externa de modo coordenado e coerente. Este, com certeza, é o grande

desafio do Estado-Nação moderno.

3 REGIONALIZAÇÃO

Os processos de globalização e regionalização dos Estados estão

vinculados de forma contraditória, já que em princípio seriam conceitualmente

opostos, mas como veremos a seguir, estão de algum modo associados.

O início da década de 90 alterou profundamente o cenário internacional,

houve a unificação alemã, fracionamento da URSS, ampliação e

aprofundamento da União Européia, e a democratização na América Latina,

fatores que, de certa maneira, facilitaram o processo de regionalização nos

diversos continentes.

Atualmente, as grandes disputas se dão na competição por novos

mercados, que possam sustentar altos níveis de produção, procurando

aumentar sempre o consumo, e que possam manter e, se possível, aumentar

as taxas de ocupação de trabalho. Nessa luta, as nações desenvolvidas

apregoam a abertura econômica como o melhor caminho para o

desenvolvimento dos países, porém, em contrapartida, fecham seus próprios

mercados, mediante à aplicação de tarifas alfandegárias. Alguns produtos

brasileiros ingressam ao mercado norte-americano com tarifas de cerca de

100%, como forma de compensação às práticas subsidiárias, supostamente

aplicadas pelo governo brasileiro que, desta forma, estaria contrariando os

11 BRICS – Grupo composto dos seguintes Estados: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Page 18: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

18 princípios do livre comércio mundial. Não se deve esquecer que os Estados

sempre estarão buscando priorizar seus interesses.

O que se procura demonstrar com os fatos aqui expostos não é

contrário à globalização, que com certeza, na opinião do autor é um processo

natural de evolução da civilização. No entanto, os acontecimentos demonstram

que na prática, a globalização não implica na eliminação das barreiras que

dividem o mundo em nações desenvolvidas, emergentes, em desenvolvimento

e subdesenvolvidas. Pode inclusive parecer ser um processo de

“neocolonialismo”, já que tenderia a facilitar a exploração da mão-de-obra mais

barata disponível nos Estados ainda não desenvolvidos da Ásia, África e

América Latina, como na realidade vem ocorrendo.

Por outro lado, esse mesmo processo de globalização é o que permite a

geração de novos postos de trabalho nos Estados ainda em desenvolvimento,

em um ritmo que não seria alcançado exclusivamente pelo crescimento

espontâneo da economia destes países, no caso de um hipotético cenário de

protecionismo e isolamento econômico.

A política externa brasileira possui um posicionamento globalizado,

procura incentivar o regionalismo, mas também proclamou a “intenção de

contribuir para a democratização das relações internacionais e estimular os

incipientes elementos de multipolaridade da vida internacional contemporânea”

(RIBAS, 2006, p.32). Para isto, procura manter fortes vínculos bilaterais tanto

com os Estados desenvolvidos como com outros Estados em desenvolvimento,

de maior expressão geopolítica e econômica.

Desta forma, pode-se dizer que a postura da política externa brasileira

se alterou, fazendo com que deixasse de apresentar o Brasil apenas como

membro ativo do grupo de Estados em desenvolvimento, para assumir uma

posição de potência emergente12, buscando uma posição de maior relevância

no cenário internacional. Também percebeu que outra maneira de se inserir

nesse cenário globalizado, ocupando uma posição de destaque, seria

incentivando o processo de regionalização.

Os processos de integração regional normalmente são conduzidos de

forma lenta e gradual, para que cada Estado-Membro possa adaptar-se à nova

realidade do mercado regionalizado, proporcionando-lhe a possibilidade de

12 A expressão “potência emergente” é usada neste trabalho para descrever a situação daqueles Estados

em desenvolvimento cuja política aspira não apenas ao próprio progresso econômico, mas também, especificamente, a uma ampliação da sua projeção externa.

Page 19: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

19 preparar-se para os desafios da competição regional, uma oportunidade que de

nenhuma maneira se daria no processo espontâneo e incontrolável da

globalização. A integração regional inicia-se normalmente com um processo

econômico-comercial, para no futuro, chegar-se a um processo de integração

política mais consistente.

Devido às diversas experiências já implementadas ao longo do tempo,

ficou demonstrado que em processos de integração regional, eles ocorrem por

meio de alguns padrões, que podem seguir ou não as sucessivas fases para

uma integração, a saber: zona de preferência tarifária; zona de livre comércio;

união aduaneira; mercado comum e união econômica (Apêndice B). O

MERCOSUL, no momento, ainda é um projeto de construção de um Mercado

Comum, cuja execução encontra-se na fase de união aduaneira parcial13.

É importante sinalizar que, a partir da década de 80, o fenômeno da

integração passou a despertar o interesse das comunidades política e

acadêmica. Isto ocorreu pelo fato de o regionalismo econômico ter-se

constituído em elemento fundamental das estratégias políticas e econômicas

das grandes potências, principalmente dos EUA, que abandonaram sua

posição de não participar de esquemas preferenciais de alcance regional,

convertendo-se em propositores e protagonistas de uma série de acordos em

bases regionais.

Percebendo que estava ocorrendo uma mudança no cenário

internacional, os países em desenvolvimento também passaram a direcionar

suas estratégias para a inserção internacional por meio de uma integração

regional. Neste aspecto, a América Latina tentou revigorar o Mercado Comum

Centro Americano, a Comunidade Andina, entre outros, até chegar-se a criação

do MERCOSUL. (Apêndice B)

O acordo de integração para a formação do MERCOSUL tinha objetivos

bastante ambiciosos, ele nasceu no meio de dois processos fundamentais:

- o surgimento do regionalismo como modo de liberação e inserção

internacional e,

- a alteração na velocidade de crescimento dos países da região em

relação ao mundo.

13 O Tratado de Assunção previa a formação de um Mercado Comum em 1994, por meio de eliminação

de barreiras e da formação de uma tarifa externa comum (o que corresponderia na prática a uma união aduaneira), mas teve esse prazo prorrogado (SARAIVA, 1999, p.168).

Page 20: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

20

O Brasil surge no início do século XXI, dentre os Estados emergentes,

como um dos mais sólidos e promissores devidos aos seguintes aspectos: sua

vasta extensão territorial (8,5 milhões de km2); sua homogeneidade cultural

veiculada por uma cultura e língua comum, uma população jovem, de idade

ativa e a buscar qualificação profissional. Dessa forma, o Brasil torna-se um

pólo centralizador e de vital importância para uma integração regional exitosa

(SOUZA, 2002, p.61).

Outro fator preponderante é que, nos últimos anos, a política externa

brasileira vem priorizando o Continente Sul-americano. Depois de longo tempo

alinhado aos EUA e às potências européias, o Itamaraty14 procura dar ênfase

ao processo de regionalização, priorizando o fortalecimento dos blocos

econômicos e foros políticos regionais. Esta postura tem o propósito de unificar

os discursos da região, como também dar maior peso político à América do

Sul, nas decisões de alcance global (RIBAS, 2006, p.33).

Importante ressaltar no processo de integração regional, no caso

específico do MERCOSUL, a relevância dada à chamada “cláusula

democrática”, institucionalizada pelo protocolo de Ushuaia (1998)15 sobre o

Compromisso Democrático do MERCOSUL16. O bloco, desta forma, tornou-se

garantia relevante da consolidação dos regimes democráticos na região. Nas

crises ocorridas em 1996 e 1999 no Paraguai, a atuação conjunta dos Estados-

Membros do referido bloco foi elemento importante para assegurar a

manutenção da integridade das instituições democráticas naquele país vizinho.

De acordo com o professor do Instituto de Relações Internacionais da

Universidade de São Paulo, Tullo Vigevani, “A constatação de que o Brasil,

para exercer uma influência político-econômica regional e até global, teria de

construir um sistema de alianças políticas e pactos econômicos só viria a

ganhar uma dimensão definitiva nos dois mandatos de Fernando Henrique

Cardoso e, depois, se intensificaria na gestão do presidente Lula” (RIBAS,

2006, p.42). Ele inclusive relata que considera que as duas principais ações

políticas brasileiras que ilustram esta sua assertiva, e que procuram consolidar

a liderança nacional no continente, são, inegavelmente, o processo de

14 Órgão responsável pela condução da política externa brasileira. 15 O Protocolo de Ushuaia, de 1998, trata do compromisso democrático do MERCOSUL, mais os Estados da Bolívia e Chile . 16 Art.1º - “A plena vigência das instituições democráticas é condição essencial para o desenvolvimento dos processos de integração entre os Estados-Partes do presente Protocolo.

Page 21: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

21 formação da Comunidade Sul-Americana das Nações (CASA),17 que tem a

chancela (total apoio) do Itamaraty; e a ação das Forças Armadas (FFAA)

brasileiras no Haiti.

O Brasil persegue a longo tempo exercer uma liderança natural no

continente. Neste aspecto, o país gostaria de tornar-se o “porta voz” da região.

As ações anteriormente descritas sem dúvida, contribuem para que o Brasil

passe a ser visto internacionalmente como um país atuante e com interesse no

bem-estar dos Estados, podendo, desta forma, aumentar sua relevância

diplomática no cenário internacional.

Diversos observadores têm comentado que o Brasil está procurando

exercer sua liderança financiando projetos em diversos países do continente,

pode-se citar:

- gasoduto do Sul, obra que pretende unir os mercados consumidores

e produtores de gás natural da região;

- rodovia Acre-Pacífico, que atravessará o Peru; e

- diversas obras de empresas nacionais que estão realizando trabalhos

de infra-estruturas nos diversos países do continente, muitas financiadas pelo

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES).

Embora um pouco mais enfraquecidos politicamente pela falta de

investimentos na região, e pela agressiva política externa norte-americana

empregada na Guerra do Iraque e no combate ao terrorismo, os EUA, mesmo

assim, têm procurado interceder na área, realizando acordos bilaterais com

Estados da região, como Chile e Uruguai, tentando justamente enfraquecer o

processo de integração regional (entenda-se o MERCOSUL), com o propósito

de não perder influência política no cenário sul-americano.

A integração entre os Estados da região está sendo implementada de

forma lenta e gradual. No dia 07 de maio de 2007, ocorreu, em Montevidéu, a

instalação do Parlamento do MERCOSUL. Trata-se de um importante passo no

sentido de se atribuir uma estrutura política ao processo de integração, e assim

possa se chegar à implementação de uma verdadeira União Aduaneira, como

uma etapa para concepção de um MERCOSUL que todos os integrantes

idealizam. Este Parlamento tem inicialmente 72 membros dos Parlamentos

17 Grupo criado oficialmente em dezembro de 2004 com o objetivo de ampliar o diálogo político e promover a integração econômica, comercial e de infra-estrutura da região. Passou a se chamar União de Nações Sul-Americanas (UNASUL), em fevereiro de 2008.

Page 22: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

22 nacionais, sendo 18 de cada Estado. No caso do Brasil, foram 09 Senadores e

09 Deputados Indicados pelo Congresso Nacional, fato ocorrido em 2010.

Está previsto modificação na estrutura deste Parlamento em 2014,

quando os membros serão eleitos especificamente por suas respectivas

populações em eleições locais, devendo também ocorrer uma adequação no

número de parlamentares, em busca de uma melhor proporcionalidade em

relação às respectivas populações.

Em entrevista concedida ao Jornal “O Globo”, o então chanceler Celso

Amorim saiu em defesa do MERCOSUL, segundo ele: “nem todos querem

integrá-lo, mas isso não é conflitivo com a integração. Hoje quem não é

membro pleno do MERCOSUL é membro associado, com apenas duas

exceções: Guiana e Suriname. A divergência é quanto à velocidade da

integração”. Para o presidente da Venezuela (Hugo Chávez) se deveria

acelerar o processo, para o Chile ao contrário, se deveria retardar o processo.

O Brasil encontra-se em uma posição intermediária, desejando uma integração

lenta, gradual, mas o mais sólida possível18. Para que se possa ter uma idéia

de como o processo de integração é moroso, na União Européia, que iniciou

um processo semelhante na década de 50, o Parlamento comum só foi

estabelecido em 1979.

O MERCOSUL já obteve diversos resultados positivos, seguem abaixo

os mais destacados:

- A criação de um ambiente apropriado para uma visão estratégica

comum, centrada no predomínio da lógica de integração frente à

fragmentação nas relações entre as nações da região, refletindo

especialmente no conceito de “Zona de Paz”;

- A afirmação dos valores da democracia, o desenvolvimento econômico

e a coesão social na região;

- Maior conectividade entre os sócios, tanto no plano econômico,

comercial, como no político, social, cultural, educativo, acadêmico e

militar (como, por exemplo, pelo aumento da quantidade de exercícios e

intercâmbio entre as Escolas Militares dos diversos Estados);

Por outro lado, também, se podem destacar alguns pontos que ainda

estão insuficientes, necessitando de uma melhor atenção dos governantes,

para que se logre obter um melhor desempenho. Estão relacionados a seguir

os principais pontos identificados: 18 Matéria publicada no jornal O Globo, dia 06/05/2007, pág. 2, coluna Tereza Cruvinel.

Page 23: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

23

- A ausência de uma metodologia eficaz para harmonizar interesses

nacionais entre nações de dimensões e graus de desenvolvimentos

diferenciados, e para gestão de conflitos, originados no próprio processo

de integração;

- A elaboração de enfoques e estratégias efetivamente compartidas de

integração econômica e política; e

- A efetividade das regras estabelecidas, isto é, assegurar que entre em

vigor o que foi acordado, inclusive que passe a vigorar nas legislações

internas de cada Estado.

Em dezembro de 2007 foi assinada a ata de fundação do Banco do Sul,

entre Argentina, Bolívia, Brasil, Equador, Paraguai, Uruguai e Venezuela. A

criação deste banco foi o marco de uma importante vontade entre os países do

Cone Sul de realmente efetuarem uma integração mais sólida. No momento,

este processo está na fase inicial, mas ele deverá ser lento e gradual, para que

essa entidade venha a ter um bom lastro e uma boa capacidade técnica e

administrativa. Outro fato relevante é que todos os Estados-Membros terão o

mesmo peso nas decisões, para que não ocorra o que hoje acontece no Fundo

Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e o Banco Interamericano de

Defesa, onde os interesses dos EUA acabam prevalecendo.

Fica evidenciada a importância do processo de regionalização, que está

de certa forma relacionada com a globalização. Como no mundo moderno as

grandes disputas se dão pela busca de novos mercados, a partir da década de

80, os Estados em desenvolvimento passaram a direcionar suas estratégias

neste sentido.

Os processos de integração regional devem ser conduzidos de forma

lenta e gradual, para que os Estados membros possam realizar as adaptações

necessárias.

O Brasil surge no início do século XXI como um dos Estados

emergentes mais promissores, busca a longo tempo exercer uma liderança no

continente, e para isso é importante continuar priorizando a integração da

região, construindo instituições regionais fortes como a UNASUL e o

MERCOSUL, como também, deve procurar fortalecer a democracia em toda a

América do Sul. Dessa forma, certamente, um dia poder-se-a construir um

processo de integração aos moldes do interesse de cada participante.

Page 24: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

24 4 MERCOSUL E OS ACORDOS

Durante o processo de negociação que conduziu à criação do

MERCOSUL, houve o estabelecimento de todo um arcabouço institucional, do

regime de livre comércio e da união aduaneira, mostrando toda a disposição

dos governos de realizarem uma aproximação no campo político, econômico e

estratégico. Veremos neste capítulo todo o processo até chegar-se ao modelo

de bloco existente nos dias atuais.

4.1 Conceito :

Após diversas tentativas de integração regional, congregando todos os

Estados da América do Sul por pelo menos três décadas sob a forma de

associações de livre comércio, como, por exemplo, a Associação Latino

Americana de Livre Comércio (ALALC) e a Associação Latino-Americana de

Integração (ALADI), esses processos culminaram com a idéia de criação do

MERCOSUL.

Em meados da década de 80, os governos da Argentina e Brasil

aproveitando o marco institucional da Associação Latino-americana de

Integração, que tinha como objetivo formal, constituir um mercado comum

latino-americano, iniciam a etapa de um processo de integração bilateral, que

constitui o precedente mais próximo do que viria a ser o MERCOSUL. Em

grande parte, este processo pode ser atribuído como resposta à inoperância

das diversas tentativas realizadas até aquela época, no sentido de uma

integração regional.

O MERCOSUL deveria nascer com um forte sentido político e

estratégico, estando relacionado ao restabelecimento da democracia em

ambos os países e com a necessidade de reverter certa tendência à

confrontação que se havia manifestado de forma recorrente através da história.

Seria também multidimensional, atendendo a diversos aspectos, como político,

comercial, social, e outros. Deve-se ressaltar que o bloco nasce sob três bases

principais: Jurídica, política e econômica.

• a base jurídica está vinculada à ALADI, sob a forma de um Acordo de

Complementação Econômica entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai,

obedecendo a todos os princípios e normas daquela Associação;

• a base política sustenta-se na cláusula democrática, acordada pelos

seus altos mandatários desde o Tratado de Assunção e consolidada pelo

Page 25: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

25 Protocolo de Ushuaia, de 24 de julho de 1998, sobre compromisso democrático

no MERCOSUL - com a qual também concordaram Bolívia e Chile, países que

detêm a condição de associados ao bloco, e no compromisso de criar e

estimular um processo de integração regional Sul-americana, como veremos a

seguir;

• a base econômica configura-se na crescente diversidade e capacidade

produtiva das quatro economias, e no grande incremento das trocas comerciais

entre seus Países Membros, no período de sua vigência.

Este processo tem início em 1985, com a assinatura da Ata de Iguaçu,

logo seguido pelo Programa de Cooperação e Integração entre Argentina e

Brasil (PICAB) de 1986.

Em 1988 se assina o Tratado de Cooperação e Integração entre

Argentina e Brasil, que foi ratificado em 1989 e ainda encontra-se em vigor. O

objetivo definido deste instrumento bilateral foi integrar um “espaço econômico

comum”.

O tratado bilateral era somente um marco, que não incluía

compromissos jurídicos imediatos de abertura de mercados. Pode ser

considerado como uma etapa importante do processo de integração que estava

tendo início. No aspecto político, pode-se considerar que marcou a vontade de

ter-se uma orientação estratégica conjunta, que viria a ser retomada com o

MERCOSUL.

Em 6 de junho de 1990, Argentina e Brasil assinaram a Ata de Buenos

Aires, fixando a data de 31/12/1994 para a formação de um Mercado Comum

entre os dois países. Em setembro de 1990, Paraguai e Uruguai são

convidados para se incorporarem ao processo de integração. Nesta mesma

ocasião, foram criados diversos subgrupos de trabalho (assuntos comerciais,

assuntos aduaneiros, normas técnicas, políticas industriais, transportes

marítimos, transportes terrestres, políticas agrícolas e energia), os mesmos que

viriam, no futuro, a serem incorporados como secretarias ao MERCOSUL. A

partir de então, os quatro países dedicaram-se à preparação do texto do

tratado, o que foi efetuado ao longo de seis reuniões subsequentes. Os

parâmetros fundamentais eram os seguintes:

- Estabelecer um instrumento jurídico que contemplasse a criação de um

mercado comum;

- o acordo teria por objetivo estabelecer um mercado comum em 31 de

dezembro de 1994; e

Page 26: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

26

- o acordo refletiria o disposto na Ata de Buenos Aires quanto à

harmonização de políticas macroeconômicas, ao cronograma de

redução tarifária automático e linear, às condições para redução das

listas de exceção e à fixação de regras específicas de origem, onde

Argentina e Brasil salvaguardavam os compromissos nos termos em que

haviam sido originalmente definidos e assumidos bilateralmente. (VAZ,

2002, p.48)

Como conseqüência é firmado o Tratado de Assunção, assinado em 26

de março de 1991, que pautou as condições para dar início ao processo rumo

ao mercado comum entre os quatro Estados, a partir do Programa de

Liberação Comercial progressivo, linear e automático, de eliminação de

barreiras não-tarifárias ao comércio, dos compromissos de avançar na

coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais, de projetar uma tarifa

externa comum, que entraria em vigor a partir de 01 de janeiro de 1995, e da

harmonização das legislações nacionais em diversos tópicos ligados a

facilitação dos negócios e a livre circulação de bens e fatores produtivos

(normas técnicas, requisitos ambientais, normas fitossanitárias etc).

Este período compreendido entre o Tratado de Assunção e o Protocolo

de Ouro Preto foi repleto de percalços, ocorreram diversos conflitos de

interesses no âmbito político e econômico, tendo que haver um constante

manejo, com o propósito de reduzir as assimetrias existentes. Os

compromissos assumidos no Tratado de Assunção em matéria de coordenação

de políticas macroeconômicas e setoriais – que a partir de 1992 se refletiram

numa agenda bem desmembrada e pautada, graças ao Cronograma de Las

Leñas19 – tentaram harmonizar de alguma forma as diferentes legislações

vigentes em matéria de política comercial, agrícola, tributária, alfandegária,

trabalhista, macroeconômica, etc.

O Brasil procurava salvaguardar o sentido estratégico que o bloco viria a

lhe conferir, como mecanismo de reforço e consolidação de sua abertura

econômica, e também, como importante plataforma de sua inserção

internacional. Já a Argentina, tinha um interesse imediato de resguardar sua

liberdade para manejar seus instrumentos de política comercial, era uma

19 Reunião realizada em meados de 1992, quando havia grande incerteza em relação à continuidade do presidente Collor, e num panorama regional onde havia um forte déficit comercial entre Argentina e Brasil.

Page 27: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

27 tentativa de preservar a essência de seu plano de estabilidade econômica, que

na época, era baseado na convertibilidade do peso ao dólar.

No início de 1994, em Colônia, no Uruguai, foi reafirmado o objetivo de

implantar a união aduaneira, ficando a construção do mercado comum para

uma etapa futura indefinida. Foram fixados, também, um calendário e uma

agenda de negociação, com “requisitos mínimos” e “novos instrumentos”

necessários para dar continuidade ao processo.

Ainda no primeiro semestre de 1994, surgiram alguns focos de tensão

em virtude das diferentes percepções que os Estados-membros tinham da

agenda externa do bloco, eles foram se revelando a partir da proposta

brasileira da Área de Livre Comércio Sul Americana (ALCSA) e dos “flertes” da

Argentina com a idéia de uma possível associação com o North América Free

Trade Agreement (NAFTA).

É possível que todos esses problemas tenham de alguma forma

prejudicado o andamento do processo para a instalação do MERCOSUL como

união aduaneira, mas o lançamento da última fase do Plano Real20 no Brasil, e

seus impactos estabilizadores, com certeza geraram entre os negociadores e

empresários condições de ânimo mais propícias a um compromisso integrador

com características mais profundas na região.

Outro fator relevante a ser assinalado é que desde o início do processo

de formação do MERCOSUL, a Argentina sempre mostrou particular interesse

na incorporação do Chile ao novo processo integrador regional. A motivação

argentina era dupla, se por um lado suas economias eram complementares; no

aspecto político o palácio de San Martín21 via a incorporação do Chile num

acordo comercial com o MERCOSUL, a possibilidade de um aprofundamento

da inter-relação econômica e política entre os Estados da região, que

provavelmente se tornaria um elemento capaz de contribuir positivamente para

a resolução pacífica de divergências ligadas aos problemas de fronteiras

existentes entre ambos os Estados. Este fato, também, iria contribuir para

reforçar a imagem internacional de um Cone Sul livre de conflitos territoriais.

Embora os interesses fossem diferentes entre Argentina e Brasil, no

tocante a estrutura que deveria ter o MERCOSUL, eles acabaram sendo

convergentes ao final, ainda que por motivos distintos. Isto acabou sendo

20 Plano Real substituiu a moeda brasileira e estabilizou a inflação no país, que era muito elevada. 21 Palácio de San Martin – Sede do governo argentino

Page 28: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

28 consubstanciado pelo Protocolo de Ouro Preto, assinado pelos presidentes dos

quatro Estados em 17 de dezembro de 1994.

4.2 Acordos:

O ano de 1996 foi determinante para Chile e Bolívia, que conscientes da

necessidade de formar um espaço econômico ampliado e a possibilidade de

atuar como elementos de integração econômica, protocolaram acordos de

complementação econômica entre eles, e individualmente com o MERCOSUL.

Em 25 de junho de 1996, na 10ª reunião de Cúpula do MERCOSUL, foi

assinado na província argentina de São Luís, o acordo de Complementação

Econômica entre Chile e o MERCOSUL, para vigorar a partir de 01 de outubro

daquele mesmo ano, dando início a um processo de redução tarifária e de um

intercâmbio maior entre o Chile e o bloco que se iniciava.

Nesta mesma reunião foi firmada a “declaração presidencial sobre o

diálogo político, a qual criava um Mecanismo de Consulta e Concertação

Política (MCCP), com o objetivo, entre outros, de buscar coordenar posições

sobre questões internacionais de interesses comuns”. A declaração

presidencial assinada em Assunção, em 17 de junho de 1997, estabelece que

“o MCCP buscará articular (...) as ações necessárias para ampliar e

sistematizar a cooperação política entre as partes, entendida como aquela

cooperação relativa a todos os campos que não façam parte da agenda

econômica e comercial da integração” (VAZ, 2002, p.51). Estes entendimentos

foram institucionalizados por meio da decisão 18/98, na cúpula do Rio de

Janeiro, que criou o fórum de Consulta e Concertação Política.

Em 1996, na reunião de chefes de Estado dos países do MERCOSUL,

realizada na localidade de Potrero de Funes, na Argentina, foi assinada a

chamada “cláusula democrática”, onde os quatro Estados se comprometeram a

adotar uma série de medidas para o caso de surgirem, em algum deles,

ameaças à estabilidade democrática. As medidas acordadas incluíam até a

possibilidade de exclusão do bloco, caso a democracia viesse a ser ameaçada

em algum dos membros do bloco.

Em dezembro de 1996, na cidade de Fortaleza, no Brasil, a Bolívia e o

MERCOSUL firmaram um Acordo de Complementação Econômica, onde era

incluído um programa de liberalização comercial paulatina e automática, que

teria início em abril do ano seguinte;

Page 29: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

29

Outro evento relevante ocorrido em 16 de abril de 1998 foi o Acordo-

Marco para a criação da Zona de Livre Comércio entre o MERCOSUL –

Comunidade Andina (CAN), que entrou em vigor a partir de 01 de janeiro de

2000;

Em 24 de julho de 1998, foi assinada em Ushuaia (Argentina) a

Declaração Política do MERCOSUL, registrando o entendimento no sentido de

“fortalecer os mecanismos de consulta e cooperação sobre temas de

segurança e Defesa existentes entre seus membros, e promover sua

progressiva articulação [...]” (VAZ, 2002, p.67).

Conforme já mencionado, os Estados da região que não são membros

efetivos do MERCOSUL são associados, e esse processo de alargamento do

bloco vem dando resultados positivos. O Chile e Bolívia são membros

associados desde 1996, Peru desde 2003, Colômbia e Equador desde 2004, e

recentemente a República Bolivariana da Venezuela solicitou seu ingresso

como membro efetivo, dependendo, no momento, somente da aprovação do

senado paraguaio.

Este capítulo mostrou todo o processo de criação do MERCOSUL,

inclusive a importância que teve a ALADI para o marco institucional deste

bloco. Outra característica a ser ressaltada era a visão distinta entre os dois

principais atores do bloco, sobre a importância da integração: para a Argentina

a importância era econômica; e para o Brasil era mais política e estratégica, no

sentido de ganhar relevância no cenário internacional.

Merece também destaque a assinatura da Declaração Política do

MERCOSUL, documento importante para o fortalecimento na cooperação na

área de segurança e defesa. A seguir será descrito o processo de integração

entre Argentina e Brasil.

5 SÍNTESE DA INTEGRAÇÃO ENTRE ARGENTINA E BRASIL

O processo de integração entre Argentina e Brasil teve início na década

de 80, quando se pode considerar que começou a ocorrer uma aproximação

maior na condução da política externa de ambos os Estados, dando início a um

processo de superação de antigas rivalidades e desconfianças mútuas.

Page 30: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

30

Pode-se inclusive dizer, que no campo político, o Acordo Tripartite sobre

Itaipu e Corpus (1979), e a derrota dos argentinos na guerra das Malvinas,

foram fatores que facilitaram este processo, inclusive porque o Brasil passou a

ser o responsável pelos negócios argentinos frente ao Reino Unido. Nesta

época foram tratados assuntos importantes para a região, como a participação

conjunta em foros latino-americanos, a criação da Zona de Paz e Cooperação

no Atlântico Sul22; um processo nuclear mais autônomo e uma vontade política

maior de integração dos Estados da região.

Com a plena redemocratização dos dois maiores Estados da região

(Argentina em 1983 e Brasil em 1985) as relações bilaterais começaram

realmente a entrar em um novo patamar de entendimento. É importante atentar

para o empenho político dos governos, e principalmente dos líderes da época

em particular, em superar a inércia de desconfiança e distanciamento que

ocorria até então. Era a primeira vez na história da América Latina, a exceção

de Cuba, que os Estados vivenciavam a democracia representativa,

fomentando um clima de confiança mútua crescente e que ensejou, em

seguida, o desmantelamento das hipóteses de conflito entre os dois países.

Neste processo de integração entre os dois Estados, buscava-se, no

ambiente interno, restaurar plenamente a vigência da democracia e dos direitos

humanos fundamentais; já no campo externo, a proposta era superar as

desconfianças geradas pelos governos militares, recuperar credibilidade nos

foros multilaterais e agilizar a interlocução com os países industrializados.

Nesse sentido, houve nítido esforço da parte dos governos de José Sarney

(1985-1990) e Raúl Alfonsín (1983-1989) no sentido de conferir prioridade à

América Latina em sua atuação político-diplomática. Essa nova realidade

permitiu um maior grau de cooperação ainda não observado no continente,

abrindo caminho para processos de associação e integração entre Argentina e

Brasil.

Na década de 90, um novo cenário internacional advindo do recente

término da era bipolar, apresentou a estrutura de uma nova ordem baseada

nos campos político e econômico, sendo que no político com a defesa de

valores vinculados ao pluralismo democrático e, no econômico, a importância

da economia de mercado. Essas novidades deixaram uma série de dúvidas

sobre como seria essa nova ordem mundial.

22 A Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (ZPCAS) foi criada em 1986 com o propósito de integrar os Estados da região e criar um espaço livre de conflitos. (SOUZA, 2002, p.67)

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31

Com a chegada ao poder de Carlos Menem na Argentina (1989) e de

Fernando Collor de Mello (1990) no Brasil, introduziram-se novos paradigmas

no processo de integração, obedecendo à orientação neoliberal dos novos

mandatários. Assim, privilegiou-se a orientação adotada pelo chamado

"Consenso de Washington", no sentido da abertura comercial,

desregulamentação econômica e privatização.

Nas orientações que o governo argentino estabeleceu, para direcionar

sua política externa, com o propósito de compatibilizar o processo de

integração com o Brasil, um fato relevante foi o discurso do chanceler argentino

Domingo Cavallo, que manifestou a vontade do seu governo de prosseguir no

caminho empreendido pela administração anterior, embora com base em

motivações claramente distintas: “O que o presidente Carlos Menem me

transmitiu como instrução fundamental é que, através da política exterior, a

República Argentina deve ser reconhecida como um país sério e responsável,

com quem se pode tratar e em quem se pode confiar [...]. Pensamos que a

decisão dos presidentes Alfonsín e Sarney de deixar de lado a competição e

rivalidade que existiam entre os dois Estados desde tempos imemoriais foi uma

decisão transcendente, que abre a possibilidade de uma cooperação muito

estreita em âmbitos antes inimagináveis. [...] Em vez de adversários potenciais

em conflito, começamos a nos ver como sócios concretos no quadro de um

processo de integração que aspira a conformar um mercado comum (...)

decidimos que essa iniciativa deve ser continuada” (discurso de Domingo

Cavallo no circuito El Ombú23, em 20/09/1989). Um elemento indispensável na

construção de uma “aliança estratégica” é o reconhecimento mútuo de

diferenças.

Com a posse em março de 1990, no Brasil, do presidente eleito Fernando

Collor de Mello, que era consequência de uma coalizão liberal-conservadora,

abria-se caminho para um aprofundamento do processo de integração, devido

ao novo mandatário ser adepto a uma estratégia de liberação econômica, o

que vislumbraria novos horizontes para ambos os Estados.

No Brasil, o governo Collor estabeleceu o que se chamou de crise de

paradigma em sua política externa. O paradigma globalista, que havia

orientado durante muito tempo a política externa brasileira foi questionado; as

23 Circuito de El Ombú é um local histórico na Argentina, onde o ministro concedeu a referida entrevista, publicada em http://www.ambitoweb.edicionesanteriores.asp. .

Page 32: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

32 premissas vinculadas ao nacional-desenvovimentismo, que já vinham perdendo

sua dinâmica durante a década de 80, foram definitivamente superadas, dando

início a uma nova percepção de que abrindo mão das reclamações em relação

à economia internacional e aproximando-se do principal líder mundial, no caso,

os EUA, o país poderia colocar-se como interlocutor relevante no cenário

internacional.

Esta crise de paradigma cedeu espaço para o surgimento de duas

correntes, com diferentes visões, sobre a melhor maneira do país se inserir no

cenário internacional:

- a primeira de caráter mais autonomista, mantinha mais fortemente

elementos do paradigma globalista, que vinha sendo seguido até então.

Defendia uma projeção mais autônoma do Brasil na política internacional;

possuía preocupações de caráter político-estratégico com relação aos

problemas Norte-Sul; dava maior destaque à perspectiva brasileira de participar

do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas; e buscava

alcançar para o Brasil um papel de maior liderança na América do Sul. Esta

corrente é conhecida na literatura sobre o tema como corrente nacionalista, e

- a outra, sem abrir mão da primeira, procurava dar maior importância ao

apoio do Brasil aos regimes internacionais em vigência. Defendia a idéia de

uma inserção internacional do país a partir de uma soberania compartilhada,

desta forma, buscando uma liderança mais discreta na América do Sul. Como

dava maior apoio aos valores da ordem internacional, de caráter liberal, essa

corrente é conhecida pelos analistas de política externa como “liberal”

(SARAIVA, 2007, p.173).

O governo Collor, desta forma, procurou alterar o perfil internacional do

país, discutindo novos temas, construindo uma relação mais saudável com os

EUA e buscando descaracterizar o perfil terceiro-mundista vigente. Porém, o

Brasil buscou manter uma política exterior que valorizava a autonomia e a

independência nos critérios a serem adotados nas questões internacionais. Já

a Argentina começou a privilegiar os objetivos de eliminar os pontos de atrito

em sua agenda política com os EUA24, entendendo que essa era a melhor

estratégia para obter credibilidade internacional, podendo, desta forma,

favorecer sua estabilidade política e econômica no campo interno.

24 Houve grandes alterações na política externa da Argentina – saída do movimento dos países não

alinhados, envio de tropas ao Golfo, adesão aos tratados internacionais sobre temas nucleares, etc.

Page 33: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

33

Em novembro de 1990, após um período de intensas negociações em

nível técnico, Argentina e Brasil firmaram o acordo de Complementação

Econômica nº 14 (ACE 14) no quadro da ALADI, lançando as bases

instrumentais sobre as quais se efetuaria o Tratado de Assunção. Com esse

acordo encerrava-se formalmente toda a etapa de integração gradual e setorial,

passando-se para um programa mais detalhado de redução progressiva, linear

e automático, para todo um conjunto do universo tarifário. Em suma, de alguma

forma estava realmente tendo início um verdadeiro processo de integração

entre Argentina e Brasil, e também tendo início um novo modelo de política

externa e econômica que seria determinante para a construção do

MERCOSUL, a partir de 1991.

Já no governo de Itamar Franco, presidente que sucedeu a Collor,

falecido recentemente, deu-se maior prioridade à vertente desenvolvimentista

da política externa, sendo mais nacionalista, um pouco distinta da política

externa Argentina de alinhamento incondicional aos EUA. O Brasil passou a

atuar mais ativamente nos foros multilaterais; procurou aprofundar a integração

regional, com destaque para o MERCOSUL; alterou suas relações com os

EUA, evitando alianças incondicionais, como também enfrentamentos, e

buscou novos parceiros externos, como a Índia e a China.

O governo de Fernando Henrique Cardoso foi marcado em sua política

externa por um perfil que buscava assimilar e empregar um pouco do perfil

nacionalista, de Itamar Franco, e um pouco do liberal, de Fernando Collor de

Mello.

Nesse período, também, foi incrementado um maior relacionamento

entre os Estados-Maiores conjuntos da Argentina e do Brasil, com diversos

seminários e exercícios militares binacionais, suscitando interesse e

procurando aumentar a participação de outros Estados da região. O crescente

intercâmbio entre as FFAA dos Estados do MERCOSUL criou uma situação de

fato, que permitiu um avanço para a atenuação da hipótese de conflito entre os

dois principais Estados da região.

Em outubro de 1996 o presidente Fernando Henrique anunciava outra

Política de Defesa para o Brasil25, e o presidente Carlos Menen aprovava a

diretriz para um novo planejamento militar, em que a tradicional hipótese de

conflito com origem no rio da Prata era abandonada como ameaça principal.

No caso brasileiro, o então presidente comentou que apesar de o país conviver 25 Já existe uma nova Política de Defesa Nacional brasileira editada em 2005.

Page 34: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

34 harmonicamente na comunidade internacional, poderia vir a ser obrigado a se

envolver em conflitos gerados externamente, como consequência a ameaças

ao seu patrimônio e aos seus interesses vitais.

Estes fatos foram significativos e de grande importância política, porque

demonstravam em ambos os Estados a vontade de integração sem riscos de

conflitos. Desta forma, o processo de integração poderia caminhar em um

ambiente de maior cooperação e confiança mútua.

A política externa, adotada pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva,

estava mais voltada para a corrente vinculada aos padrões tradicionais da

política externa de cunho mais autonomista, com ênfase na integração

regional.

A atual presidenta Dilma Rousseff, parece seguir o mesmo caminho do

ex-presidente Lula, com ênfase na integração, mas não abandonando a

autonomia que o país necessita, inclusive endurecendo as negociações,

quando necessário, com o propósito de priorizar os interesses nacionais.

Na década de 90, percebia-se que as relações econômicas

internacionais (comerciais, financeiras e de investimentos) teriam um forte

componente de relações interblocos e intrablocos26, enfraquecendo-se,

portanto, o tradicional vínculo Estado-Estado. A entrada em vigor em 1989 do

Acordo de Livre Comércio entre Canadá e EUA, ao qual mais tarde se

incorporaria o México, além da criação “informal” de um pólo regional de

desenvolvimento no Leste Asiático, liderado pelo Japão, todos esses fatos

foram configurando um cenário global em que a integração regional aparecia

quase como uma necessidade para os Estados em qualquer parte do planeta.

Argentina e Brasil perceberam a necessidade de redefinir sua estratégia

de inserção internacional e regional, frente a um panorama de crescente

isolamento econômico, político e estratégico, causado pelas dificuldades de

acesso a tecnologias de ponta e, fundamentalmente, pela mudança na

estrutura e no funcionamento do sistema econômico mundial. Dentro dessa

nova estratégia, e de acordo com o cenário internacional que estavam

visualizando naquele momento, a integração regional passava a ter um papel

importante na ampliação do comércio, na obtenção de maior eficiência, cujos

26 Nesta época alguns especialistas achavam que as relações passariam a ser mais entre os Estados componentes de blocos econômicos e entre os próprios blocos existentes, diminuindo a importância do Estado-Nação.

Page 35: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

35 objetivos eram de competir no mercado internacional e na própria

transformação de seus sistemas produtivos nacionais.

O processo de integração surge então sob a necessidade de apresentar

uma frente unida, melhorar as condições econômicas, consolidar os processos

democráticos e terminar os riscos de conflito entre os Estados vizinhos. O

fortalecimento dessa integração na região pode ser atribuído, em grande parte,

ao MERCOSUL.

Devido a esse processo de integração, as novas tendências da relação

entre Brasil e Argentina passaram a ser progressivamente amistosas, com uma

aproximação e integração cada vez maior. Há um sentimento generalizado da

necessidade mútua de cooperação, aproveitando que já existe certa

complementaridade econômica e interdependência, reconhecida por ambos os

Estados. O Brasil hoje é mais desenvolvido industrialmente que Argentina, fato

que pode comprovar-se por meio do Produto Interno Bruto (PIB) do estado de

São Paulo, que é maior que o PIB de toda a Argentina.

Os objetivos de Argentina e Brasil com o implemento do MERCOSUL

parecem bastante claros: para o Brasil serve como um instrumento para sua

inserção internacional, marcando uma política de abertura econômica, iniciada

desde o governo Collor e continuada pelos governos que se seguiram, cujo

grande desafio era passar de uma economia fechada para outra mais aberta e

competitiva internacionalmente, aumentando seu poder de negociação e a

extensão dos mercados por via da integração econômica.

A formação de uma ampla zona geoeconômica no cone sul serviria de

plataforma de negociação frente aos mega-blocos (NAFTA, UE, etc) já

existentes no cenário internacional. O MERCOSUL formava parte de uma

estratégia de posicionamento político: outorgava ao Brasil prestígio e certa

liderança na região para fazer frente aos EUA em sua iniciativa hemisférica de

criação de um bloco econômico que se denominaria Área de Livre Comércio

das Américas (ALCA). Outro fator significativo é que também teria maior

probabilidade de ser reconhecido como uma potência regional, no momento em

que o bloco passasse a ter sucesso, sendo reconhecido no cenário

internacional como um bloco forte e confiável.

Já a Argentina, sob a gestão de Carlos Menem, com sua política de

abertura econômica, vislumbrou o MERCOSUL com um enfoque

principalmente comercial de integração, além do político, econômico e militar e,

também, como sendo uma instância para a implementação da ALCA.

Page 36: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

36

Neste contexto, podemos apontar circunstâncias de natureza política,

econômica, comercial, tecnológica e militar, originadas em grandes

transformações de ordem econômica internacional, que exerceram um papel

relevante na consolidação da integração Argentina-Brasil:

- o fenômeno da globalização da economia, com o surgimento de uma

nova estrutura de produção e o surgimento de um novo padrão industrial e

tecnológico;

- a formação dos mega-blocos econômicos e a tendência à

regionalização do comércio, com influência no destino dos fluxos de capital,

bens e serviços;

- o protecionismo e a recessão em muitas das economias desenvolvidas,

responsáveis pela absorção de grande parte das exportações latino-

americanas;

- a tomada de consciência da necessidade de aprofundar o processo de

integração, como forma de aproveitar o entorno geográfico;

- a Argentina, no ano de 2010, foi o terceiro Estado em transações

comerciais com o Brasil, os valores foram superiores a 20 bilhões de dólares

em produtos manufaturados, o que carrega um elevado valor agregado. A

Argentina hoje só é superada pelos EUA e China em transações comerciais

com o Brasil. O Brasil possui um superávit na balança comercial com a

Argentina de cerca de 4 bilhões de dólares27, 172% acima do resultado do ano

anterior;

- mantendo-se este ritmo de intercâmbio comercial, a Argentina deverá

ultrapassar os EUA com maior valor nas transações comerciais;

- um constante intercâmbio militar entre os dois Estados, realizando

anualmente exercícios combinados. Pode-se dizer que não se conhece na

história, um Estado que não possua Porta-Aviões (Argentina) que tenha

realizado exercícios com aeronaves em Porta-Aviões de outro Estado, no caso

o Brasil.

O fato de se estar em pleno processo de integração, com uma grande

aproximação, não significa a inexistência de dificuldades e problemas, que a

princípio geram algumas crises. Estas crises são naturais em qualquer

processo de integração, onde atores com interesses e vontades diferentes,

muitas vezes conflitivas, necessitam manter sua dialética.

27 Dados obtidos na internet em www.global21.com.br, acesso em 12/07/2011.

Page 37: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

37 5.1 Principais Interesses Coincidentes:

Os principais interesses nacionais coincidentes entre Argentina e Brasil

são, de maneira geral, formular e consolidar políticas internas de reformas,

para poder obter um desenvolvimento econômico sustentado, e de melhorar a

capacidade de negociação internacional, para conseguir atingir a tão desejada

inserção no primeiro mundo. Para atingir essas metas, ambos os Estados

necessitam:

- manter elevado ritmo de crescimento, que possa reverter-se em maior

bem estar de sua população;

- lograr com êxito uma inserção no sistema político-econômico

internacional, que se traduza em poder e prestígio a níveis regionais e

mundiais; e

- atrair investimentos estrangeiros para seu Estado.

Um dos principais indicadores de crescimento de um Estado é a taxa de

crescimento de seu PIB, que traduz um maior bem-estar de sua população com

maior valor de renda disponível, e na ampliação da oferta de empregos. O

MERCOSUL é um espaço econômico para seus integrantes que concentra

mais de 290 milhões de consumidores, formado em sua grande maioria pelas

populações de Argentina e Brasil (anexo A).

Pode afirmar-se que a aliança estabelecida pelos dois Estados dentro do

MERCOSUL, fez com que ambos obtivessem uma inserção com maior êxito na

economia internacional, o que se pode verificar pelos seguintes fatos: maiores

fluxos de investimentos estrangeiros nos dois Estados; tentativa de integração

econômica tanto pelos EUA, por meio da criação da ALCA, para constituir uma

zona de livre comércio continental, como pela própria UE, mediante o Acordo

Marco de Cooperação estabelecido com o MERCOSUL, o que deu início as

expectativas de criar-se, no futuro, um processo que culmine com uma Zona de

Livre Comércio entre os dois blocos.

O poder resultante dessa coalizão tende a ser a soma das

características de cada Estado, tal fato indica a necessidade de harmonizarem-

se os interesses de natureza econômica que ainda encontram-se divergentes

entre Argentina e Brasil, agregando-se na condução dessa coalizão uma

melhor cooperação. Há que se considerar a importância de se harmonizar os

interesses de natureza política e estratégica, por parte de ambos os governos,

para que se possa lograr maior eficácia na inserção do sistema político-

econômico internacional.

Page 38: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

38

Quanto à atração de uma maior quantidade de investimentos

estrangeiros nos seus respectivos territórios, o resultado obtido por ambos os

Estados até o momento têm sido excelentes.

Importante registrar que se pode agregar ao poder de atração do

MERCOSUL seu potencial de crescimento horizontal dentro da própria América

do Sul, mediante a incorporação de novos membros, como já ocorreu com

diversos Estados da região aderindo como membros associados e,

recentemente, a Venezuela como membro permanente (falta somente

aprovação do Senado paraguaio), resultando em um maior mercado

consumidor, o que irá facilitar, também, um maior intercâmbio comercial

regional. Tal fato, com certeza, irá maximizar o interesse de investimentos

estrangeiros, por conta das oportunidades de negócios que um mercado

regional crescente pode propiciar.

Não podemos esquecer que esses são Estados ainda jovens, com um

elevado potencial de crescimento em diversas áreas como a econômica,

tecnológica, educacional e outras.

Quanto maior for o nível de aprofundamento do processo de integração

no âmbito do MERCOSUL e, o consequente aumento da interdependência

entre seus membros, isso dará mais credibilidade a todos, fazendo com que o

nível de investimentos no bloco seja sempre crescente, podendo chegar a

valores mais significativos, em um prazo não muito distante.

5.2 Principais Discrepâncias

É natural que o processo de integração regional entre Argentina e Brasil

dentro do MERCOSUL sofra constantes abalos, como se verifica,

eventualmente, na mídia internacional, naturalmente como consequência de

divergências que não foram devidamente harmonizadas.

Pode-se, inclusive, afirmar que, conforme a integração exige cada vez

mais interdependência dos países, maiores serão as discrepâncias envolvidas

nas controvérsias que surgirem, em virtude da quantidade de interesses

compartilhados que serão afetados. Porém é importante observar que a

interdependência tem características ambivalentes: por um lado exarceba a

competição e, portanto, as fontes de antagonismos e, por outro lado, aumenta

substancialmente os custos do conflito, determinando certa moderação.

Dessa forma, podem-se agrupar as divergências entre Argentina e Brasil

em dois âmbitos principais: Econômico e Político-Estratégico.

Page 39: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

39

No âmbito econômico, a grande interdependência gerada por todo o

processo de integração vivido por ambos os Estados dentro do MERCOSUL

apresenta o maior potencial de instabilidade para a relação de cooperação. Os

aspectos mais significativos são:

- o protecionismo econômico praticado pelos dois Estados;

- a falta de regulamentação para a distribuição dos investimentos

estrangeiros e extra-regionais, como também divergências quanto ao

tratamento específico de alguns assuntos econômicos;

- a ausência de ajustes de natureza macroeconômica regional que

podem vir a gerar efeitos negativos sobre a economia de cada país.

Para a Argentina, o MERCOSUL e a relação com o Brasil tinham uma

dimensão preponderantemente econômica e comercial, mais do que

estratégica. A política de manter uma aliança com os EUA no aspecto de

segurança internacional e outra com o Brasil no aspecto econômico, mostrava

bem este aspecto de sua política externa; diferentemente do Brasil, que já tem

uma percepção mais estratégica em relação ao MERCOSUL, onde busca uma

nova forma de se relacionar com a comunidade internacional.

No campo político-estratégico será mostrada a correspondente diferença

de percepção das ameaças externas e da diferença entre os dois Estados no

que diz respeito a suas visões estratégicas globais:

- para o Brasil existe no âmbito político-militar uma justificada

desconfiança em relação ao conflito de interesses existentes com os EUA. As

dificuldades impostas por este Estado, para que o Brasil desenvolva

tecnologias importantes, como a da propulsão nuclear e a de vetores espaciais,

somadas a política de combate ao narcotráfico em diversos Estados vizinhos

ao território brasileiro e, também, defendido por diversos norte-americanos que

também fosse realizado em território nacional;

- o interesse norte-americano no emprego das FFAA brasileiras no

combate ao narcotráfico, demonstra uma clara interferência em assuntos

internos brasileiros. Os EUA em associação com diversas organizações

ecológicas, que em sua maioria são norte-americanas, fazem constantemente

diversas contestações em fóruns internacionais, divulgando sempre que o

Brasil não realiza o controle adequado do desmatamento da floresta, e que

esta seria “patrimônio comum da humanidade”, devendo ser preservada para o

bem de todos;

Page 40: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

40

- a divergência em relação à aspiração do Brasil de ser incluído como

membro permanente no Conselho de Segurança da ONU (Organização das

Nações Unidas). O Brasil lançou sua candidatura desde a década de 90, logo

após o México também manifestou interesse, caso fosse atribuído um assento

para algum Estado latino-americano. A Argentina nessa época não manifestou

interesse, mas propôs outra solução que talvez interessasse mais aos EUA, a

alternância entre os Estados da região;

- a solicitação de ingresso da Argentina na Organização do Tratado do

Atlântico Norte (OTAN) não foi bem recebida pelo governo brasileiro e acabou

não sendo aceita; e

- devido à Argentina não perceber a existência de interferência dos EUA

em seus assuntos internos, o que em conjunto com outros interesses, levou-a a

uma política de alinhamento automático com as posições político-estratégicas

defendidas pelos EUA.

Até o presente momento, estas visões distintas por parte de Argentina e

Brasil, apesar das diferenças das posturas individuais em relação aos EUA,

não tem prejudicado a cooperação entre ambos os Estados, e muito menos

dentro do Bloco.

A participação brasileira no Comando das Forças de Paz no Haiti tem

sido uma das manobras políticas do governo para aumentar sua importância no

cenário internacional, fortalecendo de certa maneira a proposta de inclusão do

Brasil, como membro permanente do Conselho de Segurança.

No caso de se adotar uma visão de longo prazo, e o Brasil viesse a ter

direito a esse assento na ONU, seria importante para todos os Estados da

região, principalmente para a própria Argentina, que tem uma estreita relação

econômica com o Brasil. No Conselho, todas as deliberações que viessem a

ser adotadas e que por acaso pudessem prejudicar os interesses político-

estratégicos dos Estados da região, ou mesmo econômicos, seriam

contestadas pelo Brasil, que desta forma iria tornar-se o interlocutor dos

Estados da região dentro do Conselho de Segurança.

É evidente que a construção de uma aliança estratégica é uma tarefa

que requer um esforço contínuo de ambos os Estados, e que no seu desenrolar

irão ocorrer diversos contratempos. Esse processo de aproximação é por

definição bastante complexo como já foi evidenciado; seja pelas visões

distintas em questões relevantes no cenário internacional, como a própria

Page 41: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

41 reforma do Conselho de Segurança da ONU, a vontade do Brasil de integrá-lo

e a posição contrária da Argentina.

Ao concluir este capítulo, evidencia-se que o processo de

democratização foi um fator determinante na aproximação dos dois principais

membros do bloco. As visões distintas da melhor maneira de se inserir no

cenário internacional, não foi um fator restritivo para o desenvolvimento do

processo de integração.

Podem-se apontar circunstâncias de diversas naturezas como: política,

econômica, comercial, tecnológica e militar, originadas em grandes

transformações de ordem econômica internacional, que exerceram um papel

relevante na consolidação da integração entre os dois principais atores do

bloco, como já visto.

O aumento da interdependência entre Argentina e Brasil dará mais

credibilidade a todos, fazendo com que o nível de investimentos externos no

bloco seja crescente, melhorando suas condições de competição no mundo

globalizado existente na atualidade.

No atual estágio da integração entre os países em questão, o autor

considera que é chegada a hora em que se deve buscar uma maior

convergência nos aspectos políticos e estratégicos, além do econômico, de

forma a fortalecer a cooperação e apresentar-se mais coeso e forte perante o

cenário internacional.

6 ESTRATÉGIAS DO MERCOSUL NOS CENÁRIOS AMERICANO E EU ROPEU

O cenário internacional atual é de grande integração entre blocos

econômicos, mas também de grande competição entre eles. Sendo assim, o

MERCOSUL necessita elaborar estratégias para obter as maiores vantagens

possíveis nas relações com os diversos blocos existentes, é isso que se

analisará no transcorrer deste capítulo.

6.1 Perspectivas

Quando se cria um bloco econômico é evidente que um dos grandes

propósitos é ampliar o bem estar dos povos ali integrados. Os Estados

membros do MERCOSUL têm de atuar de forma coordenada e conjunta, para

que possa demonstrar ao mundo, que o bloco regional possui a credibilidade e

rentabilidade necessária para atrair e manter grandes investimentos

estrangeiros por parte de outros atores internacionais e, possivelmente, em um

Page 42: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

42 futuro próximo, seus Estados tenham uma estatura político-estratégica mais

relevante para poder garantir no cenário internacional a prevalência de seus

interesses.

Um projeto de integração regional nasce normalmente com objetivos

econômicos, caracterizando-se por um conjunto de medidas que objetivam

promover a aproximação e a união entre as economias de dois ou mais

Estados, pode-se citar: aumentar a produção em escala dos membros

integrantes, inserindo o produto final no mercado internacional com um preço

mais vantajoso, aumentar sua eficiência, reestruturar seu mercado; além de

propósitos mais significativos, como no futuro alcançar uma integração político-

estratégica e militar, como é o caso atual da própria União Européia.

O MERCOSUL deve procurar tirar o máximo proveito da competição

existente no cenário internacional entre os EUA e a UE, buscando obter

vantagens econômicas e sociais, de forma a conseguir acordos para

investimentos internos, cooperação tecnológica e militar, assistência social e,

também, em diversos outros campos. Necessita beneficiar-se da

multipolaridade existente, para demonstrar claramente as principais potências

econômicas, que o que rege o cenário internacional nos dias atuais são os

aspectos práticos das relações entre os diversos atores e não eventuais

“simpatias ideológicas” de caráter retórico.

Serão apresentadas a seguir estratégias específicas, que deveriam ser

perseguidas pelos líderes dos Estados Membros do MERCOSUL, nos cenários

americano e europeu, com o propósito de maximizar seus objetivos.

6.2 O MERCOSUL na América do Sul

O MERCOSUL transformou-se em um pólo de influência e atração para

outros Estados sul-americanos, oportunizou adesões de quase todos os

Estados da região como membros associados, e o recente interesse do

ingresso da Venezuela como membro permanente, mostrando, que existem

condições para ampliação do bloco no âmbito do próprio continente.

Os acordos assinados bilateralmente entre o MERCOSUL e cada um

dos Estados associados são literalmente iguais, tendo como objetivo a

formação de uma zona de livre comércio. Verifica-se, no entanto, que estes

Estados associados não adquiriram desta forma, pelo menos por enquanto, a

totalidade dos direitos e deveres que são aplicados aos membros permanentes

do bloco.

Page 43: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

43

A ampliação gradual do MERCOSUL no âmbito regional atende a uma

muito bem orquestrada estratégia brasileira, baseada em um projeto nacional

de 1993 de constituir uma ALCSA, tendo como embrião a integração

econômica existente entre Argentina e Brasil. Esta iniciativa conta com pleno

apoio do governo argentino. Este mercado ampliado seria a base de uma Zona

de Livre Comércio, incluindo os Estados partes do MERCOSUL por um lado e

os restantes dos Estados sul- americanos da ALADI pelo outro, o que, com

certeza, iria fortalecer o mercado regional, fazendo frente a um mundo cada

vez mais agressivo nos aspectos comerciais.

Dentro do projeto de integração da América do Sul, está incluída a

aproximação do MERCOSUL com os países da Comunidade Andina. Existem

estudos no sentido de viabilizar as condições de infra-estrutura para que se

possa intensificar os intercâmbios entre os dois grupos. Para isto, tenta-se

junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Corporação

Andina de Fomento (CAF) conseguir os devidos aportes financeiros. Dentre os

diversos setores envolvidos nessa integração estão incluídos setores

fundamentais, tais como os energéticos, de transportes e telecomunicações.

A expansão do MERCOSUL teve início com o ingresso do Chile. O

comércio deste país com o restante do mercado regional tem crescido

substancialmente nos últimos anos, tendo um valor bem significativo no seu

comércio exterior global28. A assinatura do acordo de livre comércio entre o

MERCOSUL e a Bolívia, conseguido no segundo semestre de 1996, gerou uma

grande expectativa de que a Bolívia poderia atingir uma maior integração físico-

econômica com os demais Estados da região, além de auferir uma espécie de

“efeito demonstração” positivo sobre os demais Estados, apresentando,

também, ao mundo, o MERCOSUL como um bloco dinâmico e pujante. O

grande potencial que tem Bolívia na venda de gás, outorga, a este país, um

importante papel no Cone Sul em matéria energética.

Com a inclusão da Venezuela como membro permanente do

MERCOSUL, passarão a ser cinco os Estados que ostentam essa condição:

Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela. Existem outros cinco países

que são membros associados, condição que o México solicitou, embora venha,

politicamente, dando maior preferência à consolidação da ALCA, juntamente

com os EUA e o Canadá.

28 Dados fornecidos em palestra realizada na Escola Superior de Guerra (ESG), em maio de 2011, pelo

ex-embaixador Bayma.

Page 44: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

44

A solicitação de incorporação da Venezuela ao MERCOSUL em julho de

2006 está gerando polêmica. O atual presidente da Venezuela, Sr. Hugo

Chávez, pode apresentar ao bloco um componente político ideológico

prejudicial às boas relações do bloco com os EUA, México, a UE e o lado

asiático.

É importante reconhecer que a inclusão da Venezuela soma ao bloco

um PIB de R$ 345 bilhões de dólares e grandes reservas de petróleo e gás

natural ao poderio econômico existente. As projeções indicam que isso

aumenta a participação do MERCOSUL no PIB da América Latina de algo em

torno de 65% para cerca de 72% (anexo B). Sem a Venezuela o PIB do

MERCOSUL é cerca de US 2,64 trilhões e 260 milhões de habitantes. Com a

Venezuela este número aumentaria para cerca de US 2,99 trilhões e 290

milhões de pessoas (anexo A)29.

Os quadros apresentados no “anexo C” mostram a importância que o

MERCOSUL tem nos dias atuais para o Brasil, com o constante crescimento

dos fluxos internos de exportações e importações. Outro dado de profunda

relevância é que quando se faz uma análise do tipo de material exportado

dentro do bloco pelo Brasil, verifica-se a grande quantidade de produtos

manufaturados, obtendo desta forma maior valor agregado.

O Brasil é um assíduo comprador de derivados de petróleo da

Venezuela, adquire querosene de aviação, nafta, óleo lubrificante, vidro,

enxofre, carvão e plástico, enquanto exporta para lá diversos produtos

manufaturados, como equipamentos agrícolas, telefones celulares, automóveis,

peças para veículos, pneus, laminados de ferro e aço, carne industrializada e

outros elementos. (www.mdic.gov.br)

O estabelecimento de uma zona de livre comércio na região, absorvendo

um mercado consumidor de cerca de 320 milhões de pessoas, teria um

potencial para transformar a América do Sul em um vigoroso bloco econômico,

que capitaneado pelo mercado dos países do MERCOSUL, lhe daria maior

poder e prestígio no âmbito internacional.

Com a criação da União das Nações Sul-Americanas (UNASUL), isso irá

fortalecer os laços entre os Estados da região, podendo propiciar ao

MERCOSUL uma oportunidade de ocupar uma posição privilegiada na ordem

continental, atribuindo-lhe maior poder de negociação. Esta é uma meta que

deve continuar sendo perseguida pelo bloco. 29 Tabelas e gráficos obtidos em www.global21.com.br.

Page 45: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

45 6.3 O MERCOSUL e a ALCA

Na conferência das Américas realizada em Miami no final de 1994, por

meio do convite efetuado pelo então presidente norte-americano Bill Clinton,

reuniram-se 34 mandatários da América, tendo apenas a ausência do

representante de Cuba. O motivo da reunião seria a criação de uma Zona de

Livre Comércio entre o Alasca e a Terra do Fogo, e para isso, o presidente

norte-americano anunciou sua proposta de iniciar imediatamente negociações

para estabelecer-se a ALCA, e que continuaria empenhando-se para que

houvesse avanços concretos, de tal forma que no ano de 2005, já tivesse

ocorrido à eliminação das barreiras ao comércio e aos investimentos na região,

fato que como sabemos, até o presente momento, ainda não foi alcançado.

Os EUA buscavam dar impulso a constituição da ALCA, tentando

incrementar seu comércio com os países da América, mediante o

estabelecimento de uma Zona de Livre Comércio que lhe brinde uma balança

comercial e de pagamentos favoráveis, competindo diretamente com a UE por

este mercado. A ALCA é uma idéia de Washington e representa uma reação

norte-americana à formação de outros blocos econômicos de dimensões

gigantescas, tais como a UE e a Associação das Nações do Sudeste Asiático.

Por decisão posterior, a ALCA tem o prazo mínimo de sete anos para

sua formação, a partir de 2005, mas nesse instante enfrenta oposição para sua

implementação, tanto do Congresso dos Estados Unidos, cujos congressistas

historicamente defendem os interesses locais dos seus eleitores, quanto dos

demais países do continente americano.

Se implantada, a ALCA poderá transformar-se em um dos maiores

blocos comerciais do mundo, superando mesmo a União Européia. Seu

Produto Interno Bruto (PIB) será da ordem de 18.200 trilhões de dólares (2

trilhões a mais que a UE), e sua população alcançará os 825,3 milhões de

habitantes 30.

O Governo do Presidente George W. Bush, eleito para o período 2002-

2005, e depois reeleito para novo mandato, obteve autorização do Congresso

Norte americano para aplicar o "fast track", fortaleceu a Agência de Comércio

dos Estados Unidos (United States Trade Representative - USTR), e, por fim,

autorizou o Secretário Robert B. Zoelick da USTR, a acelerar as negociações

para a criação da ALCA.

30 Dados obtidos efetuando cálculo dos dados apresentados em www.global21.com.br e www.wikipedia.org

Page 46: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

46

Nesse sentido, o Brasil e o MERCOSUL prevêem grandes dificuldades

na adaptação de suas economias a essa proposta de integração comercial,

preferindo sempre postergar esse processo de negociação, ao mesmo tempo

em que os grupos brasileiros, norte-americanos e dos demais Estados dão

continuidade aos estudos para implantação da ALCA, por meio do Comitê de

Negociações Comerciais (CNC).

No momento, o cenário regional não está propenso para uma maior

integração no sentido de se estabelecer a ALCA, espera-se um cenário

internacional e regional mais adequado para uma tentativa dentro de padrões

mais aceitáveis para os membros do MERCOSUL, a política do atual

presidente norte-americano vem de encontro aos interesses brasileiros.

(1) Acontecimentos Mais Recentes:

O Subsecretário de Comércio dos Estados Unidos, Senhor William H.

Lash III em visita protocolar no mês de fevereiro de 2003, a Representação

Brasileira na Comissão Parlamentar Conjunta do MERCOSUL, foi informado de

maneira bem clara que: "a ALCA só poderá ser um sucesso se atender aos

interesses de todas as economias sul-americanas que a ela vierem a se

associar", ressaltando, ainda, a possibilidade de que "os atuais US$ 30 bilhões

de comércio entre o Brasil e os Estados Unidos se transformem, nos próximos

anos, em, pelo menos, US$ 100 bilhões, pois as nossas economias estão

potencialmente capacitadas para tanto" (VAILLANT, 2006, p.34).

O presidente eleito Barack Obama não pretende incentivar a criação da

ALCA neste momento, os EUA estão passando por problemas econômicos

sérios e ele possui outras prioridades no momento, o que é muito bom para os

objetivos brasileiros.

Ao MERCOSUL interessa que o estabelecimento da ALCA seja fruto de

um processo de integração gradual, cuidadoso, e que as tarifas alfandegárias

impostas pelos norte-americanos aos produtos que entram em seu país, sejam

discutidas antes de eles terem acesso ao mercado dos demais Estados. É de

suma importância a resolução dos problemas gerados pelos subsídios

destinados aos produtos agrícolas norte-americanos, que causam grandes

transtornos a vários Estados do MERCOSUL. Finalmente, defende a tese que

qualquer proposta de criação da ALCA não resulte em extinção do

MERCOSUL, deixando claro que este grupo não se dissolverá para dar início a

Page 47: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

47 outras tentativas de integração. Ou seja, a ALCA é possível desde que conviva

harmonicamente com o MERCOSUL.

No entanto, é claro que para se conseguir o estabelecimento da ALCA

nas bases desejadas pelo MERCOSUL, há que se lograr outros instrumentos

de pressão que flexibilizem a posição norte-americana, como o

estabelecimento de um acordo comercial preferencial com a UE, com bases

mais vantajosas possíveis para o MERCOSUL, a fim de que, nesta posição

possa negociar a ALCA com os EUA. O primeiro passo neste sentido já foi

dado e o Brasil vem também postergando, sempre que possível, qualquer

iniciativa norte-americana de impor a criação da ALCA.

6.4 O MERCOSUL e a União Européia (UE)

O Tratado de Roma foi assinado em 25 de março de 1957 por seis

Estados: Alemanha, Bélgica, França, Holanda, Itália e Luxemburgo. Este

tratado formalizou a criação da Comunidade Econômica Européia, e podemos

dizer nos dias de hoje, que trouxe mais equilíbrio a um continente que possui

um histórico de muitos conflitos entre seus Estados.

É necessário retirar lições e aprendizado das experiências vividas pelos

Estados europeus na consolidação da atual União Européia (UE). O ponto

inicial deve ser a eliminação de barreiras comerciais de forma gradativa. A UE

começou com um mercado comum que envolvia apenas dois produtos

importantes à época: carvão e aço, que com o tempo foi evoluindo para

alimentos e outros itens. Somente em 1992 é que foram retiradas todas as

barreiras ao comércio regional, estabelecendo-se diversas regras de

padronização obrigatórias para todos os membros da comunidade.

No campo político, a integração européia também foi avançando

lentamente, um passo muito importante foi a criação de uma moeda única de

adesão voluntária, porque em um ambiente globalizado, uma moeda única gera

vínculos econômicos e políticos importantes. Os Estados que aderiram ao

Euro, assumiram compromissos importantes de controle de finanças públicas e

de inflação, mas isso também demandou um longo processo de aproximação,

com envolvimentos econômicos, comerciais, sociais e políticos para chegar-se

ao ponto atual.

Page 48: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

48

Nos dias atuais, ideologias estatizantes e populismo não contam com

respaldo social significativo, nem mesmo nos Estados europeus ditos

socialistas.

A consolidação da unificação européia sob o polinômio que integra o

euromercado, moeda única, diplomacia e defesa coletiva faz com que

possamos esperar desse bloco um desempenho relevante como pólo sócio-

econômico neste século XXI.

Os Estados líderes, principalmente a Alemanha, tiveram que efetuar

diversas concessões para viabilizar a integração. Foi necessário apoiar as

economias mais débeis para que houvesse um crescimento em conjunto. Aqui,

há que se mencionar os Fundos Estruturais e de Coesão comunitários. Os

primeiros são o Fundo Social Europeu (FSE), instituído em 1958 para apoiar a

inserção profissional dos desempregados e das categorias da população

desfavorecidas, financiando ações de formação e o Fundo Europeu de

Desenvolvimento Regional (FEDER), atualmente o mais importante, apoia,

desde 1975, a realização de infra-estruturas e investimentos produtivos

geradores de emprego, especialmente destinados às empresas. Para acelerar

a convergência econômica, social e territorial, a União Européia instituiu um

Fundo de Coesão em 1994. Este fundo destina-se aos países cujo PIB médio

por habitante é inferior a 90% da média comunitária. O Fundo de Coesão tem

por finalidade conceder financiamentos a favor de projetos de infra-estruturas

nos domínios do ambiente e dos transportes.

No caso brasileiro, em relação ao MERCOSUL o país vem adotando

algo similar, em alguns momentos é necessário esperar para que as etapas

sejam vencidas de modo sustentável, desta forma, a integração será mais

coesa, sem retrocessos, exatamente como ocorreu na Europa. Aqui cabe

mencionar o Fundo para a Convergência Estrutural do MERCOSUL (FOCEM),

criado pela Decisão CMC N° 45/04, destinado a finan ciar programas para

promover a convergência estrutural; desenvolver a competitividade; promover a

coesão social, em particular das economias menores e regiões menos

desenvolvidas, e apoiar o funcionamento da estrutura institucional e o

fortalecimento do processo de integração. O Fundo dispõe de US$ 100 milhões

anuais. O Brasil contribui com 70% dos recursos do fundo e a Argentina, com

27%. Caberá ao Uruguai ceder 2% do total de contribuições, enquanto o

Paraguai ficará responsável por 1% do total. O Paraguai deverá receber 48%

dos recursos destinados ao FOCEM. O Uruguai terá 32% das verbas, enquanto

Page 49: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

49 Argentina e Brasil disporão, cada um, de 10%. Ainda não foi estabelecido o

valor da participação da Venezuela, agora que está tentando aderir ao bloco.

No caso da União Européia, o tratado de Maastricht (1992) veio dar

respaldo aos diversos processos de integração que vinham ocorrendo nos seus

diferentes campos. O chamado “primeiro pilar” do tratado é constituído por uma

nova redação do Tratado de Roma de 1957 (que criou a Comunidade

Econômica Européia), incorporando-se, entre outros aspectos, o compromisso

da criação da moeda única. A PESC (Política Externa de Segurança Comum) é

objeto do “segundo pilar”. A cooperação (de caráter intergovernamental) em

matéria de segurança interna e assuntos judiciários constitui o “terceiro pilar de

Maastricht” (KFURI, 2004, f.34).

Todo o processo de integração é lento e cheio de incertezas, a própria

UE levou anos para chegar ao estágio atual, e mesmo assim, ainda encontra

problemas, como as solicitações de Estados para aderirem ao bloco com

potencial elevado de risco, como o caso atual da Turquia. Nos dias atuais,

estamos presenciando os Estados com menor poder econômico, como

Portugal, Irlanda, Grécia, apresentarem graves problemas internos, como

conseqüência desta mesma integração.

A UE surge para o MERCOSUL como uma de suas melhores

oportunidades para atingir com êxito uma inserção internacional. O Acordo

Marco Internacional (AMI)31, assinado em 15 de dezembro de 1995 em Madri,

entre os quinze chefes de Estados e de Governo da UE (este era o nº de

Estados membros da UE aquela época) e os presidentes dos Estados

componentes do MERCOSUL, demonstram tal fato.

No entanto, não se pode perder de vista o realismo das Relações

Internacionais, e principalmente com este ator específico, que possui

interesses mais importantes em outras regiões, além de possuir discrepâncias

significativas com o MERCOSUL em relação ao comércio de produtos

agrícolas.

O AMI tem como propósito principal alcançar uma Associação Inter-

regional Política e Econômica que reforce a cooperação econômica e

comercial, a fim de assegurar bases para uma futura liberalização comercial,

apresentando três grandes blocos de atuação:

31 Este acordo na Europa é chamado de Acordo-Quadro com o MERCOSUL (Bacelar, 2002, p.63).

Page 50: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

50

- diálogo político, que busque aproximar as posições de ambas as partes

nas diversas instâncias multilaterais;

- cooperação que inclui quatro áreas: comercial, econômica, integração,

e outra de aspecto geral (narcotráfico, cultura, informação, etc);

- preparação para uma área de livre comércio.

Uma das cláusulas importantes é a chamada “cláusula democrática”,

que inclui a defesa dos direitos humanos.

O acordo também identificou os produtos e setores sensíveis para as

duas partes, e se propõe em um prazo mediano abordar e resolver as

dificuldades de acesso, sendo que o acordo deve ser consistente com as

normas da OMC/GATT.

O AMI marcou um momento fundamental na existência do bloco, pois foi

a primeira vez que o bloco regional atuou como sujeito, com capacidade

jurídica nas Relações Internacionais.

Este acordo tem sido negociado morosamente, sem ter dado nenhum

resultado prático até o presente momento. Porém, as autoridades não devem

perder de vista que este acordo possui além das vantagens econômicas, um

ganho significativo no aspecto político, já que o MERCOSUL estaria se

interligando com um bloco que pode fazer frente aos EUA no cenário

internacional atual, apesar de todos os problemas econômicos que estão

passando, em face da crise ocorrida no ano de 2008, com conseqüências para

os EUA e a própria UE. Não se pode deixar de levar em consideração que a

UE está composta de Estados de grande importância política e estratégica no

cenário internacional, e que esta importância ainda irá perdurar por muitos

anos.

No contexto do XIX Comitê de Negociações Bi-Regionais (XIX CNB), o

MERCOSUL e a União Européia realizaram diversas reuniões nos meses de

novembro e dezembro de 2009, com o propósito de estabelecer um Acordo de

Associação abrangente, equilibrado e ambicioso entre os dois blocos. Em 17

de maio de 2010 foi divulgado oficialmente a intenção da criação deste acordo,

Doze grupos de trabalho realizaram reuniões durante o XIX CNB, o

MERCOSUL e a UE fizeram grandes progressos na parte normativa de

diversas áreas de negociações, como acesso a mercados, regras de origem,

serviços e investimentos, entre outros.

O estabelecimento de uma zona de livre comércio na região

transformaria a América do Sul em um vigoroso bloco econômico, que

Page 51: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

51 capitaneado pelo mercado dos países do MERCOSUL, lhe daria maior poder e

prestígio no âmbito internacional. Com a criação da UNASUL, entende-se que

esta integração colocará o MERCOSUL em uma posição privilegiada na ordem

continental, atribuindo-lhe maior poder de negociação.

O cenário regional não está favorável para o estabelecimento imediato

da ALCA, deve-se esperar um cenário internacional e regional mais adequado

para uma tentativa dentro de padrões mais aceitáveis para os membros do

MERCOSUL.

Para se conseguir o estabelecimento da ALCA nas bases desejadas

pelo MERCOSUL, há que se lograr outros instrumentos de pressão que

flexibilizem a posição norte-americana, como o estabelecimento de um acordo

comercial preferencial com a UE, ou com o Conselho de Cooperação do Golfo.

O AMI é um instrumento importante para o MERCOSUL se inserir no

contexto internacional de forma mais contundente, deve-se buscar seu

implemento com mais determinação, inclusive porque traria uma influência

política maior ao bloco. Essas reuniões do CNB apresentam uma grande

oportunidade do \MERCOSUL acelerar a efetivação do AMI.

7 POSSIBILIDADES DE INTEGRAÇÃO MILITAR REGIONAL

Em 2007, em palestra realizada no Itamaraty, em Brasília, o palestrante

ao responder a pergunta de um Oficial-Aluno, sobre a possibilidade de

integração militar no MERCOSUL, efetuou o seguinte comentário: “Primeiro

devem ser resolvidas às questões comerciais, depois uma integração política e,

posteriormente, pode-se tentar uma integração militar. A União Européia, que

já possui uma moeda própria e um Parlamento, enfrenta dificuldades em

conseguir essa integração”.

Quando se pensa em realizar uma integração militar em um Bloco,

existem três questões significativas que devem ser identificadas: as ameaças

(externas ou internas); o nível de integração existente nesse bloco e, por

último, os óbices existentes entre os componentes do bloco.

No momento, pode-se dizer que não existe ameaça externa eminente ao

bloco. O Almirante Mario César Flores sugere que a presença da Venezuela,

agora praticamente como membro pleno do Tratado, pode tornar-se um

Page 52: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

52 complicador, gerando uma ameaça com o “potencial de turbulência do

petropopulismo, anti-americano”32 de seu presidente.

O mais importante seria identificar as possíveis causas de uma

interferência externa nos assuntos internos do Bloco, sejam eles afetos

somente a um ou a mais Estados. As mais variadas formas de tentativas de

internacionalização da Amazônia, a existência de grandes reservas petrolíferas

em águas profundas na costa brasileira, o uso indevido do mar territorial dos

Estados-Membros ou as grandes reservas de água doce, como o Aqüífero

Guarani33, disponíveis na região constituem temas importantes.

Por outro lado, a conjuntura atual na região possui alguns problemas,

tais como: a virulência verbal do Presidente Venezuelano; a estatização do gás

boliviano pelo Presidente Evo Morales, a conhecida vontade Argentina de

recuperar as Malvinas e os problemas recentes entre Argentina e Brasil, na

taxação de produtos fabricados por ambos os Estados.

Em relação às ameaças internas, existe de maneira geral um consenso

sobre questões atuais da América do Sul. Dentre as principais ameaças ao

equilíbrio regional encontram-se o narcotráfico, o crime organizado e o

terrorismo. Os dois primeiros são os principais problemas da região, e são

combatidos de forma sistemática por todos os Estados e, em alguns casos,

com a participação direta das FFAA. No caso particular do narcotráfico ocorre a

intensa e controversa participação da agência americana de combate às

drogas DEA34, presente dentre outros países, no Suriname, Equador, Peru,

Bolívia, Paraguai e Colômbia35.

Para se verificar o nível de integração das FFAA no interior do bloco,

existe a necessidade de se estabelecer os principais pontos de convergência

das políticas de defesa. Dentre esses pontos, pode-se enumerar:

� Cooperação na forma de intercâmbio de pessoal e exercícios

militares;

� Participação em Forças de Paz; e

� Ampliação no desenvolvimento da base industrial de defesa.

32 Expressão usada no texto ”Possibilidades e riscos da união regional”, ainda não publicado. (Flores, 2006, p. 25) 33 O Aqüífero Guarani é o maior manancial de água doce subterrânea transfronteiriço do mundo, estendendo-se pelo Brasil(840.00km2), Paraguai(58.500km2), Uruguai(58.500km2) e Argentina(255.000km2) (Aqüífero, 2006). 34 Em inglês, Drug Enforcement Administration. 35 Aula ministrada pelo Professor Francisco Carlos na EGN em 08/06/2007.

Page 53: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

53

A cooperação em intercâmbios de pessoal sob a forma de reuniões

bilaterais ou multilaterais, cursos ou estágios entre as FFAA é uma das mais

consistentes formas de integração regional. Por sua vez, a execução de

exercícios militares, nos mais diversos cenários impostos pelos possíveis

ambientes de conflito, desenvolve um sentimento de confiança, que se

considera de vital importância para um completo entendimento militar.

A participação em Forças de Paz sempre foi um cenário desejado pelos

governos, como forma de projeção internacional e, também, por ser uma das

formas de contato com outras FFAA mais desenvolvidas, contribuindo para a

absorção de novos conhecimentos tecnológicos, logísticos ou de política de

emprego de forças.

Outro aspecto a ser considerado é o que ocorre atualmente com a

Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (MINUSTAH), com a

participação de diversos países como Argentina, Chile e Uruguai, cabendo ao

Brasil o Comando das tropas. Apesar da participação de militares dos demais

continentes, o envolvimento profissional das FFAA dos estados partes do

MERCOSUL tornou-se um fator motivador de integração, traduzido em parte

pelo simbolismo do emprego das forças em operações efetivamente de caráter

militar.

Importante, também, para consolidar a integração militar seria o

desenvolvimento de uma indústria bélica na região. A fim de evitar a repetição

dos erros do passado, como a falta de encomendas que levaram à falência

diversas empresas nesse setor, os governos estão preocupados com o

estabelecimento de ações políticas necessárias para o desenvolvimento desse

setor industrial. No caso do governo brasileiro, o MD aprovou pela Portaria

Normativa Nº. 586 de 24 de abril de 2006, as Ações Estratégicas para a

Política Nacional da Indústria de Defesa (PNID) (Brasil, 2006 d).

Percebe-se que ocorre um elevado interesse de grandes empresários

em atuar na área de defesa, diversas empresas estrangeiras têm se associado

às nacionais, com o propósito de fabricar variados equipamentos no Brasil, isso

é muito importante para o desenvolvimento regional, como para a própria

independência tecnológica na área militar, fator tão desejado pelos Estados da

região.

Torna-se, então, importante apresentar os principais óbices a essas

possibilidades de integração: no momento, existem governantes com idéias

populistas e que transmitem pouca confiança aos demais; continuada redução

Page 54: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

54 orçamentária na maioria das FFAA do continente; ou de caráter conceitual,

pelo fato dos interesses no Bloco não estarem totalmente alinhados.

Para incrementar esse processo de integração é importante aumentar a

cooperação entre os membros do Bloco, estabelecendo-se as seguintes ações:

- manter os atuais exercícios realizados entre as FFAA, incrementando

dentro do possível a participação de todas as Forças Armadas dos

Estados participantes;

- incentivar o intercâmbio de pessoal, estabelecendo procedimentos

comuns de segurança e defesa;

- buscar a participação conjunta a exemplo do Haiti, das FFAA em

Forças de Paz das Nações Unidas;

- manter as Adidâncias militares junto às Embaixadas de todos os

Estados do Bloco;

- estabelecer acordos para o desenvolvimento em projetos de C&T e

P&D comuns, na área industrial de defesa; e

- incentivar a utilização dos recursos já existentes no setor industrial-

militar do Bloco, a fim de desenvolver a indústria militar de defesa.

Como foi relatado acima, questões comerciais e políticas ainda devem

ser superadas, mas as condições para o processo de integração militar

regional estão em evidência em todos os Estados integrantes do bloco: como a

cooperação na forma de intercâmbio de pessoal e exercícios militares;

participação em Forças de Paz; e ampliação no desenvolvimento da base

industrial de defesa. Com certeza, esta realidade ainda está longe de ser

alcançada, até porque ainda não foi tratada em nenhum “fórum” oficial.

8 CONCLUSÃO

No cenário internacional, presenciamos na atualidade um mundo repleto

de transformações. A nova ordem internacional é caracterizada por uma

grande competição entre as principais potências, visando alcançar a maior

quantidade possível de mercados, buscando, desta forma, maximizar seus

interesses, em um cenário que podemos chamar de uni-multipolar.

Os governos dos Estados neste cenário tendem a possuir uma atuação

muito mais limitada, à medida que estão em jogo grandes quantidades de

fatores, que se configuram como uma complexa trama de interesses, tanto

nacionais como internacionais, onde eles têm de conduzir sua política interna e

Page 55: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

55 externa, de modo coordenado e coerente. Este, com certeza, é o grande

desafio do Estado-Nação moderno.

O processo de regionalização é importante para a inserção no mundo

globalizado, para tal é importante continuar a buscar a integração da região,

construindo instituições regionais fortes como a UNASUL e o MERCOSUL,

como também se deve procurar fortalecer a democracia em toda a América do

Sul. Desta forma, certamente, um dia, poder-se-a chegar a construir um

processo de integração com bases sólidas e duráveis.

Existiram inicialmente entre Argentina e Brasil visões distintas sobre a

importância da integração, para a Argentina a importância era mais econômica,

para o Brasil mais Política e Estratégica, com o propósito de ganhar maior

relevância no cenário internacional.

Durante o processo de criação do MERCOSUL, a ALADI foi muito

importante para o estabelecimento do marco institucional do bloco. Outro fator

também a ser destacado foi a assinatura da Declaração Política do

MERCOSUL, Bolívia e Chile como Zona de Paz, importante para o

fortalecimento na cooperação na área de segurança e defesa.

Ocorreram diversas circunstâncias de naturezas política, econômica,

comercial, tecnológica e militar, originadas em grandes transformações de

ordem econômica internacional, que exerceram um papel relevante na

consolidação da integração entre os dois principais atores do bloco.

O aumento da interdependência entre Argentina e Brasil dará mais

credibilidade ao bloco, fazendo com que o nível de investimentos interno seja

crescente, melhorando as condições de competição do bloco no exterior.

Na fase atual de integração entre Argentina e Brasil, é o momento para

além do econômico, buscar-se uma maior convergência nos aspectos políticos

e estratégicos, de forma a fortalecer a cooperação atual e parecer mais coeso

e forte perante o cenário internacional.

O estabelecimento de uma zona de livre comércio na região

transformará a América do Sul em um vigoroso bloco econômico, que

capitaneado pelo mercado dos Estados do MERCOSUL, lhe dará maior poder

e prestígio no âmbito internacional. O estabelecimento da UNASUL colocará o

MERCOSUL em uma posição privilegiada na ordem continental, atribuindo-lhe

maior poder de negociação.

O momento atual não está favorável para o estabelecimento imediato da

ALCA, deve-se esperar um cenário internacional e regional mais adequado

Page 56: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

56 para este processo, inclusive com padrões mais aceitáveis para os membros

do MERCOSUL. Para o estabelecimento da ALCA nas bases desejadas pelo

MERCOSUL, há que se lograr outros instrumentos de pressão que flexibilizem

a posição norte-americana, como o estabelecimento de um acordo comercial

preferencial com a UE.

O AMI é um instrumento importante para o MERCOSUL se inserir no

contexto internacional de forma mais contundente, deve-se buscar seu

implemento com mais determinação, inclusive porque traria uma influência

política maior ao bloco.

Em todos os processos de integração existem diversos interesses e

objetivos coincidentes. No caso do MERCOSUL pode-se destacar, de maneira

geral, como principais os seguintes: lançar e consolidar políticas internas de

reformas, para poder obter um desenvolvimento econômico sustentado,

ganhando peso político tanto interna como externamente, e com isso poder

melhorar a capacidade de negociação internacional, para conseguir atingir a

tão desejada inserção no primeiro mundo.

Tanto a Argentina como o Brasil possuem uma visão que o processo de

integração existente nos dias atuais no MERCOSUL, deve ao longo do tempo

ser aprofundado e ter um crescimento no sentido horizontal, incluindo mais

Estados da Região, como a recente solicitação de ingresso da Venezuela. É

importante, porém, que este crescimento seja de forma lenta e gradual, para

que possa ocorrer de forma sustentável.

No campo político pode-se destacar o interesse do Brasil de integrar o

Conselho de Segurança da ONU, desejo que não possui a concordância dos

argentinos. Seria interessante para a região que houvesse realmente um

membro neste conselho, isso certamente traria importância política para a

região no cenário internacional. O Brasil deve continuar buscando esse

assento, integrando Forças de Paz, participando sempre dos Fóruns

internacionais, ganhando peso político e respeitabilidade internacional.

No âmbito externo ao continente, deve-se explorar a competição

existente entre os EUA e a UE, que pode ser traduzido pela tentativa de ambos

realizarem acordos comerciais com o MERCOSUL, obtendo-se maiores

vantagens comerciais.

Os primeiros passos para uma futura integração militar estão sendo

dados: cooperação na forma de intercâmbio de pessoal e exercícios militares;

participação em Forças de Paz; e ampliação no desenvolvimento da base

Page 57: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

57 industrial de defesa, mas isso ainda irá demandar um longo tempo até se tornar

uma realidade de fato.

O presente trabalho procurou responder à seguinte pergunta: “Em que

medida é importante manter-se a estratégia de cooperação entre Argentina e

Brasil no MERCOSUL, para fazer frente à nova ordem mundial? Como da

mesma forma, visa confirmar ou não, a hipótese apresentada; qual seja: A

cooperação estratégica entre Argentina e Brasil é importante para o

fortalecimento do MERCOSUL, e o consequente desenvolvimento de ambos

Estados.

A nova ordem mundial apresentou novos atores relevantes no cenário

internacional, como: EUA, Japão e União Européia, mas a partir de 2008,

houve um enfraquecimento dos Estados componentes do G-8, surgindo os

BRICS como agentes importantes e de relevância na atualidade, surgindo

novos atores para participar e influir nas principais decisões no cenário

internacional.

Em um mundo globalizado, com um sistema de comunicações cada vez

mais rápido e eficaz, tudo funcionando em rede, os Estados componentes do

MERCOSUL juntos e em cooperação, capitaneados por Argentina e Brasil

serão mais fortes e respeitados no atual cenário internacional, e as

recomendações efetuadas neste trabalho, certamente seriam uma maneira de

agilizar e facilitar a implementação desse processo.

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58

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60 SARAIVA, Miriam Gomes. Brasil e Argentina: Política Externa para América Latina em Tempos Recentes. Revista Cena Internacional , S.l, ano 7, n.2, 2005. SARAIVA, Miriam Gomes. Os processos de integração latino-americanos e europeu. As experiências dos anos 60 e o modelo de integração com abertura econômica dos anos 90. Revista Internacional de Estudos Políticos , Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 167-190, abr. 1999. SARAIVA, Miriam Gomes. O segundo mandato de Lula e a política externa: poucas novidades. Carta Internacional , mar, 2007. SILVA, Francisco Carlos da. O Brasil na Crise Internacional. Cadernos de Estudos Estratégicos , Rio de Janeiro, n. 2, p. 07-33, abr. 2002. SOUZA, Fernando de. Portugal. Brasil e a União Européia. Cadernos de Estudos Estratégicos , Rio de Janeiro, n. 2, p. 49-70, abr. 2002. VAILLANT, Marcel. Objetivos, resultados y restricciones de la negocia ción común con terceros en el MERCOSUR. S.l, mar. 2006 VALLE, Valéria Marina. O peso das relações inter-regionais com a União Européia em relação a outras alternativas de política externa do Mercosul. Revista Brasileira de Política Internacional , Brasília, DF, n. 1, p. 99-128, 2005. VAZ, Alcides Costa. Mercosul aos dez anos: crise de crescimento ou perda de identidade? Revista Brasileira de Política Internacional , Brasília, DF: n. 1, p. 43- 54, 2001. VAZ, Alcides Costa. Cooperação, Integração e Processo Negociador: A construção do Mercosul. Brasília, DF: IBRI, 2002. VIGEVANI, Tullo; WANDERLEY, Luiz Eduardo. Governos Subnacionais: Inserção Internacional e Integração Regional. São Paulo: Ed Educ, Edunesp e Fapesp. 2005.

Page 61: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

61

APÊNDICE A

GLOSSÁRIO DE CONCEITOS

GLOBALIZAÇÃO – A globalização é um fenômeno social que ocorre em escala

global. Esse processo consiste em uma integração em caráter econômico,

social, cultural e político entre diferentes países.

A integração mundial decorrente do processo de globalização ocorreu em

razão de dois fatores: as inovações tecnológicas e o incremento no fluxo

comercial mundial. (www.brasilescola.com)

.

UNI-MULTIPOLAR. Devido ao cenário internacional da atualidade possuir

somente uma potência global em relação ao poder militar, chama-se UNI, e

como temos diversas potências econômicas, denomina-se MULTIPOLAR, ou

seja, vive-se hoje em uma situação UNI-MULTIPOLAR.

POTÊNCIA-EMERGENTE - é usada neste trabalho para descrever a situação

daqueles Estados em desenvolvimento cuja política aspira não apenas ao

próprio progresso econômico, mas também, especificamente, a uma ampliação

da sua projeção externa.

SOBERANIA - é o poder político, de que dispõe o Estado, de exercer o

comando e o controle, sem submissão aos interesses de outro Estado

(Houaiss, 1994).

UNIÃO ADUANEIRA – área de livre comércio com uma tarifa externa comum

(TEC) ao comércio com terceiros países.

ZONA DE LIVRE COMÉRCIO – Associação comercial de um grupo de países

na qual não há cotas ou tarifas na importação sobre os bens e serviços

originários desses países.

ZONA DE PAZ E COOPERAÇÃO NO ATLÂNTICO SUL - foi criada em 1986

com o propósito de integrar os Estados da região e criar um espaço livre de

conflitos. (SOUZA, 2007, p.62).

Page 62: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

62

APÊNDICE B

DEFINIÇÕES IMPORTANTES

A teoria do comércio internacional registra a classificação de cinco tipos de

associação entre países que decidem integrar suas economias:

1) A Zona de Preferência Tarifária (ZPT) é o mais elementar dos processos

de integração, apenas assegurando níveis tarifários preferenciais para o grupo

de países que conformam a Zona. Assim, uma ZPT estabelece que as tarifas

incidentes sobre o comércio entre os Países Membros do grupo são inferiores

às tarifas cobradas de países não membros.

A ALALC, por exemplo, procurou estabelecer preferências tarifárias entre seus

onze membros, ou seja, entre todos os Estados da América do Sul que

aderiram à tentativa de integração comercial, excluídos apenas a Guiana e o

Suriname, e incluindo-se ainda o México.

2) A Zona de Livre Comércio (ZLC) , uma segunda modalidade, consiste na

eliminação das barreiras tarifárias e não-tarifárias que incidem sobre o

comércio entre os países que constituem a ZLC.

O NAFTA (North American Free Trade Agreement), ou Acordo de Livre

Comércio da América do Norte, firmado entre os Estados Unidos, o México e o

Canadá, é um exemplo de ZLC.

3) A União Aduaneira é uma Zona de Livre Comércio que adota também uma

Tarifa Externa Comum (TEC). Nessa fase do processo de integração, um

conjunto de países aplica uma tarifa para suas importações provenientes de

países não pertencentes ao grupo, qualquer que seja o produto, e, por fim,

prevê a livre circulação de bens entre si com tarifa zero.

O exemplo mais conhecido desse tipo de integração foi a Zollverein (União

Aduaneira, em alemão), idealizada e impulsionada por Otto von Bismarck, o

grande líder responsável pela unificação política da Alemanha, em 1850. A

Zollverein foi criada em 1835 e dissolvida em 1866.

4) O Mercado Comum , quarto estágio de integração econômica, difere

fundamentalmente da União Aduaneira porque, além da livre circulação de

Page 63: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

63 mercadorias, requer a circulação de serviços e fatores de produção, ou seja, de

capitais e pessoas. Porém, deve-se ressaltar que, além da livre circulação de

bens, serviços e fatores de produção, todos os Países Membros de um

Mercado Comum devem seguir os mesmos parâmetros para fixar a política

monetária (fixação de taxas de juros), a política cambial (taxa de câmbio da

moeda nacional) e a política fiscal (tributação e controle de gastos pelo

Estado), ou seja, os Países Membros devem concordar com o avanço

integrado da coordenação das suas políticas macroeconômicas.

A União Europeia, até 1992, foi um exemplo acabado de integração pela via do

Mercado Comum, quando, então, prosseguiu para o estágio mais avançado,

passando a se constituir em uma União Econômica e Monetária.

5) A União Econômica Monetária é a etapa mais avançada dos processos de

integração econômica, até agora alcançada apenas pela União Européia.

A União Econômica e Monetária ocorre quando existe uma moeda comum e

uma política monetária com metas unificadas e reguladas por um Banco

Central comunitário. Desde 2003, a União Européia tem como moeda corrente

o Euro, cuja emissão, controle e fiscalização dependem do Banco Central

Europeu.

Page 64: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

64

ANEXO A

ÁREA E POPULAÇÃO DOS ESTADOS INTEGRANTES DO MERCOSUL

Área dos Estados do Mercosul

Área Total

País Área

Argentina 2,766,890 Km²

Brasil 8,511,965 Km²

Uruguai 176,220 Km²

Paraguai 406,750 Km²

Venezuela 912,050 Km²

Total 12.773.875 Km² Fonte: Aliceweb

População dos Estados do Mercosul

População

País Número

Argentina 40.913.584 (est. Julho 2009) CIA

Brasil 198.739.269 (est. Julho 2009) CIA

Uruguai 3.494.382 (est. Julho 2009) CIA

Paraguai 6.995.655 (est. Julho 2009) CIA

Venezuela 27.223.228 (est. Julho 2009) CIA

Total 290.892.11 milhões

Fonte: CIA

Page 65: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

65

Gráfico Proporcional de População

Fonte: CIA

Page 66: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

PRODUTO INTERNO BRUT

País

Argentina

Brasil

Uruguai

Paraguai

Venezuela

Proporcionalidade do

Brasil

67%

Uruguai

1%

Paraguai

Mercosul

ANEXO B

PRODUTO INTERNO BRUT O (PIB) DOS ESTADOS INTEGRANTES

MERCOSUL

PIB dos Estados do Mercosul

PIB (paridade com poder de compra)

PIB

Argentina US$ 575.6 bilhões (est.2008)

Brasil US$ 1.99 trilhões (est.2008)

Uruguai US$ 42.46 bilhões (est.2008)

Paraguai US$ 28.71 bilhões (est.2008)

Venezuela US$345.4 bilhões (est.2008)

Fonte: CIA

roporcionalidade do PIB dos Estados do Mercosul

Fonte: Aliceweb

Venezuela

12%Argentina

19%

Brasil

67%

Uruguai

Paraguai

1%

Mercosul - Produtos Interno Bruto

66

ESTADOS INTEGRANTES DO

Argentina

19%

Page 67: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

RELAÇÃO COMERCIAL EN

Intercâmbio

Intercâmbio Comercial Brasil

Importações

Argentina

Paraguai

Uruguai

Proporcionalidade das

Importação Brasil

ANEXO C

RELAÇÃO COMERCIAL EN TRE BRASIL E O MERCO

ntercâmbio Comercial entre o Brasil e os Estados do Mercosul

Intercâmbio Comercial Brasil - Mercosul

2006 2007

8.053.262.647 10.404.245.932 13.257.925.661

295.899.121 434.120.360

618.224.941 786.386.052 1.018.199.079

Fonte: Aliceweb

roporcionalidade das Importações Brasileiras

Fonte: Aliceweb

Paraguai

3%

Uruguai

7%

Argentina

90%

Importação Brasil - Mercosul / 2008

67

TRE BRASIL E O MERCO SUL

2008

13.257.925.661

657.494.515

1.018.199.079

Page 68: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

Intercâmbio

Intercâmbio Comercial Brasil

Exportações

Argentina 11.739.591.939

Paraguai 1.233.638.638

Uruguai 1.012.597.766

Proporcionalidade das

Exportação Brasil

ntercâmbio Comercial entre o Brasil e os Estados do Mercosul

Intercâmbio Comercial Brasil - Mercosul US$ FOB

2006 2007

11.739.591.939 14.416.945.588 17.605.620.920

1.233.638.638 1.648.191.224 2.487.561.397

1.012.597.766 1.288.439.665 1.644.125.714

Fonte: Aliceweb

roporcionalidade das Exportações Brasileiras

Fonte: Aliceweb

Paraguai

9% Uruguai

7%

Argentina

84%

Exportação Brasil - Mercosul / 2008

68

ercosul

2008

17.605.620.920

2.487.561.397

1.644.125.714

Page 69: SEIXAS, Carlos Henrique S. . A importância da Cooperação no

69

Balança Comercial Brasil - MERCOSUL/ 2008 Valores em US$ FOB

Mês Exportação Importação Saldo Corrente de Comércio

JAN 1.591.568.054 1.292.741.036 298.827.018 2.884.309.090

FEV 1.593.500.150 1.275.604.355 317.895.795 2.869.104.505

MAR 1.614.012.879 1.135.718.451 478.294.428 2.749.731.330

ABR 1.615.764.317 1.035.827.648 579.936.669 2.651.591.965

MAI 2.020.268.307 1.201.205.316 819.062.991 3.221.473.623

JUN 2.023.778.741 1.095.804.299 927.974.442 3.119.583.040

JUL 2.208.982.856 1.230.191.800 978.791.056 3.439.174.656

AGO 2.172.035.528 1.294.874.600 877.160.928 3.466.910.128

SET 2.119.601.478 1.638.738.999 480.862.479 3.758.340.477

OUT 2.002.839.638 1.577.412.440 425.427.198 3.580.252.078

NOV 1.505.895.655 1.152.637.289 353.258.366 2.658.532.944

DEZ 1.269.060.428 1.002.863.022 266.197.406 2.271.923.450

Acumulado 21.737.308.031 14.933.619.255 6.803.688.776 36.670.927.286

Fonte: Aliceweb

Intercâmbio Comercial Brasileiro - Mercosul

Exportação Importação

Ano US$ FOB Var % Part % US$ FOB Var % Part %

2000 7.739.599.181 14,18 14,04 7.796.208.525 16,03 13,96

2001 6.374.455.028 -17,64 10,94 7.009.674.042 -10,09 12,61

2002 3.318.675.277 -47,94 5,49 5.611.720.224 -19,94 11,88

2003 5.684.309.729 71,28 7,77 5.685.228.972 1,31 11,76

2004 8.934.901.994 57,19 9,24 6.390.492.978 12,41 10,17

2005 11.746.011.414 31,46 9,91 7.053.699.272 10,38 9,58

2006 13.985.828.343 19,07 10,15 8.967.386.709 27,13 9,82

2007 17.353.576.477 24,08 10,8 11.624.752.344 29,63 9,64

2008 21.737.308.031 25,26 10,98 14.933.627.214 28,46 8,62

Fonte: Aliceweb