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Seleção dos principais julgados do STF e do STJ
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Jurisprudência de Direito Administrativo - Página 1
Jurisprudência do STF e STF
Direito Administrativo
(Junho-Setembro/2010)
Prof. Walter Aranha Capanema – [email protected]
Informativo 440/STJ:
GREVE. SERVIDOR PÚBLICO.
Nos dias de hoje, ainda não há lei que discipline o exercício do direito de greve pelo
servidor público. Frente a essa omissão estatal, o STF, quando do julgamento de
mandado de injunção, estabeleceu regramento quanto à competência e ao processo
de dissídio de greve com o fim de dar efetividade ao preceito constitucional. Diante
disso e das regras constitucionais que dispõem sobre o serviço público, então se
constata não haver como aplicar, por analogia, a lei de greve dos trabalhadores a
essa hipótese. Não se ajusta ao regramento ditado pelo STF ser obrigatório o
decote dos dias parados nos vencimentos dos servidores em greve; pois, nesse
julgado, há sim previsão de situações excepcionais a serem sopesadas pelos
tribunais que afastam a premissa da suspensão do contrato de trabalho e,
consequentemente, o não pagamento dos salários. Também, não se deduz do
julgado que se possa excluir o poder cautelar do juízo nesses dissídios; pois, ao
contrário, cuidou de regrar essa atuação. Assim, diante da permissão de os
servidores públicos exercerem seu direito de greve e do fato de que seus
vencimentos caracterizam-se como verba alimentar, não há como dar guarida à
pretensão do Poder Público de corte obrigatório de salários sem que se esteja
diante de retaliação, punição, represália e redução a um nada desse legítimo direito
constitucional. O referido desconto suprime o sustento do servidor e sua família,
quanto mais se não existe disciplina legal para a formação de fundo que custeie o
movimento grevista ou mesmo contribuição específica do servidor para lhe
assegurar o exercício desse direito social. A omissão do Estado de, efetivamente,
implantar tal fundo equivale à situação excepcional que justifica afastar a premissa
da suspensão do contrato de trabalho (art. 7º da Lei n. 7.783/1989). Anote-se, por
último, estar-se no trato de medida cautelar preparatória; dessa forma, não se
declarou o direito de remuneração independente do trabalho, pois cabe à decisão a
ser proferida na ação principal dispor sobre a restituição ao erário ou sobre a
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compensação dos dias parados na forma da lei. Precedente citado do STF: MI 708-
DF, DJe 31/10/2008. AgRg na MC 16.774-DF, Rel. Min. Hamilton Carvalhido,
julgado em 23/6/2010.
PAD. INSTAURAÇÃO. INVESTIGADO.
A Seção entendeu que é nula a portaria que aplica a pena de demissão a servidor
público autárquico em conclusão a processo administrativo disciplinar (PAD) que foi
instaurado por um dos investigados ou que tenha testemunha também investigada,
que sequer prestou o compromisso de dizer a verdade perante a comissão
disciplinar, uma vez que ofendidos os princípios da impessoalidade (art. 37, caput,
CF/1988) e imparcialidade (art. 18 da Lei n. 9.784/1999). MS 14.233-DF, Rel. Min.
Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 23/6/2010.
IMPROBIDADE. PROVA EMPRESTADA.
Na ação de responsabilidade por ato de improbidade administrativa, utilizou-se
prova emprestada constante de inquérito civil público consistente de laudo pericial
produzido administrativamente, sem a observância de contraditório e ampla defesa.
Conforme precedentes, essa circunstância, por si só, não é capaz de nulificar a
prova, pois se deve contrapô-la às demais postas nos autos. Sucede que esses
outros elementos, com ênfase na prova testemunhal (genérica e sem convicção),
não conduzem à conclusão de que possa haver prática de ato de improbidade pelos
réus, solução também adotada pelo tribunal a quo, que não pode ser revista pelo
STJ (Súm. n. 7-STJ). Precedentes citados: REsp 849.841-MG, DJ 11/9/2007, e HC
141.249-SP, DJe 3/5/2010. REsp 1.189.192-GO, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado
em 22/6/2010.
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Informativo 441/STJ:
REINTEGRAÇÃO. SERVIDOR PÚBLICO CELETISTA.
Trata-se de conflito negativo interno de competência em que a Segunda e a
Terceira Seção deste Superior Tribunal declararam-se incompetentes para julgar
recurso especial no qual o recorrente sustenta, entre outras questões, a nulidade ou
anulabilidade de ato administrativo que o demitiu indevidamente e, em
consequência, requer sua reintegração. É cediço que, no Superior Tribunal de
Justiça, a competência fixa-se em função da natureza da relação jurídica litigiosa
que delimita o tema submetido a seu conhecimento. Em sendo assim, a ação de
nulidade de rescisão de contrato de trabalho cumulada com reintegração ao cargo
de policial rodoviário federal proposta por servidor público celetista, sob a égide da
Lei n. 6.185/1974, submetido, portanto, ao regime constitucional anterior, versa
sobre relação jurídica litigiosa sujeita atualmente à competência da Primeira Seção
a teor do art. 9º, § 1º, XI, do RISTJ, com a redação dada pela Emenda Regimental
n. 11/2010; porém, há que ser dirimida por uma das Turmas da Terceira Seção em
face da ressalva do art. 3º da sobredita emenda. Diante disso, a Corte Especial
conheceu do conflito e declarou competente uma das Turmas da Terceira Seção
para julgar o feito. Precedentes citados: REsp 512.599-PR, DJ 27/9/2004, e CC
33.268-SP, DJ 4/2/2002. CC 95.776-PR, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado
em 4/8/2010.
ACP. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
Trata-se de ação civil pública (ACP) ajuizada na origem pelo MP estadual por ato de
improbidade na contratação de serviço de transporte público para alunos, de modo
fracionado, em três períodos, quando já havia a dimensão do serviço por todo o ano
letivo. Segundo a sentença condenatória, esse fracionamento em períodos
sucessivos deu-se para haver dispensa da modalidade de licitação de tomada de
preços e possibilitar a licitação por convite. Daí o juiz considerar nulas as licitações
e condenar o ex-prefeito e demais corréus por prática de ato de improbidade, nos
termos do art. 11, I, da Lei n. 8.429/1992 (LIA), aplicando-lhes ainda multa civil. No
entanto, o tribunal a quo reformou essa decisão, excluindo os honorários
advocatícios da condenação dos corréus, bem como afastou a multa ao fundamento
de não haver pedido específico do MP. Para a Min. Relatora, esse fundamento não
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pode ser mantido, visto que, em se tratando de ACP por ato de improbidade
administrativa, o magistrado não fica adstrito aos pedidos formulados pelo autor. Foi
por esse mesmo motivo que o juiz tipificou as condutas dos agentes em dispositivo
diverso daquele apontado pelo Parquet. Nesses casos, assevera que, segundo a
jurisprudência, basta que o autor faça uma descrição genérica dos fatos e
imputação dos réus, sem necessidade de descrever, em minúcias, os
comportamentos e as sanções devidas de cada agente (jura novit curia e da mihi
factum dabo tibi ius). Quanto às penas aplicadas aos agentes ímprobos, ressalta
também a jurisprudência que o magistrado não está obrigado a aplicar
cumulativamente todas as penas previstas no art. 12 da citada lei, podendo,
mediante fundamentação, fixá-las e dosá-las segundo a natureza e as
consequências da infração. Observa, outrossim, que, no caso dos autos, o tribunal a
quo afirmou estar comprovada a existência do dano, o que não comporta reexame.
Também afirma com base em precedentes da Turma que a falta da notificação
prevista no art. 17, § 7º, da citada lei não invalida os atos processuais ulteriores,
salvo se ocorrer efetivo prejuízo. Por essa razão, a Turma não proveu o recurso do
ex-prefeito e proveu o recurso do MP apenas para restabelecer as multas civis.
Precedentes citados: REsp 658.389-MG, DJ 3/8/2007; REsp 631.301-RS, DJ
25/9/2006; REsp 507.574-MG, DJ 8/5/2006; REsp 825.673-MG, DJ 25/5/2006; REsp
964.920-SP, DJe 13/3/2009; REsp 944.555-SC, DJe 20/4/2009; REsp 680.677-RS,
DJ 2/2/2007, e REsp 619.946-RS, DJ 2/8/2007. REsp 1.134.461-SP, Rel. Min.
Eliana Calmon, julgado em 3/8/2010.
MS. LEGITIMIDADE. DEPOSITÁRIO JUDICIAL.
O banco recorrente impetrou MS contra o ato do juízo que, a pedido do síndico,
determinou a transferência dos ativos financeiros da massa falida nele depositados
para outra instituição financeira. Nesse contexto, há legitimidade do banco para a
impetração do mandamus, visto que, tal como prelecionam precedentes do STJ, na
qualidade de depositário judicial, ao desempenhar a função de auxiliar do juízo, ele
pode impetrar o MS como terceiro prejudicado. Anote-se que o CPC, em seu art.
499, prevê direito potestativo do prejudicado, daí não se falar em preclusão. Já o art.
515, § 3º, daquele mesmo código, conforme precedentes do STF, não se aplica,
ainda que por simetria, ao recurso ordinário em mandado de segurança (vide Súm.
n. 41-STJ). Dessarte, os autos devem retornar ao tribunal de origem para exame do
mérito da impetração. Com esse entendimento, a Turma deu parcial provimento ao
recurso, contudo o Min. Sidnei Beneti e a Min. Nancy Andrighi ficaram vencidos em
parte, quanto à extensão dada à inaplicabilidade do art. 515, § 3º, do CPC ao
recurso ordinário de mandado de segurança. Precedentes citados do STF: RMS
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26.959-DF, DJe 15/5/2009; RMS 26.615-DF, DJe 31/10/2008; RMS 24.309-DF, DJ
30/4/2004; do STJ: RMS 25.462-RJ, DJe 20/10/2008; RMS 25.251-SP, DJe
3/5/2010; EDcl no RMS 27.007-SP, DJe 27/10/2009; RMS 14.266-MA, DJ
24/6/2002; AgRg no Ag 790.691-GO, DJe 1º/9/2008, e RMS 27.368-PE, DJe
27/5/2009. RMS 25.553-SP, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 3/8/2010.
ACP. PLANO DE SAÚDE. INTERVENÇÃO. UNIÃO.
A Turma deu provimento ao recurso especial a fim de declarar a ilegitimidade da
União para intervir em ação civil pública (ACP) relativa à nulidade de cláusulas
contratuais em planos de saúde. Assentou-se que a necessidade de intervenção do
referido ente exige a demonstração do real interesse jurídico na demanda,
verificável pela possibilidade de lhe sobrevir prejuízo juridicamente relevante, o que
não ocorre na hipótese em apreço. Precedentes citados: REsp 589.612-RJ, DJe
1º/3/2010, e REsp 777.892-SP, DJ 19/6/2006. REsp 767.989-RJ, Rel. Min. Paulo
Furtado (Desembargador convocado do TJ-BA), julgado em 5/8/2010.
CUMULAÇÃO. CARGOS. SAÚDE.
Trata-se, na espécie, da possibilidade de acumular o cargo de enfermeira da Polícia
Militar estadual com o mesmo cargo no âmbito municipal. A Turma, ao prosseguir o
julgamento, por maioria, entendeu que é possível a acumulação de dois cargos
privativos na área de saúde nas esferas civil e militar, desde que o servidor não
exerça funções tipicamente exigidas para a atividade castrense, e sim atribuições
inerentes a profissões civis, conforme interpretação sistemática do art. 37, XVI, c,
c/c o art. 142, § 3º, II, ambos da CF/1988. RMS 22.765-RJ, Rel. Min. Maria Thereza
de Assis Moura, julgado em 3/8/2010.
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Informativo 442/STJ:
ACP. PRESERVAÇÃO. CONJUNTO ARQUITETÔNICO.
A associação de moradores recorrente, mediante ação civil pública (ACP), busca o
sequestro de importante conjunto arquitetônico incrustado em seu bairro, bem como
o fim de qualquer atividade que lhe prede ou polua, além da proibição de construir
nele anexos ou realizar obras em seu exterior ou interior. Nesse contexto, a
legitimidade da referida associação para a ACP deriva de seu próprio estatuto,
enquanto ele dispõe que um dos objetivos da associação é justamente zelar pela
qualidade de vida no bairro, ao buscar a manutenção do ritmo e grau de sua
ocupação e desenvolvimento, para que prevaleça sua feição de zona residencial.
Sua legitimidade também condiz com a CF/1988, pois o caput de seu art. 225
expressamente vincula o meio ambiente à sadia qualidade de vida. Daí a conclusão
de que a proteção ambiental correlaciona-se diretamente com a qualidade de vida
dos moradores do bairro. Também a legislação federal agasalha essa hipótese,
visto reconhecer que o conceito de meio ambiente encampa o de loteamento,
paisagismo e estética urbana numa relação de continência. Destaca-se o teor do
art. 3º, III, a e d, da Lei n. 6.938/1981, que dispõe ser poluição qualquer degradação
ambiental oriunda de atividades que, direta ou indiretamente, prejudiquem a saúde e
o bem-estar da população ou atinjam as condições estéticas do meio ambiente. Em
suma, diante da legislação vigente, não há como invocar a falta de pertinência
temática entre o objeto social da recorrente e o pleito desenvolvido na ação (art. 5º,
V, b, da Lei n. 7.347/1985). REsp 876.931-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,
julgado em 10/8/2010.
ACP. INDISPONIBILIDADE. BENS. IMPROBIDADE.
O tribunal a quo, apesar de reconhecer presentes os requisitos para o deferimento
da medida liminar de indisponibilidade dos bens do agente tido por ímprobo,
entendeu revogá-la, ao fundamento de que o juízo de piso não especificou a
extensão da constrição. Este Superior Tribunal, quanto ao tema, entende que, se o
ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou enriquecimento ilícito, é
possível a decretação da indisponibilidade de bens do agente tachado de ímprobo.
Esta, contudo, está limitada ao ressarcimento integral do dano (art. 7º da LIA),
somado à execução de eventual sanção pecuniária a ser imposta e qualquer outro
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encargo financeiro que possa decorrer da condenação. Dessa forma, caberia ao
tribunal a quo não revogar, mas, sim, ao entender cabível a medida liminar,
determinar seus limites ou devolver os autos ao juiz singular para tal intento. Com
esse entendimento, a Turma deu provimento ao especial, visto que estão presentes
o perigo da demora e a fumaça do bom direito, pela real possibilidade de
dilapidação do patrimônio público, além de fixar como parâmetro a estimativa de
dano integrante da inicial. Precedentes citados: REsp 817.557-ES, DJe 10/2/2010, e
REsp 762.894-GO, DJe 4/8/2008. REsp 1.161.631-SE, Rel. Min. Humberto Martins,
julgado em 10/8/2010.
CONCESSIONÁRIA. USO. SOLO. SUBSOLO. ESPAÇO AÉREO.
A Turma reafirmou o entendimento de que é ilegal cobrar da concessionária de
serviço público o uso do solo, subsolo ou espaço aéreo (instalação de postes, dutos,
linhas de transmissão etc.), visto que a utilização, nesses casos, reverte em favor da
sociedade (daí não se poder falar em preço público) e que não há serviço público
prestado ou poder de polícia, (o que afasta a natureza de taxa). REsp 863.577-RS,
Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/8/2010.
Informativo 443/STJ:
ACP. LEGITIMIDADE. MPF. ENTIDADE FILANTRÓPICA.
Na hipótese dos autos, foi ajuizada ação civil pública (ACP) pelo parquet federal
(recorrido) contra associação educacional (recorrente), objetivando, entre outros
temas, a declaração judicial de nulidade do registro do certificado de entidade
filantrópica, tendo em vista a suposta distribuição de lucros. Liminarmente, foi
determinada a suspensão da eficácia do referido certificado e de sua imunidade
tributária. O primeiro grau de jurisdição entendeu pela extinção do processo sem
julgamento de mérito, com base na ilegitimidade ativa ad causam do Ministério
Público Federal (MPF), em razão da natureza fiscal do direito controvertido. Tal
decisão foi reformada pelo tribunal a quo, o qual determinou o prosseguimento da
ACP. No REsp, a recorrente sustenta, entre outras alegações, violação dos arts. 3º
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e 267, VI, do CPC. Portanto, cinge-se a questão à análise da legitimidade ativa ad
causam do MPF e da existência de legítimo interesse a justificar o ajuizamento da
mencionada ACP. Nesta instância especial, observou-se que, no caso, a pretensão
recursal excede os limites de tutela do interesse tributário do Estado, atingindo o
próprio interesse social que as entidades filantrópicas visam promover. Ressalte-se
que tais entidades, por desenvolverem um trabalho de complementação das
atividades essenciais do Estado, possuem um patrimônio social com características
públicas, uma vez que é de uso comum, mas relacionado com o uso da própria
sociedade. Assim, o patrimônio público investido na entidade assistencial,
decorrente da isenção tributária concedida, deve ser revertido em proveito das
atividades assistenciais promovidas, dada a nítida função social que a entidade
propõe-se a prestar. O não cumprimento dessas atividades, por desvio de
finalidade, caracterizaria agressão à moralidade administrativa, visto que refletiria na
consecução da própria finalidade social (no caso, na prestação dos serviços de
educação aos seus respectivos alunos – que pagam uma mensalidade subsidiada
em razão de concessão da isenção tributária – e na prestação de atividades
filantrópicas à comunidade). Dessarte, a emissão indevida do certificado de
entidade de fins filantrópicos poderia afetar o interesse social como um todo,
ofendendo não só o patrimônio público, bem como a legítima expectativa de que a
entidade filantrópica reverteria em proveito da sociedade os subsídios tributários
concedidos, até porque eles caracterizam investimento indireto do Estado. Dessa
forma, à semelhança de recente entendimento do STF em repercussão geral (vide
Informativo do STF n. 595) – o parquet possui legitimidade ativa ad causam para
propor a referida ACP, uma vez que configurada grave ofensa ao patrimônio
público, ao interesse social e à moralidade administrativa –, estando assim,
plenamente legitimado para atuar na defesa do interesse coletivo, por evitar que
uma entidade que se apresente como assistencial faça jus a uma isenção tributária
indevida. Nesse panorama, o Min. Teori Albino Zavascki destacou que a restrição
estabelecida no art. 1º, parágrafo único, da Lei n. 7.347/1985 não alcança ação
visando à anulação de atos administrativos concessivos de benefícios fiscais,
alegadamente ilegítimos e prejudiciais ao patrimônio público, cujo ajuizamento pelo
MP decorre de sua função institucional estabelecida pelo art. 129, III, da CF/1988 e
art. 5º, III, b, da LC n. 75/1993, de que trata a Súm. n. 329-STJ. Com essas
considerações, a Turma conheceu parcialmente do recurso e, nessa parte, negou-
lhe provimento. Precedentes citados do STF: RE 576.155-DF; do STJ: REsp
1.120.376-SP, DJe 21/10/2009; REsp 776.549-MG, DJ 31/5/2007; REsp 610.235-
DF, DJ 23/4/2007, e REsp 417.804-PR, DJ 16/5/2005. REsp 1.101.808-SP, Rel.
Min. Hamilton Carvalhido, julgado em 17/8/2010.
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CONCURSO PÚBLICO. DESISTÊNCIAS. OUTRAS NOMEAÇÕES.
Trata-se de RMS no qual a questão cinge-se a saber se, em concursos públicos, as
vagas não preenchidas em razão da desistência de candidatos convocados geram
direito subjetivo aos outros seguintes na ordem de classificação. Para a Min.
Relatora, na hipótese dos autos, ficou devidamente comprovado que os
impetrantes, ora recorrentes, foram aprovados no concurso para provimento do
cargo de analista de administração pública – arquivista, sendo classificados nas
posições 85º e 88º, bem como que foram convocados 37 novos candidatos,
alcançando a 83º colocação, e também ficou comprovada, documentalmente, a
desistência de, pelo menos, cinco candidatos convocados na segunda chamada,
abarcando as colocações ocupadas pelos recorrentes. Evidenciou-se, assim, a
presença do direito líquido e certo reclamado. Diante disso, a Turma deu provimento
ao recurso, visto que a atual jurisprudência deste Superior Tribunal tem entendido
que o desinteresse dos candidatos convocados, ou mesmo sua desclassificação em
razão do não preenchimento de determinados requisitos, gera, para os seguintes na
ordem de classificação, direito subjetivo à nomeação. Precedentes citados: RMS
19.635-MT, DJ 26/11/2007; RMS 27.575-BA, DJe 14/9/2009, e RMS 26.426-AL, DJe
19/12/2008. RMS 32.105-DF, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 19/8/2010.
MP. ACP. PRAZO PRESCRICIONAL. CLÁUSULA.
A Lei n. 7.347/1985, que regula a atuação do Ministério Público como autor da ação
civil pública (ACP), dispõe sobre a titularidade da ação, seu objeto e dá outras
providências, contudo é silente quanto ao prazo prescricional para seu ajuizamento.
Assim, a Turma negou provimento ao recurso, por entender que se deve aplicar
subsidiariamente, na espécie, o prazo prescricional de 10 anos disposto no art. 205
do CC/2002, diante da lacuna na Lei n. 7.347/1985 e no CDC quanto ao prazo
prescricional aplicável nas hipóteses em que se discute a abusividade de cláusula
contratual, que, no caso, estabeleceu reajuste da mensalidade de plano de saúde
em 165 % para o beneficiário que atingir a faixa etária de 60 anos. REsp 995.995-
DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/8/2010.
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RESPONSABILIDADE. CONCESSIONÁRIA. TRENS.
Trata-se de ação de indenização decorrente da morte do filho e irmão das
recorridas, colhido por composição ferroviária. Sucede que a sociedade empresária
que originalmente efetuava o transporte ferroviário no município e que foi
condenada ao ressarcimento deixou de explorar a maior parte do serviço. Então, a
recorrente, mediante licitação, recebeu a concessão para o transporte. Assim, vê-se
que aquela sociedade coexistiu com a recorrente por um bom tempo, antes que
houvesse sua cisão em duas outras. Não há falar, também, em sucessão
empresarial entre elas, visto que a recorrente utilizou-se de investidura originária
(licitação) para assumir a concessão do serviço público, de modo que, exceto por
previsão contratual, não lhe caberia responder por danos ocasionados pela antiga
exploradora. Anote-se que a sociedade foi criada pelo Governo, daí se cuidar de
responsabilidade objetiva, respondendo o Estado subsidiariamente pelas obrigações
não honradas. Por isso tudo, é temeroso atribuir o cumprimento da condenação à
recorrente, que nem concorreu para o evento danoso, apenas porque ostenta a
condição de nova prestadora dos serviços públicos em questão ou porque assumiu
parte do patrimônio da antiga prestadora (trens e trilhos), tal como defendido pelo
acórdão recorrido. Esse entendimento foi acolhido por maioria pela Turma. O Min.
Aldir Passarinho Junior, em seu voto vencido, entendia necessário anular o acórdão
com lastro no art. 535 do CPC. REsp 1.095.447-RJ, Rel. Min. João Otávio de
Noronha, julgado em 17/8/2010.
Informativo 444/STJ:
RESSARCIMENTO. PREFEITO. USO. ESTÁDIO.
In casu, a municipalidade busca o ressarcimento pelo fato de o então prefeito ter
autorizado cessão gratuita de estádio, em janeiro de 1988, para que ali se
realizasse show de cantora internacional. Por esse fato, não se imputou ao então
prefeito crime de responsabilidade, mas responsabilidade administrativa pelo
cometimento de falta na outorga gratuita de bem público (cessão de estádio
público). O tribunal a quo confirmou a sentença que julgou procedente a ação e
condenou o ex-prefeito e o ex-secretário municipal, solidariamente, ao pagamento
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de R$ 185.685,40 com correção monetária desde maio de 2001 e juros de mora a
partir do evento. Para a Min. Relatora, na hipótese, há uma situação singular,
porque, sem a oitiva dos envolvidos, sem a instauração de processo algum, sem
qualquer explicação, chegou-se unilateralmente a valores estimados e, a partir daí,
impôs-se uma estranha obrigação de pagar a um morto, transferindo-a para seu
espólio, e a um ex-secretário municipal. Por outro lado, aponta que a ação só foi
ajuizada em 7/5/2001, passados quase 14 anos, quando já ultrapassado o prazo
prescricional em cinco anos. Ademais, no seu entender, o mais grave é que o
ajuizamento da ação deu-se nove anos depois da morte de um dos réus, o ex-
prefeito (em fevereiro de 1992). Daí ter sido chamado o espólio para responder pelo
débito quando a ação já estava prescrita. Assim, como se trata de matéria de ordem
pública, essa questão prescricional também alcança o litisconsorte, condenado
solidariamente com o ex-prefeito. Esclarece ainda a Min. Relatora que, embora
tenha entendimento jurisprudencial quanto à imprescritibilidade da ação de
ressarcimento ao erário, mesmo quando decorre a imposição da Lei n. 8.429/1992
(Lei de Improbidade Administrativa), aplicada por força do art. 37, § 5°, da CF/1988,
não se pode chamar a ação em questão de reparação de dano ao erário, por se
tratar de ação de cobrança sujeita à prescrição. Com essas considerações, a
Turma, ao prosseguir o julgamento, não conheceu do recurso do ex-secretário e deu
provimento ao do espólio. Precedentes citados do STF: MS 26.210-DF, DJe
10/10/2008; do STJ: REsp 631.679-RS, DJe 9/3/2009; REsp 705.715-SP, DJe
14/5/2008, e REsp 403.153-SP, DJ 20/10/2003. REsp 1.105.059-SP, Rel. Min.
Eliana Calmon, julgado em 24/8/2010.
ACP. DESCONSTITUIÇÃO. SENTENÇA. DANO. ERÁRIO.
Trata-se de imóvel discutido em ação reivindicatória que pertencia originariamente à
companhia de desenvolvimento industrial estadual, e que foi vendido à firma
individual dos recorridos e, em razão de sua inadimplência, o imóvel foi retomado
pela companhia. Sucede que, mesmo inadimplentes com as prestações da compra
e venda, um dos recorridos firmou empréstimo com banco do Estado, por meio de
outra empresa da qual era sócio, dando em garantia o mesmo imóvel.
Posteriormente, deu-se novamente sua inadimplência e o banco o executou,
adjudicando o imóvel. Contudo, a companhia estadual já havia retomado o bem e
repassado a terceiros, não chegando o banco a tomar posse dele. Anotou-se que
aquele recorrido propôs demanda para rescindir a carta de adjudicação, obtendo
decisão favorável. Então, em seguida, os dois recorridos promoveram ação
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Jurisprudência de Direito Administrativo - Página 12
reivindicatória apenas contra o banco, pleiteando, como pedido principal, a
restituição do bem ofertado em garantia e, subsidiariamente, a condenação do
banco ao pagamento de indenização em razão da suposta perda da posse do
imóvel, pretensão que foi acolhida pelo órgão julgador. Observou-se que a ação
reivindicatória só foi ajuizada após a retomada e a alienação do imóvel pela
companhia, no entanto ela não foi chamada para compor essa lide. Diante desses
fatos é que o parquet estadual pleiteou, via ação civil pública (ACP), desconstituir a
sentença proferida em ação reivindicatória, que condenou o banco estadual a
indenizar os recorridos em quase R$ 2 milhões. No entanto, o juiz extinguiu a ACP
sem resolução de mérito (art. 267, VI, do CPC) e entendeu que o pedido de
anulação não guardaria pertinência com o objetivo dessa ação. Por sua vez, o TJ
negou provimento ao apelo do MP, entendendo que a eventual nulidade da
sentença por ausência de citação do litisconsorte passivo necessário deve ser
dirimido por meio de querela nullitatis insanabilis, visto ser a ACP via inadequada à
declaração de nulidade de sentença já atingida pela coisa julgada. A Min. Relatora
anotou que, no recurso, não há questionamento acerca do mérito da questão de
fundo, ou seja, se a companhia era realmente litisconsorte passiva necessária, mas
tão-somente sobre a viabilidade de ajuizamento de ACP pelo MP com objetivo de
obter a desconstituição de sentença nula ou inexistente que tenha causado dano ao
patrimônio público. Por outro lado, assevera que a citação do litisconsorte passivo
necessário, no caso a companhia estadual, constitui pressuposto processual
indispensável à regular formação do contraditório. Assim, a sentença proferida em
processo que tramitou sem a citação de litisconsorte necessário está impregnada de
vício insanável que pode ser impugnado por meio de qualquer ação autônoma
declaratória, seja ela individual ou coletiva, mesmo após o transcurso do prazo
decadencial para ajuizamento da ação rescisória. Segundo a Min. Relatora, não há
justificativa para negar a legitimidade ao MP para, por meio de ACP, impugnar
sentença com vício transrescisório. Nesses casos, explica que o parquet age como
substituto processual da coletividade lesada e tem interesse na anulação do ato
lesivo ainda que o ato seja judicial. Diante do exposto, a Turma deu provimento ao
recurso, determinando o retorno dos autos ao juízo de 1º grau para que examine o
mérito da demanda. Precedentes citados: REsp 1.015.133-MT, DJe 23/4/2010;
REsp 622.405-SP, DJ 20/9/2007; REsp 1.162.074-MG, DJe 26/3/2010; REsp
12.586-SP, DJ 4/11/1991; REsp 194.029-SP, DJ 2/4/2007, e REsp 1.009.246-RN,
DJe 11/9/2008. REsp 445.664-AC, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 24/8/2010.
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Jurisprudência de Direito Administrativo - Página 13
ACP. CONEXÃO. NUNCIAÇÃO. OBRA NOVA.
In casu, a proprietária do lote contíguo à obra nunciada e a associação de
moradores ajuizaram, na origem, ação de nunciação de obra nova cumulada com
pedido de anulação de alvará de construção. Outra associação de defesa da cidade
interpôs ação civil pública e, por conexão, ambas as ações foram reunidas e
julgadas. O tribunal a quo manteve a ordem de demolição do prédio em construção
por infringência das restrições convencionais, fixadas pelo loteador e devidamente
registradas em cartório, uma vez que essas restrições deveriam ser observadas nas
escrituras subsequentes. Para isso, baseou-se no art. 572 do CC/1916, com dupla
fundamentação: uma de que as restrições convencionais devem ser observadas
desde que mais rigorosas que as previstas pela legislação urbanística; o outro
fundamento deu-se com a análise especifica do art. 39 da Lei municipal n.
8.001/1973 (com a redação dada pela Lei municipal n. 9.846/1985), bem como do
art. 5º, XXII, da CF/1988, o qual fora sucintamente ventilado na apelação, mas com
expressa manifestação daquele tribunal. A questão a ser dirimida no REsp está em
saber se as restrições feitas pelo loteador, em convenção particular, quanto à
utilização do solo, guardam consonância com o art. 572 do CC/1916, ou seja, em
síntese, se as limitações dadas ao uso da propriedade introduzidas pelo particular
prevalecem ou não sobre normas municipais, na interpretação dada pelo citado
artigo. A matéria em debate, segundo destacado, tem importância fundamental na
garantia dos espaços verdes, criação e desenvolvimento urbano dos municípios que
por ventura venham a passar por situação semelhante. No caso, a questão tornou-
se polêmica pelo fato de a obra ter obtido alvará de construção. Neste Superior
Tribunal, houve empate no julgamento quanto ao conhecimento do REsp, o que foi
resolvido com o voto de desempate do Min. Carlos Fernando Mathias pelo
conhecimento. Depois, ocorreu outro empate, agora quanto ao mérito. Então,
renovou-se o julgamento e o Min. Mauro Campbell Marques o desempatou ao
acompanhar o voto do Min. Relator, destacando que se depreende dos autos que a
real intenção do loteador era limitar o direito de construir dos promitentes
compradores e de seus sucessores, vedando a construção de edifícios
multifamiliares. Assim, com ou sem lei municipal, toda cadeia dominial está sujeita
aos termos do contrato de compra e venda consignado no registro do imóvel, sendo
essa cláusula dotada de eficácia erga omnes. Isso porque, de acordo com art. 135
do CC/1916, após registrados, os atos jurídicos, no caso a compra e venda,
produzem efeitos em relação aos terceiros. No mesmo sentido é o art. 18 da Lei n.
6.766/1979, já incidente à época da aquisição do terreno pela construtora
recorrente. Logo, a construtora tinha conhecimento das restrições referentes ao
loteamento constantes do registro do imóvel. Dessa forma, ela passa a se subsumir
a esse regramento legal vigente. Por outro lado, assevera o Min. Relator, com base
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Jurisprudência de Direito Administrativo - Página 14
na doutrina, que são admissíveis as restrições convencionais ao direito de
propriedade e ao direito de construir, à luz do jus variandi e do regramento
constitucional sobre a matéria. No entanto, explica que essas limitações
convencionais não ocorreriam em favor do interesse privado, mas da coletividade.
Ainda, segundo o Min. Relator, é possível à Administração e ao legislador municipal
ampliar ou mitigar as restrições urbanístico-ambientais convencionais, embora hoje
se lhes exija um caráter mais rigoroso. De pouco uso ou respeito no modelo do
laissez-faire, elas agora estão em ascensão no Brasil e no direito comparado, como
forma de, a um só tempo, estimular novo consenso de índole solidária e garantir em
favor dos cidadãos espaços verdes e de convivência urbana, em que impere a
qualidade de vida, a beleza estética e a redução dos impactos de desastres
naturais, tal como enchentes. Entre outras considerações, observa que o tribunal a
quo reconheceu a validade da restrição convencional do loteador, interpretando
adequadamente o art. 572 do CC/1916; porém, quanto à lei local, este Superior
Tribunal não pode pronunciar-se. Diante do exposto, ao prosseguir o julgamento, a
Turma negou provimento ao recurso da construtora. REsp 302.906-SP, Rel. Min.
Herman Benjamin, julgado em 26/8/2010.
CONCURSO PÚBLICO. CONVOCAÇÃO. LIMITE. VAGAS.
A Turma reiterou o entendimento de que os candidatos aprovados em determinada
fase do concurso público que não se classificaram dentro do limite de vagas previsto
no edital têm mera expectativa de direito de participarem da etapa subsequente do
certame. No caso, o edital previa que somente os candidatos habilitados até o 95º
lugar nas provas objetivas e de conhecimentos específicos seriam convocados para
a realização dos exames médicos. Como o recorrente classificou-se em 116º lugar,
não tem direito líquido e certo a participar do curso de formação profissional, mas
mera expectativa de direito. Precedentes citados: AgRg no REsp 768.539-RJ, DJe
1º/12/2008; RMS 24.971-BA, DJe 22/9/2008, e RMS 25.394-BA, DJe 5/5/2008. RMS
21.528-MA, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 24/8/2010.
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Jurisprudência de Direito Administrativo - Página 15
Informativo 445/STJ:
ACP AMBIENTAL. JULGAMENTO EXTRA E ULTRA PETITA.
In casu, o recorrente alega violação do disposto nos arts. 128, 459, parágrafo único,
e 460 do CPC, em razão de o tribunal a quo ter mantido a sentença do juízo singular
a qual, segundo o recorrente, excedeu o pedido articulado na exordial, visto que a
ação se refere à degradação da área de 180m² nos limites do Parque Estadual da
Serra do Mar e aquele juízo, alicerçado nas informações da perícia, decidiu que a
área objeto de degradação atingia 650m², sendo que o pedido inicial não se referiu
às construções indicadas na sentença. Ocorre, porém, que a tutela ambiental é de
natureza fungível, de modo que a área objeto da agressão ambiental pode ser de
extensão maior do que a referida na inicial e, uma vez que verificada pelo conjunto
probatório, não importa julgamento ultra ou extra petita. A decisão extra petita é
aquela inaproveitável por conferir à parte providência diversa da ansiada, em virtude
do deferimento de pedido diverso ou fundamentado em causa petendi não eleita.
Consequentemente, não há tal decisão quando o juiz analisa o pedido e aplica o
direito com fundamentos diversos dos expostos na inicial ou mesmo na apelação,
desde que baseados em fatos ligados ao fato base. Na espécie, o juiz decidiu a
quaestio iuris dentro dos limites postos pelas partes, pois a ação tratava de
ocupação e supressão de vegetação nativa e construção de diversas edificações
irregulares em área menor que a constatada pela perícia, sem aprovação dos
órgãos competentes do município e do estado. Assim, a análise do pedido dentro
dos limites postos pela parte não incide no vício in procedendo do julgamento ultra
ou extra petita, afastando, portanto, a suposta ofensa aos arts. 460 e 461 do CPC.
Com esses fundamentos, a Turma negou provimento ao recurso. Precedentes
citados: AgRg no REsp 1.164.488-DF, DJe 7/6/2010; RMS 26.276-SP, DJe
19/10/2009; AgRg no AgRg no REsp 825.954-PR, DJe 15/12/2008; AgRg no Ag
1.038.295-RS, DJe 3/12/2008, e AgRg no Ag 668.909-SP, DJ 20/11/2006. REsp
1.107.219-SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 2/9/2010.
ACP. DANO. MEIO AMBIENTE. PEDIDO.
Na espécie, o tribunal a quo, analisando o conjunto fático-probatório constante dos
autos, concluiu haver agressão ao meio ambiente, com ofensa às leis ambientais. A
Turma, entre outras questões, entendeu que não houve pedido inicial explícito do
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Jurisprudência de Direito Administrativo - Página 16
MP no sentido de que qualquer construção fosse demolida, nem mesmo de que
fossem suspensas as atividades da ora recorrente, ao propor a ação civil pública
(ACP) de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente. Porém essa
simples constatação não conduz à nulidade por desobediência do dever de
adstrição ao pedido. A jurisprudência deste Superior Tribunal entende que o pedido
não deve ser extraído apenas do capítulo da petição reservado aos requerimentos,
mas da interpretação lógico-sistemática das questões apresentadas pela parte ao
longo da petição. No caso, os provimentos supostamente desvinculados do pedido,
antes mesmo de guardar sintonia com os pedidos formulados pelo MP, constituem
condição sine qua non do resultado almejado pela ACP ambiental. Assim, no
contexto, encontra plena aplicação o princípio do poluidor pagador, a indicar que,
fazendo-se necessária determinada medida à recuperação do meio ambiente, é
lícito ao julgador determiná-la, mesmo que não tenha sido instado a tanto.
Precedentes citados: AgRg no Ag 1.038.295-RS, DJe 3/12/2008, e REsp 971.285-
PR, DJe 3/8/2009. REsp 967.375-RJ, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 2/9/2010.
CONVÊNIO. UNIÃO. MUNICÍPIO. ACP. IMPROBIDADE. LEGITIMIDADE.
É remansosa a jurisprudência deste Superior Tribunal no sentido de que, uma vez
que incorporada ao patrimônio do município a verba proveniente de convênios
firmados com a União, compete à Justiça estadual processar e julgar o feito. No
caso, a questão diz respeito à legitimidade do município para ajuizar ação civil
pública (ACP) em razão de improbidade administrativa do ex-prefeito, com o
objetivo de obter o ressarcimento de valores referentes ao convênio que visava
estabelecer condições para erradicação do mosquito da dengue. Assim, se os
valores conveniados foram efetivamente repassados, constituem receitas correntes
do município e seu gasto desvinculado dos termos do convênio pode causar dano
ao erário municipal. Ademais, o município tem interesse em ver cumpridos os
termos do convênio por ele firmado, mesmo que a verba não tenha sido incorporada
a seu patrimônio. Sob essa ótica, a União também poderia ajuizar a ação por
improbidade, pois lhe interessa saber se a parte a quem se vinculou no convênio
cumpriu seus termos. Logo, tanto o município quanto a União são partes legítimas
para propor a ACP; pois, no caso, o combate à proliferação do mosquito envolve
medidas de cooperação entre os entes federados. REsp 1.070.067-RN, Rel. Min.
Mauro Campbell Marques, julgado em 2/9/2010.
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Jurisprudência de Direito Administrativo - Página 17
PRAZO. INQUÉRITO CIVIL PÚBLICO. DANO. ERÁRIO.
A exegese do art. 37, § 5º, da CF/1988 leva ao reconhecimento da
imprescritibilidade da ação civil pública (ACP) para ressarcimento de dano ao erário,
conforme assente neste Superior Tribunal. Na espécie, trata-se de inquérito civil
para apurar danos ao erário, de modo a permitir o ajuizamento de futura ACP,
sendo que o investigado já fora condenado na esfera criminal, bem como na seara
administrativa. O inquérito civil público tem natureza administrativa e é autônomo
em relação ao processo de responsabilidade, do mesmo modo que o processo de
apuração de danos ao erário também é autônomo em relação ao processo penal.
Não há legislação que fixe um prazo para a conclusão do inquérito civil público,
contudo a Res. n. 23/2007 do Conselho Nacional do Ministério Público (Conamp),
em seu art. 9º, prevê que o inquérito civil deve ser concluído em um ano,
prorrogável pelo mesmo prazo, quantas vezes forem necessárias, por decisão
fundamentada de seu presidente. Assim, cabe ao investigado demonstrar que a
dilação do prazo causa-lhe prejuízo, do contrário, inexistindo este, não há dano ou
nulidade. Precedentes citados: HC 70.501-SE, DJ 25/6/2007; MS 10.128-DF, DJe
22/2/2010; MS 13.245-DF, DJe 31/5/2010; REsp 928.725-DF, DJe 5/8/2009, e REsp
1.069.723-SP, DJe 2/4/2009. AgRg no RMS 25.763-RS, Rel. Min. Humberto
Martins, julgado em 2/9/2010.
ACP. DECLARAÇÃO. NULIDADE. ATO JUDICIAL.
A Turma reiterou o entendimento de que é imprescritível a ação civil pública (ACP)
em que se discute a ocorrência de dano ao erário. Assim, o MP tem legitimidade de,
por meio de ACP, impugnar sentença que contenha vício insanável e que
supostamente tenha causado lesão ao patrimônio público. Isso se deve pelas
seguintes razões: o vício insanável contido no provimento de natureza jurisdicional
pode ser impugnado por qualquer ação declaratória, seja ela individual ou coletiva; a
ACP é o instrumento idôneo para veicular pretensão direcionada ao cumprimento
das funções institucionais do MP (art. 129, III, da CF/1988 e art. 25, IV, a, da Lei n.
8.625/1993) e, por fim, o MP, nesses casos, age como substituto processual da
coletividade lesada, que tem interesse na anulação do ato lesivo (ainda que seja
judicial). Precedentes citados do STF: MS 26.210-DF, DJe 10/10/2008; do STJ:
AgRg no REsp 929.287-MG, DJe 21/5/2009; REsp 403.153-SP, DJ 20/10/2003;
REsp 445.664-AC, DJe 3/9/2010, e REsp 710.599-SP, DJ 14/2/2008. REsp
1.187.297-RJ, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 2/9/2010.
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Jurisprudência de Direito Administrativo - Página 18
INTERNET. ASSISTÊNCIA. INTERESSE JURÍDICO.
O Ministério Público Federal (MPF) ajuizou ação civil pública (ACP) contra a
Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e uma companhia telefônica, por
questionar a cobrança duplicada de serviços referentes à conexão de banda larga e
aos de provedor de acesso à internet no transporte de dados em alta velocidade, o
que, a seu ver, configuraria a venda casada: impõe-se ao usuário contratar também
o provedor de acesso à internet para que possa usufruir o referido serviço de
transporte de dados. A recorrente, associação dos provedores de acesso à internet,
busca ser admitida como assistente litisconsorcial ao alegar que a sentença a ser
proferida na ACP diretamente afetaria a ela e a seus associados. Contudo, vê-se
que não há seu interesse jurídico na hipótese, que não se confunde com simples
interesse econômico ou institucional. Nos limites do que se discute na ação, não há
qualquer relação jurídica que una a associação às demais partes da ação, o que
refuta admitir assistência. REsp 1.181.118-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,
julgado em 14/9/2010.
ACP. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. LITISCONSÓRCIO.
A Turma deu provimento ao recurso especial para afastar a incidência do art. 47 do
CPC em ação civil pública (ACP) por improbidade administrativa. Na espécie, o
tribunal a quo anulou a sentença que reconheceu o ato ímprobo dos agentes
públicos por entender que as empresas supostamente envolvidas no esquema de
pagamentos decorrentes de contratos fraudulentos, na condição de beneficiárias ou
participantes (art. 3º da Lei n. 8.429/1992), deveriam compor o polo passivo da
demanda como litisconsortes necessárias. Segundo o Min. Relator, além de o
referido diploma legal não impor a formação do litisconsórcio, não há relação
jurídica unitária entre as partes, já que a conduta do agente, pautada pelos deveres
inerentes à sua função pública, é independente da responsabilização das pessoas
jurídicas mencionadas. Precedentes citados: REsp 737.978-MG, DJe 27/3/2009;
REsp 809.088-RJ, DJ 27/3/2006; AgRg no REsp 759.646-SP, DJe 30/3/2010, e
REsp 1.155.992-PA, DJe 1º/7/2010. REsp 896.044-PA, Rel. Min. Herman Benjamin,
julgado em 16/9/2010.
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Jurisprudência de Direito Administrativo - Página 19
Informativo 590/STF:
ADI e Criação de Cargos em Comissão - 1
O Tribunal julgou procedente pedido formulado em ação direta ajuizada pelo Partido
da Social Democracia Brasileira - PSDB para declarar a inconstitucionalidade do art.
5º, caput, e parágrafo único; art. 6º; das Tabelas II e III do Anexo II e das Tabelas I,
II e III do Anexo III; e das expressões ―atribuições‖, ―denominações‖ e
―especificações‖ de cargos contidas no art. 8º da Lei tocantinense 1.950/2008, que,
ao dispor sobre a organização da estrutura básica do Poder Executivo, criou mais
de 35 mil cargos em comissão. Entendeu-se que a norma impugnada teria
desrespeitado os princípios da proporcionalidade, ante a evidente desproporção
entre número de cargos de provimento em comissão e os de provimento efetivo, e
da moralidade administrativa, além de não observar o disposto no art. 37, V, da CF,
haja vista que grande parte dos cargos criados referir-se-ia a áreas eminentemente
técnicas e operacionais, não se revestindo de natureza de chefia, direção ou
assessoramento, o que estaria a burlar, por conseguinte, a exigência constitucional
do concurso público (CF, art. 37, II). Considerou-se, ademais, que o art. 8º da lei em
questão, ao delegar ao Chefe do Poder Executivo poderes para, mediante decreto,
dispor sobre as competências, as atribuições, as denominações das unidades
setoriais e as especificações dos cargos, bem como a organização e reorganização
administrativa do Estado, teria deixado em aberto a possibilidade de o Governador,
a pretexto de organizar a estrutura administrativa do Estado, criar novos cargos sem
edição de lei, em afronta ao que disposto no art. 61, § 1º, II, a, da CF.
ADI 4125/TO, rel. Min. Cármen Lúcia, 9 e 10.6.2010. (ADI-4125)
ADI e Criação de Cargos em Comissão - 2
Por fim, tendo em conta que os cargos criados pela Lei 1.950/2008 constituem mais
da metade dos cargos da Administração Pública do Estado do Tocantins, sendo que
alguns se referem a atividades estatais essenciais aos cidadãos, que não poderiam
ser onerados pela ausência da prestação em setores sensíveis como os da
educação, da saúde e da segurança pública, fixou-se o prazo de 12 meses, a contar
da data deste julgamento, a fim de que o Poder Executivo reveja as nomeações
feitas quanto aos cargos criados pelas normas declaradas inválidas, desfazendo-as
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Jurisprudência de Direito Administrativo - Página 20
e substituindo-as pelo provimento dos cargos de igual natureza e de provimento
efetivo vagos, mediante realização de concursos públicos ou pela criação de novos
cargos, de provimento efetivo, para o desempenho das funções correspondentes às
entregues a ocupantes de provimento comissionado com base na lei impugnada.
Determinou-se, também, a remessa de cópia do processo e do acórdão ao
Ministério Público estadual e ao Conselho Nacional do Ministério Público. Vencidos,
no ponto, os Ministros Marco Aurélio e Cezar Peluso, que não fixavam nenhum
prazo. Alguns precedentes citados: ADI 2551 QO-MC/MG (DJU de 20.4.2006); RE
365368/SC (DJU de 29.6.2007); ADI 3706/MS (DJE de 5.10.2007); ADI 3233/PB
(DJU de 14.9.2007); ADI 2661 MC/MA (DJU de 23.8.2002); ADI 3232/TO (DJE de
3.10.2008); ADI 3983/TO (DJE de 3.10.2008); ADI 3990/TO (DJE de 3.10.2008).
ADI 4125/TO, rel. Min. Cármen Lúcia, 9 e 10.6.2010. (ADI-4125)
Informativo 591/STF:
Exame Psicotécnico: Lei e Critérios Objetivos
O Tribunal, por maioria, resolveu questão de ordem suscitada em agravo de
instrumento no sentido de: a) reconhecer a repercussão geral da matéria versada
em recurso extraordinário no qual se pretendia anular exame de aptidão psicológica;
b) reafirmar a jurisprudência da Corte segundo a qual a exigência do exame
psicotécnico em concurso depende de previsão legal e editalícia, bem como deve
seguir critérios objetivos; c) negar provimento ao recurso, tendo em vista que o
acórdão impugnado estaria de acordo com a jurisprudência pacificada na Corte; d)
autorizar o Supremo e os demais tribunais a adotar procedimentos relacionados à
repercussão geral, principalmente a retratação das decisões ou a declaração de
prejuízo dos recursos extraordinários, sempre que as decisões contrariarem ou
confirmarem a jurisprudência ora reafirmada (CPC, art. 543-B, § 3º). Vencido o Min.
Marco Aurélio que entendia não caber o conhecimento do agravo de instrumento,
por reputar que ele deveria ser julgado pelo relator, com os desdobramentos
possíveis.
AI 758533 QO/MG, rel. Min. Gilmar Mendes, 23.6.2010. (AI-758533)
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Jurisprudência de Direito Administrativo - Página 21
Informativo 594/STF:
Mandado de Injunção: Aposentadoria Especial de Oficiais de Justiça - 1
O Tribunal iniciou julgamento de mandado de injunção coletivo impetrado pelo
Sindicato dos Servidores das Justiças Federais no Estado do Rio de Janeiro -
SISEJUFE/RJ em que se alega omissão legislativa dos Presidentes da República e
do Congresso Nacional, ante a ausência de regulamentação do art. 40, § 4º, da CF,
para a aposentadoria especial dos ocupantes do cargo de Oficial de Justiça
Avaliador Federal. Pede o impetrante a aplicação analógica da disciplina prevista na
Lei Complementar 51/85, no que regulamenta a aposentadoria especial para
funcionário policial. Preliminarmente, o Tribunal, por maioria, reputou admissível o
mandado de injunção coletivo. Vencido, no ponto, o Min. Marco Aurélio, que não o
admitia ao fundamento de que o mandado de injunção estaria previsto na
Constituição Federal para viabilizar o exercício de direito individual. Rejeitou-se,
também, o alegado prejuízo da impetração pelo envio, ao Congresso Nacional, de
projeto de lei acerca da matéria, porquanto, nos termos da jurisprudência da Corte,
seu acolhimento poderia esvaziar o acesso à justiça por meio desse importante
instrumento constitucional.
MI 833/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 2.8.2010. (MI-833)Audio
Mandado de Injunção: Aposentadoria Especial de Oficiais de Justiça - 2
No mérito, a Min. Cármen Lúcia, relatora, reconheceu a mora legislativa e a
necessidade de se dar eficácia às normas constitucionais e efetividade ao direito
alegado. Concedeu em parte a ordem para integrar a norma constitucional e garantir
a viabilidade do direito assegurado aos substituídos do impetrante, que estejam no
desempenho efetivo da função de Oficial Avaliador, o que disposto no art. 40, § 4º,
II, da CF. Assegurou-lhes a aplicação do inciso I do art. 1º da LC 51/85, no que
couber, a partir da comprovação dos dados, em cada caso concreto, perante a
autoridade administrativa competente. De início, ressaltou a peculiaridade da
situação em apreço, de modo a afastar a possibilidade de julgamento monocrático a
partir do que decidido no MI 721/DF (DJE de 30.11.2007). Considerou a
necessidade do exame do cabimento, ou não, de aplicação analógica do disposto
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Jurisprudência de Direito Administrativo - Página 22
na aludida LC 51/85 à aposentação especial fundada no inciso II do § 4º do art. 40
da CF (―§ 4º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a
concessão de aposentadoria aos abrangidos pelo regime de que trata este artigo,
ressalvados, nos termos definidos em leis complementares, os casos de servidores:
... II - que exerçam atividades de risco;‖). Consignou, ainda, que o STF, no
julgamento da ADI 3817/DF (DJE de 3.4.2009), assentara a recepção do inciso I do
art. 1º da LC 51/85 — que cuida da aposentadoria voluntária de funcionário policial
—, não tendo apreciado, ante a desnecessidade, o inciso II daquele mesmo artigo
— que determina a aposentadoria compulsória do policial, com proventos
proporcionais ao tempo de serviço, aos 65 anos de idade, qualquer que seja a
natureza dos serviços prestados.
MI 833/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 2.8.2010. (MI-833)Audio
Mandado de Injunção: Aposentadoria Especial de Oficiais de Justiça - 3
A relatora enfatizou não reputar superada a mora legislativa com a declaração de
recepção da LC 51/85, porque esta se encontra dirigida ao policial, cargo este com
atribuições e responsabilidades nas quais não se enquadrariam os Oficiais de
Justiça. Aduziu que a mera comunicação dessa omissão não seria suficiente para
os fins pretendidos pelo impetrante, devendo-se perquirir sobre o enquadramento
dos Oficiais de Justiça Avaliadores Federais no desempenho de função de risco
para se cogitar da aplicação analógica da LC 51/85. No ponto, destacou a existência
de reconhecimento legal da presença do risco no exercício da atividade por eles
desenvolvida, o que seria bastante para a sua adequação na hipótese do inciso II do
§ 4º do art. 40 da CF. Observou, de outro lado, que dificuldades poderiam surgir
quando da análise, pelas autoridades administrativas competentes, dos
requerimentos de aposentadorias dos servidores enquadrados no mencionado art.
40, § 4º, II, da CF, porquanto aqui não haveria que se falar em sujeição dos
trabalhadores a agentes nocivos ou a associação de agentes prejudiciais a sua
saúde ou a sua integridade física para a aquisição do direito à aposentadoria
especial, a ensejar o afastamento do art. 57 da Lei 8.213/91. Ademais, acentuou
que a mera desconsideração das exigências previstas nesse artigo poderia conduzir
a uma situação de flagrante ofensa ao princípio da isonomia, dado que permitiria a
aposentação de servidores públicos, que exerceram a mesma atividade, com a
observância de diferentes prazos de carência. Assim, entendeu que a utilização do
inciso I do art. 1º da LC 51/85 possibilitaria uma integração maior da solução
adotada pelo STF em relação à omissão legislativa verificada, superando as
dificuldades advindas da aplicação do art. 57 da Lei 8.213/91.
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Jurisprudência de Direito Administrativo - Página 23
MI 833/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 2.8.2010. (MI-833)Audio
Mandado de Injunção: Aposentadoria Especial de Oficiais de Justiça - 4
Em seguida, a relatora rejeitou o pedido para que o STF procedesse à diferenciação
entre o tempo necessário para a aposentadoria voluntária dos substituídos sob o
critério de gênero — homens ou mulheres —, uma vez que, por se tratar de
aposentadoria especial, dispensável se falar em obrigatoriedade na adoção de
requisitos e critérios referentes à aposentadoria comum, sendo tal questão,
portanto, afeta à discricionariedade do legislador quando vier a regulamentar a
matéria nos termos do art. 40, § 4º, da CF. De igual modo, repeliu a alegação de
que o § 5º do art. 40 da CF (―§ 5º - Os requisitos de idade e de tempo de
contribuição serão reduzidos em cinco anos, em relação ao disposto no § 1º, III, ‗a‘,
para o professor que comprove exclusivamente tempo de efetivo exercício das
funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio.‖)
evidenciaria a necessidade de observância dessa distinção, já que o dispositivo se
refere à aposentadoria especial de professor. Concluiu que o Oficial de Justiça
Avaliador Federal poderá se aposentar voluntariamente, com proventos integrais,
após 30 anos de serviço, desde que conte com, pelo menos, 20 anos de exercício
neste ou em outro cargo de natureza de risco, até que suprida a lacuna legislativa
referente ao art. 40, § 4º, II, da CF. Relativamente à aposentadoria compulsória,
asseverou que esta deverá ocorrer nos termos do art. 40, § 1º, II, da CF, tomando-
se como referência da proporcionalidade o tempo previsto no inciso I do art. 1º da
LC 51/85. Após o voto do Min. Ricardo Lewandowski que acompanhava a relatora,
pediu vista dos autos o Min. Ayres Britto.
MI 833/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 2.8.2010. (MI-833)Audio
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Jurisprudência de Direito Administrativo - Página 24
Informativo 595/STF:
Legitimidade do Ministério Público: Ação Civil Pública e Anulação de TARE - 5
O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública com o objetivo
de anular Termo de Acordo de Regime Especial - TARE firmado entre o Distrito
Federal e empresas beneficiárias de redução fiscal. Com base nesse entendimento,
o Tribunal, por maioria, proveu recurso extraordinário interposto contra acórdão do
STJ que afastara essa legitimidade — v. Informativos 510, 545 e 563. Na espécie,
alegava o Ministério Público, na ação civil pública sob exame, que a Secretaria de
Fazenda do Distrito Federal, ao deixar de observar os parâmetros fixados no próprio
Decreto regulamentar, teria editado a Portaria 292/99, que estabeleceu percentuais
de crédito fixos para os produtos que enumera, tanto para as saídas internas quanto
para as interestaduais, reduzindo, com isso, o valor que deveria ser recolhido a
título de ICMS. Sustentava que, ao fim dos 12 meses de vigência do acordo, o
Subsecretário da Receita do DF teria descumprido o disposto no art. 36, § 1º, da Lei
Complementar federal 87/96 e nos artigos 37 e 38 da Lei distrital 1.254/96, ao não
proceder à apuração do imposto devido, com base na escrituração regular do
contribuinte, computando eventuais diferenças positivas ou negativas, para o efeito
de pagamento. Afirmava, por fim, que o TARE em questão causara prejuízo mensal
ao DF que variava entre 2,5% a 4%, nas saídas interestaduais, e entre 1% a 4,5%,
nas saídas internas, do ICMS devido.
RE 576155/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 12.8.2010. (RE-576155)Audio
Legitimidade do Ministério Público: Ação Civil Pública e Anulação de TARE - 6
Entendeu-se que a ação civil pública ajuizada contra o citado TARE não estaria
limitada à proteção de interesse individual, mas abrangeria interesses
metaindividuais, pois o referido acordo, ao beneficiar uma empresa privada e
garantir-lhe o regime especial de apuração do ICMS, poderia, em tese, implicar
lesão ao patrimônio público, fato que, por si só, legitimaria a atuação do parquet,
tendo em conta, sobretudo, as condições nas quais celebrado ou executado esse
acordo (CF, art. 129, III). Reportou-se, em seguida, à orientação firmada pela Corte
em diversos precedentes no sentido da legitimidade do Ministério Público para
ajuizar ações civis públicas em defesa de interesses metaindividuais, do erário e do
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Jurisprudência de Direito Administrativo - Página 25
patrimônio público. Asseverou-se não ser possível aplicar, na hipótese, o parágrafo
único do art. 1º da Lei 7.347/85, que veda que o Ministério Público proponha ações
civis públicas para veicular pretensões relativas a matérias tributárias
individualizáveis, visto que a citada ação civil pública não teria sido ajuizada para
proteger direito de determinado contribuinte, mas para defender o interesse mais
amplo de todos os cidadãos do Distrito Federal, no que respeita à integridade do
erário e à higidez do processo de arrecadação tributária, o qual apresenta natureza
manifestamente metaindividual. No ponto, ressaltou-se que, ao veicular, em juízo, a
ilegalidade do acordo que concede regime tributário especial a certa empresa, bem
como a omissão do Subsecretário da Receita do DF no que tange à apuração do
imposto devido, a partir do exame da escrituração do contribuinte beneficiado, o
parquet teria agido em defesa do patrimônio público. Vencidos os Ministros
Menezes Direito, Cármen Lúcia, Eros Grau e Gilmar Mendes que negavam
provimento ao recurso.
RE 576155/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 12.8.2010. (RE-576155)Audio
Informativo 597/STF:
Ministério Público: Ação Civil Pública e Saneamento
É consentâneo com a ordem jurídica o Ministério Público ajuizar ação civil pública
visando ao tratamento de esgoto a ser jogado em águas fluviais. Com base nesse
entendimento, a Turma proveu recurso extraordinário, interposto pelo Ministério
Público do Estado de São Paulo, para afastar a extinção declarada do feito e
determinar o julgamento do tema de fundo veiculado na apelação do Município de
Sorocaba, pronunciando-se o Órgão quanto à remessa obrigatória. Frisou-se que
não caberia, no caso, cogitar-se da impossibilidade jurídica do pedido e da extinção
do processo sem julgamento do mérito.
RE 254764/SP, rel. Min. Marco Aurélio, 24.8.2010. (RE-254764)Audio