39
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS CURSO DE MEDICINA TRIAGEM NEONATAL: TESTE DO PEZINHO ARIELY TEOTONIO BORGES DANILO RODRIGUES CASSIANO GABRIELLA BASTOS DE CASTRO PAULO SILVA REIS PEDRO HENRIQUE MAGGI CARLESSO RENATA ANDRADE MELLO SILVIA THAIS SÁ PIMENTA VALESSA VERZELONI DE OLIVEIRA FERREIRA VICTOR HUGO DA VEIGA JARDIM CUIABÁ 2010

SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS

CURSO DE MEDICINA

TRIAGEM NEONATAL: TESTE DO

PEZINHO

ARIELY TEOTONIO BORGES

DANILO RODRIGUES CASSIANO

GABRIELLA BASTOS DE CASTRO

PAULO SILVA REIS

PEDRO HENRIQUE MAGGI CARLESSO

RENATA ANDRADE MELLO

SILVIA THAIS SÁ PIMENTA

VALESSA VERZELONI DE OLIVEIRA FERREIRA

VICTOR HUGO DA VEIGA JARDIM

CUIABÁ

2010

Page 2: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

2

ARIELY TEOTONIO BORGES

DANILO RODRIGUES CASSIANO

GABRIELLA BASTOS DE CASTRO

PAULO SILVA REIS

PEDRO HENRIQUE MAGGI CARLESSO

RENATA ANDRADE MELLO

SILVIA THAIS SÁ PIMENTA

VALESSA VERZELONI DE OLIVEIRA FERREIRA

VICTOR HUGO DA VEIGA JARDIM

TRIAGEM NEONATAL: TESTE DO

PEZINHO

Trabalho apresentado para

avaliação da disciplina de

Saúde da Criança I, do curso

de Medicina integral, da

UNIVERSIDADE FEDERAL

DE MATO GROSSO.

ORIENTADORA:

Hildenete Monteiro Fortes.

CUIABÁ

2010

Page 3: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

3

RESUMO:

O presente trabalho trata da triagem neonatal, mais conhecido como Teste do Pezinho

realizada no Brasil, com enfoque para o estado de Mato Grosso, em especial ao Hospital

Universitário Julio Muller (HUJM), vinculado a essa instituição de ensino superior, onde

realizaremos estágios curriculares. A triagem neonatal foi instituída obrigatória no Brasil na

década de 70 e fazia diagnóstico precoce da Fenilcetonúria (PKU). Com o passar dos anos,

foram instituídos outras doenças na triagem (Hipotireoidismo congênito, Fibrose Cística e

Hemoglobinopatias – Anemia Falciforme). Essas doenças são de fácil diagnóstico, tem cura e

o custo para diagnóstico é baixo. Na triagem neonatal é importante o teste do olhinho e da

orelhinha. Esses dois testes são importantes para diagnóstico precoce de doenças oculares

(retinopatias congênitas) e surdez. Porém esses dois testes não são enfoque do trabalho, nos

atentando somente para o teste do pezinho, mas não desprezando os outros dois testes, que são

importantes assim como o teste do pezinho. Um relato de caso foi feito para melhor

exemplificação de uma criança com fenilcetonúria.

Palavras chave:

Diagnóstico precoce, Fenilcetonúria, Hipotireoidismo congênito, Anemia Falciforme, Fibrose

Cística.

Page 4: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

4

ABSTRACT:

The current project is about the newborn screening, most know as Foot Test (Teste do

Pezinho), performed in Brazil, with the looks in the Mato Grosso State, special in the Hospital

Universitario Julio Muller (HUJM), bound to this University, where we will perform

internships. The newborn screening was established in Brazil around the 70’s and made early

diagnoses of Phenylketonuria (PKU). Over the years, another diseases were instituted in the

screening (Congenital hypothyroidism, Cystic Fibrosis, Hemoglobinopathies - Sickle cell

anemia). This diseases are easy to diagnostic, have cure and the diagnoses cost is low. In the

newborn screening the eye test (Teste do Olhinho) and ear test (Teste da orelhinha) are very

important too. This two tests are important for early diagnostic of ocular diseases (congenital

retinopathies) and deafness. But this two tests are not the focus of this project, in paying

attention only to the Foot Test, but not despising the other two tests, that are equally important

just like the Foot Test. A case report was made to better examples a child with PKU.

Key words:

Early diagnoses, Phenylketonuria (PKU), Congenital Hypothyroidism, Sickle Cell Anemia,

Cystic Fibrosis.

Page 5: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

5

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Mapa triagem neonatal no Brasil ..........................................................................................14

Figura 2: Estrutura normal de uma hemoglobina ...............................................................................24

Figura 3: hemácias normais e falciformes ..........................................................................................25

Figura 4: via de metabolismo da fenilalanina na ausência da fenilalanina hidroxilase .........................27

Figura 5: fórmula apropriada para o consumo de portadores de fenilcetonúria até 1 ano de idade .......28

Figura 6: mapa das regiões do Brasil onde estão indicadas quais fases implantadas ...........................34

Page 6: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

6

LISTA DE SIGLAS

APAE - Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

ECG – Eletrocardiograma

EOA – Emissões Otoacústicas Evocadas

EUA – Estados Unidos da América

FAL - Fenilalanina

FC - Fibrose Cística

FIE – Focalização Isoelétrica

Hb - Hemoglobina

HC – Hipotireoidismo Congênito

HPLC - High Performance/Pressure Liquide Chromatography (Cromatografia Liquida de Alta

resolução)

HUJM - Hospital Universitário Julio Muller

IRT - Immune-reactive trypsin (Tripsina Imunorreativa)

MS – Ministério da Saúde

PKU - Fenilcetonúria

PNTN – Programa Nacional de Triagem Neonatal

PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira

OMS – Organização Mundial de Saúde

SBP – Sociedade Brasileira de Pediatria

SBTN – Sociedade Brasileira de Triagem Neonatal

SNC – Sistema Nervoso Central

SRTN - Serviços de Referência em Triagem Neonatal

SUS – Sistema Único de Saúde

RN – Recém Nascido

TSH – Hormônio Estimulante da Tireoide

TFD – Tratamento fora de domicílio

Page 7: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

7

Sumário 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 8

2. DEFINIÇÃO DE TRIAGEM NEONATAL ..........................................................................................10

3. ASPECTOS HISTÓRICOS E ESTATÍSTICOS DA TRIAGEM NEONATAL ..............................................12

4. O SERVIÇO DE REFERÊNCIA EM TRIAGEM NEONATAL NO MATO GROSSO .................................16

4.1 A Coleta das Amostras e o Envio ao SRTN ................................................................................16

4.2 Realização do exame laboratorial ............................................................................................18

4.3 Busca ativa de casos suspeitos e Confirmação Diagnóstica ......................................................18

4.4 Tratamento e Acompanhamento .............................................................................................18

4.5 Procedimentos referentes às doenças triadas..........................................................................19

4.5.1 FENILCETONÚRIA ..............................................................................................................19

4.5.2 HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO (HC) ................................................................................20

4.5.3 ANEMIA FALCIFORME E OUTRAS HEMOGLOBINOPATIAS ......................................................21

4.6 Dados encontrados no SRTN-MT .............................................................................................22

5. DOENÇAS PESQUISADAS NA TRIAGEM NEONATAL ....................................................................24

5.1 Anemia falciforme .......................................................................................................................24

5.2 Fenilcetonúria .............................................................................................................................26

5.3 Fibrose Cística .............................................................................................................................29

5.4 Hipotireoidismo Congênito..........................................................................................................30

6. TESTE DO PEZINHO AMPLIADO ..................................................................................................32

6.1 Fase I - Fenilcetonúria e Hipotireoidismo Congênito ................................................................33

6.2 Fase II - Fenilcetonúria e Hipotireoidismo Congênito + Doenças Falciformes e outras

Hemoglobinopatias .......................................................................................................................33

6.3 Fase III - Fenilcetonúria, Hipotireoidismo Congênito, Doenças Falciformes e outras

Hemoglobinopatias + Fibrose Cística. ............................................................................................34

7. RELATO DE CASO: ODISSEIA DE UM FENILCETONÚRICO.............................................................36

8. CONCLUSÃO ..............................................................................................................................38

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................................39

Page 8: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

8

1. INTRODUÇÃO

A triagem neonatal é uma ação preventiva que permite fazer o diagnóstico de diversas

doenças congênitas ou infecciosas, assintomáticas no período neonatal, ou seja, do

nascimento até o vigésimo oitavo dia de vida, a tempo de se interferir no curso da doença,

permitindo, dessa forma, a instituição do tratamento precoce específico e a diminuição ou

eliminação das sequelas associadas a cada doença. A triagem neonatal foi introduzida no

Brasil na década de setenta, momento em que o governo militar tentava diminuir gastos com a

saúde promovendo campanhas de prevenção de doenças. Inicialmente podia se identificar

duas doenças: fenilcetonúria e hipotireoidismo congênito. Ambas as doenças podem levar a

deficiência mental, e foi responsável por um grande número de crianças internadas nas APAE

(Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais).

Em 1992 o “teste do pezinho” se tornou obrigatório em todo o território nacional. No

dia 6 de junho do ano de 2001, o então ministro da saúde José Serra (PSDB) assinou a

portaria GM/MS número 822, criando o Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN).

Essa portaria determina que todos os Estados brasileiros devem ter pelo menos um serviço de

referência em Triagem Neonatal, alem de conter diversos postos para a coleta do sangue para

análise. Hoje o teste do pezinho já prevê faz a triagem de quatro doenças, dependendo da fase

de instalação em cada Estado. São elas: fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito,

hemoglobinopatias e fibrose cística. Infelizmente hoje no Brasil apenas quatro Estados

realizam o teste para as quatro doenças. Todos os restantes ainda estão na fase I da Triagem

Neonatal ou na fase II. A seguir são mostradas as localidades habilitadas no PNTN com pelo

menos um serviço de referência.

Com o grande sucesso dessa busca por um diagnóstico precoce de doenças que podem

afetar de maneira muito importante uma grande quantidade de pessoas, também foi

introduzida no Brasil a triagem auditiva neonatal. É um programa que de avaliação da audição

em recém-nascidos, já que a perda auditiva tem uma incidência alta na população, cerca de 1

a 2 por 1000 nascidos vivos. A técnica utilizada é a de Emissões Otoacústicas Evocadas

(EOAs). O exame é indolor, com a colocação de um pequeno fone na parte externa da orelha,

com a duração por um tempo médio de 3 a 5 minutos. Assim com a produção de um estímulo

sonoro e na captação do seu retorno, verificando-se a integridade da cóclea.

Page 9: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

9

Além disso, com a constante busca na melhoria das condições de vida da população,

em janeiro de 2008 o Estado do Mato Grosso aprova a lei número 8.800/2008, tornando

obrigatória a realização do teste do olhinho em todos os recém-nascidos. Com isso, é

realizado o reflexo vermelho logo que a criança nasce, tendo como foco a detecção de

doenças oculares como retinopatia da prematuridade, catarata, glaucoma, infecções, traumas

de parto e até mesmo cegueira.

Page 10: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

10

2. DEFINIÇÃO DE TRIAGEM NEONATAL

Triagem é um termo de origem francesa, que significa seleção, separação de um

grupo. O uso da palavra triagem no setor da saúde define detecção de uma parcela da

população que pode ter ou não determinada patologia. Então, Triagem Neonatal, através de

testes aplicados, revela um grupo de indivíduos com uma probabilidade maior de apresentar

doenças metabólicas, genéticas, endócrinas, infecciosas e hematológicas, sendo sua população

alvo os recém-nascidos de 0 a 30 dias. (Sociedade Brasileira de Triagem Neonatal, disponível

em www.sbtn.org.br).

As doenças triadas pelo Sistema Único de Saúde – SUS - são: fenilcetonúria,

hipotireoidismo congênito, anemia falciforme e fibrose cística. Porém, em laboratórios

particulares, outras doenças podem ser triadas, o que compete ao médico pediatra decidir a

necessidade de realizar esses testes. Mas, os critérios, habitualmente, utilizados para quais

doenças devam ser triadas, foi publicado em 1968 pela Organização Mundial da Saúde -

OMS. São eles: a doença triada deve ser frequente e um importante problema de saúde, o

tratamento em estágio precoce deve trazer benefícios maiores do que em estágio posterior, o

teste deve ser de baixo custo, aceito pela população e apresentar baixa frequência de

resultados falso-positivos e falso-negativos.

A Triagem Neonatal compreende um sistema de cinco etapas. A primeira etapa é a

realização do teste. A segunda, no Brasil denomina-se de busca ativa, ou seja, é a localização

do recém-nascido, quando tem seu resultado alterado. Essa segunda etapa é muito importante,

pois é uma forma de iniciar precocemente o tratamento, já que o tempo para essas doenças

triadas é crucial. Na terceira etapa, é realizado teste confirmatório para o diagnóstico,

evitando falso-positivos. A quarta etapa, corresponde ao tratamento. E a quinta, é a avaliação

periódica das etapas acima citadas, verificando a eficiência de cada procedimento. O

American College of Medical Genetics recomenda ainda uma sexta etapa, que seria a

educação dos profissionais da saúde e da população. (LEÃO, 2008)

Popularmente, Triagem Neonatal é conhecida como teste do pezinho e é ideal realizá-

lo entre o 3º e 7º dia de vida do recém-nascido. A responsabilidade pela coleta varia

dependendo do local de nascimento e do consentimento dos pais. Se o nascimento ocorrer em

Page 11: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

11

hospital, este fica responsável pela coleta, assim como a orientação aos pais. Em nascimentos

domiciliares, caso um profissional da saúde tenha assistido ao parto, este deve orientar os pais

a levarem a criança a um posto de coleta mais próximo ou caso não contrário, fica

responsabilidade dos pais. Em situações que os pais ou responsáveis recusarem a realizar o

teste, o serviço de saúde deve orientá-los da importância da realização do exame, se mesmo

assim, houver recusa, este fato deve ser documentado (Teste do pezinho, disponível em

www.testedopezinho.com.br).

Amostras de sangue são os materiais utilizados para análise e para sua adequada

coleta, faz-se a assepsia do calcanhar do recém-nascido com álcool 70% e posteriormente,

deve-se fazer uma punção superficial em uma das laterais da região plantar do calcanhar.

Aconselha-se não utilizar a primeira gota de sangue, pois pode conter fluidos teciduais que

possam interferir no resultado do teste. As amostras serão coletadas em papel filtro através de

movimentos circulares, evitando virar o papel para coletar dos dois lados, assim como

retornar em um círculo já preenchido. Desta forma, aumentam as chances de se ter uma coleta

ideal e evita que se refaça o teste. (Sociedade Brasileira de Triagem Neonatal –

www.sbtn.org.br)

Segundo o artigo What pediatricians should now (LEÃO, 2008) diz que os testes de

triagem neonatal não dão diagnósticos. Em contra partida, no site da Sociedade Brasileira de

Triagem Neonatal, fala que a triagem neonatal permite fazer diagnósticos. Diante desse

paradoxo, importante é saber que a Triagem Neonatal é uma medida preventiva, que permite

levantar a suspeita de determinadas patologias assintomáticas no período neonatal e desta

forma, instituir um tratamento precoce, evitando ou diminuindo sequelas associadas a cada

doença.

Page 12: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

12

3. ASPECTOS HISTÓRICOS E ESTATÍSTICOS DA TRIAGEM

NEONATAL

A História da Triagem Neonatal começou, nos EUA, no final da década de 50 com o

biólogo Robert Guthrie que dirigiu seus estudos para prevenção de doenças mentais. Com

esse intuito, em 1961, ele desenvolveu a primeira metodologia para dosagem de fenilalanina,

doença que, tardiamente, culminava com o retardo mental dos pacientes. Através da inibição

do crescimento da bactéria Bacillus subtilis, realizava-se a análise da presença de níveis

elevados do aminoácido fenilalanina no sangue seco de recém-nascidos (RN) coletados em

papel filtro. Em 1964, 400.000 crianças tinham sido testadas para fenilcetonúria em 29

estados americanos, detectando 39 casos positivos. Esse passo foi decisivo na disseminação

da Triagem Neonatal para o diagnóstico de diversas doenças em grandes populações, já que

permitia que a amostra fosse colhida à distância e enviada pelo correio a laboratórios centrais,

onde eram realizados os exames.

Em 1968, a OMS publicou recomendações gerais para a Triagem Neonatal de Erros

Inatos do Metabolismo. Ela preconizava a importância da realização dos programas

populacionais de Triagem Neonatal, especialmente nos países em desenvolvimento, além de

ter criado critérios para a realização dos mesmos. Em 1972, Dussault (Canadá) desenvolveu a

primeira metodologia para dosagem de tiroxina (T4) em amostras de sangue seco colhido em

papel-filtro. Em 1974, um programa de triagem foi oficialmente oferecido na província de

Quebec. Em 1977 o Japão implantou como programa nacional, a triagem para fenilcetonúria,

doença de xarope de bordo, homocistinúria, histidinemia e galactosemia e só em 1979 a

triagem para hipotireoidismo congênito.

No Brasil, a triagem neonatal teve início em 1976, quando o Prof. Benjamin Schmidt

(SP) criou o projeto pioneiro de triagem neonatal para fenilcetonúria na APAE de São Paulo.

Inicialmente realizava-se somente o diagnóstico de Fenilcetonúria, porém a partir de 1980

incorporou-se a detecção precoce do Hipotireoidismo Congênito. Nessa mesma década, houve

o amparo legal para a realização dos programas de Triagem Neonatal em poucos estados

brasileiros como São Paulo, 1983, e Paraná, 1987, porém com a Lei Federal n.º 8.069, de 13

de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA) houve a tentativa inicial de

formalização da obrigatoriedade dos testes em todo o território nacional. Em 1992, a

legislação federal foi complementada, definindo Fenilcetonúria e Hipotireoidismo Congênito

como as patologias a serem triadas. Em setembro de 1999, foi fundada a Sociedade Brasileira

Page 13: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

13

de Triagem Neonatal com a finalidade de reunir os diversos serviços existentes e profissionais

ligados à área. Considera-se este um grande progresso na Triagem Neonatal no Brasil, pois

dentre seus objetivos gerais destacam-se: congregar profissionais de saúde e atividades

correlatas relacionados à Triagem Neonatal; estimular o estudo e a pesquisa no campo da

Triagem Neonatal, diagnóstico de doenças genéticas, metabólicas, endócrinas, infecciosas e

outras que possam prejudicar o desenvolvimento somático, neurológico e/ou psíquico do

recém-nascido e seu tratamento; cooperar com os poderes públicos quanto às medidas

adequadas à proteção da Saúde Pública, no campo da Triagem Neonatal; além de promover

eventos científicos objetivando a aproximação e o intercâmbio de informações.

No início de 2001 o Ministério da Saúde decidiu regulamentar as ações de Saúde

Pública em Triagem Neonatal e constituiu um Comitê de Assessoria em Triagem Neonatal

com o objetivo de levantar e estabelecer os requisitos mínimos para criação e implementação

de um Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN) e que estabeleceu as linhas mestras

da Triagem Neonatal no país. Com isso, foi publicada a Portaria GM/MS nº 822, criando o

PNTN, assessorado por uma equipe técnica específica, composta por membros da Sociedade

Brasileira de Triagem Neonatal. A partir de então, todos os Estados passaram a participar do

PNTN, realizado em Serviços de Referência em Triagem Neonatal (SRTN) credenciados,

todos com uma estrutura de diagnóstico, busca ativa, tratamento, acompanhamento das

doenças triadas, pagas com recursos SUS destinados para este fim e a criação de um sistema

de informações que permitiria cadastrar todos os pacientes num Banco de Dados Nacional.

O PNTN está baseado no credenciamento de Serviços de Referência em Triagem

Neonatal (SRTN), pelo menos um em cada estado brasileiro, com a responsabilidade de:

• Organizar a rede estadual de coleta vinculada a um laboratório específico de

Triagem

• Neonatal, junto com as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde;

• Utilizar um laboratório especializado em Triagem Neonatal;

• Implantar o ambulatório multidisciplinar para atendimento e seguimento dos

pacientes triados;

• Estabelecer vínculo com a rede de assistência hospitalar complementar;

• Utilizar um sistema informatizado que gerencie todo o Programa e gere os

relatórios que irão alimentar o Banco de Dados do PNTN.

Em virtude dos diferentes níveis de organização das redes assistenciais existentes nos

estados, da variação percentual de cobertura dos nascido–vivos da triagem que vinha sendo

Page 14: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

14

realizada no país e da diversidade das características populacionais existentes no país, optou-

se em implantar o Programa Nacional de Triagem Neonatal em fases, conforme descrição e

figura abaixo:

Fase I – Triagem, confirmação diagnóstica, acompanhamento e tratamento da

fenilcetonúria e hipotireoidismo congênito.

Fase II - Triagem, confirmação diagnóstica, acompanhamento e tratamento da

fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito + doenças falciformes e outras

hemoglobinopatias.

Fase III - Triagem, confirmação diagnóstica, acompanhamento e tratamento da

fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, doenças falciformes e outras

hemoglobinopatias + fibrose cística.

Figura 1 Mapa triagem neonatal no Brasil1

Em 2010, temos o seguinte panorama de implantação: dez estados na fase I, treze

estados na fase II, entre eles Mato Grosso e 4 estados na fase III. Em Mato Grosso o Serviço

de Referência em Triagem Neonatal credenciado é o Universitário Júlio Müller.

Segundo dados da SBTN, até 2000, foram triadas para hipotireoidismo congênito um

total de 13,19 milhões de crianças, sendo encontrados 2.389 casos positivos, o que leva a uma

proporção de 1:5500; para fenilcetonúria foram triadas 13,32 milhões de crianças,

encontrados 861 casos positivos o que leva a proporção de 1:15500; para anemia falciforme

foram triadas 1,10 milhões de crianças, sendo encontrados 456 casos positivos gerando

1 Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/area.cfm?id_area=1061. Acessado em 2 de dezembro de

2010

Page 15: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

15

proporção de 1:2400 e para fibrose cística foram triadas 0,36 milhões de crianças, sendo

encontrados 31 casos positivos e proporção de 1:11600.

Em 2007 o PNTN cobriu 78,92% dos nascidos vivos desse ano. Dentre eles, foram

confirmados 2537 casos, sendo 108 casos de fenilcetonúria, 1231 casos de hipertireoidismo

congênito, 1140 de hemoglobinopatias e 58 casos de fibrose cística. Nesse mesmo ano, os

SRTNs do país realizaram acompanhamento regular de 16.408 doentes, sendo 1.485

portadores de fenilcetonúria, 8.770 portadores de fibrose cística, 5.903 portadores de

hemoglobinopatias e 250 portadores de fibrose cística.

Page 16: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

16

4. O SERVIÇO DE REFERÊNCIA EM TRIAGEM NEONATAL NO

MATO GROSSO

Como se sabe a triagem neonatal tem como objetivo detectar um grupo de indivíduos

com maior probabilidade de apresentar algumas patologias congênitas como Fenilcetonúria

(PKU), Hipotireoidismo congênito (HC), Hemoglobinopatias e Fibrose cística. Para diminuir

a prevalência desses agravos o Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN), criado em

2001 pelo Ministério da Saúde, envolve estruturas públicas nos três níveis de governo e prevê

as atividades, as responsabilidades e uma série de condutas e protocolos a serem seguidos

pelos serviços de saúde.

O PNTN é baseado no credenciamento de Serviços de Referência em Triagem

Neonatal (SRTN), pelo menos um por estado brasileiro, que organize a rede estadual de

coleta, utilize um laboratório especializado, implantem um ambulatório multidisciplinar para

seguimento e tratamento dos casos triados e utilizem um sistema informatizado que gere

relatórios ao PNTN e gerencie o serviço (BRASIL, 2002).

No estado do Mato Grosso o único SRTN está no Hospital Universitário Júlio Muller

(HUJM); foi cadastrado como SRTN pela portaria SAS/MS nº. 684 de 4/10/2002, em 2003

iniciou a fase I do PNTN e, no final de 2009, passou para a fase II. Como todos do país, o

SRTN de Mato Grosso segue as etapas da triagem previstas pelo PNTN que serão a seguir

descritas. (STRANIERI, 2009)

4.1 A Coleta das Amostras e o Envio ao SRTN

É fato conhecido que a idade ideal de coleta das amostras para análise é de três a sete

dias de vida (por evitar falsos negativos para PKU, HC, etc.) e que não é recomendada após

30 dias para a prevenção de sequelas, porém a maior parte das crianças atendidas no SRTN-

Page 17: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

17

MT realiza coleta entre 8 e 30 dias (aproximadamente 63%) e, ainda, uma parcela

considerável após 30 dias (aproximadamente 10%). (STRANIERI, 2009)

As coletas tardias, assim como a cobertura relativamente baixa (menor que a de outros

estados na mesma fase de implantação do PNTN), são influenciadas por problemas

socioeconômicos e culturais, dentre eles a falta de informação dos pais quanto à importância

do teste. Em Mato Grosso ainda há problemas na acessibilidade aos serviços de saúde

(especialmente em municípios do interior) como: dificuldade pela extensão territorial do

estado, estradas de baixa qualidade, população rural com problemas para ir aos postos de

coleta. (STRANIERI, 2009)

Normalmente, assim que recebem alta das maternidades de todo estado, as mães são

orientadas a procurar um posto de saúde de seu município e levar os neonatos para realizarem

o Teste do Pezinho. Estes postos de saúde são os responsáveis pela armazenagem do papel

filtro, pelo registro dos dados no exame, pelo procedimento de coleta e pelo envio ao SRTN.

A principal causa de reconvocação dos recém-nascidos (RN) são coletas inadequadas para a

análise (amostras ora insuficientes ora excessivas, hemolizadas, diluídas ou precoces-

realizadas com menos de 48 horas de vida); isso mostra que existem dificuldades de execução

da técnica de coleta e armazenamento e que estão associadas a possíveis demoras nos

procedimentos de triagem. (BRASIL, 2002; STRANIERI, 2009). Essa realidade pode estar

relacionada à prática de retenção de amostras (após serem colhidas são acumuladas por vários

dias para posterior envio ao SRTN), a dificuldades no transporte (grandes distâncias, estado

ruim de conservação das estradas), a falta de treinamento técnico, a alta rotatividade de

profissionais ou a falta de conhecimento da importância do teste e dos protocolos pelos

profissionais de saúde. (STRANIERI, 2009)

Sendo assim fica claro que ainda há que se estabelecer estratégias para promover a

sensibilização, informação e mobilização dos profissionais envolvidos, uniformização das

técnicas e dinamização da logística da rede estadual. Também, a fim de ampliar a cobertura

do SRTN-MT, distribuir materiais educativos para a população.

Page 18: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

18

4.2 Realização do exame laboratorial

A análise das amostras coletadas é feita no laboratório especializado do SRTN-MT.

Os resultados normais são devolvidos e retornam aos municípios de origem para serem

entregues aos pacientes.

Há no serviço certa demora na realização dos exames relacionada, dentre outros

fatores, com dificuldades no trabalho de reconvocação e com problemas na obtenção de

insumos laboratoriais.

4.3 Busca ativa de casos suspeitos e Confirmação Diagnóstica

Quando são encontrados resultados alterados o SRTN entra em contato por telefone

para solicitar uma nova coleta ou (dependendo do valor da alteração) para solicitar um exame

confirmatório e marcar uma consulta para a criança já inicialmente.

Os exames de confirmação diagnóstica para as hemoglobinopatias são feitos pelo

Laboratório de Hemoglobinas e Genética das Doenças Hematológicas da UNESP de São José

do rio Preto e os confirmatórios para hipotireoidismo congênito são feito em um laboratório

no estado do Paraná (a confirmação da PKU é feita por nova amostra de sangue seco).

4.4 Tratamento e Acompanhamento

À confirmação (pelo exame para o qual a criança foi reconvocada) segue o tratamento,

este é oferecido gratuitamente aos pacientes. O SRTN tem dentro das suas instalações um

Page 19: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

19

ambulatório especializado (além do laboratório, dos espaços para armazenagem de materiais,

da recepção, etc.) onde a equipe acompanha os pacientes marcando regularmente consultas.

Essa equipe é multidisciplinar e composta por duas pediatras (uma acompanha os casos de

HC e outra os casos de hemoglobinopatias e PKU), nutricionista, psicóloga, assistente social,

geneticista, endocrinologista.

O acompanhamento das hemoglobinopatias, diferentemente, é realizado com o apoio

do Hemocentro de Mato Grosso, onde os pacientes tem acesso aos exames e tratamento

necessários (incluindo transfusões) e consultas com hematologista.

Quanto à idade início do tratamento para HC deve ser feito até 15 dias de vida para

garantir o desenvolvimento neurológico normal; já o tratamento para PKU antes dos três

meses resulta em um quoeficiente de inteligência (QI) médio de 89, com início entre três e

seis meses o QI cai para 70 e, após os seis meses, chega a 54 pontos. Coletas feitas mais

tardiamente, demora no transporte de amostras e resultados, dificuldades na reconvocação de

casos e na obtenção de insumos laboratoriais, geram no serviço atrasos na realização dos

procedimentos e consequente retardo no diagnóstico e inicio do tratamento, o que, pelo que já

foi exposto, representa um grande prejuízo para os pacientes. (STRANIERI, 2009)

4.5 Procedimentos referentes às doenças triadas

4.5.1 FENILCETONÚRIA

Para a triagem da PKU é feita a dosagem de fenilalanina (FAL) em papel filtro,

idealmente de dois a cinco dias de vida. Resultados de até 3 mg/dl são considerados normais e

devolvidos, entre 3 e 10 mg/dl deve-se recolher nova amostra para confirmação, e acima de

10 mg/dl deve-se recolher nova amostra e a criança já é convocada para consulta. O

diagnóstico é feito então com dosagem maior que 10 mg/dl em no mínimo duas amostras do

paciente, pode-se determinar cofatores de biopterina e, se possível, feita genotipagem para

Page 20: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

20

relacionar a mutação com a severidade clinica do caso e a resposta ao tratamento. (BRASIL,

2002)

O tratamento deve der iniciado antes dos três meses de vida por diminuição das

concentrações de FAL na dieta durante toda a vida do paciente. Os pacientes podem receber

gratuitamente durante o acompanhamento fórmulas infantis isentas de FAL (Phenylcare1, 2 e

3) e, a partir dos quatro meses de vida, os pais ou responsáveis são orientados a introduzir

outros alimentos pobres em FAL como frutas e vegetais.

Quanto ao acompanhamento, as consultas e controle laboratorial dos níveis séricos do

aminoácido são realizadas mensalmente até o primeiro ano de vida e bimestralmente ou

trimestralmente a partir de um ano de vida.

4.5.2 HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO (HC)

Na triagem do HC inicialmente é feita a dosagem de TSH em todas as amostras.

Quando o resultado for de 15 a 20 mUI/ml é repetido o exame em papel filtro, se a nova

dosagem for superior a 20 mUI/ml é feita em amostra de soro a dosagem de T4 livre e TSH.

Caso ainda ocorrer alteração nos resultados, são feitos exames confirmatórios com

dosagem de TSH, T4 total e T4 livre em sangue venoso o mais rápido possível. Se por fim for

confirmado o HC é preconizada a solicitação de ecografia ou cintilografia de tireoide para

pesquisar a etiologia do hipotireoidismo e iniciar o tratamento, caso não seja possível, para

não retardar o tratamento pode-se iniciá-lo e investigar aos dois anos de vida quando o

tratamento pode ser suspenso temporariamente para realizar a pesquisa. No caso de um tipo

específico de hipotireoidismo (secundário) deve ser feitos o ECG, raio-x de tórax e emissões

otoacústicas. (BRASIL, 2002)

O tratamento é disponibilizado gratuitamente (Levotiroxina sódica). Durante o

acompanhamento é feita a monitorização da criança: avaliação do crescimento,

desenvolvimento e puberdade, testes psicométricos e controle laboratorial (são feitos ajustes

de dose da levotiroxina sódica e controle da resposta ao tratamento). Há também o controle

Page 21: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

21

laboratorial das dosagens de TSH e T4 (total e livre) a cada quatro a seis semanas nos seis

primeiros meses, a cada dois meses do sexto ao 18º mês e a cada seis meses a partir dos 18

meses de vida.

4.5.3 ANEMIA FALCIFORME E OUTRAS HEMOGLOBINOPATIAS

Nesse tipo de triagem é feita a pesquisa dos tipos de hemoglobina que a criança

apresenta que devem ser quantificadas, com Eletroforese por Focalização Isoelétrica (FIE) e

Cromatografia Líquida de Alta Resolução (HPLC). (BRASIL, 2002)

Os tipos de hemoglobina que podem ser encontrados são: Hb A e Hb F (normais), Hb

S, Hb C, Hb D, Hb E e Hb J (anormais); o valor de referencia normal é FA, FAS indica traço

falcêmico, SS indica doença falciforme em homozigose, CC indica hemoglobinopatia C e

assim por diante. É recomendado a detecção e início do tratamento antes dos quatro meses

para prevenção das infecções e outras complicações. Os testes confirmatórios do diagnóstico

de hemoglobinopatia são encaminhados para serem realizados em São José do Rio Preto.

(BRASIL, 2002)

Uma vez confirmada a doença é seguido todo um protocolo para o tratamento e

acompanhamento da criança, e o SRTN-MT encaminha os pacientes ao Hemocentro de Mato

Grosso onde é dado o seguimento.

A criança tem seu crescimento e desenvolvimento acompanhados, recebe

suplementação de ácido fólico. O exame físico dos pacientes até os seis meses é feito

mensalmente; a cada dois meses dos seis meses ao primeiro ano, a cada três meses do

primeiro ano aos cinco e a partir dos cinco anos de vida, a cada quatro meses. (BRASIL,

2002)

Um aconselhamento genético é feito já inicialmente. É administrado um antibiótico

profilático (Penicilina, Penicilina Benzalina ou Eritromicina) dos três meses aos cinco anos

Page 22: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

22

para combater infecção pneumocócica, meningocócica, por hemófilus, vírus influenza e

hepatite B. (BRASIL, 2002).

Os pacientes recebem suplementação com ácido fólico; fazem ainda estudos

hematológicos contendo: hemoglobina em toda consulta quantificação de Hb S e Hb F

inicialmente, Aloanticorpos eritrocitários inicialmente, anualmente e se houver transfusão

sanguínea, ferritina inicialmente, semestralmente e se houver transfusão e fenotipagem

eritrocitária inicialmente. (BRASIL, 2002)

São avaliadas no acompanhamento a função hepática e renal (inicial e semestral),

avaliação cardiológica (ECG, Ecocardiograma e raio-x de tórax) e pulmonar (teste de função

pulmonar) bi-anual, são controladas as bilirrubinas (inicial e semestral), sorologias (inicial,

semestral e se houver transfusão), exame oftalmológico anualmente a partir dos dez anos e

ultrassom abdominal anualmente a partir dos seis anos. (BRASIL, 2002)

São preconizadas algumas medidas gerais da doença falciforme que englobam educar

a família e orientar quanto a exercícios, hidratação, nutrição, temperatura, roupas adequadas,

manutenção e realização do esquema vacinal da criança, ensinar a palpar o baço e medir a

temperatura e oferecer aconselhamento genético e detecção de outros portadores na família.

4.6 Dados encontrados no SRTN-MT

No ano de 2003 foram realizados 31.703 testes o que correspondeu a uma cobertura

populacional de 65,3%. A média mensal de atendimentos foi de 2.642. Foram identificados

dois casos de PKU e três de HC (ainda estava implantada a fase I) e houveram 39 consultas

para portadores de HC e 17 para portadores de PKU. A faixa etária em que realizaram o teste

foi de três a sete dias para 22,1% das crianças, oito a 30 dias para 62,9% das crianças e mais

de 30 dias para 9,8% delas. O tempo médio gasto em transporte de amostras e emissão dos

resultados foi de aproximadamente 38,9 dias. (STRANIERI, 2009)

Page 23: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

23

Em 2004 foram feitos 34.634 testes de triagem (cobertura populacional de 67,6%). A

média mensal de atendimentos foi de 2.848. Foram confirmados quatro casos de HC e

nenhum de PKU e houveram 49 consultas para pacientes com HC e 28 para paciente com

PKU. A faixa etária em que realizaram o teste foi de três a sete dias para 22,6% das crianças,

oito a 30 dias para 66,3% das crianças e mais de 30 dias para 9% delas. O tempo médio gasto

em transporte de amostras e emissão dos resultados foi de aproximadamente 62,2 dias.

(STRANIERI, 2009)

De 2003 a 2004 a prevalência de PKU em Mato Grosso foi de 1:33068 nascidos vivos

(entre crianças triadas pelo SRTN-MT), enquanto que a encontrada para o Brasil foi de 1:24.

780. A prevalência de HC para Mato Grosso foi de 1:9448 nascidos vivos e de 1:3804 para o

Brasil. (STRANIERI, 2009).

De janeiro de 2009 a setembro de 2010 foram triadas 75.866 crianças no SRTN-MT

dessas: 1871 apresentaram traço falcêmico (FAS), 539 traço de hemoglobinopatia C (FAC),

18 doença falciforme em homozigose (SS), 10 doença falciforme heterozigotas (FSC), 3

hemoglobinopatia C e 28 doença falciforme. A prevalência de traço falcêmico é de

aproximadamente 1:40 nascidos vivos e a de doença falciforme 1:2675 nascidos vivos,

enquanto em estados como SC e PR foi de aproximadamente 1:13500 nascidos vivos e na

Bahia foi de 1:677 nascidos vivos.

Nesse ano de 2010 a média de atendimentos mensais foi de aproximadamente 3400

testes o que corresponde a 37.400 testes até novembro. De 14 crianças que apresentaram

alteração para HC, três foram alterações transitórias e 11 foram confirmadas com HC, isso

configura uma prevalência de 1:3400 nascidos vivos. Não foi detectado nenhum caso de PKU

em 2010, porém 32 crianças são acompanhadas.

Page 24: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

24

5. DOENÇAS PESQUISADAS NA TRIAGEM NEONATAL

O teste do pezinho ou triagem neonatal pode identificar doenças hereditárias ou

infecções congênitas. Tal exame visa melhorar a qualidade de vida por meio do diagnóstico

precoce de doenças potencialmente devastadoras e de diagnóstico invariavelmente tardio

(FERREIRA, 2005). Abordaremos aqui as doenças para as quais a triagem neonatal é

obrigatória no Brasil.

5.1 Anemia falciforme

A hemoglobina é formada por quatro subunidades, duas α e duas β. A anemia

falciforme é uma doença autossômica recessiva, na qual os genes do cromossomo 11 que

codificam a subunidade β sofrem uma mutação de mudança de sentido, causando a

substituição de glutamina por valina. Essa mutação diminui a solubilidade da hemoglobina

desoxigenada e faz com que ela forme uma estrutura gelatinosa de polímeros fibrosos, que

ficam rígidos e destorcem as hemácias, gerando as “Hb S” (THOMPSON, 2006). A figura a

seguir mostra a estrutura normal da hemoglobina.

Figura 2: Estrutura normal de uma hemoglobina2

2 Disponível em: http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://3.bp.blogspot.com/_7 acesso em 30 de

novembro de 2010

Page 25: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

25

A figura a seguir mostra a forma de uma hemácia falciforme e de hemácias normais.

Figura 3: hemácias normais e falciformes3

A Anemia falciforme é a mais frequente das hemoglobinopatias. Ocorre em um a cada

400 a 1000 nascimentos em indivíduos negros americanos. No Brasil, a alta miscigenação

difundiu a doença em praticamente todos os grupos populacionais. Os pacientes afetados

costumam a apresentar anemia desde a infância, atraso de crescimento, esplenomegalia e

infecções repetidas (FERREIRA, 2005).

Os pacientes também apresentam dactilite, que são tumefações dolorosas nas mãos e

nos pés decorrentes da oclusão de pequenos vasos nos ossos pelas hemácias falcêmicas.

Apresentam também priapismo, que é uma ereção persistente e dolorosa, que tem seu período

de crise variando entre um até cinco dias (MURAHOVSCHI, 2006). Ocorre micro infartos em

vários tecidos, causando derrames, necrose papilar renal, úlceras nas pernas, dor torácica

aguda, necrose óssea e perda visual. Esse conjunto de sintomas leva à morte do portador em

torno da quarta a quinta década de vida (THOMPSON, 2006).

Não existem previsões precisas sobre o percurso da doença. Embora a base molecular

dessa patologia já seja compreendida há muito tempo, nenhuma terapia específica que consiga

impedir ou reverter o processo de afoiçamento foi identificada. Desse modo, os tratamentos

disponíveis são apenas de apoio (THOMPSON, 2006). As principais complicações clínicas da

anemia falciforme são tratadas com medidas profiláticas através de antibióticos,

3 Disponível em:

http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://hermes.ucs.br/ccet/defq/naeq/material_didatico acesso em 30

de novembro de 2010.

Page 26: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

26

suplementação de ácido fólico, suplementação de hormônio de crescimento, nutrientes,

vitaminas e analgésicos (FERREIRA, 2005).

Como a anemia falciforme é um distúrbio autossômico recessivo, os futuros irmãos de

uma criança afetada têm um risco de 25% de anemia falciforme e 50% de traço falcêmico.

Desse modo aconselha-se que irmãos dos portadores dessas anomalias tenham o seu DNA

extraído das vilosidades coriônicas e que sejam submetidos à análise molecular da mutação

falcêmica (THOMPSON, 2006).

A amostra obtida através do teste do pesinho deve ser enviada para um laboratório no

máximo em vinte e quatro horas. Ali são desenvolvidos procedimentos para o diagnóstico

hematológico. Primeiramente, é feito exames para diagnóstico presuntivo, como o

hemograma, que visa identificar hemácias em forma de foice. Depois disso, é feito exames de

comprovação, como a eletroforese de hemoglobina, que visa identificar a quantidade de Hb S

(MURAHOVSCHI, 2006).

5.2 Fenilcetonúria

A fenilalanina é um aminoácido essencial, que uma vez não utilizada para a síntese de

proteína é normalmente metabolizada por meio da via da tirosina. Ocorre que se houver a

deficiência da enzima fenilalanina hidroxilase, acontece um acúmulo de fenilalanina nos

líquidos do organismo e no sistema nervoso central (SNC). Nos lactentes afetados com

concentração plasmática acima de 20 mg/dl, a fenilalanina é metabolizada em fenilcetonas,

que são excretadas na urina, dando origem ao termo fenilcetonúria – PKU (NELSON, 2005).

Todos os defeitos que causam o aumento de fenilalanina no sangue são herdados como

caráter autossômico recessivo. O gene da fenilalanina hidroxilase está localizado no

cromossomo 22, e mais de 400 mutações diferentes provocam a doença. A prevalência da

PKU nos Estados Unidos é estimada em 1: 20.000 nascidos vivos. A condição é mais comum

em brancos e nativos americanos (NELSON, 2005). Já no Brasil a incidência é de 1: 13.000

(FERREIRA, 2005).

Page 27: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

27

Figura 4: via de metabolismo da fenilalanina na ausência da fenilalanina hidroxilase4

O aumento de fenilalanina no sangue afeta o transporte de outros aminoácidos para o

cérebro, como a tirosina e o triptofano, e causa a formação de catecolaminas, melanina e

serotonina em pacientes não tratados, causando danos ao SNC (FERREIRA, 2005). Esse

retardo mental pode desenvolver-se gradualmente e pode não ser evidente durante os

primeiros anos de vida. Daí a importância de fazer a triagem dessa patologia (NELSON,

2005).

No exame físico de portadores não tratados é possível identificar peso corporal baixo,

erupção seborréica ou eczematóide, odor desagradável de ácido fenilacético e hipertonia de

reflexos tendinosos. Além disso, pode-se observar microcefalia, maxila proeminente, dentes

largamente espaçados, retardo do crescimento e comportamento hipercinético (NELSON,

2005).

4 Disponível em: http://biobionut22009.blogspot.com/2009/11/fenilcetonuriapku.html acesso em 30 de

novembro de 2010.

Page 28: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

28

Depois de coletada a amostra por meio do teste do pesinho, o sangue do recém –

nascido deve ser encaminhado para um laboratório no máximo em vinte e quatro horas. Para

realizar essa primeira triagem, o laboratório realiza o método de Gutrhie, o qual é capaz de

identificar o nível de fenilalanina no sangue, após ingestão de leite por 24 – 48 horas

(MURAHOVSCHI, 2006).

O tratamento dessa doença deve começar imediatamente após o diagnóstico, e visa

reduzir a concentração de fenilalanina no sangue, através de uma dieta bastante rigorosa e

pobre em proteínas. Existem fórmulas de alimentos pobres ou isentas deste aminoácido no

mercado, que visam substituir os alimentos proibidos para os doentes. No entanto, esses

alimentos, como o RILLA e o PKU, não são comercializados no Brasil. Desse modo, os

doentes dependem muitas vezes da intermediação do governo para adquiri-los. O preço médio

da lata, que dura apenas uma semana, varia de R$ 214,00 a R$ 670,00 (O DISTRITAL, 2010).

Figura 5: fórmula apropriada para o consumo de portadores de fenilcetonúria até 1 ano de idade5

5 Disponível em: http://www.odistrital.com.br/materia-edicao/solidariedade-salva-crianca acesso em 30 de

novembro de 2010.

Page 29: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

29

5.3 Fibrose Cística

A Fibrose Cística (FC) ou mucoviscidose é uma doença genética autossômica

recessiva, decorrente da ausência, deficiência da produção ou defeito na função de um

polipeptídio regulador da condutância transmembrana que funciona na regulação da

permeabilidade do íon cloro através de células de órgãos epiteliais (SBP, 2007). A incidência

varia de acordo com a etnia, sendo mais comum em caucasianos nos quais ocorre em cerca de

1:3500 nascidos vivos. No Brasil, a as incidência situa-se em torno de 1:10000 nascidos vivos

(LEÃO, 2008). As principais alterações da FC ocorrem no pâncreas exócrino, pulmões,

intestino, fígado, glândulas sudoríparas e trato genital masculino (azoospermia).

Nas manifestações digestivas, ocorre insuficiência pancreática, por obstrução dos

ductos excretores da glândula, ocasionando síndrome de má-absorção, cirrose biliar,

obstrução intestinal distal por estase fecal e, frequentemente, refluxo. Cerca de 10 a 15% dos

pacientes com Fibrose Cística apresentam a primeira manifestação digestiva da doença logo

ao nascimento, quando ocorre obstrução intestinal nos primeiros dias após o nascimento (MS,

2010).

A manifestação respiratória mais comum é a tosse persistente que pode instalar-se nas

primeiras semanas de vida, perturbando o sono e a alimentação do lactente. Muitas crianças

apresentam-se com história de bronquiolite de repetição, sibilância sem pronta resposta aos

broncodilatadores ou pneumonias de repetição. Com a evolução da doença, ocorre diminuição

da tolerância ao exercício. Alguns pacientes são oligossintomáticos por vários anos, o que não

impede a progressão silenciosa para bronquiectasias (SBP, 2007).

A alteração do transporte iônico nas glândulas sudoríparas compromete a reabsorção

de cloro. Níveis aumentados de cloro ajudam a reter água e sódio o que deixa o suor mais

salgado (LEÃO, 2008).

A triagem neonatal da FC é feita com a dosagem da tripsina imunorreativa (IRT), e a

confirmação diagnostica através do teste do suor. A metodologia empregada é a fluorescência

tempo resolvida. Observou-se que recém-nascido com FC possuem altos níveis plasmáticos

de tripsina, geralmente acima de 70 ng/ml. Acredita-se que o aumento desta seja secundário

Page 30: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

30

ao refluxo de secreção pancreática, provocada pela obstrução dos ductos no pâncreas

(NELSON, 2005).

O tratamento requer suporte nutricional, suplementação de vitaminas lipossolúveis,

reposição de enzimas pancreáticas. Broncodilatadores, fisioterapia respiratória e prevenção de

infecções pulmonares (LEÃO, 2008).

5.4 Hipotireoidismo Congênito

Ocorre quando a glândula tireoide do recém-nascido (RN) não é capaz de produzir

quantidades adequadas de hormônios tireoidianos, o que resulta numa redução generalizada

dos processos metabólicos. Determinado em geral, por alguma forma de disgenesia

tireoidiana. A patologia pode ser classificada em:

• Primária – quando a falha ocorre na glândula tireoide;

• Secundária – quando ocorre deficiência do TSH hipofisário;

• Terciária – quando ocorre deficiência do TRH hipotalâmico;

• Resistência periférica à ação dos hormônios tireóideos (LEÃO, 2008).

É uma causa comum de retardo mental prevenível, quando a população dispõe de

programas de detecção neonatal que propiciem o diagnóstico e o tratamento oportuno. A

incidência é de 1:4000 a 1:3000 nascidos vivos (LEÃO, 2008).

O período ideal para triagem do Hipotireoidismo congênito (HC) é entre o quinto e o

sétimo dia de vida quando existe estabilização da função hormonal do recém-nascido, assim

há duas alternativas para procedimento da triagem. Primeira alternativa consiste em realizar

medida do hormônio estimulante da tireoide (TSH), seguido de medida da T4 livre e TSH em

amostra de soro, quando o TSH e maior que 20 mUI/L. Na segunda alternativa, faz-se a

medida de T4, seguida de medida de TSH na mesma amostra quando o T4 é menor que o

percentil 10 (LEÃO, 2008).

Page 31: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

31

O tratamento da patologia consiste na reposição dos hormônios tireóideos deficitários,

no caso, reposição de Levotiroxina. A Levotiroxina Sódica é o sal sódico do isômero sintético

da Tiroxina (T4), sendo que sua utilização para reposição hormonal produz a normalização do

estado metabólico que se encontra deficiente no Hipotireoidismo. No meio intracelular, T4 é

convertido em T3, dessa forma disponibiliza-se ambos os hormônios tireóideos, mesmo

administrando somente um deles. O tratamento preconizado deverá ser mantido por toda a

vida.

A Levotiroxina é apresentada na forma de comprimidos que contém 25 a 300 µg, e na

forma de pó para reconstituição para uso em injeções, sendo que a dose utilizada varia de

acordo com a idade do paciente e seu peso corporal, sendo que as crianças mais jovens

necessitam doses superiores às crianças maiores e aos adultos. Inicia-se calculando doses de

10 a 15 µg/Kg/dia, para o RN a termo, após isso, a dose é recalculada conforme o ganho

ponderal da criança e os níveis de T4 e TSH observados nos controles laboratoriais

subsequentes A meia-vida da Levotiroxina é de sete dias, sendo então administrada somente

uma vez ao dia. Apresenta boa absorção via oral, havendo raramente a necessidade de sua

utilização por via parenteral (neste caso, utiliza-se 75 a 80% da dose preconizada via oral)

(LEÃO, 2008).

A meia-vida da Levotiroxina é de sete dias, sendo então administrada somente uma

vez ao dia. Apresenta boa absorção via oral, havendo raramente a necessidade de sua

utilização por via parenteral (neste caso, utiliza-se 75 a 80% da dose preconizada via oral).

Page 32: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

32

6. TESTE DO PEZINHO AMPLIADO

De acordo com a Portaria GM/MS n.º 822/GM Em 06 de junho de 2001, o Ministério

da Saúde visa instituir, no âmbito do Sistema Único de Saúde, o Programa Nacional de

Triagem Neonatal (PNTN). O Programa, ora instituído, deve ser executado de forma

articulada pelo Ministério da Saúde e pelas Secretarias de Saúde dos estados, Distrito Federal

e municípios e tem por objetivo o desenvolvimento de ações de triagem neonatal em fase pré-

sintomática, acompanhamento e tratamento das doenças congênitas detectadas inseridas no

Programa em todos os nascido-vivos, promovendo o acesso, o incremento da qualidade e da

capacidade instalada dos laboratórios especializados e serviços de atendimento, bem como

organizar e regular o conjunto destas ações de saúde.

Além disso, O Programa Nacional de Triagem Neonatal se ocupará da triagem com

detecção dos casos suspeitos, confirmação diagnóstica, acompanhamento e tratamento dos

casos identificados nas seguintes doenças congênitas, de acordo com a respectiva Fase de

Implantação do Programa:

a - Fenilcetonúria;

b - Hipotireoidismo Congênito;

c - Doenças Falciformes e outras Hemoglobinopatias;

d - Fibrose Cística.

Em virtude dos diferentes níveis de organização das redes assistenciais existentes nos

estados e no Distrito Federal, da variação percentual de cobertura dos nascido-vivos da atual

triagem neonatal e da diversidade das características populacionais existentes no País, o

Programa Nacional de Triagem Neonatal será implantado em fases: fase I, fase II, fase III e

fase IV. Essas fases serão mais detalhadamente explicadas a seguir.

Page 33: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

33

6.1 Fase I - Fenilcetonúria e Hipotireoidismo Congênito

Compreende a realização de triagem neonatal para fenilcetonúria e hipotireoidismo

congênito, com a detecção dos casos suspeitos, confirmação diagnóstica, acompanhamento e

tratamento dos casos identificados. Os estados e o Distrito Federal deverão garantir a

execução de todas as etapas do processo, devendo, para tanto, organizar uma Rede de Coleta

de material para exame (envolvendo os municípios) e organizar/cadastrar o(s) Serviço(s) Tipo

I de Referência em Triagem Neonatal/Acompanhamento e Tratamento de Doenças

Congênitas que garantam a realização da triagem, a confirmação diagnóstica e ainda o

adequado acompanhamento e tratamento dos pacientes triados;

6.2 Fase II - Fenilcetonúria e Hipotireoidismo Congênito + Doenças

Falciformes e outras Hemoglobinopatias

Compreende a realização de triagem neonatal para fenilcetonúria, hipotireoidismo

congênito, doenças falciformes e outras hemoglobinopatias, com a detecção dos casos

suspeitos, confirmação diagnóstica, acompanhamento e tratamentos dos casos identificados.

Os estados e o Distrito Federal deverão garantir a execução de todas as etapas do processo,

devendo, para tanto, utilizar a rede de coleta organizada/definida na Fase I e

organizar/cadastrar o(s) Serviço(s) Tipo II de Referência em Triagem

Neonatal/Acompanhamento e Tratamento de Doenças Congênitas que garantam a realização

da triagem, a confirmação diagnóstica e ainda o adequado acompanhamento e tratamento dos

pacientes triados;

Page 34: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

34

6.3 Fase III - Fenilcetonúria, Hipotireoidismo Congênito, Doenças

Falciformes e outras Hemoglobinopatias + Fibrose Cística.

Compreende a realização de triagem neonatal para fenilcetonúria, hipotireoidismo

congênito, doenças falciformes, outras hemoglobinopatias e fibrose cística com a detecção

dos casos suspeitos, confirmação diagnóstica, acompanhamento e tratamento dos casos

identificados. Os estados e o Distrito Federal deverão garantir a execução de todas as etapas

do processo, devendo, para tanto, utilizar a rede de coleta organizada na Fase I e

organizar/cadastrar o(s) Serviço(s) Tipo III de Referência em Triagem

Neonatal/Acompanhamento e Tratamento de Doenças Congênitas que garantam a realização

da triagem, a confirmação diagnóstica e ainda o adequado acompanhamento e tratamento dos

pacientes triados.

Figura 6: mapa das regiões do Brasil onde estão indicadas quais fases implantadas6

O mapa acima demonstra quais fases estão em vigor em todos os Estados do Brasil.

É dessa forma que o Teste do Pezinho é abordado em cada estado e município através

do sistema público de saúde Percebe-se então que o SUS contempla apenas a forma básica do

teste detectando apenas até a fase III de implantação.

6 Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/area.cfm?id_area=1061. Acessado em 30 de novembro

de 2010.

Page 35: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

35

Já na rede privada, além do teste gratuito, as mães ainda têm a opção de realizar em

seus bebês mais três tipos de exames com ordem crescente tanto para o número de doenças

detectadas quanto para o preço de custo:

1°) O Teste do Pezinho Ampliado detecta as seguintes doenças: Fenilcetonúria e

outras Aminoacidopatias, Hipotireoidismo Congênito Anemia Falciforme e outra

Hemoglobinopatias, Hiperplasia Adrenal Congênita e Fibrose Cística.

2°) O Teste do Pezinho Plus detecta as seguintes doenças: Fenilcetonúria e outras

Aminoacidopatias, Hipotireoidismo Congênito Anemia Falciforme e outra

Hemoglobinopatias, Hiperplasia Adrenal Congênita, Fibrose Cística, Galactosemia,

Deficiência de Biotinidase e Toxoplasmose Congênita.

3°) O Teste do Pezinho Master detecta as seguintes doenças: Fenilcetonúria e outras

Aminoacidopatias, Hipotireoidismo Congênito Anemia Falciforme e outra

Hemoglobinopatias, Hiperplasia Adrenal Congênita, Fibrose Cística, Galactosemia,

Deficiência de Biotinidase, Toxoplasmose Congênita, Deficiência de Glicose-6-Fosfato

Desidrogenase, Sífilis Congênita, Citomegalovirose Congênita, Doença de Chagas Congênita

e Rubéola Congênita.

Este último contempla 46 doenças. Em alguns hospitais essa bateria de testes chega a

custar R$ 470. Quem aponta a necessidade do teste ampliado é o pediatra, levando em conta o

histórico familiar. Mas, muitas mães pedem para se sentir mais seguras.

Page 36: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

36

7. RELATO DE CASO: ODISSEIA DE UM FENILCETONÚRICO

Y.S.B. nasceu no dia 13 de fevereiro de 1997 em Tangará da Serra (MT). Seu parto foi

cesariano, como normalmente ocorre no Brasil nesses tempos. Todas suas medidas

antropométricas eram normais, não chamando a atenção para nenhum tipo de anormalidade.

Seus pais, Z.S.B. e A.S.B., juntamente com o mais novo integrante de sua família, mudaram-

se para a cidade de Diamantino (MT). Com já um mês de vida, o menino Y.S.B. ainda não

tinha realizado o teste do pezinho. O motivo poderia nesse momento ser óbvio: falta de

conhecimento dos pais. Mas não foi bem por isso. Z.S.B., que trabalha como oficial de justiça

ficou com pena de submeter seu filho ao teste. Sim. A fato de furar o pé de seu filho causava

espanto para a mãe. Porem, quando o lactente realizou cinco meses de vida, a mãe resolveu

levar o filho para fazer o temeroso teste. Infelizmente, ou podemos dizer nesse momento,

felizmente foi detectado um nível alto de fenilalanina no teste, chamado de PKU. Identificado

o problema, a mãe foi notificada sobre o agravo. Em seguida foi pedido mais um exame para

a confirmação do diagnostico de fenilcetonúria. Esta foi confirmada, contudo naquele

momento nenhum profissional, segundo Z.S.B., conseguiu dar as devidas explicações e

orientações para realizar o tratamento do seu filho. Os princípios básicos, como parar de

amamentar, foram dados, mas as implicações, tanto biológicas como sociais, deixaram a

desejar. Vários médicos foram procurados. Aparentemente por falta de conhecimento nenhum

deles conseguiu orientar a família. Por incrível que pareça, até leite de soja foi receitado ao

pequeno. Como nessa época, meados de 1997, Mato Grosso ainda não possuía serviço de

referência, através do TFD (Tratamento Fora de Domicílio) o lactente Y.S.B. foi realizar o

devido tratamento em Brasília, no hospital Sarah Kubitschek. Z.S.B. afirma a excelência do

atendimento nesse hospital, elogiando a forma de atendimento e a equipe multidisciplinar que

lá se encontra. Assim, de dois em dois meses Y.S.B. e Z.S.B. voltavam a Brasília, com todas

as despesas pagas, para realizar a dosagem de fenilalanina e receber as devidas orientações

médicas. Como existiam programas de grupo, o tratamento se tornava menos árduo e as mães

das crianças fenilcetonúricas podiam trocar experiências sobre os cuidados realizados com os

filhos. Com o bom controle feito pela mãe, Y.S.B. se desenvolveu muito bem, não adquirindo

nenhum tipo de retardo mental. No ano de 2008, o acompanhamento do menino começou a

ser feito no Hospital Universitário Julio Muller em Cuiabá (MT). Isso é realizado até hoje,

sendo a responsável pela área a médica, tratada com muito carinho pela mãe, Fátima.

Page 37: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

37

Essa mãe deixou um grande aprendizado para a família. Sua persistência ajudou a

conseguir, pelo SUS, a cara lata de leite, chamada de PKU, que no mercado é vendido por

cerca de 1500,00 reais. Apesar das dificuldades, recebe as latas até hoje sem custo algum.

Para isso entrou com mandato de segurança contra o Estado de Mato Grosso, dando aqui

indícios de como o Governo Estadual trata da saúde populacional.

Um dos relatos mais importantes feito pela mãe foi a respeito das festas de aniversário.

Infelizmente a uma grande restrição nutricional para pessoas que possuem essa enfermidade.

Assim, quando o jovem Y.S.B. participava das festinhas não podia comer praticamente nada.

Isso intrigava seus coleguinhas, que por falta de conhecimento tiravam até certo sarro da

situação. Contudo a mãe, sempre empenhada em sua tarefa e muito ciente sobre a doença,

comparecia a escola e explicava para os professores o problema que seu filho possuía,

ajudando na educação e na orientação local.

Hoje, o já adolescente Y.S.B. possui 13,6 anos, pesa 57,5 Kg e mede 1,72 metros.

Continua tomando seu leite PKU todos os dias (19 medidas por dia ou cerca de 600 mL), é

saudável e está cursando a oitava série do ensino fundamental. Apesar da demora para

realização do diagnostico, hoje se observa um menino saudável, sem nenhum problema

mental ou psicossocial. Isso demonstra o quanto um simples teste pode mudar a vida de uma

pessoa.

Uma importante dica que Z.S.B. deixa é: aqui no MT não existem grupos que se

encontram para discutir a fenilcetonúria, trocar experiências, apresentar receitas alimentares

novas ou, pelo menos, conversar. Criar um grupo seria ideal para unificar e melhorar o

atendimento a essas pessoas.

Page 38: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

38

8. CONCLUSÃO

O trabalho teve como objetivo principal o de demonstrar a relevância da Triagem

Neonatal realizada nas primeiras horas de vida, focando especificamente no Teste do Pezinho.

Foram destacados, inicialmente a conceituação, levando em conta todos os princípios e

características sobre o que é o teste; depois, a história de nascimento e implantação em

diversos países como o Brasil; as doenças principais detectadas (incluindo causas, sintomas,

evolução e tratamento) nas diferentes fases de implantação de cada Estado e Município; e a

metodologia empregada para realização do exame (analisando instrumentos necessários e a

explicação de cada passo do exame, como por exemplo, o porquê de pegar a segunda gota de

sangue, entre outros).

Deu-se importância na realização da Triagem Neonatal no Estado de Mato Grosso

(MT), obtendo entre pesquisas e estatísticas a referência que é o Hospital Universitário Julio

Muller (HUJM) da cidade de Cuiabá. Entretanto, observamos também que em MT existem

vários problemas como o de acessibilidade aos serviços de saúde como: dificuldade pela

extensão territorial do estado, estradas de baixa qualidade, população rural com problemas

para ir aos postos de coleta.

E para finalizar, conseguimos exemplificar tudo o que pesquisamos e abordamos,

temos como peça chave o relato de caso de Y.S.B. Um garoto que reside em Tangará da Serra

(MT), filho de Z.S.B. e A.S.B., e passou um mês de vida, logo após seu nascimento, sem

realizar o Teste do Pezinho. Ao fazer o teste detectou-se a doença e logo depois se teve a

confirmação, mas a família sofreu com a falta de preparo dos profissionais que a atendeu.

Entretanto correram atrás e conseguiram os devidos direitos empregados pela constituição, e,

hoje, vive normalmente.

Page 39: SEMINÁRIO TRIAGEM NEONATA TESTE DO PEZINHO

39

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Disponível em:

<www.Portal.anvisa.gov.br> acesso em: 30 de novembro

2. FERREIRA, José Paulo. Pediatria: Diagnóstico e tratamento. 1º Ed., Porto Alegre:

Artmed, 2005. p.850

3. HUNTINGTON, F.W.; RODERICK, R. M.; NUSSBAUM, R.L. Thompson &

Thompson: Genética Médica. 6ª Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p.672

4. Indicadores do programa nacional de triagem neonatal. Disponível em:

<http://portal.saude.gov.br/portal/saude/area.cfm?id_area=1061>. Acesso em: 30

novembro 2010.

5. Jornal: O Distrital – DF, 1 notícia de primeiro de agosto de 2010.

6. KLIEGMAN, R.M. et al. Nelson: Tratado de Pediatria. 17º Ed. Rio de Janeiro:

Elsevier, 2005. p.3250

7. LEÃO L.L., Aguiar M.J. Newborn screening: what pediatricians should know

(Triagem Neonatal: o que os pediatras deveriam saber). Jornal de Pediatra(Rio de

Janeiro).2008;84 (4Suppl): S80-90.doi:10.2223/JPED.1790

8. LOPEZ, Fabio Ancona, Tratado de Pediatria, Sociedade Brasileira de Pediatria. 1º

Ed. São Paulo: Manole, 2007.

9. Ministério da Saúde. Manual de Normas Técnicas e Rotinas Operacionais do

Programa Nacional de Triagem Neonatal. Brasília, Ministério da Saúde, 2002.

Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/saude/area.cfm?id_area=1061>

Acesso em: 30 novembro 2010.

10. Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e diretrizes terapêuticas: Doenças

falciformes. Brasília, 2002. Disponível em:

<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/falciforme_pcdt.pdf> acessado em 30

de novembro de 2010.

11. MURAHOVSCHI, Jayme. Pediatria Diagnóstico e Tratamento. 6º Ed. São Paulo:

Sarvier, 2006.

12. Portaria GM/MS n.º 822/GM Em 06 de junho de 2001. Disponível em

<http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2001/GM/GM-822.htm> acesso

em 30 de novembro de 2010.

13. STRANIERI, I.; TAKANA, O.A. Avaliação do serviço de referencia em triagem

neonatal para hipotireoidismo congênito e fenilcetonúria no Estado de Mato

Grosso, Brasil. Arq Brás Endocrinol Matab, 2009;53/4