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Seminário URBFAVELAS 2016 Rio de Janeiro - RJ - Brasil O ALCANCE DAS URBANIZAÇÕES DE FAVELAS NA ESCALA METROPOLITANA Jordana Alca Barbosa Zola (FAUUSP) - [email protected] Arquiteto e Urbanista, doutorando FAUUSP, docente FIAMFAAM Centro Universitário

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Seminário URBFAVELAS 2016Rio de Janeiro - RJ - Brasil

O ALCANCE DAS URBANIZAÇÕES DE FAVELAS NA ESCALA METROPOLITANA

Jordana Alca Barbosa Zola (FAUUSP) - [email protected] e Urbanista, doutorando FAUUSP, docente FIAMFAAM Centro Universitário

O ALCANCE DAS URBANIZAÇÕES DE FAVELAS NA ESCALA METROPOLITANA RESUMO �

O trabalho procura discutir as possibilidades e o alcance das urbanizações de favelas nos contextos metropolitanos atuais, considerando a precariedade urbano-habitacional e a segregação espacial elementos estruturais no processo de expansão das grandes cidades. As estimativas iniciais de atendimento dos programas de urbanização de favelas Morar Carioca e Renova SP, no início da década de 2010, apresentaram números que poderiam significar a inclusão das dimensões territoriais dos assentamentos precários na pauta do desenvolvimento urbano e ambiental de maneira integrada. Entretanto, o desenvolvimento desses programas têm mostrado como o escopo das urbanizações de favelas, nessas situações, é condicionado pelos limites da atuação das secretarias municipais de habitação, com pouco protagonismo nas instâncias de decisão responsáveis pela transformação do espaço urbano. A partir da análise de uma área de intervenção do Programa Renova SP, em São Paulo, o texto procura ilustrar essesimpasses, relacionando as questões pontuais, enfrentadas na escala dos projetos de urbanização, a processos mais amplos de escala metropolitana.

O ALCANCE DAS URBANIZAÇÕES DE FAVELAS NA ESCALA METROPOLITANA

INTRODUÇÃO: OS PROGRAMAS DE URBANIZAÇÃO MORAR CARIOCA E RENOVA SP E O LUGAR DA PRECARIEDADE NO ESPAÇO METROPOLITANO O objetivo desse texto é discutir o alcance das ações de urbanização de favelas sob a política setorial habitacionalnos grandes municípios brasileiros. Considerando a precariedade urbano-habitacional e a segregação espacial elementos estruturais no processo de expansão urbana das grandes cidades, propõe-se colocar em discussão o lugar e os objetivos das urbanizações de favelas sem a construção de uma perspectiva futura das áreas consolidadas em relação à totalidade do espaço urbano e das dinâmicas territoriais metropolitanas. Admitindo a conquista daampliação das políticas e dos financiamentos públicos em busca da universalização dos serviços urbanos e da equalização de oportunidades para os moradores de favelas, sugerem-se questionamentos sobre como avançar na consolidação desse estágio sem, entretanto, aspirar respondê-los. Para além das questões e dos objetivos específicos das ações de urbanização de favelas - fortalecimento de instâncias de decisão participativas, garantia de condições satisfatórias de habitabilidade e salubridade, elimação dos riscos, universalização dos serviços de infraestrutura urbana e regularização - deve-se discutir a perspectiva de integração desses tecidos espaciais e sociais no espaço urbano de modo mais amplo e multisetorial, pois o longo e corajoso histórico das urbanizações de favela no Brasil ainda não foi capaz de reverter o papel estrutural que a precariedade urbano-habitacional desempenha nos processos de expansão urbana das metrópoles brasileiras. Evidentemente não se propõe discutir a substituição desses tecidos por novas frentes de expansão urbana, mas de finalmente admiti-los na totalidade das dinâmicas metropolitanas, em busca da construção de alternativas para a transformação do espaço habitado. Essa proposta de discussão tem origem na apresentação dos programas municipais de urbanização de favelas do Rio de Janeiro e São Paulo, respectivamente, Morar Carioca (2010) e Renova SP (2011).Os dois programas foram lançados a partir de concursos nacionais para arquitetos: o Programa Morar Carioca deveria selecionar 40 escritórios de arquitetura para coordenar urbanizações em 40 áreas do Rio de Janeiro, com pretensões de atingir todas as favelas da cidade até 2020; o Programa Renova SP deveria selecionar 22 equipes coordenadas por arquitetos, para trabalharem em 22 áreas da cidade. As pretensões dos dois programas eram a urbanização e regularização de grande número de assentamentos precários e irregulares, atingindo milhares de moradores e domicílios, em diversas áreas dos dois municípios, ambos sob a coordenação das secretarias municipais de habitação. Quando foram lançados, os dois programas eram baseados na definição de poligonais de intervenção distribuídas por cada território metropolitano, dentro das quais eram registrados assentamentos regulares, irregulares e com graus de precariedade variados; as propostas de urbanização para cada assentamento deveriam considerar sua inserção urbana e as características físicas da área, procurando a integração entre os diversos tecidos identificados em cada poligonal. Para tanto, os programas previam ações inter-secretariais de intervenção urbana que pudessem catalisar as transformações previstas e a eliminação das fronteiras entre as ocupações regulares e irregulares.

Município Programa assentamentos atingidos

domicílios estimados

Rio de Janeiro [1]

Morar Carioca 586 232,000

São Paulo [2] Renova SP 228 86,000

Tabela 1: Número estimados de atendimento no lançamento dos programas Morar Carioca e Renova SP Fonte: [1] PRJ/ SMH, 2010; [2] PMSP/ HABISP, 2011. Os números apresentados nas estimativas iniciais dos programas merecem algumas ponderações. Se, por um lado, ilustram a dimensão estrutural que a precariedade atinge nas duas cidades, por outro, reunidos em um mesmo conjunto, poderiam indicar o esforço da administração pública em conjugar ações e políticas para que as dimensões territoriais dos assentamentos precários fossem incluídas na pauta do desenvolvimento urbano e ambiental de maneira integrada, uma vez que problemas ambientais, risco geotécnico e construtivo, acessibilidade, grau de cobertura de infraestrutura e serviços urbanos, salubridade e vulnerabilidade social caracterizam, em conjunto ou separadamente, parcela considerável de cada território metropolitano, de acordo com o próprio desenho dos programas.1 Entretanto, as poucas experências concluídas2 no desenvolvimento parcial dos programas foram limitadas a cada poligonal, reduzindo as possibilidades de intervenção aos recursos (operacionais e financeiros) disponibilizados pelas secretarias de habitação para cada área e eliminando a possibilidade de criação de novos instrumentos e parâmetros que buscassem a diluição gradativa e estrutural das fronteiras físicas e sociais na escala metropolitana. Em 2016, os programas ainda estão em desenvolvimento, mas as metas iniciais têm sido reduzidas, assim como o ritmo dos trabalhos; nesse processo, outras ações públicas também interferiram nos projetos, seja deslocando indiretamente recursos financeiros e operacionais, seja redirecionando as ações da política habitacional para o atendimento de outras demandas que não aquelas inicialmente previstas. Nas duas estruturas administrativas municipais, as Secretarias de Habitação não tem o mesmo protagonismo de outras instâncias de decisão responsáveis pela construção do espaço urbano cujo papel é mais associadoà instalação de infraestruturas metropolitanas de circulação e abastecimento e à abertura de frentes de expansão imobiliária.Alheias à questão habitacional (para a população de menor renda), essas ações têm configurado os espaços metropolitanos, tendo como uma de suas principais características a

1Inicialmente, o Programa Morar Carioca estimulava ações de urbanização que promovessem a integração entre as áreas regulares e irregulares, a inserção de equipamentos coletivos e outros usos relacionados à geração de renda, com intensa participação popular; com o andamento dos trabalhos, o número de áreas atendidas e o escopo das urbanizações foi reduzido. Foram privilegiadas áreas de intervenção próximas ao circuito olímpico e o programa foi reformatado para cobrir intervenções mais pulverizadas em diversas áreas da cidade. Em São Paulo, o Programa Renova SP seria baseado na elaboração de um plano urbanístico para cada área de intervenção/ sub-bacia, que deveria subsidiar as urbanizações de favelas, pois deveriam ser propostas ações integradas de urbanização, recuperação ambiental e drenagem. O lento andamento dos trabalhos tornou grande parte desses planos obsoletos e redirecionou os projetos para os limites dos assentamentos. 2 Até 2016, o Programa Morar Carioca - no seu formato inicial - contratou pouco mais de dez escritórios e desenvolvidos projetos para as áreas correspondentes, mas outros programas de urbanização também têm sido coordenados pela SMH nesse período. Em São Paulo, o Programa Renova SP efetivou 17 contratos entre 2011 e 2012, com prazo de contrato de até 24 meses; os contratos ainda estão em andamento, tendo concluído aproximadamente 50% do escopo inicial.

manutenção da segregação espacial e como um de seus impactos o insistente aumento da demanda habitacional.3 As remoções e o deslocamento de moradores resultantes dos processos de produção do espaço urbano são encarados como demanda habitacional, geralmente quantitativa, a ser atendida por política setorial, condicionada a minimizar os impactos das intervenções, através do atendimento à população mais vulnerável afetada.Nesse contexto, a atuação dos órgãos municipais de habitação, concentrada nas duas frentes - provisão habitacional e urbanização/ regularização de assentamentos precários, é limitada a atuações localizadas que, ao invés de pautarem as ações públicas através de uma agenda comum de minimização e gradativa supressão da segregação espacial e da precariedade urbano-habitacional, são tratadas de forma fragmentada, em cada (re)assentamento. A manutenção das barreiras físicas e sociais que caracterizam o espaço urbano das duas metrópoles é inerente ao seu processo de expansão. Em São Paulo, por exemplo, a precariedade urbano-habitacional e a segregação espacial foram promovidas, em um primeiro momento, através da disseminação de loteamentos irregulares precariamente urbanizados e, a partir de meados do século XX, através de remoções para a instalação das infraestruturas metropolitanas, eventualmente também atreladas a processos de transformação urbana e valorização imobiliária. Esse sistema construiu a matriz sobre a qual a cidade de São Paulo foi sendo estendida, baseada no loteamento de núcleos dispersos, menos ou mais afastados do centro, com posterior instalação da infraestrutura urbana, definindo vastas áreas precariamente urbanizadas onde a carência de equipamentos públicos, áreas livres e serviços urbanos ainda caracteriza extensos tecidos predominantemente residenciais, conectados a rarefeitos eixos onde estão concentradas as infraestruturas modais e de serviços urbanos.4 Nessas manchas, as áreas de domínio público passaram a servir de suporte para a sempre deficitária infraestrutura urbana, enquanto as áreas intra-lotes foram ocupadas de maneira fragmentada e não regulada, subordinada aos recursos individuais dos proprietários. Enquanto, em discurso oficial, os grandes planos e projetos para a cidade de São Paulo sempre procuraram reduzir os impactos da segregação espacial e equalizar a oferta de serviços urbanos, áreas livres e equipamentos públicos, as intervenções que ainda a desenham concentram-se na provisão da infraestrutura metropolitana de abastecimento e circulação e na abertura de frentes imobiliárias, desconsiderando demais programas urbanos e o tratamento qualitativo do espaço precariamente habitado, homogeneamente “construído em silêncio pelos trabalhores”. 5 O PROGRAMA RENOVA SP E SUAS POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÃO Em 2.011, a Prefeitura do Município de São Paulo, através da Secretaria da Habitação e do Instituto dos Arquitetos do Brasil, organizou um concurso de arquitetura e urbanismo que previa selecionar equipes coordenadas por arquitetos para propor ações integradas de urbanização em 22 áreas do Município, onde se estimavam 86.000 domicílios. Essas áreas, chamadas P.A.I.s – Perímetros de Ação Integrada, eram as 22 áreas prioritárias para urbanização, definidas pelo Plano Municipal de Habitação, em função da presença 3 É representativo o processo de transformação da cidade do Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos de 2016, realizado através de intervenções físicas, remoções e valorização imobiliária. Ver JUNIOR e NOVAES, 2015. Sem a mesma repercussão midiática, um dos exemplos do mesmo processo em São Paulo, foi o estabelecimento da Operação Urbana Água Espraiada. Ver FIX, 2001. 4 Ver PRADO JR., 1953 e BONDUKI, 1998. 5 BONDUKI, 1998, p. 294.

de risco, precariedade urbana e vulnerabilidade social6 e comporiam o Programa Renova SP, iniciado em 2011.

figura 1: Localização dos 22 Perímetros de Ação Integrada do Programa Renova SP sobre mapa Concentração de emprego e infraestrutura x áreas de maior vulnerabilidade social fonte: PMSP/ SMDU, 2016/ Habisp 2011. Manipulado pelo autor.

O mapa acima(fig. 1) opõe a concentração de empregos formais no centro-sudoeste da Região Metropolitana de São Paulo e as áreas de elevada vulnerabilidade social nas bordas da ocupação urbana em manchas que também correspondem a assentamentos precários. Sobre essa base cartográfica, foram identificados os vinte e dois Perímetros de Ação Integrada (P.A.I.s) do Programa Renova SP. Além de atestar a dimensão dos problemas urbanos estruturais a enfrentar, a imagem é útil para esclarecer o universo de atuação e as limitações das ações de urbanização de favelas sob uma política setorial; ou seja, no cenário de extrema desigualdade na oferta de serviços e oportunidades urbanas, o alcance das urbanizações tende a mitigar situações mais urgentes, dificilmente aspirando reverter a produção da precariedade urbano-habitacional.

6 O Plano Municipal de Habitação, elaborado pela Prefeitura do Município de São Paulo/ Secretaria Municipal de Habitação (Sehab) em 2.011, tinha como objetivo orientar as ações e políticas habitacionais municipais no período de 2.009 a 2.024. O PMH identificou um universo de 278 Perímetros de Ação Integrada em todo o Município. A identificação das áreas de risco seguiu o mapeamento realizado por IPT e FUSP em 2.003. A vulnerabilidade social foi medida de acordo com o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social, produzido pela Fundação SEADE para o Estado de São Paulo. (SÃO PAULO (CIDADE), 2011, pg. 26). Em 2016, foi apresentado um caderno para discussão pública cujo resultado pretende substituir o Plano Municipal de de 2011.

Para atingir as metas de atendimento e urbanização, o programa previa, no seu lançamento, 23.923 remoções que deveriam corresponder a novas unidades construídas preferencialmente nas respectivas poligonais. Seguindo a média populacional do Município de São Paulo, de 3,15habitantes/ domicílio7, aproximadamente 75.000 pessoas seriam relocadas, sob a coordenação exclusivada Secretaria Municipal de Habitação. Sem previsão de construção de equipamentos coletivos, de comércio ou de serviços, o reassentamento dessa escala estaria desvinculado de outras ações que pudessem contribuir para a alteração do quadro acima, através, por exemplo, do reforço de pequenas centralidades existentes e de revisão da rede de mobilidade . O Programa Renova SP previa, para cada P.A.I., quatro etapas de trabalho que seriam desenvolvidas cronologicamente: Diagnóstico Integrado, Plano Urbanístico, Urbanização dos Assentamentos e Provisão Habitacional. A primeira etapa, Diagnóstico Integrado, deveria compilar dados oficiais, planos e projetos públicos para a área como forma de subsidiar as etapas seguintes8. Os trabalhos seriam realizados sobre ortofoto fornecida e sobre o Mapa Digital da Cidade (MDC), base digital do Município de São Paulo de acesso público, elaborada em 2004, onde apenas o perímetro das favelas é anotado, sem a identificação das construções. Outras informações e os dados sobre a população e os domicílios dos assentamentos estavam disponíveis na plataforma Habisp. A etapa seguinte, Plano Urbanístico, deveria integrar as informações coletadas à realidade dos assentamentos, de modo a subsidiar propostas intersetoriais que integrassem as ações de urbanização, recuperação ambiental e provisão habitacional, criando novos sistemas de mobilidade e áreas livres. Essas propostas, por sua vez, deveriam orientar a etapa seguinte de projetos de urbanização, como o cenário futuro a ser perseguido pela administração pública. Em alguns Perímetros de Ação Integrada, a interferência de ações sob a coordenação de outras instâncias da administração pública seria determinante na definição das diretrizes de urbanização dos assentamentos e do tipo de atendimento à população moradora, como no caso de parques lineares previstos ao longo de córregos ocupados, novas vias em projeto e ampliação do sistema sobre trilhos. Essas ações, por sua interferência física no espaço, muitas vezes, exigiriam a remoção de elevado número de domicílios ou desconsiderariam a justaposição espacial de um equipamento de porte metropolitano junto a frágeis construções e vulneráveis tecidos sociais. Nessa etapa de trabalho, a mediação entre as diferentes ações em curso para as áreas deveria ser feita garantindo, na esfera projetual, atendimento à população residente, sob a tutela da Secretaria de Habitação. A terceira e principal etapa do programa concentrava-se no Projeto Básico de urbanização dos assentamentos precários, sobre base aerofotogramétrica fornecida, de precisão relativa. Os projetos de urbanização não seriam realizados em conjunto, mas através da emissão de ordens de serviço cujo critério de seleção variava para cada P.A.I.. Em teoria, sob a orientação das premissas estabelecidas na etapa Plano Urbanístico, os planos e projetos públicos levantados na etapa Diagnóstico deveriam ser recuperados para que se apurassem, com precisão, as interferências nas áreas de intervenção; entretanto, a eventual superficialidade ou imprecisão das informações coletadas e a utilização de bases de trabalho distintas, inviabilizava a correção desse procedimento. A última etapa de trabalho - Provisão Habitacional - poderia ocorrer simultaneamente à 7 Infocidade/ PMSP, 2010. 8 As etapas iniciais Diagnóstico Integrado e Plano Urbanístico seriam elaboradas em escala aproximada 1:2000 a 1:5000 (de acordo com a dimensão do Perímetro de Ação Integrada) e detalhes. Os projetos básicos de urbanização seriam elaborados em escala 1:500 e detalhes, para as disciplinas urbanismo, paisagismo, contenção geotécnica, terraplenagem, iluminação pública, coleta de resíduos sólidos, abastecimento e saneamento e 1:250 e detalhes para as disciplinas de drenagem, geométrico e pavimentação.

elaboração dos projetos básico de urbanização e deveria contemplar os moradores indicados para reassentamento nos diferentes P.A.I.s. O trabalho social não seria realizado pelas equipes projetistas e seria contratado apenas durante as obras e o desenvolvimento dos projetos executivos, assim como o cadastro dos moradores. A interlocução com a população seria realizada através de reuniões entre representantes da Secretaria de Habitação e o Conselho Gestor de cada P.A.I.; quando cada etapa de trabalho fosse concluída, as equipes coordenadas por arquitetos seriam solicitadas a apresentar os projetos para os moradores e para o Conselho Gestor de cada P.A.I..9 O PERÍMETRO DE AÇÃO INTEGRADA JARDIM JAPÃO 1: INTERSECÇÕES ENTRE A PRECARIEDADE URBANO-HABITACIONAL E O MODO DE PRODUÇÃO DO ESPAÇO METROPOLITANO Entre os vinte e dois Perímetros de Ação Integrada do Programa Renova São Paulo, apenas um era relativamente central no Município e não apresentava qualquer tipo de risco geotécnico para as construções e moradores locais. As justificativas oficiais para a inlcusão do Perímetro Jardim Japão 1 no conjunto do programa eram a elevada vulnerabilidade social da jovem e numerosa população e o isolamento urbano dos 14 assentamentos precários e 02 conjuntos habitacionais irregulares existentes, nos quais eram estimados 4.604 domicílios em situação precária e irregular10, próximos ao encontro de dois importantes eixos rodoviários do país: Rodovia Presidente Dutra e Marginal Tietê.

figura 2: Mapa Município de São Paulo, com a localização dos 22 Perímetros de Ação Integrada do Programa Renova SP. Em destaque, o P.A.I. Jardim Japão 1. fonte: elaborado pelo autor

9Os Conselhos Gestores deveriam ser montados durante o andamento dos projetos. A maioria dos P.A.I.s correspondiam a áreas ou conjunto de áreas demarcadas como ZEIS (Zonas Especiais de Interesse Social). 10HABISP/ PMSP, 2011.

figura 3: P.A.I. Jardim Japão 1: imagem aérea. fonte: PMSP/ Habisp, 2011.

Figura 4: Mapa P.A.I. Jardim Japão 1. Observar a justaposição de tecidos urbanos distintos: uso industrial/ atividades logísticas (grandes construções em amplos lotes) x habitação precária e conjuntos habitacionais irregulares (pequenas construções adensadas no miolo do perímetro). A diagonal que marca a direção Nordeste corresponde ao eixo da Rodovia Presidente Dutra; o Rio Tietê e suas avenidas marginais são destacados como o eixo Leste/Oeste a Sul do P.A.I.; o eixo Norte/Sul é marcado pela presença do Córrego Novo Mundo e pela incompleta Avenida Tentente Amaro Felicíssimo da Silveira. fonte: MDC (2004), manipulado pelo autor. Figura 5: P.A.I. Jardim Japão 1: favelas, loteamentos irregulares e principais estruturas urbanas sobre foto aérea. fonte: Ortofoto 2011 PMSP/ HABISP, 2011.

A análise da configuração urbana do P.A.I. Jardim Japão 1 apontava dois elementos preponderantes: a existência de diversas obras viárias inacabadas, paralisadas há mais de uma década (com destaque para a via ao longo do Córrego Novo Mundo canalizado) e a presença de dois tecidos urbanos distintos: um parcelamento fundiário de caráter industrial, formalmente irregular, de uso logístico sobre vastas áreas impermeabilizadas pouco construídas e um tecido intersticial, caracterizado pela habitação precária de elevada densidade e pelo isolamento frente às grandes e intransponíveis glebas de uso industrial. A justaposição desses usos e tecidos tão distintos foi apontada como uma das causas da precariedade urbano-habitacional da área e da consequente vulnerabilidade social dos moradores, pois a presença dos eixos rodoviários aliada à carência econômico-social do

isolado tecido urbano tende a favorecer a proliferação de atividades marginais como o tráfico e a prostituição infantil. Dessa forma, a vulnerabilidade social da população e a precariedade de acesso a serviços urbanos foram vinculados à construção física e espacial da área, caracterizada por extensas divisas fundiárias intransponíveis e conexões urbanas obstruídas, desarticuladas dos eixos de infraestrutura vizinhos e bairros adjacentes, que, por sua vez, apresentam padrão de parcelamento regular, característico de inúmeros loteamentos paulistanos. A sequencia de imagens abaixo reproduz o processo de ocupação local em três momentos distintos: em 1.924, 1.958 e 1.972. Nela se verifica que a ocupação da área correspondente ao Perímetro Jardim Japão 1 e, em especial, de seu miolo, onde estão concentradas as ocupações precárias, só foi viabilizada após a execução das grandes obras adjacentes da segunda metade do século XX, contrariando o padrão de expansão periférica paulistano, onde a instalação da infraestrutura urbana foi posterior ao loteamento para estabelecimento habitacional.

Figura 6: P.A.I. Jardim Japão 1: sequencia da evolução urbana e transformação do meio físico em três momentos distintos: 1924 (Planta da Cidade de São Paulo), 1958 (Geoportal) e 1972 (Gegran).

Figura 7: P.A.I. Jardim Japão 1: favelas e loteamentos irregulares 2011 com sobreposição da base hidrográfica representada em 1930. Observar a correspondência entre o leito menor do Rio Tietê em 1930 e a localização dos assentamentos precários em 2011. fonte: Sara Brasil 1930/ MDC 2004/ Habisp 2011. Manipulado pelo autor. Figura 8: P.A.I. Jardim Japão 1: favelas e loteamentos irregulares 2011 com hipsometria sobre base MDC (2004). Observar a correspondência entre as glebas de uso industrial/ logístico e a elevação hipsométrica interna ao antigo meandro,com área de risco de alagamento em 2011 (Fonte: Defesa Civil/ PMSP, 2012). fonte: MDC 2004/ Habisp 2011. Manipulado pelo autor.

Além de vincular a ocupação urbana à execução das obras das vias Marginal Tietê e Dutra, as imagens exemplificam o processo de transformação física da planície dominada pelo Rio Tietê, a partir de sua retificação, iniciada em 1.93811, e explicitam a correspondência entre a localização e a forma dos assentamentos precários atuais ao corpo principal do Rio Tietê. Também se observam as alterações hidrológicas provocadas pelo deslocamento do corpo principal do Rio Tietê: o lento aterro das lagoas, a inversão do caminhamento do meandro cujo leito foi tomado pelo afluente e a substituição da superfície molhada pela pavimentação asfáltica, característica das glebas de uso logísitco. Em muitos casos paulistanos, as ocupações precárias foram consolidadas sobre área pública, normalmente ao longo de corpos d`água ou nas parcelas destinadas a áreas livres em loteamentos. A coincidência entre a precariedade urbano-habitacional e o corpo principal do Rio Tietê deve ser considerada em conjunto com a constituição fundiária das novas terras criadas com a redução de sua superfície alagável. É possível verificar como a drenagem dos terrenos alagadiços serviu ao estabelecimento industrial/ logístico voltado para a Avenida Marginal Tietê e como os antigos meandros do Rio definem, tanto os limites das glebas industriais estabelecidas em terrenos planos e alteados em relação ao nível original (1930), quanto da maioria dos assentamentos precários registrados. Os relatos extra-oficiais12 que testemunham as origens das favelasda área, referem-se ao aterro dos terrenos ainda encharcados por entulho, material escavado e lixo. Esses relatos creditam as origens da ocupação habitacional precária a ações públicas promovidas para relocar famílias removidas pela construção da Linha 01/ Azul do Metrô na Avenida Cruzeiro do Sul, ainda no início da década de 1970. A execução das obras do metrô fornecia também parte do material para aterro dos terrenos ainda não completamente urbanizados da Várzea, para viabilizar o parcelamento regular para a “construção de casas de madeira com tanques e banheiros para as famílias”, realizadas pela Prefeitura13, o que explicaria o desenho regular de alguns assentamentos da poligonal. Durante as décadas de 1980 e 1990, alguns empreendimentos habitacionais foram executados pela Prefeitura de São Paulo, em lotes até hoje irregulares e precariamente urbanizados, como é o caso dos conjuntos Vila Maria I e II, Vila Maria Parque Novo Mundo e Vila Maria Nova Tietê. Apesar de os serviços de infraestrutura urbana de abastecimento e saneamento cobrirem quase a integridade da área, o grau de precariedade é bastante diverso entre os tipos de assentamentos registrados (favela, conjunto habitacional, empreendimento público, loteamento), assim como suas dimensões e número estimado de moradores. Ainda que os assentamentos sejam bastante diversos, é possível identificar características comuns às ocupações da área: alta densidade construtiva e verticalização, grande número de unidades de aluguel e população jovem. Os diferentes graus de precariedade habitacional relacionados à presença da infraestrutura e ao padrão construtivo são bastante agravados pela precariedade urbana da área, resultado do incompleto processo de urbanização da Várzea do Tietê e presente na confusa constituição fundiária, no obstruído tecido, na falta de conexões viárias e na resistência de extensas manchas de uso industrial não cobertas por serviços urbanos como transporte público, comércio e equipamentos coletivos. 11 As obras de urbanização da Várzea do Tietê, iniciadas em 1938, foram concentradas na retificação do corpo principal do Rio cujo traçado foi acompanhado pelas avenidas marginais, de acordo com as orientações do Plano de Avenidas, elaborado, em 1930, pelos engenheiros João Florence de Ulhôa Cintra e Francisco Prestes Maia. Oficialmente, as obras foram concluídas com a finalização das avenidas marginais e do canal retificado, entre a Barragem da Penha e Osasco, em 1968. 12 Depoimentos de moradores do P.A.I. Jardim Japão 1, registrados em SÃO PAULO (CIDADE), 2012. 13 SÃO PAULO (CIDADE), 2012, p. 81.

Dessa forma, ainda que os projetos de urbanização dos assentamentos fossem restritos às respectivas poligonais, a recomendação de consolidação deveria ser articulada com ações que procurassem reverter o isolamento do tecido e a inserção de novos equipamentos e usos, como forma de minimizar a precariedade urbana, por sua vez responsável pelo agravamento das condições de moradia na área. Entretanto, a dificuldade de articulação e interlocução entre as diferentes esferas administrativas municipais somam-se às restrições do alcance da Secretaria de Habitação, definidas pelo universo das políticas setoriais e pela recorrente escassez de recursos operacionais e financeiros, no estreitamento das possibilidades de intervenção multisetorial, condicionando o atendimento à população, o programa e as decisões de projeto que tendem a seguir, de modo geral, o binômio consolidação máxima/ remoção mínima.14 A definição e a conjugação dos critérios para remoção tem sido tema frequente de debate, provavelmente porque as alternativas de atendimento mais comuns nesses casos - atendimento por auxílio para moradia ou reassentamento externo - não têm conseguido reverter o processo cíclico de remoção/ desmanche de vínculos/ deslocamento/ reinstalação em condições precárias. Nesse cenário, a consolidação máxima apresenta-se como a solução mais favorável, pois, para a maior parte da população, contabilizam-se ganhos com a eliminação do risco, a ampliação da infraestrutura e a possibilidade de regularização fundiária. O P.A.I. Jardim Japão 1 é um exemplo explícito de como é necessário vincular a consolidação dos assentamentos a uma perspectiva futura e outras ações urbanas, sob pena de um efeito temporário da consolidação, quando não incompatível com ações programadas por outras instâncias da administração pública. Durante o processo de desenvolvimento dos projetos de urbanização do P.A.I. Jardim Japão 1, foi articulada pelas secretarias da Educação, Habitação e Desenvolvimento Urbano (SMDU) a instalação de um Centro Educacional Unificado (CEU), atualmente em obra coordenada pela SMDU, como resposta à reivindicação dos moradores por equipamentos coletivos de educação e lazer para a jovem população da área. Se a implantação desse equipamento representa um ganho concreto para os moradores da região, também demonstra a necessidade de revisão dos processos de projeto de urbanização e os desafios colocados para sua implementação. Enquanto os projetos de urbanização estão em curso há, aproximadamente, 5 anos, em três anos, o equipamento de porte regional deve alterar consideravelmente o cotidiano dos moradores e o cenário de intervenção nas favelas. O processo de projeto em urbanizações tende a ser longo pois deve contemplar a construção e o fortalecimento das discussões e decisões com os moradores e os diversos envolvidos; no formato desse programa, essa etapa foi reduzida, enquanto a extensão do prazo de trabalho comprometia as bases e informações inicialmente já defasadas. AS URBANIZAÇÕES DO PERÍMETRO DE AÇÃO INTEGRADA JARDIM JAPÃO 1: O IMPASSE ENTRE A CONSOLIDAÇÃO E A TRANSFORMAÇÃO IMINENTE A fragilidade da política setorial habitacional e a incompatibilidade entre as determinações da Secretaria de Habitação e algumas ações em curso programadas por outras instâncias da administração pública apresentam-se de forma mais clara quando demonstradas em exemplos localizados; para tanto, serão destacados alguns assentamentos nos quais a perspectiva de consolidação, remoção ou persistência da precariedade urbano- 14De acordo com alguns critérios consagrados em urbanizações de favelas: eliminação do risco, comprometimento estrutural da construção, passagem de infraestrutura urbana.

habitacional está diretamente relacionada a intervenções alheias à coordenação da Secretaria de Habitação, mas que têm impacto significativo na demanda a ser atendida e pautam o escopo e o ritmo do trabalho desenvolvido no universo de ação da Secretaria de Habitação.

Figura 9: Aproximacão P.A.I. Jardim Japão 1. A oeste, a maior mancha representa o conjunto das favelas Nova Tietê e Cidade Nova; a mancha destacada ao centro corresponde ao Conjunto Habitacional Vila Maria Parque Novo Mundo; a Leste, a menor mancha corresponde à pequena favela José Pessoto Sobrinho. O eixo Norte-Sul da imagem é reforçado pelo Córrego Novo Mundo canalizado cuja via dupla adjacente (Avenida Tenente Amaro Felicíssimo da Silveira) não foi concluída em toda a extensão representada na imagem. fonte: MDC 2004/ Habisp 2011. Manipulado pelo autor.

Figura 10: Córrego Novo Mundo. Observar a ausência de pavimentação na avenida paralisada e as ocupações precárias ao longo de seu eixo. fonte: Habisp/ PMSP, 2011.

1. Assentamento José Pessoto Sobrinho:

área: 668m2 no. estimado de domicílios HABISP 2011: 25 no. estimado remoções HABISP 2011: 5 no. estimado consolidações HABISP 2011: 20 no. estimado domicílios vistoria 2012: 45 no. estimado remoções projeto 2012: 10 no. estimado consolidações projeto 2012: 35 interferências diretas com outras ações/ projetos: Execução Avenida Tenente Amaro Felicíssimo da Silveira O pequeno assentamento José Pessoto Sobrinho ocupa a extremidade de um quarteirão triangular em que um dos catetos é definido por uma via de duas mãos ao longo do Córrego Novo Mundo canalizado. Há mais de uma década, a obra de canalização exigiu uma grande remoção e previa a execução de uma avenida de mão dupla (Avenida Tenente Amaro Felicíssimo da Silveira), que poderia conectar a Rodovia Dutra à Marginal Tietê, o que transformaria drasticamente as dinâmicas e os fluxos urbanos no entorno imediato do assentamento. A obra foi paralisada após a execução do canal, sem a execução da via cujo alinhamento foi sendo ocupado. A imprecisão das bases não permitia que se afirmasse quais construções seriam, de fato, impactadas, caso as obras fossem retomadas de acordo com o antigo projeto; a falta de informações corretas sobre a perspectiva de conclusão da obra inibia a recomendação para a remoção, uma vez que a maioria das construções poderia ser consolidada, considerando-se apenas os limites dados para o assentamento e o comprometimento dos recursos de atendimento. A opção de substituição das unidades por novas construções, mais compatíveis com a eventual presença da via de fluxo intenso não podia ser considerada pois esses escassos recursos deveriam ser empregados em situações mais urgentes. Dessa forma, o projeto básico recomendou a consolidação das construções em alvenaria e o atendimento aos moradores das construções mais precárias. Entretanto, após tantos investimentos feitos e ainda que não haja previsão concreta, a via deve ser concluída e, dependendo de seu caráter viário (fluxo mais ou menos intenso; restrição ou não de tráfego pesado), as expectativas dos moradores quanto à permanência ou não na área poderiam ser consideravelmente alteradas. Além disso, caso essas ações fossem coordenadas seria possível considerar, em uma obra de dimensões

razoáveis como seria a execução dessa via, outro tipo de atendimento aos moradores - habitacional ou relacionado à instalação de novo equipamento ou comércio cuja abrangência poderia ser potencializada pela nova via de comunicação em uma malha urbana tão obstruída e monofuncional.

Figuras 11 e 12: Assentamento José Pessoto Sobrinho. Aspectos Gerais. Observar a discrepância de padrões construtivos sobre o alinhamento da via. fonte: crédito apenas na apresentação oral

2. Conjunto Habitacional Vila Maria Parque Novo Mundo: 15 área: 22.585m2 no. estimado de domicílios HABISP 2011: 620 no. estimado remoções HABISP 2011: 0 no. estimado consolidações HABISP 2011: no. estimado domicílios vistoria 2012: não foram cadastradas as ocupações sobre as áreas livres no. estimado remoções projeto 2012: todas as ocupações sobre as áreas livres no. estimado consolidações projeto 2012: 620 interferências diretas com outras ações/ projetos: Execução Avenida Tenente Amaro Felicíssimo da Silveira Esse Conjunto Habitacional, com 31 blocos, foi construído na década de 1990, pelo Programa Cingapura, responsável pela substituição de domicílios irregulares e/ ou precários, geralmente nas áreas de favelas adjacentes a avenidas; muitos desses conjuntosainda hoje permanecem irregulares, uma das causas apontadas para explicar sua intensa deterioração e precarização. A Secretaria de Habitação tem tentado implantar o Programa 3Rs, que pretende regularizar os lotes correspondentes aos conjuntos e recuperar a estrutura física das construções, tendo como um dos maiores desafios a recuperação do C.V.M.P.Novo Mundo. Localizado ao longo do Córrego Novo Mundo, sobre antigo meandro do Rio Tietê, em um terreno de forma irregular que tem apenas duas divisas- a oeste, uma gleba de uso logístico e, a leste, a Avenida não concluída, o Conjunto possui acesso viário muito precário, o que o caracteriza como o assentamento mais isolado de toda a poligonal de intervenção. O isolamento urbano da área, que foi apontado como uma das causas de sua precariedade e da elevada vulnerabilidade social, encontra, no C.V.M.P.Novo Mundo, sua maior expressão e manifesta-se através da deterioração da infraestrutura predial e condominial e da ocupação total das áreas livres entre blocos por domicílios muito 15Denominado em diante C.V.M.P.Novo Mundo.

precários que, mesmo quando construídos em madeira, facilmente atingem dois pavimentos, misturando-se aos pavimentos dos edifícios. Ao contrário do assentamentoJosé Pessoto Sobrinho, o C. V.M.P.Novo Mundo, por suas dimensões, não corre o risco de remoção pela conclusão da Avenida, mas, as tentativas da Secretaria de Habitação de reverter seu quadro de degradação não têm efeito prolongado, enquanto a desobstrução do tecido não for atingida, pois a manutenção e o agravamento de seus problemas são principalmente relacionados ao controle do acesso ao entorno do Conjunto. Novamente, sem informações mais detalhadas sobre a execução das obras, o projeto recomendou o reparcelamento do conjunto, sua regularização e a recuperação física da infraestrutura condominial; para a recuperação do conjunto, foi recomendada a remoção completa das ocupações sobre as áreas livres entre os blocos, sem, entretanto, dimensionar essa demanda a ser atendida, pois não havia possibilidade de elaboração do cadastro dos moradores.

Figuras 13 e 14: Conjunto Habitacional Vila Maria Parque Novo Mundo. Aspectos Gerais. Observar a ocupação das áreas livres e a deterioração da infraestrutura condominial. fonte: crédito apenas na apresentação oral

Figura 15: Conjunto Habitacional Vila Maria Parque Novo Mundo. Aspectos Gerais. Observar a ocupação das áreas livres e a deterioração da infraestrutura condominial. fonte: Habisp/ PMSP, 2011.

3. Cidade Nova e Nova Tietê

área: 35.332m2/ 45.040m2 = 80.372m2 no. estimado de domicílios HABISP 2011: 500/ 700=1.200 no. estimado remoções HABISP 2011: 100/ 140=240 no. estimado consolidações HABISP 2011: 400/ 560=960 vistoria preliminar realizada e projeto não realizado interferências diretas com outras ações/ projetos: Apoio Urbano Norte Não há divulgação oficial sobre as recomendações do projeto de urbanização desses assentamentos e é provável que esteja paralisado, portanto não seria correto supor quais diretrizes seriam adotadas ao final do processo. No entanto, o exemplo desses assentamentos, ainda assim, é útil para avaliar os possíveis cenários de consolidação e a repercussão de outras ações programadas pela administração pública. Serão discutidos os dados oficias que fundamentaram a elaboração do Programa Renova SP para essa poligonal16 e as informações disponibilizadas pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU) para a área.17 Os assentamentos Cidade Nova e Nova Tietê 18formam uma mancha contínua de densa ocupação, sobre ligeira depressão do antigo meandro do Rio Tietê, limitada, a oeste, por área de parcelamento regular e, a sul e leste, por uma extensa barreira murada, divisa de três glebas industriais alteadas. No perímetro desses assentamentos também existe um Conjunto Habitacional do Programa Cingapura, com 160 unidades habitacionais e as mesmas características do C.H.V.M.P.Novo Mundo, ainda que sem a mesma dramaticidade. Pelas estimativas oficias do Programa Renova SP, os assentamentos deveriam ser consolidados através de obras de ampliação da infraestrutura urbana e viária.À dimensão e ao grau de consolidação dos assentamentos somam-se alguns equipamentos públicos (escolas e centros de assistência social) e diversos comércios que garantem aos moradores a oferta mínima de serviços urbanos, todos beneficiados por recentes obras de drenagem que minimizaram os antigos problemas de alagamento dos trechos mais baixos. Nos últimos dois anos, uma das glebas industriais a sul dos assentamentos foi alvo de uma grande ocupação que, desde então, tem aumentado a pressão popular por atendimento habitacional na área.

16HABISP/ PMSP, 2011. 17disponíveis em <http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/arco-tiete-apoio-urbano-norte/>, acessado em julho/2016. 18Denominados em diante N. Tietê/ C. Nova.

Figuras 16, 17 e 18: Assentamentos Nova Tietê e Cidade Nova. Aspectos Gerais. Observar a verticalização das construções. fonte: crédito apenas na apresentação oral No início da década de 2.000, a ideia de desafogo da Marginal Tietê através de dois corredores paralelos, um a Norte e outro a Sul, passou a ganhar corpo dentro da administração pública. Esse plano foi sendo desenvolvido durante os últimos anos e passou a integrar o Plano Diretor Estratégico do Município19 através do Apoio Urbano Sul (sobre vias já existentes) e do Apoio Urbano Norte (sob uma linha alta tensão existente e sobre a ampliação e criação de vias). Sob a coordenação da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, os Apoios Urbanos caracterizam-se como eixos de transporte coletivo sobre pneus e ciclovias, que conectam os eixos radiais de transporte sobre trilhos existentes e previstos. De acordo com com as determinações do Plano Diretor Estratégico do Município, eixos estruturais de transporte público devem corresponder a frentes de desenvolvimento urbano, onde o adensamento, a verticalização e a diversificação de usos devem ser incentivados, como forma de potencializar a infraestrutura urbana instatalada. O Apoio Urbano Norte deve ter seção variável entre 39 e 48 metros, reconfigurando o entorno de um eixo de 24,5 quilômetros, visando reequilibrar a distribuição entre moradia e emprego, e a qualificação dos espaços públicos.20 Assim, a implanatação desse plano pretende transformar o padrão de ocupação de uma grande área do Município, apropriando-se de estruturas existentes, não utilizadas em todo seu potencial construtivo. Muitas versões sobre o traçado do Apoio Urbano Norte já foram divulgadas, mas, oficialmente, ainda não há precisão nas informações ou na localização dos traçados; o que tem sido recorrentemente divulgado é que a extremidade leste do Apoio Urbano Leste é localizada na poligonal do Jardim Japão 1; em algumas versões anteriores, seria ramificada em vias menores, mas, na versão atual, teria ali seu trecho final. Na última versão apresentada - em nível de plano - essa estrutura tangencia os assentamentos N. Tietê/ C. Nova.

19Lei Municipal 16.050/14. 20PMSP/ SMDU, 2016.

Figura 19: Traçado Apoio Urbano Norte - última versão. Observar a extremidade leste da estrutura viária, sobre a poligonal dos assentamentos. Fonte: SMDU, 2016.

Figura 20: Estratégias de melhoramentos/ Apoios Urbanos: Melhoramentos com desapropriação parcial. Fonte: SMDU, 2016.

Figura 21: Estratégias de melhoramentos/ Apoios Urbanos: Aberturas de vias. Fonte: SMDU, 2016.

Figura 21: Trecho do Perímetro Jardim Japão 1 e localização aproximada do traçado Apoio Urbano Norte. Esse traçado acompanha a última versão divulgada pela SMDU, na qual, ao tangenciar os assentamentos Nova Tietê/ Cidade Nova, é bifurcado; a bifurcação que segue a direção Sul deve se conectar com avenidas já existentes; sobre a bifurcação norte, não há divulgação de informações, mas há uma alternativa que atravessará o Córrego Novo Mundo, até encontrar a Rodovia Fernão Dias. fonte: MDC 2004/ Habisp 2011/ SMDU 2016. Manipulado pelo autor.

Evidentemente, até a etapa de detalhamento desse plano, muitas alterações e ajustes podem ocorrer. O que se pretende ressaltar é o desalinhamento entre as expectativas das diferentes ações e visões sobre o espaço construído; no foco do perímetro dos assentamentos precários e no universo da urbanização de favelas, esses assentamentos deveriam ser consolidados e sua regularização garantida; na visão do desenvolvimento urbano, essas áreas deveriam ser completamente transformadas. Certamente, em uma área tão obstruída e monofuncional, a ideia de dinamização dos usos e a abertura de novas vias comunicação seria bem-vinda; os conflitos são destacados na concretização dos planos que, dado seu histórico, não tem sido capazes de incorporar os tecidos físicos e sociais existentes em modos alternativos de produção do espaço urbano.É nesse contexto que devem ser debatidas as possibilidades e os objetivos das ações de urbanização, como instrumentos ativos de reversão dos processos de segregação espacial. O ALCANCE DAS URBANIZAÇÕES PONTUAIS NA ESCALA METROPOLITANA Os exemplos localizados na poligonal de intervenção Jardim Japão 1/ Renova SP procuraram demonstrar o alcance limitado das urbanizações sob a coordenação da Secretaria de Habitação de São Paulo, condicionado por um cenário mais amplo de produção do espaço, geralmente afastado das preocupações com a precariedade e o déficit habitacionais. O exemplo dessa poligonal de intervenção foi destacado porque, além de nela estaremidentificados diversos tipos de assentamento, com graus de precariedade variados, a intersecção entre as questões habitacionais e metropolitanas fica explícita nas sucessivas ações de transformação do espaço que acabaram resultando em sua configuração atual. A recuperação do processo de ocupação da área onde a poligonal Jardim Japão 1/ Renova SP está inserida - um trecho da Várzea do Rio Tietê - procurou demonstrar como

mesmo a execução de grandes e longas obras que viabilizaram o assentamento urbano também contribuíram para o surgimento de problemas que persistem até hoje; inundações e alagamentos resultantes de imprevistas alterações hidrológicas e topográficas, incompleto esgotamento sanitário, poluição ambiental, ocupações irregulares, contaminação do solo por aterro inadequado e indefinição fundiária são alguns dos problemas urbanos vinculados à precária urbanização da Várzea do Tietê, que é bastante representativa do modo de produção do espaço metropolitano brasileiro. Essa recuperação também procura revelar como é possível identificar pontualmente os efeitos de um modo de produção do espaço baseado na instalação quantitativa de infraestruturas axiais e desinteressado pela distribuição equalizada da estruturação do solo, dos equipamentos e serviços urbanos; subordinado a esse contexto, o escopo localizado das urbanizações de favelas tende a se concentrar em intervenções pontuais e emergentes, sem fôlego para conduzir ações mais efetivas em busca da supressão da produção da precariedade urbana. Nesse cenário, o caminho da consolidação máxima - ou da remoção mínima - apresenta-se como a recomendação mais segura para os envolvidos; entretanto, deve-se avançar na construção de perspectivas futuras para as áreas consolidadas/ a consolidar para que os ciclos de precarização do espaço e de vulnerabilidade social não se repitam tão logo as intervenções físicas deteriorem-se ou tenham se tornado obsoletas, pois é comum que ações de urbanização e regularização sejam repetidas em um mesmo assentamento. Além disso, exclusivamente sob a política setorial habitacional, é comum que a necessidade de equipamentos coletivos e outros usos e não seja contemplada. A inserção de usos além do predominantemente residencial é uma ferramenta, não só de atendimento direto à população, mas de diversificação de atividades e fluxos, que tendem a minimizar as fronteiras das áreas consolidadas através da integração das dinâmicas urbanas e sociais. A ausência de equipamentos coletivos e outras atividades nas áreas precárias favorece a consolidação de tecidos monofuncionais, mais propensos ao isolamento e à vulnerabilidade social. Manejando o ônus e as demandas articuladas por outras instâncias da administração pública, as secretarias municipais de habitação do Rio de Janeiro e de São Paulo têm suas ações pautadas por outros agentes de produção do espaço urbano que, ocasionalmente, prevêem ações incompatíveis com aquelas que seriam determinadas pelas práticas consagradas de urbanizações de favelas. Nesse processo, a vulnerabilidade das determinações das políticas municipais habitacionais também carrega o efeito perverso de enfraquecer as possibilidades da esfera participativa, uma vez que as reivindicações locais e decisões evetualmente acordadas não encontram o respaldo necessário para se consolidarem; é bastante ilustrativo o fato de que a participação popular, no caso do Programa Renova SP, seja restrita a apresentações protocolares e que as equipes envolvidas não tenham acesso direto à população ou a bases precisas de trabalho. Esses questionamentos não podem ser respondidos sem a contribuição dos inúmeros envolvidos. Se a reversão do padrão de produção do espaço não pode deixar de admitir a dimensão territorial e social dos tecidos segregados, é provável que o principal caminho a ser perseguido seja aquele relacionado à ampliação do debate e da participação na busca pela construção de novas formas de enfrentar a precariedade do espaço habitado na escala metropolitana. Ao se discutir o alcance e as incongruências das urbanizações de favelas em contextos metropolitanos, sob a política municipal habitacional, não se pretende reduzir a relevância dessas ações; o que se pretende é ampliar sua agenda para que suas propostas e efeitos tenham repercussão amplificada nos territórios historicamente segregados, pautando a produção e o desenho do espaço urbano de modo mais decisivo e sustentável, sem deixar de considerar a relevância das especificidades físicas, sociais e urbanas de cada

contexto. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS � AB`SABER, Aziz Nacib (2007)Geomorfologia do sítio urbano de São Paulo. Cotia: Ateliê Editorial. BARDA, Marisa; FRANÇA, Elisabete; LONGHI, Breno Viatle(2011) Renova SP: concurso de projetos de arquitetura e urbanismo. São Paulo: HABI. BONDUKI, Nabil (1998). Origens da habitação social no Brasil: arquitetura moderna, lei do inquilinato e difusão da casa própria. São Paulo: Estação Liberdade. FIX, Mariana (2001) Parceiros da Exclusão. São Paulo: Boitempo. JUNIOR, Orlando Alves dos Santos; NOVAES, Patrícia Ramos (2015). Rio de Janeiro: Impactos territoriais e o ajuste espacial na cidade olímpica. EmetropolisRevista Eletrionica de Estudos Urbanos e Regionais[online]. Edição 27. Rio de Janeiro: Observatório das Metrópoles. Disponível em <http://emetropolis.net/system/edicoes/arquivo_pdfs/000/000/025/original/emetropolis_n25_v2.pdf?146929063> MARX, M. (1991) Cidade no Brasil, terra de quem? São Paulo: EDUSP/ Nobel. PRADO JUNIOR, Caio (1953)A cidade de São Paulo: geografia e história in Evolução política do Brasil e outros estudos. São Paulo: Brasiliense. ROLNIK, Raquel (1997)A cidade e a lei: legislação, política urbana e territórios na cidade de São Paulo. São Paulo: Fapesp, 1997. SÃO PAULO/ CÂMARA MUNICIPAL (1963). As enchentes do Rio Tietê e seus afluentes. Relatório da Comissão Especial para Estudo das Enchentes do Rio Tietê e seus afluentes. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 1963. SÃO PAULO, CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISA DE ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL/ CEPAM (1971)Roteiro para elaboração do plano diretor de desenvolvimento integrado (PDDI). São Paulo: CEPAM. SÃO PAULO (CIDADE) (1926). Relatório da Commissão de Melhoramentos do Rio Tietê. São Paulo. SÃO PAULO (CIDADE) (1974). Projeto leste: o que o Tietê reservou para a cidade. São Paulo: PMSP. SÃO PAULO (CIDADE) (2011). Plano Municipal da Habitação Social da Cidade de São Paulo (PMH 2.009 – 2.024). São Paulo: Prefeitura do Município de São Paulo. SÃO PAULO (CIDADE) (2012). Relatório Diagnóstico Integrado Preliminar/ Perímetro de Ação Integrada Jardim Japão 1. Elaborado por Secretaria da Habitação SEHAB/PMSP e Diagonal Transformação de Territórios. São Paulo. SEABRA, OdetteCarvalho de Lima (1987). Meandros dos rios nos meandros do poder : Tietê e Pinheiros - valorização dos rios e das várzeas na cidade de Sao Paulo. Tese de Doutorado apresentada ao Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. São Paulo. SEMINÁRIO METRÓPOLES LATINOAMERICANAS, II. Anais V. 1 (1992): Os sistemas de infraestrutura e serviços urbanos na Região Metropolitana de São Paulo – Impacto no ambiente construído e na vida da população de baixa renda. São Paulo: UNCRD/ FAUUSP/ FUPAM. VILLAÇA, Flavio (2004)Uma contribuição para a história do planejamento urbano noBrasil in DEAK, Csaba, SCHIFFER, Sueli Ramos (org.). O processo de urbanização do Brasil. São Paulo: EDUSP.

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