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SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE FRAUDES NO SETOR DE CIGARROS Brasília – DF, agosto de 2001

SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE FRAUDES NO SETOR DE … · cando informações. A cooperação técnica entre instituições envolvidas no combate à fraude é essencial à sua efetividade

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SEMINÁRIO INTERNACIONALSOBRE FRAUDES NOSETOR DE CIGARROS

Brasília – DF, agosto de 2001

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PRESIDENTE DA REPÚBLICA

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

MINISTRO DA FAZENDA

PEDRO SAMPAIO MALAN

SECRETÁRIO DA RECEITA FEDERAL

EVERARDO DE ALMEIDA MACIEL

SECRETÁRIO-ADJUNTO DA RECEITA FEDERAL

JORGE ANTÔNIO DEHER RACHID

COORDENADORA-GERAL DO SISTEMA ADUANEIRO

CLECY MARIA BUSATO LIONÇO

COORDENADOR-GERAL DO SISTEMA DE FISCALIZAÇÃO

PAULO RICARDO DE SOUZA CARDOSO

COORDENADOR-GERAL DE PESQUISA E INVESTIGAÇÃO

DEOMAR VASCONCELLOS DE MORAES

DIRETORA-GERAL DA ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO FAZENDÁRIA

MARIA DE FÁTIMA PESSOA DE MELLO CARTAXO

APRESENTAÇÃO JORGE ANTÔNIO DEHER RACHID

Secretário-Adjunto da Secretaria da Receita Federal

TRADUÇÃO ROSA MOURÃO MARGARINOS TÔRRES

Auditor Fiscal da Receita Federal

SUPERVISÃO MARIA DA GLÓRIA OLIVEIRA COELHO LEAL

Diretora de Atendimento e Coordenação de Programas - ESAF

ORGANIZAÇÃO ESAF LUCENA LIMA

Gerente do Programa de Finanças Públicas

ORGANIZAÇÃO SRF JORGE ANTÔNIO DEHER RACHID

Secretário-Adjunto da Secretaria da Receita Federal

ORGANIZAÇÃO EDITORIAL GRACIA MARIA CRISTINO QUINTAS

Centro Estratégico de Editoração e Material Didático - CEMAD/ESAF

REVISÃO TEXTUAL AILTON MEIRELES DE SOUSA E ISA DO PRADO BRUCK

Auditores Fiscais da Receita Federal

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA ROMILDO PEREIRA SOARES

As opiniões aqui expressas são de exclusiva responsabilidade de seus autores e não refletemnecessariamente a posição da Secretaria da Receita Federal.

Permitida a reprodução total ou parcial desta publicação desde que citada a fonte.

Esta obra contém o acompanhamento das notas taquigráficas do Seminário Internacional SobreFraudes no Setor de Cigarros.

Seminário Internacional Sobre Fraudes no Setor de Cigarros (2001: Brasília)

Anais Seminário Internacional Sobre Fraudes no Setor de Cigarros, 14 a 16 de agosto de2001 - Brasília : Escola de Administração Fazendária, 2001.

400p.ISBN: 85-7202-014-4

1.Cigarros - Comércio ilegal. 2. Fumo - saúde. 3. Fraudes fiscais. 4. Fraudes aduaneiras I.

Escola de Administração Fazendária. II. Secretaria da Receita Federal. III. Título

CDD 679.72

FICHA CATALOGRÁFICA

TIRAGEM: 2000

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APRESENTAPRESENTAPRESENTAPRESENTAPRESENTAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃO

A publicação dos Anais do Seminário Internacional sobre Fraudesno Setor de Cigarros traduz o propósito da Secretaria da Receita Federal(SRF) de divulgar e ampliar o conhecimento sobre o assunto, que atinge demaneira agressiva as sociedades, nacional e estrangeiras. Cabe às instituiçõesgovernamentais responsáveis pelas áreas de administração tributária e adua-neira, de saúde, de justiça e de segurança pública enfrentar, de maneira incisi-va, as questões envolvendo o tema, haja vista as repercussões danosas à eco-nomia dos países em que a informalidade do setor é relevante.

No Seminário, realizado em agosto de 2001, o tema foi alvo deanálise por parte de especialistas e autoridades, brasileiras e estrangeiras, pro-porcionando uma maior compreensão da complexidade do setor, imprescin-dível ao enfrentamento da questão.

No que concerne à área de atuação da SRF, a evasão tributárialigada ao setor de cigarros foi objeto de particular interesse, principalmente noque diz respeito ao conhecimento das práticas de combate a fraudes adotadasnos demais países.

Nesta publicação, apresenta-se o registro das palestras realizadaspelos especialistas, baseado em gravações e traduções simultâneas e, emformato de Anexo, os textos produzidos pelos palestrantes.

Com a publicação desses anais, a SRF oferece subsídios às discus-sões sobre o assunto, com vistas a estabelecer políticas efetivas de combate apráticas delituosas no setor de cigarros, principalmente no âmbito dos paísesintegrantes do Mercosul.

Jorge Antônio Deher RachidSecretário-Adjunto da Receita Federal

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SumárioCerimônia de Abertura ..................................................................................... 7

Painel IQUESTÕES RELATIVAS À SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA ........... 13

Painel IICOMÉRCIO ILEGAL DE CIGARROS – ASPECTOS NACIONAISE INTERNACIONAIS ................................................................................. 51

PalestraPLANO ESTRATÉGICO DE COMBATE AO CONTRABANDODE CIGARROS ............................................................................................. 85

Painel IIIREPERCUSSÃO DO COMÉRCIO ILEGAL DE CIGARROS NAECONOMIA NACIONAL ......................................................................... 107

Painel IVFALSIFICAÇÃO DE CIGARROS E O CRIME ORGANIZADO ........... 133

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Painel VASPECTOS JURÍDICOS RELACIONADOS COM O SETORDE CIGARROS ........................................................................................... 153

Painel VIAS MELHORES PRÁTICAS INTERNACIONAIS NO COMBATEAO CONTRABANDO DE CIGARROS ................................................... 201

Painel VIIEXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBATE ÀS FRAUDESNO SETOR DE CIGARROS – CHILE E ESPANHA .............................. 219

Painel VIIIEXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBATE ÀS FRAUDESNO SETOR DE CIGARROS – CANADÁ ................................................ 251

Painel IXAS RELAÇÕES ENTRE OS PAÍSES DO MERCOSUL .......................... 277

Painel XEXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBATE ÀS FRAUDESNO SETOR DE CIGARROS – EUA E MÉXICO ..................................... 309

Painel XIEXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBATE ÀS FRAUDESNO SETOR DE CIGARROS – ARGENTINA E URUGUAI................... 333

Painel XIIEXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBATE ÀS FRAUDESNO SETOR DE CIGARROS – BRASIL E PARAGUAI .......................... 359

Cerimônia de Encerramento ......................................................................... 395

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Cerimônia de Abertura

Mestre de cerimônia – Bom dia. Em nome da Secretaria da Re-ceita Federal e da Escola de Administração Fazendária, cumprimentamos edamos as boas-vindas às ilustres autoridades aqui presentes bem como a to-dos os participantes deste evento.

O Seminário Internacional Sobre Fraudes no Setor de Cigarros, pro-movido pela Secretaria da Receita Federal do Ministério da Fazenda, visa co-nhecer os aspectos econômicos e tributários decorrentes das fraudes fiscais eaduaneiras no setor de cigarros, conhecer as estatísticas das fraudes e a formade atuação do crime organizado e conhecer o panorama mundial e as experiên-cias de sucesso no combate às fraudes fiscais e aduaneiras no setor de cigarros.

Convidamos para compor a Mesa Diretora dos trabalhos oExcelentíssimo Sr. Procurador-Geral da Fazenda Nacional, do Ministério daFazenda, Dr. Almir Martins Bastos, a Sra. Diretora-Geral da Escola de Admi-nistração Fazendária – ESAF, Dra. Maria de Fátima Pessoa de Mello Cartaxo,o Sr. Secretário-Adjunto da Receita Federal, Coordenador deste Seminário,Dr. Jorge Antônio Deher Rachid, a Sra. Coordenadora-Geral do Sistema Adu-aneiro da Secretaria da Receita Federal, Dra. Clecy Maria Busato Lionço, oSr. Coordenador-Geral de Pesquisa e Investigação da Secretaria da Receita

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Federal, Dr. Deomar Vasconcellos de Moraes, o Sr. Coordenador-Geral doSistema de Fiscalização da Secretaria da Receita Federal, Dr. Paulo Ricardode Souza Cardoso, o Excelentíssimo Secretário da Receita Federal Substitu-to, Dr. Ricardo de Souza Pinheiro, neste ato representando o ExcelentíssimoSecretário da Receita Federal, Dr. Everardo Maciel, que presidirá os traba-lhos deste Seminário.

Passamos a palavra ao Excelentíssimo Secretário-Substituto da Re-ceita Federal, Dr. Ricardo de Souza Pinheiro, que fará a abertura solene doSeminário Internacional Sobre Fraudes no Setor de Cigarros.

Ricardo de Souza Pinheiro – Declaro abertos os trabalhos do Se-minário Internacional Sobre Fraudes no Setor de Cigarros.

Mestre de cerimônia – Ouviremos agora a Diretora-Geral da Es-cola de Administração Fazendária – ESAF, Dra. Maria de Fátima Pessoa deMello Cartaxo, para dar as boas-vindas aos participantes.

Maria de Fátima Pessoa de Mello Cartaxo – Dr. Ricardo de SouzaPinheiro, Secretário da Receita Federal Substituto, que preside esta Sessão deAbertura, Dr. Almir Bastos, Procurador-Geral da Fazenda Nacional, Dr. JorgeRachid, Secretário-Adjunto da Receita Federal e Coordenador deste Seminá-rio, Dra. Clecy Busato Lionço, Coordenadora-Geral do Sistema Aduaneiro daSecretaria da Receita Federal, Dr. Paulo Ricardo Cardoso, Coordenador-Ge-ral do Sistema de Fiscalização da Secretaria da Receita Federal, Dr. DeomarVasconcellos de Moraes, Coordenador-Geral de Pesquisa e Investigação daSecretaria da Receita Federal, é com muita honra, com muito entusiasmo e commuita alegria que a Escola de Administração Fazendária os recebe e sedia esteSeminário Internacional Sobre Fraudes no Setor de Cigarros.

Na verdade, esse é um tema de grande relevância para as adminis-trações tributárias, e a própria organização deste evento, coordenado pelaSecretaria da Receita Federal, espelha essa relevância.

Estiveram presentes na organização as administrações tributárias eaduaneiras nacionais e internacionais.Também houve uma cooperação compalestrantes, painelistas e debatedores de organismos internacionais e outrosórgãos públicos, da Justiça, do setor do Ministério Público, organizações não-

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governamentais relacionadas ao tema do contrabando de cigarros, à fraude nosetor de cigarros.

Nessa linha, gostaria de, neste momento, enaltecer a iniciativa da Re-ceita Federal, parabenizar os seus organizadores na pessoa do Dr. Jorge Rachid,Coordenador deste evento, e dizer que é um orgulho muito grande para o Brasilsediar este evento internacional e receber os ilustres palestrantes que vêm aquitrazer a experiência de seus países no combate à fraude no setor de cigarros.

Uma outra coisa importante a ressaltar é a organização técnica doprograma e do conteúdo programático. Partiu-se dos aspectos econômicos,dos aspectos tributários, passando pelos números, pelas estatísticas, pelas téc-nicas do crime organizado, propriamente dito, e depois aquilo que considera-mos talvez o mais relevante, o intercâmbio de experiências, como, em situa-ções semelhantes, as administrações tributárias e aduaneiras enfrentam a ques-tão do contrabando de cigarros.

Gostaria de dizer que, para a Escola, é uma honra muito grande vereste espaço de aprendizagem constituído dessa vitória, porque o sistema maismoderno de aprendizagem é aquele em que se aprende fazendo, em que seaprende aprendendo a aprender, ou seja, no intercâmbio de experiências, tro-cando informações. A cooperação técnica entre instituições envolvidas nocombate à fraude é essencial à sua efetividade.

Não me alongando muito, gostaria de, em nome da Escola de Admi-nistração Fazendária e de nossos dirigentes, dos nossos servidores, dos nos-sos professores e colaboradores, dar as boas-vindas a todos vocês que par-ticipam deste Seminário Internacional. Durante estes três dias, considerem estaCasa a sua casa, e aqui retornem sempre para eventos dessa magnitude queengrandecem o nosso país, engrandecem o setor público do Brasil e que,tenho certeza, contribuirão para o salto qualitativo e para o aperfeiçoamentodas nossas administrações tributárias e aduaneiras.

Muito bom dia para vocês, sejam muito bem-vindos e tenham umexcelente trabalho.

Mestre de cerimônia – Passamos a palavra ao Excelentíssimo Pro-curador-Geral da Fazenda Nacional, Dr. Almir Martins Bastos.

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Almir Martins Bastos – Eminente Presidente desta Mesa, Dr. Ricardode Souza Pinheiro, na pessoa de quem homenageio os demais integrantes daMesa, Excelentíssima Dra. Maria de Fátima Cartaxo, Diretora-Geral desta Es-cola, na pessoa de quem homenageio todos os participantes deste evento, emespecial os representantes de países amigos que nos honram com sua presença;registro, nesta oportunidade, a felicidade de estar novamente aqui, na seqüênciade um evento realizado na semana passada a respeito de elisão fiscal. A umevento também internacional, também comemorativo dos 25 anos da ESAF,segue-se agora um evento que trata especificamente não mais de elisão, mas deevasão mesmo, de fraude, situação essa que tem gerado ao nosso país umaperda substancial de arrecadação tributária, uma perda que tem apresentado umcrescimento assustador. Basta dizer, à guisa de exemplo, que, de 1998 para1999, a perda de arrecadação foi de R$600 milhões; de 2000 com relação a1999, de R$635 milhões, o que importa um crescimento de um ano para outrode mais de 5%, o que espelha a gravidade dessa situação que cresce a olhosvistos. Pode-se afirmar hoje que por volta de 60% do comércio de fumo doBrasil é ilegal, situação de tal magnitude, de tal importância que levou Sua Exce-lência o Presidente da República a constituir inclusive, no seio da Casa Civil daPresidência, um grupo de trabalho, que integro honrosamente, junto com o Se-cretário da Receita Federal, entre outras autoridades, para estudar, equacionar ebuscar soluções para esse problema gravíssimo.

Um evento como este, com esta magnitude, com este corpo seleto ealtamente especializado, sem dúvida alguma, há de contribuir com um auxílio ines-timável, com um apoio indispensável dos nossos, hoje, companheiros e colegasprocedentes de países amigos, para encontrar soluções que ajudem a definir oataque frontal a essa ilicitude que refoge ao campo meramente tributário. A ques-tão hoje vai muito além disso, pois situa-se também no campo da saúde pública.

Ainda ontem li no Jornal do Brasil que em Foz do Iguaçu a Receitaapreendeu um carregamento, como geralmente o faz, de cigarroscontrabandeados para o País, e que, em sua composição, além do fumo, haviaaté serragem. Pode-se afirmar sem risco que essa fraude envolve, além daquestão tributária, em uma dimensão que ainda não se pode avaliar, uma ques-tão de saúde pública, e não só isso. Há outra aplicação também que diz res-

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peito diretamente ao fenômeno dos tempos que correm. Infelizmente, com aglobalização no País, vê-se também a globalização do crime organizado. Essaquestão deixa raízes consistentes também com o crime organizado.

Essa importação, essa fraude, essa exportação sobre importação, sema contrapartida do pagamento de impostos, hoje em dia está deixando raízes emoutras malhas do crime organizado, o que impõe à sociedade uma postura ade-quada para combatê-lo, para enfrentá-lo e levar a que efetivamente se reduzamou que se extingam os seus efeitos maléficos para toda a sociedade.

Sinto-me honrado de estar aqui, e, em nome da Procuradoria daFazenda Nacional, agradeço a todos pela presença; tenho certeza absolutaque, num plenário qualificado como este, grandes temas serão debatidos, tra-zidos a lume, e daí virão, sem dúvida, alternativas de solução para atacar oproblema. Felicidade, sucesso, tenham todos um bom dia e muito obrigado.

Ricardo de Souza Pinheiro – Obrigado, Dra. Maria de FátimaCartaxo. Saúdo os componentes da Mesa e os participantes deste evento.Queria demonstrar a vocês que a composição desta Mesa é bem emblemática.Temos aqui o Coordenador de Fiscalização, a Coordenadora da Área Adua-neira e o Coordenador de Pesquisa e Investigação. Além disso, o Procura-dor-Geral da Fazenda Nacional. Sob o ponto de vista interno do Ministérioda Fazenda, vem demonstrar a amplitude e o tamanho do problema que signi-fica a fraude no setor de cigarros.

Ao longo deste evento, estaremos contando com a preciosa colabo-ração de representantes do Ministério da Justiça, da Polícia Federal, do Mi-nistério Público Federal e da Justiça Federal, o que sinaliza, também no ambi-ente extrafazendário, a amplitude desse problema.

Como o próprio Dr. Almir muito bem colocou, deixa de ser mera-mente um problema tributário, passa a ser um problema de saúde pública, depolícia. Como hoje o cigarro é um produto que, em regra, em quase todos ospaíses, tem uma carga tributária extremamente elevada, o ganho, fruto da so-negação, é enorme. Hoje não estamos falando pura e simplesmente de so-negadores; estamos falando de máfia de criminosos. O Brasil tem, ao longo dotempo, adotado inúmeras atitudes para buscar coibir essa prática extrema-

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mente lesiva à Nação como um todo. Não obstante os progressos que têmsido alcançados, as dificuldades são inúmeras.

Este evento tem um outro simbolismo, que é a participação de represen-tantes de altíssimo nível de diversos países que aqui estarão para apresentar assuas experiências e, por que não dizer, também as suas dificuldades. É nossa inten-ção tirarmos, como produto final dos trabalhos deste encontro, algumas medidas,desde o caráter operacional até ajustes legislativos, que propiciem um combatemais efetivo a esse problema, que chega a ser dramático para todos nós.

Sou suspeito para falar do sucesso do evento, até porque os eventospatrocinados pela ESAF, sob o comando de minha amiga querida, Dra. Fáti-ma Cartaxo, são fadados ao sucesso. Pelo perfil das pessoas aqui presentes,não apenas os palestrantes, mas todos aqueles que aqui estão e que de algumaforma vão colaborar com suas perguntas, seus questionamentos, acredito muitono resultado final deste evento. Acredito que, em breve, conseguiremos cons-truir modelos mais eficazes de combate à fraude.

A aproximação com países não só pelo intercâmbio de experiências,mas principalmente pelo intercâmbio de informações, pelo desenvolvimento deações conjuntas, é de fundamental importância para o pleno sucesso de qual-quer medida que venha a coibir de forma objetiva essa fraude. O intercâmbioque o Brasil tem buscado entre os países circunvizinhos tem evoluído de maneirasatisfatória. A experiência que os demais países nos trarão neste evento, a opor-tunidade do intercâmbio de informações e a troca de experiências com certezafarão com que não só o Brasil mas todos os países circunvizinhos tenham instru-mentos mais fortes para combater essa fraude. Acredito que não podemos maisconviver com essa situação que é extremamente grave. É um dever nosso, en-quanto representantes da sociedade, darmos uma resposta dura em relação aesses que não são apenas sonegadores, mas também criminosos.

Sejam bem-vindos, boa sorte e muito obrigado.Mestre de cerimônia – Neste momento, encerra-se a sessão inau-

gural deste Seminário, desfazendo-se a Mesa de Abertura para que, logo aseguir, inicie-se o primeiro painel de exposições. Convidamos as autoridadespresentes a se acomodarem no auditório para darmos início ao mesmo.

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Painel I

QUESTÕES RELQUESTÕES RELQUESTÕES RELQUESTÕES RELQUESTÕES RELAAAAATIVTIVTIVTIVTIVAS À SAÚDEAS À SAÚDEAS À SAÚDEAS À SAÚDEAS À SAÚDEE QUALIDADE DE VIDAE QUALIDADE DE VIDAE QUALIDADE DE VIDAE QUALIDADE DE VIDAE QUALIDADE DE VIDA

Moderadora

NADJA CNADJA CNADJA CNADJA CNADJA CAAAAAVVVVVALCALCALCALCALCANTE ROMEROANTE ROMEROANTE ROMEROANTE ROMEROANTE ROMEROSuperintendente da 1ª Região da Secretaria da Receita Federal / Brasil

Palestrantes

TÂNIA MARIA CTÂNIA MARIA CTÂNIA MARIA CTÂNIA MARIA CTÂNIA MARIA CAAAAAVVVVVALCALCALCALCALCANTEANTEANTEANTEANTESecretária Executiva da Comissão Nacional para o Controle doTabaco do Ministério da Saúde / Brasil

CHRISTOPHER PROCTORCHRISTOPHER PROCTORCHRISTOPHER PROCTORCHRISTOPHER PROCTORCHRISTOPHER PROCTORDiretor da Science & Regulation British American Tobacco / Reino Unido

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Mestre de cerimônia – Nesta primeira manhã, os trabalhos doSeminário Internacional sobre Fraudes no Setor de Cigarros abordarão doispainéis, com os temas Questões Relativas à Saúde e Qualidade de Vida, eComércio Ilegal de Cigarros – Aspectos Nacionais e Internacionais.

Após a apresentação de cada painel, haverá um período de debatesde trinta minutos. Solicitamos a todos que queiram dirigir perguntas aos nos-sos palestrantes que o façam por escrito e as entreguem às recepcionistas naslaterais do auditório.

Abordaremos o Painel I, com o tema Questões Relativas à Saúde eQualidade de Vida. A Mesa do Seminário será composta pelas seguintes au-toridades: a Dra. Nadja Rodrigues Romero, da Superintendência da PrimeiraRegião da Secretaria da Receita Federal, Moderadora e Presidente da Mesadeste painel; a Secretária-Executiva da Comissão Nacional sobre o Controledo Uso do Tabaco no Brasil, Dra. Tânia Maria Cavalcante; o Diretor da Science& Regulation British American Tobacco, Reino Unido, Dr. Christopher Proctor.

Nadja Rodrigues Romero – Primeiramente, quero cumprimentaros dois palestrantes, cumprimentar os colegas e as autoridades da ReceitaFederal, da Procuradoria da Fazenda Nacional, das secretarias de fazenda edos demais órgãos aqui presentes. Estou aqui atuando como moderadora.

Apresentará o primeiro painel a Dra. Tânia Maria Cavalcante, Médi-ca Hematologista, Secretária-Executiva da Comissão Nacional sobre o Con-

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trole do Uso do Tabaco, Chefe da Divisão de Programas de Controle do Taba-gismo e Outros Fatores de Risco, da Coordenação de Prevenção e Vigilância –CONPREV, Instituto Nacional de Câncer. Passo a palavra à Dra. Tânia.

Tânia Maria Cavalcante – Bom dia a todos. Gostaria, em nome daComissão Nacional sobre o Controle do Uso do Tabaco e do Instituto Nacionalde Câncer – INCA, que é o órgão do Ministério da Saúde responsável peloPrograma Nacional de Controle do Tabagismo no Brasil, de agradecer à Secre-taria da Receita Federal e à ESAF pelo convite para estarmos aqui, comparti-lhando com vocês as questões bastante importantes de saúde pública relaciona-das ao uso do tabaco. Com certeza o mercado ilegal representa um importantefator que vai favorecer o aumento do consumo do cigarro. Para nós é tambémum importante fator de saúde pública que merece toda a atenção.

Vamos tentar passar para vocês uma idéia de como o tabagismomudou a sua representação social ao longo do século passado.

Durante a primeira metade do século passado, o tabagismo era vistocomo um ícone de consumo nos países desenvolvidos, era tido como símbolode afluência, de poder, de status, tudo isso fazendo com que fosse visto comoum comportamento, uma opção comportamental, um estilo de vida charmoso,estimulado e desejado.

O que aconteceu? A partir da segunda metade do século XX, otabagismo começou a mudar essa sua face. O câncer de pulmão, que era umadoença virtualmente desconhecida, começou a crescer alarmantemente a par-tir da década de 40, um pouco antes. Começou-se, então, a fazer uma espe-culação sobre a possível ligação entre o tabagismo e o câncer de pulmão.

A partir da década de 40, com estudos epidemiológicos prospectivos,mediante dados de seguros de saúde, tanto os Estados Unidos como a Grã-Bretanha conseguiram fazer uma análise bastante importante dessa correlação,chegando-se à conclusão de que o tabagismo era um importante fator causal decâncer de pulmão, de doenças cardiovasculares, de doenças respiratórias crô-nicas graves. O tabagismo ficou configurado como importante problema de saú-de pública, iniciando toda uma divergência de interesses: da saúde pública, porum lado; das indústrias, por outro, por questões econômicas.

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Hoje o consumo do tabaco sob todas as suas formas, principalmen-te os cigarros, que é a forma mais consumida atualmente, é a dependência deuma droga, a nicotina, e é tido hoje como uma doença crônica, porque aspessoas param de fumar e recaem, ou seja, há remições e recidivas, na medi-da em que as pessoas continuam sendo estimuladas no seu ambiente a volta-rem a fumar. Então é uma dependência e tem o comportamento de uma doen-ça crônica, com recidivas e remições.

Na verdade, a dependência de nicotina representa o elo por meio doqual as pessoas são expostas cronicamente a cerca de 4.700 substâncias tóxi-cas, sendo que 48 delas são consideradas claramente cancerígenas para o serhumano. Isso foi comprovado mediante estudos do IARC*, que é uma agên-cia da Organização Mundial de Saúde – OMS que faz estudos relativos àcarcinogênese, ou seja, a fatores que causam câncer. Com isso, o tabagismopassa a ser um importante fator de adoecimento e mortes para o ser humano.

Hoje o acúmulo de estudos epidemiológicos mostra que ao tabagis-mo são atribuídas 25% das mortes por doenças coronarianas, 85% das mor-tes por bronquite crônica e enfisema; e 90% dos casos de câncer de pulmãoacontecem em fumantes, ou seja, 90% dos casos de câncer de pulmão pode-riam não existir se não houvesse o tabagismo. O que é mais grave é que ocâncer de pulmão no Brasil é a primeira causa de morte por câncer entrehomens. Entre as mulheres, observa-se uma curva ascendente. As mulherescomeçaram a fumar mais tarde do que os homens e agora estão tendo umperfil de mortalidade por câncer de pulmão que começa a se assemelhar aoperfil de mortalidade por câncer de pulmão entre homens. Só para termosuma idéia da gravidade, a partir de 1994, o câncer de pulmão passou a matarmais mulheres do que o câncer de colo de útero. Hoje o perfil de mortalidadepor câncer entre as mulheres é: câncer de mama, câncer de pulmão e câncerde colo de útero.

Nos Estados Unidos, uma vez que as mulheres começaram a seemancipar mais cedo e um dos ícones de emancipação das mulheres era ofumar, elas começaram a fumar mais cedo do que as mulheres dos países em

* IARC - International Agency for Research into Cancer

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desenvolvimento. Hoje, nos Estados Unidos, o câncer de pulmão mata maisdo que o câncer de mama.

Além disso, o tabagismo não prejudica apenas quem fuma direta-mente. As pessoas que se expõem cronicamente também aumentam o riscode uma série de doenças, inclusive o câncer de pulmão e o enfarto. Existemestudos de metanálise, uma série de estudos epidemiológicos acumulados, quelevaram à conclusão de que hoje o risco de um não-fumante que se expõecronicamente, em casa, no trabalho, é 30% maior de adquirir câncer de pul-mão, 24% maior de ter enfarto.

Entre crianças, existe a síndrome da morte súbita infantil, cujo risco é60% maior em bebês de mães que fumaram durante a gravidez e que continuarama fumar depois da gestação. O tabagismo passivo é um risco real que precisa sercontrolado para que as pessoas que não fizeram a opção não sejam prejudicadas.A Organização Mundial de Saúde mostra a evolução de mortes e as estimativas, oque se espera caso o atual padrão de consumo não seja revertido.

Na década de 90 morriam três milhões de pessoas por ano em todo omundo, sendo que havia mais mortes nos países desenvolvidos do que nos paí-ses em desenvolvimento, uma vez que os países desenvolvidos começaram aadotar o comportamento de fumar antes dos países em desenvolvimento. Em2000, já há praticamente uma equivalência. O número de mortes por ano au-mentou para quatro milhões, e estima-se que, a partir de 2020, esse número vaiaumentar quase 300%, sendo que 70% das mortes vão acontecer nos países emdesenvolvimento, onde está havendo praticamente uma explosão de consumo.Os países desenvolvidos vêm retraindo o consumo devido a programas maisfortes de controle do tabagismo. Nos países em desenvolvimento, onde poucose faz nesse sentido, observamos uma verdadeira explosão de consumo.

Então, na verdade, o tabagismo e todos os fatores que são determinantesde aumento do consumo, de demanda de consumo do tabaco, também passama ser considerados problema de saúde pública. Dentre esses fatores, os princi-pais são: o fácil acesso, quer seja em razão do baixo custo, quer seja devido aoacesso físico em si, venda facilitada a menores, venda em auto-serviços. Tudoisso, junto com a publicidade e a promoção, configura-se para nós como pro-

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blema de saúde pública, porque estimula a iniciação e dificulta àquelas pessoasque são doentes crônicos do tabagismo deixarem de fumar.

Estimativa de mortes causadas pelo Estimativa de mortes causadas pelotabaco ( em milhões/ano)tabaco ( em milhões/ano)

Fonte OMS 1999

PAÍSESDESENVOLVIDOSPAÍSESDESENVOLVIDOS

PAÍSES EMDESENVOLVIMENTOPAÍSES EMDESENVOLVIMENTO

TOTALTOTAL

2

1

3

2000

2

2

4

1990 2020

3

7

10

Só para ilustrarmos essa informação, temos um dado que foi publi-cado em 1989 pelo U.S. Surgeon, dos Estados Unidos (quadro abaixo),que corresponde ao Ministério da Saúde, que mostra exatamente a evolu-ção do consumo per capita de cigarros naquele país após a introdução demáquinas de enrolar cigarros, isto é, a industrialização, associada à propa-ganda e marketing. Ou seja, o processo de industrialização favoreceu umconsumo maior em massa. O cigarro, no começo do século XX, era umproduto artesanal, restrito a uma elite que tinha poder aquisitivo para adqui-ri-lo, porque era um produto caro. Seria mais ou menos o mesmo perfil docharuto hoje, que é caro por ser artesanal. Na medida em que se introduzi-ram as máquinas de enrolar cigarros associadas a estratégias de marketing,o produto caiu de preço, a produção passou a ser em escala industrial, des-sa maneira o consumo foi crescendo de forma bastante significativa, a pontode, em 1930, esse consumo per capita pular de 54 para 1.185 cigarros, e,em 1973, para 4.148 cigarros, exatamente mostrando que esse processotambém foi um importante fator de aumento de consumo, ou seja, também éum problema de saúde pública.

Quadro 1

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Vamos falar um pouco sobre a questão da propaganda e da pro-moção, que, na verdade, são determinantes do consumo do tabaco, umavez que induzem e facilitam a experimentação pelos jovens. Elas tambémencorajam os adultos a começarem a fumar, os fumantes a fumarem mais,reduzem a motivação dos fumantes a deixarem de fumar, e encorajam os ex-fumantes a voltarem a fumar. As pessoas que fumam e que estão aqui pre-sentes sabem que, ao verem outra pessoa fumar, estando num ambiente ondetodos fumam, é muito mais difícil manter-se sem fumar do que num ambienteonde se está longe desse estímulo, que é olhar para outra pessoa fumandoou até a própria marca do cigarro.

Foi feita no em 2000, encomendada pelo Ministério da Saúde aoVox Populi, uma pesquisa qualitativa que mostra exatamente que a publicida-de e a aceitação social resultante da promoção dessa publicidade estimula osfumantes a continuarem a fumar e dificulta aos ex-fumantes continuarem semfumar. Tivemos depoimentos de dois jovens, fumantes ocasionais, que falam:“Quando está todo mundo junto, um fuma e faz vontade no outro”. Então esse“fazer vontade no outro”, essa disseminação do comportamento de fumar re-almente é um dos fatores que mais dificultam o fumante a deixar de fumar. Sevocê chega no seu ambiente de trabalho e está tentando parar de fumar, fazen-

Quadro 2

Expansão do Tabagismo

545419001900

Consumo percapitacigarros/ano EUA

Consumo percapitacigarros/ano EUA

AnoAno

1930 1185

1973 4.148

Industrialização + propaganda e marketing

Fonte: U.S. Surgeon General, 1989

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do um esforço monumental, mas há um colega do lado fumando, então é muitomais difícil deixar de fumar do que num ambiente onde não há esse estímulo.

Realmente a propaganda, e a publicidade, são eficazes em termos deiniciação no tabagismo: 90% dos fumantes começam a fumar até os 19 anos deidade. A média de iniciação é de 15 anos de idade. O tabagismo é reconhecidopela OMS como uma doença pediátrica, uma vez que a média de iniciação é aos15 anos, cujas manifestações mais graves vão aparecer na idade adulta, na meiaidade. É uma doença pediátrica por esse fator.

Entre as pessoas que experimentam pelo menos um cigarro, 33% a50% tornam-se fumantes regulares, mostrando que é um percentual significa-tivo de pessoas que experimentam e tornam-se fumantes realmente. E a cadadia quase cem mil jovens começam a fumar em todo o mundo. Essa é umaestimativa do Banco Mundial. O tabaco é a segunda droga mais consumidaentre os jovens, por todo esse estímulo ambiental.

Uma das coisas que percebemos: por ser a iniciação na idade ado-lescente, na verdade, o fumar, questionamos, é uma escolha consciente? Sa-bemos que a maioria desses jovens tanto subestimam os riscos de adoecimentose mortes relacionados ao tabagismo, como também superestimam a capaci-

90% COMEÇAM A FUMAR ATÉ OS 19 ANOS 90% COMEÇAM A FUMAR ATÉ OS 19 ANOS

Entre os que experimentam pelo menos 1 cigarro,33% a 50% se tornam fumantes regulares.Entre os que experimentam pelo menos 1 cigarro,33% a 50% se tornam fumantes regulares.

Fontes: Giovino, 1993; Cinciprini, 1997; Banco Mundial, 1999.

A iniciação no tabagismoA iniciação no tabagismo

A cada dia quase 100.000 jovens começa a fumarA cada dia quase 100.000 jovens começa a fumar

2a droga mais consumida entre os jovens2a droga mais consumida entre os jovens

Quadro 3

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dade de reverter a sua opção. Então eles começam a fumar pensando quedaqui a algum tempo irão parar. Mais tarde, percebem que será bastante difícilporque eles já caíram no ciclo da dependência da nicotina.

Só para termos uma idéia, em 1996, na China, que é um país onde oconsumo de cigarros está praticamente explodindo, 61% dos fumantes acha-vam que o tabaco causava pouco ou nenhum dano. Ou seja, o nível de conhe-cimento das pessoas também é um fator que vai influenciar na sua iniciação, ounão, no tabagismo.

Reforçando o que acabamos de falar, o tabagismo começa na ado-lescência, fase de limitada capacidade de tomada de decisão. É por isso que,geralmente, aos adolescentes, quer dizer, aos menores de 18 anos, há umasérie de decisões sociais que não são permitidas, por exemplo: casar, votar.Então essa é uma decisão para a idade adulta, até porque essa capacidade dedecisão não está bastante amadurecida.

Esse é um dado bastante interessante sobre o Brasil, do Cebrid,que é o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas. Foifeito um estudo seriado, de forma que se pudesse comparar, da experimen-tação de cigarros entre estudantes de 10 a 18 anos em dez capitais brasilei-ras. Vemos com tristeza que o consumo, a experimentação, tem aumentadoentre os jovens, por isso é importante trabalharmos uma série de fatores,dentre eles o mercado ilegal, que favorece o acesso ao jovem, a publicida-de, a promoção como fatores que vão estimular os jovens a começarem afumar. Vemos claramente que a experimentação tem aumentado significati-vamente em Curitiba e em Porto Alegre, entre jovens dessa faixa etária.

No quadro abaixo está o resultado de um estudo feito em 1996 peloInca, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, que mostra exatamente opapel da publicidade, o quanto a publicidade é importante para reverter asquedas de consumo. Ela é inversamente proporcional ao nível de consumo,mostrando-se como um fator-chave para que se mantenha um nível de consu-mo na população fumante ou de potenciais fumantes.

Estudos realizados em outros países onde, após a proibição da pu-blicidade, observou-se a queda do consumo. Vemos que a Noruega, que proibiu

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a publicidade em 1975, apresentou uma queda de até 26% no consumo; aFinlândia, a Nova Zelândia e a França também tiveram reduções. Isso mostrao importante papel da publicidade no estímulo à iniciação e à manutenção dosfumantes no comportamento de fumar.

1987 22 23,2 22,4 18,4 21,6 20,8 20,5 22,7 17,9 25,4

1989 30,3 34 27,7 24,1 24,7 29,7 21,6 27,1 22,8 31,8

1993 29,9 37 26,7 29,9 25,7 31,7 25,6 25,5 19,3 29,1

1997 27,1 34,3 33,7 41 32,8 44,1 26,7 26,9 30,5 30,7

1987 22 23,2 22,4 18,4 21,6 20,8 20,5 22,7 17,9 25,4

1989 30,3 34 27,7 24,1 24,7 29,7 21,6 27,1 22,8 31,8

1993 29,9 37 26,7 29,9 25,7 31,7 25,6 25,5 19,3 29,1

1997 27,1 34,3 33,7 41 32,8 44,1 26,7 26,9 30,5 30,7

BelémBelém B.H.B.H. DFDF CuritibaCuritiba FortalezaFortaleza P. P. AlegreAlegre RecifeRecife RJRJ SalvadorSalvador SPSP

Experimentação de cigarros entre estudantes de10 - 18 anos em 10 capitais brasileiras

Experimentação de cigarros entre estudantes de10 - 18 anos em 10 capitais brasileiras

Fonte: CEBRID (Centro Brasileiro de Informações sobre DrogasPsicotrópicas ), UNIIFESP (Universidade Federal de São Paulo)/EPM

(Escola Paulista de Medicina), 1997

Quadro 4

- 26%

- 37%

- 14%

- 21%

1º de julho de 19751º de julho de 1975Noruega

País Data da Proibição consumo até 1996

1º de março de 19781º de março de 1978Finlândia

1º de janeiro de 19931º de janeiro de 1993França

Nova Zelândia 17 de dezembro de 199017 de dezembro de 1990

Eficácia do banimento da publicidade de tabacoEficácia do banimento da publicidade de tabaco

Fonte : OMS/ 2000

Quadro 5

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Vamos falar um pouco sobre a facilidade do acesso com enfoqueprincipal na questão do custo e do mercado ilegal como fatores determinantesdo consumo e do acesso dos jovens ao cigarro.

Existem vários estudos que mostram que o preço é um fator determinantede consumo de bens em geral, assim como de cigarros. Vários estudoseconométricos foram feitos em todo o mundo e mostraram que, quando se au-mentou o preço em 10%, em alguns países observou-se a queda do consumo emtorno de 4%, 6% a 10%, 6% a 8%. Inclusive no Brasil foi feito um estudo emparceria com a Fundação Getúlio Vargas, em que se observou que o aumento de10% no preço levava a uma redução, no curto prazo, de 1,5% a 3% no consumo,e, no longo prazo, de 6% a 12%, sendo que são mais sensíveis a esse aumento depreço os jovens e a classe econômica de menor poder aquisitivo.

O Banco Mundial fez uma espécie de metanálise, um compilado des-ses estudos e chegou à conclusão de que, para cada 1% de aumento no pre-ço, o consumo cai 0,5%. Vale ressaltar que esse aumento de preço se dariapor meio de aumento de taxação, o que, por sua vez, levaria ao aumento dearrecadação. Então existe um compilado desses estudos feito pelo BancoMundial mostrando exatamente esta conclusão: para cada 1% de aumento no

4 %

6 a 10%

6 a 8%

EUA

País consumo

China

África doSul

Aumento 10%no preço

Resultados de estudos econométricos

Fonte: Banco Mundial / 1999INCA/FGV/1997

Determinantes do Consumo do tabacoDeterminantes do Consumo do tabaco

Baixo custo

Brasil 1,5 - 3% CP6 a 12 % LP

CONCLUSÃO: PARA CADA 1% DE AUMENTO NOPREÇO O CONSUMO CAI 0,5%

Quadro 6

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preço, o consumo cai 0,5%, e que as classes econômicas mais baixas e osjovens são mais sensíveis a essa alteração no preço.

Foi um estudo feito pela Fundação Getúlio Vargas e pelo Inca –mostrando que existe uma correlação inversa entre o preço e o consumo.Então quanto maior o preço menor o consumo. Em vários outros países, comoa África do Sul, o Reino Unido, tem-se demonstrado essa correlação inversaentre preço e consumo no que se refere aos produtos derivados do tabaco, nocaso, ao cigarro.

O Brasil é um dos países que têm uma taxação mais elevada,mas, em compensação, temos um dos cigarros mais baratos se compara-do a outros países. Isso, para nós, é um problema de saúde pública por-que favorece, facilita o acesso dos jovens e da classe mais desfavorecida.Esse dado de um dólar corresponde à marca de cigarro mais cara, quecusta R$2,50. Nem sequer colocamos aqui o preço médio, mas o da mar-ca mais cara. Quer dizer, mesmo a marca mais cara ainda é barata secomparada a outros países.

Sabemos que, embora a globalização tenha sido um fator de aumen-to de acesso a bens e serviços de uma maneira geral no mundo, para a saúde

Facilidade de aquisição - baixo custo Facilidade de aquisição - baixo custo

Fonte : INCA/Fundação Getúlio Vargas/ 2000

país impostos(%) Preço maço(US$)

Dinamarca 83 5,4

Canadá 53-70 2,34

Inglaterra 77 4,29

Brasil 70 1,00 (2000)*USA 20-34 1,70

Nova Zelândia 69 4,49

Austrália 63 3,34

Taiwan 51 0,98

Japão 51 2,65

*US$ 1= R$ 2,50

Quadro 7

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pública esse aumento ao acesso, a demanda, a diminuição dos preços queeram cobrados em função da abertura dos mercados para os produtos dotabaco, tudo isso se configura como um problema de saúde pública, porque,na medida em que há a liberação de comércio, o aumento das exportações,vai haver um aumento da competitividade de mercados internos, com a entra-da de novos produtos, uma redução de preços e, conseqüentemente, um au-mento da demanda e do consumo, principalmente quando, associada a isso,temos uma publicidade, uma promoção bastante forte.

Com a abertura dos mercados, a tendência de consumo entre 1975e 1996 ocorreu da seguinte forma: nos países desenvolvidos onde existemprogramas bastante fortes para controle do tabagismo, restrições à publicida-de e uma série de outras ações, há, de forma geral, uma tendência à reduçãoou à estabilização do consumo. Então as curvas, geralmente, são estáveis oude redução. Já nos países em desenvolvimento, para onde se tem dirigidofortemente a expansão do mercado, tem-se observado um importante aumen-to, de tal forma que, embora os países desenvolvidos tenham reduzido o con-sumo, o aumento global foi de 50% nesse período. Isso é algo bastante signi-ficativo em termos de saúde pública.

Nos Estados Unidos, houve uma redução do consumo interno decigarros e um aumento na exportação. Nos países em desenvolvimento, prin-cipalmente nos da Ásia, bem como Rússia e Japão, houve um aumento dasimportações, mostrando uma tendência de aumento de consumo nos paísesem desenvolvimento, muitos dos quais ainda estão lutando para reverter ou-tros problemas graves de saúde pública, como doenças infecciosas, parasitá-rias, desnutrição. Esses países terão que reverter também o problema gravíssimoque é o tabagismo, as doenças relacionadas com o tabaco são bastante signi-ficativas para esses países.

Na verdade, com a questão da globalização, o Banco Mundial infor-ma que 30% dos cigarros exportados por ano são contrabandeados,correspondendo a 355 bilhões de unidades. Para nós, em termos de saúdepública, o mercado ilegal tem muitos aspectos negativos: primeiro, trata-se deum produto vendido muito mais barato do que no mercado formal. Com isso

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há um favorecimento ao aumento da demanda; um estímulo à iniciação, ouseja, os jovens, devido ao baixo custo, terão maior facilidade de aquisição doproduto; torna marcas líderes no mercado internacional acessíveis à popula-ção de baixa renda, como aconteceu em Taiwan e na Tailândia, com a entradano mercado de marcas internacionais associadas a uma forte publicidade, fa-zendo com que houvesse uma competitividade muito grande entre o mercadointerno e esses produtos importados, que entraram no mercado baixando opreço. Então, além disso, o contrabando faz com que essas marcas líderesentrem nesses mercados, até mesmo antes da abertura oficial do mercadopara a exportação. Nos países em desenvolvimento, uma vez que há umaassociação daquelas marcas ao estilo de vida dos países desenvolvidos, étudo aquilo que as pessoas gostariam de copiar.

Além disso, pela facilidade de acesso, o contrabando tem sido umargumento para impedir medidas governamentais para o controle do tabagis-mo por meio da taxação. Esses produtos escapam às restrições legais, àsregulamentações, por exemplo, quanto aos teores, às advertências que devemvir nos maços, aditivos etc. Então a proibição de venda a menores já não é tãocumprida. Se uma criança vai ao camelô, facilmente ela vai adquirir o produto,o que não ocorre com facilidade em outros mercados formais.

Ontem estive conversando com uma jovem menor, fumante. Paraminha surpresa, ela falou que os amigos que fumam não conseguem comprarcigarros, hoje no Brasil, no mercado formal, na padaria, em qualquer outrolocal, porque geralmente eles pedem a carteira de identidade. Eles sabem queo cigarro vendido em camelô é falsificado, então eles não compram. Para mimfoi uma surpresa. Acho que precisamos fortalecer essas informações entre osjovens para que eles não tenham essa facilidade de acesso, reconheçam orisco que correm ao comprar esses produtos no mercado ilegal.

Vemos que a questão da taxação nos países do Mercosul é importantefator. Por exemplo: o Paraguai, que tem uma taxação bem mais baixa do que nosoutros países, tem favorecido o contrabando desse produto para o Brasil.

Em função do processo de globalização, qual é o perfil atual de con-sumo de tabaco no mundo? Hoje, os países em desenvolvimento têm um nú-

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mero de fumantes bem maior do que os países desenvolvidos, sendo que amaior parte dos fumantes nos países em desenvolvimento são ainda os ho-mens, embora saibamos que existe toda uma promoção para estimular mulhe-res a aderirem ao comportamento de fumar. Por enquanto, vemos que esse éo perfil de tabagismo nos países em desenvolvimento.

País Preço real médio Imposto

Mercosul (US$/20 cigarros) %

Brasil 1 70

Paraguai 0,47 13

Argentina 1,25 64

Uruguai 1,08 67

Preços e Impostos – Países do MercosulPreços e Impostos – Países do Mercosul

Fonte: Ministério da Fazenda

Quadro 8

1,1 bilhão de fumantes 47% sexo masculino 12% mulheres

1,1 bilhão de fumantes 47% sexo masculino 12% mulheres

PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO800 milhões:

48% sexo masculino7% mulheres

PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO800 milhões:

48% sexo masculino7% mulheres

PAÍSES DESENVOLVIDOS300 milhões :

42% sexo masculino24% mulheres

PAÍSES DESENVOLVIDOS300 milhões :

42% sexo masculino24% mulheres

Quem fuma no mundo? Quem fuma no mundo?

Fonte OMS 1999

Quadro 9

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Por ser um problema global, pelo perfil de mortalidade, de consumo,de adoecimentos e mortes por tabaco, em razão de ter essa amplitude global,ou seja, que extrapola as fronteiras dos países, a Organização Mundial deSaúde, durante a 52ª Assembléia Mundial de Saúde, propôs a organização daConvenção-Quadro Internacional de Controle do Uso do Tabaco. Atualmen-te essa convenção está em processo de negociação do qual participam cercade 191 estados-membros. Trata-se de um instrumento legal de negociação,organizado em protocolos em que as linhas temáticas, com suas respectivaspropostas de soluções, são: harmonização internacional de preços e impostossobre derivados do tabaco; ações para coibir o contrabando; eliminação devenda de produtos livres de impostos; eliminação da propaganda e dos patro-cínios; divulgação dos constituintes tóxicos do produto; regulamentação derótulos e embalagens; definição de políticas agrícola e de comércio do tabacoe promoção de trocas de informação entre os países.

São essas as principais linhas que vêm sendo discutidas na Con-venção-Quadro Internacional de Controle do Uso do Tabaco, e o Brasil,para se organizar a fim de participar dessa convenção, criou, em 1999, pormeio de um decreto presidencial, a Comissão Nacional sobre o Controle doUso do Tabaco, da qual participam diversos representantes ministeriais. Alémdo Ministério da Saúde, porque o Presidente dessa comissão é o MinistroJosé Serra, e o Inca é a Secretaria- Executiva, é composta também porrepresentantes do Ministério da Fazenda, da Indústria e Comércio, da Edu-cação, da Justiça, do Trabalho, da Agricultura e das Relações Exteriores.

Para nós, que trabalhamos com a questão do controle do tabagismono Brasil há algum tempo, a criação dessa comissão nacional representou ummarco importantíssimo, porque com isso o programa passou a ser de Estado,significando o reconhecimento de que o controle do tabagismo não dependeapenas da dimensão saúde, mas de toda uma ação que extrapola a saúde, detoda uma ação econômica, legislativa, educativa. Então existe toda uma açãoque precisa ser feita em conjunto para que consigamos realmente reverter oquadro de adoecimentos e mortes que vemos hoje no Brasil e no mundo.

Só para termos uma idéia, vamos falar um pouco sobre como tem anda-do o Programa Nacional cujo objetivo é reduzir o número de mortes pelo tabagis-

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mo, reduzindo-se a prevalência de fumantes, trabalhando tanto a prevenção dainiciação quanto a sensação de fumar. Então são os dois ângulos buscados poresse programa nacional, que é coordenado pelo Instituto Nacional de Câncer.

Temos trabalhado muito no âmbito de ações educativas mediante cam-panhas, mídias, eventos, programas, visando estimular a criação de ambienteslivres do cigarro, exatamente para proteger a saúde dos não-fumantes e tambémajudar aqueles fumantes que estão tentando deixar de fumar a se manterem semfumar. Temos trabalhado muito com escolas, unidades de saúde e ambientes detrabalho. O programa Ajudando o seu Paciente a Deixar de Fumar é dirigido aprofissionais de saúde para que possam estar, nas suas rotinas de atendimento,apoiando os fumantes, ajudando, estimulando-os a deixar de fumar.

Temos importantes avanços no âmbito legislativo, que vêm contribuindopara que o Brasil progrida no controle do tabagismo. Temos a portaria interministerial,de 1988, que determina medidas restritivas ao fumo nos locais de trabalho, crian-do espaços reservados para quem desejar fumar; a Lei Federal nº 9.294, queproíbe o uso de produtos fumígenos em recintos coletivos, privados ou públicos,salvo em áreas destinadas exclusivamente a esse fim, devidamente isoladas e comarejamento conveniente; e a portaria do Ministério da Saúde, de 1998, que proíbefumar nas dependências dos prédios do Ministério da Saúde.

AÇÕES LEGISLATIVAS

Proteção à Exposição Tabagística Ambiental

Medidas restritivas ao fumo noslocais de trabalho, criando

fumódromos

Proibe o uso de produtos fumígenosem recinto coletivo, privado ou

público, salvo em área destinadaexclusivamente a esse fim,devidamente isolada e com

arejamento conveniente

Proíbe fumar nas dependênciasdos prédios do Ministério da

Saúde.

Lei Federal n.º 9.294/96

Portaria InterministerialNo 3257/88

Portaria do Ministério daSaúde de no 2818 /98

Programa Nacional de Controle do TabagismoPrograma Nacional de Controle do Tabagismo

Quadro 10

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Um dos grandes avanços que obtivemos antes disso foi a criação daAgência de Vigilância Nacional, que também incluiu entre suas atribuições ocontrole dos produtos derivados do tabaco. Agora, em 2001, foi publicadauma resolução que obriga a impressão nos maços de cigarros dos teores dealcatrão, monóxido de carbono e nicotina, acompanhados da seguinte frase:Não existem níveis seguros para o consumo dessas substâncias. Medida pro-visória, de 2001, obriga que as advertências nos maços de derivados de taba-co sejam acompanhadas de imagens que ilustrem o seu sentido. Essa legisla-ção vai entrar em vigor a partir de janeiro de 2002. Então vai haver, além dasmensagens, imagens que ilustrarão o que a mensagem quer dizer.

Em relação ao controle de fiscalização dos derivados, temos ainda alei federal que criou a agência, que já mencionei, e, além disso, a Resolução nº320, que obriga o registro anual de todos os produtos fumígenos com apresen-tação periódica de relatório dos produtos comercializados no Brasil, além deinformações psicoquímicas, dados de venda, de importação e exportação. Alémdisso, determina os limites dos teores máximos de alcatrão, nicotina e monóxidode carbono para os cigarros comercializados no Brasil, e estabelece a proibiçãode descritores como light, ultralight e outros termos que induzam o consumi-dor a uma falsa idéia de segurança no consumo desses produtos.

AÇÕES LEGISLATIVAS

Divulgação dos Riscos

Obriga a impressão nos maços decigarros dos teores de alcatrão,monóxido de carbono e nicotina

acompanhados da seguinte frase: “nãoexistem níveis seguros para o consumo

dessas substâncias”.

Obriga que as advertências nos maços dosderivados de tabaco sejam acompanhadas

de imagens eu ilustrem o seu sentido.

Resolução da AgênciaNacional de VigilânciaSanitária n.º 46/2001

Medida provisória2134-30/2001

Programa Nacional de Controle do TabagismoPrograma Nacional de Controle do Tabagismo

Quadro 11

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Só para encerrarmos, a conclusão é que o tabagismo – acho quetodos concordam – é a maior causa isolada inevitável de adoecimentos e mor-tes prematuras, portanto os fatores socioeconômicos que favorecem o consu-mo de derivados do tabaco são também importantes problemas de saúdepública. Nesse contexto, o mercado ilegal de cigarros configura-se como im-portante problema de saúde pública. O controle do tabagismo extrapola oâmbito da saúde, devendo contar com amplo apoio de outros setores da soci-edade, especialmente o setor econômico e de legislação.

Obrigada pela atenção e desculpem por ter ultrapassado um poucoo tempo.

Nadja Rodrigues Romero – Vou anunciar o segundo palestrante,Dr. Christopher John Proctor, da Inglaterra, PhD em Física e Química Ambientalpela Universidade de Kent, Reino Unido, responsável pela área de ciência eregulamentação do grupo British American Tobacco; Presidente da PaneuropeanStein Group, que busca avaliar o impacto e melhorar a regulamentação na Euro-pa por meio de um projeto subvencionado pela União Européia. Dedica-se àinvestigação dos efeitos da fumaça do tabaco no meio ambiente e ao acompa-nhamento e avaliação de exposição à fumaça do tabaco na vida real.

AÇÕES LEGISLATIVAS

Controle e Fiscalização dos Derivados do Tabaco

Lei Federal n.º 9.782de 26/01/99

Resolução da AgênciaNacional de VigilânciaSanitária n.º 320/99

• Agência Nacional de Vigilância Sanitária(ANVISA), - regulamentação, o controle e a

fiscalização dos produtos fumígenos, derivadosdo tabaco.

• Registro anual dos produtos fumígenos -apresentação periódica de relatórios deprodutos comercializados no Brasil com

informações psicoquímicas, dados de venda,exportação e importação

Resolução da AgênciaNacional de VigilânciaSanitária n.º 46/2001

• Limita os teores máximos - alcatrão, nicotina emonóxido de carbono para os cigarros

comercializados no Brasil. Proíbe a utilizaçãode descritores como light, ultra light, ou outros

termos

Quadro 12

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Vamos ouvir a segunda palestra, depois abriremos para os nossoscomentários e para as perguntas num terceiro momento.

Christopher John Proctor – Muito obrigado. É um grande prazerestar aqui. Obrigado, Dra. Tânia, pela sua apresentação. Eu tentei acompa-nhar da melhor forma que pude o que estava sendo dito.

Eu vejo este primeiro painel como um “aperitivo” para o Seminário. Eestá claro que os riscos para a saúde são muito importantes. Porém o que maisestaremos mencionando durante o Seminário serão os aspectos práticos disso.

Nos próximos trinta minutos, eu gostaria de fornecer a visão da BritishAmerican Tobacco sobre o assunto do fumo, que é bastante semelhante ao que foidebatido sobre fumo e saúde com a Dra. Tânia Maria. Mas também gostaria depassar minha experiência no que se refere a regulamentações. Um exemplo queconheço bem, porque sou de lá, é o da Inglaterra, onde temos um preço muito altopara cigarros, £4,76. Os preços dos produtos de tabaco são bem mais altos doque em toda a União Européia. O imposto e o preço altos não reduzem o consu-mo, mas aumentam o contrabando. E no mercado britânico temos entre 30% e35% de produtos contrabandeados. Isso é um problema real porque não há con-trole em termos de saúde pública. Eu gostaria de direcionar minha exposição paraas questões sobre o fumo e saúde, e também ilustrar como é importante que asautoridades de saúde pública e companhias como a British American Tobacco,incluindo a Souza Cruz no Brasil, trabalhem em conjunto nas questões de riscopara a saúde.

Há muitos anos sabe-se que o fumo tem causado uma diversidadede doenças. E nossa companhia, assim como outras companhias de cigarros,vem trabalhando nisso nos últimos quarenta ou cinqüenta anos. Trabalhamoscom os governos, em várias partes do mundo, tentando resolver o que, naverdade, é uma grave questão de saúde pública.

Como sabemos, os riscos para a saúde pelo uso do tabaco são es-tudados por uma ciência chamada epidemiologia. Segundo estudos estatísti-cos das populações e de pesquisas que foram realizadas a partir da década de1950, e continuam a ser feitas hoje em dia, os riscos para alguém que fume aolongo de sua vida de contrair uma variedade de doenças, sendo as mais im-

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portantes o câncer de pulmão e a doença crônica obstrutiva do pulmão, sãosignificativamente mais elevados do que para os não-fumantes. Conforme da-dos que temos dos Estados Unidos, da Inglaterra e de outros países, o riscorelativo ao câncer de pulmão é da ordem de dez ou vinte vezes maior paraaquele que é fumante ao longo de sua vida, comparado ao não-fumante. Issoé para câncer do pulmão e doença crônica obstrutiva do pulmão. Para doen-ças do coração há muitos outros fatores de risco envolvidos, porém o aumen-to de risco está entre dois e cinco.

Dos estudos estatísticos da epidemiologia, podemos tentar estabele-cer quais são os fatores determinantes no aumento do risco para a saúde. O queé claramente consistente desses dados de pesquisa é que o risco é mais alto paraum grupo de pessoas que começa a fumar mais cedo, que fuma mais cigarrospor dia, que fuma cigarros com alto teor de alcatrão, sem filtro, e que fuma porum período maior de tempo. Vamos dar o exemplo de um estudo feito pelaAmerican Cancer Society. Observando um grupo de mulheres nos EstadosUnidos que fumam até dez cigarros por dia, durante vinte ou até trinta anos foiencontrado um risco relativo de três. O que significa que até o aumento do riscocontra as não-fumantes é de três vezes. Analisando uma população similar, masde mulheres que fumam bem mais, trinta cigarros por dia ou mais, por um perí-odo mais longo, de quarenta a setenta anos, o risco deixa de ser três, passa a sertrinta e nove. Portanto, o comportamento da população modifica bastante orisco de saúde envolvido.

Como se espera de uma companhia responsável, nós concordamoscom as autoridades de saúde quanto à grande importância em diminuir osriscos de saúde associados ao uso de tabaco. A esse respeito acreditamosque também é importante assegurar que os esforços para se fazer algo comrelação ao produto, visando reduzir os riscos do cigarro para a saúde, sejamestimulados e que companhias como a nossa trabalhem junto às autoridadesde saúde pública tentando encontrar meios para reduzir o impacto para a saú-de. O produto não é a única resposta, há muitos fatores envolvidos, como, porexemplo, tentar impedir que jovens fumem, porém são áreas em que precisa-mos trabalhar juntos.

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Nos nossos centros de pesquisa, o que tentamos fazer é exatamenteisso. Tentar encontrar meios para que os riscos relacionados com fumar cigar-ros possam ser reduzidos. É uma maneira prática. Os senhores podem dizerque são riscos muito graves, vamos proibir todo mundo de fumar. Nenhumpaís fez isso. Não é uma solução prática. A experiência dos Estados Unidoscom a proibição do álcool ilustrou para a maioria dos países que essa não é amelhor forma de agir. Então, na prática, há um grupo de pessoas que fumam,e o índice de consumo pode se modificar ao longo dos anos. Elas fumam, e éimportante para nós, como companhia, trabalhar junto às autoridades de saú-de para ajudar a encontrar meios para reduzir os riscos à saúde.

Há três elementos para se fazer isso, o que ilustra porque é importantehaver companhias legais, responsáveis, como a Souza Cruz, ao invés de fabri-cantes de contrabando que não têm nenhuma dessas responsabilidades. Esfor-ços estão sendo feitos para tentar produzir cigarros com menos teor de alcatrão,então as substâncias consideradas como fatores causais de câncer, como a Dra.Tânia Maria esteve nos falando, são reduzidas nos cigarros com teor mais baixode alcatrão. Há tentativas de criar cigarros com menos alcatrão e de reduzirainda mais substâncias tais como as nitrosaminas. Também há tentativas de cri-ação de alguns produtos novos que proporcionem significativa redução nos ris-cos. O que devo dizer é que, com o que possuímos até hoje, não existe cigarroseguro. Daqui a pouco vou falar mais um pouco sobre os dados relativos acigarros com baixo teor de alcatrão, mas, por tudo que vimos, os cigarros sem-pre aumentam o risco comparado a não fumar, e, numa perspectiva de saúdepública, o conselho mais sensato e óbvio para o público é o de não fumar.

A ênfase em cigarros com menores riscos, especialmente em paísescomo o Reino Unido, com as companhias trabalhando bem próximas ao go-verno, tem sido tentar produzir cigarros com baixo teor de alcatrão. Resumin-do, de forma simples, se a epidemiologia demonstra que os grupos de pessoasque fumam menos têm menos incidência da doença, então o que se deve ten-tar fazer é diminuir os efeitos do fumo no cigarro. E os dados fornecidos pelaspesquisas (há ainda dados que continuam chegando) dizem que é uma estraté-gia útil e satisfatória. Por exemplo, no Reino Unido, o índice de câncer dopulmão está caindo bem mais depressa, em termos históricos, do que o con-

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sumo. Estamos em um período de baixa de consumo na Inglaterra, mas oíndice de câncer de pulmão está caindo mais rapidamente. E é algo atribuído àintrodução dos cigarros com baixo teor de alcatrão. E acho que as regulamen-tações que o governo nacional colocou em prática limitando o teor de alcatrãoé uma forma sensata de agir.

Pesquisa publicada no British Journal relativa a câncer em mulheresaustralianas demonstra que cigarros com menos teor de alcatrão reduzem aincidência de doenças. E pesquisas do National Cancer Institute, nos EstadosUnidos, também demonstram que há benefícios a longo prazo para a saúde,tanto em persuadir as pessoas a parar de fumar, quanto também em reduzir oalcatrão, reduzindo alguns dos cancerígenos no fumo.

Há algumas questões importantes, e uma delas foi levantada pelasautoridades de saúde que consideram que os cigarros lights e sem alcatrãopossam ser problemáticos, pois quando os fumantes reduzem a ingestão ob-têm menos sabor e podem querer compensar isso, modificando, portanto, seucomportamento. A minha opinião, pelos dados obtidos de vários países nomundo, é que os cigarros com menor teor de alcatrão são um benefício para asaúde pública. Pelo menos os índices que temos revelam isso, embora nãoseja a opinião de certas autoridades da saúde.

O que temos que fazer, de qualquer forma, é trabalharmos junto comessas autoridades de saúde para ver se usamos as estratégias para a redução deriscos, como a colocação do cigarro com menor teor de alcatrão no mercado.

Vou falar brevemente sobre a conscientização. Eu encontrei nowebsite, uma informação, e o Inca gentilmente me cedeu. Esse website éexcelente, e esclarece que a maioria dos fumantes está ciente dos riscos dotabaco para a saúde. Isso é muito importante, já que os riscos que o fumoapresenta são reais e graves. É muito importante que as pessoas entendamesses riscos. E é um dos motivos essenciais pelos quais os jovens devem sereducados a não fumar. Essa é realmente uma decisão para adultos.

Ao lado dos riscos para a saúde vemos o vício, que também é umelemento muito importante para definir o que se deve fazer com o cigarro nasociedade. E é evidente que, para algumas pessoas que começaram a fumar, é

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muito difícil parar. Se analisarmos pelo lado da ciência, da farmacologia, danicotina, o que a substância nicotina causa ao cérebro do fumante, na verdade,é bastante brando. Os efeitos farmacológicos são bem menores do que o dacafeína, existente no café. Há alguns benefícios, porém são muito pequenos.Há uma insistência no fato de que ajuda as pessoas a relaxar. Há o que cha-mam de um efeito duplo, que ajuda as pessoas a relaxar e as ajuda a se con-centrar, com modificações de humor muito pequenas. Mas está claro que anicotina é importante para o ato de fumar, e experiências que tentaram usarcigarros sem nicotina falharam. Similarmente, experiências onde colocaramnicotina em demasia nos cigarros também falharam. Há uma peculiaridade:existe um certo equilíbrio desejado pelo fumante em termos de sabor. E aexperiência toda não é vivida somente em termos de nicotina.

Com relação ao vício, fica claro que as pessoas fazem diferentesescolhas em suas vidas com relação a várias coisas que são arriscadas. Fumar,na verdade, é um tanto diferente dessas escolhas arriscadas, se comparado,de um ponto de vista científico, ao álcool ou às drogas ilícitas em termos deseus efeitos puramente farmacológicos. Fumar não embriaga ninguém. Tam-bém não requer uma quantidade cada vez maior da substância usada. Umefeito que cientificamente é chamado de tolerância. Não produz riscos em

AddictionAddiction

“Studies worldwide have shown that although m ost sm okers are aware ofthe risks involved in sm oking and would like to quit, fewer than 3% per yearsucceed. Of these 85% report having quit sm oking without any form alsupport from the health field (Cinciprini, 1997)”

www.inca.org.br/english/phealthservices.htm l, 2001

Quadro 1

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curto prazo, como o excesso de ingestão de bebidas alcoólicas. Não causacomprometimento familiar, não é um risco que perturbe a sociedade. E enten-der isso é importante para compreender por que tantas pessoas continuamfumando, por que é tão difícil parar de fumar. Porque o efeito sofrido pelofumante, ao pegar um cigarro, na verdade é bem pequeno. Não fica flagranteque esteja aumentando o risco à sua saúde. Não está fazendo nada que afeteou faça mal à sociedade, o que está fazendo o está ajudando a concentrar-see relaxar. Portanto, embora o fumante entenda os graves riscos para a saúde,seu comportamento individual a cada dia, na verdade, não reflete isso.

E a definição que é mais usada hoje é a de dependência. Eu estavalendo, na viagem de avião para Brasília, a edição desta semana da revista Vejaque descreve as pessoas que fazem exercícios e que são consideradas “vicia-das” neles (como podem ver pela minha barriga, não sou uma delas). Issomostra que as definições que usamos hoje, ao tentarmos descrever o vício,são, de alguma maneira, diferentes, elas se apóiam em algo que é consideradoprazeroso, que as pessoas têm dificuldade de largar e que pode apresentaralgum risco. E certamente entre essas definições, de acordo com a Organiza-ção Mundial de Saúde, fumar cigarros pode constar na categoria de criardependência ou vício.

Nossa companhia considera importante apoiar os esforços da saúdepública em ajudar qualquer pessoa que queira parar de fumar. No entanto,novamente citando o website do Inca, fica claro que a pessoa que tenha am-bos, a motivação e a força de vontade, poderá e irá parar de fumar.

E agora o meu último assunto, para finalizarmos e fazermos o deba-te, é sobre o fumante passivo. Embora tenha importância para a sociedadepode não ser essencial para o nosso Seminário. Segundo a Organização Mun-dial de Saúde, e como a doutora Tânia Maria explicou, o termo fumante pas-sivo significa que você é não-fumante e aspira a fumaça através do ar. E se issocausa câncer de pulmão e uma diversidade de outras doenças, eu gostaria deapresentar dados de uma pesquisa realizada por um grupo de pesquisadoresda Organização Mundial de Saúde, em Lyon, na França, a agência internacio-nal de pesquisa sobre o câncer. Eles realizaram uma pesquisa em 89 regiões

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do campo na Europa e tentaram verificar se mulheres não-fumantes teriamaumento de risco, quer vivendo com um fumante, quer trabalhando com umfumante ou sendo criadas com um fumante. Eu vou lhes mostrar os dados, emtermos científicos. Quando analisamos a epidemiologia, ao falarmos anterior-mente sobre o próprio fumante, o aumento de risco para o câncer de pulmãoé cerca de vinte. Esse número epidemiológico não seria em torno de um, seriade vinte. Mas o número epidemiológico compara pessoas expostas a algocom pessoas não expostas e nos dá um coeficiente. Então, se o seu número éum, isso significa que não foi encontrado aumento de risco. E nesses estudostambém é preciso realizar um teste em termos de significância estatística, por-que estamos lidando com grupos populacionais, tentando obter o maior nú-mero possível, mas sabe-se que há variabilidade, portanto são aplicados tes-tes estatísticos. E tipicamente, em epidemiologia, se não é encontradasignificância e se não é encontrado um aumento de risco, indo de um e atingin-do dois ou três, então se diz: Não, eu não vejo nenhum risco aqui. O estudosobre câncer de pulmão em fumantes passivos não encontrou nenhum aumen-to estatístico significativo em termos de riscos. Foi encontrado apenas um de-créscimo significativo de riscos, que foi entre fumantes e não-fumantes. Masisso realmente não conta. Outros pontos que encontraram não aumentaram osriscos. Na verdade, houve aumentos sem significância em estar coabitando(1,16), em trabalhar com um fumante (1,17) ou em viver e trabalhar com umfumante (1,14). Esses números mostram que quanto mais fumo menor o risco,o que ilustra os dados como sendo, praticamente, sem expressão.

Vamos comparar isso com resultados recentes do Instituto do Cân-cer dos Estados Unidos. Investigando fatores de riscos da dieta alimentar, elesencontraram casos em que os riscos de câncer de pulmão aumentam mais doque no caso de fumo no ambiente. Por exemplo, em frituras com carnes, háum aumento de 57% no risco. Para produtos de laticínios é muito maior. Ehouve significância nos dados encontrados.

As doenças cardíacas são um risco bastante importante para os fu-mantes, porém, no New England Journal of Medicine, o Dr. John Baylow, daUniversidade de Chicago, escreveu no editorial: “Lamentavelmente, concluoque ainda náo sabemos, com exatidão qual o nível da exposição à fumaça dos

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cigarros que aumenta o risco de doenças coronarianas, ou se essa exposiçãorealmente apresenta algum risco.”

Passive sm okingPassive sm oking

The IARC study on ETS and lung cancer reported in the JNCI in1998:

Relative risks for lung cancer

growing up with a sm oker 0.78 (significant)

living with a sm oker 1.16 (not significant)

working with a sm oker 1.17 (not significant)

living and working with a sm oker 1.14 (not significant)

Quadro 2

Eu comecei a pesquisar fumaça de tabaco no ambiente em 1983.Venho, desde então, estudando o fato e não encontrei aumento de risco signi-ficativo de câncer de pulmão ou de doenças por ser um fumante passivo. Os

Passive sm okingPassive sm oking

A study, reported in the International Journal of Cancer in 1997, reportedlung cancer risks in m en in Uruguay:

Relative risks for all lung cancer types

rice pudding 3.2 (significant)

dairy products 2.9 (significant)

whole m ilk 2.7 (significant)

deserts 2.5 (significant)

custard 1.7 (significant)

fried m eat 1.5 (significant)

Quadro 3

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dados sobre crianças pequenas, no entanto, apresentam resultados mais signi-ficativos. O que enfatiza o fato de que não devemos fumar quando estivermosperto de crianças, principalmente pequenas. Não sei se cientificamente pode-mos inferir que seja devido ao fumo, ou a fatores do fumo, mas, de qualquermaneira, não vale a pena arriscar. Portanto aconselhamos os fumantes a nãofumarem perto de crianças pequenas, especialmente dentro de ambientes fe-chados. Essa é a abordagem da saúde pública.

Vamos terminar agora, pois fomos bem científicos e não sei se asdiscussões esta semana serão econômicas. Mas o que tentei ilustrar foi queessa é uma questão muito grave em termos de saúde pública, na qual as com-panhias de tabaco devem ter e estão desempenhando um papel, e que se nãoenfrentarmos a questão do contrabando não poderemos progredir, especial-mente progresso na redução dos riscos. E com relação aos jovens, nós acha-mos que somente adultos devem fumar. Eu imagino que os que fazem contra-bando não se importam se são adultos ou crianças que irão usar os produtos,mas nós nos importamos muito com isso. Nós queremos que os fumantesestejam informados dos riscos de fumar. E que sejam estimulados a seremmoderados em seu comportamento. Que fumem cigarros mais puros, maisleves, que parem de fumar cigarros “similares“. Essa é a visão de uma compa-nhia responsável, e não a de quem vende cigarros contrabandeados. Acha-mos que os não-fumantes devem ser respeitados no que se refere a evitar oincômodo causado pelo fumo e que deve haver educação por parte da saúdepública com relação a fumar em casa, perto de crianças pequenas. Acredita-mos que, essencialmente, devemos trabalhar ao lado das autoridades de saú-de pública para encontrarmos formas de reduzir o impacto do tabaco na saú-de, por meio da modificação de produtos. E esse tem que ser um esforçoconjunto. Não podemos ser apenas nós. Temos que estar junto com as auto-ridades da saúde pública para tentar reduzir significativamente o risco de fu-mar. E isso é algo que companhias como a Souza Cruz são capazes e estãodispostas a fazer, e os que contrabandeiam cigarros simplesmente não pode-rão fazer. Portanto este Seminário é muito importante, é um grande prazerfalar com os senhores e estar aqui hoje. Agora eu vou voltar a me sentar ali efaremos o debate. Obrigado.

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Nadja Rodrigues Romero – Quero parabenizar a organização doevento por ter trazido esse tema para debate. O Seminário de Fraudes noSetor de Cigarros começa com a questão de conscientização de saúde públi-ca. Nós, que trabalhamos na área tributária, sempre temos a visão mais eco-nômica e tributária do que a da saúde. O que ficou mais nessas duas palestrasapresentadas foi a questão da saúde pública, que também interfere na questãoeconômica. Os estudos apresentados pela Dra. Tânia trazem a questão dasaúde pública do fumo, como também a questão do contrabando.

O Dr. Christopher também trouxe esse assunto do contrabando commuita ênfase, demonstrando que é uma questão não só econômica e tributária, mastambém de saúde pública, porque não há o controle da qualidade do produto queé vendido no mercado. Acho que a maioria de nós não tinha esse nível de consci-ência no sentido de que estamos também ajudando a saúde pública ao combater-mos o contrabando. As duas apresentações foram muito ricas. De qualquer formaeu gostaria de ressaltar a questão do preço dos cigarros. Mesmo sendo mais baixonos países em desenvolvimento, ainda é muito maior o contrabando e o descaminhonesses países, dando um acesso maior à população.

Quero dizer que quando o Dr. Rachid me convidou para ser mode-radora fiquei pensando: ele sabe que sou ex-fumante e também representanteda região fiscal que se localiza aqui em Brasília, que também se depara comum problema muito grande de contrabando na região. A nossa região é com-posta pelos estados do Centro-Oeste e o Estado do Tocantins, com uma áreade fronteira e uma extensão territorial muito grande. Aqui estão os represen-tantes de todas as nossas unidades aduaneiras do Centro-Oeste, que sabemque o maior trabalho de apreensões que temos está na área de cigarros, o quemostra que há um crescimento muito grande de descaminho nessa área. Éimportante contarmos com a presença desses colegas, como de outras regi-ões. Então, quando recebi o convite, não foi apenas pela questão da PrimeiraRegião, mas também como ex-fumante.

Gostaria de dirigir a primeira pergunta à Dra. Tânia, querendo saberse ainda podemos deixar de fumar depois de trinta anos e quais são os bene-fícios que podemos adquirir.

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Tânia Maria Cavalcante – Deixar de fumar em qualquer época ésempre benéfico, porque de certa forma você reduz a exposição a essas 4.700substâncias tóxicas. Algumas pessoas dizem: já fumei tudo o que tinha quefumar. Meu organismo está todo lesado. Na verdade, o que se observa é quequando as pessoas deixam de fumar em qualquer idade tendem a ter seusriscos de adoecimentos e mortes, por exemplo, de câncer de pulmão, ou enfarto,reduzidos progressivamente à medida que o distanciamento entre a data emque elas pararam de fumar e o período em que estão sem fumar vai se alargan-do. Então é importante sempre estimularmos as pessoas a deixarem de fumar.Deixar de fumar vale a pena qualquer que seja o período da vida em que apessoa esteja, qualquer que seja a condição de saúde que a pessoa tenha.Pessoas que já têm algum problema de saúde, com certeza, se deixarem defumar vão, no mínimo, estabilizá-lo.

O Sr. Flávio de Andrade coloca a seguinte pergunta: “O investimentopublicitário da indústria de cigarros legalmente instalada no Brasil vem caindosubstancialmente na última década. Ora, se a publicidade estimula o consumo eo crescimento do mercado, a senhora não acha que os dirigentes dessa indústrialegalmente instalada assumiram atitudes equivocadas ao cortarem os seus inves-timentos publicitários na última década?”

Por meio de estudo da Fundação Getúlio Vargas, observa-se quehouve realmente um aumento de investimento na publicidade, mas eu gostariade responder essa pergunta com uma outra pergunta ao Sr. Flávio de Andrade:por que então, se há uma redução da publicidade, essa redução da publicida-de pela indústria seria o reconhecimento de que ela não é importante para oaumento de consumo? Então por que houve um importante lobby contrárioàquela lei, que foi recentemente publicada, de proibição, não diria de proibi-ção, mas de restrição à publicidade, aos pontos de venda? Se estiver havendoessa redução gradual, por que esse lobby tão forte que aconteceu na épocaem que a lei estava sendo encaminhada em todos os trâmites no Congresso?

A meu ver, de certa forma, a publicidade é um aspecto bastanteimportante para a sobrevivência da indústria. Então colocaria a coisa dessaforma. Embora seja dito pela própria indústria do tabaco que há uma redução,

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ela não deixa de ser vital para a indústria, uma vez que os estudos, não só noBrasil, mas no mundo inteiro, mostram realmente uma relação direta: quantomaior a publicidade, maior o consumo.

Uma outra pergunta do Sr. Flávio de Andrade diz que: “O Ministérioda Saúde afirma que aumento de preço provocado por aumento de taxaçãodiminui o consumo. Na prática, esse é um raciocínio simples e completo noBrasil, país com uma das mais altas taxações do mundo. O mercado ilegalatinge 35%, demonstrando a fragilidade do raciocínio acima. A palestranteafirma que na Inglaterra o preço é levado a inibir o consumo. Isso não é verda-de. A Inglaterra experimenta hoje um dos mais elevados níveis de contraban-do de toda a Europa. Por que razão os estudos do Ministério da Saúde nãosão mais profundos? Por que o Ministério da Saúde não trabalha mais próxi-mo das indústrias como é o caso do Canadá?”

Na verdade, os estudos que apresentamos aqui são de renomadasinstituições. Aqui no Brasil, foram estudos realizados pela Fundação GetúlioVargas, e, a meu ver, são estudos inquestionáveis, e estudos publicados peloBanco Mundial. Acho que só isso responde essa pergunta. Não sou econo-mista. Não posso discutir a fundo as metodologias, mas posso com certezaconfiar nas instituições que fazem esse tipo de estudo. Seria essa a minharesposta para a pergunta.

Em termos de trabalhar mais próximo da indústria, acho que é umaquestão de criar até uma certa confiança. Temos procurado trabalhar com asindústrias. Recentemente, reunimo-nos com representantes da Abifumo, daSouza Cruz e da Phillip Morris para discutir a Resolução nº 320, da Anvisa,que obriga as indústrias a registrarem os seus produtos, e não só os seusteores, mas a composição físico-química de seus produtos, dados de venda,de importação e de exportação. Isso, a nosso ver, já é uma forma de abriresse espaço para a discussão. Logicamente, à medida que caminharmos nasnossas ações, com certeza vamos estar conversando com as indústrias, comotemos feito nos últimos anos.

Outra pergunta que diz: “A arrecadação tributária do fumo é suficientepara cobrir as despesas ou o custo com as doenças provocadas pelo fumo?”

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Na verdade, ainda não temos um estudo completo sobre o quanto segasta com as doenças provocadas pelo fumo, mas, qualquer que seja esse núme-ro, ele será ainda bastante subestimado, aliás, os custos do tabagismo no Brasilainda serão bastante subestimados, porque há uma série de outras questões, nãosó o adoecimento, mas aposentadorias precoces e os custos intangíveis de perdasde pessoas que estão no mercado de trabalho, perdas precoces de cidadãos aindaem fase produtiva, as perdas das famílias e toda a dor que causam. Então qualquerque seja a tentativa de se colocar na balança, no sentido de que arrecadamos maisdo que gastamos, ainda vai ser subestimada, porque a vida humana, a qualidadede vida das pessoas não têm preço, por mais que se tente. Então é uma questãobastante difícil de responder, mas na área de saúde é muito clara: qualquer que sejaa quantidade de dinheiro arrecadado com a taxação, ainda vai ser inferior à vidahumana. Essa é a nossa resposta em relação a isso.

Outro questionamento: “O seu gráfico de redução de preços nãoapresenta aumento no consumo, conforme comentado por você.”

Na verdade, esse não é o meu gráfico. É um gráfico da FundaçãoGetúlio Vargas. Talvez a imagem não esteja bem clara, mas os números dastabelas que deram origem ao gráfico mostram claramente essa correlação en-

4 %

6 a 10%

6 a 8%

EUA

País consumo

China

África doSul

Aumento 10%no preço

Resultados de estudos econométricos

Fonte: Banco Mundial / 1999INCA/FGV/1997

Determinantes do Consumo do tabacoDeterminantes do Consumo do tabaco

Baixo custo

Brasil 1,5 - 3% CP6 a 12 % LP

CONCLUSÃO: PARA CADA 1% DE AUMENTO NOPREÇO O CONSUMO CAI 0,5%

Quadro 6

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tre a redução do poder aquisitivo da população e a redução do consumo dotabaco. Na medida em que o Brasil passou por fases em que o poder aquisi-tivo da população, por questões econômicas do País, ficou mais baixo, o con-sumo também se reduziu. Isso foi claramente demonstrado por esse estudorealizado pela Fundação Getúlio Vargas em parceria com o Inca.

Nadja Rodrigues Romero – Dra. Tânia, há muitas perguntas,inclusive para o Dr. Christopher. Como temos pouco tempo para as pergun-tas, seria o caso de as lermos e as agregarmos enquanto passaria ao Dr.Christopher algumas perguntas dirigidas a ele.

A pergunta é a seguinte: “Dr. Christopher, de acordo com as afirma-ções feitas pelo senhor de que as indústrias concordam que fumar é um vícioque produz risco à saúde das pessoas que fumam e daqueles que não fumam,que é um vício ruim, se o fumo fosse hoje introduzido no mercado, não seriaproibida a sua comercialização?”

Christopher John Proctor – É uma pergunta interessante, mas im-praticável. Poderia perguntar a mesma coisa com relação a uma variedade decoisas, o álcool, por exemplo.

A verdadeira questão é que o fumo está aí presente, e que setenha originado com os latino-americanos, mais ou menos em 1500, e foise propagando pela sociedade, por várias regiões, por todos os países domundo entre 1700 e 1800. Tomou uma forma diferente a partir do séculoXVIII, a forma do cigarro. Em países como o meu e, imagino, como oBrasil, onde as pessoas estão claramente cientes de que há graves riscospara a saúde em fumar, as pessoas ainda encontram benefícios nisso. Ain-da encontram benefícios nos cigarros. A verdadeira questão é: como asautoridades de saúde pública e as companhias de cigarros podem traba-lhar juntas para reduzir o impacto do uso do tabaco na saúde? É realmenteimportante que elas ajam juntas para lograr isso. E, no contexto do pre-sente Seminário, como as autoridades de saúde pública e como as autori-dades de fiscalização da Receita Federal podem encontrar a antítese paratornar esses produtos passíveis de um trabalho responsável, para lidar comas novas questões que o uso do fumo apresenta para a sociedade. E é

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importante que haja diálogo entre companhias como a Souza Cruz e oGoverno no que se refere a essas questões. E quando a situação ficardifícil com relação ao contrabando, isso não venha a minar nenhuma dasquestões nas quais estejam trabalhando juntos.

Nadja Rodrigues Romero – Vou dirigir mais uma pergunta ao Dr.Christopher: “Quais as pesquisas que estão sendo desenvolvidas para cigar-ros que ofereçam menos perigo à saúde?”

Christopher John Proctor – É algo que estamos fazendo, e que jádeveria ter sido feito. Quando começamos a usar a ciência com relação aofumo e à saúde, a partir da década de 1950, estabelecemos um centro depesquisas, e eu acho que é possível o estabelecimento de centros assim nasprincipais cidades do Brasil.

Os esforços têm sido principalmente para reduzir a quantidade dassubstâncias que consideramos tóxicas. E como a Dra. Tânia Maria disse, há48 substâncias que achamos que podem estar relacionadas com o câncer.Temos feito um esforço para tentar reduzi-las. A maneira mais óbvia, cientifi-camente, de se fazer isso é produzir cigarros com mais baixo teor de alcatrão.E os dados que temos obtido de lugares onde os cigarros com teor mais baixode alcatrão foram aceitos pelos consumidores, como na Inglaterra, sugeremque há redução dos riscos de câncer de pulmão, especialmente a partir daintrodução desses produtos. O que não obtivemos, ou o que não está bemclaro, são reduções de doenças cardíacas ou reduções de enfisema. E a situ-ação problemática que se apresenta é que não há um teste de laboratório quediga: muito bem, este cigarro é melhor do que aquele. Temos que nos apoiarem estudos epidemiológicos com humanos a longo prazo. O que esses estu-dos apontam é que, quanto menor a ingestão feita por alguém, menor será orisco. E em termos de desenho de produto é esse o nosso alvo. Mas tambémestamos visando às substâncias constituintes que organizações públicas, taiscomo a Organização Mundial de Saúde, achem problemáticas, procurandomeios de reduzir ainda mais o alcatrão. Há um problema com relação ao fu-mante, ele não abre mão do sabor. Ele não quer um cigarro de vento. Ele quero sabor associado ao cigarro. E, portanto, temos que equilibrar esses dois

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fatores. Mas eu acho que esse progresso tem que ser obtido por meio dotrabalho das companhias de cigarro e das autoridades de saúde pública emconjunto, descobrindo qual é a melhor direção a ser tomada.

Nadja Rodrigues Romero – Tendo em vista o adiantado da hora,vamos dirigir mais uma pergunta a cada um dos palestrantes e depois vamosver como será possível responder todas as perguntas que foram feitas. Gosta-ria que a Dra. Tânia respondesse mais uma pergunta.

Tânia Maria Cavalcante – Acho que é Jair Pinheiro Muniz, daSecretaria da Receita Federal do Rio de Janeiro. Ele pergunta: “Se a iniciaçãodos fumantes começa na juventude, por que o Ministério da Saúde não fazuma campanha intensiva e permanente nas escolas, visando alertar econscientizar os jovens sobre o risco do cigarro?”

Na verdade, o Ministério da Saúde já vem avançando nesse proces-so de trabalhar com escolas. Além das campanhas que vocês vêem periodica-mente: Dia Mundial sem Tabaco e o Dia Nacional de Combate ao Fumo,agora em agosto, que é comemorado no Brasil inteiro por meio de uma redearticulada com as secretarias estaduais e municipais de saúde, o ministériovem investindo num programa chamado Programa Saber Saúde nas Escolas,que visa mostrar ao jovem a questão do tabagismo como importante fator derisco para a saúde, mas, principalmente, trabalhando essa questão sob a óticada qualidade de vida, da cidadania, da visão crítica da promoção e da publici-dade, e de eles serem o alvo de toda essa estratégia para que haja consumido-res. O objetivo não é só dizer que fumar causa câncer de pulmão, mas traba-lhar essa visão crítica. Esse processo vem avançando, desde 1996, no Brasilinteiro. Hoje temos mais de duas mil escolas atingidas, com cerca de um mi-lhão de crianças. É um processo contínuo. Na verdade, o Ministério da Saúdejá vem trabalhando nesse aspecto.

Nadja Rodrigues Romero – Vamos dirigir mais uma pergunta aoDr. Christopher . Aviso, a pedido da coordenação do evento, que todas asperguntas que não forem respondidas agora o serão por e-mail para quem re-gistrou seu endereço eletrônico. Aqueles que não tenham registrado o seu e-mail podem procurar a coordenação e terão as suas indagações respondidas.

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Gostaria de dirigir uma pergunta ao Dr. Christopher, que é um poucoprovocativa: “O senhor fuma? Justifique, por favor.”

Christopher John Proctor – Que pergunta! Sim, eu fumo. Quan-do estou no Brasil, eu fumo Free. Digo isso com um certo orgulho porquesei que é bem popular aqui no Brasil. E comecei a fumar quando eu tinha24 ou 25 anos. Portanto, eu venho fumando há um bom tempo. Eu sei quedeveria fumar menos, ou até mesmo parar. Mas devo dizer que eu conti-nuo gostando. É uma questão importante, eu acho. Porque nem todos nes-ta sala têm conhecimento, eu imagino, a não ser a Dra. Tânia Maria quedeve ter lido tanto quanto eu, e eu li muitos e muitos estudos sobre saúdena minha terra, falando sobre os males decorrentes de fumar e mesmoassim eu continuo gostando. Gosto mesmo. Devia me emendar. Tambémdevo confessar que como demais, tenho peso excessivo, e que não façoexercícios suficientes, acho que isso revela um pouco mais a meu respeito.Só isso. Obrigado pela pergunta.

Nadja Rodrigues Romero – Damos por encerrado este painel,agradecendo aos palestrantes, que foram muito felizes em suas exposições enos esclarecimentos que nos foram prestados. Muito obrigada a todos.

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Moderador

LLLLLUIZ FERNANDO LORENZIUIZ FERNANDO LORENZIUIZ FERNANDO LORENZIUIZ FERNANDO LORENZIUIZ FERNANDO LORENZISupervisor Nacional de Fiscalizações Especiais da Coordenação-Geral daSecretaria da Receita Federal - Brasil

Palestrantes

MILMILMILMILMILTON DE CTON DE CTON DE CTON DE CTON DE CARVARVARVARVARVALHO CALHO CALHO CALHO CALHO CABRALABRALABRALABRALABRALAssociação Brasileira da Indústria do Fumo - ABIFUMO / Brasil

PPPPPAAAAATRICIO RUEDTRICIO RUEDTRICIO RUEDTRICIO RUEDTRICIO RUEDASASASASASPresidente da Alliance Against Contraband - ONG Internacional / Canadá

MARIO POSSAMAIMARIO POSSAMAIMARIO POSSAMAIMARIO POSSAMAIMARIO POSSAMAIMembro da Alliance Against Contraband - ONG Internacional / Canadá

Painel II

COMÉRCIO ILEGAL DE CIGARROS – ASPECTOSCOMÉRCIO ILEGAL DE CIGARROS – ASPECTOSCOMÉRCIO ILEGAL DE CIGARROS – ASPECTOSCOMÉRCIO ILEGAL DE CIGARROS – ASPECTOSCOMÉRCIO ILEGAL DE CIGARROS – ASPECTOSNACIONAIS E INTERNACIONAISNACIONAIS E INTERNACIONAISNACIONAIS E INTERNACIONAISNACIONAIS E INTERNACIONAISNACIONAIS E INTERNACIONAIS

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Mestre de cerimônia – Dando continuidade ao Seminário Interna-cional sobre Fraudes no Setor de Cigarros, abordaremos agora o Painel II, como tema Comércio Ilegal de Cigarros – Aspectos Nacionais e Internacionais.

A Mesa do Seminário está composta pelas seguintes autoridades:Dr. Luiz Fernando Lorenzi, Supervisor Nacional de Fiscalizações Especiaisda Coordenação-Geral da Secretaria da Receita Federal, que presidirá a Mesae atuará como Moderador do painel; Dr. Mário Possamai, da Alliance AgainstContraband – ONG internacional; Dr. Joseph Clark, da Alliance AgainstContraband – ONG internacional; Dr. Milton de Carvalho Cabral, da Associ-ação Brasileira da Indústria do Fumo – ABIFUMO, Brasil; Dr. Patricio Ruedas,Presidente da Alliance Against Contraband – ONG internacional.

Luiz Fernando Lorenzi – Dando prosseguimento ao nosso SeminárioInternacional sobre Fraudes no Setor de Cigarros, passaremos agora para o se-gundo painel, que tratará de comércio ilegal de cigarros, os aspectos nacionais einternacionais. Neste painel teremos três palestrantes, e comporá, ainda, a Mesa oDr. Joseph Clark, do Canadá, que fará a sua exposição no dia de amanhã.

Nosso primeiro palestrante, Dr. Milton de Carvalho Cabral, é eco-nomista, Vice-Presidente da Souza Cruz, ocupou o cargo de Assessor Finan-ceiro na Europa do Grupo da British American Tobacco, em Londres, e asfunções de Diretor- Financeiro e Gerente-Geral do Grupo British AmericanTobacco. Com a palavra o Dr. Milton Cabral.

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Milton de Carvalho Cabral – Parabenizo a Secretaria da ReceitaFederal e a Escola de Administração Fazendária por promoverem um seminá-rio dessa grandeza, sobre um tema que realmente é da maior relevância para aindústria que estou aqui representando. Portanto, temos uma esperança muitogrande de que o produto final deste Seminário, com a quantidade de pales-trantes, debatedores e representantes de outros países, seja uma proposta oupelo menos um esboço ou embrião de uma proposta conjunta de todas asautoridades conectadas ao assunto para que disso possam resultar vitóriasimportantes sobre esse problema enorme que vimos enfrentando.

Temos no gráfico abaixo exposto uma série bastante abrangente dedez anos, mais um projetado, do consumo de cigarros no Brasil. Observamos,por essa série histórica, que o mercado brasileiro tem uma tendência de certaestabilidade no consumo. É bom lembrar que aqui estão computados todos oscigarros consumidos no Brasil, independentemente de sua fonte, sejam elescomercializados legal ou ilegalmente. Há claramente uma tendência de estabi-lidade em torno de uma média de 145 bilhões de cigarros com oscilaçõesmaiores ocorridas principalmente no início da década de 90, sempre conse-qüentes de importantes alterações de poder aquisitivo dos consumidores, ou

M ercadoM ercado Total Total ( ( IlegalIlegal + Legal ) + Legal )

EvoluçãoEvolução de Volum e de Volum e

O Mercado Brasileiro mantém-se estável na última década, com volumes entre140 a 150 bilhões de cigarros comercializados. Suas oscilações maiores advêm

de mudanças significativas no poder aquisitivo dos consumidores

156

129 129 129145

151 152147 141 142

149

19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01*

Tota l Mercado

Bilh

ões

de C

igar

ros

Fonte: Nielsen / IDS

Quadro 1

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seja, daquela sucessão de planos econômicos que, de repente, injetavam bo-lhas de poder aquisitivo numa ponta e drenavam na outra. Ao fim, as grandesoscilações sempre como conseqüências de importantes mudanças no poderaquisitivo, mas o mercado tendendo à estabilidade.

Agora vamos ver (quadro 2) esta mesma imagem já com uma divi-são entre as fontes de abastecimento. É bom lembrar que a unidade do gráficoé de bilhões de cigarros. A indústria tende a medir o seu negócio em bilhões deunidades de cigarros, não em maços.

O que observamos no quadro acima é que começa a aparecer, apartir do início dos anos 90, uma tendência até então, pelo menos nas décadasanteriores, não experimentada pelo mercado, que é a venda substancial de pro-dutos de forma ilegal no mercado brasileiro, compreendendo produtos não so-mente vendidos sob forma de contrabando, produtos que cruzam ilegalmente asfronteiras brasileiras, mas também produtos vendidos no mercado brasileiro comclaras evidências de sonegação fiscal. Há um abastecimento de cigarros ilegaisno Brasil da ordem de 45 a 48 bilhões de unidades/ano, que tem sido, mais oumenos, o patamar dos últimos três anos, mas já mostrando novamente umatendência de crescimento. Esse mesmo número agora é mostrado em termos de

148

8

123

6

115

15

105

24

116

28

115

36

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44

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48

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001*

Legal I legais

Bilh

ões

de

Cig

arro

s

M ercado BrasileiroM ercado Brasileiro de de CigarrosCigarrosFontes Fontes de de Abastecim entoAbastecim ento

O Mercado Ilegal já comercializa volumes expressivos desde a primeira metade dadécada de 90, avançando sobre o mercado legal, que tem seus volumes

reduzidos em torno de 50 bilhões de cigarros.

Fonte: Nielsen / IDS

Quadro 2

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participação percentual. Para facilitar o nosso raciocínio, podemos estimar, comonúmero referencial, que um terço dos cigarros consumidos no Brasil atualmentesão de origem ilegal, ou cigarros de contrabando ou que não pagam impostos.

Uma outra coisa importante é entendermos melhor que produtos sãoesses que, de alguma forma, dão entrada no mercado brasileiro. Fizemos estegráfico em forma de pizza (Quadro 3), em que indicamos claramente que aprincipal fonte de ingresso de produtos no Brasil é o contrabando. O contra-bando é diretamente responsável, conforme este gráfico, por 60% desse volu-me que é comercializado ilegalmente no País, mas se colocarmos também aárea azul do gráfico, que é a contrafação, a falsificação, que representa 21%(é bom lembrar que também a contrafação normalmente se origina de tercei-ros países. Por conseqüência, também entra no Brasil sob a forma de contra-bando), se juntarmos o que estamos chamando de contrabando mais a con-trafação, temos aí 81% desses volumes entrando no País sob a forma de con-trabando, embora uma parte importante seja contrafação, e temos, ainda, 19%dessa mesma entrada de produtos sob a forma de produtos claramentecomercializados com indícios de sonegação fiscal. São esses os volumes, lem-brando aqui embaixo que o total envolvido são esses 45 a 48 bilhões de cigar-ros por ano. Essa é a base do ano 2000.

60%21%

19%

Contraband o Evasão Fiscal Contrafração

M ix do M ix do M ercado IlegalM ercado IlegalParticipaçãoParticipação de de M ercadoM ercado

Fonte: Nielsen / IDSAno Base: 2000

V o lu m e P artic ip açãoB i C ig s . %

C ontrabando 2 7,8 6 0C ontrafração 9 ,7 2 1E vasão F isca l 9 ,0 1 9

4 6,5 1 00,0

M ercad o Ileg a l

T otal

81%

Quadro 3

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Normalmente se coloca que a principal causa da existência e do cresci-mento do contrabando é a questão das cargas tributárias. Isso já foi discutido aqui,nas primeiras sessões desta manhã. E realmente temos, pelo menos no âmbito depaíses mais próximos, alguns desníveis importantes. Temos o Brasil ainda com acarga tributária acima da Argentina, Uruguai etc., bastante acima de países mais aonorte, como México e Venezuela, mas significativamente acima da carga tributáriaparaguaia, esta, sim, realmente bastante menor do que as cargas tributárias dospaíses vizinhos. Certamente é uma das mais baixas que se conhece, daí temos jáuma primeira orientação da origem do problema da passagem de cigarros de pa-íses limítrofes, em particular do Paraguai, para o lado brasileiro.

É interessante fazermos uma comparação (Quadro 4), porque temoscitado 45 ou 48 bilhões de cigarros; que número é esse, se é grande ou peque-no. Então juntamos um conjunto de informações sobre determinados mercados.Estamos dizendo que, em relação à América Latina, o maior de todos os merca-dos é o mercado legal brasileiro, ou seja, os cigarros que são vendidos no Brasilde forma legal, correspondendo a cerca de 95 bilhões de cigarros por ano. E oterceiro, praticamente segundo, maior mercado da América Latina é o mercadoilegal de cigarros brasileiro, ou seja, os cigarros que entram no Brasil de formailegal correspondem ao segundo ou terceiro, praticamente encostado no segun-do maior mercado latino americano, que seria o do México, portanto estamosfalando de volumes realmente extraordinários.

Só para efeito de comparação, temos no quado abaixo o mercadoda Argentina, em torno de 35 bilhões de cigarros, o mercado do Paraguai e odo Uruguai. Colocamos ali que, na prática, se somarmos os três países ir-mãos, do Mercosul, o mercado ilegal de cigarros é maior do que o mercadodesses três países somados, para dar uma dimensão do problema.

Talvez não fiquemos tão constrangidos com esse problema porquetambém foi citado aqui, hoje de manhã, que o Reino Unido, um dos países quetêm uma tradição de serviço público de alto nível, tem alguma coisa tambémem torno de um terço ou mais de seu mercado abastecido por contrabando.

Por que temos dificuldade em controlar o contrabando na nossa re-gião, em particular no caso brasileiro? Na realidade, a questão de law

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enforcement depara-se com uma quantidade gigantesca de fronteiras compraticamente todos os países do continente da América do Sul, menos comdois, inclusive fáceis de serem ultrapassadas, muitas delas fronteiras secas.Essa é uma das razões pelas quais encontramos dificuldade importante emlidar com a questão do law enforcement no País.

Com paração Com paração de de Dim ensões Dim ensões do do M ercadoM ercado((Am érica LatinaAm érica Latina))

C o nsu m oB ilh õe s / an o

Bras il Legal 95,3

Bras il Ilegal 46,5

T ota l B ra sil 1 41 ,8

Argentina 35,0

Paraguai 3,0

Uruguai 4,0

T ota l Merc osu l 1 83 ,8

Mexico 49,0

P aís

O volume do Mercado Ilegal no Brasil já atinge 21% do volume consumidono Mercosul, e é maior do que os demais países somados. O Mercado Ilegal

brasileiro é, individualmente, o 3º maior da América Latina

Fonte: World Tobacco File

Quadro 5

Quadro 4

VENEZUELA GUIANASURINAME

GUIANA FRANCESACOLÔMBIA

PERU

BOLÍVIA

BRASIL

URUGUAI

ARGENTINA

Law Enforcement - DificuldadesFronteiras com Países Limítrofes

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Um outro fenômeno curioso tem que ser comentado aqui. Na prá-tica, esse mercado ilegal de cigarros no País começou a tomar vulto, come-çou a crescer de uma forma importante, como dissemos, ao longo da déca-da de 1990, mas o governo brasileiro tomou, no final de 1998, uma decisãode impor um imposto de exportação para que pelo menos as empresasradicadas no Brasil não exportassem para países limítrofes, assumindo-seque esse produto tendia a voltar. Essa foi uma medida tomada pelo governobrasileiro, pela Receita Federal, que realmente fez com que as exportaçõesde cigarros brasileiros para países limítrofes cessassem, mas as grandesmotivações do contrabando continuam existindo e as grandes dificuldadesdo law enforcement também. Em outras palavras, as questões da cargatributária, do preço etc. continuam como forte elemento motivador do inte-resse pelo contrabando, e as nossas grandes dificuldades no law enforcementtambém ajudam nesse panorama.

O quadro abaixo mostra o número de fábricas existentes no Bra-sil que sempre trabalharam com fortes indícios de evasão fiscal e o númerode fábricas instaladas em países limítrofes nesse mesmo período. Anali-sando o gráfico, em 1993, vemos que no Brasil havia seis fábricas quetendiam a abastecer esse mercado, em que, normalmente, não se pagaimposto, e havia cinco fábricas nesses que estamos chamando de paíseslimítrofes, normalmente nos referindo ao Paraguai e ao Uruguai. Se obser-varmos em 1996, já veremos que existiam oito fábricas no Brasil com essafinalidade, e doze nos países limítrofes. Agora, analisando o ano 2000,são 17 fábricas nos países limítrofes mais dez no Brasil, portanto 27, euma enorme explosão de novas fábricas ocorrendo nesses países limítrofesem função, exatamente, desse grande incentivo ou negócio aparente paraeles, que é de alguma forma produzir cigarros para colocar no Brasil, e,nas linhas ao lado do gráfico de barras, o crescimento da capacidade ins-talada desses países. Observamos que, na realidade, nesses países limítrofesexiste hoje uma capacidade instalada acima de setenta bilhões de cigarros.Em outras palavras, existe capacidade para abastecer o mercado ilegal doBrasil com algo em torno de 97 bilhões de unidades, lembrando que omercado brasileiro está entre 145 e 150 bilhões. Ou seja, esse pessoal já

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ocupa um espaço importante nesse mercado e tem um potencial significa-tivo para aumentar a sua participação.

Algo curioso é essa explosão de aumento de capacidade de fábricasnos países limítrofes. A pergunta é: que mercado eles estão buscando? É mui-to claro, nenhum desses dois países a que estamos nos referindo tem qualquertradição exportadora para nenhum mercado do mundo nem possui marcasnem direitos sobre marcas notórias. Portanto claramente não se consomemfora dos seus territórios os produtos ali produzidos. Então, parece claro, odestino da produção é um mercado como o brasileiro, pela sua extraordináriadimensão, evidentemente é o maior foco de interesse, mas também a Argenti-na é um país em que esse tipo de produção tem objetivo.

Voltando à mesma visão, agora cruzando consumo com capacidadede produção (Quadro 7), temos o mercado brasileiro total em torno de 145 a150 bilhões de unidades consumidas por ano, das quais cerca 101 bilhões nolegal, e 48 bilhões no ilegal, mais sete bilhões consumidas dentro dessespaíses limítrofes, portanto o consumo total nesse conjunto que estamos colo-cando é de 156 bilhões de cigarros.

EvoluçãoEvolução do do Núm eroNúm ero de de FábricasFábricas Abastecedoras Abastecedoras dodoCom ércio IlegalCom ércio Ilegal e e Capacidade InstaladaCapacidade Instalada

6 67

89 9 9

10 10

56

8

12 12

1517 17

29

1115

2225

3136

70

1318 18

2124

28

12

11

115

37

19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01

F áb rica s B ra sil F áb rica s P aíse s L im ítro fe s C ap . In st. B ras il C ap . In st. P aíses L im ítro fes

Numero de Fábricas Instaladas Capacidade de Produção Instalada (Bi. Cigs.)

Fonte: Mercado

P a íse s Q td . d e F áb r ica sC a p ac id ad e

(B i . C ig s .)P a rt ic ip a ção (% )

B rasil 1 0 2 7,5 2 8,3

Países L im ítrofes (L íq .) 2 9 6 9,7 7 1,7

Total 3 9 9 7,2 1 00,0

Quadro 3

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Gostaria de lembrar que, com aquela capacidade disponível tanto dentrodo Brasil como nos países limítrofes, somando essa capacidade de produçãochegamos a 104 bilhões, o que significa que, se o espaço ocupado hoje é de 55bilhões, ainda há disponíveis pelo menos outros cinqüenta bilhões para seremcolocados dentro dos mercados, principalmente brasileiro e argentino.

Aí vem a pergunta: quem faz esse negócio? Existe uma certa tendênciaa se considerar que esses negócios ilegais, principalmente o contrabando, sãouma coisa de “formiguinha”, do camelô que está localizado no centro da grandecidade, porque, na realidade, ele está subempregado ou desempregado etc.,que isso é uma coisa menor que deveria ser socialmente tolerada na medida emque ajuda a resolver determinados problemas sociais e econômicos.

Gostaria de dizer aos senhores que não é nada disso. Na realidade,o camelô é apenas a ponta visível do iceberg, ou seja, temos uma imensamontanha embaixo do mar, e aquela ponta que vemos, pela qual tendemos aser um pouco simpáticos ao indivíduo que está praticando aquela atividade,quando ela chega à dimensão de mexer com quase cinqüenta bilhões de cigar-ros, isso não pode ser feito por amadores, e a logística envolvida paradisponibilizar cigarros em todas as ruas e praças brasileiras e, com certeza,também argentinas não é feita por gente que cruza a fronteira, pelo “formigui-

Consumo Capacidade Produção

Brasil Total 149Brasil Legal 101Brasil Ilegal 48 27Limítrofes 7 77

Total 156 104

55 104

Consum o e Abastecim entoConsum o e Abastecim entoBilhões de cigarros / anoBilhões de cigarros / ano

As fontes abastecedoras ilegais têm capacidade de colocar no mercadobrasileiro mais 50 bilhões de cigarros ano. Portanto, não há limites técnicos

para o crescimento de suas atividades.

Quadro 7

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nha” de Ciudad del Este. Aquele também é um outro capítulo, uma pontavisível, mas pequena. Na realidade, a entrada de produtos nesse mercado,que já vem ocorrendo há cinco anos, é muito significativa e tem que ser feita deforma organizada, estruturada. Os trabalhos que foram feitos para descobrircomo isso funciona deixam muito claro que, de fato, hoje até a produtora,numa das pontas, a empresa, digamos, no Paraguai ou no Uruguai, que real-mente realiza a produção tem um papel limitado, porque se desenvolveu todauma teia, uma cadeia de agentes de crime organizado tipicamente, porque édisso que estamos falando, em que aparecem, ao lado dos países limítrofes,vários intermediários, e até verdadeiros – vou chamá-los por um nome nobre– business centers, como é o caso de uma cidade fronteiriça nossa, onde setomam as grandes decisões com relação a esse comércio. Posteriormente,temos distribuidores e atacadistas, portanto o trabalho foi-se dividindo, foi-sesegmentando. Depois existe uma enorme operação logística, muitas vezes con-tando com o apoio policial para fazer o traslado do produto do outro lado dafronteira para o lado de cá. Então esses produtos acabam em mãos de gran-des distribuidores brasileiros que nada mais são do que os tradicionais contra-bandistas brasileiros que, no passado, mexeram com uísque e outras coisas,mas o cigarro é um produto altamente atrativo para eles pela venda diária epelas margens que deixa. Posteriormente, há atacadistas e, finalmente, aquelaponta que costumamos ver nas ruas, a ponta dos varejistas, principalmente osinformais, no caso o camelô aqui mencionado.

As rotas de entrada que esse comércio tem são fluviais, são as fronteirassecas que nós temos, e entram produtos também pelos portos. Quando falamosem contrafação, em falsificação de produtos, é bom lembrarmos que chegam comuma certa facilidade, embora ainda não sejam majoritários, produtos de origemasiática, principalmente produtos chineses que ingressam no Brasil, e, realmente,são colocados aqui dentro, para vocês terem uma dimensão do quanto é irrelevantea questão do custo de transporte de um produto com uma carga tributária alta,que, quando sonegada, deixa margem para todos dentro dessa cadeia.

Além disso, há também a Ponte da Amizade. Indiscutivelmente, existeesse comércio, é muito visível, mas certamente não é o volume principal para

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que se consiga colocar 48 bilhões de cigarros ou um número parecido comesse dentro do Brasil. Estão envolvidos nesse negócio navios, carretas, barca-ças, tudo isso dentro de um padrão de eficiência logística de alto nível, tudoisso feito como fazem as companhias formais do setor de cigarros, mas nacalada da noite, de forma invisível, portanto com uma grande eficiência.

AC0,2%

AL0,8%

AP1,0%

AM0,9%

BA8,1%

CE1,3%

DF1,4%

ES1,6%

GO4,2%

MA3,0%

MT1,6%

MS1,4%

MG11,2%

PA9,6% PB

1,0%

PR3,2%

PE1,8%

PI1,6%

RJ5,6%

RN0,9%

RS5,6%

RO0,7%

RR0,6%

SC3,9%

SP26,0%

SE1,2%

TO0,7%

Concentração do Mercado Ilegal Concentração do Mercado Ilegal por por UFUFVolume Acumulado no Ano de 2001

Quadro 8

No mapa (Quadro 9) que mostra basicamente que esse produtodo comércio ilegal não está localizado em grandes centros. Não tenho aqui,infelizmente, uma distribuição por estados, mas temos aqui onde estão osprincipais volumes que ingressam no Brasil, em que praças são vendidos.Obviamente, São Paulo, com 26%, até porque é o maior mercado brasilei-ro; depois vem Minas Gerais, com 11%; Pará, com 9,6%; mas existe umoutro mapa que, infelizmente, não consegui colocar junto, em que mostra-mos o grau de contaminação de cada uma dessas praças ou desses estadoscom a venda dos produtos ilegais. Aí está inclusive a fonte de evasão fiscal ea fonte de perda não só para o Estado, como para a sociedade dessesestados aos quais estamos nos referindo.

Outra coisa que é bastante preocupante: a comercialização dessesprodutos ilegais nos chamados varejos tradicionais. No passado, a pessoa

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que vendia o produto ilegal era um comerciante especializado que somentelidava com produtos ilegais. Infelizmente, essa realidade não é mais verdadei-ra. Hoje, temos cerca de 50% dos varejos que vendiam tradicionalmente sóprodutos legais que já têm entre seus estoques os produtos ilegais. É umatendência extremamente preocupante na medida em que é uma contaminação

Mercado IlegalMercado IlegalConcentração Concentração de Volume por de Volume por EstadoEstado

Sao PauloMinas Gera isParaBahiaRio Grande do SulRio de Jane iroGoiasSanta C ata rinaParanaMaranhao 3,0%

5,6%

26,0%11,2%9,6%8,1%

3,2%

C oncentração

Áreas de Maior C oncentração

5,6%4,2%3,9%

9 Estados representam aproximadamente80% do volume do Mercado Ilegal

1º Sem. 01

Fonte: Nielsen / IDS

Quadro 9

Com ercialização Com ercialização de de Produtos IlegaisProdutos Ilegaisem em Varejos TradicionaisVarejos Tradicionais

50,8%49,2%

Informal+Formal Formal

Fonte: Nielsen

Pelo menos uma marca do mercado Ilegal é comercializada emaproximadamente 50% dos varejos tradicionais.

N úm ero de V are jo s

Informal+F orm al 210.085Fo rm al 216.862To tal 426.946

Quadro 10

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importante gerada pela atratividade das margens que tem o comércio ilegalvis-à-vis às margens oferecidas pelo comércio legal.

Agora tem aparecido um outro fenômeno muito curioso também queé o contrário, ou seja, aquelas pessoas que vendiam tipicamente cigarros decontrabando começam também a oferecer cigarros que são vendidos comevasão fiscal. Parece que a mão ficou um tanto invertida, mas temos um poucode tudo, e essa situação é bastante preocupante.

Outra coisa curiosa que existe com relação a esses produtos: de queprodutos estamos falando? Que produtos são esses que chegam às nossasruas? Fizemos aqui um resumo interessante, mostrando que o mercado legalde cigarros, as empresas que vendem os seus produtos pagando os impostose cumprindo as suas obrigações, compreende 54 marcas, enquanto o merca-do ilegal oferece 366 marcas aos consumidores, totalizando 420 marcas. Por-tanto 87% das marcas facilmente disponíveis para os consumidores brasileirosoriginam-se desse comércio ilegal.

Aqui há uma curiosidade, mais para os brasileiros. Resolvi criaruma grande dificuldade para o pessoal da tradução simultânea. Quero vê-los traduzir o que é “tiazinha” para o pessoal do auditório, mas para osbrasileiros a piada está bem entendida. Para vocês verem a inconsistênciadas marcas que aparecem nesse mercado, de um lado temos o “Roro”, queé até mais fácil de entender para os estrangeiros, porque é a camisa daseleção brasileira que, num determinado momento, tinha duas estrelas, umachamada Ronaldo e outra chamada Romário. Hoje estamos com muito maisdificuldade nesse terreno, mas aí está a marca que assim é vendida, e há a“tiazinha” que deixo para os tradutores simultâneos tentarem explicar paraos nossos convidados estrangeiros.

Com relação a valor, de que estamos falando? Estamos falando deum valor, em dinheiro, de um mercado total no Brasil, de R$8,5 bilhões. Esseé o tamanho do dispêndio dos consumidores brasileiros com os cigarros. Obrasileiro gasta R$8,5 bilhões por ano com cigarros, dos quais, R$6,6 nomercado legal, e o mercado ilegal movimenta R$1,9 bilhão. Esse é o tamanhoda economia do mercado ilegal. Movimenta esse mercado R$1,9 bilhão, que,

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acredito, seria uma adição extremamente bem-vinda a qualquer orçamento dequalquer pasta ministerial brasileira.

Só para dar uma idéia do comparativo de margens. Por que, afinal,esse comércio se cria, por que ele se multiplica? Assumimos, na primeira linha,toda a equação econômica e financeira dessas três possibilidades decomercialização de cigarros: uma por contrabando, outra por evasão fiscal,outra a chamada venda legal de cigarros. Assumimos aí três preços de fabri-cantes, ou seja, quanto custa uma carteira de cigarros quando sai da fábrica.Estamos falando em trinta centavos no contrabando, 35 centavos na eva-são fiscal, e 25 centavos no mercado legal, que é mais estruturado, maiseficiente. Estamos mostrando, em seguida, as margens que ficam para cadauma dessas cadeias de suprimento, assumindo que o mercado legal pagaos seus impostos, que é a linha tributos que só aparece no mercado legal,com 83 centavos. Portanto, no preço pago ao varejista temos ali 64 cen-tavos no contrabando, 70 na evasão fiscal, e R$1,21 no mercado legal,demonstrando que, enquanto os fabricantes legais dispõem de 13 centa-vos desde que o cigarro sai da sua fábrica até que seja entregue aos seusconsumidores para pagar todos os seus custos e remunerar os seus acio-nistas, o cigarro ilegal, mesmo sendo vendido a preços baixos no Brasil,deixa uma margem entre o dobro e o triplo daquela praticada no mercadolegal, daí o atrativo para os grandes volumes, as grandes movimentações etoda essa logística aí envolvida.

Enquanto o preço médio do mercado legal hoje, no Brasil, é de R$1,31,ele é de R$0,74 no mercado ilegal, o que significa um deságio de cerca de 43%entre os preços médios de um mercado e de outro. Porém, mesmo em relaçãoà marca de menor preço comercializada no mercado legal, há um deságio de26%. Esse mercado depende de um deságio. Ele oferece ao consumidor umproduto razoável por um preço extremamente mais baixo (Quadro 12).

Só para mostrar qual tem sido a evolução do preço médio, dado queesse pessoal cresceu em capacidade, que se estruturou e hoje tem realmenteuma dinâmica empresarial, é muito claro que eles têm capacidade de oferecerprogressivamente preços mais baixos, mas deve-se levar em consideração a

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grande concorrência existente, porque no mercado ilegal hoje existe uma quan-tidade surpreendente de agentes, até um pouco excessiva para a dimensãoque eles podem atingir.

Vou voltar a citar aqui a posição da Dra. Tânia com relação aos cigar-ros e saúde pública, e também a do Dr. Christopher Proctor, em que fazem umaobservação muito forte, porque esses cigarros do mercado ilegal não sofrem qual-quer tipo de controle, potencializando os riscos associados ao seu consumo etc.

O Brasil começa a ter uma legislação, uma regulamentação que faz comque a qualidade do seu produto seja progressivamente mais escrutinada e tudo omais. Acontece que um terço do nosso mercado navega solenemente à margemdesse tipo de coisa. Então fizemos uma análise curiosa de 45 marcas comercializadasnesse mercado ilegal (Quadro 13) e vimos que, em 27 delas, 60% da amostra,não são informados os teores na embalagem; das 18 que informam, somente qua-tro estavam corretas, portanto podem colocar qualquer coisa porque ninguém vaichecar, em princípio; 11 marcas possuem na sua composição agentes de sabor deuso proibido: resíduos de inseticidas organoclorados não permitidos, pesticidasagrícolas etc., mais do que isso e mais curioso, a quantidade de corpos estranhosdisponíveis nessas marcas do mercado ilegal. Coisas simpáticas como, por exem-plo: grão de areia, barbante, fio de algodão, capim, semente de erva, plástico,

• O preço médio praticado pela ilegalidade apresenta deságio de 26% quando comparadocom o menor preço praticado pela Indústria Legal (Categoria I - R$1,00).

• Em relação ao preço médio do mercado legal (R$ 1,30/20´s) o deságio é ainda maior,atingindo 43,5%.

0,74

1,31

M e rc a d o L e g a l M e rc a d o I le g a l

Pre

ço M

édio

do

Maç

o(e

m R

$)

Com parativo Com parativo de de PreçoPreçoLegal x Legal x IlegalIlegal

(US$ 0,52)

(US$ 0,30)

Fonte: IDS / Nielsen

Quadro 12

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inseto, mofo, limalha de ferro, fio de cabelo, penas de aves e outras coisas que nãotemos coragem de descrever. Realmente, essas são as coisas detectadas nessaanálise, mas também vimos que as contagens microbiológicas excedem de longetudo aquilo que são padrões mínimos aceitáveis.

Círculo Vicioso da IlegalidadeCírculo Vicioso da Ilegalidade

A história da indústria cigarreira apresenta exemplos que aumentos da cargatributária que visavam aumentar arrecadação tiveram efeitos adversos. O mercadoilegal aproveita essas “oportunidades” para se expandir e, mesmo após a reversão

dos impostos, parte da população continua “cliente da Ilegalidade”.

Necessidade deAumentar aArrecadação

Aumento daCargaTributária

Aumento dePreço MercadoLegal

Aumentode VendaMercadoIlegal

Perda deArrecadação

Perda de Vendano MercadoLegal

A solução para o problema daarrecadação está no COMBATE AILEGALIDADE, via repressão aoscanais de comercialização ilegaise viabilização de produtos apreços competitivos.

Quadro 13

Temos uma quantidade importante de atos regulatórios sobre aindústria, todos explicados aqui pela Dra. Tânia, mas a indústria legalneste país está sujeita a análises e registros onerosos. Ela teve posterior-mente o banimento da publicidade, e agora a regulamentação sobre a limi-tação progressiva de teores de alcatrão e nicotina, além de cláusulas deadvertências fotográficas.

Entendemos as motivações do Governo e poderíamos ter posiçõesdivergentes que deveriam ser naturalmente debatidas, mas consideramos queGoverno e indústria têm que unir forças neste momento para que esse tipo deregulamentação colocada no ar não traga benefícios adicionais ou vantagenscompetitivas para o produto do mercado ilegal, mas, sim, que haja um traba-lho a quatro mãos para que daí resulte uma capacidade maior para atacaresses produtos informais indesejáveis ao nosso mercado. Esta é a nossa posi-ção com relação à questão dos atos regulatórios.

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Agora estamos chegando ao final, quando analisamos realmente aquestão do círculo vicioso dessa ilegalidade, o que vem acontecendo. Entãopodemos começar ali por cima, dizendo que o aumento de carga tributáriainduz a aumentos de preço no mercado legal, que paga tributos, por conse-qüência, aumento de vendas de produtos no mercado ilegal, fazendo comque haja uma perda de vendas em decorrência do aumento do mercadoilegal, perda de arrecadação, necessidade de aumentar a arrecadação, au-mento da carga tributária. Entramos num círculo vicioso importante, por isso,para nós, é gratificante estarmos hoje aqui, inclusive com autoridades gover-namentais, para que coisas dessa natureza sejam percebidas e entendidas,porque fazem parte de uma situação que requer, de nossa parte, uma açãoconjunta e solução a quatro mãos.

Evidentemente, são duas as dimensões de combate à ilegalidade:certamente a questão dos canais de comercialização ilegal, apesar das suasdificuldades; e de alguma forma ter a capacidade econômica de competircom esses mercados, com preços competitivos. Toda a teoria e toda aprática existentes no mundo com relação a experiências bem sucedidasde combate aos problemas dessa natureza passam pelas duas dimensões:uma ação forte de repressão numa ponta, e a necessidade de haver a equa-ção econômica, a viabilidade econômica de se colocarem produtos com-petitivos, porque, uma vez debelado o problema, ele pode tender a, real-mente, não retornar.

Basicamente são essas as considerações que tínhamos a fazer. Agra-deço e estarei ali, com os meus colegas, à disposição para as perguntas. Muitoobrigado.

Luiz Fernando Lorenzi – Agradeço ao Dr. Milton pela sua pales-tra. Vou me abster de fazer comentários em função do tempo, porque estamosum pouco atrasados.

Gostaria de convidar agora o segundo palestrante, Dr. PatricioRuedas, do Canadá. Dr. Patricio é formado em advocacia pela Universida-de de Madri, é Presidente da Alliance Against Contraband, que é uma ONGinternacional, aposentou-se nas Nações Unidas, em 1987, como Subsecre-

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tário da Administração e Gerência. Em quase trinta anos de carreira nasNações Unidas, ocupou, entre outros, os cargos de Controller, Secretáriodo Quinto Comitê da Assembléia Geral, além de ter servido em Nova Iorque,Genebra, Bangcoc e Kinshasa. Desde 1987 tem prestado assessoria emuma série de assuntos organizacionais e financeiros das Nações Unidas, comoo Programa Mundial de Alimentação, a Convenção Estrutural sobre Mu-danças Climáticas e a convenção para combater a desertificação. Em 1999,foi designado membro de um grupo de especialistas responsáveis pela revi-são do funcionamento dos tribunais internacionais na área criminal. Repre-sentou também a Espanha em tribunais internacionais.

Com a palavra o Dr. Patricio.Patricio Ruedas – Muito obrigado, Sr. Presidente. Gostaria de agra-

decer à Esaf por nos dar a oportunidade de participar neste Seminário tãosignificativo.

Eu vou fazer uma breve introdução ao problema e depois, meucolega, Mario Possamai irá prosseguir e explicará de que forma o crimeorganizado está lucrando com o contrabando de cigarros e também de vári-os outros produtos.

Os três pontos que gostaria de mencionar em minha introdução so-bre o problema são:

Primeiro, o escopo do problema; segundo, a força motriz do contra-bando, o que motiva o contrabando; e o terceiro, como podemos nos organizar.

Relativamente ao escopo do problema, acho que não há dúvida deque uma das questões significativas que estamos enfrentando nesses primeirosanos do século XXI é a de combater o crescimento do crime organizado e oimpacto que o mesmo vem exercendo sobre produtos e negócios legais. Ve-mos como o crime organizado, ao redor do mundo, tem, cada vez mais, comoalvo, setores legítimos da sociedade. A ênfase desta reunião é sobre os cigar-ros, mas temos também muitos outros produtos que são alvos. Por exemplo,gravações de músicas da indústria fonográfica, softwares, bebidas alcoólicas,peças de automóveis, aves raras, que são contrabandeados, falsificados,pirateados. Por meio dessas atividades ou pela combinação delas, o crime

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organizado está arrecadando fundos e exercendo uma influência deletéria nosgovernos dos próprios países.

Algumas cifras para delinear o que estamos falando. Estima-seque a falsificação de produtos atinja duzentos bilhões de dólares america-nos por ano. A Câmara Internacional de Comércio calcula que esse valorseja equivalente a oito por cento do comércio mundial. É realmente umacifra impressionante.

Estima-se que o contrabando no mercado do tabaco, no mundointeiro, custe aos tesouros dos governos cerca de 16 bilhões de dólarespor ano. O comércio por contrabando de veículos roubados é estimadoem até 15 bilhões. Nas reproduções fonográficas, uma em cada três gra-vações supõe-se ser pirata. Quanto aos cigarros, enquanto o comérciolegal de cigarros e produtos derivados do tabaco está florescendo, o gran-de número de cigarros e a complexidade da distribuição internacional fa-zem com que os sofisticados comerciantes ilegais obtenham e desviem osprodutos para o mercado clandestino. A falsificação e a fabricação deprodutos grosseiros encontram seu mercado para comercialização em todoo mundo. Os produtos, atualmente, podem ser facilmente despachados,com custo barato, através de longas distâncias. E as conseqüências estãosendo visíveis. O comércio ilegal de cigarros é relativamente leve se com-parado ao comércio de outras mercadorias e substâncias, como, por exem-plo, as drogas ou armas. E os lucros são enormes. É fácil imaginar, emtermos de prioridade e em termos estritamente econômicos, por que ocontrabando de cigarros atingiu as proporções atuais.

O segundo ponto que gostaria de mencionar é sobre a força motrizque motiva o contrabando. E nós deveremos ver mais isso nos próximos dias,mas é essencial mencionar que as atividades de contrabando são motivadas pelademanda. Sempre que houver demanda suficiente para o contrabando, seja decigarros, álcool, roupas de grifes ou softwares piratas, e onde quer que hajalucro suficiente para fornecer esses produtos, o crime organizado estará presen-te no mercado. Os grupos do crime organizado têm infra-estrutura, especialis-tas, capacidade financeira, rede necessária e capacidade para suprir a demanda

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por meio do contrabando. Um outro ponto na questão do comércio ilegal decigarros e de outros produtos é que o lucro na venda de cigarros contrabandeadosrepresenta perda em termos de arrecadação para a economia legítima, e o se-nhor Cabral acaba de nos demonstrar cifras de peso com relação à situação noBrasil. Porém a verdade está além dessa questão imediata de perda ou de lucro.As perdas de arrecadação de governos e de companhias não refletem os conse-qüentes custos negativos para a sociedade. O contrabando, a falsificação, apirataria promovem o crescimento do crime organizado e a corrupção, minandoa moralidade pública. Em resumo, eles têm uma influência negativa significativano próprio padrão de governo dos países onde o contrabando floresce.

Finalmente, como nos organizarmos? Eu gostaria de, pela primeiravez, mencionar, neste encontro, que o crescimento do contrabando e o fortale-cimento dos grupos do crime organizado irão exigir parcerias entre os setoresprivados e públicos. E o que isso significa? É uma equação e tanto. Porque asautoridades legais precisam estar equipadas com os necessários recursos técni-cos, financeiros e humanos. Os governos devem assegurar que as práticas deimpostos, legais e reguladoras, não promovam, inadvertidamente ou não, o co-mércio por meio do contrabando. O setor privado deve ser parte integrante dasolução, parte essencial, apoiando o cumprimento das leis e desenvolvendo po-líticas e programas para tentar assegurar que os produtos ou limitações sobreseus produtos não sejam atraentes para o contrabando.

E finalmente, o público precisa entender claramente as verdadeirasconseqüências da participação consensual no comércio pelo contrabando,como, novamente, o senhor Cabral nos falou, sobre o formiguinha e o querealmente há por trás disso.

Essa é a introdução para a nossa apresentação e, Senhor Presiden-te, eu gostaria de passar a palavra para o senhor Possamai, que irá nos expli-car, com mais detalhes, como as atividades de contrabando se tornaram umaprincipal fonte de lucros para o crime organizado. Obrigado.

Mário Possamai – Muito obrigado, Patricio. Gostaria de expressara minha satisfação em estar aqui e por fazer parte deste qualificado fórum, queexamina uma questão tão desafiadora e que está ocorrendo em tantos países.

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O que iremos ver agora é a dinâmica da atividade de contrabando.Vemos a atividade de contrabando e do crime organizado da perspectiva eco-nômica, e também da perspectiva de um criminólogo olhando para uma ativi-dade do crime organizado.

Se olharmos para trás, o contrabando não é algo novo, ele existe hámuito tempo. Um dos oradores falou sobre a década de 1920 e “a lei seca“.Naquele período havia uma rede de crime organizado de muito êxito que for-necia bebidas alcoólicas na América, numa época em que elas eram banidasnos Estados Unidos.

Depois da segunda guerra mundial, eu me lembro de meu pai falandosobre a Itália, sobre o suprimento no mercado negro, pois o mercado legalnão conseguia suprir porque estava desestruturado e escasso, e o mercadonegro assumiu a atividade na Itália.

E quando olhamos a história do crime organizado, os principais gru-pos organizados, a Cosa Nostra, na Sicília, a Camorra, na Calábria, e outroscomeçaram com o contrabando de cigarros. O contrabando de cigarros foi amaneira inicial de organização e a ligação com outros grupos para aprender oramo de contrabando. Mais tarde, quando abriram para outros ramos de ati-vidades, usaram alguns dos contatos e a forma de desenvolvimento, mas ocontrabando de produtos ilegais criou a base, se quiserem, para outras ativi-dades mais sérias, e também o alicerce para uma atividade de crime organiza-do bastante estabelecida, persistente e perigosa.

Hoje vemos que o contrabando de cigarros continua na Itália, mas épeculiar, está muito modificado. Há muitos cigarros que vêm dos Bálcãs, oque tem criado problemas nos últimos anos. E a Itália também se tornou umaporta de entrada para os cigarros na Europa, para chegarem ao mercado maisfavorável que é o da Inglaterra. O fenômeno é que o mercado da Inglaterra, sevocê faz contrabando, é muito lucrativo, há tanto dinheiro para se ganhar lá,que ele age como uma espécie de ímã para os contrabandistas de outras par-tes da Europa que estão dispostos a gerar esse lucro.

Até meados da década de 90 não havia muito contrabando na Ingla-terra. As pessoas atravessavam o canal para a França ou para a Bélgica para

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comprar pequenas quantidades. E lembro que alguém uma vez disse numaapresentação: não sei se o contrabando irá acontecer na Inglaterra, porque éuma ilha e a alfândega inglesa é muito boa. Considerando que eles conseguiri-am manter um certo controle.

Na verdade o contrabando de cigarros, conforme dissemos anteri-ormente, realmente explodiu e as margens de lucro são realmente inacreditáveis.Em 1992, por exemplo, um maço de cigarros custava pouco mais de duaslibras das quais uma libra e cinqüenta e cinco centavos eram impostos. E nofinal do ano passado um maço custava quatro libras, dos quais mais de trêslibras eram de impostos. É uma margem de lucro imensa. Como resultado, omercado se desenvolveu. E, como conseqüência, a Inglaterra se tornou umímã para os outros distribuidores de cigarros. Houve uma grande apreensãona alfândega alemã no mês passado, foram apreendidos vinte milhões de ci-garros que vinham da Hungria em direção à Inglaterra. Estavam escondidosem pacotes ilegais.

E o mercado está se desenvolvendo, como mostra um recente relató-rio feito pela Agência de Serviços de Criminologia inglesa. O que eles descobri-ram é que os cigarros estão sendo falsificados na Inglaterra. Descobriram umagrande fábrica de falsificação na própria Inglaterra, e isso parecia inacreditável,pois eles achavam que os cigarros vinham de fora, o que demonstra que o mer-cado está em ebulição e que há diferentes fontes de fornecimento.

Eu gostaria de tocar um pouco na dinâmica dos mercados de con-trabando e como as diferentes formas de atividades funcionam.

Vou usar uma análise que foi feita para as Nações Unidas pelo grupode prevenção de controle de drogas a respeito disso. Ela fala a respeito dosdiferentes estágios de atividades criminais, com um grupo internacional do crimeorganizado que obtém uma grande quantidade de mercadorias para contraban-do. Essas mercadorias podem ser cigarros, cigarros falsificados, cigarros semimpostos, podem ser compact disks – CD, podem ser ambos combinados. Oscriminosos os pagarão, os movimentarão para um mercado e os venderão, eessa atividade talvez possa ser financiada pelo tráfico de drogas, uma das ativi-dades de maior risco para eles, então eles podem contrabalançar o risco menor

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com o contrabando, o risco maior com as drogas. Eles obtêm essas mercadori-as para contrabando e as vendem para grupos locais de crime organizado quecontrolam uma área geográfica determinada. Talvez uma cidade, um bairro dacidade. E então esse grupo de criminosos locais distribui a mercadoria ilegal, quepode ser cigarro, pode ser CD, pode ser álcool, por intermédio de sua própriarede de vendedores, de distribuidores. O Cabral nos falou sobre a penetraçãona rede de vendedores que agora estão distribuindo produtos falsificados, eestes são distribuidores que trabalham numa determinada área, que talvez este-jam sendo extorquidos por grupos concorrentes, e têm que fazer o pagamentoda extorsão. E talvez sejam forçados a aceitar certos produtos de contrabando.Então segue do internacional, para o nacional, para o grupo local. E esses gru-pos do crime menores trazem dinheiro não só pela extorsão, mas também ven-dendo os produtos, e podem realizar seus lucros e investir, eles mesmos, emoutras atividades novas ilegais, o que cria um círculo vicioso terrível que geramais de uma atividade criminosa.

Para os mercados de contrabando, de qualquer produto que seja,aqui estamos vendo o fumo, mas também se aplica à música, ao software, amercadorias de marcas, há realmente uma situação global. Eu vou dar algunsexemplos que retirei da mídia recente. A polícia na Itália descobriu uma opera-ção interessante que envolvia um número de senhores que viviam naquele país eque estavam contrabandeando centenas de toneladas de cigarros da China paraa Itália, e para outros mercados na Europa. Com relação à falsificação, para aInglaterra, o produto falsificado era trazido com as marcas no produto, o quetornava o produto mais vulnerável. Agora eles trazem os produtos do orientesem as marcas. Trazem para a Inglaterra, e aí eles colocam as etiquetas de mar-cas. Então estão se desenvolvendo para atender às exigências do mercado.

E temos ligações entre o terrorismo e o contrabando de cigarros. NaCroácia, por exemplo, houve um caso onde o IRA tentava comprar armasusando os lucros do contrabando de cigarros.

Quando somamos a quantidade de dinheiro obtida com o contra-bando de cigarros, em todo o mundo, e com outras atividades de contraban-do, ela é realmente impressionante. Há uma estimativa da Metropol de que a

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receita do contrabando de cigarros no mundo seria de 16 bilhões de dólaresamericanos por ano. Somente na Europa, companhias de roupas e de calça-dos perdem sete bilhões de dólares por ano devido a falsificações. Um estudointernacional do valor da perda em falsificações de produtos de marcasregistradas estima perdas de duzentos bilhões de dólares por ano. E continua,prosseguindo para vários produtos.

É uma perda de receita tributária, e é motivo para preocupação,porém também é importante vermos que é uma transferência de riqueza daeconomia legal para a ilegal. É uma transferência de poder da economia legalpara a ilegal, que é usada para promover o crime organizado, a corrupção epara minar os valores que criam a prosperidade da economia.

Quando eu era criança, e ia à Itália, havia os vendedores de cigarrosna rua, o mercado de contrabando não parecia ser um grande problema. Nãoparecia ter tantas conseqüências negativas, mas agora sabemos que esses ven-dedores de rua nas cidades, como Nápoles, na Itália, ou os ambulantes quevendem contrabando aqui no Brasil, são na verdade uma ponta do iceberg,como o Dr. Cabral disse. Eles são a ponta visível de várias atividades sofisti-cadas do crime organizado que têm inúmeras conseqüências negativas para asnações que são vítimas delas, tais como redução de receita, transferência deriqueza para os setores ilícitos, promoção do crime. E também promove odesrespeito à lei por parte das pessoas. No Canadá, eu me lembro que nosanos 90, quando houve um grande aumento de impostos, diziam que as pes-soas perderam o respeito pela lei e pelo pagamento de impostos, e isso temum impacto a longo prazo bastante negativo para a questão.

E então, concluindo, eu acho que as atividades de contrabando, na ver-dade, são motivadas pela oferta e pela procura. E enquanto houver a demanda, aatividade irá crescer para fazer face à demanda e suprir o mercado. Obrigado.

Luiz Fernando Lorenzi – Gostaria de agradecer ao Dr. MárioPossamai pela sua palestra. Vou, inclusive, fazer a apresentação do Dr. Mário,o que não fiz antes para não prejudicar sua exposição. Dr. Mário é membro daAlliance Against Contraband, ex-Investigador Sênior de uma empresa de con-tabilidade internacional, autoridade em atividades de economia subterrânea, já

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comandou vários projetos de pesquisa e investigação sobre contrabando e cri-me organizado em vários países, ex-jornalista investigativo, autor do livro Di-nheiro Correndo o Canadá e Como São Lavados os Lucros Sujos no Mundo,obra amplamente reconhecida, que trata da “lavagem” de dinheiro.

Vou abrir os debates. Pediria aos senhores que as perguntas fossem,na medida do possível, as mais diretas e que informassem o seu endereçoeletrônico. Na eventualidade de não conseguirmos respondê-las todas, fare-mos isso por e-mail.

A primeira questão que tenho aqui é dirigida ao Dr. Milton Cabral: “Nasua palestra, o senhor mencionou que a capacidade de produção do mercadoilegal é de aproximadamente setenta bilhões nos países limítrofes e 27 bilhões decigarros no que o senhor denominou de Brasil ilegal. Pergunto: em relação a essemercado ilegal, a produção de cigarros viria de fábricas legais ou os fabricantessão ilegais? Como foi feita, qual é a metodologia utilizada na aferição desse quan-titativo e os critérios utilizados para a mensuração de Brasil ilegal?”

Milton de Carvalho Cabral – Na realidade, o divisor de águasque está sendo colocado é o pagamento de impostos. Essa é a visão que nósutilizamos. Independente da fonte, se o cigarro é produzido do outro lado dafronteira ou dentro do País, quando ele é produzido com claras evidências denão-pagamento de tributos, é considerado igualmente parte desse mercadoilegal. Quer dizer, o único critério que foi adotado aqui foi a evidência clara dasempresas que recolhem os seus impostos, portanto tratadas como mercadolegal, vis-à-vis àquelas que claramente não recolhem, somando-se ao quepercebemos que entra no País como contrabando.

Luiz Fernando Lorenzi – Uma pergunta dirigida ao Dr. MárioPossamai: “Quais são as experiências que o senhor poderia citar com relaçãoà utilização de tecnologia nas aduanas a fim de contribuir com o lawenforcement que o senhor citou?”

Mário Possamai – Eu penso que, certamente, um dos progressosdo conhecimento, nos últimos anos, foi o considerável aumento na sofisticaçãoe no entendimento de como melhor definir e encarar as atividades de contra-bando. Uma das áreas que prosperou, em muitos países, foi a capacidade de

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melhorar as auditorias e as inspeções; de ir ao varejista, ou a um negociantesuspeito de estar envolvido em atividades de contrabando ou atividades decontrafação, e, efetivamente, examinar o negócio e ver a coerência dos regis-tros. Creio que essa atividade independente de auditoria é muito importante,porque ela nos dá a medida real do que está sendo declarado. E o resultado,nos países que fazem isso, é que se acaba por descobrir que os negociantesenvolvidos na falsificação de cigarros também sonegam impostos sobre a ren-da, sobre o valor agregado, e vai daí por diante. Por isso, a fiscalização traztodo o tipo de vantagem.

Outra área que eu acho muito importante refere-se ao aumento navisibilidade dos selos nas marcas de cigarros mostrando que eles são legais.Eu sei que, nos Estados Unidos, a rotulagem tem sido uma maneira muito útilde detectar atividades ilegais e também de permitir que os consumidores dis-tingam o produto legal do ilegal.

Luiz Fernando Lorenzi – Uma outra questão para o Dr. Milton:“As empresas de cigarros legalmente estabelecidas no Brasil têm se benefici-ado na exportação para países do Mercosul, especificamente para o Paraguai?Em caso positivo, o senhor pensa que há como controlar a produção in naturade fumo no Brasil destinado ao Paraguai?”

Milton de Carvalho Cabral – Na realidade, desde janeiro de 1999,a exportação legal de produtos brasileiros destinados a países limítrofes cessoupor inteiro, possivelmente com pequeníssimas exceções de poucos volumes,porque os registros são muito pequenos. Existem hoje algumas indicações, pelomenos se têm informações de que começam a haver exportações de algumaspequenas empresas brasileiras em direção a países limítrofes de forma ilegal, soba forma de contrabando. Essa é uma outra informação de que já se ouviu falar.

Com relação a como utilizar, por exemplo, a questão dos insumospara, pelo menos, dificultar a essas fábricas que claramente se destinam a colo-car produtos no mercado brasileiro que se beneficiem da disponibilidade deinsumos baratos e de boa qualidade no parque brasileiro, acho que as medidasque foram tomadas principalmente pela própria Receita Federal são corajosas,medidas que procuram de alguma forma aumentar a dificuldade de obtenção

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desses insumos, pelo menos encarecendo-os para o outro lado da fronteira.Obviamente esse comércio tem uma flexibilidade muito grande, esse parqueprodutivo também é muito ágil e, de uma forma ou de outra, eles conseguemcontinuar produzindo, mas o fato é que o Brasil optou por esse caminho doimposto de exportação não só para cigarros, como também para componentes,de forma a, no mínimo, criar dificuldades de custo para o outro lado da fronteira,o que, volto a dizer, não resolve o problema por inteiro, mas também não hánenhuma boa razão para que o País crie facilidades para quem visivelmente estáproduzindo com a intenção de gerar um problema para nós, do lado de cá.

Luiz Fernando Lorenzi – Dr. Mário Possamai, a pergunta é sobrese o senhor poderia narrar alguma experiência no mundo de forma a configu-rar o delito de “lavagem” de dinheiro associado ao comércio ilegal de cigarros.

Mário Possamai – Com certeza a “lavagem” de dinheiro é usadanesse caso, e o exemplo clássico que me ocorre é o do Leste Europeu. Euestava na Romênia, em um projeto, e o cigarro, lá, era um meio de troca. E sealguém quisesse pagar uma propina, usaria o cigarro como moeda. Os cigarroseram tão valiosos que estavam sendo usados como dinheiro. Eu acho que isso éum exemplo clássico. Mas eu penso que qualquer mercadoria pode ser usadacomo um instrumento de “lavagem” de dinheiro, porque ela tem valor, pode sertransferida, e o comprador sabe o que ela representa. Por exemplo, há umagrande rede de “lavagem” de dinheiro entre os EUA e a Colômbia, envolvendodiversos tipos de produtos, como bebidas, lavadoras de roupa, o que quer queseja. E os bens são exportados para os EUA e importados pela Colômbia, eentram no mercado de contrabando.Pode ser qualquer tipo de produto, nasmais diversas situações. Não é o produto em si que importa, mas, sim, quenecessitamos descobrir a maneira como ele se presta à “lavagem” do dinheiro.

Luiz Fernando Lorenzi – Dr. Milton Cabral, uma pergunta sobrese o senhor tem conhecimento do volume de cigarros legalmente produzidosno Brasil, destinados à comercialização duty free, e se a circulação dessescigarros no mercado estaria favorecendo o problema do contrabando.

Milton de Carvalho Cabral – Na realidade, aquele número quemencionamos, da ordem de 46 a 47 bilhões, somava todos os produtos que

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são comercializados ilegalmente no Brasil. É a melhor estimativa disponível emrelação a esse negócio.

É claro que, no momento em que o negócio de contrabando, o ne-gócio de venda ilegal de cigarros, mais do que contrabando, tornou-se extre-mamente atrativo, também existe a percepção de muitas associações entreempresas estabelecidas no Brasil e no Paraguai. É muito claro que algumasdessas empresas no Paraguai têm sócios brasileiros ligados às mesmas em-presas que operam dentro do Brasil, portanto, no fundo, estamos falando deum negócio só: a venda de cigarros de forma ilegal, baseada na evasão detributos, o que proporciona a essa turma uma margem considerável. Hoje ébastante difícil detectar, quando há uma apreensão, por exemplo, de determi-nada partida importante de cigarros, a sua produção original, porque há, en-volvido nesse cigarro, todo tipo de delitos. Muitas vezes é um cigarro com oselo nacional falsificado, com o selo de exportação que não corresponde anenhum desenho que realmente deveria estar ali. De fato, é aquela questão deque a fonte produtora não é finalmente a mais importante do comércio; a gran-de fonte relevante está na distribuição. Na medida em que os canais de distri-buição estão bem estruturados, dominam os negócios, existem as melhoresmargens, eles vão atrás das fontes de produção que buscam flexibilidade, queaceitam produzir por fora e por dentro, criando uma grande geléia geral.

Luiz Fernando Lorenzi – Há uma pergunta aqui dirigida ao Dr.Mário Possamai e também ao Dr. Milton Cabral: se a saída para o combate aocontrabando seria a proibição da importação ou mecanismos de taxação paraa importação legal, em especial considerando que o mercado de trabalho docomércio responde por grande parte dos empregos do setor.

Milton de Carvalho Cabral – A nossa visão, neste momento, jáque estamos falando e ouvindo as palestras dos nossos colegas da AllianceAgainst Contraband de que isso é um fenômeno global e certamente temosum nicho considerável desse fenômeno no âmbito do Mercosul, é que, paraque se possa fazer alguma coisa realmente eficaz, certamente os quatro pa-íses do Mercosul, principalmente aqueles que são os perdedores com ocomércio ilegal, têm que estar associados, de maneira que os mecanismos

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que, na nossa visão, devem passar por controle de consumo e de produção,deveriam ser introduzidos por meio de legislações comuns, propostas noâmbito do Mercosul, posteriormente aceitas pelos demais países, de manei-ra que se pudesse buscar, de alguma forma, a incriminação maior das pesso-as jurídicas etc. que claramente se estabelecem com o objetivo de lesar ofisco, principalmente o brasileiro.

Mário Possamai – O que eu acho muito instigante, aqui, é ver, emdiferentes lugares do mundo, a forma como os interessados se associam paraencontrar soluções.

Pela nossa experiência, achamos que um ponto chave é a capacida-de de trabalhar em conjunto com todos os interessados, tanto do setor priva-do como do público, para encontrar a combinação apropriada de soluções ediscutir um pouco sobre o problema da oferta e demanda. Do lado da oferta,você pode aumentar o custo de pertencer ao crime organizado. Do lado dademanda, você pode diminuir a demanda desses bens supérfluos.

E, todo ano, cada país da região deve tentar trabalhar junto comtodos os setores envolvidos, privados e públicos, em diferentes países, paraencontrar a maneira de equilibrar os diferentes interesses. É esse o projeto queeu acredito que esteja nascendo aqui.

Luiz Fernando Lorenzi – Dr. Milton, o senhor tem conhecimentose alguma ONG ou a própria Abifumo está envolvida em algum projetocomum com governos estaduais e federal no combate à fraude? Se não exis-te, haveria interesse?

Milton de Carvalho Cabral – Na prática, parece um caminho desolução possível a sua condução por via desse tipo de organização não-go-vernamental. Não temos referência de que exista alguma que efetivamenteesteja atuando nesse campo, mas pode ser um instrumento auxiliar importantenesse processo de colocação da questão junto a autoridades, facilitando de-terminadas soluções potenciais.

Uma coisa fundamental que foi colocada aqui realmente é essa coalisãoou essa junção de esforços de todas as entidades no Brasil que, de uma formaou de outra, são penalizadas por esse tipo de comércio ilegal. Essa evasão

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fiscal monstruosa que tem sido estimada – são sempre números estimadosentre R$1,2 e R$1,4 bilhão de reais –, afinal, compete a todos os fiscos bra-sileiros, sejam estaduais, municipais, federal etc. Aliás, um subproduto quetemos grande esperança de que venha a ocorrer a partir desta reunião é quetodas as entidades aqui representadas, inclusive o Poder Judiciário, estados eUnião possam juntar esforços, para que saiamos daqui com a resultante emforma de um programa pelo menos tentativo no sentido de darmos um passoefetivo, onde pode caber perfeitamente a posição de uma organização não-governamental.

Luiz Fernando Lorenzi – Dr. Mário Possamai, recentemente a UniãoEuropéia, juntamente com mais dez países da Europa, entrou com uma açãocontra a Phillip Morris sob a acusação de que essa companhia internacionalsuperabastecia países do Leste Europeu visando suprir o mercado ilegal. Qual éa sua opinião e a da Alliance Against Contraband com relação a essa ação?

Joseph Clark – A Alliance Against Contraband, da qual eu sou odiretor-executivo, foi formada aproximadamente há um ano. Trabalhamos comum razoável número de companhias e de organizações, inclusive fábricas decigarros. Porém, não temos o background, nem a experiência, nem existía-mos na época, para podermos comentar sobre práticas passadas. No entantoacreditamos, tendo trabalhado e tendo fornecido consultoria para a SouzaCruz e outras companhias, de cigarros ou em geral, que essas companhiasestão bastante concentradas não apenas em cuidar do problema de evasão dereceita, mas também estão fazendo tudo que podem, do ponto de vista deresponsabilidade social, para assegurar que seus produtos não sejam levadospara o mercado negro.

Luiz Fernando Lorenzi – Última pergunta dirigida ao Dr. MiltonCabral: além desse mapeamento todo que o senhor nos apresentou, se o se-nhor tem conhecimento de como se estrutura e qual seria a rede de distribui-ção a que o senhor se referiu de cigarros ilegais.

Milton de Carvalho Cabral – Na realidade, todo esse tipo decomércio ocorre na clandestinidade, evidentemente com um grande grau deinvisibilidade, mas a percepção que se tem nesse momento é de que esse

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comércio é, de certa forma, governado, tem uma predominância importantede um número não tão grande assim de agentes. Em outras palavras, osgrandes distribuidores de contrabando realmente são aquelas pessoas quejá se dedicavam ao contrabando de outras mercadorias e que, pela oportu-nidade e conveniência de trabalhar com cigarros, migraram nessa direção.Não acreditamos que seja uma quantidade muito grande, mas que sejamessencialmente as mesmas pessoas que no passado lidavam com o contra-bando de outros produtos.

Luiz Fernando Lorenzi – Gostaria de agradecer-lhes, senhorespalestrantes, pelas suas palestras e encerrar este nosso segundo painel, de-sejando bom almoço para vocês. O próximo painel está marcado para as 15horas. Obrigado.

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Presidente de Mesa

CLECY MARIA BUSACLECY MARIA BUSACLECY MARIA BUSACLECY MARIA BUSACLECY MARIA BUSATO LIONÇOTO LIONÇOTO LIONÇOTO LIONÇOTO LIONÇOCoordenadora-Geral do Sistema Aduaneiro da Secretaria da ReceitaFederal / Brasil

Palestrante

HARALD FRÖHLICHHARALD FRÖHLICHHARALD FRÖHLICHHARALD FRÖHLICHHARALD FRÖHLICHPresidente do Serviço de Inteligência do escritório Alemão e do serviçode Aduanas em Bruxelas /

Palestra

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Mestre de cerimônia – Senhoras e senhores, boa tarde. Dandocontinuidade ao Seminário Internacional Sobre Fraudes no Setor de Cigarros,passaremos agora à segunda parte do Painel II – Plano Estratégico de Com-bate ao Contrabando de Cigarros.

Para a apresentação da palestra, teremos, compondo a Mesa Di-retora, as seguintes autoridades: como Presidente da Mesa, a Coordenado-ra-Geral do Sistema Aduaneiro da Secretaria da Receita Federal, Dra. ClecyMaria Busato Lionço; como palestrante, o Chefe da Organização Mundialde Aduanas – OMA, da Alemanha, Dr. Harald Fröhlich.

Clecy Maria Busato Lionço – Sejam bem-vindos ao nosso Semi-nário, esperando que todos tenham tido um excelente almoço.

Temos o prazer de apresentar como palestrante do segundo painelo Dr. Harald Fröhlich, da Aduana alemã. O Dr. Fröhlich é o EncarregadoSênior de Investigação da Aduana alemã, é o responsável pelo EscritórioRegional de Ligação de Inteligência, chamado RILO, da Organização Mun-dial de Aduanas – OMA, e sempre esteve envolvido na implantação e cria-ção de programas nacionais e internacionais para o desenvolvimento da adu-ana, em especial na área de inteligência e gerenciamento de risco.

Então teremos uma visão geral do que é a Organização Mundial deAduanas. Ele vai nos dar uma idéia de como as aduanas do mundo inteiroestão vendo a questão do contrabando mundial de cigarros, do que a Organi-

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zação Mundial tem feito no sentido de avançar no combate a esses ilícitos etambém contará a experiência do grupo de países da Europa Oriental nessamatéria: como se organizaram e os projetos que realizaram no sentido de coi-bir e combater as fraudes do setor. Passo a palavra ao Dr. Fröhlich para queinicie a sua exposição.

Harald Fröhlich – Boa tarde a todos. Meu nome é Harald Fröhlich,sou o Presidente do Serviço de Inteligência do escritório alemão e do Serviçode Aduanas, em Bruxelas, também sou encarregado do escritório alemão.Não estou representando esse escritório hoje. Estou representando um paísque não fala inglês como língua nativa, então espero que os tradutores nãotenham problema com o meu sotaque.

Estou aqui representando a Organização Mundial de Aduanas, e, emnome do Presidente dessa organização, Sr. Michel Danet, trago cumprimentos.Ele gostaria muito de estar aqui, porém tinha outros compromissos e me mandoucomo representante para este seminário tão importante aqui em Brasília.

Obviamente também gostaria de agradecer pessoalmente o conviteque recebi da organização da conferência, particularmente gostaria de agra-decer a Ana Carolina, Valéria e outras pessoas que estão cuidando de mimnesses dias. Primeiramente, agradeço à ESAF por me dar a oportunidade defazer uma apresentação. Vou falar com o meu chefe que preciso de mais di-nheiro para esta apresentação porque quero vir aqui mais vezes. Sou comoGeorge Hamilton. Ele está aqui? Muito obrigado.

Na segunda sessão do dia, gostaria de apresentar três capítulos:primeiramente, vou falar sobre uma visão do contrabando de cigarros naEuropa e o seu impacto global; segundo, esboçar os detalhes do plano es-tratégico de combate ao contrabando de cigarros da Organização Mundialde Aduanas, e gostaria também de entrar em detalhes desse plano de cum-primento do Programa de Combate ao Contrabando de Cigarros, da Orga-nização Mundial de Aduanas.

Vou iniciar com o corpo da minha apresentação, que é a visão docontrabando de cigarros na Europa e o seu impacto global. Temos muitosnúmeros, muitas tabelas. Gostaria de começar também apresentando alguns

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números e tabelas, esboçando a extensão da produção de cigarros em relaçãoaos maiores produtores, ou seja, os países que produzem mais e que fazemparte desse programa importação e exportação (Quadro 1).

As exportações aproximam-se de US$1 bilhão, porque exportamosmais de seiscentos milhões de unidades de cigarros. Não sou doutor nisso,mas posso dizer que realmente existe uma lacuna muito grande aqui. Qual éessa lacuna? O que está acontecendo com os cigarros que estamos exportan-do? Essa é a razão pela qual estou encarregado do serviço de inteligência epela qual fui convidado a participar.

Perguntei à minha equipe o que poderíamos fazer como um escritó-rio de ligação de inteligência regional nessa área. Gostaria de enfatizar que nãosomos operacionais, não estamos envolvidos nas atividades operacionais.Estamos mais concentrados na estratégia. O que podemos fazer para agregarvalor e, além disso – esta será a linha da minha apresentação nesta tarde –, oque podemos fazer para não duplicar as iniciativas e os esforços?

Vocês vão identificar que não existe situação geral sobre a disponibilida-de do contrabando de cigarros. Todas as organizações estão lidando com isso.Quando conversamos e discutimos isso, não tínhamos nenhum relatório a esse

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respeito, então decidimos, em consultas com outros países – estou representando19 países europeus aqui, em nome da Organização Mundial de Aduanas –, iniciarum projeto que tem um nome. As pessoas reconhecerão o projeto pelo nome.Sempre que se inicia alguma coisa, tem-se que dar um nome para essa coisa, nadafica sem nome. Temos uma marca de cigarros muito popular na Europa, entãoutilizamos esse nome para o projeto. É uma marca representada por cowboys.

O objetivo geral do Projeto Laço 2000 era apoiar as alfândegasregionais e nacionais nas análises de risco e esforços anticontrabando. Agoragostaria de dar uma breve visão – porque o relatório integral está disponívelatualmente – do que vocês verão no projeto. Temos o CEN, que é o escritó-rio de cumprimento desse projeto, e esse relatório vem do CEN. Então aquimostramos os resultados desse projeto e vocês poderão constatar que talvezpossam adicionar os meus comentários às suas análises e ao que vocês escu-taram hoje de manhã contra o contrabando.

O que nós fizemos? Pedimos aos nossos membros que nos desseminformações de apreensões individuais, contabilizando mais de 1.650 casosque contam com 5,8 bilhões de cigarros apreendidos, e 27 estados-membrosestão participando, como, por exemplo, a Itália. Mas estamos aqui não parafalar sobre os “formigas” do contrabando de cigarros ou sobre os intermediá-rios. Estamos lidando com um crime transnacional e organizado, estamos ten-tando combater esse crime organizado.

Nesse projeto, porque sempre temos um nível de determinação exe-cutiva do que fazer, decidimos que as apreensões de mais de quinhentas milunidades seriam indicadoras e teriam que ser analisadas em detalhes. Entãotivemos mais de seiscentas apreensões, senhoras e senhores. Dessas seiscen-tas, quase 90% entravam nesse critério. Tínhamos 5,1 bilhões de unidades decigarros que deveriam ser analisadas em novecentos casos de cigarros apre-endidos. Então vocês podem ter uma idéia do que esse contrabando significaem termos internacionais. Tentamos uma análise baseada em 1.074 apreen-sões feitas em 27 países do leste e do oeste da Europa.

Em relação ao número de apreensões em 1999 e 2000, temosagora, em 2001, uma chance de comparar esses números. Em 1999 foram

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1.044 casos e em 2000 foram 1.074 casos. Houve um aumento mas, seanalisarmos em detalhes esse número de apreensões e os países afetados,vocês poderão ver que existem dois ou três países que são mais afetadospor esse fenômeno do contrabando. Em comparação ao ano 2000 (Qua-dro 2), esses países são os mesmos que ainda estão sendo afetados e queforam mencionados na sessão da manhã pelos nossos palestrantes, quesão: Reino Unido, Alemanha e Itália.

Se vocês analisarem as quantidades apreendidas nessa área, pode-rão ver que há uma diminuição notável, de 6,9 bilhões de unidades, em 1999,para 5,1 bilhões. Esse é o problema das estatísticas. Só confio nas estatísticasque eu mesmo faço, não confio nas outras. Se vocês analisarem a nova tabela(Quadro 3) e compararem com 1999, sim, temos uma diminuição, mas esse éum fenômeno que, comparado estatisticamente com as informações que te-mos, é de apenas dois anos. Há um país que teve uma apreensão recorde em1999, mas no ano 2000 isso não aconteceu. Se analisarmos a Itália, por exem-plo, temos um problema diferente. A Itália tem enfrentado um problema decontrabando de cigarros que entra desde os Bálcãs. A Espanha também estáatravessando esse problema.

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Quadro 2

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Quais são as conclusões que podemos tirar desse projeto? Que háuma diminuição que nos trará uma decadência? Será? Qual é a galinha dosovos de ouro? O que veio primeiro: o ovo ou a galinha? É uma pergunta quenão podemos nunca responder. Por que há essa diminuição? Por conta doêxito da alfândega? Claro, acredito nisso. Estamos fazendo o nosso trabalhode modo adequado, estamos apreendendo cigarros, estamos fazendo isso demodo eficaz, e com o nosso trabalho o contrabando tem sido menos intenso,mas, se esse não é o fator determinante dessa diminuição, será que é porqueos contrabandistas mudaram os seus métodos e o seu modus operandi? En-tão vou procurar alguém aqui no público que possa responder essa perguntapara mim. Tentei fazer isso de manhã, mas ninguém conseguiu. Agora à tarde,depois do almoço, quem sabe?

Fiz uma análise das indústrias que têm muita capacidade e muitasfacilidades. As pessoas representantes dessas indústrias talvez possam me res-ponder. Qual é o ponto mais importante sob o prisma das alfândegas? É o tipode localização onde as apreensões são feitas? Vocês ficarão surpresos se ana-lisarem os números que tenho aqui. Considerando a extensão do contrabandode cigarros, que é muito grande, os portos marítimos também fazem partedessas entradas de contrabando. Temos um número elevado de apreensõesfeitas nos portos marítimos, o que já discutimos repetidas vezes. Vamos falarsobre medidas antitráfico ou anticontrabando nos portos, porque eles rece-bem muitos contêineres e muitos carregamentos. Temos que analisar essescarregamentos porque, às vezes, eles têm uma variedade de transportes, e omodo de transporte também muda, não é o tradicional a que estamos acostu-mados. Os contrabandistas mudam de métodos. Eles podem utilizar contêinerespara cigarros, podem utilizar caminhões ou carros. Isso está acontecendo naEuropa, é um fenômeno europeu. Não sei se acontece aqui nas Américas.

Quanto ao número de apreensões — 48% dos carregamentos sãofeitos por caminhões, e 26% são feitos por embarcações e contêineres.

Agora vou falar sobre outras estatísticas que existem e fazem parteda natureza desse processo, porque somos um continente. Quando falamosde transporte entre continentes, temos que falar em outros métodos. O que

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nos traz surpresa é que, conforme a observação feita hoje de manhã, o lucro étão grande no contrabando de cigarros que as pessoas nem estão percebendoo tipo de transporte utilizado. Podem utilizar o transporte mais caro ou o maisbarato, mas só querem saber do lucro.

Os contrabandistas normalmente hesitam em utilizar aviões, porquenão são seguros e são mais caros. Então tivemos uma apreensão de contra-bando feito por ar que passou do limite de quinhentos mil, e as apreensões nostrilhos dos trens aumentaram, principalmente na Alemanha e na República Tche-ca, isso porque os procedimentos alfandegários foram facilitados.

Acho que temos que discutir hoje aqui um pouquinho mais emdetalhes o equilíbrio entre observância e contrabando. Há mais de 25 anosestamos investigando esse contrabando. Esse é um serviço da organizaçãode inteligência para a qual eu trabalho e da qual gosto muito, mas encon-trar um equilíbrio entre observância e contrabando é difícil. Quando temospessoas de investigação, elas têm que trabalhar bastante para encontraresse equilíbrio.

Qual é o modo de ocultar o contrabando? Temos 78% de contra-bando feito por frete. Como eu disse, a criatividade dos contrabandistas éenorme. É o que chamamos de carga coberta. Temos que ter mercadoriasnesse processo. Por exemplo: comida congelada, produtos têxteis, madeira.Tudo isso é utilizado para ocultar o contrabando.

No que se refere às marcas de cigarros, na Alemanha os contraban-distas de cigarros – não tenho muita certeza, talvez eles queiram ter o apoiodos alemães – estão contrabandeando as marcas mais populares e de modomais barato. Então fiquei muito surpreso com a apresentação da manhã sobreo mercado ilegal na Europa e aqui no Brasil também, porque não acho quetenhamos um mercado ilegal tão grande na Europa. Temos uma tendência deachar que nosso contrabando é menor.

Em relação aos mercados de cigarros propriamente ditos, hoje demanhã já falamos sobre isso, mas gostaria de enfatizar que o Reino Unido é omercado número um, é o alvo número um dos contrabandistas de cigarros,seguido pela Itália. Em relação aos países de partida desse contrabando, pos-

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so incluir a China como o país mais importante, um país que recebe uma im-portância maior a cada dia.

Nesse ponto, existe uma questão em que estou muito interessado. Éuma apresentação feita de manhã sobre os cigarros contrabandeados e falsifi-cados. Em 1999, tivemos um aumento do mercado chinês de falsificação decigarros. Por quê? Porque, de acordo com uma pesquisa da Alliance, há mui-tos importadores e exportadores de cigarros, e é muito interessante a explica-ção do que significa falsificado, como vimos de manhã. Falsificado é aquiloque não é verdadeiro, que é produzido ilegalmente, como aqui no Brasil, eexportado como sendo um produto verdadeiro para o mundo. Estou muitointeressado em saber se temos que pegar os cigarros falsificados e considerá-los como propriedade intelectual ou como propriedade tributável.

Existe muita especulação, muita tributação para ser discutida so-bre o contrabando de cigarros, mas talvez tenhamos tempo para discutirisso neste evento.

Em relação aos carregamentos, no ano de 1999, tivemos uma diminui-ção no mercado chinês. A propósito, não estou aqui defendendo nenhum país,muito menos a China, mas a China está envidando esforços tremendos paradiminuir o problema que o seu país está trazendo para o contrabando em outrospaíses. Obviamente, porque estamos falando em transporte de mercadorias, hápaíses de onde as mercadorias saem, países aonde as mercadorias chegam,então temos que falar de países como os Emirados Árabes Unidos, que são aárea mais importante para carregamentos transnacionais de país para país.

É muito importante, para uma análise de avaliação, a rota. Qual é arota tomada por esse contrabando? Tenho o rascunho de alguns gráficos quemostram as rotas de trânsito do contrabando de cigarros. É claro, quase todossaem da China. Temos, na região báltica, rotas que saem dessa região e che-gam nas Américas e que voltam para o mercado europeu de modo ilegal,escuso. Também existem rotas na área do Mediterrâneo que, predominante-mente, é uma área para carregamentos transnacionais, porque são zonas decomércio muito bem estabelecidas, e não é preciso explicações sobre isso. Hátambém a Europa Ocidental e o sudeste da Europa para aumentar a produção

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de contrabando. O aumento desse contrabando está realmente muito marca-do aqui. Na área da Arábia e do Mediterrâneo também existem rotas de con-trabando, assim como na África e nas Américas. Nessas rotas conseguimosfazer apreensões, mas não tantas, porque não temos muita informação dessaárea. Estamos mais concentrados na Europa.

Considerando essas rotas, vocês podem pensar: não estou preocupadocom esse continente porque não é o meu, é apenas uma rota de trânsito internaci-onal de contrabando. Esse é um dos erros que cometemos, porque os países dechegada também são importantes. O tráfego ilegal sempre segue o tráfego legal.Não há necessidade de as gangues internacionais utilizarem uma fronteira que nãoseja legal para tentar entrar com os produtos no país. O comércio ilegal segue ocomércio legal, fazendo uso errado das legislações, burlando-as.

Gostaria de dizer então que o contrabando de cigarros cobre o pla-neta inteiro. Sem dúvida traz uma conseqüência e um impacto negativos doponto de vista financeiro, social e econômico para todos os países do mundo.Essa é a razão por que a Organização Mundial de Aduanas tem uma propostaque foi realmente encorajada pelos seus membros para combatermos essefenômeno. A Organização Mundial de Aduanas tem um plano estratégico paracombater o contrabando de cigarros baseado nos números que acabei deapresentar. Vou apresentar daqui a pouco o que a nossa organização vai fazer,após dizer que estamos envidando muitos esforços para compreender todosos países que fazem parte da rede de contrabando.

Quais são os nossos objetivos, portanto? O nosso objetivo é auxiliaros países-membros a fortalecer as suas capacidades administrativas,operacionais e jurídicas para combater efetivamente o contrabando de cigar-ros. Poderia dizer que sim, concordo com vocês quando falamos dos paísesdesenvolvidos, mas temos 154 membros da Organização Mundial de Adua-nas que estão passando pelo mesmo problema. Em termos de cumprimentoda lei, existe um aumento dos grupos criminosos. Temos também que auxiliartodos esses países-membros, sem distinção.

Vou apresentar a vocês os pilares do nosso programa. Existem, naverdade, seis pilares, mas podemos resumi-los em três: primeiramente, temos

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que criar consciência, desenvolver recursos humanos e compartilhar informa-ções e inteligência. Estamos lidando também com cooperação multilateral ebilateral e com parcerias entre as alfândegas e os empresários. Hoje de ma-nhã, conversamos sobre isso, e vejo, sim, uma necessidade de termos parce-rias, mas ainda não consigo visualizar como faríamos isso, como juntaríamosos nossos esforços. O último pilar, mas não menos importante, seria uma ava-liação da ameaça global a esse projeto.

O conteúdo do programa aborda duas áreas, níveis ou capítulos.Primeiramente, a Organização Mundial de Aduanas e seus membros são re-presentados por administrações nacionais. As suas próprias administraçõespodem implementar e iniciar ações para combater o tráfico de cigarros. Oprograma contém 105 medidas individuais ou pontos de ação. Não vou expli-car agora, quem sabe, mais tarde.

Gostaria de dar uma visão breve sobre a Organização Mundial deAduanas e os seus membros para que vocês entendam que estamos abertospara perguntas e debates na hora exata do debate. Estamos trabalhando coma consciência de todos os membros para sabermos quais são as suas necessi-dades a fim de que possamos combater de modo efetivo os seus problemas.Temos recomendações, um questionário e uma página da Organização Mun-dial de Aduanas para que possamos criar consciência e saber quais são asnecessidades e as medidas a serem implementadas.

Com relação ao desenvolvimento de recursos humanos, a Organiza-ção Mundial de Aduanas gostaria de tomar medidas objetivando treinamento eseminários regionais. Vamos produzir guias, diretrizes para saber comoimplementar esse plano, e vamos criar centros de excelência para utilizar a expe-riência dos experts em cada país a fim de implementar as medidas contra ocontrabando. Precisamos ter um equilíbrio e a cooperação entre países desen-volvidos e em desenvolvimento, ou seja, temos que ter um equilíbrio maior dosnossos esforços, e não concentrar os nossos especialistas em uma área apenas.

O que me afeta de modo particular é que estou muito interessado noaumento da troca de informações e inteligência. Para fazer isso, precisamospromover a rede de cumprimento de leis das alfândegas, das aduanas. Esta-

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belecemos, em 1º de julho do ano passado, um programa com bastante êxitodo qual gostaria de dar um exemplo.

A rede de cumprimento de leis das aduanas, CEN, pode ser acessadapor qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo. Temos uma web page, e oacesso é livre para qualquer administração nacional e regional. Temos váriasfunções: temos um banco de dados completo, análises, um sistema de comu-nicação. Vocês podem ter as análises apropriadas dos nossos problemas, e,acima de tudo, temos na nossa página um lugar onde as pessoas podem colo-car suas perguntas ou seus comentários, inclusive as novas formas de se es-conder o contrabando. Então gostaria de incentivar os países-membros a uti-lizarem essa página, uma vez que é feita para eles apenas.

Temos que desenvolver metodologias estratégicas de inteligência.Mais tarde gostaria de comentar uma resposta dada hoje de manhã para umapergunta sobre o controle alfandegário etc. Agora vou dar apenas um exem-plo: é muito fácil avaliar um contrabando. Precisamos combater as más leis.Temos que atacar as pessoas certas que estão contrabandeando. Temos quesaber para onde está indo esse carregamento, temos que atacar o caminhãode carregamento, e sabemos que não podemos fiscalizar todos os caminhões.Isso seria o fim da nossa carreira. Temos que saber, então, quais caminhõestêm o contrabando que precisamos atacar. Encontrar o caminhão certo, comdois milhões de cigarros, é difícil, por isso precisamos de metodologias e devistorias. Para fazer isso, estabelecemos os perfis de risco, os portos, os trân-sitos, as metodologias e o modo de operação. Fazendo assim, conseguiremosde modo apropriado realizar o nosso trabalho e não ficaremos frustrados sealgo der errado. Precisamos de cooperação bilateral, temos que estabeleceruma cooperação conjunta e aberta com outras organizações que fazem o mesmotrabalho que o nosso. Por exemplo: a União Européia, a OMS, o Mercosul eoutras organizações existentes de maneira a evitar a duplicação ou mesmo atriplicação das nossas iniciativas e esforços.

Estou trabalhando no negócio internacional há alguns anos. Às ve-zes, tenho a impressão de que estou num parque de diversões, mas não éassim. Vamos impedir isso desse modo, vamos trabalhar juntos. Esse é um

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problema que nos afeta a todos. Para ser franco, precisamos trabalhar juntose de modo honesto para acabar com o problema.

Em algumas áreas, as parcerias não são tão fáceis de seremestabelecidas como parece ou deveria ser. Então a Organização Mundial deAduanas já está emitindo um memorando de entendimento para que possa-mos estabelecer parcerias e iniciativas. Acho que precisaríamos, nessas par-cerias, ter um diálogo construtivo entre a alfândega e a indústria de tabaco,nessa área em particular. Não precisamos nos voltar uns contra os outros.Precisamos realmente ter um diálogo aberto, como fazemos em outras áreascomo a das drogas, por exemplo.

Com relação ao próximo nível, que é o de medidas administrativas,gostaríamos de incentivar os administradores nacionais a estabelecerem gru-pos de experiências nacionais para serviços de cumprimento de leis e serviçosalfandegários, para não duplicarmos os nossos esforços, a fim de conversar-mos sobre os nossos problemas, verificarmos se esse é um problema de alfân-dega, de tributação ou de polícia. Não podemos dividir essas categorias. Te-mos que trabalhar juntos, temos que juntar nossas forças com a polícia, com aárea de tributação e a área de alfândega. Deveríamos batalhar para ter umserviço especializado contra o contrabando de tabaco. Precisamos de servi-ços de inteligência para isso e de procedimentos. Já discutimos em outrosfóruns que seria muito útil haver um selo de renda em produtos derivados dotabaco, e uma marca adequada nos maços e nas cartelas de cigarros. Porquê? Para que possamos cumprir uma lei, seria muito fácil para nós se todas asagências concluíssem que esse selo é legal, então é um produto legal e nãocontrabandeado. Isso seria ótimo, mas não está implementado ainda. O queacho que precisamos é ter um controle e um monitoramento dos depósitos.

Quando falamos em serviços de inteligência, claro, estamos queren-do ter sucesso para que, no fim das contas, tenhamos um controle apropriado.Para termos um controle apropriado, precisamos de medidas apropriadas,como: máquinas de raios-x e cachorros que possam farejar e detectar essescigarros que são falsificados e contrabandeados, ou seja, os cigarros e osanimais juntos para detectarmos o contrabando. Temos, na Holanda, no Rei-

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no Unido e na Alemanha, cachorros farejadores, e esse é um processo quetem obtido êxito.

Não gostaria de negar ou negligenciar o problema de ninguém, mas,como oficiais de alfândega, temos que assegurar a integridade dos nossosfuncionários. Com relação às medidas legislativas, somos advogados, não pre-cisamos falar disso, não é? Estou brincando. Não estou no começo da minhacarreira, já trabalho na área de drogas há muito tempo, e é muito fácil perce-ber que um quilograma de heroína em um país vale muito mais do que emoutro. Pode-se ser condenado à morte por traficar heroína em alguns países, eisso também poderia ser aplicado para o contrabando de cigarros. Temos umcrime organizado que é transnacional e temos que aumentar o rigor das penascontra esse contrabando, especialmente contra o crime de contrabando decigarros. Acredito que precisamos de mais investigação, precisamos de maisprovisão de serviços, mais controles, precisamos de unidades de investigaçãomais especializadas, para que possamos melhorar o nosso trabalho. Para isso,as unidades de investigação realmente são necessárias.

Alguns dos países desenvolvidos podem já ter isso, porém tenhamcerteza de que essas unidades estão trabalhando juntamente com a alfândega.Em muitos lugares ainda não estão trabalhando, muitos lugares do mundo nãopossuem uma unidade de investigação de cigarros.

Vocês agora podem estar se perguntando se esse é um programaambicioso, como vamos implementar todo esse programa e essa estratégia.Bom, estamos estabelecendo grupos de especialistas em contrabando de ci-garros que vão de 12 a 15 pessoas, começando em novembro, e esse grupovai se concentrar mais especificamente em organogramas, milhas, cronogramase recursos requeridos. Não podemos fazer isso em um dia, temos que dar umpasso de cada vez. Isso é muito difícil porque muitos obstáculos tentam nosimpedir, mas temos que tentar.

Temos um projeto de avaliação da ameaça mundial, há um esforço com-binado com a Rilo, com os membros da Organização Mundial de Aduanas e aSecretaria da Organização Mundial de Aduanas, baseado nas experiências que játivemos. Isso seria uma boa idéia. Precisamos de um nome para esse projeto. O

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nome seria WCO, que é a sigla em inglês para crimes contra o mundo em termosde cigarros. O objetivo é reportar e analisar todos os crimes de contrabando decigarros em âmbito regional e nacional. Estamos apreendendo cigarros durante umano, de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2001, e isso está sendo feito pelasalfândegas e outras companhias ou autoridades que tenham esse papel de alfânde-ga ao redor do mundo. Vamos apreender e coletar informações, vamos tentarobter relatórios, informações e estatísticas adicionais sobre o comércio legal e,com sorte, teremos um serviço de inteligência que será produzido pela CEN.

Posso assegurar a todos vocês que trabalham para alfândegas e aosoutros que esse plano é muito útil porque somos a única organização que temcomunicação internacional. Nosso objetivo não é produzir o Projeto Laço, mas,sim, o Projeto WCO para fazer uma avaliação do contrabando e das atividades decontrabando de cigarros no mundo, no ano de 2001, ou seja, neste ano ainda.

Agora vou concluir, senhoras e senhores, com um resumo da minhaapresentação. Já atingimos uma dimensão que nos ameaça em relação ao con-trabando de cigarros não só na Europa, mas também no mundo todo. Asatividades ilegais no mercado de cigarros não trazem nenhuma dúvida, é umcrime organizado transnacional e posso garantir que os nossos 154 membrosestão preparados para desempenhar o seu papel na luta comum, gostaria deenfatizar, contra a fraude no mercado de cigarros.

Em relação ao Projeto WCO, a nossa ação é planejada e já estásendo implementada, mas não somos mágicos, não podemos fazer isso deuma vez, não temos varinha de condão. Então, todos somos relevantes para oprojeto. Não é um projeto de um país, uma instituição, uma indústria, apenas.Esse problema afeta toda a sociedade.

Para concluir a minha apresentação, gostaria de dizer que vocês têmque fazer isso. Façam isso! Parem com a tagarelice e vamos trabalhar! Esse éo meu lema. Muito obrigado por sua paciência e vou responder as perguntasque houver. Muito obrigado.

Clecy Maria Busato Lionço – Gostaria de mais uma vez enfatizarque as perguntas podem ser formuladas por escrito e encaminhadas à Mesapara que possam ser respondidas pelo Dr. Harald.

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Queria agradecer ao nosso palestrante pela sua brilhante exposi-ção, ampla, completa, com muitas facetas, o que nos leva a muitas refle-xões. De qualquer forma, gostaria de falar sobre o que mais me chamou aatenção, no sentido de que a informação é fundamental, ou seja, as aduanase todos nós temos que estar preparados e conhecedores da situação. Entãotemos que buscar informação, cooperação, porque sem cooperação não seconsegue atacar o problema, uma vez que ele tem dimensões muito maioresdo que, simplesmente, o seio das aduanas, união de esforços também, tantointerna, entre os diversos setores envolvidos na matéria, ou seja, as adua-nas, os tributos internos, as polícias, os serviços de inteligência de todosesses órgãos, unindo esforços para um objetivo comum: a criação de servi-ços especializados. Trata-se de fraudes que são muito bem trabalhadas emnível mundial, que exigem por parte do poder público uma especializaçãona matéria. A eleição de procedimentos especializados para combater, ouseja, análise de risco, verificação de rotas, de agentes, de modus operandipara, então, atacar; a possibilidade e até a conveniência do uso detecnologias para ajudar nessa tarefa de verificação das cargas que entram esaem dos países; a adoção de medidas que permitam identificar os produ-tos que são legalmente produzidos, aí vem justamente a relação da ativida-de aduaneira bastante forte com os tributos internos, no sentido de acom-panhar e controlar a produção e o seu consumo em cada país. Todos essesaspectos abordados pelo Dr. Fröhlich são muito importantes, acredito eu,para melhorar e enriquecer a discussão.

Temos aqui uma primeira pergunta que é, se entendi bem, da RaquindLtda, que coloca a seguinte questão: “Na América existem problemas de des-confiança mútua para o intercâmbio de informações. Essa experiência existetambém na Europa?”

Harald Fröhlich – Muito obrigado pela pergunta. Estou um poucoperdido. Na sessão da manhã, havia muitas pessoas aqui, agora me sinto umpouco sozinho.

O que diz respeito à troca de informações é um problema muitodelicado. Primeiro temos que definir de que tipo de informação você está

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falando. Se você está falando sobre informações operacionais, muitas pessoaspassam as informações. Estamos lidando com um processo após a tomada dedecisões, e temos alguns problemas na Europa em relação ao partilhamentodessas informações históricas e análises estratégicas.

Com relação à informação operacional, é claro que temos que terrestrições, porque sempre vai haver um perigo de disseminação de uma infor-mação que não pode ser disseminada. Portanto estabelecemos na Europa,por exemplo, uma organização de polícia. Com relação às alfândegas, nãotemos uma unidade, mas estabelecemos um organismo que nos permite trocarinformações de modo bilateral apenas. Espero ter respondido a sua pergunta.Existem, sim, restrições, não há um grupo de informações essenciais e pesso-ais, estamos resolvendo esses problemas em nível bilateral. Espero que essaseja a resposta a sua pergunta.

Clecy Maria Busato Lionço – Outra pergunta, da Sra. SilvanaCubano: “Já existe algum país da Organização Mundial de Aduanas que tenhaadotado um selo, ou algo assim, que identifique seus produtos e que dificulte ocontrabando?”

Harald Fröhlich – Talvez você possa fazer essa pergunta nova-mente para o meu colega. Não posso responder essa pergunta hoje antes devocês ouvirem a apresentação de amanhã. Sim, temos um modo de identifica-ção, mas prefiro que vocês escutem a palestra amanhã.

Clecy Maria Busato Lionço – Sr. Marcelo de Oliveira faz duasperguntas: “Já foram identificados grupos criminosos específicos? Em casopositivo, esses grupos atuariam em outras atividades criminosas?” É a pri-meira pergunta.

Harald Fröhlich – Sempre há suposição, como foi dito aqui pelamanhã, no que diz respeito ao contrabando de cigarros, de que há outrasatividades ligadas a outras formas de criminalidade relativas ao assunto.

No que tange ao resto da Europa, isso também está acontecendo naEscandinávia e existe realmente em toda a Europa. Estamos identificando exem-plos de transporte ou contrabando de cigarros. Gostaria de dizer que não possodar certeza dessa resposta, mas seriam, no caso, álcool e cigarros os principais.

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Clecy Maria Busato Lionço – A segunda pergunta do Sr. Marce-lo é a seguinte: “Já estão sendo usados satélites para monitoramento do co-mércio ilegal? Qual é a eficiência desses instrumentos se forem usados?”

Harald Fröhlich – Gostaria de voltar à primeira pergunta sobre atroca de informações importantes. Não posso responder essa pergunta, perdão.

Clecy Maria Busato Lionço – O Sr. Jorge Luiz Cabral pergunta:“Foi dito que o comércio ilegal segue os caminhos do comércio legal. Em quesituações, as mais freqüentes, foram feitas as apreensões citadas e quaistecnologias foram empregadas para essa detecção?”

Harald Fröhlich – Gostaria de falar um pouco sobre tráfego ilegal etráfego legal. O que eu disse é que o tráfego legal é utilizado. Por exemplo: se vocême perguntar, ou alguém na sua vizinhança, sobre os controles de fronteira deatividades ilegais sobre cigarros, por exemplo, você diz sim, nós temos que au-mentar os controles da aduana porque não sou um contrabandista. Como eu disse,se você tem, por exemplo, um aeroporto de carga como São Paulo, Frankfurt ouHamburgo, com milhões de contêineres ao ano, você não tem como checar todosos contêineres. Simplesmente colocam-se esses contêineres em linha e vai-se dire-tamente ao contêiner certo. A rotina indicaria o procedimento. E você tem quepraticar isso fisicamente. Você pode imaginar o custo para escrutinar, verificardetalhadamente um contêiner desse. Quem pagaria por isso, a alfândega? O pró-prio negócio? Outro item é a necessidade de tempo para se fazer isso.

Acho que devemos utilizar ambos os métodos, análise de risco es-tratégico e adicionar valores para identificar um contêiner. Acredito ser muitovalioso ter equipamentos tecnológicos sofisticados para esse tipo de tarefa.Como eu disse, em Hamburgo são milhões de contêineres por ano, e vocêteria que mandar todos esses contêineres para a máquina de raios-x, assimcomo utilizar métodos tecnológicos específicos.

Clecy Maria Busato Lionço – O Sr. Fernando do Amaral pergun-ta: “Qual é a pena criminal aplicada a contrabandistas de cigarros na Europa?”

Harald Fröhlich – Contrabando de cigarros, no meu país, Alema-nha, é definido como evasão fiscal. São dez anos nos casos mais sérios. Namédia, são dois anos de detenção se pagar fiança. Considerando o mercado

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de milhões de marcos, consideramos isso como evasão fiscal. O contrabandode cigarros é evasão fiscal. Damos uma pena de dez anos ao contrabandistaque for pego nessas atividades.

Clecy Maria Busato Lionço – Outra pergunta, do Sr. Ricardo Armesto:“Sendo o Brasil um país onde caberia a maior parte dos países da Europa, nãoseria fundamental aumentar seu quadro de fiscais aduaneiros, que, atualmente, éem número menor que os existentes no porto de Hamburgo, por exemplo?”

Harald Fröhlich – Você está certo. Vocês precisariam ter maisoficiais de alfândega. É isso mesmo? Entendi bem essa pergunta? Sim, dêemmais poder à alfândega, vamos fazer isso.

Clecy Maria Busato Lionço – De qualquer forma, gostaria deperguntar: é mais importante ter um contingente grande de fiscais ou trabalharcom grupos especializados, com inteligência e análise de risco?

Harald Fröhlich – Bom, é uma pergunta bem difícil. Hoje em dia, estamoscom muitos problemas fiscais e orçamentários. É claro que temos que nos concen-trar em métodos mais sofisticados. Diria que, no fim das contas, apenas aumentaro número de oficiais não resolve o problema porque existem outras questões.Acho que vocês devem se concentrar mais na educação dos seus agentes alfande-gários de maneira correta para que eles consigam identificar e coibir o problema eidentificá-lo diretamente. Não resolveria apenas aumentar o número de pessoas,porque não adianta ter muita gente se essas pessoas não sabem trabalhar. Então,na minha opinião, seria melhorar a educação dos agentes alfandegários.

Deixe-me resumir isso: eu disse que estou trabalhando há 25 anoscom o crime, vamos dizer assim, mas nem por isso sou criminoso. Algumasdessas pessoas estão contrabandeando, mas não são criminosas, porquecontrabandeiam pouco. Vocês têm que considerar isso também.

Clecy Maria Busato Lionço – Não temos mais perguntas, mas gos-taria de deixar a palavra aberta para o senhor, se quiser fazer comentários finais.

Harald Fröhlich – Sim, claro, se eu tiver a chance, claro que que-ro. Estou sempre pronto a promover as alfândegas, adoro isso, mas, para falara verdade, se vocês forem traduzir a minha intenção, quero dizer que sou um

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homem feliz porque trabalho nas alfândegas e meu sobrenome é alfândega.Gostaria de debater um pouquinho mais com vocês.

Uma outra questão importante é que as pessoas sempre falam dosproblemas. No meu escritório, não temos problemas, só temos desafios. Nãopodemos desistir. Temos que trabalhar bastante com o problema que estamosenfrentando, mas temos que acreditar na solução. Nesse negócio internacio-nal, temos que trabalhar bastante e juntos. Vamos parar com essa mentalidadede “parquinho”, de isso é meu, isso é seu. Vamos identificar o problema etrabalhar juntos. Muito obrigado.

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Moderador

PPPPPAAAAAULO RICULO RICULO RICULO RICULO RICARDO DE SOUZA CARDO DE SOUZA CARDO DE SOUZA CARDO DE SOUZA CARDO DE SOUZA CARDOSOARDOSOARDOSOARDOSOARDOSOCoordenador-Geral Substituto de Estudos Econômico-Tributários daSecretaria da Receita Federal / Brasil

Palestrantes

MÁRCIO FERREIRA VERDIMÁRCIO FERREIRA VERDIMÁRCIO FERREIRA VERDIMÁRCIO FERREIRA VERDIMÁRCIO FERREIRA VERDICoordenador-Geral Substituto de Estudos Econômico-Tributários da Secretaria da Receita Federal /Brasil

RENARENARENARENARENATO MICHEL BTO MICHEL BTO MICHEL BTO MICHEL BTO MICHEL BOSSOOSSOOSSOOSSOOSSO Agente Fiscal de Rendas - Diretoria Executiva de Administração Tributária daSecretaria de Fazenda do Estado de São Paulo / Brasil

Painel III

REPERCUSSÃO DO COMÉRCIO ILEGALREPERCUSSÃO DO COMÉRCIO ILEGALREPERCUSSÃO DO COMÉRCIO ILEGALREPERCUSSÃO DO COMÉRCIO ILEGALREPERCUSSÃO DO COMÉRCIO ILEGALDE CIGARROS NA ECONOMIA NACIONALDE CIGARROS NA ECONOMIA NACIONALDE CIGARROS NA ECONOMIA NACIONALDE CIGARROS NA ECONOMIA NACIONALDE CIGARROS NA ECONOMIA NACIONAL

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Mestre de cerimônia – A próxima Mesa será composta pelas se-guintes autoridades: o Sr. Coordenador-Geral do Sistema de Fiscalização daSecretaria da Receita Federal, Dr. Paulo Ricardo de Souza Cardoso, que presi-dirá a Mesa e será o Moderador do painel; o Sr. Coordenador Geral Substitutode Estudos Econômico-Tributários da Secretaria da Receita Federal do Brasil,Dr. Márcio Ferreira Verdi; o Sr. Agente Fiscal de Rendas, da Diretoria Executi-va de Administração Tributária de São Paulo, Dr. Renato Michel Bosso.

Paulo Ricardo de Souza Cardoso – Senhoras e senhores, dandocontinuidade aos tópicos que serão apresentados neste dia, neste último painelvamos tratar das questões econômicas envolvendo o setor tabagista. Numprimeiro momento, contaremos com a palestra do Dr. Márcio Verdi, econo-mista, Mestre em Finanças pela Universidade de Brasília, Professor da Fun-dação Getúlio Vargas, Auditor Fiscal e Coordenador-Geral Substituto de Es-tudos Econômico-Tributários da Secretaria da Receita Federal.

Márcio Ferreira Verdi – Boa tarde, senhoras e senhores, colegasda Receita Federal, autoridades aqui presentes, participantes estrangeiros. Gos-taria de expressar que para mim é uma honra muito grande poder participardeste Seminário Internacional sobre o contrabando de cigarros e poder exporo meu pensamento sobre as repercussões, os reflexos do contrabando edescaminho de cigarros na economia brasileira.

Procurarei ser rápido, mas, para entrar nas repercussões, precisoprincipalmente em respeito aos participantes estrangeiros, fazer um pequeno

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pano de fundo sobre a economia brasileira – muito rapidamente – e sobre osetor de fumo no Brasil, sobre o qual acho que até o momento nada foi trata-do, pela importância que ele apresenta. Depois, então, farei os meus comentá-rios sobre as repercussões propriamente ditas.

Inicialmente, queria destacar que a economia brasileira é a oitava domundo e passou, na década de 90, por profundas reformas institucionais, cons-titucionais e estruturais. Essas reformas tinham como objetivo principal, vamosdizer assim, transformar o papel do Estado na economia, tirando o Estado dassuas funções empresariais e produtivas e buscando concentrá-lo nas funçõestípicas de governo.

Esse processo de ajuste iniciou-se com o Governo Collor, nos anos90. O objetivo do Governo Collor foi tentar inserir a economia brasileira nanova economia mundial já globalizada, que requer mais competição entre asempresas e foi resultado também da falência do modelo de desenvolvimentovigente até então, que era baseado nesse Estado empresário.

Com a crise fiscal e o esgotamento da capacidade do Estado comoempresário, como investidor, isso quase que impôs a adoção de um amploprograma de concessões de serviços públicos, de privatizações e de reformasestruturais bastante polêmicas quase todas, como a do sistema previdenciárioou a do sistema financeiro. Tivemos uma mudança, talvez a mais ampla detodas, no setor de bancos no Brasil. Só para lembrarmos, se levamos qui-nhentos anos para construirmos um sistema bancário, em dois anos pratica-mente isso tudo foi transformado, com um novo sistema, acredito, agora muitomais estável e solidificado. E também nas funções administrativas do Governo.

O Governo do Presidente Fernando Henrique sucedeu o Governo doPresidente Itamar Franco, que substituiu o mandato do então cassado PresidenteCollor, teve o grande mérito de fazer a implementação do Plano Real, plano deestabilização econômica atuante no Brasil desde julho de 1994.

O Presidente Fernando Henrique fortaleceu esse processo de mo-dernização da economia brasileira. A par de todo o cenário de crise internaci-onal que tivemos, a crise da Ásia, a crise do México, a crise da Rússia, doJapão, da Argentina, há dez anos, e agora, mais grave ainda; mesmo o atual

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desaquecimento da economia americana, a política econômica brasileira con-seguiu significativo resultado na estabilidade de preços, no controle do pro-cesso inflacionário.

Para os que não conhecem bem a nossa história de inflação, estávamoscom taxas anuais de mais de nove mil por cento, o que não era muita novidadepara nós, brasileiros, porque em 1986 também tivemos taxas mensais de 90%,mas realmente tínhamos na sociedade brasileira o maior e o pior dos impostos, queera o imposto inflacionário, com uma grande capacidade de concentração de ren-da dos mais poderosos, e é talvez o mais regressivo de todos esses tributos.

Então, a par de todas essas dificuldades, temos um cenário de esta-bilidade de preços. Mas a economia brasileira logrou outros sucessos tam-bém, sendo o principal a alteração profunda no quadro das finanças públicas.Nos últimos cinco anos, temos tido superávits primários, receitas menos des-pesas, excluídos os juros e as variações monetárias, para não falarmos namalfadada correção monetária.

Esse superávit primário tem sido obtido nas três esferas do Gover-no. Antigamente, ele não era calculado assim. É fundamental ser mantido essesuperávit para que se possa ter uma redução da dívida pública em relação aoProduto Interno Bruto – PIB.

Muita gente pergunta como pode a dívida pública ter crescido tantonos últimos anos. Vale demonstrar que se a privatização arrecadou aos cofrespúblicos US$100 bilhões, considerando os valores das empresas mais as dívi-das que foram passadas, o reconhecimento do que chamamos de esqueletosou passivos ocultos supera esse valor significativamente. Somente o Fundo deCompensação de Variações Salariais tem um déficit de R$50 bilhões.

Então esse ajuste das contas públicas tem demandado um esforçomuito grande da população. Esse processo de ajuste fiscal está inserido den-tro de outras medidas de política econômica que aqui não vou colocar. Hoje oBrasil trabalha num sistema de inflation target,— inflação meta, temos umBanco Central atuante, não é um banco independente, mas tem bastante auto-nomia, e esse processo tem sido acompanhado por taxas de crescimento doproduto insuficientes ainda para reduzir a elevada taxa de desemprego.

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Essas questões, desemprego ainda alto, crescimento insuficiente,aperto de uma forma geral de toda a população, são muito importantes para acompreensão das colocações que pretendo fazer sobre o impacto do cigarro,por isso as fiz aqui.

Gostaria de falar um pouco sobre o setor do fumo no Brasil. Essesetor está presente na história do Brasil, pois já era plantado aqui antes do seudescobrimento, dizem os livros, e faz parte da nossa história agrícola e comer-cial. O Brasil é um dos maiores países produtores do mundo, tem um marketshare de 17% do mercado mundial, é também o sexto mercado consumidorde cigarros.

A cultura tem uma característica especial que tem que ser tratadaneste Seminário, porque engloba, somente no Brasil, conforme estimativas dosetor agrícola, 135 mil famílias, gerando um número de seiscentos mil agricul-tores, aproximadamente, trabalhando com fumo. E eles trabalham em peque-nas propriedades, 90% na região Sul do País. Embora em menor escala, ofumo também está presente no Nordeste.

Dessa pequena propriedade, somente 10% são utilizados com a pro-dução do fumo, de forma que o fumo mantém esse pequeno produtor no interiordo País, produzindo, e permite a utilização do excedente de terras para a produ-ção de milho, feijão e outras colheitas que ajudam tanto na subsistência do pro-dutor como, claro, complementam a sua renda. O que tem garantido uma rendaefetiva e estável para esses pequenos produtores é o fumo.

Também destaco isso porque nas minhas colocações acho que essemodelo pode estar comprometido.

A característica principal do negócio de fumo no Brasil – e não po-deria deixar de destacar – são as relações existentes entre a indústria e aprodução agrícola. Não diria que seja um modelo exemplar, mas que tem queser estudado. Teríamos que avaliar o seu lado meritório.

A indústria garante uma assistência técnica ao produtor, que con-ta com seguro também no caso de perdas de produção – acredito eu queseja optativo, mas com grande grau de aceitabilidade – e o mais importan-te, a discussão que ocorre entre indústria e produtores, de modo que não

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temos visto no Brasil nem desabastecimento do produto, o que afetaria asexportações e a produção, nem superprodução, o que jogaria os preços láembaixo. Também tem garantido uma renda estável para os produtoresagrícolas. Acho que essa é uma característica difícil de ser encontrada. Elatambém está presente na produção de frangos, de aves. Além do que aindústria também estabelece preços em parceria. Acho que esse é um pon-to-chave do setor, que deve ser colocado quando falamos da parte eco-nômica do problema.

Como já foi visto aqui, temos 12 ou 13 fabricantes de cigarros,com uma produção em torno de cem bilhões de unidades, 90% concentra-das em duas empresas.

Gostaria de destacar também que, além das seiscentas mil, as esti-mativas do setor apontam para um número em torno de dois milhões de pes-soas envolvidas na comercialização: seiscentos mil agricultores, trinta mil em-pregados nas indústrias de beneficiamento e fabricação de cigarros, então vêmvarejistas, transportes, logística, um universo significativo.

Em termos do comércio internacional de negócios agrícolas, as esta-tísticas até nos fazem duvidar mas, o fumo é o segundo produto agrícola daeconomia mundial, só perde para as frutas, porque estão incluídas nessa esta-tística das frutas o suco de laranja, e para as carnes também. Então não pode-mos esquecer que esse produto de que estamos tratando tem uma participa-ção muito grande no comércio mundial.

Nesse comércio mundial, o Brasil, como terceiro ou quarto maiorprodutor, com aproximadamente seiscentas mil toneladas, depois da China eda Índia, superou os Estados Unidos desde 1997. Estamos exportando algoem torno de metade da produção, 340 mil toneladas, pelo menos segundo osdados de que disponho.

Quais são os nossos mercados? Já houve perguntas aqui pela manhãa respeito do impacto da tributação de 150%, mas as grandes empresas nãoperderam com essa exportação para os países da América Latina, uma vezque a exportação está concentrada nos Estados Unidos, União Européia, Ja-pão, Rússia e a própria China também.

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Do mercado brasileiro de cigarros, 68% está atendido pelas empre-sas do mercado interno legalmente estabelecidas, 32% supridos pelo contra-bando e pelas contrafações, se não me engano, expressão utilizada no setor.

E a carga tributária do setor? Certamente, a principal causa do au-mento do descaminho de cigarros tem origem na diferença tributária existenteentre países e regiões. O caso do Mercosul já foi citado aqui, principalmente oParaguai. O problema não é exclusivo nosso, nem só de relações entre países.Os Estados Unidos enfrentam um sério problema de contrabando interno. OAlasca tributa com impostos estaduais 100% do preço do cigarro, Carolinado Norte, 5%. Há até um ranking de tributação; do imposto sobre a vendados estados americanos, e ainda há o imposto federal.

Esses números da economia mostram a importância do setorfumageiro, razão suficiente para que o Brasil atue de forma ativa nas discus-sões que afetam o rumo da fumicultura. A carga tributária no Brasil é elevada,sem dúvida, como em quase todos os países do mundo que estão preocupa-dos com o consumo de tabaco, que procuram desincentivar o seu uso, masacho que pouco se tem falado sobre uma questão de princípio.

Sempre falamos muito em princípio da tributação, regressividade,eqüidade. Aqui se trata de um princípio meritório. A tributação do cigarro émeritória, ela tem que ocorrer para, se não impedir, reduzir o acesso ao pro-duto pelos jovens, visando diminuir os atos de consumo. É meritória tambémpor uma outra questão abordada pela doutora do Instituto de Câncer, hojepela manhã, e pelos próprios representantes da British Tobacco e pelo Dr.Milton, que é o mal gerado pelo consumo do produto do fumo.

Ora, isso, na teoria de projetos, é conhecido como custo-som-bra, shadow cost. Esse é um custo dificilmente mensurado. Quando te-mos uma usina siderúrgica no nosso município gerando emprego e renda,também gera poluição e outros males à natureza. A tributação do cigarrotem o seu mérito, não apenas para reduzir o consumo, afastar os jovens,mas também porque gera, certamente, uma demanda por recursos fede-rais, estaduais e municipais para o combate às doenças geradas pelo pro-duto. Então essa questão que não é mensurada, porque é difícil medir esse

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shadow cost, tem que ser levada em consideração quando se estabele-cem os níveis de tributação do produto.

A tributação, como já vimos, está em torno de 70% do preço finaldo produto. Agora vou fazer um comentário talvez polêmico, cabe aos cole-gas representantes da indústria do fumo me questionar, mas acho que a altatributação não tem gerado um impacto negativo na rentabilidade dos fabrican-tes de cigarros, e tem permitido garantir uma renda elevada aos produtores dofumo. Não digo com isso que as empresas produtoras, principalmente as duasgrandes, não estejam sofrendo, mas pergunto se é pela tributação ou se elastambém são grandes vítimas do comércio ilegal, que, como vamos ver, afetasua capacidade de geração de riqueza.

Considerando somente IPI – para os de fora é como se fosse onosso IVA –, de competência federal, a participação do IPI, que era de 0,6%do PIB, nos anos 80, e se estabilizou em 0,4% do PIB, nos anos 90, caiu para0,28% do PIB. Então, observamos que a participação do IPI sobre o fumovem crescendo fortemente. Esse IPI do fumo corresponde ainda a 11% sobreo total do IPI, bastante significativo.

Dos tributos incidentes, gostaria também de alertar, como já foi co-locado, que 25% da carga do preço final são tributos dos estados, que tam-bém são muito prejudicados com o contrabando do cigarro, além dos municí-pios, devido às transferências constitucionais de Imposto sobre Circulação deMercadorias e Serviços – ICMS.

Além disso, foi instituído o Imposto de Exportação do cigarro, de 150%.Isso já foi tratado aqui, vou procurar não repetir o que já foi falado. Depois, sobreo fumo e sobre o papel e o filtro, para os países da América Latina.

Vistas essas questões tributárias e econômicas, gostaria de começaras minhas considerações sobre a repercussão ilegal de cigarros na economia.

A avaliação de qualquer medida de política econômica, qualquerproblema gerado à economia de um país, seja por fatores exógenos,endógenos, externos, internos, deve ser avaliada pelo contexto da socie-dade civil, famílias, empresas e Governo. Pelo menos nesses três elemen-tos temos que avaliar.

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Para o Governo, o comércio ilegal gera efeitos diretos e indire-tos. Os diretos, todos nós conhecemos bem, são os decorrentes da arre-cadação de tributos. Pensamos sempre no imposto sobre o consumo, noimposto sobre o cigarro, mas não podemos esquecer da redução do im-posto sobre o lucro das empresas que são afetadas pelo contrabando decigarros, no caso do Brasil, Imposto sobre a Renda e Contribuição Socialsobre o Lucro Líquido. E também a redução sobre o nível de empregos nosetor, que reduz fortemente as contribuições sociais, tanto para o Sistema“S”, Senac, Senai (escolas profissionalizantes que temos no Brasil), quan-to a contribuição para a Previdência, para o Fundo de Garantia do Traba-lhador. Todas essas contribuições são reduzidas, mas o seu impacto per-manece, porque tanto aqueles que perderam o seu emprego formal comoos que ingressaram no mercado informal são demandantes do sistemaprevidenciário e de saúde no País.

Ora, considerando essas estimativas de que um terço do mercadodoméstico que está sendo abastecido pelo comércio ilegal, há um prejuízo, umaperda de arrecadação em torno de R$ 1,2 bilhão. Isso, para os que não conhe-cem a nossa economia, significa 0,1% ou mais do nosso Produto Interno Bruto.

Essa questão é gravíssima para o Governo, porque, vejam os senho-res, falei do ajuste da economia, mas esqueci de mencionar que temos um acor-do com o Fundo Monetário Internacional, que vai até 2003. Esse acordo esta-belece metas de superávits de 3% do PIB; que agora foram elevadas para 3,5%,com uma tremenda repercussão, porque a única meta de impacto que mudou foia do superávit. Na de inflação, subiram dois pontos percentuais. Então a socie-dade como um todo está fazendo um esforço para obter um superávit nas contaspúblicas de 3% a 3,5% do PIB. Por outro lado, o contrabando de cigarros gerauma receita ilegal para os contrabandistas no valor de 0,1% do PIB. Quer dizer,o contrabandista de cigarros, toma da sociedade, uma pequena categoria ounúmero de pessoas se comparada com a população, um quinto do esforço queé demandado de toda a sociedade. Então os números são elevados.

Além desses efeitos diretos da arrecadação, os efeitos indiretos quenão vou repetir, pois já tivemos hoje de manhã a palestra sobre o aumento dos

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males gerados à saúde do consumidor que passa a demandar produtos dequalidade inferior.

O descaminho de cigarros e o contrabando acarretam ao Gover-no ainda elevados custos de combate, custos de veículos, pessoas, depó-sitos, processos administrativos, judiciais, ou seja, há um aumento que nemestá mensurado. Certamente um aumento no combate ao descaminho vaiaumentar esses custos, ou seja, são crescentes os custos do combate aocontrabando. E, para o Governo, o aumento do contrabando dificulta tam-bém a implementação de medidas voltadas para a simplificação e agilizaçãodas atividades do comércio exterior. Ao mesmo tempo em que precisa-mos modernizar o nosso sistema aduaneiro, sofremos, claro, uma críticade que o contrabando de Compact Discs – CD e cigarros está nas ruas, oque dificulta a adoção de novos meios modernos de controle das opera-ções internacionais.

Para as empresas legalmente instaladas no País, o comércio ilegal decigarros traz grandes prejuízos: primeiro elas têm que trabalhar com capacida-de ociosa. Como conseqüência, com menores projeções de ganhos, de resul-tados e, de rentabilidade para os seus acionistas. Elas também enfrentam aconcorrência desleal de produtos de menor qualidade, menor preço, sem falarna falsificação de suas marcas, que geram danos à imagem do produto, danosque dificilmente são avaliados.

Lembro que há alguns anos uísque no Brasil era o Chivas Regall. Logodepois o Chivas era sinônimo de contrabando, ninguém mais queria. Quer dizer,particularmente a Seagans deve ter perdido o mercado, porque ninguém dariauma garrafa de Chivas de presente, uma vez que ele era encontrado em todas asesquinas. Hoje, produtos de alto valor são comercializados a menos de 10% dopreço. Isso tende a destruir uma marca. Poderia citar outras marcas aqui, masvou me abster. É lógico que a marca tem um papel muito importante no negócio.Quando compro um cigarro e nem sei se é contrabandeado – acredito quemuitas pessoas que compram não sabem nem de 1% do problema – isso depõecontra uma imagem que foi criada pelas empresas, e elas nem sequer recebemroyalties. Além disso, as empresas também têm seus custos administrativos

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impactados, levando à elevação de gastos com processos judiciais, e investiga-ções particulares que acredito, que elas desenvolvam.

Devemos ressaltar ainda, outro ponto na questão empresarial. Que-ria retomar aquela questão sobre as relações entre agricultura e indústria, por-que o aumento do contrabando pode acarretar graves problemas sobre a es-trutura do setor de fumo no País. A queda no consumo de cigarros legalmenteproduzidos pode vir a impactar fortemente a área plantada. Com o excedenteque vi hoje pela manhã do Paraguai e Uruguai, em torno de setenta bilhões decigarros, é quase a totalidade do mercado, se eles já têm um terço, têm facili-dade. Se o contrabando não for contido, eles podem afetar o setor agrícola.Então teremos um problema social muito grave porque, como falei no início,são produtores que trabalham em pequenas propriedades, inclusive o contin-gente maior, 35%, não é sequer proprietário. Eles trabalham em pequenaspropriedades com um sistema de parcerias. Essa característica do setor, podevir a ser comprometida.

Quanto às famílias, não tenho muita avaliação, já falei do lado da saú-de, o impacto direto ocorre com a redução do emprego formal do cigarro e aconseqüente perda de renda dos trabalhadores. Além disso, o produto do fumotem características especiais. Considero que ele tenha uma elevada inelasticidadequando os preços sobem, porém nas classes de baixa renda que, no Brasil,correspondem à grande parcela dos consumidores, há uma elasticidade muitogrande de troca da qualidade pelo preço. Quaisquer dez centavos, quecorrespondam a 10% do preço do cigarro, são significativos na parcela de ren-da de um trabalhador de até dois ou três salários mínimos e 76% da populaçãocom carteira assinada no Brasil, recebe menos do que cinco salários mínimos.

Então basicamente são essas as minhas colocações. Queria, à guisa deconclusão, fazer uma síntese: o crescimento dos cigarros contrabandeados, queatinge 35% do mercado, provoca uma perda da arrecadação tributária para aUnião, estados e municípios; agrava os males gerados pelo fumo devido aoconsumo de produtos de má qualidade; leva as empresas nacionais a enfrenta-rem uma concorrência desleal e trabalharem com capacidade ociosa, reduzindoo nível de emprego e trazendo perdas para os trabalhadores da indústria; e, a

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médio prazo, se as vendas não forem contidas, o contrabando poderá afetar asrelações entre agricultura e indústria, com sérios problemas sociais.

Acredito que a indústria nacional saberá se aproveitar da redução daárea plantada nos Estados Unidos, dos problemas que o Zimbábue (outrogrande produtor) e má qualidade do produto da Índia e da China, e buscará ocrescimento no mercado internacional. Hoje o market share do Brasil estáem 17%, acho que deve crescer, o que garante renda ao nosso setor. E enten-do, finalmente, que, nesse momento em que a sociedade brasileira passa porum grande esforço de superação das dificuldades econômicas, o que requerelevado nível de arrecadação e forte contração de gastos públicos, mais doque nunca todas as ações possíveis devem ser realizadas para o combate aodescaminho e ao contrabando, especialmente ao de cigarros.

Muito obrigado. Fui breve, mas era o que tinha a colocar.Paulo Ricardo de Souza Cardoso – Obrigado, Dr. Márcio. Antes

de passarmos a palavra ao Dr. Renato, queria lembrar que as perguntas jápodem ser dirigidas à Mesa para que tenhamos tempo hábil para analisá-las erepassá-las aos palestrantes.

O Dr. Renato Bosso é representante da Secretaria de Fazenda doEstado de São Paulo, trabalha na Diretoria-Executiva de Administração Tri-butária, é bacharel em Direito, especializado em Contabilidade e Auditoria,e Agente Fiscal de Receitas da Secretaria de Fazenda do Estado de SãoPaulo. Ele falará para nós sobre o impacto do contrabando na economia,segundo a visão do Estado de São Paulo e dos demais estados, tendo emvista que, como o Dr. Márcio bem mencionou, a carga tributária de 70%que computamos nesse setor tem uma forte participação também dos tribu-tos devidos aos estados.

Renato Michel Bosso – Boa tarde a todos. Inicialmente gostariade externar a minha grande satisfação em representar a Secretaria de Fazendade São Paulo neste evento tão importante e de tema tão relevante para todosnós que trabalhamos nesse setor.

Antes de tudo, queria fazer um complemento. Atualmente, estou tra-balhando num órgão novo da Secretaria de Fazenda, criado na Diretoria-

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Executiva da Administração Tributária, que é a Assistência de Inteligência Fis-cal. Trabalhamos com a parte de informações.

Vou fazer uma breve análise do comércio ilegal de cigarros e o seuimpacto na arrecadação do Estado de São Paulo. Para tanto, vou seguir oseguinte sumário: primeiramente, vamos traçar os aspectos gerais da arreca-dação do ICMS, que é o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Servi-ços, no Estado de São Paulo, situando essa arrecadação em termos nacionais;depois situaremos o setor de fumo dentro da arrecadação do ICMS no Esta-do de São Paulo. Posteriormente, alguns aspectos do mercado nacional decigarros e do mercado ilegal, comentários sobre as empresas locais e, por fim,as medidas implementadas pelo fisco paulista nesse setor.

Antes de qualquer coisa, por que estamos enfocando a arrecadaçãode ICMS? Esse imposto hoje representa mais que 90% da arrecadação totaldo Estado de São Paulo, então é o principal imposto que incide sobre a circu-lação do cigarro. Temos que a arrecadação de ICMS, descontando a cota-parte estadual que soma 75% da arrecadação total, com base no exercício de2000, em São Paulo estava na casa dos 25 bilhões e 435,7 milhões de reais,e a arrecadação nacional, incluindo São Paulo, era de 68 bilhões e 85,4 mi-lhões de reais, ou seja, a participação de São Paulo na arrecadação nacionalde ICMS, com base no ano 2000, estava na casa dos 37,4%, o que é umvalor bastante expressivo.

O gráfico abaixo mostra, dados de 1995 até maio de 2000 — omontante da arrecadação do setor de fumo dentro da arrecadação total deSão Paulo. Podemos ver que varia mais ou menos numa média de R$400milhões/ano, e podemos observar, que há uma queda de 1995 para cá, por-que o setor de fumo ocupava 2,4% da arrecadação total da cota-parte esta-dual. Hoje, tomando por base o ano 2000, isso representa 1,8%, ou seja,podemos observar que há uma queda da arrecadação.

Consolidando as principais informações do gráfico, observamos umaqueda percentual da arrecadação do setor. A arrecadação média é de R$400milhões ao ano, como já foi dito, e a representatividade do setor na arrecada-ção total é de 1,8%, ou seja, não é uma arrecadação muito expressiva quando

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a comparamos com outros setores como telecomunicações e energia elétrica,que somam juntas mais de 20% da arrecadação do estado.

Podemos observar no quadro abaixo que a parte cinza do topo dográfico representa a fatia de mercado ocupada pelo mercado ilegal de cigar-ros. Notamos que, de 1994 até hoje, houve um aumento substancial, tendo oseu pico em 1998, na casa dos 34,2%. Com base no ano 2000, temos dadosna casa dos 25,5% do mercado.

Consolidando as informações do gráfico, observamos a perda demarket share das grandes, que são a Souza Cruz e a Phillip Morris, que,em 1991, estavam na casa de 94% do mercado, e, no ano 2000, em 68%.Ou seja, houve uma queda bastante expressiva. Nota-se também o cresci-mento do mercado ilegal de cigarros em dez pontos percentuais, de 1991até o ano 2000. Já foi falado na palestra do Dr. Cabral que a média dosúltimos três anos da produção nacional gira em torno de 143 bilhões deunidades produzidas, ou seja, que circulam no mercado nacional, das quais41 bilhões são ilegais, e 10,5% dessas unidades estão em São Paulo. Porfim, notamos o aumento da participação de empresas nacionais no merca-do de cigarros.

Arrecadação do ICMSArrecadação do ICMSSetor de FumoSetor de Fumo

332,3

389,4 391,5420,5

402,3 397,7

172,2

95 96 97 98 99 00 01

* Quota-parte estadual/valores nominais em milhões(até maio)

2,4% 2,4% 2,5%2,3% 1,7%2,2% 1,8%

Quadro 1

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Estima-se que o mercado ilegal de cigarros ocupe 25,5% do mercadonacional de cigarros, tomando por base o ano 2000, e que 21,9% do mercadoilegal esteja concentrado em São Paulo. Notei que na apresentação do Dr. Cabralesse dado difere um pouco e houve até uma pergunta nesse sentido, sobre asbases para chegarmos a esses números. Obviamente, quando falamos em mer-cado ilegal, falamos em algo que não temos como aferir precisamente, que sebaseia em estimativas do mercado, da indústria e do nosso sistema. Chegamos anúmeros próximos, mas a margem de erro não é pequena.

Foi calculada a evasão fiscal no Estado de São Paulo, no ano 2000,tomando como base a arrecadação total, incluindo a parcela dos municípios,em R$250 milhões, que é um valor razoável.

A composição desse mercado ilegal é a seguinte: 32% de origemnacional, que seria aquele “tiazinha” que foi mostrado pelo Dr. Cabral; 42%internacional, que são os cigarros que vêm de fora, do Paraguai e do Uruguai,entre outros, e os falsificados, que são os produtos de contrafação, em 26%.

Também no gráfico observamos que, no ano 2000, as empresas lo-cais já ocupam 6,4% do mercado nacional, em 1994 eram 3,1%. Ou seja,mais do que dobrou essa parcela de mercado. Uma característica peculiar

Mercado Nacional de CigarrosMercado Nacional de Cigarros

6 8 ,1 6 4 ,7 6 1 ,15 3 ,0 5 8 ,8 5 8 ,7 6 0 ,86 6 ,0

9 , 59 , 49 , 79 , 1

9 , 81 1 ,21 2 ,31 5 ,76 , 26 , 45 , 9

3 , 71 , 9

1 , 72 , 03 , 1

2 3 ,52 5 ,52 5 ,63 4 ,22 7 ,22 2 ,41 7 ,61 5 ,2

94 95 96 97 98 99 00 01

SC PM N ac Ilegal estimativa

Quadro 2

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dessas empresas, que observamos na Secretaria de Fazenda, é o pouco ounenhum recolhimento de ICMS. Isso afeta diretamente o índice de inadimplênciacalculado pela secretaria para o setor, tomando por base o débito declarado enão pago que, em 1998, era de 0,1%. Ou seja, 10% do débito declarado nãoera pago. No ano de 2000, esse índice subiu para 0,5%, isto é, 50% do valordeclarado não foi pago. E essas empresas utilizam a prática comum de falsifi-cação de selos de cigarros.

Só queria enfatizar que, enquanto representante da Secretaria de Fa-zenda de São Paulo, estamos começando os nossos trabalhos na área de cigar-ros agora mais intensamente, principalmente enfocando essas empresas que es-tão localizadas em São Paulo, devido à limitação da nossa competência de fis-calização. Então, quanto ao contrabando, nossa idéia é fazermos um trabalhoem parceria com a Receita Federal para coibir esse lado, mas as empresaslocais hoje são o principal foco da Secretaria de Fazenda de São Paulo.

Antes de abordar essas medidas implementadas pela Secretaria deFazenda, gostaria de comentar que a Secretaria de Fazenda de São Paulohoje está passando por uma reestruturação muito profunda. Existe um progra-ma de modernização financiado pelo BID, no qual há uma mudança de enfoquedos trabalhos fiscais. O que antigamente era enfocado sob o aspecto pura-mente tributário hoje apresenta uma mudança. Antigamente esse trabalho fis-cal era única e exclusivamente voltado para a recuperação do crédito tributá-rio; hoje já há uma mudança de mentalidade, o trabalho fiscal é mais voltadopara o aspecto penal tributário, ou seja, os trabalhos fiscais são maisaprofundados, a instrução probatória dos autos de infração é mais consisten-te, com vistas a uma possível acusação, um possível oferecimento de notícia-crime nos casos de crime contra a ordem tributária. Dessa forma, temos tra-balhado muito em parceria com o Ministério Público do Estado de São Paulo,e até conseguimos alguns êxitos nesse sentido.

Nesse programa de modernização foi criada a Assistência de Inteligên-cia Fiscal do Estado de São Paulo, que é uma estrutura voltada ao combate dasfraudes perpetradas por organizações criminosas que têm um alto poder lesivo aoerário. Esse é o objetivo principal. No decorrer dos nossos trabalhos, temos indí-

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cios de que essas empresas localizadas em São Paulo, que são o nosso enfoqueprincipal hoje, constituem-se regularmente, têm o seu estabelecimento físico, a suainscrição estadual, os seus funcionários, têm a produção, com essa característicade pouco ou quase nenhum recolhimento de imposto, mas por trás dessas empre-sas existem as organizações criminosas que praticam os mais variados crimes,desde a sonegação fiscal até a lavagem de dinheiro, entre outros.

Nesse sentido, não obstante ser o percentual da arrecadação atéinexpressivo, 1,8% do total, a Secretaria de Fazenda coloca hoje o setor decigarros como um dos principais objetivos de fiscalização. As medidas que es-tão sendo implementadas pelo fisco paulista na área de cigarros são as seguintes:estão sendo feitos um levantamento de informações do setor pela Assistência deInteligência Fiscal e o mapeamento dessas empresas locais. Já está sendo feito,também, o acompanhamento dessas empresas, que, segundo os parâmetrosestabelecidos por nós, apresentam um comportamento fiscal irregular. Por fim, aidéia agora é a criação de uma supervisão de fiscalização de cigarros dentro daorganização da Diretoria Executiva com o objetivo de criar uma equipe de fis-cais especialistas no assunto, ratificando a idéia levantada pelo Dr. Fröhlich, demodo que o trabalho fiscal seja executado com uma maior eficácia.

Para finalizar esta breve apresentação, queria ressaltar novamente aimportância deste evento, para concatenar as idéias, levantar questões, soluci-onar os problemas, mas o mais importante sob o enfoque da Secretaria deFazenda – e vejo que nas palestras anteriormente proferidas já se vem criandoessa idéia – é que, ao final deste Seminário, possamos sair daqui conscientizadosde que somente com a conjunção de esforços de todos os organismos públi-cos e privados, nacionais e internacionais, poderemos ter sucesso no combateàs irregularidades desse setor. Muito obrigado.

Paulo Ricardo de Souza Cardoso – Obrigado, Dr. Renato. Dan-do início à sessão de perguntas, vou pedir licença aos palestrantes, não mecontive e vou começar fazendo perguntas, até porque dois aspectos me cha-maram a atenção. Dr. Renato, segundo consegui captar da informação, embo-ra não estivesse num ângulo favorável, 50% dos valores declarados pelasempresas do setor não são recolhidos, é isso?

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Renato Michel Bosso – Exatamente.Paulo Ricardo de Souza Cardoso – Indagaria se a Secretaria de

Fazenda de São Paulo já tem um diagnóstico sobre a razão desse não-recolhi-mento. Emendaria na pergunta a questão sobre o que está sendo desenvolvidoou implementado em termos de execução desse débito fiscal.

Renato Michel Bosso – Constatado esse aumento no índice deinadimplência, como eu disse, a Secretaria de Fazenda, devido à sua limitaçãode competência de fiscalização, tem envidado esforços maiores nas empresaslocalizadas no estado, na verdade, não são muitas, em que, pelo seu modusoperandi, pudemos notar que há esse tipo de organização criminosa por trás,envolvendo paraísos fiscais, “laranjas” etc.

Atualmente está sendo desenvolvido um trabalho pela Assistênciade Inteligência Fiscal em algumas empresas sem resultados expressivos. Estásendo feito esse trabalho de acompanhamento e verificação, inclusive fora doestado, em contato com outros organismos até internacionais, para que pos-samos coibir esse tipo de prática.

Renato Michel Bosso – Esse problema da execução é muito sé-rio. Inclusive há um programa hoje, na Secretaria de Fazenda, chamado Pro-grama Imagem, do qual um dos pontos visa exatamente uma coisa impressio-nante que não existe hoje: a conjunção do trabalho da fiscalização com o daProcuradoria. Muitas vezes o trabalho fiscal bem feito, aprofundado, acabanão surtindo efeitos em termos de crédito tributário, o processo fica em cursoe não tem fim, porque uma das partes, que é a Procuradoria, não faz o seutrabalho de maneira correta, não há uma engrenagem. Hoje existe o ProgramaImagem na Secretaria de Fazenda que tem como um dos pontos o melhorentendimento entre a Procuradoria e a fiscalização.

Paulo Ricardo de Souza Cardoso – Pergunta de Márcia Teixeirapara o Dr. Márcio: “Conforme o palestrante, a elevada tributação não temprejudicado a rentabilidade do setor. Em razão disso, há espaço para a redu-ção do consumo e o aumento da arrecadação, com isso colaborando para amanutenção dos resultados favoráveis do superávit primário, como menciona-do”. Ela indaga se essa afirmação está correta. Pelo que entendi aqui, ela faz

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um comentário: “Cabe ressaltar que o Banco Mundial, o Fundo MonetárioInternacional – FMI e a Organização Mundial de Saúde apóiam tais medidascomo estratégias efetivas de aumento da arrecadação e redução do consumopara os países. Considerando que a folha de fumo para a manufatura de cigar-ros nos países transfronteiriços é oriunda do Brasil, especialmente da regiãoSul, como o mercado ilegal poderia impactar negativamente na agricultura?”

Márcio Ferreira Verdi – Respondendo essa parte final quanto àorigem da folha de fumo para a manufatura, com a tributação sobre exporta-ção, as vendas de fumo para os países limítrofes caíram e vão cair sensivel-mente, o que se tornará antieconômico. Como ela pode impactar negativa-mente a agricultura? Agora a indústria se mudou para lá. Como vimos, existemtrinta empresas de cigarros, e o produto está à venda na China, na Índia. Esseé o problema que a nossa agricultura sofre, porque não podemos exportarpara lá, uma vez que não são indústrias legais e querem trazer o produto devolta para contrabando, mas eles podem comprar no mercado internacional.Se essa compra gerar uma produção que entra no País e leva a uma redução,isso vai desestruturar o setor agrícola. Esse é o meu entendimento.

Quanto à primeira parte, “conforme o palestrante, a elevada tributa-ção não tem prejudicado a rentabilidade do setor”, não falo pelo setor, talvezeles pensem de outra maneira. Acredito que os números são razoáveis.

Em razão disso, há espaço para o aumento de preço do cigarro viaimpostos, objetivando a redução do consumo e o aumento da arrecadação.Os cigarros são baratos no Brasil com todo esse aumento. Vimos hoje osvalores, mas não sei se há espaço para o aumento, creio que não, porque acarga tributária, se não é a mais alta, já está em nível elevado, equivale à dosdemais países que também tributam cigarros de forma elevada. Se aumentás-semos mais o preço agora, pelas características do produto, a maior parte doconsumo migraria para produtos mais baratos que estão sendo supridos pelocontrabando. Seria um forte incentivo ao contrabando. Acho que aumentosde preço não têm muito espaço no momento.

Paulo Ricardo de Souza Cardoso – Renato Lacerda pergunta parao Dr. Renato: “Havendo São Paulo fechado os postos fiscais, como pretende

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a inteligência fiscal paulista rastrear os grandes deslocamentos de cargas elocalizar fornecedores, depósitos e armazéns ilegais?”

Renato Michel Bosso – Hoje a estrutura dessa Assistência deInteligência Fiscal ainda está sendo montada, mas já temos um corpo razoávelde fiscais distribuídos por todo o estado. Na verdade, para esse rastreamento,temos trabalhado muito sobre as informações. A tendência atual de todos osórgãos é a troca de informações, inclusive as que nos chegam por meio dedenúncias. Embora não tenhamos mais os postos fiscais de fronteira, a idéia écriar uma estrutura para que possamos abranger todo o estado e fazer essetipo de rastreamento embasados em informações fidedignas. Então primeiroestamos fazendo esse entrelaçamento de banco de dados de informações detodos os organismos, depois, com essa estrutura que vamos ter de fiscaliza-ção, vamos conseguir fazer esse rastreamento com certeza.

Paulo Ricardo de Souza Cardoso – Mauro Brito para Márcio:“Como e o que a Receita Federal, em conjunto com os demais órgãos deEstado, segurança, fiscalização, Judiciário, e também em parceria com a soci-edade organizada, poderá fazer para reverter o atual quadro? Em meu enten-dimento, é bastante preocupante o avanço da informalidade e do crime orga-nizado em detrimento da economia formal”.

Márcio Ferreira Verdi – Essa talvez seja a resposta do Seminário.Parece que a política tributária isoladamente não é suficiente para propor ealcançar todos os resultados e uma estratégia para o setor. Entendo que parase combater o avanço tem que ser uma ação conjunta de todos os poderes daFederação, um trabalho integrado das administrações tributárias, uma partici-pação do setor privado e até o que, às vezes, mensuramos mal no Brasil, queé a capacidade de resposta da população.

Estamos, para os colegas estrangeiros, vivendo uma crise de energiamuito forte. Há dois meses, a iminência do “apagão” como na Califórnia esta-va na porta da nossa casa. O Governo demandou à sociedade uma reduçãode 20%, e olhem que a sociedade anda meio chateada com o Governo, masreduziu em mais de 20%. Quer dizer, acho que a sociedade brasileira respon-de aos chamados.

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Cabe às áreas de saúde e tributação tratar o problema do contra-bando. Os males do produto já causam dificuldades para a saúde a longoprazo, que dirá o consumo de um produto sem garantia alguma. E também olado penal, fazendo com que o crime de contrabando seja considerado cadavez mais grave.

Respondendo à pergunta, política tributária isoladamente não vairesolver.

Paulo Ricardo de Souza Cardoso – Obrigado. Dr. Luiz Jair Car-doso, Superintendente da Décima, pergunta ao Dr. Renato: “Na prática docontrabando de cigarros e de outros produtos há sonegação de tributos fede-rais e estaduais. Por que as fiscalizações estaduais não atuam com mais inten-sidade na repressão desses ilícitos?”

Renato Michel Bosso – Fiscalizações estaduais, vou falar pelo Esta-do de São Paulo. Como é sabido, o contingente de fiscais no corpo da fiscalizaçãodo Estado de São Paulo não é o ideal, há falta de contingente. Também, tendo emvista esse programa de modernização que está sendo implementado na Secretariade Fazenda, hoje ela trabalha com algumas metas de arrecadação. Por isso, comofalei na minha apresentação, há setores que têm maior relevância na arrecadaçãode São Paulo. Esses são os enfoques principais. O setor de cigarros hoje se tornouum ponto importante para a Secretaria de Fazenda de São Paulo não pela suarepresentatividade na arrecadação, que é de 1,8% praticamente, mas, sim, pelosurgimento do modus operandi dessas organizações criminosas que estão prati-cando diversos crimes acobertados por empresas que funcionam com aparênciaregular. Por isso, inclusive, será criada essa supervisão de fiscalização de cigarrospara que o controle desse setor seja efetuado com mais eficiência.

Paulo Ricardo de Souza Cardoso – Mais uma pergunta do Sr.Delegado de Foz do Iguaçu, Mauro Brito, ao Dr. Márcio: “A tributação érealmente elevada ou na verdade há uma incompetência da sociedade e dopoder público em reprimir a evasão de tributos, receitas públicas, ou seja, aindução à justiça fiscal, todos contribuindo?”

Márcio Ferreira Verdi – Procurei demonstrar a questão que justi-fica a elevada tributação até por um princípio pouco explorado muitas vezes,

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que é a questão meritória. E acho que as razões sociais justificam. Agora, elaé elevada sim. Pelo menos na tabela que tenho, da Organização de Coopera-ção e Desenvolvimento Econômico – OCDE, o Brasil se encontra entre ospaíses que mais tributam em termos de percentual do preço. O preço é baratoainda. Enquanto se paga por um maço de cigarros até cinco dólares nos Esta-dos Unidos, aqui pagamos um preço que me parece barato. A tributação, emtermos percentuais, contando todos os tributos, selo de controle, PIS,COFINS, ICMS, e IPI, que dá 70%, é elevada.

Aí vem a outra questão colocada sobre se o preço pode subir mais.Acho que o momento requer um extremo cuidado para que não se crie maisum incentivo ao contrabando.

Gostaria de fazer uma correção: ao falar, fiz uma confusão nospercentuais. Não muda a significância, mas temos que corrigir. O esforço exi-gido pela sociedade brasileira toda, que é de 3% do PIB, e que agora estásendo revisto para 3,5%, dividido por todos nós, e o Governo tem que ter umexcesso de arrecadação sobre os gastos, então exige no mínimo do Governouma elevada arrecadação, e o Governo deixa de gastar esses 3% em benefí-cio da sociedade. O percentual de sonegação é de 0,1%, o que é muito eleva-do, porque é recebido por uma parcela mínima da sociedade. Errei quandocoloquei o valor aqui e fica a correção.

Paulo Ricardo de Souza Cardoso – Obrigado, Márcio.Gustavo, da Sefaz de Pernambuco, pergunta ao Dr. Renato: “Você

não atribui a sonegação do setor de cigarros à acomodação dos fiscos estadu-ais em garantir a arrecadação em substituição tributária, no caso, combustí-veis, energia elétrica e comunicações, assim como a falta de acompanhamentodos fiscais da distribuição do produto?”

Renato Michel Bosso – Segue mais ou menos a idéia da per-gunta anterior. Hoje a Secretaria de Fazenda de São Paulo realmente tra-balha com metas, com fatores de relevância, mas acho que, nesse caso –até conversava com o Dr. Paulo Ricardo no almoço –, de nada adianta oesforço fiscal na ponta do iceberg, pegando os camelôs, o varejo. Nãovamos coibir essa prática, mesmo porque nem temos contingente para isso.

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Acho que a tendência hoje é integrarmos o sistema de inteligência de to-dos os órgãos de modo a conseguirmos chegar ao distribuidor, ao focoprincipal de distribuição desse produto. Aí, sim, vamos poder coibir essasações, vamos inviabilizar as grandes margens de lucro e essa prática tãofreqüente nesse setor.

Paulo Ricardo de Souza Cardoso – Mais alguma pergunta? En-quanto chega a pergunta, Dr. Márcio, 1% do PIB?

Márcio Ferreira Verdi – zero vírgula um por cento, o que é muito.Paulo Ricardo de Souza Cardoso – Dr. Renato, após a criação da

Assistência de Inteligência Fiscal em São Paulo, qual o volume de cigarrosapreendidos com as informações obtidas?

Renato Michel Bosso – Como falei, começamos a aprofundar ostrabalhos no setor recentemente, quando demos maior importância para essesetor. Estamos trabalhando sobre as empresas locais com aqueles indícios deque falei, que acobertam crimes perpetrados por organizações criminosas.Então não estamos atuando necessariamente sobre essa grande apreensão.Deixamos isso por conta dos amigos da Receita Federal.

Paulo Ricardo de Souza Cardoso – Na realidade, respondendoàquela pergunta feita ao Márcio, não podemos atribuir responsabilidade aum único órgão ou a um único ente do Estado. Esse problema do setortabagista é grave, afeta todas as instâncias do Governo, inclusive em dife-rentes áreas, não só a tributária, como a econômica, e a da saúde. Na reali-dade, por meio da conjunção de esforços é que poderemos chegar a umasolução desse problema.

Começamos o dia de hoje tratando de saúde, passamos para aárea de fiscalização criminal dos países e estamos encerrando com os as-pectos econômicos do nosso país. Vimos os números que o Dr. Márciotrouxe em relação aos aspectos da economia nacional, os números trazidospelo Dr. Renato em relação à participação do ICMS nesse contexto desonegação fiscal, evasão tributária. Verdadeiras quadrilhas praticando osmais diversos ilícitos na área de sonegação. Dessa forma, creio que o dia dehoje foi muito produtivo para começarmos essas discussões, e, seguramen-

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te, ao final do evento, teremos algumas respostas mais contundentes. Certa-mente, muitas dúvidas ainda ficarão para serem respondidas ao longo dotempo pelas mais diversas administrações tributárias. Muito Obrigado.

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Moderador

LLLLLUIZ JAIR CUIZ JAIR CUIZ JAIR CUIZ JAIR CUIZ JAIR CARDOSOARDOSOARDOSOARDOSOARDOSOSuperintendente da 10 Região Fiscal da Secretaria da Receita Federal / Brasil

Palestrantes

RONALD MARSHALLRONALD MARSHALLRONALD MARSHALLRONALD MARSHALLRONALD MARSHALLMembro da Alliance Against Contraband e Gerente de Operações Globais doGrupo de proteção às marcas da British American Tobacco / Canadá

MÁRIO SEIKEN NAKASAMÁRIO SEIKEN NAKASAMÁRIO SEIKEN NAKASAMÁRIO SEIKEN NAKASAMÁRIO SEIKEN NAKASADelegado da Polícia Federal / Brasil

Painel IV

FFFFFALSIFICALSIFICALSIFICALSIFICALSIFICAÇÃO DE CIGARROS EAÇÃO DE CIGARROS EAÇÃO DE CIGARROS EAÇÃO DE CIGARROS EAÇÃO DE CIGARROS EO CRIME ORGANIZADOO CRIME ORGANIZADOO CRIME ORGANIZADOO CRIME ORGANIZADOO CRIME ORGANIZADO

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Mestre de cerimônia – Dando prosseguimento, nesta segundamanhã, aos trabalhos do Seminário Internacional sobre Fraudes no Setor deCigarros, serão abordados dois painéis, com os temas: Falsificação de Ci-garros e o Crime Organizado; e Aspectos Jurídicos Relacionados com oSetor de Cigarros.

Abordaremos, agora, o Painel IV, com o tema Falsificação de Ci-garros e o Crime Organizado.

A Mesa do Seminário estará composta pelas seguintes autoridades:Dr. Luiz Jair Cardoso, Superintendente da 10ª Região Fiscal da Secretaria daReceita Federal, que presidirá a Mesa e será o Moderador deste painel; Dr.Ronald Marshall, da British American Tobacco, Reino Unido; Dr. Bruno Shild,da Associação Brasileira da Indústria do Fumo – ABIFUMO, Brasil, e o Dr.Mário Seiken Nakasa, Delegado da Polícia Federal, Brasil. Passamos a pala-vra ao Dr. Luiz Jair Cardoso.

Luiz Jair Cardoso – Bom dia a todos. Minhas saudações aos su-perintendentes da Receita Federal, aos delegados da Receita Federal, inspe-tores, demais auditores, colegas do Ministério da Fazenda, senhores repre-sentantes do Poder Judiciário, do Ministério Público Federal, da Procuradoriada Fazenda Nacional, das secretarias de fazenda dos estados, aqui presentes;saudações também aos representantes de organismos internacionais, que em-prestam, com suas presenças, um especial brilho a este Seminário.

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Minha declaração de amor e apreço a esta escola, por onde iniciei,em 1978, minha trajetória de vida tributária, da qual, ao longo desse tempo detrabalho, só colhi vitórias e satisfações pessoais. Também a minha homenagemespecial à Dra. Fátima Cartaxo, nossa colega da Receita Federal e digníssimadiretora desta escola, que, com sua competência e zelo, carinhosamente dirigeeste estabelecimento de ensino.

Quero saudar também, nesta oportunidade, o Dr. Jorge Rachid, nossoSecretário-Adjunto, e a equipe de coordenação deste evento, que, em boahora, reúne tantas pessoas da mais alta qualificação e competência para refle-tir, discutir e encaminhar soluções capazes de minimizar ou atenuar a gravequestão do contrabando e falsificação de cigarro em nosso país.

Que Deus nos abençoe e ilumine, para que, ao final deste evento,possamos ter rumos definidos, capazes de encaminhar ações e soluções paraatenuar esse grave problema que afeta os cofres públicos, com a evasão, afetaa saúde pública, com produtos de qualidade inferior, atinge a economia nacio-nal como um todo e pode também afetar a credibilidade das instituições, senão conseguirmos responder à altura e com efetividade as vultosas ações damáfia do contrabando e do crime organizado em nosso país.

Minha especial saudação aos componentes da Mesa, já nomeados,que serão palestrantes deste Painel IV sobre Falsificação de Cigarros e oCrime Organizado.

Tenho o prazer de apresentar o primeiro palestrante desta manhã, oDr. Ronald Marshall, membro da AAC, Gerente de Operações Globais doGrupo de Proteção às marcas da British American Tobacco, foi Oficial daInteligência do Exército Britânico, na graduação de Tenente-Coronel, durantetrinta anos, e está a cargo da antifalsificação, da British American Tobacco,desde 1993. Com a palavra o Dr. Ronald.

Ronald Marshall – Sr. Presidente, colegas da Mesa, senhoras esenhores, bom dia. É um prazer estar aqui e ter a oportunidade de falar comtodos vocês sobre assunto tão importante.

Antes de começar a minha apresentação propriamente dita, gostariade fazer algumas reflexões sobre os comentários feitos pelos apresentadores de

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ontem, especialmente um comentário feito pelo Dr. Fröhlich, que levantou a se-guinte questão retórica: será que a falsificação é um problema de taxação, ounão? Estive aqui, assim como o público, pensando sobre essa pergunta e preci-samos considerar o seguinte: será que essa é realmente uma questão de tributa-ção? Gostaria de indagar, se formos refletir acerca das partes deste Seminárioque falam sobre contrabando de produtos tributáveis e falsificação, qual seria aquestão mais importante? Diria o seguinte: o contrabando de produtos tributáveisé o maior problema, o contrabando simplesmente pode não ser considerado umproblema sério, porque temos uma tradição de lidar com os consumidores ecom os direitos dos consumidores, por isso é importante considerar tudo isso.

Estou dizendo isso porque a falsificação não é apenas uma fraude,mas é o engano da população. Quando o consumidor compra um produtofalsificado, e você pode perceber que é um produto falsificado porque não éuma marca muito conhecida, ou é muito conhecida, mas está falsificada, nãoexiste nenhum controle político sobre esse produto. E quando o consumidor ocompra no mercado, ele não tem nenhuma escolha, é uma cópia perfeita doproduto original. E eu sugeriria aos senhores que o produto original é um pro-duto de qualidade e está sujeito a controles políticos. E nenhum controle dequalidade ou controle político é feito sobre os produtos falsificados.

Portanto, existem muitas partes interessadas nesse setor, não é sim-plesmente um interesse de autoridades fiscais ou autoridades legislativas, exis-tem outras partes interessadas nessa matéria, assim como o Ministério da Saúdee outros ministérios, porque estamos falando de uma questão de direitos doconsumidor. É um dos pontos que gostaria de esclarecer porque, quando fala-mos de falsificação, referimo-nos a um problema realmente sério.

Vou começar a minha apresentação e vou falar sobre um problemaglobal. No quadro abaixo mostramos que existem quatro grandes interessa-dos no mercado de cigarros. Essas pessoas têm 72% dos 5.300 milhões domercado oficial. Na verdade o mercado é muito maior do que isso. Existem,na verdade, cinco grandes partes interessadas.

Como vocês podem ver, o quinto ator principal é o grupo de falsifica-dores. O difícil, para nós e para as autoridades, é tentar quantificar e escalonar

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esse problema. A quantificação do problema é muito difícil porque precisamosencontrar os produtores originais e as autoridades desse campo, e porque umproduto falsificado pode ser visto como uma cópia tão boa, que, talvez, sejaimpossível distinguir a diferença entre o produto genuíno e o produto falsificado.

Portanto, poderia haver muitas quantidades de produtos falsificados nomercado, que, simplesmente, seriam não-identificados. Mas, no nosso serviço deinteligência e com as fontes de inteligência que temos, estamos tentando quantificaros cigarros falsificados no mundo, o que é um problema muito grande.

Olhando para a questão da falsificação, temos que considerá-la comoum problema genérico. E a realidade é que nos anos 90 assistimos a umaexplosão de produtos falsificados no mercado mundial. A Câmara Internacio-nal de Comércio estima que os produtos falsificados respondam por cerca de5% a 10% do comércio mundial, o que representa mais de trezentos bilhõesde dólares americanos ao ano. Isso é uma variação diferente da que foi apre-sentada ontem, mas é uma estimativa. Acredito que 5% a 10% podem não serum fator real, porque ninguém sabe de fato qual é o valor dos produtos falsifi-cados. Então, eu trouxe uma estimativa geral.

Quando falamos de cigarros falsificados, nos últimos anos, a China temsido a maior fabricante desses produtos, seguida pelos países do Leste Europeu.

Analisando a abrangência e a dimensão do problema, aqui temosuma lista de países que, até onde eu saiba, são ativamente envolvidos nasproduções e falsificações. Todos os países listados no quadro abaixo, têmproduzido cigarros falsificados. Existe um número muito grande de países quenão estão relacionados porque não temos uma estimativa importante. Gostariade enfatizar aqui, novamente, o que o Dr Frölich disse ontem, o fato de que osEmirados Árabes estão participando ativamente da falsificação de cigarros eservem como trânsito para cigarros falsificados. Gostaria de dizer que há umadiferença entre contrabando de produtos não-tributáveis e contrabando deprodutos tributáveis. Mas os Emirados Árabes estão entre os maiores produ-tores e maiores contrabandistas das duas formas.

A dimensão global e o impacto regional. O que eu gostaria de enfatizaraqui, e não pretendo falar muito sobre a China, porque o meu colega Bruno

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Shild vai falar dessa situação naquele país, e ele tem melhores detalhes parafornecer, mas o que gostaria de enfatizar é que, neste momento, a China é omaior produtor de cigarros falsificados. E o que vemos na China, nos últimosdez anos, é que, primeiramente, temos um aumento dos volumes, uma melhoriana qualidade dos produtos falsificados, e isso é importante, porque produtofalsificado de boa qualidade é difícil ser identificado. Aqui no Brasil e no restoda América Latina podemos dizer que estamos vendo um aumento muito sig-nificativo nas exportações.

Não posso deixar de mencionar isso, embora o Bruno vá falar me-lhor do que eu, que a China promove o trânsito das atividades transnacionaisde contrabando. Os produtos que estão sendo contrabandeados da China,nesse caso são as marcas falsificadas da Souza Cruz e marcas argentinas decigarros (Carlton, Hollywood, Free, Derby e Joquey). As exportações sãofeitas para Iquique, no Chile, e os cigarros são produzidos pela Corporaçãode Tabaco Chinesa, que é a maior produtora mundial de cigarros.

Também gostaria de esclarecer que esse é apenas um dos muitosprodutores chineses de tabaco. Eles estão apenas produzindo cigarros, por-que os produtores do Paraguai produzem documentos falsos para dar umamaquiagem legal aos cigarros falsificados. A questão chinesa é clara, na minhaopinião. Os chineses não falam português nem espanhol, portanto aceitamesses documentos falsificados, produzem esses cigarros e transportam os ci-garros para Iquique, no Chile. Esses cigarros entram no continente sul-ameri-cano através de Iquique, e é claro que a sua destinação mais importante é oBrasil, a Argentina e outros países do Mercosul.

Temos alguns números que demonstram a gravidade da situação nestemomento. Também gostaria de mostrar o potencial em termos de volume.Vocês podem ver que os volumes exportados para Iquique foram de 371milhões de unidades. Para colocar isso numa perspectiva diferente, para aquelesque não estão dentro do negócio, isso é equivalente a contêineres de 42 por40 pés. É muito grande.

Esse volume todo de apreensões, e aqui gostaria de dizer que tenhoum amigo de Turiaga, no Chile, e os chilenos estão percebendo que devem

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apreender cigarros falsificados, e essas apreensões respondem por mais de161 milhões de unidades que já foram destruídas.

Sei que existem representantes do Paraguai aqui na platéia, mas precisodizer que, do ponto de vista da falsificação, o Paraguai é uma grande fonte decigarros falsificados, infelizmente. E a conseqüência dessa produção tem um im-pacto sobre as legislações ao redor do mundo.

O Egito também tem sido um grande produtor de cigarros falsifica-dos. Eles estão fazendo Belmont, que é uma marca conhecida mundialmente,estão produzindo e exportando para a Colômbia e a Venezuela. Neste casonão é uma operação ilegal, os cigarros são produzidos pela Companhia deTabaco Chinesa e são mandados para o Egito. Novamente, é uma situaçãosui generis, porque os produtores vão para essa companhia, fazem uma “lim-pa”, fazem documentos ilegais e autorizam o Egito a fazer cigarros com essefumo falsificado. Mas não é uma falsificação de cigarros propriamente dita.

Continuamos com o fator chinês e alguns fatos fundamentais. ACorporação de tabaco Chinesa de Fumo é a maior fabricante de cigarros nomundo. O consumo total de cigarros na China é estimado em 1,67 trilhão ao ano.Isso significa um terço do consumo de cigarros mundial. Calcula-se que a produ-ção anual chinesa de cigarros falsificados está em cerca de cem bilhões de unida-des. Novamente, cem bilhões de unidades. Ao analisarmos esse número de cembilhões vemos que muitos desses produtos estão dentro do mercado domésticochinês e uma pequena parte é para exportação. A realidade é que essa é uma basemanufaturadora importante, e essa base está orquestrada e organizada por sindi-catos criminosos que estão trabalhando em províncias de Fujiama e em outrasprovíncias chinesas e são grandes exportadores de cigarros falsificados.

Um novo fenômeno, e estou pedindo que vocês analisem isso, conside-ro vocês como clientes, é o e-commerce, uma prática nova para todos os negóci-os, e os contrabandistas já tiveram acesso a essa nova modalidade de comércio.

Novamente como o Dr. Fröhlich falou ontem – a minha apresentação,na verdade, é um complemento da dele, porque foi muito brilhante, apenas tenhoalguns detalhes a mais para dizer –, o desafio é encontrar o produto. Quandotemos acesso à Internet – a Internet é um mundo em termos de investigação –,

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precisamos ter uma barreira para proteger as nossas informações contra o acessomundial. E para proteger os produtores também. Espero que vocês possam per-ceber os detalhes da oferta na Internet. Vocês podem perceber que a oferta vemda China e eles estão oferecendo todos os tipos de cigarros. É uma página chinesacom a lista de cigarros que são oferecidos e são contrabandeados. Em outroanúncio a página mostra uma diferença das vendas feitas pela Internet. A oferta émuito mais fácil porque a Internet é um mercado global.

Temos nas primeiras linhas da página, um demonstrativo, de pro-dutos oferecidos que são contrabandeados. E eles estão utilizando uma imi-tação muito ruim. A imitação e a falsificação estão presentes nessa página.

Gostaria de voltar ao ponto onde falamos de controle de qualidade.As condições em que esses cigarros são feitos são primitivas. Não estamosfalando de produtos bem falsificados, como talvez CD, produtos bem-feitos,com papéis de qualidade, fumo de qualidade. Não, estamos falando dos lo-cais que fazem cigarros com ratos passeando pelo fumo, fazendo xixi no fumo.Então, esse produto traz um perigo real para os consumidores.

Faço uma pergunta: o contrabando é sinônimo de falsificação? E aresposta é sim. Alguns fatos e números mostram isso. Nos primeiros seis mesesde 2001, ou seja, este ano, as autoridades alfandegárias e outras competênciasao redor do mundo apreenderam mais de 560 milhões de cigarros falsificados.

Gostaria de dizer que temos que refletir numa questão levantada on-tem pelo Dr. Fröhlich quando ele deu os números das apreensões feitas pelasalfândegas. Em todas as ocasiões foi demonstrado que, no ano 2000, foramapreensões de cigarros falsificados. E a pergunta é: por quê? Acredito queposso dar uma resposta para essa pergunta, uma resposta parcial, pelo me-nos. Uma das coisas que acontecem é que essa indústria de fumo trabalhanuma instância produtiva. E temos uma atividade onde os funcionários alfan-degários estão trabalhando com indústrias. O programa da China apreendeumuitos produtos manufaturados. De 1998 a 1999, a maioria dos países queproduziam cigarros exportavam esses cigarros para o sul da China, ou seja,Fujiama e Guengon, que eram as portas de entrada para outras provínciascomo Xenzen, Xanto e outras.

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E é relativamente fácil, especialmente na Europa, para as autorida-des alfandegárias provarem que esses cigarros falsificados estão entrando nessesmercados. E gostaria de chamar sua atenção para isso. Em 1999, especial-mente, na minha perspectiva, tivemos uma aceleração de contrabando na Eu-ropa, o que é fantástico, porque em 2000 tivemos uma continuação disso e adificuldade cresce cada vez mais para acabar com esse mercado. A Chinaestá envolvida nesse negócio, seus contrabandistas são muito espertos e sofis-ticados, eles sabem o que os agentes alfandegários estão fazendo, e, por isso,fazem coisas diferentes e estão utilizando outras rotas, como Hamburgo. Issoé uma camuflagem para a exportação dos produtos que vêm da China. Elespodem usar embarcações, que saem dos portos chineses, e levar essas em-barcações para Hong Kong. Hong Kong é o maior contêiner mundial dosprodutos falsificados, porque é um lugar muito ativo, é um terminal que recebeesses produtos falsificados. Portanto, no porto de Hong Kong é onde sãorecebidos os produtos falsificados.

Quando os consumidores analisam um produto, eles não analisamo que vem da China, mas, sim, de Hong Kong. E Hong Kong tem um nomeforte no mercado. Os contrabandistas estão numa fase além dessa, porqueeles estão fazendo com que os produtos passem por Hong Kong, tenham onome de Hong Kong e cheguem ao Sri Lanka e a outros países, para que osconsumidores comprem esses produtos porque têm o nome de Hong Kong.Por exemplo, para transportar os contêineres de Portland, eles usam docu-mentos falsos para criar uma máscara de legalidade que não existe. Portan-to, é extremamente difícil para as autoridades alfandegárias em Hamburgo,em Roterdã ou em outros lugares, como São Paulo, ou mesmo Buenos Aires,identificar a falsidade dos produtos, é uma dificuldade global. E vocês po-dem ver que em todas as ocasiões os cigarros eram contrabandeados eeram ocultados. E em cada caso, eles eram declarados como produtos dife-rentes, desde brinquedos até móveis.

Um exemplo recente de apreensões aqui na América Latina foi pelaalfândega argentina, que apreendeu quatro contêineres de cigarros falsifica-dos, que eram exportados da China, onde as mercadorias eram falsamentedeclaradas como itens de artesanato. Após isso, os falsificadores continuaram

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em atividade, a despeito dessas apreensões feitas na Argentina. E novamentecontinuam declarando os produtos falsamente. Sei que existem argentinos aquino público e gostaria de agradecer a sua ajuda.

Mas o ponto mais importante – novamente estou apoiando o que oDr. Fröhlich disse ontem – é que não é uma luta fácil, porque os falsificadorescontinuam trabalhando e falsificando os produtos.

Gostaria de enfatizar que existe um elemento substancial no lucrodos produtos falsificados, e isso é bem entendido por todo o público desteSeminário. O Reino Unido é um exemplo muito bom de como os falsificadorespodem ter lucro com o contrabando. Aqui vou utilizar o termo potencial, por-que, se os contrabandistas vão passar o produto, vou recomendar um produtoque seja de varejo, por isso estou mostrando esses números aqui. Mas, nocaso de um maço de cigarros que está sendo comprado na China, as grandesmarcas são vendidas por vinte centavos de dólar americano o maço; no ReinoUnido, esse preço de varejo é muito maior, é de seis dólares por maço. Nacoluna da direita, estou falando sobre unidades, que são novecentas caixas.

O Dr. Harald falou ontem do fato de que esse carregamento de cigarroscusta muito, feito por mar ou por terra. Existem 15 mil dólares envolvidos naliberação desses produtos. Essa é uma propina que os contrabandistas estão pa-gando para os agentes alfandegários, para poderem contrabandear os produtos.Olhando esses números, pode-se ver que o custo é de 108 mil dólares. O produtoé vendido por 2,7 milhões de dólares. Então o lucro desse produto é de quase seisbilhões de dólares, muito dinheiro por contêiner. Assim vocês vão entender a dinâ-mica financeira da situação de contrabando, que realmente traz muito lucro.

Faço a seguinte pergunta: o contrabando e a falsificação são sinônimos?Sim, são, basta ver quanto dinheiro as máfias e as gangues estão ganhando comessa atividade criminal, que é uma atividade muito lucrativa. Eles podem comprargrandes tanques de petróleo, ou grandes tanques de combustível, e podem con-verter esses tanques em contêineres de produtos falsificados.

Um exemplo de falsificação — caminhão carregado com um fundofalso, e os cigarros são transportados nesse fundo falso, contêiner — tubocom cigarros falsificados. Eles chegam até ao extremo de esconder os cigar-

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ros dentro de potes de sorvete. Os potes têm fundos falsos, e os cigarrosestão escondidos aqui dentro. Vejam que os contrabandistas são muito sofis-ticados e muito espertos também.

Agora, gostaria de começar a dar algumas soluções, que são suges-tões, na verdade. Sugeriria que, para lidar com esse problema, nós precisa-mos de parcerias entre setores privado e público, do contrário não encontra-remos soluções para o problema. Acredito que precisamos aperfeiçoar nos-sas legislações. Para dar alguns exemplos, existem pontos fracos na legislaçãointernacional em jurisdições diferentes.

Recentemente, conseguimos apreender um contêiner de cigarrosfalsificados no Egito. Recebemos uma denúncia de advogados do Egito,precisávamos seguir a lei egípcia, ou a lei internacional para podermosapreender essas mercadorias. No Egito, essas mercadorias não foram apre-endidas porque estavam indo para a Bulgária, e a Bulgária não tem nada aver com o Egito. Portanto, precisamos de legislações comuns. Foram paraa Jamaica, e depois para as Antilhas Holandesas, e o destino final seria,realmente, Curaçau. E Curaçau e o Egito não têm leis parecidas. Pedimosàs autoridades na Jamaica para inspecionar o contêiner, e eles confirma-ram que realmente o contêiner continha quase quatro milhões de unidadesde cigarros falsificados, da marca Belmont. Eles liberaram essa mercado-ria porque não tinham bases legais para apreendê-la, visto que essa mer-cadoria estava em trânsito, vinda de outro país. Portanto, esse contêinerchegou ao destino final em Curaçau, e na sexta-feira passada finalmenteapreendemos essa mercadoria.

Mas a nossa legislação deve realmente ser aperfeiçoada de modointernacional para que possamos coibir esse crime global.

O terceiro ponto seria a coordenação nacional, que é um ponto que jáestá sendo trabalhado. Também estou preocupado com coordenações interna-cionais e regionais. Como o Dr. Fröhlich disse, esse é um problema transnacional.

Por último, não é uma sugestão propriamente, mas é um apelo; pes-soalmente gostaria de ver uma comunicação aperfeiçoada entre a alfândega,as autoridades reguladoras e os detentores das marcas. Esta é uma crítica que

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estou fazendo: freqüentemente as autoridades alfandegárias falham em infor-mar aos detentores das marcas que as mesmas estão sendo apreendidas efalsificadas. Esses detentores precisam saber disso. Vou apoiar o comentáriode ontem do Dr. Fröhlich, de que precisamos trabalhar juntamente com asautoridades alfandegárias.

Muito obrigado por sua atenção.Luiz Jair Cardoso – Tivemos a brilhante palestra do Dr. Marshall e

gostaria de avisar a quem quiser formular as perguntas que já podem fazê-las,entregando-as às pessoas que estão nas laterais do auditório.

Pediria também que as perguntas formuladas fossem as mais claraspossíveis na sua descrição, inclusive a caligrafia, pois tenho dificuldade deidentificar algumas.

Passaria para o próximo palestrante desta manhã, Dr. Mário SeikenNakasa, cujo extenso e brilhante currículo resumimos no seguinte:

Bacharel em Direito, ingressou no serviço público federal em 1973,por concurso público, exerce o cargo de Delegado de Polícia Federal desde1981. Nos últimos cinco anos exerceu as seguintes funções: Delegado Regio-nal da Polícia Federal, no Distrito Federal, de 1995 a 1998; exerceu a funçãode Adido da Polícia Federal junto à Embaixada do Brasil em Assunção doParaguai, de fevereiro de 1999 até janeiro de 2001. E, atualmente, é o Chefeda Divisão de Polícia Fazendária, da Coordenação-Geral Central de Polícia,do Departamento de Polícia Federal, em Brasília.

Com a palavra o Dr. Mário.Mário Seiken Nakasa – Gostaria de cumprimentar a Mesa, os

senhores participantes, e, em nome do Departamento de Polícia Federal, agra-decer o convite da Receita Federal, por intermédio desta Escola, e parabeni-zar também por este importante Seminário, que já se fazia necessário. Acredi-tamos que deste Seminário devam sair várias idéias para que as nossas altasautoridades fazendárias, isso incluindo no âmbito da aduana e a Polícia Fede-ral, possam adotar algumas medidas que visem diminuir a pirataria, o contra-bando, enfim, a fraude na área de cigarros. Eu iria até mais além, o tabaco demodo qual, abrangendo aí os charutos.

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Gostaria de fazer uma pequena introdução em relação à Polícia Fe-deral. Ela está inserida na Constituição como um dos órgãos integrantes dosistema de segurança pública do Brasil. E lá são elencadas várias atribuiçõespara todos os órgãos do sistema de segurança pública. No art. 144, § 1º, nosseus incisos, está o rol de atribuições da Polícia Federal. Dentre suas atribui-ções da Polícia Federal extraímos as competências de suas atividades ou áre-as de atuação dela. Uma delas seria a de polícia fazendária, sendo que com-pete à Polícia Federal prevenir e reprimir o contrabando, as fraudes, a sone-gação, no interesse da União.

Isto posto, gostaríamos de esclarecer que a Polícia Federal é oórgão de apoio a todas as instituições da União, inclusive para a ReceitaFederal. E, por isso, estamos trabalhando e nos aproximando da Receitapara fazermos parcerias a fim de atingirmos objetivos comuns. É política doGoverno Federal que todos os órgãos atuem nas suas atribuições, mas tra-balhem em conjunto, com um objetivo único. Isso já está sendo feito emdiversos estados, a Polícia Federal tem atuado não só com a Receita Fede-ral, mas com outros órgãos federais, como Ibama, Incra, Funai, em conjun-to; pois, a Polícia Federal é a Polícia Judiciária da União, e muitos procedi-mentos formais, no caso do inquérito policial, e com o apoio do MinistérioPúblico para a devida acusação, fazem-se necessários a formalização deinvestigação dos atos criminosos, de forma que isso facilita muito o trabalhodo Ministério Público, que recebe num só processo o fato delituoso.

Assim sendo, na área de contrabando, principalmente de cigarros, aPolícia Federal tem recebido centenas de denúncias; e estamos tendo a caute-la de checá-las. Algumas têm se confirmado. E nessa confirmação tem-se feitoo auto de prisão em flagrante. Anteriormente, por exemplo, em uma denúnciade um depósito de cigarros, a Polícia Federal teria que instaurar inquérito,preliminarmente, em seguida pedir, com a aquiescência do Ministério Público,o mandado de busca e apreensão. Então seria interessante essa parceria coma Receita, porque, como os auditores fiscais têm a competência para adentrarno estabelecimento comercial para verificar documentos, seria convenienteque esse tipo de averiguação fosse feito em conjunto.

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Assim sendo, conclamo os senhores auditores para que possamosfazer uma parceria nesse sentido. Isso facilitaria bastante o trabalho de ambasas partes. Acredito inclusive que, posteriormente, teremos até muitos proble-mas para conseguirmos armazenar ou depositar esses cigarros apreendidos.

Temos recebido denúncias não só de cigarros pirateados, normal-mente oriundos do Paraguai, também cigarros fabricados no Brasil, com oselos do IPI falsificados. Isso já foi constatado em alguns estados, e está sen-do investigado. Provavelmente deveremos fazer um dia de combate ao con-trabando de cigarro, em conjunto com a Receita, que poderá ser uma opera-ção de âmbito nacional. Mas, de qualquer forma, até a presente data, lavra-mos dezenas de flagrantes neste primeiro semestre, e chegamos a apreenderem torno de 13 mil caixas, cada caixa contendo cinqüenta pacotes. Dessas 13mil caixas apreendidas, praticamente 12 mil foram autos de prisão em flagran-te; e entre quinhentos e mil foram apreensões por abandono, isso somente emrodoviária ou em ônibus, porque muitas vezes a Receita ou a Polícia Rodovi-ária pára um ônibus, conhecido como ônibus de sacoleiros, para fazer umafiscalização, e ninguém assume a propriedade da mercadoria.

Por esse motivo estamos estudando, junto ao Ministério dos Trans-portes, a possibilidade de criar um sistema de controle desses ônibus, queteriam que preencher um formulário, e poderíamos fazer um controle. Estádependendo de um estudo jurídico, mas, provavelmente, vai dar certo evai facilitar também o trabalho da fiscalização da Receita no âmbito dospaíses fronteiriços.

A nossa presença aqui era mais para ouvir, conhecer o sistema deoutros países, porque, no âmbito do Brasil, não temos conhecimento de queexportemos cigarros pirateados. E sim recebemos. Estamos averiguando umadenúncia que recebemos de uma entidade privada, na região amazônica, sobrecigarros fabricados na Colômbia. Até agora não conseguimos detectar. Mas,nas regiões Centro-Oeste e Sul, foram apreendidos cigarros fabricados possi-velmente no Paraguai. Temos conhecimento de que no Paraguai existem emtorno de 29 fábricas funcionando, e 37 fábricas aguardando autorizações parafuncionar, aliás algumas já estão quase prontas e somariam, com essas 29, em

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torno de 42 fábricas. Isso é muito preocupante porque temos verificado que, naregião de fronteira com o Paraguai, o pessoal está fazendo contrabando de ci-garros em Foz do Iguaçu pelo rio, e em Ponta Porã, por bicicleta. A PolíciaRodoviária da região de Ponta Porã e Dourados tem apreendido com ciclistasem torno de duzentos a trezentos pacotes de cigarros procedentes do Paraguai.

Por esse motivo, na região de Foz do Iguaçu, pretendemos, até feverei-ro, criar um núcleo especial de polícia marítima. Isso incluiria barcos, porque temosrecebido denúncias também de que está havendo transporte de cigarros e outrasmercadorias, muitas vezes até drogas, pelo lago de Itaipu. Estamos preocupados,por isso estamos preparando para janeiro ou fevereiro pelo menos um barco, comuma tripulação treinada pela Marinha para ajudar a nossa Delegacia e tambémpodermos dar apoio a Delegacia da Receita Federal de Foz do Iguaçu.

Também tem nos preocupado a quantidade de caixotes ou caixas decigarros sendo transportados em ônibus regulares que vêm do Paraguai. E temcomo destino final São Paulo e Rio em média quatro horários, ainda não sabe-mos se essas caixas estão sendo deixadas em Foz do Iguaçu, ou em São Paulo,ou no meio do caminho. Esse é um trabalho de inteligência que está sendo feito,e vamos adotar providências logo que confirmada essa situação. Por isso que éimportante esse convênio com o Ministério dos Transportes, porque se for de-tectado no ônibus regular, ele poderá ter a licença de linha cassada.

Como estava dizendo, não trouxe nenhuma transparência e nenhumvídeo, porque o nosso assunto se restringe mais ao âmbito do Brasil. E como,em princípio, não “exportamos cigarros regulares”, então não temos comoexpor, principalmente para os participantes estrangeiros, o modus operandidos brasileiros para o exterior, e sim do exterior para o Brasil. Obrigado.

Luiz Jair Cardoso – Meus cumprimentos ao Dr. Mário pela suaexposição.

Quero comunicar aos presentes que já há um número relativamentegrande de perguntas aqui, e estamos com o nosso horário um pouco apertado,devido ao horário que teremos que cumprir no próximo painel.

De maneira que vou passar imediatamente às perguntas, selecioná-las e adequá-las ao tempo que temos disponível para este painel.

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A primeira pergunta é dirigida ao Dr. Ronald, feita pelo Dr. PedroDurigan, Delegado da Receita Federal de Santo Ângelo.

“Parabéns pela palestra. Gostaria de saber de que forma poderia serrealizada a parceria entre setores privados e públicos no combate ao crimeorganizado, à falsificação, especialmente ao contrabando de cigarros?”

Ronald Marshall – Eu penso que há duas respostas a essa per-gunta, duas dinâmicas diferentes. Primeiro, há, claramente, a implicação deprodutos falsificados, que é responsabilidade das autoridades que contro-lam a fronteira. Eu, seguramente, não vou avaliá-las e sugerir como essasautoridades deveriam realizar seu trabalho. Eu creio que a parceria, nessecaso, é semelhante à abordada na segunda resposta a essa pergunta, e tem aver com lidar com o problema no mercado. O que eu sugeriria, aqui, é queas companhias de tabaco conhecessem seus negócios, compreendessem seusnegócios e estivessem muito atentas às atividades de distribuição.

Eu penso, assim, que a parceria profícua resultaria do alerta que ascompanhias de tabaco fariam às autoridades nos casos em que possa haverprocedimentos formais, ou indicando contatos, de forma que essa informaçãoseja relatada à autoridade apropriada para empreender as medidas cabíveis,de acordo com a legislação vigente, contra a atividade ilegal.

Luiz Jair Cardoso – A próxima pergunta é da Sra. Cristina Vianapara o Dr. Bruno: “Poderia descrever qual o processo a ser utilizado para adestruição dos cigarros apreendidos? São eles incinerados?”

Ronald Marshall – Temos diferentes tópicos. Depende do país, de-pende da legislação do país. Por exemplo, na Alemanha sei que eles fazem com-bustão desses cigarros; nas Filipinas cortamos e picamos tudo, e em outros países,basicamente, os cigarros são queimados, é um processo de queima. Acho, então,que depende de cada país. Existem esses dois processos, que eu saiba: picar,cortar os cigarros, ou queimá-los. Não sei o que é utilizado aqui no Brasil. Não seise os outros palestrantes têm uma experiência diferente para compartilhar.

Luiz Jair Cardoso – Aqui no Brasil, pela legislação, o cigarro ésumariamente incinerado. Aqui no Brasil temos dificuldades com as autorida-

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des de meio ambiente porque causa poluição. Temos utilizado também osfornos de companhias siderúrgicas, mas o cigarro causa algum dano aos filtrosdesses fornos. Então temos alguma dificuldade para realizar isso. Estamosestudando outra forma, que é a de destruição do cigarro, utilizando-o comoadubo. Temos o problema do filtro, que também ele não se destrói facilmente.

A próxima pergunta seria para o Dr. Ronald: “Temos conhecimentode uma rota para cigarros chineses, que passa por Elisabeth, na África do Sul,e daí para Montevidéu, Uruguai. Pergunta: essa rota é inexpressiva, compara-da com a do Chile?”

Ronald Marshall – A resposta é: não sei. O que eu sei, na verda-de, é que o produto que entra na África do Sul vem pelo porto de Dublin, eesse produto tem um destino final que é realmente a África do Sul. Em termosde determinar as rotas, novamente tenho que me referir ao Dr. Fröhlich, que éum expert, e ele mostrou isso ontem, ele mostrou várias rotas diferentes. Masnão acho que os contrabandistas usam uma rota específica, porque se vocêfor me perguntar como é que o produto entra no mercado da América do Sul,eu diria que entra pelo Panamá, que é a rota mais comum para esses produtosfalsificados. Mas não estou sugerindo que existe uma conexão forte entre aÁfrica do Sul e o Panamá, estou dizendo que essa é a rota mais comum.

Luiz Jair Cardoso – Vou fazer uma pergunta agora de Vicente Costapara o Dr. Mário: “Como se pôde observar nos dias de ontem e hoje, aintegração entre as forças da Polícia Federal, a Receita Federal e secretariasde fazenda é fundamental no combate à fraude no setor de cigarros. Comoessa integração pode ser efetivada?”

Mário Seiken Nakasa – O que se precisa é ter os devidos contatos,porque a nossa divisão tem 27 projeções, ou seja, 27 delegacias, uma em cadacapital. E justamente a Delegacia de Prevenção e Repressão a Crimes Fazendáriosfoi instituída para dar apoio à Receita Federal, só que não está havendo essaaproximação, que estamos fazendo agora. A Receita Federal faria a parte defiscalização, a parte administrativa fiscal, e essa delegacia faria a parte criminal.

Estamos recomendando às nossas chefias das delegacias fazendáriaspara se aproximarem mais da Superintendência da Receita justamente para

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obter essa parceria e trabalhar com objetivo. Essa não é uma determinaçãosomente da nossa direção-geral, mas é uma política de governo, que vem dosnossos escalões superiores, porque muitos órgãos federais estão trabalhandopraticamente isolados, e não é o caso. Há uma determinação presidencial deque todos os órgãos federais devam trabalhar em conjunto, somando. É o queestamos fazendo.

Luiz Jair Cardoso – Agradeço os esclarecimentos dos palestrantes.Em razão do adiantado da hora e compromissos dos próximos palestrantes,agradecendo também a presença e a atenção que os senhores dispensaram,damos por encerrado este painel neste momento.

Quero lembrar que as perguntas que não foram respondidas o se-rão posteriormente pela coordenação, que fará chegar as respostas até osinteressados.

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Moderador

AGOSTINHO DO NASCIMENTO NETOAGOSTINHO DO NASCIMENTO NETOAGOSTINHO DO NASCIMENTO NETOAGOSTINHO DO NASCIMENTO NETOAGOSTINHO DO NASCIMENTO NETORepresentante da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional / Brasil

PalestrantesNELSON AZEVEDO JOBIMNELSON AZEVEDO JOBIMNELSON AZEVEDO JOBIMNELSON AZEVEDO JOBIMNELSON AZEVEDO JOBIMMinistro do Supremo Tribunal Federal e Presidente do Tribunal Superior Eleitoral /Brasil

LLLLLUCIANO FELDENSUCIANO FELDENSUCIANO FELDENSUCIANO FELDENSUCIANO FELDENSProcurador da República no Rio Grande do Sul / Brasil

BIANCA GEORGIA CRUZ ARENHARTBIANCA GEORGIA CRUZ ARENHARTBIANCA GEORGIA CRUZ ARENHARTBIANCA GEORGIA CRUZ ARENHARTBIANCA GEORGIA CRUZ ARENHARTJuíza da Justiça Federal no Paraná / Brasil

Painel V

ASPECTOS JURÍDICOS RELASPECTOS JURÍDICOS RELASPECTOS JURÍDICOS RELASPECTOS JURÍDICOS RELASPECTOS JURÍDICOS RELACIONADOSACIONADOSACIONADOSACIONADOSACIONADOSCOM O SETOR DE CIGARROSCOM O SETOR DE CIGARROSCOM O SETOR DE CIGARROSCOM O SETOR DE CIGARROSCOM O SETOR DE CIGARROS

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Mestre de cerimônia – Convidamos para compor a Mesa o Sr.Coordenador-Geral da Dívida Ativa da União, da Procuradoria-Geral da Fa-zenda Nacional, Dr. Agostinho do Nascimento Neto, neste ato representandoo Sr. Procurador-Geral da Fazenda Nacional, Presidente da Mesa e Modera-dor deste painel.

O Excelentíssimo Ministro do Supremo Tribunal Federal e Presi-dente do Tribunal Superior Eleitoral, Dr. Nelson Azevedo Jobim; oExcelentíssimo Procurador da República no Estado do Rio Grande do Sul,Dr. Luciano Feldens; a Excelentíssima Juíza da Justiça Federal no Estado doParaná, Dra. Bianca Georgia Cruz Arenhart. Passamos a palavra ao Dr.Agostinho do Nascimento Neto.

Agostinho do Nascimento Neto – Excelentíssimo Sr. Ministrodo Supremo Tribunal Federal, Dr. Nelson Jobim, também Presidente doTribunal Superior Eleitoral; Excelentíssima Sra. Juíza Federal, Dra. BiancaArenhart; e Excelentíssimo Dr. Luciano Feldens, Procurador da Repúblicano Rio Grande do Sul.

Gostaria, em primeiro lugar, de agradecer a honra de presidir estaespecial Mesa, gostaria também de parabenizar os organizadores deste even-to, na pessoa do Dr. Jorge Antônio Deher Rachid, em nome da Secretaria daReceita Federal, e a Dra. Maria de Fátima Cartaxo, da Escola de Administra-ção Fazendária, do Ministério da Fazenda.

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O tema que será abordado neste segundo painel do dia é exatamenteAspectos Jurídicos Relacionados com o Setor de Cigarros. Preocupando-mecom o papel que deve representar um presidente de Mesa, vou iniciar fazendomenção ao currículo dos palestrantes, começando naturalmente pelo MinistroNelson Jobim, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Di-reito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre; foi Presi-dente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, foiRelator da Revisão Constitucional, Ministro de Estado da Justiça, no GovernoFernando Henrique Cardoso; e atualmente, como disse, exerce o mister de Mi-nistro do Supremo Tribunal Federal e Presidente do Tribunal Superior Eleitoral.

O Dr. Luciano Feldens, Procurador da República no Rio Grandedo Sul, com atuação na área criminal, especialista em Direito Penal, mestrandoem Direito Público, Professor Universitário de Direito Penal e Processo Penal,e Professor de Direito Penal na Escola Superior do Ministério Público noRio Grande do Sul.

A Dra. Bianca Arenhart, Juíza Federal, bacharel em Direito pela Uni-versidade Federal do Paraná, classificada em primeiro lugar geral nos formandosde 1998, com especialização em Direito Público, mestranda em Direito dasRelações Sociais, Direito Processual Penal, pela mesma Universidade Federaldo Paraná, Professora de Direito Penal na Pontifícia Universidade Católica doParaná e na Universidade de Ituiuti, também no Paraná; Juíza Federal Substitu-ta, no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, Seção Judiciária do Estado doParaná, circunscrição judiciária de Curitiba. Lotada na Segunda Vara FederalCriminal. Foi aprovada em primeiro lugar geral no concurso público para provi-mento de cargos de Juiz Federal Substituto, do Tribunal Regional Federal da 4ªRegião; e co-autora da obra Crítica à Teoria Geral do Direito Processual Penal,editada pela Editora Renovar, do Rio de Janeiro.

Como disse, a palestra vai versar sobre aspectos jurídicos relacionadoscom o setor de cigarros. Certamente a ênfase a ser dada, até pelo perfil dos pales-trantes, será voltada para aspectos jurídicos penais ou criminais dessas questões.

Esse setor, especificamente, da economia nacional vem padecendofortemente das investidas de delinqüentes, das investidas daqueles que fazem

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da sonegação fiscal, da fraude, da evasão fiscal um ofício. E os números sãoeloqüentes. Há uma crescente perda de arrecadação no que diz respeito, porexemplo, ao IPI, há uma crescente perda de arrecadação de forma geral,porque afeta inclusive as economias das unidades federadas, dos estados,portanto. É uma preocupação que deve estar presente a todas as autoridades,a todos os envolvidos nesse setor.

Devo, repetindo, procurar me manter dentro daquilo que um presi-dente de Mesa tem como tarefa, e vou imediatamente passar a palavra aoMinistro Nelson Azevedo Jobim, que tratará dessas importantes questões.

Ministro Nelson Azevedo Jobim – Excelentíssimo Dr. AgostinhoNeto, Coordenador-Geral da Dívida Ativa da União, e, neste momento, Pre-sidente do nosso painel, prezados colegas, Dra. Bianca Georgia Cruz Arenhart,Juíza da Justiça Federal do Paraná, e Dr. Luciano Feldens, Procurador daRepública no Estado do Rio Grande do Sul. Minhas senhoras e meus senho-res, Dra. Cartaxo, Diretora da Escola de Administração Fazendária, senho-res representantes e integrantes dos organismos da Receita Federal, senhoresprocuradores, minhas senhoras e meus senhores.

Na distribuição do trabalho, que tivemos oportunidade de discutir,meus colegas e eu decidimos examinar, nesta primeira fase, na primeira expo-sição, a questão do tratamento na legislação brasileira e no sistema penal bra-sileiro e, portanto, jurídico brasileiro da criminalidade organizada, já que éimportante ter presente que as utilidades que estão aqui sendo examinadas,que dizem respeito ao contrabando e falsificação de cigarros, importam segu-ramente em organizações criminais. Não há que se pensar que esse tipo deilícito seja gerido exclusivamente por aquilo que chamamos de criminalidadede bagatela. Essa criminalidade de bagatela pode ser um mero agregado naponta do processo de internalização na economia brasileira de produtos oriundosdo estrangeiro, seja por contrabando, seja por outros caminhos.

Então teríamos, nesse ponto, que pensar um pouco sobre algo queno Brasil ainda é um processo de transição, um processo de transição nosentido de que temos uma estrutura penal de Direito Material e uma estruturapenal de Direito Processual, testadas e relativamente funcionais para a delin-

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qüência individual, mas seguramente inabilitadas para a delinqüência organiza-da; seja porque, de um lado, toda a nossa formação penalística é uma forma-ção, se não com os dois pés, mas com pelo menos um deles cravado noséculo XIX, e não admitiu ou não assimilou a academia brasileira a transiçãodaquilo que chamaríamos a globalização do processo criminal.

Ora, na medida em que temos um aumento substancial, nitidamentesubstancial, do mercado clandestino, mais especificamente porque os merca-dos internos dos países viabilizaram a sua proximidade com os demais merca-dos, vizinhos e mais distantes, seja porque há um aumento substancial do in-tercâmbio de bens e capitais, característica da divisão de trabalho, da divisãoda produção no mundo ocidental e no mundo moderno, a essa capacidade deaumento de intercâmbio de bens e capitais agrega-se uma mobilidade geográ-fica e demográfica imensa, que viabiliza a circulação de pessoas, de coisas ede capitais por meio de mecanismos que antes não eram conhecidos.

Ora, essa globalização de mercado leva também a uma globalizaçãodo mercado clandestino. E, leva também, a uma divisão inclusive de trabalhos ede funções dentro desse mercado clandestino ou de criminalidade. Lembro-meque, quando exercia as funções de Ministro da Justiça e tratava de temas relati-vos ao narcotráfico, o Peru, nas relações com a Colômbia, era o produtor depasta de cocaína, ao passo que a Colômbia era produtora da cocaína refinada,e que havia uma distinção fundamental entre as organizações criminais peruanase as organizações criminais colombianas no sentido de estabelecer uma divisãode funções e de tarefas, todas elas voltadas à internalização das economias, deum lado, dos seus produtos, e, de outro lado, dos seus valores.

Portanto, é fundamental ter presente que, se estamos tratando com umtema que possa envolver um bilhão de dólares em termos de produção – nãotenho presentes esses números –, temos que lembrar que isso age por duas pontas:uma é a comercialização desse produto, que se faz seguramente por uma rede devarejo provavelmente não-organizada, mas que é atraída a esse tipo de negocia-ção, tendo em vista a relação de preço entre o produto legal e o produto ilegal.

Informava-me um representante da Receita que teríamos uma dife-rença de um real para vinte e cinco centavos em termos da unidade de vinte no

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que diz respeito ao cigarro. Ora, se isso é verdade, temos, de um lado, aquestão da colocação do produto no mercado brasileiro, um mercado brasi-leiro com 170 milhões de pessoas, e temos, de outro lado, também a necessi-dade de encontrar mecanismos para “branquear” ou “lavar” o dinheiro oriun-do dessa atividade delinqüencial. E, portanto, a questão se põe em dois pon-tos: uma organização que traz o produto e viabiliza a comercialização, e, aomesmo tempo, tem que estabelecer mecanismos para internalizar na economiaos valores oriundos dessa atividade delinqüencial, internalizando-o de “formalimpa”, viabilizando, portanto, o agregado a essa atividade delinqüencial deatividades legais e absolutamente normais, que seriam exatamente por ondetransitariam os valores oriundos dessa atividade.

Em termos genéricos, poderíamos dizer que a característica funda-mental da chamada criminalidade organizada, ou organização criminosa, temcomo vetor, basicamente, o vínculo associativo, que é o elemento diferencial eo elemento definidor clássico do tema. E esse vínculo associativo tem comoconseqüência ou como origem uma determinada força de intimação e intimi-dação, que leva a um estado de sujeição dos elementos que compõem hierar-quicamente essa estrutura, que, também, além do vínculo associativo, é clara-mente piramidal, na qual se estabelece um tipo de organização em que se temnão só o poder de intimação e intimidação que leva ao estado de sujeição,mas que também estabelece uma hierarquia paramilitar clássica.

Dos elementos de definição dessa organização criminosa, tentandoestabelecer um esboço do que estamos falando, é evidente que importa acolaboração que envolva mais de uma pessoa, e que envolva mais de umapessoa não só na atividade-fim, como também nas atividades-meioorganizadamente dispostas, porque não há que se pensar que organizaçõesdessa natureza não tenham também elementos técnicos, quer advogados, quereconomistas, quer contadores, que possam viabilizar as atividades por meiodo trânsito dos seus resultados junto ao Estado.

Essas organizações criminosas, basicamente, em linha gerais, e a in-formação não é minha, e sim de um relatório da Organização de Cooperaçãoe Desenvolvimento Econômico – OCDE, da década de 1990, informava que

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essas organizações criminosas têm, em ordem decrescente, como atividadespreferidas, o tráfico de drogas e a “lavagem” de dinheiro, já que foi o tráficode drogas que otimizou esse tipo de organização. E a “lavagem” de dinheirofoi uma decorrência dos altos capitais que passaram a ser movimentados como mercado da delinqüência. É bom lembrar que o “branqueamento”, ou a“lavagem” de dinheiro, tem, basicamente, origem, se quiserem um ponto histó-rico, na família Lucciano, nos Estados Unidos, quando, na década de 1930,um determinado contador do grupo do Lucciano realizava depósitos de valo-res oriundos dessa família em bancos suíços e depois obtinha financiamentojunto aos bancos suíços, internalizando os valores por via do empréstimo,trazendo à economia americana esses valores “lavados”, o que deu origem aLas Vegas. Ou seja, a formação inicial de Las Vegas teve exatamente, na base,a orientação da família Lucciano. E esse grupo trouxe essa nova “tecnologia”,que foi abandonada, em determinado momento, pelas máfias americanas, eque só voltou a ter grande expressão com as máfias colombianas, que passa-ram a ter necessidade de fazer com que os excedentes monetários da suaatividade criminal pudessem entrar no mercado como atividade lícita, já que acapacidade de consumo do grupo era muito inferior à capacidade de receitade que dispunha. Daí por que se estabeleceu toda uma rede em relação a isso.

Ora, essa determinação faz com que inicialmente, portanto, a orga-nização criminosa situe-se no âmbito do tráfico de drogas e “lavagem” dedinheiro. Mas, como um segundo grupo de delitos ou de atividade delinqüencialpreferida por essas organizações, estão exatamente as fraudes e as falsifica-ções. Os delitos contra a propriedade, a prostituição, a imigração ilegal, otráfico de veículos, que é também algo que não é possível ser feito por ativida-de individualizada, mas, sim, por organizações, porque isso importa sempre acirculação entre soberanias nacionais e espaços nacionais autônomos. E essesespaços nacionais fazem com que um crime que se pratique num estado sobe-rano prossiga, digamos, nos espaços de distribuição, ou nos espaços de “la-vagem”, os espaços de solução em outro estado soberano. E aqui surge umproblema, que é exatamente você ter uma visão transnacional da atividade dacriminalidade organizada, que tem como contrapartida organizações nacionaisque têm imensa dificuldade de falar entre si.

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Imaginem um processo de investigação num determinado procedi-mento criminal, que seja presidido pela nossa colega a Juíza Bianca, no Estadodo Paraná, em que, para saber de um determinado tipo de informação, que seencontra em outro país, ela precise recorrer a uma carta rogatória. Arquive oprocesso porque isso não vai acontecer.

Confesso a vocês que, como advoguei muito, durante praticamente25 anos no Rio Grande do Sul, em todo o estado, tínhamos umas fórmulas defazer cartas precatórias curiosas, principalmente na cidade de Santana do Li-vramento. Quando havia um processo criminal que envolvesse um Nacionalde Iajá, do Uruguai, que deveria ser interrogado ou ouvido no processo bra-sileiro – acidente de trânsito ou coisa parecida –, nós tínhamos uma técnica decarta rogatória extraordinariamente eficaz, que era rigorosamente informal eninguém dizia o que se passava, mas que era simples. O delegado de políciabrasileiro ligava para a gendarmaria uruguaia, a gendarmaria uruguaia pegavao cidadão, trazia para o foro brasileiro, colocava na frente do juiz, e aí o juiz:“o cidadão fulano veio voluntariamente para depor no Brasil”. E resolvíamos oproblema do interrogatório na execução das chamadas cartas precatórias in-formais que nasceram na fronteira do Rio Grande do Sul. Porque, vocês ima-ginem, aqueles que não conhecem Santana do Livramento, tem uma praça nocentro da cidade, tem uma avenida, do lado de cá, o Brasil, e do lado de lá, oUruguai. Então, para que o cidadão que está do outro lado do banco da praçaseja ouvido pelo juiz que está no lado de cá do banco da praça, precisa serenviado um pedido ao Ministério da Justiça, em Brasília, que se dirige aoMinistério das Relações Exteriores, o Itamaraty, que se dirige ao Ministériodas Relações Exteriores do Uruguai, que se dirige ao Ministério da Justiça doUruguai, que se dirige ao Juiz de Rivera.

Então, vejam, o que temos que ter presente é que, na verdade, asconcepções das soberanias nacionais que deram origem aos estados nacionais,nos séculos XVIII e XIX, e que permanecem ainda com um critério inclusive devisões políticas nacionalistas, é um grande negócio para o crime organizado. Porquê? Porque paralisa a troca de informações e a vitalidade dos agentes policiaise dos agentes, no caso específico de receitas, que não têm capacidade, ou têm

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uma mínima capacidade de integração. E depois, se eventualmente conseguemalguma informação relevante, cai na Dra. Juíza de Direito a prova produzida poressa forma, e a Dra. Juíza de Direito, necessariamente tendo que atender àmanifestação da defesa, entende que é uma prova ilícita e sendo prova ilícita nãopode ser objeto de consideração criminal.

Então vocês observem que essa falta de adequação e de moderniza-ção de instrumentos para o combate à criminalidade organizada é a nossagrande dificuldade. Diria aos senhores que o Brasil avançou nos últimos anosem alguns pontos, mas avançou com cautelas, porque a estrutura, a cabeça daacademia “penal” brasileira reage a esse tipo de conduta, porque ainda racio-cina na presunção absoluta de que está tratando com criminalidade individual,e não com criminalidade organizada. Ou seja, se é verdadeira a presunção dainocência, se é necessária a presunção da inocência no Direito Penal para ocrime individual, a presunção da inocência para o crime organizado é compli-cada. A presunção da inocência, que é uma garantia individual para o cidadãona criminalidade individuada, passa a ser, na criminalidade organizada, um ins-trumento de otimização e de impunidade.

Mormente, considerando o ônus da prova, se tivermos que racioci-nar na criminalidade organizada com os termos do ônus da prova vigente paraa criminalidade individualizada, o nosso amigo e colega Luciano Feldens sabeperfeitamente que as suas denúncias não vão conseguir prosperar em relaçãoa essa criminalidade organizada.

Nos últimos anos, o Brasil tentou avançar nesse sentido e tivemosalgumas legislações importantes para esse combate. Alguns casos, como, porexemplo, em 1996, o Brasil conseguiu regulamentar a interceptação de comu-nicações telefônicas. Pretender combater crime organizado com polícia na ruanão resolve, crime organizado se combate com inteligência e com mecanismosde organismos de inteligência, e não com mecanismos de repressão adequadaà criminalidade individual, ou à criminalidade de rua. Essas interceptações te-lefônicas legitimaram-se a partir da lei de 1996. Antes mesmo, em 1995, pre-sidíamos, à época, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos De-putados, e fizemos uma subcomissão para tratar do crime organizado,

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subcomissão essa que foi presidida pelo Deputado Miro Teixeira, do PDT doRio de Janeiro, e pelo então Deputado Michel Temer, do PMDB de SãoPaulo, que produziram, naquela época, a Lei 9.034, que foi resultado dessacomissão e que instituiu no Brasil aquilo que se chamaria a ação controlada,que está prevista nessa lei de 1995. Essa ação controlada viabiliza que numdeterminado momento, e isso é adequado para o combate à criminalidadeorganizada, você não faça o flagrante delito perante a ocorrência do delito,mas viabilize que esse delito se prolongue no tempo para conseguir atingir aorganização toda. Diz a lei, definindo a ação controlada, que consiste ela emretardar a interdição policial do que se supõe ação praticada por organizaçõescriminosas, ou a elas vinculada, desde que mantida sob observação e acom-panhamento, para que a medida legal se concretize no momento mais eficaz,do ponto de vista da formação da prova e do fornecimento de informações.

Quando se discutiu essa matéria, discutiu-se um outro tema, não sóo da ação controlada, que acabou virando lei, mas também algo importantíssi-mo no que diz respeito ao combate à criminalidade organizada, que são asações dos chamados agentes infiltrados. Lembro-me que discuti essa matériano Ministério da Justiça, e todo mundo concordava que era necessário seestabelecer dentro de uma organização criminosa, viabilizar a infiltração poli-cial, infiltração policial essa autorizada pelo juiz e com a participação do Mi-nistério Público em segredo. Todo mundo achava eficaz. Todos discutíamos amatéria e todos dizíamos que era absolutamente eficaz, a experiência mundialnos dizia. Mas tinha um problema, um problema que bate numa formação,digamos, essencialista da nossa concepção cultural, porque depois do mo-mento em que todos concordavam sobre a eficácia da infiltração criminal,como uma necessidade para esse tipo de investigação e para esse tipo decombate de criminalidade organizada, surgiu um problema. Eu colocava sobrea mesa o seguinte: tudo bem, todos concordam. Agora vamos fazer o elencodos crimes que esse agente infiltrado pode praticar, porque infiltrar um agentenuma organização criminosa e não autorizá-lo a praticar atos que são defini-dos na lei como crime é submeter o sujeito à morte.

Aí então surgiu um problema, um problema tipicamente cultural danossa formação cristã. Como poderemos autorizar alguém a praticar um cri-

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me, já que o crime é o mal. Eu perguntava: uma conduta é apenada, o cidadãoé levado à prisão porque praticou determinada conduta, porque essa condutaé um mal, ou essa conduta é um mal porque ela é apenada? Ou seja, é asanção que o sistema legal atribui à conduta que a define como um crime, ouele é um crime em si mesmo? E aí, então, você entra numa discussão, que écuriosíssima, que foi inclusive objeto de grandes análises antropológicas e so-ciológicas, já que os sociólogos e antropólogos trabalham melhor nesse temado que os nossos penalistas, mostrando que, tradicionalmente, nós identifica-mos sempre o crime como pecado e que o crime tem uma natureza pecamino-sa. E como poderíamos autorizar um policial a praticar determinados crimes?Além disso, quais os crimes que poderiam praticar? Furto, roubo, estupro,seqüestro, o crime de morte, o homicídio?

Em face dessas circunstâncias, no Brasil não temos ainda a autoriza-ção da infiltração policial. E aqui se cria essa dialética que inclusive os agentesdo fisco conhecem. Estou trabalhando no pressuposto de boa-fé. É claro queaqui temos situações de má fé, enfim, mas vamos trabalhar em cima do pres-suposto da boa-fé. Na medida em que a autoridade policial, ou a própriaautoridade fiscal, verifica que os elementos legais de sua atividade não lheproduzem o resultado adequado e desejado, o que faz a autoridade policial? Éseguramente empurrada para a ilegalidade. Por quê? Porque o que a socieda-de cobra da autoridade policial são resultados. E na medida em que a socie-dade cobra resultados, essa autoridade policial se sente no dilema de prosse-guir as investigações pelo modo legal, que é ineficaz, ou adotar mecanismosilegais. Ou melhor, adotar mecanismos não previstos e não autorizados pelalei, e que, portanto, são ilegais, mas que vão levar ao resultado que a própriasociedade cobra. E aí se estabelece um dilema político e dialético complicado,é que a autoridade policial e fiscal é acusada de não ter resultados e ao mesmotempo é acusada de praticar ilegalidades nos motivos investigatórios. É mordi-do porque foge e é mordido porque não foge.

E isso é um dilema. É um dilema que, por exemplo, aqui no Brasil sedeu muito claramente na questão da interceptação telefônica. Quero lembrar avocês que a Constituição brasileira regulou a interceptação telefônica e deter-minou que isso seria disciplinado em lei. Essa lei demorou a vir, a lei é mais ou

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menos de 1996. O que se passou? A autoridade policial e os juízes de direitoautorizavam a interceptação telefônica. Num determinado momento, o Supre-mo Tribunal Federal, examinando um processo oriundo de narcotráfico, jul-gou o habeas corpus, sustentando a nulidade, a imprestabilidade da provaoriunda da gravação telefônica ilícita, já que não havia lei. E, portanto, se aConstituição exigia a lei e não havia a lei, o ato de gravar, de interceptar otelefone era ilícito. Logo, todas as conseqüências oriundas da gravação ilícita,ou dessa prova ilícita, estavam contaminadas com a ilicitude. E aí se lançouaqui a tese conhecida nos Estados Unidos como o fruto da árvore proibida. Elembro-me que processualistas, penalistas ficaram extasiados com o fato dese ter então a tese, a vigência no Brasil dos frutos da árvore proibida, o quesignificava que toda prova oriunda da gravação telefônica e dela decorrenteestava contaminada com seu vício.

Até que, em matéria de Direito não-acadêmico, nós vivemos com oschamados contracasos. Os contracasos nos matam. E vou contar o contracasoque criou um problema. Estávamos na Segunda Turma do Supremo TribunalFederal, houve uma gravação não autorizada, uma gravação ilícita, os delegadosde polícia que estavam acostumados a gravar, autorizados pelo juiz, botavamnos autos que a prova era oriunda da gravação. Depois disso, eles pararam defazer, continuaram gravando, mas não colocavam nos autos que a prova tinhavindo do telefone, alguém contou, recebemos uma notícia. E aí eles descobri-ram. Era tudo gravado. Ou seja, joga para a ilicitude, é aquilo a que estou mereferindo, continua no ato ilícito, mas evita a demonstração da ilicitude.

Bem, no caso concreto, houve uma gravação de trinta dias no telefo-ne de determinado cidadão, durante esse período a polícia identificou que aostantos dias e tantas horas seria feita a entrega de cocaína num determinadolugar da capital do estado. Naquele dia aprazado, a polícia vai ao local, armauma espera e apreende duzentos quilos de pó de cocaína, prende quatro oucinco cidadãos, apreende três AR-15 e mais um estoque de munições paraarmas pesadas. A polícia, no inquérito, junta a degravação telefônica que deuorigem à descoberta de que naquele dia ia acontecer esse fato. Imediatamenteos advogados de defesa entram com habeas corpus sustentando que toda a

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prova era ilícita, porque a gravação era ilícita, e, portanto, fruto da árvoreproibida etc. Aí o habeas corpus ia ser deferido, ou pelo menos caminhavapara isso, quando perguntamos: tudo bem, vamos então mandar soltar os ci-dadãos. Mas se nós vamos mandar soltar porque a sua prisão decorreu deuma prova ilícita, temos que devolver a cocaína também, porque a apreensãoda cocaína é ilícita, o ato de apreensão decorreu da gravação; logo, vamosdevolver a cocaína, as armas e as munições. E aí vamos ficar muito bonitinhoscom a tese, com uma solução absolutamente contrária ao bom senso. Imagi-nem se for um seqüestro, vamos ter que devolver a criança para os seqüestra-dores e começar tudo de novo.

Ou seja, o contracaso estabelece, digamos, minha cara doutora, ocontracaso nos dá uma informação fundamental, que é o risco que, em Di-reito, a generalização empírica possa produzir. Generaliza-se, empiricamente,de uma situação de fato, e procura-se de uma situação de fato extrair umanorma geral para conduzir e reger todos os fatos, tradição tipicamente por-tuguesa, tipicamente latina, de formulação de teses gerais baseando-se nasituação de fato. E aí vem um contracaso devagarinho e derruba por com-pleto essa possibilidade.

Pois bem, dentro desses mecanismos a que estou me referindo, tam-bém se criou, nessa lei de 1995, o acesso a dados, documentos e informa-ções, hoje superado pela lei complementar que autoriza a quebra do sigilobancário. Mas também estabeleceram alguns mecanismos relevantes para se-rem adotados no combate à criminalidade organizada, e que também lesa acabeça, digamos, essencialista da nossa cultura penal, que é o chamado direi-to premial, que é a possibilidade de o agente do Ministério Público, Dr. Feldens,sentar com a defesa num processo qualquer de contrabando e negociar com oréu e a defesa para que esse réu conte toda a organização e viabilize a apreen-são de pessoas e coisas. Estabelecida a negociação, e a Dra. Juíza de Direito,que terá que julgar a demanda, assume o compromisso de não aplicar a pena,o que é chamado de possibilidade de redução da pena, ou mesmo da não-aplicação da pena, ou da conversão da pena de prisão em penas alternativasou restritivas de direitos, se o réu colaborar na descoberta da organização

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criminosa e na apreensão de bens. Se essa colaboração é eficaz, surge a obri-gação do Estado de não aplicar a pena.

Ora, quando se discutiu esse assunto no Congresso, inclusive eu jáera Ministro do Supremo, tive que ir lá para conversar com os parlamentaressobre qual era a discussão dos setores, digamos, “religiosos”. Era de que éimpossível você negociar com um criminoso. E o objetivo da norma, e é aquique vem o ponto, o ponto é que na visão tradicional e essencialista, a normapenal visa ao indivíduo. Vejam, se a norma penal visa ao indivíduo, está corre-to que não se negocie com o indivíduo, mas, como estamos tratando com ocrime organizado, em que o indivíduo é uma peça de um instrumento abstrato,passa a ser o objetivo da norma que combate o crime organizado, não mais aapenação dos indivíduos que o compõem, ou eventualmente compõem, mas,sim, a destruição da organização criminosa, que causa conseqüências sociais eeconômicas sérias. Para esse pulo de visão há uma certa dificuldade de com-preensão. Temos o direito premial ao colaborador policial, quer na legislaçãosobre sistema financeiro nacional, quer na legislação dos chamados crimeshediondos, quer na legislação contra a ordem tributária, econômica e relaçõesde consumo, e quer na norma relativa às organizações criminosas, que são osinstrumentos de combate à organização criminosa, e também na “lavagem” dedinheiro, o que nos dá a possibilidade de caminhar nessa linha.

Na própria legislação de “lavagem” de dinheiro existem alguns ins-trumentos importantes que não são necessariamente policiais, mas que sãoobrigações dos setores ligados à área em que se produz a “lavagem” do di-nheiro, que é exatamente o registro de todas as transações, a comunicaçãoaos organismos estatais das transações que ultrapassem determinados limitese também das chamadas operações suspeitas. O que mostra que quando vocêtrata dos crimes de natureza financeira e dos crimes de “lavagem” de dinheirovocê está trabalhando não na ponta da produção, mas, sim, na ponta do resul-tado, fechando, portanto, a organização criminosa quer na manipulação dosseus resultados, quer na manipulação das suas origens.

E é até importante, Dra. Bianca, ter presente que nesses casos nãopodemos ser ingênuos. Basta ver um mecanismo extraordinário estabelecido, que

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tive vontade de falar aqui nesta escola em outro momento, de “lavagem” de dinhei-ro. Uma determinada organização colombiana deposita em bancos determinadovalor, subseqüentemente uma organização, uma sociedade imobiliária, braço des-sa organização criminosa, sociedade imobiliária com sede na Europa, lança umgrande empreendimento imobiliário nas margens do Mediterrâneo, no sul da Euro-pa. Faz um contrato de financiamento das obras de implantação com uma agênciado Banco das Caraíbas, sediada em Paris. E esse banco assume a obrigação definanciar, por exemplo, quinhentos milhões de dólares, que seria parte do investi-mento. As obras se iniciam, são lançadas as infra-estruturas dessas obras,terraplenagem etc., e, num determinado momento, seis ou oito meses depois deiniciadas as obras e iniciado o fluxo de transferências de valores do banco à em-presa, o banco unilateralmente rompe o contrato. A empresa ajuíza uma ação deindenização contra o banco no foro de Paris, que era o foro contratual, e o bancoé condenado a indenizar a empresa pelo valor de 350 milhões de dólares, que eraexatamente o saldo do dinheiro que os narcotraficantes tinham no banco.

A sentença transita em julgado, Vossa Excelência sabe e nós sabe-mos, “o amor” reverente do jurista em relação à coisa julgada. A coisa julgadaé uma senhora intocável. Pois bem, com uma sentença transitada em julgado,ingressam na economia européia 350 milhões de dólares. Qual é a origem?Condenação judicial transitada em julgado. Querem “lavagem” mais perfeita?E a Juíza Dra. Bianca afirmando sua utilização para esse tipo de forma pelaqual dinheiros oriundos de uma atividade ilícita ingressam com fundamentolícito na atividade comercial e na economia européia.

Nós temos ainda na legislação, como elemento de combate a essaárea de ponta da atividade criminosa, as requisições ao Conselho de Opera-ções Financeiras do Ministério da Fazenda, que tem a capacidade de fazer ainvestigação, e é o órgão de inteligência brasileiro, nas relações internacionaisinclusive. E por último, ainda no último momento, com grandes discussões,envolvendo essencialismo nessa discussão, a lei complementar que instituiu aquebra do sigilo bancário no Brasil.

Tudo isso é um conjunto de legislações ainda tímidas no sentido docombate à organização criminosa. Há que se discutir ainda no Brasil a infiltração

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policial, para tentar ver se encontramos espaço para que esse mecanismo se dê.Por quê? Porque quem advogou no crime, como eu advoguei no crime durantevinte anos na defesa, sabe claramente que a polícia se infiltra. É proibido infiltrar,não está previsto, mas a infiltração se dá. E é fácil você identificar a infiltraçãopolicial, sempre foi muito fácil. Jornais estampam: a polícia identifica um bunkerdo jogo do bicho, ou do jogo ilegal, ou do narcotráfico, faz um cerco e prendequarenta pessoas. No entanto, uma delas fugiu! Vocês já não viram isso? Apa-rece a notícia no jornal, mas sempre alguém foge. Quem é que fugiu? Quemajudou, quem participou do processo junto com a polícia. É lógico! E não hánenhuma explosão de bunker dessa natureza em que alguém não fuja. E quem éque foge? É aquele que comerciou com a polícia. Ou não é assim?

Então, temos que resgatar isso, que é uma atividade hoje ilegal, paradentro da legalidade e regulamentarmos essa ilegalidade, que é algo funda-mental ou, pelo menos, eficaz no combate a esse tipo de organização.

Outra coisa importante: o depoimento de testemunhas no caso doprocesso criminal, referidas se o juiz entender relevante. É referida uma teste-munha? Deverá o juiz ter a possibilidade de determinar a audiência de teste-munha de ofício. Se ele entender relevante, não ficar na dependência da capa-cidade da argúcia do Ministério Público ou da eventual esperteza da defesa.

O problema de produção de prova emprestada de outro processo éoutra maluquice. Você está julgando um processo relativo a uma organizaçãocriminosa e essa mesma organização tem um outro processo em que há umaprova. Aquela prova produzida naquele processo é insusceptível, hoje, nosistema brasileiro, de ser considerada pelo juiz na sentença, porque ele temque julgar aquilo que está nos autos. Uma linguagem que o juiz adora, e que osjuristas, mais ainda: o que não está no mundo, não está nos autos. A minhasuspeita, mas entre parênteses – e se alguém disser que eu disse isso, eu nãodisse –, a minha suspeita é de que há um mercado de trabalho muito alto paralevar provas para dentro dos autos. Ou seja, se diz que só é consideradoaquilo que está nos autos, tem que ser levado aos autos. E se tem que levaraos autos, alguém tem que levar. E, portanto, há o mercado de trabalho docondutor das provas para os autos. Se começar a se considerarem provas não

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produzidas nos autos, emprestadas de outra situação, vai diminuir seguramen-te a capacidade desse mercado.

Estabeleceria ainda, por último, como também necessário no nossosistema, e uma falta, é a forma de depoimento judicial dos colaboradores po-liciais. Como é que a Dra. Bianca vai interrogar o colaborador judiciário? Nodia da audiência, chama o colaborador e diz assim: o senhor colaborou com apolícia. Está o sujeito assentado lá e assistindo à audiência, está o resto daorganização dizendo assim: ah, você vai ver. Não tem cabimento!

Gostaria, para encerrar esta minha exposição, de lembrar o seguinte:na questão do direito premial, vejam o que é o problema da nossa mentalidade,Dra. Bianca, nós discutíamos esse assunto com juízes colegas seus, se não meengano em Joinvile, que eram juízes que operavam na área da fronteira do Brasil,da Tríplice Fronteira, Foz do Iguaçu etc., e aí surge o problema da negociação.O Ministério Público negocia com o réu, o juiz e a defesa, e acertam com essejuiz, que esse réu vai colaborar. O processo tem um andamento lento, o réucolabora, denuncia, mostra, indica, ou seja, faz as ações, digamos, daquele fa-moso mafioso italiano que foi preso no Brasil, Busqueta, que conseguiu implodirinclusive grande parte da máfia italiana. E no final chega a hora da sentença. E aDra. Bianca inventa uma história e não aplica a sentença. Só que a Dra. Biancanão pode botar na sentença que não condena o réu porque o réu colaborou. Oupode? Não pode, ela tem que falsificar. E agora?

E mais, imaginem, o Dr. Feldens chega à Dra. Bianca e diz: olha,nós negociamos com a defesa. E aí a Dra. Bianca se afasta, vem o juizsubstituto: nós negociamos com a defesa. E aí o juiz substituto, formado emDireito há pouco tempo, com estrutura penal do século XIX, diz: então va-mos lavrar um termo nos autos do acordo com o delinqüente que vai cola-borar, e aí se faz um termo nos autos. Quem é que vai assinar isso? Nunca!Logo, esse acordo tem que ser algo do gabinete do juiz. E agora vocêsjogam isso na estrutura brasileira. Vamos supor que a doutora faça a nego-ciação com o Dr. Feldens, mas acontece que a senhora é transeunte, nosentido específico da expressão ela está sujeita a promoções, seguramenteestará no Tribunal. E aí, num determinado momento, as diligências estão

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ocorrendo e ela é promovida para o Tribunal Regional Federal da 4ª Re-gião. Assume um novo juiz. Quando chega lá, já terminaram todas as inves-tigações, prenderam todo mundo, o colaborador fez o que tinha que fazer, aío Dr. Feldens vai conversar com o juiz: Doutor, houve uma negociação coma Dra. Bianca. A Dra. Bianca liga para o juiz: houve a negociação. Aí o juizde direito diz assim: mas eu sou autônomo, devo contas à minha consciência,não tenho nenhuma obrigação com isso. Como é que faz?

Perceberam a dificuldade de um tipo de estruturação legal, que seprende claramente, vejam, nas relações interindividuais e nos crimes individu-ais? Se essa conduta do juiz que assumiu no lugar da Bianca é uma condutaadequada, há situações individuais; ele não percebe que também foi, à parte,um colaborador nessa investigação policial.

Encerro para dizer o seguinte: essa legislação, a organização e ocombate levam também a uma mudança substancial dentro da postura da ma-gistratura brasileira. Os magistrados brasileiros não podem mais ser os juízesque julgam aquilo que lhes trazem, eles também são ativistas no processoinvestigatório, participam do processo investigatório nas linhas que são conhe-cidas, devem ter uma participação ativista e protagonista no processo de in-vestigação em crimes dessa natureza, sob pena de voltarmos a lembrar aquiloque é uma arma de defesa da magistratura essencialista, quando diz o seguinte:“Não tomo conhecimento disso, porque devo contas à minha consciência”.Que é uma frase que todos conhecemos.

E essa frase me faz lembrar sempre um grande jornalista americano,Nenguel, que sobre isso dizia com muita clareza, que a consciência no maisdas vezes nada mais é do que uma voz interior que nos adverte de que temalguém olhando. Muito obrigado.

Agostinho do Nascimento Neto – Muito obrigado, Ministro Jobim.O Ministro Jobim, em razão de compromissos inadiáveis, terá que

nos deixar. As eventuais perguntas endereçadas ao Ministro Jobim poderãoser feitas e a organização se incumbirá de respondê-las oportunamente.

Prosseguindo com o nosso painel, teremos agora a exposição doExcelentíssimo Sr. Procurador da República, Dr. Luciano Feldens, que pros-

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seguirá dentro da mesma linha de análise dos Aspectos Jurídicos Relaciona-dos com o Setor de Cigarros. Por favor, Dr. Feldens.

Luciano Feldens - Bom dia a todos, antes mesmo da saudação,peço licença aos senhores para falar sentado, a fim de que, dentro da ofici-alidade que caracteriza o evento, possamos, nada obstante, traçar um climade sadia informalidade, o que proponho desde já no intuito de incentivar odebate e a interlocução com a distinta platéia. E é nessa linha que antecipoque serei bastante breve, acreditando que será possível enriquecer o debatecom as respostas, minhas e dos senhores, às colocações que farei e às inda-gações que virão.

Excelentíssimo Senhor Doutor Agostinho do Nascimento Neto,Digníssimo Coordenador-Geral da Dívida Ativa da União, da Procuradoria-Geralda Fazenda Nacional, e presidente deste painel; Excelentíssimo Senhor Ministrodo Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim, Excelentíssima Senhora Dra. BiancaCruz Arenhart, Digníssima Juíza Federal no Paraná, Senhoras e Senhores.

Gostaria de fazer um agradecimento especial à Escola Superior deAdministração Fazendária pelo honroso convite que me foi formulado paraaqui estar com os senhores e, também, a algumas pessoas pelas quais tenho omaior apreço e respeito pessoal, e com as quais muito aprendi. Inicialmente,pois, gostaria de deixar a minha homenagem ao Secretário da Receita Fede-ral, Dr. Everardo Maciel, agente público que detém o maior respeito e admira-ção por parte de todos os Procuradores da República no Rio Grande do Sul.Estenderia o agradecimento, no mesmo diapasão, ao Sr. Secretário-Adjunto,Dr. Rachid, que tão gentilmente nos recepciona nesta oportunidade. E tam-bém não poderia deixar de cumprimentar enfaticamente o Dr. Jair Cardoso,Superintendente da Receita Federal no Rio Grande do Sul e o Dr. Luiz Bernardi,ex-Delegado da Receita Federal em Porto Alegre/RS, atual Superintendenteno Paraná: aos senhores que são, para nós Procuradores, um exemplo dedignidade, de atuação pública, de probidade e competência administrativas, omeu agradecimento pessoal.

A temática envolvendo os delitos de contrabando e descaminho -art. 334 do Código Penal -, diretamente vinculados à clandestina introdução

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de cigarros no território nacional, desafia-nos a logo indagar: tratando-se decondutas ilícitas, quem está a sofrer com a prática dessa ação criminosa?

Ainda que não submetidas à regência da lei que define os crimes desonegação fiscal - Lei 8.137/90 -, inegável é que as práticas ilícitas sobcomento - ou, mais especificamente, o descaminho - apresentam uma ilusãotributária, com danos reais ao erário público. Paralelamente, é bem verdade,está a sofrer o comerciante e/ou o industrial em cuja atividade faz observar,adequadamente, a incidência tributária respectiva. Nesse sentido, poder-se-ia afirmar que a atividade criminosa traz, em tais hipóteses, um dano nãoapenas ao sistema tributário, mas também ao ambiente econômico, por-quanto revela um conteúdo nitidamente anti-concorrencial, oportunizandoque o receptador da mercadoria descaminhada a comercialize por preçoinferior. No caso da introdução clandestina de cigarros, não se processafenômeno distinto: perde o fisco, perde a indústria e perde o comércio regu-lar. Há, pois, de certa forma, uma pluriofensividade nessa conduta, razãopela qual merece ser adequadamente coibida.

E é por esse aspecto que gostaria de iniciar: qual a solução jurídica,a resposta estatal, mais adequada para esse tipo de atividade ilícita?Reformulando: considerada a esfera de atuação do Ministério Público Fede-ral, submeto ao debate a seguinte proposição: será o Direito Penal o instru-mento adequado para a repressão dessas condutas?

Analisemos a questão, primeiramente, de uma forma mais genérica,para que ao cabo desse raciocínio possamos contextualizá-la no ponto espe-cífico de discussão: o descaminho e o contrabando de cigarros, tal como elevem sendo praticado.

Quando abordamos os delitos de sonegação fiscal lato sensu, costu-ma-se logo objetar com a situação de que esses crimes não são violentos, nãotrariam risco à pessoa, etc., enfim, argumentos todos tendentes a fazer valer aidéia de que esses delitos não estariam, pois, a merecer uma repressão penalmais contundente. Aliás, o senso comum parece apontar para esse norte.

Contudo, em que pese o crime de sonegação fiscal não traga umaviolência direta - entenda-se, imediata - à pessoa, inegável é que sua reper-

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cussão social propaga-se de maneira difusa, sobre toda a sociedade. E o queme parece esteja faltando, em realidade, é que passemos a observar essascategorias delituosas com uma maior profundidade, desvelando situações quepodem não se fazer perceptíveis à primeira vista, mas que evidentemente de-correm da prática do fato criminoso. O professor gaúcho Lenio Streck costu-ma ilustrar seu raciocínio com um famoso quadro de Van Gogh no qual estáretratado um par de sapatilhas desgastadas, acomodadas de forma inclinadaaos pés de uma cama. Diante disso, passa a indagar: será que a pintura sobcomento nos traduz apenas o que nela visualizamos direta e prontamente, ouseja, um par de sapatilhas, ou, para além disso, poderíamos ali verificar algomais e considerar, por exemplo, que elas serviram a calçar os pés de umacamponesa que ora descansa de seu lavor de sol-a-sol; que elas serviram aoesforço do sustento familiar, à operosa produção, enfim, à dignidade do traba-lho humano que ora se vê fisicamente pausado pelo cansaço até o amanhecerdo dia seguinte? Qual o real conteúdo de sentido retratado naquela pintura?Serão apenas sapatilhas? Enfim, desvelar o óbvio que muitas vezes inconsci-entemente nos recusamos a pesquisar é o nosso desafio, rumo a um diagnós-tico mais autêntico das situações submetidas à nossa intervenção.

Pois comparem os senhores, por exemplo, as seguintes duas situa-ções, retiradas do cotidiano nacional, às quais denominarei cenas um e dois.Cena um: há questão de duas semanas, naquele tradicional programa que inau-gura o domingo à noite de uma emissora de televisão brasileira, a reportagemde capa trazia-nos o drama de uma famosa apresentadora de TV que recebe-ra um diagnóstico de câncer, à vista do qual imediatamente passou a subme-ter-se ao tratamento adequado em um confortável e aparelhado hospital deSão Paulo, e nessa condição ainda se dizia alegre por estar acolhendo algocomo duas dezenas de visitas em seu apartamento hospitalar. Cena dois: amaciça maioria da população brasileira que atentamente analisava aquela situ-ação, representada por pessoas humildes, submetidas a uma abissal desigual-dade social, muitas das quais se postavam em vigília à porta do hospital, co-movendo-se e solidarizando-se com a apresentadora, se pelo infortúnio seencontrarem em similar condição desfavorável, jamais terão acesso a trata-

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mento sequer parecido, muito menos naquele nível de estabelecimento hospi-talar. Isso sem cogitar o período em que haveriam eventualmente de aguardarna fila da saúde pública para uma sessão de quimioterapia.

O que estou a enaltecer, com essa ilustração, é que não raramente olha-mos para um problema de forma objetificante, traçando uma relação sujeito-obje-to, como se estivéssemos fora desse problema; como se ele não nos pertencesse.Por isso, quando muito, limitamo-nos a constatá-lo, sem investigá-lo a contento.

Ora, sabidamente a danosidade social dos crimes de colarinho bran-co, da sonegação fiscal, ultrapassa significativamente o dano patrimonial decor-rente daqueles delitos que tradicionalmente são vistos como crimes-problema,como o furto, o roubo, etc. O fato desses delitos de sonegação fiscal eventual-mente não nos retratarem um dano diagnosticável em tempo real, não conteremsangue, não serem flagrados ao tempo em que cometidos - a exemplo do queocorre com o furto, o roubo, o homicídio, etc. -, leva-nos a minimalizá-los emseus efeitos. Mas será que, se analisarmos mais detidamente a sua repercussãosocial, concluiremos que realmente não há violência nesse tipo de delinqüência,a qual toma por usurpar da população brasileira suas condições mínimas dedignidade, afastando-a da conquista de seus direitos mais elementares e funda-mentais - como, no caso da ilustração acima, o direito à saúde? De fato, oraciocínio que proponho passa pela seguinte consideração: à consecução de umnível minimamente razoável de democracia substancial, o nosso sistema jurídicoacolhe, sem qualquer hipótese de contradição, não apenas direitos individuais,mas também um sistema de deveres fundamentais, ao qual estamos submetidosem face da conceitualidade emergente da cláusula do Estado Social e Democrá-tico de Direito. E o exemplo mais eloqüente dessa categoria jurídica é o deverfundamental de pagar impostos. Como assevera Casalta Nabais, o tributo, nes-se contexto, não é um mero poder para o Estado nem um mero sacrifício para oscidadãos; antes disso, reflete um contributo indispensável a uma vida comum epróspera de todos os membros da comunidade organizada. Assim é que a sone-gação fiscal não significa, tão-somente, o não-ingresso de receita tributária noscofres públicos; impõe-se cuidemos dos efeitos mediatos e diferidos no tempooriundos dessa prática delituosa.

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Ora, não é outra, senão essa, a razão pela qual o Ministério PúblicoFederal no Rio Grande do Sul tem no combate ao crime do colarinho branco,no combate ao crime de sonegação fiscal, a sua atuação prioritária. Váriasforam as situações em que, graças à excelência do trabalho da Receita Fede-ral, tivemos ações penais extremamente significativas contra empresários so-negadores que praticavam não só a sonegação, mas o descaminho também,as quais redundaram em condenação criminal.

Mas o fato é que, pari passu a esse crescimento da repressão crimi-nal, a legislação começou a ser abrandada para esse tipo de situação. Bastalembrar que hoje em dia temos o art. 34 da Lei 9.249/95, que permite aoacusado, antes de recebida a denúncia criminal, e depois de todo um trabalhoda Receita Federal no sentido da autuação fiscal, da formalização do proces-so administrativo, a hipótese de acordar e dizer: hoje quero ver extinta a minhapunibilidade. Basta-lhe, a tanto, que pague o tributo sonegado.

Sucede, entretanto, que quando contextualizamos a questão ao objetoespecífico de análise, qual seja, o descaminho e o contrabando de cigarros, asituação se transforma sensivelmente. Primeiro, porque o que encontramos naprática é um verdadeiro comércio a conta-gotas que tem como sujeito ativo daação delituosa uma massa de pessoas que acaba fazendo dessa prática o seumeio de vida. Nitidamente, o descaminho, em situações que tais, apresenta-separa as pessoas que o praticam como uma opção ao furto, ao roubo, enfim,como a ante-sala de outras ações ilícitas que igualmente culminam com obten-ção de vantagem patrimonial indevida. E o Direito Penal acaba por alcançarjustamente essas pessoas que, lançadas à economia informal, porque desem-pregadas e socialmente desassistidas, viajam na companhia da mercadoria clan-destina, ocasião em que são flagradas pelos órgãos de fiscalização do Estado.Demais disso, a essas pessoas, invariavelmente humildes e desprovidas de con-dições econômicas bastantes a se sustentarem de forma diversa, não se aplicamas interpretações jurisprudenciais nem os benefícios legais usualmente incidentespara a sonegação fiscal em sentido estrito, tais os exemplos da tese das dificul-dades financeiras e do ventilado art. 34 da Lei 9.249/95, razão pela qual nãolhes assiste a mesma sorte de se desvencilharem da imputação criminal. À desi-gualdade social, pois, sucede a desigualdade legislativa.

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Todas essas questões de ordem fática e jurídica levam o MinistérioPúblico Federal a questionar se o adequado tratamento à repressão dessas con-dutas menos expressivas de descaminho e contrabando é, realmente, o DireitoPenal. Faço observar, em parênteses, que a atuação do Ministério Público Fe-deral não se confunde com a da Procuradoria da Fazenda Nacional. A recupe-ração do crédito tributário, a esta pertence. Nós, no âmbito do Ministério Públi-co Federal, nos preocupamos com o processo criminal, que é algo bastantediferente, mas que muitas vezes nasce de um mesmo fato gerador. É dizer: odano civil - fiscal - e o dano criminal originam-se, não raramente, de uma mesmaraiz. Nada obstante, trazem repercussões bastante distintas.

Assim, se de um lado falamos, em caráter abstrato, da elevadadanosidade social da sonegação, do descaminho, do contrabando, do crimeorganizado que está ao derredor de todas essas espécies delitivas, por outrolado temos que considerar que, em concreto, e na prática, a lei penal toma poratingir apenas essas pessoas que funcionam como “mulas” ou mesmo “laranjas”de terceiros, proprietários das grandes redes de comércio ilegal, detentoras desócios ocultos que continuam a operar ao abrigo do seu sigilo fiscal, do seu sigilobancário e de outras circunstâncias que dificultam que o Estado investigue deforma mais profícua a sua situação jurídico-penal. É por isso que certa feita referie aqui repito: hoje em dia, por exemplo, as contas bancárias estão servindocomo instrumento para o crime, tal como a arma o é em relação ao homicídio.Para que eu investigue e acabe com toda essa rede de contrabando perfeita-mente demonstrada pelas autoridades que aqui estiveram, preciso de instrumen-tal jurídico compatível. Do contrário, persistiremos a atingir apenas a ponta doiceberg, sem desestruturá-lo. Basta-nos que analisemos as apreensões de cigar-ros realizadas pela Receita Federal e pela Polícia Federal. O Ministério PúblicoFederal em Porto Alegre ofereceu, no último ano, apenas cinco denúncias crimi-nais por contrabando de cigarros. Se formos para a zona de fronteira, verificare-mos que neste ano, englobando toda aquela região noroeste do Rio Grande doSul, receptora dos produtos paraguaios, totalizamos um total de algo em tornode cem ações penais, sendo que o valor máximo da apreensão de mercadoriasfoi da ordem de quinze mil reais.

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Então, indago: é para esse tipo de delinqüente que nós ofereceremosas baterias do Direito Penal? Considere-se, além disso, o óbvio: embora nãose possa por esse motivo justificá-la, de ter-se em conta que essa criminalidadeespecífica não deixa de ter origens na mazela social que fomenta aquele fossoque serpeia as duas cenas antes mencionadas: a pessoa que tem o seu diag-nóstico e que imediatamente é atendida pelo sistema e aquelas outras que,engrossando as estatísticas da exclusão, a ele não obtém acesso, e em razãodisso vêem-se contigenciadas a colher na informalidade e na ilegalidade assuas necessidades intransferíveis.

Esse distanciamento social verifica-se, por igual, no mundo do DireitoCriminal. Não podemos deixar de ter em mente essa situação. Quero, pois, apon-tar minha conclusão, pautada, evidentemente, em apreciação pessoal, segundo aqual, considerada a clientela que se vê flagrada na prática desses atos ilícitos, talveznão seja o Direito Penal o meio mais adequado para atacar o problema. De umacoisa os senhores podem ter certeza: não será o Direito Penal que irá solucioná-lo.De mais a mais, ao instaurar a instância penal, deparamo-nos com inúmeras ques-tões de ordem interpretativa. Sei que a Dra. Bianca haverá de abordar os proble-mas de ordem jurisprudencial, razão pela qual não explorarei esses assuntos, masatentem para o seguinte: considerando que as apreensões não são, ao menos emregra, de valores vultosos, nossa dificuldade é aumentada por uma questão hojeregulamentada em Medida Provisória, a qual suscita uma análise do Direito comociência sistêmica, como um sistema de normas. Vejamos: a Medida Provisória1.973, de junho de 2000, na sua 63ª edição, estabelece que a Fazenda Nacionalestá autorizada a não promover a execução fiscal quando o crédito tributário forinferior a 2.500 reais. Pois bem, então observem: diariamente recebemos repre-sentações da Receita Federal noticiando, no mais das vezes, apreensões de cigar-ros no valor equivalente a um mil reais, um mil e quinhentos reais, em média. Ora,se a própria Fazenda Nacional está dizendo que aquele crédito é irrisório à instau-ração da jurisdição civil - não que seja propriamente irrisório, mas que a onerosiddeda movimentação das máquinas administrativa e judiciária superaria o próprio va-lor representativo daquele crédito, raciocínio esse que me parece, inclusive, bas-tante lógico - indago: haverá o Ministério Público Federal de lançar mão da juris-dição criminal?

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Enfim, essas são questões que estão sendo diuturnamente submeti-das aos Tribunais e que têm redundado no arquivamento de centenas de açõespenais, sendo essa, basicamente, a razão de inexistirem dados estatísticos nu-mericamente mais significativos do combate a esse tipo de criminalidade.

Em síntese, pois, estamos em que, quando falamos de contrabandoe descaminho, especificamente no campo de cigarros, é preciso distinguir aqueleque é o grande descaminho, ou seja, aquele que opera em rede organizada epara o qual precisamos de um instrumental maior de investigação, os quais jáforam adequadamente referidos pelo Ministro Jobim, daquele outro descaminhoque corriqueiramente acaba, metaforicamente falando, caindo em nossa mesa.Essa é a realidade que vivenciamos hoje no Rio Grande do Sul e, acredito,não se faz diferente em outras regiões do Brasil.

Ainda nesse contexto do Direito analisado como sistema, encami-nhando a conclusão dessa exposição, e para acender o debate, gostaria defazer uma provocação pautada em um ponto absolutamente sensível. Serámesmo de se coibir essa prática de elisão tributária, cuja norma que a proíbeestá basicamente a preservar o erário público e a receita do Estado, quando,paralelamente, o próprio Estado, por exemplo, oferece incentivos ou renúnci-as fiscais a grandes empresas, as quais vêm por concorrer com outros estabe-lecimentos que se obrigam ao recolhimento regular dos tributos incidentes so-bre suas operações? Ressalvo que esse enfoque que estou declinando é reali-zado estritamente sob uma ótica de política criminal, e não sob uma visãopolítico-econômica, sob cuja perspectiva as medidas de não intervenção tri-butária poderão se demonstrar totalmente justificáveis. Ora, se o contextosocioeconômico parece apontar para a necessidade de atrairmos grandes in-vestimentos comerciais e industriais, e se o preço dessa política importa quesejam tomadas, por exemplo, medidas de isenção fiscal, o fato é que issoacaba por importar, na prática, uma significativa desigualdade perante outrosestabelecimentos congêneres já arraigados em território nacional, os quais,para a introdução e comercialização de seus produtos, persistirão a se subme-ter à rigidez da legislação em vigor, inclusive da lei penal. Enfim, essas sãoindagações que, a par de exigirem uma reflexão teórica bastante maisaprofundada, surgem inevitavelmente em face dessa área de intersecção

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compactuada pelo Direito Tributário e pelo Direito Penal, os quais, porquantoregidos por distinta principiologia, não raramente haverão de confrontar-se.

Como disse ao inaugurar a exposição, a minha presença aqui talvezmais útil se faça com a intervenção dos senhores, razão pela qual me proponho,desde já, ao debate, ocasião da qual me utilizarei para aprender com os senho-res, pois disso eu muito necessito. Muito obrigado pela atenção dos senhores.

Respostas às perguntas:Luciano Feldens - Gostaria de deixar à disposição o meu endereço

eletrônico para todos os senhores. Estarei sempre à disposição de todos peloe-mail [email protected], ou pelo telefone (51) 3286.3311.

Os senhores perdoem-me pela descontração, mas o fato é que avingar o Código de Defesa do Contribuinte, nos termos em que projetado,resta-me retornar ao exercício da advocacia criminal, porque inviabilizada es-tará a séria ação do Estado no combate à sonegação.

Luciano Feldens - A resposta teria que ser muito ampla, porquenão há situação em que o contribuinte, em tal há hipótese, não sustente asigilação dos dados. Agora, a verdade é a seguinte, e sejamos coerentes,com o advento da informática, houve uma reformulação no modo dearmazenamento de dados. Mas os dados são os mesmos. Então, entendo,data vênia, que a possibilidade de a autoridade fiscal vasculhá-los decorredo poder de fiscalização que lhe é inerente à atividade. Vejam: se os livrosfiscais não são mais livros, na acepção gramatical do termo, mas dados ar-mazenados na memória de um computador, qual o problema da autoridadefiscal em obtê-los? Então, sinceramente não gostaria que a minha respostafosse tomada como peremptória, mas a princípio temos que buscar saberaonde reside o sigilo. A regra persiste sendo a publicidade, mormente aosolhos do fisco, que resguardará as informações. Eu não tenho que partir dopressuposto contrário, ou seja, de que tudo é sigiloso e submetido à reservade jurisdição até prova em contrário. Não. Existe uma autoridade fiscal compoderes fiscalizatórios, a qual apenas não poderá avançar sem mandadojudicial nas hipóteses em que a Constituição ou a lei lhe vedem diretamenteo acesso sem essa intervenção do Poder Judiciário. Ora, estariam os dados

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fiscais sob reserva de sigilo só pelo fato de se encontrarem armazenados emmeios magnéticos? Por si só não, data vênia.

Agostinho do Nascimento Neto - A pergunta é mais uma coloca-ção da Dra. Marisa de Sá, da Secretaria da Receita Federal. Dr. Luciano,excelente a colocação sobre a gravidade do crime de sonegação fiscal. Asociedade brasileira precisa saber que deste crime decorrem inúmeros, subli-nhado, outros. Ele é, pois, um crime muito mais brutal do que a maioria daspessoas acham?

Luciano Feldens - Permite-me uma referência? A partir de uma in-vestigação levada a efeito pela Receita Federal e pelo Ministério Público Fede-ral no Rio Grande do Sul, em face da comparação de dados da ContribuiçãoProvisória sobre a Movimentação Financeira - CPMF e o Imposto de Renda,constatou-se que no ano de 1998 transitaram pelas contas correntes de 36 pes-soas físicas, repito, pela conta corrente de apenas 36 pessoas físicas, o montantede dez bilhões de reais. Vejam os senhores que se esses valores houvessem sidooferecidos à tributação na pessoa física, eu teria uma renda hipotética de doisbilhões, setecentos e cinqüenta milhões de reais. Isso seria o suficiente parapagar uma vida laboral, ou seja, para pagar um salário mínimo a um milhão equatrocentos mil trabalhadores durante 35 anos. Portanto, vejam a danosidadedesse crime. Adiro completamente à colocação formulada.

Agostinho do Nascimento Neto – Depois dessa instigante pales-tra do Dr. Feldens, com a qual concordo, e me desculpem tomar a palavra,parece-me um contraponto interessante à palestra do Ministro Jobim, em quefica claro que, além da parceria público e privado, o tratamento da questãopenal tributária, eu não uso o termo de forma despropositada, parece indicarque uma abordagem exclusivamente criminal não é suficiente. Tanto quantome parece importante também assinalar que, não obstante a utilização da tri-butação dentro de uma ótica extrafiscal, não vem dando os resultados espera-dos, não vem resultando em saldos positivos para o fisco.

Lembro que majoração de alíquota como forma de intimidação deexportação de insumos, se fizermos uma análise estatística, e esses númeroscertamente foram analisados aqui, vamos perceber que ainda assim há uma

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queda progressiva da arrecadação no que diz respeito ao IPI e ao grupo IPI.Parece-me claro que é preciso haver uma conjugação de todas essas opçõese não deixar que se recaia na situação de procurar rigorosamente uma síntese,que seria uma síntese absoluta.

Com essas palavras e agradecendo mais uma vez a instigante pales-tra do Dr. Feldens, imediatamente passo a palavra à Excelentíssima Juíza Fe-deral, Dra. Bianca Arenhart, que prosseguirá ainda analisando aspectos jurí-dicos, certamente agregando uma ênfase ainda de caráter criminal.

Bianca Georgia Cruz Arenhart – Excelentíssimo Dr. Agostinhodo Nascimento, nosso Moderador, Excelentíssimo Dr. Luciano Feldens, cum-primento também a pessoa do Excelentíssimo Sr. Ministro Nelson Jobim, infe-lizmente ausente, demais autoridades da Receita Federal e Fazenda Nacional,a quem cumprimento genericamente até mesmo dado o adiantado da hora.

Gostaria de consignar inicialmente o honroso convite que foi enviadoà Justiça Federal, especificamente à Justiça Federal do Paraná para integrareste painel e inteirar em conjunto um tema que certamente não deve ficar estri-to ao interior dos nossos gabinetes. Mais do que nunca, nesse tema é precisouma interação, um debate conjunto e ouvir todos os lados dessa questão, atéporque na Justiça, e como juízes recebemos autos, recebemos papéis, e comobem consignou o Exmo. Sr. Ministro é um princípio do Direito que o que nãoestiver representado nesses autos a rigor eu não poderia invocá-lo para funda-mentar expressamente a minha decisão.

Agradeço, portanto, também a minha indicação feita pelos meus di-retores do Foro, Dr. Nicolau Júnior e Dr. Fernando Quadros, que me fizeramrepresentá-los neste momento, muito embora, certamente, minha pouca expe-riência e a precedência de pessoas tão especialistas no assunto, muito maisinteiradas e com muito mais prática direta no combate a esse tipo decriminalidade, já tenham deixado um espaço muito pequeno para qualqueroutra digressão ou qualquer outra sugestão a ser feita.

Portanto, vou me reter a analisar especificamente aspectosjurisprudenciais. Qual é o entendimento da Justiça Federal brasileira e orespaldo do Tribunal, assim como do Superior Tribunal de Justiça e do

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Supremo Tribunal Federal a, especificamente, crimes de contrabando edescaminho de cigarros cometidos no Brasil. Já ressalto que esse serámeu tema até mesmo porque o crime organizado foi amplamente e muitobem abordado pelo Ministro Nelson Jobim e os métodos investigatóriosdo Ministério Público Federal também muito bem consignados peloExcelentíssimo Procurador Dr. Luciano.

Basicamente as condutas de ingresso ou saída ilegal e irregular docigarro no nosso sistema brasileiro incidem em duas modalidades criminosas:a primeira, uma modalidade tipicamente de contrabando, ou seja, uma merca-doria, no caso o cigarro, ingressa ou sai do País, sendo que é vedada a saídaou ingresso no País. Temos tecnicamente aquilo que em Direito Penal se deno-mina uma tipicidade em branco. Para que eu consiga obter uma subsunção deum fato a esse crime eu necessito de uma norma infraconstitucional, uma leidizendo que aquela mercadoria é proibida. E eu refiro a isso porque, se even-tualmente essa lei deixar de existir, não há como eu, como juíza, subsumiraquela conduta a esse crime de contrabando.

No caso específico de cigarros, no sistema brasileiro, existe uma vedaçãode que o cigarro estrangeiro, cuja marca não seja comercializada no país de ori-gem, ingresse no Brasil. Essa, então, seria uma vedação infraconstitucional einfralegal, a ponto de fazer com que esse fato, se eventualmente ocorrer, vá sesubsumir a uma conduta de contrabando tecnicamente assim chamada.

No que tange ao cigarro nacional, existe uma vedação expressa,unicamente relacionada ao cigarro nacional destinado exclusivamente à ex-portação. Por quê? Porque esse cigarro destinado à exportação tem uma imu-nidade constitucional tributária, não incide IPI, que é um imposto brasileirosobre produtos industrializados, na exportação desse cigarro. Esse cigarrobrasileiro destinado exclusivamente à exportação não sofre uma tributação dealíquota bastante elevada no País, até mesmo porque o Direito Tributário temtambém uma função promocional. Ou seja, a de tentar fazer com que umproduto maléfico à saúde, comprovadamente assim já registrado, não sejareiteradamente consumido. Portanto, existe a tributação, e o incentivo tam-bém ao mercado de exportação.

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Existe, então, uma norma infralegal que veda o ingresso de um cigarronacional destinado especificamente à exportação. Aquele famoso reingresso,que até pouco tempo era a modalidade mais comum de cometimento de contra-bando. A rigor, todas as demais modalidades que ocorrem criminalmente, deingresso e saída, importação e exportação de cigarros, vão subsumir uma outraconduta, que é a de descaminho, que é a mera evasão fiscal, a mera sonegaçãode um tributo de importação e exportação. E, aqui, tecnicamente, em DireitoPenal vamos ter uma nova idéia e uma nova figura, e adiante explico por queestou fazendo essa distinção. Porque, em termos jurisprudenciais, abala em muitoa tomada de posição que o juiz vai ter em relação a um desses crimes, que é umaposição para o contrabando e outra diferente em relação ao descaminho.

No caso do descaminho, dependo também de uma normainfraconstitucional e legal, mas essa norma tem um caráter tributário e vai verificarque aquele fato de importação e exportação daquela mercadoria é um fato signo-presuntivo de riqueza. A partir dele eu presumo que a pessoa está demonstrandouma capacidade contributiva e, por isso, digo que vai incidir um tributo. Quando,eventualmente, se tem, por exemplo, a entrada no país de um cigarro nacional quenão estava destinado especificamente à exportação, consigno então que não setem tipicamente um contrabando, mas, sim, um descaminho.

E qual é a relevância disso? Em princípio os dois crimes estãotipificados numa mesma norma, que é o art. 334, e a pena é exatamente igual.Ambos são crimes, e são crimes contra a administração pública.

E aqui gostaria de consignar unicamente um detalhe que, paramim, é extremamente importante e que ressalta a importância e relevânciadesse tema e dessa matéria. Como sei que muitos são estrangeiros e tam-bém outras pessoas não vão entender tecnicamente o vocabulário jurídi-co, até porque é um vocabulário extremamente específico, gostaria ape-nas de consignar o seguinte: o que significa você ter um crime e o quesignifica você ter um crime contra a administração pública em geral. Cri-me, a rigor, é uma conduta desvalorada, uma conduta tipificada negativa-mente. Por política criminal, eventualmente, o legislador vai pinçar deter-minada conduta que está sendo praticada naquela sociedade e vai dizer:

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essa sociedade desvalora a prática dessa conduta, entende que ela éimpugnável, que ela é reprimível e que não basta uma sanção administrati-va ou uma sanção criminal para reprimi-la e para repreendê-la, para retri-buir o que foi feito e também para prevenir que novos fatos desses ocor-ram. Isso, a rigor, seria a idéia de crime.

Crime contra a administração pública, que significa especificamenteo título e o capítulo onde estão inseridos tanto o contrabando quanto odescaminho, necessita mais do que nunca que saibamos e compreendamos oque significa a administração pública. A administração pública traz a idéia deuma função, de um poder/dever. É o único poder que se tem que está destina-do especificamente a atender as necessidades primárias e secundárias de todaa população, sejam cidadãos brasileiros, sejam estrangeiros residentes oudomiciliados no Brasil. Isso significa que o bem jurídico tutelado no crime decontrabando e descaminho não é nada menos do que o interesse de todos oscidadãos brasileiros, interesse na satisfação das suas necessidades primárias esecundárias, que em não podendo satisfazê-las sozinhos pedem ao Estado, àadministração pública, que as satisfaça, e buscam, por uma solidariedade, fi-nanciar essa atividade e o destino dessa atividade, que é extremamente vincu-lada e instrumentalizada sobre um poder/dever do Estado, uma obrigação derealizar isso, porque a coletividade resolveu se solidarizar dessa forma.

Digo isso porque, quando se fala em contrabando e descaminho,concordo plenamente com o que o Excelentíssimo Ministro Nelson Jobim con-signou. Hoje, quando se fala em tutela do meio ambiente, sonegação fiscal,crimes contra o sistema financeiro nacional, “lavagem” de dinheiro, evasão dedivisas, começa a se falar num novo paradigma do Direito Penal. O DireitoPenal não poderia mais se preocupar em tutelar indivíduos, e, sim, deveria sepreocupar agora em tutelar bens jurídicos metaindividuais, transindividuais,pertencentes a interesses e pessoas que não são individualizáveis, que não sãodetermináveis, e cujo dano causado não é individualizado, não consigoquantificar quanto de dano cada um de nós sofre quando uma sonegação deum bilhão de reais ocorre anualmente com o contrabando de cigarros. Certoque, para alguns dos cidadãos brasileiros, esse dano vai ser mais direto e mais

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efetivo, sobretudo para aquelas pessoas que dependem do Estado para satis-fazer as suas necessidades porque não conseguem supri-las diretamente. E écerto também que para uma pequeníssima parcela da população talvez issonão cause um dano tão imensurável. No entanto, não consigo medir para cadaum, e de uma forma antecipada, qual o dano que se causou. Mas também nãoposso olvidar que de qualquer forma o dano foi provocado a todos os cida-dãos nacionais ou estrangeiros residentes e domiciliados no País. Arranhou-sea administração pública enquanto poder/dever de satisfação dos interesses enecessidades primárias e secundárias.

Mais do que nunca aqui, a meu ver, temos uma idéia que surgiu em1940, e não agora, de tutela penal dos interesses difusos e metaindividuais.Mais do que nunca o Direito Penal, e o jurista, o aplicador da lei, desde ainvestigação, devem, como bem ressaltou o Ministro Nelson Jobim, se preo-cupar com a dimensão global desse problema. E quando se analisa um casode contrabando, um caso de descaminho, deve-se verificar a situação de umaforma global. E verificar se o dano eventualmente causado foi de um mil reais,dois mil reais, talvez num sentido global eu não possa esquecer que a adminis-tração em geral foi prejudicada, a coletividade como um todo foi prejudicada.Talvez à pessoa que vive com um salário mínimo, ou com um mil reais, dois milreais, faça falta, e, talvez, muita falta, se eventualmente ela depende do Estadopara suprir as suas necessidades básicas e primárias.

Esse é o primeiro ponto, então, que eu gostaria de consignar, de umaidéia já muito antiga de tutela penal do interesse difuso e coletivo. Quando secoloca no interrogatório uma pessoa suposta “laranja” ou suposta “mula”, comose fala lá em Foz do Iguaçu, e é colocada na minha frente para que eu ainterrogue, ela chega para mim e fala: olha, doutora, a senhora me desculpe, asenhora me perdoe, mas não acho que eu esteja cometendo um crime, porquetenho seis filhos e preciso carregar uma caixa de 15 quilos entre a ponte queune o Paraguai e o Brasil, que é a Ponte Internacional da Amizade, e recebocinco reais por caixa de cigarro que eu trago, se eu der uma garantia de quevou ressarcir se eventualmente essa caixa for perdida ou for apreendida pelaReceita eu chego a ganhar oito reais, ao final do mês vou conseguir auferir

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mais ou menos seiscentos reais, e esses seiscentos reais fazem falta para osmeus filhos, que sustento com cem reais mensais. Então eu uso isso para so-breviver, eu uso isso para me alimentar, uso isso para comer, vestir e dormir econtinuar vivendo no Brasil. Para mim isso não é ilícito, e eu preciso dessedinheiro para comer.

É claro que não tenho como, antes de juíza, humana, considerar umasituação dessas. Mas, por outro lado, também não posso ver essa questãocomo uma situação individualizada. Mais do que nunca, como bem consignouo Ministro Nelson Jobim, tenho que visualizar essa questão de uma formaglobalizada. Talvez o interesse dessa pessoa deva ser sacrificado para queseja sopesado em prol do interesse de toda uma coletividade de pessoas, queé tributada ou que confia na administração pública para satisfazer as suas ne-cessidades primárias e secundárias.

E também não posso me esquecer de que, eventualmente, aquelaspessoas que hoje estão lá em Foz do Iguaçu, exercendo esse tipo de atividadeforam, talvez, estimuladas para trabalhar lá, por exemplo, em Itaipu, e tinhamuma atividade lícita. No entanto, de repente já estavam na cidade, já tinhamconstituído sua família, já estavam morando lá e tiveram de adotar uma novaatividade, só que daí fizeram uma opção, uma opção para uma atividade ilícita.Mas capacidade laborativa, em princípio, teriam, senão não teriam sidolocomovidas e direcionadas para esse fim.

Eu enfrento um grande problema no interrogatório das pessoas quesão indiciadas e eventualmente presas em flagrante delito porque estão comtais mercadorias contrabandeadas ou descaminhadas. E o problema é o se-guinte: essas pessoas não acham que estão cometendo um crime. E eu falo:olhe, o senhor tem direito a suspender esse processo – já explico para osestrangeiros o que isso significa na legislação brasileira –, mas digo assim: osenhor tem esse direito, desde que repare o dano e me comprove mensalmen-te que o senhor está tendo uma ocupação, um trabalho lícito. Ele fala assim:doutora, eu tenho um trabalho lícito, eu vou para o Paraguai todo mês, voupara o Paraguai toda semana, eu trabalho, eu recebo, às vezes vou lá, pagoadiantado e volto, às vezes as pessoas me pagam, às vezes até há pessoas que

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não me pagam, mas eu trabalho, todo dia eu trabalho. E fica difícil eu fazeressa pessoa compreender que ela não está cometendo um ato lícito, que aqui-lo não é trabalho. E é difícil, também, aplicar uma pena para essa pessoa,como bem consignou o Procurador da República, Dr. Luciano. Fico num de-terminado paradoxo: ou eu vou punir uma pessoa que, em princípio, está alitalvez não com tanta consciência quanto ao potencial da sua ilicitude, portantocom uma relativa culpabilidade. Mas, se eu eventualmente deixar livre essapessoa e não puni-la pelo delito que foi cometido, seja por ela diretamente,pelo dolo que ela possui, seja através dela, por uma autoria imediata de algummegaempresário, de alguma empresa, eventualmente até uma empresa de ci-garros que a contrata para fazer esse trabalho só de entrada e reingresso ousaída dessa mercadoria do Brasil, eu nunca vou conseguir chegar no devidoautor desse delito.

Tenho, então, o seguinte: ou eu pego o pequeno, eventualmente tentan-do chegar ao grande, ou eu abro mão do pequeno e nunca chego ao grande.Talvez, as maiores dificuldades que Foz do Iguaçu esteja enfrentando hoje sejamas aberturas das famosas contas fantasmas que servem justamente para a práticade ingresso no País e de “lavagem” e olvidação desse dinheiro decorrente de umaprática delituosa. É um problema efetivamente social, e um problema que envolveinúmeras dimensões, sejam políticas, sejam fiscais, sejam criminais, sejam dimen-sões da justiça, que muito mais do que aplicar a lei um juiz tem que buscar ser justo.E, às vezes, nos colocamos num determinado embate de que eu tenho uma deci-são para tomar, embora eu não possa dizer por quê, mas estou buscando justiça.E nos vemos realmente, não poucas vezes, em situações como essas.

Apenas para finalizar e para que seja possível enfrentar algum deba-te posterior de como a jurisprudência tem entendido esses crimes, gostaria deexplicar e determinar basicamente algumas idéias. Em primeiro lugar, sobre anatureza das condutas supostamente criminosas, envolvendo contrabando edescaminho dos cigarros; em segundo lugar, a pena e o processo vigente noBrasil; e em terceiro lugar, a destinação das mercadorias apreendidas.

Como conduta, eu já disse, tanto o contrabando, quanto odescaminho; seja a importação e exportação de um produto proibido, confi-

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gurando, portanto, contrabando; seja o descaminho, que seria a mera evasãofiscal e evasão tributária. A rigor são crimes que no Direito Penal são formais,eles se consumam independente de qualquer resultado e antecipadamente.Por isso fica difícil configurar uma tentativa da pessoa que eventualmente éapreendida na aduana e diz: olha, eu não cheguei a fraudar o fisco, não chegueia burlar porque fui preso na aduana. Então meu crime não é consumado, e,sim, é um crime meramente tentado, que tem uma redução bastante significa-tiva da sua pena, de um terço a dois terços.

Fica um pouco complicado, porque o crime sendo formal se consu-ma com uma mera subsunção do verbo: importar ou exportar. A partir domomento em que ela está passando por uma aduana, ela está importando, ouexportando. Então a jurisprudência tem sido bastante rigorosa nesse sentidode inadmitir tentativa nos casos de pessoas que são presas nas alfândegas.

Também a natureza de crime formal e permanente faz com que aconsumação desse delito se prorrogue no tempo, o que faz com que sejapossível o flagrante e a prisão em flagrante dessa pessoa e o estado de flagran-te de consumação desse delito a qualquer momento, esteja ela transitandopela Ponte da Amizade, esteja ela já em Balsanova, ou em Mejanera, estejaonde estiver, com a posse ou guarda dos volumes, esteja numa casa vendendoos produtos que foram importados irregularmente e que são encontrados semnota fiscal, que é o famoso contrabando ou descaminho por equiparação dosparágrafos do art. 334.

A pessoa que somente revende esses produtos, que não foi quemeventualmente trouxe ou levou esses produtos irregulares, pode ser presa emflagrante somente pelo fato de que ela tem em depósito ou guarda consigoesses produtos, que são ilícitos ou sobre os quais incidiriam tributo, e essetributo não foi recolhido. E sofre exatamente as mesmas penas de quem im-portou ou exportou.

Aqui também fica apenas um comentário acerca daquilo que o Mi-nistro Nelson Jobim falou sobre a idéia do flagrante e o entendimento que ajurisprudência tem sobre o flagrante preparado e o flagrante provocado. Infe-lizmente não tenho como cometer estelionato judiciário, não posso, no primei-

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ro grau, tomar uma posição que, eventualmente, meu tribunal vá, por entendi-mento simulado, revogar; ou o Superior Tribunal de Justiça; ou o SupremoTribunal Federal. A rigor, até poderia, no entanto vou estar enganando o cida-dão que, eventualmente, está me provocando para que eu lhe dê a jurisdição.Posso até lhe dar uma sentença favorável, mas a outra parte necessariamentevai recorrer ao meu tribunal, e o meu tribunal vai reformar. A única diferença éque vai demorar um pouco mais.

O entendimento jurisprudencial que tem sido feito a respeito do fla-grante preparado e provocado é que, se a polícia somente recebe uma denún-cia anônima de que está sendo cometido um descaminho ou um contrabando,que existem pessoas que estão ingressando por um caminhão pela Ponte daAmizade, ou estão transitando pelo País com um número grande de cigarrosimportados, ou que estão transitando no País irregularmente, e recebe essadenúncia anônima e simplesmente prepara o flagrante, vai até o local e aguar-da que essa pessoa passe por eles para prendê-la, isso tem respaldojurisprudencial e se aceita como flagrante legítimo, a prisão é legal. No entan-to, se a polícia provoca esse flagrante, eventualmente dá o dinheiro para queuma dessas “mulas” compre o cigarro no exterior e introduza esse cigarro noPaís, para então apreendê-lo e chegar talvez à organização criminosa maior,isso é considerado pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal como umcrime impossível, é considerado como um crime que não foi consumado, por-que não teve todos seus dados para serem formalizados e consumados, comose a polícia tivesse impedido a sua consumação plena e dolosa. Não há res-paldo jurisprudencial para esse tipo de conduta, muito embora minha posiçãopessoal não seja nesse sentido.

Existe também uma idéia, que o Dr. Luciano já consignou, que é oprincípio da insignificância penal. Ele já explicou a medida provisória que re-gulamentou essa idéia. E o Tribunal da 4ª Região, que é a região que integro,tem respaldado totalmente essa idéia e tem equiparado o contrabando aodescaminho para extinguir processos e rejeitar completamente denúncias ouarquivar inquéritos policiais cujo valor das mercadorias não seja superior a2.500 reais. No caso do tributo sonegado, que seria a figura do descaminho,

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o valor das mercadorias poderá ser muito maior, porque os 2.500 reais devemser o valor total do tributo sonegado, não se considerando a multa fiscal nemqualquer outra incidência tributária. Então, a margem de valor de mercadoriasque passaria sem o crivo jurisdicional criminal é muito grande, hoje se temadmitido um valor aproximado de três a cinco mil dólares.

O único problema é que o Tribunal da 4ª Região tem equiparado aisso inclusive as figuras de contrabando, que, como eu disse no início, se dife-renciam muito da figura do descaminho. O descaminho, de fato, é uma meraevasão fiscal, uma mera sonegação do tributo. A rigor o delito seria de cunhopatrimonial. Mas no caso do contrabando não, eu introduzi no País uma mer-cadoria proibida, vedada por lei. Até que ponto é equiparável essa situaçãocom a situação do descaminho é uma questão bastante complicada, mas quetem recebido o respaldo do Tribunal da 4ª Região, e resistência por parte doSuperior Tribunal de Justiça.

Caso alguma dessas pessoas que tenha praticado alegue que o fezpara sua subsistência ou de sua família, eventualmente poderia se consignaraquilo que em Direito Criminal se fala de estado de necessidade, a pessoaalega que fez aquilo para sua própria sobrevivência. No entanto, a jurispru-dência não tem dado respaldo a esse tipo de alegação.

Quanto à pena e ao processo, no Brasil, hoje, aplica-se uma pena deum a quatro anos de reclusão, o que faz com que o processo criminal seja de ritocomum ordinário pleno, o processo mais longo, com os prazos mais dilatadospossíveis e com a maior ampla defesa processual possível. Um processo dedescaminho atualmente não leva menos do que dois a três anos para encerrar-seno primeiro grau de jurisdição. Adota-se, portanto, o processo penal de ritoordinário por previsão da lei. Como a pena mínima é um ano, existe uma previ-são legal, Lei nº 9.099/95, de que, se a pessoa tiver bons antecedentes criminais,não estiver sendo processada, e os motivos e circunstâncias do delito autoriza-rem, seja-lhe concedido o direito de suspender esse processo por dois a quatroanos, sob algumas condições, entre as quais a de reparar o dano, apresentar-semensalmente em juízo para comprovar o seu trabalho agora lícito, não mudar deresidência por mais de sete dias sem autorização jurisdicional, não mudar o seu

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endereço e manter os seus antecedentes criminais atualizados e negativos, foraalgumas outras condições que o juiz poderá aplicar, como, por exemplo, umapena não privativa de liberdade, seja a prestação pecuniária, uma multa, seja aprestação de serviços à comunidade, seja pagamento, por exemplo, de um vale-creche, que é o que tem sido adotado em geral pela Justiça Federal do Brasil emprol de institutos beneficentes.

Suspendendo esse processo e, ao final, a pessoa tendo cumpridotodas essas condições regularmente, extingue-se a punibilidade, e não háqualquer registro, para qualquer finalidade, em nenhum momento, de queessa pessoa alguma vez tenha sido processada criminalmente. Não se re-gistram antecedentes nem durante essa suspensão, nem após o encerra-mento dessa suspensão. É o regime vigente na lei. Muito embora existamprecedentes do Superior Tribunal de Justiça não concedendo respaldo àaplicação desse benefício quando se trate de contrabando de cigarros, atéporque a visão seria do crime em que os motivos e circunstâncias dessedelito, porque lesam um interesse supraindividual, como consignei, nãoautorizariam um juiz a deferir.

No entanto, aqui também coloco uma defesa pessoal, para que de-pois, nos debates, não impugnem a minha conduta. Se, em uma decisão noprimeiro grau jurisdicional, eu disser que não vou aplicar a suspensão condici-onal do processo a um interrogado, a um indiciado e a um denunciado, ama-nhã a defesa interpõe um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal, trancaminha ação penal e, eventualmente, representa contra mim na Corregedoriada Justiça, porque já houve o respaldo jurisprudencial de que isso é um direitosubjetivo e constitucional do réu penal. Simplesmente eu levo uma repreensão,meu processo é trancado e a Corregedoria pode até modificar o juiz que vaiprosseguir nesse processo.

Se, ao final, eu não aplicar a suspensão do processo e prosseguir todoo rito, essa pessoa ainda tem o direito de substituir a pena privativa de liberdadepor uma pena restritiva de direitos, o pagamento de uma multa ou uma pena deprestação de serviços à comunidade. Esse é o regime da lei, não tenho como daruma decisão ilegal, até porque a minha decisão também pode ser impugnada.

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E ainda existe a possibilidade, que o Ministro Jobim também consig-nou, de eu conceder o perdão judicial para um eventual colaborador que de-latar o criminoso ou o suposto responsável por toda a organização e máfiacriminosa e me ajudar em toda a instrução processual. Essa previsão hoje vempela Lei nº 9.807/99, art. 13, e é uma previsão genérica, eu posso aplicar paraqualquer tipo de crime esse perdão judicial, eu simplesmente perdôo aquelaprática criminosa só porque ele fez isso e colaborou. E, a rigor, posso dizerque fiz isso porque está previsto em lei, muito embora moralmente seja umpouco, talvez, impugnável.

Finalmente, um problema sobre a destinação das mercadorias. Exis-tem dois tipos de destinação desses cigarros que são apreendidos, e já foramvistos nos painéis anteriores. Primeiro é a destinação administrativa. No Paranáexiste uma preocupação grande com o meio ambiente, e os sistemas têm sidodois: um de incineração e o outro de trituração. A incineração sofreu umagrande impugnação pelos institutos ambientais, portanto o que tem valido maisé o sistema de trituração. O volume desses cigarros triturados é imenso, inco-mensurável, provavelmente as autoridades da Receita Federal já devem terconsignado a respeito.

Judicialmente só posso destinar um perdimento dessas mercadoriasao final do trânsito em julgado da minha sentença processual, o que leva nãomenos do que cinco anos. Então, existe, é claro, um depósito onde, às vezes, ojuiz pode determinar que seja resguardada essa mercadoria, mas isso, certa-mente, não só acumula os depósitos da Receita, prejudica a apreensão de novasmercadorias, até porque não há depósito que consiga cercar e guardar todoesse volume de mercadoria que diariamente é apreendida, sobretudo lá no Paraná,em Paranaguá, e, eventualmente, eu ainda posso sofrer uma ação popular, comojá aconteceu no Paraná. Um juiz federal em Foz do Iguaçu sofreu uma açãopopular assinada por cidadãos brasileiros dizendo que seria imoral administrati-vamente que você queimasse cigarros, porque a população brasileira necessita-va de atendimento de saúde, vida e garantia da sua própria subsistência, então,no mínimo, esse cigarro deveria ser leiloado para o âmbito privado, e, portanto,o dinheiro arrecadado nesse leilão público deveria ser destinado a uma institui-

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ção de caridade, quando não, ao Estado. Foi uma ação que tramitou em 1993 e,ao final, foi julgada improcedente, muito embora todas as pressões políticas queesse juiz sofreu, até mesmo da Câmara de Vereadores local, que colheu nãomenos do que cinco mil assinaturas favoráveis ao leilão dos cigarros apreendi-dos em Foz do Iguaçu. Foram realizadas duas perícias. Essas perícias detecta-ram que junto com aquele cigarro havia inúmeras substâncias tóxicas e nocivas àvida das pessoas, tudo menos fumo tinha ali dentro. Então dificilmente o juizpoderia autorizar uma venda para empresas nacionais de cigarros, para consu-midores em geral, porque, eventualmente, o juiz estaria cometendo um homicí-dio indireto, ele estaria dizendo que o consumidor ao final morreria certamentecom o consumo daquele produto. Foi julgado improcedente, e é óbvio quehouve recurso, mas o Tribunal confirmou essa decisão final.

A título de consideração final, gostaria de colocar a minha posiçãopessoal sobre o Direito Penal, de que não se deve pensar mais em um DireitoPenal proibitivo, sancionador. O Direito Penal, mais do que nunca, comoinfraconstitucional deve fazer efetivar a Constituição Federal. E no art. 1º daConstituição Federal está previsto que sejam assegurados a dignidade da pes-soa humana, a livre iniciativa, o livre comércio. Quando olho para o crime decontrabando e descaminho não posso deixar de olhar para o art. 1º da Cons-tituição Federal. Mais do que nunca, o Direito Penal tem que realizar essesobjetivos. E, talvez, ele seja o sistema normativo mais atuante e mais eficazpara conseguir realizar a nossa Constituição, que é diligente, compromissóriae já foi promulgada há mais de 13 anos.

Agradeço e me coloco à disposição para quaisquer perguntas quesejam formuladas.

Agostinho do Nascimento Neto – Muito obrigado, Dra. Bianca.Passamos, agora, à fase dos debates. Observo aqui, no mínimo, trinta ouquarenta perguntas. Naturalmente não é possível ler todas e me sinto pouco àvontade também para fazer uma seleção. Então, aleatoriamente vou pinçaraqui perguntas e queria que a organização me orientasse sobre o limite detempo que teríamos. A organização me adverte que o nosso tempo, não direinem quanto, é muito pequeno.

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Já inicio esclarecendo que as perguntas eventualmente não respon-didas agora serão respondidas por escrito pelos palestrantes, com certeza.

Começo com uma pergunta do Dr. Eric Dumont, da Secretaria daReceita Federal, e está dirigida aos dois palestrantes. Na realidade, a rigor,aos três palestrantes, porque aqui coloca a todos. Não estando presente oMinistro Jobim, a pergunta fica dirigida aos dois palestrantes presentes.

“Muito se falou neste painel sobre os entraves legais atualmente exis-tentes para o combate aos crimes de contrabando e descaminho. Qual é aexpectativa dos senhores quanto a esses entraves na hipótese de aprovaçãodo Código de Defesa do Contribuinte, atualmente em tramitação no Congres-so Nacional? Esse código facilitará ou dificultará o nosso trabalho?” Inicial-mente, Dra. Bianca, por favor.

Bianca Georgia Cruz Arenhart – Certamente, se já existiamvedações legais, com a aprovação desse código, muito mais. É claro que ajurisprudência pode flexibilizar qualquer interpretação a seu critério. E aí digoque temos, sim, um respaldo do Supremo Tribunal Federal, como bem con-signou o Ministro Nelson Jobim, de, eventualmente, mesmo diante de disposi-ções expressas legislativas, tentar flexibilizar o máximo e colaborar o máximopara que cada vez mais sejam implementados os meios investigatórios.

Em contrapartida, anuncio algo que provavelmente o Dr. Luciano po-deria consignar muito melhor do que eu. Existe, também, uma proposta no Mi-nistério Público Federal de ampliação dos poderes investigatórios da Procura-doria da República. Portanto, os inquéritos policiais não seriam mais comanda-dos pela Polícia Federal, e, sim, diretamente pelo Ministério Público Federal.Eventualmente esse seja um mecanismo a mais, se for aprovado, e duvido quepasse logo, para se enfrentar esse problema da organização criminosa.

Luciano Feldens – Gostaria de deixar à disposição o meu endereçoeletrônico para qualquer um dos senhores. Estarei sempre à disposição de todos.É [email protected], e assim eu respondo a qualquer uma das perguntas.

Os senhores me desculpem até a informalidade, mas acho que édesafio do juiz estar contemporâneo com uma autenticidade do Direito. O fato

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é que, a vingar o Código de Defesa do Contribuinte, eu retorno a exercer aadvocacia criminal, porque não tem cabimento. E faço votos de que o Supre-mo Tribunal Federal julgue bem a ADIN proposta pela Confederação Nacio-nal da Indústria contra a Lei Complementar nº 105. Muito obrigado.

Agostinho do Nascimento Neto – Uma outra pergunta dirigida àDra. Bianca, redigida pelo Dr. Inácio Loureiro, que não identifica seu órgão.“A extinção da penalidade do sonegador em virtude do pagamento não confi-gura uma salvaguarda ao crime organizado?”

Bianca Georgia Cruz Arenhart – Coloco também à disposiçãodos presentes, a exemplo do Dr. Luciano, o e-mail de todos os juízes federaisno site da Justiça Federal do Paraná, www.jfpr.gov.br. O meu é[email protected], e fico também à inteira disposição de todos para eventu-ais perguntas e sugestões.

A extinção da penalidade, no caso do descaminho, é aplicada poranalogia àquilo que se prevê para a sonegação fiscal, para crimes fiscais pro-priamente ditos. Foi uma ampliação analógica que se fez aplicada ao DireitoPenal e em benefício do réu. É claro que aqui vale mais do que nunca aquiloque o Ministro Nelson Jobim colocou: o Direito Penal insiste em tutelar essetipo de crime como se eu estivesse tratando de um interesse individual no casoconcreto. E, portanto, em defesa dessa suposta presunção de inocência, eubeneficio a pessoa que eventualmente vá fazer um ressarcimento do dano, queno caso é o pagamento do tributo que foi omitido ou suprimido pelo descaminho.

Quando começo a vislumbrar essa questão como um interesse difusoe coletivo praticado por uma organização criminosa, e não por um agenteunicamente, uma organização que é muito bem aparelhada não só tecnicamen-te, mas monetariamente, é óbvio que pagar um valor de cinco mil reais não vaide nenhum modo obstacularizar as suas atividades normais.

Agostinho do Nascimento Neto – Ainda uma outra pergunta àDra. Bianca. “A legislação tributária – é mais ou menos na mesma linha,mas com um dado que se agrega aqui – prevê a exclusão de punibilidadeno pagamento dos impostos em casos de crimes de sonegação fiscal ecrimes contra a ordem tributária. Tal excludência poderia ser estendida

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para casos de denúncia espontânea nos crimes de contrabando oudescaminho de cigarros?”

Essa pergunta foi redigida pelo Dr. Celso Fernandes, Secretaria daReceita Federal, Inspetoria da Receita Federal em São Paulo.

Bianca Georgia Cruz Arenhart – O caso da denúncia espontâneanão apenas vai bloquear e provocar uma extinção de punibilidade seja no casodo processo de contrabando, seja no caso do processo de descaminho –mero patrimonial, mera evasão fiscal. Enfim, nesse caso ela bloqueia a própriaação criminal. O pagamento em forma de denúncia espontânea, hoje, pela Leinº 9.983/2000, bloqueia a própria ação fiscal e, portanto, a representaçãopara fins criminais e qualquer procedimento criminal. Então ela até vai além domero pagamento e promoção de pagamento, aquilo que o Dr. Luciano falou, alei fala em promover o pagamento, por isso o Tribunal tem entendido que oparcelamento daquele débito também extinguiria a punibilidade, ela vai alémdisso, a pessoa espontaneamente confessa e paga antes do início da açãofiscal, acarretando o bloqueio de qualquer ação criminal, portanto.

Agostinho do Nascimento Neto – Como o tempo é curto, uma últimapergunta para a Dra. Bianca, em seguida passaremos para o Dr. Luciano, a per-gunta foi redigida pelo Dr. Nairo Gutierrez, da Alfândega de Porto de Salvador.

“Dra. Bianca, durante a sua palestra – e é uma pergunta provocativa–, a senhora, em um determinado ponto, referiu- se a uma ‘mera sonegação’.O que significa a palavra mera para o Poder Judiciário? Se a legislação e oCódigo Penal caracterizam a sonegação como crime, é um mero crime?”

Bianca Georgia Cruz Arenhart – Aceito a provocação, até por-que estou aqui exposta a qualquer tipo de indagação, e respondo da formamais adequada possível e, principalmente, respaldada pelo entendimento nãomeu pessoal, mas, como disse ao início, não posso cometer estelionato judici-ário. Não posso deixar de arquivar um inquérito policial de um valor menor doque 2.500 reais. Se, eventualmente, fizer isso, como falei, representam contramim na Corregedoria, sou afastada da minha jurisdição e, ainda por cima,impetram um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal, que tranca total-mente qualquer atitude minha naquele processo.

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Então, inobstante minhas posições pessoais, o que eu quis colocarfoi uma diferença entre o contrabando e o descaminho, porque o Direito Penaltem que ser considerado como sistema jurídico normativo, subsidiário e frag-mentado. Ele deve ocorrer e deve atuar somente como último arrasto, senãovamos viver todos bloqueados e sem poder agir de forma nenhuma, porquetudo será crime e será punido com pena privativa de liberdade, de reclusão oude detenção. O Direito Criminal e o Direito Penal, a rigor, devem incidir tão-somente naquelas condutas em que o setor administrativo ou fiscal não conse-gue atuar e retribuir de uma forma adequada e respaldada. E foi nesse sentidoque coloquei. O Direito Penal busca assegurar a integralidade de bens jurídi-cos tutelados individualmente como os bens mais importantes para a sobrevi-vência da coletividade humana. E o que eu chamei de uma mera sonegação éque, diante de um descaminho, a meu ver, o contrabando é muito mais grave,porque o contrabando não significa uma supressão tributária, eventualmenteele vai causar um dano, mas ele significa mais do que isso, eu introduzo no Paísuma mercadoria que é proibida, e entre essa mercadoria proibida eu possoestar trazendo uma substância tóxica. E essa substância tóxica vai afetar nãoapenas o patrimônio fiscal, mas, talvez, a vida de um de nós.

E nesse sentido eu faço, sim, e confirmo a diferença entre contraban-do e descaminho.

Agostinho do Nascimento Neto – Agora apenas umas poucasperguntas, em razão do horário; para o Dr. Feldens, uma pergunta técnica,vinda do Dr. Elder, da Secretaria da Receita Federal. “A atividade tributáriafreqüentemente necessita promover auditorias em livros fiscais, e, como a maioriados livros fiscais está sob a forma de softwares, é necessária a autorizaçãojudicial?”

Luciano Feldens – A resposta teria que ser muito ampla, porquenuma situação dessas, não há hipótese de o contribuinte não argüir a sigilaçãodos dados.

Agora, a verdade é a seguinte, e sejamos coerentes, houve umareformulação do modo de armazenamento de dados, mas os dados são os mes-mos. Então entendo, data venia, que a possibilidade de a autoridade fiscal

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vasculhá-los decorre do próprio poder de polícia. O que se busca resguardarem outras situações? Busca-se resguardar a atividade da pessoa, todos os atri-butos relacionados à sua identidade pessoal etc. Já tivemos casos em que issoaconteceu e o grande drama é que toda essa matéria está sendo questionada.

Aquele caso que referi a vocês da megaoperação que houve no RioGrande do Sul, com a prisão de dois delegados e agentes da polícia, advoga-dos e empresários, essa matéria está sub judice no Tribunal, onde está sediscutindo exatamente essa questão.

Agora, vejam, se o livro diário não é mais livro e eu tenho acessomaterial àqueles dados que ali estão retratados, qual é a diferença de que issoocorra de outra forma? Já houve, repito, situações em que a autorização judi-cial foi exclusivamente para busca e apreensão, para adentrar em ambientenão propriamente público, sem referência específica a dados magnéticos. Agora,toda cautela é necessária nesse tipo de situação.

Então, sinceramente, não gostaria que a minha resposta fosse toma-da como peremptória, mas, em princípio, temos que buscar onde reside osigilo. Não tenho que partir do pressuposto de que tudo é sigiloso até provaem contrário. Não, existe uma autoridade fiscal com poderes fiscalizatórios, eela só não poderá avançar na matéria que esteja sob a reserva de sigilo. Essesdados estão sob reserva de sigilo só porque estão armazenados em meiosmagnéticos? Por si só não, data venia.

Agostinho do Nascimento Neto – A pergunta é da Dra. Maritsade Sá, da Secretaria da Receita Federal. “Dr. Luciano, excelente a colocaçãosobre a gravidade do crime de sonegação fiscal. A sociedade brasileira preci-sa saber que desse crime decorrem inúmeros outros. Ele é, pois, um crimemuito mais brutal do que a maioria das pessoas acham?”

Luciano Feldens – Permite-me uma referência?Na investigação levada a efeito pelo Ministério Público Federal e pela

Receita Federal no Rio Grande do Sul, aquela comparação de dados entre aContribuição Provisória sobre Movimentação Financeira – CPMF e o Impostode Renda, constatou-se que no ano de 1998 transitaram pelas contas correntesde 36 pessoas físicas, repito, pela conta corrente de 36 pessoas físicas transita-

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ram dez bilhões de reais, na época em que o dólar estava um por um. Salvoengano, o dobro de um dos socorros que o Brasil angariou junto ao FMI.

Vejam, senhores, vamos supor que esse dinheiro houvesse sido tri-butado na pessoa física. Eu teria uma renda hipotética de dois bilhões e 750milhões. Isso seria o suficiente para pagar uma vida laboral, ou seja, parapagar um salário mínimo a um milhão e 410 mil trabalhadores durante 35 anos.

Portanto, vejam a danosidade desse crime. Adiro completamente.Agostinho do Nascimento Neto – Senhores e senhoras, vou pas-

sar todas essas perguntas à organização, que, certamente, cuidará das respos-tas; gostaria de agradecer, em meu nome pessoal inclusive, a presença dasautoridades neste plenário, em especial aos meus colegas da Procuradoria daFazenda Nacional e aos auditores da Receita Federal. Muito obrigado.

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Moderador

RONALDO LÁZARO MEDINARONALDO LÁZARO MEDINARONALDO LÁZARO MEDINARONALDO LÁZARO MEDINARONALDO LÁZARO MEDINACoordenador de Normas de Programação Fiscal da Coordenação-Geral do SistemaAduaneiro da SRF/MF

Palestrantes

PPPPPAAAAATRICIO RUEDTRICIO RUEDTRICIO RUEDTRICIO RUEDTRICIO RUEDASASASASASPresidente da Alliance Against Contraband - ONG Internacional / Canadá

PHILIP CONNELLPHILIP CONNELLPHILIP CONNELLPHILIP CONNELLPHILIP CONNELLYYYYYMembro da Alliance Against Contraband - ONG Internacional / Canadá

JOSEPH CLJOSEPH CLJOSEPH CLJOSEPH CLJOSEPH CLARKARKARKARKARKDiretor-Executivo da Alliance Against Contraband - ONG Internacional / Canadá

MARIO POSSAMAIMARIO POSSAMAIMARIO POSSAMAIMARIO POSSAMAIMARIO POSSAMAIMembro da Alliance Against Contraband - ONG Internacional / Canadá

Painel VI

AS MELHORES PRÁTICAS INTERNACIONAIS NOAS MELHORES PRÁTICAS INTERNACIONAIS NOAS MELHORES PRÁTICAS INTERNACIONAIS NOAS MELHORES PRÁTICAS INTERNACIONAIS NOAS MELHORES PRÁTICAS INTERNACIONAIS NOCOMBACOMBACOMBACOMBACOMBATE AO CONTRABANDO DE CIGARROSTE AO CONTRABANDO DE CIGARROSTE AO CONTRABANDO DE CIGARROSTE AO CONTRABANDO DE CIGARROSTE AO CONTRABANDO DE CIGARROS

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Mestre de cerimônia – Na tarde de hoje teremos três painéiscom os seguintes temas: Painel VI – As Melhores Práticas Internacionaisno Combate ao Contrabando de Cigarros; Painel VII – Experiências deControle e Combate às Fraudes no Setor de Cigarros – Chile e Espanha;Painel VIII – Experiências de Controle e Combate às Fraudes no Setor deCigarros – Canadá.

Após a apresentação de cada painel, haverá um período de debatesde trinta minutos. Solicitamos a todos que queiram dirigir perguntas aos nos-sos palestrantes que o façam por escrito e as entreguem às recepcionistas naslaterais do auditório, inclusive durante as palestras as perguntas já podem serformuladas e entregues às recepcionistas.

Abordaremos agora o Painel VI, com o tema As Melhores PráticasInternacionais no Combate ao Contrabando de Cigarros.

A Mesa do Seminário será composta pelas seguintes autoridades:Dr. Ronaldo Lázaro Medina, Coordenador de Normas de Programação Fis-cal, da Coordenação-Geral do Sistema Aduaneiro da Secretaria da ReceitaFederal, que atuará como Moderador deste painel e presidirá a Mesa; Dr.Patricio Ruedas, da Alliance Against Contraband – ONG internacional; Dr.Philip Connelly, da Alliance Against Contraband – ONG internacional; Dr.Andrew White, da Associação Brasileira da Indústria do Fumo – ABIFUMO,Brasil; Dr. Joseph Clark, da Alliance Against Contraband – ONG internacio-

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nal, e Dr. Mário Possamai, da Alliance Against Contraband – ONG internaci-onal. Passamos a palavra ao Dr. Ronaldo Lázaro Medina.

Ronaldo Lázaro Medina – Boa tarde a todos. Vou iniciar fazen-do a apresentação dos nossos palestrantes, fazendo uma breve leitura dosseus currículos.

O Dr. Patricio Ruedas, do Canadá, formou-se em advocacia pelaUniversidade de Madri, em 1953, é Presidente da Alliance Against Contraband,aposentou-se nas Nações Unidas, em 1987, como Subsecretário-Geral deAdministração e Gerência; em quase trinta anos de carreira nas Nações Uni-das ocupou, entre outros, os cargos de Controler, entre 1979 e 1982, e Se-cretário do Quinto Comitê da Assembléia Geral, de 1972 a 1977, além de terservido em Nova Iorque, em Genebra, Bangcoc e Kinshasa. Desde 1987 temprestado assessoria em uma série de assuntos organizacionais e financeirosdas Nações Unidas; em 1999 foi designado membro de um grupo de especi-alistas responsáveis pela revisão do funcionamento de tribunais internacionaisna área criminal, para a antiga Iugoslávia e Ruanda. Em uma série de assuntosrepresentou também a Espanha em tribunais internacionais.

O Dr. Philip Connelly, do Canadá, é membro da Alliance AgainstContraband, Consultor Global, aposentou-se como Investigador Chefe As-sistente da alfândega do Reino Unido, após quarenta anos de serviços presta-dos à organização, conduziu casos em mais trinta países e seus conhecimentosforam também empregados pelo Ministério de Relações Exteriores britânico,onde chefiou várias missões para colher informações críticas na África e Ori-ente Médio. Consultor das Nações Unidas.

O Dr. Joseph Clark é Diretor-Executivo da Alliance AgainstContraband, trabalhou como executivo em várias companhias multinacionais,é sócio de uma empresa de pesquisa e investigação e possui uma firma deconsultoria gerencial. Tem vasta experiência nos campos de planejamento es-tratégico, fiscal e gerenciamento de crises. Liderou negociações de comérciointernacional inclusive em vários painéis do GATT em casos de antidumping.Possui vasta experiência nos assuntos de contrabando, falsificação e pirataria,experiência essa adquirida em inúmeros países do mundo.

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O Dr. Mário Possamai, do Canadá, é membro da Alliance AgainstContraband, ex-Investigador Senior de uma empresa de contabilidade inter-nacional, autoridade em atividades de economia subterrânea. Comandou vári-os projetos de pesquisa e investigação sobre contrabando e crime organizadoem vários países. Ex-jornalista investigativo, autor do livro: Dinheiro Corren-do o Canadá e Como São Lavados os Lucros Sujos do Mundo, obra ampla-mente reconhecida e que trata da “lavagem” de dinheiro.

Vou chamar o Dr. Patricio Ruedas para fazer sua exposição numtempo de trinta minutos e solicitar aos palestrantes e debatedores que falempausadamente para facilitar o trabalho de tradução. Obrigado.

Patricio Ruedas – Vou tentar seguir o seu conselho. Boa tarde. É asegunda vez que meus colegas e eu estamos nos dirigindo aos senhores. Essaapresentação deverá fornecer algumas idéias, espero que sejam idéias mais di-retas sobre a questão de contrabando de tabaco que está acontecendo ao redordo mundo, e, especialmente, no Brasil. Uma vez que vamos estar falando daoferta e da procura, se vocês tiverem pergunta sobre oferta e procura, seria útilque fizessem essas perguntas. Os governos têm muita dificuldade quando tentamcontrolar os mercados ilegais do lado da oferta apenas, notadamente nos mer-cados onde as transações são acertadas em consenso entre os compradores eos vendedores. Tenho exemplos muito específicos sobre a proibição nos Esta-dos Unidos, os cidadãos tiveram que aprender as dificuldades em controlar oslados da oferta e da procura, com a crise de 1929 e 1930.

De fato, o consumo de álcool foi inalterado, até que as leis antiálcoolforam aprovadas. Muitos crimes violentos aconteceram pelo consumo de álcool ea corrupção tornou-se algo latente. Um economista norte-americano, Mark Folten,especialista nessa questão fez a sua própria análise. É uma análise sobre a proibi-ção. E não preciso de explicações extras.

Recentemente, temos tido o mesmo problema numa batalha mundialcontra o tráfico de drogas internacional. Durante as duas últimas décadas, o cum-primento de leis foi capaz de obter vários êxitos do lado da oferta, atos que vãodesde grandes apreensões até grandes números de drogas apreendidas, pessoasque foram impedidas de continuar contrabandeando, como Pablo Escobar.

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Temos uma fundação de justiça nos Estados Unidos. Estou falandode drogas, estou falando de tornar as drogas mais caras? Não, estou falandosobre como proteger as pessoas contra esses mercados. A maioria dos mer-cados criminosos de álcool, ou de drogas farmacêuticas, ou de cocaína, ou deCD piratas, ou de tabaco são forças motoras para o contrabando. E é claroque isso é lucrativo se tivermos uma oferta muito grande desses mercados. Ademanda cria níveis suficientes de oferta. Então está sempre tudo ligado.

As melhores práticas do lado da oferta têm um impacto que só podeser sentido a longo termo. Se formos nos concentrar apenas no lado da oferta,teremos algumas conseqüências negativas que não são desejadas. Por exem-plo, a diferença do mercado ilegal que está começando a se desenvolver commuitos criminosos que estão tomando parte dele. Alguns são grupos peque-nos, alguns são grupos grandes, bem organizados, mal organizados, mas, nomercado, os maiores agentes e os atores mais dominantes estão sujeitos aterem maior poder. Os grupos pequenos são engolidos pelos grandes compe-tidores. E temos que ter um acordo para que todos eles, sendo grandes ounão, saiam do mercado. Quanto mais o poder de polícia é aplicado a essaquestão, mais o processo é acelerado e menos sofisticados vão ser os criminadose menos poderes terão para aumentar as atividades ilegais.

De fato, a aplicação do poder de polícia e de seus recursos e inicia-tivas pode nos conduzir aos competidores menores, ao invés de dar mais po-der a esses grupos do crime organizado, ou seja, a essas famílias mafiosas.

Então, o controle da oferta é importante porque existem muitasfontes de oferta mundo afora. Se as fontes atuais de oferta de contrabandode cigarros tivessem que ser extintas amanhã, os contrabandistas de cigar-ros na Noruega, talvez, dentro de uma ou duas semanas, seriam substituí-dos. Mas existem empresas criminosas e contrabandistas que estão dentrodessas empresas que nunca vão deixar o contrabando acabar, porque elesestão infiltrados em lugares que têm bastante oferta e se esforçam paracontinuar trabalhando.

Os grupos criminosos simplesmente trocam ou estabelecem outrasfontes de oferta se a anterior acaba. Para definir as análises e para equilibrar as

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soluções para o problema do contrabando, tanto do lado da demanda quantoda oferta, precisamos de impactos que só serão sentidos a longo prazo.

Meus colegas e eu gostaríamos de seguir essa linha de oferta e pro-cura e de iniciativas nesses dois campos. Gostaríamos de discutir as bases dasmelhores práticas e as experiências que identificam as melhores práticas emvários países e que podem eliminar ou diminuir as atividades de contrabandono mercado, tanto do lado da oferta quanto da procura.

Primeiramente, com a sua permissão, Sr. Presidente, gostaria de pedirao Dr. Philip Connelly para continuar falando sobre alguns conceitos de me-lhores práticas do ponto de vista da alfândega. Obrigado, Sr. Presidente.

Philip Connelly – Sr. Presidente, senhoras e senhores, primeira-mente gostaria de agradecer pelo convite que recebi e, especialmente, gosta-ria de dizer obrigado para as pessoas que estão aqui neste evento, porque aspalestras são muito boas, a base é muito boa.

Gostaria de gastar alguns minutos falando sobre as melhores práticasdas alfândegas. Imediatamente, o que quero dizer é que não é uma coisa queaconteça no Brasil e não é uma situação específica. Estamos refletindo asmelhores práticas mundiais.

O Brasil pode já estar até implementando algumas dessas melhores prá-ticas, então, para alguns, isso será uma informação que já foi dada anteriormente.

Estou envolvido na luta contra as atividades de contrabando há mui-tos anos. O meu colega aqui disse que parece que estou trabalhando há muitotempo, e isso é verdade. Uma das coisas que tenho certeza é que o poder depolícia sozinho não pode resolver esse problema. Devemos envolver o setorpúblico, o setor privado, a educação e os governos.

No Reino Unido, trabalho numa organização que não tem muitosrecursos em termos de equipamentos e de pessoal. Os nossos recursos sãopoucos, somos mal pagos e a corrupção é muito grande. O Reino Unido,atualmente, tem um problema muito grande com o tráfico de cigarros. Apesardos recursos que já estamos utilizando contra esse contrabando, a perda noReino Unido é de cerca de quatro bilhões de dólares ao ano.

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Ontem ouvimos que o mercado de cigarros atrapalha a saúde públi-ca. E eu concordo. O contrabando é ainda pior, porque, se você pensar nosmilhões ou bilhões de dólares que o tesouro brasileiro está perdendo para ocontrabando e para os contrabandistas, se pararmos para pensar nos hospi-tais que poderiam ser construídos com esse dinheiro que nós perdemos, etudo aquilo que poderia ser fornecido, temos que pensar que o contrabando érealmente um crime econômico e suas conseqüências são muito sérias. Somosuma sociedade sensível, portanto temos que pensar nisso no futuro. Não te-nho nenhuma dúvida de que estamos trabalhando muito para acabar com esseproblema. Mas o poder de polícia apenas não é a solução, é parte da solução.

É fácil dizer – e já escutei isso por aqui – que é um problema apenasda alfândega, mas as alfândegas sozinhas não podem resolvê-lo, não podemtrabalhar sozinhas. Portanto, esse problema pode começar a ser resolvidopelas alfândegas, mas precisa da participação de toda a sociedade.

Primeiramente, diria que o fator mais importante, na minha opinião,para os serviços de alfândega ou para os serviços policiais é que deve haveruma estrutura legal eficiente, um arcabouço legal eficiente. Antes do almoço, apalestra que escutei foi muito interessante, porque estou vendo que existemdiferenças entre o sistema judiciário deste país e do meu país, então é interes-sante ver as diferenças. Mas temos um arcabouço bastante abrangente delegislações, e precisamos aumentar ainda mais para termos legislações severaso suficiente para determinar e oferecer poder para os oficiais apreenderem ocontrabando, investigarem e eliminarem esse crime.

A lei que especifica os lugares, as licenças e autorizações de carre-gamentos deve ser melhorada. Além disso, não falando apenas de questõesfiscais e aperfeiçoamento de legislação, de repente ao redor do mundo o con-trabando está passando de geração para geração, de mão para mão. Issopoderia incluir provisão para oficiais, que requereriam fontes de patrimônio eadvogados que poderiam trabalhar juntos, porque a corrupção e o contraban-do estão andando de mãos dadas, e é importante isso ser detido.

Ou seja, em poucas palavras, é impossível ter uma lista muito grandede soluções em um país específico sem a ajuda de toda a sociedade. Para ser

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franco com vocês, o problema no Brasil é tão difícil quanto o é ao redor domundo. É muito fácil ter controle de legislações quando temos um país depoucas fronteiras, ou ter um poder de polícia num país onde a sua fonte émuito pequena, quando o crime organizado não é tão grande. Portanto, opoder de polícia e o controle devem caminhar o mais perto possível com afonte desse contrabando. Desse modo, vocês poderiam perseguir e acabarcom a divulgação desse crime.

As autoridades espanholas estão tendo um problema em Andorra,porque conseguiram detectar uma grande rede de crime. Andorra é um paíspequeno que só tem duas rotas, uma vai para a França, e uma outra vai para aEspanha. E temos controles rotineiros nesse país. Estamos colocando força,poder de polícia, policiais nesse lugar para acabar com o contrabando que foidetectado nessa região.

Da perspectiva da alfândega, o Brasil tem um problema completa-mente diferente. Para poder controlar a grande fronteira de modo eficiente,precisaríamos de uma equipe muito grande. E aqui, talvez, já estejamos prati-cando o que seria ideal, temos serviço de inteligência e de intervenção. Emoutras palavras, as alfândegas não estão mais perseguindo as pessoas na fron-teira, estão trabalhando justamente na localização dessas pessoas antes quecheguem à fronteira. Então, o que precisamos fazer é estabelecer um serviçode inteligência, uma agência que fique nos aeroportos, nos portos e nas portasde saída e entrada do País.

O primeiro passo seria entender a natureza desse problema. Sei queisso parece óbvio, mas, às vezes, negligenciamos esse passo, porque estamossempre muito ocupados com as nossas tarefas diárias e talvez não tenha havi-do tempo de analisar esse problema como devíamos. Nos últimos dois dias emeio estamos analisando as palestras internacionais, estamos falando da Chi-na e de outros países, e algumas pesquisas estão sendo feitas para lidar com oproblema e detectá-lo melhor.

Estou envolvido em muitos treinamentos internacionais com asorganizações alfandegárias das Nações Unidas, e temos percebido queisso acontece em muitos países, não necessariamente só aqui. Existe um

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cenário em que a proteção transnacional não está acontecendo. Dentro doBrasil isso não necessariamente segue um padrão, afinal a solução deveser brasileira, genuinamente brasileira. É bom haver oportunidades comoeste Seminário para trocarmos experiências, para compartilharmos as me-lhores práticas e conversarmos uns com os outros, mas no fim das contasa responsabilidade por esse problema é do Brasil, não posso ajudar nemdar sugestões.

Organizei um treinamento o ano passado na Bulgária e na Romênia.Tínhamos alguns países com populações semelhantes. Levamos em conside-ração a população, a legislação, a alfândega, as práticas e terminamos o trei-namento com soluções completamente diferentes para cada país.

Agora vou começar a falar do meu assunto favorito, que são as pes-soas, as populações e os perfis pessoais. As pessoas são o recurso mais pre-cioso que as alfândegas podem ter. Gostaria de mencionar uma estatística, eme perdoem por não ter um gráfico, mas é muito chato fazer gráfico, prefiroapresentar assim. O Reino Unido tem uma população de 35 milhões de pes-soas. Há dez mil funcionários de alfândega em todo o país. A França tem umapopulação de 59 milhões de pessoas, com aproximadamente 18 mil agentesalfandegários. O Brasil, com todo o seu território, tem 170 milhões de pesso-as, com apenas três mil agentes alfandegários. E certamente vou ouvir algumascríticas, não estou aqui para criticar ninguém, só estou dando as estatísticas.

A despeito do tamanho do país e da população que temos, o quefazemos quando temos poucos agentes alfandegários? Uma alternativa é au-mentar a equipe, aumentar as opções, mas durante alguns anos creio que pre-cisamos ter pequenos grupos de especialistas. O primeiro grupo de especialis-tas, que foi montado, acredito, 25 anos atrás, era de ex-oficiais de polícia noReino Unido. E essa idéia de formar times especiais, equipes especiais que seconcentram numa questão específica , é muito boa e traz muito êxito. Será quefuncionaria aqui no Brasil? Não sei. No Chile fizemos uma tentativa para terum serviço de inteligência, que seria uma solução para o contrabando. Masnão adianta usar a minha experiência se não sei o que acontece aqui. NaTanzânia, na África do Sul e em Moçambique também fizemos tentativas de

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criar esses grupos. A idéia original era combater o tráfico. Tínhamos um bene-fício periférico que era produzir uma grande quantidade de apreensões nessespaíses, que poderiam economizar milhões de dólares, incluindo cigarros falsi-ficados, bens materiais e bens eletrônicos. Isso aconteceu porque as equipestinham um sistema de perfis.

Muitos palestrantes falaram sobre isso, a maioria de vocês compre-endem essa expressão, mas, brevemente, gostaria de dizer que temos um sis-tema onde os serviços de inteligência e os grupos de inteligência usam cachor-ros farejadores e outros mecanismos para encontrar o contrabando. Eles for-maram uma patente para esse sistema, e têm um padrão estabelecido. E isso émuito importante porque pode ajudar a acabar com o contrabando. Isso trariamuitos benefícios, porque claro que adoraríamos ver o contrabando diminuí-do. Mas antes de decidir se essa é a melhor solução, temos que pesquisar,porque se funcionou em outro lugar pode não funcionar aqui.

O sistema que utilizamos para os agentes de alfândega é dividido emdois grupos. Nós utilizamos alguns oficiais que são responsáveis pela arrecada-ção das informações de inteligência. Ou seja, os serviços de inteligência cobremduas grandes questões, porque nós temos um exame de rotina nesses navioscom suspeita de contrabando, mas não precluímos os serviços de inteligência.

Duas coisas que sempre penso quando falo de alfândega é que exis-tem criminosos que não estão muito acostumados em passar pela alfândega,eles contrabandeiam no próprio país, contrabandeiam comida dentro dos ca-minhões, pessoas que nem sabem o que estão fazendo são utilizadas nessaatividade criminal, portanto temos que fazer um índice do que está acontecen-do. E temos algumas ferramentas muito úteis.

Escutei a palestra do Dr. Fröhlich ontem, ele falou sobre a OrganizaçãoMundial de Aduanas, que está tentando aplicar um poder de polícia. Isso ofereceinformações eletrônicas que são atualizadas e modernas para nos ajudar a encon-trar as rotas de contrabando e também informações sobre apreensões que estãosendo feitas em outras partes do mundo. É uma informação muito útil para nós.

Esse tipo de grupo tem mais relevância nos portos e aeroportos deSão Paulo e Rio de Janeiro para acabar com o contrabando. Não podemos

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isolar essas atividades, temos que trabalhar juntos. Trabalhar com esses pe-quenos grupos nos trouxe alguns efeitos psicológicos não esperados. Por exem-plo, as equipes começaram a se sentir como um grupo líder. Isso era muitobom porque elas tinham um incentivo maior para trabalhar. Por exemplo, setemos um time de beisebol, nós damos camisas, damos macacões, bonés, eessas pessoas ficam felizes de fazerem parte de um grupo organizado. E acorrupção é um problema muito sério na África, portanto temos que fazer comque os grupos trabalhem com incentivo. O grupo que tínhamos na África teveum efeito muito bom para o Grupo Alliance, porque trabalhou juntamenteconosco e nos ajudou bastante.

Claro que, por exemplo, tem um sistema de inteligência muito eficienteaqui no Brasil. E se vocês tiverem oportunidade também de verificar, apenasfalando das equipes da África para enfatizar outro ponto, esses quatro times queestabelecemos nesses países que mencionei são todos diferentes na sua compo-sição e na sua forma de trabalho. Então, apenas para enfatizar o fato de que umasolução não se encaixa para outros países, na verdade, o que se encaixa para oBrasil, o que serve para o Brasil é algo que vocês terão que descobrir.

Vamos mudar agora e falar sobre equipamento. O equipamento podecobrir algo, qualquer coisa como ferramentas, como chave de fenda, comoequipamento de dez milhões, por exemplo, máquinas de raios-x, equipamen-tos muito sofisticados, existem equipamentos muito técnicos, há muito tempohouve um pensamento de que a tecnologia seria a resposta de todos os nossosproblemas, mas, infelizmente, não foi assim. Por quê? Uma vez mais, voltandoum pouco ao Dr. Harald Fröhlich, somos amigos já há muito tempo, ontem eledisse que o aspecto mais importante é que vocês precisarão decidir qualcontêiner irão examinar, porque a economia do Brasil vai aumentar, o comér-cio vai aumentar, o número de contêineres também irá aumentar e vocês nãopoderão investigar cada um deles. Então vocês têm que descobrir qual irãoinvestigar, alguém vai ter que tomar a decisão de qual contêiner será investiga-do. Nesse ponto, a técnica mais eficiente, o equipamento, são justamente osoficiais da alfândega, com o treinamento que eles recebem para isso, o perfil,para que eles possam descobrir, por exemplo, qual contêiner deverá ser ana-lisado, investigado. E também uma questão muito difícil: recompensa. Não sei

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se o Brasil paga recompensa, por exemplo, para os informantes. É uma técni-ca muito útil e está sendo cada vez mais efetiva para obter informações.

Cento e vinte oficiais trabalharam num contrabando de heroína.Nós trabalhamos verificando a informação para identificar quem estavaimportando a heroína. Precisávamos identificar essa pessoa que estavafazendo esse contrabando de heroína. E fizemos várias vigilâncias, utiliza-mos todo tipo de equipamento eletrônico, interceptamos algumas comuni-cações telefônicas, também carros. E o custo dessa operação de vigilânciafoi de 1,5 milhão de libras, e durou 12 meses. Por outro lado, se um infor-mante pudesse dar informações para onde estava indo essa heroína, entãoseria muito mais barato pagar uma quantia para esse informante, em vez depagar 1,5 milhão de libras num caso como esse. Para mim é muito difícilpagar recompensas, então, o sistema que utilizamos no Reino Unido, eacho que em outros lugares da Europa, é o da operação de vigilância.Muitos serviços de alfândega no mundo têm autoridades legais que podempagar recompensas. É difícil, mas temos que encontrar uma fórmula para opagamento de recompensas. Sabemos que a companhia de tabaco perdemuito dinheiro com esse tipo de contrabando.

Quanto ao treinamento, também é muito importante que todos essesoficiais sejam bem treinados. Esse treinamento pode ser financiado por organi-zações internacionais como o Banco Mundial, a União Européia, reconhecendoque o serviço da alfândega oferece benefícios econômicos para o país. Por exem-plo, se conseguirmos arrecadar todos os impostos, claro que vamos melhorar aeconomia do país. Podemos treinar trinta pessoas numa sala. E as pessoas ago-ra estão muito interessadas em treinar equipes pequenas, como eu estava falan-do, treinar essas autoridades, esses oficiais que trabalham diretamente com ocontrabando. Muito freqüentemente você treina 30 ou 25 pessoas para fazeruma busca num avião, por exemplo, e seis meses depois elas não estão maistrabalhando no aeroporto, estão trabalhando em outro lugar. Então, nesse trei-namento gastamos milhões em dinheiro, e muitas vezes esse dinheiro é desperdi-çado. Por isso, temos que enfocar o treinamento para trabalhos específicos comseus governos locais para que essas pessoas se mantenham nesse mesmo localdepois de receberem o treinamento especializado para tal.

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Estou falando das melhores práticas. Recentemente vi um pro-grama de treinamento interativo, através do computador, que foi desen-volvido pelas Nações Unidas. Obviamente ele está tratando de buscarcomo é feito o tráfico de drogas, mas os princípios são exatamente osmesmos. Você treina o oficial da alfândega para fazer essas buscas, vocênão o treina para buscar drogas, para buscar cigarros, ou CD, ou relógios,o que você está é oferecendo um treinamento para que eles possam iden-tificar um espaço no local onde possivelmente se encontrará um contra-bando. Então eles têm que passar por esse treinamento, existem váriasformas de treinamento, temos vários benefícios para esse treinamento, epodemos utilizá-lo por meses. Sabemos que eles passam por esse sistemade gerenciamento para poder obter essas respostas e ver como tudo éfeito, portanto, precisamos de um treinamento muito eficaz.

Concluindo, os passos mais importantes são os planos estratégicos,o estabelecimento de um arcabouço legal satisfatório e a utilização de inter-venção de inteligência. Muito obrigado.

Ronaldo Lázaro Medina – Na seqüência, gostaria de passar apalavra aos debatedores, os Drs. Joseph Clark e Mário Possamai.

Joseph Clark – Existem muitas coisas que queremos abordar, eacreditamos que sejam componentes essenciais para construir uma estruturaque será necessária para efetivamente combater o contrabando global de ci-garros e, internamente, no Brasil. Em cinco minutos acho que não vou conse-guir fazer o que quero, mas vou tentar fazer isso rapidamente.

Uma das sugestões que dou e de fato uma das coisas que muitospaíses já estão fazendo é observar a nova convenção de crime transnacionalorganizado. Essa convenção foi aprovada em Pallermo, na Itália, em dezem-bro último, e é um arcabouço muito interessante para o desenvolvimento deleis para lidar com o crime organizado transnacional.

Com essa convenção, a “lavagem” de dinheiro, o contrabando, aextradição de criminosos, as apreensões de patrimônios e todas essas ativi-dades são identificadas como leis prescritas e também oferecem uma estru-tura para trabalharmos.

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Estou ciente da situação aqui no Brasil, que é uma situação muito inte-ressante, é diferente de tudo o que já vi em qualquer outro lugar do mundo, nosentido de que a maioria dos produtos ilegais são, na verdade, produtos quepoderiam ser transformados. E acho que o Dr. Cabral mencionou ontem, aqueleproduto engraçado, produto que está sendo desenvolvido não como produtofalsificado, mas sim como um pacote de fumo, que era aquele produto “tiazinha”.

Essas questões de legislação, não tenho muita certeza se vou abordaressa questão de modo apropriado, mas provavelmente precisamos analisar issocom um grande grau de detalhe. A União Européia, por exemplo, está instituin-do legislações muito fortes, requerimentos muito importantes que podem trazeralgumas soluções. Mas essa questão toda de produção e de falsificação vai serinteressante para todos nós, para que tentemos lidar com ela. No fim das contasainda estamos tratando de contrabando apesar de todas as legislações. Entãoessa é a definição comum: que tipo de ferramenta podemos desenvolver paralidar com esse problema, o que esse problema requer que façamos? Coopera-ção é uma palavra-chave, cooperação não só com o País, mas também com ospaíses da América do Sul, os países limítrofes, existem muitas pessoas que estãorepresentando instituições mundiais, que estão aqui e podem também nos auxi-liar. Acredito que sobretudo e obviamente as organizações de alfândega. NoMercosul temos exemplos de cooperações que existem também em outros pa-íses e foram aprovadas por convenções internacionais. O Banco Mundial, porexemplo, teve a oportunidade de fazer isso também.

Tocamos num assunto muito delicado, que é a questão da corrupçãoe as medidas anticorrupção. Isso é algo que está sendo abordado dentro daconvenção das Nações Unidas, existem alguns indícios de que, talvez, preci-semos de um protocolo ou de uma convenção separada para combater acorrupção. As medidas anticorrupção talvez sejam introduzidas em âmbitointernacional. Mas o ponto aqui, na verdade, é que o mercado negro e omercado de contrabando não podem existir, assim como o Dr. Connelly falouanteriormente, eles não podem existir.

Em muitas áreas a economia não oficial é uma parte importante doefeito negativo da corrupção, da propina e do suborno em outros países. O

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Banco Mundial está tentando desenvolver uma iniciativa contra a corrupção, eisso precisa ser abordado também como uma das ferramentas para tomarconta desse problema.

Gostaria de falar brevemente sobre alguns aspectos que estão rela-cionados à tributação e regulamentação de práticas, como já ouvimos e sabe-mos que muitos países estão aplicando.

Mário Possamai – Uma das áreas que estamos enfocando, demelhores práticas, é a área de demanda, e é importante analisar que temos umponto de luz, um flash point, como discutimos ontem. Um desses pontos deluz é criar um consenso entre os consumidores para procurar os mercadoslegais. E, na economia, essa é uma substituição de várias coisas. Por exemplo,na América do Norte, muitos anos atrás, decidimos que, quando o preço damanteiga disparou, as pessoas tinham que parar de passar manteiga no pão.Ou seja, isso aconteceria também com os outros mercados, especialmentecom o contrabando, se aumentar o preço vamos parar de consumir. Mas pre-cisamos de um nível de tributação que possa ser considerado um substituto. Etambém temos valores econômicos suficientes para considerar o crime organi-zado fora desse mercado.

Ou seja, o que é importante considerar é que o mercado de contra-bando é bem dinâmico. O que começa como sendo uma atividade de contra-bando de fundo de quintal, pode rapidamente crescer e virar uma rede de falsi-ficação, porque todos os criminosos estão, claro, tentando melhorar suas mar-gens de lucro e, com isso, estão abrindo novos canais. O mercado é dinâmico, écompetitivo e está aumentando as margens de lucro. Então, o flash point, oponto de luz, o ponto mais importante aqui tem vários fatores e varia de regiãopara região. Envolve o custo de vida, o poder aquisitivo, as tradições, se essemercado de contrabando é antigo, se não é, qual é a natureza do mercado; ouseja, o importante é saber quais são os limiares e, ao mesmo tempo, os fatoreseconômicos que podem nos permitir encontrar esses pontos principais.

No Estados Unidos, na década de 70, tínhamos um mercado muitodinâmico de contrabando. Durante essa década aumentamos a tributação, aumen-tamos os impostos. Durante os anos 70 tivemos um período de inflação muito alta,

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também tivemos o primeiro dos grandes choques econômicos, o choque de pre-ços no mercado de petróleo e pudemos ver que esse mercado se estabilizou.

Vou ainda falar sobre algumas das questões regulatórias que preci-samos considerar para encontrar outras áreas de solução. Uma das ques-tões é a que o Dr. Clark mencionou, a produção; ou seja, os produtores deoutros países que estão aumentando o mercado de contrabando em algumasjurisdições. Isso está sendo abordado porque nós não tratamos somente daquestão de falsificação, também tratamos das questões de rótulos, dissemi-nação de informação, e, finalmente, existem muitas leis que podem ser utili-zadas para atacar segmentos diferentes do mercado de contrabando. Acre-dito que é interessante saber que, quando analisamos essas diferenças emoutros lugares, por exemplo, na Califórnia, nos Estados Unidos, vimos umgrande problema de contrabando com as autoridades de bebidas alcoólicas.Essas bebidas alcoólicas precisam de uma licença, uma autorização paraserem vendidas. O que percebemos é que está sendo feito um contrabandodessas licenças. Ou seja, é um campo muito grande. No Reino Unido, sevocê é pego vendendo produtos contrabandeados no varejo, você vai per-der a sua autorização para ser um vendedor. Então, existem muitas outrasquestões que devem ser analisadas.

Não vou mais tomar tempo, vou passar para o Presidente para ter-mos o debate. Obrigado.

Ronaldo Lázaro Medina – Muito obrigado. Dado o adiantadoda hora, vamos ter que sacrificar um pouco o debate. Vamos fazer apenasdez minutos de debate. Temos aqui algumas perguntas, vou passar ao Dr.Connelly. “Como vê a união das grandes fábricas de tabaco para desenvol-ver um sistema comum de detecção eletrônica, código de barras e adoçãode leitores eletrônicos? E as aduanas do mundo para detectar cigarro falso?

Se bem entendi, a idéia é de as fábricas adotarem sistema comum dedetecção eletrônica, código de barras que possam ser lidos pelas aduanaspara detectar o cigarro falso.”

Philip Connelly – Não é uma questão que eu saiba bastante, masentendo que as companhias de fumo estão trabalhando para terem tecnologias

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mais eficientes para detectar o contrabando, coisas como rastrear o movimen-to dos cigarros.

Ronaldo Lázaro Medina – Pergunta o Paulo César Beltram. “Nafilosofia de criação de equipes especializadas, treinadas e equipadas, não seriaaconselhável que essas equipes tivessem mobilidade e pronta resposta paraatuar em qualquer ponto do território do país, mais próximo à fonte ao invésde concentrá-las em pontos fixos?”

Pergunta dirigida ao Dr. Philip Connelly.Philip Connelly – Bom, acho que essa é uma pergunta interes-

sante, porque constantemente fico surpreso com o tamanho do Brasil. De-mora muito para se viajar do sul para o norte, do leste para o oeste aqui noBrasil. E, claramente, num país desse tamanho é uma questão que deveriaser analisada, porque teremos que ter bases regionais dessas equipes. Mas,para fazer um perfil, precisaríamos de relatórios, precisaríamos dizer to-dos os dias o que está sendo feito, receber documentações todos os dias,receber dinheiro todos os dias, cargas todos os dias, esse tipo de coisas.Nóssabemos que é preciso estar no local para receber os documentos especí-ficos que estão sendo pertinentes. Ou seja, precisamos, às vezes, auxiliaroutros grupos para controlar um ponto específico e isso está previsto naConstituição brasileira.

Ronaldo Lázaro Medina – Dado o adiantado da hora, vou enca-minhar as demais perguntas para a secretaria do evento para que possam serrespondidas pelos participantes.

Quero agradecer a presença e a colaboração dos nossos palestran-tes e debatedores e encerrar este painel. Muito obrigado.

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Moderador:

MAURO BRITO MAURO BRITO MAURO BRITO MAURO BRITO MAURO BRITO - Delegado da Receita Federal / Brasil

Palestrantes:

JULIO ECHAJULIO ECHAJULIO ECHAJULIO ECHAJULIO ECHAVVVVVARRIA CORNEJOARRIA CORNEJOARRIA CORNEJOARRIA CORNEJOARRIA CORNEJODiretor Regional de Serviços de Impostos Internos - Iquique / Chile

ROBERTO EXEQUIEL CACERES LOPEZROBERTO EXEQUIEL CACERES LOPEZROBERTO EXEQUIEL CACERES LOPEZROBERTO EXEQUIEL CACERES LOPEZROBERTO EXEQUIEL CACERES LOPEZDiretor Regional da Aduana - Região Tarapacá / Chile

FÉLIX PEREZ BUITRAGOFÉLIX PEREZ BUITRAGOFÉLIX PEREZ BUITRAGOFÉLIX PEREZ BUITRAGOFÉLIX PEREZ BUITRAGOSubdiretor Geral de Operações do Departamento de Aduanas e Impostos Especiais / Espanha

Painel VII

EXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBAEXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBAEXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBAEXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBAEXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBATE ÀSTE ÀSTE ÀSTE ÀSTE ÀSFRAUDES NO SETOR DE CIGARROS – CHILEFRAUDES NO SETOR DE CIGARROS – CHILEFRAUDES NO SETOR DE CIGARROS – CHILEFRAUDES NO SETOR DE CIGARROS – CHILEFRAUDES NO SETOR DE CIGARROS – CHILEE ESPE ESPE ESPE ESPE ESPANHAANHAANHAANHAANHA

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Mestre de cerimônia – Dando continuidade teremos agora oPainel VII – Experiências de Controle e Combate às Fraudes no Setor deCigarros – Chile e Espanha. Chamamos para compor a Mesa o Dr. MauroBrito, da Delegacia da Receita Federal de Foz do Iguaçu, Paraná, que pre-sidirá este painel; Dr. Roberto Exequiel Caceres Lopez, Diretor Regional daAduana da Região de Tarapacá, Chile; Dr. Julio Echavarria Cornejo, Dire-tor Regional de Serviços de Impostos Internos de Iquique, Chile; e o Dr.Félix Perez Buitrago, Subdiretor-Geral de Operações do Departamento deAduanas e Impostos Especiais, Espanha. Com a palavra o Dr. Mauro Brito.

Mauro Brito – Autoridades e representantes de países vizinhos, deempresas privadas, meus colegas de Mesa, muito boa tarde. Damos segui-mento a este Seminário, que até agora vem nos demonstrando com muitaclareza a dificuldade que todos temos, principalmente no combate ao crimeorganizado, essa dificuldade, como tem sido aqui evidenciado, não é só noBrasil. Vimos também diversos palestrantes que estiveram anteriormente de-monstrando isso, e aqui se faz uma constatação bastante preocupante de queo crime organizado tem avançado, embora todo o esforço dos governos, todoo esforço da sociedade em tentar combater esse crime organizado.

Acho que é importante salientar que temos uma missão muito pesa-da pela frente, que é a missão de nos organizarmos, organizarmos forças deEstado em conjunto com a sociedade, até porque entendemos estar ficando

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evidente que não são a Receita Federal, as polícias, os demais órgãos deEstado que vão conseguir combater e reduzir a criminalidade em nível mundi-al, essa é uma questão globalizada. Então, mais do que nunca, praticamente éuma decisão unânime, temos que congregar forças.

Estou representando a Delegacia de Foz do Iguaçu neste Seminário,agradeço a oportunidade que estão nos dando, justamente por ser um localonde hoje se estima que a economia informal movimenta cerca de cem milhõesde dólares mensais naquela situação; onde se estima também que 50% dessevalor é movimentado pela indústria de cigarro.

Novamente chegamos àquela conclusão de que temos que nos or-ganizar, temos que buscar, temos que trabalhar no sentido de unir esforços.Por lá mesmo – sei que não é essa a hora oportuna – mas, como dizia, temosalguns exemplos de união de todas as forças policiais, de todas as forças defiscalização e também a iniciativa privada procurando congregar esforços etrazer para o meio de combate elementos que possibilitem não só à ReceitaFederal, mas à sociedade em geral ganhar com isso. Temos vários exemplosjá acontecendo no Brasil, isso não foi colocado neste Seminário, até porque otempo é muito curto, mas vocês, principalmente representantes de organismosinternacionais que aqui estão, podem ter certeza que o Brasil tem e terá nofuturo grandes exemplos de combate à repressão ao crime organizado e tam-bém à questão do cigarro.

Neste painel trataremos das Experiências de Controle e Combate àsFraudes no Setor de Cigarros, com representantes do Chile e da Espanha.

Passarei, então, a ler o currículo de cada um dos palestrantes queaqui estarão. Vamos começar pelo currículo do Dr. Roberto Exequiel CaceresLopez. Ele é Diretor Regional da Aduana da Região de Tarapacá, no Chile; foiAuditor Interno dos Serviços de Aduana, Administrador da Aduana deChanaral, Administrador da Aduana de San Antonio, Chefe do DepartamentoNacional de Isenções e Subdiretor da Aduana de Val Paraiso e também Dire-tor Regional de Aduanas de Tucuarrama.

Nosso segundo palestrante, Dr. Julio Antônio Echavarria Cornejo,também do Chile, é Contador/Auditor pela Universidade do Chile, Diretor

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Regional do Serviço de Impostos Internacionais do Chile; foi Chefe do De-partamento de Fiscalização da 4ª Região Fiscal, de 1993 a 1995, e Chefe doDepartamento de Administração da 4ª Região Fiscal, de 1992 a 1995.

Como terceiro palestrante, teremos o Dr. Félix Perez Buitrago, daEspanha. O Dr. Félix é licenciado em Ciências Econômicas e Empresariaispela Universidade Completense de Madri, Subdiretor-Geral de Operações,no Departamento de Aduanas de Impostos Especiais da Espanha; atuou comorepresentante do Departamento de Aduanas da Espanha, participou de inú-meros grupos de trabalhos, citando, como exemplo, o Grupo de CooperaçãoAduaneira do Conselho da União Européia, Primeira Conferência da UniãoEuropéia, Rússia, sobre o Crime Organizado, Segunda Conferência da Interpolsobre Estudos Fiscais da Universidade Carlos III de Madri.

A pedido dos palestrantes, faremos uma pequena inversão na ordemdas apresentações. De imediato chamo para a sua apresentação o Dr. JulioEchavarria Cornejo, Diretor Regional de Serviços de Impostos Internos deIquique, Chile.

Julio Echavarria Cornejo – Em primeiro lugar, gostaria de agrade-cer ao Ministério da Fazenda do Brasil, à ESAF pelo convite para participardeste importante evento.

Eu estava bem tranqüilo, quero dizer isso para vocês, até o dia deontem. Iquique não tinha sido mencionado, hoje apareceu. A verdade é quepara nós o tema do contrabando não era um problema, mas hoje em dia é umproblema e um desafio para a administração tributária do Chile.

Vou tentar falar um pouco sobre como funciona, desde o ponto devista legal, tudo aquilo que fala dos itens cigarro e tabaco. Em primeiro lugarvou mostrar para vocês as normas vigentes desde o ano de 1974, com algu-mas modificações posteriores. Vamos ver os impostos que afetam e quaisforam as fiscalizações do setor.

Antes, gostaria de falar, para aqueles que não conhecem, que a ad-ministração tributária do Chile está dividida de forma diferente, ou seja, temuma composição diferente porque estão envolvidos três serviços: o Serviçode Impostos Internos, que está relacionado com a carga tributária interna do

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país, a fiscalização desses impostos internos; a Tesouraria, que é encarregadada cobrança dos impostos em geral, e o Serviço de Alfândega, que é encarre-gado da entrada das mercadorias no país e dos seus impostos associados.

Administración Tributaria ChilenaAdministración Tributaria Chilena

AduanasSe encarga del controldel Ingreso de lasmercancías al País, ysus impuestos

TesoreríaSe encarga de lacobranza de losimpuestos engeneral

Servicio de ImpuestosInternos(SII)Se encarga de los Impuestosde carácter internos del país

Quadro 1

Como dizia para vocês, no ano de 1974 tivemos um decreto-leique regulava toda a parte dos cigarros, estabelecendo os impostos e osprocedimentos de controle. Esses impostos foram modificados recentemen-te, há um ano mais ou menos, e a taxa dos cigarros, que é um impostoespecífico; os charutos pagam 51%, os cigarros pagam 60% e o fumo ela-borado paga 57,9%. As bases impostas são os preços de venda ao consu-midor final. Aqui não tem CIF, não tem nada, é o valor que será vendidoesse pacote de cigarros para o público, com relação ao imposto na data davenda e a importação no território nacional.

Também existem algumas exceções. A economia do nosso país estámuito aberta para o exterior, portanto, tudo que significa exportação está isentode qualquer imposto. No caso dos cigarros também pode ter direito a solicitar adevolução quando foi pago algum imposto com relação à matéria-prima.

A norma que estou mencionando para vocês estabelece certas obriga-ções que devem ser cumpridas pelas pessoas que trabalham nesse setor, ou seja,

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as pessoas que estão lidando com esse setor. Vamos separar isso em: aqueles quecultivam as matérias-primas, os fabricantes, importadores e os comerciantes.

Normativa - IMPUESTOSNormativa - IMPUESTOS

•Tasa de impuestos:1.- Los cigarros puros pagan un 51,0 %2.- Los cigarrillos pagan un 60,4 %3.- El tabaco elaborado paga un 57,9 %

• Base imponible:La base sobre la cual se aplican estos impuestos sonel precio de venta al consumidor incluido impuestos

• Devengo del impuesto:- En la elaboración a la fecha de la venta- En la importación al consumarse la internación.

Quadro 2

Os que trabalham com o cultivo devem estar inscritos num registro inter-no. A transferência do fumo em folhas não pode ser feita sem uma guia do trânsitolivre. O cultivador deve informar ao serviço, antes do dia 1º de janeiro de cadaano, a extensão plantada do fumo, e antes do dia 1º de agosto deve informar acolheita que ele teve. Além disso, todas as instalações estão sujeitas a inspeções,sejam armazéns ou onde está sendo cultivado o produto, as máquinas etc.

Os comerciantes e importadores também devem se inscrever antes decomeçarem a trabalhar. Eles têm um registro especial, estão obrigados a permitira inspeção em todos os seus armazéns, dependências, depósitos que tenham.

Outra das obrigações importantes, que vamos ver agora, é que de-vem cumprir todas as normas publicitárias da companhia ou das empresascom quem estão comercializando ou importando, como também do produto.E devem ter também a não-objeção do Ministério da Educação e do Ministé-rio da Saúde. Esses produtos não podem entrar no território nacional ou nãopodem sair da fábrica sem que tenham cumprido, além de tudo, os seguintesrequisitos: devem ter uma declaração por escrito, perante o serviço, do preço

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de venda ao consumidor final da mercadoria. Devem efetuar o pagamento doimposto previamente e ter uma guia de livre trânsito para que a mercadoriapossa passar livremente pelo território nacional.

Outros impostos comuns na estrutura tributária chilena são o IVA e astaxas alfandegárias. No caso do IVA, temos uma taxa de 18%, e a taxa alfande-gária vai ser vigente segundo o acordo que o Chile tenha com o país de origem.

Quais são os avanços? No caso dos impostos de alfândega, isso vai sercom relação à alfândega e mais a taxa. A diferença do IVA e do Imposto Especial,que eu estava mencionando para vocês, é com relação ao preço final do produto.

Outra das características que o setor de cigarros tem é a retenção doIVA na venda final do produto. Isto é, as empresas importadoras ou os co-merciantes, quando vendem para um comerciante varejista, têm uma retençãodo IVA. Tentamos resumir nessa etapa todos os tributos da cadeia, tudo ficabem registrado, para saber quem está pagando ao atacadista e ao varejista.

No quadro abaixo, um exemplo de uma importação. Estamos falan-do de um valor de cem, uma taxa de 11% é aplicada sobre o valor de cem, omontante é de 11. No caso do IVA, 18%, então aplicamos sobre o valor CIF,mais a taxa alfandegária, chega-se ao montante de vinte. E, no caso do taba-co, um imposto específico, 60,4% sobre o preço da venda final. Qual é opreço de venda final? Um mil pesos. Então esse imposto é de 604. Então,temos 635 pesos de impostos, ou 63,5% se virmos isso de outra forma, até avenda do atacadista para o varejista, até essa venda. Ou seja, estamos naparte onde temos cem pesos, ou seja, 11 pesos do direito de alfândega, os604 pesos do imposto específico do tabaco, do fumo, e posteriormente issonos dá um custo de oitocentos pesos, incluindo os valores agregados, e temosum valor do IVA, nessa transação final, de 144. No total os impostos somam765 pesos, dos 1.000 pesos que o pacote de cigarros, que a carteira de cigar-ros custa. O custo é de 24%, o imposto é de 76%. Ou seja, para nós é muitorelevante a forma como fiscalizamos esse item.

Por que eu estava dizendo para vocês que para nós não era umproblema até hoje? Porque geralmente, no caso do Chile, os cigarros funcio-nam como uma boa empresa que fabrica e produz no país. A importação é

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feita normalmente através da zona franca. E aí, sim, começam os problemas.No caso do fabricante nacional, ele faz a sua declaração de venda em funçãode um movimento de inventário. Ou seja, eles têm as vendas, que correspondemao saldo inicial, mais a fabricação, menos o saldo final. Sobre esse montantedeclarado pela companhia e verificado pelo nosso serviço, então, vamos cal-cular o imposto de 60,4% das vendas.

Ejemplo:Precio de venta al público $ 1000

VALOR CIF TIPO % MONTO $100$ ARANCEL 11% VALOR CIF 100$ 11$

IVA 18% VALOR CIF + ARANCEL 111$ 20$ TABACO 60,4% PRECIO VENTA FINAL 1.000$ 604$

635$

BASEADUANA

Quadro 3

Ejemplo: Declaración Jurada sobre el precio deventa al público $ 1000

1.- Valor CIF $ 1002.- Arancel aduanero 11% s/ 100 113.- IVA de Importación 18% s/ 111 204.- Impuesto al tabaco 60,4% s/ 1000 6045.- Margen de Utilidad 85

Precio venta a comerciante 8006.- IVA 18% s/ 765 1447.- Margen del vendedor final 508.- IVA retenido al vendedor final 6 7.- IVA venta final 18% s/ 1000/1,18 150

Precio de venta final 1.000

Impuestos Totales $ 765Costo del producto $ 235

Quadro 4

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No caso do importador, fazemos o cálculo do imposto antes que amercadoria entre no país, no momento em que é solicitada a guia do trânsitolivre. No momento em que ele tira o produto da alfândega, ou do porto, paraentrar no território nacional ele tem que ter essa guia de livre trânsito e calcularos impostos, o que a alfândega verifica logo no momento da fiscalização.

Esqueci de uma coisa que é importante e deve ser mencionada. Umdos elementos essenciais no processo da fiscalização que temos é a colabora-ção com a área de saúde. A alfândega verifica não somente o pagamento, nocaso das importações, mas também o cumprimento, nos casos de produtosque entram no mercado nacional, das normas de caráter sanitário estabelecidaspelas autoridades pertinentes.

Entre elas, podemos mencionar: é proibida a venda de cigarros noChile cujo pacote não tenha um rótulo na proporção de 10% do total dopacote, dizendo o seguinte: “O cigarro pode produzir câncer. Ministério daSaúde do Chile”. Isso deve estar impresso em toda carteira de cigarros. Ouseja, o cigarro que entra no território nacional tem que ter essa frase. Hoje emdia tentamos colocar isso por meio de uma etiqueta, mas posso dizer paravocês que, devido ao problema que ainda estamos detectando, estamos exi-gindo de todos os exportadores desse produto que a impressão deve ser feitana carteira. Ou seja, não pode entrar no território nacional um cigarro que nãoseja fabricado para ser comercializado no território chileno. A mesma coisacom a propaganda dos cigarros, isso deve estar sempre na propaganda.

O Ministério da Saúde pode proibir o uso de substâncias que poderãoprovocar danos à saúde dos consumidores, dessa forma exigimos uma declara-ção dos produtores nacionais, informando quais são os componentes do cigar-ro, também fazemos isso extensivamente ao importador, que ele declare isso. Afalta dessa advertência, ou seja, o que eu estava dizendo antes, quando entra,nós pegamos cigarros que não têm essa advertência, o que detectamos? Cigar-ros que entraram de forma ilegal no país. Ou seja, nós vemos os pontos devendas, podemos tomar alguma medida judicial junto com a polícia.

Eu dizia para vocês que estava muito tranqüilo. O problema do con-trabando no Chile é muito recente. Os índices que tínhamos, que estávamos

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controlando, eram aproximadamente de 1,5% ou 1%. Existe uma só empresaque domina o mercado, que comercializa 95%. O contrabando historicamentefoi de 1,5% a 2%. Hoje em dia nos preocupamos porque já estamos em maisou menos 4,5%. E cada ponto de contrabando significa 7,5 milhões de dóla-res no total de impostos que não ingressam no país.

Isso é o que eu queria falar para vocês, porque, como vocês podemver, dentro da mesma norma legal estão claramente definidos quais são oscontroles que devemos exercer. A prática de como isso funciona, o meu cole-ga da alfândega, Dr. Roberto, vai falar sobre isso.

Muito obrigado.Mauro Brito – Antes de chamar o Dr. Roberto, um aviso: como nos

painéis anteriores, vocês já podem encaminhar as perguntas por intermédio dasrecepcionistas que aí estão, para que não percamos muito tempo depois no final.

Chamo o Dr. Roberto Exequiel Caceres Lopez para proferir a suapalestra.

Roberto Exequiel Caceres Lopez – Boa tarde. Em primeiro lu-gar quero agradecer o convite que recebi desta famosa escola, que nosprestigia tanto quando nos coloca num seminário de tão alto nível. Ao mes-mo tempo, quero aproveitar a oportunidade para agradecer a todo o pesso-al da escola, que nos atendeu de forma fantástica, com uma disposição ab-soluta para solucionar qualquer problema que pudesse acontecer num de-terminado momento.

Na verdade, contrariando o meu colega, que estava vindo tão tran-qüilo, eu vinha preocupado, porque eu dizia: vão falar de cigarro. E a minhaexperiência de alfândega neste momento está numa área que é de alto tráficode cigarros. A região de Tarapacá, que aparece no programa, está localizadana alfândega de Iquique, que é a parte limítrofe com o Peru e com a Bolívia. E,além disso, nós temos um agregado, assim como uma corcunda, que seria azona franca e acho que aí temos muitos problemas.

Nessa ordem de coisas, em primeiro lugar, vou fazer uma introduçãosobre a estrutura do serviço alfandegário. Isso é uma coisa bastante rápida,bastante resumida, mas que está relacionada com as tarefas operacionais dos

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funcionários do serviço de controle do comércio exterior e, particularmente,de combate ao contrabando de qualquer tipo de mercadoria, cigarros é umdeles, mas nos dá muita preocupação também.

Existe uma direção nacional cujo titular está assessorado por seissubdireções: uma jurídica, que, obviamente, tem a ver com âmbito legal,com respeito às normas alfandegárias; uma subdireção técnica, que tem aver com tudo que for relacionado com as técnicas alfandegárias, as contro-vérsias alfandegárias, o valor etc.; e também uma subdireção de fiscaliza-ção, cujo tema vamos falar hoje, na qual se radica esse serviço da fiscaliza-ção. Temos uma subdireção de informática encarregada de toda a estruturade informática, todo o equipamento correspondente para a modernização eque nos permita desenvolver nossos trabalhos da melhor forma e com amaior velocidade possível. Temos uma subdireção administrativa encarre-gada de toda a estrutura física, que maneja os orçamentos, e devemos termuito cuidado sempre com eles. Temos uma subdireção de recursos huma-nos muito importante. Eu diria que os recursos humanos, com a experiênciaque tenho no serviço alfandegário, são fundamentais para começar qualqueratividade. Levar a cabo qualquer atividade, não só no serviço alfandegário,mas também outra atividade, é muito difícil se não contamos com recursoshumanos idôneos, suficientes, capacitados, isso é um conceito genérico deeficiência, quer dizer, não existe nenhuma empresa que possa funcionar semeles. Como disse o palestrante anterior, os recursos humanos são funda-mentais em qualquer organização.

Voltando ao assunto, a diretoria nacional tem alguns departamentosque dependem diretamente dela, existe uma secretaria-geral, um departamen-to de auditoria interna que está relacionado diretamente com o diretor nacio-nal. Não tem uma relação direta com o departamento de fiscalização, é umaauditoria interna encarregada de revisar o cumprimento das normas internasde qualquer tipo e também o cumprimento de gestões específicas encarrega-das pelo diretor nacional.

Existe o departamento de acordos internacionais, que também fazparte do grupo da diretoria nacional. E, finalmente, temos um departamento

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de estudos, que, por razões óbvias, se dedica a programar a temática daspolíticas que o diretor queira realizar dentro da sua administração.

Eu quis mostrar a missão do nosso serviço, já que essa é uma lei paranós, se estivermos comprometidos com a administração, com o serviço, com asociedade e com o governo para fazer bem as coisas. A missão do serviço éapoiar o comércio exterior do país, resguardar os interesses da nação mediantea fiscalização e facilitação eficiente das operações de comércio internacionais,baseando-se tudo isso no princípio da boa-fé. Para nós isso é fundamental.

Aqui temos coisas muito fáceis de serem resgatadas, a facilitação efici-ente num âmbito de fiscalização, e tudo isso baseado no princípio de boa-fé.

O Chile é uma longa e estreita faixa de terra. De fato, temos uma longi-tude de 4.500km, o que significa, do lado dos Andes, 4.500km de fronteira, e dolado do oceano temos 4.500km de costa. Isso, do ponto de vista alfandegário,destaca o fato de que existe uma dificuldade para o controle do comércio exterior,não dos produtos legais, porque esses passam pelos aeroportos e portos, tudolegalmente, mas estamos falando aqui sobre o contrabando, e esse contrabando émanifestado naqueles lugares onde geralmente não há alfândega.

Essa mesma geografia longa e muito estreita está distribuída em 16unidades alfandegárias desde Arica a Punta Arenas. Aqui, as estruturas das 16unidades alfandegárias, algumas são regionais e outras administrativas. No fundotodas desempenham o mesmo trabalho, mas, por uma questão de facilidade ede agilidade de trâmites, as administrações de alfândegas dependem das dire-ções regionais correspondentes. Por exemplo, da direção regional de Iquiquedepende a alfândega de Iquique, e dessa forma em outras regiões. E dentrodessas alfândegas existe uma série de entradas de fronteira que, em alguns ca-sos, estão em lugares muito inóspitos. Temos postos de fronteiras geralmente aoredor de quatro mil metros de altitude, e com as condições climáticas que todosvocês podem imaginar, temperaturas de até vinte graus negativos em alguns lu-gares de difícil acesso. Então existe essa dificuldade material. A mesma coisaacontece no caso do litoral, alguns lugares onde é muito difícil conviver com anatureza. Mais ou menos do centro do país ao sul, temos temperaturas frias,muita neve em alguns lugares, e em direção ao norte podemos dizer que o clima

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é mais benigno. Entrando no deserto são temperaturas extremas durante o dia, eà noite temperaturas abaixo de zero grau em alguns lugares.

Os usuários para nós são os exportadores e importadores, os des-pachantes alfandegários, o pessoal de armazéns, os viajantes, os transporta-dores de empresas de correio e as zonas francas. Essas são em nível, diga-mos, privado.

Institucionalmente estamos muito relacionados com os serviços deimpostos internos, Banco Central, serviço agrícola e pecuário, Fernap, queseria o Serviço Nacional de Pesca, um órgão criado para cumprir as normasde recurso marinho, que para nós são muito importantes. Temos 4.500km decosta, e uma das grandes atividades, importante atividade do nosso país, é apesca e a industrialização desse produto. Também nos relacionamentos com apolícia e os ministérios.

No âmbito internacional, temos, obviamente, a Organização Mun-dial de Aduanas (tivemos o privilégio de escutar o nosso diretor aqui),outras alfândegas, Mercosul, Nafta, União Econômica Européia, o FMI eacordos multilaterais. O Chile tem vários acordos bilaterais de comérciointernacional.

Essas são as principais funções que a direção nacional tem: a infor-mação, o serviço de alfândega está encarregado de elaborar leis, um controlede drogas muito importante, vou falar sobre ele depois. Também temos,logicamente, a determinação de tributos alfandegários, o tema da facilitação, oque está dentro da nossa missão, temos que ser eficientes, mas a eficiência nãocomo um controle tão rígido que a torne inoperante, mas que nos dê resulta-dos; tratados e normas, armazenamento, fiscalização etc. E ali temos os tribu-nais alfandegários, outra instância importante na estrutura das alfândegas, por-que o nosso serviço tem seus próprios tribunais alfandegários.

Todos os problemas de qualquer natureza que surjam pelo não cum-primento de normas ou pela transgressão delas correspondem aos tribunaisalfandegários. Cada uma das 16 alfândegas que existem no país tem um tribu-nal alfandegário, e o diretor regional exerce dupla função por ser também ojuiz desse tribunal. Além disso, existe uma diferença pela qual todas as trans-

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gressões que podem estar no conceito de infrações vão para aqueles tribunais;as transgressões e flagrantes qualificados de delitos, como, por exemplo, frau-de e contrabando; por serem especiais dentro do conceito judicial do Chile,esses tribunais somente são competentes para infrações e delitos alfandegári-os, não podem entrar em outro assunto além desses, todos os outros estão nocampo da justiça comum.

Esta é uma análise de fluxo de mercadorias. No âmbito das alfânde-gas chilenas, dividimos em três etapas. Existe uma etapa a priori, isto é, antesque a mercadoria chegue, podem ser feitos os trâmites antecipados, também aanálise da informação para determinar perfis de riscos, para os efeitos de quequando a mercadoria chegue seja aplicada a metodologia apropriada a seumomento. Isso nós chamamos de fiscalização fora de linha, a priori. Depoistemos uma fiscalização na linha. Isto é, no momento em que as mercadoriasentram no país, chegam às alfândegas, são verificados todos os seus antece-dentes. Claro que, nessa análise física, são acrescentadas algumas informa-ções além das informações das análises a priori.

Num terceiro momento, a posteriori, que é após a passagem poressas outras duas etapas, e depois de chegada na alfândega, já foi oficializadaa entrada da mercadoria ao país. Essa etapa vai fiscalizar todo o processomediante auditoria e investigação. E nessa etapa nos deparamos com muitassurpresas. Foi muito interessante o cumprimento dessa norma, porque nor-malmente no Chile dizemos que o papel segura tudo. Quando começamos aanalisar com mais calma as coisas, vamos vendo que existem transgressões, àsvezes muito sérias, que, num determinado momento, nos permitiram fazer de-núncias aos tribunais alfandegários, denunciar causas ou delitos, fundamental-mente fraudes. O ideal é que nessa etapa possa ser determinado tudo, porquenesta é quando está a presença física da mercadoria nas mãos da alfândega.Podemos analisar muito os papéis, mas não podemos comprovar outras coi-sas além disso.

Todo esse processo está regulamentado? Não, digamos que estáenvolvido num manto de análise mais profunda, a inteligência alfandegária, nãopara resolver consultas, mas, como alguém já mencionou antes, nesse tipo de

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serviço isso está funcionando muito bem, ainda é incipiente para os níveis queexistem em outros países, mas, conforme os nossos recursos, existe um de-partamento de inteligência em nível nacional relacionado com o departamentolocal em cada uma das alfândegas do país, onde são transmitidos os tipos deinformações, pautas de trabalho etc. E, fundamentalmente, aqui temos umaanálise para criar uma base de dados e, posteriormente, obtermos perfis derisco que são aplicados na prática, seja na análise dos documentos ou naetapa física. Fechando esse ciclo, as infrações, que podem ocorrer em qual-quer etapa, vão terminar nos tribunais alfandegários.

Temos uma estatística, é um resumo das apreensões de cigarros de1993 a 1999. Vou tentar ser prático, porque recebi muitos gráficos, muitosnúmeros e todos têm uma certa importância. Temos o vértice zero em 1993.Na verdade, não é que não tenha acontecido nada, é que nessa etapa, no anode 1993, começou um trabalho em coordenação com organismos, órgãos eempresas privadas e foram notados resultados. Na verdade, havia alguém queestava fazendo um excelente negócio. Mas depois começou o controle docontrabando e temos um ponto que é como um marco, em 1998, um controlemuito rigoroso, o gráfico demonstra isso, mas nos chama a atenção o queaconteceu em 1999. Não é que o pessoal da alfândega dormiu no ponto, masaqui aconteceu uma coisa muito especial: o preço dos cigarros subiu devidoaos impostos incidentes sobre os mesmos, o que incentivou o contrabando.Na verdade, uma coisa que infelizmente teve como resultado isso.

Sobre os dados sobre apreensões de cigarros de 1992 a 2000, e nofinal nós temos um número que nos dá muita satisfação, principalmente nosúltimos tempos, porque vamos ver, no decorrer da nossa conversa aqui, quecausa uma certa preocupação o contrabando no mercado interno chileno por-que, numa época, manteve-se num nível de 1,5%, mais ou menos, sobre oconsumo da população, e no momento estamos aproximadamente em 4% ou5%. No entanto, isso também tem uma contrapartida.

Na verdade, nos últimos anos, em 1999 e 2000, foi quando no Chilese realizaram as maiores quantidades de apreensões de cigarros. Os níveisforam realmente violentos com relação ao que havia anteriormente. Isto é,

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graças à ação da inteligência, que obedece a múltiplos fatores, e das unidadesespecializadas que nos deram resultados quanto ao consumo interno, melho-ramos ostensivamente o número de apreensões.

Bom, tudo o que lhes falei, espero não tê-los deixado cansados, maso governo chileno, particularmente o serviço alfandegário, está preocupadocom isso, principalmente pelos aspectos que já escutamos repetidamente aqui,é importante destacar que o contrabando de cigarros, no que diz respeito aoChile e no que eu escutei não somente sobre o Chile, incide fortemente emdois setores: saúde fundamentalmente, o primeiro, como já escutamos naspalestras no começo deste Seminário, se a memória não me falha, na palestrada Dra. Tânia sobre os males que causa à saúde. No Chile também nospreocupamos com isso, o Julio nos disse isso na sua palestra. Isso é latente,temos que ter esse conhecimento, a propaganda de cigarros tem que ter maisprecaução e também medidas por parte do Ministério de Educação, que teminstruções, já decretou algumas leis para reduzir o consumo de cigarros entreos jovens, entre os estudantes de 10, 12, 14 anos, para que eles conheçam osproblemas que o consumo de cigarros prematuro pode trazer.

Além disso, é muito importante para o governo a parte dos impos-tos. Tal qual o Julio mencionou, no Chile, o imposto que incide sobre os cigar-ros é alto, como conseqüência da arrecadação fiscal. Se o contrabando au-mentar, as margens para a arrecadação de impostos vão reduzir os recursosdestinados à educação, à habitação, seriam valores importantes. Julio menci-onou isto, acho que eram 7,5 milhões de dólares que o fisco deixava de rece-ber. Multiplicando por um tempo, isso é catastrófico. É por essa razão queexiste a preocupação no governo, e a política de controle de cigarros, damesma forma que com as drogas, é uma política de Estado.

Bom, está esgotado meu tempo, eu me entusiasmei, mas, Dr. Mauro,vou tentar ser o mais sucinto possível. Dizer que o serviço alfandegário, emface das análises que foram realizadas, está praticando alianças e contato comórgãos tanto fiscais como particulares, o que nos trouxe excelentes resultados.Podemos dizer que no âmbito dos serviços públicos, como o próprio serviçoagrícola e pecuário, os controles exercidos particularmente nas fronteiras tive-

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ram bastante êxito, e como conseqüência muitos pontos positivos, destacan-do-se as coordenações, principalmente internacionais, que tivemos. No casode Iquique, uma região que está sob meu controle, estabelecemos contatos deinformação com as alfândegas do Peru, da Bolívia, com a alfândega da Argen-tina, e vamos continuar estabelecendo outros contatos, já que em outras oca-siões tivemos reuniões em Iquique com representantes da alfândega uruguaia.

A alfândega nesse terreno cumpriu uma recomendação da OMA,digo que são “alianças estratégicas” que nos deram excelentes resultados edevemos mantê-las e fomentá-las.

As políticas de fiscalização baseadas na inteligência alfandegáriademostram o que eu disse antes, a base de dados que estamos implementando,e o registro de informações sobre meios de transportes, os nomes dos choferes,todo esse tipo de coisas que possam nos servir como um mix que posteriormen-te nos permita obter um bom produto, e, na prática, isso está acontecendo. Vouaproveitar que o Presidente da Mesa está virado para lá, e contar uma históriaque acho interessante. Nós organizamos de forma separada, há algum tempo,um departamento de controle de tráfico de drogas, um flagelo mundial que não éalheio ao nosso país. Infelizmente houve um aumento, porém existe uma lutamuito forte não somente da alfândega, mas também da polícia. Quero dizer queno departamento de drogas da alfândega muitas pessoas se especializaram, tra-balharam no desenvolvimento de bancos de dados e de um programa de inteli-gência, do qual saíram muitos perfis de risco e, na prática, tenho que reconhecerque a experiência desse grupo de especialistas no tráfico de drogas, com atua-ção direta ou indireta, porque também eles agem no controle em conjunto comoutros colegas, transmitiu toda uma norma e tivemos resultados extraordinários.E porque isso no fundo é contrabando, usando as mesmas técnicas no âmbito daregião de Tarapacá, na alfândega de Iquique, descobrimos inúmeros contraban-dos de cigarros. Alguém mencionou pela manhã que até bicicleta é usada comoum meio. E de fato é assim. Na nossa zona, com a polícia, apreendemos bicicle-tas que foram usadas como meio para transportar cigarros em curtas distâncias.

O que eu também gostaria de mencionar, e que gera muita inquietudepara nós, como serviço que deveria se encarregar disso, é que a norma da

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zona franca é diferente das outras regiões. Mas estamos fazendo uma revi-são completa porque reconhecemos que fomos vulneráveis no sistema deinformação estabelecido dentro da zona franca, como alfândega fomos vul-neráveis. Por exemplo, um usuário imprime um documento e no momentoque chega ao país de destino está com documento diferente. Antes de virpara cá, tive uma reunião importante com o subdiretor de informática, quetrabalha com a sociedade administradora para melhorar esse programa deinformática. A alfândega está revisando toda a norma da zona franca, fazen-do alguns ajustes para agilizar, melhorar e simplificar o controle. Além disso,estamos fazendo estudos para modificações mais profundas, onde será apli-cado um controle mais duro, mais forte, mas sempre respeitando a nossamissão no âmbito da facilitação.

Finalmente, quero mencionar que no Chile os cigarros apreendidosnão são vendidos, não são leiloados, são destruídos pelo serviço, a destruiçãoé mediante a picagem, incluindo os pacotes, e a posterior incineração. Isso écategórico, não há nenhum cigarro apreendido no Chile que, por meio deleilões da alfândega, ou simplesmente porque não foi apropriadamentedestruído, tenha uma utilização posterior. Isso é resultado da experiência quefomos recolhendo no caminho.

Muito obrigado pela sua atenção, meus agradecimentos ao Presi-dente da Mesa e aos meus companheiros.

Mauro Brito – Vamos então para a última palestra. Chamaria o Dr.Félix Perez Buitrago, da Espanha.

Félix Perez Buitrago – Boa tarde. Eu estava bem tranqüilo, masagora estou angustiado. Sr. Presidente, queria, em primeiro lugar, agradecer oconvite à Agência Tributária da Espanha, por parte da Secretaria da ReceitaFederal e da Escola de Administração Fazendária – ESAF. Obrigado particu-larmente ao seu pessoal, e quero agradecer a Valéria Duque, que nos apoiouem tudo, e todo o seu carinho.

Sou Diretor-Geral de Operações do Departamento de Aduanas, queé o serviço de alfândega. Uma breve explicação do que significa essa organiza-ção. Somente até o ano de 1991 o serviço alfandegário de apreensão estava

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fora da alfândega, era uma força de polícia que estava objetivando reprimir ocontrabando. Posteriormente incluímos o serviço como uma diretoria-adjuntaao Departamento de Alfândega para tratar particularmente dos temas mais rela-cionados com o que podemos dizer que são atividades delituosas, com relaçãoao tráfico de drogas, contrabando de todo tipo de gêneros, particularmente decigarros, a “lavagem” de dinheiro e ultimamente outras formas de economia.

O serviço, como estou dizendo, tem sua atividade do ponto devista policial. Nós temos as mesmas técnicas que a polícia. Isso nos deubons resultados.

Somente para mostrar um pouquinho o problema do contrabandona Espanha, isso sempre existiu. Desde que os espanhóis descobriram a Amé-rica e voltaram para a Europa, sempre houve uma inquietude por parte dosgovernantes para tentar controlar esse comércio, que em várias épocas danossa história foi muito importante para o orçamento nacional.

É verdade que no século XVI, quando foi introduzido o tabaco naEuropa, foi percebida a sua utilização, como o rapé e o fumo. Segundo osantigos escritos isso causava grandes males para a saúde. Passamos váriosséculos e hoje continuamos em pleno debate, num ambiente hostil, no âmbitodo tabaco e dos fumantes, com certeza, pelos males que causa à saúde.

Na Espanha, desde os primeiros tempos do século XVI, existiu ummonopólio do tabaco. Até pouco tempo, tudo aquilo que estava relacionadocom o tabaco era um monopólio, eram companhias de tabaco que tinham omonopólio da produção, da importação, exportação, comércio e a distribui-ção atacadista e a varejo. Somente com a entrada da Espanha na União Euro-péia, em 1º de janeiro de 1986, é que aconteceu a desmonopolização dessecomércio atacadista de produtos de tabacaria.

Posteriormente, no ano de 1998, aconteceu a quebra desse monopó-lio envolvendo todo o restante das atividades, exceto a distribuição a varejo. Deforma que atualmente na Espanha a venda do tabaco somente pode ser feita porintermédio de escritórios especializados em tabaco, concessões administrativasque o governo dá a determinadas pessoas físicas. Somente pode ser vendidotabaco por meio desses escritórios e de um canal secundário de distribuição que

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é formado por estabelecimentos de hotéis, restaurantes, bares, quiosques, ban-cas de revistas, e essa é a forma legal de vender isso na Espanha.

Na Espanha, devemos dizer, acho que na América também, não sefuma ou quase não é consumido o tal do tabaco negro. Na Espanha isso é muitoimportante. Sessenta por cento do mercado está dirigido ao tabaco claro, e40%, aproximadamente, a esse tabaco escuro. O contrabando sempre estevevinculado ao tabaco claro, particularmente, a esse tabaco claro de importação.

Como eu estava dizendo, para falar dessa atividade existe uma sériede leis, existe um órgão que está relacionado com tabaco que controla todasas atividades e que dá as autorizações para a venda do tabaco. Além disso,mesmo que não seja um monopólio, existe toda uma atividade de importação,exportação, fabricação e distribuição, que deve estar inscrita num registro exis-tente nessa delegacia regional do tabaco. E a própria lei de contrabando, de1995, estabelece para o tabaco a consideração de efeito estagnado. Ou seja,mesmo não sendo monopólio, qualquer atividade relacionada com o tabacodeve estar autorizada pela autoridade competente, deve cumprir a legislaçãovigente, municipal, nacional ou comunitária.

Isso permite, por exemplo, que possamos trabalhar em casos emque não existam demandas por parte de uma companhia de tabaco porque éfalsificada uma marca, por exemplo. Simplesmente se um contêiner passa porum porto da Espanha, por exemplo, com tabaco de contrabando, nós atua-mos por iniciativa própria, sem esperar que tenhamos uma demanda que éexigida para a apreensão de outros produtos. Ou seja, esse produto poderiacircular livremente se não fizéssemos essa apreensão. O tabaco nunca podeentrar no território nacional sendo falsificado, isso jamais vai acontecer.

Na prática sou operador, estou há 25 anos perseguindo o contraban-do então vamos falar dos métodos de introdução e a forma como foram comba-tidos na Espanha, e os resultados que foram obtidos.

Atualmente, depois de muitos anos de grande problema na Espanha,existem somente 2% de contrabando, um dos índices mais baixos de suahistória. Se entrarmos então na década anterior aos anos 90, a introduçãodo tabaco na Espanha foi feita, fundamentalmente, por meio de navios. Es-

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ses navios vinham, em alguns casos, diretamente dos países produtores. Nocaso da Espanha, o contrabando é vinculado, principalmente, ao tabacoWinston, fabricado pela companhia Reynolds, em 90% ou 95% do seu total,historicamente. E o restante das marcas Marlboro também, de uma certaforma, é o problema. O restante são apenas 5%, o grande problema semprefoi o fumo da fábrica Reynolds nos Estados Unidos. Essas marcas podiamcircular diretamente dos Estados Unidos ou vinham de portos da EuropaCentral, particularmente de Ambevis, Rotterdam e Hamburgo, onde esta-vam guardados os cigarros em postos de alfândega, eles ali não têm quepagar taxas e não têm que cumprir nenhuma obrigação do ponto de vistacomercial. Os cigarros embarcavam nesses navios com a declaração de queiam para portos da África, onde nunca chegavam realmente. Eles entravamnas costas espanholas, e com a utilização de embarcações de pequeno por-te, denominadas lançadeiras, levavam o tabaco para a Espanha, utilizandoentão outros tipos de embarcações menores com motores potentes e queentravam rapidamente na costa.

Eu estava ouvindo falar com relação a penalidades, e também aoaspecto um pouco romântico que o contrabandista dá etc; queria dizer sobreo que significa a entrada do contrabando na sociedade, e até que ponto issopode chegar a alterar determinados valores. No começo dos anos 80, numpovoado da Galícia, chamado Cambados, num colégio público foi feita umapesquisa entre as crianças primárias, perguntas sobre questões normais de suavida escolar familiar, e uma das perguntas era sobre a profissão do pai, e 40%das crianças diziam que o pai era contrabandista.

Um pouco mais adiante vinha outra pergunta: o que você quer serquando crescer? Oitenta por cento das crianças diziam: contrabandista. Lógi-co, por um motivo, da mesma forma como a juíza estava nos dizendo que,com freqüência, tinha que prender e mandar para a cadeia pessoas que esta-vam passando uma caixa de cigarros entre o Paraguai e o Brasil, e, muitasvezes, ganhavam seiscentos reais por mês; isto é, jovens de 15, 18, 20 anos,com cargas clandestinas nas costas, na Galícia, eles podiam ganhar, pelo seuvalor atual, aproximadamente mil dólares numa noite somente.

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Então isso provavelmente era o que o pai ganhava para trabalhar omês inteiro. Do ponto de vista social e do ponto de vista econômico, o contra-bando era enorme. E para nós isso sempre foi um fator criminal de primeiramagnitude. Praticamente todas as organizações galegas que trabalhavam como tabaco atualmente passaram para as drogas como a cocaína que provém daAmérica do Sul. É uma embarcação, que tem um barco menor ao lado, eestão transferindo o tabaco em alto mar. Também já conseguimos pegar váriosbarcos assim em alto mar, nas convenções internacionais existentes, a de Ge-nebra, depois a da Jamaica, do Uruguai.

Esta é outra fotografia que tiramos de um avião, aí os barcos com otabaco. Essa então é uma lancha rápida, na qual, muitas vezes, colocam setemotores de trezentos cavalos. É uma velocidade incrível, os barcos grandestêm, mais ou menos, essa potência, então vocês imaginem uma lancha peque-na o quanto corre.

Entrando nos anos 90, tivemos uma mudança do modus operandina introdução do contrabando na Espanha. Então se começou a utilizar o sis-tema de trânsito. O que é isso? O convênio permite o comércio de mercado-rias sem que tenha que passar por nenhum tipo de formalidade nas alfândegas,nem pagar nenhum imposto. Também vindos da Europa Central, principal-mente depósitos da Bélgica, passou a acontecer a passagem de caminhõesque iam para qualquer povoado da Europa, mas que sempre desviavam nocaminho. E iam para o lugar onde, posteriormente, faziam a descarga ilegal.Esses caminhões tinham documentos, mas ilegais. Em vez de irem ao destinoproposto, clandestinamente havia um descarregamento da carga, e o docu-mento que tinha que voltar à alfândega de origem, para que fosse cancelada afiança estabelecida, esse documento tinha selo falso, tinha imitações, muitasvezes chancelas falsificadas, carimbos falsificados; ou seja, isso é uma catás-trofe no tema dos recursos próprios da União Européia. A única comissão deinvestigação que foi criada pelo congresso europeu foi para investigar o pro-blema desse regime de trânsito dos cigarros. Aumentou o assunto então, pri-meiro começou com isso e depois colocou em perigo a própria cadeia degarantias do convênio. Isso ficou agravado pela abertura produzida em 1º dejaneiro de 1993 com a União Européia, na qual todos os controles fiscais nas

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fronteiras eram eliminados, e qualquer mercadoria podia circular livremente.Nesse caso, então, voltou-se a falsificar os documentos de circulação, os do-cumentos de trânsito externo da Comunidade Européia. Também o trânsitocomum, que vocês sabem que vincula os países da União Européia com ou-tros países do espaço econômico europeu, como países que não pertencem àComunidade, como a Suíça, a Noruega etc.

Bom, esse era o sistema mais barato, mas também havia outros, deintrodução de tabaco na Espanha, como na década de 1990, que entrava porAndorra e Gibraltar. Como eu estava explicando hoje pela manhã, Andorra éum pequeno país que está entre a Espanha e a França, e sempre houve umtráfico aceitável de contrabando entre as duas nações, praticamente é do quevive esse país que tem uma consideração de paraíso fiscal.

A partir de 1994/1995, vimos incríveis aumentos de importação deproduto elaborado em Andorra, que não se justificava nem pelo consumo,nem pelo regime de viagens, nem pelo consumo do turismo. Então nós desco-brimos que, em Andorra, o tabaco, quase tudo que eles têm, é elemento decontrabando para a França ou para a Espanha. Oitenta por cento do tabacovinha para a Espanha, e 20%, para a França. Descobrimos que todas as noi-tes passavam pelas montanhas, pelas estradas florestais, entre trinta e quaren-ta veículos Land Rover com vinte ou trinta caixas cada um. Ou seja, todas asnoites entravam duas mil caixas de tabaco na Espanha. Eram caixas de qui-nhentos pacotes, imaginem vocês.

Diante dessa situação, no mês de março de 1998, criou-se umacomissão conjunta de funcionários da França e da Espanha, da qual parti-cipei, visitamos Andorra e exigimos que pusesse fim a esse tipo de tráfico,ou então haveria dificuldades nos seus convênios com a União Européia.O que resultou mais eficaz foi que na alfândega espanhola fechamos todaAndorra com força de segurança, de forma que durante 18 meses nenhumveículo podia passar por nenhuma dessas estradas, e também aumenta-mos o controle da alfândega. Depois de nove meses, as autoridades deAndorra começaram a modificar as suas leis, e, atualmente, o problemaestá sob controle.

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Outro lugar de entrada de tabaco era a colônia britânica deGibraltar. A última colônia existente na Europa é essa, e, além de servircomo lugar para “lavagem” de dinheiro e para a existência de empresasfantasmas que estão dando cobertura a quase todas as tarefas ilegais queexistem na Europa, havia uma dedicação também ao contrabando de ta-baco. Vindo de Gibraltar, então, entrava tabaco por via terrestre e tam-bém por via marítima, em pequenas embarcações rápidas que entravampelas áreas limítrofes. Uma das últimas atividades relacionadas com o con-trabando marítimo, que praticamente agora está erradicado, eram os bar-cos que tinham a sua base em Gibraltar, não pegavam tabaco aí, mas pe-gavam de barcos que vinham dos Estados Unidos, e a partir daí eles entra-vam por Portugal e, como não há mais fronteiras pela Comunidade Euro-péia, iam para a Espanha.

O próximo assunto é o que estamos ouvindo falar, o tema doscontêineres. Não vou perder muito tempo com isso, vocês já ouviram falar per-feitamente sobre os contêineres. O que acontece? A Espanha praticamente nãotem contrabando, porém estamos vendo valores que indicam mais contraban-dos do que nunca. Como os galegos já não trabalham mais na Espanha, estãotrabalhando em outros lugares, simplesmente 90% das organizações dedicadasao contrabando de tabaco ainda em operação estão formadas fundamentalmen-te por galegos, vascos e navarros. Eles estão na Alemanha, na Inglaterra, tudoisso. Quando passam pelos portos espanhóis, então já sabemos que vêm deles.

Essa foi uma breve apresentação demonstrando que pode chegar noporto espanhol, pode circular por caminhão, como também chegar num barcoe depois ir para outro porto.

Só como uma novidade, aqui tem um caso, que é o do avião. É umavião que fazia uma rota, um caso bastante curioso, era um avião do exércitosoviético, do governo da Ucrânia, que estava alugado por uma empresa detransporte tipo sedex, alguma coisa assim. E ele colocou mil caixas de tabaco,vinte mil de cigarros, um milhão de carteiras, viajou teoricamente até Belgra-do, de Belgrado voou até Atenas, ali, então, simulou que estava viajando paraTúnis. Entretanto, em pleno vôo, mudou o plano de vôo e foi para o aeroporto

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de uma cidade pequena espanhola, Victoria. Tivemos notícia disso, monta-mos, então, um serviço, e vimos que em Victoria ele estava descarregandoduas mil caixas de tabaco. Lógico que esperamos que todos os caminhõessaíssem, e colocamos dois caminhões de bombeiro para que o avião não pu-desse sair da nossa cidade, para que ele não pudesse decolar. Aí vocês po-dem imaginar o tamanho desse avião. Era do antigo exército soviético, inclusi-ve tinha ainda armamento de mísseis.

De acordo com os números, o aumento, a partir do ano de 1998,que se deve, fundamentalmente, a algumas operações importantes que fize-mos, entre elas uma em que descarregaram diretamente com um barco quetransporta caminhões, no porto de Villa Nova, sete caminhões com quase oitomil caixas de tabaco Winston de contrabando. Conseguimos pegar esse barcosó em alto mar. E há pouco tempo veio a sentença e, mesmo tendo pegadoesse barco de bandeira estrangeira, tivemos que soltá-lo.

Com relação às apreensões, temos também a evolução do consumo decigarros na Espanha. No ano 2000, estávamos em 3,7% de média. A última pes-quisa mostra que está em 2%. Isso se traduz num aumento da arrecadação, nemtudo isso é pela luta contra o contrabando, mas também porque existe um aumentono preço, inclusive do imposto. Podem observar que a partir do ano de 1995praticamente duplicamos a arrecadação do imposto especial sobre o tabaco.

Aqui os fatores que favoreceram a diminuição do contrabando. Es-ses são selos que colocamos nas carteiras de cigarros na Espanha. Isso é umamedida de segurança, é como se fosse pegar uma lâmpada e ver se é falsa ounão. E essa falsificação deve ser do tipo offset e xerox coloridas que sãofacilmente identificadas, e é a que eles fazem.

Os estabelecimentos que estavam vendendo tabaco, fruto de con-trabando, correm perigo, porque aplicamos leis e fechamos. Ninguém teminteresse que seja fechado o seu estabelecimento, portanto isso é muito eficaz.

O sistema de alerta prévio para o trânsito, fazemos um sistema dealerta quando detectamos uma carga; implantação do sistema de controle detrânsito, isso é por meio da informática. A unidade de análise de risco, devidoà criação da parte de informática, da nossa modernização, usa um sistema de

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análise de padrões que nos permite estabelecer para cada contêiner que chegana Espanha um índice de risco de zero a três. Quanto mais se aproxima dotrês, mais motivos existem para pensar que se você não tem outro contêinerpara observar, deve observar esse, pois pode ser o que esteja levando contra-bando. Isso deu um ótimo resultado e nos permitiu multiplicar por trinta aapreensão de contêineres na parte de alfândegas.

Implantação do sistema de peritos e principalmente o aumento dodiferencial entre a carga fiscal, o preço na Espanha e o preço nos outros paísesda Europa, particularmente na Grã-Bretanha e na Alemanha. Na Espanha, umpacote de cigarros custa atualmente, o mais caro, Winston, 385 pesetas. Issoseria aproximadamente dois dólares, um pouco menos de dois dólares. NaGrã-Bretanha custa quatro vezes mais.

Temos que colocar um dado curioso também. Está diminuindo ocontrabando. Estava quase erradicado, mas agora estamos conseguindo maisdo que nunca. E as vendas aumentaram em 10% num mundo em que quasenão é mais permitido fumar. A única explicação então é que eles estão com-prando na Espanha e levando para outros países. Um pacote da Espanha aoReino Unido pode dar um lucro de quase dois mil dólares, somente uma caixaque ele leva na mala. Tínhamos que fazer uma harmonização de tributos, deimpostos, acho que isso seria importante para diminuir esses lucros.

Bom, por último, os meios que temos para perseguir todo esse tipode ilícitos, fundamentalmente o tráfico de drogas, hoje 95% estão no tráfico dedrogas, e 5% são o restante, o tabaco. E já apreendemos até agora, nesteano, 10.500 quilos de cocaína, 95 mil quilos de resina de haxixe e 14 milcaixas de tabaco. Temos 43 embarcações, algumas delas de porte bastanteconsiderável, algumas têm 64 metros de comprimento, o que nos permite na-vegar até o Caribe. O último barco que apreendemos com cocaína foi noparalelo de Brasília, na metade do Atlântico, a 2.500 milhas de Canárias. Fo-mos até aí para conseguir pegar um barco de contrabando, com 2.500 quilosde cocaína. Cinco helicópteros, seis aviões e vários veículos camuflados, mei-os especiais para interceptar etc. Somos 1.800 funcionários dedicados exclu-sivamente a isso. Não estou incluindo aqui a alfândega tradicional, a alfândega

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comercial, que são os funcionários que estão no despacho de alfândega emcada um dos nossos recintos, não.

É o final da minha apresentação. Muito obrigado pela atenção de vocês.Mauro Brito – Muito obrigado, Dr. Félix. Temos várias perguntas

aqui, mas faremos uma única pergunta para cada palestrante. Aproveito e vouinverter a ordem das perguntas. Tendo em vista o final da palestra do Dr. Félix,farei a primeira pergunta a ele. Entendo que essa pergunta veio bem antes do fimda palestra, deve ser de alguém que conhece bem os procedimentos espanhóise está fazendo um lobby, entendo que é um lobby positivo. Então, vamos a ela.

“Dr. Félix, considerando que o serviço fiscal da guarda civil espa-nhola utiliza aeronaves e embarcações para reprimir o contrabando e vigiar acosta, as fronteiras, portos e aeroportos em conjunto com o GIFAS, Grupode Investigação Fiscal Antidrogas, pergunto: a aduana espanhola entende queo uso desses meios é necessário para aumentar o risco na atividade de contra-bando, complementando a fiscalização convencional nas alfândegas? A evolu-ção logística e a sofisticação das organizações criminosas têm exigido da adu-ana espanhola maiores investimentos em aparelhamento dessa atividade?”

Félix Perez Buitrago – Posso saber quem fez a pergunta?Mauro Brito – A pergunta é de Luiz Cabral, da DRF de Boa Vista.Félix Perez Buitrago – Bom, em primeiro lugar, não falei da guarda

civil, a guarda civil é outra organização, é um corpo de segurança do Estado, quetem algumas funções de alfândega. De fato, vocês todos devem saber que fazparte também da guarda das alfândegas, também está nas alfândegas às ordens doadministrador para o controle de passageiros e de mercadorias também. Mas nãotem nada a ver com aquilo tudo que falei aqui. Esses meios, esse pessoal e tudoisso que falei aqui, estão localizados no Departamento de Alfândegas e PostosEspeciais dentro da vigilância alfandegária. Trabalhamos em algumas coisas emconjunto, mas somos um órgão civil independente da administração civil do Esta-do, que inclusive tem armamentos, mas não temos nada a ver com o Ministério doInterior, com o Ministério da Defesa, nem com nenhuma outra força.

Em segundo lugar, quero dizer que, logicamente, quanto mais au-mentam os investimentos para a luta contra esse tipo de tráfico, é melhor.

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Por exemplo, na Espanha precisamos de scanners que nos permitam vercaminhões por completo, contêineres completos. Consideramos de eficácialimitada, porque o problema que pode acontecer com os scanners é que, sevocê coloca isso numa alfândega, eles mandam o tráfico para outra alfânde-ga. Logicamente eles têm os seus meios de informação, mas pode-se salvarum pouco disso com scanners móveis. Definitivamente o grande esforço daalfândega espanhola está sendo a luta contra o tráfico de drogas. TemosMarrocos a 14km das nossas costas, que é o primeiro ou o segundo produ-tor mundial de haxixe. Então aí temos concentrada grande parte dos nossosmeios. Logicamente, quanto mais pudermos investir na vigilância, é claroque vamos economizar em outros setores, ou seja, tráfico de cigarros ououtros tipos de tráficos ilícitos.

Mauro Brito – A segunda pergunta faremos ao Dr. Roberto, a pe-dido de Telmo Freitas, da Receita Federal.

“Qual é o controle da fiscalização aduaneira sobre as operações re-alizadas por meio de zona franca? E de que forma as operações de zonafranca beneficiam a economia chilena?”

Roberto Exequiel Caceres Lopez – As operações, digamos ocontrole operativo, que o serviço da aduana tem no sistema franco de Iquique,conseguimos fazer de forma cada vez mais intensa, porque reconhecemos queesse é um sistema muito grande, e nossos próprios instrumentos de controleforam facilmente ultrapassados por falta de infra-estrutura, de tecnologia. Es-tou abismado com o que o Dr. Perez Buitrago disse, com os meios de que aalfândega espanhola dispõe para o combate; o controle que temos é funda-mentalmente a base de informática, e fisicamente exercemos algumas opera-ções para, especificamente, bebidas alcoólicas e cigarros.

O documento que eles usam na reexportação é um documento queampara bebidas alcoólicas ou cigarros, nós normalmente fixamos uma rotae estabelecemos um tempo determinado para que eles cheguem à fronteira,geralmente restritos. Normalmente fazemos controles intermediários para ve-rificar o cumprimento do objetivo. Além disso, exigimos das transportado-ras que, uma vez atravessada a fronteira, têm que devolver os documentos

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carimbados pelas autoridades competentes para fazer o cancelamento nosistema dos documentos correspondentes. Temos sérias dificuldades comrelação a isso, para que isso se cumpra na fronteira chilena e saia do país.Mas é produzido um efeito bumerangue, temos certeza de que muitas ope-rações de reextradição voltam ao nosso território nacional por caminhosnão-habilitados, mas que vulneram o controle que tem a zona franca com azona de regime geral.

É óbvio que entra cigarro, fundamentalmente, numa área onde jádevia ter sido pago o imposto e esses são cigarros que chegam de contraban-do ao resto do país. Estamos preocupados em poder controlar esse efeitobumerangue, porque acontece mesmo dessa forma.

Os efeitos positivos que a zona franca tem com relação à economiano Chile, diria que como zona franca a sua criação obedeceu a normas, em1975, de desenvolvimento regional para poder levantar o padrão de uma re-gião que estava em condições muito precárias, não tinha indústria, comércio, eera uma norma de soberania para que os habitantes dessa região tivessem umamelhor qualidade de vida. Isso é simplesmente a origem da zona franca.

Bem, no seu desenvolvimento depois de 26 anos, claro que tevealtos e baixos, um período em que isso ia subindo, no ano de 1998 podemosdizer que chegou ao seu ponto máximo, ao seu pico e houve um desenvolvi-mento de toda índole na região, na cidade de Iquique, fundamentalmente,construções novas, desenvolvimento bancário, tudo isso em torno da ativi-dade comercial da zona franca. E, como conseqüência, o benefício foi regi-onal, não em nível nacional. E ultimamente, em 1999, em 2000, para sermais preciso, até agora, passou por uma etapa de crise essa zona franca deIquique, uma crise econômica que eu diria que está em baixíssimo nível. Maso governo está tomando medidas para melhorar essas condições. Não sei seisso responde a pergunta. Obrigado.

Mauro Brito – Está me pedindo a palavra o representante daEspanha. Passo a palavra a ele.

Félix Perez Buitrago – Só gostaria de dizer que na palestra que fizexiste um erro na coluna que fala sobre carteiras de cigarros. Não são em

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milhões, e, sim, em milhares. É somente isso, um erro que poderia ter levado aalguma confusão entre vocês. Obrigado.

Mauro Brito – Agora a pergunta ao Dr. Julio. Ela foi feita por Marce-lo Meneses, da Receita Federal. “Dr. Julio, o senhor mencionou, em sua apre-sentação, que os fabricantes de tabaco e cigarro são obrigados a fazer o registrono sistema de impostos internos. Pergunto: esse registro é específico para asempresas que operam nesse setor, ou a outras empresas dos demais setorestambém é exigido? Quantas outras fábricas de cigarros existem no Chile, alémdaquela que é responsável por 95% da produção? O Chile exporta cigarro?”

Julio Echavarria Cornejo – A verdade é que o registro estabele-cido nessa disposição legal é, exclusivamente, para cigarros. Pode haver al-guns registros especiais em alguns setores específicos, mas, para o setor decigarros, está estabelecido de forma quase exclusiva.

Com relação a quantas empresas existem além daquela que detém95% da comercialização do produto, uma única empresa pode fabricar e podeexportar no país, cumprindo as exigências mencionadas, só uma que funciona.E por isso temos um vínculo, uma relação bem mais fluida de colaboraçãopara podermos enfrentar esses problemas. Não, não exportamos cigarros noChile. O que se opera na zona franca, como é uma zona livre de atividadealfandegária, não é considerado como exportação.

Mauro Brito – Vou passar para vocês algumas informações, por-que nos painéis anteriores houve uma preocupação muito grande com relaçãoà armazenagem e transporte de cargas.

Coloco para vocês algumas informações de Foz do Iguaçu, onde,em julho próximo passado, destruímos duzentos milhões de cigarros, o equi-valente a 25 contêineres. Ainda temos em estoque um bilhão de cigarros, su-perior à capacidade de cem contêineres de cigarros.

O Dr. Cardoso observou aqui, quando presidiu a Mesa, que estamosmudando o perfil da destruição de cigarros. E hoje temos um quarto dessescigarros já sendo destruídos mediante trituração, e três quartos deles aindasendo incinerados; para esses três quartos já utilizamos o apoio da iniciativa

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privada, pois todos esses cigarros são queimados em fornos de siderúrgicasou de empresas do próprio ramo. Então já temos essa colaboração.

E o objetivo, aí que é importante, por isso estou fazendo uso da pala-vra agora, é que temos um projeto em andamento em Foz do Iguaçu, com apoioda Superintendência da Receita Federal, com o apoio de associações de classesinteressadas no combate à falsificação e ao contrabando, e provavelmente emtrinta dias já teremos condições de colocar em funcionamento um novo sistemacom capacidade para triturar até quatro contêineres de cigarros por dia.

Estou dizendo isso porque, acredito, nos trará um avanço muito gran-de, vai eliminar aquele que é hoje o principal problema do avanço no combateà criminalidade, principalmente combate à criminalidade voltada ao contra-bando de cigarros, que hoje todas as unidades da Receita Federal têm, que éa dificuldade de armazenar mercadoria e transportar.

Só queria dizer isso, pedir desculpas por ter avançado no tempo eagradecer as brilhantes palestras dos nossos participantes, dando por encer-rado, então, este painel. Muito obrigado.

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Moderador:

LLLLLUCIANA CUSSIUCIANA CUSSIUCIANA CUSSIUCIANA CUSSIUCIANA CUSSISecretária-Adjunta da Secretaria da Receita Federal / Brasil

Palestrantes:

CHARLENE LEVESQUECHARLENE LEVESQUECHARLENE LEVESQUECHARLENE LEVESQUECHARLENE LEVESQUEChefe Senior da Diretoria do Serviço de Inteligência e Contrabando da Agência deAduana e de Receita / Canadá

SGT JOSEPH OLIVERSGT JOSEPH OLIVERSGT JOSEPH OLIVERSGT JOSEPH OLIVERSGT JOSEPH OLIVERAnalista Estratégico -Real Polícia Montada do CanadáAduana / Receita / Canadá

GUY STE-MARIEGUY STE-MARIEGUY STE-MARIEGUY STE-MARIEGUY STE-MARIEAuditor Fiscal do Ministério da Receita de Quebec / Canadá

Painel VIII

EXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBAEXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBAEXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBAEXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBAEXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBATE ÀSTE ÀSTE ÀSTE ÀSTE ÀSFRAUDES NO SETOR DE CIGARROS – CANADÁFRAUDES NO SETOR DE CIGARROS – CANADÁFRAUDES NO SETOR DE CIGARROS – CANADÁFRAUDES NO SETOR DE CIGARROS – CANADÁFRAUDES NO SETOR DE CIGARROS – CANADÁ

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Mestre de cerimônia – Dando prosseguimento, teremos o PainelVIII, com o tema: Experiências de Controle e Combate às Fraudes no Setorde Cigarros – Canadá.

A Mesa do Seminário estará composta pelas seguintes autorida-des: Dra. Luciana Cussi, Secretária-Adjunta da Receita Federal, que presi-dirá a Mesa e atuará como Moderadora deste painel; Dra. CharleneLevesque, Chefe Senior da Diretoria do Serviço de Inteligência e Contra-bando da Agência de Aduana e de Receita, Canadá; Dr. Sergeant JosephOliver, da Aduana/Receita, Administração Tributária, Canadá; Dr. Guy Ste-Marie, Auditor Fiscal do Ministério da Receita de Quebec, Canadá; e o Dr.Steve Sloan, Diretor de Investigações da Aduana, Canadá; passamos a pa-lavra à Dra. Luciana Cussi.

Luciana Cussi – Boa noite. Apresentamos a primeira palestrante; aDra. Charlene Levesque é Chefe Senior da Diretoria do Serviço de Inteligên-cia e Contrabando da Agência de Aduana e de Receita do Canadá, especia-lista em contrabando de cigarros, atua em estudos e investigações relaciona-dos com o contrabando de cigarros originários do Caribe, América Central eAmérica do Sul e é responsável pelo desenvolvimento dos programas de inte-ligência contra o contrabando em nível nacional.

A palestra será feita, em conjunto, pela Dra. Charlene e pelo Dr.Joseph Oliver, que é da Real Polícia Montada canadense, onde ingressou em

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1986; em 1999 foi transferido para o Quartel General em Ottawa. Como analis-ta de projetos especiais, é responsável por representar a Real Polícia Montadacanadense nos grupos de trabalho intergovernamental para a identificação, for-mulação e avaliação das estratégias para o combate ao contrabando no negóciodo fumo canadense, e criar métodos de monitorar e testar sua efetividade. Foiassessor senior da delegação canadense durante o Encontro IntergovernamentalSobre Controle do Fumo, em Genebra, Suíça; e promove, juntamente com aAdministração Tributária canadense, Departamento do Álcool, Fumo e Armasde Fogo, as reuniões conjuntas Canadá/Aduana Americana. Planejou, organi-zou e coordenou, em 1999, workshop sobre contrabando de fumo, em parce-ria com a aduana canadense, Agência de Impostos de Renda e o Departamentode Finanças do Canadá. Com a palavra a Dra. Charlene.

Charlene Levesque – Antes de iniciar nossa apresentação eu gos-taria de agradecer à Secretaria da Receita Federal do Brasil e à Escola deAdministração Fazendária pela oportunidade em participar deste Seminário.A sua generosidade e sua hospitalidade foram muito apreciadas por nossaequipe. Gostaria também de agradecer pessoalmente à Valéria, à Ana Caroli-na e à Rosa Torres, por sua acolhida cortês.

O Canadá tem a maior costa marítima de todo o mundo e compartilhauma fronteira de 8891km com os EUA. A maior parte de nossa população, demais de trinta milhões de habitantes, vive a apenas algumas centenas de quilôme-tros da fronteira americana. Mais de cento e dez milhões de viajantes e mais de dezmilhões de carregamentos comerciais entram no Canadá anualmente, 86% porfronteiras terrestres e o restante pelos aeroportos internacionais e portos maríti-mos. Aproximadamente 80% do nosso comércio é feito com os Estados Unidos.

A natureza da fronteira entre Estados Unidos e Canadá e a grandemobilidade de grupos do crime organizado apresentam desafios particularespara o policiamento, em especial, no que tange ao contrabando de bens proi-bidos, controlados e regulamentados. Espero compartilhar com vocês, hoje,alguns dos desafios que enfrentamos no Canadá.

Sergeant Joseph Oliver – Na apresentação de hoje, vamos forneceruma visão geral da indústria de tabaco canadense e de nossa estrutura impositiva

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sobre o fumo. Vamos investigar quão elevados podem ser os ganhos potenciaisdevido a aumentos de impostos sobre o tabaco, em face dos problemas do con-trabando no início dos anos 90, envolvendo, principalmente, produtos manufatu-rados de tabaco canadense exportados para os Estados Unidos e reimportadosilegalmente, e as ações empreendidas pelo governo canadense para combater omovimento ilícito de produtos do tabaco nas fronteiras. Vamos revisar as novasmedidas impositivas sobre o tabaco, implementadas pelo governo canadense emabril de 2001, que foram concebidas visando melhorar a saúde dos canadensespela via da redução do consumo. Também examinaremos as atividades correntesdo mercado negro de cigarros e os desdobramentos que esperamos ver no futuro.Por fim, vamos dar uma visão geral das parcerias internacionais na fiscalização, emparticular aquelas relacionadas com o tabaco.

Charlene Levesque – Há seis milhões de fumantes no Canadá, oque representa 24% da população. Os fumantes jovens, entre 20 e 24 anos,são a maior percentagem. Dois terços dessa população está localizada nasprovíncias de Quebec e Ontário. Historicamente os canadenses preferem fu-mar cigarros canadenses, embora exista um grande mercado para marcas norte-americanas, especialmente Marlboro, entre comunidades asiáticas, e outrasmarcas estrangeiras entre pequenos grupos étnicos.

A indústria de tabaco do Canadá consiste de plantadores,processadores, manufaturadores, distribuidores e varejistas.

Aproximadamente 1400 plantadores produzem cerca de setenta miltoneladas de tabaco por ano, avaliados em 350 milhões de dólares. Três em-presas fabricam 98% dos produtos do tabaco no Canadá. Essas são ImperialTobacco Canada Ltda, Rothmans, Benson & Hedges Inc. e Jti – MacDonaldCorporation (antiga RJR MacDonald). No conjunto, seu mercado soma apro-ximadamente três bilhões de dólares em vendas líquidas. Essas empresas tam-bém têm empresas associadas no exterior.

Pela legislação canadense dos impostos seletivos (excise taxes), hádispositivos exigindo o licenciamento de manufaturas e empacotadores de ta-baco. Todos os licenciados estão sujeitos à auditoria periódica pela Agênciada Receita e Aduana Canadense.

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Embora os plantadores de tabaco não estejam sujeitos à licença fe-deral, somente podem vender folhas não-processadas de tabaco amanufatureiros ou empacotadores licenciados. Além disso, algumas provínci-as podem exigir licença para varejistas, atacadistas e manufatureiros.

O sistema canadense de tributos sobre os produtos do tabaco éaplicado simultaneamente pelos governos federal e provincial.

Esses impostos e direitos incidem sobre produtos do tabaco em vá-rios estágios, do plantador ao consumidor. Compreendem o imposto seletivofederal (excise tax), o direito seletivo federal (excise duty), o Imposto sobreBens e Serviços (GST), o Imposto Provincial sobre Vendas (PST) e o Impos-to Provincial sobre o Tabaco.

Algumas províncias cobram de forma combinada o Imposto Provin-cial sobre Vendas e o Imposto sobre Bens e Serviços, sob a forma de umimposto harmonizado sobre vendas.

Os direitos seletivos incidem sobre os produtos do tabaco de fa-bricação nacional no momento em que são empacotados para o consumo.Um direito alfandegário (customs duty), equivalente ao direito seletivo, é co-brado nas importações desse produto.

Impostos seletivos incidem em produtos nacionais do tabaco nomomento em que um manufatureiro os entrega ao comprador ou no momentoda exportação. Um imposto seletivo também incide nas exportações de taba-co. Examinaremos mais detidamente o imposto de exportação no decorrerdesta apresentação.

No ato da venda para o consumidor, o imposto federal sobre bens eserviços é aplicado à alíquota de 7%, somando-se ao imposto provincial sobrevendas. Finalmente, é cobrado o imposto provincial sobre o tabaco. Esse últimovaria de um mínimo de $7,30 em uma província a $27,20 em outra, sendo aplica-do na etapa do atacadista. Como se pode ver, o preço de um pacote de cigarro é,em boa parte, imposto (63% em Ontário e 76% nos territórios do noroeste).

Charlene Levesque – Entre 1989 e 1992 o governo federal elevousubstancialmente a tributação sobre o tabaco, tanto para arrecadar receitas

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necessárias como para, principalmente, incentivar os canadenses a reduziremo consumo do produto.

Esses aumentos no âmbito federal foram ampliados por váriasmajorações de tributos de competência dos dez governos provinciais.

Os impostos federais sobre o tabaco subiram de $2,42 por pacotede duzentos cigarros, em 1980, para $15,85, em 1993, e os tributos provinci-ais, de $2,00 por pacote para $13,00, no mesmo período. Isso fez com que opreço do pacote de cigarros aumentasse de $11,80 para $46,00.

Aproximadamente 75% do preço no varejo de um pacote de ci-garros são impostos. Comparativamente, o preço médio de um pacote decigarros produzidos nos EUA aumentou de $6,30, em 1980, para $18,24,em 1991 (esses valores estão expressos em dólares canadenses). No mes-mo período começamos a perceber uma queda dramática nas vendas le-gais de cigarros no Canadá. As vendas despencaram de 243 milhões depacotes, em 1988, para 150,1 milhões, em 1992, representando um de-créscimo de 38%.

Pensou-se que a queda das vendas fosse parcialmente explicada pelaredução do número de fumantes canadenses, mas não era o caso. Quando osimpostos aumentaram, a venda de produtos do tabaco para a exportação(isentos) principalmente para os EUA subiu em 384% (22,8 milhões de paco-tes de cigarros entre 1990 e 1992).

Levando em conta todos esses fatos, ficou evidente que os produ-tos exportados estavam sendo contrabandeados de volta para o mercadocanadense, para satisfazer a demanda de consumidores que buscavam umproduto de menor preço.

Sergeant Joseph Oliver – O aumento dos impostos em 1991 foi aoportunidade para que imensos lucros se realizassem com o contrabando deprodutos do tabaco. Considerando que o pacote de cigarros contrabandeadospodia ser comprado por até $14,00 no mercado negro, contra $46,00 nomercado legal, é fácil ver como um pequeno carregamento com 1200 pacotespoderia facilmente propiciar lucros superiores a $1 milhão.

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No plano nacional, acreditava-se que quase 40% do mercado erade produto contrabandeado.

Estimava-se que essa proporção fosse ainda maior em provínciascomo Ontário e Quebec. Identificou-se que aborígines ligados a um grupocriminoso atuante tinham importante atuação no contrabando e distribuição deprodutos do tabaco.

O centro de suas operações era uma reserva indígena situada nafronteira dos EUA e Canadá, nas províncias de Ontário e Quebec e no Estadode Nova York.

Os gigantescos lucros no mercado de tabaco contrabandeado atra-íram também organizações criminais estrangeiras. Essas redes organizadas decontrabando estavam se espalhando pelo Canadá. Grupos tradicionais e asiá-ticos de crime organizado estavam se embrenhando profundamente no lucra-tivo contrabando do tabaco. Redes de distribuição, antes engajadas no con-trabando de drogas, estavam agora sendo utilizadas pelo tabaco.

Diversos países, recentemente, alegaram nos tribunais americanosque os próprios manufatureiros de tabaco participavam ativamente nesse tipode contrabando. O Canadá, dez estados-membros da União Européia e oEstado de Colúmbia, todos moveram ações com base na legislação americanasobre fraudes e organizações corruptas. Nós fomos instruídos a não levantarquestões sobre esse ponto. No entanto, se vocês tiverem perguntas nós osorientaremos quanto ao material pertinente, ao fim de nossa apresentação.

Houve também um crescimento do contrabando individual do tabacopor cidadãos normalmente cumpridores da lei, já que muitos canadenses achavamque estavam pagando impostos excessivos. Muitos acreditavam que era razoávelcontrabandear e comprar produtos de tabaco contrabandeados. Vale notar que oaumento do imposto sobre o tabaco foi introduzido concomitantemente a outrasmedidas tributárias, tais como o Imposto sobre Bens e Serviços (GST).

Os canadenses estavam contrabandeando produtos do tabaco pormeios inventivos e sofisticados de encobrir a operação ou entrando no Cana-dá por pontos de fronteira desguarnecidos, utilizando pequenas embarcações,

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snowmobiles e outros veículos para atravessar lagoas, rios, florestas e cam-pos desprotegidos separando o Canadá dos Estados Unidos. A participaçãono comércio ilícito era vista como um crime sem vítimas.

O problema do contrabando de tabaco não estava restrito às fron-teiras. Varejistas, em grandes centros metropolitanos, estavam vivenciandouma onda de arrombamentos e assaltos armados, resultando no assassinatode testemunhas inocentes. De forma significante, as câmeras de vídeo de vigi-lância registravam assaltantes ignorando pacotes de dinheiro e optando pelofurto de cigarros, considerado mais lucrativo.

O mercado negro estava prosperando. A perda de receita esti-mada para os governos federal e provincial, em 1993, foi de $2,2 bilhões(R$3,55 bilhões). Além disso, o comércio ilícito de tabaco estava minan-do os esforços do governo em reduzir o consumo de tabaco. Mais proble-mático ainda era o fato de que tanto a violência como o desrespeito à leiestavam aumentando.

Visivelmente, havia-se chegado a uma situação de crise.Charlene Levesque – Em fevereiro de 1994, o governo anunciou

um plano amplo de ação nacional para combater o contrabando no Canadá.O comércio ilegal havia atingido proporções epidêmicas e estava ameaçandoa segurança da comunidade e o sustento de comerciantes cumpridores da lei.O governo sentiu a necessidade de tomar medidas decisivas.

O Plano Nacional de Ação baseava-se em quatro pontos. A Inicia-tiva Anticontrabando (Anti-Smuggling Iniciative – ASI) envolveu diversos de-partamentos e agências dos governos federal e provincial, mas era conduzidaprincipalmente pela Agência da Receita e Aduana do Canadá (Canada Customsand Revenue Agency – CCRA) e pela Real Polícia Montada do Canadá (RoyalCanadian Mounted Police – RCMP). As duas agências receberam recursoshumanos e financeiros adicionais para intensificar o policiamento nas fronteirasentre Canadá e Estados Unidos e no interior. Os esforços de policiamentotambém se concentraram em intensificar as investigações no interior e em pa-trulhar travessias de fronteiras desguarnecidas.

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O montante total de recursos alocado para a ASI, no ano fiscal de1994/1995, foi de $130,2 milhões. A ASI foi concebida para reduzir o con-trabando, o comércio ilegal e o crime organizado e para promover uma aplica-ção uniforme da lei e o seu cumprimento.

Para desestimular o mercado e diminuir a lucratividade de contra-bandistas de tabaco, o imposto federal sobre o tabaco foi reduzido em $5,00por pacote. Incentivaram-se, ainda, cortes de impostos provinciais, especial-mente nas províncias onde havia sérios problemas de contrabando. O gover-no federal compensou, dólar por dólar, qualquer redução acima de $5,00,feita pelas províncias, até uma redução federal máxima de $10,00. Cinco pro-víncias reduziram seus impostos, e cinco não.

Além disso, um imposto de exportação sobre o tabaco de $8,00por pacote foi reinstituído. Isso refletia o fato de que mais de 80% dos cigar-ros vendidos no mercado negro eram cigarros canadenses produzidos paraexportação.

O governo obrigou os produtores a marcarem claramente seus ci-garros, de forma a distinguir aqueles destinados ao consumo interno daquelesproduzidos para o mercado de exportações.

Adiante, iremos analisar as marcações em maiores detalhes.Também foi instituído, por três anos, um imposto adicional sobre

lucros para os manufaturadores de cigarros, para campanhas de promoção desaúde. Os fabricantes, então, pagavam 40% mais de tributos federais, sobreos lucros da produção, do que antes. Os recursos gerados por essa sobretaxaserviam para financiar campanhas contra o fumo.

A campanha contra o fumo envolveu mudanças legislativas eregulamentais, tais como a alteração da idade legal para a compra de cigar-ros e o aumento das multas aplicadas pela sua venda a menores. Os avisosnas embalagens de cigarro, sobre os riscos à saúde causados pelo fumo,também ficaram mais eficazes.

A campanha de educação pública abrangeu campanhas nacionais namídia e o apoio a programas educacionais em escolas visando atingir os jovens.

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Sergeant Joseph Oliver – Qual foi o resultado? As exportações deprodutos de tabaco para os Estados Unidos começaram a cair imediatamenteapós a implementação do Plano Nacional de Ação. Em comparação aos dadosde 1993, a exportação de cigarros caiu 90% em 1994, e 94% em 1996.

Em 1993, um total de 78 milhões de pacotes de cigarros foi expor-tado pelo Canadá. Em 1994, as exportações já haviam caído para seis mi-lhões de pacotes, e em 1996, para quatro milhões. Houve, também, um au-mento correspondente na venda interna de produtos de tabaco. A venda legalde cigarros subiu 56% em 1994, em comparação com 1993, e mantém-senesse nível. As vendas pularam de 151,1 para 228 milhões de pacotes. Esseaumento indicou que um grande segmento de fumantes canadenses, que seabasteciam, anteriormente, no mercado de contrabando, agora estavam com-prando em legítimos revendedores internos.

O Plano Nacional de Ação produziu o efeito desejado. Desenca-deou uma redução imediata no contrabando de tabaco entre fronteiras.

Operações menores de contrabando de tabaco foram inviabilizadas,porém organizações criminosas maiores continuavam funcionando, emboratenham alterado seus métodos significativamente. Elas passaram a levar nume-rosos carregamentos, de menor volume, para abastecer as províncias que nãohaviam reduzido seus impostos sobre tabaco.

Como anteriormente dito, somente cinco províncias reduziram osimpostos sobre tabaco. E o resultado foi que o desvio de produtos entre pro-víncias tornou-se um problema. Os produtos de tabaco da parte central doCanadá estavam sendo desviados para venda ilegal em províncias onde osimpostos eram mais altos.

Globalmente, o problema de contrabando no Canadá foi reduzidode forma substancial, principalmente devido às reduções significativas dos im-postos sobre tabaco, à imposição do imposto sobre exportação e às diversasiniciativas do Plano Nacional de Ação.

Charlene Levesque – No Canadá, o fumo é a mais importante cau-sa de doenças que podem ser evitadas, de invalidez e de morte prematura.Quarenta e cinco mil canadenses morrem, a cada ano, como resultado do fumo.

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Em vista desses dados alarmantes, em abril de 2001, o governo intro-duziu um pacote abrangente de medidas tributárias concebidas para reduzir oconsumo de tabaco e, assim, melhorar a saúde dos canadenses. As medidastributárias propostas incluem uma nova estrutura de tributos para o fumo, a qualreduz o incentivo a contrabandear de volta para o Canadá produtos de tabacocanadenses destinados a mercados de exportação; e os impostos sobre o taba-co aumentaram para fomentar os objetivos do governo referentes à saúde.

Para garantir a eficácia e a manutenção das medidas tributárias, recur-sos adicionais foram alocados aos departamentos federais e às agências encar-regadas de fazer cumprir a lei (que incluem CCRA e RCMP), a fim de monitorare avaliar a efetividade dessas medidas na redução do contrabando do tabaco.

Sergeant Joseph Oliver – Como Charlene mencionou, novos au-mentos nos impostos sobre o tabaco foram introduzidos recentemente. Umaumento conjunto federal-provincial de $4,00 por pacote foi estipulado nascinco províncias que reduziram seus impostos em 1994. Com isso, pretende-se diminuir o diferencial de preços entre as províncias e tentar controlar ativi-dades de desvio de produtos entre províncias.

Um imposto seletivo de $1,00 por duzentos gramas de tabaco pica-do (fine-cut) e $1,00 por pacote de bastões de tabaco (tabacco sticks) 1

também foi posto em vigor.Além disso, a alíquota do imposto adicional sobre o lucro de produ-

tores de tabaco aumentou, dos 40% atuais, para 50% do imposto de rendadevido pelas pessoas jurídicas.

Charlene Levesque – A estrutura de impostos na exportação dosprodutos canadenses de tabaco foi revista e aplicada. O imposto de exporta-ção é de $10,00 por pacote exportado, até 1,5% da produção anual do fabri-cante, e de $22,00 por pacote exportado, no que ultrapassar 1,5%.

Essa estrutura também se aplica aos bastões de tabaco e ao fumopicado (fine-cut) e é, respectivamente, de $7,00 e $6,00.

1 São cigarros manufaturados em que o filtro é colocado pelo fumante. Foram desenvolvidos pelasindústrias de cigarros para se aproveitarem de brechas na legislação tributária.

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O limite de 1,5% representa a quantidade estabelecida para satisfa-zer o mercado legal de exportação.

A nova estrutura de tributos também inclui um imposto sobre produ-tos de tabaco canadenses enviados às lojas duty-free no Canadá e no exteri-or, bem como sobre produtos de tabaco vendidos a bordo.

Além disso, o imposto se aplica, às mesmas taxas, a produtos detabaco importados, enviados para lojas de duty-free canadenses.

Atualmente, depois de uma ausência de 48 horas, ou mais, um resi-dente canadense viajando pelo exterior tem direito à isenção de impostos ouobrigações sobre um pacote de cigarros ou vinte bastões de tabaco e sobrequatrocentos gramas de tabaco picado.

Em vigor a partir de outubro de 2001, a isenção do viajante seráalterada para garantir que o imposto incida sobre produtos de tabaco im-portados por residente canadense retornando ao Canadá. Não residentesem visita ao Canadá e que importem quantidades pessoais de produtos dotabaco não serão afetados pelo novo imposto na entrada. As mudançastributárias irão aumentar a receita federal em $215 milhões por ano. Nóstemos folhetos que descrevem a nova estratégia federal para o controle detabaco. Para quem desejar obter a versão eletrônica, pode visitar o endere-ço eletrônico: www.fin.gc.ca.

Sergeant Joseph Oliver – Em abril de 2001, o aumento do impos-to conjunto federal e provincial de $4,00 afetou as cinco províncias mostradasem verde. O imposto seletivo (excise tax) federal nessas províncias atualmen-te é igual à alíquota desse imposto nas províncias e territórios que não reduzi-ram seus impostos juntamente com o governo federal em 1994. Entretanto,ainda há diferenças no imposto sobre o tabaco entre as províncias.

Charlene Levesque – Em 1992, como meio de ajudar a identificar otabaco contrabandeado, os fabricantes foram obrigados por lei a marcar seusprodutos destinados à venda livre de impostos (duty free). Essas marcas vêm semodificando, desde então, segundo as novas medidas tributárias para exportação.

Para o mercado interno, onde o imposto seletivo foi pago, selos comos dizeres “Tributo do Canadá pago” ou fitas adesivas são colocados nos

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pacotes, embalagens e cargas (contêineres). Com o novo regime tributário,produtos de tabaco destinados a lojas francas do Canadá, depósitos alfande-gários e lojas a bordo precisam ter o selo “Tributo do Canadá pago” referin-do-se ao pagamento dos direitos e do novo imposto seletivo.

Os produtos de tabaco para o mercado de exportação irão indicar“Tributo do Canadá não pago” no comprovante e terão uma inscrição dizen-do “Venda proibida no Canadá”. Essas marcações apenas figurarão nas ex-portações regulares para mercados externos se estiverem dentro do limitede 1,5%. Carregamentos que ultrapassem esse limite terão selo em que se lê“Tributo do Canadá pago”.

As exigências provinciais incluem fitas adesivas de embalagem queindiquem “Tributo do Canadá pago” e a província específica, como mostradoacima, sendo que cada província tem um selo ou fita de cor diferente.

As fitas adesivas, em alguns casos, terão identificadores ocul-tos, como codificação em ultravioleta. Fitas sensíveis à pressão tambémestão sendo utilizadas, como medida de segurança, para evitar reprodu-ção ou reembalagem.

Sergeant Joseph Oliver – A lei do tabaco, aprovada em 1997,regula a rotulação, a promoção e o acesso aos produtos de tabaco. Essalegislação é primordialmente aplicada pela Saúde do Canadá (Health Canada),com o auxílio dos membros das finanças provinciais.

O Regulamento para Declaração (dos impostos) do Tabaco e oRegulamento para Informação sobre os Produtos de Tabaco, que viraram leiem 26 de junho de 2000, exigem que os produtos de tabaco oferecidos paravenda a varejo, no Canadá, exibam alertas sobre riscos e informação sobre asaúde em suas embalagens. Esses regulamentos também irão auxiliar na iden-tificação de produtos de tabaco ilegais.

Há um total de 16 alertas, todos mostrando imagens de câncer edoenças relativas ao fumo, bem como os efeitos prejudiciais no fumante pas-sivo, em crianças e nenéns em formação.

Dentro dos pacotes de cigarro, há folhetos que aconselham as pes-soas sobre como parar de fumar. Há 16 diferentes folhetos.

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Charlene Levesque – Atualmente, o mercado ilícito de tabaco éformado pelos seguintes componentes: contrabando entre fronteiras, práticasilegais de fabricação e o desvio de produtos de tabaco domésticos, aí incluí-das atividades de desvio inter e intraprovinciais. Para fins deste Seminário,iremos nos concentrar principalmente no contrabando internacional e nas ati-vidades ilegais de produção.

Atualmente, o contrabando de tabaco no Canadá tem-se reduzidosignificativamente, quando comparado ao início dos anos 90. Entretanto, oproblema não desapareceu completamente. Os produtos de tabacocontrabandeados encontrados freqüentemente no Canadá são os cigarrosMarlboro e sacos de duzentos gramas de tabaco de cigarro da marca CanadianNatural, sendo o último produzido somente para o mercado de exportação.Em março de 2001, mais de 18 mil pacotes de cigarros Marlboro, suspeitosde serem falsificados, foram apreendidos no porto de Vancouver, BritishColombia. Os cigarros eram originários da China e chegaram em um contêinermarítimo, em meio a um carregamento comercial de autofalantes baratos.

O serviço de inteligência supõe que essa não tenha sido a primeiraexportação dessa natureza.

Sacos falsificados de tabaco da marca Canadian Natural Choice,aparecem mais freqüentemente no leste do Canadá e em Manitoba.

Durante uma apreensão, no início de 2001, segundo a declaração,verificou-se que o tabaco foi adquirido em uma reserva nativa em Ontário, por$5,00 por saco, e vendido na Nova Escócia por $10,00. Como esse produtoé fabricado somente para exportação, acreditamos que ele foi contrabandeadopara o Canadá vindo dos Estados Unidos.

Misturas estrangeiras de tabaco (tabaco egípcio ou do Oriente Mé-dio) também são um elemento no contrabando entre fronteiras. Esses produ-tos, freqüentemente, são transportados através dos Estados Unidos e decla-rados falsamente, na documentação de importação, como bens alimentícios.Mais de seis mil quilos desse tabaco foram apreendidos em Ontário e Quebecno ano de 2000. Esses produtos geralmente são destinados à demanda decomunidades étnicas menores.

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Sergeant Joseph Oliver – No Canadá, uma das atividades mais lu-crativas é a fabricação ilegal de produtos do tabaco por manufaturadores de taba-co licenciados e não-licenciados. Nos últimos anos, esse tipo de atividade cresceusignificativamente e envolve, primordialmente, pequenas operações de fabricação.

A confecção ilícita inclui inúmeras atividades: a falsificação decontêineres e selos de manufatureiros legais por grupos não-licenciados; afabricação de produtos do tabaco sem uma, ou mais, das licenças exigidas,como cortar/picar em residências privadas, utilizando instalações de armaze-nagem não-licenciadas, etc.; a obtenção da folha não processada de tabacode plantadores (às vezes em quantidades que excedem suas cotas) e sua ven-da ilegal ou processamento para venda a varejo; a declaração de apenas umpequeno percentual da produção à Alfândega e à Receita Federal do Canadá.Em alguns casos, só 10% da produção é declarada.

A tabela mostra onde a ameaça é mais significante.Charlene Levesque – Dadas as medidas atualmente postas em prá-

tica, é improvável que a mistura de fumo fabricada no Canadá e exportada paraos Estados Unidos se torne grande fonte de tabaco contrabandeado. Como oscanadenses permanecem fiéis aos produtos de tabaco de mistura canadense, asorganizações criminosas privilegiarão a fabricação ilícita e o contrabando decigarros de marcas canadenses e a falsificação de cigarros produzidos no exte-rior. Os contrabandistas podem operar do México e do Caribe, ou basear suasoperações a partir da Europa. Os cigarros contrabandeados serão despacha-dos em portos de entrada marítimos e aéreos, mas, aproximadamente 25% fa-rão transbordo pelos Estados Unidos e entrarão por portos de fronteira terres-tres. Essa é a percentagem normal de contêineres transportados através da fron-teira terrestre. Além disso, o elevado volume de tráfico pelos portos marítimoscanadenses e as dificuldades associadas com seu monitoramento fazem delespontos atraentes para grupos criminosos.

Nos últimos anos, a produção de cigarros falsificados na China, tantode marcas nacionais chinesas quanto de marcas internacionais – como Marlboro–, cresceu dramaticamente. À medida que aumentam significativamente os im-postos sobre tabaco, no Canadá, e à medida que aumenta o potencial de gran-

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des lucros, nós esperamos ver organizações criminosas se abocanharem nomercado internacional do contrabando. Como mencionado anteriormente, issotem sido observado na British Colombia, onde cigarros Marlboro, originários daChina, e que se supõe serem falsificados, foram apreendidos.

Sergeant Joseph Oliver – O Canadá reconhece que é imperativoforjar e manter parcerias internas e internacionais com todas as organizaçõesrelevantes, para o compartilhamento de nossas experiências e a troca de infor-mação que favoreçam investigações e acompanhem exercícios de atividadesilegais praticadas por grandes grupos de crime organizado. Este Seminário éum excelente exemplo de ações que precisam ser tomadas.

A seguir falaremos sobre algumas de nossas parcerias internacionais.Charlene Levesque – O Acordo Alfandegário de Assistência Mútua

entre a alfândega do Canadá e a dos Estados Unidos promove assistência ecooperação mútuas entre administrações aduaneiras e permite a troca de in-formação sobre questões referentes à fiscalização.

O acordo entre Canadá e EUA sobre nossa fronteira comum,assinado em 1995, inclui a Agência da Aduana e Receita do Canadá, odepartamento de Cidadania e Imigração do Canadá, os Serviços de Imi-gração e Naturalização dos Estados Unidos e a Alfândega norte-america-na. Esse tratado promove harmonização de programas, instalações físicasconjuntas e o uso de tecnologia para melhorar o serviço e segurança emportos distantes.

Sergeant Joseph Oliver – Para determinar a abrangência do mer-cado negro do tabaco e a ameaça imposta pelo seu contrabando em largaescala, a Agência da Aduana e Receita Canadense, a Real Polícia Montadacanadense, o Bureau do Álcool, Tabaco e Armas de Fogo e o Serviço daAduana dos Estados Unidos, atualmente, estão cooperando na conduçãode uma avaliação conjunta sobre a natureza e a extensão do mercado decontrabando de tabaco.

Em 1999, a OMS iniciou o trabalho sobre o Modelo de Convençãode Controle do Tabaco (FCTC), que é concebido para forçar os governos aenfrentar questões relacionadas com o tabaco, tentar reduzir seu uso e pro-

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mover cooperação entre nações. O Canadá foi e continua sendo um impor-tante contribuinte desse processo.

Charlene Levesque – A Agência da Aduana e Receita do Canadáfaz parte da Organização Mundial de Aduanas, que é uma associação de 157serviços aduaneiros do mundo todo, cujo mandato inclui a coordenação docomércio, a classificação de mercadorias, a harmonização de tarifas e o com-bate à fraude comercial e às drogas. Como Harald mencionou, a OrganizaçãoMundial de Aduanas propôs o Projeto Mundial de Ofensiva ao Cigarro (ProjectWorld Cigarette Offensive), concebido para fornecer uma avaliação do con-trabando de cigarro em escala global e promover assistência aos esforçoscontra o contrabando.

Sergeant Joseph Oliver – O subgrupo de contrabando de cigarrosdo Grupo Lyon de Fiscalização dos Projetos G-8 é uma iniciativa que demandaações comuns contra o contrabando de cigarros. Foi concebido para promovera cooperação, compartilhamento de serviços de inteligência e harmonizaçãolegislativa entre o G-8, os países membros da União Européia e a Interpol.

Charlene Levesque – O Memorando Internacional de Entendi-mento são acordos que irão garantir adesões a memorandos de entendimentoreferentes à troca de informação, entre administrações aduaneiras, sobre ques-tões de fiscalização.

Luciana Cussi – Antes de passarmos ao outro palestrante, gostariade avisar que as perguntas podem ser encaminhadas à Mesa por intermédiodas recepcionistas que estão nas laterais do auditório. Agora vamos ouvir oDr. Guy Ste-Marie, que é Auditor Fiscal do Ministério da Receita de Quebec,graduado em Contabilidade e Administração Executiva, e nos últimos 15 anostornou-se especialista em auditoria fiscal na área de cigarros e combustíveis.Atualmente trabalha em investigações especiais.

Guy Ste-Marie – Olá para todos, não sei se digo boa tarde ou boanoite, sei que já é bem tarde, serei muito breve, apenas vinte minutos. Primei-ro, gostaria de agradecer ao Governo brasileiro. Tivemos uma hospitalidadeexcelente. Também, em nome da Receita Federal do Canadá, é uma honrapoder estar aqui. Vou tentar mostrar para vocês como, na província de Quebec,

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estamos tentando enfrentar esse problema da fraude, como já foi mencionadoanteriormente pela Charlene.

O que nos traz ao contrabando? Temos que verificar os impostos,porque o contrabando já está por anos e anos e provavelmente nunca termi-nará, mas é difícil combatê-lo, com certeza.

Cada país, ou cada estado, cada província, cada jurisdição temas suas políticas fiscais. Algumas têm altas taxas com relação ao tabaco,outras com relação ao combustível. Temos que levar em consideração que,quando temos que aumentar ou diminuir os impostos, podemos estar aju-dando as organizações criminosas, o mercado negro. Também políticasfiscais são realizadas. Por exemplo, sempre que temos que exportar poralguma razão sempre existem pequenas taxas. No Canadá tentamos au-mentar essas taxas.

Vou mostrar para vocês como, durante os anos 90, lidamos, emQuebec, com a fraude internacional e depois como lidamos com as fraudesentre os nossos estados.

Primeiramente vou falar sobre a nossa receita proveniente do tabaco,os impostos coletados na província de Quebec, que, como vocês viram momen-tos atrás, está situada no centro do nosso país. Vou falar também da fraudeinternacional de 1988 a 1994, vou mostrar o custo e a receita gerada pela nossaforça conjunta, vocês verão como isso foi feito. As mudanças na nossa legisla-ção, os acordos com o governo federal e também a fraude entre as províncias.

Aqui vocês poderão ver a estrutura da nossa receita tributária. Em1990, tivemos 680 milhões, mais ou menos; em 1991 e 1992, esse valor dimi-nuiu para 580 milhões, aumentamos ainda o imposto para 13,56, e diminuímosem cem milhões. Depois isso trouxe menos impostos, como vocês estão vendoaqui. Então tivemos que reagir a essa situação; para que vocês tenham umaidéia, estávamos perdendo nesse período um bilhão de dólares mais ou menos.

Depois tivemos um imposto para as vendas, algum tempo era zero; ou-tro, oito; outro era 6,7; e agora voltou para zero o imposto na venda. E isso nosleva a 6,5%, seis dólares e alguns centavos. E no pico da fraude o nosso impostoera de 13,56, e o federal, de 15,85. Quase vinte dólares de impostos cobrados.

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As tendências da América do Norte, como Charlene mencionou an-teriormente; não temos de fumar, por exemplo, marcas americanas. E nosEstados Unidos eles não fumam marcas canadenses. Os produtores do Cana-dá exportam apenas 3% da sua produção. Isso vai para o mercado de dutyfree. Mas no pico das fraudes isso chegou a 45% ou 50% da produção decigarros. Como vocês poderão ver, estamos pensando na Província de Quebec,temos certeza de que isso acabou voltando para o nosso mercado por meiode um mercado ilegal.

O Canadá é dividido em dez províncias e três territórios, Quebec éa maior em tamanho. Considerando a população é a segunda maior, Ontárioé a primeira. Temos uma reserva, como Joseph falou anteriormente, queestá localizada em Ontário e Quebec. Por isso foi difícil para todos. Montre-al é uma das maiores cidades, com 2,5 milhões de habitantes. A maior cida-de do Canadá, Toronto, está a 400km. Então, quando você está trazendoisso, tem que se livrar o mais rápido possível. E, qual era a cidade maisperto? Era Montreal. Então presumimos que a maioria dessa mercadoriadepois acabou voltando para Quebec. Nossas perdas foram de um bilhãode dólares durante esse período.

Essa reserva que vocês estão vendo no mapa, não está muito claro,mas tem um rio entre essas províncias, eles cruzaram o rio em barcos, é umareserva muito pequena, mas está nessas três províncias.

Agora, para fraudes internacionais, como eu disse, as exportações, quandose exportam produtos, temos uma taxa zero, imposto zero. Você pode cobrar osimpostos e depois buscar alguma compensação, mas isso complica o negócio.Então eles simplificaram dessa forma: o imposto zero para a exportação.

No caso de cigarros, em cinqüenta pacotes, aproximadamente36 dólares canadenses são impostos. E nesse caso, uma caixa, 18 dólares.Uma caixa que não é tão grande, você pode colocar num barco e cruzar orio. Então num barco você pode colocar muitas caixas. Se você coloca milcaixas, temos aí essa quantidade de impostos que se está economizando,1.800 dólares canadenses. Essa responsabilidade para a nossa polícia foimuito difícil, porque nós em Quebec temos que entender e não temos com-

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petência para resolver o problema de todas essas reservas, porque a re-serva está em três províncias diferentes. Portanto, esses cigarros voltaramatravés de Montreal e foram transportados por barcos, carros ou cami-nhões, o que seja, e seguiram até os varejistas. Nessa época, em 1994,não apenas os varejistas, mas qualquer motorista de táxi, qualquer umestava fumando cigarros.

Nesse ponto havia algo que era um fenômeno tão grande, havia umfenômeno social, era bonito você comprar cigarro e começar a fumar. Entãotodo mundo estava fazendo isso, era muito popular. Você ia para a universi-dade, começava a vender cigarro, todo mundo comprava e, aí, todo mundocomeçou a vender cigarro, porque era uma coisa que realmente vendia. En-tão, algo devia ser feito. Mas novamente estávamos sozinhos, porque nãotrabalhávamos com o governo federal ainda. Criamos uma força-tarefa pró-pria, que era a polícia contra o tabaco. Contratamos cerca de sessenta ex-policiais para trabalharem conosco, eram policiais aposentados, com vinte,trinta anos de experiência, e utilizamos a sua experiência. Eles eram contra-tados para controlar o comércio de tabaco, para fazer inspeções, para fazervigilâncias, para controlar e identificar os veículos que estavam servindo detransporte de tabaco etc.

Para interceptar esses veículos, para examinar os veículos quandosão suspeitos, temos que fazer guardas e imobilizar os veículos, porque elespodem conter ainda alguma coisa que estamos procurando. Mas, uma vez quevocê pára o veículo, você precisa ter um mandado de apreensão. Não podesimplesmente vasculhar sem ter um mandado. Fazemos a apreensão de sus-peitos de estarem fazendo contrabando, eles são pegos, a sua mercadoria éconfiscada, mandamos essas pessoas para a secretaria administrativa e elestêm que testemunhar no tribunal.

Portanto, contratamos essas pessoas e isso foi realmente lucrativoporque conseguimos prender um monte de gente. E isso custou muito dinhei-ro, como vocês podem ver aqui neste gráfico. Isso nos custou 26 meses detrabalho árduo. Financeiramente, custou mais de sete milhões de dólares, oequivalente a 11,5 milhões de reais.

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Durante esse período, a nossa força-tarefa apreendeu sessenta milhõesde dólares em cigarros, e todos foram destruídos posteriormente. Pagamos setemilhões, mas conseguimos apreender sessenta milhões, então saímos no lucro,acho. Ainda tivemos mais de novecentos casos que foram levados ao tribunal,casos em que conseguimos apreender pessoas contrabandeando cigarros. Entãoparece que fizemos uma coisa muito boa, gastamos o dinheiro e conseguimos oretorno. A um certo ponto pensamos: vamos parar com isso, estamos trabalhandomuito, não há nada que possamos fazer, para cada dólar que gastamos começa-mos a perder muito mais dólares, então pensamos em parar.

Nesse ponto, tivemos que fazer uma mudança na legislação. Come-çamos antes de 1994 e introduzimos licenças. O que essas licenças fariam?Essas licenças eram emitidas para os coletores de impostos, os exportadores,os produtores, para as lojas, para os operadores de máquinas caça níqueis ecarregadores. Isso teve um manifesto. O que era esse manifesto? Era um do-cumento em papel, dizendo que tínhamos que declarar o tabaco, para ondeesse tabaco estava indo, quantos maços de cigarros e assim vai. Então intro-duzimos essa legislação antes de 1994.

Também introduzimos uma marca registrada. A Charlene já mos-trou a marca, que era aquela fita ou aquele selo de segurança dos cigarrospara prevenir a falsificação, para poder identificar se o produto era falsifi-cado. Era branco, quase toda província tinha uma cor diferente, na minhaprovíncia é branco. Também criamos um poder de polícia para vigiar epara supervisionar os maços de cigarros. E por último introduzimos algu-mas penalidades, e nos possibilitaram ter dois oficiais trabalhando conosco.Tínhamos assim acesso fácil aos casos de contrabando que estavam nanossa cara. Era muito mais fácil inspecionar isso com uma força-tarefa ecom as penalidades.

Com a nossa força-tarefa não podíamos trabalhar sozinhos. Antes todasas pessoas que trabalhavam conosco eram capazes de parar os caminhões parafazer as vistorias. E as pessoas não tinham problemas com isso, os produtos eramapreendidos, mas estávamos trabalhando muito sozinhos. Então contratamos 32inspetores para nos ajudar. Mudamos o nosso poder de polícia e hoje em dia

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qualquer policial municipal, provinciano ou polícia montada pode parar os cami-nhões e vistoriar essas mercadorias etc. Isso nos ajudou bastante.

Voltando a falar das penalidades, tínhamos penalidades em Quebecque chegavam a multas de duzentos dólares por cada carregamento, ou umapena máxima que era de dez mil dólares. Mudamos isso e fizemos uma pena-lidade mínima, uma multa mínima de dois mil dólares. Se no seu free shop, nasua loja estão sendo vendidos cigarros que são contrabandeados, se você forpego terá que pagar dois mil dólares por cada maço. Ou seja, se você temvinte maços, não quero nem saber, são dois mil dólares por maço. Então con-seguimos aumentar a multa para cem mil dólares e assim arrecadar algum di-nheiro, porque quando pegamos os contrabandistas essas pessoas não sabi-am ainda da lei e foram levadas ao tribunal. Alguns juízes, quando foram clas-sificar esse caso, concordaram conosco e nos apoiaram.

Isso foi feito para combater a fraude. Esses métodos são auxiliares,conseguimos acabar com o contrabando de varejistas, mas, voltando ao queestava dizendo antes, não podemos trabalhar sozinhos. Estarmos isolados,sozinhos, gastarmos dinheiro sozinhos com a força-tarefa fez com que reali-zássemos essas mudanças, mas isso não é tudo, temos que continuar traba-lhando. Então fomos ao governo federal, como a Charlene disse, nos encon-tramos com os chefes das províncias e pensamos numa nova multa. A cadacinco dólares eles tinham que pagar dez dólares. Então decidimos diminuir astaxas para 11 dólares, e a taxa federal foi diminuída para dez dólares. Ou seja,era um total de 21 dólares.

Portanto, você não precisa ser o Einstein da física para descobrirque é uma medida muito boa, que reduziu bastante o contrabando. Porém,é um modo muito fácil, as taxas e os impostos estão aí para nos ajudar enão para nos coibir. Em um certo ponto vocês estão criando impostos queestão acabando com a sociedade. Ou seja, uma taxa de 21 dólares é boapara acabar com o contrabando, mas para a sociedade pode ser ruim.Isso é apenas para mostrar o que está acontecendo com as nossas rendas.Nossas rendas caíram para 41, depois subiram para 53, depois para 244.Quando em 1999 nós recebemos menos dólares do que esperávamos, em

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certo ponto tivemos que nos recuperar. Se analisarem o que estamos fa-zendo, estamos subindo gradativamente, estamos cruzando os dedos, massomos capazes de economizar dez, sessenta dólares por cada carteira decigarros. E com sorte, nossas rendas vão crescer de novo para cinco mi-lhões, estamos fazendo figa para que isso aconteça, porque existe um ponto,ontem alguém disse que existem riscos e existem lugares onde não há ris-cos, e esperamos que o nosso país não seja um lugar de risco, mas se forestaremos prontos para enfrentá-lo.

Novamente, em 1998 estávamos lutando contra a fraude interna-cional. Em 1998 descobrimos um novo tipo de fraude em Quebec, desco-brimos o imposto que estava sendo mal utilizado. As pessoas que moramem reservas nativas estavam comprando o tabaco sem pagar os impostos.E os nativos têm que pagar os impostos também, são cidadãos como quais-quer outros, mas não estão pagando. Essas pessoas estão comprando oscigarros que são vendidos pelos varejistas. Quando voltam para o varejo,o preço é maior do que o sistema normal e, portanto, as pessoas que nãosão aborígines não pagam impostos. E para complicar temos um sistemade créditos. Temos créditos que estão acima de tudo. Ou seja, é um ab-surdo pagar seis dólares por uma carteira de cigarros, é muito dinheiro. Epara lidar com isso, em 21 de junho de 1998, a Receita de Quebec sur-preendeu o Governo e muitas pessoas, devo dizer, porque nós remove-mos a taxa QST. A flutuação era de 21% e baixamos para zero. Como?Nós incorporamos o que era uma quantia de dois dólares, incorporamosisso na taxa de tabaco. Portanto, agora os aborígines ainda podem terlucro porque não pagam taxas, mas os varejistas não podem porque estãopagando taxas nas reservas e não podem ter reembolso.

Quando Quebec recuperou cinco bilhões de dólares com isso, pen-samos que poderíamos aplicar isso em Ontário.

Para concluir, aprendemos que o contrabando não pode ser comba-tido por nenhuma organização sozinha, temos que nos juntar, temos que tercomitês federais e provinciais que nos ajudem contra o contrabando. Acredi-tamos que isso é realmente muito produtivo.

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Eu estava conversando com o Joe momentos atrás sobre a falsifica-ção no Canadá, porque nós temos marcas muito boas e muito famosas, nãosomos um país tão popular em termos de cigarros, mas temos nossas marcas,somos um país grande, vendemos bastante; não estamos tendo muita falsifica-ção das nossas grandes marcas. Acho que a Charlene já falou disso, os cana-denses não consideram a falsificação como um problema muito grande. NoCanadá, 60% do contrabando é contrabando mesmo, não é a falsificação.Temos que saber então com o que estamos lidando.

Obrigado pela sua atenção.Luciana Cussi – O Dr. Steve Sloan, que também compõe a Mesa,

participará das respostas às perguntas. Tenho aqui uma pergunta que diz: “Comos novos aumentos de impostos, o Canadá não está repetindo exatamente omesmo erro que levou à explosão do contrabando no início dos anos 90?”

Charlene Levesque – Vamos esclarecer um ponto aqui. Quatorzedólares é o preço do contrabando de cigarros no Canadá. Hoje em dia,com as taxas de exportação, esse preço aumentou. E os planos canaden-ses de exportação agora têm novas taxas, que reduzem o lucro dos con-trabandistas e reduzem também o incentivo para o crime organizado seenvolver. Com essas novas medidas, essas novas taxas, estamos ajudandoo governo a combater os preços baixos do contrabando, que hoje em dianem são tão baixos assim.

Luciana Cussi – Essa pergunta havia sido feita pelo Dr. MiltonCabral, da Abifumo.

A outra pergunta está relacionada e vou fazê-la para saber se alguémquer acrescentar alguma informação. “Se o preço do cigarro está em torno detrinta dólares e o mercado negro pratica preços de 14 dólares, como a ques-tão do mercado ilegal está resolvida?”

Há alguma complementação?Sergeant Joseph Oliver – Durante a última década, o Canadá ga-

nhou considerável experiência em administrar o comércio ilícito de tabaco eaprimorou o controle sobre o tabaco. Estamos confiantes de que nossas no-

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vas medidas terão um impacto positivo sobre o comércio ilícito de tabaco.Entretanto, temos que permanecer vigilantes para que possamos responder àsmudanças no comércio ilícito e ao envolvimento do crime organizado nele.

Aqui termina nossa apresentação. Se alguém tiver perguntas, seráum prazer respondê-las.

Muito obrigado por sua atenção. Aproveitem o restante do Seminário.Luciana Cussi – Não temos mais perguntas, encerraremos a ses-

são de hoje; tenho impressão que todos vocês concordam que foram exposi-ções muito interessantes, tanto do ponto de vista das medidas administrativas,como também das medidas legais. Tenho certeza que essa experiência é muitoprofícua e servirá para as nossas propostas de ação.

Muito obrigada, boa noite.

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Moderadora:

CLECY MARIA BUSACLECY MARIA BUSACLECY MARIA BUSACLECY MARIA BUSACLECY MARIA BUSATO LIONÇOTO LIONÇOTO LIONÇOTO LIONÇOTO LIONÇOCoordenadora-Geral do Sistema Aduaneiro da Secretaria da Receita Federal / Brasil

Palestrantes:

LLLLLUIZ OLUIZ OLUIZ OLUIZ OLUIZ OLAAAAAVO BAPTISTVO BAPTISTVO BAPTISTVO BAPTISTVO BAPTISTAAAAA - Professor de Direito Internacional - Universidade deSão Paulo - USP/ Brasil

CARLOS MÁRCIO COZENDEYCARLOS MÁRCIO COZENDEYCARLOS MÁRCIO COZENDEYCARLOS MÁRCIO COZENDEYCARLOS MÁRCIO COZENDEYChefe da Divisão do Mercosul - Ministério das Relações Exteriores - Ministério das Relações Exteriores -MRE / Brasil

Painel IX

AS RELAS RELAS RELAS RELAS RELAÇÕES ENTRE OS PAÇÕES ENTRE OS PAÇÕES ENTRE OS PAÇÕES ENTRE OS PAÇÕES ENTRE OS PAÍSES DO MERCOSULAÍSES DO MERCOSULAÍSES DO MERCOSULAÍSES DO MERCOSULAÍSES DO MERCOSUL

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Mestre de cerimônia – Senhoras e senhores, bom dia. Em conti-nuidade ao Seminário Internacional Sobre Fraudes no Setor de Cigarros, da-mos prosseguimento aos trabalhos do terceiro dia. Os trabalhos do SeminárioInternacional Sobre Fraudes no Setor de Cigarros nesta manhã abordarão oPainel IX – As Relações entre os Países do Mercosul – e o Painel X – Expe-riências de Controle e Combate às Fraudes no Setor de Cigarros – EstadosUnidos da América e México.

Informamos aos presentes que quiserem encaminhar perguntas aosnossos palestrantes que as façam por escrito e as entreguem às recepcionistasnas laterais do auditório, inclusive durante as palestras.

A Mesa do Seminário será composta pelas seguintes autoridades: Dra.Clecy Maria Busato Lionço, Coordenadora-Geral do Sistema Aduaneiro daSecretaria da Receita Federal, que atuará como Moderadora deste painel epresidirá a Mesa; Dr. Luiz Olavo Baptista, Professor de Direito Internacional daUniversidade de São Paulo, e o Dr. Carlos Márcio Cozendey, Chefe da Divisãodo Mercosul do Ministério das Relações Exteriores, Brasil.

A Sra. Diretora-Geral da Escola de Administração Fazendária, Dra.Maria de Fátima Pessoa de Mello Cartaxo, não se encontra neste recinto paraa abertura dos trabalhos do terceiro dia do Seminário Internacional SobreFraudes no Setor de Cigarros por estar recebendo, nesta manhã, em nome daESAF, o Prêmio Qualidade no Serviço Público, prêmio concedido até então aapenas três instituições públicas.

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O Prêmio Qualidade no Serviço Público, instituído pela Secretariade Gestão do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, será entre-gue à ESAF durante solenidade de abertura do Seminário Mobilização para aQualidade no Serviço Público, das Práticas aos Resultados, no qual a Dra.Maria de Fátima Pessoa de Mello Cartaxo proferirá a palestra inaugural.

Passamos a palavra à Dra. Clecy Maria Busato Lionço.Clecy Maria Busato Lionço – Bom dia a todos. Vamos iniciar os

trabalhos do dia com o painel em que se pretende discutir como o contraban-do e a falsificação de cigarros afetam as relações comerciais entre os paísesdo Mercosul, que instrumentos temos acordados no Mercosul que poderiamser utilizados para combater esses ilícitos.

Fazem parte deste painel o Professor Luiz Olavo Baptista, Doutorem Direito Internacional pela Universidade de Paris, Professor Titular de Di-reito do Comércio Internacional da Universidade de São Paulo, autor de maisde vinte livros sobre Direito Internacional, professor visitante da Universidadede Paris e de Michigan, consultor do Brasil no exterior para governos, organi-zações internacionais, entre elas recentemente a Organização Mundial de Co-mércio, o Banco Mundial, e tem atuado como árbitro do Mercosul também.

O outro palestrante, Dr. Carlos Márcio Cozendey é funcionário decarreira do Ministério das Relações Exteriores e exerce a Chefia da Divisãodo Mercosul atualmente.

Luiz Olavo Baptista – Muito obrigado. Agradeço muito à Escolade Administração Fazendária esse convite que é uma honraria pelas qualida-des da escola e de seu público, qualidades reconhecidas por esse merecidoprêmio que ela recebe.

Queria dizer aos senhores que temos surpresas na vida. Uma delastive no ano de 1988, quando o então Ministro da Justiça Paulo Brossard, meuamigo, telefonou-me e disse: “Quero que você vá para Viena como parte dadelegação brasileira que vai discutir o Tratado de Repressão ao Tráfico de En-torpecentes”. Eu disse a ele: “Mas, Paulo, eu sou especialista em comércio inter-nacional, não tenho nada a ver com o crime, não entendo de crime e não tenho

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contato com criminosos, nem para defendê-los”. Ele deu uma risada e falou:“Mas você não sabe: tráfico é um problema comercial e faço questão que vocêvá. É interesse nosso e precisamos de um especialista em Direito do ComércioInternacional.” Fui e descobri realmente que o Tratado, apesar de ter finalidadepenal de repressão ao crime, cuidava de problemas de comércio internacional.

Hoje os senhores me chamam novamente para falar de uma outraprática que também é penalizada, criminalizada, que é o contrabando. E outravez vejo que temos que tratar isso como um problema de Direito do ComércioInternacional, um problema jurídico que tem a ver muito mais com o econômi-co do que com o penal. Por quê? Por uma razão histórica muito importante:em todos os países do mundo houve uma fase em sua economia em que ocontrabando prosperou. Entre a França e a Espanha, por exemplo, toda acultura da região dos Pirineus se deu em uma região de contrabando. Passa-vam de um lado para o outro burros carregados com mercadorias, e isso nãofaz muito tempo. Nos tempos da Guerra Civil Espanhola, em 1939, por aí,isso estava acontecendo. Nos Estados Unidos, faz menos tempo ainda. EmChicago, com as gangues todas, era o contrabando da bebida, o tempo daproibição. Em outros lugares aconteceu.

Aqui, por exemplo, o homem que tentou fazer a primeira leva deindustrialização no Brasil, Barão de Mauá, cujo pai era contrabandista e mor-reu perseguido por uma patrulha, não se sabe se do Uruguai ou do Brasil,numa operação de contrabando. E a mãe, que não podia criar todos os filhos,colocou Mauá como grumete no navio de um tio, ele veio para o Rio de Janei-ro e se tornou uma das figuras mais importantes, Barão, Conde do Império,criou bancos e estradas de ferro e teve uma vida de industrial.

Então o contrabando faz parte da história, ele é um fato da históriae não podemos tratar de Direito sem levar em conta os fatos. Meu professorde Filosofia do Direito, Miguel Reale, dizia que Direito é fato, valor e norma.O fato está aí: contrabando é parte dos costumes e dos hábitos e as pessoaso fazem por quê? Porque ele traz uma vantagem econômica e as pessoasbuscam vantagens econômicas. Então é um dado com o qual temos quelidar, porque é um dado forte. Ele mexe com uma coisa forte dentro das

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pessoas que é a ambição, a vontade de ganhar dinheiro, então o cuidado dolegislador tem que ser maior, porque ele enfrenta uma força muito grande,maior do que outras.

O que colocamos contra isso? Colocamos um valor, que é o respeitoao sistema jurídico. E o valor do respeito ao sistema jurídico hoje é muito maisamplo do que a constituição de cada país. Ele começa com a existência de umaconstituição da humanidade que é a Carta das Nações Unidas, onde estão osdireitos e deveres das pessoas. Essa é a Constituição da Humanidade. Ela tor-nou possível criar o Tribunal de Roma que permitiu levar as pessoas a Nuremberge que inspira as constituições de todos os países. Então esse é o texto fundamen-tal de toda a humanidade, constrói-se a partir daí o Direito. Depois há normascomerciais: o Código Comercial do mundo é a OMC, assim como a lei bancáriado mundo é o convênio entre o FMI e o Banco Mundial.

Dentro desse princípio de que a OMC é o nosso Código Comercial,temos também regras regionais que são as da Aliança Latino-Americana de LivreComércio, da parte do Nafta, da União Européia e do nosso Mercosul. Vou falardo nosso Mercosul, mas é importante sabermos que ele faz parte de uma estruturamais ampla, que é a OMC, com cujos princípios ele está de acordo. A OMC tempor fundamento as idéias remotas de livre comércio do Stuart Mill e de seus suces-sores. Portanto idéias de que o comércio internacional deve ser livre.

Hoje se fala em neoliberalismo econômico, que não é a mesmacoisa que neoliberalismo político. O neoliberalismo econômico é o tratodo comércio internacional em termos de liberdade de circulação de mer-cadorias, e também de estabelecimento dos controles que sejam necessá-rios para assegurar valores que são importantes para toda a humanidade:igualdade, desenvolvimento, acesso ao conhecimento. Todos esses valo-res têm que ser resguardados dentro de uma visão moderna do que é aliberdade de comércio, que não pode ir contra esses valores, os quais nãose opõem à liberdade de comércio.

Então o Mercosul inspira-se nisso. Ele não é uma fortaleza, não é umobstáculo ao comércio exterior, é um veículo para facilitar o comércio exterior.Como tal, ele obedece às suas próprias razões. Dentro do Mercosul temos

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esse conjunto de valores globais, adotados pelos seus quatro membros e pe-los dois países que estão se associando ao Mercosul.

Além disso, temos valores intrínsecos de cada país. Esses são valoresde curto e de longo prazos, são objetivos nacionais importantes de cada um. OBrasil hoje enfrenta, por exemplo, a crise de energia, como os senhores viram. Acrise de energia é resultado de uma escassez de recursos que fez com que fos-sem privilegiadas educação e saúde em detrimento dos investimentos em ener-gia. É uma escolha política? É. Há quem não goste dela? Há. Há quem gostedela? Há. Foi uma escolha política e temos que pagar o seu preço. Já o fizemosno momento em que votamos nas pessoas e não podemos reclamar se votamosnelas, porque foi a nossa escolha e cada vez que votamos fazemos uma escolha.No Paraguai também há suas escolhas, assim como na Argentina e no Uruguai.Cada um tem escolhas locais, nacionais, que devem ser respeitadas.

Dentre esses valores, há um que é fundamental: cada um desses pa-íses quer alcançar o seu crescimento, desenvolver o pleno emprego e aumen-tar o nível de vida de seus habitantes. E todos vão se bater por isso. Qualquermedida que proponhamos e que vá contra esses valores vai encontrar umobstáculo ou terá que ser acompanhada de alguma espécie de compensaçãopara que alguém aceite. É uma questão de comércio. É de valores? É, mas éde comércio também.

Então, se eu quisesse, por exemplo, enveredar pelo caminho da cri-ação, em todos os países, de controles na exportação diretamente sobre oscigarros, impostos à exportação de cigarros, eu encontraria resistência porparte dos participantes. Por exemplo: os países que têm uma indústria cres-cente se oporiam porque diriam: estou desenvolvendo uma renda nova, umacapacidade de produção e de geração de emprego, e você quer pôr um obs-táculo. Isso não é possível.

Então já devemos imaginar desde logo que as coisas que se chocamcom esses valores têm que ser consideradas com muito cuidado, quem sabeaté esquecidas.

Teríamos que buscar alternativas operacionais que pudessem serusadas e que fossem convenientes a todos. Uma das coisas que é possível

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seria atacar imediatamente o problema da contrafação dentro de um desen-volvimento do próprio esquema da existência do Mercosul, que prevê, alémda harmonização das legislações, uma convergência institucional. Tudo re-comenda que no momento em que o Mercosul não pode discutir temas deoutra natureza, porque há países que têm crise, vá para temas especializados.Um deles seria a criação de um bureau ou oficina de administração e con-trole de marcas. Isso é muito mais amplo do que cigarro, muito mais amplodo que fumo; isso é indústria fonográfica, livros, design industrial, e essebureau deveria ser um organismo supranacional com ação em todos os pa-íses do Mercosul. Pequeno, sem muito pessoal, usando os recursos locaisde cada país, mas deveria funcionar. Deveria ser criado esse bureau. Namedida em que existisse esse bureau que controlasse o uso de marcas emtodo o Mercosul seria impossível alguém fazer uma contrafação, porquehaveria possibilidade de qualquer vítima de qualquer um dos quatro paísesconseguir dos outros imediatamente uma ação, sem entrar em jogo qualquerinteresse nacional, porque ela recorreria a um organismo supranacional parafazer isso. Uma idéia seria, por exemplo, que ele fosse composto por funci-onários públicos de cada país cedidos em comissão, que iriam, ganhando oque ganham no próprio país, trabalhar para esse bureau.

O bureau pode ser descentralizado. Hoje em dia, querer mudar aspessoas de lugar para trabalhar é bobagem. Trabalhamos por meio eletrônico,em contato permanentemente. Tenho um filho que mora no exterior e o vejotodo dia. Uma câmera que me custou R$190,00, colocada sobre o meu com-putador, e outra no dele nos permitem falar e nos vermos. Estamos conversan-do como se estivéssemos em contato, mais do que se ele estivesse em SãoPaulo. A mesma coisa pode ser feita.

A minha universidade tem, por exemplo, uma sala de conferência eletrô-nica e fazemos cursos e seminários com outras universidades sem ter mais quegastar dinheiro com passagem, com hospedagem que não podemos pagar, usan-do isso. Quer dizer, é possível trabalhar à distância e trocar informação na existên-cia de um ambiente virtual e o funcionário tem a facilidade de estar junto de suafamília, de seus amigos, prestando serviço para um organismo internacional.

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Para os estados, não há custo adicional, porque é importante empaíses que atravessam crises econômicas e que querem cortar despesas. Cadaum estaria ganhando na sua própria repartição o que sempre ganhou, só esta-ria trabalhando numa divisão separada, não mais de sua repartição, mas de umorganismo internacional.

O que faria esse bureau? Ele faria fiscalização, repressão e controle.Como esse bureau poderia se manter com as despesas que ele tem? Ele po-deria apor um selo de origem do Mercosul. As mercadorias que são doMercosul, que têm marcas válidas e padrões de qualidade no Mercosul, teri-am um selo que seria posto em todo produto. Isso é para os organismos dareceita de todos os países uma vantagem excepcional, porque esse selo servetambém como informação estatística do volume de produção, portanto servecomo mecanismo de controle do pagamento de impostos. Se a fábrica “x” doBrasil pede a emissão de setenta milhões de selos para colocar no seu produ-to, é sinal de que vai produzir setenta milhões de cigarros. Então posso con-trolar e ter certeza de que ela vai recolher o IPI correspondente aos setentamilhões de cigarros dos selos que ela requereu. Nisso também não há dificul-dade, porque esse selo pode ser fornecido por via eletrônica. Aliás, temos umexemplo no correio dos Estados Unidos em que qualquer pessoa pode impri-mir um selo na sua própria carta por via eletrônica, na sua impressora. Ocorreio controla e não perde um centavo. A mesma coisa pode ser feita poresse bureau, que teria uma arrecadação que lhe permitiria pagar todas asoperações. Ele não representaria um ônus para ninguém. E mais, aumentaria aarrecadação da receita em todos os países e permitiria um controle eficaz dasmarcas dentro do Mercosul.

Então é de interesse da indústria, da Receita e é um mecanismo po-tente contra a contrafação. Liquida o assunto da contrafação. Se não tem oselo de qualidade do Mercosul, não existe, então a mercadoria pode ser apre-endida. Então entra em funcionamento o sistema penal. É a coisa mais simplesdo mundo passar alguém numa padaria ou quiosque que venda cigarros edescobrir cigarros sem o selo. Basta chamar o delegado de polícia ou o Minis-tério Público e autuar o comerciante pela prática de receptação. Está lá no

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Código Penal que quem quer que tenha mercadoria advinda da prática de umcrime comete um crime e vai preso. Com a devida publicidade, acaba o pro-blema. Vamos conseguir que, não havendo distribuição, o produto não possaser vendido. Haverá uma forma de controle visual e fácil. O próprio contribu-inte poderá fazer isso. Se alguma indústria estiver interessada, por exemplo, ade discos, ela diz: se você descobrir onde se vendem discos, informe pelotelefone tal e ganhe um prêmio. A indústria poderá depois acionar a polícia, oMinistério Público para resolver isso.

O bureau teria também uma atividade de investigação. Ele teria umaatitude ativa para verificar nas indústrias, fazendo inspeções, se estão colocan-do ou não a marca e se há uma correspondência entre o volume da produção,compra de matérias-primas e insumos equivalente ao volume de selos adquiri-dos e usados. Ele teria um banco de dados e uma função de informação quetrocaria com todas as demais autoridades da Receita interessadas sob todosos aspectos, provinciais, estaduais, municipais e federais, em fazer isso. Eletambém teria uma função policial, coordenaria a ação das polícias nisso, entãoelas ampliariam, porque qualquer produto que possa ter uma marca pode serobjeto dessa inspeção. Por exemplo: a repressão do tráfico de armas ficafacilitada por aí, e o Mercosul já tem acordos nesse sentido que serãocomplementados e tornados eficientes dessa forma. O Tratado de Viena, de1988, nos dá o modelo perfeito do que pode ser feito nessa matéria. Tendotudo isso, a repressão se torna fácil.

Quais são as vantagens políticas e operacionais disso? O Mercosultem precedentes, isso é coerente com a OMC porque favorece o livre comér-cio, não contraria o tríplice, porque protege as marcas; restringindo-se à mar-ca, não suscita dificuldades para nenhum dos países, não atrapalha nenhumplano econômico de ninguém, pelo contrário, facilita, impede atividades falsas,porque há regras de origem que permitem controlar isso, e permite que, mes-mo que haja inércia ou pouca vontade de algum órgão de autoridade, qualquerpessoa do povo possa acionar isso e fazer funcionar.

Qual é a desvantagem? Esse sistema foca-se apenas no aspecto decomércio que é a marca que identifica o produto. Por isso mesmo, ele deve

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ser visto como parte de uma política que é composta de building blocks, querdizer, vamos ter os nossos tijolinhos que vamos usar para fazer uma políticamaior. Esse é um dos tijolos.

Qual seria o segundo tijolo? Seria valorizar esse selo como uma marcade qualidade do Mercosul. Esse é um sonho, por exemplo, do EmbaixadorBotafogo, que sempre fala que devemos ter uma marca de qualidade. Isso épossível e o selo ajuda muito, facilita muito.

Podemos buscar uma série de outras coisas dentro da construçãodesse sistema de building blocks. Então a criação desse sistema de marcas ede outros pode permitir mais tarde a criação de um sistema de controle dalogística. Temos hoje agências que cuidam do transporte e que poderiam fun-cionar concertadamente com as dos vizinhos. Todo o nosso transporte fluvial,ferroviário ou rodoviário poderia ser controlado em comum. Em havendo essaagência que controla o comércio e as pessoas que vão fazer o transporte,junta-se com a outra e isso pode funcionar.

Esse sistema tem uma vantagem porque, cuidando exclusivamentedo comércio, não representa nenhuma ameaça à privacidade, porque não cui-da de fatos pessoais de cada um, mas apenas de atividades comerciais. E elenão viola o sigilo comercial ou industrial das empresas. Então é um sistema quetem poucas resistências e várias facilidades.

Preferi, nesta apresentação, contar apenas uma das possíveis coi-sas, porque o tempo é limitado, então coloquei para os senhores algo queme parece mais interessante, viável e fácil de fazer, que seria até um bomimpulso dentro do Mercosul. Seria um auxílio a vários setores da indústriae do comércio, uma coisa bem vista dentro do Mercosul por todos queestão aqui, bem vista por todos aqueles que fazem comércio conosco equerem proteger as suas marcas, que querem proteger a identidade e apatente de seus produtos e seria útil para aumentar a arrecadação e dimi-nuir a prática do crime.

Muito obrigado.Clecy Maria Busato Lionço – Muito obrigada, Dr. Luiz Olavo.

Passo a palavra agora ao Conselheiro Carlos Márcio Cozendey.

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Carlos Márcio Cozendey – Obrigado. Gostaria inicialmente deagradecer à ESAF e à Receita Federal, que organizaram este Seminário, peloconvite e por permitir ao Itamaraty dirigir-se a esta platéia e tentar expor oudar uma noção do que é o Mercosul hoje e que conseqüências – esta seria aparte mais importante – a existência do Mercosul como um projeto para oBrasil traz tanto no tema específico do Seminário como também no tema daatuação mais geral dos setores de aduanas, de tributação e de controle dospaíses que fazem parte do Mercosul.

Como vocês sabem, o Mercosul é hoje uma área de livre comércio,no sentido de que as tarifas e barreiras comerciais formais dentro da regiãoforam eliminadas, a não ser no setor de açúcar (que depende ainda de umanegociação específica por ser um produto sensível em alguns países doMercosul) e no setor de automóveis (que está sujeito a uma disciplina própria,um comércio que também é baseado em tarifa zero, mas com um regime pró-prio de regulação do comércio).

É claro que dentro dessa situação de livre comércio existe uma sériede regulamentos de comércios que continuam a existir – como é natural, ques-tões de controle sanitário, controle de comércio de armamentos, regulamentosde segurança, etc. –, que são normalmente utilizados por todos os países domundo e aceitos tanto pela regra do Mercosul quanto pela da OMC. Às ve-zes, a possibilidade de adotar outros regulamentos pode dar origem às cha-madas restrições não-tarifárias em algum setor que possa gerar algum impedi-mento. Em princípio, como regra, como compromisso dos países, o livre co-mércio está hoje estabelecido entre os países do Mercosul.

O Mercosul também já é uma união aduaneira imperfeita, no sentidode que existe uma tarifa externa comum definida; existe um programa de con-vergência dessa tarifa externa comum; os países, nas suas tarifas de importa-ção para produtos que vêm de fora da região, têm que cobrar a mesma alíquotapara o mesmo produto; os países têm ainda listas de exceção a essa tarifaexterna comum – assim, tanto por esse aspecto de exceções à tarifa externacomum quanto pelo fato de que não foram ainda harmonizados todos os regi-mes especiais de importação, há possibilidade de que, embora formalmente

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dois países do Mercosul tenham a mesma tarifa, um deles conceda um regimeespecial de importação (portanto, o produto entre sem pagar essa tarifa inte-gral). Esses regimes especiais de importação ainda não foram totalmente har-monizados, assim como algumas políticas comerciais que deveriam ser co-muns numa união aduaneira, como é o caso da defesa comercial, ou mesmoda defesa da concorrência.

É nesse sentido que falamos que há uma união aduaneira imperfeita,ou seja, há uma certa disciplina da política comercial aplicada por esses paísesno sentido de que as decisões têm que ser tomadas em comum, mas há diver-sas áreas onde ainda não foi possível avançar nessa estratégia de estabeleci-mento de políticas comuns.

O Mercosul tem enfrentado, neste ano particularmente, uma situa-ção bastante difícil em função das dificuldades econômicas dos sócios. Com-parativamente, hoje, em termos econômicos, o Brasil está em melhor situaçãoeconômica. Assim mesmo, lemos ontem nos jornais que estamos indo para arecessão e que não estamos numa situação tão melhor assim, como pensáva-mos inicialmente.

De qualquer maneira, a crise, sobretudo na Argentina (que é a se-gunda economia em tamanho dentro do Mercosul), gerou a necessidade deque o governo daquele país busque soluções emergenciais ou que permitamao país voltar a crescer. Dentro dessas soluções imaginadas pelo governoargentino, ele considerou que haveria necessidade de flexibilização de algumasdas regras do Mercosul temporariamente. Então adotou-se uma redução dastarifas de importação Argentina, para a extrazona, para bens de capital com oobjetivo de reduzir o custo do investimento e incentivar os empresários a in-vestirem na Argentina; e, por outro lado, um aumento, além dos níveis combi-nados na tarifa externa comum, das tarifas para os bens de consumo, dando,portanto, uma proteção extra para os setores de produção de bens de consu-mo do mercado argentino com a tentativa também de expandir a produção aoreduzir as exportações.

Sem discutir o mérito dessa medida, ou seja, se ela cumprirá ou nãoos seus objetivos pretendidos pelo governo argentino, houve um pedido da-

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quele governo no sentido de que considerava que aquilo era uma parte crucialdo seu programa de recuperação. Nesse sentido, o Brasil e os demais paísesdo Mercosul concordaram, por meio de uma reunião do Conselho de Minis-tros do Mercosul, foi aprovado um chamado waiver, ou seja, uma permissãopara que a Argentina se afastasse das regras da tarifa externa comum tempo-rariamente, até o final do ano de 2002, para esses produtos, que cobremcerca de 30% das linhas tarifárias.

Mais recentemente, também o governo do Paraguai (em função dacrise econômica decorrente da situação da Argentina, em conseqüência dacrise da Argentina sobre o próprio valor do real e da sua desvalorização emrelação ao dólar) considerou necessário criar uma proteção temporária paraas suas indústrias locais. Estabeleceu um imposto temporário ao comérciointernacional que se aplica também ao comércio intrazona, contrariando asregras de livre comércio prevalecentes na região.

Por sua vez, o governo uruguaio adotou uma medida similar à da Argen-tina, de redução dos impostos de importação sobre os bens de capital, e o Brasil,mais recentemente, reduziu as alíquotas para medicamentos e insumos de medica-mentos para evitar que houvesse uma elevação de preço desses bens essenciais.

Estamos hoje no momento de equacionar ou discutir como essasmedidas excepcionais e temporárias serão tratadas dentro da normativaMercosul –, se haverá um reconhecimento recíproco e, digamos, um waivercoletivo para dar conta dessas necessidades, ou se eventualmente essas medi-das serão contestadas ou não serão aceitas.

O fato é que essas são as excepcionalidades temporárias que emnenhum momento, de parte de governo algum, significaram um pronunciamen-to no sentido de afastamento dos objetivos iniciais do Mercosul – ou seja,todos os países, quando as assumiram, disseram que essas são medidas tem-porárias, circunstanciais, excepcionais. Assim que a situação melhorar ou dentrode um prazo já previsto voltaremos à normalidade do Mercosul e prosseguire-mos com o projeto, que é a manutenção da área de livre comércio, construçãoe aperfeiçoamento da união aduaneira para chegar um dia a constituir um ver-dadeiro mercado comum.

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O que coloca para nós e para as administrações nacionais a realidadeda existência desse projeto de união aduaneira? O projeto de união aduaneiraencaminhado ao mercado comum implica uma crescente coletivização das deci-sões, em particular as decisões das administrações, começando, sobretudo, pelaárea de comércio exterior (mas é bom lembrar que hoje em dia, com ainterpenetração entre comércio internacional e economia interna cada vez maiscrescente, os temas que estão relacionados com comércio exterior têm conse-qüências em outras atividades dentro da economia). Portanto, o objetivo de teruma política comercial comum influencia não só a autonomia de decisão dospaíses na área de comércio exterior, mas progressivamente também nas outrasáreas. Isso é assim no nível da OMC. Não é à toa, portanto, que na rodada doUruguai foram criadas disciplinas sobre assuntos que antes eram tratados comotemas internos (como é o tema dos regulamentos sobre investimentos, da rela-ção entre comércio e meio ambiente, da propriedade intelectual, que adquiriuuma importância crescente no cenário internacional). Ou seja, a regulamentaçãointernacional do comércio internacional vai crescentemente enfocando tambémoutras áreas que têm a ver com a regulamentação interna.

Se isso acontece no nível internacional, quanto mais no nível regional.Então, é preciso que as administrações nacionais estejam inteiradas, ou seja,conheçam os compromissos e as disciplinas que estão sendo criadas no nívelregional e internacional, para poderem atuar de melhor forma na defesa dosinteresses nacionais. Quer dizer, a defesa dos interesses nacionais deixa de pas-sar apenas por verificar qual é a melhor norma, a melhor tática, a melhor políticano nível nacional, para ver como essa melhor tática, essa melhor política, essamelhor norma se insere no contexto das obrigações regionais e internacionais.

Então uma área como a união aduaneira, que está diretamente ligada àatividade de comércio exterior, seja no Mercosul, seja no nível da OMC, vai terque levar em consideração, nas suas decisões e na sua formulação de políticas enormas, quais são os compromissos que existem no nível regional e no nívelinternacional. Esses compromissos refletem não só concessões que um país fazao outro, mas também interesses que esse país vê contemplados nos compro-missos dos outros parceiros. Portanto, é um jogo de interesse mútuo.

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Tentando nos aproximar progressivamente do tema deste Seminário,na área da cooperação aduaneira, o Mercosul, ao se propor a ser uma área delivre comércio, uma união aduaneira, evidentemente o tema das aduanas desdeo início da constituição do Mercosul foi enfocado. É importante lembrar que oMercosul não pretendia ser apenas uma área de livre comércio, no sentido deque se eliminam os impostos, mas se mantêm os mesmos controles de fronteira;pretende ser uma união aduaneira, onde a circulação seja livre – portanto, que ocontrole seja feito apenas nas fronteiras externas do Mercosul.

Esse é um processo lento, que tem uma série de pré-requisitos paraser realizado. Mas, nesse meio tempo, existiu a idéia de que se deveria facilitaro comércio e agilizar o tema dos controles no comércio bilateral. Então foicriada a idéia de que houvesse aduanas integradas. Temos hoje, com os vizi-nhos do Mercosul, e eles entre si, uma série de pontos de fronteira onde fun-cionam áreas de controle integrado, ou seja, onde os dois países realizam, nomesmo lado da fronteira, determinados tipos de controles aduaneiros, sanitá-rios e fitossanitários. Isso é regulado pelo chamado Acordo de Recife e peloProtocolo do Acordo de Recife, que regula como essas áreas de controleintegrado devem funcionar, estabelece as disciplinas e os compromissos decada país a esse respeito.

Tem sido um esforço constante no Brasil, e da Receita Federal, pormeio da área aduaneira, assegurar uma correta implementação dessas áreasde controle integrado para que elas possam ser efetivamente um instrumentode agilização do comércio nas fronteiras. É claro que há dificuldades de diver-sas ordens. Houve dificuldades legais que foram sendo vencidas pouco a pou-co. Por exemplo, como fica a situação do funcionário que vai estar no outropaís, mas exercendo funções de controle de acordo com a sua própria legisla-ção; questões mais práticas, de como implementar uma linha telefônica brasi-leira do lado argentino; ou temas desse tipo e questões propriamente orça-mentárias. Essa é uma implementação que exige recursos não só materiaiscomo também humanos para que funcione corretamente.

Os temas da cooperação aduaneira e o próprio acompanhamentode implementação nas áreas de controle integrado dentro do Mercosul são

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acompanhados pelo Comitê Técnico nº 2, que é coordenado pela ReceitaFederal. No âmbito desse Comitê, surgiram as iniciativas de harmonização denormas dentro do Mercosul e de cooperação na área aduaneira. Há hoje umasérie de normas comuns na área aduaneira, embora as administrações adua-neiras tenham permanecido nacionais. Portanto, não há uma administraçãoaduaneira comum, mas há uma série de normas que procuram harmonizar osprocedimentos, por exemplo, na área de valoração aduaneira, e na área deprocedimentos operacionais aduaneiros propriamente ditos.

O Mercosul procurou desenvolver também, no momento em que sedefiniu a tarifa externa comum, um código aduaneiro para que essas quatroaduanas atuassem de maneira harmônica, visando ao momento em que sejapossível instalar uma verdadeira união aduaneira, onde os controles sejam fei-tos apenas nas fronteiras externas do Mercosul.

A primeira tentativa de criar um código aduaneiro enfrentou difi-culdades (até porque foi feita de maneira bastante acelerada para dar con-ta da inauguração da união aduaneira), e foi necessário fazer uma extensarevisão dessa primeira tentativa. Essa revisão continua em curso e conti-nua a ter essa perspectiva, ou seja, preparação do Mercosul como uniãoaduaneira integral. Evidentemente, quando esse exercício puder ser con-cluído, será necessário verificar se todas aquelas pré-condições, como,por exemplo, a questão dos regimes aduaneiros especiais, já estarão re-solvidas para que o Mercosul possa funcionar verdadeiramente como uniãoaduaneira única. Caso ainda não estejam reunidas essas condições, even-tualmente serão necessárias determinadas regras de transição – ou seja, asaduanas individualmente aplicarão certas regras desse código aduaneiro enão aplicarão algumas outras.

Também foi desenvolvido, a partir do esforço do Comitê Técnico nº2, o Protocolo de Cooperação Aduaneira com relação a ilícitos aduaneiros.Já nos aproximamos mais do tema do Seminário. É um protocolo basicamentede cooperação, pelo qual os países se comprometem a que as suas aduanascooperem no combate aos ilícitos por meio de troca de informações e outrasatividades a serem desenvolvidas.

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Obviamente, é um protocolo que estabelece as linhas gerais dessacooperação, mas a cooperação efetiva depende de uma implementação e deuma operacionalização. Recentemente, ouvimos falar do caso dos cigarros etivemos algumas dificuldades em obter informações na área do combate aotráfico de cigarros.

Mais recentemente, foi criado também (com o pensamento de que oComitê Técnico tinha uma função bastante operacional, ou seja, bastante técnica,de lidar com a construção dessa normativa comum) o Comitê de Diretores deAduana, que seria encarregado de realizar uma discussão mais política dos temasaduaneiros e de linhas de atuação na área aduaneira, tanto no aspecto de constru-ção da cooperação do Mercosul quanto no aspecto mais específico de dificulda-des no acesso a mercados (quer dizer, situações que são criadas pelo fato de queas aduanas ainda não são integradas, são nacionais, o que pode vir a criar dificul-dades para o comércio entre os estados pares). A Dra. Clecy é quem coordenado lado brasileiro, e é a titular desse Comitê no caso do Brasil, então entende bemmais do que eu as atividades que estão sendo desenvolvidas ali.

É importante trazer para vocês a informação de que, no primeirosemestre deste ano, em função da percepção do crescimento da importânciado tráfico de cigarros, o Brasil sugeriu ao Grupo do Mercado Comum quefosse discutido, no Comitê de Diretores de Aduanas, um programa de traba-lho global para criar uma cooperação mais efetiva dentro do Mercosul nocombate ao contrabando em geral e dos cigarros em particular, que é um dosprincipais problemas nessa área.

Esse programa foi discutido dentro do Comitê de Diretores de Adu-anas. Foi preparado um programa de trabalho com uma série de ações aserem desenvolvidas na área de cooperação. Algumas terão resultadosnormativos (ou seja, a criação de normas do Mercosul), e outras terão resul-tados operacionais em termos de cooperação entre as áreas envolvidas nocombate aos ilícitos.

Esse programa foi aprovado pelo Conselho do Mercado Comumem junho, em Assunção, e esperamos que possa agora começar a serimplementado nas suas diversas vertentes.

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Passando mais especificamente para o caso dos cigarros e como eletem repercutido no Mercosul, falei inicialmente que o Mercosul estabeleceucomo compromisso entre seus membros a criação de uma área de livre co-mércio. Isso implica a livre circulação dos produtos. Sabemos também – umaquestão bastante discutida no âmbito da União Européia – que na medida emque há maior facilidade de circulação e, correspondentemente, menor contro-le, pode haver, como subproduto, uma maior facilidade para o contrabando eoutros ilícitos aduaneiros. Então a questão nessa área do Mercosul, atualmen-te, está em encontrar o equilíbrio de um comércio que precisa ser livre paracumprir os objetivos desse esforço de integração, mas que, ao mesmo tempo,não deve ser uma oportunidade ou um incentivo ou um facilitador das ativida-des ilícitas e do contrabando.

Suponho que em painéis anteriores já tenha sido tratada a questãodo caso brasileiro. Como vocês sabem, foram adotadas duas medidas: a pri-meira, a questão do imposto sobre a exportação de cigarros do Brasil para ospaíses vizinhos, que estavam retornando por contrabando; e mais recente-mente, no final do ano passado, a criação também de um imposto de exporta-ção sobre os insumos para a produção de cigarros, já que havia sido consta-tado que esses insumos iam aos países vizinhos e retornavam também comocigarros contrabandeados.

Essa medida específica foi questionada por uma empresa uruguaia. Essaempresa uruguaia entrou com um procedimento de solução de controvérsia dentrodo Mercosul. Aqui vou abrir um parêntese bem específico para dizer que, dentrodo Protocolo de Brasília (que é o instrumento principal de solução de controvérsi-as do Mercosul), existem basicamente dois caminhos – existe um terceiro cami-nho, criado pelo Protocolo de Ouro Preto, que não vou comentar aqui.

Dentro do Protocolo de Brasília existem dois caminhos. Pelo primei-ro caminho, um governo assume determinada questão, considera que o outrogoverno não está cumprindo um determinado compromisso assumido dentrodo Mercosul e inicia um procedimento de solução de controvérsias. Esse pro-cedimento terá três fases: a primeira seriam as negociações diretas; na segun-da fase, esse assunto seria tratado pelo Grupo Mercado Comum, que é o

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órgão que reúne os governos dos quatro países do Mercosul, e na última fasepoderia haver recurso a um tribunal arbitral ad hoc – o Professor Luiz Olavojá participou de um deles –, sendo que o resultado desse tribunal arbitral éobrigatório para as partes.

O outro caminho é aquele pelo qual um agente privado (no caso,uma empresa) entra com uma representação junto à Seção Nacional do seuGrupo Mercado Comum, ou seja, os órgãos internos que naquele momentoacompanham o Mercosul participando do Grupo Mercado Comum, e alegaque está tendo um prejuízo porque o outro estado descumpriu alguma normado Mercosul. A Seção Nacional avaliará esse pedido, verá se ele é proceden-te, ou seja, se há dano a essa indústria e se realmente há indício de que foidescumprida uma normativa do Mercosul, e encaminha esse tema ao GrupoMercado Comum.

Ela pode fazer isso de duas maneiras: pode decidir realizar consultascom o país que estaria adotando a medida irregular ou pode diretamente levaro tema ao Grupo Mercado Comum.

No Grupo Mercado Comum, salvo a existência de consenso emcontrário, será criado, se não houver solução para a questão no âmbito doGrupo Mercado Comum, um grupo de especialistas para analisar a questão.Esse grupo não produzirá, como no caso do tribunal arbitral, um laudo obriga-tório. Ele produz um laudo recomendatório.

Se esse grupo de especialistas considerar que esse país descumpriua norma do Mercosul, provavelmente recomendará que o país retire aquelamedida ou que a adapte às normas do Mercosul. Diante dessa recomenda-ção, qualquer dos países do Mercosul pode pedir ao estado que estaria ado-tando a medida irregular que a corrija. Se essa correção não for feita em 15dias, então esse estado tem direito de recorrer, aí sim, a um tribunal arbitral.

Qual é a situação da reclamação da empresa uruguaia hoje? Ela re-clamou à Seção Nacional uruguaia, que considerou procedente a reclamaçãodessa empresa. A empresa alega que importava insumos do Brasil e que essesinsumos são importantes para definir a mistura, o blend, que ela utiliza nosseus cigarros. É uma empresa importante no mercado uruguaio, produz cerca

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de 80% do consumo daquele mercado e exporta basicamente para o Paraguai.A empresa alegou, então, que esse imposto de exportação brasileiro sobreinsumos, principalmente o tabaco, prejudicava a sua produção tanto no Uru-guai quanto para a exportação.

A Seção Nacional uruguaia considerou que, por um lado, isso cau-sava realmente prejuízo à empresa; por outro lado, que, pelas regras de livrecomércio do Mercosul, não poderia existir um imposto de exportação intrazona,muito embora o próprio Uruguai aplique imposto de exportação no caso decouros, por exemplo, para os países do Mercosul, inclusive para o Brasil.

A Seção Nacional uruguaia optou por levar o tema diretamente aoGMC, ou seja, não realizar consultas bilaterais com o Brasil. Esse tema foiexaminado no GMC, não houve solução do problema no âmbito do GMC, efoi criado, então, o grupo de especialistas, que provavelmente emitirá hoje,completados os 30 dias da sua constituição, a sua avaliação do caso.

Não posso prever qual será a avaliação do caso, mas a discussãoque houve no âmbito do grupo de especialistas levantou algumas questões quevou colocar em conclusão da apresentação, que são importantes para o temade que estamos tratando.

O primeiro sentimento que me vem da discussão do grupo deespecialistas é que uma questão que foi efetivamente levantada é a relaçãoentre a medida adotada pelo Brasil e as alternativas que havia a essa me-dida em relação a um esforço de cooperação prévia com os demais sóci-os. Efetivamente, teria que reconhecer que o Brasil não está numa situaçãomuito confortável, no sentido de que a medida foi adotada pelo Brasil semconsultas. Não foi uma medida tomada pelo Mercosul, mas pelo Brasil,como uma medida brasileira. Na verdade, as consultas ou os pedidos deinformação que foram feitos sobre a situação específica dessa empresasão posteriores a essa medida brasileira, então os especialistas pergunta-ram especificamente sobre essa questão temporal, indicando que aqui te-mos um problema – pelo menos no sentido de que não houve uma coope-ração prévia antes de tomar a medida.

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Por um lado, como vocês viram na descrição dos instrumentos deque o Mercosul dispõe hoje para essa cooperação, eles ainda são relativa-mente incipientes. Quer dizer, existe um protocolo de cooperação que aindarequer uma operação mais efetiva e um programa de trabalho que é recente,posterior a essa medida e em certa parte foi motivado por ela.

Por outro lado, as medidas de cooperação que seriam efetivas notratamento dessa questão, como, por exemplo, a própria oficina que foi citadapelo Professor Luiz Olavo ou algum tipo de cooperação mais direta, seriamnecessariamente intrusivas. Digamos que se tentasse fazer, no nível do Mercosul,o que tem sido feito no nível do Brasil para o controle de todas as etapas daprodução e comercialização de cigarros. Isso exigiria uma atuação dos outrospaíses, das outras administrações internamente para também ter a sua conta-gem de produção, o seu controle passo a passo da produção e dacomercialização de cigarros naqueles países. É uma coisa, portanto, que nãose faria muito rapidamente.

Então, na verdade, aqui surge a questão do ponto de vista legal emtermos de Mercosul: se o imposto de exportação for considerado efetivamen-te ilegal dentro do comércio do Mercosul – na medida em que haveria umcompromisso de livre comércio, portanto não se deveria utilizá-lo –, haveriajustificativa para adotar uma medida dessa ou não? Vamos examinar o artigo50 do Tratado de Montevidéu, que é, digamos, a cláusula que serve de basepara que, por exemplo, eu impeça a importação de carne com aftosa. Esseartigo prevê determinadas situações que, por razões de ordem pública, sesobrepõem aos compromissos de livre comércio.

Acontece que o artigo 50 não prevê explicitamente a questão do con-trabando, e muito menos a questão dos cigarros – o que nos coloca uma dificul-dade interessante que, como governo, teremos que lidar dentro do Mercosul,que é: o que acontece quando existe uma razão forte de ordem pública, como aquestão dos cigarros, que me leva a tomar uma medida que eventualmente con-trarie um compromisso na conformação da área de livre comércio? Existe umarazão maior de ordem pública que justifique essa medida ou não? Se essa medi-da não estiver explicitamente prevista no artigo 50, ela não poderá ser adotada?

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Isso é importante porque coloca questões que parecem óbvias, mas, seanalisarmos a legislação, coloca problemas. Por exemplo: a questão da falsificaçãoque estava sendo levantada. É claro que ninguém contesta no Mercosul que umaimportação sem documentação ou de um produto claramente falsificado seja im-pedida de entrar no país. Mas se formos procurar nas regras do Mercosul ondeestá escrito isso não encontraremos. Em princípio, você não poderia impedir essaimportação. Não existe uma cláusula, como, por exemplo, o artigo XX, “d”, doGATT, que permite adotar restrições para o cumprimento de outras legislações.

Então temos aí um problema legal. Não sei como o grupo de espe-cialistas vai reagir a essa situação, mas é um tema suficientemente complexo,que, no caso de uma resolução desfavorável do grupo de especialistas, jus-tifica ser levado a uma arbitragem ou a uma negociação bilateral específica.

De qualquer maneira, para concluir, fica claro – e volto ao pontoinicial – que, num esforço de criação de uma área de livre comércio, de umaunião aduaneira, se há uma percepção de que esse projeto é válido para oBrasil, isso significa necessariamente que as administrações nacionais têmcada vez mais que levar em conta as conseqüências regionais e internacio-nais das suas decisões. Portanto, o caminho que resolve o problema noMercosul passa necessariamente pela cooperação entre os quatro países. Amedida de imposto de exportação sobre insumos é necessariamente paliati-va, porque obviamente se encontram outros fornecedores de insumos e oproblema continua.

Concluo a minha exposição apenas ressaltando a necessidade deconscientização das administrações nacionais de que os problemas, no nívelregional, no mundo globalizado, têm que ser cada vez mais solucionados combase num esforço de cooperação. Obrigado.

Clecy Maria Busato Lionço – Muito obrigada. Vamos à sessãode perguntas.

A pergunta do Sr. José Henriques para o Dr. Luiz Olavo: “Não con-cordamos com a padronização de selos, pois prejudicaria nossos negóciosjunto a clientes da Private Labor, que é uma marca própria em países comoos Estados Unidos, além de ser uma forma fácil de se fraudar por falsificação

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muito comum no Brasil e no mundo. Gostaríamos de saber: em que países domundo essa forma foi adotada?”

Luiz Olavo Baptista – Duas coisas: se perguntássemos, a cadaprogresso, se alguém fez antes, não teríamos avião nem automóvel, o homemnão teria chegado à Lua. Há uma primeira vez para tudo. Aliás, se não hou-vesse uma primeira vez, nenhum de nós estaria aqui. Então acho que esse é umargumento que não podemos levar em conta.

Em segundo lugar, não se trata de um private labor, trata-se deum selo de qualidade. Por exemplo: na União Européia, os produtos quesão feitos lá estão marcados “Produzido na União Européia”. E a UniãoEuropéia exige regras de origem para isso. Então não há razão alguma paraque o Mercosul também não imponha que os produtos que são vendidos noMercosul tenham isso.

O problema da falsificação é técnico-operacional. A existência deum selo que marca um produto como de origem no Mercosul é ligada à pró-pria existência do livre comércio. Todas as normas de livre comércio do mun-do prevêem a existência de regras de origem. Está-se discutindo agora, dentroda OMC, a definição mais detalhada do que são as regras de livre comércio ede origem. Portanto as regras de origem vão determinar se um produto éoriginário de uma região ou não por várias razões: sanitárias, de saúde e parasaber se o país está cumprindo ou não o regulamento.

Então a minha impressão é de que continuamos numa posição dediscordância, porque os argumentos do senhor para dizer que a coisa não éaplicável não me parecem viáveis. Há meios tranqüilos de se colocar. Porexemplo: quase todas as fotografias digitais hoje trazem uma chamada marcad’água que é certificada por um certificado numérico que vale tanto quantouma assinatura eletrônica e que ninguém consegue modificar, porque sofrealterações periódicas que são conhecidas da autoridade, assim como a moe-da, que é papel impresso e não é falsificável.

Evidentemente, cada vez que faço um regulamento abro a oportuni-dade para uma infração. Isso faz parte da humanidade. Se eu tiver esse medo,então não devo fazer nenhum regulamento mais, deixo todos fazerem o que

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quiserem, porque não há infração.Clecy Maria Busato Lionço – Pergunta do Sr. Valdemir para o

Dr. Carlos Márcio: “Com o Mercosul, por que o cigarro produzido no Paraguaie Uruguai que ingressa no Brasil é considerado contrabando?”

Carlos Márcio Cozendey – Se esse cigarro entrar legalmente noBrasil, não será contrabando, uma vez que os impostos de importação estãoreduzidos a zero. A questão é que, ao entrar de maneira irregular, ele nãopaga também os impostos internos. Estes, sim, são nacionais de cada país enão estão harmonizados nem vão para nenhum fundo comum. Então, mes-mo no estágio de união aduaneira, em que os controles aduaneiros seriamreduzidos ao mínimo, em que não houvesse certificação de origem, etc.,ainda permaneceriam diferentes administrações tributárias nos países e ha-veria diferentes impostos internos. Portanto, a questão colocada é que oscigarros que saiam do Paraguai ilegalmente para o Brasil, ao não ser regis-trada a sua entrada, sem passar por um processo formal de importação,também não pagarão ICMS, IPI, PIS, Cofins e outros impostos. Nessesentido, é considerado contrabando.

Clecy Maria Busato Lionço – Uma pergunta do Dr. Patricio Ruedaspara o Professor Luiz Olavo: “Concordando com a muito interessante suges-tão sobre a criação do bureau em âmbito regional, mas limitando-nos no mo-mento ao tema do Seminário, não seria útil estabelecer no seio, por exemplo,da Secretaria da Receita Federal uma unidade de acompanhamento com aparticipação dos setores interessados, público e privado, para estudar e pro-por medidas concretas para lutar contra o contrabando de cigarros?”

Luiz Olavo Baptista – É útil sim, mas vou dizer por que estou falan-do uma coisa que parece não tem a ver com o cigarro. É uma história quesempre conto. Todos os meus clientes enjoaram de ouvir essa história. Meu avô,que era um imigrante italiano, comprava carne de um outro imigrante. Eu ia muitocom ele ao açougue e um dia, como sou um sujeito observador, curioso e façoperguntas para saber, perguntei ao açougueiro: Seu Afonso, por que o senhorafia menos a faca do que os outros? Ele falou: “Menino, porque sou um bomaçougueiro. Eu corto onde a faca não encontra resistência. Ela não perde o fio.”

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Quando faço uma norma, uma legislação, um contrato, uso o quechamo hoje de princípio do Seu Afonso: corto onde a faca não oferece resis-tência e chego aonde quero. Controlar a marca é mais fácil do que controlar ocontrabando, mas, controlando a marca, controlo o contrabando. Então che-go onde quero pelo princípio da menor resistência. É isso.

Clecy Maria Busato Lionço – O Sr. Josemar Dalsóquio perguntaao Dr. Carlos Márcio: “As dificuldades adicionais surgiram com a criação dasfronteiras, com a implementação das aduanas integradas, que são cópias domodelo da União Européia. Na verdade, na União Européia, são aduanasjustapostas. No Mercosul, não poderíamos avançar mais significativamentecom um processo próprio?”

Carlos Márcio Cozendey – Teríamos que pensar qual seriaesse processo próprio. Na medida em que essas aduanas ainda existem eque o controle de comércio na fronteira dos países do Mercosul aindaexiste — volto a lembrar, na medida em que a união aduaneira não funcio-na ainda de maneira perfeita... Idealmente, como funciona uma união adu-aneira? Você paga o imposto de importação uma vez para entrar em qual-quer um dos quatro países, depois o produto circula livremente, o quecoloca problemas relativos à distribuição dessa renda aduaneira, mas esseé outro dos problemas que teriam que ser resolvidos na implementação deuma união aduaneira verdadeira.

A par desse problema, isso implica que os quatro países cobrem amesma tarifa pelo mesmo produto, porque se você puder entrar com umatarifa menor em um dos quatro países você entrará por ali, depois passarápelos outros países pagando uma tarifa menor. Então o imposto não cumpriráa sua função de proteção de determinado setor.

Na medida em que existem ainda regimes aduaneiros especiais dife-rentes nos quatro países do Mercosul, em que ainda é possível, por exemplo,fazer drawback e exportar para o Mercosul – vou usar o drawback, que éum exemplo mais geral –, se uma empresa brasileira importa os insumos comsuspensão de pagamentos de impostos e exporta isso para a Argentina, esseprodutor não pagou tarifa sobre os seus insumos. Ele terá uma vantagem

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competitiva em relação ao produtor argentino, que eventualmente produzapara o mercado argentino e que pagou esses impostos ali. Disso decorreu quenão haja atualmente livre circulação no sentido de o produto passar sem con-trole. Para passar pela fronteira e não pagar tarifa, ele tem que mostrar umcertificado de origem para comprovar que o produto foi feito no Brasil e nãoque veio de outro lugar. Se vier de outro lugar, ele terá que pagar de novo,porque não sei se ele já pagou alguma vez ou não.

Então, o modelo das áreas de controle integrado buscava, dentrodessa permanência das aduanas, uma forma de agilizar. Como a própriapergunta coloca, não é exatamente a mesma coisa da União Européia, e amaneira de implementar está muito ligada às tradições de cada uma dasaduanas, das agriculturas e das saúdes desses países. Por exemplo: o Bra-sil tem um controle sanitário, feito pelo pessoal da saúde presente nas fron-teiras, maior do que nos outros países. Às vezes, isso coloca um proble-ma: vai haver gente da saúde, não vai haver. Se não tiver, não adianta,porque quando sair da fronteira, dali a dez metros, vai ter que parar denovo para haver o controle da saúde.

O objetivo é reunir o maior número de iniciativas ou de idéias possí-vel para facilitar essa passagem sem comprometer os controles que são feitosali. Para pensar se seria possível um outro modelo, primeiro teríamos que verque outro modelo seria, para saber se ele é viável.

Clecy Maria Busato Lionço – O Sr. Alberto Paguzi, da Argenti-na, pergunta ao Professor Luiz Olavo: “O sistema proposto para a proteção amarcas poderia ser estendido ao controle da produção de cigarros e ao con-sumo? Poder-se-ia responsabilizar países ou pessoas jurídicas dos demaispaíses do bloco por impostos evadidos pelo contrabando de suas marcaspara um determinado país?”

Luiz Olavo Baptista – Sim. Se tivermos uma regulamentação únicade marcas dentro do Mercosul, ela será aplicada automaticamente pelos juízesnacionais. As regras do Mercosul têm aplicação direta e imediata, uma vez queentram em vigor. Na medida em que eu só possa vender produtos que tenhamuma marca registrada, tenho como evitar a contrafação. Ao mesmo tempo, com

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a existência de uma certificação de origem que o produto tenha, posso controlaro volume de produção e evitar que haja o contrabando. Pelo controle do volumede produção, sei para onde a coisa vai ou não, se ela pagou imposto ou não. Istoé, ela me dá os traços da direção que a mercadoria toma. Então a soluçãoatende perfeitamente a proteção da indústria de cigarros.

Só queria fazer uma observação que é um pouco marginal e tem aver com essa questão do imposto de exportação sobre o fumo. Tenho atéestudado um pouco essa matéria por solicitação de uma das indústrias dofumo que me pediu para estudar em geral os problemas ligados ao Mercosul eao fumo, quero deixar isso bem claro.

Examinei um pouco esse problema do imposto de exportação e achoo seguinte: quando temos um processo internacional, há duas coisas, a condi-ção de admissibilidade do processo e o direito da pessoa de reclamar. Elasestão sempre ligadas.

Todos os membros do Mercosul são parte da OMC. Dentro dasregras da OMC, existe uma que diz que, na interpretação dos princípios daOMC, aplicam-se os usos e costumes internacionais em matéria de tratados.E há uma decisão do órgão de apelação da OMC dizendo que os artigos, senão me engano, 32 e 33, ou 22 e 23, da Convenção de Viena, sobre ostratados são aplicáveis. Esses artigos falam da interpretação dos tratados edizem que devem ser interpretados em boa-fé. Dentro da interpretação deboa-fé dos tratados, que é a mesma interpretação de boa-fé que se faz doscontratos privados, há uma regra antiqüíssima que veio do Direito Romano nosentido de que quem não cumpre uma cláusula de um contrato não tem direitode exigir do outro que cumpra a outra cláusula do contrato. Isso existe emtodos os sistemas jurídicos do mundo e aplica-se aí também.

Então o Uruguai, que aplica impostos de importação sobre o couro,não pode reclamar que o Brasil aplique impostos de importação sobre outroproduto. É tão simples quanto isso. O problema nem precisava ter chegado aopainel, porque não há condição para propor a ação. A minha opinião é essa.

Temos um problema sociológico brasileiro: queremos criar uma nor-ma nova quando já a possuímos, só temos que procurá-la. Há tanta lei no

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mundo que sempre achamos uma que resolve o nosso problema. Com umpouco de paciência, inteligência e investigação, acha-se a resposta.

Clecy Maria Busato Lionço – Obrigada. Dr. Carlos Márcio, per-gunta do Sr. Luiz Bernardi: “Qual a sua opinião sobre a autocertificação dacomprovação de origem no Mercosul?”

Carlos Márcio Cozendey – A questão da autocertificação de ori-gem – vamos deixar claro o que ele está falando – relaciona-se àqueles certi-ficados que mencionei há pouco, como esse controle que ainda existe noMercosul. Atualmente, só fica isento de tarifas no Mercosul o produto que éefetivamente produzido em um dos países do Mercosul ou pelos países emseu conjunto. Para isso, existem regras que determinam se aquele produtocumpre origem ou se é na verdade importado de um terceiro país e apenasembalado em um país do Mercosul.

Para atestar que esse produto é realmente produzido por um país doMercosul, existe um mecanismo de certificação de origem que, no caso doMercosul, seguindo a tradição da Aladi e, de certa maneira, a tradição euro-péia, é um procedimento feito com base em certificados de terceira parte. Oprodutor pede a uma entidade que certifique que o seu produto realmentecumpre origem a partir das informações que ele fornece.

Hoje, no caso do Brasil, as entidades que emitem o certificado deorigem para o Mercosul ou Aladi são em geral as federações de indústria ou asassociações comerciais dos estados. Essas federações têm um procedimento esão obrigadas a manter os registros dos certificados que emitem e a documenta-ção que as empresas lhes enviam para pedir essa certificação de origem.

Alternativamente, há esquemas como no Nafta, onde se trabalhacom a autocertificação — ou seja, o próprio produtor emite um atestado deque ele cumpre aquela regra de origem determinada na legislação ou noacordo internacional.

Tanto num caso como no outro, a questão está em saber se há meca-nismos de controle adequados dessa certificação. O problema é saber se hámecanismos, recursos humanos e instrumentos legais para evitar que sejam fei-tas certificações fraudadas. Acho que não existe uma questão intrinsecamente

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melhor num ou noutro sistema, desde que haja uma capacidade de controleadequada tanto do ponto de vista de fiscalização, ou seja, pessoas que verifi-quem, quanto do ponto de vista legal, isto é, capacidade de responsabilização.

Os mecanismos de autocertificação tendem a exigir uma legislaçãomais intrusiva em termos de controle. No Nafta, por exemplo, pode haverinspeções diretas de autoridades norte-americanas no México, e mexicanasnos Estados Unidos, para verificar na empresa se ela realmente faz aquilo queestá dizendo que faz. É preciso haver um bom sistema de responsabilizaçãoposterior (ou seja, aquele que, efetivamente, for pego descumprindo tenhauma punição correspondente), senão desacredita todo o sistema.

Achar que a certificação por terceira parte é necessariamente maisgarantida, não é. Acho que não há um benefício intrínseco na certificação porterceira parte, nem na certificação por uma parte.

Os defensores da certificação por terceira parte alegam que essesistema ajuda as empresas menores, porque elas não têm condições deconhecer bem o sistema de origem, não vão saber fazer a certificação e,com as federações, as empresas teriam ajuda para fazer esse procedimen-to de certificação.

Os defensores da autocertificação, por outro lado, vão dizer quecada empresa vai produzir dois, três, quatro ou cinco produtos e só tem queaprender três ou quatro regras de origem, não todas para todos os produtos.

É uma questão que hoje está em aberto, está sendo discutida naAlca. Até em função da discussão na Alca, ela repercute no próprio Mercosul– ainda de forma muito incipiente – e deveria repercutir na União Européia,mas vamos esbarrar na tradição européia, que é ainda mais rígida. Por exem-plo: no caso do SGP comunitário, exige-se uma certificação governamental –ou seja, há dificuldades até para a própria delegação para entidades privadas.Então a União Européia, numa boa tradição do Direito Romano, exige umacerta cartorização do processo.

Na hora de decidir para que sistema se vai, será complicado. Isso,porque se está ao mesmo tempo com a União Européia, com os EstadosUnidos e com o Mercosul. O fato de haver um sistema para cada uma vai

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gerar uma dificuldade muito grande, porque teria que haver o sistema de con-trole correspondente a cada uma delas.

Clecy Maria Busato Lionço – Muito obrigada. O nosso tempoesgotou. Temos duas perguntas aqui, do Sr. Amarildo Saque e da Dra. Mariado Carmo, mas tenho a impressão de que de alguma forma elas já foramrespondidas pelo Dr. Luiz Olavo. Queria pedir permissão a eles e à platéiapara usar mais um pouquinho do tempo para fazer uma outra pergunta: duran-te esses dois dias, verificamos várias situações da influência da taxação doscigarros como motivadora do contrabando e vimos também que há uma dis-crepância muito grande de tributação entre os países do Mercosul. Argentina,Uruguai e Brasil têm mais ou menos a mesma taxa, que é de 69% a 70%, salvoengano, mas o Paraguai tem uma taxação muito menor, de 13%. Como osenhor vê essa questão? Seria interessante, possível, necessário padronizaressa carga tributária na produção de cigarros?

Luiz Olavo Baptista – Isso é útil e não é fácil. A União Européia estábrigando com a idéia de padronizar os seus impostos há um bom número deanos. Eles têm discutido a taxa de valor acrescido da União Européia e têmtentado uma aproximação com grande dificuldade porque o imposto tem finali-dades que são tributárias na arrecadação, mas tem também uma finalidadeparafiscal, quer dizer, você quer obter um outro efeito que não é arrecadar di-nheiro, mas impedir o consumo da mercadoria por alguma razão ou estimular.

Há uma famosa lei econômica, formulada teoricamente e testadaempiricamente, que é a Lei de Laffer, um economista austríaco que não é paren-te do nosso Ministro das Relações Exteriores, em que ele diz que todo agenteeconômico faz um exercício de cálculo do custo/benefício de não pagar o im-posto. Isto é, se pagar o imposto custa menos para ele do que sonegar, ele pagao imposto. Se sonegar for melhor, ele corre o risco e não paga o imposto.

Então toda vez que a taxação é muito elevada, o agente econômicodiz: vale o risco. É um risco calculado que ele corre, porque sabe que nenhumsistema de arrecadação é tão perfeito que alguém não escape disso e acha,como todos nós, que é imune. Não há ninguém que acredite que vá morreramanhã, e alguém morrerá amanhã. Todos acham que não serão pegos por

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uma fiscalização, e um dia serão. Isso faz com que ele faça esse cálculo docusto/benefício, então há um problema. Há países que dizem: prefiro cobrarmenos e ter certeza de que arrecado. Outro diz: não, tenho um mecanismomais eficiente de arrecadação e posso garantir que recebo. Isso leva a queseja muito difícil harmonizar. Seria o ideal, porque se houvesse isso não have-ria o contrabando, os interesses seriam iguais.

Pode ser até que o governo do Paraguai se convença, como o gover-no brasileiro, o da Argentina e o do Uruguai, de que é um produto absolutamen-te inelástico – vejo isso porque minha mulher teve que operar uma carótida, omédico disse que a obstrução foi causada pelo consumo de três maços de cigar-ros por dia, e ela continua a fumar os mesmos três maços, então a inelasticidadeé absoluta. Se for um produto tão inelástico como esse, é um produto ideal parase taxar, o que aumenta a arrecadação, por isso mesmo é um item importantenos orçamentos dos três países. Se não fosse tão importante, não haveria esteSeminário e a Receita não estaria interessada nisso, ela ignoraria. Se eu pegarum produto absolutamente elástico como o feijão e taxá-lo em 60%, deixo decomer feijão, vou comer lentilha, até gosto mais.

Então as pessoas têm que ver que é importante o problema daparafiscalidade e os efeitos que vão ocorrer. Por isso acho difícil.

Clecy Maria Busato Lionço – Muito obrigada. Agradeço aospalestrantes por suas excelentes intervenções, agradeço à platéia pela paciên-cia em esperar pelo coffee break e dou por encerrado este painel.

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Moderador:

DEOMAR VDEOMAR VDEOMAR VDEOMAR VDEOMAR VASCONCELLOS DE MORAES ASCONCELLOS DE MORAES ASCONCELLOS DE MORAES ASCONCELLOS DE MORAES ASCONCELLOS DE MORAES - Coordenador-Geral de Pesquisae Investigação da Secretaria da Receita Federal / Brasil

Palestrantes:Palestrantes:Palestrantes:Palestrantes:Palestrantes:

VVVVVANESSA PIEPENBURGANESSA PIEPENBURGANESSA PIEPENBURGANESSA PIEPENBURGANESSA PIEPENBURG - Aduana/Departamento do Tesouro / Estados Unidosda América

FEDERICO VFEDERICO VFEDERICO VFEDERICO VFEDERICO VARGAS RODRIGUEZARGAS RODRIGUEZARGAS RODRIGUEZARGAS RODRIGUEZARGAS RODRIGUEZ - Oficial da Inteligência/Aduana / México

Painel X

EXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBAEXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBAEXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBAEXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBAEXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBATE ÀSTE ÀSTE ÀSTE ÀSTE ÀSFRAUDES NO SETOR DE CIGARROS – EUA E MÉXICOFRAUDES NO SETOR DE CIGARROS – EUA E MÉXICOFRAUDES NO SETOR DE CIGARROS – EUA E MÉXICOFRAUDES NO SETOR DE CIGARROS – EUA E MÉXICOFRAUDES NO SETOR DE CIGARROS – EUA E MÉXICO

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Mestre de cerimônia – Apresentaremos agora, no Painel X, o temaExperiências de Controle e Combate às Fraudes no Setor de Cigarros – Esta-dos Unidos da América e México.

A Mesa do seminário será composta pelas seguintes autoridades:Dr. Deomar Vasconcellos de Moraes, Coordenador-Geral de Pesquisa e In-vestigação da Secretaria da Receita Federal, Presidente da Mesa, que será oModerador deste painel; Dra. Vanessa Piepenburg, Aduana do Departamen-to do Tesouro dos Estados Unidos da América; Dr. Federico Vargas Rodriguez,Chefe do Departamento de Investigações da Aduana do México.

Passamos a palavra ao Dr. Deomar Vasconcellos de Moraes.Deomar Vasconcellos de Moraes – Bom dia a todos. Cumpri-

mento a Mesa, Sra. Vanessa Piepenburg, Dr. Federico Vargas Rodriguez. Dandocontinuidade ao nosso evento, temos neste Painel X o tema Experiências deControle e Combate às Fraudes no Setor de Cigarros, experiência americanae experiência do México.

Como primeiro palestrante, temos a Dra. Vanessa Piepenburg, que éOficial de Inteligência no Combate ao Contrabando de Cigarros e membro daDiretoria do Serviço de Inteligência da Aduana dos Estados Unidos. Traba-lhou na aduana americana com casos de narcóticos, “lavagem” de dinheiro efraudes. Nos últimos três anos, trabalhou com casos de fraudes no setor decigarros. É membro da força-tarefa da aduana americana contra fraudes no

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setor de cigarros. Essa força-tarefa trabalha em conjunto com as agênciasnacionais de combate ao álcool, tabaco e armas de fogo, agências reguladorasestaduais e organismos internacionais, como a aduana canadense, a Real Po-lícia Montada do Canadá e a União Européia, visando combater as fraudes nosetor de cigarros em todo o mundo.

Com a palavra a Dra. Vanessa.Vanessa Piepenburg – Muito obrigada. Gostaria de agradecer ao

governo brasileiro, ao Ministério da Fazenda, à ESAF e aos coordenadores eorganizadores deste evento. Gostaria de dizer que é uma honra ter sido convi-dada para falar com vocês em nome da alfândega norte-americana. Antes decomeçar, gostaria de dar a vocês uma idéia da magnitude do que lidamos naalfândega norte-americana.

A alfândega é a segunda maior fonte de renda para os Estados Uni-dos. Geramos US$ 22,1 milhões de renda para o meu país. Estamos apenasatrás da Receita Federal. Num dia típico de trabalho, a alfândega norte-ame-ricana examina mais de um milhão de passageiros, mais de dois mil aviões,16.196 caminhões e contêineres, 348 veículos, cinco mil embarcações e 59mil entradas. É realmente um volume de trabalho muito grande.

Também num dia típico de trabalho, fazemos seis mil apreensões,apreendemos cerca de US$500 mil em moeda, cerca de US$500 mil emmercadorias e quatro mil quilos de narcóticos. Isso é o que acontece quasediariamente. Também fazemos 128 apreensões que não estão relacionadas anarcóticos nem à moeda. São as apreensões de outras mercadorias.

Vou passar meu endereço, e gostaria que todos tivessem a oportuni-dade de escrever, o endereço é, [email protected], que é o e-mailda nossa sede em Washington.

Essa força-tarefa foi iniciada em janeiro deste ano e compreende asagências de alfândega e também tem um serviço de inteligência. Temos análi-ses internas. Vocês podem ver ali? Está bloqueado pelas bandeiras, mas acre-dito que todos possam ver.

A força-tarefa contra o tabaco foi iniciada nas alfândegas america-nas quando percebemos que precisávamos ser mais agressivos ao combater o

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contrabando de cigarros não somente nos Estados Unidos, mas em todo omundo. Uma das coisas que sentimos é que os Estados Unidos são o trânsitopara o contrabando de cigarros que passam pelo meu país e vão para o Cana-dá, para o sul do México e também para a Europa. Esses cigarros entram pelonosso sistema e também existe evasão de impostos.

Quem está, alegadamente, envolvido no contrabando de cigarros?A Itália, a Rússia, a Ásia, o México e outros grupos transnacionais étnicos decrime organizado. Ouvimos muitas apresentações durante esses dois últimosdias e queremos agora enfatizar alguns outros pontos diferentes para que vocêstambém saibam da experiência norte-americana.

Também há organizações terroristas, por exemplo, o Exército Re-publicano Irlandês, que está envolvido no contrabando de cigarros, e diriaque nos últimos seis meses tenho visto muitos artigos da República deMilosevitch dizendo que essa república também está envolvida no contra-bando de cigarros. Temos alegações de contrabando de cigarros que saemda Iugoslávia e também temos um poder de polícia que tenta combater to-das essas atividades. Devemos apontar o dedo para nós também, porque nanossa alfândega temos alguns problemas com corrupção, não somos perfei-tos, e isso também acontece em outros países. É uma questão com a qualtambém precisamos lidar.

Por que o contrabando de tabaco especificamente? Para se livrardos impostos, tarifas e outras obrigações financeiras. Já ouvimos muito sobreisso. Os lucros são tão grandes quanto os lucros com os narcóticos, e ofereceum meio para se “lavar” o dinheiro vindo dos narcóticos.

Quando falei primeiramente sobre o nosso dia típico de trabalho,estamos mais concentrados nos narcóticos, é uma das nossas missões primei-ras, mas não quero ignorar as outras mercadorias ilegais que entram no meupaís. Somos responsáveis por tudo, mas a linha principal de nossa concentra-ção são produtos ilegais. Temos também outras agências com poder de polí-cia que nos ajudam a combater esse tráfico.

Recentemente, estive conversando com o Diretor do Quartel de Frau-des e ele me deu estatísticas de que a fraude dentro da alfândega representa 5%.

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Passei alguns meses trabalhando na fronteira e vi que existem real-mente várias apreensões e essas estatísticas são verdadeiras. Temos, sim, muitoscasos de fraudes nas nossas agências, temos também agências dedicadas aacabar com a fraude seja de cigarros ou de narcóticos, mas 5% são realmenteuma porcentagem muito grande. Existem muitos recursos dedicados a esseprograma, e algo em que realmente estamos trabalhando bastante é educar aspessoas para que elas saibam o que estão procurando quando trabalham como contrabando de cigarros.

Outra questão é a percepção de que os políticos não são tão pode-rosos para combater o contrabando de cigarros. Essa é uma afirmação muitoforte. Temos alguns problemas porque o contrabando de cigarros é realmenteuma ofensa criminal, você pode ser preso durante 25 anos. As penas vão deUS$5 mil a US$20 mil, e se você é pego fazendo “lavagem” de dinheiro apena é muito maior. Se você está lidando com produtos falsificados, tambémestá fazendo contrabando. Então, quando trabalhamos nesses casos, tenta-mos implementar ou fazer funcionarem as nossas normas. Isso é muito impor-tante. Essa é a diferença no sentido de que estamos educando as pessoas paraserem fiscais contra a fraude e contra a atividade de contrabando. Tambémestamos tentando dar um sentido forte de que é realmente importante traba-lhar contra isso.

Gostaria de falar sobre a entrada do tabaco nos Estados Unidos. Em1990, muitos estados tiveram muitos processos legais contra os produtores decigarros nos Estados Unidos, porque as despesas médicas estavam aumen-tando uma vez que os usuários de cigarros estavam ficando mais doentes. Em1998, o estabelecimento de tabaco foi atingido quando todos os estados eprodutores conseguiram pagar uma taxa de US$ 0,50 por maço. Esse estabe-lecimento tinha intenção de financiar os programas de redução de fumo e desaúde para fumantes.

Para dar uma idéia das nossas taxas, não são tão complicadas comoas canadenses, mas, por contêiner, as taxas federais norte-americanas chegama aproximadamente US$125 mil. Nos Estados Unidos temos cinqüenta esta-dos, e cada estado tem a sua própria lei, isso então muda de estado para

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estado, mas em geral são US$125 mil por contêiner. Na Europa seriam ummilhão de dólares americanos por contêiner, e, no Canadá, aproximadamente1,27 milhão de dólares, e não acredito que isso tenha modificado nos últimosanos, ou talvez tenha modificado, não tenho a cifra exata, mas podemos com-parar e dizer que as nossas taxas são bem menores.

Novamente, para dar uma idéia, o preço médio de um contêiner decigarros seria de US$250 mil. E o de um pacote de cigarros seria US$0,56.

Algumas das questões que nós enfrentamos nos Estados Unidos. Seos cigarros feitos nos Estados Unidos já foram exportados anteriormente, elesnão podem entrar novamente no país. Isso vale desde 31 de dezembro de1999. Todos os cigarros importados, incluindo as marcas americanas, estãosujeitos a tarifas, a impostos e a estabelecimentos financeiros dentro dos Esta-dos Unidos. Os aumentos nas taxas de cigarros estaduais impõem uma amea-ça contra o contrabando. Temos um problema muito menor do que no Cana-dá, mas outra coisa que gostaria de dizer é que nós tivemos muitas apresenta-ções boas e as pessoas já estão aqui ouvindo isso há dois dias, mas gostariade dar outras informações.

Em novembro de 2000, fizemos algumas modificações nas nossastaxas de importação de cigarros, que eram chamadas Ato de Obediência àsTaxas de Importação. Primeiramente, se vou importar cigarros, preciso teruma licença, preciso ter uma autorização da Secretaria de Tabaco. Precisosubmeter uma lista de ingredientes desse cigarro para a Secretaria de Saúdee para os Serviços de Saúde. Em segundo lugar, deve haver um aviso doMinistro da Saúde, dizendo que aquele pacote de cigarros está não-tóxico.Finalmente, precisamos ter um plano. Juntamente com a Comissão Federal,temos quatro avisos do Ministro da Saúde. Essa é uma taxa pequena, masexistem quatro avisos que precisam ser escritos e é preciso haver um planopara a comercialização desses cigarros se eles forem aprovados. Essa éuma questão muito séria e trabalhamos com isso várias vezes.

A Phillip Morris veio aqui, vocês escutaram as palestras, precisamosentrar no mercado, precisamos trabalhar com a Phillip Morris para que elaimporte cigarros saudáveis. A Phillip Morris pode, por exemplo, autorizar ou-

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tro importador a importar seus produtos, com a garantia de que são produtosseguros e que podem entrar no país.

Os Estados Unidos são um país fonte para o mercado negro decigarros. Também estamos lidando com outras atividades criminais, enquan-to combatemos o contrabando de cigarros, ou seja, para fazer essa ativida-de contra o contrabando, também lidamos com narcotráfico. O contraban-do de cigarros é tão lucrativo quanto o tráfico de narcóticos, por isso traba-lhamos juntos. Nossa experiência pode mostrar que estamos de acordo comos palestrantes anteriores, mas temos a mesma situação de todos os outrospalestrantes. Fomos atingidos por esse problema do contrabando, produtosfalsos entrando no país.

O que vemos no contrabando de narcóticos, diferente do de cigar-ros, e vou falar sobre isso mais tarde, é que o contrabando de narcóticos temum esquema mais sofisticado e vemos mais pessoas utilizando a nossa zona decomércio, os nossos sistemas para fazer com que os cigarros entrem nos Es-tados Unidos e em outros países.

Temos as zonas de comércio internacional, as zonas de comérciointerior e o movimento de cigarros contrabandeados, utilizados para entrarnos Estados Unidos. Temos muitos estados do país com grandes taxas e gran-des impostos, impostos caros para os cigarros. Trabalhamos juntamente coma alfândega canadense e com a Polícia Montada canadense. Estamos aumen-tando e fortalecendo as nossas fronteiras com o México para acabar com ocontrabando que vem daquele país. Temos contrabandistas que, porque nãoconseguem entrar no nosso país, ficam no México, então temos que determi-nar o que está acontecendo.

Outra coisa que vemos é que, quando eu comecei a ter experiênciacom o contrabando de cigarros, as apreensões que pude fazer estavam relacio-nadas a cigarros que não eram de marcas famosas e essa é a nossa grandepreocupação. Eu moro em São Francisco, então não consigo saber de outrasfronteiras ou portos, mas também vemos a remoção dessas marcas, as caixasque estão chegando das zonas internacionais ou das zonas internas. Há marcasque são utilizadas para rastrear os navios e isso foi feito dentro das zonas inter-

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nacionais ou dentro das zonas internas e é uma atividade legal, podemos retiraressas marcas. Ou elas são retiradas na alfândega, ou são retiradas no depósito.Esse é um problema, porque vemos também a manipulação dos produtos.

Não temos um oficial de alfândega fisicamente nesses lugares, nãopodemos fazer verificações, inspeções, não podemos examinar a mercadoriauma por uma, porque temos deficiência de equipe, mas existem muitas opor-tunidades para as pessoas que querem estar envolvidas no comércio internaci-onal para falsificar documentos, é muito fácil para essas pessoas mover ascoisas, tirar uma marca de cigarros ou acidentalmente estar carregando cigar-ros falsificados. Também vemos que temos muitas exportações de mercadori-as falsas. Temos documentações que dizem que três contêineres estavam comtelevisões, mas na verdade estavam cheios de cigarros, ou ao contrário. Fo-mos inspecionar contêineres que tinham cigarros, e, quando chegamos lá, erauma informação falsa, tinham televisões. Então é muito difícil. Estamos enfren-tando problemas nessa área e com documentos falsificados. É realmente umgrande problema para nós.

Uma das outras coisas que vemos é que temos um depósito em LasVegas que foi assaltado. As pessoas foram colocadas lá dentro como reféns eo que roubaram foram apenas os cigarros. Eram contrabandistas.

O papel da alfândega norte-americana. Novamente, estamos na fron-teira e precisamos ter competência nesses lugares. Por exemplo: trabalhamoscom as agências de poder de polícia contra as drogas, mas se os narcóticospassam pela fronteira temos que acabar com isso e vamos tomar as medidasnecessárias para tanto. Apreendemos mais drogas do que cigarros diariamen-te, mas internamente apreendemos vários tipos de mercadorias. Estamos, tam-bém, investigando a “lavagem” de dinheiro internacional e aqueles 5% de frau-des que mencionei anteriormente.

Do lado do fisco, sei que fizemos um comentário sobre a Austrália,que lá abriram um navio de cigarros contrabandeados, mas eles não tinhamautoridade para fazer isso, porque não havia nada que pudessem fazer. Oscigarros falsificados tiveram que seguir o seu caminho, porque a Austrália nãotinha autoridade para apreendê-los, mas uma das coisas que consideramos

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quando lidamos com o contrabando de cigarros é que se os cigarros estãotransitando pelo meu país, pelos Estados Unidos, sim, temos a responsabilida-de de inspecionar. Se esses cigarros vêm da Europa, se vão para o México,mas passam pelo meu país, e, se abro uma caixa e encontro falsificação, possoapreender essa mercadoria, tenho autoridade para isso.

Um dos esforços que estamos envidando, e já mencionei anterior-mente, é que estamos estabelecendo uma força-tarefa contra o contrabandode tabaco. Estamos coordenando todas as investigações das alfândegas emrelação a produtos de tabaco. Começamos em janeiro deste ano e estamostrabalhando bastante nos últimos meses. Houve um caso em Boston, um casoem Los Angeles, e, às vezes, apesar da distância entre os lugares, esses casosestão ligados. Então é uma força-tarefa não-operacional, mas está muito en-volvida, está envolvida agressivamente na comunicação com a União Euro-péia, com a Aladi, estamos trabalhando juntamente com os canadenses, ava-liando as fronteiras norte-americanas e estamos abertos para qualquer outropaís ou organização que tenha dúvidas ou que queira nos ajudar e comparti-lhar informações. Trabalhamos junto com as organizações contra tabaco, ar-mas e álcool e também fazemos apreensões dessas mercadorias. Quanto maispessoas tivermos, melhor nós estamos. Quanto mais serviço de inteligênciativermos, melhor estamos e mais idéias teremos para que possamos desenvol-ver o nosso trabalho.

Essa é uma estatística interessante que foi apresentada pela força-tarefa contra o tabaco, e sou responsável por disseminar essa informação. Ocontrabando de tabaco, álcool e armas está estimado em US$300 milhões aoano, isso durante os últimos três anos. As agências estaduais estão perdendoaproximadamente US$1 bilhão anualmente em impostos.

Algumas das tendências de importação. O estabelecimento de tabacoentre os estados e os grandes manufaturadores de tabaco resultou em uma de-cadência dramática nas taxas de cigarros exportados. Isso só acabou com amudança dos estatutos em dezembro de 1999. Não estávamos mais autoriza-dos a fazer isso. A importação de cigarros estrangeiros começou a aumentardrasticamente em 1999, notadamente em reação a essa legislação que mencio-

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nei anteriormente. Esses cigarros vinham de países que não eram exportadorespara os Estados Unidos anteriormente e isso continua sendo uma tendência queestamos enfrentando. Novamente, estamos vendo um aumento das importaçõesque primariamente eram de marcas norte-americanas, desde 2000, um aumentodos importadores e produtores de cigarros norte-americanos. Estamos toman-do conhecimento de narcotraficantes, “lavadores” de dinheiro e outras ativida-des criminais que agora estão envolvidas também na exportação de cigarrosfalsificados para os Estados Unidos. Uma das coisas que encontramos deincomum é que esses importadores só trabalham com dinheiro, eles estão fazen-do negociações sem transferência de bancos, sem cartões de crédito, só traba-lham com dinheiro “vivo”, especificamente para contrabandear cigarros.

O uso das zonas de livre comércio. As nossas fronteiras do sul estãoenfrentando um grande aumento das importações de cigarros e os nossos grandesportos de entrada para cigarros são Miami, Fort Lauderdale, Charleston, LosAngeles, na Califórnia, e Newark, em Nova Jérsei.

Novamente, estamos enfatizando que os carregamentos de cigarrosque passam pelas zonas de livre comércio e pelas zonas internas e têm docu-mentos que são incompletos ou que contêm declarações falsas sãocontrabandeados. Os maços de cigarros foram tirados das caixas, por isso émuito difícil identificar onde foram manufaturados. Também há um aumentodos cigarros falsificados. Nos últimos meses isso tem aumentado bastante.

A produção mundial de cigarros, tem aumentado com os anos, Vemosuma tendência do mercado americano de cigarros desde 1995, mostrando quea produção, a exportação e o consumo estão declinando. As importações decigarros aumentaram 186% entre 1995 e 1999, e as importações em geral, queincluem cigarros entrando legalmente em depósitos internos, aumentaram 215%.

Acreditamos que os contrabandistas transnacionais estão pagandomenores taxas para entrar nos Estados Unidos, então estão exportando oucontrabandeando seus produtos para outros países. Os cigarros que entraramno nosso país não eram compatíveis com o nosso sistema comercial e estavamsendo “lavados” dentro dos Estados Unidos, no mercado negro, e os nossosprodutores estavam contrabandeando esses produtos, também estavam ex-

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portando para contrabandistas internacionais, sabendo que o seu produtopoderia voltar e ser vendido nos Estados Unidos novamente.

Outras razões possíveis para essa ascendência é que os produtoresnorte-americanos trocaram a produção doméstica para abastecer mercadosestrangeiros. Essas fábricas acham mais barato produzir assim. Também estamosvendo que os produtores estão exportando para comércio exterior e tirandoos cigarros dos Estados Unidos para vendê-los de volta no país.

No quadro abaixo está o nosso laboratório da alfândega dos Es-tados Unidos. Temos um em Nova Orleans, no endereço que vocês po-dem ver, em que estamos trabalhando – e acho que os laboratórios cana-denses também estão trabalhando com isso – com a construção de umalinha de base. Estamos analisando amostras de cigarros. Trabalhamos es-pecificamente com os cigarros.

Para os meus amigos da alfândega com quem estou conversando nosúltimos dias, aqui está uma foto de helicóptero e bote, que são os meios detransporte que estamos utilizando. Temos a sorte de haver recursos como essespara conduzir nossas investigações, mas acho que realmente estamos com sorte,porque podemos dispor desses recursos para inspecionar as fronteiras.

Gostaria de dizer que temos um adido em Montevidéu que está tra-balhando com o Brasil para compartilhar informações. O governo brasileirotem uma investigação em processo e concordamos com vocês, nós trabalha-mos juntos e pedimos para que o nosso adido faça esse trabalho de interme-diário entre o Brasil e os Estados Unidos.

Estou muito feliz por estar aqui no Brasil. Trabalhamos com o Brasil,Chile, Paraguai, Argentina e Bolívia. Em Caracas, na Venezuela, temos umescritório que abrange a Venezuela, o Equador, o Peru, o Suriname e as Guianas.Temos um escritório na Colômbia, em Bogotá, temos um escritório no Pana-má, temos três escritórios no México e todos eles podem ser encontrados napágina da alfândega norte-americana.

Vou deixar o resto do meu tempo para as perguntas. Não tenho maisnada a dizer. Obrigada pela atenção.

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Deomar Vasconcellos de Moraes – Agradecemos a brilhante ex-posição da Dra. Vanessa. Podemos observar que os problemas são análogosaos que possuímos em nosso país.

Dando continuidade, passamos a palavra ao Dr. Federico VargasRodriguez, que é licenciado em Comércio Internacional pelo InstitutoTecnológico de Estudos Superiores de Monterrey, organizador do CongressoInternacional de Comércio, Hemisférios sem Fronteiras, México, em 1999,Classificador de Mercadorias, trabalhando atualmente como oficial na área deinteligência no serviço de relação entre a aduana mexicana e a americana nacidade de Colombia, no México. Com a palavra o Dr. Federico.

Federico Vargas Rodriguez – Bom dia. Gostaria de agradeceraos organizadores do evento o convite feito ao Serviço de Administração Tri-butária mexicano e especialmente à área à qual eu pertenço, de AdministraçãoCentral e Fraude Alfandegária.

Esta é a minha primeira vez no Brasil e, sinceramente, estão me tratan-do muito bem, de forma que não tenho dúvida de que quando vocês forem aoMéxico serão tratados da mesma forma. Valéria, Ana Carolina, Rosa e todos osparticipantes e palestrantes, obrigado. Para mim é um orgulho, aos meus 23anos de idade e no começo da minha carreira como funcionário público, ter aoportunidade de estar presente neste Seminário e compartilhar com todos essesgrandes palestrantes que sem dúvida alguma têm muita experiência.

Como vocês sabem, o México está experimentando uma transiçãode governo. Durante os últimos setenta anos, fomos governados pelo mesmopartido político, o Partido Revolucionário Institucional. No ano passado, opartido da oposição, o Ação Nacional, liderado pelo licenciado Vicente Fox,ganhou a eleição e com esse novo governo veio a nova administração alfande-gária federal.

Sinto-me mal dizendo isso, mas precisa ser dito. O México sofreudurante muito tempo um terrível problema de corrupção. De fato, ontem ouanteontem, no coquetel, eu estava conversando com meu companheiro daEspanha, Félix Perez, e mencionava como um funcionário público do Méxicopodia ser facilmente relacionado com aquela palavra propina, suborno.

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Diante desse grande problema de corrupção, era impossível lutar contrao contrabando. Os próprios funcionários públicos da alfândega propiciavam esseilícito, por isso mesmo o novo Presidente propôs que o pessoal da alfândega fosseformado por pessoas recém-saídas da universidade, bem como gente preparada,com vontade de trabalhar, principalmente gente honesta e com valores. Ele nosdeu um exemplo: era preferível um caminhão de contrabando atravessar a fronteirapor falta de experiência de um jovem, de um guri, como somos conhecidos lá, doque um funcionário corrupto deixar passar esse mesmo caminhão.

Dos 48 administradores da alfândega do México, foram demitidos45. E as novas pessoas que foram contratadas a partir de dezembro do anopassado, com o novo governo, deram resultados impressionantes na luta con-tra o contrabando. De fato, pela primeira vez os Estados Unidos se aproxima-ram de nós para tentar chegar a um acordo de troca de informações que serárealizado na terça e quarta-feira da semana que vem, na alfândega mais impor-tante do nosso país, a de Nuevo Laredo.

Temos em nosso país 48 alfândegas. As mais importantes são as dafronteira norte, as que fazem fronteira com os Estados Unidos, sendo a maiora de Nuevo Laredo, com a travessia de caminhões, a de Tijuana, porque dooutro lado está San Diego, com um maior número de veículos, Reynosa, entreoutras. Entre as marítimas, a de Cancún, Acapulco – vocês já devem conhe-cer muito bem essas praias – Manzanillo, esta seria a mais importante.

As últimas administrações foram problemáticas, com muita corrupção,e continuamos lidando com essa alfândega de Manzanillo. Na semana anteri-or, fizemos uma grande apreensão de contêineres, para que vocês vejam aimportância dessa alfândega. Porém a mais importante é a da Cidade do Mé-xico. Na fronteira sul, são somente duas alfândegas.

As travessias pela fronteira norte com os Estados Unidos são de770 mil passageiros todos os dias. Em carga, na de Nuevo Laredo, seis miltravessias diárias, e nos aeroportos internacionais da Cidade do México, 140mil passageiros todos os dias.

Esses são dados de embargos realizados quando houve uma nota fiscalfalsa, quando se verificou uma falsificação de mais de 50% do valor da nota fiscal.

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No ano passado, houve 263 apreensões. O valor da mercadoria foi de 250 milhõesde pesos. Desde 1º de novembro até agora, houve trezentas ordens de apreensões,no valor de 345 milhões e 845 mil pesos, um aumento de mais de mil por cento. Nãoé questão de mágica, mas porque havia um problema gravíssimo de corrupção.

Oitocentas e vinte e quatro pessoas foram presas por esse problemade cigarros e também pelo transporte de armas e munições. O trânsito é umgrave problema que temos, 830 milhões de pesos nesse assunto de trânsito.No ano passado, 21 patentes foram canceladas, até agora já foram cancela-das 30, e outras 16 serão canceladas.

Foram estabelecidos 52 setores de investigação, entre eles o de ci-garros. Foram realizadas mais de cem reuniões com a Câmara Comercial paraavaliar a problemática do setor. Muitos observadores externos vieram com afinalidade de constatar as investigações realizadas. O setor de cigarros temobservadores em Nuevo Laredo, Ciudad Juarez e em Cancún, por onde vemmuita mercadoria de Miami.

Somos 6.300 funcionários, 1.300 na polícia fiscal, da qual tambémforam demitidos comandantes e outras autoridades. Eles são encarregados davistoria de veículos nas pontes da fronteira. Foram substituídos 918 funcioná-rios públicos por denúncias e principalmente por perda de confiança.

Contamos com o Programa ISO 9000 a partir da nova administra-ção. Esse certificado é dado a empresas ou instituições que têm uma qualida-de indiscutível. Três alfândegas do país já têm esse certificado: Águas Calientes,Guadalajara e Toluca. Estão em processo Colombia e Matamoros.

As estratégias para combater a fraude e o contrabando alfandegá-rio. Estamos nos concentrando na maquiagem dos produtos e estamos pres-tando muita atenção no trânsito de mercadorias. Quando os agentes alfan-degários suspeitam de alguma coisa, esse caminhão fica na lista negra. Nosoutros casos, ele não pertence a essa lista. Nas inspeções de domicílios, elessão vistoriados.

Temos um escritório com sede em Long Beach, Califórnia, com trêsrepresentantes. Long Beach é a linha de entrada de contrabando de roupausada e eletrônicos no México, por isso temos três representantes lá.

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A troca de informações com os Estados Unidos, como já mencionei,é importantíssima e também as melhorias no nosso sistema estão sendo leva-das a cabo continuamente.

Já foram permitidos os exames de polígrafo. Nos outros paísesnão são permitidos; no nosso, sim. Com isso, podemos chegar a demitir umfuncionário corrupto, bem como a capacitação que nos é dada desde a nos-sa entrada. Todos os dias há renovação e rodízio de pessoas. Os funcioná-rios não podem estar muito tempo numa mesma alfândega. Existe umarotatividade nesse aspecto.

Infelizmente não temos o mesmo equipamento que outros paísestêm para combater o contrabando. Ouvi que alguns países têm aviões, bar-cos e, naquela transparência, vi um avião, um barco. Conseguimos um equi-pamento móvel de raios-x para as alfândegas marítimas. Foi instalado emVeracruz, tem capacidade de registrar imagens e vistoriar trinta veículos porhora com até vinte milímetros de segurança. Da mesma forma, foi adquiridopara a Alfândega de Nuevo Laredo um equipamento fixo de raios-gama.Mais adiante vamos conseguir equipamentos semelhantes para outras alfân-degas, que têm a capacidade de registrar trens a 12 quilômetros por hora,com uma penetração de 160 milímetros de aço, balanças para pesar a mer-cadoria. Foram compradas quatro balanças: uma para Altamira, paraManzanillo, Nuevo Laredo e Veracruz.

O novo governo deu mais atenção às alfândegas. Somos uma dasentidades que arrecada mais impostos, por isso mesmo temos mais equipa-mentos e para o próximo ano espero que as outras alfândegas contem comesses equipamentos.

Estava falando que não foram gravadas as mudanças que foram fei-tas na apresentação, por isso é um pouco lento.

Agora vamos entrar no setor do tabaco no México. O setor de fumoproduz 48 bilhões de cigarros ao ano, que são divididos por duas empresas,geralmente: Cigarrera La Moderna e Cigatam. Cigarrera La Moderna contacom Lucky Strike e Cammel, que, no México, são bem aceitos entre as pes-soas de baixos recursos. Esses são cigarros sem filtro.

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Cigatam conta com uma das marcas mais aceitas no México,que é Marlboro, porém o interessante é que Cigarrera La Moderna geramais de quatro mil empregos diretos, e no campo são mais de trinta miltrabalhadores. No total, na indústria, trabalham mais de sessenta mil pes-soas. Por isso mesmo, essas práticas ilegais afetam toda a produção enão só o setor industrial.

Nas importações, dá para ver que as operações aumentaram des-de 1996, quando houve 76 operações de importações de cigarros, e em2001, até maio, houve 198 operações. Podemos ver igualmente o valor emdólares como aumentou com os anos. Os importadores registrados eram 17em 1996, e agora este número subiu para 152 importadores.

No México, há só nove alfândegas autorizadas a importar cigarros:Cancún, Ciudad Hidalgo, Colombia, Manzanillo, Nuevo Laredo, SubtenienteLópez, Tijuana, Veracruz e Aeroporto Internacional da Cidade do México.

Existe um problema grave com a Classificação de Cigarros. OCapítulo 24 da Tarifa Geral de Importações marca tabacos e seus deriva-dos. Temos duas frações: a 240210 e a 240220. A primeira descrevecharutos e cigarros, e a segunda, cigarros. O problema aqui é que a pala-vra cigarros é utilizada para descrever cigarros, e não charutos, como nosoutros países latino-americanos. Por isso, essas agências descrevem amercadoria e não valoram o significado dos charutos, que é 45%, e decigarros, 65% da mercadoria. Portanto existe um tratamento preferencialpara alguns países como Estados Unidos, que somente pagam 10%, Ca-nadá, da mesma forma, 10%, Nicarágua e outros países, como Brasil,Chile, Costa Rica, pagam 67%.

Uma norma sanitária do Departamento da Agricultura estabelecerequisitos mínimos aplicáveis a situações gerais que devem cumprir vegetais,seus produtos e os subprodutos que se quer importar. Essa norma é aplicávelàqueles produtos que no país no qual vão entrar seja exigido o cumprimentodos requisitos fitossanitários. A mais importante é a etiquetagem.

O Departamento de Economia estabelece que todos os produtos deconsumo final exportados para o México devem ter uma informação impressa

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na caixa. No caso dos cigarros, deve vir o código de produção nos lados dopacote, a marca, a apresentação, o tipo de tabaco, o número de maços porpacote, o número de cigarros por maço, a licença prévia de importação tam-bém e as notas de prevenção e advertência.

O Departamento de Saúde exige que os produtos que contenhamtabaco tragam uma nota de advertência que diga que o consumo desses pro-dutos é nocivo à saúde.

Os importadores de cigarros devem estar registrados numa lista deimportadores autorizados, as importações temporais só poderão ser inscritasnesses padrões se quiserem mudar o seu regime de importação. E o padrãogeral de importadores, pessoa física ou de qualquer empresa que queira im-portar no México deve estar registrado junto à Secretaria de Comércio eFomento Industrial.

Isso nos traz muitos benefícios na luta contra o contrabando de ci-garros. No México, é proibido o trânsito dentro do território nacional. Deacordo com o Anexo 17 da Resolução Ministerial de Comércio Exterior, oscigarros são proibidos de transitar pelo país, portanto a alfândega de entradaenvia à alfândega de saída estrangeira a notificação desse trânsito. Eles sãoproibidos, assim como armas, cartuchos, explosivos, roupas usadas, pneususados e outros objetos.

A indústria do cigarro estima que sejam comercializados 2% do co-mércio internacional, isto é, oitenta milhões de cigarros ilegais. Isso representauma evasão fiscal superior a 160 milhões de pesos. Há dez anos, existiam20% de cigarros ilegais, de contrabando, consumidos no México. Obtivemosmelhores resultados. Agora somente 2% são consumidos.

Muitos desses cigarros são produto de contrabando, já que não pa-gam impostos e violam a Norma 50, de etiquetagem e informação em Espa-nhol. A entrada desse produto não afeta somente a indústria de fumo, mastambém o consumidor final, porque o cigarro tem cinco meses de validadedepois dos quais perde suas características de sabor e consistência, o que éuma preocupação do nosso Procon. Eles perdem essas características pordiferentes razões: são comprados em outros países depois do prazo de valida-

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de e também os comerciantes ilegais demoram algum tempo para entrar nopaís e fazer a distribuição.

O Conselho Nacional do Fumo fez um acordo com a Secretaria deComércio e Fomento Industrial e com a Procuradoria do Consumidor parareformar os termos do programa de verificação da Norma 50, de etiquetagem,e fortalecer suas ações na fronteira norte, com os Estados Unidos, de ondevêm mais de 50% do produto ilegal.

Foram feitas 27 mil visitas de vistoria por parte da Profeco a restau-rantes e depósitos. Nessas vistorias, a Profeco, Procuradoria do Consumidor,apreende o produto, leva aos seus laboratórios e faz a análise. Isso permite quenos concentremos no nosso serviço, a fronteira, a alfândega. Nós, funcionáriosalfandegários, pegamos a mercadoria que vem em caminhões e em veículos eeles se ocupam de mercados, farmácias e de outros lugares de distribuição. Asautoridades têm dificuldade em fazer essas apreensões, e com a ajuda da Profecopodemos fazer as apreensões desses cigarros nos pontos de venda.

No México, como eu estava dizendo, tivemos melhores resulta-dos. Existe um sistema aleatório para a vistoria de veículos e de cami-nhões. Chega um carro, existe um sinal vermelho ou verde. Se for verme-lho, faz-se a vistoria; se for verde, o carro tem livre passagem. Noventa ecinco por cento das travessias são verdes, somente 5% são vermelhas, aocontrário de outros países nos quais as autoridades alfandegárias decidemquem vão vistoriar. Então existem muitos contrabandistas que se arriscama fazer parte desses 95% e atravessar com luz verde. Por isso estamos naalfândega, esta é a minha função: ir de alfândega em alfândega, realizandooperações-surpresa, chamadas operações vermelho. Nós detemos essesveículos para fazer a vistoria.

A maior parte dos confiscos de cigarros é realizada na parte nortedo país, assim como em Cancún e Mérida, cujos cigarros vêm de Miami. ACiudad Juarez é uma das fronteiras onde existe o maior número de contraban-dos, embora seja proibida a importação de cigarros por essa alfândega. Portal motivo, em muitas ocasióes, Ciudad Juarez foi escolhida como ponto dedestruição maciça de cigarros.

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Estou, além de outras coisas, encarregado de realizar operações-surpresa. Vamos de alfândega em alfândega realizando essas operações. Vocêsnunca vão me encontrar em cima de caixas de trem, de contêineres, mas asoutras pessoas fazem dessa forma para lutar contra o tráfico no México.

Estas são algumas fotografias do material apreendido, de cigarros, du-rante a nova administração. Nas fotos de cima, esse contrabandista simples-mente se arriscou com a luz verde. Sempre revistamos o porta-malas dos car-ros. Na segunda foto, foi um pouco mais engenhoso o fundo falso de uma pick-up. Na foto de baixo é um banco. Nós viramos o banco e vejam só a quantidadede cigarros que havia dentro. Na quarta, também o caso do porta-malas.

A algumas fronteiras chegam caminhões, ônibus com passageiros. Omesmo critério é utilizado com os passageiros. Eles descem do ônibus, for-mam uma fila, existe o sinal fiscal e é a mesma história do vermelho e do verde.Se for vermelho, são vistoriados; se for verde, passam direto.

Às vezes encontramos cigarros em caixas de corn flakes ou tam-bém dentro da roupa, presos na cintura, embaixo de carros, nos faróis doscarros, nas portas. Outra pessoa que se arriscou com essa luz verde. Porbaixo dos carros é muito famoso colocar uma rede onde ficam garrafas deuísque, cigarros.

O contrabando de cigarros no México caminha de mãos dadas como contrabando de uísque. Nesse caso, essa pick-up levava madeira. Parou nosinal vermelho, retiramos essa madeira e encontramos essa quantidade de ci-garros. Na fotografia de baixo, um banco de cabeça para baixo. Todas asapreensões que fizemos nos tetos de carros, em vans. Essas já são apreen-sões maiores, de caminhões.

Estamos trabalhando, como mencionei, com essa informação querecebemos dos Estados Unidos, que nos é muito valiosa. Eles nos indicam, emmuitos casos, por onde pode atravessar o caminhão. Dessa forma, esperamoso caminhão juntamente com policiais, deixamos que atravesse a fronteira eparamos. Assim obtivemos vários desses resultados.

Como vocês podem ver, o contrabando de todas as fronteiras éreunido num só lugar para a posterior destruição. Um fica em Ciudad

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Juarez, destinado para esse fim recentemente, há duas semanas; outro naAlfândega de Nuevo Laredo. Aqui temos mais contrabando, a história doverde, de correr o risco. Outros confiscos. Marlboro, como vocês podemobservar, é a marca favorita, Winston, Vantadge. Da mesma forma, porta-malas, nos pneus.

Aqui é onde nós destruímos os cigarros. Não são queimados. Elessão moídos, triturados. Quando a quantidade de confisco é pequena, geral-mente os levamos aos aterros sanitários de cada cidade e os misturamos aolixo, depois são pisados, compactados, para que fiquem sob esse lixo.

Uma das notícias de que o contrabando de cigarros seria o câncerda indústria, o confisco que foi notícia, recortes de jornais, contrabando nocaminhão dos correios. Algumas vezes temos que nos concentrar, porque,neste caso, os funcionários da empresa de correios tinham um caminhão daempresa cheio de uísque e de cigarros.

Como vocês podem ver, é um problema que estamos combatendotodos os dias. Como lhes contava, no passado não era possível enfrentá-lodessa forma devido aos problemas de corrupção que tínhamos. Esperamosque essa nova administração dê frutos e que a imagem de nosso país e denossa alfândega mude. Muito obrigado.

Deomar Vasconcellos de Moraes – Agradecemos ao Dr. Federicopelas suas esclarecedoras informações e pela demonstração de métodos, estraté-gias no combate aos ilícitos. Mais uma vez, verificamos que o ilícito de certa forma,no México, é análogo ao que ocorre em nosso país, não há grande diferença.

Dando continuidade, teremos agora um período de quinze minutos.Conseguimos cumprir o tempo de trinta minutos para cada palestrante, agrade-cemos aos palestrantes nesse sentido, e temos 15 minutos para as perguntas.

Abusando do privilégio de estar à Mesa, gostaria de iniciar com aprimeira pergunta, por conta da atividade que desempenhamos, especificamentepor estarmos agora desenvolvendo atividades nesse setor nos últimos meses.Pelo fato de termos também um país com dimensão continental, no que Méxicoe Estados Unidos não se diferenciam, indagamos em relação ao comércio. Sa-bemos que o comércio legal ou ilegal possui duas vertentes importantes, que

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seriam qualidade e preço. No setor de cigarros, verificamos que a questão qua-lidade é até relegada ao segundo plano, é mais a questão do preço. Nessesentido, aliado ao aspecto da importância que tem a distribuição do produto,por sofrer uma forte demanda, aliado ao aspecto territorial e a uma extensafronteira, deixo uma colocação a ambos os palestrantes até mesmo pela simila-ridade de nossos países. Em relação à capilaridade da distribuição do produtoversus essa rotatividade, a demanda intensa, como poderemos ter uma percep-ção melhor desse ilícito que é o contrabando de cigarros, as diversas formas deilícito dentro desse setor? Inicio com essa pergunta. Por favor, Dra. Vanessa.

Vanessa Piepenburg – Novamente, acho que importante é a comu-nicação, ter comunicação e trabalhar com outras agências. Por exemplo: nocaso da Alfândega dos Estados Unidos, somos capazes de verificar nossas fron-teiras, somos responsáveis pelas fronteiras. Então utilizamos alguns impostos eobrigamos as pessoas a pagarem esses impostos. Analisamos o contrabando detabaco, armas, porque esse contrabando também segue o de cigarros.

Algumas das nossas leis são intrínsecas, por isso trabalhamos juntos,mas é muito importante, num país tão grande como o meu, como o Brasil oucomo o México, ter recursos para realmente podermos contar com as nossascontrapartidas para compartilhar informações.

Especialmente nas fronteiras, na nossa relação com o México, porexemplo, e com o Canadá, contamos uns com os outros. Temos acordos earranjos entre os nossos países para que possamos compartilhar informações,especialmente com o Canadá e com o México, com os quais estou mais en-volvida, mas a resposta curta para a sua pergunta é que proponho utilizarmostodos os recursos possíveis dentro e fora do país, dentro e fora de sua organi-zação. Assim poderemos ter uma percepção melhor.

Federico Vargas Rodriguez – Para combater o contrabando de ci-garros, entendo como os Estados Unidos. Entre narcóticos, pode haver muitosmeios para o contrabando. Essa foi a base do sucesso do contrabando e do tráficode cigarros. Nós, infelizmente, temos poucos meios, mas a união com a Procura-doria do Consumidor é porque eles estão preocupados com a qualidade do cigar-ro que chega ao consumidor final. É uma conjunção entre fronteiras e a Procura-

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doria do Consumidor, além da indústria do cigarro no México. Eles nos proporci-onaram diferentes meios, como parte dos aparelhos de raios-x e até dos métodos,que foram dados pela indústria dos cigarros para lutar contra esses ilícitos.

Vanessa Piepenburg – Só mais um comentário. Acho que umadas coisas que nos ajudam bastante em nossos esforços é o setor de inteligên-cia que utilizamos para colher informações. Se não soubermos o que chega eo que sai do país, como vamos combater e reconhecer as tendências de con-trabando? Como vamos identificar as pessoas, os negócios, os estados, ospaíses que precisam ser identificados para que acabemos com o contraban-do? Portanto é muito importante termos um serviço de inteligência, um serviçode computação que possa rastrear as entradas, o contrabando, os produtos.Acho que isso é muito útil.

É bastante interessante lembrar que existem muitas informações queestão sendo recolhidas, porque temos muitos recursos nos Estados Unidos,sim, isso é verdade, temos recursos disponíveis, mas parece que não é o bas-tante. Ainda precisamos nos concentrar em carregadores e transportadoresque são problemáticos. Precisamos prestar atenção às entradas e saídas deprodutos do país e não podemos fazer isso sem um serviço de inteligência.

Deomar Vasconcellos de Moraes – A próxima pergunta é dirigidaà Dra. Vanessa e foi feita pelo Dr. Marshall, da British American Tobacco. Éuma pergunta bem polêmica, mas no nosso setor de cigarros ela deixa de ser,porque a legislação já tem a previsão legal da destruição. Em outros setores,com outras mercadorias, ela tem se tornado polêmica, então seria bastanteinteressante ouvirmos a exposição da Dra. Vanessa.

“Quando a aduana intercepta um suspeito com mercadoriascontrafatadas, quem faz a determinação do que fazer com essas mercadoriascontrafatadas: a aduana ou o proprietário da marca? É sempre o proprietárioda marca informado da apreensão dessas mercadorias?”

Vanessa Piepenburg – A primeira parte da pergunta, que é quemdetermina o que fazer com os produtos falsificados, temos muitos lugares ondelidamos com a importação desses produtos falsificados diretamente.

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Freqüentemente, contamos com o dono da marca para saber o que fazer. Oque vimos, nos últimos dias, é que os donos das marcas mais falsificadas decigarros estão muito preocupados. Os métodos de falsificação que vemosestão sendo sempre melhorados e aperfeiçoados. Portanto é muito mais difí-cil. Por exemplo: se eu olhar um pacote de cigarros, talvez não consiga deter-minar se é falsificado ou não, porque a qualidade da falsificação é muito boa.Portanto novamente temos que contar com o dono da marca para que essapessoa examine e identifique o produto suspeito, respondendo-nos se é falsoou não por meio de uma carta ou de uma recomendação. Realmente conta-mos com essas pessoas para determinar se o produto é falso ou não.

Também temos que tomar cuidado com a destruição dos cigarros,porque no México alguns cigarros são queimados, outros triturados, mas namaioria dos casos destruímos os cigarros por queima.

Deomar Vasconcellos de Moraes – A próxima pergunta é daSra. Marisa, da Receita Federal, para o Dr. Federico: “Se o fiscal da aduanado México achar suspeito determinado veículo ou pessoa, ele pode manual-mente acionar o sinal vermelho?”

Federico Vargas Rodriguez – Como estava dizendo, no casodo trânsito de caminhões, podemos, ao suspeitar que um importador estácarregando contrabando, acionar o vermelho operativo pelo sistema. Éaplicado esse vermelho ao importador e a maior parte de suas operaçõesserão revisadas.

Para o caso de outros veículos, é impossível, é difícil. Pelo mesmomotivo, temos que realizar essas operações-surpresa que mencionei. Acreditoque, muitas vezes, somente essas operações funcionam. E nós, na inteligênciaalfandegária, somos os únicos que podemos deter um veículo quando ele tema luz verde. Muitas vezes a polícia fiscal vê que pode haver algo suspeito, maso fato de terem a luz verde permite que eles entrem sem vistoria.

Deomar Vasconcellos de Moraes – A última pergunta é dirigida àDra. Vanessa e veio do Dr. José Ribamar, da Coordenação do Sistema Adu-aneiro: “Sobre a apreensão de moedas, qual o destino das moedas apreendi-das? O que acontece com o portador?”

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Vanessa Piepenburg – Como já mencionei, na apreensão de mo-eda o que acontece normalmente é que, se você está se referindo ao inícioda minha apresentação, esse papel-moeda pode ser proveniente de narcóti-cos, de mercadorias falsas, então existe uma declaração geral. Estamosinvestigando o contrabando de cigarros para saber se apreendemos dinhei-ro para tentar identificar para onde vai e de onde vem esse dinheiro. Se essedinheiro está sendo utilizado para alimentar o crime, então sabemos queesse é um crime de “lavagem” de dinheiro e prendemos essas pessoas. Têm-se um caso de contrabando, tudo bem, mas se temos um caso de “lavagem”de dinheiro aplicamos penas. Sempre tentamos fazer isso. Espero que tenharespondido a sua pergunta. Sempre estamos tentando desenvolver o senti-do de se apreender dinheiro em lugares diferentes. Não posso especificarum lugar em que tenhamos feito isso.

Deomar Vasconcellos de Moraes – Agradecemos aos palestran-tes e aos senhores aqui presentes. Damos por encerrado mais um painel donosso evento. Obrigado.

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Moderador:

LLLLLUIZ BERNARDIUIZ BERNARDIUIZ BERNARDIUIZ BERNARDIUIZ BERNARDI

Palestrantes:

VICTOR FVICTOR FVICTOR FVICTOR FVICTOR FABIAN CHEBELABIAN CHEBELABIAN CHEBELABIAN CHEBELABIAN CHEBELChefe do Departamento de Supervisão de Aduanas do Interior, da AdministraçãoFederal de Ingressos Públicos - AFIP / Argentina

PEDRO GUSTPEDRO GUSTPEDRO GUSTPEDRO GUSTPEDRO GUSTAAAAAVO ROVEDVO ROVEDVO ROVEDVO ROVEDVO ROVEDAAAAA Membro da Administração Federal de Ingressos Públicos / Argentina

LLLLLUIZ ALBERUIZ ALBERUIZ ALBERUIZ ALBERUIZ ALBERTO SALTO SALTO SALTO SALTO SALVOVOVOVOVODiretor Nacional de Aduanas / Uruguai

CESAR SCHIAFFINO DCESAR SCHIAFFINO DCESAR SCHIAFFINO DCESAR SCHIAFFINO DCESAR SCHIAFFINO DAAAAAVISONVISONVISONVISONVISONOrganização Mundial de Aduanas / Uruguai

Painel XI

EXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBAEXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBAEXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBAEXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBAEXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBATE ÀSTE ÀSTE ÀSTE ÀSTE ÀSFRAUDES NO SETOR DE CIGARROS – ARGENTINAFRAUDES NO SETOR DE CIGARROS – ARGENTINAFRAUDES NO SETOR DE CIGARROS – ARGENTINAFRAUDES NO SETOR DE CIGARROS – ARGENTINAFRAUDES NO SETOR DE CIGARROS – ARGENTINAE URUGUAIE URUGUAIE URUGUAIE URUGUAIE URUGUAI

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Luiz Bernardi – Boa tarde a todos. Inicialmente, quero externar mi-nha satisfação em participar de tão importante evento. Cumprimento as distintasautoridades que integram a Mesa. Gostaria de cumprimentar o nosso Secretá-rio-Adjunto, Dr. Jorge Rachid, pela organização magnífica e direção deste even-to. Cumprimento as demais autoridades da Receita Federal, senhores coorde-nadores, senhores assessores, senhores superintendentes, senhores delegados,senhores inspetores, demais colegas fazendários. Quero cumprimentar tambéma ESAF e a sua equipe pela magnífica organização deste Seminário. Cumpri-mento também as distintas autoridades de outros países que aqui vieram paraabrilhantar este importante evento. Cumprimento, ainda, as demais pessoas aquipresentes que, com sua participação, vieram enriquecer e prestigiar este evento.

Podemos, já neste momento do Seminário, considerá-lo de plenoêxito. Associo-me àquelas manifestações que disseram que para onde vai ocomércio lícito também vai o comércio ilícito. À medida que avança aglobalização da economia, avança também a globalização da fraude. Ondeestá o comércio está a fraude. Associo-me também àqueles que disseram que,em havendo globalização da fraude, deve haver também globalização do com-bate a essa fraude, deve haver também globalização da repressão à criminalidadedesse setor que estamos examinando, que é o setor de cigarros.

Nesse sentido, damos início ao nosso painel com a exposição dasilustres autoridades do nosso país vizinho, a Argentina. Ouviremos primeiramen-

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te o Dr. Victor Fabian Chebel, que é Chefe do Departamento de Supervisão deAduanas do Interior, da Administração Federal de Ingressos Públicos – AFIP,da Argentina. Tem pós-graduação em Tributação Internacional pela Universi-dade de Barcelona, Espanha. É docente e pesquisador da Universidade Nacio-nal de Córdoba e atualmente Chefe do Departamento de Supervisão Regional.

Compartilhará este painel o Dr. Pedro Gustavo Roveda, que éfuncionário da Administração Federal de Ingressos Públicos da Argentina– AFIP, Chefe Substituto da Divisão de Sumários de Prevenção da PolíciaAduaneira, com função de Inspetor Principal. É professor de cursos depós-graduação na área de Direito Aduaneiro, representante da AFIP noSubcomitê de Prevenção de Ilícitos Aduaneiros do Mercosul e advogadoespecialista em Direito Aduaneiro.

Com a palavra os dois ilustres palestrantes.Victor Fabian Chebel – Muito obrigado. Em primeiro lugar, quero

desculpar-me por não falar português. Entendo que é uma limitação que noMercosul todos nós devemos superar, não é mesmo? Estou muito agradecidopelo convite que vocês nos fizeram para vir a este evento, fiquei realmentesurpreso pela excelente organização de vocês e estou muito comprometidocom esse problema que afeta a região de forma bastante importante.

Logicamente, o objetivo que nos traz aqui é a repressão dos ilícitos ou afraude no setor produtor de cigarros. A primeira grande pergunta que nos fazem é:o que entendemos por setor produtor de cigarros? Na Argentina, observamos queos participantes do setor são vários, não somente os produtores de cigarros eenfatizamos muito o controle da fiscalização dessas empresas. Temos um sistemade fiscalização que tem uma presença permanente nas indústrias de fumo desde omomento em que sai o insumo da produção até que chega à fábrica e por últimoaté o produto terminado, devidamente selado para a sua comercialização.

Notamos que tínhamos um defeito na fiscalização posterior, nos ca-nais de comercialização, e no que se refere à parte alfandegária, onde teríamosalgumas falhas importantes com relação ao controle na fronteira.

Como todos vocês sabem, infelizmente a Argentina, nesse momen-to, padece de uma crise econômica muito importante que está afetando não

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somente a Argentina, mas também os sócios mais próximos da região. Osfatores macroeconômicos que levam a essa crise são um elevado nível dedesemprego e uma importante pressão fiscal perante a necessidade de arreca-dar fundos para pagar os compromissos financeiros que a Argentina tem, quesão muito elevados. Isso trouxe como conseqüência o aumento de crimestributários e econômicos, um deles o contrabando.

Ouvi atentamente quando aqui estava se falando sobre a cultura docontrabando e realmente isso é preocupante. Acreditamos que devamos en-volver diversos setores da sociedade em tudo isso, por que não as escolastambém? Ouvi aqui alguém dizer que numa pesquisa de uma escola houverespostas incríveis. Todos rimos, mas fiquei pensando no que ele disse. Comefeito, a realidade fronteiriça dos nossos países, tanto da Argentina quanto doUruguai, do Brasil, do Chile, do Paraguai e da Bolívia mostra os efeitos dessacrise econômica. Quem ainda não foi à fronteira e viu como as pessoas vivemali? É difícil realmente explicar com termos técnicos ou científicos a realidadedesse flagelo que tem raízes mais culturais e que é tão antigo quanto o própriocomércio, como a própria alfândega.

Atualmente o nível de contrabando aumentou. No setor dos cigar-ros, vem aumentando de forma preocupante. Na Argentina, o setor é de mo-nopólio, da mesma forma que nos países da região, com exceção do Paraguai,onde acho que não há um monopólio. É dominado por duas empresasmultinacionais que têm as suas filiais na Argentina e no restante dos países, namaioria deles pelo menos.

Só para termos algumas conclusões, acho que todos que estamosaqui sabemos que quanto maior for a disparidade entre os países limítrofesmaior a tendência ao contrabando ou à triangulação com países de menorpreço fiscal no grupo para o destino final ao país com maior pressão fiscal. Nocaso, nosso colega espanhol estava comentando com relação à Grã-Bretanha.É um caso típico em que podemos observar essa conduta.

Na apresentação canadense, falaram de algo que também temos nonosso trabalho e analisamos. Eles falaram da pressão impositiva versus Esta-dos Unidos, das exportações de produtos fabricados no Canadá e nos Esta-

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dos Unidos. É um mercado que não consome cigarros do Canadá. No ano de1994, isso explodiu, lógico, porque o cigarro voltava para o Canadá.

Como segunda conclusão, podemos dizer que, evidentemente, existeum fluxo comercial lícito e ilícito. Já falamos isso aqui. A globalização traz tambéma globalização ilícita. Sem dúvida, é um verdadeiro desafio e, de forma regional,devemos ter o objetivo de fazer o cruzamento de importações lícitas e ilícitas.

Desafio todos para que possamos analisar as diferenças que possamsurgir, isto é, diria que hoje principalmente o grande problema nós já identifi-camos, que é o contrabando de produtos falsificados e de produtos não-falsi-ficados. Aqui se falou muito em produto falsificado principalmente.

Acho que aqui vocês não conseguem ver muito bem. Esse é o marcolegal da regulação da Argentina. É um setor sobre o qual o Pedro vai falar,porque ele é um especialista nessa área.

Pedro Gustavo Roveda – Em primeiro lugar, boa tarde. Como dissemeu colega, quero agradecer a hospitalidade do País que nos fez o convite e apresença de todos vocês. Escolhi esse tema porque, modestamente, domino-obastante bem. Estou há dez anos trabalhando na área de polícia aduaneira naArgentina, o que permitiu especializar-me no tema legal. Vou tentar simplificar todoo conjunto das normas para que os convidados dos diferentes países, além doanfitrião, possam tirar suas próprias conclusões com relação às diferenças ou se-melhanças com que é regulado o tema do contrabando nos nossos países. Tam-bém vou tentar fazer – isso auxiliado pela experiência desses anos – um esquemade quais são as dificuldades que essas normas legais na prática nos trazem.

Para começar, quero dizer que no nosso país, Argentina, todas asmercadorias estão, de alguma forma, descritas como tal no Código Alfande-gário, que é a Lei nº 2.245, e que, logicamente, a matéria de que vamos falar,que é o cigarro em todas as suas formas, está dentro desse conceito de mer-cadoria, que é aquela que pode ser introduzida ou tirada de um território paraoutro com o controle alfandegário. Acho que isso é parecido na maioria dospaíses e está relacionado a regulações internacionais.

Como tal, a Administração Federal de Ingressos Públicos, a ReceitaFederal, por meio do seu braço executor, que é a fiscalização de alfândegas,

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também com uma colaboração ampla da direção de Inteligência Fiscal, ondefunciona atualmente a polícia alfandegária, é a encarregada de reprimir e deiniciar os resumos que serão os processos judiciais ou os autos de infraçãoperante os órgãos respectivos.

Sou chefe da área que tem como missão fundamental servir de nexoentre a administração da Receita Federal e os juizados penais competentespara julgar o tema do contrabando.

Na Argentina, particularmente no que se refere à capital federal, BuenosAires, existe uma competência judicial específica com relação a esse tema, nãono interior do país, onde há juízes com competência federal em diferentes áreasque também podem entender da matéria de contrabando. Em Buenos Aires,existem oito juízes que são competentes para julgar o tema de contrabando.

Passando para uma análise das diferentes normas, temos que di-zer que esse Código Alfandegário argentino contempla figuras segundo agravidade da falta cometida: as menos graves, que seriam infrações, e asmais graves, delitos. Os delitos têm como repressão penas de prisão, evocês verão quando eu falar do caso concreto; são penas bastante altas.Nem sempre a conduta sancionada ou punida é necessariamente dolosa.Também se castigam alguns atos culposos que possibilitam que outrosdolosamente cometam o delito. Depois, no âmbito de faltas menos graves,temos diferentes tipos de infrações alfandegárias que são sancionadas nãocom penas privativas de liberdade, mas com multas, confisco da mercado-ria e dos meios de transporte.

Todo esse regime é geral, não é específico para esse tipo de merca-doria de que estamos falando aqui, mas em matéria tributária existe uma nor-ma específica, como já disse o meu colega, que regulamenta o tema relaciona-do com cigarros. Vou então dizer para vocês que toda a estrutura penal doDireito Alfandegário está baseada numa figura genérica, que é a descrita peloart. 863 do nosso código, que marca a pauta criada para proteger a função decontrole dos serviços alfandegários. Isso é muito importante destacar, porquevamos ver que, mesmo quando cada norma legal tem um bem jurídico tutela-do, essa norma genérica nos dá a pauta pela qual o legislador argentino se

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interessou para proteger a função de controle que o serviço alfandegário tem,e não somente para preservar a venda fiscal, para aumentar a arrecadação.

O serviço alfandegário, o que também é comum aos diferentes paí-ses, como ouvimos, encarrega-se das questões de proteção da saúde de suapopulação, regulamentação do tráfego de mercadorias, proteção a indústrianacional dos diferentes países.

Em virtude de tudo isso, a ferramenta fundamental é esse artigo quesanciona com penas de prisão mínima de seis meses, máxima de oito anos.São penas aplicadas àquele que impeça ou dificulte o controle alfandegário,tentando, ou realmente conseguindo, a introdução ou a retirada de mercadori-as sem o devido controle alfandegário. Essa é a norma genérica. Depois fo-mos questionando determinadas normas mais específicas que vão contemplarcondutas muito mais particulares. Vamos ver que no artigo seguinte já sãoespecificadas algumas condutas, como é feito esse controle alfandegário nocaso de desvio das rotas habituais pelas quais a mercadoria tem que transitar,entrando em lugares onde não existe controle alfandegário, realizando açõesde ocultação, simulação de operações com o objetivo de obter um tributofiscal favorável. Tivemos o cuidado de escrever condutas bastante específicase, como é óbvio, em matéria de Direito, mais de Direito Penal, não se podepretender legislar cobrindo todos os aspectos e, com os novos avanços, asnormas em pouco tempo vão ficando obsoletas. A figura desse art. 863 foipara abranger qualquer outra conduta que possa acontecer e que sirva parafalar da função de controle alfandegário.

Estava dizendo que dentro das condutas tipificadas como delitos nãosomente esses fatos que eu estava dizendo para vocês sofrerão sanções quan-do forem cometidos, ou seja, no momento em que se produza esse fato queestá sendo estabelecido pela norma escrita, mas também sanciona a tentativaque começa a execução do fato para se evadir do controle e, por causasalheias à sua vontade, não consegue concretizar o fato.

Na administração geral, não na alfandegária, isso está sancionado deforma mais livre do que o delito consumado. Em Direito Comparado, issotambém é bastante habitual. Em matéria de contrabando, está sancionado com

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a mesma pena que o próprio delito. Aquele que começou a exercer uma con-duta, conseguindo ou não, sofrerá uma pena da mesma forma.

Depois temos outra conduta que está prevista no art. 864, que éexatamente a ocultação do contrabando. Essa é uma conduta que em outrossistemas legais é diferente, e vou dizer por quê. A nossa legislação funciona demaneira autônoma, isto é, aquele que tem em seu poder mercadoria de origemestrangeira que ilegalmente entrou no país e não efetuou uma promessa comalguém para que dê essa mercadoria para ele, ou seja, simplesmente tem essamercadoria, é passível de uma condenação similar pelo fato de ter em seupoder essa mercadoria, sem a necessidade de que o serviço alfandegário te-nha que provar que essa mercadoria entrou por tal ou qual lugar ou por essaou aquela pessoa. Funciona de maneira autônoma porque não é necessárioprovar que foi cometido contrabando se essa pessoa não puder dizer que amercadoria entrou legitimamente no país. Se ela não entrou legitimamente ouse ele não tem como provar, isso é configurado como um elemento doloso, eleesteve ocultando. Então vai haver um delito.

Estava dizendo também que nem todos os delitos são dolosos. Exis-te um delito estabelecido pelos arts. 868 e 869, que configura atitudes culposas.Aqui a norma está contemplando determinadas circunstâncias nas quais a atu-ação do serviço alfandegário, que tem diferentes faculdades, administrativasou operacionais, com sua atividade, com sua negligência, possibilite que outrapessoa cometa o contrabando.

Vou terminar porque estão dizendo que tenho poucos minutos. Emmatéria de infração, seria julgada por juízes administrativos e não jurisdicionais,do poder administrador. A própria alfândega tem seus juízes administrativos eas condutas mais vistas são as do 947, que é o chamado contrabando menor.O legislador aqui quis dar um tratamento de infração, e não delito, à mesmaconduta, porém a diferença está no montante envolvido. Se o valor da merca-doria apreendida como contrabando não superar US$5 mil, daremos o trata-mento de infração, não de delito. Isso foi modificado nos últimos anos; anteso montante era de US$500,00 e os juízes reclamavam que tinham muito tra-balho, que estávamos dando muito trabalho para eles. De qualquer forma,

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existem outras infrações que estão penalizadas, mercadorias que não conse-guimos determinar qual é o ingresso legal.

Os cigarros têm um selo de impostos internos. Somente a falta des-se selo já configura essa infração. Existem outras. Terminando o que queriadizer, além de toda essa normativa que já mencionei, na prática temos grandesdificuldades para conseguir condenações seja por delitos, seja por infrações.Elas estão relacionadas com problemas de burocracia em alguns casos oucom problemas de falta de provas ou vícios nas próprias provas.

Victor Fabian Chebel – Vocês sabem que aqueles que se dedicama esse comércio ilegal possuem os melhores advogados, têm estudos jurídicose contábeis muito bons, têm elementos para obter defesas favoráveis. Isso fazcom que tenhamos que nos cuidar e aperfeiçoar os nossos procedimentos,fundamentalmente no começo das nossas atuações. A nossa lei processualnão admite as denúncias anônimas. Isso nos trouxe muitos procedimentos queconseguimos desmontar.

Realmente o tempo é pouco, o debate deveria ser muito maisamplo, mas de qualquer forma vamos tentar sintetizar. Quero fazer umareflexão sobre o que o Pedro estava dizendo, principalmente na últimaparte de sua exposição. Com minha experiência em todos os estados, te-mos um problema porque, na etapa judicial, vê-se claramente que existeuma incapacitação dos funcionários que desenvolvem os procedimentos.Não digo que isso seja geral, mas na falta de capacitação de um funcioná-rio, que redige mal uma ata, todo o procedimento será prejudicado. Que-ria dar ênfase a isso. Aqueles que têm experiência nesse trabalho sabemque o momento operacional é esse e que se não for feito nesse momentoserá muito difícil corrigir depois.

Realmente, fico muito mal humorado ao ir a um juízo e ver que elesentram por uma porta e saem pela outra. Aquele que fica dentro é um compa-nheiro. Fico mal humorado demais. Então acho que temos que melhorar acapacitação, trabalhar mais em conjunto. Queria dizer isso no final, mas otempo é realmente muito curto. Teria muito mais coisas para dizer. Este deba-te deveria ser muito mais amplo.

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Esse fator é fundamental. No processo de controle, ele é simples-mente fundamental. Digamos que o fato aconteça às três horas da madruga-da, num caminho não habilitado. Entendo muito isso. Quando o juiz diz paramim: vocês não fizeram a ata no computador ou numa máquina de escrever,digo a ele: Excelência, convido o senhor – queria até trazer o que o Dr. Robertodisse – a ir, a 20 graus abaixo de zero, fazer uma ata às três horas da manhãcom contrabandistas que estão armados e que tente fazer dessa forma. Dequalquer maneira, não é o fato.

Quero ir para o outro extremo. Quero dizer que os fatos que umprocedimento possa ter e que possam muitas vezes redundar em que um pro-cesso judicial simplesmente seja arquivado, esse é um fato fundamental.

As disposições internas sobre as companhias de tabaco e sobre os con-troles de registro são muito profundas na Argentina. Vocês podem encontrar tra-balhos, existem livros para registrar as entradas e saídas de insumos, as saídas dosprodutos, empacotamento e rotulagem como em outros países do mundo, e tam-bém o controle da entrega de valores fiscais e autorizações para comercialização.

Vamos à parte mais interessante do trabalho do meu ponto de vista.Observamos que na Argentina o modus operandi mais utilizado – desculpo-me com o tradutor se sou muito rápido – é o seguinte: encomendas ou enviospostais, pessoas que acabam passando com mercadorias no corpo e muitasvezes trazem toda a produção desses flagelos. Mesmo se adequando àquiloque o mercado em nível mundial está legislando em termos até de envios pos-tais; às vezes uma pessoa envia uma correspondência em nome de João Perezpara o destino final Buenos Aires, se João Perez aparece, bem. Se alguém vêque ele está pegando a mercadoria, ele abandona aquilo. Esse tipo de envioestá sendo muito utilizado para cigarros. Já foi utilizado para drogas, paraprodutos com elevada pressão fiscal. As nossas fronteiras são muito extensas.Eles colocam nos ônibus que chegam ao destino final, o João Perez aparecepara retirar a encomenda no destino final e leva a sua mercadoria se não hou-ver ninguém fiscalizando.

Quanto às embarcações pequenas, existe um mapa também. Queriafalar sobre o mapa e os pontos onde observamos maior entrada de cigarros,

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mas queria dizer que principalmente os nossos amigos paraguaios, brasileirose também os uruguaios, talvez, em menor escala, conhecem a hidrovia. Ahidrovia, que é dos rios Paraguai e Paraná, realmente, em alguns lugares, de-vemos ser honestos, é terra de ninguém. A qualquer hora, e digo qualquerhora não só da noite, passa uma embarcação com qualquer coisa. Realmenteé uma fronteira muito extensa e muito difícil de controlar.

Os caminhões com trânsitos desviados. Todos conhecem a opera-ção do trânsito, é uma operação alfandegária reconhecida internacionalmente,recomendada, aceita. Alguém disse aqui – acho que foi o colega da Espanha,não sei se na exposição ou simplesmente numa conversa que nós tivemos –que o trânsito foi uma preocupação muito grande da comunidade européia elogicamente da região também. Como vocês sabem, os convênios internacio-nais permitem que declaremos mercadorias no Chile que vão para o Paraguai,e que podem ficar na Argentina. São violados os papéis, os selos, enfim,modalidades que nós, alfandegários, conhecemos bem demais e a polícia tam-bém, é claro. Caminhões em trânsito no interior, a mesma modalidade. Muitasvezes estão indo para uma alfândega seca ou fronteira do mesmo país.

A área alfandegária especial é um território que está no sul da Ar-gentina, em Terra del Fuego, onde há um regime fiscal especial. Posso assi-milar as triangulações produzidas ali com relação às zonas francas, mas nãoé dessa forma. As mercadorias destinadas para lá estão livres de tributaçãoe, no trabalho, vocês podem ler que o índice do nível de comercialização éde aproximadamente quatro para um, numa população muito pequena. Issoestá nos dando algum alerta. Quanto às vias geográficas do ingresso docontrabando – não sei se vocês estão conseguindo enxergar direito –, basi-camente temos pontualizado o problema nas alfândegas de Pousada,Clorinda, El Rio, Los Passos, Passos de los Livres, com o Brasil,Gualeguachuco, com o Uruguai, e Porto Buenos Aires, como estava falandoa vocês, que é o de Buenos Aires.

Queria simplesmente falar de uma análise baseada no modelo deporter do setor ilegal, mas não será possível pelo tempo. No meu trabalho,vocês poderão ver. Se tiverem alguma dúvida, por favor, falem comigo.

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Existe um dado interessante que é bastante atual e os colegas quetrabalham, principalmente, em Foz do Iguaçu podem ratificar isso, que é opreço conseguido pelos cigarros no Paraguai e na região também. Isso está nomeu trabalho também.

Vamos às ações que a nossa aduana desenvolveu nos últimos anos,ou melhor, no último ano. Principalmente, quero dizer que o nível de contra-bando na Argentina consideramos bastante elevado. Alguns dizem que é de18%, acho que é menor. Baseado num estudo de uma fundação muito impor-tante do meu país, a Fiel, a partir do consumo per capita de cigarros, chega-se à conclusão, comparando com as vendas legais, que aquilo que fica real-mente é o mercado ilegal. Acho que também pode haver outras manobras emjogo, para falar de outros níveis. Seriam para discutir em outro fórum, talvez,por falta de tempo.

Podemos dizer que o nível de contrabando está entre 17% e 18%.Podemos aceitar isso, e para nós é muito preocupante. No Brasil, ouvi falarem 35%. Realmente isso me chamou a atenção. Não tenho informação doParaguai, tenho alguma informação do Uruguai, mas realmente chamou-me aatenção o nível da Espanha, o nível realmente fantástico do México, porémnão consegui ouvir o meu colega por motivo de trabalho, estava trabalhandocom e-mail, não consegui assistir à palestra do representante do México. Achoque o nível de contrabando na Argentina é muito preocupante, mas, comoestava mencionando o Pedro, a Receita concentra a DGA, a alfândega e omecanismo de tributação interna.

Foi criado um grupo especial, formado pelas diferentes forças, paraatacar realmente esse problema. No Mercosul, numa recente reunião de dire-tores de alfândegas, falamos do Anexo III de uma ata de compromisso que foifirmada. Foi feito um relatório especial relacionado a esse tema. Na alfândegaargentina, aumentamos o sistema eletrônico por meio do qual o produto chegaà alfândega de destino. É cancelada uma guia pelo ingresso da transação nosistema. Isso realmente foi muito caro e nos custou grandes quantias.

A Argentina exige a nacionalização na alfândega de entrada dos ci-garros que vão para o país. Além disso – aqui estão me dizendo que o tempo

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acabou –, exige que o trânsito de cigarro passe com uma garantia na fronteira.O número de operativos na estrada foi maior. Fizeram-se importantes opera-ções de inteligência pelo controle de estradas e fronteiras da Argentina. Umaobservação permanente pelas câmaras competentes e pelo setor privado, noproblema da Argentina, é importante.

A contribuição do setor privado com informação e experiência foiconseqüência do desenvolvimento de estruturas internas das empresas paralutar contra esse problema, com profissionais como o senhor que está aquipresente, que considero uma pessoa muito importante nesse tema, e veio nosfelicitar, e agradeço muito o estímulo dele, por alguns trabalhos que estivemosfazendo na Argentina, e outras pessoas distintas trabalhando nas empresas.Isso é muito importante.

Esse esforço vem para complementar uma fraqueza estrutural que existeali. Por exemplo: no caso da Espanha, não pude acreditar na questão dos bar-cos, dos aviões, no orçamento. Ao escutar que o Canadá investiu não sei quantosmilhões de dólares, achei aquilo fantástico. Com isso poderíamos fazer maravi-lhas. Estamos aqui sabendo como trabalham os nossos companheiros na fron-teira e acho que o tema tem que ser uma política bem mais séria.

Esses são os dados das apreensões. Tenho certeza que estivemosnos esforçando bastante na Argentina para realizar essa atividade, esforçospessoais e também muito significativos dos agentes alfandegários, que nãodeixam de usar seu tempo e seus recursos pessoais para realizar essas tarefas,às vezes arriscando sua própria vida.

Neste ano já apreendemos várias caixas de cigarros, um resultadomuito importante. Inclusive recentemente deram-me informação e encontra-mos um contêiner de cigarros na fronteira com Mendonça na semana passada,duas mil e tantas caixas de cigarros, e assim por diante. Realmente estamosnos esforçando muito e obtendo resultados razoáveis.

Gostaria de comentar uma experiência última que nós temos, mas éuma pena, não poderemos fazer isso. Trata-se de uma experiência de ope-rações típicas que estamos realizando. Acho que isso seria o mais valioso daexposição. Vamos ver o que ainda temos pela frente. Aqui temos fotografias

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dessas operações. Do lado direito está um carro brasileiro – isso foi detec-tado na semana passada – com cigarros nos seus bancos. Vocês viram tantoos carros brasileiros como argentinos na fronteira de Passos dos Livres,Uruguaiana. São autos muito baratos, não chegam nem a mil dólares, semamortecedores, o volante cai o tempo todo, mas as pessoas vinham bemsentadas, como se fossem bancos novos. Então fomos vistoriar e aquiloestava cheio de cigarros. Há também um caminhão com açúcar por cima ecigarros por baixo. Teria adorado comentar um pouco sobre isso. É umlugar na Argentina onde eram escondidos cigarros em depósitos, numa áreade promoção industrial.

É uma pena. Desculpo-me pelo excesso de tempo. Agradeço oconvite, desculpem-me outra vez por não falar português. O mais importan-te é que exista um maior intercâmbio de informação. Peço que as alfânde-gas presentes e os vários organismos fiscais levem essas conclusões aosseus lugares de trabalho para que criemos um melhor plano estratégico paraatacar esse grave problema.

Luiz Bernardi – Muito obrigado ao Dr. Victor e ao Dr. Pedro porsuas brilhantes palestras.

Dando seguimento, vamos ouvir, agora, a palestra do Dr. Luiz AlbertoSalvo, do Uruguai. Ele é, atualmente, Diretor Nacional de Aduanas do Uru-guai. É também Capitão de Marinha da reserva, foi gerente das maiores frotaspesqueiras do Uruguai e da Agência Marítima, e perito naval. Faz-se presen-te, também, nesta Mesa, o Dr. César Shiaffino Davison, que exerce a repre-sentação da Organização de Aduanas do Uruguai. Executa o trabalho mundialde inteligência e análise de risco em integração com outros países, e é respon-sável pela instalação e capacitação de escritórios Rilo na Venezuela e no Paraguai.Passamos, então, a palavra ao Dr. Luiz Alberto Salvo.

Luiz Alberto Salvo – Boa tarde. Quero agradecer à Secretaria daReceita Federal e à ESAF pelo convite e pela oportunidade que me dão paraexpor nossas idéias. Como vocês podem ver, tenho uma formação naval emarítima, mas no ano passado tive a possibilidade de fazer estudos no Minis-tério da Economia sobre ilícitos alfandegários e há dois meses sou Diretor de

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Alfândegas do Uruguai. Vocês terão que me desculpar por não ter todos osconhecimentos de que gostaria nessa área.

O Uruguai é um país bem pequeno, com uma população de trêsmilhões e meio de habitantes e tem a direção de alfândegas encarregada docontrole de mercadorias. Além dela, mas dependente do Ministério da Eco-nomia, a Direção Geral Impositiva, que é encarregada da parte de tributação.

A alfândega uruguaia é dividida em 14 administrações alfandegáriasao longo de nossas costas marítimas, do Rio da Prata e das fronteiras com aArgentina e com o Brasil.

Em primeiro lugar, gostaríamos de dar conhecimento de alguns númerosque temos com relação à movimentação de cigarros no Uruguai. O consumo noUruguai, no ano 2000, foi de três bilhões e 442 milhões de cigarros, e, no primeirosemestre deste ano, um bilhão e seiscentos e sessenta e um milhões de cigarros.Esses números têm um valor de US$266 milhões, no ano 2000, e, neste primeirosemestre, de US$107 milhões. Isto nos dá uma arrecadação estimada de impos-tos de US$160 milhões e, neste primeiro semestre, de US$64 milhões.

Contamos com quatro fábricas de cigarros no Uruguai. Temos umaparticipação maior da Montepaz, com aproximadamente 71,5%, Phillip Morris,24,5%, e da British American Tobacco com 4%. Como disse, a quarta nãotem participação no mercado interno e se dedica somente às exportações.

As exportações de cigarros do Uruguai nos últimos anos foram, noano de 1999, de US$55 milhões aproximadamente, no ano 2000, de US$60milhões, e, até agosto deste ano, de US$29 milhões. Quer dizer que as expor-tações estão reduzindo-se. No ano 2001, exportamos principalmente para ospaíses que vocês vêem aí.

O trânsito de cigarros em 1999 foi de US$57 milhões; no ano 2000,de um pouco mais de US$73 milhões; e, no ano 2001, pouco mais de US$10milhões até hoje. Devemos levar em conta que nos primeiros meses deste anotalvez uma mesma venda tenha sido considerada duas vezes, então pode ha-ver um erro e pode corresponder a movimentações internas entre depósitosfiscais e zonas francas, o que não acontece, como veremos mais adiante, comcertas medidas que foram adotadas na nossa legislação.

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Os países de origem dos trânsitos são vários: Reino Unido, EstadosUnidos, China, Bélgica, França, Paraguai, Espanha, Peru e outros países. Ospaíses de destino do trânsito não são tantos, são esses dez que temos aqui,pelo menos no ano 2001. Vários desses países são da América: Paraguai,Chile, Brasil, Argentina, Bolívia e os Estados Unidos, além de outros como:EUA, Holanda, Aruba, Panamá e Emirados Árabes.

Todas essas movimentações de cigarros são feitas, em geral, por meiode dois lugares principais: ou por via marítima, principalmente pelo Porto deMontevidéu, em contêineres, ou por via terrestre, através de todos os postos defronteiras que temos com a Argentina e com o Brasil, principalmente na zona deLivramento, com o Brasil, e com a Argentina em Porto José. Por via aérea, osmovimentos são quase imperceptíveis pelo Aeroporto Internacional de Carras-co. Outros movimentos que temos são pelo duty free shop, as lojas livres deimpostos que temos em aeroportos, portos e em outros lugares do país.

A legislação é muito variada, mas gostaria de destacar três decretos:um de 1996, que, como vocês podem ver, determina normas para controle dasmanobras de entrada ilícita de cigarros e uísque do Paraguai. Por meio dessedecreto, foi estabelecida na Constituição uma garantia prévia de 140% do valorem alfândega dos cigarros, e, no caso do uísque, de 100%. Deve ser prévia acirculação desse tipo de mercadorias no território alfandegário nacional. Comisso tentamos facilitar a cobrança de tributos e a aplicação de sanções casosejam detectadas infrações no trânsito de cigarros. Assim a alfândega podeverificar o correto cumprimento das operações alfandegárias do começo ao fim.

Essa operação é completada com a chegada ao destino e ainterceptação pela autoridade alfandegária do destino, e com os devidostrâmites no lugar caso não seja uma zona franca. As mercadorias desse tipoem trânsito não podem ser manipuladas de nenhuma forma. Qualquer inci-dente durante o trajeto, por força maior, sinistro ou acidente, que afete aunidade de transporte ou as mercadorias tem que ser notificado imediata-mente às autoridades alfandegárias do lugar ou à polícia mais próxima. Nessetipo de trânsito, a alfândega estabelece os prazos, as rotas e qualquer outrosistema de controle.

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Outro decreto do Poder Executivo, o mais recente deles, procuralimitar os movimentos feitos com a mesma partida de cigarros da zona franca,o que dificulta, sem dúvida alguma, que seja utilizada como uma base paramovimentos ilegais que eram praticamente impossíveis de serem seguidos. Issofazia com que esse tipo de mercadoria, ao chegar a uma zona franca ou a umdepósito determinado, pudesse ingressar no mercado interno ou embarcar aoexterior nesses depósitos de determinados duty free shops.

O último decreto limita a dois litros de uísque e dois pacotes decigarros a possibilidade de compra isenta que têm as pessoas que vão a deter-minados tipos de duties frees – lojas livres de impostos.

Esses eram alguns dos decretos que eu queria mencionar nesse caso doscigarros. Gostaria de falar agora sobre a detecção de alguns movimentos ilícitosde cigarros e alguns exemplos do que vimos ultimamente. Uma má autorização dalegislação vigente e o aproveitamento de controles ineficientes, às vezes, até dacorrupção de alguns funcionários alfandegários ou de controle, conforme seja ocaso. Outro tipo é por meio do roubo de mercadorias, o que ainda não foi muitoutilizado até agora. O terceiro ponto que não mencionamos é o da falsificação.Aqui estamos falando de uma quantidade importante de mercadorias de países derisco, não estamos em condições de determinar sobre as falsificações, principal-mente dos tipos de maços, e o próprio tabaco, o fumo em si, para o que estamospedindo colaboração e informação à Argentina e também ao Brasil, isso vai nosservir como base, assim como os estudos químicos que possam ser realizadosdesses cigarros para que possamos nos prevenir ante situações judiciais.

Dentro desses exemplos, vou mencionar um em que praticamente,embora eu saiba que não era mercadoria boa, não pudemos fazer nada. Exis-te um exemplo muito claro que nos aconteceu nesses últimos meses sobre amá utilização da legislação vigente. Nossa legislação, como vimos, não permi-te a entrada de mercadorias em trânsito sem o pagamento de tributos e oestabelecimento de garantias para a sua movimentação, que são devolvidosuma vez que seja cumprido esse movimento.

O último dos casos detectados permitiu às autoridades desmantelar umaorganização que, por intermédio de usuários de uma zona franca, recebia cigarros

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vindos principalmente de um fabricante uruguaio que fazia exportações por inter-médio delas, e por trânsitos que entravam por via marítima vindos de países deoutras regiões ou por terra, vindos de zonas francas de países da região. Comovemos, trata-se de trânsitos ilegais sem que se possa supor um movimento ilícitodesses, exceto que pelas suas origens possam ser considerados de risco.

Também mencionamos os usuários de zonas francas. Continua asaída dessa mercadoria do país de forma ilegal, principalmente por via terres-tre às zonas francas da região ou, algumas vezes, para empresas inexistentes,e, por via marítima, tendo como destino principalmente o Paraguai e a Bolívia.O que acontece? Essa mercadoria é desviada parcialmente e introduzida noUruguai e em outros países de trânsito. Qual é a participação do Uruguainesse assunto? Claro que a introdução dessa mercadoria no nosso país deforma ilegal sob um processo legal que conta com a participação corrupta dealguns funcionários, todos os que deveriam estar verificando e controlando oprocesso de informação desse movimento. Isso hoje em dia tem como resul-tado que funcionários de três alfândegas do norte do país estão na polícia, vãoser funcionários da polícia, e um ex-chefe da polícia, um empresário da zonafranca e dois transportadores estão presos.

Por outra parte, a mercadoria que não chega ao seu destino e que éintroduzida ilegalmente no país, disso geralmente ficamos sabendo pelas notí-cias. O que tem feito a alfândega ultimamente com relação a isso? Temostomado medidas administrativas com os funcionários do lugar, realizando au-ditorias que permitam encontrar as falhas existentes nesse processo.

Comunicação, por outro lado, com os países com os quais tramitarádeterminada mercadoria de risco. Nesse último caso, quero mencionar umexemplo conhecido pelos países que intervieram nisso.

Nós detectamos num porto, basicamente varejista, sem movimentode contêineres até essa data, que haviam chegado dez contêineres de 40 pésde cigarros cujo destino eram usuários da zona franca boliviana. Um processojudicial foi aberto, os contêineres foram examinados, foi confiscada a merca-doria, mas, pouco depois, liberada, entendendo que não havia perda de rendafiscal para o país. Entramos em contato com a Argentina, o Paraguai e a

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Bolívia, os países de destino, avisando a data de partida e o meio de transpor-te, para realizar o seguimento dessa mercadoria e comprovar a sua chegadaao destino. Mais de quarenta dias depois da partida, esses contêineres nãochegaram ao seu destino, e achamos que, pela calagem da embarcação e pelacarga, não poderiam mais chegar. As autoridades continuam seguindo essecaso. Vamos ver quais serão os resultados desse acontecimento.

Outros processos que tivemos com base em procedimentos de risco.Foram verificadas duas caixas com cinqüenta pacotes de cigarros no aeroporto deCarrasco, que foram exportados aos Estados Unidos, e a viagem em si era maiscara que o custo da mercadoria. Fizemos as análises pensando que talvez pudés-semos encontrar drogas, mas não foi o caso. Apesar dos resultados negativos,posteriormente pudemos detectar que um contêiner da mesma mercadoria teve omesmo destino: Miami, Estados Unidos. Notificamos as autoridades alfandegáriasdos Estados Unidos para que dessem continuidade ao procedimento.

Outro caso foi também observando movimentações estranhas. Umcontêiner de cigarros vindos da Colômbia com destino a Montevidéu, movimentosque não entendemos. Também foi aberto, não se encontrou droga, foi fechado eautorizamos a continuação da viagem, notificando as autoridades corresponden-tes. Nesse caso, os contatos imediatos que tivemos com os Estados Unidos nosdisseram que o destinatário da mercadoria tinha antecedentes de drogas.

Esses casos, embora tenham sido negativos, entendo que as prisõesque estão sendo feitas na Colômbia são provas da mudança de rota, seja paradrogas, armas ou outro tipo de mercadorias para as quais sabemos que temosque estar muito atentos.

Outro caso que nós observamos dentro do Uruguai é o roubo demercadorias de alto valor de dentro de contêineres, substituindo por outroselementos sem valor, mas com o peso totalmente equivalente. Geralmente, oscontêineres, embora sejam em número bem menor, comparado com o movi-mento no porto, são de perfumes, áudio e computadores, com valores entreUS$250 a US$300 mil. Isso é feito sem a violação de lacres. É uma violaçãomuito aperfeiçoada do sistema de fechamento e essa detecção fica pratica-mente impossível, a olho nu, vista de fora.

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Nesse caso, nas últimas duas semanas, encontramos dois contêineres,um de 40, outro de 20 pés, que continham 15 milhões de cigarros, submercadoriatrocada por sacos de areia de peso equivalente. Sabemos que esses cigarrosestão sendo vendidos no nosso país agora. Esses são alguns dos casos quequeríamos contar a vocês nos quais estamos trabalhando no momento.

Tendo pouco tempo nessa atividade de alfândega, estou procurandotomar algumas medidas com relação ao assunto. No âmbito internacional, gos-taríamos de aumentar o intercâmbio de informações com países da região eoutros países com interesses alfandegários comuns, mas que seja de formarápida e eficiente. Gostaríamos de conhecer os fatores de risco desses paísese determinar possíveis vínculos com o nosso país. Também procuramos rea-lizar a idéia de um centro internacional de seguimento de mercadorias de altorisco em trânsito num desses países, estabelecer esse centro de forma anual erotativa com um representante de cada país.

Sabemos que as alfândegas, embora tenham uma movimentação muitoalta de dinheiro, têm recursos baixíssimos e achamos que isso poderia serfinanciado com recursos privados. Achamos que essa poderia ser uma formade melhor seguimento de um determinado tipo de mercadoria, de forma maisdireta no país pelo qual esteja transitando. Gostaríamos de obter informaçãonormatizada das empresas internacionais de um mesmo tipo de produto, se-jam cigarros, uísques, CD ou outros tipos de mercadorias, que permita umafácil comprovação da falsificação e que seja de utilidade para nós no processojudicial realizado nesse sentido.

Na ordem interna e nacional, vamos realizar uma campanha sobre osefeitos e os prejuízos do contrabando não só do ponto de vista tributário, mastambém de outros, como a concorrência desleal e o aumento de risco à saúde pelamanipulação, empacotamento e origem dos insumos utilizados nesses produtos.

Tentaremos centralizar as operações repressivas, agir sob uma in-teligência comum de forma coordenada e com maior eficiência na utilizaçãodos escassos recursos que possuímos para esse objetivo. Gostaríamos demelhorar a capacitação e tecnificação de controle e também promover umamudança de atitude entre os funcionários para permitirmos controles mais

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eficientes e rápidos. Também procurar a obtenção de sistemas inteligentesde controle que permitam o seguimento à distância dos movimentos de car-gas em qualquer condição de tempo ou circunstância do dia.

Vamos procurar mudanças na legislação vigente que permitam con-siderar, nesse caso do contrabando, irregularidades que possam surgir du-rante os trânsitos, como também procurar maiores incentivos para os funci-onários nas apreensões e multas realizadas e nos processos judiciais quenesse momento são muito longos, para que possam ser mais rápidos.

Também vamos procurar obter o apoio de um grupo de funcionáriospúblicos de outras áreas do estado, especialmente selecionados para cumprirfunções de apoio à gestão da nossa alfândega.

Finalmente, quero expressar que a união dos sistemas alfandegá-rios dos nossos países no combate ao contrabando e às ações do crimeorganizado, o intercâmbio de informação real entre os membros e os dife-rentes obstáculos ou pedrinhas que possam aparecer no nosso caminho,os quais podemos evitar, farão com que essa concorrência desleal possaser revertida, que possamos diminuí-la ou, se possível, eliminá-la. Para tal,precisamos melhorar a capacitação dos nossos funcionários, suas atitudesem relação ao trabalho e também convencê-los a agirem de forma unida,rápida, coordenada e eficiente, deixando, às vezes, de lado protocolos etrâmites administrativos que só produzirão bons resultados para os nossosinimigos comuns.

Nosso agradecimento pelo convite, a possibilidade de expressaros nossos pensamentos e pela motivação que deram a mim, tendo só doismeses no comando da administração alfandegária do Uruguai. Hoje tenho apossibilidade de conduzir essa agência esperando melhores tempos.

Luiz Bernardi – Muito obrigado, Dr. Luiz Alberto, por sua brilhan-te e oportuna exposição. Nós temos muitas perguntas encaminhadas à Mesa,e eu, imediatamente, vou passar a fazê-las.

A primeira pergunta é para o Dr. Victor Chebel e é encaminhadapelo Dr. José Henrique Barreto. A pergunta é a seguinte: “Qual a marca decigarro de maior presença no mercado argentino oriunda do Mercosul?”

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Victor Fabian Chebel – Bem, na realidade, as marcas que dominam omercado legal argentino são nacionais. Não há marcas que provenham de outrospaíses do Mercosul. Como lhes disse, o monopólio da produção e dacomercialização é exercido por duas empresas filiais de multinacionais, que são aBritish American Tobacco e a Phillip Morris. Não há, basicamente, comercializaçãode produtos que se originem da produção de outros países, no mercado legal.

Já, sim, no mercado ilegal é onde observamos que a maior presençaé de produtos que vêm do Paraguai, e, em seguida, de outros países que nãosão da região, fundamentalmente países asiáticos. Aí, sim, observamos umafalsificação de produtos muito forte. Quanto aos produtos vindos do Paraguai,há falsificações de produtos tanto nacionais quanto estrangeiros.

Pedro Gustavo Roveda – Perdão, vou completar um pouco a res-posta para que vocês possam entender como é possível que no mercado legalargentino não se consuma cigarros estrangeiros, e, sim, argentinos e para en-contrar a coerência que no mercado ilegal estão realmente entrando marcasparaguaias, bolivianas, além das falsificações orientais; fundamentalmente, issose deve a que, pelos movimentos migratórios de países limítrofes paraguaios,bolivianos, peruanos, estão sendo criadas comunidades importantes dessasnacionalidades onde circulam esses cigarros de contrabando desses mesmospaíses, ou seja, o Paraguai e a Argentina continuam fumando a sua marca decigarros e os lugares de distribuição são grandes feiras de difícil controle. Es-sas pessoas passam a viver em núcleos de comunidades bastante fechadas ese dedicam normalmente a atividades criminais, oficinas clandestinas de falsifi-cação de marcas, normalmente têxteis. Obrigado.

Luiz Bernardi – Obrigado. A próxima pergunta é dirigida ao Dr. Pedro.É elaborada pelo Sr. Marcos Valadão, da Secretaria da Receita Federal, e serefere ao crime a granel. A pergunta, objetivamente, é a seguinte: “Se uma pessoatem em seu poder um objeto importado irregularmente, mas que o tenha adquiridocom boa-fé, há tipificação ou não, ou seja, há responsabilidade penal objetiva?”

Pedro Gustavo Roveda – Aqui é importante destacar alguns as-pectos. Em princípio, como, acredito, ocorre em muitos países, a responsabi-lidade penal objetiva não existe, ou, pelo menos, aplica-se em menor escala.

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Normalmente, precisamos de uma conduta ativa do agente com a intenção.Em matéria de contrabando, indo para a pergunta concreta, sim. Se umapessoa tem em seu poder elementos que entraram ilegalmente em nossa legis-lação, tipificamos uma conduta que é, em princípio, a posse injustificada demercadoria, porém com uma exceção: tem que ser com fins comerciais ouindustriais. Esses fins serão presumidos pela quantidade ou pela qualidade damercadoria que ela possua em seu poder. A pena dessa conduta, que é umainfração, e não um delito, estará dada pela apreensão da mercadoria e umamulta de uma a cinco vezes o valor dessa mercadoria.

De qualquer forma, também existe uma sanção que poderia configurarum ilícito penal para aquele que possua essa mercadoria com fins comerciais ouque oculte essa mercadoria, mas aí já temos o caráter doloso. Muitas vezes, naprática, não é fácil distinguir entre uma e outra conduta. Então os juízes optaram,apoiados um pouco na norma, por presumir que quem tem a mercadoria a temde forma ilegal, como contrabando, quando essa pessoa deveria perceber, deacordo com seus conhecimentos, que a mercadoria poderia ser de origem ilegal.Isso acontece quando o preço de venda é muito baixo, não é o normal domercado, quando as vias de comercialização não são as oficiais.

Victor Fabian Chebel – Queria só acrescentar que observamosque a figura do contrabando em menor escala, à qual se referiu o meu cole-ga, é bastante abusiva por parte dessas redes de comércio ilegal, porqueeles sabem que existe esse limite dos cinco mil pesos. Eles sempre estãomuito próximos do limite ou então usam “mulas” para chegar a uma quanti-dade menor que não envolva uma responsabilidade penal. Essa “mula” fica-ria com antecedente e ele passa então para uma outra “mula”. Solicitamosque essa legislação seja modificada. Estamos falando de uma lei que precisada intervenção do Poder Legislativo. Isso é um pouco demorado, mas nóstemos consciência de que talvez em matéria de tributação poderíamos avan-çar com legislação muito mais forte.

Luiz Bernardi – A próxima pergunta é dirigida à Argentina e aoUruguai, portanto, aos dois ilustres palestrantes. Foi elaborada pelo CarlosLuciano, da Delegacia da Receita Federal de Santa Maria, e é a seguinte: “Os

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cigarros fabricados nos seus países devem ser selados ou estampados pelogoverno, ou receber alguma outra forma de autenticação física que permitaaos fiscais brasileiros diferenciá-los das falsificações?” Argentina, por favor.

Victor Fabian Chebel – Ainda bem que vocês me fizeram essapergunta. Lógico que há. Existe um selo fiscal. Nesse material que realiza-mos pela Câmara do Tabaco de forma conjunta observamos alguns detalhesque podem ser analisados para detectar falsificações. Também as caixas quecontêm o cigarro levam uma identificação, mas principalmente o selo é facil-mente adulterado. Uma coisa que propomos é que o selo seja mudadofreqüentemente, ou seja, que o selo mude de cor, a filigrana dos raios ultravioleta,é uma estratégia. É lógico que os contrabandistas reagem rapidamente, mas secontinuarmos passivos, se mantivermos o mesmo selo durante dez anos... Ima-ginem vocês, hoje a falsificação com xerocópia colorida é tão fácil!

Em uma das operações mais importantes que tivemos no nosso país,conseguimos desmontar uma rede que se dedicava à falsificação dos selospara trazer cigarros falsificados do Paraguai e da China. Selavam esses cigar-ros em lugares desumanos, onde contratavam pessoas por salários quase es-cravos, principalmente cidadãos bolivianos e chineses. Depois isso eracomercializado em túneis da segunda cidade mais importante do país e eradistribuído de madrugada nos bares e nos quiosques.

Esse trabalho que nós fizemos foi muito longo e precisamos donosso serviço de inteligência. Trabalhamos muito bem com a Justiça, fize-mos escuta telefônica etc. Quero dizer que sim, especialmente o selo fiscalé algo que habitualmente é falsificado. Mesmo que vocês não acreditem,eles cortam aquela tira que cobre o cigarro, a etiqueta, colocam o selofalsificado e voltam a colar essa fotocópia ou esse elemento adulteradopara ser comercializado sem o selo que encontramos habitualmente ou deoutro país ou de exportação, no caso de outros produtos que foram previ-amente exportados da Argentina.

Luiz Bernardi – Muito obrigado.César Shiaffino Davison – No caso do Uruguai, não temos im-

portações. Internamente há selos que facilitam o controle, e os que são de

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vendas livres de impostos estão especificados nas carteiras de cigarros, dizen-do que são para vendas fora do Uruguai etc.

Luiz Bernardi – Muito obrigado. A próxima pergunta também édirigida ao Dr. Luiz Alberto, do Uruguai, e foi elaborada pelo Dr. Hélvio Cam-pos, da Receita Federal do Brasil. A pergunta é a seguinte: “Qual o benefíciofiscal concedido para as empresas que produzem cigarros e estão localizadasna zona franca de Montevidéu?”

César Shiaffino Davison – Não são fabricados cigarros dentrodas zonas francas. Simplesmente, as zonas francas são utilizadas para o trânsitode cigarros.

Luiz Bernardi – Muito obrigado. Temos uma outra pergunta, enca-minhada também ao Dr. Luiz Salvo, que foi elaborada pelo Dr. JosimarDalsóquio, da Delegacia da Receita Federal de Uruguaiana. A pergunta é aseguinte: “Considerando que as infrações no setor de cigarros são prejudiciaisa todos os países, o Uruguai, por meio de sua administração aduaneira, con-corda com a troca de informações com os seus países vizinhos?”

Luiz Alberto Salvo – Claro, estamos fazendo isso e acho que va-mos aperfeiçoar tanto com a Argentina como com o Brasil futuramente.

Luiz Bernardi – Obrigado.Assim, gostaríamos de agradecer imensamente aos ilustres painelistas,

Dr. Victor Fabian, Dr. Pedro Gustavo, Dr. Luiz Alberto e Dr. Cesar, pelasbrilhantes participações e exposições. Obrigado pela atenção. Encerramoseste painel.

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Moderador

EVEVEVEVEVANDO PEDRO PINTO -ANDO PEDRO PINTO -ANDO PEDRO PINTO -ANDO PEDRO PINTO -ANDO PEDRO PINTO -

Palestrantes:

GUSTGUSTGUSTGUSTGUSTAAAAAVO ALBERVO ALBERVO ALBERVO ALBERVO ALBERTO IVTO IVTO IVTO IVTO IVALDI GONZALEZALDI GONZALEZALDI GONZALEZALDI GONZALEZALDI GONZALEZAssessor Técnico da Subsecretaria de Estado da Tributação do Ministério daFazenda / Paraguai

CARLOS IVÁN SALCEDOCARLOS IVÁN SALCEDOCARLOS IVÁN SALCEDOCARLOS IVÁN SALCEDOCARLOS IVÁN SALCEDOSecretário de Relações Internacionais da Aduana / Paraguai

MARCELO FISCH DE BERREDO MENEZESMARCELO FISCH DE BERREDO MENEZESMARCELO FISCH DE BERREDO MENEZESMARCELO FISCH DE BERREDO MENEZESMARCELO FISCH DE BERREDO MENEZESCoordenador Operacional do Sistema de Fiscalização da Secretaria da ReceitaFederal / Brasil

Painel XII

EXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBAEXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBAEXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBAEXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBAEXPERIÊNCIAS DE CONTROLE E COMBATE ÀSTE ÀSTE ÀSTE ÀSTE ÀSFRAUDES NO SETOR DE CIGARROS – BRASILFRAUDES NO SETOR DE CIGARROS – BRASILFRAUDES NO SETOR DE CIGARROS – BRASILFRAUDES NO SETOR DE CIGARROS – BRASILFRAUDES NO SETOR DE CIGARROS – BRASILE PE PE PE PE PARAGUAIARAGUAIARAGUAIARAGUAIARAGUAI

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Evandro Pedro Pinto – Boa tarde a todos. Antes de apresentar ospalestrantes deste painel, gostaria de registrar a presença muito honrosa entrenós do Dr. Luiz Gonzalez Arias, Embaixador do Paraguai no Brasil.

Dr. Gustavo Alberto Ivaldi Gonzalez é licenciado em Ciências Contábeise Administrativas, atualmente ocupa o cargo de Assessor Técnico da Subsecretariade Estado de Tributação do Ministério da Fazenda do Paraguai e foi membro daComissão de Contenção do Contrabando nos anos de 1998 e 1999.

Carlos Iván Salcedo, meu particular amigo, atualmente é Secretário deRelações Internacionais da Aduana do Paraguai, já ocupou o cargo de Adminis-trador da Aduana de Assunção, foi Controlador-Geral das Aduanas do Paraguaie é um dos representantes do Paraguai em um grupo de trabalho criado pornossos dois países, que chamamos Grupo Permanente de Consultas Brasil/Paraguai. Daí dizer que é meu particular amigo, porque já estamos há dois anostrabalhando juntos, ele pelo lado paraguaio, nós pelo lado brasileiro.

O outro palestrante é o Dr. Marcelo Fisch Menezes, que atualmenteocupa o cargo de Coordenador Operacional do Sistema de Fiscalização daSecretaria da Receita Federal. É formado em Engenharia Elétrica pela Uni-versidade de Brasília, Auditor Fiscal da Receita Federal e foi também Fiscalde Tributos Estaduais do Distrito Federal.

O outro colega da Receita Federal é José Ribamar Barros Peña,Auditor Fiscal da Receita Federal, atualmente ocupando o cargo de Chefe de

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Programação e Controle Fiscal da Coordenação do Sistema Aduaneiro daSecretaria da Receita Federal.

Quero dar meu testemunho público, já que falei há poucos instantesno Grupo Permanente de Consultas Brasil/Paraguai, do real interesse que te-mos observado do governo paraguaio em pôr fim aos ilícitos aduaneirosocorrentes entre nossos dois países. Esse Grupo Permanente de Consultas, hádois anos instalado, tem buscado fazer a integração e o controle aduaneiroentre nossas fronteiras, e temos, nesse particular, obtido do governo paraguaiotodo o apoio, colaboração e empenho traduzidos na vontade política daquelepaís em colaborar no combate aos ilícitos aduaneiros. Digo isso por uma questãode dever de justiça e por amor à verdade. Portanto, transmitam, senhoresparaguaios aqui presentes, os agradecimentos da República do Brasil, nesseparticular, ao governo paraguaio.

Passo a palavra neste instante ao Dr. Gustavo Ivaldi Gonzalez.Gustavo Alberto Ivaldi Gonzalez – Realmente estou feliz e como-

vido pelo convite que foi feito ao Ministério da Fazenda da República doParaguai pela Escola Fazendária a quem agradeço não somente pelo convite,mas também pela organização deste evento.

Quero cumprimentar e agradecer aos brasileiros em especial por man-ter essa generosidade, essa gentileza e afeto demonstrados. Haviam comentadoque temos o imposto mais baixo da região, e é assim mesmo. Temos o ICMSpago mensalmente, que é de 10%. Temos imposto sobre a renda que é pagoanualmente, de 30%. Temos o imposto seletivo do consumo, que é, para o casodos cigarros, 13%. Porém, há pouco tempo, houve uma nova disposição pelaqual acrescentamos ao cigarro e a outras mercadorias 10% a mais. Isso aten-dendo às reclamações que estamos recebendo da região. Entendam que isso,para o nosso país, segundo os estudos realizados, deve ser por etapas.

Justamente falando do último imposto, que é o MET, 10% a maissobre os cigarros, chamou-nos a atenção fortemente que nestes últimos tem-pos tivemos mais inconvenientes com o contrabando, imaginem, estávamostendo menos. Quando aumentamos o imposto, passamos a ter mais proble-mas com o contrabando.

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Os mecanismos de controle são a Diretoria-Geral de Alfândegas, quetem o controle na zona primária, que compreende as mesmas alfândegas, e ocontrole na zona secundária, que são os depósitos, os comércios, as empresas eos escritórios de importação. Temos a Auditoria Alfandegária, que é encarregadadas análises de todos os despachos que estejam sendo realizados, por amostragem,para fazer uma pesquisa. Temos a Controladoria, que é uma unidade técnica daDireção-Geral de Alfândegas, que faz o controle dessas entidades. Temos a Dire-toria-Geral de Fiscalizações Tributárias. Quero que vocês entendam bem: é Dire-toria-Geral de Alfândegas e Diretoria-Geral de Fiscalizações Tributárias. Uma éencarregada dos impostos alfandegários, e a outra, a Diretoria-Geral de Fiscaliza-ções Tributárias, encarrega-se dos impostos internos. Temos a Fiscalização deEmpresas e Comércios – acho que em todos os lugares do mundo estão realizan-do esse tipo de fiscalização – onde são estudados os registros contábeis, os docu-mentos, despachos de importação, venda realizada por uma empresa nos últimoscinco anos. Essa é a forma adotada no Paraguai.

Posteriormente, temos o Controle de Imposto Seletivo ao Consu-mo, que eu estava falando a vocês, tem uma unidade de controle que, especi-ficamente, designa funcionários de cada empresa de tabaco para fazer umestudo de fiscalização, produção, venda e comercialização dessa empresa,além de verificar os diferentes instrumentos de controle que deve ter o produtoespecífico pelo qual estamos aqui, que é o cigarro.

Auditoria Preventiva Interna e Externa – não sei se os outros paísestêm. São os funcionários ou fiscais que passam pelas vias principais de comér-cio onde pedem a cada comprador o comprovante fiscal da compra realizada.Em caso de ser detectada na empresa a falta do comprovante, então é lavradauma ata e temos uma multa de, mais ou menos, US$300 pelo simples fato denão ter o comprovante, além de ser indicada para uma fiscalização posterior.Uma reincidência levaria ao fechamento da empresa.

Temos o Serviço de Vigilância Tributária, criado no final de 1999,que tem a função de colaboração de controle com as alfândegas, especifica-mente em áreas secundárias. Não entra nas alfândegas, mas tem o papel defiltro em diferentes postos de controle, que podem ser fixos ou móveis.

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Além do controle de comprovante de venda, desde 13 de julho pas-sado, há um mês, a Sicosei, que é uma instituição internacional de luta contra ocontrabando e a evasão de impostos, está integrada por funcionários do Mi-nistério da Fazenda, que realizam os controles fiscais correspondentes; funci-onários fiscalizadores do Ministério da Indústria e do Comércio, que realizamo controle para que cada produto tenha a etiqueta correspondente; funcioná-rios do Ministério da Agricultura e Pecuária, para verificar se todos os produ-tos, madeira, gado ou outros produtos que estejam relacionados com o Minis-tério da Agricultura, tenham certificado fitossanitário correspondente.

Temos também o Ministério da Defesa, por intermédio das ForçasArmadas, porque, como vocês sabem, o trabalho de alfândega, o trabalho decontrole não pode estar somente constituído das alfândegas. Estamos tentan-do, com essa nova comissão, fazer o controle das fronteiras com a colabora-ção da instituição correspondente, ou seja, as Forças Armadas. Então queroenfatizar esse tipo de operação que estamos realizando no Paraguai, desta-cando também a função específica das Forças Armadas de proteger os cida-dãos e as suas fronteiras.

Com essa intenção, no Paraguai, estamos realizando há um mês jáesse tipo de operação. Além dos já citados, contamos também com o Minis-tério do Interior, que é a polícia que está nos ajudando para dar segurança,respaldo e apoio correspondente aos funcionários para que possam realizarde forma correta e segura o seu trabalho.

Temos o Controle de Alfândega, sobre o qual meu colega CarlosSalcedo vai falar, os postos de controle fiscal onde pedimos documentos queamparem o transporte ou a circulação de mercadorias. Especificamente estoufalando do caso do controle de cigarro, a primeira alienação ou qualquer títu-lo, quando sejam de produção nacional e da importação de bens.

O instrumento de controle exigido é a utilização de selos ou placas oufitas. Os cigarros não podem circular no mercado interno sem esses instrumen-tos correspondentes. Os fabricantes devem colocar esses instrumentos de con-trole em cada uma das carteiras individuais. Nesse caso, a quantidade de selosdeverá ser igual ao número de carteiras que a caixa de cigarros contenha. Em

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caso de utilização de placas, as mesmas devem estar coladas em cada caixa, deforma que, quando abertas, fiquem inutilizadas, com as seguintes informaçõesem tinta preta: nome do fabricante, RUC, que é o Registro Único de Contribu-intes, e o produto. Isso é para o caso de produtos internacionais. Para osimportados, uma vez terminados os trâmites de importação, deverão solicitar àDiretoria-Geral de Alfândegas a designação de funcionários para acompanhar atransferência até o depósito particular, quando terão um prazo de quinze diaspara colar os instrumentos de controle. No caso de utilização de placas, deve-rão estar impressos em tinta vermelha e os dados que deverão ter: nome doimportador, RUC, número de despacho de importação e o produto.

As conseqüências do contrabando de cigarros, como todos já men-cionaram anteriormente, estão na saúde, no problema social que tudo isso nostraz e na nossa economia também, seja do Paraguai, do Brasil, da Argentina,de todos os países que hoje estão falando do mesmo tema.

Os prováveis motivos do contrabando e da falsificação de cigarrossão, como vocês já viram, uma boa demanda, praticamente toda a produçãotem mercado, então é um produto com uma demanda muito grande, a publici-dade deles é grátis, os contrabandistas não gastam nada em publicidade, queé um custo para os importadores legais, havendo, portanto, uma boa margemde lucro. Os vários palestrantes já mencionaram que a margem de lucro, amargem da ilegalidade na comercialização de cigarros é muito grande, comotambém a fácil comercialização. Há poucas restrições para o seu comércio.

Inconvenientes que encontramos para combater esse contrabando:possuem importante poder econômico. Temos mostras de tudo isso. Como fa-lou a representante dos Estados Unidos, eles têm importante poder econômicoem dinheiro. Não é cheque nem cartão de crédito, é dinheiro; vulnerabilidadedas fronteiras seja por meio de postos alfandegários, seja por imperícia dosfiscalizadores que estão nas alfândegas ou por conivência com os funcionários; etambém pelas imensas fronteiras que cada um dos países tem.

A poderosa organização internacional, e isso é demonstrado semque se precise de qualquer tipo de comentários, a quantidade de representan-tes de diferentes países no Seminário mostra que temos o mesmo problema.

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Sugestões particulares para medidas de contenção do contrabandoe da falsificação: a campanha de conscientização fiscal tributária para os funci-onários públicos, essa é uma primeira medida. Nós, funcionários públicos,somos os primeiros que devemos entender e abraçar essa campanha, enten-dendo que somos representantes do estado, não de nossas necessidades, comoprimeira medida.

No segundo ponto, está a campanha de conscientização fiscal tribu-tária para os cidadãos, começando pelas crianças, porque isso já está presona nossa cultura, então devemos começar novamente. Pelas palestras tributá-rias fiscais e de conscientização que estou fazendo no Paraguai há pouco tem-po, nas escolas, nos colégios, nas universidades, a melhor receptividade estamosconseguindo com as crianças. É um pouco mais difícil com os jovens.

Terceira, incentivar a recusa moral e ética dentro da sociedade àquelesque se dedicam a esses atos ilícitos. É incompreensível. Hoje estamos falandode tantas irregularidades, de tantos males que provocam esses ilícitos, porém naparte social estamos falando com essas pessoas, nos relacionamos com essaspessoas, aqueles de quem estamos falando mal, mas amanhã somos amigos.

Quarta, ter recursos humanos válidos, idôneos e bem remunerados.Quero destacar isso: bem remunerados para esse tipo de missão.

A quinta susgestão é a troca de informações nacionais e internacio-nais entre organismos de controle para conseguir ações conjuntas. Quero rei-terar isso porque acho que cada um dos conferencistas já o disse em seusidiomas e quero fazê-lo também.

Um sexto ponto é que devemos conseguir o apoio técnico e logísticodo setor industrial. Isso é fundamental porque devem entender que se nãotivermos esses conhecimentos técnicos, os funcionários encarregados dessetipo de controle, se não estivermos preparados para realizar esse controleespecífico do cigarro, considerando que cada um dos fiscalizadores alfande-gários ou tributários tem um universo de mercadorias, de itens que devemoscompreender, solicitamos aos industriais dessa área, desse item em especial, oapoio, a colaboração, o auxílio para que também estejam capacitando, trei-nando os fiscalizadores e os alfandegários.

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Sétimo, conseguir maior tecnologia ou operativos reais de controlealfandegário e fiscal. Estava ouvindo o que o representante da Espanha diziasobre os meios que tem: 28 patrulhas rápidas, 26 – não me lembro mais –, seishelicópteros, seis aviões, vários veículos de todo tipo e 18 mil funcionáriospara esse controle. Quero dizer a vocês que no Paraguai a Comissão de Con-tenção do Contrabando tem três pick-ups modelo 88, e vou ficar só por aí,porque é a única coisa que nós temos.

Implementar o controle integrado de fronteiras seria a oitava sugestão.Nono, criar ou implementar o Documento Único Alfandegário do

Mercosul – DUAM.E principalmente, em décimo, viabilizar alguma alternativa válida de

produção industrial ou comercial para substituir os fatos irregulares. Isso éfundamental. Não podemos tirar pessoas que estão realizando esse tipo deatividade, se não damos alternativa para que elas possam manter suas famílias,porque muitos contrabandistas não são somente contrabandistas, são pessoascomo quaisquer outras, que têm compromisso com sua família. Então deve-mos dar alternativas a essas pessoas.

Finalmente, esse flagelo não é exclusivamente nosso, é mundial. Paraeste Seminário foram convidados vários representantes de diferentes países.Cada um possui sua própria moeda, seu idioma, sua economia, sua cultura,seu sentimento, entretanto, para o contrabando ou a falsificação, não interessanada disso. Todos são somente elementos que devem ser superados de qual-quer forma, a qualquer preço. Portanto isso é um desafio. Sozinhos não so-mos ninguém. Juntos podemos tudo.

Não posso abandonar este momento no qual estou me dirigindo avocês sem me expressar em Guarani, que é a minha língua do coração.

(Fala em Guarani)Traduzindo, significa: sentimos com vocês essa doença. Sentimos

vergonha, porém vamos procurar eliminar isso. Sozinhos não conseguiremos.Os valores, as estatísticas não somente do Paraguai, mas as cifras mundiaisdizem que sozinhos não vamos conseguir. Pediremos ajuda a vocês e queDeus nos guie. Muito obrigado.

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Evandro Pedro Pinto – Com a palavra o Dr. Carlos Iván Salcedo.Carlos Iván Salcedo - Obrigado, Evandro, pelas palavras diplo-

máticas que você disse no início. Realmente, tivemos momentos muito gratostrabalhando juntos no Grupo de Consultas.

Quero agradecer à ESAF, em nome da Direção-Geral do Paraguai,pelo convite para estarmos aqui presentes e participarmos deste debate sobreum tema como esse, tão interessante para os dois países.

Durante três dias, escutamos alusões diretas e as nem tão diretas àresponsabilidade que o meu país tem no tráfico de cigarros. Não queremosaplicar a política do avestruz, escondendo o problema. Quero que essa brevemostra sirva de exemplo para que vocês vejam que estamos, sim, lutandocontra esse problema, mesmo com a precariedade de meios que temos e coma impopularidade que pode gerar a aplicação dessas medidas.

As fraudes cometidas no setor de cigarros, tanto importações comotrânsito e exportações, são um problema de longa data na região, com repercus-sões sérias na República do Paraguai. Isso continua trazendo não poucos proble-mas para o meu país no âmbito internacional, principalmente no relacionamentocom os demais países do Mercosul. Por meio de inúmeras ações nos vários níveis,sejam públicas ou privadas, como também de diferentes acordos, convênios etratados de cooperação assinados pelo meu governo com os outros membros doMercosul, especialmente com a República Federativa do Brasil, estamos aqui parademonstrar a nossa responsabilidade para dar um fim a esses delitos.

A minha direção como órgão tanto de fiscalização como de controle épelas várias ações executadas de dois anos para cá, ocupando um contextodelicado no campo do tráfico internacional de cigarros, principalmente conside-rando o histórico do produto na região e sua conseqüência social e econômica.

Entender a problemática que afeta não somente a receita no nossopaís, mas também a saúde dos consumidores, constitui a parte mais delicadade toda essa atividade. Vamos mencionar como está acontecendo esse pro-blema no nosso país e as medidas que foram tomadas para tentar minimizá-lo.

O âmbito principal onde se encontram as fraudes está no trânsitoalfandegário de passagem dos cigarros supostamente destinados ao consumo

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no mercado paraguaio, mas que realmente são desviados para outros merca-dos, em sua maior parte o brasileiro, depois o argentino, considerando aabrangência desses mercados.

O modus operandi se realiza de três formas: cigarros vindos depaíses limítrofes e da região com destino ao Paraguai. Graças a informaçõestrocadas entre as alfândegas que têm mais fluência, atualmente estão sendodetectadas importações fictícias muito grandes por importadores paraguaios,sabendo-se que as balanças comerciais dos nossos países são publicadas acada certo tempo. Poderíamos dizer, grosso modo, as diferenças de volumeque causam espanto aos analistas comerciais. Nesse momento, existe umainvestigação levada a cabo pelo nosso departamento, iniciada por um relatóriorecebido de uma alfândega amiga pela área internacional da alfândega paraguaia.Para a prevenção e luta, já iniciaram essas atividades. Essas relações estão seaprofundando para corrigir erros e, noutros casos, devido a certos produtosque afetam os mercados internos de nossos países.

O processo de pesquisa baseia-se numa comparação de exporta-ções e importações, conforme a nossa legislação e a Comissão de Delito eContrabando, já que foram declarados por importadores paraguaios e reco-nheceram-se os registros oficiais de entrada nas nossas alfândegas.

A segunda forma refere-se aos cigarros em trânsito no Paraguai. Nessecaso, os cigarros em trânsito, vindos de países da região com destino a outros,através do território paraguaio. Em tal caso, as mercadorias são levadas a umporto paraguaio, são armazenadas ali e transportadas a algum outro porto supos-tamente, o que torna difícil o seguimento dessas mercadorias sem contar com osdados da alfândega de destino. Normalmente, essas operações seriam levadas acabo pela hidrovia. Neste momento, estão sendo realizadas algumas averigua-ções, já que temos presunção de que essas mercadorias não teriam chegado aosdestinos nesse caso, com um desvio no rio. Um colega já me falou sobre essasituação quanto a mercadorias que iriam supostamente para a Bolívia.

O último caso, que praticamente não tem relevância, é a importaçãode cigarros brasileiros para a sua reintrodução no Brasil. Ante a imposição demedidas para a importação, essa prática foi caindo em desuso.

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Agora temos um conjunto de normas que nos ajudariam como órgãoexecutor da Direção-Geral de Alfândegas em nossa luta contra o tráfico decigarros. Durante todos esses anos, tendo em vista o fato de essa atividadeprejudicar toda a nossa economia, o nosso governo propiciou a promulgaçãode leis entre os membros do Mercosul, como, por exemplo, a Lei de 2001,assim como o convênio assinado com a República Federativa do Brasil. Va-mos passar agora a descrever as leis vigentes no Mercosul e as leis assinadaspara a repressão desse tipo de delito.

Promulgada em Assunção, em 22 de junho, durante a PresidênciaPro Tempore Paraguaia, conseqüência de uma reunião de diretores-gerais dealfândegas do Mercosul, trata sobre um programa de ação do Mercosul nocombate aos ilícitos no mercado internacional. Constitui uma lista de açõesconsiderável contra os delitos nas alfândegas, suas conseqüências, a luta con-tra o contrabando e a propriedade intelectual, entre outros, mediante mecanis-mos de prevenção, fiscalização e repressão conforme a legislação estabelecidadentro do mercado comum, nº 10, de 2001.

Por meio de trinta pontos de ação específicos, pretende-se minimizarao máximo as nefastas conseqüências do contrabando em toda a sua expres-são. Sem pretender ser exaustivo, vamos trazer alguns pontos que considera-mos importantes no setor da fraude de cigarros: troca de informações, estabe-lecer troca de informações relativas a operações alfandegárias entre os esta-dos-membros, sejam mercadorias de intrazona ou extrazona, prevendo o trânsitoe os regimes de importação e exportação; também o intercâmbio de informa-ção relativa aos registros de operadores de comércio exterior habilitados pe-los estados-membros, relativos aos operadores de alto risco, e o desenvolvi-mento de serviços de enlaces entre as aduanas para a difusão de técnicasalfandegárias e a facilitação e cooperação nesse assunto. Também temos con-troles na área operacional.

No que diz respeito ao controle a ser realizado na área primária, essaresolução fala sobre a realização de controles simultâneos nas áreas de controleintegrado para um funcionamento ativo, para que essas alfândegas possam pro-mover a capacitação e ter recursos para implementação nessas áreas.

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Também é reconhecida a necessidade de adotar um novo métodopara o controle de ilícitos nas fronteiras, incluindo radares, satélites e outrastecnologias.

Transporte de mercadorias e o cancelamento de trânsitos. Nessetópico, as ações são dirigidas ao controle de transporte dessas mercadorias eà chegada aos destinos, para o que é recomendada a adoção de medidas parao estabelecimento de rotas predeterminadas, rotas de controle integrado oualfândegas específicas, aplicar o regime de trânsito alfandegário intrazona emdeterminados produtos de risco ao controle alfandegário, prévia confirmaçãoda existência real do consignatário da alfândega de destino. Tais disposiçõesestabelecem que para as mercadorias consideradas de alto risco, como o ci-garro, para o controle alfandegário e fiscal, só será cancelado o seu destinocom a notificação da chegada na alfândega final.

Uma luta conjunta dos membros. Aqui falamos sobre o caráter dasmedidas para a prevenção do tráfico como dito pelos estados-membros e aexistência de outras obrigações necessárias para importação, exportação efabricação de produtos sensíveis ao controle alfandegário e fiscal, já que sãorepetitivamente objeto de práticas ilícitas, medidas que possibilitem a preven-ção e a repressão do contrabando, falsificação e qualquer outro ilícito alfande-gário; e adotar medidas para a harmonização entre os estados-membros rela-tivas às séries impostas às empresas e às pessoas envolvidas em todos osilícitos alfandegários, para que as normas incidam com o mesmo rigor em todoo território do Mercosul.

Aqui temos um convênio para evitar a dupla imposição em matériade impostos sobre a renda, para prevenir e combater a evasão fiscal, e sobrematérias alfandegárias do governo da República do Paraguai e do governo daRepública Federativa do Brasil.

Este é o Grupo Permanente de Consultas que mencionamos e quelevou bastante tempo para ser terminado. Tivemos um trabalho árduo paraterminar tudo isso aqui. Esse convênio foi assinado em Brasília, em 20 desetembro de 2000. No seu Título III, arts. 38 a 41, trata especificamente dasdisposições para a prevenção e repressão do contrabando e a falsificação de

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produtos do tabaco. Esse é um convênio que faz menção explícita ao tráficode cigarros. Essa norma está dirigida especificamente a regular o combate aocontrabando de todos os produtos relacionados ao tabaco, em matéria decooperação conjunta de todas as autoridades alfandegárias, todas considera-das pertinentes pelos estados contratantes. Brasil e Paraguai, neste caso, te-rão ações conjuntas de fiscalização e intercâmbio de informações que objetivamprevenção, pesquisa e repressão do contrabando e da falsificação que ve-nham do tabaco e insumos utilizados para a fabricação dos cigarros, tais comofiltros, materiais impressos, papel etc.

Carlos Iván Salcedo – Por solicitação de qualquer dos estados,Brasil ou Paraguai, as autoridades estarão autorizadas a realizar qualquer açãode fiscalização considerada necessária para a prevenção, pesquisa e repres-são dos ilícitos mencionados no artigo anterior e a pesquisar eventuais reper-cussões dessas atividades ilícitas na economia e na arrecadação de tributos dequalquer dos estados contratantes.

Para garantir que a tarefa seja feita pelos fiscais, o estado requeridodará ao estado requerente todas as garantias para a plena realização de seustrabalhos, inclusive, se for necessário e conforme a legislação de cada estado,o auxílio da força policial.

Temos também o Decreto nº 13.619, recentemente promulgado peloPoder Executivo, pelo qual criamos a Comissão Interinstitucional contra oContrabando e a Evasão de Impostos e designamos um coordenador-geralpara a mesma. Por esse decreto, criamos uma comissão interinstitucional co-ordenada pelo Ministro da Fazenda, integrada pelos Ministros da Indústria eComércio, da Defesa Nacional e do Interior com o objetivo de organizar e darseguimento operacional às ações que objetivam reativar a economia nacional,servindo de nexo direto entre o Executivo nacional e o setor privado parasuperar os fatores que sejam obstáculos à eliminação do contrabando. Essefoi o primeiro decreto promulgado por essa comissão interinstitucional, em 1ºde janeiro de 2001, no qual são definidas as estratégias de ação para a lutacontra o contrabando no marco das linhas traçadas pela comissão institucionalcriada pelo decreto que antes mencionei.

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Essa resolução deve-se à necessidade de implementar todas as me-didas disponíveis para que a Diretoria-Geral de Alfândegas e a coordenaçãona área de luta contra o contrabando possam desenvolver tudo que for possí-vel para combater o contrabando. Nesse esquema operacional, aparece comoindispensável a necessidade de que sejam incorporados ao setor informal,dentro dos setores que ajustam as suas modalidades operativas à legalidade –cujo efeito deverá ser insistido naqueles componentes da sociedade que semanifestam como parte de uma economia subterrânea do estado –, aquelesque estão fora dos registros oficiais, lançando mão de qualquer modalidadeadministrativa judicial que esteja vigente.

De acordo com essa resolução, foram criadas três áreas para com-bater frontalmente o contrabando: zona internacional, zona primária e zonasecundária. Na zona internacional, teremos ações nos lugares onde haja dele-gados representantes da DGA, que são os portos de Santos e Paranaguá, noBrasil; Buenos Aires, na Argentina; Montevidéu, no Uruguai; e no Chile.Estamos procedendo à reestruturação operacional e normativa de forma queos mesmos nos proporcionem dados sobre as cargas com destino ao Paraguaiem tempo real e pela Internet. Isso possibilitará um controle cruzado sobre ocancelamento do trânsito com destino ao Paraguai.

No que se refere ao relacionamento com os países limítrofes, pre-tendemos acelerar o processo de implementação de controles, de forma si-multânea às áreas de controle integrado, como também o intercâmbio de in-formações relacionadas com operações alfandegárias entre os estados-mem-bros, quer sejam mercadorias intra ou extrazona. Nas áreas primárias, enco-mendamos a implementação urgente da tecnologia do código de barras inte-grado aos sistemas informáticos como ferramenta de identificação de produ-tos e sua correspondência com o tratamento alfandegário aplicado; implementaro circuito de entrada e saída de trânsitos com alfândegas de fronteira, aplica-ção de novos métodos para a vigilância e o controle de ilícitos na fronteira,com o emprego de tecnologias avançadas.

Finalmente, na zona secundária, deverá ser efetuado um controle per-manente sobre empresas e comércio importador habilitado: despachantes, de-

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pósitos, controle no domicílio das empresas de transporte, cujas cargas possamestar pendentes de registro em alfândega, pondo especial ênfase naqueles não-habilitados, para a sua regularização. Também teremos equipes móveis, de for-ma a realizar controle nas principais rotas do país, bem como nas áreas sensíveisnas linhas de fronteira, sempre e quando pudermos aumentar a nossa frota. Comodisse o nosso colega, temos só três pick-ups do ano de 1988.

Para terminar esta breve exposição sobre os aspectos alfandegáriosno meu país, quero dizer que, desde 1994, a delegação paraguaia daquelesubgrupo de trabalho nº 2, do comitê técnico nº 2, tentou e deixou constanteem atas para estabelecer parâmetro mínimo de controle alfandegário na re-gião. Ressaltamos o cancelamento efetivo dos trânsitos alfandegários interna-cionais na alfândega e o direcionamento dos trânsitos alfandegários por meiode rotas e de pontos de fronteira habilitados, além de desenvolver muito esfor-ço na conexão dos sistemas de informática e um documento único alfandegá-rio do Mercosul, que consideramos um dos elementos mais válidos para ocontrole efetivo do comércio nesse bloco.

Finalmente, aceitamos a predisposição existente no combate contrailícitos comerciais nos nossos países, porém isso não deveria estar somentecom um produto, suas matérias-primas e insumos. O cigarro que hoje nos trazaqui é lógico que não somente nos gera perdas comerciais, como também desaúde e suas repercussões, mas não devemos nos esquecer do contrabandomaciço que foi gerado em países de maior desenvolvimento na região, o qualestá inclusive fechando fábricas e deixando pessoas sem sua fonte de trabalho.Não devemos esquecer também o regime especial de importação que desvir-tua os pilares de uma união alfandegária como pretende ser o Mercosul, dafalsa declaração de cumprimento de regimes de origem, sem falar ainda dasdesvalorizações monetárias que já estão cansando a nossa economia.

Reiteramos a nossa disposição em cooperar, mas como sempre foidito nas mesas de negociação, isso deve ser uma avenida e não uma rua deinteresses particulares. Muito obrigado.

Evandro Pedro Pinto – Agradeço a participação do Dr. Salcedono Seminário. As perguntas são muitas e vou selecionar algumas.

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Ao Dr. Salcedo, se sabe informar de onde provém a matéria-primade cigarros para as fábricas paraguaias.

Carlos Iván Salcedo – Os insumos vêm de diferentes países. Acre-ditamos que também do Brasil, que agora penalizou, digamos, a exportação detabaco. Presumimos que vêm também do contrabando, do Brasil e de outrospaíses. Como escutamos outro dia, a China está muito adiantada nesse aspecto.

Evandro Pedro Pinto – Creio também que o Paraguai tem boa pro-dução de fumo, e fumo de boa qualidade. Assim me informam. Essa pergunta édo Dr. Paulo Ricardo, Coordenador de Fiscalização da Receita Federal.

Pergunta do Dr. Luiz Jair Cardoso, Superintendente da 10ª Re-gião Fiscal, Rio Grande do Sul: “Segundo reportagem publicada no JornalZero Hora, edição do dia 8 de julho próximo passado, sobre um empresá-rio paraguaio dono de duas fábricas importantes de cigarros no Paraguai;contra esse empresário tramitam no Paraguai cerca de trinta ações cíveis epenais movidas por indústrias brasileiras quanto à falsificação de suas mar-cas. Pergunta: a Justiça paraguaia é eficiente na decisão de processosdesse tipo?”

Gustavo Alberto Ivaldi Gonzalez – Com respeito ao caso queestá mencionando o Sr. Cardoso, a justiça do Paraguai é como todas as justi-ças. E já escutamos vários expositores, de diferentes países, relatando a difi-culdade que têm no cruzamento de implicações aduaneiras e judiciais. Sabe-mos que qualquer fato ilícito, qualquer tipo de irregularidade, de fraude, deinfração que envolva o contrabando tem duas vias: a aduaneira e a penal.Temos dificuldades no Paraguai, e, como sabemos, outros países também têmdificuldades nesse cruzamento. Com respeito ao caso específico que o Sr.Cardoso está mencionando, creio que se enquadra nesse tipo de dificuldadeou inconvenientes que tem nossa legislação.

Evandro Pedro Pinto – Obrigado. Uma pergunta do Delegado deSanto Ângelo. Vou deixar para ser respondida pelo palestrante brasileiro por-que isso consta dos dados que ele vai nos apresentar.

Quais cidades paraguaias, Sr. Gustavo, possuem fábricas de cigar-ros já instaladas? Onde serão instaladas novas indústrias que, por ventura,

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tenham requerido registro? Existe alguma rota conhecida das autoridadesparaguaias de contrabando de cigarros para o Brasil? Quando da implanta-ção de áreas de controle integrado das fronteiras, o Paraguai disporá dosmeios necessários para assegurar inclusive a integridade física dos servidoresque participarão dessa atividade de controle integrado?

Gustavo Alberto Ivaldi Gonzalez – Segundo meu conhecimento,existem, aproximadamente, vinte fábricas de tabaco no Paraguai, distribuídasem Assunção, Encarnação e Ciudad del Este.

Quanto à pergunta sobre implantação da área de controle, é inten-ção de nosso governo erradicar, de uma maneira ou de outra, as irregularida-des que existem no país. Assim, as áreas de controle, concernentes especifi-camente à atuação da Comissão Interinstitucional de Luta Contra o Contra-bando e a Evasão Impositiva, criada há alguns meses, referem-se, como esta-belece o decreto, à área primária e à área secundária.

Para a área primária será implementado um tipo de controle“semafórico” dos despachos e das mercadorias e contêineres que estejamnas aduanas.

Na zona secundária, o estabelecimento de postos de controle emdistintos lugares, em caminhos estratégicos de movimento de mercadorias,exigindo-se um documento, seja despacho de exportação ou algum outro tipode comprovante, como fatura fiscal, de crédito, nota de revisão ou nota deenvio, que é um documento não-contábil, mas que serve para a mercadoriatransitar de um local para outro.

Como mencionado pelo Pedro, a Comissão Interinstitucional, emfuncionamento há um mês, já tem uma grande quantidade de resultados, e asnotícias de jornal, incoerentemente, dizem, com um título enorme: “Não háresultados da operação anticontrabando”. Há mais de quinhentos contêineresfora do país, esperando que acabe o controle, para dar entrada no país. Emoutro lugar diz: “Em Ciudad del Este fechem a ponte (Ponte da Amizade) emoposição à Comissão Interinstitucional de Luta Contra o Contrabando”. Emseguida diz: “Preferimos ficar parados e sermos tributados legalmente.” E, as-sim, temos muitos outros casos.

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Enfim, o que quero dizer é que a intenção do país, da República doParaguai, é correção. Estamos empenhados em corrigir e necessitamos daajuda de todos.

Evandro Pedro Pinto – Passo a palavra ao Marcelo Menezes parafalar em nome da representação brasileira.

Marcelo Fisch de Berredo Menezes – Boa tarde a todos. Nãosei se é bom ou ruim ser o último palestrante do Seminário. Imagino que todosestejam cansados. Pretendo ser o mais objetivo possível.

Minha palestra se resume basicamente em descrever um pouco doque o Governo brasileiro, especialmente a Secretaria da Receita Federal, vemdesenvolvendo ao longo dos últimos cinco anos, mais especificamente dentroda gestão do Dr. Everardo Maciel, no setor de cigarros. Não foram poucasas ações desenvolvidas. Foram muitas e vou tentar passar para vocês asprincipais medidas que foram adotadas e os reflexos decorrentes dessas me-didas no setor fumageiro. Pretendo ser breve, Sr. Presidente, mais rápido doque meu colega de protocolo.

Apenas para dar um panorama – é claro que muita gente já falousobre isso aqui –, são informações que temos dentro da Secretaria da ReceitaFederal prestadas pelos próprios fabricantes de cigarros instalados no Brasil.Atualmente, temos 14 empresas que exercem a fabricação de cigarros noBrasil, sendo 16 fábricas instaladas basicamente nos estados do Rio Grandedo Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e uma grande fábrica em Minas Gerais.

A produção formal do ano 2000, declarada à Receita Federal, foi daordem de 97,4 bilhões de unidades de cigarros. Os cigarros hoje estãocategorizados em quatro classes distintas. Essa categorização foi feita para efei-to de pagamento de IPI, que hoje é um dos principais impostos, responsávelpela principal fonte de arrecadação do setor de cigarros. Os cigarros de classeI, assim denominados os de baixa qualidade, respondem por 59,6 bilhões deunidades, ou seja, 61% da produção total está situada nessa faixa. O faturamentodo ano 2000 das fábricas de cigarros foi de R$6,2 bilhões, gerando uma arreca-dação de impostos federais de R$2,4 bilhões. Desses, a arrecadação do IPI,que, como disse a vocês, é a principal delas, foi da ordem de R$2 bilhões.

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A arrecadação principal do ICMS em nível estadual, considerandoa produção atual, gira em torno de R$1 bilhão, R$1,5 bilhão. Preço médio devenda a varejo, considerando essas informações hoje no Brasil: um maço decigarros hoje só pode ser comercializado se contiver vinte unidades. Essa éuma determinação prevista em lei, no regulamento do IPI. Então, o preçomédio de venda a varejo do maço de cigarros contendo vinte unidades é daordem de R$1,29.

É importante destacar o cigarro como um produto atípico, porquequase 75%, dependendo do preço que se pratica no mercado hoje, é cargatributária, e a Receita Federal tem se preocupado muito com a tributaçãodesse produto em função do contrabando e da questão da saúde. Não pode-mos simplesmente aumentar a carga tributária e dizer que o consumo de cigar-ros vai diminuir e a arrecadação vai aumentar, porque estaríamos sendo muitoingênuos ao fazer esse tipo de afirmação. Sabemos que existe uma fontegrande de alimentação desses produtos no mercado ilegal em razão do grandeganho e dos altos lucros que a sonegação desse produto proporciona.

As principais práticas do setor, desde 1995 e até antes disso, são asseguintes: cigarros produzidos no Brasil e vendidos sem o pagamento de im-postos, cigarros exportados para países limítrofes com posterior retorno aoBrasil sob a forma de contrabando e cigarros de origem estrangeira, fabrica-dos principalmente nos países limítrofes, notadamente Paraguai e Uruguai, eingressados no País de forma ilegal.

Vou fazer uma exposição sobre cada um desses tópicos e tentardizer o que o Brasil vem fazendo para coibir esse tipo de prática.

Com relação aos cigarros produzidos no Brasil e vendidos sem o paga-mento de impostos, o Brasil adota uma série de medidas para controlar as fábricasatualmente existentes. Dentre essas medidas, temos o registro especial. Nenhumafábrica no Brasil pode operar sem estar nesse registro, é condição sine qua non.Temos o selo de controle, a declaração especial que foi instituída em 1998, deno-minada Declaração Especial de Informações Relativas à Tributação do Setor deCigarros, chamada DIF-Cigarros. Efetuamos também monitoramento à distânciae um trabalho de fiscalização permanente e sistemática nas fábricas.

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Com relação ao registro especial, existem alguns critérios e condi-ções para que uma fábrica possua o registro para fabricar cigarros aqui noBrasil. A primeira delas é estar legalmente constituída, a segunda, ter um capi-tal social mínimo de R$500.000,00. Essa exigência não é feita para aquelasempresas que se habilitam a fazer simplesmente a importação de cigarros.Esse capital mínimo é exigido em função do maquinário que não é barato e éadquirido do exterior. São máquinas estrangeiras para o empacotamento e afabricação de cigarros. Então deve haver uma capacidade mínima para justi-ficar a compra desse maquinário. Instalações industriais adequadas. Isso éóbvio para a Receita, mas nem sempre para alguns fabricantes que tentaramse instalar no Brasil, e, quando fomos verificar as condições da fábrica, ela nãoconseguia produzir nem um maço de cigarros.

Contadores automáticos de produção. Isso foi uma exigência cons-tituída pela Lei nº 9.822, de 1998, só que até agora não conseguimosimplementá-la em todas as fábricas. Estamos em contato permanente com opessoal do Inmetro, que tem nos ajudado bastante, mas a nossa dificuldadeconsiste em que cada fábrica possui um tipo de maquinário diferente. Algu-mas fábricas são supermodernas, com contadores de última geração, e háalgumas máquinas para as quais é preciso colocar uma pessoa do lado con-tando, porque é difícil imaginar que seja possível instalar um contador automá-tico nesse tipo de maquinário.

Por último, comprovar a regularidade fiscal de sócios, pessoas físicase jurídicas, diretores, gerentes, administradores e procuradores. Isso tem gera-do uma certa problemática para a Receita Federal, especialmente porque temosvisto ao longo dos últimos tempos uma transferência da participação societáriadas empresas do Brasil para países estrangeiros. Algumas fábricas brasileirashoje, que eram eminentemente nacionais, já têm 99,99% do seu capital socialpertencente a fábricas no estrangeiro. Tivemos o caso inclusive de uma fábricaque entrou com registro especial, e as fábricas que eram proprietárias dela sesituavam no país vizinho, Uruguai. Ao analisar o balanço dessas fábricas, via-seque cada uma continha um capital social integralizado de US$5 mil, que é omínimo exigido pelo Uruguai para se constituir uma empresa, e empréstimos damonta de US$1 milhão a US$2 milhões para poder justificar o investimento aqui

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nas fábricas brasileiras. É claro que não conseguimos, este seria um de nossosgrandes desejos, saber de onde vem esse dinheiro proveniente dos empréstimosregistrados nesses balanços dessas empresas.

Outro problema que temos refere-se às ações judiciais. Hoje temosseis empresas operando sob medida judicial. As empresas de pequeno portese utilizam normalmente desse artifício em função de não conseguirem se en-quadrar nos critérios e diretrizes estabelecidos pela Receita Federal, e utili-zam o Poder Judiciário para conseguir o seu registro. Então, temos hoje trêsfábricas que operam sem registro especial, duas com registro provisório, umaque o Poder Judiciário determinou o fornecimento de um registro provisório eoutra que conseguiu recentemente o fornecimento de selos de controle sem odevido registro especial. Temos dispendido muitos esforços para derrubartodas essas ações. Conseguimos sucesso em muitas delas, mas não é fácil. Acada dia que passa, recebemos um mandado de intimação de algum lugar doPaís com um pleito diferenciado de cada uma dessas empresas. Existe umcaso particular de uma empresa que opera desde 1993 sem registro especial,cujo processo está no Superior Tribunal de Justiça, desde 1998, concluso aoJuiz Relator para a sentença. Há três anos insistimos junto à Procuradoria daFazenda Nacional para que esse processo seja julgado. Não se sabe por quemotivo ele não vai à pauta de julgamento.

Existem também empresas que, baseadas em simples notícias de jor-nal, entram com pedidos junto ao Poder Judiciário para que a Receita nãocancele o seu registro especial. A Receita tem feito muitos trabalhos na áreade prevenção aos ilícitos praticados pelas fábricas, então elas entram com umpedido no sentido de que caso venham a praticar algum ilícito a Receita Fede-ral não tenha condições de cancelar o seu registro. Por incrível que pareça,esse tipo de ação ainda prospera.

Outra medida adotada há muitos anos pelo Governo brasileiro dizrespeito ao selo de controle. Uma das finalidades principais desse selo é ocontrole da arrecadação e, atualmente, junto com a DIF-Cigarros, o controleda produção e da fabricação desses produtos. O selo é fornecido pela Secre-taria da Receita Federal e confeccionado pela Casa da Moeda do Brasil. Ele

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contém diversas características de segurança e, em 1999, em função do ele-vado índice de falsificação desse selo, fizemos uma mudança, adicionandonovas características de segurança.

Já observamos ao longo dos últimos dois anos, de 1999 para cá,que a indústria de falsificação de selos evoluiu tanto a ponto de conseguirpraticamente produzir um selo, para não dizer 100%, com 90% das caracte-rísticas hoje feitas pela Casa da Moeda.

O selo também é utilizado para se fazer o controle da arrecadaçãotributária em função da classe do cigarro, como falei para vocês. Para cadaclasse de cigarros, temos um valor de IPI devido. Já estamos estudando, juntocom a Casa da Moeda, a reformulação do selo de controle que deverá ser feitabrevemente. Deveremos ter um produto novo, mas a idéia da Secretaria daReceita Federal – e o Dr. Everardo tem nos mostrado isso – é sistematicamenteimplementarmos novos aspectos de segurança nesse selo. Estão aqui algunsexemplos de modelos do selo de cigarros, que varia principalmente em funçãoda cor, e temos aí um selo de exportação. Inclusive outro dia detectamos umafábrica no Paraguai que entrou com um pedido de registro junto ao governoparaguaio desse selo para aplicar nos seus produtos lá no Paraguai.

A DIF-Cigarros é uma obrigação acessória que foi instituída em1999, desde julho de 1999, onde há uma declaração que é entregue mensal-mente pelos fabricantes de cigarros. Era entregue em papel, de julho de1999 a dezembro de 2000, e informava basicamente a produção de cigarrospor classe, o consumo de selos mensal e por decêndio – o IPI hoje é umtributo de apuração decendial –, bem como o faturamento e os impostosdevidos pelas fábricas.

A partir de janeiro de 2001, desenvolvemos um programa que estáinclusive disponível no site da Receita Federal na Internet, cujo endereço éwww.receita.fazenda.gov.br, para que as informações chegassem por meiomagnético. Além das informações que tínhamos em papel, são também forne-cidos hoje a produção de cigarros por marca, respectivos preços, e todos osinsumos recebidos pelas fábricas brasileiras. Qual é o objetivo principal dis-so? Termos informação e fazermos um cruzamento com as informações que

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temos dentro da Secretaria da Receita Federal, de forma a maximizar a efici-ência do trabalho fiscal. De que forma é feito isso?

Monitoramento à distância. Tendo as informações de produção, quesão fornecidas pelas empresas por intermédio da DIF-Cigarros mensalmente, ten-do a informação dos selos de controle que fornecemos às fábricas, tendo a infor-mação da arrecadação e dos pagamentos que são efetuados pelas empresas e dosinsumos que são fornecidos, temos condição de praticamente fazer uma auditoriaà distância nas fábricas. Estamos desenvolvendo um software gerencial dentro daSecretaria da Receita Federal que pode nos apontar com precisão bastante gran-de qualquer provável ilícito que esteja sendo cometido em nível de falta de paga-mento de impostos, venda de produtos sem o selo de controle, diferença no esto-que de selos, para que possamos agir de forma rápida e imediata.

Essa autuação é feita por intermédio dos nossos grupos especiais defiscalização que foram constituídos há alguns anos. Constituímos dois gruposespeciais de fiscalização: um voltado para trabalho específico no Rio de Janei-ro, composto de cinco auditores fiscais, e um em São Paulo, também com-posto de cinco auditores fiscais. Em função do trabalho que é feito na Coor-denação da Secretaria da Receita Federal, do monitoramento à distância, sãoapontados possíveis indícios de irregularidades e acionados os grupos especi-ais de fiscalização para que façam uma verificação in loco daquilo que estáacontecendo. A idéia é acompanhar mensalmente a arrecadação e estar pre-sente no momento ou logo próximo ao momento da ocorrência de um possívelilícito junto ao fabricante. Apenas para que vocês tenham uma idéia, em ter-mos de autos de infração lavrados de 1997 a 2000, foram R$1,2 bilhão deconstituição de crédito tributário e atualmente seis fábricas de cigarros estãosob ação fiscal desses grupos de fiscalização.

Falei para vocês do problema da falsificação de selos. Além disso,tivemos apreensões, somente no ano 2000, em torno de cinco milhões deselos falsos. Selos falsos que digo são selos soltos apreendidos e selos aplica-dos em maços de cigarros. Estou falando isso em termos de resultado defiscalização de tributos internos. Meu colega Ribamar vai falar daqui a poucoem termos de resultado de vigilância e repressão na área aduaneira.

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Com relação à questão interna, essas são as medidas que tomamos.Quanto ao segundo problema que listei para vocês no começo da apresenta-ção, os cigarros exportados para países limítrofes com posterior retorno aoBrasil sob a forma de contrabando, existia um incentivo muito grande ao retor-no desse produto ao Brasil em função da desoneração das exportações e deuma rede de distribuição organizada desses cigarros tanto do lado paraguaio,quanto do lado uruguaio, além dos altos lucros que essa atividade proporcio-na. Dr. Milton Cabral falou muito bem sobre a distribuição de cigarros deforma ilegal, não vou adentrar muito nesse mérito.

Em função desse problema, em 1998, resolvemos instituir o Im-posto de Exportação de 150% sobre o produto cigarro para países da Amé-rica do Sul e América Central, inclusive Caribe. Apenas para que vocêstenham uma idéia do que era o problema em 1998, temos no quadro abaixo,– não sei se vocês vão conseguir ver, espero que sim – da evolução dasexportações de cigarros para o Paraguai e o Uruguai, em 1998, mês a mês.Vocês podem ver que fechamos o ano de 1998 com US$213 milhões parao Paraguai, e US$58 milhões para o Uruguai. Em termos de quantitativo decigarros, somando os dois países, tivemos praticamente pouco mais de 28bilhões de unidades sendo remetidas para esses dois países. Se considerar-mos que tanto Paraguai quanto Uruguai produzem o suficiente, muito maisdo que o suficiente, para o seu abastecimento regular, isso não eram núme-ros muito animadores, o que levou o Brasil a adotar esse tipo de medida.Vejam que a partir de 1999 os números caíram significativamente e desdeagosto não se tem mais registro de exportações, pelo menos regulares, paraesses dois países, nem para outros países da América.

Com a adoção dessas medidas, começamos a receber informaçõesprestadas tanto pelos fabricantes de cigarros quanto pelo nosso serviço deinteligência sobre a questão da quantidade de fábricas que estavam se insta-lando no Paraguai. A informação que tínhamos em 1998 – e isso não sãodados oficiais – é de que existiam doze fábricas localizadas no Paraguai. Em1999, após a adoção da medida, esse número aumentou para 19 fábricas.Hoje a informação que se tem – gostaria até de ir lá pessoalmente para confe-rir – é que existem 25 fábricas localizadas no Paraguai.

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No Uruguai, verificamos um crescimento substancial não de fábri-cas, mas de capacidade de produção. As fábricas aumentaram a sua capaci-dade de produção, verificada em função do elevado quantitativo de insumosexportados para esses dois países. Vocês podem observar isso nos quadrosque estou passando. Temos três quadros correspondentes aos três principaisinsumos utilizados para a fabricação de cigarros. No primeiro quadro, o fumo.No ano de 1998 existiam oito mil toneladas de fumo sendo exportadas para oParaguai. No ano 2000, dados até outubro, esse número passou para 13 miltoneladas. No Uruguai, aumentou de 4.200 toneladas para 5.170, em 1999,para 6.190, no ano 2000, um aumento de quase 50% em relação ao fumo.

Em relação ao papel para cigarros, vimos um incremento muito grande,notadamente para o Paraguai, aumentando de 402 toneladas para 837 tonela-das no ano 2000, crescimento significativo. E de cilindros, vemos aí um cres-cimento significativo, principalmente no Uruguai, aumentando de 101 tonela-das em 1998, quando da adoção da medida de restrição da exportação decigarros, para 178 toneladas de cilindros para filtros de cigarros.

Em função desse elevado crescimento, o Brasil não podia continuarfomentando, com seus insumos, produtos contrabandeados cujo destino final,como se sabia, era o próprio Brasil. Não sabíamos que tipo de resultado

P e s o L íq .(K g ) Q td e ( m ilh e ir o ) V a lo r ( U$ ) P e s o L íq .(K g ) Q td e ( m ilh e ir o ) V a lo r ( U$ )

J AN 1.733.550 1.654.230 17.174.184,00 257.813,00 263.040 3.176.382,00F EV 2.020.125 1.907.360 18.578.946,00 340.317,00 355.500 3.836.323,00M AR 2.580.524 2.540.810 25.895.916,00 205.807,00 212.680 2.690.844,00ABR 2.592.676 2.581.340 24.217.687,00 336.933,00 346.010 3.607.473,00M AI 1.992.380 1.866.590 18.966.643,00 381.209,00 391.670 4.250.365,00J UN 1.899.371 1.857.530 16.842.998,00 809.985,00 829.330 8.645.630,00J UL 1.977.738 1.902.240 20.111.848,00 707.952,00 738.760 7.685.400,00AG O 1.716.875 1.522.140 15.640.378,00 382.745,00 387.600 4.194.040,00S ET 1.874.597 1.848.130 16.750.154,00 628.481,00 648.350 6.636.080,00O UT 2.266.143 2.331.670 19.019.765,00 243.083,00 237.070 2.175.845,00NO V 1.626.052 1.629.460 12.164.025,00 758.890,00 784.790 6.623.219,00DEZ 1.074.456 1.032.770 8.497.217,00 452.669,00 352.050 4.681.960,00

T O TAL 2 3.354. 487 2 2.674. 270 2 13.859 .761, 00 5 .505. 884 5 .546. 850 5 8.203. 561,0 0J AN 89.970 72.000 546.800,00 115.707 96.550 916.175,00F EV 52.680 48.000 359.300,00 75.120 62.400 618.140,00M AR 105.800 100.000 686.500,00 88.588 78.200 635.200,00ABR 177.400 160.000 1.043.500,00 68.466 57.200 465.280,00M AI 116.000 100.000 673.000,00 87.620 78.080 627.580,00J UN 74.600 60.000 392.500,00 29.484 25.400 183.700,00J UL 19.968 20.800 166.400,00AG OS ETO UTNO VDEZ

T O TAL 6 16.450 5 40.000 3 .701. 600,00 4 84.953 4 18.630 3 .612. 475,00

1 998

1 999

P a ís de De stino P a ra gu a i Urug ua iAn o/M ê s

P rod uto Cig a rro sCó d. NCM 2 402.20 .00

Quadro 1

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obteríamos em razão da tributação de 150% desses insumos. Mesmo quenão obtivéssemos o resultado desejado em função de outros mercados que ospaíses poderiam procurar, a questão principal era que não podíamos fomentaro contrabando com produtos brasileiros; por mais prejuízo que isso viesse atrazer à economia brasileira em termos de criação de empregos e de balançacomercial, prejudicamos nossas exportações, em termos de lucros para asempresas brasileiras exportadoras de insumos. Mas o problema do contra-bando supera a questão privada. O interesse público é muito maior do que ointeresse privado neste caso e foi o que justificou a medida do Imposto deExportação em 150% para esses insumos.

Temos hoje cigarros de origem estrangeira, marcas próprias,notadamente produzidas no Paraguai e no Uruguai, e marcas brasileiras, pro-duzidas pelas grandes fábricas brasileiras, sendo falsificadas nos países limítrofes,ingressando também no País de forma ilegal. Como disse para vocês, emfunção do aumento do número de fábricas no Paraguai e do aumento da capa-cidade de produção no Uruguai e do aumento na exportação de insumos doBrasil para esses dois países.

Um fato interessante que eu gostaria de ressaltar é como o crimeorganizado e as redes de distribuição de que estamos falando agem de formarápida nesse mercado e no de outros produtos contrabandeados ou falsifica-dos de modo geral. A restrição ao fumo, o Imposto de Exportação foi aplica-do ao Paraguai e ao Uruguai; e aos produtos cilindro e papel foi aplicado oImposto de Exportação a todos os países da América do Sul, Central e aoCaribe, fora a Argentina, Chile e Equador.

Temos um número interessante, no quadro abaixo, para que vocêsobservem como isso funciona. Especificamente, um exemplo: cilindros parafiltros de cigarros. Notem que, nos anos de 1998 e 1999, tínhamos exportaçõesinexpressivas desse tipo de produto para a Argentina e para o Chile: duas tone-ladas, uma tonelada para a Argentina e nada para o Chile. Os decretos de Im-postos de Exportação para os insumos foram editados em outubro de 2000.Coincidentemente, a partir de novembro de 2000, vejam aí: 31 toneladas para aArgentina; em dezembro, 33 toneladas e, somente no ano 2001 já estamos com

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101 toneladas, mas já temos notícia que existe uma fábrica de filtros instaladano Paraguai e que, provavelmente, esses produtos já estavam indo para oChile, mas paravam no Paraguai. Para vocês verem a capacidade de respostaque esses grupos têm nesse mercado.

Apenas para resumir o que falei, esse foi um panorama geral; o Bra-sil tem adotado medidas internas e externas para tentar conter e controlar osilícitos praticados pelo setor de cigarros, passando obrigatoriamente pelo con-trole da produção das fábricas, das marcas, preços e quantidades e do desti-no desses produtos. Qualquer país que tenha fábricas de cigarros instaladas,temos que saber que fábricas são essas, que marcas produzem, os preços, asquantidades produzidas, para quem, qual é o destino final desses produtos.

Obrigações acessórias condicionais, tais como selo de controle, paragarantir a autenticidade do produto brasileiro, e a prestação periódica de in-formações à administração tributária. Falamos muito da necessidade, e isso éfundamental, de se ter uma inteligência fiscal dentro das administrações tribu-tárias, mas acho que, além disso, precisamos aprender a trabalhar de formainteligente. Temos conseguido fazer isso em detrimento da escassez de mão-de-obra que temos hoje na Secretaria da Receita Federal.

Pe s o L íq.(Kg ) V alo r (U$) Pe s o L íq.(Kg ) V alo r (U$)1998 TO TAL 2.511 23.047,00 0 0,001999 TO TAL 1.268 10.259,00 0 0,00

JAN 2.354 16.921,00 0 0,00FEV 0 0,00 0 0,00M AR 4.894 35.280,00 0 0,00ABR 0 0,00 0 0,00M AI 0 0,00 0 0,00JUN 0 0,00 0 0,00JUL 0 0,00 0 0,00AGO 0 0,00 0 0,00S ET 0 0,00 0 0,00OUT 0 0,00 0 0,00NOV 31.395 160.811,00 2.507 14.396,00DEZ 33.819 192.392,00 6.268 35.991,00

TO TAL 72.462 405.404,00 8.775 50.387,00JAN 9.694 65.960,00 0 0,00FEV 6.862 54.127,00 0 0,00M AR 2.999 18.554,00 0 0,00ABR 3.817 30.107,00 0 0,00M AI 64.137 280.128,00 0 0,00JUN 7.073 49.904,00 0 0,00JUL 7.214 50.902,00 0 0,00

TO TAL 101.796 549.682,00 0 0,00178.037 988.392,00 8.775 50.387,00TO TAL GERAL

Cód. NCMP a ís d e De stino

Ano/M ê s

2000

Chile

Cilind ro s p/fi ltro s de ciga rro s(5601.22.91)

P ro duto

2001

Arg e ntin a

Quadro 3

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SSSSSEMINÁRIOEMINÁRIOEMINÁRIOEMINÁRIOEMINÁRIO I I I I INTERNACIONALNTERNACIONALNTERNACIONALNTERNACIONALNTERNACIONAL SSSSSOBREOBREOBREOBREOBRE F F F F FRAUDESRAUDESRAUDESRAUDESRAUDES NONONONONO S S S S SETORETORETORETORETOR DEDEDEDEDE C C C C CIGARROSIGARROSIGARROSIGARROSIGARROS

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Fazemos cruzamento de informações, como falei para vocês, pelomonitoramento à distância e a fiscalização e repressão permanente, tanto emnível de tributos internos como em nível de fronteiras, como vai ser falado pelomeu colega Ribamar. Outro fator fundamental que provoca reações de grandemonta no setor de contrabando e em sua rede de distribuição é estarmosatualizando permanentemente a legislação relativa ao setor. A resposta é ime-diata. Vemos que, com a simples inclusão de determinados artigos ou parágra-fos na legislação atualmente existente, conseguimos resultados muito positivosno combate a esse tipo de ilícito.

Além das medidas internas, temos as medidas externas. O proble-ma de contrabando no Brasil era, até 1998, eminentemente brasileiro. Cres-ceu significativamente a partir das medidas adotadas pelo Governo brasileiropara combater esse tipo de ilícito. Quando digo cresceu, foi além de suasfronteiras, para países do Mercosul principalmente. Faz-se fundamental hoje– e vimos fazendo um trabalho árduo desde o ano passado, junto com repre-sentantes dos demais países – a elaboração de acordos de cooperação mú-tua, a exemplo do que foi mencionado pelo colega Salcedo, do Paraguai, masque infelizmente ainda não foi incorporado na legislação brasileira nem ainda,que eu saiba, na legislação do governo paraguaio. Esses acordos de coopera-ção mútua têm que passar obrigatoriamente por uma harmonização da legisla-ção do setor, ou seja, a carga tributária tem que ser pelo menos parecida emambos os países, tem que haver uma troca de informações permanente. Comofalei para vocês, a questão da resposta rápida que o crime organizado provo-ca e consegue dar em termos das medidas que são adotadas pelos governos,pelas administrações tributárias; precisamos modernizar-nos nesse sentidotambém. Vimos o Dr. Nelson Jobim falando que hoje, para conseguir umainformação em outro país, você tem que sair da Receita Federal, ir para oItamaraty, do Itamaraty ir para o outro país, que vai para... Ou seja, levamuito tempo e nesse muito tempo milhões e milhões de reais ou de dólares sãoperdidos na atividade ilícita.

A troca de experiências é fundamental e temos visto isso nas visitasque fizemos ao Paraguai. Eles sentem muito interesse na experiência brasilei-ra. E a parceria nas ações de fiscalização, ou seja, possibilitarmos que audito-

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res dos países limítrofes, Argentina, Paraguai e Uruguai, venham ao Brasil,conheçam a realidade brasileira e que também possamos atuar em conjuntocom eles nos respectivos países.

O mundo hoje é globalizado, as respostas são rápidas e o Governo,o poder público, também tem que dar uma resposta rápida nesse sentido. OProfessor Gustavo Gonzalez mencionou, na sua palestra, que precisa de ajudae quer ajuda. Queria dizer-lhe que estamos dispostos a fornecer essa ajuda.O que o Brasil mais quer é tentar combater esse ilícito. Todos os esforçosestão sendo empreendidos para que possamos alcançar nossos objetivos.

Gostaria de passar a palavra ao Dr. Ribamar, que vai falar sobre a ques-tão aduaneira em poucos minutos, e de agradecer a todos vocês. Obrigado.

Evandro Pedro Pinto – Dr. Ribamar, como conheço a sua capaci-dade de síntese, o colega terá cinco minutos para falar.

José Ribamar Barros – Boa noite a todos. Há uma máxima na áreaaduaneira de que as decisões precisam ser tomadas imediatamente e o aduanei-ro deve estar sempre pronto para assumir qualquer desafio. Foi nesse sentidoque aceitei o desafio do colega Marcelo para falar um pouquinho da área adua-neira. É lógico que depois da apresentação que ele fez não há muita coisa a sefalar. Por isso, com esse tempo de cinco minutos, gostaríamos de dizer poucascoisas que consideramos importantes para o trabalho dos aduaneiros.

O assunto cigarro é muito importante. Vemos que muitas ONG es-tão aqui presentes, muitas entidades, e, participando do Conselho FederalAntidrogas, também estivemos presentes no momento em que se estava esta-belecendo no Brasil aquele registro, na carteira, dos teores do cigarro.

Do ponto de vista da atuação da Receita Federal, a área aduaneiraatua basicamente em três fontes; três tipos de ilícitos aduaneiros são observa-dos: o cigarro brasileiro que retorna ao País, até poucos anos, era a principalatuação que tínhamos, principalmente na área de fronteira. Como foi dito pelaDra. Bianca, eram contrabandos realmente apreendidos. Esses casos tam-bém ensejam representação fiscal para fins penais.

Outra forma que temos observado mais nos últimos tempos são jus-tamente as marcas brasileiras e estrangeiras falsificadas que voltam para o

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Brasil e que também são apreendidas e classificadas como contrabando,ensejando a representação. Eu não falaria em números, quantos milhões demaços ou de cigarros foram apreendidos pelo Brasil nos últimos tempos, atéporque observamos que há uma dificuldade de chegar-se a uma conclusãoprática quanto aos números. As empresas informam um número, sempre háaquele percentual de contrabando e descaminho, então realmente temos difi-culdade de precisar. Por isso, trouxe um exemplo para falar para vocês deuma apreensão recente, no porto de Santos. Foi apreendido um carregamen-to com nove contêineres que resultou em 63 milhões de cigarros, num total deR$33 milhões aproximadamente.

Na nossa atuação na Receita Federal, dos fiscais da área aduaneira,o cigarro constatado ilegalmente com os viajantes ou nos próprios veículos éimediatamente apreendido. Além da apreensão da mercadoria e da perda,existe também a aplicação da multa. Essa multa, principalmente neste ano,está sendo bastante aplicada. Temos um crescimento muito grande dos autosde infração de multas dos cigarros.

Quanto aos ônibus que transportam as pessoas e suas bagagens,principalmente vindos da fronteira do Brasil com o Paraguai, que trazem essasmercadorias não-identificadas, estamos utilizando uma prática de consideraraquelas mercadorias não-identificadas que são abandonadas em nome daempresa responsável pelo ônibus. Nesse caso, já existe uma portaria do Mi-nistério dos Transportes que obriga essa identificação, por isso lançamos amulta contra essa transportadora.

Como falei, nesses casos que são considerados contrabandos, alémda apreensão e da multa, também fazemos a representação fiscal para finspenais. Como disse a Dra. Bianca, agora há uma praxe no Judiciário de queos valores inferiores a R$2.500,00 sejam arquivados e não julgados. Noentanto, essa atividade toma-nos muito tempo na área aduaneira, porque so-mos obrigados a fazer isso.

Tenho atuado há algum tempo nessa área, estive em Foz do Iguaçu,convivi com os problemas que o colega Mauro está enfrentando agora. Nos-so grande problema era como fazer a destruição dos cigarros. Hoje eles já

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têm uma técnica de destruição que, creio eu, será adotada até para atender asexigências dos órgãos ambientais.

Gostaria muito de dizer também, até mesmo observando o que disseo nosso colega da Polícia Federal, que realmente precisamos fazer aquelestrabalhos integrados. Além da Receita Federal, no Brasil, a própria PolíciaFederal, a Polícia Rodoviária, as polícias estaduais, todas têm atuação na apre-ensão de cigarros. Como diz o Código Penal, qualquer pessoa do povo tam-bém estaria encarregada de combater esse ilícito aduaneiro e tributário.

Em cinco minutos, o que eu poderia dizer era isso. Agradeço aoMarcelo pela liberação do tempo. Muito obrigado.

Evandro Pedro Pinto – Quero dizer que agradeço aos participantes,mas antes estão sobre a mesa duas perguntas, uma dirigida ao Marcelo, do colegaMarco Araújo, da Secretaria de Fazenda do Estado da Bahia. Diz ele: “Na bri-lhante exposição do fisco espanhol, ficou clara a importância atribuída pelo gover-no espanhol ao controle de suas fronteiras, inclusive por meio de relevantes inves-timentos em equipamentos e recursos humanos. Qual é a futura pretensão da Re-ceita Federal visando tornar mais eficaz o controle e o monitoramento das nossasfronteiras, principalmente nos seus pontos mais vulneráveis?”

Marcelo Fisch de Berredo Menezes – É uma boa pergunta. Gos-taria de repassá-la ao especialista na nossa área aduaneira, Dr. Ribamar, por-que ninguém melhor do que ele para falar sobre a área aduaneira, tendo emvista ser a sua área de atuação.

Evandro Pedro Pinto – Então transfiro a pergunta para compensaro seu pouco tempo na exposição.

José Ribamar Barros – Acho que também não poderia respon-der a essa pergunta, porque aqui está indagando quais seriam as futuras pre-tensões da Receita Federal visando tornar mais eficaz o controle e omonitoramento de nossas fronteiras, principalmente nos seus pontos mais vul-neráveis, fronteiras Brasil – Paraguai e Brasil – Uruguai. Aliás, podemos co-mentar sim.

Estivemos conversando com o Dr. Mauro e ele, na fronteira especí-fica Brasil – Paraguai, da Ponte da Amizade, pretende fazer alguns sistemas de

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monitoramento. Inclusive tem um sistema precário ainda, com poucas câmeras,mas seria um sistema de cadastramento das pessoas. De acordo com a legis-lação brasileira, para obter a isenção de quotas de bagagem, no caso,US$150,00, há um período de trinta dias. No momento em que ele cadas-trasse todas as pessoas que fossem ao Paraguai, realmente teria um tempo dequarentena para voltar, mas são coisas bastante difíceis de implementar. Oresto são muito mais questões da parte de legislação que entendo que sejammais viáveis para que realmente tenhamos um controle maior.

Evandro Pedro Pinto – Obrigado, quero apenas agregar a resposta.O tema aqui está afeto basicamente a mim e à coordenação aduaneira, por inter-médio do Grupo Permanente de Consultas, que é a questão da área de controleintegrado. Devo dizer – e está presente o nosso colega Mauro Brito, Delegado daReceita Federal de Foz do Iguaçu, que poderá confirmar o que lhes vou dizer –que dentro de breves dias estaremos já iniciando o controle integrado, ainda queparcial, naquele posto de fronteira entre Foz do Iguaçu e Ciudad del Este, consis-tente na fiscalização conjunta das exportações brasileiras em real. É um sistemaque criamos aqui em que as cidades limítrofes com os nossos países irmãos podemcomprar no Brasil, em real, como se exportação fora, o que é na verdade, semhaver contrato de câmbio ou certificações de origem, por exemplo. Como é umaexportação, está imune aos tributos internos.

Aconteceu uma coisa interessante, que digo até a título de pilhéria:tínhamos algo em torno de quatrocentos despachos por dia desse tipo decomércio entre Foz do Iguaçu e Ciudad del Este. Pois bem, desses quatro-centos despachos aduaneiros, apenas cento e cinqüenta chegavam ao Paraguai.Os outros duzentos e cinqüenta ou passavam direto pela alfândega paraguaiasem pagar os impostos internos, o IVA paraguaio, 10%, ou então essas cargasmaiores eram desmanchadas na ponte e entravam como se fossem comérciode formigas, fracionadamente, ou o contêiner caía no rio – e não tenho notíciade um acidente nesse sentido –, ou então o Copperfield fazia uma mágica desorte que o caminhão desaparecia no meio da Ponte da Amizade.

Isso vai acabar. Brevemente, essa mercadoria terá que ser apresenta-da do lado paraguaio à nossa aduana brasileira que estará implantada em Ciudad

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del Este ao mesmo tempo em que confirmamos a exportação já do lado paraguaio,então serão pagos os impostos internos do Paraguai, que estará ao nosso ladonas duas aduanas integradas. Isso é fundamental. Dentro de dez a quinze dias,estaremos trabalhando em Ciudad del Este e Foz do Iguaçu.

Dentro de um mês, se tanto. O Dr. Everardo falou que no dia 1º querisso. Disse-me o Sr. Embaixador Arias que o Dr. Everardo falou que no dia 1ºde setembro estaria trabalhando nisso.

Quanto à Ponta Porã e Pedro Juan Cavalero, em Mato Grosso doSul, creio que em mais trinta ou sessenta dias estaremos integrando totalmenteessas duas cidades.

Passo a palavra ao Gustavo, porque ele quer agregar algo.Gustavo Alberto Ivaldi Gonzalez – Obrigado, Dr. Evandro. É

somente para aprofundar um pouco mais. Realmente, como você estavamencionando, estamos dando provas de que temos a intenção de ir corri-gindo todas essas falhas e erros que estamos tendo em nossa fronteira eem nosso relacionamento. E são importantes, então, as medidas que vãoser tomadas, nesse sentido, para descongestionar a aduana, já que é im-possível controlar e verificar, tanto para os brasileiros como para nós. E,um ponto mais, falando somente das estatísticas de exportações. Aqui,também, é necessário ter um cuidado especial, uma atenção especial nasinvestigações que se vão fazer das exportações em papéis. Exportaçõesem papéis, e não importações, e quando são em papéis e não em merca-dorias. Era um ponto mais, apenas, que eu queria chamar a atenção paraque tenhamos os olhos também nisso.

Evandro Pedro Pinto – Uma última pergunta, para a tranqüilidadedos senhores todos, também da Secretaria de Fazenda da Bahia para o Mar-celo: “Dos créditos tributários lançados de 1997 a 2000 no valor de R$1,2bilhão, quanto foi efetivamente pago, se souber informar?”

Marcelo Fisch de Berredo Menezes – Como se tratam de crédi-tos relativamente recentes, os autos de maiores montas foram lavrados aolongo de 1999 e 2000, ainda estão todos sub judice. Temos um percentualbaixo de pagamento em função de que quase todas as empresas possuem

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serviços advocatícios altamente especializados e vão até as últimas instânciasjudiciais contra a constituição desses créditos. Então leva bastante tempo paraesse crédito tributário efetivamente entrar nos cofres da União.

Evandro Pedro Pinto – Quero dizer que não há mais pergunta a serformulada aos participantes. Gostaria de agradecer mais uma vez aos pales-trantes, ao Ribamar, Salcedo, Gustavo e Marcelo, e à Coordenação desteevento por me dar a oportunidade de presidir e moderar esse debate. Agra-deço a todos pela atenção dispensada.

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Cerimônia de Encerramento

Maria de Fátima Pessoa de Mello Cartaxo – Cumprimentoneste momento meus colegas de Mesa, na pessoa do Dr. Rachid, que presideesta Sessão de Encerramento, e de uma maneira muito especial a todos osparticipantes deste Seminário. Gostaria de, nestas palavras de encerramento,parabenizar a Receita Federal pela brilhante idéia, pela iniciativa, pelo carinhoe pelo cuidado com que organizou este Seminário e pelo conjunto de especi-alistas que conseguiu congregar nesses três dias. Realmente, foram três diasde intenso debate intelectual, de intensa atividade. Tenho certeza de que to-dos nós que participamos sairemos daqui enriquecidos com a troca de idéias,com a troca de informações.

De uma maneira também muito carinhosa, gostaria de agradecer avocês, participantes, aos meus colegas da Receita, aos meus amigos da Se-cretaria de Fazenda, aos procuradores da Fazenda Nacional, aos dirigentes eadministradores tributários e a todos os participantes que vieram aos debatescom suas intervenções também contribuir para o atingimento dos objetivosdeste Seminário.

Neste momento, queria registrar, em nome da ESAF, que, para nos-sa honra, hoje recebeu o Prêmio de Qualidade no Setor Público, um certameem que seiscentas e poucas empresas concorreram, mas apenas três foram

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agraciadas com esse certificado. Queria chamar os nossos servidores quetrabalharam neste evento, desdobrando-se e que deram de si o melhor, tenhocerteza. Na recepção, a Dorinha, a Sandra, a Lucineide e o Samerson; narecepção de palestrantes, a Valéria e o Ronaldo, sei que os palestrantes vãoreconhecê-los quando entrarem; na equipe de credenciamento, Alan e Cristina;no apoio ao auditório, a Jussara, a Germana e a Mila; na equipe técnica, aMaria Lúcia; na logística, a nossa Prefeita Marilene; no suporte de informática,Sacramento; no transporte, Itamar; produção gráfica, todo esse nosso materi-al graças à Chefe do Centro de Editoração; no planejamento, não estarão aquipresentes, mas trabalharam junto com Rachid a Lúcia Boreli, a Norma Ávila ea Rosa Torres, pediria um aplauso para elas, que não estão aqui; coordenaçãoe execução, Lúcia Aquino; e na coordenação-geral, nosso Lucena Lima, quese desdobrou durante todo o período nesses três dias.

Então queria que, de uma maneira muito especial, déssemos a todaessa equipe mais uma vez os aplausos finais para que eles possam se retirar.São servidores públicos que se dedicam com muito amor ao que fazem.Isso é importante para revertermos essa imagem do setor público. Temoscompetência e qualidade.

Concluindo minhas palavras, queria registrar que ficou muito eviden-te que o crime e o crime organizado, que é a fraude, só se combate comparcerias, com cooperação interinstitucional. Este Seminário foi um exemplodisso, foi um exemplo de parceria. O Dr. Rachid, com muita competência,muita habilidade, coordenou, com as três coordenações-gerais da Receita,Coordenação de Fiscalização, Coordenação do Sistema Aduaneiro e Coor-denação de Investigação, um programa muito bonito e muito técnico, compe-tente, mas houve a parceria também dos palestrantes, dos organismos interna-cionais, das organizações não-governamentais, das administrações tributárias,quer dizer, desde a concepção até a participação como palestrantes, comoparticipantes. Durante os debates, essa parceria se consolidou por meio datécnica, da cooperação e do intercâmbio.

Então que esse exemplo de parceria que ocorreu desde a constru-ção à sua realização também se perpetue e se desdobre nos próximos passos

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que advirão com os resultados deste Seminário. Muito boa tarde e muitoobrigada a todos vocês.

Jorge Antônio Deher Rachid – Senhores, boa noite. Primeira-mente, gostaria de passar a palavra à Secretária de Fazenda do Estado doPará, Dra. Tereza Cativo.

Tereza Cativo – Boa noite a todos, queria parabenizar a ESAFpor essa brilhante iniciativa de realizar um Seminário internacional de altíssimonível sobre um tema tão complexo, tão estimulante que, como bem colocouum dos palestrantes do Paraguai, não é um problema de um, mas de todos.

Nesses três dias, muito se falou em informações, troca de experi-ências e parcerias e talvez pouco se tenha falado da importância dos esta-dos, enquanto unidades subnacionais, que podem dar mais uma colabora-ção nessa parceria.

O Estado do Pará, infelizmente, é o terceiro do ranking onde oproblema do contrabando do cigarro é mais crítico. Em função dessa questãoe desse problema, queremos nos colocar de público à disposição para quepossamos avançar não só em parcerias com o setor privado, mas fundamen-talmente juntando esforços com o setor público para tentar minimizar o pro-blema e melhor equacionar essa questão em todo o nosso país, em todo ouniverso do Mercosul e dos países limítrofes nossos. Muito obrigada.

Jorge Antônio Deher Rachid – Dra. Fátima, Dra. Tereza, cole-gas integrantes desta Mesa, superintendentes da Receita Federal, delegados,inspetores, autoridades tributárias e aduaneiras estrangeiras, senhoras e se-nhores, gostaria de, em primeiro lugar, agradecer e parabenizar a ESAF, napessoa da Dra. Fátima Cartaxo, pela organização deste evento. Não poderiadeixar de registrar os parabéns a toda a equipe. No início, citaria Dra. LúciaBoreli e Dra. Norma lideradas pelo Dr. Lucena. Em nome da Secretaria daReceita Federal, muito obrigado. Parabéns à ESAF pelos seus vinte e cincoanos, e esse presente que recebeu hoje é meritório.

Não poderia deixar de agradecer também à minha equipe na ReceitaFederal, em especial à Coordenadora-Geral do Sistema Aduaneiro, Dra. ClecyLionço, ao Coordenador-Geral de Fiscalização, Dr. Paulo Ricardo, ao Dr.

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Deomar Vasconcellos, Coordenador-Geral de Pesquisa e Investigação, quemuito contribuíram para a realização deste evento. Muito obrigado.

Como vimos nesse convívio dos últimos três dias, o contrabando decigarros é hoje um problema mundial. Para a Organização Mundial das Adua-nas, é uma questão mais importante no contexto aduaneiro de seus países-mem-bros, tendo em vista bilhões de dólares que são desviados e a ligação com ocrime organizado internacional. O contrabando de cigarros já beira um terçodas exportações mundiais. Conforme mencionado pelo Dr. Marshall, são fabri-cações, quando conhecidas, como demonstradas aqui, bastante primitivas, ge-rando, sem sombra de dúvida, sérios problemas para a saúde pública. O im-pacto na economia é enorme, vocês viram, ocasionando sérias conseqüênciassociais. Isso ocorre – vimos nos diversos painéis desde que começamos onosso Seminário – em primeiro lugar com a qualidade de vida, com a saúde,passando pelos problemas enfrentados pela aduana, mostramos o impacto naeconomia nacional, vimos a questão da falsificação, os aspectos jurídicos, forammostradas experiências de diversos países e, por fim, hoje tivemos pela manhã,basicamente para o nosso continente, as relações no Mercosul e as experiênciasde controle dos quatro países integrantes do Mercosul.

Foi notado, em termos de valores estimados no Brasil, que temos algoem torno de 20% a 22% do faturamento global do setor oriundo do mercadoilegal ou por contrabando, ou por produção ilegal ou por contrafação. Estamosfalando em receitas públicas de algo em torno de R$1 bilhão a R$1,2 bilhão.

Por conta de tudo isso, não podemos saudar a “tiazinha” mostradaontem aqui, a “tiazinha” light – não sei se vocês observaram. Por intermédioda Internet, foi mostrado também na palestra do dia anterior que é possívelcomprar com aquela chamada: fabricamos e exportamos imitações de marcasfamosas. Curioso isso. O contrabando de cigarros é muito atraente para osagentes do crime, com altos lucros.

Desse modo, faz-se necessário aumentar o custo dos produtos ile-gais e apresentar maiores riscos aos agentes da ilegalidade. Esse é o ponto.Sabemos que não é fácil. Foi dito aqui, há pouco, que precisaríamos de mão-de-obra e de recursos. Vamos lá. Não temos uma fronteira marítima como

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tem o Canadá, mostrada ontem, mas temos 7.500 quilômetros de fronteirasmarítimas, mais 15 mil de fronteiras terrestres. Temos o costume de dizer quenem se colocarmos o Exército de mãos dadas conseguiremos coibir o contra-bando. Não é por aí. Temos que maximizar a mão-de-obra, temos que explo-rar, temos que trabalhar com informação. Não adianta. Temos que buscar aomáximo o cruzamento de informações, enfim, trabalhar com inteligência. Cla-ro, a Receita Federal, como administrador tributário, gostaria que houvesseduas ou três vezes mais o nosso contingente, mas temos limitações. E, nosúltimos anos, conseguimos agregar ao nosso quadro algo em torno de 40% damão-de-obra. Para tanto, isso foi colocado em praticamente todas as experi-ências apresentadas, temos que utilizar a informação, a cooperação e a uniãode esforços visando coibir essas práticas delituosas com a Polícia Federal,com a Procuradoria da Fazenda Nacional, com o Ministério Público, com assecretarias de fazenda dos estados. Tem que haver uma conjugação de for-ças. Só assim, creio, poderemos avançar e inibir a prática desses delitos que,sem sombra de dúvida, arruínam a economia brasileira.

Precisamos realmente estabelecer sistemas integrados e automatizadosde trânsito, aprimoramento e desenvolvimento de análise de risco nos recintosalfandegários, utilização de grupos especializados de fiscalização para a realiza-ção de trabalhos dessa natureza, ações integradas de fiscalização. Já foi comen-tado pelo Dr. Evandro o acordo internacional entre Brasil e Paraguai que prevêessas ações. Controle da produção, sem dúvida, precisamos conhecer de ondevêm os insumos, para onde vão, para onde está dirigida a produção. Isso nãosó no Brasil. Conforme comentei, tem que haver cooperação. Enfim, não sãomedidas isoladas, são conjuntos de medidas que irão inibir, dificultar o trabalhodesses agentes. Temos que pensar também, principalmente aqui na América doSul, a questão da harmonização tributária.

Devido ao avançado da hora, todos estão cansados, com vôos mar-cados, mas sairemos seguramente, tenho certeza de que vocês estão levandouma gama de informações e certamente os administradores tributários aquipresentes utilizarão essa informação para futura tomada de decisão. Precisa-mos agir. Chegou a hora de agir, temos que deixar de lado a carta de intenção,o que vamos fazer... Não, temos que agir, temos que partir para a prática e

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diria que nessa batalha, nessa guerra, a Receita Federal não dará trégua. Es-tará firme no combate a essas práticas.

Coloco também, principalmente para os superintendentes aqui pre-sentes, que reduzam os espaços desses agentes que praticam essa forma deevasão, contrabando e descaminho. Como mencionado pelo Dr. Fröhlich,não temos problemas, temos desafios. Coloco esse desafio para todos vocês.Muito obrigado, ótimo retorno.

Maria de Fátima Pessoa de Mello Cartaxo – Cometi uma falhatão grave que, se não fosse um pecado tão grande, eu deixaria passar. Naintimidade que temos, peço licença ao nosso Presidente para fazer uma retifi-cação. Há uma pessoa que não chamei que foi talvez a mais dedicada a esteevento, minha assessora Eloísa, por favor venham cá, Ione e Leika, três pes-soas que, por uma falha minha, deixei de chamar. Queria pedir desculpas avocês, pois não poderia deixar de registrar a participação delas. Obrigada.