JUIZADO JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PBLICA NA COMARCA DE TEFILO OTONI MGAvenida Doutor Jlio Rodrigues, n. 480, Bairro Marajoara - Tefilo Otoni/MG

SENTENA

N de Ordem:123.456 OAB-MG

Processo n: 0686.15.0076832

Natureza:Obrigao de Fazer (Fornecimento de Medicamento)

Autor:Maria Silva Santos

Ru:Secretaria do Estado de Sade de Minas Gerais

Juiz Prolator:Juz de Direito Dr. Pedro Henrique Moura Santos

Data:11/05/2015

Vistos etc.

Maria Silva Santos, j qualificada, ajuizou a presente Ao de Obrigao de Fazer para fornecimento de medicamentos contra a SECRETARIA DE SAUDE DO ESTADO DE MINAS GERAIS, tambm qualificado. Alegou ser portador anemia refratria com sideroblastos, com agravo de sade em virtude do qual foi prescrito, enfermidade identificada pelo CID 10 D 46.1, necessitando fazer uso contnuo do medicamento ALFAEPOETINA 10,000 UI. Relatou que em virtude da urgncia na efetivao do uso do medicamento, que o referido paciente no possui condies de adquirir com seus rendimentos devido o alto custo dos medicamentos sem comprometer sua renda familiar expondo assim em um estado de penria. Diante desse quadro, REQUEREU o fornecimento dos medicamentos com maior urgncia possvel, por entender que seu fornecimento obrigatrio por parte do Estado. Onde foi deferida uma liminar objetivando compelir o ente federativo a fornecer de forma continua e permanente o medicamento ALFAEPOETINA 10,000 UI, instruindo, pois, o exordio com documentos de f.11/23, pugnou pela tutela antecipada para, inaudita altera parts, impor ao ru a obrigao de fornecer o medicamento, no prazo de 72 horas, e assim proceder sucessivamente, fornecendo-lhes os referido medicamento at o dia 5 de cada ms.Para o caso de descumprimento fixaria multa diria de R$500,00 (quinhentos reais), a ser suportada, no momento, pela R, at o limite de R$5.000,00(cinco mil reais)sem prejuzo da cominao de pena por crime de desobedincia ao comando judicial.

Citada, SECRETARIA DO ESTADO DE SAUDE DE MINAS GERAIS apresentou CONTESTAO, defendendo a ILEGITIMIDADE PASSIVA DO ESTADO, assim a patologia apresentada pela parte autora, qual seja, MIELODISPLASIA, no se encontra dentre os CIDs autorizados pelo Ministrio da Sade para o fornecimento do aludido medicamento.Tendo em vista que o medicamento est sendo pleiteado para tratamento de determinado tipo , o seu fornecimento no deve ocorrer por meio de um programa ambulatorial de assistncia farmacutica, conforme apresentados. Houve Rplica (fls. 09/10).

No havendo requerimento de dilao probatria pelas partes, voltaram os autos conclusos para sentena.

Em suma, so os relatos.

DECIDO.

Trata-se de ao de obrigao de fazer, em que requer a parte autora fornecimento dos medicamentos, pelo Estado de Minas Gerais, para o fornecimento dos medicamento ALFAEPOETINA, com vistas ao tratamento de complicaes a anemia refratria com sideroblastos.

Concluo que a pretenso merece prosperar.

Da anlise dos autos depreende-se que restou comprovada a necessidade do autor na obteno dos medicamento requerido ALFAEPOETINA.

Fica comprovada a carncia da mesma em adquirir os medicamentos, por estar desempregada e debilitada, impossibilitada de exercer atividade remunerada, ainda por se tratarem de medicamentos de altssimo custo.

A tutela especfica para fornecer de forma gratuita os medicamentos reservada para pessoas que no possam prover as despesas, sem privarem-se dos recursos imprescindveis ao prprio sustento e de sua famlia, conforme dispem o artigos 1 e 2, pargrafo nico, da Lei n 9.908/93:

Art. 1: O Estado deve fornecer, de forma gratuita, medicamentos excepcionais para pessoas que no puderem prover as despesas com os referidos medicamentos, sem privarem-se dos recursos indispensveis ao prprio sustento e de sua famlia.Art. 2: O beneficirio dever comprovar a necessidade do uso de medicamentos excepcionais mediante atestado mdico.Pargrafo nico: Alm do disposto no caput deste artigo, o beneficirio dever comprovar por escrito e de forma documentada, os seus rendimentos, bem como os encargos prprios e de sua famlia, de forma que atestam sua condio de pobre.

No caso, preenche a demandante os requisitos dispostos na Lei Estadual n 9.908/93, uma vez que se trata de pessoa carente, impossibilitada de prover as despesas com os referidos medicamentos, tanto que j se encontra impossibilitada de prosseguir o tratamento.

Como referido anteriormente, de todo certo que compete Unio, aos Estados e aos Municpios proteger os direitos fundamentais relativos sade e vida dos cidados, conforme regra expressa do artigo 196 da Constituio Federal.

Portanto, notvel que seja imprescindvel o uso dos medicamentos para assegurar o tratamento de sade da autora da ao.

Eis, a respeito, o entendimento do Supremo Tribunal Federal:

DISTRIBUIO GRATUITA, A PESSOAS CARENTES, DE MEDICAMENTOS ESSENCIAIS PRESERVAO DE SUA VIDA E/OU DE SUA SADE: UM DEVER CONSTITUCIONAL QUE O ESTADO NO PODE DEIXAR DE CUMPRIR. O reconhecimento judicial da validade jurdica de programas de distribuio gratuitas de medicamentos a pessoas carentes d efetividade a preceitos fundamentais da Constituio da Repblica (artigos 5, caput e 196)e representa, na correo do seu alcance, um gesto reverente e solidrio de apreo vida e sade das pessoas, especialmente daquelas que nada tm e nada possuem, a no ser conscincia de sua prpria humanidade e de sua essencial dignidade. Precedentes do STF.

Contudo, no caso concreto, como relato no decorrer do processo, fica comprovada a necessidade do demandante em fazer uso contnuo da medicao, ficando condicionada ao risco de perder a vida caso o mesmo no esteja disponvel mensalmente, em doses contidas no relatrio mdico.

Encontra-se expressamente previsto na Constituio Federal 1988, o dever do Estado em atender aos que necessitam de atendimento, podendo fazer analogia ao fornecimento de medicamentos, aos que necessitam, principalmente quando se trata de dependncia permanente e que o seu no uso acarreta graves consequncias sade, cumulada at com o risco de morte.

Por provas apresentadas pela parte autora, fica comprovada a sua real dependncia ao uso dos medicamentos supracitados e devidamente especificada, e a necessidade de recorrer ao estado para realizar o fornecimento dos mesmos, visto sua precariedade econmica. notria a obrigao de fornecer medicamentos, levando em conta o respaldo constitucional da autora.

Diante do exposto, JULGO PROCEDENTE o pedido formulado por ANTNIA COSTA RIBEIRO contra o ESTADO DE MINAS GERAIS, com fundamento no artigo 269, I, do Cdigo de Processo Civil.

Ante o exposto, condeno a SECRETARIA DO ESTADO DE MINAS GERAIS ao cumprimento da obrigao, disponibilizando ambos os tipos de medicamentos mensalmente para autora supramencionada acima, e multa diria de R$500,00 ( quinhentos reais) at o limite de R$5.000,00 (Cinco mil reais), caso no se cumpra a primeira prestao dentro de 72 (setenta e duas horas); a ser revertida, nos termos do artigo 13da Lei 7.347, de 1985, em prol do Fundo Estadual de Defesa dos Direitos Difusos (FUNDIF) criado pela Lei n. 14.086, de 2001, alterado pela Lei n. 19.489, de 2011, a contar desta data.

Publique-se.Registre-se.Intimem-se.

Tefilo Otoni, 18 de Julho de 2015.

PEDRO HERIQUE MOURA SANTOSJUZ DE DIREITO