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UNIVERSIDADE DA REGIÃO DE JOINVILLE UNIVILLE DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA FUNDO DE APOIO À PESQUISA FAP SENTIDOS ATRIBUÍDOS À SERRA DONA FRANCISCA NO TEMPO PRESENTE GUSTAVO GREIN DA SILVA JOINVILLE SC 2011

SENTIDOS ATRIBUÍDOS À SERRA DONA FRANCISCA NO TEMPO · PDF fileUm olhar sobre o passado joinvilense nos ... no campo da história cultural e do tempo presente, ... os usos contemporâneos

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UNIVERSIDADE DA REGIÃO DE JOINVILLE – UNIVILLE

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

FUNDO DE APOIO À PESQUISA – FAP

SENTIDOS ATRIBUÍDOS À SERRA DONA FRANCISCA NO TEMPO PRESENTE

GUSTAVO GREIN DA SILVA

JOINVILLE – SC

2011

GUSTAVO GREIN DA SILVA

SENTIDOS ATRIBUÍDOS À SERRA DONA FRANCISCA NO TEMPO PRESENTE

Projeto de Iniciação Científica apresentado como requisito parcial para obtenção da bolsa de pesquisa na Universidade da Região de Joinville – Univille. Orientador: Prof. Dr. Fernando Cesar Sossai

JOINVILLE – SC

2011

SUMÁRIO

1. JUSTIFICATIVA .............................................................................................................. 4

2. PROBLEMA ...................................................................................................................... 5

3. HIPÓTESES ...................................................................................................................... 6

4. OBJETIVOS ...................................................................................................................... 7

4.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................................. 7

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................... 7

5. REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................................ 8

6. METODOLOGIA ........................................................................................................... 10

7. RESULTADOS ESPERADOS ....................................................................................... 11

8. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO .............................................................................. 12

9. ORÇAMENTO ................................................................................................................ 13

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 14

1. JUSTIFICATIVA

Um olhar sobre o passado joinvilense nos revela diferentes usos da estrada Dona

Francisca ao longo de sua existência. Dos propósitos comerciais que objetivaram sua

construção aos seus usos posteriores, as transformações foram constantes. A implantação da

estrada da serra foi fator preponderante para o desenvolvimento econômico da colônia Dona

Francisca. E, além de um ramal de abastecimento de escoamento de produtos do planalto, a

estrada que deu nome à serra foi local de vivências às pessoas que, na contiguidade da

passagem, estabeleceram-se, atribuindo sentidos a ela e ressignificando-a.

Tendo em vista seu valor histórico, seja como artéria de economias locais ou como

objeto de trabalho, a Serra Dona Francisca experimenta um novo tempo. Alimentada a premissa

de que ela é uma fonte em potencial para o turismo e identificados alguns usos contemporâneos,

o desafio é identificar nas narrativas coletadas dos moradores como e se eles reconhecem a

serra enquanto bem histórico, culinário, ambiental e econômico.

O objeto que move este trabalho não passa apenas por desejos de historicizar a serra,

seus objetos e suas relações, ainda que tenda a ser romantizada pelas práticas que a cercam. O

que esta pesquisa propõe é adentrar nesse espaço e ouvir narrativas não programadas, sem um

roteiro linear induzido, pois não se trata de um estudo comprobatório, mas de uma pesquisa

aberta, cujo desafio é ir à busca de um olhar de dentro, que descreva as experiências, as

memórias e os anseios do sujeito narrador na situação de habitante da Serra Dona Francisca.

Para tal função, destaco o uso da metodologia da história oral, de uma oralidade não no

sentido de dar visibilidade aos sujeitos, mas de instrumento de análise para a pesquisa. E,

também, do uso de informativos turísticos, importantes para observar como a serra é

representada pelos órgãos públicos, com informações passíveis de serem problematizadas e

vistas como um contraponto às narrativas.

Concluo aqui esta justificativa para uma pesquisa que tem por objetivo compreender os

usos contemporâneos da Serra Dona Francisca e os sentidos a ela atribuídos no tempo presente

em mais um estudo sobre a região rural de Joinville. Destaco, ainda, que esta pode vir a ser uma

importante contribuição à historiografia joinvilense, até então carente de estudos sobre as mais

variadas temáticas no que diz respeito à Serra Dona Francisca no campo da história cultural e

do tempo presente, linhas de estudo que se inserem nas áreas de interesse do curso de História,

tornando a pesquisa importante também à formação de professores.

2. PROBLEMA

Quais são os usos contemporâneos da Serra Dona Francisca, identificados pelos seus

moradores?

3. HIPÓTESES

a) Embora a Serra Dona Francisca possua uma importância histórica significativa para

Joinville e região, seus usos contemporâneos pouco consideram a historicidade do

espaço.

b) Um dos principais usos contemporâneos da Serra Dona Francisco é o uso turístico,

limitado à mera apreciação visual da paisagem natural do local.

c) Os moradores da Serra Dona Francisca pouco se identificam e/ou sentem-se

contemplados em projetos governamentais voltados a estimular o uso contemporâneo

da Serra Dona Francisca.

4. OBJETIVOS

4.1 OBJETIVO GERAL:

• Problematizar os usos contemporâneos e culturais atribuídos à Serra Dona Francisca no

tempo presente.

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

a) Identificar os elementos presentes na vida cotidiana, os sentimentos envolvidos na

memória, bem como os sentidos atribuídos à Serra Dona Francisca por meio do olhar

de seus moradores no tempo presente.

b) Discutir a relação dos moradores com a Serra Dona Francisca.

c) Analisar a produção historiográfica acerca da Serra Dona Francisca a fim de

identificar as práticas desenvolvidas ao longo de sua trajetória.

d) Investigar os sentimentos de pertencimento dos moradores em relação à Serra Dona

Francisca e à cidade de Joinville.

e) Historicizar as práticas culturais da Serra Dona Francisca no tempo presente.

f) Contribuir para a historiografia joinvilense com relação às discussões sobre

memória, identificação e representação.

5. REVISÃO DE LITERATURA

Para o desenvolvimento desta pesquisa, serão abordadas obras que estampam a serra em

seu caráter histórico, visto que ainda não há produções recentes sobre o tema. Para a realização

das entrevistas, também serão aprofundadas leituras que forneçam subsídios para tratar da

questão da memória e, ainda, estudos sobre como proceder na utilização da metodologia da

história oral. Carlos Ficker, em sua obra São Bento do Sul: subsídios para sua história, busca

dar conta de uma série de temáticas referentes à história de São Bento do Sul, partindo da

chegada dos imigrantes na colônia Dona Francisca ao emprego de certo número na construção

da Estrada da Serra, parte que nos é relevante até a fundação e o desenvolvimento do núcleo

colonial de São Bento, pois relacionava-se diretamente com o núcleo da Colônia Dona

Francisca por intermédio do caminho aberto entre a serra.

Na obra de Apolinário Ternes e Herculano Vicenzi, Dona Francisca: imperial estrada

da serra, tem-se um itinerário abrangendo desde os anseios que a teriam levado à exploração

do traçado, bem como as etapas subsequentes de construção até a finalização das obras no

planalto. O autor faz suas análises sobre ocupação das margens, discorre sobre seus usos durante

vários períodos e relata sobre sua importância para o fortalecimento da economia joinvilense

no século passado. Para Elly Herkenhoff, em Era uma vez um simples caminho, a construção

da estrada da serra foi marco no desenvolvimento político, econômico, social e cultural de

Joinville e de toda região norte catarinense. Descreve que a construção da estrada se deu sobre

um clima eufórico, vistas as oportunidades de trabalho para os imigrantes e para além, tratada

a posterior utilização da estrada nos empreendimentos da indústria ervateira.

A obra de Adolfo Bernardo Schneider, Memórias (I) de um menino de 10 anos:

abrindo a minha caixa preta, será importante para esta pesquisa pelas informações que traz

sobre o trânsito dos carroções “sãobentowagen”, introduzidos aqui pelos imigrantes austríacos

e conhecidos meios para o transporte da erva-mate. Discorre ainda sobre as diligências que

realizavam o transporte de passageiros entre Joinville e São Bento, e as transformações seguidas

com a substituição da diligência pelo ônibus e das carroças pelos caminhões.

Em Tentando Aprender um pouquinho. Algumas reflexões sobre ética na história

oral, Alessandro Portelli trata da questão ética na história oral, dos métodos de entrevista e das

formas de restituição do conhecimento ao entrevistado. Aborda que os historiadores devem

respeitar as fontes quando fazem interpretações, essas fontes correspondendo ou não às suas

expectativas. O autor usa a metáfora de uma “colcha de retalhos” para representar a história

oral, em que todos os pedaços são diferentes, mas juntos formam um todo coerente.

Alessandro Portelli, em A filosofia e os fatos, atenta para o risco das interpretações na

história oral, visto que podem ser realizados juízos de valores, por vezes até preconceituosos,

na má interpretação de uma narrativa. Descreve ainda que um escrito passa a ter o mesmo valor

de um fato quando este é colocado no papel. Considerações importantes para uma pesquisa que

se dispõe a utilizar a metodologia da história oral como fonte principal para suas análises.

Verena Alberti, em O lugar da história oral: o fascínio do vivido e as possibilidades

de pesquisa, discute o indivíduo com um local de vivências, em que a sua história de vida é a

valorização de momentos, de acontecimentos que complementam o sentido escolhido para sua

trajetória de vida. O fascínio do vivido é o pesquisador diante de uma narrativa em que se

reconheçe, pois se trata de um valor, de uma crença em que se acredita. Sendo muito relevante

para esta pesquisa, pois seu tema não foi escolhido ao acaso, teve uma motivação, por isso é

preciso cautela no proceder das entrevistas para que o fascínio pelo que me atrai não

comprometa o caráter analítico da pesquisa.

Valéria König Esteves, em sua dissertação de mestrado intitulada No caminho do sabor

e da cultura: Uma abordagem sobre a cozinha e o cotidiano da Estrada Bonita

(Pirabeiraba – Joinville/ SC), faz um interessante trabalho destacando os atrativos oferecidos

pelas famílias da Estrada Bonita e os desafios para implantação de um turismo em consonância

com a rotina dos habitantes, enfatiza também a Estrada Bonita como um patrimônio cultural,

sendo o seu principal objeto de discussão. É interessante se pensarmos que a Serra Dona

Francisca segue passos semelhantes no que diz respeito às discussões de patrimônio e turismo.

Além da bibliografia inicial selecionada para o desenvolvimento do projeto, durante a

pesquisa, serão conhecidas e lidas outras obras que poderão vir a contribuir com o fazer

epistemológico proposto.

6. METODOLOGIA

A pesquisa terá início com um aprofundamento bibliográfico objetivando um aporte

teórico que se faz necessário para ir a campo.

Obras da historiografia joinvilense que relatam a trajetória de construção da estrada,

assim como das etapas do processo de desenvolvimento econômico da colônia Dona Francisca,

posteriormente Joinville, e que envolvem o uso da estrada e suas intervenções na serra estão

incluídas nas leituras, obras referentes à utilização da metodologia da história oral, sendo esta

uma das principais ferramentas a ser utilizada no desenvolvimento da pesquisa. Novas leituras

para além das indicadas na bibliografia poderão ser abordadas se sentidas necessárias no

decorrer do estudo.

Após as leituras iniciais, o seguinte passo é buscar informações sobre as pessoas que

habitam as imediações da Serra Dona Francisca para futuros contatos nos registros da Fundação

25 de Julho e na Secretaria Regional de Pirabeiraba de modo que, a partir das informações

cadastradas, se torne possível estabelecer futuros contatos.

Seja como for, os sujeitos selecionados para a pesquisa deverão ser moradores da Serra

Dona Francisca. Todos deverão ser maiores de 18 anos e também participarão voluntariamente

das atividades propostas. Será elaborado um roteiro para servir de base para as entrevistas com

indagações suscitadas no desenvolvimento deste projeto. Tais entrevistas serão realizadas na

residência dos sujeitos após terem sido previamente agendadas em um contato anterior, e serão

entrevistados os que se dispuserem a falar. Um termo autorizando a doação do áudio ao

Laboratório de História Oral da Univille será apresentado na entrevista, porém poderá ser

recusado o aceite da doação da entrevista.

Ademais, o material que circula nos informativos de turismo também servirá como

referência para observarmos como a Serra Dona Francisca está sendo representada pelos órgãos

públicos. Logo, ir à campo corresponderá à etapa fundamental da execução do projeto, pois

trata-se de conhecer memórias acerca da Serra Dona Francisca, suas possíveis transformações

e o reconhecimento dela pelos seus moradores. As entrevistas seguirão a metodologia da

história oral e, posteriormente, serão doadas ao Laboratório de História Oral da Univille.

7. RESULTADOS ESPERADOS

A partir deste projeto, busco, além de aprofundar meu conhecimento sobre a zona rural

de Joinville, contribuir com a historiografia local no que diz respeito às discussões sobre

memória, identificações e representação, compartilhando o produto deste estudo, um artigo,

que possa ser utilizado por todos aqueles que venham a se interessar.

Partirei em busca de memórias e experiências, de narrativas que me forneçam subsídios

para uma boa problematização do tema e que, a partir dessas narrativas, tenha condições de

escrever o artigo. Pretendo, ainda, compartilhar minhas experiências com os colegas no

Seminário de Iniciação Científica da Univille. Enfatizo que este trabalho será também uma

importante contribuição à minha formação acadêmica e que este estudo talvez possa transpassar

o projeto de iniciação científica e vir a ser ampliado em outro momento.

Por fim, também pretendo contribuir com discussões qualitativas e relevantes sobre a

trajetória histórica de Joinville no âmbito do curso de História, cujo grande objetivo é a

formação de professores para atuar nas redes de ensino público e espaços de memória da cidade.

8. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO

Atividades Meses de execução

Mar.

Abr.

Maio

Jun.

Jul.

Ago.

Set.

Out.

Nov.

10°

Dez.

Revisão bibliográfica X X X X X

Preparação de

entrevistas orais

(Identificação de

pessoas a serem

entrevistadas;

elaboração de roteiro)

X X

Realização de

entrevistas orais

X X

Análise do material

coletado

X X X X

Preparação e

apresentação dos

resultados da pesquisa

X X

Elaboração do artigo

contendo os

resultados da pesquisa

X X

Entrega do artigo X

9. ORÇAMENTO

Detalhamento das despesas ligadas ao desenvolvimento do projeto.

Nº Despesas Quantidade Custo

unitário

Valores

estimados

Origem

dos

recursos

01 Combustível para deslocamento da

equipe de pesquisa

10 saídas a

campo

R$10,00 R$100,00

Serão

custeados

pelo

bolsista.

02 Xerox (preto e branco) 500 unidades R$0,10 R$50,00

Impressões (preto e branco) 500 unidades R$0,10 R$50,00

03 Vale-transporte 50 unidades R$2,75 R$137,50

04 Bolsa de iniciação científica 10 meses R$419,00 R$4.190,00 FAP/UNI

VILLE

Total Geral: R$4.527,50

REFERÊNCIAS

ALBERTI, Verena. O lugar da história oral: o fascínio do vivido e as possibilidades de

pesquisa. In:____. Ouvir, Contar: textos em história oral. Rio de Janeiro: Editora FGV,

2004.

ESTEVES, Valéria König. No caminho do sabor e da cultura: Uma abordagem sobre a

cozinha e o cotidiano da Estrada Bonita (Pirabeiraba – Joinville/SC). 2010. 123 f. Dissertação

(Mestrado) – Universidade da Região de Joinville, Joinville.

FICKER, Carlos. São Bento do Sul: subsídios para a sua história. São Bento do

Sul/SC: Ipiranga, 1973.

HERKENHOFF, Elly. Era uma vez um simples caminho. Joinville/SC: Fundação Cultural,

1987.

PORTELLI, Alessandro. A filosofia e os fatos. Tempo. Rio de Janeiro, v.1, n. 2., 1996, p. 59-

72.

____. Tentando aprender um pouquinho: algumas reflexões sobre a ética na História Oral.

Projeto História. Revista do Programa de Estudos de Pós-graduados em História e do

Departamento de História. PUC/SP. São Paulo, n.15, abr. 1997.

SCHNEIDER, Adolfo Bernardo. Memorias (I) de um menino de 10 anos: abrindo a minha

caixa preta. Joinville/SC: Impressora Ipiranga, s.d.

TERNES, Apolinário; VICENZI, Herculano. Dona Francisca: imperial estrada da serra.

Joinville/SC: Letradágua, 2002.