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Separação enantiomérica de derivados catinónicos em drogas de abuso por HPLC quiral Estudo da citotoxicidade dos enantiómeros da 3,4- metilenodioxipirovalerona (MDPV) Bárbara Sofia Poléri da Silva Mestrado em Ciências Forenses Orientação Professor Doutor Fernando Manuel Gomes Remião Doutora Maria Paula do Amaral Alegria Guedes de Pinho Professora Doutora Carla Sofia Garcia Fernandes Universidade do Porto Setembro de 2015

Separação enantiomérica de derivados catinónicos em drogas ... · um método de HPLC quiral capaz de separar e determinar a proporção enantiomérica de catinonas sintéticas

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Page 1: Separação enantiomérica de derivados catinónicos em drogas ... · um método de HPLC quiral capaz de separar e determinar a proporção enantiomérica de catinonas sintéticas

Separação enantiomérica de derivados

catinónicos em drogas de abuso por HPLC

quiral

Estudo da citotoxicidade dos enantiómeros da 3,4-

metilenodioxipirovalerona (MDPV)

Bárbara Sofia Poléri da Silva

Mestrado em Ciências Forenses

Orientação

Professor Doutor Fernando Manuel Gomes Remião

Doutora Maria Paula do Amaral Alegria Guedes de Pinho

Professora Doutora Carla Sofia Garcia Fernandes

Universidade do Porto

Setembro de 2015

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“A ciência não é uma ilusão, mas seria uma ilusão acreditar que

poderemos encontrar noutro lugar o que ela não nos pode dar.”

Sigmund Freud

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Agradecimentos

Este trabalho foi uma das muitas etapas que passarei na vida. E, como em todas

elas, nunca as conseguiria ultrapassar sem ajuda. Sendo assim, não poderia deixar de

agradecer a todas as pessoas que fizeram com que a realização deste trabalho fosse

possível. Gostaria de agradecer:

Ao professor Doutor Fernando Remião e à Doutora Paula Guedes pela

oportunidade da realização desta tese e orientação nesta jornada tão importante. Sem

eles nada disto seria possível.

À Professora Doutora Maria de Lourdes Bastos, por me ter permitido

realizar o trabalho experimental no laboratório de Toxicologia que dirige.

À Professora Doutora Carla Fernandes pela coorientação e grande ajuda

na realização deste trabalho, que sem a sua ajuda e conhecimento não teria sido

possível

À Professora Doutora Madalena Pinto, responsável pelo Laboratório de

Química Orgânica e Farmacêutica, por permitir a realização do trabalho de HPLC

À Dra Sara Cravo pela ajuda técnica no HPLC e pelas horas perdidas na

formação do “famoso” cloridrato

À Estudante de doutoramento Maria João pela ajuda nos testes de

citotoxicidade

Às amigas que ganhei neste mestrado que muito me aturaram a

“resmungar” sobre aquilo que me corria menos bem e à amizade e apoio que me

deram e como me acolheram

À minha família e ao meu namorado por me aturarem nos dias menos

bons por me darem ânimo para seguir em frente e nunca desistir.

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Alguns resultados deste trabalho foram apresentados em forma de comunicação em

painel na 8ª edição do Encontro Investigação Jovem da Universidade do Porto (IJUP

2015):

- B. Silva, C. Fernandes, M. Pinto, P. Guedes de Pinho and F. Remião, Chiral HPLC

enantioresolution of synthetic cathinones “Legal Highs”, IJUP 2015, Porto, Portugal, 13-

15 maio de 2015.

O resumo e poster encontram-se no Anexo 1.

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Resumo

As denominadas “drogas legais” têm vindo a ter cada vez mais popularidade no

“mundo das drogas”. Estas drogas eram vendidas nas antigas “smartshops” e

continuam a ser comercializadas através da internet. Dentro deste grupo de drogas de

abuso, as catinonas sintéticas estão em grande destaque, pois tem havido um

crescimento exponencial do seu consumo, ano após ano.

Todas as catinonas sintéticas são quirais e, num ambiente quiral, como o nosso

corpo, as propriedades geralmente diferem entre os enantiómeros. Na realidade, estes

podem ter efeitos e potências biológicas diferentes, com casos em que apenas um dos

enantiómeros apresenta ação biológica. Sendo assim, é de enorme importância

separar os enantiómeros de derivados catinónicos presentes em “drogas legais” de

forma a analisar a proporção em que estes se encontram nas mesmas assim como

avaliar os efeitos biológicos de cada um.

Em conformidade, o principal objetivo deste trabalho consistiu em desenvolver

um método de HPLC quiral capaz de separar e determinar a proporção enantiomérica

de catinonas sintéticas presentes em amostras destas drogas, adquiridas nas antigas

“smartshops”, que continuam a circular no mercado por meio da internet. Para além

disso, efetuou-se a resolução semi-preparativa por HPLC quiral dos enantiómeros de

uma das catinonas estudadas, a MDPV, para posteriores estudos de

enantiosseletividade em ensaios de hepatotoxicidade. Nestes ensaios de

citotóxicidade foram usados modelos in vitro, tais como culturas primárias de

hepatócitos de rato.

Os resultados obtido mostraram que a proporção enantiomérica das catinonas

presentes nas amostras testadas era, na sua maioria, de 50:50 (mistura racémica), com

exceção das amostras que continham o derivado de catinona 4-MEC. Nos estudos de

citotoxicidade, as células foram expostas à mistura racémica de MDPV e a cada um dos

seus enantiómeros isolados, em cinco concentrações diferentes (0, 0,2, 0,4, 0,8 e 1,6

mM). Os resultados dos testes de citotoxicidade revelaram que não existe

enantiosseletividade para a MDPV, sendo a ação de ambos os enantiómeros idêntica à

da mistura racémica.

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Palavras-chave:

“Drogas Legais”; Catinonas Sintéticas; HPLC; Quiralidade; Enantiómeros; MDPV;

Citotoxicidade

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Abstract

The called "legal highs" have become to be more and more popular in the "drug

world". These drugs were sold in the old "smart shops" and continue to be sold over

the internet. Within this group of drugs of abuse, synthetic cathinones are in great

prominence with their consumption growing exponentially year after year.

All synthetic cathinones are chiral and within a chiral environment, like our

body, the properties generally differ between the enantiomers. Indeed, they may have

different biological effects as well as different activity strenght and, in some cases, only

one of the enantiomers presents biological action. Therefore, it is very important to

separate the enantiomers of synthetic cathinones present in "legal highs", analyze the

ratio of them, and evaluate their biological effects separately.

The main objective of this work was to develop a method using a chiral HPLC-

column in order to separate and determine the enantiomeric ratio of synthetic

cathinones present in samples purchased on an old “smartshop”, that continue to

circulate on the market over the Internet. Additionally, a semi-preparative chiral HPLC

resolution of the enantiomers was conducted in order to isolate the MDPV cathinone

for studies of enantioselectivity in hepatotoxicity assays. These cytotoxicity assays

were performed using in vitro models, such as primary cultures of rat hepatocytes.

In the study, it was found that the enantiomeric ratio of cathinones in the

tested samples was mostly 50:50 (racemic mixture), with the exception of the samples

containing the 4-MEC cathinone. In the cytotoxicity studies, cells were exposed to the

racemic mixture of MDPV as well as each of its isolated enantiomers, in five different

concentrations (0, 0,2, 0,4, 0,8 and 1,2 mM). The results of cytotoxicity tests revealed

no enantioselectivity for MDPV, and the action of both enantiomers isolated and the

racemic mixture seemed identical.

Keywords:

Legal Highs; Synthetic cathinones; HPLC; Chirality; Enantiomers; MDPV; Citotoxicity

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Índice Geral Agradecimentos ............................................................................................................................ v

Resumo .......................................................................................................................................... ix

Abstract ......................................................................................................................................... xi

Lista de Abreviaturas e Símbolos ................................................................................................. xv

Índice de Figuras ........................................................................................................................ xvii

Índice de Tabelas ......................................................................................................................... xxi

Introdução ..................................................................................................................................... 1

1. “Drogas Legais” ..................................................................................................................... 3

2. Catinonas Naturais ................................................................................................................ 5

2.1 Khat ............................................................................................................................... 5

2.2 Administração, Absorção, Metabolismo e Eliminação.................................................. 7

2.3 Mecanismo de ação e efeitos ........................................................................................ 8

2.4 Dependência e Tolerância ............................................................................................. 9

2.5 Estatuto legal ................................................................................................................. 9

3. Catinonas Sintéticas .............................................................................................................. 9

3.1 Química ......................................................................................................................... 9

3.2 Desenvolvimento ........................................................................................................ 13

3.3 Aparência .................................................................................................................... 16

3.4 Administração, Absorção, Metabolismo e Eliminação................................................ 16

3.5 Mecanismo de ação e efeitos ...................................................................................... 20

3.6 Dependência ............................................................................................................... 22

3.7 Estatuto legal e estado do mercado............................................................................ 22

4. Quiralidade .......................................................................................................................... 23

4.1 Conceitos ..................................................................................................................... 23

4.2 Resolução Enantiomérica ............................................................................................ 27

4.2.1. Fases estacionárias quirais utilizadas em HPLC ....................................................... 28

4.2.2. Resolução enantiomérica de catinonas sintéticas .................................................. 30

Objetivos ..................................................................................................................................... 31

1. Objetivos ......................................................................................................................... 33

Experimental ............................................................................................................................... 35

Parte 1: Separação analítica dos enantiómeros de derivados catinónicos em "drogas legais" . 37

1. Reagentes e Padrões ....................................................................................................... 37

2. Preparação das amostras ................................................................................................ 37

3. Condições experimentais ................................................................................................ 37

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Parte 2: Separação semi-preparativa dos enantiómeros da MDPV ............................................ 39

1. Reagentes e Padrões ....................................................................................................... 39

2. Amostras ......................................................................................................................... 39

3. Tratamento de amostras para análise semi-preparativa ................................................ 39

4. Condições Experimentais para análise semi-preparativa ............................................... 39

5. Eliminação do aditivo da fase móvel (TEA) e formação do cloridrato de cada um dos

enantiómeros .......................................................................................................................... 40

6. Excesso enantiomérico .................................................................................................... 41

7. Atividade ótica................................................................................................................. 41

Parte 3: Estudo da citotoxicidade dos enantiómeros da MDPV ................................................. 41

1. Estudos em Culturas Primárias de Hepatócitos de Ratos ................................................... 41

1.1 Reagentes .................................................................................................................... 41

1.2 Animais ........................................................................................................................ 42

1.3 Isolamento de hepatócitos de rato ............................................................................. 42

1.4 Cultura de hepatócitos de rato ................................................................................... 43

1.5 Ensaio de redução de MTT .......................................................................................... 44

1.6 Ensaio de libertação de LDH ........................................................................................ 44

Resultados e Discussão ............................................................................................................... 45

Parte 1: Separação analítica dos enantiómeros de derivados catinónicos em "drogas legais" . 47

1. Separação analítica dos enantiómeros de derivados catinónicos presentes em “drogas

legais” ...................................................................................................................................... 47

2. Separação analítica dos enantiómeros da MDPV ........................................................... 65

Parte 2: Separação semi-preparativa dos enantiómero da MDPV ............................................. 68

1. Separação da MDPV em coluna semi-preparativa .......................................................... 68

2. Eliminação do aditivo da fase móvel e formação de cloridrato de cada um dos

enantiómeros .......................................................................................................................... 70

3. Taxa de Recuperação ...................................................................................................... 71

4. Atividade ótica................................................................................................................. 72

5. Excesso Enantiomérico .................................................................................................... 72

Parte 3: Estudo da citotoxicidade dos enantiómeros da MDPV ................................................. 75

1. Culturas Primárias de hepatócitos .................................................................................. 75

2. MDPV ............................................................................................................................... 75

3. Enantiosseletividade ....................................................................................................... 76

Conclusões .................................................................................................................................. 79

Referências Bibliográficas ........................................................................................................... 83

Anexos ......................................................................................................................................... 91

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Lista de Abreviaturas e Símbolos

3,4-DMMC: 3,4-dimetilmetcatinona

3-FMC: 3-fluorometcatinona

4-MEC: 4-metiletcatinona

2-prOH: 2-propanol

α-PVP: α-pirrolidinovalerofenona

α: Fator de separação

C

D

º25][ : Rotatividade específica

β-NADH: β-nicotinamida adenina dinucleotideo reduzida

μL: Microlitros

µm: Micrometros

°C: Graus centigrados

%: Percentagem

cm: Centimetros

ee: Excesso enantiomérico

EGTA: Ácido tetracético de etileno-glicol

EtOH: Etanol

FBS: Soro bovino fetal

FEQ: Fase estacionária quiral

g: Força g

g: Grama

GC-MS: “Gas Cromatography-mass spectrometry”(Cromatografia Gasosa acoplada à

Espectrometria de Massa)

h: Horas

HEPES: Ácido 4-(2-hidroxietil)-1-piperazinaetanesulfonico

Hex: n-hexano

HPLC: “High Performance Liquid Cromotography”(Cromatografia líquida de alta

eficiência)

K: Fator de retenção

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Khat: Catha edulis

M: Molar

MAO: Monoamina Oxidase

MDMA: 3,4-metilenodioximetanfetamina

MDPBP: 3,4-Metilenodioxi-α-pirrolidinobutirofenona

MDPPP: 3,4-metilenodioxi-α-pirrolidinopropiofenona

MDPV: 3,4-metilenodioxipirovalerona

mg: Miligrama

min: Minutos

mL: Mililitros

mM: Milimolar

mm: Milimetros

MTT: 3-(4,5-dimetiltiazol-2-il)-2,5-difenilltetrazólio

ng: Nanograma

nm: Nanometro

NRG: Grupo de catinonas denominado "Energy"

OEDT: Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência

Pen/Strep: Penicilina/estreptomicina

Rs: Fator de resolução

SNC: Sistema Nervoso Central

T0: Tempo morto

TEA: Trietilamina

TFA: Ácido trifluoracético

tr: Tempo de retenção

UV: Ultravioleta

W: Largura da banda cromatográfica

d: dextrógiro

l: levógiro

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Índice de Figuras

Figura 1 Bloom - um exemplo de “drogas legais ” vendidas em Portugal. ...................... 3

Figura 2 Número de novas substâncias psicoativas notificadas entre 2005 e 2014.

(adaptado de [8]) ....................................................................................................................... 5

Figura 3 Planta Khat. ......................................................................................................... 6

Figura 4 Estrutura química da catina (A) e da catinona (B). ............................................. 6

Figura 5 Metabolismo da catinona. (adaptado de [11]) ............................................................. 7

Figura 6 Estrutura química da anfetamina. ...................................................................... 8

Figura 7 Estrutura química geral das catinonas sintéticas. ............................................ 10

Figura 8 Diferentes vias metabólicas de Fase I para derivados de catinona. (A)

Desmetilação (B) Redução da β-cetona (C) Hidroxilação seguida de oxidação (D)

Desmetilação seguida por O-metilação (E) Hidroxilação seguida de desidrogenação em

lactama. (adaptado de [12]) ..................................................................................................... 17

Figura 9 Principais vias metabólicas de fase I de derivados β-cetónicos com anel de 3,4-

metilenodioxi. (adaptado de [48]) ............................................................................................ 18

Figura 10 Metabolismo de fase I da mefedrona. (adaptado de [37]) ...................................... 19

Figura 11 Metabolismo da MDPV. (adaptado do [33]) ............................................................ 20

Figura 12 Número de apreensões de catinonas sintéticas entre 2008 e 2013. (adaptado de

[8]) .................................................................................................................................... 23

Figura 13 Imagens especulares de dois enantiómeros num espelho plano. ................. 24

Figura 14 Enantiómeros R e S do ácido láctico. .............................................................. 25

Figura 15 Quiralidade de novas moléculas. a - Percentagem e número novas moléculas

aprovadas pela FDA b – Percentagem e número de novas moléculas aprovadas em

todo o mundo. (adaptado de [55]) ........................................................................................... 26

Figura 16 Catinonas sintéticas avaliadas neste trabalho. .............................................. 47

Figura 17 Esquema de preparação das soluções para análise. ...................................... 49

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Figura 18 Estrutura da fase estacionária Whelk-O®1. .................................................... 50

Figura 19 Cromatograma da separação dos enantiómeros da Metedrona presentes na

amostra Bliss A8; Coluna Whelk-O® 1; Fase móvel Hex:EtOH:TEA:TFA (95:5:0,05:0,05);

Fluxo 1 mL/min; Deteção UV 254nm. ............................................................................ 50

Figura 20 Cromatograma da separação dos enantiómeros da Metedrona presentes na

amostra Bliss A8; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1);

Fluxo 1 mL/min; Deteção UV 254nm. ............................................................................ 51

Figura 21 Cromatograma da separação da Metilona; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase

móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 1 mL/min; Deteção UV 254nm...................... 52

Figura 22 Cromatograma da separação da Pentedrona; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase

móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); 0,8mL/min; Deteção UV 254nm. ............................ 53

Figura 23 Cromatograma da separação dos enantiómeros da Flefedrona presentes na

amostra Blast A3; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1);

Fluxo 0,8 mL/min; Deteção UV 254nm. ......................................................................... 54

Figura 24 Cromatograma da separação dos enantiómeros da 3,4-DMMC presentes na

amostra Cyclop A6; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1);

Fluxo 0,8 mL/min; Deteção UV 254nm. ......................................................................... 54

Figura 25 Cromatograma da separação dos enantiómeros da Bufedrona presentes na

amostra Kick A14; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1);

Fluxo 0,8 mL/min; Deteção UV 254nm. ......................................................................... 54

Figura 26 Cromatograma da separação da 4-MEC; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel

Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm. ............................ 55

Figura 27 Cromatograma da separação dos enantiómeros da Bufedrona e da

Etcatinona presentes na amostra Charlie A10; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel

Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm. ............................ 55

Figura 28 Cromatograma da separação dos enantiómeros da Pentedrona presentes na

amostra Kick A13; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móve Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1);

Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm. ......................................................................... 56

Figura 29 Cromatograma da separação dos enantiómeros da Bufedrona presentes na

amostra Rush A4; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móve Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo

0,5 mL/min; Deteção UV 254nm. ................................................................................... 56

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Figura 30 Cromatograma da separação dos enantiómeros da Bufedrona e Etcatinona

presentes na amostra Charlie A9; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA

(97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm. ........................................................ 57

Figura 31 Cromatograma da separação dos enantiómeros da 4-MEC presentes na

amostra Blow A11; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1);

Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm. ......................................................................... 57

Figura 32 Cromatograma da separação dos enantiómeros da 4-MEC presentes na

amostra Blow A12; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1);

Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm. ......................................................................... 58

Figura 33 Cromatograma da separação dos enantiómeros da Metedrona presentes na

amostra Bliss A8; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1);

Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm. ......................................................................... 58

Figura 34 Cromatograma da separação dos enantiómeros da Metedrona presentes na

amostra Bliss A7; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1);

Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm. ......................................................................... 58

Figura 35 Cromatograma da separação dos enantiómeros da 3,4-DMMC presentes na

amostra Crabby A5; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1);

Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm. ......................................................................... 59

Figura 36 Cromatograma da separação dos enantiómeros da 3,4-DMMC presentes na

amostra Cyclop A6; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1);

Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm. ......................................................................... 59

Figura 37 Cromatograma da separação dos enantiómeros da Metilona presentes na

amostra Bliss A15; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1);

Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm. ......................................................................... 60

Figura 38 Cromatograma da separação dos enantiómeros da Metilona; Coluna

Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV

254nm. ............................................................................................................................ 60

Figura 39 Cromtagrama da separação dos enantiómeros da Pentedrona, 4-MEC e

Metilona presentes na amostra Bloom A1; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-

prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm. ....................................... 61

Figura 40 Cromatograma da separação dos enantiómeros Pentedrona, Etcatinona e

Metedrona presentes na amostra Bloom A2; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel

Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm. ............................ 61

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Figura 41 Cromatograma da Bufedrona a A) UV: 254nm e a B) Polarímetro; Coluna

Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min ................ 64

Figura 42 Cromatograma da 4-MEC a A) UV: 254nm e a B) Polarímetro; Coluna

Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min ................ 64

Figura 43 Cromatograma da Pentedrona a A) UV: 254nm e a B) Polarímetro; Coluna

Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min ................ 65

Figura 44 Cromatograma da separação dos enantiómeros da MDPV; coluna CSP2; Fase

móvel Hex:EtOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min;Deteção UV:254 nm ...................... 67

Figura 45 Fase quiral derivado de fenilcarbamato de amilose: tris(3,5-

dimetilfenilcarbamato) ................................................................................................... 69

Figura 46 Cromatograma da separação semi-preparativa dos enantiómeros da MDPV;

coluna de tris-3,5-dimetilfenilcarbamato aderida a APSNucleosil;Fase móvel

Hex:EtOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo de 1,5 mL/min; Deteção UV:254 nm ........................... 70

Figura 47 Eliminação da TEA por extração múltipla líquido-líquido. ............................. 71

Figura 48 Cromatograma do excesso enantiomérico do enantiómero S-(-)-MDPV;

coluna CSP2; Fase móvel Hex:EtOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV:254

nm ................................................................................................................................... 73

Figura 49 Cromatograma do excesso enantiomérico do enantiómero R-(+)-MDPV ;

coluna CSP2; Fase móvel Hex:EtOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV:254

nm ................................................................................................................................... 73

Figura 50 Cromatograma do excesso enantiomérico do enantiómero R-(+)-MDPV após

reinjeção Cromatograma do excesso enantiomérico do enantiómero R-(+)-MDPV ;

coluna CSP2; Fase móvel Hex:EtOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV:254

nm ................................................................................................................................... 74

Figura 51 Redução do MTT em hepatócitos de rato incubados com cloridrato de MDPV

racémico ou cada um dos seus enantiómeros (0,2 – 1,6 mM), durante 24 e 48 h.

**p<0,01, ****p<0,0001 vs. controlo. ........................................................................... 76

Figura 52 Redução do MTT em hepatócitos de rato incubados com cloridrato de MDPV

racémico ou cada um dos seus enantiómeros (0,2 – 1,6 mM), durante 24 e 48 h.

**p<0,01, ****p<0,0001 vs. controlo. ........................................................................... 77

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xxi

Índice de Tabelas

Tabela 1. Exemplos de catinonas sintéticas pertencentes ao grupo 1. ......................... 11

Tabela 2. Exemplos de catinonas sintéticas pertencentes ao grupo 2 .......................... 12

Tabela 3. Exemplos de catinonas sintéticas pertencentes ao grupo 3 .......................... 12

Tabela 4. Exemplos de catinonas sintéticas pertencentes ao grupo 4 .......................... 13

Tabela 5. Alguns acontecimentos históricos relevantes das catinonas e seus derivados

........................................................................................................................................ 15

Tabela 6. Efeitos provocados pelas catinonas sintéticas (adaptado de [41]) ................ 22

Tabela 7. Alguns exemplos de diferenças na atividade biológica de pares

enantioméricos (adaptado de [54]) ................................................................................ 25

Tabela 8. Exemplos de diferentes tipos de FEQs (adaptado de [59]) ............................ 28

Tabela 9. Amostras utilizadas e sua identificação por GC-MS e NMR (adaptado de [30])

........................................................................................................................................ 48

Tabela 10. Dados cromatográficos obtidos na separação enantiomérica de catinonas

sintéticas com a utilização da Chiralpak® AS-H a um fluxo de 1 mL/min ...................... 52

Tabela 11. Dados cromatográficos obtidos na separação enantiomérica de catinonas

sintéticas com a utilização da Chiralpak® AS-H a um fluxo de 0,8 mL/min ................... 53

Tabela 12. Resultados cromatográficos obtidos com a coluna Chiralpak® AS-H para as 8

catinonas sintéticas presentes nas diferentes amostras ............................................... 62

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xxii

Tabela 13. Proporções enantioméricas das catinonas presentes nas amostras de

“drogas legais” ................................................................................................................ 63

Tabela 14. Ordem de eluição vs atividade ótica de diferentes catinonas ..................... 64

Tabela 15. Colunas e fases móveis testadas para a separação da MDPV...................... 66

Tabela 16. Dados cromatográficos da separação enantiomérica da MDPV. ................. 67

Tabela 17. Atividade ótica dos enantiómeros da MDPV ................................................ 72

Tabela 18. Dados cromatográficos obtidos para cálculo do excesso enantiomérico do

enantiómero S-(-)-MDPV ................................................................................................ 74

Tabela 19. Dados cromatográficos obtidos para cálculo do excesso enantiomérico do

enantiómero R-(+)-MDPV ............................................................................................... 74

Tabela 20. Dados cromatográficos obtidos para cálculo do excesso enantiomérico do

R-(+)-MDPV após reinjeçao ............................................................................................ 74

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Introdução

1.”Drogas Legais”

2.Catinonas Naturais

3.Catinonas Sintéticas

4.Quiralidade

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3

1. “Drogas Legais”

O uso de substâncias como drogas de abuso tem aumentado exponencialmente

nas últimas décadas. Entre estas, no início do século XXI, deu-se início ao consumo das

denominadas “drogas legais” [1]. As “drogas legais” dizem respeito a uma grande

variedade de substâncias, de origem natural ou sintética, que são distribuídas e

comercializadas para uso recreativo devido aos seus efeitos psicoestimulantes. Estes

compostos podem diferir tanto na estrutura química, potência, semivida, metabolismo

e efeitos colaterais [2, 3]. No entanto, normalmente, estas drogas têm a

particularidade comum de aumentarem a atividade dopaminérgica e inibirem a

recaptação da serotonina, causando agitação psicológica e física, euforia e disforia.

Com doses elevadas destas substâncias podem ainda ocorrer sintomas psicóticos,

nomeadamente, alucinações visuais e auditivas [3].

A evolução e globalização das novas tecnologias levou, de alguma forma, ao

desenvolvimento deste novo mercado de consumo, uma vez que o comércio e a

comunicação já não são constrangidos pelas barreiras físicas ou geográficas. Assim, a

grande maioria destas substâncias é vendida na internet, principalmente depois do

fecho das designadas “smartshops” [1]. Na figura 1 é apresentado um exemplo de uma

“droga legal” que era vendida em “smartshops” em Portugal até há recente proibição

da sua comercialização.

Figura 1 Bloom - um exemplo de “drogas legais ” vendidas em Portugal.

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4

Na realidade, a rapidez e eficácia com que estas novas drogas se inserem no

mercado e conseguem contornar a lei tem gerado uma enorme preocupação na

comunidade científica e legislativa [2]. As lacunas no controle de drogas favoreceram

este novo mercado, que representam um desafio para a saúde pública devido à

facilidade de aquisição sem prescrições médicas ou restrições legais [4]. Um perigo

associado ao uso destas “drogas legais” é a falta de orientação sobre a dose para os

consumidores, bem como os riscos envolvidos [3]. Para além disso, tem sido

demonstrado que produtos com a mesma rotulagem têm conteúdos diferenciados na

qualidade e quantidade dos seus constituintes, o que pode originar efeitos tóxicos que

surpreendam os consumidores habituais destas drogas [5]. A pouca informação

descrita na literatura sobre estas novas drogas resulta do grande número de

substâncias que têm sido comercializadas como “drogas legais”, aliado à grande

velocidade com que estas se desenvolvem e modificam [2].

De uma forma geral, estas substâncias são sintetizadas ou obtidas por modifi-

cações químicas de substâncias ilegais conhecidas, como por exemplo a 3,4-

metilenodioximetanfetamina (MDMA ou “ecstasy”), sem que ocorra perda dos efeitos

psicotrópicos, mas permitindo contornar as questões legais que proíbem o seu

consumo [4].

Os constituintes mais comuns das “drogas legais” são os derivados de catinona,

e incluem substâncias como a 3,4-metilenodioxipirovalerona (MDPV), butilona, 4-

metiletcatinona (4-MEC), mefedrona e a 3,4-metilenodioxi-α-pirrolidinobutirofenona

(MDPBP) [5]. Os derivados de catinona são vendidos para consumo, apesar de

rotulados como “sais de banho” ou “fertilizantes” e como “não destinado ao consumo

humano” [6].

Nas últimas décadas, estas novas drogas têm sido exponencialmente

sintetizadas com o objetivo de mimetizar ou produzir efeitos semelhantes às

anfetaminas e à cocaína, que são drogas ilícitas amplamente usadas [7]. Para

demonstrar essa tendência, é de notar que apenas durante o ano de 2014 num total

de 101 novas substâncias psicoativas, foram descritas pela primeira vez: 31 catinonas

sintéticas, 30 canabinóides sintéticos, 9 fenetilaminas, 5 opióides, 5 triptaminas, 4

benzodiazepinas, 4 arilalquilaminas e 13 substâncias que não se enquadram nestes

grupos (Figura 2) [8].

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5

Figura 2 Número de novas substâncias psicoativas notificadas entre 2005 e 2014. (adaptado de [8])

Na presente dissertação serão focados em particular os derivados das

catinonas, dado serem deste grupo de “drogas de abuso” os compostos em estudo.

2. Catinonas Naturais

2.1 Khat

A Catha edulis (Khat) é uma planta indígena da África Ocidental e do sudoeste

da Península Arábica (Figura 3), descrita pela primeira vez em 1775 por Peter Forskal

[9].

Durante séculos, mascar folhas de Khat tem sido uma tradição praticada nas

comunidades locais, especialmente em cerimónias culturais e religiosas, devido aos

efeitos estimulantes proporcionados pela planta [10].

As folhas da planta Khat possuem mais de quarenta compostos (alcalóides,

taninos, flavonóides, terpenóides, esteróis, glicosídeos, aminoácidos, vitaminas,

minerais, entre outros) [11].

No entanto, no século XIX, devido aos avanços da Ciência, foi dado enfoque à

identificação do princípio ativo da planta Khat [12].

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6

Figura 4 Estrutura química da catina (A) e da catinona (B).

Pensou-se, durante muito tempo, que a catina ((+)–norpseudoefedrina) (Figura

4 Estrutura química da catina (A) e da catinona-A), isolada por Wolfes (1930), era o

princípio ativo de Khat. De facto, o poder estimulante desta planta foi inicialmente

associado a este alcalóide. Porém, mais tarde foi demonstrado que a sua potência era

demasiado reduzida para justificar os efeitos causados [13-16].

Assim, em 1975, foi finalmente isolado um precursor da catina com um maior

poder estimulante, denominado catinona ou ((-)-α-aminopropiofenona) (Figura 4-B)

[17]. A catinona, encontrada nas folhas e brotos dessa planta, foi considerada o

principal componente psicoativo de Khat [10].

Figura 3 Planta Khat.

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7

2.2 Administração, Absorção, Metabolismo e Eliminação

A via de consumo mais comum da catinona é a via oral por mastigação, embora

também possam ser preparadas infusões. No entanto, a baixa concentração destes

alcalóides nas plantas leva a que seja necessário mastigar uma grande quantidade de

folhas para obter um efeito psicoestimulante [12]. Uma vez que a catinona é instável

(sofre decomposição após a colheita e durante a secagem), as folhas da planta Khat

devem ser consumidas imediatamente após a colheita [10, 18].

Em termos toxicocinéticos, a catinona presente na planta é absorvida em duas

fases: 60% é absorvida pela mucosa oral e o restante é absorvido no estômago e no

intestino [11]. A catinona é posteriormente metabolizada de forma estereosseletiva

em catina e norefedrina por redução do grupo β-ceto catalisado por enzimas

microssomais hepáticas (Figura 5). A S-(-)-catinona é metabolizada em R,S-(-)-

norefedrina enquanto o seu R-(+)-catinona é metabolizado em R,S-(-)-catina [10, 18].

Apenas uma pequena percentagem da catinona é eliminada na urina na sua

forma inicial, sendo a restante percentagem eliminada na forma dos seus metabolitos

catina e norefedrina [19].

Figura 5 Metabolismo da catinona. (adaptado de [11])

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8

Figura 6 Estrutura química da anfetamina.

2.3 Mecanismo de ação e efeitos

A catinona (Figura 4-B) tem sido descrita como uma “anfetamina natural”, uma

vez que possui estrutura química e efeitos semelhantes aos produzidos pela

anfetamina (Figura 6) [10].

Tal como a anfetamina, a catinona induz a libertação e inibe a recaptação de

dopamina, o que resulta em efeitos no sistema nervoso central (SNC) e periférico.

Além disso, a catinona também inibe a monoamina oxidase (MAO), cuja reduzida

atividade leva à diminuição da metabolização de dopamina com consequente

acumulação de catecolaminas na fenda sináptica [11].

Os efeitos periféricos são simpaticomiméticos, designadamente, aumento da

respiração, da temperatura corporal, da pressão arterial, da frequência cardíaca e

midríase. Quanto aos efeitos sobre o SNC destacam-se a euforia, o estado de alerta e a

sensação de bem-estar. Além destes efeitos, estão também descritos insónia, anorexia

e, em doses elevadas, hiperatividade [20].

Os efeitos produzidos pelo consumo de Khat aparecem meia hora após a

mastigação das folhas e dura aproximadamente três horas [11].

Várias mortes relacionadas com o uso de Khat foram descritas [11].

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9

2.4 Dependência e Tolerância

Segundo a literatura mascar Khat pode causar dependência psicológica e

sintomas de abstinência [21].

O efeito estimulante provocado pela catinona pode fazer com que o

consumidor a utilize muito frequentemente, desenvolvendo assim tolerância à

substância e o desenvolvimento de dependência [20].

A tolerância à catinona natural é difícil de avaliar uma vez que, em países

indígenas, a tradição implica um consumo diário elevado de Khat [18].

2.5 Estatuto legal

O estatuto legal de Khat é um assunto bastante indefinido, variando consoante

o país [12]. Apesar de já se encontrarem legislados os alcalóides principais

constituintes de Khat, designadamente a catinona desde 1993 e a catina desde 1988, é

extremamente difícil proibir o uso de Khat nos países em que o seu cultivo e consumo

são generalizados [12].

As maiorias dos consumidores de Khat encontram-se no Iémen e em muitos

países da África Oriental, incluindo Somália, Etiópia, Uganda e Quênia. O uso de Khat

foi durante muitos anos limitado às áreas de crescimento da própria planta. No

entanto, devido à melhoria das rotas de distribuição e ao surgimento de mercados na

internet, o consumo de Khat foi globalizado [11].

3. Catinonas Sintéticas

3.1 Química

As catinonas sintéticas são derivadas de fenilalquilaminas, estando

estreitamente relacionadas com as anfetaminas. A diferença reside no grupo cetona

introduzido na posição β da cadeia aminoalquílica ligada ao anel fenilo (Figura 7). Por

esta razão, estas novas drogas são muitas vezes denominadas de “β-anfetaminas” [22],

sendo análogos da catinona natural sintetizados pela adição de diversos substituintes

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10

em diferentes locais da molécula [11]. A estrutura geral de uma catinona sintética

(Figura 7) mostra as possibilidades de substituição em quatro pontos distintos (R1, R2,

R3 e R4) da molécula original de catinona [7].

Apesar de apresentarem a mesma estrutura central, os derivados de catinona

são divididos quimicamente em quatro grupos distintos [5]:

1. Catinonas “clássicas” - consistem num anel benzénico, substituído ou

não substituído, e uma cadeia lateral linear.

2. Catinonas "3,4-metilenodioxifenilo” - são constituídas por um anel 3,4-

metilenodioxifenilo e uma cadeia lateral.

3. Catinonas derivados de pirrolidinopropiofenona - consistem num anel

benzénico, substituído ou não substituído, e um anel de pirrolidinilo no nitrogénio da

cadeia lateral.

4. Catinonas "mistas" - contêm um anel 3,4-metilenodioxifenilo e um anel

de pirrolidinilo.

Nas Tabelas 1, 2, 3 e 4 são apresentadas as estruturas químicas de várias

catinonas sintéticas pertencentes aos 4 grupos mencionados anteriormente.

Figura 7 Estrutura química geral das catinonas sintéticas.

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11

*1 4-metiletcatinona *2 4-fluorometcatinona *3 3,4-dimetilmetcatinona

Tabela 1. Exemplos de catinonas sintéticas pertencentes ao grupo 1.

Grupo Nome Estrutura Química Nome Estrutura Química

Der

ivad

os

N-A

lqu

ilad

os

Mefedrona

Etcatinona ou

etilpropiona

ou N-

etilcatinona

Bupropiona ou

amfebutamona

4-MEC*1

Dimetilpropiona ou

dimetilcatinona ou metamfepra-

mona

Metedrona

Dietilpropiona ou

amfepramona

Bufedrona

Flefedrona ou 4-

FMC+2

Pentedrona

3,4-DMMC*3

Efedrona ou

Metcatinona

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12

Tabela 2. Exemplos de catinonas sintéticas pertencentes ao grupo 2

Grupo Nome Estrutura Química D

eriv

ado

s 3

,4-m

etile

no

dio

xi-N

-

alq

uila

do

s

Metilona ou βk-MDMA

Etilona ou βk-MDEA

Butilona ou βk-MBDB

Pentilona ou βk-MBDP

Tabela 3. Exemplos de catinonas sintéticas pertencentes ao grupo 3

Grupo Nome Estrutura Química Nome Estrutura Química

Der

ivad

os

Pir

rolid

ino

s

Pirovalerona

4-metil-α-

pirrolidinopropiof

enona ou MPPP

α-PPP

4-metoxi-α-

pirrolidinopropiof

enona ou MOPPP

α-

pirrolidinovalerof

enona (α-PVP)

4-metil-α-

pirrolidinobutiofe

nona ou MPBP

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13

3.2 Desenvolvimento

Após a confirmação de que a catinona era um dos constituintes ativos de Khat,

foram sintetizados os primeiros derivados de catinona, designadamente a efedrona e a

mefedrona (Tabela 1) [12]. Estes derivados foram sintetizados no início do século XX

para fins terapêuticos, devido aos seus efeitos estimulantes ao nível do SNC. Apenas

na última década, é que o uso recreativo destas novas substâncias ganhou

popularidade entre os consumidores [11, 12].

A bupropiona, a dietilpropiona e a dimetilpropiona (Tabela 1) são outros

exemplos de derivados de catinona que foram inicialmente sintetizados para fins

terapêuticos [11].

A efedrona foi desenvolvida nos anos 30 como agente antidepressivo, porém,

deixou rapidamente de ser comercializada, pois apresentava um enorme poder de

adição e um estímulo mais potente que a cocaína e a própria catinona [23]. Estes dois

Tabela 4. Exemplos de catinonas sintéticas pertencentes ao grupo 4

Grupo Nome Estrutura Química D

eriv

ado

s 3

,4-m

eti

len

od

ioxi

-N-a

lqu

ilad

os

e p

irro

lidin

os

3,4-

metilenodioxipirovalerona

ou MDPV

3,4-metilenodioxi α-

pirrolidinopropiofenona

ou MDPPP

3,4-Metilenodioxi-α-

pirrolidinobutirofenona ou

MDPBP

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14

fatores levaram a um consumo abusivo desta substância. Consequentemente, desde

os anos 90, esta tem estado envolvida em inúmeras intoxicações [11].

Em 1996, a metilona (Tabela 2) foi também sintetizada como agente

antidepressivo e como antiparkinsónico [24]. Logo de seguida, surgiram os derivados

pirrolidinos da catinona e, no início do século XXI, foi desenvolvida a pirovalerona

(Tabela 3) para tratar a obesidade, fadiga crónica e letargia. No entanto, uma vez mais,

a pirovalerona foi rapidamente retirada de tratamentos clínicos devido ao seu efeito

de dependência [6].

A família dos derivados pirrolidinos de catinona também incluía substâncias

psicoativas que não eram destinadas a um fim terapêutico, nomeadamente, MPPP,

MPHP, MPBP, MOPPP, MDPPP e MDPV (Tabela 3) [11].

Com fins recreativos e não terapêuticos, a metilona foi o primeiro derivado de

catinona a ser comercializado, em 2004, sob a marca “Explosion”. A sua aquisição era

fácil devido à sua comercialização através da internet e nas ”smartshops” [22].

A mefedrona (Tabela 1), conhecida na rua como “M-Cat”, “Meph”, “Subcoca”,

“TopCat “ ou “Miau Miau”, tornou-se popular na Europa a partir de 2008, após ser

proibida em Israel, país onde começou a ser comercializada [12].

No mesmo ano, para além da mefedrona, foram identificadas mais 5 catinonas

sintéticas, designadamente a etcatinona, flefedrona e seu isómero de posição 3-

fluorometcatinona (3-FMC), butilona e MDPV [25]. A etcatinona, a bufedrona e a

metedrona (Tabela 1) surgiram no mercado como uma alternativa legal à mefedrona.

A flefedrona e a 3-FMC foram os derivados seguintes a alcançar o mercado, seguindo-

se a butilona e a etilona e, finalmente, a MDPV [25-27]. Curiosamente, a procura pelos

consumidores destes derivados de mefedrona aumentou consideravelmente após

terem passado a ser controlados na União Europeia [11].

Como consequência da proibição da mefedrona e dos seus derivados, um grupo

de catinonas denominado "Energy" (NRG), anunciado como análogos naftilo da

catinona, começou a ser comercializado [11]. De seguida, surgiram a 3,4-DMMC, a

pentedrona (Tabela 1) e α-PVP (Tabela 3) [28, 29].

A regulamentação de drogas sintéticas como os derivados de catinona é um

trabalho de difícil concretização, uma vez que estas novas drogas são facilmente

substituídas por outras através de modificações na sua estrutura original [11].

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15

As razões que levaram a um aumento na procura destes derivados de catinona

estão relacionadas com o seu baixo custo, efeitos psicoativos semelhantes à cocaína e

anfetaminas, diminuição da pureza da MDMA e cocaína, assim como a fácil

acessibilidade que se verificou através das “smartshops” e da internet [12].

Alguns dos acontecimentos históricos mais relevantes relacionados com estas

drogas encontram-se resumidos na Tabela 5.

Tabela 5. Alguns acontecimentos históricos relevantes das catinonas e seus

derivados

Data Acontecimento

Século XVIII Khat (Catha edulis) é descrita pela primeira vez por Peter

Forskal

Início do século XX Produção dos primeiros derivados de catinona (efedrona e

mefedrona) para uso terapêutico

1930 A catina foi isolada da planta Khat pela primeira vez por

Wolfes

1975 A catinona é isolada das folhas da planta Khat e identificada

como o seu princípio ativo

Última década do século XX Consumo abusivo de metcatinona

1996 Síntese da metilona

Início século XXI Aparecimento dos derivados pirrolidinos da catinona

2004 A metilona começa a ser comercializada para fins recreativos

com o nome “Explosão” através da Internet e “smartshops”

2008 Aparecimento da mefedrona na Europa

2010 Um grupo denominado "Energia" (NRG), anunciado como

análogos naftilo de catinona aparece como alternativa à

mefedrona

2013 Os derivados de catinona são banidos das “smartshops” em

Portugal

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16

3.3 Aparência

As catinonas sintéticas são geralmente vendidas sob a forma de pó (branco ou

amarelado, amorfo ou cristalino) ou comprimidos. Estas drogas são normalmente

vendidas em pacotes de 200 mg a 10 g e em embalagens de 2 ou 3 comprimidos [11].

3.4 Administração, Absorção, Metabolismo e Eliminação

As catinonas sintéticas são consumidas usualmente por via oral. Todavia,

também já foram descritas outras vias de administração, designadamente,

administração retal, intramuscular, intravenosa e inalação [30].

A absorção deste tipo de compostos é atrasada pela presença de alimentos no

estômago [31].

Vários estudos realizados em ratos e seres humanos demonstram que as

catinonas sintéticas podem ser metabolizadas por várias vias, dependendo da

estrutura molecular [27, 32-36].

Todos os derivados de catinona passam por um extenso metabolismo de Fase I

(Figura 8) [12].

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17

Estudos demonstram que as catinonas substituídas no anel 3,4-

metilenodioxifenilo (como por exemplo a metilona) são principalmente metabolizados

por desmetilação seguida de O-metilação, N-desalquilação e redução do grupo β-ceto

[27, 32, 34]. Estas vias de metabolização estão descritas na Figura 9.

Os três metabolitos hidroxilados resultantes das duas últimas vias estão mais

propensos a sofrer metabolismo de fase II (glucuronidação e sulfonação do grupo

álcool) e os conjugados são, posteriormente, excretados na urina [11].

Figura 8 Diferentes vias metabólicas de Fase I para derivados de catinona. (A) Desmetilação (B) Redução da β-cetona (C) Hidroxilação seguida de oxidação (D) Desmetilação seguida por O-metilação (E) Hidroxilação seguida de desidrogenação em lactama. (adaptado de [12])

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18

Relativamente às catinonas estruturalmente semelhantes à mefedrona verifica-

se uma via metabólica diferente. Com base na identificação de metabolitos da

mefedrona na urina de ratos e seres humanos, temos as seguintes vias metabólicas de

fase I (Figura 10): N-desmetilação da amina primária, redução da função cetónica e

oxidação do do grupo metilo. Citocromo P450 CYP2D6 é a enzima com maior

importância no metabolismo de fase I da mefedrona [37]. Relativamente à

metabolização de fase II foi descoberto recentemente por Khreit et al. (2013) que os

metabolitos de fase II são resultado de reações de acetilação e/ou glucuronidação [11].

Figura 9 Principais vias metabólicas de fase I de derivados β-cetónicos com anel de 3,4-metilenodioxi. (adaptado de [48])

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19

Figura 10 Metabolismo de fase I da mefedrona. (adaptado de [37])

O metabolismo de alguns derivados de pirrolidinopropiofenona foi

caracterizado [36, 38-41]. A cetona na posição ß de derivados de pirrolidino é

convertida no álcool resultante, mecanismo metabólico que ocorre de uma forma

semelhante noutras catinonas [38].

Foram realizados estudos para identificar os metabolitos da MDPV [33]. Tendo

em conta os metabolitos presentes na urina, as principais metabólicas em seres

humanos (Figura 11) incluem a desmetilação, a metilação e a hidroxilação.

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20

Figura 11 Metabolismo da MDPV. (adaptado do [33])

A maioria dos derivados de catinona são eliminados na forma de metabolitos

na urina, quer na forma livre quer na forma conjugada com o ácido glucurónico ou na

forma de sulfato [34].

3.5 Mecanismo de ação e efeitos

Dado que a informação sobre o mecanismo de ação das catinonas sintéticas é

limitada, habitualmente são feitas comparações com a anfetamina, tendo em conta a

semelhança estrutural, na qual são esperados mecanismos idênticos. Evidências

científicas que suportam esta hipótese, indicam que tal como as anfetaminas e a

catinona natural, as catinonas sintéticas interagem com os transportadores de

dopamina, noradrenalina e serotonina, resultando num aumento da concentração

destas monoaminas na fenda sináptica. No entanto, vários estudos indicam diferentes

afinidades dos derivados de catinona relativamente a esses transportadores [42-45] .

Experiências recentes, com diferentes modelos de estudo, mostraram que a

mefedrona, a metilona, a etilona, a butilona e a nafirona atuam como inibidores não

seletivos para todos os transportadores de catecolaminas e, com a exceção da

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21

nafirona, também como libertadores de serotonina [42, 45]. Contrariamente, a MDPV

atua como um bloqueador seletivo de transportadores com alta potência para o

transportador de dopamina e de noradrenalina, mas fraco para o transportador de

serotonina [43, 46]. Relativamente à efedrona e flefedrona, estes atuam

preferencialmente como inibidores de dopamina e noradrenalina [45].

Tal como para outras drogas de abuso, a afinidade para o transportador de

noradrenalina pode estar relacionada com os efeitos simpaticomiméticos vivenciados

com o consumo de derivados de catinona, enquanto a potência para inibir o

transportador de dopamina pode ser associada com os seus efeitos estimulantes [11].

Estes compostos possuem efeitos estimulantes e propriedades entactogénicas.

Sobre os efeitos destas novas drogas de abuso existe apenas informação baseada em

relatos de consumidores [47]. Os efeitos sentidos pelo consumo destas drogas,

segundo os relatos, são consistentes com uma síndrome simpaticomimética (Tabela 5)

[48].

Os efeitos pelos quais estas novas substâncias são bastante procuradas pelos

consumidores são essencialmente euforia, intensificação dos sentidos sensoriais,

maior sociabilidade, maior energia, estimulação mental, empatia, maior perceção

sensorial, diminuição da inibição [7]. No entanto, é importante referir que os efeitos

específicos das catinonas são por vezes difíceis de avaliar tendo em conta que são

muitas vezes consumidas concomitantemente com outras substâncias [6].

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22

Tabela 6 Efeitos provocados pelas catinonas sintéticas (adaptado de [48])

Cardiovasculares Palpitações, dores no peito, hipertensão, miocardites, taquicardia,

coagulação intravascular

Ouvidos, nariz e

boca

Boca seca, sangramento pelo nariz, irritação nasal

Gastrointestinais Dor abdominal, perda de apetite, náuseas, vómitos, afetação do fígado

Músculo

esquelético

Artralgia, mudanças nas extremidades (exemplo: descoloração), aumento

da creatina quinase, vasoconstrição periférica, rabdomiólise

Neurológicos Desorientação, alteração do estado mental, colapso, confusão, bruxismo,

tontura, enxaquecas, perda de memória, tremores, convulsões, distonia,

sonolência, distonia, hiperreflexia, mioclonia, parestesia

Oftalmológicos Visão turva, midríase, nistagmo, pupilas dilatadas

Respiratórios Falta de ar, taquipneia, desconforto respiratório

Psicológicos Raiva, irritabilidade, agressividade, ansiedade, alucinações visuais e

auditivas, depressão, disforia, euforia, fadiga, aumento ou diminuição da

concentração, loquacidade, discurso incoerente, pânico, paranoia,

distorções percetivas, agitação, delírio, psicose, anedonia, ideação suicida,

automutilação

Geniturinários Anorgasmia, disfunção erétil, aumento da libido

Renais Insuficiência renal

Outros Odor corporal, desidratação, sudorese, febre, insônia, pesadelos, erupção

cutânea, hiponatremia, hipertermia

3.6 Dependência

O consumo regular de altas doses de catinonas sintéticas induz tolerância,

dependência e síndrome de abstinência após a interrupção abrupta [49].

3.7 Estatuto legal e estado do mercado

Como referido anteriormente, nas últimas décadas as “ drogas legais” têm sido

exponencialmente sintetizadas, e dentro destas novas drogas os derivados de catinona

têm ganho grande popularidade entre os consumidores [8].

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23

O estatuto jurídico das catinonas sintéticas varia consideravelmente entre

países, e até mesmo entre estados, e continua em constante mudança sempre que

existem novas descobertas sobre os possíveis riscos para a segurança pública [11].

Outro problema acrescido é o facto da composição química destes produtos

disponíveis (ditos legais) não corresponder à composição rotulada sendo, na verdade,

constituídos por substâncias ilegais, como a mefedrona, a metilona e a MDPV (mais

comuns) [11].

O grande número de apreensões de catinonas sintéticas na Europa reflete a

procura de novos estimulantes, sendo que muitos deles são usados como substitutos

da MDMA, anfetaminas e cocaína. Entre 2008 e 2013, houve um aumento de 60 vezes

no número de apreensões de catinonas sintéticas [8].

Em Portugal, as medidas de controlo legislativo destas novas drogas apenas

foram introduzidas em abril de 2013, proibindo o uso e a comercialização de um total

de 159 substâncias, das quais 33 são catinonas sintéticas. Estas novas leis culminaram

no fecho de todas as “smartshops” existentes no país e também na atualização da lista

de substâncias sob controlo a cada 18 meses [30].

4. Quiralidade

4.1 Conceitos

Uma molécula é quiral quando pode ser representada por duas estruturas não

sobreponíveis (e que estão relacionadas entre si como objeto e respetiva imagem num

Figura 12 Número de apreensões de catinonas sintéticas entre 2008 e 2013. (adaptado de [8])

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24

espelho plano), designadas de enantiómeros (Figura 13) [50]. A maioria destas

moléculas apresenta quiralidade central, com um ou mais centros estereogénicos

constituídos por átomos de carbono. No entanto, existem outros átomos que podem

ser centros estereogénicos, como por exemplo, enxofre, fósforo, nitrogénio, selénio,

silício e boro, pois a estereogenicidade não é uma propriedade intrínseca do átomo de

carbono com quatro substituintes diferentes [51].

Para além da quiralidade central, as moléculas podem também apresentar

quiralidade axial ou planar [52].

Os enantiómeros têm propriedades físicas e químicas idênticas, exceto quando

interagem com sistemas quirais [53]. Uma forma de distinguir os enantiómeros é

através da atividade ótica. Efetivamente, os enantiómeros de um composto quiral

diferem na direção de rotação do plano de luz polarizada [51], sendo designados por d

(+) (dextrogiro) quando a luz é rodada no sentido horário e l (-) (levógiro) quando a luz

é rodada no sentido anti-horário [54].

Figura 13 Imagens especulares de dois enantiómeros num espelho plano.

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25

Figura 14 Enantiómeros R e S do ácido láctico.

A mistura equimolar dos dois enantiómeros de uma molécula quiral é

denominada de mistura racémica ou racemato e é oticamente inativa, já que a rotação

do plano da luz polarizada causada pelas moléculas de um dos enantiómeros anula a

do outro [50].

Não existe correlação entre a atividade ótica e a configuração dos

enantiómeros. A configuração indica a disposição tridimensional dos átomos ou grupo

de átomos em torno do centro estereogénico. De acordo com a regra da prioridade do

sistema de Cahn-Inglond-Prelog os enantiómeros são designados de S ou R (Figura 14)

[55].

Num ambiente quiral, as propriedades geralmente diferem entre os

enantiómeros podendo estes ter efeitos biológicos diferentes, potências diferentes, ou

mesmo o seu efeito estar limitado a apenas um dos seus enantiómeros [56]. Na Tabela

7 são apresentados alguns exemplos de enantiómeros que diferem nos seus efeitos.

Tabela 7 Alguns exemplos de diferenças na atividade biológica de pares enantioméricos

(adaptado de [56]) Fármaco Efeito biológico

Penicilamina enantiómero S: anti-artrítico enantiómero R: extremamente tóxico

Estrona enantiómero (+): hormona estrogénica enantiómero (-): inativo

Talidomida enantiómero R: sedativo enantiómero S: teratogénico

Adrenalina enantiómero (-): 20 vezes mais ativo

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26

Figura 15 Quiralidade de novas moléculas. a - Percentagem e número novas moléculas aprovadas pela FDA b – Percentagem e número de novas moléculas aprovadas em todo o mundo. (adaptado de [55])

As autoridades reguladoras têm vindo a encorajar a Indústria Farmacêutica a

desenvolver fármacos enantiomericamente puros. Como consequência, o

desenvolvimento e comercialização de fármacos contendo apenas um dos

enantiómeros têm crescido nos últimos tempos (Figura 15) [55]. Outras razões que

também contribuíram para este aumento foram os avanços tecnológicos para a

síntese, resolução e análise de enantiómeros, o fenómeno do “chiral switching” e as

inúmeras vantagens dos enantiómeros puros comparativamente com os racematos

[57].

Deste modo, o desenvolvimento de métodos que permitam a obtenção de

enantiómeros puros e a avaliação da pureza enantiomérica adquiriu uma importância

crucial [58]. De uma forma geral, para se obter compostos quirais enantiomericamente

puros existem duas estratégias possíveis: a síntese enantiosseletiva do enantiómero

pretendido e a resolução enantiomérica [50].

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27

4.2 Resolução Enantiomérica

Pasteur marcou o início das separações quirais quando, em 1848, recristalizou o

sal de amónio de sódio racémico de ácido tartárico e observou duas formas cristalinas

diferentes. Após separá-los descobriu que rodavam a luz polarizada de forma

diferente. Desde então foi dada a devida relevância ao papel crucial da quiralidade

[59].

A resolução de uma mistura de enantiómeros pode ser realizada através de

dois métodos: método indireto e método direto. [60]

No método indireto de separação de enantiómeros é efetuada a reação dos

enantiómeros presentes na mistura racémica com um reagente oticamente puro com

formação de derivados diastereoisoméricos. Como estes apresentam propriedades

físico-químicas diferentes podem ser separados empregando uma grande variedade de

procedimentos como cristalização, cromatografia usando fases estacionárias

convencionais, entre outros. Embora esta metodologia seja eficiente para a separação

de uma grande diversidade de enantiómeros, apresenta algumas desvantagens, a

destacar: a formação dos derivados diastereoisoméricos nem sempre é fácil e, de um

modo geral, é um processo demorado; falha na separação total dos enantiómeros;

requer reagentes opticamente puros; é necessário um tratamento químico posterior

para a recuperação dos enantiómeros separados [51].

Atualmente, o método mais descrito para a separação de enantiómeros é o

método direto, uma vez que não necessita de derivação prévia. A resolução direta de

enantiómeros é efetuada, geralmente, por cromatografia líquida ocorrendo

reconhecimento quiral entre a mistura racémica e o seletor quiral presente no sistema

cromatográfico [61]. O seletor quiral deve associar-se preferencialmente a um dos

enantiómeros formando complexos diastereoisoméricos transitórios. As diferenças na

estabilidade dos complexos transitórios formados levam a diferentes tempos de

retenção dos enantiómeros na coluna cromatográfica. O enantiómero que forma o

complexo menos estável elui primeiro [59].

O seletor quiral tanto pode estar ancorado à fase estacionária, constituindo

uma fase estacionária quiral (FEQ), como pode ser um aditivo da fase móvel. Neste

último caso, a fase estacionária não precisa de ser quiral [51, 53, 59].

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28

Para o estudo de compostos quirais, recorrendo a técnicas que envolvem a

separação de enantiómeros, podem utilizar-se diferentes técnicas cromatográficas. A

cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) permite a realização de análises rápidas,

separação de misturas complexas, reprodutibilidade, podendo ser utilizada tanto na

forma analítica como preparativa, entre outras vantagens. Por estas razões, a HPLC

com a utilização de FEQs é uma das técnicas mais empregues para a resolução

enantiomérica [59].

4.2.1. Fases estacionárias quirais utilizadas em HPLC

Existe uma grande diversidade de FEQs disponíveis comercialmente para a

resolução enantiomérica por HPLC (Tabela 8). A grande maioria das FEQs é preparada

a partir de moléculas ou polímeros quirais, naturais ou sintéticos, adsorvidos ou

quimicamente ligados a um suporte cromatográfico, normalmente sílica [53, 62].

Tabela 8 Exemplos de diferentes tipos de FEQs (adaptado de [61])

Seletor Quiral Fases estacionárias quirais

Natural

Proteínas

Ciclodextrinas

Polissacarídeos

Antibióticos macrocíclicos

Cinchona

Sintético

Tipo Pirkle

Troca de ligantes

Éteres de coroa

Polímeros sintéticos

Da grande diversidade de FEQs, as mais usadas são as fases derivadas de

polissacarídeos, as de antibióticos e as do “tipo Pirkle”.

Para o desenvolvimento de FEQs derivadas de polissacarídeos, vários

polissacarídeos, como por exemplo, celulose e amilose, foram eficientemente

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29

derivados e usados como seletores quirais para a separação de uma grande

diversidade de compostos.

As FEQS deste tipo preparadas inicialmente, cujos seletores se encontravam

adsorvidos à superfície do suporte cromatográfico, exigiam alguns cuidados na escolha

da fase móvel. Efetivamente, alguns solventes como tetra-hidrofurano, acetato de

etilo, acetona, clorofórmio, diclorometano e tolueno não podiam ser utilizados como

fases móveis pois podiam solubilizar o seletor quiral [59]. Nas FEQs desenvolvidas mais

recentemente, os seletores quirais já são imobilizados ao suporte cromatográfico

solucionando essa limitação e oferecendo outras vantagens [61].

Os mecanismos de separação deste tipode FEQs inclui basicamente, a formação

de complexos de inclusão e interações atrativas [59]. É importante enfatizar que as

FEQs derivadas de polissacarídeos, adsorvidos ou quimicamente ligados ao suporte,

apresentam um elevado poder de resolução enantiomérico para uma grande

diversidade de compostos quirais de natureza química diversa, sendo as fases mais

eficientes e amplamente utilizadas [61].

As FEQs derivadas de antibióticos são constituídas por glicopeptídeos

macrocíclicos tal como a vancomicina, rifamicina B, teicoplanina, entre outros,

covalentemente ligados à sílica. Estas fases também demonstram excelentes

enantiosseletividades para uma larga gama de analitos [61].

Neste tipo de FEQs, a enantioseparação pode envolver diferentes mecanismos,

tais como, formação de complexos de inclusão, interações de hidrogénio, π-π,

eletrostáticas, estéricas, dipolo-dipolo e dispersão de London. [63, 64]. Com a

utilização destas FEQs é possível efetuar análises no modo normal, reverso, polar

orgânico e polar iónico [65].

As FEQs do “tipo Pirkle” são constituídas por pequenas moléculas quirais de

natureza química diversa como seletores quirais. Originalmente, estas pequenas

moléculas eram aminoácidos modificados que se ligaram covalentemente à superfície

do suporte cromatográfico [61]. Os seletores quirais do tipo “Pirkle” possuem porções

aromáticas essenciais para o estabelecimento de interações com os enantiómeros a

separar e consequente formação dos complexos diastereoisoméricos. Efetivamente,

estas FEQs podem interagir com os enantiómeros a resolver através de interações π-π,

assim como de hidrogénio, dipolo-dipolo e estéricas. Normalmente são utilizadas em

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30

fase normal de eluição, todavia, também apresentam poder de discriminação quiral

em modo inverso. Diversas FEQs deste tipo foram desenvolvidas e estão

comercialmente disponíveis [61]. Uma das fases mais eficientes e amplamente usada é

a (S,S)-Whelk-O®1 [59].

4.2.2. Resolução enantiomérica de catinonas sintéticas

Como é bem conhecido, a resolução enantiomérica tem um papel importante na

análise de drogas ilícitas na área de Toxicologia Forense. Tal como acontece como para

muitos fármacos quirais, a atividade das principais drogas ilícitas pode variar com a

forma enantiomérica [56]

Um facto interessante das catinonas sintéticas é que todas são quirais [66]. Na

literatura existe ainda pouca informação sobre as catinonas sintéticas e praticamente

nenhuma sobre os enantiómeros isolados [58]. No entanto, relativamente à

metcatinona, está reportado na literatura que o enantiómero S-(+) exibe maior efeito

estimulante que o enantiómero R-(-). Na verdade, o abuso do enantiómero S puro da

metcatinona pode levar a riscos de sobredosagem ou casos letais, uma vez que é mais

potente isolado do que na sua forma racémica [67-69].

Relativamente à resolução enantiomérica, na literatura encontram-se descritos

alguns trabalhos de separação de catinonas sintéticas com o emprego de várias

técnicas, incluindo eletroforese capilar [70], cromatografia gasosa [66, 71] e HPLC [58,

72, 73].

Do nosso conhecimento, existem apenas dois trabalhos relacionados com a

separação enantiomérica de catinonas sintéticas por HPLC pelo método direto: Mohr

et al. conseguiram separar 19 derivados de catinonas usando uma FEQ comercial para

HPLC derivada de polissacarídeos, especificamente a CHIRALPAK® AS-H [58]; a catinona

e a metcatinona foram separadas por Perer et al. usando uma FEQ comercial para

HPLC do “tipo Pirkle” (Whelk-O® 1)[72].

Mais recentemente, Suzuki et al. isolaram os enantiómeros da MDPV através de

um método indireto [73].

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Objetivos

1.Objetivos

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33

1. Objetivos

Este trabalho dividiu-se em três partes: uma primeira parte relacionada com a

separação enantiomérica de derivados catinónicos presentes em “drogas legais”, uma

segunda parte que envolveu a separação e isolamento dos enantiómeros da MDPV, e

uma terceira parte que incluiu um estudo in vitro da citotoxicidade de cada

enantiómero da MDPV.

O objetivo da primeira parte do presente trabalho foi separar por HPLC quiral

os enantiómeros de derivados de catinonas presentes em amostras obtidas em

“smartshops”. Apesar destas lojas já terem sido proibidas e fechadas em Portugal,

estas drogas continuam a ser comercializadas através da internet. Posteriormente,

pretendeu-se também analisar a proporção de cada enantiómero em cada um dos

pares de catinonas avaliados e analisar a proporção enantiomérica de cada composto

que constitui estas amostras.

Relativamente à segunda etapa do trabalho, o principal objetivo foi isolar cada

um dos enantiómeros da MDPV, um dos derivados de catinona mais potentes e

comumente consumidos para, na terceira parte, avaliar a citotoxicidade de cada um

dos enantiómeros em separado. Para isso foram otimizadas as condições analíticas de

separação enantiomérica da MDPV por HPLC, para posteriormente por HPLC semi-

preparativa quiral efetuar o isolamento de ambos os enantiómeros. No final, foram

então efetuados estudos de citotoxicidade de cada um dos seus enantiómeros,

recorrendo para isso a ensaios in vitro de cultura primária hepatócitos de rato.

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Experimental

Parte 1: Separação analítica dos enantiómeros de derivados catinónicos

em “drogas legais”

Parte 2: Separação semi-preparativa dos enantiómeros da MDPV

Parte 3: Estudo da citotoxicidade dos enantiómeros da MDPV

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Parte 1: Separação analítica dos enantiómeros de

derivados catinónicos em "drogas legais"

1. Reagentes e Padrões

Todos os solventes utilizados no estudo apresentavam pureza adequada para

HPLC. Etanol (EtOH), 2-propanol (2-PrOH), n-hexano (Hex), trietilamina (TEA) e ácido

trifluoracético (TFA) foram obtidos da Sigma-Aldrich Co (St. Louis, MO, USA).

Os padrões de metilona, pentedrona, 4-MEC e MDPV foram adquiridos na

internet a partir do site Sensearomatic (www.sensearomatic.com).

As diferentes formulações de “drogas legais" “Blast”, “Crabby”, “Cyclop”,

“Bliss”, “Blow” e “Kick” foram adquiridas na smartshop Euphoria (Porto,Portugal) e as

“drogas legais” “Bloom”, “Rush”, “Bliss”, “Charlie”, “Blow” e “Kick” na smartshop

Magic Mushroom (Porto, Portugal). Todas as amostras analisadas foram adquiridas sob

a forma de pós, com exceção da “Bliss amostra 15” que se apresentava sob a forma de

comprimidos.

Todos os produtos foram adquiridos antes da aprovação do Decreto 54/2013,

que proíbe a existência destas lojas e a comercialização destes produtos [74].

2. Preparação das amostras

Todas as amostras e padrões foram dissolvidos em EtOH com obtenção de

soluções com uma concentração final de 100 μg/mL, às quais se adicionou 0,1% de

TEA. Na análise por HPLC foram injetados 20 μL de cada uma das soluções preparadas.

3. Condições experimentais

Para a análise foram usados dois aparelhos de HPLC. Um HPLC com uma bomba

de 880-PU modelo JASCO, com um injetor modelo Rheodyne 7125 equipado com um

loop de amostra de 20 μL, um misturador de solvente modelo JASCO 880-30 e um

detetor modelo JASCO 875-UV (Tóquio, Japão). O software utilizado para o tratamento

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dos dados cromatográficos foi DataApex CSW17 - Estação de cromatografia para

Microsoft Windows 95. Foi também utilizado um HPLC modelo Surveyor Finnigan

(Thermo Electron Corporation, Ohio, EUA), equipado com um amostrador automático

(AutoSampler Plus) e um detetor por arranjo de diodos TSP UV6000LP (Thermo

Electron Corporation, Ohio, EUA). O software utilizado para o tratamento dos dados

cromatográficos foi o software Xcalibur®2.0 SUR1 (Thermo Electron Corporation, Ohio,

EUA).

As colunas cromatográficas utilizadas foram: (S,S)-Whelk-O® 1 (25 cm, 4,6 mm

d.i., 5 µm tamanho de partícula) da Regis Technologies, Inc. (Morton Grove, IL, USA) e

Chiralpak® AS-H (15 cm, 4,6 mm d.i., 5 µm tamanho de partícula) da Chiral

Technologies Europe, Daicel Chemical Industries, LTD. Para a separação analítica da

MDPV foram ainda usadas as colunas L-Phenylglycine (25 cm, 4,6 mm d.i., 5 µm

tamanho de partícula) da Regis Technologies, Inc. (Morton Grove, IL, USA), FEXEGOL2

(15 cm, 4,6 mm d.i., 5 µm tamanho de partícula) preparada como descrito em [75],

Chirobiotic T (15 cm, 4,6 mm d.i., 5 µm tamanho de partícula) da ASTEC (Whippany, NJ,

USA), CSP2 (constituída por amilose tris-3,5-dimetilfenilcarbamato aderida a

APSNucleosil (15 cm, 4,6 mm d.i., 7 µm tamanho de partícula, 20%, w/w, 500 A°) e

CSP3 (constituída por amilose tris-3,5-dimetoxifenilcarbamato aderida a APSNucleosil

(15 cm, 4,6 mm d.i., 7 µm tamanho de partícula, 20%, w/w, 500 A°), preparadas como

descrito em [76].

As análises foram feitas à temperatura ambiente, em modo isocrático, com

deteção por UV a 254 nm e deteção por polarímetro acoplado. As análises foram

efetuadas sob condições de eluição de fase normal. Com a (S,S)-Whelk-O® 1 os

solventes usados na preparação da fase móvel foram Hex, EtOH ou 2-PrOH com adição

de TEA e TFA. Relativamente à coluna Chiralpak® AS-H os solventes usados na

preparação da fase móvel foram Hex, EtOH ou 2-PrOH com adição de TEA.

As fases móveis foram preparadas e desgaseificadas em banho de ultras-sons

durante 15 min antes da utilização. O fluxo utilizado foi de 0,5, 0,8 e 1 mL/ min. As

injeções das amostras (20 μL) foram realizadas em duplicado. O tempo morto (t0) foi

considerado como sendo igual à deflexão provocada pela frente de solvente. O fator

de retenção (k) foi calculado através da equação k = ([tr-t0]/t0). O fator de separação

(α) foi calculado pela equação α = (K2 / K1). O fator de resolução (Rs) foi calculado

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usando a equação Rs = (1.18 [tr2*tr1]/[W1 0.5+W2 0.5]), onde tr1 e tr2 são os tempos de

retenção do primeiro e segundo enantiómero, respetivamente, e W1 0,5 e W2 0,5 são a

largura da banda correspondente medida à meia-altura.

Parte 2: Separação semi-preparativa dos

enantiómeros da MDPV

1. Reagentes e Padrões

Todos os solventes utilizados no estudo apresentavam pureza adequada para

HPLC. O EtOH, 2-PrOH, Hex e a TEA foram obtidos da Sigma-Aldrich Co (St. Louis, MO,

USA).

O cloreto de sódio (NaCl), o sulfato de sódio anidro (Na2SO4), o hidróxido de

sódio (NaOH) e o ácido clorídrico (HCl) foram obtidos da Sigma-Aldrich Co (St. Louis,

MO, USA), com grau de pureza analítico.

2. Amostras

O padrão da MDPV foi adquirido na internet a partir da página Sensearomatic

(www.sensearomatic.com).

3. Tratamento de amostras para análise semi-preparativa

O padrão de MDPV foi dissolvido em EtOH com obtenção de uma solução de

concentração final de 10 mg/mL. Para a análise por HPLC foram injetados 100 μL dessa

solução.

4. Condições Experimentais para análise semi-preparativa

As análises foram feitas num aparelho de HPLC-UV com uma bomba de 880-PU

modelo JASCO, um injetor modelo Rheodyne 7125 equipado com um loop de amostra

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de 20 μL, um misturador de solvente modelo JASCO 880-30, e um detetor modelo

JASCO 875-UV (Tóquio, Japão). O software utilizado para o tratamento dos dados

cromatográficos foi DataApex CSW17 - Estação de cromatografia para Microsoft

Windows 95. Foi utilizada uma coluna semi-preparativa constituída por tris-3,5-

dimetilfenilcarbamato aderida a APSNucleosil (20 cm, 0,7cm, d.i., 500 Å) preparadas

como descrito em [76].

A separação e posterior recolha dos enantiómeros da MDPV foram feitas sob

condições de eluição de fase normal. As condições das separações cromatográficas

semi-preparativas foram alcançadas através de múltiplas injeções num loop de 250 μL,

com uma fase de um móvel Hex: EtOH: TEA (97:3:0,1) a vários fluxos. Os melhores

resultados foram obtidos com a fase móvel de Hex: EtOH: TEA (97:3:0,1) a um fluxo de

1,5 mL/min.

As análises foram realizadas à temperatura ambiente, em modo isocrático, com

deteção por UV a 254 nm. As fases móveis foram preparadas e desgaseificadas num

banho de ultras-sons durante 15 min antes da utilização. As injeções das amostras (100

μL) foram realizadas em duplicado.

5. Eliminação do aditivo da fase móvel (TEA) e formação do

cloridrato de cada um dos enantiómeros

Após recolha de várias frações dos enantiómeros da MDPV, totalizando 100 mg,

procedeu-se à eliminação da TEA (aditivo da fase móvel) por extração múltipla liquido-

liquido e posterior formação do cloridrato de MDPV.

As frações enantioméricas recolhidas foram transferidas para um balão de 250

mL e evaporadas em evaporador rotativo. O sólido obtido foi dissolvido em

clorofórmio, e a solução orgânica obtida foi lavada com uma solução de NaOH 1M (5

25 mL). De seguida foi feita uma lavagem com uma solução saturada de NaCl (2 20

mL). A solução orgânica resultante foi posteriormente desidratada com Na2SO4, e

filtrada. Após evaporação do solvente orgânico em evaporador rotativo, procedeu-se à

precipitação com HCl (os enantiómeros que se encontravam sob a forma de base livre

foram convertidos nos respetivos cloridratos). Para tal, foi adicionada inicialmente

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uma pequena quantidade de éter dietílico seguida de HCl concentrado, gota a gota,

até se obter um precipitado. Uma vez obtido o precipitado este foi recolhido. Foram

recolhidos 45,5 mg do enantiómero que eluiu primeiro e 41,3 mg do enantiómero que

eluiu posteriormente.

6. Excesso enantiomérico

Após separação e precipitação de cada um dos enantiómeros da MDPV, foi

determinada a sua pureza enantiomérica por HPLC quiral. Assim, para cada um dos

enantiómeros foi preparada uma solução em EtOH com uma concentração final de 100

μg/mL. Cada uma das soluções foi analisada usando a coluna analítica CSP2

(constituída por amilose tris-3,5-dimetilfenilcarbamato aderida a APSNucleosil) [76],

usada anteriormente para a separação da MDPV, e a fase móvel de Hex: EtOH: TEA

(97:3:0,1) com um fluxo de 0,5 mL/min. Foram injetados 20 μL de cada uma das

soluções e em triplicado. O excesso enantiomérico (ee) foi calculado através da

seguinte fórmula: ee=([R]-[S])/([R]+[S])*100.

7. Atividade ótica

Foi utilizado um polarímetro Polartronic Universal para avaliar a atividade ótica

de cada um dos enantiómeros da MDPV. O EtOH foi utilizado como branco. Uma

solução de 10 mg/mL em EtOH de cada um dos enantiómeros foi preparada para a

análise.

Parte 3: Estudo da citotoxicidade dos

enantiómeros da MDPV

1. Estudos em Culturas Primárias de Hepatócitos de Ratos

1.1 Reagentes

O meio de cultura celular Willaims’E, colagenase de Clostridium histolyticum tipo IA,

gentamicina, dexametasona, solução de insulina de pâncreas de bovino (10 mg/mL),

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azul de tripano, piruvato de sódio, β-nicotinamida adenina dinucleótideo reduzida (β-

NADH) e brometo de 3-(4,5-dimetiltiazol-2-il)-2,5-difenilltetrazólio (MTT) foram

adquiridos a partir da Sigma Aldrich (St. Louis, MO). O soro bovino fetal (FBS),

fungizona (250 μg/mL) e mistura de antibióticos penicilina/estreptomicina (Pen/Strep)

(10.000 U/mL/10.000 μg/mL) foram obtidos a partir da GIBCO Invitrogen (Barcelona,

Espanha). Todos os outros reagentes químicos, de grau analítico, foram adquiridos à

Merck (Darmstadt, Alemanha). O cloridrato de MDPV foi obtido online no site

Sensearomatic em março de 2013. O sal foi caracterizado por espectrometria de

massa, RMN e análise elementar, sendo a sua pureza superior a 98 %. Os

enantiómeros isolados da MDPV foram obtidos através dum método de HPLC semi-

preparativo, como descrito anteriormente.

1.2 Animais

Ratos Wistar-Han machos adultos (Charles-River Laboratories, Barcelona, Espanha),

com um peso entre 200-250 g, foram utilizados em todas as experiências como uma

fonte de hepatócitos. Os animais foram aclimatizados em gaiolas de polietileno num

ambiente com uma temperatura de 20 ± 2 °C, humidade entre 40 e 60 % e um ciclo de

luz/escuro de 12h/12h. Foi dado aos animais acesso livre à ração padrão e água ad

libitum.

1.3 Isolamento de hepatócitos de rato

O isolamento de hepatócitos foi realizado entre as 10 e as 12h da manhã. O

rato foi anestesiado por inalação de isoflurano. Após abertura do abdómen e

exposição do fígado, uma cânula foi introduzida num pequeno corte feito na veia porta

hepática para uma primeira perfusão do fígado com uma solução de lavagem Hank

(NaCl a 2,7 M, KCl a 0,1M, MgSO4.7H2O a 16mM, Na2HPO4.2H2O a 8,4 mM, KH2PO4 a

8,8 mM, NaHCO3 a 25 mM, HEPES a 12,5 mM, EGTA a 0,6 mM e albumina a 0,67 %)

durante 10 minutos. Posteriormente, o diafragma foi perfurado e a aorta seccionada

para proceder à eutanásia do animal. Numa segunda fase, as moléculas de colagénio

hepáticas foram hidrolisadas pela ação da colagenase presente na solução de perfusão

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Hank (NaCl a 2,7 M, KCl a 0,1M, MgSO4.7H2O a 16 mM, Na2HPO4.2H2O a 8,4 mM,

KH2PO4 a 8,8 mM, NaHCO3 a 25 mM, HEPES a 12,5 mM e colagenase 0,5 mg/mL e CaCl2

a 5,88 %). A colagenase é adicionada imediatamente antes do início da perfusão. Esta

última perfusão foi realizada até ser a visível a perda da plasticidade do fígado quando

pressionado levemente com uma pinça. Quando concluída a digestão, a cânula foi

retirada, a cápsula do fígado foi rompida e os hepatócitos foram libertados. A

suspensão de hepatócitos foi purificada através de centrifugações a baixa velocidade

(300 rpm, 2 min) e lavagens com tampão de Krebs-Henseleit (NaCl a 0,42 M, KCl a 16,9

mM, MgSO4.7H2O a 4,2 mM, KH2PO4 a 4,2 mM, NaHCO3 a 25,5 mM e CaCl2.2H2O a 9,1

mM) suplementado com HEPES a 12,5 mM. Após a suspensão estar limpa,

adicionaram-se 20 mL da mesma solução até homogeneização completa. Foi então

adicionado 1 mL de Pen/Strep à suspensão celular e esta foi mantida em gelo durante

30 min.

Para a determinação da viabilidade das células utilizou-se a técnica de exclusão

do azul tripano (azul de tripano é um corante orgânico com carga negativa, que é

excluído pelos hepatócitos com membranas citoplasmáticas intactas, como resultado

da manutenção do potencial de membrana). Para tal, a 100 μL de suspensão foram

adicionados 900 μL de solução de azul tripano a 1 % para posterior contabilização de

células numa câmara de Neubauer.

1.4 Cultura de hepatócitos de rato

Uma suspensão de 500 000 células/mL em meio de cultura completo (meio

William E suplementado com 10 % de FBS, 0,1 mg/mL de estreptomicina, 100 U/mL de

penicilina, 2 ng/mL de insulina, 10 ng/mL de gentamicina e 5 nM de dexametasona) foi

semeada em placas com 96 poços, perfazendo um total de 50 000 células por poço. As

células foram incubadas, para adesão celular, a 37 °C, numa estufa com 95/5 % de

O2/CO2, durante a noite. No dia seguinte, procedeu-se à incubação das células com os

compostos a analisar, numa gama de 0,2 a 1,6 mM, em meio de cultura sem FBS,

durante 24 e 48 h.

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44

1.5 Ensaio de redução de MTT

O ensaio de redução de MTT foi realizado como descrito previamente [77].

Resumidamente, as células foram incubadas, a 37 °C, durante 1 h 30 min, com uma

solução de 500 μg/mL de MTT. Os cristais de formazano, que foram formados através

da succinato desidrogenase mitocondrial, foram dissolvidos em 100% de DMSO, e

detetados a 550 nm num leitor de placas de 96 poços (PowerWaveX; Bio-Tek,

Winooski, VT, EUA).

Os dados foram normalizados para os controlos positivos e negativos. Para os

controlos positivos, foram utilizados células sem tratamento, que equivale a 100 % de

redução do MTT. Para servir de controlo negativo, foi utilizado 1 % de Triton X-100,

que equivale a 0 % de redução do MTT.

Os dados foram obtidos a partir de três experiências independentes, realizadas

em quadruplicado para cada concentração.

1.6 Ensaio de libertação de LDH

A atividade da lactato desidrogenase foi determinada por meio da diminuição

da absorvância de β-NADH durante a redução do piruvato a lactato, tal como descrito

anteriormente [78], com algumas modificações. Após a exposição, o conteúdo das

placas foi centrifugado a 250g, durante 10 min e 50 μL do meio de incubação (diluições

preparadas em tampão fosfato: KH2PO4 50 mM, pH 7,4) e recolhido de cada poço para

um novo poço de novas placas de 96 poços. A estas novas placas foi adicionado 200 μL

de uma solução de 0,21 mM de β-NADH (preparado em tampão de fosfato). A

oxidação de β-NADH em β-NAD+, após a adição de 25 μL de piruvato de sódio (22,7

mM) foi monitorizada a 340 nm num leitor de placa de 96 poços.

Os dados foram obtidos a partir de três experiências independentes, realizadas

em quadruplicado.

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Resultados e

Discussão

Parte 1: Separação analítica dos enantiómeros de derivados catinónicos

em "drogas legais"

Parte 2: Separação semi-preparativa dos enantiómeros da MDPV

Parte 3: Estudo da citotoxicidade dos enantiómeros da MDPV

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47

Figura 16 Catinonas sintéticas avaliadas neste trabalho.

Parte 1: Separação analítica dos enantiómeros de

derivados catinónicos em "drogas legais"

1. Separação analítica dos enantiómeros de derivados catinónicos

presentes em “drogas legais”

Neste trabalho foi efetuada a separação enantiomérica de 15 amostras e 4

padrões de derivados catinónicos. Na figura 16 estão sumarizadas as estruturas

químicas das catinonas sintéticas avaliadas. As amostras utilizadas foram previamente

analisadas por cromatografia gasosa acoplada a espetrometria de massa (GC-MS) e por

ressonância magnética nuclear (RMN) para identificação da sua composição química,

num trabalho realizado na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto

("Psychoactive substances present in "legal highs" acquired in "smartshops" or via

Internet") [48]. Sendo assim, a composição química destas amostras já é conhecida e

consta da Tabela 9 [30]. Foram também utilizados padrões comerciais de algumas

catinonas sintéticas para auxiliar na identificação das respetivas catinonas nas

amostras analisadas por HPLC quiral.

Numa primeira fase, apenas foram injetadas algumas amostras que continham

no máximo 2 catinonas sintéticas diferentes na sua composição (Blast A3, Charlie A10,

Cyclop A6, Bliss A8 e Kick A14), assim como também os padrões: Metilona,

Pentedrona, 4-MEC e MDPV.

.

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Tabela 9 Amostras utilizadas e sua identificação por GC-MS e NMR (adaptado de [30])

Amostra Nome Produto Smartshop Substâncias Identificadas

1 Bloom Magic Mushroom Metilona (43 %), 4-MEC (29 %), Pentedrona (25 %), Dimetocaína (<1 %), Isopentedrona (< 1 %)

2 Bloom Magic Mushroom Metedrona (34 %), Pentedrona (29 %), Etcatinona (24 %), Cafeína (13 %), Isopentedrona (< 1 %)

3 Blast Euphoria Flefedrona (87 %), Cafeína (13 %)

4 Rush Magic Mushroom Bufedrona (87 %), Cafeína (13 %)

5 Crabby Euphoria 3,4-DMMC (>99 %)

6 Cyclop Euphoria 3,4-DMMC (>99 %)

7 Bliss Magic Mushroom Metedrona (89 %), Pentedrona (5 %), 3,4-DMMC ( 4 %), Cafeína (< 1 %), Isopentedrona (< 1 %)

8 Bliss Euphoria Metedrona (>99 %)

9 Charlie Magic Mushroom Bufedrona (80 %), Etcatinona (19 %), Cafeína (< 1 %)

10 Charlie Magic Mushroom Bufedrona (52 %), Etcatinona (48 %)

11 Blow Magic Mushroom 4-MEC (86 %), MDPV (14 %), 3-MEC (<1 %)

12 Blow Euphoria 4-MEC (83 %), MDPV (8 %), cafeína (8 %), 3-MEC (<1 %)

13 Kick Magic Mushroom Pentedrona (89 %), Isopentedrona (11 %)

14 Kick Euphoria Bufedrona (80 %), Cafeína (20 %)

15 Bliss* Euphoria Metilona (<99 %)

Padrões: MDPV, 4-MEC, Pentedrona, Metilona

*pastilha

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Figura 17 Esquema de preparação das soluções para análise.

Todas as amostras e padrões foram dissolvidos em EtOH. Primeiramente foi

preparada uma solução mãe de concentração 1mg/mL, a qual foi diluída para uma

concentração final de 100 μg/mL. A esta solução final foi adicionada 0,1% de TEA, de

acordo com o esquema da Figura 17.

Uma vez conhecida a composição química das amostras de “drogas legais”

vendidas nas antigas “smartshops” é de grande importância saber a proporção de cada

enantiómero das catinonas sintéticas constituintes da amostra, uma vez que os efeitos

provocados por estas novas drogas podem ser dependentes dessas proporções.

Assim, com o intuito de determinar a razão de cada um dos enantiómeros das

catinonas sintéticas presentes nas “drogas legais” foram inicialmente testadas as

condições cromatográficas para a sua separação enantiomérica.

Com base em trabalhos descritos na literatura, foram usadas duas colunas

quirais diferentes, designadamente a (S,S)-Whelk-O®1 [72] e Chiralpak® AS-H [58], para

avaliar a separação enantiomérica das catinonas nas amostras.

Relativamente à Whelk-O®1 (Figura 18) foi testada primeiramente a fase móvel

Hex:2-PrOH:TEA:TFA (90:10:0,05:0,05) de acordo com o trabalho descrito em [72].

Uma vez que não se observou nenhum indício de separação enantiomérica, em

nenhuma das amostras analisadas, usou-se EtOH como modificador orgânico em

alternativa ao 2-PrOH. Com a fase móvel Hex:EtOH:TEA:TFA (90:10:0,05:0,05)

observou-se início de separação dos enantiómeros da Metedrona presentes na

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Figura 18 Estrutura da fase estacionária Whelk-O®1.

amostra Bliss A8. Sendo assim, o passo seguinte consistiu na otimização da fase móvel

com o incremento da percentagem de Hex até à proporção de 95 %.

Assim, com a fase móvel Hex:EtOH:TEA:TFA (95:5:0,05:0,05) foi possível uma

separação à linha de base dos enantiómeros da Metedrona presentes na amostra Bliss,

porém, com um tempo de análise superior a 52 min (Figura 19).

Nestas condições cromatográficas foi possível a separação dos enantiómeros da

metedrona presente na amostra Bliss A8 com um α de 1,12 e um Rs de 1,29.

Contudo, com a coluna do tipo Pirkle (S,S)-Whelk-O®1 apenas foi possível a

separação enantiomérica de um derivado catinónico não sendo, portanto, a melhor

opção para a resolução enantiomérica deste tipo de compostos.

Figura 19 Cromatograma da separação dos enantiómeros da Metedrona presentes na amostra Bliss A8; Coluna

Whelk-O® 1; Fase móvel Hex:EtOH:TEA:TFA (95:5:0,05:0,05); Fluxo 1 mL/min; Deteção UV 254nm.

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Com base em outro estudo que descreve a separação enantiomérica de

catinonas sintéticas [58], foi usada a coluna Chiralpak® AS-H e a fase móvel Hex:2-

prOH:TEA (97:3:0,1).

Numa fase inicial, com a coluna e fase móvel mencionadas anteriormente

(Chiralpak® AS-H e Hex:2-PrOH:TEA (97:3:0,1) respetivamente), e a um fluxo de 1

mL/min foram injetadas as mesmas amostras (Blast A3, Charlie A10, Cyclop A6, Bliss A8

e Kick A14) e padrões (Metilona, Pentedrona, 4-MEC, MDPV) usados, anteriormente,

na primeira avaliação com a coluna (S,S)-Whelk-O®1.

Com este fluxo foi possível a separação dos enantiómeros da Metedrona

presente na amostra Bliss A8 e do padrão Metilona, como se pode observar nas

Figuras 20 e 21, respetivamente.

Na separação dos enantiómeros da Metedrona da amostra Bliss A8 (Figura 20)

foi obtida uma boa enantiosseletividade e resolução, com um α de 1,58 e um Rs de

6,19, respetivamente. Relativamente ao padrão Metilona (Figura 21) os valores de α e

de Rs também foram satisfatórios (1,71 e 6,15 respetivamente).

Figura 20 Cromatograma da separação dos enantiómeros da Metedrona presentes na amostra Bliss A8; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 1 mL/min; Deteção UV 254nm.

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No entanto, com este fluxo (1 mL/min) não foi possível a separação

enantiomérica à linha de base da 4-MEC e a separação de ambas as catinonas

Bufedrona e Etcatinona presentes na amostra Charlie A10. Apesar de ser possível a

separação dos enantiómeros da Pentedrona, da 3,4-DMMC presente na amostra

Cyclop A6, da Flefedrona presente na amostra Blast A3 e da Bufedrona presente na

amostra Kick A14, o primeiro enantiómero estava a eluir em cima da depressão

causada pela frente de solvente, não sendo possível assim determinar com precisão a

área dessa banda cromatográfica e, consequentemente, calcular corretamente a

percentagem de cada enantiómero.

O derivado catinónico MDPV foi o único em que não foi possível observar

qualquer indício de separação enantiomérica (α de 1,00). Estes resultados estão

resumidos na tabela 10.

Com o intuito de conseguir uma separação à linha de base dos enantiómeros

do padrão 4-MEC, da Bufedrona e Etcatinona presentes na amostra Charlie A10, assim

Tabela 10 Dados cromatográficos obtidos na separação enantiomérica de catinonas sintéticas com a utilização da Chiralpak® AS-H a um fluxo de 1 mL/min

Composto T0 T1 T2 K1 K2 α Rs Bliss A8 (Metedrona) 1,90 13,93 20,93 6,33 10,02 1,58 6,19

Metilona 1,90 16,93 27,65 7,91 13,55 1,71 6,15 MDPV 1,90 3,80 3,80 1,00 1,00 1,00 - 4-MEC 1,90 4,07 4,57 1,14 1,40 1,23 1,25

Blast A3 (Flefedrona) 1,90 5,22 8,72 1,75 3,59 2,06 4,04 Cyclop A6 (3,4-DMMC) 1,90 5,43 14,68 1,86 6,73 3,62 7,21

Pentedrona 1,90 3,42 4,55 0,80 1,39 1,75 5,94 Kick A14 (Bufedrona) 1,90 3,72 6,03 0,96 2,18 2,27 3,67

Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 1 mL/min; Deteção UV 254nm

Figura 21 Cromatograma da separação da Metilona; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 1 mL/min; Deteção UV 254nm.

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como garantir que o primeiro enantiómero das restantes amostras não elua em cima

da depressão causada pela frente de solvente, alterou-se o fluxo para 0,8 mL/min.

Todavia, com um fluxo de 0,8 mL/min continuou a não ser possível a separação

enantiomérica à linha de base dos enantiómeros da 4-MEC. Relativamente à amostra

Charlie A10 foi possível a separação de ambos os enantiómeros da Bufedrona e da

Etcatinona presentes nessa amostra. Porém observou-se sobreposição de bandas de

um dos enantiómeros da Bufedrona com um enantiómero da Etcatinona, pois ambos

apresentavam tempos de retenção iguais. Relativamente à MDPV, continuou a não se

observar indícios de separação.

Também com este fluxo, foi possível melhorar as separações enantioméricas

das amostras e padrões que já separavam com o fluxo de 1 mL/min (Pentedrona,

Flefedrona presente na amostra Blast A3, 3,4-DMMC presente na amostra Cyclop A6 e

Bufedrona presente na amostra Kick A14) como se pode ver na tabela 11.

Tabela 11 Dados cromatográficos obtidos na separação enantiomérica de catinonas sintéticas com a utilização da Chiralpak® AS-H a um fluxo de 0,8 mL/min

Composto T0 T1 T2 K1 K2 α Rs

Pentedrona 2,38 4,28 5,67 0,80 1,38 1,73 6,98

Blast A3 (Flefedrona) 2,38 6,83 11,30 1,87 3,74 2,00 5,66

Cyclop A6 ( 3,4-DMMC ) 2,38 7,08 18,05 1,97 6,57 3,33 10,50

Kick A14 ( Bufedrona) 2,38 4,77 7,80 1,00 2,27 2,27 4,97

MDPV 2,38 6,05 6,05 2,18 2,18 1,00 -

4-MEC 2,38 5,13 5,90 1,15 1,48 1,28 1,25

Por exemplo, foi possível a separação dos enantiómeros da Pentedrona (Figura 22)

com um α de 1,73 e o Rs de 6,98.

Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,8 mL/min; Deteção UV 254nm

Figura 22 Cromatograma da separação da Pentedrona; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); 0,8mL/min; Deteção UV 254nm.

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Foi também possível a separação dos enantiómeros da Flefedrona presente na

amostra Blast A3 (Figura 23) com um α de 2,00 e o Rs de 5,66.

Outra separação otimizada foi a dos enantiómeros da 3,4-DMMC presente na

amostra Cyclop A6 (Figura 24) com um α de 3,33 e o Rs de 10,50.

Por fim, com o derivado catinónico Bufedrona presente na amostra Kick A14

(Figura 25) foi obtido um α de 3,33 e um Rs de 10,50.

Figura 23 Cromatograma da separação dos enantiómeros da Flefedrona presentes na amostra Blast A3; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,8 mL/min; Deteção UV 254nm.

Figura 24 Cromatograma da separação dos enantiómeros da 3,4-DMMC presentes na amostra Cyclop A6; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,8 mL/min; Deteção UV 254nm.

Figura 25 Cromatograma da separação dos enantiómeros da Bufedrona presentes na amostra Kick A14; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,8 mL/min; Deteção UV 254nm.

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Assim, com a mesma fase móvel e com um fluxo de 0,5 mL/min foi então

possível a separação dos enantiómeros do padrão 4-MEC (Figura 26) com um α de 1,27

e o Rs de 1,79, em apenas 10 min de análise.

Relativamente à amostra Charlie A10, continuou a verificar-se sobreposição de

bandas não tendo sido possível, posteriormente, avaliar a proporção dos dois pares de

enantiómeros apesar da sua separação ter sido conseguida com êxito (Figura 27).

Dado que, foi possível a separação enantiomérica de todas as catinonas

presentes nos padrões e nas amostras com apenas uma ou duas catinonas,

posteriormente, foram injetadas com a mesma fase móvel e a um fluxo de 0,5 mL/min

todas as amostras, inclusive as misturas e padrões.

Figura 26 Cromatograma da separação da 4-MEC; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm.

Figura 27 Cromatograma da separação dos enantiómeros da Bufedrona e da Etcatinona presentes na amostra Charlie A10; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm.

1ºenantiómero da Bufedrona e 2ºenantiómero da Bufedrona

1ºenantiómero da Etcatinona 2º enantiómero da Etcatinona

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56

Como seria de esperar, uma vez que foi possível, no fluxo usado anteriormente

(0,8 mL/min), a separação enantiomérica da Pentedrona, também a 0,5 mL/min

ocorreu a separação dos enantiómeros da Pentedrona presente na amostra Kick A13

(Figura 28) com um α de 2,36 e Rs de 7,54. Efetivamente, observou-se com um

aumento no α de 2,27 para 2,36 e no Rs um aumento de 4,97 para 7,54 num tempo de

análise de 10 min.

Os enantiómeros da Bufedrona presente na amostra Rush A4 (Figura 29), já

anteriormente separados noutras amostras com o fluxo de 0,8 mL/min, foram

separados com um α de 2,34 e o Rs de 7,62.

Uma vez que a amostra Charlie A9 (Figura 30) tem a mesma composição da

amostra Charlie A10 (Bufedrona e Etcatinona), como seria de esperar, não foi possível

mais uma vez a distinção dos dois pares de enantiómeros apesar de conseguirmos a

sua separação. Foi possível verificar que as duas catinonas estão realmente separadas

Figura 28 Cromatograma da separação dos enantiómeros da Pentedrona presentes na amostra Kick A13; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móve Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm.

Figura 29 Cromatograma da separação dos enantiómeros da Bufedrona presentes na amostra Rush A4; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móve Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm.

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57

comparando o tempo de retenção com uma amostra contendo apenas Bufedrona,

como por exemplo a Rush A4 cujos tempos de retenção são de 7,48 e 12,43 e os

tempos de retenção dos enantiómeros de uma amostra de Etcatinona (Bloom A2) 7,42

e 8,50. Assim sendo, podemos ver que a primeira banda pertence ao primeiro

enantiómero de ambas as catinonas, a segunda banda pertence ao segundo

enantiómero da Etcatinona e a terceira banda pertence ao segundo enantiómero da

Bufedrona.

Como seria de esperar, uma vez que os enantiómeros do padrão da 4-MEC

foram separados nestas condições, foi possível a separação enantiomérica da mesma

catinona presente nas amostras Blow A11 (Figura 31) e Blow A12 (Figura 32) com

valores de α de 1,37 e 1,35 e de Rs de 3,38 e 3,24, respetivamente.

Figura 31 Cromatograma da separação dos enantiómeros da 4-MEC presentes na amostra Blow A11; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm.

1ºenantiómero da Bufedrona e 2ºenantiómero da Bufedrona

1ºenantiómero da Etcatinona 2º enantiómero da Etcatinona

Figura 30 Cromatograma da separação dos enantiómeros da Bufedrona e Etcatinona presentes na amostra Charlie A9; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm.

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58

Foi igualmente possível a separação dos enantiómeros da Metedrona presente

na amostra Bliss A7 (Figura 33) e Bliss A8 (Figura 34) com um α de 1,72 e 1,71 e um Rs

de 6,79 e 6,79, respetivamente.

Figura 32 Cromatograma da separação dos enantiómeros da 4-MEC presentes na amostra Blow A12; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm.

Figura 34 Cromatograma da separação dos enantiómeros da Metedrona presentes na amostra Bliss A7; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm.

Figura 33 Cromatograma da separação dos enantiómeros da Metedrona presentes na amostra Bliss A8; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm.

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59

Relativamente à 3,4-DMMC presente na amostra Crabby A5 (Figura 35) foi

obtida uma boa enantiosseletividade (α de 3,62) e resolução (Rs de 9,46).

De igual forma e com valores cromatográficos similares, foi possível a

separação dos enantiómeros da 3,4-DMMC presentes na amostra Cyclop A6 (Figura

36) com um α de 3,59 e um Rs de 10,34.

Foi ainda possível a separação dos enantiómeros da Metilona presentes na

amostra Bliss A15 (Figura 37) com um α de 1,79 e um Rs de 7,47. Foi também possível

a separação dos enantiómeros da Metilona (Figura 38) com um α de 1,77 e um Rs de

7,39.

Figura 35 Cromatograma da separação dos enantiómeros da 3,4-DMMC presentes na amostra Crabby A5; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm.

Figura 36 Cromatograma da separação dos enantiómeros da 3,4-DMMC presentes na amostra Cyclop A6; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm.

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60

De igual forma foi conseguida a separação dos enantiómeros da Metilona, 4-

MEC e Pentedrona presentes na amostra Bloom A1 (Figura 39), porém, apenas foi

possível distinguir os enantiómeros da metilona (separados com um α de 1,78 e um Rs

de 8,66), pois as catinonas 4-MEC e Pentedrona têm um dos seus enantiómeros com

tempos de retenção coincidentes. É possível verificar, comparando o tempo de

retenção com o padrão 4-MEC cujos tempos de retenção são de 8,20 e 9,38 e

comparando o tempo de retenção com o padrão da Pentedrona cujos tempos de

retenção são 6,92 e 9,37 que a primeira banda cromatográfica pertence ao primeiro

enantiómero da Pentedrona, a segunda banda pertence ao primeiro enantiómero da

4-MEC e a terceira banda pertence ao segundo enantiómero de ambas as catinonas.

Figura 37 Cromatograma da separação dos enantiómeros da Metilona presentes na amostra Bliss A15; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm.

Figura 38 Cromatograma da separação dos enantiómeros da Metilona; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm.

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61

Relativamente à amostra Bloom A2 (Figura 40), foi possível a separação dos

enantiómeros da Pentedrona, Etcatinona e Metedrona com um valor de α de 1,95,

1,30 e 1,72, respetivamente, e um valor de Rs de 10,52, 2,61 e 5,39, respetivamente.

Podemos verificar comparando o tempo de retenção com o padrão Pentedrona cujos

tempos de retenção são 6,92 e 9,37 e com uma amostra que só contenha a

Metedrona, por exemplo a Bliss A8, cujos tempo de retenção são de 26,90 e 43,27 que

a primeira banda e quarta banda pertencem à Pentedrona, a quinta e sexta banda

dizem respeito à Metedrona e consequentemente a segunda e terceira banda

pertencem à Etcatinona.

Nas condições cromatográfica otimizadas foi possível a separação dos

enantiómeros de 15 amostras num total de 19, totalizando 8 catinonas sintéticas

diferentes (Metilona, 4-MEC, Pentedrona, Metedrona, Etcatinona, Flefedrona,

Bufedrona e 3,4-DMMC), como podemos ver na tabela 12.

Figura 39 Cromtagrama da separação dos enantiómeros da Pentedrona, 4-MEC e Metilona presentes na amostra Bloom A1; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm.

1º enantiómero da Pentedrona

2º enantiómero da 4-MEC

2º enantiómero da Pentedrona e

1º enantiómero da 4-MEC Metilona

Figura 40 Cromatograma da separação dos enantiómeros Pentedrona, Etcatinona e Metedrona presentes na amostra Bloom A2; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm.

Pentedrona Metedrona

Etcatinona

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Tabela 12 Resultados cromatográficos obtidos com a coluna Chiralpak® AS-H para as 8 catinonas sintéticas presentes nas diferentes amostras

Catinona Amostra t1 t2 α Rs

Flefedrona Blast A3 11,12 17,92 1,93 6,33

Pentedrona

Padrão 6,92 9,37 1,79 8,63 Kick A13 6,78 9,37 1,87 9,30

Bloom A2 6,63 9,32 1,95 10,52

4-MEC

Padrão 8,20 9,38 1,27 2,54 Blow A12 7,95 9,38 1,35 3,24 Blow A11 7,92 9,43 1,37 3,38

3,4-DMMC Cyclop A6 10,97 29,53 3,59 10,34 Crabby A5 10,88 29,43 3,62 9,46

Metedrona

Bliss A8 26,90 43,27 1,71 6,79 Bliss A7 26,65 43,03 1,72 6,79

Bloom A2 25,47 41,00 1,72 5,39

Bufedrona

Kick A14 7,38 12,27 2,36 7,54

Charlie A10 7,67 12,33 2,21 4,10

Charlie A9 7,65 12,31 2,21 6,14 Rush A4 7,48 12,43 2,34 7,62

Metilona

Padrão 32,60 54,90 1,77 7,39 Bloom A1 32,58 55,17 1,78 8,66 Bliss A15 32,58 55,17 1,79 7,47

Etcatinona

Bloom A2 7,42 8,50 1,30 2,61

Charlie A10 7,67 8,62 1,25 1,25

Charlie A9 7,65 8,59 1,24 1,24

Estas 15 amostras foram todas separadas em menos de 60 minutos, com

fatores de separação entre 1,27 para a 4-MEC e 3,62 para a 3,4-DMMC presente na

amostra Crabby A5 e com fatores de resolução entre 2,54 para a 4-MEC e 10,52 para a

Pentedrona presente na amostra Bloom A2. Foi possível com esta coluna a separação

de 7 destas amostras em menos de 10 minutos, o que é bastante favorável (Tabela 10).

Como já era de esperar [58], a MDPV não foi separada com a coluna Chiralpak®

AS-H e a fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1) em nenhum dos três fluxos avaliados.

Apesar de ser possível a separação enantiomérica das catinonas presentes nas

amostras Charlie A9, Charlie A10 e Bloom A1, alguns dos enantiómeros tinham tempos

de retenções semelhantes aparecendo com bandas sobreponíveis. Sendo assim,

apesar de ser possível a separação dos enantiómeros de todas as catinonas presentes

nas amostras não foi possível avaliar a proporção enantiomérica das catinonas cujos

enantiómeros se sobrepõem.

Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm

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Com estes resultados, foi possível constatar que esta fase estacionária é

indicada para a separação enantiomérica deste tipo de compostos, uma vez que foram

obtidas separações cromatográficas com bons fatores de separação e de resolução

enantiomérica. Um ótimo exemplo dessa boa separação é a amostra Cyclop A6, cuja

constituição é a 3,4-DMMC, que tem uma separação com um α de 3,59 e uma

resolução de 10,34 (Tabela 10, Figura 35).

Relativamente ao objetivo de avaliar a proporção enantiomérica de cada

catinona presente em drogas vendidas em “Smartshops”, foi possível verificar que com

a exceção do padrão 4-MEC e das amostras que continham a 4-MEC, os enantiómeros

presentes nas restantes amostras e padrões se encontram numa proporção de

aproximadamente 50:50, ou seja, sob a forma de racemato (Tabela 13).

Uma vez separadas todas as catinonas em todas as amostras, e otimizadas as

condições de separação, algumas amostras e padrões foram injetadas num HPLC

modelo JASCO com um detetor de polarimetria acoplado, de forma a relacionar a

ordem de eluição dos enantiómeros com a sua atividade ótica (Tabela 14).

Tabela 13 Proporções enantioméricas das catinonas presentes nas amostras de “drogas legais”

Composto K1 α Rs Area % 1 Area % 2

Blast A3 (Flefedrona) 1,93 1,93 6,33 50,08 49,92

Pentedrona 0,82 1,79 8,63 51,38 48,62

4-MEC 1,16 1,27 2,54 63,53 36,47

Cyclop A6 ( 3,4-DMMC ) 1,89 3,59 10,34 50,02 49,98

Bliss A8 ( Metedrona ) 6,08 1,71 6,79 47,35 52,65

Kick A14 ( Bufedrona) 0,94 2,36 7,54 50,27 49,73

Metilona 7,58 1,77 34,44 50,04 49,96

Rush A4 ( Bufedrona ) 0,97 2,34 7,62 50,20 49,80

Blow A12 ( 4-MEC) 1,09 1,35 3,24 62,94 37,06

Blow A11 ( 4-MEC ) 1,08 1,37 3,38 61,90 38,10

Bliss A7 (Metedrona) 6,01 1,72 6,79 49,88 50,12

Kick A13 ( Pentedrona) 0,79 1,87 9,30 54,06 45,94

Crabby A5 ( 3,4 - DMMC) 1,86 3,62 9,46 49,21 50,79

Bloom A2 ( Etcatinona ) 0,95 1,30 2,61 50,14 49,86

Bloom A2 ( Pentedrona ) 0,75 1,95 10,52 50,20 49,80

Bloom A2 ( Metedrona ) 5,70 1,72 5,39 49,76 50,24

Bloom A1 ( Metilona ) 7,57 1,78 8,66 49,92 50,08

Bliss A15 ( Metilona ) 7,56 1,79 7,47 49,96 50,04

Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm

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Usando este detetor, foi possível verificar qual a ordem de eluição dos

enantiómeros para o padrão 4-MEC, Pentedrona e para a amostra Rush A4 cuja

constituição é a Bufedrona. Foi possível verificar para todos que o primeiro

enantiómero a eluir foi sempre o d(+) e o segundo enantiómero a eluir foi o l(-) (Tabela

14, Figura 41-43). Não foi possível verificar a atividade ótica dos restantes,

possivelmente, pelo facto destas moléculas possuírem uma baixa atividade ótica.

Tabela 14 Ordem de eluição vs atividade ótica de diferentes catinonas

AMOSTRA

COMPOSTO

ATIVIDADE ÓTICA DO

1º ENANTIÓMERO

ATIVIDADE ÓTICA DO

2º ENANTIÓMERO

Bliss A8 Metedrona - -

Padrão Metilona - -

Cyclop A6 3,4-DMMC - -

Blast A3 Flefedrona - -

Rush A4 Bufedrona (+) (-)

Padrão 4-MEC (+) (-)

Padrão Pentedrona (+) (-)

Figura 42 Cromatograma da Bufedrona a A)

UV: 254nm e a B) Polarímetro; Coluna

Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA

(97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min

Figura 41 Cromatograma da 4-MEC a A) UV: 254nm e a B) Polarímetro; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min

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2. Separação analítica dos enantiómeros da MDPV

Uma vez que o único composto que não foi separado na coluna Chiralpak® AS-H

foi a MDPV, o passo seguinte foi tentar separar os enantiómeros da MDPV recorrendo

a uma série de colunas quirais diferentes.

Para isso foram utilizadas 7 colunas diferentes: 3 colunas do tipo Pirkle, 3 de

polissacarídeos e 1 de antibióticos. Foram selecionadas estas colunas uma vez que são

os tipos de colunas mais utilizadas no mercado. Assim, foram testadas as colunas L-

Phenylglycine (25 cm, 4,6 mm d.i., 5 µm tamanho de partícula) da Regis Technologies,

Inc. (Morton Grove, IL, USA), FEXEGOL2 (15 cm, 4,6 mm d.i., 5 µm tamanho de

partícula) preparada como descrito em [75] Chirobiotic T (15 cm, 4,6 mm d.i., 5 µm

tamanho de partícula) da ASTEC (Whippany, NJ, USA), CSP2 (constituída por amilose

tris-3,5-dimetilfenilcarbamato aderida a APSNucleosil (15 cm, 4,6 mm d.i., 7 µm

tamanho de partícula, 20%, w/w, 500 A°) e a CSP3 (constituída por amilose tris-3,5-

Figura 43 Cromatograma da Pentedrona a A) UV: 254nm e a B) Polarímetro; Coluna Chiralpak® AS-H; Fase móvel Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min

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dimetoxifenilcarbamato aderida a APSNucleosil (15 cm, 4,6 mm d.i., 7 µm tamanho de

partícula, 20%, w/w, 500 A°), preparadas como descrito em [76] (Tabela 15).

Tabela 15 Colunas e fases móveis testadas para a separação da MDPV

Tipo de Colunas

Quirais

Coluna Fases Moveis K1 α

Tipo Pirkle (S,S)-Whelk-O® 1 Hex:2-prOH:TEA:TFA (90:10:0,05:0,05) 0,71 1,00

Hex:EtOH:TEA:TFA (90:10:0,05:0,05) 5,74 1,00

L-Phenylglycine Hex:EtOH:TEA:TFA (70:30:0,05:0,05) 22,42 1,00

Fexegol2 Hex:EtOH:TEA (90:10:0,1) 0,59 1,00

Polissacarideos Chiralpak® AS-H Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1) 1,00 1,00

Csp3 Hex:2-prOH:TEA (90:10:0,1) 1,18 1,09

Hex:2-prOH:TEA (97:3:0,1) 1,58 1,18

CSP2 Hex:2-prOH:TEA (90:10:0,1) 0,62 1,25

Hex:EtOH:TEA (90:10:0,1) 1,63 1,34

Hex:EtOH:TEA (97:3:0,1) 1,93 1,28

Antibióticos Chirobiotic T CH3OH:HOAc:TEA (100:1:1) 1,18 1,00

CH3OH:HOAc:TEA (100:0,1:0,1) 3,50 1,00

CH3OH:HOAc:TEA (100:0,01:0,01) 26,39 1,00

Como mencionado no capítulo anterior, as colunas Chiralpak® AS-H e (S,S)-

Whelk-O®1 não foram eficazes na separação dos enantiómeros da MDPV, em

nenhuma das condições cromatográficas testadas. De seguida, foram utilizadas mais

duas colunas do tipo Pirkle, designadamente a FEXEGOL2 e a L-Phenylglycine, com as

fases móveis Hex:EtOH:TEA (90:10:0,1) e Hex:EtOH:TEA:TFA (70:30:0,05:0,05)

respetivamente. Porém, não foi possível a separação da MDPV em ambas as colunas.

Foi também testada uma coluna de antibióticos, a Chirobiotic T, com uma fase móvel

de CH3OH:HOAc:TEA (100:1:1) sem sucesso. Posteriormente foi testada a mesma fase

móvel mais duas vezes variando a proporção do aditivo da fase móvel, todavia sem

sucesso.

Uma vez que foram obtidos ótimos resultados na separação enantiomérica das

restantes catinonas sintéticas com a coluna Chiralpak® AS-H, o passo seguinte foi a

utilização de mais duas colunas de polissacarídeos, neste caso, preparadas em

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Figura 44 Cromatograma da separação dos enantiómeros da MDPV; coluna CSP2; Fase móvel Hex:EtOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min;Deteção UV:254 nm

laboratório [76]. Uma delas era a CSP2 (constituída por amilose tris-3,5-

dimetilfenilcarbamato aderida a APSNucleosil (15 cm, 4,6 mm d.i., 7 µm tamanho de

partícula, 20%, w/w, 500 A°) e a CSP3 (constituída por amilose tris-3,5-

dimetoxifenilcarbamato aderida a APSNucleosil (15 cm, 4,6 mm d.i., 7 µm tamanho de

partícula, 20%, w/w, 500 A°). Foi usada a mesma fase móvel usada na Chiralpak® AS-H

(Hex:2-prOH:TEA), alterando a proporção de Hex. Para ambas as colunas foi possível a

obtenção de indícios de separação.

Uma vez que, segundo trabalhos anteriores, a coluna CSP2 tem melhores

resultados com EtOH do que com 2-prOH a fase móvel foi modificada para

Hex:EtOH:TEA. Assim com a coluna de polissacarídeos (CSP2), com uma fase móvel de

Hex:EtOH:TEA (97:3:0,1) e um fluxo de 0,5 mL/min foi possível a separação da MDPV

com um α de 1,70 e um Rs de 3,11 e com um tempo de eluição corrida inferior a 20

min (Tabela 16, Figura 44).

Tabela 16 Dados cromatográficos da separação enantiomérica da MDPV.

Composto T1 T2 α Rs Area % 1 Area % 2

MDPV 10,46 15,39 1,70 3,11 49,97 50,03

Coluna CSP2; Fase móvel Hex:EtOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV 254nm

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Parte 2: Separação semi-preparativa dos

enantiómero da MDPV

1. Separação da MDPV em coluna semi-preparativa

Uma vez que a MDPV é um dos derivados de catinona mais consumido em todo

o mundo e a sua citotoxicidade já está provada num estudo [30], é importante isolar os

enantiómeros da MDPV de forma a verificar se existe ou não enantiosseletividade na

sua toxicidade. É também importante avaliar a sua toxicidade isoladamente uma vez

que só existe descrito um trabalho em que se isolaram os enantiómeros da MDPV mas

nenhum trabalho publicado na literatura faz referências sobre a citotoxicidade dos

seus enantiómeros isolados. Para além disso, apesar dos enantiómeros da MDPV

terem sido recentemente isolados pelo grupo de Suzuki et al., esse isolamento foi feito

por resolução enantiomérica através de um método indireto [73].

Neste trabalho foi usado o método direto de resolução enantiomérica com o

uso de uma FEQ para isolar ambos os enantiómeros da MDPV, apresentando

vantagens sobre o método indireto uma vez que não necessita de derivatização prévia,

sendo o método indireto mais moroso.

Assim, uma vez possível a separação da MDPV na coluna CSP2 com um α de

1,70 e um Rs de 3,11 e num tempo de análise de 17 min, o próximo objetivo foi, com

uma coluna semi-preparativa com a mesma composição (Figura 45), isolar os

enantiómeros da MDPV para posteriores estudos de enantiosseletividade em ensaios

de citotoxicidade.

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69

Relativamente à separação da MDPV em coluna semi-preparativa, a separação

foi otimizada ajustando a quantidade da amostra a partir de um aumento de escala do

método analítico. A fase móvel otimizada do sistema analítico foi a mesma usada no

sistema semi-preparativo. O diâmetro da coluna foi aumentado de 4,6 mm para 7 mm,

o que corresponde a um aumento de escala fator 3. Segundo este fator o fluxo foi

aumentado de 0,5 mL/min para 1,5 mL/min. Relativamente à concentração da amostra

injetada, foi preparada uma solução de 10 mg/mL, a mais concentrada possível. Foi

possível preparar esta solução de elevada concentração devido à elevada solubilidade

da MDPV em EtOH. Posteriormente, foi avaliado se com esta concentração os

enantiómeros seriam separados a um fluxo de 1,5 mL/min ou a um fluxo maior, de

modo a encurtar os tempos de eluição.

Chegou-se à conclusão que as condições otimizadas para a análise semi-

preparativa são as seguintes: injeção de 100 μL e uma solução de 10 mg/mL, a um

fluxo de 1,5 mL/min com a mesma fase móvel da analítica. Na figura 46 pode-se ver o

cromatograma obtido na separação semi-preparativa da MDPV.

Figura 45 Fase quiral derivado de fenilcarbamato de amilose: tris(3,5-dimetilfenilcarbamato)

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70

2. Eliminação do aditivo da fase móvel e formação de cloridrato de

cada um dos enantiómeros

Foram efetuadas várias injeções e recolhidas várias frações até perfazer um

total de 100 mg de racemato injetado.

Após recolha de várias frações dos enantiómeros da MDPV procedeu-se à

eliminação da TEA uma vez que este aditivo da fase móvel iria influenciar os testes

citotóxicos. Para isso, foi efetuada uma extração múltipla líquido-líquido de maneira a

remover a TEA como explicado na parte experimental e exemplificado na Figura 47.

Após evaporação do solvente orgânico, em evaporador rotativo, foi feito um

processo de precipitação com HCl como explicado no capítulo experimental. Foi obtido

um precipitado de 45,5 mg do primeiro enantiómero e 41,3 mg do segundo

enantiómero.

Figura 46 Cromatograma da separação semi-preparativa dos enantiómeros da MDPV; coluna de tris-3,5-dimetilfenilcarbamato aderida a APSNucleosil;Fase móvel Hex:EtOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo de 1,5 mL/min; Deteção UV:254 nm

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71

3. Taxa de Recuperação

Uma vez que foram injetados 100 mg de MDPV e obtidos 45,5 mg do

enantiómero que eluiu primeiro e 41,3 mg do enantiómero que eluiu posteriormente

(86,8 no total) a taxa de recuperação obtida foi de 86,8 %, de um modo global. Uma

vez que a amostra de MDPV está na forma racemato podemos presumir que foram

injetados 50 mg de cada um dos enantiómeros. Sendo assim, a taxa de recuperação foi

de 91,0 % para o enantiómero que eluiu primeiro e de 82,6 % para o enantiómero que

eluiu posteriormente (devido ao corte necessário na banda cromatográfica). A taxa de

recuperação seria superior se não fosse necessário o procedimento da remoção da TEA

da amostra e a formação do cloridrato.

Figura 47 Eliminação da TEA por extração múltipla líquido-líquido.

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4. Atividade ótica

Após remoção do TEA, os dois enantiómeros encontram-se na forma de

cloridrato tendo sido preparada uma solução de 10 mg/mL de cada um dos

enantiómeros isolados para verificar a sua atividade ótica num polarímetro.

O polarímetro é um instrumento que possui no seu interior um prisma de Nicol

capaz de polarizar a luz. Quando a luz polarizada sai do recipiente que contém a

amostra indica um desvio no plano da sua propagação medido em graus. Se o valor for

negativo (-), o desvio é no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio e a sua

denominação é levogira; se o valor for positivo (+), o desvio é no sentido dos ponteiros

do relógio e a denominação é dextrógira.

Tabela 17 Atividade ótica dos enantiómeros da MDPV

Enantiómero C

D

º25][ (c)1

1º enantiómero a eluir -0,23 (10)

2º enantiómero a eluir +0,08 (10)

Foi possível verificar que o primeiro enantiómero a eluir é o enantiómero

levógiro (-) da MDPV e o segundo enantiómero a eluir consequentemente é o

enantiómero dextrógiro (+) da MDPV. Sendo assim, relacionando a ordem de eluição

dos enantiómeros com a sua atividade ótica e recorrendo a um estudo em que foi feita

a correspondência da atividade ótica dos enantiómeros da MDPV com a respetiva

configuração por cristalografia de raios X [73] pode-se afirmar que o primeiro

enantiómero a eluir é o S-(-)-MDPV e o segundo a eluir é o enantiómero R-(+)-MDPV.

5. Excesso Enantiomérico

O excesso enantiomérico (ee) traduz a pureza de substâncias quirais,

refletindo a percentagem de um enantiómero sobre o outro. O ee foi calculado com o

1 Rotatividade específica em etanol com c=concentração em mg/mL

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73

objetivo de calcular a pureza enantiomérica dos enantiómeros obtidos após resolução

semi-preparativa.

Assim, para determinação do ee foi preparada uma solução etanólica de

1mg/mL da mistura racémica de MDPV e de cada um dos enantiómeros recolhidos.

Foram injetados 20 μL de cada uma das soluções anteriores, usando a coluna analítica

usada anteriormente para a separação da MDPV, com as mesmas condições descritas

anteriormente. De acordo com as áreas das bandas cromatográficas obtidas para cada

um dos enantiómeros foi calculado o valor de ee. Foi obtido um ee > 99 % para o

enantiómero S-(-)-MDPV (Figura 48) e um ee > 94 % para o enantiómero R-(+)-MDPV

(Figura 49).

S-(-)-MDPV

R-(+)-MDPV

S-(-)-MDPV

R-(+)-MDPV

Figura 48 Cromatograma do excesso enantiomérico do enantiómero S-(-)-MDPV; coluna CSP2; Fase móvel Hex:EtOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV:254 nm

Figura 49 Cromatograma do excesso enantiomérico do enantiómero R-(+)-MDPV ; coluna CSP2; Fase móvel Hex:EtOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV:254 nm

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Uma vez que pureza enantiomérica do 2º enantiómero (R-(+)-MDPV) não foi

tão alta como a do 1º enantiómero, procedeu-se a uma posterior injeção das várias

frações do 2º enantiómero recolhido para otimizar a pureza enantiomérica.

Efetivamente, foi possível alcançar uma pureza enantiomérica superior a 99% com a

reinjeção.

Tabela 18 Dados cromatográficos obtidos para cálculo do

excesso enantiomérico do enantiómero S-(-)-MDPV

Composto tr Area %

Enantiómero S-(-)-MDPV 10,442 99,120

Enantiómero R-(+)-MDPV 15,758 0,880

Tabela 19 Dados cromatográficos obtidos para cálculo do

excesso enantiomérico do enantiómero R-(+)-MDPV

Composto tr Area %

Enantiómero S-(-)-MDPV 10,500 5,635

Enantiómero R-(+)-MDPV 15,558 94,365

Tabela 20 Dados cromatográficos obtidos para cálculo do

excesso enantiomérico do R-(+)-MDPV após reinjeçao

Composto tr Area %

Enantiómero S-(-)-MDPV 10,192 0,382

Enantiómero R-(+)-MDPV 14,075 99,618

S-(-)-MDPV

R-(+)-MDPV

Figura 50 Cromatograma do excesso enantiomérico do enantiómero R-(+)-MDPV após reinjeção Cromatograma do excesso enantiomérico do enantiómero R-(+)-MDPV ; coluna CSP2; Fase móvel Hex:EtOH:TEA (97:3:0,1); Fluxo 0,5 mL/min; Deteção UV:254 nm

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75

Parte 3: Estudo da citotoxicidade dos

enantiómeros da MDPV

1. Culturas Primárias de hepatócitos

O fígado é um dos principais órgãos alvo dos xenobióticos, tendo em conta a

sua exposição aos mesmos e ao seu papel nos processos de destoxificação e

bioativação dos compostos. Assim, o estudo da citotoxicidade dos xenobióticos em

hepatócitos isolados é uma das principais abordagens quando se pretende avaliar a

toxicidade dos mesmos [79].

As culturas primárias de hepatócitos são muito utilizadas como uma ferramenta

para estudar a toxicidade de drogas de abuso [80]. Apesar de terem algumas

limitações, os hepatócitos primários continuam a ser o modelo padrão para estudos do

metabolismo e toxicidade de xenobióticos [81].

As culturas primárias de hepatócitos de rato são uma boa alternativa às células

humanas pois apresentam respostas metabólicas mais elevadas do que as linhas de

células humanas comuns e a variabilidade interdador pode ser minimizada por seleção

de animais do mesmo sexo, idade e com regimes alimentares semelhantes [82].

2. MDPV

A MDPV foi sintetizada pela primeira vez em 1969 e hoje em dia é uma das

catinonas sintéticas mais usadas em todo o mundo [83]. Em ensaios in vitro

recentemente realizados pelo nosso grupo, este derivado da catinona provou ser um

poderoso agente hepatotóxico, com uma potência muito semelhante à da MDMA [30].

Por estas razões, foi desenvolvido um método de resolução quiral para o

isolamento dos enantiómeros da MDPV, de modo a obtermos quantidade suficiente

para o estudo da hepatoxicidade de cada enantiómero isolado e verificar se existe ou

não enantiosseletividade nos efeitos citotóxicos da MDPV.

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76

3. Enantiosseletividade

Nos ensaios de MTT e LDH, tanto para a MDPV racémica como qualquer um dos

enantiómeros, a morte celular foi dependente da concentração, ou seja, verificou-se

um aumento da morte celular com o aumento da concentração, sendo esta morte

significativa para concentrações tão baixas quanto 0,2 mM às 48h (p<0.0001 vs.

controlo), como se pode observar no gráfico de redução do MTT (Figura 51).

Não foram encontradas diferenças significativas entre os efeitos da MDPV e de

cada um dos seus enantiómeros em qualquer um dos ensaios de viabilidade celular

realizados (Figura 51 e 52), podendo assim concluir que não existe

enantiosseletividade.

Figura 51 Redução do MTT em hepatócitos de rato incubados com cloridrato de MDPV racémico ou cada um dos seus enantiómeros (0,2 – 1,6 mM), durante 24 e 48 h. **p<0,01, ****p<0,0001 vs. controlo.

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Figura 52 Redução do MTT em hepatócitos de rato incubados com cloridrato de MDPV racémico ou cada um dos seus enantiómeros (0,2 – 1,6 mM), durante 24 e 48 h. **p<0,01, ****p<0,0001 vs. controlo.

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Conclusões

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Conclui-se que:

As colunas de polissacarídeos são eficientes na separação enantiomérica de

catinonas sintéticas

As catinonas sintéticas, com exceção da 4-MEC estão presentes nas amostras

em estudo na forma de racemato

A MDPV foi isolada por HPLC semi-preparativa com um grande grau de pureza

Foi possível verificar que a MDPV é hepatotóxica em concentrações

relativamente baixas e não exibe enantiosseletividade relativamente à sua

hepatoxicidade, segundo o ensaio de MTT e de exclusão da LDH realizados em

culturas primárias de hepatócitos de ratos.

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Referências Bibliográficas

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Anexos

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Anexo 1

Chiral HPLC enantioresolution of synthetic cathinones “Legal Highs”

B. Silva 1,2, C. Fernandes2,3, M. Pinto2,3, P. Guedes de Pinho1 and F. Remião1

1 UCIBIO-REQUIMTE, Laboratory of Toxicology, Department of Biological Science, Faculty of

Pharmacy, University of Porto, Portugal 2 Organic Chemistry and Pharmaceutical Laboratory, Department of Chemistry, Faculty of

Pharmacy, University of Porto, Portugal 3 Interdisciplinary Center of Marine and Environmental Research (CIIMAR / CIMAR), University

of Porto, Portugal

In recent decades, "Legal Highs" sold in old "smart shops" and on Internet for

recreational use have been fabricated exponentially. Within these new drugs,

derivatives of cathinones have gained a huge popularity among consumers. These

compounds are analogues of the natural cathinone, the active ingredient of Khat, and

are chemically modified generating hudge number of different derivative molecules.

All the described cathinone derivatives are chiral and enantioselectivity must be

considered for their toxicological effects [11]. Because these is a recent concern, there

is little information on racemic mixtures and almost nothing is known about the

biological activity of each individual enantiomer [58]. Thus, the aim of this study was to

study the enantiomers of cathinones in these “Legal Highs” and evaluate the

respective toxicological effects.

In this work we describe the enantioresoluion of 9 synthetic cathinones (MDPV, Flephedrone, Pentedrone, 4-MEC, 3,4-DMMC, Metedrone, Buphedrone, Methylone and Etcatinone) present on 13 “Legal Highs” commercially available in drugs sold on old "smartshops" by chiral HPLC method. The separations were performed with the Chiralpak® AS-H column under normal-phase elution conditions. The best results were achieved with n-hexane:2-propanol: TEA (97: 3: 0.1) as mobile phase at a flow rate of 0.5 mL/min. The analyses were performed at room temperature in isocratic mode and UV detection at a wavelength of 254 nm.

We successful separate both the samples with only one cathinone as in samples with more than one cathinone. It was found that, with the exception of MDPV all cathinones were enantioseparated with very high enantioselectivity and resolution with α and RS values always greater than 1.25 and 4.00, respectively. The overall results of this study indicate that it is possible to scale-up the enantioresolution in order to obtain the single enantiomers of these derivatives of cathinones.

Acknowledgements:

This research was developed under the Project PEst-OE/SAU/UI4040/2014 and partially supported by the European Regional Development Fund (ERDF) through the COMPETE - Operational Competitiveness Programme and national funds through FCT - Foundation for Science and Technology, under the project PEst-C/MAR/LA0015/2013.

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