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TEMA: História local, memória, esquecimento, identidade. TÍTULO: Sepetiba e a perda de sua importância história. OBJETIVOS GERAIS Entender os motivos que levaram a população do bairro de Sepetiba a perder o interesse pela preservação da memória histórica do local. Conscientizar e esclarecer os moradores do local e imediações quanto à força explosiva e libertadora que a memória possuí. ESPECÍFICOS Compreender as razões que levaram o bairro de Sepetiba a “apagar-se” historicamente ante os bairros próximos com igual importância histórica, inclusive com histórias intrinsecamente relacionadas. Examinar como o modo de vida urbano, as transformações socais, a ínfima historiografia

Sepetiba e a perda de sua importância

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Page 1: Sepetiba e a perda de sua importância

TEMA: História local, memória, esquecimento, identidade.

TÍTULO: Sepetiba e a perda de sua importância história.

OBJETIVOS

GERAIS

Entender os motivos que levaram a população do bairro de Sepetiba a perder

o interesse pela preservação da memória histórica do local.

Conscientizar e esclarecer os moradores do local e imediações quanto à força

explosiva e libertadora que a memória possuí.

ESPECÍFICOS

Compreender as razões que levaram o bairro de Sepetiba a “apagar-se”

historicamente ante os bairros próximos com igual importância histórica,

inclusive com histórias intrinsecamente relacionadas.

Examinar como o modo de vida urbano, as transformações socais, a ínfima

historiografia relacionada à região, as relações de poder na base da dialética

da exclusão, bem como as transformações inerentes a condição pós-moderna,

influenciam e influenciaram a construção das identidades dos moradores

deste bairro, e, a falta de interesse destes pelo local onde moram.

Analisar os motivos da falta de interesse na conservação e manutenção de

construções históricas existentes no local como a igreja de São Pedro

inaugurada ainda no século XIX, bem como as razões que levaram muitas

delas a desaparecerem sem deixar vestígios.

Encontrar justificativas plausíveis para a diferença significativa em relação a

registros e fontes referentes ao bairro em relação a outros bairros nas

imediações.

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JUSTIFICATIVA/RELEVÂNCIA

Toda história depende basicamente de sua finalidade social (Thompson, 1992) ,

por isso, alguns moradores mais antigos do bairro de Sepetiba buscaram durante algum

tempo transmitir de geração em geração pela chamada “tradição oral” ou pela ínfima

crônica escrita em jornais locais a importante história do bairro de Sepetiba para que a

mesma não se perdesse, o que acabou ocorrendo, pois os moradores conhecedores e

disseminadores da história do bairro em sua maioria, infelizmente não estão mais entre

nós, seus familiares mudaram-se para outros bairros e agora cabe aos historiadores

profissionais essa divulgação, o que de fato não vem ocorrendo, pois falta interesse pela

historicidade desta região específica.

O núcleo de orientação e pesquisa histórica (NOPH) localizado no ecomusseu

quarteirão cultural do matadouro no bairro de Santa Cruz ainda interessa-se pelo assunto

e possuí alguns ínfimos arquivos referentes ao bairro, e, os quais me cederam

gentilmente para realização da exposição de aniversário do bairro. Os estudantes das

escolas locais aprendem apenas o que alguns educadores sem o estabelecimento de um

projeto político pedagógico sério que envolva a comunidade em sua totalidade

concluem que seja importante para o desenvolvimento das mesmas, não dando a

mínima importância para a questão da identidade histórica da localidade.

De acordo com Thompson (1992) é por meio da história que as pessoas comuns

procuram compreender as “revoluções” e mudanças por que passam em suas próprias

vidas: transformações sociais, culturais, guerras, mudanças comportamentais,

econômicas, mudanças tecnológicas etc. Através da história local, um bairro ou uma

cidade procura um sentido para sua própria natureza em mudança, em constante

transformação e assim estabelecem-se os vínculos, e os novos moradores vindos de

outras localidades podem assim adquirir uma percepção das raízes pelo conhecimento

pessoal da história do local, aprendendo assim a respeitá-lo e defendê-lo.

Somente no dia 5 de julho do ano de 2008, o bairro de Sepetiba e seus

moradores comemoraram devidamente o seu aniversário, através de uma iniciativa

minha e de alguns poucos moradores. Buscamos trazer à baila a história do local por

meio da exposição de painéis organizados de forma cronológica de acordo com os

acontecimentos ocorridos no bairro, construídos a partir do pequeno arquivo que nos foi

cedido pelo NOPH, expusemos textos referentes a história do local e algumas fotos,

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bem como realizei uma pequena palestra de orientação direcionada aos estudantes

presentes no evento, além de termos organizado um desfile com um ferrenho defensor

das causas ambientais, pescador e antigo morador do bairro a frente do mesmo “Seu

Erasmo” que já foi até mesmo tema de documentário, juntamente com estudantes de

escolas da região.

Notamos a surpresa e admiração dos visitantes de nosso stand sobre a história do

bairro, ao descobrirem a sua rica história, inclusive ficamos muito satisfeitos ao

sabermos algum tempo depois que escolas da região estariam debatendo a perda da

historicidade do local em sala de aula e orientando alunos a realizarem trabalhos de

pesquisa com a temática.

Fomos indagados por alguns estudantes sobre o “porquê” de não restarem

nenhuma das referencias descritas nos textos no local, bem como os motivos que

levaram a história do bairro a não ser citada ao menos nas escolas locais, muito pouco

lembrada pelos professores e quando lembrada de forma muito superficial e sem muita

enfase, e não soubemos responder de forma compreeenssível para estudantes do ensino

fundamental, o que nos entristeceu profundamente, pois tivemos que decepcioná-los

respondendo de forma nem um poco satisfatória para saciar tanta curiosidade por parte

dos mesmos.

Sendo assim, reafirmamos a relevancia da realização da pesquisa sobre a perda

da identidade histórica do bairro de Sepetiba, justo por percerbemos em apenas um

evento realizado, a satisfação e a admiração dos moradores e estudantes em “descobrir”

que seu bairro não foi sempre deixado de lado, que foi palco de acontecimentos

históricos importantes para a construção da cidade do Rio de Janeiro e quiçá do páis.

Além dos motivos baseados no senso comum e no que tange a satisfação e bem

estar da comunidade local, também justificamos a realização desta pesquisa a partir da

historiografia do local. O bairro de Sepetiba foi “descoberto” pelos índios tamoios ainda

no século XVI, e há indícios de que até mesmo os holandeses estiveram no local no

período que corresponde a expulsão dos mesmos da cidade do Rio de Janeiro. Pouco

tempo depois, os padres Jesuítas da Companhia de Jesus tomaram conhecimento da

região.

Sepetiba foi palco de importantes acontecimentos durante as três principais fases

da história do pais: Brasil Colônia, império e república; foi aldeamento jesuítico,

cenário da batalha naval contra os holandeses, sua baía e praias serviram de local de

desembarque para o quinto do ouro, tráfico do mesmo, tráfico de escravos, cenário da

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luta dos corsários dentre outros muitos acontecimentos. Personagens históricos

passaram pelo bairro reconhecendo sua beleza, como D. João VI, D. Pedro I, D.

Leopoldina, José Bonifácio, o Visconde de Sepetiba, Jean Baptise Debret dentre muitos

outros; abrigou republicanos e anti republicanos; foi cenário da tragédia ocorrida

durante o período de transição Império/República: o fuzilamento dos marinheiros na

ilha da pescaria (Ilha dos marinheiros) etc.E para terminar, algumas áreas do bairro

possivelmente já eram habitadas por índios antes mesmo da chegada do homem

branco,a prova disso encontra-se no fato de existirem três sambaquis no bairro

devidamente descritos por arqueólogos e registrados pelos mesmos, para nos assegurar

da veracidade de tal afirmação basta consultar o livro Pré história do estado do Rio de

Janeiro de Maria da Conceição Moraes Coutinho Beltrão de 1978, Estes são apenas

alguns dos fatos que colocam Sepetiba em notória evidencia histórica.

De acordo com Pacano (2005), a contribuição dos Frankfurtianos deixa claro

que a memória enquanto reconstrução do passado no presente, ou enquanto

determinações do passado sobre o presente, pode tanto “escravizar” como “libertar”, a

lembrança e o esquecimento, manifestações da memória nos indivíduos, só adquirem

significado mais amplo se analisados na especificidade do contexto histórico de sua

construção passada e de sua narração presente. Como conseqüência debruçar-se sobre a

memória não significa a reconstrução integral de como teria sido o passado, posto que

passou, mas sim a presença deste no presente, consciente ou inconsciente.(Pacano,

2005)

A modernidade ao romper com a memória, expõe a todos aos perigos da

amnésia coletiva, decorrente da perda dos elos comunitários que se processam ainda

mais rapidamente na sociedade “pós-industrial”, sob o símbolo da pós-modernidade.

Segundo Pollak (1989), podemos dizer que a memória é um elemento constituinte do

sentimento de identidade, tanto individual como coletiva, na medida em que ela é

também fator importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa

ou de um grupo em sua construção de si, é bem provável que a maioria dos males

causados ao bairro de Sepetiba e conseqüentemente a sua população estejam

relacionados direta ou indiretamente ao fato de que grande parte da população local não

possuí este sentimento de continuidade, de identidade, de orgulho e de identificação

com o local.

Ainda de acordo com Pollak (1989), a construção da identidade é um fenômeno

que se produz em referencia aos outros, em referencia aos critérios de aceitabilidade, de

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admissibilidade, de credibilidade, e que se faz por meio da negociação direta com os

outros; vale dizer que a memória e a identidade podem perfeitamente ser negociadas, e

não são fenômenos que devam ser compreendidos como essenciais de uma pessoa ou de

um grupo, porém, podemos convir que quando um determinado grupo de pessoas não se

sente integrado a um contexto social, cultural ou histórico específico pode conhecer um

sentimento de descontinuidade e de ausência de referencia incomodo e, muitas vezes

desorientador, é o que ocorre com alguns moradores do bairro entrevistados.

ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA

Esta pesquisa é Qualitativa de cunho Exploratório e Explicativo - Pesquisa

Participante. Seu método é DEDUTIVO ou HIPOTÉTICO-DEDUTIVO - Esta pesquisa

também possuirá teor Bibliográfico e Documental a partir de fontes primárias.

O enquadramento teórico que aqui privilegiaremos em relação a nossa

abordagem aos temas essenciais para a realização da pesquisa será baseado nas

categorias de analise utilizadas por Pollak, Le Goff, Halbwachs, Pierre Nora, Ecléa

Bosi, Stuart Hall, Mario de Souza Chagas, Michel Foucault dentre outros citados em

nossa bibliografia, fundamentais para a realização da pesquisa, bem como para a

compreensão do problema exposto na mesma.

Partiremos das afirmações de Stuart Hall para analisarmos algumas questões

relacionadas a questão das “identidades” na pós modernidade, o autor nos assegura que

a identidade preenche o espaço entre o interior e o exterior, entre o mundo pessoal e o

mundo público, bem como o fato de que projetamos a nós mesmos nessas identidades

culturais, ao mesmo tempo em que internalizamos seus significados e valores tornando-

os “parte de nós”; contribuindo para alinharmos nossos sentimentos subjetivos com os

lugares objetivos que ocupamos no mundo social e cultural, entende-se então que a

identidade “costura” o sujeito à estrutura, estabiliza tanto os sujeitos quanto os mundos

culturais que eles habitam, tornando ambos reciprocamente mais unificados e

predezíveis.

O indivíduo previamente, “habituado” a “ter” uma identidade unificada e estável

está se tornando fragmentado, composto não de uma única, mas de várias identidades

fragmentadas, algumas vezes contraditórias ou mesmo paradoxais.O próprio processo

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de identificação, através do qual nós projetamos nossas identidades culturais e sociais,

tornou-se mais provisório, variável e problemático, esse processo produz o sujeito pós-

moderno como não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente, o sujeito

assume identidades diferentes em diferentes momentos, e isto se torna mais agravante

em contextos sociais mais desfavorecidos, sem referenciais, sem orientação, em total

exclusão social e cultural, estes indivíduos tornam-se vitimas dos discursos

fragmentários e paradoxais transmitidos pelas mídias, mantendo em vigor a ideologia

dominante.

Do vínculo com o passado se extrai a força para a formação da identidade (Bosi,

2004, p.16), partindo desta afirmativa de Bosi, iremos contrapor a força do passado

histórico do bairro de Sepetiba e a inexpressividade e desmobilização do seu presente,

todo o processo de degradação e esquecimento ocorrido na localidade a partir das

afirmações de Hall expostas anteriormente.

Utilizaremos as afirmações de Pollak (1988 - 1989) justo porque o autor

investiga a relação entre a memória e a identidade social, chamando a atenção para o

fato de que a memória tem um papel fundamental na construção da identidade, tanto

individual quanto coletiva, em “Memória e identidade social”, o autor sustenta que

memória e identidade não devem ser compreendidas como manifestações de alguma

essência do individuo ou do grupo, mas sim fenômenos que se constroem socialmente e

que, portanto, não estão isentos de mudanças desenvolvidas em virtude das

“preocupações pessoais e políticas do momento” (Pollak, 1992, p. 201).

O Campo da pesquisa que define a memória como uma construção social tem

como principal expoente Maurice Hallbwachs, que pensa a memória “como um

fenômeno construído coletivamente e submetido a flutuações, transformações,

mudanças constantes”, com o que concordamos. (Pollak 1992, p.201). Halbwachs

afirma, que “cada memória individual é um ponto de vista sobre a memória coletiva (...)

este ponto de vista muda conforme o lugar que ali ocupo, e (...) este lugar mesmo muda

segundo as relações que mantenho com os outros meios”. (1990, p.51)

A idéia central de Hallbwachs em seu estudo sobre a memória consiste em seu

postulado de que pensamos ou rememoramos por intermédio de quadros sociais da

memória. A hipótese da memória coletiva só ganha sentido de acordo com esta dupla

condição cuja relação é recíproca: lugar social e dimensão temporal presente.

Em um outro trabalho, a memória coletiva, publicado originalmente em 1950

após sua morte, que também utilizaremos, Halbwachs abandona o conceito de memória

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coletiva, como expressão de grupos reais e passa a trabalhar com o de memória

enquanto construção sócio-cultural, entretanto, ele afirma que, mesmo que esses

quadros estejam ausentes, a memória permanece coletiva por intermédio de categorias

de pensamento. “As nossas lembranças permanecem coletivas, e elas nos são lembradas

pelos outros, mesmo que se trate de acontecimentos nos quais só nós estivemos

envolvidos, e com objetos que só nós vimos. É porque, em realidade, nunca estamos

sós. Não é necessário que outros homens estejam lá, que se distingam materialmente de

nós: porque temos sempre conosco e em nós uma quantidade de pessoas que não se

confundem”. (Halbwachs 1990 p.26).

Utilizaremos alguns escritos específicos de Pierre Nora, objetivando maior

consistência à pesquisa uma vez que Nora caracteriza a circunstância em que o passado

vai cedendo seu lugar para a idéia do eterno presente através do uso da expressão

aceleração da história em seu artigo “entre memória e História: a problemática dos

lugares” (1993). Nesse momento, segurar traços e vestígios é a maneira de se opor ao

efeito devastador e desintegrador da rapidez contemporânea, o que debatemos em

especial na pesquisa. O conceito de aceleração para Nora é muito condizente com os

objetivos de nossa pesquisa:

“Aceleração: o que o fenômeno acaba de nos revelar bruscamente, é toda a

distância entre a memória verdadeira, social, intocada, aquela cujas sociedades ditas

primitivas, ou arcaicas, representaram o modelo e guardaram consigo o segredo - e a

história que é o que nossas sociedades condenadas ao esquecimento fazem do passado,

porque levadas pela mudança. Entre uma memória integrada, ditatorial e inconsciente

de si mesma, organizadora e toda poderosa, espontaneamente atualizadora, uma

memória sem passado que reconduz eternamente a herança, conduzindo o antigamente

dos ancestrais ao tempo indiferenciado dos heróis, das origens e do mito – e a nossa,

que só é história, vestígio, trilha. Distância que só se aprofundou à medida em que os

homens foram reconhecidos como sendo um poder e mesmo um dever de mudança,

sobretudo a partir dos tempos modernos. Distância que chega hoje, num ponto

convulsivo” (NORA, 1993: 08).

A memória não pode mais ser vista como um processo parcial e limitado de

lembrar fatos passados, de valor acessório para as ciências humanas, na verdade ela se

apóia na construção de referenciais de diferentes grupos sociais sobre o passado e o

presente, respaldados nas tradições e ligados a mudanças culturais.(Fabiano Junqueira

de Freitas e Paula lou Ane Matos Braga)

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Partindo da afirmação de Le Goff, onde este autor defende uma finalidade

libertária para a memória “A memória, onde cresce a história, que por sua vez a

alimenta, procurava salvar o passado para servir o presente e o futuro”. Devemos

trabalhar de forma a que a memória coletiva sirva para a libertação e não para a servidão

dos homens” (Le Goff, 2003, p.477) buscaremos compreender e asseverar a emergência

em nos empenharmos para trazer a baila o passado histórico da localidade pesquisada.

Outro aspecto importante acerca da memória é a sua relação com os lugares. As

memórias individual e coletiva têm nos lugares uma referencia importante para a sua

construção (Nora, 1993) ), ainda que não seja condição para a sua preservação, as

memórias dos grupos se referenciam, também, nos espaços em que habitam e nas

relações que constroem com estes espaços.Os lugares são importantes referência na

memória dos indivíduos, as mudanças ocorridas nesses lugares ocasionam mudanças

significativas na vida e na memória dos grupos.A história ao invés de se configurar

numa grande narrativa comum a todos, passou a acolher e a dar existência e visibilidade

às várias narrativas, o que nos favorece. As memórias individuais e coletivas se

alimentam e têm pontos de contato com a memória histórica e, tal como ela, são

socialmente negociadas. Guardam informações relevantes para os sujeitos e têm por

função primordial garantir a coesão do grupo e o sentimento de ligação entre seus

membros.

Le Goff afirma que a memória coletiva, ao longo da história do mundo, tem

sido posta em jogo na luta das forças sociais pelo poder e, é formada tanto de

lembranças, quanto de esquecimentos, produzidos por diversas instâncias sociais. Por

isso o autor alerta para os riscos do controle da memória coletiva, principalmente pelos

governos (Le Goff, 2003, 471), buscaremos confirmar que houve um interesse especial

em apagar-se a história da região pesquisada juntamente com o crescimento

populacional desordenado que ali ocorreu no passado e continua a ocorrer, justo por

tratar-se de uma região afastada onde ocorreram e ocorrem muitas ações ilegais,

apropriações e desapropriações de terras dentre outros fatos que justificam o

desinteresse na manutenção da historicidade desta localidade e a sustentação da

alienação e desinformação dos moradores locais.

Le Goff afirma que documentos e monumentos, materiais da memória coletiva e

da História, não são um conjunto do que existiu no passado, “mas uma escolha efetuada

quer pelas forças que operam no desenvolvimento temporal do mundo e da humanidade,

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quer pelos que se dedicam a ciência do passado e do tempo que passa, os

historiadores”(Op, cit 525)

O documento não é inócuo (...) resulta do esforço das sociedades históricas para

impor ao futuro voluntária ou involuntariamente – determinada imagem de si próprias.

No limite, não existe um documento-verdade.(op,537).

Sendo assim julgamos que houve um interesse especial no desaparecimento das

relações entre os bairros de Sepetiba e Santa Cruz no que tange a importância histórica

de ambos, tanto que no dia do aniversário do bairro de Santa Cruz ocorrem desfiles,

shows etc. para comemorar-se a data, no entanto, este ano (2008) foi a primeira vez em

que ocorreu algum tipo de festividade direcionada para a importância histórica do

bairro, claro que com dimensões bem menores do que as que ocorrem no bairro de

Santa Cruz, além disso foi estabelecida a bem pouco tempo a data oficial de aniversário

do bairro de Sepetiba, a mais ou menos 3 ou 4 anos, o que denota o desinteresse dos

então “representantes” da região pela importância histórica deste bairro.

CONCLUSÃO

Viemos tentando recuperar e divulgar a história perdida do bairro de Sepetiba há

algum tempo, contudo não obtemos muito apoio, talvez porque exista um interesse em

manter-se apagada a história do local para que a chama da auto-estima dos moradores

não seja reacendida e assim estes continuem sujeitos a dominação, a memória possuí

uma força explosiva e libertadora, justo o motivo do temor de algumas autoridades da

mesma.

Exaltar a memória local não é algo sem validade, sem relevância, é algo muito

importante, pois possibilita aos moradores conhecer um pouco mais a localidade onde

moram e assim valoriza-la devidamente, estamos em pleno século XXI, vivemos em um

mundo pós-moderno, e, como a mesma caracteriza-se (a pós modernidade) pelo

aumento frenético da velocidade de informação, a compressão dos entendimentos de

tempo e de espaço, bem como pelo desinteresse pela história e pelo resgate da memória

e da identidade histórica de determinadas regiões, ocorre fragmentação e

descontinuidade, e conseqüentemente desmobilização, que podemos perceber

claramente no caso do bairro pesquisado, desinteresse das populações locais para com a

questão da preservação de patrimônios históricos, culturais, e acredito que estas

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transformações estão conduzindo a sociedade ao estabelecimento da chamada “amnésia

coletiva” (Hanna Arendt, 1988), trazer a memória a baila significa romper com o

processo de alienação em minha concepção, restituindo assim a identidade dos sujeitos

históricos (Pacano). De acordo com Pacano (2005),conforme mencionamos

anteriormente e vale a pena ressaltar a memória enquanto reconstrução do passado no

presente e/ou enquanto determinações do passado sobre o presente pode tanto

“escravizar” como “libertar”, a lembrança e o esquecimento, manifestações da memória

dos indivíduos, só adquirem real significado e mais amplo se analisados na

especificidade do contexto histórico de sua construção passada e de sua narração

presente.