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Seu Severino e dona Ritinha nasceram e cresceram no Sítio Capoeira, Solânea. Ali mesmo se casaram e tiveram três filhos: Rosineide, Rosinaldo e Josinaldo. A terra onde moravam era muito pequena e seu Severino tinha que trabalhar de meia. Quando não estava cuidando do roçado trabalhava alugado para sustentar a família. Como no verão diminuía o trabalho, seu Severino viajava para o Sudeste para trabalhar de servente de pedreiro. Todo ano era a mesma coisa: quando o verão chegava, eu viajava para o Rio de Janeiro. Assim que começava a chover eu voltava para casa, como na música de Luiz Gonzaga. Dei 6 viagens no Rio, relembra seu Severino. Ele diz que agricultor é igual à raiz, assim que vê terra molhada quer se enfiar e só sossega quando tem lucro. Mesmo ele gostando muito de trabalhar na agricultura, o problema era a falta de terra, pois tinha que dividir o que plantava com o dono, por isso, sonhava com sua própria terra. Em 2002, a família recebeu, a partir da associação dos agricultores, crédito fundiário para comprar um lote de 20 hectares no assentamento Junco, Remígio. No novo sítio, a família trabalha em 16 hectares e 4 hectares são de reserva ambiental. Seu Severino conta que no início foi muito difícil, não havia benefícios na propriedade. A casa onde a família mora demorou a ser construída. A água para fazer a massa eu carregava no lombo de um jumento lá da Lagoa de Nalva. Só podia trazer duas ancoretas de cada vez, pois tinha que trazer também um saco de cimento, conta seu Severino. No mesmo ano, a família botou o primeiro roçado de feijão, milho e fava. Embora pequeno, a colheita deu para a família passar o ano e ainda guardar a semente para o ano seguinte. Atualmente, a família planta feijão carioca, macassar, guandu e fava, e ainda macaxeira, inhame, jerimum e milho. Ao mesmo tempo em que ia aumentando o roçado, a família começou a fazer uma faxina para as galinhas e plantar árvores frutíferas no arredor de casa. Nessa época eu já era aposentada e comprei uns pés de coco, de laranja e de graviola, relembra dona Ritinha. O restante o casal foi plantando, comprando na feira, semeando caroços, fazendo mudas e pegando outras no sindicato e no viveiro da AS-PTA. No arredor de casa, no roçado e perto da cisterna calçadão tem laranja, tangerina, limão de duas espécies, acerola, mamão, pitanga, coco, caju, jabuticaba, pinha, graviola, seriguela, urucum, banana, manga, maracujá, oliveira, castanhola, tamarindo, noni e até dois três de uva e um de maçã. Com o roçado aumentado e bastante fruteiras, a família foi ampliando a criação de Paraíba Ano 6 | nº 902 | novembro | 2012 Solânea-PB Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Seu Severino e dona Ritinha: a conquista da terra que garante o sustento da família 1

Seu Severino e dona Ritinha: a conquista da terra que garante o sustento da família

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Seu Severino e dona Ritinha nasceram e cresceram no Sítio Capoeira, Solânea. Ali mesmo se casaram e tiveram três filhos: Rosineide, Rosinaldo e Josinaldo. A terra onde moravam era muito pequena e seu Severino tinha que trabalhar de meia. Quando não estava cuidando do roçado trabalhava alugado para sustentar a família.

Como no verão diminuía o trabalho, seu Severino viajava para o Sudeste para trabalhar de servente de pedreiro. Todo ano era a mesma coisa: quando o verão chegava, eu viajava para o Rio de Janeiro. Assim que começava a chover eu voltava para casa, como na música de Luiz Gonzaga. Dei 6 viagens no Rio, relembra seu Severino. Ele diz que agricultor é igual à raiz, assim que vê terra molhada quer se enfiar e só sossega quando

tem lucro. Mesmo ele gostando muito de trabalhar na agricultura, o problema era a falta de terra, pois tinha que dividir o que plantava com o dono, por isso, sonhava com sua própria terra.

Em 2002, a família recebeu, a partir da associação dos agricultores, crédito fundiário para comprar um lote de 20 hectares no assentamento Junco, Remígio. No novo sítio, a família trabalha em 16 hectares e 4 hectares são de reserva ambiental. Seu Severino conta que no início foi muito difícil, não havia benefícios na propriedade. A casa onde a família mora demorou a ser construída. A água para fazer a massa eu carregava no lombo de um jumento lá da Lagoa de Nalva. Só podia trazer duas ancoretas de cada vez, pois tinha que trazer também um saco de cimento, conta seu Severino.

No mesmo ano, a família botou o primeiro roçado de feijão, milho e fava. Embora pequeno, a colheita deu para a família passar o ano e ainda guardar a semente para o ano seguinte. Atualmente, a família planta feijão carioca, macassar, guandu e fava, e ainda macaxeira, inhame, jerimum e milho.

Ao mesmo tempo em que ia aumentando o roçado, a família começou a fazer uma faxina para as galinhas e plantar árvores frutíferas no arredor de casa. Nessa época eu já era aposentada e comprei uns pés de coco, de laranja e de graviola, relembra dona Ritinha. O restante o casal foi plantando, comprando na feira, semeando caroços, fazendo mudas e pegando outras no sindicato e no viveiro da AS-PTA.

No arredor de casa, no roçado e perto da cisterna calçadão tem laranja, tangerina, limão de duas espécies, acerola, mamão, pitanga, coco, caju, jabuticaba, pinha, graviola, seriguela, urucum, banana, manga, maracujá, oliveira, castanhola, tamarindo, noni e até dois três de uva e um de maçã.

Com o roçado aumentado e bastante fruteiras, a família foi ampliando a criação de

Paraíba

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galinhas trazidas do outro sítio. Aqui a gente não vende nem ovos nem galinha, a gente mata para a família comer ou quando vem uma visita, pois a gente cria é para isso mesmo, conta dona Ritinha. Atualmente a família tem cerca de 30 galinhas e alguns pintos. Eles são criados numa faxina de vara e num cercado de tela adquirida com a ajuda do fundo rotativo da comunidade.

Como a família também tinha trazido os bois do outro sítio, fez um empréstimo do Pronaf para plantar um hectare de palma forrageira, plantou capim na várzea e alguns pés de agave perto de casa, uma excelente ração para engordar boi, destaca seu Severino. A família faz silagem para guardar ração para os animais para os períodos mais

críticos de estiagem. Há quatro anos que faço silo. Nesses anos todo só precisei comprar forragem um ano. Em

2012 fiz silos com palha de milho e um resto de capim que tínhamos aqui, conta. Seu Severino não pretende abrir o silo até o final de dezembro, pois ainda tem palha de milho, um resto de capim e bastante palma. Quando chegaram à propriedade, a água de beber ainda era um desafio para a família. Há um tanque pequeno na propriedade, mas secava rápido e a família tinha que ir buscar água num tanque que fica distante da casa. Esse problema foi resolvido em 2005, com a construção da cisterna de placas do P1MC. Foi uma tranquilidade para a gente, diminuiu o trabalho de ir buscar água nos tanques e a gente passou a ter uma água de qualidade, afirma seu Severino.

Cinco anos depois, seu Severino e dona Ritinha conseguiram uma cisterna-calçadão do P1+2, e puderam plantar mais pés de fruta e fizeram uma horta ao redor da cisterna. As verduras e legumes são consumidos pela família, distribuídos para os filhos do casal e quando tem muito tomate a família também

vende na feira agroecológica de Remígio. Nos meses mais secos, a água da cisterna-calçadão também serve para matar a sede do gado.

Já foi bem mais difícil, mas hoje a gente já tem água boa em casa e facilidade para criar os bichos. Graças ao sindicato, aos trabalhos para fazer os silos e as cisternas nossa vida melhorou muito. Mas seu Severino diz que o sítio ainda não está do jeito que ele quer, pois quer ver todos os pés de fruta que plantou safrejando, mais água na propriedade e bastante ração para o gado.

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