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Um vocacionado à RESSURREIÇÃO Homem: Atualidade O mundo criado para evoluir Arte e Espiritualidade Ressurreição A Vitória da Luz

Shalom Mana 189

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Publicação mensal, editada e organiza pela Comunidade Católic a Shalom.

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Page 1: Shalom Mana 189

Um vocacionado àRESSURREIÇÃOUm vocacionado àUm vocacionado àRESSURREIÇÃORESSURREIÇÃOhomem:

Atualidadeo mundo criadopara evoluir

Arte e Espiritualidaderessurreiçãoa vitória da luz

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Coordenação Geral Cristiano tuli

Coordenação Editorial andréa luna valimEliana GomEs lima

Equipe de redaçãoandréa luna valimandréia GrippEliana GomEs limaJosé riCardo F. BEzErra

revisãoJosé riCardo F. BEzErrasandra vianarEJanE nasCimEnto

Editor de arteauGusto F. olivEira

Gerente ComercialEvanEidE santana

assinaturasCiCiliana tavarEslanE marquEs

Jornalista responsávelEGídio sErpa

imagem da CaparEssurrEição Il Duomo DI monreale

E X P E D I E N T E

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E D I T O R I A L

“No Cenáculo, o Ressuscitado que passou pela Cruz deu a sua Paz, o seu Espírito, aos apóstolos – à Igreja – e os enviou. Jesus Ressuscitado, transmitindo a força de sua

ressurreição através de seus discípulos, destinou a todos nós a graça de uma vida nova, ressuscitada, não mais escrava das amar-ras do mundo. Porque Cristo ressuscitou não há mais razão para se aventurar em veredas de morte; o caminho da Vida já nos foi aberto, basta olharmos para Aquele que nos amou e desejarmos fazer de nossa própria vida também uma Páscoa: um lugar de amor, de morte para si, de ressurreição. Morrer para as “mortes de pecado” a fim de ressurgir para uma vida santa.

Nosso fim é uma vida ressuscitada: uma vida na glória, eterna. Quando nos damos conta de que este mundo passará, enche-nos de alegria e esperança saber que a vida ressuscitada é infinita, que Deus nos reserva um viver sem fim, sem dor, sem lágrimas, só Amor, tudo Amor, porque “Deus é amor” e a vida ressuscitada é a vida com Ele, “dentro” dele. Já aqui, nesta vida, podemos viver como “filhos” da ressurreição de Cristo, em uma ininterrupta dinâmica de caridade que transforma em Páscoa todas as realidades ao nosso redor. Transformar em Páscoa é transformar em Amor aquilo que ainda não é amor; é ser sinal da ressurreição de Cristo, ser alegria, ser evangelização, ser paz, ser caridade no meio do mundo, como sinal daquela vida eterna na qual cremos e na qual esperamos, fazendo despertar das trevas da morte os que ainda não creem.”

Querido leitor, é isso o que desejamos para você nesse tempo tão especial que a Igreja vive hoje. É Páscoa! Cristo ressuscitou! Tudo é possível! Que o poder da ressurreição atinja e transforme todas as áreas e realidades da sua vida. Que o Ressuscitado te dê a graça de transformar em páscoa aquilo que antes eram trevas e seja inaugurado um novo tempo na sua vida.

Que cada artigo desta edição produza em você frutos de alegria, paz, esperança e ressurreição. É para isso que a Shalom Maná existe. Para ser um instrumento de Deus na sua vida. Sempre!

Feliz Páscoa para você e para toda sua família. Shalom!

Transformar em Páscoa

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SUMÁRIO

assunto do mêsHomem:Um vocacionado à vida

atualidadeO mundo criado para evoluir

06

só FamíliaVencendo as crisesdo matrimônio

26

12

papo JovemJovens, também fomoscriados para os altares

16

0408

1118

22

a palavra do papaImitadores de Cristo

Fé e razãoSão Paulo: testemunhada Ressurreição de Cristo

Formação HumanaA dignidade da vida humana

arte e EspiritualidadeRessurreiçãoA Vitória da Luz

Especial10 anos da Casa Contemplativa“Fornalha do meu coração”

3032

37

38

a voz da igrejaA efi cácia do exemplo

orando com a palavraConhecia-te só deouvidos, mas agoraviram-te meus olhos!

testemunhoO amor de Deusatravés da oração

Entrevista“A Bíblia tem que estar nas mãos e no coração de todo católico”Pe. Joel Portella

41

4244

45

EspecialEscola de Líderes Shalom 2009“Belo é o amor de Deus”

acontece no mundo

divirta-se

EntrelinhasA graça de ser...Andre!

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a palavra do papa

É com grande alegria que me encontro convosco no final do Santo Sacrifício

da Missa, nesta Festa litúrgica que já há treze anos reúne religiosos e religiosas para o Dia da Vida Con-sagrada. Neste Ano Paulino, faço minhas as palavras do Apóstolo: “Dou graças ao meu Deus todas as vezes que me lembro de vós.

Em todas as minhas orações peço sempre com alegria por todos vós, recordando-me da parte que tomas-tes na di-

fusão do

Evangelho, desde o primeiro dia até agora” (Fl 1,3-5). Nesta sauda-ção, dirigida à comunidade cristã de Filipos, Paulo manifesta a re-cordação afetuosa que ele conserva daqueles que vivem pessoalmente o Evangelho e se comprometem em transmiti-lo, unindo ao cuida-do pela vida interior o esforço da missão apostólica.

Na tradição da Igreja, São Paulo foi sempre reconhecido pai e mestre daqueles que, chamados pelo Senhor, fi zeram a escolha de uma dedicação incondicionada a Ele e ao seu Evangelho. Diversos Institutos religiosos adquirem de São Paulo o nome, e dele hau-rem uma inspiração carismática específi ca. Pode-se dizer que ele repete a todos os consagrados e consagradas um convite simples e

afetuoso: “Sede meus imitado-res, como eu o sou de

Cristo” (1Cor 11,1). Com efeito, o que é a vida consagrada, a não ser uma imitação radical de Jesus, uma “sequela” total dele (cf. Mt 19,27-28). Pois bem, em tudo isto Paulo representa uma mediação pedagógica segura: caríssimos, imitá-lo no seguimento de Cristo constitui o caminho privilegiado para corresponder até ao fundo à vossa vocação de consagração especial na Igreja.

CriStOImitadores de

Festa da Apresentação de Jesus no Templo e XIII Dia Mundial da Vida Consagrada

na tradição da igreja, são paulo foi sempre reconhecido pai e mestre daqueles que, chamados pelo senhor, fi zeram a escolha de uma dedicação incondicionada a Ele e ao seu Evangelho.

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Aliás, da sua própria voz pode-mos conhecer um estilo de vida, que exprime a substância da vida consagrada inspirada nos conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência. Na vida de pobreza, ele vê a garantia de um anúncio do Evangelho realizado em gratuidade total (cf. 1Cor 9,1-23) enquan-to exprime, ao mesmo tempo, a solidariedade concreta para com os irmãos em necessidade. A este propósito, todos nós conhecemos a decisão de Paulo, de se manter com o tra-balho das suas mãos e o seu compromisso pela coleta em benefício dos pobres de Jerusa-lém (cf. 1Ts 2,9; 2Cor 8-9). Paulo é também um Apóstolo que, aco-lhendo o chamamento de Deus à castidade, entregou o coração ao Senhor de maneira indivisa, para poder servir com liberdade e dedicação ainda maiores aos seus irmãos (cf. 1Cor 7,7; 2Cor 11,1-2); além disso, num mundo em que os valores da casti-dade cristã tinham escassa cidada-nia (cf. 1Cor 6,12-20), ele oferece uma segura referência de conduta. Depois, naquilo que se refere à obe-diência, é sufi ciente observar que o cumprimento da vontade de Deus e a “obsessão de cada dia: o cuidado de todas as Igrejas” (2 Cor 11, 28) animaram, plasmaram e consumi-ram a sua existência, que se tornou sacrifício agradável a Deus. Tudo isto o leva a proclamar, como ele escreve aos Filipenses: “Porque para mim, o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fl 1,21).

Outro aspecto fundamental da vida consagrada de Paulo é a missão. Ele é inteiramente de Jesus para ser, como Jesus, de todos; aliás, a fi m de ser Jesus para todos: “Fiz-me tudo para todos, para salvar alguns

a todo o custo” (1Cor 9,22). A ele, tão intimamente unido à pessoa de Cristo, reconhecemos uma profunda capacidade de unir a vida espiritual e a obra missionária; nele, estas duas dimensões evocam-se reciprocamente. E deste modo, po-demos dizer que ele pertence àquele exército de “construtores místicos”, cuja existência é contemplativa e ao mesmo tempo ativa, aberta a Deus e aos irmãos para desempenhar um serviço efi caz ao Evangelho. Nesta

tensão místico-apostólica, apraz-me frisar a coragem do Apóstolo diante do sacrifício de enfrentar provações terríveis, até ao martírio (cf. 2 Cor 11, 16-33), a confi ança inabalável alicerçada nas palavras do seu Senhor: “Basta-te a minha graça, porque é na fraqueza que a minha força se revela totalmente” (2Cor 12,9). Assim, a sua experi-ência espiritual se manifesta a nós como a tradução viva do mistério pascal, que ele investigou e anun-ciou intensamente como forma de vida do cristão. Paulo vive para, com e em Cristo. “Estou crucificado com Cristo!” escreve ele “já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim!” (Gl 2,19-20); e ainda: “Porque para mim, o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fl 1,21). Isto explica por que ele não se cansa de exortar a fazer com que a palavra de Cristo habite em nós na sua riqueza (cf. Cl 3,16). Isto faz pensar no convite que vos foi dirigido pela recente Instrução sobre O serviço da

autoridade e a obediência, a procurar todas as manhãs o contato vivo e constante com a Palavra que neste dia é proclamada, meditando-a e conservando-a no coração como um tesouro, fazendo dele a raiz de toda a ação e o primeiro critério de toda a opção” (n. 7). Por conse-guinte, faço votos para que o Ano Paulino alimente ainda mais em vós o propósito de acolher o teste-munho de São Paulo, meditando todos os dias a Palavra de Deus com

a prática fi el da lectio divina, rezando “com salmos, hinos e cânticos espirituais; cantando sob a ação da graça” (Cl 3,16). Além disso, que ele vos ajude a realizar o vosso serviço apostólico na Igreja e com a Igreja, com um espírito de co-munhão sem reservas, comunicando aos ou-

tros a dádiva dos próprios carismas (cf. 1Cor 14,12) e testemunhando em primeiro lugar o maior carisma, que é a caridade (cf. 1Cor 13).

Estimados irmãos e irmãs, a li-turgia hodierna exorta-nos a olhar para a Virgem Maria, a “Consa-grada” por excelência. Paulo fala dela com uma fórmula concisa mas efi caz, que descreve a sua grandeza e a sua tarefa: é a “mulher” da qual, na plenitude dos tempos, nasceu o Filho de Deus (cf. Gl 4,4). Ma-ria é a mãe, que hoje no Templo apresenta o Filho ao Pai, dando continuidade também com este gesto ao “sim” pronunciado no mo-mento da Anunciação. Seja ainda ela a mãe que nos acompanha e nos sustenta, a nós fi lhos de Deus e seus fi lhos, no cumprimento de um serviço generoso a Deus e aos irmãos. Para tal fi nalidade, invoco a sua intercessão celestial, enquan-to de coração concedo a Bênção Apostólica a todos vós e às vossas respectivas Famílias religiosas.

Paulo vive para, com e em Cristo. “Estou crucificado com Cristo!” escreve ele “já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim!” (Gl 2,19-20); e ainda: “Porque para mim, o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fl 1,21).

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evoluiratualidadE

Cardeal Dom Odilo Schererarcebispo de São Paulo/SP

Nas semanas pas-sadas, enquanto se recordavam os 200 anos do nasci-

mento do cientista inglês Charles Darwin, escreveu-se muito sobre a teoria da evolução por ele ela-borada para explicar a origem das espécies. O aniversário fez também aparecer na opinião pública uma polêmica, sobretudo lá fora do Brasil, entre criacionismo e evolu-cionismo, vistas muitas vezes como opostas e excludentes.

Rapidamente, alguns usaram a teoria da evolução para negar a existência de Deus, ou para ta-xar de “lendas obscurantistas” as afi rmações religiosas sobre Deus Criador; a evolução foi passada como a ideia luminosa com a qual tudo se explica... Outros, para de-fenderem um criacionismo abso-

luto, tentaram de todos os modos forçar os textos bíblicos a dizerem aquilo que eles não quiseram dizer. A Sagrada Escritura não é um livro de ciências, nem pretende explicar como é feito o mundo. Talvez fi cou a impressão de que Darwin foi o grande mestre que deu o golpe fi nal na fé em Deus e que a ciência, fi nalmente, triunfou sobre a religião e a razão, sobre a fé. Darwin nunca afi rmou isso.

Será mesmo que as duas posi-ções precisam excluir uma à outra? A resposta é um claro NÃO, não precisam excluir uma à outra. A criação não exclui a evolução, nem o contrário. A evolução é um fato evidente e não pode ser posta em dúvida; porém, se ela explica como as coisas se diferenciam e mudam, por diversos fatores, ela, contudo, não explica a origem absoluta des-sas coisas. É um fato que somente evolui e se transforma aquilo que já existe. Donde, ou de quem cada

O mundo criado para

evoluirserá mesmo que as duas posições precisam excluir uma à outra? a resposta é um claro não, não precisam excluir uma à outra. a criação não exclui a evolução, nem o contrário. a evolução é um fato evidente e não pode ser posta em dúvida; porém, se ela explica como as coisas se diferenciam e mudam, por diversos fatores, ela, contudo, não explica a origem absoluta dessas coisas.

ser recebeu a existência e a ordem interna para ser aquilo que é, e não outra coisa? Do nada? Do nada, nada surge, a não ser que algum agente “crie”, isto é, dê origem, tire do nada e faça existir algo. O acaso poderia ser este fator deter-minante? Como seria inteligente este acaso! A teoria do acaso é

Charles Darwin

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absurda. É melhor crer em Deus criador, isso não é absurdo.

A evolução explica “como” as coisas chegaram a ser aquilo que são, mas não explica o fato mesmo da existência das coisas, nem sua ordem interna e seu significado. Assim também a hipótese da “explosão inicial” (Big bang), para explicar a origem do universo, poderia ser apenas uma explicação parcial: é preciso explicar como passou a existir anteriormente um “algo”, que pudesse explodir; e explicar também a existência de uma lógica maravilhosa na origem do universo, que foi capaz de organizá-lo e de torná-lo a maravilha que ele é, em vez de ser o caos infinito e permanente. De-cididamente, a evolução também não explica a própria existência do universo. Mas ela, como a ciência no seu todo, procura explicar “como” as coisas existem, são feitas, funcionam e interagem. E nisso não precisam estar contra a fé em Deus; nem precisa a fé em Deus negar a ciência. O verda-deiro cientista também pode ser profundamente religioso.

Neste debate, ressurge uma questão antiga: a relação entre fé

e razão, entre ciência e religião. Trata-se de duas formas diversas de aproximação da realidade: a razão requer argumentos contro-lados por ela e convincentes para ela mesma; daí decorre o conhe-cimento científico moderno, que submete tudo ao seu método próprio e verifica a possibilidade de comprovar, com instrumentos que lhe são próprios, as afirma-ções sobre as realidades deste mundo. Aquilo que o método científico não verifica e comprova, também não pode ser afirmado pela ciência; mas seria falso con-cluir logo: portanto não existe. A realidade existente é maior que o método e nem tudo cabe dentro dos limites que o método científico impõe a si mesmo. De sua parte, o conhecimento pela fé faz afirmações baseando-se na re-velação divina e vai além daquilo que a ciência pode controlar. A fé não é contra a ciência, mas vai além da ciência.

Em relação ao debate sobre a relação entre a fé e a razão, o papa João Paulo II escreveu uma encí-clica importantíssima, chamada Fides et ratio (A fé e a razão), que seria bom retomar e ler neste mo-mento. E o papa Bento XVI fala com frequência sobre este tema, defendendo a capacidade da razão humana para conhecer a verdade; certas tendências do pensamento moderno negam tanto o valor da fé quanto a capacidade racional do homem, caindo num ceticismo desorientador e angustiante. É im-portante que as duas capacidades humanas de conhecimento sejam devidamente valorizadas e não sejam contrapostas.

Não é preciso abandonar a fé em Deus criador para aceitar o fato da evolução, que faz parte da sabedoria criadora de Deus; é um dinamismo interno nas coisas, que faz com que o mundo não seja estático e morto, mas cheio de vitalidade, esperança e futuro.

Não é preciso abandonar a fé em Deus criador para aceitar o fato da evolução, que faz parte da sabedoria criadora de Deus; é um dinamismo interno nas coisas, que faz com que o mundo não seja estático e morto, mas cheio de vitalidade, esperança e futuro.

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Fé E razão

CRISTOSão Paulo: TESTEMUNHA DA RESSURREIÇÃO DE

“São Paulo foi convertido pela visão de Cristo ressuscitado.” quando meditamos sobre a conversão de são paulo, podemos nos perguntar: por que ele tinha necessidade de conversão se era um homem tão fiel à lei de deus, tão ardente defensor dos costumes judaicos?

CRISTO

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Daniel Ramosmissionário da Com. Católica Shalom na França

“São Paulo foi converti-do pela visão de Cris-to Ressuscitado.”1 Quando meditamos

sobre a conversão de São Paulo, podemos nos perguntar: por que ele tinha necessidade de conversão se era um homem tão fiel à lei de Deus, tão ardente defensor dos costumes ju-daicos? Ora, converter-se, como sabemos, é mudar de direção: Paulo percor-ria seu próprio caminho ao perseguir a Igreja, e acreditava ser essa a von-tade de Deus, mas o pró-prio Jesus Ressuscitado veio ao seu encontro e derrubou-o por terra. Quando lemos e rezamos com a passagem de Atos 9, onde São Lucas nos narra com uma ri-queza de detalhes impressionante a conversão de Saulo de Tarso, o que contemplamos não é apenas um homem que cai por terra por causa de uma visão celestial. O que vemos é o ser inteiro de Saulo ser despedaçado, jogado por terra. Todas as suas certezas, convic-ções mais profundas, esperanças, seguranças, tudo isso foi jogado no chão em um momento pelo encontro com Cristo Ressuscitado. Saulo – o agora apóstolo Paulo! – morre e ressuscita com Cristo.

Segundo o Santo Padre Bento XVI, “o Cristo Ressuscitado aparece como uma Luz esplêndida e fala a Saulo, transformando seu pensa-mento e toda sua vida. O esplendor do Ressuscitado o torna cego: torna-se visível exteriormente a sua realidade interior, a sua cegueira com relação à verdade, a Luz que é Cristo. Depois o seu “sim” definitivo ao Cristo pelo Ba-tismo abre de novo seus olhos, e o faz

realmente ver.”2 Paulo passou três dias como que “morto”, e no ter-ceiro dia ele ressuscita com Cristo pelo Batismo e a experiência do Espírito Santo. O apóstolo torna-se testemunha da Ressurreição de Cristo porque viveu esse evento pelo interior, foi associado no seu próprio ser ao Mistério Pascal. São Paulo não prega apenas algo

que escutou nem muito menos uma doutrina coerente: ele prega o mistério de Cristo no qual todo o seu ser foi mergulhado, batiza-do, recriado! Depois de ver Jesus Ressuscitado, e de viver no seu íntimo o mistério pascal, Paulo “considerará como ‘lixo’ tudo o que antes se constituía para ele o ideal mais elevado, quase a razão de ser de sua existência.”3 Ele passa a conhe-cer Jesus. Sabemos que conhecer, segundo as Escrituras, é fazer a experiência, viver o mistério. A aparição de Jesus Ressuscitado4 é o fundamento de seu apostolado e de sua vida nova.

“O mistério pascal consiste no fato de que o Crucificado ressuscitou no terceiro dia conforme as Escrituras5, segundo o que atesta a Tradição pro-to-cristã. É aí que se encontra o cerne da Cristologia Paulina: tudo gira em torno desse centro de gravidade. Todo o ensinamento do apóstolo Paulo parte e desemboca sempre no mistério Daquele que o Pai ressuscitou dentre os mortos. A Ressurreição é o acon-tecimento fundamental sobre o qual

Paulo faz seu anúncio (Kerigma).”6 Sim, São Paulo não constrói sua vida sobre a areia de suas certezas e convicções: toda a sua vida, missão e pregação jorram do Ressuscitado. Aqui temos um exemplo vivo do chamado a antes SER para que o “fazer” tenha peso de eternidade: todas as ações de Paulo jorram do seu ser recriado em Cristo, refeito na experiência da Ressurreição, e

isso o fará gritar que “nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem os poderes nem a altura, nem a profundeza, nem qualquer outra criatura po-derá nos separar do Amor de Deus manifestado em Jesus Cristo, Nosso Senhor.”7

Nós também ressuscitaremos!No capítulo 15 da Primeira

Carta aos Coríntios, São Paulo desenvolverá toda uma doutrina sobre a Ressurreição dos mortos. Nós também ressuscitaremos! Cristo ressuscitou e nos associou a Ele, a fim de que nós vivamos, a cada dia, esse processo de morte e de vida, de cruz e de ressurrei-ção. A cada dia o homem velho, escravo do pecado e do egoísmo, morre mais, e o homem novo, recriado à imagem de Cristo, se fortalece.8 Por isso, “Se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia é também a nossa fé.(...) Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, primícias dos que adormeceram.”9 Nesse testemunho que toda a vida e as palavras de Paulo fazem, tudo se constrói sobre esse fato, esse evento histórico, como nos lembra o Papa Bento XVI. “Nós vemos nos Atos dos Apóstolos e nas cartas que o ponto essencial da vida de Paulo é ser testemunha da Ressurreição.”10

Lembra-nos ainda o nosso Santo Padre: “Tudo isso comporta

São Paulo não prega apenas algo que escutou nem muito menos

uma doutrina coerente: ele prega o mistério de Cristo no qual todo o

seu ser foi mergulhado, batizado, recriado!

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importantes consequências para a nossa vida de fé: nós somos chamados a participarmos até o mais profun-do do nosso ser a todo o evento da Morte e Ressurreição de Cristo.”11 Por isso, não existe vida cristã séria e coerente sem sofrimento, renúncia, purifi cação, perseguição, dor, lágrimas, que abrem as portas para uma fecunda e poderosa res-surreição. “A teologia da Cruz não é uma teoria, ela é a realidade da vida cristã. Viver a fé em Cristo, viver a verdade e o amor implicam renúncias cotidianas, implicam sofrimentos. O cristianismo não é uma via de faci-lidades; ele é uma ascensão exigente, no entanto iluminada por Cristo e fundada na grande esperança que nasce Dele.”12 São Francisco de Assis dizia que aquele que não co-nhece o Crucifi cado não sabe nada do Ressuscitado. O próprio Jesus

Jesus era entranhado, era toda a sua vida. Por isso, a única medida de seu testemunho era o dom total da própria vida. Doía para Paulo ainda não ter dado tudo, isto é, a vida. Daí o grito que ressoa até aos nossos dias: “Para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro.”14

Amo imaginar como deveria ser carregado de emoção o grito que São Paulo fazia quando anunciava o Evangelho: “Cristo Ressuscitou! Eu sei, eu o vi, Ele me tocou, me transformou, curou minha cegueira, hoje já não sou mais eu quem vivo, mas é Ele quem vive em mim! Ele me amou e se entregou por mim!”15 Que esse grito, tornado testemu-nho perene pelo derramamento de seu sangue, chegue até os nossos corações e nos faça gritar também, proclamar com a nossa vida e nossa morte, que Cristo ressuscitou, pois afi nal de contas, nós somos hoje a voz do Cristo que Ressuscitado está. Que todo homem ouça esse brado! Amém.

Notas:1. L. Cerfaux, Le Christ dans la Théologie de Saint Paul, p. 58, Cerf.2. Bento XVI, Audiência de 3 de setembro de 20083. Fl 3,84. 1Cor 15,85. 1Cor 15,46. Bento XVI, Audiência de 5 de novembro de 20087. Rm 8,38-398. Cf. Rm 89. 1Cor 15,14.2010. Bento XVI, Audiência de 5 de novembro de 200811. ibid12. ibid13. At 9,1614. Fl 1,2115. Gl 2,20

São Francisco de Assisdizia que aquele que não conhece o

Crucifi cado não sabe nadado Ressuscitado.

disse a Ananias, que foi enviado para batizar Paulo, que “mostraria a Paulo o quanto seria preciso sofrer em favor do Seu Nome.”13

São Paulo testemunhou com todo seu ser a ressurreição de Cris-to também porque morreu para si mesmo. Existe o testemunho que é fruto da experiência de ser salvo, justifi cado e recriado por Jesus Res-suscitado, mas existe o testemunho que coroa toda uma vida doada: o martírio. Quem morre para si, vive para Deus. Quem morre para si, fecunda almas para Jesus. Paulo se alegrava nos sofrimentos que tinha sido achado digno de sofrer pelo Seu Senhor. O Padre Raniero Cantalamessa diz que apenas se dá a vida por aquilo que se crê no mais profundo das entranhas. A experiência que Paulo tinha de Jesus, o seu relacionamento com

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Formação Humana

O sacerdote Aldo Trento é, desde 1989, um dos mis-sionários mais co-

nhecidos da Fraternidade de São Carlos Borromeu do Paraguai. Ele tem 62 anos e é responsável por uma clínica para doentes terminais em Assunção.

Em 2 de junho de 2008, o presidente da República Italiana, Giorgio Napolitano, havia lhe conferido o título de Cavaleiro da Ordem da Estrela da Solidariedade. No dia 11 de fevereiro último, o sa-cerdote devolveu o reconhecimento a Napolitano, por não ter assinado o decreto que teria detido o protocolo médico para Eluana Englaro.

“Como posso eu, cidadão ita-liano, receber semelhante honra quando o senhor, com sua in-tervenção, permite a morte de Eluana, em nome da República Italiana?”, pergunta.

“Tenho mais de um caso como o de Eluana Englaro – relata Aldo

A dignidade da vida

humana“Como posso eu, cidadão italiano, receber semelhante honra quando o senhor, com sua intervenção, permite a morte de Eluana, em nome da república italiana?”

A italiana Eluana Englaro morreu no dia 09 de fevereiro último. Ela estava em coma vegetativo desde 1992, quando sofreu um acidente de carro. O pai obteve o direito de interromper a alimentação e a hidratação da fi lha com uma decisão defi nitiva da Justiça italiana, divulgada em 13 de novembro de 2008.

“Celeste tem 11 anos, sofre de leucemia gravíssima, não havia sido tratada nunca; trouxeram-na para mim a fi m de que fosse internada. Hoje Celeste caminha. E sorri.”

“Levei ao cemitério mais de 600 destes enfermos. Como se pode aceitar semelhante operação, como a que se fez com Eluana?”

“Cristina é uma menina aban-donada em um lixo, é cega, surda, treme quando a beijo, vive com uma sonda, como Eluana. Não reage, só treme, mas pouco a pouco recupera as faculdades”, acrescenta.

“Sou padrinho de dezenas destes enfermos. Não me importa sua pele putrefata. O senhor teria que ver com que humildade meus médicos tratam deles.”

Aldo Trento diz experimentar uma “dor imensa” pela história de Eluana Englaro: “É como se me dissessem: agora levaremos embo-ra seus fi lhos enfermos”.

Para o missionário, “o homem não pode se reduzir à questão química”.

“Como pode o presidente da República oferecer-me uma estrela à solidariedade no mundo? Assim que recebi a estrela, eu a levei à embaixada italiana no Paraguai”.

“Aqui o racionalismo cai, dei-xando espaço ao niilismo – comen-ta. Dizem-nos que uma mulher ainda viva já estaria praticamen-te morta. Mas então é absurdo também o cemitério e o culto à imortalidade que animam a nossa civilização.”

Fonte: Zenit

Trento. Penso no pequeno Victor, um menino em coma, que aperta os punhos; a única coisa que fazemos é dar-lhe de comer com a sonda. Diante destas situações, como posso reagir frente ao caso de Eluana?”

“Ontem me trouxeram uma menina nua, uma prostituta, em coma, deixada na porta de um hospital; ela se chama Patrícia, tem 19 anos; nós a lavamos e limpamos. E ontem ela começou a mexer os olhos”, afi rma.

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12 Shalom Maná - abril/2009

assunto do mês

RessurreiçãoHomem: Um vocacionado à

que tipo de visão você tem acerca do seu próprio fim? qual é o seu ponto de chegada? qual é a sua opinião sobre a vida da pessoa humana? será que você estaria de acordo com aquelas equivocadas correntes materialistas que proclamam a “morte de deus” e a inexistência de um destino divino para o homem? ou será que você realmente se dá conta de que há muito mais para o ser humano para além de sua vida mortal? você afirma, em cada Credo rezado, com uma plena convicção cristã, que concorda com “a ressurreição da carne e a vida eterna”?

não considera ou até mesmo discorda da capacidade de transcendência que cada um de nós tem como “se-melhança de Deus”. Sim, nós temos um coração que anseia pelo que não passa, e isto é a verdade acerca do nosso existir! “Fizeste-nos para ti, Senhor, e inquieto está o nosso coração enquanto não repousar em ti.1”

Criado por Deus, é para Ele que o homem deseja retornar: sua origem e fim último. Mesmo que esta dimensão possa aparecer como algo “refutável” aos olhos de alguns, que muitas vezes ostentam o título de “pensadores”, temos por outro lado o testemunho de muitos – santos, mártires, teólogos, a voz de nossa própria consciência, nossas próprias impressões mais profundas que nos atestam que há Deus, a força que nos vem da Bíblia, ao mesmo tempo Palavra e Teste-munha ocular de Deus e dos seus feitos, a Liturgia – que reforçam a versão verdadeira da aventura humana, colocando-a à luz da Revelação, do mistério do Amor apaixonado e “ciumento” de Deus por nós homens.

Em algumas poucas palavras, a Constituição Pas-toral Gaudium et Spes nos leva a perceber a visão que a Igreja tem sobre a vida humana e do grandioso fim ao qual ela se destina: “A Igreja crê que Cristo, morto e ressuscitado por todos, dá sempre ao homem, me-diante o seu Espírito, luz e força para corresponder à sua vocação suprema; e nem foi dado aos homens na terra um outro nome por meio do qual possam salvar-se. Crê igualmente poder encontrar em seu Senhor e Mestre a chave, o centro e o fim do homem, como também de toda a história humana.2”

Cristiano Pinheiromissionário da Com. Católica Shalom em Fortaleza/Ce

Andando na contramão das mentalidades secularizadas de nossos tempos, a Igre-ja, porta-voz do Evangelho de Cristo, continua a gritar para o coração do ho-

mem que ele é amado por Deus, que sua existência não é uma “brincadeira” à mercê das confusões do mundo e do pecado. A verdade e o bem da vida humana – e tudo o que inclui sua plena realização em um autêntico fim – possui um altíssimo valor aos olhos de Deus, e é isto o que continua motivando a Igreja a não se conformar com as muitas mentalidades enganosas que têm envenenado tantos homens e mulheres, furtando-os de alcançar e vivenciar sua verdadeira grandeza e dignidade enquanto filhos amados de Deus.

Os pensamentos ateístas dos tempos hodiernos têm sugestionado a extinção de Deus e, consequente-mente, a extinção da própria verdade sobre o homem: a verdade de sua liberdade, sua espiritualidade, sua sede de absoluto, de infinitude. Contudo, negar ao homem a sua esperança de imortalidade seria trair a própria verdade inscrita no coração de sua existência. A Palavra de Deus admite que o Eterno nos criou à sua imagem e semelhança (cf. Gn 1,27), trazemos portanto os seus traços de eternidade em nós. Somos tão repletos do “para sempre” de Deus que se torna completamente contraditório supor qualquer explica-ção da humanidade a partir de um prisma cético, que

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Os pensamentos ateístas dos tempos hodiernos têm sugestionado a extinção de Deus e, consequentemente, a extinção da própria verdade sobre o homem: a verdade de sua liberdade, sua espiritualidade, sua sede de absoluto, de infinitude.

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o coração humano, a morte é uma realidade evidente; uma morte sem perspectiva de ressurreição: morte total, destruição total. O pecado tem sugerido ao homem uma vida egoísta, baseada no princípio de um prazer utilitarista, sem vínculos com o amor e com a verdade. Alicerçados sobre a base frágil do pecado, tantos são aqueles que se perdem em um total vazio existencial, recebendo como paga a própria morte.

Escola de AmorEm Jesus, por outro lado, tam-

bém nos deparamos com uma morte a enfrentar. Entretanto, a morte, à luz do mistério de Cris-to é Salvação, é uma escola de Amor. Cristo, o Inocente, sofreu e morreu em nosso lugar para que nos fossem abertas as portas da Eternidade, aquela pela qual aspiramos, mas que não nos seria acessível sem a oferta de Jesus. Esta morte é bendita, pois é amor; e é o amor que “cobre uma multidão de pecados” (1Pd 4,8).

Somos tão repletos do “para sempre” de Deus que se torna completamente contraditório supor qualquer explicação da humanidade a partir de um prisma cético, que não considera ou até mesmo discorda da capacidade de transcendência que cada um de nós tem como “semelhança de Deus”.

Cristo é a vida do homemAlargando nossa compreensão

daquele desejo de eternidade que possuímos, nossa “vocação supre-ma”, podemos afirmar, unidos à voz da Igreja, que “Cristo é a vida do homem!” Cristo é o destino do homem! Cristo é o vértice de nossa existência, Aquele a quem tudo se remete. Distante de Cristo, o ho-mem não se realiza de verdade, não se plenifica. O Filho de Deus é a chave de leitura que a humanidade tem para interpretar e conduzir a caminhada de sua própria história. A dinâmica pascal da vida de Jesus – morte e ressurreição – é o mis-tério mais real e profundo inscrito na vida de toda e qualquer pessoa humana que, salva por Cristo na Cruz do Calvário, pode com Ele ressuscitar. É o que nos afirma, em outras palavras, a segunda carta de São Paulo a Timóteo: “Se morre-mos com ele, com ele viveremos” (2Tm 2,11). Ressuscitar com Cris-to: eis o nosso fim!

A verdade do ser humano está indicada na própria vida de Jesus Cristo que “revela plenamente o homem ao homem.3” Todas as pessoas do mundo foram salvas por

Jesus Cristo, tanto as que o sabem como as que ainda o ignoram. Além de termos sido salvos por Ele, libertos do pecado e da morte por sua Paixão e Morte, encontra-mos nele o mistério de nossa pró-pria vida, o “como” devemos viver, o “para quê” devemos viver, o “por quê” vivemos. Cristo é “o Homem” que veio dar sentido à vida de cada pessoa, revelando o fim divino ao qual todos nós somos chamados por Deus a alcançar. O Verbo veio viver entre os homens tanto para que estes possam encontrar nele o modelo, como para realizar em meio aos homens – e para os ho-mens – o caminho pascal que leva à plenitude da salvação.

Cruz e Ressurreição: caminho de Cristo e caminho do homem. A via do Filho de Deus é o per-curso de felicidade que todos os homens têm buscado, mas que não têm encontrado, pois o pro-curam equivocadamente fora de Cristo. Por mais que se fadiguem em suas buscas, não acharão vida em abundância se permanecerem distantes do Deus-Amor. No contexto hedonista, consumista e individualista que tem circundado

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Ao viver uma “morte para si”, à luz da morte de Jesus, em uma heroica vitória sobre os princípios egoístas de hoje, a pessoa humana abre espaço à realização do Amor na própria vida, tornando-se assim partícipe do mistério pascal do Ressuscitado. Amando extremamente, Jesus conheceu uma morte, mas esta não se encerrou sobre si mes-ma; transformou-se em prólogo da Ressurreição, da vida feliz e sem fim que o Evangelho garante a quem seguir o Mestre. Sim, Ele é Mestre, sobretudo Mestre daquela Carida-de que realiza a vida, abrindo ca-minhos de ressurreição e plenitude para o homem que quiser, com Ele, “morrer de amor4”. É isto que Jesus promete a quem entra na via do amor: “Sereis felizes” (cf. Jo 13,17). Ao falarmos de “morte por amor” é como se estivéssemos evidenciando o compêndio da mais pura via do Evangelho: a que ensina o amor a Deus e ao próximo – ao ponto de dar a vida pelo irmão – como as mais excelentes estradas que levam à santidade, ou seja, à felicidade.

No Cenáculo, o Ressuscitado que passou pela Cruz deu a sua Paz, o seu Espírito, aos apósto-los – à Igreja – e os enviou. Jesus Ressuscitado, transmitindo a força de sua ressurreição através de seus discípulos, destinou a todos nós a graça de uma vida nova, ressusci-tada, não mais escrava das amarras do mundo. Porque Cristo ressus-

citou não há mais razão para se aventurar em veredas de morte; o caminho da Vida já nos foi aberto, basta olharmos para Aquele que nos amou e desejarmos fazer de nossa própria vida também uma Páscoa: um lugar de amor, de mor-te para si, de ressurreição. Morrer para as “mortes de pecado” a fim de ressurgir para uma vida santa.

Nosso fim é uma vida ressus-citada: uma vida na glória, eterna. Quando nos damos conta de que este mundo passará, enche-nos de alegria e esperança saber que a vida ressuscitada é infinita, que Deus nos reserva um viver sem fim, sem dor, sem lágrimas, só Amor, tudo Amor, porque “Deus é amor” e a vida ressuscitada é a vida com Ele, “dentro” dele. Já aqui, nesta vida, podemos viver como “filhos” da ressurreição de Cristo, em uma ininterrupta dinâmica de caridade que transforma em Páscoa todas as realidades ao nosso redor. Trans-formar em Páscoa é transformar em Amor aquilo que ainda não é amor; é ser sinal da ressurreição de Cristo, ser alegria, ser evange-lização, ser paz, ser caridade no

meio do mundo, como sinal daquela vida eterna na qual cremos e na qual esperamos, fazendo des-pertar das trevas da morte os que ainda não creem.

Vida ressuscitada é, sem dúvida, a vida futura, aquela que teremos no Céu, mas é também, de algum modo, aquela que desde já se con-verte no anúncio de que

Jesus é real e é a vida do homem. A vida ressuscitada ainda neste mundo é aquela dos homens e mulheres que passam pela Páscoa com uma viva ânsia de dar de graça o amor que receberam de graça. Vida ressuscita-da é ser profecia viva que proclama de forma criativa e alegre a grande verdade do Amor de Deus.

Não é verdade que a vida do homem se encerra na morte, que seu destino é matéria, que seu fim é medíocre. Temos vocação à ple-nitude! Os homens e mulheres que vivem como ressuscitados apontam para todos o mais radical caminho de felicidade que a humanidade pode trilhar: o caminho que tende a Deus; Deus que é Realidade e Eternidade, nossa meta. Estes “ressuscitados a caminho”, cheios de fé e esperança, cantam com confiança o triunfo do Deus-Amor: “A morte foi aniquilada definitivamente. Onde está, ó morte, tua vitória?” (1Cor 15,54-55).

Notas:1. Santo Agostinho, Confissões.2. Gaudium et Spes, n. 10.3. Idem n. 22.4. Expressão usual de Santa Teresinha do Me-nino Jesus.

...podemos afirmar, unidos à voz da Igreja, que “Cristo é a vida do homem!” Cristo é o destino do homem! Cristo é o vértice de nossa existência, Aquele a quem tudo se remete. Distante de Cristo, o homem não se realiza de verdade, não se plenifica.

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papo JovEm

Rafael Arnáiz Barón nasceu em Burgos, na Espanha, em 9 de abril de 1911. Foi

o primeiro de quatro filhos de uma família profundamente católica.

Em 1930, passou férias na casa de seus tios, Leopoldo e Maria, o Duque e a Duquesa de Maqueda, em sua residência perto de Ávila. Essas férias foram marcadas por uma profunda amizade espiritual entre o sobrinho e os seus tios.

Neste mesmo ano Rafael fez o seu primeiro contato com o Mosteiro

Jovens, também fomos criados para os AltaresEliana Gomes de Limamissionária da Com. Católica Shalom em Fortaleza/Ce

Diante de mais um dia 17, fazendo memória da Pás-coa do Ronaldo,

desse irmão tão querido, que tanto nos ensinou com sua vida e mais ainda com sua Páscoa, deixando-nos aos 24 anos, em fevereiro de 1995, é impossível não lançar o nosso olhar para o Céu.

É impossível não lembrar que o Céu é nosso lugar, como também

acreditar que para o Céu existe uma Porta, sim, uma Porta do Céu – Maria.

O acidente de carro fatídico que levou o Ronaldo à morte, longe de ser para nós um momento de desespero vazio e sem eloquência, tornou-se momento de maturida-de e fecundidade espiritual. Aliás, deixou de ser momento, um ins-tante no tempo, para entrar no que chamamos de eternidade.

Tantas coisas aprendemos com sua vida e com sua Páscoa. Sim! Não foi assim também com Cristo, tornando-se dessa forma caminho

para todos aqueles que por Ele se decidem com radicalidade?

Com sua vida Ronaldo sempre nos apontava o Cordeiro de Deus. Lembro-me perfeitamente do seu sorriso, do seu caderninho de anotações, do seu olhar grande e fixo, quando queria algo de nós, ou mesmo de quando conseguia ver em nós ou em alguma situação, algo além que não havíamos percebido.

Aquele olhar de pastor, aquela voz sempre a dizer a nós, jovens: “Vamos que vai dar certo!” São lembranças, vozes e situações que permanecem para sempre em

Trapista de San Isidoro de Dueñas. Era setembro de 1930. Ele foi seduzi-do pela beleza silenciosa do mosteiro e contagiado pelas melodias da Salve Regina em Compline.

Estudava Arquitetura em Ma-dri quando, três anos mais tarde, depois de terminar seus estudos arquitetônicos, sentiu-se pro-fundamente chamado por Deus. Renunciou ao brilhante futuro que lhe era oferecido e ingressou como postulante no Mosteiro Cister-ciense de San Isidoro de Dueñas, em Palencia, no dia 15 de janeiro

Modelopara os jovens

de 1934, convencido de que esta era a sua verdadeira vocação.

Tinha uma grande humildade e um bom humor que contagiava as pessoas que estavam ao seu redor. Sua fama de santidade se estendeu rapidamente. Seus numerosos es-critos eram de uma profundidade espiritual realmente sublime, fazen-do com que até hoje sejam acolhi-dos e pedidos por toda parte.

Entrou no mosteiro levando nada consigo, exceto um coração cheio de alegria e do amor de Deus. Ali se entregou com grande genero-sidade a Deus na vida monástica, a qual amava de modo especial.

No entanto, em pouco tempo, quatro meses depois da sua en-trada no mosteiro, um implacável e violento processo de sacarina diabetes surge. Por esse motivo foi forçado a descansar em casa sucessivas vezes entre os anos de 1935 e 1937. Entretanto, logo ao

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diante de mais um dia 17, fazendo memória da páscoa do ronaldo, desse irmão tão querido, que tanto nos ensinou com sua vida e mais ainda com sua páscoa, deixando-nos aos 24 anos, em fevereiro de 1995, é impossível não lançar o nosso olhar para o Céu.

nossas mentes e corações. Olhar para sua vida é lembrar para o que fui criada, lembrar das coisas que nunca passam, lembrar da alegria de uma vida ofertada...

Porém, fico cada vez mais per-plexa diante de todo esforço que o mundo faz para extinguir ou ridicu-larizar a palavra santidade. Chegar, hoje, em uma roda de jovens e falar de santidade, parece ser coisa do passado, “história dos meus avós” ou, no mínimo, um babaca querendo tirar onda da cara do pessoal.

Santidade, porém, longe de ser extinta é uma ação constante

do Espírito no meio de nós. É algo grandioso, radical... Radi-cal, isso mesmo, diante de tantas propostas de radicalidade que o mundo nos apresenta, que desafiam e colocam em risco nossas vidas, so-mos chamados a uma radicalidade diferente. Uma radicalidade que longe de desafiar a vida ou colocá-la em risco, gera vida, abundante vida, plena vida, vida eterna.

Por isso, diante da enorme quantidade de propostas de espor-tes radicais que nos são apresenta-

das e de vídeogames que instigam aventura e perigo, convido você a experimentar um caminho novo, com muitas aventuras (garanto!), mas com total segurança e garantia de felicidade: o caminho da radi-calidade ao Evangelho, ou seja, o caminho da santidade.

Muitos percorreram e outros ain-da percorrem este caminho. E você? Está disposto a percorrê-lo?

sinal de uma pequena melhora retornava ao mosteiro

Apesar do curto espaço de tem-po de sua experiência monástica, Rafael encarna a graça cisterciense de forma notavelmente pura e in-tensa. Um mistério, já que precisa deslocar-se tantas vezes.

Tudo isso constituiu o crisol do seu caminho de fé. Sua doen-ça elevou seu espírito às alturas, levando-o a se apaixonar sempre mais por Cristo e a segui-Lo fielmente, “agarrado” a sua cruz com muito amor e carinho; cruz essa que considerava tudo no caminho para Deus. O Deus de Rafael, seu Cristo, deixa de ser seu objeto de estudo, para ser o Amigo, o Companheiro de uma experiência vivida.

A humilhação é a sua com-panheira constante até que ele chegue à verdadeira vida dos votos,

que fica do outro lado da morte. Sua existência foi arrebatada quan-do tinha somente 27 anos, no dia 26 de abril de 1938.

O Papa João Paulo II o propôs como modelo para os jovens de todo o mundo em 19 de agosto de 1989, em Santiago de Compostela, e o proclamou Beato em 27 de se-tembro de 1992. Em 7 de dezembro último, o Papa Bento XVI aprovou o milagre que levará o irmão Rafael Arnáiz aos altares. Seu único desejo era viver para amar. Desejou Deus vivo! Desejou ardentemente a Jesus, a Maria, a cruz, a Igreja e sua Co-munidade Trapista.

Biblografia:– Estudos e traduções do Beato Rafael’s escri-tos ea espiritualidade estão começando a apare-cer em Inglês. Veja a série de apresentações e traduções pela tarde Juanita Colón, OCSO, em Cistercian Studies Quarterly, 33 (1998) pp.61-79; 34 (1999) pp.29-52; 35 (2000) pp.77-91. – María Gonzalo Fernández, El Beato Herma-no Rafael: Biografía espiritual (Palencia, Abadía

OraçãoÓ Deus, que fizestes do Beato Rafael um discípulo preclaro na ciência da Cruz de Cristo, conce-dei-nos que, por seu exemplo e intercessão, vos amemos acima de todas as coisas e, seguindo o caminho da Cruz com o coração dilatado, consigamos participar da alegria pascal. Por Cristo nos-so Senhor. Amém.

Cisterciense de San Isidoro de Dueñas 1993 2).– Antonio M ª Martín Fernández-Gallardo, El deseo de Dios y la ciencia de la Cruz: Aproximación a la experiencia religiosa del Hermano Rafael (Bil-bau, Desclée 1996).

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artE E EspiritualidadE

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Cassiano Rocha Azevedomissionário da Com. Católica Shalom em Fortaleza/Ce

Grünewald represen-ta a Ressurreição de Cristo como uma explosão de

luz em meio às densas trevas. “Deus é luz e nele não há treva alguma” (1Jo 1,5b). Muita luz cega. Eis porque também Jesus escreveu em parábolas. Pouca luz vai dando o entendimento gradual do Reino.

Na Ressurreição não foi assim. Mas uma explosão da vitória do Amor sobre o ódio, pois “o Amor é mais forte que a morte e ninguém poderá destruí-lo” (Ct 8,6ss). O amor jamais passará, Ele é uma pessoa, que é a Felicidade. É o filho de Deus, é a Beleza... Como diz Dostoievski: “A Beleza salvará o mundo”. A Beleza (khalos) para os antigos equivale à Bondade, à Justiça e à Verdade. É Cristo ven-cendo a morte.

“... A Luz brilha nas trevas e as trevas não a compreenderam” ( Jo 1,4). A Luz do Ressuscitado me faz descobrir o íntimo egoísmo

que me conduz a encontrar no outro somente o que me agrada, a fotocópia de mim mesmo. A Luz faz-me deixar o Espírito Santo trazer os conflitos interiores à su-perfície, a dar nome aos sentimen-tos, identificando o ponto fraco, fortalecendo a decisão de mudar para uma vida mais coerente de seguimento a Cristo.

“O verbo era a verdadeira Luz que vindo ao mundo, ilumina todo homem” ( Jo 1,9). A graça de Deus não substitui a nossa liberdade; por isso é preciso humildade para permitir que o Espírito Santo traga à Luz, a parte menos saudável de nós, menos livre, o que me im-pede de colher a beleza do ideal,

RessurreiçãoA Vitória da Luza obra de arte que vamos contemplar desta vez é “a ressurreição” de mathis Grünewald (1480-1528), um mestre da pintura alemã, que a executou entre 1512 e 1516 com outras pinturas no altar de isenheim. o referencial bíblico é João 20, mas também todo o evangelho de João no que se refere à luz.

Um desembainha a espada, mas cai por terra como cego, outro ao fundo, se joga com a face no chão, não suportando a violência da Luz; o terceiro dá as costas ao sepulcro, procurando esconder a cabeça.

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da vocação para que eu escolha livremente o que é Justo, Bom e Verdadeiro.

E esta Luz não nos levará ao desespero pois é a Luz de quem venceu, de quem é kadosh (Santo) três vezes, numa dimensão eterna. O encontro da Shekiná (glória de Deus) com Ezequiel, o Apóstolo João e os guardas do sepulcro, os fazem tombar diante da Pu-ríssima Luz, como tombaríamos todos nós, pois só os puros verão a Deus.

Nenhum ser vivente soube a hora da vitória em que Cristo, o Cordeiro de Deus Imolado venceu a morte como o Leão de Judá. Numa extraordinária ma-nifestação luminosa, explodindo

em uma exalta-ção de Glória, des locando a laje do sepul-cro e derruban-do por terra os t r ê s g u a rd a s que procuram proteger-se do intenso clarão.

Um desem-bainha a espada, mas cai por terra como cego, outro ao fundo, se joga com a face no chão, não suportando a violência da Luz; o terceiro dá as costas ao sepulcro, procurando esconder a cabeça.

Nesta deflagração luminosa sai da tumba um nimbo intenso de luz em seu fulgor. Cristo sobe num Corpo humano glorioso ema-nando um clarão de luz formando uma grande auréola de três cores que se fundem entre si aludindo ao mistério da Trindade.

A obra de arte do mestre alemão é de tal elevada potência visionária que também Dante Alighieri havia expresso na mesma terminologia no seu III Canto do Paraíso na

Divina Comédia: “Na profunda e clara essência/ do Alto Lume, apareceram-me três círculos/ de três diversas cores e da mesma dimensão”.

Grünewald como Dante tenta aludir ao mistério da Trinda-de – que Cristo ressuscitando confirma – representando três auréolas. Elas se fundem numa e noutra e se tornam assim uma essência única na qual é contida a divindade, a “Luz Eterna”, como a define Dante e que o artista alemão exprime pintando uma extraordinária figura de Cristo ao centro do clarão luminoso.

Cristo num único evento é representado nas manifestações que deu de sua divindade, não nos milagres, mas na essência de seu SER: na Transfiguração, Ressur-reição e Ascensão. Emana luz de sua essência espiritual e esplêndida da qual Ele é origem e fonte.

Jesus emerge esplendorosa-mente na escuridão intensa da noite como Verdade que rompe e vence as trevas do mal. Toda a luz é irradiada do seu corpo. O evento é considerado como um irromper de energia sobrenatural; a mesma que estudos recentes levaram em consideração para explicar o mis-tério da impressão do corpo de Cristo no santo sudário, onde a luz saiu de seu próprio Corpo, tal qual na pintura de Grünewald.

O Espírito Santo rompe a laje do sepulcro, eleva Cristo e arrasta o sudário que envolve o seu Corpo num turbilhão em um cromatis-mo que vai do branco (pureza) ao azul (sua divindade) e depois ao vermelho (sua humanidade) que se dilui no dourado da luz (San-tidade). É o mesmo Espírito que arrasta as imundícies de nossos porões à Luz da Verdade e Cari-dade nos santificando.

Cristo num único evento é representado nas manifestações

que deu de sua divindade, não nos milagres, mas na essência de seu SER: na Transfiguração,

Ressurreição e Ascensão.

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Jesus emerge esplendorosamente na escuridão intensa da noite como Verdade que rompe e vence as trevas do mal.

obras, mas das chagas que causei no corpo de Cristo e que agora estão gloriosas. É esta experiência que me leva a evangelizar com ardor, parresia e fazer disso o meu sentido de vida.

“Eu sou a luz do mundo. Aquele que vem em meu segui-mento não andará nas trevas, ele terá a luz que conduz à vida” ( Jo 8,12). Dá-me ó Pai, a graça de saciar meu desejo de felicidade contemplando a face gloriosa de teu Filho, deixando que teu Es-pírito revele e justifi que constan-temente o meu pecado para que permanecendo na Verdade, te ame e te agrade. Amém.

Baseado no comentário de Fabio Niki

Ressuscitado, Cristo mostra as chagas gloriosas das mãos e pés atravessados pelos pregos e a do lado atravessado pela lança, a necessária paixão e morte vencidas, no entanto, pela Ressurreição.

Nenhuma força é maior que o Amor: eis o que dizem as chagas gloriosas, portadoras de Esperança para uma humanidade depressiva, sem Fé e sentido de vida. Somos convidados a enxergar as nossas dores, inseridas na Paixão de Cristo através da perspectiva da Ressur-reição, ou seja, a ver todas as coisas recapituladas, acabadas, vitoriosas.

É isto o que rosto de Cristo transmite: o Shalom; a Paz da Fé: ver tudo transfi gurado em Cristo Jesus. O seu rosto é pintado de uma maneira única: a luz é tão intensa que não se consegue en-xergar um contorno no seu rosto que é fundido na claridade. Ele é o Esplendor da Verdade.

Esta perspectiva é muito cara para a vocação Shalom em que escolhidos fomos porque somos os menores, os piores. Não só pelo que fomos no passado ou seríamos no futuro, se não fosse a graça de Deus. A minha “pioridade” se manifesta também pelo fato de deixar a sua Luz iluminar a minha impiedade, experimentando a jus-tifi cação que vem não das minhas

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EspECial

Paula Pedrosamissionária da Com. Católica Shalom em Santo amaro/SP

Fundada em 18 de dezembro de 1988, a Casa Contempla-tiva traz como mis-

são principal a ador ação a Jesus Eucarístico. Toda a nossa vida

aqui gira ao redor desse objetivo. Intercalamo-nos na adoração ao longo do dia, e diariamente às 15 horas, a hora da Misericórdia, reunimo-nos para a intercessão por todos os pedidos colocados sobre o altar do Senhor. Entregamos a Deus estes mesmos pedidos em oração, oferecendo também nossos pequenos sacrifícios cotidianos

em expiação por todos os que não creem, pela humanidade que sofre à espera do anúncio da Paz. Rezamos por todas as intenções a nós confiadas. Fazemos vigília semanal, onde Jesus é adorado ininterruptamente.

Todas as nossas ações são diante dele: Laudes, Oração pessoal, Lec-tio Divina, Oração das três, Véspe-

10 anos da Casa Contemplativa

Fornalha domeu coração...

nessa celebração dos 10 anos de fundação da Casa Contemplativa, erguemos a deus nosso louvor por ter nos escolhido para essa missão de sermos íntimos do seu coração em favor de tantos, em favor da igreja e da humanidade.

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ras, Completas, Vigília... e, assim, vamos amando Jesus e deixando que Ele nos ame... Assim vamos unindo a nossa vida a vida dele... Assim vamos sendo purificados, como ouro provados no fogo, na fornalha do amor. Mistério de união com Jesus, na pequenez dos nossos trabalhos, no varrer o chão, no lavar o banheiro, no cozinhar, no acolhimento de quem chega para retirar-se de um mundo metralhado de barulho, buscando encontrar aqui o silêncio.

Unidos a Jesus vamos vivendo o cotidiano num autêntico e vivo extraordinário amor... pois é Ele quem nos inflama, nos move, nos transforma lentamente, dia após dia, nos configurando nele mesmo.

Aqui aprendemos a viver o abandono: deixar que Deus se dê a mim sem que eu precise fazer nada, na pobreza de deixar-se amar e cuidar, como uma criança peque-nina no seio materno, ficar quieto, deixar-se contemplar por Deus, Ele me vê o tempo todo, é Ele quem me olha... Ele vê, eu não vejo, Ele sabe, eu não sei. Ele é santo, eu não sou. Ele é tudo. Eu não sou nada. Entendendo isso vemos que a contemplação não é uma aquisição de esforços nossos, mas uma graça. Contemplar a Deus é ser contem-plado por Deus... Vivemos este mistério aqui todos os dias.

Na medida em que, sem medo, nos lançamos dentro do fogo abrindo mão de nossas resistências, expondo as nossas feridas, nos abaixando e, sobretudo, amando, vamos nos tornando um com o Senhor, nos fundindo nele para incandescer o seu amor, o rosto da Paz, do carisma da Paz. Que altíssimo chamado temos nós, mis-sionários da Casa Contemplativa, é um grande privilégio!

E quantas lutas... Todos os que passaram por esta Casa, sabe que

aqui se vive uma ordem interior, é como se tudo estivesse disperso e aos poucos fosse se unindo, graça da contemplação e do combate nas lutas contra o cansaço, o sono e a dispersão... Aqui não temos mais que alcançar Deus, é Ele que nos alcança. É preciso ir além do deser-to, fazer como Moisés, ele não sabia onde era a terra prometida, Deus não deu a ele um mapa, Moisés foi crendo guiado pela nuvem, pela

coluna de fogo. Foi amando, crendo, esperando na concretude da vida, sem romantismo algum. É este amor provado e comprovado que experienciamos nesta casa que, aos poucos, vai deixando de ser um lu-gar para tornar-nos “O Lugar” para que, assim nós o manifestemos.

O reflexo da intimidade de Moi-sés com Deus, refletia em seu rosto... seu rosto brilhava de tal forma, que as pessoas nem conseguiam olhar.

Profecia fundante: “Eu esco-lhi vocês para viverem no meio do meu fogo. Eu vos escolhi para viverem no meio da fornalha do meu coração. Eu vos escolhi para vi-verem na intimidade do meu amor. O amor que queima sem consumir e que consome dando a vida.”Situada: Na diocese de Santo Amaro, na capital paulista.Data da Fundação: 18 de dezembro de 1988.Missão: Adoração ininterrupta ao Santíssimo Sacramento, em intercessão por toda Obra, pela Igreja e intenções do Santo padre, como também por todas as pes-soas que recorrem à casa contem-plativa em busca de intercessão e socorro espiritual. E, o acolhimen-to dos irmãos da Comunidade que necessitam de revigoramento espiritual, humano e vocacional. Como também, acolhemos e servimos sacerdotes e religiosos, sendo para esses instrumentos da caridade de Cristo.

Centro de Espiritualidade: A casa contemplativa é também um Centro de Espiritualidade, é ministrado cursos de formação humana através do Caminho Ordo Amoris. Local de Retiro: São muitas as pessoas que vêem de todas as partes para participarem desses encontros, neles é ministrado aconselhamentos e direciona-mentos, junto a esses cursos é também é acolhido várias expres-sões da Igreja de Santo Amaro e dioceses vizinhas, para aqui realizarem seus retiros.

Colunas da Casa Contem-plativa: Oração, intercessão e acolhimento. Mistério: Fundada sobre o fogo, o mistério da casa con-templativa é o Coração de Jesus. Seu coração aberto é a fornalha ardente da caridade, da paz, da misericórdia infinita.

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Shalom Maná - abril/200924

Cheguei em São Paulo, em 30 de março de 1999, três meses depois da fundação da casa con-templativa, vivi ainda os tempos da fundação como noviça de segundo ano.

Aqui fui sendo gerada no seio eucarístico de Jesus. Aqui fui sendo reconciliada com a minha história. Aqui me consagrei, fui crescendo na experiência do carisma e no amor esponsal, no amor a Nossa Senhora e na radi-calidade na vivência do carisma.

Aqui discerni meu estado de vida e descobri minha missão pessoal.

Na contemplação do Ressus-citado, tenho amado a Igreja e a humanidade, me sacrificando por eles, dando sentido à minha entrega.

Aqui tenho sido completa-mente feliz e realizada, aqui en-contrei meu lugar, encontrei meu lar, no lado aberto do coração de Jesus.

A cada dia tenho procurado recolher do coração eucarístico de Jesus, através da adoração, os segredos da verdadeira paz e tenho aprendido que apenas uma coisa vale a pena: conhecer e aderir à vontade de Deus!

Minha gratidão a Deus, a Leonildes, Hosmilda, Elza, An-gelúcia, Milene, Fátima Lima e todos os irmãos que passaram por essa casa e aqui deixaram suas marcas.

Obrigado Jesus, você foi e continua sendo fiel.

Joselina, filha de Deus, Sha-lom, celibatária e imensamente feliz!

O SenhOr realizOu em mim

MARAVILhAS

Joselina Batista Raiolmissionária da Com. Shalom

O rosto mostra o que está aconte-cendo dentro de nós, então, o que Moisés via acontecer fora de si, na sarça ardente, acontecia agora dentro dele. Ele deixou de ver o lugar para ser o lugar. É isso o que Deus vai realizando em nós nesta casa. É um mistério real, o qual nós fazemos experiência orando, intercedendo, acolhendo e amando.

Pela oração, pela vida silenciosa e escondida, próprias da casa con-templativa, adentramos o mistério do Corpo de Cristo, sendo assim ministros de reconciliação do ho-mem com Deus, consigo mesmo e com os outros homens.

A oração é um serviço que prestamos à Igreja e à humani-dade através da adoração a Jesus Sacramentado.

Nessa celebração dos 10 anos de fundação da Casa Contemplativa, erguemos a Deus nosso louvor por ter nos escolhido para essa missão de sermos íntimos do seu coração em favor de tantos, em favor da Igreja e da humanidade.

Agradecemos a Deus por todos os irmãos que passaram por essa casa, os irmãos da primeira hora que viveram os desafios e as graças próprias de toda fundação, os irmãos

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Por graça de Deus que em seu imenso amor me elegeu, pude experimentar do grande privilé-gio de estar em missão na Casa Contemplativa por um período de nove anos.

Ali é a casa do Fogo. O Fogo do Amor de Deus que me atingiu e me consumiu. Era assim que o Se-nhor nos fazia conhecer a missão daquela casa, era assim que víamos Deus nos formar, abrasando o nosso coração com seu ardente e apaixonado amor por cada um de nós. Um Deus apaixonado por toda a humanidade.

Era também pela humanidade que nos consumíamos. Na intensa fornalha do Amor do Senhor, lançá-vamos a vida de cada um daqueles que buscavam a nossa intercessão. Aos poucos, a casa contemplativa tornou-se apoio, local de ajuda e de oração. Um suporte espiritual para muitos.

Os pedidos de oração eram incontáveis, chegavam pela in-ternet de vários lugares do Brasil e também do exterior. As nossas vigílias, o terço da misericórdia e a adoração ao Santíssimo Sacra-mento eram nossos refúgios de clamor ao Deus vivo que nos abria o seu Coração. Quantas vezes eu pensava: será que Deus está a nos escutar? Mas grande era a surpre-sa quando nos telefonavam para agradecer a graça alcançada.

Bendigo ao Senhor Deus pelo seu Filho Jesus, que pela graça do Espírito me concedeu este presen-te porque hoje posso contemplar os frutos de uma grande obra que Deus realizou em minha vida. A Ele toda a glória e louvor. Amém!

Elza Costa Françamissionária da Com. Shalom

CaSa dO

FOGO Queridos Irmãos,Shalom! Estou escrevendo

com muita alegria, a respeito da Casa Con-templativa, o que ela realizou em meu fa-vor nesses dez anos.

Devo iniciar pela própria casa. Na pri-meira vez que aí esti-ve, fiquei impressio-nada com a virtude da vida que era vivida pelos primeiros ir-mãos. Em uma casa muito fria, muito sim-ples, necessitada de tudo, a capela ainda era muito singela. Era um dos “contrastes evangélicos” aquela casa desnuda e a vida dos irmãos preen-chida de virtude de todos os tipos.

Aos poucos, a casa foi se transfor-mando e tendo o indispensável para

uma vida digna, po-rém penitente. Logo aprendi a confiar minhas intenções pessoais e comuni-tárias “ao pessoal da contemplativa”. Deus sempre ouvia.

Em seguida, vi-eram os vários retiros de formação huma-na, todos impecáveis: a limpeza, a comida (delícia!), a pontuali-dade, a organização. Tudo perfeito: refle-xo da vida espiritual da comunidade e de todos os que se dedi-cam aos retiros.

Meu último teste-munho é sobre aqui-lo que ninguém vê na fonte, mas somen-te nos frutos. Sem a Casa Contemplativa a nossa evangeliza-ção simplesmente não existiria, não da-ria frutos, não tería-

mos sustento, pois esta casa de oração contínua é o nosso alicerce. Como toda fonte, ela surge e per-manece silenciosa até que as muitas águas se juntem em rios caudalosos que dão frutos de vida e de cura em todas as épocas do ano, como vemos em Ezequiel e no Apocalipse.

Louvo ao Senhor pelos dez anos dessa casa, pedindo a Deus que nos dê outros centros contemplati-vos em todos os con-tinentes para que, pela adoração, virtu-de, penitência, ora-ção, possamos atingir a todos os homens necessitados de Deus para melhor servir a Igreja nossa Mãe.

Com alegria por contemplar os frutos,

eSta CaSa de OraçãO COntínua é Onosso alicerce!

Maria Emmir Oquendo NogueiraCo-Fundadora da Comunidade Católica Shalom

que aqui deixaram suas marcas de amor e serviço, também aqueles irmãos que foram instrumentos de Deus para melhor mergulharmos na missão e na vontade Deus para essa casa, entre esses nosso querido pai e Fundador Moysés e nossa mãe e Co-Fundadora Emmir Nogueira, que na primeira hora nos mostrou a beleza e grandeza de vivermos em meio a esse “fogo que queima sem consumir e que consome dando a vida.”

Neste tempo, nós que somos a Casa Contemplativa – Josy, Rogério, Fernando, Alessandro, Paulinha, Fabiana, Elisângela, Malu, Daniela, Eunice, Sheila, Odaísa, Fábio, Analice, Edinilson, e Gabriel – da-mos graças a Deus pelos seus 10 anos de fundação. O nosso coração se enche de gratidão pela nossa missão de andarmos sem medo no profundo do coração dos homens, pela nossa oração e nossa oferta de vida cotidiana, instante a instante, no amor a Deus e aos irmãos.

Que todos nós, família Shalom, celebremos este grande dom que é a Casa Contemplativa!

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só Família

Ana Carla Bessamissionária da Com. Católica Shalom em Fortaleza /Ce

Até o matrimônio mais feliz está sujeito a cri-ses, que precisam ser vistas como um fenô-

meno de crescimento do amor con-jugal e não como razão para a separa-ção. Um matrimônio cujos cônjuges jamais discordam é preocupante. Será que eles são iguais em tudo ou uma personalidade está se sobrepondo à outra, que por sua vez não se revela ao outro na sua verdade? Uma passagem bíblica me faz lembrar os falsos re-lacionamentos, aqueles que precisam amadurecer, e cujo crescimento é às vezes bem doloroso: “Subirei contra um povo tranquilo e os tirarei de sua falsa paz”. E há uma passagem nos Escritos da Comunidade Shalom que, acredito, completa o ciclo que vai da falsa à autêntica paz matrimo-nial: “A verdadeira paz não vem dos homens, mas de Deus”. Dependen-do de como será vivida, cada crise, mesmo a mais penosa, pode levar ao aprofundamento do amor entre os esposos e ao fortalecimento cada vez maior do matrimônio. Vamos refletir sobre isto?

Uma escolha livreAntes de tudo, talvez seja preciso

compreendermos que o matrimônio não é “questão de sorte”, como alguns costumam dizer. Ele é fruto de uma escolha livre que cada um fez. É ver-dade que há esposos que se escolheram apressadamente e por razões pouco consistentes, mas nunca podemos esquecer que, através do Sacramento do Matrimônio, Deus nos concedeu uma graça da qual podemos lançar mão para que seja ratificada esta escolha e “aumentada” a semente da afeição que um dia tivemos um pelo outro. Esta se-mente, que nos moveu a subir ao altar, pode, pela graça de Deus, desabrochar e crescer como uma grande árvore cheia de frutos e frondosos galhos ca-pazes de fazer sombra e “abrigar toda espécie de pássaros”, como diz o Livro do Profeta Isaías.

Esta livre escolha não é uma “cruz” para se carregar pela vida como um “fardo”. A cruz do matrimônio vem de fora, do demônio e do pecado dos homens, como a cruz que Jesus um dia carregou por amor a nós. O nosso esposo ou esposa jamais é a “nossa cruz”. O demônio bem que gostaria que pensássemos assim... Mas se Je-sus tivesse pensado assim nós nunca poderíamos ser salvos. A cruz pode vir V

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ônio até o matrimônio mais feliz está sujeito a crises, que

precisam ser vistas como um fenômeno de crescimento do amor conjugal e não como razão para a separação. um matrimônio cujos cônjuges jamais discordam é preocupante. será que eles são iguais em tudo ou uma personalidade está se sobrepondo à outra, que por sua vez não se revela ao outro na sua verdade?

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do pecado do outro, mas ela não é o outro. O outro é uma bênção, um presente de Deus na minha vida; o outro é um mistério, um desafio, o instrumento que eu preciso para chegar a Deus, felicidade suprema!

Por isso, nos momentos de crise de nada adiantam as agressões, as lamentações ou revanches. Também de nada adianta culpar a famosa “incompatibilidade de gênios”, pois não existem pessoas absolutamente

iguais. Ao contrário de afastar, toda diferença pode ser ajustada, ao ponto de nos fazer funcionar como rodas dentadas de uma máquina, cuja força consiste justamente em se ajustarem nos pontos desiguais. Se alcançarmos isto, viveremos um amor vitorioso sobre nossos pecados e suas consequências, experimentare-mos concretamente no matrimônio a vitória de Cristo, e a verdadeira paz será alcançada.

A cruz do matrimônio vem de fora, do demônio e do pecado dos homens, como a cruz que Jesus um dia carregou por amor a nós. O nosso esposo ou esposa jamais é a “nossa cruz”. O demônio bem que gostaria que pensássemos assim...

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A adaptaçãoUm longo matrimônio pode

vir a atravessar muitas crises. Uma delas é a crise na adaptação física e/ou psicológica, que pode surgir no início do matrimônio e ser supera-da, entretanto pode ser camuflada por anos a fio, até que um dia ex-ploda tragicamente. Cada um dos esposos traz para o matrimônio modelos às vezes muito fortes das relações entre os pais, de sonhos que por muito tempo alimentaram sua imaginação, mas que não cor-respondem à realidade. Pretender adaptar o outro a seus modelos ou ressentir-se com ele por isto é grande prova de imaturidade, e razão suficiente para orar sobre si mesmo ministrando a Palavra de Deus que diz: “Eis, desta vez, o osso dos meus ossos e a carne da minha carne!... Por isso o homem deixa seu pai e sua mãe para ligar-se à sua mulher, e se tornam uma só carne” (Gn 2,23.24).

As crises financeiras, pelas quais passam os cônjuges, podem afetar seriamente a relação conjugal, se

estes não buscarem em Deus a graça para resistir às suas conse-quências, e conservar a unidade. Neste momento, podem surgir acusações mútuas, sentimentos de inferioridade ou superioridade, e a falta do dinheiro pode se tornar o “bode expiatório” de ressentimentos antigos ou da preguiça de dialogar.

Às vezes pensamos que a in-fidelidade começa quando um dos parceiros se entrega a uma “paixão”, mas ela pode começar bem antes, no coração, quando começamos a nos fechar em nós mesmos, analisando os erros um do outro e desnudando-o diante de terceiros. De nada adianta tal atitude que, além de “envenenar” o relacionamento, pode nos colocar na mão de falsos conselheiros, que infelizmente se alimentam e até se alegram em aumentar a divisão entre os dois.

É claro que existem também aqueles que têm boa vontade em ajudar, mas não conseguem ver que neste tipo de confidências apenas um dos dois teve o direito de fa-

lar e na maioria das vezes trará somente suas “razões”, pois não consegue ver as do outro. Ocorre-me um trecho do Evangelho que nesse momento se encaixa com perfeição para prevenir os arra-nhões diários que podem minar o amor dos esposos: “Por que reparas o cisco que há no olho do irmão, e não vês a trave que está no teu?” (Mt 7,1-5).

Outra crise bem séria é a do envelhecimento das relações, a famosa “perda da novidade”, que pode acabar em infidelidade. Es-quecidos de que todo ser humano será sempre um mistério e uma novidade, um ou ambos podem projetar seu próprio tédio interior no rosto do outro, e achar que vão reencontrar a alegria numa outra companhia. Não raro, depois de algum tempo o cônjuge que bus-cou uma nova aventura acabará se encontrando com seu próprio cansaço, e queira Deus que ainda haja como retornar, pois já terá envolvido muitos outros na sua decisão precipitada.

As crises financeiras, pelas quais passam os cônjuges, podem afetar seriamente a relação conjugal, se estes não buscarem em Deus a graça para resistir às suas consequências, e conservar a unidade.

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Permanecer fielO que leva um casal, que foi

capaz de enfrentar tantos desafios juntos, a desistir num momento que deveria ser o mais feliz e tranquilo de sua relação? Este, que seria o período da colheita, o tempo mais rico e precioso da vida conjugal, transforma-se tantas vezes em motivo de descaso ou implicâncias mútuas. O medo do envelheci-mento, da morte corporal também pode gerar a falsa ilusão de que uma companhia mais jovem pode lhe trazer de volta os anos “perdidos” ou retardar um tempo tão precioso que é a terceira idade. Gostaria de colocar aqui o pensamento de uma mulher que viveu bem todas as fa-ses da sua vida e certamente estava cheia de Deus quando o externou: “Acho que as diversas etapas de nossa vida temos que vivê-las ale-gremente na graça do Senhor. A velhice bem vivida é uma fonte de paz, já que temos passado a época de maiores trabalhos, restando-nos aguardar a vinda do Senhor para gozá-lo eternamente”.

Contudo, o trágico disso é que, seja qual for o motivo da crise, tem ficado cada vez mais frequente a ideia de que o divórcio é a única solução para o problema, de modo que cada um possa “ir para o seu lado” como quem desfaz um acor-do de negócios.

É claro que quando a violência física, psicológica ou moral torna

um dos cônjuges um perigo para a saúde do outro e dos filhos, a separação pode ser o único meio de preservá-los, mas nunca po-demos esquecer que ela é incapaz de gerar a quebra do vínculo ma-trimonial, pois o divórcio civil de nada adianta no plano religioso. Espiritualmente, ainda somos responsáveis um pelo outro até o dia da sua morte. E mesmo que o outro já não esteja disposto a uma reconciliação, será sempre digno do nosso perdão, do nosso respeito, das nossas orações, porque Jesus mereceu isto por ele na Cruz.

Por isso, ao invés de desistir no meio da luta, vale a pena perseverar até o fim, ou, se por acaso ocorreu a separação, orar e esperar com paciência, pois ainda pode ser que um dia Deus nos conceda a graça de “casar pela segunda vez” com a mesma pessoa, o que será um gesto humano extraordinário. Este se-gundo casamento, obviamente não consiste nem requer repetição do rito matrimonial, nem o relacionamento do casal será repetitivo, porque um homem e uma mulher renovados estão ali, ainda mais lúcidos do que antes, dispostos a retomar sua uni-dade. Mas seu “novo casamento” se beneficiará da experiência adquirida antes para que o amor seja retomado onde houve a ruptura.

O Evangelho de São João narra que Jesus ressuscitado apareceu

aos seus discípulos reunidos e pro-clamou: “A paz esteja convosco”. Vitorioso, cheio de poder, Cristo é a nossa paz, o Shalom do Pai, que vem estabelecer entre nós a paz verdadeira, não baseada em nos-sos desejos egoístas, nem em uma justiça meramente humana, nem na ausência de diferenças, porque esta paz seria uma ilusão. Por isso precisamos deixar que Ele pacifi-que a nossa confusão interior, a luta das nossas paixões, nosso egoísmo, e transforme nosso orgulho e vai-dade em mansidão e humildade. O sacramento do Matrimônio traz consigo o remédio certo para este amor que deve crescer sempre: A oração e a Eucaristia, que trazem o Cristo vivo para dentro de nós, renovando estas graças e as multi-plicando dia após dia. Que Jesus, nossa paz, renove ainda hoje em sua casa o amor familiar onde este necessitar ser renovado!

Bibliografia consultada:Philippe, Marie-Dominique. No coração do Amor. São Paulo: Paulinas, 1997.Regras de Vida da Comunidade Católica Shalom.

O que leva um casal, que foi capaz de enfrentar tantos desafios juntos, a desistir num momento que deveria ser o mais feliz e tranqüilo de sua relação?

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a voz da iGrEJa

exemploA eficácia do

“o testemunho de uma vida verdadeiramente cristã, entregue às mãos de deus, é o primeiro meio de evangelização. será, pois, pelo seu comportamento, pela sua vida, que a igreja há de, antes de mais nada, evangelizar este mundo.”

A Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, sobre a “Evangeliza-ção” do Mundo Con-

temporâneo, se inclui entre os mais importantes documentos do Papa Paulo VI, datado de 8 de dezembro de 1975.

Em seu número 41, ele trata da necessidade do exemplo como um válido e indispensável instrumento na difusão da Fé em nossa época.

Há uma real exigência de autenticidade, parti-cularmente no tempo de hoje. Diz o Santo Padre: “O testemunho de uma vida verdadeiramente cristã, entregue às mãos de Deus, é o primeiro meio de evangelização. Será, pois, pelo seu comportamento, pela sua vida, que a Igreja há de, antes de mais nada, evangelizar este mundo”. E no nº 76 volta a insistir como “condição essencial para eficácia profunda da pregação”, uma vida que reflita uma crença. Ouve-se repetir com frequência, hoje em dia, que esse nosso século tem sede de autenticidade.

Esse ensinamento me vem à mente quando vejo lares, apresentados como modelares, que se desfazem; padres que realmente viviam um sacerdócio símbolo de consagração total, abandonarem-no. Em outras pa-lavras, o escândalo vindo de onde não se esperava.

Na verdade, a Igreja é santa e pecadora. O que possui de bom tem origem no Cristo, seu Fundador. As falhas, as deficiências, a desordem moral em seu interior, provêm de sua condição também humana.

Essas sombras não devem causar admiração. Elas tiveram início ainda presente o Mestre e serão

Ouve-se repetir com frequência, hoje em dia,

que esse nosso século tem sede de

autenticidade.

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Em uma sociedade permissiva vai às raias do heroísmo uma tomada de posição conforme a moral cristã.

Cardeal Dom Eugenio Salesarcebispo emérito da arquidiocese do rio de Janeiro/rJ

companheiras inseparáveis de nossa fragilidade, até o final dos tempos. Quando surgem no clero são, por isso, mais graves. Ao se manifestarem nos leigos, seu efeito demolidor pode ser aquilatado pela posição de evidência que eles gozavam como membros da comunidade cristã.

A Sagrada Escritura nos fala dos cedros do Líbano que desabam. Destroem muito mais, em derredor, com a sua queda; pois eram considerados mais fortes.

A reação humana contra essas fraquezas é justa, pois jamais falta a graça de Deus nas dificuldades. Assim, cada um responde pelo mal que provoca, pois abusou da liberdade que possuía. A satisfação pessoal pesou mais no prato da balança que os sofrimentos provocados em parentes, amigos, no corpo vivo do Senhor.

Injusto, entretanto, é atribuir esses desastres à própria Instituição ou duvidar da sinceridade dos que lutam por seguir o Redentor.

Somente os fracos se alegram com a derrota de outrem, vendo nisso uma oportunidade para justificar as próprias falhas. A verdade é que eles carecem de coragem para apresentar-se conforme as exigências do Evangelho, e tentam justificar-se com um lamentável fracasso. Aproveitam esses casos dolorosos para lançar o descrédito na multidão que permanece firme e fiel. Eles também jogam sua pedra, em forma de inter-pretações malévolas sobre a sinceridade de atitudes anteriores desses nossos irmãos que malograram. Por uma falta atual, não temos o direito de duvidar de sua integridade e retidão no serviço de Deus até o abandonarem, desfazendo compromissos assumidos com a Igreja.

Em uma sociedade permissiva vai às raias do heroísmo uma tomada de posição conforme a moral cristã. Um convite que se recusa, uma visita que se nega, um gesto que se mede para não ser por outros interpretado como aceitação do mal. Tudo isto, exige uma têmpera que hoje escasseia. Por isso se pode perguntar a muitos que se proclamam católicos, se realmente fizeram verdadeira opção por sua Fé. Ela, se autêntica, repercute na própria vida e também no relacionamento social.

Somente uma firmeza, erroneamente confundida com dureza, nos faz evitar atitudes antievangélicas, motivadas por razões humanas.

Viver o Evangelho não é fácil. Daí o perigo de um falso entusiasmo pelo Salvador sem igual correspon-dência de sentimentos por esta Igreja concreta, única, onde subsiste um Cristo real e salvífico. Ela possui diretrizes e normas que deverão ser incorporadas à nossa vida. Não nos esqueçamos que a felicidade que o Senhor nos veio trazer é fundamentalmente diversa da qual uma sociedade paganizada nos propõe. Os princípios expostos no Sermão da Montanha con-tradizem o que ouvimos no dia-a-dia.

Hoje uma opção se impõe para que possa ser utilizado o nome de cristão, com dignidade. Esse testemunho de autenticidade é importante fator de eficácia em uma ação evangelizadora no mundo contemporâneo.

A força da evangelização virá a encontrar-se muito diminuída se aqueles que anunciam o Evangelho esti-verem divididos entre si, por toda a espécie de ruptu-ras. Não residirá nisso uma das grandes adversidades da evangelização nos dias de hoje? Na realidade, se o Evangelho que nós apregoamos se apresenta vulnera-do por querelas doutrinais, polarizações ideológicas, ou condenações recíprocas entre cristãos, ao capricho das suas maneiras de ver diferentes acerca de Cristo, da Igreja e mesmo por causa das suas concepções di-versas da sociedade e das instituições humanas, como não haveriam aqueles a quem a nossa pregação se dirige vir a encontrar-se perturbados, desorientados, se não escandalizados?

O testamento espiritual do Senhor diz-nos que a unidade entre os fiéis que o seguem não somente é a prova de que nós somos seus, mas também a prova de que ele foi enviado pelo Pai, critério de credibilidade dos mesmos cristãos e do próprio Cristo.

Como evangelizadores, nós devemos apresentar aos fiéis de Cristo não já a imagem de homens di-vididos e separados por litígios que nada edificam, mas sim a imagem de pessoas amadurecidas na fé, capazes de se encontrar para além de tensões que se verifiquem, graças à procura comum, sincera e desin-teressada da verdade. Sim, a sorte da evangelização anda, sem dúvida, ligada ao testemunho de unidade dado pela Igreja.

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orando Com a palavra

Conhecia-tesó de ouvidos, mas agoraviram-te meus olhos!você já deve ter ouvido alguém dizer: “Fulana tem uma paciência de Jó.” acredito, porém que você nunca tenha ouvido a frase: “Fulano teve uma experiência como a de Jó. ” você gostaria de tê-la?

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José Ricardo Ferreira Bezerramissionário da Com. Católica Shalom em Fortaleza/Ce

O objetivo desta se-ção é levá-lo a ler, meditar e orar com a Palavra de Deus

através do antigo e comprovado método da Lectio Divina que conforme o Catecismo da Igreja consiste em quatro passos: leitura, meditação, oração e contempla-ção. Para os leitores novos ou os que tiverem dúvida consultem os outros números ou escrevam-nos ([email protected]).

Inicie pedindo o auxílio do Es-pírito Santo, de forma espontânea ou com esta conhecida oração: “Ó vinde Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis, acendei neles o fogo do vosso amor. Enviai, Senhor, o vosso Espírito, e tudo será criado e renovareis a face da terra”. Oremos: “Ó Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos sempre de sua consolação. Por Cristo, Senhor nosso. Amém”.

Você já deve ter ouvido alguém dizer: “Fulana tem uma paciência de Jó.” Acredito, porém que você nunca tenha ouvido a frase: “Fula-no teve uma experiência como a de Jó.” Você gostaria de tê-la?

Vamos conhecer um pouco da figura bíblica de Jó. Tome sua Bíblia e leia o trecho do Livro de Jó 42,1-6, seguindo os passos da Lectio. Leia estes poucos versícu-los pelo menos três vezes. Se você nunca teve a curiosidade de ler o livro inteiro de Jó, leia então pelo menos os capítulos 1 e 2 e o se-guinte resumo: Jó era um homem rico e temente a Deus que afligido por Satanás, perde tudo: riquezas,

filhos e até a saúde. Do capítulo 3 ao 37 o livro narra os argumentos dos amigos e as respostas de Jó em relação aos seus sofrimentos e provações. Nos capítulos 38 a 41 encontram-se os “discursos do Senhor”. E o último capítulo, o 42, mostra o desfecho do livro. O tre-cho proposto de hoje é justamente a rendição de Jó diante de Deus.

Veja o versículo 2 que diz: “Re-conheço que tudo podes e que nenhum dos teus desígnios fica frustrado.” Muitos ateus se perguntam: Se Deus pode tudo, então por que o mal e o sofrimento no mundo? Mas os males e sofrimentos desta vida não são razões para negarmos a exis tência de um Deus-A m o r . H á séculos, San-to Agostinho meditava: “Eu me perguntava de onde vem o mal e não en-contrava saída”. Sua própria busca sofrida só foi acalmada quando se converteu ao Deus vivo. Ele descobriu que “o mistério da iniquidade” (2Ts 2,7) só se explica à luz do “mistério da piedade”. A revelação do amor divino em Cristo manifestou ao mesmo tempo a extensão do mal e a superabundância da graça. “A questão da origem do mal só é entendida fixando o olhar de nossa fé naquele que, e só Ele, é o Ven-cedor do mal. Pois o Deus Todo-Poderoso, por ser soberanamente bom, nunca deixaria qualquer mal existir em suas obras se não fosse bastante poderoso e bom para fazer resultar o bem do próprio mal”, conclui Santo Agostinho.

Voltemos ao versículo: “Re-conheço que tudo podes...” Ele é o Senhor e quem somos nós, meras

criaturas, para querermos ensinar a Deus. Muitos, porém o negam ou não aceitam submeter-se a Ele e aos seus desígnios. E você, reconhece o poder de Deus? Inicie agora uma oração de aceitação e submissão à Vontade de Deus: “Senhor, eis-me aqui, na minha fraqueza e pequenez, diante de tua onipotência. Reconheço que és o Deus poderoso e que tudo está submisso a ti. Ajuda-me a aceitar as dificuldades, doenças e provações desta vida... Dá-me coragem para mudar tudo o que está errado...” Vá orando conforme o Espírito lhe mover.

Vejamos o versículo de Jó 42,3: “Sou aquele que denegriu teus de-sígnios, com palavras sem sentido.” No versículo de Jó 38,1, Deus já o havia questionado: “Quem é esse que obscurece meus desígnios com palavras sem sentido?” Aqui, Jó fi-nalmente reconhece que denegriu, obscureceu os desígnios de Deus. Pelo dicionário, denegrir também significa desacreditar, desabonar, infamar... É forte, não é? Você já tinha pensado nisto? Nossas palavras podem denegrir ou obs-curecer os desígnios de Deus! Veja esta outra passagem no Evangelho de Lucas: “Os fariseus e os legistas, porém, não querendo ser batizados por ele ( João), aniquilaram para si próprios o desígnio de Deus” (Lc 7,30). Ao se reconhecer pecador, Jó alcança o perdão de Deus.

Muitos ateus se perguntam: Se Deus pode tudo, então porque o mal e o sofrimento no mundo? Mas os males e sofrimentos desta vida não são razões para negarmos a existência de um Deus-Amor.

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Shalom Maná - abril/200934

Aqueles fariseus e legistas citados no Evangelho, porém, permane-ceram irredutíveis e frustraram os desígnios de Deus para eles. Qual é a sua opção? Qual é a sua atitude perante os desígnios de amor do Senhor para você? Responda a Ele em oração: “Obrigado Senhor, pelos teus desígnios de amor para mim. Faze-me entendê-los para que eu, ajudado pela tua graça, possa segui-los. Perdoa as vezes que pronunciei palavras contra ti e teus desígnios...”

Ao tomar consciência da gran-deza e majestade de Deus que o ultrapassava, Jó manifestou a profunda experiência de Deus que ele teve, relatada nos versículos 3b e 5: “Falei de coisas que não entendia e de maravilhas que me ultrapassam. Conhecia-te só de ouvido, mas agora viram-te meus olhos...” Jó não deve ter tido uma visão física de Deus, uma vez que ninguém jamais viu a Deus (cf. João 1,18; 1Jo 4,12). Mas com certeza Jó teve uma experiência que as palavras não conseguiram exprimi-la. Somente com esforço podemos imaginar as “maravilhas” que Deus lhe re-

velou. Também o apóstolo Paulo descreve assim a sua experiência: “Conheço um homem em Cristo, que há catorze anos foi arrebatado ao terceiro céu. Se estava em seu corpo, não sei; se fora do corpo, não sei; Deus o sabe. Sei apenas que esse homem - se no corpo ou fora do corpo não sei; Deus o sabe! - foi arrebatado até o paraíso e ouviu palavras inefáveis, que não são permitidas ao homem repetir” (2Cor 12,2-4). O mesmo apóstolo Paulo vai também dizer: “Penso, com efeito, que os sofrimentos do tempo presente não tem proporção com a glória que deverá revelar-se em nós” (Rm 8,18). As experiências de Deus deram a Jó e a São Paulo um entendimento superior das realidades terrestres em função das realidades celestes.

Você acha que estas experiên-cias foram apenas para Jó, Paulo e tantos outros santos e santas? Elas não são medidas de santidade e Deus as concede a quem Ele quer. Se você quer conhecer a Deus não só pelo que os outros falam, ou seja, só pelo ouvido, suplique ao Espíri-to Santo esta graça. Ouse pedi-la, não para se orgulhar, mas para que

a glória de Deus se manifeste em sua vida! Se você faz parte de um grupo de oração ou Comunidade, peça aos seus irmãos que orem por você, na sua próxima reunião.

Ainda temos o versículo 6: “... por isso, retrato-me e faço penitência no pó e na cinza”. A experiência de Deus levou Jó a ter consciência de ser pecador e necessitado de fazer penitência. Grandes místicos da Igreja mostraram que a ascese é caminho de purificação e de encontro com Deus. Pergunte ao Senhor que tipo de penitência Ele o chama a fazer e tome a resolução de cumpri-la.

Permaneça mais um tempo usufruindo e contemplando a grandiosa sabedoria de um Deus tão grande e tão perto!

Por fim tome o seu caderno e escreva o resumo desta Lectio, as graças recebidas e seus compro-missos de conversão que o Senhor lhe inspirou hoje.

Que Maria santíssima inter-ceda pela fidelidade ao seu estudo bíblico.

Até o próximo mês.Shalom!

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36 Shalom Maná - abril/2009

Palavra forte, incisiva, que inspira decisão.Tema que sugere morte, a vida e a partir de então.Mas do que um simples vocábulo, é um movimento do coração, que acompanhando as curvas da vida, impulsiona-me a aderir concretamente a salvação.

Intercalado de sussurros, suores,medos, lutas,e nãos...Ressurge a afi rmação como umaforça do alto a me dar coragem e direção.

Sim, quando sorrio e quando choro,Sim, quando o corpo cansa e teimaa ponto de me perturbar a razão.

Sim, quando nada consigo enxergar;Sim, quando me faltam apoio a me sustentar,Sim, quando o futuro me parece obscuroou senão distante.Sim, quando tudo ao redor me apavora,dando-me vontade de voltar.

Mas, o sim por ele mesmo é vão,É letra morta, se lhe falta a direção.Necessita do “porquê”, do sentido, da razãoPara mobilizar a mente e o coração.

E nesse movimento de idas e vindas,subida e descida;Contínuo caminhar, encontro-mepequena, fraca, porém Apta a aceitar a optar por Deus,o único que pode me bastar.

Tereza Brito

SimpoEsia

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O amor de

através da oração

Heloisa Helena de Alencar Araripe Furtadomissionária da Com. Católica Shalom em Fortaleza/Ce

Em 1982, fazendo parte do grupo de jo-vens da Arquidiocese de Fortaleza, tive uma experiência da amorosa presença de Deus através de uma pregação sobre

Oração, que mudou a minha vida. Costuma-se dizer que não se aprende a orar com pregações, e é verdade. Esta pregação não tinha nenhuma intenção de me ensinar a orar, porém o que aconteceu foi que através dela este presente, este tesouro, foi maravilhosamente desembrulhado diante dos meus olhos, ou melhor, diante do meu coração.

“Assim como o corpo precisa de alimento para viver, nossa alma precisa da oração...” Estas palavras simples, mas ungidas, ditas pelo Moysés, penetra-ram em meu coração como uma fl echa em chamas! Fui invadida por um desejo de Deus e uma incrível disposição de buscá-lo. No momento, meu coração bateu aceleradamente, e senti também no meu corpo, mesmo não entendendo o que estava se passando, uma ação do Espírito. Algo do céu veio ao meu encontro do nada! A partir daí minha vida foi se transforman-do. No dia seguinte, procurei a capela mais próxima da minha casa, que era a do Shalom, e investi, sem saber muito como fazer, os últimos 15 dias de férias da faculdade, na busca deste tesouro.

Tratei de alimentar minha alma e descobri a Vida! A presença de Deus me invadia amorosamente, me atraía. Ficava horas na capela sem perceber o tempo passar. O que eu fazia? Nada! Eu não sabia fazer nada! Somente uma certeza: Ele, Deus, estava ali e falava comigo! Eu ainda não tinha feito o Seminário de Vida no Espírito Santo, nem tinha bem o conhecimento do que era isto, todavia, com certeza, ali se deu a renovação do meu batismo e foi o próprio Deus quem me impôs as mãos, aliás, me abraçou! Sentia-me muito amada, em paz, com alegria, com desejo de amar e até escolhida. Eu fazia perguntas, Deus me respondia e a gente conversava; às vezes sem dizer uma palavra! Uma graça! Nesses primeiros dias de diálogo com o Senhor, Ele logo foi me dizendo através da Palavra que minha vida per-tencia a Ele. Não perdeu tempo! Foi pedindo tudo no primeiro encontro e esperou amorosa e pacientemente a minha resposta. Por minha vez, eu precisei de inú-meros encontros para dar o meu sim. Desde este dia não deixei de ter essa conversa de amigo com Ele.

São nesses encontros com Aquele que é e, através deles, que livremente vou dando o meu sim. Neles sou transformada, amada. Encontro a vida e o sentido, força e capacidade para amar. Percebi que orar e amar não se separam, é uma só coisa. Oro por amor, oro porque amo, oro para amar e se amo é porque oro!

A Deus e a este ungido pregador, canal do Seu amor na minha vida, eterna gratidão!

“assim como o corpo precisa de alimento para viver, nossa alma precisa da oração...” Estas palavras simples, mas ungidas, ditas pelo moysés, penetraram em meu coração como uma fl echa em chamas!

tEstEmunHo

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EntrEvistaPor Andréa Grippmissionária da Com. Católica Shalom no rio de Janeiro/rJ

tem que estar nas mãos e no“a BíBlia

católico”coração de todo

a “pastoral Bíblica” é um dos temas que têm sido estudados pela igreja no Brasil. a questão se faz ainda mais presente em 2009 quando celebramos no país o ano Catequético nacional, cuja aberturaofi cial acontece no segundo domingo da páscoa (19 de abril) e o encerramento, no domingo de Cristo rei.a palavra de deus é um elemento essencial. Como formar discípulos missionários sem que esses conheçam o seu mestre? E como conhecero mestre se não pela palavra de deus?para falar sobre a “pastoral Bíblica”, entrevistamos o padre Joel portella amado, membro da Coordenação de pastoral da arquidiocese do rio e professor de teologia pastoral napuC- rio. Ele foi um dos pregadores do 18º Curso anual para Bispos, promovido pela arquidiocese de são sebastião do rio de Janeiro, de 2 a 6 de fevereiro,cujo tema foi “a palavra de deus navida e na missão da igreja”.

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Shalom Maná – Como a Palavra de Deus deve ser utilizada no trabalho pastoral?

Padre Joel Portella Amado – Podemos dizer que nós estamos entrando no terceiro momento pastoral no uso da Bíblia. Porque a Igreja sempre usou a Bíblia em sua ação pastoral, mas o desafi o de fa-zer a Palavra chegar às pessoas, aos povos e às culturas sempre existiu. Um pouco antes da realização do Concílio Vaticano II, já se procu-rava vencer aquela concepção de que Bíblia é coisa de protestante e que o católico estudava somente a “História Sagrada”. Com o Concí-lio nasceu um tipo de Pastoral que é a seguinte: os católicos pratican-tes, que atuam em pastorais, nos movimentos, esses devem utilizar a Bíblia. Hoje, qual é o terceiro mo-mento? O entendimento de que a Bíblia tem que estar nas mãos e no coração de todo católico, inde-pendentemente se ele participa do movimento ou da pastoral A, B ou

C. Essa seria a grande novidade que já vem aparecendo

desde o fi nal do sécu-lo passado, mas que agora, a Conferên-cia de Aparecida, e depois o Síno-

do dos Bis-pos sobre a Palavra de Deus, cha-maram de

“Iluminação Bíblica de toda

a Pastoral”. Esta seria a grande di-

ferença.

Pe. Joel Portella Amado

Para que isso se concretize é preciso uma formação específi ca aos leigos?

O conceito de formação é um conceito amplo e que envolve pelo menos duas coisas: conteúdo e método. Para ter conteúdo você tem que conhecer a Bíblia, tem que entender a Bíblia, porque ela tem difi culdades próprias dela. O texto sagrado foi escrito em um tempo diferente, em uma língua diferente, em uma cultura diferente. E isso precisa ser conhecido. A segunda coisa é método, mesmo. Como é que a gente pode usar a Bíblia para que ela seja aquilo a que ela se destina: iluminação da vida? Já os documentos eclesiais, também do século passado, como a Ecclesia in América e a Conferência de Aparecida falam da Lectio Divina, que é a Leitura Orante da Bíblia. É um método que pode ser feito em comunidade ou individualmente, em qualquer tempo ou lugar. Eu diria que aí está todo o segredo da Pastoral da Igreja.

Com o crescimento dessa refl exão acerca da Palavra de Deus, o se-nhor percebe que o católico tem utilizado mais a Bíblia?

Hoje, percebe-se, sim, um cres-cimento maior do uso da Bíblia na Igreja, nos diversos grupos, pasto-rais, movimentos e comunidades de vida, tenham eles os nomes que tiverem. A CNBB pro-duziu no iní-cio do ano

A meu ver, o primeiro grande desafi o é deixar a Palavra de Deus ser de Deus. Muitas vezes nos projetamos para dentro da Bíblia, querendo que ela nos diga o que queremos que ela nos diga.

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2000 um estudo, de número 86, que afirma isso. Se alguns católicos ainda têm medo de usar a Bíblia, é porque ainda não a conhecem. Mas eu diria que o problema, hoje, não é não usar a Bíblia, mas como usá-la corretamente.

E como usá-la de forma correta, como fazer a interpretação dos textos bíblicos?

Ao meu ver, o primeiro grande desafio é deixar a Palavra de Deus ser de Deus. Muitas vezes nos projetamos para dentro da Bíblia, querendo que ela nos diga o que queremos que ela nos diga. E eu penso que esta é a grande tendência hoje: eu tenho uma pré-concepção e vou buscá-la na Bíblia. Eu quero resolver algum problema e sei que a Bíblia fala lá, em algum ponto que, se você pedir, Deus dá. Então eu vou naquele ponto. Isso é não deixar que a Palavra de Deus seja efetiva-mente de Deus. A grande atitude que qualquer método interpretativo da Bíblia precisa despertar no fiel é uma atitude de escuta orante da Bíblia: o que de fato Deus me quer dizer em meio a tudo isso?

Esse assunto foi discutido no Sínodo sobre a Palavra, não é mesmo?

Sim. E na homilia final do Sínodo, o Papa Bento XVI fez al-gumas observações muito bonitas. Ele disse que a Bíblia não pode ser um livro de história passada. Mas, também, não pode ser um livro tão presente que ignore as experiências passadas, que estão narradas lá. E isso só se resolve eclesialmente, ou seja, lendo a Bíblia em grupo, len-do a Bíblia em comunidade, para vencer estes diversos vícios que aí estão. E que vícios são esses? São os fundamentalismos, os fanatismos, os magicismos, enfim, vícios para ler Bíblia é o que não faltam.

O senhor percebe que em nossas comunidades eclesiais e pastorais há mais dificuldade no entendi-mento do Antigo Testamento do que do Novo Testamento?

O Antigo Testamento tem algumas dificuldades porque ele reflete cultura, idiomas, e, prin-cipalmente, uma mentalidade diferente. A Dei Verbum diz: há uma continuidade entre o Anti-go e o Novo Testamento, mas há uma descontinuidade também. O Antigo Testamento trabalha muito com a Lei do Talião: o

“toma-lá-dá-cá”; “Olho por olho e dente por dente”. Se eu sou bom, se eu pratico o bem, como é que eu vou sofrer se eu não faço sofrer? E essa é a grande pergun-ta, por exemplo, no livro do Jó. E Jesus dá um salto qualitativo, mostrando que a questão não é o Talião, mas é o amor. Então eu diria que, quando se trabalha o Antigo Testamento considerando Jesus e a ótica do amor, ele toma outro sentido. Ao meu ver, um dos textos mais elucidativos é o de “Atos dos Apóstolos”, capítulo 8, quando Felipe encontra o eunuco. E ele fala das Escrituras, fala do profeta Isaías. Ele aplica o Novo Testamento ao Antigo. Então, neste sentido o Antigo Testa-mento adquire força. O problema, hoje, é o Antigo Testamento ser lido sozinho, como se ele valesse por si, sem apontar para o Novo. Ou seja: se lermos o Antigo Tes-tamento sem a perspectiva do Novo Testamento, poderemos, tranquilamente, por exemplo, fundamentar guerras, vinganças, e um monte de outras coisas, que não dizem respeito à lei do amor, do perdão e da reconciliação, que nos foi transmitida por Jesus Cris-to, que é, na verdade, quem traz a plenitude da Revelação.

A Bíblia não pode ser um livro de história passada. Mas, também, não pode ser um livro tão presente que ignore as experiências passadas, que estão narradas lá.

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Saiba mais

Este livro traz uma visão da Comunidade quanto à vivncia de cada estado de vida, uma análise de um Escrito do fundador sobre este assunto e uma refl e-xão sobre o discernimen-to da forma de vida.Seu objetivo é ajudar tanto os que estão em processo de discernimento de sua for-ma de vida como a vivência dos que já o efetivaram.

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EspECial

Tânia Maria Santos

A Escola de Líderes Shalom é um retiro promovido pela Es-cola de Formação

Shalom, que há 21 anos realiza sua missão de formar liderança, através do aprofundamento da experiên-cia pessoal com Jesus Cristo no conhecimento de sua Palavra e da sua Doutrina.

Seu objetivo é servir como meio de renovação e aprofundamento da experiência de Deus para aqueles que já exercem algum tipo de liderança, ou que a isto sintam-se chamados.

Esse retiro é composto com ma-nhãs de espiritualidade, com Euca-ristia diária, motivações e desertos de oração, silêncio, e adoração; como também, tardes de formação cristã e noites de fraternidade.

As motivações da manhã são de reflexões do tema principal da Escola de Líderes,que cada ano vivenciamos uma experiência irrepetível, tendo como base o Ma-gistério da Igreja e a experiência da Comunidade Católica Shalom no âmbito da formação.

No período da tarde são mi-nistrados os cursos doutrinários

com base na Palavra de Deus e na Doutrina Católica, em vista de estarmos melhor preparados para responder a mentalidade hedionda do mundo, pois o nosso objetivo não é passar conteúdos, mas levar a uma profunda experiência de Deus através da Sua Palavra e da Sua Doutrina, que transforma e dá sentido a nossa vida.

O público-alvo da Escola de Líderes são pessoas que já possuem “uma certa” caminhada na expe-riência pessoal com Jesus Cristo. Isto se deve à natureza do retiro que na verdade tem por objetivo levar os lideres as pessoas a um aprofundamento e crescimento no seguimento a Jesus Cristo.

No início deste ano de 2009 tivemos a nossa XXI Escola de Lí-deres com a participação de treze dioceses do Brasil, com participa-ção de oito comunidades novas e dois Sacerdotes Diocesanos.

O tema central deste ano foi Belo é o Amor Humano que foi es-colhido com o objetivo de fornecer a visão da Igreja e da Comunidade Católica Shalom quanto à vivência de cada estado de vida, com o qual nos concedeu ao nos criar. Essa visão tem ajudado aos que estão em processo de discernimento de

eSCOla de lídereS ShalOm 2009 seu estado de vida como a vivência dos que já o efetivaram.

Como diz o nosso Fundador: “O Estado de Vida é um dom de Deus, não uma escolha humana, mas primeiramente uma escolha divina e um dom, uma graça, uma dádiva que Deus dá para que a pessoa possa amar e servir melhor a Deus e aos irmãos.(...) Por isso nenhum dos três estados de vida poderá jamais ser vivido numa perspectiva egoísta, individualista. Eu não me caso para mim, não me ordeno sacerdote para mim, não me consagro no celibato para mim. Nunca em uma vivência isolada, fechada, jamais, mas sim em ati-tude de transbordamento.

Contamos com você e sua comunidade para anunciarmos Jesus aos homens em unidade com a Santa Mãe Igreja, pois o mundo, na verdade apenas perdeu o sentido das coisas e, nós, pode-mos lhe dar o sentido verdadeiro, dando-lhe a experiência de Jesus Cristo morto e ressuscitado e do Seu Reino. Shalom!

Você pode acessar o nosso site e e-mail:www.comunidadecatolicashalom.orgescoladeformacaoshalom@[email protected]:(85)33087421/88670402(Andreza)Endereço: Diaconia Shalom CE 40, KM 16, Divinéia,S/N, Aquiraz-CECEP 61.700-000

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aContECE no mundo

Os católicos no mundo aumen-ta r am 1 ,4%,

pouco mais que a popula-ção mundial (que cresceu no mesmo período 1,1%). As vocações sacerdotais crescem também, ainda que menos (0,4%), mas com notáveis diferenças entre continentes: enquanto na Europa há uma recessão, na África e na Ásia se registra um notável aumento.

Estas são as principais conclusões que se extrai do Anuário Pontifício 2009, a publicação oficial vaticana que recolhe dados estatís-ticos atualizados da Igreja em todo o mundo, e que foi apresentada ao Papa no dia 28 de fevereiro último.

A presente edição re-colhe dados estatísticos re-lativos a 2007, segundo se explica em um comunicado divulgado pela Santa Sé. Segundo estes, o número de

Igreja Católicacresce no ritmo da população mundial

católicos no mundo passou de 1.131 a quase 1.147 em um ano, o que supõe uma porcentagem de 17,3% que se mantém estável de um ano a outro.

Neste mesmo período, o número de bispos, segundo os dados do Anuário, au-mentou também 1%, espe-cialmente na Oceania (4,7%) e na África (3%), passando de 4.898 a 4.946. Contudo, a América e a Europa con-tinuam somando 70% dos prelados.

Os sacerdotes se man-têm, explica o comunicado, “em uma dinâmica de cres-cimento moderado após mais de duas décadas de-cepcionantes”. Dos 407.262 de 2006 passaram a 408.024 no ano seguinte, mas com notáveis diferenças: se na África e na Ásia o aumento é maior que 20% (27,6% e 21,2% respectivamente), na Europa e na Oceania dimi-nuem 6,8% e 5,5%.

Os diáconos permanentes aumentam mais, aproxima-

damente 4,1% entre 2006 e 2007, e atualmente somam 35.942, sobretudo na Europa e América, que juntas somam 98% destes ministros.

Com relação ao número de seminaristas, aumenta apenas 0,4% (a população é atualmente de 115.919 em todo o mundo), mas enquan-to na África e na Ásia cresce-ram, a diminuição é bastante sensível na Europa (-2,1%) e na América (-1%).

Durante a apresentação desta nova edição do Anu-ário, o Papa se mostrou “vi-vamente interessado” pelos dados oferecidos, e agrade-ceu o trabalho de todos os que colaboraram no projeto.

O Anuário oferece in-formação institucional atu-alizada sobre as demarca-ções e instituições canônicas em todo o mundo. Nesta nova edição se introduzem as novas dioceses criadas por Bento XVI em 2008: uma sede metropolitana e 11 no-vas sedes episcopais, enquan-to mudaram juridicamente 4 sedes metropolitanas, 2 sedes episcopais e um vicariato apostólico.

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A crise econômica tem, entre suas causas, a desmedida avareza de poucos, que

atentou contra o bem comum, assegu-ram os responsáveis da União Social de Empresários e Executivos Cristãos do

Chile (USEC).

próprios médicos estatais, preocupados pela alarmante diminuição da população “provocada pela atual legis-lação russa a favor do abor-to, que retorna aos tempos soviéticos”.

A Associação Aju-da à Igreja que Sofre (AIS) deu

a conhecer seu apoio a uma iniciativa do sacerdote Mi-chael Shields, que trabalha na cidade siberiana de Ma-gadan, com o objetivo de abrir centros pró-vida para ajudar mulheres grávidas com difi culdades.

Em um comunicado di-vulgado pela instituição, destaca-se a boa acolhida que a iniciativa teve entre os

reconhecem que crise foi originada pela avareza

Empresários cristãos comum. Quando a liberdade está guiada por critérios individualistas, deixa de ser autêntica, pois a excessiva dependência e ambição do material é também um tipo de escravidão”, alertam os empresários cristãos.

Segundo a carta, “infl uiu a ausência de uma reta consciência, somada a estí-mulos planejados para obter benefícios a curto prazo e à falta de regulação de acordo com a sofi sticação dos novos instrumentos financeiros. Tudo isso é terreno fértil para situações como a atual”.

Por isso, os signatários asseguram: “cremos que esta crise não é só econô-mica, mas também ética e moral”.

“Tanto o início da crise como sua superação se relacionam com a caridade, essa disposição de amar ao próximo como a si mesmo, como princípio fun-damental proposto no Evangelho.”

“Agora é o momento de incorporar em nossos critérios de discernimento valores que tendam a humanizar nossa sociedade e organizações, de modo que guiem nosso agir e sejam um ‘seguro’ para não cair futuramente nos mesmos erros”, concluem.

Fonte: Zenit

A iniciativa será levada a frente a partir de junho em Magadan e arredores, uma re-gião de triste fama por ter sido sede dos gulags stalinistas.

Em declarações a AIS, o Pe. Shields destaca que a idéia da iniciativa partiu de um dos médicos governa-mentais que trabalham no Centro de Informação a Mu-lheres. “Isso é maravilhoso, porque a Rússia realmente está mudando e quer mais nascimentos”, afi rmou.

“O governo russo sabe que a demografia do país não vai bem, e essa é a razão pela qual os médicos nos pe-diram que trabalhássemos a favor das mulheres grávidas”, explica.

No ano passado, o Pe. Shields abriu uma casa para alojar pais e crianças recém-nascidas com problemas, especialmente mães em pe-ríodo de estudos, a quem as autoridades expulsam das residências escolares quando se constata a gravidez.

Este centro, “Casa da Natividade”, teve bastante êxito “graças ao boca-a-boca” entre as próprias mulheres, sublinha o Pe. Shields, que também des-taca “o forte apoio à causa pró-vida por parte da Igreja Ortodoxa Russa”.

evitar que abortem

Católicos abrem centros na Sibéria

para ajudar mães e

Jorge Matetic, presidente de USEC, e os vice-presidentes Rolando Medeiros e Erwin Hahn, escreveram uma carta para analisar as verdadeiras causas do complexo momento econômico, na qual fazem um convite aos empresários, trabalhadores e autoridades a enfrentar a crise de maneira construtiva, evitando assim que se continue disparando o

desemprego.“A crise fi nanceira que precede as atuais difi culda-des econômicas se explica, en-

tre outras causas, pelas decisões de poucos indivíduos

que, buscando um desmedido benefício

próprio e de curto prazo, atentaram contra o bem

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divirta-sE

HORIZONTAIS:1 - pai de tiago e João (mt 4,21)2 - pai de samua, da tribo de rúben, enviado para explorar Canaã (nm 13,4)3 - Filho de asaf e pai de micas (ne 11,17)4 - Filho de natã e conselheiro particular de salomão (1rs 4,5)5 - segundo fi lho de Jaleleei (1Cr 4,16)6 - quarto fi lho de nebo e sacerdote casadocom estrangeira (Esd 10,43)7 - Jurista recomendado por paulo a tito (tt 3,13)8 - primeiro fi lho de abraão e Cetura (Gn 25,2)9 - Filho de oziw pai de meraiot (1Cr 5,32)10 - serva de lia e mãe de Gad e aser (Gn 30,10.12)11 - Junto com zozabad, conspirou contra o rei Joás (2Cr 24,26)12 - primeiro fi lho de Bocor, fi lho de Banjamim (1Cr 7,8)

VERTICAIS:1 - rico chefe dos cobradores de impostos de Jericó (lv 19,2)2 - sexto fi lho de lia e Jacó (Gn 30,20)3 - Último fi lho de Judá e chefe de clã (nm 26,20)4 - Árabe que cortou a cabeça de alexandre eenviou a ptolomeu (1mc 11,17)5 - Governador da Judéia e fi lho de salatiel (ag 1,1)6 - terceiro fi lho de isaar e irmão de Coré e nefeg (Ex 6,21)7 - pai de Baruc que restaurou parte da muralha de Jerusalém (ne 3,20)8 - ofi cial que matou a família de Baasa e tornou-se rei de israel (1rs 16,9ss)9 - segundo fi lho de Emer e sacerdote casado com estrangeira (Esd 10,20)10 - pai de João Batista (lc 3,2)11 - Filho de Judá e tamar, gêmeo de Farés (Gn 38,30)12 - Esposa de amã, inimigo de mardoqueu (Est 5,10)

por José ricardo Ferreira Bezerra

Horizontais1. zebedeu/ 2. zacur/ 3. zabdi/ 4. zabud/ 5. zifa/ 6. zabina/ 7. zenas/ 8. zamra/ 9. zaraias/ 10. zelfa/ 11. zabad/ 12. zamira.Verticais1. zaquel/ 2. zabulon/ 3. zare/ 4. zabdiel/ 5. zorobabel/ 6. zecri/ 7. zabai/ 8. zambri/ 9. zabadias/ 10. zacarias/ 11. zara/ 12. zares

Personagens bíblicos iniciados por “Z”

Era uma vez um jovem que se encontrava em um trem e mostrava-se muito ansioso, nervoso e cami-

nhava de um lado para o outro. Então um senhor que já há algum

tempo o observava disse-lhe: – Rapaz, por que está tão inquieto? O rapaz respondeu: – Não adianta contar-lhe pois não

pode me ajudar.E continuou ansioso, andando de

um lado para o outro. O senhor, mais uma vez tentou

conversar com ele dizendo: – Meu rapaz, conte-me o que está

lhe angustiando tanto. Talvez eu possa lhe ajudar.

Então o jovem falou: – Há muito tempo deixei meu pai,

minha casa e fui morar longe. Tentar uma vida independente, mas agora resolvi voltar e então escrevi, pedindo

para meu pai receber-me de volta e avisei-lhe que estaria nesse trem. Se ele concordasse com minha volta, pedi que amarrasse um lenço amarelo em um galho bem alto da árvore que fi ca na frente da casa. Agora, o que está me angustiando é que estou chegando e tenho receio de que não tenha nenhum lenço, então saberei que ele não me perdoou e assim, seguirei em viagem.

O senhor, então lhe falou: – Fique tranquilo que eu fi carei na

janela e olharei para você. Quando se aproximou do lugar

onde o rapaz morava, o senhor colo-cou-se na janela.

Passando o trem, o rapaz perguntou: – E então? Vê um lenço amarelo

na árvore? O homem respondeu: – Não. Eu não vejo um lenço ama-

relo... Mas, muitos lenços amarelos... Um em cada galho da árvore!!!

Lenço Amarelo“Bella” é uma história de amor que vai além d o r o m a n c e . José, ex-jogador d e f u t e b o l d e sucesso, hoje chef do restaurante mexicano de seu irmão, e Nina, g a r ç o n e t e d o loca l , p as s am um dia juntos em Nova Iorque a p ó s a l g u n s mal-entendidos no restaurante. Esse encontro irá transformar suas vidas para sempre e ambos descobrem que, quando se perde tudo, aprecia-se o que realmente tem valor. O fi lme fala de vida, família, relações afetivas e de nossa capacidade de amar o inesperado.

Horizontais

José, ex-jogador d e f u t e b o l d e

Filme: Bella

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EntrElinHas

A graça de ser…

André!nos últimos tempos, os personagens menores da Bíblia têm me chamado muita atenção, em especial os citados no novo testamento, e com eles tenho aprendido.

Elena Arreguy Salamissionária da Com. CatólicaShalom em Israel

Graça aqui não tem nada a ver com riso, me refiro à graça de Deus, so-

brenatural. Nos últimos tempos, os personagens menores da Bíblia têm me chamado muita atenção, em especial os citados no Novo Testamento, e com eles tenho aprendido. Ao dizer personagens menores, me refi ro a terem sido citados uma única vez, às vezes só o nome, dito uma ou duas frases, se aproximado de Jesus com um gesto... Entretanto, mesmo tendo este perfi l, se os autores bíblicos os incluíram na Palavra de Deus, é porque, de alguma maneira, o

Espírito do Senhor poderia nos falar através deles.

Um destes que me tem acom-panhado é o Apóstolo André, irmão mais novo de São Pedro que é citado, nominalmente, pelos evangelistas Mateus (cf. Mt 4,18-19), Marcos (cf.Mc 1,16) Lucas fala do contexto de pescadores mas não cita o nome, e por João, que acrescenta que ele já seguia João Batista (cf. Jo 1,40-42). Interessan-te porque os primeiros discípulos a serem chamados são dois pares de irmãos, todos pescadores, e nós os conhecemos bem: Pedro e André, Tiago e João. Jesus os elege e os forma para serem pes-cadores de homens, André, porém, parece cumprir esta missão num tom menor, mais escondido, todo particular.

Digo isso porque ele não está presente em momentos cruciais da vida de Jesus, seja no êxtase da transfi guração no Monte Ta-bor, seja na agonia no Monte das Oliveiras, onde os evangelhos nos falam somente de Pedro, Tiago e João. Estes eventos da vida de Jesus jamais se repetirão na história e no tempo e só poderão ser con-templados e vividos misticamente, em oração, a quem Deus aprouver conceder esta graça e ninguém par-ticipará novamente destes eventos do jeito que estes três Apóstolos participaram. Por que André não estava junto? Creio que não haja resposta para esta pergunta e seja talvez, uma especulação vã.

Todavia, onde está André? Em quais relatos somente ele aparece e o que eles nos ensinam? Temos

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dois textos-chave, todos em João: o convite feito a Cefas para que ele também conheça o Messias, em João 1,41-42, e na multiplicação dos pães, capítulo 6,8-9.

Primeiramente André é um evangelizador, que testemunha e leva alguém da própria família até Jesus, seu irmão mais velho, que não devia ser um camarada muito fácil de ser dobrado e convencido de nada. André parece não ter desistido e testemunha e acompanha o irmão até que o encon-tro pessoal entre Jesus e Cefas aconteça. André nos ensina aqui a perseveran-ça na evangelização e o acompanhar nossas ove-lhas, formandos, amigos, parentes, vocacionados, o quanto for necessário, em presença e oração, pacientemente, até que o vínculo entre as pessoas e o Senhor se estabeleça pela vida da graça, pela vida sacramental e oracional, pela experiência co-munitária. Parece que a alegria de André é que Cefas se torne Pedro, não se importando muito se o irmão, no futuro, venha a ser muito mais importante do que ele, ao se tornar autoridade suprema entre os Apóstolos, inclusive sobre ele, André.

Na multiplicação dos pães André é aquele que encontra no meio da confusão alguém, um menino, com seu lanche e o enca-

minha para Jesus, humildemente, por mais estúpido que possa pa-recer alguém pretender alimentar uma multidão de milhares de pessoas barulhentas e famintas, dispersas, com cinco pães e dois peixes! Mas André nos mostra aqui como os homens também podem ser sensíveis e atentos

aos detalhes, não sendo este um atributo exclusivo feminino, e podem achar o escondido e o im-provável onde não parece haver saída e onde tudo parece escon-dido e improvável! André é um homem inteligente, centrado e obediente que vai atrás de alguma solução para que a ordem de Jesus se cumpra. Ele se ocupa mais com o que Jesus diz do que com o que as circunstâncias gritam, e parte para a ação! Não fi cou diva-gando sobre as improbablidades e a não-lógica, nem implicando com os outros companheiros para que fi zessem alguma coisa,

mas partiu, movendo-se na fé, trazendo de volta para Jesus o que encontrou, o que conseguiu, o fruto do seu esforço, boa vontade, enfi m, aquilo que deu conta de fazer. Se não tivesse sido por esta atitude tão generosa e também evangelizadora de André – que mais uma vez teve que convencer

o menino a ir até Jesus e abrir mão do seu lanchi-nho – nós não teríamos o relato deste milagre tão excepcional de Jesus que prefigura a Eucaristia, to-dos sabemos, o Pão Vivo descido dos céus.

Nossa experiência de vida eclesial, seja ela co-munitária, de consagrados, ou de simples paroquianos e servos nas pastorais, nos aproxima muito mais da

vida evangelizadora de André do que da vida dos outros três Após-tolos, com experiências únicas e extraordinárias. A escolha do lugar onde cada um deve estar sempre parte de Jesus, o Senhor. O im-portante não é a geografi a de nosso posicionamento, se a norte, sul, leste ou oeste, em cima do palco ou no altar, usando o microfone, ou atrás dele, se na arquibancada e no anonimato, ou liderando alguma equipe. O que vale é estar onde Deus quer, com a certeza interior profunda e pessoal de quem diz: ‘Encontrei Jesus! Ele me ama e faz de mim pescador de homens!’.

André é um homem inteligente, centrado e obediente que vai atrás de alguma solução para que a ordem de Jesus se cumpra. Ele se ocupa mais com o que Jesus diz do que com o que as circunstâncias gritam, e parte para a ação!

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