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SIMULAÇÃO HIDRODINÂMICA BIDIMENSIONAL DO BANHADO DO TAIM (RS) Adriano Rolim da Paz 1 , Edith B. C. Schettini 2 e Adolfo O. N. Villanueva 3 Resumo – Além da oscilação natural do nível da água, conhecido como hidroperíodo, a circulação da água desempenha um papel de fundamental importância na estrutura e no funcionamento dos banhados. Tais ecossistemas são caracterizados por pequenas lâminas d’água e pela grande presença de plantas aquáticas, que são sensíveis a alterações no nível e no padrão de circulação da água. Isso tem sido observado no banhado do Taim (RS), objeto deste estudo, em decorrência da ação antrópica, como a captação de água para orizicultura e a operação das comportas de saída para a lagoa Mirim. Neste trabalho, aplicou-se um modelo hidrodinâmico bidimensional horizontal ao banhado do Taim, procurando analisar o efeito da vegetação e da ação do vento, além da interação com a lagoa Mangueira. Ressalta-se a influência da distribuição espacial da vegetação sobre o padrão geral da circulação da água no Taim e sobre a interação deste com a lagoa Mangueira. Abstract – Besides the natural water level fluctuation known as hydroperiod, the water movement has an important role in the wetlands structure and operation. Those ecosystems are characterized by small depths and a great density of aquatic plants, which are influenced by the water level and water movement pattern alterations. It has occurred in the Taim wetland (RS) – the study case, as a consequence of human activities like water withdrawal to rice farming and operation of exit gates to lake Mirim. In this paper, a horizontal two-dimensional hydrodynamic model has been applied to Taim wetland, trying to verify the effects of vegetation, wind stress and interaction with lake Mangueira. It is emphasized the vegetation spatial distribution influence over the general water flow pattern in Taim wetland and over its interaction with lake Mangueira. Palavras-chave modelagem hidrodinâmica bidimensional, banhados, resistência da vegetação. 1 Instituto de Pesquisas Hidráulicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IPH/UFRGS). Av. Bento Gonçalves, 9500, Caixa Postal 15029, CEP 91501-970, Porto Alegre-RS. Tel: (51) 3316 6327. Fax: (51) 3316 7105. E-mail: [email protected]. 2 IPH/UFRGS. E-mail: [email protected] 3 IPH/UFRGS. E-mail: [email protected]

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SIMULAÇÃO HIDRODINÂMICA BIDIMENSIONAL DO BANHADO DO TAIM (RS)

Adriano Rolim da Paz1, Edith B. C. Schettini2 e Adolfo O. N. Villanueva3

Resumo – Além da oscilação natural do nível da água, conhecido como hidroperíodo, a circulação

da água desempenha um papel de fundamental importância na estrutura e no funcionamento dos

banhados. Tais ecossistemas são caracterizados por pequenas lâminas d’água e pela grande

presença de plantas aquáticas, que são sensíveis a alterações no nível e no padrão de circulação da

água. Isso tem sido observado no banhado do Taim (RS), objeto deste estudo, em decorrência da

ação antrópica, como a captação de água para orizicultura e a operação das comportas de saída para

a lagoa Mirim. Neste trabalho, aplicou-se um modelo hidrodinâmico bidimensional horizontal ao

banhado do Taim, procurando analisar o efeito da vegetação e da ação do vento, além da interação

com a lagoa Mangueira. Ressalta-se a influência da distribuição espacial da vegetação sobre o

padrão geral da circulação da água no Taim e sobre a interação deste com a lagoa Mangueira.

Abstract – Besides the natural water level fluctuation known as hydroperiod, the water movement

has an important role in the wetlands structure and operation. Those ecosystems are characterized

by small depths and a great density of aquatic plants, which are influenced by the water level and

water movement pattern alterations. It has occurred in the Taim wetland (RS) – the study case, as a

consequence of human activities like water withdrawal to rice farming and operation of exit gates to

lake Mirim. In this paper, a horizontal two-dimensional hydrodynamic model has been applied to

Taim wetland, trying to verify the effects of vegetation, wind stress and interaction with lake

Mangueira. It is emphasized the vegetation spatial distribution influence over the general water flow

pattern in Taim wetland and over its interaction with lake Mangueira.

Palavras-chave – modelagem hidrodinâmica bidimensional, banhados, resistência da vegetação.

1 Instituto de Pesquisas Hidráulicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IPH/UFRGS). Av. Bento Gonçalves, 9500, Caixa Postal 15029, CEP 91501-970, Porto Alegre-RS. Tel: (51) 3316 6327. Fax: (51) 3316 7105. E-mail: [email protected]. 2 IPH/UFRGS. E-mail: [email protected] 3 IPH/UFRGS. E-mail: [email protected]

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INTRODUÇÃO

Os banhados ou terras úmidas são considerados uns dos mais produtivos ecossistemas do

mundo, comparados às florestas tropicais e aos bancos de corais, apresentando diversos valores à

sociedade e ao meio ambiente (CZM, 2001). Por definição, os banhados são criados e mantidos pela

água, de tal modo que a freqüência e a duração do nível da água determinam, significativamente, a

vegetação presente e o desempenho das funções desses ecossistemas (Marble, 1992), além de

condicionarem as propriedades físicas, químicas e ecológicas (Clymo et al., 1995).

O nível e a circulação da água influenciam enormemente o desenvolvimento das macrófitas

aquáticas, não só pela redução na disponibilidade de oxigênio e nutrientes, mas também pela

alteração da textura e composição do substrato, pela pressão mecânica na estrutura das plantas e até

pela redução da disponibilidade de luz para as espécies submersas (Newall e Hughes, 1995). Por

sua vez, a presença de vegetação tem dois efeitos principais sobre o escoamento: resistência ao

fluxo e proteção da superfície da água contra a ação do vento.

Isso tem motivado o desenvolvimento de pesquisas acerca do que se denomina de

hidroperíodo das terras úmidas, definido como a ocorrência periódica ou regular de inundação ou

saturação do solo, em função do balanço hídrico, da topografia e das condições sub-superficiais, e

que constitui sua assinatura hidrológica (Marques et al., 1997).

Entretanto, apesar do hidroperíodo ser amplamente reconhecido como de extrema

importância, pouca atenção tem sido dada à circulação da água e aos papéis físicos e ecológicos que

a mesma desempenha, tornando-a fundamental para a estrutura e funcionamento dos banhados

(Aumen, 2003). Estudos dessa natureza podem não só ajudar a explicar padrões ecológicos, tais

como a distribuição, diversidade e abundância de invertebrados e peixes dependentes de plantas

aquáticas, mas também ser vitais para projetos de restauração e revitalização (Newall e Hughes,

1995).

Neste trabalho, o modelo hidrodinâmico bidimensional IPH-A foi aplicado ao banhado do

Taim, localizado no Estado do Rio Grande do Sul, procurando avaliar a influência dos principais

fatores intervenientes no padrão geral de circulação da água desse sistema, como a ocorrência da

vegetação, a ação do vento e a interação com a lagoa Mangueira.

O BANHADO DO TAIM

Localização e descrição

O banhado do Taim está inserido na Estação Ecológica do Taim (ESEC Taim), uma unidade

de conservação federal criada através do Decreto no 92.963, de 21 de julho de 1986, com o objetivo

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Lagoa dos Patos

Lagoa Mangueira

Lagoa Mirim

ESEC Taim

Oceano Atlântico

Rio Grande

Santa Vitória do Palmar

Porto Alegre

N

de proteger amostras dos Banhados do Sul e da fauna ameaçadas de extinção e preservar o local de

passagem de aves migratórias (IBAMA, 2003). A ESEC Taim engloba uma área de cerca de

315km2 e está localizada entre o Oceano Atlântico e a Lagoa Mirim, no sul do Estado do Rio

Grande do Sul, estando parte no município de Rio Grande e parte no de Santa Vitória do Palmar

(figura 1).

O relevo dessa região é caracterizado por uma planície com micro-relevos, de pouca

expressão altimétrica, destacando-se as feições dunais e os terraços com barreiras lagunares

(IBAMA, 2003). Na mesma referência, consta que o clima da região onde a ESEC Taim se insere é

do tipo subtropical, com temperatura média anual de 18 graus e precipitação média anual de

1100mm, apresentando um inverno frio e chuvoso e um verão quente e seco, além de ventos

bastante intensos.

Figura 1. Localização da Estação Ecológica do Taim.

A área em questão é composta por três tipos de ecossistemas principais (PELD, 2002): (i)

ecossistemas costeiros, caracterizados por praias litorâneas e um extenso campo de dunas; (ii)

ecossistemas límnicos, constituído por banhados e lagoas; (iii) ecossistemas terrestres, constituídos

por matas de restinga turfosa e arenosa e campos secos e de várzea. Na região do banhado do Taim,

a vegetação é exuberante em macrófitas aquáticas emergentes, que chegam a cobrir 30% ou mais da

área (Villanueva, 1997), com predominância de plantas vasculares e herbáceas.

Na área compreendida pela ESEC Taim, encontram-se banhados, lagoas, campos e dunas,

com destaque para o banhado do Taim, que ocupa 60% da área da estação, e para as Lagoas Nicola

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340000 345000 350000 355000 360000 365000Coordenadas UTM

6360000

6365000

6370000

6375000

6380000

6385000

6390000

6395000

6400000

Lagoa Mirim

Banhado do Taim

Lagoa Mangueira

Oceano Atlântico

Limites da ESEC Taim

(1)(2)

(3)

(4) (5)

(6)

N

(7)

e Jacaré, além da parte norte da lagoa Mangueira. Na figura 2, é apresentada uma composição

colorida do tipo RGB, onde as bandas espectrais 3, 4 e 5 foram usadas para as cores vermelho,

verde e azul, de uma imagem do satélite LANDSAT5, de 06/jul/1987, da região da estação. Em tal

imagem, observa-se a localização dos elementos que constituem a ESEC e a grande presença de

macrófitas aquáticas no banhado. Embora se dispusesse de outras imagens de satélite relativas a

datas mais recentes do que a utilizada, a escolha desta foi motivada pelo nível mais baixo da água

na época da aquisição, o que permitiu identificar, mais claramente, os contornos das lagoas internas

ao Taim.

Figura 2. Composição colorida de imagem de satélite de 06/jul/1987 da região da ESEC Taim

(WGS-84, UTM-22S), onde: (1) sede da ESEC Taim; (2) comportas de saída do banhado; (3) lagoa

Nicola; (4) lagoa Jacaré; (5) canal do Jacaré; (6) canal da Sarita; (7) posto Negreiros.

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Conflitos pelo uso da água

A extração de água para a orizicultura, associada aos picos de evapotranspiração observados

nos meses de outubro/novembro e fevereiro/março, tem alterado o regime hidrológico da região e

pode ocasionar a diminuição no volume de água necessário à manutenção dos ecossistemas

palustres (Villanueva, 1997). O impacto ambiental também acontece devido à deterioração da

qualidade da água e do solo, causada pelo carreamento de produtos químicos e agrotóxicos usados

na agricultura. Outros problemas decorrentes de ação antrópica, verificados na unidade de

conservação em questão, são o atropelamento de animais na BR-471, que tem origem na elevação

dos níveis e a conseqüente diminuição das áreas secas, a pesca e a caça (IBAMA, 2003).

Apesar da criação da Estação Ecológica do Taim, o conflito entre o uso para agricultura e a

sua conservação continua a ser verificado, pois o atendimento da última implica na redução da

disponibilidade de água para a primeira. Um agravante reside no fato de que a área delimitada pela

estação não inclui toda a bacia de contribuição, de modo que atividades externas afetam diretamente

a disponibilidade de água e as condições ambientais no seu interior (Villanueva, 2000).

Outra questão diz respeito à operação e gerenciamento das comportas de saída do banhado

para a lagoa Mirim, cuja localização é indicada na figura 2 e sobre a qual há interesses conflitantes

(Villanueva, 1997): o fechamento completo da saída é de interesse para a irrigação, uma vez que

aumenta a disponibilidade de água; por outro lado, isso prejudica a flutuação natural dos níveis de

água, condição necessária para a preservação ambiental do ecossistema.

METODOLOGIA

O modelo IPH-A

Neste estudo, optou-se pela utilização de um modelo hidrodinâmico bidimensional horizontal,

sendo adotado o modelo denominado IPH-A, desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas

(IPH – UFRGS) e descrito por Casalas (1996). Tal modelo constitui um sistema computacional

destinado à simulação da circulação e do transporte de massa em corpos d’água bidimensionais e é

resultante de uma série de estudos realizados pelo IPH na modelagem de estuários e lagoas: lago

Guaíba, lagoa dos Patos, rio da Prata, rio Uruguai e lagoa Setúbal (Argentina), por exemplo.

Para descrever o escoamento da água, o modelo IPH-A emprega as equações da continuidade

e de Navier-Stokes integradas na vertical, com a formulação de Manning para o cálculo da tensão

de cisalhamento do fundo, enquanto que a tensão de cisalhamento na superfície é determinada em

função da velocidade do vento e de um coeficiente de arrasto constante:

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η

h

Η

z

yx

nível da água

0y

)HV(x

)HU(t

=∂

∂+

∂∂

+∂η∂ (1)

UH

VUUgnH

Cx

gVyUV

xUU

tU

T3/4

2222y

2xxV ∆ε+

+−

ω+ωω+

∂η∂

−Ω=∂∂

+∂∂

+∂∂ (2)

VH

VUVgnH

Cy

gUyVV

xVU

tV

T3/4

2222y

2xyV ∆ε+

+−

ω+ωω+

∂η∂

−Ω−=∂∂

+∂∂

+∂∂ (3)

onde η é o nível d’água variável com o escoamento; h é a profundidade fixa em relação ao plano de

referência (figura 3); H representa a profundidade total; U e V são as componentes da velocidade

média na vertical do escoamento, nas direções x e y, respectivamente; t é o tempo; Ω é o parâmetro

de Coriolis; g é a aceleração da gravidade; VC é um coeficiente de ajuste de vento; ωx e ωy são as

componentes da velocidade do vento nas direções x e y, respectivamente; n é o coeficiente de

Manning; εT é o coeficiente de viscosidade cinemática turbulenta; ∇ é o operador nabla e ∆=∇2 é o

operador laplaciano.

Figura 3. Plano de referência (plano xy) e definição das variáveis η, h e H.

O IPH-A emprega o método das diferenças finitas, aplicando um esquema semi-implícito de

direções alternadas (ADI - Alternating Direction Implicit), baseado no esquema adaptado por

Leendertse, com algumas modificações, para a resolução numérica do sistema de equações que

descrevem o escoamento (Casalas, 1996).

A figura 4 apresenta um exemplo de malha numérica de cálculo, com a distribuição espacial

das variáveis em cada elemento da malha adotada pelo referido modelo. Observa-se que as

componentes de velocidade do escoamento U e V estão definidas nas faces direita e superior de

cada elemento, respectivamente, tendo como sentido positivo a orientação dos eixos x (para U) e y

(para V). A profundidade fixa h(x,y) e o coeficiente de Manning (n) são tomados em duas

componentes (hu e hv, para h, e nu e nv, para n) uma para cada direção do plano x-y, definidas nos

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nu(j,k)

k-2

j-2 j-1 j+1j j+2 x

Pontos onde estão definidos hu, U e nu

k-1 Pontos onde estão definidos os níveis η

Pontos onde estão definidos hv, V e nv

k Simbologia

yU(j,k)

η(j,k)

V(j,k)nv(j,k)

hu(j,k)

hv(j,k)

lados direito e superior, enquanto o nível variável no tempo η(x,y,t) é associado ao centro de cada

elemento da malha.

Figura 4. Esquema da malha numérica utilizada pelo IPH-A, com a localização das variáveis nas

quadrículas de cálculo.

Algoritmo de secagem/inundação

Devido ao equacionamento matemático empregado, os modelos hidrodinâmicos 2DH não

suportam que áreas dentro do contorno estudado apresentem cotas superiores ao nível d’água de

simulação, ou seja, regiões com tirante nulo ou negativo. Essa limitação constitui uma restrição para

o estudo do comportamento hidrodinâmico do Taim, ou de banhados em geral, como alertam Feng

e Molz (1997), por serem regiões de topografia pouco acentuada e tirantes de água muito pequenos,

apresentando áreas internas secas com freqüência.

Neste estudo, implementou-se um algoritmo de secagem/inundação no modelo IPH-A, o qual

consiste, resumidamente, em identificar se cada elemento está “seco” ou “molhado”, baseado em

um critério de tirante mínimo (considerado igual a 10cm), e adotar procedimentos específicos para

cada uma das situações, como: imposição de condições de velocidade nula, rugosidade do fundo

extrema e alterações da batimetria e do nível da água de cada elemento.

O algoritmo funciona em três etapas, executadas após cada semi-intervalo de tempo de

simulação, ou seja, após a resolução do sistema de equações para todas as linhas ou para todas as

colunas: (1) imposição de velocidade nula; (2) ajuste de níveis, batimetria e coeficiente de

Manning; (3) atualização de níveis.

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QUAD(LIN,COL)

QUAD_ACIMA

QUAD_ABAIXO

QUAD_PRÓXIMAQUAD_ANTERIOR

col

lin lin

col

U(quad.ant.)U(quad.)

V(quad.bai.)

V(quad.)

col-1 col+1

lin-1

lin+1 lin+1

lin-1

lin

col+1col-1(a) (b)

Resumidamente, as etapas do algoritmo são descritas da seguinte forma:

(1) Imposição de velocidade nula: para cada elemento da malha numérica interno ao contorno,

verifica-se se seu estado é “seco” ou “molhado”, caso o tirante seja inferior ou não ao tirante

mínimo de 10cm, respectivamente. Se o elemento está “seco”, impõe-se velocidade nula nas suas

quatro faces, conforme ilustra a figura 5;

(2) Ajuste de níveis, batimetria e coeficiente de Manning: para o elemento considerado “molhado”,

a batimetria e o coeficiente de Manning assumem seus valores “reais”, e para o caso do elemento

“seco”, impõe-se uma batimetria rebaixada e um valor extremo para o coeficiente de Manning

(n=100). Em seguida, é verificada a condição de fluxo nulo nos elementos vizinhos superior,

inferior, abaixo e acima do elemento em questão. Em caso positivo, ou seja, quando as

componentes da velocidade nos quatro elementos vizinhos são nulas, o nível auxiliar do elemento é

ajustado pela média aritmética entre os níveis máximo e mínimo vizinhos, enquanto que, no caso de

não atendimento à condição de fluxo nulo, o nível auxiliar é estabelecido como o mínimo dentre os

níveis daqueles elementos vizinhos com fluxo;

(3) Atualização de níveis: o terceiro e último passo do algoritmo consiste em atualizar os níveis de

todos os elementos, em função do nível auxiliar correspondente a cada um deles. A adoção de um

nível auxiliar durante os dois passos anteriores, em vez de ajustar diretamente o nível d’água do

elemento, tem o propósito de fazer com que os níveis ajustados em um ciclo do algoritmo não sejam

levados em conta para o ajuste dos elementos seguintes no mesmo ciclo, mas apenas no próximo,

isto é, no semi-intervalo de tempo seguinte de simulação.

Figura 5. Identificação das quadrículas vizinhas (a) e das velocidades impostas nulas (b).

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310000 320000 330000 340000 350000

6290000

6300000

6310000

6320000

6330000

6340000

6350000

6360000

6370000

6380000

6390000

310000320000

330000340000

350000

6290000

6300000

6310000

6320000

6330000

6340000

6350000

6360000

6370000

6380000

6390000

5740000 5760000 5780000 5800000 5820000 5840000 5860000

2575000

2580000

2585000

63o

x

y

y”

x” α = 63ο

APLICAÇÃO AO BANHADO DO TAIM

Definição da área modelada

Como mostra a figura 2, o banhado do Taim e a lagoa Mangueira constituem um sistema

integrado, sendo a última a principal fonte de afluência de água para o primeiro. Dessa forma, o

comportamento hidrodinâmico do Taim está diretamente vinculado à Mangueira e, para estudá-lo,

há duas possibilidades: (i) simular o banhado isoladamente, considerando a lagoa Mangueira como

condição de contorno no limite sul; (ii) simular todo o sistema Mangueira-Taim. A segunda

alternativa foi a adotada neste estudo, por ser uma representação mais próxima do sistema natural,

embora isso acarrete maior custo computacional, devido ao aumento do número de elementos da

malha numérica de cálculo.

Utilizou-se uma malha numérica com espaçamento igual a 360m, fazendo-se uma rotação de

coordenadas do contorno modelado, que reduziu significativamente as dimensões da matriz de

elementos, como ilustrado na figura 6, através da seguinte equação:

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡αα−αα

=⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡yx

.)cos()sen()sen()cos(

"y"x

, (4)

onde x e y são os eixos ortogonais originais e x” e y” são os eixos rotacionados de um ângulo α,

medido entre os eixos x e x” (figura 6). Com o espaçamento citado, a malha numérica foi

constituída por 52 linhas, 348 colunas e um total de 18096 elementos, sendo 12609 elementos

internos ao contorno da região modelada.

Figura 6. Rotação de coordenadas do contorno do sistema Mangueira-Taim.

Modelo numérico do terreno

Os modelos numéricos do terreno (MNT) das várias regiões específicas (banhado, lagoas

Nicola, Jacaré e Mangueira) foram gerados de forma independente e superpostos ao final. Esse

procedimento permitiu tratar de forma independente as informações de cada sub-região e fazer com

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(a)

(b)

348000 352000 356000 360000Coordenadas UTM

6370000

6374000

6378000

6382000

6386000

6390000

6394000

6398000 N

355000 355500 356000 356500 357000 357500Coordenadas UTM

6395500

6396000

6396500

6397000

6397500

6398000

6398500

N

que as lagoas internas ao banhado fossem representadas realmente como lagoas, no MNT final,

havendo um forte gradiente topográfico entre as mesmas e a região vizinha. Caso as informações

batimétricas das lagoas fossem usadas em conjunto com as demais do banhado, bastante escassas,

gerando um MNT único no mesmo processo, o terreno da região seria suavizado de tal forma que

não caracterizaria a presença das lagoas, efetivamente. Nas figuras 7 a 8 são apresentadas as curvas

de nível do banhado e das lagoas.

Figura 7. Curvas de nível do banhado do Taim (a) e da lagoa Nicola (b), em metros, tendo como

referencial o nível do mar.

Distribuição espacial da vegetação

A distribuição espacial da vegetação no banhado do Taim foi estabelecida considerando que o

nível da água no banhado permaneceu constante durante um prolongado período de tempo, o

suficiente para definir as áreas capazes de suportar as macrófitas aquáticas emergentes. Considerou-

se um nível da água na cota 2,40m, que representa uma situação de seca no banhado, abaixo do

valor médio em torno do qual oscila naturalmente. Tal situação pode ser decorrente, por exemplo,

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(a)

(b)

300000 310000 320000 330000 340000 350000 360000Coordenadas UTM

6290000

6300000

6310000

6320000

6330000

6340000

6350000

6360000

6370000N

353000 353500 354000 354500 355000 355500Coordenadas UTM

6390500

6391000

6391500

6392000

6392500

6393000

N

5740000 5760000 5780000 5800000 5820000 5840000 5860000Coordenadas rotacionadas

2575000

2580000

25850001

2

3 4 56

78

9 10 11 12

13 1415

16

N

de uma captação em excesso para irrigação do arroz, na lagoa Mangueira, associada à falta de

gerenciamento da operação das comportas de saída.

Figura 8. Curvas de nível das lagoas Mangueira (a) e Jacaré (b), em metros, tendo como referencial

o nível do mar.

A definição das áreas com vegetação foi realizada aplicando um critério baseado nos limites

mínimo e máximo da lâmina d’água suportados pela mesma, adotados como 0,10m e 1,80m,

respectivamente. Assim, para cada elemento da malha da região do banhado, supondo o nível da

água na cota 2,40m, calculou-se os tirantes correspondentes e obteve-se a configuração espacial da

distribuição da vegetação conforme mostrado na figura 9.

Figura 9. Indicação da área considerada com macrófitas aquáticas emergentes (área tracejada) e dos

pontos de gravação de níveis e velocidades ao longo do tempo.

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Parâmetros adotados nas simulações

A falta de dados de nível do banhado e de condições de vento, com uma discretização

temporal suficiente e referentes ao mesmo período, inviabilizou a calibração do modelo

hidrodinâmico. Dessa forma, os valores dos parâmetros do modelo IPH-A foram estabelecidos com

base nos citados na literatura, após a realização de uma verificação simplificada da resposta do

sistema modelado à variação de cada parâmetro.

Uma questão adicional é quanto a distinção entre as áreas consideradas com e sem macrófitas

aquáticas emergentes, que, além de oferecer uma resistência adicional ao escoamento, ainda

proporcionam um efeito protetor contra a ação do vento sobre a superfície da água.

A vegetação oferece uma resistência ao fluxo ao longo de toda a coluna d’água, de forma que

vários estudos têm propostos relações empíricas alternativas às de Chèzy e de Manning, para o

cálculo da tensão de cisalhamento no fundo, ou mesmo a inclusão de novos termos relativos a tal

resistência, nas equações dinâmicas (Bolster e Saiers, 2002; Tsujimoto, 1999; Abdelsalam et al.,

1992; Turner e Chanmeesri, 1984; Petryk e Bosmajian III, 1975, entre outros).

Entretanto, a falta de informações e a complexidade da região estudada, aliadas aos objetivos

deste estudo, justificam a simplificação de adotar a formulação de Manning, considerando um

coeficiente de rugosidade do fundo mais elevado para as áreas com vegetação (n1=0,4),

relativamente às regiões sem vegetação (n2=0,02). O valor de n1 foi estabelecido com base no

adotado por Villanueva (1997), para a simulação do Taim com um modelo hidrodinâmico de celas,

e nos resultados de Shih e Rahi (1981), que estimaram o coeficiente de Manning em um banhado

natural, para diferentes condições de escoamento e épocas do ano.

Os coeficientes de viscosidade cinemática turbulenta (εT) e de ajuste do vento (Cv) foram

considerados constantes e uniformes, sendo iguais a 10m2/s e 3,0E-6, respectivamente. Porém, para

representar o efeito protetor da ação do vento provocado pela vegetação, inseriu-se um coeficiente

multiplicador da tensão de cisalhamento na superfície da água, de valor igual a 0,2 para as áreas

consideradas com vegetação, baseado em Ramming (1979), e igual a 1,0, nas demais regiões.

Situações simuladas

Três casos foram simulados, diferindo entre si quanto à área de atuação do vento: (1) no

primeiro, considerou-se um vento uniforme, atuando sobre todo o sistema Mangueira-Taim; (2) no

segundo caso, a ação do vento foi considerada apenas sobre a lagoa Mangueira; (3) e, no terceiro,

somente a área do banhado do Taim esteve sobre a ação direta do vento.

Dessa forma, enquanto o primeiro caso corresponde a uma circulação da água no banhado do

Taim, provocada pela ação direta do vento em conjunto com a oscilação dos níveis da Mangueira,

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sendo esta causada pela ação do vento sobre a mesma, nas outras duas situações, o escoamento no

banhado é induzido apenas por um dos dois fatores isolados.

Em todos os casos, simulou-se um período de 4 dias com as condições de vento mostradas na

figura 10, onde o vento permaneceu, predominantemente, com a direção em torno de Sudoeste. Esse

período foi extraído da série histórica de dados do posto Negreiros, cuja localização é apresentada

na figura 2. As direções Nordeste e Sudoeste são as direções de maior ocorrência de ventos na

região, sendo que a última foi a adotada por representar uma situação favorável ao fluxo no sentido

da lagoa Mangueira em direção ao Taim, mais interessante para os objetivos deste estudo.

Adotou-se um intervalo de tempo de cálculo de 60s, que, para a malha de 360m de

espaçamento e as profundidades do sistema modelado, resulta em um número de Courant (Cr)

inferior a 1,5, valor abaixo do limite (Cr=3,0) acima do qual foram observados problemas

numéricos em esquemas do tipo ADI (Benqué et al., 1982).

Como condições iniciais, adotou-se um nível da água horizontal na cota 2,90m, referente a

uma condição de nível médio no banhado, além de velocidades nulas em todos os elementos da

malha numérica.

Figura 10. Velocidade e direção do vento durante 4 dias de setembro/2001, retiradas dos dados do

posto Negreiros e adotadas nas simulações.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A consideração do vento atuando sobre todo o sistema Mangueira-Taim (caso 1) ou apenas

sobre a lagoa Mangueira (caso 2) acarretou no mesmo padrão de circulação da água na lagoa. As

variações de nível e de velocidade do escoamento com o tempo, em ambas as situações, foram

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praticamente idênticas entre si, como ilustram as figuras 11 e 12. Isso indica que a circulação da

água na Mangueira foi quase totalmente induzida pela ação direta do vento sobre a mesma, sendo

desprezível a contribuição da variação dos níveis no banhado, resultante do efeito do vento sobre

este.

A constatação anterior é reforçada pela análise dos resultados do terceiro caso, onde não se

observou, praticamente, nenhum efeito sobre a lagoa Mangueira, que permaneceu com uma

superfície d’água sem oscilação e velocidades de escoamento desprezíveis, relativamente aos casos

1 e 2. Devido à configuração da distribuição espacial da vegetação considerada, o fato de não haver

vegetação na porção leste da interface entre a lagoa e o banhado permitiu uma pequena circulação

de água na área da lagoa próxima a essa região, mas muito restrita (figura 14).

A predominância de um vento em torno da direção Sudoeste provocou a inclinação da

superfície da lagoa, elevando a parte norte e rebaixando a parte sul, o que pode ser observado pelo

comportamento dos níveis nos pontos 1 e 5 (figuras 11 e 12), para os casos 1 e 2. Após 74h de

simulação, esse desnível alcançou o valor máximo de 0,74m, cerca de 2,5h após o instante em que o

vento atingiu a velocidade máxima de 10,3m/s.

Figura 11. Variação do nível ao longo do tempo no ponto 1, para os 3 casos simulados.

Tendo como enfoque o banhado do Taim, as simulações das três situações estudadas

possibilitaram ter uma noção do quanto a oscilação dos níveis da água em tal região tem origem na

ação direta do vento sobre a mesma e o quanto é causada pela variação dos níveis na lagoa. No

gráfico da variação do nível com o tempo referente ao ponto 8 (figura 13), identifica-se, claramente,

que a oscilação resultante da ação do vento uniforme sobre todo o sistema modelado foi semelhante

à combinação dos efeitos resultantes da ação direta do vento sobre o banhado e sobre a Mangueira.

Tomando o nível inicial como referência, observa-se que, em alguns momentos, tais efeitos foram

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opostos: enquanto um provocou a elevação, o outro contribuiu para o rebaixamento dos níveis,

como o ocorrido após 60h de simulação. Em outros instantes, como após as 80h, ambos os efeitos

provocaram uma oscilação do nível da água no mesmo sentido.

Figura 12. Variação do nível ao longo do tempo no ponto 5, para os 3 casos simulados.

Figura 13. Variação do nível ao longo do tempo no ponto 8, para os 3 casos simulados.

Como mostram os campos de velocidade da figura 14, nas áreas consideradas com vegetação,

onde se impôs um coeficiente de Manning elevado e se reduziu a tensão de cisalhamento do vento,

o escoamento apresentou comportamento bem diferente das áreas sem vegetação.

Quando a atuação do vento foi restrita à lagoa Mangueira, observou-se uma circulação da

água no banhado do Taim, predominantemente, direcionada pelo fluxo afluente da lagoa

Mangueira. Conforme a configuração da distribuição espacial da vegetação adotada, apenas uma

pequena parte leste da região da interface não foi coberta por macrófitas aquáticas, servindo como

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5830000 5840000 5850000 5860000Coordenadas rotacionadas

2571000

2576000

2581000

2586000

Escala

0.10m/s

N

direção predominante do vento (SO)

caso 1

5830000 5840000 5850000 5860000Coordenadas rotacionadas

2571000

2576000

2581000

2586000

Escala

0.10m/s

N

direção predominante do vento (SO)

caso 2

5830000 5840000 5850000 5860000Coordenadas rotacionadas

2571000

2576000

2581000

2586000

Escala

0.10m/s

N

direção predominante do vento (SO)

caso 3

principal região de interação com a lagoa Mangueira, como mostram os campos de velocidades da

figura 14.

Figura 14. Detalhe da região do banhado do Taim com campos de velocidade após 60h de

simulação, para os 3 casos simulados.

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CONCLUSÕES

A vegetação presente nos banhados é bastante influenciada pela oscilação dos níveis e pela

circulação da água, refletindo alterações de origem antrópica sobre tais ecossistemas. Por oferecer

uma resistência adicional ao fluxo e proteger contra a ação do vento, a distribuição espacial da

vegetação dita o padrão geral de circulação da água, e, portanto, amplifica as conseqüências de

intervenções como a instalação e a operação de estruturas e a captação de água para agricultura, por

exemplo.

De modo geral, observou-se que o comportamento hidrodinâmico do banhado do Taim está

fortemente associado à presença da vegetação, cuja ocorrência temporal e espacial é dependente da

oscilação do nível da água. Portanto, prováveis cenários de gerenciamento da água na região devem

levar em conta o impacto sobre a vegetação e, consequentemente, sobre a circulação da água.

Neste estudo, a configuração da distribuição espacial da vegetação foi resultante da aplicação

de um critério simplificado, baseado nas condições de profundidade suportadas pelas macrófitas

aquáticas emergentes, considerando que o nível permanecera constante por um longo período de

tempo. Isso representa uma situação factível, tendo em vista a falta de um gerenciamento adequado

das comportas de saída e a captação de água para orizicultura, além do aterro da BR-471, cuja

construção foi responsável pelo isolamento entre o Taim e a lagoa Mirim.

A interação do banhado com a lagoa Mangueira é regida pela ação do vento sobre a última e,

principalmente, pela resistência provocada pela vegetação na interface com o banhado, levando a

concluir que a alteração do padrão espacial da vegetação no Taim, certamente, terá impacto também

na circulação da água na Mangueira.

Além de servir para analisar prováveis cenários de gerenciamento, o estudo da hidrodinâmica

de um ecossistema como o banhado do Taim pode ser utilizado para o entendimento de diversos

processos biológicos e ecológicos, bem como da ocorrência e distribuição espacial de macrófitas

aquáticas, organismos bentônicos e peixes.

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