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2LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: COMO UTILIZA-LA EM FAVOR DAS EMPRESAS

Todo empresário brasileiro já deve ter ouvido comentários sobre a famigerada MP da Liberdade Econômica. Na maioria das vezes, esses comentários devem ter sido acompanhados de boas dosagens de esperança, sobretudo de que a economia do país finalmente acelere. Agora, a tal MP da Liberdade Econômica foi convertida em lei, isto é, já passou a fazer parte do direito brasileiro em definitivo.

O objetivo deste e-book é esclarecer aos empresários brasileiros o que é a Lei da Liberdade Econômica, quais são os objetivos e efeitos práticos dela e, acima de tudo, como ela pode ser utilizada em benefício das empresas.

O e-book a analisa sob a perspectiva das áreas de atuação do Klein Portugal Advogados Associados.

LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: DESAFIOS E OPORTUNIDADESPARA O EMPRESÁRIO.

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MP DA LIBERDADE ECONÔMICA: o que é e quais são os seus objetivos

Direito Regulatório

Novo Rol de Princípios

Novas regras Previstas e seu uso pelas Empresas

Direito Concorrencial

Manejo da Lei da LE para combater acusações infundadas de ilícitos concorrenciais

Como a MP pode dificultar a responsabilização solidária dos empresários por práticas anticoncorrenciais

Direito Civil e Empresarial

Eventuais Inconstitucionalidades

Emendas à MP, convertidas em Lei

Conclusões

04

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07

10

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SUMÁRIO

Page 4: SINTA-SE SEGURO

4LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: COMO UTILIZA-LA EM FAVOR DAS EMPRESAS

Medida provisória, agora convertida em lei, que procura estabelecer um novo marco jurídico de interpretaçãodo direito para as relações entre agentes econômicos e entre estes e o Estado Regulador. E o faz com significativo recorte dos princípios tirados da ordem econômica constitucional (art. 170, CF), privilegiando a livre iniciativa, com a previsão de regras destinadas a promover a eficiência da atuação estatal e a condicionar a interpretação do direito nessas relações, sempre de modo favorável à mínima intervenção do Estado no exercício das atividades econômicas.

1. MP DA LIBERDADE ECONÔMICA: O QUE É E QUAIS SÃO OSSEUS OBJETIVOS

Como o empresário pode se beneficiarda Lei da Liberdade Econômica?É o que veremos a seguir.

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5LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: COMO UTILIZA-LA EM FAVOR DAS EMPRESAS

Regular um setor significa impor restrições à livre iniciativa dos particulares que nele atuam. Por essa razão, trabalhar com o direito regulatório significa traçar a linha que separa a regulação legítima daquela que configura abusos e inconstitucionalidades. O direito regulatório é, portanto, essencialmente constitucional. Ele tem por objeto restrições a um direito fundamental, sobretudo por meio de agências reguladoras.

O trabalho do advogado, aqui, está em analisar a constitucionalidade e a legalidade de cada uma das resoluções e normativas de agências reguladoras, combatendo a regulação abusiva. Para tanto, ele precisa utilizar a Constituição e o arcabouço normativo infralegal, que, juntos, enfeixam um sistema com pretensão de coerência.

Nesse sentido é que a MP 881/19 (Lei da Liberdade Econômica), se bem utilizada, pode fornecer aos empresários dos mais variados setores um novo paradigma para interpretar a regulação dos órgãos e agências a que estão submetidas – e, se necessário, enfrentá-la. Exemplos: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a ANP, a ANVISA, a ANEEL, a ANATEL, assim como os vários órgãos municipais e estaduais responsáveis pela fiscalização da atividade empresarial.

2. DIREITOREGULATÓRIO

Essa mudança de paradigma se dá especialmente pelo rol de princípios que a nova lei estabelece, e também pelas regras procedimentais por ela criadas. Vamos aos pontos principais.

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6LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: COMO UTILIZA-LA EM FAVOR DAS EMPRESAS

O art. 2º da MP estabelece um rol de princípios próprios, que, ao passarem a regulamentar as relações entre empresas e Estado, tem a pretensão de criar um novo paradigma normativo nesse âmbito. Dentre esses princípios, destacam-se o da presunção de boa-fé do particular e o da subsidiariedade e excepcionalidade da intervenção do Estado na atividade econômica (incisos II e III, respectivamente). Não é à toa que a MP tem como tônica evitar o abuso de poder regulatório.

Ambos os princípios, sobretudo o primeiro, passam a servir de norte para a interpretação de qualquer caso jurídico de regulação das agências e órgãos estatais, assim como para a confecção das regras que a própria lei previu.

Há, essencialmente, uma inversão de ônus aqui: se, antes, podiam as agências ou órgãos do Estado partir de algumas presunções desfavoráveis ao empresário, sobretudo com o argumento

de prevalência do interesse público, agora, isso passa a ser vedado. Isso serve tanto para a edição de normas, como para a aplicação de punições a empresários de setores os mais variados. Da mesma forma, toda regulação, porque excepcional, passa a ter um ônus argumentativo muito maior. O Estado deverá expor, em detalhes, as razões de cada ato regulatório. Não demonstrando essas razões, presume-se a regularidade da atividade do empresário. Toda restrição à livre iniciativa passa a ter que observar requisitos muito rigorosos.

O ponto é que os dispositivos que preveem esses princípios, assim como toda a lógica da nova lei, estabelecem, na clássica colisão entre livre iniciativa e interesse público, uma prioridade prima facie, isto é, em princípio, da primeira.

2. DIREITO REGULATÓRIO

2.1. NOVO ROLDE PRINCÍPIOS

Esse novo paradigma fica ainda mais claro com as regras previstas na Lei da Liberdade Econômica, sobre as quais falamos a seguir.

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7LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: COMO UTILIZA-LA EM FAVOR DAS EMPRESAS

A Lei da Liberdade Econômica esta-belece regras que transferem ao Poder Público, de modo bastante explícito, o ônus de demonstrar que as normas de regulação sobre um determinado setor são necessárias e eficientes. Esse novo marco objetiva inibir a regulação cujo único resultado é impor obstáculos à atividade empresarial, e ele se aplica a setores os mais variados, sobretudo aqueles de atividade de baixo risco.

Prazo para a apreciação de pedido de autorização e aprovação tácita: o empresário pode exigir que o Poder Público estabeleça o tempo máximo para a análise do seu pedido de autorização de que dependa a sua atividade; se este prazo for ultrapassado, se considerará, para todos os fins, que a autorização foi concedida, ainda que tacitamente (art. 3º, IX). Isso apenas não se aplica em caso de atividade econômica de justificável risco; no entanto, é importante destacar que a lei obriga o Poder Público, em seu órgão competente, a ter definido, previamente e de modo fundamentado, quais atividades são consideradas “de risco”. Veda-se, com isso, que o Estado indefira pedidos autorizações de maneira arbitrária;

Abuso de poder regulatório: estabelece-se que é dever do Estado evitar o abuso de poder regulatório, de modo que fica muito evidente que o intuito da lei é reduzir a regulação ao mínimo necessário. Com isso, a lei

Limitação da discricionariedade do Poder Público para conceder ou não licenças e autorizações: passa a ser permitido ao empresário exigir coerência e tratamento isonômico do Poder Público para a concessão de licenças, autorizações ou liberações. Isto é, se há caso semelhante, de outra empresa, em que a atividade empresarial foi autorizada, o empresário pode exigir que também o seu empreendimento seja autorizado (art. 3º, IV, da MP);

2. DIREITO REGULATÓRIO

2.2. NOVAS REGRAS PREVISTAS E SEU USO PELAS EMPRESAS

a)

Abaixo, listamos algumas dessasnovas regras:

b)

c)

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8LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: COMO UTILIZA-LA EM FAVOR DAS EMPRESAS

2. DIREITO REGULATÓRIO

2.2. NOVAS REGRAS PREVISTAS E SEU USO PELAS EMPRESAS

d)

e)f)

confere ao advogado uma ferramenta importante para questionar regulações que eventualmente ultrapassem esse limite. As discussões jurídicas certamente se centrarão na definição desse limite;

Proibição a exigências de especificação técnica desnecessárias: toda exigência de especificação técnica para o desenvolvimento de atividade econômica deve ser prévia e detalhadamente fundamentada; mais uma vez, vê-se que a nova lei transfere de maneira muito forte todos os ônus argumentativos ao Poder Público. Assim, exigências técnicas feitas pelas agências e órgãos, que eventualmente prejudiquem ou dificultem a atividade do empresário, podem vir a ser questionadas;

Vedação a aumento de custos de transação: toda regulação que possa gerar algum impacto econômico negativo (custo) na atividade empresarial precisa ser contrabalanceada com benefícios

correspondentes. O termo “benefícios”, que é muito amplo, pode ser utilizado de modo arbitrário. Há uma certeza, portanto: o Estado fará o uso mais arbitrário possível desse termo, justificando qualquer aumento de custos de transação com base no “interesse público”, em contrariedade à própria lógica da nova lei. Aos empresários será necessário, então, rebater o máximo de regulações que aumentem os custos de transação, apontando a inexistência de benefícios correspondentes e apostando na transferência de ônus probatório (ao Poder Público) que a lei preconiza. Ou seja: deve-se argumentar que cabe ao Poder Público demonstrar, em concreto e com detalhes, que o interesse público é atendido;

Vedação à introdução de limites à formação livre de atividades econômicas: mais uma vez, reforça-se a tônica de tratar qualquer restrição à livre iniciativa como grave e excepcional. Deve o Poder Público – agências reguladoras, assim como

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9LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: COMO UTILIZA-LA EM FAVOR DAS EMPRESAS

2. DIREITO REGULATÓRIO

2.2. NOVAS REGRAS PREVISTAS E SEU USO PELAS EMPRESAS

g)

prefeituras e órgãos de governo – que qualquer novo limite estabelecido é estritamente necessário. Propõe-se um paradigma completamente diverso do anterior;

Necessidade de Análise de Impacto Regulatório: qualquer proposta de edição de atos normativos pelas agências e órgãos do governo deverá ser precedida de análise detalhada dos efeitos que aquela regulação terá no setor. Essa necessidade, no entanto, terá que ser prevista em regulamento próprio. Em todo caso, reforça-se o combate à regulação despropositada, conferindo-se peso a priori muito maior à livre iniciativa do que ao interesse público.

As normas supracitadas evidenciam, em síntese, que a Lei da Liberdade Econômi-ca pretende mesmo trazer um novo modelo de interpretação do direito reg-ulatório no país, com a determinação de uma prevalência prima facie da livre iniciativa sobre o interesse público. Para o empresário e para o advogado, como vimos, os usos possíveis desse novo ar-cabouço normativo são vários.

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10LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: COMO UTILIZA-LA EM FAVOR DAS EMPRESAS

A Lei da Liberdade Econômica pauta-se na premissa de que os particulares não devem ser alvo de restrições abusivas em sua liberdade econômica. No direito concorrencial, sobressai-se a liberdade do particular de definir preços (art. 3º, II).

Há setores e empresas, no entanto, que têm sido alvo de regulação e fiscalização intensas de parte de órgãos de controle da concorrência. Por este motivo, a nova lei também deve ser analisada sob a lente da Lei nº 12.529/2011, que estrutu-ra sistema de defesa da concorrência. A própria lei faz essa ressalva em seu art. 3º, §4º, II.

Os dispositivos da lei que resguardam a concorrência, assim, têm importância redobrada para essas empresas. O que importa, então, é saber se é possível manejar a Lei da Liberdade Econômi-ca para evitar que, sob a pretensão de regulação de concorrência, empresários sejam vítimas de práticas abusivas do Es-tado – pelo CADE, sobretudo.

E, aqui, o já mencionado rol de princípios previstos pela nova lei, especialmente o da presunção de boa-fé do empresário

e a excepcionalidade da intervenção estatal, além das várias regras determi-nando que todo ato regulatório deve ser precedido da devida exposição de funda-das e comprovadas razões, impedem que o Poder Público, por meio do CADE ou de qualquer outro órgão, presuma que qualquer prática dos empresários seja nefasta à livre concorrência. Pelo con-trário, na dúvida, deve-se concluir que o particular age de boa-fé ou, no mínimo, de modo lícito.

Em concreto, a nova lei pode mesmo ser utilizada para afastar qualquer pre-sunção de cartelização, dumping ou qualquer outro ilícito concorrencial, para exigir que o Poder Público demonstre, de modo cabal, que há alguma prática dolosa contrária à livre concorrência. Em suma, a lei, se bem utilizada, por vir a ser uma ferramenta importante dos em-presários no combate a abusos na regu-lação concorrencial.

Por outro lado – isto é, da perspecti-va daqueles que se sentem prejudicados por práticas concorrenciais verdadeira-mente abusivas e tendentes a aniquilar a

3. DIREITO CONCORRENCIAL

3.1. MANEJO DA LEI DA LE PARA COMBATER ACUSAÇÕES INFUNDADAS DE ILÍCITOS CONCORRENCIAIS

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11LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: COMO UTILIZA-LA EM FAVOR DAS EMPRESAS

concorrência – , a lei abre espaços para o questionamento de resoluções e por-tarias de agências e órgãos estatais que prejudiquem a concorrência.

Em suma, toda regulação ou ato es-tatal que puder ter como consequência a concentração ou reserva de mercado poderá ser questionada judicialmente, e isto precisamente em defesa da livre concorrência que é estimulada pela Lei da Liberdade Econômica.

Nestes casos, cabe ao interessado demonstrar que a medida estatal pode, no final das contas, extinguir parte

significativa dos concorrentes, formando um oligopólio que, a rigor, controlaria os preços, o que acontece sempre de maneira danosa ao consumidor. A lei veda, expressamente, que qualquer regulação tenha essa consequência, conforme demonstra o seu art. 4º, I.

Em suma, tem-se que a nova lei, se bem utilizada, pode ser uma importante ferramenta de defesa dos empresários, seja ela contra a fiscalização e punição estatal abusivas, seja contra a regulação que estimule a concentração de mercado.

3. DIREITO CONCORRENCIAL

3.1. MANEJO DA LEI DA LE PARA COMBATER ACUSAÇÕES INFUNDADAS DE ILÍCITOS CONCORRENCIAIS

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12LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: COMO UTILIZA-LA EM FAVOR DAS EMPRESAS

A Constituição dispõe em seu art. 173, §4º que “a lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros”. Depreende-se do enunciado a necessidade de dolo por práticas anticoncorrenciais. E, no entanto, a legislação ordinária que versa sobre a concorrência havia seguido outro caminho.

Em seu art. 36, a Lei de Defesa da Concorrência instituiu o regime da responsabilidade objetiva por infrações à ordem econômica. Determinou, em suma, que a responsabilização não somente não exige o dolo, como sequer exige culpa.

Assim, o CADE passou a impor multas fácil e frequentemente a qualquer em-presário por alegada infração econômica.

E há mais: ele se acostumou a respons-abilizar todas as empresas de um even-tual grupo econômico. Isso porque o art. 33 da Lei de Defesa da Concorrência re-sponsabiliza solidariamente as empresas que formam grupos econômicos, mesmo quando apenas uma delas praticar in-

fração à ordem econômica. A Lei da Liberdade Econômica,

felizmente, seguiu outro caminho: o constitucional. Ao reformar o art. 50 do Código Civil, a nova legislação, especialmente após as emendas realizadas até o momento, deixou expresso que a mera existência de grupo econômico, de fato ou de direito, não autoriza a desconsideração da autonomia patrimonial das afiliadas sem que se constate a presença de confusão patrimonial ou desvio de finalidade doloso.

Há especificação da exigência para a desconsideração da personalidade jurídica e responsabilização solidária: a comprovação de confusão patrimonial e o desvio de finalidade definido como utilização dolosa da pessoa jurídica para fins ilícitos.

Por mais que a legislação concorrencial seja específica, a lei, por trazer um novo viés hermenêutico ao sistema jurídico brasileiro, fornece ferramentas para combater a responsabilização objetiva, excessiva, generalizada e sem respaldo probatório, que recai sobre as empresas do mesmo grupo econômico.

3. DIREITO CONCORRENCIAL

3.2. COMO A MP PODE DIFICULTAR A RESPONSABILIZAÇÃO SOLIDÁRIA DOS EMPRESÁRIOS POR PRÁTICAS ANTICONCORRENCIAIS

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13LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: COMO UTILIZA-LA EM FAVOR DAS EMPRESAS

A conclusão é a seguinte: para que, em casos de sanções por eventuais abusos de poder econômico, seja atingido o patrimônio de outras empresas de um grupo empresarial ou mesmo o patrimônio pessoal do sócio, será necessário demonstrar que o empresário/grupo econômico atuou dolosamente com o fim de praticar ilícitos. A MP, assim, tende a dificultar – e muito – esse tipo de medida, resguardando o empresário.

Há, assim, espaço para tentar revigorar a segurança do empresário que quer investir seu capital, resguardando-o de punições desarrazoadas e infundadas por parte do Estado e suas autarquias.

Todo o discutido é reforçado pela re-afirmação da presunção de boa-fé do particular nos atos praticados no exer-cício da atividade econômica (art. 3º, IV, da redação original da MP). Pensava-se que essa já fosse a regra, mas a realidade brasileira parece ter invertido tal norma ao longo dos anos, sendo o papel da lei resgatá-la.

Embora haja pontos ainda controverti-dos e muito criticados na lei, parece que

o Estado visou a reconhecer algumas questões já previstas na Constituição que pareciam ter sido esquecidas pelo sistema brasileiro.

3. DIREITO CONCORRENCIAL

3.2. COMO A MP PODE DIFICULTAR A RESPONSABILIZAÇÃO SOLIDÁRIA DOS EMPRESÁRIOS POR PRÁTICAS ANTICONCORRENCIAIS

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14LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: COMO UTILIZA-LA EM FAVOR DAS EMPRESAS

A nova legislação, em seu art. 7º, traz diversas alterações no Código Civil (CC), muitas delas relacionadas à pessoa jurídica e à atividade empresarial.

Dentre essas alterações, há várias que interessam aqueles que planejam iniciar atividades empresariais. Nesse sentido, a Lei da Liberdade Econômica procurou promover verdadeira desburocratização dos trâmites necessários para a abertura de empresas.

A Lei da Liberdade Econômica torna desnecessária, por exemplo, a obtenção de alvará e vistoria dos bombeiros para o início de atividades empresariais de baixo risco.

Da mesma forma, passa a ser possível, agora, a constituição de empresa unipessoal, isto é, com um único sócio, sem a exigência de capital mínimo – o que se passava com a EIRELI. O empresário, então, pode se beneficiar do regime da responsabilidade limitada, sem precisar de outro sócio ou de um capital social de 100 (cem) salários mínimos.

Mas os pontos mais complexos e que demandam o melhor manejo possível pelo advogado estão em outros aspectos da lei. Passemos a eles.

As considerações feitas no tópico ante-rior sobre a desconsideração da person-alidade jurídica e grupos econômicos, em função das alterações trazidas pela nova lei ao art. 50 do CC, também se aplicam às relações privadas.

Consolida-se maior proteção à personalidade jurídica, que há muito tempo é facilmente afastada no sistema jurídico brasileiro. Uma separação mais rígida entre a sociedade e seus sócios (ou empresas parceiras) reduz o risco pessoal do investidor, propiciando mais investimentos.

Atribui-se nova interpretação à cláusula geral da função social dos contratos, agora expressamente em conformidade com a liberdade econômica (art. 421). Faculta-se às partes estabelecer os próprios critérios de interpretação de seus contratos, bem como os requisitos que desejam adotar para a revisão ou resolução do contrato (art. 480-B). A redação de contratos empresariais, então, ganha novo contorno, campo a ser explorado nos mais variados setores do mercado, em todas as suas relações, sejam elas com fornecedores, clientes e mesmo entre os próprios sócios.

4. DIREITO CIVILE EMPRESARIAL

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15LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: COMO UTILIZA-LA EM FAVOR DAS EMPRESAS

A nova lei traz a ideia de que a alo-cação de riscos é inerente à atividade empresarial: se o empresário livremente assina contrato que o coloca em posição de maior risco que o outro contratante, essa escolha passa a ser respeitada (art. 480-B). Não poderá a parte prejudica-da, então, alegar, posteriormente, algum eventual abuso ou vício nesse sentido.

Em suma, a intervenção do Estado pas-sa a ser mínima, optando o legislador por adotar técnica legislativa de inter-pretação mais fechada e rígida, afastan-do ao máximo a aplicação indiscriminada de princípios e cláusulas gerais que re-strinjam a atividade do particular.

Veja-se que, hoje, vários são os contratos que vêm a sofrer intervenções do Judiciário, sobretudo para determinar a anulação de alguma(s) cláusula(s) contratuais, com isso efetivamente contrariando o que era a vontade das partes quando da celebração daquele contrato. O entendimento se baseia na função social do contrato. Sob a égide da nova lei, ele certamente poderia ser considerado inadequado.

A prevalência da autonomia da vonta-

de, preconizada pela nova lei, tende a conferir maior segurança ao empresário. Daí a importância do correto uso da nova legislação, em cada caso.

Ainda no âmbito cível, vale mencionar os contratos de locações e sublocações comerciais, aos quais também se aplica entendimento de que, dentro dos limites permitidos pela lei de locações, preva-lece aquilo que foi livremente escolhido entre as partes.

Em suma, o cuidado e a tecnicidade na elaboração e revisão dos contratos que regularão as relações empresariais tornam-se muito mais importantes, pois o afastamento daquilo que é pactuado tende a ser mais difícil. Em suma, via de regra, o que ficar estabelecido ali pas-sará, mesmo, a ser a lei para as partes.

Por fim, vale mencionar que cessou o dever de armazenar, em arquivo físico e por até cinco anos, alguns documentos da empresa, o que se aplicava especial-mente a documentos tributários. Com a nova lei, esses documentos podem ser armazenados digitalmente, cabendo ao empresário comprovar a autenticidade deles, apenas.

4. DIREITO CIVILE EMPRESARIAL

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16LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: COMO UTILIZA-LA EM FAVOR DAS EMPRESAS

Toda análise preventiva, que vise a proporcionar segurança ao empresário, deve ter o grau de isenção necessário para que todos os riscos da situação sejam transmitidos. É o que este escritório, cuja atuação tem forte viés preventivo, sempre se propõe a fazer.

E a leitura da Lei da Liberdade Econômica não pode vir desacompanhada dessa análise de riscos – sejam eles de eventuais modificações legislativas, sejam de possíveis declarações de inconstitucionalidade de alguns dispositivos.

Nesse sentido, importa apontar que a própria pretensão da Lei, no sentido de promover um recorte dos princípios da Ordem Econômica tal como previstos na Constituição, com enfoque exclusivo na livre iniciativa – em detrimento de outros, como a função social da propriedade, fortemente ligado ao interesse público – pode vir a ser declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal.

Veja-se que já há Ação Direta de Inconstitucionalidade proposta pelo PDT, em trâmite no Supremo Tribunal Federal, que segue essa linha argumentativa.

Assim, é possível que alguns ministros decidam no sentido de que alguns dispositivos da Lei da Liberdade

Econômica violam a Constituição, razão pela qual deveriam ser declarados inválidos. Em especial, vemos mais riscos nos seguintes dispositivos: art. 2º, III, art. 3º, I e VIII, art. 4º, VIII, e art. 5º, art. 421 do CC segundo a nova redação proposta pela Lei da Liberdade Econômica.

Há também, relevante discussão sobre a inconstitucionalidade formal da Lei da Liberdade Econômica, já ela, medida provisória que é, apenas poderia ser proposta em situações de urgência e relevância. E muito se discute sobre se esse requisito teria sido preenchido no caso, com posicionamentos relevantes em sentido contrário.

Todos esses riscos precisam ser considerados, e poderão ser melhor explicados em reunião presencial.

5. EVENTUAIS INCONSTITUCIONALIDADES

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17LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: COMO UTILIZA-LA EM FAVOR DAS EMPRESAS

Diversas emendas foram apresentadas à MP 881/2019. Até o início de maio deste ano, o número chegava a 301. Destas 301, 81 foram acolhidas pelo texto final. Em função da quantidade de alterações sofridas pela redação e pelo conteúdo da Medida Provisória, entende-se necessário um breve comentário acerca das novas disposições.

A emenda 135, contemplada no art. 23 da redação final da MP 881/2019, acresce o art. 65-A à Lei nº 8.934/1994, que é mais um exemplo do objetivo da medida de conferir maior liberdade e flexibilidade aos empresários, que agora poderão realizar atos societários (constituição, alteração, transformação, incorporação, fusão, cisão, etc.) com maior facilidade, por registro eletrônico.

As emendas 155, 227 e 294, por sua vez, dizem respeito à legislação tra-balhista. A emenda 155 materializou-se no art. 28 da MP, e determinou que, nas obrigações decorrentes de vínculo em-pregatício, a mera existência de grupo econômico não impõe responsabilidade subsidiária entre as empresas do grupo, exceto nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, conforme previs-tos no art. 50 do Código Civil.

Já as emendas 227 e 294 são interes-santes para o gerenciamento de ativi-dades de baixo risco. Ficou flexibilizada a fiscalização destas atividades, que (i) será posterior ao início dos trabalhos; (ii) pode ser realizada de ofício ou em decorrência de denúncia feita a autori-dade responsável; (iii) terá cunho mera-mente orientador “quando a atividade ou situação, por sua natureza, compor-tar grau de risco compatível com esse procedimento, observado o critério de dupla visita para lavratura de autos de infração”.

Essa dupla visita poderá ser excepcionada para proteger direitos do trabalhador, se for constatada infração por falta de registro de empregado ou anotação da CTPS, na ocorrência de reincidência, fraude, resistência

6. EMENDAS À MP, CONVERTIDA EM LEI

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18LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: COMO UTILIZA-LA EM FAVOR DAS EMPRESAS

ou embaraço à fiscalização, quando a lavratura do auto for imperiosa para a proteção da segurança e saúde do trabalhador, ou envolver a ocorrência de trabalho infantil ou trabalho forçado.

Também sobre o desenvolvimento destas atividades comerciais de baixo risco, a emenda 269 estabelece parâmetros mais rígidos para sua liberação tácita, a fim de garantir que ela seja resultante exclusivamente da morosidade do Poder Público. A emenda, que foi incorporada parcialmente no atual art. 3, §11º da MP 881/2019, tem um tom de responsabilização do empresário pelo mau uso ou abuso do direito à liberação automática, e também da Administração Pública pela morosidade. Daí é que, no inciso II, fica clara a responsabilidade da Administração de dar as informações mais completas acerca do andamento dos pedidos, e também que o prazo, enquanto o particular não fizer as correções necessárias, fica suspenso enquanto não for cumprida a notificação.

Em suma, cabe aos empresários, aqui, fazer o adequado manejo desse instru-mento (liberação tácita), sob pena de eventuais responsabilizações.

Quanto às análises de impacto regu-latório, a emenda 248, embora não tenha sido acolhida no texto final, viria como o outro lado da moeda no que tange a es-tes estudos, e sua simples propositura já demonstra o que o legislador busca atin-gir com as análises. A fim de impedir que os mesmos estudos - criados a fim de di-minuir o peso de eventuais regulações - se tornem empecilhos, a emenda incluiria um parágrafo no artigo referente às aná-lises, no sentido de que elas não pode-riam ser utilizadas como instrumentos protelatórios das revogações de atos normativos de interesse geral.

Por sua vez, no que tange ao direito so-cietário, a emenda 284 altera o quórum necessário para os sócios deliberarem sobre o contrato social. O número, que antes era correspondente a, no mínimo, três quartos do capital social, passa a ser de maioria simples apenas - ou seja, correspondente a mais da metade desse capital. Trata-se de mudança de grande per-tinência, no caso das empresas limitadas.

6. EMENDAS À MP, CONVERTIDA EM LEI

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19LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: COMO UTILIZA-LA EM FAVOR DAS EMPRESAS

Para isso, é preciso que ela seja utilizada com técnica, eficiência e criatividade. Este é o papel do advogado.

7. CONCLUSÕES

Conclui-se que a Lei da Liberdade Econômica, ao oferecer um novo paradigma interpretativo do direito, em suas mais variadas áreas, pode vir a ser uma importante ferramenta nas mãos dos empresários no combate a abusos do Estado, poupando-lhes de prejuízos e proporcionando-lhes lucros e, acima de tudo, segurança.

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