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 São Paulo Perspec., São Paulo, v. 23, n. 1, p. 5-18, jan./jun. 2009 S e há uma política que avançou no Brasil, nos últimos 15 anos, foi a implantação dos sistemas de avaliação educacional. Neste período, inúmeras iniciativas deram forma a um robusto e eciente sistema de avaliação em todos os níveis e modalidades de ensino, consolidan - do uma efetiva política de avaliação educacional. Considerada hoje uma das mais abrangentes e ecientes do mundo , a política de avaliação engloba diferentes programas, tais como o Sistema Nacional de Avaliaç ão da Educação Básica – Saeb, o Exame Nacional do Ensino Médio – Enem, o Exame Nacional de Cursos – ENC, conhecido como Provão e, posteriormente, substituído pelo Exame Nacional de Desempenho do Ensino Superior – Enade, o Exame Nacional de Certicação de Jovens e Adultos – Enceja, o Sistema Nacional de  Avaliação do Ensino Superior – Sinaes, a Prova Brasil e o Índice de Desenvolvimento da Educação Bási- ca – Ideb. Em conjunto, estes sistemas, ao lado da Avaliação da Pós-Graduação da Capes – o mais antigo sistema de avaliação do país no setor educação –, conguram um macrossistema de avaliação da qualidade da educação brasileira. Resumo: O artigo descreve e analisa os sistemas de avaliação da educação básica brasileira, focalizando a concepção e metodologia, o processo de implementação e as diculdades de utilização dos resultados para melhorar a qualidade das escolas. Aborda-se o caso de São Paulo, com destaque para a agenda da reforma educacional e as políticas voltadas para a melhoria da qualidade do ensino Palavras-chave: Avaliação. Políticas educacionais. Educação básica. EDUCATIONAL SYSTEMS OF EVALUATION IN BRAZIL: NEWS CHALLENGES Abstract: The article describes and analyses the Brazilian systems of evaluation of basic education, focusing design and methodology, the implementation process and the difculties in using the results for improving quality at school level. The second part studies the case of Sao Paulo with emphasis on the agenda of educational reform and policies to improving the quality of education. Key words: Assessment and evaluation. Education policies. Basic education. SISTEMAS DE A V ALIAÇÃ O DA E DUCAÇÃO NO BRASI L avanços e novos desaos M  AR I A  HELENA  GUIMARÃES DE C  AS TR O

Sistemas de Avaliação da Educação no Brasil

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Artigo publicado Palavras-chave: Avaliação. Políticas educacionais. Educação básica.

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  • So Paulo Perspec., So Paulo, v. 23, n. 1, p. 5-18, jan./jun. 2009

    Se h uma poltica que avanou no Brasil, nos ltimos 15 anos, foi a implantao dos sistemas de avaliao educacional. Neste perodo, inmeras iniciativas deram forma a um robusto e eciente sistema de avaliao em todos os nveis e modalidades de ensino, consolidan-do uma efetiva poltica de avaliao educacional. Considerada hoje uma das mais abrangentes e ecientes do

    mundo, a poltica de avaliao engloba diferentes programas, tais como o Sistema Nacional de Avaliao da Educao Bsica Saeb, o Exame Nacional do Ensino Mdio Enem, o Exame Nacional de Cursos ENC, conhecido como Provo e, posteriormente, substitudo pelo Exame Nacional de Desempenho do Ensino Superior Enade, o Exame Nacional de Certicao de Jovens e Adultos Enceja, o Sistema Nacional de

    Avaliao do Ensino Superior Sinaes, a Prova Brasil e o ndice de Desenvolvimento da Educao Bsi-ca Ideb. Em conjunto, estes sistemas, ao lado da Avaliao da Ps-Graduao da Capes o mais antigo sistema de avaliao do pas no setor educao , conguram um macrossistema de avaliao da qualidade

    da educao brasileira.

    Resumo: O artigo descreve e analisa os sistemas de avaliao da educao bsica brasileira, focalizando a concepo e metodologia, o processo de implementao e as dificuldades de utilizao dos resultados para melhorar a qualidade das escolas. Aborda-se o caso de So Paulo,

    com destaque para a agenda da reforma educacional e as polticas voltadas para a melhoria da qualidade do ensinoPalavras-chave: Avaliao. Polticas educacionais. Educao bsica.

    EDUCATIONAL SYSTEMS OF EVALUATION IN BRAZIL: NEWS CHALLENGESAbstract: The article describes and analyses the Brazilian systems of evaluation of basic education, focusing design and methodology,

    the implementation process and the difficulties in using the results for improving quality at school level. The second part studies the case of Sao Paulo with emphasis on the agenda of educational reform and policies to improving the quality of education.

    Key words: Assessment and evaluation. Education policies. Basic education.

    SISTEMAS DE AVALIAO DA EDUCAO NO BRASILavanos e novos desafios

    MARIA HELENA GUIMARES DE CASTRO

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    So Paulo Perspec., So Paulo, v. 23, n. 1, p. 5-18, jan./jun. 2009

    Paralelamente aos sistemas nacionais, vrios Esta-dos e municpios tambm organizaram sistemas lo-cais e regionais de avaliao das aprendizagens. Todas essas iniciativas indicam a progressiva institucionali-zao da avaliao como mecanismo importante para subsidiar o processo de formulao e monitoramento de polticas pblicas responsveis e transparentes que devem nortear o aprimoramento de aes de melho-ria da aprendizagem. Mais do que isso, a institucio-nalizao da avaliao educacional no Brasil hoje, sem dvida, instrumento fundamental do processo de prestao de contas sociedade e de enriqueci-mento do debate pblico sobre os desaos da educa-o no pas. So constantes os editoriais de jornais e revistas, mais importantes do pas, dedicados ao tema da avaliao e seus resultados. Matrias em jornais dirios de TV mostram semanalmente boas prticas de escolas e municpios, com base nos resultados das avaliaes.

    A experincia internacional, assim como a brasi-leira, mostra que as aes mais ecazes para a me-lhoria da qualidade do ensino so aquelas focadas na aprendizagem e na escola. A realizao de avaliaes em larga escala como forma de conhecer melhor a dinmica dos processos e resultados dos sistemas educacionais tem se tornado uma constante em pases de diferentes culturas e distintas orientaes ideo lgicas de governo. Prova disso a existncia de sistemas nacionais de avaliao em 19 pases da Am-rica Latina e sua crescente participao nas avaliaes internacionais, como o Programme for International Student Assessment Pisa1 e o Trends in Interna-tional Mathematics and Science Study TIMMS,2 ao lado de pases da Unio Europeia, Amrica do Norte, sia e frica. Alm disso, verica-se crescente ten-dncia ao desenvolvimento de sistemas subnacionais em todo o mundo, como ocorre no Brasil.

    Como destacam Ferrer e Arregui (2003), esta con-vergncia em torno das avaliaes estandarizadas derivada de vises, perspectivas e interesses distintos quanto ao papel dos sistemas educativos: melhorar as economias nacionais, estabelecendo vnculos mais fortes entre escolarizao, emprego, produtividade e mercado; melhorar os resultados de aprendizados relacionados s competncias e habilidades exigidas

    pelo mercado de trabalho; obter um controle mais amplo dos sistemas educativos nacionais sobre os contedos curriculares e a avaliao; reduzir os cus-tos dos governos na educao; e ampliar a contribui-o da comunidade para a educao por meio de sua participao na tomada de decises escolares. Estas tendncias vm sendo incorporadas a novas formas de administrao e gesto que defendem a necessida-de de melhorar a ecincia dos sistemas educativos e

    de fomentar a responsabilidade social e prossional

    pelos resultados da educao.Independente dos motivos que levam criao

    de sistemas de avaliao, parece haver concordncia quanto ao seu importante papel como instrumento de melhoria da qualidade. Como os resultados da educao no so diretamente observveis nem ime-diatos, dada a heterogeneidade do corpo docente e da situao socioeconmica familiar dos alunos, s possvel obter uma viso geral do desempenho dos sistemas educacionais mediante uma avaliao exter-na em larga escala.

    At recentemente, media-se a qualidade de um sis-tema educativo com base nos indicadores de acesso e permanncia na escola, tais como matrcula, cobertu-ra, repetncia, evaso, anos de estudo, etc. O acesso educao formal era limitado e a populao com me-nos recursos estava praticamente excluda do sistema, quando muito permanecia alguns anos na escola. O acesso e a permanncia no sistema eram considera-dos sinnimos de aquisio de conhecimento e das competncias bsicas.

    A progressiva universalizao do acesso e a am-pliao do nmero de anos de estudo modicaram

    esta situao. Os novos alunos, em geral oriundos de famlias pobres e mais vulnerveis, chegam ao siste-ma educativo em desvantagem em termos de acesso a bens culturais e manejo da linguagem oral e escrita. Neste contexto, a equivalncia entre anos de estudo e acesso ao conhecimento e domnio das competncias bsicas nem sempre se concretiza. verdade que a maior permanncia nos sistemas educativos traz al-guns benefcios, mas no necessariamente signica

    que os cidados esto aprendendo e incorporando os conhecimentos e competncias necessrios para o seu desenvolvimento prossional e pessoal.

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    Alm disso, a democratizao da educao acar-retou tambm uma forte massicao do acesso

    prosso docente, a qual infelizmente no foi acom-panhada por mecanismos para garantir sua adequa-o nova realidade e a qualidade da formao inicial oferecida pelas instituies formadoras. Em geral, a agenda de reformas educativas no priorizou, como deveria, a reformulao dos programas de formao inicial e em servio dos professores e tampouco de-senvolveu mecanismos de certicao docente e/ou

    de controle da qualidade dos cursos oferecidos.Neste quadro, o desenvolvimento de sistemas de

    informao e avaliao transformou-se em pea-cha-ve dos processos de reformas educacionais, que tive-ram lugar em diversos pases, principalmente a partir de meados da dcada de 1980. Com a nalidade de

    subsidiar aes de melhoria da qualidade, as avalia-es passaram a dar maior visibilidade e transparn-cia a aspectos centrais do processo de aprendizagem:

    O que os alunos esto aprendendo? Em que medi- da, os resultados obtidos correspondem ao que se espera deles ao nal dos diferentes ciclos ou nveis

    de aprendizagem?Quais os fatores que melhor explicam os resulta- dos positivos ou negativos da educao? Quais os efeitos da repetncia? Ou do processo de alfabe-tizao nas sries iniciais? Ou de aspectos como salrios, carreira e formao dos professores? Em que medida o envolvimento dos pais nas atividades escolares dos lhos incide sobre os resultados?

    Qual o grau de equidade observado nos resul- tados da aprendizagem? Como as desigualdades sociais, econmicas e culturais de uma dada socie-dade incidem sobre as oportunidades de aprendi-zagem? Que caractersticas escolares diminuem o impacto do nvel socioeconmico nos resultados da aprendizagem?Em suma, um sistema nacional de avaliao em

    larga escala pode prover informaes estratgicas para aprofundar o debate sobre a situao educacio-nal de um pas e mostrar o que os alunos esto apren-dendo, ou o que deveriam ter aprendido, em relao aos contedos e habilidades bsicas estabelecidos no currculo. Como os currculos geralmente so muito extensos, a elaborao de provas nacionais obriga a

    denir quais as aprendizagens devem ser considera-das fundamentais e asseguradas a todos os alunos. O mesmo se aplica s avaliaes internacionais que per-mitem comparaes entre os pases ou regies.

    Mas, se verdade que o Brasil avanou na monta-gem e consolidao dos sistemas de avaliao, tam-bm verdade que ainda no aprendemos a usar, de modo eciente, os resultados das avaliaes para me-lhorar a escola, a sala de aula, a formao de profes-sores. Este, alis, um dos grandes desaos das pol-ticas educacionais, sem o qual o objetivo principal da poltica de avaliao perde sentido para os principais protagonistas da educao: alunos e professores.

    Este artigo examina os sistemas de avaliao da educao bsica brasileira, com destaque para os sis-temas nacionais e a experincia de So Paulo. Alm de apresentar o desenho, conceitos e objetivos dos principais sistemas de avaliao, procura-se discutir algumas fragilidades sistmicas que dicultam o uso

    dos resultados das avaliaes nas escolas e sistemas de ensino.

    OS SISTEMAS DE AVALIAES EDUCACIONAIS NO BRASIL

    No Brasil, o desenvolvimento de um sistema de ava-liao da educao bsica bastante recente. At o incio dos anos 1990, com a exceo do sistema de avaliao da ps-graduao sob a responsabilidade da Capes, as polticas educacionais eram formuladas e implementadas sem qualquer avaliao sistemtica. No era possvel saber se as polticas implementadas produziam os resultados desejados ou no. Simples-mente, at meados da dcada de 1990, no havia me-didas de avaliao da aprendizagem que produzissem evidncias slidas sobre a qualidade dos sistemas de ensino no pas. Costuma-se falar da velha escola p-blica do passado como exemplo de qualidade. No entanto, a escola era outra, uma escola excludente e de qualidade para os poucos eleitos que a ela tinham acesso. O problema hoje mais complexo: construir e valorizar a boa escola pblica, agora democrtica e para todos.

    Em pouco mais de uma dcada foi construdo, no pas, um complexo e abrangente sistema de avaliao

    JulianaQP

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    abrangendo as competncias e habilidades requeridas ao nal de cada ciclo de aprendizagem. Os itens so

    distribudos em diferentes cadernos de provas (169 itens por srie e disciplina), o que permite uma ampla cobertura dos contedos, competncias e habilidades (com seus diferentes graus de complexidade), em to-das as sries avaliadas.

    Os itens das provas so elaborados com base na Matriz de Referncia Curricular do Saeb, que, a partir de uma ampla consulta nacional sobre os currculos estaduais, livros didticos usados pelos professores e contedos praticados nas escolas brasileiras dos ensi-nos fundamental e mdio, estabelece as competncias e habilidades que os alunos sabem e so capazes de fazer ao nal das sries e ciclos avaliados. Essas ma-trizes incorporam as diretrizes dos Parmetros Curri-culares Nacionais PCNs, a reexo de professores,

    pesquisadores e especialistas sobre cada rea objeto da avaliao.

    Para coletar dados e produzir informaes sobre o desempenho do aluno e os fatores a ele associados, bem como a respeito das condies em que ocor-re o processo ensino e aprendizagem, o Saeb utiliza procedimentos metodolgicos de pesquisa formais e cientcos, que garantem sua conabilidade. A cada

    levantamento, alm das provas, so tambm utilizados questionrios contextuais que permitem conhecer as caractersticas da escola, do diretor, do professor, da turma e dos alunos que participam da avaliao.

    As informaes coletadas pelo Saeb so sigilosas. Assim, quando ocorre a divulgao dos resultados da avaliao, alunos, professores, diretores e escolas que integram a amostra no so identicados. Desde

    1995, o Saeb aplicado regularmente a cada dois anos, seguindo a mesma mtrica ou escala de procincia.

    Todos os Estados brasileiros participam da avaliao amostral, o que permite comparar resultados ao lon-go do tempo entre os Estados, entre escolas pblicas estaduais e municipais, entre escolas pblicas e parti-culares de cada unidade da federao.

    O principal objetivo do Saeb avaliar os sistemas de ensino e oferecer subsdios para o aprimoramen-to das polticas educacionais, sendo para tanto, fun-damentais as anlises sobre os fatores associados aprendizagem, de modo a identicar o que os alunos

    educacional, que cobre todos os nveis da educao e produz informaes que orientam as polticas educa-cionais em todos os nveis de ensino. Com esse ob-jetivo geral comum, o Sistema Nacional de Avaliao da Educao Bsica Saeb, o Exame Nacional do Ensino Mdio Enem e mais recentemente a Prova Brasil apresentam distintas caractersticas e possibi-lidades de usos de seus resultados para que as infor-maes avaliativas sirvam tambm para o prprio processo de formulao, implementao e ajuste de polticas educacionais. O principal desao denir

    estratgias de uso dos resultados para melhorar a sala de aula e a formao dos professores, de modo a atin-gir padres de qualidade compatveis com as novas exigncias da sociedade do conhecimento.

    SISTEMA NACIONAL DE AVALIAO DA EDUCAO BSICA SAEB

    O Saeb uma avaliao de desempenho acadmico e de fatores associados ao rendimento escolar, rea-lizada a cada dois anos, em larga escala, aplicada em amostras de escolas e alunos de 4 e 8 sries do ensi-no fundamental e de 3 srie do ensino mdio, repre-sentativas de todas as Unidades da Federao, redes de ensino e regies do pas.

    Trata-se de um importante subsdio para o mo-nitoramento das polticas gerais de desenvolvimento educacional. Com base nas informaes coletadas por este sistema, o MEC e as secretarias estaduais e muni-cipais de Educao devem denir aes voltadas para

    a correo das distores e debilidades identicadas,

    de modo a orientar seu apoio tcnico e nanceiro

    para o crescimento das oportunidades educacionais, da ecincia e da qualidade do sistema educacional

    brasileiro, em seus diferentes nveis.A partir de 1995, iniciou-se o processo de constru-

    o das Escalas Comuns de Procincia, ou denio

    de mtricas, que so interpretadas em termos do que os alunos conhecem, compreendem e so capazes de fazer, com base nos resultados do seu desempenho. A utilizao das escalas comuns permite a compa-rao de resultados entre diferentes sries, por dis-ciplina e de ano para ano. Para tanto, so utilizadas provas elaboradas com um grande nmero de itens,

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    professores e alunos para o uso da informtica so aes importantes para promover a incluso digital e democratizar informaes indispensveis para enten-der o mundo que nos cerca. Resta saber como o uso dos computadores poder de fato fazer diferena na aprendizagem.

    EXAME NACIONAL DO ENSINO MDIO ENEM

    O Enem um exame de carter voluntrio, implan-tado pelo MEC em 1998, que avalia o desempenho individual do aluno ao trmino do ensino mdio, visando aferir o desenvolvimento das competncias e habilidades necessrias ao exerccio pleno da cida-dania. A prova, interdisciplinar e contextualizada, composta por uma redao e uma parte objetiva.

    A parte objetiva da prova, que contm 63 questes de mltipla escolha, avaliada numa escala de 0 a 100 pontos, gerando uma nota global que corresponde soma dos pontos referentes s questes acertadas. Alm disso, atribuda uma pontuao, tambm na mesma escala de valores, a cada uma das cinco com-petncias avaliadas.

    Na redao tambm h uma nota global de 0 a 100 e uma mdia para cada uma das cinco competncias aferidas. A nota resulta da mdia aritmtica das notas alcanadas em cada uma das competncias avaliadas, numa escala de 0 a 100 pontos.

    Cada participante do Enem recebe o Boletim In-dividual de Resultados, contendo duas notas: uma para a parte objetiva da prova e outra para a redao, alm de uma interpretao dos resultados obtidos para cada uma das cinco competncias avaliadas nas duas partes da prova. Os resultados individuais so sigilosos.

    As escolas que tiveram mais de 90% de seus alu-nos da terceira srie do ensino mdio presentes ao exame podem solicitar um boletim com a mdia do conjunto de seus estudantes. Este boletim informa, ainda, a nota mdia do pas, possibilitando uma com-parao dos resultados. Tambm esto entre os obje-tivos do Enem:

    conferir ao cidado parmetro para autoavaliao, com vistas continuidade de sua formao e in-sero no mercado de trabalho;

    so capazes de fazer e quais os fatores que dicultam

    a aprendizagem. Entre os fatores externos escola, destacam-se: grau de escolaridade dos pais; acesso a livros e bens culturais; situao socioeconmica fami-liar; carreira e formao inicial dos professores; etc. Entre os fatores internos escola e aos sistemas de ensino, ressaltam-se: gesto da escola e clima prop-cio aprendizagem; efeitos da repetncia; formao continuada e em servio dos professores; tempo de permanncia na escola; uso do tempo em sala de aula; acesso educao infantil; materiais didticos de qua-lidade; hbitos de estudo; lio de casa; participao dos pais; entre outros.

    Um dos principais resultados do Saeb, nestes 15 anos, foi demonstrar os efeitos perversos da repetn-cia e da distoro idade-srie no processo de aprendi-zagem. Alunos repetentes, com dois anos ou mais de atraso escolar, em geral apresentam desempenho m-dio bem abaixo daquele observado para alunos que cursam a srie adequada sua idade. Com base nas evidncias apontadas, muitos Estados e municpios desencadearam programas de acelerao da aprendi-zagem, combate repetncia, implantao de ciclos de aprendizagem, uma srie de iniciativas que come-am a apresentar resultados concretos especialmente nas sries iniciais. Pesquisas sobre o Saeb mostraram tambm que o tempo de permanncia dos alunos na escola fator relevante para melhorar o desem-penho dos alunos. Naercio Menezes (2005) mostra que uma hora a mais de aula por dia pode ampliar, em mdia, cerca de oito pontos no desempenho dos estudantes.

    Evidncias como essas ajudam a tomada de de-cises pelos gestores sem achismos e permitem que as escolhas de polticas orientem-se progressiva-mente para aes mais efetivas, embora nem sempre tenham a visibilidade poltica almejada pelos gover-nantes. Um bom exemplo o uso de computadores nas escolas. Pesquisas nacionais e internacionais in-dicam que a simples existncia de computadores nas escolas no se traduz em melhoria de desempenho, embora o acesso a computadores e Internet sejam muito valorizados pela sociedade e tenham alto im-pacto poltico. Obviamente, dotar as escolas de com-putadores, melhorar o acesso Internet e capacitar

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    criar referncia nacional para os egressos de qual- quer das modalidades do ensino mdio;fornecer subsdios s diferentes modalidades de acesso educao superior;constituir-se em modalidade de acesso a cursos prossionalizantes ps-mdio.

    A prova do Enem tem como base a seguinte ma-triz de competncias especialmente denida para o

    exame:demonstrar domnio bsico da norma culta da ln- gua portuguesa e do uso das diferentes linguagens: matemtica, artstica, cientca, entre outras;

    construir e aplicar conceitos das vrias reas do conhecimento para compreenso de fenme-nos naturais, de processos histrico-geogrcos,

    da produo tecnolgica e das manifestaes artsticas;selecionar, organizar, relacionar, interpretar dados e informaes representados de diferentes formas, para enfrentar situaes-problema segundo uma viso crtica, com vistas tomada de decises;organizar informaes e conhecimentos dispon- veis em situaes concretas, para a construo de argumentaes consistentes; recorrer aos conhecimentos desenvolvidos na es- cola para elaborao de propostas de interveno solidria na realidade, considerando a diversidade sociocultural como inerente condio humana no tempo e no espao.O Enem realizado anualmente, com aplicao

    descentralizada das provas. Em 1998, seu primeiro ano de aplicao, o exame contou com um nmero modesto de 157 mil inscritos e 115 mil participan-tes. Em sua 11 edio, em 2008, o Enem j alcan-ava mais de 4 milhes de inscritos e 2,9 milhes de participantes.

    A grande expanso do nmero de candidatos ao Enem, teve incio em 2000, quando vrias univer-sidades, entre elas a USP e a Unicamp, passaram a considerar a nota da prova como critrio de acesso ao ensino superior. A popularizao denitiva do

    Enem veio em 2004, quando o Ministrio da Edu-cao instituiu o Programa Universidade para Todos ProUni e vinculou a concesso de bolsas em ins-tituies de ensino superior privadas nota obtida

    no exame. Alm de representar uma possibilidade concreta de bolsa (integral ou parcial) do ProUni, o Enem passou a signicar tambm a possibilidade de

    uma vaga em vrias instituies de ensino superior do pas, entre elas as universidades pblicas. Cerca de 500 instituies de ensino superior j utilizam os re-sultados do exame em seus processos seletivos, seja de forma complementar ou substitutiva.

    Recentemente, o MEC divulgou o ranking nacional das escolas pblicas e privadas que participaram do Enem 2008. Das 100 melhores escolas classicadas,

    apenas 11 so pblicas e seus resultados podem ser explicados pela seleo dos melhores alunos. So es-colas tcnicas federais ou vinculadas a universidades pblicas, altamente seletivas, que representam menos de 2% do total de matrculas de ensino mdio pbli-co, sob a responsabilidade dos Estados que atendem a mais de 8 milhes de alunos.

    A forma de divulgao dos resultados gerou amplo debate em todos os meios de comunicao, por dife-rentes razes. Primeiro, no mnimo questionvel a forma de divulgao dos resultados, considerando as mdias obtidas por escola, uma vez que o Enem no tem a nalidade de avaliar escolas, mas sim o desem-penho individual dos alunos. Em segundo lugar, a comparao das escolas pblicas com as particulares, no caso do Enem, provoca enorme polmica entre os especialistas em avaliao, pois trata-se de uma com-parao frgil, do ponto de vista metodolgico, que no considera os fatores socioeconmicos associados ao desempenho individual dos alunos. Por razes b-vias, as escolas particulares recebem os alunos que podem pagar, em geral oriundos de famlias de maior escolaridade e com acesso a bens culturais. Por m,

    a explorao miditica dos pssimos resultados das escolas pblicas de ensino mdio em relao ao setor privado gera enorme desconforto para professores, alunos e seus pais, desvalorizando a escola pblica e desmotivando ainda mais a maioria dos jovens. Em suma, a divulgao dos resultados do Enem 2008, por escola, em vez de construir uma agenda positiva sobre aes alternativas de melhoria do ensino m-dio, reforou um debate alarmista e desconstrutivo que em nada contribui para a melhoria da qualidade do ensino.

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    So Paulo Perspec., So Paulo, v. 23, n. 1, p. 5-18, jan./jun. 2009

    Por outro lado, est em curso um debate nacional sobre as mudanas no Enem. A partir de 2010, o go-verno federal pretende transformar o Enem na for-ma de seleo de estudantes de todas as universidades federais. As propostas do MEC envolvem mudanas estruturais na organizao da prova, tais como utiliza-o da Teoria da Resposta ao Item/TRI, aumento do

    nmero de itens nas provas e construo de um esca-la nacional de desempenho que permita comparaes temporais. Ainda no esto disponveis documentos ociais sobre as mudanas futuras do Enem.

    PROVA BRASIL

    Criada em 2005, a Prova Brasil objetiva oferecer a to-das as escolas pblicas brasileiras uma avaliao mais detalhada de seu desempenho, em complemento avaliao j feita pelo Saeb. De carter censitrio, a Prova Brasil avalia todos os estudantes da rede p-blica urbana de ensino, de 4 e 8 sries do ensino fundamental, com foco em lngua portuguesa e mate-mtica. Seus resultados so divulgados amplamente a todos os Estados e municpios do pas, com boletins divulgados a cada uma das escolas participantes. Em sua primeira edio, foram avaliados 3,3 milhes de alunos de 42 mil escolas pblicas urbanas. Em 2007, foram 4,5 milhes de alunos avaliados em 45 mil es-colas pblicas de todo o pas.

    Uma vez que as metodologias da Prova Brasil e do Saeb so a mesma, elas passaram a ser opera-cionalizadas em conjunto, desde 2007. Como so avaliaes complementares, uma no implicar a extino da outra. O aspecto mais relevante da Pro-va Brasil oferecer a todas as escolas participantes um diagnstico consistente sobre o desempenho de seus alunos, usando a mesma mtrica de avaliao do Saeb. Os resultados so comparveis e permitem que a escola identique suas potencialidades e fra-gilidades em relao ao desempenho de seu munic-pio, Estado, ou em relao ao pas. Embora a Prova Brasil seja um importante instrumento de apoio escola para aprimorar seu projeto pedaggico e re-ver prticas didticas inecazes, ainda so tmidas as

    iniciativas de uso dos seus resultados para melhorar a sala de aula e a formao em servio dos professo-

    res. A maioria das escolas no sabe como melhorar seus resultados, os sistemas de ensino enfrentam diculdades tcnicas para apoiar pedagogicamente

    suas escolas e os pais ainda no entenderam o signi-cado da prova.

    Em geral, a maioria dos municpios no dispe de capacidade institucional e competncia tcnica para dar vida e nalidade Prova Brasil. Este , sem

    dvida, o grande desao para melhorar a qualidade.

    Cabe ao MEC estabelecer padres ou expectativas de aprendizagem nacionais. Cabe aos Estados reforar o regime de colaborao com seus municpios e rmar

    um srio compromisso entre os nveis de governo, com foco na denio de uma base curricular co-mum de mbito estadual, que contemple os padres bsicos nacionais, alm de organizar um sistema efe-tivo de capacitao de professores e produo de materiais didticos de apoio que ajudem a superar os problemas de aprendizagem identicados na Prova

    Brasil.

    NDICE DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAO BSICA IDEB

    Em abril de 2007, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais lanou o Ideb, indicador sin-ttico que permite denir metas e acompanhar a qua-lidade do ensino bsico no pas, fornecendo informa-es sobre o desempenho de cada uma das escolas brasileiras de educao bsica. O Ideb rene num s indicador dois conceitos importantes para a qualida-de da educao: uxo escolar e desempenho dos alu-nos nas avaliaes. Seu clculo baseia-se nos dados de aprovao escolar, apurados no Censo Escolar, e nas mdias de desempenho obtidas nas avaliaes nacio-nais: o Saeb, para as unidades da federao e o pas; e a Prova Brasil, para os municpios. O novo indicador considera dois fatores que interferem na qualidade da educao: as taxas de aprovao, aferidas pelo Censo Escolar; e as mdias de desempenho medidas pelo Saeb e pela Prova Brasil. A combinao entre uxo e

    aprendizagem resulta em uma mdia que varia de 0 a 10. As metas so diferenciadas para cada Unidade da Federao, por municpio e por escola, para as duas fases do ensino fundamental (1a 4 e 5a 8 sries)

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    onde mais de 50% do crescimento do Ideb deve-se elevao das taxas de aprovao. O caso mais relevante o Estado de So Paulo, com o aumento do desempenho escolar, em especial em matemti-ca, respondendo por mais de 90% do crescimento do Ideb. provvel que a poltica de progresso continuada, adotada desde 1997, possa explicar este resultado, uma vez que as taxas de aprovao, em determinadas etapas do ensino, so elevadas e bem acima da mdia nacional. O mais impor-tante que, mesmo com os melhores indicadores de uxo escolar do pas, o resultado de So Paulo

    no Ideb vem melhorando devido, basicamente, ao crescimento do desempenho escolar. Nas sries nais do ensino fundamental, verica-se

    maior diferenciao entre os Estados. Observa-se que, dos 21 Estados analisados, em dez (DF, MT, MS, BA, RJ, MG, AC, AL, MA e CE) a aprovao

    foi responsvel por mais de 50% do crescimento do Ideb e, em cinco (SP, RR, TO, PE e GO), mais de 50% do incremento do Ideb deveu-se ao aumento das notas de matemtica. Chama ateno, nova-mente, o Estado de So Paulo, onde 98,4% do cres-cimento do Ideb deve-se ao desempenho escolar. O caso de So Paulo exemplar para aprofundar o

    debate sobre progresso continuada. Estudos como o de Sergei Soares (2007) mostram evidncias de v-rios pases que adotam a progresso continuada ou sistema de ciclos, com resultados de excelncia nas avaliaes internacionais. Ser que o debate nacional sobre qualidade da educao no precisa sosticar-se

    um pouco mais, em vez de cultivar mitos to supe-rados por evidncias empricas, porm ainda incrus-tados numa certa cultura de louvor velha escola elitista do passado, excludente e impregnada da cul-tura da repetncia ainda muito forte no Brasil, e que acaba alimentando interesses corporativos pouco preocupados com o sucesso do aluno e a efetiva de-mocratizao da boa escola pblica?

    SISTEMAS ESTADUAIS DE AVALIAO: O CASO DE SO PAULO

    O desenvolvimento de sistemas regionais ou locais de avaliao, em articulao com o sistema nacional,

    e para o ensino mdio, apresentadas bienalmente de 2005 a 2021. O Ideb ser o indicador objetivo para vericao do cumprimento das metas xadas no

    Termo de Adeso ao Compromisso Todos pela Edu-cao, eixo do Plano de Desenvolvimento da Edu-cao PDE, sob a liderana do MEC, que trata da educao bsica.

    A relevncia do Ideb pode ser atribuda a dois fatores. O desenho do indicador evita que os siste-mas de ensino direcionem suas aes para um dos seus componentes, ou seja, uma escola que reprova sistematicamente, fazendo que muitos alunos aban-donem os estudos antes de completar a educao fundamental, no desejvel mesmo que os poucos alunos sobreviventes tenham bom desempenho nas provas nacionais. Tambm no desejvel uma esco-la que aprova em massa, sem dar ateno qualidade da aprendizagem de seus alunos, pois no adianta al-canar taxas elevadas de concluso dos ensinos fun-damental e mdio, se os alunos aprendem pouco na escola. Este o sentido do Ideb: evitar o aumento da aprovao sem que os alunos aprendam e evitar que as escolas reprovem em massa, excluindo alunos com desempenho insuciente e selecionando os melhores

    para elevar as notas na prova. Com base nesta metodologia, foram divulgados os

    resultados do Ideb 2005 e 2007, para 4 e 8 sries do ensino fundamental. possvel acompanhar quais Estados e municpios esto avanando mais, em rela-o ao seu ponto de partida. E, mais importante, ao se decomporem os resultados de cada Estado, pos-svel identicar qual dos dois critrios utilizados no

    Ideb teve melhor evoluo, ou seja, o que melhorou mais? As taxas de aprovao? Ou as notas dos alunos em portugus ou em matemtica?

    Estudo recente do Inep, publicado no boletim Na Medida (2009), analisa a decomposio do crescimen-to do Ideb, buscando identicar os componentes que

    tiveram maior peso na evoluo do indicador em cada Estado. Algumas concluses merecem destaque.

    Nas sries iniciais do ensino fundamental, em qua- se todos os Estados, mais de 50% do crescimento do Ideb explicado pelo desempenho dos alunos, especialmente pelo aumento das notas de mate-mtica. As excees so Rio de Janeiro e Gois,

  • SISTEMAS DE AVALIAO DA EDUCAO NO BRASIL: AVANOS E NOVOS DESAFIOS 13

    So Paulo Perspec., So Paulo, v. 23, n. 1, p. 5-18, jan./jun. 2009

    Os objetivos do Saresp muito se assemelham aos das demais avaliaes mencionadas anteriormen-te: produo de diagnsticos precisos da qualidade do ensino oferecido nas escolas pblicas paulistas e acompanhamento sistemtico dos resultados na edu-cao, constituindo um importante instrumento de monitoramento das polticas pblicas no campo da educao e auxiliando na elaborao e implementao das polticas educacionais no Estado de So Paulo.

    A SEE/SP, ao criar o Saresp, tinha, primeiramente,

    a inteno de ampliar o conhecimento do perl dos

    estudantes paulistas, alm de fornecer aos professo-res descries dos padres de desempenho alcana-dos pelo conjunto dos alunos, de maneira a subsidiar o trabalho a ser desenvolvido em sala de aula. Em segundo lugar, a Secretaria direcionou o diagnstico realizado pelo Saresp para que identicasse os pontos

    crticos do sistema de ensino, por meio dos quais os seus rgos centrais e Diretorias de Ensino apoia-riam as escolas, suas equipes escolares, com recursos nanceiros, material escolar e orientaes didtico-

    pedaggicas, entre outras aes e projetos.No entanto, a metodologia de construo de pro-

    vas e de anlise de resultados, adotadas entre 1996 e 2005, no possibilitava comparar o desempenho dos alunos das escolas paulistas a cada ano com as ava-liaes anteriores. A metodologia de construo e de aplicao das provas no permitia identicar as de-cincias acumuladas ou os avanos progressivos das escolas, devido inexistncia de uma mesma mtrica que orientasse a construo de escalas de procincia

    comparveis ao longo do tempo. Tampouco era pos-svel comparar os resultados do Saresp com as avalia-es nacionais, uma vez que o desempenho estadual no estava na mesma mtrica do Saeb, que, desde 1995, vinha avaliando o desempenho dos alunos bra-sileiros, seguindo a mesma escala de procin cia es-tabelecida pelo Inep.

    Ao assumir a Secretaria de Estado da Educao de So Paulo, em julho de 2007, a gesto estabeleceu como uma das prioridades do Plano de Metas, lana-do em agosto do mesmo ano pelo governador Jos

    Serra, a completa reviso da metodologia do Saresp. Essa era uma das questes centrais para viabilizar o regime de metas de qualidade por escola, o ndice de

    apresenta algumas vantagens. Primeiro, eles permitem uma investigao mais aprofundada sobre as especi-cidades regionais ou locais, o que no possvel no

    Saeb e na Prova Brasil. Em segundo lugar, eles pos-sibilitam coletar informaes de interesse do gestor da rede, o que tampouco possvel em uma avaliao nacional. S sistemas descentralizados conseguem analisar cada uma das escolas e identicar o que elas

    precisam para melhorar o desempenho dos alunos, considerando as caractersticas de cada uma.

    Atualmente, cerca de 11 Estados brasileiros e duas capitais j possuem sistemas prprios para ava-liar suas redes de ensino, produzindo resultados por escola. A ttulo de exemplo, apresenta-se um breve panorama do caso de So Paulo, o maior Estado do pas e responsvel pela maior rede pblica de ensino da Amrica Latina.

    Em 2008, havia no Estado de So Paulo aproxi-madamente 7,8 milhes de alunos matriculados nos ensinos fundamental e mdio, dos quais 86% estavam em cerca de 11.727 escolas pblicas estaduais e mu-nicipais. O sistema estadual de ensino possui 5.500 escolas e cerca de 5 milhes de alunos; os sistemas municipais dos 645 municpios paulistas possuem cerca de 2,3 milhes de alunos no ensino fundamen-tal, alm de 1,2 milho na educao infantil. O siste-ma privado possui 1,1 milho de alunos nos ensinos fundamental e mdio. Para monitorar a qualidade do ensino ofertado por suas escolas, o Estado de So Paulo criou, em 1996, o Sistema de Avaliao do Ren-dimento Escolar do Estado de So Paulo Saresp, aberto participao dos municpios com rede pr-pria e escolas privadas que a ele quisessem aderir.

    O Saresp tal como o Saeb, avalia periodicamente os conhecimentos de seus alunos em portugus, ma-temtica, cincias, histria e geograa, alm de reco-lher, por meio de questionrios, outras informaes associadas ao desempenho. Criado em 1996, com o apoio do Banco Mundial, esse sistema congurou-se,

    desde o incio, como uma avaliao anual, censitria e diagnstica, compulsria para as escolas da rede ad-ministrada pela SEE/SP, porm aberta participao,

    por adeso, das redes municipais de ensino e das es-colas particulares. Suas matrizes de referncia sempre se pautaram nos Parmetros Curriculares Nacionais.

  • 14 MARIA HELENA GUIMARES DE CASTRO

    So Paulo Perspec., So Paulo, v. 23, n. 1, p. 5-18, jan./jun. 2009

    Desenvolvimento da Educao Paulista Idesp, que ser detalhado mais adiante, e o programa de boni-cao por resultados, com base no mrito. Ou seja, uma poltica de incentivos s equipes das escolas, com o objetivo de reconhecer o esforo de cada uni-dade para melhorar seu desempenho, independente da fantstica diversidade das 5.500 escolas da rede estadual paulista.

    Para concretizar a proposta, era necessrio que o Saresp fosse totalmente reformulado e passasse a adotar a mesma mtrica do Saeb/Prova Brasil, de

    modo a produzir resultados comparveis com as ava-liaes nacionais, alm de permitir comparar a evo-luo das escolas da rede estadual a cada ano, sem o que seria impossvel implantar o regime de metas por escola. Era preciso fortalecer um dilogo mais construtivo com as escolas, identicar suas potencia-lidades e fragilidades e, ao mesmo tempo, dar a elas o suporte pedaggico necessrio para que superassem suas decincias. Era preciso implantar uma base

    curricular comum nos ensinos fundamental e m-dio, inspirada pelas diretrizes curriculares nacionais e apoiada na Matriz Curricular do Saeb, para que pro-fessores e alunos conhecessem os contedos, compe-tncias e habilidades que seriam objeto da avaliao anual de todas as escolas estaduais. Era preciso dar ampla publicidade aos resultados das avaliaes, asse-gurando total transparncia. Enm, a partir de 2007,

    iniciou-se um conjunto de aes sistmicas com um s objetivo: garantir o direito de todo aluno aprender e melhorar a qualidade das escolas.

    Em novembro de 2007, foi aplicado o novo Sa-resp, completamente reformulado e compatvel com as avaliaes nacionais. A partir da, foi possvel a cada escola acompanhar a evoluo de seu desempe-nho anualmente, comparar seu desempenho com as escolas de seu bairro, municpio ou diretoria regional e comparar o desempenho dos seus alunos com o dos estudantes avaliados pelo Saeb e pela Prova Brasil. Esta, talvez, seja uma das maiores vitrias do Plano de Metas da Educao Paulista, na medida em que pa-vimentou a implantao da base curricular comum, a completa reformulao do programa de recuperao e reforo escolar, a implantao do regime de metas por escola, a construo do Idesp e o novo desenho

    do bnus por desempenho, uma corajosa poltica de incentivos s equipes de todas as escolas.

    Diante da Nova Agenda proposta pela Secre-taria de Educao do Estado de So Paulo em 2007, com um plano de dez metas e dez aes para melho-rar a educao paulista, a primeira grande mudana foi a reformulao do Saresp, que estabeleceu um novo termmetro de avaliao do nvel de aprendiza-gem dos alunos. A partir desse ano, o Saresp passou a ser um sistema de avaliao em larga escala. Com a implantao da Proposta Curricular Unicada no

    Estado, concretizada nos programas Ler e Escre-ver para as sries iniciais e So Paulo faz Escola para as sries nais dos ensinos fundamental e mdio,

    deniu-se uma Matriz de Avaliao, que estabelece as

    expectativas de aprendizagem propostas no currculo. As provas foram pr-testadas e introduziram-se itens do Saeb nas provas, possibilitando a equalizao dos resultados obtidos na mesma mtrica de procincia

    adotada nas avaliaes nacionais. E, mais importante, as escolas passaram a conhecer o que se espera delas na avaliao de desempenho e os professores foram capacitados e receberam materiais de orientao cur-ricular que abrangem contedos, competncias e ha-bilidades que sero avaliados anualmente.

    Outro passo metodolgico relevante para estabe-lecer o dilogo entre os resultados obtidos na avalia-o e as expectativas de aprendizagem denidas no

    currculo implementado foi a denio dos nveis

    de procincia, que representam o agrupamento de

    pontos da escala de procincia adotados na Prova

    Brasil e no Saeb adequados Proposta Curricular. Deniram-se quatro nveis de procincia:

    Abaixo do bsico os alunos neste nvel demons- tram domnio insuciente dos contedos, compe-tncias e habilidades desejveis para a srie escolar em que se encontram;Bsico os alunos neste nvel demonstram desen- volvimento parcial dos contedos, competncias e habilidades requeridas para a srie em que se encontram;Adequado os alunos neste nvel demonstram domnio dos contedos, competncias e habi-lidades desejveis para a srie escolar em que se encontram;

  • SISTEMAS DE AVALIAO DA EDUCAO NO BRASIL: AVANOS E NOVOS DESAFIOS 15

    So Paulo Perspec., So Paulo, v. 23, n. 1, p. 5-18, jan./jun. 2009

    Avanado os alunos neste nvel demonstram conhecimentos e domnio dos contedos, compe-tncias e habilidades acima do requerido na srie escolar em que se encontram.A divulgao da mdia de pontos do Saresp na

    mesma mtrica adotada pelo Saeb e a apresentao da distribuio porcentual dos alunos avaliados nos nveis de procincia constituram um passo funda-mental para a denio de metas de qualidade da edu-cao para as escolas da rede estadual paulista.

    Fato de indiscutvel relevncia, tambm, que, a partir de 2008, pela primeira vez em mais de uma d-cada, a aplicao do Saresp considerou a existncia de uma base curricular comum a todos os alunos que frequentam as escolas da rede pblica de ensino admi-nistrada pela SEE/SP. Com efeito, at 2007, no havia

    parmetros de equidade sistmica entre as escolas, mas sim muitos currculos, implcitos ou no. No havia qualquer garantia de que os contedos, competncias e habilidades avaliadas tivessem alguma relao com o que as escolas desenvolviam e os alunos aprendiam, ou deveriam aprender, durante o ano letivo.

    Outro ponto fundamental para implementao da poltica educacional pautada na busca pela qualidade a ampla divulgao dos resultados das avaliaes para as escolas, os alunos e a sociedade em geral. Ao longo de sua existncia, a SEE sempre se preocupou com a ampla divulgao dos resultados do Saresp. A disponibilizao dos dados no se restringia ape-nas ao governo e centros de pesquisa e imprensa; ao contrrio, a preocupao central era fazer com que chegassem rapidamente s mos dos gestores do en-sino, equipes escolares, Diretorias e Coordenadorias de Ensino do Estado de So Paulo. Para atingir esses objetivos foram criados diferentes canais, visando a socializao dos resultados do diagnstico realizado: boletins individuais por escola e relatrios tcnicos contendo anlise pedaggica dos itens das provas, perl dos alunos e variveis que mais inuenciaram

    no desempenho escolar. A partir de 2008, os dados e/ou informaes esto disponveis aos diferentes

    pblicos no site da SEE/SP e so discutidos e ana-lisados por meio de teleconferncias. Os resultados so debatidos nas ocinas pedaggicas que capacitam

    os professores, as escolas dedicam um dia do semes-

    tre para reetir sobre os seus resultados no Saresp e,

    o mais fundamental, as escolas e os pais passaram a reconhecer o Saresp como um instrumento valioso para melhorar a qualidade, oferecer sociedade in-formaes sobre a situao de cada escola e subsidiar o necessrio debate pblico sobre os desaos da edu-cao. Pesquisa realizada no nal de 2008, por agn-cia de comunicao externa ao governo, mostrou que 62% dos pais acreditam que o Saresp importante para melhorar a qualidade das escolas.

    Com todos esses procedimentos, espera-se, por um lado, que os responsveis pela conduo da edu-cao, de posse de um vasto arsenal de dados e/ou

    informaes, possam estabelecer polticas pblicas mais coerentes e ecazes para a melhoria do siste-ma de ensino, corrigindo rumos e reforando po-sitivamente aquilo que estava no caminho correto.Por outro lado, acredita-se tambm que os diretores, professores, enm, toda a equipe escolar aproveite os

    resultados da avaliao para aprimorar o planejamen-to escolar anual, assim como para incentivar e funda-mentar outras aes e/ou projetos, visando enfrentar

    e superar eventuais problemas em suas escolas.

    O IDESP E A BONIFICAO POR RESULTADOS NO ESTADO DE SO PAULO: METAS PARA A QUALIDADE DA EDUCAO

    A partir da consolidao dos sistemas nacionais e es-taduais de avaliao, foram criadas algumas condies que contriburam de maneira decisiva para que os re-sultados das avaliaes em larga escala passassem a gurar efetivamente como instrumentos de polticas

    pblicas no campo da educao brasileira. A partir de 2007, o Inep deu o primeiro passo importante ao divulgar o ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica Ideb, como j apontado.

    Em meados de 2007, o governo estadual tambm ousou dar um passo adiante ao criar o ndice de De-senvolvimento da Educao do Estado de So Pau-lo Idesp. Com o objetivo de viabilizar o regime de metas de qualidade por escola e subsidiar a poltica de bnus por resultado, tal como anunciado no Plano de Metas da Educao, a criao do Idesp comeou a ser discutida j em setembro de 2007.

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    So Paulo Perspec., So Paulo, v. 23, n. 1, p. 5-18, jan./jun. 2009

    Inicialmente, uma proposta da Secretaria Estadual da Fazenda previa um modelo que considerava os se-guintes critrios: nvel de formao dos professores; efetivao no quadro do magistrio e regime de tra-balho; absentesmo e nmero de faltas; gasto de cada unidade com gua, luz, telefone, material de consu-mo; taxas de abandono e evaso escolar. Em resposta a essa proposta, foi apresentada uma alternativa, se-melhante ao Ideb federal, que considerasse apenas os resultados do uxo escolar e do Saresp para os nveis

    de ensino (4 e 8 sries do ensino fundamental e 3 srie do ensino mdio). Aprovada a ideia de construir um indicador sinttico com base no desempenho e uxo escolar, passou-se a discutir a metodologia do

    ndice, j luz do novo Saresp em implantao. Fo-ram examinados modelos de outros pases, como n-dia, Israel, Chile, os casos de Nova York e Chicago, bem como algumas experincias brasileiras (Minas Gerais, Tocantins, o municpio de Sobral, entre ou-tras). Vrios especialistas foram convidados para de-bater ideias que auxiliassem a encontrar um modelo que, ao mesmo tempo, promovesse mais qualidade e maior equidade do sistema. No nal de 2007, o dese-nho do Idesp estava denido, aprovado pelo Conse-lho Estadual de Educao e pelo governo, para que, a partir da divulgao dos resultados do Saresp 2007, fosse possvel aplicar o novo indicador de qualidade com metas para cada uma das escolas estaduais.

    Em maro de 2008, divulgaram-se amplamente os resultados do Saresp 2007. Os boletins individuais de cada escola foram divulgados a toda a sociedade, pais, alunos, professores, jornalistas, especialistas. Todos os resultados permaneceram abertos aos interessa-dos no site da Secretaria. Em maio de 2008, ocorreu a divulgao do Idesp 2007, com base nos resultados do Saresp e taxas de aprovao de 2007. Os boletins individuais das escolas, com os resultados do Idesp e as metas a serem atingidas por cada unidade escolar anualmente, tambm foram amplamente divulgados. Cada escola passou a saber qual meta ela deveria atin-gir a cada ano e os incentivos que premiariam o es-foro e compromisso de toda a equipe para melhorar seu desempenho.

    O Idesp, assim como o Ideb, um indicador sin-ttico, que varia de 0 a 10, resultante da razo entre

    a mdia de procincia observada em portugus e

    matemtica na Prova Brasil/Saresp e a taxa de apro-vao no ciclo avaliado. Entretanto, do ponto de vista do desenho metodolgico, o Idesp promove um im-portante avano, porque considera a distribuio dos alunos nos nveis de procincia adotados no Saresp

    e no a mdia das procincias observadas, como no

    Ideb. Oferece maior capacidade de planejamento es-colar da rede porque apresenta de forma clara o n-mero de alunos que esto nos nveis de procincia

    abaixo do adequado. Mais do que isso, ao considerar a proporo de alunos distribudos nos quatro nveis de procincia, o Idesp expressa nosso maior obje-tivo: melhorar a equidade do sistema com foco na qualidade.

    Sob esta perspectiva, a criao do Idesp tambm foi essencial para a implantao do Programa de Qualidade da Escola PQE na rede estadual pau-lista, uma vez que compara a escola com ela mesma, tendo como ponto de partida os resultados de 2007 e propondo metas anuais a cada uma das unidades es-colares para que sejam alcanados em 2030, padres de qualidade da educao similares aos observados nos pases da OCDE. Alm disso, o Idesp instru-mento-chave para a implementao da poltica de re-munerao varivel por desempenho implementada em 2009.

    Em 2008, o governo de So Paulo ps em prtica outra medida de grande impacto, talvez a mais inova-dora de todas, para melhorar a qualidade do ensino pblico, a qual s foi possvel graas reformulao do Saresp e criao do Idesp. Trata-se de um incen-tivo s escolas pblicas estaduais na forma de remu-nerao por desempenho, para todos os professores e demais funcionrios, comparando cada unidade escolar em relao a ela mesma e considerando sua evoluo no tempo. O bnus, dependendo do de-sempenho da escola, pode chegar at o equivalente a 2,9 salrios mensais a mais para cada prossional da

    escola. uma poltica de reconhecimento do esforo das escolas e de seu compromisso com o direito de todo aluno aprender.

    O xito da poltica pode ser avaliado pelo sucesso do lanamento do bnus por resultado, no nal de

    maro de 2009. Aps a divulgao do Idesp 2008,

  • SISTEMAS DE AVALIAO DA EDUCAO NO BRASIL: AVANOS E NOVOS DESAFIOS 17

    So Paulo Perspec., So Paulo, v. 23, n. 1, p. 5-18, jan./jun. 2009

    e com base na comparao dos resultados obtidos por cada uma das escolas paulistas no Idesp 2007, o governo de So Paulo distribuiu 600 milhes de reais em bnus para 196 mil professores e funcio-nrios administrativos das escolas que avanaram. Mais de 70% dos prossionais da educao recebe-ram bnus, de valores que variaram de 500 a mais de 10.000 reais, dependendo dos resultados alcanados por suas escolas, jornada de trabalho e nmero de faltas. Apesar das enormes resistncias das entidades sindicais, em geral defensoras da isonomia e contra qualquer forma de remunerao varivel, que consi-dere o esforo e compromisso das equipes, o bnus por desempenho j uma realidade no Estado de So Paulo.

    O grande destaque foi o bom resultado das esco-las de ensino mdio. Mais de 84% das unidades avan-aram, sendo que 77% atingiram ou superaram as metas previstas. Um dos fatores que pode explicar a melhoria dos resultados das escolas de ensino mdio a implantao da nova proposta curricular e do pro-grama Apoio Continuidade dos Estudos, que ofere-ce seis horas semanais de reviso de contedos, com nfase em lngua portuguesa e matemtica, e mate-riais especcos para os alunos se prepararem para

    o futuro. Embora seja um programa novo, iniciado em 2008, trata-se de uma interveno pedaggica tra-dicionalmente adotada nas boas escolas particulares, com foco na recuperao dos alunos da 3 srie do ensino mdio, ao longo do ano e integrado grade curricular.

    Com mais de cinco mil escolas, a rede estadual pau-lista extremamente diversicada e heterognea. Se

    as escolas so desiguais, as necessidades e os desaos

    tambm so distintos, o que, por sua vez, signica que

    no possuem condies de caminharem no mesmo

    ritmo. Assim, as metas desejadas jamais sero alcan-adas em tempo igual pelas escolas, mas sim em tem-pos distintos e utilizando estratgias diferenciadas. preciso, portanto, conhecer melhor essas escolas, o modo pelo qual desenvolvem suas atividades, como enfrentam os problemas do dia a dia e, a partir disso, estabelecer uma discriminao positiva das mes-mas, visando melhorar a qualidade dos seus servios.

    Dessa maneira, alcanar maior equidade na rede de ensino e cooperar para que essas escolas avancem e melhorem de qualidade constitui tarefa que no se realiza margem de uma interveno dos poderes pblicos, de um apoio diferenciado s suas equipes escolares, de avaliao e monitoramento constan-te, de apoio didtico-pedaggico intensivo, alm de orientaes tcnicas para que assimilem terica e pra-ticamente a losoa do currculo recm-implantado.

    Resumindo, em menos de dois anos, o governo de So Paulo implantou uma reforma educacional corajosa, abrangente e bastante inovadora. Mostrou que possvel fazer mudanas, apesar das resistncias polticas normais de qualquer regime democrtico. O futuro das mudanas implantadas depender, em grande medida, da continuidade, persistncia, exi-bilidade e capacidade institucional da Secretaria de Educao em assegurar um monitoramento efetivo da gesto das aes, com prioridade ao pedaggico, sem o qu no ser possvel o necessrio aprimora-mento de todas as iniciativas recentes. O papel dos dirigentes, diretores, supervisores e coordenadores pedaggicos neste processo ser to crucial quanto a efetiva participao dos pais e alunos, colaborando e cobrando das escolas mais qualidade e compromisso com a aprendizagem de todas as crianas e jovens de So Paulo. essa a principal nalidade da boa escola

    pblica to almejada por todos.

    Notas

    1. Programa internacional de avaliao comparada, aplicado a estudantes na faixa etria dos 15 anos, idade em que se pressupe o trmino da escolaridade bsica obrigatria na

    maioria dos pases. Esse programa desenvolvido e coorde-nado internacionalmente pela Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico OCDE.2. Realizado desde 1995 pela International Association for the Evaluation of Educational Achievement IEA.

  • 18 MARIA HELENA GUIMARES DE CASTRO

    So Paulo Perspec., So Paulo, v. 23, n. 1, p. 5-18, jan./jun. 2009

    MARIA HELENA GUIMARES DE CASTROCientista poltica, professora da Unicamp. Foi Secretria Estadual de Educao de So Paulo,

    presidente do Inep e secretria-executiva do Ministrio de Educao. Atualmente, preside o Conselho Superior de Responsabilidade Social da Fiesp, So Paulo-SP, Brasil.

    ([email protected])

    Artigo recebido em 4 de maio de 2009. Aprovado em 22 de maio de 2009.

    Como citar o artigo:CASTRO, M.H.G. Sistemas de avaliao da educao no Brasil: avanos e novos desaos. So Paulo em Perspectiva, So Paulo, Fundao Seade, v. 23, n. 1, p. 5-18, jan./jun. 2009. Disponvel em: ; . Acesso em:

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