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IX Encontro Técnico de Materiais e Química Rio de Janeiro - 22 e 23 novembro 2017 SISTEMAS DISPERSIVOS VERDES E SEUS PARADIGMAS: A FORMAÇÃO DE NANOMATERIAIS MULTIDIMENSIONAIS COM O USO DO EXTRATO DA FOLHA DE PSIDIUM GUAJAVA L. Sérgio Antunes Filho 1 , Bianca Pizzorno Backx 2 ¹ , ²Universidade Federal do Rio de Janeiro Pólo Xerém / NUMPEX-BIO [email protected] Resumo: A química verde está sendo cada vez mais explorada à medida que a ciência encontra mais perguntas e respostas diante da natureza. Os extratos de plantas são utilizados desde as eras antigas para diversos tratamentos medicinais e usos nas mais variadas aplicações culturais; o extrato da folha de Goiabeira (Psidium guajava L.) é utilizado há décadas como fonte de substâncias naturais ricas em diversas características físico-químicas, farmacológicas e bioquímicas particulares como no caso do óleo essencial da folha de goiabeira que contém substâncias antifúngicas, anti-inflamatórias e antitumorais. Nesta pesquisa foram realizados estudos sobre a dispersão de nanopartículas de prata (AgNPs) em extratos das folhas de Psidium guajava L. (PG) através de caracterizações por espectroscopia de Uv visível (Uv-vis) e microscopia eletrônica de varredura (MEV). Palavras-chave: Nanomateriais; Química verde; Sistemas coloidais. Abstract: Green chemistry is being increasingly explored as science finds more questions and answers in the face of nature. The extracts of plants are used since the old time for several medicinal treatments and uses in the most varied cultural applications; the leaf extract of guava tree (Psidium guajava L.) has been used for decades as a source of natural substances rich in various physico-chemical, pharmacological and biochemical characteristics, as in the case of guava leaf essential oil that contain chemical species antifungal, anti-Inflammatory and antitumorals. In this research, silver nanoparticles (AgNPs) dispersion was studied in extracts from leaves of Psidium guajava L. (PG) through characterization by Uv-visible spectroscopy (Uv-vis) and scanning electron microscopy (SEM). Keywords: Nanomaterials; Green chemistry; Colloidal systems. 1. Introdução A nanotecnologia é um dos maiores campos da ciência aplicada no século XXI, onde diversos âmbitos sociais, econômicos e culturais são e serão afetados com descobertas diárias sobre novos possíveis modelos para a manipulação da matéria em pequena escala e seu uso em inúmeros fins revolucionários [1]. Devido ao seu caráter multidisciplinar e transdisciplinar, a nanociência confere a abrangência de diversas soluções e problemas correlacionados a outras áreas; neste caso, o principal escopo envolvido é a química verde e a química dos coloides. Visto que neste trabalho o extrato da folha de goiabeira, parte do seu óleo essencial, é utilizado como meio dispersivo de nanopartículas e micropartículas de prata. Desta forma, é importante ressaltar que a nanotoxicologia e os efeitos adversos de nanopartículas bem como de outros nanomateriais ainda estão em constante estudo e podem ampliar problemas ambientais e sociais se não forem devidamente monitorados cientificamente a cada

SISTEMAS DISPERSIVOS VERDES E SEUS ......nanotecnologia verde rebate diversas destas problemáticas, com o menor uso de materiais precursores e o não uso de solventes tóxicos bem

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IX Encontro Técnico de Materiais e Química

Rio de Janeiro - 22 e 23 novembro 2017

SISTEMAS DISPERSIVOS VERDES E SEUS PARADIGMAS: A

FORMAÇÃO DE NANOMATERIAIS MULTIDIMENSIONAIS COM O

USO DO EXTRATO DA FOLHA DE PSIDIUM GUAJAVA L.

Sérgio Antunes Filho1, Bianca Pizzorno Backx

2 ¹, ²Universidade Federal do Rio de Janeiro – Pólo Xerém / NUMPEX-BIO

[email protected]

Resumo: A química verde está sendo cada vez mais explorada à medida que a ciência encontra

mais perguntas e respostas diante da natureza. Os extratos de plantas são utilizados desde as eras

antigas para diversos tratamentos medicinais e usos nas mais variadas aplicações culturais; o

extrato da folha de Goiabeira (Psidium guajava L.) é utilizado há décadas como fonte de

substâncias naturais ricas em diversas características físico-químicas, farmacológicas e

bioquímicas particulares como no caso do óleo essencial da folha de goiabeira que contém

substâncias antifúngicas, anti-inflamatórias e antitumorais. Nesta pesquisa foram realizados

estudos sobre a dispersão de nanopartículas de prata (AgNPs) em extratos das folhas de Psidium

guajava L. (PG) através de caracterizações por espectroscopia de Uv visível (Uv-vis) e

microscopia eletrônica de varredura (MEV).

Palavras-chave: Nanomateriais; Química verde; Sistemas coloidais.

Abstract: Green chemistry is being increasingly explored as science finds more questions and

answers in the face of nature. The extracts of plants are used since the old time for several

medicinal treatments and uses in the most varied cultural applications; the leaf extract of guava

tree (Psidium guajava L.) has been used for decades as a source of natural substances rich in

various physico-chemical, pharmacological and biochemical characteristics, as in the case of

guava leaf essential oil that contain chemical species antifungal, anti-Inflammatory and

antitumorals. In this research, silver nanoparticles (AgNPs) dispersion was studied in extracts from

leaves of Psidium guajava L. (PG) through characterization by Uv-visible spectroscopy (Uv-vis)

and scanning electron microscopy (SEM).

Keywords: Nanomaterials; Green chemistry; Colloidal systems.

1. Introdução

A nanotecnologia é um dos maiores campos da ciência aplicada no século XXI, onde

diversos âmbitos sociais, econômicos e culturais são e serão afetados com descobertas diárias sobre

novos possíveis modelos para a manipulação da matéria em pequena escala e seu uso em inúmeros

fins revolucionários [1].

Devido ao seu caráter multidisciplinar e transdisciplinar, a nanociência confere a

abrangência de diversas soluções e problemas correlacionados a outras áreas; neste caso, o principal

escopo envolvido é a química verde e a química dos coloides. Visto que neste trabalho o extrato da

folha de goiabeira, parte do seu óleo essencial, é utilizado como meio dispersivo de nanopartículas e

micropartículas de prata.

Desta forma, é importante ressaltar que a nanotoxicologia e os efeitos adversos de

nanopartículas bem como de outros nanomateriais ainda estão em constante estudo e podem ampliar

problemas ambientais e sociais se não forem devidamente monitorados cientificamente a cada

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síntese e aplicação nas mais variadas indústrias. Além disso, a nanociência auxilia na problemática

de escassez de elementos e materiais naturais pouco abundantes no planeta e muito requisitados

industrialmente para a produção de diversos itens, onde com menos elementos precursores ou

utilizando materiais naturais mais abundantes pode-se produzir estes itens com a mesma eficiência

ou eficiência superior para serem aplicados tecnologicamente da forma proposta. Desta maneira, a

nanotecnologia verde rebate diversas destas problemáticas, com o menor uso de materiais

precursores e o não uso de solventes tóxicos bem como na busca pela dispersão coloidal em um

sistema estável e natural [2].

Sistemas coloidais verdes cujo meio dispersivo é oriundo de extrações vegetais possuem

diversas peculiaridades do ponto de vista físico-químico, sendo a principal causa e fronte de todo o

paradigma deste sistema a presença de dezenas ou centenas de espécies químicas com diferentes

reatividades e interações moleculares, o que estabelece um patamar de possibilidades químicas que

envolvem oxidação, redução, formação de novos compostos com a variação de temperatura e

pressão ou, até mesmo, influências de supraestruturas nas morfologias dos coloides [3,4].

No caso das folhas de PG, estão presentes diversas substâncias com variadas características

estruturais e funcionais, sendo majoritária a presença de compostos fenólicos como os flavonoides

[5]. Além disso, o óleo essencial presente nas folhas contém, em maioria, (E)-nerolidol, beta-

cariofileno e selin-11-en-4-ol, substâncias que são antifúngicas, anti-inflamatórias e antioxidantes

[6]; o que é extremamente interessante para a redução e estabilização da prata durante a síntese das

nanopartículas e seu uso como meio dispersivo eficiente em diversas aplicações onde a sinergia das

propriedades do meio dispersivo e as nanopartículas podem ser exploradas ao amplificar os

potenciais de ação tecnológicos do sistema utilizado.

O objetivo deste trabalho é analisar e discutir a formação de nanomateriais

multidimensionais (0D e 1D, principalmente) na dispersão de AgNPs, por spike, nas soluções

extrativas e sua deposição em substratos de carbono [7].

2. Metodologias

A síntese das nanopartículas foi realizada em meio dispersivo de amido e glicose e com a

utilização do precursor de nitrato de prata em solução aquosa, sendo sintetizadas por duas diferentes

rotas de maneira que as amostras denominadas AgNP1 e AgNP2 distinguem-se, principalmente,

quanto à concentração de sal de prata adicionados na rota de síntese e ao tempo de aquecimento.

Enquanto que as extrações foram realizadas através de uma metodologia desenvolvida pelo

rotaevaporador onde a concentração utilizada era de 26 g de folha de PG por 100 ml de solvente

cuja solução de interesse era condensada no balão coletor.

As caracterizações ocorreram por Uv-vis onde o pico entre 380 e 480 nanômetros do efeito

de ressonância plasmônica de superfície (SPR) foi observado nos sistemas coloidais e as deposições

foram caracterizadas por MEV.

3. Resultados e discussões

As sínteses das soluções coloidais foram realizadas em diferentes rotas e suas

espectroscopias de Uv visível, observadas na Figura 1, demonstram um elevado pico de SPR no

espectro da amostra AgNP2 e um ombro presente no espectro da amostra AgNP1 no que

corresponde ao intervalo entre 380 e 480 nm. Este ombro, presente no espectro AgNP1, é

característico de aglomerações e formações de estruturas cristalinas micro e nanométricas com

morfologias variadas, entretanto o elevado pico de SPR demonstra a presença de diversas

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nanopartículas na solução [8]. Os picos entre 190 e 380 nm presentes no espectro são características

de hidrocarbonetos, aldeídos e compostos orgânicos presentes no sistema [9].

As soluções coloidais foram sintetizadas por spikes de 100 microlitros em um mililitro das

soluções extrativas. Estes sistemas coloidais finais foram aspergidos por spike no substrato de

carbono, como demonstra a caracterização por MEV segundo a Figura 2. Nos casos A e B da figura

2 estão presentes as mesmas concentrações do óleo essencial da folha de goiabeira e também o

mesmo sistema coloidal disperso foi utilizado (AgNP2); entretanto em A houve a evaporação do

solvente por temperatura ambiente e em B houve a evaporação do solvente na estufa por exposição

ao calor a 50 ºC durante 30 minutos. No sistema C, o óleo essencial está presente em menor

concentração do que em A e B, e o sistema coloidal utilizado para a dispersão foi o AgNP1, sendo o

solvente evaporado por exposição ao calor a 50 ºC durante 30 minutos na estufa.

Figura 2 - Microscopia eletrônica de varredura das soluções coloidais finais depositadas em substrato de carbono.

As concentrações dos extratos utilizados foram verificadas por Uv-vís, como mostra a figura

a seguir.

Na Figura 3 é possível observar a menor absorbância no extrato da deposição em C e maior

absorbância no meio dispersivo da deposição em A e B segundo o espectro, o que prediz uma maior

eficiência extrativa nestas metodologias. Enquanto que figura 2-A é possível observar a formação

0 2 4 6

0 200 400 600 800 1000 1200 Ab

sorb

ânci

a

Comprimento de onda (nm)

Espectroscopia das soluções coloidais

AgNP1

AgNP2

0 1 2 3

0 200 400 600 800 1000 1200 Ab

sorb

ânci

a

Comprimento de onda (nm)

Compração entre os extratos utilizados para a dispersão.

Extrato de C

Extrato de A e B

Figura 1 - Espectroscopia das soluções de AgNP1 e AgNP2.

Figura 3 – Espectro de UV-vis comparativo entre os meios dispersivos.

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de micropartículas dodecaédricas e algumas partículas nanométricas em menor escala que são vistas

com poucos pixels nesta microscopia e estão circuladas em vermelho, entretanto pode-se conceituar

por indução científica que a morfologia destas micro e nanopartículas menores provavelmente

seguem esta mesma estrutura dodecaédrica pela característica intrínseca da nucleação dos cristais de

prata e formação dos sistemas coloidais [7].

Na figura 2-B, o aquecimento ocasionou uma polimerização que provavelmente ocorreu

pela presença de aldeídos, hidroxilas reativas e ligações insaturadas nas substâncias majoritárias do

óleo essencial. Desta maneira, houve a formação de revestimentos de prata sobre estes polímeros e

o desenvolvimento de nanofios, nanofibras ou nanopilares a depender da razão de aspecto que só

poderia ser dimensionada em uma caracterização mais direcionada as energias superficiais destes

nanomateriais como, por exemplo, na microscopia de força atômica.

Na figura 2-C, observa-se a formação de nanopartículas de 100 e 200 nm em formato

elipsóidico circuladas em vermelho, tendo sua morfologia bastante diferenciada das demais

estruturas observadas na figura 2 em A e B. Desta maneira pode-se compreender a formação de

nanomateriais 0D e 1D a partir da dispersão dos sistemas coloidais nos extratos da folha de

Goiabeira e sua deposição em substrato carbonáceo como visto nestas microfotografias [7,10].

4. Conclusão

A formação de nanomateriais 0D e 1D são observadas na dispersão coloidal e sua deposição

sobre o substrato de carbono. Entretanto, ainda são necessários estudos para uma melhor

compreensão dos efeitos físico-químicos que originaram estas morfologias de modo que a variação

da concentração de átomos de prata e a variação da concentração de substâncias extrativas bem

como a metodologia de aquecimento devem ter uma relação fundamental para a formação de cada

morfologia dos nanomateriais.

5. Referências

1. BENEFITS AND APPLICATIONS. 2017. Disponível em:

www.nano.gov/you/nanotechnology-benefits. Acessado em: 01 de setembro de 2017.

2. NANOTECNOLOGIA – A MANIPULAÇÃO DO INVISÍVEL. Centro Ecológico.

Revista Novas Tecnologias. 2009.

3. YEE-SHING LIU et al. Silver nanoparticle biosynthesis by using phenolic acids in

rice husk extract as reducing agents and Dispersants. Journal of food and drug analysis. 2017.

4. PIK-LING LAM et al. Recent advances in green nanoparticulate systems for drug

delivery: efficient delivery and safety concern. Future science group: nanomedicine. 2017.

5. DÍAZ-DE-CERIO, E et al. Determination of guava (Psidium guajava L.) leaf

phenolic compounds using. Journal of functional foods, v. 22, p. 376-388. 2016.

6. JORGE. A. PINO et al. Leaf oil of Psidium guajava l. from cuba. Journal of essential

oil research. Vol. 13, p. 61-62. 2011.

7. CAO, G. Book: Nanostructures & Nanomaterials. Imperial College Press, 2004.

8. SANTOS. J. F. L et al. Ressonância de plasmon de superfície localizado e aplicação

em biossensores e células solares. Química nova. vol. 39, p. 1098-1111. 2016.

9. DONALD L. PAVIA et al. Introduction to spectroscopy. Cengage Learning. Fourth

edition, 2008.

10. MANUEL A. MARTINS e TRINDADE, T. Os nanomateriais e a descoberta de

novos mundos na bancada do químico. Química Nova, Vol. 35, No. 7, 1434-1446, 2012.