27
RAIZES VOLANTES Encontro 3 ONDE aquarelas / poemas de Eugênia Correia 1 terça-feira, 9 de abril de 13

Slides Raízes Volantes - Encontro 3

Embed Size (px)

Citation preview

RAIZES VOLANTESEncontro 3

ONDEaquarelas / poemas de Eugênia Correia

1terça-feira, 9 de abril de 13

- Tentativa de compartilhar momentos da minha análise pessoal no intuito de elaborar pontos que escapam à simbolização;

- Riscos da mistura aquarela / poema causar um efeito pedagógico de explicar a imagem com palavras;

- Vantagem de manter as duas linguagens: instauração da problemática na diferença de planos entre palavra e imagem. Infinitas interfaces podem se combinar com a exposição.

- A problemática depende do expectador. Qual título você daria para essa exposição?

No texto sobre o estádio do espelho, Lacan se refere ao fiel da balança da violência em uma cidade: o modo como a cidade lida com as manifestações artísticas. É uma pista a desbravar nesse momento em que o aumento assustador da violência no espaço urbano parece encontrar ressonância no também impressionante recrudescimento da violência doméstica.

2terça-feira, 9 de abril de 13

3terça-feira, 9 de abril de 13

Melancolia -Durer DureA.Durer Durer

Albert Durer - quadro“Melancolia” mistura letras, números, um bebê se posiciona igual ao adulto, com uma escada entre eles, sugerindo uma ascenção que não se concretiza. Sobre a cabeça do homem, o “Quadrado mágico”, composição onde os números apresentam sempre o mesmo resultado na soma das colunas, barras, diagonais, e mesmo a data em que concluiu o trabalho. O resultado é sempre 34. Esse quadrado já existia desde a Idade Média e ele reconstrói acrescentando novas coincidências para o 34.

A depresssão ou crise de angústia ou luto, podem ser ilustrada pela repetição de elementos que sempre “dão no mesmo”. A arteterapia pode oportunizar o recorte do quadrado, a coragem para fazer face à repetição em sua forma nua. Diante da repetição radical sujeito é chamado a elaborar o acontecimento usando uma lógica diferente da simbolização. A produção arteterapêutica não é suporte apenas para busca de sentido. A composição mesmo, independente de sua interpretação, já consiste em um distanciamento que pode ser terapêutico. O objetivo é restaurar a fluidez associativa, o que por si só já produz um primeiro distanciamento.. A arteterapia envolve um processo de verdade singular. Trata-se de afirmar uma situação, de modo irredutível a procedimentos interpretativos, classificatórios, diagnósticos.

A pessoa é convidada a associar livremente em torno de um material. O que trago aqui é essa mistura, e para melhor compartilhar cito A.Durer como um artista que me interpela, assim como outros, como Zé Rufino e Sophie Calle.

4terça-feira, 9 de abril de 13

5terça-feira, 9 de abril de 13

Do quadrado ao quadro - da tela à carta do ancestral

Zé Rufino - artista brasileiro de João Pessoa - Cartas de Areia. Inscrições sobre material de arquivo familiar. Cartas de Areia.

Um quadro apazigua a pulsão escópica quando envolve 3: o pintor, o quadro e aquele que vê. O quadro vê e é visto ao mesmo tempo, o que é difícil de explicar e todo comentário é perigosamente excessivo. A emoção estética aproxima-se do humor, do sonho, do esquecimento e do sintoma. As formações do inconsciente só se manifestam em um contexto de 3 registros e não podem ser controladas nem explicadas exaustivamente.

Sair do quadrado da repetição: “ver”a repetição de um outro ponto de vista. Como um ponto de apoio na física, a transferência é a força que impulsiona a transformação.

A leitura de Rufino das cartas de seus avós formula a busca pelo recebimento de uma herança jamais completamente formulada.

6terça-feira, 9 de abril de 13

corpo da obra, o corpo como obra

Rufino lança a problemática do ancestral de modo a se pensar a violência urbana como uma ausência de avós. O ganho de uma década no tempo de vida da humanidade tem reduzido as preocupações dos novos idosos a questões de saúde, beleza, sedução e poder. Como se a proximidade da morte não fosse aceita. Essa aceitação levaria a uma nova geração de avós, não de idosos. Os pais dos pais são ainda mais responsáveis pelos filhos, deixando que se faça ouvir a questão civilizatória que nos caracteriza no século XXI: o que você “tem”? quanto? de que modo protege o que “tem”? E nesse verbo está a transmissão de uma herança que é a própria cidade, a urbanidade transmissível para as gerações.

Não é à toa, portanto, que a violência aumenta onde declinam os avós, reduzidos ou a doentes ou a estorvos. Lá onde a narrativa se reduz ao discurso jurídico ou biológico, testemunhando em carne viva a crise civilizatória em que nos encontramos, o sujeito é pura decadência. Susan Greenfield, neuroscientista, demonstra com seus experimentos que a restauração da capacidade de narrar impulsiona a neotenia, produção de novas ligações neuronais.

7terça-feira, 9 de abril de 13

Como demonstrar o efeito terapêutico da arteterapia?

- A ciência demonstra suas Leis Gerais por meio de experimentos que não dependem da participação do sujeito que repete o experimento. Uma demonstração que envolva processos inconscientes supõe que seja levado em conta o zero, a castração, o infinito, o falo, o paradoxo, o sintoma. São grandezas demonstrativas que exigem a participação do leitor.

- Leis gerais da Psicanálise: - o sujeito é dividido (seccionado); - essa divisão engendra produções; - as manifestações do inconsciente exigem o envolvimento da pessoa para ser demonstradas. Ex: o riso, a emoção estética.

- A análise pode levar a pessoa a se deparar com a “letra encravada na carne”, repetições que exigem linguagens diferenciadas para as passagens significantes.

Para “contar” momentos de uma sessão, é preciso usar mais que algarismos.

8terça-feira, 9 de abril de 13

sophie calle

Sophie Calle - livros misturando fotos e textos curtos verídicos; a obra se confunde com um tipo de História de vida. A imagem não completa o texto mas interpela, surpreende, instiga.

Livros:“Douleur exquise” e “Histoires vrais”, entre várias postagens na internet.

9terça-feira, 9 de abril de 13

10terça-feira, 9 de abril de 13

- Aproximacões: assim como o bebê e o homem estão posicionados da mesma maneira, a mulher tem a mesma expressão, acordada ou dormindo, como se a “letra encravada na carne”não permitisse declinação.

11terça-feira, 9 de abril de 13

12terça-feira, 9 de abril de 13

Ver a si mesmo, isso é possível? “Só saberás quem tu és se fores amado”, ou ainda “só quem te ama pode dizer quem és.” “Um galo sozinho não tece uma manhã” - João Cabral.

A resiliência frente às intempéries reune vários fatores. Cyrulnik destaca 3: o significado que é dado pelo grupo mais próximo ao acontecimento; a perenidade das marcas; a possibilidade de dar um lugar social para o que se passou. Somente ao lado de outra pessoa a cicatrização poderá acontecer: museus, mausoléus, publicações, exposições, constituem o caminho incontornável para a superação de traumas. O sistema imunológico das pessoas melhora pelo fato dela se inscrever em um grupo. Qualquer que ele seja. Pertencimento e identificação são necessidades básicas de humanização.

13terça-feira, 9 de abril de 13

A imagem de si É irredutível à anatomia, embora uma não exista sem a outra.

14terça-feira, 9 de abril de 13

Como a arte opera a transformação do momento?

A “imagem de si” vem do outro, que lhe outorga pertinência, proteção, identidade. O espaço vazio entre sujeito e imagem se aproxima das torsões da banda de Moebius.

Na elaboração do sintoma, o significado é secundário em relação ao significante. E o significante é secundário em relação às torsões. O movimento intra-psíquico acontece pelo apoio que encontrar no lado de fora.

A banda de moebius pode ilustrar essa exigência de um tipo de número que não se restrinja à contagem aritmética. As reflexões de R.Abibon sobre a banda de Moebius, disponíveis no site do autor, me lembram a frase de Pina Bausch: “Não me interessa como a pessoa se movimenta mas sim em que lugar se apoia a força do movimento.”

15terça-feira, 9 de abril de 13

Convite para continuarmos outro dia comentando o seminário 11 de Lacan

Para Lacan, a pintura permite que uma coisa seja dita à revelia tanto da intenção consciente do autor quanto também do expectador. A pintura é o registro onde há uma dupla mensagem que se sustenta mesmo sendo dupla, contraditória mesmo, em uma imagem única. Exemplo: Na disputa entre Zêuquix e Nestor para saber quem era melhor pintor, Zêuquix pintou uma fruta tão perfeita que enganou até os passarinhos, que vinham bicá-la. Nestor ganhou o concurso, entretanto, ao pintar uma cortina tão perfeita que o Juiz da disputa disse: - Vamos abri-la para ver o que pintaste.

Nos dois casos, trata-se de parecer fazer referência a uma coisa quando de fato o que prevalece é outra. O deslizamento entre a forma e seu comentário permite ao sujeito se posicionar, revisitando a diferença de planos intra-psiquicamente. Por isso não é tão importante a nitidez da imagem nem o modo como é impressa mas antes o poder que tenha de desvelar uma imagem que o expectador traz dentro das pálpebras, à espera de um quadro para depositar.

16terça-feira, 9 de abril de 13

tratar a violÊncia

O sujeito do inconsciente se organiza em uma imagem de corpo que não coincide com a anatomia;

A pulsão escópica é apaziguada pela pintura, propõe Lacan. A violência pode encontrar esteio e sentido por meio da produção de imagens, qualquer que seja o suporte escolhido;

Para escutar a violência - urbana ou doméstica - é preciso desdobrar o incidente violento em suas raízes, de modo a conceder-lhe novas asas.

17terça-feira, 9 de abril de 13

A banda e as torsões

Entendo “torsão”como o movimento que gira o “aparelho falante” no encalço a um “giro singular”. Abibon defende que a banda é feita com 3 giros, diferentemente de outras leituras lacanianas.

Para mim também, até onde entendi, é preciso que se façam 3 registros, 3 diferenças de planos, para que um momento seja contável. Nessa forma de contar, não se trata de adicionar unidades, mas de pensar o “um”como singular. O que se conta nessa demonstração é o fato de que em certo momento, o sujeito sente, constata uma tríplice concatenação da situação em que se encontra: o sintoma se transforma e deixa ver o processo até um certo ponto. Há um ponto, entretanto, em que a simbolização se dobra sobre si. Essa “sacação”permite que o sujeito seja sacado, ejetado, que faça do quadrado um quadro, fique distante da situação o suficiente para bem admirá-la.

Na tradição lacaniana, a topologia é um recurso demonstrativo da mesma ordem de grandeza que a estatística. Trata-se de matemática também. Por isso a distinção “pesquisa quantitativa / qualitativa” não se aplica nesse domínio.

18terça-feira, 9 de abril de 13

Exposição = ex-posição

O artista precisa mostrar sua obra para saber o que está produzindo. Sem interlocução não existe uma obra. Onde será que essa reação vai me acontecer?

Onde?

A formação do arteterapeuta passa pela experiência com o canal expressivo que lhe é afeito.

Preciso de vocês para que minhas aquarelas/poemas existam no mundo e façam algum sentido para mim e para cada um que as admirar.

É grande a coragem que preciso para expor as aquarelas assim como é grande meu desejo de que desperte em vocês a vontade de reagir e me deixar saber o que será que estou repetindo sem me dar conta: o que será que minhas imagens provocam em quem as olha?

19terça-feira, 9 de abril de 13

Nuvem passandohesita, e vai

fosforecente holograma:cai.

20terça-feira, 9 de abril de 13

brisa

21terça-feira, 9 de abril de 13

22terça-feira, 9 de abril de 13

23terça-feira, 9 de abril de 13

24terça-feira, 9 de abril de 13

25terça-feira, 9 de abril de 13

26terça-feira, 9 de abril de 13

27terça-feira, 9 de abril de 13