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COMUNICAÇÃO E TRABALHO: CONSIDERAÇÕES SOBRE A APLICABILIDADE DO MÉTODO COACHING E SUA CONTRIBUIÇÃO AO BIBLIOTECÁRIO Adriana Maria de Souza 1 1 Mestranda no programa de Pós-graduação em Ciências da Informação ECA/USP, FESPSP, São Paulo, SP Resumo Apresenta um estudo inicial sobre a possibilidade de integração e aplicação da metodologia Coaching no contexto do mundo do trabalho e da comunicação, tendo o Bibliotecário como protagonista, no que se refere à sua atuação social e mediadora da informação em seu ambiente de trabalho, podendo ser este o participante articulador e ativo dessa proposta, seja como Coach ou mesmo como Gestor de processos comunicacionais. O presente estudo, também pretende inserir um novo olhar a esse profissional em seu trabalho, na adoção desse dispositivo ou apenas suscitar discussões sobre este tema para a ampliação e necessidade de outras pesquisas. Propõe uma aproximação do profissional bibliotecário à prática deste estudo nos Serviços de Informação. Palavras-Chave: Comunicação e trabalho; Coaching; Bibliotecários. Abstract It presents an initial study about the possibility of integration and application of the methodology Coaching in the context of world work and communication, with the Librarian as protagonist in relation to the its social and mediator of information activity on their work environment, can be an active participant and organizer of this proposal, either as a Coach or even as a Manager communication processes. This study also intends to enter a new look at this professional in their workplace in the adoption of these devices or only raise discussion on these issues for the expansion and further researches are needed. It proposes an approach to the practice of the professional Librarian in this study in information services. Keywords: Work and Communication; Coaching; Librarians. Introdução O surgimento exponencial das inovações tecnológicas propicia à sociedade moderna e globalizante, um cenário de mudanças rápidas e constantes. O sujeito,

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COMUNICAÇÃO E TRABALHO: CONSIDERAÇÕES SOBRE A

APLICABILIDADE DO MÉTODO COACHING E SUA CONTRIBUIÇÃO AO BIBLIOTECÁRIO

Adriana Maria de Souza1 1 Mestranda no programa de Pós-graduação em Ciências da Informação ECA/USP, FESPSP,

São Paulo, SP Resumo

Apresenta um estudo inicial sobre a possibilidade de integração e aplicação

da metodologia Coaching no contexto do mundo do trabalho e da comunicação, tendo o Bibliotecário como protagonista, no que se refere à sua atuação social e mediadora da informação em seu ambiente de trabalho, podendo ser este o participante articulador e ativo dessa proposta, seja como Coach ou mesmo como Gestor de processos comunicacionais. O presente estudo, também pretende inserir um novo olhar a esse profissional em seu trabalho, na adoção desse dispositivo ou apenas suscitar discussões sobre este tema para a ampliação e necessidade de outras pesquisas. Propõe uma aproximação do profissional bibliotecário à prática deste estudo nos Serviços de Informação.

Palavras-Chave:

Comunicação e trabalho; Coaching; Bibliotecários.

Abstract

It presents an initial study about the possibility of integration and application of the methodology Coaching in the context of world work and communication, with the Librarian as protagonist in relation to the its social and mediator of information activity on their work environment, can be an active participant and organizer of this proposal, either as a Coach or even as a Manager communication processes. This study also intends to enter a new look at this professional in their workplace in the adoption of these devices or only raise discussion on these issues for the expansion and further researches are needed. It proposes an approach to the practice of the professional Librarian in this study in information services.

Keywords:

Work and Communication; Coaching; Librarians.

Introdução

O surgimento exponencial das inovações tecnológicas propicia à sociedade

moderna e globalizante, um cenário de mudanças rápidas e constantes. O sujeito,

segundo Hall (2005), outrora concebido por uma identidade unificada e estável, torna-se fragmentado, composto não de uma única, mas de várias identidades, muitas vezes contraditórias e não-resolvidas. Assim, a área da comunicação, a partir da atividade de trabalho é expressa no cotidiano dos sujeitos/indivíduos, propiciando a interação humana, transformadora e mutável, que se apresenta no coletivo mediatizado pela atividade linguageira, discursiva de seus integrantes. Dessa forma, quando estes realizam a atividade de trabalho, realizam-na também a fim de satisfazerem suas necessidades comunicacionais. Entretanto, pode-se dizer, de acordo com Leontiev (2004, p. 93), que a linguagem não desempenha apenas o papel de intermediária de comunicação entre os homens, ela é também um meio, uma forma de consciência do pensamento humano, pois se relaciona com os processos de conhecimento, os instrumentos e as práticas no mundo do trabalho, operados pela linguagem que age sobre o comportamento dos homens.

No tocante à proposta deste artigo, esse sujeito é representado na figura do bibliotecário e no seu campo de trabalho pretendendo apresentar e aproximar o método Coaching1

(sem tradução para a língua portuguesa) à atuação desse profissional em Serviços de Informação, como um método eficaz de aperfeiçoamento contínuo desses sujeitos no mundo do trabalho uma vez que, o tradicional ambiente informacional no qual este exercia sua atividade, modificou-se. Dessa maneira, neste agora emergente e mutável mundo novo, figura-se a este profissional a aquisição de um ‘novo olhar’ à sua prática profissional, uma vez que atua como mediador da informação ao seu usuário, liderando equipes e influenciando seus pares em benefícios mútuos e profícuos.

Revisão de Literatura

Os procedimentos metodológicos aqui descritos são de estudos teóricos qualitativos. Na revisão de literatura pesquisada nacionalmente, ainda não há estudos acadêmicos sobre a aplicação do Coaching na Ciência da Informação e na Biblioteconomia, bem como na área de Comunicação, por ser uma metodologia de estudo recente, uma vez que no Brasil o tema somente ganha maior relevância a partir da década de 90. Na literatura estrangeira, precisamente em língua inglesa, há vasta publicação sobre o tema, entretanto, com ênfase e difusão para a área de Administração. No levantamento bibliográfico realizado, foram encontradas algumas publicações relativas ao Coaching, uma delas na área de Biblioteconomia: o livro Coaching in the Library de Ruth F. Metz, da American Library Association, dos Estados Unidos da América e outra uma dissertação de mestrado pela Universidade Católica de Brasília que apresenta um estudo sobre a prática do Coaching no ambiente organizacional integrado à prática da Gestão do Conhecimento. Todavia, faz-se necessário buscar um maior entendimento sobre o que realmente se caracteriza esse método integrado com a abordagem ergológica para a verificação

1 De acordo com o The Oxford English Dictionary (1989, p. 381), Coach era um termo usado na Hungria desde o reinado do Rei Matthias Corvinus, 1458-90, na cidade de Kocs, tornando-se conhecido como kocsi em húngaro para determinar um tipo de transporte usado pela realeza, hoje conhecido como carruagem, utilizado para o transporte público de passageiros. O veículo foi utilizado na Inglaterra na metade do século XVI e, na Europa por volta de século XVIII. O termo foi utilizado dentro do contexto universitário para definir a preparação (de um candidato) para um exame; instrução para assuntos especiais; professor; e também utilizado como treinamento para uma competição atlética. O termo Coaching é definido como a ação do verbo Coach.

da real viabilidade de conduzirem-se como parte integrante no âmbito informacional.

O mundo do Trabalho

Ao longo da tumultuada trajetória da humanidade, quase nada, ou muito pouco, foi mudado na relação capital-trabalho, mesmo considerando-se a acelerada evolução tecnológica e as clareadoras conceituações administrativas dos últimos 50 anos. Ou seja, continuamos a cultuar as ancestrais mesmices, só que, agora, travestidas pela modernidade de um imenso aparato tecnológico que, registre-se, nem de longe conseguiu ser racionalmente decodificado por grande parte das organizações no que tange à sua correta utilização (ARAUJO FILHO, 2007, p. 304).

De acordo com Antunes (1995, p. 23), a década de 80 presenciou profundas transformações no mundo do trabalho, podendo-se afirmar que a ‘classe-que-vive-do-trabalho2

Estamos diante de um cenário fragmentado e complexo do mundo do trabalho, no qual embora haja metamorfoses substanciais das formas de condução do trabalho (domiciliar, terceiro setor, de serviços), o autor defende que as alterações – tais como redução do número de trabalhadores fabris, crescimento do setor de serviços, qualificação e desqualificação – não configuram uma tendência que pode ser generalizada e que caminha em uma só direção, ou seja, "nem o operariado desaparecerá tão rapidamente e, o que é fundamental, não é possível perspectivar, nem mesmo num universo distante, nenhuma possibilidade de eliminação da “classe-que-vive-do-trabalho”, o que não é possível numa sociedade produtora de mercadorias. Dessa forma, é pesaroso e preocupante constatar que, em pleno século XXI, ainda se repliquem as mesmas condutas e formas de trabalho que foram produzidas e difundidas pelo modelo taylorista-fordista, no qual o sujeito era esquecido e transformado em “coisa descartável”, como se pode verificar em muitas empresas tidas como modernas. Mudam-se as terminologias, mas a essência continua sendo a mesma: opressora e ditatorial, na qual o sujeito é visto como

’ sofreu a mais aguda crise deste século, afetando a sua forma de ser. Nesse novo cenário, pode-se notar a diminuição da classe operária para uma expansão do trabalho assalariado com ênfase no setor de serviços, resultando dessa transição, na busca de novos padrões de gestão da força de trabalho, na concepção do toyotismo, o que não apresentou uma superação, mas sim uma nova roupagem visando à promoção de uma nova forma de organização do trabalho, agora mais participativa e cooperativa de forma a mascarar seu sentido real. Para o autor, o toyotismo é a prática trabalhista com mais chances de se propagar e que passa a fornecer o ‘ideário dos trabalhadores’. Em contraponto, há a questão do desemprego estrutural, que se propaga por todo o mundo em dimensões alarmantes.

2 Segundo Antunes (1995, p. 102), a classe-que-vive-do-trabalho ou a classe trabalhadora engloba além dos trabalhadores produtivos (proletariado, conceito de economia política marxista), os improdutivos, ou seja, aqueles cujas formas de trabalho são utilizadas como serviços sejam para uso público ou para o capitalista. O trabalho improdutivo, ainda segundo o autor, abrange os assalariados, desde os inseridos no setor de serviços, bancos, comércio, serviços públicos até aqueles que realizam atividades nas fábricas, mas não criam diretamente valor. Assim, o bibliotecário também está inserido nessa classe de trabalhadores.

máquina produtiva, não sendo sua função refletir ou mesmo melhorar sua condição de trabalho.

Na perspectiva de Leontiev (2004, p. 82), o trabalho humano é uma atividade originariamente social. Quando um membro da coletividade realiza a atividade de trabalho, realiza-a também com o fim de satisfazer uma necessidade sua, de evolução e aperfeiçoamento.

O Coaching

Há várias designações atribuídas ao termo Coaching: guia, instrutor, mentor,

tutor, treinador, este último bastante difundido no contexto desportivo, para o treinamento de atletas em determinado esporte, tendo como obra inicial “The inner game of tennis” – de Timothy W. Gallwey, obra considerada o marco fundamental para a propagação do coaching. Outras aproximações podem também ser facilmente observadas em algumas disciplinas do conhecimento humano, tais como: Psicologia, com a Programação Neurolinguística, Comunicação, Administração, notando-se uma proximidade híbrida com a Ciência da Informação, campo de atuação do bibliotecário, quanto ao seu ambiente multi-pluridisciplinar.

De acordo com Lages (2010, p. 5), “o coaching envolve relação e procedimento” em igualdade com as áreas mencionadas acima, tendo um meio para se chegar a um fim, uma maneira de ajudar e cooperar com o aperfeiçoamento das pessoas, e que pode ser definido de muitas formas. No mercado editorial, há vasta bibliografia voltada para vários âmbitos nos quais pode haver a aplicabilidade do método, o que aponta, na maioria dos casos, que tais bibliografias são fruto de resultados empíricos apenas, limitando o aprofundamento necessário ao pesquisador científico, tornando-se assim, incompleta e escassa.

Vale mencionar sua proximidade com outras terminologias e abordagens metodológicas, utilizadas nos ambientes de trabalho e nas instituições acadêmicas: Aconselhamento de Carreira (Career Counselling) e Mentoria (Mentoring).

Conforme Dutra (2010, p. 156), o aconselhamento de carreira, foi primeiramente abordado na obra de Parsons, publicada em 1909 no qual se discutia o trabalho a partir de grandes transformações que ocorriam nas relações de trabalho e demandas sobre as pessoas, entretanto, tais preocupações já se apresentavam nas obras de Homero: Ilíada e Odisséia, onde Odisseu ao se envolver na guerra entre gregos e troianos, solicita ao amigo Mentor para orientar seu filho Telêmaco em sua ausência. Em função de sua origem, o termo mentoring normalmente está associado à ideia da orientação de uma pessoa jovem ou iniciando sua vida profissional/acadêmica por uma pessoa experiente.

Embora sejam terminologias similares, esta tríade é bastante confundida por profissionais, autores e estudiosos, pelo fato de que o cerne de suas práticas se efetiva na interação humana, nas conversas e nos discursos das relações sociais na atividade de trabalho. Na utilização do método Coaching, há a habilidade de escuta ativa e a formulação de questões-chave por parte do Coach3 resultando em uma ação, ou mesmo na tomada de decisão, na mudança, no aprendizado por parte do Coachee4

3Institute of Customer Services – ICS (2010, p. 4) no Reino Unido, o “Coach é alguém que apoia, desafia e prepara um ou mais indivíduos no processo de Coaching para o sucesso de seus objetivos”.

, objetivando seu crescimento e evolução, buscando nessas metodologias,

soluções reflexivas e conscientes para a caminhada profissional, acadêmica e até mesmo pessoal. O aspecto humano no desenvolvimento dessas práticas deve ser a tônica de todo o processo comunicacional e de integração, em detrimento das vantagens e necessidades unicamente corporativas, acadêmicas e ou institucionais.

De acordo com Metz (2002, p. 16), em sua abordagem nos Serviços de Informação, o Coaching é um processo facilitador resultante em uma mudança para melhor. Coaches auxiliam indivíduos ou equipes a moverem-se de onde estão para o destino que almejam chegar. Este processo geralmente implica em muito mais do que uma simples interação monitorada.

Os bibliotecários lidam com pessoas empenhadas em atividades especiais: criação, registro, armazenamento, recuperação, disseminação e uso de informações. Estamos envolvidos de formas e diferentes graus de intensidade nisso que podemos chamar ciclo da informação. Assim, precisamos saber certas coisas a respeito das pessoas a quem servimos se quisermos executar nosso trabalho de maneira eficiente. Precisamos saber como as pessoas informam as outras e como se informam (MCGARRY, 1999, p. 149).

O bibliotecário, nessa perspectiva, pode ser o mediador entre a prática do

Coaching e o Serviço de Informação, identificando as necessidades de desenvolvimento e capacitação de sua equipe, traduzindo-se em benefícios mútuos para todos os envolvidos com a prática e a gestão do trabalho, dentro e fora dele. “Interpretar uma mensagem significa introduzir a perspectiva do receptor – seus desejos e crenças; torná-lo um parceiro ativo no processo de informação” (CAPURRO, 2007, p. 21).

Como ressalta Blanco (2006, p. 77), a prática do Coaching caracteriza-se como um processo de interação colaborativa voltada à promoção e ao estímulo da aprendizagem, da mudança e do crescimento. Como resultado, a prática torna-se mais abrangente, passando pelos indivíduos, pelas equipes e atingindo todo o ambiente de trabalho, propiciando uma visão sistêmica em concordância com o Serviço de Informação.

O Coaching X Linguagem e Trabalho

“O material privilegiado da comunicação na vida cotidiana é a palavra e é

justamente nesse domínio que a conversação e suas formas discursivas se situam” (BAKHTIN, 2006, p. 37-38). De acordo com o autor, a palavra é o fenômeno ideológico por excelência, sendo o modo mais puro e sensível de relação social. Assim, é na ideologia do cotidiano que o individuo se insere e se relaciona discursivamente, com toda a complexidade e contradição das lutas de classes.

O bibliotecário tem em seu cotidiano de trabalho, a atividade de trabalho preliminarmente regida pela linguagem, pelos atos de fala de seus sujeitos, na qual é legitimada pelas relações sociais e seus meandros, uma vez que a língua é uma instituição social. Como afirma Fígaro (2008, p. 116), comunicação e trabalho são constitutivos do humano, dessa forma, é de suma importância e pertinência refletir sobre a linguagem no trabalho e seus discursos, para se ter consciência das atitudes que devem ser tomadas para melhorar a atividade de trabalho, não havendo assim,

um único caminho a trilhar no aspecto metodológico, todavia pode-se aproximar o Coaching a este objetivo na perspectiva das práticas linguageiras referenciadas por Lacoste (1993), citado por Nouroudine (2002): as práticas linguageiras constituem uma tripartição: a ‘linguagem como trabalho’, a ‘linguagem no trabalho’ e a ‘linguagem sobre o trabalho’. Faz-se necessário inferir sobre a articulação do sujeito no trabalho, tendo em vista a complexidade da relação trabalho/linguagem.

Na linguagem como trabalho há dois níveis de linguagem: as falas e os gestos utilizados ao se dirigir a um colega, visando a efetivação do trabalho, constitutiva da atividade coletiva deste; e a fala interior que acompanha e orienta a tarefa. Entretanto, como se refere Bakhtin, citado por Todorov, 1981, há um terceiro nível necessário: o ‘mínimo dialógico’, expresso por um pensamento e um gesto reflexivo e silencioso. É uma linguagem econômica, sendo utilizada como meio de gestão do tempo de trabalho.

Na linguagem no trabalho refere-se à realidade constitutiva da situação de trabalho global na qual acontece a atividade, para a execução eficaz do trabalho. Diz respeito a todas as conversas que favorecem trocas na situação de trabalho.

Na linguagem sobre o trabalho apresenta-se nos saberes transmitidos entre os indivíduos em um coletivo de trabalho, ao se expressarem a respeito de sua atividade, possibilita avaliar uma situação, um problema, objetivando a ação. Esta linguagem se encontra imbricada com as outras linguagens, revelando-se adequada a uma melhor disponibilização do conhecimento a serviço da ação sobre o trabalho, visando à mudança.

Como afirma Baccega (1995, p. 40-43), é no cotidiano que as palavras que acompanham os nossos gestos, que compõem os nossos atos, brotam em mutação, muitas vezes indecisas, plenas de sua condição de reprodução/transformação. A fala é sempre produto de um individuo social, inclui participação ativa. O homem se forma no processo de instituição dessas relações, modificando o mundo exterior e, ao modificá-lo, modifica-se. Por isso, a palavra não é um dado, é um dando-se, vez que ela participa desse processo de transformações.

Na linguagem sobre o trabalho, pode-se incorporar a metodologia do Coaching e seu desenvolvimento, já que os sujeitos fazem uso da linguagem para criar, modificar, adaptar e resolver suas questões individuais e coletivas na atividade de trabalho, para tanto, a aplicabilidade do método pode colaborar, através do uso da linguagem, para a construção de uma ação voltada à mudança dos envolvidos “na situação de trabalho” como menciona Faïta (2002, p. 24). Para o autor, uma situação de trabalho apenas tem sentido se estiver inscrita na complexidade da experiência de trabalho, dessa forma, o mesmo ocorre para uma eficaz viabilidade da prática do Coaching.

O Bibliotecário e sua atuação O bibliotecário, ao longo da história da Biblioteconomia, sendo uma das

profissões mais antigas do mundo, continua sendo alvo de constantes estereótipos e críticas focados em sua atuação no ambiente de trabalho. Muitos ainda são vistos como retrógrados, passivos, sistemáticos, avessos às mudanças, tecnicistas, sendo desqualificados e pouco reconhecidos como profissionais atuantes e engajados, embora estejamos em pleno século XXI. No contexto das instituições públicas, a grande maioria desses profissionais atua como trabalhadores e, pode-se perceber,

outras tantas conotações pejorativas até mais enfáticas do que estas mencionadas. Entretanto,

a profissão do bibliotecário reveste-se de extrema importância. Não de uma importância passiva, restrito ao mero trabalho de fornecer livros previamente solicitados pelos usuários, mas de uma importância ativa, reflexo e conseqüência de uma atividade que exige posicionamentos e opções a cada momento. Para cada questão formulada por um usuário, existe a necessidade de uma atividade diferenciada, de uma opção quase que única de atendimento. A estratégia de busca é diferente, em cada pesquisa, pois deve adequar o tipo de informação àquele usuário em particular. Sem uma postura, sem um posicionamento anterior, é impossível atuar sobre aquela relação com um mínimo de coerência (ALMEIDA JUNIOR, 2009).

Deve-se inferir que mais do que a intervenção da sociedade, do Estado

e do poder capitalista dominante, o profissional bibliotecário deve, por si mesmo, resgatar sua identidade profissional, tornando-se participativo e atuante, sendo agente transformador de mudanças, buscando na educação continuada e no autoaperfeiçoamento, construir uma nova imagem condizente com o seu papel de mediador entre a informação e o usuário. É reconhecido que, a melhoria da qualidade dos serviços de informação prestados e, a consequente satisfação dos usuários é resultante do modo de gestão do trabalho desenvolvido nos serviços e tem o bibliotecário como protagonista desse processo.

O bibliotecário tem um longo caminho a percorrer para reorganizar sua forma de atuação e aprimorar suas competências para o devir do trabalho, assim, pode-se utilizar do método Coaching para averiguar suas necessidades de aperfeiçoamento e de superação de problemas e dificuldades advindas de sua prática profissional.

Considerações Parciais/Finais

Mediante os temas abordados neste trabalho, é crucial olhar para o ser humano (trabalhador) e o mundo do trabalho em que este se insere e permuta diuturnamente, para a ampliação desta temática para além do que o senso comum entende como trabalho e seus meandros, propondo um olhar reflexivo, transmutável e que preserve a dignidade humana para a qual o trabalho é provedor.

Nessa perspectiva, é necessário obter respostas sobre qual será o futuro dos trabalhadores dentro da nova lógica trabalhista. Como o trabalhador deve se adaptar, se reconhecer, se integrar e sentir-se parte intrínseca dentro das mudanças no mundo do trabalho, sem o determinismo do poder e do controle por parte dos capitalistas? Como a comunicação pode efetivamente colaborar para que os trabalhadores possam ser levados em conta, serem ouvidos em suas necessidades de bem-estar, em suas demandas de trabalho? Deve-se começar transcendendo as teorias clássicas de comunicação: mensagem, receptor, emissor, ruído, uma vez que a linguagem é ação transformadora do indivíduo e a comunicação é parte do processo produtivo de trabalho, é procedimento. Outra forma é fazendo uso do método Coaching, potencializando e melhorando a otimização dos processos e do ambiente de trabalho, fazendo prevalecer as questões concretas desse local na governança da empresa, colocando em palavras o que realmente se faz no trabalho

e o impacto no ‘coletivo de trabalho’. O trabalho é uma atividade fundamental para todos os seres que habitam o

planeta, sejam eles animais racionais ou não, e o mundo corporativo está abarrotado de cartilhas, manuais, livros de gestão e negócios, de autoajuda, enfim, de diversas tábuas de mandamentos com instruções precisas de como se manter empregável.

A atuação do bibliotecário não se restringirá apenas à organização da informação, à seleção e aquisição de recursos informacionais e à gestão da coleção de seus acervos. O atual cenário tecnológico e comunicacional acelera o processo de reconstrução desses locais em ambientes de trabalho repletos de novos desafios e oportunidades de aprendizagem e ações. Assim, o bibliotecário enquanto trabalhador e gestor de processos comunicacionais, já se depara com novas formas de gerir os membros de sua equipe, de seu trabalho, atuante na instituição que faz parte. Por consequência dessas transformações, é cabível e necessário pensar e incluir a prática do Coaching como uma ferramenta importante e necessária, por auxiliar os indivíduos a atingirem seus objetivos na busca de melhorar a forma de trabalho de seus trabalhadores.

Estas considerações pretendem iniciar a discussão, tornando-a mais instigante e desafiadora, podendo ser pensada e analisada em cada âmbito onde se trabalha com conhecimento, comunicação e sujeitos, bem como refletir sobre os detalhes de aplicação e condução da prática do Coaching a partir de outros métodos e abordagens. Referências ALMEIDA JÚNIOR, Oswaldo Francisco de. Biblioteca pública: ambigüidade, conformismo e ação guerrilheira do bibliotecário, out./2009. Disponível em: http://www.ofaj.com.br/pessoais_conteudo.php?cod=9. Acesso: 10/01/2012. ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. São Paulo: Boitempo Editorial, 1995. ARAUJO FILHO, Geraldo Ferreira de. Empreendedorismo criativo: a nova dimensão da empregabilidade. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2007. BACCEGA, Maria Aparecida. Palavra e discurso: literatura e história. São Paulo: Ática, 1995. BAKHTIN, Mikhail (V. N. Volochínov). Marxismo e filosofia da linguagem. 12. ed. São Paulo: Hucitec, 2006. BLANCO, Valéria Bastos. Um estudo sobre a prática do Coaching no ambiente organizacional integrado à prática da gestão do conhecimento. 2006. 217f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Católica de Brasília. CAPURRO, Rafael; HJORLAND, Birger. O conceito de informação. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 12, n. 1, 2007. DUTRA, Joel Souza (org.) Gestão de carreiras na empresa contemporânea. São

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