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1 Panorama da AQÜICULTURA, maio, junho 2017

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Por:Fernando Kubitza, Ph.D.Acqua Imagem Serviços em [email protected]

sob a perspectiva “Lean”

Figura 1. Ilustração simplificada do Sistema Lean focado na gestão, melhoria e mensuração dos sistemas, processos e pessoas, em busca de melhores resultados para o empreendimento

Empreendimentos aquícolas eficientes

quicultores de diversas regiões do país hoje competem pelos mesmos canais de

mercado. Tilápias de São Paulo e Paraná entram com preço competitivo nos mercados de pei-xe fresco no Nordeste. Tambaquis e pintados criados em Rondônia, Mato Grosso e Tocantins são distribuídos através de grandes redes de supermercados para Estados do Sul, Sudeste e Nordeste. Salmão chileno e pangasius culti-vados em países asiáticos conquistaram seus mercados e agradam diversos consumidores brasileiros, seja pela qualidade, seja pelo preço. Ainda há a concorrência dos produtos da pesca, nacionais e importados, além dos fortemente consolidados produtores de frango, suínos e bovinos no país. Aproveitando a vocação natural, a disponibilidade de ração de qualidade e preços competitivos e o grande mercado doméstico, o setor aquícola vem crescendo rapidamente no Brasil. Multiplicam-se os empreendimentos de produção de pós-larvas e alevinos, as fábricas de rações, fazendas de criação de peixe e camarões, frigoríficos e fornecedores de equipamentos, insumos e serviços ao setor. Com o Real enfra-quecido, empresas do exterior fazem aquisições de empresas nacionais e começam a participar de forma mais intensa no mercado promissor

da aquicultura. Como competir, preservar e crescer na atividade num planeta de conhecimentos, econo-mia e mercados globalizados? O caminho é sem volta e demanda adequação do negócio às necessidades dos mercados (clientes), ao mesmo tempo em que se minimiza o desperdício, aumenta a eficiência da operação, eleva a qualidade, reduz custos e melhora a lucratividade e retorno do empreendimento.

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Espécies marinhas na Galícia

Sistema Lean

Sistema “Lean”: conceito, objetivo e princípios

A palavra inglesa “Lean” (se pronuncia Lin) significa enxuto, simples, eficaz. O Sistema Lean (ou Metodologia Enxuta, denominação abrasileirada), foi originalmente con-cebido e aplicado pela empresa Toyota na década de 50, e levou a montado-ra de carros japonesa a superar, em qualidade e volume de produção, as montadoras norte-americanas. Em síntese, trata-se de uma metodologia ou cultura que busca continuamente a melhoria dos processos e resultados. Isso é feito através da identificação e redução de perdas/desperdícios, da melhor organização do ambiente de trabalho, do estabelecimento de padrões (para os processos, produtos e serviços), do uso de equipamentos e técnicas adequadas, da melhoria na comunica-ção, transparência e colaboração e, não menos importante, do monitoramento, registro e análise dos resultados.

O conceito Lean pode ser aplica-do a qualquer tipo de empreendimento (indústrias, restaurantes, supermer-cados, logística e serviços, hospitais, bancos, agências governamentais, etc.). Inclusive pode ser usado para organizar sua rotina pessoal ou de sua família. Empreendimentos do setor aquícola (in-cubatórios/alevinagem, recria e engorda, frigoríficos, fábricas de ração, etc.) natu-ralmente também podem se beneficiar da implantação do Sistema Lean.

O objetivo motor da cultura Lean é a “satisfação do cliente”, ofe-recendo a qualidade desejada, preço justo, atendimento e suporte, etc., ao mesmo tempo em que se estabelecem na empresa condições adequadas e transparentes de trabalho e reconheci-mento que aumentam o rendimento e autoestima da equipe de funcionários. A metodologia se fundamenta em cinco princípios básicos:

● A valorização do cliente – o valor de um produto ou serviço é definido pelo cliente. Qual o peso que o cliente

dá para o preço, qualidade, uniformi-dade, atendimento, relacionamento, etc.? É importante saber isso para eli-minar processos e acessórios que não acrescentam valor ao cliente.

● O mapeamento do fluxo de valor – a elaboração de um mapa (fluxo) das etapas de produção, identificando nele os processos que agregam e os que não agregam valor aos produtos. Dessa forma é possível eliminar des-perdícios de tempo, pessoal e recursos com processos supérfluos e dedicar mais atenção ao que realmente é in-dispensável para obter produtos com a qualidade e o valor desejado.

● A continuidade do fluxo de pro-dução – o objetivo aqui é manter o fluxo de produção com o mínimo possível de contratempos e interrup-ções. Para isso é importante contar com sistemas de monitoramento de processos e de qualidade de produtos que possam rapidamente detectar e corrigir eventuais desvios no proces-so, evitando custos extras com longas interrupções no fluxo de produção e perda de qualidade dos produtos.

● A produção puxada pela demanda – a empresa produz somente o que o cliente demanda. Evita a manutenção de grandes estoques ou a produção de produtos que ainda não se sabe se vão ser bem aceitos no mercado. Nos empreendimentos de aquicultura a formação de um estoque de pescado a ser processado pode demandar alguns meses ou mesmo ano. Desse modo, é importante que a empresa esteja in-formada das tendências de mercado e mantenha uma boa comunicação com os clientes, de modo a ajustar os vo-lumes de produção e tipos de produto de acordo com a demanda.

● A busca contínua da perfeição – que pode ser feita através de implan-tação de melhorias para obter ganhos incrementais de eficiência e qualidade nos processos, produtos e serviços.

"O conceito Lean pode ser aplicado a qualquer tipo de empreendimento:

indústrias, restaurantes,

supermercados, logística e

serviços, hospitais, bancos, agências governamentais,

entre outros. Inclusive pode ser usado para organizar nossa

rotina pessoal ou de nossa família. Empreendimentos do setor aquícola, como incubatórios,

laboratórios de alevinagem,

recria e engorda, frigoríficos, e

fábricas de ração, naturalmente

também podem se beneficiar da implantação do Sistema Lean."

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ema

Lean

Por que aplicar o Sistema “Lean”?

Empresas que recebem constantes reclamações sobre a qualidade dos produtos e serviços, que não cumprem com os prazos, não definem prioridades e expectativas, possuem falhas de comunicação (interna ou externa), têm equipe sobrecarregada e desmotivada e comumente operam com produtividade e custos aquém da expectativa, certamente podem se beneficiar do Sistema Lean para reverter esse cenário negativo. Por outro lado, as empresas que já contam com uma boa organização, qualidade de produtos e satisfação de seus clientes e funcionários, podem melhorar ainda mais seus resultados incorporando a Cultura Lean dentro do seu ambiente de trabalho e negócios. O Sistema Lean foca na constante busca de melhorias, através de soluções simples, criativas e de baixo custo (que muitas vezes surgem de ideias elaboradas pelos próprios funcioná-rios) e na valorização do respeito mútuo, que acabam

resultando em mudanças comportamentais e culturais positivas nas pessoas e empresa.

Desperdícios nos empreendimentos aquícolas

No Sistema Lean os desperdícios geralmente são organizados nos seguintes grupos: 1) Defeitos/Retra-balho/Devolução/“Recall”; 2) Produção excessiva; 3) Espera desnecessária no processo de compra, produção e venda; 4) Uso ineficiente das pessoas; 5) Desperdícios no transportes de insumos e produtos; 6) Estoque excessivo de insumos/ matérias-primas; 7) Movimentação (de insu-mos, produtos, pessoas); 8) Processamento demasiado.

Se fizermos um exercício de identificação e orga-nização dos desperdícios mais comuns nos empreendi-mentos aquícolas, podemos elaborar um quadro muito parecido com o apresentado a seguir. Vemos no quadro que essas classes de desperdícios podem ser encaixadas nos grupos de desperdícios propostos pelo Sistema Lean.

Classes de desperdícios Exemplos

De insumos/estoque

Alevinos: mortalidade pós-transporte e manejo, predadores, etc.;Ração: sobras nos tanques; manejo alimentar e nutricional inadequado; níveis demasiados de nutrientes (rações mais caras, sem necessidade), conversão alimentar elevada, etc.;Energia/combustível: aeração, bombas, máquinas, veículos, etc.;Medicamentos, corretivos e fertilizantes: produtos ineficazes, ou doses inadequadas, produtos vencidos no estoque, etc.;Outros produtos/materiais diversos que não trazem benefícios ao processo e nem agregam valor aos produtos;Estoques desnecessários e risco de vencimento da validade dos insumos.

De infraestruturaRelacionados à engenharia: tanques e viveiros difíceis de encher/drenar; problemas com infiltrações;Relacionados à gestão da produção: tanques vazios devido à falta de estoque de alevinos e juvenis;Investimento em infraestrutura que não trazem benefício ao empreendimento.

De produtos

Mortalidades: animais mortos ou predados no cultivo; perdas no transporte vivo; Produção maior que a demanda: sobras de produtos no estoque; perdas indiretas com manutenção, pior conversão alimentar; descontos para forçar a venda; etc.Devolução ou desconto no valor de produtos fora do padrão: “off-flavor”, danos mecânicos/deformidades, coloração anormal da carne, lesões no filé; tamanho/peso inadequado ou desuniforme; etc.

De pessoasRecrutamento inadequado; pouco treinamento; desperdício de talentos; equipamentos inadequados; falhas de comunicação; coordenação ineficiente do trabalho; moral da equipe reduzida devido a problemas recorrentes.

De tempo

Recolhimento de produtos defeituosos; nova produção, manejos e remessa (retrabalho); deslocamentos demorados e trabalhosos entre os setores/fluxo de produção mal planejado; locais de trabalho desorganizados, equipamentos mal mantidos, avariados ou perdidos; falta de comunicação; espera de aprovação/ou de informação; excesso de e-mails, controles e registros; procedimentos desnecessários que não agregam valor aos produtos.

De credibilidadeCom a entrega de produtos fora das especificações ou de baixa qualidade. Não cumprimento dos prazos e compromissos. Falhas no atendimento ao cliente. Gasto maior de recursos para reverter a imagem (propaganda, bonificações em produto, preços promocionais, etc.).

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Sistema Lean

A l g u ma s p e rda s / de s p e rd í c i o s comuns no s emp reend imento s aquícolas (mortalidade de peixes, uso ineficiente de pessoas, gasto demasiado de tempo, predação, desperdício de energia, subprodutos e resíduos não aproveitados, etc.)

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Espécies marinhas na Galícia

Sistema Lean

Figura 2. Ambiente de trabalho organizado sugere profissionalismo, além de reduzir perdas de tempo e aumentar a satisfação dos funcionários. Oficinas, depósitos, escritórios, refeitórios, vestiários, sanitários, abrigos de máquinas e veículos, entre outros ambientes, podem ser organizados usando o método 5S

Passos para a implantação do Sistema Lean nos empreendimentos aquícolas

O Sistema Lean beneficia tanto as empresas atoladas em problemas, quanto as que já alcançaram boa eficiên-cia na gestão da operação e qualidade. Obviamente que quando uma empresa se apresenta com problemas sérios, são necessárias intervenções imediatas. Um profissional experiente pode ajudar os gerentes e funcionários a identificar as raízes dos problemas e realizar os ajustes necessários para corrigi-los. No entanto, o Sistema Lean não é uma ferramenta feita para apagar o fogo em um empreen-dimento. Pelo contrário, é uma cultura a ser assimilada no médio e longo prazo, que possibilitará ganhos incrementais na eficiência dos processos e na qualidade dos produtos, promovendo mudança de atitude (cultura) das pessoas que movem o dia a dia do empreendimento. Infelizmente, grande parte das empresas procura ajuda somente quando enfren-tam problemas sérios com os quais já gastaram muito tempo e recursos sem encontrar soluções, ao invés de se

empenhar constantemente em busca de melhora em seus processos e na prevenção de problemas.

O primeiro passo na implantação do Sistema Lean é a identificação dos desperdícios e problemas que mais im-pactam os resultados e a lucratividade do empreendimento. O segundo passo é descobrir as causas (raízes) desses pro-blemas e desperdícios. O terceiro passo é aplicar as ferramentas do Sistema Lean para reduzir perdas e solucionar os problemas. Tudo isso, obviamente, tem que ser feito com a colaboração da equipe operacional e gerencial da pró-pria empresa. Quando a equipe analisa as raízes dos problemas e decide pela solução que mais faz sentido (do pon-to de vista de investimento, eficácia e custo), há uma grande chance do problema ser resolvido. Soluções sem bases sólidas e impostas de cima para baixo, sem a participação efetiva das pessoas que convivem dia a dia com os gargalos do processo (e que podem contribuir com observações para o melhor entendimento das raízes dos problemas) têm grande chance de

"O Sistema Lean beneficia tanto

as empresas com muitos problemas, quanto as que já

alcançaram uma boa gestão da operação.

Quando uma empresa necessita de intervenções imediatas, um profissional

experiente pode ajudar a identificar

as raízes dos problemas e

realizar os ajustes necessários para corrigi-los. No

entanto, o Sistema Lean não é uma ferramenta feita para "apagar o

fogo". Pelo contrário, é uma cultura a ser

assimilada no médio e longo

prazo, que possibilitará ganhos

incrementais no empreendimento."

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não dar resultados. A participação da equipe é fundamental. E quando a equipe compreende os benefícios e gradualmente começa a utilizar as fer-ramentas do Sistema Lean no seu dia a dia, a empresa reencontra o caminho da sustentabilidade e do contínuo apri-moramento da eficiência e qualidade dos processos e produtos.

Profissionais familiarizados com o Sistema Lean, suas ferramentas, dinâmicas de grupo e treinamentos de equipe são fundamentais para o sucesso na implantação do Sistema e assimilação da cultura Lean nas empresas. A seguir são resumidas as etapas essenciais na implantação do Sistema Lean:

● Elaboração do mapa do fluxo de valores, identificando as atividades/processos/etapas que são essenciais ao empreendimento e, especialmente aquelas que agregam real valor aos produtos e serviços.

Exemplo: num empreendi-mento de engorda de peixes temos diversos processos, como o preparo dos tanques, o recebimento dos alevinos, a alimentação, o moni-toramento da qualidade da água, a aeração dos viveiros, o controle de predadores, o monitoramento da presença de “off-flavor”, a colheita e a classificação (seleção por tama-nho) dos peixes, o transporte dos animais vivos ou abatidos, o geren-ciamento da equipe, a administração (compras, vendas, folha de salários, contabilidade, etc.). Algumas ati-vidades são essenciais ao empre-endimento, embora não agreguem valor direto aos produtos finais (por exemplo, a manutenção da área de cultivo, a alimentação dos peixes, o controle de predadores, a aeração dos viveiros, a administração, con-tabilidade, etc.). Outras agregam valor diretamente aos produtos (classificação por tamanho, monito-ramento e controle do “off-flavor”, o manuseio e transporte adequado para reduzir lesões e mortalidade, entre outras.

● Organização do ambiente de trabalho, de modo a evitar perdas de tempo (procurando informações, ferramentas, equipamentos, etc.), melhorar as condições ergonômicas, reduzir distâncias de deslocamentos e aumentar o bem estar e satisfação dos funcionários, visitantes e clientes. Um ambiente de trabalho organizado eleva a moral dos funcionários e transmite confiança aos clientes, visto que orga-nização sempre é associada ao profis-sionalismo na condução do negócio.

O método 5S é comumente usado no Sistema Lean para orga-nizar os ambientes de trabalho e da empresa. Esse método tem origem em expressões em japonês e engloba 5 Sensos (ou noções):

“Seiri”: senso de utilização, ou seja, eliminar do ambiente de trabalho aquilo que é desnecessário. Selecionar o necessário.

“Seito”: senso de organização, ou seja, colocar cada coisa em um lugar lógico, fácil de ser encontrada ou acessada.

“Seiso”: senso de limpeza, ou seja, manter limpo e arrumado, e zelar pela manutenção da ordem no local de trabalho.

“Seiketsu”: senso de saúde, importante estabelecer critérios e padrões saudáveis na organização do ambiente de trabalho.

“Shitsuke:”: senso de dis-ciplina, ou seja, todos devem cola-borar continuamente para manter e melhorar a organização e limpeza do local de trabalho.

● Estabelecimento de controles visuais – controles visuais devem ser utilizados em diversas etapas do pro-cesso e têm como objetivo evitar que ocorram erros que possam comprome-ter a qualidade dos produtos. Controles visuais reconhecidos pelos funcionários são mais eficazes, por exemplo, cor vermelha para proibido e cor verde para liberado.

Exemplo: no estoque de ração, lotes com etiquetas verdes são os que devem ser usados (chegaram antes na

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Lean

"Quando a equipe compreende os benefícios do

Sistema Lean e gradualmente

começa a utilizar as ferramentas

desse sistema no seu dia a dia, a

empresa reencontra o caminho da

sustentabilidade e do contínuo

aprimoramento da eficiência e qualidade dos processos e produtos.

Profissionais familiarizados com

o Sistema Lean, suas ferramentas,

dinâmicas de grupo e treinamentos de equipe são fundamentais

para o sucesso na implantação de assimilação da

cultura Lean nas empresas."

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Sistema Lean

Dinâmicas com equipe de funcionários para identificação de desperdícios, identificação de raízes dos principais problemas e definição de boas práticas de produção

propriedade). Etiquetas amarelas po-dem indicar os lotes de ração em espera para terem seu uso autorizado. Etiqueta vermelha pode ser usada para indicar lotes de ração a serem descartados ou devolvidos (lotes com problemas). Lu-zes sinalizadoras podem ser colocadas na linha de energia de cada aerador, possibilitando a visualização noturna à distância dos aeradores acionados.

● Estabelecimento de padrões (“standards”) – para os processos, manejos, qualidade da água, quali-dade e armazenamento de insumos, sanitários, etc. Por exemplo, pode-

mos definir que o acionamento dos aeradores deve ocorrer sempre que a concentração de oxigênio na água dos viveiros cai abaixo de 4 mg/litro. Outro padrão comumente estabelecido é o horário das alimentações e a forma que o funcionário deve distribuir o alimento nos tanques. Procedimentos padrões para colheitas, classificação de peixes, desinfecção de equipamen-tos, transportes de longas distâncias, monitoramento da qualidade da água, entre outros processos devem ser estabelecidos. O estabelecimento de padrões minimiza as variações, facilita o treinamento de pessoas e estabelece

"O primeiro passo na

implantação do Sistema Lean é a identificação

dos desperdícios e problemas que mais impactam o empreendimento. O segundo passo é descobrir as causas desses problemas. O terceiro passo é aplicar as

ferramentas do Sistema Lean para

reduzir perdas e solucionar os problemas. Tudo

isso tem que ser feito com a colaboração da

equipe da própria empresa. Quando a equipe decide pela solução que mais

faz sentido há uma grande chance do problema

ser resolvido."

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no recebimento. Parâmetros como: 100% de flutuabilidade; embalagens não danificadas; menos de 1% de finos; conformidade do tamanho dos peletes; entre outros critérios que po-dem ser estabelecidos para checar a conformidade das rações. Os peixes que vão ser colhidos também devem ter sua qualidade avaliada previa-mente antes da venda: sabor e cor da carne, peso médio e uniformidade de tamanho, presença de parasitos críti-cos para a comercialização, gordura visceral, entre outros aspectos.

● Quadros de visualização – com avisos e orientações, metas de produ-ção, estoques de produtos e evolução dos resultados – atualização mensal, semanal ou diária para que toda a equipe possa estar ciente das orien-tações e dos progressos do seu setor.

● Estabelecer a cultura de realizar melhorias rapidamente – reunir equipe em um esforço coletivo para solucionar gargalos em uma deter-

bases para a solução de problemas. Os padrões sempre podem ser melhorados, facilitando o processo, reduzindo custos e melhorando a qualidade dos produtos.

● Controle de qualidade na origem – estabelecer parâmetros de qualidade para os insumos, matérias-primas e produtos obtidos em cada etapa do processo produtivo, para que não haja rejeito, reprocesso ou compro-metimento da qualidade dos produtos nas etapas seguintes. Junto com o controle de qualidade é necessário estabelecer controle visuais, para evitar a ocorrência de erros e sinalizar equipamentos e produtos conformes e não conformes.

Exemplo: os alevinos devem ser checados logo no recebimento, quanto à uniformidade de tamanho, presença de parasitos, lesões visí-veis na pele, coloração e presença de lesões nas brânquias. Devem ser es-tabelecidos parâmetros de qualidade para cada um desses itens. As rações também devem ser checadas logo

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Lean

"Muitos empreendimentos aquícolas no Brasil

já adotam de maneira informal

conceitos do Sistema Lean. Aplicar essa

cultura de maneira sistemática com

a equipe de funcionários poderá

render muitos benefícios. Para

isso a empresa pode contar com o auxílio

de profissionais capacitados. Outra opção é o próprio

empresário dedicar um pouco do

seu tempo para conhecer mais esse sistema,

compartilhando esse conhecimento

com os funcionários e aplicando os conceitos e técnicas no

empreendimento."

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Alguns procedimentos para a avaliação da qualidade do pescado que será colhido e enviado para o frigorífico. Gordura visceral e presença de odores/sabor estranhos (off flavor)

Espécies marinhas na Galícia

Sistema Lean

minada área ou setor da empresa. Consultores experientes na área e que conhecem a Cultura Lean podem ser de grande ajuda à equipe para identificar as raízes dos problemas e possíveis soluções.

● Manutenção dos avanços e pro-gressos/treinamentos contínuos – de modo a maximizar a produtividade e os resultados. Haja preventivamente para evitar contratempos com equi-pamentos defeituosos. Manter em estoque equipamentos, peças e com-ponentes importantes.

Considerações finais

Muitos empreendimentos do setor aquícola no Brasil pela própria necessidade de organizar o trabalho e melhorar os resultados já adotam de maneira informal diversos conceitos do Sistema Lean e mesmo padrões de certificação que, de uma forma ou de outra, carregam esses conceitos. Em nossa rotina diária inconscientemente aplicamos esse conceito. Levar essa cultura para dentro do seu empreen-dimento, compartilhá-la e aplicá-la de maneira sistemática com sua equipe

de funcionários lhe renderá muito mais benefícios. Para isso sua empresa pode contar com o auxílio de profissionais capacitados para realizar treinamentos de equipe focados no Sistema Lean. Outra opção é dedicar um pouco do seu tempo conhecendo mais sobre esse sistema, compartilhando esse conhecimento com seus funcionários e aplicando os conceitos e técnicas “Lean” gradualmente no seu empreen-dimento. O caminho rumo à satisfação do cliente e à eficiência é um processo sem volta e necessário para a sustentabi-lidade do seu empreendimento.