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Sobre a Teoria das Uniões Aduaneiras: parte I: Sobre o que se disserta

Autor(es): Calvete, Victor

Publicado por: Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

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BOLETIM DE CIÊNCIAS ECONÓMICAS

COIMBRA

UNIVERSIDADE DE COIMBRAFACULDADE DE DIREITO

VOLUME XLIII 2 0 0 0

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SOBRE A TEORIADAS UNIÕES ADUANEIRAS*

I PARTE

SOBRE O QUE SE DISSERTA

“The effects which taxes may have on the volumeof international trade and on the barter terms of tradehave been the occasion of some of most ingenious andintricate theoretical reasoning, and some most remar-kable manifestations of casuistic ability.”

F.W. Taussig (1927), InternationalTrade, The MacMillan Company,New York, 1934, p. 141.

CAPÍTULO 1

Regresso às origens

“No princípio era o Verbo.”

(Versão popular do primeiro versículo do Evangelho Se-gundo São João: “No princípio (já) existia o Verbo, e o Verboestava com (em) Deus, e o Verbo era Deus.”)

_________________________

* (continuação)

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“a língua não é – por razões de estrutura – osuporte natural da racionalidade. Para se tornar tal eladeve ser submetida a uma “rectificação”. Tal rectifica-ção, que anima o essencial do desejo filosófico posi-tivo, aponta para uma dupla violência: a) tornar a lín-gua unívoca globalmente; b) impor à língua a ideia derealidade objectiva como nível de base. Isto implica,em primeiro lugar, o desenraizamento do sujeito cujoideoleto inconsciente organiza os estados de saber, exci-tados, singulares ou idiossincráticos. Isto implica, emseguida, para uma língua doravante voltada para a objec-tividade como seu referente necessário e ideal, a redu-ção de todo o estado global à estrutura de um campolocal. Tal redução opera-se através de um processo hie-rárquico de abstracção que, na medida em que a objec-tividade nele se torna constituída e constituinte, culminana introdução das categorias”

Jean Petitot, “Local/Global”, Enci-clopédia EINAUDI, vol. 4, Im-prensa Nacional – Casa da Moeda,Lisboa, 1985, p. 5.

§ 1. GÉNESIS

1.1. Index

BERGLAS (1979), p. 315, escreveu que “Any analysisof customs unions must start with a reference to Viner’sThe Customs Union Issue (1950)”. De facto, deveria come-çar com uma referência a um artigo publicado por estedezanove anos antes1: em The most-favored-nation clause (1931),

________________________

1 Se é que não, mesmo, a um outro – “The most-Favored--Nation Clause in American Commercial Treaties”, publicado em1924 no Journal of Political Economy.

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publicado em Janeiro de 1931 na revista sueca Index, Vinerantecipou a maior parte do que de mais notável foi retidoda sua obra de 19502 e até parte do que só posterior-________________________

2 E que BERGLAS concretiza logo a seguir: “Viner clearlyrecognizes that the evaluation of benefits from customs unions is aproblem of second best; in fact, his book is one of the earliestcontributions to the literature of second best.”. Só depois se refere àcunhagem dos termos “trade creation” e “trade diversion”, “whichare still widely used (although sometimes misused).” (1979), p. 315.P. WONNACOTT/LUTZ (1989), p. 59, escreveram: “The most importantsingle observation about [Free Trade Areas] and their close cousins,customs unions’, is that they do not necessarily represent a movetoward free trade. (...) This was the central point in Viner’s classic,The Customs Union Issue (1950).” É certo que esta mesma observa-ção também aparece num artigo de Maurice BYÉ (1950) – onde seescreve logo no princípio “Toute union supprime certaines orientations“artificielles” des échanges; elle en crée d’autres.” e onde mais adiantese constata que “il faut supposer aussi que l’Union présente au moinspour l’un de ses créateurs, quelque avantage sur le libre échange: àdéfaut l’abolition pure et simple du tarif serait plus facile.”, uma evi-dência que poderia ter levado mais cedo à Reforma da teoria dasuniões aduaneiras (imputada a Cooper/Massel – cfr. porém o § 1 doCAPÍTULO 4 da I Parte). O artigo de Byé, datado de 2 de Maiode 1950 e publicado na revista francesa Économie Appliquée, deJaneiro-Março de 1950, só aparentemente justifica o paralelismo quepor vezes é atribuído a este autor [EL-AGRAA (1994), p. 84; BALASSA

(1982), pp. 40-41] já que, através de DE BEERS (1941), Byé cita oartigo pioneiro de Viner e até, expressamente (p. 153) a sua conclu-são de que “le détournement de certaines importations ou la réductiondu volume des échanges internationaux seraient des résultats rendantcertaines unions peu souhaitables”, conclusão à altura já adoptada,segundo informa Byé, por uma “Comissão Económica da ONU” epelo próprio De Beers – o que neste caso não surpreende, tendo emconta a primeira nota do artigo deste: “I am indebted to professorJacob Viner for numerous criticisms and suggestions (...)”. Notandoa mesma cadeia de influências, ver PORTO (1997), p. 215, nota 14.Cfr. também infra, nota 5.

Refira-se que, mesmo depois de ter lido o artigo de Viner (quecita), HABERLER escrevia ainda em 1933 (1937), p. 390: “from an

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mente foi incorporado na sua análise3. Deixando de ladoas considerações históricas e as observações desse artigo que

economic standpoint based upon Free Trade reasoning, completeCustoms are to be wholeheartedly welcome; and the same applies,in a lesser degree, to Customs Unions with moderate duties betweentheir constituent parts.” Em 1955, porém, estava convertido àdicotomia vineriana: veja-se a transcrição do seu depoimento peranteo Congresso americano em TRIFFIN (1960), p. 253.

3 POMFRET (1986) p. 443, nota 7, retira da nota 12 de (1950),de Viner, a conclusão de que o autor ainda não tinha formado assuas ideias sobre o assunto na primeira metade da década de 30. Dadaa delicadeza da questão (“a non verbatim report of an extemporaneousdiscussion which the writer had no opportunity to edit – and, mayadd, did not know until some years later to have been put into print”)compreende-se a reserva de Viner sobre um ponto menor da ques-tão. Pelo contrário, quer do artigo de (1931), quer de um outro, de(1924) adiante citado, o que ressalta são as convicções de Viner sobreo assunto. É certo que, num caso e noutro, os efeitos adversos nãoeram expressamente ligados à constituição de uma união aduaneiramas sim à discriminação aduaneira (o que é uma sua consequência e iriaecoar na obra de Cooper e Massell), e não havia referências à cria-ção de comércio – embora as houvesse, como se verá, ao desvio decomércio, à perda de receitas para o país que concede a preferênciaaduaneira – que depois seria reintroduzida por MEADE (1953) – e adiferentes possíveis situações dos consumidores desse país (cfr. infra,nota 8) – observações de que prescindiu em (1950). Também seincluíam considerações sobre as possibilidades de retaliação e de “guer-ras comerciais” e sobre as vantagens administrativas de um sistemapautal não-discriminatório (que, por isso, dispensa a averiguação da ori-gem dos produtos).

VINER (1931), p. 103, chegava mesmo a fornecer um argumentoem defesa das uniões aduaneiras depois de uma barragem de objecçõesaos desvios à aplicação da cláusula da nação mais favorecida:”As arule, customs unions probably constitute a forward step towards freertrade, since such unions are established or proposed betweenneighbouring countries, and the trade which would result if the tariffwall is removed between two adjoining countries is likely to be tradewhich in large part would persist if the duties on imports from thirdcountries were also abolished.” (o que de certa forma antecipa o

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argumento dos “natural trading blocks” usado 60 anos depois porKrugman – supra INTRODUÇÃO, nota 40. Cfr. também infra, nota334 e texto). HABERLER (1937), p. 390, ecoava o argumento masacrescentava: “No, Customs Unions are always to be welcomed, evenwhen they are not between neighbouring or complementary States”.

4 Como a demonstração de que a aplicação condicional da cláu-sula da nação mais favorecida era incompatível com a sua aplicaçãoincondicional (para o mesmo país) – já afirmada em (1924), p. 31 –e de que a aplicação irrestrita do entendimento condicional (comoocorreu nos EUA entre 1778 e 1923) equivalia à não concessão doprivilégio; ou a ligação desse entendimento condicional nos EUA auma posição de privilégio comercial – dada a importância do seumercado e a natureza dos seus produtos de exportação (alimentos ematérias-primas que eram importadas pelo resto do mundo sem grandecarga aduaneira) – e a de alteração dessa política alfandegária (com aadopção de um sentido incondicional para a cláusula da nação maisfavorecida) justamente quando a renegociação de tratados comerciaisse tornava mais difícil nesses termos, quando surgia a possibilidade deoutros países adoptarem a mesma prática e quando a natureza dasexportações americanas se alterava [este argumento já fora usado em(1924), p. 37]; ou a contestação dos argumentos aduzidos contra acláusula da nação mais favorecida.

5 Em (1941), p. 52, DE BEERS escrevia: “Professor Viner (...) hasreservations about the economic advantages from preferential tariffs orcustoms unions, because they may cause a greater diversion of trade fromthe paths that would be followed under free trade than that causedby a uniform high tariff.”, seguindo de perto VINER (1931), p. 97:“A tariff that is high, but uniform in its treatment of imports regardless

não tem implicações na questão das uniões aduaneiras4,Viner argumentava, em resumo, o seguinte:

a) Que “a redução de um direito aduaneiro, por serdiscriminatória e não uniformemente estendida a todos,opera como um dissuasor e não como um estímulo paraa alocação óptima dos recursos do mundo à produção” –(1931), p. 97.

O exemplo dado configurava perfeitamente o que sedesigna desvio de comércio5: A importava de C6, o mais

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eficiente produtor; se A diminuísse o seu direito sobre asimportações de B para metade e os produtores de B pudes-sem, mercê disso, conquistar o mercado de A, a diminui-ção de direitos teria reorientado a produção para uma loca-lização menos vantajosa.

b) Que a concessão de tratamento discriminatório nemsequer é benéfica para os produtores que dele beneficiam,na medida em que estão sempre sujeitos a que essa vanta-

of their origin, may divert trade from the channels which it wouldfollow if allowed freely to choose its own path much less than woulda more moderate tariff which applies different treatment to importsaccording to their country of origin.” Em (1924), referindo-se a tra-tados comerciais com preferências recíprocas, já VINER tinha escrito:“They not only do not counteract the tendency of protective importduties to divert international trade from the channels which it wouldfollow under free trade, but they may cause an even wider departureof trade from its “natural” channels than would result from a régimeof uniform protective tariffs at the levels prevalent prior to the grantof partial reductions of duties through reciprocity arrangements.Imports which come in over a uniform tariff barrier are still beingproduced where the conditions are economically most advantageousfor their production. If the tariff is not uniform, however, theproduction of the commodities affected may be diverted from theforeign country best fitted to produce them to another foreign countrynot so well situated for their production, but able to compete on aprice basis because of the tariff differential which has been given toit.” (p. 23). [Itálicos nossos]. Assim, qualquer tentativa de conferirprecedência a De Beers parece duplamente infundada: a análisevineriana não só lhe era anterior, como era dele conhecida. Em todoo caso De Beers deu também contributos suficientemente relevantespara a análise para não ser esquecido [como o foi, nomeadamente,nos surveys de LIPSEY (1960), KRAUSS (1972), EL-AGRAA/JONES (1981),CORDEN (1984), POMFRET (1986) e GUNTER (1989)]. Para um inven-tário desses contributos, ver O’ BRIEN (1976), pp. 562-563.

6 No exemplo da p. 97, A importava de B e a redução dedireitos beneficiava C, mas no exemplo da p. 98 o país beneficiadoera B, pelo que uniformizámos a referência no sentido de fazer A eB os países parceiros, como é tradicional.

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gem seja revogada ou – o que seria o mesmo – alargadaa outros. A planificação da produção de forma a adequá--la às futuras necessidades dos consumidores torna-se extre-mamente arriscada ou não-económica – (1931), pp. 97-98.

c) Que o tratamento desigual podia dar origem a duassituações distintas: se, após a concessão de uma isenção dedireitos a B, este conseguisse produzir quantidades sufi-cientes para abastecer o mercado de A ao melhor preçoque C pudesse praticar, a alteração pautal de A não pro-vocaria consequências7 (a menos que, existindo um direitosobre as importações oriundas de C, os produtores de Bse conluiassem para fixar um preço superior ao dos pro-dutores de C, no valor de parte ou da totalidade dessedireito); se, após a concessão de isenção de direitos a B osseus produtores não conseguissem abastecer completamenteo mercado de A, continuando este a recorrer a importa-ções de C, o preço que se estabeleceria em A seria o preçode aquisição a C mais o valor do direito aduaneiro de A8.________________________

7 Esta situação é retomada por DE BEERS (1941), pp. 54-55,que aborda a seguir, com apoio de diagramas, o caso em que o for-necimento de todo o mercado de A por B – que apresenta custosde produção crescentes – só é conseguido à custa da discriminaçãopautal de que beneficia e o caso em que, com os mesmos custoscrescentes e idêntica discriminação pautal, os produtores de B nãoconseguem abastecer todo o mercado de A, distinguindo além destassituações, figuradas perante uma pauta aduaneira de A com finalida-des reditícias, as que resultariam de uma pauta aduaneira de finalida-des proteccionistas e, ainda, as resultantes de direitos aduaneirosproibitivos.

8 De facto, a distinção destes dois casos remontava, pelo menos,a (1924), como se pode comprovar da seguinte transcrição desse ar-tigo de VINER (que tem de particular a referência aos ganhos do con-sumidor e o contraste dos efeitos de uma redução preferencial não--discriminatória e de uma redução pautal discriminatória, sobre asreceitas aduaneiras, sobre os produtores e sobre os consumidores dopaís que a concede):

A remission of import duties on a specific commodity, if

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Enquanto no primeiro caso não haveria cobrança de impos-tos alfandegários, no segundo só a haveria sobre as impor-tações oriundas de C, muito embora os consumidores de

confined to imports from one country not capable of supplyingthe entire import needs, will reduce the customs revenue andwill impair the protection to domestic industries withoutsubstantially lowering the price to the domestic consumer. Itwill operate virtually as a subsidy from the treasury of theimporting country to the producers in the favored exportingcountry. The price in the importing country will continue tobe the world-market price plus the full duty. The producer inthe favored country will get for his product the world priceplus the full duty, if the remission is of the entire duty, or theworld price plus the diference between the full duty and thepreferencial duty, if the remission is of only part of the duty.If, on the other hand, the favored country can fully supply theimport needs of the country granting the favor, and does soafter the remission of duties on its product by the latter, therewould be little or no difference in the situation if the concessionwere extended to the entire world. Whether the remission ofduty, special or general, the imports would be supplied in whole,or almost so, by the country to which the remission wasoriginally granted. The price in the importing country wouldbe the same as the world price (assuming that the entire dutywas remitted). The consumer would gain by substantially thefull amount of reduction in duty on each unit of the producthe consumed, whether it were of domestic or of foreign origin.There would be no subsidy from the tresury of the importingcountry to foreign produces. Finally, if the country originallyreceiving the concession cannot supply the full import needsand if the concession is generalized, the consumer in theimporting country will likewise gain on each unit consumedby the amount of reduction in the duty and there will be nosubsidy to foreign producers at the cost of the treasury of theimporting country. The protection to domestic producers willbe lessened only slightly more under a generalized concessionthan under an exclusive concession to an important producingcountry capable of supplying a large fraction of the import needs.(1924), p. 21.

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A pagassem o mesmo preço pelos produtos de C e de B.Viner concluía que o montante de impostos não pagospelos produtores de B constituía um subsídio que lhesera fornecido à custa do tesouro de A9 (idem, p. 98).

d) Que outra vantagem, posto que menor, da igual-dade de tratamento era a dispensa da determinação daorigem das mercadorias, com os correlativos ganhos emsimplicidade, em custos de administração e nos inconve-nientes poupados aos exportadores e importadores10 (idem,p. 99).

e) Que as desvantagens económicas de uma pauta adua-neira discriminatória não chegavam a ser tão sérias quantoo eram as suas consequências internacionais: Viner alegavaque a opinião pública acabava por aceitar qualquervalor de um imposto aduaneiro estrangeiro, desde que apli-cado de forma uniforme, mas ressentia-se da discrimina-ção. E, acrescentava, numa escalada de discriminações

________________________

9 VINER invocava um estudo por ele feito, anos antes, para aUnited States Tariff Commission, presidida por Taussig, seu ex-pro-fessor (Report on Reciprocity and Commercial Treaties, 1919), sobrea admissão preferencial de açúcar do Hawai nos EUA (antes da ane-xação das ilhas hawaianas em 1898) e a redução preferencial de direitossobre o açúcar cubano (a partir de 1903), para acrescentar que, sembenefício para o consumidor americano e à custa das receitas alfan-degárias dos EUA, tinha sido conferida áqueles produtores “a subs-tancial bounty which amounted, through the years, to surprisinglylarge sums of money.” (1951), p. 98. Por causa da proeminência quealcançou na teoria, Ó BRIEN (1976), p. 556, propunha que esse poderde monopólio conferido aos produtores se designasse “efeito havaiano”.

10 Obviamente, estas vantagens podiam ser usufruídas tambémpor uma união aduaneira, desde que não adoptasse uma pauta múlti-pla, i.e., um sistema de direitos aduaneiros aplicável de forma geo-graficamente discriminatória. Sobre “Pauta aduaneira” e “Preferênciasaduaneiras” – que corporizam o tratamento discriminatório contra oqual Viner se insurgia – ver PORTO (1986).

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estão reunidos a maior parte dos elementos que podemlevar de uma “tariff war” para outros tipos mais sérios deguerra (ibidem)11.

1.2. The Customs Union Issue

The Customs Union Issue (1950), de Jacob Viner, tor-nou-se a fonte reconhecida das duas noções que marca-ram a evolução posterior da teoria das uniões aduaneiras: ade criação de comércio e a de desvio de comércio12. No quesão, eventualmente, algumas das suas passagens mais cita-das13, escrevia em texto:________________________

11 No sentido de que “the essence of the 1950 analysis” estavaneste artigo, Ó BRIEN (1976), pp. 556-557, referindo que o únicoelemento explicitamente acrescentado em (1950) era o da produçãodo bem em causa também em A (para permitir a criação de comér-cio).

12 MACHLUP (1977), p. 87, notou que outros autores tinham jáantes empregue casualmente as expressões – o que é facilmenteconfirmável para as referências ao “desvio” [cfr. vg. a citação deBastable, de 1902, ou a de McCulloch, de 1863, em Ó BRIEN (1976),p. 547], mas não assim para a “criação”, e nada tem de surpreen-dente: ver-se-á que a falta de consistência das noções decorre do seucarácter “não-construído”. Na medida em que se utilizaram termosque eram correntemente empregues com intuitos descritivos, difícilseria que não houvesse antecedentes na sua utilização. Esses antece-dentes foram seguramente a razão pela qual Viner lhes deu preferên-cia: como Ó BRIEN (1976), p. 556, redundantemente sublinhou (cfr.nota seguinte) “Viner was exceptionally well-read in the Classicaleconomists, (...)”. Retrospectivamente, e qualquer que seja o juízosobre a felicidade das noções que iriam conformar as reflexões poste-riores, o trabalho de Viner é notável: o seu capítulo IV abre cami-nho por entre as ambiguidades que faziam de proteccionistas e livrescambistas paladinos da mesma causa; expõe claramente a forma deaumentar a protecção diminuindo os direitos aduaneiros – ideia que,por outras vias, está associada à origem da noção de protecção efec-tiva. [Sobre o aparecimento e elaboração desta, ver PORTO (1982),

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Haverá porém bens que um dos membros daunião aduaneira passará agora a importar do outro masque antes não importava de todo porque o preço do pro-

p. 66 e ss.; para a sua aplicação no quadro da concessão de prefe-rências, ver CUNHA (1995) pp. 92-120 ]; refere de passagem a mani-pulação das pautas aduaneiras para satisfazer interesses particulares –ideia retomada pela teoria económica da política de intervenção alfan-degária. [Sobre ela, ver PORTO (1982), pp. 227 e ss.]; aborda a ques-tão das economias de escala – que só em 1972 CORDEN (1972b)reintroduziu na análise; dá algum sentido à posição oficialmente assu-mida pelos EUA, aceite por diversos autores e consagrada na Cartade Havana (art. 44º) e no Acordo Geral Sobre Pautas Aduaneiras eComércio (art. XXIV), de se considerarem as zonas de comérciolivre e as uniões aduaneiras desejáveis e as preferências indesejáveis –se bem que Clair Wilcox, o principal negociador americano no GATTdevesse ter tido isso presente – cfr. a nota 71 da II Parte; e aindaaborda as questões da medição dos direitos alfandegários, da sua impor-tância fiscal e da repartição dos seus réditos, da relação entre integraçãoe cartelização, dos custos administrativos do sistema alfandegário e daintenção proteccionista prevalente até então na formação de uniõesaduaneiras.

A demonstração de que uma redução preferencial de direitosafastaria mais os fluxos de comércio do seu padrão de comércio livredo que uma redução pautal não discriminatória já constava do seucitado artigo de 1931.

13 Ainda que SPIEZEL, no artigo que lhe é dedicado no TheNew Palgrave: A Dictionary of Economics, vol. 4, (1987), p. 812--814, não tenha reservado senão três linhas para o contributo de Vinerpara a teoria das uniões aduaneiras, sublinhando antes as suas contri-buições para a teoria da concorrência monopolista, a curva de pro-cura quebrada e a teoria dos custos, e a sua importância como histo-riador do pensamento económico. A este propósito, MACHLUP (1977),p. 229, escreveu: “Jacob Viner (1892-1970) is regarded as the greatestscholar in the history of preclassical and classical theory of trade (...)”e BLAUG (1988), p. 256, considerou-o “quite simply the greatesthistorian of economic thought that ever lived”.

Para uma visão retrospectiva do homem e da obra, em queThe Customs Union Issue ocupa o seu devido lugar, ver BLOOMFIELD

(1992).

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duto internamente produzido era inferior ao preço dequalquer fonte exterior mais o direito aduaneiro. Estamudança no local de produção entre os dois países é umamudança de um ponto de maior custo para um de menorcusto, uma mudança que um livre-cambista pode apro-priadamente aprovar como, pelo menos, um passo nadirecção certa, mesmo que o comércio livre universal des-viasse a produção para uma fonte com custos ainda maisbaixos.

Haverá outros bens que um dos membros daunião aduaneira passará agora a importar do outroenquanto que antes da união aduaneira os importavade um terceiro país, porque essa era a fonte mais baratapossível para o fornecimento, mesmo depois do paga-mento dos direitos aduaneiros. (p. 43) (Itálicos nos-sos).

Embora a doutrina fizesse do conteúdo dos dois pará-grafos do seu texto a definição, respectivamente, de cria-ção de comércio e de desvio de comércio, estas expres-sões só apareceriam em alternativa – e nem sequer nestaforma canónica – no último parágrafo da página 44 quaseque como uma forma abreviada de referir o que entre-tanto ficara dito (“Onde a força criadora de comércio é predo-minante (...) Onde o efeito desviante de comércio é predomi-nante (...))14, reaparecendo depois na página 48, mas ainda

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14 É certo que na página seguinte (45) Viner coloca a questãodos efeitos decorrentes das uniões aduaneiras em termos perfeitamentedicotómicos (“Foi aqui presumido, até agora, que na medida em queuma união aduaneira tem efeitos sobre o comércio, estes devem serou efeitos criadores de comércio ou desviantes de comércio”), mas talserviria de introdução à consideração da supressão de comércio (cfr.infra) e já tinha admitido antes, em nota, uma “terceira possibilidade”,como se verá a seguir. (Itálicos nossos).

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aí de forma diferente da que foi posteriormente populari-zada15.

Em nota, Viner acrescentava:

Uma terceira possibilidade deve ser mencionada.O direito aduaneiro sobre um certo bem pode sertão alto num dos países que seja proibitivo da impor-tação, mas a produção interna pode ser impossível ouexcessivamente onerosa, de forma que não há con-sumo. Após a formação da união aduaneira, o bem emquestão pode ser importado do outro país membro onde osseus custos podem ser altos ou baixos comparados comos custos noutro sítio, mas presume-se que mais bai-xos do que os custos de produção fora da união adua-neira mais os direitos de importação. (...) Mas, secomo resultado de uma união aduaneira, o país Aremove um direito deste tipo [medida anti-sumptuária]preferencialmente para as importações do outro paísmembro, B, há uma clara perda para A, em compa-ração com a remoção do direito independentementeda fonte, se B for uma fonte de abastecimento dealto custo. Há aqui um benefício inquestionável parao país fornecedor, porém, e não há nenhum prejuízodirecto para qualquer país exterior à união. (pp. 43--44. Itálico aditado).

Finalmente, na página 45, escrevia Viner referindo-sea “one qualification in favor of customs union (...) onwhich both free traders and protectionists can with reasonfind some common ground, although, in the opinion of

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15 “When the customs union operates to divert trade from itsprevious channels rather than to create new trade (...) the customsunion would have no trade-creating effect and only trade-divertingeffect (...)”.

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the writer, they both tend to exaggerate its importancefor the customs union problem”: as economias de escala.

(...) onde um pequeno país, por si, (...) possa serincapaz de atingir uma escala de produção que tornepossíveis baixos custos unitários de produção, dois oumais desses países em conjunto podem proporcionarum mercado suficientemente largo para permitir bai-xos custos de produção. Se a indústria que assim seexpande, quer a partir do zero, quer a partir de umpequeno output, se localizar no país A e o outro mem-bro da união for o país B, o desvio das importaçõesde B, do país C, exterior à união, para o país A,pode ser benéfico tanto para B como para A e, alémdisso, pode haver supressão de comércio, designada-mente das importações de A, com origem em C, dobem em causa, o que também pode ser benéfico paraA. Se esse desvio – e supressão – de comércio será,de um ponto de vista livre-cambista, benéfico ou pre-judicial para A dependerá de várias circunstâncias. (Itá-licos nossos).

Com isto, torna-se evidente que a “descrição vine-riana” não se resumia aos dois efeitos tornados famosos– a criação e o desvio de comércio –, antes comportavaquatro: além daqueles, Viner admitia uma “terceira possibi-lidade” (remoção de uma medida anti-sumptuária) e asupressão de comércio (em A)/desvio de comércio (dasimportações de B, de C para A), por efeito de economiasde escala em A. É certo que a criação e o desvio decomércio eram supostos resultar imediatamente da forma-ção de uma união aduaneira, ao passo que a supressão dedireitos proibitivos na pauta exterior comum, e a expan-são da produção num dos países membros da união, emresultado do aproveitamento de economias de escala (e damargem de preferência concedida pela pauta exterior

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comum), remetiam para um momento posterior. E é ver-dade que para separar “o problema das uniões aduaneirasper se do problema da alteração pautal delas resultante”,Viner introduziu – e a maior parte da teoria posterior man-teve – o pressuposto da invariância dos direitos aduaneirosna situação pré- e pós-união, centrando a análise num mo-mento em que aqueles primeiros efeitos eram inevitáveise os outros dois puramente hipotéticos. Em todo o caso,a consideração conjunta dos quatro teria permitido deter-minar outra evolução.

1.3. The missing link

Embora isso seja em larga medida especulativo, é nossaconvicção de que a razão pela qual a complexidade da des-crição vineriana foi reduzida a uma dicotomia simplificadoraé a mesma da súbita popularidade de uma análise que, emgrande parte, já tinha sido antecipada – por VINER (1924)e (1931) e por DE BEERS (1941) –, sem que o (quase para-lelo, mas muito menos elaborado) contributo de BYÉ

(1950) possa ser responsabilizado por isso16. E a razão sópode estar na recensão que James E. Meade publicou narevista Economica, no ano seguinte ao do aparecimento dolivro de Viner, e em que escreve, designadamente, o se-guinte (1951):

A good book on the subject of the customsunion has for long been wanted; and now it is

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16 Ó BRIEN (1976), p. 557, também se intriga com o facto: “Itis strange that commentators have ignored what was virtually a lifetimeof writing by Viner on trade policy, of which the 1950 work wassimply a part, in accord with the general stream of that writing”.A explicação que propõe, porém, parece menos convincente do quea nossa: “I think they have been misled by the absence of anydiscussion of this matters in Viner´s great Studies.”

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provided by Professor Viner’s study, which is difficultto praise too highly. ( p. 186).

(...)But it is Chapter IV of Professor Viner’s study

– on the economic aspects of customs unions – whichwill be of central interest to economists. Indeed formany years this is likely to remain the locus classicusfor the economic analysis of customs-union problems.(p. 187)

(...)But the central problem discussed in this chapter

is whether the customs union should be regarded asa limited movement towards the free-trade positionor as another type of protective device designed toextend the preferential markets of the member States.(...) Either of two results are possible. (i) the maineffect may be that A’s uneconomic industries are nowundercut by economic production in B and vice-versa.In this case new and economic trade appears betweenA and B; more economic sources are used in A andB and less economic sources are abandoned in A andB; there has been a limited movement towards thefree-trade position. (ii) The main effect may, however,be quite different. A now buys from B what shepreviously bought from C. This product is morecheaply produced in C than in B, and with a non--discriminatory duty in A will therefore be boughtfrom C rather than from B. But when the duty onB’s products is removed but that on C’s product ismaintained, A buys from B. Instead of trade-creatingeffect there has been a trade diverting effect, movingdemand away from cheaper on to less economicsources of supply. (p. 188)

Compreensivelmente, dadas as limitações de umarecensão, não há qualquer referência aos restantes efeitos

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identificados por Viner. É difícil avaliar ao certo a influênciaque esta “book review” do futuro prémio Nobel da Eco-nomia17 teve na estabilização de uma dicotomia só em parteimputável a Viner18, mas é seguro admitir que tenha sidoconsiderável.

§ 2. O modelo vineriano: uma reconstrução

A exposição-tipo da análise vineriana começa com umexemplo numérico – na esteira de MEADE (1955a) – e pordiagramas de equilíbrio parcial com as curvas de oferta infi-nitamente elásticas correspondentes a tal exemplo, intro-duzindo-se depois curvas de oferta positivamente inclinadas________________________

17 James Meade recebeu-o em 1977, juntamente com BertilOhlin. Formalmente, a sua apreciação da obra de Viner (e de duasoutras: uma de Williams A. Brown Jr. e outra de Jean van derMensbrugghe) nem sequer era uma recensão: a secção respectiva (BookReviews) só começava na página seguinte à do termo do seu artigo.Para todos os efeitos – excepto, eventualmente, a libertação das limi-tações de espaço destas (o artigo de Meade tem 14 páginas e a obrade Viner ocupa mais de metade) – trata-se de uma recensão, comose refere a propósito do livro de Brown (p. 184).

18 “(...) this literature [“dealing with customs unions”] ignoresthe treatment of the subject, and in particular, of the key conceptsof trade creation and trade diversion, which existed before thepublication in 1950 of Jacob Viner’s The Customs Union Issue.” – ÓBRIEN (1976), p. 540. Embora seja verdade que todos os caput scholaecriam os seus próprios precursores e que só a formulação vinerianapermite a identificação retrospectiva da identidade de reflexões, a argu-mentação de Ó Brien é suficiente para admitir que “(...) the Classicaleconomists would not have argued (...) that preferential tariff reductionwas better than no tariff reduction at all.” (p. 556).

Sobre a aplicação da hipótese da “descoberta múltipla” no domí-nio da ciência económica, ver BLAUG (1990), pp. 27-30, onde secita Whitehead: “toda e qualquer ideia nova já foi enunciada poralguém que não a tinha descoberto.”

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– como primeiro feito por HUMPHREY/FERGUSON (1960).Porém, a mais aturada re-exposição da tese de Viner cabea MICHAELY (1976) – que em (1977)19 retomou o temadas uniões aduaneiras no contexto da discriminação geo-gráfica da política comercial. Partindo da definição de uniãoaduaneira apresentada por Viner20 – uma união aduaneiratem de: 1. abolir completamente os impostos aduaneirosentre os países membros; 2. estabelecer uma pauta adua-neira comum face a terceiros países; 3. repartir os réditosalfandegários entre os países membros segundo uma fór-mula acordada; – Michaely nota que o desenvolvimentoda teoria da discriminação geográfica se fez como teoriadas uniões aduaneiras mas incidiu quase exclusivamentesobre o primeiro ponto – justamente aquele que é comumàs zonas de comércio livre.

MICHAELY (1976) expõe assim o modelo de Viner:O mundo é constituído por três países (A, B e C,

constituindo-se a união entre os dois primeiros). Na Fi-gura 1.1 está incorporado o pressuposto de custos margi-nais (e médios) constantes em todos os países21, herdado________________________

19 Embora o artigo (1976) tenha precedido a publicação dolivro (1977), MICHAELY remete no primeiro para o segundo, datandoeste de 1976.

20 (1950), p. 50, seguindo Cavour: cfr. naquela obra, a nota 1e as pp. 7-8.

21 MICHAELY (1976), pp. 82-86, admite que o pressuposto doscustos constantes é imputado à análise de Viner [MEADE (1955a),pp. 35 e 44 – ver também pp. 76-77; LIPSEY (1960), p. 497; CORDEN

(1965), p. 53 ] mais do que nela assumido. É certo que VINER (1950),p. 45, parecia colocar a questão em termos estritamente alternativos– ou criação ou desvio de comércio – e, como Michaely demonstra,tal implicaria custos constantes, mas Viner conhecia – e citava (1950),p. 53, nota 12, – o artigo de DE BEERS (1941) onde se representa-vam graficamente custos crescentes (e decrescentes), quer do país ter-ceiro, quer do país da união tornado exportador – um argumentonão invocado por Michaely que (p. 84) se limita a enumerar refe-

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da tradição ricardiana22: A’A’’ é a curva de transformaçãode economia A, B’A’’ a da economia B e C’A’’ a daeconomia C pelo que o preço de y em termos de x émais alto em A e mais baixo em C. Se antes da uniãocom B o país A impuser um direito uniforme sobre asimportações, das duas uma: ou esse direito é proibitivo23

– e o consumo tem de ocorrer num ponto situado sobrea curva de possibilidades de produção (vg: o ponto H) –ou não é proibitivo, e então o país A especializa-se com-pletamente na produção de x (e temos uma solução decanto24 – A’’) consumindo algures sobre a linha dos pre-

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rências explícitas e implícitas à existência de custos crescentes em TheCustoms Union Issue (pp. 47 e 43), tal como foi reivindicado porVINER na sua carta de 1965 a Corden (1976).

Para MICHAELY (1976), p. 86, esta “ambiguidade, ou inconsis-tência, acaba por se transformar num erro: como vimos, Viner pres-supõe explicitamente custos crescentes mas infere os efeitos de umaunião aduaneira que só resultariam de uma situação de custos cons-tantes”.

22 Uma curva de transformação recta representa custos de opor-tunidade constantes (i. e.: uma taxa marginal de transformação – TMT– constante), o que supõe duas coisas:

a) que os factores de produção são perfeitamente substituíveisentre si ou que ambos os bens têm as mesmas intensidades de factores;

b) que a produção de ambos os bens apresenta rendimentosconstantes à escala.

23 Se o direito é proibitivo, a análise não sofre alterações mesmoquando se considera uma curva de possibilidades de produção côncavaem relação à origem: só tem lugar criação de comércio – MICHAELY

(1977), p. 194.24 Uma solução de canto seria também possível com uma fron-

teira de possibilidades de produção côncava em relação à origem, casoem que a análise seria idêntica à que aqui se expõe, dando origemapenas a um efeito de desvio de comércio: MICHAELY (1977),pp. 193-194. A diferença entre considerar custos constantes de pro-dução (e uma fronteira de possibilidades de produção em linha recta)e custos de produção crescentes (e uma fronteira de possibilidades de

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ços internacionais (supostamente idêntica à razão de pre-ços C – vg em d).25

Uma união aduaneira com o melhor fornecedor de y equi-valeria, para A, ao comércio livre nesse bem. Se A já im-portava y aplicando direitos aduaneiros geograficamenteuniformes, já importava de C, de modo que não chegariaa haver efeitos de produção26. Se não importava, essa uniãoprovocaria um efeito de criação de comércio.

Uma união que deixasse de fora o melhor produtorde y (C) poderia não ter consequências (neste particular)se a margem de preferência concedida a B pela pauta adua-neira comum não fosse suficiente para que os seus produ-tores conquistassem o mercado de A aos produtores de C,ou se os seus produtores não fossem mais eficientes doque os de A; ou poderia provocar criação de comércio –se o país A produzisse internamente as quantidades neces-sárias de y (vg, produzindo e consumindo no ponto H),passando a produção para A’’ e o consumo para umponto sobre a linha B’A”, ou poderia originar desvio decomércio – se A já se especializara na produção de x, pro-

produção côncava) só releva quando, com um direito aduaneiro nãoproibitivo, a especialização não é total (não há uma solução de canto)e há importações de um bem.

25 MICHAELY (1977), p. 225, nota 13, aponta a VINER uma impre-cisão quando delimita as suas preocupações à remoção dos direitosque funcionavam efectivamente como uma barreira “parcial ou com-pleta” às importações [(1950), p. 43]: uma interpretação sistemáticaretrospectiva prova que só seriam relevantes os direitos que constitu-íssem uma barreira completa ao comércio, pois de outro modo nãohaveria efeitos de produção em A – e é neles que a sua análise ésuposta esgotar-se.

26 Embora houvesse, então, efeitos de consumo. Estes, porém,ficam tradicionalmente fora da análise vineriana, embora a “terceirapossibilidade” referida por VINER em (1950) fosse, essenciamente, umefeito de consumo.

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duzindo em A’’ e consumindo sobre o rácio de preçosinternacional e o rácio de preços interno (em d).

Quando A passa a comerciar ao longo de B’A’’ issorepresenta um ganho de bem-estar a partir de uma situa-ção inicial de autarcia (vg: H) – criação de comércio – euma perda de bem-estar a partir de uma situação inicialde comércio com um produtor mais eficiente27 (no caso,C) – desvio de comércio. Nada há, aliás, de mais natural:passando da autarcia ao comércio internacional (posto quenão com o fornecedor de mais baixo preço) o bem-estarde A aumenta28. Passando de uma situação em que o for-

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27 O que contaria para Viner não seria a composição efectivados cabazes de bens adquiridos antes ou depois da união, mas sim ofacto de a linha de restrição orçamental da economia A se expandirquando há criação de comércio e se contrair quando há desvio: B’B’’está acima de A’A’’ mas abaixo de CC’’. MICHAELY (1977), pp. 191--192.

28 Raciocínio semelhante é utilizado para demonstrar a superio-ridade de algum comércio sobre nenhum comércio. MICHAELY (1977),p. 22, nota, porém, que a mesma inaptidão das curvas de possibili-dades de produção rectas para darem conta de todos os efeitos deum movimento de integração está também patente na demonstraçãodos ganhos de comércio e da vantagem relativa. É que, embora comelas se possa demonstrar a superioridade do comércio livre sobre aautarcia, não se logra provar a superioridade daquele sobre o comér-cio restringido – o que era seguramente a sua intenção primordial.Sejam aa’ e wa’, respectivamente, a fronteira de possibilidades deprodução de A e o rácio de preços internacional para dois bens (y ex). Em autarcia, o consumo de A tem de se situar sobre a curva detransformação interna, no próprio ponto de produção (vg. em H).Em comércio livre a economia especializa-se na produção do bemem que tem vantagem relativa (produzindo em a’) e obtendo as quan-tidades desejadas de y em troca do seu excedente de x, ajustando oconsumo à razão interna (e internacional) de preços wa’ (consumindo,vg, em H’). A adopção de um direito aduaneiro sobre a importaçãode y que deixasse a razão de preços entre y e x compreendida entrea resultante da TMT interna e a TMT do comércio internacional já

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necedor é aquele que seria em comércio livre para umaoutra em que o fornecedor é outro, o bem-estar de A

levaria à completa especialização da produção. Prima facie, parece istoparodoxal: pois é pela imposição de um direito sobre y – que elevao seu preço – que se logra a especialização em x? A explicação, con-tudo, é simples: passando de uma situação de autarcia (cuja razão depreços interna é dada pela TMT) para uma situação de comérciointernacional (cuja razão de preços interna passa a ser a do comérciointernacional corrigida pelo direito aduaneiro que lhe é aplicado), a

produção interna dos dois bens deixa de ser obrigatória: se, mesmopagando os impostos alfandegários, se obtiver, com a quantidade dex que necessariamente teria de se sacrificar internamente para obteruma unidade de y, mais do que uma unidade de y, a produção in-terna especializa-se em x ; o direito aduaneiro não é suficientementealto para proteger a produção interna quando se passa da autarciapara o comércio condicionado – o que quer dizer que a passagemdesta situação para uma de comércio livre não provocaria efeitos naprodução. Ora os efeitos de consumo ficam tradicionalmente fora dohorizonte da análise de Viner. Se a fronteira das possibilidades deprodução fosse côncava em relação à origem, uma solução de cantoainda seria possível (com a análise a seguir inteiramente a que acabá-mos de expor), mas mais provavelmente obteríamos dois pontos deprodução diferenciados, antes e depois da constituição da união (emteoria, tantos quantos os sucessivos níveis pautais que separassem umasituação da outra).

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diminui. A não consideração dos efeitos de consumo (quesecundam a análise de Viner no caso de criação de comér-cio mas não no caso de desvio de comércio)29 impede porémque estas conclusões sobre o bem-estar sejam sempre válidas.

Na Figura 1.1, o consumo numa situação de comér-cio condicionado localiza-se em d, sobre a linha de pre-ços C’A’’. Os preços que os consumidores de A enfren-tam são, todavia, dados por tt’, resultantes da aplicação deum direito aduaneiro às importações de y. Para uma dadadistribuição do rendimento, d é então preferível (ou pelomenos indiferente) a qualquer outro ponto da linha tt’ e,por maioria de razão, aos que se lhe situam abaixo. Coma formação de uma união aduaneira com B, os preçosinternos em A passam a ser dados pela linha B’A’’, si-tuando-se o consumo sobre ela, já que deixa de haverdiferenças entre os preços a que são vendidos internamente

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29 Daí que a reivindicação de VINER na sua carta de 1965(1976), de que tinha tido presente a existência de um efeito de subs-tituição no consumo e de que o não mencionara por este se limitara reforçar o que já escrevera, não mereça aceitação. MICHAELY (1976),pp. 86-92, argumenta que os efeitos de consumo não eram familiaresa Viner. Mesmo na descrição da “terceira possibilidade”, onde há umaclara alusão a um efeito de consumo, VINER recusa-se a tirar ilaçõesde bem-estar: “Whether the removal of a sumptuary measure is ofbenefit for the country particulary concerned as potential consumeris not a type of question which the economist has any special capacityto answer.” (1950), p. 43 nota 4 – o que parece corresponder auma convicção arreigada: cfr. a passagem de uma sua carta a Balassatranscrita por BLOOMFIELD (1992), p. 2066. No mesmo sentido, SPRAOS

(1964), p. 102: “This article has nothing to say on consumption effectsexcept to affirm its author’s view that in pratical terms consumptioneffects should be assigned only secondary significance”. A este res-peito, MICHAELY (1976) p. 86, observa: Viner “consistently overlooksthis element in his analysis. Indeed, he shows no trace of awarenessof the welfare effect of substitution in consumption”.

Sobre esta questão, ver também o que se escreve na nota 50.

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os bens importados e os preços a que estes são adquiridosa A. Se o ponto de consumo se localizar abaixo da inter-secção de B’A’’ com tt’ o novo cabaz de bens adquiridoserá inferior ao anterior – o desvio de comércio provo-cará diminuição de bem-estar. Se o novo ponto de con-sumo se localizar acima daquele ponto de intersecção, deixade ser possível ajuizar a priori sobre o ganho ou perda debem-estar.

Figura 1.1

Michaely expõe ainda de outra forma esta mesma con-clusão: o desvio de C para B na origem das importaçõesde A e a consequente alteração dos seus termos de troca(de C’A’’ para B’A’’) obrigaria A a produzir OR de x(em vez de OA’’) de forma a conseguir obter o cabaz debens adquiridos em d. A diferença entre OR e OA’’(A’’R) seria então a perda na produção decorrente da for-mação de uma união aduaneira desviante de comércio. Pro-vavelmente, porém, se o país A comerciasse a partir deR, aos termos de troca representados por bR (paralelos aB’A’’) – e sendo este o rácio de preços enfrentado pelosseus consumidores –, o cabaz de bens adquiridos situar-

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-se-ia acima de d (sobre a linha bR) num ponto de bem--estar potencialmente mais elevado30. Michaely sugere aconstrução de uma outra linha, paralela a B’A’’ e a bR,cuja combinação de bens mais satisfatória desse uma satis-fação idêntica à atingida em d.31 Porque o consumo sefixaria no ponto que proporciona a maior satisfação, aunião aduaneira deixaria inalterado o bem-estar. Na Figura1.1 a esta linha liga b’ a S, de modo que RS poderia sercontabilizado como o ganho de bem-estar atribuído a umefeito de consumo – à equiparação do rácio de preçosinternos com o rácio de preços internacional. No caso, aperda de produção (A’’R) excederia o ganho no consumo(RS) mas também se poderia dar o caso de b’S se situarnão à direita mas sim à esquerda de B’A’’, e nesse caso adistância de R a S excederia a de A’’ a R e, portanto, oganho de consumo excederia a perda na produção.32

Embora Michaely o não faça, seria fácil calcular domesmo modo os ganhos na produção e no consumo numasituação de criação de comércio (Figura 1.2):

Comerciando com B aos termos de troca representa-dos por B’A’’, A só precisava de produzir OR de x paraobter o mesmo cabaz de bens que obtinha em autarcia(H). A’’R é o ganho de produção. Traçando uma linha

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30 MICHAELY (1977) p. 193 escreve: “But had the countryactually traded from R along b’b’ (parallel to bb) (...) consumptionwill not be at D but, with the change in relative prices, somewhereabove D on b’b’ (...)”. A invocada alteração dos preços relativos ocorreem relação aos que eram dados por tt’, correspondendo as suas refe-rências (D, b’b’ e bb) a, respectivamente, (d, A”B’ e Br) na nossaFigura 1.1.

31 Esta linha não seria uma curva de indiferença mas sim umalinha de restrição orçamental limitada por um máximo de satisfação.

32 Numa situação limite, os dois poderiam coincidir. Em qual-quer caso “As posições de consumo pré-união e pós-união não podem,em geral, ser hierarquizadas” – MICHAELY (1977), p. 193.

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paralela a B’A” que fosse tangente à mesma curva de indi-ferença que passa em H (e cuja inclinação nesse ponto teriade ser igual à razão de preços de autarcia em A) teríamosuma linha de restrição orçamental que manteria o bem--estar obtido em H. Na Figura 1.2 esta linha liga b’ a Sde modo que RS poderia ser contabilizado como o ganhode bem-estar atribuído a um efeito de consumo. Ao con-trário do que vimos à pouco, na situação de desvio decomércio, os segmentos A’’R e RS não se estendem emsentidos opostos: o resultado final, neste caso, é semprepositivo e seria igual a A’’S (=A’’R+RS).

Figura 1.2

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Assim entendidos, como parecem ser entendidos naexposição de Viner em (1950), a criação de comércio e odesvio de comércio são resultados alternativos, nunca com-plementares, de uma união aduaneira: se o direito aduaneiroinicialmente imposto por A é proibitivo, A produz inter-namente ambos os bens e é a união aduaneira que o levaà especialização. Há então criação de comércio, mas nãodesvio. Se o direito aduaneiro incialmente imposto por A(vg sobre y) não é proibitivo, então é porque a aquisiçãode cada unidade de y, mesmo onerada alfandegariamente,se consegue com o sacrifício de uma quantidade de x menordo que a que seria necessário sacrificar para a produçãointerna de cada unidade de y. Quer dizer: a taxa marginalde substituição (TMS) entre y e x no mercado de Ahá-de estar compreendida entre a sua taxa marginal detransformação (TMT) interna e a sua TMT no comérciointernacional com a melhor fonte (no caso C), justamenteporque sobre esta incide um direito aduaneiro que enca-rece relativamente y. Em consequência, a produção inter-na de y já terá sido abandonada e não restam possibilida-des de criação de comércio à altura da constituição daunião aduaneira. Esta limita-se pois a ter efeitos desviantesde comércio.

Introduzindo custos de produção crescentes – i.e.,considerando que a fronteira de possibilidades de produ-ção de A é côncava em relação à origem, em vez de serum segmento de recta – as conclusões alteram-se, a menosque tenhamos:

a) uma solução de canto: com a completa especiali-zação num dos bens, não obstante a TMT crescente, aanálise seria idêntica à anterior, só podendo revelar desviode comércio;

b) um direito aduaneiro proibitivo: se os pontos deprodução e consumo coincidiam, a formação de uma uniãoaduaneira só origina criação de comércio.

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Em todas as outras situações a análise conduzida a par-tir de uma fronteira de possibilidades de produção rectadifere da que resulta do emprego de uma fronteira de pos-sibilidades de produção côncava, como MICHAELY demons-trou em (1977): seja esta AA’, representando a TMT entredois bens (y e x) – um dos quais (y) também importadoda sua fonte de abastecimento mais barata (C)33, o outro(x) exportado – e três rácios de preços: tt’, que representaa razão de preços em A após a aplicação de um direitoaduaneiro não proibitivo; e BB’ e CC’ que representamos termos de troca de A com B e de A com C (pressu-põe-se que A é um pequeno país para garantir que estesse mantêm constantes);

Figura 1.3________________________

33 Se B fosse o fornecedor mais barato de y, a formação daunião aduaneira entre A e B equivaleria, para o primeiro, à institui-ção do comércio livre em y.

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Em comércio livre a economia A produziria em f econsumiria num ponto situado sobre a linha CC’, simul-taneamente a sua razão de preços interna e internacional,já que todas as suas importações (de y) proviriam de C.

Se A impusesse um direito aduaneiro uniforme nãoproibitivo, o comércio com C manter-se-ia, mas passariama diferir a razão de preços internacional (ainda dada porCC’) e a razão interna de preços (a partir de então dada,vg, por tt’). A produção situar-se-ia em e, o consumo fixar--se-ia nalgum ponto, à esquerda de e, da linha cc’ (para-lela a CC’ passando sobre o locus de produção).

A constituição de uma união aduaneira entre A e Btorna possível aos produtores de y sediados em B a con-quista do mercado de A (desde que o seu preço de vendafique aquém do preço praticado por C mais o montantepago como direitos de importação). Cessando o comérciocom C, A passará a abastecer-se de y junto de B ao pre-ço dado por BB’, passando a produção interna de A parao ponto g (onde a TMT iguale a razão de preços dadapor BB’) e o consumo para um ponto sobre a linha BB’(simultaneamente a sua razão de preços interna e interna-cional) à esquerda de g.

Uma estimativa, em termos de x, dos diferentes efei-tos presentes levaria a identificar um ponto de consumo dquando a economia aplica uma pauta aduaneira simples.Com a constituição de uma união aduaneira – e por causado encarecimento das importações – A teria de dispor daquantidade or de x (em vez de oe) para poder adquirir ocabaz de bens d. O efeito do desvio de comércio da uniãopodia, pois, ser dado por er – e seria negativo. Por outrolado, a deslocação da produção de e para g possibilitaria àeconomia A (mediante trocas com B) a disponibilidade deum cabaz de bens u.

eu seria, pois, a representação do efeito positivo decriação de comércio. A diferença entre estes dois efeitos –

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no caso ur – constituiria o que Michaely denomina o efei-to líquido de produção. Para que este efeito fosse positivobastaria que o ponto inicial de consumo se situasse no inte-rior da linha BB’, em vez de, como no exemplo dado,no seu exterior. Nesse caso, mesmo sem considerar os efei-tos de consumo, a união provocaria uma melhoria de bem--estar – patente na possibilidade de prescindir de parte dasquantidades de x anteriormente produzidas e, mesmo assim,conseguir obter um cabaz de bens idêntico ao que consu-mia antes da união.

Para introduzir os efeitos de consumo basta conside-rar uma linha paralela à nova razão de preços, constituídade forma a que o melhor cabaz de consumo nela disponí-vel iguale a satisfação que era atingida quando em A seconsumia o cabaz d. Representando por s a sua intersec-ção pela horizontal do ponto e (onde já figurámos u e r)obtemos uma medida do efeito de consumo da união nobem-estar: a distância rs.

r representa a quantidade de x necessária para adquiriro cabaz de bens d.

s representa a quantidade de x necessária para adquirirum cabaz de bens que dê a mesma satisfação que d.

er significa uma perda.rs significa um ganho.Uma vez que o efeito líquido de produção é dado

pela diferença entre er (com sinal negativo) e eu (comsinal positivo), o resultado da combinação dos efeitos deprodução com o de consumo pode ser positivo ainda quandoo efeito líquido de produção seja negativo. No caso, o sim-ples facto de s estar à esquerda de u garantiria à uniãoum efeito positivo sobre o bem-estar.

Quando o efeito conjunto de produção e consumo énegativo, su dá-nos, em termos de x, a quantidade de bensque a economia A requeriria para obter o mesmo bem--estar da situação pré-união.

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Quando o efeito conjunto de produção e consumo épositivo, su dá-nos, em termos de x, a quantidade de bensde que a economia A poderia prescindir para obter o mes-mo bem-estar da situação pré-união. [MICHAELY (1977),p. 196]. Esta extensão do modelo vineriano, porém, é essen-cialmente alheia ao modo como foi descrito em (1950).

§3. A taxonomia vineriana: outra reconstrução

À luz do que depois se escreveu é perfeitamente claroque os conceitos formulados por Viner eram ambíguos –e insuficientes34. Deixando de lado, para já, os contributosque foram sendo progressivamente introduzidos na análise,vale a pena fazer um diagnóstico da consistência da termi-nologia de Viner tal como é genericamente (mas não una-nimemente) entendida:

– em primeiro lugar, as referências à criação de comérciosão ambíguas na medida em que pretendem retratar altera-ções no local de produção. Ora, o que a existência de criaçãoou desvio de comércio imediatamente indicia são alteraçõesna esfera de circulação;

– em segundo lugar, o critério que preside àquilo queé interpretado como uma definição é um critério cosmo-

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34 VANEK (1965), p. 2: “Admittedly this way of stating Profes-sor Viner’s theory, like the theory itself, is not exceedingly rigorous”.

EL-AGRAA/JONES (1981), p. 3: “Viner failed to provide a com-plete theoretical framework for his analysis and much of the subsequentliterature on the subject illustrates the confusion that has arisen fromthe initial vagueness.”

Entre as possíveis explicações para os limitados progressos dateoria das uniões aduaneiras HINE (1994), p. 247, refere em primeirolugar “a preocupação com uma terminologia inadequada”, e POMFRET

(1986), p.444, refere que “One problem with Vinerian theory wasthe lack of rigor of the original exposition”.

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polita de bem-estar35, enquanto que o recorte das expres-sões evoca uma certa objectividade empírica – o que étambém fonte de ambiguidades;

– acresce que nem sequer a lógica interna daquilo quecada noção devia ser é respeitada, juntamente porque as dimen-sões referidas se opõem ocasionalmente.

Vejamos cada um destes dois efeitos separadamente,os que os completam, e o contexto em que são empre-gues.

3.1. O caso da criação de comércio

Na passagem acima transcrita36 – usualmente citadapara ilustrar o entendimento de Viner quanto ao que écriação de comércio – sublinharam-se quatro passagens.A última demonstra a relatividade do critério económicoadoptado: desde que haja uma melhoria na afectação derecursos em relação à situação de partida, haverá criaçãode comércio, mesmo que a situação em comércio livre fos-se preferível. As outras três parecem estar na origem detrês diferentes entendimentos do que é criação de comér-cio.

Segundo alguns autores, criação de comércio é a pas-sagem de uma fonte de produção de maiores custos para uma demenores custos37. Este entendimento “económico” pode louvar-se

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35 Que se resume ao critério da eficiência relativa na alocaçãode recursos-VINER (1950), p. 52.

36 Supra, p. 9.37 Vg: LAWRENCE (1996), p. 99; CUNHA (1995), p. 121 (cfr.

porém, p. 153); MOORE (1994), p. 64; BOURGUINAT (1993), p. 9;M. RICHARDSON (1993), p. 309 (que, aliás, escreve: “the trade creationwe have considered occurs as one member expands trade with non--members”; no mesmo sentido HYCLACK (1989), p.xv); JOVANOVIC´(1992), p. 18; GUNTER (1989) p. 2; GEORGAKOPOULOS (1974), p. 421;

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nas declaradas intenções vinerianas: “The analysis will bedirected toward finding answers to the following questions: in sofar as the establishment of the customs union results inchange in the natural locus of production of goodspurchased, is the net change one of diversion of purchases tolower or higher money-cost sources of supply, abstracting fromduty-elements in money costs (...)?”38

Segundo outros autores, criação de comércio é o apa-recimento de um novo fluxo de importações39. Este enten-dimento literal (criação de comércio onde comércio não

KIRMAN (1973) p. 891; CORDEN (1972b), p. 467; SPRAOS (1964),pp. 101-102. Note-se que o sentido da fórmula de medição propostapor MEADE em (1955a) – cfr. infra, nota 204 – só vale para o sentidoeconômico.

38 VINER (1950), p. 42. Os itálicos foram aditados. Note-se oemprego do termo desvio para cobrir, também, situações de criaçãode comércio do ponto de vista económico. Ó BRIEN (1976), pp. 559--560, nota que VINER (1950) cita um livro de Lord Robbins, de1937, que abordava a questão do “reagrupamento regional” sob aperspectiva da eficiência produtiva e de uma mais extensa divisão dotrabalho. Sendo embora insuficiente para o creditar como um directoprecursor da teoria das uniões aduaneiras, o sentido económico dasnoções de criação e desvio de comércio – embora já presente nosartigos de Viner de 1924 (cfr. supra, nota 5) e de 1931 (cfr. supra,texto, 1.1) – pode encontrar aí um reforço. Note-se, porém, que oquarto efeito vineriano (diminuição de custos por efeito de econo-mias de escala) podendo ser de criação de comércio em sentido eco-nómico era descrito como de “desvio de importações” ou “supressãode comércio”, o que depõe em sentido contrário. Veja-se também apassagem citada na nota 62, infra.

39 BALDWIN/VENABLES (1995), p.1603: “(...) trade creation (thesum of increased imports from [Regional Integration Agreements] andnon-RIA nations.”); ALASDAIR SMITH (1992), p. 89: “(...) trade creationcovers trade replacing home production or associated with increasedconsumption.”; HOLMES (1992), p. 54: “(...) the broad idea is todistinguish newly created trade flows (trade creation) from those whichsimply displace pre-existing trade flows (trade diversion).”; HERRICK/

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havia) é por vezes levado mais longe, exigindo-se que onovo fluxo comercial provenha do país parceiro. Nesteentendimento literal estrito, diríamos “geográfico”, só haveriacriação de comércio quando da formação de uma uniãoaduaneira resultasse a substituição da produção interna de umbem por produção do mesmo bem no país parceiro40.

Aparentemente, as três formulações são idênticas (naexposição de Viner e na recensão de Meade são-no)41, mas

/KINDLEBERGER (1988), p. 521: “trade creation the result of changes intrade policy that leads to flows of international trade where noneexisted before”; MACEDO (1981), p. 15.

40 Vg: BALASSA (1962), p. 25 e no artigo sobre “economicintegration”, no New Palgrave: A Dictionary of Economics (1987),p. 43: “(...) there is a shift from a domestic to partner country sourcesof supply of a particular commodity;” (no parágrafo seguinte esclare-cia que essa passagem envolvia uma troca de fontes internas de altocusto por outras do país parceiro de custos mais baixos. Em todo ocaso, a definição parece “geográfica”, ainda que tenha depois asso-ciado um conteúdo económico); LANGHAMMER/HIEMENZ (1990),p. 4; MACHLUP (1977), p. 91, n. 13: “International trade is created ifproduction is increased in one of the member countries at the expenseof production in another member country after the removal of theimport duty”; TRIFFIN (1960), p. 253.

41 Pode invocar-se uma lógica económica elementar para ligaras três formulações [a substituição da produção interna por importa-ções (1º) só poderá ocorrer desde que baixem os preços, pois se estesse mantiverem não haverá motivos para aquela diminuir. Se os pre-ços baixam por força da redução dos direitos aduaneiros, há umasubstituição de uma produção mais cara por importações mais baratasprovenientes dos países beneficiários de tal redução – os países par-ceiros (2º). Com isso, cria-se um novo fluxo comercial (3º)]. Porém,a mesma lógica elementar levaria então a introduzir um elemento deprocura desde que não estivéssemos perante bens de Giffen. Refira-seque neste ponto não há paralelismo com o desvio de comércio, ondea substituição de importações se pode fazer sem haver qualquer alte-ração do preço final do bem: basta que B não consiga abastecer todoo mercado de A, mantendo-se alguma importação de C, ou – supondo

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as suas consequências são diferentes, bastando para isso quese aumente o número de países (de bens) considerados:na primeira e na segunda não é forçoso que a mudançano locus de produção se faça a favor do país parceiro (pense--se no caso de o alinhamento pautal entre duas econo-mias levar à descida dos direitos aduaneiros proteccionistasnuma delas, com substituição da produção interna por pro-dução do país terceiro mais eficiente)42. Na medida em que________________________

a existência de produtores em B com poder de mercado – que opreço anterior no mercado de A, seja o mais vantajoso para os exce-dentes de B, colocando este, nesse mercado, exactamente as mesmasquantidades que eram importadas de C. Enquanto, portanto, para quehaja criação de comércio o preço tem de baixar, já não é assim parao desvio de comércio.

Diga-se, também, que a generalidade dos autores utiliza indi-ferentemente o sentido económico e o sentido literal dos termos –mesmo parte dos que, por sublinharem um sentido, foram ilustra-tivamente indicados nas notas anteriores: vejam-se, por exemplo,KRAUSS (1972), pp. 413-414; BHAGWATI (1973), p. 897;

42 Ou, no caso de uma união aduaneira conferir tratamentopautal diferenciado a alguns países terceiros, do país terceiro nemsequer mais eficiente, seja por causa de um Sistema de Preferências oupor uma qualquer margem de preferência resultante de acordos deassociação individual ou acordos especiais de comércio. Recorde-se,porém, que, dentro da filosofia proteccionista que Viner correctamentediagnosticava às uniões aduaneiras de então, o objectivo prioritáriodeveria ser reservar para os parceiros os ganhos alcançados com osacrifício da produção interna: é que só estes dão compensações por essasperdas na produção interna – embora este argumento só tenha sido for-mulado, muito mais tarde, com Cooper/Massell (1965a e b). Poder--se-á objectar, com razão, que as alterações pautais são alheias aoquadro de análise vineriano que, justamente, procura separar os efei-tos introduzidos pela integração dos que resultam dessas alterações(sobre isto, cfr. infra o ponto 3.4). O problema é que uma definiçãodos intrumentos de análise que seja decalcada das especificidades des-critivas de uma situação torna-se imprestável fora dela. Ora, os con-ceitos vinerianos têm um sentido – o económico – que os adequa auma genérica utilização. Nestes termos, insistir em qualquer dos

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se cria comércio onde comércio não havia, há criação decomércio em sentido “literal”43; na medida em que se passade um produtor menos eficiente para outro mais eficien-te, há também criação de comércio, em sentido “econó-mico”. Porém, para o terceiro entendimento não estaría-mos perante criação de comércio – a descrição do casonão encaixaria da descrição suposta pelo “tipo”. Comotambém não é forçoso que o produtor menos eficiente queinicialmente fornece o mercado interno seja um produtorinterno (pense-se no caso de uma prévia discriminação pautalfavorável a um terceiro país ou ao futuro parceiro da união– que antes da formação desta já lhe reservava esse mer-cado – ser ultrapassada pelos produtores externos mais efi-cientes mercê do mais baixo nível da pauta exteriorcomum ou das preferências conferidas pelo agrupamentoregional44). Uma vez que já havia comércio anteriormente,não há “criação” de comércio no segundo entendimentoreferido. Como também o não há no terceiro, já que asnovas importações não vêm do país parceiro, embora a pas-

outros sentidos (sem, ainda para mais, poder invocar uma maior fide-lidade histórica) serve só para limitar o seu interesse.

43 O que, como notou Vanek (1965), p. 2, é por si bom –desde que se aceite que o comércio é, em si , bom. E essa era aideia por trás do argumento.

44 Enquanto na situação pré-integração a margem de preferên-cia do futuro país parceiro permitia afastar o produtor externo maiseficiente, após esta tal deixa de ser assim, pois embora os produtoresdo país parceiro não paguem direitos aduaneiros, os que os produto-res externos mais eficentes pagam não os afastam do mercado. É claroque na obra de VINER esta situação fora expressamente afastada daanálise pela hipótese de que a média de direitos antes e depois daunião era a mesma [(1950), p. 42], o que, em verdade, se volveriano postulado da invariância dos direitos aduaneiros, já que a manu-tenção da média não impediria alterações em cada uma das suas taxas– cfr. o último ponto deste Capítulo.

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sagem de um produtor menos eficiente para outro maiseficiente preencha a descrição económica de criação de comér-cio45.

Também no terceiro caso que Viner considerou em notanão há, pura e simplesmente, substituição no lugar de pro-dução. Assim, o juízo económico do primeiro enten-dimento não é aplicável. A descrição correspondente aoterceiro também não. No entanto, a situação é sistemati-camente reconduzida à criação de comércio46, implicando adeslocação do critério da esfera de produção para a da cir-culação e reforçando o segundo entendimento de criaçãode comércio: haver comércio onde comércio não havia. Idên-tico, mas não considerado, é o caso de a abolição, pelapauta exterior comum, de uma medida anti-sumptuária (supri-mindo o direito proibitivo de um dos países membros daunião) se fazer em benefício de produtores situados fora________________________

45 Para o segundo e terceiro entendimento referidos estaríamosentão perante um “desvio de comércio eficiente” – o que, em termoseconómicos, corresponde a uma contradição nos termos, só possívelpor se hesitar entre os diferentes sentidos possíveis para a terminolo-gia imputada a Viner. O desdobramento deste “desvio” em criaçãode comércio e desvio de comércio (o primeiro referido ao efeito deconsumo, o segundo referido à transferência da aquisição da mesmaquantidade de um certo bem do produtor exterior à união para outrosediado no seu interior), que é, afinal, o inverso da proposta deJOHNSON (1975) – cfr. infra CAPÍTULO 2, §1 D –, seria destituídode sentido nesta situação porque aqui há uma melhoria na afectaçãode recursos na produção e, portanto, os efeitos de consumo e de pro-dução são convergentes.

46 Vejam-se, por exemplo, SPRAOS (1964), KRAUSS (1972),TOVIAS (1977), p. 112 e GUNTER (1989), p. 23, n. 1.

Refira-se que isso equivale à dissolução da noção de um tertiumgenus, que era a de Viner, e à alteração da noção de criação decomércio por ele defendida. A evolução teórica teria sido diferentese em vez de se tentar fechar a realidade num ou noutro dos pólosteóricos propostos por Viner, se tivesse explorado o caminho, porele também aberto, do alargamento conceitual.

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dela, situação que também só nesse entendimento literalpoderia ser reconduzida à criação de comércio (uma vezque não há termo de comparação anterior para a produ-ção que vai satisfazer a nova procura).

Ou seja: em sentido económico há criação de comér-cio quando:

a) se substitui um produtor interno por outro produ-tor da união47, mais eficiente;

b) se substitui um produtor interno por um produtorde fora da união, mais eficiente;

c) se substitui um produtor de fora da união por umprodutor da união, mais eficiente48;

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47 É o caso clássico. Utilizamos a expressão “produtor interno”para referir a situação dos produtores do “home country” e a expressão“produtor da união” para os produtores situados num país que é par-ceiro do “home country” na união aduaneira mesmo remontando tam-bém a uma época em que ele não o é ainda – como na alínea d),em que é a constituição da união que faz com que o país B perca omercado de A, por força da redução da margem de preferência. Comose viu, esta diminuição pode resultar da redução dos direitos contraterceiros ser superior à redução dos direitos aplicados a B, ou da exis-tência de um tratamento especial para certos países terceiros.

48 P. WONNACOTT/R. WONNACOTT (1980), p. 18, nota 1; (1981),p. 712, nota 18, referem-se a este caso, mas falam num “desvio” decomércio de uma fonte mais cara para outra mais barata. A razãoradica aqui na existência de uma pauta aduaneira “proibitiva” em B(no sentido de que, impedindo as exportações para o seu mercadoinviabiliza também importações a partir dele). Os autores, conside-ram ainda casos menos extremos em que a pauta de B não é suficien-temente elevada para o remeter para uma situação de autarcia mas é-opara tornar o comércio entre A e B menos atractivo do que o comér-cio entre A e C. É que não é o custo aparente das importações queconta, mas sim o seu custo real em termos de exportações necessá-rias para os adquirir. Após a constituição de um agrupamento regio-nal entre A e B esse obstáculo é ultrapassado e A e B iniciam ocomércio mútuo.

A argumentação de P. e R. Wonnacott nada perderia, porém,

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d) se substitui um produtor de fora da união poroutro produtor de fora da união, mais eficiente;

e) se substitui um produtor da união por um produ-tor de fora da união, mais eficiente;49

Embora normalmente reconduzida a criação de comér-cio, não a há quando se cria produção nova dentro da uniãopara satisfazer uma procura até aí inexistente nela.50 51

se em vez de figurarem uma pauta “especial” em B, para impediremas importações daí provenientes para A (e a existência de direitossobre as exportações também lograria o mesmo resultado), tivessemtão-somente admitido diferenças (desfavoráveis às importações oriun-das de B) na pauta aduaneira de A. Foi, afinal, o caso que conside-rámos em texto.

49 Um caso possível é a transição de uma para outra união adua-neira, mas o problema da sucessão de zonas de integração altera jáos dados do problema na medida em que lhe acrescenta um premissaextra. Sublinhe-se que em todas as situações em apreço a mera cria-ção da união aduaneira é suficiente para lhes dar existência real.

50 Como KIRMAN (1973), p. 892, notou, a consideração desteterceiro caso é o desmentido prático de que Viner presumiu que “osbens eram consumidos em proporções fixas”. De facto, é a provaevidente de que também os efeitos de consumo tinham lugar na expo-sição vineriana, se se não tivesse reduzido esta a uma dicotomia exces-sivamente simplista. E, note-se, sem sequer ter que se enveredar pelajunção de efeitos de consumo a efeitos de produção, ao jeito deJohnson (cfr. infra, CAPÍTULO 3), que encontra paralelo na recon-dução desta “terceira possibilidade” vineriana – bem como de umaoutra, que se considera a seguir no texto, mas que foi sempre esque-cida – à criação de comércio.

A autonomização desta “terceira possibilidade”, puramente resul-tante de efeitos de consumo, podia perfeitamente ter absorvido estes:de facto, que a nova procura seja desencadeada pela abolição ou redu-ção de direitos proibitivos – como expressamente admitido por Viner– (note-se: pela redução ou abolição de direitos proibitivos de direito,por alteração pautal, ou de facto, pela sua supressão em relação aospaíses parceiros) – como acontece no caso de criação de comércio –,ou pela redução ou abolição de direitos não proibitivos (de direito,ou de facto) – como acontece no caso do desvio de comércio, os

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De igual modo, não haverá criação de comércio quandose cria produção nova fora da união para satisfazer uma pro-cura até aí inexistente nela.

Deste inventário resulta que aquilo que faz sentidoque a expressão criação de comércio signifique, acaba por nãoser o que a expressão revela. Os cinco primeiros casos con-formam-se com o critério da passagem de um local de pro-dução menos eficiente para outro mais eficiente, os doisúltimos não. É certo que se pode dizer-se que não é Vinerquem, com a recondução destes à criação de comércio, dualizaos critérios do que é a criação de comércio – acabando osentido literal da expressão por se afirmar sobre o seu in-tencionado significado – mas, ao admitir que os efeitos deconsumo se integram nestes, VINER (1976) acaba por che-gar ao mesmo resultado.

O critério deixa de ser (ou deixa de ser só) situadona esfera de produção (melhoria na afectação de recursos,ganho de eficiência), para se situar também na esfera de

resultados são sempre idênticos: reduz-se o preço do bem e aumentao seu consumo.

Aliás, não há caso algum descrito como efeito de consumo quenão pudesse ser tratado como a “terceira possibilidade” vineriana –bastando para isso considerar o direito não geograficamente discrimi-natório anteriormente vigente como relativamente proibitivo – proibi-tivo em relação a essa expansão de consumo. Nessa medida, a defesa deVINER, em 1965, [(1976), p. 107] é justificada:

Não presumi, explicitamente ou por implicação consciente“que os bens eram consumidos em proporções fixas, não afec-tadas por mudanças nos preços relativos provocados pela uniãoaduaneira”. Se isto for, mesmo assim, uma implicação neces-sária de alguma coisa que eu tenha dito, eu vê-la-ia como ummonstruoso lapso da minha parte, mas perguntaria onde exac-tamente é que fui culpado deste lapso.51 Se essa produção nova nascer no mesmo país em que há

nova procura, a recondução à “criação de comércio” nem sequer nosentido literal seria adequada.

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circulação (existência de novas movimentações internacio-nais de bens), dando origem a divergências entre o seusentido económico e o seu sentido literal, como nas situa-ções consideradas sob c), d) e e), onde o sentido literal decriação de comércio está afastado, correspondendo antes,nesse plano, a um desvio de comércio.

Note-se que o quadro elaborado está longe de sertaxativo, já que relaxando outros pressupostos de análise,obteríamos ainda outros casos:

a) admitindo de que há mais do que dois países naunião aduaneira, a criação de comércio pode fazer-se subs-tituindo um produtor da união por outro produtor da uniãomais eficiente, porque o zero pautal passa então a sercomum, quando antes podia haver acesso privilegiado deum deles. O caso é idêntico ao da acessão à união de umprodutor mais eficiente, até aí deixado de fora;

b) admitindo que a constituição da união aduaneirase faz faseadamente, as diferenças no desarmamento pautalface aos países membros e aos países terceiros podiam levara alterações temporais das situações de desvio ou criaçãode comércio [vg: uma diminuição mais rápida de direitospara com os países parceiros (ou só um) pode operar umdesvio de comércio (em sentido económico) a seu favorque, terminado o alinhamento pautal face a terceiros paí-ses, ou a desmobilização pautal face a todos os parceiros,pode originar o regresso ao fornecedor inicial – gerandoentão criação de comércio (em sentido económico), porser este o mais eficiente produtor]. Porém, esta situaçãonão é verdadeiramente distinta, em termos estáticos, dasjá consideradas. Só o é no seu encadeamento;

c) admitindo que a constituição de uma união adua-neira leva a uma especialização intra-industrial pode criar--se comércio com a especialização nos produtos em que avantagem relativa é maior: pode passar a haver importaçãode bens até então produzidos internamente com menores

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custos mas, na medida em que haja especialização na pro-dução daquele tipo de bem em que a vantagem compara-tiva é maior52, a alteração da divisão internacional do tra-balho não pode ser julgada negativamente;

d) admitindo que nem todos os produtos objecto decomércio são bens finais, o estabelecimento da livre circula-ção de bens intermediários e de matérias-primas no interiorda união aduaneira pode diminuir os custos de produçãode alguns produtores e, assim permitir-lhes que substituamoutros menos eficientes, mas até aí isolados no acesso nãotributado a esses inputs53. Há um certo número de varian-tes desta criação de comércio induzida por supressão dedireitos (de importação ou exportação) sobre matérias pri-mas ou bens intermediários produzidos no interior da união– designadamente as resultantes da redução dos direitos deimportação dos inputs por adesão a uma união aduaneiracom acordos preferenciais com os países que os fornecem.

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52 O argumento aqui conduzido segundo as linhas da vantagemcomparativa só serve para bens diferenciados. O comércio intra--sectorial, porém, ocorre mesmo em bens homogéneos por causa doque Grubel e Lloyd chamam “comércio periódico” – explicável pelaalteração sazonal ou periódica das curvas de transformação, ou dasde indiferença, pelo comércio de re-exportação, por deflexões edeflexões indirectas de comércio (em zonas de comércio livre), porintervenções estaduais, ou por políticas de empresas multinacionais –cfr. supra, nota 9 da INTRODUÇÃO.

53 Ao contrário da supressão de comércio de bens finais (decor-rente da liberalização do comércio de bens intermediários ou matérias--primas) diagnosticada por PARK/YOO (1989), pp. 143-144 – de quefalamos na nota 71 – a inversão de comércio traduzida na exporta-ção de um bem até aí importado, como consequência daquela mesmaliberalização, só acontecerá excepcionalmente. Repare-se que se o bemfinal era importado mesmo pagando um direito aduaneiro, é impro-vável que a situação se inverta, a menos que os produtores internostenham uma diminuição de custos pelo menos idêntica ao montantede direitos pago pelo anterior exportador.

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Em todos os casos, produtores que aufiram uma protecçãoefectiva negativa54 deixam de ser desfavoravelmente discri-minados, podendo por isso conquistar o seu mercado (cri-ação de comércio em sentido económico) ou o de um oumais dos seus parceiros, à custa dos produtores internosdestes (criação de comércio em sentido literal e económi-co) ou à custa dos produtores de outro ou outros dos paísesparceiros ou de países terceiros (criação de comércio emsentido económico, mas desvio de comércio em sentidoliteral). 55 56

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54 Sobre a protecção efectiva ver, por todos, PORTO (1982),pp. 93-100 ou (1997), pp. 122-136. Para uma aplicação ao caso –análogo ao que nos ocupa – da concessão de preferências, ver CUNHA

(1995), pp. 151-154, embora aqui a sua análise das alterações de efi-ciência apareça a par da distinção entre custos sociais e custos priva-dos. Sem pôr em causa a possibilidade de se introduzirem na análisetais imperfeições de mercado, julgamos que se devem separar osganhos de eficiência revelados por este (traduzidos em preços maisbaixos), dos ganhos de eficiência “construídos” pela análise, ao arre-pio do mercado: é que não há limites para as possibilidades de “cor-recção” das desigualdades nas condições de produção em diferenteslocais. De resto, como admite BHAGWATI (1991), p. 108, “The casefor free trade, whether nationalist or cosmopolitan, depends on marketforces’ reflecting genuine social costs”, e por essa via haveria querepensar mais do que a teoria das uniões aduaneiras.

55 É certo que algumas destas versões podem ser vistas comoefeitos secundários de uma matriz fundamental: no que diz respeitoaos inputs haverá efeitos de criação, desvio e supressão de comércio.Os efeitos daí decorrentes sobre os bens finais são meros derivados,tal como o eram os efeitos secundários sobre bens complementares esubstituíveis diagnosticados por MEADE (1955a).

56 Admitindo que há economias de escala, o produtor internoque passar a abastecer o mercado da união pode diminuir os seuspreços no mercado interno. CORDEN (1972b), p. 467, chamou a istoefeito de diminuição de custos.

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3.2. O caso do desvio de comércio

Quanto ao desvio de comércio, também os critériosdo texto vineriano57 eram equívocos: passagem de um pro-dutor mais eficiente, situado fora da união, para outromenos eficiente, situado no país parceiro. Voltamos a encontrarambiguidades, na medida em que se considera desvio decomércio a alteração na eficiência produtiva num sentido nega-tivo58 e a alteração na origem do fluxo de importações,do exterior do agrupamento regional para o país parceiro59 –o que leva implícito que a perda de eficiência como

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57 Supra, p. 9.58 Acentuando este critério, ver LAWRENCE (1996), p. 32; CUNHA

(1995), p. 121; MCDONALD/DEARDEN (1994), p. 3; MOORE (1994),p. 64; BOURGUINAT (1993), p. 9; M. RICHARDSON (1993), p. 309;JOVANOVIC´ (1992), p. 18; GUNTER (1989), p. 2; GEORGAKOPOULOS

(1974), p. 421; KIRMAN (1973), p. 890; SPRAOS (1964), p. 101.59 O que se comprova por não se considerar como desvio de

comércio a conquista do mercado interno por um produtor interno(que nas condições de protecção conferidas pela pauta aduaneira pré--união só fornecia uma parte do seu mercado, recorrendo a importa-ções de um terceiro país para satisfazer o excesso de procura, masque face a uma PEC que, para o bem que produz, eleva a sua pro-tecção, conquista todo o mercado). Mais facilmente se recorreria auma outra expressão de Viner – supressão de comércio – muito em-bora a situação reproduza a definição económica de desvio de comér-cio: passagem de um produtor mais eficiente para um outro menoseficiente.

Sublinhando na definição o sentido “geográfico” do texto,vejam-se, vg., TRIFFIN (1960), p. 253; BALASSA (1962), p. 25, e (1987),p. 43 [“(...) the shift occurs from non-member country to partnercountry sources of supply.]; MACHLUP (1977), p. 91, n. 13 “ Tradeis diverted if production in one of the union countries is increasedat the expense of a country outside the union”; P. WONNACOTT//R.WONNACOTT (1981), p. 709 “diversion is defined simply as theshifting of the source of supply from outside Country C to partnerB; (LANGHAMMER/HIEMENZ (1990), p. 4; ALASDAIR SMITH (1992),

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p. 89 [“(...) trade diversion means the replacement of trade with othercountries by trade with partners (...)”]; BALDWIN/VENABLES (1995)p. 1627; B. YARBROUGH/R. YARBROUGH (1997), p. 345.

60 Quer se autonomizem apenas os dois sentidos referidos, querse desdobre o sentido literal em dois, a exemplo do que se fez nocaso da criação de comércio. Teríamos então um sentido estrito,ligando o desvio à transferência da origem das importações de forado agrupamento regional para o país parceiro (como nos autores refe-ridos na nota anterior), e um sentido mais lato, correspondente à meraalteração da origem das importações: HERRICK/KINDLEBERGER (1988),p. 521: “trade diversion: the result of changes in trade policy that donot increase the total amount of world trade but merely divert itsorigins or destinations among countries.” MACEDO (1981), p. 15. Estesentido amplo seria o único compatível com o atrás referido por “des-vio de comércio eficiente” (cfr. nota 45): a situação aí figurada nãopoderia corresponder ao sentido estrito de desvio de comércio.

consequência da união aduaneira só se admite em benefí-cio dos produtores internos. Acontece que as especificaçõesnão são intermutáveis60, como facilmente se comprova pen-sando no caso em que a formação da união aduaneira al-tera as margens de preferência de que gozavam diferentespaíses terceiros no mercado interno de cada membro, pro-cessando-se uma reorientação dos fluxos comerciais (desviode comércio em sentido literal) com melhoria de eficiên-cia na localização do fornecimento (criação de comércioem sentido económico), possível pela existência de umapauta simples na união em contraponto com uma pautamúltipla inicial, ou por diferenças nas pautas múltiplas, cominversão de preferências.

Outra situação em que literalmente há desvio de comér-cio mas em que economicamente há criação de comércio(no sentido de se passar de um produtor menos eficientepara outro mais eficiente) é o de um produtor situado numpaís com acesso privilegiado ao mercado interno perder essemercado na altura da constituição da união aduaneira, pora margem de preferência que até então gozava se reduzir________________________

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(se já gozava do zero pautal e fica em plano de igualdadecom o(s) país(es) membros da união, ou se descem os direi-tos da pauta comum face a outros países, ou se o desapa-recimento dos direitos que pagava – por se tornar mem-bro da união – é contemporâneo da descida dos direitosselectivos que lhe reservavam esse mercado, ou da con-cessão de preferências aduaneiras a um terceiro país)61.

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61 Uma situação inversa – em que se alega que economica-mente haveria um desvio de comércio em situações em que literal-mente haveria criação de comércio – é a figurada por YANNOPOULOS

(1983), p. 168, e ROBSON (1985), p. 66-68. O problema com umatal abordagem é, porém, a dificuldade em estabelecer o que são “van-tagens comparativas potenciais”: é que uma coisa é comparar os “moneycosts”, abstraindo dos seus “duty elements” (para retomar as expres-sões de Viner atrás citadas), outra, completamente diferente, é avaliara evolução dos custos potenciais de uma produção que nem sequertem lugar, como sugere o primeiro daqueles dois autores, ao admitirque alguns produtores – afastados do seu mercado por produtores daeconomia beneficiada com uma redução discriminatória de direitos,no caso figurado através de uma preferência inversa, mas potencial-mente por efeito da participação numa união aduaneira, numa zonade comércio livre ou em outra forma de integração –, fossem deten-tores de “uma vantagem comparativa potencial (isto é, uma vantagemcomparativa que pode ser desenvolvida com o tempo, através de melho-ramentos no tipo de economias externas localmente disponíveis, deaprendizagem no próprio processo de produção, etc.)”. No fundo,do que se trata é de considerar que as vantagens comparativas são oúnico fundamento “legítimo” para o comércio internacional e quequando este ocorra por efeito da especialização com base em economiasde escala (mas, então, pela mesma ordem de ideias, eventualmente comqualquer outra base: hiato tecnológico, por exemplo) – de forma nãocoincidente com o padrão de especialização da vantagem compara-tiva – a passagem real de um produtor menos eficiente para um maiseficiente corresponderia, na essência das coisas, a uma “especializaçãode tipo perverso” [ROBSON (1985), p. 67, seguindo Grubel].

Já a formulação de CUNHA (1995), p. 152, tomando em contaa protecção efectiva, é perfeitamente recondutível à comparação de“money costs” sem os seus “duty elements” – não os “money costs”

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Lipsey (1970), pp. 78-80, detectou esta possibilidade racio-cinando em termos de preços relativos dos únicos dois bens

líquidos dos “duty elements” dos bens finais (de resto inexistentes querpara os produtores internos que – normalmente – são quem perde omercado, quer para os produtores dos países parceiros que – normal-mente – são quem o ganha) mas sim os “money costs” líquidos dos“duty elements” dos bens intermediários incorporados nos bens finais. Com-parando estes no caso de criação de comércio induzida pela conces-são de uma preferência, o autor notou que tal criação de comérciopode ser “subsidiada” (no valor da protecção efectiva negativa con-cedida aos produtores nacionais, decorrente da diferença na tributa-ção dos inputs nesse país e no país que lhe toma o mercado). Assim,a aparente criação de comércio em sentido económico, revelada peladiminuição do preço do bem final no mercado do país cujos produ-tores perderam o (ou parte do) mercado é um desvio de comércioem sentido económico.

Caso esta argumentação pudesse ser transportada para a forma-ção de uma união aduaneira – o autor ocupa-se de sistemas de pre-ferências, não destas –, deveria talvez introduzir-se a distinção entreefeitos aparentes e efeitos reais, uma vez que os resultados do mercadodeixariam de ser significativos em todos os casos. Porém, este resul-tado é impossível numa união aduaneira porque, por definição,todos os inputs são acessíveis a todos os produtores com idênticos“duty elements”: ou eles são importados de terceiros países, e entãoo direito aduaneiro pago é igual para todos – ou são produzidosinternamente, e então todos têm acesso a eles sem pagamento de quais-quer direitos aduaneiros. É certo que podem alguns produtores terde recorrer a inputs importados de fora da união (que pagam direi-tos) e outros podem ter acesso a inputs produzidos no espaço da união(que os não pagam). Ainda assim, porém, não haverá aí qualquerdiscriminação geográfica, justamente porque quem tem acesso aos inputsda união não têm de ser os produtores dos bens finais do país ondesão produzidos esses inputs: de um ponto de vista aduaneiro, todosos produtores de bens finais da união têm acesso a tais inputs emtermos de igualdade e se os direitos aduaneiros sobre os inputsimportados os encarecem, certamente que a concorrência entre os pro-dutores da união que os incorporam no seu processo produtivo farásubir o preço dos inputs produzidos na união.

É certo que esta questão pode colocar-se no caso de sobrepo-

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do seu modelo de equilíbrio geral e concluiu (p. 79):“This, for the free trader of Professor Viner’s persuasion,must be a most unfortunate complication.”

O caso clássico de desvio de comércio (onde aetimologia e justificação económica coincidem) é o da subs-tituição de um produtor situado fora da união por umoutro, menos eficiente, situado no seu interior, em conse-quência do desarmamento pautal entre os países membros62

[ou, acrescente-se, por aumento de alguns direitos adua-neiros face aos níveis praticados anteriormente]63.

sição de zonas de comércio livre – que consideramos infra, no CAPÍ-TULO 1 da II Parte – mas mesmo aí, caso haja draubaques, perderásignificado nos mercados de exportação.

62 Face ao relevo que lhes deu Viner e à importância que assu-miram na literatura posterior, dir-se-ia que as noções de criação decomércio e de desvio de comércio são de Viner, mas lhe foram mais im-putadas do que inicialmente assumidas.

En passant, refira-se que, sublinhando o carácter relativo danoção de criação de comércio, VINER escreveu: “this shift in the locusof production as between the two countries is a shift from a high--cost to a lower-cost point, a shift which the free-trader can properlyapprove, as at least a step in the right direction, even if universalfree trade would divert production to a source with still lower costs”(1950), p. 43. Itálicos nossos. Aqui, como em outras passagens de(1950) – veja-se o que referimos na nota 38 – o sentido literal daexpressão prevalece claramente, e parece ligar-se ao seu anterior usonão-técnico. Veja-se, vg. VINER (1924), p. 22.

63 O que, além de possível, pode ser conforme às regras doartº XXIV (5) a) e b) do GATT mesmo após aprovação do memo-rando sobre o entendimento desse artigo, integrado nos Acordos deMarraquexe – Diário da República, IªSérie A, de 27 de Dezembro de1994 – que se basta, nos termos da prática estabelecida, com umvalor médio não mais elevado do que o anterior. Este caso era negli-genciado porque se prescindia de considerar alterações pautais, de for-ma a isolar os efeitos decorrentes da formação da união aduaneira.Cfr. supra nota 44, in fine, e o que escreve no último ponto desteCapítulo.

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3.3. O caso da supressão de comércio

Ao lado destes efeitos devia ser considerado, porém,outro – e Viner também o indicou, se bem que unica-mente no contexto de economias de escala: o da supres-são de comércio.

Em sentido literal, esta poderia ocorrer quando:a) a procura de um certo bem deixar de existir no

mercado de, pelo menos, um dos membros da união, por-que o direito aduaneiro adoptado na pauta comum é sufi-cientemente elevado para a desmobilizar e não há produçãodesse bem no interior da união64. As importações (ante-riormente provenientes de um terceiro país) cessam, pordesaparecimento da procura;

b) as importações cessarem por causa do início da pro-dução interna65, induzida pela formação do agrupamentoregional, ou por mera expansão da produção interna, ti-rando partido do acréscimo de protecção conferido pelapauta exterior comum66 e da inexistência de concorrênciano espaço por ela protegido67;

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64 Ou, se a houver, ela é demasiado cara para suscitar comér-cio com esse mercado sendo absorvida a mais altos preços – aindaque inferiores à soma do direito aduaneiro da pauta exterior comumao preço internacional – no próprio mercado de produção.

65 Para que não haja qualquer efeito de desvio de comércio emsentido literal seria necessário que a procura antes satisfeita com impor-tações provenientes de um terceiro país o fosse agora, totalmente, comprodução interna – ou seja, que só houvesse procura onde passasse ahaver produção, já que, a havê-la também onde não surgisse pro-dução, parte da supressão de comércio corresponderia de facto a umdesvio de comércio, sob pena de sermos reconduzidos à situação ante-rior.

66 A esta substituição de produção de um país terceiro por pro-dução interna, decorrente de um aumento de produção devido aoalinhamento pautal com economias com direitos aduaneiros mais ele-

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c) a diminuição do direito aduaneiro incidente sobrea importação, num dos membros da união, do bem porele exportado fizer descer o preço deste no seu mercado:em certas circunstâncias68, as anteriores exportações destepaís podem diminuir para satisfazer o aumento de procurano seu mercado;

d) mesmo sem alterações pautais em face de tercei-ros, a alteração dos preços relativos internos (por desapa-recimento dos direitos aduaneiros sobre as importações dopaís parceiro e pelo ajuste da produção interna ao novo

vados dá-se a designação de “external trade diversion” ou “tradeerosion” [vg. PLUMMER (1991), p. 318]. – cfr. infra, nota 201. Umtal efeito tinha sido identificado já no século passado: veja-se, porexemplo, DE MOLINARI (1853).

67 Note-se que o aumento de mercado – por junção da procurado país parceiro não produtor – não poderia fundamentar um casode pura supressão de comércio. É que a haver procura em B, antestambém satisfeita com importação de C (como a de A), seguir-se-iaum desvio de comércio já que a produção de A substituiria as im-portações de C no mercado de B. Esta destrinça é importante paracomparar este efeito, em estado puro, com o de desvio de comércio.

68 Será, designadamente, o caso da existência de um monopóliona produção interna em que, face à insuficiência da procura interna,o monopolista decida fixar o preço de venda dos seus produtos nolimite do que lhe é consentido pela ameaça de concorrência externa(resultante da aplicação do direito aduaneiro ao preço internacional),produzindo quantidades adicionais para exportação até atingir a suaescala óptima de produção.

Face à diminuição do direito aduaneiro na pauta aduaneira co-mum, as exportações de A (ao preço internacional) podem deixar deser vantajosas para o seu monopolista, tendo em conta o aumento daprocura interna (induzido pela redução pautal) a um preço que exce-de o preço internacional pelo montante desse direito. [Supõe-se quea realização da união aduaneira não proporciona quaisquer possibili-dades de venda no mercado do(s) país(es) parceiro(s) – vg., porquese trata da produção de um bem não licenciado para esses mercadosou porque estes são auto-abastecidos].

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racemo de preços e às novas oportunidades dos mercadosalargados agora disponíveis), induzir a substituição das impor-tações por produção interna69.

Resta a questão do tratamento a conferir-lhe: na expo-sição vineriana, a supressão de comércio (associada ou nãoa desvio de comércio em sentido literal – uma vez que, admi-tindo economias de escala, a nova produção de B podia sermais eficiente do que a anterior produção de C que abas-tecia o mercado de A e, portanto, podia efectivamente tra-duzir-se em criação de comércio em sentido económico) ocorrequando anteriores importações de C são substituídas emA pela nova produção deste. Ora, adoptando um critérioeconómico de criação e desvio de comércio, um tal efeitoé-lhes necessariamente reconduzido70: ou há passagem de________________________

69 Tal como a definimos, só esta forma de supressão de comér-cio poderia estar presente numa zona de comércio livre. A primeirae a segunda por dependerem do aumento de protecção pautal, a ter-ceira por depender da sua diminuição seriam impossíveis sem a alte-ração das pautas aduaneiras face a terceiros países – que não são efeitoresultante da formação de uma zona de comércio livre. Caso depen-desse antes de um aumento de mercado – por junção de procuras(tornando viável ou mais atractiva a produção, ou expansão da pro-dução, interna) ou por junção de ofertas (o caso típico é o de A,exportador de x, praticar um preço mais elevado no seu mercadoque, face à concorrência potencial dos produtores do país parceirotem de ser diminuído, com a subsequente expansão da procura e trans-ferência para o mercado interno de parte da produção antes destina-da a exportação) – poderia resultar da formação de uma zona decomércio livre, mas estaria aí associada a um desvio de comércio (emsentido literal) e a criação ou desvio de comércio (em sentido eco-nómico).

70 Veremos adiante que a adopção de um critério económicopuro para definir os conceitos de criação e desvio de comércio exigea introdução de um tertium genus: a comutação de comércio, que estasituação também podia ilustrar, já que devido às economias de escalaem A, a produção de C que perde o mercado de A em benefício daprodução deste podia ser nem mais nem menos eficiente.

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produtores (externos) mais eficientes para produtores(de A) menos eficientes – que lhes conquistam o seu pró-prio mercado por causa da preferência que a pauta exte-rior comum lhes garante –, ou os produtores de A, graçasàs economias de escala, conseguem ser mesmo mais eficien-tes do que os produtores de C que antes abasteciam oseu mercado. Mesmo que Viner tivesse tido em vista for-mular uma taxonomia fundada num critério económico, com-preende-se que, tendo adoptado a expressão “criação decomércio” para designar alterações de produção no sentidode maior eficiência, hesitasse em classificar desse modo esteúltimo caso: é que os sentidos económico e literal da expres-são adoptada opõem-se – a criação de comércio (em sentidoeconómico) é supressão de comércio (em sentido literal).

Assim, passando em revista as diferentes situações emque, em sentido literal, identificámos a existência de supres-são de comércio, verificamos que: o primeiro caso envolvepura supressão de comércio, já que no país cujo direitoaduaneiro se torna proibitivo a subida do preço provoca aextinção da procura. Ao contrário do que sucede nos outrostrês casos, não há neste efeito dimensão económica – nosentido de passagem de uma fonte menos ou mais carapara outra: há uma pura cessação do comércio; o segundocaso envolve também um desaparecimento do comérciocom um país terceiro, mas agora em benefício de um pro-dutor interno. Equivale efectivamente ao sentido econó-mico do desvio de comércio: passagem de um produtormais eficiente para um outro menos eficiente. No entantofaz-se em benefício de um produtor interno (e não dopaís parceiro) e envolve o desaparecimento de comércio.Portanto, não se coaduna com o sentido literal de “desviode comércio”; no terceiro caso, a cessação total ou parcialdas exportações de um dos países da união é um efeitoda abertura do seu mercado a importações provenientesde terceiros países, decorrentes da diminuição do seu ante-

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rior direito aduaneiro pela pauta exterior comum. Dimi-nuindo os preços no seu mercado, aumenta a capacidadede absorção interna dos volumes produzidos internamentee a exportação pode deixar de ser aliciante. Como se tratade uma mera reorientação da produção, não há alteraçõesna eficiência produtiva: não há desvio nem criação decomércio, em sentido económico: há mera comutação demercados (de comércio). O quarto caso é plurifacetado:tanto pode implicar uma forma especial de criação decomércio como um efeito reflexo de um desvio de comér-cio típico.

De facto:– Se considerarmos a existência de direitos aduanei-

ros sobre matérias-primas ou produtos intermediários, tere-mos em sentido económico criação de comércio ou, nocaso de não se adoptar a sua definição económica, de supres-são de comércio eficiente: após a formação da união olivre acesso dos produtores internos aos inputs com ori-gem na área pode permitir-lhes baixar os preços dos pro-dutos finais e substituir as importações destes produtos71.Assim, teremos a passagem de um produtor menos eficiente

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71 PARK/YOO (1989), pp. 143-144. Os autores sublinham queeste conceito se afasta do de Viner em dois pontos: dispensa as eco-nomias de escala e os efeitos relevantes são indirectos. A redução pautalocorre num certo tipo de bens, os efeitos noutros. “In fact, the tradesupression effect is expected to be a common place phenomenon forall goods that require intermediate inputs of tariff-removed goods intheir production”, acrescentam (p. 144).

72 Só a substituição de importações no seu próprio mercadocabe na previsão literal de “supressão”: onde haja alteração de forne-cedor de importações não é necessário este conceito porque ou seidentifica criação ou desvio de comércio. Supressão só há, portanto,quando os bens anteriormente importados deixam de o ser porquedeixam de ser adquiridos – e esta, sim, é a única situação que exigeuma tal noção – ou porque passam a sê-lo a um produtor interno –

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para um outro mais eficiente quando as importações supri-midas vinham de um país parceiro. Quando vinham de umterceiro país não há, a priori, meio de apurar se a subs-tituição de importações do país terceiro por produçãointerna se não ficou a dever apenas à margem de prefe-rência conferida pelo direito aduaneiro sobre o bem finalque os produtores dos terceiros países têm de pagar paravender no mercado do país em causa.

– Se considerarmos a existências de economias deescala, o resultado último pode ser eficiente, mas ocorre areboque de um desvio de comércio puro: graças à aber-tura do mercado do país (ou países) parceiro(s) o volumede produção pode crescer, tornar possíveis custos médiosmais baixos e, consequentemente, permitir a substituiçãode produtores de terceiros países (e eventualmente de paí-ses parceiros), no seu mercado72. Atendendo a que o pro-dutor interno já gozava de uma margem de preferênciano seu mercado (vamos supor que a pauta exterior co-mum se fixa ao mesmo nível para isentar a análise de com-plicações adicionais) algo tem de mudar para que um paísque era importador se torne exportador73. O que mudasão os custos de produção com a alteração da sua escala.Graças às economias de escala passa a ser possível substi-tuir, nos mercados dos países parceiros e no seu, os pro-dutores de terceiros países, o que acontecerá quando o

mas então é preferível, apesar do paradoxo literal, reconduzi-lo a cria-ção ou desvio de comércio.

73 Ser exportador é aqui condição de obtenção de economiasde escala. Ter sido importador é condição para se verificar a supres-são de comércio. A passagem de importador a exportador não podeser consequência de uma alteração no nível da pauta internamenteaplicável, sob pena de sermos reconduzidos à segunda situação atrásfigurada (expansão da produção devida a aumento da protecção adua-neira).

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preço de venda do produtor interno se situar abaixo dopreço internacional mais o direito aduaneiro cobrado pelaunião. Há, portanto, uma melhoria na eficiência da pro-dução interna, mas fica em aberto a questão de saber seela vai ao ponto de suplantar a do anterior fornecedor dobem, já que este continua a ter de pagar um direito adua-neiro. Se o produtor substituído for da união, não haverádúvidas de que a supressão de comércio corresponderá,economicamente, à criação de comércio – mas então, emvez de termos um desvio de comércio com supressão decomércio, como no texto de Viner74, teremos criação decomércio com supressão de comércio – i.e.: teremos subs-tituição de produção local no mercado do país parceiro(B), por produção oriunda do país que tomou a dianteira,na união, na obtenção de economias de escala (A); namedida em que estejamos a configurar um caso de supres-são de comércio, é natural que se B exportava para A,também abastecesse o seu próprio mercado75. Mercê daseconomias de escala, a conquista do mercado de B pelosprodutores de A é conquista à produção local e, neces-sariamente, criação de comércio (tanto em sentido econó-mico como literal). Mas se se ganha o mercado nacionaldo outro produtor (B), ganha-se obviamente o própriomercado (de A) a esse outro produtor, pelo que a criaçãode comércio se associa à supressão de comércio, tendo

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74 Citado na p. 10.75 A menos que gozasse de uma preferência no acesso ao mer-

cado de A – não disponível para C – e que o preço de A fossesuperior ao seu preço interno. Nesse caso, correspondente a um em-brião de zona de comércio livre entre A e B, verificar-se-ia deflexãoindirecta de comércio (os produtores de B abandonariam as vendasno seu próprio mercado, que passaria a ser abastecido por C, paravenderem toda a sua produção em A). Sobre este efeito, cfr. infra,CAPÍTULO 1, II Parte.

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ambas o mesmo significado económico: substituição de pro-dução menos eficiente por produção mais eficiente.

Resumindo: salvo no caso simétrico da “terceira pos-sibilidade” vineriana (redução da procura por aumento daprotecção pautal) a supressão de comércio não é um efei-to mas sim um desfecho que pode ter vários significadoseconómicos76. A supressão de comércio tanto pode cor-responder economicamente ao desvio como à criação decomércio (ou seja, tanto pode implicar a passagem paraum produtor interno menos eficiente como mais eficiente),como a um empate [ou seja, à passagem para um produ-tor interno igualmente eficiente: esta sim, uma terceira pos-sibilidade, necessária entre a criação (que melhora a eficiên-cia) e o desvio de comércio (que a piora) e que podemosdesignar por comutação de comércio], como não ter uma tra-dução a este nível (que era a situação figurada por Viner).Assim sendo, é preferível utilizar a expressão como descritor(sentido literal), esclarecendo sempre o seu sentido econó-mico no caso em apreço.

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76 Aliás, seria ainda possível considerar como supressão de co-mércio uma situação distinta. Nos casos até aqui considerados, a raizda supressão de comércio está nas alterações das condições de procu-ra do país de destino das exportações (dissuasão da procura pela PEC),ou alterações nas condições de oferta do país produtor (substituiçãode importações por produção interna, seja por início de produçãoinduzida pelas novas oportunidades de um maior mercado, seja peladiminuição de custos resultante de economias de escala). No entanto,podem configurar-se casos de supressão de comércio por aumento daprocura no país produtor, suprimindo-se as exportações não por alte-rações nas condições do mercado de destino mas por alteração nascondições no mercado de origem. Naturalmente, estas deveriam resultarda formação da união aduaneira, mas também isso é possível. (Pense--se no caso de protecção aduaneira ao bem exportado que, impe-dindo a importação, permitia lucros anormais no mercado interno –eventualmente como forma de subsidiar o dumping no mercadoexterno. Se uma união aduaneira diminuir essa protecção face a ter-

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3.4. O contexto de aplicação

Uma vez que toda a análise é implicitamente condu-zida na perspectiva do país A (o “home country”), a cria-ção de comércio corresponde a um efeito de produção em Ae B ( na lógica tradicional, é um produtor de A que é sa-crificado em benefício de um produtor de B), mas o desviode comércio corresponde a um efeito de produção em B eC, de que A é um mero palco (na lógica tradicional, éum produtor de C que é sacrificado em benefício de umprodutor de B). Ou seja: A é um sujeito passivo das mudançasna produção77 – é B que, num caso e noutro, vai ser o seusujeito activo (substituindo os produtores de A, ou os pro-dutores de C, no mercado de A)78. Nesta medida, a pas-

ceiros – ou o país parceiro for produtor do mesmo bem – o preçointerno tem de descer. Aumentando as quantidades procuradas inter-namente, a decisão racional para o produtor pode ser o abandonodo mercado de exportação para satisfazer o mercado interno – aindaque um tal desfecho pareça paradoxal por a oferta interna aumentarcom a diminuição do preço).

77 Embora – curiosamente, já que a análise vineriana falhavano tratamento dos efeitos de consumo – seja em A que se monito-rizam os efeitos de consumo: quer os associados ao efeito de produ-ção em que os produtores de A intervêem (a criação de comércio),quer os associados ao efeito de produção em que os produtores deA não intervêem (o desvio de comércio). Note-se que se este últimoefeito provocar uma descida de preços em A e, portanto – caso hajaprodução interna em A –, uma diminuição da produção interna deA já não será desvio de comércio, mas sim criação de comércio – oque não é dizer que se deva ter como criação de comércio o efeitode consumo que está associado a essa descida de preço.

78 É possível demonstrar que a utilização das designações de cria-ção e desvio de comércio se faz por vezes para referir o lado passivodos efeitos (“Consider a three country world forming a hub and spokesystem, with country 1 as the hub. This arrangement may lead totrade diversion for countries 2 and 3, but not for 1.”), outras vezes

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sagem de um universo de dois bens (ou mesmo de três bens,como nalgumas análises) para o universo real – que é o que,para os mesmos conceitos (ainda que adaptados), releva nastentativas de medição empírica – obriga a considerar simul-taneamente os efeitos A (que são os que são correntemente

o seu lado activo (“[Preferences] create trade by enabling the prefe-rence-receiving producers to compete more effectively with domesticproducers” [...]) e outras, ainda, algo ambíguo que tanto pode ser oseu lado passivo, como o seu lado activo (“If the example is extendedto allow for more countries to be linked to the hub, each new spokewill lead to more trade creation for the hub”.) Duas citações foramtiradas de BALDWIN/VENABLES (1995), p. 1636 – a primeira, que sig-nifica que o país 1 pode substituir produtores do país 2 no país 3 edo país 3 no país 2 mas no seu mercado não podem os produtores do país2 substituir os do país 3, nem os do país 3 substituir os do país 2 (e porisso é claramente definida pelo lado passivo), e a terceira, que tantopode significar que, à medida que o país 1 aumenta o número deparceiros comerciais aumenta as suas exportações para estes, à custados respectivos produtores internos (o que, sendo, de longe, o sen-tido lógico, é oposto ao anterior – é definido pelo lado activo – e nãoqueremos afirmar, porque o período é imediatamente contíguo aosdois anteriormente citados, que adoptam a perspectiva inversa), comopode significar que, à medida que o país 1 aumenta o número deparceiros comerciais, aumenta as suas importações destes à custa dosseus próprios produtores internos (embora, sublinhando o lado pas-sivo, evitasse a inadvertida mudança de perspectiva de um períodopara o seguinte, é uma interpretação forçada: é que o efeito cumula-tivo da junção de novos parceiros comerciais facilmente esgotaria aspossibilidades de cada novo parceiro substituir produtores internos,ainda não afastados do mercado do país que participa em todos essesacordos (hub) pelos seus anteriores parceiros. Mas a possibilidade deos seus produtores (do “hub country”) substituírem os produtoresinternos de cada novo país parceiro nunca seria limitada pelos ante-riores acordos comerciais já celebrados, uma vez que estes são paraeles res inter allius).

A outra citação é de Johnson (1966b), p. 257.Entre nós, vejam-se Porto (1997), p. 262, e Cunha (1995),

pp. 150-151.

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empregues na análise: alterações de produção em A, alte-rações de consumo em A, alterações de receitas aduanei-ras em A, alterações no excedente dos consumidores e noexcedente dos produtores em A, alterações na distorçãono consumo e na produção em A) e os efeitos B79 (ouseja: os efeitos em que, justamente porque A é passivo, Bé activo – substituição dos produtores de A e de C no mer-cado de A) tanto no país A como no país B. É que paraum certo conjunto de produtos, A há-de assumir em re-lação a B o mesmo tipo de posições que B assume emrelação a A quando se analisam, no mercado deste, asconsequências da formação de um movimento deintegração.

Esta evidência não tem sido suficientemente explici-tada80, embora esteja subjacente à ideia de troca de mer-cados invocada para restabelecer a superioridade de ummovimento de integração em relação a uma redução pautalunilateral81.________________________

79 Uma representação diagramática, em paralelo, dos efeitos A,dos efeitos B e dos efeitos C foi apresentada por TOVIAS no Appendixa (1977). Cfr. CUNHA (1995) pp. 125-145.

80 Collier (1979), p. 92, ao referir-se ao desvio de exportações deB, que constituiria o reverso do desvio de importações de A estava acompletar a descrição dos efeitos vistos a partir de A com os efeitosvistos a partir de B. Porém, isso implicaria considerar não apenas oreverso do desvio de importações de A mas o reverso de todos os efeitos Aem que B intervém. Ora, do ponto de vista de B, desvio de comércioe criação de comércio (em A) são semelhantes.

Sobre as propostas de COLLIER (1979), cfr. infra CAPÍTULO 3.Sobre a insuficiente explicitação desta alteração de perspectiva,

além do próprio Collier (loc. cit.) ver agora PANAGARIYA (1996) –cfr. infra, CAPÍTULO 4, § 2, D.

81 Sobre a tese da superioridade de uma redução pautal unila-teral em relação aos movimentos de integração e a subsequente dis-cussão, ver infra, CAPÍTULO 4. Para uma clara formulação da trocade mercados como justificação da integração, ver TRIFFIN (1960),p. 256, e o que sobre ele se escreve, infra, nota 258.

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A análise, simultânea, dos efeitos A e dos efeitos B (quejá vimos que podíamos encontrar, para bens diferentes, emambos82 os países que formam o agrupamento económicoem causa), depara-se com algumas dificuldades quando setenta conciliar com um dos pressupostos fixados por Viner(1950):

(...) to separate the problem of customs unionper se from the question of whether in practicecustoms unions would result in a higher or lower“average level” of duties* on imports into the customsunion area from outside the area, it will be assumedthat the average level of duties on imports fromoutside the customs area is precisely the same for thetwo countries, computed as it would be if they hadnot formed the customs union. (p. 42).

Por um lado, se admitirmos que os direitos aduaneirosnos dois países são, antes da formação da união, diferen-tes, então os efeitos resultantes da integração não são puros,uma vez que, no estabelecimento da pauta aduaneiracomum, haverá um país em que os preços dos bens sobeme outro em que descem83 por efeito da alteração pautal.________________________

82 Se se trata de um movimento de integração entre A e B, Aserá passivo em relação à criação e desvio de comércio em certosbens (sendo B activo, no sentido de que são os seus produtores quevão substituir quer os de A, quer os de C) e será activo noutros(sendo então B que regista os correspondentes efeitos de consumo eredução de receitas, perde produção interna e diminui – ou suprime– as importações de C).

* Nota suprimida. Note-se, porém, que a manutenção do“nível médio de direitos” é irrelevante como forma de neutralizar osefeitos de alterações pautais, a menos que resulte da manutenção detodos e cada um dos anteriores direitos de A e B – ou seja, da for-mação de uma união aduaneira por países que já antes tinham pautasaduaneiras iguais (cfr. supra, nota 44).

83 Se admitirmos que há importações em cada um, ou que cada

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Por outro lado, se admitirmos que os direitos aduanei-ros dos dois países são rigorosamente iguais – resultandodaí uma total neutralidade na formação da pauta aduaneiracomum – não se compreendem as alterações no destinoda produção caso esta ocorra com custos de produção cres-centes: os produtores de B poderiam substituir os produ-tores de C no mercado de A, agora que têm livre acessoa este. Porém, já tendo equiparado, no seu mercado, ocusto marginal ao preço interno (resultante da aplicaçãodo seu direito aduaneiro – igual ao da união – não podemproduzir mais, nem têm nenhum interesse em exportar parao seu parceiro, deixando de vender no mercado interno);e também não poderiam substituir os produtores de A nomercado destes, se acaso os há: se, também eles, estive-rem a produzir no ponto em que os seus custos marginaissão iguais ao preço interno, os produtores de B não terãovantagem alguma sobre eles84.

um adoptava um direito aduaneiro made to measure (isto é, um direi-to aduaneiro exactamente determinado para reservar todo o mercadointerno para os produtores internos sem lhes permitir lucros anor-mais) o preço interno será determinado pela aplicação dos direitosaduaneiros aos preços internacionais. Se houver “água” no imposto[cfr. PORTO (1997), p. 139] a oscilação dos direitos aduaneiros podenão se repercutir nos preços internos – mas repercutir-se-á se estesbaixarem até ao ponto em que bens importados de países terceirossejam vendidos no mercado interno abaixo do anterior preço de equi-líbrio, e se a produção do país parceiro não for transferível para estemercado em quantidades suficientes para dispensar tais importações.

Note-se que, a menos que neutralizemos todos os efeitos espe-cificamente resultantes da formação da pauta aduaneira comum, a equi-paração entre efeitos resultantes de uma zona de comércio livre euma união aduaneira é ilegítima.

84 Aliás, com custos crescentes, as vantagens de um ou outroprodutor deixam de ser óbvias por, tirando extremos de eficiência ede ineficiência, todos poderem produzir no intervalo relevante.

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Com custos de produção crescentes, são possíveis, por-tanto, duas situações em que se preenchem os requisitos:

1. Ainda que os direitos aduaneiros aplicáveis em Ae em B sejam inicialmente iguais – de modo a que a for-mação da união não resulte em aumento ou diminuiçãoda protecção conferida aos produtores internos de cada umdos países participantes – os seus preços internos devemser inicialmente diferentes, de modo a que a produção deum deles possa aumentar para fornecer o mercado dooutro, mantendo o fornecimento ao seu próprio mercadoapenas na medida em que o preço aí conseguido for igualao que se estabelece no país parceiro. Isso supõe que empelo menos um dos países haja “água” no imposto (Figura1.4 a e b):

tua= tA= tBQA1e QB1 – consumo e produção na situação pré-união em A e B, res-

pectivamenteQA2 e qB2 – consumo em A e em B, respectivamente, após a uniãoqA2 e QB2 – produção em A e em B, respectivamente, após a uniãoProw+tA – preço de equilíbrio em A, pré-uniãoPe – preço de equilíbrio em B, pré-uniãoPua – preço de equilíbrio na união (qB2 QB2 = qA2 QA2).

Figura 1.4 a Figura 1.4 b

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Note-se que a consideração dos efeitos B revela umefeito negativo de consumo associado à criação de comércio (a pas-sagem do consumo de QB1 para qB2 no país B85).

2. Ainda que os direitos aduaneiros de A e B sejaminicialmente diferentes – de modo a que num dos paísesa protecção aduaneira desça e na do outro suba em resul-tado da fixação de uma pauta aduaneira comum intermédia– a análise da formação de uma união aduaneira será intei-ramente idêntica à da de uma zona de comércio livre (namedida em que será inteiramente imputável aos efeitos deintegração e rigorosamente nada à alteração pautal num ounoutro país) quando a pauta aduaneira comum for redun-dante, por a oferta interna da união ser superior à sua pro-cura, ao preço interno determinado por aplicação dessapauta aos preços internacionais86 – ou, no limite, quandoo preço que resulta da sua aplicação aos preços interna-cionais for idêntico ao preço de equilíbrio entre a procurae a oferta da união87.

Outra dificuldade resulta, já não da obediência aosrequisitos estabelecidos por Viner na sua análise, ou nelaimplícitos, mas sim da tentativa de prescindir deles. Assim,

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85 Esse mesmo efeito pode ver-se, por exemplo, no diagramada Figura III. B de PORTO (1997), p. 261, e na Figura 2.1. deROBSON (1985), p. 33, embora, num caso e noutro, os direitos adua-neiros inicialmente cobrados fossem diferentes. Com custos de pro-dução crescentes no país activo (na criação de comércio, ou no des-vio de comércio) haverá retracção de consumo no seu mercado.

86 É a situação figurada por ROBSON (1985), p. 32.87 Em qualquer dos casos, as importações provenientes de ter-

ceiros países devem cessar. Quando assim não seja, os efeitos resul-tantes da integração não consomem os decorrentes do ajustamentopautal.

Note-se que, justamente porque ilude o acompanhamento dosefeitos B, a literatura se basta com a inalterabilidade do direito adua-neiro do “home country”: HINE (1994), p. 237.

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quando substituímos o pressuposto dos custos constantes deprodução por custos crescentes, são necessários alguns escla-recimentos: se é certo que perante curvas de oferta de elas-ticidade infinita o diagnóstico da maior ou menor eficiên-cia é inequívoco e imediato, diferentes curvas de custospositivamente inclinadas colocam a questão de saber comodeterminar a eficiência relativa. Parece óbvio que isso nãopode ser feito pelo custo marginal, porque este estaráparificado com o preço nos vários mercados concorrenciaise este dependerá tanto das condições de produção comoda procura e, ou, da protecção pautal conferida. Por outrolado, atender ao custo médio também não parece adequadoporque este é consequência do volume de produção e esteé, num mercado concorrencial, determinado pela parificaçãoentre custo marginal e preço: diferentes preços nos dife-rentes mercados determinam diferentes custos médios semse poder concluir inequivocamente qual o produtor maiseficiente. Atender ao custo médio mínimo que os produ-tores podem lograr também é mistificador: a empresa como menor custo médio só seria a mais eficiente se todaselas produzissem as mesmas quantidades, já que é possívelque duas ou mais empresas consigam obter o mesmo customédio mínimo quando produzem diferentes quantidades (seo mesmo custo unitário é conseguido na empresa x quandose produzem 1000 unidades e na empresa y quando se pro-duzem 100 000, são elas igualmente eficientes? De facto,uma ou outra podem ser singularmente ineficientes faceao custo médio potencial que poderiam obter). Parece quea única solução será atender ao preço praticado por cadaempresa, presumindo-se que as mais eficientes praticarãoos preços mais baixos88. Qualquer estimativa de custos alter-nativa à que é revelada pelo mercado implicaria, como se________________________

88 Sublinhando que o desvio de comércio só tem consistênciaeconómica com custos constantes, veja-se COLLIER (1979), p. 91.

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viu supra (nota 61), aferir continuamente os efeitos econó-micos reais pelos (hipotéticos) efeitos potenciais, transfe-rindo para o domínio da metafísica a validação dos resul-tados empíricos.

Pode admitir-se que a dificuldade em fazer compara-ções de eficiência entre empresas que se adaptam a dife-rentes condições de mercado tenha limitado a utilizaçãodo sentido económico das noções de criação e desvio decomércio. Em todo o caso, tendo os factores de produçãocustos diferentes nas diferentes economias, também se podeduvidar que as comparações de eficiência (alocativa ou pro-dutiva) entre elas sejam muito significativas, mesmo se ascurvas de oferta não forem positivamente inclinadas. E, doponto de vista da estática comparativa, é possível, semdúvida, calcular os custos médios de cada produtor antese depois do movimento de integração: é quanto basta paratal sentido poder ser útil. E com bens homogéneos nemisso seria preciso: dentro do agrupamento regional haveriade presumir-se mais eficiente o produtor que ganhasse quotade mercado aos restantes produtores desse agrupamento.

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CAPÍTULO 2

A evolução na continuidade

“Review of the troops”

[Título do Capítulo 4 de History of Economic Analysis deJoseph A. Schumpeter (1954). Reimpressão de 1994(Routledge, London, p. 463)]

“As Schumpeter would say, let us now turn toreview the troops.”

Paul A. Samuelson, The way of an economist(Presidential Adress)International Economic Relations – Proceedings of thethird Congress of the International EconomicAssociation, edited by Paul A. Samuelson,MacMillan/London – St. Martin’s Press//New York, 1969, p. 4.

O destino de todas as ideias simples é tornarem-secomplexas, e o insight vineriano da dupla face dos movi-mentos de integração não foi excepção. A entropia nega-tiva das teorias tomou o seu curso e a teoria vinerianaexpandiu-se de forma rápida89, por aditamentos sucessivos(efeitos de consumo, efeitos sobre os termos de troca) epor mutações na forma de representação: inicialmente atra-vés do uso de curvas da oferta e da procura – “which

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89 Em (1968), p. viii, CAVES/JOHNSON, ainda se referiam a uma“large and fast-growing literature”.

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have almost always been the initial source of insights intothe subject.”90 –, e depois através das “geometricaltechniques of two-commodity space: indiference curves,production and consumption possibility frontiers and offercurves”91, ao ponto de ter de se advertir que “the impres-sion that the two-commodity general equilibrium modeland the demand and supply curve analysis of customsunions necessarily represent different theories is mistaken”92.

As mutações do quadro de análise atingiram um limitena viragem da década de sessenta, mais ou menos namesma altura em que cessou a expansão da teoria a novosdomínios93. A afirmação da superioridade de uma reduçãopautal unilateral sobre a formação de espaços de integra-ção94 minava já os fundamentos da teoria, que os resulta-dos das tentativas de medição empírica também ameaçavampor duas vias: porque os seus conceitos requeriam adapta-________________________

90 A.J. JONES (1979), p. 193.91 A.J. JONES (1980), p. 72. No essencial, é uma reedição de

(1979).As potencialidades de representação utilizando estas técnicas

ficam exemplificadas com o tratamento que VANEK (1965) concedeuaos efeitos sobre os termos de troca. Por outro lado, como notouA.J. JONES (1979), p. 193 [e (1980), p. 72], o emprego das técnicasde equilíbrio geral está na origem do “notable red-hering” da dis-cussão dos ganhos decorrentes das “so called “trade-diverting” customsunions” de que se fala a seguir no texto.

92 JONES (1979), p. 194, e (1980), p. 72.93 POMFRET (1986), p. 448, põe o ponto de inflexão em 1965,

data, designadamente, da crucial obra de Vanek, e do primeiro cismana teoria: o provocado por Cooper/Massell e Johnson. Porém, a publi-cação da tese de LIPSEY (1970) – posto que remontando a 1957 –permite aproximar o limite das transformações nos métodos de aná-lise do limite da expansão da teoria a novas áreas – marcado pelocontributo de CORDEN (1972b) para incorporar nela a consideraçãodas economias de escala.

94 Atribuída a COOPER/MASSELL (1965b) e que será consideradaadiante, CAPÍTULO 4.

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ção para serem mensuráveis95 e porque os resultados obti-dos eram desproporcionados em relação à atenção teóricaque suscitavam96.

No presente Capítulo abordaremos os contributos maisrelevantes para o crescimento da teoria das uniões aduanei-ras por adição de novas áreas: efeitos de consumo – com assuas sequelas: primeiro, uma (não-resolvida) discussão so-bre os efeitos potencialmente benéficos de movimentos deintegração essencialmente “trade diverting” (que nasceu dapossível divergência entre efeitos negativos de produção eefeitos positivos de consumo) e depois, até para tentar pôrcobro a tal discussão, uma por vezes mal interpretada pro-posta de recondução desses efeitos positivos de consumo ànoção de criação de comércio –, efeitos nos termos de trocae economias de escala, onde, apesar da sofisticação formalda análise, os resultados obtidos estão longe de satisfatórios.

§ 1. Efeitos de consumo

O primeiro autor a abordar os efeitos de consumono contexto da teoria das uniões aduaneiras foi MEADE

(1955), mas a sua abordagem taxonómica97 acabou por osdissolver num conjunto de efeitos primários, secundários eterciários, razão pela qual o seu contributo será considera-do no capítulo seguinte98.

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95 Vejam-se as propostas de DAYAL/DAYAL (1977), expostas nocapítulo seguinte e as referências que aí se fazem a outros ajustamen-tos conceituais impostos pelas condições de medição.

96 KRAUSS (1972), pp. 430 ss. Em (1976), p. 93, WAELBROECK

escreveu: “The welfare significance of the EEC appears less than thatof the Concorde aeroplane.”

97 LIPSEY (1960), p. 504.98 A tendência para afastar Meade do palco quando se mencio-

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A verdade, estabelecida por LIPSEY no seu survey de(1960), p. 501, é a de que “a importância deste efeito desubstituição no consumo parece ter sido descoberta inde-pendentemente por, pelo menos, três pessoas” (Meade,Gehrels e ele). Consideramos aqui os contributos dessesoutros dois autores (Gehrels e Lipsey), a Iª Grande Discus-são no domínio da teoria das uniões aduaneiras que nas-ceu das diferentes possibilidades de articulação dos efeitosde consumo com os efeitos vinerianos (embora tenha depoisincorporado outros argumentos) e, finalmente, a sugestãode Johnson99 para lhe pôr termo, acoplando os efeitos deconsumo aos efeitos de produção – o que, supostamente,teria a virtualidade de evitar “the non-problem of thetrade-diverting customs union that results in welfare impro-vement” [KRAUSS (1972), p. 414].

A) GEHRELS

GEHRELS publicou em 1956 um artigo em que pro-curou demonstrar que a apreciação das uniões aduaneirasà luz apenas dos efeitos de produção, tal como feito porViner, não revelava por inteiro as suas virtualidades100: é

nam os efeitos de consumo [vg: KRAUSS (1972), p. 415; GUNTER

(1989), pp. 3-5; MOORE (1994), p. 64 – que, aliás, imputa só a Lipseyessa inovação] pode talvez fundar-se, além do que se diz no texto,na utilização, por Meade, da expressão “expansão de comércio”, emvez de “efeitos de consumo” e no facto de não ter utilizado umarepresentação geométrica. Mas pode também estar no próprio surveyde Lipsey: quando trata o assunto na p. 504 refere-se apenas à aná-lise que o levara – e a Gehrels – à distinção entre efeitos de con-sumo e de produção. A referência anterior a Meade (p. 501) podepassar despercebida.

99 Sendo embora (1960) o artigo original, a versão que utiliza-mos é a de (1962), que incorpora alterações.

100 Como LIPSEY (1957b) mostrou depois, os efeitos de consumonão funcionam sempre no sentido de aumentar o bem-estar, ao con-

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que ao lado desses efeitos era necessário ter também emconta os efeitos de consumo, decorrentes do abaixamentode preços no mercado interno dos bens ora importados.

Para demonstrar esses efeitos, Gehrels estabelece umcerto número de postulados simplificadores que enformama representação diagramática de uma situação de desvio decomércio101:

1 – Os países considerados têm pautas aduaneiras sim-ples, ad valorem.

2 – Só há dois bens, y e x, produzidos em condi-ções de concorrência perfeita e de custos constantes, deforma que o preço é igual ao custo médio.

3 – O país A não tem influência sobre o preço rela-tivo de y e x quer antes quer depois da união aduaneira102.

4 – Não há nem custos de transporte, nem emprés-timos externos.

trário do que Gehrels parecia supor, por considerar apenas dois bensno seu modelo. VANEK (1965), p. 13 e Appendix, demonstrou que amesma conclusão podia ser obtida a partir de uma representação deequilíbrio geral de dois países e de dois bens.

LIPSEY já desenvolvera a ratio do argumento em (1957a), p. 44,nota 1, e dera dele conta em LIPSEY/LANCASTER (1956), Section V.Também o mesmo parecia implícito na análise de MEADE (1955a),cap. III.

101 Os postulados valem também para o caso de criação de comér-cio, mas este não chega a ser representado diagramaticamente porquea argumentação verbal dá-lhe suficiente suporte: o país A ao anulara sua protecção aduaneira contra o país B passa, por um lado, a abas-tecer-se de um volume idêntico ao da produção interna, a um custo infe-rior; por outro, passa a consumir uma quantidade superior desse bem,devido à diminuição do seu preço. GEHRELS escreve: “A segunda ac-ção traz um ganho que deve ser adicionado ao primeiro para se teruma correcta apreciação da melhor posição de A.” (1956), p. 64.

102 Gehrels estabelece isso admitindo que um dos países quecomercia com A produz simultaneamente y e x, de forma que a modi-ficação da procura em A só altera a proporção de recursos afecta àprodução de y e x sem alterar os seus preços relativos.

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5 – O stock de capital é constante e indestrutível etodo o rendimento é gasto em consumo.

6 – Não há custos de governo, de modo que a co-brança de direitos aduaneiros visa apenas propósitos deregulação, sendo as suas receitas utilizadas para adequar opadrão de distribuição de rendimento ao desejado: assim,o rendimento disponível excede o rendimento dos facto-res de produção pelo montante dos direitos aduaneiroscobrados.

7 – Todos os indivíduos têm mapas de indiferençaiguais e imutáveis antes e depois da constituição da união.(O padrão de distribuição do rendimento mantém-se está-vel através de impostos e subsídios apropriados). Destemodo, adicionando os pontos de igual declive das curvasde indiferença individuais obtêm-se curvas de indiferençacolectivas.

8 – O nível de satisfação de cada consumidor é inde-pendente do consumo dos outros.

A situação pré- e pós-união aduaneira do país A é arepresentada na Figura 2.1 [reproduzida de (1956), p. 62].

– O rendimento nacional de A é medido em unida-des de y que é o bem em cuja produção se especializa OL.

– Os termos de troca antes da união são os dadospor α

1 que é também o preço relativo de y e x no país

não especializado.– O preço relativo de y e x no mercado de A é

dado por α2 e o seu maior declive resulta da junção dodireito aduaneiro sobre x ao preço relativo de y e x nomercado interno do país não especializado (e também nomercado internacional).

– O rendimento disponível dos consumidores é OM,superior a OL pelo montante dos direitos aduaneiroscobrados.

Segundo Gehrels a tangência da linha de preços in-terna (ancorada no ponto M) com uma curva de indife-

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rença, determinará o ponto de equilíbrio no consumo103.No caso, o ponto T, onde se consome Oy1 de y e Ox1

de x (cedendo Ly1 em troca de Ox1). O ponto T’, que

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103 LIPSEY (1957b), p. 211, nota 4, contestou este procedimentocom o argumento de que a linha interna de preços não pode ser“ancorada” no eixo vertical enquanto a posição de equilíbrio não fordeterminada. “Geometricamente, o equilíbrio é encontrado mantendoconstante o declive de α2 enquanto se faz deslizar a linha ao longodo diagrama até ao ponto em que uma curva de indiferença lhe étangente coincida com um ponto na linha α1, que está ancorada emL. Quando esta posição é encontrada a linha α2 pode ser prolongada

Figura 2.1

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corresponderia à situação de comércio livre com o forne-cedor x, permitiria atingir uma curva de indiferença maiselevada.

α3 marca a razão de preços no interior da união. Estáancorada em L porque deixou de haver cobrança de direi-tos aduaneiros, equiparando-se, portanto, o rendimentodistribuído pelo mercado e o rendimento disponível.O ponto T’’ marca o ponto de tangência entre o ráciode preços y e x e a mais alta curva de indiferença socialde A e representa uma melhoria em relação à situação T.As exportações aumentam de Ly1 para Ly2 e as importa-ções de Ox1 para Ox2.

Gehrels formulou duas condições que maximizam apossibilidade de resultarem ganhos de uma união aduaneiraque provoque desvios de comércio:

a) que o rácio de preços no interior da união se apro-xime o mais possível do rácio de preços de importaçãoanterior à sua constituição (quanto mais próximo estiverα3 de α1 maior será a probabilidade de com a formaçãoda união aduaneira, se atingir uma mais elevada curva deindiferença social);

b) que o direito aduaneiro inicialmente imposto sobreas importações substituídas por produtos provenientes dointerior da união seja o mais alto possível (quanto maiselevado for, mais afastada de α1 estará α2 e maior será apossibilidade de, com a formação da união aduaneira, sealcançar uma curva de indiferença social mais elevada).

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até ao eixo dos yy e o ponto M (e portanto a receita aduaneiraLM) determinado”.

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B) LIPSEY

Em (1957a) LIPSEY demonstrou diagramaticamente quea consideração de efeitos de consumo ao lado dos efeitosde produção podia levar a alterar as conclusões extraídasunicamente com base nestes e que a ligação, feita porViner, da criação de comércio aos efeitos positivos e dodesvio de comércio aos efeitos negativos das uniões adua-neiras, era insuficiente para sustentar conclusões sobre oaumento ou diminuição de bem-estar104.

O modelo de Lipsey continha dois bens (que desig-naremos por y e x) e três países, um dos quais (A) erademasiado pequeno para ter influência nos preços relati-vos de y e x e estava totalmente especializado na produ-ção do bem y, embora impusesse um direito aduaneironão discriminatório sobre a importação do bem x. A uti-lização de curvas de indiferença colectivas era primeirojustificada com a redução da comunidade a um único indi-víduo, mas depois alargada a uma comunidade plural. A for-mação de uma união aduaneira com o país que ante-riormente não abastecia o mercado de A, provocava umdesvio de comércio mas ainda permitia um ganho de bem--estar como se pode ver no seguinte diagrama [adaptadode (1957a), p. 42]:

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104 No artigo de GEHRELS (1956) a referência aos efeitos de con-sumo era apoiada por uma demonstração diagramática idêntica à uti-lizada por LIPSEY em (1957a)., como se viu, mas a argumentação destee a própria demonstração eram mais rigorosas. MACHLUP (1977), remetepara a tese de doutoramento de LIPSEY (1970), defendida em 1957mas escrita entre 1953 e 1955, [CORDEN (1972a), p. 89] a prece-dência da tomada de posição sobre o assunto. Cfr. porém, infra, nota107.

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Se o comércio entre A e C – o mais eficiente for-necedor de x – não fosse tolhido por direitos aduaneiros,A produziria OF de y e trocaria g’F de y por og de x,consumindo no ponto 1 (og de x e og’ de y) situando--se na curva de indiferença I.

Com um direito aduaneiro ad valorem de taxa GH//HO, A continuaria a produzir OF mas consumiria ohde x (que obteria cedendo h’F de y) e oh’ de y, situando--se no ponto 2, sobre a curva de indiferença I’. Admi-tindo que as receitas alfandegárias não se perdem, o consu-midor situar-se-á sobre a linha de preços relativos decomércio livre (FG), sobre uma curva de indiferença que,nesse ponto, há-de ter o mesmo declive da linha internade preços relativos (FH). Determinada essa curva (I’’),

Figura 2.2

OF- produção de y em AFG – linha do preço relativoentre y e x em condições decomércio livre (A abastecer--se-ia junto de C – o melhorfornecedor).F’H’ – linha do preço rela-tivo entre y e x no mercadointerno de A após a aplicaçãode um direito aduaneiro advalorem.FK – Linha do preço rela-tivo de y e x que delimita oganho ou a perda decorrenteda união aduaneira entre A eB. curvas de indiferença: I, I’e I”.

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determinamos o ponto 3, onde se consumiria oj’ de y eoj de x105.

Qualquer ponto situado à esquerda da curva de indi-ferença representará uma perda de bem-estar em relação àsituação inicial (o ponto 3, no nosso exemplo, já que quero ponto 1 quer o ponto 2 eram meramente hipotéticos),tal como qualquer ponto à direita daquela representará umaumento de bem-estar. A linha de preços relativos FK,tangente ao ponto mais próximo da origem dessa curvade indiferença, marca o limite entre as razões de troca quemelhoram a situação do consumidor A (à sua direita) e asque pioram (à sua esquerda).

C) A Iª Grande Discussão

Com a introdução dos efeitos de consumo na aná-lise, criaram-se as condições para pôr em causa a associa-ção – canónica em Viner – entre desvio de comércio eefeitos negativos decorrentes da formação de uniões adua-neiras – o que deu origem a uma demorada, se bem quepouco apreciada, discussão nas revistas da especialidade106.

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105 No ponto de intersecção entre a curva de indiferença I’’ ea linha de preços FG o declive da primeira é idêntico à da curva deindiferença I’, como se pode comprovar traçando uma paralela (F’H’)à razão de preços interna (FH). Lipsey chama a atenção para o factode a projecção de F’H’ no eixo vertical se situar acima do ponto F,o que significa que qualquer que fosse a quantidade de y consumidano ponto 3, o consumidor teria a ilusão de que poderia trocar aquantidade do bem x de que dispõe por quantidades de y superioresàs existentes, ilusão decorrente de o direito aduaneiro fazer parecer opreço y mais baixo do que é o seu preço relativo no mercado inter-nacional. [(1957a), p. 42, nota 4].

106 Vejam-se, além das passagens já citadas de KRAUSS (1972) eA.J. JONES (1979) e (1980), POMFRET (1986), p. 444 (que o consi-

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O ponto de partida foi o já referido artigo de LIPSEY

(1957a): “When consumption effects are allowed for, thesimple conclusions that trade creation is “good” and tradediversion is “bad” are no longer valid.” Em (1971) BHAGWATI

veio depor a favor das potencialidades de melhoria de bem--estar decorrentes de um desvio de comércio, e, simulta-neamente, pôr em causa a interpretação de Lipsey107 daposição de Viner.

O seu argumento era que a condição imposta porLipsey (de coeficientes de consumo fixos) era necessária,mas insuficiente para excluir ganhos de bem-estar decor-rentes de um desvio de comércio. Seguiremos a sua argu-mentação chamando a atenção para o facto de, ao con-

derou a “fruitless debate”) e JOHNSON (1974a), p. 618, que escreveu:“(...) the Lipsey-Meade distinction between “consumption effects” and“production effects” represents an early stage in the application ofgeneral equilibrium theory to the customs union problem that hasunfortunately bequethed to the literature a superstructure of scien-tifically quite unnecessary analysis centring on the proposition that atrade diverting customs union may increase welfare.” Apesar disso,tal posição nunca se tornou dominante: veja-se ainda agora, entrenós, FERREIRA/PAIVA/PATACÃO (1997) pp. 84-86.

107 Como se salientou, MEADE fora o primeiro a sugerir umainterpretação do género, se bem que em termos não exclusivos, nemidênticos. (“The procedure which I have just outlined is most suitablewhere all elasticities of demand are zero (...)” (1955a), p. 36 (itáliconosso); “Argumentei que a análise do Professor Viner é mais directa-mente relevante naqueles casos em que podemos presumir que os con-sumidores de um dado produto num dado país (...) procuram umacerta quantidade desse produto, qualquer que seja o preço por elecobrado (...)” (1955a), p. 53. LIPSEY, por sua vez, imputara a Vinera consideração ímplicita de coeficientes fixos de consumo, o que éum tanto diferente (1960). Por sua vez, Bhagwati reaproximou-se deMeade, embora sob formulação diversa. Antecipando razões, em dia-gramas normalizados, para permitir uma melhor comparação, tería-mos:

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MEADE: LIPSEY: BHAGWATI:

A diferença entre a interpretação de Meade e de Bhagwatireside apenas no facto de Bhagwati considerar fixas as importações– sempre representadas no eixo horizontal – enquanto Meade consi-dera fixo todo o consumo. Deste modo, Meade reduz a análise aosefeitos de produção já que não admite nenhuma alteração ao con-sumo, quer do bem importado, quer do bem exportado. Porém, estaformulação parece auto-contraditória, pois para se manter o consumodo bem importado (x) numa situação de desvio de comércio serianecessário exportar uma maior quantidade de y – o que levaria aconcluir que o desvio de comércio do bem x provoca um aumentode produção do bem y (de OA para OA’).

A interpretação de Lipsey, por sua vez, acarreta uma diminui-ção das importações do bem x (de OC para OB) após a formaçãoda união aduaneira (isto é, após a remoção dos direitos alfandegáriosque sobre elas incidam!), chegando à paradoxal conclusão de que essesdireitos não operavam efectivamente como uma barreira, parcial oucompleta, às importações. [Recorde-se que Viner distinguira entre“direitos nominais” e “direitos efectivamente protectores”, restringindoa sua análise aos segundos, por a remoção dos primeiros – ou dou-tros que fossem igualmente ineficientes como barreiras ao comércio– ser irrelevante – VINER (1950), pp. 42-43].

Na opinião de KIRMAN (1973), p. 891, também a interpretaçãode Bhagwati comunga de um paradoxo com a de Lipsey: o de fazera situação de comércio livre coincidir com a de restrições ao comér-cio, i. e., concluir que os direitos aduaneiros eram ineficazes. BHAGWATI

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trário de Lipsey, ele ter fixado a produção do país A noeixo horizontal, transformando-o, portanto, em exporta-dor de x e importador de y:

Seja então o país A, completamente especializado naprodução de x e um país C, o mais eficiente produtor dey – que o troca internacionalmente à razão representadapor AC – e um país B, produtor menos eficiente de y,que constitui uma união aduaneira com A, trocando y porx com este, à razão apresentada por AB.

(1973), p. 895, nota, não aceita a interpretação, alegando que os direi-tos aduaneiros pré-união podiam ser eficazes, contendo as importa-ções a um nível inferior ao que teriam em comércio livre. Esse nívelé que seria, daí em diante, mantido inalterado. O argumento parecefrágil: para que o desvio de comércio possa ter efeitos positivos anível de bem-estar é necessário que o novo preço relativo do bemagora importado de B seja inferior ao seu preço relativo antes da união(quando importado de C, era agravado com um imposto aduaneiro).Todavia, se isso é assim e se antes da união a apetência pela aquisi-ção do bem importado era travada (parcialmente) pelo direito alfan-degário, a diminuição do seu preço relativo devia expandir a sua pro-cura e (pelo menos no caso de não alteração da produção interna)fazer aumentar as suas importações. Já se o imposto alfandegário ini-cialmente cobrado em A fosse ineficaz para restringir o montantedas importações, atingindo estas o mesmo volume que em comérciolivre, a diminuição do seu preço relativo no mercado de A não neces-sitaria, justificadamente, de expandir a sua procura. Se bem julgamos,a razão estava do lado de Kirman.

Para uma explicação da posição de Viner à luz da teoria clás-sica do comércio (custos constantes; preços determinados pelas pro-curas recíprocas; efeitos de bem-estar implicados nos efeitos de pro-dução; tendência para o crescimento) e das suas anteriores posições(recusa de curvas de procura e de curvas sociais de indiferença), daíresultando a conclusão de que Viner não estava a formular uma aná-lise de equilíbrio geral, mas apenas a distinguir logicamente entreefeitos de criação e de desvio de comércio, ver Ó BRIEN (1976),pp. 542-543.

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Antes da constituição da união aduaneira, aplicandoA um direito aduaneiro não discriminatório sobre as impor-tações de y, o ponto de equilíbrio no consumo estaria emP1, sobre o rácio de preços interno FG, decorrente da apli-cação do imposto alfandegário. Importar-se-ia oy’ de y atroco de x’A de x e consumir-se-iam as quantidades oy’de y e ox’ de x.

Após a formação da união, a abolição dos direitosaduaneiros sobre as importações de B permitiria que ospreços internos relativos de x e y, em A, se equiparassemaos preços internacionais nas trocas entre A e B. O ráciointerno e externo passaria pois a ser o representado pelalinha AB.

Lipsey mostrou que se essa linha passasse pelo inte-rior da área a tracejado (Figura 2.3), a formação da uniãoseria benéfica para A mesmo que só provocasse desvio decomércio: é que embora o preço de aquisição na fontefosse mais elevado do que antes, o preço de venda internobaixaria, permitindo aos consumidores atingir uma curvade indiferença mais elevada (U2>U1). Segundo este autor,Viner exclui essa possibilidade ao considerar que o con-sumo de y e x dependia de um padrão fixo, representadopor OZ.

Figura 2.3

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Figura 2.4

Figura 2.5

Na Figura 2.4 a complementaridade absoluta entre ye x, simbolizada por curvas de indiferença quebradas, impli-caria que o desvio de comércio só poderia ter efeitos nega-tivos (U1>U2).

Bhagwati entendia que a diminuição de importações(no caso, de y’ para y’’ na Figura 2.4) não era necessáriapara assegurar o mesmo resultado: a consideração de queo volume de importações era fixo garanti-lo-ia também,com a vantagem de permitir a mesma conclusão – ao con-trário da condição de Lipsey – quando se admite que a

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produção de A varia108. A Figura 2.5 representa a situaçãoem que A mantém a completa especialização na produçãode x – e em que a manutenção do volume de importa-ções implica uma necessária diminuição do bem-estar poisassim qualquer rácio de preços situado à esquerda do ob-tido no comércio com o melhor fornecedor de y só per-mite alcançar uma curva de indiferença mais próxima daorigem (U1>U2). Por outro lado, a Figura 2.6 diagnosticaa falha da condição de Lipsey quando se admite uma espe-cialização incompleta (e taxas marginais de transformaçãointernas crescentes, em vez de constantes) e alterações nopadrão de produção:

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108 BHAGWATI (1971), p. 582, nota, procurou também louvar-seno “exemplo aritmético de Viner”, sublinhando que, neste, o volumedas importações permanecia inalterado. Como KIRMAN observou(1973), p. 890, nota 3, o exemplo era de LIPSEY (1960), p. 497, ilus-trando a argumentação de Viner da forma menos comprometedorapossível para a interpretação que dele fazia: com uma única unidadedo bem importado. Episodicamente, o lapso de Bhagwati ressurge.

y’x’ é a fronteira de possi-bilidades de produção de A;OZ é a linha que repre-senta o padrão de consumoem A dos bens y e x;H1P1 é a razão de troca dex e y e representa a quan-tidade adquirida por Aquando produz em H1 econsome em P1;Após a união, a produçãodeixa de se ajustar ao ráciode preços dado por FG(resultado da aplicação deum direito aduaneiro nãodiscriminatório na importa-ção de y) para se passar aajustar ao rácio de preçosinterno de B, dado porKP2 (naturalmente tambémo consumo deixa de seajustar ao anterior preçorelativo – a linha FG’ quepassa em P1 – para se ajus-tar ao então vigente: KP2).Figura 2.6

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Assim, com a produção em H2 e o consumo em P2

(e a igualdade entre taxa marginal de transformação in-terna e externa e a taxa marginal de substituição) a exis-tência de coeficientes fixos no consumo de y e x é apesarde tudo compatível com ganhos de bem-estar resultantesdo desvio de comércio. Ou seja: a exclusão dos ganhosdecorrentes de alterações no padrão de consumo ainda podeser insuficiente para evitar que o resultado do desvio decomércio seja favorável. É que a contrabalançar a perdadecorrente da deterioração dos termos de comércio (ouda passagem de uma fonte de abastecimento mais baratapara outra mais cara109, como dizia Viner) pode haver alte-rações no padrão de produção que mais do que compen-sem essa perda (na Figura 2.6 esse ganho é representadoem unidades de x, ao preço relativo do país B, pela dis-tância de S a K).110

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109 As duas questões são diferentes na análise de Viner, se bemque Vanek emparelhasse a contracção do comércio com o resto do mundoe a deterioração dos termos de troca deste no lado negativo do des-vio de comércio. Cfr. KRAUSS (1972), p. 414, nota 1.

110 O artigo de BHAGWATI (1971) p. 585, inclui a demonstra-ção de que, excluindo os efeitos sobre a alteração nos padrões deconsumo e nos de produção, o desvio de comércio importa umanecessária diminuição de bem-estar:

A fronteira de possibilidadesde produção é y’Hx’, com umcotovelo em H a simbolizar aimutabilidade da afectação de re-cursos.

O padrão de consumo con-tinua a ser dado por OZ.

O consumo inicial faz-se emP1 sendo RS a razão de troca nocomércio internacional com omelhor fornecedor de y (o paísA troca x’’x’ por y’y’’ sendoP1H o vector do comércio in-ternacional).

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Pelo contrário, a consideração do volume de impor-tações como fixo (dM=0) permite, por si só, estabelecerque todo o desvio de comércio provocará uma diminui-ção no bem-estar, como BHAGWATI expunha de seguida(1971), pp. 586-587:

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Figura 2.7

y’x’ é a fronteira daspossibilidades de produçãodo país A.

H1, é o ponto de pro-dução quando a razão depreços interna é dada porFg (resultado da aplicaçãode um direito alfandegá-rio às importações de yprovenientes de um ter-ceiro país e adquiridas nomercado internacionalao preço dado por RS);P1 é o correspondenteponto de consumo (ondese consome y’’ e x’’).

Devido à incidência de um direito aduaneiro não discrimina-tório sobre as importações de y, o preço relativo interno é dado porFG.

Após a união, desaparece em A a diferença entre o preço rela-tivo interno e o preço pelo qual se pode adquirir o bem y no comér-cio com o país B, passando aquele a coincidir com o preço relativointerno neste – no diagrama: HT. A deterioração dos termos de trocade A, patente na maior inclinação de HT face a RS implica que amais alta curva de indiferença que é agora possível obter sobre alinha OZ fique abaixo da que se atingia no ponto P1.

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Uma união aduaneira que provocasse um desvio decomércio deslocaria a produção de H1 para H2, aumen-tando a produção do bem exportável (x) e diminuindo ado bem importável (y).

Ceteris paribus, tal implicaria um aumento de Q1Q2

nas importações de y. Porém, admitindo que as importa-ções são fixas (dM=0), o consumo de y teria de diminuirno mesmo montante. Segundo Bhagwati (1971), pp. 586--587, isso impediria a razão de preços do país parceiro depassar para nordeste do ponto P1 e de ser tangente a umacurva de indiferença mais elevada do que U1, excluindo--se assim a melhoria no bem-estar.

Em (1973) BHAGWATI procurou responder às críticasque Alan KIRMAN (1973) lhe formulara (designadamente,que a sua interpretação de Viner era paradoxal, que nãose ajustava ao que este escrevera111, que a análise era insu-ficiente112 e, ecoando Spraos, que parte do que fora trata-

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111 KIRMAN (1973), p. 893, argumentou que VINER (1950), p. 43,se referiu à importação de “novos bens”, designadamente ao circuns-crever a análise à remoção de “direitos que anteriormente tivessemoperado efectivamente como uma barreira, parcial ou total, às impor-tações”. Por outro lado, a necessária conclusão (tanto para Lipseycomo para Bhagwati) de que o imposto alfandegário inicial era inefi-caz é directamente contraditória com o que VINER escreveu (1950),p. 43: “The removal of “nominal duties”, or duties which are ineffec-tive as barriers to trade, can be disregarded (...)”.

112 Como KIRMAN (1973), pp. 891-892, notou, só sob condi-ções muito especiais das curvas de indiferença de A se poderia garantirque qualquer desvio de comércio deixaria inalterado o volume de im-portações. BHAGWATI (1973) insistiu no seu modelo, mas não deuresposta à objecção de Kirman, que este exprimira no diagrama se-guinte, com curvas de indiferença que asseguravam que na situaçãode comércio livre houvesse a mesma quantidade de importações quena situação de protecção alfandegária: em termos de y, P1 é igual aP2.

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do como desvio de comércio era, de facto, criação decomércio113). A objecção mais séria era, evidentemente, ada alegada confusão entre desvio de comércio e criaçãode comércio. KIRMAN (1973) e BHAGWATI (1973) referem--se a esta crítica como tendo origem em Spraos, mas éKRAUSS (1972) quem mais se alonga na sua reprodução,

É claro que sepoderia formular“condicionalmente” acondição: Se após aformação de umaunião aduaneira queprovoca um desvio decomércio, o volumede importações pro-veniente do país par-ceiro for igual ao queprovinha de C, entãoo bem-estar do paísimportador diminuiránecessariamente.

Neste caso, oproblema que se pre-tendia resolver – o do

estabelecimento das condições necessárias e suficientes para se verifi-car a sinonímia descrita por Viner entre desvio de comércio e dimi-nuição de bem-estar – não teria solução cabal, pondo em causa aquelaassociação. Para todos os efeitos, porém, essa é uma questão menor:Viner considerou apenas os efeitos de produção e haveria que ter emconta outros, pelo que o resultado não podia ser unicamente deter-minado por tais efeitos de produção.

113 O próprio BHAGWATI (1971), p. 581, nota 1, sublinhava outrodos pontos fracos da sua argumentação: o de que isso implicaria queViner estivesse a assumir implicitamente que a elasticidade-rendimentoda procura de um bem fosse negativa – o que lhe custava a aceitar.Por tudo isso concluía que Viner não pensara muito claramente sobreo assunto.

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utilizando para isso um diagrama diferente dos utilizadospor Lipsey e Bhagwati:

Figura 2.8

TT representa a fronteirade possibilidades de produçãodo país A.

OZ representa a linha deexpansão do rendimento queé igual à linha de preço-con-sumo, aceitada que seja a hipó-tese das proporções fixas noconsumo.

Sob condições de comér-cio livre, os termos de trocainternos seriam os dados porR, que determinaria o pontode produção Q3 e o ponto deconsumo C3.

Inicialmente o país A cobra direitos aduaneiros nãodiscriminatórios que estabelecem um preço relativo inter-no dado por tt. Assim, a produção fixa-se em Q1 e, apóso comércio internacional, o consumo fixa-se em C1 (noponto em que uma paralela à razão de troca internacionalR intersecta a linha de consumo OZ).

Após a formação de uma união aduaneira desviantede comércio com B, cuja razão de preços interna é dadapor Q2 C2, a produção de A desloca-se para Q2 e o seuconsumo para C2. Conceptualmente, porém, o movimentono consumo pode desdobrar-se num movimento de C1

para C2', que representa o ganho de produção decorrenteda passagem de Q1 para Q2 – e num movimento de C2'para C2, que representa a perda do desvio de comércio.Sendo o primeiro superior ao segundo, um desvio de comér-cio poderia provocar um aumento de bem-estar, ainda que

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houvesse coeficientes fixos no consumo, desde que seadmitissem alterações na produção.

Nisto residiria a vantagem da condição de Bhagwati(sobre a de Lipsey) para que um desvio de comércio pro-vocasse só uma diminuição no bem-estar – mas Spraosnotou que “o ganho de produção [na passagem] de Q1

para Q2 é de facto um efeito de criação de comércio naprodução, na medida em que representa uma mudançade produção de fontes internas de alto custo para fontesde baixo custo no país parceiro” [KRAUSS (1972), p. 416].Na medida em que o diagrama só representa a produçãode A, a passagem de Q1 para Q2 só indirectamente o poderevelar: internamente, aumenta a produção de y e dimi-nui a produção de x. Curiosamente não há simetria en-tre as duas situações: na medida em que, em A, se deixade produzir x, pode dizer-se que há criação de comér-cio114, já que o preço interno deste bem era mais ele-vado em A do que em B115; na medida em se aumenta

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114 Tanto no sentido económico – passa-se de um produtor dex de custos mais elevados para um outro de custos mais baixos, comose pode comprovar pelas razões de preços dadas por tt e Q2 C2 -.como no sentido literal – passa a haver comércio internacional ondeantes não havia. Aliás, até se transfere a localização da produção dopaís A para o país parceiro, como na noção de Viner (embora istonão seja forçoso, como já se viu supra).

115 Terá sido uma argumentação deste género que convenceuBhagwati, já que as razões aduzidas por Krauss não são convincen-tes. De facto, este escrevia: “Uma vez que no caso Melvin-Bhagwatio bem-estar aumenta sem o benefício de um ganho de consumo, oefeito líquido no país A deve ser criação de comércio” – KRAUSS

(1972), p. 416. BHAGWATI (1973), p. 897, nota 1, não teve dificul-dade em mostrar que a posição de Krauss estava metodologicamenteinvertida (é da criação de comércio que resultam ganhos de bem--estar, e não destes que resulta aquela) e era tautológica (havia ga-nhos de bem-estar porque havia criação de comércio e esta porquehavia ganhos de bem-estar).

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a produção de y há, do ponto de vista literal, supressãode comércio116.

BHAGWATI (1973), p. 897, concedeu o ponto, modi-ficando a sua condição (montante de importações fixos)para valer também nos casos mistos (de desvio de comér-cio) no contexto de um modelo de três países e dois bens,mas o rigor das condições parece desproporcionado emrelação ao resultado117. De resto JOHNSON (1974), p. 621,

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116 Do ponto de vista económico, a supressão de comércio tantopode implicar a passagem de um fornecedor menos eficiente para outromais eficiente, como o inverso (cfr. o Capítulo anterior, § 3.3).

117 De facto, admitir que uma união aduaneira que substitui asaquisições do bem x ao seu mais eficiente produtor, C, por aqui-sições ao país parceiro, B, alterando do mesmo passo a produçãointerna de A – aumentando a produção de y e diminuindo a de x –,provocará uma diminuição do bem-estar de A apenas quando o mon-tante de importações for fixo, mas não necessariamente quando hou-ver coeficientes fixos de consumo de x e y, parece esforço vão.

Todo este esforço procurava preservar a sinonímia que Vinerestabelecia entre desvio de comércio e diminuição de bem-estar (comocontraponto a outra sinonímia: entre a criação de comércio e aumentode bem-estar).

Reproduz-se a seguir o diagrama com que BHAGWATI (1973),p. 896, resumiu a diferença entre a sua interpretação de Viner e ade Lipsey:

- OA é a produção invariável deA, que se especializou n produçãode x.- AC é a razão de troca internacio-nal com o melhor produtor de x.- AB é a razão de troca com B.- OZ é a condição de Lipsey (coefi-cientes de consumo fixos) e o novoponto de consumo seria L.- WZ é a condição de Bhagwati(montantes de importação fixos) eo novo ponto de consumo seria H.

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excluía a possibilidade de ganhos líquidos resultantes de umaunião desviante de comércio:

a) considerando que o valor de consumo após a cons-tituição da união se reduz de forma a situar-se à esquerdada anterior razão de preços, i.e., funcionando esta comouma linha de restrição orçamental (por exemplo, prolon-gando FG na Figura 2.9); ou

b) considerando que a razão de preços em B se situaà esquerda da curva de indiferença em que se situava oponto de consumo inicial.

Se se considerasse, porém, que a parcela de ganho nãoera devida ao desvio de comércio, mas sim à criação decomércio que lhe estava associado – e esse era o sentidoda crítica de Spraos, ecoada por Krauss, Kirman, Bhagwatie Johnson – a passagem de P1 para P1' seria o resultadodo desvio de comércio enquanto que a passagem de P1'para P2 seria o resultado de criação de comércio. A serassim, o problema do desvio de comércio que aumenta obem-estar seria um falso problema.

Segundo Bhagwati, onde a produção de A pudesse ser alterada(Cfr. supra Figuras 2.6 e 2.7), a condição de Lipsey seria insuficientepara fazer do desvio de comércio um movimento no sentido da dimi-nuição do bem-estar – mas não assim com a sua.

JOHNSON (1974a), p. 620, diagnosticou dois erros fundamentaisno diagrama supra:

1) na medida em que a linha de preços relativos AB fica com-pletamente à esquerda da curva de indiferença UU, não é possívelque o desvio de comércio tenha efeitos benéficos sobre o bem-estar(e esta podia ser uma outra condição, formulada a par com as deLipsey ou Bhagwati);

2) a linha FG não representa um imposto aduaneiro, mas simum subsídio (logo, para aumentar o bem-estar teriam de se diminuiras importações).

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D) A sugestão de Johnson

A incompletude dos conceitos vinerianos, assim demons-trada, levaria Johnson a, segundo algumas versões, sugerirque se associassem os efeitos de consumo aos efeitos de produ-ção118 diagnosticados por Viner. Já atrás se viu que a falta

Figura 2.9

AC razão de troca com o melhor produtor de yAB razão de troca com BOZ coeficientes fixos de consumo (condição de Lipsey); ponto de consumo

após a união: LWZ montantes fixos de importações (condição de Bhagwati); ponto de con-

sumo após a união: P’1P1 consumo inicialP2 nova situação de consumo após a união desviante de comércio compa-

tível com uma melhoria de bem-estar em A.

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118 É duvidoso que a sugestão de Johnson fosse efectivamenteessa, como se verá a seguir. Mas esse foi o entendimento que VINER

lhe deu (1976) e que o próprio KRAUSS (1972), p. 417, tambémadopta: [Johnson] “defines the terms trade creation and trade diversioneach to include a production and consumption component.” (Itálico

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de um critério único para definir os “efeitos vinerianos”119

produzia resultados equívocos e, por vezes, contraditórios.Acentuando o seu sentido económico ou o seu sentidoliteral obtinham-se diferentes padrões valorativos e flutuandoentre um e outro a confusão era inevitável120. Escusadoserá dizer que a adição de mais um critério, completa-mente distinto de qualquer dos anteriores porque referenteao consumo, só podia agravar as ambiguidades121. Até por-que se tanto a criação de comércio como o desvio de comér-

nosso), apesar de na mesma página, em nota, ter pretendido corrigirViner quanto a esse ponto: “It should be realized, of course, thatJohnson did not staple consumption effects as Viner claimed he himselfdid; the diagram in Johnson [15, p. 55] analyses the case of tradediverting production effect coupled with a trade creating consumptioneffect.”

119 CORDEN (1984), p. 113. Corden referia-se apenas à criaçãoe ao desvio de comércio.

120 A.J. JONES (1981), p. 33, nota 3, escrevia: “Unfortunatelythere is no unanimity in the literature on the appropriate definitionof trade creation(...)”.

121 Mesmo que, felizmente, se não tenha chegado ao ponto desomar efeitos verificáveis no home country (A) aos verificáveis no seuparceiro (B): lembre-se o que se viu no CAPÍTULO 1, § 3.4, emque o efeito activo da criação de comércio (a criação de comérciocomo efeito B) era acompanhada por uma retracção no consumo. Nalógica da associação entre efeitos positivos e criação de comércio eefeitos negativos e desvio de comércio, tal diminuição de consumono país tornado exportador seria... desvio de comércio! E, no entanto,esse era um entendimento que podia ser imputado a JOHNSON (1960)desde que se não considerassem custos constantes: “The secondconsequence of imperfectly elastic supplies is that the partner supplyprice rises as trade is diverted .This means that the loss to the countryper unit of trade diverted is greater than it would have been withconstant costs; on the other hand, it implies that part of this loss isnot a net loss to the domestic and partner economies taken together, butsimply a transfer from domestic consumer’s surplus to partner’sproducer’s surplus.” (1962), p. 56. (Itálico aditado).

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cio tinham uma dimensão de consumo e outra de produ-ção122 – e se a expansão de consumo muitas vezes associa-da ao desvio de comércio é, afinal,... criação de comércio,então a dimensão de consumo do desvio de comércio teria deser o inverso dessa expansão de consumo. O problema éque não pode haver desvio de comércio – no “homecountry” – onde haja subidas de preços (a menos que seaumentem os direitos aplicáveis), e sem subidas de preçonão há retracção no consumo – nem diminuição do exce-dente dos adquirentes desse bem. Ou seja: quando – no“home country” – há efeitos de consumo associados a desvios decomércio (e para que não haja basta que se continue a im-portar do país terceiro após a formação da união) esses efeitosde consumo são sempre positivos (ou seja, nestes termos, “cria-ção de comércio”)123. Justifica-se, pois, uma recapitulaçãoda posição de JOHNSON, inicialmente defendida em (1960):aí começa por considerar que a aplicação de um direitoaduaneiro sobre as importações faz aumentar a produçãointerna de bens idênticos aos importados e de bens dife-rentes, mas que satisfazem as mesmas necessidades a umpreço que, na margem, difere do preço internacional dosbens importados pelo montante do direito aduaneiro. Ouseja: produz-se internamente mais caro e produz-se mais.A supressão de direitos sobre importações provenientes deum país parceiro origina fenómenos de substituição no con-sumo que envolvem dois aspectos: por um lado substitui-

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122 Como à frente, no quadro classificatório retirado da exposi-ção de LIPSEY (1960) – cfr. CAPÍTULO 3, B.

123 Como exemplo de que esta concepção é uma irresistível fontede equívocos, veja-se a justíssima crítica de CUNHA (1995), p. 122,nota 13, a Robson sem, contudo, deixar ele próprio de considerarque o desvio de comércio se refere “à situação oposta” à da criaçãode comércio “implicando normalmente custos (acrescidos ou não) dedistorção na produção e no consumo”. (p. 121 – Itálicos aditados.)

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se produção interna mais cara por produção mais baratade B; por outro, aumenta-se o consumo de substitutos,oriundos de B, para os bens produzidos internamente amais alto custo. Ou seja: produz-se internamente menos econsome-se mais. O efeito de criação de comércio é constituído,então, por um efeito de produção (a substituição da produçãointerna de um bem por produção desse bem no país par-ceiro) e por um efeito de consumo (um aumento de con-sumo interno dos substitutos importados dos bens produ-zidos internamente e vendidos a um preço mais elevado).Ao primeiro corresponde a diminuição no custo de pro-dução. Ao segundo corresponde o aumento do excedentedos consumidores124. JOHNSON representa diagramaticamenteesse duplo ganho, chamando a atenção – em (1962),p. 53, nota 11 –, para o facto de esse conceito de criação decomércio diferir do que era então usado pela generalidadedos autores, escrevendo a seguir: “The present usage, whichlumps production and consumption effects together in thecategories of trade creation and trade diversion, seems moreeasily manageable (...)” [Itálico nosso].

A ilustração do desvio de comércio sublinhava tambémuma duplicidade de aspectos envolvidos, na medida em queeste representa, por um lado, um aumento de custos decor-rente da troca dos fornecedores estrangeiros de um certobem pelos do país parceiro (que o produzem mais caro);e, por outro, a substituição de bens importados de C por

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124 Uma vez que Johnson nada refere nesse texto sobre a formade definir o “consumer’s surplus”, seguiremos a fórmula corrente[PORTO (1982), p. 326; SILVA/REGO (1984), p. 26 nota 1; CUNHA

(1995), p. 122, nota 112] – somatório das diferenças entre o preçopago e o preço limite de aquisição do bem, ignorando as discussõesque lhe estão associadas. [Sobre estas, vejam-se BURNS (1973) e BLAUG

(1990), pp. 90 e ss.]. Cfr. infra, nota 221.

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outros importados de B, que satisfazem as mesmas neces-sidades126.

Figura 2.10

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125 A exemplo do referido na nota anterior, seguiremos a defini-ção corrente de “producer’s surplus” [PORTO (1982), p. 326; SILVA//REGO (1984), p. 26, nota 1] ignorando a sugestão de MISHAN (1968)de que o termo “”producer’s surplus” be struck from the economistvocabulary” (p. 1279) e as discussões que lhe estão associadas. [Sobreestas, BLAUG (1990), pp. 123 e ss.]

126 É curioso notar que no texto do seu artigo de 1960, JOHNSON

era expresso em considerar o “ganho da criação de comércio” comoabrangendo tanto o ganho decorrente da poupança de custos na subs-

DD é a curva da procura do bem x no país A.SS é a curva de oferta interna, PR a curva de oferta internacional.O imposto aduaneiro é P’P/PO; a curva de oferta internacional após

a aplicação do direito alfandegário é P’U. O consumo é então OS’ do qualOT’ é fornecido pela produção interna e T’S’ importado de C. A elimi-nação do direito aduaneiro faz baixar o preço interno para OP, diminuir aprodução interna para OT e aumentar o consumo para OS aumentando asimportações para TS.

A diminuição de custos na produção interna é WZM, P’ZWP cons-titui transferência do excedente dos produtores125 internos para o excedentedos consumidores e ZUNM passa de receitas arrecadadas pelas alfândegaspara o excedente dos consumidores.

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JOHNSON só esclareceu melhor a sua proposta no queao desvio de comércio dizia respeito em (1974). Aí distinguiudois sentidos possíveis para a expressão: alteração do localde produção de uma quantidade inespecificada de bensimportados127 ou alteração do local de produção de umacerta quantidade (inicial) de importações128. Se se adoptasseo primeiro sentido (que incluiria tanto a transferência dasimportações iniciais para uma fonte de abastecimento decustos reais mais elevados como o aumento de importa-ções dirigido a essa fonte) havia a possibilidade de o “des-vio de comércio” proporcionar um ganho de bem-estar –caso o segundo aspecto (de consumo) prevalecesse sobre o

tituição de produção interna por importações, como o ganho no exce-dente do consumidor resultante da expansão no consumo, e que sónuma nota, modificada ou acrescentada em 1962 [cfr. (1962), p. 53 enota 11] generalize essa junção ao desvio de comércio. E no Appendix(1962a) que no livro (1962) seguia o artigo – e que resultou, se-gundo indica, da fusão de dois breves artigos publicados no IndianJournal of Economics em 1957 e 1958 – defendia antes que a perdaresultante do desvio de comércio e a perda nos termos de trocapodiam ser considerados conjuntamente como “a perda causada pelaredução pautal” (discriminatória), o que é algo bem diferente, em-bora substituir uma improvável dimensão de consumo do desvio decomércio pela sua evidente componente de agravamento nos termosde troca fosse uma solução. Que, aliás, em diagramas de equilíbrioparcial, deveria obrigar a duplicar a contagem da área representativada perda de receitas aduaneiras em A (pelo menos tal área: caso nãohouvesse alterações internas de preços): por um lado ela representariao “lucro cessante” da perda de receitas alfandegárias, por outro repre-sentaria o “dano emergente” do acréscimo de custos de aquisição dasmesmas quantidades do bem. Cfr. infra, nota 270.

127 Note-se que esta primeira formulação não é rigorosa porqueparte dessa “quantidade inespecificada de bens importados” correspondea procura nova (a efeito rendimento), pelo que não há verdadeira “alte-ração do lugar de produção”

128 Essa mesma distinção já tinha sido feita por GEHRELS (1956)a propósito da criação de comércio: cfr. supra, nota 101.

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primeiro (de produção) – e punha-se o problema de in-troduzir na análise uma condição que o evitasse129. Adop-tando-se a segunda – mais elegante e prática, no seu en-tender – o comércio adicional seria verdadeiramente cria-ção de comércio e o efeito resultante da união podia con-tinuar a depender do balanço entre criação e desvio decomércio.

Este esclarecimento, porém, não afastou a anterior for-mulação, disseminada a partir da sua obra de (1962) – quenormalmente é citada para justificar a junção de efeitosde consumo e produção130. Em (1975) JOHNSON retomouo tema, desta vez para averiguar das condições empíricasnecessárias à verificação de desvios de comércio originadoresde melhorias de bem-estar. Usando dois tipos de funçõesde utilidade e partindo do pressuposto da completa espe-cialização do “customs-union-forming country” no seu bemde exportação, concluíu que “the case of a welfare-increa-sing-trade-diverting customs union is probably empiricallyan empty theoretical box.” (p. 122) – uma conclusão ante-cipada por MISHAN (1966) pela mera consideração dos efei-tos no país terceiro, que perde mercado em A e sofre coma consequente alteração nos termos de troca, acrescentandoeste (p. 671):

The attempt to circumvent this objection by assumingthat C is so large that the change in the terms of trade________________________

129 A condição de Lipsey (coeficientes fixos no consumo) pare-cia-lhe marginalmente mais elegante do que a de Bhagwati (manu-tenção do montante de importações) porque limitava as preferênciasdos consumidores de uma forma específica, mas válida para todos oscasos, enquanto que Bhagwati não limitava as preferências dos con-sumidores, mas, limitando os seus resultados, acabava por impôr dife-rentes condições em diferentes casos para assegurar um certo resulta-do.

130 Vejam-se, por exemplo, CORDEN (1965), p. 9; A.J. JONES

(1981), p. 22; EL-AGRAA (1984), p. 84; ROBSON (1985), p. 52, nota1; POMFRET (1986), p. 444, n. 9; CUNHA (1995), p. 121.

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and the amount of trade with A are both negligible speaksmore for determination than for virtuosity in the cons-truction of a counter-example.

§ 2 Efeitos nos termos de troca

Se já atrás se viu que a origem da teoria das uniõesaduaneiras podia retroceder dezanove anos, até ao artigode Viner na Index, a introdução dos termos de troca naanálise, vulgarmente imputada a MUNDELL (1964), deviaretroceder quatorze, até The Customs Union Issue. Aí (p.55)escreve Viner sob a epígrafe «Customs Union and the“Terms of Trade”»:

There is a possibility, so far not mentioned, ofeconomic benefit from a tariff to the tariff-levyingcountry which countries may be able to exploit moreeffectively combined in customs union than if theyoperate as separate tariff areas. This benefit to thecustoms area, however, carries with it a correspondinginjury to the outside world. A tariff (...) alters infavor of the tariff-levying country the rate at whichits exports exchange for the imports which suvive thetariff, or its “terms of trade” (...).

Viner estabelecia a seguir, ceteris paribus, uma relaçãodirecta entre a área da unidade impositora do direito adua-neiro e a melhoria nos seus termos de troca, notando quea expansão dessa área tende a aumentar a eficácia da suapauta aduaneira como forma de melhorar os seus termosde troca (pp. 55-56). Por outro lado, notava que

The terms of trade of a customs area with theoutside world can be influenced not only by its own

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tariff but by the tariff of other countries. The higherthe tariffs of other countries on its export products,the less favorable, other things equal, will be the termsof trade of customs area with the outside world. Butthe level of foreign tariff can be affected in somedegree through tariff-bargaining, and the larger thebargaining unit the more effective its bargaining canbe. (...) An abundance of historical evidence is avai-lable to show how significant has been its role in themovement for tariff unification, whether in thecustoms union form or in other forms, although notas a rule expounded in the sophisticated language ofthe “terms of trade” argument. (p. 56)

A) MUNDELL

MUNDELL (1964), partiu de três pressupostos131 (direi-tos aduaneiros inicialmente baixos, reduções pautais peque-nas e substituibilidade genérica de todas as exportações –no sentido de que a subida de preços das exportações deum país cria um aumento da procura das exportações dosoutros) para chegar a um importante naipe de conclusões132.________________________

131 PETITH (1977), p. 262, acrescenta-lhe um outro: cada paísconsumiria todos os três bens do modelo mas produziria apenas uma um nível fixo.

132 Que de outro modo seriam inatingíveis: se os direitos adua-neiros fossem proibitivos a sua redução não provocaria aquilo quechamou o efeito orçamental (cfr. infra, no texto); se as reduções pautaisfossem amplas (e só poderiam sê-lo a partir de direitos iniciais eleva-dos), o efeito orçamental não seria igual ao efeito de preço (cfr. infra,no texto) e perder-se-ia a possível equiparação entre o efeito rendi-mento decorrente da descida de preços subsequente à redução pautal,e o efeito rendimento decorrente da subida de impostos para cobrira diminuição de receitas aduaneiras, tornando a análise mais compli-cada; se em vez de susbstituíveis, as exportações fossem complemen-tares, os resultados sobre os termos de troca seriam imponderáveis.

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Mundell considera três países A, B e C, em que osdois primeiros formam um agrupamento regional133 e Crepresenta o resto do mundo, e procura determinar a alte-ração dos preços relativos das suas exportações subsequenteà diminuição de direitos aduaneiros em A e B. Supondoque os preços internacionais se mantinham inalterados, aredução dos direitos de A sobre as importações de B levariaà diminuição dos preços do bem importado de B no mer-cado de A e provocaria um price effect, aumentando a pro-cura desses bens e diminuindo presumivelmente a dos impor-tados de C e dos produzidos em A.134 Este efeito poderiaser total ou parcialmente anulado por um budgetary effect,ou seja, por uma diminuição de gastos públicos ou umaumento de receitas públicas destinados a compensar a dimi-nuição de receitas alfandegárias. Para pequenas diminuiçõespautais, é possível que a recomposição das receitas esta-

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133 Que, nos termos do segundo pressuposto referido, seria ouum clube de comércio preferencial ou uma fase de transição parauma zona de comércio livre ou união aduaneira.

134 Esta conclusão intuitiva é derivada pelo autor de duas leis: ade Cournot [o somatório dos saldos das balanças (comerciais) detodos os países é zero] e a de Walras [o excesso da procura de al-guns bens sobre a sua oferta é compensado pelo excesso de oferta deoutros bens sobre a sua procura, de forma que em cada país osomatório desses saldos positivo e negativo é igual a zero – cfr.EKELUND JR./HÉBERT (1988), pp. 385-387. Segundo Mundell a des-cida do preço, no mercado de A, das importações provenientes de B(mantidos os preços internacionais) originaria uma diminuição da pro-cura das importações de C no mesmo mercado. Em consequência, abalança comercial de B melhoraria e a de C pioraria. De acordocom a lei de Cournot, a melhoria na balança de B implica neces-sariamente uma deterioração do conjunto das balanças de A e C (oque pode ser comprovado facilmente com uma matriz) e de acordocom a lei de Walras, a melhoria na balança de B deve exceder adeterioração na balança de C pelo montante da redução dos gastosde A nos bens produzidos em A.

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duais através de um aumento das taxas do impostosobre rendimentos tenha um efeito rendimento oposto, masde dimensão semelhante, ao efeito rendimento da inicialdescida do preço interno do bem importado de B. Issopermitiria considerar apenas o efeito substituição dessa alte-ração de preços135.

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135 MUNDELL (1964), p. 4, refere que se se optasse por diminuiras despesas públicas para equilibrar o orçamento e se estas se con-centrassem num dos bens, o efeito orçamental prevaleceria sobre oefeito rendimento (price effect). Doutro modo o efeito orçamentalpoderia compensar o price effect havendo apenas que considerar os efei-tos de substituição induzidos.

Figura 2.11

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Tendo a redução pautal de A melhorado a balançacomercial de B em prejuízo da sua e da de C, os preçosinternacionais devem alterar-se de forma a repor o equilí-brio – ou seja, de forma a deteriorar a balança de B e amelhorar as de C e de A. Mundell fornece uma enge-nhosa representação da forma de determinar o novo equi-líbrio. Na Figura 2.11, as linhas AA’ e BB’ representamos preços internacionais dos bens de exportação, de A ede B, respectivamente, expressos em termos de bem deexportação de C (cujo preço internacional é dado porCC’). Estes preços internacionais permitem alcançar o equi-líbrio nas balanças de pagamentos dos três países antes daalteração das suas pautas aduaneiras, e sendo os três benssubstituíveis entre si possuem determinadas características:

1. AA’ e BB’ são positivamente inclinadas; tomandoo bem de exportação C como numerário CC’ é negati-vamente inclinada;136

2. O declive de AA’ deve exceder o da linha OQe o declive de BB’ deve ser-lhe inferior;

3. Se não se registar um equilíbrio no ponto Q, assituações de deficit e de superavit de cada um dos paísesserão indicadas pelas desigualdades que caracterizam cadaum dos seis quadrantes da Figura 2.11.

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136 Sendo CC’ uma linha de preços que garante o equilíbrioda balança de pagamentos entre C e A+B, as alterações nos preçosrelativos de A e B (em relação a C) têm de ser inversas: se o preçode A sobe em relação ao de C, a balança de pagamentos de C me-lhora em relação à de A e, para se reestabelecer o equilíbrio das balan-ças, é forçoso que, em relação a B, se deteriore. Para tal é necessárioque diminua o preço de B em relação a C.

AA’ e BB’ são também linhas de equilíbrio de balança de paga-mentos mas a sua inclinação é positiva porque uma subida de preçode A em relação a C tem reflexos positivos na balança de pagamen-tos de B, tal como uma subida do preço de B em relação a C temreflexos positivos na balança de pagamentos de A.

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Com base nele, Mundell prevê as alterações nos ter-mos de troca a partir da situação de equilíbrio inicial (Q):a redução pautal conferida por A a B no processo deintegração origina, no pressuposto da manutenção dos pre-ços internacionais, um superavit de B e um deficit de A eC (que poderia ser lido como uma passagem para um pon-to situado no quadrante IV do diagrama); em consequênciaos preços internacionais têm de evoluir de forma a melho-rar as balanças de pagamentos de A e C em detrimentoda de B, indo situar-se, portanto, algures no quadrante Ida Figura 2.11, onde os preços de B teriam subido emrelação aos preços de A e de C137. Ou seja, e em con-clusão: uma redução pautal num dos países membros melhorainequivocamente os termos de troca do seu país parceiro138.

A consideração simultânea de reduções pautais em Aa favor de B (provocando um superavit em B e deficits emA e C) e em B a favor de A (provocando um superavitem A e deficits em B e C) levaria à identificação de duaslinhas de redução aduaneira, a primeira situando-se no qua-drante I, algures entre QC e QA’ (vg. Qa’) e a segundasituando-se no quadrante III, algures entre QB’ e QC’(vg. Qb’). O novo ponto de equilíbrio achar-se-ia no pon-to de intersecção das paralelas a esses pontos parciais, muitoprovavelmente no quadrante II de forma a permitir a

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137 De forma idêntica, se a redução pautal de B beneficiasse A,a consequência inicial seria uma melhoria da balança de pagamentosde A e uma deterioração das de B e C (correspondendo a um movi-mento para o interior do quadrante VI da Figura 2.11), a que seseguiria um ajustamento de preços oposto (aumento de preço de A)levando o novo ponto de equilíbrio a situar-se no quadrante III daFigura 2.11.

138 MUNDELL (1964), p. 6; o autor acrescenta que, a priori, nãose pode determinar se os termos de troca do país que diminui osseus direitos aduaneiros melhoram ou não face ao país terceiro.

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correcção do deficit de C – à custa da deterioração dosseus termos de troca (vg. e1, ou e2)139. Poderia tambémsituar-se no quadrante I – necessariamente à direita da li-nha de redução aduaneira Qa’(vg. e3) – ou no quadranteIII – necessariamente acima da linha de redução aduaneiraQb’ (vg. e4). Ou seja: o novo ponto de equilíbrio podiasituar--se em qualquer ponto do quadrante II – na medi-da em que este está necessariamente compreendido entreas linhas de redução alfandegária situadas nos quadrantes Ie III – ou numa área limitada destes dois quadrantes.

Mundell retirava daqui a sua segunda conclusão: háalguns conjuntos de reduções pautais que permitem melhorar ostermos de troca de ambos os países membros do agrupamentoregional face ao resto do mundo, e outros que só o permitema um deles140.

A consideração de complementaridade entre os bensno consumo nacional podia levar a alterar algumas das obser-vações anteriores: Mundell referia que a probabilidade deos termos de troca de um dos países membros do agrupa-mento regional se deteriorarem face a terceiros paísesseria tanto maior quanto menor fosse a elasticidade cru-zada da procura de exportações de um país membro emrelação à procura de exportações de um país terceiro. Nasituação limite – em que as importações oriundas deste nãosão afectadas pela redução de direitos de A em relação aosprodutos de B, nem pela redução de direitos de B em

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139 No quadrante I os termos de troca de B melhoram em rela-ção a A e a C, no quadrante III melhoram os de A em relação a Be a C e no quadrante II melhoram os de A e os de B em relação aC. Nestes quadrantes o resto do mundo perde sempre: em relação aA, em relação a B ou em relação a ambos – MUNDELL (1964), p. 149.

140 Mundell admitia logo como excepção o conjunto de redu-ções pautais constitutivas de uma zona de comércio livre – idem, ibidem.

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relação aos produtos de A – a balança comercial do paísexterior à união não se altera e há tendência para que ostermos de troca de um dos países membros melhorem eos de outro piorem. Em caso de complementaridade dasexportações de C com as de A e B, a redução pautalentre A e B origina um aumento de procura do bemimportado do outro e, consequentemente, um aumento deimportações oriundas de C – ou seja, um superavit de C eum deficit conjunto de A e B que originam uma melhorianos termos de troca de C face a A e B para reestabelecero equilíbrio141.

Mundell enuncia seis conclusões da sua análise dasalterações pautais (pp. 150-151):

– uma redução pautal discriminatória de um paísmelhora os termos de troca do seu país parceiro não sóem relação a ele mas também em relação ao resto domundo; o país que leva a cabo essa redução pode melho-rar ou não os seus termos de troca face a terceiros países;

– quanto maior for essa redução maior será a proba-bilidade de ganho do país parceiro;

– não é seguro que o conjunto de reduções pautaisrecíprocas garanta a ambos os países uma melhoria nos ter-mos de troca face a terceiros: é possível que só um obte-nha essa melhoria;

– há porém uma presunção de que ambos beneficia-rão face a terceiros, já que a balança comercial da áreacom o exterior deve melhorar;

– há muitos conjuntos de reduções pautais recíprocasque garantem esse resultado (uma delas é a que manteminalterados os termos de troca vigentes entre os partici-

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141 Aceitando-se como pressuposto de análise a produção anível fixo (cfr. supra, nota 131) o aumento de procura originaria deimediato uma melhoria nos termos de troca de C sem ter de recor-rer ao mecanismo de reequilíbrio.

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pantes no processo de integração antes de estes o tereminiciado);

– quando em vez de substituíveis no consumo nacio-nal os bens forem complementares é possível que os ter-mos de troca do resto do mundo melhorem em relação aambos os membros do agrupamento regional.

B) VANEK

Em (1965) Jaroslav VANEK publicou uma análise deequilíbrio geral da teoria das uniões aduaneiras142, que elepróprio via como um complemento dos trabalhos de Vinere Meade143. Os traços distintivos que atribui ao seu traba-lho, em relação aos então conhecidos, eram o uso exclu-sivo da análise de equilíbrio geral e a utilização de funçõesde preferência ordinais, em vez de cardinais144, mas, por

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142 Os antecedentes que cita são GEHRELS (1956), LIPSEY (1960)e LIPSEY/LANCASTER (1956). Nestes – o tratamento então mais avan-çado, se descontada a tese de doutoramento de Lipsey de 1957 (sóimpressa em 1970) – diagnostica ainda as seguintes insuficiências:

1) a solução de equilíbrio geral só é determinada para um país;2) só trata o caso do “pequeno país” para não afectar os pre-

ços mundiais;3) o país só produz um bem e importa apenas dois;4) pressupõe-se uma única curva de indiferença para o país;5) pressupõe-se uma única solução sub-óptima;6) eclipsa-se o problema do bem-estar mundial, afinal a ques-

tão mais importante a que a teoria tenta responder.Quanto à análise de MEADE (1955a), parcialmente de equilíbrio

geral – cfr. VANEK (1965) p. 15 e LIPSEY (1970), Preface e Cap. 9 –,carece de operacionalidade senão como análise de equilíbrio parcial.

143 (1965), p. 8.Viner (1950) e Meade (1955a) são, logo no início do trabalho

de Vanek, considerados os tratamentos clássicos do tema.144 (1965), pp. 10-18.

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outro lado, procurou manter o quadro essencial dos estu-dos de Viner e Meade – que logo de início enunciou:

1) todos os preços são considerados flexíveis e todosos mercados são considerados competitivos;

2) ignoram-se todas as questões monetárias e os pro-blemas da balança de pagamentos decorrentes da formaçãoda união;

3) a análise é de curto ou médio prazo, assumindoinvariantes a tecnologia, a dotação de factores e as condi-ções de procura145.

O nível mínimo de complexidade da análise exige aconsideração de três países (A, B e C – dos quais os doisprimeiros formam a união e C representa o resto do mun-do), cada um dos quais produz um de dois bens (y e x)ou os dois146. Vanek distingue duas situações típicas (e umaoutra, de transição entre estas):

1) A e B comerciam entre si e um deles comerciacom C (situação que faz supor diferentes vantagens com-paradas em A e B e, portanto, diferentes estruturas eco-nómicas);

2) A e B exportam o mesmo bem para C e impor-tam dele o outro (situação que faz supor idêntica vanta-gem comparada em A e B e, portanto, estruturas econó-micas similares).

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145 (1965), p. 8. Vanek distanciava-se das análises que procura-vam então justificar a formação de uniões aduaneiras na base das alte-rações estruturais ou de longo prazo, julgando unilaterais os argu-mentos invocados – o que o levava a concluir que se não puder serdemonstrado que uma união aduaneira é benéfica a curto prazo (i.e.,sem mudanças estruturais induzidas) dificilmente se poderá demons-trar que o é a longo prazo.

146 Haver só dois bens impede relações de complementaridade.Por outro lado, Vanek considera que o output de cada país é fixo,embora mostre posteriormente que tal pressuposto, ao contrário dorelativo ao número de bens, não afecta a análise.

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Para expor os instrumentos de análise, Vanek consi-dera uma liberalização não discriminatória do comércio emA e B antes de abordar a constituição de uma união adua-neira147: o output de x e y em A e B é fixo. A e C expor-tam y e importam x e B exporta x e importa y. A curvade procura recíproca de C revela a sua dotação de facto-res, tecnologia e condições de procura (pode ser inter-pretada como uma curva de procura recíproca de livrecâmbio ou como correspondente à situação em que o restodo mundo impõe um direito sobre as importações – masnão como uma e outra coisa ao mesmo tempo)148.

Somando as produções de x e de y de A e B cons-truímos uma caixa onde se determina o ponto de produ-ção de ambas as economias (Q):________________________

147 Como pressupostos comuns aos diferentes casos VANEK (1965),p. 21, determina que:

a) as preferências dos diferentes países são dadas por uma únicacurva de indiferença social, dotada das características normais das curvasde indiferença individuais (inclinação negativa, convexidade em rela-ção à origem, não intersecção com outras);

b) por causa da flexibilidade dos preços e da concorrência per-feita nos mercados, diferenças nos preços relativos e nas taxas margi-nais de transformação e substituição nos diferentes países só podemdecorrer da existência de direitos de importação ou de exportação,ou de subsídios;

c) esses direitos e subsídios presumem-se ad valorem;d) os governos redistribuem os montantes dos direitos aduanei-

ros, mantendo um orçamento equilibrado;e) a redistribuição é não-distorçora (lump-sum).Refira-se que a hipótese de uma redução pautal não discrimina-

tória haveria de estar na origem da “nova teoria das uniões aduanei-ras”- cfr. infra, CAPÍTULO 4.

148 Cfr. VANEK (1965), p. 23. As offer curves – curvas de procurarecíproca ou curvas de procura e oferta – foram primeiro expostas porAlfred Marshall (“The Pure Theory of Foreign Trade”, 1879) e deri-vadas por Meade. Para uma exposição desta técnica ver, por exemplo,GANDOLFO (1987), pp. 45-47 ou APPLEYARD/FIELD (1998), pp. 103-125.

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O país A está a produzir OAG de y e OAF de x noponto Q. O país B (necessariamente no mesmo ponto, poisé a partir dele que se constrói a caixa) está a produzirOBH de x e OBI de y. L e N são, respectivamente, ospontos de consumo de A e B, situados sobre curvas deindiferença Ua e Ub tangentes à razão de preços internade cada país, que diverge da razão de troca internacionalpelo valor dos respectivos direitos de importação. Uma vezque se estabelece a presunção de que o montante de direi-tos recebidos é devolvido ao sector privado, ambos os pon-tos de consumo se situam sobre a razão de preços inter-nacional (QN). O país B exporta No da sua produção totalde x (OBH) em troca de oQ de y [essa é a razão detroca que vigora no comércio internacional]. Porém, por-que cobra um direito aduaneiro não discriminatório pQ/oP(medido em termos de y, para simplificar) a razão internade preços é dada por Np. Ou seja: além das quantidadesde y que os agentes económicos de B conseguem obteratravés da troca interna de x por y (onerado este pelo direitoaduaneiro aplicável) e que são equivalentes a op, obtêmainda, por transferência, os montantes apropriados pelas alfân-degas de B, equivalentes a pQ.

Figura 2.12

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Em A, o subsídio medido em termos de y é Qj, arazão de troca interna dada por jL e o montante de ximportado é Lm, a troco de mQ de y (essa é a razão depreços no comércio internacional).

Confrontando o diagrama percebe-se que os dois paí-ses consomem mais do bem y do que aquilo que produ-zem (OAm’+OBo’>OAa) mas menos do bem x do que oque produzem (OAL’+OBN’<OAb). A diferença há-de sero resultado do comércio com C: rL de y é importado atroco de Nr de x, segundo a razão de preços que já encon-trámos nas trocas entre A e B [(Lm/mQ)=(No/oQ)==(Nr/rL)]. Se a curva da oferta recíproca do país C forOBC, a quantidade de y oferecida a troco da quantidadeNr de x, à razão de preços representada por OBt (ou NL)será justamente rL e os três mercados estarão em equilí-brio.

Se A e B liberalizassem o seu comércio internacio-nal, não só entre si mas perante o resto do mundo, e acurva da procura recíproca deste fosse infinitamente elás-tica, os termos de troca não se alterariam – a linha LNcontinuaria a representá-los – e os pontos de consumo deA e B continuariam a situar-se sobre ela; mas agora noponto em que as respectivas curvas de indiferença lhes sãotangentes e a taxa marginal de substituição interna seriaigual à razão de troca internacional. São possíveis três desfe-chos: ou a distância (medida sobre o rácio de preços inter-nacional) entre L e N se alarga, ou se contrai, ou perma-nece idêntica. Neste último caso, o volume de comércioentre A e B, tomados em conjunto, e C, não se altera,mas altera-se naturalmente o que se efectua em A e B:atendendo a que as curvas de indiferença representadas naFigura 2.12 eram secantes à razão de preços internacional,é possível atingir curvas de indiferença mais afastadas daorigem, na medida em que, agora, lhe são tangentes. Se aquantidade de y importada de C e a de x exportada para

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C se mantiverem idênticas, os ganhos resultantes dodesmantelamento não discriminatório das pautas aduanei-ras de A e B circunscrever-se-ão a estes, mantendo-seinalteradas as relações com C. Naturalmente é mais pro-vável que o comércio com C seja afectado, ainda quandonão haja, como de momento se supõe que não há, altera-ções nos termos de troca. Se a separação entre L e N sealargar (o que é tanto mais provável quanto menor for aelasticidade-rendimento do produto x em A e B) aumen-tará o volume de comércio entre A e B, por um lado, eC, por outro; se a separação entre L e N se estreitar (oque é tanto mais provável quanto menor for a elastici-dade-rendimento do produto y em A e B) diminuirá ovolume de comércio entre A e B, por um lado, e C, poroutro.

Para acompanhar os efeitos da liberalização do comér-cio é vantajoso ampliar o quadro recortado na Figura 2.12e reorientá-lo:

Se a curva da procura recíproca deC não for infinitamente elástica e forconhecida em todos os seus pontos(seja, vg, a curva OBC representada naFigura 2.12 e reproduzida, à escala, naFigura 2.13 como OC) os termos detroca dados por OM não se alterarãose o comércio de A e B com C não aumen-tar nem diminuir (as curvas da procurarecíproca de A e B, e de C, con-tinuarão a cruzar-se justamente noponto em que o faziam antes, ou sejamantém-se a quantidade de x (xo) queé oferecida a C pela mesma quantidadede y (yo) importada deste).

Figura 2.13

Se o comércio entre A e B com C aumentar (emrelação a LN) – o que, como se viu, depende da elastici-dade-rendimento de x – o cruzamento com OBC (OC

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na Figura 2.13) não se poderá dar sobre a linha do ante-rior preço relativo QN (OM, na Figura 2.13). Na Figura2.13, esse ponto de intersecção ocorrerá à esquerda e acimade OM, eventualmente no ponto W, onde os novos ter-mos de troca seriam representados pelo segmento OW.

Se o comércio entre A e B com C diminuir – oque depende da elasticidade-rendimento de y em A e B –,o cruzamento com OBC (OC na Figura 2.13) não se po-derá também dar sobre a linha do anterior preço relativoQN (OM na Figura 2.14). Na Figura 2.14, esse ponto deintersecção ocorrerá à direita e abaixo de OM, eventual-mente no ponto t’, onde os novos termos de troca seriamrepresentados pelo segmento Ot’.

No primeiro caso – manutenção do comércio entreA e B, por um lado, e C por outro – os termos de trocamantêm-se. No segundo caso – expansão do comércioentre os dois primeiros e C – os termos de troca daquelesdeterioram-se. No terceiro caso – contracção do comér-cio entre A e B, por um lado, e C, por outro – os ter-mos de troca dos primeiros melhoram. Assim a liberalizaçãocompleta do comércio de A e B com o resto do mundotanto pode provocar uma deterioração dos seus termos detroca, como a sua melhoria, dependendo dos valores daselasticidades-rendimento dos bens em causa. No entanto,tal medida permite a expansão do comércio entre A e Be permite aos consumidores desses países alcançarem cur-vas de indiferença mais elevadas. Esses ganhos de bem-estarpodem ainda aumentar se nos dois países houver re-alo-cação dos recursos produtivos e alterações do seu output,como em princípio haverá face à alteração das razões inter-nas de preços.

Vanek considera a seguir o que se passa quando A eB constituem uma união aduaneira entre si, partindo dahipótese de que o país A exporta o bem y (para B) eimporta o bem x (de B) e o país B exporta o bem x

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(para A e C) e importa o bem y (de A e de C)149. NaFigura 2.13, o ponto M marca o ponto de equilíbrio nocomércio internacional e as suas coordenadas xo e yorepresentam, respectivamente, as quantidades de x expor-tadas por B para C e as quantidades de y por aquele impor-tadas deste, em troca.

Se A e B liberalizarem o comércio entre si mas nãocom C, os rácios de preços internos em A e B hão-deigualar-se e diferir do rácio do comércio com C pelo valordo direito aduaneiro imposto pela união150. Naturalmente,a novos preços relativos internos hão-de corresponder novassituações de consumo, de forma a que a taxa marginal de

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149 Essa situação já poderia resultar da Figura 2.12 se aí a dis-criminação das fontes de abastecimento tivesse alguma importância:as exportações de x, por B, totalizavam No, enquanto as importa-ções de x, por A, somavam apenas Lm; a diferença teria, natural-mente, de ser o que era exportado de B para C. As importações dey por B totalizavam oQ, enquanto as exportações de y por A soma-vam apenas mQ. A diferença teria de vir de C.

150 Seja pelas importações de C, seja sobre as exportações paraC – VANEK (1965), p. 31.

Figura 2.14

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substituição se lhes equipare (as mais altas curvas de indi-ferença ao alcance dos consumidores de A e de B serãoas que sejam tangentes ao novo rácio de preços. Sendoeste idêntico para as duas economias, também o serão astaxas marginais de substituição).

Após a formação da união, Figura 2.14, a produçãomantém-se em Q para ambos os países mas o consumodesloca-se para novos pontos de equilíbrio. Suponhamosque no país A, que não mantém relações com o resto domundo neste modelo de dois bens, o novo rácio internode preços é dado por Qf. Nesse caso o ponto de con-sumo será L’ (a partir de Oa), no ponto em que a curvade indiferença é tangente à razão de preços interna. L’Qmarca a razão de troca entre y e x no interior da união.No país B, a produção está situada em Q e, após a trocacom A, o consumo possível é também representado porL’ (a partir de Ob). Acontece que, em situações normais,o sector privado de B estará interessado em expandir assuas trocas àquela razão de preços, até porque, ao fazê-lo,colhe um subsídio proporcional ao volume de comérciocom o resto do mundo (o que não é mais do que o reem-bolso dos direitos aduaneiros cobrados nesse comércio). Oponto de equilíbrio no consumo em B obtém-se entãono ponto N’, onde a curva de indiferença Ub’ tem omesmo declive que a curva de indiferença Ua’, já queambas são paralelas nesses pontos. De facto, sendo estas tan-gentes aos respectivos rácios de preços internos, e sendoestes iguais nas duas economias após a formação da união,não poderia ser de outra forma. Por sua vez a linhaL’N’ dá-nos o rácio de preços no comércio entre B e C,cedendo B a quantidade L’e de x a troco de eN’ de y epagando N’f de impostos aduaneiros que são devolvidosao sector privado para permitir as aquisições em N’151.________________________

151 Cfr. nota anterior.

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Regressando à Figura 2.13, OyoM aparece como umaampliação do triângulo do comércio externo da união(representado na Figura 2.14 por N’eL’), sendo Oyo asimportações de B e Oxo as suas exportações para C. UMrepresenta o direito aduaneiro cobrado em B – que, jus-tamente, é responsável pela diferença entre os termos detroca internos – OU (L’f na Figura 2.14) – e externos –OM (L’N’ na Figura 2.14).

Daqui decorre que:a) os termos de troca externos do país C pioraram

(na Figura 2.14, a razão de troca de B com C deixa deser representada por NL para passar a ser dada por N’L’– o que revela que cada unidade de x importada por Clhe custa agora mais unidades de y);

b) o comércio da união com o resto do mundo di-minui (diminui o segmento N’L’ em relação a NL, o quequer dizer que o conjunto de x e y transaccionado entreB e C diminui);

c) o comércio intra-união aumentou (antes da for-mação da união aduaneira era representado por QL; de-pois, por QL’ – o que significa que o conjunto de x e ytransaccionado entre A e B aumentou);

d) os termos de troca internos do país A melhoraram(de jl para QL’), o que representa uma considerável valo-rização do bem [y] em termos de bem importado [x],

e) os termos de troca internos do país B também me-lhoraram (o que prima facie parece paradoxal, atendendo aque isso é o inverso do que anteriormente se constatoupara A – mas que nada tem de estranho tendo em contaque o que em ambos os casos encareceria o bem impor-tado em termos de bem exportado era a incidência dosdireitos aduaneiros. Removidos estes, nada mais natural doque a melhoria na razão de troca interna em B: da queera representada por NQ, para QL’ [N’ situa-se noponto em que a curva de indiferença U’b tem exacta-mente a mesma inclinação que QL’]);

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f) as receitas aduaneiras de B diminuiram (de pQ paraN’f – em resultado da extinção da cobrança de impostosalfandegários sobre as importações de A e da diminuiçãodas importações provenientes de C).

Vanek era de opinião que o equivalente, em termosde equilíbrio geral, ao desvio de comércio de que falava Viner,era a contracção do comércio entre o resto do mundo (C)e a união (B) – que era representado na Figura 2.13 peladiminuição do vector OM para Ot’. Porém, acrescenta,o prejuízo para o rendimento do resto do mundo não esta-ria apenas na contracção de comércio – como poderíamosdepreender de Viner – mas também na deterioração dos ter-mos de troca152.

Por outro lado, a expansão do comércio no interiorda união – patente no aumento do vector QL para QL’– também não era, para Vanek, critério de aumento debem-estar, como a Figura 2.14 exemplificava: o país Amelhorava a sua situação (passando de L para L’ alcançavauma curva de indiferença mais elevada), mas a situação dopaís B piorava (passando N para N’ situava-se sobre umacurva de indiferença mais próxima da origem)153.

Além deste desfecho, que Vanek julga o mais prová-vel no mundo real, dois outros seriam possíveis: o de aformação aduaneira originar a total supressão do comércioentre a união e o resto do mundo – e o de ele não alte-rar o padrão e o volume de trocas da união com o resto

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152 VANEK (1965), p. 33, nota que caso a curva Ot fosse ine-lástica a partir do ponto t na Figura 2.12, uma deterioração dos ter-mos de troca de C provocaria uma diminuição do seu rendimento,mesmo que aumentasse o comércio.

Onde há imediata deterioração nos termos de troca aquandodo desvio do comércio, é no país A (que passa a comprar mais caroa B do que comprava a C).

153 Cfr. também VANEK (1965), p. 51.

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do mundo. A primeira situação – que designa por ani-quilação de comércio – exigiria a verificação de condiçõesmuito especiais154; a segunda, igualmente improvável, mere-ceria ser considerada potencialmente benéfica para o mundono seu todo (i.e., para os países que formam a união epara o país C), uma vez que se não verificaria qualquerefeito negativo para o resto do mundo: nem desvio de comér-cio, nem deterioração dos termos de troca155.

Vanek aprecia também as consequências de uma uniãoaduaneira entre duas economias similares, ou seja, a situa-________________________

154 Designadamente que, no caso em análise, o bem x fosseum bem inferior e que as condições de troca supusessem eventual-mente a verificação do paradoxo de Giffen.

Suponha-se, por exemplo, que na Figura 2.14 a curva de indi-ferença Ub’ era tangente à curva de indiferença Ua’ no ponto L’,sendo, portanto, Qf a sua inclinação: nenhum comércio seria realiza-do com o resto do mundo, já que a produção no interior da união(em Q) assegurava as quantidades de x e y consumidas em L’, etrocadas internamente segundo o rácio dado por Qf. Não haveriaentão cobrança de direitos aduaneiros, e os termos de troca interna-cionais até podiam ser os representados por L’N’ – VANEK (1965),p. 34.

155 Seria necessário que o bem y (importado por B) tendesse aser inferior no país B e o bem x (importado por A) tendesse a serinferior no país A.

Suponha-se, por exemplo, que L’N’ tem a mesma inclinação eextensão que LN, como no diagrama seguinte:

As receitas aduaneiras do co-mércio de B com C manter--se-iam inalteradas mas as obti-das no comércio com A desa-pareceriam: consequentementeos rácios de preços em A e Bequiparar-se-iam (QL’ passava aser paralelo a NP).(NP prevalece por ser o ráciode preços no país em que hádistorções introduzidas pordireitos aduaneiros sobre im-portações de C).

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ção em que quer A quer B exportam x para C e deleimportam y. No caso de as pautas aduaneiras de A e Bserem idênticas e a pauta aduaneira comum ser fixada aonível médio, da união não resultam efeitos alguns sobreos padrões de comércio. Por outro lado, se os direitos adua-neiros diferissem bastante e a pauta aduaneira comum fos-se fixada acima do valor médio, dar-se-ia o que Vanekbaptizou de trade reversal (reversão de comércio), traduzidona conversão de um dos países da união, de importadorde um bem de C, a exportador desse bem para o seu paísparceiro.

C) ARNDT

Em (1969) ARNDT introduziu uma modificação numdos parâmetros da análise tradicional: em vez de conside-rar um modelo de três países, reduzindo a não-união aum país (ou a um grupo de países), considerou o resto domundo como formado por componentes heterogéneas –o que no modelo mais simples implicou tomar em consi-deração quatro países. Esta alteração permitiu-lhe demons-trar que a modificação dos termos de troca dificilmentese pode traduzir, sem mais, em prejuízo para o resto domundo e que a existência de mais do que um país forada união pode justificar para alguns países uma estratégiade apoio à constituição da união mas não adesão a ela.

Arndt considerou dois grupos de países consoante estesproduziam, aos termos de troca prevalentes, o bem x ouo bem y. O grupo de exportadores de y (WA) seria cons-tituído por A1 e A2, enquanto o grupo de exportadoresde x (WB) seria composto por B1 e B2. A1 e B1 são, res-pectivamente, os mais eficientes produtores de y e x, demodo a aparecerem como exportadores do bem que pro-duzem mais eficientemente (e, consequentemente, comoimportadores do outro).

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Traçando as respectivas curvas de procura recíproca(OA’1 e OB’1) e fazendo a soma radial das curvas de pro-cura recíproca de A2 e B2 (OA’2 e OB’2) a cada um dossucessivos termos de troca, obtemos funções agregadas deprocura recíproca. A oferta de cada um dos grupos (WA eWB) será coincidente com a curva de procura recíprocado seu mais eficiente exportador (A1 e B1) até ao pontoem que um outro país se torna exportador. Diagramatica-mente, a soma das curvas de procura recíproca de A2 eB2 com, respectivamente, as de A1 e B1, inicia-se nos pon-tos em que os termos de troca internacionais induzem A2

e B2 a tornarem-se exportadores.O ponto de intersecção entre OW’A e OW’B deter-

mina os termos de troca mundiais. Em comércio livre, estesseriam também os termos de troca internos em cada umadas quatro economias (A1, A2, B1 e B2). Se em cada paísexistirem direitos aduaneiros, como se supõe que existem,as curvas de procura recíproca são “compensadas”, i.e., reflec-tem a redistribuição das somas percebidas em cada fron-teira fiscal.

No primeiro quadrante da Figura 2.15 representa-sea situação descrita: os termos de troca internacionais sãodados por Tr, P é o ponto de equilíbrio que correspondeà intersecção das curvas das curvas de procura recíproca“compensadas” dos produtores de y e de x. Podemos ilus-trar as condições internas de cada um dos países recor-rendo, por exemplo, a A2: a razão de preços interna édada por VM, resultando de um direito aduaneiro advalorem de taxa OM/MN. A linha dos termos de trocainternacionais corta a curva de indiferença que passa porV e o preço relativo interno é o dado pela tangente aessa curva de indiferença.

Se A2 e B2 formassem uma união aduaneira com umapauta exterior proibitiva, o equilíbrio no resto do mundoseria dado pelo ponto de intersecção das curvas da oferta

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Figura 2.15

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de A1 e B1 – p’ –, com termos de troca internacionaisdados por OTW e que, situando-se abaixo dos anteriores(OTr), representariam uma deterioração nos termos detroca do importador de y.

No terceiro quadrante da Figura 2.15 representam-seas curvas de procura recíproca “compensadas” de A2 e B2

(OA’2 e OB’2) e as suas curvas de procura recíproca emcomércio livre (OA2 e OB2). O ponto de equilíbrio há-deencontrar-se no ponto de intersecção destas já que na uniãoaduaneira não há restrições ao comércio entre os paísesmembros e se supôs que a pauta exterior é proibitiva: seráE, com termos de troca dados por OTu. Aparentemente,os termos de troca A2 e os do seu anterior grupo (WA)evoluíram em sentidos opostos, tal como ocorreu para B2

e para o seu anterior grupo (WB): enquanto no interiorda união aqueles apontam para uma valorização de y, noseu exterior é x que aumenta de valor em relação a y.

Arndt sublinha que tal não é uma consequência neces-sária da análise, podendo, para certos grupos de países ecertos valores de direitos aduaneiros, haver uma evoluçãono mesmo sentido dos termos de troca intra- e extra-comu-nitários. Um caso especial também possível é a manuten-ção dos anteriores termos de troca no interior ou no exte-rior da união, alterando-se estes apenas no outro bloco.

Em qualquer caso, ao que nega sentido é à antecipa-ção da evolução dos termos de troca da união e do restodo mundo, entendido este como um único bloco: tirandoum ou outro caso especial (considerados a seguir), a alte-ração dos termos de troca por efeito da constituição deuma união aduaneira beneficiará alguns países e prejudica-rá outros, sem que se possa determinar antecipadamentequem ganha e quem perde com essa alteração. Arndt con-sidera duas excepções:

a) Se uma união aduaneira proibitiva for constituídapor economias similares, isto é, por economias exportado-

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ras de um mesmo bem y, os termos de troca evoluirão afavor de y no resto do mundo e a favor de x (o outrobem) no interior da união156.

b) Se uma união aduaneira agrupar todos os exporta-dores de um certo bem y, “o preço relativo de x subiráno interior da união e descerá no seu exterior, dando ori-gem a reversões de comércio nalguns países e deixandoambos os blocos com termos de troca uniformementepiores”157 .

Retomando a Figura 2.15 pode demonstrar-se que opaís B2 ganhou e o país A2 perdeu com a constituição daunião aduaneira: ao passar do ponto R’ (=V) para o pontoE, o país A2 sofreu uma diminuição do seu bem-estar,resultado de duas tendências opostas; uma – decorrenteda eliminação dos obstáculos ao comércio com B2, do au-mento de especialização na produção158 e dos reajustes noconsumo159 –, tendente a aumentá-lo, podia ser represen-tada pela passagem de R’ (e da curva de indiferença Ia2)para F (e para a curva de indiferença Ia3) a termos de trocaconstantes; a outra – decorrente da alteração dos termos detroca – tendente a diminuí-lo, representada pela alteraçãodos termos de troca OT’t (=OTr) para OTu(levando A2 de volta à curva de indiferença Ia1). Ao pas-sar do ponto Q’ (=Q) para o ponto E, o país B2 aumen-tou o seu bem-estar: por um lado, a eliminação dos obs-táculos ao comércio com A2, o aumento na especialização________________________

156 Sem alteração do rácio de preços não haveria produção dooutro bem no interior da união, como teria de haver se a pautaaduaneira comum fosse proibitiva.

157 ARNDT (1969), p. 112.158 A remoção dos direitos aduaneiros sobre a importação de x

altera a alocação de recursos em favor do aumento de produção de y.159 A remoção dos direitos aduaneiros sobre a importação de x

faz diminuir o seu preço interno (de MV para OTr) e, portanto,aumentar o seu consumo.

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na produção e os reajustes no consumo levá-lo-iam de Q’(na curva de indiferença Ib1) para D (na curva de indi-ferença Ib2); por outro, a alteração dos termos de trocade OT’t (=OTr) para OTu beneficia x (o seu bem deexportação) em detrimento de y (o seu bem de importa-ção). A passagem de D para E assegura um ganho suple-mentar (Ib

2 para Ib3): B2 ganha por aumentar o seu volu-

me de comércio e por melhorarem os seus termos de troca.O resultado líquido no espaço da união exigiria compara-ções de ganhos e perdas nos seus membros160.

Se as economias situadas fora da união mantivesseminalteradas as suas curvas de procura recíproca161 – no nossocaso OA’1 e OB’1 – a única alteração no seu nível debem-estar dependeria da alteração dos termos de troca. Seestes passarem a ser dados por OTw – sendo OTw o raioque saindo da origem passa pelo ponto de intersecção dassuas curvas de procura recíproca (p’) – a situação de B1

deteriorar-se-ia, enquanto que a de A1 melhoraria. Daquiresultam diferentes estratégias: A1 favorecerá a cosntituiçãoda união mas beneficiará da não adesão a ela, enquantoque B1, a não aderir a ela, seria hostil à sua constituição.

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160 Isto, mesmo que a economia que retirasse vantagens da for-mação da união compensasse as perdas do seu parceiro – o que equi-vale a recorrer ao critério de Kaldor-Hicks para aferir entre situaçõessub-óptimas: é que sempre haveria a apurar se havia um ganho líquidoe, nesse caso, qual a dimensão.

Obviamente, mesmo que um país ganhe (perca), nem todos osseus agentes económicos ganham (perdem): uma união aduaneira alteraa distribuição dos rendimentos e daí decorrem alterações díspares nobem-estar dos seus cidadãos.

161 Tal suporia, desde logo, a alteração dos níveis de direitosaduaneiros estabelecidos anteriormente à redução do número de par-ceiros comerciais por efeito da constituição de uma união aduaneiracom direitos alfandegários proibitivos.

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Se A2 e B2, membros de uma união aduaneira comuma pauta exterior proibitiva, adoptassem outra, não-proi-bitiva, OTu e OTw não perdurariam como termos decomércio dentro e fora da união, respectivamente. À me-dida que os direitos aduaneiros da união baixassem, e àmedida que, no interior da união, se substituísse a produ-ção do bem cujo preço desce (por força dessa redução edo início das importações) pelo outro bem, OTu deslo-car-se-ia no sentido dos ponteiros do relógio, ao mesmotempo que OTw se deslocaria em sentido inverso (porforça do ajuste às novas condições de procura internacio-nal), fazendo subir os preços de y no interior da união efazendo descer os preços de x (e portanto aumentando oconsumo deste nesta). Fora da união, aconteceria o con-trário, mas – a menos que as pautas aduaneiras da união edo resto do mundo chegassem a zero – OTu e OTwnão deixariam de formar uma linha quebrada.

Os termos de troca do resto do mundo situar-se-ão,em princípio, entre OTr e OTw, dependendo do mon-tante do direito aduaneiro imposto pela união162. Os doismembros da união terão, quanto a este, interesses opostos:o país B2 verá os seus ganhos diminuírem e o país A2 assuas perdas reduziram-se à medida que baixa esse direito163.

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162 Quanto mais elevado for esse direito mais próximos ficarãoos termos de troca do resto do mundo de OTw. Quanto maisbaixo for esse direito, maior será a aproximação dos termos de trocade OTr.

163 Com uma pauta aduaneira não proibitiva há lugar à co-brança de receitas que devem ser distribuídas entre os membrossegundo uma forma determinada. Para atrair A2 à constituição de umaunião que só é vantajosa para B2, as receitas aduaneiras da uniãopodiam ser redistribuídas aos consumidores de A2. Meade já tinhamostrado que transferências de B2 para A2 provocariam alterações nasrespectivas curvas de oferta (pois a despesa nacional deixa de coinci-dir com o rendimento nacional).

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D) GHOSH

O traço distintivo da análise de GHOSH (1974) é aintrodução de duas uniões aduaneiras (e dois países situa-dos no seu exterior) – o que lhe permite alargar a con-clusão de ARNDT (1969) de que alguns países podem bene-ficiar da constituição de uma união aduaneira desde quenão participem nela: a existência de duas uniões aduanei-ras é, para alguns países, preferível à existência de uma só,com a mesma composição.

Ghosh constrói um modelo de seis países incomple-tamente especializados na produção de dois bens, x e y.Os países que exportam o bem y são designados A1, A2 eA3 (consoante a sua hierarquia de custos e a taxa do di-reito ad valorem que impõem às importações) enquanto queos países exportadores de x são designados B1, B2 e B3

(pelas mesmas razões). Para garantir maior simplicidade,postula-se que os termos de troca não variam de forma ainverter a especialização produtiva de país algum.164 Uti-liza-se uma combinação de curvas de excesso de oferta ede curvas de procura recíproca agregadas165.________________________

164 Os outros postulados são:a) pleno emprego de recursos;b) oferta de factores perfeitamente rígida;c) ausência de custos de transporte;d) bens homogéneos e transportáveis;e) factores de produção imóveis internacionalmente;f) preferências e gostos idênticos nos indivíduos de cada país;g) curvas de indiferença convexas em relação à origem;i) direitos aduaneiros reguladores;j) transferência das receitas aduaneiras para a comunidade como

subsídios.Os últimos dois postulados eliminam a possibilidade de altera-

ções na distribuição do rendimento e de curvas de procura recíprocase intersectarem [Ghosh (1974), p. 91].

165 As offer curves ou curvas de procura recíprocas são geralmente

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Finalmente, admite a constituição de duas uniões adua-neiras (U1 e U2) – cada cada uma entre um exportador dey e um exportador de x (U1 – A2 e B2; U2 – A3 e B3) –e suficientemente grandes para que qualquer delas interfiranos termos de troca mundiais, e uma super-união (U),combinando as precedentes. Porque só há dois bens, todoo comércio exterior de cada união se centra num únicopaís166, e para as duas uniões, o bem em excesso é dife-rente.

Assim, na Figura 2.16 OA’1, OA’2 e OA’3 são cur-vas de oferta de y em troco de x dos países exportadoresde y, ajustadas pelo valor do respectivo imposto aduaneiroad valorem sobre as importações OB’1, OB’2 e OB’3 sãoas correspectivas curvas de oferta de x, ajustadas pelo valordo respectivo imposto aduaneiro ad valorem sobre as impor-tações167.

OILW’A e OJKW’B são curvas de procura recíprocaagregada dos países A e B, respectivamente, derivados pelo

atribuídas a Alfred Marshall (cfr. supra nota 148). ARNDT (1969),p. 103, nota 3, seguido por GHOSH (1974), p. 91 e nota 3, porém,atribui a sua utillização implícita a Frank Graham – num artigo de1923 – e a sua derivação a Gary Becker (em 1952) e a George Elliot(em 1960). Ghosh utilizou também “excess offer curves”, que atribuia Vanek. MILNER/GREENAWAY (1979), p. 82, imputam a sua utiliza-ção no domínio das uniões aduaneiras a uma obra posterior de VANEK

– (1965).166 Sendo cada união formada por um produtor de y e um de

x, que comerciam entre si, dificilmente a união poderia importar doexterior simultaneamente, x e y. Supõe-se que a oferta de exporta-ções de um dos membros de cada união é excedentária em relação àprocura de importações do seu país parceiro, daí resultando o comércioexterno da união,

167 Este ajustamento ocorre porque, com um direito aduaneiro,por cada unidade de exportações do país que o impõe se exige umamaior quantidade de importações.

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método da soma radial das curvas de procura recíproca indi-viduais, com uma modificação introduzida pelo autor168.

Numa situação pré-uniões, os termos de troca mun-diais seriam dados pela linha OTt, sendo Tt o ponto deintersecção das duas curvas de procura recíproca agregadascompensadas. Os preços relativos internos dos dois bensem cada país seriam, porém, dados pela incidência dos direi-tos aduaneiros sobre esta razão de troca, sendo, para ospaíses A1, A2 e A3

169, respectivamente UQ, TP e SM170.O rácio de preços seria então igual à TMS por, nesse pon-to, ser tangente à mais alta curva de indiferença alcançá-vel em cada país, como é patente na Figura 2.16:

168 Ghosh introduziu uma modificação na forma de determina-ção do traçado intermédio das curvas de procura recíproca agregadasde forma a superar o problema da possibilidade de obtenção de elas-ticidades errantes (no sentido em que podiam ser determinados paraela valores superiores à unidade, iguais e inferiores seguidos de valo-res inferiores, iguais e superiores ao longo da mesma curva de pro-cura recíproca agregada) à volta dos pontos de descontinuidade, comoacontecia nas utilizadas por Arndt. A argumentação consta do apên-dice ao artigo, pp. 99-101.

169 Outrotanto se poderia fazer para os países B.170 De acordo com a hierarquia estabelecida como condição do

modelo, a taxa do direito aduaneiro de A1 (representada porOQ/QR) é menor do que a taxa do direito aduaneiro de A2 (repre-sentada por OP/PV) e esta menor do que a do de A3 (representadapor OM/MN).

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No diagrama ao lado, pode ver-se quenuma situação de comércio livre (comcurvas de oferta AO e OB) a ofertade Ox’ requeria Oy’ em troca. Coma imposição de um direito aduaneiroem B a oferta de Ox’ requer Oy’’em troca, sendo a diferença y’y’’ des-tinada ao pagamento do direito adua-neiro. Os termos de troca de B me-lhoram mas o rácio de preços internoenfrentado pelos seus consumidores éagora dado por t. [Cfr. MILNER/GREE-NAWAY (1979), pp. 46-47].

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Com a formação das uniões U1 – que exporta para oseu exterior y – e U2 – que exporta para o seu exteriorx171 – ocorrem várias alterações nesta situação (Figura 2.17):

As curvas de procura recíproca relevantes para as uniõesU1 e U2 passam a ser curvas de comércio livre (OA2 e OB2

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171 Recorde-se que, uma vez que U1 é formada por A2 e B2 eU2 é formada por A3 e B3, dizer que U1 exporta y e U2 exporta xé o mesmo que dizer que A2 e B3 são os únicos países dessas duasuniões que mantêm relações comerciais com o exterior da união.Ghosh chama, por isso, a B2 e A3 membros passivos da união (p. 94).

Figura 2.16

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são curvas não ajustadas pelo valor dos direitos aduaneirosuma vez que o comércio entre A2 e B2 está isento deles –o mesmo valendo mutatis mutandis para OA3 e OB3 – mar-cando o seu ponto de intersecção os termos de troca deequilíbrio no interior da cada união172). A partir delas, euma vez que na união U1 há um excesso de y e na uniãoU2 um excesso de x, derivam-se as curvas de excesso deoferta173 OE2f e OE3f que, no entanto, carecem de ser ajus-tadas em função dos direitos cobrados por cada união nasimportações do exterior – o que origina as curvas de ex-cesso de oferta ajustadas OE2t e OE3t. Para determinar aoferta de y e de x no mercado mundial, temos de somar oexcesso de oferta de y por U1 (OE2t) com a oferta ajusta-da de y por A1 (i.e.: a quantidade de y disponível para atroca internacional à razão de preços interna A1 – deter-minada esta pela incidência do direito sobre as importa-ções) e o excesso de oferta de x por U2 (OE3f) com aoferta ajustada de x por B1

174. O resultado serão as curvasde procura recíproca OI’L’WA e OJ’K’WB, cuja intersecçãodeterminará os termos de troca mundiais (OTuW).

Regressando à Figura 2.16, vemos que o ponto deintersecção das curvas de procura recíproca ajustadas de A1

[A’1]e B1 [B1'] – relevante quando as uniões impõem umapauta aduaneira proibitiva – dá origem a termos de trocarepresentados por TW. Como estes se situam abaixo dostermos de troca vigentes antes da formação das uniões(OTt) a constituição destas com pautas aduaneiras proibitivasorigina efeitos diferenciados no resto do mundo: no caso,o país A ganha – por os seus termos de troca melhora-

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172 Cfr. todavia o que se escreve na nota 175.173 As “excess offer curves” referidas supra, nota 165.174 A1 e B1 são os países que não participam em nenhuma das

uniões e A’1 e B’1 as suas curvas de procura recíproca ajustadaspelo valor dos seus direitos aduaneiros.

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Figura 2.17

rem – e o país B perde – por os seus termos de trocapiorarem.

Na Figura 2.17 vemos que também os termos de trocamundiais OTuW se situam abaixo dos termos de trocamundiais na situação pré-uniões aduaneiras – o que im-plica que, mesmo que as uniões não adoptem direitos adua-neiros proibitivos, alteram os termos de troca mundiais, daíresultando benefícios para alguns países e prejuízos paraoutros. ARNDT (1969) já tinha chegado à mesma conclu-são, mas Ghosh amplia-a ao considerar que ela se aplicatambém aos países de cada união e até às próprias uniões.De facto, uma vez que os termos de troca que se estabe-lecem no interior da união U1 são dados pelo ponto deintersecção das curvas de procura recíproca de comérciolivre de A2 e B2

175 – e se situam abaixo dos termos de

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175 A lógica parece ser esta:Uma vez que nas relações comerciais no interior da união não

há obstáculos ao comércio, as curvas de oferta relevantes são as de

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comércio livre e só o seu ponto de intersecção assegura termos detroca que “limpam o mercado”; quaisquer outros originam umdesencontro entre ofertas e procuras que evoluem no sentido do equi-líbrio.

Se os termos de troca forem dados porT1, B quereria exportar Ox’ em troca deOy’ enquanto A quereria exportar Oy’’a troco de Ox’’. Como Ox’’>Ox’, have-ria um excesso de procura de x e umexcesso de oferta de y (já que Oy’’>Oy’).Isso levaria a uma subida do preço rela-tivo de x deslocando-se os termos de tro-ca em sentido inverso ao dos ponteirosde um relógio, até se estabelecerem noponto de equilíbrio no mercado (e). [Cfr.Milner/Greenaway (1979), pp. 22-23].

Porém, uma vez que há um excesso de oferta de um dos bens(y na união U1, x na união U2) não se pode dizer que os termos detroca no interior de cada uma se limitem a ajustar as procuras recí-procas – o que é teoricamente possível para vários termos detroca tendo em atenção que o excesso de um dos bens obtém escoa-mento noutro mercado. Num certo sentido os termos de troca inter-nacionais e internos condicionam-se mutuamente já que é o seu valorrelativo que determina a afectação de bens ao comércio intra-uniãoe ao comércio extra-união. Depois, como a consideração dos ráciosde preços e das fronteiras de possibilidades de produção demonstram,a ausência de obstáculos ao comércio entre os membros de uma uniãonão equivale à realização desse comércio aos termos de troca docomércio livre: pelo contrário admite-se que a remoção dos direitos adua-neiros ao comércio com o país parceiro permita a este fazer reverterpara si a margem de preferência decorrente da pauta aduaneira comum.[Cfr. vg. MICHAELY (1965), p. 6].

Ou seja: a obtenção de um market clearing price está aquisujeita aos ajustamentos não em um, mas em dois mercados: as quanti-dades procuradas e oferecidas no interior da união são função dosseus preços relativos mas também dos seus preços relativos no seuexterior. De resto MILNER/GREENAWAY (1979), pp. 82-83, fazemdepender a curva de excesso de oferta justamente da inexistência deum market clearing price no interior da união:

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OA representa a oferta de y de A ao seu parceiro B e OBrepresenta a oferta de x de B a A. Se os termos de troca no interiorda união se fixassem em Te, não haveria excesso de oferta de bemalgum já que as quantidades procuradas e oferecidas de x e y seriamiguais (a curva de excesso de oferta a esses termos de troca situar-se--ia na origem). Aos termos de troca T1, há um excesso de oferta dey por x, ou seja, há uma diferença GF entre os pontos em que acurva da oferta de A e a curva de oferta de B cruzam a linha T1;transposta essa diferença para a curva de excesso de oferta (A+)passaríamos do ponto O para o ponto H (GH=OH). Se com asmesmas curvas de oferta os termos de troca ficassem acima de Te, acurva de excesso de oferta da união representaria um excesso de ofertade x.

Do que não há dúvida é de que Ghosh conclui acerca dosefeitos da constituição das uniões aduaneiras a partir da delimitaçãodos termos de troca mundiais (decorrentes da agregação da curva deexcesso de oferta de cada uma das uniões com a curva de procurarecíproca do mesmo bem dos países do resto do mundo e da suaintersecção) pelos termos de troca de comércio livre de cada união:OTuw fica “entre as linhas de preço do comércio livre das duas

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B

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troca mundiais – e os termos de troca que se estabelecemno interior da união U2 são dados pelo ponto de intersecçãodas curvas de comércio livre A3 e B3

176 – e se situam, pos-sivelmente177, acima dos termos de troca mundiais – os efei-tos em cada um dos membros (mesmo daqueles que nãomantêm relações com o exterior, os seus “membros pas-sivos”) tanto podem ser benéficos como prejudiciais. Ghoshnota especialmente que o membro passivo de uma uniãoaduaneira de custos relativamente elevados pode, mesmoassim, tirar vantagens da sua participação nela178 e que aconsideração de uma única união aduaneira (e um únicopaís no resto do mundo) não permite ter em considera-ção a possibilidade de efeitos inversos quer para o restodo mundo, quer para os países membros.

uniões” – “localizadas na intersecção de OA2 com OB2 e de OB3

com OA3” (p. 94, nota 12), admitindo expressamente que estas sãocontemporâneas de comércio com o exterior (“even when the union’strade with the rest of the world is not prohibitive” (p. 94) – o quedeveria implicar que os termos de troca no interior da união se nãoestabeleciam no ponto de intersecção das curvas de oferta de comér-cio livre dos seus membros ou estas eram corrigidas de alguma forma.

176 Cfr. nota anterior.177 GHOSH (1974), p. 94, nota 13, reconhece que outros desfe-

chos são possíveis – um em que os termos de troca no interior daunião são iguais aos que se estabelecem fora dela e outro em queaqueles são piores do que estes – e até mais prováveis. No entantosublinhou a possível melhoria para acentuar a diversidade de efeitosque a formação de uma união pode ter nos seus membros.

178 Seria o caso do país A3 que, embora constituindo uma uniãoaduaneira com o menos eficiente produtor de x (B3) poderia tirarvantagem do impacto das uniões sobre os termos de troca (o condi-cional tem a ver com o que se escreveu na nota anterior).

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§ 3 Economias de escala

Apesar de o próprio VINER (1950), pp. 45-47, se terreferido às economias de escala – que, aliás, estavam nabase de um dos efeitos por ele identificados: a supressãode comércio179 – esse seu contributo não é geralmente reco-nhecido180. SCITOVSKY (1956), por seu lado, embora credi-tado como um dos pioneiros do nexo entre a teoria daintegração e as economias de escala limita-se praticamentea admitir que nessa matéria a integração na Europa Oci-dental não iria provocar grandes melhorias na sua orga-nização económica; que os seus efeitos no investimentoseriam os mais importantes mas que, ainda assim, seriammuito limitados e graduais (por a alteração na natureza donovo investimento, por mais drástica que fosse, só poderalterar a produtividade de uma pequena fracção da capaci-dade produtiva total); e que, na medida em que a inte-gração forçasse os governos europeus a abandonar as suaspolíticas de protecção às pequenas empresas, facilitaria asubstituição destas por empresas maiores e mais eficientes181.

Em (1962), BALASSA considerou detidamente as rela-ções entre crescimento, dimensão de mercado e produtivi-dade182, inventariou os autores que, a propósito de movi-

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179 Supra CAPÍTULO 1, § 1.2.180 Uma excepção é CORDEN (1986), p. 123, que, no entanto,

escreve que “Economies of scale do not find place in orthodoxcustoms union theory”. No mesmo sentido, PORTO (1997), p. 226,nota 33.

181 A ênfase desse artigo de SCITOVSKY, como, aliás, de uma comu-nicação de (1960), não reside em constrangimentos tecnológicos(“Technologically an economy can be too small if its market is tosmall to provide an adequate outlet for the full capacity output ofthe most efficient productive plant in a given industry.” p. 282), massim em factores económicos “all of which have to do with compe-tition and its influence on efficiency” – (1960), p. 283.

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mentos de integração, se tinham referido às economias deescala183, aludiu ao papel que as economias de escala po-diam ter em projectos de integração184 e dedicou os doiscapítulos seguintes às economias de escala (economias inter-nas) e às economias externas185, referindo-se-lhes ainda no

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182 Capítulo 5, pp. 155-178 da tradução portuguesa (1982).183 Capítulo 5, pp. 162-163 da tradução portuguesa (1982).

Conspicuamente ausente está Marcy (1960), 276-280.184 Capítulo 5, pp. 178-182 de (1982).185 BALASSA (1982), p. 158, definira economias de escala como

as “reduções nos coeficientes de utilização dos factores produtivos queresultam de um alargamento do mercado. Tais melhorias podem reves-tir a forma de economias de escala e economias externas, ou entãoandar associadas a uma maior concorrência, a uma menor incerteza ea uma distribuição diferente na aplicação dos fundos de investimento”.O autor acrescentava, reconhecendo ser imperfeito o critério de dis-tribuição, que se “a utilização de processos tecnológicos aperfeiçoa-dos não resulta de um aumento na dimensão do mercado” haveria“progresso tecnológico autónomo”. Mais adiante (p. 185) referia: “Aseconomias de escala serão classificadas em duas categorias: economiasinternas à unidade de produção e economias internas à empresa eexternas à unidade de produção.”

As economias internas à unidade de produção que identificava(pp. 186-187) eram:

a) aumento de custos desfasado do aumento de capacidade (pararecipientes, por exemplo, há a regra de que o custo é função dasuperfície enquanto que a capacidade é função do volume –correspondendo o acréscimo de custos a 60% do acréscimo de volu-me);

b) aumento de custos menos que proporcional ao aumento devolume (para cargas, descargas, e, de um modo geral, transacções agranel);

c) diminuição dos custos unitários da manutenção de stocks (oscoeficientes óptimos de segurança para inputs variam proporcionalmenteà raiz quadrada da produção), reservas de liquidez, equipamento parareparação, etc;

d) optimização da combinação de equipamentos (a eficiênciamáxima na combinação de várias unidades de equipamento exige que

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capítulo 8 (Outros factores dinâmicos). A sua análise era,porém, de tipo descritivo e de âmbito geral (ainda quecom uma ligação às alterações decorrentes dos movimen-tos de integração), pelo que a introdução da análise daseconomias de escala na teoria das uniões aduaneiras aca-bou verdadeiramente por só ter lugar com o artigo deCORDEN de (1972b)186, onde este desenvolve sistematica-

a capacidade produtiva total seja um múltiplo comum da capacidadeindividual de cada unidade de equipamento com dimensão eficiente);

e) maior repartição de actividades de custo fixo ou pouco variá-vel (planeamento, organização da produção, investigação, colheita edivulgação de informações, etc);

f) utilização necessariamente mais intensiva de processos tecnoló-gicos mais avançados;

g) maior especialização de mão-de-obra e de quadros.Por sua vez, nas economias externas distinguia as que actua-

vam pelo mercado e as que agiam fora dele, em termos estáticos ouao longo do tempo, definindo-as como “a diferença entre o produtosocial e o privado, sendo estes interpretados como o valor actual dosfuturos ganhos (directos e indirectos)”, o que excluiria os efeitos exter-nos no consumo.

As economias externas estáticas compreenderiam a interacçãodirecta entre os produtores, a utilização em comum dos recursos e“o conceito de Meade acerca da criação do ‘ambiente’”. As econo-mias externas dinâmicas que actuam pelo mercado incluiriam ainteracção que aí se opera entre empresas e que gera uma diferençaentre lucro e produtividade social. As economias externas dinâmicasque actuam fora do mercado englobariam a difusão de conhecimen-tos tecnológicos, de organização e de especialização de mão de obra.

186 Este foi também o seu primeiro contributo original para ateoria das uniões aduaneiras. O segundo, muito mais negligenciadodo que o primeiro, foi a identificação, em (1976), do import patterneffect, o efeito de alteração do padrão de importações provocado pelaformação de uma união aduaneira (mas não de uma zona de comér-cio livre, já que esta não provoca alterações nas pautas pré-existen-tes). Numa união, ainda que o volume de comércio se não altere –e por isso Corden escolhe pressupostos de análise que excluem avariação das importações e das exportações face a terceiros países – é

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mente uma abordagem cuja falta já antes notara187. Paraisso sugeriu dois efeitos alegadamente novos: o da supres-são de comércio e o da redução de custos188.

possível identificar efeitos resultantes da alteração da dispersão dos direi-tos previstos na pauta: a existência de uma taxa única nos direitos advalorem (e a ausência, ou igualdade, de custos de transporte) reprodu-ziria no mercado da união a estrutura internacional de preços. A apli-cação de direitos de diferentes taxas distorce essa estrutura de preços,pelo que a constituição de uma pauta aduaneira comum pode cons-tituir uma forma autónoma de interferir no bem-estar, aumentando-o ou diminuindo-o. Corden (1976), p. 106, nota 3, credita a JohnBlack as seguintes observações: se vários membros de uma uniãotinham direitos arbitrariamente afastados, a lei dos grandes númerosassegura que o resultado médio será mais uniforme [aliás, poder-se-iaacrescentar, tanto mais quanto maior fosse o número de membros daunião]; se havia uma correlação positiva nas taxas dos direitos adua-neiros dos diferentes países membros, o resultado final não é seguro;porém, porque nenhum país tem uma pauta aduaneira uniforme enão há países com estruturas pautais independentes que sejam per-feitamente correlacionadas, haverá tendência para que as uniõesaduaneiras promovam a uniformidade pautal. Partindo do padrão deconsumo que se registaria numa situação de comércio livre, Cordenconclui que uma pauta aduaneira uniforme manteria a composiçãoda produção e do consumo, mas uma outra que incidisse de formadiferenciada sobre os dois bens importados por A (o seu modelo incluium terceiro bem, exportado por A) faria aumentar a produção inter-na do bem cuja taxa do imposto aduaneiro fosse mais elevado e fariadiminuir o seu consumo, daí resultando uma dupla supressão de comércioe custos acrescidos na distorção da produção e do consumo.

187 (1965), p. 55. Em (1972b), p. 465, nota 1, referia que ape-sar do relevo que Viner lhes atribuiu (1950), pp. 45-46, as econo-mias de escala tinham sido deixadas à margem da evolução da teoriadas uniões aduaneiras.

188 Note-se, porém, que VINER já antecipara o caso da supres-são de comércio (1950), p. 45, e que a redução de custos tinha sidoabordada por JOHNSON (1962), pp. 59-60, e já estava explícita naanálise vineriana: “The cost of production in A of the commodity inquestion is now lower than it was before. There is gain, therefore, for

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O primeiro ocorria quando, face à constituição deuma união aduaneira entre A e B, se iniciava a produçãode um bem (x) em A, que, sendo mais eficiente que ainicialmente levada a cabo em B, acabava por expulsar estado mercado. A tornava-se exportador (dentro do espaçoda união), quando antes era importador (naturalmente im-portando de C, pois se já antes da constituição da uniãoimportasse de B seria provavelmente este a consquistar omercado conjunto). Na medida em que substitui a produ-ção de B, a produção de A é mais eficiente e, portanto,há criação de comércio189. Na medida em que, no seu mer-cado, substitui importações de C, a produção de A impli-ca um efeito afim do de desvio de comércio – mas quedele difere por “a fonte mais cara ser agora um produtorinterno recém estabelecido, e não o país parceiro190 191.

A as compared to the precustoms-union situation with respect to thatportion of it’s present output which corresponds to its previous output (whichmay been zero), and there is a clear gain on such of its additionaloutput as is now exported to B”. – VINER (1950), pp. 45-46. (Itáli-cos nossos).

189 Neste caso, em que os preços de venda no mercado de A ede B não se alteram, todos os ganhos da criação de comércio rever-tem para A: o direito aduaneiro que aplicava anteriormente mantém--se ao mesmo nível na pauta exterior comum, mas ao contrário doque acontecia antes, não permite recolher receitas. Assim o preço devenda interno pode manter-se e não há efeitos de consumo. Por ou-tro lado, B deixa de produzir: a libertação de recursos para empregomais eficiente pode não ser uma vantagem se estes não forem defacto absorvidos; por outro lado, há custos de encerramento da uni-dade de produção se esta não puder ser reconvertida.

190 CORDEN (1972b), p. 468.Ao defini-lo assim o autor revela que a dimensão económica

do efeito cede em relação à sua evidência literal. Porém, mesmo osentido literal (criar comércio onde comércio não havia) é posto emcausa logo a seguir (p. 471), quando incorpora no efeito de criaçãode comércio o ganho de bem-estar decorrente de os consumidorespoderem escolher entre quatro bens, em vez de apenas entre dois.

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Na p. 472 refere que o início das trocas entre A e B nos referidosquatro bens, podia, ou não, representar um ganho de criação de comér-cio, confirmando que o ganho a que se referia antes (um puro gan-ho de alargamento do leque de escolhas) não era o que eventual-mente resultasse dessa criação de comércio.

Ao contrário do que Corden parece implicar, diga-se que ébem possível que a supressão de comércio seja eficiente, isto é, querepresente a substituição de um fornecedor de mais altos custos poroutro de custos mais baixos, como se viu supra CAPÍTULO 1, § 3.

191 Pode concluir-se que a supressão de comércio figurada porCorden ocorre sempre que o produtor que passa a abastecer o mer-cado da união inicia a produção num país que não era produtor(supressão total de importações), ou a expande a partir de valoresque não garantiam o completo abastecimento do seu mercado (supres-são parcial de importações). Só que, ao contrário do que resulta doseu texto (1972b), p. 468, pode estar associada à criação de comér-cio (em sentido económico) se por exemplo, as economias de escalalhe permitem produzir a preços inferiores aos praticados no comérciointernacional – ou, ao menos, aos do(s) anterior(es) fornecedor(es),se estes tinham um acesso privilegiado ao mercado do país tornadoprodutor.

Figura 2.18________________________

F

G

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Na Figura 2.18, DD’ é a curva de procura do paísA, LL’ a curva de procura agregada de A e B, Px opreço de exportação para C (f.o.b.) e Pm o preço deimportação (c.i.f.) pago por A ou B nas suas importaçõesde C. O direito aduaneiro inicialmente imposto em A eB é igual ao que é adoptado pela união (pressuposto dis-pensável mas que permite isolar os efeitos de produção dosde consumo) e é dado por TPm/PmO. AA’ é a curva decustos médios do produtor de A.

O preço que se estabeleceu sob a protecção aduaneiraé OT, produzindo o produtor interno OQ’ e obtendolucros anormais de TQGH, graças à protecção do direitoaduaneiro. Com a constituição da união e a expansão daprodução, a redução de custos nas quantidades antes pro-duzidas é dada pela diferença entre o custo médio da pro-dução em OQ’ e o da produção em OK’, ou seja, a áreasombreada FGHI; por outro lado, se em B se recorria aimportações de C e agora estas são substituídas por impor-tações de A, B perde UQWN de receitas aduaneiras, dasquais FQWK constitui transferência para os produtores deA e UFKN representa perda líquida para a união.

Se em vez de um direito aduaneiro igual ao vigenteem ambos os países antes da formação da união, este fossefeito à medida192 a união adoptaria um imposto alfandegá-rio de taxa IPm/PmO, já que a curva de custos médiosAA’ incorpora um montante normal de lucros e qualquer

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192 A expressão made-to-mesure tariff making é originária da Aus-trália e pretende ser apenas suficientemente alta para cobrir os custosdos produtores mais os seus lucros normais. CORDEN (1972b), p. 469e nota 6. A definição-padrão pode ver-se em EL-AGRAA (1994),p. 92: “made-to-measure tariffs can be defined as those that encouragedomestic production to a level that just satisfies domestic consumptionwithout giving rise to monopoly profits.” Corresponde, no fundo,ao mais baixo direito aduaneiro proibitivo.

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direito aduaneiro de taxa mais elevada permitiria ao pro-dutor elevar os preços sem receio de concorrência.

O segundo efeito – redução de custos – opera quan-do, devido ao aumento da escala, a produção de A se tornamais eficiente; é representado na Figura 2.18 pela dimi-nuição de custos unitários de OH para OI. Pode estar asso-ciado a um efeito de desvio de comércio (como na Figura2.18, em que substitui importações mais baratas de C) oua um efeito de criação de comércio (se B produzia inter-namente o bem x, que depois passa a importar de A)193 –mas não se confunde com nenhum dos dois.

Se admitirmos a possibilidade de efeitos de consumonum caso limite – o de uma pauta aduaneira feita à me-dida – teremos de admitir, também, três situações:

a) nenhum dos países produz o bem x antes da união[sem impostos alfandegários sobre o bem x na situação ini-cial, ambos passam a adoptar um direito aduaneiro sufi-cientemente elevado para reservar o mercado a um pro-dutor interno. O resultado é um desvio de comércio nomercado de B, com uma dimensão de produção (passagemde uma fonte de menores custos (C), para outra de maio-res custos (A)) e uma dimensão de consumo (diminuiçãodeste e diminuição do excedente do consumidor nas quan-tidades ainda consumidas, em resultado do aumento de pre-ço)194 – e uma supressão de comércio com C, não com-pensado por comércio intra-união];

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193 Uma conclusão intuitiva parece ser a de que o efeito deredução de custos estará associado a criação de comércio (em sentidoliteral e económico) quando ambos os membros da união produzamo bem e a desvio de comércio (em sentido literal, mas não neces-sariamente económico) quando o país parceiro o não faz.

194 Como já se viu (supra, CAPÍTULO 1, §1, D) a junção deefeitos de produção e de consumo na definição da criação e (even-tualmente) do desvio de comércio foi sugerida por Johnson. Nessa

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b) só A produz o bem x antes da união [inicialmenteB não impõe qualquer imposto alfandegário sobre a impor-tação de x, ao contrário de A. Porque só mercê da uniãoé que A conquista o mercado de B, as importações pro-venientes de um país terceiro têm necessariamente um pre-ço mais baixo do que as oriundas de A; o que permitea A ganhar o mercado não é, pois, a liberalização docomércio, mas sim a imposição discriminatória do direitoaduaneiro fixado na pauta aduaneira da união. Há de novodesvio de comércio no mercado de B com as suas duascomponentes: uma de produção e uma de consumo. Há tam-bém supressão de comércio, porque subindo o direito adua-neiro comum é possível aumentar o preço interno];

c) tanto A como B produzem o bem x antes daunião [ambos impõem previamente um direito aduaneiroe a substituição da produção de B pelo acréscimo de pro-dução de A dá origem a um efeito de criação de comér-cio composto por um elemento da esfera da produção (pas-sagem de uma fonte de maiores custos para uma outra demenores custos) e um elemento da esfera do consumo(aumento de consumo e aumento do excedente dos con-sumidores devido à diminuição do preço195). No mercado

altura se disse que desvio de comércio – como efeito decorrente deum movimento de integração – não gerava diminuição de consumo.Ora, neste caso há ambos. Note-se, porém, que a diminuição de con-sumo decorre aqui da alteração pautal e não do movimento deintegração e que Corden subscreveu a sugestão de Johnson da jun-ção de efeitos de consumo e de produção (junção essa que, porhaver aqui aumento de protecção pautal até parece coerente).

195 Recorde-se que partimos do pressuposto de uma pauta adua-neira constituída de forma a assegurar apenas a protecção indispensá-vel à reserva do mercado da união para um produtor sediado no seuinterior, e que para que o produtor de A pudesse conquistar o mer-cado de B ao produtor aí instalado, os seus custos teriam de ser infe-riores aos deste.

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de A regista-se um efeito de diminuição de custos, tam-bém ele com um elemento de produção (diminuição dopreço das unidades aduaneiras anteriormente vendidas nomercado interno) e um elemento de consumo (aumentodas quantidades vendidas no mercado interno).

CORDEN (1972b), pp. 470-471, conclui que cada umdos quatro efeitos – criação, desvio e supressão de comér-cio e redução de custos – tem uma componente de pro-dução e outra de consumo. Em casos limites, acrescenta,os efeitos de consumo desaparecem (é assim nos casos emque os direitos aduaneiros dos países membros da uniãonão se alteram e os novos fornecedores não têm interesseem diminuir os preços até aí praticados). Noutros, só osconsumidores sofrem ganhos ou perdas (é assim no casode direitos aduaneiros feitos à medida)196. Nos casos inter-médios além de efeitos de consumo haverá ganhos paraos produtores, influindo a distribuição de uns e outros narepartição de ganho e perdas entre os países que formama união.

O autor aborda ainda as consequências da existênciade oligopólios e diferenciação de produtos em cada mer-cado nacional, admitindo que isso possa evitar a realização

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196 Logo no início do artigo, Corden enuncia outro pressupos-to necessário para garantir esse resultado: ausência de excedentes (ren-das) de factores devido a preços constantes para qualquer valor deprodução. É que muito embora a pauta feita à medida anule o exce-dente dos produtores, sem esta condição poderiam decorrer benefíci-os para os titulares de factores de produção empregues em maioresquantidades.

Naturalmente, neste caso não deixa de haver alguma perda dereceitas: é que muito embora a descida de preço compense, com ga-nhos no excedente do consumidor, parte das receitas aduaneiras per-didas, na medida em que o preço de x praticado por A nas vendasa B for superior ao preço internacional antes obtido por B haveráum montante não directamente compensado.

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de reduções de custos, se todas as empresas produtoras pre-viamente existentes em cada uma das economias nacionaissobreviverem, mas considera isso “essencialmente um efei-to de criação de comércio” (p. 471) traduzido no alargardo leque de escolha197.

Em relação à construção de um modelo de equilí-brio geral incorporando economias de escala manifesta reti-cências, sugerindo uma análise de equilíbrio parcial198 emque os quatro efeitos ocorrem simultaneamente e se atendea duas complicações introduzidas em consequência da con-sideração do equilíbrio geral: a possibilidade de as cur-vas de procura dos diferentes produtos poderem alterar-seem resultado da alteração do rendimento real e da sua dis-tribuição, ou das relações de complementaridade ou subs-tituibilidade entre os bens. Da configuração das curvas daprocura depende o valor da produção e, até, se esta ocorreou não face à protecção pautal que é conferida; a outradificuldade prende-se com a necessidade de se manter oequilíbrio da balança de pagamentos: o alargamento dasindústrias de A ao mercado de B provocaria um déficite

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197 Como já referido supra, nota 190. Se a produção existia ape-nas num país, pode acontecer que o alargamento do mercado propor-cione às diferentes empresas a possibilidade de aumentar a sua produçãoe, dessa forma, reduzir os custos, ou aumentar a gama de produtosoferecida.

198 Os pressupostos enunciados eram: multiplicidade de produ-tos concorrentes de importações; em cada país, cada empresa produzum único produto, a custos médios inicialmente decrescentes edepois crescentes (de forma a excluir as exportações de C); um úni-co produto de exportação, produzido a custos constantes; um factorde produção móvel – o trabalho – com salários inalterados (de for-ma a que as curvas para cada produto sejam independentes umas dasoutras); pautas aduaneiras iniciais feitas à medida para proteger a pro-dução interna de alguns produtos e permitir a importação de outros– CORDEN (1972b), pp. 472- 473.

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na balança deste, com implicações na sua taxa de câmbioface a A, pelo que no modelo de equilíbrio geral haveriaque considerar duas taxas de câmbio de equilíbrio: a dasituação pré-união aduaneira e a da situação subsequente aesta.

Finalmente, Corden refere que, não obstante as eco-nomias de escala não serem essencialmente “dinâmicas”,uma análise de estática comparativa não permite anteciparem qual dos países que produzem o bem x se irão con-centrar os ganhos resultantes da conquista de ambos osmercados. É possível descrever a situação final no caso deapenas uma das empresas produtoras subsistir: haverá efei-tos de criação de comércio e de redução de custos, masnão se pode pré-determinar em que país serão sentidos poisisso depende de considerações, essas sim, dinâmicas: natu-reza da concorrência oligopolista, taxas de investimento emambos os países, alteração na intensidade de factores nasrespectivas linhas de produção, inovações tecnológicas,etc199.

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199 MOORE (1994), pp. 81-89, contrasta o que designa porModelo T (de tradicional), desenvolvido a partir das obras de MEAD

(1968) e de CORDEN (1972b), e Modelo M (um modelo de concor-rência imperfeita), criado por Smith e Venables (e utilizado no Rela-tório Emerson (1988) sobre a remoção até finais de 1992, das bar-reiras não-pautais ao comércio na Comunidade Europeia), sublinhando,designadamente, que no Modelo T o país que produz no interior deuma união aduaneira ao preço internacional se poderá tornar expor-tador externo e ao preço estabelecido na união (pela aplicação dodireito aduaneiro) há importações, pelo que o valor do direito adua-neiro dá o valor máximo que é possível imputar à formação da uniãoaduaneira pela exploração de economias de escala. Já no Modelo M,porque os produtos são heterogéneos, não há limites fixos para osganhos que a exploração de economias de escala pode permitir – oque tende a aumentar o cálculo dos ganhos possíveis quando se uti-liza este modelo.

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CAPÍTULO 3

Um relance por universos paralelos:resumo de taxonomias alternativas

“To condemn taxonomy is to condemn all gene-ral economic theory and not only a general theory ofeconomic policy.”

James E. Meade (1955b), p. VIII.

“As Meade has written, to condemn taxonomy isto condemn all general economic theory.”

W. Max Corden, (1965), p. 33.

Se a discussão sobre “what Viner really meant”200 con-tinua a mobilizar argumentos, a verdade é que a exegeseda teoria vineriana foi largamente preterida pela sua recons-trução, com inúmeros autores a proporem aperfeiçoamen-tos ou complementos para os conceitos de criação e des-vio de comércio. Na impossibilidade de nos referirmos atodos201, abordaremos aqueles que apresentaram as alterna-________________________

200 BALDWIN/VENABLES (1995), p. 1602, que remetem paraKOWALCZYK (1992).

Sublinhando também a preocupação de determinar o que Vinerteria querido dizer, vejam-se POMFRET (1986), p. 444, o Journal ofInternational Economics na introdução à publicação da carta de 1965de VINER a Corden (1976) e JOHNSON (1974a), p. 618.

201 HINE (1994), p. 247, escreve: “There has certainly been noshortage of alternative terminologies”, mas o único exemplo que

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tivas mais estruturadas à taxonomia vineriana sem – comofizeram aqueles de que trataremos no capítulo seguinte –porem em causa a continuidade do seu quadro de análise.

oferece é o de Collier – um autor a que se encontram muitas alu-sões na literatura mas sobre o qual (quase) nada se escreve. Um (breve)inventário das terminologias alternativas teria de referir, além das pro-postas consideradas no texto, que:

Em (1967a), p. 5, BALASSA introduziu a distinção entre “GrossTrade Creation” – que representaria o aumento total de comércioentre os membros de um agrupamento regional (gerado por criaçãoou desvio de comércio) – e “External Trade Creation” – que repre-sentaria o aumento de comércio entre os membros do agrupamentoregional e os não-membros deste. A dedução do desvio de comércioà criação externa de comércio daria o efeito líquido do agrupamentoregional em terceiros países. [Cfr. AITKEN (1973)]. SHIBATA (1967) tam-bém enpregara os termos para expor o que depois se designou deflexãoindirecta de comércio: cfr. nota 31 da II Parte. Em (1972), p. 27,sugeriu a substituição da criação de comércio por “positive productioneffects” e do desvio de comércio por “negative production effects”.

KREININ (1972), p. 908, sugeriu a designação de “negative tradediversion” para substituir a de “external trade creation”.

TRUMAN (1972), pp. 274 e ss. e (1975), pp. 5 e ss. propôs aidentificação de seis efeitos de acordo com o sentido da mudança dequota de mercado dos produtores domésticos, de países parceiros ede países terceiros: diminuindo a quota de mercado dos produtores domésti-cos, teríamos “Dupla (interna e externa) criação de comércio” se ao mes-mo tempo aumentasse a quota tanto dos produtores dos países par-ceiros como dos de países terceiros; teríamos “criação externa de comér-cio e desvio interno de comércio” se diminuísse também a de produtoresde países parceiros, aumentando só a dos países terceiros; e teríamos“criação interna de comércio e desvio externo de comércio” se diminuíssetambém a quota dos produtores de países terceiros, aumentando só ados produtores de países parceiros; por sua vez, aumentando a quotade mercado dos produtores domésticos, teríamos “Desvio externo de comércioe erosão externa de comércio” se aumentasse também a quota de mer-cado dos produtores de países parceiros, diminuindo só a de produ-tores de países terceiros; teríamos “Dupla (interna e externa) erosão decomércio”, se quer os produtores de países parceiros, quer de países

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Num certo sentido, também os autores aqui consideradosadoptavam uma postura “evolucionista” em relação à teo-ria tradicional das uniões aduaneiras, como os directos

terceiros perdessem quota de mercado; e teríamos “Desvio interno decomércio e erosão interna de comércio” se também os produtores de paísesterceiros aumentassem a sua quota de mercado, só diminuindo a dosprodutores de países parceiros.

VERDOORN/SCHWARTZ (1972), pp. 330 e 334, propuseram ummodelo de cálculo dos efeitos de criação e desvio de comércio (des-vio que, admitiam, pudesse ser mais das exportações dos países par-ceiros – para dentro do bloco, em vez de para fora do bloco, comoantes – do que das suas importações) que incluía nas suas equaçõesdois novos efeitos: “the “prohibitive tariff” effect” e “the “promotional”effect”, o primeiro decorrente da supressão dos direitos aduaneirosproibitivos (ainda que baixos) entre parceiros, o segundo decorrenteda diminuição dos riscos dos esforços de vendas no mercado destes.

ASKARI (1974), pp. 392-393, notou que a introdução de bensintermediários na análise exigia que se contemplassem os conceitosde “trade destruction” (decorrente de a transferência de aquisições deinputs do mais eficiente fornecedor mundial para o país parceiro enca-recer a produção do bem final e fazer diminuir as exportações deste)e de “trade expansion” (decorrente de a transferência de aquisições deinputs de um produtor interno para o país parceiro tornar a produ-ção do bem final mais competitiva e fazer aumentar as suas exporta-ções. Não contemplada por Askari, mas idêntica, seria a situação dea aquisição de inputs antes da formação do agrupamento regional jáse fazer do país parceiro).

A taxonomia de TRUMAN (1972) foi retomada por PREWO

(1974), pp. 386 e ss., que lhe alterou o sentido de modo a que coma criação de comércio houvesse um aumento das importações totaise com a erosão de comércio a sua diminuição. Assim, com umaumento no total das importações, teríamos “Dupla criação de comércio”quando aumentassem as importações provenientes dos países parcei-ros e de países terceiros; teríamos “Criação interna de comércio e desvioexterno de comércio” quando só houvesse aumento de importações pro-venientes dos países parceiros; e teríamos “Desvio interno de comércio ecriação externa de comércio” quando só aumentassem as importações pro-venientes dos países terceiros. Por outro lado, com uma diminuição

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continuadores desta, considerados no capítulo anterior.Num outro sentido, porém, aspiravam a tornar-se osdemiurgos de uma nova evolução da teoria, nessa medida

no total das importações, teríamos “Duplo desvio de comércio (erosão)”quando diminuíssem as importações provenientes dos países parceirose também as provenientes dos países terceiros; teríamos “Criação inter-na de comércio e desvio externo de comércio (erosão)” quando diminuíssemsó as importações provenientes de países terceiros, aumentando as pro-venientes dos países parceiros; e teríamos “Desvio interno de comércio(erosão) e criação externa de comércio” quando diminuíssem as importa-ções provenientes de países parceiros, aumentando as provenientes depaíses terceiros.

YU (1981), p. 549, distinguiu dois tipos de criação de comér-cio e dois tipos de desvio de comércio, nos seguintes termos: “Cria-ção de comércio I” seria a troca, em A, dos produtores internos de Apor produtores de C; “Criação de Comércio II” seria a troca, em A,dos produtores do país parceiro B por produtores de C; “Desvio deComércio I” seria a troca, em A, dos produtores de C por produtoresde B, induzida pela supressão discriminatória dos direitos sobre asimportações provenientes deste; “Desvio de Comércio II” seria a troca,em A, dos produtores de C por produtores de B, pela imposição deum direito aduaneiro discriminatório sobre as importações provenientesdaquele.

ETHIER/HORN (1984), pp. 208-209, criaram o conceito de “trademodification” para dar conta das alterações no comércio entre países,resultante, não da discriminação pautal geográfica, mas sim das altera-ções na sua estrutura pautal (e, portanto, além de aplicável à forma-ção de uniões aduaneiras, extensível às reduções de direitos resultan-tes dos Rounds do GATT). Com bens complementares, a reduçãonão discriminatória de direitos pode provocar aumento de importa-ções de bens diferentes dos que foram abrangidos pela redução. Combens substituíveis, a redução não discriminatória de direitos altera aorigem das importações em favor dos produtores de bens abrangidospela redução. O conceito cobriria igualmente todo o comércio pré-vio, exclusivo, entre parceiros de uma união.

BALDWIN/VENABLES (1995), pp. 1601-1602, referem-se a seis efei-tos: “trade volume”, “trade cost”, “terms of trade”, “output”, “scale”e “variety”, os três primeiros patentes em modelos de concorrência

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merecendo ser tidos por “criacionistas”. Todos eles forne-ceram novos pontos de partida – e em todos eles desseponto de partida se foi a lugar nenhum.

A) MEADE

Depois da self fulfilling prophecy da sua recensão ao li-vro de Viner, Meade abordou de passagem as noções decriação e desvio de comércio nas conferências sobre os pro-blemas da formação de uniões económicas proferidas noano seguinte na Universidade de Chicago202. Em 1955, nasconferências que proferiu em Roterdão203, ao proceder auma revisão profunda da análise de Viner, tentando esta-belecer um método de medição dos efeitos conjugados decriação e de desvio de comércio204, Meade chega à con-

perfeita, os três últimos referentes a modelos com economias de es-cala e concorrência imperfeita, correspondendo o “trade volume” àcriação e ao desvio de comércio tradicionais (em sentido literal).

202 (1953), p. 8. As conferências foram proferidas em 1952 eMEADE retoma nelas o que já escrevera em (1951).

203 (1955a). Existe uma tradução espanhola (1963) e o Cap. IIé reproduzido em ROBSON (1972). Sobre “The Meade Model ofPreferential Trade”, veja-se PANAGARIYA (1997).

204 Conjugado, no sentido de que admitia que num dos produ-tos comerciais houvesse criação de comércio e noutro houvesse des-vio de comércio e não porque ambos os efeitos fossem discerníveis apropósito do mesmo bem, note-se. Num modelo de dois bens, talimplicava – e é a hipótese de Meade (1955a), pp. 34-36 – que numdos países se registasse criação de comércio e no outro desvio de comércio.Meade demonstrava que a mera comparação do volume de comérciocriado e desviado não era suficiente para fazer um juízo sobre asvirtualidades de uma união aduaneira, mesmo dentro da filosofiade que a criação era “boa” e o desvio era “mau”: é que além dovolume era necessário tomar em consideração, respectivamente, adiminuição unitária dos custos e o aumento unitário destes, bempodendo suceder que num menor volume de comércio criado

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clusão de que a exposição de Viner negligenciava os pro-váveis efeitos de expansão de consumo, subsequentes àredução dos preços dos produtos importados do país par-ceiro decorrente da suspensão dos direitos aduaneiros –

(mesmo medido em valor) o ganho fosse maior do que a perda nummaior volume de comércio desviado. [O exemplo eram 100 milhõesde dólares de importação de aço da Holanda desviados da Alemanha,país terceiro, para a Bélgica, país parceiro, e 30 milhões de dólaresde importação de queijo da Holanda pela Bélgica. Se os custos daprodução do aço na Bélgica fossem 50% maiores do que na Alema-nha, o custo de produção acrescido nesses 100 milhões de dólarescifrar-se-ia em 50 milhões; se os custos de produção de queijo naBélgica fossem 200% maiores do que na Holanda, os custos de pro-dução de 30 milhões de dólares de queijo nesta teriam poupado 60milhões de dólares (Sic)]. A solução proposta quando as elasticidades daprocura fossem zero e as elasticidades da oferta infinitas, era “(...) multipli-car o valor de cada elemento de comércio desviado pelo aumentodo custo unitário do comércio assim desviado e multiplicar o valorde cada elemento do novo comércio criado pela queda de custo porunidade de comércio assim criado (...)” (p. 36). Tal procedimentode comparação de custos antes e depois da formação da união adua-neira assentava porém nas hipóteses já referidas: manutenção dasquantidades consumidas antes e depois da união, ou seja, elasticidadeprocura-preço perfeitamente rígida e curvas da oferta infinitamenteelásticas. Quando assim não fosse nem haveria com que comparar asquantidades procuradas após a formação da união, nem os diferen-ciais de preço teriam significado. É claro que se supõe que a con-corrência perfeita, quer do lado da oferta, quer do lado da procura,assegura que o preço revela simultaneamente o custo marginal de pro-dução (a desutilidade marginal para os produtores) e a utilidade mar-ginal para os consumidores. Qualquer afastamento entre preço ecusto (causada por imperfeições de mercado ou por imposição deimpostos) mede um excesso de utilidade (preço>custo) ou um ex-cesso de desutilidade (custo>preço). Se há um aumento de comércioe se pode determinar o excesso de utilidade (ou desutilidade) porunidade (no sentido acabado de referir) então um índice da variaçãodo bem-estar mundial poderá ser dado pelo somatório das variaçõesde comércio em cada bem multiplicado pela diferença entre os pre-

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equiparando essa imcompletude à assunção, por Viner, deelasticidades zero da procura205. Aquilo que designa “expan-são do comércio”206 consiste no aumento de importações emcada país membro da união como consequência da remoção dosseus direitos de importação sobre os produtos importados do outroe, portanto, do abaixamento de preço desses bens no seu mer-cado207. Este efeito, que é considerado um ganho – a

ços e os custos. Para a exposição da forma matemática do argumen-to, ver Meade (1955a), Appendix II (pp. 120-121).

VANEK (1965), p. 3, considerou ser este o principal contributodo trabalho de Meade, embora lhe tenha estabelecido ainda mais qua-tro qualificações: (1) que as utilidades de cada indivíduo fossemmensuráveis cardinalmente; (2) que as utilidades e as desutilidades fos-sem comparáveis entre indivíduos; (3) que a utilidade marginal dorendimento fosse igual para todos os indivíduos; (4) que a utilidadesocial total fosse obtida como uma mera soma das utilidades indivi-duais (a condição quatro implica as duas primeiras). Em consequência,Vanek concluía que o “método cardinalista” de Meade era muitoútil em muitos casos (nomeadamente quando há um largo númerode produtos), mas podia ser substituído por outra forma de medir osefeitos de bem-estar decorrentes da constituição de uma união adua-neira. Cfr. (1965), p. 4 e Cap. V.

205 Se bem que – como notou SHIBATA (1967), p. 150, nota 9– isso fosse incompatível com os “effective protective duties” a queVINER (1950), p. 43, circunscrevia a sua análise: estes seriam os quereduzem as importações “não só por tornarem os bens da espécie emcausa mais caros para os potenciais consumidores e assim diminuíremo seu consumo, mas também, e principalmente, por desviarem o con-sumo dos bens importados para os produtos equivalentes das indús-trias domésticas”. (p. 42).

206 Segundo POMFRET (1986), p. 444, implicitamente invocandoJOHNSON (1975), p. 122, “later commentators found the amendmentlargely semantic (because trade creation could be extended to includeall post-preference imports which were not previously imported)without altering Viner’s basic evaluation.” Essa não é a nossa opi-nião, como referido supra, CAPÍTULO 1.

207 MEADE (1955a), pp. 38-41, intuíu a existência de efeitos deconsumo sobrepostos quer ao desvio quer à criação de comércio.

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somar ao obtido pela criação de comércio ou que podeapagar, total ou parcialmente, as perdas resultantes do des-vio de comércio (os dois efeitos continuam a ser vistosindependentemente) –, não é porém líquido, na medidaem que, num caso e noutro, há que atender à perda de receitas fiscais envolvida na formação da união aduaneira208;Meade argumenta que nada nesta obriga a que se altere oprograma de despesas públicas e a relação entre estas e asreceitas fiscais, o que implica que as receitas aduaneiras per-didas sejam compensadas com aumento de outros impos-tos – o que acarretará uma contracção de comércio que deveser conjugada com a expansão de comércio nos produtosentão isentos de direitos de importação.

Preocupado em monitorar as consequências nos flu-xos comerciais subsequentes à constituição de uma uniãoaduaneira, Meade elabora uma taxonomia de efeitos de umaredução pautal discriminatória209. Ceteris paribus, tal impli-caria efeitos primários, secundários e terciários. Os primeiroscorrespondem ao aumento de procura no país que conce-deu a redução pautal (A) e, caso a oferta não seja perfei-

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208 Repare-se que há um non sequitur no argumento: a perdade receitas fiscais só pode imputar-se ao desvio de comércio, já quea criação de comércio vineriana não implicava qualquer perda de recei-tas para as alfândegas.

209 A constituição de uma união aduaneira implicaria a junçãodos efeitos decorrentes de todas as supressões de direitos aduaneirosde A sobre B e de B sobre A – partindo-se do princípio de que otodo é igual à soma das partes, ou seja, de que os efeitos identifica-dos num caso de redução unilateral discriminatória são agregáveis semmais.

A distinção e descrição dos efeitos primários, secundários eterciários de uma redução pautal de direitos aduaneiros foi melhordesenvolvida por MEADE em (1955b), pp. 200-225 e 521-538, e reto-mada, no contexto dos países em desenvolvimento por LIONTAS (1973),pp. 74-83.

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tamente elástica no seu país fornecedor (B), alguma subidade preços no seu mercado interno210. O que leva MEADE

a concluir que o efeito de ganho de bem-estar (decor-rente da mais eficiente afectação de recursos) será tantomaior quanto maior for a redução pautal de A e mais elás-tica for a oferta de B – (1955a), p. 67.

Os efeitos secundários registam-se nos bens substi-tuíveis e nos bens complementares do bem afectado pelaredução pautal e Meade admite oito, quatro nos primei-ros e quatro nos segundos.

Quanto aos bens substituíveis:Caso 1 Se um produto do país B for fungível ou

sucedâneo próximo de um outro do país C, a diminuiçãodos direitos aduaneiros sobre um produto de B, em A,operará uma redução das importações de C. A esse efeito,que Viner chamou desvio de comércio, chama Meade con-tracção secundária do comércio de importação de A.

Caso 2 Se o produto beneficiado pela redução dedireitos for substituto próximo de um outro produzidointernamente (em A), a diminuição de consumo deste podefazer descer o seu preço e provocar uma expansão secundá-ria do comércio de exportação de A. [Se o aumento de expor-tações se fizer para um país onde há direitos aduaneiros, apassagem de mais produtos de um mercado de baixo pre-ço para outro de alto preço aumenta o bem-estar econó-mico – (1955a), p. 68].

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210 Ainda que o preço de exportação de B possa subir também,presume-se que o seu preço no mercado de A baixa em relação aopreço anteriormente praticado devido à ausência de direitos aduanei-ros: a subida de preço em B supõe-se decorrente de um aumento daoferta (por causa de uma curva de custos marginais crescentes), sendoesta a resposta a um aumento de procura em A.

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Caso 3 Se o aumento da procura em A do bemproduzido em B fizer subir o seu custo de produção, opreço em B subirá e – ou (no caso de isso não ser pos-sível ou desejável) –, reduzir-se-ão as exportações comdestino a outros mercados211. É o que Meade chama con-tracção secundária do comércio de exportação B. [A diminuiçãode exportações dirigida a mercados onde os preços são maiselevados – por causa do seu maior conteúdo de impostosalfandegários – representa uma diminuição de bem-estar namedida em que reduz a deslocação de um bem de ondeele é mais barato (B) para onde é mais caro (C)].

Caso 4 Se o aumento da procura em A do bemproduzido em B fizer subir o seu preço em B, pode acon-tecer que se aumentem as importações do bem que é oseu mais próximo substituto. A este efeito Meade chamaexpansão secundária do comércio de importação de B. (Se asimportações vierem de C e houver um direito aduaneirosobre elas em B haverá uma maior deslocação de bens deum mercado onde são baratos para outro onde são caros,aumentando assim o bem-estar) – (1955a), p. 69.

Quanto aos bens complementares:Caso 5 Se o aumento da procura em A do bem

produzido em B induzir um aumento da procura em Ade um bem complementar (no exemplo de Meade,garrafas de cerveja importadas de C para fazer face ao

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211 Refira-se que a inclusão deste caso entre os bens substituíveisassenta na consideração de que o bem “primário” (é como Meadechama ao bem que obteve a redução de direitos, embora prefiramosdesigná-lo “principal”) exportado para A é um substituto perfeito deque é exportado para C. Uma vez que o Leit-motiv da análise é oimpacto sobre os fluxos comerciais compreende-se que a diminuiçãode consumo interno em B, subsequente à subida de preços, não sejaautonomizada. Veja-se, porém, o caso 4.

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aumento de produção de cerveja) haverá uma expansãosecundária do comércio de importação de A.

Caso 6 Se o bem complementar for produzido emA e for exportado para C, o aumento da procura do bem“principal” em A pode provocar um aumento da procurado bem complementar e acarretar diminuição das suasexportações – “directa” ou “indirectamente” (i.e.: porimpossibilidade de aumentar a oferta ou de manter o pre-ço). Haverá então uma contracção secundária do comércio deexportação de A.

Caso 7 Se o bem complementar for igualmenteproduzido em B o aumento de exportações do bem prin-cipal pode exigir uma redução das exportações autónomasdo bem complementar na medida em que aumenta a incor-poração interna no bem “principal” (diminuindo as quan-tidades disponíveis para exportação), ou na medida em queo aumento da sua procura interna faça subir o preço comque é colocado no mercado internacional. Haverá entãouma contracção secundária do comércio de exportação de B 212

Caso 8 Se o bem complementar for importado porB, de C, o aumento de exportações do bem “principal”por B pode provocar um aumento das suas importaçõesdo bem complementar, de C. Haverá assim expansão secun-dária do comércio de importação de B.

Destes diversos efeitos, Meade considerava mais pro-vável a verificação dos descritos em 1 (em que o bem“principal” é um substituto próximo de outras importa-ções no país importador) e em 3 (em que o bem “princi-pal” é um substituto próximo de outras exportações nopaís exportador).

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212 Os efeitos secundários identificados têm origem no mercadodo país que concede a redução alfandegária (o país A) nos casos 1,2, 5 e 6 e no mercado do país beneficiário dessa redução (o país B)nos casos 3, 4, 7 e 8.

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No caso 1, a substituição de um produto importadode um país terceiro pelo bem “principal” pode aliás fazer--se imediatamente – se um país importa um certo bem émuito provável que o importe de várias fontes, pelo quea diminuição discriminatória de direitos alfandegários dá àfonte que dela beneficia uma vantagem sobre as outras –ou mediatamente – se a relativamente ineficiente produçãointerna do mesmo bem é reduzida (ou anulada), com liber-tação de factores de produção que vão ser empregues numoutro sector concorrente com as importações213. No caso3 outrotanto se passa: o aumento de exportações para Apode fazer-se directamente à custa da diminuição das expor-tações (do mesmo bem) para outros países, ou indirecta-mente à custa da diminuição da produção de outros bensque utilizam intensamente o mesmo factor que é utilizadointensamente na produção do bem primário – e queserão naturalmente, também, bens de exportação214.

Segundo Meade, o facto de se dever presumir que asimportações são mais substituíveis entre si e as exporta-ções mais substituíveis entre si do que as importações e asexportações são substituíveis umas das outras, reforça ojuízo negativo que as uniões aduaneiras devem inspirar.

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213 Partindo da teoria da dotação dos factores como explicaçãopara o comércio internacional, Meade assume que o sector de expor-tação do país A utiliza intensamente um factor de produção diferentedo que é utilizado intensamente nos sectores em concorrência comas importações, pelo que a libertação de factores de produção subse-quente à liberalização de importação de um certo bem, a ser rea-bsorvida pela produção interna, devia sê-lo noutro sector em con-corrência com as importações – (1955a), pp. 71-72.

214 O argumento é idêntico ao anterior: a estrutura produtivado sector de exportação de uma economia é vista como diversa dado sector concorrente das importações, pelo que o aumento da pro-dução numa parcela do primeiro far-se-á antes à custa de outra dassuas parcelas, do que à custa do segundo. (1955a), pp. 72-73.

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Porém, adiantava um caso em que importações e expor-tações são extremamente concorrenciais entre si: quandose trata de matérias-primas e de produtos acabados delasresultantes. O que dá origem a situações diversas das jáelencadas nos já referidos oito casos:

A) Se um país é importador de ambos, a diminuição doseu direito aduaneiro sobre a matéria-prima permite oaumento de produção interna e, portanto, a diminuiçãoda importação do produto final; e a diminuição do seuimposto alfandegário sobre o produto final, fazendo bai-xar o preço no mercado interno, provavelmente faz dimi-nuir a produção interna e, portanto, as importações dematéria prima. Segundo Meade, no segundo caso estamosperante uma forma especial do que Viner chamou desviode comércio.

Na verdade, a passagem de um fornecedor mais efi-ciente para um fornecedor menos eficiente não é forçosa215 :basta pensar no caso de o fornecedor estrangeiro da maté-ria-prima ser o seu mais eficiente produtor e de o forne-

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215 Na exposição de Meade, ainda por cima, não era de todo:Considere-se um país com uma pequena indústria têxtil,

que satisfaz algumas, mas não todas, as suas necessidades deroupa. Importa algodão, por exemplo, do Egipto, para a sua indús-tria doméstica e roupas, por exemplo, do Reino Unido, para oresto das suas necessidades domésticas. Se este país baixar agoraos seus direitos alfandegários sobre os bens importados doReino Unido, é provável que importe mais roupa do ReinoUnido. Mas isto reduzirá a dimensão da sua indústria doméstica ecausará uma redução da sua procura de algodão do Egipto. Na me-dida em que isto seja assim, terá havido uma muito especial instân-cia do desvio de comércio do Professor Viner – neste caso do Egipto(sobre cujos bens os direitos aduaneiros não foram reduzidos)para o Reino Unido (sobre cujos bens os direitos aduaneirosforam reduzidos). [(1955a), p. 74].Itálicos nossos para evidenciar que Meade trata dois efeitos como

se fossem um só: por um lado há criação de comércio no bem final

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cedor do produto final importado o ser também. Assim,uma redução de direitos sobre um implica uma diminui-ção das importações do outro, mas as consequências econó-micas são bem diferentes:

a) se se diminui o imposto sobre a matéria-prima, aprodução interna (ineficiente216) aumenta;

b) se se diminui o imposto sobre o produto acabado,a produção interna (ineficiente217) diminui;

No primeiro caso ainda podemos ter desvio de comér-cio (em sentido económico), mas no segundo caso – oúnico expressamente referido por Meade – é que segura-mente o não temos.

B) Se um país A é importador de matéria-prima e expor-tador do produto acabado dela resultante:

c) a diminuição do direito alfandegário de A sobre amatéria-prima fará aumentar, presumivelmente, a importa-ção desta mas também a exportação do bem final (efeito secun-dário);

d) a diminuição do direito alfandegário no país paraonde A exporta o bem final fará aumentar, presumivel-

(substituição de produtores locais menos eficientes por produtores bri-tânicos). Por outro, haverá supressão de comércio no input (que aquisurge como um efeito negativo de “consumo”).

216 Note-se que só a produção interna obtida a um preço superior aopreço internacional será ineficiente, parecendo dever formular-se um juízopositivo sobre a eficiência da produção interna situada na zona doscustos marginais crescentes abaixo desse valor. Na medida em que aprodução interna do bem final esteja em parte abaixo da curva doscustos internacionais – ou venha a está-lo, por diminuírem os custos(lato sensu) dos inputs – o aumento induzido na produção não setraduz simplesmente em prolongar a curva da oferta existente para adireita: implica também a sua deslocação ab initio, para a esquerda.Daí que o juízo de Meade seja simplista: nalguma medida haveráganhos de eficiência, noutra haverá perdas.

217 A ineficiência relativa resulta claramente das consequênciasdo abaixamento de direitos.

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mente, as exportações de A, mas também as suas impor-tações de matéria-prima (efeito secundário).

No caso c) a situação é semelhante à descrita no caso1, mas em vez de uma contracção secundária do comércio deimportação de A deparamos com uma expansão secundária docomércio de exportação de A.

No caso d) a situação é semelhante à descrita no caso3, mas em vez de uma contracção secundária do comércio deexportação de B há uma expansão secundária do comércio deimportação de A.

Meade reconhece, todavia que, ainda que estas situa-ções sejam importantes, são insusceptíveis de alterar signi-ficativamente o cálculo dos ganhos e perdas decorrentesda formação de uma união aduaneira já que os direitosaduaneiros que nos países industrializados incidem sobre asmatérias-primas são muito baixos, senão nulos. Assim oefeito descrito em c) não se verificará e o efeito secundá-rio descrito em d) não alterará a eficiência na afectaçãodos recursos.

Consequentemente, pode retomar-se a análise comalguma confiança em que a concorrência entre importa-ções e exportações de um país não seja tão importantequanto a concorrência entre as suas várias fontes de impor-tação e os vários destinos das suas exportações. Meade notaque Viner salientou os efeitos perniciosos do desvio da pro-cura de importações, mas não disse coisa alguma sobre os efei-tos igualmente perniciosos do desvio de oferta de exportações– facto que atribui ao pressuposto de custos constantes naprodução dos diferentes bens nos diferentes países. De facto,se assim fosse, nenhuma razão haveria para se diminuiremas quantidades exportadas para outros mercados: ao aumentoda procura no mercado em que houvesse redução de direi-tos alfandegários dar-se-ia resposta com um aumento deprodução, aos mesmos custos.

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Os efeitos negativos decorrentes de se admitir um des-vio de oferta de exportações são muito minorados nummodelo de três países, já que para haver simultaneamentedesvio da procura de importações e desvio de oferta deexportações, o terceiro país teria de ser simultaneamenteexportador e importador do bem em causa. De facto, parahaver desvio de importações, C tinha de abastecer o merca-do de A antes da redução descriminatória de direitos adua-neiros conferida a B entregar a este esse abastecimento, epara haver desvio de exportações era necessário que B forne-cesse o mercado de C antes da abertura no mercado A olevar a transferir para este parte das suas exportações. SeMeade admite que a plausibilidade desta conjugação é dimi-nuta, a simples constatação de que há mais economias nomundo é suficiente para a fortalecer. O problema é que aconsideração de um quarto país no modelo torna extre-mamente difícil o juízo sobre os efeitos de bem-estar decor-rentes da redução selectiva dos direitos aduaneiros de Asobre as importações de B, uma vez que é necessário inte-grar os efeitos entre C e D (e entre cada um destes paísesterceiros e A e B decorrentes dessa medida218.

Meade considerou ainda efeitos terciários de uma redu-ção aduaneira selectiva num dado país: se, por força do

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218 Se houvesse um desvio das importações de cerveja de A (deC para B) e se houvesse um desvio das exportações de cerveja de B(de D para A) um dos desfechos possíveis seria C (que perdera omercado de A) fornecer D (que deixara de ser abastecido por B). Seo direito aduaneiro de D sobre as importações de C fosse igual aoque incidia sobre as importações de B e a diminuição das exporta-ções de B para D fosse igual ao aumento das exportações de C paraD, então o ganho de bem-estar (que Meade faz igualar ao produtodo aumento de exportações de C para D pela taxa do imposto advalorem) seria exactamente igual à perda de bem-estar (que MEADE fazigualar ao produto da diminuição das exportações de B para D pelataxa do imposto ad valorem) (1955a), p. 80. A análise poderia então

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efeito primário e dos efeitos secundários, esse país ficar coma sua balança de pagamentos correntes em défice, tomaráseguramente medidas no sentido de reestabelecer o equi-líbrio dessa balança. Que isso pode ser uma necessidade,decorre de uma redução de direitos alfandegários se tra-duzir, no país que a leva a efeito, num efeito primário deexpansão da procura de importações e em efeitos secun-dários de expansão do seu comércio de importação e decontracção do seu comércio de exportação. É certo queestes efeitos secundários são contrabalançados por outros:há um efeito de contracção do seu comércio de importa-ção e um efeito de expansão do seu comércio de expor-tação219, mas o resultado líquido deve ser um agravamento

concentrar-se na ponderação da perda decorrente do desvio de co-mércio (em A) de C para B e do ganho decorrente do aumento docomércio de importação de A. Como aquele desfecho é apenas umdos muitos possíveis, a consideração das possibilidades complica-se atéao infinito com a sucessiva consideração de mais bens e mais países– e, naturalmente, perde todo o interesse.

219 Segundo MEADE (1955a), p. 85, os efeitos secundários sobreas importações têm maior impacto sobre a balança comercial do queos efeitos secundários sobre as exportações: é que enquanto nestes avariação dos preços e das quantidades se faz em sentidos inversos(a descida de direitos em A provoca uma diminuição na procuradirigida ao seu substituto interno, fazendo descer o seu preço e permi-tindo aumentar a exportação (de A) – caso 2, supra; e a descida dedireitos em A provoca um aumento da procura do bem por ela bene-ficiada – ou dos bens que lhe são complementares –, aumentando oseu preço no mercado de origem e diminuindo as exportações comoutros destinos – casos 3, 6 e 7, supra) nas importações a variaçãodos preços e das quantidades faz-se no mesmo sentido (a descida dedireitos em A provoca uma diminuição da procura dirigida ao seu subs-tituto importado, fazendo descer o preço do bem substituído – caso 1,supra; e a descida de direitos em A provoca um aumento da procurado bem por ela beneficiada – ou dos bens que lhe são complemen-tares – aumentando o seu preço – casos 4, 5 e 8, supra).

Note-se que, nesta tipologia, o país que beneficiou da redução

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da balança comercial. A este pode reagir-se procurandocontrolar directamente os fluxos comerciais entre o país eo resto do mundo, mediante alterações cambiais ou atra-vés de uma política interna de rendimentos, preços e degastos públicos220. Consoante essa reacção se traduza numaumento de fluxos comerciais de mercados de baixo pre-ço para mercados de alto preço, ou numa redução dessesfluxos, assim haverá um ganho ou uma perda de bem--estar, como consequência desses efeitos terciários. Natu-ralmente, é impossível pré-determinar não só quais as reac-

aduaneira (sem intervir nela) apresenta uma conjugação de efeitossecundários negativa em termos de situação de balança comercial, jáque se identificam nele dois efeitos de expansão de importação (casos 4e 8, supra) que, naturalmente, não invertem os efeitos positivos doefeito primário de expansão da exportação (ou teria de se concluir, porexemplo, que a concessão dos sistemas de preferências generalizadasprovoca efeitos inversos aos pretendidos). A situação do país que con-fere a redução pautal é, no quadro limitado dos efeitos secundários,melhor: há um efeito de contracção das importações (caso 1, supra)que diminui o efeito de expansão das importações (caso 5, supra) eum efeito de expansão das exportações (caso 2, supra) que compensao efeito de contracção das exportações (caso 6, supra).

220 Se A passa de uma situação de equilíbrio para uma situaçãode défice e puder estabelecer controles directos à importação, asmelhorias de bem-estar que se apurem decorrer da alteração na suapauta aduaneira teriam de ser sopesados com os prejuízos resultantesdesse reforço dos controles de importação. Se o défice da balançacomercial estiver na origem de uma depreciação de sua moeda – que,naturalmente, contribuirá para diminuir as suas importações e esti-mular as suas exportações – os ganhos e perdas de bem-estar daí resul-tantes terão também de ser ponderados. Se os câmbios forem fixos –ou estiverem indexados – e não se impuserem limites à importação éainda possível agir sobre o défice da balança de pagamentos, vg. reti-rando as ilações da teoria de absorção (limitar o consumo privado eas despesas públicas), mas o juízo sobre os efeitos de bem-estar tor-na-se muito mais difícil.

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ções a um défice comercial como também os seus resul-tados, pelo que não surpreende que Meade acabe porconcluir que “é de todo impossível generalizar utilmentesobre o efeito no bem-estar económico deste método deajustamento terciário da balança de pagamentos” – (1955a),p. 89.

Face a isto, é difícil deixar de concordar com Pomfret(1986), p. 444: “Meade’s 1955 lectures contained the fullesttracing out of preferences’ effects (...) although his verbalreasoning did not make a lasting impression.”

Para efeitos de comparação com os contributos sub-sequentes, reproduz-se a taxonomia de Meade em quadro:

Efeitos primáriosCriação de comércioDesvio de comércioExpansão de comércioContracção de comércio

Efeitos secundários (quer em bens substituíveis, querem bens complementares)– contracção secundária do comércio de impor-

tação– expansão secundária do comércio de exporta-

ção– contracção secundária do comércio de expor-

tação– expansão secundária do comércio de importação

Efeitos terciáriosmedidas compensatórias

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B) HUMPHREY & FERGUSON

Reflectindo sobre duas obras de MEADE (1955a) e(1955b) HUMPHREY e FERGUSON (1960) procuraram gene-ralizar uma análise que lhes pareceu demasiado específica,para isso construindo dois modelos. No primeiro conside-ram um país A em que a produção está sujeita a custoscrescentes enquanto que as ofertas do país parceiro e a dopaís terceiro são, no que diz respeito às exportações paraA, infinitamente elásticas. No segundo consideram curvasde oferta positivamente inclinadas em todos os países. Osseus pressupostos são os seguintes:

1. Utilização do índice de bem-estar sugerido porDupuit em 1894 e refinado por Hotelling em 1938: obem-estar interno é a soma dos excedentes dos consumi-dores e dos produtores e dos réditos alfandegários221 e obem-estar mundial a soma desses excedentes com os dospaíses parceiros, com os dos países terceiros e com o totaldas receitas alfandegárias;

2. Funções de procura e oferta lineares;3. O bem sob consideração não tem substitutos pró-

ximos nem bens complementares – é um “bem indepen-dente” (o que permite evitar a questão dos “efeitos secun-dários”);

4. Não são consideradas alterações cambiais (as alte-rações de termos de trocas generalizadas ao conjunto dosbens permitem admitir compensações que as dispensem);

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221 O excedente (ou renda) do consumidor é definido como ointegral abaixo da curva de procura e acima da linha do preço e oexcedente (ou renda) do produtor como o integral acima da curvada oferta e abaixo da linha do preço. Com uma curva de oferta hori-zontal não há excedente dos produtores e, portanto, no modelo Ieste conceito só é relevante para o bem-estar do país A. Cfr. supra,notas 126 e 127.

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5. No modelo II, a introdução de custos crescentesem todos os países é compatibilizada com a manutençãodos seus preços relativos (para evitar o problema das alte-rações no rendimento);

6. Não são consideradas nem possíveis economias deescala, nem o seu inverso.

Modelo I

Sejam três países (A – o “home country”; B o seuparceiro numa união aduaneira; C – o país terceiro) e umbem x de que se assinala a origem pelo sub-escrito; t é odireito aduaneiro cobrado em A, z a diferença de custode produção entre o país parceiro e o país terceiro; asquantidades são indicadas por q, com um sub-escrito paraa origem da produção e um sobre-escrito para as três situa-ções consideradas (l – comércio livre; t – direito adua-neiro nacional; u – direito aduaneiro da união). Tan o etan o são os declives das curvas da oferta e da procura dopaís A – como se representa na Figura 3.1 222:

Em comércio livre a procura de A seria inteiramentesatisfeita com importações de C ao preço OP1 (consu-mindo-se Oq1 unidades de x). Com um direito aduaneiro________________________

222 POMFRET (1986), p. 444, escreveu: “The year 1960 repre-sented a watershed in customs union theory (as the theory ofpreferences has come to be known) in that it saw the popularizationof the diagram which dominated future textbook presentations of thetheory.”, embora hesite em atribuir a Humphrey/Ferguson o créditopor tal divulgação. Tendo em conta o persistente esquecimento a queo artigo foi votado (fruto, certamente, de uma menor difusão darevista em que foi publicado) – e de que aponta outro exemplo(p. 453, nota 24) no caso do adiante referido Modelo II (emboratambém omita a precedência dos autores em relação ao contributode Cooper/Massell) – seria efectivamente surpreendente que fosse estaa origem da divulgação do diagrama-tipo a que se refere Pomfret.

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não-discriminatório de t, o preço interno sobe para OPt

diminuindo a quantidade procurada para Oqt.O bem-estar de A desce de DR1P1 para

DRtpt+p1ptHt+HtRtMN dando origem a uma perdalíquida de Htp1N+RtMR1 223. Este movimento, de umasituação de comércio livre para uma outra de protecçãoaduaneira não-discriminatória, pode ser descrito de duasformas:

a) Como a interacção de quatro efeitos sobre o bem--estar interno:

efeito de consumo: representado por RtR1M, é deter-minado pelo declive da curva da procura e pelo mon-tante do direito aduaneiro aplicado;

Figura 3.1

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223 Sendo DRlPl constituído apenas por excedente do consu-midor e DRtPt o novo excedente do consumidor, PlPtHt o exce-dente do produtor e HtRtMN o montante das receitas alfandegárias.

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efeito de produção: representado por HtNP1, é deter-minado pelo declive da curva de oferta e pelo mon-tante do direito aduaneiro aplicado;efeito de receita: representado por HtRtMN é deter-minado pelo produto das importações sobejantes pelodireito aduaneiro aplicado;efeito de redistribuição: aqui representado (também) porHtRtMN cancela o efeito de receita. Normalmentedá conta de alterações no excedente dos consumido-res não explicada pelos anteriores efeitos.

b) Como custo de protecção:efeito de expansão da produção: representado por Oqt

A;efeito de contracção de comércio: representado por q1qt;No seu conjunto estes dois efeitos dão-nos o volume

de comércio destruído;custo de distorção na produção (“production cost of

protection”): consiste no acréscimo de custos decada unidade de output produzida internamente emrelação ao seu custo de importação. Embora ocusto da última unidade produzida internamenteexceda este pelo montante do direito aduaneiro,o acréscimo médio de custos da produção prote-gida é, no caso vertente, de metade do direito adua-neiro224.

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224 HUMPHREY/FERGUSON (1960), p. 200, parecem bastar-se coma existência de funções de produção lineares para afirmarem esta con-clusão mas, obviamente, ela depende também de se ancorar a curvada oferta interna (Sa) sobre o eixo do preço/custo exactamente nopreço internacional do bem, pois só dessa forma fará a diagonal daárea delimitada pela quantidade produzida internamente e pelo mon-tante do direito aduaneiro que a permite (que seria aplicado a umaigual quantidade de importações se não houvesse produção interna).

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custo de distorção no consumo: (“consumption cost ofprotection”): consiste na distorção no padrão de con-sumo.

Sumariando as conclusões extraídas do seu Modelo I,os autores concluem que:

1. Do ponto de vista do bem-estar interno, o comér-cio livre é preferível quer a uma união aduaneira,quer a um sistema pautal não preferencial. A opçãoentre estes dois casos, porém, conforma-se com o

Assim, se a curva de oferta interna começasse algures abaixo da linhade preço internacional “a perda monetária por unidade de produçãoprotegida” – obviamente em média – não seria “igual a metade dodireito aduaneiro imposto” (est. cit., p. 200) mas sim menor (SB), talcomo seria maior (Sc) se a curva da oferta interna arrancasse alguresacima da linha do preço internacional, como se vê no diagramaseguinte:

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Baseando-se neste caso particular, HUMPHREY/FERGUSON (1960),p. 201, concluem que “a perda líquida (“dead loss”) imputável à impo-sição do direito aduaneiro é proporcional ao quadrado desse direito”,tal como primeiro revelado por Hotelling em 1938. Isto porque asalterações no bem-estar de A são os seus custos de produção (HtNPl)mais os seus “custos” de consumo (Rt MRl).

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teorema do “second best” sendo a escolha entreambos afectada pelo nível do direito aduaneiro,pela diferença de custos e pelo declive das curvasde procura e oferta internas.

2. Do ponto de vista do bem-estar mundial as con-clusões são idênticas às anteriores.

MODELO II

A alteração fundamental em relação ao modelo ante-rior é a introdução de curvas de oferta de inclinação posi-tiva no país parceiro (B) e no país terceiro (C) e de umacondição extra: tanto antes como depois da constituiçãoda união, o mercado de A é abastecido do bem em causa(x) por produção interna e por importações de B e C.

Mantêm-se as regras de sinalização:

Figura 3.2

P1 é o preço de equilíbrio em comércio livre, estabe-lecido onde a procura interna de A encontra a curva deoferta de exportações de B. O mercado de A é fornecido

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pelos produtores de A (PlG’), por importações de C (I’K’)e por importações de B (T’Rl)225.

A imposição de um direito aduaneiro t (=I’X’=T’X’’),por unidade, faz subir o preço interno para Pt, passandoo mercado de A a absorver menos TR1 de x, aumentandoa produção interna (para PtH) e diminuindo as importaçõesde C (para HF) e de B (para FRt).

Humphrey e Ferguson consideram seguidamente osefeitos de bem-estar da pauta aduaneira e os efeitos de preçoe quantidade da união aduaneira. Quanto aos primeirosconfessam seguir Johnson226:

– o bem-estar de A na ausência de pauta aduaneira édado pelo excedente do consumidor DRlPl somado ao exce-dente do produtor PlG’X. A introdução de um direitoaduaneiro t faz diminuir o excedente do consumidor paraDRtPt e aumentar o excedente do produtor para PtHX,dando origem a receitas fiscais no valor de HRtWW’. Hásimultaneamente uma perda – imputável ao que chamamefeito de expansão de produção (HG’I’) e ao efeito de contracçãode consumo (RtRlT) – e um ganho – na medida em que oque chamam efeito de receita (HRtWW’) excede o chamadoefeito de redistribuição (HRtTI´- pelo que o resultado finalfica dependente da magnitude dos efeitos contrários(HG’I’+RtRlT) (I´TWW´).

Quanto aos efeitos da formação de uma união adua-neira nos preços e quantidades procuradas e oferecidas:

– a remoção do direito aduaneiro t das importações________________________

225 O diagrama foi construído de forma a que T’K’ igualasseG’l’ de modo que a extensão das linhas PlRl fosse igual a PlG’ +I’K’ + T’Rl (o hiato entre G’I’ é compensado pela sobreposiçãoentre T’K’).

226 Os autores citavam o artigo original de 1957 publicado noIndian Journal of Economics – que atrás referimos na versão (1962a)que figura como Appendix a (1960) em (1962) [pp. 63 a 74]. Cfr.supra nota 128.

>>=

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de B faz descer o preço interno para OPu, faz subir opreço de B para OPu e faz descer o preço das exporta-ções de C para OPu-t. Em consequência, B alarga a suaquota no mercado de A em LY. Esse aumento pode serdecomposto em:

– aumento de consumo (LRu);– diminuição de produção interna (RuY’ = GI);– diminuição de importações de C (Y’Y = JK);

Como HUMPHREY/FERGUSON notam (1960), p. 208,o aumento de exportações de B é a soma da criação decomércio e do desvio de comércio em A. O novo preçode equilíbrio deve estar situado acima do ponto de inter-secção da curva da procura de A e da curva da oferta deB: é que esse só permitiria fazer face à expansão no con-sumo decorrente da descida de preço em A. Ora a ofertade B terá de cobrir, além desse aumento de procura, adiminuição das exportações de C e a diminuição da produ-ção interna de A – para isso o seu preço terá de subir mais.

Retomando a Figura 3.2, podemos ilustrar um impor-tante corolário da análise de Humphrey e Ferguson227:

A queda de uma unidade no preço do bem x nopaís A provoca consequências múltiplas – no caso, um au-mento de procura de importações (junto de B) quatro vezessuperior à queda interna de preços:

– uma vez que a curva da oferta de A é umalinha de 45º, a quebra de uma unidade no preçoinduz a diminuição de uma unidade de produ-ção;

– uma vez que a curva de procura de A é umalinha de 135º, a quebra de uma unidade no preço

________________________

227 Que os próprios escolheram formular em termos geométri-cos e na sua tradução discursiva, por se tratar de um caso em que “amatemática serve para obscurecer o problema económico fundamen-talmente simples” (1960), p. 208.

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induz um aumento de uma unidade de consu-mo;

– uma vez que a curva da oferta de C é umalinha a 26,5º, a quebra de uma unidade nopreço induz uma diminuição de duas unidadesde produção.

Como o aumento de uma unidade no preço do bemx no país B só induz um aumento de produção de duasunidades (a curva da oferta de B, paralela à de C, é tam-bém uma linha de 26,5º), a satisfação do aumento de pro-cura que lhe era dirigida só seria possível com uma subidade preço dupla da descida de preço em A228.

Os autores concluem que, se se ousar partir do prin-cípio de que a elasticidade-preço das exportações do paísterceiro é idêntica à elasticidade-preço das exportações dopaís parceiro, é possível que, em geral, o preço internodesça menos de metade da redução preferencial do direitoaduaneiro.

Finalmente, quanto aos efeitos de bem-estar de umaunião aduaneira, Humphrey e Ferguson reiteram que a cria-ção de comércio é benéfica e o desvio de comércio pre-judicial, dependendo dos valores relativos de uma e outroo ganho ou perda líquida – em todo o caso, proporcional

________________________

228 Idem, pp. 208-209.Mesmo admitindo que a redução de preço se dá, só no caso

muito especial representado no diagrama é que uma hipótese tão forte(a quantificação da oscilação inversa de preços nos dois países quepassam a constituir a união) pode ser plausível. Nem nos referimosàs consequências da alteração do rendimento que tais modificaçõesprovocariam: basta considerar a alteração na própria procura internade x em B, que se segue à elevação dos preços (como consequênciado aumento de produção para o mercado de A); a diminuição dasexportações de C para A e a diminuição da produção interna deste,criando um aumento da procura dirigida a B, seriam em parte com-pensadas pela diminuição de consumo em B.

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ao quadrado do direito aduaneiro removido. Quantomaior for o declive das curvas da oferta de A e menor odeclive das ofertas de B e C, maior a probabilidade de aunião aumentar o bem-estar de A.

Quanto às alterações no bem-estar do mundo, o ganhocontinua a ser dado pela criação de comércio, ao passoque a perda depende do declive da curva de oferta deexportações de C. Nas palavras dos autores:

As usual, the index of change is proporcional tothe square of the tariff. There is a gain or lossaccording as the sum of the absolute values ofdomestic supply and demand exceeds or is less thanthe slope of the foreign export supply curve, reducedproportionately to the price reduction which followsthe establishment of the customs union. (p. 210).

Contrariamente ao defendido por Meade, os autoressublinham que a alteração no bem-estar mundial é indepen-dente do declive da curva de oferta de exportações de B229.

Sumariando as conclusões extraídas do seu Modelo II,os autores concluem (p. 210) que:

1. Do ponto de vista interno, a alteração de bem--estar decorrente da passagem de uma situação decomércio livre para uma de pauta aduaneira geo-graficamente não-discriminatória, ou desta para umasituação de uma união aduaneira, não se dá sempreno mesmo sentido. Em ambos os casos a mudança éproporcional ao quadrado do direito, mas a existên-cia de ganho é tanto mais provável quanto maioresforem os declives das curvas de oferta e procurainternas e menores forem os declives das curvas deoferta de exportações do país parceiro.

________________________

229 (1960), p. 210. Em nota concedem-lhe, porém, uma rele-vância indirecta.

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2. Do ponto de vista mundial, o bem-estar é semprediminuído quando se passa de uma situação de comér-cio livre para uma de protecção pautal. A perdaé proporcional ao quadrado do direito aduaneiroimposto e é tanto maior quanto maior for o declivede todas as curvas.

Na passagem de uma situação de protecção adua-neira para uma situação de comércio preferencial asconsequências de bem-estar já não são uniformes. Sãoproporcionais ao quadrado do direito aduaneiro remo-vido preferencialmente, mas a existência de ganhos étanto mais provável quanto maiores forem os decli-ves das curvas de oferta e procura de A e menor odeclive da curva de exportações do país terceiro.

As principais diferenças da análise de Humphrey eFerguson em relação à de Meade são inventariadas nofinal do estudo (p. 211):

1. Meade utiliza elasticidades em vez de declives paraconstruir o seu modelo. Os autores atribuem isso a umautilização de funções de procura e de produção não linea-res mas argumentam com a simplicidade da sua opção.

2. Meade conclui que a elasticidade da oferta deexportações do país parceiro influi no sentido damudança de bem-estar quando se passa de uma pautaaduaneira geograficamente não-discriminatória parauma união aduaneira. Os autores negam que assimseja, excepto no caso especial de o país parceiro setornar também no “home country” em virtude de“symmetrical trade”.3. Meade conclui que o nível dos direitos aduanei-ros afecta o sentido da alteração de bem-estar enquan-to que para os autores – excepto no caso de direitosaduaneiros negativos, i.e., subsídios – ele só afecta amagnitude da alteração.

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Humphrey e Ferguson concluem com uma referên-cia às alterações que uma análise de equilíbrio geral podiaintroduzir, uma vez que aí os efeitos indirectos de umaredução preferencial de direitos podem ser inversos dosefeitos directos considerados. Apresentam dois exemplosdesta inversão: no primeiro o desvio de comércio aumentao bem-estar mundial (vg: A não produz x e o custo deprodução de B é pouco mais elevado do que o de C.Assim, o ganho provocado pelo efeito de consumo em Apode ser superior à perda resultante da deslocação de pro-dução); no segundo, a criação de comércio não o faz (vg:sem alterações de produção as consequências de uma redu-ção preferencial de direitos alteram a razão de preços in-terna: enquanto na situação anterior se consumia o bemproduzido internamente em excesso, face aos importadosde B e de C, depois passa a consumir-se o bem produ-zido internamente e o importado de B em excesso faceao importado de C. Uma vez que nenhuma destas situa-ções é óptima – a situação óptima corresponde ao comér-cio livre, em que a razão de preços enfrentada pelos con-sumidores reflecte os custos de produção – não se pode,a priori, hierarquizá-las, como ensina a teoria geral secondbest.

Resumindo os efeitos por eles identificados, apenas nocaso de formação de uma união aduaneira230, teríamos:

– efeito de expansão da produção;– efeito de contracção do consumo;

________________________

230 Como vimos, a passagem de uma situação de comérciolivre para uma situação de protecção não discriminatória levava-os aidentificar quatro efeitos sobre o bem-estar interno (efeito de con-sumo, efeito de produção, efeito de receita e efeito de distribuição)ou, na perspectiva do custo de protecção, dois efeitos (efeito deexpansão da produção e efeito de contracção de comércio) e doiscustos (production e consumption cost of protection).

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– efeito de receita;– efeito de redistribuição– efeitos de preço– efeitos de quantidade.

C) LIPSEY

No segundo locus classicus da teoria das uniões adua-neiras231, LIPSEY (1960), introduziu uma classificação quetambém não fez carreira: depois de passar em revista thestate of the art e de fazer a recapitulação da descoberta daimportância dos efeitos de substituição no consumo, con-cluía que a distinção entre efeitos de produção e efeitosde consumo, introduzida por ele e por Gehrels, não eracompletamente satisfatória, por os efeitos de consumo tam-bém provocarem alterações na produção. E acrescentava:

A more satisfatory distinction would seem to beone between inter-country substitution and inter-commoditysubstitution. Inter-country substitution would be Viner’s

________________________

231 O survey de Lipsey foi reproduzido em CAVES/JOHNSON

(1968); ROBSON (1972); KRAUSS (1973); BHAGWATI (1969), (1981) e(1987); e LETICHE (1982). KRAUSS (1972), 414, disse dele que “wasthe foundation on which much of the subsequent work was based.”POMFRET (1986), p. 444, refere-se-lhe como “Lipsey’s influential 1960survey of the field”. É certo que A. J. JONES (1979) não o mencio-na, mas o facto é que só menciona seis artigos nas suas notas e sórefere quatro autores no seu texto: ele próprio, Hicks, Corden e El--Agraa. Já em CORDEN (1984) o survey de Lipsey é referenciado, apar do seu anterior artigo (1957) e das obras de VINER (1950), MEADE

(1955a) e LIPSEY/LANCASTER (1956), como “The first important contri-butions (...)”. Em EL-AGRAA/JONES (1981) é referido que “it was hiswell-known survey article (Lipsey 1960) which did most to initiatethe development of [a general equilibrium approach ] which formsthe basis, for example, of two notable books on the subject (Vanek1965 and Kemp 1969) (...)”.

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trade creation and trade diversion, when one countryis substituted for another as the source of supply forsome commodity. Inter-commodity substitution occurswhen one commodity is substituted, at least at themargin, for some other commodity as a result of arelative price shift (...) In general, either of thesechanges will cause shifts in both consumption andproduction. (p. 504).

Além desta alteração do quadro classificatório, Lipseyfazia referência ao aumento do volume de importações(trade expansion) e à diminuição do volume de outras impor-tações (trade contraction)232 induzidos por uma redução mar-ginal do direito aduaneiro sobre um certo bem, numa alu-são à taxonomia de Meade e aos factores identificados poreste como tendentes a aumentar ou a diminuir o volumede comércio (pp. 505-506). Além disso, fazia igualmentereferência às alterações nos termos de troca por efeito daformação de uma união aduaneira233, de modo que umasistematização da sua posição podia dar origem ao seguintequadro:

________________________

232 Até pelo contexto em que são utilizadas estas expressões, ne-nhuma dúvida há de que a sua definição se encontra em MEADE

(1955a), não havendo da parte de Lipsey qualquer intenção de lhesalterar o entendimento já atrás referido.

233 Pp. 496 e 501. Nas pp. 499 e 500 também faz referênciaaos termos de troca, mas para figurar a sua não alteração.

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Expansãoa) Efeitos de volume de comércio

Contracção

b) Efeitos de substituição entre paísesConsumo

Criação de comércioProdução

ProduçãoDesvio de comércio

Consumo

Consumoc) Efeitos de substituição entre bens

Produção

d) Efeitos de alteração nos termos de troca234

________________________

234 Os efeitos referidos em b) e c) são apresentados tal comoem COLLIER (1979), pp.84-85, e decorrem directamente da exposi-ção de Lipsey, transcrita no texto. Os efeitos referidos em a) e c)não são tratados por Lipsey no mesmo contexto, pelo que se pres-tam a interpretações divergentes. Collier não se refere ao primeiro eé mais específico na alusão ao último: “Alterações nos termos de trocacom o resto do mundo”. (Itálico nosso). Nenhuma das passagens refe-ridas na nota anterior autoriza uma tal restrição, porém, e a dap. 501 depõe mesmo em sentido contrário, uma vez que admite que,na sequência da formação de uma união aduaneira, A comercie comB (seu parceiro) a termos de troca piores do que os obtidos “fromthe outside world”. Note-se que Collier adopta uma visão de con-junto dos textos de LIPSEY de (1957), (1960) e (1970). A verdade,porém, é que, cronologicamente, o texto de 1960 é o último (cfr.supra, nota 104) e, como seria de esperar, é nele que se encontra amais desenvolvida posição de Lipsey nesta matéria.

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D) DAYAL / DAYAL

Ram DAYAL/Neeru DAYAL (1977) consideraram queo insucesso na medição dos efeitos de criação e desvio decomércio numa união aduaneira (ou numa zona de comér-cio livre) se podia ficar a dever ao facto de os conceitosde criação e desvio de comércio prevalentes serem defei-tuosos e, portanto, insusceptíveis de adequada avaliação esta-tística. Os autores argumentavam:

a) que a medição dos efeitos de criação e desvio decomércio tal como definidos por Viner não fora, até à data,tentada;

b) que as tentativas de medição efectuadas tinhamatendido de facto à redefinição dos conceitos de criação edesvio de comércio feita por Meade;

c) que a extensão feita por este dos conceitos de Vineré baseada num critério de bem-estar enquanto que as sub-sequentes tentativas da sua medição medem apenas fluxoscomerciais235.

________________________

235 Sobre a redefinição dos conceitos de Viner por MEADE [em(1955a)], cfr. supra, p. 157 e ss. Note-se, porém, que os autores sereferiam antes à introdução de efeitos de consumo na criação e nodesvio de comércio sob a designação de expansão de comércio – sebem que tal dependa de um entendimento quantitativo da criação decomércio e suponha, por isso, o abandono do entendimento econó-mico a que aí se faz referência.

Os autores notam que a implicação de bem-estar decorre de aintegração levar à substituição de um fornecedor mais eficiente situa-do fora dos espaços integrados por um fornecedor menos eficientesituado no seu interior – mas que modernamente os diferenciais decustos não são a principal razão do comércio internacional e, por-tanto, da alteração da localização da produção: a diferenciação de pro-dutos, a promoção de vendas, as afinidades políticas e comerciais, asimilitude de gostos, etc, tudo pode interferir nos padrões das trocasinternacionais. Cfr. (1977), p. 128.

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Segundo Ram e Neeru Dayal os decisores políticosjulgariam mais claros os termos de criação e desvio decomércio se o primeiro fosse definido como um aumentoda procura (potencialmente benéfico para todos os parcei-ros comerciais) e o desvio de comércio como uma altera-ção na procura (beneficiando alguns produtores à custado prejuízo de outros, sejam estes internos ou externos).Os conceitos a desenvolver deviam, aliás, ser relevantes parao acompanhamento dos problemas do comércio e do bem--estar nacional (e internacional, em segundo plano) e deviamprestar-se a medição empírica fiável.

A sua sugestão equivale, de facto, a fazer correspondera criação de comércio a um efeito de rendimento e o des-vio de comércio a um efeito de substituição236. O queequivale a considerar o aumento da procura interna sub-sequente à diminuição do direito aduaneiro – criação decomércio – mesmo quando dirigido parcialmente à produ-ção interna e a diminuição de procura dirigida à produ-ção interna (em benefício da produção do país parceiro)como desvio de comércio – o que os autores defendem salien-tando que os casos de desvio ou criação de comércio purosnão são visíveis na prática e o que mais importa é a per-cepção do efeito de conjunto: num caso a expansão daprocura interna, noutro a modificação dessa procura.Demais, a associação corrente entre criação de comércio eresultados positivos da integração e entre desvio de comér-cio e resultados negativos radica justamente nessa especiosadistinção: uma substituição de produção interna por pro-

________________________

236 Ram e Neeru Dayal concedem a Willy Sellekaerts (The Effectof the EEC on Its Member’s Import from Extra-Area Suppliers, paperpresented at the 5th. Annual Meeting of Canadian EconomicsAssociation, St. Johns, Newfoundland, 1971) a prioridade da suges-tão do relacionamento do efeito de criação de comércio com o derendimento.

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dução do país parceiro pode melhorar a eficiência na afec-tação de recursos e aumentar o bem-estar da área, mas éduvidoso que seja vista com favor pelas autoridades do paísimportador – e nessa medida é preferível chamar-lhe des-vio de comércio.

Os autores resumem num quadro as diferenças da suataxonomia em relação à de Viner/Meade (p. 731):

Componente Nomenclatura de Viner Nomenclaturade mudança incluindo a extensão proposta

de Meade

1. IMPORTAÇÕES DO PAÍS PARCEIROa) efeito de criação de comércio desvio de comércio

competitividade (equivale ao desviode preço de comércio em 2a)

e em 3a))b) efeitos de criação de comércio criação de comércio

aumento de (Extensão de Meade)procura interna(de A)

2. IMPORTAÇÕES DO TERCEIRO PAÍSa) efeito de Desvio de comércio desvio de comércio

competitividadede preço

b) Efeito de Criação de comércio criação de comércioaumento de (Extensão de Meade)procura interna(de A)

3. ALTERAÇÕES NO FLUXO PRODUZIDOINTERNAMENTE

a) efeito de não considerado desvio de comérciocompetitividadede preço

b) efeito de não considerado criação de comércioaumento daprocura interna(de A)

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Quando os direitos aduaneiros entre duas economiasque participam de um movimento comum de integraçãosão abolidos, os fluxos comerciais dentro delas e entre elase os países terceiros são afectados. Num modelo de trêspaíses teríamos 9 fluxos237. Os conceitos de Viner cobremapenas 1a) e 2a). Como normalmente a criação e o des-vio de comércio andam associados, o comércio novo é ape-nas o valor da diferença entre 1a) e 2a) – o que os auto-res consideram equivalente a 3a).

As medições empíricas efectuadas até então, mediam1a) e 1b) como um único elemento (verdadeiramente uti-lizando o conceito de criação de comércio sugerido porMeade, isto é, incorporando o aumento de procura decor-rente da diminuição de preço) e mediam 2a) e 2b) comoum único elemento, quando na verdade se trata de uma________________________

237 Sendo A e B os países participantes no movimento deintegração e C o resto do mundo, teríamos:

Em A: impacto nas importações de Bimpacto nas importações de Calteração no fornecimento interno

Em B: impacto nas importações de Aimpacto nas importações de Calterações no fornecimento interno

Em C: impacto nas importações de Aimpacto nas importações de Balterações no fornecimento interno

Uma vez que cada um destes fluxos é constituído por elemen-tos de criação de comércio e de desvio de comércio, dever-se-iamcalcular as alterações em 18 elementos. Para efeitos de ilustração,porém, os autores bastam-se com os três fluxos centrados em A –ou seja, com a identificação das alterações em 6 elementos. Os com-ponentes de desvio de comércio (6 elementos) dos restantes seis flu-xos estariam incorporados nos componentes de desvio de comérciodos três fluxos considerados, e os componentes de criação de comér-cio desses seis fluxos (outros 6 elementos) seriam de pequena magni-tude.

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mistura de desvio de comércio e de criação de comércio(este, no sentido de Meade: expansão da procura decor-rente da redução do preço). Segundo Viner, 2a) reduz obem-estar mundial – mas, acrescentam, 2a) está contidoem 1a)238 e portanto, parece contraditório pretender quea maximização de 1a) maximize o bem-estar mundial.

E) COLLIER

Em (1979) COLLIER fez o diagnóstico das taxonomiasalternativas à vineriana239 defendendo duas teses:

– a de que as noções vinerianas de criação e desviode comércio dependem crucialmente dos pressupos-tos específicos da sua análise (apenas dois bens, cus-tos de produção constantes, ausência de efeitos deconsumo e termos de troca invariantes)240;

– a de que as alterações até então introduzidas parafazer face às alterações nos pressupostos da análiseoriginal eram tão inadequadas como incómodas.

Collier começava por salientar a concordância entreas análises de bem-estar conduzidas na perspectiva de cadapaís, da união ou do resto do mundo que os referidos pres-supostos asseguravam: sem excedentes do produtor não

________________________

238 Trata-se em ambos os casos, de um efeito de substituição(da origem dos produtos) decorrente de uma diminuição do preçofinal.

239 Referindo-se à extensão proposta por GEHRELS (1956) e LIPSEY

(1957a) e à proposta de LIPSEY (1960), mas não a MEADE (1955a).240 Assim, suprimindo a exclusão de efeitos de consumo, GEHRELS

(1956) e LIPSEY (1957a) puderam introduzir a distinção entre efeitosde produção e efeitos de consumo; considerando três bens, Lipseypode distinguir efeitos de substituição entre países, efeitos de substi-tuição entre bens e alterações nos termos de troca com o resto domundo.

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havia transferências de bem-estar entre países e sem alte-ração nos termos de troca e sem efeitos de consumo, con-siderava Collier, a criação de comércio e o desvio decomércio descreviam por completo os efeitos de uma uniãoaduaneira sobre o bem-estar. O nascimento de taxonomiasalternativas decorreria de alterações nos pressupostos de aná-lise: assim, a distinção entre efeitos de produção (criação edesvio de comércio) e efeitos de consumo decorreria da supres-são de um dos pressupostos de análise de Viner (exclusãode efeitos de consumo), tal como a mais completa taxo-nomia proposta por Lipsey (1960) dependeria da conside-ração de três bens, em vez de dois241.

Após uma crítica à metodologia simplista e incorrectada determinação dos efeitos de bem-estar pela alteração dospreços relativos e destes pelo nível de agregação adoptado,Collier demonstra com igual veemência a inutilidade danoção de desvio de comércio quando se abandona o pressu-posto dos custos de produção constantes:

– os critérios de bem-estar nacional e comunitário dei-xam de coincidir porque, a menos que as curvas de ofertasejam rigorosamente iguais para os países que aumentam ediminuem de produção, o que um ganha não correspondeexactamente ao que o outro perde;

– se um bem y, consumido no país A, era simulta-neamente importado de B e C e depois da constituição

________________________

241 Decisiva para a construção de Lipsey era a possibilidade dopaís A importar bens de B e de C, tanto antes como depois da cons-tituição da união aduaneira com B.

A introdução do efeito de redução de custos e a recuperaçãodo de supressão de comércio, operada por CORDEN (1972b) é que éduvidoso que padecessem do mesmo pecado original, dadas as refe-rências de Viner às economias de escala (inclusivamente como justifi-cação da supressão de comércio), sendo, provavelmente por isso, igno-rados na recensão de Collier.

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de uma união aduaneira entre A e B (união essa que fazsubir o nível dos impostos alfandegários de A sobre asimportações de y), passa a ser apenas importado de B –ou continua a ser importado, embora em menores quan-tidades, de C (porque, apesar da margem de preferência,os custos crescentes dos produtores de y situados em Bexcedem, a partir de uma certa quantidade, o preço devenda em A das importações de C, mesmo agravadas como direito aduaneiro), Collier nota que o que seria nor-malmente identificado com o desvio de comércio correspondeafinal a três consequências distintas:

a) ao aumento do custo de produção de y (B aumentaa produção de y até à parificação do seu custo mar-ginal com o novo preço em A);

b) ao aumento do custo de aquisição de y (o aumentodos direitos aduaneiros de A sobre y por efeito daconstituição de uma união aduaneira com B pro-voca uma elevação do seu preço interno. Admi-tindo que é este que remunera os exportadores, Avai ter de dispender mais para obter a mesma quan-tidade de y);

c) ao aumento do excedente do produtor que rever-te para os produtores de y sediados em B (tradu-zido no aumento das vendas até ao novo pontode equilíbrio entre custo marginal e preço e noaumento do diferencial entre custo marginal e preçonas quantidades já vendidas).

Collier afirma que Viner se preocupou com a) e quefoi certamente a partir desta consequência que recortou oefeito de desvio de comércio enquanto que a literatura sub-sequente deu mais importância a b), em consonância comuma implícita transição do critério de bem-estar centradona união, professado por Viner, para um critério de bem--estar nacional. Quanto ao efeito c), que afirma ter sido

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descurado até aí, corresponde ao reverso do desvio deimportações de A, isto é, a um desvio de exportações de B242.

A designação desvio de comércio pode ser aplicada aqualquer um destes três efeitos, mas não seguramente aoconjunto dos três, já que estes diferem em dois aspectos:antes de mais, enquanto o primeiro é um efeito de pro-dução, o segundo e o terceiro são efeitos de termos detroca; depois, enquanto o primeiro e o segundo levam auma diminuição do bem estar de A, o terceiro, quandointerpretado como o reverso do desvio de comércio de B(i.e.: um desvio das importações de B, de C para A), en-volve um aumento de bem-estar para A (1979), p. 92.

A sua conclusão é a de que seria preferível confinaro uso da expressão desvio de comércio ao seu contexto ori-ginal e utilizar antes um novo conceito: Efeitos de termosde troca internos, por sua vez decomponíveis em dois ele-mentos:

1. Desvio de importações, aplicado aos bens expor-tados por B para A mercê da margem de preferênciae reduzindo o bem-estar de A na medida do produ-to da quantidade importada por esta margem de pre-ferência;

2. Desvio de exportações, aplicado aos bens expor-tados por A para B mercê da margem de preferên-cia, e aumentando o bem-estar de A na medida do

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242 “...the diversion of B’s exports.” COLLIER (1979), p. 92.Como referido supra (nota 201), VERDOORN/SCHARTZ (1972), p. 301,já o tinham referido expressamente. A definição de desvio de expor-tações é capciosa porque não implica uma alteração de destino deuma quantidade previamente produzida mas sim uma produção nova.Nesta medida os novos conceitos que Collier pretende definir sãoainda tributários da terminologia ambígua de Viner-Meade, procu-rando descrever alterações na produção a partir de termos adequadosà esfera da circulação.

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produto da quantidade exportada por esta margem depreferência;O seu juízo sobre a criação de comércio não é mais

favorável embora reconheça a utilidade do conceito nummodelo de dois bens: a consequência da diminuição daprodução de um deles numa das economias deve ser oaumento da produção do outro.

Somos da opinião de que igualmente crucial para opréstimo do conceito é o pressuposto de custos de produ-ção constantes: sem eles torna-se óbvio que o ganho narealocação de recursos entre países, decorrente da substituiçãode produção de, vg, y em A por produção de y em B,se pode fazer à custa da diminuição da eficiência na alocação derecursos em B. Pense-se numa situação inicial em que emB não há direitos aduaneiros sobre y, conseguindo os seusprodutores marginais custos médios iguais ao preço inter-no (e ao preço internacional). Se a pauta aduaneira co-mum fizer a média dos direitos alfandegários sobre a im-portação de y, o novo preço e a margem de preferênciano interior da união poderão permitir aos produtores deB tomar o lugar dos produtores menos eficientes de A(criação de comércio), mas à custa da parificação do customédio de produção das empresas marginais ao preço daunião. Ou seja: a produção de y em B pode tornar-seglobalmente ineficiente.

Se abandonarmos o pressuposto dos custos constantes– que, aliás, Viner não reconheceu ter assumido – pode-mos demonstrar que a óptica da alocação de recursos nointerior de cada economia não coincide forçosamente coma da alocação de recursos no interior da união.

Para Viner os critérios de bem-estar nacional, comu-nitário e mundial, coincidem e, uma vez que o seu termode referência é relativo (e não absoluto), a passagem daprodução de A para B representa um ganho (marginal) deeficiência na alocação de recursos no interior da união e,

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na medida em que isso não afecta o resto do mundo, noglobo terrestre. Como se disse, isso só é crível face a cus-tos de produção constantes, pois de outro modo o crité-rio de eficiência referido ao sujeito activo da criação decomércio pode interferir com o critério de eficiência refe-rido ao conjunto dos países que formam a união.

Para evitarmos esta conclusão teríamos de admitir queas quantidades de y produzidas em B antes da união, aopreço internacional, eram suficientes para abastecer o seumercado e o de A – de forma que o novo preço no inte-rior da união, antes que fazer aumentar a produção, selimitava a reorientar o fluxo de exportações dos produto-res de y. Neste caso, porém, haveria que considerar osefeitos dessa supressão de comércio com C.

Como quer que seja, a crítica de Collier centra-sena quebra da conexão entre a diminuição da produção,em A, do bem ora importado de B, e o aumento da pro-dução, em A, do seu bem de exportação: numa represen-tação de equilíbrio geral seria assim mas, desde que se admi-tam mais de dois agregados, as alterações na produção nointerior de A podem melhorar a eficiência na afectaçãode recursos ou não. Mesmo antes de considerarmos o nívelideal de agregação – que Collier considera dever decorrerdas potenciais alterações dos preços relativos que podemter origem na união, em vez de, como é tradicional, redu-zir o campo de análise aos que podem ser perceptíveis nosagregados arbitrariamente escolhidos – podemos admitir quehaja transferências de recursos entre os bens anteriormentemais protegidos internamente e os que o são mais na união.Simplificando o argumento de COLLIER (1979), p. 93, supo-nhamos um bem a cujo preço relativo (em relação a b)era, em A, superior ao preço internacional, por força darespectiva pauta. Se após a união aduaneira o preço rela-tivo de a (em relação a b) se tornar, no seu interior, infe-

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rior ao preço internacional (vg. porque o preço de a des-ceu até ao nível do preço internacional enquanto que opreço de b subiu acima deste por força da pauta aduanei-ra comum) pode acontecer que o valor da produção, me-dido a preços internacionais, diminua, tal como é repre-sentado por Collier na Figura seguinte:

Por força da constituiçãoda união aduaneira e da suaestrutura pautal, a substitui-ção de parte da produçãode a em A por produçãode a de B leva a uma di-minuição do valor da pro-dução de A aferida pelospreços internacionais. A efi-ciência na alocação de re-cursos em A diminui243

Torna-se então fundamental determinar o correctonível de agregação – o que é justamente o ponto de par-tida de Collier. No modelo de três países e dois bens tra-dicionalmente utilizado244, afirma, só dois desfechos sãopossíveis: ou A cessa o comércio com C ou B cessa ocomércio com C245. Tal conclusão condiciona o quadro

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243 Note-se porém, que tal implica um critério de eficiênciadiferente do que pode inferir-se da exposição de Viner: comparaçãoda quantidade de recursos utilizada na produçãode uma mesma quan-tidade de um bem, em duas localidades distintas.

244 COLLIER (1979), p. 86, nota 1, cita como excepções maisnotáveis à utilização de 2 agregados os casos de MEADE (1955a) eLIPSEY (1960), (1970). WOOTON (1986), p. 81, acrescenta-lhes osnomes de VANEK [no apêndice de (1965)], CORDEN (1976), BERGLAS

(1979), RIEZMAN (1979) e MCMILLAN/MCCANN (1981).245 Collier (1979), p. 86. Em nota refere que a única forma de

ambos os países manterem trocas com C seria exportando o mesmobem – caso em que não teriam comércio entre si. Corden designouestes modelos como “de morte súbita”.

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em que sintetiza as alterações de preços com dois agrega-dos de bens:

QUADRO 1

PRÉ-UNIÃO PREÇO DA UNIÃO

Bem Preço em A Preço em B Sem comércio A-C* Sem comércio B-C**

X 1 1+txB 1+tx

U 1

Y 1+tyA 1 1 1+ty

U

* – A e C exportam x para B em troca de y

** – B e C exportam y para A em troca de x

Segundo COLLIER (1979), p. 86, se B cessar o seucomércio com C, o preço relativo dos bens para os con-sumidores e produtores de A não sofrerá alterações se aunião adoptar um imposto alfandegário sobre a importa-ção de y semelhante ao que era adoptado por A. Tal impli-cará, porém, uma deterioração dos termos de troca de Aigual ao valor desse direito pela quantidade de importa-ções de y originárias de B: é que se antes da constituiçãoda união as receitas alfandegárias forem devolvidas aos con-sumidores, o preço interno de y será de 1+ty

A mas o seucusto de oportunidade permanecerá na unidade, enquantoque, após a formação da união, o custo de oportunidadede cada unidade de y fornecida por B (mas não das fornecidaspor C se a união devolver aos consumidores de cada paísmembro os direitos aduaneiros por estes pagos) será igualao seu preço no interior da união (1+ty

U=1+tyA).

Reafirmando a pretensão deste modelo de incorporartodos os efeitos da união a partir da perspectiva de umpaís, Collier fornece um critério para avaliar o ganholíquido de bem-estar decorrente da constituição de umaunião aduaneira: que o volume de comércio de A seja

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inferior ao volume de comércio do seu país parceiro antes da união.Isto porque, acrescenta (1979), p. 87 nesse caso o seu bemde exportação tornar-se-á o bem que a união no seu con-junto importará246 247.

Segundo COLLIER (1979), p. 87, estas conclusões – ea condição para que a constituição de uma união adua-neira tivesse efeitos positivos no bem-estar – deixariam deser válidas quando considerado um modelo com três bens

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246 Recorde-se que com três países e dois bens só são possíveisdois pares de fluxos:

1) entre A e B e entre A e C (se B e C exportarem y), ou2) entre B e A e entre B e C (se A e C exportarem x).Como o equilíbrio global tem de resultar do equilíbrio entre

cada par de fluxos – a menos que se admita que um dos paísesexporta e importa simultaneamente os dois bens, o que não tem jus-tificação face aos pressupostos do modelo – no caso 1) o comérciode A é maior que o de B e no caso 2) é menor. Logo só neste casohaveria ganhos.

247 Apesar das tentativas de justificação, assinalem-se rapidamentealgumas das muitas objecções a esta conclusão:

a) No comércio bilateral à melhoria dos termos de troca deum país corresponde uma deterioração nos termos de troca do ou-tro.

b) Se as curvas da oferta são infinitamente elásticas não há exce-dentes de produtor e, portanto, as alterações de origem de importa-ções repercutem-se apenas nos custos de produção. A substituição deprodutores menos eficientes por mais eficientes, melhora o bem-estar,a inversa piora-o. Se as curvas de oferta são positivamente inclinadas,como fomos forçados a estabelecer, os excedentes dos produtores(e a variação nos custos marginais) podem ser muito diferentes, demodo que os ganhos de uns podem não ter equivalência nas perdasdos outros.

c) Se o comércio bilateral está necessariamente equilibrado, entãoa alteração dos termos de troca no interior da união provocará ajusta-mentos em cadeia que deviam entrar na contabilização do bem-estar.

d) O ganho de bem-estar da união deve depender, não dasalterações nos termos de troca no seu interior, mas sim face ao paísterceiro.

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[x (exportações de A), y (exportações de B) e z (expor-tações de C) – embora resulte do modelo que, afinal, Cexporta, em certos casos, um dos outros bens (x ou y)].Neste quadro são possíveis três desfechos:

1) A e B continuam a a exportar x e y (respectivamente)para C.

Neste caso, os termos de troca entre A e B permane-cem inalterados. Os preços relativos de x e y continuamos mesmos porque C continua a adquirir esses bens aospreços internacionais – se houvesse alteração num deles,tornar-se-ia vantajoso para as economias cujos bens aumen-taram de preço relativo, tornarem-se entrepostos no comér-cio da outra com a economia cujo bem diminuira de preçorelativo – adquirindo excesso do outro dos bens que sevalorizara para o reexportar para o país produtor do bemcujo preço relativo diminuira248.

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248 A argumentação de Collier segue outra via neste ponto.O prolongamento das trocas equalizaria o preço relativo dos

três bens: suponha-se que, inicialmente, 1x = 1y = 1z, correspon-dendo, aliás, a uma idêntica utilidade marginal ponderada no con-sumo em A, B e C, respectivamente. Se o preço relativo de y pas-sasse, por exemplo, a 1x = 2y = 1z, A e C ganhariam aumentandoas trocas directas com B, mas ganhariam também em se substituir aooutro na exportação do seu bem. De facto, trocando x e z, unidadea unidade, obtinham meios extra de aumentar a quantidade de yobtida em troca (supondo-se que a elasticidade-preço da procura dey é elástica, as quantidades procuradas em A e C excederiam asdisponibilizadas pelo anterior volume de comércio aos novos termosde troca). Se em B houvesse, por exemplo, uma preferência pelo bemz, o país A ganharia em reforçar as suas aquisições de z a C – aindaque tivesse de pagar cada unidade de z a mais do que uma unidadede x – para trocar depois o seu x e as unidades excedentárias de z,por quantidades maiores de y e mais desejadas, dado o aumento deutilidade marginal ponderada decorrente da queda do seu preço rela-tivo, até à reposição da equimarginalidade. Para obter ganhosde interposição, o preço de x tenderia a descer nas compras de z

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Em diagrama teríamos os seguintes fluxos de expor-tação (e importação):

* Na medida em que C con-tinue a trocar 1z por 1x e 1zpor 1y, x e y mantêm o seu

preço relativo.

Como consequência desta união os preços de x emB e de y em A descem pelo montante dos direitos adua-neiros que anteriormente lhe eram aplicados. Centrando anossa atenção em A, verificamos que o consumo de x ez diminui, ao passo que o de y aumenta (se houvesse pro-dução interna dos três bens, haveria uma diminuição deprodução de y por causa da criação de comércio; namedida em que a diminuição de procura interna de x fossesuperior, igual ou inferior ao aumento de consumo dex em B, assim se alteraria o volume de produção de x).Resumindo, a união exportaria x e y em troca de z e asituação em A seria a seguinte:

– com produção interna dos três bens, teriamos dimi-nuição da produção de y, manutenção da de z e aumentoou manutenção, ou – menos provavelmente – diminuiçãoda de x, consoante o aumento da procura de importaçõesde B fosse maior, igual ou – menos provavelmente – menordo que a diminuição de consumo em A249;

enquanto não fosse evidente que os ganhos da troca trilateral esta-vam a ser apropriados por A: na medida em que a diminuição dopreço relativo de z permitisse fazer reverter para C os ganhos obti-dos por A como entreposto de comércio, haveria motivos para umanova nivelação dos preços relativos.

249 Face a uma situação hipotética análoga à descrita na notaanterior, poderia ocorrer, também, uma alteração indirecta na procura

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C

A B

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– descontando as eventuais relações de substituição oucomplementaridade entre os bens, haveria aumento de con-sumo interno de y e diminuição do consumo de x e de z;

– haveria uma perda de receitas aduaneiras igual aomontante dos direitos cobrados nas importações anterior-mente provenientes de B, resolvida (com vantagem) porum aumento do excedente dos consumidores dessas impor-tações;

2) A continua a exportar x para C mas B deixa de exportary para C.

Se os direitos aduaneiros aplicados pela união à impor-tação de y e z forem idênticos aos aplicados por A, nemos seus produtores nem os seus consumidores se terão deajustar a alterações de preços relativos250.

Em diagrama teríamos os seguintes fluxos de expor-tação e de importação:

* O preço de x em A con-tinua a ser o interno. Os pre-ços de y e z continuam asuportar internamente umagravamento pautal idênticoao aplicado antes da união.

Resumindo, a união exportaria x em troca de y e ze a situação em A seria a seguinte:

– nenhuma alteração no consumo induzida por efei-

de importações de x por parte de C, mas a hipótese acaba por serdeterminada pelo aumento da procura efectivamente registado em B.

250 Em nota (pág. 89) Collier admite que a conjugação de umapauta preferencial com alterações no nível dos direitos aduaneiros cons-titua uma “interessante extensão da análise”, mas evita-a adoptandoo tradicional pressuposto de uniformidade desses direitos.

________________________

C

A B

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to de substituição, dada a manutenção de todos os preçosinternos251;

– nenhuma alteração na produção devido à manuten-ção de todos os preços internos e externos;

– perda de receitas aduaneiras nas importações de B,não compensada por um aumento do excedente dos con-sumidores.

3) B continua a exportar y para C mas A deixa de exportarx para C.

Esta situação reproduz, sob o ponto de observação deA, a situação de B no caso anterior, de forma que o dia-grama de fluxos é inteiramente igual ao anterior, mudando--lhe apenas as designações dos países – e, consequente-mente, dos seus bens de exportação:

Como consequência desta união, o preço de y em Adesce no montante do direito aduaneiro que anterior-

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251 O que não quer dizer que haja alterações no consumo poroutras razões: COLLIER (1979), p. 89, admite que a perda de receitasfiscais se traduz numa diminuição do rendimento do país e que, por-tanto, haverá alterações no padrão de consumo induzidas pelas elasti-cidades-rendimento dos bens que constituíam o cabaz de bens adqui-ridos.

A B

C

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mente lhe era aplicado em A; por outro lado o preço dex aumenta no montante do direito que lhe era aplicadoem B. Daí resulta uma melhoria nos termos de troca deA com B, e alterações no consumo e na produção decor-rentes da alteração em A dos preços relativos.

Resumindo, a união exportaria y em troca de x e ze a situação em A seria a seguinte:

– com produção interna dos três bens teríamos dimi-nuição da produção de y, manutenção da de z252 e aumen-to da de x;

– descontando os eventuais efeitos de complementa-ridade ou substituição entre os bens, haveria aumento deconsumo interno de y e diminuição de consumo de x ez. Em comparação com o caso descrito em 1, a trans-ferência de consumo para y seria mais acentuada, já queenquanto então havia apenas uma oscilação de preço – adescida de y – agora haveria duas – a descida de y e asubida de x. (O quadro 2 descreve as alterações de pre-ços nos três casos);

QUADRO 2PRÉ-UNIÃO PÓS-UNIÃO

1) TODOS OS PAÍSES 2) SÓ A EXPORTA PARA 3) SÓ B EXPORTAPARA C

EXPORTAM PARA C (PREÇO EM A e B) (PREÇO EM A e B)

PREÇO TODOS (PREÇOA B EM A e B)

BEM

x 1 1+T+txB 1 1 1+txu

y 1+tyA 1 1 1+tx

u 1

z 1+tzA 1+tzB 1+tz

u 1+tzu 1+tz

u

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252 Ao referir que as alterações de produção se fazem no sen-tido inverso às alterações no consumo, COLLIER (1979), p. 89, dá aentender que a produção de z aumentaria.

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Segundo COLLIER (1979), p. 90, os três casos suprareferidos acomodam virtualmente todas as situações suscep-tíveis de ocorrer na prática: após uma união aduaneira Apoderá manter exportações para B e C, outras fá-las-á sópara B. B poderá continuar a exportar alguns bens para Ae C, outros só para A. Alguns desses bens serão expor-tados só por A, outros só por B, outros por ambos.Segundo Collier o nível ideal de agregação é o que dáconta destas diferentes situações:

x1 – bens exportados por A para B e Cx2 – bens exportados por A só para By1 – bens exportados por B para A e Cy2 – bens exportados por B só para Az – bens importados de C253

Combinando este naipe de bens com o quadro 2 obte-mos as seguintes alterações nos preços internos de A comoconsequência de uma união aduaneira:

x1 – não muda de preçox2 – sobe de preço na medida do direito aduaneiro

de By1 – desce de preço na medida do direito aduaneiro

de Ay2 – não muda de preço: a queda da pauta aduaneira

de A é anulada pelo aumento de preço de venda de B(admitindo que ty

A = tyU)

z – não muda de preço (admitindo que tzA = tz

U)

________________________

253 Embora esta designação pareça um tanto equívoca, já que averificação de certas alterações de preços está dependente da importa-ção de x ou de y de uma fonte extra-união – e nessa medida nemtodas as importações provenientes de C são do bem z. Ver-se-ádepois que a situação em que há importação do bem y de B e Cpor parte de A praticamente não provoca efeitos, de modo que sob oponto de vista de A as importações de C se podem reduzir a z.

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O que dá origem ao seguinte diagrama de alteraçõesno consumo:

Estabelecido, então um nível de agregação que nãoespartilhe a análise, podemos regressar à consideração dacriação de comércio. É agora possível demonstrar que adiminuição na produção de y, em A, pode não levar auma transferência de recursos para a produção de x: é queem relação a y o preço de z também subiu (antes da união– e admitindo a mesma taxa para os direitos aduaneirossobre y e z – o seu preço interno reproduzia o preçointernacional) e pode haver, portanto, um aumento da suaprodução interna.

Collier entende que, mesmo que a criação de comér-cio fosse alargada de forma a incluir todas as consequênciasda redução da produção de y em A, ainda haveria a con-siderar três fluxos adicionais:

1) transferência de recursos da produção de z para x2

na medida em que o preço relativo dos dois bens se vaiaproximando dos preços internacionais – movimento quemelhora a eficiência na alocação de recursos254.

________________________

254 A razão dessa aproximação é fácil de perceber: enquanto opreço de x2 é igual à unidade, o preço de z está empolado pelovalor do direito de importação que se lhe aplica. Quando, por forçada união aduaneira com B, o preço de x2 sobe na medida do ante-rior direito que B lhe aplicava, a diferença nos respectivos preçosrelativos antes e depois da união estreita-se.

X1

X2

Y1Z Y2

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2) transferência de recursos da produção de x para aprodução de x2 na medida em que o preço relativo de x2

na união sobe acima do seu preço internacional – movi-mento que piora a eficiência na alocação de recursos.

3) transferência de recursos da produção de y para y2

na medida em que o preço relativo de y2 na união sobeacima do seu preço internacional – movimento que pioraa eficiência na alocação de recursos.

O que, por sua vez, dá origem ao seguinte diagramade alterações na produção:

Sistematizando estes fluxos, podem distinguir-se trêsgrupos distintos que esgotam os efeitos de produção deuma união aduaneira – coisa que, conclui Collier (1979),p. 94, os conceitos de criação e desvio de comércio nãoconseguem fazer, apesar de todas as modificações que lhesforam introduzidas, e que demonstra o quanto eles sãoequívocos, já que não é claro quais dos seguintes efeitoscobrem, como e quando:

Efeitos de produção:* Susbtituição de substitutos de importações por exportações:

de z para x2

de y1 para x1

de y1 para x2 255

________________________

255 Collier considera este último fluxo dispensável, eventualmente,em parte, pelo que se escreve na nota seguinte.

X1 X

2

Z Y1 Y2

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– ocorre quando há uma transferência de recursos daprodução de substitutos de importações para expor-tações.

* Substituição entre substitutos de importações:de y1 para zde y1 para y2

– ocorre quando há uma transferência de recursos daprodução de uns substitutos de importações paraoutros.

* Substituição entre exportações:de x1 para x2

– ocorre quando há uma transferência de recursos daprodução de umas exportações para outras.

Efeitos de Consumo:* Substituição entre exportações e importações:

de x2 para zde x2 para y2

256

de x1 para y1

de x2 para y1

* Substituição entre importações:de z para y1

de y2 para y1

* Susbtituição entre exportações:de x2 para x1

Collier conclui, então, a apresentação da sua taxo-nomia alternativa – que JONES (1981), p. 9, considerou

________________________

256 Este fluxo não consta da representação, incluída na p. 90 daobra de Collier, dos fluxos de substituição entre os bens – eventual-mente porque sendo y1 e y2 substitutos, a queda de preço de y1

absorveria a generalidade do aumento da procura dirigido a impor-tações de B (o que explicaria a seta dupla de x2 para y1 que figurano diagrama).

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“entirely unconvincing” –, remetendo para a sua tese dedoutoramento (1976) a demonstração de que dela fluemresultados opostos à maior parte das ideias aceites sobre osefeitos de bem-estar das uniões aduaneiras:

A) EFEITOS DE TERMOS DE TROCA:(1) Desvio de importação(2) Desvio de exportação

B) EFEITOS DE PRODUÇÃO:(1) Substituição entre Substitutos de Importações

e Exportações(2) Substituição entre Substitutos de Importações(3) Substituição entre Exportações

C) EFEITOS DE CONSUMO:(1) Substituição entre Exportações e Importações(2) Substituição entre Importações(3) Substituição entre Exportações

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CAPÍTULO 4

A Reforma, a contra-reformae a contra-contra-reforma

“Customs unions have always induced somethingclose to schizophrenia in economists because they com-bine elements of free trade, traditionally the beauideal of most economists, and discriminating tariffs,an equally long lived bête noire.”

Gowland (1983), p. 55

“Economists have a notorious, only partly deservedreputation for disagreeing about everything.”

Paul R. Krugman, “The Narrowand Broad Arguments for FreeTrade”, The American EconomicReview, Vol. 83, nº 2, May 1993,p. 362.

Costuma fazer-se remontar aos artigos de Cooper//Massell e de Johnson, publicados em 1965, a Reformada teoria das uniões aduaneiras. A sua formulação, porém,é variável: ora se reconduz à superioridade de uma redu-ção pautal unilateral sobre uma união aduaneira257, ora se

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257 PAUL e RONALD WONNACOTT [(1980), pp. 1-2; (1981),p. 704] escreveram, referindo-se a esta posição: “The question askedby Jacob Viner in this pioneering work – whether a CU representsa net gain or a net loss in economic efficiency – becomes unimportant

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traduz na ideia de que a cooperação entre dois países per-mite a obtenção de resultados inatingíveis de forma autó-noma258. Obviamente, a primeira tese põe em causa a cons-tituição de agrupamentos regionais por razões económicas,ao passo que a segunda permite justificá-la.

De forma idêntica, podem encontrar-se depoimentosconsiderando os contributos de Johnson e de Cooper//Massell “somewhat similar” – em EL-AGRAA (1983a),p. 133 e (1983b), p. 63 – e considerando que apontam“more or less to opposite conclusions” – em EL-AGRAA//JONES (1981), p. 123259.

(...) since CU can be summarily rejected in favor of UTR”. Se-gundo Nicolaides (1987), p. 493, esta ter-se-ia tornado, até, a novaortodoxia.

258 Neste sentido GOWLAND (1983), p. 65, escreve “The cons-tructive part of Cooper and Massell’s analysis, the new theory itself,offers insights into Third World unions however. The key propositionis that “two can do what one cannot”, the objective beingindustrialization.” Parece difícil ver nisso uma “nova teoria”: TRIFFIN

(1960), p. 256, por exemplo, escreveu, a propósito da formação daComunidade Económica Europeia, distinguindo direitos proteccionistas– e, portanto, pouco aptos a proporcionar desvios de comércio – edireitos aduaneiros com finalidades reditícias: “In this case, trade--diverting concessions to Germany become possible. The quid pro quoof such concessions, from the French point of view, would be simi-lar concessions by Germany opening the German market to additionalexports from France.” E mais adiante: “(...) trade diversion wouldimprove both employment and the balance of payments of the partnersof the preferential agreement. France and Germany, for example,would both reduce their imports from the United States, whilekeeping their overall import levels unchanged, and would export moreto one another (...)”.

259 No primeiro caso emparelham-se o artigo de Johnson e oprimeiro artigo de COOPER/MASSELL (por data de publicação – 1965a).A similitude decorre de ambos fazerem uso de um argumento ba-seado na existência de um bem público, o de Johnson em termos teó-ricos, o de Cooper/Massell em termos práticos. No segundo caso

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Para evitar estas ambiguidades, tomaremos como iní-cio da Reforma a observação de que a formação de umaunião aduaneria se pode decompor, idealmente, em doismomentos: o de uma redução pautal não discriminatória,responsável por todos os ganhos estáticos e o de pura redu-ção discriminatória, responsável por todas as perdas – oque constitui a tese central do artigo de (1965b) de COO-PER/MASSELL, mas já fora expressamente afirmado antes porHUMPHREY/FERGUSON (1960). A tese da superioridade deuma redução pautal unilateral em relação a uma uniãoaduaneira é uma mera decorrência desse desdobramento deefeitos e só não foi formulada por Humphrey/Fergusonporque, tratando-se em ambos os casos de situações sub--óptimas, estes se conformaram com o corolário da teoriado second best que estatui serem estas, a priori, insusceptíveisde hierarquização.

Esta questão deu origem a um Programa de Investi-gação Científico tão distinto do anterior que se tornou conhe-cido como a “nova teoria das uniões aduaneiras”260 – ouda UTR (“unilateral tariff reduction”)261 – e cujo corpodoutrinal foi desenvolvido por MASSELL (1968), KRAUSS

(1972) e BERGLAS (1979) e (1983).

sublinha-se que o outro artigo de COOPER/MASSELL (1965b) leva aoextremo a identificação entre efeitos positivos de um movimento deintegração e criação de comércio (e entre efeitos negativos desse movimento e desvio de comércio), ao passo que o artigo de Johnsoninverte essa associação – cfr. também a p. 87 da última obra citadaem texto.

260 Reproduzindo as ambiguidades da referência a diferentescontributos, também esta designação aparece associada à seguinte [e,portanto, a COOPER/MASSELL (1965b)] e, em sentido oposto, aparececomo “the new theory of customs union between LDCs” [HITIRIS

(1994), p. 36] e, portanto, associada a Cooper/Massell (1965a).261 Ou UTL (Unilateral Tariff Liberalization), como em MELO/

/PANAGARIYA/RODRIK (1993), pp. 159 e 166 e ss., e NOGUÉS/QUINTA-NILLA (1993), p. 288.

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Cooper/Massell (1965a)262, Johnson (1965)263, Bhagwati(1968)264 e Floystad (1975) costumavam também ser incluí-dos no mesmo descritor, mas se bem se vir, todos elesprocuram restabelecer a superioridade de uma união adua-neira em relação à redução pautal unilateral. Sem prejuízoda sua filiação na nova área problemática aberta porHumphrey/Ferguson mas imputada a Cooper/Massell, osseus artigos não constituem expressão da Reforma, mas simda subsequente Contra-Reforma. Porém, nem o deCooper/Massell (1965a), nem o de Bhagwati serão aqui

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262 Adoptámos a regra cronológica na designação dos dois arti-gos COOPER/MASSELL, embora (1965a) seja logicamente posterior a(1965b) e a última nota deste último confirme que a sequência depublicação devia ter sido a inversa. Porém, (1965a) é de Outubro,enquanto (1965b) só foi publicado em Dezembro, ainda que tenhaaparentemente sido editado em Abril desse ano pela RAND Cor-poration. [cfr. (1965a), p. 461, nota 4].

Porque a argumentação de (1965a) era explicitamente conduzidana perspectiva de países em desenvolvimento (ao contrário da deJohnson) e porque permanece como uma das mais consistentes fun-damentações da teoria da integração dessas economias, só será tratadono CAPÍTULO 3 da II Parte.

263 Um artigo muito mais próximo de COOPER/MASSELL (1965a)do que de (1965b), na medida em que, ao contrário deste, tanto oartigo de Johnson como o de COOPER/MASSELL (1965a) fornecem argu-mentos para superar a conclusão de que as uniões aduaneiras não sónão eram sempre um passo na direcção do comércio livre, ao contrá-rio do que se julgava antes de Viner, como não eram nunca um passocerto nessa direcção, ao contrário do que se admitia até aí.

264 O próprio inclui-se na linhagem da nova teoria das uniõesaduaneiras – em BHAGWATI/PANAGARIYA (1996), p. 83, o “Cooper--Massell-Johnson-Bhagwati Approach” é considerado uma das quatroabordagens fundamentais da teoria das uniões aduaneiras [em (1990),p. 1306, BHAGWATI já se lhe referia como um dos quatro “related yetdistinct, sets of analytical approaches” mas só partilhando a autoriacom Cooper/Massell –, mas também se inclui numa das outras: a deBrecher-Bhagwati, específica dos mercados comuns.

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considerados por, ao contrário do de Johnson, não teremum âmbito de aplicação geral: um e outro centram-se sobreas questões específicas dos países em desenvolvimento,razão pela qual serão tratados na II Parte.

O segundo eixo da Contra-Reforma – baseado já nãona existência de bens públicos (Johnson), ganhos potenciaise preferência pela indústria (Cooper/Massell); alterações nostermos de troca (Arndt), diferencial de efeitos na balançacomercial, emprego e receitas de exportações (Floystad) ounuma formulação de teoria de jogos (Bhagwati), mas simnuma alegada insuficiência dos pressupostos da teoria paraanalisar o que estava em causa – tardou mais: só no inícioda década de oitenta Paul e Ronald Wonnacott descobri-ram o curioso caso do desaparecimento da pauta aduaneirado país terceiro. A sua introdução na análise veio propor-cionar novos argumentos económicos aos opositores daReforma (da superioridade das reduções pautais unilateraissobre a formação de agrupamentos regionais discriminatórios)e provocar a IIª Grande Discussão da história da teoria dasuniões aduaneiras, com EL-AGRAA e Nicolaides a inverte-rem as acusações dos Wonnacott quanto às insuficiênciasanalíticas da teoria, e o primeiro a concluir que, afinal,“the Cooper-Massell criticism is still valid (...)”265 (1984),p. 106. O que, dez anos depois (1994), p. 99, reafirmou:

UTR [Unilateral tariff reduction] is unambi-guously superior to the initial tariff policy for bothH [home country] and P [partner country] and,compared with the non discriminatory free tradepolicies available to both countries (...), there is nopossible system of income transfers from P to H wich

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265 “(...) provided, of course, scale economies and forced changesin the terms of trade are excluded form the analysis”. Esses eram,porém, pressupostos assumidos pelos Wonnacott.

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can make the formation of a CU [customs union]Pareto-superior to free trade for both countries.Tal como aconteceu em relação à Iª Grande Discus-

são, em que as posições opostas nunca se reconciliaram,também aqui este entendimento não se tornou prevalente.

§ 1. A Reforma

A) HUMPHREY/FERGUSON

HUMPHREY e FERGUSON notaram (1960), p. 201, que,se em vez da passagem do comércio livre para a protecçãoalfandegária não-discriminatória passarmos desta para umaunião aduaneira, verificamos que o efeito de uma reduçãoalfandegária preferencial é, em parte, semelhante ao de umaredução pautal não-discriminatória de t-n.

De facto:

Figura 4.1

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A isenção de direitos aduaneiros concedida às impor-tações de B dá origem à criação de comércio novo num mon-tante correspondente ao efeito de contracção da produção (NN*)e ao efeito de expansão do comércio (MM*). O volume decomércio criado NN*+MM* é igual ao que seria criadocom uma redução alfandegária não preferencial de Pt paraPu (i.e.: descendo o direito aduaneiro sobre as importa-ções de x no montante de t-n).266 Mas os autores vãomais longe, sugerindo que é possível avaliar o ganho uni-tário dessa criação de comércio: sendo as funções de pro-dução lineares, ao passarmos de um preço de produçãointerna Pt para Pu diminuem-se as quantidades produzidasinternamente de qt

A para quA. A curva da oferta interna,

S, determina uma diagonal HuH

t entre os dois lados do qua-drilátero, pelo que podemos fixar a redução do customédio de produção da quantidade qt

A quA em metade da

sua descida de preço.Mas se uma redução pautal discriminatória provoca a

mesma criação de comércio que uma adequada reduçãopautal não-discriminatória, já no que diz respeito ao des-vio de comércio as duas medidas têm efeitos diversos: umapauta geograficamente não-discriminatória não provocaqualquer desvio de comércio pois as importações terão ori-gem onde o preço seja mais baixo. Por outro lado, umapauta discriminatória provocará um desvio de comércio cujaperda unitária, com curvas de oferta de exportações hori-zontais, oscilará entre o valor da margem de preferência

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266 Com esta observação – e uma outra em que circunscrevemos efeitos prejudiciais da alteração pautal (o desvio de comércio) àredução discriminatória (1960), p. 202 – HUMPHREY/FERGUSON adian-taram explicitamente o que de mais substancial se atribui normalmentea COOPER/MASSELL (1965b): a ligação da criação de comércio a umaredução pautal não-discriminatória e do desvio de comércio a umapreferência pautal.

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(i.e.: a diferença entre o valor cobrado ao país que gozade tratamento preferencial e os fornecedores não preferen-ciais) e quase zero, dependendo da diferença de custos deprodução entre uns e outros267.

Uma outra diferença entre uma redução aduaneirapreferencial e outra não preferencial revela-se no efeito dereceita: na segunda continua a haver cobrança de impos-tos em todas as importações, ao passo que na primeira acobrança de impostos é limitada a certas origens das impor-tações – com a consequência, no caso sub judice, de entre ovalor de receitas aduaneiras cobradas inicialmente (HtRtMN)e o valor que reverte para os consumidores, como exce-dente, face à constituição da união aduaneira (HtRtJL) seregistar uma perda líquida (JLNM) que se não verificariase a redução alfandegária fosse não preferencial.

Apesar desta antecipação do quadro de análise deCOOPER/MASSELL (1965b) Humphrey/Ferguson acabam porsubscrever a opinião vineriana de que a alteração de bem--estar subsequente à passagem de uma pauta não prefe-rencial para uma união aduaneira não é inequívoca “aindaque as forças que afectam a mudança sejam claras” (1965b),p. 204: a criação de comércio provoca um aumento de bem-estarenquanto que o desvio de comércio provoca a sua diminuição.

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267 Com curvas de oferta de exportações positivamente inclina-das, o montante do desvio de comércio depende também da quanti-dade de importações oriundas de C que os produtores de B conse-guem substituir.

Os autores determinavam também as condições para que a perdainduzida pelo desvio de comércio fosse mais acentuada: seria tantomaior quanto menos sensíveis aos preços fossem a procura e a ofertainterna e maior a diferença de custos entre o país parceiro e o paísterceiro.

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B) COOPER/MASSELL

C.A. Cooper e B.F. Massell publicaram em 1965 umartigo intitulado “A new look on customs union theory”(1965b) que, ainda que não fosse inovador268, ficou comoa primeira tentativa de regeneração da teoria das uniõesaduaneiras: ao invés da corrente dominante, que intentavademonstrar a superioridade do comércio livre regionalsobre o comércio uniformemente condicionado, os auto-res procuraram demonstrar a superioridade – ou, ao menos,a igualdade – de uma redução não preferencial de direi-tos269.

Depois de prestarem homenagem a Viner como fun-dador da teoria das uniões aduaneiras e de se referirem àintrodução dos efeitos de consumo, os autores enuncia-vam as teses que se propunham defender:

1) Os efeitos de bem-estar de uma união aduaneirapodem desdobrar-se em duas componentes:

a) uma componente de redução alfandegária;b) uma componente de puro desvio de comércio;

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268 ARDNT (1969) atribui a LIPSEY (1960) e a MICHAELY (1965)a afirmação implícita do que considera a tese fundamental dos autores:a da superioridade de uma redução não preferencial de direitos sobrea formação de uma união aduaneira. Atendendo a que a demonstraçãodessa tese faz apelo a uma identificação do abaixamento pautal comas únicas consequências positivas de uma aduaneira e do tratamentodiscriminatório com as suas consequências negativas, teremos de con-cluir que a análise estava explicitamente feita desde o artigo deHumphrey/Ferguson, como se acabou de ver.

Ó BRIEN (1976), p. 559, cita uma passagem de um livro deRobbins (de 1937) onde também se encontra a mesma tese: “[thetariff union] is to be justified only by arguments which would justifystill more its extension to all areas capable of entering into traderelationships.”

269 É assim que ARNDT (1969), p. 114, coloca a questão.

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2) Utilizando o instrumental tradicional das uniõesaduaneiras, a componente de redução alfandegária é a únicafonte de ganho resultante de uma união aduaneira.

3) Tomando como referência uma adequada políticade protecção pautal não discriminatória, uma união adua-neira provoca apenas um desvio de comércio – sendo por-tanto “má”, no sentido tradicional.

4) O ponto de vista de comércio livre subjacente àanálise vineriana é incapaz de explicar a preferência con-cedida a uma união aduaneira sobre essa adequada políticapautal não-discriminatória.

5) O reconhecimento do escopo dos direitos adua-neiros permite essa explicação e o alargamento da análisedas uniões aduaneiras a um maior número de assuntos.

A demonstração serve-se de um diagrama análogo aoutilizado por Johnson em (1962):

Figura 4.2

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Na Figura antecedente D é a curva da procura de ydo país A; SA é a curva da oferta interna de y e SA+Ba curva de oferta conjunta da união; SW é a curva deoferta do resto do mundo, traçada horizontalmente por Aser um “price-taker” no que ao bem em causa diz res-peito; RS, QS e PS são hipóteses alternativas de direitosaduaneiros. Perante este quadro, Cooper e Massell traçamquatro casos:

1. Com um direito aduaneiro não-discriminatório deQS, o preço interno será OQ, a oferta interna será OL,a quantidade consumida ON, e a diferença LN importadado fornecedor de mais baixo custo.

A formação de uma união aduaneira com B deixa semalteração o preço de y (OQ), as suas quantidades consu-midas (ON) e as quantidades produzidas internamente(OL).

No entanto, as receitas aduaneiras antes arrecadadaspor A (efwv) desapareceram, obrigando A a mobilizar, amais, uma quantidade equivalente de fundos para adquirira quantidade LN de y270.

2. Com um direito aduaneiro não-discriminatório deRS o preço interno fixar-se-á em OR, a quantidade pro-duzida internamente será OJ, a quantidade consumida OXe a diferença entre OX e OJ (JX) importada da fonte demenor custo, arrecadando-se uma receita de ghji.

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270 Embora não seja corrente contabilizar o espaço delimitadopor efwv duas vezes, a verdade é que, como os autores sublinham,ele não representa uma perda, mas sim duas: por um lado, constituium “lucro cessante”, na medida em que se perde um fluxo equiva-lente de receitas; por outro lado, constitui um “dano emergente”, namedida em que essas quantidades (pelo menos), vão ser adquiridaspor A a um preço mais elevado, se bem que possam continuar a servendidas internamente ao mesmo preço. Há, portanto, além de umaperda de receitas, uma deterioração nos termos de troca (que, nocaso, tem uma dimensão equivalente ao espaço delimitado por efwv).

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A constituição de uma união aduaneira não altera nemo preço de y, nem as quantidades consumidas, nem pro-duzidas internamente. Parte das importações de y (JL) vemagora do país B, a um preço unitário de OR, diminuindoas receitas aduaneiras (em govi) e mobilizando um excesso defundos (govi, ou seja JLxSR) para adquirir a quantidadede JL de y. Trata-se, para os autores, de desvio de comér-cio puro271.

3. Com um direito aduaneiro não-discriminatório dePS ou superior a PS o preço interno será de OP e aquantidade produzida internamente será OM, tal como aquantidade consumida.

A constituição de uma união aduaneira fará baixar opreço para OQ, provocará a diminuição da produçãointerna (de OM para OL) e dará origem à importação deuma quantidade LN de B. A união aduaneira provocará,então, criação de comércio. Neste caso não há perda dereceitas alfandegárias.

4. Com um direito aduaneiro não-discriminatórioigual a IS, o preço interno será OI, a quantidade produ-zida internamente OG e a importada da fonte de menorcusto GT. A quantidade consumida será OT e as receitasarrecadadas serão dadas por lmpn.

A constituição de uma união aduaneira fará baixar opreço para OQ, o consumo aumentará para ON, a pro-dução interna baixará para OL e a quantidade LN passaráa ser importada do país B, com supressão das receitas

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271 Como os autores também notam, o desvio de algumas impor-tações ocorrerá desde que a linha do preço internacional acrescidado direito aduaneiro aplicável interseccione a curva de oferta con-junta SA+B acima do ponto h. Se o fizer acima do ponto f desviá-las-á na sua totalidade. (1965b), p. 744, n. 2.

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alfandegárias. A união aduaneira provocará, então, simul-taneamente, criação e desvio de comércio.

Cooper e Massell arrumam provisoriamente os doisprimeiros casos na base a identificação tradicional entre des-vio de comércio e efeitos negativos das uniões aduaneiras.Na medida em que a criação de comércio é vista como umefeito positivo, mas os efeitos de consumo tanto podemser benéficos como prejudiciais272, os dois últimos casos éque são problemáticos. Quanto a estes notam que a redu-ção não-discriminatória do direito aduaneiro sobre as impor-tações de y para QS era uma opção em aberto. Com elaobter-se-iam os mesmos valores de preço (OQ), quanti-dades consumidas (ON) e produzidas (OL) internamente,e importadas (LN). A diferença em relação às duas situa-ções referidas estaria na aquisição destas quantidades a ummenor preço (OS em vez de OQ, com uma poupançade QS por unidade) e na percepção de receitas aduaneiras(no valor de QS por unidade, também).

Assim sendo, é conveniente decompor o efeito deuma união aduaneira nas duas componentes já referidas:

1) uma redução não-discriminatória para QS273;________________________

272 Para os autores (1965b), p. 745 e n. 1, os efeitos de con-sumo que no diagrama eram necessariamente benéficos podiam ser“mais do que apagados pelos efeitos prejudiciais possivelmente decor-rentes da diminuição de consumo de outros bens”.

273 Se o direito aduaneiro pré-união fosse inferior a QS (o mon-tante necessário para, somado ao preço de oferta do bem pelo seumais eficiente exportador, corresponder ao preço que estabeleceria oequilíbrio entre a procura de A e a oferta conjunta de A e B), daconstituição da união não resultaria qualquer redução de preços dobem em causa no país A – (1965b), p. 745, n. 2.

Não se pode deixar de chamar a atenção para o facto de aavaliação dos resultados de uma redução pautal unilateral entendidanestes termos levar a um cálculo de perdas substancialmente diferenteda mera contabilização da diminuição efectiva de receitas. Isso é clara-mente demonstrado no diagrama incluído na nota seguinte: a perda

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2) um retorno ao direito aduaneiro inicial para todasas importações excepto as do parceiro (ou parceiros) daunião. Todo o aumento de bem-estar dos consumidoresde A – seja por força de criação de comércio ou de efei-tos positivos de consumo – é inteiramente devido àquelemovimento. A subsequente passagem para uma união adua-neira envolve um puro desvio de comércio – exactamentedo tipo encontrado no primeiro caso – e, portanto, umadiminuição do bem-estar.

O juízo sobre o impacto de uma união aduaneirasobre o bem-estar depende então de o efeito de reduçãoalfandegária ser ou não superior ao efeito de desvio decomércio puro.

Daqui retiram os autores a conclusão de que umaunião aduaneira é sempre necessariamente inferior a umapolítica apropriada de protecção aduaneira. É que, em com-paração com esta, uma união aduaneira é puramente des-viante de comércio – e, com ou sem a opção de consti-tuir uma união aduaneira, os benefícios visíveis à face dateoria tradicional poderiam ser recolhidos pelo país A comuma alteração adequada da sua pauta aduaneira.

A finalizar, Cooper/Massell criticam a LIPSEY (1960)o uso de um pressuposto destinado a neutralizar o impactoimplícito da redução aduaneira (o de que os direitos adua-neiros cobrados são devolvidos aos consumidores de formanão distorçora, ou gastos pelo governo de forma idêntica

de receitas é dada pela área I; o prejuízo envolvido na preterição deuma redução pautal não-discriminatória é dado pela soma dessa áreacom as áreas II e III, correspondendo à transferência para os forne-cedores do bem do país parceiro de montantes que seriam cobradosnas alfândegas se se desse preferência a tal redução. Retomando aFigura 4.2 também isso é evidente: a perda de receitas é aí muitovariável, mas o prejuízo da preterição de uma redução pautal unila-teral em benefício da constituição de um agrupamento económico ésempre o mesmo: a área delimitada por efwv.

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à dos particulares). Sem ele, as consequências económicasda obtenção de um quantitativo equivalente de receitasteriam de ser enfrentadas. Ora, uma vez que da união, deper se, não resultam novas formas de receitas, ter-se-ia derecorrer a alternativas já existentes e – uma vez que pre-teridas em favor dos direitos aduaneiros – presumivelmentemenos convenientes. Um juízo sobre uma união adua-neira teria de ter em conta estes inconvenientes, como teriade considerar os custos de substituição das restantes fun-ções de um imposto alfandegário (vg. equilíbrio da balançade pagamentos, protecção da produção ou emprego inter-nos).

Os autores não contestam a lógica de Viner, já queadmitem que de um ponto de vista de comércio livre a criaçãode comércio é um bem, tal como o desvio de comércioé um mal. Sabendo-se que Viner julgava os direitos adua-neiros uma forma ineficiente de cobrança de receitas, qual-quer direito alfandegário cobrado antes da formação daunião devia ser desajustado, pelo que esta devia permitirum ganho. A questão é, pois, menos o que a análise deViner diz, do que o que não diz: porque é que se formauma união aduaneira? Porque é que esta pode ser acei-tável quando uma redução unilateral de direito não o é?E porque é que os países erguem barreiras pautais aocomércio?

Para Cooper/Massell a resposta a estas questões leva-ria a perspectivar as uniões aduaneiras como instrumentosproteccionistas de “troca de mercados” para “tornar pos-sível aos seus membros a manutenção de um mercadointerno protegido com menor sacrifício de rendimento doque aquele que seria possível através de protecção não pre-ferencial”274, uma análise que fizeram em (1965a).________________________

274 (1965b), p. 747. Nessa medida, as acusações de P. WON-NACOTT/R. WONNACOTT (1980), p. 23 – [“Nothing is said about

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C) MASSELL

Na mesma página de The Economic Journal em que aca-bava o artigo de ARNDT (1968), em que este demonstravaque as conclusões de COOPER/MASSELL em (1965b) depen-diam crucialmente da hipótese de a união aduaneira nãoconseguir alterar os termos de troca275, começava a res-posta de MASSELL (1968), iniciada com o recapitular da tesedefendida por ele e COOPER em (1965b):

– uma união aduaneira pode ser fonte de ganho, masa teoria tradicional é inadequada para o analisar;

– excluindo efeitos de termos de troca (tratados inci-dentalmente, quando o eram), quaisquer efeitosfavoráveis decorrentes do que se chama criação decomércio só eram possíveis pela existência de umapolítica alfandegária não óptima antes da formaçãoda união;

– o efeito de bem-estar de uma união aduaneira podedecompor-se num puro efeito de desvio de comér-cio e numa redução alfandegária, todo o possívelganho advindo desta.

Louvando o contributo de Arndt, Massell recapitulaos argumentos deste:

– se o país A não for um price-taker a imposição deum direito aduaneiro sobre as suas importaçõesalterará os termos de troca. A articulação da actua-ção de A com a de B, designadamente formandouma união aduaneira, pode ampliar essa alteração;

– se ambos os membros da união importam omesmo bem de um terceiro país, se o imposto

how A’s exports will respond to changes in partner B’s tariffs, norabout how A might benefit as a consequence.”] são, em parte,injustas.

275 Cfr. infra, § 2, B.

________________________

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sobre as importações é mais alto em A do que emB e se a união opta pelo direito aduaneiro de A(continuando B a importar esse bem de C, apesardo aumento do direito) – então o efeito da união,para A, traduz-se na indução de B a uma maiorprotecção. A deve ganhar por se alterarem favora-velmente os seus termos de troca, mas B deve per-der por a a opção de aumentar os seus direitos deimportação estar já anteriormente em aberto e, maugrado isso, não ter sido adoptada;

– salvo no caso de coalisão (do tipo da criada paraos acordos de produtos, “em que um grupo depaíses mantém artificialmente o preço mundial atra-vés de restrições às exportações”276, em que em-bora um não-participante ganhe mais se não parti-cipar, a não participação de um faz com quetodos percam), haverá interesses opostos quanto àformação de uma união aduaneira.

Massell conclui que estas razões apenas fortalecem atese fundamental que ele e Cooper tinham defendido,designadamente em (1965a) – que Arndt não citava: a aná-lise tradicional centrada num único país não serve; é neces-sário ter em conta a utilização pré-ordenada da políticapautal por dois ou mais países para alcançarem objectivosinalcançáveis a solo.

Posto isto acrescentava algumas novas reflexões:– sob o ponto de vista do país A os efeitos de uma

união podem decompor-se:a) num aumento (ou diminuição) dos seus direitosde importação sobre x;b) num aumento (ou diminuição) dos de B;c) num pôr em comum dos mercados de A e de B;

________________________

276 (1968), p. 980. Sobre os acordos de produtos e seu funcio-namento ver, MEDEIROS (1986), pp. 232 e ss.

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– o primeiro efeito poderia ser obtido independen-temente e a constituição de uma união aduaneirasó aumenta os constrangimentos à adequada mani-pulação da pauta;

– o segundo efeito (que é o discutido por Arndt)depende de B ter um direito aduaneiro sobre asimportações de x maior (caso em que A perde) oumenor (caso em que A ganha) do que o de A277;

– o terceiro efeito provoca, em A, um aumento dopreço e da produção de x ou uma diminuição doseu preço e produção – mas apresenta contornosdistintos consoante, face ao novo preço estabele-cido na união, A importa ou exporta x, ou não oimporta nem o exporta:

Se A importa x e B faz outro tanto, a comu-nhão de mercados é irrelevante.

________________________

277 Se os direitos sobre a importação do mesmo bem forem iguaise for também esse o direito adoptado pela união não haverá, porisso, alterações nos termos de troca. Se o direito aduaneiro de A formaior do que de B, a sua adopção pela união fará subir o preço dasimportações em B, aumentar a sua produção interna – nummodelo de 2 bens, necessariamente à custa da diminuição da pro-dução do bem de exportação – e diminuir o seu consumo interno.Da diminuição de exportações e diminuição de importações resultaráuma melhoria nos termos de troca da união com C. Se o direitoaduaneiro for menor do que o de B, a sua adopção pela união farádescer o preço das importações em B, e, logo, diminuir a sua pro-dução interna e aumentar o seu consumo interno. (A manter-se opleno emprego, os recursos antes utilizados na produção do bem equi-valente ao importado serão absorvidos pelo aumento de produção dobem exportado. A constituição da união implicará um aumento daprocura do bem por ela importado e um aumento da oferta do bempor ela exportado – o que há-de levar à alteração dos termos detroca mundiais em seu prejuízo). Caveat: subentende-se que ambosos países produzem os dois bens embora importem um e exportemoutro – alguns dos raciocínios não fariam sentido com soluções decanto.

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Se B o não importa é porque o seu preço é in-ferior ao de A e passará a fornecer o mercado de A,fazendo descer o preço de x em A e fazendo dimi-nuir a sua produção.

Se A exporta x e B faz outro tanto, a comu-nhão de mercados é irrelevante.

Se B não o exporta é porque o seu preço é supe-rior ao de A e este passará a fornecer o seu merca-do, fazendo aumentar a sua produção.

Se A não exporta nem importa x, então A ven-derá x a B se o seu preço for inferior ao deste ecomprará x a B se o seu preço for superior ao deste.– Se a comunhão de mercados fizer descer os preços

internos (e, portanto, a produção interna) A sofre-rá uma perda já que conseguiria obter melhoresresultados com uma redução alfandegária não pre-ferencial – como visto em (1965a). Se os fizersubir (e, portanto, também a produção interna),A pode ganhar desde que se admita uma preferên-cia pela industrialização. Como é B que suportaparte dos custos da industrialização de A, B perde.

– Em qualquer caso, para ambos os países retiraramganhos da união têm de se considerar outros argu-mentos (àparte o caso, improvável, da coalisão278):economias de escala (permitindo diminuir os cus-tos de produção através do seu aumento) ou situa-

________________________

278 MASSELL (p. 980) dá o seguinte exemplo: “(...) considere-seum grupo de países importadores de x com direitos aduaneiros detaxa zero. Os países formam uma união aduaneira (coalisão) apenaspara impor uma pauta aduaneira comum às importações de x. Desde quemesmo com o novo preço cada país continue a importar x entãocada um ganha com a actuação dos outros”. (Itálicos nossos).

Obviamente, um acordo deste tipo não poderia constituir umaunião aduaneira.

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ções de mais do que dois bens (onde os ganhos deum país na produção de um bem podem ser acom-panhados de ganhos do outro na produção de umbem diferente).

D) KRAUSS

Tal como o primeiro survey da teoria das uniões adua-neiras [Lipsey (1960)], também o segundo [Krauss (1972)]trouxe formulações novas. Reagindo a uma observação deArndt (1968) sobre a natureza supostamente de equilíbrioparcial marshalliano do argumento imputado unicamentea Cooper/Massell (Humphrey/Ferguson não eram mencio-nados na bibliografia), Krauss apresenta o seguinte modelode equilíbrio geral, assente nos pressupostos “conhecidos”:

– um pequeno país de referência (home country),incapaz de alterar os seus termos de troca mas quepode comerciar à taxa marginal de transformaçãoexterna (o que supõe que o país parceiro e o ter-ceiro país – o resto do mundo – sejam “grandes”279,de forma a que só o país de referência ganhe como comércio);

– as mudanças no bem-estar do mundo e da uniãoaduaneira decorrem das mudanças de bem-estar nopaís de referência;

– produção de dois bens com uma fronteira de pos-sibilidades de produção côncava em relação à ori-gem;

– o país de referência é importador em comérciolivre.

________________________

279 WONNACOTT/WONNACOTT (1981), p. 705, n. 9, consideramesta conclusão errada.

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Com um direito aduaneiro proibitivo, o ponto deprodução inicial é Q1, coincidente com o original pontode consumo C1, à razão de troca interna H, dada pelodeclive da recta tangente a esse ponto. Os termos de trocainternacionais são To. Com uma diminuição pautal nãopreferencial que altere os preços relativos internos paray2

C2, a produção desloca-se para Q

2 e o consumo para C2 –

a menos que as receitas alfandegárias sejam devolvidas aosconsumidores, caso em que o consumo se situará em C

4

(sobre To’, paralela a To).Traçando uma linha paralela à nova razão de preços

interna (y2 C

2) que passe pelo anterior ponto de produção//consumo (Q1= C

1), determina-se o ganho de produçãoresultante da passagem de Q

1 para Q2 (adoptando y como

numerário, esse ganho é representado pela passagem y1

para y2). Traçando uma nova linha, paralela à razão de pre-

ços interna (y2C

2) e tangente à curva de indiferença que

Figura 4.3

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passa pelo anterior ponto de consumo C1, determina-se o

ganho de consumo que seria possível obter ainda que nãohouvesse alterações na produção: passando o consumo deC

1 para C3 o ganho (adoptando novamente y como nume-rário) corresponderia à diferença entre y

0 e y1.

Quer o governo conserve as receitas aduaneiras cor-respondentes à distância entre y

2 (novamente tomando ycomo numerário) e o ponto em que uma paralela à razãode preços interna y

2 C

2 que interseccione a linha dos ter-mos de troca To encontra o eixo vertical (y4), quer osdevolva aos consumidores, transferindo o consumo destespara C4, o ganho total de redução pautal não preferencialserá o correspondente a y

0y4 (em termos de y) composto

por aquilo que Krauss (p. 419) chama um elemento deconsumo (y0

y1), um elemento de produção (y1

y2) e um ele-

mento de governo (y2y4).

Comparando esta situação com a que resultaria da for-mação de uma união aduaneira em que y

2C

2 fosse a razãode preços do país parceiro, Krauss identifica um mesmoefeito de consumo (y0

y1) e um efeito líquido de criação de

comércio (y1y2), composto por uma componente de cria-

ção de comércio pura (y1y4) e uma componente de desvio

de comércio (y2y4). Esta, que corresponde às receitas adua-

neiras arrecadadas numa situação de redução pautal nãodiscriminatória, corresponde aqui ao custo real de transfe-rir o abstecimento da procura interna de uma fonte exte-rior à união, com baixos custos, para uma fonte da união,de custos mais elevados. E conclui:

The welfare effect of customs unions thus can be splitinto two exhaustive components: a pure tariffreduction component (y

4yo) and a pure trade diversion

component (y4y2). Using as a point of reference agiven policy of non preferential protection, a customsunion necessarily results in pure trade diversion, andis consequently inferior to the former from a resourceallocation point of view. (p. 419).

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E) BERGLAS

A linhagem da nova teoria das uniões aduaneiras280

teve em Berglas um lídimo continuador. Em (1979)expôs um modelo de equilíbrio geral com três bens (1, 2e 3) e três países (A, B e C) que considerou uma refor-mulação e extensão do trabalho de MEADE (1955a)281.

Para poder efectuar uma análise simultânea de trêsbens (ou mais, como no Apêndice), Berglas substituiu autilização de diagramas pela linguagem algébrica que, noentanto, foi reintroduzida com a “tradução” feita por P.WONNACOTT/R. WONNACOTT (1980), pp. 26-30. BERGLAS

(1979), p. 317, também incluía no seu artigo um diagra-ma de fluxos que postulava ser válido para a situação pré-e pós-zona de comércio livre:

________________________

280 Ou, preferentemente, da redução pautal unilateral, para tradu-zir a expressão “unilateral tariff reduction” ou simplesmente “UTR”empregue por P. e R. WONNACOTT (1980), (1981), já que, comoestes sublinham (1980), p. 26, Berglas reflecte sobre uma zona decomércio livre, não sobre uma união aduaneira.

281 Para uma revisão dos modelos 3x3x3 no domínio da teoriadas uniões aduaneiras, ver LLOYD (1982).

A

B

C

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A assimetria de fluxos existe necessariamente desde quese exclua a possibilidade de um dos países ser simultanea-mente importador e exportador do mesmo bem e o padrãode fluxos mantém-se desde que não haja reversões de comér-cio. Dele resulta ainda uma consequência importante nocaso de A e B encetarem um movimento de integração:os preços internos de A permanecerão inalteráveis282, aindaque os preços das importações originárias de B subam namedida da redução dos direitos aduaneiros (o que, aliás,também acontece nas importações que B faça de A).

P. e R. Wonnacott propõem dois diagramas de equi-líbrio parcial, um para o bem 1 (Figura 4.4), outro para obem 2283 (Figura 4.5). A situação de equilíbrio inicial érepresentada, respectivamente, pelos pontos E e e, e a situa-ção de equilíbrio após a constituição de uma zona de comér-cio livre entre A e B é figurada pelos pontos F e f.

Na situação inicial A importa OR de B e (pelo menos)RS de C ao preço OPw. A constituição de uma zona decomércio livre entre A e B leva o primeiro a substituiras importações de C (RS) por importações de B. Nãohavendo alterações de preço (que, para os consumidoresde A seria de OP1, já que incluiria o imposto alfandegá-rio tA1) não há alterações nas quantidades procuradas (OS).

________________________

282 Na medida em que A continue a importar de C os bens 1e 3, não há razões para que eventuais aumentos de importações pro-venientes de B – e que, por construção, só podem ser do bem 1 –alterem os preços praticados em A. Recorde-se que Berglas consi-dera uma zona de comércio livre ou uma redução pautal mútua deA e B, mas o mesmo decorreria de uma união aduaneira que nãoalterasse os direitos aplicados por A às importações dos bens 1 e 3.

283 Uma vez que o bem 3 não é transaccionado entre A e B enão sofre alterações de preço, pode ser ignorado. Obviamente, e comoos autores admitem, os diagramas não fazem justiça aos efeitos deequilíbrio geral que o modelo de Berglas incorpora.

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Figura 4.4

S*B – exportações de B para A (bem 1)

PwH – curva de oferta de C (bem 1)P1J – curva de oferta de C após incidência do direito aduaneiro de A

Figura 4.5

D* – procura de importações de A em B (bem 2)

P2j – curva da oferta de A após incidência do direito aduaneiro de BPwK – curva da oferta de A (bem 2) após a integração

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Na situação inicial B importa OS de A (ao preçoOPw) e após a constituição da zona de comércio livrepassa a importar OR de A (ao mesmo preço). O aumentode procura interna decorre da descida de preço internopor desaparecimento do direito aduaneiro que as importa-ções de B pagavam à entrada em A.

Na ausência de compensações, os ganhos do país Bsão dados pela área 1 no bem 1 e pela área 3 no bem2284. A sofre perdas avaliadas pelas áreas 1 e 2285. Desdeque os preços dos bens se não alterem, uma zona decomércio livre não provocará outros efeitos. Admitindo queA é compensado na exacta medida das suas perdas, o valorda área 1, que constitui uma perda para A e um ganhopara B, é devolvido a A. Como B teria ainda de transfe-rir para A o equivalente à área 2, a possibilidade de umganho dependeria de a área 3 ser maior do que aquela286.Qualquer desfecho é possível, mas é claro que B tem aoseu dispor uma actuação mais vantajosa: reduzindo unila-teralmente os direitos que incidem sobre a importação dobem 2 consegue obter os ganhos reflectidos na área 3 sem________________________

284 A área 1 constitui um ganho no excedente do produtor queP. e R. Wonnacott consideram líquido da perda no excedente doconsumidor decorrente da subida de preços em B. A área 3 constituio ganho líquido no excedente do consumidor, uma vez que a área4 constitui perda de receitas aduaneiras que já antes da formação dazona de comércio livre revertiam para os consumidores de B.

285 As áreas 1 e 2 correspondiam, na situação inicial, a receitasaduaneiras. No entanto, ao passo que a área 1 passa a constituir exce-dente do produtor de B, havendo uma mera transferência de benefí-cio no interior da área (dos consumidores de A, que beneficiavamda transferência das receitas aduaneiras, para os produtores de B) –que até pode ser revertida se o país A for compensado pelo país B –,a área 2 constitui perda líquida incorrida no aumento dos custos deprodução.

286 Mais – ou menos – os efeitos de equilíbrio geral considera-dos por Berglas. [P. WONNACOTT/R. WONNACOTT (1980), p. 28].

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incorrer nas perdas resultantes da formação de uma zonade comércio livre (a área 2).

A situação é idêntica à figurada por Cooper e Massell:na medida em que se não considerem os direitos aduanei-ros de C e os custos de transporte no comércio com C,não há possibilidades de se estabelecer um comércio maismutuamente vantajoso entre A e B do que entre qual-quer deles e C. Retome-se a Figura 4.5: quer A constituauma zona de comércio livre (ou uma união aduaneira) comB, quer privilegie as relações com C, obtém sempre o mes-mo preço pela venda do bem 2; por outro lado, no quediz respeito às importações do bem 2, B fica na mesmasituação quer constitua um agrupamento económico comA, quer elimine unilateralmente os direitos sobre a impor-tação287. Nem o vendedor de A nem o comprador de Bpodem ganhar mais com a formação de um agrupamentoeconómico entre si, do que com a negociação com C.Isto porque C apresenta curvas de procura e de oferta infi-nitamente elásticas ao mesmo preço, o que só é possíveldesde que C não tenha direitos aduaneiros nem haja cus-tos de transporte. Só introduzindo estes, defendem P.WONNACOTT/R. WONNACOTT (1980), vg. pp. 3-4 e 29,se compreende que A – o vendedor –, ou B – o compra-dor –, ou ambos, tenham vantagens em comerciar entresi288.________________________

287 Note-se, porém, que com esta reflexão P. e R. Wonnacottse afastam do diagrama de fluxos referido por BERGLAS (1979), p. 317,e por eles reproduzido (1980), p. 27b: “Nor does B care whether itjoins a CU (in which case it acquires this good from A at price p2)or unilaterally eliminates its tariff (and thus buys from C at the sameP2)” (1980), p. 29 (Itálicos nossos). Isso faz de C importador e expor-tador simultâneo do bem 2.

288 A conclusão que filia o artigo de Berglas na linhagem quese faz remontar a Cooper e Massell – e que P. e R. WONNACOTT

(1980), p. 26, consideram errada – é uma das que encerram o seu

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Em (1983) BERGLAS veio contestar esta interpretaçãodos Wonnacott. Segundo ele, os dois pressupostos em queestes julgam assentar a tese da superioridade da redução

artigo de (1979), p. 329: “It is important to note that if a tradeagreement does not effect the terms of trade, then it does not allowfor any mutually beneficial policy opportunities which are not opento each of the member countries separately”.

No entanto, o modelo de Berglas permitia extrair outras con-clusões, entre as quais avulta a de que num mundo de três bens ede termos de troca constantes, dois países pequenos podem beneficiarde um agrupamento económico que se limite a reduzir parcialmenteos impostos alfandegários ao comércio mútuo. Mais: a maximizaçãoconjunta do bem-estar poderia exigir que a redução pautal ocorresseapenas num dos dois [BERGLAS (1979), pp. 321-329]. P. e R.WONNACOTT retomam esta tese no Appendix a (1980) aproveitando ailustração gráfica anteriormente apresentada (supra, Figuras 4.4 e 4.5):

Numa zona de comércio livre que admita a compensação dasperdas de bem-estar, a situação de B (e, portanto, da própria zona)seria dada pela diferença entre as áreas 3 e 2. Se em vez de umacompleta supressão de direitos aduaneiros no comércio entre A e Bhouvesse apenas uma redução parcial preferencial, o consumo deixa-ria de se fazer em F e f para se fazer em U e u – com a consequênciade se obter a maior parte do ganho (geuv, na Figura 4.5) e apenasuma pequena parte da perda (EUV, na Figura 4.4), maximizando-sea possibilidade de efeito global ser positivo. P. e R. Wonnacott ad-mitem a correcção do argumento para os países cujo principal objec-tivo seja a eficiência económica, na medida em que podem reduziros direitos aduaneiros que são obstáculos a essa eficiência e evitarreduções que levem ao desvio de comércio – mas duvidam que issoconstitua motivação suficiente, já que pela mesma lógica se deviamabolir ou reduzir unilateralmente as pautas aduaneiras. A compreen-são das razões pelas quais os países o não fazem é uma remissão paraas questões postas pela teoria da redução pautal unilateral: porque éque existem direitos aduaneiros? Porque é que os países formam agru-pamentos económicos?

Os autores admitem que as explicações de COOPER/MASSELL

(1965a) e de JOHNSON (1965) possam ter um fundo de verdade, maspreferem a explicação mais tradicional da teoria económica da polí-

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pautal unilateral em relação a uma união aduaneira (o quechama a proposição P) – a de que os direitos alfandegá-rios dos parceiros de B podem ser ignorados (Premissa 1– A1) e a de que o país terceiro C não tem direitos adua-neiros nem existem custos de transporte no comércio comele (Premissa 2 – A2) – e que retirariam o interesse à pro-posição P se fossem necessários, não o são. P poderia resul-tar de dois outros pressupostos:

– A3: o comércio, antes e depois da formação doagrupamento económico, pode ser representado pelomesmo diagrama de fluxos; e

– A4 todos os três países comerciam uns com osoutros.

Os contra-exemplos dados pelos autores violavam umaou outra destas premissas e o relaxar do pressuposto dostermos de troca fixos, admitido pelos Wonnacott no casode muitos bens (que era também considerado por Berglas),dispensava logo a consideração dos direitos aduaneiros noresto do mundo e dos custos de transporte, já que estesnão eram necessários para que a formação de uma uniãoaduaneira aumentasse o bem-estar dos seus membros.O princípio da superioridade de uma redução pautal uni-lateral em relação a um agrupamento económico, contes-

tica: “os interesses dos produtores são concentrados e poderosos aopasso que os interesses dos consumidores são difusos e fracos” (1980),p. 32. Assim, a admissibilidade de reduções parciais preferenciaispoderia potenciar cortes pautais onde os produtores mais tivessem aganhar, mas onde a eficiência produtiva se reduzisse (como no casoda Figura 4.4), e poderia diminuí-los onde aumentasse o ganho dosconsumidores (como no caso da Figura 4.5), à custa dos produtores.A conclusão é a de que, muito embora a regra do GATT de nãoadmitir preferências parciais possa levar a resultados indesejáveis sobcertas circunstâncias – como, de resto, a generalidade das regras – elaé justificada.

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tado pelos WONNACOTT (1980; 1981) é justamente formu-lado na ausência de alterações nos termos de troca e deeconomias de escala.

Resumindo: Paul e Ronald Wonnacott teriam con-testado a validade de P a partir da sua dependência de A1

e A2. Demonstrada a não verificação de P quando A1 eA2 não estão presentes, ficava reduzida a validade de P àestreiteza dos seus pressupostos. O argumento de Berglasera o de que P resultava, muito mais genericamente, deA3 e A4

289.

§ 2. A Contra-Reforma

A) JOHNSON

No mesmo ano em que foram publicados os artigosde Cooper e Massel, Harry G. JOHNSON publicou umestudo sobre o proteccionismo, a negociação pautal e aformação de uniões aduaneiras (l965) em que combinouexplicitamente três elementos: a noção de que as políticasgovernamentais numa democracia tendem a satisfazer as

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289 PAUL e RONALD WONNACOTT (1984) responderam notandoque: a) Não tinham julgado A1 e A2 necessários, mas sim suficientes;b) não tinham suposto que A1 e A2 fossem de verificação cumu-lativa mas sim alternativa [como claramente resultava não só daFigura 1 do artigo de (1981), p. 707, que citam em abono, mastambém da própria formulação empregue na p. 705 do mesmo ar-tigo]; c) A3 mais A4 não eram suficentes para alcançar o resultadodefendido por Berglas. Este só poderia ser obtido por A3 mais oque chamaram A5 (C comercia todos os bens com a união adua-neira). Se assim não fosse A e B poderiam comerciar entre si nointervalo de preços em que tal comércio é mutuamente mais vanta-joso do que o comércio com C, reabilitando-se a possível superiori-dade da união aduaneira sobre uma redução pautal unilateral.

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procuras do eleitorado290, a ideia de que o comportamento“irracional” pode ser racionalizado através da identificaçãode uma preferência e pode ser medido pela avaliaçãodaquilo a que se tem de renunciar para a satisfazer291, e aconcepção de que certas políticas governamentais podemser teoricamente enquadradas no fornecimento de bens deconsumo colectivo292.

Como também refere, já tinha abordado em outrosartigos a possibilidade de os governos procurarem atingircertos objectivos não económicos através da intervençãopautal, tendo então procurado elucidar a forma de o fazerao mínimo custo (elaborando “a scientific tariff”) e játinha assinalado que a medida das perdas de bem-estar, quea teoria tradicional identificava nas intervenções aduanei-ras, se poderia converter – caso se substituísse o pressu-posto do governo bem intencionado mas mal informado(na procura de maximização do rendimento real) pelo pres-suposto do governo “all wise” – na medida da divergên-cia entre os custos e os benefícios privados e sociais doproteccionismo, tal como se poderia converter na medidada ineficiência do processo político, se se tomasse o go-verno como um instrumento extra-mercado de distribuiçãoda riqueza e do rendimento disputados por vários grupos.

A sua argumentação estava distribuída por três sec-ções: as duas primeiras referentes à teoria do proteccio-nismo e da negociação pautal, a terceira referente à teoriada formação de uniões aduaneiras. Na primeira, a produ-________________________

290 Importada de Anthony J. Downs, “An Economic Theoryof Political Action in a Democracy”, Journal of Political Economy, LXV(April, 1957), pp. 135-150, e An Economic Theory of Democracy, Warper& Boss., New York, 1957.

291 Colhida em Gary S. Becker, The Economics of Discrimination,University of Chicago Press, 1957.

292 Tomada de Albert Breton, “The Economics of Nationalism”,Journal of Political Economy, LXXII (August, 1964), pp. 376-387.

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ção industrial é caracterizada como um bem público queproporciona ao eleitorado uma satisfação independente daque é gerada pelo consumo dos seus produtos293. Porquea concorrência democrática assim os obriga, os governosesforçam-se por maximizar a actividade industrial294 den-tro das fronteiras nacionais. Para isso dispõem de trêstipos de instrumentos: subsídios directos, subsídios indirectosatravés de benefícios fiscais ou subsídios indirectos atravésde protecção aduaneira. Embora esta dê origem a um custode consumo, é a ela que normalmente se recorre295. Se pre-valecer o pressuposto do governo racional, este maximizaráo rendimento real do país se sacrificar a produção real296 até

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293 Na teoria tradicional, como Johnson adverte na Introdução,“o rendimento real” é identificado, em termos de função de bem--estar social, com a utilidade derivada pelos indivíduos do seu con-sumo pessoal de bens e serviços;” (p. 256).

As razões para essa preferência pela produção industrial podemderivar de uma ascendência nacional dos produtores (o que Downstambém explicava pela pulverização de interesses dos consumidores),de uma apetência pelas externalidades que estão associadas à industria-lização, de intenções de emulação com outros países, ou de outrasrazões.

294 Segundo refere JOHNSON (1965), p. 258, nota 6, R. Mundellfez-lhe notar que a preferência pela protecção industrial, típica daseconomias menos desenvolvidas, e a preferência pela protecção agrí-cola, frequente nas economias mais desenvolvidas, podiam serreconduzidas a uma única preferência pelo equilíbrio económico.

295 Uma vez que o recurso a subsídios directos é caro e que as“despesas fiscais”, só por si, só são suficientes onde a carga fiscal éelevada – e efectiva, poder-se-ia acrescentar. Outras razões podemresidir na intenção de não revelar o custo de oportunidade do subsí-dio ou de manter a aparência de competitividade da indústria.

296 Segundo EL-AGRAA (1984), p. 70, o rendimento real (realincome) é, para Johnson, a utilidade do consumo privado e público(sendo o consumo a soma das despesas de consumo e das despesasde investimento planeadas), enquanto a produção real (real product) é a

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ao ponto em que a utilidade marginal que a comunidaderetira da produção industrial for igual ao excesso de custoprivado na sua obtenção297.

soma de todas as produções de bens e serviços apropriáveis pelo sec-tor privado.

297 Como o autor explica, o excesso de custo privado de produ-ção é composto por dois elementos: o custo marginal de produção eo custo marginal de consumo. O primeiro é revelado no direito adua-neiro que resguarda a produção interna das importações. O segundocorresponde à perda do excedente do consumidor envolvido nasubida de preço interno pela aplicação do direito aduaneiro. Natu-ralmente, e para cada unidade produzida internamente acima dopreço de comércio livre, o excesso de custo privado de produçãoserá tanto maior quanto mais alto for o direito aduaneiro e, em rela-ção a ele, quanto maior for a elasticidade da oferta e da procura.

Havendo vários produtos, a maximização obtém-se equiparandoo benefício social resultante da produção de cada um com o excessode custos privados incorridos na sua produção, mas Johnson consi-dera primeiro a produção industrial como um agregado único e, porsimplificação, inteiramente produzido por inputs domésticos: SSC é a

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curva de oferta do bem industrial nos mercados mundiais, VVo valor marginal da produção industrial no consumo colectivo –

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Na segunda secção, o pressuposto da produção indus-trial como um único agregado dá lugar a uma produçãodiferenciada. Em resultado, cada um dos países se pode tor-nar importador e exportador de bens industriais levando aprotecção de cada linha de produção até ao ponto em queo valor social do seu consumo colectivo seja anulado peloexcesso de custos privados na sua produção298. É assim pos-

medido pela altura de cada ponto de VV sobre SSC e SA SA a cur-va de oferta do país A; PSA’ é a curva de oferta do país A depoisde considerado o excesso de custos privados – sendo estescontabilizados de modo a que, para cada valor do direito aduaneiropotencialmente aplicável, a área de separação entre esta curva e a curvada oferta de A (área formada pelo triângulo compreendido entre asduas curvas e a projecção – para cima – do ponto de produção cor-respondente ao preço interno) seja igual ao custo marginal no con-sumo (ao triângulo delimitado pela curva da procura, a vertical doponto de consumo correspondente a esse direito aduaneiro, e a linhado preço internacional). Assim, quando o imposto tS é aplicado aopreço SO, o consumo é ON e a área compreendida entre a curvada oferta de A e a sua correcção pelo custo marginal de consumo(PZR) é igual à área representativa do efeito de consumo (ABC).Para diferentes taxas do direito aduaneiro haveria diferentes custosmarginais de consumo, crescendo à medida que aumenta o direitoaduaneiro (e por isso mesmo originando um progressivo afastamentoda curva do excesso de custo privado da produção, da curva da ofertade A) até ao ponto em que, com o direito aduaneiro t’S, a áreaAEF seria igual à área PFS’A. A maximização do rendimento nacio-nal obtém-se em Z, por ser este o ponto de intersecção – e, logo,de paridade – entre VV e PSA’, requerendo um direito aduaneiro tque induzisse um aumento da produção industrial, de M para M’.

Naturalmente, quanto maior for o grau de preferência pela indús-tria, maior será o direito aduaneiro aplicável.

298 A análise seria aqui ligeiramente diferente da da nota ante-rior: a protecção das indústrias internas concorrenciais com a expor-tação implicaria não apenas um sacríficio de produção no sector nãoindustrial, mas também nos ramos industriais de exportação [JOHNSON

(1965), p. 268], pelo que o aumento de uma unidade na produçãoindustrial não pode já ser conseguida com o aumento de uma unidade

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sível que, mesmo num modelo de dois países, a expansãoda produção industrial num se não faça à custa da produ-ção industrial no outro, já que, em ambos, ela pode cres-cer à custa da produção não industrial. Uma vez que cadapaís estava disposto a reduzir o seu produto real para aumen-tar o seu rendimento real (através da protecção dos produ-tores industriais internos), qualquer diminuição da produ-ção industrial interna, por aumento das importaçõesindustriais induzida pela diminuição dos direitos aduanei-ros, reduz a utilidade colectiva. Por outro lado, a diminui-ção dos impostos alfandegários alheios será um ganho, sepermitir um aumento das exportações industriais e, logo,um aumento da utilidade colectiva decorrente do aumentointerno de produção industrial. Ou seja: enquanto que ateoria tradicional vê a única fonte de ganho na substitui-ção da produção interna mais cara por produção externamais barata (deixando de lado as alterações dos termos detroca) mas, acrescenta Johnson, não explica o processo dasnegociações pautais (uma vez que o ganho é alcançável unila-teralmente) – a sua tese é a de que a fonte de ganho étambém a forma mais barata de satisfação de uma necessidade.Só que, sendo esta diferente – o aumento do rendimentoreal decorrente do aumento da produção industrial – oganho só pode ser alcançado através de troca de reduções

na produção industrial protegida, mas apenas com mais do que isso.O que montaria a introduzir mais um elemento na noção de excessode custo privado: o da perda de utilidade no consumo colectivo daprodução industrial, devida à diminuição das exportações industriaisprovocada pelos efeitos laterais do aumento de protecção no outrosector.

Johnson sublinha que ambos os modelos sugerem que os paísescuja competitividade nos mercados mundiais aumenta tendem a evo-luir no sentido do comércio livre, enquanto que os países que per-dem competitividade tendem a evoluir no sentido de maior proteccio-nismo.

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pautais299. É que, no ponto em que se iniciam estas, umaumento de exportações de bens industriais por diminuiçãoda protecção pautal do outro país tem um custo marginal dezero, enquanto que o aumento da produção industrial poracção própria tem um custo marginal positivo. Isto tornacada um dos países interessado na diminuição pautal do outroou outros. Para estes, porém, o custo marginal da reduçãopautal também pode ser nulo300, ou, quando afecta negati-vamente a produção industrial interna, ser mais do quecompensado com os benefícios resultantes da diminuiçãode direitos no outro país301.

Johnson concluía (p. 277) que, para o país que bene-ficia da redução pautal de outro, tanto a criação como odesvio de comércio implicam um ganho, mas que, para o________________________

299 “The difference is that in the classical analysis it is lowercost satisfaction of private consumer wants that is envolved, and thiscould be achieved without the co-operation of the other countrythrough unilateral tariff reduction; whereas in the preference forindustrial production model it is lower cost satisfaction of the demandfor collective consumption of industrial poduction that is involved,and this can only be achieved through the co-operation (via bargai-ning) of the other country”. JOHNSON (1965), p. 270.

300 No caso de dar origem a um desvio de comércio. Se aprodução industrial do país que é discriminado constituir umadesutilidade para o país discriminador, o custo marginal será menosque zero. JOHNSON (1965), notas 17 e 26.

301 Assim que se considera um modelo de, pelo menos, trêspaíses, os beneficios da redução discriminatória de direitos tornam-seevidentes. Em vez de contar apenas com a criação de comércio, umsubgrupo de países pode aumentar a sua produção industrial atravésdo fomento do desvio de comércio.

Se a cláusula da nação mais favorecida vedar descriminações nasreduções pautais, pode bem acontecer que as exportações de B nãoaumentem na medida do aumento das importações de A (a menosque B seja o único ou o mais eficiente produtor do bem que bene-ficia da liberalização de A). Assim, o escopo para trocas de reduçõespautais bilaterais é limitado pela aplicação do artigo I do GATT.

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país que opera a redução pautal só o desvio de comércioé vantajoso (na medida em que não implica sacrifício deprodução industrial interna). Assim, a análise tradicionalpermitia determinar o aumento ou diminuição do produtoreal interno, enquanto que a sua análise permitia determinaro aumento ou diminuição do rendimento real – e explicarporque é que as negociações pautais exigem contrapartidase podem ser bem sucedidas, mesmo quando provocam per-da de produto real302. Em suma: a formação de um agrupa-mento económico permitia aumentar o seu rendimento reale, possivelmente, o seu produto real. Na medida em que oexcesso de custo privado de produção seja gerado por insu-ficiência de escala ou ausência de concorrência no territó-rio aduaneiro de cada estado, a integração das economiasterá vantagens suplementares – que, articuladas com a pre-ferência pela indústria de cada governo, provavelmente terãode ser distribuídas pelos países parceiros303.

Na terceira secção, Johnson argumentava essencialmente:a) que uma vez que as uniões aduaneiras e zonas de

comércio livre eram uma excepção à cláusula da nação maisfavorecida, seriam aproveitadas com intuitos proteccionis-tas; b) que o único argumento da teoria tradicional queservia para defender uma união aduaneira ou uma zona

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302 O que acontecerá quando o desvio for predominante. De facto,como nota o autor, é mais provável que esse seja o interesse dosnegociadores, já que o aumento de produto real que a criação de comér-cio potencialmente gera para o país importador não compensa a per-da de rendimento real associada à diminuição da actividade industrial.

303 Neste ponto o autor fazia referência a uma versão prévia doartigo (1965b) de COOPER/MASSELL, reconhecendo a similitude de obser-vações mas ressalvando a independência de umas e outras. Registe-seque na primeira nota do artigo destes [como, aliás, na primeira notado outro estudo dos autores (1965a)] era manifestado o seu agrade-cimento a Johnson (e a Richard Cooper) pelos seus comentários.

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de comércio livre e não uma redução pautal unilateral erao dos possíveis ganhos nos termos de troca que as primeiraspoderiam permitir, por oposição à sua deterioração atravésde uma redução pautal unilateral; c) que os argumentospolíticos a favor desses agrupamentos económicos sublinhaminvariavelmente o aumento da produção interna, as eco-nomias de escala e o acesso ao mercado do país parceiro;d) que há uma relação inversa entre o montante de comér-cio que é desviado para o interior da união e aquele emque há uma melhoria nos termos de troca com os tercei-ros países – e que o sublinhar público do primeiro maisdiminuiu a defesa da integração com base no segundo.

Destas observações resultam as diferenças entre a abor-dagem tradicional da teoria das uniões aduaneiras e a sua:a tradicional ocupa-se da maximização do produto real, apolítica ocupa-se da maximização do rendimento real; aprimeira preocupa-se com a afectação dos recursos, a se-gunda com o aumento da industrialização; aquela prevê amaximização da eficiência produtiva no interior da união,onde quer que se localize a produção, esta prevê a divisãoequitativa da produção industrial induzida pela união. Natu-ralmente, o que seria um comportamento irracional paraa primeira tese é perfeitamente racional para a segunda304.

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304 EL-AGRAA (1984), pp. 75-76, recusa liminarmente a possibi-lidade de se presumir que um governo está a tentar aumentar o bem--estar e a adoptar uma pauta aduaneira irracional. Se os direitos adua-neiros existentes não são coerentes com aquela intenção é porquevisam objectivos não económicos, caso em que se pode fazer recursoà análise de Johnson. No entanto, afirma, é possível demonstrar que,no quadro da teoria económica tradicional, o recurso a negociaçõesbilaterais de abaixamento dos direitos aduaneiros faz perfeito sentido.Para o demonstrar recupera em grande medida o quadro de análisedo próprio Johnson (1958a), e considera um diagrama em que repre-senta OA e OC, curvas de oferta de A e do resto do mundo C.

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B) ARNDT

Em (l968) ARNDT demonstrou que o principal resul-tado da análise de COOPER e MASSELL em (l965b) – queuma política de protecção não-preferencial é preferível a

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OA* e OC* são as respectivas cur-vas de oferta quando se atinge umasituação de “optimum-tariff-cum-retaliation” (ponto Z1 – em quecada uma das curvas de indiferençade comércio TA* e TC* é tan-gente à curva de procura recíprocado outro país – em que os termosde troca entre os dois países sãoidênticos aos que, para um maiorvolume de comércio, vigorariam emcomércio livre).

TA TC são as curvas de indiferença do comércio de A e C emcomércio livre e Z o ponto de equilíbrio nesta situação.

Se a situação inicial for Z1, nenhum dos países pode melhorara sua situação através de uma redução pautal unilateral: o que alevar por diante passará a um ponto de equilíbrio numa curva deindiferença de comércio menos vantajosa. Para que qualquer das duaseconomias possa alcançar um ponto situado entre as curvas de indi-ferença de comércio que passam em Z1 (requisito para a melhoria dasua situação) e as curvas da oferta que se cruzam no ponto de comér-cio livre (requisito de praticabilidade) é necessária uma redução con-junta – só ela permitindo atingir pontos situados dentro da zona som-breada.

El-Agraa refere (p. 77) que esta conclusão não depende de seiniciar a análise numa situação de retaliação e direitos aduaneiros óp-timos, nem de ambos os países estarem inicialmente numa situaçãomenos vantajosa do que a de comércio livre. A única restrição queaponta é a de as curvas de oferta não serem rectas (perfeitamenteelásticas).

E, como resulta até da situação inicial, não se trata de fazerintervir efeitos de termos de troca: porque não há terceiro país, nãohá nenhuns outros que não os resultantes das trocas entre A e C – eestes, no caso, não se alteram.

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uma união aduaneira – dependia crucialmente da hipótesede a união não conseguir alterar os termos de troca. Incor-porando esta possibilidade num modelo semelhante ao daque-les autores, Arndt concluiu ser provável que uma uniãoaduaneira tenha um impacto positivo sobre os termos detroca dos seus membros e defendeu que a alternativa auma união aduaneira não devia ser uma política de pro-tecção não-preferencial, mas uma qualquer forma de coli-gação internacional.

Arndt substitui o modelo de equilíbrio parcial marshal-liano, com um único bem, por um modelo de equilíbriogeral, com três países (A, B e C) e dois bens (x e y) –sendo A o pior produtor de x e C o melhor:

Figura 4.6

AA’ representa a curva de possibilidades de produ-ção de A. Em comércio livre o ponto de equilíbrio naprodução situa-se no ponto (Qo), em que a TMT inter-na (medida sobre a fronteira de possibilidades de produ-ção) iguala os termos de troca internacionais (To), e o pon-to de equilíbrio no consumo situa-se no ponto (Co) emque a TMS interna [medida sobre a mais alta curva de

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indiferença alcançável (Io)] iguala os termos de troca in-ternacionais (To).

A imposição de um direito aduaneiro C1S1/R1C1 temdois efeitos: por um lado, se A for suficientemente grandee a sua procura de importações não for rígida, os seus ter-mos de troca melhoram (vg, passando de To para T1); poroutro lado, o preço interno de x em termos de y sobepara p1 [sendo p1=(l+ta).T1, em que ta é a taxa ad valoremdo direito aduaneiro].

Supõe-se que quando as autoridades não redistribuemas receitas alfandegárias adquirem com elas apenas o bemx305. Se não houver redistribuição dos montantes pagos emdireitos aduaneiros a produção interna de A passará paraQ1 (onde a nova razão de troca interna tangente à fron-teira das possibilidades de produção) e o seu consumo pas-sará para C1 [onde a mais alta curva de indiferença alcan-çável (I1) é tangente à razão de preços interna (p1)]. Asexportações de A serão Q1R1 de y e as importações de xR1S1 – sendo o equivalente a C1S1 entregue ao governode A a título de pagamento de direitos aduaneiros.

A imposição de um direito aduaneiro em A diminuíuo bem-estar dos seus cidadãos, se bem que a alteração nostermos de troca tivesse impedido a sua ainda maior dimi-nuição. As autoridades de A podem redistribuir os mon-tantes arrecadados nas alfândegas a título de subsídios per-

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305 Arndt explica, em nota (p. 973), que as curvas da oferta eda procura do modelo de Cooper/Massell são curvas do sector pri-vado, e que a tentativa de aquisição de quantidades de y no mercadointerno (onde y é relativamente barato) com os proventos arrecada-dos com os impostos aduaneiros sobre x provocaria uma perturbaçãono equilíbrio de mercado. No modelo dos autores, a aquisição de yainda poderia ocorrer no mercado internacional, já que os termos detroca se mantinham aí invariantes – mas no modelo de Arndt querisso, quer a redistribuição do rendimento, provocam alterações nostermos de troca.

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mitindo ao sector privado alcançar o ponto C2306 [situado

numa curva de indiferença mais elevada (I2) mas onde aTMS continua a igualar a razão interna de preços (p1’)],ainda que, mesmo assim, não conseguisse evitar uma perdaem relação à situação de comércio livre.

Porém, se neste caso os ganhos decorrentes da altera-ção dos termos de troca não eram suficientes para compen-sar as perdas decorrentes da imposição de um direito adua-neiro, bem poderia acontecer que a situação se invertesse.

A Figura 4.7 reproduz alguns dos traços essenciais daFigura 4.6 constituindo o seu desenvolvimento para umasituação em que as economias de A e de B têm uma estru-tura similar307.

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306 A deslocação é, confessadamente, aproximada, já que have-ria que tomar em consideração os efeitos secundários nos termos detroca e na razão interna de preços – ARNDT (1968), p. 973.

307 ARNDT (1968), p. 974, invoca expressamente VANEK (1965)para delimitar o sentido da expressão: economias que, antes da cons-tituição da união não comerciavam entre si por importarem e expor-tarem os mesmos bens.

Figura 4.7

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Supondo que pb* é a razão de preços que faz Babandonar o comércio internacional (i.e.: a exportação dey a troco de x) e que razões de preços mais elevados (i.e.:situadas à esquerda de pb* no canto esquerdo do diagrama)o fazem inverter o seu padrão de importações e exporta-ções (passando a importar y a troco de exportações de x),conclui-se que uma pauta aduaneira comum proibitiva ele-varia o preço de x na união para valores superiores a pb*.Os termos de troca internacionais na ausência de comér-cio com a união seriam dados, vg, por TWº. O país Aproduziria algures entre Qo e Q1 e, através do comércio comB, consumiria algures à direita de C1, aonde a mais altacurva de indiferença alcançável apresentasse uma TMS igualao rácio de preços interno. Esse ponto proporcionaria ummais elevado nível de bem-estar do que o ponto C1 masArndt nota que esta mesma situação podia ser obtida atra-vés de uma conveniente política aduaneira não-discri-minatória, admitindo que, sob este ponto de vista, não have-ria razões para preferir uma união aduaneira.

Se a pauta aduaneira comum não for proibitiva – e,como já vimos, ela não o será, pelo menos, se o preçorelativo de x no interior da união se fixar em pb* ou àsua direita, – as conclusões são diferentes. Vale a pena dis-tinguir os três casos:

Se o preço no interior da união se fixar em pb*, Btorna-se indiferente ao comércio já que deixa de ter nelemargem de ganho. Todo o comércio da união é feito por,e com, A, que produzirá em Q2 e, na hipótese de reten-ção das receitas alfandegárias pelo governo, consumirá numponto situado sobre o mesmo rácio de preços. Desde queesses montantes sejam devolvidos aos consumidores, porém,o ponto de consumo alcançável situar-se-á sobre a linhados novos termos de troca internacionais (Tw), por exem-plo no ponto Ca [onde a mais alta curva de indiferençaalcançável (Ia) é tangente à razão interna de preços].

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Arndt sublinha que a comparação entre os pontos C1

e K deve ter em conta as receitas aduaneiras obtidas nume noutro caso mas a sua conclusão é oposta à de Coopere Massell, que tinham argumentado que a perda das receitasalfandegárias decorrente da constituição de uniões aduaneirasforçaria ao recurso a outras formas de obtenção de recei-tas, repercutindo-se isso negativamente no bem-estar (afi-nal essas formas alternativas de imposição fiscal tinham sidopreteridas antes). De facto, escreve, ou A herda o comér-cio que B abandonou, ou passa a “conduzir a totalidadede um largamente reduzido comércio mundial a termosde troca altamente favoráveis”. Em ambas as circunstâncias,as receitas decorrentes de uma união aduaneira são pro-vavelmente superiores às que poderiam ser obtidas sem ela.

Se o preço na união não chegar a pb* (ficando àsua direita), não haverá reversão de comércio em B e cadaum dos países continuará a exportar y a troco de x.

Na medida em que os países membros continuam anão comerciar entre si não haverá diminuição de receitas.Haver aumento ou não, dependerá dos níveis relativos dapauta aduaneira comum e das que os seus membros ante-riormente mantinham.

Finalmente, se o preço na união exceder pb* (situando--se à sua esquerda), sem que, porém, a pauta aduneiracomum se torne proibitiva, o país B tornar-se-á exporta-dor de x para A. Neste, a produção de x também cres-cerá, em detrimento da de B (até que a TMT interna igua-le o rácio de preços no interior da união). Admitindo queos termos de troca internacionais se fixam entre Tw’ eTwo os efeitos da alteração dos preços internos e interna-cionais serão opostos. Vários desfechos são possíveis mashá um caso em que existe um nítido ganho em relação auma política pautal não-discriminatória: o da adesão de A,um pequeno país, a uma união aduaneira grande.

A conclusão com que Arndt encerra a primeira partedo seu artigo é a de que o efeito das uniões aduaneiras

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sobre os termos de troca pode justificar, só por si, a pre-ferência por estas quando a alternativa é uma política pautalnão-discriminatória. Por outro lado, da ideia de que doispaíses unidos podem fazer o que um só não consegue, vainascer uma outra questão: se a união aduaneira equivale auma acção concertada – e se é esta que justifica aquela –valerá a pena constituir uniões aduaneiras se a alternativafor uma concertação de políticas pautais? (A questão re-força-se com a observação de que as vantagens detectadasna constituição de uniões aduaneiras se notam nos casosem que o comércio entre os países membros é diminutoou mesmo nulo).

Nas Figuras 4.8 e 4.9 Arndt representa as curvas daprocura recíproca308 de A, B e C (Oa, Ob e Oc). Naprimeira, A é o mais eficiente produtor de y, na segundaA e B são produtores igualmente eficientes de y.

A termos de troca de comércio livre (OTo), A ex-porta doao de y para o país C, em troca de Odo de x eB exporta eobo de y para o país C a troco de Oeo de x.Ofo é a soma das quantidades de x transaccionadas (Figura4.8).

Se A impuser um direito aduaneiro ad valorem a suacurva da procura recíproca compensada309 passará a ser O’a,fazendo com que os termos de troca no comércio inter-nacional passem para OT1. O comércio de A com C dimi-nui por causa da aplicação do direito aduaneiro mas ocomércio de B com C aumenta. Na Figura 4.8, a expan-são do comércio de B é menor do que a contracção dode A de modo que há uma retracção global no comérciode y e x. Mesmo assim, do ponto de vista de A, a intro-

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308 Cfr. supra, notas 148 e 165.309 Uma curva de procura recíproca compensada é aquela que

supõe a redistribuição ao sector privado dos montantes arrecadadoscom a cobrança de impostos sobre as importações.

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Figura 4.8

Figura 4.9

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missão de B foi prejudicial: não fora o seu aumento deexportações e a melhoria dos termos de troca teria sidomais acentuada. A passagem de ao para a1, pode ainda servantajosa se:

a) a oferta de B for relativamente pequena em rela-ção à de A e tanto mais quanto mais rígidas forem as cur-vas de procura recíproca de B e de C no intervalo rele-vante;

b) quaisquer que sejam as curvas de procura recí-procas externas e o direito aduaneiro de A, o ganho serátanto maior quanto maior for a propensão marginal aoconsumo de A no seu bem de exportação. Na Figura 4.8essa passagem implica uma perda, na Figura 4.9 implicaum ganho – mas em ambos os casos a concorrência de Bprejudica A (B, por sua vez, ganha em ambos os casos jáque melhora os seus termos de troca e aumenta o seucomércio).

Se B impuser igualmente um direito aduaneiro advalorem à importação de x, os termos de troca deslocam--se para Tt e, os novos pontos de equilíbrio serão a2, b2,

c2 (na Figura 4.9 A e B são economias ‘’gémeas’’: as suascurvas de procura recíproca são iguais e são iguais tam-bém as suas curvas de procura recíproca compensadas). Bsó alcança um ganho de bem-estar na situação represen-tada na Figura 4.9 (b2>b1). No caso da Figura 4.8 teriasido preferível não adoptar nenhum direito aduaneiro(b1>b2) desde que A o fizesse. Em ambas as situações Aganha (a2 >a1).

Daqui resulta uma oposição de interesses nas políticasalfandegárias de A e de B: A ganha com as restrições aocomércio de B enquanto B ganha em as não impor – desdeque A o faça.

Se A tivesse um total controle sobre o mercado dassuas exportações poderia assegurar, através da manipulaçãoda sua pauta aduaneira, os melhores termos de troca.

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Na falta desse controle as suas políticas óptimas dependemnão só da elasticidade da procura do seu bem de exporta-ção mas também das condições de oferta dos seus concor-rentes e da sua reacção às intervenções de A. A tentativade estabelecimento de uma qualquer forma de concertação“soft” – seja um acordo pontual seja um cartel interna-cional – entre os exportadores de um bem, depara comgrandes dificuldades, na medida em que a estratégia óptimaa partir do momento da sua constituição – e enquantoeste for efectivo – é a da actuação independente310. Umaunião aduaneira, com uma pauta comum, pode desempe-nhar mais eficazmente essa função, desde que crie incenti-vos para atrair as economias relevantes.

Arndt concluía que as críticas de Cooper e Massell àinoperância da teoria tradicional para explicar as vantagensde uma união aduaneira sobre uma redução pautal não--preferencial eram correctas, mas dependiam da não-con-sideração da possibilidade de esta alterar os termos de tro-ca. Recuperando-se esta possibilidade tornava-se evidenteque as alternativas à sua constituição tinham de considerara combinação de poderes económicos e a extensão das van-tagens recíprocas – isto é, reconhecia-se que as uniões adua-neiras podiam ser os mais eficazes instrumentos para o con-seguir – e que os quadros essenciais da sua análise podiamcontinuar a ser os da teoria das uniões aduaneiras.

C) FLØYSTAD

Dez anos depois dos artigos de Cooper e Massell,FLØYSTAD (1975) procurou explicar as razões (económicas)

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310 Um testemunho exemplar sobre este ponto é a história dospaíses produtores de petróleo e da OPEC. Sobre o paradoxo da uniãover OLSON (1971). Recorde-se também a nota 10 da INTRODU-ÇÃO.

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que poderiam levar um pequeno país a preferir, ao comér-cio livre, uma pauta aduaneira não-discriminatória ou,mesmo, uma união aduaneira.

As hipóteses do seu modelo incluem rigidez de salá-rios em todos os sectores da economia (devido à activi-dade sindical) pelo menos no curto prazo; imobilidade decapital entre os sectores, no curto prazo; taxas de câmbiofixas; uma economia composta por três sectores principais:o sector 1, de indústrias rivais da importação; o sector 2,de indústrias de exportação; e o sector 3, de empresas alfan-degariamente protegidas – que, para simplificar, se presumenão manterem relações de fornecimento entre si. Supondoque as empresas dos sectores l e 2 enfrentam concorrênciaestrangeira, pode admitir-se que os seus preços sejam deter-minados nos mercados mundiais e que, com a diminuiçãodos direitos aduaneiros, a produção e o emprego internosdiminuam no sector 1. No sector 3 não há concorrênciaexterior e é ele que absorve os trabalhadores dispensadosno sector 1 quando ocorre uma redução alfandegária uni-lateral que provoca desemprego. O mecanismo de trans-ferência é uma subida de preços no sector protegido ori-ginada por um aumento da procura que, por sua vez, éprovocado por uma alteração nas aquisições do sectorpúblico ou por alterações na política monetária ou fiscal.

As Figuras 4.10, 4.11 e 4.12 representam, respectiva-mente, a situação no mercado de bens rivais de importa-ção (Sector l – sendo SI a curva de oferta e DI a deprocura), no mercado dos bens de exportação (Sector 2-com SE e DE como as curvas de oferta e de procura) eno mercado dos bens protegidos (Sector 3- SP – oferta;Dp procura). Inicialmente supõe-se que o valor das impor-tações (BCFG na Figura 4.10) iguala o valor das exporta-ções (B’C’F’G’ na Figura 4.11), que existe pleno empregoe que há direitos aduaneiros proibitivos sobre os bens pro-duzidos nas indústrias protegidas, ineficazes sobre os bens

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Figura 4.12

Figura 4.11

Figura 4.10

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produzidos nas de exportação e de valor nm sobre os bensrivais dos produzidos nas indústrias que competem com asimportações.

Se esta economia abolisse os seus direitos aduaneirossobre as importações concorrentes com a produção internado sector 1, provocaria uma diminuição das quantidadesaí produzidas de OB para OA e criaria desemprego e umdesequilíbrio nas contas externas (ADEH>B’C’F’G’).O desemprego poderia provocar uma deslocação das cur-vas da procura para a esquerda e isso, se bem que dimi-nuisse as importações e o défice da balança comercial, pro-vocaria desemprego adicional no sector 3. Para reestabelecero pleno emprego seria necessário deslocar a curva da pro-cura para a direita, no sector 3, de forma a que este sec-tor absorvesse os trabalhadores dispensados do sector 1.

Se, alternativamente, A constituísse uma união adua-neira com o país B – que importa os bens produzidos nosector 2 da economia A e defronta uma curva de ofertadesses bens infinitamente elástica no mercado mundial –A poderia aumentar as suas vendas no mercado de Bmesmo praticando um preço superior ao preço interna-cional (no montante do direito aduaneiro aplicável ante-riormente a essas importações311). Assim, o valor das suasexportações passaria a ser A’D’E’H’. (Cfr. Figura 4.11).

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311 FLØYSTAD (1975), p. 642 refere-se expressamente aos “pre-ços internacionais mais os direitos aduaneiros que o país A defron-tava previamente” mas vai aqui implícita a assunção vineriana [(1950),p. 42], de que os direitos aduaneiros de tal país são plenamente con-sagrados na pauta aduaneira comum, sob pena de isso não fazer sen-tido. De facto, o que permite aos exportadores de A vender a umpreço superior no mercado de B é a circunstância de eles não teremde pagar o direito de importação previsto na pauta aduaneira comum– o que todos os seus concorrentes situados fora da união têm defazer. Consequentemente, a sua oferta irá até ao ponto em que asexportações destes, oneradas com o pagamento dos impostos alfande-

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Em contrapartida, se B produzisse bens concorrentescom o sector l da economia A, as consequências seriamdiferentes se a curva de oferta dos bens que importa dopaís B fosse infinitamente elástica e a do resto do mundonão312 (caso em que o preço doméstico cairia na medidado direito aduaneiro aplicado inicialmente, reduzindo-se aprodução interna do sector 1 para OA – seguindo-se asconsequências de uma redução pautal não-discriminatória,atenuadas ou anuladas agora pelo aumento de produçãono sector 2 e pelo aumento de receitas), ou se a curva deoferta dos bens importados do resto do mundo fosse infi-nitamente elástica e a do país B não313 (caso em que o

gários da pauta comum, sejam competitivas. Se esses direitos aumenta-rem em relação aos que A defrontava nas suas exportações para B,nessa medida aumentará a sua margem de ganho. Se eles descerem,nessa medida diminuirá a sua margem de ganho. A referência aos“preços internacionais mais os direitos aduaneiros que o país A defron-tava previamente”, é, pois, desajustada: quanto muito, é uma remis-são para um valor inalterado.

312 De facto, desde que a curva de oferta dos bens importadosdo país B fosse infinitamente elástica, a do resto do mundo podiasê-lo também (ao mesmo preço – e, mesmo, a qualquer outro quedistasse do preço de B até ao valor do direito aduaneiro aplicável,embora este não seja o caso figurado pelo autor), sem que as con-clusões se alterassem. A dupla exigência imposta por FLØYSTAD [(1975),p. 643] resolvia-se, afinal, na exigência de que as exportações de Bfossem infinitamente elásticas.

313 Verdadeiramente também esta dupla exigência se poderiareduzir a uma: que a curva de oferta dos bens importados do país Bnão fosse infinitamente elástica. É que as condições de mercado emA já estariam definidas, quer a curva de oferta do resto do mundonesses mesmos bens fosse ou não infinitamente elástica. Se a curvada oferta dos bens importados do país B fosse infinitamente elásticao preço interno cairia como visto no caso anterior. Se não fosse, opreço não se alteraria – a menos que a procura de A a esse preçofosse insuficiente para absorver a produção de B com destino ao seumercado.

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preço interno dos bens importados permaneceria idêntico,mantendo-se o nível de produção interno do sector 1 ediminuindo apenas as importações do resto do mundo.O país B poderia aumentar o preço das suas exportaçõesno montante do direito que lhes era aplicável. O país A,por seu lado, só poderia aumentar a produção no sector 2através de diminuição de produção no sector 3 – o que ogoverno poderia conseguir com uma adequada políticaorçamental. Daí resultaria uma baixa no preço dos bensproduzidos no sector 3 e uma melhoria na balança comer-cial que poderia compensar a perda resultante das aquisi-ções a mais alto preço a B).

Floystad concluía que qualquer que fosse a hipóteseescolhida quanto às importações de A (afinal traduzidos emsuposições alternativas quanto à importância do mercadode A para os produtores de B e do resto do mundo), osresultados de uma união aduaneira seriam melhores do queos de uma redução aduaneira não-preferencial quer quantoaos efeitos sobre a balança comercial, quer quanto ao vo-lume de emprego, quer quanto às receitas das exportações.

D) PANAGARIYA

Num dos escassíssimos desenvolvimentos ocorridos naúltima década na teoria das uniões aduaneiras, PANAGARIYA

(1996) reclamou a introdução de um novo (?) argumentoda superioridade dos movimentos selectivos de integraçãosobre uma redução pautal unilateral, ao tornar explícito que“whithin the Vinerian framework, the effects of freer tradehave a strong mercantilist bias: a country benefits fromreceiving a preferential (or discriminatory) acess to thepartner’s market and is hurt by giving the partner a similaracess to its own market”314.________________________

314 Uma tal interpretação, que passa por uma definição “nacio-nalista” dos interesses envolvidos na integração, é totalmente oposta

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A circunstância de, face à teoria económica, os paísespequenos – e, até certo ponto, mesmo os grandes – teremcomo principal ganho da liberalização do comércio a redu-ção dos direitos aduaneiros que eles próprios aplicam315, ea circunstância de, nas negociações comerciais, cada partever na diminuição dos seus impostos aduaneiros um custoe ver um ganho no abaixamento dos direitos alfandegáriosdos outros, constituíu sempre uma questão mal resolvida.Do ponto de vista da teoria económica da política haviaboas razões para considerar que os representantes negociaisprivilegiavam a posição dos produtores internos316, de for-ma que a visão mercantilista da troca de sacríficios pró-prios por ganhos com os sacrifícios dos outros acabava por,dizia-se, levar aos bons resultados pelas más razões. Em (1996),p. 488, PANAGARIYA escreveu:

Surprisingly, when it comes to regional inte-gration, at least whithin the Vinerian framework, themercantilist approach is right: gains from regionalintegration come primarily from a reduction in the

à filiação da análise vineriana na tradição clássica – persuasivamenteexposta por Ó BRIEN (1976) – e dificilmente conciliável com o sen-tido económico dos efeitos de integração. De resto, como acaba dese ver pelo inventário anterior, não constitui novidade.

315 JOHNSON (1965), p. 270, raciocinando a partir de uma ideiade eficiência, chegou a defender que só o aumento de importações(à custa de supressão de produção interna) proporcionava ganhos eque, portanto, no aumento de exportações o ganho não revertia parao país exportador mas sim para o país importador. Consequentemente,à luz da abordagem clássica, o processo negocial de redução pautalseria distituído de sentido e todas as vantagens dele decorrentes pode-riam ser obtidas unilateralmente.

316 KRUEGER (1995), p. 21 escreveu: “While the underlyingpolitical economy of this apparent irrationality may be open tonumerous interpretations, there seems little doubt that there is asupremacy of producer over consumer interests entailed in it.”

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partner country’s tariffs. Though this point is implicitin the standard Vinerian analysis, to my knowledge,it has not been recognized explicitly. (Itálico nosso).

A demonstração sendo simples, constitui também umregresso à representação de equilíbrio parcial317:

Figura 4.13

DA DA – curva da procura de AEB EB – curva da oferta de BE

Bt E

Bt – curva da oferta de B após imposição do direito aduaneiro t

Pc Pc – curva da oferta de CPc

t Pct – curva da oferta de C após imposição do direito aduaneiro t

OQ1 – importações de A com origem em BOQ3 – importações totais de AQ1 Q3 – importações de A com origem em CGHNS – receitas aduaneirasKHNS – ganhos de comércio para A, compostos por excedente dos consu-

midores (KGS) e receitas aduaneiras (GHNS)HMU – ganhos de comércio para B

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317 Recorde-se a opinião de A.J. JONES (1979), já atrás referida(na introdução ao CAPÍTULO 2), de que as curvas da oferta e daprocura foram quase sempre a fonte dos avanços nesta matéria.É duvidoso que este seja um desses casos, porque o exemplo figurado

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Se A optasse por suprimir os seus direitos aduaneiros,o preço interno desceria para Pc, as receitas aduaneiras desa-pareciam, mas o seu ganho do comércio passaria a ser asoma de KGS (excedente do consumidor, existente antes,que se manteria), GHSN (receitas aduaneiras transforma-das em excedente do consumidor) e SNR (ganho líquidodo excedente do consumidor). Por sua vez, o ganho docomércio de B não sofreria alterações (HUM), como nãosofreria alterações a posição de C, uma vez que, com umacurva da oferta horizontal, este não ganha nem perde como comércio, nem com as suas variações.

Se se optasse, antes, por formar um movimento deintegração com B, as suas importações com origem neste

pelo autor exclui a existência de produção interna (ou seja, do pres-suposto corrente para poder haver criação de comércio) e de altera-ções de preço (ou seja, de efeitos de consumo). Assim, é claro quesó o desvio de comércio poderá provocar alterações de bem-estar –e é igualmente claro que essas alterações de bem-estar não são idên-ticas no país que é passivo nesse efeito de troca de fornecedores (opaís A) e no país que é o beneficiário activo nessa troca (o país B).Num tal quadro, posto que a eficiência na afectação de recursos sealtere negativamente, o país A perde e o país B ganha – mas issocorresponde apenas à percepção alternativa do que designámos supra,CAPÍTULO 1, §3.4, efeitos A e efeitos B. E que, naturalmente, senão confinam ao desvio de comércio (e, neste, até devessem ser acom-panhados dos efeitos C, não fora estes serem tornados irrelevantes pelopressuposto de uma curva da oferta infinitamente elástica). Quantoao reconhecimento explícito disto, basta confrontar P. WONNACOTT//R. WONNACOTT (1980), p. 26: “The C & M results collapsecompletely. In summary, what is needed to see the limits of the C& M argument is attention to the export side as well as the importside.”, e (1981), p. 706: “the abolition of foreign tariffs is a clearand unambiguous advantage.”, se é que não JOHNSON (1965) – cfr.supra §2, A –, COOPER/MASSELL (1965) – cfr. CAPÍTULO 3, B daParte II –, ou mesmo TRIFFIN (1960): cfr. supra, nota 258. Impu-tando aos Wonnacott a prioridade na consideração dos ganhos deexportação, veja-se HINE (1994), pp. 240-241.

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passariam de OQ1 para OQ2, ao passo que as importa-ções com origem em C diminuiriam de Q1 Q3 para Q2

Q3. As receitas aduaneiras representadas por GFLH seriamperdidas a favor dos produtores de B, que veriam cresceros seus ganhos de comércio de HUM para GFM. FULcorresponderia a um custo de distorção na produção de Bsuportado pelo país A: “Country B gains from A’s libera-lization precisely as mercantilists would predict.” Por sua vez, opaís A também perde: as receitas aduaneiras correspondentesa GFLH.

A síntese destas diferentes situações era apresentadanum quadro (1996), p. 490:

Opção Direito aduaneiro Comércio Integraçãonão discriminatório livre com B

Países (t)

A KGS+GHNS KGS+GHNS+RSN KGS+GHNS-GFLH

B HMU HMU HMU+GFLH[-UFL]*

C O O O

Mundo KGS+GHNS+HMU KGS+GHNS+HMU KGS+GHNS+HMU+RSN [-UFL]

* UFL, embora não sendo um ganho para os produtores de B constitui, como já sereferiu, emprego adicional de recursos que é custeado por A. Nesse sentido a subtracçãoque consta do original, que não tem isso em conta, é colocada entre parêntesis.

Se A optasse por formar um movimento de integraçãocom C, o seu preço interno desceria para PC, aumen-tando o consumo (OQ4), convertendo GHNS de recei-tas aduaneiras em excedente do consumidor e aumentandoainda este na área SNR. Caso se mantivessem importa-ções de B (o que dependeria de este conseguir produzir acustos tais que pudesse pagar o imposto alfandegário de Ae ainda ser competitivo com os bens importados de C),

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A ganharia ainda as receitas alfandegárias correspondentesa tais importações318.

§ 3. A II Grande Discussão

A) WONNACOTT/ WONNACOTT

Em (l980) e (l981)319 PAUL e RONALD WONNACOTT

puseram em causa a tese da superioridade de uma redu-ção pautal unilateral sobre a formação de uma união adua-neira nas condições prescritas pelos seus defensores: ausên-cia de efeitos nos termos de troca e ausência de economiasde escala. Na sua opinião essa tese estava errada – nãoporque incorresse em qualquer erro lógico, mas porquedependia de pressupostos que excluíam à partida as prin-cipais vantagens que podiam resultar da formação de agrupa-mentos económicas. O artigo de COOPER/MASSELL (l965b)

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318 Embora PANAGARIYA (1996), p. 492, se limite a referir que“A ganha a área RNS mais as receitas aduaneiras (não representadas)decorrentes das importações provenientes do terceiro país, B”, as con-dições referidas no texto tornam isso praticamente impossível. Aliás,se se considerar que a curva da oferta de C se situa ao nível dopreço internacional, é imediatamente claro que B preferiria vender aesse preço no mercado internacional do que vender a A, uma vezque o preço que se estabelece no mercado deste após a integraçãocom C é igual ao preço internacional – e para ter acesso ao merca-do de A em condições de preço semelhantes aos produtores de C osprodutores de B ainda teriam de suportar o pagamento do direitoaduaneiro t.

319 O artigo de 1981 na American Economic Review (pp. 704--714) reproduz com ligeiras modificações a primeira parte do seuWorking Paper de 1980 (pp. 1-20). No que segue, referir-nos-emosapenas àquele.

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só de passagem se referia à troca de mercados e focavatoda a análise nas importações de A sem atender às suasexportações. O artigo de BERGLAS (l979), que as conside-rava, pressupunha a inexistência de direitos aduaneiros emC e a ausência de custos de transporte320. Os autores nota-vam, pertinentemente, que estudar os efeitos da elimina-ção de direitos aduaneiros entre A e B considerando quenão havia direitos aduaneiros em C equivalia a ter o“Hamlet sem o príncipe”.

Paul e Ronald Wonnacott argumentavam:1) que os defensores da superioridade de uma redu-

ção pautal unilateral sobre a constituição de um agrupa-mento económico supõem, alternativa ou cumulativamente,de forma implícita ou explícita: a) que os direitos adua-neiros de B podem ser ignorados; b) que C não aplicadireitos aduaneiros e que o comércio com C (pelo menos)é isento de custos de transporte;

2) que desde que se prescinda destes pressupostos, umaunião aduaneira pode proporcionar ganhos não alcançáveisatravés de uma redução pautal unilateral;

3) que a tese anterior se mantém mesmo que se ig-norem alterações nos termos de troca com C – e, até,nos termos de troca entre A e B321;

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320 P. WONNACOTT/R. WONNACOTT (1981), p. 705 e nota 7.BERGLAS (1983), p. 1141, nota 1, concedeu parcialmente o ponto,mas acrescentou uma forma de introduzir na sua análise anterior nãosó os direitos aduaneiros de C mas também os custos de transportesem alterar as conclusões.

321 P. e R. WONNACOTT (1981), p. 705 e nota 9 e p. 711,notam que é pouco provável que a formação de uma união adua-neira deixe intactos os termos de troca entre os membros da união.BERGLAS (1979) torneava o problema, admitindo que o país quesofria uma deterioração nos seus termos de troca vis-à-vis o seu par-ceiro era por este indemnizado.

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4) que o conceito de termos de troca é escorregadioquando se forma uma união aduaneira322;

5) que a suposição do país pequeno não é tão razoá-vel quanto aparenta se se tiver presente um mundo demuitos bens, já que dificilmente um grupo exterior de paí-ses será predominante na determinação do preço de todosos bons.

A tese dos autores não era a de que as uniões adua-neiras fossem sempre superiores a uma redução unilateralde direitos (quando se desconsideravam os casos das eco-nomias de escala e da alteração nos termos de troca).O que se propunham demonstrar era a insubsistência deum caso geral de superioridade de uma redução pautal uni-lateral sobre a formação de agrupamentos económicos, ouseja, da total identificação entre os efeitos positivos destese o efeito de redução alfandegária e os seus efeitos negati-vos e o desvio de comércio puro, para retomar a termi-nologia de COOPER/MASSELL (l965b).

Para isso, começavam por fornecer um exemplo parareflexão: a constituição de uma união aduaneira entretodos os países do mundo à excepção do Nepal. Se estadeixasse inalterados os termos de troca entre os seus mem-bros, por certo se poderiam descurar os efeitos de termosde troca de cada um face ao Nepal. Excluídas, pois as alte-rações de termos de troca no interior e no exterior daunião, e ignoradas as economias de escala delas resultan-

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322 A tentação de estabilizar os termos de troca de A “redu-zindo-o” face a B e C não resulta, pois implica uma melhoria nostermos de troca de A perante C, quando forma uma união aduaneiracom B. Além disso a eliminação de direitos de B face a A tambémaltera os termos de troca no interior da união. (A possibilidade de Acomerciar com B à sua razão de troca interna pode, aliás, constituirum dos motivos para A participar num agrupamento económicocom B).

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tes, será que se poderia manter a tese da superioridade daredução pautal unilateral? Paul e Ronald Wonnacott con-cluíam que não, porque qualquer dos membros desta uniãousufruiria de praticamente todas as vantagens do comérciolivre mundial – e este é obviamente mais vantajoso doque a redução pautal unilateral já que garante a aboliçãodas pautas aduaneiras dos outros países323.

Para renormalizar o exemplo com a linha de argu-mentação empregue pelos defensores da “nova teoria dasuniões aduaneiras”, os autores admitiam que C fosse tãogrande que as funções de oferta e de procura enfrentadaspor A e B lhes parecesssem de elasticidade infinita. Numquadro de equilíbrio geral com dois bens a curva de pro-cura recíproca de C seria então uma linha recta e a Figura4.14 poderia certificar a principal conclusão da teoria daredução pautal unilateral: uma união aduaneira não per-mite nenhum ganho que não possa ser alcançado por umadiminuição unilateral de direitos.

Oc é a curva de procura recíproca de C que, nos ter-mos vistos, é indiferente às quantidades transaccionadas comA e B. C não tem direitos aduaneiros (embora A e B ostenham) e ignoram-se os custos de transporte entre a uniãoe C.

OA e OB são, respectivamente, as curvas de procurarecíproca de A e B antes da formação da união: o país A

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323 É claro que se a redução pautal unilateral fosse tão abrangentequanto a união aduaneira (todos os países menos o Nepal) os bene-fícios do comércio livre seriam igualmente extensos. O argumento,porém, era o de que uma redução pautal unilateral permitia ao paísque a aplicasse todos os benefícios resultantes da formação de umaunião aduaneira (equiparadas à criação de comércio) e nenhum dosinconvenientes (desvio de comércio).

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comercia no ponto a (trocando OH de x por OK de y)e o país B comercia no ponto b (adquirindo OJ de x atroco de OL de y).

Se A e B formarem uma união com uma pauta adua-neira proibitiva as curvas da procura recíproca serão agoraQA e QB (representando uma maior apetência pelas tro-cas internacionais decorrente da remoção dos direitos adua-neiros no comércio mútuo) e o novo ponto de equilíbrioserá dado pela intersecção entre ambas (no ponto e), umavez que deixará de haver comércio com C.

Do ponto de vista de A, a passagem de a para b émais vantajosa do que a que conseguiria obter através deuma redução unilateral de direitos (caso em que passariade a para g). Para B, a passagem de b para e é mais des-vantajosa do que a que lograria com uma redução pautalunilateral (caso em que passaria de b para f). Nestes ter-mos, e como já tinha sido notado por BERGLAS (1979), Atem de convencer B a aderir à união. Se para isso tiver

Figura 4.14

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de indemnizar B por aquilo que este perde ao integrá-la,tomando como referência aquilo que B poderia ganharatravés de uma redução aduaneira unilateral (a diferençaentre f e e), A ficaria em melhor situação se optasse poruma redução pautal unilateral324. Assim sendo, a opção poresta é preferível à opção por uma união aduaneira325.

Os autores notam que este resultado depende, porém,da inalterabilidade dos termos de troca mundiais represen-tados por Oc e da não consideração dos custos de trans-porte e dos direitos aduaneiros de C. É que se estes foremtomados em conta, ambos os países podem ganhar no comér-cio mútuo algo que não poderiam ganhar no comérciocom um país terceiro: desde logo, o montante dos direi-tos aduaneiros que seriam impostos por este, e que nasrelações comerciais mútuas deixaram de ser cobrados; depois,a diferença de custos de transporte que eventualmente exis-ta no comércio entre si e com países terceiros. Ou seja: opreço relativo (em termos do bem exportado) dos bensimportados do país parceiro pode ser inferior ao preço rela-tivo (em termos do bem exportado) dos bens importadosde um país terceiro, justamente por causa da componenteaduaneira nas trocas com este último e da (eventual) dife-rença de custos de transporte. Assim sendo, porém, o país

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324 Os autores referem (1981), p. 707, que seria possível mos-trar que a perda incorrida por B na passagem de f para e é superiorao ganho obtido por A na passagem de a para e. Em face destequadro ambos os países ganhariam em optar pelo comércio livre e aimposição de direitos aduaneiros não encontra explicação.

325 O país B – que sofre uma deterioração nos seus termos detroca – pode ficar melhor ou pior do que na situação original, masos autores notam que sempre ficaria melhor optando por uma redu-ção pautal unilateral. Por outro lado, desde que o país A seja obri-gado a compensar B dessa perda para o induzir a formar com eleuma união aduaneira, também a sua situação será pior do que setivesse optado pela redução unilateral dos seus direitos.

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C deixa de ter uma única curva de procura recíproca parapassar a ter duas, correspondentes à oferta de x [O1] a Aou B, recebendo y destes, em troca, ou à oferta de y [Oz]a B ou A, recebendo x destes, em troca. O afastamentoentre O1 e O12 é determinado pelos custos de transportee pelos impostos de C, situando-se a razão de preços internano seu interior (eventualmente em Oc na Figura 4.15).

Figura 4.15

Se o ângulo O1 O2 for suficientemente largo para queos pontos de equilíbrio do comércio entre A e B se situemno seu interior, tanto antes como depois da criação daunião aduaneira, tudo se passa como se o país C não exis-tisse. Neste caso a formação desta reconduz-se à opçãoentre o comércio livre e a existência de obstáculos a esse

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326 Refira-se que o ponto v é inalcançável por A antes da união,uma vez que se situa na curva de procura recíproca O1 em que Coferece x a troco de y, tal como A. Se em vez de trocar x por y,com B, A o fizesse com C, teria de aceitar o ponto t. De igualforma o país B só poderia oferecer y a C em u e não em n, umavez que se situa na curva de procura recíproca O2, onde C éadquirente de x e ofertante de y. [P. WONNACOTT/R. WONNACOTT

(1981), pp. 708-709, nota 14].327 Mais claro seria ainda o ganho para A e B se, em vez de

se partir das curvas de oferta OA OB se partisse de RA RB, quecorresponderiam a uma situação em que os direitos aduaneiros impos-tos em cada um dos países seriam suficientemente altos para impe-direm o comércio desses bens, condenando cada país a um regimede autarcia.

328 Neste caso o comércio de A seria conduzido com B umavez que este seria mais vantajoso do que o comércio com C (que sólhe permitiria atingir o ponto s). Tanto C como B mantêm os seusdireitos aduaneiros.

329 Neste caso o comércio de B seria conduzido com C, umavez que este seria mais vantajoso do que o comércio com A (que,caso A mantivesse os seus direitos aduaneiros, só lhe permitiria atin-gir o ponto z).

comércio. É facilmente demonstrável a partir da Figura4.15 que o ponto e representa para A e B um ganho cla-ro em relação ao ponto a 326 327.

Considerando as situações decorrentes da redução uni-lateral de direitos de A ou de B, separadamente, resultaigualmente claro que uma união aduaneira lhes é preferí-vel: se, nestas condições, A optasse pela remoção dos seusdireitos aduaneiros, alcançaria o ponto m, que representauma melhoria em relação à sua situação inicial (o pontoa) mas não em relação à que seria atingida pela união adua-neira (o ponto e)328. Se B optasse pelo desarmamento pautalunilateral, atingiria o ponto w329, preferível ao ponto inciala, mas não ao alcançável com a união aduaneira – oponto e.

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330 Note-se que a proposição é formulada em termos singulares(i.e.: para cada país a redução pautal unilateral não seria tão vanta-josa quanto a participação numa união aduaneira) e não colectivos.Se todos os membros potenciais de uma união reduzissem unilaterale não discriminatoriamente as suas pautas aduaneiras, o argumento deque uma união aduaneira permite algo que a redução pautal unilate-ral não consegue – o livre acesso aos mercados dos parceiros – dei-xaria de ser aplicável.

331 Os autores advertem (1981), p. 709, que o desvio de comér-cio é entendido como uma simples passagem da fonte de forneci-

Em qualquer caso, uma união aduaneira é preferívela uma redução pautal unilateral já que o ponto e garanteum nível de bem-estar superior ao alcançável por A (noponto m) e por B (no ponto w), o que contraria a teseda vantagem de uma redução pautal unilateral e demons-tra, no entender dos autores, duas coisas:

– que a afirmação de que esta é superior ou igual auma união aduaneira quando o terceiro país tem direitosaduaneiros proibitivos é incorrecta. Além de, nesses ter-mos, o comércio com o terceiro país não ser, sequer, umaopção (tudo se resumindo, portanto, ao comércio entre Ae B com ou sem alguns direitos aduaneiros) os direitosproibitivos abrem o ângulo entre as razões de troca doterceiro país de modo a que o comércio entre A e B sesitue no seu interior, tornando preferível a opção por umaunião aduaneira;

– que o paradoxo do Nepal se resolve reconduzindo--o à questão do comércio livre: as curvas de procura recí-proca do Nepal seriam, à escala, tão pequenas que não sedistinguiriam da origem. Obviamente, para todos os res-tantes países a formação de uma união seria preferível àredução unilateral dos seus direitos aduaneiros, sendo cer-to que esta lhes não permitiria o livre acesso aos merca-dos dos outros países330.

A conclusão referida mantém-se mesmo quando seconsidera a existência de desvios de comércio331, que até

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mento de C para B, sem dúvida também pelo que escrevem três pági-nas adiante, na nota 18: “In this case, a CU is A’s means of divertingimports from a higher-cost source (outsider C) to its reciprocalcheapest source, B.”, em que a dimensão económica é incompatívelcom esse sentido “geográfico”. (Cfr. supra, CAPÍTULO 2).

332 A ausência de custos de transporte é limitada, por conve-niência, ao comércio entre A e B. Se a isso somarmos os impostosaduaneiros de C constata-se que os termos de troca de y (de B) por

aqui foram ignorados. Na Figura 4.16 representa-se umadestas situações: A podia comerciar com B, exportando xem troca de y, no ponto d. Porque os termos de trocano comércio com C (incluindo as distorções introduzidospelos custos de transporte e pela sua pauta aduaneira – O2)lhe são mais favoráveis, prefere fazê-lo com C no pontoa. Supondo que não há custos de transporte entre A e B,o comércío entre ambos ocorreria à razão de preços dadapor O2 (já que a qualquer preço menos favorável para Aeste escolheria o comércio com C) e seria representadopor Ob com ba a representar o volume de comércio entreA e C. Após a formação de uma união aduaneira as cur-vas da procura recíproca de A e B passam a ser QA eQB e o comércio passa a ocorrer no ponto e – ba é omontante de desvio de comércio, já que todo o comércioocorre entre A e B.

Comparando esta situação com a que resultaria deuma redução pautal unilateral, A fica numa situação maisvantajosa: esta só lhe permitiria atingir o ponto m, infe-rior ao ponto e; uma união aduaneira seria, portanto, pre-ferível. A situação de B é menos clara. Se a sua reduçãoaduaneira fosse parcial, ser-lhe-ia possível aumentar o comér-cio com A no valor ba: a sua curva da procura recíprocaseria, então, RB (entre a curva inicial OB e a de comérciolivre QB). Negociando a mútua supressão de direitos comA 332 (constituindo uma união aduaneira) poderia passar do

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x (de C) terão de ser mais desvantajosos para B do que os resultan-tes do comércio com A, que não incluem tais direitos. Daqui decor-rem duas conclusões:

a) que a linha dos termos de troca entre B e C fica à esquerdada linha dos termos de troca entre B e A (vg: O1 na Figura 4.15);

b) que na ausência de cortes pautais por parte de A o limitepara as trocas entre A e B continua a ser dado pela curva da pro-cura recíproca OA. (Na Figura 4.16 esse limite equivale ao montanteanteriormente transaccionado porque não houve alteração nos termosde troca).

Figura 4.16

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333 Se os direitos aduaneiros de C forem negociáveis então oafastamento entre O1 e O2 não é irredutível. Se os custos de trans-porte forem passíveis de alteração (para mais ou para menos), assimse alterará o ângulo de afastamento entre essas linhas.

ponto a para o ponto e (na curva de procura recíprocaQB), podendo disso resultar um ganho ou uma perda: apriori isso não se pode estabelecer, se bem que os autoresrefiram que o ponto e – resultante da formação da união– tenderá a ser preferível ao ponto a – o resultante daredução unilateral por parte de B –, se QA for muito elás-tica ou se a distância entre a e m for grande. Assim, háuma possibilidade de que, mesmo quando provoca desviosde comércio, uma união aduaneira seja a melhor opçãopara todos os seus participantes.

No que diz respeito ao bem-estar de A e B os auto-res consideram ser irrelevante que o afastamento entre asrazões de preços de C seja provocado por custos de trans-porte ou por direitos aduaneiros, caso uns ou outros sejamirredutíveis333. Já no que diz respeito ao bem-estar mun-dial consideram que isso não é indiferente: se a causa doafastamento são os custos de transporte isso implica usode recursos produtivos mas a formação de uma união adua-neira resolve mais eficientemente a afectação de recursos.Se a causa do afastamento são os direitos aduaneiros as van-tagens da união podem ser ilusórias pois a mais eficazintegração comercial podia ser feita com C. Neste caso odesvio de comércio incorpora um passivo: a perda de recei-tas aduaneiras por parte de C. Essa perda deve ser deduzidano ganho obtido por A e B.

Os autores introduzem alterações no seu modelo paradar conta: a) da existência de mais do que um país forada união; b) da existência de mais de dois bens; e c) deuma análise mais pormenorizada dos termos de troca.

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334 Esta mesma ideia foi retomada, sob diferentes formulações,designadamente, por Krugman (cfr. supra, nota 40 da INTRODU-ÇÃO) e por FRANKEL/STEIN/WEI (cfr. infra, § 5 do CAPÍTULO 2da II Parte). Como se referiu supra, nota 3, in fine, VINER já o intuíraem (1931).

Considerando um único país exterior à união, ovalor dos seus direitos aduaneiros repercute-se integralmentesobre A e B: “the prices at which A or B can sell to Care reduced by full amount of C’s tariffs (together withtransportation costs), and the full amount of C´s tariffsshows up in the gaps between OC and O1 and betweenOC and O2". (1981), p. 710 – cfr. supra Figura 4.15.Os autores consideram mais realista admitir que parte dosdireitos aduaneiros impostos pelos países exteriores à uniãotenham preferencialmente efeitos sobre os seus própriosconsumidores ou – como consideram que muita da litera-tura assume implicitamente – que os direitos aduaneirosdos terceiros países nem sequer têm qualquer efeito nospreços internacionais, sendo integralmente custeados pelosconsumidores internos. Mesmo neste caso, de um merca-do internacional extremamente competitivo, não excluema existência de duas curvas de procura recíproca para ospaíses exteriores à união (uma para a aquisição de x a trocode y, outra para a aquisição de y a troco de x). Isso escla-receria, simultaneamente, a razão de as uniões aduaneirasagruparem países geograficamente mais próximos: na me-dida em que as maiores distâncias com os restantes paísescriam um ângulo entre termos de troca, torna-se possível,a países mais próximos, obter ganhos através da formaçãode uma união aduaneira334.

Supondo a existência de mais do que dois bens, autilização de curvas de procura recíproca deixa de ser pos-sível: mesmo considerando que, num espaço multidimen-sional, poderiam representar igual número de bens, a figu-

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ração bidimensional de dois desses bens não é possível pornão se poder presumir que, num mundo de N-bens, aexportação de um certo bem x seja igual às importaçõesde um outro qualquer bem y. (Num mundo de dois bens,numa situação de equilíbrio, haverá correspondência entreas importações de um bem e as exportações do outro).

Mesmo sem possibilidades de recurso a esse intrumen-tal analítico, P. Wonnacott/R. Wonnacott questionam aplausibilidade de os direitos aduaneiros de A e B não pode-rem interferir nos termos de troca de C. Isso poderia valerpara um mundo de dois bens, mas não para um outro deN-bens – em que basta o senso-comum para se poder con-cluir que C não poderia ser sempre considerado “o paísgrande”. Admitindo embora que tal pressuposto não é rea-lista, os autores aceitam-no para discutir a tese da reduçãopautal unilateral dentro do quadro que ela própria fixa.

Retomando a Figura 4.15, esclarecem tê-la construídode modo a que os termos de troca entre A e B fossemos mesmos nos pontos e (união aduaneira) e a (pré-união)de forma a tornar claro que “cada país (A e B) pode obterganhos de uma UA que não consegue obter unilate-ralmente, mesmo se a UA não altera os termos de trocaentre os membros da união, ou entre a união e o paísexterior C” (1981), p. 711.

Porém, quando um país que integra uma união adua-neira sofre uma deterioração nos seus termos de troca comum país parceiro, é-lhe possível obter ganhos não alcan-çáveis através de uma redução pautal unilateral. Isso seriavisível, na perspectiva do país B, na Figura 4.16 (compa-rando a sua situação nos pontos a e e) e seria ainda maispatente na Figura 4.15 se a curva da procura recíprocaQB fosse desenhada de forma a cruzar a curva da procurarecíproca QA no ponto f: a deterioração nos termos detroca de B decorrente da passagem de e para f é com-pensada por benefícios não alcançáveis através de uma redu-ção pautal unilateral.

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Por outro lado, mesmo que B seja um “país gran-de”, apresentando em face de A uma curva da procurarecíproca infinitamente elástica, ainda pode A obter daunião aduaneira com B um ganho nos termos de troca, jáque a eliminação, em relação a si, dos direitos aduaneirosde B fará com que a curva da procura recíproca deste sealtere. Na Figura 4.17 isso é representado por uma pas-sagem de QB para QB proporcionando um aumento dorendimento real traduzido na passagem do ponto a para oponto e.

Figura 4.17

Uma vez que o direito aduaneiro de B é suportadopelos exportadores para o seu mercado e não pelos seusconsumidores, B não tem interesse em removê-lo unilate-ralmente. Se não houver alterações na posição de C, oponto e representa a melhor situação possível para A e Be só é alcançável através da formação de uma união adua-

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neira. Se B exigir uma compensação para a formar, o paísA poderá dá-la.

Os autores fazem uma advertência quanto à inclusãodos efeitos nos termos de troca na análise da formação deuniões aduaneiras: de facto, embora – como acontece naFigura 4.15 – os termos de troca possam ser idênticos noponto de partida (a) e no ponto de chegada (e), pode bemacontecer que entre uma e outra situação as coisas se pas-sem em termos diferentes: se A tivesse começado porsuprimir unilateralmente os seus direitos passaria do pontoa para o ponto m. Se, seguidamente, B eliminasse tam-bém os seus direitos aduaneiros, os ganhos nos termos detroca de A – passando de m para e – permitiriam com-pensar a perda inicial335.

A conclusão é a de que, mesmo do estrito ponto devista económico, uma redução pautal unilateral não temde ser preferível à formação de uma união aduaneira. A afir-mação do contrário depende de uma sobrevalorização dosefeitos de redução de custos decorrentes da diminuição daprotecção aduaneira de um país e de uma subvalorizaçãodo acesso aos mercados do país parceiro, permitido pelaredução pautal deste.

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335 Em nota, P. WONNACOTT/R. WONNACOTT (1981), p. 712,nota 18, apontam uma consequência da consideração deste efeito demelhoria de termos de troca de um país, por supressão dos direitosaduaneiros do seu parceiro: a possibilidade de existência de um desvio decomércio eficiente. A situação que descrevem é a seguinte: o país A for-ma uma união aduaneira com o país B, o mais eficiente produtor deum certo bem, com quem, apesar disso, não comerciava antes daunião – devido à pauta aduaneira de B ser proibitiva em relação àssuas exportações. Neste caso – “de barter trade” – torna-se evidenteque se pode descartar “another long-held belief – that when countryA diverts trade from outsider C to partner B, it necessarily incurs aterms-of-trade loss because it is no longer buying from the cheapestsource”.

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B) EL-AGRAA

Embora a análise de Paul e Ronald Wonnacott tenhavindo a suscitar crescentes ecos, foi alvo de uma severacrítica por parte de EL-AGRAA (l984), pp. 97-106. Aí seargumenta que a abordagem daqueles autores incorre emerros fundamentais, não retrata a situação que era supostocriticar e, quando generalizada, permite extrair a conclu-são inversa da visada, acabando por confirmar a superiori-dade de uma redução pautal unilateral sobre a constitui-ção de uma união aduaneira, ao menos perante termos detroca constantes e ausência de economias de escala.

O primeiro ponto fraco da análise daqueles autoresestaria logo na transcrição da análise de Cooper e Massellatravés do recurso às curvas de procura recíproca. El-Agraasublinha que enquanto estes consideravam direitos adua-neiros em relação a todas as fontes de exportações, na des-crição de P. e R. Wonnacott os únicos direitos aduaneirosconsiderados seriam em relação a C (p. 101)336. Mais graveainda: ao invés de, como na teoria padrão, se considera-rem os direitos aduaneiros dos países que formam a união eque impedem o comércio com C (no caso de criação decomércio337), o que as curvas da procura recíproca alega-________________________

336 O que se fica a dever à figuração de uma única curva deprocura recíproca de A e de uma única curva de procura recíprocade B antes da constituição da união aduaneira entre ambos. Na sua“generalização” da análise dos Wonnacott, El-Agraa considera duascurvas de oferta para cada um dos países depois da formação da união:uma para o comércio mútuo, outra para o comércio com C, comose refere na p. 103.

El-Agraa explica a omissão de uma segunda curva de procurarecíproca considerando que os direitos aduaneiros aplicados (não--discriminatoriamente) por A e B impediam inicialmente o comérciomútuo.

337 É certo que o que inicialmente impede as exportações de Cpara A pode não ser o montante desses direitos: C pode não pro-

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damente representativas do quadro da teoria tradicionalrevelam são os direitos aduaneiros de C face a eles (p. 105).

Antes de abordar estas trocas vamos deter-nos na crí-tica à existência de um pressuposto desnecessário na aná-lise dos Wonnacott: o da natureza proibitiva da pautaexterior comum338. El-Agraa procura demonstrar que, apartir de direitos aduaneiros não discriminatórios em A eB antes da união (e da maior eficiência de C) se conse-gue obter o mesmo resultado.

duzir o bem; ou pode produzi-lo menos eficientemente do que osprodutores de A/B; ou pode, até, ser mais eficiente do que os pro-dutores de A/B mas não ser exportador, porque canaliza toda a pro-dução para o mercado interno, onde obtém um preço superior aode exportação, graças ao seu próprio direito aduaneiro; ou (como nocaso do “desvio de comércio eficiente” figurado pelos autores quecritica), porque os direitos aduaneiros de C são proibitivos. O casodos direitos proibitivos em A/B é, porém, o tradicional e o que inte-ressa analisar.

338 P. e R. WONNACOTT (1981), p. 707. Segundo EL-AGRAA

(1984), p. 101, este pressuposto tornava-se necessário por os autorespartirem de direitos aduaneiros só aplicáveis a C seria incompatívelcom as regras do GATT. Ora, o que estas exigem, como diz, é que“the CET must not exceed the (weighted) average of the pre-CUtariff” (p. 101) – e isso não exige uma verificação produto a pro-duto, pelo que uma macro-conformidade com o princípio não impedeum micro-desvio dele.

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Figura. 4.18

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Na Figura 4.l8, OAt, OA e OAu são, respectivamente,as curvas de procura recíproca de A na situação inicial,em comércio livre e, após a união, face a C. OBt, OB eOBu são as curvas de procura recíproca de B na situaçãoinicial, em comércio livre e após a união. Oc é a curvada procura recíproca de C tal como figurada pelosWonnacott na representação da tese da superioridade deuma redução pautal unilateral sobre uma união aduaneira.

Uma vez que, na situação inicial, A e B não comer-ciavam entre si (a aplicação não discriminatória das suaspautas só lhes consentiria trocas com C, o mais eficienteprodutor), a formação de uma pauta exterior comum deveimplicar para um (digamos, para A) a diminuição do níveldos direitos aplicados339. Se assim for, o comércio desse paíscom C “must continue”340. Por outro lado, o comércioentre A e B é agora possível. Assim:

– para A, o comércio com B é atractivo: sem distor-ções aduaneiras, o ponto de equilíbrio seria e, com os ter-mos de troca dados pela linha que ligasse O a e341;

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339 O que não é forçoso mesmo se se atendesse a uma aplica-ção “desagregada” – posição pautal a posição pautal – da regra doartigo XXIV do GATT: bastaria que nos bens relevantes os direitosde ambos fossem iguais.

340 EL-AGRAA (1984), p. 102. Mesmo com a diminuição do di-reito face ao mais eficiente produtor, esse comércio podia cessar: bas-tava que a margem constituída com o desaparecimento do direitoalfandegário face ao país parceiro fosse suficiente para operar um desviode comércio.

341 A existência de duas curvas de procura recíproca para cadapaís, necessária embora quando, por alguma razão (diferentes custos detransporte, diferentes direitos aduaneiros ou diferentes preços dosmesmos bens consoante a origem, ....), as condições de troca do(mesmo) bem exportado e do (mesmo) bem inportado são diferentes,complica a análise se, por qualquer motivo (insuficiência de umabastecedor, quotas, ...), tiverem de ser consideradas aquisições a duasdiferentes fontes. É que cada curva de oferta mede as disponibili-

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– para B, porém, o comércio com A numa uniãoaduaneira não é minimamente vantajoso: o vector Oedá-lhe termos de troca substancialmente piores do que ovector OOC, sem que aumento de protecção face a ter-ceiros países (decorrente de uma pauta exterior médiaresultante da união aduaneira com A, país de direitos adua-neiros mais elevados) se traduza em mais do que a dimi-nuição do comércio com C (de i para 1).

dades de troca para um par de bens (ou cabazes de bens) aos suces-sivos termos de troca. Duas curvas de procura recíproca do mesmopaís representam duas quantidades diferentes de oferta para cadatermo de troca, em função de diferentes condições de oferta do bemexportável ou do bem importável. Quando não seja possível optarpor, apenas, uma delas, há que deduzir à maior oferta o montanteabsorvido nas trocas com outros. Se isso ocorresse ao longo domesmo vector (vg. se as curvas de oferta de A e B se cruzassemsobre a mesma linha de ligação à origem em que se cruzam as cur-vas de oferta de A e C) o volume total de troca continuaria a serdado pelo ponto de intersecção mais distante da origem (partindo doprincípio de que nas curvas de oferta estão representadas as disponi-bilidades globais de comércio, formuladas alternativamente para cadapotencial parceiro – razão pela qual se determinam pontos alternati-vos de consumo). A opção seria considerar curvas de oferta para ocomércio real com cada um dos outros países. Nessa altura só a jun-ção daria origem à curva da disponibilidade global de comércio, casoem que em vez de termos duas curvas – uma para o comércio de Acom B, outra, alternativa, para o comércio de A com C – teríamosde ter três: uma para o comércio de A com B, outra para o comér-cio de A com C e outra para o comércio de A com o estrangeiro,ou seja, B+C.

Se, por outro lado, as razões de troca fossem diferentes, pareceque o ponto mais afastado da origem (correspondente à completa espe-cialização no comércio com o mais favorável dos interlocutores comer-ciais) seria inalcançável. Uma forma de o representar [que encontra-remos, aliás, em Nicolaides (1987)] seria traçar uma paralela a essarazão de preços mais favorável a partir do ponto de comércio com ooutro interlocutor comercial.

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Nestas condições, não é do interesse de B fazer umaunião aduaneira com A.

Supondo que era B o país que, inicialmente, dispu-nha de direitos aduaneiros mais elevados (Figura 4.19, quemantém as convenções da Figura 4.18), a conclusão é idên-tica: com a diminuição de direitos, A está interessado emcomerciar exclusivamente342 com B, obtendo uma razãode troca de Oe – preferível à que poderia obter no comér-cio com C (OOC). O problema é que B não tem inte-resse em estabelecer a união: a redução dos seus direitosaduaneiros face a C, decorrente da convergência pautalresultante da formação daquela leva-o de l para m – oque é uma vantagem, mas uma vantagem inteiramenteresultante da diminuição dos seus direitos. E, generalizando--a, poderia alcançar o ponto n, preferível a qualquer dosdois. Como a razão de troca com C (OOC) lhe é maisfavorável do que a que se estabeleceria na união (Oe), nãohá razões para que esta se forme: a desvantagem da dete-rioração dos termos de troca excede a vantagem emergenteda diminuição de direitos343.

Mesmo que o país interessado na constituição da união(A) lograsse convencer o outro (B) a participar nela (emvez de melhorar a sua situação através de uma redução

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342 Apesar da formulação algo equívoca em relação ao primeiromembro da união (referindo a continuidade do seu comércio comC, como se viu no texto), a tentação de comerciar com o melhorinterlocutor é, obviamente, totalitária.

343 A razão de, em ambas as situações, ser vantajosa para A aconstituição da união e de esta não ter qualquer interesse para B,tem a ver com a razão de troca relevante no comércio com C sesituar, em qualquer caso, abaixo dos pontos de intersecção das cur-vas de procura recíproca dos parceiros da união. Ficasse esta acimadaqueles, no quadro que referimos, e já se inverteriam as posições: Aperderia sempre e B beneficiaria sempre com a formação da união.

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pautal unilateral), e partindo do anterior pressuposto de queambos os países comerciavam com C, o resultado final nãoseria o ideal para A: o ponto de intersecção das curvas deoferta de comércio livre de A e B só seria alcançável seB o adoptasse como único ponto de comércio (tal comoA). Porém, porque a razão de troca no comércio com Clhe é mais favorável, B trocaria com C – e isso obrigariaA, ipso facto, a fazer o mesmo.

Em qualquer caso, seria possível a cada país obteralgum ganho em relação à situação inicial através de umadiminuição pautal unilateral. E, face ao traçado da linhaque representa os termos de troca com C, A teria menosa ganhar com a constituição da união do que B a perdercom ela. O argumento de Cooper/Massell é assim expostode forma mais genérica do que logrado pelos Wonnacott,graças à consideração de direitos aduaneiros em todos ospaíses e à dispensa de uma pauta aduaneira proibitiva.

A acusação essencial aos Wonnacott ocorre a jusantedeste aperfeiçoamento. Referindo-se aos diagramas utiliza-

Figura 4.19

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dos pelos autores (Figuras 4.20 e 4.21) para, incluindo osdireitos aduaneiros de C e os custos de transporte no comér-cio com este, mostrarem a possibilidade de uma união adua-neira poder ser mais vantajosa do que uma redução pautalunilateral – mesmo quando dão origem a desvio de comer-cio, El-Agraa desfia as suas críticas [posteriormente muitoamenizadas: EL-AGRAA (1994), pp. 95-100]:

a) no caso da Figura 4.20, Paul e Ronald Wonnacottconsideram duas curvas de procura recíproca de C(OC1 e OC2) consoante este aparece, respectiva-mente, como exportador de x a troco de impor-tações de y (de A ou B) ou como exportador dey a

b) troco de importações de x (de A ou B). Man-têm-se as demais convenções. Uma vez que os ter-mos de troca entre A e B, determinados pelas suas

Figura 4.20

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curvas de oferta, se situam entre uma e outra, Cnão terá intervenção no comércio e a passagem doponto f para o ponto e assinala uma melhoria nasituação de ambos os países.

EL-AGRAA (l984), pp. 104-105, faz notar que o pontof está, porém, localizado de forma a permitir essa con-clusão: a consideração das curvas de indiferença ao comér-cio de A e B, que são tangentes em e, poderia compre-ender f entre a concavidade de uma delas e a convexidadede uma das curvas iniciais de procura recíproca de A e B,caso em que a passagem desse ponto para o ponto e envol-veria perda para um dos países. Só na circustância de oponto f se situar no espaço compreendido entre as conve-xidades daquelas curvas de indiferença haveria uma duplamelhoria na formação da união344.

b) mais importante é o facto de esta representação –criação de comércio – ser omissa quanto aos direitos adua-neiros de A e B em relação a C, quando a literaturasobre uniões aduaneiras faz depender a criação de comér-cio de um direito aduaneiro inicial que impede o comér-cio com C. Como a ilustração de Paul e Ronald Wonna-cott se baseia no direito aduaneiro cobrado por Cnas importações provenientes de A e de B, a sua análisenão é relevante para a literatura que é suposto criticar.“A moment’s reflection should indicate the reason why theliterature has not devoted any space to this particularillustration; it is too obvious to warrant an elaborateanalysis.” (1984), p. 105.

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344 Veja-se supra a nota 303 e o diagrama aí incluído: se oponto f se situasse dentro de uma das zonas sombreadas um dos paí-ses perderia.

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c) no caso da Figura 4.21 (que mantém as anterioresconvenções), Paul e Ronald Wonnacott admitem que ostermos de troca que se estabelecem no comércio entre Ae B são condicionados por uma das curvas de procurarecíproca de C: sendo A um grande fornecedor de x, setivesse de comerciar com B, apenas, o seu excesso de ofertaobrigá-lo-ia a aceitar termos de troca inferiores aos queresultam do comércio com C. Isso leva-o a negociar comC (h) depois de esgotadas as trocas com B (g) – quetem de se conformar a aceitar os termos de troca de A,com C sob pena de perder mais comércio a favor deste.O país A ganha com formação da união porque o pontoe lhe é mais favorável do que o ponto c, que poderiaatingir através de uma redução pautal unilateral. O país Bpoderia, através desta, excluir C do comércio com A (pas-sando do ponto g para o ponto h) e melhorando a suasituação. Por sua vez, a passagem de h para e tanto pode

Figura 4.21

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melhorar como piorar a sua situação, dependendo da elas-ticidade da curva de procura recíproca de A face ao seuparceiro da união (OA). Assim, mesmo com o desvio decomércio (de gh) uma união aduaneira poderia revelar-sesuperior a uma redução pautal unilateral.

EL-AGRAA (l984), p. 105, admira-se por A, sendo umgrande fornecedor, trocar com C aos termos de troca fixa-dos por este – sugerindo que seria preferível considerarOC2 a curva de procura recíproca de A e OAt a curva deprocura recíproca de C), caso em que tanto B como Cestariam a comerciar com A (e a Figura 4.21 seria “amirror image” da Figura 4.18).

Outra opção seria incluir uma curva de procura recí-proca de C com uma configuração diferente da resultantede uma perfeita elasticidade, caso em que a pauta exteriorcomum poderia fazê-la deslocar-se:

1) no sentido contrário dos ponteiros do relógio, cru-zando OB em e, a noroeste de e ou a sueste de e – oque não pode ser a priori determinado, mas interceptandoOAt a nordeste do anterior ponto de comércio entre A eC (h), (desde que a curva de procura recíproca inicial deB fosse de elasticidade normal), o que não revelaria desviode comércio, mas, pelo contrário, criação externa de comércio345;

2) no sentido dos ponteiros do relógio, com a inter-secção de OB em qualquer das anteriores coordenadas ecom a intersecção de OA

t a sueste do ponto inicial h,dando origem a supressão externa de comércio.

Em qualquer caso, conclui, “Wonnacott and Wonna-cott’s analysis of trade diversion is also wrong and bearsno relationship to the existing literature it purports tocriticize”. (l984), p. 105.

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345 El-Agraa desconsidera a particular definição de desvio decomércio proposta por PAUL e RONALD WONNACOTT (1981), p. 709.

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C) NICOLAIDES

Aparentemente desconhecedor das críticas de El-Agraa,NICOLAIDES (1987), veio sublinhar o anacronismo de ospressupostos da análise de Paul e Ronald Wonnacottexcluirem o terceiro país do comércio com A e B: é que,nesses termos, a existência de uma pauta exterior comumseria dispensável, com a consequência de se equiparar aunião aduaneira por eles configurada a uma eliminaçãopautal não descriminatória.

Nicolaides recapitula os argumentos de Paul e RonaldWonnacott:

– Ao impor direitos sobre as importações provenien-tes de A e B, C cria um ‘’ângulo’’ no comércio com am-bos, na medida em que estes exportam bens diferentes;

– Na medida em que a razão de troca do comércioentre A e B se situe no interior desse ângulo na situação

Figura 4.22

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pré-união346, a formação desta representa um benefício paraambos os países se os termos de troca se não alterarem.Neste caso, a formação da união é preferível, para qual-quer dos seus membros, à redução pautal unilateral;

– Na medida em que a razão de troca do comércioentre A e B se situe no exterior desse ângulo na situaçãopré-união347, um dos países ganha; o outro pode aindaganhar com ela, mas obterá (sempre) melhores resultadosatravés de uma redução pautal unilateral;

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346 O que equivale a uma situação em que não há comérciode A ou de B com C e em que, portanto, a formação da uniãoaduaneira não implica qualquer desvio de comércio. Cfr. supra Fi-gura 4.15.

347 Neste caso haverá comércio com C e, portanto, desvio decomércio induzido pela união.

Figura 4.23

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Confrontando as Figuras 4.22 e 4.23 torna-se evidenteque o ganho resultante do comércio entre A e B, em rela-ção comércio que efectuem com C – face ao qual nãotêm possibilidades de alterar os termos de troca – se ficaa dever ao facto de A e B terem mais vantagens nas suastrocas recíprocas do que nas que estabelecessem com C.

Nicolaides conclui que, uma vez que a natureza dascoisas leva A e B a comerciarem entre si (com exclusãode C), se torna possível a cada um deles alterar os seustermos de troca recíprocos estabelecendo um direito adua-neiro óptimo. A estratégia óptima para A, por exemplo,pode ser uma remoção de direitos em relação a C e a suadiminuição ou aumento em relação a B. Na Figura 4.24,o ponto de equilíbrio inicial t é inferior ao que A conse-guiria através de uma redução pautal unilateral f1, sendoeste, por sua vez, inferior ao alcançável com uma remo-ção recíproca de direitos entre A e B (f). Se A reduzisseligeiramente os seus direitos sobre as importações prove-nientes de B (passando de t para t1 – sobre a correspon-dente curva de procura recíproca com B, não represen-tada) e liberalizasse completamente o seu comércio comC (passando para o ponto d ao longo de um vector para-lelo a OW1) ficaria numa situação ainda melhor: nem aredução pautal unilateral nem a formação de uma uniãoaduaneira seriam políticas óptimas, neste caso.

Referindo-se à formulação de Berglas das condiçõesde superioridade de uma redução pautal unilateral sobreuma união aduaneira (A3: os fluxos comerciais antes e depoisda união mantêm o mesmo trajecto e sentido; A2: todosos três países participam no comércio internacional),Nicolaides refere que se a intersecção das curvas de ofertade A e B se fizessse fora do ângulo constituído pelos ter-mos de troca de C, a remoção dos direitos de A face aeste e a manutenção de direitos sobre as importações de

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B preencheria ambas as condições, e permaneceria comoa situação óptima, pondo em causa a tese que defende asuperioridade da redução pautal unilateral sobre outras polí-ticas comerciais.

Daqui retirava o autor uma outra importante conclu-são: a de que a prossecução independente de uma políticacomercial óptima pode inviabilizar a formação subsequentede uma união aduaneira e, consequentemente, a condiçãoA4, de Berglas, pode corresponder à exigência de um com-portamento sub-óptimo inicial. De facto:

a) Se as curvas de procura recíproca de comérciolivre de A e B (A* e B* nas Figuras 4.22 a 4.24) se cruzamdentro do ângulo formado pelas suas respectivas razões detroca com C, este devia ser excluído do comércio entreA e B desde que estes explorassem as oportunidades decomércio à sua disposição; se as curvas de procura recí-

Figura 4.24

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proca de A e B na presença de direitos aduaneiros (A1 eB1 se cruzam, também, dentro do ângulo (como na Figura4.22) uma redução pautal unilateral não permite melhorara situação de nenhum deles;

b) Se as curvas de oferta de A e B na presença dedireitos aduaneiros (A1 e B1), se cruzam fora do ânguloformado pelas suas respectivas razões de troca com C, ostrês países comerciam entre si – mas esta situação, que ser-viu a Paul e Ronald Wonnacott para demonstrar a pos-sível superioridade de uma união aduaneira sobre umaredução pautal unilateral não se pode manter. Recorrendoà Figura 4.23 pode ver-se que o país B poderia, medianteuma alteração na sua pauta aduaneira, excluir C do comér-cio, melhorando a sua situação e esquivando-se a qualquerretaliação: bastaria, para tanto, que alterasse os seus impostosaduaneiros de forma a que a sua curva de procura recí-proca cruzasse W1 em t1

em vez de em t2. Uma vez que,nesse caso, C deixaria de comerciar com B, quaisquermedidas retaliatórias daquele são ineficazes.

Desta possibilidade de ajustamento retira NICOLAIDES

(l987), p. 493, a conclusão de que a opção por uma redu-ção pautal unilateral exclui a opção por uma união adua-neira, e vice-versa. Vale a pena traduzir o parágrafo emque desenvolve esta lógica:

É possível que o comércio em f seja preferidoao que ocorre em t1 tanto por A como por B. O paísA tem agora, duas opções de política. Ou negoceiauma redução pautal recíproca com B de forma acomerciar em f ou pode deslocar-se unilateralmentepara f1. O ponto f só é alcançável desde que B con-sinta. O ponto f1, pelo contrário, é logo atingível.Se se partir do princípio de que os países aproveitamtodas as possibilidades de ganho que estão ao alcanceda sua actuação unilateral, então o país A optará por

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uma redução pautal unilateral e deslocar-se-á para f1.O país B, porém, ajustará de novo a sua pauta deforma a deslocar-se para f ou para algures entre f ef1 sobre OA. Em qualquer caso, B nunca concordarácom a formação de uma [união aduaneira] ou com acompleta eliminação dos direitos aduaneiros.

Para Nicolaides, o âmago do problema deixa, assim,de ser a formação, ou não, de uma união aduaneira, parapassar a ser a opção entre uma redução pautal unilateral ea formação de uma união aduaneira, sabendo-se que qual-quer das opções inviabiliza o recurso posterior à outra.Tanto o comportamento ‘’míope’’ como o comportamento“estratégico” podem, portanto, levar à inviabilização de umaunião aduaneira, podendo ocorrer que t1 seja o ponto deequilíbrio de uma situação de dilema do prisioneiro em queambos perdem por não cooperar.

O autor resume assim os seus argumentos contra atese da “reciprocidade” dos Wonnacott:

– a união aduaneira considerada por estes é idênticaa um equilíbrio de comércio livre de modo que a exis-tência de uma pauta aduaneira é desnecessária – e seriacompletamente ínútil;

– nem uma união aduaneira nem uma redução pautalnão-discriminatória são preferíveis, para um país pequeno,à opção por uma pauta aduaneira discriminatória348;

– se cada país explorar as oportunidades de ganho aoseu alcance não se formará, em princípio, nenhum agru-pamento regional; e o mesmo pode acontecer se cada paísse comportar estrategicamente.

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348 Esta tese é também defendida por ETHIER/HORN (1984),maxime, p. 212.

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Conclusões

“Professor Hoffmann’s “integration effect” [“theeffect on investment when enterpreneurs found integra-tion within sight”] might suit Germany but in smallcountries efficient firms which had not sufficiently largecapital resources to expand rapidly could not grasp thenew opportunities quickly enough to become large-scalefirms.”

Dr. Rothschild, “Discussion of Pro-fessor Triffin’s Paper” (Mondayafternoon, September 16h, 1957,Lisbon) in E.A.G. Robinson (1960),p. 422. [A transcrição interca-lada entre parêntesis é do ProfessorHoffmann, na mesma sessão – E.A.G.Robinson (1960), p. 410].

“Beware of the Hoffman effect!”

Angela Carter, The Infernal DesireMachines of Doctor Hoffman, RupertHart-Davis, Ltd., London, 1972,(p. 30 da edição portuguesa, DomQuixote, Lisboa, 1985)

1. Sob a designação de teoria das uniões aduaneirasdesenvolveu-se essencialmente uma teoria das zonas decomércio livre (Michaely) até porque a condição estabe-lecida por Viner para separar os efeitos de integração dosefeitos de alteração pautal decorrentes da convergência parauma pauta exterior comum (manutenção do mesmo nível

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médio de direitos antes e depois da formação da uniãoaduaneira) não permite isolar ambos os efeitos.

2. Para isso é necessário que se preencha uma dasseguintes condições:

a) ambos os países apliquem o mesmo direito adua-neiro ao bem em causa e tal direito não sofraalterações na pauta aduaneira comum;

b) a pauta exterior comum seja ineficaz por aoferta da união exceder a sua procura.

Se assim não for, parte dos efeitos, em pelo menosuma das economias, será imputável à oscilação pautal e nãoao movimento de integração qua tale.

3. A separação dos efeitos de integração dos efeitosde alteração pautal não implica que estes não possam sertambém analisados face ao quadro vineriano: e isto tantoquando surgem associados aos primeiros, como quando sãoautónomos, como, ainda, quando surgem associados a movi-mentos inversos, de “desintegração” (política – secessão –ou económica – revogação da cláusula da nação maisfavorecida; exclusão de um sistema de preferências; aplica-ção de restrições quantitativas, ou sobretaxas à importação– diferenciadas ou não –, etc).

4. A representação do modelo vineriano num dia-grama de equilíbrio geral com fronteiras de possibilidadesde produção rectas confirma a intuição vineriana da veri-ficação alternativa (não complementar) de efeitos de cria-ção de comércio ou desvio de comércio.

A mesma representação com fronteiras de possibili-dade de produção côncavas em relação à origem e direi-tos proibitivos, só dá origem a criação de comércio.

Desde que os direitos aduaneiros não sejam proibi-tivos (excepto no caso da improvável existência de uma

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solução de canto – com completa especialização em umdos bens apesar da taxa marginal de transformação cres-cente – em que só haveria desvio de comércio) os doisefeitos de produção verificam-se simultaneamente.

5. (Provavelmente) deveriam imputar-se a James MEADE

(1951) os dois efeitos vinerianos de 1950 (a criação e odesvio de comércio). Em (1950) VINER tinha-se referido aquatro efeitos e o desvio de comércio tinha sido claramenteformulado por ele em (1924) e em (1931), sem que taltivesse suscitado interesse de maior.

6. Quer o original vineriano (1950) quer a sua cre-dencial para a fama [MEADE (1951)] permitem basearesses dois efeitos em três critérios: um económico (pas-sagem de um produtor menos eficiente para um mais efi-ciente [criação] e vice-versa [desvio], e dois literais (apare-cimento de comércio onde antes o não havia [criação] ealteração na origem do fluxo comercial [desvio]; ou trans-ferência de produção interna para o país parceiro [criação]e substituição de um produtor de um país terceiro porum produtor do país parceiro [desvio]).

7. A “terceira possibilidade” considerada por Vinersó pode ser reconduzida à criação de comércio desde quese adopte o segundo critério referido (1º entendimentoliteral): a remoção de uma medida anti-sumptuária cria umnovo fluxo comercial. É que justamente porque se tratade comércio novo, a comparação de custos de produçãoem dois momentos distintos (critério económico) é impos-sível, e não há transferência de produção interna para o paísparceiro (2º entendimento literal ou “geográfico”) porquena hipótese vineriana não havia produção interna.

8. O quadro vineriano original completava-se com asupressão de comércio – uma noção que, com a descrição

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que dela deu (associada a economias de escala), correspon-deria a criação de comércio se se adoptasse coerentementeo critério económico.

9. Sendo embora mais dificilmente mensurável, só osentido económico dos efeitos de criação e desvio de comér-cio se presta a uma utilização fora do estrito âmbito emque foram primeiramente utilizados. Tal sentido – altera-ções no local de produção avaliáveis em termos de eficiência –é, porém, o que mais distante se encontra da literalidadedas expressões, que apontam antes para alterações na esferada circulação, avaliáveis em termos quantitativos. Apesar disso,foi o que se tornou corrente na primeira fase de desen-volvimento da teoria das uniões aduaneiras.

10. Além dos conceitos de criação de comércio (pas-sagem de um produtor menos eficiente para um produtormais eficiente) e de desvio de comércio (passagem de umprodutor mais eficiente para um menos eficiente) deveintroduzir-se um outro que os completa no sentido eco-nómico: comutação de comércio (substituição de produ-tores sem alteração de eficiência).

11. A questão dos ganhos ou perdas de eficiência é,porém, dificilmente explicitável para além do que resultade uma formulação ordinalista: entre duas actividades pro-dutivas de um mesmo bem é sempre possível formular umde dois juízos (ou uma é mais eficiente do que a outra,ou são ambas igualmente eficientes). Com custos crescen-tes em ambas, porém, haverá “sobreposição” de custos (istoé: será eventualmente possível produzir x ao mesmo custotanto em A, como em B, como em C) se bem que, even-tualmente, não nas mesmas quantidades. Na medida emque a produção num ponto mais baixo ou mais elevadoda curva de custos marginais tenha a ver com as carac-

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terísticas da economia em que se sedia a produção (quan-tidade de procura interna, nível de protecção aduaneira,estrutura do mercado interno, etc.) a determinação de umpadrão comum de eficiência que permita o estabelecimentode comparações relevantes suscita grandes dificuldades.

12. Sem o mesmo sentido económico (alteração dalocalização da produção com alteração da eficiência rela-tiva), o quadro vineriano podia completar-se com as duasnoções opostas de supressão de comércio e de expansão decomércio que, no entanto, só deviam cobrir situações nãoabrangidas pelos anteriores conceitos de criação, desvio ecomutação de comércio. Assim, só haveria supressão decomércio se a produção suprimida num ponto não fossecompensada por aumento de produção num outro (sehouvesse diminuição líquida de produção). Só haveriaexpansão de comércio se houvesse um aumento líquidode produção – e só nessa medida. Trata-se, afinal, deequivalentes dos efeitos de consumo e menos adequadosdo que estes, por a expansão de “comércio” poder ocor-rer, admissivelmente, na produção interna para o mercadointerno. A referência ao “comércio” é ainda tributária daterminologia vineriana.

13. A “terceira possibilidade” considerada por Vinercontemplava perfeitamente aquilo que foi posteriormenteintegrado na análise sob a designação de “efeitos de con-sumo”. A única diferença entre essa “terceira possibilidade”e estes efeitos residia em a primeira depender da préviaexistência de um direito aduaneiro proibitivo (que, aliás,se podia manter, dado que o novo consumo era abaste-cido com produção do país parceiro). Ora, para haver efei-tos de consumo (quer associados a criação, quer a desviode comércio), o anterior direito aduaneiro não discrimi-natório tem sempre de ser, num primeiro momento e emrelação a tal novo consumo, proibitivo.

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14. A supressão de comércio tanto pode resultar decircunstâncias do lado da procura – um efeito de consu-mo “negativo” provocado por aumento da protecção pautalou por relações de complementaridade ou substituibilidadecom outos bens –, como de circunstâncias do lado da ofer-ta, provocadas por aumento ou diminuição da protecçãopautal (directa ou indirecta, isto é: com incidência no pró-prio bem ou nos seus inputs), ou por alteração dos preçosrelativos internos, mesmo na ausência de oscilação pautal.Onde haja alterações na produção, os conceitos de cria-ção, desvio e comutação de comércio devem ser utiliza-dos para esclarecer o sentido económico da supressão (lite-ral) de comércio.

15. Porque implicitamente centrados no home country(o país A), a criação e o desvio de comércio, tal como sãotradicionalmente recortados, são efeitos A – e são efeitos pas-sivos: na criação de comércio são os produtores de A queperdem o seu mercado a favor dos produtores de B; nodesvio de comércio são os produtores de B que tomam olugar dos de C no mercado de A.

16. A cada efeito A (de criação, como de desvio)corresponde um efeito B – um efeito activo: tal como tradi-cionalmente recortados, à criação de comércio corresponde(no lado escuro) um aumento de exportações de B (con-seguido à custa dos produtores de A) e ao desvio de comér-cio corresponde (no mesmo lado escuro) um aumento deexportações de B (conseguido à custa dos exportadoresde C).

Ao desvio de comércio, tal como tradicionalmenterecortado, corresponde, ainda, um efeito C (inexistentena criação de comércio) – também um efeito passivo, namedida em que os produtores de C são afastados do mer-cado de A pela preferência por este conferida aos produ-tores de B.

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17. A habitual não explicitação do quadro completodos efeitos em todas as economias envolvidas – traduzidana utilização de uma curva de oferta agregada dos paísesmembros da união aduaneira no home country (A) – podeprender-se com a dificuldade de compatibilizar a existênciade preços uniformes no interior de uma união aduaneira com aapetência exportadora do país parceiro (B) quer nos casosde criação, quer nos casos de desvio de comércio, iden-tificados a partir de A (dificuldade que não existe na aná-lise das zonas de comércio livre uma vez que os preçosinternos nos diferentes países envolvidos são aí, em prin-cípio, diversos).

18. De facto, basta considerar que a procura de B éinsuficiente para absorver a oferta de B ao preço resul-tante da união (que pode ser inferior ao valor resultanteda aplicação do direito aduaneiro da união ao preço inter-nacional se a oferta da união exceder a sua procura) parase explicar a “preferência” dos produtores de B pelas vendasno mercado de A, quando poderiam obter o mesmo preçono seu próprio mercado. Na medida em que só assim sepoderá justificar que em A se registe criação de comércioou desvio de comércio, então haveria que formular esterequisito como condição, podendo antecipar-se a priori o sen-tido dos fluxos comerciais: só haverá substituição da produçãointerna de A, ou das importações de C em A, por efeito daunião aduaneira, se a oferta de B (ou de B e dos outros mem-bros da união), ao preço que se estabelece na união, for superiorà procura que lhe é dirigida no seu mercado (no mercado decada um dos membros da união potencialmente exporta-dores para A).

O que, aumentando a generalidade, se poderia formu-lar deste modo: os países que tenham, aos novos preçosda união, excesso de procura interna sobre a sua ofertanão se tornam exportadores para a união – ao contráriodo que pode ocorrer numa zona de comércio livre.

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19. Com uniões aduaneiras com vários membros,pode até acontecer que nos países mais eficientes na pro-dução de um certo bem dentro da união e em que severifique aumento da protecção, nesse bem, por força dapauta aduaneira comum, não haja lugar a exportação paraoutros países da área, simplesmente porque a sua procuraé tal que absorve todo o acréscimo de produção. Assim, opaís activo na criação de comércio numa união aduaneirapode não ser o que é a sede dos produtores mais eficien-tes dentro do espaço da união (nem o que é a sede dosseguintes, etc.) se as respectivas procuras internas absorveremo acréscimo de produção.

20. O mesmo se diga para o(s) paí(ses) activo(s) nodesvio de comércio numa união aduaneira: se o(s) maiseficiente(s) tiver(em) procura(s) interna(s) por satisfazer qual-quer aumento de produção induzido por um aumento deprotecção pode ser absorvido internamente, revertendo oaumento de exportações para produtores não tão eficien-tes mas ainda com vantagem (pautal) sobre os produtoresde fora da união.

21. Sem aumento de protecção por efeito de conver-gência pautal, não há razões para uma economia aumentara sua produção interna para fornecer o(s) pai(ses) parceiro(s)(substituindo os seus produtores internos ou os produtoresde fora da união) nem para transferir para o(s) pai(ses)parceiro(s) vendas que fizesse no seu mercado interno.O que é dizer que quer a criação de comércio, quer o desviode comércio (efeitos A) supõem numa união aduaneira desvio deexportações no país activo (efeito B).

22. A sugestão – imputada a Johnson – de incluiruma dimensão de consumo, ao lado da de produção(vineriana), no conceito de criação de comércio reforça as

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ambiguidades resultantes da pluralidade de critérios subja-centes. E, quando estendida ao desvio de comércio, é incoe-rente e errónea.

Tal sugestão pode louvar-se, porém, na recorrenteassociação (embora não por Viner) da “terceira possibi-lidade” vineriana a criação de comércio. De facto, se aexpansão de consumo resultante da ineficácia de um direitoproibitivo em relação ao país parceiro contava como cria-ção de comércio (destituído do seu sentido económico demelhoria na eficiência), nenhuma razão havia para não con-tar como criação de comércio a expansão do consumo resul-tante da substituição de produtos importados de terceirospaíses por produtos importados do país parceiro.

23. A justaposição de efeitos de consumo a efeitosde produção só pode ser feita – nos termos em que o foi– enquanto nos mantenhamos centrados no home country(o país A). Porém, podendo desconhecer os efeitos deconsumo em C, não parece lógico desconhecê-los em B,quando, sendo este activo na criação e no desvio de comér-cio, se admite que produza a custos crescentes. É que,então, em ambos os casos pode (deve) haver subida dospreços internos em B e, consequentemente, retracção noconsumo de B associada à criação de comércio diagnos-ticada a partir de A.

24. A generalidade das propostas de alteração ou subs-tituição da taxonomia “vineriana” (reduzida à criação e aodesvio de comércio) decorriam de conveniências ou neces-sidades de medição: o cômputo das variações nos volumesde comércio dos participantes e não-participantes nummovimento de integração (sentido literal dos conceitos) nãoapresenta as dificuldades da avaliação dos seus ganhos ouperdas de eficiência.

Outras propostas pretenderam complementar os efei-tos de produção com outros efeitos: a de Meade com efei-

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tos de consumo e com efeitos de segundo e terceiro grau(considerando três planos de produção de efeitos: o pri-mário ou imediato, o secundário ou das consequências doanterior e o terciário ou das intervenções de ajustamento);a de Lipsey com efeitos de substituição entre bens, efeitosde volume de comércio e efeitos nos termos de troca; e ade Collier com efeitos de termos de troca e efeitos deconsumo (estes, como os efeitos de produção, desdobra-dos em três diferentes tipos de substituição – que, aliás,deveriam tomar o lugar das referências ao desvio e cria-ção de comércio onde não houvesse custos constantes).

Outras propostas, ainda, prescindiram dos efeitos decriação e desvio de comércio – Humphrey/Ferguson (dis-tinguindo antes efeitos de bem-estar, de preço e de quan-tidade) – ou redefiniam-nos, alterando-lhe o significado –Dayal/Dayal (associando efeitos de criação de comércio aum efeito de rendimento e desvio de comércio a efeitode substituição).

25. A possibilidade de formular, a priori, raciocíniosbaseados num de três resultados possíveis (mudanças noabastecimento no sentido de maior, menor ou igual efi-ciência das suas fontes) quanto à produção, ainda para maisassociados a previsíveis efeitos de preços nos mercados dospaíses intervenientes (aumento ou manutenção dos preçosno país tornado exportador, com diminuição ou manu-tenção de consumo; diminuição ou manutenção dos pre-ços no país cujos fluxos de importações aumentaram outiveram início, com consequente aumento ou manutençãodo consumo) constitui um insubstituível instrumento deanálise. Como reconhecerem P. Wonnacott/Lutz (1989),p. 68, “The distinction between trade creation and tradediversion provides a shortcut, a way of coming to apreliminary conclusion without doing a complete study ofthe impact of a free trade agreement on real incomes”.

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26. Um tal instrumento de análise pode ser utilizadopara avaliar uma série de eventos bilaterais ou multilaterais,designadamente alterações nas pautas aduaneiras (subida oudescida de todos ou alguns direitos); alterações nas taxasde câmbio (apesar das dificuldades de avaliação da eficiên-cia relativa em contextos de câmbios flutuantes); alteraçõesnos sistemas fiscais ou em outras condicionantes dos cus-tos de produção; alterações nos custos de transporte; con-trabando; falsificação de origem; e processos de desinte-gração (no domínio da troca de bens).

27. Há, porém, uma diferença importante entre a aná-lise do aumento da protecção e a da sua diminuição: en-quanto que se esta for uniforme não origina desvios decomércio em sentido económico (o produtor mais eficientepoderá continuar a fornecer a economia que aumentou [ouviu aumentar], de forma idêntica para todas as outras, aacessibilidade ao seu mercado), o aumento de obstáculosao comércio com uma economia, posto que uniforme paratodos os produtores externos, pode provocar desvios decomércio em sentido económico (a favor dos produtoresinternos dessa economia).

O que é dizer que a diminuição de protecção podeser universal (no sentido de não discriminatória) mas o seuaumento não: haverá sempre produtores positivamente dis-criminados: os internos.

28. Embora a tese da superioridade de uma reduçãopautal unilateral sobre uma união aduaneira seja normal-mente imputada a COOPER e MASSELL (1965b), HUMPHREY

e Ferguson tinham-na claramente formulado antes (1960).

29. Uma das vias de reabilitação da teoria das uniõesaduaneiras face às críticas da tese da superioridade das redu-ções pautais unilaterais foi a utilização, como argumento,

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da análise dos efeitos B [que se pode encontrar em TRIFFIN

(1960) e que constitui o essencial do contributo de COO-PER/MASSELL (1965a) e, de certa forma, de JOHNSON (1965)].Grosso modo, tal corresponde a passar de consideraçõesmicroeconómicas (i.e: de eficiência na afectação de recur-sos) para considerações macroeconómicas (i.e: de plena uti-lização de recursos).

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(continua)

Victor CalveteFaculdade de Direito de Coimbra

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5. O Modelo Central da Escolha Pública

5.1. Sequência

Dispomos nesta altura dos elementos metodológicosbásicos da teoria da escolha pública, referidos no Capí-tulo I; dos seus pressupostos de teoria económica, traduzidosna critica à economia do bem-estar; e, por último dos ele-mentos políticos, no duplo sentido de incorporação das ins-tâncias políticas e de uma reflexão político-filosófica específica.

Resta-nos portanto encerrar esta primeira parte anali-sando o modelo que decorre destes pressupostos.

Num primeiro momento interessa-nos o modelo teó-rico, a reconstrução analítica do Estado e da sua origem emtermos de justificação económica em acordo com ospressupostos de partida. Dos postulados básicos definidos,ressaltam elementos que permitem a construção deste mo-delo teórico, feita com o objectivo explícito de formularuma hipótese puramente racional. Em momento nenhumesse modelo servirá para uma aplicação à realidade. Tudoo que ele permite é levar até ao fim a lógica da justificaçãofuncional da intervenção do Estado e nessa medida servircomo referência puramente teórica para as situações práticas.

Esse modelo poderá ser, em seguida, comparado coma realidade com o seguinte pressuposto: não é possível apre-

A TEORIA DA ESCOLHA PÚBLICA:Sentido, limites e implicações*

_________________________

* (continuação)

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sentar uma análise detalhada das causas que fazem o Estadointervir na economia, pode apenas detectar-se o efeito co-mum desses movimentos. Parece certo que o alargamentodessa relação provoca efeitos político-económicos. Há alte-rações ao nível da distribuição de rendimento, da concentra-ção e representatividade do poder político, da organização eprodução legislativa. Nenhum processo é inteiramente neu-tro. O que interessa é a percepção da relação entre essesfactos e a hipótese explicativa do comportamento econó-mico dos sujeitos no processo político, e é sobre essa relaçãoque nos pronunciaremos em termos teóricos.

5.2. O modelo teórico de comportamento da teoria daescolha pública

Foi objecto do primeiro capítulo a hipótese fundamen-tal de comportamento: em todas as esferas de acção os su-jeitos particulares comportam-se da mesma forma que usamno mercado. A consequência imediata deste postulado é queem todas as manifestações políticas os sujeitos pretendem emúltima análise o seu próprio benefício. Isto faz com que aestatização de qualquer área da economia não seja justifica-da, já que o resultado final não será o de resolver os proble-mas do mercado mas antes o seu agravamento. Da mesmaforma, o processo eleitoral é governado pelos interesses dosgovernantes em serem reeleitos e pela tendência dos eleito-res a reagirem ao estímulo material.

Por outro lado, sobretudo no quarto capítulo, abordá-mos um outro desenvolvimento da teoria, o que consiste nadescoberta das bases lógicas de definição da acção colectiva.Em simultâneo estas duas concepções permitem uma críticadas regras de escolha existentes.

Estas duas vertentes do problema fazem parte respecti-vamente das versões positiva e normativa da escolha pública.Em termos analíticos o problema positivo consiste no estudode uma situação concreta com vista a descobrir qual a sua

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relação com o ponto óptimo teórico que coincide com o ópti-mo de Pareto. A questão normativa, por seu turno, consisteem escolher um de entre os diversos óptimos possíveis o quesó é feito através do recurso a critérios que incorporem valores.

Ambas as concepções se aproximam, na medida emque conjuntamente permitem um desenho global da reali-dade. A análise positiva de certas situações tem necessaria-mente de enfrentar os problemas dos quais só uma soluçãoque incorpore critérios axiológicos como forma de escolhapermite sair 161. É nesse espírito de necessário paralelo quenos temos referido a ambas as perspectivas e que passamosa desenvolver o modelo básico que delas resulta.

A necessidade da acção colectiva decorre da complexi-dade do processo de interacção social. É a necessidade deresolver problemas económicos que a troca livre no mercadonão soluciona que justifica a acção económica do Estado.

O primeiro destes problemas decorre da existência deintercâmbios em que estão envolvidos mais do que doissujeitos. A multiplicação de interesses gera o problema bá-sico dos efeitos externos cuja solução não é encontrada pelosparticulares devido ao volume dos custos de negociaçãoenvolvidos. Por outro lado esses custos são indirectamenteagravados pela possibilidade de alguém recusa participar naacção, já que pode dela beneficiar sem nada fazer. O bemproporcionado não tem a característica de exclusividade, oque impede também a sua produção privada: o preço nãopode surgir nestas condições.

Em rigor, esta solução necessariamente colectiva dassituações envolvendo bens públicos e externalidades podenão ser feita através do Estado. São concebíveis formas de________________________

161 MCRAE, D., “Normative Assumptions in the study of PublicChoice”, in: Public Choice, vol. XVI, 1973, Outono, p. 29, afirma,referindo-se à economia em geral, que a mais puramente normativaideia do pensamento económico é a de que este não tem conteúdonormativo.

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organização colectiva decorrentes do acordo voluntário dossujeitos privados. Manifesta-se aqui a distinção entre escolhacolectiva e escolha pública referida na introdução e, comofoi dito, só nos referiremos à segunda.

É pois em torno das noções de insuficiência no mer-cado e de bens públicos que é tecnicamente justificada aacção económica do Estado. Em sentido amplo, cabemnestas designações todas as situações em que o mercado nãopermite assegurar em termos razoáveis a produção de bense serviços. Na realidade os conceitos tanto abarcam as efec-tivas insuficiências do mercado como as impossibilidades purasde existência dos mesmos. Assim, o problema dos efeitosexternos e dos bens públicos não implica necessariamenteque os mercados não existam. Num contexto diferente,OLSON demonstrou que em grupos pequenos os bens quesão tecnicamente públicos podem ser fornecidos por mem-bros do grupo l62. Em todo o caso pode afirmar-se que aexistência de um mercado nestas condições é improvável.

O mesmo se pode dizer de outra forma de ineficiênciaque é a destruição dos mecanismos concorrênciais. Aqui sócaso a caso se pode afirmar o grau de incapacidade domercado, já que a mesma situação objectiva pode ou nãoredundar em redução da concorrência.

Há no entanto mercados objectivamente impossíveis.São as situações em que pura e simplesmente a oferta pri-vada não surge ainda que tal fosse concebível, nomeada-mente pela existência de procura. É o caso referido porARROW de certos mercados para transacções futuras, cujoaparecimento é impedido pelos problemas de informação 163.

________________________

162 Cfr. OLSON, M., The Logic of Collective Action, New York,Schon ken Books, (1968), 1971, p. 22.

163 Cfr. ARROW, K., “The organization of economic activity” in:Haveman, R. e Margolis, J., eds. Public Expenditure and policy analysis,Chicago: Rand McNally, 1971.

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Este facto desmente parcialmente a afirmação deBUCHANAN 164 de que uma economia puramente dependen-te do mercado poderia funcionar com um grau apreciávelde eficácia.

Qualquer que seja o conteúdo concreto das figuras dofracasso do mercado e dos bens do tipo referido, é pacíficoque é para as corrigir que se justifica tecnicamente a acçãoeconómica do Estado. É esse, por exemplo, o espírito dotrabalho de SAMUELSON sobre as despesas públicas: a purateoria dessas despesas é a que se limita aos bens públicos,nomeadamente aos bens puros, isto é, àqueles em que a nãoexclusão, a satisfação conjunta e a não emulação se manifes-tam plenamente. Trata-se de definir aquilo que só o Estadopode fazer, a isso sendo reconduzidas as suas funções.

Em rigor o problema muda quando se consideram osbens de mérito especial 165, sobretudo para quem reconduzaa correcção das insuficiências do mercado a bens de méritoespecial 166. Na verdade nestes casos há decisões que nãopodem ser reduzidas à pura vertente técnica. A generalizaçãoda educação ou da assistência médica por exemplo implicaum óbvio juízo de valor. No entanto continua a haver umfundo técnico para a decisão tomada.

Para as concepções tradicionais das finanças públicas, ateorização dos bens públicos é apenas a justificação de ummomento da actividade financeira, aquela que é mais clara-mente legitimada por comparação com o mercado. É jus-tamente aqui que as concepções da escolha pública se

________________________

164 Cfr. BUCHANAN, “Las Bases de la Action Collectiva”, op.cit.,p. 87.

165 Cfr. MUSGRAVE, R., The Theory of Public Finance, New York:McGraw Hill, 1959, p. 12.

166 Cfr. SOUSA FRANCO, op. cit., pp. 131 e segs. Em rigor estaidentificação parece acertada. Apenas por conveniência de exposiçãotemos separado os bens públicos dos problemas de insuficiência domercado.

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autonomizam. Essa espécie de “estado mínimo” a que nosreferimos é o modelo de comparação para toda a análiseulterior. Todo o processo explicativo do crescimento do sec-tor público tem que partir dessas categorias iniciais. Se istoé evidente na crítica marcadamente conservadora feita àintervenção do Estado, é-o também para a simples tentativade compreensão dos fenómenos, sem que daí decorra qual-quer recusa de princípio dessa intervenção.

Por outro lado, a explicação rigorosa do papel econó-mico do Estado implica a dos elementos institucionais a quea corrente neo-clássica sempre se mostrou pouco sensível.É assim que o primeiro bem público posto à disposição dacolectividade é o Direito 167 ou, em sentido mais amplo, aprestação da justiça. A construção de uma ordem jurídica éevidentemente necessária à comunidade e ainda que sejaconcebível por mera hipótese que uma raiz de ordenamentojurídico possa existir na ausência de direito aplicado peloEstado (através da noção básica de contrato e de autocompo-sição dos diferendos), o seu cumprimento e expansão care-cem do Estado. O ordenamento jurídico não pode funcio-nar obedecendo ao principio da exclusão; do mesmo modo,não pode haver concorrência na prestação da Justiça. Por maio-ria de razão também não surge a questão do preço pelo quea qualificação do ordenamento jurídico estadual como bempúblico, ainda que invulgar e alheia à perspectiva de umjurista, parece aceitável.

Esta preocupação manifesta-se a outro nível, na análisedas condições concretas de existência do mercado. Para queele funcione é necessário o elemento preço. Este por sua vezparece implicar a propriedade. Mesmo na economia socia-lista há uma técnica jurídica de afectação dos direitos de usodos bens a certas entidades, por definição pública.

________________________

167 BUCHANAN, J., na obra anteriormente citada, p. 81; no mesmosentido, do mesmo autor, The Demand and Supply of Public Goods.

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Ora a propriedade privada não é um sistema capaz dese autoperpetuar. Em abstracto, como vimos, o mercadopode existir sem Estado; em concreto tal seria impossíveldevido à necessidade da existência de formas de regulaçãodos conflitos de direitos. Há pois uma diferença essencialentre o preço, enquanto manifestação económica da proprie-dade sobre um factor produtivo e essa mesma propriedade,enquanto conceito jurídico, que surge como uma realidadeprévia, permanentemente sujeita ao conflito. Assim, o siste-ma de preços não é universal. Têm que estar presentes certascondições para que ele se possa verificar e essas condiçõesnão são apenas qualitativas (por exemplo a existência dapropriedade) mas implicam a existência de níveis mínimosde estabilidade e definição. Por outro lado a eficácia dosistema de preços depende da própria forma como osdireitos reais estão organizados. Não é necessário apenasum sistema de regras: ele tem de funcionar com algumaeficácia l68.

Recordemos a propósito a referência atrás feita à obrade COASE, com a sua ênfase nos efeitos de responsabilidadecivil e dos problemas de conflito de direitos reais para odesempenho económico. Ainda que a perspectiva do autorseja a nosso ver incorrecta, como ficou dito, é evidente queessa análise dos efeitos económicos das regras institucionaisde mercado deve ser feita. O caminho mais corrente, nestaperspectiva, é o de considerar a eficácia o valor predomi-nante a implementar pelo direito, opção que atrás recusámose a que não nos referiremos aqui 169.

Temos portanto uma análise da justificação da acçãocolectiva especificamente pública que coincide com aquela________________________

168 Ligando esta ideia à necessidade do Contrato Social, veja-seARROW, K., “Gifts and Exchanges” in: Phelps, E., Ed.: Altruism, Morality,and Economic Theory, New York: Sage, 1975, p. 24.

169 A este respeito, vide capítulo IV da obra de Richard POSNER

já citada, maxime pp. 103-106.

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que é corrente nos trabalhos de filiação neo-clássica maistradicional, salvo em duas questões fundamentais. Por umlado há uma análise rigorosa das próprias condições de apa-recimento da acção colectiva nomeadamente com a incor-poração dos seus custos. Isto permite uma reconstrução dascondições desse aparecimento. Trata-se de matéria que foireferida com mais detalhe no capítulo anterior.

Por outro lado esta abordagem incorpora os elementosinstitucionais presentes no mercado, afastando-se da obsessãopositivista da análise tradicional. É assim que surgem osproblemas das condições concretas de troca no mercado, edo enquadramento legal e do papel específico do direito.Este exercício de desmontagem dos fenómenos correntes datroca no mercado é necessário para esclarecer o pressuposto,que em si mesmo não é neutro, de que esta instituiçãopermite resolver as questões básicas de uma economia.

O evidente conteúdo normativo da afirmação da capa-cidade do mercado para, em si mesmo, assegurar essas fun-ções básicas, permite uma vez mais separar duas perspectivaslatentes na solução do problema da escolha pública.

Para uma primeira corrente, de que BUCHANAN é pa-radigma, essa solução inclui uma total aceitação da superio-ridade organizativa do mercado, o que o leva a investigar ascondições do seu funcionamento ideal.

Porém, as próprias condições de existência ideal domercado relativizam o papel que lhe é atribuído. Sem dú-vida que esta instituição permite uma eficácia objectivainquestionável. Reconhecer este facto, no entanto, não im-plica a aceitação cega do princípio da submissão ao mercado.

A profunda ligação entre ambas as formas de organiza-ção, mercado e acção colectiva pública revela a sua identi-dade fundamental: trata-se de modos de afectação de recur-sos e é assim que as suas relações devem ser analisadas.A predominância da ideia da eficácia é o argumento própriodo mercado, tal como a possibilidade da prossecução de

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princípios éticos é a vantagem da acção colectiva, nomeada-mente pública.

Objectivamente, porém, a relação entre ambas é muitoprofunda. Só por ultrasimplificação se pode afirmar, como aversão mais radical de escolha pública, que as decisões domercado são puramente individuais. O conflito é necessário.Cada comportamento incorpora certos valores que se rela-cionam com os próprios valores sociais. O individualismo daanálise de raiz neo-clássica (usamos aqui uma expressão comoadjectivo e não referida a uma escola filosófica, caso em quea afirmação ainda seria reforçada) tem de enfrentar esteproblema básico: os processos que se regem pela imagem da“mão invisível” têm consequências sociais necessárias, pro-duto da agregação das decisões individuais; só que – e esteresultado não é esclarecido – isso é já uma forma de fazerescolhas colectivas l70. É por isto que a escolha entre mer-cado (acção de efeitos colectivos mediatos) e acção (imedia-tamente) colectiva, tem de ser encarada.

Nestes termos a pretensão de que o mercado em simesmo é uma instituição necessariamente autoregulada, ésimplista. Essa autoregulação funciona num ambiente con-creto, com consequências necessárias sobre o grupo social.Trata-se de uma escolha com efeitos sociais globais; de umprocesso de afectação de recursos que leva em si mesmocertos valores. Ao invés, a forma directa de acção colectivapode incluir outro tipo de valores.

Colocada assim a questão passamos a analisar a concre-tização central da teoria da escolha pública.

________________________

170 Cfr. ARROW, K., “Valores Individuales y Valores Sociales”, in:Casahuga, A., op.cit., pp. 152 e segs.

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5.3. A hipótese teórica de comportamento: o alargamen-to à decisão politica

A definição corrente da teoria da escolha pública comoficou dito é a de que se trata da aplicação da economia aocomportamento político. Temos visto ao longo deste estudoque há manifestações da teoria que escapam a tal definição.O que unifica as diversas manifestações da teoria é a análiseparalela de duas formas diferentes de afectar recursos: omercado e a acção colectiva. E por isso que se torna neces-sário estudar a economia do bem-estar e os seus resultadospois que é este o ramo da economia que mais directamentese ocupa desses problemas. Este estudo não pode ser feitoem termos de teoria pura, à maneira dos modelos abstractosde raiz neo-clássica, mas antes tem de atender aoenquadramento social e institucional que rodeia cada deci-são pelo que é necessário reintroduzir a dimensão comuni-tária objectiva, política, do problema.

É certo que o passado final deste processo é o alarga-mento daquelas concepções sobre o relacionamento econó-mico ao relacionamento político. Mas não se trata apenas deinvadir o campo da politologia, embora um dos resultadostenha sido o aparecimento de uma Escola na ciência poli-tica que tenta explicar o fenómeno político nesses termos.Tal facto traduz apenas o “imperialismo económico” de quefala TULLOCK retomando uma expressão de Boulding 171.

Ora uma coisa é a importação de um método de umaárea científica para outra; diferente é a justificação da ori-gem desse movimento teórico.________________________

171 Veja-se o artigo com o mesmo titulo integrado na colectâneaThe Theory of Public Choice, organizada por James BUCHANAN e RobertTOLLISON, Ann Arbour, University of Michigan Press, 1972, pp. 317 esegs. Este alargamento, ironicamente, é a manifestação de uma ideia queé originalmente do pensamento marxista. Neste sentido, veja-se WHITELAY,P., na Introdução a Models of Political Economy, Londres: Sage, 1980,p. 4.

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O fenómeno começa, note-se, na economia e não naciência política e está integrado na tentativa de decifrar umproblema de fundamental importância económica: a influên-cia da decisão política na decisão económica, o que relevapara a determinação dos efeitos das políticas económicasadoptadas. É essa uma das preocupações do trabalho deDOWNS tal como é similar o objectivo de SCHUMPETER nofundamental Capitalism, Socialism and Democracy, uma obraque foi, ainda que indirectamente, pioneira nesta matéria,ao conceber a democracia como um processo semelhante àconcorrência económica, com as inevitáveis consequências 172.

O problema é mais vasto do que o da teoria económicada acção governamental em democracia tema ao qual DOWNS

se cingiu. Em SCHUMPETER, por exemplo, as consequênciase implicações sociológicas da luta pelo poder, são considera-das. É a sociedade toda que é envolvida no fenómeno, aocontrário do que acontece na teoria económica da demo-cracia, que se limita à relação entre o governo e os eleitoresatravés da economia.

É justamente ao abarcar a totalidade destas formas quea teoria da escolha pública no seu conjunto se autonomiza.O que unifica a análise da multiplicidade de domínios emque a comunidade intervém é a tentativa de determinarqual é a fronteira lógica entre a acção colectiva, conformedissemos, aqui limitada à acção pública, e a acção puramenteprivada.

Estes dois processos são encarados como formas deafectar recursos. Esta afirmação é a primeira dimensão eco-nómica do problema. É devido ao facto de terem directa-mente implicações económicas que mercado e acção colec-tiva são analisados enquanto alternativas. E também por isso

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172 Cfr. SCHUMPETER, J.A., Capitalism, Socialism and Democracy, Lon-dres: Unwin, 1965 (reimp, da 4.ª edição, 1954), cap. XXII, por ex.,p. 271.

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que a acção colectiva é por sua vez estudada em concreto,isto é, no seu funcionamento objectivo. Um processo queabarque todos estes níveis implica necessariamente o desdo-bramento dos diversos planos de análise da opção entreacção individual e acção colectiva, até à consideração dascaracterísticas últimas desta segunda forma. É por isso quea teoria tem necessariamente de reconhecer as implicaçõesde filosofia política que incorpora.

Por contraposição a interpretação do comportamentopolítico não tem um alcance tão vasto. É recondutível ape-nas à análise positiva dos processos de escolha política e dasua evolução. O juízo básico sobre a importância económicada decisão política e sobre a funda interacção entre ambasé considerado de forma lateral. O que interessa é sempre oresultado final do processo de escolha, na sua relação objec-tiva de causa e efeito com a economia. A análise integradaprópria da escolha pública como nós a entendemos não temaqui qualquer relevância.

Este alcance mais vasto é também importante por outrarazão. É ele que permite abarcar o conjunto de transforma-ções que o processo de interacção entre o Estado e a eco-nomia vai originar, possibilitando a solidificação de gruposde interesse em torno do aparelho estatal. A explicação doprocesso que leva da decisão individual à formação do gru-po e deste à influência sobre o processo de decisão legislativae executiva 173, carece de uma análise que integre a econo-mia, a política e em geral o processo de acção social ecolectivo.

Em conclusão, a extensão da teoria microeconómica àacção política é o desenvolvimento lógico do estudo das

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173 É este o ambicioso objectivo de Mancur OLSON em The Riseand Fall of Nations, New Haven, Yale University Press, 1982. Recorde--se também o estudo de STIGLER, atrás citado, sobre a regulamentaçãoadministrativa da economia.

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diferentes formas de afectar recursos e da tentativa de englo-bar o modo como na comunidade elas se articulam entre si.

Este abarcar dos postulados do comportamento econó-mico das áreas de decisão política traduz instrumentalmentea sua generalização. Assim, a lógica do processo é a ideia deque o comportamento humano é regido pelos mesmos prin-cípios, seja na satisfação de necessidades materiais, seja naparticipação em processos políticos. Uma posição mais radi-cal afirma que a mesma identidade se verifica em todas asáreas do comportamento humano, tanto na vida económicacomo na afectiva ou familiar, tendência esta associada aostrabalhos de Gary BECKER 174.

Do que atrás ficou dito resultam as nossas dúvidas arespeito da importância real desta posição. Trata-se apenas deuma hipótese que se aceita metodologicamente para queseja submetida ao teste da confrontação com a realidade.Reconheça-se, no estado, que ele parece fértil de conse-quências, por dois motivos.

O primeiro reside no carácter sumamente completo erigoroso da análise do comportamento individual nos mer-cados feito pela teoria neo-clássica. Essa hipótese é o núcleofundamental de tal teoria, uma das questões mais trabalhadase discutidas. Assim, a sua aplicação a qualquer processo dedecisão social, para mais de raiz económica, parece tentador.

O segundo motivo reside no facto de não haver qual-quer concepção alternativa para, de um ponto de vista eco-nómico, proceder a essa análise, tanto mais que a teoria docomportamento no mercado apresenta como principalvantagem o seu carácter positivo, no sentido usado por

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174 Veja-se como exemplo desta orientação: “Una Teoria de laAsignación del Tiempo”, in: Hacienda Publica Espanola, n.º 80, 1983;CASAHUGA, A. na introdução à obra Democracia y Economia Politica, cit.,pp. 11-13; e, em geral, MC KENZIE, R.- TULLOCK, C., The New Worldof Economics.

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FRIEDMAN a propósito da metodologia, ou seja, capaz deoriginar modelos com capacidade predictiva.

Esta posição é portanto oposta à daqueles que afirmamque o racionalismo próprio da análise dos mercados é neces-sariamente o princípio que rege a acção política. Como vere-mos esta explicação anda próxima de uma petição de prin-cípio. Em rigor, tudo o que poderemos dizer é que essahipótese tem de ser aplicada desde que esclarecido o seusentido, de forma a gerar possibilidades de confrontaçãocom a prática.

O próximo passo é pois o do esclarecimento do sen-tido da hipótese do comportamento racionalista e maximi-zador. Antes porém é necessário enquadrar o que a extensãodeste modelo significa, sobretudo para aqueles que têm deleuma visão mais optimista.

Ao afirmar que o seu modelo de comportamento obe-dece a uma motivação que é universal na natureza humana,a teoria económica apresenta o ambicioso objectivo de setornar na ciência do comportamento humano.

A chave desse comportamento está no objectivo demaximizar racionalmente as escolhas feitas em situações deopção perante bens – ou valores, ou afectações de tempo,como atrás se disse –, que são raros. As concepções éticas ouideológicas perdem importância perante esta ideia. Ao ori-entar-se nesse sentido, a economia sujeita a totalidade davivência humana à mesma análise. Em todas as situações ohomem decide, escolhe. Trata-se portanto de unificar todasessas escolhas num principio geral único, construindo umateoria geral da acção. As diversas escolhas agrupam-se emsistemas de problemas reconhecidos pelas diversas ciên-cias; mas antes de ter relevância jurídica certa decisão há--de obedecer a motivos concretos; antes de ser entendidacomo tendo relevância política, certa postura deve-se a umamotivação determinada. É essa motivação que é ofereci-da com as ideias em si mesmo simples de maximização eracionalismo.

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Assim, a perspectiva económica permite uma represen-tação global da sociedade. Da mesma forma, por exemplo,que o sistema jurídico abrange todos os meios de interacçãosocial e nessa medida, sobretudo ao nível de acção do Es-tado, permite apreender todo o comportamento, é agora alógica económica que unifica e apreende essa representação.Por exemplo, a decisão de um tribunal é vista como obe-decendo a essa lógica, quer em si mesmo, quer na medidaem que retrata correntes jurisprudênciais que são inter-pretáveis nesse sentido 175. Uma vez estabelecida essa moti-vação de qualquer decisão, está aberto o campo ao seutratamento formalizado. É assim que a propósito de todas asformas de acção humana surgem modelos de análise formal-mente correctos.

Posto isto, vejamos então qual o sentido concreto dahipótese de comportamento referida através sucessivamentedo estudo da racionalidade (alínea a)) e do problema dainformação (alínea b)).

a) O postulado racionalista

Qualquer escolha é feita através da ponderação dasdiversas hipóteses. Isto implica que essas hipóteses têm grausde interesse diferentes para o agente, ou seja que tem dehaver uma ordenação dessas mesmas hipóteses. Esta ordena-ção é consultada pelo indivíduo aquando da decisão e ahipótese escolhida é a que se situa no ponto mais alto 176.________________________

175 Cfr., por ex., o curioso trabalho de Jurgen BACKAUS, “Cons-titutional Guarantees and the Distribution of Power and Wealth”, in:Public Choice, vol. 33, n° 3, 1978, pp. 47-48. Este artigo é um bomexemplo dos limites destes modelos, sobretudo porque na parte finalinclui uma teoria de justificação das correntes jurisprudenciais queparece, decididamente, pouco feliz.

176 Cfr. HAHN, F.- HOLLIS, M., na introdução a Philosophy andEconomic Theory, cit., p. 4. Veja-se igualmente Samuelson, 1.ª, Fondationsof Economic Analysis, op.cit., p. 98.

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O agente efectua uma escolha racional se não há outra acçãopossível que ele prefira àquela que escolheu.

A primeira condição desta escolha é que seja possívelestabelecer um conjunto determinado de alternativas.Só perante esse conjunto limitado é possível equacionar asdiversas hipóteses. Para que a teoria seja generalizada estadeterminação tem sempre que ter lugar, o que a torna assimum pressuposto da escolha.

A segunda condição surge ao nível das preferências quesão consideradas originais, dadas e não derivadas ou impos-tas. Entre as preferências e as hipóteses de escolha há umadistancia necessária para que a escolha seja racionalizada. As-sim a preferências não são influenciáveis nem influenciadas;de algum modo são realidades tão nítidas quanto as própriashipóteses que se encaram. Trata-se pois de variáveis exógenas.

Este carácter exterior implica que, em si mesmas, elasnão têm que ser explicadas. Trata-se de uma condição dapositividade da análise, que assim se afasta de juizos éticosou psicológicos. A preferência só é conhecida através da esco-lha 177 e para que seja significativa essa escolha tem de serconstante. A hierarquia das preferências tem de ser perma-nente, manifestando-se através das escolhas sucessivas nomesmo sentido.

A consequência deste postulado é que perante as alter-nativas cada sujeito avalia cuidadosamente o seu interesse emcada uma, revelando-o através da escolha. O problema quese coloca é o de saber se, dada a impossibilidade de obteruma resposta definitiva sobre os fundamentos da escolha e dautilidade, pode ser evitada a seguinte petição de princípio:sendo toda a escolha racional, toda e qualquer escolha obe-

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177 Trata-se da teoria da preferência relevada, fundamental contri-buição de SAMUELSON para a solução dos problemas da análise da uti-lidade. Sobre esta evolução vide BLAUG, M., 1982, op. cit., p. 164, 168,e SAMUELSON op. cit., pp. 91-92, para a colocação do problema.

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dece necessariamente à racionalidade e, portanto, todo oresultado é conforme aos postulados. Em termos metodo-lógicos trata-se de um problema de falsificabilidade, comoadiante veremos.

b) O Problema da Informação

A racionalidade da escolha pressupõe a existência deinformação suficiente a respeito das possibilidades existentes.Os consumidores só decidem em termos teoricamente perfei-tos se conhecerem as alternativas e as suas características. Istoimplica considerar o esforço de informação e os seus custos.

Quando se trata de estender esta metodologia aocomportamento político o problema assume outro relevo.Aqui são maiores os custos de informação e, sobretudo, asua complexidade.

No mercado de bens e serviços o requisito da suficiên-cia da informação é fundamental de um duplo pontode vista: se considerarmos o conjunto dos consumidores, enomeadamente se atendermos à economia no seu conjunto,o equilíbrio óptimo só é definível perante um conjunto deinformações concretas; mas se considerarmos apenas umsujeito, a sua maximização depende dos conhecimentos quepossuir num determinado momento. Aumentar esses conhe-cimentos tem custos que têm que ser considerados pelo queperante uma situação concreta, a decisão é tomada tendo emvista a informação disponível o que revela como que umduplo nível: decisão face ao que se conhece ou decisão deinvestir no seu alargamento. Em qualquer dos casos podehaver um comportamento coerente 178.

Não assim no universo da decisão política, por razõesque referiremos a seu tempo.

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178 Cfr. HAHN, F.,-HOLLIS, M., op. cit., p. 10.

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Qual a relação destas duas exigência com a realidade?A mais célebre resposta ao problema é a de FRIEDMAN, noensaio citado no primeiro capitulo. Se o objectivo da teoriaeconómica positiva é produzir modelos com eficácia predic-tina, é por essa capacidade que a teoria é julgada. As assump-ções que a teoria faz não têm de ser válidas; pelo contrário,em princípio podem ser irrealistas e devem sê-lo, já que issoé sinal do seu alto grau de abstracção e capacidade de abran-ger múltiplas situações 179.

As consequências desta afirmação não têm rival emtermos de posição metodológica. Desvalorizando as hipóte-ses de trabalho, não distinguindo os diversos sentidos emque elas se utilizam, a tese da irrelevância das assumpçõesremeteu a confirmação de uma teoria para os resultadosanalíticos finais. Uma tese pode ter pontos de partida evi-dentemente falsos; basta que revele capacidade de previsãoprática. Assim, o esforço de encontrar pontos de partida quea realidade confirme, é descurado.

Sabe-se empiricamente que o modelo racionalista decomportamento implicando uma superior capacidade deintrospecção e cálculo não se adapta à realidade. A decisãoindividual no mercado não obedece a esse rigor. Tudo o quese pode dizer é que empiricamente a subida de preço de umbem reduz o respectivo consumo – salvo nos casos em queisso não acontece como nos chamados bens de GIFFEN 180.Ao descurar completamente este aspecto, a teoria neoclássicado comportamento dos agentes produtores e consumidorescai num paradoxo metodológico: como é possível formularos critérios de falsificação da hipótese, isto é, como se desco-bre o fracasso da mesma perante a prática? Pode uma teoriaque parte de pressupostos excessivamente afastados da rea-

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179 Cfr. FRIEDMAN, M., op. cit., p. 22-6.180 Cfr., sobre a frequente omissão do tratamento deste problema

fundamental, BLAUG, 1982, pp. 169-171.

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lidade ter efectiva capacidade de previsão, como sugereFRIEDMAN?

Perante esses postulados é muito difícil identificar umcomportamento que se lhes não adeque. Simplificando po-deríamos dizer que, para quem parte do princípio de que ossujeitos agem de uma certa forma, só um resultado que àevidência os desminta nega a hipótese. Este tipo de falsifi-cação porém é superficial.

Não há dúvida, no entanto, de que a hipótese é vero-símil, ou seja, de que o comportamento tende para a maxi-mização de resultados 181. Porém se o objectivo é a constru-ção de modelos analíticos da realidade, a exigência de rigordeve ser maior. É fundamental, por exemplo, definir osproblemas de aquisição de informação ou de cálculo dasimplicações de cada decisão. Se isso não é feito, a confirma-ção obtida é tão tendencial e simplista como os postuladosde base. Em rigor dir-se-ia que a generalidade é tal que nãoé possível negar por falsificação a teoria, o que reduz o seualcance científico 182.

Fica portanto a noção de que há algum conteúdo nateoria, mas de que ela carece de definição mais rigorosa.É assim possível reduzir o critério a uma manifestação ge-nérica de ordenação pessoal de alternativas e de cálculocorrecto, ou passar o problema do agente para o estudiosodo comportamento deste: é o estudioso que tem de decidirse o comportamento é ou não racional partindo do princí-pio que a racionalidade é desejável e positiva. Isto implicaum valor normativo atribuído ao próprio postulado, queserve então como juízo sobre a diferença entre o compor-tamento real e comportamento ideal 183.

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181 Cfr., por ex. KRISTOL, I, op. cit., p. 218.182 Cfr. BLAUG, 1982, p. 110.183 Cfr. as posições de HAHN e de HOLLIS, neste ponto divergentes,

na obra de ambos atrás citada, pp. 12-73.

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O resultado desta brevíssima indicação sobre o realis-mo das hipóteses de base da teoria económica do compor-tamento é pois relativo. O comportamento maximizadortem algum sentido útil, algum apoio empírico, mas o seuconteúdo concreto não parece demonstrável.

Quando passamos do universo económico para o uni-verso da decisão política, estas críticas tornam-se mais deci-sivas. Além do interesse material mais evidente há que con-siderar a possibilidade do voto ser influenciado por posiçõesideológicas ou simplesmente éticas. A limitação rigorosa doque possa ser o comportamento racional neste cenário éimprescindível.

A resposta corrente à questão é no entanto pouco satis-fatória.

Logo a abrir a sua Economic Theory of Democracy, DOWNS

define o racionalismo em termos directamente retirados dacolocação económica do problema e acaba por fazer coin-cidir a maximização dos resultados do processo político coma maximização dos resultados económicos. Assim, emborareconheça a existência de comportamentos irracionais, con-sidera-os a excepção pelo que os afasta do modelo 184.

Com estas limitações ainda é esta a obra onde a ques-tão mais frontalmente é colocada. Ao invés, BRETON 185 nadaespecifica sobre o comportamento concreto dos eleitores.Noutros casos, a liberdade no assumir de postulados propor-cionada pela tese metodológica de FRIEDMAN é levada de-masiado longe: MCCORMICK e TOLLISON reduzem sem maisa função do governo a de mero agente de transferências derendimentos; quem os recebe paga aos políticos que por seuturno orientam a sua actividade para melhorarem a suaposição material 186. Por seu turno a vastíssima literatura________________________

184 Cfr. DOWNS, op. cit., pp. 6-11 e 37.185 The Economic Theory of Representative Government, Londres, Mac

Millan, 1974.186 Cfr. MCCORMICK, R., TOLLISON, op. cit., pp. 22 e 61, por ex..

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sobre ciclos politico-económicos não é mais completa.Bruno FREY e POMMEREHNE defendendo a necessidade demaior teorização na análise dos resultados, desses estudoslimitam-se a constatar a deficiência dos modelos existentespor não darem a devida relevância aos problemas políti-cos 187.

Num outro estudo o mesmo autor reconhece a even-tual intervenção de uma dominante ideológica em situaçõesde equilíbrio económico, o que implica o reconhecimentode motivações estranhas à pura motivação material 188.Noutra perspectiva a decisão de votar é tratada comoum acto racional cuja utilidade é calculada, mas o peso de“outros factores” na fórmula de análise desse comporta-mento encontrada ilustra a simplificação existente 189.

O facto dos estudos politométricos terem desdobradoa simples compra de votos no mercado político em funçõesde popularidade e reacção aos deficites desta, denota a difi-culdade teórica existente 190.

O resultado desta breve revista é paradoxal. Não só sãoraros os autores que se preocupam em fundamentar as hipó-teses de comportamento de que partem, como em geralincorporam hipóteses que parecem em duvidosa sintoniacom o espírito geral da análise. A ligação entre os princípios________________________

187 Cfr. FREY, B.,-POMMEREHNE, “Towards a More TheoreticalFoundation for Empirical Policy Analysis”, in: Comparative Political Studies,vol. XI, n.° 3, 1978, p. 314.

188 Cfr. FREY, B.,-SCHNEIDER, F., “Political - Economic Models”,in: “Competition with Alternative Models”, in: European Journal ofPolitical Research, vol. 10, 1982, p. 224 e segs..

189 Cfr. ARCELLUS, F.,-MELTZER, A., “The Effect of Agregate Eco-nomic Variables on Congressional Elections”, American Political ScienceReview, vol. XIX, 1975.

190 Cfr., por ex., FREY, B. – “A Politico-Economic Model of TheUnited Kingdom”, Economic Journal, 88, 1978. Vide, no entanto, emsentido contrário, ALT, K., CHRYSTAL, K., “The Criteria for Choosinga Politico-Economic Model”, E.Y.P.R., vol. 11, 1983, p. 116.

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e os modelos efectivos de análise era na construção teóricada escolha pública bastante mais clara, facto facilitado pelogrande nível de abstracção em que se trabalhava. Quando setrata de fazer previsões concretas, paradoxalmente, a indi-cação do tipo de informação a ser recolhida é descurado.Desta forma a dificuldade de construir modelos suficiente-mente detalhados para que se possam aplicar à realidade éevidente, o que provoca uma difícil sujeição ao teste empírico.Isto é tanto mais lamentável quanto é certo ser esta umaprodução teórica que tem como objectivo criticar situaçõespráticas.

Na verdade as manifestações de modelos da escolhapública com maior susceptibilidade de produzirem resultadossão justamente os que se ligam à teoria económica da de-mocracia e à teoria dos ciclos político-económicos. É jus-tamente por isso que é necessário transformar o raciocínioteoricamente correcto, em proposições capazes de seremtestadas. A diferença entre os dois níveis de análise é porémmuito grande.

Num plano intermédio entre os dois problemas está aconstrução do Estado como um maximizador de rendi-mento, em si mesmo, feita por BRENNAN e BUCHANAN.Trata-se de um avanço capaz de gerar resultados mais con-cretos sobretudo porque incorpora eventuais soluções para aalteração institucional.

Temos, portanto, e em conclusão, uma generalizaçãoda ideia do comportamento racionalista ao domínio políticofeita sem a cautela da definição do tipo de influência doselementos ideológicos, éticos e, em plano diferente, psico-lógicos que rodeiam esse processo.

5.4. A extensão da hipótese do comportamento racional:analogia ou aplicabilidade directa?

Estreitamente ligada às questões que acabamos de refe-rir surge esta outra: a interpretação do comportamento

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político nestes termos recorre a uma analogia, isto é, trata-se de uma explicação que é usada como imagem para umcomportamento em si mesmo diferente ou é, antes, umaverdadeira aplicação directa? A primeira solução será, apa-rentemente, mais cautelosa. Se o processo de decisão políticafôr regido por critérios genéricos de interesse, cuja determi-nação é difícil, parece natural que se recorra ao sistema in-terpretativo mais próximo e que com ele apresenta seme-lhanças evidentes. Então não há lugar à afirmação de que oseleitores se comportam como os consumidores, mas tão sóde que o processo é paralelo.

Num caso como noutro há opções com efeito para ofuturo; num caso como noutro essas opções são mutua-mente exclusivas. No entanto, o mercado é uma área direc-tamente patrimonial, enquanto que a actividade políticas sóo é de uma forma reflexa.

Quanto à aplicação directa da metodologia microeco-nómica enquanto processo explicativo, ela implica a reduçãoda escolha política a um processo de afectação de recursos.Os eleitores votam num certo sentido porque isso tem con-sequências económicas positivas. O Governo pretende man-ter o poder através duma relação em tudo semelhante àtroca, para assegurar vantagens económicas para si e paraquem o apoia. Recorde-se a este propósito a obra deMCCORMICK e de TOLLISON atrás citada.

Do restrito ponto de vista positivo, a diferença só inte-ressará se tiver relevância ao nível da explicação dos modelosde análise. E justamente por este facto que a questão não éfundamental em termos de trabalho teórico, por exemplo,no que toca à determinação das regras de escolha. Aí, umaformulação genérica sobre o interesse dos sujeitos é sufi-ciente; a passagem à prática, porém, exige uma determina-ção mais rigorosa de pressupostos.

Em regra esta determinação implicaria formas de uni-ficação efectiva entre ambos os universos, exigida para a for-

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mulação das hipóteses incluídas em modelos analíticos con-cretos.

Só através de um conceito uniforme de escolha, épossível realizar esta operação, estabelecendo-se o processobásico de análise segundo o qual o comportamento é racio-nal e maximizador.

Uma das mais evidentes lacunas destes modelos, noentanto, está no substimar a existência de motivações quenão são especificamente materiais. Este facto arrasta a teoriapara o seguinte dilema: se há uma motivação económica nadecisão política que pode ser preponderante mas não é única,está-se, sob a capa do rigor, a transformar a análise docomportamento detectado num processo de analogia, já queessa redução aos estímulos materiais é necessariamenteimperfeita. Assim, a condição para que se saia desta insufi-ciência está na reafirmação da ideia básica do racionalismoda escolha, incorporando-se nele os motivos que influem naintervenção política, e que são detectáveis através da obser-vação do comportamento usada na análise de mercado.

O alargamento dos modelos iniciais de análise econó-mica da política, por forma a incluir elementos não directa-mente recondutíveis à remuneração económica – caso dafunção popularidade, ou da descoberta de um ciclo eleitoralpuro, em que a imagem do Governo se desgasta sem qual-quer causa aparente – é um sinal desta tendência; a dificuldadede abarcar todas as variáveis mostra o quão longe se está aindada redução das diversas formas de decisão a um processo único.

5.5 Balanço crítico

5.5.1. Problemas gerais

O objectivo deste parágrafo consiste em avaliar o esta-do do problema: isto é, sob que condições se tem tentadoeste alargamento da hipótese de comportamento à esfera dadecisão política.

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A ideia genérica desta aproximação é a da existência daidentidade de processos decisórios referida no número ante-rior. Essa identidade leva à construção de teorias e formaseconómicas do comportamento político, semelhantes às domercado de bens e serviços. E assim que surge o chamadomercado político e, numa transformação puramente analó-gica, o Estado é tratado como um monopólio e os partidoscomo oligopólios 191.

Ora o paralelo só pode ser mantido se se incorporaremas múltiplas diferenças do mercado político: a redução cruados políticos a empresários, dos eleitores a consumidores, edo Governo ao monopólio é de um simplismo excessivo.É fundamental esclarecer que estes factos não resultam ne-cessariamente da aplicação à política da ideia do compor-tamento racional, são apenas resultado de uma generaliza-ção apressada do mercado que pode ser apenas analógica 192.Esta analogia é em si mesma sinal de imperfeição teórica.

Vejamos por exemplo o modelo de DOWNS atrás esbo-çado. Tentando fugir ao risco de cair na tautologia (segun-do a qual, sendo todo o comportamento racional, qualquercomportamento detectado não pode deixar de o ser), oautor define cuidadosamente o que entende por racionalidadede comportamento; quando a decisão se faz perante alterna-tivas; quando essas alternativas são necessariamente ordena-das; quando a escolha obedece à regra da transitividade;quando a escolha é feita beneficiando a hipótese com coloca-

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191 Cfr., por exemplo, BUCHANAN, J., “Democracia y Duopolio,Una Comparación de Modelos Analíticos”, in: Casahuga, op. cit..Para o paralelo entre o comportamento económico e político vide, porex., p. 243; e ainda WITTMAN, D. “Los Partidos como Maximizadoresde Utilidade”, op. cit., pp. 282, e segs..

192 Cfr., por exemplo, a fundamental crítica de WADE, L., “ThePolitical Theory of Public Finance”, in: Wade, L., W. Samuels, eds.Taxing and Spending Policy, Toronto, Lexington Books, 1980, passim,maxime, p. 178.

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ção mais alta nessa ordenação e quando essa hipótese é esco-lhida de forma coerente ao longo do tempo, 193. O compor-tamento irracional existe, mas é considerado excepcional.

Qual a razão para que se não incorporem elementosirracionais no comportamento político? A razão é a da difi-culdade em lidar com o irracional. Ora, ainda que o autorevoque o estatuto do trabalho puramente teórico para aobra, não se trata de uma razão atendível. Embora a lógicada escolha política e económica possa ser a mesma, o factode estarmos perante situações não imediatamente patrimoniaisimplica diferenças na manifestação concreta dessas escolhas.O âmbito da racionalidade não pode, pois, ser reduzido àlógica do aumento das utilidades proporcionada pelo Estado,como adiante se explica. Trata-se aí de um processo pura-mente analógico que em nada atende à especificidade dopolítico.

No mesmo espírito, as ideologias são utilizadas pelospartidos como forma de aliciar os eleitores em situações deincerteza objectiva 194, o que é perfeitamente natural numarelação em que o Estado é um monopólio e os partidosrepartem, em concorrência mais ou menos limitada, o aces-so ao mesmo. Neste universo só a troca é compreensível, ea autonomia da instância ideológica não é considerada.

Na obra de DOWNS, portanto, o movimento de exten-são é puramente analógico, o que implica um elevado graude simplificação. As realidades política são reduzidas às noçõesde microeconomia e o resultado é empobrecedor.

Isto revela a absoluta necessidade de incorporar os ele-mentos irracionais, ou que atendem a uma racionalidadenão económica, que DOWNS retirou da análise. Tal é, sobre-tudo, necessário ao nível do comportamento do eleitor, já

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193 Cfr. DOWNS, op. cit., p. 6, e, para o que a seguir se diz,pp. 7-11.

194 Cfr. op. cit., pp. 100

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que ao nível do governante ou do aparelho partidário asituação é diferente. Tentemos pois a separação dos doisplanos.

Parece razoável assumir que o decisor político tem umgrau de motivação superior ao eleitor. É mais plausívelreduzir aquele a uma entidade condicionada pelas vanta-gens materiais, directas e indirectas, do poder, do que aoseleitores.

Em primeiro lugar o número de agentes envolvidos émuito menor. O controle sobre as decisões tomadas ao níveldo Governo é substancial, como o é a identificação directadas vantagens materialmente identificadas associadas aopoder, e, mesmo que seja por razões de prestígio, há umaimediata retribuição dessas funções.

Em segundo lugar, em termos de justificação profunda,esta identificação com interesses materiais é alimentada pelaexistência de grupos económicos. A análise puramente indi-vidualista da economia da política, no entanto, dificilmentedescreve este problema, como veremos adiante.

Nenhuma destas razões está presente entre os eleitores.A ligação entre as eventuais vantagens conseguidas no votoé difusa, de tal ordem que uma teoria verdadeiramente racio-nal tem de começar por explicar qual a lógica da participa-ção no processo eleitoral 195. Na verdade, se os eleitorespretendem obter vantagens materiais e se o alcance destas éfundamental para o seu voto, é necessário perceber que aprobabilidade desse voto influenciar o resultado final da elei-ção é inversamente proporcional ao número dos eleitores,ou seja, muito baixa.

Por outro lado a distância entre os eleitores e as formasconcretas de obtenção de ganhos materializáveis é imensa.

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195 Cfr. WADE, L., op. cit., p. 174. Este problema é desenvolvidocom grande rigor noutro enquadramento por OLSON, The Logic ofCollective Active, op. cit. p. 35.

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Em rigor, só as acções que dependem directamente da acçãogovernamental são imediatamente calculáveis. É o que se passa,por exemplo, com as transferências da Segurança Socialmas estas afectam apenas uma camada reduzida da população.

Ora, como adiante veremos, uma das grandes manifes-tações de receptividade eleitoral às condições económicas éde importância reconhecida à taxa de desemprego, cuja liga-ção ao Governo é difusa.

Parece haver assim algum fundamento lógico para ten-tar uma disfunção entre “consumidores” e “produtores” no“mercado político”. Os segundos têm de se envolver nosactos de “produção”, o que implica mobilização, motivaçãoe acção concreta; os primeiros são receptores passivos cujareacção aos incentivos materiais é mediatizada e difícil decalcular. Os estímulos a que reagem são muito mais difíceisde caracterizar e entre eles e a essência do poder políticomedeiam diversas barreiras que obscurecem a sua figuraçãoconcreta. Para a decisão política activa – isto é, para oGoverno, os Partidos e o Parlamento – o carácter imediatodo interesse económico é revelado e transparente.

E importante precisar qual o limite desta distinção, sobpena de se violar a noção básica de que a motivação docomportamento humano é genérica.

A questão central é a das consequências da acção polí-tica. Para os eleitores essas consequências são longínquas edifusas; mas para os governantes e candidatos elas são ime-diatas, quer em termos de efeitos (por exemplo, sobre orendimento), quer em termos de poder obtido. A maiorinformação e a maior capacidade de resposta dos agentes fazcom que a interpretação à luz do modelo racionalista sejamais adequada.

Quando, como sucede com os eleitores, a informaçãoé muito menor, o resultado dessa aplicação é assaz proble-mático e a presença dos elementos éticos e ideológicos as-sume, em termos relativos, um peso muito maior.

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Em ambos os casos, no entanto, esses elementos sãofundamentais no processo político, pelo que a sua não inclu-são conserva a análise no terreno da mera analogia que, aopretender obter resultados positivos, se transforma nummecanicismo pouco produtivo.

5.5.2. Estado e monopólio

Este mesmo empobrecimento, que a não consideraçãoda especificidade do processo político provoca, surge a outrosníveis. Um exemplo é o da análise, da relação entre asdespesas orçamentais e os seus efeitos sobre o voto.

Aplicando um paradigma da troca, o Estado é reduzidoa uma entidade que compra votos com as suas despesas.Recorrendo à ideia de equilíbrio marginal entre despesasorçamentais e votos conseguidos, DOWNS, por exemplo, su-gere que o Estado gastará recursos até ao ponto exacto emque os gastos marginais deixem de ser compensados emtermos de votos 196. Esta visão do Estado como detentor domonopólio remonta à tradição italiana das finanças públi-cas 197. Tal proximidade, embora seja muitas vezes invocada,não é líquida. É facto que o Estado é descrito como ummonopolista, mas não há uma percepção fundamental docarácter específico de tal monopólio. Por exemplo, BORSATTA

reconhece que os problemas da lógica económica da posiçãodo Estado são apenas um dos aspectos da questão havendoque considerar a específica dimensão política. Esta relativizaçãosurge também noutro sentido, com o reconhecimento deque os motivos dos agentes económicos envolvidos na pro-dução dos bens públicos são um problema político, nessamedida alheio à essência da análise.

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196 Cfr. op. cit., p. 52197 Neste sentido, vide BUCHANAN, The Economics of Politics, Londres,

I.E.A., p. 11 Cfr. igualmente DE VITTI DE MARCO, op. cit., pp. 19-21.

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No mesmo sentido, DE VITTI DE MARCO considera oEstado monopolista como consequência de uma situaçãopolítica. O monopólio surge, sobretudo em regime absolu-tista, através da não partilha do poder; a possibilidade daalternância democrática provoca uma situação de concor-rência para a qual a imagem sugestiva é a da cooperativa,dado que os grupos sociais repartem entre si o poder 198.

Pelo menos nos autores citados, parece que a recon-dução ao monopólio é uma imagem fortemente mitigadapelo próprio ambiente e circunstâncias políticas. Não é esseo entendimento actual, como claramente decorre do textode DOWNS.

A análise deste autor integra-se nos chamados modelosda procura 199. O Governo responde a uma procura dossujeitos individuais, provocada pela necessidade da acçãoeconómica e política do Estado. Em termos políticos, essaprocura é provocada por elementos exogénos. É este carác-ter exógeno que explica o próprio sistema partidário, já que,embora os eleitores votem no partido que lhes dá maisutilidade, esta preferência assume dimensão social na medidaque é partilhada por uma multidão de sujeitos. Assim, ospartidos vão de encontro a essa procura latente no mercado,aparecendo os programas que se revelam mais desejados.Adiante desenvolveremos as particularidades desta concep-ção. Por agora, em termos de ideia geral, há duas correcçõesimportantes a fazer. Em primeiro lugar, as consequências daredução do Governo a um monopólio não são desenvolvi-das. O resultado final do processo é globalmente positivo na

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198 Cfr. BORGATTA, G., na introdução ao volume IX, dedicado àsfinanças, da Nuova Collana di Economisti, pp. xx e DE VITTI DE MARCO,op. cit., loc. cit..

199 Cfr. MITCHELL, W. “Fiscal Behaviour of the Modern DemocraticState”, in: Wade L., Eds., Political Economy: Recent Views, Boston: Kluwer--Nijohft, 198J, p. 72.

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medida em que um monopólio produz um equilíbrio finalatravés da coincidência entre o “produto” do Governo e aspreferências dos particulares. O monopólio público, assim,não explora a respectiva posição. Aparentemente, é dissoimpedido pela regra democrática, já que, se se afastar daspreferências, o partido rival aproveitará o campo deixadolivre.

Assim o Estado não explora a sua posição como mono-polista, o que é contrário à própria lógica desta figura.Aparentemente, trata-se de uma fraqueza da análise, mas épossível que haja outra explicação: as próprias condições domercado político tornariam difícil a exploração do mono-pólio. Estaríamos assim próximos da exposição de DE VITTI

DE MARCO, atrás referida: o Estado enquanto instituição,tem de facto um monopólio mas o seu uso é limitado pelaconcorrência potencial existente, expressa no multipar-tidarismo.

Para quem aborda esta matéria partindo da tradiçãojurídico-política europeia continental, há uma evidente con-fusão entre Estado e Governo.

Do Estado, sabemos desde Bodin, que é um monopó-lio da força através da lei. Este monopólio é exercido pelopoder instituído como consequência da constituição, de queuma das manifestações é o poder executivo.

Vertendo DOWNS para termos que nos sejam mais fami-liares, o monopólio por ele referido é o que o Governoexerce, na medida em que usa o poder que o Estado temcomo condição da sua soberania. E só nessa medida que aquestão tem sentido.

Esse monopólio é limitado porque o uso que o Gover-no dele faz é apreciado democraticamente, e se o balançofôr negativo o monopólio é entregue a outrém. O Governonão exerce as faculdades de que dispõe em termos de meca-nização pura porque está sujeito a esse limite, o resultado éuma espécie de “equilíbrio de monopólio”.

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Resta explicar porque é que essa limitação ao poder demonopólio se verifica. É lógico, na verdade, que se admitaa existência de ciclos eleitorais, ou seja, de surtos de expan-são localizados em momentos chave. Isto reduziria a pos-sibilidade de alternância no poder 200, o que só seria limitadopela capacidade de informação dos eleitores. Esta, porém,está sujeita a limitações e é politicamente motivada, como opróprio DOWNS reconhece.

Outro limite ao desenvolvimento da ideia de monopóliodecorre da excessiva rigidez com que o problema orçamentalé encarado. A ideia de que o Governo aumenta a sua despesaaté ao ponto em que, marginalmente, perde mais votos do queos que ganha, implica que as decisões de tributar e gastar sãosimultâneas. O processo orçamental é, no entanto, muito maiscomplexo. Só como imagem se pode usar essa ideia. O papelda burocracia pública e das autoridades autárquicas é aqui com-pletamente silenciado. Estamos em presença de uma outramanifestação do simplismo excessivo na teorização do papeleconómico do Estado, em si mesmo não muito diferente da-quele em que o autor acusa Lerner e Seligman de cairem 201.

O mesmo tipo de problemas surge com outra tentativade incorporar o Estado no monopólio, desta vez em sentidodiferente. Para BRENNAN e BUCHANAN, o Governo tentamaximizar de forma cega o seu rendimento. O direito deapropriação do Governo é visto de forma não limitada,sobretudo porque não há qualquer ligação entre o rendi-mento que é retirado aos particulares e o uso que dele éfeito 202.

Este último aspecto é um progresso face ao simplismode DOWNS. Aliás, os autores afastam-se da concepção mais

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200 Vejam-se os exemplos dados por WADE, The Political Economyof Public Finance, op. cit., p. 179.

201 Cfr. DOWNS, op. cit., pp. 280-84 e 287.202 Cfr. BRENNAN, G.,-BUCHANAN, J., The Power to Tax, op. cit. p. 8.

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corrente do monopólio. O executivo não é, nem um dés-pota benevolente, nem uma entidade que visa tão sómaximizar o seu próprio interesse, como nos modelos cor-rentes que partem da noção de procura. A diferença essen-cial é que, aqui, o executivo não está eleitoralmente limi-tado, nem usa os seus poderes para condicionar a realidade.O único objectivo é aumentar o rendimento fiscal 203.

O simplismo surge, no entanto, com o carácter exces-sivamente centrado na oferta, isto é, no comportamento doexecutivo em si mesmo. O processo orçamental, por exem-plo, não recebe um papel autónomo e na sua ausência édifícil entender como é que se podem conceber limitesrigorosos a esse poder de tributação.

Se a utilidade pretendida pelo modelo é de permitirformular limites a esse poder, através de reformas constitu-cionais, é discutível que as propostas apresentadas necessitemdos pressupostos em que os autores se colocam 204. Nomea-damente, não parece haver ligação específica entre essas alte-rações e o trabalho anteriormente desenvolvido. Assim, e atítulo de exemplo, a célebre “Proposta 13” aprovada noestado da Califórnia, ao limitar a contribuição predial (realproperty tax) não parece ligar-se a qualquer dos exercíciosreferidos na obra em apreço.

A mais interessante das possibilidades contidas numaabordagem deste tipo é a que HAYEK sugeriu através doretorno à proporcionalidade na distribuição da carga fiscal,manifestação de uma ideia absolutamente formal de igual-dade perante a lei. No mesmo sentido, vai a sugestão deseparação decisão de lançar um novo tributo e a sua confi-guração concreta, entre duas assembleias legislativas, cabendoà primeira a decisão fundamental de configurar esse impostocomo um “nomos”, uma regra justa, e à segunda, à assem-________________________

203 Cfr. op. cit., p. 15204 Cfr. op. cit., todo o último capitulo, pp. 187-205.

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bleia governativa, o seu traçado concreto 205. Nenhuma des-sas propostas se justifica por qualquer recurso às ideias demaximização do rendimento do Governo, antes se filiandoem princípios absolutamente individualistas, daí se extraindoa justificação para as propostas apresentadas.

Em conclusão, este esforço de aplicar ao comporta-mento governamental a tese da maximização, que é atribuídaa este órgão, enquanto entidade abstracta, e não especificandoas características básicas que podem levar a esse facto, nãoparece ter produzido resultados concretos.

Esta análise de duas típicas construções do Estado emtorno da ideia de monopólio não se revelou pois frutífera.Para DOWNS nem sequer havia uma inteira coerência com aprópria noção de monopólio e na obra de BRENNAN eBUCHANAN a utilidade da derivação individualista da cons-tituição financeira não resulta evidente.

Coloca-se, assim, o problema de saber se esta concepçãoé a mais adequada para detectar o que se passa numa eleiçãopolítica. A redução ao monopólio, como vimos, é mecanicista.Trata-se de uma pura analogia, supondo um paralelo entre asduas realidades, mercado e acção política, que não tem proxi-midade suficiente para que haja unificação de processos.

Uma das causas desta ineficiência reside na incapacida-de do modelo para apreender o conjunto de fenómenoscomplexos de repartição do poder entre maioria e minorianuma assembleia legislativa.

Na verdade, em regra o partido que perde não é com-pletamente excluído da área do poder. Certo número delugares importantes são conservados pela minoria e, dentrodo parlamento, há formas de concertação que podem ultra-passar a área partidária, ou que, dentro de cada grupo par-lamentar, traduzem diversidade de pontos de vista.________________________

205 Cfr., respectivamente, The Constitution of Liberty, op. cit.,p. 313-314 e Law, Legislation and Liberty, vol. III, Londres: Routledgeand Kegan Paul, 1979, pp. 111-7 e 126.

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Assim, a ideia de que, vencida a eleição, um partidoexerce o seu monopólio institucional, é simplista. A possibili-dade de auto-composição das diversas forças não conduz à livreexpressão dos interesses partidários, antes a um arranjo que écomponente essencial na noção de equilíbrio do sistemapolítico, na forma proposta por SCHOFIELD. Não se trata aquide um equilíbro institucional mas do próprio desempenhopolítico, pelo que as relações não institucionais são rele-vantes 206.

Uma manifestação desta dimensão que não obedece aomodelo mecânico do monopólio, é a possibilidade de ospartidos no seu conjunto recorrerem ao conjunto de posi-ções que, mais do que maximizar as chances de ganhar aseleições – forma tradicional de maximizar racionalmente osresultados dos partidos – lhes permite pôr em vigor as suaspropostas políticas. É assim que os governos de coligaçãosão justificados, já que se trata de uma forma de repartir opoder. Por outro lado, generaliza-se o modelo de oligo-pólio, formado por acordo entre os participantes, por formaa limitar as alternativas. A separação efectiva entre as pro-postas políticas é substituída pela mera diferenciação, istoé, pelo concentrar em aspectos laterais de modo semelhanteà publicidade, que gera falsas diferenciações no mercado 207.Neste caso, portanto, o monopólio é substituído pelo oligo-pólio.

Está-se mais próximo de um fenómeno especificamentepolítico, o da conservação do poder, distinto da estratégiapuramente maximizadora da concorrência. As dificuldades

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206 Vejam-se, a este propósito, as possibilidades de equilíbrio refe-ridas por SCHOFIELD, N., “Equilibrium in Political Economy”, in Whiteley,P., ed., Models of Political Economy, Londres, page 1980, p. 269. Sobrea evolução das formas de equilíbrio p. 277.

207 Este aspecto é desenvolvido por WITTMAN, D., op. cit.,pp. 287-9.

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de transposição para a prática parecem, no entanto eviden-tes, nomeadamente pela fragilidade de tal acordo de prin-cípio sobre os pontos essenciais a apresentar ao eleitorado.

5.5.3. A especificidade da acção política

Feito este balanço, deve concluir-se que as limitaçõesda teoria são inúmeras. A transposição das categorias econó-micas para a análise política foi feita em termos analógicossem incorporar o que de específico há nas decisões desteforo. O interesse foi reduzido ao interesse material, ignoran-do a enorme quantidade de aspectos que pode revestir paralá desse campo 208.

O passo fundamental a dar, portanto, é o de incorporaressa diferença específica da motivação política.

Como ficou dito, parece admissível que no que toca aactividade governativa haja uma maior plausibilidade da teseda maximização, mas que só será detectável na prática.

Já quanto aos eleitores a ideia de racionalização parecelimitada. Só descritivamente se poderá falar aqui de concor-rência, tão limitada é a informação dos “consumidores” polí-ticos 209 e tão variadas são as motivações presentes.

E certo que esta concepção pretende fazer um juízoracionalista sobre a actividade política, o que implica umanecessária abstracção. Esse abstracionismo parece, no entan-to, exagerado.

Que os recursos do modelo racionalizador não estãoesgotados prova-o o trabalho de SEN atrás citado, ao distin-guir no conceito tradicional de racionalidade dois subcon-ceitos específicos (“Simpathy” e “Commitment”). A pri-________________________

208 Cfr. WADE, L., “Political Economy, Problems With Paradigms”,in Wade, ed. Political Economy, Recent Views op. cit., p. 20.

209 A este respeito vide CARPI, J., “La Teoria Economica da laToma de Decisiones Politicas y la Teoria del Estado”, in Hacienda PublicaEspanola, n.º 93, 1985.

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meira categoria de acção implica um interesse pelos fins deoutrém que estimem uma preferência do próprio; na se-gunda, o resultado da escolha é a obtenção de uma utilidademenor, isto é, o sacrifício de alguma utilidade que se pode-ria obter, devido ao empenho numa escolha que beneficieoutrém.

Qualquer uma destas escolhas pode perfeitamente serproduto do racionalismo, nomeadamente em obediência aimperativos morais.

São decisões deste tipo que é preciso incorporar naesfera da decisão política. Significativamente, SEN ensaia asua extensão ao mecanismo da procura de bens públicos,campo em que, como vimos, a preocupação com a ideia daunanimidade, ou de maiorias muito elevadas, é frequentecomo forma de salvaguarda da posição individual no proces-so financeiro. O autor coloca justamente a hipótese de quenesses processos os elementos de simpatia e de empenho tra-duzam formas específicas de altruísmo, que impedem a per-cepção do problema em termos de maximização.

Uma primeira conclusão portanto é a de que estes modosautónomos de motivação têm de ser considerados e de queé possível fazê-lo sem abandonar uma ideia racionalista.

Uma das possibilidades abertas por esta posição é a decriticar a defesa da unanimidade feita por BUCHANAN eTULLOCK. Os autores, recorde-se, usam a unanimidade comoforma de aplicar o óptimo de Pareto às decisões públicas.O carácter necessariamente conservador desta noção mani-festa-se: a exigência da unanimidade obriga a que a novadecisão só seja tomada se todas as preferências para ela seorientarem. Isto equivale a colocar os destinos da colectivi-dade nas mãos da minoria, mas BUCHANAN e TULLOCK afir-mam o contrário, através da consideração dos custos que aacção da maioria causa à minoria 210.________________________

210 Trata-se de um argumento repetidas vezes apresentado ao longode The Calculus of Consent. Para a exposição inicial, pp. 88 e segs..

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O argumento reflete de forma perfeita a lógica subja-cente ao óptimo de Pareto. Tal como nesta figura, só seconsidera a eventualidade de uma qualquer mudança e nãoos custos que a manutenção da situação existente implica.

E significativo que o tão invocado WICKSEL, no mesmotrabalho em que defendeu a unanimidade, a tivesse conside-rado possível somente em situações em que a distribuição debens e do rendimento seja justa 211. Deste modo WICKSEL

entende que a manutenção de uma situação inclui em simesmo custos que se não podem ignorar e cuja eliminaçãoé condição prévia para que a unanimidade seja exigível.Sem essa eliminação, a unanimidade é uma forma de impe-dir toda a mudança e, em consequência, de manter a desi-gualdade.

Assim o bloqueamento de qualquer medida através docritério da unanimidade impede uma mudança que preju-dicaria alguns; obriga à manutenção de uma situação queprejudica a maioria. Este facto demonstra a interpretaçãoespecífica do óptimo de Pareto que BARRY lucidamente apon-ta: em si mesma, a definição desta figura diz-nos apenas que,se certa alteração prejudica alguém ela não é óptima; não sepode inferir daqui, como é corrente, que ela não deva serfeita. É isto porém o que fazem os autores do The Calculusof Consent, levando até ao fim a lógica do interesse indivi-dual. Esta obsessão leva curiosamente a uma contradiçãoapontada por ARROW: apesar do individualismo metodológico,os dois autores acabam por ter de reconhecer a necessidadede uma lógica da acção colectiva 212.________________________

211 Cfr. op. cit., pp. 108-109. A versão traduzida em MUSGRAVE--PEACOCK não reproduz a totalidade do ensaio WICKSELL, pelo que nãoé possível esclarecer o que este entende por justiça na distribuição dorendimento, se uma questão jurídica formal, se qualquer forma dejustiça distributiva substancial. Parece, no entanto, inclinar-se neste últimosentido. Cfr., p. 108-16.

212 Cfr. a crítica de ARROW, 1963, op. cit., no post facio aditado à2ª ed., pp. 107-8 e nota 43.

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A lógica da mecanização individualista revela-se, por-tanto, eivada de simplismo e orientada num sentido estru-turalmente conservador, que redunda na atribuição à mino-ria de uma importância absoluta, capaz de paralizar umaqualquer mudança 213.

Esta orientação traduz por outro lado uma leitura darealidade política marcada pelo universo institucional ame-ricano. A complexidade da estrutura federal estado-unidenserevelou bem cedo a necessidade de se acautelarem os efeitoscentrífugos das diversas tendências.

Espelho disso é o muito invocado artigo de The Federa-list publicado sob o número 10 e atribuído a James MADISON.O que aí se reconhece é, no essencial, que todo o poder seagrupa em facções e que estas tendem a manifestar-se exclu-sivamente no seu próprio interesse. A solução é dificultar aafirmação do poder dessas minorias, daí se extraindo a jus-tificação para a colocação de barreiras que impeçam amaioria de esmagar as diversas minorias e, reciprocamente,que impeçam qualquer grupo minoritário de assumir o esta-tuto de maioria que não respeite as outras minorias 214.Embora isto traduza uma orientação corrente na filosofiapolítica norte americana 215, parece tratar-se de uma análiseprovocada pela complexidade do universo político numestado federal onde, por razões históricos, os grupos deinteresse assumem grande importância. É forçado extrairdaqui um apoio para a tese da maximização dos interessesmateriais, pois que isso é transformar uma concepção do________________________

213 Neste sentido, cfr. BAUMOL, W. op. cit., p. 44.214 Cfr. Federalist Papers, trad., O Federalista, Hamilton, Madison e

Jay, ed. Universidade de Brasilia, 1984, n.º 10, “O Tamanho e a Diver-sidade da União como Obstáculo às Facções”, pp. 147 e segs., maxime,150-51.

215 Na verdade, parece corresponder à segunda versão tradicionalapontada por BARRY, B., Political Argument, New York: Humanities Press,1974, pp. 238-39.

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216 Cfr. Capitalism, Socialism and Democracy, op. cit., p. 274, e nota43, por exemplo. A omissão de referências a este trabalho, passe aexcepção de DOWNS, op. cit., decorre talvez da diferença de perspectivasa este respeito. Num sentido semelhante ao de SCHUMPETER, a respeitoda especificidade da política, vide WADE, “Political Economy, Problemswith Paradigms”, op. cit., p. 12.

poder numa concepção da motivação política. Em rigor oartigo de MADISON é uma útil lição sobre os problemas dosgrupos cuja interpretação económica exige porém um rigorque se não confunde com os critérios demasiado lineares dointeresse directo pessoal.

A crítica que vimos fazendo ao carácter excessivamenteradicalizado da interpretação do papel da motivação materiale, por extensão, do peso do individualismo, segue a linhaaberta por SCHUMPETER ao afirmar a necessidade – e a pos-sibilidade – de analizar logicamente a democracia por ummodelo de traçado geral inspirado na economia mas semesquecer nunca as especificidade do universo político, numaobra cujo pioneirismo não tem sido suficientemente reco-nhecido 216.

Nestes termos, tanto em sentido positivo, como crité-rio de interpretação de comportamentos, como em sentidonormativo, como critério de alteração institucional, o racio-nalismo encarado em termos materiais é uma noção dema-siado simplista para a análise do comportamente político.Há sem dúvida um forte elemento presente com essa ori-entação, mas parece forçado transformá-lo em critérioúnico. O mercado concentra os interesses, de tal forma quea motivação racionalista orientada para a maximização ma-terial é plausível. Mas o dito mercado político incorporaoutros valores que se manifestam por duas razões: por umlado, por definição, o facto de que se não trata de obtercompensações materiais directas afasta esta lógica maximi-zadora; por outro lado a escolha política incorpora valores

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e conceitos específicos que , se bem que possam ser racio-nalmente maximizados – daí a utilidade última que reco-nhecemos à análise da escolha pública –, necessitam de umaespecificação mais cuidada 217.

Questão diferente, importa reconhecê-lo, é a de saberse tecnicamente é possível obter um padrão de comporta-mento dos eleitores capaz nomeadamente de ser modeladoperante valores que são muito mais difíceis de apreender doque aqueles que até agora se têm considerado. Trata-se noentanto de um argumento que abre campo à ditadurametodológica micro-económica, à custa do realismo dashipóteses de trabalho, e que será em última análise desmen-tido pela análise empírica àqual se destina.

Nada disto obsta ao interesse suscitado pelo esforço dateoria da escolha pública. A cedência repetida a facilidadesmetodológicas, se não mesmo relevando de uma específicaconcepção normativa do mundo, precisam de ser remediadaspor um esforço de aumento de conteúdo positivo dos modelosincorporando novas variáveis e dando às motivações especi-ficamente económicas o lugar que lhes cabe, por forma atorná-los mais adequados à realidade 218.

5.5.4. Racionalidade e tipo ideal

A terminar referiremos uma questão que parece essen-cial em todo o processo de análise da forma como a hipó-tese básica do comportamento se articula com a realidadepolítica.

Qualquer tratado de economia ao referir esta hipótese– tal como todas as outras obras, cada vez mais numerosas

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217 Uma crítica modelar ao trabalho de BUCHANAN e TULLOCK éfeita por BARRY, op. cit., pp. 279-85. Ver, também, pp. 299 e 312-16.

218 E este o caminho proposto por SAMUELS, W., “Whither (Positive)Public Choice? One Reading” in: Wade, L., ed, Political Economy, op.cit., passim, maxime, 162-64.

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fora do campo económico, que a incorporam – começa porrelativiza-la. O sujeito racional não é o animal egoísta queresulta dos trabalhos de EDGEWORTH. Os desvios à regra sãoconhecidos e tidos por tecnicamente detectáveis.

No entanto o papel central reconhecido à hipótesepermanece intocado e as aplicações práticas permanecemligadas à ideia do uso rigoroso da maximização racionalista.Pareceria mais lógico estabelecer um caminho inverso: deter-minar os pontos óptimos e depois estabelecer as fugas a esseideal e as suas causas. Genericamente, podemos dizer que osestudos sobre as restricções da concorrência tiveram estaorigem e este objectivo.

O mesmo trabalho tem de ser realizado para todas asgeneralizações do modelo a outros campos, nomeadamenteao que nos ocupa.

Enquanto isso não surgir continuarão a trocar-se argu-mentos a respeito de mecanismos que remontam a Marshale, enquanto justificação, a Adam Smith. Parece haver aquium mal entendido que consiste no seguinte.

A hipótese do comportamento racionalístico é fruto deuma enormissíma simplificação sobre as motivações concre-tas dos agentes económicos. Isto é algo diferente do tãoatacado irrealismo. A tendência racionalista existe, mas écomo que sublimada, concentrada, libertando-se de todas as“impurezas” motivacionais.

Este processo conduz a uma categoria genérica de hipó-teses capazes de abarcar todas as situações. Tal delimitação éfruto, em boa parte, dos próprios imperativos de forma-lização a que o cruzamento científico com a matemáticalevou. A racionalidade, parece, conduzirá à opção pelos melho-res preços de entre todos os possíveis no mercado, o quedefine o ponto mínimo à volta do qual as diferenças eperdas são calculáveis. Por natureza, esta formalização pareceadequar-se mal às modificações qualitativas introduzidas nocomportamento por motivações alheias a esta lógica básica.

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Temos portanto uma hipótese central levada a umaespécie de estado puro através do afastamento dos elementosa ele alheios. O paradigma deste raciocínio é a hipótese deconcorrência perfeita e os modelos de equilíbrio abstracto:motivações racionais, características tradicionais dos merca-dos de concorrência perfeita, ausência de externalidades ede interacções... nada disto se passa na realidade, mas a forçamotriz, o elemento significativo presente em todas as mani-festações da realidade analizada é retido, abstraindo dos ele-mentos que o perturbam.

Há nas ciências sociais uma categoria cuja similitudeparece notável, a dos tipos ideais de Max WEBER. Tambémaqui, para a sociologia, se trata de abstrair certos elementospresentes numa vasta classe de factos. Para WEBER, o sentidounívoco de qualquer facto com relevância social só era obtidopor abstracção; quanto mais abstracto, mais afastado da rea-lidade, fosse certo conceito, mais claramente significativo eleseria. O tipo ideal não descreve a realidade, sintetiza-a,concentra o seu interesse 219.

Passa-se algo de semelhante na teoria económica coma hipótese de comportamento racionalista, o que o próprioMax WEBER reconheceu ao apontá-la como exemplo.Refira-se, no entanto, uma diferença fundamental: o con-ceito é essencialmente operativo, passível de aplicação e deanálise concreta, enquanto que os tipos ideais, por seu turnosendo identificados a partir da realidade, tal como a teoria quenos ocupa, não voltam a ela, salvo como elemento de compa-ração.

Por força da sua própria natureza a hipótese da racio-nalidade maximizadora tem outro alcance. Numa situaçãoconcreta permite identificar um resultado teoricamente puro.

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219 Sobre os tipos ideais, vide a Introdução Metodológica a Wirtschaftund Gesellschaft, trad. castelhana, Economia y Sociedad, vol. I, pp. 1-20,maxime 18-20, México, F.C.E., 1t344.

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O circulo fecha-se e surge o momento dedutivo, onde emsociologia há essencialmente indução.

É justamente esta faculdade de ir conformar o real quetorna o conceito económico que nos ocupa infinitamentepolémico.

Qual a consequência desta aproximação entre tipo ideale comportamento racional? Essencialmente de que essa hipó-tese é, e tem de ser, abstracta. A sua lógica necessariamentelimitada, é uma abstracção a partir de factos concretos; oalcance desta abstracção tem de ser fixado cuidadosamente,pois só a partir de elementos empíricos se pode determinaro que é que dela se verifica na prática.

Digamos então que, existe um tipo ideal de compor-tamento, que corresponde à pura lógica do mercado sembarreiras. Em certas condições esse tipo manifesta-se, naprática, através do seu resultado. Quer dizer, a sua significa-ção útil surge plenamente pelo que podemos inferir que apredominância dos elementos motivadores que se orientamnesse sentido se estabelece. O tipo só é identificável na suamanifestação concreta porque permite as características dasua aparição. Determinados em teoria, por abstracção, osefeitos últimos do comportamento racionalista, é possívelidentificá-los na prática, através da manifestação de fenóme-nos que se traduzem no seu predomínio.

Mas é também possível identificar o seu oposto, isto é,situações em que a motivação seja radicalmente não racionalou não maximizadora. Facto que deve por sua vez sertipificado da mesma forma.

Determinados estes elementos – e o ambicioso planode transformar o raciocínio económico numa teoria de acçãosocial humana não pode tornear a existência destas duascorrentes opostas –, resta considerá-los na prática, por formaa identificar a conformação concreta da realidade. Correspon-dendo esses dois tipos a duas formas de motivação opostas,uma identificando o racionalismo com a maximização da

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utilidade, reconduzindo-o portanto a uma ideia de eficácia,e outra incorporando na análise racional elementos altruís-ticos, ideológicos, éticos ou outros, seria possível construirtipos abstractos de motivação.

Confrontados com a prática, esses tipos identificariama presença da motivação a que correspondem, assim surgin-do uma vasta gama de variações entre a rigidez lógica uti-litarista, num extremo, e o absoluto altruísmo noutro.

Se esta aplicação, como cremos, tem algum sentido 220,o problema da teoria do comportamento deve ser visto deforma a considerá-lo como abstracção necessária cuja apli-cação positiva depende da fixação das suas condições intrín-secas de verificação, ou seja, de concretização do tipo ideala que corresponde. Na ausência dessas condições a maxi-mização é tendencial. Dado que enquanto tipo, esta moti-vação está presente, seja de forma remota ou não, em todasas decisões económicas, parece natural que todas elas o reve-lem de forma empírica, mas o que interessa, sobretudo emtermos de modelização predictiva, é determinar as condi-ções concretas de manifestação do tipo, ou seja, o conjuntode elementos expúrios que com ele interferem.

Neste sentido, em termos positivos, é necessária umateoria do comportamento imperfeito face aos tipos referi-dos, pois é esse o mais frequente.

Em termos teóricos e em termos normativos é possívelconstruir uma teoria ideal concebida para um domínio con-creto, mas as hipóteses de partida não podem abandonar arealidade. Em todo o caso, sem a teorização do comporta-mento imperfeito, só se podem construir modelos teóricos

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220 Ela é sugerida, de forma implícita, em certos passos do artigode Daniel BELL, “Models and Reality in Economic Discourse” in Bell,D., – Krystal I., op. cit.; vejam-se as páginas 69-70 e 77. Significati-vamente este autor aponta a ausência duma teoria de comportamentodo Estado.

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que, confrontados com a prática revelam tão só uma tendên-cia que, porque nessa mesma realidade existe necessariamente,é, de forma errada, tomada como uma manifestação doacerto da teoria. Esta comprovação, se existe, coloca-nosperante uma espécie de tautologia: porque os elementosbásicos estão presentes na realidade o modelo reflete-os; masna medida em que o modelo pressupõe a manifestação idealdesses elementos básicos presentes, ele não pode representarcabalmente uma realidade em que há outros vectores.

Parece haver, portanto, uma alternativa, consequêncianecessária do próprio sistema metodológico seguido, a deconstruir tipos igualmente rigorosos de comportamentomaximizador e não maximizador e determinar os elementosda presença simultânea de ambos. Isto poria em confrontoas diversas formas de racionalização possíveis e poderia even-tualmente produzir resultados tão formalizáveis quanto osdo modelo corrente,

A aplicação do modelo corrente, por seu turno, parececondenada à simplificação extrema e logo aos resultadosmitigados que já conhecemos.

No campo específico da economia da política e doproblema específico da escolha pública, estas observaçõesparecem ter alguma utilidade. É justamente no campo po-lítico que motivações alternativas à racionalização maximiza-dora são frequentes. É também aí que as perturbações aouniverso da concorrência são dominantes. O modelo decomportamento neo-clássico parece portanto mais limitadodo que a regra e o seu carácter ideal reforça-se. Justamentepor isso, os obstáculos práticos à sua demonstração são muitos.

5.6. Conclusão

A teoria da escolha pública incorpora um modelo cen-tral que consiste na aplicação da teoria do comportamentoracionalista e maximizador ao comportamento político.

Em si mesmo, isto é apenas uma extensão metodo-lógica. Só faz verdadeiro sentido, porém, se forem integra-

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das as variadas consequências que essa extensão implica.O que tal permite é tratar o mercado e a actividade pública,seja ela legislativa, administrativa ou directamente econó-mica, em termos paralelos.

Daqui decorre a necessidade de racionalizar tambémessas formas de decisão pública através da intervenção dateoria do comportamento racionalista, como meio de preen-cher o vazio quanto às motivações a que tradicionalmenteesta esfera de decisão é votada.

O resultado é a aplicação dos postulados maximizadoresao desempenho político. Esta aplicação provoca, no entanto,importantíssimas reservas.

Em primeiro lugar elas surgem no que toca à definiçãodessa maximização. E preciso distinguir a motivação mate-rial dos restantes aspectos, e encontrar um papel para estes.Não o fazendo, os modelos da escolha pública limitam a suaprópria necessidade de explicação empírica.

Esta limitação parece relevar de um problema concreto,a aplicação meramente analógica do raciocínio económico.Isto significa que se não encontrou qualquer lugar específicopara a teoria económica na sua relação com a economia.Há uma aproximação possível entre ambas as formas lógicas,mas ela só é interpretável se se identificarem os elementosracionais existentes na motivação política e que estão para ládo lucro material. Ao limitar-se a uma analogia estreita, con-substanciada também na aplicação de modelos retirados, semmais, da realidade económica, como o monopólio, a teoriasegue um caminho mais fácil mas autolimita-se. Não admirapois que esses modelos resultem muito pouco produtivos.

Em última análise esta busca do caminho mais fáciltraduz algum mal entendido entre aquilo que é uma hipó-tese de trabalho e a sua relação com o real: a hipótese é umtipo ideal afastado necessariamente da realidade. Por forçada especificidade da análise económica esse tipo ideal pro-duz resultados práticos, só que estes não estão à altura da

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sua conceptualização pura. Esse modelo é necessariamenteafastado da realidade, pelo que a sua aplicação tem de incor-porar a possibilidade desse mesmo afastamento. Para o apro-ximar da realidade é necessário incluir outras motivaçõesalternativas, que podem em si mesmas representar um outrotipo, capazes de identificar as causas dos desvios referidos.Sem essa inclusão a aplicação ao comportamento político dopostulado do comportamento racionalizante e maximizadorproduz resultados limitados.

Carlos Pinto CorreiaFaculdade de Direito

Universidade Clássica de Lisboa