Sobre artistas como intelectuais públicos

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  • 8/18/2019 Sobre artistas como intelectuais públicos

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    SOBREARTISTAS

    COMOINTELECTUAISPÚBLICOSRESPOSTAS A SIMON SHEIKH

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    SOBREARTISTAS

    COMOINTELECTUAISPÚBLICOSRESPOSTAS A SIMON SHEIKH

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    EQUIPE

    direção: Tainá Azeredo e Thereza Farkas

    programação visual e video: Habacuque Lima

    projeto gráfico: Lila Botter

    Participantes do Ciclo de Portfólios 2012

    Adriano Costa, Ana Maria Maia, Ananda Carvalho, Daniel de Paula,

    Flávia Junqueira, Garapa Coletivo Multimídia, Marcos Brias, Paula Garcia,

    Roberto Winter e Vitor Cesar

    Agradecimento: Simon Sheikh

    EQUIPE

    edição: Fernanda Carvalho e Renata Nascimento

    revisão: Semiramis Oliveira

    produção: Alessandra Arruda

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    Quando a Casa Tomada nos convidou para pensarmos alguma atividade de

    finalização do Ciclo de Portfólios 2012, iniciamos uma reflexão sobre a importância

    dialógica dessa ação. Frente à diversidade de iniciativas, que, como esta, baseiam-

    se nas apresentações de processos criativos e portfólios de trabalhos, pareceu-nos

    pertinente colocar em debate a condição discursiva do artista.

     

    Esta publicação resulta no registro de um debate acerca do tema. Os dez

    participantes da edição do evento foram levados a pensar o discurso do artista (e,

    extensivamente, do crítico de arte) em relação às suas ações poéticas e políticas.

    Não interessava-nos realizar um catálogo de portfólios que resguardasse o território

    de conforto de cada um, mas propor uma pauta comum a todos e provocar assim

    reações e tomadas de posição.

    Compartilhamos o texto “Representation, Contestation and Power: the artist as

    public intellectual” (“Representação, contestação e poder: o artista como intelectualpúblico”), escrito pelo crítico dinamarquês Simon Sheikh em 2004. O ensaio foi o

    nosso ponto de partida para um laboratório de tradução orientado pelo objetivo de

    tornar o conteúdo acessível em português e promover uma maior aproximação de

    todo o grupo com as ideias de Sheikh.

    A leitura do texto permitiu que cada um de nós se preparasse para um debate

    presencial no Paço das Artes, em 29 de março de 2012, e, à luz de nossas perspectivas

    individuais, respondesse às seguintes perguntas: como o seu processo artístico/crítico

    constrói-se como ato discursivo? Quem é você como artista intelectual público?

    Estas respostas compõem a publicação que se segue, juntamente com as

    versões do texto de Sheikh em português e em inglês. Ao reunir este material,

    esperamos poder lançar indicativos e suspeitas da condição do artista e do críticocomo “intelectuais públicos”.

    Ana Maria Maia e Ananda Carvalho

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    Um problema central para os artistas críticos hoje é a questão das interações

    com as estruturas que cercam a produção artística: os parâmetros para recepção

    (instituições, públicos, comunidades, circunscrições etc.) e as limitações e potenciais

    para comunicação em diferentes esferas (o mundo da arte, a mídia, espaços públicos,

    o campo político etc.). Sobre como vínculos são estabelecidos e sobre como eles são,

    de fato, quebrados. Isso pode ser discutido de diversas maneiras partindo do prático

    e metodológico, isto é: discussões acerca do uso de signos e espaços em instalações;

    sobre a concepção de ferramentas e políticas de representação; o papel ou função

    do artista /autor na construção de outros espaços e subjetividades, ou seja, redes

    alternativas e contra-públicos. Tais discussões devem focar não só na interface entre

    a instituição de arte e o indíviduo artista, tanto política quanto artísticamente, como

    também nas relações físicas em espaços políticos, no advento e uso de tecnologias e

    finalmente na constituição de redes de trabalho, linhas de comunicação e rotas de fuga.

    O artista como produtor depende então das estruturas nos quais ele ou ela está

    enredado, por meio de modos de enunciação e recepção específicos, historicamente

    contingenciados. O artista é, em outras palavras, uma figura pública específica que,

    Representação, contestação e poder:

    o artista como intelectual público

    Simon Sheikh (Outubro de 2004)

     

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    naturalmente, pode ser entendida de modos diferentes, mas

    que simultaneamente está sempre já colocado ou situado

    em uma sociedade específica, atribuído de uma função

    específica. Isso era, é claro, o que Michel Foucault apontava

    quando escreveu sobre a “função-autor” no seu ensaio

    “O que é um Autor?”. “O que é um Autor?” é uma análise

    institucional e epistemológica da figura do autor, que pode

    ser lida como uma problematização tanto da imaginação

    politicamente motivada do autor como produtor em Walter

    Benjamin, quanto do igualmente polêmico e instrutivo ensaio

    “A Morte do Autor” de Roland Barthes. Ao invés de eliminar

    ou transformar o autor, Foucault quer suspender ou conter o

    autor como uma função específica, invenção e intervenção

    (dentro do) no discurso:

     Trata-se de um regresso ao problema tradicional.Não mais pôr a questão: como é que a liberdade

    de um sujeito se pode inserir na espessura

    das coisas e dar-lhe sentido, como é que ela

    pode animar, a partir do interior, as regras de

    uma linguagem e tornar desse modo claros os

    desígnios que lhe são próprios? Colocar antes

    as questões seguintes: como, segundo que

    condições e sob que formas, algo como um

    sujeito pode aparecer na ordem dos discursos?

    Que lugar pode o sujeito ocupar em cada tipo de discurso, que funções

    pode exercer e obedecendo a que regras? Em suma, trata-se de retirar ao

    sujeito (ou ao seu substituto) o papel de fundamento originário e de o

    analisar como uma função variável e complexa do discurso.1

    1- Foucault, Michel. O que é um autor? . Tradução de Antonio Fernando Cascais e Eduardo Cordeiro. Portugal: Passagens,

    2002, p. 69-70. No original, Sheikh cita a versão norte-americana: “What is an author?”, 1969, em Language, Counter-

    memory, Practice, Cornell University Press: Ithaca, Nova York, 1977, pp.137-138.

    Simon Sheikh é

    crítico e curador,radicado entre Berlim

    e Copenhagem. Atua

    como pesquisador

    do projeto Former

    West, do BAK, Utrecht,

    e faz doutorado

    na Universidade

    de Lund. Colabora

    com as publicações

    Sprigerin, de Viena,

    e e-flux Journal,

    de Nova York. Suas

    últimas curadorias

    são Do You Remember

    the Future? , no Etagi,

    St. Petersburg, 2011,

    e Unauthorized , no

    Inter Arts Lab, Malmö,

    2012. Entre 2002 e

    2009, coordenou

    o Programa de

    Estudos Críticos da

    Malmö Art Academy.

    Atualmente, finaliza

    uma coletânia de

    ensaios pela b_books.

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    De acordo com Foucault, a função-autor é uma medida que diferencia e classifica

    o texto ou obra, que tem ramificações legais e culturais. Isso também significa que

    quaisquer potenciais reconfigurações daquela função requerem uma reconfiguração

    das instituições discursivas que as cercam. Nisto tanto a noção de Benjamin do

    autor como figura politicamente envolvida que questiona as relações de produção

    na sociedade industrial moderna (i.e. fordismo) e a mobilização pós-industrial de

    Barthes (na qual a morte do autor deveria levar ao nascimento do leitor, uma noção

    radicalmente diferente de ativação do público e supostamente aprofundamento

    da democracia) são, de fato, tentativas de reconfiguração da função do autor. Essa

    reconfiguração da função do autor/artista deveria ter acontecido através de novos

    modos de enunciação, que por sua vez configurariam novos receptores e espectadores,

    entendendo que um modo de enunciação é sempre uma relação estrangeira

    imaginária, uma tentativa de desenvolver um público, circunscrição ou comunidade.

    Então se entendermos o artista como intelectual público também devemos

    entender como esse público em potencial é construído e reconfigurado por meio do

    posicionamento e da função histórica e contingente do artista, por meio de sua esferapública específica, que também é definida pela estrutura na qual ele está enredado.

    Agora a concepção clássica de artista, ou de intelectual público, como uma figura do

    Iluminismo em uma esfera pública burguesa parece cada vez menos atual e puramente

    histórica. A noção de esfera pública burguesa como um espaço a ser acessado com

    igualdade de direitos e oportunidades por alguém na condição de sujeitos racionais-

    críticos (que sempre foi, é claro, uma projeção) é também um horizonte cada vez

    mais distante hoje. Não existe mais “um” público, mas ou público nenhum (entendido

    como livre-troca) ou vários públicos específicos, fragmentados. O modelo iluminista

    do Ocidente, que era tolerante, até certo ponto, à arte de vanguarda, à representação

    de valores que não os de conduta, ordem e produtividade burgueses, está agora

    suplantado por um modo mais completamente comercial de comunicação, por uma

    indústria cultural. Enquanto o modelo Iluminista tenta educar e situar seu público pormeio da disciplina, por meio de diversos modelos de exposição que identificavam

    os sujeitos como espectadores, a indústria cultural institui um modelo comunicativo

    diferente de intercâmbio e interação através da forma mercadoria, o que por sua vez

    identifica os sujeitos como consumidores. Para a indústria cultural, a noção de “o público”,

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    com seus modos de acesso e articulação contingentes, é substituída pela noção de

    “o mercado”, que implica troca de mercadorias e consumo como modo de acesso e

    interação. Isso também significa que a ideia do Iluminismo, sujeitos racionais-críticos e a

    ordem social disciplinar, é substituída pela noção de entretenimento como comunicação,

    como o mecanismo de controle social e produtor de subjetividades. Os espaços de

    representação clássicos burgueses são do mesmo modo ou substituídos por mercados,

    como o shopping que substitui a praça pública, ou transformados em espaços de

    consumo e entretenimento, como é o caso da atual indústria de museus. Igualmente, a

    antiga esfera pública comunista, que não era esfera pública como tal, mas uma questão

    entre estado e partido, foi substituída não pelo antigo modelo de cidadania ocidental,

    mas, pela formação do grupo de mercado/consumo como descrito anteriormente.

    Desta maneira, nós então também precisamos reconfigurar o papel do intelectual

    público como um sujeito racional-crítico, um sujeito universal, não como um

    sujeito completamente particular, que, como vejo, seria apenas a afirmação do

    modelo do grupo de consumo, mas, ao invés disso, como uma figura envolvida,e não desvinculada: no mesmo período da tese de Benjamin sobre os modos

    de enunciação, Antonio Gramsci estava defendendo um modelo diferente de

    intelectual, o denominado “intelectual orgânico”, uma figura envolvida não apenas

    com lutas, causas, mas também com produção em si2. De acordo com Gramsci,

    todos os homens eram intelectuais, embora nem todos eles tivessem esse papel (o

    potencial da intelectualidade de massa), um papel que tinha a ver com envolvimento,

    organização e movimentos. Desta forma, os profissionais do marketing e da

    propaganda, bem como os jornalistas, eram os novos intelectuais orgânicos do

    capitalismo, enquanto que professores e padres não podiam ser considerados

    intelectuais orgânicos uma vez que eles eram repetitivos. Hoje, trabalhadores

    precários certamente poderiam ser considerados esse tipo de intelectual, embora

    permaneça por ser discutido se eles estão a serviço do capital, da indústria cultural,

    ou em seu movimento contrário, uma luta pela multidão. Nós devemos, portanto,começar a pensar em artistas e intelectuais como não apenas engajados no público,

    2- Tradução a partir do inglês: Antonio Gramsci, “Intellectuals” (1932), no The Antonio Gramsci Reader , Lawrence and

    Wishart: London, 1999, pp. 301-311.

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    3- Tradução a partir do original em inglês: Michael Warner, Publics and Counterpublics.

    Nova York: Zone Books, 2002, pp. 121–122.

    mas como produtores de um público através do modo de enunciação e da definição

    de plataformas ou contra-públicos, algo que já existiu tanto no Ocidente quanto no

    Oriente, de maneira clandestina e underground, respectivamente, mas em oposição à

    hegemonia política e cultural reinante na sociedade específica.

    Contra-públicos podem ser entendidos como formações particulares paralelas,

    de caráter menor ou mesmo subordinado, em que discursos e práticas outros ou

    oposicionistas podem ser formulados e circular. Enquanto a noção clássica burguesa de

    esfera pública reivindica por universalidade e racionalidade, contra-públicos costumam

    buscar o oposto, e em termos concretos costumam implicar em uma transformação

    dos espaços existentes conforme outras identidades e práticas, como nos célebres usos

    de parques públicos para encontros gays. Aqui, o contexto arquitetônico, edificado

    para garantir certos tipos de comportamento, permanece inalterado, enquanto o uso

    deste contexto é drasticamente modificado: atos privativos são realizados em público.

    De acordo com Michael Warner, contra-públicos têm várias das mesmas características

    que os grupos normativos ou dominantes. Existem como um enunciado imaginário,um discurso/lugar específico, e envolvem circularidade e reflexividade. Por isso, são

    sempre tão relacionais quanto oposicionais. Na história da arte recente, a noção de

    “auto-organização”, por exemplo, costuma ser um termo oposicional, e certamente um

    termo credível, mas não é em si um contra-público. De fato, auto-organização é uma

    distinção de qualquer formação pública: ela constrói-se e postula-se como um público

    por meio de seu modo específico de enunciação. Mais do que isso, o contra-público

    é um espelhamento consciente das modalidades e instituições do público normativo,

    mas no esforço de enunciar outros sujeitos e de fato outros imaginários:

    Contra-públicos são ‘contra’ [apenas] para o espectro que eles tentam

    promover, de diferentes maneiras, de imaginar sociabilidades mais

    estranhas e suas reflexividades; como públicos, eles permanecem

    orientados para circunstâncias mais estranhas num sentido que não éapenas estratégico mas constitutivo de associações e seus efeitos3.

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    De especial interesse aqui, pode ser apontada não apenas a transformação das

    instituições de arte “burguesas” por agentes particulares, mas também o movimento

    atual de auto-institucionalização intencional, visto em plataformas relacionadas

    à arte, como o grupo 16 Beaven em Nova York; o b_books em Berlim; o Center of

    Land Use Interpretation em Los Angeles; o Center for Urban Pedagogy em Nova

    York; a Copenhagen Free University; a Community Art School em Zagreb; o Institute

    of Applied Autonomy em Boston; The Invisible Academy em Bankok, a School of

    Missing Studies em Nova York, Belgrado e Amsterdã; a University of Openness em

    Londres; e a Université Tangente em Paris4, todas elas de certa forma espelham e

    invertem as estruturas educacionais. Aqui discursos são estabelecidos e colocados

    em circulação não através de uma negação de sua condição pública, mas através de

    uma auto-institucionalização deliberada e tática. Máquinas sociais para produção de

    conhecimento tornam-se máquinas subjetivas – produzidas a partir da identidade ao

    invés de produtoras da identidade. Como afirmado por uma destas auto-instituições:

    Copenhagen Free University é uma voz num murmúrio de vozes. Nós nãosomos dois ou três indivíduos, nós somos uma instituição sujeita a várias

    relações sociais, em processo de ser produzida e produzir. Nós somos “os

    donos do pedaço”. Essa posição estabelece uma formação constante de

    novos contextos, plataformas, vozes, ações, mas também por meio de

    inatividades, recusas, evacuações, retiradas, êxodos. Segundo o situacionista

    Asger Jorn, a subjetividade é um ponto de vista dentro da matéria, “uma

    esfera de interesse”, e não necessariamente isso, o que é equivalente ao ego

    individualizado. […] Copenhagen Free University é uma “esfera de interesse”

    que surge da vida material que experimentamos e que sempre será politizada

    antes de tornámo-nos cidadãos. Nosso escopo é tanto local quanto global,

    busca companheiros de viagem virando a esquina e ao redor do mundo5.

    4- As plataformas citadas promovem agendas de fomento, discussão e ativismo através da arte, em seus diferentes contextos e a

    partir de seus diferentes perfis. No Brasil, poderíamos mencionar algumas iniciativas correlatas, dentre programas de residência

    e escolas livres. Neste panorama, a Casa Tomada, organização promotora do Ciclo de Portfólios que motivou esta publicação,

    reúne-se a iniciativas como o Capacete (RJ/SP), o Ateliê 397 (SP), o Intermeios (SP), a Casa da Xiclet (SP), o Bê Cúbico (PE), o Fora do

    Eixo (DF), o Dança no andar de cima (CE), os extintos Torreão (RS), Arco (SC) e Alpendre (CE), dentre tantos outros.

    5- Tradução a partir do original em inglês: Copenhagen Free University, “All Power to the Copenhagen Free University”, em We are all

    normal (and we want our freedom), Katya Sander and Simon Sheikh (Editores), Black Dog Publishing: London, 2001, pp. 394 – 395.

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    Nós estamos lidando aqui com uma noção do cotidiano, com uma tentativa de lidar

    com condições de vida dentro da economia do conhecimento do mundo pós-fordista,

    uma tática de movimento duplo, tanto contestação quanto abstenção. Nós também

    podemos descrever esse movimento como uma política da vida cotidiana, ao invés

    de política de representações, deliberações e/ou acordos. Isso implica, então, em uma

    noção diferente do “político”, isso não tem apenas a ver com movimento, mas também

    momento, o aqui e o agora, conforme as palavras de um outro autor, Stephan Geene:

    O que a b_books está disposta a fazer, no meu ponto de vista (embora

    isso não seja muito consensual no grupo), é manter um tipo específico de

    “opção” para “o político”, uma opção que é explicitamente não utópica,

    de qualquer maneira. A opção é baseada na premissa que o político não

    significa trabalhar por um objetivo político específico + também não tem

    nada a ver com sacrificar o tempo de vida de alguém, mas ao invés disso

    investir na “máquina” que gera “o tempo (de vida) de alguém” em um

    processo político6.

    Deixe-me oferecer outra definição de contra-público: o que está em jogo aqui

    é a articulação de experiência. Trata-se de assemblage e não de performance.

    Enquanto as instituições da indústria cultural apenas oferecem um sem fim de

    “novas experiências”, a produção dos organismos auto-institucionalizados tende

    notadamente a parecer chata, não-espetacular na organização da experiência.

    Nestes tempos de um capitalismo global em expansão, corporativização da cultura

    e criminalização da esquerda crítica, torna-se mais do que apropriado, mas de

    fato crucial se discutir e acessar modos de crítica, participação e resistência na

    zona potente entre o campo cultural e a esfera política. Ou em outras palavras,

    o campo potente entre a representação política e a política representacional,

    entre a apresentação e a participação. É nossa convicção que o campo cultural éuma ferramenta útil para criar plataformas políticas e novas formações políticas

    6- Tradução a partir do original em inglês: Stephan Geene, “self-portrait of more than me: a group – or its fragments”, in:

    Simon Sheikh (Ed.), In the place of the Public Sphere?, Oe / b_books: Berlim, 2004, p. 215.

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    ao invés de uma plataforma fundamental em si mesma; que arte importa ou ao

    menos deveria importar e não apenas ser um playground para expressão e análise

    pessoais. Entretanto, tal projeto demanda pensamento, análise e, não por fim, uma

    consideração do que esses termos, política e cultura, implicam na situação atual.

    Primeiro de tudo, é óbvio que ambas as arenas têm sido pluralizadas e fragmentadas,

    se não dispersadas e dissolvidas ao longo da era pós-moderna vigente. Nós não

    podemos mais falar de categorias homogêneas no singular, mas ao invés disso

    de várias esferas políticas e campos culturais que às vezes se conectam e/ou se

    sobrepõem e às vezes reivindicam autonomia e/ou isolamento. Ambas as arenas

    implicam uma grande subdivisão de redes, agentes e instituições.

    No estado de bem-estar social ocidental, o campo cultural costuma ser visto como

    idealmente autônomo da esfera política, e por isso é estruturado, financiado e

    institucionalizado como uma entidade separada, algo a parte do político como uma

    esfera pública independente. Estranhamente, é também essa relativa autonomia que

    gerou para o campo cultural seu potencial para crítica política e discussão – isso foiremovido da representação política e do controle diretos permitindo uma diferente

    produção de conhecimento e um processo reflexivo. Infelizmente, é também

    essa autonomia relativa que deflagra a des-politização da produção cultural e a

    configuração do mundo da arte como um clube exclusivo e elitista. Entretanto, com

    a investida neoliberal pelo Ocidente, a cultura está crescentemente sendo privatizada

    e corporativizada, tanto em termos de financiamento quanto de produção. A cultura

    corporativa cria imagens e subjetividades dominantes ao invés das chamadas

    culturas narrativas, ou contra-culturas. E o neoliberalismo está agora alinhando-se,

    sem problemas, com a onda de um “fino” fascismo europeu, em governos eleitos

    democraticamente na Áustria, na Dinamarca, na Holanda, entre outros, suscitando

    um menosprezo do intelectualismo de esquerda e do ativismo político, em algumas

    instâncias até criminalizando ativistas na esteira do 11 de setembro.

    Esse estado de bem-estar social atual, tanto no campo cultural quando na esfera

    política, conduz a uma possível radicalização ao invés de instaurar um mainstream 

    de práticas críticas na arte e no ativismo, algumas vezes estrategicamente e outras

    de maneira involuntária. É uma luta em duas frentes, direcionada para o mainstream 

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    político atual e também para dentro do fazer das identidades e plataformas

    políticas: o que podemos fazer por nós mesmos? Tal esforço, contudo, certamente

    requer mais pensamento sobre as noções de cultura e política, mas também sobre

    construções de identidade, noções de localidade ou, se você quiser, a mediação

    entre particularidade e universalidade, espaços públicos e estratégias ativistas, redes

    de trabalho e circunscrições. Na criação de equivalência e tradução, nós podemos

    aprender do ativismo da Aids, como sugeriu o artista/ativista Gregg Bordwich:

    REMÉDIO NO MEU CORPO JÁ. Isso requer uma negociação em andamento, tradução

    e articulação entre agentes interessados e grupos. É necessário estabelecer redes,

    para comparar e mediar práticas como também teorias. Arte importa, certamente,

    mas arte não é suficiente.

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    Como o seu processo artístico constrói-se

    como ato discursivo? Quem é você como

    artista intelectual público?

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    O processo já é discurso. O que mais me interessa são os

    procedimentos específicos na construção de cada trabalho. Oresultado “físico” da obra/objeto não é, absolutamente, onde

    eu encontro razão para fazer arte. Acredito que meus trabalhos

    revelam bastante esse trajeto (processo/procedimento), o que

    responde satisfatoriamente a segunda questão... talvez.

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    Adriano Costa vive

    e trabalha em São

    Paulo. Graduado em

    Artes Plásticas pela

    ECA-USP. Principais

    exposições: Black

    Barroco, Galeria

    Polinésia, São Paulo,

    2009; Programa

     Anual de Exposições

    Centro Cultural São

    Paulo, 2010; 17º

    Festival Videobrasil ,

    SESC Belenzinho,

    São Paulo, 2011;

    Convite à Viagem –

    Rumos Itaú Cultural ,

    São Paulo, 2012. Foi

    premiado com a

    Residência Artística

    – Kiosko, Santa Cruz

    de la Sierra, Bolívia,

    pelo 17º Festival

    Videobrasil, 2011.

    Cena do filme Juventude de Ingmar Bergman

    16/17

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    Na condição de crítica e curadora, não tenho um trabalho que se

    enuncie por si só, ou como uma resposta isolada ao mundo em que vivo.

    Apesar de ocupar grande parte da minha rotina com atos de fala, como

    textos, aulas, edições, exposições, entendo que minha prática discursiva

    só se dá a partir da margem que disponibilizo para a escuta, para a

    negociação de sentidos e para a mediação de um ciclo de alteridade.

     Tenho a tarefa de motivar convívios e embates entre as instâncias de

    uma cadeia que envolve artistas, instituições e público.

    Essa zona de cooperações e também de irredutíveis desacordos constitui

    uma esfera pública que possibilita e simultaneamente torna-se alvo do

    meu trabalho. Fomentá-la na escala da “política do cotidiano” descrita

    por Sheikh parece ser um caminho, mas, acima de tudo, uma razão

    para se pesquisar arte. Este projeto de dupla embocadura (participação

    e resistência, proposição e crítica) parece ser uma maneira de se

    estabelecer uma relação implicada entre arte e sociedade.

    Na minha prática, acredito vivenciar a condição de “intelectual público” à

    medida em que assumo como premissa, motriz, ou ao menos tentativa,

    a tarefa de diferenciar os conteúdos da arte de dois riscos opostos: de

    um lado, a autonomia que os tornaria estéreis; do outro, a aceitação queos indistinguiria e neutralizaria sua radicalidade. Neste gesto pendular,

    diante de um redesenho constante do que seria “o problema”, julgo

    fundamental a disponibilidade de críticos e artistas para os atos de fala e

    escuta, para o comum a outros.

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    Ana Maria Maia 

    (Recife, 1984), é

     jornalista (UFPE,

    2007) e mestre

    em História da

    Arte (Faculdade

    Santa Marcelina,

    2012). Desde 2006,

    pesquisa e escreve

    sobre arte. É

    curadora do Rumos

    Artes Visuais, do Itaú

    Cultural (2011-2012) e

    integra o Núcleo de

    Pesquisa e Curadoria

    do Instituto Tomie

    Ohtake. Foi assistente

    de curadoria da 29ª

    Bienal de São Paulo

    (2009 – 2010). Em

    2006, criou o PortalDois Pontos – Arte

    Contemporânea

    em Pernambuco.

    Mora em São Paulo

    desde 2009.

    18/19

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    Ananda Carvalho 

    é curadora, crítica

    de arte e professora

    universitária.

    Doutoranda e Mestre

    em Comunicação eSemiótica pela PUC-

    SP. Foi colaboradora

    do Canal

    Contemporâneo,

    participou da

    residência Ateliê

     Aberto #5 na Casa

     Tomada e integra oNúcleo de Críticos

    do Paço das Artes.

    Sua pesquisa de

    doutorado (com

    apoio de bolsa

    CNPq) enfoca

    os processos de

    criação e os espaços

    comunicacionais de

    redes curatoriais.

    Vive e trabalha em

    São Paulo.

    [...o contemporâneo não é apenas aquele

    que, percebendo o escuro do presente,

    nele apreende a resoluta luz; é também

    aquele que, dividindo e interpolando o

    tempo, está à altura de transformá-lo e

    de colocá-lo em relação com os outros

    tempos, de nele ler de modo inédito

    a história, de citá-la segundo uma

    necessidade que não provém de maneira

    nenhuma do seu arbítrio, mas de uma

    exigência à qual ele não pode responder.]

    (Agambem, 2009, p. 72)

    [...o conceito de rede, que parece

    ser indispensável para abranger

    características marcantes dos

     processos de criação, tais como:

    simultaneidade de ações, ausência

    de hierarquia, não linearidade e

    intenso estabelecimento de nexos. Este

    conceito reforça a conectividade e a

     proliferação de conexões, associadas ao

    desenvolvimento do pensamento em

    criação e ao modo como os artistas se

    relacionam com seu entorno.]

    (Salles, 2008, p. 17).

    [...as transformações tecnológicas nos

    obrigam a considerar simultaneamente

    uma tendência à homogeneização

  • 8/18/2019 Sobre artistas como intelectuais públicos

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    universalizante e reducionista da subjetividade e uma tendência heterogenética, quer dizer,

    um reforço da heterogeneidade e da singularização de seus componentes.]

    (Guattari, 1992, p. 15).

    [Somente a partir de uma disponibilidade que seria intrínseca à condição de obra de

    arte – algo em situação – é que se pode resumir sua trajetória a sequências de encontros;

    somente, é claro, se essa disposição estiver inscrita desde sempre, a prescrever ritmos e a

    indicar uma multiplicidade de recepções possíveis (mesmo que contraditórias).]

    (Basbaum, 2009, p. 204)

    Para discutir o processo artístico como ato discursivo, proponho aqui

    uma ampliação de leituras, uma rede de pensamento a partir de

    autores que são caros à minha pesquisa. Essa pequena teia procuraestimular uma adição, ou melhor, uma ação de multiplicação para

    observar o contexto específico do meu olhar para (e como) “o artista

    intelectual público”. Para mim, a interconexão entre comunicação,

    experiência, redes e processos de criação é a base para pensar

    potências criativas e diálogos expressivos. A construção de um

    discurso pode ser vista assim mesmo como uma rede aberta,

    constantemente tencionada pelo desejo assertivo de fechamento,

    uma busca por experiências relacionais entre eu pesquisadora,

    artistas, trabalhos e vivências. Considerando essa possibilidade, o ato

    público emerge através da troca, na própria rede, na esperança de

    não ser isolado e constituir uma continuidade.

    AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? e outrosensaios. Chapecó, SC: Argos, 2009.BASBAUM, Ricardo. “Quem é que vê nossos trabalhos?” In:FERREIRA, Glória e PESSOA, Fernando (org.) Criação e crítica:Seminários Internacionais do Museu Vale. Vila Velha, ES:

    Museu Vale; Rio de Janeiro: Suzy Muniz Poduções, 2009.GUATTARI, Félix. Caosmose: um novo paradigma estético.Rio de Janeiro: Editora 34, 1992.SALLES, Cecilia Almeida. Redes de Criação. Vinhedo:Editora Horizonte, 2008.

    REFERÊNCIAS

    20/21

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    Suporte-afirmação

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    Daniel de Paula 

    (Boston, EUA.1987).

    Mudou-se para

    São Paulo onde

    ingressou na

    Faculdade de Artes

    Plásticas da FAAP.

    Recentemente foi

    premiado no CCSP.

     Também recebeu

    prêmio na exposição

    EDP no Tomie

    Ohtake. Participou

    da exposição

    Experiência Hélio

    Oiticica, no Itaú

    Cultural. Esteve

    presente também na

    mostra O Desvio é O

     Alvo. Dentre diversas

    exposições na Casa

    da Xiclet destaca-se

    a mostra Emergênese.

    Ainda este anoirá participar da

    residência artística

     Ateliê Aber to #6 da

    Casa Tomada.

    Um artista não há de perceber (e consequentemente

    debruçar-se sobre) distintas situações e dispositivos

    de locução por meio de uma categorização

    hierárquica. Tal movimento pode, feito pódio,

    estabelecer uma relação de superioridade e

    inferioridade, gerando assim, uma hierarquia

    de esforço do próprio artista e da arte. Deve-se

    distinguir pódio de particularidade, enxergando

    em cada oportunidade, seja ela a apresentação

    de um trabalho no espaço expositivo, uma

    publicação, uma fala, uma pergunta, um projeto

    etc., uma potencialidade específica que é inerente à

    linguagem de determinado dispositivo/situação.

    Cada escolha, negociação, concessão eprincipalmente cada palavra é em si uma

    partícula política/poética que não está descolada

    da obra, mas que constitui o próprio corpo da

    obra do artista.

    O ato discursivo como partícula política/poética

    é simultaneamente afirmação e suporte, em que

    artista e público, por meio de um determinado

    aparato, constantemente invertem as funções de

    propositor e receptor. Portanto, a partir de uma

    série de relações entre os agentes presentes no ato

    discursivo (obra, público, instituição e o próprio

    artista), torna-se possível ressignificar, desde o interiordo acontecimento, tudo e todos ali presentes.

    O artista intelectual público sabe que a arte não é

    exclusividade do artista.

    22/23

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     O artista como intelectual público é na minha

    opinião aquele que tem como necessidade principal

    comunicar. Apesar da afirmação parecer simples e

    óbvia quando falamos de todo e qualquer tipo de

    artista, acredito que é importante pensar sobre o

    significado do ato discursivo presente em comunicar,

    antes mesmo de decidir o que se deseja comunicar

    em um trabalho.

    Isso acontece porque comunicar não significa

    somente transmitir uma ideia através de nossos

    sentidos físicos e nossas metodologias racionais,

    mas sim causar efeitos reais dentro do outro.

    Isso significa criar e proporcionar ao público a

    identificação, o deslocamento e o envolvimento

    para além de um objeto exteriorizado, seja elefruto de qualquer escolha.

    Como artista, costumo observar as representações

    externas do mundo e notar que em minha

    particularidade, meus olhos enxergam algumas coisas

    em formato amplificado. Uso a palavra particularidade,

    porque obviamente muito do que vejo e me toca, não

    é o que vê e toca o outro.

    O desafio hoje, ao meu ver, reside em dois aspectos

    principais: a necessidade do artista formalizar sua

    pesquisa com coerência para causar um efeito no

    outro e como ele pretende atuar no âmbito coletivopara além de seu objeto plástico.

    A maior dificuldade para mim como jovem artista,

    dentro de meu processo particular, é de fato atuar

    Flávia Junqueira 

    vive e trabalha

    em São Paulo. É

    mestranda em

    Poéticas Visuais pela

    USP sob orientação

    do Prof. Dr. Mário

    Ramiro e bacharel

    em Artes Plásticas

    pela FAAP. Integrou

    em 2010 o Programa

    PIESP da Escola São

    Paulo. Recentemente

    participou da

    residência Cité

    Internationale

    Dês Arts em Paris,

    através de bolsa

    contemplada pela

    FAAP. Também

    participou do

    programa deresidências da

    Izolyatsia’s Platform

    for Cultural Initiatives

    na cidade de Donestk

    na Ucrânia.

  • 8/18/2019 Sobre artistas como intelectuais públicos

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    Flávia Junqueira - Gorlovka 1951#7 , 2011.Ampliação fotográfica em metacrilato, 70x100cm

    nessas duas etapas da comunicação. O grande ponto na maioria das vezes é criar

    distanciamento para, com clareza, fazer-se compreendido e encontrar a melhor

    maneira de formalizar o trabalho. Mas para além disso, o desafio é também gerar

    novas possibilidades para o artista que deseja amplificar o seu contato com o público.

    Neste sentido, confesso que ainda estou em processo de descobertas, pois criar

    uma ideia e eleger a melhor maneira de formalizá-la como ato discursivo já é algo

    bastante complexo.

    Entendo deste modo, que algumas questões que foram discutidas aqui, significam

    nada mais do que partes contribuintes de uma elaboração na qual estamos

    adicionando informações aos poucos. Para alcançarmos novas etapas, apesar

    de algumas já existirem inerente às anteriores (como esta publicação), ainda

    necessitamos de maior dedicação e aprimoramento.

    24/25

  • 8/18/2019 Sobre artistas como intelectuais públicos

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    Garapa Coletivo

    Multimídia é um

    espaço de criação

    coletiva. Temos como

    objetivo pensar e

    produzir narrativas

    audiovisuais,

    integrando diversos

    formatos, linguagens

    e modelos de

    distribuição.Desenvolvemos

    projetos para

    ambientes distintos:

    vamos da fotografia

    estática à interação

    multiplataforma, do

    vídeo à instalação

    site specific .

    Somos um espaço de criação coletiva e nossa produção se

    desdobra em diferentes suportes: impressos, online, vídeos,

    stills, intervenções. Essa pluralidade de formatos assumidos

    é simultameamente fruto do tempo que habita, assim comoa representação da auto-distribução. Compartilhamento,

    formação de redes, núcleos produtivos e criação de alternativas

    ao mercado estabelecido são parte essencial do que nos define

    como artistas. A discussão dos próprios formatos nos quais

  • 8/18/2019 Sobre artistas como intelectuais públicos

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    Garapa ColetivoMultimídia - intervenções

    da série Deslocamentos (deslocamentos.tumblr.com)

    trabalhamos, como a fronteira entre imagem estática e em movimento, também faz

    parte de nossa pesquisa, assim como a tênue relação atual entre o público e o privado.

    Além disso, refletimos sobre o processo de diluição do conceito de autoria e nosapresentamos. O autor mitificado, aquele sacralizado como gênio criador, dá lugar a

    um ambiente no qual autores dialogam, trocam experiências e criam com base em

    um discurso já experimentado coletivamente. Esse discurso não é simplesmente fruto

    de um consenso, mas a criação de um novo sentido, um novo índice.

    26/27

  • 8/18/2019 Sobre artistas como intelectuais públicos

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     Marcos Brias, 1981.

    Vive e trabalha em

    São Paulo, Brasil.

    Sua prática está

    interessada

    na natureza

    construída das

    narrativas – pessoal,

    social, histórica e

    linguística. O que é

    construído pode serdesconstruído. Como

    tal, a sua obra aborda

    a precariedade

    do significado

    verbal e visual;

    ambos são arranjos

    fundamentalmente

    formais que podem

    ser colocados fora

    de alinhamento ou

    re-editados.

    Marcos Brias, trecho do texto“Threatens to meet”, 2012

  • 8/18/2019 Sobre artistas como intelectuais públicos

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    Meu processo artístico se faz discurso no momento do trabalho/obra

    finalizado e apresentado. Assim, o trabalho/obra ele mesmo, quando

    tornado público, se oferece à produção de discurso – e não como “O

    Discurso do Artista” a priori .

    No meu entender, o Artista (produtor/proponente da obra) deve

    “morrer” para que o trabalho/obra exista como gerador de discurso.

    Meu posicionamento crítico do mundo que me cerca [enquanto

    testemunho discursivo] pode oferecer “entradas” e/ou uma leitura do

    meu trabalho/obra, mas em última instância, acredito que todas essas

    “tomadas de posição” estão encerradas no próprio trabalho/obra, todoo “como” está contemplado na própria formalização e, na medida do

    possível, no tornar público da mesma – resultando num objeto/obra/

    trabalho capaz de transcender questões específicas ao tempo e espaço

    em que foi criado.

    Isso também responde à segunda questão proposta, de alguma

    maneira, quando digo que para o trabalho/obra existir publicamente o

    artista (como proponente de um discurso específico) deve “morrer”.

    Eu, Marcos Brias, artista, não sou um intelectual público sensu stricto,

    senão parte de uma sociedade num tempo e espaço específicos.

    O que eu torno público não é a minha pessoa ou fala, e sim meutrabalho/obra, e finalmente é isso que gera discurso, e não o contrário.

    O que sobra do artista no trabalho é sua própria ruína, uma ruína rica e

    pregnante - testemunho silencioso que possibilita a fala.

    28/29

  • 8/18/2019 Sobre artistas como intelectuais públicos

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     Corpo Ruído: precariedade, incerteza e risco

    Minha pesquisa atual consiste no desenvolvido de um procedimento

    artístico chamado Corpo Ruído. Criei uma série de performances com

    ímãs de neodímio e retalhos de ferros recolhidos em serralheria. Com

    esses materiais comecei a propor situações em que meu corpo ficaria

    parcialmente entrevado em decorrência principalmente do peso dos

    ferros que estavam colados nele. Os ímãs “colam” os ferros no corpo

    sem deixar resíduos através da força do magnetismo. O magnetismo,

  • 8/18/2019 Sobre artistas como intelectuais públicos

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    Paula Garcia, vive

    e trabalha em

    São Paulo. Mestre

    em Artes Visuais

    pela FASM-SP e

    bacharel em Artes

    Plásticas pela FAAP.

    Suas pesquisas e

    experiências artísticas

    enfocam performance

    e suas relações comas mídias. Principais

    exposições: 6ª Edição

    da Mostra Anual de

    Performance, Galeria

    Vermelho - SP (2010);

    Galeria Expandida,

    Luciana Brito Galeria

    - SP (2010); 17º Festival

    Internacional de Arte

    Contemporânea

    Videobrasil_SESC ,

    SESC Belenzinho - SP;

    Performa Paço, Paço

    das Artes - SP (2011).

    Paula Garcia, # 3 (da série CorpoRuído - performance), PerformaPaço, Paço das Artes, 2011

    aliás, está presente de várias maneiras em nosso cotidiano,

    pelas ondas eletromagnéticas como as encontradas nos

    aparelhos de som e nos transportes. Assim, os imãs em

    meu trabalho são elementos para discutir forças não

    só subjetivas, mas também sociais, que atuam para a

    consolidação de um sistema de poder que termina por

    moldar corpos, moldar sentimentos, moldar subjetividades,

    moldar verdades etc. E o que se vê, na verdade, são corpos

    em desmontagem, em desmoronamento.

    30/31

  • 8/18/2019 Sobre artistas como intelectuais públicos

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    Roberto Winter é

    artista. Vive e trabalha

    em São Paulo. Pode

    ser contatado em

    [email protected]

     

    Detalhe de A extração da pedra, de HyeronimusBosch, c. 1494, óleo sobremadeira, 48 x 35 cm

  • 8/18/2019 Sobre artistas como intelectuais públicos

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    Se pergunta de um “como” sobre um certo “o quê”.

    E essa pergunta parece pressupor a existência do “o

    quê”. Responder sobre “como o processo artístico se

    constrói como ato discursivo” pede que se responda

    sobre a pretensão do processo artístico em construir

    um ato discursivo. Que se responda: “seu processo

    artístico constrói-se como ato discursivo?”.

    Se pergunta de uma “construção” de ‘algo’ por um

    ‘agente’. E essa pergunta parece pressupor uma

    intenção de alguma forma construtiva, alguma

    positividade que se especificaria a priori . E essa

    pergunta também parece pressupor a existência de

    um empreendedor construtivo. Responder sobre “se

    o processo artístico constrói-se como ato discursivo”

    pede que se responda sobre a construção de umato discursivo. Que se responda: “constrói-se um

    ato discursivo?”. E responder sobre “se o processo

    artístico constrói-se como ato discursivo” pede que

    se responda sobre a pretensão auto-construtiva

    de um processo artístico. Que se responda: “seu

    processo artístico constrói-se?”.

    Se pergunta de um “resultado” de um ‘processo’.

    E essa pergunta parece pressupor a existência

    de um processo. Responder sobre “se o processo

    artístico constrói-se” pede que se responda sobre

    a atividade artística como processo: “qual é seu

    processo artístico?”.

    Se pergunta sobre um certo “o quê”… Afinal a

    resposta toma um pouco mais que os dez twits 

    reservados para ela.

    32/33

  • 8/18/2019 Sobre artistas como intelectuais públicos

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    Vitor Cesar

    (Fortaleza, 1978).

    Artista, vem

    desenvolvendo

    propostas que

    procuram constituir

    noções de público

    através de dinâmicas

    da vida cotidiana, por

    meio de exposições,

    trabalhos gráficos,

    debates e outros

    projetos. Estudou

    Arquitetura e

    Urbanismo na UFC

    (2003), realizou

    mestrado em Artes

    Visuais na ECA/USP

    (2009), com pesquisa

    sobre as propriedades

    críticas da arte na

    constituição de

    esferas públicas.

    Ao desenvolver um trabalho ou uma obra, o artista tem destinatários em

    seu horizonte, ainda que sejam desconhecidos ou mesmo ficcionais. Esta

    consideração admite a dimensão política da arte, pois trata de uma forma

    de articulação de ideias que considera um espaço comum estabelecido

    entre duas ou mais pessoas para a produção de sentido.

    Este espaço comum é um lugar de visibilidade, onde os discursos

    ou os modos de entender e estar no mundo aparecem para outras

    pessoas: um espaço público – não necessariamente físico, mas um

  • 8/18/2019 Sobre artistas como intelectuais públicos

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    lugar de debate crítico. Nessas condições não é possível separar a forma de um

    discurso de seu conteúdo. É o mesmo que tentar definir algo apenas como teórico ou

    apenas como prático. Ao se tornar visível, todo discurso tem uma forma.

    No espaço público estabelecem-se acordos e desacordos que resultam de múltiplasmaneiras de percepção do mundo. A partir daí formulam-se, por um lado, modos de

    conduta e, por outro, desconstruções críticas destes modos. Assim, poderíamos pensar

    que não reconhecer a condição política da arte seria optar por manter ou conservar

    (conservador) um sentido comum dado da arte (facilmente adaptada) no mundo.

    Vitor Cesar, Artista éPúblico. Exposição Caos eEfeito, Itaú Cultural, 2011

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  • 8/18/2019 Sobre artistas como intelectuais públicos

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     The artist as a producer is thus dependent on the apparatus through which he or

    she is threaded, through specific, historically contingent modes of address and

    reception. The artist is, in other words, a specific public figure that can naturally be

    conceived in different ways, but which is simultaneously always already placed or

    situated in a specific society, given a specific function. This was, of course, what Michel

    Foucault was driving at when he wrote of “the author-function” in his essay “What is

    an Author?”. [1] “What is an Author?” is an institutional and epistemological analysis

    of the figure of the author, which can be read as a problematization of both Walter

    Benjamin’s politically motivated imagining of the author as producer, as well as Roland

    Barthes’ equally polemic and instructive essay “The Death of the Author”.[2] Rather

    than eliminating or transforming the author, Foucault wants to suspend or bracket the

    author as a specific function, invention and intervention (with)in discourse:

    We should suspend the typical questions: how does a free subject [such as

    an author or artist, supposedly] penetrate the density of things and endow

    them with meaning; how does it accomplish its design by animatingthe rules of discourse from within? Rather, we should ask: under what

    conditions and through which forms can an entity like the subject appear

    in the order of discourse; what position does it occupy; what functions does

    it exhibit; and what rules does it follow in each type of discourse? In short,

    the subject (and its substitutes) must be stripped of its creative role and

    analysed as a complex and variable function of discourse.[3]

    According to Foucault the author-function is a measure that differentiates and

    classifies the text or work, which has both legal and cultural ramifications. This also

    means that any potential reconfigurations of that function require a reconfiguration

    of discursive institutions surrounding it. In this both Benjamin’s notion of the author as

    a politically involved figure questioning relations of production in modern industrial

    [1] Michel Foucault, “What is an Author?”, 1969, reprintedin Language, Counter-Memory, Practice, CornellUniversity Press: Ithaca, New York, 1977, pp. 113-138.

    [2] Walter Benjamin, “The Author as Producer”, 1934,reprinted in Reflections, Harcourt Brace Joanovich: New

    York, 1978, pp. 220-238. Roland Bar thes, “The Death of theAuthor”, 1967, reprinted in Image-Music-Text, Hill & Wang:New York, 1977, pp.142-148.

    [3] Foucault, op.cit., p.137-8.

    36/37

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    society, a.k.a. fordism, and Barthes’ post-industrial call to arms, where the death of the

    author should lead to the birth of the reader, which is a radically different notion of

    activating the public and presumably deepening democracy, are, in effect, attempts

    at reconfiguring the function of the author. This reconfiguration of the author/artist

    function was to take place through new modes of address, which would in turn

    configure new modes of receivership or spectatorship in the sense that a mode of

    address is always an imaginary stranger relationality, an attempt at developing an

    audience, constituency or community. So if we are to understand the artist as a public

    intellectual, we also have to understand how this potential public is constructed and

    reconfigured through the historical and contingent placing or function of the artist,

    through his or her specific public sphere, which is also termed the apparatus through

    which the artist is threaded.

    Now the classical conception of the artist, or the public intellectual, as an

    Enlightenment figure in a bourgeois public sphere seems less and less up to date

    and purely historical. The notion of the bourgeois public sphere as a space to beentered with equal rights and opportunities as rational-critical subjects, which has

    always been a projection of course, is also an increasingly receding horizon today.

     There no longer is “a” public, but rather either no public at all (as understood as free

    exchange), or a number of fragmented, particular publics. The enlightenment model

    of the west, which was tolerant, to some extent, of avant-garde art, of representing

    values other than bourgeois values of conduct, order and productivity, has now

    been superseded by a more thoroughly commercial mode of communication, by

    a cultural industry. Where the Enlightenment model tried to educate and situate its

    audience through discipline, through various display models identifying subjects

    as spectators, the cultural industry institutes a different communicative model of

    exchange and interaction through the commodity form, in turn identifying subjects

    as consumers. For the cultural industry, the notion of “the public”, with its contingent

    modes of access and articulation, is replaced by the notion of “the market”, implyingcommodity-exchange and consumption as modes of access and interaction. This also

    means that the idea of the Enlightenment, rational-critical subjects and a disciplinary

    social order, is replaced by the notion of entertainment as communication, as the

    mechanism of social control and producer of subjectivity. The classic bourgeois

  • 8/18/2019 Sobre artistas como intelectuais públicos

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    spaces of representation are likewise either replaced by markets, such as the mall

    replacing the public square, or transformed into a space of consumption and

    entertainment, as is the case in the current museum industry. Similarly, the former

    communist public sphere, which was no public sphere as such, but a matter between

    state and party, has been replaced not by the former citizen-model of the west, but

    by the market/consumer-group formation as just described.

    As such, we then also have to reconfigure the role of the public intellectual as a

    rational-critical subject, a universal subject, not as a thoroughly particular subject,

    which - as I see it - would only be an affirmation of the consumer-group model, but

    rather as an involved instead of detached figure: at the same time as Benjamin’s thesis

    dealing with the mode of address, Antonio Gramsci was defining a different model

    of the intellectual, the so-called “organic” intellectual, which was a figure that was

    involved not only in struggles, in causes, but also in production itself.[4] According

    to Gramsci all men were intellectuals, although not everyone had that role (the

    potential of mass intellectuality), a role that had to do with involvement, organizingand movements. As such, marketing and advertising men as well as journalists were

    the new organic intellectuals of capitalism, whereas teachers and priests could not

    be considered organic intellectuals, since they were repetitive. Today, precarious

    workers could certainly be considered this kind of intellectual, although it remains

    to be discussed whether they are in the service of capital or the cultural industry or

    in its counter-movement, a struggle for the multitude. We must therefore begin to

    think of artists and intellectuals as not only engaged in the public, but as producing

    a public through the mode of address and the establishment of platforms or counter

    publics, something that has already existed in both the east and west, clandestinely

    and underground respectively, but in opposition to the reigning cultural and political

    hegemony of the specific society.

    Counter-publics can be understood as particular parallel formations of a minor oreven subordinate character where other or oppositional discourses and practices

    [4] Antonio Gramsci, “Intellectuals” Prison Notebooks Q 12, 1932, reprinted in The Antonio Gramsci Reader, Lawrenceand Wishart: London, 1999, pp.301-311.

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    can be formulated and circulated. Where the classic bourgeois notion of the public

    sphere claimed universality and rationality, counter-publics often claim the opposite,

    and in concrete terms often entail a reversal of existing spaces into other identities

    and practices, most famously as in the employment of public parks as cruising areas

    in gay culture. Here, the architectural framework, set up for certain types of behaviour,

    remains unchanged, whereas the usage of this framework is drastically altered: private

    acts are performed in public.

    According to Michael Warner, counter-publics have many of the same characteristics

    as normative or dominant publics - existing as an imaginary address, a specific

    discourse and/or location, and involving circularity and reflexivity - and are therefore

    always already as much relational as they are oppositional. In recent art history the

    notion of “self-organization”, for example, is most often an oppositional term, and

    certainly a credible one, but it is not itself a counter-public. Indeed, self-organization is

    a distinction of any public formation: it constructs and posits itself as a public through

    its specific mode of address. Rather, the counter-public is a conscious mirroring ofthe modalities and institutions of the normative public, but in effort to address other

    subjects and indeed other imaginaries:

    Counterpublics are “counter” [only] to the extent that they try to supply

    different ways of imagining stranger sociability and its reflexivity; as

    publics, they remain oriented to stranger circulation in a way that is not

     just strategic but constitutive of membership and its affects. [5]

    Of particular interest here, is not only the transformation of “bourgeois” art institutions

    by particular agents, but also the current movement of wilful self-institutionalization

    seen in such art related platforms as 16 Beaver group in New York, b_books in Berlin,

    Center for Land Use Interpretation in Los Angeles, Center for Urban Pedagogy in

    New York, Copenhagen Free University, Community Art School in Zagreb, Instituteof Applied Autonomy in Boston, The Invisible Academy in Bangkok, School of

    [5] Michael Warner, Publics and Counterpublics, New York: Zone Books, 2002, pp. 121-22.

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    Missing Studies in NY, Belgrade and Amsterdam, University of Openess in London

    and Université Tangente in Paris, that all somewhat mirror and reverse educational

    facilities. Here discourses are established and circulated not through a negation of

    publicness, but through a deliberate and tactical self-institutionalization. Societal

    machines for knowledge production become subjective ones - produced through

    identity rather than producing identity. As stated by one of these self-institutions:

    Copenhagen Free University is one voice in a mumble of voices. We

    are not two or three individuals, we are an institution drifting through

    various social relations, in the process of being produced and producing.

    We are the people in the house. This position establishes an ever-

    changing formation of new contexts, platforms, voices, actions but also

    by inactivity, refusals, evacuations, withdrawals, exodus. According to

    the situationist Asger Jorn, subjectivity is a point of view inside matter,

    “a sphere of interest”, and not necessarily that, which is equitable with

    the individualized ego. [...] Copenhagen Free University is a “sphere ofinterest” arising from the material life we experience and will always be

    politicized before any citizenship. Our scope is both local and global,

    looking for fellow travellers around the corner and around the world. [6]

    We are dealing here with a notion of the everyday, with an attempt to deal with

    living conditions within the knowledge economy of the post-fordist world, a tactic

    of double movement, both contestation and withdrawal. We can also describe this

    movement as a politics of everyday life, rather than of representations, deliberations

    and/or aggregates. This entails, then, a different notion of “the political” that is not

    only about movement, but also moment, the here and now, as in the words of

    another author-producer Stephan Geene:

    What b_books is up to, according to my point of view (although thisis not very consensual in the group), is to maintain a specific kind of

    [6] Copenhagen Free University, “All Power to the Copenhagen Free University”, in: Katya Sander and Simon Sheikh (Eds.), Weare All Normal (and we want our freedom), Black Dog Publishing: London, 2001, pp. 394-395.

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    “option” for “the political”, an option that is explicitly not utopian in

    any way. the option is based on the premise that the political does not

    mean to work for a defined political aim + that it has nothing to do with

    sacrificing one’s own (life)time, but rather investing in the “machine” that

    generates “one’s own life” in a political process. [7]

    Let me also offer another definition along the lines of counter-publics: what is at

    stake here is the articulation of experience. It is assemblage rather than performance.

    Where the institutions of the cultural industry only offer endless “new experiences”,

    the production of self-institutionalized bodies notably tends to appear boring,

    unspectacular in the organizing of experience.

    In these times of an expansive global capitalism, corporatization of culture and

    criminalization of the critical left, it is not only appropriate, but indeed crucial to

    discuss and assess modes of critique, participation and resistance in the charged

    field between the cultural field and the political sphere. Or in other words, the

    charged field between political representation and representational politics, betweenpresentation and participation. It is our firm belief that the cultural field is a usable

    tool for creating political platforms and new political formations rather than a

    primary platform in itself; that art matters, or at least should matter and not only be

    a playground for self expression and/or analysis. However, such a project requires

    thinking, analysis and, not least of all, a consideration of what these terms, politics

    and culture, implicate in the current situation. First of all, it is obvious that both arenas

    have been pluralized and fragmented, if not dispersed and dissolved throughout

    the current postmodern era. We can no longer talk of homogeneous categories in

    the singular, but rather of several political spheres and several cultural fields that

    sometimes connect and/or overlap and sometimes strives towards autonomy and/or

    isolation. Both arenas imply a large subdivision of networks, agents and institutions.

    In Western welfare states the cultural field has traditionally been seen as ideallyautonomous from the political sphere, and has thus been structured, financed

    [7] Stephan Geene, “self-portrait of more than me: a group - or its fragments”, in: Simon Sheikh (Ed.), In the Place of thePublic Sphere?, oe / b_books: Berlin, 2004, p.215.

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    and institutionalized as a separate entity, something apart from the political as

    an independent public sphere. Strangely, it is also this relative autonomy that has

    supplied the cultural field with its potential for political critique and discussion - that

    it has been removed from direct political representation and control, allowing for

    a different production of knowledge and reflexive processes. Unfortunately, it is

    also this relative autonomy that has led to a de-politicization of cultural production

    and the configuration of the art world as an elitist, exclusive club. However, with

    the current neoliberal onslaught throughout the West, culture is increasingly being

    privatized and corporatized, both in terms of funding and production. Corporate

    culture creates dominant imagings and subjectivities rather than so-called

    alternative or counter-culture. And neoliberalism is now aligning itself seamlessly

    with the current wave of European “velvet” fascism in democratically elected

    governments in Austria, Denmark, Holland and so on, leading to a vilification of

    left-wing intellectualism and political activism, in some instances even criminalizing

    activists in the wake of 9-11.

     This current state of affairs, in both the cultural field and the political sphere, leadsto a possible radicalization rather than a mainstreaming of critical practices within

    art and activism, sometimes strategically and sometimes involuntary. It is a struggle

    on two fronts, directed both towards the current political mainstream and inwards

    in the making of political identities and platforms: What can we do for ourselves?

    Such an endeavour, however, certainly requires more rather than less thinking about

    notions of culture and politics, but also about identity constructions, notions of

    locality or, if you will, the mediating between particularity and universality, public

    spaces and activist strategies, networks and constituencies. In the creation of

    equivalence and translation, we can learn from AIDS activism as suggested by artist/

    activist Gregg Bordowich: MEDICINE INTO MY BODY NOW. It requires an ongoing

    negotiation, translation and articulation between interested agents and groups.

    It is necessary to establish networks, to compare and mediate practices as well as

    theories. Art matters, certainly, but art is not enough.

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    www.prologoseloeditorial.com.br

    www.casatomada.com.br

    www.pacodasartes.org.br

    B99t

    CDU - 340.12

    Maia, Ana Maria; Carvalho, Ananda (org).

      Sobre Artistas como Intelectuais Públicos: respostas

    a Simon Sheikh.

    São paulo : Selo Prólogo e Casa Tomada, 2012.

    48p.

    ISBN 978-85-9934976-2

      1. Arte contemporânea. 2. Artes plásticas. 3. Exposição de

    arte. I. Título. II. Fernanda Carvalho, Renata Nascimento (editor).

    III. Lila Botter (projeto gráfico). IV. Ana Maria Maia, AnandaCarvalho, Tainá Azeredo, Thereza Farkas (Organização).

    V Adriano Costa ... [et al.] (colaboradores)

    Dados Internacionais de Catalogação na Fonte (CIP)

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