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SOCIEDADE INTERNACIONAL CONTEMPORÂNEA E MUDANÇAS DE PARADIGMAS NAS RELAÇÕES JURÍDICAS E NO DIREITO INTERNACIONAL Heloisa Helena de Almeida Portugal Maria de Fátima Ribeiro SUMÁRIO: 1. Reorganização econômico-financeira após a segunda guerra mundial; 2. Expansão normativa e adaptação qualitativa do direito internacional; 3. Desdobramentos da abertura de mercado: a circulação internacional de bens e serviços; 4 formação e fortalecimento do direito internacional regional; 5. Referências bibliográficas 1 Reorganização econômico-financeira após a segunda guerra mundial Os primeiros anos do pós guerra na Europa são marcados por grandes dificuldades sociais e uma profunda crise econômica, com racionamento de alimentos e energia, crescimento das taxas de desemprego, queda acentuada das exportações. As tensões políticas cresciam, marcadas por greves e manifestações populares.

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SOCIEDADE INTERNACIONAL CONTEMPORÂNEA E MUDANÇAS DE PARADIGMAS NAS RELAÇÕES JURÍDICAS E NO DIREITO

INTERNACIONAL

Heloisa Helena de Almeida Portugal

Maria de Fátima Ribeiro

SUMÁRIO: 1. Reorganização econômico-financeira após a segunda guerra mundial;

2. Expansão normativa e adaptação qualitativa do direito internacional; 3.

Desdobramentos da abertura de mercado: a circulação internacional de bens e

serviços; 4 formação e fortalecimento do direito internacional regional; 5.

Referências bibliográficas

1 Reorganização econômico-financeira após a segunda guerra mundial

Os primeiros anos do pós guerra na Europa são marcados por

grandes dificuldades sociais e uma profunda crise econômica, com racionamento de

alimentos e energia, crescimento das taxas de desemprego, queda acentuada das

exportações. As tensões políticas cresciam, marcadas por greves e manifestações

populares.

A Europa precisava refazer-se, as cidades precisavam ser

reconstruídas, a indústria e a agropecuária necessitavam de grandes esforços para

sua recuperação. Sob o aspecto político, emerge a necessidade de organizar a

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sociedade internacional em reação à anarquia resultada dos conflitos bélicos e a

insuficiência da doutrina do equilíbrio1.

Se por um lado, a Europa era uma grande devedora dos norte

americanos, por outro lado, os EUA tinham um grande interesse no fortalecimento

da ordem capitalista na Europa Ocidental, tentando assim impedir o avanço do

socialismo no continente. Esse interesse materializou-se em forma de ajuda

econômica.

O marco inicial de novos paradigmas no direito internacional foi o

final da segunda guerra mundial. Alguns autores, como Philipp Bobbitt, defendem a

tese que a longa guerra corresponde ao período compreendido entre a primeira

guerra mundial e o fim da guerra fria, com a assinatura da paz de Paris (1914 a

1990), e todo esse período trouxe inúmeras conseqüências experimentadas pelos

Estados em decorrência do conflito2.

Sob a liderança dos países aliados os Estados vencedores

renunciam ao modelo de sociedade internacional até então vigente, propiciando uma

nova ordem internacional fundamentada em fatos que produzem desdobramentos

até hoje3.

Assim, as bases para a implantação do plano Marshall estavam

lançadas. Decorrente da doutrina Truman, o plano Marshall4 foi um eficiente

instrumento econômico e financeiro da sedimentação da área de influência norte-

americana na Europa Ocidental. O então Secretário de Estado norte-americano

George Marshall, lança em junho de 1947 as idéias básicas do plano, proposto a

todos os países europeus.

1 DINH, Nguyen Quoc; DAILLIER, Patrick & PELLET, Alain. Direito Internacional Publico, tradução de Vitor Marques Coelho. 4ª edição, Lisboa : Editora Fundação Calouste Gulbekian, 1999, p. 61.2 BOBBITT, Philip. A guerra e a paz na História Moderna: o impacto dos grandes conflitos e da política na formação das nações. Tradução de Cristiana Serra. Rio de Janeiro: Campus, 2003 p. 201.3 Cada vez mais, os Estados nacionais tornam-se parte de um sistema de poder de teor supranacional, tornando artificial a rígida contraposição fatores externos-fatores internos. Eis porque administrar com maior ou menor autonomia a inserção do país no sistema internacional não requer apenas capacitação técnica de elites iluminadas, mas depende de opções políticas em prol da defesa da soberania e do fortalecimento do poder de negociação dos governos nacionais. DINIZ, Eli Globalização, Reforma do Estado e Teoria Democrática Contemporânea. In: São Paulo em perspectiva. São Paulo, Fundação Seade, v.15, n.4, out/dez. 2001. p. 13/22.4 BEHRMAN, Greg. The Most Noble Adventure: The Marshal Plan and the Time When America Helped saved Europe. 1a. ed. New York : Editora Simon & Schuster., 2007. p. 153.

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Sabe-se que a grande crise econômica vivida pelos europeus foi

causada pelo desequilíbrio das trocas comerciais entre o EUA e Europa e na

conseqüente carência européia de recursos financeiros.

O plano previa transferência de dólares de um lado a outro do

Atlântico Norte, com a concessão de fundos, créditos e suprimentos materiais a

juros irrisórios e a retomada das btrocas equilibradas com os EUA. As estratégias

econômicas continentais, por sua vez, objetivam a recuperação da economia

europeia, incentivando o retorno dos antigos fluxos comerciais intraeuropeus. Previa,

ainda, a consolidação do capitalismo na Europa Ocidental.

O eurocentrismo, até então predominante, deixa de existir em função

dos efeitos danosos da guerra para a Europa5. Os Estados europeus deixam de ser

protagonistas centrais das relações jurídicas, emergem novas potências como

líderes mundiais.

Ademais, há a necessidade de uma organização política

centralizada que disponha de meios de coação ou de persuasão sobre os Estados e

de um poder de coordenação das instituições técnicas e regionais. De forma que, as

crises e as tensões da sociedade internacional, ao demonstrarem as insuficiências

da cooperação interestatal, obrigam a reforçar a rede das organizações e a confiar-

lhes a solução de problemas cada vez mais graves6.

As mudanças ocorridas no âmbito dos Estados (chamados Estados

nação) foram imensas, de modo que deixaram os países praticamente

irreconhecíveis 7 8. Os avanços nas áreas de tecnologia, armamentos militares e

5 Após a Primeira Guerra, pela primeira vez a ordem mundial sai do eixo europeu e passa a conviver com mais atores do processo político mundial, com a ascensão dos Estados Unidos e da União Soviética. Como reforça Vicente Marotta Rangel no prefácio da obra de TRINDADE, Antonio Augusto Cançado. O Direito Internacional em um mundo em transformação. São Paulo-Rio de Janeiro: Renovar, 2002. Prefácio, p. XVII.6 DINH, Nguyen Quoc; DAILLIER, Patrick & PELLET, Alain. Direito Internacional Publico, tradução de Vitor Marques Coelho. 4ª edição, Lisboa : Editora Fundação Calouste Gulbekian, 1999, p. 61. 7 Um Estado nação é pois um Estado que se identifica em função de uma nação específica. Os seus cidadãos não se consideram meros súditos do soberano, mas uma sociedade com vínculos horizontais à qual, num certo sentido, pertence o Estado. HEDETOFT, Ulf. The Nation-state Meets the World National Identities in the Context of Transnationality and Cultural Globalization. In European Journal of Social Theory, 2 (1), 1999, 71-94.8 Entre os séculos XVII e XVIII, o nacionalismo comercial designou-se de Mercantilismo. A expressão Mercantilismo tipifica, desde então, a idéia de protecção comercial e o pensamento mercantilista deixa, até aos dias de hoje, uma marca indelével quer a nível teórico, quer como prática de política comercial dos governos. Designamos as idéias proteccionistas e as práticas a elas associadas nestes séculos de Mercantilismo Clássico. GUIMARÃES, Maria Helena. Economia Política do Comércio Internacional: Teorias e Ilustrações. Principia: São João do Estoril, Cascais, 2005. p. 29.

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comunicações, e mudanças na própria sociedade, esboçou uma nova silhueta para

os Estados.

Além dessas transformações iniciais, novos acontecimentos e fatos

políticos, científicos, históricos, tecnológicos e mercadológicos derivaram desta

sociedade posta a partir de 1945, consubstanciando uma sociedade internacional

mais dinâmica, interligada e interdependente, mais necessitada de regulação pelo

Direito Internacional e de uma estrutura estatal diferenciada9.

O Estado de então primava pela segurança e bem-estar da nação,

estabelecendo como limítrofe de sua influência a territorialidade. Desde os primeiros

formatos constitucionais estatais criaram-se promessas que foram transmitidas a

modelos sucessivos como expectativas e direitos arraigados10.

Em conseqüência do período pós guerra, com o desenvolvimento da

arma nuclear, o Estado viu-se incapaz de garantir segurança a nação. Não se cogita

somente possíveis ataques de armas de destruição em massa, mas também o uso

desse novo tipo de arma para que se faça com que Estados submetam-se às

vontades dos que detêm a força. Investir hoje em militarística, em soldados e armas,

não significa oferecer segurança aos civis11.

A ONU nasce da reflexão sobre as causas do segundo conflito

mundial, de forma que suas estruturas recebem poderes de decisão e de ação. A

preocupação de realismo e de eficácia leva os governos vencedores a

9 De acordo com essa tendência, impôs-se também um dado diagnóstico acerca da crise de governabilidade que ciclicamente afetou diversos países latino-americanos, em decorrência não só das oscilações do mercado internacional, mas também do fracasso dos experimentos de estabilização econômica levados a efeito, a partir de meados dos anos 80. A percepção da ineficácia dos governos no tratamento de problemas críticos, como a inflação e o endividamento externo, gerou sentimentos de desconfiança e a perda de credibilidade das autoridades e instituições governamentais. DINIZ, Eli Globalização, Reforma do Estado e Teoria Democrática Contemporânea. Op. Cit. p. 15.10 BOBBITT, Philip. A guerra e a paz na História Moderna: o impacto dos grandes conflitos e da política na formação das nações. Tradução de Cristiana Serra. Rio de Janeiro: Campus, 2003 p. 201. O Estado principesco prometia segurança externa – liberdade em relação à dominação e interferência por parte de potências estrangeiras. O Estado régio herdou essa responsabilidade e acrescentou a promessa de estabilidade interna. O Estado territorial justapôs o compromisso com a expansão da riqueza material, ao qual a nação-Estado somou os direitos civis e políticos da soberania popular. A todas essas responsabilidades, o Estado nação acrescentou a promessa de segurança econômica e bens públicos para sua gente.11 DINH, Nguyen Quoc; DAILLIER, Patrick & PELLET, Alain. Direito Internacional Publico, Op. Cit, p. 63.

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reconhecerem uma posição privilegiada às grandes potências e a admitirem a

interdependência dos problemas econômicos, técnicos e de manutenção da paz12.

Após a guerra fria não há mais um entrave de ideologias, e

justamente a ausência de um conflito de ideologias dificulta a elaboração de uma

estratégia, pois, não se sabe quem são os inimigos e qual é o seu potencial bélico.

Aliás, até tempos mais recentes era necessário mover tropas para atingir um Estado,

porém, hoje com o avanço da tecnologia é possível colocar em risco a base de

dados de uma nação estando a quilômetros de distância.

O Estado nação não conseguia manter sua estrutura justamente

pelo modelo de estadística que adotava, que é a territorialidade, pois as relações de

causa-efeito das ações dos Estados vão além, e de forma complexa, de seus limites

territoriais13. O mundo globalizou-se, os Estados sofrem influências externas. Não é

12 A própria idéia de soberania exclusiva e hermética não passa de um mito, daí que o declínio do Estado nação esteja intimamente associado à redefinição do próprio princípio da soberania. O exercício de poder por parte dos Estados deixou de ser exclusivo para se basear em critérios de com participação e concorrência. Quanto maior é a cooperação entre os Estados, maior é o âmbito dos assuntos que devem ser regulados conjuntamente e, consequentemente, menor é o âmbito de uma soberania exclusiva. Cada vez mais a acção colectiva escapa ao Estado, cada vez se torna mais difícil manter a ideia do Estado como garante, ou pelo menos como o único garante, do interesse geral. Os Estados mostraram-se incapazes de abordar a amplitude dos problemas do mundo actual, o protagonismo das relações internacionais é agora dividido com muitos outros entes, instituições e organizações intergovernamentais, não governamentais, infra-estatais, assim como entidades privadas de carácter mercantil, profissional, cultural e social. GONÇALVES, Soraia M. O declínio do Estado Nação: Globalização, integração européia e a reafirmação dos movimentos de identificação cultural sub-estatais. Revista de Estudos Politécnicos, Instituto Politécnico do Cavado e do Ave, Vol. III, n. 08 5/6, p. 281-296, 2006. p.283.13 Com efeito, as principais iniciativas que resultaram na construção da ordem econômica que se seguiu à Segunda Guerra Mundial tiveram por base essa associação de objetivos. O Plano Marshall, em larga medida, foi uma solução keynesiana para os problemas da estagnação econômica que atingia a Europa e que ameaçava se estender para os Estados Unidos. Keynes, em Bretton Woods, havia insistido em vão na necessidade de os Estados Unidos proverem a economia internacional (isto é, a Europa) de dólares. Em 1947, os Estados Unidos, sob nova liderança e movidos pela estratégia de construção de um sistema de segurança internacional baseado no containment (contenção do avanço soviético), produziram o Plano Marshall, que transferiu para a Europa aproximadamente a mesma quantia que Keynes havia apontado, com argumentos econômicos, como necessária para resolver o problema da falta de liquidez da economia internacional. A formação dos arranjos que fizeram parte do processo de integração européia e muitas outras iniciativas que deram os contornos do mundo do pós-guerra obedeceram uma lógica semelhante. Ou seja, os argumentos originados das formulações estratégicas sobre segurança internacional conseguiram ser eficazes onde os argumentos de Keynes, fundados na teoria econômica, por mais sensatos e coerentes que tenham sido, haviam fracassado. SATO, Edi. Conflito e cooperação nas relações internacionais: as organizações internacionais no século XXI. In. Revista Brasileira de política Internacional. V. 46, n. 2, Brasília jul/dez. 2003.p.168.

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possível sustentar a estadística nesse panorama. Bobbitt14 relaciona alguns fatores

que explicam porque o Estado nação já não era mais capaz de manter-se.

Após a segunda guerra, e os avanços advindos de tal conflito, os

Estados nação perderam paulatinamente a capacidade de proteger-se de ataques

estrangeiros15.

A mais significativa consequência dessa evolução é que o Estado

parece cada vez menos digno de crédito como meio para o contínuo aprimoramento

do bem-estar do seu povo. Enquanto a sociedade evoluiu, o Estado nação manteve-

se encarcerado em uma couraça, pouco móvel e de poucas negociações.

Tanto dentro como fora da Europa, os Estados nação e as suas

estruturas de identificação têm sido reforjadas pelas forças de globalização que os

tornam mais em reatores aos processos transnacionais do que em modeladores

de tais processos16.

As guerras momentosas (grandes conflitos de coalizões que em

geral estendem-se por décadas) foram cruciais para o nascimento e o

14 BOBBITT, Philip. A guerra e a paz na História Moderna: o impacto dos grandes conflitos e da política na formação das nações. Tradução Op. Cit., 2003 prólogo.(1) o reconhecimento dos direitos humanos como normas que requerem a adesão de todos os Estados, independentemente de suas leis internas; (2) a ampla distribuição de armas nucleares e de destruição em massa, que fazem com que a defesa das fronteiras do Estado seja insuficiente para garantir a proteção da sociedade em seu bojo; (3) a proliferação de ameaças globais e transnacionais que transcendem as fronteiras dos Estados – como, por exemplo, os danos ao meio ambiente ou os perigos da migração, expansão populacional, doenças ou fome; (4) a expansão de um regime econômico mundial que ignora as fronteiras na movimentação de investimentos de capital em uma medida tal que os Estados vêem-se tolhidos na administração de seus problemas econômicos; e (5) a criação de uma rede global de comunicações capaz de penetrar fronteiras eletronicamente e pôr em risco idiomas, costumes e culturas nacionais. Por conseguinte, surgirá uma ordem constitucional que não só refletirá esses cinco fatores como também os exaltará, como demandas que apenas essa nova ordem poderá atender.15 Ibidem p. 213/214. Em suma, nenhum Estado nação pode garantir aos seus cidadãos proteção contra armas de destruição em massa; nenhum Estado nação pode, se obedecer a suas próprias leis nacionais (bem como seus tratados internacionais), estar seguro de que seus líderes não serão denunciados como criminosos nem seu comportamento será usado como justificativa legal para coação internacional; nenhum Estado nação pode controlar efetivamente sua própria vida internacional; nenhum Estado nação pode controlar efetivamente sua própria vida econômica nem sua própria moeda; nenhum Estado nação pode defender sua cultura e estilo de vida da descrição e exibição de imagens e idéias, por mais estranhas e ofensivas que sejam; nenhum Estado nação pode proteger sua sociedade de ameaças transnacionais, como a degradação da camada de ozônio, o aquecimento global e epidemias infecciosas. Não obstante, garantir a segurança nacional, a paz civil por meio da lei, o desenvolvimento econômico e a estabilidade, a tranqüilidade e a igualdade internacional era a principal tarefa do Estado nação. Certos efeitos colaterais do conflito estratégico, todavia, como no passado, também podem dar origem a uma regeneração do Estado. Como seria uma nova ordem constitucional?16 GONÇALVES, Soraia M. O declínio do Estado Nação: Globalização, integração européia e a reafirmação dos movimentos de identificação cultural sub estatais. Op. Cit. p.284.

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desenvolvimento do Estado, e que, através delas é que se transmuda de uma ordem

constitucional a outra.

O Estado transforma-se periodicamente. Quando defrontado com

perigos mortais, lança mão do expediente da mudança constitucional,

reconstituindo-se quando as inovações estratégicas de seus concorrentes ameaçam

suplantá-los ou quando pressões internas decorrentes desse desenvolvimento

acenam com a possibilidade de desintegração interna17.

Contudo, associada ao declínio do Estado-nação está também, e

cada vez mais, a globalização econômica que não faz mais do que consumar, o que

se encoraja intelectualmente mediante a pós-modernidade e politicamente mediante

a individualização – o colapso da modernidade.

No momento presencia-se a emergência do Estado-mercado e a

transição do Estado nação, que dominou o século XX, para essa nova forma de

ordem constitucional.

O Estado-mercado é uma adaptação constitucional ao fim da longa

guerra e à revolução da computação, comunicações e armas de destruição em

massa. A internet (sistema de redes interligadas de computadores), por exemplo, é

fruto de uma tentativa de uma agência americana de gerar um sistema de

comunicações que sobrevivesse a um ataque nuclear.

O Estado-mercado possui como objetivo maximizar as

oportunidades de que usufruem todos os membros da sociedade. Avalia seu êxito

ou fracasso econômico conforme a capacidade da sociedade de obter mais e

melhores bens e serviços18.

Possui como características a dependência de mercados

internacionais de capital e, em menor grau, da moderna rede de companhias

multinacionais para proporcionar estabilidade à economia mundial, em detrimento da

gestão por órgãos políticos de escopo nacional ou transnacional. Suas instituições

políticas são menos representativas do que a do Estado-nação.

17 BOBBITT, Philip. A guerra e a paz na História Moderna: o impacto dos grandes conflitos e da política na formação das nações. Op. Cit., 2003 prólogo. A emergência de uma nova forma de Estado e a decadência de outra mais antiga é parte de um processo que remonta aos primórdios do Estado moderno – e talvez mesmo às origens da própria sociedade civil. Tal processo ocorre na interseção dos domínios interno e externo da autoridade: direito e estratégia. 18 GONÇALVES, Soraia M. O declínio do Estado Nação: Globalização, integração européia e a reafirmação dos movimentos de identificação cultural sub-estatais. Op. Cit. p.285.

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A função do Direito no Estado-mercado é atingir seus objetivos por

meio de estruturas de incentivo e, às vezes, penalidades draconianas para prevenir

a instabilidade social que paira sobre o bem-estar material, ao passo que, no

Estado-nação, o direito é orientado para processos, despejando regras e

regulamentações imparciais a fim de promover o comportamento visado.

O Estado-mercado é indiferente às normas da justiça, bem como a

qualquer conjunto específico de valores morais, desde que a lei não sirva de

impedimento à competição econômica. É também indiferente à cultura, o que

dificulta convencer o público a arriscar suas vidas e fortunas em nome de um Estado

que já deixou de ser o defensor de seus valores culturais; porém, por outro lado, faz

desse Estado um ambiente ideal para o multiculturalismo19.

O Estado mercado preocupa-se com a maximização das opções

oferecidas aos indivíduos, o que significa reduzir os custos transacionais da escolha

individual e, por conseguinte, restringir os governos em vez de aumentar os seus

poderes.

Houve um impacto muito maior no panorama dos países em

desenvolvimento20. Primeiramente, considerando que estes países têm procedido a

um acelerado processo, frequentemente, a um custo considerável, de integração

mais estreita com a economia mundial 21.

19 O acesso das massas à cultura, a sua tomada de consciência individual e de grupo, o próprio aparecimento das reivindicações nacionalistas está a provocar a revalorização das particularidades e o consequente abandono das divisões nacionais. Mas por outro lado, os imperativos económicos exigem a concentração de recursos, a facilidade de comunicação e a adopção de medidas de coordenação e integração. GONÇALVES, Soraia M. O declínio do Estado Nação: Globalização, integração européia e a reafirmação dos movimentos de identificação cultural sub-estatais. Op. Cit. p.286.20 Cabe uma breve explicação sobre o critério de classificação dos países. Não existe um consenso, ao longo do tempo e entre as várias escolas de pensamento econômico, sobre a definição de desenvolvimento de um país. Desta forma, a ONU desenvolveu o IDH, um índice composto de vários parâmetros, que estabelece um indicador de desenvolvimento humano para os países onde os dados são disponíveis. Os países em desenvolvimento possuem valores baixos para esses indicadores em relação aos valores obtidos pelos países considerados desenvolvidos. Os termos utilizados em discussões acerca do desenvolvimento dos países são muitos. Através do IDH, podemos ter uma perspectiva das desigualdades que existem entre os países. O IDH permite desde logo verificar o grau de desenvolvimento de cada país e ordenar os países em função dos valores obtidos. Por isso, dividiram-se em dois conjuntos maiores: os Países Desenvolvidos (PD) com o IDH superior a 65, e os Países em Vias de Desenvolvimento (PVD) com o IDH inferior a 65. Este segundo grupo por sua vez, se subdivide em Países Menos Desenvolvidos (PMD) e Países Mais Atrasados (PMA). Estes conceitos estão disponíveis no site da ONU, no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Disponível em http://www.pnud.org.br. Acesso em 31/01/2009.21 José Eduardo Faria apresenta a idéia de que a expansão ocorrida no século XVII vem demonstrar que a globalização não é um fenômeno inovador. Ele já estava presente, por exemplo, nos antigos impérios, provocando sucessivos surtos de modernização econômica, cultural e jurídica. Na era moderna, foi

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Em termos gerais, as expectativas de obter maiores níveis de

crescimento, maiores oportunidades de criação de empregos e, como resultado

disso, uma redução dos níveis de pobreza, associam-se as considerações relativas

às vantagens derivadas da globalização.

Resta a dúvida se a governança será mais fácil no Estado mercado,

uma vez que se exige menos dela, ou, se será mais árdua devido ao

desaparecimento dos bons hábitos de cidadania.

O público do Estado-nação acredita sinceramente na mera

materialidade de sua história, ou seja, que estariam nas mãos de imensas forças

causais, econômicas, psicológicas, sociológicas, sobre as quais não teriam o menor

controle. A política para o público convertia-se em uma questão, sobretudo, de

proteger os interesses do grupo dentro do qual cada um se encontrava.

Já no Estado mercado, o público está passando a acreditar que suas

histórias são escolhidas, uma questão de interpretação, desconstrução e, às vezes,

reconstrução cosmética, a política torna-se uma questão de seguro – algo

quantificável e probabilístico22.

Nos EUA, por exemplo, na jurisprudência americana, no direito, na

economia, no feminismo, e nos estudos jurídicos críticos, concorda-se que o poder é

à base das decisões legais; pensamento que faz com que quaisquer que sejam os

méritos intelectuais desses movimentos, a sociedade por eles influenciada

enfrentará dificuldades para encontrar enfermeiras, professores ou soldados sem

dedicar recursos financeiros muito mais vastos ao seu recrutamento e retenção23.

Entretanto, a destinação de mais recursos para o setor de serviços

humanos pelo Estado é muito menos provável em uma sociedade que valoriza o

êxito empreendedor e material acima de tudo.

Essa nova sociedade pode sobressair-se pelo incentivo às

instituições mais capazes de motivar as pessoas a cooperar, visto que garantidor

impulsionado pela interação entre a expansão cartográfica, o crescente domínio das técnicas de navegação pelos povos ibéricos e a própria evolução do conhecimento científico. FARIA, José Eduardo. O Direito na economia globalizada. São Paulo : Malheiros Editores, 1999. p.6022 GIDDENS, Anthony. Un mundo desbocado. Los efectos de la globalización em nuestras vidas. Madrid: Taurus. 2000. p. 27.23 BOBBITT, Philip. A guerra e a paz na História Moderna: o impacto dos grandes conflitos e da política na formação das nações. Op. Cit. p. 217.

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das perspectivas de sucesso, em longo prazo, de uma organização. Está-se diante

de um mundo de oportunidades, um mundo a ser construído.

O Estado mercado é um mecanismo para incrementar

oportunidades, para criar algo, possibilidades, proporcional à nossa imaginação24.

Universalizar oportunidades, entretanto, não significa tornar todos os

Estados ricos; não significa sequer garantir que nenhum Estado empobreça. Pelo

contrário, significa a abertura de oportunidades na maior escala possível, na

expectativa de que assim se maximize o aumento da riqueza de modo geral.

Os anos 80 foram marcados pela maior integração econômica

mundial que ocorreu por meio da rápida liberalização do comercio, e via de

conseqüência das finanças e dos fluxos de investimentos. Desta forma, a

liberalização do comércio, assegura a melhor assimilação dos recursos de acordo

com as vantagens comparativas, gerando os ingressos de exportação necessários

para importar bens e serviços chaves para garantir um maior crescimento

econômico.

A transição para o Estado mercado está fadada a estender-se por

um longo período e a pôr em conflito os ideais da antiga e da nova ordem, não

sendo possível prever o formato exato que o Estado emergirá a partir desse

processo25.

Fato é que algumas consequências das inovações estratégicas que

venceram a Segunda Guerra exigem um governo mais forte e centralizado que

24 O Estado-mercado está inserido no contexto globalizado e o primeiro efeito atribuído é o fato de a globalização aumentar a possibilidade do capital fluir para os países que ofereçam as melhores condições de investimento, ou seja, baixas taxas de impostos. O argumento seria o da competição dos Estados o que provocaria, no longo prazo, a convergência das taxas dos diferentes países, o que não aconteceu. GONÇALVES, Soraia M. O declínio do Estado Nação: Globalização, integração européia e a reafirmação dos movimentos de identificação cultural sub-estatais. Op. Cit. p.287.25 BOBBITT, Philip. A guerra e a paz na História Moderna: o impacto dos grandes conflitos e da política na formação das nações. Op. Cit. p. 218. A cada transição que observamos na história do Estado moderno, emergiu uma nova forma de visão estratégica para acompanhar a nova ordem constitucional. À medida que o Estado passava do Estado territorial para o Estado nação, por exemplo, surgiam argumentos derivados das premissas de segurança coletiva para acompanhar as alegações decorrentes do equilíbrio de poder – as quais, em uma transição anterior, haviam emergido para superar arranjos estratégicos anteriores. Desse modo, os Estados foram ampliando a gama de programas estratégicos disponíveis à medida que as visões estratégicas eram substituídas e rebaixadas a meras políticas. Que mote estratégico dominará essa transição do Estado nação para o Estado mercado? Se o slogan que animava os Estados nação liberais e parlamentares era ‘tornar o mundo seguro para a democracia’ (o paradigma de segurança que, caindo, se converteria na política de expansão democrática, entre outras), qual será o próximo bordão? Talvez ‘tornar o mundo disponível’ – quer dizer, criar novos mundos de escolha e proteger a autonomia de cada uma para optar.

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antes. O grande desafio do novo Estado é, portanto, como lidar com o difícil

problema do comando e do controle nuclear com as novas demandas

constitucionais de transparência e participação do cidadão no Estado-mercado.

Sabe-se que em alguns casos é necessário sigilo para a tomada de decisões, como

um ataque preventivo, pois, se a informação disseminar, o Estado pode ser alvo de

uma efetiva agressão.

Os atos estatais poderão ser justificados na medida em que

minimizarem os custos transacionais, o foco será nas políticas de redistribuição e

melhoramento26.

Existem várias previsões de como surgirá o Estado mercado e quais

os valores que perpetuará, bem como donde tirará sua legitimidade, porém, esse

período atual é caracterizado pelas incertezas, e no campo da estratégia, há

confusão quanto a como contabilizar os custos e benefícios da intervenção, da

prontidão e da aliança.

Diante desses pressupostos, ao analisar a economia, deve-se

revisar a dimensão que transcende das fronteiras de um país, é dizer, a que trata

dos problemas econômicos com fins internacionais. A importância das relações

internacionais no campo comercial, político ou cultural tem alcançado, em nível

mundial, um profundo significado, a tal ponto que não se pode falar somente de

intercâmbio de bens, mas de programas que visem a integração profunda no

comércio multilateral.

A economia internacional está intimamente vinculada a co-fatores do

comércio internacional, considerando que seu estudo destaca os problemas

decorrentes das transações econômicas entre os agentes diversos da sociedade

global.

O sistema internacional iniciado no final do século XX é

caracterizado por uma estrutura complexa, oligopolista, cujo governo exige que

sejam enfrentados os problemas surgidos em terrenos diferentes, mas estreitamente

26 FARIA, José Eduardo. O Direito na economia globalizada. Op. Cit. p.60

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interligados, tanto no campo das relações econômicas e políticas como no campo

social27.

De um lado, afirma-se a constituição de um capitalismo planetário,

fundado nas telecomunicações, na inovação tecnológica permanente, na

internacionalização financeira e na hiperindustrialização da cultura. De outro,

multiplicam-se projetos regionais, blocos comerciais, a diferenciação cultural, étnica

e religiosa. Com o ruir do muro de Berlim, em 1989, e de todo o bloco totalitário de

que era alicerce, as transformações já iniciadas tornaram-se mais fortes e velozes.

Uma nova configuração de poder sobrepõe-se à antiga divisão

bipolar da hegemonia mundial, cuja tônica é a transformação dos vetores das

relações internacionais, da pulverização de conflitos regionais, da instituição de

fóruns de diálogo transnacional, da inserção de novos temas na agenda global, da

abertura da economia e da eliminação das barreiras econômicas. 28

Nota-se, ao longo das décadas após 1945 até o início do século XXI,

um nítido aumento no volume do comércio internacional. Constata-se que o

processo de abertura das economias não tem sido um processo regular, mas sim

27 LAFER, Celso. A OMC e a Regulamentação do Comércio Internacional – Uma Visão Brasileira. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1998, p. 20-22. O autor afirma que, do fim da 2ª Guerra à queda do Muro de Berlim, o sistema internacional caracterizou-se pela polarização, Norte/Sul e Leste/Oeste, que redundava em diversidade de valores, principalmente de como organizar a vida em sociedade. No campo econômico, esses “conflitos de concepção” são responsáveis por múltiplas definições do direito econômico: (i) Direito do planejamento estatal, tal qual ocorria na União Soviética e nos seus satélites, em que o Estado era o ator essencial da vida econômica. Sua expressão internacional era o Conselho para Assistência Econômica Mútua - COMECON, que administrava o comércio entre os Estados através de metas quantitativas preestabelecidas. (ii) “Droit des Affaires” (Direito dos Negócios), onde os principais atores econômicos eram as pessoas físicas e jurídicas atuantes no mercado, modelo que, no plano internacional, era enquadrado na moldura do Acordo Geral de Tarifas e Comércio - GATT. (iii) Conjunto de normas que buscavam a harmonia da ação do Estado com o funcionamento do mercado, nas chamadas “economias mistas”, com vistas a garantir o desenvolvimento econômico. No plano internacional, essa visão se refletiu nos acordos intergovernamentais sobre produtos de base, tais como o café, e a Conferência das Nações Unidas para Comércio - UNCTAD, que, reconhecendo as falhas do mercado, inseriram na agenda internacional o tema da redistribuição de riqueza, segundo critérios de justiça e eqüidade.28 SILVA, Roberto Luiz. Direito econômico internacional e direito comunitário. Belo Horizonte : Del Rey, 1995. p.39.

Page 13: sociedade contemporanea

permeado por períodos de maior intervenção protecionista entre os períodos do

pensamento livre-cambista. 29.

Dentro da formação do complexo fenômeno da ordem globalizada,

como forma de garantir e valorizar a independência do mercado houve uma

retomada dos ideais iluministas do individualismo e da sublimação da liberdade

através da consolidação da doutrina neoliberal, cujos arautos, desde a década de

oitenta, do século XX, já tomavam os centros de poder das principais economias

capitalistas.

Mais que simplesmente propugnar pelo Estado mínimo, o

neoliberalismo seria o grande incentivador da prosperidade, tomando o lugar

denominado Walfare State, com seus investimentos sociais e interferências no setor

econômico 30.

Em suma, longe de representar o absenteísmo estatal, indica o

neoliberalismo uma mudança de perspectiva na intervenção do Estado na economia:

a atividade estatal deveria voltar-se, sim, para o subsídio e o estímulo aos processos

de oligopolização e pesquisa tecnológica e para a diminuição da máquina pública a

fim de combater a alta dos juros e da inflação, decorrente do déficit público.

O atual estágio da globalização é, pois, consequência direta do

crescimento da economia internacional a partir do fim da Segunda Guerra Mundial,

da ampliação das facilidades de transporte e comunicação, da alta convertibilidade

de todas as moedas europeias, da internacionalização dos mercados financeiros, da

redução de dinamismo da economia americana a partir do fim dos anos sessenta, do 29 Quando a interverção no comércio internacional é feita através de impostos – com maior tradição a tal propósito – importará saber se a sua elevação tem um objetivo protecionista ou antes de aumento da cobrança de receitas: conseguido, de fato, se a elasticidade-preço das importações é menor do que um. Quando, pelo contrário, a elasticidade-preço das importações é maior do que um, uma diminuição dos impostos alfandegários pode por seu turno ser igualmente determinada, não por um propósito livre-cambista, mas sim pelopropósito de fazer aumentar as receitas fiscais. Veja. PORTO, Manuel Carlos Lopes. Teoria da Integração e Politicas Comunitarias. 3 ed., Coimbra : Almedina, 2001. p. 26.30 O que significa que o papel do Estado é fundamental para o processo de desenvolvimento econômico e social, porém, não enquanto agente direto do crescimento senão como sócio, elemento catalisador e impulsionador desse processo. Esta forma de atuação dos Estados nacionais não condiz com os atuais parâmetros da economia mundial globalizada, pois as mudanças tecnológicas têm ampliado as funções dos mercados e obrigado as nações a assumirem competências novas. O Estado é entendido aqui não mais como o provedor de serviços públicos, mas como promotor e regulador, devendo estabelecer suas funções de acordo com sua capacidade. Wieczynski, Marineide. Considerações Teóricas sobre o surgimento do Welfare State e suas implicações nas políticas sociais: uma versão preliminar. Florianópolis: UFSC. Disponível em: http://www.portalsocial.ufsc.br/publicacao/consideracoes.pdf, pesquisado em 12/11/2008.

Page 14: sociedade contemporanea

aumento da produção dos tigres asiáticos, da ascensão de equipes econômicas

neoliberais para comandar as políticas econômicas de importantes países e do

avanço tecnológico.

Numa perspectiva financeira, que, sem dúvida, é a de maior

notoriedade, o fenômeno da globalização compreende não só um aumento do

volume de recursos na economia global, mas também um aumento da velocidade de

circulação desses recursos, bem como a interação destes dois efeitos sobre as

economias nacionais. Tal mobilidade, numa visão otimista, representaria a

superação eficiente das barreiras protecionistas internacionais, pautais ou não,

graças, sobretudo, às rodadas de negociação do GATT.

2 Expansão normativa e adaptação qualitativa do direito internacional

A intensificação das relações internacionais e a tomada de

consciência das interdependências ainda favoreceram mais o progresso quantitativo

do Direito Internacional do que o desenvolvimento das organizações internacionais.

Todavia, os dois fenômenos estão ligados, pois o funcionamento dessas

organizações deu origem a um importante movimento convencional e a um ramo

específico suplementar do Direito Internacional.

Porém, da natureza expansionista do capital fez-se a necessidade

da busca do mercado além dos Estados nação, saltando as barreiras impostas.

Ocorrendo então, não uma mudança de ciclo por voluntariedade do Estado, mas por

força capitalista vivenciando como nunca antes visto a maximização do lucro e as

próprias leis de desenvolvimento. 31

Esta extrapolação de barreiras provocou uma circulação intensa de

bens, insumos e principalmente, capital, tornando o mercado globalizado,

transacional. O fator produtivo passa a ter primazia no desenvolvimento, onde as

31 PIMENTEL, Luiz Otávio (Org.). Mercosul no cenário internacional : direito e sociedade. Curitiba : Juruá, 1998. v. 2, p. 365.

Page 15: sociedade contemporanea

relações de produção passam a ser estruturas relevantes nas formações

econômicas e sociais32.

Longamente submetido aos ritmos próprios do processo

consuetudinário e da convenção bilateral, o enriquecimento das normas

internacionais acelera-se e racionaliza-se com o processo de codificação e

generalização da convenção multilateral aos diferentes ramos do direito

internacional. A entrada na cena internacional de mais de uma centena de novos

Estados dá um segundo impulso a estas tendências, ao mesmo tempo num sentido

revisionista e no sentido de uma extensão a todos os aspectos da vida social33.

No século XIX, a evolução continua a ser bastante lenta. Diz

respeito, sobretudo, ao Direito da Guerra e ao das comunicações internacionais;

numa medida menor e tardiamente, ao Direito Humanitário e o Direito Comercial, o

que é característico de um direito elaborado por e para as grandes potências da

época, ainda não bem libertadas das doutrinas mercantilistas.

Esse panorama traz consigo, problemas de alcance igualmente

mundiais, como o caso da exclusão sistêmica. Além de aspectos econômicos, vale

ressaltar que essa reestruturação internaciona introduz formas inéditas e sutis de

dominação, fazendo uso de sofisticadíssimos aparatos da mídia eletrônica e da

informática. 34.

Assiste-se à concretização de uma ordem transacional, bem como à

restruturação completa da geopolítica, ao lado de nova pauta de temas

transfronteiriços, tais como: o meio ambiente, migrações, afirmação de identidades

étnicas e religiosas, aproveitamento de recursos naturais, e congêneres35.

O Direito da guerra enriquece-se com a regulamentação da

neutralidade perpétua (Suíça, 1815; Bélgica, 1831) e da guerra marítima pelo

32 LEAL, Rosemiro Pereira. Soberania e mercado mundial : a crise jurídica das economias nacionais. 2. ed. São Paulo : Editora de Direito, 1999. p. 145.33 KEYNES, J. M. As Conseqüências Econômicas da Paz. Brasília: IPRI/FUNAG, Editora Universidade de Brasília; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de S. Paulo, 2002. p.182.34 A nova ordem internacional revela que os antigos modelos não mais atendem aos anseios econômicos , modificando a estrutura do Estadob Nação, o sentido da soberania introduzindo um novo paradigma de organização da produção, qual seja, a própria globalização. SILVA, Roberto Luiz. Direito comunitário e de integração. Porto Alegre : Síntese , 1999. p 23-25.35 Todavia, nota-se que o estabelecimento de normas internacionais não traz em si a garantia de que essas normas serão efetivamente cumpridas e que uma vez produzidas, automaticamente, farão surgir padrões de comportamento. SATO, Edi. Conflito e cooperação nas relações internacionais: as organizações internacionais no século XXI. Op. Cit. p.167.

Page 16: sociedade contemporanea

Tratado de Paris de 1856. A prevenção dos conflitos beneficia com a ressurreição da

arbitragem.

O Direito das comunicações estende-se paralelamente ao progresso

técnico: a intensidade crescente da navegação marítima e as necessidades das

grandes potências levam a estabelecer o princípio da liberdade dos estreitos

(Tratados de Paris, 1856) e dos canais interocênicos (Convenção de

Constantinopola, 1888). Já, no caso dos rios internacionais, se definira, de forma

extensiva, o princípio da liberdade. São progressivamente regulamentados os

transportes ferroviários, as relações postais e telegráficas36.

A interdependência alcança todas as organizações internacionais,

não mais somente os Estados37. Assim, com a crescente liberalização internacional

das atividades comerciais e industriais e com o acentuar da concorrência por cima

das fronteiras políticas, a internacionalização da atividade empresarial preocupa hoje

grandes e pequenas empresas, não se restringindo a um pequeno número das mais

ousadas ou especialmente vocacionadas para as atividades externas.

A adoção de tratados multilaterais representou um progresso

igualmente favorável à proteção da saúde, da propriedade industrial (Paris, 1883),

das obras literárias e artísticas (Berna, 1886). Paradoxalmente, as questões

comerciais são sempre norteadas pelo processo tradicional dos tratados bilaterais.

Aqui, a internacionalização realiza-se de forma indireta, pela inserção de cláusulas

da nação mais favorecida que permitem a generalização das disposições mais

recentes..

O princípio do século XX é marcado, sobretudo pelo

desenvolvimento do direito da guerra. Jus in bello38, com as duas grandes

36 DINH, Nguyen Quoc; DAILLIER, Patrick & PELLET, Alain. Direito Internacional Publico, Op. Cit, p. 6437 PIMENTEL, Luiz Otávio (Org.). Mercosul no cenário internacional : direito e sociedade. Op. Cit.p. 371.38 Jus ad bellum e jus in bello; o primeiro é a justiça para se fazer a guerra, o segundo a justiça durante a guerra. É a justiça durante a guerra O chamado jus in bello é aplicado da mesma forma, tanto para o agressor quanto para o agredido, é a regulamentação da guerra, uma forma de controlar a conduta dos beligerantes, composta pelas normas internacionais, que passam a valer depois do início da guerra. Jus in bello refere-se ao direito da guerra no âmbito do direito das gentes. Seriam as normas consuetudinárias e também as convencionais que estabeleceram o uso da guerra, quando esta era uma opção lícita para o conflito de interesses entre Estados. Não confundido com a idéia preliminar do jus ad bellum que seria o direito à guerra quando esta parecesse justa. MELLO, Celso Duvivier de Albuquerque. Curso de direito internacional público. 11. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1997b. 2v. p. 1325

Page 17: sociedade contemporanea

Conferências de Haia, em 1899 e 1907, que elaboraram, respectivamente, três e

treze convenções sobre a prevenção da guerra, condunção das hospitalidades e o

regime da neutralidade; realizam-se, igualmente, progressos no domínio

humanitário. Jus ad bellum, com a proibição parcial (Pacto da Sociedade das

Nações) e depois total da agressão armada (Pacto Briand-Kellogg de 28 de agosto

de 1928).

As grandes organizações, Sociedade das Nações (S.d.N) e

Organização Internacional do Trabalho (O.I.T.), favorecem a negociação de

numerosas convenções técnicas e sociais e encetam as primeiras tentativas de

codificação do direito internacional (Genebra, 1930).

A época contemporânea, posterior ao segundo conflito mundial,

conhece tal expansão no domínio das normas internacionais que se pode falar de

uma verdadeira explosão normativa torna-se oportuno dividir o Direito Internacional

num certo número de ramos, para não dizer de disciplinas autônomas; ao direito

diplomático e consular, ao direito dos tratados (setores tradicionais), é necessário

acrescentar temas inteira ou parcialmente inéditos: Direito do Espaço, proteção dos

Direitos do Homem, Direito Econômico Internacional, Direito Internacional do

Desenvolvimento, Direito Administrativo Internacional, Direito das Organizações

Internacionais, Direito do Ambiente, Direito da Cooperação Científica e Técnica, etc.

Disciplinas que poderiam julgar-se estabilizadas, portanto pouco

suscetíveis de um enriquecimento convencional. As ilustrações mais marcantes

deste fenômeno são o direito do mar e o direito econômico internacional, e, numa

medida menor, o direito dos tratados ou do ambiente. 39

A ampliação do número de Estados, no decorrer dos anos, desde a

elaboração da Carta das Nações Unidas até os dias atuais traz a necessidade de

coerência e de segurança jurídicas que já era sentida numa comunidade

internacional reduzida a seis dezenas de Estados. Não tinham os autores da Carta

das Nações Unidas fixado como objetivo a codificação e o desenvolvimento do

39 JENNINGS, Robert, The discipline of international law. Lord McNair, Memorial Lecture, International Law Association, Washington- DC, 1976,-p. 632.

Page 18: sociedade contemporanea

direito internacional (art. 13°).40 Tal necessidade não podia senão amplificar-se numa

sociedade ampliada a mais de cento e oitenta

Em tempos de paz, a tônica da relativa pacificação da sociedade

internacional contemporânea soa de caráter essencialmente econômico. À medida

que a comunidade internacional se expande, a tônica desloca-se dos problemas

comerciais e monetários das grandes potências para os do desenvolvimento

econômico.

Verifica-se uma inversão das relações de prioridade entre a

manutenção da paz e o desenvolvimento econômico e social. Para os autores da

Carta, o estabelecimento de uma ordem econômica internacional eficaz é uma

garantia de segurança internacional; para a atual maioria dos Estados, as relações

pacíficas são condições prévias do desenvolvimento econômico.

Paralelamente, as fronteiras não mais existem ao capital

internacional mudando significativamente as relações de poder, significando o

questionamento da soberania nacional 41.

A globalização afeta o tradicional conceito de Estado, na medida em

que muda seu sentido, não mais justificando o Estado nacional, mas prevalecendo o

princípio da soberania estatal, porém diluído42.

Os objetivos do direito internacional diversificam-se; a procura da

paz deve ser conciliada e combinada com a descolonização, a luta contra o racismo

e o apartheid, o desarmamento, a proteção dos direitos do homem, do ambiente e

dos recursos naturais, as exigências de um desenvolvimento rápido. Cada uma

destas preocupações tem como conseqüência um desvio ou complementos em

40 Artigo 13: A Assembléia Geral iniciará estudos e fará recomendações, destinados a: a) promover cooperação internacional no terreno político e incentivar o desenvolvimento progressivo do direito internacional e a sua codificação; b) promover cooperação internacional nos terrenos econômico, social, cultural, educacional e sanitário e favorecer o pleno gozo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, por parte de todos os povos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião. In: Carta das Nações Unidas. Disponível em http://www.onu-brasil.org.br/doc2.php.41MATTOS, Adherbal Meira . Direito e relações internacionais. Belém: Ed. Cesupa, 2003.p. 5642 QUINTÃO, Mário Lúcio. Mercosul: direitos humanos, globalização e soberania. 02. ed. Belo Horizonte: Del Rey, p. 29. A diluição do conceito de soberania ocorre a partir do Plano Schuman, inspirado em Jean Monet, quando seis Estados europeus gradativamente se incorporam a entidades supranacionais, vinculando-se entre si com laços jurídicos, econômicos e políticos mais acentuados do que os derivados dos tratados internacionais clássicos.

Page 19: sociedade contemporanea

diversos ramos do direito internacional: assim é o caso da prevenção da poluição

econômico internacional, etc43.

Essa tomada de consciência da interdisciplinaridade produz efeitos

sensíveis nos métodos de elaboração do direito. O processo de codificação

organizado pela Carta pareceu adaptar-se bem durante cerca de vinte anos a uma

diligência com tônica jurídica. Na perspectiva atual, revela-se insuficientemente

dinâmico. Em matéria econômica, relativamente ao direito do mar, como em relação

ao direito do ambiente, os Estados preferem fixar certo número de princípios gerais.

Essa abordagem apresenta alguns traços característicos.

Os Estados, mais conscientes das implicações das suas escolhas,

hesitam em tornar vinculativas as regras de base e em comprometerem-se a

respeitá-las. Atitude particularmente evidente a respeito dos compromissos de

caráter financeiro, tais como os de assistência aos países subdesenvolvidos ou à

regulamentação monetária internacional.

É também uma atitude de alcance muito mais geral, pois devem

adaptar-se a realidades em permanente mutação. As regras do direito internacional

da economia não apresentam, em geral, o rigor, menos ainda a rigidez, das normas

que regulam domínios mais tradicionais. Mais maleáveis e mais fluidas, tais normas

são preferencialmente redigidas no condicional e constituem mais recomendações

do que ordens e descrevem antes objetivos desejáveis do que obrigações de

resultado ou de comportamento 44.

O recurso a instrumentos jurídicos pouco vinculativos, como as

recomendações das organizações internacionais, os acordos informais, os

compromissos sob condição, os códigos de conduta, permite assegurar a

cooperação entre os Estados, ao mesmo tempo que salvaguarda a sua soberania.

Em contrapartida, consagra-se um interesse pelo menos igual ao

que levou à formulação de normas abstratas, ao aperfeiçoamento contínuo da

regulamentação inicial e a fiscalização da sua efetividade45.

43 HELD, David, A democracia, o Estado nação e o sistema global, Revista Lua Nova, n. 23, p. 145-194, mar. São Paulo : CEDEC, 1991. p. 162.44 Ibidem.45 As normas imperativas, alicerçadas em consenso universal, restringem a liberdade das soberanias. Em nome de interesses superiores, limitam-se seus direitos e seu âmbito de ação. Estas limitações, porém, são mais teóricas que reais. Num contexto de crescentes desigualdades mundiais, "o ponto de vista da humanidade" e "os interesses superiores da comunidade internacional como um todo",

Page 20: sociedade contemporanea

O que se traduz, em primeiro lugar, pela aceitação do princípio da

regra do direito tradicional, particularmente evidente no direito do desenvolvimento,

destes entre si, dos países gravemente afetados pela crise econômica com as

outras categorias de Estados. O que conduz, igualmente, a inscrever cada etapa da

regulamentação num esquema a médio ou longo prazo, dito, consoante os casos,

estratégia internacional ou programa integrado. Serão, pois, estabelecidos

processos, de informação e de exame adaptados a cada caso concreto, desde as

fórmulas mais oficiosas até à resolução arbitral ou jurisdicional internacional46.

Concretiza-se, assim, progressivamente, a noção de

responsabilidade comum dos Estados em relação à comunidade internacional,

traduzida em instrumentos jurídicos de caráter executórios e instâncias

internacionais de solução de conflitos.

O resultado da evolução do direito internacional nesta direção

traduzir-se-ia no reconhecimento de uma hierarquia das normas e na extensão do

conceito de crime internacional a todas as violações graves das normas superiores

(agressão, dominação colonial, genocídio, poluição maciça da atmosfera e dos

mares). Porém, os Estados hesitam ainda em comprometer-se nesta via, a qual

consagraria um recuo bastante nítido do interestatismo47.

Aliás, não desapareceram todos os obstáculos políticos e técnicos

que impedem a adoção e a entrada em vigor dos compromissos convencionais mais

importantes, que continuam a ser lentos e pesados, a ponto de o aperfeiçoamento

de tais processos ter-se tornado preocupação comum das organizações universais.

Em especial, parece necessário desenvolver técnicas mais flexíveis

de adaptação contínua dos tratados, tendo em conta o ritmo rápido dos processos

técnicos. Quanto aos métodos modernos de elaboração do direito, também eles

apresentam perigos: incerteza sobre o estado do direito positivo, o que favorece a

postos acima dos interesses nacionais e privados, não poderiam se conformar em permanecer cingidos apenas a princípios e normas de comportamento, mesmo que proclamados de validade universal. Ibidem.46 Entretanto, chegamos a um momento da história em que, considerada a complexidade das relações internacionais e da interdependência, os interesses mútuos fizeram um progresso muito rápido: cada Estado tem, muito freqüentemente, interesse no respeito à regra de direito. Trata-se de preferência de uma escolha entre interesses em competições. LACHS, Manfred. O Direito Internacional no alvorecer do século XXI. In: Estud. av. v.8, n.21, São Paulo maio/ago. 1994. p. 11647 Visto que o Direito Internacional coloca à disposição dos governos meios processuais... ele representa para a manutenção da paz uma utilidade certa, na medida que os interessados estiverem dispostos a recorrer a ele. Ibidem.

Page 21: sociedade contemporanea

sua violação; riscos acrescidos de incompatibilidade das normas internacionais entre

si.

Tal risco de incompatibilidade provém não só da multiplicidade das

regras do direito internacional, mas, sobretudo do fato do regionalismo jurídico.

3 Desdobramentos da abertura de mercado: a circulação internacional de bens e serviços

Nota-se, por meio da exposição efetivada até este ponto, que as

transformações econômico-sociais ocorridas desde 1945 propiciaram a formação de

dois movimentos simultâneos que resultaram na criação de sistemas jurídicos

internacionais próprios, quais sejam: a abertura internacional do comércio de bens e

serviços em escala mundial e a formação de uniões estatais com o fim de

fortalecimento regional.

O primeiro movimento, denominado multilateralismo, será analisado

no segundo capítulo sendo que, por ora, analisam-se os desdobramentos no

sistema jurídico internacional ocasionado pela abertura de mercado.

Indubitavelmente, na atualidade, cada vez mais o cidadão comum

vê-se envolvido em uma relação decorrente do cenário internacional

contemporâneo. Com a internalização da economia assentada sobre o tripé de

Bretton Woods, a partir das finanças, da moeda e do comércio, as relações

estabelecidas e ditadas no plano internacional passaram a ter desdobramentos,

internamente, nos Estados e sobre seus nacionais48.

O sistema comercial internacional não se confunde com o sistema

comercial multilateral, apesar de alguns autores tratarem como sinônimos. Assim, o

sistema comercial internacional compõe-se de quatro subsistemas, quais sejam: 1.

subsistema multilateral, 2. acordos e medidas comerciais bilaterais e unilaterais

48 Conforme orienta Eduardo Paz Ferreira, visando à reconstrução da ordem financeira, econômica e política internacional, profundamente alterada pela 2ª Guerra Mundial, teve lugar em 1944, a Conferencia de Bretton Woods, da qual ressaltou a criação do Fundo Monetário Internacional – FMI e do Banco Internacional para a Reconstrução e do Desenvolvimento – BIRD, também conhecido como Banco Mundial (Word Bank). Veja in: FERREIRA, Eduardo Paz e ATANÁSIO, João, Textos de Direito do Comércio Internacional e do Desenvolvimento Econômico, volume I comércio Internacional, ed., Almedina, 2004, p. 20. As transformações advindas deste cenário especificamente na formação do sistema de comercio internacional será analisado no próximo capitulo deste trabalho.

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(com intenções protecionistas); 3. acordos de integração regional e 4. acordos ou

compromissos que respeitam a ordem jurídica nacional49

A economia mundial passa a ser gerida por organizações

internacionais que induzem e coordenam as políticas de eliminação de barreiras

comerciais e dinamização do comércio entre as nações e vão influir diretamente na

vida das pessoas do mundo todo.

Decorre uma globalização de medidas, não vistas, porém sentidas,

principalmente na economia circulante 50.

A ordem econômica internacional aos poucos adentra as fronteiras

dos Estados, pois estes deixam de ser o detentor soberano para legislar sobre

grande parte das regras econômicas, porque outrora permitiram a

internacionalização do sistema, a qual se fortaleceu as economias capitalistas

centrais e tornou dependentes as economias menos desenvolvidas e periféricas.

O Direito Internacional Econômico está fortemente centrado em dois

pontos: a formação de instituições internacionais e a mudança de paradigma no

Direito Internacional que ocasiona a criação de tais instituições, inserindo normas

positivas para os Estados, que ao invés de simplesmente acomodar as várias forças

estatais para permitir sua coexistência passam a ditar-lhes também certas regras

exigindo ações em sentido determinados pelas próprias normas internacionais.

A construção destas instituições internacionais surgiu dos

escombros da primeira guerra mundial com a Sociedade das Nações. A crise do

entre-guerras, lembrada pela alta inflação na Alemanha e pela queda da bolsa de

49 CUNHA, Luís Pedro Chaves Rodrigues da. O Sistema Comercial Multilateral face aos espaços de Integração Regional. Coimbra: Coimbra Editora, 2008. p. 11/13.50 HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX 1914-1991. Tradução de Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 413. Quando a economia transnacional estabeleceu seu domínio sobre o mundo, solapou uma grande instituição, até 1945 praticamente universal: o Estado nação territorial, pois um Estado assim já não poderia controlar mais que uma parte cada vez menor de seus assuntos. Organizações cujo campo de ação era efetivamente limitado pelas fronteiras de seu território, como sindicatos, parlamentos e sistemas públicos de rádio e televisão nacionais, saíram portanto perdendo, enquanto organizações não limitadas desse jeito, como empresas transnacionais, o mercado de moeda internacional e os meios de comunicação da era do satélite, saíram ganhando.

Page 23: sociedade contemporanea

Nova Iorque em 1929, levou o Estado liberal a tornar-se intervencionista,

regulamentando a economia. Atuando junto aos atores privados 51 52.

Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial e a destruição de boa

parte do continente europeu, simultaneamente ao crescimento do socialismo no

Hemisfério Leste, a idéia de construir uma ordem internacional mais calcada no

Direito, em detrimento da outra criada sobre o equacionamento das relações de

poder, ganha força. Assim, por meio de regras jurídicas, esperava-se dar uma maior

previsibilidade às relações internacionais, favorecendo o investimento empresarial

em outros países.

51 Em 24 de outubro de 1929 os valores de ações na bolsa de valores de Nova Iorque, a New York Stock Exchange, caíram drasticamente, desencadeando a Quinta-Feira Negra, provocando o chamado crash da Bolsa de Nova Iorque. Esse dia é considerado popularmente como o início da Grande Depressão, também chamada por vezes de Crise de 1929, foi uma grande depressão econômica que teve início em 1929, e que persistiu ao longo da década de 1930, terminando apenas com a Segunda Guerra Mundial. Este período causou altas taxas de desemprego, quedas drásticas do produto interno bruto de diversos países, bem como quedas drásticas na produção industrial, preços de ações, e em praticamente todo medidor de atividade econômica, em diversos países no mundo. A quebra na bolsa de valores de Nova Iorque piorou drasticamente os efeitos da recessão já existente, causando grande inflação e queda nas taxas de venda de produtos, que por sua vez obrigaram o fechamento de inúmeras empresas comerciais e industriais, elevando assim drasticamente as taxas de desemprego. Os efeitos da Grande Depressão foram sentidos no mundo inteiro. Estes efeitos, bem como sua intensidade, variaram de país a país. Os efeitos negativos da Grande Depressão atingiram seu ápice nos Estados Unidos em 1933. Neste ano, o Presidente americano Franklin Delano Roosevelt aprovou uma série de medidas conhecidas como New Deal, que juntamente com programas de ajuda social realizados por todos os estados americanos, ajudou a minimizar os efeitos da Depressão a partir de 1933. A maioria dos países atingidos pela Grande Depressão passaram a recuperar-se economicamente a partir de então. Este contexto histórico levou a um alto nível de intervenção do Estado nas práxis empresariais e no fluxo econômico. Passados alguns anos, as crises econômicas e políticas da década de 1970 nos principais países capitalista abriram uma janela histórica para a ascensão do neoliberalismo. O diagnóstico liberal da crise era o excesso de intervencionismo do Estado na economia, que se traduzia em altas taxas de desemprego e inflação e baixas taxas de lucro. O remédio era a redução do Estado e até mesmo o seu afastamento da economia. A mão invisível do mercado regularia, com eficiência e justiça, as relações sociais de produção, consumo, troca e distribuição. O Estado, tido como ineficiente e corrupto, não deveria interferir ou limitar a ação privada dos empreendedores: a busca de cada indivíduo pela materialização dos seus objetivos pessoais de acumulação, levaria, por obra da mão invisível do mercado, ao bem-estar coletivo, desde que o Estado se mantivesse longe das atividades mercantis. A crise financeira de 2008, iniciada nos Estados Unidos, e que rapidamente se alastrou por todo o mercado mundial, traz elementos para repensarmos qual foi o padrão de intervenção do Estado na economia durante a era neoliberal e questionarmos, com profundidade, aquelas verdades tidas como sagradas. A crise pode, em certa medida, reativar o pensamento social crítico e até mesmo a práxis política das classes subalternas. Hoje, começam a se destacar análises e prognósticos que apontam para a necessidade da volta da regulação das atividades econômicas por parte das autoridades constituídas. Em suma, o Estado, em nenhuma época, deixou de gerar as condições necessárias para a acumulação de capital e para a manutenção da ordem estabelecida. Esta sempre foi a sua principal função, função esta, aliás, com raras exceções, muito bem cumprida ao longo do tempo. E não será agora, diante de mais uma crise, que deixará de cumpri-la. O Estado não precisa ser convocado para voltar a intervir novamente na economia pelo simples fato que nunca abdicou de tal função na sociedade capitalista. BRANCO, Rodrigo Castelo. A crise de 2008 e a intervenção do Estado na economia. Rio de Janeiro : Fundação Lauro Campos. Novembro, 2008. Disponível em http://www.socialismo.org.br/portal/questoes-ideologicas/83-artigo/638-a-crise-de-2008-e-a-intervencao-do-estado-na-economia, acessado em 08/01/2009.52 LACHS, Manfred. O Direito Internacional no alvorecer do século XXI. Op. Cit.. p. 117.

Page 24: sociedade contemporanea

A finalidade última da cooperação internacional seria o alcance da

paz e da prosperidade, fins conjugados e reciprocamente complementares, pois

causas econômicas também estiveram na raiz dos conflitos que culminaram na

Segunda Guerra Mundial. 53

Foi deste modo então que, quando o mundo se ressentia dos efeitos

da Segunda Guerra Mundial e buscava formas de regular a economia, a política e as

finanças da nova ordem a qual se moldava as relações internacionais, foi

vislumbrada a criação de instituições internacionais que deveriam coordenar a

cooperação entre os Estados nestas áreas.

Wolfgang Friedmann opina sobre a internacionalização dos

interesses econômicos e seus efeitos sobre as transformações do Direito

internacional54. A internacionalização dos interesses econômicos transpõe, para a

seara internacional, os interesses privados, as quais reividicam cada vez mais

espaço na produção de normas que atendam a seus interesses cobram de seus

Estados nacionais medidas que os beneficiem.

O impacto da ordem econômica internacional criada sobre o direito

internacional é altamente perceptível, pois muda a titularidade dos sujeitos

detentores do poder legislativo sobre a matéria econômica, deslocando esse poder

das mãos dos Estados para as organizações internacionais.

Do direito internacional clássico, o direito internacional econômico só

extrai as regras para criação de organizações internacionais. A partir daí,

desenvolve-se um sistema próprio de criação e aplicação de princípios que se

corporificam no dia-a-dia de cada Estado e complementarmente de cada cidadão,

53 O efeito natural do comércio é trazer a paz. Duas nações que realizam trocas comerciais juntas tornam-se reciprocamente dependentes; se uma tem interesse em comprar, a outra tem em vender; e todas as uniões estão baseadas nas mútuas necessidades. MONTESQUIEU, Charles Louis de Secondat, baron de la Brède et de. O espirito das Leis. Trad Fernando Henrique Cardoso e Leoncio Martins Rodrigues, Brasilia: Universidade de Brasilia, 1982, p. 358.54 FRIEDMANN, Wolfgang. Mudança da estrutura do Direito Internacional. Tradução de A. S. Araújo. Rio de Janeiro: Freitas de Barros, 1971. p. 25-26. A internacionalização cada vez maior da indústria, comércio e dos negócios nos estágios adiantados da revolução industrial e a conseqüente internacionalização das atividades da empresa moderna estão desafiando o monopólio legal e político do Estado. Eles criam, no Direito e nas relações internacionais contemporâneas, novos problemas de tensão entre a organização política ainda predominante no mundo em Estados nacionais soberanos, e a internacionalização dos interesses e atividades econômicas. O Estado nacional ainda reivindica lealdade legal, política e emocional, conforme é demonstrado pela atitude da grande maioria dos cidadãos na ocorrência da guerra. (...) mas a internacionalização de interesses econômicos criou importantes reividicações antagônicas que às vezes entram em conflito com as lealdades ao Estado, à medida que a organização dos interesses econômicos se difunde além das fronteiras nacionais.

Page 25: sociedade contemporanea

colocando em xeque e modificando substancialmente a relação do direito

internacional com o direito interno dos Estados.

O mundo entra em um novo e nebuloso período das relações

internacionais, quando se desenvolve, mais do que nunca, um campo propício para

a ampliação das inter-relações estatais e aprimoramento das estruturas

pretensamente mundiais (mas que só representavam o mundo ocidental capitalista),

criadas em 1945, e o avanço do capitalismo como modelo de mercado para todo o

mundo. Passa-se a aspirar, finalmente, à possibilidade de se viver em um mundo

multipolar. 55

É nesse contexto que emerge uma série de transformações na

sociedade internacional, facilitadas por esta amplificação dos canais de

comunicação entre os Estados, das inter-relações humanas entre indivíduos de

diferentes países, pelo avanço do capitalismo e do comércio internacional, aliadas a

outros fatores científicos, culturais e sociais, que induzem a um pluralismo de idéias

e expõem faces da comunidade internacional nunca vistas antes, que ocupam

importantes debates no meio acadêmico, cujo processo passa a ser chamado de

globalização.

Observa-se que a globalização é um processo crescente e em

contínua aceleração, desencadeado a partir dos anos 90 e facilitado pelo cenário

político internacional que oportunizou uma maior inter-relação entre as nações nos

campos social, político, econômico e comercial, científico, cultural e tecnológico.

Como observa Anthony Giddens, a globalização não é um processo

singular, mas um conjunto de fatores que estão a atuar ao mesmo tempo, com a

intensificação das relações sociais mundiais que unem localidades distantes, de tal

modo que os acontecimentos locais são condicionados por eventos que acontecem

a muitas milhas de distância e vice-versa, o que acaba afetando diretamente a vida

do cidadão comum das mais variadas formas56.

55 Eric Hobsbawm ao analisar o fim da guerra fria e suas conseqüências, comenta: “O fim da guerra fria provou ser não o fim de um conflito internacional, mas o fim de um era. Os anos por volta de 1990 foram uma dessas viradas seculares. Mas, embora todos pudessem ver que o antigo mudara, havia absoluta incerteza sobre a natureza e as perspectivas do novo.” HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX 1914-1991. Op. Cit., p.252.56 GIDDENS, Anthony. Un mundo desbocado. Los efectos de la globalización em nuestras vidas. Op. Cit. p. 27.

Page 26: sociedade contemporanea

O principal desdobramento das transformações sociais advindas

com o pós-guerra consiste na ruptura com o sistema anterior e uma readequação do

Estado à sociedade internacional. Todos esses fatores anteriormente descritos

foram potencializados com o desencadeamento do processo de globalização, de

forma que tal ruptura histórica na sociedade internacional impõe também um

rompimento com o sistema clássico de aplicação do direito internacional57.

Diante disso, o Estado altera suas funções principalmente em razão

dos seguintes fatores: a) transferência de certas competências aos foros

internacionais; b) fluxos e refluxos comerciais que atravessam suas fronteiras e são

regulamentados em foros internacionais; c) compartilhamento do monopólio de

produção normativa com organizações internacionais; d) surgimento e fortalecimento

de outros atores ativos que abarcaram para si parcela de competência no contexto

internacional; e) fortalecimento de sujeitos de direito privado que operam

transnacionalmente entre suas fronteiras; f) surgimento de normas transnacionais e

supranacionais.

A sociedade internacional contemporânea deve ser caracterizada

pelo Direito e não pela ausência dele, de forma a admitir-se que além do Direito

internacional clássico, outras formas de produção normativa passam a coexistir e

regular as relações. As normas próprias das organizações internacionais são

exemplos disso. Há um conjunto de regras voltadas e criadas por esses organismos

que geram obrigações a todos os atores pertencentes à tal comunidade

paralelamente às relações interestatais clássicas.

Assim, passa a ser crescente a necessidade de cooperação entre os

Estados, devido ao surgimento de questões novas que demandavam soluções que

abrangessem as nações, surgindo as conferências internacionais, com a

consequente adoção dos tratados multilaterais. Isso levou à criação de organismos

internacionais institucionalizados e estruturados permanentemente

Havia uma exigência de cooperação ligada ao desenvolvimento das

técnicas, das comunicações, do comércio, a necessidade de institucionalizar a vida

57 SOUZA SANTOS, Boaventura de. (org.) A globalização e as ciências sociais. Os processos da Globalização. São Paulo: Cortez, 2002. p. 36 O Estado nação parece ter perdido a sua centralidade tradicional enquanto unidade privilegiada de iniciativa econômica, social e política. A intensificação de interações que atravessam as fronteiras e as práticas transnacionais corroem a capacidade do Estado nação para conduzir ou controlar fluxos de pessoas, bens, capital ou idéias, como o fez no passado.

Page 27: sociedade contemporanea

internacional por meio de organizações internacionais universais58, que culminou na

criação de um direito de cooperação cuja finalidade não é mais apenas regulamentar

relações internacionais essencialmente horizontais e bilaterais, mas de favorecer a

ação coletiva para a realização de objetivos comuns.59

A proliferação de organizações internacionais dá-se principalmente

após o fim da Guerra Fria. Consequentemente, a ordem jurídica internacional de

coordenação vai sendo sucedida pela ordem jurídica internacional de subordinação

institucional60.

Nota-se que as organizações internacionais encontram-se em

constante evolução, o que dificulta concretizar uma conceituação permanente. De

uma maneira geral, as organizações internacionais são associações voluntárias de

Estados estabelecidas por acordo internacional, dotadas de órgãos permanentes,

próprios e independentes, encarregados de gerir interesses coletivos e capazes de

expressar uma vontade juridicamente distinta de seus membros 61.

Diante de tal conceito, podem-se anotar algumas características que

diferenciam as organizações internacionais de outros organismos correlatos, como

serem constituídas essencialmente por Estados, deterem uma base jurídica

convencional e uma estrutura organizacional permanente e independente, assim

como uma determinada autonomia jurídica62.

As organizações internacionais classificam-se de várias formas, sob

vários critérios, principalmente em três aspectos: fins, composição e competências.

58 SMOUTS, Marie Claude. As Novas Relações Internacionais. Editora UnB: Brasília, 2004, p. 133.59 Ibidem.60 FONTOURA, Jorge. Revista de Informação Legislativa. Ano 39, no 153, janeiro/março 2002. Editora do Senado Federal: Brasília, 2002. p. 24. Necessitava-se, com a incisiva abertura dos mercados, de um efetivo multilateralismo decisório, baseado no querer coletivo e coordenado dos Estados, com mecanismos fundados em regras comuns, para refrear tendências unilaterais e ímpetos nacionalistas61 SEITENFUS, Ricardo. Manual das organizações internacionais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997, p. 2262 Apesar de tudo, é possível apontar vários fatos e desenvolvimentos que indicam que as organizações internacionais têm sido muito eficazes e hoje fazem parte integrante da vida das sociedades. Na verdade, embora na maioria das vezes de forma pouco visível, são elementos essenciais da modernidade. Atualmente, é inimaginável um mundo sem o enorme fluxo de bens, recursos financeiros, informações, pessoas e de uma série de outros elementos mais difusos e menos quantificáveis que transitam continuamente entre as fronteiras que delimitam os Estados. Na base desse fenômeno, está uma ampla e complexa malha de organizações internacionais, que, de maneira integrada, possibilita esse fluxo relativamente ordeiro e continuamente crescente. SATO, Edi. Conflito e cooperação nas relações internacionais: as organizações internacionais no século XXI. Op. Cti.p.167.

Page 28: sociedade contemporanea

Considerando a finalidade última do presente trabalho, o estudo aprofundado dessas

classificações faz-se descabido. De forma que se atenta somente quanto à

competência, para que seja traçada a formação dos sub-sistemas do direito

internacional, quais sejam o sistema multilateral e o sistema regional63.

No que concerne às competências, portanto, as organizações

internacionais classificam-se em organizações de cooperação ou coordenação e

organizações de integração ou de unificação.

No grupo das Organizações de Cooperação ou Coordenação,

denominadas de organizações internacionais clássicas, está inserida a maior parte

das Organizações Internacionais. Elas realizam ações coordenadas entre seus

membros com o fim de alcançar objetivos coletivos, respeitando a soberania dos

Estados membros, significando dizer que as decisões não serão aplicadas nos seus

territórios senão após autorização e mediação. Nelas se operam, via de regra, a

técnica da negociação, a adoção de decisões por unanimidade e a instituição de

órgãos comuns e permanentes64.

As organizações de integração ou de unificação pretendem como os

próprios termos indicam, a integração ou unificação de seus Estados membros.

Nelas se opera uma cessão de competências dos Estados membros a órgãos

comuns65.

A aceitação da existência dos subsistemas corrobora para o

entendimento das forças que coexistem no âmbito internacional, sendo este, um

emaranhado de acordos sobrepostos e simultaneamente validos. De forma que há

interação entre eles e a existência da OMC institucionaliza o subsistema multilateral,

mas não o faz dominante66.

A principal característica de tais órgãos é a de adotar decisões que

podem incidir direta e imediatamente nos ordenamentos jurídicos nacionais. A

estrutura jurídica que se forma é um sistema jurídico próprio e regional, objeto de

estudo do próximo item.

63 Ibidem.64 SEITENFUS, Ricardo. Manual das organizações internacionais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997, p.2265 Ibidem. p.23.66 CUNHA, Luís Pedro Chaves Rodrigues da. O Sistema Comercial Multilateral face aos espaços de Integração Regional. Op. Cit. p.285.

Page 29: sociedade contemporanea

4 Formação e fortalecimento do direito internacional regional

Ao se iniciar uma análise sobre o regionalismo econômico-comercial

e, ao se alinhavar alguma consideração sobre o regionalismo diante do

multilateralismo comercial, convém fazer uma reflexão mais ampla a respeito do

regionalismo no cenário internacional.

Tal análise parte da constatação de que, nos dias atuais, verifica-se

a coexistência de forças centrípetas e centrífugas que aproximam e afastam

diferentes atores; que elementos que unem Estados em torno de um pólo comum

servem ao mesmo tempo como fator de repulsão em relação a outros atores67.

De uma maneira geral, o regionalismo, tanto sob o ponto de vista

econômico-comercial, quanto sob o aspecto político-estratégico, não deixa de

representar um vetor de aglutinação, que arregimenta atores em prol de objetivos e

ações comuns ou ao menos coordenadas68.

O regionalismo é percebido pelos atores internacionais,

especialmente pelos Estados (mas também empresas multinacionais, por exemplo)

como uma estratégia para potencializar ou mesmo viabilizar interesses.

Teoricamente, portanto, pode-se distinguir regionalismo de regionalização. Sendo o

primeiro, a busca em promover a integração econômica regional por tratado entre as

partes interessadas; e o segundo um processo conduzido pelo mercado que se

traduz em uma integração entre economias ao nível da produção e numa

concentração do comércio externo69.

O papel desempenhado pelos acordos regionais de comércio vem

aumentado, como afirma Thorstensen70. Para a autora, a principal conseqüência da

67 Todavia, é possível identificar algumas forças ou tendências que atuam sobre a ordem internacional e que devem influenciar o futuro das organizações internacionais. As organizações internacionais são organismos vivos que se transformam ao longo do tempo acompanhando as mudanças sociais e políticas. SATO, Edi. Conflito e cooperação nas relações internacionais: as organizações internacionais no século XXI. Op. Cit. p.170.68 MITTELMAN, James. Rething the new regionalism in the contexte of globalization. In: HETTNE, Bjôm; INOTAI, Andrá; SUNKEL, Osvaldo (eds). Globalism and the new regionalism. London: Macmillan, 1999, p. 30.69 CUNHA, Luis Pedro Chaves da. O Sistema Comercial Multilateral face aos Espaços de Integração Regional. Op. Cit, p. 285.70 THORSTENSEN, Vera OMC – Organização Mundial de Comércio: as regras do comércio internacional e a rodada do milênio. São Paulo: Aduaneiras, 1999, p.22

Page 30: sociedade contemporanea

substituição de um modelo bipolar definido para um modelo multipolar indefinido é a

de que os EUA perderam o papel de árbitro das regras do comércio, deixando

espaço para um clima de constantes conflitos com outras potências econômicas, o

que torna o quadro internacional atual muito mais complexo.

As mudanças sistêmicas decorrentes do fim da guerra fria e a

globalização econômica que se instaura neste contexto motivaram uma segunda

onda de regionalismo, tratada pela literatura como regionalismo aberto71.

O crescimento dos blocos regionais tem origem anterior ao

exponencial desenvolvimento marcado nos anos 90, pois em verdade, o fim da

Segunda Guerra Mundial contribuiu, politicamente, para a formação de

regionalismos na medida em que a dissolução da Pax Britânica se consolidou,

vindo acompanhada da emergência de uma hegemonia bipolar e posteriormente

multipolar e de outras ameaças mais difusas e de diferente natureza72.

Com a criação de uma nova arquitetura institucional destinada a

organizar o novo cenário internacional, a evolução dos processos de integração

regional, a partir da Segunda Guerra Mundial, se desdobrou em duas ondas.

A primeira onda de regionalismo, vivenciada por volta de 1950/1960,

caracterizava-se por um regionalismo fechado, protecionista e manifestava-se como

resultado de um impulso político, governamental. Neste primeiro momento, os EUA

estavam preocupados com o fortalecimento do multilateralismo, posicionando-se

contrariamente aos movimentos de integração regional.

Tal geração de regionalismos seria consequência da vontade dos

países subdesenvolvidos em diminuir a dependência política e econômica que

possuem com relação aos países avançados. A adoção de acordos preferenciais

seria um modo de desencorajar as importações e encorajar o desenvolvimento das

71 No aspecto formal, a comunidade regional é um tipo de organização internacional, desde que esta esteja estabelecida por uma tratado entre os Estados independentes. Entretanto, enquanto a organização internacional procura a cooperação funcional em uma área determinada, mantendo-se o estatuto do Estado, independente, a comunidade regional procura a integração substancial entre os Estados-partes, limitando-se voluntariamente ao próprio estatuto do Estado. JO, Hee Mon. Introdução ao Direito Internacional. São Paulo : LTr Editora, 2004, 2ª ed. p. 269.72 Pax Britânica - Termo utilizado para descrever o período de paz sentido após a Batalha de Trafalgar que levou a uma maior expansão do Império Britânico. REREIRA, Analucia Danilevicz & VISENTINI, Paulo G. Fagundes. Historia do Mundo Contemporaneo: da Pax Britanica do Seculo Xviii Ao Choque das Civilizaçoes do Seculo XXI, Editora Vozes : Rio de Janeiro, p. 21.

Page 31: sociedade contemporanea

indústrias nacionais. Esse tipo de acordo, sem dúvida, levou ao desvio de comércio

internacional.

A segunda onda surgiu profundamente diferente da primeira, pois as

novas iniciativas regionais representaram uma tentativa dos membros em facilitar a

sua participação na economia mundial, ao invés de se isolarem, como no caso

anterior.

Assim, a retomada do regionalismo remonta à década de 80 e difere

da primeira por dois importantes fatores: é motivada por processos direcionados

pelo mercado ou pela sociedade civil e não por impulsos políticos. Também não

menos importante, tem nos EUA o seu principal jogador, fato que lhe possibilita uma

condição mais duradoura.

Esses novos processos regionais, que envolveram tanto países

desenvolvidos como países em desenvolvimento, podem ser caracterizados como

estratégias para liberalizar e abrir as economias por meio da implementação de

políticas de fomento à exportação e do investimento estrangeiro, ao invés da

promoção de estratégias de substituição de importações.

É possível descrever os antigos acordos regionais como acordos

firmados entre países que possuíam quase o mesmo grau de desenvolvimento e

geralmente, se encontravam muito próximos geograficamente uns dos outros. Além

disso, esses primeiros tipos de acordos concentravam-se na redução das barreiras

pautais e não-pautais para promover maior comércio entre os países. O antigo

regionalismo era utilizado basicamente como um instrumento de suporte das

políticas nacionais de desenvolvimento, procurando superar a restrição de

mercado73.

Diversos autores74 sustentam que a integração econômica regional é

um fenômeno exógeno, gerado pelo próprio sistema multilateral de comércio75.

73 Regionalismo (regionalism) é um tipo de integração econômica (economic integration) que visa aplicar os princípios de liberdade e da não-discriminação do comércio internacional apenas a alguns países pré-determinados. Logo, o regionalismo visa formar uma comunidade econômica entre certos países de uma determinada região, fenômeno este denominado bloco econômico. Jo, Hee Moon. Introdução ao Direito Internacional. Op. Cit. p. 272.74 MELO & PANAGARIYA, eds., New dimensions in regional integration, Cambridge University Press 1993; MAINSFIELD, Edward; MILLER, Helen. The new wave of regionalism. Internacional Organization. N. 53, . 03, summer.75 Schiff, 2000, afirma que muitos estudos assumem que o regionalismo comercial é um fenômeno exógeno. Cita Ethier (1998,1999) que argumenta que o efeito da integração econômica regional é gerado pela própria liberalização multilateral e Alesina et al. (1997) argumentando que a liberalização

Page 32: sociedade contemporanea

Argumenta-se que a migração para a integração econômica regional é devida à

insatisfação dos EUA com os poucos avanços da OMC em matéria de regulação e

liberalização comercial76.

Quatro são as razões para o enfraquecimento do sistema multilateral

de comércio: o aumento do número de jogadores, que torna as negociações mais

difíceis e aumentam o problema do free riding; a maior complexidade trazida para as

negociações com a inclusão de temas relativos à defesa comercial; o relativo

declínio do poderio estadunidense, que torna mais difícil acelerar o sistema; e a

complicação das negociações frente às diferenças institucionais entre os maiores

poderes77.

Visto particularmente no contexto econômico internacional, o

regionalismo na atualidade é percebido por muitos como um instrumento por meio

do qual o Estado busca influir no processo de globalização econômica78. O

fenômeno do regionalismo, assim, indicaria o interesse na retomada do papel do

Estado na configuração da ordem econômica internacional.

De tal forma é relevante a distinção entre regionalização e

regionalismo, pois na primeira, a integração pelo mercado emerge do próprio

mercado e não em instrumentos institucionais ou políticas públicas. Assim, a

integração informal é conduzida por atores privados ao passo que a integração

formal, partindo de preferências alfandegárias, é efetivada pelos Estados com a

institucionalização e formação de sistema jurídico próprio79.

Alguns autores, inclusive, percebem o regionalismo econômico-

comercial (o regionalismo formal) como um instrumento central do chamado

“comércio estratégico”. No âmbito desses acordos, os Estados participantes

poderiam exercer maior controle e influência sobre o regime criado em comparação

com a atuação no sistema multilareral. Os projetos regionais em curso seriam, em

alguma medida, orientados por essa percepção estratégica80.

multilateral cria incentivos para a desintegração política.76 MELO & PANAGARIYA, eds., New dimensions in regional integration, Op. Cit., p 411.77 MELO & PANAGARIYA, eds., New dimensions in regional integration, Cambridge University Press 1993, p 41178 MAINSFIELD, Edward; MILLER, Helen. The new wave of regionalism. Internacional Organization. Op. Cit, p.602.79 CUNHA, Luis Pedro Chaves da. O Sistema Comercial Multilateral face aos Espaços de Integração Regional. Op. Cit., p. 285/286.80 GAMBLE, Andrew; PAYNE, Anthony. Conclusion: the new regionalism. In: GAMBLE, Andrew; PAYNE, Anthony (ed.) Regionalism and World Order. London: Macmillan, 1996. p. 251.

Page 33: sociedade contemporanea

Importante notar que, em vários dos processos de integração

regional tais como na União Européia e no Mercosul, o impulso inicial foi de natureza

política (e com fortes preocupações voltadas às questões de segurança regional)81.

Ao longo do tempo, contudo, a vertente econômica da integração passou a adquirir a

continuidade de projetos integrativos mesmo quando as circunstâncias políticas não

lhes eram especialmente favoráveis.

Nesse arcabouço teórico, o surgimento do regionalismo tem sido

interpretado de forma bifurcada, por impulsos econômicos e comerciais de agentes

privados e por impulsos de cooperação política interestatal; e quanto ao

funcionalismo dos blocos regionais, a divisão se processa pelo formato institucional

supranacional e pelo formato intergovernamental.

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81 Sobre esse aspecto, anota o professor Pedro Cunha: Em matéria de relações que se possam estabelecer entre integração regional (formal) e regionalização do comércio internacional, convirá ainda referir que num caso os autores imputam indiscutivelmente à instituição de um espaço de integração regional efeitos sensíveis de regionalização do comércio externo das economias participantes (para além, por conseguinte, daqueles que resultariam da actuação das forças do mercado). Na verdade, a criação da Comunidade Européia e o alargamento deste espaço de integração regional a outros países têm sem dúvida responsabilidades evidentes na matéria. CUNHA,Luis Pedro Chaves da. O Sistema Comercial Multilateral face aos Espaços de Integração Regional. Op. Cit., p. 291.

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