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1 Sociologia da Adlllinistra~ao: .Origens, Objetivos e Finalidades '" (C01~,*acolabora~ao de Marina. de Andrade Marconi eEliana Bra!}co Ma~ langa ) o estudo deste capitulo introduz 0 leitor no conhecimento dos principais conceitos e objetivos relativos a Sociologia da Administra~ao. Permite a apreensao da genese, desenvolvimento e intera~ao dessa Sociologia Especial com a Adminis~ tra~ao. Leva a compreensao do que sejam organiza~6es e sua natureza, a classifica~ ~ao das organiza~6es, especificamente as formais, e seus objetivos. Da mesma for~ ma, propicia 0 entendimento do papel das organiza~6es nas sociedades modernas. 1.1 CONCEITO E OBJETIVOS A Sociologia da Administra~ao (termo usual no Brasil) e um dos ramos da Sociologia. Os autores, em geral, a denominam, tambem, sociologia da Industria, da Elnpresa, do Trabalho e das Organiza~6es. Para Delorenzo Neto (1980: 17), dever~se~ia entender Sociologia do Traba, lho de forma generica, englobando duas sociologias espedficas: a aplicada a Econo~ mia e~ aplicada a Administra~ao, pois ambas estao relacionadas ao mundo do tra~ balho. Dahrendorf (1965:2) refere~se a Sociologia da Economia e a Sociologia da Organiza~ao. * Marina de Andrade Marconi e Doutora em Ciencias e professora de Antropologia da Faculdade de Hist6ria, Direito e Servi<;o Social - UNESP - Campus de Franca. ** Eliana Branco Malanga e Mestre e Doutora em Ciencias e professora de Marketing, para gradua<;ao e p6s-gradua~ao, em diversas Faculdades.

Sociologia da Administração.LAKATOS 15-40p

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1Sociologia da Adlllinistra~ao:.Origens, Objetivos e Finalidades

'"(C01~,*acolabora~ao de Marina. de Andrade Marconi e Eliana Bra!}co Ma~langa )

o estudo deste capitulo introduz 0 leitor no conhecimento dos principaisconceitos e objetivos relativos a Sociologia da Administra~ao. Permite a apreensaoda genese, desenvolvimento e intera~ao dessa Sociologia Especial com a Adminis~tra~ao. Leva a compreensao do que sejam organiza~6es e sua natureza, a classifica~~ao das organiza~6es, especificamente as formais, e seus objetivos. Da mesma for~ma, propicia 0 entendimento do papel das organiza~6es nas sociedades modernas.

1.1 CONCEITO E OBJETIVOS

A Sociologia da Administra~ao (termo usual no Brasil) e um dos ramos daSociologia.

Os autores, em geral, a denominam, tambem, sociologia da Industria, daElnpresa, do Trabalho e das Organiza~6es.

Para Delorenzo Neto (1980: 17), dever~se~ia entender Sociologia do Traba,lho de forma generica, englobando duas sociologias espedficas: a aplicada a Econo~mia e ~ aplicada a Administra~ao, pois ambas estao relacionadas ao mundo do tra~balho. Dahrendorf (1965:2) refere~se a Sociologia da Economia e a Sociologia daOrganiza~ao.

* Marina de Andrade Marconi e Doutora em Ciencias e professora de Antropologia daFaculdade de Hist6ria, Direito e Servi<;o Social - UNESP - Campus de Franca.

** Eliana Branco Malanga e Mestre e Doutora em Ciencias e professora de Marketing,para gradua<;ao e p6s-gradua~ao, em diversas Faculdades.

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A Sociologia, de modo geral, significa 0 estudo sistematico das rela~6es so'ClalS, das formas de associa~ao, ressaltando os caracteres gerais comuns a todas asclasses de fenomenos sociais ocorrentes, 0 ambiente humano e suas inter,rela~6es.Preocupa~se com a descri~ao e a explica~ao do comportamento social global.

A Sociologia da Administra~ao (da Industria e da Empresa, para Dahren,dorf) estuda "aquele setor do comportamento social determinado pela produ~ao in,dustrial de bens" (1965:2), sendo, entao, a aplica~ao dos conhecimentos sociol6gi,cos - conceitos, teorias, prindpios - a analise das rela~6es sociais encontradas ~asempresas de modo geral. .'

Para Bernardes (1982: 17), a Sociologia "fornece a base explicativa para 0

comportamento coletivo dos participantes de uma empresa, bem como prescri~6espara torna,los mais produtivos".

Assim, compete a Sociologia da Administra~ao 0 estudo sistematico das re,la~6es sociais e da intera~ao entre indivfduos e grupos relacionados com a fun~aoeconomica da produ~ao e distribui~ao de bens e servi~os necessarios a sociedade.

1.1.2 Objeto

o objeto central da Sociologia da Administra~ao saG as rela~6es industriais.Segundo M. A. Smith (1971: 16~17), ela analisa as formas pelas quais os subsiste,mas economicos se relacionam com os outros subsistemas, a maneira como estaoestruturados em rela~ao aos papeis do trabalho e ao ajustamento das pessoas nessespapeis.

Observa os conteLldos dos papeis profissionais, as normas e expectativas decomportamento coletivo nas diferentes empresas, assim como os diversos tipos depapeis dentro de uma mesma organiza~ao.

Interessa,se pela estrutura flexfvel das organiza~6es de trabalho, a medidaque esta relaciona os papeis entre si e os indivfduos aos papeis de modo sistema,tico.

Preocupa,se cmu a unidade e integra~ao das empresas industriais, com astens6es e conflitos no interior das mesmas.

Estuda as causas, 0 desenvolvimento, as leis e a possibilidade de regula,menta~ao dos conflitos empresariais e industriais.

Tradicionalmente, a disciplina estava voltada para "0 estudo das rela~6esentre a tecnica e 0 trabalho industrial; 0 grau de mecaniza~ao e a forma de retri,bui~ao; a vontade, 0 interesse e a satisfa~ao do trabalho, os estfmulos da produ~aoe 0 clima da empresa" (Dahrendorf, 1965:8).

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Hoje, 0 interesse e um pOLlCOdiferente. A empresa ja nao e consideradauma entidade social ate certo ponto isolada, em cujas rela~6es internas se podemcompreender quest6es sociais de forma autonoma: ela e vista no que diz respeitoas estruturas e as problem<iticas da sociedade como um todo, uma vez que traba,lhadores, empregados, empresarios, nao exercem apenas fun~6es dentro da empre,sa, mas ocupam posi~6es no conjunto da sociedade.

1.1.3 Objetivos e Fins

o obj etivo, segundo Mayntz (1980: 75), deve ser 0 ponto de partida para aanalise das organiza~6es, aquilo que guia as decis6es, orienta os acontecimentos, asatividades e os processos para um fim espedfico.

o objetivo consiste, portanto, naquilo que se deseja e talvez possa ser aI,can~ado um dia, ao passo que 0 fim reside em algo que se realiza continuadamen,te. Eles variam de acordo com os tipos de organiza~ao.

Maytl.tz divide as organiza~6es em tres categorias, segundo os objetivos:

1. Aquelas cujos objetivos se limitam a coexistencia dos membros, suaatua~ao comum e contrato redproco entre eles.

A estrutura dessas organiza~6es e pouco diferenciada, pouco buro,cratizada e sua ordena~ao nao muito rigorosa. Os papeis de seus mem,bros sao, portanto, pouco marcantes.

Exemplo: clubes, agremia~6es, associa~6es recreativas etc.

2. Aquelas cujo objetivo consiste em atuar de forma determinada sobreum grupo de individuos admitidos, transitoriamente ou nao, em umaorganiza~ao. A atua~ao varia de acordo com a categoria daquela, po,dendo ser voluntaria ou for~ada. Nesse tipo de organiza~ao, ha sempredo is grupos: um inferior, sobre 0 qual se atua - 0 atuado - e um supe,rior, 0 atuante.

Exemplo: escolas, universidades, hospitais, pris6es, igrejas etc.

3. Aquelas que tem como objetivo alcan~ar determinado resultado ouatua~ao externa. Nessa categoria, distinguem,se tres subgrupos, quevariam de acordo com 0 tipo de rela~ao da maioria das pessoas com 0

objetivo correspondente. Sao os seguintes:

a) quando os membros podem ver no objetivo da organiza~ao um va,lor a que estao dispostos a contribuir, sem obter, em troca, vanta,gens pessoais importantes.

Exemplo: associa~6es beneficentes, organiza~6es cientificas, dvicas,de saude ete.

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b) quando os objetivos da organiza<;:ao podem identificar~se com 0 in~teresse pessoal dos membros.

Exemplo: cooperativas, sindicatos, associa<;:oescomerciais etc.

c) quando os membros podem servir aos objetivos da organiza<;:aoporque sua coopera<;:ao Ihes proporciona vantagens que nao seidentificam com os objetivos dela. A maioria dos membros perten~ce a estas organiza<;:oes mais pelo emprego do que pelos bens quefazem ou servi<;:osque prestam.

Exemplo: empresas, administra<;:ao publica, polftica etc.

As organiza<;:oes do primeiro e segundo grupos, em geral, estao estruturadasde acordo com 0 modelo democratico, enquanto nas do terceiro ha uma estruturaautoritaria hierarquizada, com poder de mando de cima para baixo.

1.2 DESENVOLVlMENTO E INTEGRA<;Ao ENTRESOCIOLOGIA E ADMINISTRA<;Ao

o ponto de partida do interesse sociol6gico pela industria e empresa en~contra~se entre os anos ·1820 e 1850 na Inglaterra, Fran<;:ae Alemanha.

A aten<;:ao da pesquisa cientffica foi despertada, pouco a pouco, em facedos problemas do homem no mundo industrial e dos aspectos nao economicos dasfabricas e maquinas.

Segundo Dahrendorf (1965:22), durante 0 seculo XIX tres problemas cons~tituiram~se em temas da pesquisa social: "0 da divisao do trabalho e suas conse~quencias sociaisj 0 da desumaniza<;:ao de vida do trabalho industrial e 0 da socieda~de de classes como consequencia da organiza<;:aosocial da industria".

Em meados do seculo passado, surgiu, ao lado da divisao industrial do tra~balho, a tese de que 0 indivfduo, na produ<;:ao capitalista, se desumanizava. Esseponto de vista baseava~se mais no aspecto filos6fico do que na economia polftica.A aliena<;:ao ou desumaniza<;:ao - conceito introduzido por Hegel e alterado porMarx - significa que 0 indivfduo primeiro cria um objeto (por exemplo, a maqui~na) que depois 0 enfrenta como algo estranho e ate prepotente.

Todavia, a ideia de aliena<;:ao do homem em situa<;:aode trabalho na ind(ls~tria faz parte, ainda hoje, da problematica central cla Sociologia da Administra<;:ao.

Sobre esse assunto manifestaram~se Marx, Engels e Proudhon, principal~mente a respeito de tres fenomenos:

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"a) que 0 trabalhador 'se converte em R,?endice da maquinajb) que 0 trabalhadorse transforma em escravo dos produtos de seu tra~

balhojc) que 0 trabalhador suporta de fato a produ~ao industrial, mas permane~

ce, contudo, em estado de nao~posse" (apud Dahrendorf, 1965:24).

Entretanto, 0 interesse maior dos escritores do seculo passado estava volta~do mais para os efeitos sociais gerais da nova forma de produ~ao do que para asparticularidades espedficas da estrutura da empresa ou indtistria ou do trabalho in~dustrial.

o tema mais importante encontrado na base dessa analise era que ··a pro~du~ao industrial continha em seu cerne urn conflito de interesses entre os que pos~suiam ou controlavam os meios de produ~ao, as fabricas e as maquinas, e aquelesque ofereciam ao rnercado sua capacidade de trabalho, vendendo~a mediante con~tratos livres apenas aparentemente.

Sob esse aspecto, a' investiga~ao social dos ultimos decenios chegou a resul~tados bem diferentes e deixou de lado ou esqueceu, rapidamente e em varias oca~si6es, 0 planejamento tematico, 0 estudo do conflito industrial e seus efeitos so~Cl3lS.

Esses tres pontos de partida, entretanto, caracterizam~se pela falta de pes~quisa empirica sistematica. Em vista disso, a analise dos fatos apresenta deficiencia,comprometendo os resultados.

A inten~ao de eliminar essa deficiencia ocorreu no final do seculo passadona Inglaterra e Alemanha. Nesses dois paises, os politicos sociais e reformadoressociais reuniram~se e apresentaram material empirico juntamente com suas propos~tas de reforma. Entre eles, destacam~se Frederic Le Play, Charles Booth e B. See~bohn Rowstree. Esses estudos ofereceram bastante material sobre as condi~6es so~ciais dos trabalhadores da industria, sua posi~ao jurfdica e suas aspira~6es einteresses. Entretanto, para a Sociologia da Administra~ao, ainda eram insignifican~tes, assim como os planejamentos filos6ficos, economicos e polfticos do seculoXIX.

Os trabalhos levantaram quest6es, problemas, mas, no aspecto geral, per~maneceram obscuros. Desse modo, a investiga~ao social do seculo passado deixouum legado nao muito satisfat6rio, uma vez que analisou a questao social do pontode vista polftico e as reformas sociais gerais sob 0 aspecto filos6fico, enquanto apesquisa'sobre as condi~6es social~humanas de tensao foram esquecidas.

Sendo a administra~ao, hoje, uma realidade marcante da Sociologia Moder~na, e natural que ela, desde 0 infcio, se interessasse pelos diferentes tipos de orga~niza~ao.

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Em prindpio, esse interesse estava voltado mais para 0 papel que as orga~niza~6es desempenhavam no processo social geral do que para elas mesmas.

Alguns autores indicam dois perfodos no desenvolvimento da Sociologia daAdministra~ao: 0 primeiro, desde a pre~hist6ria ate 0 ana 1900; 0 segundo, a partirdas primeiras decadas deste seculo ate 0 presente momento. E tres fatores seriamdecisivos na origem da Sociologia da Administra~ao:

"a) preocupa~ao maior da Sociologia com os problemas da industria e daempresa industrial;

b) orienta~ao para a investiga~ao sociol6gica empfrica e 0 aperfei~oamen~to de seus metodos;

c) descoberta paulatina do fator humano, ou seja, da realidade de estru~tura e fenomenos economicos na industria" (Dahrendorf, 1965:29).

A Sociologia deste seculo passou a adotar uma nova metodologia em rela~~ao aos problemas da sociedade e de sua base economica.

Varios estudiosos da Inglaterra, Alemanha, America do Norte e Fran~a, nocorrer dos anos, contribufram com seus estudos para 0 aperfei~oamento dos meto~dos empfricos de investiga~ao sociol6gica. Entre os primeiros, encontram~se HerbertSpencer, que se preocupou com a organiza~ao baseada na divisao do trabalho e 0

principio das rela~6es contratuais, racionais e impessoais que caracterizam a socie~dade industrial em oposi~ao a da sociedade militar; Emile Durkheim, que eviden~ciou a oposi~ao entre solidariedade organic a e mecanica, e Ferdinand Tonnies, queressaltou a diferen~a entre sociedade e comunidade.

Na Alemanha, George Simmel, Max Weber e outros desenvolveram umateoria geral da organiza~ao. George Simmel estudou os conflitos originados nas or~ganiza~6es e, entre elas, a influencia do numero de membros sobre a diferen~a dedivisao do trabalho, as rela~6es sociais e as normas na organiza~ao e outros aspec~tos que, ainda hoje, saG essenciais na analise da organiza~ao.

Max Weber contribuiu com a teoria da burocracia e as formas de domina~~ao. Entre as caracterfsticas que Max Weber atribui a burocracia moderna figuram"0 funcionamento de cargos mediante contratos e tendo como base a aptidao pro~fissional, os vencimentos fixos, as atividades essencialmente profissionais do funcio~nario e a possibilidade de promo~ao pelo merito ou pdo tempo de servi~o" (Delo~ren~o Neto, 1980:28). Max Weber levava em conta tambem a configura~aointerna, incluindo hierarquia, com sistema de subordina~ao de controle e de fiscali~za~ao; a competencia dos cargos, 0 estabelecimento das obriga~6es, os problemasde mando e as san~6es, e a ado~ao de um sistema de regras impessoais e fixas.

Na America do Norte, Throstein Veblein estuda as peculiaridades sociaisdos novos empresarios, suas fun~6es economicas, seus interesses e seus sistemas devalor. Na Inglaterra, Sidney e Bectrice Webb e Richard Henry Taroney fazem ana~

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lise profunda sobre a posic;ao e a func;ao do trabalhador industrial. Na Franc;a, apa~rece, com Durkheim, a divisao do trabalho social.

Incentivado pelas experiencias e as pesquisas das organizac;6es, em variospafses, principalmente nos 20 primeiros anos deste seculo, desenvolveram~se, poucoa pouco, 0 planejamento empfrico dos problemas sociol6gicos da ind('tstria. Mas 0

descobrimento do "fator humano nos neg6cios" e do "homem na economia", ocor~rido nas primeiras decadas deste seculo, consistiu em um acontecimento propria~mente cientffico que resultou na Sociologia da Administrac;ao. Esse acontecimentorepresentou uma revoluc;ao no pensamento e no saber dos empresarios, dos po1fti~cos sociais e dos soci6logos.

Para isso foramnecessarias numerosas pesquisas, assim como estudos socio~l6gicos e psicol6gicos da industria.

Outros nomes que nao podem ser esquecidos saG os de Taylor, com sua di~rec;ao cientffica da empresa, que representou 0 ponto de partida polemico da socio~logia da industria e da empresa inglesa e norte~americana, e Fayol, que criou ummetodo de organizac;ao cientffica do trabalho na administrac;ao das empresas.

o estudo particular mais completo e tematicamente mais amplo referenteao mundo do trabalho na empresa e na industria deve~se a Marie Bernays.

Durante a Primeira Guerra Mundial, dada a necessidade de aumento daproduc;ao industrial, os estudos cientfficos ingleses ampliaram~se, enquanto na Ale~manha houve uma interrupc;.ao. Ap6s a guerra, a Sociologia da Administrac;ao to~mOll novo impulso com 0 aparecimento de uma serie de publicac;6es, de autoresCOlno L. von Wiese, Gotz Briefs, N. Jost, L. H. A. Geck, Elton Mayo, Hawrhoenwe outros. A obra de Elton Mayo foi fecunda para a Sociologia da Administrac;aotanto por seu conteudo quanto pela crftica que provocou.

L2.3 Situa~ao Atual

Alguns autores atribuem a origem propriamente dita da Sociologia da Ad~ministrac;ao ao ana de 1946, mas a. delimitac;ao do objeto e seu enfoque, a fim dese tornar uma disciplina independente, s6 ocorreu mais recentemente.

,0 numero crescente dos trabalhos revela certa consciencia metodol6gica etematica da Sociologia da Administrac;ao, com a formulac;ao de teorias e fazendouma interpretac;ao analftico~sociol6gica conjunta do mundo do trabalho industrial.

Ha que destacar~se tambem a obra do frances G. Friedman, que focaliza a- posic;ao do indivfduo na produc;ao mecanizada, a possibilidade de satisfac;ao de suas

aspirac;6es psfquicas e sociais no marco do mundo industrial do trabalho, e a deTh. Caplow e W. E. Morre, que fazen1 analises gerais de estruturas e das relac;6esindustriais.

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Praticamente, a investiga~ao da Sociologia da Administra~ao constitui umdomfnio europeu. Enquanto a objeto de estudo da Sociologia norte~americana eraa comunidade, a da europeia consistia na empresa industrial.

Em muitos pafses, surgiram institutos especializados na pesquisa social. Associedades sociais nacionais criaram se~6es de sociologia da indllstria, apareceramrevistas e uma serie de livros sabre 0 assunto. Todavia, as estudos sociologicos~in~dustriais tem sido mais amplos na Alemanha.

Embora a Sociologia da Administra~ao alema tenha descuidado de determi~nados temas, como conflitos industriais, e nao tenha criado uma teoria propria~mente sociologica de estruturas sociais da empresa e da industria, produ~iu, por ou~tro lado, obras de grande valor tanto em quantidade quanta em qualidade, nestesllitimos anos.

Segundo Dahrendorf (1965:62), talvez a missao futura da Sociologia daAdministra~ao seja "revisar e generalizar 0 material acumulado, com certa freqlien~cia, rapidamente e sem plano, dada a quantidade deles".

1.2.4 Natureza da Sociologia da Administra~ao

As investiga~6es efetuadas nestes ultimos anos indicam que as estudos so~bre administra~ao realizados pelos primeiros teoricos eram bastante simplificados. 0conceito de administra~ao, entretanto, deve ser mais abrangente, uma vez que eimportante analisar a administra~ao em divers as planas, englobando nao so tad a aeconomia, mas tambem as organiza~6es particulares e os departamentos e, ainda,sob diferentes perspectivas.

Para F. Harbison e C. A. Myers (apud Child, in Parker et al., 1971:103), aAdministra~ao deve ser analisada sob tres perspectivas:

"a) como urn recurso economico desempenhando uma sene de fun~6estecnicas que consistem na organiza~ao e administra~ao de outros re~curSOSj

b) como um sistema de autoridade atraves do qual 0 programa de a~ao eposta em pratica pela execu~ao de tarefasj

c) como urn agrupamento social de elite, atuando como urn recurso eco~nomico e mantendo 0 sistema de autoridade associado."

Fayol (1970: 17~20) concluiu serem cinco as fun~6es do administrador:"prever, organizar, comandar, coordenar e fiscalizar", sendo esta ultima tambemdenominada de "controlar".

No funeionamento de qualquer empresa, identificam~se seis fun~6es basicas:"tecnica, comercial, financeira, de seguran~a, de contabilidade e administrativa".

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Barnard (1971:214~5) deu mais relevo a administra~ao como um processosocial. Para ele, compete ao executivo: manter um sistema organizado de comuni~ca~ao, garantir 0 esfor~o b:isico das pessoas e estabelecer um objetivo.

Mais recentemente, Wilfred Brown focaliza a administra~ao como um siste~ma de autoridade formal, ressaltando os papeis e as tarefas dos membros de umaorganiza~ao.

Segundo J. Child (in Parker et al., 1971:104), nao basta distinguir os dife~rentes aspectos da administra~ao; deve~se levar em conta sua interdependencia.Para ele, em uma organiza~ao, a administra~ao "nao pode ser plenamente com~preendida em termos de suas fun~6es formalmente definidas, sem a devida conside~

J

ra~ao do sistema social atraves do qual e dentro so qual os administradores teraode trabalhar".

N esse sistema social, varios tipos de relacionamento podem ser encontradosentre indivfduos que pertencem e que nao pertencem a organiza~ao, como acionis~tas, clientes e funcionarios de modo geral com os pr6prios funcionarios da organi~za~ao.

o aspecto tecnico da administra~ao pode sofrer influencia desse tipo de or~ganiza~ao. De acordo com J. Child, ha dois aspectos diferentes na natureza da ad~ministra~ao na sociedade moderna. De um lado, a importante contribui~ao da ad~ministra~ao como um recurso economico; de outro, a posi~ao das atividadesadministrativas particulares em condi~6es especiais, que podem levar a conflitos napr6pria estrutura da administra~ao. Desse modo, as organiza~6es industriais saGconsideradas como "cooperativas basicas", formadas por membros de varios grupose tendo objetivos e orienta~6es comuns ou contradit6rias, constituindo~se, assim,em uma sociedade diversificada.

Desse ponto de vista, um aspecto importante da administra~ao consiste naconcilia~ao entre os diferentes indivfduos e grupos, quando se deseja uma inova~aotecnica essencial ao bom andamento da organiza~ao.

1.3 CONCEITO DE ORGANIZA<;Ao E SUA NATUREZA

1.3.1 Organiza~ao - Conceito

Organiza~6es, segundo Mayntz (1980:47), sao forma~6es sociais articuladas,em sua totalidade, com um numero necessario de membros. Tem fun~6es internasdiferenciadas, possuem, de maneira consciente, fins e objetivos especfficos e estaoordenadas de forma racional, pelo menos intencionalmente, tendo em vista 0 cum~primento desses fins e objetivos.

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As organiza~6es saG apenas uma parte das formas de ordena~ao social inse~rida no conceito de "organiza~ao social", mais amplo, que engloba toda a vida emsociedade (famflia, parentesco, classes sociais, Estado, economia etc.).

Podem ser criadas conscientemente, tendo em vista urn objetivo, ou surgirespontaneamente, a principio pequenas e tfmidas,depois mais amplas, expandindo~se e transformando~se em organiza~6es com uma estrutura racionalmente configu~rada, como 0 demonstra a hist6ria das igrejas, da administra~ao publica, dos parti~dos etc.

o conceito socio16gico de organiza~ao indica uma forma~ao, uma ordena~<;ao, procurando alcan~ar determinado objetivo, embora 0 da teoria economico~in~dustrial da organiza~ao indique uma atividade ou resultado dela.'

Para Mayntz (1980:49), "0 interesse da analise socio16gica reside na forma~<;ao social como urn todo, com todos os process os nao planificados nem previstos".

o estudo das organiza~6es interessa a analise socio16gica:

a) por se tratar de forma~6es sociais de total articula~ao com um drculonecessario de membros e uma diferencia~ao interna de fun~6es;

b) por terem, de maneira consciente, fins e objetivos especificos;c) por estarem configuradas, de forma racional, ao menos intencional~

mente, e visarem ao cumprimento desses fins e objetivos.

Sao estreitas as rela~6es de poder dentro e fora da empresa, assim comoentre os campos de interesse e as situa~6es sociais. Os sistemas de valores aceitospelas empresas ou indus trias influem na sociedade e vice~versa. Sociedade e empre~sa entrela~am~se economica, jurfdica, polftica e socialmente.

Daf ter~se que estudar as empresas e industrias no contexto da sociedade.

1.3.2 Natureza das Organiza~6es

As organiza~6es, segundo Etzioni (1974:33), classificam~se, de acordo como "padrao dominante de consentimento", em coercitivas e utilitarias ou normati~vas.

Padrao de consentimento e 0 elemento basico do relacionamento entre osindivfduos que exercem 0 poder e os subordinados e, tambem, 0 elemento centralda estrutura organizacional.

1.3.2.1 ORGANIZAC;6ES COERCITIV AS

Organiza~6es coercitivas saG aquelas em que a coer~ao consiste no princi~pal meio de controle sobre os membros dos nfveis inferiores, resultando daf elevadaaliena~ao dos mesmos em rela~ao a entidade.

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SOCIOLOGIA DA ADMINISTRA(:Ao: ORIGENS, OBJETIVOS E FINALIDADES 25

Exemplo: campos de concentra~ao, de prisioneiros de guerra, pris6es, insti~tui~6es correcionais tradicionais e hospitais de doen~as mentais.

o principal meio de controle aplicado nessas organiza~6es e a for~a, tarefabasica para manter os internos em seus lugares. Em seguida, vem a disciplina, quedepende do uso real ou potencial da for~a.

As organiza~6es coercitivas variam de acordo com 0 peso do padrao coerci~tivo. Em varias delas, a coer~ao empregada e maior, como no caso de alguns cam~pos de concentra~ao; em outras, e menor, como nas institui~6es de corre~ao paradelinqi..ientes juvenis.

Em geral, 0 grau de coer~ao determina 0 grau de aliena~ao, sendo '0 rela~cionamento entre eles mantido em todos os tipos de organiza~ao.

1.3.2.2 ORGANIZAC;;OES UTI LITARIAS OU NORMATIV AS

As organiza~6es utilitarias SaG aquelas em que 0 principal meio de controlesobre os membros de nfveis inferiores reside na recompensa.

o que direciona a maioria dos membros e a participa~ao calculista, interes~seira. Estas organiza~6es, em geral, saG chamadas de industrias.

Para Etzioni (1974:62), as indLlstrias classificam~se em tres categorias prin~

"a) aquelas em que os partlclpantes dos nfveis inferiores sao, predominan~temente, de oficina.

Exemplo: fabricas, minas;

b) aquelas em que os membros SaG mais do grupo de escrit6rio, sejam pri~vados ou publicos.

Exemplo: bancos, companhia de seguros, reparti~6es governamentais;

c) aquelas em que os membros dos nfveis inferiores saG profissionais.

Exemplo: organiza~6es de pesquisa, de planejamento, de escrit6rios deadvocacia, de empresas medicas."

,As organiza~6es podem apresentar subdivis6es em rela~ao a seus emprega~dos: em uma fabrica, alem dos de oficina, encontram~se os de escrit6rio e os pro~fissionais.

Nas indus trias auxiliares, 0 poder remunerativo - salarios, comiss6es, grati~fica~6es, recompensas e condi~6es de trabalho - constituem a fonte de controlepredominante. Nas indus trias mais importantes, ele tambem e um meio de contro~Ie, porem menor; e nas organiza~6es profissionais constitui~se em importante for~ade poder, embora secundaria.

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Os controles normativos san relativamente limitados nas indus trias auxilia~res; importantes nas industrias de grande porte, embora secundarios; predominantesem organiza<;:6es profissionais.

1.4 CLASSIFICA<;Ao E OBJETIVOS DAS ORGANIZA<;OES

1.4.1 Classifica~ao das Organiza~6es

Os estudiosos, em geral, classificam as organiza<;:6es basicam~nte em pro~priedades publicas e propriedades privadas ou particulares. Alguns distinguem~nasde acordo com 0 tamanho; outros, pela finalidade e/ou pelo criterio de aceita<;:aodos membros. Neste caso, incluem~se as organiza<;:6es formadas por voluntarios(Cruz Vermelha, CW), de empregados (industria e comercio), de pessoal convoca~do (For<;:asArmadas e outras).

Ha ainda organiza<;:6es com base na fun<;:aodesempenhada dentro da socie~dade mais ampla: economica, polftica, religiosa, educacional etc.

Urn criterio analftico faz a distin~ao pelo "material" com que trabalho 0

pessoal tecnico: objetivos ffsicos ou indivfduos. Tem~se entao as organiza<;:6es deprodu<;:ao e as de servi<;:o;mas somente estas ultimas podem causar problemas derela<;:6essociais e motiva<;:ao com os objetos de seus esfor<;:os.

Exemplo: a escola, com 0 relacionamento entre profess ores e alunos.

Hughes (apud Blaue Scott, 1970:55) apresenta cinco tipos basicos, deacordo com seu modelo organizacional, encontrados na sociedade moderna:

a) "a associa~ao voluntaria de iguais, para a qual as pessoas entram li~vremente, com finalidade especffica."

Exemplo: clubes, associa~6es, igrejas;

b) "0 modelo militar, que enfatiza uma hierarquia de autoridade e umaposi~ao fix as."Exemplo: as For~as Armadas;

c) "0 modelofilantr6pico, que consta de uma diretoria leiga, urn quadroitinerante de profissionais e os clientes atendidos."Exemplo: hospitais, universidades.

d) "0 modelo de corpora~ao, com seus acionistas, sua diretoria, gerentese pessoal."

Exemplo: empresas, industrias;

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SOCIOLOGIA DA ADMINISTRA<;Ao: ORIGENS, OBJETIVOS E FINALIDADES 27

e) "0 neg6cio de familia, no qual um grupo de pessoas ligadas por las.:osde sangue e casamento tem uma empresa com fins lucrativos."Exemplo: indus trias Matarazzo, grupo Pao~de~As.:ucar.

1.4.2 Organiza~6es Formais

Blau e Scott (1070:83ss) classificam as organizas.:6es formais em quatro ti~pos, segundo seus objetivos: associas.:6es de beneffcio mutuo, firmas comerciais, or~ganizas.:6es de servis.:os e organizas.:6es de bem~estar publico.

1.4.2.1 ASSOCIAc;6ES DE BENEFICIO MUTUO

Sao aquelas em que os s6cios devem ser os principais beneficiarios.

Exemplo: sindicatos, clubes, partidos polfticos, associas.:6es profissionais, sel~tas religiosas etc.

o aspecto mais importante nesse tipo de organizas.:ao e manter 0 controledo quadro social que envolve, de um lado, a apatia da maioria de seus membros e,de outro, 0 controle oligarquico exercido por uma minoria ativa. Em principio, to~dos tem 0 mesmo objetivo e almejam beneffcios mutuos.

Os estudos tern demonstrado que a participas.:ao em associas.:6es de beneff~cios mutuos, em geral, e pequena por parte de todos os seus membros. Os indivi~duos de classe .socioeconomica mais alta participam em maior numero de associa~s.:6ese mais ativamente; os homens participam mais do que as mulheres; as pessoasde meia~idade mais do que os mais novos ou mais velhos; os que pertencem a gru~pos de minoria mais do que os· grupos de maioria.

"As medidas de participas.:ao em sindicatos (...) variam um pouco, mas asmais usadas sac 0 comparecimento a reuni6es e a conservas.:ao de postos." A posi~s.:ao socioeconomica das pessoas exerce influencia igual na participas.:ao, tanto den~tro do sindicato quanto na sociedade mais ampla.

o contato social entre os operarios influencia bastante em sua participas.:aoem atividades sindicalistas. Os que ocupam certos postos na elupresa, que lhes pos~sibilitam esse contato mais frequente, sac mais ativos dentro do sindicato.

Em geral, ha maior participas.:ao:

a) com os grupos mais isolados da comunidade ou mais homogeneos.Exemplo: mineiros, garimpeiros, marinheiros;

b) entre aqueles que trabalham mais unidos, com 0 mesmo superVISOr.

Exemplo: linha de montagem;

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28 SOCIOLOGIA DA ADMINISTRAc;Ao

c) com aqueles que tem 0 mesmo tipo de servi~os.

Exemplo: eletricistas, encanadores, pessoal de limpeza;

d) entre os que recebem salario semelhante.

Exemplo: engenheiros, tecnicos, auxiliares;

e) entre os que pertencem ao mesmo grupo etnico.

Exemplo: negros, japoneses.

Pesquisas tem demonstrado, contrariamente ao que se pensa, que saG maisativos os operarios mais satisfeitos, os que ganham salatios mais altos, os que naoaspiram a posi~oes mais elevadas e estao identificados com a c1asse operaria.

A partidpa~ao, portanto, resulta "mais de uma identifica~ao positiva dooperario com seu trabalho, seu grupo de trabalho e a c1asse trabalhadora em geral".

Urn problema que surge na organiza~ao interna dessas associa~oes formais eo da oligarquia: muitas vezes os interesses da realiza~ao dos objetivos sobrepoem,seaos processos democraticos, como acontece, por exemplo, em uma greve. Da mes,ma forma, ocorre 0 desejo dos lfderes de manterem e ampliarem seu poder.

Sao aquelas cujos principais beneficiarios devem ser seus proprietarios.

Exemplo: industrias, empresas, lojas, bancos, companhias de seguro etc.

o principal problema nas firmas comerciais e 0 de eficiencia nas opera~oes,ou seja, a obten~ao de urn maximo de ganho com um minimo de custo, garantin,do naG s6 a sobrevivencia, mas tambem 0 crescimento, a fim de fazer frente a con,correncia de outras organiza~oes.

As organiza~oes formais, de modo geral, estao voltadas para determinadoobjetivo, devendo ser eficientes no sentido de alcan~a,lo sem despesas desnecessa,rias. Eficiencia tambem pode ser vista como satisfa~ao no trabalho e lealdade dosfuncionarios da organiza~ao, cuja for~a conjunta leva a realiza~ao de urn prop6sito.

1.4.2.3 ORGANIZAC::OES DE SERVIC::OS

Sao aquelas cujo principal beneficiario e a parte do publico que tem conta,to direto com elas, com quem e para quem seus membros trabalham. Sua fun~aobasica e servir seus clientes.

Exemplo: hospitais, escolas, c1fnicas de satlde mental, agencia de auxflio ge,ral, servi~o social etc.

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SOCIOLOGIA DA ADMINISTRAc.;Ao; ORIGENS, OBJETIVOS E FINALIDADES 29

o maior problema dessas organiza~6es reside no fornecimento de servi~osprofissionais. 0 bem~estar dos clientes deve ser a grande preocupa~ao desse tipo deorganiza~ao. Nesse caso, 0 cliente nao sabe 0 que e melhor para seu interesse. Asdecis6es do profissional devem estar voltadas nao para seu proprio interesse, maspara 0 de seu cliente.

Exemplo: uma cirurgia, uma sessao de analise etc.

o servi~o profissional exige daquele que 0 pratica certa independencia dejulgamento, nao permitindo que os interesses dos clientes interfiram em seu julga~mento. Sendo os servi~os profissionais espedficos, os clientes nao tem qualquerqualifica~ao para avaliar ou decidir qual deles e 0 melhor.

Dentro das organiza~6es de servi~o, urn elemento do grupo deve decidir 0

que e melhor para 0 interesse dos outros. A principal questao e, porem, assegurara presta~ao de servi~o sem que haj a interferencia por parte do beneficiario.

Em uma organiza~ao de servi~o, os profissionais precisam observar 0 se~guinte: primeiro, nao perder de vista 0 bem~estar de seus clientes, levando emconsidera~ao dois aspectos importantes, ou seja, a preocupa~ao com sua propriacarreira e com os problemas administrativos; segundo, nao se sujeitarem a suaclientela.

1.4.2.4 ORGANIZA\;OES PARA 0 BEM,ESTAR PUBLICO

Sao aquelas cujo principal beneficiario e 0 publico em geral.

Exemplo: departamento de Estado, divisao de imposto de renda, serVl~OSmilitares, polfcia, corpo de bombeiros etc.

A maior parte dessas organiza~6es ou presta se::'Vl~OSa sociedade ou servecomo seu ramo administrativo.

o problema das organiza~6es para 0 bem~estar publico e 0 do controle de~mocratico externo, ou seja, 0 publico "deve ter os meios de conti-olar os fins para

. - IIque servem essas orgamza~oes .

Mas sac importantes tanto 0 controle democratico externo quanto a estru~tura interna burocratica, guiada, todavia, pelo criterio da eficiencia.

Nesse tipo de organiza~ao, ha tres problemas a considerar: 0 do poder, 0

da promo~ao de atitudes espedficas e 0 de lidar com 0 publico:

a) poder - 0 melhor exemplo seria. a questao do poder encontrado noservi~o militar. Frequentemente, a seguran~a nacional leva os paises amanter organiza~6es militares de grande for~a. Embora possam ser demuita valia na defesa dos varios interesses do pais, corre~se 0 risco de

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serem utilizadas para dominar a sociedade que as crimI, destruindo 0

controle democratico ou outras formas de governo civil;

b) promo~ao de uma atitude especffica - encontra,se quando as organi,za~oes militares incentivam a disciplina, a bravura de seus soldados, oua coragem, 0 herofsmo individual dos bombeiros.

Na organiza~ao de pesquisa, seria 0 estfmulo dado a criatividadecientffica, embora essa qualidade possa ser inata e, em outras organiza,~oes, 0 compelir seus funcionarios a aplicarem seus talentos na buscados objetivos da organiza~ao;

c) lidar com a publico - todas as organiza~oes, sejam quais forem os in,teresses, tern contatos regulares com individuos que nao fazem partede seu quadro. "As caracterfstlcas dessas pessoas tern implica~oes im,portantes na estrutura e no funcionamento das organiza~oes", afirmamBlau e Scott (1970:89).

1.4.3 . Caracteriza~ao das Organiza~6es Formais

Para Etzioni (1967:3), 0 problema principal das organiza~oes formais mo,dernas e de que maneira constituir agrupamentos humanos tao racionais quantopossfvel e, ao mesmo tempo, minimizar os efeitos indesejaveis e maximizar 0 graude satisfa~ao decorrente das rela~oes nela existentes. A melhor maneira de coorde,nar os esfor~os humanos para que atendam aos fins da organiza~ao tern sido objetode discussoes entre os especialistas das divers as escolas.

Sociologos, antropologos e estudiosos de administra~ao tern frisado, diversasvezes, que a organiza~ao e muito mais do que urn agrupamento de pessoas. PhilipSelznick considera que a simples cria~ao de uma estrutura formal nao trara comoconseqUencia inevitavel a eficiencia, a eficacia e a propria sobrevivencia de umaorganiza~ao, pois e indispensavel que tenha sido originada por necessidades da co'letividade. E por esse motivo que as organiza~oes tern urn carater proprio, que asfaz distintas das demais, desenvolvendo uma identidade propria. Por sua vez, essecarater tende a desenvolver,se da mesma forma pela qual evolui 0 carater das pes,sQas: quanto maior 0 numero de intera~oes pessoais e de grupos envolvidos, maisacentuado se torna 0 carater da organiza~ao (1971:33,34). E por isso que as orga,niza~oes podem ser consideradas como unidades sociais intencionalmente elabora,das e continuamente reconstrufdas com a finalidade de atingir objetivos especfficos.

Segundo Etzioni (1967:4), as organiza~oes caracterizam,se pela:

a) divisao do trabalho, do poder e das responsabilidades de comunica ..~ao - nenhuma del as e obra da casualidade nem obedece a um esque,

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SOCIOLOGIA DA ADMINISTRACAO: ORIGENS, OBJETIVOS E FINALIDADES 31

ma tradicional, mas, ao contrario, e planejada deliberadamente com 0

objetivo de favorecer a realiza~ao de fins espedficos;b) presen~a de urn ou rnais centros de poder - que tem por finalidade

controlar os esfor~os concentrados da organiza~ao e dirigi~los para al~can~ar seus fins; alem disso, esses centros de poder fazem uma revisaocontfnua da atua~ao da organiza~ao, remodelando sua estrutura ondee sempre que for necessario para aumentar sua eficiencia;

c) substitui~ao de pessoal - significa principalmente que os indivfduoscujo desempenho nao satisfaz a organiza~ao devem ser dispensados,sendo suas tarefas atribufdas a outros; outra forma de modificar a dis~posi~ao do pessoal e por meio de transferencias e promo~6es.

Para aqueles que se tem dedicado a analise das organiza~6es formais, umaserie de proposi~6es saG basicas:

1. organiza~ao e a forma que assume toda associa~ao human a para alcan~~ar um prop6sito comum;

2. organiza~ao e 0 arranjo sistematico de partes numa ordem, unidade outodo funcional para consecu~ao de objetivos prefixados;

3. conjunto de pessoas que consciente e sistematicamente combinam seusesfor~os individuais para concretiza~ao de uma finalidade comum;

4. organizar e constituir um duplo organismo para a empresa: 0 materiale 0 social.

Dessas proposi~6es deduz~se que a abordagem da organiza~ao deve efetuar~se por intermedio do estudo de quatro variaveis:

"a) tarnanho: pois as organiza~6es san entidades em escala. Um grupopode sentar~se em torno de uma mesa, uma organiza~ao nao;

b) complexidade: tarefas bastante espedficas, com dificuldades para suasrealiza~6es, tornando a organiza~ao altamente complexa;

c) consciente racionalidade: esta implicitamente contida no estudo daorganiza~ao, envolvendo a adapta~ao do comportamento individual aosobjetivos organizacionais;

d) presen~a de objetivo: asignifica~ao da racionalidade sugere 0 objeti~yo, ou seja, a consecu~ao de objetivos previamente estabelecidos emutuamente aceitos" (Cury, 1983:80).

1.4.4 Objetivos da Organiza~ao

o objetivo e 0 alvo ou fim que se deseja atingir; indica a orienta~ao a serseguida.

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Para Etzioni (1967a: 13 ss), 0 objetivo:

a) estabelece a linha mestra para a atividade da organiza~ao;

b) constitui uma Fonte de legitimidade que justifica as atividades de umaorganiza~ao;

c) serve como unidade de medida para 0 estudioso das organiza~6es quetenta verificar sua produtividade.

Todas as organiza~6es estabelecem seus objetivos geraIS e espedficos a fimde atender a suas necessidades.

1.4.4.1 NATUREZA DOS OBJETIVOS

o objetivo de uma organiza~ao consiste naquilo que ela pretende atingir,uma situa~ao desejada. Quando 0 objetivo e atendido, ele se incorpora a organiza~~ao, deixando de ser desejado. Significa, portanto, um estado de procura, consistin~do~se em situa~ao futura, que sealrneja e que "tem uma for~a sociol6gica muitoreal", que "influi nas a~6es e rea~6es dos rnernbros de uma organiza~ao".

o objetivo da organiza~ao consiste, desse modo, em urna situa~ao futuraque a organiza~ao, como urna coletividade, procura atingir. FreqUenternente, haurn objetivo geral e varios espedficos dentro de urna mesma organiza~ao, que va~riam de acordo com as divers as necessidades departamentais ou outras.

Exemplo: objetivo do diretor (amplia~ao do capital), do departamento fi~nanceiro (equilibrio or~amentario), dos empregados (salarios mais adequa~dos) etc.

Ha dois tipos de objetivos: os reais e os estabelecidos:

a) objetivos reais - SaG as situa~6es futuras para as quais se canaliza amaior parte dos recursos da organiza~ao, assim como os principaiscornpromissos dos participantes eque, portanto, tem nitida prioridadeem casos de conflito com outros objetivos estabelecidos, quando estescontrolam poucos recursos.

Exemplo: maior lucratividade independente da qualidade dos produtos;

b) objetivos estabelecidos - sac aqueles a que a organiza~ao aspira, masque podem diferir daqueles que realmente ela procura atingir.

Exemplo: divulga~ao da "marca" por intermedioda qualidade dos pro~dutos.

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SOCIOLOGIA DA ADMINISTRA<;Ao: ORIGENS, OBJETIVOS E FINALIDADES 33

procura atingir. T em~se, nesse caso, a inten~a.o que pode ser consciente e Incons~dente .

.A diferen~a entre objetivo real e objetivo estabelecido nao pode ser con~fundida com a· diferen~a entre consequencia intencional e nao intencional.

Exemplo: uma industria de cal~ado cujo objetivo e 0 lucro pode obter van~tagens fiscais se puder passar tambem por uma organiza~ao educacionalnao lucrativa, que prepara futuros empregados especializados.

Os objetivos saG sempre intencionais enquanto as inten~6es variam: podemser estabelecidas ou reais.

Para Thompson e McEwen (in Etzioni, 1967b: 178ss)., a estipula~ao de obje~tivos geralmente e encarada "nao como urn elemento estatico, mas como urn pro~blema essencial e repetido que e enfrentado por qualquer organiza~ao, seja gover~namental, militar, comercial, educacional, medica, religiosa ou de outro tipo". Afixa~ao do objetivo reside basicamente no estabelecimento de uma rela~ao da orga~niza~ao com a sociedade, tendo em vista 0 que esta ultima ou seus membros dese~jam apoiar ou realizar.

A medida que ocorrem modifica~6es nas organiza~6es, seus objetivos neces~sitam ser' redefinidos.

A reavalia~ao dos objetivos parece ocorrer mais no ambito das grandes or~ganiza~6es, com ambiente mais instavel, do que nas pequenas, mais estaveis. E tor~na~se cada vez mais diffcil ser medido, quando 0 produto da organiza~ao se tornamenos tangfvel.

Os objetivos de uma organiza~ao "que determina a espeCle de bens ou deservi~os que produz e oferece a sociedade, frequentemente, estao sujeitos a dificul~dades peculiares de reavalia~ao".

1.4.4.2 ESTABELECIMENTO DE OBJETIVOS

Em geral, as organiza~6es possuem um 6rgao formal encarregado de estabe~Iecer ~s objetivos e futuras altera~6es. Podem ser os acionistas, os membros da or~ganiza~ao, os provedores ou ate mesmo 0 pr6prio dire tor quem determina os obje~tivos.

Frequentemente, as organiza~6es estabelecem objetivos atraves do jogo dopoder, englobando, assim, pessoas de dentro e de fora da organiza~ao, por meio devalores que mostram os comportamentos geral e espedfico dos indivfduos e gruposimportantes da sociedade.

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1.5· 0 PAPEL DAS ORGANIZA~6ES NAS SOCIEDADESMODERNAS

A empresa hoje, por sua importancia economica, assume cinco nfveis derelacionamento:

a) com seus consumidores;b) com os trabalhadores em geral;c) com a comunidade onde, fisicamente, se situa;d) com 0 governo (enquanto representante da sociedade glopal);e) com as outras empresas.

1.5.1 A Empresa e seus Consumidores

Embora a base da rela~ao de uma unidade produtora (ou vendedora ouprestadora de servi~os) com os consumidores (ou fregueses ou clientes) seja econo,mica, atualmente cresce cada vez mais a consciencia da responsabilidade social daempresa para com aqueles a quem ela atende. 0 consumidor se organiza, exige,cria orgaos de fiscaliza~ao da qualidade dos produtos e servi~os que adquire.

Hoje, 0 estagio do mercado e consumidor: ou seja, em rapidas palavras,passamos de um mercado produtor, onde a empresa criava 0 produto e, depois, lan,~ava mao de certas tecnicas mercadologicas para torna,lo conhecido e vende,lo,para um mercado em que primeiro se procura conhecer as necessidades, aspira~6ese desejos do consumidor (por intermedio de outras tecnicas de marketing) para, soentao, fabricar 0 produto, segundo as especifica~6es detectadas entre os futuroscompradores desse produto; daf a denomina~ao de mercado consumidor. Dessa for,ma, se ha um consenso sobre a valoriza~ao do consumidor, este, por sua vez, rela,ciona,se com seus fornecedores como parte importante do processo.

Em epocas anteriores da hist6ria economica, a rela~ao produtor/consumidorera mais direta. 0 artesao da pequena cidade era conhecido por todos. E, tambem,conhecia individualmente seus fregueses, inclusive seus gostos e preferencias. A in,dustrializa~ao quebrou essa rela~ao que se vem restabelecendo, de outra forma,atraves das pesquisas mercadologicas, atividades de rela~6es publicas e busca de co'Inunica~ao em ambos os sentidos.

1.5.2 A Empresa e os Trabalhadores

A rela~ao da empresa com seus funcionarios sofre as influencias do tama,nho, da estrutura organizacional e da filosofia de dire~ao adotada. 0 tipo de rela,cionamento tambem apresentou varia~6es ao longo do tempo.

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o artesao, a pequena oficina, a fabrica<;ao de "fundo de quintal", a microe a mini~empresa, assim como a empresa familiar tinham, no passado, e tern, hoje,uma rela<;ao em alguns aspectos semelhante ao gru:po familiar (patriarcal, paterna~lista e "assistencial"), em que, mais do que a capaciclade, e a rela<;ao com 0 "che~fe" que determina a fun<;ao de cada um. Se 0 artesao se impunha a seus aprendi~zes e oficiais/diaristas/jomaleiros pelo domfnio da tecnica e pelo "compromisso deensinar 0 offcio", 0 "dono" do pequeno neg6cio exerce 0 poder economico e ecom base nele que se "imp6e"; mas ambos consideram que a rela<;ao envolve maislealdade e intera<;ao pessoal do que la<;os apenas economicos. A "tirania" aparecenesses grupos do mesmo modo que pode surgir na famflia, com 0 abuso por partedo pater familias.

:

A media e a grande empresa, assim como a transnacional, por seu pr6priotamanho, nao podem desenvolver rela<;6es semelhantes. Mas 0 quanto impessoalelas serao depende da maneira como se organizam e da forma como SaG geridas.No primeiro caso, destacam~se 0 numero de "degraus" de hierarquia entre os tra~balhadores e a alta administra<;ao e, no segundo, as vias de comunica<;ao.

A empresa nao se relaciona apenas com seus empregados, mas tambemcom a classe trabalhadora, principalmente atraves dos sindicatos. A rela<;ao capi~tal/trabalho e ainda influenciada pela maior ou menor oferta de empregos, pela fi~xa<;ao dos nfveis salariais, pelo grau de inova<;6es e mecaniza<;ao etc.

1.5.3 A Empresa e a Comunidade

Uma elupresa, principalmente de grande porte, quando se instala em umareglao, pode gerar riquezas e oportunidades; por outro lado, tambem fere interessese cria mudan<;as nas rela<;6es sociais e economicas existentes anteriormente a suachegada, 0 que pode originar atritos. Na realidade, as rea<;6es saG muito variadas.

Uma questao muito atual e a polui<;ao ambiental: a amea<;a de sua ocor~rencia, fundmuentada ou nao, pode provocar rejei<;ao por parte da popula<;ao dacomunidade e, ate, atitudes fortemente agressivas, nao obstante a perspectiva daoferta de empregos.

Em contrapartida, uma rela<;ao positiva entre a organiza<;ao e a comunida~de onde se situa pode ser estabelecida mediante a contfnua informa<;ao e uma ati~tude de respeito por parte da empresa para com os moradores da localidade que aabriga.

1.5.4 A Empresa e 0 Governo

Enquanto representante da popula<;ao de uma na<;ao, cabe ao governo de~fender os interesses dessa sociedade. A partir deste princfpio generico, surgem leis

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e regulamentos que devem, em teoria, limitar a liberdade de a~13.odas empresas,mas que, na pratica, muitas vezes privilegiam interesses espedficos da parte da elitedominante, influindo nas norm as fixadas pelo governo.

o relacionamento das organiza~6es com 0 governo varia de amplitude se~gundo 0 tipo de regime. Pafses como 0 Brasil tern forte centraliza~13.ode poder nasmaos dos governos, enquanto em outros a sociedade civil costuma organizar~semais diretamente. Embora nestes ultimos tambem existam controles oficiais, 0 Esta~do e menos participante. 0 melhor exemplo desse caso SaG os Estados Unidos; noextremo oposto; situam~se os ex~pafses comunistas (assim como a China, Cubaetc.), onde as empresas pertenciam todas ao governo.

Os PIanos Cruzado I e II, Bresser, Ver13.oe Collor SaG tfpicos in:'strumentosde interferencia governamental na vida empresarial do pafs, visando criar uma eco~nomia dirigida.

Tendo em vista a importancia das quest6es entre governo e empresa noBrasil, algumas destas ultimas possuem um departamento de Rela~6es Governamen~tais.

As autoridades locais (prefeito, vereadores) costumam relacionar~se COIU asempresas, quer de maneira "positiva" (mediante a concess13.Ode incentivos fiscais,cessao de areas para constru~ao por pre~o baixo ou gratuitamente por determinadoperfodo etc.), quer "restritiva", caso considerem (ou sejam levados a considerarpela opiniao pLlblica) os interesses do munidpio prejudicados pela presen~a e/oucomportamento das organiza~6es. Em algumas localidades (0 que ainda n13.Oe mui~to commn no Brasil), associa~6es de moradores podem relacionar~se com as empre~sas e sua atua~13.oapresenta repercuss6es junto ao governo local.

1.5.5 A Empresa e suas Rela~6es com outras Empresas

Num sistema capitalista, se, por um lado, a concorrencia entre empresas seimp6e, por outro lado elas tambem se unem na defesa de interesses comuns. Sur~gem associa~6es e sindicatos patronais, federa~6es e confedera~6es. No aspectoeconomic01 ao lado do monop6lio (s13.opoucos no Brasil, destacando~se as estatais,como a Petrobras) encontram~se os oligop6lios (em que duas au umas poucas em~presas dominmu a setor, determinando pre~os, salarios, polftica de relacionamentos,inclusive com sindicatos e governos), sendo que neste llitimo os interesses de algu~mas empresas as fazem aliar~se contra as demais do mesmo ramo.

Tambem como as fornecedores e com compradores (que n13.Osejam consu~midores finais, mas outras empresas), cria~se uma rela~13.ode interdependencia que,embora seja fundamentalmente economica, adquire um carater social, a medida.que em ambas au nas tres partes ha grupos de pessoas que se identificam como" "empresas .

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SOCIOLOGIA DA ADMINISTRAC;Ao: ORIGENS, OBJETIVOS E FINALIDADES 37

1.6 EMPRESA PRIV ADA E EMPRESA PUBLICA

A existencia de empresas publicas em sociedades capitalistas esta sendoobjeto de discussoes acaloradas nas sociedades atuais. Se a empresa privada buscalucros, sendo 0 "limite" do que the e lfcito fazer; na consecu~ao desse objetivo,"determinado" por leis, regulamentos, normas, atua~ao do governo e inter~relacio~namento com os consumidores, trabalhadores, outras empresas e a comunidade, aempresa pllblica tem outro carater. A justifica~ao basica de sua existencia e a fun~~ao social que deve desempenhar. Tal conceito, desenvolvido atraves de postuladosideologicos, atingiu seu ponto maximo nos pafses que eram denominados de "co~munistas". Neles, todas as empresas foram consideradas de indispensavel fun~ao so~cial e, portanto, estatizadas. Nesse caso, a propria fun~ao economica da empresa,enquanto geradora de Fonte de trabalho e renda, determinou seu valor social.

Em outros pafses, apenas os servi~os considerados essenciais ou de seguran~~a nacional sao afeitos ao Estado, ficando os demais a cargo de empresas privadas,com exce~ao das areas em que a iniciativa privada nao tem interesse em investir.

Por outro lado, 0 conceito de servi~o essencial ou relativo a seguran~a na~cional varia de um pais a outro. Assim, nos Estados Unidos, 0 sistema telefonicofica a cargo da iniciativa privada, enquanto em outros paises, tambem capitalistas,esse servi~o se encontra em maos do Estado. Nao existem, porem, casos em que 0

policiamento ou as For~as Armadas sejam inteiramente entregues a terceiros, emnenhuma na~ao do mundo (a contrata~ao de corpos de mercenarios nao constituiexce~ao porque se subordinam, mesmo que apenas formalmente, a ministros da na~~ao contratante).

Nos paises subdesenvolvidos, a insuficiencia de capitais privados para a im~planta~ao de infra~estrutura capaz de desencadear um processo acelerado de indus~trializa~ao levou, frequentemente, os Estados a assumir a fun~ao de "investidores".Nesse processo que, no Brasil, se desenvolveu principalmente a partir do governode Getulio Vargas, teve peso a questao de seguran~a nacional, pois, nos setores emque 0 Estado investiu, havia a previsao de "predomfnio" do capital estrangeiro.Dessa fonna, surgem a Petrobras, a Cia. Siderurgica Nacional e tantas outras. Esseprocesso acelerou~se a partir dos anos 60, quando parte cia intelectualidade nacio~nal defelidia a crescente estatiza~ao dos meios de produ~ao COlnoforma de defesados interesses nacionais.

o resultado foi um crescimento do setor publico, que passou a concorrer,em alguns casos, com a empresa privada e, em outros, a impedir seu surgimentoe/ou desenvolvimento. Paralelamente, verificou~se um aumento quantitativo da bu~rocracia estatal e de suas disfun~oes (a empresa pllblica e mais suscetivel as disfun~~6es burocraticas do que a privada).

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38 SOCIOLOGIA DA ADMINISTRAC;Ao

1.6.1 Carater Politico da Administra~ao Publica

Para Graser (in ]aIueson, 1962:47~51), a atividade administrativa de umaempresa publica e essencialmente polftica, pois 0 objetivo geral dessa organizac;ao epolftico: nao e possfvel que 0 administrador seja imune a polftica. Portanto, cabe aele lidar com duas especies de pressoes: a externa, representada por polfticos de di~versas facc;oes, grupos de interesse, imprensa etc., e a interna, dos funcionarios.

Os grupos de pressao externa desconhecem aspectos tecnicos inerentes aorga,.nizac;ao, 0 que nao os impede de exercer pressao e de procurar mobilizar a opi~niao publica, concentrando~se nos aspectos que requeiram menor grau de conheci~mento. Assim, ao planejar, 0 administrador deve levar em conta naG apenas a for~ma 111aiseficiente, mas tambem aquela que, sendo adequada a consecuc;ao dosobjetivos visados, crie menor atrito com a sociedade e seus representantes; entre~tanto, se for vulneravel a pressoes de um ou outro grupo, a ponto de perder devista ou "arriscar" suas finalidades, pode ser acusado de desonestidade e/ou com~prometer a propria organiza~ao (veja~se 0 recente caso do Banespa).

Para evitar que as mudanc;as polfticas gerem desestruturac;ao do servic;o p(l~blico, criou~se uma legislac;ao espedfica que determina a estabilidade do funciona~rio. 0 resultado, muitas vezes, e que, sentindo~se absolutamente seguro de suacontinuidade no emprego, 0 funcionario desinteressa~se parcial ou completamentepelo exerdcio de suas fun~oes.

o servic;o publico como "cabide de empregos" para a retribuic;ao de favorespolfticos ou nepotismo (favore~imento de familiares) e outra das graves disfun<;:oesda burocracia que se encontra nesse setor.

1.6.2 Regime Politico e Sistema Administrativo

Hody (1970:125 ss) classifica os tipos de burocracia em fun<;:ao do regImepolftico:

a) sistemas autocraticos tradicionais: saG encontrados em regimes tradi~cionais e as elites polfticas dominantes estao no poder ha muito tem~po. "A faluflia ou grupo de famflias governante, nesse regime, tem deconfiar no exercito e na burocracia civil, tanto como instrumentos demudanc;a que foram invocados como desejaveis quanto como agentesque inibem a mudan<;:a indesejada." A capacidade de funcionamentoda maquina administrativa fica prejudicada pelas proprias caracterfsti~cas de tradicionalismo e falta de identifica<;:ao com 0 corpo social;

. b) sistemas de elites burocraticas (civis e militares): ocorrem em pafses"em desenvolvimento", ou seja, nao desenvolvidos, que se encontramem processo de moderniza<;:ao. As elites burocraricas militares ou civis

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SOCIOLOGIA DA ADMINISTRAc;Ao: ORIGENS, OBJETIVOS E FINALIDADES 39

tomam 0 poder, com ou sem a concordancia da elite tradicional e pro~p6em~se tutelar a sociedade, que nao estaria preparada para gerir~se asi mesma;

c) sistemas competitivos poliarquicos: partem de um modelo polfticocom elei~6es livres e popula~ao esclarecida. Mas, ainda que este podernao seja atingido num nfvel profundo (adequado), e fundamental aexistencia de competi~ao polftica de grupos bem organizados. 0 poderpolftico esta disperso entre grupos de interesses (industriais, comer~ciantes, proprietarios de terra, banqueiros, trabalhadores). Como resul~tado, os politicos saG mais vulneraveis as press6es, e "a Administra~aoPublica deve ser conduzida SelYls6lida sustenta~ao polftica";

d) sistema.:; semicompetitivos de partido dominante: "Num sistema se~micompetitivo de partido dominante, urn partido detem 0 monop6liodo poder politico real", embora existam legalmente outros (ou outro)partidos. Nao se trata de uma ditadura, mas de urn partido que naoencontra rivais a altura;

e) sistemas de mobiliza<;ao de partido dominante: caracterizam~se porum (m.ico partido legal e forte presen~a da ideologia. 0 grupo de elitetende a ser jovem e modernizador e e comum que 0 comando sejaexercido por urn unico lfder carismatico; pode ser resultante de umarecente tomada do poder;

f) sistemas totalitarios fundamentados na ideologia: como exemplo, po~deriam ser citados os ex~pafses comunistas: apesar das grandes diferen~<;asentre eles, tern como ponto comum a predominancia da ideologia(marxista~leninista, maofsmo) eo totalitarismo. "A coa~ao e 0 terrorsaG justificados pela transforma<;ao social que se promete." A adminis~tra~ao nesse sistema deve sujeitar~se permanentemente a aprova~ao dopartido, sendo uma estrutura altamente complexa.

QUESTOES PARA REVISAo

1. Qual 0 conceito da Sociologia da Administra~ao?2. Qual a diferen~a entre objetivos e fins?3. Como a Sociologia da Administra<;ao passou de suas propOSl<;oesiniciais para

seu objeto de estudo atual?4. 0 que saG organiza~6es? Como se classificam?5. Qual a diferen<;a entre organiza~6es coercitivas e utilitarias ou normativas?6. Como se classificam e quais saG as caracterfsticas das organiza<;6es formais?

7. Como se diferenciam as organiza~6es formais de acordo com seus objetivos?

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8. Qual a natureza dos objetivos e quem os estabelece?9. Quais saG os niveis de relacionamento das organiza<.;-oesnas sociedades moder~

nas e como eles se apresentam?

10. Como se classificam os tipos de burocracia em rela~ao aos diferentes regilnespoliticos?

TOPICOS PARA REFLEXAo E DISCUssAo;EXERCICIOS E TRABALHOS

1. Indique os diversos tipos de papeis existentes em uma organiza~ao industrial.2. Utilizando a divisao de Mayntz, especifique as organiza<.;-oesa que pertence, se~

gundo seus objetivos e 0 papel que neles voce desempenha.

3. Discuta e esclare~a a frase: "0 trabalhador suporta de fato a produ~ao indus,trial, mas permanece, contudo, em estado de nao,posse."

4. Enumere e explicite cinco organiza~oes que, em seu entender, surgiram espon,taneamente e cinco que foram criadas conscientemente.

5. Prepare uma lista de 15 organiza~oes e as classifique como coercitivas ou utili,tarias, indicando 0 relacionamento de seus con troles com a atua~ao dos com,ponentes.

6. Como se apresentaria a mesma organiza<.;-aose suas finalidades fossem sucessi,vamente de beneffcio,mutuo, comerciais, de servi~os e de bem~estar p(lblico?

7. Indique uma organiza~ao formal a que voce pertence e demonstre como seapresentam nele as caracteristicas de organiza~ao.

8. Se voce fosse dono de uma empresa, como determinaria a diferen~a entre seusobjetivos reais e os eS,tabelecidos?

9. Ainda no papel de dono de uma empresa, explicite os relacionamentos que es,tabeleceria com os consumidores, trabalhadores, comunidade, governo e outrasempresas.

10. Tente dar exemplos de paises Clue se "encaixam" em cada um dos seis tiposde burocracia segundo 0 regime politico vigente.

TEMAS PARA SEMINARIOS

.1. Correla~ao entre Sociologia e Administra~ao ..2. Rela~oes entre os tipos de organiza~oes formais e seus principais beneficiarios.

3. Inser~ao das organiza~oes nas sociedades modernas.

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8. Qual a natureza dos objetivos e quem os estabelece?9. Quais sao os niveis de relacionamento das organiza<;6es nas sociedades moder~

nas e como eles se apresentam?

10. Como se classificam os tipos de burocracia em rela<;ao aos diferentes regilnespoliticos?

TOPICOS PARA REFLEXAo E DISCUssAo;EXERCICIOS E TRABALHOS

1. Indique os diversos tipos de papeis existentes em uma organiza<;ao industrial.

2. Utilizando a divisao de Mayntz, especifique as organiza<;6es a que pertence, se~gundo seus objetivos e 0 papel que neles voce desempenha.

3. Discuta e esclare<;a a frase: °0 trabalhador suporta de fato a produ<;ao indus-triat mas permanece, contudo, em estado de nao-posse."

4. Enumere e explicite cinco organiza<;6es que, em seu entender, surgiram espon-taneamente e cinco que foram criadas conscientemente.

5. Prepare uma lista de 15 organiza<;-6ese as classifique como coercitivas ou utili-tarias, indicando 0 relacionamento de seus con troles com a atua<;-ao dos com~ponentes.

6. Como se apresentaria a mesma organiza<;-ao se suas finalidades fossem sucessi-vamente de benefkio-mutuo, comerciais, de servi<;-ose de bem~estar p(lblico?

7. Indique uma organiza<;ao formal a que voce pertence e demonstre como seapresentam nele as caracteristicas de organiza<;ao.

8. Se voce fosse dono de uma empresa, como determinaria a diferen<;a entre seusobjetivos reais e os eS,tabelecidos?

9. Ainda no papel de dono de uma empresa, explicite os relacionamentos que es-tabeleceria com os consumidores, trabalhadores, comunidade, governo e outrasempresas.

10. Tente dar exemplos de paises que se "encaixam" em cada um dos seis tiposde burocracia segundo 0 regime politico vigente.

TEMAS PARA SEMINARIOS

.1. Correla<;-ao entre Sociologia e Administra<;-ao..

2. Rela<;-6esentre os tipos de organiza<;-6esformais e seus principais beneficiarios.3. Inser<;ao das organiza<;-6esnas sociedades modernas.