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Pós-verdade'. A palavra que definiu 2016 NEWSLETTER IHU 04 Janeiro 2017

Sociologia Geral e Ciências Sociais – Arnaldo Lemos Filho · Web viewMas, antes de cunhar com tanta certeza a verdade sobre a “pós-verdade”, é preciso olhar para os fatos

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Pós-verdade'. A palavra que definiu 2016

NEWSLETTER IHU  04 Janeiro 2017

 Eleita palavra do ano pelo dicionário "Oxford", a pós-verdade definiu 2016. Isso porque atualmente os fatos importam menos do que aquilo em que as pessoas escolhem acreditar -- ou seja, são tempos em que a verdade foi substituída pela opinião.

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A reportagem é de Carolina Cunha, publicada por Uol, 31-12-2016.O dicionário britânico é uma das referências mais importantes do mundo para a catalogação de novas palavras e expressões. Segundo a entidade, o termo é um adjetivo "que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais"."'Pós-verdade' deixou de ser um termo periférico para se tornar central no comentário político, agora frequentemente usado por grandes publicações sem a necessidade de esclarecimento ou definição em suas manchetes", justifica a entidade. O uso da palavra pela imprensa mundial em 2016 cresceu 2.000% em relação ao ano anterior, principalmente na cobertura de fatos políticos.Eugenio Bucci, jornalista e professor da Escola de Comunicação e Artes da USP (Universidade de São Paulo), avalia que, na era da pós-verdade, o eleitor toma cada vez mais decisões baseadas em sentimentos, crenças e ideologias. "A ideia contida aí é relativamente simples: a política teria rompido definitivamente com a verdade factual e passa a se valer de outros recursos para amalgamar os seguidores de suas correntes. É como se a política tivesse sucumbido ao discurso do tipo religioso e se conformado com isso."Já o filósofo Renato Janine Ribeiro afirma que 2016 será lembrado como o ano em que a mentira ganhou força, a ponto de influenciar as eleições. Para ele, o período foi marcado por vários acontecimentos que refletiram a pós-verdade, sendo os principais a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos e o Brexit, referendo que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia."A campanha de Donald Trump foi o maior exemplo de pós-verdade, com desdenho total pela veracidade dos fatos mencionados. A campanha do Brexit também foi assim. Podemos dizer que outro exemplo foi a vitória do 'não' no referendo colombiano sobre o acordo de paz com as Farc, que poderia encerrar uma guerra de mais de 50 anos", diz o filósofo.Durante a corrida eleitoral, o republicano Trump afirmou que Hillary Clinton criou o Estado Islâmico, que Barack Obama era muçulmano, que o desemprego nos EUA chegava a 42% e que o papba Francisco apoiava sua candidatura. Nenhuma dessas informações é verdadeira. Não importou. Muitas outras foram usadas sistematicamente para ganhar apoio e atingir a imagem de adversários.

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Já a campanha pelo Brexit se apoiou em declarações falsas, como dizer que a permanência no bloco custava ao Reino Unido US$ 470 milhões por semana e que, em breve, abriria as portas para milhares de imigrantes e refugiados.Na Colômbia, o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe incitou o medo da população e declarou que, se o acordo de paz fosse aceito, o próximo presidente do país seria Timochenko (atual líder das Farc) e que a economia do país se tornaria igual à da Venezuela.Mas exemplos do uso da pós-verdade no cenário político em 2016 não estão apenas lá fora.No Brasil, Janine Ribeiro destaca as campanhas para a eleição dos prefeitos municipais realizadas em outubro. "Vários candidatos fizeram declarações absolutamente inverídicas, mas com um poder de convicção grande e capaz de seduzir e agradar eleitores -- afirmações essas, que eles próprios depois abandonaram e relativizaram, mas que tiveram um papel muito importante para sua vitória."Ele cita como exemplo a campanha do prefeito João Doria (PSDB), eleito em São Paulo. Uma de suas promessas foi aumentar a velocidade nas marginais da cidade. Doria declarou que a medida não aumentaria o número de vítimas de acidentes, apesar de pesquisas e dados comprovarem que a redução da velocidade máxima preservou vidas no trânsito.Qual a novidade? A tentativa de influenciar o eleitor sempre existiu na política. O termo também remete a uma frase dita pelo chefe da propaganda nazista, Joseph Goebbels: "Uma mentira repetida mil vezes vira verdade".Então o que a pós-verdade traz de novidade?Para Janine Ribeiro, a mentira está sendo aceita por parte do público, que não se preocupa em checar o que se disse ou simplesmente não se importa. Se o conteúdo agradar ao eleitorado, ele pode ser compartilhado. Muitas vezes para radicalizar ou apenas reforçar posicionamentos políticos. No caso de Trump, suas mentiras não fizeram com que seus apoiadores deixassem de admirá-lo ou que o pressionassem para ter uma atitude mais ética."Essa tendência traz um elemento triste. Não é apenas falar uma mentira. Ao dizer 'pós', é como se a verdade tivesse acabado e não importa mais. Essa é a diferença entre pós-verdade e todas as formas de manipulação das informações que tivemos antes. É a ideia de que teríamos deixado um tempo em que nos preocupamos com isso e passamos então a um tempo em que seria avançado relativizar ou mesmo desdenhar a verdade", diz Janine Ribeiro.

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As redes sociais representam um desafio a mais nessa questão. Se por um lado todos nós podemos produzir e receber conteúdo, por outro, se não houver responsabilidade, um boato pode ser espalhado para milhares de pessoas de forma rápida e em tempo real. O problema aumenta quando a pessoa só se informa pelas redes sociais.Em junho, o Facebook alterou seu algoritmo de forma a diminuir o alcance de postagens de sites noticiosos e privilegiar o de amigos. Esse mecanismo favorece que usuários tendam a receber conteúdos que corroboram seu ponto de vista. "Os algoritmos estabelecem um filtro das informações que cada um recebe. Esse foi um dos fatores que contribuiu para a grande profusão de notícias falsas em 2016. Elas eram agradáveis aos olhos daqueles grupos, tão agradáveis que sua veracidade (ou não) deixava de ser importante", analisa Bucci.Após serem acusadas de influenciar no resultado das eleições nos EUA, o Facebook e o Google anunciaram que vão combater sites que propagam notícias falsas, impedindo que estas plataformas utilizem seus serviços de publicidade. Além disso, vão trabalhar com grupos de checagem de fatos para atestar a veracidade de uma notícia. O Facebook também criou uma ferramenta para denunciar mentiras na rede e gerar um alerta para os usuários quando for detectado um fato mentirosoUma informação gera conhecimento, ajuda a construir uma opinião sobre determinado assunto e contribui para o debate público. "Mas nesses últimos anos, a política se transformou com o uso intenso do marketing, das redes sociais e da produção de narrativas", afirma Janine Ribeiro.Para ele, o jornalismo tradicional perdeu o espaço de mediação da informação e foi lento para reagir a fatos falsos. Nesse contexto, o internauta precisa estar cada vez mais atento e não acreditar em tudo. Já a imprensa, deve retomar seu papel de ser um agente de credibilidade. "Quando você passa a construir uma campanha com imagens falsas que agradam ao eleitor, ou você tem anticorpos poderosos dos eleitores contra essas imagens ou a imprensa deveria ser esse principal anticorpo. Caso contrário, a pós-verdade, a manipulação das mentes e a mentira deslavada acabam triunfando."A palavra do ano em 2015 foi, pela primeira vez, um pictograma, o emoji da "carinha com a lágrima de alegria".

Pós-verdade

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"Evidentemente, e contra a razão absoluta, não estamos longe de um relativismo absoluto. Quando não existem pontos de referência diante dos fatos e dados 'objetivos', o próprio 'eu', querendo ou não, assume o centro do universo, com suas 'crenças' e seu modo de interpretar os acontecimentos", escreve Alfredo J. Gonçalves, padre carlista, assessor das Pastorais Sociais.Eis o artigo.O dicionário Oxford elegeu “pós-verdade" como a palavra do ano, em 2016. O verbete é um adjetivo definido como ‘relativo ou que denota circunstâncias nas quais fatos objetivos são menos eficientes em influenciar a opinião pública do que apelos à emoção e às crenças pessoais’”.Alguns fatores entram em jogo nessa emergência e definição da palavra pós-verdade. O primeiro tem a ver com a força dos meios de comunicação social. Na seleção e apresentação da avalanche diária de notícias, a mídia leva em conta não tanto o rigor dos fatos e dados, mas uma espécie de espetacularização que visa despertar as mais diversas sensações nos leitores, ouvintes ou espectadores. À informação objetiva e minimamente sóbria, prevalece um bombardeio sensacionalista direcionado mais aos sentimentos e ao coração do que a uma capacidade reflexiva.Talvez estejamos diante de uma reação à tirania da razão instrumental. Esta, com o adjetivo quase mágico de “científico”, pretende regular tudo e todos. Constinui o cânone não apenas das salas de aula e do trabalho acadêmico, mas também da vida cotidiana. Basta prestar atenção a uma roda de conversa. Num determinado momento, o grupo tropeça com um impasse polêmico, incapaz de chegar a qualquer conclusão. Porém, se algum dos interlocutores cita um artigo recém lido numa revista ou jornal, uma nova teoria apresentada por um programa televisivo ou radiofônico, uma entrevista com determinado cientista expoente da matéria – imediatamente desfaz-se o nó e o silêncio se impõe como sinônimo de verdade. Cientificismo ou charlatanismo?Mas não é só isso. Podemos ainda estar diante de uma resistência à matematização dos acontecimentos mais corriqueiros. Aqui também, diante das dúvidas, incertezas ou interrogações, tropeçamos com os números, estatísticas, tabelas, quadros, ilustrações gráficas – e parece que tudo se

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revolve no universo das operações matemáticas: soma, subtração, multiplicação e divisão. À opinião pública, impõe-se e sobrepõe-se a pesquisa objetiva onde o método, a medida, o cálculo e as previsões “cientificamente” elaboradas se autorrefericiam. Salvo os dois famosos pontos de tolerância, para mais ou para menos. Tudo adquire um caráter milimetricamente teleguiado.De repente, emergem erros grosseiros, incogruências e contradições. Os três casos mais evidentes foram as pesquisas prévias quanto ao Brexit, saída da Grã-Bretanha da Comunidade Europeia; depois, o referendum da   Colômbia  sobre o acordo de paz, onde o povo revelou-se contrário; e enfim, o processo que veio a eleger o magnata Donald Trump como 45º presidente dos Estados Unidos. E agora, José? Como fica a credibilidade das pesquisas e de seus “métodos científicos”? Ou de forma mais generalizada, como fica a credibilidade do império da razão, filho do Iluminismo?É o próprio racionalismo iluminista que está em jogo. Nesse contexto de desconfiança e desencanto, diversos analistas começam a usar a palavra pós-verdade para definir um modo de ver e de pensar que, em lugar de se regular pela razão, a ciência e a tecnologia a elas associada, reflete e age a partir dos próprios sentimentos e emoções. A verdade não dispõe de uma bússola e de um metro incontestáveis, como se pensava. A bússola passa a ser a constelação de desejos, sensações e prazeres de cada um.Evidentemente, e contra a razão absoluta, não estamos longe de um relativismo absoluto. Quando não existem pontos de referência diante dos fatos e dados “objetivos”, o próprio “eu”, querendo ou não, assume o centro do universo, com suas “crenças” e seu modo de interpretar os acontecimentos. Levado à prática política, diante do que afirmam os pesquisadores e estudiosos, constata-se que o silêncio dos ressentidos, reticentes e resistentes acaba determinando resultados imprevisíveis e inesperados. Como se o progresso racional, científico e tecnológico entrasse numa zona de sombras, sobre a qual brilha uma nova opinião pública, obscur

O que é a tal 'pós-verdade'?

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 18 Novembro 2016

 "É bem verdade que as novas tecnologias da informação têm poder de disseminação muito diferente de tudo o que conhecíamos antes. Mas, antes de cunhar com tanta certeza a verdade sobre a “pós-verdade”, é preciso olhar para os fatos com calma. Senão, corremos o risco de nos deixar levar pelas emoções e deixar de lado o que está mostrando a realidade objetiva – e o passado". A advertência é de Diogo Antonio Rodriguez, jornalista e editor do meexplica.com, em coluna publicada por Motherboard, 17-11-2016.Eis o artigo. No último dia 15, o Dicionário Oxford, um dos mais respeitados do idioma inglês, anunciou que sua palavra do ano de 2016 é “ pós-verdade ” . Desde 2004, a publicação escolhe uma expressão ou palavra que tenha “chamado muito a atenção nos últimos 12 meses” e concede o título. Segundo a editora, embora a expressão eleita este ano não seja nova, ela ganhou notoriedade recentemente. O uso de “pós-verdade” aumentou 2.000% entre 2015 e 2016. Dois dos grandes responsáveis foram, segundo a Oxford, as eleições americanas e o referendo do Brexit. Mas o que raios esta expressão quer dizer? E o que ela tem a ver com o famigerado ano de 2016?Cada um no seu quadradoNão dá para dizer que existe um consenso sobre seu significado, mas, em geral, usa-se a expressão para sugerir que as pessoas estão tomando decisões com base mais em suas emoções e visões de mundo do que olhando para os fatos. O Oxford diz: “é um adjetivo definido como ‘relativo ou que denota circunstâncias nas quais fatos objetivos são menos influentes em influenciar a opinião pública do que apelos à emoção e às crenças pessoais’”.Urnas raivosasE o que Donald Trump e Brexit têm a ver com isso? Bom, está se tornando um chavão dizer que ambos os episódios só aconteceram porque hoje se faz “política da pós-verdade”. Estaríamos vivendo num mundo onde não é necessário fazer campanhas baseadas em dados, números, propostas e coisas

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concretas de maneira geral. Basta apertar os botões certos e emocionar (ou criar ódio) nos eleitores. A eleição de Trump seria um exemplo, já que o republicano usou dados falsos para fazer afirmações ou exagerou problemas que existem de fato. O mesmo mecanismo teria sido usado pelos partidários da saída do Reino Unido da União Europeia.Pinóquio americanoSe você está pensando que isso sempre aconteceu em campanhas políticas, bem, você não está sozinho. Mas muita gente defende que este é um fenômeno novo e com alcance inédito na história. Por exemplo, Donald Trump demorou anos para admitir que o presidente Barack Obama é, de fato, cidadão americano. Uma teoria conspiratória popular nas redes da direita norte-americana diz que Obama teria nascido no Quênia, terra natal de seu pai, o que o tornaria inabilitado para ser comandante-chefe. Trump cavalgou nesta história o quanto pôde, usando a raiva de uma parte do eleitorado para arregimentar apoio. Trata-se de apenas um exemplo. Há uma extensa lista de mentiras que o milionário contou e usou como propaganda política e subsídios para debates. Mesmo assim, Trump conseguiu ser eleito.Bolhas e morte do jornalismoUma das principais novidades nesta história seriam as redes sociais e a famigerada crise do jornalismo. Os veículos tradicionais perderam leitores, poder, credibilidade e espaço; canais no Facebook, Twitter e etc. preencheram o vácuo com conteúdos cujo único objetivo seria o de confirmar as crenças das pessoas de ambos os lados. Outro responsável pela “pós-verdade” seria a tal “bolha”, que permite que uma falsidade circule por um determinado grupo sem nunca ser questionada.O passado nos condenaHouve outros momentos, porém, em que as pessoas foram levadas a acreditar em coisas que não eram verdade. Na Alemanha nazista, por exemplo, a eugenia era tratada como verdade científica apesar de não se basear em dados, apenas em preconceitos, racismo e antissemitismo. A caça às bruxas nos Estados Unidos dos anos 50, marcado pelo macartismo, mandou muito inocentes para a prisão sob a acusação de serem “espiões comunistas”. O comunismo é, aliás, é até hoje um bicho-papão universal, que serve para acusar qualquer política minimamente progressista de ser stalinista e totalitária.Frigir dos ovosMas será que a “pós-verdade” existe? A “pós-verdade” é verdade? Não há dúvida de que a expressão está na moda (e no dicionário). Mas, como todo modismo, pode ser coisa

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passageira. É bem verdade que as novas tecnologias da informação têm poder de disseminação muito diferente de tudo o que conhecíamos antes. Mas, antes de cunhar com tanta certeza a verdade sobre a “pós-verdade”, é preciso olhar para os fatos com calma. Senão, corremos o risco de nos deixar levar pelas emoções e deixar de lado o que está mostrando a realidade objetiva – e o passado.

 O dicionário Oxford escolheu "pós-verdade" como palavra do ano de 2016. A definição é "circunstâncias em que os fatos objetivos têm menos influência sobre a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais". O conceito é de que a verdade perdeu o valor, e acreditamos não nos fatos, mas no que queremos acreditar que é verdade. Qual sua avaliação sobre essa"nova era" e novo comportamento, que acaba reforçado pelas redes sociais?Karnal - Sempre fomos estruturalmente mentirosos em todos os campos humanos. A mudança é que antes se mentia e se sabia a diferença entre mentira e verdade, hoje este campo foi esgarçado. O problema talvez seja de critério. Com a ascensão absoluta do indivíduo, o que ele considerar verdade será para ele.

Perdemos um pouco da sociologia da verdade, ou de um critério mais amplo de validação do verdadeiro. No século 18 era o Iluminismo: o método racional que tornava algo aceito como verdade. No 19, foi a