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FUNDAÇÃO ESCOLA TÉCNICA LIBERATO SALZANO VIEIRA DA CUNHA SOFRIMENTO PSÍQUICO DE ELETRICISTAS MULTITAREFA: UM ESTUDO DE CASO FRANCIELE FERNANDES ORIENTADOR: JORGE LUIZ FERREIRA COORIENTADORA: MARIANE BRAATZ KOGLER

Sofrimento Psiquico de Eletricistas Multitarefa: um estudo de caso

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Sofrimento Psiquico de Eletricistas Multitarefa: um estudo de caso

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Page 1: Sofrimento Psiquico de Eletricistas Multitarefa: um estudo de caso

FUNDAÇÃO ESCOLA TÉCNICA LIBERATO SALZANO VIEIRA DA CUNHA

SOFRIMENTO PSÍQUICO DE ELETRICISTAS MULTITAREFA: UM ESTUDO DE

CASO

FRANCIELE FERNANDES

ORIENTADOR: JORGE LUIZ FERREIRA

COORIENTADORA: MARIANE BRAATZ KOGLER

Novo Hamburgo, outubro de 2011.

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26ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA -

MOSTRATEC

RELATÓRIO GERAL DA PESQUISA

Categoria: PESQUISA CIENTÍFICA

Área: CIÊNCIAS SOCIAIS, COMPORTAMENTO E ARTE

Título da Pesquisa: SOFRIMENTO PSÍQUICO DE ELETRICISTAS

MULTITAREFA: UM ESTUDO DE CASO

Componente(s):

1º Franciele Fernandes série 4º Idade 18

Orientador: Jorge LuizFerreira

Coorientadora: Mariane Braatz Kogler

Instituição: Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha

Cidade: Novo HamburgoEstado: Rio Grande do Sul País: Brasil

Page 3: Sofrimento Psiquico de Eletricistas Multitarefa: um estudo de caso

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, fonte de toda sabedoria e inspiração, por ter

me dado força e perseverança para levar adiante esse trabalho desafiador.

Agradeço aos meus pais, Jorge e Lurdes Fernandes, que sempre me

incentivaram, mantiveram a paciência, deram muito afeto e colo, principalmente nos

momentos difíceis.

Ao Leandro Legramanti Ody, que sempre aceitou revisar todas as etapas

desse trabalho, apontando o que estava errado e as melhores formas para expor

minhas ideias.

Um agradecimento especial a Daniela Müller, que deu uma enorme

contribuição, enriquecendo o trabalho de uma maneira inexplicável.

Aos meus orientadores, Jorge Ferreira e Mariane Kogler, que sempre

estiveram dispostos a me ajudar e a orientar, sempre com seriedade e sinceridade.

Aos trabalhadores que se dispuseram a participar da pesquisa, bem como às

chefias, que permitiram chegar até esses trabalhadores.

A todos que participaram de maneira direta ou indireta para a conclusão deste

trabalho, incentivando, propondo ideias e melhorias que enriqueceram o trabalho.

Page 4: Sofrimento Psiquico de Eletricistas Multitarefa: um estudo de caso

RESUMO

Os trabalhadores que atuam como eletricistas multitarefa convivem sob

pressão por parte do empregador e dos consumidores, riscos causados pelo

trabalho em eletricidade, elevando a possibilidade de apresentarem o sofrimento

psíquico. O estresse está presente no dia a dia, consequência típica do mundo

moderno, e pode até ser saudável, mas quando ele é recorrente, traz grandes danos

à saúde. Quando ocorre um evento estressor há alterações nas funções orgânicas e

metabólicas, e aparecem sintomas fisiológicos, como dor de cabeça, dor no

estômago, e sintomas psicológicos, como ansiedade. Os eletricistas multitarefa

devem seguir as prescrições para a realização das tarefas que devem ser

executadas, mas caso haja uma precipitação ou esquecimento de algum

procedimento, pode haver o contato direto com tensões elevadas, colocando em

risco sua vida e de seus colegas. O Self-reporting Questionnaire (SRQ-20) é um

instrumento utilizado para analisar a prevalência de transtornos mentais comuns, e

já foi usado em profissionais da saúde, professores e outras categorias de

trabalhadores. Esse questionário foi aplicado em sessenta eletricistas multitarefa de

uma concessionária de energia elétrica durante uma palestra sobre segurança,

promovida semanalmente pela empresa, com supervisão das lideranças da empresa

e de uma psicóloga. Através de questionários e da observação da organização de

trabalho é possível identificar e prevenir esse sofrimento e assim propor medidas

para diminuir a carga psíquica desses trabalhadores, melhorando a qualidade de

vida deles e de suas famílias.

Palavras-chave: Eletricistas multitarefa. Sofrimento psíquico. Psicodinâmica do

trabalho. Self-Reporting Questionnaire.

Page 5: Sofrimento Psiquico de Eletricistas Multitarefa: um estudo de caso

ABSTRACT

Workers who act as multitasking electricians live under pressure from

employers and consumers, risks caused by work with electricity, raising the

possibility of presenting psychological distress. The stress is present in daily life,

typical consequence of the modern world, and can even be healthy, but when it

recurs, it brings great harm to health. When a stressor event happens, there are

changes on organ and metabolic functions, and physiological symptoms appear,

such as headache, stomach pain, and psychological symptoms like anxiety.

Multitasking electricians must follow the requirements for the tasks to be performed,

but if there is a precipitation or forgetfulness of some procedure, there may be direct

contact with high voltages, risking their lives and their colleagues. Self-Reporting

Questionnaire (SRQ-20) is an instrument used to analyze the prevalence of common

mental disorders, and has been used in health care workers, teachers and other

categories of workers. This questionnaire was applied in a multitasking sixty

electricians during a speech about safety, sponsored by the company every week,

under supervision of the company's leaders and a psychologist. Through

questionnaires and observation of work organization it`s possible to identify and

prevent the suffering and then propose measures to lessen the mental load of those

workers, improving the quality of their lives and their families.

Key-Words: Multitasking Electricians. Psychic suffering. Work of psychodynamic.

Self-Reporting Questionnaire.

Page 6: Sofrimento Psiquico de Eletricistas Multitarefa: um estudo de caso

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1: Fluxograma das atividades ................................................................ 12

FIGURA 2: Nº de Acidentados Fatais Típicos por 100.000 Trabalhadores - Setor

Elétrico (empregados próprios) x Brasil ............................................................... 15

FIGURA 3: Sintomas somáticos – Geral .............................................................. 25

FIGURA 4: Decréscimo da energia vital – Geral ................................................. 25

FIGURA 5: Humor depressivo-ansioso – Geral.................................................... 26

FIGURA 6: Pensamentos depressivos – Geral.................................................... 26

FIGURA 7: Sintomas somáticos – de 6 a 14 respostas afirmativas..................... 27

FIGURA 8: Humor depressivo-ansioso – de 6 a 14 respostas afirmativas.......... 27

FIGURA 9: Decréscimo da energia vital – de 6 a 14 respostas afirmativas........

28

FIGURA 10: Pensamentos depressivos– de 6 a 14 respostas afirmativas.......... 28

Page 7: Sofrimento Psiquico de Eletricistas Multitarefa: um estudo de caso

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 .............................................................................................................. 14

TABELA 2 .............................................................................................................. 14

TABELA 3: Nenhuma resposta afirmativa ............................................................. 23

TABELA 4: Uma resposta afirmativa...................................................................... 23

TABELA 5: De duas a quatro respostas afirmativas................................................... 24

TABELA 6: De 6 a 14 respostas afirmativas........................................................... 24

Page 8: Sofrimento Psiquico de Eletricistas Multitarefa: um estudo de caso

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 9

1.1 Problema.......................................................................................................... 9

1.2 Justificativa..................................................................................................... 10

1.3 Hipótese........................................................................................................... 10

1.4Objetivos.......................................................................................................... 11

1.4.1 Objetivos gerais............................................................................................ 11

1.4.2 Objetivos específicos.................................................................................... 11

2 METODOLOGIA................................................................................................. 12

2.1 Referencial teórico......................................................................................... 12

2.1.1 Acidentes no setor elétrico brasileiro............................................................ 12

2.1.2 Organização Racional do Trabalho.............................................................. 17

2.1.2.1 Trabalho prescrito e trabalho real............................................................... 17

2.1.3 Doenças Silenciosas.................................................................................... 18

2.1.3.1 Estresse....................................................................................................... 18

2.1.3.2 Sintomas psicológicos mais comuns.......................................................... 18

2.1.3.3 Sintomas fisiológicos.................................................................................. 19

2.1.3.4 O alcoolismo pode ser um fator decorrente do estresse............................ 19

2.1.3.5 Fases do estresse...................................................................................... 19

2.1.4 Saúde psíquica e trabalho........................................................................... 20

2.2 Self-reporting Questionnaire (SRQ-20)........................................................ 21

3 RESULTADOS.................................................................................................. 23

4 CONCLUSÃO..................................................................................................... 29

REFERÊNCIAS..................................................................................................... 30

ANEXOS................................................................................................................ 32

ANEXO A.............................................................................................................. 33

Page 9: Sofrimento Psiquico de Eletricistas Multitarefa: um estudo de caso

1 INTRODUÇÃO

A partir das observações dos acidentes típicos, do grau de treinamento e

disponibilidade dos meios preventivos previstos na NR-10, os quais, na maioria dos

casos, são inexplicavelmente esquecidos ou desconsiderados, este projeto teve

como motivação a investigação da influência do fator emocional e o estresse como

possível causa nos acidentes funcionais dos trabalhadores do setor elétrico

brasileiro e une áreas como segurança e psicodinâmica de Dejours e também

trabalhadores do setor elétrico brasileiro.

O estresse é uma reação natural do organismo e é uma consequência típica

do mundo moderno, mas a partir do momento que ele é recorrente pode trazer

danos à saúde física e mental.

Os trabalhadores que atuam em um ambiente estressante, devido à pressão

de tempo e produtividade, aumentando a probabilidade de apresentarem sofrimento

psíquico.

Identificar se há transtornos de humor entre os trabalhadores que atuam

como eletricistas multitarefa através de questionários, como o Self-Reporting

Questionnaire, e da observação do ambiente de trabalho possibilita sugerir

melhorias para a organização de trabalho e enfatizar as medidas já adotadas e que

são benéficas para a manutenção da saúde mental desses trabalhadores.

Este trabalho tem como objetivo chamar a atenção dos gestores de

empresas do setor elétrico para o cuidado com a saúde psíquica de seus

colaboradores, pois o estresse pode ser mais um fator de risco, e, ao adotar

medidas para a diminuição da carga psíquica, prevenir acidentes.

1.1 Problema

Há sofrimento psíquico entre os trabalhadores que atuam como eletricistas

multitarefa? O que pode ser feito para melhorar as condições psíquicas desses

trabalhadores?

Page 10: Sofrimento Psiquico de Eletricistas Multitarefa: um estudo de caso

1.2 Justificativa

O estresse é uma reação natural do organismo. É um conjunto de defesas

orgânicas contra qualquer forma de estímulo, e é uma consequência típica do

mundo moderno. Ele, por mobilizar o organismo, acaba causando sintomologias,

como o aumento de frequência cardíaca, irritação constante, entre outros.

Os riscos, a pressão constante em relação ao tempo e a produtividade com a

qual convivem, problemas ergonômicos, cargas horárias incompatíveis com as

limitações psicofisiológicas.

O sofrimento psíquico dá sinais, através da expressão verbal, do

comportamento neurótico, enfermidades psicossomáticas. Identificar e prevenir esse

sofrimento através de questionários, entrevistas e outros métodos são de suma

importância para melhorar a organização de trabalho, a vida desses trabalhadores e

consequentemente diminuir o índice de acidentes.

Esse trabalho servirá para comparar os resultados obtidos através do Self-

Reporting Questionnaire com outras categorias de trabalhadores.

Além disso, o projeto pode vir a incentivar alunos de cursos técnicos a

realizarem pesquisas com pessoas das áreas onde pretendem atuar, pois

aprenderam muito sobre o mercado onde estarão inseridos futuramente e

entenderam que, em todos os processos, mesmo em áreas tecnológicas, sempre há

pessoas envolvidas, que devem ser valorizadas, buscando melhorias das condições

de trabalho delas.

1.3 Hipótese

Os trabalhadores que atuam como eletricistas multitarefa convivem sob

pressão, riscos, intempéries do tempo e problemas ergonômicos, o que eleva a

possibilidade de apresentarem transtornos mentais e de humor, causado pelo

estresse. Através da observação e de mudanças na organização de trabalho é

possível melhorar as condições psíquicas desses trabalhadores.

Page 11: Sofrimento Psiquico de Eletricistas Multitarefa: um estudo de caso

1.4 Objetivos

1.4.1 Objetivos gerais

Mostrar que as empresas devem se preocupar em monitorar constantemente

alguns fatores indicativos de estresse como forma de prevenção de acidentes em

serviços elétricos.

Salientar ações que atuem de forma positiva na manutenção da saúde

psíquica desses trabalhadores, já realizadas pela organização de trabalho.

1.4.2 Objetivos específicos

Melhorar a organização de trabalho e consequentemente diminuir a carga

psíquica desses trabalhadores.

Sugerir o encaminhamento dos funcionários para profissionais da área da

saúde mental, caso seja necessário tratamento.

Chamar a atenção de psicólogos e médicos do trabalho para a realização de

estudos mais aprofundados nesse e em outras categorias de trabalhadores, que

convivem diariamente com riscos.

Page 12: Sofrimento Psiquico de Eletricistas Multitarefa: um estudo de caso

2 METODOLOGIA

A pesquisa foi iniciada no dia dois de março de 2011 e evoluiu conforme o

fluxograma que mostra os passos realizados durante este período.

FIGURA 1: Fluxograma das atividades.

Fonte: Cronograma de atividades

2.1 Referencial teórico

2.1.1Acidentes no setor elétrico brasileiro

Acidente de trabalho, segundo a Comissão Tripartite Permanente de

Negociação do Setor Elétrico no Estado de São Paulo – CPNSP – é todo

acontecimento inesperado ou imprevisto, que ocorre pelo exercício do trabalho a

serviço da empresa, que venha a provocar lesão corporal ou perturbação funcional,

Page 13: Sofrimento Psiquico de Eletricistas Multitarefa: um estudo de caso

causando perda ou redução temporária ou permanente da capacidade de trabalho,

ou ainda à morte.

As principais causas dos acidentes são programas de trabalho inadequados,

padrões inadequados do programa, ou ainda o não cumprimento dos padrões, e

podem gerar muitas ou poucas perdas.

Causas básicas são as razões de que ocorrem os atos e condições abaixo

do padrão. Esses fatores podem ser de ordem pessoal ou do ambiente de trabalho.

As causas imediatas são as circunstâncias que precedem imediatamente o

contato, podendo ser vistas ou sentidas, tais como atos abaixo dos padrões, ou

condições abaixo do padrão.

Já os acidentes são os contatos que poderiam causar uma lesão ou dano, e

geram perdas às pessoas, à propriedade, aos produtos, ao meio ambiente e aos

serviços.

Os custos gerados pelos acidentes são enormes, pois é preciso custear o

tratamento médico, pagar danos aos imóveis, aos equipamentos, produtos, pode

haver interrupção e atrasos de produção, gastos legais, enfim, uma grande perda

financeira.

O Protocolo de Notificação de acidentes do Trabalho Fatais, Graves e em

Crianças e Adolescentes (MINISTÉRIO DA SAUDE, 2006) define o acidente de

trabalho fatal e o grave:

“Acidente do trabalho fatal é aquele que leva ao óbito imediatamente após sua ocorrência ou que venha a ocorrer posteriormente, a qualquer momento, em ambiente hospitalar ou não, desde que a causa básica, intermediaria ou imediata da morte seja decorrente do acidente.”

“Acidente de trabalho mutilante é aquele que acarreta mutilações, física ou funcional, e o que leva ã lesão cuja natureza implique comprometimento extremamente sério, preocupante e que pode ter consequências nefastas ou fatais”.

Esse Protocolo considera ainda a necessidade da existência de pelo menos

um dos seguintes critérios objetivos, a fim de evitar interpretações subjetivas, para a

definição de acidente de trabalho grave, como por exemplo: necessidade de

tratamento em regime de internação hospitalar, incapacidade permanente para o

trabalho, enfermidade incurável, deformidade permanente, doenças agudas que

requeiram tratamento médico em que exista razão para acreditar que resulte de

exposição ao agente biológico, toxinas ou material infectado, entre outros.

Page 14: Sofrimento Psiquico de Eletricistas Multitarefa: um estudo de caso

Segundo o Relatório de Estatísticas de Acidentes do Setor Elétrico Brasileiro

(2010), houveram, em 2010, sete (7) acidentes fatais com empregados próprios das

empresas e setenta e cinco (75) com trabalhadores das empresas contratadas

(terceirizadas).

É possível analisar a frequência dos acidentes nesse setor, entre os anos de

1999 e 2010, através das tabelas abaixo:

TABELA 1

Fonte: Relatório de Estatísticas de Acidentes do Setor Elétrico Brasileiro – 2010

TABELA 2

Fonte: Relatório de Estatísticas de Acidentes do Setor Elétrico Brasileiro – 2010

O número de acidentes fatais típicos no setor elétrico em relação aos dados em nível

de Brasil de acidentes com outras categorias de trabalhadores é visivelmente elevado nos

anos de 1999 e 2002, e menor no ano de 2009, conforme o gráfico:

Page 15: Sofrimento Psiquico de Eletricistas Multitarefa: um estudo de caso

FIGURA 2: Nº de Acidentados Fatais Típicos por 100.000 Trabalhadores - Setor Elétrico (empregados próprios) x Brasil Fonte: Relatório de Estatísticas de Acidentes do Setor Elétrico Brasileiro – 2010

Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (2008) que analisou um

acidente que ocorreu em um município do interior do Rio Grande do Sul, durante

intervenção para manutenção elétrica aérea, os fatores causais do acidente foram:

a) Pressão por produtividade: Permanente esforço devido à pressão de

tempo e produtividade. Isso acaba impactando ritmos, procedimentos, prática

e jornada de trabalho, refletindo negativamente na saúde e segurança no

trabalho;

b) Equipe numericamente insuficiente para a execução da atividade:

Realização de jornadas de trabalho incompatíveis com as limitações

psicofisiológicas, apontando a existência de um quadro restrito e insuficiente

de colaboradores para a demanda de trabalho;

c) Realização de horas extras: A empresa do acidente analisado submetia

o acidentado e outros trabalhadores a jornadas extraordinárias ilegais de

trabalho, entrando em conflito com o artigo “capult”, da CLT;

Page 16: Sofrimento Psiquico de Eletricistas Multitarefa: um estudo de caso

d) Exiguidade de intervalo entre jornadas: O acidentado e outros

trabalhadores foram submetidos a jornadas incompatíveis de com as

necessidades psicofisiológicas dos trabalhadores. No caso do acidentado, ele

chegou a realizar jornada na madrugada, após um dia cheio de trabalho,

conflitando com o artigo 66 da CLT;

e) Não concessão de repouso semanal: O Acidentado foi submetido a um

regime de trabalho que por muitas vezes não permitia o gozo do repouso

semanal, contribuindo assim para a geração de condição de estresse físico e

mental, e por consequência a redução do estado de vigília do acidentado e de

seus colegas;

f) Atuação em condições psíquicas e/ou cognitivas inadequadas: O

trabalho foi realizado sob pressão de tempo e produtividade, que em conjunto

com a fadiga e redução do estado de vigília, justifica comportamentos e

eventuais ações de e/ou omissões dos trabalhadores, conflitando com os

artigos 59, 66 e 67, “caput” da CLT.

g) Falta de aterramento elétrico: A não execução dos procedimentos

referentes ao aterramento elétrico primário da rede foi um importante fator

causal do acidente, porém deve ser contextualizada. O sistema de

aterramento disponibilizado pela empresa havia sido recentemente alterado,

mostrando deficiências no processo de treinamento para uso eficaz do

dispositivo.

A análise desta análise do MTE teve como conclusão que os fatores que

ocasionaram o acidente forem decorrentes, em quase sua totalidade, decorrentes de

atos ou omissões da empresa, como o não cumprimento de preceitos básicos de

segurança e saúde, que constam na legislação vigente, especialmente das NRs 10 e

17, do próprio MTE.

Page 17: Sofrimento Psiquico de Eletricistas Multitarefa: um estudo de caso

2.1.2 Organização Racional do Trabalho

Frederick Taylor propôs drásticas mudanças na organização de trabalho ao

substituir métodos empíricos e rudimentares por métodos científicos, que recebeu o

nome de organização racional do trabalho.

Essa organização buscava a eficiência e se fundamenta na análise do

trabalho e estudos dos movimentos, estudo da fadiga humana, divisão e

especialização do operário, desenho de cargos e tarefas, incentivos salariais e

prêmios de produção, o conceito do homo economicus, condições ambientais de

trabalho (ergonomia), padronização de métodos e de máquinas, e supervisão

funcional (CHIAVENATO, 2004).

O conceito de homo economicus, ou homem econômico, na visão de Taylor

não se limitava a ver o homem como um empregado por dinheiro, via o operário

como um indivíduo limitado e mesquinho, culpado pela vadiagem e pelo desperdício

das empresas e que deveria ser controlado por meio do tempo padrão e trabalho

racionalizado.

Os discípulos de Taylor, os engenheiros da Administração Científica,

preocupavam-se com as condições de trabalho, onde deveria haver adequações de

instrumentos e ferramentas, arranjos no maquinário e nos equipamentos, melhorias

do ambiente, como ventilação, iluminação, e projeto de instrumentos e

equipamentos especiais para cargos específicos, tudo isso para minimizar o esforço

do operador, a perda de tempo e consequentemente a eficiência do trabalhador.

Com a implantação da Organização Científica do Trabalho os operários

deveriam seguir as prescrições feitas pela gerência, assim, o conhecimento e a

liberdade que os trabalhadores tinham, foi expropriado, isso consequentemente

modificou a relação entre trabalho e operário, gerando alguns problemas.

2.1.2.1 Trabalho prescrito e trabalho real

Na década de 80 a ergonomia francesa fez uma distinção entre trabalho

prescrito e o trabalho real (MERLO, 2005), mostrando o modo como os

trabalhadores lidam com a distância entre eles e a importância da subjetividade do

trabalho.

Page 18: Sofrimento Psiquico de Eletricistas Multitarefa: um estudo de caso

O trabalho prescrito são os passos que devem ser seguidos para a

realização de uma determinada tarefa, ou seja, aquilo que deve ser feito. Porém os

trabalhadores, no dia-a-dia convivem com lacunas nas prescrições, ou seja, não

contemplam todas as situações, dando espaço para o trabalho real.

O trabalho real permite que o trabalhador use sua inteligência, improvise, e é

responsável pela manutenção da qualidade e de produtividade, essenciais para a

conservação da sua saúde mental.

2.1.3 Doenças Silenciosas

A doença, ou sofrimento mental é diferente de outras doenças. São dores

silenciosas e invisíveis, e que estão diretamente relacionadas às condições sociais.

Esse sofrimento psicológico é discriminado e a culpabilidade acaba

acarretando a dificuldade em reconhecer que o adoecimento psíquico está

relacionado ao trabalho (CEREST, 2009).

2.1.3.1 Estresse

Segundo a psicóloga Daniela Muller, do Laboratório de Psicodinâmica do

Trabalho da UFRGS, o estresse ou sofrimento psíquico, como é conhecido na

psicologia, é uma reação do organismo onde o corpo se prepara para responder a

um evento estressor. Ele pode ser saudável, podendo te proteger e prever o que

pode acontecer, mas a partir do momento que ele é recorrente, com grande

intensidade, isso pode trazer danos à saúde.

2.1.3.2 Sintomas psicológicos mais comuns

Os sintomas psicológicos que podem aparecer são a fadiga intelectual, o

transtorno na resposta sexual, dores em diversos pontos do corpo que logo

desaparecem, alterações de ânimo e de caráter como irritabilidade, o nervosismo, a

ansiedade, angústia, tristeza ou ainda relações familiares difíceis e conflitantes

GUILLÉN (1988).

Page 19: Sofrimento Psiquico de Eletricistas Multitarefa: um estudo de caso

2.1.3.3 Sintomas fisiológicos

Além dos sintomas psicológicos, há também os transtornos psicossomáticos,

como dores de cabeça, taquicardia, diarreias, alterações na pele, alterações do sono

entre outros.

2.1.3.4 O alcoolismo pode ser um fator decorrente do estresse

O alcoolismo nada mais é do que uma válvula de escape ou defesa

individual, assim como a depressão. É quando o estresse é tão grande que se busca

fugir do problema. É uma saída em direção a uma decadência mais rápida e a um

destino somático e mental grave, condenada pelo grupo social (DEJOURS, 1992).

2.1.3.5 Fases do Estresse

Segundo Hans Seyle (1936), o estresse é caracterizado por três fases:

1ª fase: Adaptação

Há alteração das funções orgânicas e metabólicas, causada pela

mobilização para enfrentar o estresse. Sintomas como, aumento da frequência

cardíaca e respiratória, mãos frias e suadas, desaparecem caso o problema for

resolvido.

2ª fase: Resistência

O organismo tenta adaptar-se à realidade momentânea, alterando

todos os níveis de funcionamento. Sintomas como aftas, alergias, problemas

respiratórios, perda de cabelo, impotência sexual, retração social, irritação

constante, que levam à terceira fase.

3ª fase: Exaustão

O organismo não supera a ameaça e esgotaram seus recursos

fisiológicos, causando casos graves, como hipertensão, gastrite, infarto, ulcera e

entre outros.

Page 20: Sofrimento Psiquico de Eletricistas Multitarefa: um estudo de caso

2.1.4 Saúde psíquica e trabalho

O controle do estresse ocupacional tornou-se uma preocupação para os

gestores, pois há prejuízos à produtividade em decorrência de doenças relacionadas

ao estresse. Porém essa preocupação dos gestores com o controle do estresse está

relacionado ao interesse da produção e não à saúde do trabalhador.

O aumento do estresse é resultado da organização de trabalho pautada nos

valores da produção ligados à organização flexível do capital (MERLO, 2005).

Sendo assim a preocupação dos gestores com o estresse ocupacional é um

paradoxo: ao mesmo tempo em que reconhecem que esse é necessário para

manter a produção, quando ultrapassa determinado limite, torna-se uma fonte de

preocupação por comprometer a referida produção (MENDES, 2003).

Segundo Gramsci (1978), novos métodos de trabalho são inseparáveis de

um novo modo de viver, pensar e sentir a vida.

Dejours (1992) afirma que o medo está presente em todos os tipos de

ocupações, e o risco é sempre coletivo, na maioria das situações onde vários

trabalhadores estão envolvidos em uma mesma tarefa.

Dentro das empresas, ainda segundo Dejours (1992) tudo lembra o fato de

que um acidente pode ocorrer a qualquer momento, através de capacetes, luvas,

cartazes, sinais luminosos, para estimular a atenção dos trabalhadores através do

medo. Quando ocorrem acidentes, confirma-se o risco, gerando uma ansiedade

específica sobre os demais trabalhadores e eles não gostam de serem lembrados

disto.

Contra esse medo e ansiedade individualmente e/ou coletivamente os

trabalhadores elaboram defesas, que quando são eficazes não é possível encontrar

nenhum traço de medo no discurso, pois estas mascaram, escondem o medo.

As defesas coletivas são possíveis quando trabalhadores fazem parte de

uma equipe durante um longo período.

Individualmente cada trabalhador defende-se contra os efeitos penosos da

organização onde estão inseridos, partindo para as válvulas de escapes, como o

álcool, a depressão, a violência, entre outros.

Como dito acima, quando as defesas são eficazes não é perceptível durante

uma conversa, por exemplo, mas para que haja a corroboração da existência do

Page 21: Sofrimento Psiquico de Eletricistas Multitarefa: um estudo de caso

medo é necessário analisar se há, por exemplo, problemas de sono, consumo de

medicamentos psicotrópicos, entre outros.

O medo tem sua origem relacionada à degradação do funcionamento mental

e do equilíbrio psicoafetivo, além do medo referente à degradação do organismo,

vinculado diretamente às más condições de trabalho. Isso acaba afetando a relação

entre colegas e manifesta-se através de violência, discriminação, suspeição ou

ainda através da violência.

2.2 Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20)

O SRQ está recomendado pela OMS para estudos comunitários e em

atenção básica à saúde, principalmente nos países em desenvolvimento, como o

Brasil, pelo baixo custo de rastreamento.

O SRQ-20, versão com 20 sobre sintomas psicossomáticos, vem sendo

utilizado em vários países de culturas diferentes para rastreamento de transtornos

não psicóticos. É importante ressaltar que ele é um instrumento para rastreamento,

e não diagnóstico.

O SRQ já foi composto por 30 questões:

- 20 sobre sintomas psicossomáticos para rastreamento de transtornos não-

psicóticos;

- 4 para rastreamento de transtornos psicóticos;

- 1 para rastreamento de convulsões do tipo tônico-clônica; e

- 5 questões para rastreamento de transtorno por uso de álcool.

O rastreamento de psicose por instrumentos auto respondidos apresenta

baixa sensibilidade, logo as quatro questões caíram em desuso. O mesmo ocorreu

com as questões sobre convulsões.

Passados mais de vinte anos desde a validação do SRQ-20, os mesmos

parâmetros têm sido utilizados, apesar dos avanços no diagnóstico psiquiátrico.

Esse instrumento é estruturado em quatro partes:

- Sintomas Somáticos: Dor de cabeça, má digestão, insônia, falta de apetite,

entre outros;

Page 22: Sofrimento Psiquico de Eletricistas Multitarefa: um estudo de caso

- Decréscimo de Energia vital: Cansaço, dificuldade na realização de tarefas,

entre outros.

- Humor Depressivo-ansioso : Ansiedade, tristeza, entre outros.

- Pensamentos Depressivos: Vontade de acabar com a vida, sentimento de

inutilidade, perda de interesse.

O ponto de corte que identifica a prevalência de TMC é de seis respostas

afirmativas para homens (SILVA et al).

A aplicação do questionário foi feito em eletricistas multitarefa de um

concessionaria de energia, no dia 28 de setembro de 2011, na cidade de Novo

Hamburgo, com 40 colaboradores, em uma palestra que ocorre semanalmente, para

troca de informações e procedimentos de segurança das lideranças e dos

colaboradores.

O sigilo é mantido para todos os colaboradores que participaram do estudo.

Cada participante da pesquisa, juntamente com o SRQ-20, responderam a um

questionário sócio demográfico (anexo A), informando a sua idade, escolaridade, se

é ou não terceirizado, tempo de vínculo empregatício e carga horária semanal.

Segundo a psicóloga Daniela Müller (2011), caso a alternativa número 17:

“Tem tido ideia de acabar com a vida?” fosse respondida “Sim” seria necessário

entrar em contato com a empresa, juntar a equipe de colaboradores, expor a

situação e caso o colaborador quisesse, encaminha-lo para profissionais da área

competentes para tratamento.

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3 RESULTADOS

A prevalência de sofrimento psíquico é definida quando seis questões do Self-

Reporting Questionnaire (SRQ-20) são respondidas afirmativamente.

Os aspectos sócio demográficos devem ser levados em consideração,

principalmente o tempo de vínculo empregatício. Abaixo segue a configuração da

população:

Tabela 3: Nenhuma resposta afirmativa

Fonte: Questionário sócio demográfico.

Tabela 4: Uma resposta afirmativa

Fonte: Questionário sócio demográfico.

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Tabela 5: De duas a quatro respostas afirmativas

Fonte: Questionário sócio demográfico.

Tabela 6: De 6 a 14 respostas afirmativas

Fonte: Questionário sócio demográfico.

Dos 40 eletricistas multitarefa que participaram da pesquisa, 45% têm vinculo

empregatício no período de 6 meses a 1 ano. Neste grupo, 20% não responderam

nenhuma questão afirmativa.

Essa pesquisa mostrou que 17,5% dos trabalhadores que responderam aos

questionários apresentaram sofrimento psíquico, ou Transtornos Mentais Comuns. É

notável que aqueles que apresentaram sofrimento psíquico possuem uma carga

horária elevada, uma média de 60 horas semanais.

A partir da estrutura de sintomas do SRQ-20, observou-se que o fator mais

expressivo foi correspondente aos sintomas somáticos. A afirmativa mais assinalada

foi “Dorme mal”, com 27,5% de respostas positivas. Em seguida estão “Você tem

dores de cabeça frequentes”, com 22,5%, “Sente-se nervoso (a), tenso (a) ou

preocupado (a)” e “Tem se sentido triste ultimamente”, ambas com 17,5% de

respostas afirmativas.

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FIGURA 3: Sintomas somáticos – Geral.Fonte: Pesquisa em 40 eletricistas multitarefa

FIGURA 4: Decréscimo da energia vital – Geral.Fonte: Pesquisa em 40 eletricistas multitarefa

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FIGURA 5: Humor depressivo-ansioso – Geral.

Fonte: Pesquisa em 40 eletricistas multitarefa

FIGURA 6: Pensamentos depressivos – Geral. Fonte: Pesquisa em 40 eletricistas multitarefa

Entre aqueles que apresentaram sofrimento psíquico todos apresentam sintomas somáticos como dormir mal e ter sensações desagradáveis no estômago.

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FIGURA 7: Sintomas somáticos – de 6 a 14 respostas afirmativas.Fonte: Pesquisa em 40 eletricistas multitarefa

A grande maioria respondeu que sentem-se nervoso, tenso ou preocupado e

que se sentem tristes ultimamente.

FIGURA 8: Humor depressivo-ansioso – de 6 a 14 respostas afirmativas.Fonte: Pesquisa em 40 eletricistas multitarefa

Em relação ao decréscimo da energia vital, 80% dos participantes sentem-se

cansados o tempo todo, e 60% se cansa com facilidade.

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FIGURA 9: Decréscimo da energia vital – de 6 a 14 respostas afirmativas.Fonte: Pesquisa em 40 eletricistas multitarefa

Os pensamentos depressivos são menos frequentes, atingindo 40% dos

pesquisados, que responderam estarem perdendo o interesse pelas coisas e

sentem-se incapazes de desempenharem um papel útil em suas vidas.

FIGURA 10: Pensamentos depressivos– de 6 a 14 respostas afirmativas.Fonte: Pesquisa em 40 eletricistas multitarefa

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4 CONCLUSÃO

A prevalência global de transtornos mentais comuns entre os eletricistas

multitarefa estudados é muito próxima ao índice encontrado entre os trabalhadores

da enfermagem, estudados por SILVA et al (2008), que foi de 23,6%. É um índice

alto, mas que ainda pode ser maior se for levado em consideração alguns fatores. A

pesquisa foi realizada dentro da própria empresa, com a supervisão das chefias, o

que pode ter inibido alguns trabalhadores, mesmo sendo exposto o fato de que não

haveria identificação e que a empresa não teria acesso aos questionários. É

importante ressaltar a importância de uma metodologia adequada para a aplicação

desse tipo de questionário, para isso o trabalho deve ser realizado com um numero

maior de trabalhadores desse setor, abrangendo colaboradores próprios e

terceirizados. Estudos como esse devem ser realizados fora das empresas,

preferencialmente, ou pelo menos sem a supervisão ou intervenção das chefias.

Aqueles que apresentaram sofrimento psíquico trabalham 60 horas ou mais,

evidenciando um fator muitas vezes citado por aqueles que trabalham ou já

trabalharam nesse setor: a sobrecarga de trabalho. Segundo o MTE foi esse foi um

dos fatores responsáveis pelo acidente ocorrido em 2004. Desde lá, parece que

ainda não foi possível estabelecer uma boa relação entre o numero de trabalhadores

versus a demanda de trabalho. É importante que as empresas tomem conhecimento

dos perigos das jornadas incompatíveis com as necessidades psicofisiológicas.

Medidas como contratação de mais colaboradores, remanejamento de pessoal, são

alguns atenuantes, porém não resolvem o problema completamente.

Outro fator importante é em relação à idade, o tempo de vínculo empregatício

e a carga horária. A maioria, 45% dos trabalhadores estudados, estão na empresa

de 6 meses a ano, isso está diretamente relacionado aos resultados obtidos com a

aplicação do SRQ-20, pois 20% desses trabalhadores não responderam a nenhuma

questão afirmativa (conforme tabela 3).

As defesas coletivas e individuais citadas por DEJOURS (1992) também

devem ser levadas em conta. Eles podem não respondendo os questionários de

modo sincero, devido às defesas, mascarando o medo.

A organização onde foi realizada a pesquisa tem também alguns pontos

positivos. Esses trabalhadores têm que seguir os procedimentos prescritos pela

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empresa, porém estes não são muito detalhados, o trabalhador pode executar uma

determinada tarefa a sua maneira, pois não há uma rigidez de procedimentos,

abrindo espaço para a subjetividade e inteligência desse trabalhador. Segundo

Dejours esse espaço é responsável pela manutenção da saúde psíquica.

Para melhorar as condições psíquicas desses trabalhadores é preciso que as

empresas adotem e programem algumas medidas atenuantes, por exemplo,

esportes, como o futebol, que possibilita que o trabalhador extravase seu estresse

de maneira saudável.

Outra medida interessante é a educação continuada, onde a empresa

disponibiliza um período para que o trabalhador continue e conclua seus estudos

dentro da própria empresa. Isso possibilita que o trabalhador se sinta valorizado,

pois pode ser uma forma dele evoluir dentro da empresa, sentir-se útil e que pode

mudar sua própria realidade.

Realizar seus próprios projetos, como aprender a tocar um instrumento, por

exemplo, ou outra coisa de seu interesse é outra forma de diminuir o sofrimento

psíquico. Porém cabe às empresas realizarem pesquisas para saber quais

atividades são do interesse de seus colaboradores.

As empresas que incorporarem melhorias na saúde e na segurança nos seus

processos de gestão podem receber certificações, como a OHSAS 18001. Essa

certificação é dada quando a organização mantém alguns procedimentos, como

treinamentos, conscientização de riscos, comunicação aberta entre a chefia e os

colaboradores, investigação dos acidentes ou incidentes que ocorrem, medidas

preventivas e corretivas para que esses acidentes/incidentes não ocorram, entre

outros. Essa certificação traz grandes benefícios para a empresa e para os

empregados, agregando valor à imagem da empresa e melhorando algumas

condições de trabalho de seus colaboradores.

É importante que estudos busquem indicativos de estresse de fácil acesso.

Uma alternativa que deve ser analisada e aprofundada é sobre a utilização da voz,

mais especificamente a frequência fundamental da voz, como indicador. A

frequência fundamental, segundo Protopapas & Lieberman (1997), carrega

informações emocionais, independente do conteúdo verbal de uma expressão

verbal. A criação ou a utilização de um programa de computador que possibilitasse

identificar, de maneira fácil e rápida, o nível de estresse é interessante para essas e

outras categorias de trabalhadores, pois poderia ser feita antes deles irem a campo,

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de forma rotineira, a fim de monitorar, impedir que o trabalhador saia, casa esteja

estressado, para realizar suas tarefas, e talvez diminuir os índices de acidentes.

Para que estudos como esse possam ser realizados, possibilitando que

melhorias sejam sugeridas e aderidas pelas empresas, devem ser disponibilizados

dados, estatísticas, por exemplo, estudos já realizados, como análises ergonômicas

ou estudos sobre as doenças típicas que acometem a categoria a ser estudada, e

ainda colaboradora e investimentos. Muitas empresas têm certas restrições e até

mesmo medo de expor algum problema dentro de sua organização, porém sem a

exposição do problema não é possível realizar estudos mais aprofundados, feito por

psicólogos, médicos do trabalho, para tentar resolver esse problema, permitindo

diminuir a carga psíquica, melhorar a vida desses trabalhadores e de suas famílias,

diminuir acidentes e consequentemente melhorar a produtividade e a qualidade dos

serviços prestados por eles.

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REFERÊNCIAS

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ANEXOS

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ANEXO A

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Informações sócio-demograficas:

Número do questionário:______

Idade:

Escolaridade: Superior incompleto ( )

Técnico Profissionalizante ( )

Ensino Médio ( )

Ensino Fundamental ( )

Terceirizado: ( ) Sim ( ) Não

Tempo de Vínculo empregatício:

( ) 6 meses a 1 ano;

( ) 2 a 5 anos;

( ) 5 a 10 anos;

( ) mais que 10 anos.

Carga horária semanal:

( ) 20 horas

( ) 40 horas

( ) 60 horas

( ) mais que 60 horas