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Circular Técnica 11 INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE, AGRÁRIAS E HUMANAS (ISAH) - Araxá - MG, Maio de 2014 SORGO SACARINO, A SEGUNDA SAFRA DO ETANOL NO BRASIL A demanda mundial por combustíveis renováveis tem se expandido rapidamente nos últimos anos, devido à preocupação com a redução do volume de emissões de gases causadores do efeito estufa até 2020, como determina o compromisso assumido pelo governo brasileiro na COP 15. Além disso, incertezas a respeito da disponibilidade futura de recursos não renováveis e tensões geopolíticas em regiões produtoras de petróleo têm despertado grande interesse no mundo pelos biocombustíveis, pois estes são os mais viáveis substitutos para o petróleo, em escala significativa. (TOMAZ & ASSIS, 2013) Mesmo sabendo do importante uso da cana-de- açúcar, e de se planejar para que no País possam surgir outras fontes potenciais para robustecer e estimular o aumento de técnicas no intuito de gerar bioenergia. Pensando em produção de etanol, uma das opções é o sorgo sacarino, que pode ser plantado em período de entressafra da cana-de-açúcar e usado como cultura para renovações de canaviais. Sendo assim, seu ciclo de cultivo e colheita abrange o período da entressafra da cana-de-açúcar, principalmente na região centro-sul do Brasil, contribuindo para o aumento de oferta e de preços, comum no período de entressafra da cana-de-açúcar (MOREIRA, 2010). O sorgo é uma gramínea tropical nativa de países africanos, da região do Sudão, Etiópia. O sorgo sacarino é de porte alto, superior a três metros, caracterizado, principalmente, por apresentar colmo doce e suculento como o da cana-de-açúcar. A panícula (cacho) é aberta e produz poucos grãos (sementes). O sorgo, nos diferentes tipos (granífero, forrageiro e sacarino), apresenta-se como uma espécie bem adaptada a ambientes extremos de estresses abióticos, especialmente, de temperatura do ar e umidade do solo. Este comportamento de rusticidade às condições ambientais confere ao sorgo condições favoráveis à sua adaptação em relação a outras espécies comerciais. Apesar deste fato, o sorgo é responsivo às boas Rafael Tadeu de Assis¹ Cleidiane Gloria de Morais² ¹Engº Agrº Me. Professor do curso de Agronomia do Centro Universitário do Planalto de Araxá – UNIARAXÁ ²Graduanda do curso de Agronomia do UNIARAXÁ 1

Sorgo sacarino a segunda safra do etanol no Brasil

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INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE, AGRÁRIAS E HUMANAS (ISAH) - Araxá - MG, Maio de 2014

SORGO SACARINO, A SEGUNDA SAFRA DO ETANOL NO BRASIL

A demanda mundial por combustíveis renováveis tem se expandido rapidamente nos últimos anos, devido à preocupação com a redução do volume de emissões de gases causadores do efeito estufa até 2020, como determina o compromisso assumido pelo governo brasileiro na COP 15. Além disso, incertezas a respeito da disponibilidade futura de recursos não renováveis e tensões geopolíticas em regiões produtoras de petróleo têm despertado grande interesse no mundo pelos biocombustíveis, pois estes são os mais viáveis substitutos para o petróleo, em escala signifi cativa. (TOMAZ & ASSIS, 2013)

Mesmo sabendo do importante uso da cana-de-açúcar, e de se planejar para que no País possam surgir outras fontes potenciais para robustecer e estimular o aumento de técnicas no intuito de gerar bioenergia. Pensando em produção de etanol, uma das opções é o sorgo sacarino, que pode ser plantado em período de entressafra da cana-de-açúcar e usado como cultura para renovações de canaviais. Sendo assim, seu ciclo de cultivo e colheita abrange o período da entressafra da cana-de-açúcar, principalmente na região centro-sul do Brasil, contribuindo para o aumento de oferta e de preços, comum no período de entressafra da cana-de-açúcar (MOREIRA, 2010).

O sorgo é uma gramínea tropical nativa de países africanos, da região do Sudão, Etiópia. O sorgo sacarino é de porte alto, superior a três metros, caracterizado, principalmente, por apresentar colmo doce e suculento como o da cana-de-açúcar. A panícula (cacho) é aberta e produz poucos grãos (sementes). O sorgo, nos diferentes tipos (granífero, forrageiro e sacarino), apresenta-se como uma espécie bem adaptada a ambientes extremos de estresses abióticos, especialmente, de temperatura do ar e umidade do solo. Este comportamento de rusticidade às condições ambientais confere ao sorgo condições favoráveis à sua adaptação em relação a outras espécies comerciais. Apesar deste fato, o sorgo é responsivo às boas

Rafael Tadeu de Assis¹

Cleidiane Gloria de Morais²

¹Engº Agrº Me. Professor do

curso de Agronomia do Centro

Universitário do Planalto de

Araxá – UNIARAXÁ

²Graduanda do curso de

Agronomia do UNIARAXÁ

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práticas agrícolas e de manejo da cultura, e, portanto, passível de inovação tecnológica competitiva para a sua utilização e usos (COELHO, et al., 2002).

Quando se fala da cultura do sorgo, a primeira coisa que imaginamos é aquela planta que produz grãos e forragem para alimentar o gado. No entanto, nos últimos anos, com a voracidade do mundo por fontes de energia renováveis, outro tipo de sorgo despertou a curiosidade e interesse dos pesquisadores, o sorgo sacarino que serve para fazer etanol. Ao lado da cana-de-açúcar, que é tradicionalmente empregada na produção de etanol, o sorgo sacarino apresenta-se como uma ótima opção sob o ponto de vista agronômico e industrial (MAGALHÃES, et al., 2007). O sorgo sacarino pode oferecer, dentre outras, as seguintes vantagens: rapidez no ciclo (quatro meses); cultura totalmente mecanizável (plantio por sementes, colheita mecânica); colmos suculentos com açúcares diretamente fermentáveis (produção de 40 a 60 t ha-1 de colmos); utilização do bagaço como fonte de energia para a industrialização, para a co-geração de eletricidade ou como forragem para alimentação de animais, contribuindo para um balanço energético favorável (EMBRAPA, 2012).

O sorgo sacarino pode ainda colaborar na composição do manejo varietal da usina. Com a integração desta cultura, as variedades de cana-de-açúcar do início de safra podem ter sua colheita atrasada e, consequentemente, gerar um maior acúmulo de açúcar, ou seja, um aumento do POL da cana por hectare. Associado a esses fatores, o uso do sorgo sacarino também ajuda a diminuir a ociosidade da indústria, durante o período de entressafra da cana-de-açúcar, e consequentemente, isso contribui para a diluição do custo fixo da usina (TOMAZ & ASSIS, 2013).

Sendo assim, o sorgo sacarino é a espécie mais promissora para elevar a quantidade produzida de etanol anualmente no Brasil, de forma rápida e segura, uma vez que não há necessidade de mudanças estruturais e logísticas do parque industrial e operacional das usinas que o receberão. Os colmos de sorgo podem ser colhidos com a mesma colhedora da cana e a época de colheita ideal se dá justamente na entressafra de cana, ou seja, quando a produção de etanol por hectare é máxima no sorgo, a cana está muito abaixo do seu potencial máximo de produção (EMBRAPA, 2012).

Para que se consiga um manejo adequado no desenvolvimento da cultura, desejando elevada produtividade de biomassa e, naturalmente, alta produção de caldo por hectare plantado, a lavoura de sorgo sacarino demanda a mesma regra recomenda para todos os tipos de cultura.

Implantação e manejo da lavoura

Antes de iniciar um plantio, de qualquer cultura, sem dúvida alguma o primeiro passo é realizar a amostragem de solo (na profundidade de 0-20 e 21-40 cm) no intuito de avaliar adequadamente as condições químicas do 2

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solo e, assim, determinar as práticas corretivas, caso sejam necessárias, e a quantidade de fertilizante a ser aplicada.

O sucesso de uma lavoura de sorgo depende muito de um bom preparo de solo, devendo-se: fazer aração cedo, logo após a colheita da cultura anterior; antes do plantio de sorgo, eliminar os torrões, detritos e plantas infestantes; deixar a superfície do solo o mais nivelada possível, para que a emergência da plântula seja rápida e uniforme.

O sorgo sacarino não deve ser plantado com o solo seco e/ou frio. A temperatura do solo deve atingir pelo menos 18ºC, e deve ser plantado após uma boa chuva. Usa-se a mesma plantadeira usada para outros grãos, observando-se apenas a troca do disco de plantio (SCHAFFERT, 1980). Com relação à profundidade de semeadura, a máquina tem de estar bem regulada e deve-se ter um monitoramento rigoroso na hora do plantio, principalmente em solos argilosos. A semente deve ser depositada no solo com a profundidade 2 cm. Em um hectare é comum usar em média 8 kg de semente. Em áreas de sorgo sacarino não é comum dividir a adubação de cobertura, com isso buscando reduzir os gastos com operações agrícolas (EMBRAPA, 2012).

A quantidade de plantas por hectare deve girar em torno de 100 a 120 mil plantas, já o espaço entre linha pode variar dependendo da máquina que vai ser usada na colheita. Quando se usa um espaçamento menor, a produtividade de colmo por área tende a aumentar. Entretanto, existe um limite de espaçamento, pois lavouras muito adensadas e com crescimento vigoroso estão mais propícias a diversos problemas, um deles é o acamamento devido às chuvas fortes e com ventanias, comuns principalmente nos meses de janeiro a março (TOMAZ & ASSIS, 2013).

Viabilidade econômica da produção de etanol a partir do sorgo sacarino

A produção de etanol a partir do sorgo sacarino tem sido considerada viável devido à semelhança com a cana-de-açúcar, ao alto teor de açúcares, uma boa produção de biomassa, custos inferiores ao da cana-de-açúcar (Figura 1), além de o processamento poder ser feito nas usinas de cana-de-açúcar. Entretanto, há poucos estudos e informações sobre a viabilidade técnico-econômica da produção de etanol a partir do sorgo sacarino (TOMAZ & ASSIS, 2013). Alguns fatores possuem importantes efeitos sobre os custos de produção de etanol a partir do sorgo, como o preço das matérias-primas, o preço do etanol e os fatores de conversão. O potencial mínimo de geração de etanol de sorgo sacarino está estimado em 3.223 L/ha, com uma produtividade que gira em torno de 55 t/ha, o que representa cerca de 58,6 L/t.

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Fontes: Embrapa e Monsanto

O Sorgo Sacarino complementa a produção de cana-de-açúcar e é uma matéria-prima ideal para produção de etanol. O sorgo sacarino cresce rapidamente, utilizando menos água e fertilizantes e alcança picos de açúcar em diferentes épocas do ano.

Com o uso de sementes, o sorgo pode ser plantado em rotação com outros cultivos anuais e potencialmente semeado em áreas não cultivadas, assim como em terras onde a cana não se adapta bem. Essa flexibilidade é resultado, em parte, de o sorgo ser uma planta de características naturais fortes e de rápido crescimento.

As plantas atingem a maturidade geralmente entre 120 a 140 dias, com potencial para cortes adicionais após a primeira colheita. A cana de sorgo ainda pode ser colhida em épocas de alta umidade, desde que haja cuidado com sistema radicular. E, já que o açúcar acumula ao redor do centro da planta, pode ser cortado numa distância maior do solo, o que reduz a sujeira no material colhido (TEIXEIRA, et al., 1997).

As usinas têm agora a possibilidade de iniciar suas atividades industriais com o sorgo sacarino a partir da segunda quinzena de março, visto que a janela ideal de plantio de sorgo é de 15 de novembro a 15 de janeiro, período em que essa cultura encontra as melhores condições de desenvolvimento, proporcionando, assim, um aumento na amplitude da janela de colheita.

Fontes: Embrapa e Monsanto

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Considerações finais

Cultura de ciclo rápido, ou seja, de 120 dias, o sorgo sacarino produz biomassa e açúcares fermentáveis que, uma vez industrializados, transformam-se em etanol. A proposta da cultura do sorgo sacarino não é competir com a cana-de-açúcar para produção de etanol no Brasil, mas ser uma opção alternativa e viável, plantada como rotação de culturas nas áreas de reforma de cana-de-açúcar em outubro, para colheita em fim de fevereiro/março.

Seu ciclo de cultivo e colheita fica compreendido justamente ao período da entressafra da cana, especialmente, na região Centro-Sul, o que contribui para a diminuição da volatilidade de oferta e de preços, típica da entressafra da cana-de-açúcar.

O cultivo de sorgo é também uma excelente opção para manter as usinas em pleno funcionamento durante a entressafra de cana, impactando positivamente na minimização dos custos fixos do negócio, no fluxo de caixa, e melhorando ainda mais a relação custo/benefício da produção de etanol.

A colheita do sorgo em um período em que a cana está com baixo nível de açúcar é também outro benefício. Assim, pode-se esperar o melhor momento - um maior acúmulo de POL da cana - para a colheita, aumentando ainda mais a produtividade da usina para indústria de etanol.

O alto volume de bagaço gerado pelo cultivo do sorgo proporciona matéria-prima essencial na geração de energia - em período que a cana não está disponível - possibilitando a comercialização do excedente.

Referências

COELHO, A. M.; WAQUIL, J. M.; KARAM, D.; CASELA, C. R.; RIBAS, P. M. Seja doutor de seu sorgo. Potafos. Informacoes Agronomicas, n.100, p.24. 2002.

MAGALHÃES, P. C.; DURÃES, F. O. M.; RODRIGUES, J. A. S. Cultivo do Sorgo – Aspectos gerais dos efeitos ambientais sobre o crescimento do sorgo. Embrapa Milho e Sorgo. Sistemas de Produção 2. Sete Lagoas. 2007. Disponível em: http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Sorgo/CultivodoSorgo/ambientais.htm. Acessado em 10 de abril de 2014.

MOREIRA, L. R. Biocombustiveis: abastecer o debate sobre os rumos da política energetica. Revista Principios. Sao Paulo. Ed. 105, p. 50-54, Jan/Fev. 2010.

SCHAFFERT, R. E.; SANTOS, F. G.; BORGONOVI, R. A.; SILVA, J. B. Aprenda a plantar sorgo sacarino. Agroquímica, São Paulo, v. 13, p. 10-14, 1980.

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Sistema Embrapa de produção agroindustrial de sorgo sacarino para bioetanol: Sistema BRS1G – Tecnologia Qualidade Embrapa / Editores técnicos: May, A. et al. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, 2012. 120 p.TEIXEIRA, C. G; JARDINE, J. G; BEISMAN, D. A. Utilizacao do sorgo sacarino como materia-prima complementar a cana-de-acucar para obtencao de etanol em microdestilaria. Ciencia e Tecnologia de Alimentos. vol.17 n° 3. 1997.

TOMAZ, H, V. Q.; ASSIS, R. T. Sorgo sacarino – Rendimento extra na entressafra da cana-de-açúcarIn: Silva. J.C; Silva. A. A. S; Assis. R. T; Sustentabilidade e inovação no campo. editora Composer, Uberlândia-MG-2013. Cap. 6, P.73-84

Arejacy Antônio Sobral Silva 1

Paulo de Tarso Veloso Menezes

Brando 2

Nayara Aparecida da Silva2

Emanuely Torres Melo2

1Professor do Uniaraxá

[email protected]

2Graduando em Agronomia no

Uniaraxá.COMITÊ DE PUBLICAÇÕESCoordenador: Dr. José Carlos da SilvaMembros: Arejacy Antônio Sobral Silva, Rafael Tadeu de Assis, Jorge Mendes de Oliveira Junek, Carlos Eugênio Ávila Oliveira, Paulo Fávero de Fravet, Paulo José da Silva Leite e Diogo Aristóteles Rodrigues Gonçalves.Revisão de texto: Jacqueline de Souza Borges AssisNormalização bibliográfi ca: Maria Clara FonsecaE-mail: [email protected] Versão eletrônica, junho de 20141ª impressão (2014): 100 exemplares

CAPAL

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