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*23 dez.2011/jan.2012 Realização: este valor, descontados os impostos, é 100% doado para os projetos do

Sorria23

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este valor, descontados os impostos, *23 dez.2011/jan.2012 Realização: SORRIA E se a gente vivesse sem dinheiro? Por um mês, a Bia tentou não pôr a mão no bolso. E, assim, vivendo na pindaíba, ela descobriu o real valor do que consome texto Karina Sérgio Gomes ilustração Davi Augusto foto Daniela Toviansky nosso mundo, nossa vida ESTRELANDO APRESENTA: 26

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*23

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2012

Realização:

este valor, descontados os impostos, é 100% doado para os projetos do

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nosso mundo, nossa vida

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SORRIA APRESENTA:

ESTRELANDO

BIA TORRES

E se a gente vivesse sem dinheiro? Por um mês, a Bia tentou não pôr a mão no bolso. E, assim, vivendo na pindaíba, ela descobriu o real valor do que consometexto K a r i n a S é r g i o G o m e s

ilustração D a v i A u g u s t o

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SOU A BIA, tenho 27 anos e tra-balho com os novos projetos da

Editora MOL, onde a Sorria é feita. Gos-to de pensar sobre como consumimos e gastamos nosso dinheiro, e, por isso, no início do ano, topei o desafi o de passar um mês com apenas 100 objetos (e con-tei o que aconteceu na edição 18). En-tão, quando apareceu a oportunidade de viver com pouca ou nenhuma grana, logo me candidatei. E a experiência que vivi acabou me ensinando sobre muito mais do que o preço das coisas.

Para começo de conversa, viver sem dinheiro exige que a gente use outra me-dida de valor – como o escambo, a troca de serviços e objetos que é a forma bá-sica de economia da humanidade. En-tão, saí me oferecendo para trocar favo-res. Logo descobri que a coisa mais cara que temos é o tempo. Sugeri ao meu pai que ele colocasse gasolina no nosso car-ro e eu, em troca, o lavaria. Ele não to-pou. Disse que preferia que eu levasse o carro ao mecânico, porque isso econo-mizaria suas horas. Uma colega de tra-balho também achou melhor fazer isso. Por um almoço, fi quei vários minutos re-solvendo um problema na conta de celu-lar dela no SAC da operadora. Terminei com um carro abastecido e comida fres-

quinha sem pôr a mão no bolso – mas consumi algumas horas do meu dia.

Fui também a uma feira de trocas, em São Paulo, levando coisas que não me interessavam mais: um porta-pa-pel, um bauzinho, canecas e um vaso. Na base da negociação, dava para trocar roupas, objetos, móveis e até alimentos. Voltei para casa com um CD e um equi-pamento para fazer exercícios que esta-va a fi m de comprar há um tempão.

Foi aí que comecei a pensar sobre o valor que atribuo ao dinheiro: como algo que não vale nada para alguém pode valer tanto para outra pessoa? Pro-curei Waldir José de Quadros, professor de economia da Universidade de Cam-pinas (Unicamp), e foi ele quem me dis-se que, desde que surgiu, o dinheiro é uma forma de vaidade e diferenciação entre as pessoas. Na Antiguidade, os im-peradores romanos cunhavam seu rosto em moedas e pagavam com elas o traba-lho que consideravam nobre, como o de soldados ou artistas. O escambo parou de ser a forma de comércio só na Ida-de Moderna, quando as moedas chega-ram para facilitar as compras. Ou seja, o dinheiro como conhecemos hoje é usa-do há menos de 500 anos. E, mesmo as-sim, damos um valor imenso a ele.

Sem um tostão furadoCom isso em mente, parti para os próxi-mos desafi os – que foram os mais difí-ceis. Para não usar dinheiro, vi que teria que fazer as coisas por conta própria. Só que nunca tive o costume do “faça você mesmo”. Em casa, se o encanamen-to entupia, chamava o encanador; se a roupa rasgava, ia à costureira. Talvez por isso meu único pensamento ao querer fazer essas coisas foi: vou estragar tudo!

Apesar do medo de destruir o quar-to, comecei por pendurar quadros na parede. Para me revelar os segredos dos pregos e parafusos, convoquei meu na-morado, que é artista plástico e entende disso. Aprendi o básico: medi as pare-des, usei um nivelador, martelei alguns pregos e fui apresentada à furadeira. Em menos de uma hora, tudo pronto. Animada com minha nova habilidade, resolvi passar para os serviços de bele-za. Soube que há top models que cor-tam as próprias madeixas e achei que também seria capaz. Peguei a tesoura, aparei a franja e... fi cou ótimo! Duro foi cortar a parte de trás do cabelo. As me-chas se confundiram, e resolvi parar an-tes de acontecer o pior. Mas deixei a te-soura no banheiro e, todos os dias, acer-to uma mechinha. Estou fi cando craque.

mais amendoim, madame?

EM UM EVENTO BOCA-LIVREBia tentou dar uma de espertinha e almoçar de graça na inauguração de uma loja...

Eu queria tanto um

arroz com feijão...

FEIRA NA FAIXAEla descobriu que, na xepa, dá para levar tudo pela metade do preço.

eu me dei bem com R$ 7,00!

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Minha maior difi culdade foi presen-tear meu namorado sem gastar dinhei-ro. Queria fazer algum artesanato, algo de que gosto muito – mas quando é feito pelas mãos dos outros. Depois de muito pensar, resolvi reaproveitar uma galocha velha para transformá-la num vaso com um cacto. Plantar era algo que eu sabia fazer. Já o acabamento... Acabei apelan-do para meu namorado – pedi a ele que fi zesse os detalhes fi nais. De qualquer forma, foi divertido, e ele ganhou um bom vaso que não custou um centavo.

Estou lisa!O próximo passo foi me divertir de graça. E os museus da cidade de São Paulo fo-ram uma revelação. Por puro preconcei-to, não acreditava que existissem bons espaços culturais no meu país. Encantei-me com a Pinacoteca e adorei o acervo e a exposição em cartaz. Vi tudo sem fi -las nem muita gente ao meu redor. En-tusiasmada, quis conhecer um Centro Cultural da Juventude, em um bairro da periferia. Vi um fi lme ótimo, mas a pro-jeção foi feita só para mim e para mais uma pessoa que apareceu por lá.

Aí fi quei intrigada: por que espaços tão bons e gratuitos estão quase sem-pre vazios? Em uma conversa com Cláu-

dio Salvadori, professor de economia da Unicamp, entendi que a falta de público nesses locais é por causa da baixa valo-rização da cultura por aqui. É como se, mesmo de graça, a entrada fosse cara, já que a arte é considerada supérfl ua.

Outro lugar que descobri foram os Clubes da Cidade. São 41 unidades, com piscinas, quadras, ginásios, cam-pos e pistas de corrida. E uma delas é ao lado da minha casa. O problema foi que perdi dias tentando fazer a carteiri-nha do clube. Cada pessoa me dava uma informação, e, quando fi nalmente con-segui levar os documentos necessários, a máquina de impressão estava quebra-da. Algo parecido aconteceu quando fui procurar médicos no serviço público de saúde. Queria marcar uma consulta, e a atendente de um hospital público me disse que era só ir até lá. Fui, mas de-pois de andar por vários guichês, um se-nhor me indicou um posto de saúde – no hospital só atendem emergências. Perdi uma tarde com isso. Na manhã seguin-te, enfrentei a fi la de pacientes no posto, que se estendia pela calçada. Quando fui atendida, soube que só havia horário li-vre para dali a dois meses.

Nesses dois lugares, a grande ques-tão para mim, além da perda de tempo,

NO ESCURINHO DO CINEMAEm um centro cultural, uma mostra de f ilmes franceses... Para ver o f ilme, apenas Bia e mais um desconhecido.

ARTE É LEGAL Bia jamais tinha pisado em um museu brasileiro. E se impressionou com a qualidade das exposições.

APUROS NO CLUBE... Foto? Comprovante de residência? RG? O que precisa para fazer a carteirinha para usar os clubes da cidade?

Cada um me pede uma

coisa!!!

ado0oro A PINACOTECA!

Vamos mergulhar?

Será que desta vez eu trouxe tudo?

snif, que BONITO!

próximo!

...COM FINAL FELIZ Depois de ir e vir várias vezes e tirar muitas cópias dos documentos, Bia conseguiu entrar no clube.

je t’aime, pierre!

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foi a sensação de que eu estava rouban-do o lugar de alguém que precisa do ser-viço e não pode pagar. Gasto todo mês com um convênio médico e tenho qua-dra de esportes no prédio. Foi aí que lem-brei que, como os museus tinham me ensinado, os serviços públicos podem ser muito bons. Mas tem de ultrapas-sar a burocracia. E, talvez, essa difi cul-dade exista para tornar difícil o acesso. Por isso, só quem não tem alternativa re-corre a eles. E quem pode prefere pagar.

A preço de bananaEntão, chegou a hora de comer sem gastar. Resolvi ir atrás dos ingredien-tes na feira para fazer, pela primeira vez na vida, um jantar. Cheguei na hora da xepa, quando os preços são menores e dá para pechinchar. Vai que tem algo de graça? E foi por pouco. Adoro negociar e ganhei descontos de mais de 50%. Com 7 reais comprei tomate, manjericão, ce-bola, rúcula, limão e maçã. Fiz comida para duas pessoas durante dois dias e descobri que sou capaz de cozinhar.

Mas ainda quis insistir na ideia de comer sem pagar. Fiquei sabendo da inauguração de uma loja e fui lá para al-moçar o que eles oferecessem. Só que o cardápio era amendoim e balas. No fi m,

a comida baratinha da feira valeu mais a pena. Mesmo assim, achei boa essa ideia de aproveitar o que nos dão de gra-ça e resolvi passar em uma loja de cos-méticos, para me maquiar com os pro-dutos do mostruário. A vendedora não fi cou muito satisfeita quando eu disse que não ia levar nada, depois de já ter passado sombras, lápis de olho, rímel, blush e batom. Mas gostei muito dos produtos, e o make fi cou lindo!

Enquanto tentava não usar a mi-nha carteira, pensei muito sobre o que me leva a gastar em coisas desnecessá-rias. Nos últimos dias, uma colega anun-ciou que estava vendendo um celular, e eu, na hora, senti que precisava dele. Le-vei-o para casa, toda contente. Só que, no dia seguinte, percebi que o aparelho era metade do preço da bicicleta que eu quero comprar. Foi aí que caiu a fi cha e vi que costumo pôr a minha felicidade em produtos. E o que realmente importa e tem valor não é isso. Entendi que pre-ciso pensar melhor na utilidade das coi-sas, para ver se preciso mesmo delas – e esperar antes de sair gastando. Que o dinheiro é indispensável, não tinha dú-vidas. Mas descobri que minhas moedi-nhas podem ser mais bem aproveitadas se eu usá-las conscientemente.

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TROCA-TROCA Em uma feira, Bia descobriu que trocar é muito melhor que comprar.

ESPELHO, ESPELHO MEUBia deu o truque na loja de cosméticos: fez a maquiagem completa e não pagou nada. Em casa, seguiu a dica das modelos e cortou o cabelo sozinha.

poderooosa!

XÔ, TENTAÇÃO! Mesmo tentando não gastar, Bia foi seduzida por um celular, cheio de novas funções... e caro. Teve de ser forte.

crianças, não tentem isso

em casa!

venha para a luz!

compre! coompre!

SERÁáá?

suuuper- recomendo!

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a quem precisa

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Paulo e Bruna escreveram cartas ao Bom Velhinho para que ele realize alguns de seus desejos. Ao comprar a Sorria, é o sonho de crianças assim que você ajuda a tornar real

MEU NOME é Paulo Pereira da Silva, tenho 14 anos, moro em São Paulo e estou no nono ano na Escola Estadual Clei-se Maria Siqueira. Há algum tempo parei de acreditar em você. Mas, nesse ano, achei que valia tentar mais uma vez.

Sou um bom aluno, tiro notas altas e participo do pro-grama SuperAção Jovem. E gosto muito de ler romances, como Romeu e Julieta e Tristão e Isolda. Também sou um bom fi lho – ajudo minha mãe, varro e passo pano no chão.

Meu sonho, Papai Noel, é ganhar um clarinete. Eu uso emprestado o da igreja, onde toco às quartas, às sextas e aos domingos. Mas, como ensaio nos demais dias da se-mana no Projeto Guri, preciso de um novo. Neste ano, vou fazer um teste para entrar para a banda principal do Guri. Pensei em lhe pedir para ser aprovado, mas acredito que entrar para a banda é algo que devo conquistar sozinho.

Quando eu crescer, meu sonho é ser um músico da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp). Mas talvez eu também preste vestibular para direito ou jorna-lismo – adoro escrever e estou em dúvida. Gosto tanto de música que, às vezes, também penso se deveria transfor-má-la em profi ssão. Mas ainda há tempo para eu me de-cidir. Por enquanto, a música preenche as minhas tardes.

Um abraço, Paulo.

MEU NOME é Bruna de Souza, sou paulistana e tenho 13 anos. Escrevo esta carta escondida das minhas amigas, porque elas não acreditam em você. Mas eu acredito. Em 2009, pedi uma bicicleta e você mandou uma linda, rosa. Por isso, tenho certeza de que você existe.

Neste ano, fui eleita a aluna destaque da escola, e mi-nha mãe diz que sou uma fi lha de ouro (sei fazer até café!). E, como fui uma boa menina, vou fazer três pedidos. O primeiro é conhecer o cantor Justin Bieber. Em outu-bro, ele fez um show no Brasil, mas não fui porque o meu telefone, no GRAACC, estava errado, e não conseguiram me convidar. Venho ao hospital desde que tenho 2 anos, quando descobriram que eu tinha câncer no abdômen. Às vezes, me perguntam por que não peço para nunca mais voltar ao hospital. Não faço isso, Papai Noel, porque isso é trabalho dos médicos, o seu é dar presentes.

O segundo pedido é um videogame Xbox 360. É um que dá para brincar sem controle, sabe? Por último, gos-taria de ter um estúdio de balé, com espelhos e barras. Há dois anos, faço aula e o meu sonho é ser bailarina. Como eu sei que você é muito ocupado, desenhei os meus pedi-dos para facilitar a sua vida. Eles estão junto no envelope.

Um beijo, Bruna.cidir. Por enquanto, a múq

Um abraço, Paúsica preenche as mipo, a mú,

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ua vida. Eles estão junta.

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