SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS COM ATIVIDADES ALELOPÁTICAS

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    Planta Daninha, Viosa-MG, v. 23, n. 4, p. 565-573, 2005

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    1 Recebido para publicao em 3/5/2005 e na forma revisada em 25/11/2005.2 Embrapa Amaznia Oriental, Trav. Dr. Enas Pinheiro, S/N, 66095-100 Belm-PA. 3 Universidade Federal do Par UFPA,Rua Augusto Corra 01, 66075-900 Belm-PA.

    SUBSTNCIAS QUMICASCOM ATIVIDADES ALELOPTICAS PRESENTESNAS FOLHASDEParkia pendula(LEGUMINOSAE)1

    Chemical Compounds with Allelopathic Activities inParkia pendula (Leguminosae) Leaves

    SOUZA FILHO, A.P.S.2, FONSECA, M.L.3 e ARRUDA, M.S.P.3

    RESUMO - Os objetivos deste trabalho foram isolar, identificar e caracterizar a atividadealeloptica de substncias qumicas produzidas porParkia pendula. Os efeitos alelopticosforam avaliados sobre a germinao de sementes e o desenvolvimento da radcula dasplantas daninhas malcia (Mimosa pudica) e mata-pasto (Senna obtusifolia). O processo deisolamento das substncias envolveu a extrao com solvente em ordem crescente depolaridade, e a elucidao estrutural foi realizada via Ressonncia Magntica Nuclear,espectro de COSY e de HETCOR. Os bioensaios foram desenvolvidos em condies controladasde 25 oC de temperatura e fotoperodo de 12 (germinao) e 24 horas (desenvolvimento daradcula). Foram isolados e identificados nas folhas daP. pendulaos seguintes aleloqumicos:cido 3,4,5-trimetoxibenzico (S1), cido 3,4-dimetoxibenzico (S2) e o Blumenol A (S3).

    Comparativamente, S1 e S2 apresentaram maior atividade aleloptica. Os efeitos promovidossobre o desenvolvimento da radcula foram de maior magnitude do que aqueles verificadossobre a germinao das sementes. As substncias isoladas mostraram baixo potencialinibitrio da germinao das sementes, especialmente as sementes de mata-pasto. Osefeitos alelopticos inibitrios estiveram positivamente associados concentrao dassubstncias, embora em alguns casos esses efeitos no tenham correspondido s diferenasestatsticas.

    Palavras-chave: aleloqumico, inibio, germinao, radcula, sementes.

    ABSTRACT - The objective of this paper was to isolate, identify and characterize the allelopathic

    activity of chemical compounds produced byParkia pendula. The allelopathic effects were

    evaluated on seed germination and radicle elongation of the weedsMimosa pudicaandSennaobtusifolia. The isolation process of the compounds involved the use of solvent in an increasingpolarity order for extraction and the structural elucidation was carried out by Nuclear Magnetic

    Resonance, COPSYs and HETCORs spectrum. The bioassays were carried out under controlled

    conditions of 25 oC of temperature and 12-hour photoperiod for seed germination and 24-hour

    photoperiod for radicle elongation. The following allelochemicals were isolated and identified in

    P. pendulas leaves: 3,4,5-trimethoxybenzoic acid (S1), 3,4-dimethoxybenzoic acid (S2) andBlumenol A (S3). Comparatively, S1 and S2 showed greater allelopathic activity. The effects on

    radicle elongation were greater than those observed on seed germination. The isolated substances

    showed low inhibition potential on seed germination, especially onS. obtusifoliaseeds. Theallopathic inhibition effects were positively related to the concentration of the substances, although

    in some cases, these effects have not corresponded to the statistical differences.

    Key words: allelochemical, inhibition, germination, radicle, seeds.

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    INTRODUO

    A biodiversidade amaznica, pela suaabundncia e diversidade de espcies de plan-tas e microrganismos, pode representar fontempar para a prospeco de novas e impor-

    tantes fontes qumicas para fazer frente aodesafio de se estabelecer novo paradigma decontrole efetivo das plantas daninhas, que seenquadre nas exigncias da sociedade emrelao preservao da qualidade dos recur-sos naturais, que no contamine os alimentosda dieta dos animais, em geral, e do homem,em particular, e que seja, ao mesmo tempo,eficiente no controle dessas pragas, proporcio-nando o desenvolvimento de uma agriculturaprodutiva e enquadrada nos protocolos depreservao ambiental.

    Compostos com propriedades alelopticasaltamente diversificados quimicamente sofreqentemente encontrados nas plantassuperiores; a composio e a quantidade dessescompostos podem variar com a espcieestudada (Putnam, 1985). Especificamentepara as espcies arbreas, vrios esforosforam envidados, nos ltimos anos, visandoidentificar propriedades alelopticas emespcies com potencial para compor sistemasagroflorestais e silvipastoris tanto no Brasil(Borges et al., 1993; Jacobi & Ferreira, 1991)como em outros pases (Chou, 1992; Gonzles

    et al., 1995; Zhang, 1993).O gnero Parkia pantropical, com sua

    maior diversidade na Amaznia, englobando17 espcies neotropicais. A espcie Parkiapendula, conhecida vulgarmente por visqueiro, encontrada na Regio Amaznica, porm suadistribuio vai do Esprito Santo AmricaCentral (Ribeiro et al., 1999). uma espciearbrea, de dossel, com copa plana e vistosa,com cascas sempre vermelhas. O fato depertencerem famlia Leguminosae despertainteresse agronmico, em face da caracters-

    tica de fixao simbitica de nitrognio, deinteresse para compor sistemas silvipastoris.

    Embora quimicamente pouco se saibasobre a espcie Parkia pendula, alguns estudos

    j foram desenvolvidos com outras espciesdo gnero, como o caso de P. clappertoniana(Lemmich et al., 1996), P. biglobosa (Tringaliet al., 2000) e P. speciosa(Jamaluddin et al.,1995), das quais foram isoladas e identificadas

    substncias pertencentes s classes dosflavonides, triterpenos, esterides e steresderivados do cido chiqumico. Considerandoque essas classes de compostos qumicos tmsido associadas atividade aleloptica, hgrande possibilidade de que substncias

    qumicas com atividades alelopticas estejampresentes em folhas de P. pendula.

    Os objetivos deste trabalho foram isolar,identificar e caracterizar a atividade alelopticade substncias qumicas produzidas porParkiapendula.

    MATERIAL E MTODOS

    Coleta e identificao do materialbotnico

    A coleta foi realizada na Serra dasAndorinhas, no municpio de So Geraldo do Araguaia, Estado do Par. Foram coletadasamostras para compor a exsicata e 2,5 kgde folhas para realizao das extraes. Omaterial coletado foi seco inicialmente emcondies ambientais e mais tarde em estufacom circulao forada de ar, por 72 horas, a40 oC. Em seguida, procedeu-se trituraoem moinho tipo Willey e ao acondicionamentoem sacos de plstico.

    Procedimentos de isolamento e

    identificao das substncias comatividades alelopticas

    No fluxograma (Figura 1) so apresentadasas diferentes fases dos procedimentos empre-gados no processo de isolamento das substn-cias qumicas com atividades alelopticas.Inicialmente processou-se a extrao porpercolao, a frio, utilizando-se lcool etlico,na proporo de quatro litros do solvente a cada12 horas de extrao, seguido da concentraoem rotavapor Bchi, modelo EL-131. Comoresultado do processo, foram obtidos 10,0 g de

    extrato bruto, que foi submetido ao fraciona-mento em CCVU filtrante, utilizando-se comofase estacionria slica-gel 70-230 Mesh,desativada com MeOH/H2O, na proporo de1:1 e, como fase mvel, solventes puros emisturas binrias de solventes, com polari-dades crescentes, resultando num total de setefraes, como se segue: hexano 100% (P1);hexano: CH2Cl2 50% (P2); CH2Cl2-100% (P3);

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    Material seco e triturado

    Extrao com etanol

    Extrato etanlico = 10,0g Resduo

    CCVU filtrante

    P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7

    Reunidas/CCDC

    CCVU (Hex/AcOEt)

    P4(13) P4(14)

    S2 =8,0 mg

    P4(14)-2

    S1 = 21,0 mg P4(14)-4S3 = 5,0 mg

    CCVU

    RMN 1H e 13C

    RMN 1H e 13C

    60 fraes

    15 fraes

    P4(13)-1 34 fraes

    4 fraes

    Figura 1 - Fluxograma dos procedimentos para isolamento e identificao de substncias qumicas com atividades alelopticas,em folhas de P. pendula.

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    CH2Cl2:AcOEt 50% (P4); AcOEt 100% (P5);AcEOt:MeOH 50% (P6); e MeOH 100% (P7).

    O resultado do bioensaio de avaliaodessas fraes (Figura 2) indicou que assubstncias com atividades alelopticas

    estavam nas fraes P4, P5 e P6. A frao P4 foirefracionada em CCVU, utilizando-se comoeluentes misturas de hexano e acetato deetila, em gradiente crescente de polaridade,obtendo-se 60 fraes, que foram monitoradas,

    via CCDC, e reunidas em 15 fraes. Refra-cionamentos subseqentes foram realizadosat a obteno das substncias qumicas puras(Figura 1).

    Mtodos espectromtricos de RessonnciaMagntica Nuclear de RMN 1H, RMN 13C,NOEDIFF e DEPT, em conjunto com as tcnicasbidimensionais COSY1H x1H, HETCOR, HMBCe HSQC, foram utilizados na determinaoestrutural, juntamente com a comparao comos dados disponveis na literatura.

    Avaliao da atividade aleloptica

    1. Bioensaios de germinao: Foramdesenvolvidos em condies controladas de25 oC de temperatura constante e fotoperodode 12 horas. A germinao foi monitorada emperodos de dez dias, com contagens dirias eeliminao das sementes germinadas. Foramconsideradas sementes germinadas aquelasque apresentavam extenso radicular igual ousuperior a 2,0 mm (Juntila, 1976; Duram &

    Tortosa, 1985). Em cada placa de Petri de9,0 cm de dimetro, forrada com uma folha depapel-filtro qualitativo, foram adicionadas20 sementes.

    2. Bioensaios de desenvolvimento daradcula: Foram realizados em condiescontroladas de 25 oC de temperatura constantee fotoperodo de 24 horas. Em placas de Petride 9,0 cm de dimetro, forradas com papel-filtro qualitativo, foram adicionadas trs

    sementes pr-germinadas, com aproximada-mente trs dias de germinao. Ao final doperodo de dez dias de crescimento, media-seo comprimento da radcula.

    Procedimentos experimentais adicionais

    A concentrao usada na avaliao dosextratos brutos foi de 0,5% (p/v). Na avaliao

    da atividade das substncias qumicasisoladas foram empregadas as concentraesde 5, 10, 15 e 20 mg L-1, tendo como eluenteo metanol. Em todos os bioensaios, adicio-nou-se o volume de 3,0 mL da frao ou dasubstncia avaliada, por placa de Petri. O

    material foi adicionado apenas uma vez,quando do incio do experimento, sendo, apartir de ento, adicionada apenas guadestilada, sempre que se fazia necessrio.

    Aps a adio dos extratos brutos e dassubstncias, deixava-se evaporar o solvente eadicionava-se o mesmo volume de guadestilada, mantendo-se, dessa forma, asconcentraes originais.

    As plantas daninhas utilizadas comoreceptoras foram Mimosa pudica (malcia) eSenna obtusifolia (mata-pasto). As sementes

    dessas plantas foram coletadas em reas defazendas particulares, localizadas no muni-cpio de Castanhal-PA. Elas passaram porprocesso de limpeza e foram tratadas com cidosulfrico concentrado, com vistas superaoda dormncia (Souza Filho et al., 1998).

    Anlise estatstica

    O delineamento experimental para todosos bioensaios foi o inteiramente casualizado,em modelo hierrquico, com dois fatores e trsrepeties (ver modelo a seguir). Procedeu-se

    anlise de varincia dos dados obtidos peloteste F, e as mdias foram comparadas peloteste de Tukey (5%). Os dados foram analisadospelo programa estatstico SAS (Sas, 1989).

    Yijk = m + Ai + Bj(i) + Eijk(i = 1 a 3; j = 1 a 4; k = 1 a 3)

    em que Yijk= varivel de resposta germinaoe desenvolvimento da radcula; m = mdiageral; Ai = efeito do fator A planta daninha;Bj(i)= efeito do fator B concentrao; e Eijk =erro experimental.

    RESULTADOS E DISCUSSO

    Substncias qumicas isoladas eidentificadas

    A avaliao inicial realizada nas fraesobtidas a partir do extrato etanlico mostrouque as substncias qumicas com atividadealeloptica se encontravam nas fraes P4, P5

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    e P6, indicando que as substncias envolvidasna atividade aleloptica apresentavampolaridade entre o diclorometano e o metanol(Figura 2). Em virtude de a frao P4 tersido obtida com uma mistura de 50:50 dediclorometano e acetato de etila, sendo por isso

    mesmo mais fcil de fracionar, em relao soutras fraes mais polares, e considerando-se ainda a intensidade da inibio efetivadasobre a germinao das sementes das plantasdaninhas malcia e mata-pasto, optou-se poressa frao para dar continuidade ao processode isolamento das substncias com atividadesalelopticas. Em razo da baixa quantidade dematerial obtida na frao P1, no foi possveltestar essa frao.

    Pelo esquema apresentado no fluxograma,observa-se que a partir da frao P4(13), via

    CCVU, utilizando-se misturas de hexano eacetato de etila, em polaridade crescente, foiisolada a substncia S2. Da frao P4(14), viaCCVU, empregando-se como eluentes mis-tura de hexano e acetato de etila, em ordemde polaridade crescente, foram obtidas assubstncias S1 e S3.

    O espetro de RMN de 1H da substncia S1(Tabela 1) indicou a existncia de trs sinaissingletos, sendo um integrado a dois hidro-gnios em 7,36, atribudo a dois hidrogniosquimicamente semelhantes, ligados ao anel

    aromtico, e um conjunto formado por doissingletos, integrando para nove hidrogniosem 3,92 e 3,93, referentes a trs gruposmetoxila ligados ao anel aromtico, sendo doisdeles quimicamente equivalentes. Os dadosdo espectro de RMN de 13C (Tabela 1) dessasubstncia indicaram, alm do sinal da carbo-nila de cido e da metoxilaorto-di-substituda,sinais em 56,3, referente s duas metoxilasequivalentes das posies 3/5; 107,5,referente aos dois carbonos CH quimicamentesemelhantes das posies 2/6; e trs sinaisem 124, 140 e 153, assinalados, respecti-

    vamente, a um carbono aromtico totalmentesubstitudo da posio 1, um carbono aromticooxidado da posio 4 e dois carbonos arom-ticos oxidados e equivalentes das posies3/5. O conjunto dessas informaes espectraispermite indicar a substncia S1 como o cido3,4,5-trimetoxibenzico ver estrutura naFigura 3. Em recentes pesquisas, essa subs-tncia apresentou atividade antimicrobiana,

    inibindo o crescimento de Staphylococus aureus(Besigmano et al., 2000).

    Figura 3 - Estruturas qumicas das substncias isoladas dasfolhas de P. pendula.

    COOH

    OMe

    MeO OMe

    S1

    COOH

    OMe

    OMe

    S2

    COOH

    OMe

    OMe

    S2

    cido 3,4,5-trimetoxibenzico

    cido 3,4-dimetoxibenzico

    Blumenol A

    010203040506070

    8090

    100

    P-2 P-3 P-4 P-5 P-6 P-7

    Fraes isoladas

    Malcia Mata-pasto

    Figura 2 - Efeitos potencialmente alelopticos de fraes obtidasdo extrato etanlico sobre a germinao de sementes deplantas daninhas. Dados expressos em percentual de inibioem relao ao tratamento testemunha (gua destilada).

    Tabela 1 - Dados de RMN de 1H (ppm, CD3OD, 300 MHz) ede 13C (ppm, CD3OD, 75 MHz) para a substncia S1

    Posio 1H 13C

    1 - 124,0

    2/6 7,36 (s) 107,5

    3/5 - 153,0

    4 - 143,0

    COOH - 170,2

    OMe-3/5 3,92 (s) 56,3

    OMe-4 3,93 (s) 60,9

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    O espectro de RMN de 1H da substncia S2(Tabela 2) apresentou trs sinais na regio dehidrognio aromticos e dois sinais referentesa grupos metoxila, ligados a carbono aromtico.Os sinais observados foram: um dupletointegrado para um hidrognio, centrado em

    7,75 (J= 8,7 e 1,8 Hz), referente ao hidrognioH-6; um dupleto integrado para um hidrognioem 7,58 (J=1,8 Hz), assinalado ao hidrog-nio H-2; e um dupleto integrado para umhidrognio em 6,91 (J= 8,7 Hz), atribudo aoH-5. Esses sinais se correlacionam de formaorto-meta, ortoe meta, respectivamente, o que confirmado pelo experimento de correlaohomonuclear COSY1H x1H.

    vertrico, cuja estrutura apresentada naFigura 3.

    A anlise dos dados espectrais de RMN de1H da substncia S3 (Tabela 3) revelou sinaisna regio de hidrognio olefnicos, carbinlicos

    e alifticos. Alguns desses sinais foram: umduplo dupleto em 5,87 (J= 15,6 e 6,0 Hz) eum dupleto em d 5,77 (J= 15,6 Hz), indicandouma ligao HC=CH- com os hidrognios emrelao trans, observada pelos valores daconstante de acoplamento (J= 15,6 Hz); umquinteto em 4,41 (J= 6,0 Hz)); e um sinaldupleto referente a uma metila ligada em 1,30 (J= 6,0 Hz).

    Tabela 2 - Dados de RMN de 1H (ppm, CD3OD, 300 MHz) ede 13C (ppm, CD3OD, 75 MHz) para a substncia S2

    Posio 1H 13C

    1 - 120,6

    2 7,58 d (J=1,8 Hz) 111,4

    3 - 147,7

    4 - 152,7

    5 6,91 d (J=8,7 Hz) 109,3

    6 7,75 dd(J= 8,7 e 1,8 Hz) 123,5

    COOH - 189,7

    OMe-3 3,93 (s) 55,0c

    OMe-4 3,94 (s) 55,1c

    C sinais interconvertidos.

    Observou-se, ainda, um conjunto formadopor dois singletos integrados para seis hidro-gnios, atribudos a dois grupos metoxilaligados ao anel aromtico, em 3,95 e 3,94. Oassinalamento desses dois grupos foi deter-minado a partir do experimento de NOEDIFF,o qual mostrou efeito NOE entre o sinal irra-diado em 6,91 da posio 5, o sinal duplodupleto em 7,75 da posio 6 e o sinal singletoem 3,95, o qual foi atribudo ao grupo metoxilada posio 4; conseqentemente, o sinal em 3,94 foi assinalado para o grupo metoxila da

    posio 3.O espectro de RMN de 13C da substncia

    S2 (Tabela 2) indicou nove sinais referentesaos nove carbonos da estrutura da substncia.O conjunto desses dados, associado s infor-maes disponveis na literatura (Machida &Kikuchi, 1996), permitiu identificar a subs-tncia S2 como o cido 3,4-dimetoxibenzico,conhecido vulgarmente pelo nome de cido

    A anlise do espectro de correlao homo-nuclear COSY 1H x 1H indicou correlaesentre todos os sinais mencionados, mostrandoque os hidrognios esto acoplados entre si,caracterizando um grupo do tipo CH=CH-CHOH-CH3 ligado a um carbono totalmentesubstitudo, sugerindo uma cadeia lateral.Foram observados, ainda, um dupleto centra-

    do em 5,90 (J= 1,2 Hz), atribudo a um hidro-gnio olefnico, que, segundo o espectro deCOSY 1H x 1H, est acoplado ao sinal da metila,sobre dupla em 1,89 (J= 1,2 Hz); dois dupletoscentrados em 2,24 e 2,45 (J = 17,0 Hz),atribudo a dois hidrognios metilnicos emacoplamento geminal; e dois singletos em 0,99 e 1,07, atribudos a dois grupos metlicosligados a carbonos sp3, totalmente substitudo.

    Tabela 3 - Dados de RMN de 1H (ppm, CD3OD, 300 MHz) ede 13C (ppm, CD3OD, 75 MHz) para a substncia S3

    Posio 1H 13C

    1 - 41,1

    22,24 d (J= 17,0 Hz)2,45 d (J= 17,0 Hz)

    49,7

    3 - 198,1

    4 5,90 d (J= 1,2 Hz) 126,8

    5 - 162,9

    6 - 79,0

    7 5,77 d (J= 15,6 Hz) 135,7

    8 5,87 dd (J= 15,6 e 6,0 Hz) 128,9

    9 4,41 qt (J= 6,0 Hz) 67,9

    10 1,29 d (J= 6,0 Hz) 23,7

    11 0,99 (s) 22,9

    12 1,07 (s) 24,013 1,89 d (J= 1,2 Hz) 18,9

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    Analisando o espectro de RMN 13C(Tabela 3), observaram-se 13 sinais, sendo opadro de hidrogenao determinado viaHSQC. Os sinais de 13C que caracterizaram asubstncia so: um sinal em 201,4, relacio-nado ao carbono de carbonila em um anel

    cicloexano; um sinal em 167,6, atribudo aum carbono olefnico totalmente substitudo;trs sinais em 136,6, 130,1 e 127,1, relativosaos trs carbonos CH olefnicos; um sinal em 80,0, atribudo a um carbono oxidado,totalmente substitudo; um sinal em 68,7,assinalado para um carbono oximetnico; umsinal de carbono metilnico vizinho carbo-nila em 50,7; um sinal de carbono totalmentesubstitudo em 42,4; e quatro sinais referen-tes a quatro metilas em 24,5; 23,8; 23,5; e19,6.

    O conjunto dessas informaes, associadoaos dados da literatura (Gonzles et al., 1994),permitiu concluir que a substncia S3 trata-se do derivado carotenide Blumenol A, cujaestrutura da substncia apresentada naFigura 3.

    Anlise da atividade aleloptica das trssubstncias isoladas e identificadas

    A intensidade dos efeitos sobre a germi-nao das sementes das plantas daninhasmalcia e mata-pasto variou em funo dasubstncia, da concentrao desta e daespcie de planta daninha utilizada comoindicadora (Tabela 4). Considerando-se osefeitos promovidos nas concentraes extre-mas, 5,0 e 20,0 mg L-1, a tendncia observadafoi de aumentos na inibio da germinaodas sementes das duas espcies de plantasdaninhas com o incremento da concentraoda substncia, embora, em alguns casos, essesaumentos no tenham sido estatisticamentediferentes (p>0,05). Em concentraes de 5,0e 10,0 mg L-1 as inibies observadas ou foram

    extremamente baixas ou no existiram.Comparativamente, malcia e mata-pasto

    apresentaram graus diferentes de respostass trs substncias. Para mata-pasto, noforam observados efeitos inibitrios da subs-tnciaS1 nas concentraes testadas, e paraas demais substncias as inibies ou noexistiram ou foram baixas, com a mximainibio no ultrapassando os 10,0%. Para

    malcia, os efeitos promovidos pela substnciaS3 foram, tambm, extremamente baixos, noultrapassando os 7,0%. Para as substnciasS1 e S2 os efeitos foram mais expressivos,atingindo 33,0% para os efeitos efetivados pelasubstnciaS1 e 17,0% para a substnciaS2.

    Contudo, esses efeitos podem ser consideradosbaixos quando se consideram os efeitos pro-movidos por outras substncias, sobre essasmesmas plantas daninhas, em concentraesinferiores, como o caso do cidop-cumrico(Souza Filho et al., 2005).

    A exemplo dos resultados obtidos acercada germinao das sementes, os efeitos sobreo desenvolvimento da radcula das duas plantasdaninhas tambm variaram em funo dasubstncia, da concentrao e da planta dani-nha (Tabela 5). A intensidade das inibies foi

    positivamente relacionada com a concentra-o, sendo os efeitos mais intensos observadosna concentrao de 20,0 mg L-1, independen-temente da espcie de planta daninha e dasubstncia analisada, embora esses aumentosno tenham correspondido, em alguns casos,a diferenas estatsticas. Ao contrrio doobservado no bioensaio de germinao desementes, o desenvolvimento da radculado mata-pasto tendeu a ser mais intensamen-te inibido pelas substncias do que o damalcia.

    Tabela 4 - Efeitos de trs substncias qumicas sobre a germi-nao de sementes de plantas daninhas. Dados expressosem percentual de inibio, em relao ao tratamento teste-munha (gua destilada)

    Concentrao Planta DaninhaSubstnciaIsolada (mg L-1) Malcia Mata-pasto

    5,0 0,0Da 0,0Aa

    10,0 13,0Ca 0,0Ab

    15,0 25,0Ba 0,0AbS1

    20,0 33,0Aa 0,0Ab

    5,0 0,0Ca 0,0Ba

    10,0 0,0Ca 0,0Ba15,0 12,0Ba 0,0Bb

    S2

    20,0 17,0Aa 10,0Ab

    5,0 0,0Ba 0,0Ba

    10,0 5,0Aa 0,0Bb

    15,0 5,0Ab 8,0AaS3

    20,0 7,0Aa 9,0Aa

    Mdias seguidas de letras iguais, maisculas na coluna e minsculas nalinha, para cada substncia, no diferem pelo teste de Tukey (p>0,05).

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    SOUZA FILHO, A.P.S. et al.

    Planta Daninha, Viosa-MG, v. 23, n. 4, p. 565-573, 2005

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    Conquanto o modelo proposto no per-mitisse a comparao dos efeitos entre assubstncias, os dados mostram que a substn-ciaS1 foi a que promoveu as inibies maisintensas sobre a germinao das sementes(Tabela 4), sendo a substnciaS3 a de menoratividade aleloptica inibitria. Os efeitossobre o desenvolvimento da radcula (Tabela5) foram equivalentes para as substncias S1e S2 , que foram superiores s inibiespromovidas pela substnciaS3. Considerandoa magnitude das inibies promovidas sobrea germinao das sementes (Tabela 4) e odesenvolvimento da radcula (Tabela 5),

    verifica-se que as inibies mais intensasforam de 17,0%, sobre a germinao dassementes, e da ordem de 41,0%, sobre o desen-

    volvimento da radcula, indicando que esteltimo um parmetro mais sensvel aos efei-tos alelopticos das trs substncias qumicasisoladas das folhas da espcie P. pendula.

    P. pendula uma leguminosa arbrea e,portanto, com potencial para fixao de nitro-gnio. Essa uma caracterstica desejvel naescolha das espcies arbreas para comporsistemas silvipastoris. O fato de essa espcieproduzir substncias com atividade alelopticase constitui em adicional vantagem paraesses sistemas de explorao. Outras espciessimilares tm sido estudadas, identificando-se

    suas propriedades alelopticas, como o casode Vouacapoua americana, conhecida regio-nalmente pelo nome de acapu (Souza Filho &

    Alves, 2000), e Tachigali mymercophila,conhecida regionalmente por tachi-preto(Lbo, 2004).

    A utilizao de espcies arbreas comessas propriedades assume aspectos ecolgicoe ambiental importantes, em face da possibi-lidade de os aleloqumicos produzidos seremliberados para o ambiente pelas diferentesformas reconhecidas pela cincia, como lixi-

    viao, exsudao radicular, volatilizao edecomposio (Rice, 1987; Rodrigues et al.,1993), afetando, como conseqncia, o padroe a densidade da vegetao circunvizinha(Smith, 1989; Smith & Martin, 1994), quer pelareduo da germinao das sementes, quer

    pela reduo do potencial de competio dasplantas daninhas, via reduo do desenvolvi-mento das plantas. A principal conseqnciadesses aspectos a formao de estandes purosde gramneas forrageiras, com conseqenteaumento da produtividade e da longevidadeda pastagem cultivada e reduo no uso deagroqumicos.

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    Tabela 5 - Efeitos de trs substncias qumicas sobre odesenvolvimento da radcula de plantas daninhas. Dadosexpressos em percentual de inibio, em relao aotratamento testemunha (gua destilada)

    Concentrao Planta DaninhaSubstnciaIsolada

    (mg L-1

    ) Malcia Mata-pasto5,0 8,0Da 4,0Db

    10,0 26,0Ca 12,0Cb

    15,0 32,0Ba 27,0BbS1

    20,0 40,0Aa 41,0Aa

    5,0 3,0Db 16,0Da

    10,0 12,0Cb 30,0Ca

    15,0 20,0Bb 48,0BaS2

    20,0 23,0Ab 55,0Aa

    5,0 3,0Ca 2,0Da

    10,0 5,0Ba 5,0Ca

    15,0 7,0Ba 7,0BaS3

    20,0 12,0Aa 13,0Aa

    Mdias seguidas de letras iguais, maisculas na coluna e minsculas nalinha, para cada substncia, no diferem pelo teste de Tukey (p>0,05).

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    Planta Daninha, Viosa-MG, v. 23, n. 4, p. 565-573, 2005

    573Substncias qumicas com atividades alelopticas ...

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