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BIBLIOTECA PARA O CURSO DE EDUCAO INCLUSIVA, ESPECIAL E POLTICAS DE INCLUSO
Selecionamos para voc uma srie de artigos, livros e endereos na Internet
onde podero ser realizadas consultas e encontradas as referncias necessrias
para a realizao de seus trabalhos cientficos, bem como, uma lista de sugestes
de temas para futuras pesquisas na rea.
Primeiramente, relacionamos sites de primeira ordem, como:
www.scielo.br
www.anped.org.br
www.dominiopublico.gov.br
SUGESTES DE TEMAS
1. PRTICAS EDUCATIVAS: a ESCOLA ESPECIAL E A CONSTITUIO DO SUJEITO SIMBLICO
2. A DIREO DO OLHAR E A VISO DAS POSSIBILIDADES
3. PRTICAS EDUCATIVAS: perspectivas que se abrem para a educao especial
4. INTERAO ENTRE PROFESSORA E ALUNOS EM SALAS DE AULA COM PROPOSTA PEDAGGICA DE EDUCAO INCLUSIVA
5. A INTERAO SOCIAL E O DESENVOLVIMENTO DE RELAES INTERPESSOAIS DO DEFICIENTE EM AMBIENTE INTEGRADO
6. PARADIGMAS DA RELAO DA SOCIEDADE COM AS PESSOAS COM DEFICINCIA
7. ESTUDO DESCRITIVO DA INTERAO PROFESSORA - ALUNO EM UMA CLASSE DE ALFABETIZAO EM DIFERENTES MOMENTOS DO ANO LETIVO.
8. O PAPEL DA ESCOLA NA INCLUSO SOCIAL DO DEFICIENTE MENTAL
9. A INTEGRAO DE PESSOAS COM DEFICINCIA: contribuies para uma reflexo sobre o tema
10. A INTERAO PROFESSOR-ALUNO EM CLASSE INCLUSIVA: um estudo exploratrio com criana autista
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11. ESTUDO DESCRITIVO DA INTERAO PROFESSOR-ALUNO: uma abordagem individualizada
12. A INDIVIDUALIDADE PARA SI: contribuio a uma teoria histrico-social da formao do indivduo
13. ANLISE FUNCIONAL DA INTERAO PROFESSOR-ALUNO: um exerccio de identificao de controle recprocos
14. O DESENVOLVIMENTO DO PSIQUISMO
15. APRENDIZAGEM E INTERAO PROFESSOR-ALUNO
16. PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM: aplicaes na escola
17. AUTISMO E INTEGRAO
18. A INTEGRAO DE PESSOAS COM DEFICINCIA: contribuies para uma reflexo sobre o tema
19. APRENDIZAGEM ESCOLAR E CONSTRUO DE CONHECIMENTO
20. INTERAO ENTRE PROFESSORA E ALUNOS EM SALA INCLUSIVA
21. EDUCAO INCLUSIVA: concepes de professores e diretores
22. REPERCUSSES DA PROPOSTA DE "EDUCAO INCLUSIVA" A PARTIR DO DISCURSO DE PROFESSORES DE EDUCAO ESPECIAL DA REDE PBLICA
23. A EDUCAO FSICA PERANTE A EDUCAO INCLUSIVA: reflexes conceptuais e metodolgicas
24. POLTICAS EDUCACIONAIS EA FORMAO DE PROFESSORES PARA A EDUCAO INCLUSIVA NO BRASIL
25. POLTICAS EDUCACIONAIS EA FORMAO DE PROFESSORES PARA A EDUCAO INCLUSIVA NO BRASIL
26. EDUCAO INCLUSIVA: um estudo na rea da educao fsica
27. CAMINHOS PEDAGGICOS DA EDUCAO INCLUSIVA
28. EDUCAO INCLUSIVA: redefinindo a educao especial
29. INTERAO ENTRE PROFESSORA E ALUNOS EM SALAS DE AULA COM PROPOSTA PEDAGGICA DE EDUCAO INCLUSIVA
30. DEZ IDIAS (MAL) FEITAS SOBRE EDUCAO INCLUSIVA
http://www.scielo.br/pdf/%0D/pe/v10n2/v10n2a09.pdfhttp://periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevEducFis/article/viewArticle/3649http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevEducFis/article/viewArticle/3649http://itaipulandia.pr.gov.br/educacao/educacao_especial/Educa%C3%A7%C3%A3o%20Inclusiva/educa%C3%A7%C3%A3o%20inclusiva.pdfhttp://itaipulandia.pr.gov.br/educacao/educacao_especial/Educa%C3%A7%C3%A3o%20Inclusiva/educa%C3%A7%C3%A3o%20inclusiva.pdfhttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-65382005000200005&script=sci_abstract&tlng=pthttp://www.journal.ufsc.br/index.php/pontodevista/article/viewArticle/1402http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-65382005000300005&script=sci_arttext&tlng=emhttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-65382005000300005&script=sci_arttext&tlng=emhttp://redeinclusao.web.ua.pt/files/fl_47.pdf
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31. DA EDUCAO SEGREGADA EDUCAO INCLUSIVA: uma breve reflexo sobre os paradigmas educacionais no contexto da educao especial brasileira
32. A FINALIDADE DA EDUCAO ESPECIAL, MORMENTE NO SEU EXCESSO DE ESPECIALIZAO
33. INCLUSO ESCOLAR: concepes de professores e alunos da educao regular e especial
34. O NORMAL E O PATOLGICO
35. EXPANSO DA EDUCAO INFANTIL E PROCESSOS DE EXCLUSO
36. POLTICAS EDUCACIONAIS E EDUCAO ESPECIAL
37. A NOVA LDB E AS NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS
38. PRTICAS EDUCATIVAS: perspectivas que se abrem para a educao especial
39. ATUAO DE PROFESSORES DO ENSINO ITINERANTE FACE INCLUSO DE CRIANAS COM BAIXA VISO NA EDUCAO INFANTIL
40. A FONOAUDIOLOGIA NA RELAO ENTRE ESCOLAS REGULARES DE ENSINO FUNDAMENTAL E ESCOLAS DE EDUCAO ESPECIAL NO PROCESSO DE INCLUSO
41. CONCEPES DA PROFESSORA ACERCA DO ABUSO SEXUAL INFANTIL
http://www.eduinclusivapesq-uerj.pro.br/livros_artigos/pdf/Edu_segrega.pdfhttp://www.eduinclusivapesq-uerj.pro.br/livros_artigos/pdf/Edu_segrega.pdfhttp://www.eduinclusivapesq-uerj.pro.br/livros_artigos/pdf/Edu_segrega.pdfhttp://www.abrapee.psc.br/artigo20.htmhttp://www.abrapee.psc.br/artigo20.htmhttp://www.scielo.br/pdf/cp/n107/n107a01.pdfhttp://168.96.200.17/ar/libros/anped/TE15.PDFhttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621998000300002&script=sci_arttext&tlng=inhttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-73302000000200009&script=sci_arttext&tlng=eshttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-73302000000200009&script=sci_arttext&tlng=eshttp://www.scielo.br/pdf/paideia/v17n36/v17n36a11.pdfhttp://www.scielo.br/pdf/paideia/v17n36/v17n36a11.pdfhttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-65382008000200007&script=sci_abstract&tlng=ehttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-65382008000200007&script=sci_abstract&tlng=ehttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-65382008000200007&script=sci_abstract&tlng=ehttp://www.scielo.br/pdf/%0D/cp/n119/n119a06.pdfhttp://www.scielo.br/pdf/%0D/cp/n119/n119a06.pdf
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ARTIGOS PARA LEITURA, ANLISE E UTILIZAO COMO FONTE OU REFERENCIA
Revista Brasileira de Educao Especial Print version ISSN 1413-6538 Rev. bras. educ. espec. vol.11 no.3 Marlia Sept./Dec. 2005 doi: 10.1590/S1413-65382005000300005
RELATO DE PESQUISA
INTERAO ENTRE PROFESSORA E ALUNOS EM SALAS DE AULA COM PROPOSTA PEDAGGICA DE EDUCAO INCLUSIVA1
Simone Cerqueira da Silva2;
Maria Salete Fbio Aranha3
RESUMO
Correntes tericas presentes na literatura cientfica tm demonstrado a importncia
das relaes interpessoais para o processo de construo do conhecimento. no
contexto da interao professor e aluno que se configura a relao entre as
necessidades educacionais dos alunos e as respostas pedaggicas a elas
disponibilizadas, o que envolve o domnio do conhecimento pelo professor, sua
capacitao tcnico-cientfica, a competncia de ensinar pesquisando, as
caractersticas scio-culturais e o perfil psicolgico dos atores sociais envolvidos-
professor e aluno. Buscando melhor compreender este universo, elaborou-se este
estudo que teve como objetivo descrever as interaes ocorridas entre uma
professora, e seus alunos, em classes em que se propunha adotar uma prtica
pedaggica inclusiva. Os dados foram coletados em 2 salas de aula, em escola
estadual de Ensino Fundamental, no municpio de Bauru. O processo de coleta de
dados se deu atravs do registro da realidade de sala de aula em vdeo tape. Optou-
se por este mtodo, por permitir a recuperao posterior dos dados. A coleta se deu
no transcorrer do 1 semestre do ano letivo de 2001. A anlise fundamentou-se em
sistema prvio de categorias, e tratou os dados quantitativa e qualitativamente. Os
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-65382005000300005&script=sci_arttext&tlng=em#end01#end01http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-65382005000300005&script=sci_arttext&tlng=em#end02#end02http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-65382005000300005&script=sci_arttext&tlng=em#end03#end03
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resultados demonstraram peculiaridades e diferenas nas interaes da professora
com os seus alunos, em funo da presena ou ausncia da deficincia. Indicaram,
tambm, que a interao vem demonstrando avanos na prtica educacional, no que
diz respeito ateno pedaggica, da professora, ao aluno com deficincia.
Palavras-chave: educao inclusiva; interao entre professor - aluno;
necessidades educacionais especiais.
1 INTRODUO
O tema da educao inclusiva tem despertado, no meio educacional, angstias e
entusiasmos. A mudana de um sistema educacional, que se caracterizou
tradicionalmente por ser excludente e segregatrio, para um sistema educacional
que se comprometa efetivamente a responder, com qualidade e eficincia, s
necessidades educacionais de todos, inclusive s dos alunos que apresentam
necessidades educacionais especiais, exige um processo complexo de
transformao, tanto do pensar educacional, como da prtica cotidiana de ensino.
Todo processo de transformao dessa natureza constitui uma mudana de
paradigma, o que, geralmente provoca nas pessoas diversas reaes, dentre as
quais ansiedade, medo, rejeio, resistncia, interesse, entusiasmo. Geralmente,
constata-se que inicialmente as pessoas comeam a mudar o discurso na direo do
politicamente esperado e considerado correto, mantendo, entretanto, padro de
comportamento semelhante ao j conhecido.
No caso do tema aqui focalizado, o paradigma da construo de sistemas
educacionais inclusivos, em desenvolvimento, requer relaes interpessoais que
sejam eficientemente acolhedoras para todos, ou seja, que atendam s
necessidades educacionais de todos, inclusive dos que apresentam necessidades
educacionais especiais.
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Para Leontiev (1978, p. 272), a educao o processo que possibilita a formao do
indivduo atravs de sua apropriao dos resultantes da histria social e sua
conseqente objetivao nessa histria.
Nesse sentido, tem-se que pela educao que o indivduo se apropria das
caractersticas do gnero humano. Caractersticas que, segundo Duarte (1993, p.
40), foram criadas e desenvolvidas ao longo do processo de objetivao, gerado, a
partir da apropriao da natureza pelo homem.
O processo educativo formal, conforme aponta Boneti (1997), ocorre dentro de um
espao real de ao e interao, para enriquecimento da identidade scio-cultural
dos que dele participam, espao esse chamado escola.
Para Saviani (1991), a funo da escola estender, a todos os seus alunos, o
conhecimento elaborado e sistematizado, fundamental para que as pessoas tenham
maior liberdade de ao pela assimilao e internalizao do conhecimento, a partir
do processo de ensino e de aprendizagem.
Considerando no somente os contedos acadmicos, Mello (1997) diz, ainda, que
cabe escola a funo de estabelecer padres de convivncia social.
Neste momento histrico da realidade brasileira, o que se espera o avano na
direo da construo de um sistema educacional que cumpra efetivamente com o
proposto pela Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (1996), favorecendo a
formao de cidados crticos e responsveis, possibilitando o acesso ao saber
cientfico e sua utilizao crtica e funcional rotineira, e desta forma, atuando na
construo de uma sociedade mais igualitria e humana.
no espao da relao entre professor e aluno que a formao do cidado se
realiza, efetivando a misso maior da educao.
Diversos autores tm demonstrado a importncia das relaes entre o professor e o
aluno para o processo de desenvolvimento e de aprendizagem desse aluno.
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Para Hinde (1979), uma relao implica em algum tipo de interao intermitente
entre duas pessoas, envolvendo intercmbios durante um perodo estendido no
tempo, tendo as mesmas, algum grau de mutualidade, de modo que o
comportamento de uma leva em considerao o comportamento da outra.
Vygotsky (1994) prope que as funes psicolgicas superiores originam-se das
relaes reais entre indivduos humanos, j que no decurso do desenvolvimento, as
atividades so inicialmente coletivas / sociais (interpsquicas) para depois se
tornarem atividades individuais / propriedades internas do pensamento.
Tomando como pressupostos os contedos propostos pelos autores acima citados,
entende-se as interaes e a relao entre o professor e seus alunos variveis
essenciais no processo bi-direcional de construo da aprendizagem e do
desenvolvimento humano.
Salvador (1994), referindo-se ao contexto da sala de aula, destaca que a unidade
bsica de anlise deixa de ser a atividade individual do aluno e passa a ser a
atividade articulada e conjunta do aluno e do professor em torno da realizao de
tarefas escolares. Constata-se, ento, que os sujeitos, professor e aluno, so os
atores dessa entrelaada teia de relaes que permeia a instituio escolar e que se
apresenta como o fio da meada do processo educacional.
Para Aranha e Laranjeira (1995, p.9)
[...] preciso estabelecer, sob novas bases, a relao entre o professor e o aluno, de
modo que se repense ambos os papis, refletindo sobre a bi-direcionalidade e a
interdependncia que configuram as relaes pessoais, para que nos fiquem claras
as suas conseqncias.
Os estudos sobre a relao entre professor e aluno nem sempre foram tratados a
partir do princpio da reciprocidade, da mutualidade e bi-direcionalidade.
Carvalho (1986) tambm se dedicou anlise da literatura sobre a relao entre
professor e aluno, e constatou que todos os trabalhos enfatizavam que o professor
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era o elemento que mais falava, e o comportamento do aluno influenciava de
maneira diversificada o comportamento do professor.
Por outro lado, posteriormente, Machado (1987) considerou que as pesquisas no
privilegiavam a influncia do aluno, realando somente o poder que o professor tinha
sobre ele, e que, embora os conceitos de interao e reciprocidade fossem referidos,
havia uma certa inconsistncia a embutida.
Em 1990, Gil revisou diferentes pesquisas realizadas sobre as relaes entre
professor e aluno, e verificou a existncia de dois grandes grupos de trabalhos que
se distinguem pela nfase dada ora ao rendimento do aluno, e ora s caractersticas
da interao entre professor e aluno. A autora ainda enfatiza que, embora tais
estudos considerassem a interao entre professor e aluno como objeto de estudo, a
maioria tratava apenas da influncia do comportamento verbal do professor sobre o
aluno.
A considerao da relao enquanto sistema requer um deslocamento de foco de
anlise, na direo de um olhar bi-direcional, no qual o aluno influencia o processo
de ensino e por este influenciado. O professor deixa de ser o nico responsvel
pelos resultados alcanados no processo de ensino e de aprendizagem, e constata-
se que o que o aluno faz, exerce influncia sobre a ao do professor.
Faz-se necessrio salientar aqui o deslocamento do foco de anlise, deixando de
centrar-se no sujeito, unilateral, para centrar-se na relao, contexto bi-direcional e
multideterminado.
Conforme a literatura citada, so escassos os estudos que consideram o fator da
mtua determinao entre professor e aluno. Faz-se necessrio ento, compreender
como funciona e quais so os papis desempenhados nessa relao.
No que se refere ao seu funcionamento, Aranha e Laranjeira (1995) mencionam que
a relao entre o professor e o aluno est configurada por uma assimetria, tanto no
que se refere ao nvel de escolaridade, quanto experincia de vida, habilidades
sociais e complexidade intelectual. Diferenas essas, que pontuam os diferentes
papis que ambos exercem.
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Quanto ao papel do professor, as autoras consideram que um professor, para
cumprir o seu papel pedaggico, precisa ser um profissional-cidado, capaz do uso
do exerccio da conscincia crtica e do domnio efetivo do saber que socializa na
escola.
fato que o modo de ser do professor, seu jeito de pensar, agir e sentir repercutir
no comportamento dos alunos, bem como a imagem e a concepo que o aluno tem
do professor ir interferir na ao do professor.
A exigncia de educao continuada vem se acentuando desde 1996, com a
promulgao da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional, que reconhece a
diversidade no contexto escolar.
A construo de uma sociedade inclusiva de fundamental importncia para o
desenvolvimento e a manuteno de um estado democrtico.
No mbito da educao, a opo poltica pela construo de um sistema educacional
inclusivo vem coroar um movimento para assegurar a todos os cidados, inclusive
aos com deficincia, a possibilidade de aprender a administrar a convivncia digna e
respeitosa numa sociedade complexa e diversificada (ARANHA, 2002).
A escola se torna inclusiva medida que reconhece a diversidade que constitui seu
alunado e a ela responde com eficincia pedaggica. Para responder s
necessidades educacionais de cada aluno, condio essencial na prtica
educacional inclusiva, h que se adequar os diferentes elementos curriculares, de
forma a atender as peculiaridades de cada um e de todos os alunos. H que se
flexibilizar o ensino, adotando-se estratgias diferenciadas e adequando a ao
educativa s maneiras peculiares dos alunos aprenderem, sempre considerando que
o processo de ensino e de aprendizagem pressupe atender diversificao de
necessidades dos alunos na escola (BRASIL, 1999).
A educao para todos implica, portanto, um sistema educacional que reconhece,
respeita e responde, com eficincia pedaggica, a cada aluno que nele se encontra
inserido.
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A Educao Especial vem contribuir nesse processo, como uma modalidade de
ensino que serve a todas as demais modalidades e nveis de escolarizao.
Responsvel especialmente pelo segmento populacional que apresenta
necessidades educacionais especiais, deve tanto atender necessidades especficas
e peculiares do aluno, como tambm oferecer suporte tcnico-cientfico ao professor
da classe regular que o atende.
Pensar na Educao Inclusiva como uma possibilidade de construo de uma sala
de aula melhor, na qual alunos e professores sintam-se motivados a aprender juntos
e respeitados nas suas individualidades, parece que realmente pode vir a ser um
progresso na histria da educao brasileira.
No processo de construo de uma classe inclusiva, as relaes entre professor e
aluno surgem como elemento de fundamental importncia, j que no contexto das
relaes que o respeito e a ateno pedaggica flexvel e individualizada vo se
efetivar.
Sabe-se que desde que o movimento pela construo de sistemas educacionais
inclusivos foi se fortalecendo, inclusive amparado legalmente, alunos com deficincia
comearam a ser matriculados e a freqentar classes regulares no ensino comum. A
insero destes alunos nas classes regulares, entretanto, no garantem, por si s,
uma prtica inclusiva de ensino.
Assim, entende-se importante investigar como esto se dando as relaes nesse
contexto. Existe diferena na relao entre professor e aluno, quando o aluno tem ou
no uma deficincia? As caractersticas dessas relaes afetam o processo de
ensino e de aprendizagem?
O estudo dos aspectos acima apontados no se mostrou freqente na literatura
cientfica pesquisada, j que no se constatou nenhuma publicao realizada no
perodo de 1990 a 2001, em pesquisa bibliogrfica realizada em 34 peridicos, 4.697
artigos (SILVA, 2003).
Em 2002, Braga (2002) investigou as interaes sociais entre uma professora no
especialista e um aluno autista, em ambiente regular considerado inclusivo. A autora
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utilizou o recurso da filmagem, usando uma filmadora assentada em trip, com o foco
direcionado diretamente sobre o aluno autista. Para a anlise dos dados, a autora
utilizou um sistema de categorias, adaptao de sistema desenvolvido por Aranha
(1991). As concluses obtidas pela autora confirmaram alguns dados j comentados
anteriormente e elucidaram outros, at ento no apontados pela literatura.
A autora confirmou que a professora foi quem manteve o controle do incio das
interaes, e que muitas das iniciativas do aluno autista sugeriram a inteno de
obter aproximao, ateno e reconhecimento da professora.
Na dcada de 80, Dorval, Mckinney e Feagans (1982), estudando sobre a relao
entre o professor e seus alunos, apontaram que o professor iniciava mais interaes
com os estudantes que tinham dificuldade de aprendizagem do que com os alunos
que obtinham mdia, mas que esse incio de conversao se referia falta de
ateno ou infrao de regras por esses alunos.
Confirmando esses apontamentos, Siperstein e Goding (1985) ao estudarem a
interao entre o professor e seus alunos, deficientes e no deficientes, mostraram
que as iniciativas e respostas dos professores, para os estudantes com deficincia,
foram mais negativas e corretivas do que com os estudantes sem deficincia.
No ano posterior, Slate e Saudargas (1986) evidenciaram que os estudantes com
dificuldade de aprendizado recebiam mais contatos individualizados com o professor,
mas esses contatos diziam respeito ao seu engajamento em outras atividades,
diferentes da atividade didtica; logo, o tempo das atividades acadmicas com os
alunos com deficincia no era significativo, ao contrrio do tempo despendido com
os alunos que obtinham mdia.
Tais estudos indicam as problemticas vivenciadas no contexto de sala de aula,
especialmente nas relaes entre alunos e professor, e o quanto essas relaes
podem prejudicar ou impedir a eficincia do funcionamento que se almeja na
educao inclusiva.
A partir da preocupao com o discurso inclusivo que tem permeado o debate social
e acadmico, entendendo a relao entre o professor e o aluno como uma
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importante via de mediao da construo do conhecimento e da aprendizagem e
norteadas pelos resultados acima expostos de poucos estudos realizados acerca
dessa temtica, elaborou-se este estudo, tendo por objetivo caracterizar a relao
entre professora e alunos, em uma sala de aula institucionalmente considerada
inclusiva, em unidade escolar da rede pblica de ensino, no Estado de So Paulo.
2 MTODO
Foram participantes deste estudo 2 professoras e seus respectivos alunos. A
professora A, que lecionava na turma A, tinha, em sala de aula, 7 alunos do sexo
masculino e 14 do sexo feminino. A faixa etria desses alunos era de 8 a 13 anos. A
professora B, que lecionava na turma B, tinha, em sala de aula, 12 alunos do sexo
masculino e 15 do sexo feminino. A faixa etria desses alunos era de 9 a 17 anos.
Na turma A, 2 alunos tinham deficincia mental e na turma B, 3 alunos tinham
deficincia, sendo: 1 com deficincia mental, 1 com deficincia mental e fsica e 1
com deficincia auditiva e fsica. Os demais alunos no apresentavam indicao nem
diagnstico formal de deficincia.
Os dados foram coletados em 2 salas de aula, ambas pertencentes a uma escola
estadual de ensino fundamental, em bairro residencial da cidade de Bauru, interior do
estado de So Paulo.
Para a coleta dos dados, empregou-se, uma filmadora da marca Panasonic, modelo
RJ 27. Optou-se pela filmagem em VT, j que esta estratgia de coleta de dados
permite sua recuperao seqencial, quantas vezes for necessria, para a efetivao
da anlise.
As filmagens foram realizadas no transcorrer do 1 semestre de um ano letivo. Foi
necessrio efetuar vrias sesses de filmagem at que os participantes se
habituassem com a presena da cmera e da pesquisadora, deixando de a elas
responder.
Os dias para a filmagem foram sorteados, de modo que a professora no sabia em
qual dia e horrio a pesquisadora compareceria sala de aula.
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13
Definiu-se como interao "uma verbalizao ou ao motora de um sujeito dirigida
clara e diretamente a outro, seguida de verbalizao ou de ao motora deste para o
primeiro" (HINDE, 1979; CARVALHO, 1986; ARANHA, 1991). Considerou-se, um
episdio um conjunto de interaes que tratam de um mesmo assunto, o que passou
a ser a unidade de anlise (ARANHA, 1991).
A partir dessa definio, a anlise dos dados percorreu 6 diferentes passos.
1 Elaborao de um sistema de categorias. Para descrever o contexto interativo
entre professor e alunos, foi necessrio assistir filmagem inmeras vezes, bem
como considerar o que a literatura apresentava a respeito dessa temtica, para,
ento, criar as categorias que permitissem a obteno da resposta pretendida no
objetivo do estudo. Assim sendo, chegou-se constituio de um sistema de
categorias: quem inicia, quem responde, como inicia, como responde, contedo,
situao em que ocorre, orientao, quem interrompe e como interrompe.
2 Elaborao das planilhas de registro. A fim de obter dados suficientes para
descrever a interao entre professor e alunos, foi necessria a construo de
planilhas de registro que tivessem campos para a descrio dos dados quanto ao
contedo da interao, bem como quanto qualidade da interao. Assim, as
planilhas foram construdas de modo que nelas fosse possvel registrar O QUE os
sujeitos esto fazendo juntos e COMO o faziam juntos (HINDE, 1979).
3 Equalizao temporal dos dados. Considerando que o tempo de filmagem diferiu
de sesso para sesso, optou-se por adotar, como material para anlise, o contedo
coletado num perodo de tempo correspondente ao da sesso de menor durao.
Buscou-se, assim, garantir, atravs do controle da varivel tempo, a igualdade de
oportunidades para ocorrncia das interaes. Assim, foi analisado o material
coletado nos 10 primeiros minutos de cada sesso de coleta, na turma A, e nos 15
primeiros minutos de cada sesso na turma B.
4 Classificao dos episdios, nas categorias que constituram o sistema de anlise.
medida que se foi efetivando sua classificao, percebeu-se necessrio
acrescentar e/ou retirar algumas categorias, para que se pudesse realmente
representar o conjunto de interaes.
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5 Participao de consultores na classificao das unidades de anlise. Eles foram
orientados pela pesquisadora sobre como deveriam proceder para classificar os
episdios constantes da sesso de filmagem sorteada, bem como foram dadas as
devidas instrues para preenchimento das planilhas de registro. O ndice de
concordncia entre a pesquisadora e o consultor 1, bem como entre a pesquisadora
e o consultor 2, foi de 50%, mostrando-se abaixo do ndice pretendido (85%). A partir
disto, o sistema foi revisto, focalizando especialmente as categorias que
apresentavam maior ndice de discordncia (contedo, como inicia e como
interrompe), reorganizando-as e tornando-as mais claras e objetivas. Posteriormente,
solicitou-se aos mesmos consultores que classificassem novamente os episdios. Os
ndices de concordncia, nessa segunda etapa, alcanaram o ndice 100%, o que
indica que o sistema alcanou o nvel desejado de clareza e objetividade.
6 Tratamento quantitativo e qualitativo dos dados. Finda a fase de classificao dos
episdios, desenvolveu-se tratamento matemtico, calculando-se as freqncias
absolutas e as relativas dos dados constantes de cada categoria. Aps o tratamento
matemtico, desenvolveu-se anlise qualitativa, buscando-se a compreenso do
significado dos dados obtidos.
3 RESULTADOS E DISCUSSO
TURMA A
A tabela 1 mostra as freqncias absolutas e relativas dos episdios interativos
ocorridos a cada sesso. Estes ocorreram entre as dades professora (P) e alunos
no deficientes (A), professora (P) e alunos com deficincia mental (DM), professora
(P) e grupo (G), alunos no deficientes (A) e professora (P), e alunos com deficincia
mental (DM) e professora (P). Na tabela 3 encontram-se os dados obtidos,
lembrando que a primeira letra indica o sujeito que iniciou a interao.
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-65382005000300005&script=sci_arttext&tlng=em#tab01#tab01http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-65382005000300005&script=sci_arttext&tlng=em#tab03#tab03
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A maioria das interaes ocorridas na turma A foi iniciada por alunos no deficientes
e dirigidas para a professora (55%). A professora, por sua vez, iniciou 42% dos
episdios.
Os resultados constatados neste estudo diferem dos de Bertoldo (1985), que afirmou
que mesmo quando os alunos participam muito em sala de aula, a participao da
professora como iniciadora dos contatos maior.
Esta caracterstica pode ser indicativa de que a professora desta turma permitiu, aos
alunos, espao para sua maior participao no processo de ensino e de
aprendizagem.
Com relao ao aluno com deficincia mental, este iniciou 3% dos episdios
interativos ocorridos com a professora.
Tais resultados mostraram-se consistentes com os de Macintosh et al. (1993), nos
quais os alunos com dificuldades de aprendizagem interagiam em taxas inferiores a
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dos demais alunos. Este autor aponta ainda que a falta de individualizao no ensino
poderia estar determinando a menor participao do aluno com dificuldades, o que
tambm pode ser verdadeiro neste estudo.
Por outro lado, Braga (2002), em estudo que investigou a interao entre a
professora e um aluno autista, em sala inclusiva, constatou que o aluno autista
iniciou mais contatos, com a professora, que o aluno no autista. Faz-se necessrio,
porm salientar que este dado parece ter ocorrido, nesse estudo, em funo da
sistemtica de registro utilizada, que focalizava constantemente o aluno autista e no
o aluno no autista.
A professora se dirigiu ao aluno com deficincia nas sesses 1, 3, 4, 5, 8 e 9. As
sesses 1, 4, 5, e 9 foram aquelas nas quais a professora mais freqentemente se
dirigiu a ele, iniciando interao. Em ordem decrescente, constata-se que as
iniciativas da professora, para interagir com esses alunos, ocorreram nas seguintes
freqncias: 61% (1), 42% (9), 31% (4), 28% (5), 14% (3), 5%(8).
Por sua vez, o aluno com deficincia mental iniciou contato interativo com a
professora, nas sesses 3,4,5,8 e 9, ou seja, na maioria das sesses em que esta
tambm a ele se dirigiu.
Nas sesses 2, 6, e 7 a professora no iniciou contato com o aluno com deficincia
nenhuma vez e ele tambm no iniciou contato com a professora nas sesses 1, 2,
6, e 7.
Considerando que, embora a professora no tenha interagido com os alunos com
deficincia em 3 sesses, a mesma apresentou o maior nmero de iniciativas com o
aluno com deficincia e isto pode, nessas sesses, t-lo motivado a tambm tomar
iniciativas de interao, no contexto da mtua determinao. Por outro lado, o fato do
aluno com deficincia tomar iniciativas pode, tambm, ter motivado a professora a
estabelecer contato interativo com ele.
Isto parece vir ao encontro do que Carvalho (1986) constatou em estudo que
focalizou alunos no deficientes, no qual pde demonstrar que o comportamento
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destes alunos influenciava de maneira diversificada o comportamento do professor e
que a responsividade do professor era funo do grau de participao destes alunos.
Esta influncia tambm foi evidenciada por Gil (1991), quando afirmou que a
participao dos alunos indicava uma relao de dependncia com as aes da
professora. Da mesma forma, Macintosh et al. (1993), referindo-se baixa interao
entre o professor e o aluno, comentou que o professor raramente interagia com o
aluno com dificuldade de aprendizagem, padro reproduzido tambm pelo aluno.
J com os alunos no deficientes, a professora iniciou contatos interativos em todas
as sesses. Isto pode se explicar pelo nmero de alunos no deficientes na sala de
aula, que excede, em muito, o nmero de alunos com deficincia, e do tempo de
coleta que se mostra reduzido, quando comparado com o tempo total de aula diria.
Objetivando-se detectar padres na interao entre a professora e os alunos com
deficincia, e entre a professora e os alunos no deficientes, dividiu-se o nmero de
episdios ocorridos, a cada sesso, entre a professora e o aluno no deficiente, pelo
nmero de alunos no deficientes nela presentes, e o nmero de episdios
ocorridos, a cada sesso, entre a professora e o aluno com deficincia, pelo nmero
de alunos com deficincia, que estavam presentes na sesso. Com estes clculos, a
tabela 2 apresenta os ndices obtidos.
Este padro reproduz o que Dorval, Mckinney e Feagans (1982), Slate e Saudargas
(1986) descreveram: que a professora iniciava mais interaes com os alunos que
tinham dificuldades de aprendizagem, do que com os demais alunos da sala de aula,
mesmo tratando-se de contedo para discriminar, repreender e punir estes alunos.
Por outro lado, esses ndices contradizem o que foi posteriormente constatado por
Macintosh et al. (1993), pois os autores concluram que o professor raramente
manifestou interao com os alunos com dificuldade de aprendizagem.
interessante lembrar que estes resultados referem-se exclusivamente s sesses
de coleta de dados, no sendo possvel generaliz-los para todos os momentos da
sala de aula. Assim, estes e os demais resultados dizem respeito a uma amostra,
limitada, de como so as interaes entre professor e alunos nesta turma.
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-65382005000300005&script=sci_arttext&tlng=em#tab02#tab02
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Na tabela 3 os episdios so classificados por sesso, segundo os contedos:
indeterminado (IND), solicitao de ateno (SAT), solicitao de informao (SIN),
prestao de informao (PIN), solicitao de ao (SAC), solicitao de objeto
(SOB), oferecimento de objeto (OOB), repreenso (REP), ensino (ENS), elogio
(ENS).
De todos os episdios ocorridos entre o aluno com deficincia mental - e a
professora, 54% deles foram solicitao de ateno, distribudos em 4 das 5 sesses
em que o aluno com deficincia mental iniciou contatos com a professora. Foi na
sesso 9 que ocorreram os contedos prestao de informao, solicitao de
informao e ensino. Isto pode ter ocorrido dada a natureza da atividade
desenvolvida nesta sesso, a saber, exerccios de Lngua Portuguesa. H ainda que
se ressaltar que 100% das situaes nas quais se constatou estes contedos
ocorreram nos momentos em que a professora circulava pela sala de aula.
O contedo elogio esteve presente em 27% dos episdios, e o contedo ensino em
outros 27%. J o contedo repreenso ocorreu uma nica vez na sesso 5,
representando 9% dos episdios.
Diante desses dados, tem-se que entre o aluno com deficincia mental e a
professora, as interaes eram, predominantemente de solicitao de ateno, de
elogio e de ensino, o que difere substancialmente do constante na literatura, que diz
que o professor, ao interagir com o aluno com deficincia, o faz, para repreender
(DORVAL, MCKINNEY e FEAGANS, 1982; SIPERSTEIN e GODING, 1985; SLATE e
SAUDARGAS, 1986).
Entre a professora e o aluno com deficincia mental, o contedo ensino esteve
presente em 57% dos episdios e ocorreu em 4 das 6 sesses em que esta dade
interagiu. O contedo solicitao de informao foi identificado em 32% dos
episdios e esteve presente em todas as sesses. J o contedo elogio foi
identificado em 14% dos episdios, e ocorreu em 3 das 6 sesses.
Diante desses dados, tem-se que entre a professora e o aluno com deficincia
mental, as interaes eram, predominantemente, de ensino, de solicitao de
informao e de elogio.
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-65382005000300005&script=sci_arttext&tlng=em#tab03#tab03
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Comparando os resultados obtidos entre as dades professora e o aluno com
deficincia mental (quando a professora inicia a interao) e entre o aluno com
deficincia mental e a professora (quando o aluno inicia a interao), tem-se que o
aluno com deficincia, ao iniciar os episdios, utiliza com mais freqncia o contedo
solicitao de ateno e o professor, ao iniciar os episdios, utiliza mais
freqentemente o contedo ensino.
Estes contedos no surpreendem, j que so os exigidos pelos papis
complementares que os diferentes sujeitos desempenham na sala de aula.
Os contedos ensino e elogio so freqentes, independentemente de quem inicia a
interao, e o contedo solicitao de ateno caracterstico somente quando o
aluno inicia com o professor. J o contedo solicitao de informao aparece
preferencialmente quando o professor inicia com o aluno.
Estes dados mostram que a prtica de ensino dessa professora freqente com os
alunos com deficincia e que estes tambm a ela se dirigem para tratar as dvidas
que tm sobre o que est sendo ensinado. Aliado a isto, os elogios da professora
para estes alunos ocorrem tanto quando ela, como quando eles iniciam a interao.
Comparando os ndices das interaes entre a professora e o aluno com deficincia
mental e a professora e o aluno no deficiente, nota-se que o contedo ensino
predomina em todas as iniciativas, o que parece ser positivo para todos os alunos,
mas a professora solicita ao e repreende predominantemente aos alunos sem
deficincia. O contedo elogio, por outro lado, apareceu em interaes tanto com os
alunos sem deficincia, quanto aos com deficincia mental, sendo, entretanto mais
praticado com estes ltimos.
Nota-se, portanto, que com os alunos com deficincia mental as interaes mais
freqentes so as que elogiam, as menos repreensivas e com menor freqncia de
solicitao de aes do que com alunos no deficientes. Assim, a professora pede
menos aes para os alunos com deficincia mental, elogia-os mais e os repreende
menos.
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Esses dados mostram-se divergentes com o que a literatura tem mencionado.
Siperstein e Goding (1985) afirmam que as iniciativas e respostas do professor
dirigidas ao aluno com deficincia eram mais negativas e corretivas do que com os
estudantes no deficientes.
Dorval, Mckinney e Feagans (1982) igualmente observaram que as interaes do
professor dirigidas aos alunos com dificuldade de aprendizagem referiam-se falta
de ateno ou infrao de regras (por esses alunos).
Em se tratando de interaes entre o professor e o aluno autista, Braga (2002)
constatou contedos de repreenso, solicitao de informaes, solicitao de
aes, ensino e oferecimento de informaes. Os contedos de ensino, solicitao
de informao e mesmo o de repreenso, que foi inferior aos demais, coincidem com
os identificados neste estudo, mas o contedo de solicitao de ao diverge com o
que foi identificado, pois no houve solicitao de ao ao aluno com deficincia.
Os dados obtidos neste estudo, quando comparados com os constantes da literatura,
mostram um movimento na direo de maior responsividade da parte da professora,
para os alunos com deficincia. Alm disso, mostra que o contedo parece ser mais
positivo, de natureza reforadora.
Isto pode sugerir uma mudana, ainda que incipiente, no padro interativo entre
professor e alunos, nos ltimos anos.
TURMA B
Considerando os episdios em vista de quem inicia e de quem responde, a tabela 4
mostra as freqncias absolutas e relativas dos episdios interativos constatados
entre os sujeitos que interagiram em cada sesso. Estes ocorreram entre as dades:
professora (P) e aluno no deficiente (A); professora (P) e aluno com deficincia
mental (DM), professora (P) e grupo (G); aluno no deficiente (A) e professora (P),
aluno com deficincia mental (DM) e professora (P), professora (P) e aluno com
deficincia auditiva e fsica (DAF), professora (P) e aluno com deficincia mental e
fsica (DMF), aluno com deficincia mental e fsica (DMF) e professora (P) e aluno
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-65382005000300005&script=sci_arttext&tlng=em#tab04#tab04
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com deficincia auditiva e fsica (DAF) e professora (P). A primeira letra indica o
sujeito que iniciou.
50% dos episdios interativos foram iniciados por alunos no deficientes, 46% foram
iniciados pela professora e 4% dos episdios foram iniciados pelos alunos com
deficincia.
Todos os episdios iniciados pelos alunos no deficientes e pelos alunos com
deficincia foram dirigidos para a professora.
Dos episdios iniciados pela professora, 46% foram dirigidos para os alunos no
deficientes, 8% dirigidos para o aluno com deficincia mental, 14% dirigidos para o
aluno com deficincia mental e fsica e 32% dirigidos para o grupo com um todo.
Estes resultados mostram-se semelhantes aos da turma A, uma vez que foram
tambm alunos no deficientes que iniciaram a maioria dos episdios. Entretanto, na
turma A, estes alunos iniciaram mais episdios (55%) do que na turma B (50%).
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O fato de alunos no deficientes terem iniciado mais interaes com a professora na
turma A, pode-se atribuir s idades destes alunos, que so inferiores aos da turma B.
Estes se mostram mais inquietos e falantes, solicitando a todo o momento contato
com a professora.
Objetivando-se detectar padres na interao entre a professora e os alunos com
deficincia, e entre a professora e os alunos no deficientes, dividiu-se o nmero de
episdios ocorridos, a cada sesso, entre a professora (P) e o aluno no deficiente
(A), pelo nmero de alunos no deficiente (A) nela presentes, e o nmero de
episdios ocorridos, a cada sesso, entre a professora (P) e o aluno com deficincia
(DM e DMF), pelo nmero de alunos com deficincia (DM e DMF), que estavam
presentes na sesso, conforme apresentado na tabela 5.
A professora se dirigiu ao aluno com deficincia mental nas sesses 3, 4, 5, e 6; ao
aluno com deficincia mental e fsica nas sesses 4, 5 e 6, e no se dirigiu ao aluno
com deficincia auditiva e fsica. A sesso 5 foi aquela na qual a professora mais se
dirigiu aos alunos com deficincia mental e aos alunos com deficincia mental e
fsica, iniciando contatos interativos.
O aluno com deficincia mental iniciou contato interativo com a professora, nas
sesses 2, 3, 5 e 6, e o aluno com deficincia mental e fsica unicamente na sesso
4. Considerando-se esses dados, observa-se que a iniciao de contatos da
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professora com esses alunos pode ter alguma influncia nas respostas dirigidas a
ela.
Da mesma forma que no estudo da turma A, quando a professora inicia contato com
o aluno com deficincia mental, este tende tambm a iniciar contatos com ela.
No diferiram os contedos das atividades realizadas, na turma B, com os alunos
no deficientes e com os alunos com deficincia.
Comparando estes dados com os resultados obtidos com a turma A, observa-se que
na turma A os contedos diferiram, quando se comparam as atividades realizadas
com os alunos no deficientes e com os alunos com deficincia.
Entretanto, os resultados da turma A e B coincidem, medida que caracterizam
interaes voltadas para o ensino e para a prestao de informao, e no somente
para a repreenso e advertncias aos alunos com deficincia. Sendo assim, os
resultados de ambas as turmas mostram-se divergentes com o que a literatura tem
mencionado, conforme discutido anteriormente, na turma A.
A orientao das atividades ocorridas na turma A e na turma B, mostram-se
diferentes. Na turma A, conforme mencionado, a orientao no voltada para a tarefa
ocorreu somente com os alunos no deficientes; j nesta turma, ocorreu tanto com
os alunos no deficientes, quanto com os alunos com deficincia mental.
Os resultados da turma B, da mesma forma que o constatado na turma A, diferem
dos obtidos nos estudos de Bertoldo (1985), Carvalho (1986), e Braga (2002).
Considerando que estes autores constataram que as interaes que os alunos
iniciam com a professora so freqentemente voltadas para atividades no
relacionadas tarefa escolar, pode-se formular a hiptese de que, neste estudo, os
episdios iniciados pelos alunos tenham sido preferencialmente voltados para a
tarefa, devido falta de oportunidades oferecidas para que tivesse sido o contrrio,
podendo estar relacionados com a atitude pedaggica da professora em sala de
aula, especialmente a da turma A.
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Os resultados mostraram, em ambas as turmas, as seguintes tendncias:
O nmero de episdios interativos no parece ser funo do nmero de alunos
presentes na sala de aula, tampouco dos dias da semana;
o aluno no deficiente quem mais inicia episdios interativos dirigidos para a
professora;
As iniciativas de interao da professora, dirigidas aos alunos com deficincia,
parecem ter influncia na freqncia das interaes destes alunos com ela e vice-
versa;
A comunicao verbal e visual a mais utilizada para iniciar, responder e
interromper os episdios interativos;
So os alunos no deficientes os que mais respondem a interao atravs da
comunicao visual e gestual;
A maioria das interaes de contedo ensino e prestao de informao;
As atividades voltadas para a tarefa so mais freqentes do que as no voltadas
para a tarefa, tanto quando a professora inicia o episdio, como quando o aluno
inicia o episdio;
A professora quem predominantemente interrompe os episdios interativos,
independentemente de quem inicia;
A professora predominantemente inicia mais episdios interativos com o aluno com
deficincia do que com o aluno no deficiente;
Os episdios interativos com os alunos com deficincia nunca so interrompidos
por eles mesmos e sim pelos alunos no deficientes ou pela professora;
A maioria das interaes entre a professora e os alunos com deficincia mental
ocorre quando a professora est circulando pela sala de aula.
Por outro lado, as turmas diferem nos seguintes aspectos:
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Na turma B, o horrio de coleta parece exercer alguma influncia nos resultados
obtidos, uma vez que se evidenciou um aumento no nmero de episdios medida
que o horrio da sesso era mais prximo do final da aula;
Na turma B, houve um maior nmero de interao da professora com os alunos
com deficincia e com o grupo do que na turma A;
Na turma B, as interaes da professora dirigidas aos alunos com deficincia
mostram-se praticamente com os mesmos contedos identificados com os alunos
no deficientes;
Na turma A, a comunicao visual e gestual foi mais utilizada para iniciar episdios
interativos do que na turma B;
Na turma A, as interaes da professora dirigidas aos alunos com deficincia, so
menos repreensivas, com menos solicitaes de aes e mais elogiadas, do que
com os alunos no deficientes;
Na turma A, os episdios ocorreram, com maior freqncia, na situao de quando
a professora estava circulando entre as carteiras (com todos os alunos) e na turma
B, a predominncia das interaes quando a professora est circulando entre as
carteiras se refere apenas aos alunos com deficincia; com os demais alunos h
preferncia pela situao de quando a professora est em sua mesa conferindo
tarefas.
4 CONCLUSO
Diferentemente do identificado por Macintosh et al. (1993), este estudo constata que
as professoras mantiveram interaes diferentes com os dois grupos de alunos
(deficientes e no deficientes), na maioria das categorias analisadas.
As aes das professoras parecem estar propiciando maior espao de participao
dos alunos, nas aulas, especialmente no caso dos alunos com deficincia, o que
constitui um avano educacional, quando se tomam por parmetro, as informaes
constantes da literatura na rea (DORVAL, MCKINNEY e FEAGANS, 1982;
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SIPERSTEIN e GODING, 1985; SLATE e SAUDARGAS, 1986 e MACINTOSH et al.
1993) que mostram o aluno com deficincia historicamente relegado ao ostracismo e
gradativa excluso do sistema regular de ensino.
Neste estudo, o aluno no deficiente iniciou a maioria das interaes, fato que
tambm difere da literatura a respeito (BERTOLDO, 1985). As professoras, por sua
vez, iniciaram mais interaes com os alunos deficientes do que com os no
deficientes, sendo essas interaes, na sua maioria, de contedo ensino, elogio e
solicitao de informao. Essa caracterstica da relao entre as professoras e os
alunos com deficincia, quando comparada com as informaes da literatura, mostra
ser mais positiva e condizente com o papel que a professora deve assumir em sala
de aula, o de ser, segundo Duarte (1993), condutora do processo de apropriao,
pelos alunos, do conhecimento produzido histrica e socialmente.
Aes desse tipo ajudam no prprio processo de construo de uma identidade
positiva por parte de todos alunos, aumentando sua auto-estima, melhorando as
suas condies cognitivas, e por outro lado, ajudando o aluno no deficiente a
aprender a se relacionar positivamente com as pessoas no contexto da diversidade.
Os contedos diferenciados que a professora da turma A realizou com os alunos e o
maior nmero de interaes realizadas pela professora da turma B com estes alunos,
mostram indcios de que ambas esto se voltando mais (do que a literatura aponta)
para o aluno com deficincia, cada uma do seu jeito.
Segundo os autores, Dorval, Mckinney e Feagans (1982), Siperstein e Goding
(1985), Slate e Saudargas (1986), as interaes da professora com o aluno com
dificuldade de aprendizagem se referiam falta de ateno ou infrao de regras,
alm de serem mais negativas e corretivas do que com os alunos no deficientes.
Este dado mostra-nos indcios de um avano que nessas turmas demonstra estar
ocorrendo, considerando o que, at o momento, foi constatado na rea educacional
atravs da literatura.
Em se tratando dos alunos com deficincia, constata-se que estes iniciam interaes
com a professora para solicitarem a sua ateno nas atividades que realizam e para
solicitarem informaes sobre o contedo da aula. Este dado, quando comparado
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aos de Macintosh et al. (1993), mostra que estes alunos esto tendo a oportunidade
de se mostrarem mais ativos e participativos na sala de aula e principalmente na
construo do conhecimento. As oportunidades que lhe esto sendo propiciadas,
para que possam demonstrar essas caractersticas nas interaes em sala de aula,
merecem destaque pela sua importncia quando consideramos que a formao do
indivduo se d atravs das relaes sociais.
Segundo Vygotsky (1994), as funes psicolgicas superiores que caracterizam
essencialmente o ser humano, originam-se das relaes sociais entre os indivduos.
O fato de estar havendo espao e, alm disto, solicitao aos alunos para que
iniciem interaes e respondam a elas quando solicitados, favorece a participao de
alunos no contexto regular da sala de aula, e, assim, um possvel e melhor
desenvolvimento destes alunos.
Se avanos na ateno ao aluno com deficincia podem ser constatados a partir
destes resultados, no se pode, entretanto, dizer que as salas aqui estudadas sejam
salas inclusivas, pois, apesar do avano atitudinal e mesmo metodolgico
observados, ainda no se pde detectar a prtica do ensino individualizado e flexvel.
A interao nas duas salas de aula pesquisadas mostra a necessidade da professora
assistir mais freqentemente s necessidades individuais dos alunos no deficientes,
no os mantendo ignorados na ocorrncia de comportamentos inadequados, que
merecem repreenso e solicitao freqentes, conforme visto.
A abertura de espao para tais comportamentos tambm pode estar interferindo no
prprio processo de ensino e de aprendizagem, que tende a tornar-se mais
desestimulante, medida que o aluno no recebe resposta sua necessidade
escolar e fica preterido nas relaes em sala de aula.
Alm disso, a comunicao de que as professoras fazem uso para iniciar, responder
e interromper as interaes precisa ser transformada, pois se mostra praticamente
igual para todos os alunos, no se mostrando especfica para as necessidades
peculiares de cada um.
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Finalizando, a maior contribuio deste estudo foi a de indicar que a interao entre
a professora e os alunos, nas duas salas de aula, testemunha avanos na rea
educacional, no que diz respeito ateno ao aluno com deficincia, embora ainda
se manifeste distante de merecer o rtulo de educao inclusiva, ou seja, uma
prtica educacional que reconhea, respeite e responda s necessidades peculiares
de cada aluno.
REFERNCIAS
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1 O presente estudo se refere a parte da investigao realizada na dissertao de Mestrado intitulada "Interao entre professora e alunos em sala inclusiva", defendida no Programa de Ps-Graduao em Educao, Universidade Estadual Paulista, cmpus de Marlia, em 2003. 2 Psicloga, Mestre em Educao, docente da Faculdade Auxilium de Lins - [email protected] 3 Psicloga, Doutora em Psicologia Experimental, docente aposentada da Unesp-Bauru - [email protected]
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in: (2006) David Rodrigues (org.) Incluso e Educao: doze olhares sobre a Educao Inclusiva, S. Paulo. Summus Editorial.
DEZ IDEIAS (MAL) FEITAS SOBRE A EDUCAO INCLUSIVA
David Rodrigues A normalidade causou-me sempre um grande pavor, exactamente porque destruidora.
Miguel Torga, Dirio IV, 1948, pp.128.
Introduo:
Neste incio do sculo XXI parece que nunca a desigualdade entre os homens foi to
grande e no encontramos soluo plausvel nem previsvel para injustias e
conflitos que proliferam e preenchem o nosso quotidiano de informao. Tal como
aponta Wallerstein no seu livro Historical Capitalism (1983) parece haver
agravamentos sensveis dos conflitos medida que nos aproximamos do tempo
presente e cada sculo fez mais vitimas devido a guerras que o sculo anterior.
No que respeita justia social a questo igualmente difcil: o fosso entre ricos e
pobres continua a aumentar escala nacional e internacional, os pases ricos
comeam a muralhar-se contra a previsvel entrada de estrangeiros (mais pobres)
nas suas fronteiras, as periferias das grandes cidades so pungentes exemplos de
excluso. As instituies sociais defrontam-se com novas questes de excluso
social ao nvel da cidadania, do trabalho, da educao, do territrio e da identidade.
(Stoer, Magalhes e Rodrigues, 2004).
neste terreno controverso, desigual e crescentemente complexo que a Incluso
(seja social ou educativa) procura prevalecer. Neste aspecto, poder-se-ia dizer que
quanto mais a excluso social efectivamente cresce, mais se fala em Incluso. O
termo Incluso tem sido to intensamente usado que se banalizou de forma que
encontramos o seu uso indiscriminado no discurso poltico nacional e sectorial, nos
programas de lazer, de sade, de educao etc.
Recentemente at o sistema bancrio tem vindo a usar o termo: no Brasil uma
instituio bancria lanou uma campanha sobre um sistema bancrio inclusivo
que busca captar contas de clientes iletrados.
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No se sabe bem o que todos estes discursos querem dizer com Incluso e
legtimo pensar que muitos significados se ocultam por detrs de uma palavra-chave
que todos usam e se tornou aparentemente to bvia que parece no admitir
qualquer polissemia. No discurso dos media e do quotidiano, o conceito de
Incluso est relacionado antes de mais com no ser excludo isto com a
capacidade de pertencer ou de se relacionar com uma comunidade. Claro que existe
uma normalizao implcita neste conceito: o conceito da comunidade onde a
pessoa se deve integrar o de uma comunidade benigna, positiva, diversa e
prspera. No se espera que se possa considerar includa uma pessoa que pertence
e comunica com uma comunidade fundamentalista religiosa ou com uma
comunidade que faz do seu modo de vida a venda e trfico de estupefacientes. H
assim um implcito politicamente correcto quando se fala de Incluso.
Sabemos, no entanto, que no assim. As comunidades, as famlias so elas
prprias estruturas complexas e que no devem ser abordadas de forma
normalizada. Pensar de imediato em comunidades receptivas ou em famlias com
uma estrutura tradicional muitas vezes um mau princpio para dinamizar um
processo de incluso.
Podemo-nos perguntar: Que ento estar includo? Como se articula a necessidade
imperiosa de ter uma identidade numa comunidade restrita de pertena com a
incluso em grupos mais latos?
Como se relaciona a Incluso com a mobilidade da pessoa em diferentes grupos e
contextos sociais? De que forma estar fortemente integrado num determinado
contexto identitrio pode ser impeditivo da pessoa participar ou se relacionar com
outros contextos? A Incluso necessria? E essencial? Para quem?
E a Incluso na Educao?
O conceito de Incluso no mbito especfico da Educao, implica, antes de mais,
rejeitar, por princpio, a excluso (presencial ou acadmica) de qualquer aluno da
comunidade escolar. Para isso, a escola que pretende seguir uma poltica de
Educao Inclusiva (EI) desenvolve polticas, culturas e prticas que valorizam o
contributo activo de cada aluno para a construo de um conhecimento construdo e
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partilhado e desta forma atingir a qualidade acadmica e scio cultural sem
discriminao.
Os sistemas educativos de numerosos pases mundiais tm na ltima dcada usado
o termo Incluso nos seus textos legais de Educao (como o tinham usado antes
relacionado com as estruturas sociais). O que estes sistemas entendem por Incluso
sero talvez coisas diferentes.
Recentemente Wilson (2000) analisando documentos sobre a incluso em particular
provenientes do Center for Studies on Inclusive Education, indicou que o que se
entende por uma Escola Inclusiva pressupe uma escola centrada na comunidade,
livre de barreiras (desde as arquitectnicas s curriculares), promotora de
colaborao e de equidade.
Por outro lado, Hegarty (2003) ao confrontar os objectivos ambiciosos da EI defende
que o debate incluso/segregao tem recebido um interesse excessivo e que
sobretudo necessrio investir uma verdadeira Educao para Todos.
A EI tornou-se assim um campo polmico por vrias razes. Uma das principais
sem dvida a contradio entre a letra da legislao e a prtica das escolas. O
discurso da incluso ou a ideologia da Incluso (Correia, 2003) no tem
frequentemente uma expresso emprica e por vezes fala-se mais da EI como um
mero programa poltico ou como uma quimera inatingvel do que como uma
possibilidade concreta de opo numa escola regular. Tanto a legislao como o
discurso dos professores se tornaram rapidamente inclusivos enquanto as prticas
na escola s muito discretamente tendem a ser mais inclusivas. Recentemente
afirmamos que preciso no invocar o nome da Incluso em vo tentando
mapear esta distncia entre os discursos e as prticas.
A investigao e a realizao de projectos sobre EI permitem delinear algumas das
bases sobre as quais se podem construir projectos credveis.
a luz desta investigao e da produo emprica de conhecimento sobre a EI que
vamos seguidamente analisar algumas ideias comuns (a que chamamos ideias
feitas) disseminadas entre os professores e entre as comunidades educativas em
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geral. Estas afirmaes podem ser organizadas, na nossa opinio, em cinco grupos
conforme a sua temtica: valores, formao de professores, recursos, currculo e
gesto da sala de aula.
1. Valores
A Incluso a evoluo natural do sistema integrativo
Muito se tem escrito sobre as diferenas entre Integrao e Incluso (Correia,
2001, Rodrigues 2001, 2003). Afigura-se consensual que a integrao pressupe um
participao tutelada numa estrutura com valores prprios e aos quais o aluno
integrado se tem que adaptar. Diferentemente, a EI pressupe uma participao
plena numa estrutura em que os valores e prticas so delineados tendo em conta
todas as caractersticas, interesses, objectivos e direitos de todos os participantes no
acto educativo.
Pelo facto de o movimento inclusivo se ter desenvolvido aps o movimento
integrativo e usando frequentemente os mesmos agentes e recursos, diz-se que a
Incluso uma evoluo ou mesmo um novo nome da Integrao. A Integrao
ou como agora se diz a Incluso uma frase comummente ouvida.
A Incluso no , a nosso ver, uma evoluo da Integrao. Isto por trs razes
principais:
Em primeiro lugar a Integrao deixou intocveis os valores menos inclusivos da
escola. No foi por causa da Integrao que o insucesso ou o abandono escolares
diminuram ou que novos modelos de gesto da sala de aula surgiram. A Integrao
criou frequentemente uma escola especial paralela escola regular em que os
alunos que tinham a categoria de deficientes tinham condies especiais de
frequncia: aulas suplementares, apoio educativo, possibilidade de estender o plano
escolar de um ano em vrios, condies especiais de avaliao, etc.
Em segundo lugar, a escola Integrativa separava os alunos em dois tipos: os
normais e os deficientes. Para os alunos normais era mantida a sua lgica
curricular, os mesmos valores e prticas; para os deficientes seleccionava
condies especiais de apoio ainda que os aspectos centrais do currculo
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continuassem inalterados. A escola Integrativa via a diferena s quando ela
assumia o carcter de uma deficincia e neste aspecto encontrava-se
bem longe de uma concepo inclusiva
Em terceiro lugar, o papel do aluno deficiente na escola integrativa foi sempre
condicionado. Era implcito ao processo que o aluno s se poderia manter na escola
enquanto o seu comportamento e aproveitamento fossem adequados. Caso
contrrio poderia sempre ser devolvido escola especial. Assim o aluno com
dificuldades no era um membro de pleno direito da escola mas to s uma benesse
que a escola condicionalmente lhe outorgava.
Assim, quando se fala de escola Integrativa trata-se de uma escola que em tudo
semelhante a uma escola tradicional em que os alunos com deficincia (os alunos
com outros tipos de dificuldades eram ignorados) recebiam um tratamento especial.
A perspectiva da EI sim bem oposta da escola tradicional e integrativa ao
promover uma escola de sucesso para todos ao encarar os alunos como todos
diferentes e necessitados de uma pedagogia diferenciada (Perrenoud, 1996) e
cumprindo o direito plena participao de todos os alunos na escola regular.
A Educao Inclusiva para alunos diferentes
A noo de diferena tem baseado muito do discurso moderno sobre a
diferenciao pedaggica . Perrenoud (1996) fala mesmo dos alunos com
pequenas e grandes diferenas. Apesar do termo alunos diferentesser
abundantemente usado, isso no significa que ele tenha um entendimento claro.
Frequentemente o termo diferente usado como um alter nomine de deficiente
(sinalizao de um qualquer problema num aluno). Tal como no perodo integrativo
existiam os deficientes e os normais encontramos agora os diferentes e os
normais. Mas o que afinal ser diferente? E diferente de qu?
conhecida a dificuldade de traar uma fronteira clara entre a deficincia e a
normalidade.
Em casos de pessoas com deficincia intelectual muito difcil diferenciar uma
pessoa com deficincia intelectual com um alto funcionamento de uma outra sem
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deficincia intelectual com um baixo funcionamento cognitivo. O que parece obvio
que as capacidades humanas (sejam cognitivas, afectivas, motoras ou outras) se
distribuem num continuum no qual so apostas fronteiras e critrios que so
socialmente determinados. Um exemplo do carcter aleatrio destas fronteiras a
variedade de classificaes da deficincia intelectual nos diversos estados dos
Estados Unidos que pode levar que o mesmo indivduo seja considerado como
tendo deficincia num estado e sem deficincia num estado vizinho. Ser diferente
assim, na acepo comum viver numa sociedade que cujos valores consideraram
determinadas caractersticas da pessoa como merecedoras de serem classificadas
como deficincia ou dificuldade.
Mas o certo que a diferena no estruturalmente dicotmica isto no existe um
critrio generalizado e objectivo que permita classificar algum como diferente. A
diferena antes de mais uma construo social historicamente e culturalmente
situada. Por outro lado, classificar algum como diferente parte do principio que o
classificador considera existir outra categoria que a de normal na que ele
naturalmente se insere.
Quando dizemos que a EI se dirige aos alunos diferentes, acabamos por encarar
todas estas questes. Sabemos que no so s diferentes os alunos com uma
condio de deficincia:
muitos outros alunos sem condio de deficincia identificada no aprendem se no
tiverem uma ateno particular ao seu processo de aprendizagem. Heward (2003)
afirma que o facto dos alunos serem todos diferentes no implica que cada um tenha
que aprender segundo uma metodologia diferente; isto levar-nos-ia a uma escola
impossvel de funcionar nas condies actuais. Significa, no entanto, que se no
proporcionarmos abordagens diferentes ao processo de aprendizagem estamos a
criar desigualdade para muitos alunos.
O certo que no s os alunos so diferentes mas os professores so tambm
diferentes e ser diferente uma caracterstica humana e comum e no um atributo
(negativo) de alguns. A EI dirige-se assim aos diferentes isto a todos os
alunos. E ministrada por diferentes isto todos os professores.
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2. Formao de Professores
A formao para a EI durante o perodo da formao inicial
Em muitos pases a comearam a ser integrados no currculo de formao inicial de
professores e educadores disciplinas respeitantes s Necessidades Educativas
Especiais ou designaes afins. Esta inovao (recordo a ttulo de exemplo a
prtica em Portugal onde esta formao obrigatria por lei desde 1987) sem
dvida importante por poder vir a familiarizar o futuro professor com o conhecimento
de situaes provveis que, face crescente incluso de alunos com NEE nas
escolas regulares, ele poder vir a enfrentar. Se esta formao j to frequente
porque continuamos a escutar queixas de professores sobre a sua falta de formao
para atender alunos com dificuldades nas suas aulas?
Levantam-se duas questes neste mbito:
Uma ligada s caractersticas complexas da profisso de professor. Um professor
no um tcnico (no sentido de aplicar tcnicas relativamente normalizadas e
previamente conhecidas) nem um funcionrio (isto , uma pessoa que executa
funes enquadrado por uma cadeia hierrquica perfeitamente definida). A profisso
de professor exige uma grande versatilidade dado que se lhe pede que aja com uma
grande autonomia e seja capaz de delinear e desenvolver planos de interveno em
condies muito diferentes. Para desenvolver esta competncia to criativa e
complexa no basta uma formao acadmica; necessria tambm uma formao
profissional (Campos, 2002).
No podemos esquecer quais foram os interesses que esse conhecimento serviu: o
conhecimento antropolgico da organizao e forma de viver das tribos africanas
serviu para informar a desgraada partilha de frica entre as potencias coloniais,
cujos efeitos perversos que ainda hoje se fazem sentir. O conhecimento da diferena
no sempre positivo; podemos conhecer para melhor segregar.
Regressando ao domnio da Educao constatamos que, se a nfase na formao
de professores for dada na diferena e nos casos mais profundos, acabamos por
proporcionar (ainda que com boas intenes) um argumento para que o jovem
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professor avalie a sua futura tarefa como quase inultrapassvel e at a rejeitar a
incluso de alunos com dificuldades devido exatamente ao conhecimento que tem
das reais dificuldades que esses alunos tm.
Pensamos que a formao deve ser feita em termos das deficincias mais ligeiras (a
esmagadora maioria dos casos que surgem nas escolas regulares) e que todo o
conhecimento da diferena seja integrado numa compreenso da diversidade
humana que vai das altas habilidades at deficincia e dando a noo que os
casos muito difceis so uma minoria e que na grande maioria as dificuldades so
discretas e leves.
Assim, conhecer as diferenas sim mas para promover a incluso e no para
justificar a segregao. Conhecer as diferenas mais comuns que so certamente as
mais numerosas.
Enfim no dar a conhecer a diferena como se se tratasse de uma situao mdica
mas fazer acompanhar cada caracterizao de indicaes pedaggicas que
contribuam para que o futuro professor possua um esboo de entendimento que lhe
permita iniciar o seu processo de pesquisa.
3. Recursos
Os recursos so secundrios. O importante a atitude da escola e do
professor
Como Wilson (op.cit.) faz notar, a EI encontra-se impregnada de valores ticos e de
morais.
Correia (2000), na mesma linha, refere-se ideologia da Incluso querendo realar
a forte carga ideolgica que atribuda aos projetos de EI. Ao examinarmos mais de
perto as suas premissas, verificamos que existe uma energia bondosa na EI que
poderia ser sintetizada na frase: Queremos que todas as crianas sejam educadas
juntas, sem discriminao numa escola livre de barreiras e ligada comunidade.
Perante um idealismo que associa a incluso aos direitos humanos e justia social
compreensvel que a fora fundamental da promoo de um tal programa repouse
nas atitudes, na vontade e na tica dos professores. Para muitos professores
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atitude o aspecto fundamental para que a EI se possa desenvolver. Se hiper
valorizarmos as atitudes, outros fatores, como por exemplo os recursos, podem ser
menos valorizadas. Relatamos num artigo anterior (Rodrigues 2003) a opinio de um
consultor de uma organizao educativa internacional que me dizia que tinha visto
em Africa verdadeira incluso: escolas comunitrias sem quaisquer meios, com
classes muito numerosas mas onde todas as crianas da comunidade comungavam
do mesmo espao mesmo que fosse debaixo de uma rvore. Era o exemplo da
subalternizao dos recursos.
A questo a incluso, tal como a entendemos em sociedades modernas pode ser
promovida em escolas e sistemas educativos desprovidos de recursos? Na nossa
opinio no. A Incluso tem de constituir uma resposta de qualidade para poder, por
exemplo, constituir uma alternativa sria s escolas especiais. Uma escola inclusiva
que atenda por exemplo alunos com deficincia mental tem que ser capaz de
proporcionar, pelo menos, o mesmo tipo de servios da escola especial. Se no,
porque iro os pais preferir a incluso, se isso pode ter um efeito devastador na sua
qualidade de vida? Promover a Incluso criar servios de qualidade e no
democratizar para todos as carncias. Por isso no pensamos que seja defensvel
um sistema de EI que repouse inteiramente nas atitudes mais ou menos idealistas e
ticas do professor. Sem mais recursos a chegar escola ser muito difcil que a
escola seja capaz de aumentar o seu leque de respostas. As escolas funcionam em
regra muito perto do seu limite mximo de resposta mesmo quando no adoptam
modelos inclusivos. Se vamos pedir s escolas para diversificar a sua resposta e
para criarem servios adaptados a populaes que antes nunca l estiveram
essencial que mais recursos humanos e materiais devam ser adstritos escola. A EI
pressupe uma escola com uma forte confiana e convico que possui os recursos
necessrios para fazer face aos problemas.
A EI um sistema barato para educar todos os estudantes
Um determinado sub sistema educativo tomou a deciso de encerrar as escolas
especiais da regio e enviar os alunos que antes frequentavam esta escola para a
escola regular. Esta deciso foi muito aplaudida: poupou recursos porque a escola
especial absorvia uma fatia importante do oramento da regio, permitiu que alguns
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professores que estavam colocados na escola especial pudessem regressar ao
sistema regular de ensino (um factor adicional de poupana) e ainda proporcionou
uma imagem de incluso. Esta deciso deu, em suma, uma aura de modernidade
porque, pelo menos aparentemente, deu passos significativos em direo
moderna EI.
Esta situao, aqui relatada como ficcional, muito comum. Sem dvida que o facto
de situar o esforo educativo de todas as crianas de uma dada comunidade num
dado espao fsico e pedaggico parece poder apresentar vantagens ao nvel
econmico. Num estudo que estamos em vias de completar em que so
comparados dois modelos de atendimento, um de incluso e outro de escola
especial, constatamos que as verbas dispendidas pelo modelo inclusivo so
significativamente inferiores aos dispendidos pela escola especial. Apesar de este
poder ser um dos resultados colaterais da incluso, ela no deve ser pensada
nestes termos. A escola regular se quiser ser capaz de responder com competncia
e com rigor diversidade de todos os seus alunos necessita de recrutar pessoal
mais especializado (terapeutas, psiclogos, trabalhadores sociais, etc.) e necessita
de dispor de equipamentos e recursos materiais mais diferenciados. Enfim,
necessita ser uma organizao diferenciada de aprendizagem que oferea a
garantia s famlias e encarregados de educao que os mesmos servios que
eram proporcionados pela escola especial podem continuar a estar disponveis.
S desta forma a escola regular se torna verdadeiramente concorrente e uma
alternativa escola especial porque alm de proporcionar um elenco de recursos
humanos semelhante e um conjunto de recursos materiais equivalente, d acesso a
uma experincia de educao integrada com jovens sem deficincia e em
ambientes mais ricos e diversificados.
Talvez a EI seja um sistema mais barato, mas no por a que as opes devem
ser feitas.
Encerrar escolas especiais no pode significar lanar jovens com necessidades
especiais para uma escola regular que foi criada e desenvolvida na perspectiva da
ignorncia da diferena. Neste aspecto a EI no uma educao em saldo pelo
contrrio, um sistema exigente, qualificado, profissional e competente. Estas
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caractersticas fazem da EI