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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 024.245/2015-1 1 GRUPO II – CLASSE V – Plenário TC 024.245/2015-1. Natureza: Relatório de Auditoria. Entidade: Confederação Brasileira de Ginástica (37.160.348/0001-56). Responsável: Maria Luciene Cacho Resende (320.203.505-30) Representação legal: Rafael Resende de Andrade (5.201/OAB-SE) e outros, representando Confederação Brasileira de Ginástica e Maria Luciene Cacho Resende. SUMÁRIO: AUDITORIA. INDÍCIOS DE IRREGULARIDADE NA APLICAÇÃO DE RECURSOS DA LEI AGNELO/PIVA PELA CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE GINÁSTICA (CBG). ANÁLISE DAS RESPOSTAS ÀS OITIVAS E AUDIÊNCIA. DETERMINAÇÕES. CIÊNCIA AO MINISTÉRIO DO ESPORTE E À CBG. RELATÓRIO Trata-se de relatório de auditoria realizada na Confederação Brasileira de Ginástica (CBJ), com o objetivo de verificar a regularidade da aplicação de recursos provenientes da Lei 9.615/1998, alterada pela Lei 10.264/2001 (Lei Agnelo/Piva). 2. Transcrevo a seguir, com ajustes de forma, excerto do relatório (peça 38) elaborado pela Secretaria de Controle Externo no Estado de Sergipe (Secex-SE), com cujas conclusões e encaminhamento manifestaram-se de acordo os dirigentes da unidade (peças 39 e 40): APRESENTAÇÃO 1. Trata-se de Relatório de Auditoria de Conformidade, na modalidade Fiscalização de Orientação Centralizada (FOC), realizada na Confederação Brasileira de Ginástica, com o objetivo de verificar a regularidade da aplicação de recursos provenientes da Lei 10.264/2001 (Lei Agnelo/Piva) por parte da auditada. 2. A partir da seleção efetuada em conjunto entre as secretarias regionais de controle externo que atuaram na FOC e a Secretaria de Controle Externo da Educação, da Cultura e do Desporto (SecexEducação), e com base em critérios objetivos (materialidade dos recursos recebidos, denúncias de irregularidades, data de celebração dos convênios, etc.), foram definidas as entidades a serem auditadas e a respectiva secretaria de controle externo responsável pela fiscalização, conforme apresentado na Tabela 1. Tabela 1 – Entidades auditadas Secex Responsável Entidade SecexEducação Comitê Paralímpico Brasileiro Secex-MG Confederação Brasileira de Basketball Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos Secex-PR Confederação Brasileira de Ciclismo Confederação Brasileira de Clubes Secex-RJ Comitê Olímpico Brasileiro

SUMÁRIO: AUDITORIA. INDÍCIOS DE CONFEDERAÇÃO … · 2016-12-15 · As fiscalizações deram origem a processos individualizados, com tramitação própria, cujo objetivo ... à

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 024.245/2015-1

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GRUPO II – CLASSE V – Plenário TC 024.245/2015-1.

Natureza: Relatório de Auditoria. Entidade: Confederação Brasileira de Ginástica (37.160.348/0001-56). Responsável: Maria Luciene Cacho Resende (320.203.505-30)

Representação legal: Rafael Resende de Andrade (5.201/OAB-SE) e outros, representando Confederação Brasileira de Ginástica e Maria

Luciene Cacho Resende.

SUMÁRIO: AUDITORIA. INDÍCIOS DE

IRREGULARIDADE NA APLICAÇÃO DE

RECURSOS DA LEI AGNELO/PIVA PELA

CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE

GINÁSTICA (CBG). ANÁLISE DAS

RESPOSTAS ÀS OITIVAS E AUDIÊNCIA.

DETERMINAÇÕES. CIÊNCIA AO

MINISTÉRIO DO ESPORTE E À CBG.

RELATÓRIO

Trata-se de relatório de auditoria realizada na Confederação Brasileira de Ginástica (CBJ),

com o objetivo de verificar a regularidade da aplicação de recursos provenientes da Lei 9.615/1998, alterada pela Lei 10.264/2001 (Lei Agnelo/Piva).

2. Transcrevo a seguir, com ajustes de forma, excerto do relatório (peça 38) elaborado pela

Secretaria de Controle Externo no Estado de Sergipe (Secex-SE), com cujas conclusões e encaminhamento manifestaram-se de acordo os dirigentes da unidade (peças 39 e 40):

APRESENTAÇÃO

1. Trata-se de Relatório de Auditoria de Conformidade, na modalidade Fiscalização de Orientação Centralizada (FOC), realizada na Confederação Brasileira de Ginástica, com o objetivo de verificar a regularidade da aplicação de recursos provenientes da Lei 10.264/2001 (Lei Agnelo/Piva) por parte da auditada.

2. A partir da seleção efetuada em conjunto entre as secretarias regionais de controle externo que atuaram na FOC e a Secretaria de Controle Externo da Educação, da Cultura e do Desporto (SecexEducação), e com base em critérios objetivos (materialidade dos recursos recebidos, denúncias de irregularidades, data de celebração dos convênios, etc.), foram definidas as entidades a serem auditadas e a respectiva secretaria de controle externo responsável pela fiscalização, conforme apresentado na Tabela 1.

Tabela 1 – Entidades auditadas

Secex Responsável Entidade

SecexEducação Comitê Paralímpico Brasileiro

Secex-MG Confederação Brasileira de Basketball

Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos

Secex-PR Confederação Brasileira de Ciclismo

Confederação Brasileira de Clubes

Secex-RJ Comitê Olímpico Brasileiro

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Confederação Brasileira de Judô

Secex-RS Confederação Brasileira de Voleibol

Secex-SE Confederação Brasileira de Ginástica

Secex-SP Confederação Brasileira de Atletismo

Confederação Brasileira de Rugby

Elaboração: SecexEducação/TCU

3. As fiscalizações deram origem a processos individualizados, com tramitação própria, cujo objetivo foi sanear impropriedades específicas detectadas na aplicação dos recursos provenientes da Lei 10.264/2001 por parte de cada unidade fiscalizada.

4. As informações contidas nos relatórios individuais de cada auditoria serão encaminhadas à SecexEducação, que é a responsável pela consolidação das informações das auditorias realizadas pelas demais Secex de âmbito estadual. O relatório consolidador terá por objetivo contribuir para a conformação de uma visão sistêmica a respeito da aplicação dos recursos proveniente da Lei Agnelo/Piva no Sistema Nacional de Desporto.

II. INTRODUÇÃO

II.1 Deliberação que originou o trabalho

5. Este trabalho teve origem no despacho do Ministro-Relator no TC 019.708/2015-7, em 24/8/2015. II.2 Antecedentes

6. Em 2014, o Tribunal de Contas da União (TCU) realizou levantamento (TC 021.654/2014-0) com a finalidade de compreender o funcionamento dos componentes

do Sistema Nacional do Desporto (SND), verificando as fontes de financiamento, as formas de aplicação dos recursos públicos recebidos, os controles e os resultados. O trabalho, além de apresentar esse diagnóstico de caráter amplo, também orientou a seleção

de trabalhos de fiscalização nessa área.

7. O item 9.3.2 do Acórdão 1.785/2015 – TCU – Plenário, de 22/7/2015, determinou à

Secretaria Geral de Controle Externo do TCU que, quando da formalização de novas propostas de fiscalização a serem realizadas pela unidade, considerasse como prioritárias, dentre outras, a realização de ações de controle com o objetivo de verificar a regularidade

da aplicação de recursos provenientes da Lei 10.264/2001 (Lei Agnelo/Piva) pelo Comitê Olímpico Brasileiro, Comitê Paraolímpico Brasileiro, Confederação Brasileira de Clubes e

Confederações Olímpicas e Paraolímpicas.

8. Nesse sentido, essa auditoria está sendo realizada na modalidade de Fiscalização de Orientação Centralizada, em consonância com o Acórdão 1.785/2015 – TCU – Plenário, e

decorre de deliberação constante em Despacho de 24/08/2015 do Min. Vital do Rêgo (TC 019.708/2015-7), tendo se desenvolvido no período de setembro de 2015 a outubro de

2015.

II.3 Visão Geral

9. O art. 217 da Constituição Federal/1988 (CF/1988) prescreve que é dever do Estado

fomentar as práticas desportivas, respeitada a autonomia das entidades desportivas quanto à sua organização e funcionamento, tendo em vista a natureza jurídica dessas entidades. O

mesmo artigo ressalta que uma das formas de fomento estatal ao desporto deve ocorrer mediante destinação de recursos públicos a essa área.

10. A Lei 10.264/2001 (Lei Agnelo/Piva), que alterou a Lei 9.615/1998 (Lei Pelé),

estabelece que 2% da arrecadação bruta de todas as loterias federais do país sejam

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repassados ao Comitê Olímpico do Brasil (COB) e ao Comitê Paraolímpico Brasileiro

(CPB). A partir de alterações posteriores à Lei Pelé, incluiu-se a Confederação Brasileira de Clubes (CBC) como beneficiária das receitas oriundas de concursos de prognósticos

federais. Dessa arrecadação, 85% são destinados ao COB e 15% ao CPB, enquanto que 1/6 do adicional de 4,5% sobre cada bilhete é destinada à CBC.

11. A Lei 9.615/1998 ainda dispõe, em seu art. 9º, §1º, que, anualmente, COB e CPB

receberão a renda líquida total de um dos testes da Loteria Esportiva Federal para treinamento e para competições preparatórias das equipes olímpicas nacionais, e, nos anos

de realização dos Jogos Olímpicos e dos Jogos Pan-Americanos, a renda líquida de um segundo teste, para a participação de delegações nacionais nesses eventos. Esses recursos constituem receitas próprias das entidades, apesar de a lei determinar sua destinação.

12. Conforme apresentado no relatório de levantamento do TCU sobre o Sistema Nacional de Desporto (TC 021.654/2014-0), a principal fonte de recursos do desporto olímpico e

paraolímpico brasileiro é a Lei Agnelo/Piva. Segundo dados declarados pelas entidades integrantes do SND, considerando os valores recebidos e projeções de valores a receber nos próximos exercícios, 48% do financiamento do setor provêm da Lei Agnelo/Piva.

Figura 1 – Participação relativa das principais fontes de recursos do esporte olímpico

brasileiro

Fonte : TC 021.654/2014-0 Elaboração: TCU/SecexEducação

13. Os recursos provenientes da Lei Agnelo/Piva recebidos pelo COB, pelo CPB e pela

CBC são utilizados na manutenção dessas entidades e na realização de suas atividades finalísticas. Além disso, parte desses recursos são repassados às confederações/clubes a eles filiados, por meio de convênios.

14. Para entender melhor como se processa a utilização dos recursos da Lei Agnelo/Piva, pela CBG, elaborou-se fluxograma com o procedimento, conforme figura abaixo:

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Figura 2: Fluxo de recursos da Lei Agnelo/Piva: arrecadação, repasse e prestação de

contas

II.3.1 Informações gerais sobre a entidade auditada

15.A Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) é uma associação de caráter desportivo sem fins lucrativos ou econômicos, fundada em 25 de novembro de 1978, com o objetivo de desenvolver a prática da Ginástica em todo o território nacional, regendo-se pelo seu estatuto, com arrimo na lei 9.615, de 24 de março de 1998, e no Decreto Federal 7.984/2013.

16.A CBG é constituída pelas entidades estaduais de Administração da Ginástica (Federações) por filiação direta, sendo reconhecida com entidade exclusiva da Ginástica no âmbito nacional.

17. Segundo seu estatuto, art. 8º, compete à CBG dirigir, difundir, promover organizar e aperfeiçoar as seguintes modalidades de Ginástica: Artística, Rítmica, de Trampolim, Para todos, Aeróbica e Acrobática, sendo as primeiras três modalidades olímpicas. Ainda conforme esse documento, art. 14, são poderes internos da CBG: Assembleia Geral, Presidência e Vice Presidência, e o Conselho Fiscal.

II.4 Objetivo da fiscalização

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18. Este trabalho teve por objetivo verificar a regularidade da aplicação de recursos provenientes da Lei 10.264/2001 (Lei Agnelo/Piva) pela Confederação Brasileira de Ginástica.

19.A auditoria foi realizada na modalidade de Fiscalização de Orientação Centralizada (FOC) e a SecexEducação ficou responsável por consolidar os resultados das auditorias individuais realizadas nas entidades selecionadas.

II.5 Escopo da auditoria

20.O recorte das doze questões de auditoria buscou avaliar: o fluxo de gastos financiados pela Lei Agnelo/Piva com atividades finalísticas da Confederação Brasileira de Ginástica; as atividades relacionadas com a manutenção dessa entidade; a alternância de poder nessa entidade, que é privada, mas financiada majoritariamente por recursos federais.

21.O trabalho de delimitação do escopo resultou na escolha de seis aspectos centrais: 1) análise quanto ao cumprimento do art. 18-A da Lei 9.615/1998 por parte da auditada; 2) análise dos demonstrativos mensais de conciliação bancária ou dos extratos das contas vinculadas; 3) análise dos processos de aquisição; 4) análise dos contratos; 5) avaliação da execução do objeto contratado; 6) análise dos salários de funcionários e dirigentes; 7) análise das despesas administrativas em entidades que captam recursos tanto com o COB como com o CPB.

22.Em casos específicos, alguns aspectos foram considerados não aplicáveis em razão das atividades desempenhadas pela unidade auditada. No que se refere à CBG, desconsiderou-se o aspecto relativo ao item 7, descrito anteriormente.

II.6 Critérios

23.Para fundamentar os exames realizados, foram utilizadas como principais fontes de critério de auditoria:

a) Lei 9.615, de 24 de março de 1998 (Lei Pelé), que institui normas gerais sobre o desporto;

b) Lei 10.264, de 16 de julho de 2001 (Lei Agnelo/Piva), que acrescenta inciso e parágrafo ao art. 56 da Lei 9.615/1998;

c) Portaria Interministerial 507, de 24 de novembro de 2011, que regula os convênios, os contratos de repasse e os termos de cooperação celebrados pelos órgãos e entidades da Administração Pública Federal com entidades sem fins lucrativos para a execução de programas, projetos e atividades de interesse recíprocos;

d) Estatuto da Confederação Brasileira de Ginástica, aprovado em 7 de março de 2015;

e) Portaria Ministério do Esporte (ME) 224, de 18 de setembro de 2014, que dispõe sobre o procedimento para verificação pelos órgãos do Ministério do Esporte acerca do cumprimento das exigências previstas nos artigos 18 e 18-A da lei 9.615/1998;

f) Instrução Normativa COB 1, de 12 de maio de 2014, revisada em 19/12/2014, que disciplina a aplicação dos recursos decorrentes da Lei 9.615/1998 em projetos e programas do COB, e das suas filiadas (entidades nacionais de administração do desporto olímpico).

24.Outros normativos também empregados como critério foram o Decreto 6.170/2007, que dispõe sobre normas relativas às transferências de recursos da União mediante convênios e contratos de repasse; a Lei 8.666/1993, que institui normas para licitações e contratos da Administração Pública; e a Portaria ME 1/2014, que dispõe sobre os limites de utilização de recursos financeiros para custeio de despesas administrativas necessárias ao cumprimento das metas pactuadas pelo COB, pelo CPB e pela CBC.

II.7 Métodos e procedimentos

25.A auditoria foi realizada na modalidade Fiscalização de Orientação Centralizada (FOC).

26. Na fase de planejamento, como suporte à identificação do problema e à formulação das questões de auditoria, foram utilizados os resultados apresentados no relatório de levantamento realizado pela SecexEducação no Sistema Nacional do Desporto (SND). Além disso, foram

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utilizadas reportagens amplamente divulgadas na mídia relativas a indícios de má aplicação dos recursos públicos por parte de confederações olímpicas e paraolímpicas.

27.Ainda na fase de planejamento, também foram realizadas as seguintes atividades: a) consulta à legislação, a documentos oficiais e a artigos relacionados ao tema da auditoria; b) elaboração de matriz preliminar de planejamento pela equipe da SecexEducação, a partir de núcleo comum de questões definidas pela equipe e debatidas mediante videoconferência com as Secex regionais que participam da FOC; c) definição dos processos licitatórios e contratos firmados pela Confederação Brasileira de Ginástica a serem incluídos na amostra, considerando, dentre outros aspectos, a materialidade do objeto contratado e a avaliação de processos tanto de manutenção como relativos as atividades finalísticas da unidade auditada.

28.No período de 27/7 a 7/8/2015, foi realizada auditoria piloto na Confederação Brasileira de Desporto de Deficientes Visuais (CBDV) e na Confederação Brasileira de Hipismo (CBH), com o fim de verificar a adequação da matriz de planejamento previamente elaborada pela SecexEducação, bem como avaliar o prazo que seria necessário para realização das auditorias pelas Secex regionais.

29.Essa auditoria adotou como aproximação metodológica centrar as análises em uma entidade que receba recursos tanto do CPB como do COB e uma entidade que recebe repasses somente do CPB. Por isso, foram escolhidas, respectivamente, CBH e CBDV.

30.Optou-se por selecionar essa amostra em razão da possibilidade de haver sobreposição de recursos públicos advindos de fontes distintas na CBH e, no caso da CBDV, em razão da possibilidade de aumentar a amostra de entidades fiscalizadas que recebem recursos somente do CPB, uma vez que a amostra da FOC é composta predominantemente por confederações olímpicas.

31.Foram verificados diversos achados na fiscalização piloto. Em razão disso, houve a necessidade de readequação de alguns aspectos da matriz de possíveis achados para a FOC.

32.Na fase de execução, a equipe da SecexEducação selecionou processos relativos ao CPB, os quais inserem-se dentro dos seguintes temas: a) manutenção da entidade; b) processos licitatórios; c) contratos.

33.Após a realização dos trabalhos de campo, os achados foram discutidos em reunião da equipe em Brasília, oportunidade em que se produziu a matriz de achados, que subsidiou a elaboração deste trabalho.

34.À Secex-SE coube a tarefa de realizar auditoria de conformidade junto à Confederação Brasileira de Ginástica, com sede em Aracaju/SE. De início, a equipe responsável pela fiscalização examinou e revisou a matriz de planejamento definida pela FOC, e a submeteu ao supervisor da auditoria, que a homologou. Após isso, elaborou-se ofício de requisição para a auditada. Esse ofício solicitou informações definidas pela FOC, bem como dezenove projetos executados pela entidade nos exercícios de 2013 a 2015, que foram selecionados pela equipe de fiscalização, considerando critérios de materialidade e relevância, para serem examinados durante a execução da auditoria.

35.Os trabalhos foram realizados em conformidade com as Normas de Auditoria do Tribunal de Contas da União e em observância aos princípios e padrões estabelecidos pelo TCU no Manual de Orientações para Auditorias de Conformidade (Portaria – ADPLAN 1/2010). Nenhuma restrição foi imposta aos exames.

36.A auditoria na CBG adotou a seguinte metodologia: (i) exame de projetos, licitações e contratos; (ii) entrevistas com gestores da entidade; (iii) requisição de informações; (iv) exame dos dados coletados; (v) discussão dos achados com a SecexEducação.

III. ACHADOS DE AUDITORIA

III.1. O Estatuto da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) contempla o conteúdo

mínimo exigido pelo art. 18-A da Lei 9.615/1998, mas algumas exigências ainda não são

asseguradas, na prática, pela entidade.

Situação encontrada:

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37.O estatuto da CBG de 2015, aprovado em Assembleia Geral Extraordinária, contempla as disposições contidas no art. 18-A da Lei 9.615/1998, incluídos pela Lei 12.868, de 15 de outubro de 2013. No entanto, constatou-se que nem sempre, na prática, aquilo que é previsto no estatuto é assegurado ou realizado pela entidade.

38.No art. 74-A do estatuto, há previsão de que a entidade aplicará o disposto na Portaria 224/2014 do Ministério do Esporte, de 18 de setembro de 2014, que estabeleceu o procedimento para verificação do cumprimento das exigências previstas no art. 18-A da Lei 9.615/1998.

39.Acerca dessas exigências do art. 18-A, registra-se que a produção dos seus efeitos se verificou a partir do 6º mês da publicação da Lei 12.868, de 16/10/2013. Findo este prazo, estariam as entidades beneficiadas com recursos públicos federais sujeitas a perderem os benefícios consignados no art. 15 da Lei 9.532/1997 (que trata da isenção de imposto de renda), e nos arts. 13 e 14 da Medida Provisória 2.158-35/2001 (que trata de benefícios sobre a contribuição do PIS/PASEP e da COFINS.

40.A verificação do cumprimento dessas exigências é realizada pelo Ministério do Esporte, e regulada pela Portaria ME 224/2014.

41.As disposições do art. 18-A da Lei 9.615/1998 ainda não asseguradas pela entidade se referem às alíneas ‘b’, ‘c’ e ‘g, do inciso VII.

42.Em relação à adoção de instrumentos de controle social (inciso VII, alínea ‘b’, do art. 18-A, da Lei 9.615/1998), através de mecanismos e procedimentos que permitam o acompanhamento, pelo público em geral no seu site, da gestão da CBG; tem-se que é insuficiente. Falta divulgação no sítio da entidade: dos programas e ações previstos e realizados; das despesas e receitas executadas com a Lei Agnelo/Piva; das licitações e contratos, incluindo editais, participantes do certame, resultado e homologação; de relatórios de gestão; da legislação usada pela entidade; bem como da prestação de contas dos recursos públicos geridos. Ademais, não há ouvidoria encarregada de receber, processar e responder as solicitações relacionadas à gestão.

43.Quanto à transparência na gestão da movimentação de recursos (inciso VII, alínea ‘c’, do art. 18-A, da Lei 9.615/1998), vê-se que ainda é parcial, pois apenas é publicado no site da entidade o relatório anual das demonstrações contábeis e algumas contratações, de forma bem resumida. Não há disponibilização de relatórios na internet que permitam uma visão geral dos gastos da entidade ao utilizar os recursos da Lei Agnelo/Piva (recursos públicos) nem publicação da conciliação bancária

44.No tocante à participação dos atletas nos colegiados de direção e na eleição para os cargos da entidade (inciso VII, alínea ‘g’, do art. 18-A, da Lei 9.615/1998); observa-se que, na prática, eles ainda não participam do colegiado da entidade nem do processo eletivo. No sítio da entidade, é possível notar que, no exercício de 2015, foi nomeada uma comissão provisória de atletas, para o biênio 2015-2016 (peça 9), bem como que existe regulamento de eleição para que seja realizado (peça 12), de fato, o processo eletivo para escolha da comissão de atletas conforme prevê o inciso V do art. 18-A da Lei 9.615/1998. Mas isso ainda não ocorreu.

45.Embora conste do estatuto da CBG que a comissão de atletas deverá eleger, dentre seus membros, um presidente que irá representá-los com direito a voz e voto nas Assembleias Gerais da entidade (§ 4º, art. 46), na prática essa situação ainda não é uma realidade.

46. Nesse sentido, verifica-se que a entidade contempla em seu estatuto o conteúdo mínimo previsto no art. 18-A da Lei 9.615/1998, mas, na prática, não assegura integralmente o seu cumprimento, não atendendo, assim, a intenção da lei, que é permitir uma política de gestão transparente dos recursos públicos utilizados pela entidade. Em consequência disso, resta prejudicada a transparência da gestão e a verificação do correto emprego dos recursos públicos recebidos e geridos.

Objetos nos quais o achado foi constatado:

Página da Internet da CBG;

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Disposições do Estatuto da Confederação Brasileira de Ginástica de 2015.

Causas da ocorrência do achado:

47.O achado decorre de a entidade ainda não assegurar o cumprimento efetivo de algumas exigências previstas no art. 18-A da Lei 9.615/1998.

Efeitos/Consequências do achado:

48.O atendimento parcial das exigências legais prejudica a transparência da gestão e a verificação do correto emprego dos recursos públicos recebidos e geridos, inviabilizando o efetivo controle social. Ademais, sujeita a entidade à possível perda de benefícios sociais.

Critérios

Art. 18-A, inciso VII (alíneas ‘b’, ‘c’ e ‘g’);

Evidências

Sítio da Confederação Brasileira de Ginástica (peça 37);

Esclarecimentos dos responsáveis:

49. No encerramento da fase de execução de auditoria, ao questionar a participação de atletas nos colegiados de direção e na eleição para os cargos da entidade, informou a gestora da CBG que está sendo providenciado o cumprimento dessa disposição legal e estatutária.

Conclusão da equipe:

50. Dentre as exigências previstas no art. 18-A da Lei 9.615/1998, verificou-se que a entidade contempla no seu estatuto social o conteúdo mínimo exigido pelo art. 18-A da lei 9.615/1998. Todavia, algumas dessas disposições, na prática, não são asseguradas, o que dificulta a implementação de uma política de gestão transparente, de forma a garantir que a Confederação Brasileira de Ginástica aplica regularmente os recursos públicos recebidos.

51. Nesse sentido, notou-se que a entidade não divulga no seu site informações essenciais para que haja transparência da gestão desses recursos. Ademais, falta efetivar a participação de atletas nos colegiados de direção e na eleição da entidade, e permitir que eles possam votar e ser votados.

52. O site da entidade dispõe de poucas informações, quanto à transparência da gestão na aplicação dos recursos públicos recebidos. Apenas se observou a publicação de relatório anual de demonstrações financeiras e algumas contratações, de forma bem resumida. Assim, a entidade ainda não conseguiu implementar o que prescreve as exigências do art. 18-A da lei 9.615/1998, fato que prejudica o controle social.

53. Dessa forma, tem-se que a entidade ainda carece de instrumentos de gestão e de transparência para permitir um melhor acompanhamento da aplicação dos recursos públicos recebidos.

54. Antes, porém, que este Tribunal venha a adotar decisão acerca desse tema, considerando que se trata de constatação relevante, torna-se pertinente ouvir a Confederação Brasileira de Ginástica.

Proposta de encaminhamento:

55. Promover a oitiva da Confederação Brasileira de Ginástica (CNPJ 37.160/348/0001-56), na pessoa do seu representante legal, para que se pronuncie acerca dos fatos narrados nesse ponto.

III.2. Processo de eleição para presidente ou dirigente máximo da Confederação Brasileira de

Ginástica apresenta requisitos que dificultam o acesso e a alternância no exercício dos cargos

de direção.

Situação encontrada:

56.O inciso I do art. 18-A da Lei 9.615/1998, incluído pela Lei 12.868, de 15 de outubro de 2013, dispõe que as entidades do Sistema Nacional do Desporto receberão recursos públicos, caso seu presidente ou dirigente máximo tenham o mandato de quatro anos, permitida uma recondução.

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57. Consta do estatuto da CBG que a presidência da entidade é composta pelo presidente e o vice, eleitos por um período de quatro anos sucessivos, exercidos simultaneamente (art. 29); que será permitida apenas uma reeleição, dentre brasileiros natos ou naturalizados, devendo ser respeitado o período de mandato dos dirigentes eleitos antes da vigência do art. 18-A da Lei 9.615/98; que, para os cargos de presidente e vice, o candidato deverá ter participado da direção da ginástica, a nível nacional ou estadual, no mínimo um ciclo olímpico anterior à eleição (art. 23, § 1º); que a comissão de atletas deverá eleger, dentre seus membros, um presidente, que irá representar o respectivo segmento com direito a voz e um voto nas Assembleias Gerais da CBG (§ 4º do art. 46).

58. Desses critérios presentes no estatuto, observa-se que dois deles são restritivos no processo de eleição da entidade. A exigência para que o candidato tenha participado da direção da ginástica, e no mínimo por um ciclo olímpico anterior à eleição; bem como que apenas um representante dos atletas terá direito a voto nas Assembleias Gerais. Essas exigências dificultam o acesso de candidatos aos cargos de presidente e vice da entidade, restringindo a participação de outros membros e atletas no processo sucessório, o que permite a apenas um pequeno e determinado grupo de pessoas a condição de se candidatar a cargo de presidente e vice da entidade.

59. O regulamento da comissão de atletas da CBG (peça 12) dispõe sobre a composição dessa comissão, bem como informa que o seu presidente participará da Assembleia da CBG, com direito a voto. Ou seja, o regulamento apenas prevê que os atletas possam votar. No entanto, ainda não existe o representante da comissão de atletas, conforme se percebe do último processo eletivo da entidade, relatado pela Ata da Assembleia Eletiva 2013-2016 (peça 11).

60. De acordo com informações prestadas pela entidade (peça 20) e presentes na Ata da Assembleia Geral Eletiva 2013-2016 (peça 11), a atual gestão se encontra no segundo mandato de quatro anos (2009-2012 e 2013-2016). Observa-se, também, que nos últimos dois processos eletivos, houve a participação de duas chapas. Nas eleições anteriores da entidade, no período compreendido entre 1996 a 2008, só havia chapa única, com eleição por aclamação.

61. Não obstante a atual gestão da CBG se encontrar no segundo período, a Lei 12.868/2013, de 15/10/2013, com produção de efeito a partir de 16/4/2014, que impede o terceiro mandato consecutivo do presidente e vice da entidade, teve vigência somente a partir de abril de 2014. Sendo assim, a equipe de fiscalização entende que a norma atual alcança somente o segundo período de mandato, sendo possível à atual gestão concorrer ao próximo pleito.

62. Desse modo, mostra-se inadequado o estatuto da CBG no tocante ao estabelecimento das regras para eleição dos cargos de presidente e vice, uma vez que restringe a participação de membros e de atletas da entidade no processo eletivo. Ademais, aos atletas ainda não lhes é assegurado o direito de eleger e ser eleito para os cargos de direção da entidade.

Objetos nos quais o achado foi constatado:

- Disposições do estatuto da CBG

Causas da ocorrência do achado:

63.A causa da ocorrência desse achado se refere à previsão no estatuto da entidade de regras limitativas da participação de membros e de atletas no processo de eleição para os cargos de presidente e vice.

Efeitos/Consequências do achado:

64.São efeitos principais dessa constatação:

a) restrição à participação de interessados na eleição aos cargos de presidente e vice da entidade;

b) não participação dos atletas na eleição dos cargos de direção da entidade como eleitor e candidato.

Critérios

- art. 23, § 1º do estatuto da CBG;

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- art. 46, § 4º do estatuto da CBG.

Evidências

- Ata da Assembleia Geral Eletiva 2013-2016 (peça 11);

- Lista de presença da Assembleia Eletiva (peça 14);

- Regulamento da Comissão de Atletas (peça 12);

- Estatuto da Confederação Brasileira de Ginástica de 2015 (peça 10).

Esclarecimentos dos responsáveis:

65. Nessa fase da auditoria, não foram efetuados questionamentos ao gestor no que se refere ao presente achado.

Conclusão da equipe:

66. Constatou-se no estatuto da CBG a presença de cláusulas restritivas, que impedem a ampla participação de interessados no processo eletivo, ao estatuir que, para os cargos de presidente e vice, o candidato deverá ter participado da direção da ginástica; e que o representante dos atletas, que ainda não existe, apenas pode votar na Assembleia Geral Eletiva.

67. Desse modo, percebe-se que se mostra inadequado o estatuto da CBG no tocante ao estabelecimento das regras para eleição dos cargos de presidente e vice, uma vez restringe a participação de membros e de atletas da entidade no processo eletivo.

68. Antes, porém, que este Tribunal venha a adotar decisão acerca desse tema, considerando que se trata de constatação relevante, torna-se pertinente ouvir a Confederação Brasileira de Ginástica.

Proposta de encaminhamento:

69. Promover a oitiva da Confederação Brasileira de Ginástica, na pessoa do seu representante legal, para que se pronuncie acerca dessa constatação em exame.

III.3. Movimentação irregular de recursos públicos, em virtude da não aplicação financeira

dos valores não utilizados, conforme prevê a legislação de convênios.

Situação encontrada:

70.A Confederação Brasileira de Ginástica não efetuava, até meados de 2014, a aplicação financeira dos recursos existentes na sua conta bancária, ainda que os mesmos ficassem sem movimentação há mais de trinta dias, e com sobra de caixa significativa. A situação em questão vai de encontro àquilo que é preconizado no art. 54, §1º, da Portaria Interministerial, que prevê que os recursos serão depositados e geridos na conta bancária específica do convênio exclusivamente em instituições financeiras controladas pela União e, enquanto não empregados na sua finalidade, obrigatoriamente aplicados em caderneta de poupança de instituição financeira pública federal, se a previsão de seu uso for igual ou superior a um mês; ou em fundo de aplicação financeira de curto prazo, ou operação de mercado aberto lastreada em título da dívida pública, quando sua utilização estiver prevista para prazos menores.

71.Embora o Termo de Convênio CVN/GA 01/14 (peça 36), de vigência para o exercício de 2014, firmado entre o COB e a CBG, em 2/1/2014, rezasse que os recursos recebidos deveriam ser aplicados em conta corrente remunerada, a CBG somente passou a dar cumprimento a essa condição a partir da emissão da Circular 044/2014/AGR/vm, de 6/6/2014 (peça 15), que informou às confederações filiadas, incluindo a CBG, que os recursos da Lei Agnelo/Piva, enquanto não utilizados nas finalidades a que se destinavam, e mantidos na conta exclusiva para os recursos daquela natureza, deveriam ser obrigatoriamente aplicados em caderneta de poupança.

72. Percebe-se que a orientação do COB é apenas no sentido de aplicar os recursos ociosos em caderneta de poupança. Ocorre que, nesse caso, o recurso deve ficar aplicado no mínimo trinta dias para alcançar rendimento. A Portaria Interministerial 507/2011, no seu art. 54, § 1º, prevê, também,

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a possibilidade de aplicação para períodos menores, o que daria mais flexibilidade na movimentação dos recursos pela CBG.

73. Deve ser destacado que as últimas duas Instruções Normativas do Comitê Olímpico Brasileiro (IN COB 1/2013 e IN COB 1/2014) preveem que os partícipes do termo do convênio se sujeitam às normas da Lei 8.666/1993, no que couber, da IN COB vigente, e da Portaria Interministerial 507/2011.

74. A situação em questão tem como efeito potencial um prejuízo proporcionado pela perda do valor dos recursos à disposição da entidade, considerando que a aplicação financeira visa resguardar a manutenção do valor monetário da quantia depositada, maiormente em um cenário de inflação, semelhante ao que voltamos a vivenciar recentemente.

Objetos nos quais o achado foi constatado:

- Projetos executados pela Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) entre 2013 e 2014.

Causas da ocorrência do achado:

75.A principal causa para a ocorrência do achado está relacionada à ausência de observância dos normativos que regulamentam a matéria, tanto por parte do COB como da própria CBG.

Efeitos/Consequências do achado:

76.O efeito real do achado é a ausência de recomposição de parte da perda dos valores parados na conta corrente.

Critérios:

- Art. 54, §1º, Portaria Interministerial 507/2011.

Evidências:

- Projetos da Entidade: GA 003-13, GA 004-13, GA 007-13, GA 019-14, GA 020-14, GA 011-14, GA 034-14, GA 038-14, GA 044-14 e GA 045-14 (peças 21 a 30, respectivamente).

Esclarecimentos dos responsáveis:

77. Argumentou o gestor que anteriormente não tinha recebido orientação do COB, acerca da necessidade de aplicação dos recursos públicos, ainda não utilizados na sua finalidade.

Conclusão da equipe:

78. Até a edição da Circular 044/2014/AGR/vm, de 6/6/2014, do COB, a CBG não realizava a aplicação financeira dos recursos públicos mantidos em conta corrente, sem utilização. Somente a partir do Convênio CVN/GA 01/14, firmado no início do exercício de 2014, é que o COB passou a prever em normativo a necessidade fazer a aplicação financeira dos recursos não utilizados.

79. Como houve descumprimento pelo COB da regra prevista no art. 54, § 1º da Portaria Interministerial 507/2011, seria pertinente promover audiência dos gestores faltosos do COB que não exigiram das confederações que fizessem a aplicação dos recursos públicos ociosos.

80. Também, seria pertinente fazer recomendação ao COB, para que orientasse as suas confederações no sentido de escolher o meio mais adequado para aplicar os recursos parados em conta corrente: em caderneta de poupança, ou fundo fixo, ou em operação de mercado aberto, lastreada em título da dívida pública.

81. Considerando, no entanto, que se trata de ação de fiscalização perante o COB, julga-se conveniente tratar desse assunto junto à Unidade Centralizadora da FOC (SecexEducação).

Proposta de encaminhamento:

82. Encaminhar relatório e evidências à SecexEducação, Unidade Centralizadora da Fiscalização de Orientação Centralizada, para que seja consolidado esse achado, bem como para que avalie a oportunidade e conveniência de:

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a) realizar audiência dos gestores do COB, por não exigirem da CBG que fizesse a aplicação dos recursos públicos da Lei Agnelo/Piva, mantidos em conta corrente e não utilizados, o que só foi feito a partir de agosto de 2014; o que contrariou o que dispõe o art. 54, §1º, da Portaria Interministerial 507/2011;

b) fazer recomendação ao COB para que oriente as suas confederações olímpicas no sentido de que a aplicação financeira pode ser feita em caderneta de poupança, quando a previsão de uso dos recursos for superior a trinta dias; ou em fundo de aplicação financeira de curto prazo, ou operação de mercado aberto lastreada em título da dívida pública, quando sua utilização estiver prevista para prazos menores; assim, permitindo uma melhor gestão financeira da movimentação dos recursos públicos.

III.4. Ausência de realização de pesquisa prévia de preços/avaliação prévia.

Situação encontrada:

83. Após examinar alguns processos licitatórios realizados pela Confederação Brasileira de Ginástica, constatou-se que a entidade não fez avaliação prévia para a contratação de locação de imóvel e nem pesquisa prévia de preços para a realização de serviços advocatícios.

84.A equipe de fiscalização verificou que, nesses casos, não foi possível apurar a compatibilidade dos preços contratados com os valores de mercado, de forma a evitar possível ocorrência de preços inexequíveis ou sobrepreços; em descumprimento à Portaria Interministerial 507/2011, nos seus arts. 57 e 59, incisos I e II.

85. Ademais, o inciso X do art. 24 da Lei 8.666/1993, prevê que a licitação é dispensável para a compra ou locação de imóvel destinado ao atendimento das finalidades precípuas da administração, cujas necessidades de instalação e localização condicionem a sua escolha, desde que o preço seja compatível com o valor de mercado, segundo avaliação prévia. Essa regra legal se encontra prevista no inciso VI do art. 10 das INs COB 1/2014 e 1/2013.

86. A entidade firmou contrato de aluguel do imóvel onde se localiza a sua sede sem proceder à avaliação prévia, de forma a estimar o preço de mercado, e garantir preço mais vantajoso na contratação.

87. No caso do serviço advocatício, é firme a jurisprudência deste Tribunal que as contratações envolvendo recursos públicos devem ter a prévia análise da compatibilidade dos preços a serem praticados com aqueles de mercado, fato que não ocorreu, pois não houve pesquisa prévia de preços para contratar esse serviço pela entidade.

88. Nesse sentido, tem-se que nesses dois casos a entidade não observou a regra da legislação dos convênios quanto à necessidade de proceder ao exame da compatibilidade dos preços contratados com aqueles presentes no mercado.

89. Deve ser registrado que a CBG, para realizar suas contratações de bens e serviços, segue a IN COB 1/2014, a Lei 8.666/1993, no que couber, bem como a Portaria Interministerial 507/2011, conforme dispõe os termos de convênio que assinou com o COB.

90. Assim, a situação detectada revela que a entidade não observou a necessidade de estipulação de parâmetro que permitisse aferir a existência de um preço justo e compatível com o mercado, o que afronta a Portaria Interministerial 507/2011, nos seus arts. 57 e 59, incisos I e II, bem como o inciso VI do art. 10 das IN COB 1/2014.

Objetos nos quais o achado foi constatado:

- Processos licitatórios, relativos à contratação de locação de imóvel e de serviços advocatícios.

Causas da ocorrência do achado:

91.A principal causa para a ocorrência do achado se refere a não observância da legislação de convênios quando da contratação de serviços.

Efeitos/Consequências do achado:

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92.O efeito potencial do achado é a contratação de serviços em valores não condizentes com os de mercado, com risco da ocorrência de sobrepreço ou superfaturamento.

2.3.5 - Critérios:

- Portaria Interministerial 507/2011, nos seus arts. 57 e 59, incisos I e II;

- IN COB 1/2014, inciso VI, art. 10.

Evidências:

- Contrato de locação de imóvel (peça 34);

- Contrato de serviços advocatícios (peça 35);

Esclarecimentos dos responsáveis:

93. Nesta fase da auditoria não foram efetuados questionamentos ao gestor no que se refere ao presente achado.

Conclusão da equipe:

94.A CBG não demonstrou nos seus processos de contratação de serviços advocatícios e de locação de imóvel que realizou pesquisa de preços ou avaliação prévia, para comprovar a compatibilidade dos preços contratados com os de mercado, como impõe a legislação de convênios, a que está submetida a entidade por força da celebração desses ajustes com o Comitê Olímpico Brasileiro.

95. Considerando que o fato constatado pela equipe de fiscalização tratou-se de descumprimento da Portaria Interministerial 507/2011, nos seus arts. 57 e 59, incisos I e II; bem como do inciso VI do art. 10 da IN COB 1/2014; cabe ouvir em audiência o gestor da CBG para que apresente as suas razões de justificativa.

Proposta de encaminhamento:

96.Promover a audiência do gestor da Confederação Brasileira de Ginástica, para que apresente as suas razões de justificativa para o fato de ter realizado a contratação e renovações da locação do imóvel, onde se localiza a sede da entidade, sem avaliação prévia; bem como por ter contratado serviços advocatícios com prorrogações junto à empresa Cleverson Marinho Teixeira Advogados Associados, sem pesquisa prévia de preços, de forma que se pudesse estimar os preços praticados nessas duas contratações, com o fim de verificar a compatibilidade desses valores com os de mercado, em descumprimento à Portaria Interministerial 507/2011, arts. 57 e 59, incisos I e II; e ao inciso VI do art. 10 da IN COB 1/2014.

III.5. Falta de divulgação dos instrumentos convocatórios.

Situação encontrada:

97. Ao examinar amostra de procedimentos licitatórios realizados pela Confederação Brasileira de Ginástica, a equipe de fiscalização constatou que a entidade realiza a divulgação dos instrumentos convocatórios, relacionados às aquisições de bens e serviços, apenas na sua página na internet.

98. Com isso, não há ampla divulgação dos certames lançados, o que implica em limitação de competitividade, e descumprimento da legislação de convênios (art. 35, Parágrafo Único, da Portaria Interministerial 507/2011), que impõe que o extrato da licitação deverá ser publicado no Diário Oficial da União, sem prejuízo de outros veículos de publicidade usualmente utilizados pelo convenente.

99. Ademais, por se tratar de despesas realizadas com recursos federais, a regra legal é a de que a publicação ocorra no Diário Oficial da União, e em jornal de grande circulação no estado, ex vi do disposto no art. 21, incisos I e III, da Lei 8.666/1993.

100. Tendo em vista que a CBG anuiu com a condição de observância à Lei 8.666/1993, no momento da celebração dos convênios com o COB, deve, assim, fazer a publicação dos certames licitatórios não apenas no seu sítio.

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101. Vale ressaltar que a CBG, para realizar suas contratações de bens e serviços, segue a IN COB 1/2014, a Lei 8.666/1993, no que couber, bem como a Portaria Interministerial 507/2011, conforme dispõe os termos de convênio que assina com o COB. No entanto, em relação à publicidade dos editais de licitação, a IN COB 1/2014 apenas dispõe que as confederações deverão apresentar ao COB a cópia da publicação do processo de seleção no sítio eletrônico da entidade (Item 5.3, alínea ‘c’ – Da aquisição e bens e contratação de serviços).

102. Essa prática adotada pela CBG (divulgação do edital apenas no sítio da entidade), com respaldo na IN COB 1/2014, não permite o conhecimento amplo e irrestrito do certame aos possíveis interessados, com prejuízo ao caráter competitivo do processo licitatório e à obtenção da proposta mais vantajosa, quando da utilização de recursos públicos federais descentralizados.

103. Desse modo, percebe-se que o procedimento adotado pela CBG, ao seguir orientação do COB, mostra-se inadequado ao preconizado pelos normativos atinentes ao tema, fato este que tem o condão de comprometer uma ampla participação de eventuais interessados do ramo pertinente ao objeto daquilo que se pretende licitar, tendo assim, uma consequência potencial da escolha de uma proposta que não atende a melhor utilização de recursos oriundos de fontes públicas.

Objetos nos quais o achado foi constatado:

- Concorrência 09/2010 – O presente certame teve como objeto a contratação de empresa de agência de viagem e turismo e/ou empresa para compra de passagem aérea e contratação de hospedagens em hotéis, pousadas e afins, para atender a demanda da CBG dentro do território nacional.

- Concorrência 01/2013 – O presente certame teve como objeto a contratação de empresa de viagem para prestação de serviços de emissão de reserva, hospedagem e outros serviços necessários às viagens, quando da realização de eventos em que a CBG participe em território internacional.

- Pregão Presencial 03/2014 – O certame em questão teve como objeto a contratação de empresa especializada na prestação de serviços de contabilidade.

Causas da ocorrência do achado:

104. A principal causa para a ocorrência do achado está relacionada à ausência de previsão da Instrução Normativa 01/2014 do COB acerca da exigência de publicação dos certames licitatórios em outros meios de publicidade, além do Diário oficial da União, uma vez que o instrumento normativo mencionado exige apenas a divulgação do certame no site das entidades a ele vinculados.

Efeitos/Consequências do achado:

105. O efeito real da existência dessas ocorrências não pode ser quantificado, mas é certo que houve restrição de competitividade nos certames apontados, o que pode ter prejudicado a obtenção de melhores propostas de preços daquilo que se buscou contratar/adquirir.

Critérios:

- Portaria Interministerial 507/2011, art. 35, Parágrafo Único;

- Lei 8.666/1993, art. 21, incisos I e III.

Evidências:

- Pregão Presencial 03/2014 (peça 16);

- Concorrência 01/2013 (peça 17);

- Concorrência 09/2010 (peças 18 e 19).

Esclarecimentos dos responsáveis:

106. Na reunião de encerramento da auditoria, em relação a esse tema, o gestor mencionou que a adoção de tal prática está relacionada ao barateamento e simplificação do certame, uma vez que não são efetuados gastos com a publicação dos editais em jornais de grande circulação ou mesmo

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no Diário Oficial da União. Também foi informado à equipe de auditoria do TCU que a orientação do COB é para apenas divulgar os certames licitatórios no site.

Conclusão da equipe:

107. A CBG não dá a devida publicidade aos seus certames licitatórios, uma vez segue apenas a orientação do COB, consoante IN COB 01/2014, no sentido de apenas dar conhecimento do pleito no seu sítio na internet. Nesse sentido, vê-se que, embora a CBG esteja descumprindo a legislação de convênios, tem-se que o faz por estar seguindo o normativo do COB, que não reproduz na sua integralidade o que dispõe a Portaria Interministerial 507/2011, art. 35, Parágrafo Único; bem como o art. 21 da Lei 8.666/1993. Desse modo, entende-se que a causa do achado se dá em decorrência de o comitê não seguir a legislação correlata ao tema, não exigindo das suas confederações filiadas o cumprimento da legislação de convênios e da Lei Geral de Licitações e Contratos, não se podendo, nesse caso, atribuir inteira responsabilidade à entidade auditada (CBG).

108. Considerando que o fato constatado pela equipe de fiscalização tratou-se de descumprimento de normativos legais atinente ao assunto por parte do COB, julga-se conveniente tratar desse assunto na Unidade Centralizadora.

Proposta de encaminhamento:

109. Encaminhar relatório e evidências à SecexEducação, Unidade Centralizadora da Fiscalização de Orientação Centralizada, para que seja consolidado esse achado, bem como para que avalie a oportunidade e conveniência de realizar audiência dos gestores do COB, em virtude da ausência de previsão na IN COB 1/2014 da exigência de divulgação dos certames licitatórios no Diário Oficial da União, sem prejuízo de outros veículos de publicidade, conforme dispõe a Portaria Interministerial 507/2011, art. 35, Parágrafo único; e a Lei 8.666/1993, art. 21, incisos I e III.

III.6. Falta de regulamentação que parametrize os valores salariais e respectivos reajustes dos

funcionários das Confederações.

Situação encontrada:

110. A Confederação Brasileira de Ginástica efetua reajustes nos salários dos seus funcionários sem que seja seguido um critério ou mesmo uma uniformidade nos índices aplicados às remunerações pagas. A equipe de auditoria aplicou um questionário à direção da entidade, que resultou na apresentação de informações acerca dos reajustes concedidos nos salários dos funcionários, no período entre os anos de 2011 e 2015, tendo sido encontradas distorções em todos os anos verificados (peça 20, p. 4-5).

111. No ano de 2011, os reajustes variaram entre 11,11% e 47,18%, não contemplando todos os funcionários da entidade. Já em 2012, foram aplicados índices de reajustes das remunerações que variaram entre 5,34% a 87,50%, também não tendo sido aplicado a todos os funcionários. Nos anos de 2013 a 2015, conforme apurou a equipe de auditoria, foram utilizados os mesmos procedimentos, gerando distorções nos índices aplicados e sendo contemplados apenas uma parte dos funcionários.

112. A situação detectada pela fiscalização vai de encontro aos Princípios da Isonomia, da Razoabilidade e da Transparência. A despeito de a CGB cumprir a Portaria do ME 01/2014, que dispõe sobre a observância dos limites máximos na utilização dos recursos de que trata a Lei 9.615/1998, para custeio de despesas administrativas com o pagamento de salários, não existe um parâmetro para a concessão de reajustes dos vencimentos pagos aos funcionários das CBG.

Objetos nos quais o achado foi constatado:

- Questionário aplicado à Confederação Brasileira de Ginástica (CBG).

Causas da ocorrência do achado:

113. A principal causa para a ocorrência do achado está relacionada à ausência de um plano de cargos e salários, ou, no mínimo, regras conhecidas e formalizadas, que definam critérios de reajustes anuais, para evitar que esse procedimento fique ao talante do dirigente da entidade.

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Efeitos/Consequências do achado:

114. O efeito real do achado é a criação de distorções nas remunerações dos funcionários, bem como o estabelecimento de eventuais cometimentos de injustiça.

Critérios:

- Princípio da Isonomia, da Razoabilidade e da Transparência.

Evidências:

- Resposta ao Ofício 1-423/2015 (peça 20);

- Projeto GA 003-13 (peça 21);

- Projeto GA 011-14 (peça 26).

Esclarecimentos dos responsáveis:

115. Argumentou o gestor que os critérios para a concessão de reajuste se dão conforme avaliação individual dos funcionários feita pela direção da CBG, que, a partir daí, estabelece índice ou valor do salário do colaborador.

Conclusão da equipe:

116. A CBG não possui plano de cargos e salários nem tampouco regulamentação interna para reajustar as remunerações dos seus colaboradores. Utiliza procedimentos não normatizados, com base em avaliações individuais subjetivas. Não há parâmetros ou critérios formalizados para alterar os salários do pessoal da entidade. Tendo em vista o fato, torna-se necessário que a entidade estabeleça regras formais no sentido de que seja conhecida a política de reajustes das remunerações dos seus colaboradores, de forma a evitar distorções significativas, consoante as observadas neste trabalho.

117. Considerando, ainda, que se trata de constatação relevante, e antes que este Tribunal venha a adotar decisão acerca desse tema, torna-se pertinente ouvir a Confederação Brasileira de Ginástica.

Proposta de encaminhamento:

118. Promover a oitiva da Confederação Brasileira de Ginástica (CNPJ 37.160/348/0001-56), na pessoa do seu representante legal, para que se pronuncie acerca dos fatos narrados nesse ponto.

IV. ACHADOS NÃO DECORRENTES DAS QUESTÕES DE AUDITORIA

IV.1. Ausência de autonomia e viabilidade financeiras da Confederação Brasileira de Ginástica.

Situação encontrada:

119. Constatou-se que a maioria dos valores recebidos pela CBG se refere a recursos públicos, corroborando informação presente no Relatório de Levantamento no Sistema Nacional de Desporto (TC 021.654/2014-0), elaborado no ano de 2014. Nesse relatório, constatou-se que a maior parte das confederações olímpicas, cerca de 15 das 26, depende totalmente de recursos públicos para sua manutenção.

120. Não é diferente na CBG. Embora se constitua de entidade privada, precisa dos recursos da Lei Agnelo/Piva para sua subsistência, o que contraria o disposto no inciso I do art. 18 da Lei 9.615/1998, que impõe que somente serão beneficiadas com isenções fiscais e repasses de recursos públicos federais as entidades que possuírem viabilidade e autonomia financeiras.

121. Em resposta à requisição desta equipe de fiscalização, a CBG informou as fontes de recursos utilizados nos exercícios de 2013, 2014 e 2015 (peça 8, p. 3). Nota-se que os recursos públicos recebidos pela entidade nesses exercícios representam, respectivamente, cerca de 71,19%, 75,9% e 70,33% do total dos valores, o que evidencia uma dependência significativa da entidade desses recursos.

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Objetos nos quais o achado foi constatado:

- Questionário aplicado à Confederação Brasileira de Ginástica (CBG).

Causas da ocorrência do achado:

122. As principais causas desse achado são:

a) ausência de regulamentação do Ministério do Esporte do que seja a viabilidade e autonomia financeiras necessárias para que as entidades mencionadas na Lei 9.615/1998 possam receber recursos públicos federais;

b) fiscalização insuficiente do Ministério do Esporte, que apenas exige que as entidades façam declaração de que possuem viabilidade e autonomia financeiras;

c) ausência de política de incentivo para que as entidades busquem recursos na área privada;

d) ausência de critérios objetivos para o exame da viabilidade e autonomia financeiras.

Efeitos/Consequências do achado:

123. São efeitos desse achado:

a) as entidades do Sistema Nacional do Desporto se acomodam, porque não precisam buscar recursos privados para se manterem;

b) risco de destinação de recursos a entidades com problemas de gestão financeira;

c) grande dependência das entidades dos recursos públicos da Lei Agnelo/Piva.

Critérios:

- Art. 18, inciso I, da Lei 9.615/1998.

Evidências:

- Resposta ao Ofício 2-423/2015 (peça 8, p. 3).

Esclarecimentos dos responsáveis:

124. Não houve solicitação de esclarecimentos ao gestor responsável pela entidade para esse achado.

Conclusão da equipe:

125. Ao examinar as fontes de recursos recebidos pela CBG, confirmou-se a informação do Relatório de Levantamento deste Tribunal no sentido de que a entidade é dependente dos recursos públicos da Lei Agnelo/Piva, sem os quais não poderia se manter.

126. A fiscalização do Ministério do Esporte, quanto à verificação da viabilidade e autonomia financeiras das confederações olímpicas, é pró forma, tendo por base apenas declaração dessas entidades.

127. Falta regulamentação do inciso I do art. 18 da Lei 9.615/1998, para que se possa ter critérios objetivos para subsidiar a verificação dessa exigência legal.

128. Considerando que o fato constatado pela equipe de fiscalização trata de assunto que depende de atuação do Ministério do Esporte, julga-se conveniente tratar desse assunto na Unidade Centralizadora.

Proposta de encaminhamento:

129. Encaminhar relatório e evidências à SecexEducação, Unidade Centralizadora da Fiscalização de Orientação Centralizada, para que seja consolidado esse achado, bem como para que avalie a oportunidade e conveniência de propor determinação ao Ministério do Esporte para que regulamente o inciso I do art. 18 da Lei 9.615/1998, criando critérios objetivos que sirvam de parâmetro ao exame da viabilidade e autonomia financeiras das entidades que recebem recursos públicos da Lei Agnelo/Piva.

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V. CONCLUSÃO

130. A auditoria, realizada na modalidade Fiscalização de Orientação Centralizada, teve por objetivo verificar a regularidade da aplicação de recursos provenientes da Lei 10.264/2001 (Lei Agnelo/Piva) por parte da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG). Para isso, foram selecionados dezenove projetos executados pela Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) entre 2013 e 2015. Para cada projeto, aplicou-se as questões de auditoria definidas na fase de planejamento, tendo sido examinados os seguintes aspectos:

a) cumprimento do art. 18-A da Lei 9.615/1998 por parte da auditada;

b) demonstrativos mensais de conciliação bancária e extratos das contas vinculadas;

c) processos de contratações de bens e serviços;

d) execução do objeto contratado;

e) salários de funcionários e dirigentes.

131. A despeito de não ter sido verificada nenhuma irregularidade relacionada ao desvio ou mesmo a má gestão de recursos públicos, a equipe de fiscalização, ao examinar todas as questões de auditoria, encontrou os seguintes achados:

a) o Estatuto da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) contempla o conteúdo mínimo exigido pelo art. 18-A da Lei 9.615/1998, com alterações introduzidas pela Lei 12.868/2013; mas algumas exigências ainda não são asseguradas, na prática, pela entidade.

b) o Processo de eleição para presidente ou dirigente máximo da Confederação Brasileira de Ginástica apresenta requisitos que dificultam o acesso e a alternância no exercício dos cargos de direção;

c) movimentação irregular de recursos públicos, em virtude da não aplicação financeira dos valores não utilizados, conforme prevê a legislação de convênios;

d) ausência de realização de pesquisa prévia de preços/avaliação prévia;

e) falta de divulgação dos instrumentos convocatórios;

f) falta de regulamentação que parametrize os valores salariais e respectivos reajustes dos funcionários das Confederações;

g) ausência de autonomia e viabilidade financeiras da Confederação Brasileira de Ginástica.

132. A equipe entendeu que os achados acima relatados demandam a adoção de providências no sentido de correção das falhas detectadas, a fim de que a CBG se adeque integralmente aos mandamentos das Leis 9.615/1998 e 10.264/2001 (Lei Agnelo/Piva), bem como dos demais normativos que regulamentam as práticas financeiras adotadas pelas confederações esportivas que recebem recursos públicos. Assim, antes da finalização do relatório de auditoria, em atendimento ao Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa, resta conveniente e oportuno promover a oitiva da Confederação Brasileira de Ginástica, na pessoa do seu representante legal, para que possa se manifestar em relação aos achados apontados nas alíneas ‘a’, ‘b’ e ‘f’ acima.

133. Em relação à alínea ‘d’, sugere-se realizar audiência do gestor da CBG para que apresente as suas razões de justificativa acerca da ausência de realização de pesquisa prévia de preços/avaliação prévia em algumas contratações.

134. Para as alíneas ‘c’, ‘e’, e ‘g’, esses achados serão encaminhados à Unidade Centralizadora da FOC para serem consolidados, e submetidos a outras ações de fiscalização.

135. As outras questões de auditoria previstas na matriz de planejamento foram verificadas pela equipe de fiscalização, mas não se evidenciou quanto a elas nenhum achado.

136. Após resposta da CBG à oitiva, e à audiência, a próxima instrução, que examinará a manifestação do gestor e as razões de justificativa, deve propor o encaminhamento do relatório de fiscalização, bem como das evidências de peças 21 a 30, 16 a 19 e 8 à SecexEducação (Unidade Centralizadora da Fiscalização de Orientação Centralizada), para que consolide as informações dos achados relatados nas alíneas ‘c’, ‘e’ e ‘g’, bem como para que avalie a oportunidade e

conveniência de:

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I) promover audiência aos gestores responsáveis do COB, em virtude:

a) de não exigirem da CBG que fizesse a aplicação dos recursos públicos da Lei Agnelo/Piva, mantidos em conta corrente e não utilizados, o que só foi feito a partir de agosto de 2014; contrariando o que dispõe o art. 54, §1º, da Portaria Interministerial 507/2011 – Achado III.3 (Movimentação irregular de recursos públicos, em virtude da não aplicação financeira dos valores não utilizados, conforme prevê a legislação de convênios);

b) da ausência de previsão na IN COB 1/2014 da exigência de divulgação dos certames licitatórios no Diário Oficial da União, sem prejuízo de outros veículos de publicidade, conforme dispõe a Portaria Interministerial 507/2011, art. 35, Parágrafo único; e a Lei 8.666/1993, art. 21, incisos I e III – Achado III.5 (Falta de divulgação dos instrumentos convocatórios);

II) fazer recomendação ao COB para que oriente as suas confederações olímpicas no sentido de que a aplicação financeira pode ser feita em caderneta de poupança, quando a previsão de uso dos recursos for superior a trinta dias; ou em fundo de aplicação financeira de curto prazo, ou operação de mercado aberto lastreada em título da dívida pública, quando sua utilização estiver prevista para prazos menores; assim, permitindo uma melhor gestão financeira da movimentação dos recursos públicos – Achado III.3 (Movimentação irregular de recursos públicos, em virtude da não aplicação financeira dos valores não utilizados, conforme prevê a legislação de convênios);

III) propor determinação ao Ministério do Esporte para que regulamente o inciso I do art. 18 da Lei 9.615/1998, criando critérios objetivos que sirvam de parâmetro ao exame da viabilidade e autonomia financeiras – Achado IV.1 (Ausência de autonomia e viabilidade financeiras da Confederação Brasileira de Ginástica).

VI. PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO

137. Ante o exposto, e consoante delegação de competência concedida pelo Exmo. Sr. Ministro Relator Vital do Rêgo, por meio da Portaria–MIN-VR 1, de 8 de janeiro de 2015, c/c a delegação de competência concedida pela Portaria Secex-SE 10, de 15 de junho de 2015, propõe-se:

I) promover oitiva da Confederação Brasileira de Ginástica, na pessoa do seu representante legal, nos termos do no art. 250, inciso V, do Regimento Interno do TCU, para que, no prazo de quinze dias, se manifeste acerca das seguintes constatações apontadas neste relatório de auditoria: (cópia

em anexo) [encaminhar o conteúdo das peças 31, 32 e 33 desse processo para subsidiar a manifestação do gestor]

a) o Estatuto da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) contempla o conteúdo mínimo exigido pelo art. 18-A da Lei 9.615/1998, com alterações introduzidas pela Lei 12.868/2013; mas algumas exigências ainda não são asseguradas, na prática, pela entidade; b) o Processo de eleição para presidente ou dirigente máximo da Confederação Brasileira de Ginástica apresenta requisitos que dificultam o acesso e a alternância no exercício dos cargos de direção. O estatuto da CBG dispõe que: para os cargos de presidente e vice, o candidato deverá ter participado da direção da ginástica, a nível nacional ou estadual, no mínimo um ciclo olímpico anterior à eleição (art. 23, § 1º); que a comissão de atletas deverá eleger, dentre seus membros, um presidente, que irá representar o respectivo segmento com direito a voz e um voto nas Assembleias Gerais da CBG (§ 4º do art. 46); c) falta de regulamentação que parametrize os valores salariais e respectivos reajustes dos funcionários das Confederações;

II) realizar audiência da presidente da Confederação Brasileira de Ginástica, nos termos do art. 10, § 1º, e 11 da Lei 8.443/1992, c/c o art. 250, inciso IV, do RI/TCU, para que, no prazo de quinze dias, apresente as suas razões de justificativa para o fato de ter realizado a contratação e renovações da locação do imóvel, onde se localiza a sede da entidade, sem avaliação prévia; bem como por ter contratado serviços advocatícios com prorrogações junto à empresa Cleverson Marinho Teixeira Advogados Associados, sem pesquisa prévia de preços, de forma que se pudesse estimar os preços praticados nessas duas contratações, com o fim de verificar a compatibilidade desses valores com os praticados no mercado, em descumprimento à Portaria Interministerial 507/2011, arts. 57 e 59, incisos I e II; e ao inciso VI do art. 10 da IN COB 1/2014.

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3. Concluída a fiscalização, o dirigente da unidade promoveu as audiências e oitivas

propostas pela equipe mediante delegação de competência. Em prosseguimento, a Secex-SE elaborou instrução com a análise das respostas (peça 56), a qual contou com a anuência do diretor e do

secretário (peças 57 e 58):

INTRODUÇÃO

1. Trata-se de Relatório de Auditoria de Conformidade, na modalidade Fiscalização de Orientação Centralizada (FOC), realizada na Confederação Brasileira de Ginástica, com o objetivo verificar a regularidade da aplicação de recursos provenientes da Lei 10.264/2001 (Lei Agnelo/Piva) por parte da auditada.

HISTÓRICO

2. O trabalho foi realizado na modalidade de Fiscalização de Orientação Centralizada (FOC), sob coordenação da Secretaria de Controle Externo da Educação, da Cultura e do Desporto (SecexEducação), e contou com a participação de seis secretarias de controle externo de âmbito estadual, a saber: Secex-MG, Secex-RJ, Secex-SE, Secex-RS, Secex-PR e Secex-SP.

2.1. As principais conclusões decorrentes deste trabalho podem ser resumidas na forma que se segue:

a) há pouca transparência na gestão da entidade, uma vez que não se vê no seu site informações quanto a licitações, contratos, patrocínios, despesas e receitas decorrentes da Lei Agnelo/Piva;

b) não há garantia de representação da categoria de atletas das respectivas modalidades no âmbito dos órgãos e conselhos técnicos;

c) o estatuto da entidade contempla conteúdos referentes a: princípios definidores de gestão democrática; instrumentos de controle social; transparência da gestão da movimentação de recursos; e participação de atletas nos colegiados de direção e na eleição para os cargos da entidade; no entanto, na prática, essas disposições não asseguradas pela entidade;

d) o estatuto da CBG contempla disposição restritiva para se candidatar aos cargos de presidente e vice, impondo que o candidato deva ter participado da direção da ginástica, a nível nacional ou estadual, no mínimo um ciclo olímpico anterior à eleição;

e) a entidade só passou a aplicar os recursos públicos não utilizados em caderneta de poupança a partir de 2014, pois o Comitê Olímpico Brasileiro não dispunha antes em suas instruções normativas dessa exigência da Portaria Interministerial 507/2011;

f) a CBG não realiza pesquisas prévias de preços/avaliação prévia para aquisição de serviço ou contratação de aluguel;

g) os instrumentos convocatórios da entidade são apenas divulgados no seu site, o que restringe a publicidade dos certames, prejudicando a competitividade;

h) a entidade promove reajustes dos seus colaboradores sem critério ou uniformidade, gerando distorções nos índices aplicados.

2.2. Na instrução de peça 38, a equipe técnica, após exame das informações obtidas na presente auditoria, identificou os seguintes achados de auditoria:

a) O Estatuto da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) contempla o conteúdo mínimo exigido pelo art. 18-A da Lei 9.615/1998, mas algumas exigências ainda não são asseguradas, na prática, pela entidade.

Em relação ao controle social (inciso VII, alínea ‘b’, do art. 18-A, da Lei 9.615/1998), nota-se que o regramento do estatuto é insuficiente. Falta divulgação no sítio da entidade: dos programas e ações previstos e realizados; das despesas e receitas executadas com a Lei Agnelo/Piva; das licitações e contratos, incluindo editais, participantes do certame, resultado e homologação; de relatórios de gestão; da legislação usada pela entidade; bem como da prestação de contas dos

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recursos públicos geridos. Ademais, não há ouvidoria encarregada de receber, processar e responder as solicitações relacionadas à gestão.

Quanto à transparência na gestão da movimentação de recursos (inciso VII, alínea ‘c’, do art. 18-A, da Lei 9.615/1998), vê-se que ainda é parcial. Apenas é publicado no site da entidade o relatório anual das demonstrações contábeis e algumas contratações, de forma bem resumida. Não há disponibilização de relatórios na internet que permitam uma visão geral dos gastos da entidade ao utilizar os recursos da Lei Agnelo/Piva (recursos públicos) nem publicação da conciliação bancária

No tocante à participação dos atletas nos colegiados de direção e na eleição para os cargos da entidade (inciso VII, alínea ‘g’, do art. 18-A, da Lei 9.615/1998); observa-se que, na prática, eles ainda não participam do colegiado da entidade nem do processo eletivo. No sítio da entidade, é possível notar que, no exercício de 2015, foi nomeada uma comissão provisória de atletas, para o biênio 2015-2016, bem como que existe regulamento de eleição para que seja realizado, de fato, o processo eletivo para escolha da comissão de atletas conforme prevê o inciso V do art. 18-A da Lei 9.615/1998. Mas isso ainda não ocorreu.

Concluiu a equipe que a entidade ainda carece de instrumentos de gestão e de transparência para permitir um melhor acompanhamento da aplicação dos recursos públicos recebidos.

Por isso, foi proposto a oitiva da Confederação Brasileira de Ginástica, na pessoa do seu representante legal, para se pronunciar acerca desse achado.

b) O Processo de eleição para presidente ou dirigente máximo da Confederação Brasileira de Ginástica apresenta requisitos que dificultam o acesso e a alternância no exercício dos cargos de direção.

A exigência para que o candidato tenha participado da direção da ginástica, e no mínimo por um ciclo olímpico anterior à eleição e o fato de que apenas um representante dos atletas terá direito a voto nas Assembleias Gerais são critérios que dificultam o acesso de candidatos aos cargos de presidente e vice da entidade, restringindo a participação de outros membros e atletas no processo sucessório, o que permite a apenas um pequeno e determinado grupo de pessoas a condição de se candidatar a cargo de presidente e vice da entidade.

O regulamento da comissão de atletas da CBG dispõe apenas que os atletas possam votar, mas não que possam ser votados. Mesmo assim, ainda não existe o representante da comissão de atletas.

Concluiu a equipe de auditoria que o estatuto da CBG se mostra inadequado no tocante ao estabelecimento das regras para eleição dos cargos de presidente e vice, uma vez que restringe a participação de membros e de atletas da entidade no processo eletivo. Ademais, aos atletas ainda não lhes é assegurado o direito de eleger e ser eleito para os cargos de direção da entidade.

Nesse sentido, foi proposto a oitiva da Confederação Brasileira de Ginástica, na pessoa do seu representante legal, para se pronunciar acerca desse fato.

c) Movimentação irregular de recursos públicos, em virtude da não aplicação financeira dos valores não utilizados, conforme prevê a legislação de convênios.

A Confederação Brasileira de Ginástica não efetuava, até meados de 2014, a aplicação financeira dos recursos existentes na sua conta bancária, ainda que os mesmos ficassem sem movimentação há mais de trinta dias, e com sobra de caixa significativa.

Até a edição da Circular 044/2014/AGR/vm, de 6/6/2014, do Comitê Olímpico Brasileiro, a CBG não realizava a aplicação financeira dos recursos públicos mantidos em conta corrente, sem utilização. Somente a partir do Convênio CVN/GA 01/14, firmado no início do exercício de 2014, é que o COB passou a prever em normativo a necessidade fazer a aplicação financeira dos recursos não utilizados.

Como houve descumprimento pelo COB da regra prevista no art. 54, § 1º da Portaria Interministerial 507/2011, e como se trata de ação de fiscalização perante o COB, após o exame das

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respostas à audiência e oitiva propostas, deverá ser encaminhado relatório e evidências à SecexEducação, Unidade Centralizadora da Fiscalização de Orientação Centralizada, para consolidar esse achado, e a avaliar a oportunidade e conveniência de realizar audiência junto aos gestores faltosos do COB que não exigiram das confederações que fizessem a aplicação dos recursos públicos ociosos. Nesse mesmo sentido, propôs-se fazer recomendação ao COB, para orientar as suas confederações no sentido de escolher o meio mais adequado para aplicar os recursos parados em conta corrente: em caderneta de poupança, ou fundo fixo, ou em operação de mercado aberto, lastreada em título da dívida pública.

d) Ausência de realização de pesquisa prévia de preços/avaliação prévia.

Após examinar alguns processos licitatórios realizados pela Confederação Brasileira de Ginástica, constatou-se que a entidade não fez avaliação prévia para a contratação de locação de imóvel e nem pesquisa prévia de preços para a realização de serviços advocatícios.

A equipe de fiscalização verificou que, nesses casos, não foi possível apurar a compatibilidade dos preços contratados com os valores de mercado, de forma a evitar possível ocorrência de preços inexequíveis ou sobrepreços; em descumprimento à Portaria Interministerial 507/2011, nos seus arts. 57 e 59, incisos I e II.

Concluiu a equipe de auditoria que a entidade não observou a necessidade de estipulação de parâmetro que permitisse aferir a existência de um preço justo e compatível com o mercado, o que afronta a Portaria Interministerial 507/2011, nos seus arts. 57 e 59, incisos I e II, bem como o inciso VI do art. 10 das IN COB 1/2014.

Nesse sentido, propôs-se promover a audiência do gestor da Confederação Brasileira de Ginástica para apresentar as suas razões de justificativa para o fato de ter realizado a contratação e renovações da locação do imóvel, onde se localiza a sede da entidade, sem avaliação prévia; bem como por ter contratado serviços advocatícios com prorrogações junto à empresa Cleverson Marinho Teixeira Advogados Associados, sem pesquisa prévia de preços, de forma que se pudesse estimar os preços praticados nessas duas contratações, com o fim de verificar a compatibilidade desses valores com os de mercado, em descumprimento à Portaria Interministerial 507/2011, arts. 57 e 59, incisos I e II; e ao inciso VI do art. 10 da IN COB 1/2014.

e) Falta de divulgação dos instrumentos convocatórios.

Constatou-se que a entidade realiza a divulgação dos instrumentos convocatórios, relacionados às aquisições de bens e serviços, apenas na sua página na internet. Não há ampla divulgação dos certames lançados, o que implica em limitação de competitividade, e descumprimento da legislação de convênios (art. 35, Parágrafo Único, da Portaria Interministerial 507/2011), que impõe que o extrato da licitação deverá ser publicado no Diário Oficial da União, sem prejuízo de outros veículos de publicidade usualmente utilizados pelo convenente. Ademais, por se tratar de despesas realizadas com recursos federais, a regra legal é a de que a publicação ocorra no Diário Oficial da União, e em jornal de grande circulação no estado, ex vi do disposto no art. 21, incisos I e III, da Lei 8.666/1993.

Tendo em vista que a CBG anuiu com a condição de observância à Lei 8.666/1993, no momento da celebração dos convênios com o COB, deve, assim, fazer a publicação dos certames licitatórios não apenas no seu sítio.

Vale ressaltar que a CBG, para realizar suas contratações de bens e serviços, segue a IN COB 1/2014, a Lei 8.666/1993, no que couber, bem como a Portaria Interministerial 507/2011, conforme dispõe os termos de convênio que assina com o COB.

Concluiu a equipe de auditoria que a CBG não dá a devida publicidade aos seus certames licitatórios, uma vez segue apenas a orientação do COB, no sentido de apenas dar conhecimento do pleito no seu sítio na internet.

Considerando que o fato constatado pela equipe de fiscalização tratou-se de descumprimento de normativos legais atinente ao assunto por parte do COB, julga-se conveniente tratar desse assunto na Unidade Centralizadora. Assim, após o exame das respostas encaminhadas à audiência e oitiva

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propostas, deverá ser encaminhado relatório e evidências à SecexEducação, Unidade Centralizadora da Fiscalização de Orientação Centralizada, para consolidar esse achado, e avaliar a oportunidade e conveniência de realizar audiência dos gestores do COB, em virtude da ausência de previsão na IN COB 1/2014 da exigência de divulgação dos certames licitatórios no Diário Oficial da União, sem prejuízo de outros veículos de publicidade, conforme dispõe a Portaria Interministerial 507/2011, art. 35, Parágrafo único; e a Lei 8.666/1993, art. 21, incisos I e III.

f) Falta de regulamentação que parametrize os valores salariais e respectivos reajustes dos funcionários da Confederação.

A Confederação Brasileira de Ginástica efetua reajustes nos salários dos seus funcionários sem que seja seguido um critério ou mesmo uma uniformidade nos índices aplicados às remunerações pagas, o que provoca distorções.

Concluiu a equipe de auditoria que a CBG não possui plano de cargos e salários nem tampouco regulamentação interna para reajustar as remunerações dos seus colaboradores. Utiliza procedimentos não normatizados, com base em avaliações individuais subjetivas. Não há parâmetros ou critérios formalizados para alterar os salários do pessoal da entidade.

Antes de se pronunciar sobre o fato, sugeriu-se ouvir a Confederação Brasileira de Ginástica, na pessoa do seu representante legal, para se pronunciar sobre esse achado.

2.3Além dos achados decorrentes das questões de auditoria, a fiscalização identificou a ausência de autonomia e viabilidade financeiras da Confederação Brasileira de Ginástica.

Constatou-se que a maioria dos valores recebidos pela CBG se refere a recursos públicos, corroborando informação presente no Relatório de Levantamento no Sistema Nacional de Desporto (TC 021.654/2014-0), elaborado no ano de 2014. Nesse relatório, constatou-se que a maior parte das confederações olímpicas, cerca de 15 das 26, depende totalmente de recursos públicos para sua manutenção.

Nos exercícios de 2013, 2014 e 2015, os recursos públicos recebidos pela entidade representaram, respectivamente, cerca de 71,19%, 75,9% e 70,33% do total dos valores, o que evidencia uma dependência significativa da entidade desses recursos.

No entanto, considerando que o fato constatado pela equipe de fiscalização trata-se de assunto que depende de atuação do Ministério do Esporte, julga-se conveniente tratar desse ponto junto à Unidade Centralizadora.

Nesse sentido, considerou a Unidade Técnica que, após o exame das respostas à audiência e oitiva propostas, deverá ser encaminhado relatório e evidências à SecexEducação, Unidade Centralizadora da Fiscalização de Orientação Centralizada, para consolidar esse achado não decorrente das questões de auditoria, bem como para avaliar a oportunidade e conveniência de

propor determinação ao Ministério do Esporte para que regulamente o inciso I do art. 18 da Lei 9.615/1998, criando critérios objetivos que sirvam de parâmetro ao exame da viabilidade e autonomia financeiras das entidades que recebem recursos públicos da Lei Agnelo/Piva.

2.4. Dessa forma, ao final do Relatório de Auditoria, foi proposto a realização de oitiva junto à Confederação Brasileira de Ginástica, na pessoa do seu representante legal; e audiência da presidente dessa entidade. Após o exame da manifestação do gestor da entidade, deverá ser encaminhado o relatório e evidências à SecexEducação para a consolidação de informações e proposta de outras ações de fiscalização.

2.5. A proposta da equipe de auditoria, relativa à audiência e oitiva, foi aceita pelo titular desta unidade técnica, em Despacho proferido em 20/11/2015 (peça 40).

2.6. A presidente da CBG foi comunicada da audiência, bem como da oitiva, por meio dos Ofícios 1561 e 1562/2015-TCU/Secex-SE (peças 42 e 43), de 24/11/2015, respectivamente.

2.7. A representante da entidade solicitou prorrogação do prazo para apresentar as suas razões de justificativa, bem como os esclarecimentos à oitiva, em resposta aos ofícios acima mencionados (peças 46 e 48), sendo atendido o seu pleito, em Despacho desta unidade técnica (peça 50).

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2.8. Foi juntado aos autos procuração pública da Sra, Maria Luciene Cacho Resende, bem como da Confederação Brasileira de Ginástica (peças 47 e 49), outorgadas ao advogado Sr. Rafael Resende de Andrade, para que este os represente junto a este Tribunal para apresentação de razões de justificativa e esclarecimentos, em resposta à audiência e oitiva solicitadas.

2.9. À peça 51 consta resposta ao Ofício 1562/2015-TCU/Secex-SE, que trata da oitiva da CBG. Nas peças 52 e 52 constam a resposta ao Ofício 1561/2015-TCU/Secex-SE, que trata da audiência da Sra. Maria Luciene Cacho Resende.

EXAME TÉCNICO

3. A seguir serão examinadas as razões de justificativas e os esclarecimentos prestados pela representante da CBG em resposta à audiência e oitiva encaminhadas por este Tribunal.

DA OITIVA DA CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE GINÁSTICA

4. A entidade foi chamada aos autos, por meio do Ofício 1562/2015-TCU/Secex-SE, para se manifestar acerca das seguintes constatações apontadas em ação de fiscalização realizada nesta entidade:

- o Estatuto da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) contempla o conteúdo mínimo exigido pelo art. 18-A da Lei 9.615/1998, com alterações introduzidas pela Lei 12.868/2013; mas algumas exigências ainda não são asseguradas, na prática, pela entidade;

- o Processo de eleição para presidente ou dirigente máximo da Confederação Brasileira de Ginástica apresenta requisitos que dificultam o acesso e a alternância no exercício dos cargos de direção. O estatuto da CBG dispõe que: para os cargos de presidente e vice, o candidato deverá ter participado da direção da ginástica, a nível nacional ou estadual, no mínimo um ciclo olímpico anterior à eleição (art. 23, § 1º); que a comissão de atletas deverá eleger, dentre seus membros, um presidente, que irá representar o respectivo segmento com direito a voz e um voto nas Assembleias Gerais da CBG (§ 4º do art. 46);

- falta de regulamentação que parametrize os valores salariais e respectivos reajustes dos funcionários das Confederações.

DOS ESCLARECIMENTOS PRESTADOS PELA CBG

5. Inicialmente, a entidade, por meio do seu procurador constituído nos autos, argumenta que, ao contrário do constatado no relatório de auditoria deste Tribunal, cumpre todos os requisitos do art. 18-A, da Lei 9.615/1998, possuindo ainda todas as certidões e atestados exigidos pela Portaria 224/2014 do Ministério do Esporte (peça 51, p. 3).

6. Em relação ao primeiro ponto da oitiva (exigências da Lei 9.615/1998, ainda não contempladas pelo estatuto da CBG), informou-se que (peça 51, p. 4-5):

a) a CBG divulga em seu site as demonstrações contábeis do último exercício, que é elaborado por empresa de auditoria independente, nos termos da lei;

b) essas demonstrações estão de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil, aplicáveis às entidades sem fins lucrativos;

c) consta no sítio da entidade relatório anual completo dos programas, ações e resultados, o qual foi anexado aos autos;

d) editais, licitações e contratações são publicados no site, bem como no Diário Oficial da União, em conformidade com o art. 61 da Lei 8.666/1993.

e) foi instituída a comissão especial provisória de atletas para o biênio 2015-2016, sendo que neste ano de 2016 essa comissão já terá voz e um voto na assembleia geral da entidade. Ou seja, ao contrário do relatado, a comissão de atletas existe e está em atividade.

7. Quanto ao segundo ponto da oitiva (restrições no processo de eleição da entidade), esclareceu-se que (peça 51, p. 5-6):

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a) o fato de o candidato ter participado da direção da ginástica, no nível nacional ou estadual, no mínimo um ciclo olímpico anterior à eleição não se trata de restrição, mas de condição de elegibilidade, definida ao longo dos anos no estatuto da CBG, e aprovada em assembleia geral por todos os seus membros;

b) a entidade, apesar de receber recursos públicos, constitui-se de entidade civil privada;

c) as condições de elegibilidade da CBG buscam preservar a continuidade da própria entidade.

8. Referente ao terceiro ponto (falta de regulamentação que parametrize os valores salariais e respectivos reajustes dos funcionários das Confederações), a CBG informou que (peça 51, p. 6):

a) acredita não ser competência do TCU adentrar à esfera de competência da justiça do trabalho;

b) os salários correspondem à limitação contábil orçamentária da CBG;

c) o próprio relatório de fiscalização reconhece que os recursos são bem aplicados, observando os limites máximos definidos na Portaria 01/2014 do Ministério do Esporte.

9. Face aos esclarecimentos prestados, entende a entidade que deve ser elidida qualquer responsabilidade da CBG (peça 51, p. 6).

10. Além dos esclarecimentos prestados referentes aos motivos da oitiva, foram dadas outras informações relacionadas aos resultados alcançados nos últimos anos, à eficiência e eficácia dos serviços prestados pela CBG, à correta aplicação dos recursos públicos, ao ouro olímpico conseguido nas olimpíadas de Londres 2012, ao reconhecimento internacional pela federação internacional de ginástica, e à ampliação e melhoria da ginástica no Brasil (peça 51, p. 7-9).

11. Por fim, a CBG requer a procedência dos esclarecimentos prestados, no sentido de elidir qualquer responsabilização da entidade (peça 51, p. 10).

12. Para fins de acréscimo aos esclarecimentos prestados, a entidade juntou aos autos alguns documentos extraídos do seu site: demonstrações contábeis (peça 51, p. 13-22), e Relatório de Programas, Ações e Resultados (peça 51, p. 23-34).

Análise Técnica

13. Em relação ao primeiro ponto da oitiva (exigências da Lei 9.615/1998, ainda não contempladas pelo estatuto da CBG), a entidade argumentou que divulga em seu site as demonstrações contábeis do último exercício; relatório anual completo dos programas, ações e resultados (anexado aos autos); editais, licitações e contratações.

13.1. No entanto, esses argumentos não respondem aos termos da oitiva, que observou que a entidade não divulga no seu sítio os programas e ações previstos e realizados; as despesas e receitas executadas com a Lei Agnelo/Piva; as licitações e contratos, incluindo editais, participantes do certame, resultado e homologação; os relatórios de gestão; a legislação usada pela entidade; bem como a prestação de contas dos recursos públicos geridos; além de não haver ouvidoria encarregada de receber, processar e responder as solicitações relacionadas à gestão.

13.2. A entidade apenas afirmou, de forma genérica, que atende aos requisitos do art. 18-A, da Lei 9.615/1998. Mencionou que divulga as demonstrações contábeis, o que não foi tratado na oitiva.

13.3. Disse que divulga relatório anual completo dos programas, ações e resultados, anexando os autos o dito relatório. Entretanto, o que se tem é um resumo das notícias do ano relativas às modalidades da ginástica, que se vê no link ‘Multimídia” do site. Não se trata de relatório de programas, ações e resultados, mas de notícias extraídas da imprensa, de modo geral. Ou seja, não há essa informação no site da entidade. Para fins de comparação, seria algo parecido com o que é divulgado no site do COB sob o nome de Relatório Anual de Atividades.

13.4. Acrescentou que divulga editais, licitações e contratações. Em consulta ao site da entidade, nota-se que as informações sobre esse ponto são bem resumidas: apenas se tem o despacho de homologação da licitação e o contrato com a empresa vencedora. Apenas isso não atende ao espírito da lei, que demanda outras informações como a divulgação dos editais, os participantes do

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certame, o resultado e a homologação. Ou seja, as informações divulgas não atendem ao que dispõem a norma.

13.5. Além disso, a entidade não tratou da falta de divulgação no seu site de relatório de gestão; da legislação usada pela entidade; da prestação de contas dos recursos públicos geridos; e da falta de ouvidoria encarregada de receber, processar e responder as solicitações relacionadas à gestão.

13.6. A título de exemplo, em consulta ao site do COB, vê-se que é possível consultar informações detalhadas das aplicações dos recursos da Lei Agnelo Piva.

13.6. Dessa forma, conclui-se que, de fato, a entidade ainda não atende ao conteúdo mínimo reclamado pelo art. 18-A, da Lei 9.615/1998, o que demanda proposta de determinação para a entidade:

a) criar ouvidoria encarregada de receber, processar e responder as solicitações relacionadas à gestão;

b) divulgar no seu site informações relativas aos programas e ações previstos e realizados; às despesas e receitas executadas com a Lei Agnelo/Piva; às licitações e contratos, incluindo editais, participantes do certame, resultado e homologação; aos relatórios de gestão; à legislação usada pela entidade; e à prestação de contas dos recursos públicos geridos.

14. Quanto ao segundo ponto da oitiva (restrições no processo de eleição da entidade), a CBG esclareceu que o pré-requisito de o candidato ter participado da direção da ginástica, no nível nacional ou estadual, no mínimo um ciclo olímpico anterior à eleição, não se trata de restrição, mas de condição de elegibilidade; que, apesar de receber recursos públicos, constitui-se de entidade civil privada; que as condições de elegibilidade da CBG buscam preservar a continuidade da própria entidade.

14.1. Em consulta ao estatuto do COB, apesar de ainda se mostrar também restritivo, uma vez que exige que os candidatos a presidente e vice sejam membros da entidade há pelo menos cinco anos consecutivos, no entanto permite que sejam candidatos a presidente e vice da entidade os brasileiros natos e membros eleitos na assembleia, o que inclui nesse rol um representante dos atletas.

14.2. Nesse sentido, a CBG deveria no mínimo se adequar ao que dispõe o Estatuto do COB, permitindo que o representante da comissão de atletas possa, também, concorrer ao cargo de presidente e vice da entidade.

14.3. No tocante ao argumento de que, apesar de receber recursos públicos, constitui-se de entidade civil privada, essa condição, no entanto, deve ser harmonizada com o atendimento dos princípios gerais da administração pública, a que estão submetidas as entidades que recebem recursos públicos, que é o caso da CBG.

14.4. Restrição no processo eletivo na entidade, no mínimo, atenta contra os princípios da isonomia e da moralidade pública, o que é rechaçado por esta Corte de Contas.

14.5. Dessa forma, sugere-se fazer determinação para que a entidade promova alterações no regulamento dos atletas e no estatuto da entidade, permitindo que o representante dos atletas possa, também, concorrer aos cargos de presidente e vice da CBG, conforme previsto no art. 6º do Estatuto do Comitê Olímpico Brasileiro (COB).

15. Quanto ao ponto da oitiva que trata da falta de regulamentação que parametrize os valores salariais e respectivos reajustes dos funcionários da Confederação, a CBG acredita não ser competência do TCU adentrar à esfera de competência da justiça do trabalho; e que os salários correspondem à limitação contábil orçamentária da CBG.

15.1. O argumento da entidade é muito frágil, pois não enfrentou a questão principal, que é a falta de critérios ou parâmetros para fazer reajustes salarias aos seus colaboradores, provocando distorções.

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15.2. Sabe-se que a entidade é privada, mas depende bastante de receber recursos públicos para se manter, o quer lhe impõe, conforme jurisprudência deste Tribunal, no mínimo, obediência aos princípios da Administração Pública.

15.3. Conceder reajustes salariais sem parâmetros viola os princípios da impessoalidade, isonomia e moralidade pública. Além disso, do ponto de vista gerencial, não se constitui de boa prática administrativa, o que pode levar a insatisfações entre os colaboradores.

15.4. Assim, para evitar essa situação contrária aos interesses públicos, sugere-se fazer determinação para que a entidade crie e regulamente parâmetros objetivos, conhecidos de todos, para reajustar o seu pessoal, a fim de que se promova transparência, conforme preconizado pelo art. 18-A, da Lei 9.615/1998.

DA AUDIÊNCIA DA SRA. MARIA LUCIENE CACHO RESENDE

16.A representante atual da Confederação Brasileira de Ginástica foi chamada aos autos, mediante o Ofício 1561/2015-TCU/Secex-SE, para apresentar suas razões de justificativa acerca da seguinte ocorrência verificada em Relatório de Auditoria:

- contratação e renovações da locação do imóvel, onde se localiza a sede da entidade, sem avaliação prévia; bem como por ter contratado serviços advocatícios com prorrogações junto à empresa Cleverson Marinho Teixeira Advogados Associados, sem pesquisa prévia de preços, de forma que se pudesse estimar os preços praticados nessas duas contratações, com o fim de verificar a compatibilidade desses valores com os praticados no mercado, em descumprimento à Portaria Interministerial 507/2011, arts. 57 e 59, incisos I e II; e ao inciso VI do art. 10 da IN COB 1/2014.

DAS RAZÕES DE JUSTIFICATIVA APRESENTADAS PELA GESTORA

17. Preliminarmente, a gestora argumentou que o imóvel locado desde 2009, em virtude da transferência da sede da CBG para Aracaju/SE, atende plenamente as necessidades atuais da entidade, sendo o preço correspondente ao valor de mercado imobiliário da localidade (peça 52, p. 3).

18. Acrescentou que os serviços advocatícios prestados pela empresa contratada, também, correspondem aos valores praticados no mercado, o que pode ser constatado pelo número de feitos patrocinados pelo escritório em comparação aos valores da tabela de honorários da OAB/PR, local da antiga sede da CBG e onde tramitava os processos (peça 52, p. 3).

19. De forma específica, em relação à ausência de realização de pesquisa/avaliação prévia de preços na contratação da locação do imóvel onde fica a sede da entidade, a presidente da CBG, por meio do seu procurador, apresentou as seguintes justificativas (peça 52, p. 4-9):

a) foi escolhido o imóvel da sede da entidade após ampla pesquisa no mercado imobiliário, em anúncios, e em sítios eletrônicos;

b) que a pesquisa pode ser feita por outros meios, e não somente por meio da avaliação prévia de preços, conforme precedente do TCU nos Acórdãos 522/2014 e 2816/2014, todos do Plenário;

c) o Acórdão 522/2014 informa que a apresentação de cotações junto ao mercado é a forma preferencial de se justificar o preço em contratações sem licitação, podendo ser utilizado outros meios, caso aquela forma não seja possível ou não seja a mais adequada;

d) o Acórdão 2816/2014 recomenda que a pesquisa de preços não se restrinja a cotações realizadas junto aos potencias fornecedores, podendo adotar-se outras fontes, como contratações similares por outros órgãos ou entidades públicas, mídias e sítios eletrônicos, portais oficiais de referenciamento de custos;

e) o imóvel locado, à época, acabara de ser disponibilizado por outra empresa, estando adaptado para receber a CBG, uma vez que dispunha de portaria, hall de entrada, salas adequadas para a direção e os serviços administrativos, além de dependências de copa, arquivo etc;

f) vistoria realizada em 5/3/2009 atestou as boas condições de uso do prédio;

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g) antes de firmar o contrato de locação do referido imóvel, promoveu pesquisa de prévia, bem como considerou que o local atendia as finalidade e atribuições da CBG;

h) o imóvel está localizado numa das principais avenidas de Aracaju/SE, onde se situa outras empresas e órgãos públicos, além dos serviços dos correios e telégrafos;

i) durante todo o período da locação prestou contas dos processos de pagamento da locação ao COB;

j) esses pagamentos foram aprovados em Assembleia Geral, após parecer do Conselho Fiscal;

k) mencionou o art. 24 da Lei 8.666/1993, que destaca a necessidade de instalação e de localização como aspectos importantes para a escolha do imóvel;

l) o imóvel está adequado ao preço do mercado imobiliário da cidade de Aracaju/SE, com preço inicial de R$ 3.500,00, para a estrutura que possui;

m) seis anos após a contratação, o preço atual continua compatível aos preços de mercado, conforme laudo de avaliação, firmado por corretor de imóveis, que avaliou o preço para locação bem acima do preço pago pela CBG.

20. Quanto à ausência de realização de pesquisa/avaliação prévia de preços na contratação dos serviços advocatícios, a gestora da CBG apresentou as seguintes justificativas (peça 52, p. 10-11):

a) a CBG, para a contratação do escritório de advocacia, considerou, como pesquisa prévia de preços, os valores estipulados pela tabela de honorários da OAB/PR, e da Resolução do Conselho Seccional da OAB/PR 02/2008;

b) esse escritório já prestava serviços à gestão anterior;

c) como o escritório já conhecia os processos, não poderia encerrar o contrato, pois isso poderia afetar o andamento dos serviços essenciais e cotidianos da entidade;

d) caso fosse contabilizado todos os serviços prestados pelo escritório, tomando por base a tabela de honorários da OAB/PR, a CBG teria pago mais do que efetivamente pagou, o que demonstra que houve economicidade na contratação;

e) juntou-se aos autos orçamentos prévios que, à época, subsidiaram a contratação do escritório de advocacia;

f) a referida contratação ocorreu com base na referida tabela da OAB, bem como em propostas orçamentárias de três empresas do ramo, em anexo.

21.Além das razões de justificativas apresentadas, a gestora acrescentou as mesmas informações já mencionadas quando da oitiva, referentes aos resultados alcançados nos últimos anos, à eficiência e eficácia dos serviços prestados pela CBG, à correta aplicação dos recursos públicos, ao ouro olímpico conseguido nas olimpíadas de Londres 2012, ao reconhecimento internacional pela federação internacional de ginástica, e à ampliação e melhoria da ginástica no Brasil (peça 52, p. 12-14).

22. Por fim, a gestora da entidade requer a procedência das razões de justificativa apesentadas, para sanear as pretensas irregularidades descritas no relatório de fiscalização (peça 52, p. 15).

23. Em acréscimo às razões de justificativa apresentadas, a gestora da CBG anexou aos autos a vistoria inicial do imóvel locado para a sede da CBG (peça 52, p. 17-61, o laudo de avaliação do imóvel (peça 52, p. 62-71), elaborado por corretor de imóveis, relatório de demandas judiciais e administrativas patrocinadas pelo escritório de advocacia (peça 52, p. 72-85), propostas de honorários advocatícios (peça 52, p. 86-90), e revista Ginástica Brasil, de abril de 2015 (peça 52, p. 91-125).

Análise Técnica

24. Em relação ao apontamento da ausência da pesquisa prévia de preços para a realização de serviços advocatícios, em descumprimento à Portaria Interministerial 507/2011, nos seus arts. 57 e

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59, incisos I e II, e ao inciso VI do art. 10 das IN COB 1/2014, a gestora da entidade, de forma específica, argumentou que considerou, como pesquisa prévia de preços, os valores estipulados pela tabela de honorários da OAB/PR, pela Resolução do Conselho Seccional da OAB/PR 02/2008; e que esse escritório já prestava serviços à gestão anterior; que juntou aos autos orçamentos prévios que, à época, subsidiaram a contratação do escritório de advocacia.

24.1.Considerando que a contratação do escritório de advocacia se deu no âmbito da gestão anterior da entidade, e que foi juntado aos autos orçamentos prévios de preços, que evidenciam que foi realizada pesquisa de preços, vê-se que o ponto se encontra saneado, diante das justificativas apresentadas pela gestora.

25. Quanto à falta de avaliação prévia para a contratação de locação de imóvel, em desacordo com a Portaria Interministerial 507/2011, nos seus arts. 57 e 59, incisos I e II, e com o inciso VI do art. 10 das IN COB 1/2014, a gestora da entidade, no que interessa ao tema, argumentou que:

a) fez ampla pesquisa no mercado imobiliário, em anúncios, e em sítios eletrônicos;

b) o Acórdão 522/2014-TCU-Plenário informa que a justificativa de preço pode ser dada por outros meios, caso a cotação de preços não seja a mais adequada;

c) o Acórdão 2816/2014-TCU-Plenário recomenda que a pesquisa de preços não se restrinja a cotações de preços, podendo adotar-se outras fontes, como contratações similares por outros órgãos ou entidades públicas, mídias e sítios eletrônicos, portais oficiais de referenciamento de custos;

d) antes de firmar o contrato de locação do referido imóvel, promoveu pesquisa prévia de preços, bem como considerou que o local atendia as finalidade e atribuições da CBG;

e) mencionou o art. 24 da Lei 8.666/1993, que destaca a necessidade de instalação e de localização como aspectos importantes para a escolha do imóvel;

f) seis anos após a contratação, o preço atual continua compatível aos preços de mercado, conforme laudo de avaliação, firmado por corretor de imóveis, que avaliou o preço para locação bem acima do preço pago pela CBG.

25.1. Examinaremos, ponto a ponto, as justificativas da gestora.

25.2. Disse a gestora que fez ampla pesquisa no mercado imobiliário, em anúncios, e em sítios eletrônicos; mas não comprovou essa informação, pois apenas juntos os autos vistoria inicial do imóvel e laudo de avaliação para aluguel.

25.3. Citou dois acórdãos deste Tribunal. O Acórdão 522/2014-TCU-Plenário informa que a justificativa de preço pode ser dada por outros meios, caso a cotação de preços não seja a mais adequada; e o Acórdão 2816/2014-TCU-Plenário recomenda que a pesquisa de preços não se restrinja a cotações de preços, podendo adotar-se outras fontes, como contratações similares por outros órgãos ou entidades públicas, mídias e sítios eletrônicos, portais oficiais de referenciamento de custos.

25.4. Da leitura dessas duas decisões, vê-se que a regra é a cotação de preços, exceto se não for possível fazê-la. A pesquisa de preços ainda pode ser complementada por outras fontes de informações. O que conclui essas duas decisões é no sentido de que a cotação de preços deve ser complementada com outras pesquisas.

25.5. Ou seja, tentou justificar a gestora que não seria necessário fazer a pesquisa de preços. No entanto, não é isso que preconiza a Portaria Interministerial 507/2011, nos seus arts. 57 e 59, incisos I e II, bem como o inciso VI do art. 10 da IN COB 1/2014. Esses dispositivos impõem a necessidade de realizar pesquisa de preços nas compras e contratações de bens, obras e serviços.

25.6. Mencionou a gestora que, antes de firmar o contrato de locação do referido imóvel, promoveu pesquisa prévia de preços, bem como considerou que o local atendia as finalidade e atribuições da CBG. No entanto, não foi juntado aos autos nenhuma cotação de preços nem avaliação de quanto poderia ser o valor da locação.

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25.7. O que se juntou aos autos foi vistoria do imóvel para que fosse entregue ao fim da locação nas mesmas condições do aluguel, e laudo de avaliação para fins de aluguel, datado de 22/12/2015.

25.8. Mencionou o art. 24 da Lei 8.666/1993, que destaca a necessidade de instalação e de localização como aspectos importantes para a escolha do imóvel. Entretanto, esse artigo diz que ocorrerá a dispensa nessas condições, mas desde que o preço esteja compatível com os de mercado, segundo avaliação prévia.

25.9. Ressaltou que, seis anos após a contratação, o preço atual continua compatível aos preços de mercado, conforme laudo de avaliação, firmado por corretor de imóveis.

25.10. Esse laudo, porém, não serve para justificar a contratação do aluguel, que se deu em março de 2009, mas pode ser usado para fins de sua renovação. Mesmo assim, esse tipo de avaliação, por si só, não garante que o preço contratado atende ao princípio da economicidade, uma vez que desacompanhado de outras fontes de informações, como: pesquisa de preços, outras contratações similares por outros órgãos ou entidades públicas, mídias e sítios eletrônicos e portais oficiais de referenciamento de custos.

25.11. Dessa forma, ante os exames feitos, as justificativas apresentadas pela gestora não devem ser acatadas, pois não conseguiram demonstrar a necessária realização de pesquisa de preços, incluindo outras fontes de informações, não só para a contratação do aluguel, mas também por ocasião das renovações.

25.12. No entanto, mesmo rejeitando as suas justificativas, apenas essa irregularidade não tem relevância suficiente para aplicar-lhe multa, sendo mais adequado dar-lhe ciência do fato. Outra questão é que não foi evidenciado pelas informações presentes nos autos que o valor do aluguel se encontra excessivo, perante o mercado. Nesse contexto, julga-se oportuno e conveniente fazer recomendação à gestora para que proceda à avaliação do preço de locação do imóvel, e, se for o caso, solicite do proprietário revisão no preço, em atendimento ao princípio da economicidade; bem como que proceda à regular pesquisa de preços, nas próximas renovações do aluguel do imóvel.

CONCLUSÃO

26. Após o exame dos esclarecimentos prestados pela entidade, relativas à oitiva promovida, bem como das justificativas apresentadas pela gestora da CBG, concluiu-se pela sugestão de fazer determinação para que a entidade adote medidas saneadoras; bem como de propor recomendação para avaliar o preço de locação do imóvel-sede da entidade.

27. Em relação ao primeiro ponto da oitiva (exigências da Lei 9.615/1998, ainda não contempladas pelo estatuto da CBG), após examinar os argumentos da entidade, observou-se que a entidade não divulga no seu sítio os programas e ações previstos e realizados; as despesas e receitas executadas com a Lei Agnelo/Piva; as licitações e contratos, incluindo editais, participantes do certame, resultado e homologação; os relatórios de gestão; a legislação usada pela entidade; bem como a prestação de contas dos recursos públicos geridos; além de não haver ouvidoria encarregada de receber, processar e responder as solicitações relacionadas à gestão.

27.1. Os argumentos da CBG não foram aceitos. Concluiu-se que, de fato, a entidade ainda não atende ao conteúdo mínimo reclamado pelo art. 18-A, da Lei 9.615/1998, e, nesse sentido, será proposta determinação para a entidade:

a) criar ouvidoria encarregada de receber, processar e responder as solicitações relacionadas à gestão;

b) divulgar no seu site informações relativas aos programas e ações previstos e realizados; às despesas e receitas executadas com a Lei Agnelo/Piva; às licitações e contratos, incluindo editais, participantes do certame, resultado e homologação; aos relatórios de gestão; à legislação usada pela entidade; e à prestação de contas dos recursos públicos geridos.

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28. Quanto ao segundo ponto da oitiva (restrições no processo de eleição da entidade), a CBG ponderou que as exigências de elegibilidade não se tratam de restrições, e buscam preservar a continuidade da própria entidade.

28.1. Em consulta ao estatuto do COB, percebeu-se que a entidade permite que sejam candidatos a presidente e vice da entidade os brasileiros natos e membros eleitos na assembleia, o que inclui nesse rol um representante dos atletas.

28.2. Nesse sentido, para compatibilizar o estatuto das duas entidades, será sugerido fazer determinação para que a entidade promova alterações no regulamento dos atletas e no estatuto entidade, permitindo que o representante dos atletas possa, também, concorrer aos cargos de presidente e vice da CBG.

29. Quanto ao ponto da oitiva que trata da falta de regulamentação que parametrize os valores salariais e respectivos reajustes dos funcionários da Confederação, considerou a CBG não ser competência do TCU adentrar à esfera de competência da justiça do trabalho.

29.1. A entidade não enfrentou a questão principal, que é a falta de critérios ou parâmetros para fazer reajustes salarias aos seus colaboradores. Como se trata de entidade que depende substancialmente de recursos públicos para se manter, deve observar os princípios da Administração Pública nos seus atos.

29.2. Conceder reajustes salariais sem parâmetros viola os princípios da impessoalidade, isonomia e moralidade pública.

29.3. Nesse sentido, será proposta determinação para que a entidade crie e regulamente parâmetros objetivos, conhecidos de todos, para reajustar o seu pessoal, a fim de que se promova transparência, conforme preconizado pelo art. 18-A, da Lei 9.615/1998

30.Em relação ao ponto da audiência que trata da ausência da pesquisa prévia de preços para a realização de serviços advocatícios, a gestora da entidade, de forma específica, argumentou que considerou, como pesquisa prévia de preços, os valores estipulados pela tabela de honorários da OAB/PR, pela Resolução do Conselho Seccional da OAB/PR 02/2008; e que esse escritório já prestava serviços à gestão anterior; que juntou aos autos orçamentos prévios que, à época, subsidiaram a contratação do escritório de advocacia.

30.1. Considerando que a contratação do escritório de advocacia se deu no âmbito da gestão anterior da entidade, e que foi juntado aos autos orçamentos prévios de preços, vê-se que o ponto se encontra saneado, diante das justificativas apresentadas pela gestora.

31. Quanto à falta de avaliação prévia para a contratação de locação de imóvel, em desacordo com a Portaria Interministerial 507/2011, nos seus arts. 57 e 59, incisos I e II, e com o inciso VI do art. 10 das IN COB 1/2014, a gestora da entidade apresentou suas justificativas, que foram examinadas.

31.1. Disse a gestora que fez ampla pesquisa no mercado imobiliário, em anúncios, e em sítios eletrônicos; mas não comprovou essa informação.

31.2. Citou dois acórdãos deste Tribunal para justificar a desnecessidade da pesquisa prévia de preços. Da leitura dessas duas decisões, vê-se que a regra é a cotação de preços, exceto se não for possível fazê-la. A pesquisa de preços ainda pode ser complementada por outras fontes de informações.

31.3. Mencionou a gestora que, antes de firmar o contrato de locação do referido imóvel, promoveu pesquisa prévia de preços, mas não juntou autos nenhuma cotação de preços nem avaliação de quanto poderia ser o valor da locação.

31.4. Mencionou o art. 24 da Lei 8.666/1993, que destaca a necessidade de instalação e de localização como aspectos importantes para a escolha do imóvel. Entretanto, esse artigo diz que ocorrerá a dispensa, desde que o preço esteja compatível com os preços de mercado, segundo avaliação prévia.

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31.5. Ressaltou que, seis anos após a contratação, o preço atual continua compatível aos preços de mercado, conforme laudo de avaliação, firmado por corretor de imóveis. No entanto, esse laudo é de 2015, e não serve para justificar a contratação do aluguel, que se deu em março de 2009. Mesmo assim, esse tipo de avaliação, por si só, não garante que o preço contratado atende ao princípio da economicidade, uma vez que desacompanhado de outras fontes de informações.

31.6. As justificativas apresentadas pela gestora não devem ser aceitas, pois não foram capazes de demonstrar que foi realizada a necessária pesquisa de preços para a locação do imóvel-sede da entidade e para as renovações seguintes.

31.7. No entanto, mesmo rejeitando as suas justificativas, apenas essa irregularidade não seria suficiente para aplicar-lhe multa, sendo mais prudente dar-lhe ciência do fato; bem como recomendar-lhe para que proceda à avaliação do preço de locação do imóvel, e, se for o caso, solicite do proprietário revisão no preço, em atendimento ao princípio da economicidade; e para proceder à regular pesquisa de preços, quando das futuras renovações dessa locação.

31.8. Por fim, deve-se encaminhar à SecexEducação informações apontadas no Relatório de Auditoria (peça 38) para que sejam consolidadas, e apreciadas para fins de realização de outras ações de fiscalização.

PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO

32. Ante o exposto, e com base nos exames feitos, submetem-se os autos à consideração superior, propondo-se:

32.1. acatar parcialmente as razões de justificativa apresentadas pela Sra. Maria Luciene Cacho Resende (CPF 320.203.505-30);

32.2. fazer determinação junto à Confederação Brasileira de Ginástica, em atendimento ao 18-A, da Lei 9.615/1998, para que adote medidas a seguir discriminadas, remetendo a este Tribunal, em até 120 dias, as ações implementadas:

a) crie ouvidoria encarregada de receber, processar e responder as solicitações relacionadas à gestão;

b) divulge no seu site informações relativas aos programas e ações previstos e realizados; às despesas e receitas executadas com a Lei Agnelo/Piva; às licitações e contratos, incluindo editais, participantes do certame, resultado e homologação; aos relatórios de gestão; à legislação usada pela entidade; e à prestação de contas dos recursos públicos geridos;

c) promova alterações no regulamento dos atletas e no estatuto da entidade, permitindo que o representante dos atletas possa, também, concorrer aos cargos de presidente e vice da CBG;

d) crie e regulamente parâmetros objetivos, conhecidos de todos, para reajustar o seu pessoal, a fim de que se promova transparência na entidade;

32.3. recomendar à gestora da entidade que proceda à avaliação do preço de locação do imóvel-sede da entidade, e, se for o caso, solicite do proprietário revisão no preço, em atendimento ao princípio da economicidade; e que, doravante, quando das futuras renovações dessa locação, faça a regular pesquisa de preços.

32.4. dar ciência da ausência de avaliação prévia para a contratação de locação do imóvel-sede da entidade, em desacordo com a Portaria Interministerial 507/2011, nos seus arts. 57 e 59, incisos I e II, e com o inciso VI do art. 10 das IN COB 1/2014;

32.5. encaminhar relatório e peças 8, 16 a 19 e 21 a 30 à SecexEducação, Unidade Centralizadora da Fiscalização de Orientação Centralizada, para que:

a) seja consolidado o achado ‘Movimentação irregular de recursos públicos’, em virtude da não aplicação financeira dos valores não utilizados, conforme prevê a legislação de convênios, bem como para que avalie a oportunidade e conveniência de:

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a.1) realizar audiência dos gestores do COB, por não exigirem da CBG que fizesse a aplicação dos recursos públicos da Lei Agnelo/Piva, mantidos em conta corrente e não utilizados, o que só foi feito a partir de agosto de 2014; o que contrariou o que dispõe o art. 54, §1º, da Portaria Interministerial 507/2011;

a.2) fazer recomendação ao COB para que oriente as suas confederações olímpicas no sentido de que a aplicação financeira pode ser feita em caderneta de poupança, quando a previsão de uso dos recursos for superior a trinta dias; ou em fundo de aplicação financeira de curto prazo, ou operação de mercado aberto lastreada em título da dívida pública, quando sua utilização estiver prevista para prazos menores; assim, permitindo uma melhor gestão financeira da movimentação dos recursos públicos.

b) seja consolidado o achado ‘Falta de divulgação dos instrumentos convocatórios’, bem como para que avalie a oportunidade e conveniência de realizar audiência dos gestores do COB, em virtude da ausência de previsão na IN COB 1/2014 da exigência de divulgação dos certames licitatórios no Diário Oficial da União, sem prejuízo de outros veículos de publicidade, conforme dispõe a Portaria Interministerial 507/2011, art. 35, Parágrafo único; e a Lei 8.666/1993, art. 21, incisos I e III;

c) seja consolidado o achado ‘Ausência de autonomia e viabilidade financeiras da Confederação Brasileira de Ginástica, bem como para que avalie a oportunidade e conveniência de propor

determinação ao Ministério do Esporte para que regulamente o inciso I do art. 18 da Lei 9.615/1998, criando critérios objetivos que sirvam de parâmetro ao exame da viabilidade e autonomia financeiras das entidades que recebem recursos públicos da Lei Agnelo/Piva.

32.6. remeter cópia do acórdão que vier a ser proferido, bem como do relatório e voto que o fundamentarem ao representante da Confederação Brasileira de Ginástica;

32.7. arquivar os presentes autos, após as comunicações pertinentes, nos termos do art. 169, Inciso III, do Regimento Interno do TCU.

É o Relatório.

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VOTO

Trata-se de mais um relatório de auditoria de conformidade integrante do conjunto de

trabalhos executados sob a sistemática de Fiscalização de Orientação Centralizada (FOC), com o

intuito de verificar a regularidade da aplicação de recursos provenientes da Lei 9.615/1998, alterada pela Lei 10.264/2001 (Lei Agnelo/Piva), por parte das confederações olímpicas e paralímpicas, pelo

Comitê Olímpico do Brasil (COB), pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e pela Confederação Brasileira de Clubes (CBC).

2. Foram auditadas as seguintes entidades: Comitê Paralímpico Brasileiro, Comitê Olímpico

do Brasil, Confederação Brasileira de Clubes, Confederação Brasileira de Basketball, Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, Confederação Brasileira de Ciclismo, Confederação Brasileira de

Judô, Confederação Brasileira de Voleibol, Confederação Brasileira de Ginástica, Confederação Brasileira de Atletismo, Confederação Brasileira de Rugby, Confederação Brasileira de Hipismo e Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais.

3. Os critérios usados na presente fiscalização estão contidos na Lei 9.615/1998, que trata das normas gerais sobre desporto, bem como nas alterações posteriores, a exemplo da Lei Agnelo/Piva. Essa última norma foi considerada um marco para o esporte nacional ao estabelecer mais uma fonte de

recursos a serem captados para o desenvolvimento do esporte brasileiro.

4. Atualmente, referido dispositivo legal prevê que 2,7% da arrecadação bruta das loterias

federais seja destinada ao COB (62,96%) e ao CPB (37,04%), e um sexto dos recursos provenientes de concursos de prognósticos à CBC. Os recursos recebidos são repassados para os diversos entes que compõem o Sistema Nacional do Desporto, mediante instrumentos que seguem as normas de

convênios, por força de exigência legal. Como resultado prático, a Lei Agnelo/Piva possibilitou às diversas confederações esportivas o recebimento perene de recursos públicos para investimento na

preparação de atletas, compra de equipamentos, contratação de pessoal especializado, bem como a participação em competições nacionais e internacionais.

5. Dentro do escopo da auditoria, buscou-se averiguar (i) a adequação dos estatutos das

referidas entidades com o art. 18-A da Lei 9.615/1998, inclusive quanto à alternância de direção decorrente do processo eleitoral; (ii) a regularidade da movimentação de recursos da Lei Agnelo/Piva;

(iii) aspectos relacionados à licitação para aquisições e serviços, assim como a execução das respectivas contratações; (iv) a pertinência dos salários pagos a dirigentes e funcionários com a legislação; e (v) o controle da aplicação dos recursos concomitantemente recebidos dos comitês

paralímpico e olímpico brasileiros.

6. Neste processo, especificamente, cuida-se do relatório de auditoria realizada na

Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), com sede em Aracaju/SE.

7. As principais constatações da equipe de fiscalização foram (peça 38, p. 3):

(a) o Estatuto da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) contempla o conteúdo

mínimo exigido pelo art. 18-A da Lei 9.615/1998, mas algumas exigências ainda não são asseguradas, na prática, pela entidade (III.1);

(b) o processo de eleição para presidente ou dirigente máximo da CBG apresenta requisitos que dificultam o acesso e a alternância no exercício dos cargos de direção (III.2);

(c) movimentação irregular de recursos públicos, em virtude da não aplicação financeira

dos valores não utilizados, conforme prevê a legislação de convênios (III.3);

(d) ausência de realização de pesquisa prévia de preços (III.4);

(e) falta de divulgação dos instrumentos convocatórios (III.5);

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(f) falta de regulamentação que parametrize os valores salariais e respectivos reajustes dos funcionários das Confederações (III.6); e

(g) ausência de autonomia e viabilidade financeiras da Confederação Brasileira de Ginástica (IV.1).

8. A Secex-SE promoveu, mediante delegação de competência, a oitiva da CBG em relação

aos achados III.1, III.2 e III.6, bem como a audiência do gestor da entidade quanto à situação encontrada no achado III.4. Os demais apontamentos foram encaminhados para tratamento no relatório

consolidado (TC 023.922/2015-0), porquanto a unidade técnica entendeu que seriam de observância e correção pelas entidades que primariamente manejam os recursos, a saber o Ministério do Esporte e o Comitê Olímpico do Brasil (COB).

9. Anuo, em essência, às conclusões e propostas da Secex-SE, trazidas no relatório que precede este voto, adotando-as como razões de decidir, sem prejuízo de ajustar alguns

encaminhamentos, conforme passo a expor.

10. A unidade técnica apontou que o estatuto da CBG contempla o conteúdo mínimo exigido pelo artigo 18-A da Lei 9.615/1998, em que pese a entidade não cumprir todos os requisitos deste

dispositivo, em especial as alíneas “b”, “c” e “g” do inciso VII, consoante se transcreve:

Art. 18-A. Sem prejuízo do disposto no art. 18, as entidades sem fins lucrativos componentes do Sistema Nacional do Desporto, referidas no parágrafo único do art. 13, somente poderão receber recursos da administração pública federal direta e indireta caso: (...) VII - estabeleçam em seus estatutos: a) princípios definidores de gestão democrática; b) instrumentos de controle social; c) transparência da gestão da movimentação de recursos; d) fiscalização interna; e) alternância no exercício dos cargos de direção; f) aprovação das prestações de contas anuais por conselho de direção, precedida por parecer do conselho fiscal; e g) participação de atletas nos colegiados de direção e na eleição para os cargos da entidade; (grifos acrescidos) (...)

11. Nessa seara, a auditoria identificou que não há mecanismos para o acompanhamento da gestão da entidade pelo público em geral (achado III.1). Consultas ao sítio da CBG na internet

demonstraram que não há divulgação dos programas e ações previstos e realizados; das despesas e receitas executadas com recursos da Lei Agnelo/Piva; das licitações e contratações e suas etapas; de

relatórios de gestão; da legislação usada pela entidade; bem como da prestação de contas dos recursos públicos geridos.

12. Ademais, a transparência da gestão da movimentação de recursos também é deficiente.

Não há relatórios publicados no site da confederação para divulgar os gastos com recursos oriundos da Lei Agnelo/Piva. Constam apenas o relatório anual das demonstrações contábeis e algumas

contratações, de forma resumida.

13. No que tange à participação de atletas nos colegiados de direção e na eleição para os cargos da entidade, há previsão estatutária para uma comissão de atletas eleger um representante para

votar e participar das Assembleias Gerais da entidade, mas na prática essa situação ainda não se concretizou. Segundo as conclusões do relatório, a comissão não é escolhida por processo seletivo,

tendo sido constituída de forma provisória para o biênio 2015-2016.

14. Em resposta à oitiva, a entidade argumentou que cumpre o disposto no artigo 18-A da Lei 9.615/1998. Afirma que disponibiliza as demonstrações contábeis, todos os programas, ações e

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resultados, anexando aos autos documentos para fins probatórios. Justifica que há divulgação de editais, licitações e contratações no site, bem como no Diário Oficial da União. Em relação à comissão

de atletas, limita-se a confirmar que ela é provisória, mas já terá direito a voz e voto na Assembleia Geral da entidade a partir desse ano.

15. Após analisar as respostas à oitiva, a Secex-SE pontua que as justificativas não prosperam

e propõe determinações para a melhoria da divulgação das informações e para a criação de uma ouvidoria no âmbito da entidade, a fim de incrementar o controle social. Concordo com as análises da

unidade, mas discordo do encaminhamento pelos motivos que passo a expor.

16. Com efeito, a documentação encaminhada para demonstrar a divulgação dos programas, ações e resultados resumiu-se a notícias da imprensa concernentes às modalidades da ginástica, cujo

acesso é feito pelo link “Multimídia” do site da entidade. Além disso, as informações sobre licitações e contratos não se coadunam com o princípio da transparência, uma vez que não constam os editais, o

mapa da licitação, as atas, o resultado, trazendo apenas o resultado final por meio do extrato do contrato.

17. Quanto à participação dos atletas, a unidade técnica não encaminhou proposta específica

para esse item do Achado III.1, mas considero o apontamento saneado, não obstante a avaliação efetiva do cumprimento da alínea “g” do inciso VII do artigo 18-A demandar exames adicionais.

18. Após analisar o estatuto da confederação (peça 10) e o regulamento da Comissão de

Atletas (peça 12), reconheço que há previsão normativa para que um representante da categoria tenha direito a voto na eleição para os cargos de presidente, vice-presidente e membros do Conselho Fiscal.

19. A ausência de processo seletivo para a escolha dessa comissão e o caráter provisório desta para o biênio 2015-2016 motivaram a oitiva da entidade. Da leitura dos normativos da entidade, reconheço que efetivamente os atletas só tiveram previsão de participação na Assembleia Geral a partir

da primeira composição de Comissão de Atletas, escolhida excepcionalmente pela diretoria da CBG, para o período de junho de 2015 a dezembro de 2016 (peça 12, p 6), nos termos das disposições

transitórias do já citado regulamento.

20. De relevo destacar que a forma de escolha dessa comissão está prevista no referido regulamento (item 8), a qual será estabelecida em normativo próprio (Manual de eleição). Consoante

resposta à oitiva, os atletas já estarão representados no processo eleitoral a partir deste ano. De todo modo, não há elementos nos autos que confirmem se já existe o manual para regulamentar o processo

de escolha da comissão. Nesse passo, dou ciência à CBG e ao ME acerca da necessidade de se instituir esse normativo, em consonância com o artigo 23, § 2º, da Lei 9.615/1998:

Art. 23. Os estatutos ou contratos sociais das entidades de administração do desporto, elaborados em conformidade com esta Lei, deverão obrigatoriamente regulamentar, no mínimo: (...) § 2º Os representantes dos atletas de que trata o inciso III do caput deste artigo deverão ser escolhidos pelo voto destes, em eleição direta, organizada pela entidade de administração do desporto, em conjunto com as entidades que os representem, observando-se, quanto ao processo eleitoral, o disposto no art. 22 desta Lei. (grifos acrescidos)

21. Superada a questão do cumprimento da participação dos atletas nos processos seletivos, passo a explorar a participação desta categoria nos órgãos colegiados de direção.

22. Ao compulsar as análises da unidade técnica, não me defrontei com considerações

expressas a esse respeito, muito embora a questão da participação de atletas na Assembleia Geral possa gerar, por extensão, a interpretação de que estes estariam representados nas decisões da confederação,

pelo fato de integrarem a referida assembleia.

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23. Como pude perceber ao ler as atribuições da Assembleia Geral, no artigo 16 do estatuto da CBG, muitos atos de gestão estão ali inseridos, o que demonstraria, em tese, o cumprimento da alínea

“g” do inciso VII do artigo 18-A, desde que os atletas de fato sejam representados naquela assembleia.

24. Chamo a atenção apenas para as diversas maneiras pelas quais as confederações intentam demonstrar o cumprimento dos mecanismos legais aqui em exame. A meu ver, existem várias formas

de se atingir o objetivo da Lei 9.615/1998 para que as entidades possam receber os recursos federais. Decerto, cada uma delas pode estabelecer qual a melhor forma de garantir aos atletas participação nos

colegiados de direção e nas eleições da entidade, seja por representação direta ou indireta. O mesmo vale para os instrumentos de controle social e mecanismos de transparência e gestão.

25. Nesse passo, observo algumas discrepâncias entre as medidas adotadas entre as

confederações que compõem o universo da FOC ora em exame. A título de exemplo, a categoria de atleta estar representada na Assembleia Geral com direito a voto pode não garantir a participação

efetiva desse integrante nos colegiados de direção da entidade, dado que tal circunstância dependerá das prerrogativas e competências que a referida assembleia possui. Do mesmo, a instituição de uma ouvidoria pode não ser o único instrumento que falta à determinada entidade para que o controle social

seja alcançado.

26. Em face do exposto, ainda que concorde no mérito com a Secex-SE acerca do descumprimento das exigências legais, considero mais oportuno determinar ao ministério, responsável

por zelar pelo atendimento das exigências legais por parte das entidades que manejam recursos federais, que encaminhe plano de ação a este Tribunal com vistas a sanear as irregularidades aqui

identificadas que afrontam o artigo 18-A da Lei 9.615/1998.

27. De posse dos problemas identificados em cada confederação, este órgão poderá colacionar as diferenças, ampliar a análise e demonstrar objetivamente que as inconsistências foram solucionadas.

Assim procedo por entender que cabe ao Ministério do Esporte avaliar, caso a caso, se o modelo adotado por determinada confederação está apto a cumprir as exigências legais de forma a habilitar a

entidade a receber os recursos federais, nos termos da lei em análise.

28. No tocante ao segundo apontamento (achado III.2), o processo de eleição para presidente ou dirigente máximo da CBG exige que o candidato tenha participado da direção da ginástica, no nível

nacional ou estadual, no mínimo um ciclo olímpico anterior à eleição (artigo 23 do estatuto). Na visão da Secex-SE, esse requisito dificultaria o acesso e a alternância no exercício dos cargos de direção.

29. A confederação respondeu que não se trata de restrição, mas sim de condição de elegibilidade estatuída pela entidade para fins de preservação da própria CBG.

30. Após analisar a resposta, a unidade técnica encaminhou proposta de determinação para que

a CBG, no mínimo, se adeque ao que dispõe o Estatuto do COB, permitindo que o representante da comissão de atletas possa, também, concorrer ao cargo de presidente e vice da entidade.

31. Destaco que tal medida pode sim ser um caminho para viabilizar a participação dos atletas nas entidades que os representam. Contudo, ela não se constitui uma exigência expressa da lei. Diante disso, reputo mais adequado que o tema seja tratado como recomendação a ser dirigida ao ME, quando

da consolidação das fiscalizações.

32. Outra questão levantada no relatório da fiscalização foi a ausência de realização de

pesquisa prévia de preços (Achado III.4), o que motivou a audiência da Sra. Maria Luciene Cacho Resende, atual presidente da CBG.

33. A gestora foi chamada aos autos para se justificar quanto à contratação e renovação da

locação do imóvel, onde se localiza a sede da entidade, sem avaliação prévia; bem como por ter contratado serviços advocatícios, sem pesquisa prévia de preços, em descumprimento aos artigos 57 e

59 da Portaria Interministerial 507/2011, bem como ao inciso VI do art. 10 das IN COB 1/2014.

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34. As razões de justificativa apresentadas esclarecem que o escritório de advocacia foi inicialmente contratado na gestão anterior, mediante pesquisas de preços da tabela de honorários da

OAB/PR, local da antiga sede da confederação. Foram trazidos aos autos os orçamentos que subsidiaram a contratação. Em relação à avaliação de preços do imóvel, a responsável afirma que fez ampla pesquisa em anúncios e sítios eletrônicos, mas não juntou aos autos nenhuma cotação de preço

ou documento que ateste a razoabilidade do valor da locação.

35. Na mesma linha defendida pela unidade técnica, acato os argumentos da ausência de

pesquisa de preços para a contratação do escritório de advocacia e rejeito as razões relativas ao aluguel da sede da CBG sem avaliação prévia dos valores de locação. Concordo também em não aplicar a multa à presidente, porquanto os esclarecimentos prestados evidenciam que as consequências da

irregularidade não se revestiram de gravidade maior, sem prejuízo de recomendar a adoção de procedimentos de avaliação dos valores, no presente caso, e revisão de preço em futuras locações.

36. Por fim, a unidade técnica realizou a oitiva da entidade em relação à falta de regulamentação que parametrize os valores salariais e respectivos reajustes dos funcionários das Confederações. Como critério para o achado elenca os princípios da isonomia, da razoabilidade e da

transparência. Traz como evidências variações salariais díspares, que nem sempre alcançam todos os funcionários da entidade e reforça que a causa está na ausência de um plano de cargos e salários.

37. A CBG esclarece que arca com os custos salariais na medida de sua limitação contábil-

orçamentária, obedecendo aos limites máximos definidos na Portaria 01/2014 do Ministério do Esporte. Ademais, entende que, por ser uma entidade privada, o TCU não teria alcance sobre a gestão

remuneratória da entidade.

38. Destaco que o achado aqui tratado não diz respeito ao descumprimento do artigo 11-B, inciso IV do Decreto 6.170/2007, alterado pelo Decreto 8.244/2014, normativo aplicado aos

instrumentos de repasse aqui em exame à época da fiscalização (final de 2015), o qual estabelece que a remuneração de pessoal de entidades privadas sem fins lucrativos com recursos públicos deve

respeitar, em seu valor bruto e individual, o limite de setenta por cento do valor teto estabelecido para a remuneração de servidores do Poder Executivo Federal.

39. Esclareço que as referidas regras de convênio foram substituídas pela Lei 13.019/2014, que

entrou em vigor em janeiro de 2016, e pelo Decreto 8.726/2016, que estabelecem o novo regime jurídico das parcerias entre a administração pública e as organizações da sociedade civil, entidades

privadas sem fins lucrativos, para a execução de programas, projetos e atividades de interesse recíproco.

40. Nesse particular, não acolho a proposta da Secex-SE para determinar à entidade que

regulamente parâmetros de reajustamento dos salários do seu quadro de pessoal. A CBG é uma entidade privada que possui a prerrogativa de definir a remuneração de seus colaboradores, desde que

cumpra as regras específicas para quem deseja manejar recursos públicos para tal fim.

41. De outro modo, haja vista a origem do custeio desses salários ser de natureza pública, todas essas entidades devem perseguir valores de mercado para a remuneração do seu quadro de

pessoal.

42. Com relação a esse ponto, torna-se imprescindível que o COB, o CPB e a CBC

regulamentem dispositivos para todas as confederações que utilizam recursos da Lei Agnelo Piva para custeio de salários, de forma a adequá-los a valores de mercado, no limite definido pelas normas existentes. Por certo, tal questão deve ser conduzida para tratamento no processo consolidador da

FOC, em virtude da abrangência sistêmica da qual se reveste.

Ante o exposto, VOTO para que seja adotada a deliberação que ora submeto à apreciação

deste Colegiado.

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TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em tagDataSessao.

Ministro VITAL DO RÊGO

Relator

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ACÓRDÃO Nº tagNumAcordao – TCU – tagColegiado

1. Processo nº TC 024.245/2015-1.

2. Grupo II – Classe de Assunto: V – Relatório de Auditoria. 3. Responsável: Maria Luciene Cacho Resende (320.203.505-30).

4. Entidade: Confederação Brasileira de Ginástica. 5. Relator: Ministro Vital do Rêgo. 6. Representante do Ministério Público: não atuou.

7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo no Estado de Sergipe (Secex-SE). 8. Representação legal: Rafael Resende de Andrade (5201/OAB-SE) e outros, representando

Confederação Brasileira de Ginástica e Maria Luciene Cacho Resende. 9. Acórdão:

VISTOS, relatados e discutidos estes autos que tratam de relatório de auditoria realizada na

Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), com o objetivo de verificar a regularidade da aplicação de recursos provenientes da Lei 9.615/1998, alterada pela Lei 10.264/2001 (Lei Agnelo/Piva);

ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão de Plenário, ante as razões expostas pelo Relator, em:

9.1. determinar ao Ministério do Esporte (ME), com fundamento no artigo 250, inciso II,

do Regimento Interno do TCU (RITCU), que apresente a este Tribunal, no prazo de 60 dias, plano de ação com vistas a sanear, junto à Confederação Brasileira de Ginástica, as irregularidades descritas nos

subitens a seguir, que afrontam a Lei 9.615/1998, frente aos repasses de recursos públicos federais, devendo conter, no mínimo, as medidas que serão adotadas, os responsáveis pelas ações e o prazo previsto para a sua implementação:

9.1.1. ausência da adoção efetiva de instrumentos de controle social pela Confederação Brasileira de Ginástica, em afronta ao art. 18-A, inciso VII, alínea ‘b’, da Lei 9.615/1998 e ao artigo 5º da Portaria ME 224/2014;

9.1.2. falta de eleição direta para a escolha dos representantes dos atletas que irão compor a comissão destinada a representação da categoria na Confederação Brasileira de Ginástica fere o artigo

23, § 2º, da lei 9.615/1998; 9.1.3. participação do representante dos atletas na Assembleia Geral da CBG não garante o

efetivo cumprimento do art. 18-A, inciso VII, alínea ‘g’, da Lei 9.615/1998;

9.2. dar ciência à Confederação Brasileira de Ginástica sobre as irregularidades descritas no item 9.2 deste acórdão;

9.3. recomendar à Confederação Brasileira de Ginástica, com fundamento no artigo 250, inciso III, do RITCU, que proceda à avaliação do preço de locação do imóvel da sede da entidade, e, se for o caso, solicite do proprietário revisão no preço, em atendimento ao princípio da economicidade;

bem como realize a regular pesquisa de preços quando das futuras renovações dessa locação; 9.4. determinar à SecexEducação que monitore o cumprimento do disposto no item 9.1,

por meio da autuação de processo específico, em conjunto com as demais determinações dirigidas a todas as confederações pelo descumprimento do artigo 18-A da Lei 9.615/1998, no âmbito desta fiscalização de orientação centralizada (FOC);

9.5. encaminhar cópia deste acórdão, bem como do relatório e do voto que o fundamentam, ao Comitê Olímpico do Brasil, ao Ministério do Esporte e à Confederação Brasileira de Ginástica;

9.6. arquivar o presente processo com fundamento no artigo 169, inciso II do RITCU.