4
LOGÍSTICA GESTÃO DE DADOS Qualidade de sistemas de informação ECONOMIA DIGITAL TERÇA-FEIRA, 19 DE NOVEMBRO DE 2013 | N.º 87 Organização e gestão das entregas PAG. 24 PAG. 23 Existe um princípio na ciência da computação que diz que “o lixo que entra é o lixo que sai” ou, por outras palavras, a qualidade da informação que é obtida está directamente relacionada com a qualidade dos dados a partir dos quais é produzida. Nova era É frequente lermos textos sobre o tema “qualidade do software”, que é uma área da engenharia de software com o objectivo de defi- nir e estabelecer um conjunto de normas e processos relativos ao desenvolvimento de software, pa- ra que o produto final satisfaça as expectativas do cliente e cumpra os requisitos previamente estabe- lecidos. Já o tema da “qualidade de dados” tende a ser menos abor- dado. Mas não deixa de ser tão ou mais importante. Uma empresa pode ter um soft- ware de gestão perfeitamente ade- quado às suas necessidades, mas se a qualidade dos dados for sofrível, certamente que daí advirão gran- des constrangimentos para a sua actividade, entre os quais se desta- ca a ineficiências e os respectivos custos associados, além do decrés- cimo do volume de negócio. Existe um princípio na ciência da compu- tação que diz que “o lixo que entra é o lixo que sai” ou, por outras pala- vras, a qualidade da informação que é obtida está directamente rela- cionada com a qualidade dos dados a partir dos quais é produzida. A qualidade de dados pode ser avaliada segundo diversos critérios ou parâmetros. Cada instituição deverá seleccionar os parâmetros que entenda como os mais impor- tantes e adequados e incorporá-los no seu processo de análise da quali- dade dos dados. Alguns desses cri- térios são facilmente mensuráveis, enquanto outros são um pouco sub- jectivos, sendo que muitos deles estão relacionados. A logística, enquanto organiza- ção e gestão de meios aplicada a entregas, centra-se na gestão do fluxo de produtos enviados para o cliente. Muitas vezes é o pró- prio produtor que assegura direc- tamente este transporte. Porém, são os distribuidores que ultima- mente têm vindo a assegurar essa missão. Se antes as empresas se adaptavam ao que a tecnologia lhes proporcionava, actualmente a te-cnologia está a um nível que inverteu o processo. Ou seja, adapta-se facilmente às necessi- dades das empresas, melhorando o rácio entre o custo e o benefício. Antes de uma empresa pensar em implementar uma logística aplicada às entregas, existem vá- rios aspectos que convém consi- derar, nomeadamente a existên- cia de um armazém central para os seus produtos, ou alternativa- mente centros de distribuição. Terá de considerar igualmente se vende directamente aos clientes, ou se re- corre a intermediários que se ocu- pam da distribuição, ou ainda se as localizações lhe pertencem ou se são geridas por outrem. A tendência actual aponta para que os distribuidores se ocupem do armazenamento intermédio, tomando assim o lugar que era preenchido pelos produtores. Isto verifica-se, não por uma questão de protagonismo, mas simples- mente porque assim se aumenta a qualidade do serviço, na medida em que se reduz o tempo atribuí- do ao ciclo das encomendas, tra- duzindo-se numa maior rapidez em termos de resposta. Neste sentido, antes de dar o passo der- radeiro rumo à logística de entre- gas, convém que a empresa em questão preencha um conjunto de requisitos para que tudo se passe pelo melhor. Os gastos mundiais com tec- nologias de informação (TI) de- verão atingir 3,8 biliões de dóla- res americanos em 2014, repre- sentando um crescimento de 3,6 por cento face a 2013. Mas não são estas previsões da Gartner o que mais interessa aos fornece- dores de TI. São antes as oportu- nidades abertas por um mundo cada vez mais digital. Este facto levou mesmo os analistas da Gartner a anunciar que estamos no início de uma nova era, que apelidaram de economia indus- trial digital. Isto significa que qualquer orçamento será um or- çamento de TI, que cada organi- zação (pública ou privada) será uma organização de tecnologia, ou que cada pessoa será um con- sumidor de tecnologia. A econo- mia industrial digital está a ser construída com base nos alicerces constituídos pela confluência e integração de cinco pilares de que já falámos várias vezes neste ca- derno: computação em nuvem, colaboração social, computação móvel, informação (sobretudo na óptica da análise, com o big data) e a Internet das coisas (que combi- na o mundo físico com o virtual). Na opinião de Peter Sonder- gaard, da Gartner, a digitalização expõe todas as vertentes de uma organização aos pilares referidos atrás. É através deles que chega aos clientes e aos cidadãos em ge- ral, que gere as instalações físi- cas, que gera receitas, ou que dis- ponibiliza serviços. As empresas que já estão a seguir este caminho terão um posicionamento privile- giado para liderarem a nova era da economia industrial digital. Impacto económico Em 2009 existiam 2,5 mil mi- lhões de equipamentos conecta- dos à Internet com endereços IP individualizados. A maior parte desses equipamentos eram mó- veis, incluindo telefones móveis e computadores portáteis. Em 2020 esses equipamentos conectados serão 30 mil milhões e incluirão outros tipos de produtos, segundo a Gartner. Este facto dá origem a uma nova economia, levando a Gartner a prever que o valor eco- nómico total da Internet das coi- sas será de 1,9 biliões de dólares americanos em 2020, benefician- do um conjunto alargado de in- dústrias, como o sector da saúde, o retalho e os transportes. Para o pleno sucesso da logística de entrega, a informação entre os diferentes envolvidos apresenta-se como um factor essencial. PAG. 22

GESTÃO DE DADOS Qualidade de sistemas de informaçãoimgs.sapo.pt/jornaldeangola/img/file528b31f702184logistica.pdf · individualizados. A maior parte desses ... a mesma informação

  • Upload
    leduong

  • View
    214

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

LOGÍSTICA

GESTÃO DE DADOS

Qualidade de sistemas de informação

ECONOMIA DIGITAL

TERÇA-FEIRA, 19 DE NOVEMBRO DE 2013 | N.º 87

Organização e gestão das entregas

PAG. 24 PAG. 23

Existe um princípio na ciência da computação que diz que “o lixo que entra é o lixo que sai” ou, por outras palavras, a qualidade da informação que é obtida está directamente relacionadacom a qualidade dos dados a partir dos quais é produzida.

Nova era

É frequente lermos textos sobreo tema “qualidade do software”,que é uma área da engenharia desoftware com o objectivo de defi-nir e estabelecer um conjunto denormas e processos relativos aodesenvolvimento de software, pa-ra que o produto final satisfaça asexpectativas do cliente e cumpraos requisitos previamente estabe-lecidos. Já o tema da “qualidade

de dados” tende a ser menos abor-dado. Mas não deixa de ser tão oumais importante.Uma empresa pode ter um soft-

ware de gestão perfeitamente ade-quado às suas necessidades, mas sea qualidade dos dados for sofrível,certamente que daí advirão gran-des constrangimentos para a suaactividade, entre os quais se desta-ca a ineficiências e os respectivos

custos associados, além do decrés-cimo do volume de negócio. Existeum princípio na ciência da compu-tação que diz que “o lixo que entraé o lixo que sai” ou, por outras pala-vras, a qualidade da informaçãoque é obtida está directamente rela-cionada com a qualidade dos dadosa partir dos quais é produzida.A qualidade de dados pode ser

avaliada segundo diversos critérios

ou parâmetros. Cada instituiçãodeverá seleccionar os parâmetrosque entenda como os mais impor-tantes e adequados e incorporá-losno seu processo de análise da quali-dade dos dados. Alguns desses cri-térios são facilmente mensuráveis,enquanto outros são um pouco sub-jectivos, sendo que muitos delesestão relacionados.

A logística, enquanto organiza-ção e gestão de meios aplicada aentregas, centra-se na gestão dofluxo de produtos enviados parao cliente. Muitas vezes é o pró-prio produtor que assegura direc-tamente este transporte. Porém,são os distribuidores que ultima-mente têm vindo a assegurar essamissão. Se antes as empresas seadaptavam ao que a tecnologialhes proporcionava, actualmentea te-cnologia está a um nível queinverteu o processo. Ou seja,adapta-se facilmente às necessi-dades das empresas, melhorandoo rácio entre o custo e o benefício.Antes de uma empresa pensar

em implementar uma logísticaaplicada às entregas, existem vá-

rios aspectos que convém consi-derar, nomeadamente a existên-cia de um armazém central paraos seus produtos, ou alternativa-

mente centros de distribuição. Teráde considerar igualmente se vendedirectamente aos clientes, ou se re-corre a intermediários que se ocu-

pam da distribuição, ou ainda seas localizações lhe pertencem ouse são geridas por outrem.A tendência actual aponta para

que os distribuidores se ocupemdo armazenamento intermédio,tomando assim o lugar que erapreenchido pelos produtores. Istoverifica-se, não por uma questãode protagonismo, mas simples-mente porque assim se aumenta aqualidade do serviço, na medidaem que se reduz o tempo atribuí-do ao ciclo das encomendas, tra-duzindo-se numa maior rapidezem termos de resposta. Nestesentido, antes de dar o passo der-radeiro rumo à logística de entre-gas, convém que a empresa emquestão preencha um conjunto derequisitos para que tudo se passepelo melhor.

Os gastos mundiais com tec-nologias de informação (TI) de-verão atingir 3,8 biliões de dóla-res americanos em 2014, repre-sentando um crescimento de 3,6por cento face a 2013. Mas nãosão estas previsões da Gartner oque mais interessa aos fornece-dores de TI. São antes as oportu-nidades abertas por um mundocada vez mais digital. Este factolevou mesmo os analistas daGartner a anunciar que estamosno início de uma nova era, queapelidaram de economia indus-trial digital. Isto significa quequalquer orçamento será um or-çamento de TI, que cada organi-zação (pública ou privada) seráuma organização de tecnologia,ou que cada pessoa será um con-sumidor de tecnologia. A econo-mia industrial digital está a serconstruída com base nos alicercesconstituídos pela confluência eintegração de cinco pilares de quejá falámos várias vezes neste ca-derno: computação em nuvem,colaboração social, computaçãomóvel, informação (sobretudo naóptica da análise, com o big data)e a Internet das coisas (que combi-na o mundo físico com o virtual).Na opinião de Peter Sonder-

gaard, da Gartner, a digitalizaçãoexpõe todas as vertentes de umaorganização aos pilares referidosatrás. É através deles que chegaaos clientes e aos cidadãos em ge-ral, que gere as instalações físi-cas, que gera receitas, ou que dis-ponibiliza serviços. As empresasque já estão a seguir este caminhoterão um posicionamento privile-giado para liderarem a nova erada economia industrial digital.

Impacto económico

Em 2009 existiam 2,5 mil mi-lhões de equipamentos conecta-dos à Internet com endereços IPindividualizados. A maior partedesses equipamentos eram mó-veis, incluindo telefones móveis ecomputadores portáteis. Em 2020esses equipamentos conectadosserão 30 mil milhões e incluirãooutros tipos de produtos, segundoa Gartner. Este facto dá origem auma nova economia, levando aGartner a prever que o valor eco-nómico total da Internet das coi-sas será de 1,9 biliões de dólaresamericanos em 2020, benefician-do um conjunto alargado de in-dústrias, como o sector da saúde,o retalho e os transportes.

Para o pleno sucesso da logística de entrega, a informação entre os diferentes envolvidosapresenta-se como um factor essencial.

PAG. 22

22|TECNOLOGIA & GESTÃO JORNAL DE ANGOLA • Terça-feira, 19 de Novembro de 2013

GESTÃO

Qualidade de dados em sistemas de informação

A qualidade de dados pode ser avaliada segundo diversos critérios ou parâmetros. Cada instituição deverá seleccionar os parâmetros queentenda como os mais importantes e adequados e incorporá-los no seu processo de análise da qualidade dos dados.

EMÍLIO MARTINS

Um dos principais critérios paraa qualidade dos dados é a validadee integridade dos mesmos. Ou se-ja, os dados estão ou não correc-

tos? Um dos problemas mais fre-quentes tem a ver com o cadastrode entidades de um modo geral,quer se trate de instituições, em-presas, ou entidades singulares. Éfrequente a mesma entidade ter

mais do que um registo, um emque consta o nome completo e ou-tro em que parte do nome estáabreviado. Tratando-se dos dadosde um cliente, iremos ter muitoprovavelmente duas contas cor-

rentes para a mesma entidade. Fa-cilmente se percebe que essa du-plicidade irá gerar alguma confu-são na gestão da relação com ocliente em causa. Outro problemaque pode surgir relacionado comeste critério tem a ver com questõesortográficas, o que leva a que o mes-mo “objecto” possa estar escrito dediferentes formas (por exemplo,“Kuanza”, “Cuanza”, “Kwanza”). Outro critério poderá ser a ac-

tualidade dos dados. Se uma em-presa decide, por exemplo, enviaruma newsletter (boletim informa-tivo) em formato digital para todosos seus clientes, será que o endere-ço de correio electrónico dos desti-natários está actualizado? Quando se cadastra um novo

cliente, o endereço de correio elec-trónico é de preenchimento obri-gatório? Em caso negativo, é ne-cessário perceber qual a percenta-gem ou número de clientes relati-vamente aos quais não temos esseendereço, para se decidir como fa-zer chegar a informação a todos osdestinatários. Uma empresa quetenha mais do que um software on-de tenha cadastrados os seus clien-tes e fornecedores, situação bas-tante frequente, será que vai obtera mesma informação dos diversossistemas? Em caso de discrepân-cias, é possível perceber facilmen-te qual é software que tem os da-dos mais actuais e exactos?A exactidão é um outro critério

onde se verificam facilmente mui-

tas falhas, estando de alguma for-ma relacionado com o primeirocritério apresentado atrás. Por exemplo, é frequente verifica-

rem-se imprecisões em termos dasmoradas, com a mesma morada as-sociada a bairros, comunas, ou mu-nicípios diferentes. Muitas vezes, amesma morada também é escrita deformas diferentes. Isto torna difícilefectuar algumas análises, tais co-mo saber quais as entidades com asquais uma instituição se relaciona,cuja sede ou escritório estão locali-zados numa determinada geografia. Os preços ou unidades de venda

dos produtos incorrectos são tam-bém erros frequentes que causamprejuízos avultados nas grandes em-presas cujas vendas são baseadasem comércio electrónico, ou mesmona venda tradicional a retalho.Um critério talvez um pouco sub-

jectivo é a confiabilidade. Os utili-zadores confiam na informação/re-latórios produzidos pelos sistemasde informação? É frequente os utili-zadores fazerem uma verificaçãodos valores de uma listagem ou re-latório, cruzando essa informaçãocom um relatório diferente ou, porexemplo, comparando a informa-ção com documentos físicos?

Este critério é subjectivo, namedida em que não pode ser aferi-do por uma análise efectuada aosdados, tendo que ser realizadosquestionários junto dos utilizado-res para se perceber o seu grau deconfiança na informação.

Melhorar a qualidade dos dados numa organizaçãoNo texto anterior apresentámos

alguns critérios segundo os quaispode ser efectuada uma avaliaçãoda qualidade dos dados numa or-ganização. Também referimos queuma fraca qualidade dos dadosacarreta ineficiências e custosacrescidos. Neste texto vamos vercomo se pode melhorar a qualida-de de dados numa organização.Uma abordagem possível e sim-

plista passa por uma avaliação ini-cial da extensão do problema, ana-lisando, por exemplo, os princi-pais processos de negócio, compa-rando o número de documentosgerados por esses processos numdeterminado período com o núme-ro de correcções efectuadas nessemesmo período. Suponhamos quetemos uma empresa que emite 10mil facturas por mês e que dessasfacturas são devolvidas em média500 facturas, por conterem algumtipo de erro relacionado com os da-dos que originaram a emissão (pre-ço ou artigo incorrectos, dados deidentificação do cliente, etc.).Neste exemplo estaríamos pe-

rante uma taxa de erro de cinco porcento, o que significa que, assu-mindo que estamos a reportar-nosa um processo de facturação auto-mática, ou seja, que as facturas nãoforam geradas uma a uma por utili-zadores do sistema, teríamos 95por cento dos dados correctos, re-

lativos apenas ao processo de fac-turação. Caso o processo não fos-se automático, haveria que tentarperceber qual a percentagem (doscinco por cento do exemplo) quepoderia ser atribuída a erro huma-no na introdução de dados ao emi-tir as facturas e qual a percenta-gem motivada por inconsistênciados próprios dados.Uma abordagem mais estrutura-

da passa pela implementação deum sistema de gestão de qualidadedos dados. Um sistema desta natu-reza é particularmente importanteem organizações que manipulamelevados volumes de informação eque partilham parte da informaçãocom os seus parceiros de negócio.Vamos analisar de seguida as pos-síveis etapas que devem ser reali-zadas na implementação de umsistema desta natureza.O “pontapé de saída” deverá

passar pelo comprometimento dagestão de topo, de forma a repassaresse comprometimento às restan-tes hierarquias e colaboradores emgeral. Para o efeito deve ser esta-belecida a política de qualidade dedados, a definição dos objectivos aatingir aos diversos níveis e asse-gurar que serão disponibilizadosos recursos necessários.A segunda etapa consistirá na

nomeação do responsável pelagestão deste processo, o qual deve-

rá assumir o papel do “campeão daqualidade de dados”. Este gestordeverá ser alguém com elevadosconhecimentos em processos degestão de qualidade em geral equalidade de dados em particular,devendo conseguir exercer a suaautoridade (pela sua posição hie-rárquica), de modo a mobilizar osresponsáveis das diversas áreassem ter que recorrer constante-mente à gestão de topo.Seguidamente deverão ser lan-

çados programas de sensibiliza-ção, de forma a comunicar a todosos colaboradores em geral os ob-jectivos que se pretendem alcançarcom a implementação deste siste-ma. É necessário que sejam defini-dos e comunicados, de forma cla-ra e explícita, os objectivos e osbenefícios que este programa irátrazer à organização. Tipicamen-te, alguns dos objectivos podempassar por melhorias de eficiênciae de produtividade, aumento dasatisfação dos clientes, reduçãode custos, aumento da confiançanos processos internos.Considerando que este é um sis-

tema que irá abranger toda a orga-nização, deverão ser concebidosprogramas de formação orientadospara as diferentes categorias oufunções dos colaboradores. A for-mação deverá abranger, não só osconceitos da gestão da qualidade

de dados, mas também o impactoque terá na prossecução dos objec-tivos estratégicos da organização,nos processos que vão sofrer alte-rações e nas mudanças ao nível daprópria cultura organizacional.A implementação deste projec-

to passa essencialmente pelacriação dos processos de qualida-de de dados, os quais devem in-cluir e estar alinhados com todosos objectivos estabelecidos pelagestão para esse efeito. No casode organizações que procedem àtroca (electrónica) de dados comentidades externas, deve ser defi-nido um procedimento de publi-cação de dados, que deve regula-mentar, entre outros aspectos, aforma como a publicação dos da-dos é efectuada (de modo a ga-rantir a sua exactidão e integrida-de), a forma de verificar os dadosantes da sua publicação, os meca-nismos de rastreabilidade que se-rão disponibilizados e quais as li-mitações e restrições existentes.A documentação é fundamental

em qualquer sistema de gestão daqualidade e é aqui que frequente-mente se verificam não conformi-dades em muitas organizações. Adocumentação deverá incluir adescrição dos objectivos a atingirrelativamente à qualidade de da-dos, o manual da qualidade de da-dos, a documentação sobre proce-

dimentos e registos de acordo como que estiver especificado nos re-quisitos do sistema. Além dissodeverá incluir a documentação ne-cessária ao estabelecimento de umplano que possibilite a execução eo controlo efectivos dos processos.Devem ainda ser estabelecidosprocedimentos relativos ao con-trolo da documentação produzida,ou seja, mecanismos que permi-tam gerir todo o ciclo de vida dosdocumentos, identificando clara-mente os responsáveis pela cria-ção, revisão, aprovação e distri-buição dos documentos, respeitan-do o princípio de que a documenta-ção deve estar disponível e acessí-vel a quem dela necessita para aexecução e o cumprimento dassuas funções e responsabilidades.Relativamente à implementação

e operação, tal como em qualqueroutro sistema, deve ser monitori-zada para garantir que o sistemaestá efectivamente a ser utilizado eem conformidade com os requisi-tos e políticas que foram inicial-mente definidos para a qualidadedos dados. Algumas actividadesnesta fase podem passar pela veri-ficação dos dados, revisão da reco-lha e processamento dos dados.Devem ser executadas as acçõespreventivas e correctivas relativa-mente às ocorrências que foremsendo identificadas.

JORNAL DE ANGOLA • Terça-feira, 19 de Novembro de 2013 TECNOLOGIA & GESTÃO|23

LOGÍSTICA

Organização e gestão das entregas

MIGUEL DUARTE

Uma das primeiras condiçõespa-ra a logística de entregas é conhe-cer bem os clientes e traçar bem operfil dos mesmos, uma vez quedeterminadas características dosclientes podem ter impacto na for-ma como a logística de entregas iráser configurada. Entre as várias es-pecificidades a considerar, pode-mos nomear algumas, tal como alocalização geográfica, o local dedestino do produto, o acesso aospontos de entrega, as restrições emrelação à data dessa entrega (in-cluindo o horário disponível paraque seja feita), o tamanho e volu-me da encomenda, a necessidadede equipamento mecânico paramanuseamento do produto, as con-dições de venda, ou o serviço pós-venda e a respectiva assistência.Outro ponderável a analisar

prende-se com as próprias caracte-rísticas do produto, pois este as-pecto vai influenciar igualmente aforma como será armazenado edistribuído. Neste sentido, temosde ter em consideração factores co-mo o peso, a forma, ou o volume doproduto. Do mesmo modo, impor-ta conhecer a fragilidade desseproduto, as condições que o levama deteriorar-se, o perigo que repre-senta em ser transportado (porexemplo, os produtos tóxicos oucorrosivos exigem um plano de en-trega mais cuidado), ou o valor dopróprio produto.Há que ter ainda em conta as ca-

racterísticas da própria empresa.Ou seja, os atributos do fabricanteou do distribuidor, nomeadamenteas suas políticas de nível de serviçoe de tempo de entrega, as vendasterritoriais, a localização (de arma-zéns, centros de distribuição e ins-talações fabris), as políticas finan-ceiras, ou o desempenho da con-corrência. Não menos importanteserá definir a localização do arma-zém, tendo em conta o seu custo re-lativamente ao serviço prestado.Por esta razão será conveniente

que o armazém esteja localizadona proximidade da maior instala-ção produtiva, para que a comuni-cação e colaboração entre ambasas instalações seja simplificada.Também é importante que o cen-

tro de distribuição ou armazém es-teja próximo dos clientes actuais.Todavia o ideal será juntar a estefactor a possibilidade de haverigualmente proximidade com po-tenciais clientes, sendo este desdelogo um trunfo mais a apresentar.Esta localização deve ter em contaos objectivos traçados, pois se a es-tratégia é assegurar a posição numdeterminado mercado, deve estarcentralmente posicionado relativa-mente a esse mercado. Se a estraté-gia passar pela conquista de novosmercados, então o melhor serácentralizar essa localização, tendoem conta o mercado potencial quese pretende atingir.Existe ainda um outro factor

importante, que se prende com osmeios de transporte (rodoviário,ferroviário, aéreo, ou marítimo).Seja qual for o meio escolhido ouprivilegiado, há que ter a devidanoção das vantagens e desvanta-gens que cada um apresenta. Emtodo o caso, há factores que pe-sam nessa escolha, uns mais doque os outros, pois há sempre arelação custo/benefício que im-porta equacionar. Pela sua flexi-bilidade e velocidade, o transpor-te rodoviário é aquele que pornorma reúne os maiores consen-sos, pois os seus convenientes de-pressa fazem esquecer as condi-cionantes que apresenta.Na mesma linha do transporte

apresenta-se a possibilidade dasubcontratação ou exploração di-recta das actividades de armazena-gem e transporte. Ambas apresen-tam vantagens e desvantagens, masconvém estudar a situação caso acaso. Há variáveis que podem via-bilizar ou não a escolha, como porexemplo, o tratamento complexoque o produto exige, a própria ca-pacidade interna da organização

em assegurar o serviço, entre mui-tos outros factores. Note-se aindaque, se existe algum problemaquanto a esta matéria, não será se-guramente em termos de escolha.A importância de implementar um

plano de logística de entregas efi-ciente prende-se com o facto de ga-rantir um aumento da qualidade doserviço, ao mesmo tempo que reduzos tempos relativos ao ciclo das en-comendas, proporcionando uma res-posta mais rápida, o que poderá serbastante vantajoso face aos operado-res concorrentes. Como vimos atéagora, a estratégia de implementa-ção no seu todo deve ser devidamen-

No que se refere ao transporte, a subcontratação poderá ser uma boa opção.

te ponderada e muito bem pensada,pois como lembra Leonardo da Vin-ci, “quem pensa pouco, erra muito”.A logística de entrega ocupa-se

de uma maneira geral da gestão daentrega dos produtos, que vai desdea escolha do meio de transportemais adequado, até à confirmaçãoda entrega junto do cliente, com adevida salvaguarda de que a merca-doria encomendada equivale ple-namente à que é entregue. O pro-cesso de logística de entrega garan-te deste modo a total segurança esatisfação dos envolvidos na expe-dição de um produto, na quantida-de certa e na data acordada. Para o pleno sucesso da logística

de entrega, a informação entre osdiferentes sectores apresenta-se co-mo um factor essencial. Só assimpoderão evitar-se desfasamentosentre as existências em armazém eas encomendas a entregar, havendoa priori a garantia de que a mercado-ria pretendida é, com efeito, entre-gue. Claro que para se alcançar estasimbiose a gestão das entradas e dassaídas deve estar devidamente afi-nada, de forma a não haver lugar adesencontros em termos de infor-mação. É pois importante que o sis-tema usado desempenhe o papel deum autêntico adjuvante na dinâmi-ca do serviço, garantindo a reposi-ção eficaz dos produtos e evitandosituações de ruptura.Assumindo que o produto se en-

contra em trânsito, o sistemaadoptado deve proporcionar infor-mação em tempo real sobre o esta-do em que ele se encontra a um da-do momento, fazendo o seu ras-treamento (tracking) permanente.Isto permite manter todos os en-volvidos devidamente informadossobre o estado da mercadoria, es-pecialmente o cliente. Por outrolado, este rastreamento pode sermuito favorável se pensarmos nanecessidade de aplicar a logística

inversa, informando a empresa so-bre a quantidade de eventuais pro-dutos devolvidos (por apresenta-rem defeitos, por insatisfação docliente, ou por erro de processa-mento do pedido).Sempre que o produto seja en-

tregue com sucesso, consumindopara tal o menor tempo e custopossíveis, e estando alinhado comas expectativas do cliente, a pontode preencher os seus requisitos desatisfação, então o êxito da opera-ção logística terá sido alcançado.Neste sentido, a logística deve servista enquanto factor estratégico,na medida em que se for devida-mente planeada origina uma dinâ-mica muito positiva em toda asoperações, com claros retornos atodos os níveis.Temos de concordar que a forma

como o mercado se comporta temvindo a sofrer algumas alterações,muito por culpa da globalização.Actualmente podemos ver de for-ma muito nítida uma enorme mu-dança no comportamento dos con-sumidores, e uma das consequên-cias é a redução do ciclo de vida dosprodutos, assim como o enfraque-cimento das marcas. Como reacçãoa estas alterações, as empresas tive-ram de obter e desenvolver novascompetências, no sentido de, porum lado, manter os clientes em car-teira e, por outro, conquistar novosclientes e/ou mercados.O resultado tem sido um enorme

aumento em termos de competitivi-dade. Esta perdeu o seu caráctereminentemente regional, ganhandocontornos globais. Quer isto dizerque não falamos tanto numa escalaque se situa ao nível das empresasisoladamente, mas antes ao níveldas cadeias produtivas. Por esta ra-zão, a rapidez e a flexibilidade dei-xam de ser apenas um extra, pas-sando a ser características obrigató-rias por serem diferenciadoras.

A logística aplicada às entregas pressupõe que sejam tidos em conta vários aspectos, nomeadamente a existência de um armazém central,ou centros de distribuição.

24|TECNOLOGIA & GESTÃO JORNAL DE ANGOLA • Terça-feira, 19 de Novembro de 2013

ECONOMIA DIGITAL

Começou uma nova era de tecnologiasA capacidade de computação se-

rá barata e não daremos por ela,uma vez que estará em todo o lado,incluindo a roupa que vestimos. Sópara os sectores da tecnologia e dastelecomunicações, as receitas as-sociadas à Internet das coisas de-verão ser superiores a 309 mil mi-lhões de dólares por ano em 2020,segundo Peter Sondergaard.Os equipamentos móveis inteli-

gentes já conquistaram literalmen-te o nosso mundo tecnológico, masesse domínio irá acentuar-se muitomais. Em 2017, os telefones mó-veis, os tablets e os PCs ultramó-veis deverão representar mais de80 por cento dos gastos em equipa-mentos móveis. Estes serão mes-mo a plataforma de destino privile-giada para qualquer software.Para os fornecedores tradicio-

nais de TI, o mundo digital está adesenvolver-se ainda mais rapida-mente. No passado as empresas detecnologia conseguiam longos pe-ríodos de reinado. No entanto, ac-tualmente os líderes de algunssegmentos de mercado não conse-guem que a sua posição de lide-rança vá além dos cinco anos, emmédia. Aquilo que muitos forne-cedores tradicionais de TI nosvendiam no passado é frequente-

mente algo de que não precisamospara o futuro digital. A sua estraté-gia em termos de canais de venda,a sua força de vendas, ou o seuecossistema de parceiros é cons-

tantemente desafiado pela concor-rência, por novos centros de com-pra, ou pela mudança dos clientes.Na opinião de Peter Sondergaard,a digitalização acelera a criação de

ambientes propícios ao surgimen-to de novas empresas (start-ups)tecnológicas um pouco por todo omundo. Muitos dos fornecedoresque estão actualmente no topo po-

derão deixar de ser líderes na erada economia industrial digital.

Big data e segurança

Com tantas “coisas” ligadas à In-ternet (Internet das coisas), a gera-ção de dados será exponencialmen-te maior do que actualmente. Aspessoas e as suas actividades criamdados. As máquinas inteligentesconsomem e produzem dados e osequipamentos móveis serão a janelapara esses dados. Não admira, por-tanto, que Peter Sondergaard consi-dere que o sucesso das empresas di-gitais dependa da sua capacidadepara tirar partido desses dados e ade-quar o negócio ao mercado.Inevitavelmente, a enorme quanti-

dade de dados e o seu valor irão pro-vocar um aumento das preocupaçõescom a segurança, tanto por parte dasempresas, como dos particulares. Adigitalização irá criar novas infra-es-truturas e novas vulnerabilidades. Daí que Peter Sondergaard reco-

mende a criação de verdadeirosportfólios de fornecedores de se-gurança, já que cada um deles nãoresponderá a mais do que apenasuma fracção dos problemas. Todosprecisaremos de implementar pro-cessos de segurança mais ágeis.

O mundo digital reinventa indústrias e quebra fronteirasAs empresas digitais utilizam

novas combinações tecnológicaspara gerarem receitas e valor. Sóassim conseguem responder aomundo digital, que restrutura in-dústrias, reinventa processos emodelos de negócio, e cria novasoportunidades. Os analistas daGartner analisaram o futuro domundo digital e chegaram à con-clusão que a Internet das coisas setornará tão activa como os huma-nos e os sistemas que estão actual-mente ligados à Internet.A Internet das coisas (ou de todas

as coisas, como alguns já lhe cha-mam) irá reinventar as indústrias atrês níveis: processos de negócio,modelos de negócio e momentosde negócio. Na opinião de HungLeHong, da Gartner, a tecnologiadigital está a melhorar os nossosprodutos, serviços e processos,bem como as experiências dos con-sumidores, ou a forma como reali-zamos o nossos trabalho. Na reali-dade fazemos aquilo que já fazía-mos normalmente, mas a digitali-zação permite-nos fazer as coisasmelhor e desenvolver produtosmelhores. A digitalização tambémestá a provocar a emergência de no-vas formas de fazer negócio nosvários sectores de actividade.Para ilustrar esta ideia, Hung Le-

Hong recorreu a empresas como aSquare, Bitcoin, ou Kickstarter pa-ra exemplificar a utilização do digi-tal como forma de reformular o mo-do de funcionamento das institui-ções financeiras tradicionais. Refe-riu ainda o caso da Nike, sugerindoque está a actuar na fronteira do

sector da saúde com a sua roupa edispositivos conectados.O terceiro nível da reinvenção di-

gital é criado pela necessidade deresponder à rapidez e agilidade semprecedentes que marcam o mundodos negócios. A Gartner chama a is-to “momentos de negócio”. Ou se-ja, oportunidades transitórias ex-ploradas de forma dinâmica. HungLeHong recorreu novamente a umexemplo prático para ilustrar estaideia. Referiu assim as grandes ca-deias de hotéis (como a Starwood,Hilton, ou Hyatt), que tiveram queconcorrer há algum tempo com aprimeira vaga de modelos de negó-cio digital trazida pelo comércioelectrónico, com sites como o Ho-tels.com. O novo modelo de negó-

cio digital criado por empresas co-mo a AirBnB está novamente a obri-gar a reajustes destas cadeias de ho-téis, concorrendo desta vez com uminventário de quartos em expansão,não noutros hotéis, mas nas pró-prias casas dos seus clientes.

Todas as empresas serão em-presas tecnológicas

A tecnologia permitirá que asempresas optimizem os seus pro-cessos de negócio, criem novosmodelos de negócio, ou identifi-quem e explorem os momentos denegócio. Por esta razão, todas asempresas irão transformar-se emempresas tecnológicas. Neste con-texto, a Gartner recomenda que as

empresas se mantenham atentas atrês tipos de tecnologias: Internetdas coisas, impressão 3D, e deci-são/avaliação automatizada.A Internet das coisas cria um

mundo em que cada objecto não tri-vial passa a ser inteligente e conec-tado em rede, segundo Nick Jones,da Gartner. Estes objectos inteli-gentes podem avaliar e reportar in-formação sobre o seu ambiente eestado. Alguns podem ser controla-dos e todos disponibilizam novostipos de valor aos clientes. Algunsobjectos inteligentes serão tão sim-ples como sensores que avisam al-guém sobre a necessidade de águade uma planta. No extremo opostoteremos objectos muito mais com-plexos, como automóveis.

No caso da impressão 3D, a Gart-ner acredita que irá revolucionarsectores de actividade tão distintoscomo a indústria da moda, o reta-lho, ou o sector militar. Nick Jonessublinha que a impressão 3D per-mite optimizar os processos de ne-gócio utilizando novas técnicas deprodução. De igual modo, permitecriar novos modelos de negócioque privilegiam ciclos de produçãoágeis e curtos, facilitando assim aresposta a determinados momentosde negócio com produtos costumi-zados individualmente.A decisão/avaliação automatiza-

da decorre do facto da Internet dascoisas envolver milhões de objec-tos e sensores que geram dados emtempo real. Se considerarmos quedados são dinheiro, haverá que ex-plorar os dados para identificar no-vos modelos de negócio e momen-tos de negócio (ou oportunidadesde negócio). Os dados serão tam-bém a base para a criação de novosprodutos e serviços, bem como afonte de informação para visualizare optimizar os processos de negó-cio, segundo Nick Jones.Neste cenário não teremos tem-

po nem capacidade para tomarmostodas as decisões. Os computado-res, ou equipamentos com capaci-dades de computação, poderão to-mar decisões sofisticadas com baseem dados e conhecimento, e comu-nicá-las na nossa língua nativa. Osucesso no mundo digital depende-rá muito da nossa capacidade evontade em delegar essas decisõesautomatizadas aos equipamentosde computação.

O sucesso no mundo digital dependerá muito da nossa capacidade e vontade em delegar decisões automatizadas aos equipamentos decomputação.

Na economia industrial digital qualquer orçamento será um orçamento de tecnologias de informação, qualquer organização (pública ou pri-vada) será uma organização de tecnologia, e qualquer pessoa será um consumidor de tecnologia.