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Ao esclarecimento apresen- tado pela ATD (Associação Tchiweka de Documentação) sobre dois manuscritos quase idênticos do documento conhecido comoManifesto do MPLA (Jornal de Angola de 4/8/2019, pp.6-7), refe- rindo sobretudo questões técnicas, a historiadora Rosa Cruz e Silva (Jornal de Angola de 10/8/2019, pp.10-12), res- pondeu com um texto onde, no meio de muitas e algo confusas considerações, questionava a autentici- dade do documento do espólio de Lúcio Lara exis- tente na ATD, com acusa- ções que põem em causa a seriedade do trabalho da Associação e do seu Centro de Documentação. Usando o direito de res- posta e afim de clarificar- quaisquer dúvidas ainda existentes, pelo reconhe- cimento que nos merece a persistência e empenho daquela historiadora, a ATD vem uma vez mais escla- recer que: 1. Sendo uma Associação cujos associados têm e exprimem opiniões próprias e muitas vezes divergentes na interpretação da história ou da vida política,reitera- mos que “não é objectivo da ATD apresentar aqui argumentação sobre o sur- gimento do histórico Mani- festo, a sua importância, interpretação ou uso, nem escrutinar os objectivos de quem nega ou deturpa o seu valor no processo da luta pela Independência de Angola, sendo essa tarefa dos estudiosos. Compete, porém, à ATD a divulgação do seu acervo referente à luta de libertação nacional e, neste caso concreto, comprovar a existência material do histórico docu- mento e as suas caracte- rísticas originais.” 2.São graves e pouco éti- cas as acusações feitas à ATD, de ter um documento “visivelmente adulterado”, de “manobra rocambo- lesca”, de “expediente peri- goso”, de “expediente falacioso”, de "exercício que apaga o registo da data" e outras frases do género. Acusações, note-se, feitas por quem nunca teve a ini- ciativa de ir consultar in loco aquele documento do espólio de Lúcio Lara, para dissipar eventuais dúvidas. 3. A ATD sempre deu a conhecer a lista dos docu- mentos em sua posse que foi publicando e que têm sido consultados no seu Centro de Documentação, em Luanda, sendo também pública, na sua página de internet, a lista de documen- tos não publicados que podem ser solicitados em fotocópia ou cópia digital, como têm feito muitos estudantes e investigadores nacionais e estrangeiros:https://sites.goo- gle.com/site/tchiweka/Home /documentos-catalogados. 4. São falsas afirmações como a de que Lúcio Lara, “em vida (...) não declarou a sua posse (do Manifesto)”e a de que “na sua curta estada em Lisboa, (Viriato da Cruz) não privou com Lúcio Lara”. Sem pretender avaliar a exactidão das memórias de Lúcio Lara, e das suas inter- venções públicas, o facto é que, por exemplo, no 1º volume de “Um amplo Movimento...” (1997:37),ele escreve: “No princípio de 1957(...) os marítimos (...) entregam-nos dois docu- mentos enviados pelo grupo activo de Luanda: os Estatutos do Partido Comunista Ango- lano e um Manifesto”(que mais tarde ele identificaria como o “Manifesto do MPLA"). E na página seguinte, narra a reunião que teve em Lisboa com Viriato da Cruz, ali chegado em finais de 1957.E embora Lúcio Lara reconheça que na altura em que publica aquele 1º volume não podia localizar o docu- mento manuscrito, refere a posse desse documento, que não era dactilografado mas "da mão de Viriato da Cruz” (frase mal interpretada pela historiadora). Também é falso que a ATD afirmasse que só voltou a localizar o documento “após a morte” de Lúcio Lara, facto aliás desmentido pela reprodução de duas páginas no álbum que celebrou os seus 80 anos de vida (e que Rosa Cruz e Silva refere). Uma coisa é a liberdade de inter- pretação, outra a fabricação de acusações com base em leituras apressadas. 5. Questões técnicas são invocadas como fazendo parte de um plano de “adul- teração”, o que seria ridículo se não fosse insultuoso. Por exemplo, a marca 17a, a lápis na primeira página,corres- ponde a um registo no arquivo de Lúcio Lara, não “disfarça” nem “adultera” nada. E na última página não foi “apagada” qualquer- data do documento original, até porque não havia uma data para apagar, pois a pró- pria historiadora confirma que esta foi acrescentada por Mário de Andrade no exemplar que consultou. Curiosamente, em nenhum momento a argumentação de Rosa Cruz e Silva dá res- posta à principal prova téc- nica indicada pela ATD na comparação dos dois manuscritos: as diferenças existentes nas páginas 8 dos referidos documentos, um usando tinta de esferográfica com falhas e mudança de cor, e o outro revelando uma escrita preta sem falhas, o que é consistente com a explicação de serem, res- pectivamente, a 1ª via e a 2ª via (a papel químico) de um mesmo texto. Na impossi- bilidade de saber quantas vezes terá Viriato da Cruz copiado esse texto para enviar ou entregar a camaradas seus, podemos contudo afir- mar que no espólio de Lúcio Lara está “um” original manuscrito por Viriato da Cruz, sendo este “o” original quando comparado com o exemplar existente no espó- lio de Mário de Andrade. Competirá aos historiadores fazerem uso dessa informa- ção no desenvolvimento das suas pesquisas. 6. A suspeição da his- toriadora recai também sobre o facto de a ATD até à data ter difundido apenas algumas páginas fac-simi- ladas do referido docu- mento. Facilmente se compreende a opção edi- torial de usar a primeira e a última páginas, por ser nelas que estão os elementos mais relevantes acrescen- tados noutras versões: o título e a data. Concordando, porém, com a conveniência de o documento do espólio de Lúcio Lara estar à dis- posição do público em geral, na íntegra, como já está o do espólio de Mário de Andrade, aATD passará a dá-lo a conhecer em: https://web.facebook.com/ Associação-Tchiweka-De- Documentação-ATD- 803802836492514. 7. Ao contrário do que os comentários da historiadora possam sugerir, a ATD man- témum espírito de abertura e colaboração com institui- ções afins, dedicadas à pre- servação e divulgação da memória da luta pela inde- pendência de Angola. Quando, em Fevereiro do corrente ano, o Bureau Polí- tico do MPLA anunciou publicamente,para breve, uma edição do Manifesto, a ATD congratulou-se com o facto e enviou ao Centro de Documentação e Investiga- ção Histórica do MPLA uma cópia digitalizada do docu- mento existente no Centro de Documentação da ATD, disponibilizando o seu uso e prontificando-se para quaisquer esclarecimentos que fossem necessários. 8. Lamentamos mais uma vez que a historiadora Rosa Cruz e Silva, que diz ter “escalpelizado” as fon- tes disponíveis, tendo "tido a oportunidade de o con- sultar (o Manifesto) no espólio documental de Mário Pinto de Andrade “em Lisboa, não tenha tido o cuidado de o fazer, em Luanda, no espólio de Lúcio Lara à guarda da ATD, como fizeram outros estudiosos. Um simples contacto com o documento, e sem neces- sidade de “recurso a lupa”, teria permitido evitar esta troca de artigos e as impre- cisas e por vezes tristes observações feitas. Por último, se algum bem daqui resultou, foi um melhor esclarecimento do público sobre várias das questões relacionadas com história da luta de libertação, com o valor dos arquivos e com a importância destas fontes para o trabalho dos histo- riadores. Da parte da ATD, a questão está suficiente- mente esclarecida. Usando o direito de resposta e afim de, como justifica a instituição, clarificar quaisquer dúvidas ainda existentes, a Associação Tchiweka de Documentação (ATD) volta a rebater uma segunda publicação da historiadora Rosa Cruz e Silva, a propósito do manifesto que deu origem ao MPLA ESCLARECIMENTO (FINAL) DA ASSOCIAÇÃO TCHIWEKA DE DOCUMENTAÇÃO O Manifesto – Original ou cópia? 4 DESTAQUE Sábado 17 de Agosto de 2019

ESCLARECIMENTO (FINAL) DA ASSOCIAÇÃO TCHIWEKA DE ...imgs.sapo.pt/jornaldeangola/img/746184863_jacad1-17.08.19-p04.pdf · existentes, pelo reconhe-cimento que nos merece a persistência

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Page 1: ESCLARECIMENTO (FINAL) DA ASSOCIAÇÃO TCHIWEKA DE ...imgs.sapo.pt/jornaldeangola/img/746184863_jacad1-17.08.19-p04.pdf · existentes, pelo reconhe-cimento que nos merece a persistência

Ao esclarecimentoapresen-tado pela ATD (AssociaçãoTchiweka de Documentação)sobre dois manuscritos quaseidênticos do documentoconhecido comoManifestodo MPLA (Jornal de Angolade 4/8/2019, pp.6-7), refe-rindo sobretudo questõestécnicas, a historiadora RosaCruz e Silva (Jornal de Angolade 10/8/2019, pp.10-12), res-pondeu comum texto onde,no meio de muitas e algoconfusas considerações,questionava a autentici-dade do documento doespólio de Lúcio Lara exis-tente na ATD, com acusa-ções que põem em causaa seriedade do trabalho daAssociação e do seu Centrode Documentação.Usando o direito de res-

posta e afim de clarificar-quaisquer dúvidas aindaexistentes, pelo reconhe-cimento que nos merece apersistência e empenhodaquela historiadora, a ATDvem uma vez mais escla-recer que:

1. Sendo uma Associaçãocujos associados têm eexprimem opiniões própriase muitas vezes divergentesna interpretação da históriaou da vida política,reitera-mos que “não é objectivoda ATD apresentar aquiargumentação sobre o sur-gimento do histórico Mani-festo, a sua importância,interpretação ou uso, nemescrutinar os objectivos dequem nega ou deturpa oseu valor no processo daluta pela Independência deAngola, sendo essa tarefados estudiosos. Compete,porém, à ATD a divulgaçãodo seu acervo referente àluta de libertação nacionale, neste caso concreto,comprovar a existênciamaterial do histórico docu-mento e as suas caracte-rísticas originais.”

2.São graves e pouco éti-cas as acusações feitas àATD, de ter um documento“visivelmente adulterado”,de “manobra rocambo-lesca”, de “expediente peri-goso” , de “expedientefalacioso”, de "exercícioque apaga o registo da data"e outras frases do género.Acusações, note-se, feitaspor quem nunca teve a ini-ciativa de ir consultar inloco aquele documento doespólio de Lúcio Lara, paradissipar eventuais dúvidas.

3. A ATD sempre deu aconhecer a lista dos docu-mentos em sua posse que foipublicando e que têm sidoconsultados no seu Centrode Documentação , emLuanda, sendo tambémpública, na sua página deinternet, a lista de documen-tos não publicados que podemser solicitados em fotocópiaou cópia digital, como têmfeito muitos estudantes einvestigadores nacionais eestrangeiros:https://sites.goo-gle.com/site/tchiweka/Home/documentos-catalogados.

4. São falsas afirmaçõescomo a de que Lúcio Lara,“em vida (...) não declaroua sua posse (do Manifesto)”ea de que “na sua curta estadaem Lisboa, (Viriato da Cruz)

não privou com Lúcio Lara”.Sem pretender avaliar aexactidão das memórias deLúcio Lara, e das suas inter-venções públicas, o facto éque, por exemplo, no 1ºvolume de “Um amploMovimento...” (1997:37),eleescreve: “No princípio de1957(...) os marítimos (...)entregam-nos dois docu-mentos enviados pelo grupoactivo de Luanda: os Estatutosdo Partido Comunista Ango-lano e um Manifesto”(quemais tarde ele identificariacomo o “Man i fe s to doMPLA"). E na página seguinte,narra a reunião que teve emLisboa com Viriato da Cruz,ali chegado em finais de1957.E embora Lúcio Larareconheça que na altura emque publica aquele 1º volumenão podia localizar o docu-mento manuscrito, refere aposse desse documento, quenão era dactilografado mas"da mão de Viriato da Cruz”(frase mal interpretada pelahistoriadora). Também éfalso que a ATD afirmasseque só voltou a localizar odocumento “após a morte”de Lúcio Lara, facto aliásdesmentido pela reproduçãode duas páginas no álbum

que celebrou os seus 80anos de vida (e que RosaCruz e Silva refere). Umacoisa é a liberdade de inter-pretação, outra a fabricaçãode acusações com base emleituras apressadas.

5. Questões técnicas sãoinvocadas como fazendoparte de um plano de “adul-teração”, o que seria ridículose não fosse insultuoso. Porexemplo, a marca 17a, a lápisna primeira página,corres-ponde a um reg i s to noarquivo de Lúcio Lara, não“disfarça” nem “adultera”nada. E na última páginanão foi “apagada” qualquer-data do documento original,até porque não havia umadata para apagar, pois a pró-pria historiadora confirmaque esta foi acrescentadapor Mário de Andrade noexemplar que consultou.Curiosamente, em nenhummomento a argumentaçãode Rosa Cruz e Silva dá res-posta à principal prova téc-nica indicada pela ATD nac ompa ra ç ã o d o s d o i smanuscritos: as diferençasexistentes nas páginas 8 dosreferidos documentos, umusando tinta de esferográfica

com falhas e mudança decor, e o outro revelando umaescrita preta sem falhas, oque é consistente com aexplicação de serem, res-pectivamente, a 1ª via e a 2ªvia (a papel químico) de ummesmo texto. Na impossi-bilidade de saber quantasvezes terá Viriato da Cruzcopiado esse texto para enviarou entregar a camaradasseus, podemos contudo afir-mar que no espólio de LúcioLara está “um” originalmanuscrito por Viriato daCruz, sendo este “o” originalquando comparado com oexemplar existente no espó-lio de Mário de Andrade.Competirá aos historiadoresfazerem uso dessa informa-ção no desenvolvimento dassuas pesquisas.

6. A suspeição da his-toriadora recai tambémsobre o facto de a ATD atéà data ter difundido apenasalgumas páginas fac-simi-ladas do referido docu-mento . Fac i lmen te s ecompreende a opção edi-torial de usar a primeira ea última páginas, por sernelas que estão os elementosmais relevantes acrescen-

tados noutras versões: otítulo e a data. Concordando,porém, com a conveniênciade o documento do espóliode Lúcio Lara estar à dis-posição do público em geral,na íntegra, como já está odo espól io de Mário deAndrade, aATD passará adá- l o a c onhece r em :https://web.facebook.com/Associação-Tchiweka-De-Documentação-ATD-803802836492514.

7.Ao contrário do que oscomentários da historiadorapossam sugerir, a ATD man-témum espírito de aberturae colaboração com institui-ções afins, dedicadas à pre-servação e divulgação damemória da luta pela inde-pendênc i a de Ango l a .Quando, em Fevereiro docorrente ano, o Bureau Polí-tico do MPLA anuncioupublicamente,para breve,uma edição do Manifesto, aATD congratulou-se com ofacto e enviou ao Centro deDocumentação e Investiga-ção Histórica do MPLA umacópia digitalizada do docu-mento existente no Centrode Documentação da ATD,disponibilizando o seu uso

e prontificando-se paraquaisquer esclarecimentosque fossem necessários.

8. Lamentamos maisuma vez que a historiadoraRosa Cruz e Silva, que dizter “escalpelizado” as fon-tes disponíveis, tendo "tidoa oportunidade de o con-sultar (o Manifesto) noespólio documental deMário Pinto de Andrade“em Lisboa, não tenha tidoo cuidado de o fazer, emLuanda, no espólio de LúcioLara à guarda da ATD, comofizeram outros estudiosos.Um simples contacto como documento, e sem neces-sidade de “recurso a lupa”,teria permitido evitar estatroca de artigos e as impre-cisas e por vezes tristesobservações feitas.Por último, se algum bem

daqui resultou, foi um melhoresclarecimento do públicosobre várias das questõesrelacionadas com históriada luta de libertação, com ovalor dos arquivos e com aimportância destas fontespara o trabalho dos histo-riadores. Da parte da ATD,a questão está suficiente-mente esclarecida.

Usando o direito de resposta e afim de, como justifica a instituição, clarificar quaisquer dúvidasainda existentes, a Associação Tchiweka de Documentação (ATD) volta a rebater uma segundapublicação da historiadora Rosa Cruz e Silva, a propósito do manifesto que deu origem ao MPLA

ESCLARECIMENTO (FINAL) DA ASSOCIAÇÃO TCHIWEKA DE DOCUMENTAÇÃO

O Manifesto – Original ou cópia?

4 DESTAQUE Sábado17 de Agosto de 2019