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194 pós- Supermodernismo – arquitectura en la era de la globalización IBELINGS, Hans. Barcelona: Gustavo Gili, 1998. 144 p. / ISBN 84-252-1751-2 Mauro Claro O livro, publicado em 1998, procura definir como supermoderna supermoderna supermoderna supermoderna supermoderna uma arquitetura que se consolida nos anos 90 a partir tanto das transformações do movimento moderno como das conseqüências da globalização globalização globalização globalização globalização, conceito que o autor aponta como impreciso, embora suficiente para a caracterização de uma eficiência gerencial eficiência gerencial eficiência gerencial eficiência gerencial eficiência gerencial que marca a passagem para essa nova etapa da produção arquitetônica. Em três capítulos centrais – pós-modernismo, movimento moderno, supermodernismo – Ibelings apresenta e discute os conceitos que fundamentam sua tese: o movimento moderno movimento moderno movimento moderno movimento moderno movimento moderno, a partir da Segunda Guerra, tem diluídas as características da fase inicial, mais rigorosa quanto às implicações sociais da arquitetura, e é completamente domesticado pelos interesses do capital; o pós- pós- pós- pós- pós- modernismo modernismo modernismo modernismo modernismo reage a tal prática tecnocrática com as armas do contextualismo e simbolismo estruturalistas; por sua vez, uma vertente de menor expressão, o desconstrutivismo desconstrutivismo desconstrutivismo desconstrutivismo desconstrutivismo, ainda como recusa à neutralidade da arquitetura moderna que se tornara vazia de ideais, trabalha com referências da filosofia (Derrida, Deleuze, Lyotard, Chomsky, Baudrillard) aplicando-as, no entanto, de modo mecânico à forma do edifício; o supermodernismo supermodernismo supermodernismo supermodernismo supermodernismo, por fim, surge como síntese entre, por um lado, a crítica exercida entre os anos 60 e 80 com respeito ao moderno e, por outro lado, as “permanências” – termo não mencionado por Ibelings – de elementos modernos considerados funcionais para a situação atual, globalizada globalizada globalizada globalizada globalizada, da sociedade dos países ricos e das cidades ricas dos países pobres – pois, como frisa o autor logo no início, é da arquitetura em tais sociedades e cidades que trata o livro. No centro da compreensão desse novo termo, que Ibelings toma de Marc Augé no livro Non-lieux – introduction à une anthropologie de la surmodernité (Paris, 1992), estão as mudanças verificadas – por obra do incremento no comércio mundial e da difusão da comunicação pelas redes telemáticas – nas noções de lugar lugar lugar lugar lugar e espaço espaço espaço espaço espaço em conseqüência das quais “o mundo se tornou menor e, ao mesmo tempo, maior1 : à situação de disponibilidade extrema propiciada pela facilidade da obtenção da informação, que torna o mundo “pequeno”, corresponde a incorporação de uma quantidade de nova informação – grupos e (1) p. 64.

Supermodernismo - Mauro Claro

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Resenha sobre o livro "Supermodernismo - arquitectura en la era de la globalizacion" de Hans Ibelings

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    ps-

    Supermodernismo arquitectura en la era de laglobalizacin

    IBELINGS, Hans. Barcelona: Gustavo Gili,1998. 144 p. / ISBN 84-252-1751-2

    Mauro Claro

    O livro, publicado em 1998, procura definir como supermodernasupermodernasupermodernasupermodernasupermoderna umaarquitetura que se consolida nos anos 90 a partir tanto das transformaes domovimento moderno como das conseqncias da globalizaoglobalizaoglobalizaoglobalizaoglobalizao, conceito que oautor aponta como impreciso, embora suficiente para a caracterizao de umaeficincia gerencialeficincia gerencialeficincia gerencialeficincia gerencialeficincia gerencial que marca a passagem para essa nova etapa da produoarquitetnica.

    Em trs captulos centrais ps-modernismo, movimento moderno,supermodernismo Ibelings apresenta e discute os conceitos que fundamentamsua tese: o movimento modernomovimento modernomovimento modernomovimento modernomovimento moderno, a partir da Segunda Guerra, tem diludas ascaractersticas da fase inicial, mais rigorosa quanto s implicaes sociais daarquitetura, e completamente domesticado pelos interesses do capital; o ps-ps-ps-ps-ps-modernismomodernismomodernismomodernismomodernismo reage a tal prtica tecnocrtica com as armas do contextualismo esimbolismo estruturalistas; por sua vez, uma vertente de menor expresso, odesconstrutivismodesconstrutivismodesconstrutivismodesconstrutivismodesconstrutivismo, ainda como recusa neutralidade da arquitetura modernaque se tornara vazia de ideais, trabalha com referncias da filosofia (Derrida,Deleuze, Lyotard, Chomsky, Baudrillard) aplicando-as, no entanto, de modomecnico forma do edifcio; o supermodernismosupermodernismosupermodernismosupermodernismosupermodernismo, por fim, surge como snteseentre, por um lado, a crtica exercida entre os anos 60 e 80 com respeito aomoderno e, por outro lado, as permanncias termo no mencionado porIbelings de elementos modernos considerados funcionais para a situao atual,globalizadaglobalizadaglobalizadaglobalizadaglobalizada, da sociedade dos pases ricos e das cidades ricas dos pases pobres pois, como frisa o autor logo no incio, da arquitetura em tais sociedades ecidades que trata o livro.

    No centro da compreenso desse novo termo, que Ibelings toma de MarcAug no livro Non-lieux introduction une anthropologie de la surmodernit(Paris, 1992), esto as mudanas verificadas por obra do incremento nocomrcio mundial e da difuso da comunicao pelas redes telemticas nasnoes de lugarlugarlugarlugarlugar e espaoespaoespaoespaoespao em conseqncia das quais o mundo se tornou menore, ao mesmo tempo, maior1: situao de disponibilidade extrema propiciadapela facilidade da obteno da informao, que torna o mundo pequeno,corresponde a incorporao de uma quantidade de nova informao grupos e

    (1) p. 64.

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    indivduos que antes no interagiam econmica ou culturalmente que o tornamaior.

    Para a arquitetura, no imune a essa realidade, criou-se com as noes detempo e espao alteradas uma condio supermodernacondio supermodernacondio supermodernacondio supermodernacondio supermoderna: muito espao (grandemobilidade), muitos signos (bombardeio de informaes), alto grau de anonimato(traduzido na explorao individual dos espaos pblicos e semipblicos).Aeroportos, hotis, centros comerciais, supermercados e pedgios so os maisevidentes exemplos dos no-lugaresno-lugaresno-lugaresno-lugaresno-lugares que, como opostos do lugarlugarlugarlugarlugarcontextualizado e bastante definido do ps-modernismo historicista e dodesconstrutivismo (mesmo que neste a contextualizao se desse em termosinalcanveis para os cidados comuns, frustrando qualquer inteno deaproximao com seu cotidiano) passam a predominar na produo internacional.

    Os no-lugares so ambientes completamente autnomos e auto-suficientes cascas vazias, mas flexveis, prontas a admitir o uso que se queira dar e nodependem de sua localizao, no se relacionando de nenhuma maneira com oentorno fsico imediato (a no ser para obteno da mo-de-obra), mas sim comaquele constitudo pela rede de informaces e relaes econmicas de que soparte. Vrios analistas2 da arquitetura recente, diz o autor, apontam elementos queparecem confluir para a superao do ps-moderno por meio da recuperao daforma arquitetnica neutra e autnomaneutra e autnomaneutra e autnomaneutra e autnomaneutra e autnoma prpria da primeira modernidade mas no observam as mudanas concomitantes no uso e percepo do espao.

    Revalorizao das formas simples e neutras, esvaziamento de qualquercontedo aparente de comunicao simblica, transformao do entorno urbanoem mero apndice dessas estruturas arquitetnicas so os aspectos que resumemas caractersticas dessa nova arquitetura destinada a ser a sede dos processos degesto da produo e do consumo de mercadorias, do transporte e da circulaode pessoas e bens.

    A arquitetura supermoderna se distancia, assim, da ps-moderna ao resgataraspectos da arquitetura do ps-guerra tecnocrtica concedendo a ela umautilizao atualizada voltada ao atendimento das necessidades das empresas edas cidades que sediam o capital livre, portanto, de qualquer necessidade dejustificao social assistencialista (welfare state) e pondo-se a servio damodernizao, como processo econmico, e da globalizao, do ponto de vistasocial.

    Tal arquitetura se faz, dessa maneira, imagem dos processos de exclusosocial que se destina a servir. A lacnica aceitao das coisas tais como so3: oprincipal mrito do livro est justamente em construir uma explicao queconecta os desenvolvimentos recentes de certa arquitetura institucional comcomcomcomcomos exclusivos interesses do capitalos exclusivos interesses do capitalos exclusivos interesses do capitalos exclusivos interesses do capitalos exclusivos interesses do capital.

    Mas nunca demais lembrar: a anlise se limita compreenso daarquitetura produzida nas sociedades e cidades prsperas deixando de lado,portanto, o exame da situao sob a qual vive a maior parte da populao depases como o Brasil.

    Mauro ClaroMestre e doutorando pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, docente docurso de Desenho Industrial da Faculdade de Comunicaces e Artes da UniversidadeMackenzie.

    (2) Terence Riley, Daniela

    Colafranceschi, Rodolfo

    Machado e Rodolphe el-

    Khoury, Vittorio Savi e

    Josep Maria Montaner.

    (3) p. 133.