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Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde Relatório de Estágio Curricular ACeS Espinho/Gaia Estagiária: Mónica Sofia Rodrigues Dos Santos Nº27144 Supervisora de Estágio: Professora Doutora Liliana Meira Orientadora de Estágio: Doutora Ilda Caetano Setembro 2014

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Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde

Relatório de Estágio Curricular

ACeS Espinho/Gaia

Estagiária: Mónica Sofia Rodrigues Dos Santos – Nº27144

Supervisora de Estágio: Professora Doutora Liliana Meira

Orientadora de Estágio: Doutora Ilda Caetano

Setembro 2014

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Agradecimentos

Em primeiro lugar gostaria de agradecer à pessoa mais importante da minha vida, a

minha mãe, pelo apoio prestado em todas as decisões e por ser graças a ela, em parte, que me

foi possível continuar os estudos.

Um obrigado à minha irmã pequenina, por ter sido o meu “ombro-amigo” sempre que

necessitei.

Ao meu namorado, Sérgio Ribeiro, por ter acreditado sempre em mim e por todo o

afeto.

Ao meu pai.

Ao meu fiel amigo de quatro patas, o Pippo, por todo o companheirismo.

Aos meus avós e às minhas amigas de faculdade, um grande obrigado!

À minha supervisora Professora Doutora Liliana Meira, pela disponibilidade e pelo

empenho nesta etapa.

Aos Psicólogos que fazem parte do ACeS Espinho/Gaia, Doutora Ilda Caetano,

Doutor Hélder Rebelo e Doutora Sandra Prata, que me integraram e acolheram, permitindo

que eu fizesse parte da sua equipa.

Um obrigado ainda a tantas outras pessoas, professores, conhecidos e colegas que de

forma direta ou mesmo indireta colaboraram para que eu chegasse até aqui.

Obrigada a todos/as, consegui graças a vocês também.

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Índice

Introdução --------------------------------------------------------------------------------------------------4

1. Caracterização do contexto institucional/organizacional de Estágio ----------------------5

2. Caracterização dos serviços de psicologia e do papel do psicólogo na instituição ------7

3. Caracterização das atividades de observação, avaliação e intervenção -------------------8

3.1.Observação -----------------------------------------------------------------------------------9

3.2.Avaliação – Caracterização Geral -------------------------------------------------------11

3.3.Intervenção ----------------------------------------------------------------------------------15

3.3.1. Intervenção em casos clínicos ---------------------------------------------------15

3.3.2. Ações/Programas de formação e outros tipos de intervenção ---------------17

4. Descrição e análise de 2 casos clínicos

4.1.Caso “S” -------------------------------------------------------------------------------------32

4.2.Caso “A”-------------------------------------------------------------------------------------42

5. Reflexão crítica ---------------------------------------------------------------------------------53

Referências Bibliográficas -------------------------------------------------------------------------54

Anexos

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Introdução

O relatório que se segue foi realizado no âmbito do estágio integrado no Mestrado de

Psicologia Clínica e da Saúde, do Instituto Superior da Maia, tendo sido executado na

Unidade de Saúde de Espinho – ACeS Espinho/Gaia, totalizando duzentas e cinquenta horas.

Sendo um período de elevada intensidade, aprendizagem e especificidade, o presente

estágio curricular incidiu no contacto direto com a realidade, pressupondo uma articulação

constante com a comunidade em que a instituição está inserida. Desta forma, este pretende

encerrar um ciclo contínuo, salientando-se que o trabalho a ser dinamizado não seria possível

de se concretizar sem a presença dos elementares conhecimentos e competências adquiridas

ao longo de todo o processo académico.

Entre os diversos objetivos específicos a atingir, realçam-se a aquisição e o treino de

competências profissionais que me permitiram desenvolver técnicas de avaliação, diagnóstico

e intervenção psicológica nos diferentes contextos, bem como atingir o crescimento e

desenvolvimento verificados a nível pessoal.

Este relatório encontra-se organizado em quatro capítulos fundamentais e distintos.

No primeiro capítulo será realizada uma breve contextualização do local de estágio.

Seguidamente, no segundo capítulo, serão caracterizados os serviços de psicologia e o papel

fulcral do psicólogo na instituição. No terceiro capítulo, serão expostas as atividades de

observação, avaliação e intervenção realizadas ao longo desta etapa. Por último, no quarto

capítulo, irá ser feita uma análise detalhada de dois casos clínicos, preservando-se acima de

tudo a confidencialidade dos mesmos. O relatório culminará numa reflexão final onde será

feito um balanço a esta experiência de estágio, enfatizando a importância do mesmo e não

deixando de parte eventuais obstáculos e dificuldades sentidas.

Em anexo, serão apresentados diversos materiais elaborados por mim enquanto

estagiária, visto que representaram uma parte integrante nesta trajetória.

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1. Caracterização do contexto institucional/organizacional de Estágio

Tendo em consideração o plano curricular relativo ao 2º ano de Mestrado em

Psicologia Clínica e da Saúde, foram desenvolvidas as diligências necessárias entre o ISMAI

e o ACeS Espinho/Gaia para a realização do estágio.

A Unidade de Saúde de Espinho, local onde decorreu o meu estágio, faz parte do

ACeS Espinho/Gaia, estando a Unidade de Psicologia inserida na Unidade de Recursos

Assistenciais Partilhados (URAP).

A URAP fornece serviços de consultoria e assistência às diversas unidades que

compõem o ACeS, incorporando médicos de vários ramos, assim como assistentes sociais,

nutricionistas, técnicos de saúde e outros profissionais indispensáveis à saúde pública.

Relativamente à zona geográfica onde atua a URAP, podemos referir cinco freguesias

do Concelho de Espinho, dezassete freguesias do Concelho de Vila Nova de Gaia e uma

freguesia do Concelho de Gondomar.

Presentemente, o grupo da URAP do ACeS Espinho/Gaia é formado por duas

nutricionistas, quatro assistentes sociais e três psicólogos.

Embora grande parte do estágio tenha ocorrido na Unidade de Saúde de Espinho, foi

de igual modo possível frequentar a Unidade de Saúde da Boa-nova (Valadares) e de

Arcozelo, com a finalidade de realizar observações clínicas e participar em diversas reuniões

e atividades de cariz preventivo.

É possível evidenciar que as três instituições possuem boas condições, bons recursos

humanos e excelentes materiais de apoio, existindo uma predisposição para lidar com todos os

tipos de famílias, níveis sociais, culturais e económicos.

Para um melhor entendimento e contextualização, de seguida é apresentado de forma

mais detalhada o organograma do ACeS Espinho/Gaia.

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Figura 1

Organograma do ACeS Espinho/Gaia

2. Caracterização dos serviços de psicologia e do papel do psicólogo na instituição

Presentemente o ACeS Espinho/Gaia possui ao serviço dos utentes da comunidade três

psicólogos que estão distribuídos por diversas áreas geográficas, indo ao encontro de todas as

necessidades da população.

A unidade de saúde de Espinho tem um consultório de psicologia onde é realizado o

atendimento aos pacientes, sendo o mesmo disponibilizado aos estagiários afim de permitir o

desempenho das funções que lhes competem.

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É um espaço afável e confortável, com uma secretária, uma cadeira para o psicólogo,

cadeiras do lado oposto para os pacientes, duas janelas com uma vista bem agradável e

bastante iluminada, um computador, um cabide, ar condicionado e três armários com

materiais de apoio (processos, arquivos, livros, etc).

A intervenção psicológica nos cuidados de saúde primários é lotada de certas

especificidades. Neste âmbito, a atuação e funcionalidade do psicólogo não se restringe à

atividade assistencial de consulta, mas promove também a saúde e colabora na prevenção de

diversos contextos relacionados com indivíduos em risco.

Segundo Pedinielli (1999), cabe ao psicólogo clínico: a) compreender e apoiar o

indivíduo no processo de ajuste a novas situações aversivas; b) apoiar na elaboração de

estratégias para fazer face à situação de crise ou tornar a situação mais suportável,

modificando a maneira de encarar o problema; c) desenvolver atividades de diagnóstico e de

intervenção terapêutica; d) intervir em situações em que outros técnicos de saúde considerem

que podem existir indícios de perturbações de carater psicológico e e) organizar programas de

reabilitação especificamente dirigidos a pessoas que sofrem de doenças crónicas ou que,

devido a doenças, perturbações mentais.

Desta forma, o processo de encaminhamento dos pacientes para a consulta de

psicologia é realizado através da elaboração de uma ficha de referenciação onde devem estar

mencionadas diversas informações, tais como: nome, idade, número do sistema nacional de

saúde, unidade de saúde onde está inserido, nome do médico de família, motivo pelo qual está

a ser encaminhado e, por fim, a data.

Após uma análise da mesma, é esperado que o psicólogo efetue a marcação da

primeira consulta com o paciente.

Nos serviços de saúde primários são acompanhados utentes em diversas fases de vida,

contudo, as crianças e os adolescentes têm prioridade de atendimento.

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Depois de terem sido contactados para a primeira consulta, os pacientes privilegiam de

uma avaliação e, posteriormente, de acompanhamento.

Os casos, geralmente, fazem referência a problemáticas diversas, como por exemplo:

alterações do desenvolvimento emocional e do comportamento infantil, alterações do

desenvolvimento emocional e do comportamento juvenil, crises articuladas a diversos

acontecimentos de vida, perdas e luto, perturbações a nível emocional e também

procedimentos de adaptação a doenças.

3. Caracterização das atividades de observação, avaliação e intervenção

Como já foi referido anteriormente, o estágio efetuado na Unidade de Saúde de

Espinho foi realizado no âmbito do Mestrado da área de Psicologia Clínica e da Saúde, tendo

a duração de sete meses e uma carga horária total de 250 horas.

Numa fase inicial do estágio, foi fornecida por parte da orientadora e restante equipa,

toda a informação relativa ao que seria expectável obter da estagiária.

Em complementaridade com a fase de integração, surgiu a fase de observação e,

posteriormente, a fase de avaliação e intervenção.

Sempre que foi necessário foram realizadas reuniões com a orientadora do local de

estágio, tendo como finalidade primordial o esclarecimento de dúvidas e distribuição de

tarefas. Mensalmente também foram cumpridas reuniões da unidade de psicologia.

Foi ainda de caráter obrigatório a participação em reuniões semanais de supervisão

com diversos alunos, sob a orientação da Professora Doutora Liliana Meira e da Professora

Doutora Eva Martins. O objetivo das mesmas passava pela partilha de experiências nos

diferentes locais de estágio, esclarecimento de dúvidas e também pela discussão de casos

clínicos.

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No decorrer do estágio, a Unidade de Cuidados Continuados (UCC) solicitou a

colaboração em diversos projetos, posteriormente apresentados e devidamente fundamentados

nos capítulos que se seguem.

3.1. Observação

A observação constitui a primeira etapa do estágio, representando um momento crucial

para a integração na equipa de trabalho e objetivando o contacto direto com o contexto

institucional.

É importante realçar que, no papel de estagiária de Psicologia Clínica e da Saúde, a

observação é imprescindível no processo de aprendizagem e, complementarmente, na

aquisição de estratégias interventivas e procedimentais adequadas.

No contexto clínico, a observação baseia-se na análise direta de comportamentos e

atitudes do indivíduo, tendo como objetivo a compreensão de si e dos seus problemas. Esta é

focalizada sobre o sujeito em diversas situações, especificamente, na entrevista clínica, na

realização de provas e/ou testes e na interpretação dos variados contextos em que este se

insere. Neste sentido, a observação revela-se como um elemento fundamental devendo ser

inerente ao papel do entrevistador ou do mero observador (Almeida, 2004).

Durante o mês de Outubro e Novembro foram observados a par da Doutora Ilda

Caetano diversos casos clínicos, tanto em fase inicial como em seguimento, desde crianças a

idosos.

Numa segunda etapa, foi permitida a colaboração na administração e cotação dos

testes/questionários adequados a cada problemática, tais como a WISC-III, Figura Complexa

de Rey, Matrizes Progressivas de Raven, CBCL, TRF e Conners.

Sumariamente, estas atividades de observação permitiram-me obter um contacto mais

direto com a realidade e verificar competências práticas, básicas e essenciais no atendimento,

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nomeadamente, o estabelecimento de relação empática, a escuta ativa, a postura corporal, o

contacto ocular, etc.

Seguidamente são apresentados de forma sucinta os casos que foram alvo de

observação em contexto de consulta psicológica.

Tabela 1

Casos alvos de observação em contexto de consulta psicológica

Identificação Sexo Idade Instrumentos

utilizados

Motivo de

Consulta

Nº sessões

observadas

“R” Feminino 10 Entrevista clínica

semiestrutura à

mãe e à “R”; Figura

Complexa de Rey;

Matrizes

Progressivas de

Raven

Encaminhada

por suspeita de

Perturbação de

Ansiedade

3

“M” Feminino 52 Entrevista clínica

semiestruturada

Presença de

sintomatologia

depressiva

1

“M.I” Feminino 70 Entrevista clínica

semiestruturada

Presença de

sintomatologia

depressiva

1

“J.P” Masculino 5 Entrevista clínica

semiestruturada à

mãe

Alterações de

Comportamento

1

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3.2. Avaliação – Caracterização Geral

No decorrer do estágio, após realizadas algumas observações, administração de

instrumentos de avaliação psicológica e respetiva interpretação, uma das funções

desempenhadas foi a de avaliação.

Para tal efeito, foram manuseados diversos instrumentos de avaliação psicológica que

me possibilitaram atuar de forma mais eficaz na problemática apresentada pelo paciente, tais

como: o Modelo Multiaxial de Achenbach (ASEBA), o Teste Apercetivo de Roberts para

Crianças (RACT), o Inventário de Depressão Infantil (CDI), o Inventário de Depressão de

Beck (BDI), o Inventário de Sintomas Psicopatológicos (BSI), o Questionário de Forma

Corporal (BSQ) e a WISC-III.

O ASEBA assume-se como um modelo de avaliação dimensional de problemas, de

competências emocionais e de comportamentos de crianças e adolescentes. É possível através

deste reunir informações relativas aos diferentes contextos onde a/o criança/adolescente está

inserido. Fazem parte do modelo a entrevista clínica semiestruturada para crianças e

adolescentes dos 6 aos 18 anos de idade (SCICA), um questionário de comportamento da

criança dirigido aos pais (CBCL), um questionário administrado à criança/adolescente (YSR)

e um questionário conduzido ao professor titular de turma (TRF) (Achenbach &McCnaughy,

1997).

O RACT trata-se de um teste projetivo para crianças/adolescentes dos 6 aos 15 anos de

idade. É constituído por 16 cartões a preto e branco (11 cartões para rapazes, 11 cartões para

raparigas e 5 cartões comuns) que contêm imagens do quotidiano, refletindo sobre situações

de disputa, momentos de ansiedade, conflito parental, conflito entre pares, rivalidade fraterna,

entre outras. A aplicação do mesmo resume-se em pedir à criança para contar uma história

completa acerca de cada imagem, ou seja, com princípio, meio e fim. Esta prova subentende

que a criança projete os seus conflitos, preocupações e sentimentos nas histórias que cria. Os

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conteúdos manifestos fornecem indicadores sobre as suas vivências psicodinâmicas latentes.

As respostas e projeções são apresentadas em duas escalas: clínica e adaptativa. Em suma,

pretende-se avaliar o funcionamento adaptativo ou desadaptativos da criança nas áreas chaves

do relacionamento interpessoal (Simões, Gonçalves & Almeida, 1999).

O CDI é um instrumento que se predispõe a avaliar a gravidade dos sintomas

depressivos em populações infantis e juvenis com idades compreendidas entre os 7 e os 17

anos. É composto por 27 itens, sendo abordados sintomas tais como: tristeza ou

comportamento depressivo, sentimento de culpa, anedonia, baixa autoestima, problemas do

sono e apetite, fadiga excessiva, défice psicomotor, comportamento antisocial e ideação

suicida (Kovaks, 1985 as cited in Golfeto,Veiga, Sousa & Barbeira, 2002).

O BDI é um questionário de autorrelato composto por 21 itens de múltipla escolha,

cuja intensidade varia de 0 a 3. É um dos instrumentos mais utilizados para medir a

severidade de episódios depressivos como desesperança, irritabilidade e sentimentos de culpa

ou punição, assim como sintomas físicos, como fadiga, perda de peso e diminuição da libido

(Gandini,Martins, Ribeiro & Santos, 2007).

O BSI é um inventário de sintomas psicopatológicos composto por 53 itens, com

escala de resposta tipo Likert e que pretende avaliar nove dimensões de sintomatologia

(somatização, obsessões-compulsões, sensibilidade interpessoal, depressão, ansiedade,

hostilidade, ideação paranoide e psicoticismo) e três índices globais (índice geral de sintomas,

índice de sintomas positivos e total de sintomas positivos). É um instrumento que pode ser

administrado a indivíduos em acompanhamento psiquiátrico, indivíduos perturbados

emocionalmente e à população em geral (Canavarro, 1999 as cited in Simões, Gonçalves &

Almeida, 1999).

O BSQ é uma medida de autorrelato que traduz preocupações acerca da forma do

corpo, típicas da bulimia nervosa e anorexia nervosa. É composto por 34 itens que pretendem

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avaliar através de uma escala de Likert, a apreensão que o individuo tem tido com a sua forma

corporal e peso, nas últimas quatro semanas (Freitas, Gorenstein & Appolinario,2002).

A WISC-III pretende avaliar o desempenho cognitivo de crianças e adolescentes, de

acordo com condições estandardizadas. A aferição portuguesa refere-se a sujeitos com idades

entre os 6 e os 16 anos. A prova é composta por duas escalas: uma verbal e outra de

realização, num total de 13 subtestes, sendo estes: informação, semelhanças, aritmética,

vocabulário, compreensão, memória de dígitos, complemento de gravuras, código, disposição

de gravuras, cubos, composição de objetos, pesquisa de símbolos e labirintos, podendo ser

utilizada em diversos contextos, como: em avaliação psicopedagógica, em orientação escolar,

nas necessidades educativas especiais (dificuldades de aprendizagem, atrasos de

desenvolvimento e sobredotagem), em avaliação clínica e neuropsicológica e em

investigação. Para a correta avaliação da escala, o autor da mesma salvaguardou que é

indispensável que seja conhecida a história de vida do indivíduo e o contexto social e cultural

onde este se insere (Wechsler, 1974 as cited in Almeida, Gonçalves, Machado e Simões,

2004).

Ao longo do estágio foram realizadas várias consultas cujo objetivo visava a avaliação

da problemática e possível existência de sintomatologia. De seguida, são apresentados de

forma concisa os dois casos que foram somente alvo de avaliação psicológica, sendo que um

deles por motivo de força maior não foi também alvo de intervenção clínica.

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Tabela 2

Casos alvos de avaliação em contexto de consulta psicológica

Iden. Sexo

Idade

Motivo da

consulta

Instrumentos

utilizados

Resultados Situação atual

“I.N” Feminino

8 anos

Dores de cabeça

e cansaço

Entrevista clínica

semiestruturada

com “I” e com os

pais;

CBCL; TRF;

RACT

CBCL: Int T= 57;43

Ext T= 53;52

TRF: Int T= 54

Ext T= 71

RACT: Média das escalas

adaptativas = 58,56; Média

das escalas clínicas = 62,2

“I” apresenta

um

desenvolvimento

dentro da média

esperada para a

sua idade,

não

apresentando

sintomatologia

significativa

“R” Masculino

14 anos

Alterações

de

comportamento

Entrevista clínica

semiestruturada

com “R” e com os

pais;

YSR; CBCL; TRF;

CDI

YSR: Int T= 61

Ext T=48

CBCL: Int T= 78

Ext T= 68

TRF: Int T= 60

Ext T= 80

CDI: T= 7

Não foi possível

seguir o paciente

no contexto de

cuidados de

saúde primários.

Este não se

mostrou pronto a

colaborar e após

várias tentativas

acabou por

abandonar o

processo

terapêutico

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3.3. Intervenção

No decurso do estágio surge a crucial terceira fase, ou seja, a de intervenção. Era

expectável que fossem desenvolvidas intervenções a vários níveis e, deste modo, foram

incrementados planos de intervenção em função da problemática apresentada. O objetivo

primordial visava auxiliar os utentes a alcançar um ajustamento psicológico funcional e

harmonioso.

Além do mencionado anteriormente, foi também proposto a criação de um projeto de

intervenção em contexto grupal de acordo com as necessidades manifestadas no serviço, bem

como a colaboração em ações de formação e sessões de esclarecimento apresentadas adiante.

3.3.1. Intervenção em casos clínicos

A intervenção em casos clínicos foi a atividade mais trabalhosa e ao mesmo tempo a

mais gratificante. É um processo delicado e exigente, pois devem ser respeitadas diversas

regras e etapas.

No âmbito do estágio, as várias intervenções tiveram por base o modelo cognitivo-

comportamental, que reflete a fusão entre a terapia cognitiva e a terapia comportamental,

integrando um conjunto de conceitos e técnicas que têm como objetivo alcançar mudanças

aos dois níveis (cognição e comportamento).

Um dos objetivos principais do modelo cognitivo-comportamental consiste em corrigir

ou modificar distorções cognitivas que afetam o indivíduo, de modo a que este desenvolva

estratégias de combate ao problema. Para que tal mudança ocorra são usadas técnicas

cognitivas e técnicas comportamentais: as técnicas cognitivas incidem sobre a identificação

dos pensamentos automáticos, testando-os e substituindo possíveis distorções de pensamento.

Por sua vez, as técnicas comportamentais são utilizadas para modificar condutas

inapropriadas e direcionadas para o problema apresentado (Gonçalves, 1993).

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Neste sentido, o processo terapêutico deve ser adaptado às características individuais

de cada paciente, sejam adultos ou crianças, já que este se propõe a desenvolver habilidades e

competências eficazes e capazes de enfrentar as situações mais difíceis, resultando em formas

saudáveis de adaptação e, consequentemente, de bem-estar (Friedberg, 2004).

Foram efetuadas quatro intervenções em casos clínicos, nomeadamente duas adultas,

uma adolescente e uma criança.

“S” é do sexo feminino, tem 35 anos, trabalha como caixeira numa loja de rua e

encontra-se atualmente a viver com o namorado, os pais do namorado e o filho de 3 anos. Foi

encaminhada para a consulta de psicologia pela médica de família, apresentando perturbação

do sono e do apetite. O processo de avaliação psicológica contemplou a entrevista clínica

semiestruturada, o BDI, o BSQ e o BSI.

O plano de intervenção debruçou-se, essencialmente, na diminuição da sintomatologia

depressiva. Após realizadas algumas consultas não foi possível continuar o processo

terapêutico com “S”, uma vez que esta passou a ser acompanhada em sessões de caráter

grupal em Psiquiatria, 8h por dia sem previsão de término.

“I.P” é uma menina de 10 anos que vive com os pais e o irmão de 5 anos. Frequenta

pela segunda vez consecutiva o 4º ano e foi encaminhada para a consulta de psicologia pela

médica de família a pedido da mãe, revelando dificuldades de aprendizagem e resistência em

comunicar e interagir com os colegas. O processo de avaliação psicológica decorreu nas

primeiras sessões com recurso à entrevista clínica semiestruturada (SCICA) à criança e à mãe,

à CBCL, à TRF e à WISC-III.

O processo de intervenção psicológica focou-se, essencialmente, em dotar “I.P” de

competências sociais, bem como orientar o contexto escolar e familiar no sentido de

desenvolver estratégias pedagógicas e relacionais. Uma vez que se associam dificuldades de

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aprendizagem a estas problemáticas, a criança foi referenciada para o Serviço de Psicologia e

Orientação (SPO).

“M” é uma adulta de 65 anos reformada, tendo sido encaminhada para a consulta de

psicologia por apresentar perturbação do sono e compulsão alimentar. O processo de

avaliação recaiu sobre a aplicação da entrevista clínica semiestruturada, do BDI e do BSI.

O plano de intervenção elaborado teve como objetivos a regulação dos horários de

sono e de adormecimento, criando um ambiente tranquilo e evitando momentos de

excitabilidade e hiperestimulação no momento de deitar, promoção de rotinas diárias e

reajuste dos comportamentos alimentares. Após três consultas, “M” referiu já se sentir melhor

e não necessitar de apoio psicológico.

“A” é do sexo feminino, tem 14 anos, vive com os pais e frequenta o 8ºano. Foi

encaminhada para a consulta de psicologia pela médica de família a pedido da mãe, revelando

alterações de comportamento. O processo de avaliação psicológica contemplou a realização

da entrevista clínica semiestruturada (SCICA) à adolescente e aos pais, o YSR, a CBCL e o

CDI.

O processo de intervenção psicológica teve em conta fatores desencadeantes e

perpetuadores a nível familiar, social e escolar, sendo este co-direcionado para os pais.

Devido à evidência de associação com perturbações emocionais, “A” foi referenciada para a

consulta de Pedopsiquiatria, continuando simultaneamente em acompanhamento psicológico.

3.3.2. Ações/Programas de formação e outros tipos de intervenção

Durante o estágio foi elaborado um programa de intervenção direcionado para

profissionais de saúde, intitulado: “Gestão de Stress Organizacional em Contextos de

Saúde”.

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Foi também pedida a colaboração da UCC de Arcozelo para uma apresentação com

um grupo de mães grávidas, bem como a participação numa Feira de Profissões e numa

palestra denominada: “Dia sem Ansiedade”, ambas realizadas na Escola Secundária Arquiteto

Oliveira Ferreira em Arcozelo.

Atividade 1: “Gestão de Stress Organizacional em Contextos de Saúde”

Objetivos (gerais e específicos)

O presente projeto de intervenção tem como objetivo geral analisar o nível de stress

ocupacional de profissionais inseridos na área da saúde, bem como explorar as suas

implicações. Por sua vez, os objetivos específicos passam por promover competências para a

gestão do stress, fomentar uma melhor qualidade de vida e bem-estar no local de trabalho e

desenvolver valências capazes de ultrapassar as adversidades potenciadoras de stress que

possam surgir.

População Alvo

O projeto de intervenção pretende dirigir-se a profissionais de saúde, especificamente

auxiliares de ação médica, que em algum momento da vida se tenham confrontado com

dificuldades na gestão do stress no local de trabalho. É de salientar que o mesmo não deverá

exceder os 10 participantes, sendo a atividade totalmente voluntária.

Duração

O projeto é composto por seis sessões e ambicionava decorrer às quartas-feiras,

durante o mês de Maio e meados de Junho de 2014, tendo uma duração média de 60 minutos.

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Enquadramento teórico

O conceito de stress deriva do latim (stringo), cujo significado se relaciona com o

termo “comprimir”. Esta noção foi adquirida como forma de manifestar uma sensação de

pressão que pode afetar o corpo e a mente, podendo ser causado por diversos estímulos

externos designados de “stressores” (Vaz-Serra, 2011).

O stress ocupacional corresponde a uma diminuição do bem-estar físico e mental

proveniente da “tensão, frustração, ansiedade e exaustão humana”, originados por

acontecimentos no âmbito do trabalho que são vistos pelo indivíduo como situações

ameaçadoras (Ladeira, 1996).

Se por vezes o indivíduo chega a alcançar situações extremas de stress designadas de

“Burnout” (Carvalho & Malagris, 2007 as cited in Santos & Cardoso, 2010), por outro lado,

consegue também alcançar o “Eustress” que se caracteriza pelo stress positivo, permitindo a

tomada de decisões e a resolução de problemas, fazendo com que as suas competências e

funcionamento sejam aperfeiçoados. Este tipo de stress pode trazer benefícios na qualidade da

vida profissional do mesmo (Vaz-Serra, 2011).

Cristina Maslach desenvolveu e aprofundou o conceito de burnout, criando um

instrumento de avaliação, o Inventário de Burnout de Maslach, sendo composto por 22 itens

relativos a sentimentos e atitudes manifestadas em contexto laboral, repartidos por três

dimensões distintas: exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal

(Miranda, 2011).

De acordo com Ballone (2002 as cited in Miranda, 2011), burnout é a última

consequência causada pelo stress ocupacional, progredindo através de elevada exaustão

emocional, julgamento negativo de si mesmo, depressão e indiferença face às relações

interpessoais e mesmo perante a própria vida.

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Segundo Grau, Suñer e García (2005), a síndrome de burnout surge perante uma

atitude frequente e contínua ao stress ocupacional, afetando a saúde física, a saúde mental e a

vida social dos profissionais.

As reações e consequências de combater negativamente o stress manifestam-se quando

o indivíduo percebe que não consegue lidar com as diversas exigências que lhe são impostas,

gerando ansiedade ou depressão (Ojden, 1999).

O stress é um reflexo de que as exigências excedem os recursos e as aptidões,

emergindo efeitos psicológicos, sociais, fisiológicos e físicos. Contudo, as consequências do

stress potencialmente prejudiciais podem não só causar danos a nível individual como a nível

organizacional (Hespanhol, 2005).

Segundo o modelo de stress ocupacional formulado por Cooper (1986) e de acordo

com a vasta investigação que tem sido realizada nos últimos anos, os indícios e reações de

doença em contextos de saúde organizacional que podem despoletar complicações de diversa

ordem a nível individual são: a) aumento da pressão arterial; b) elevação do nível de

colesterolemia; c) arritmias cardíacas; d) tabagismo; e) humor depressivo; f) refúgio na

ingestão alcoólica e g) insatisfação profissional e aspirações reduzidas, que podem provocar

doença coronária ou perturbações mentais. Por sua vez, os sintomas organizacionais do stress

passam pelo: a) absentismo; b) rotação laboral; c) relações industriais difíceis e controlo da

qualidade deficitário; d) problemas disciplinares; e) produtividade reduzida e f)

incumprimento de horários (Melo, Gomes & Cruz, 1997).

Ainda de acordo com o modelo formulado por Cooper (1986), evidenciamos cinco

principais categorias: a) causas intrínsecas; b) papel na organização; c) progressão nas

diferentes fases da carreira; d) afinidades no trabalho e e) estrutura e clima. A primeira

categoria, denominada de causas intrínsecas, faz referência às condições de trabalho e aos

requisitos das tarefas de trabalho. A segunda categoria recai sobre o papel na organização

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onde podem estar implícitas quatro grandes causas de stress: conflito de papel, ambiguidade

de papel, conflitos de limites e grau de responsabilidade. Na terceira categoria, intitulada de

progressão nas diferentes fases da carreira, podem referir-se três indutores de stress:

promoção excessiva ou insuficiente, falta de segurança no lugar de trabalho e estatuto na

carreira profissional. Na quarta categoria, afinidades no trabalho, consideram-se os

relacionamentos impróprios entre os superiores e entre os colegas, bem como o obstáculo em

atribuir responsabilidades. Na quinta categoria, nomeada de estrutura e clima organizacional,

as causas de stress reconhecidas são: a falta de participação no processo de tomada de

decisões, a falta de consulta e comunicação efetiva, restrições injustificadas de

comportamento, políticas da organização, ausência de sentimentos de integração na

organização e estilos de liderança (Melo, Gomes & Cruz, 1997).

Para uma melhor compreensão do conceito de stress têm sido implementadas teorias

acerca do mesmo, dando assim especial ênfase a estratégias de autocontrolo. A teoria da

autoeficácia proposta por Lazarus e Folkman (1987 as cited in Ogden, 1999), defende que

para se medir a resposta ao stress a variável da autoeficácia é crucial, sendo esta designada

como a capacidade que o indivíduo possui para concretizar objetivos e realizar tarefas

específicas. Quando este é capaz de tomar contacto com as suas crenças e reconhecer o valor

das suas próprias capacidades, pode existir tanto uma diminuição do stress como também um

aumento do mesmo, caso não subsista total confiança, emergindo assim respostas fisiológicas

como taquicardia, tensão arterial, sudorese, entre outras. Por sua vez, Maddi e Kobasa (1984

as cited in Ogden, 1999) defendem a robustez como sendo um sinónimo de autocontrolo,

descrevendo o conceito como um “reflexo de uma sensação pessoal de controlo, desejo de

aceitar desafios e comprometimento”. Karasek e Theorell (1990 as cited Ogden, 1999)

implementaram o conceito de mestria, indo este de encontro às definições dadas pelos autores

anteriores, ou seja, recaindo sobre autocontrolo e a robustez.

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São várias os estudos realizados no âmbito do stress ocupacional. Com vista a

descrever alguma da produção científica serão apresentados de seguida alguns dados.

Melo, Gomes e Cruz (1997) no estudo Stress ocupacional em profissionais de saúde e

do ensino, apontam no sentido de que as principais fontes de pressão e stress nos profissionais

da área da saúde e do ensino, estão relacionados com o clima e estrutura organizacional, com

a carreira e realização profissional e também com o papel de chefia. Refira-se, contudo, que a

análise demonstra ainda o grande interesse imposto ao stress e pressão gerada por causas

intrínsecas ao trabalho e às relações interpessoais.

Um outro estudo realizado por Silva e Gomes (2009), tendo como objetivo analisar o

stress ocupacional em 155 profissionais da área da saúde, nomeadamente, médicos e

enfermeiros, evidencia que 29% manifesta níveis de stress moderados e 15% experiências

significativas de stress. Todavia, 56% dos participantes não descreveram problemas

significativos.

O mesmo é corroborado por Gomes, Cruz e Cabanelas (2009) no estudo Estresse

ocupacional em Profissionais de saúde: um estudo com enfermeiros portugueses que reviram

as fontes de stress, burnout, problemas de saúde física, satisfação e realização profissional.

Concluiu-se assim que 30% dos enfermeiros exibem experiências significativas de stress e

15% problemas de exaustão emocional. É de salientar que as reações mais negativas recaem

sobre as mulheres, enfermeiros mais novos e com menos experiência, trabalhadores com

contratos a prazo, que realizam o trabalho por turnos e com maior carga horária.

Estrutura e organização do programa de intervenção

Uma das tarefas indispensável a ser realizada na nossa sociedade refere-se à

exploração de diversas formas de eliminar e reduzir as consequências do stress ocupacional,

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uma vez que é um dos problemas que resulta da industrialização e da tecnologia moderna

(Murphy & Hurrel as cited in Silva e Gomes, 2009).

O plano de intervenção apresentado posteriormente tem por base o desenvolvimento

de estratégias que previnam reações que se manifestam através de situações indutoras de

stress, bem como a partilha de experiências dos intervenientes, conduzindo a um maior bem-

estar a nível pessoal.

O levantamento de necessidades para identificar queixas e riscos para a saúde foi feito

de forma informal com a equipa de profissionais da URAP, uma vez que a disponibilidade

desta é reduzida. Após alguma discussão acerca de diversas matérias, chegamos à conclusão

que as temáticas presentes no projeto seriam uma excelente contribuição para toda a

instituição.

Um estudo realizado por Grazziano (2008), teve como objetivo colocar em prática

uma estratégia específica para redução do burnout, a inoculação de stress, entre enfermeiros

hospitalares, tendo uma carga horária total de 12 horas e abordando conceitos de stress,

burnout, coping e comunicação interpessoal nas próprias instituições e dentro dos horários de

trabalho. Conclui-se que a estratégia foi eficiente na sensibilização dos enfermeiros para a

problemática, tendo a maioria classificado a atividade como excelente para ser aplicada nas

suas vidas.

As sessões apresentadas seguidamente são construídas a partir da avaliação de um

programa de intervenção já implementado e devidamente validado, realizada por Murta e

Tróccoll (2004), refletindo a identificação de fontes de satisfação e insatisfação com o

mesmo. Este tinha como objetivo o desenvolvimento de estratégias individuais de confronto

ao stress, salientando-se técnicas cognitivo-comportamentais, através de modelagem,

exposição, relaxamento, restruturação cognitiva, automonitorização, vivências de grupo, role-

playing, etc. Participaram voluntariamente 210 funcionários de um hospital de habilitação e

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reabilitação em saúde, tendo sido evidenciados como principais alvos de satisfação o contexto

terapêutico e o impacto provocado nos participantes (Murta & Tróccoll, 2004).

Além das técnicas mencionadas anteriormente, está patente neste programa uma

técnica enquadrada nas dinâmicas de grupo e presente na primeira sessão, intitulada “Teia de

Aranha”. A sua finalidade compreende a importância da rede e a posição de dependência em

que se encontram os sujeitos em contexto ocupacional.

É fundamental ter em consideração que a primeira e a última sessão foram destinadas

à avaliação de pré e pós-teste, com a aplicação do Questionário de Stress nos Profissionais de

Saúde (QPSS) (Anexo 4), desenvolvido por Gomes (2010) a partir dos trabalhos originais de

Gomes (1998) e Gomes, Cruz e Cabanelas (2009) realizados com profissionais de diversos

domínios. A prova é constituída por 25 itens que avaliam as potenciais fontes de stress no

exercício da atividade profissional dos profissionais de saúde, estando compreendida em duas

partes. Na primeira parte é proposta a avaliação do nível global de stress e, na segunda, as

potenciais fontes de stress.

A implementação deste projeto será eventualmente realizada posteriormente na

Unidade de Saúde de Espinho, sendo necessária a disponibilização de uma sala. Em anexo

está incluído o PowerPoint relativo à possível dinamização do mesmo (Anexo2/3).

Sessão 1: “O primeiro encontro”

Objetivos: a) Apresentação dos elementos do grupo; b) Promoção de um clima de

confiança; c) Exposição do programa de intervenção; d) Preenchimento do instrumento de

avaliação pré-teste (QSPS).

Estratégias e técnicas: “Teia de Aranha”. Primeiramente será realizada a atividade

“Teia de Aranha”, sendo entregue um novelo de lã a cada elemento do grupo. Estes deverão

mantê-lo nas mãos enquanto se apresentam (por exemplo: nome, idade, estado civil, etc) e, ao

terminar a sua apresentação, devem segurar uma pequena parte do fio e passar o restante

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novelo para outro elemento do grupo, que deverá repetir todo o procedimento e assim

sucessivamente. No final, podemos observar que será formada uma teia, que se traduz na

união e na confiança. Posteriormente, será exposto em suporte digital o programa de

intervenção e distribuído o questionário com o objetivo de ser realizada uma avaliação pré-

teste.

Sessão 2: “Stress: conceito, reações de doença e fatores indutores”

Objetivos: a) Compreensão do conceito de stress; b) Identificação de reações de

doença em contextos de saúde organizacional que podem despoletar complicações de ordem

individual e organizacional; c) Identificação de fatores indutores de stress.

Estratégias e técnicas: Exposição; Vivências de grupo. A sessão será iniciada com

uma breve apresentação do conceito de stress. Logo de seguida, os participantes serão

expostos a diversos fatores e situações que, eventualmente, irão provocar estados de stress e,

consequentemente, manifestar reações de doença em contexto de saúde individual e

organizacional. Ao longo da sessão será promovido o diálogo e a partilha de experiências

relativamente às temáticas em análise.

Sessão 3: “Lidar com situações difíceis”

Objetivos: a) Exploração de novas posturas para o combate ao stress; b)

Desenvolvimento de competências de resolução de problemas.

Estratégias e técnicas: Restruturação cognitiva; Modelagem; Role-playing. A sessão

terá início com a exploração de novos hábitos de combate ao stress, através da restruturação

cognitiva. De seguida, irão ser reforçados esses mesmos hábitos e novas formas de

comportamento por via da técnica da modelagem, assim como reaprendidas novas formas de

comportamento através do role-playing.

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Sessão 4: “Momento para relaxar”

Objetivos: a) Promover a identificação da resposta de relaxamento; b) Praticar as

técnicas de relaxamento; c) Promover a prática de técnicas alternativas para lidar com

cognições disfuncionais.

Estratégias e técnicas: Relaxamento muscular progressivo. Será apresentando o guião

aos participantes com diversas técnicas de relaxamento muscular (anexo 5), passíveis de

serem utilizadas como estratégias para lidar com o stress, realçando a importância da sua

prática diária. Por fim, a técnica será posta em prática.

Sessão 5: “Ser proactivo e otimista”

Objetivos: a) Reflexão acerca da importância de ser proactivo na gestão do stress; b)

Promoção do otimismo, coesão grupal e escuta empática; c) Preenchimento do instrumento de

avaliação pós-teste (QSPS).

Estratégias e técnicas: Automonitorização. Os participantes ao longo da sessão

devem refletir acerca da influência da proatividade na gestão do stress. É fundamental ter em

consideração o aumento da consciência, através da automonitorização, para a importância da

coesão grupal e da escuta empática. A sessão terminará com o preenchimento do questionário

de avaliação pós-teste.

Sessão 6: “Reflexão final e encerramento”

Objetivos: a) Comparação das expectativas iniciais com a atual avaliação do mesmo;

b) Divulgação de resultados; c) Avaliação da pertinência, do impacto e da eficácia do

programa; d) Despedida.

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Estratégias e técnicas: Vivências de grupo; O programa de intervenção terminará

com a realização da sessão 6. Serão divulgados os resultados da avaliação pré e pós-teste e

realizada uma discussão harmoniosa entre os elementos (vivências de grupo), tentando

identificar-se os aspetos mais positivos, as dificuldades sentidas e eventuais aspetos a

melhorar.

Devido a ordens diversas e alguns contratempos, foi impossível pôr em prática o

projeto de intervenção mas, apesar disto, a sua elaboração permitiu-me desenvolver e

fortalecer competências na área do planeamento e estruturação deste tipo de projetos.

Contudo, é evidente que seria uma mais valia desenvolver valências no que diz respeito à

gestão de um grupo de intervenção.

Atividade 2: “Gravidez e Saúde Mental: Preparação Para o Parto”

Os cuidados de saúde primários, com relevância à intervenção nos períodos de

gravidez e primeira infância, são um contexto primordial para a implementação de projetos de

intervenção na área da saúde. Na área da Saúde Materno-Infantil, particularmente na

preparação para a função materna, é fundamental que a equipa de saúde contribua para uma

vivência plena da gravidez e da maternidade, facilitando assim aos pais a definição do seu

próprio método de lidar com o bebé. Dada a pertinência do tema, a UCC de Arcozelo pediu o

auxílio do serviço de psicologia na organização de uma sessão onde fossem abordadas

temáticas diretamente relacionadas com a preparação para o parto (anexo 6).

Perante situações tanto de risco físico, como de risco psicológico, para a mãe e/ou para

a criança, torna-se necessário que os programas de saúde materno-infantil contemplem

estratégias que desenvolvam melhores índices de saúde a todos os intervenientes. É benéfico

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para as grávidas relatarem as perceções que vão tendo de todas as modificações que

vivenciam, quer físicas, quer psicológicas, levando-as a uma melhor consciencialização e

adaptação.

De acordo com Piccinini, Gomes, Nardi & Lopes (2008), a gravidez não é uma

experiência estática nem breve, mas plena de crescimento e mudanças, enriquecimento e

desafios. É uma fase de profundas alterações a nível somático, psicológico e social, que

envolve reestruturações e reajustamentos que comprometem as mulheres a um esforço

suplementar na manutenção do equilíbrio. Do ponto de vista psicológico, constitui um

conjunto de momentos vivenciados com uma vasta série de estados de espírito, que variam

rapidamente em resposta a diversas situações. Esta labilidade emocional é mais acentuada em

algumas mulheres do que noutras, dependendo da estrutura da sua personalidade, do tipo de

stress a que estão sujeitas, da qualidade de apoio que recebem e ainda dos seus próprios

recursos para lidar com a mudança (Piccinini, Gomes, Nardi & Lopes, 2008)

Colman e Colman (1994 as cited in Lisboa, Loureiro & Lucas, 1995), salientam que as

alterações na imagem corporal, as modificações hormonais, a perturbação do contexto

habitual da vida quotidiana, associadas ainda a expetativas culturais, são de tal forma

importantes que, inevitavelmente, são refletidas na saúde mental das mulheres grávidas.

Para Zimmerman e colaboradores (1997), o conhecimento de todos os fenómenos da

gestação e observação clínica levam a um alívio da ansiedade, conforme a grávida se vai

tornando emocionalmente envolvida. Deve preconizar-se o atendimento em grupo, pois este

serve como suporte para a troca de vivências.

É necessário dar prioridade à saúde materno-infantil e, como afirmam Trindade &

Teixeira (1998), os programas devem ter em destaque a promoção da saúde, a educação para a

doença e a sua prevenção. Assim, para que exista saúde, é necessário a sua promoção criando

condições que levem à aquisição de novas capacidades de modo a que esta possa ser

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controlada, responsabilizando cada um pela sua própria saúde. Neste sentido, parafraseando

os autores acima citados, os programas de saúde materno-infantil deverão centrar-se

sobretudo na modificação de atitudes e comportamentos, bem como na atenuação de

problemáticas relacionadas com a saúde da mulher e do seu filho.

Após a realização deste projeto constatamos que os objetivos estabelecidos

inicialmente foram alcançados, conseguindo que as gestantes olhassem para a sua gravidez

como algo que é natural, mas que pode trazer complicações caso estas não se encontrem

alertadas para algumas questões (anexo 9).

Atividade 3: “Feira Das Profissões”

Na sequência das sessões de orientação vocacional, foi solicitada a colaboração do

serviço de psicologia para a realização de uma Feira das Profissões. Este evento consistiu em

reunir à mesma hora e no mesmo espaço, profissionais de várias áreas de forma a darem o seu

testemunho acerca da profissão que representam (as atividades; os horários; as características

pessoais necessárias; o salário; perspetivas de futuro; materiais e equipamentos que utilizam,

etc.). Assim, de uma forma informal, os alunos (9ªs e 12ª anos) dirigiram-se a cada

profissional com o intuito de colocarem um conjunto de questões que gostariam de ver

esclarecidas acerca da ocupação em questão, uma vez que se encontram numa fase de

deliberação para a escolha da carreira profissional (anexo 7).

O Modelo Desenvolvimental que tem como expoente Donald Super, defende que o

desenvolvimento vocacional deve ser encarado como um processo contínuo em que a

orientação para as escolhas deve começar desde cedo (infância e adolescência) e prolongar-se

até depois da reforma (Crites, 1981). Este enfatiza ainda a relação entre o autoconceito e a

escolha da carreira, demonstrando como o individuo tende a optar por vias que confirmem a

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perceção que este tem acerca da sua própria identidade (Super, 1963 as cited in Levenfus &

Soares, 2010).

Segundo a teoria desenvolvimental, ao longo da vida as pessoas percorrem

fases/estádios, de uma forma sequencial. Uma vez que os jovens envolvidos nesta ação

possuem idades compreendidas entre os 14 e 18 anos de idade, afirmamos que se encontram

na fase de exploração de si próprio, do mundo do trabalho e dos papéis das outras pessoas nas

suas ocupações. Nesta fase, os indivíduos tomam decisões relativas a áreas profissionais e ao

sistema educativo (Subfase Cristalizar), elegem uma profissão ou especialidade (Subfase

Especificar) e dão início à concretização dos seus planos profissionais (Subfase Implementar)

(Super, 1988 as cited in Santos & Coimbra, 1994).

Apesar de a atividade não estar diretamente relacionada com o contexto onde me sinto

mais confortável (Clínica e Saúde), a mesma mostrou-se bastante produtiva e gratificante. Os

alunos evidenciaram interesse em saber mais sobre a área de Psicologia e revelaram-se

esclarecidos com as respostas fornecidas em função das suas questões.

Atividade 4: “Dia Sem Ansiedade”

No âmbito do "Dia Sem Ansiedade" promovido pela Unidade de Saúde Familiar de S.

Félix da Marinha e com o apoio do serviço de psicologia, foi realizada uma sessão de

educação para a saúde sobre Ansiedade na escola Secundária Arquiteto Oliveira Ferreira,

direcionada aos alunos do 11º e 12º ano (anexo 8). A ansiedade de desempenho face às

avaliações curriculares é uma experiência que habitualmente quase todos os alunos enfrentam

durante o seu percurso escolar. Nesta sessão foi discutido "o que é a ansiedade", bem como as

diferenças entre a ansiedade "normal" e "patológica", ansiedade "estado" e ansiedade "traço",

os diferentes tipos de ansiedade e as distintas estratégias de tratamento. Foi ainda posta em

prática uma sessão de relaxamento no final.

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A origem etimológica da palavra remete para o latim anxietas, anxietatis, que significa

preocupar-se, estando igualmente comparada com sentimentos de angústia e/ou ânsia (Vaz

Serra, 1980).

O medo exagerado do insucesso, as exigências e pressões suportadas ao longo do ano

e a adaptação a novas transições escolares, podem gerar fontes de ansiedade que, por sua vez,

podem influenciar o desempenho académico, especificamente, nos exames finais (Magalhães,

2007).

Do ponto de vista de Cruz (1977 as cited in Peixoto, 2000), a ansiedade sentida em

contextos de testes e/ou exames tem sido estudada a partir de um conjunto de fatores de

natureza cognitiva e afetiva, que por sua vez explicam os diferentes níveis de apreensão dos

indivíduos neste contexto específico.

Na perspetiva de Spielberger e Vagg (1995 as cited in Peixoto, 2000), a ansiedade

manifestada em ambiente de avaliação é considerada como um traço específico da

personalidade.

Sumariamente, a ansiedade face aos testes constitui um motivo de grande preocupação

para toda a comunidade educativa, uma vez que os alunos quando submetidos a momentos de

avaliação tendem a responder com o aumento da ansiedade, comprometendo o seu

desempenho (Bzuneck & Silva, 1989).

Com a realização desta atividade foi-me possível aprofundar os conhecimentos sobre a

temática em questão, uma vez que envolveu uma pesquisa alargada. Uma outra vantagem diz

respeito ao aperfeiçoar das competências na área do planeamento e estruturação deste tipo de

ações, representando uma mais-valia no meu percurso como estagiária (anexo 8).

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4. Descrição e análise de 2 casos clínicos

4.1.Caso “S”

4.1.1. Identificação

A utente irá ser designada por “S” para que desta forma seja salvaguardada a sua

privacidade e confidencialidade.

É do sexo feminino, tem 35 anos, vive com o namorado, os pais do namorado e o filho

de 3 anos. Trabalha como caixeira numa loja de bijuteria.

4.1.2. Motivo/queixa principal

O pedido de avaliação psicológica foi solicitado pela médica de família.

No que diz respeito ao motivo/queixa principal, “S” menciona que em grande parte

dos dias sente tristeza, apatia, infelicidade, pouca vontade de viver e perda de motivação,

especialmente quando se encontra sozinha e tem o seu dia preenchido com lides domésticas.

Atualmente apresenta perda de apetite e insónia.

4.1.3. Protocolo de Avaliação

Com o objetivo de se chegar a um diagnóstico, foram planeadas três consultas de

avaliação. Estas contemplaram a realização de uma entrevista clínica semiestruturada, bem

como a aplicação do BDI, do BSQ e do BSI.

4.1.4. Problema e história do problema

“S”, aos 19 anos, foi diagnosticada com o primeiro episódio de depressão devido à

separação dos pais, recebendo posteriormente acompanhamento psiquiátrico do qual

resultaram melhoras significativas. Atualmente, com 35 anos, vivencia momentos muito

complicados e recorrentes desde o ano de 2008.

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Após ter conhecido o atual namorado e, posteriormente, ter assumido uma relação

amorosa, optou por viver em casa dos pais deste. Contudo, até ao momento, “S” sente-se

sobrecarregada com tarefas domésticas e totalmente desvalorizada.

Um ano depois, engravida inesperadamente e vê-se obrigada a procurar emprego com

vista a sustentar a casa e o filho que não tardava a nascer. Depois de alguma procura,

conseguiu uma vaga numa loja de rua como caixeira, todavia, começaram a surgir

dificuldades e “S” já não conseguia confiar em ninguém, estando farta da interação pautada

por conflitos com as colegas.

Após o nascimento da criança, a paciente começa a sentir inúmeras desconfianças,

suspeitas de infidelidade e instabilidade emocional. Todavia, o namorado quando confrontado

com algumas destas questões, negava sempre qualquer tipo de acusação.

Desde essa altura ocorreu um agravamento significativo de sintomas e, “S”, menciona

ter problemas de sono e perda de peso, viver em pleno isolamento e desânimo, revelando por

último que não tem qualquer motivação para viver, porém, sublinha não existir ideação

suicida. Acrescenta não se sentir bem consigo própria e manifesta não conseguir olhar-se ao

espelho nem ter consigo os cuidados que tinha anteriormente.

Possui dificuldades em lidar com novas pessoas, como resultado da desvalorização

pessoal que apresenta.

Relativamente ao suporte social, respeita unicamente à mãe, que lhe presta apoio e

auxílio em tudo o que necessita.

Atualmente encontra-se medicada com antidepressivos prescritos pela médica de

família.

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4.1.5. História do desenvolvimento psicossocial

No que se refere à história do desenvolvimento psicossocial, “S” expressa uma

infância e uma adolescência pautadas por exposição a violência parental. O pai é descrito

como “um homem muito rígido, autoritário e desconfiado que batia na mãe”, porém, a mãe é

vista como uma “amiga e companheira dos bons e dos maus momentos”.

Em termos de orientação vocacional sempre desejou ser modelo, deslocando-se a

vários pontos do país para realizar castings em busca desse sonho.

Começou a namorar com 14 anos e acabou também por ser vítima de violência durante

essa relação, “sempre que queria ir para Lisboa a castings com a minha mãe fazia-o às

escondidas, senão já sabia o que me esperava”. O relacionamento prolongou-se e terminou

aos seus 19 anos, quando o namorado descobre que esta se ausentara para um casting, tendo o

mesmo agredido fisicamente “S” após o seu regresso. Em resposta, esta toma a atitude de

colocar um fim à relação.

Ao nível do percurso escolar, conseguiu entrar na faculdade, contudo, não conseguiu

terminar o curso devido a problemas financeiros e ao divórcio dos pais que entretanto se

sucedeu. Desde então nunca mais quis manter contacto com o pai, acreditando que este

também não tem o mínimo interesse por si.

As situações mencionadas anteriormente levaram-na a passar por uma depressão grave

aos 19 anos.

“S” aos 23 anos decidiu mudar toda a sua vida e mudou-se para Lisboa, com a

ambição de lutar verdadeiramente pelos seus objetivos. Iniciou trabalho assíduo no mundo da

moda e nas discotecas, descrevendo essa etapa da vida com felicidade e orgulho.

Durante umas férias de Verão veio visitar a mãe e conheceu o atual namorado, com

quem foi viver meses depois para casa dos pais deste, engravidando inesperadamente.

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4.1.6. Resultados dos instrumentos psicométricos

No que concerne aos resultados do BDI, e tendo a utente obtido uma pontuação total

de 41 pontos, concluiu-se que a mesma possivelmente se encontrava com uma depressão

grave e clinicamente significativa.

Por sua vez, o BSQ (T=53) sugere não existir por parte de “S” uma preocupação

marcada com o seu aspeto físico.

Os valores obtidos no BSI encontram-se todos acima da média da população com

perturbações emocionais, sendo que as dimensões mais significativas são a depressão (3,3), a

ansiedade (3,3), as obsessões-compulsões (3,3) e a sensibilidade interpessoal (3,2).

4.1.7. Diagnóstico categorial (DSM-IV-TR)

Quanto ao diagnóstico multiaxial verificamos que no que concerne ao:

Eixo I: 296.3 Perturbação Depressiva Major Recorrente com Características

Melancólicas

Eixo II: V71.09 Sem diagnóstico [Z03.2]

Eixo III: Nenhum

Eixo IV: Problemas ocupacionais (conflitos e sobrecarga de tarefas), problemas

económicos (carência monetária) e problemas conjugais (instabilidade e infidelidade)

Eixo V: AGF=20

Mediante os critérios do DSM IV – TR, o diagnóstico mais provável no caso de “S”

será o de Perturbação Depressiva Major Recorrente, Grave com Características Melancólicas

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4.1.8. Formulação clínica

A paciente apresenta um quadro clínico que preenche os critérios de diagnóstico de

Perturbação Depressiva Major Recorrente com Características Melancólicas e, assim sendo, o

caso irá ser formulado de acordo com a perspetiva Cognitivo-Comportamental da Depressão.

Jeffrey Young (2003) desenvolveu dentro do modelo cognitivo-comportamental, uma

teoria denominada de Terapia dos Esquemas, apresentando 18 esquemas desadaptativos,

estáveis e duradouros que se desenvolvem durante a infância, sendo aperfeiçoados durante

toda a vida, inseridos em cinco domínios (Instabilidade e Desconexão; Autonomia

Prejudicada; Indesejabilidade; Autoexpressão Limitada e Gratificação Restrita), predispondo

os pacientes deprimidos a distorcer os eventos de uma forma muito característica e negativa.

Segundo Judith Beck (1964 as cited in Beck, 1995), a terapia cognitiva baseia-se no

modelo cognitivo, levantando a hipótese de que as emoções e os comportamentos dos

indivíduos são influenciados pela perceção dos acontecimentos do dia-a-dia, ou seja, as

circunstâncias por si só não determinam o que as pessoas sentem, mas induzem a forma como

estas processam a realidade. Para Beck, as disfunções psicológicas são caracterizadas por

diferentes esquemas cognitivos que, por sua vez, se expressam em distorções sistemáticas do

processamento, originando conceções cognitivas distorcidas.

Desta forma, o objetivo terapêutico da teoria cognitiva passa por restruturar e corrigir

os pensamentos distorcidos, através do desenvolvimento de estratégias pragmáticas que

produzam mudança e alívio dos transtornos emocionais (Knaapp & Beck, 2008).

Focando-nos no caso específico de “S”, podemos verificar que as áreas problemáticas

referem-se ao nível do relacionamento interpessoal e das competências pessoais, que se

traduzem numa diminuição face à vontade de viver.

Partindo do mencionado, a formulação do caso passa, primeiramente, pela

identificação e integração dos mecanismos psicológicos que aumentaram a vulnerabilidade da

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paciente para a problemática, apurando-se o facto de “S” vivenciar durante a infância e a

adolescência episódios de violência parental, vendo-se progressivamente, também no papel de

vítima durante a primeira relação amorosa.

Tais circunstâncias terão gerado esquemas desadaptativos precoces, conceito

defendido por Young, que dizem respeito a interpretações disfuncionais das experiências de

vida, nomeadamente, a construção da ideia de rejeição por parte do pai, que se traduz em

esquemas de Abandono/Instabilidade e Privação Emocional, sendo claramente percetíveis

quando “S” discursa acerca do divórcio: “Ninguém gosta de mim verdadeiramente…”; “O

meu pai nunca mais quis saber de mim…”, (Young, Klosko & Weishaar, 2008).

Por sua vez, o fator que terá precipitado o diagnóstico âncora estabelecido, poderá

associar-se ao facto de “S” ter ido viver com o atual namorado e os pais do mesmo, bem

como ter engravidado inesperadamente. Esta submeteu-se a um ritmo e a um estilo de vida

completamente diferente da que praticava até à data, tendo de se dedicar inteiramente às lides

domésticas, já que a mãe do namorado se encontra com mobilidade reduzida. Relativamente à

gravidez, “S” assumiu todas as responsabilidades e dedica-se inteiramente ao filho, uma vez

que o namorado não tem iniciativa de colaborar autonomamente nessa função, tendo esta de

cumprir todas as tarefas de forma a garantir o bem-estar da criança, emergindo em discussões

e conflitos.

São vários os mecanismos cognitivos que mantêm as problemáticas atuais de “S”,

verificando-se a presença de alguns erros cognitivos, nomeadamente o de magnificação

quando esta refere: “Há dias que não consigo cuidar tão bem do meu filho, sinto que sou tão

má mãe…”, depreciando a importância da ação, o de catastrofização: “Se eu acabar com este

relacionamento morre parte de mim…” e o de pensamento dicotómico, quando esta qualifica

a sua relação com o namorado como “Umas vezes amo-o, outras vezes odeio-o”, não

existindo meio-termo (Beck, 1995).

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Por sua vez, os mecanismos comportamentais refletem-se não só no facto de esta

continuar a limitar-se às tarefas e rotinas de casa, mas também à resistência em investir no

tratamento, prevalecendo um certo conformismo face à dissolução do problema. É ainda

possível de verificar o constante evitamento que “S” faz de situações que envolvam interação

social como, por exemplo, uma saída com colegas ou uma ida ao café.

Atualmente “S” dispõe de recursos que podem facilitar o sucesso terapêutico, tais

como a disponibilidade e preocupação da mãe para colaborar no processo, assim como o

apoio prestado pela equipa de saúde que a referenciou.

4.1.9. Plano de intervenção

O plano de intervenção foi aplicado segundo o modelo cognitivo de Beck (1995), que

como já foi referido, levanta a hipótese de que as emoções e os comportamentos dos

indivíduos são influenciados de acordo com a sua perceção dos acontecimentos.

Ao longo do tratamento, foi utilizada uma abordagem colaborativa e psicoeducativa

com o intuito de se realizar: a) Promoção e ativação comportamental; b) Identificação,

monitorização e validação de pensamentos automáticos; c) Relação entre cognição-emoção;

d) Identificação, monitorização e validação de crenças centrais e e) Prevenção de recaída.

Desta forma, a intervenção foi repartida por módulos, integrando as estratégias e as

técnicas utilizadas, bem como a respetiva descrição e justificação do uso das mesmas.

Módulo 1: “Promoção e ativação comportamental”

Estratégias e técnicas: Automonitorização; Diário de atividades e tarefas de casa.

Descrição e análise: O objetivo das técnicas comportamentais como a

automonitorização e o diário de atividades e tarefas de casa é o de aumentar o envolvimento

em diversas práticas, de forma a elevar o humor e a combater a depressão. Será proposto que

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“S” observe o seu padrão de atividades, envolvendo a manutenção de um registo detalhado do

que realiza ao longo do dia (de hora a hora), assinalando o nível de dificuldade e prazer antes

e depois de cada ação, levando a que esta tome consciência da satisfação naquilo que faz.

A automonitorização e o diário de atividades e tarefas de casa demonstram claramente

a relação existente entre o humor e as atividades praticadas, ou seja, é possível realizar uma

avaliação específica entre o prazer sentido e as dificuldades associadas aos pensamentos,

sendo que inicialmente “S” possuía pensamentos disfuncionais tais como: “Acho que nada do

que faço vale realmente a pena…; “Não me sinto bem em nada do que faço…”. Nesta fase de

intervenção foi fundamental explicarmos a “S” que até à data era normal sentir uma redução

significativa do nível de prazer nas atividades em que se envolvia e transmitir alguns

conceitos que permitiram à utente lidar com os sintomas de depressão de forma mais eficaz.

Foi também realizada uma atividade intitulada “Programação das minhas atividades”, na

qual “S” foi auxiliada a produzir e a planear atividades, podendo ser um determinante para

enfrentar sintomas comportamentais.

Módulo 2: “Identificação, monitorização e validação de pensamentos automáticos”

Estratégias e técnicas: Registo de pensamentos disfuncionais; Treino assertivo;

Restruturação cognitiva; Debate socrático; Treino de habilidades sociais.

Descrição e análise: Praticar a identificação de pensamentos automáticos foi o

segundo passo que demos com “S”. Desta forma, iniciamos com o registo de pensamentos

disfuncionais, avaliados numa escala de 0 a 100 (100 significa que a emoção está no seu grau

máximo, 50 moderada e assim sucessivamente), sendo que esta foi instruída a: a) identificar

as emoções e os sentimentos desagradáveis; b) identificar a/as situação/ões em que as mesmas

ocorrem; e c) identificar os pensamentos automáticos associados. Em seguida, foram postas

em prática técnicas como o treino assertivo, restruturação cognitiva, debate socrático e treino

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de habilidades sociais. O treino assertivo pressupôs o desenvolvimento de duas competências

fundamentais: a) a coordenação de perspetivas entre “S” e a psicóloga e b) a modificação das

suas próprias crenças depois de considerar as do outro. A restruturação cognitiva objetivou

que “S” tomasse consciência das suas próprias cognições, verificasse o quão racionais e

realistas eram e tivesse a possibilidade de corrigir essas mesmas cognições, através de

estratégias cognitivas (análise de evidências). Por sua vez, o uso do debate socrático consistiu

em conduzir “S” a um processo de reflexão e descoberta dos seus próprios valores. O treino

de habilidades sociais pretendeu promover capacidades de relacionamento social, tais como: a

postura, o falar, o saber ouvir, cumprimentar, saber iniciar e manter uma conversa, ser

assertiva e saber resolver problemas que possam surgir em contexto social.

Módulo 3: “Relação entre cognição-emoção”

Estratégias e técnicas: Automonitorização.

Descrição e análise: Nesta fase de intervenção já era esperado que “S” fosse capaz de

identificar, questionar, debater e confrontar os seus pensamentos automáticos negativos. Foi

fulcral realçar a importância da relação existente entre os pensamentos e os sentimentos

vivenciados, sublinhando várias vezes que a forma como esta pensa influência certamente o

seu humor, tendo sido previsto que “S” monitorizasse a relação entre estes para debatermos

alguns aspetos.

Módulo 4: “Identificação, monitorização e validação de crenças centrais”

Estratégias e técnicas: Exposição; Role-Playing; Restruturação cognitiva.

Descrição e análise: Esta fase previa a exposição a situações de role-playing com

respetiva restruturação cognitiva.

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Seria importante provocar a evocação de crenças centrais, identificar os erros

cognitivos presentes e fazer a sua substituição por pensamentos mais ajustados à realidade

através de estratégias cognitivas como a flecha descendente, concluindo ainda com uma

pequena reflexão das sensações experimentadas durante a estratégia de role-playing.

Módulo 5: “Prevenção de recaída: manutenção dos ganhos terapêuticos”

Descrição e análise: À medida que o final da intervenção se aproxima, muitos

pacientes preocupam-se com o facto de não serem capazes de enfrentar sozinhos as diversas

situações do quotidiano. Nesta fase era desejado que “S” expressasse isso mesmo e,

conjuntamente, elaborássemos planos para eventualmente lidar com tais situações, agindo

com eficácia e evitando a recaída. Era também pretendido que fosse realizada uma avaliação a

todo o processo terapêutico, onde pudéssemos identificar as mudanças ocorridas, bem como a

sua importância.

4.1.10. Ponto de situação e prognóstico

Apesar de não termos conseguido concluir o plano de intervenção devido ao

encaminhamento da paciente para Psiquiatria, verificaram-se progressos a vários níveis,

nomeadamente no que diz respeito à ativação comportamental e à redução da sintomatologia

depressiva, uma vez que “S” não exibe uma aparência tão triste nem tão descuidada.

No que se refere às tarefas de casa propostas, sempre foram cumpridas sem qualquer

tipo de manifestação resistente.

Foram somente realizadas quatro sessões de intervenção, com uma periocidade

quinzenal, uma vez que existiam dificuldades financeiras no suporte dos gastos com o

tratamento.

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4.1.11. Reflexão crítica

Foi um desafio trabalhar com “S”, devido às suas características pessoais. Esta não

acreditava em si nem na sua capacidade de mudança.

O processo de intervenção ainda estava numa fase muito inicial e longe de estar

terminado, tendo ficado registado em base de dados. Caso “S” ache necessário, poderá entrar

em contacto com o serviço e pedir remarcação de consulta.

4.2.Caso “A”

4.2.1. Identificação

A utente irá ser designada por “A” para que desta forma seja salvaguardada a sua

privacidade e confidencialidade.

É do sexo feminino, tem 14 anos, vive com os pais, é filha única e frequenta o 8º ano

de escolaridade.

4.2.2. Motivo/queixa principal

O pedido de avaliação psicológica foi solicitado pela médica de família a pedido da

mãe.

No que diz respeito ao motivo/ queixa principal, a mãe de “A” menciona que desde há

um ano e meio que esta apresenta dificuldades em aceitar regras, atos agressivos

desencadeados por situações de frustração e comportamentos antissociais de gravidade

variável (mentiras, fugas, etc). Acrescenta também que quando “A” está em casa,

nomeadamente ao fim de semana, sente tristeza e apatia.

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4.2.3. Protocolo de Avaliação

Com o objetivo de se chegar a um diagnóstico, foram planeadas três consultas de

avaliação, tendo decorrido nas primeiras três sessões com recurso ao Modelo Multiaxial de

Achenbach, especificamente, a SCICA, o YSR e a CBCL. Recorreu-se também a uma

entrevista clínica semiestruturada aos pais e, numa última sessão, foi aplicado o CDI à

adolescente. Embora se tenha solicitado à professora titular de turma o preenchimento da

TRF, esta não se mostrou disposta a colaborar.

4.2.4. Problema e história do problema

Como já foi referido anteriormente, as queixas surgiram desde há um ano e meio. Foi

após a entrada no terceiro ciclo que “A” passou a manifestar comportamentos impulsivos e

agressivos contra o grupo de pares, chegando mesmo a envolver-se em lutas físicas. A nível

verbal é de salientar que esta usa linguagem imprópria, quer seja em contexto sala de aula

quer seja em casa com os pais.

A adolescente é também acusada da prática de bullying, sendo a principal suspeita pela

criação de uma página de facebook ofensiva e injuriosa contra uma colega, estando a

integridade física da vítima em causa.

Uma vez que o teor das práticas é considerado muito grave, entidades superiores como

a CPCJ, tribunal de menores e PSP já se encontram a par de todo o processo, estando em

alerta constante para qualquer ocorrência inopinada.

Foram aplicadas várias estratégias na escola com a finalidade de integrar a adolescente

e derivar na manutenção do equilíbrio emocional da mesma, uma vez que o seu grupo de

pares é considerado disfuncional, acusado pela prática de vandalismo e afetado pelo abuso de

substâncias, contudo sem sucesso.

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Cansada e esgotada de toda esta situação e sem encontrar qualquer alternativa

possível, a mãe de “A” decide mudá-la de escola, todavia, os distúrbios, as mentiras e as

fugas constantes permanecem na vida da filha.

Se até ao sétimo ano “A” tinha expetativas para o futuro e era uma boa aluna, com o

emergir de toda esta situação o seu rendimento académico encontra-se em decréscimo,

podendo mesmo não transitar de ano.

4.2.5. História do desenvolvimento psicossocial

“A” é fruto de uma gravidez desejada, uma gestação e um parto que correram dentro

da normalidade. No seu desenvolvimento a mãe não aponta quaisquer problemas: “Correu

sempre tudo bem… Nunca houve queixas e sempre teve uma saúde saudável”. Vive com os

pais, contudo, a relação entre os três é conflituosa e baseia-se em mentiras. A mãe

desempenha funções administrativas de contabilidade e o pai é serralheiro.

Grande parte da infância foi partilhada com a avó, sendo descrita pela mãe como um

período “feliz e sem grandes dificuldades”. Dormiu na cama dos pais até aos 6 anos porque

“ela gostava de ir para o nosso meio… Ainda pede para vir quando está envolvida em

confusões graves”.

Quando entrou para o jardim-de-infância e, posteriormente, aos 6 anos para a escola

primária, tudo era considerado como “excelente” a nível social e comportamental. Com a

transição para o 2ºciclo tudo continuou a ser benéfico para o seu desenvolvimento, porém, a

passagem para o terceiro ciclo é marcada drasticamente.

Segundo o pai, a adolescente sempre foi bastante mimada pela mãe e nunca existiram

regras estabelecidas por parte desta “A “A” sempre fez o que quis desde pequena… Sabia

mesmo que se fizesse asneiras em casa não lhe acontecia nada…A minha esposa protegia-a

de tudo e eu não podia dizer nada…Ainda agora é assim”.

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Com o passar dos anos, a relação entre os pais foi-se agravando significativamente,

estando esta exposta a situações de violência verbal. Por sua vez, o seu grupo de pares

vagarosamente foi alterado, reunindo-se nos intervalos com colegas considerados

disfuncionais e consumidores de substâncias. Progressivamente, “A” começou a fumar e

chegou a experimentar cannabis, a desenvolver comportamentos agressivos e a envolver-se

frequentemente em lutas físicas, prejudicando o seu rendimento académico.

“A” atualmente frequenta o 8ºano, todavia mudou de escola no 2º período devido ao

agravar de toda a situação, tendo-se em consideração e especial atenção o comportamento e

aproveitamento escolar.

4.2.6. Resultados dos instrumentos psicométricos

Ao analisar os resultados do YSR, verificamos que “A” manifesta uma semelhante

propensão para internalizar (INT T=33) e externalizar (EXT T=33) os acontecimentos. Dentro

das várias dimensões da escala de internalização, foi possível observar um índice elevado na

de ansiedade/depressão (23). A dimensão dos problemas de atenção encontra-se na zona

limite para se poder considerar que a mesma se encontra perturbada. Quanto às dimensões de

externalização, observamos que o comportamento delinquente (11) e o comportamento

agressivo (22) se encontram um pouco acima da linha de corte.

No que diz respeito aos resultados obtidos com a aplicação do CDI, confere-se que o

valor obtido (Nota T=13) se encontra abaixo do ponto de corte estabelecido, não evidenciando

a presença de sintomatologia depressiva.

De acordo com a CBCL preenchida pelos pais de “A”, à semelhança dos valores

obtidos no YSR, concluímos novamente que a adolescente apresenta uma semelhante

tendência para internalizar (INT T=13;16) e externalizar (EXT T=15;17) os acontecimentos,

ou seja, os valores entre as cotações são muito próximas.

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4.2.7. Diagnóstico categorial (DSM-IV-TR)

Quanto ao diagnóstico multiaxial verificamos que no que concerne ao:

Eixo I: 312.82 Perturbação do comportamento, com início na adolescência, moderada

Eixo II: V71.09 Sem Diagnóstico [Z03.2]

Eixo III: Nenhum

Eixo IV: Problemas com o grupo de apoio primário (superproteção por parte dos pais),

problemas relacionados com o ambiente social (envolvimento em lutas físicas, mentiras,

fugas, etc), problemas educacionais (rendimento escolar em decréscimo)

Eixo V: AGF=20

Mediante os critérios do DSM IV – TR, o diagnóstico mais provável no caso de “A”

será o de Perturbação do Comportamento, com início na adolescência, moderada.

4.2.8. Formulação clínica

A paciente apresenta um quadro clínico que preenche os critérios de diagnóstico de

Perturbação do Comportamento, com início na adolescência, moderada.

Focando-nos especificamente nas áreas problemáticas de “A”, evidenciamos que estas

se referem ao nível do relacionamento interpessoal e das competências pessoais, traduzindo-

se em atos hostis e agressivos. Neste sentido, o caso irá ser formulado de acordo com a

perspetiva Cognitivo-Comportamental tendo como foco “A”, contudo, a intervenção será

centrada nos pais, uma vez que a adolescente não se mostrou disposta a colaborar e recusou-

se a frequentar as consultas de Psicologia.

A atuação dos pais, na maioria das vezes das mães, como co-terapeutas apresenta

diversas vantagens, mas nem sempre é fácil de implementar. A técnica exige uma análise

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muito cuidadosa do potencial da família, uma vez que existe o risco de aumentar o desajuste.

Alguns autores consideram, inclusive, que a presença de patologias num dos elementos são

contraindicações para a utilização deste tipo de abordagem (Barkley, 1997).

Desta forma, a formulação do caso passa, primeiramente, pela identificação e

integração dos mecanismos psicológicos que aumentaram a vulnerabilidade da paciente para a

problemática, apurando-se o facto do ambiente familiar de “A” ser pautado por exposição a

violência verbal e existir superproteção por parte da mãe. A relação entre os pais da

adolescente foi-se agravando significativamente ao longo dos anos, estando esta

constantemente perante discussões, mentiras e conflitos. Por sua vez a mãe, na tentativa de

compensar toda esta situação, foi prestando cuidados excessivos à filha que impediram um

desenvolvimento harmonioso e saudável.

Estes acontecimentos fizeram com que “A” desenvolvesse alguns esquemas

desadaptativos (Young, 1992), nomeadamente o de Dependência Funcional e Subjugação,

uma vez que exprime raiva perante a mãe por esta a ter superprotegido e condicionado

determinadas decisões.

Segundo Barkley (1997), os pais superprotetores tendem a restringir o comportamento

dos seus filhos e a encorajar ativamente a dependência e a proximidade a estes, em detrimento

do reforço para a tomada de decisões para além do círculo familiar. O autor menciona ainda

que o controlo comportamental excessivo está primordialmente associado a problemas

externalizadores entre adolescentes e, que por sua vez, o controlo psicológico excessivo se

relaciona tanto com problemas internalizadores como externalizadores.

Com efeito, o fator precipitante poderá associar-se ao facto de “A” se apresentar

bastante frágil pelas situações referidas anteriormente e de na transição para o 3ºciclo ter

modificado totalmente o seu grupo de pares, integrando-se num meio disfuncional, onde

identificamos fatores de alto risco como o abuso de substâncias e atitudes delinquentes.

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São ainda vários os mecanismos comportamentais que mantêm as problemáticas atuais

de “A”, refletindo-se não só no facto de esta continuar a relacionar-se com um grupo

disfuncional mas também por apresentar resistência em investir no tratamento, prevalecendo a

ideia de que todas estas atitudes praticadas são típicas da adolescência.

Contudo, atualmente “A” dispõe de alguns recursos que podem ser potencialmente

facilitadores no processo de mudança, nomeadamente a preocupação e o esforço dos pais em

colaborar assertivamente no procedimento e o gosto que “A” nutre pela igreja.

4.2.9. Plano de intervenção

O plano de intervenção foi concebido segundo o programa de treino para pais proposto

por Barkley (1997), ambicionando que os pais de “A” desenvolvam uma atitude mais positiva

em relação à filha, contribuindo para que haja progressos no seio familiar.

Através de técnicas como o recreio especial, time-out, abstração seletiva aos

comportamentos obedientes, treino de obediência economia de fichas e outras, os pais são

ensinados a trabalhar a motivação da adolescente, acabando estes por adquirir um valor muito

maior como reforçadores.

O presente programa é composto por dez sessões e possui um número restrito de

objetivos mas, apesar disso, é altamente efetivo no cumprimento dos mesmos com a maioria

das famílias, sendo estes: a) aperfeiçoar as capacidades de controlo dos pais e a sua

competência para a gestão de problemas de comportamento, particularmente a desobediência

ou comportamento desafiante, b) alargar o conhecimento dos pais sobre as causas do

comportamento desafiante, os princípios e os conceitos que estão na base da educação social

de tal comportamento, c) melhorar a obediência através de comandos, diretivas e regras

estabelecidas pelos pais e d) implementar harmonia no seio familiar através do reforço

parental positivo, providência de linhas de orientação, regras e instrução, etc.

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Sessão 1: “A razão do Mau Comportamento”

Estratégias e técnicas: Questionário relativo às características dos pais e da

adolescente; Escala de Classificação dos Transtornos Disruptivos de Comportamento –

Formulário Parental.

Descrição e análise: É desejado que durante a sessão os pais sejam instruídos a

compreender o motivo do comportamento destrutivo de “A” e a identificar os potenciais

catalisadores de comportamento desviante que possam subsistir na sua família.

Sessão 2: “Preste atenção!”

Estratégias e técnicas: Recreio especial.

Descrição e análise: O objetivo primordial da sessão nº2 recai sobre a implementação

de um padrão de interação mais positivo entre “A” e os pais. Para que tal seja exequível, estes

devem aprender a estar atentos quando a adolescente pratica boas ações e tem um bom

comportamento, valorizando-o.

Sessão 3: “Reforço da obediência e atuação independente”

Estratégias e técnicas: Role-playing.

Descrição e análise: No decorrer da sessão, através de role-playing, os pais irão

aprender não só a valorizar os comportamentos de “A”, mas também a elogia-la quando atua

independentemente ou obedece e cumpre as regras estabelecidas. Resumidamente, é esperado

que os pais aumentem a monitorização do comportamento da adolescente.

Sessão 4: “Quando o elogio não é suficiente: sistema de economia de fichas”

Estratégias e técnicas: Sistema de economia de fichas.

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Descrição e análise: É frequente que o louvor e o elogio transmitidos pelos pais não

sejam suficientes para a adolescente. Neste sentido, é necessário que se estabeleça um método

formal que torne contingente os benefícios desta com a sua obediência, recorrendo-se a um

sistema simbólico como é o caso do sistema de economia de fichas.

Sessão 5: “Time Out! Outros Métodos Disciplinares”

Estratégias e técnicas: Time-out.

Descrição e análise: A sessão será disponibilizada para se exercitar o uso efetivo do

Time-out em resposta a determinados comportamentos de “A, introduzindo o uso da punição,

todavia, esta deve ser adequada, sistemática e coerente, não-física e aplicada sem sentimentos

de raiva ou perda de autocontrolo.

Sessão 6: “Aplicação do Time-out a outras formas de mau comportamento”

Estratégias e técnicas: Time-out.

Descrição e análise: A sessão será destinada à revisão dos momentos em que o Time-

out foi utilizado com “A”, às sensações dos pais em relação a isso e aos problemas que

eventualmente surgiram na implementação do mesmo, uma vez que podem ter sido

identificados obstáculos.

Sessão 7: “Antecipação dos problemas”

Estratégias e técnicas: Incentivo e punição moderada; Antecipação.

Descrição e análise: A chave para sucesso no caso de “A” passa por antecipar e evitar

problemas de comportamento. Através da técnica do incentivo e punição moderada e da

antecipação, iremos promover e ensinar aos pais diversas formas de evitar o mau

comportamento da adolescente em locais públicos.

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Sessão 8: “Melhorando o comportamento escolar a partir de casa”

Estratégias e técnicas: Ficha diária de comportamento na escola.

Descrição e análise: Juntamente com os pais iremos rever a natureza dos problemas

que “A” apresenta em ambiente escolar, instruindo-os com a implementação e os

procedimentos necessários para utilizar na ficha diária de comportamento na escola.

Sessão 9: “Gerir futuros problemas comportamentais”

Estratégias e técnicas: Automonitorização.

Descrição e análise: A sessão nove auxiliará os pais da adolescente a refletir e a

automonitorizar futuros problemas de comportamento que possam surgir, empregando os

métodos transmitidos para a resolução desses mesmo problemas. Estes serão também

preparados para o término da terapia.

Sessão 10: “Sessões de acompanhamento”

Estratégias e técnicas: Questionário relativo às características dos pais e da

adolescente; Escala de Classificação dos Transtornos Disruptivos de Comportamento –

Formulário Parental.

Descrição e análise: A décima e última sessão terá como finalidade primordial rever

todas as estratégias e métodos implementados, reavaliando o nível do transtorno

comportamental de “A” após o término do plano de intervenção.

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4.2.10. Ponto de situação e prognóstico

O caso de “A” foi atribuído para avaliação e, posteriormente, respetiva intervenção no

final de Abril, o que impossibilitou que conseguíssemos cumprir o plano na integra. Foram

realizadas seis consultas de frequência semanal ou quinzenal, dependendo da disponibilidade

da mãe.

Apesar do mencionado, verificaram-se alguns progressos a nível comportamental. A

mãe afirma que a promoção da autonomia imposta ao casal relativamente ao autocontrolo das

atitudes da adolescente está a surtir efeitos, verificando-se em “A” mais respeito e um grande

esforço para cumprir as regras deliberadas para as férias de Verão.

Todas as informações relativas ao caso de “A” foram encaminhadas para a Doutora

Ilda Caetano, que dará continuidade ao processo.

4.2.11. Reflexão crítica

O caso de “A” foi desde logo o mais exigente. Durante a fase de avaliação “A”

assumiu uma postura de desafio, dizendo frequentemente não saber o motivo pelo qual ias às

consultas, que não se passava nada com ela e que a vida lhe corria bem. Posteriormente,

negou-se a ir às consultas e a intervenção foi realizada a nível parental.

Inicialmente senti-me um pouco frustrada com a circunstância, por ter sentido que da

parte da utente não havia empenho e interesse no processo terapêutico. Contudo e após

existirem algumas melhorias significativas, penso que a médio-longo prazo será um caso de

sucesso.

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5. Reflexão crítica

No decurso dos vários anos que compõem uma licenciatura e, posteriormente, o

mestrado, somos continuamente preparados para uma realidade que depende muito da nossa

dedicação, empenho e, acima de tudo, formação.

Ao deparar-me com um serviço clínico como o ACeS Espinho/Gaia verifiquei que, de

facto, existe uma aliança entre a prática clínica e os diversos conhecimentos transmitidos e

adquiridos.

Contudo, surgem dificuldades quando estamos justamente a trabalhar/intervir

diretamente com os pacientes, nomeadamente quanto ao manuseamento de alguns

instrumentos de avaliação que à partida deveríamos estar aptos a aplicar.

Com a concretização do estágio curricular, foi-me dada a possibilidade de enriquecer a

minha aprendizagem a dois níveis, particularmente a nível profissional e pessoal. A nível

profissional, permitiu-me alargar o contacto com diversas problemáticas e, em termos

pessoais, posso afirmar que senti um grande crescimento e um aumento da responsabilidade,

bem como uma maior capacidade para empatizar com o outro.

Julgo que algumas vezes senti uma enorme insegurança, devido à pressão a que

estamos sujeitos nesta fase como estudantes, na medida em que exigiu de mim uma maior

dedicação e paixão pela atividade profissional. Em poucas palavras, as dificuldades foram

sentidas, mas ultrapassadas. As angústias foram algumas, mas todas superadas. A ansiedade e

a tensão constante, associadas à vontade de vencer foram permanentes, mas vencidas.

No fim de tudo, ainda não me sinto realmente como Psicóloga, mas como aprendiz.

Todavia, creio que esta postura não tira credibilidade ao meu profissionalismo, pois enquanto

houver humildade profissional, certamente haverá espaço também para fazer uma introspeção

na qualidade que deposito na forma como atuo enquanto Psicóloga.

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