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Supremo Tribunal de Justiça 5.ª Secção Criminal Proc. n.º 129 / 16. 3JBLSB.L1. S1 Página 1 de 90 Proc. n.º 129 / 16. 3JBLSB.L1. S1 Acordam, precedendo conferência, os juízes do Supremo Tribunal de Justiça I. 1. Nos autos de processo comum em referência, do Tribunal Judicial da Comarca de Juízo Central Criminal de Juiz 2, em Processo Comum, com intervenção do Tribunal Colectivo, foram os arguidos AA, BB e CC condenados, por acórdão de 30/11/2018, nos seguintes termos: a) AA, pela prática, como co- autor material 1 , de um crime de roubo, p. e p. pelo artigo 210.°, n°s 1 e 2, alínea b), por referência ao artigo 204.°, n.° 2, alínea a), do Código Penal (CP), na pena de 8 anos e 6 meses de prisão; b) BB, pela prática, como co- autor material 2 , de um crime de roubo, p. e p. pelo artigo 210.°, n.ºs 1 e 2, alínea b), por referência ao artigo 204.°, n° 2, alínea a), do CP, na pena de 8 anos e 6 meses de prisão; Pela prática, em autoria material, de um crime de tráfico de estupefacientes, p. e p. pelo artigo 21.°, n° 1, do Decreto-Lei n° 15/93, de 22/01, por referência às tabelas anexas I-B e I-C, na pena de 5 anos de prisão; Pela prática, em autoria material, de um crime de detenção de arma proibida, p. e p. pelos artigos 2.°, n.ºs 1, alíneas p), q) e x) e 3, alínea p), 3.°, n.ºs 1 e 2, alíneas g), 1) e q) e 4 e 86.°, n.° 1, alínea c), da Lei n.° 5/2006, de 23/02, na pena de 1 ano e 4 meses de prisão; 1 Conforme o dispositivo do Acórdão do TRL, alínea A) em que se procedeu á correcção do dispositivo do acórdão de 1.ª Instância. 2 idem

Supremo Tribunal de Justiça 5.ª Secção Criminal I. · Supremo Tribunal de Justiça (STJ), apresentando as seguintes conclusões que se transcrevem: (…) 1. Apesar da vigilância

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Supremo Tribunal de Justiça

5.ª Secção Criminal

Proc. n.º 129 / 16. 3JBLSB.L1. S1

Página 1 de 90

Proc. n.º 129 / 16. 3JBLSB.L1. S1

Acordam, precedendo conferência, os juízes do Supremo Tribunal de Justiça

I.

1. Nos autos de processo comum em referência, do Tribunal Judicial da Comarca de …

— Juízo Central Criminal de … — Juiz 2, em Processo Comum, com intervenção do

Tribunal Colectivo, foram os arguidos AA, BB e CC condenados, por acórdão de

30/11/2018, nos seguintes termos:

a) AA, pela prática, como co- autor material 1, de um crime de roubo, p. e p.

pelo artigo 210.°, n°s 1 e 2, alínea b), por referência ao artigo 204.°, n.° 2,

alínea a), do Código Penal (CP), na pena de 8 anos e 6 meses de prisão;

b) BB, pela prática, como co- autor material 2, de um crime de roubo, p. e p.

pelo artigo 210.°, n.ºs 1 e 2, alínea b), por referência ao artigo 204.°, n° 2,

alínea a), do CP, na pena de 8 anos e 6 meses de prisão;

Pela prática, em autoria material, de um crime de tráfico de estupefacientes,

p. e p. pelo artigo 21.°, n° 1, do Decreto-Lei n° 15/93, de 22/01, por

referência às tabelas anexas I-B e I-C, na pena de 5 anos de prisão;

Pela prática, em autoria material, de um crime de detenção de arma proibida,

p. e p. pelos artigos 2.°, n.ºs 1, alíneas p), q) e x) e 3, alínea p), 3.°, n.ºs 1 e 2,

alíneas g), 1) e q) e 4 e 86.°, n.° 1, alínea c), da Lei n.° 5/2006, de 23/02, na

pena de 1 ano e 4 meses de prisão;

1 Conforme o dispositivo do Acórdão do TRL, alínea A) em que se procedeu á correcção do dispositivo

do acórdão de 1.ª Instância. 2 idem

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Após cúmulo jurídico, foi aplicada ao arguido BB a pena única de 10 anos e

6 meses de prisão;

c) CC, pela prática, como co- autor material3, de um crime de roubo, p. e p. pelo

artigo 210.°, n.ºs 1 e 2, alínea b), por referência ao artigo 204.°, n° 2, alínea

a), do CP, na pena de 8 anos e 6 meses de prisão;

Pela prática, em autoria material, de um crime de detenção de arma proibida,

p. e p. pelos artigos 2.°, n.° 3, alínea p) e 86.°, n.° 1, alínea d), da Lei n°

5/2006, de 23/02, na pena de 4 meses de prisão;

Após cúmulo jurídico, foi condenado na pena única de 8 anos e 8 meses de

prisão;

d) Foram ainda os arguidos condenados a pagar, solidariamente, à demandante

"ESEGUR", a quantia de 64.000,00 euros, a título de indemnização, acrescida

de juros legais, à taxa de 4% ao ano, contados desde a data da prática dos

factos até integral pagamento.

2. Vieram os 3 arguidos interpor recurso para o Tribunal da Relação de Lisboa (TRL),

tendo sido proferido acórdão em 9 de Abril de 2019, o qual negou provimento aos

recursos interpostos e manteve a decisão recorrida.

3. Inconformado veio o arguido CC interpôr recurso deste Acórdão do TRL para este

Supremo Tribunal de Justiça (STJ), apresentando as seguintes conclusões que se

transcrevem:

(…)

1. Apesar da vigilância do OPC ter sido curta e fugaz na visualização dos suspeitos,

não realizaram a prova por reconhecimento.

2. Os inspectores da PJ identificaram os autos do crime primeiramente pela exibição

fotográfica dos clichés policiais.

3 idem

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3. O artigo 147º do CPP, diz que a prova por reconhecimento fotográfica só vale como

meio de prova de houver lugar de seguida à prova por reconhecimento pessoal, o que

não sucedeu.

4. O reconhecimento fotográfico efectuado aos arguidos não tem assim valor

probatório.

5. As vigilâncias efectuadas pelo OPC foram efectuadas sem recurso a quaisquer

mecanismos ópticos para além do olho humano.

6. A defesa crê que houve erro sobre a identidade dos assaltantes, o que vem explicar a

ausência de actuação por parte da PJ, tanto no local dos factos como posteriormente.

7. Da busca domiciliária realizada à habitação do recorrente não resultou nenhuma

apreensão de arma de fogo.

8. Naquela residência nem noutro qualquer lugar.

9. A condenação do recorrente dever ser consonante com a mera posse de tais

munições, uma vez que não é possível determinar a detenção de tais munições com o

propósito de se defender, dada a inexistência de mecanismo capaz de as deflagrar,

mitigando assim o perigo que as mesmas, por si só, acarretam.

10. Pelo exposto deve o recorrente ser condenado numa pena de multa pelo crime de

detenção de arma proibida.

11. Os inspectores da PJ foram incapazes de fazer uma descrição do rosto das pessoas,

tendo apenas apreendido, a estatura física e o tamanho do cabelo, para além da raça.

12. Em momento algum foram as testemunhas capazes de descrever o rosto, a sua

forma, os olhos, a sua forma e cor, o nariz, o seu tamanho, a boca, o seu tamanho, as

orelhas.

13. Isto é, todos os traços característicos de um indivíduo e que os distiguem dos

demais em termos de estatura, raça e cabelo.

14. Indivíduos, como os descritos pelos Srs. Inspectores da PJ existem aos milhares.

15. Daqui se depreende a necessidade de se fazer descrições detalhadas de indivíduos

que se devam reconhecer para que não ocorram erros na sua identificação.

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16. E por isso mesmo, a exigência legal constante do artigo 147º do CPP, cujas

formalidades servem para a afastar o convencimento subjectivo do indivíduo

reconhecedor.

17. Todo o procedimento efectuado pela PJ na procura da identificação dos autores do

ilícito foi em total arrepio do disposto no artigo 147º do CPP, uma vez, que resultava

da mais elementar prudência investigatória, alhear as pessoas que devessem

reconhecer de qualquer outra informação que pudesse influenciar a sua capacidade de

reconhecimento, tal como a observação de clichés fotográficos dos tomadores de

seguros dos veículos automóveis, ou de co-arguidos de anteriores processos.

18. Pelo que, ao contrário do referido no acórdão recorrido, foram observadas

fotografias, que foram reconhecidas, pelo que não se poderá deixar de qualificar tal

acto investigatório como um reconhecimento fotográfico, ao arrepio, dizemos nós

novamente, da imposição legal do artigo 147º do CPP.

19. Realça-se que a identificação dos autores do ilícito dos autos não era cabal, logo,

IMPERAVA a necessidade de se efectuar a prova por reconhecimento.

20. Porque se assim não for dar-se-à toda a credibilidade a uma testemunha, apenas

porque é elemento de um OPC, o que não faz sentido, porque um polícia, não deve ter

maior credibilidade que uma vítima, e a esta impôe-se, quando a identificação não é

cabal, que se proceda aos formalismos legais do artigo 147º do CPP.

21. A prova por reconhecimento, por si só é já uns dos meios probatórios que erros

judiciários produz, independentemente do cumprimento das formalidades legais do

artigo 147º do CPP.

22. O que se dirá, então, quando o OPC acha que não tem necessidade de ele próprio

ser sujeito a tal meio probatório. Com todo o devido respeito pela autoridade policial,

não existem treinos especializados para reconhecimentos que os dotem de capacidades

acima das demais pessoas.

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23. Pelo contrário, a observação de milhares de indivíduos no decurso de uma

vigilância, pode, porque compreensível que assim aconteça, levar à confusão com

outros indivíduos.

24. Neste sentido, não podemos deixar de fazer referencia à associação

https://www.innocenceproject.org, sediada nos EUA, que se dedica em exclusivo ao

estudo de processos-crime que resultaram em condenações baseadas no

reconhecimento pessoal, e que comparados as análises recolhidas com os exames mais

modernos, como o ADN, que não existiam à altura, levaram a resultados

impressionantes da verificação da inocência dos indivíduos condenados, muitos a

penas perpétuas.

25. O que vem provar que o reconhecimento de alguém é muito subjectivo e capaz de

criar os maiores erros judiciários, apenas porque a vitima/testemunha, convence-se de

que o indivíduo é aquele que viu noutro momento anterior, transmitindo uma confiança

tal ao julgador que não tem outra alternativa que não a condenação do indivíduo

alegadamente reconhecido.

26. Tal entendimento e verificação, não são exclusivos da jurisprudência internacional,

uma vez que o Sr. Juiz Desembargador Carlos Almeida, no acórdão proferido pela 3ª

secção criminal do Tribunal da Relação de Lisboa no processo nº 2691/2004 de 12-05-

2004, entende que o meio probatório de reconhecimento pessoal é capaz de levar aos

maiores erros de julgamento.

27. De qualquer forma, entendemos que a medida da pena excede a medida da sua

culpa, porquanto das movimentações descritas estamos perante um mero condutor de

uma viatura.

28. Sempre se dirá e ao contrário do afirmado no acórdão recorrido, que a actuação

dos assaltantes é tudo menos profissional e organizada, uma vez que usaram os seus

próprios veículos para cometer um assalto (o que é contrário à regra da normalidade e

às regras da experiência comum) e a dada altura, exibiram-se para os inspectores da

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PJ que ali se encontravam em acção de vigilância, abrindo os vidros escurecidos das

suas viaturas e encetando perseguições ao mesmo inspectores.

29. Refere o artigo 40º do Código Penal no seu n º 1 que a aplicação de penas e de

medidas de segurança visa a proteção de bens jurídicos e a reintegração do agente na

sociedade.

30. Segundo a doutrina da prevenção especial positiva, a medida da necessidade de

socialização do agente é o critério decisivo das exigências de prevenção especial. Tudo

depende da forma como o agente se revelar, carente ou não de socialização. Se uma tal

carência se não verificar tudo se resumirá em termos de prevenção especial, em

conferir à pena uma função de suficiente advertência.

31. É uma pena justa aquela que responda adequadamente às exigências preventivas e

não exceda a medida da culpa.

32. O dever de compaixão, no fundo, é uma ideia de justiça que considera na sua

plenitude a pessoa que está a ser julgada, não apenas pelo que fez, mas também pelo

que é – Fernanda Palma.

33. O Direito Penal não é moral e a pena não é uma descida às profundezas dos

infernos – Figueiredo Dias

34. E ter sempre presente que o penalista fica na mão com uma pessoa, o criminoso e,

por seu intermédio como toda a condição humana, a pessoa em todos os seus

condicionalismos – Figueiredo dias

35. Até porque as “personalidades psicopáticas” - para além de fazerem sofrer a

sociedade, também sofrem pela sua anormalidade – Schneider

36. Daí que a pena de prisão para o comportamento global do recorrente apareça

desproporcionado.

37. A fixar-se um juízo de censura jurídico-legal haverá que ser ponderado o futuro do

agente numa perspetiva de contribuição para a sua recuperação como indivíduo dentro

dos cânones da sociedade.

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38. Quanto às exigências de prevenção especial, sempre se dirá a experiência prisional

(do sofrimento que é uma privação de liberdade) aliado ao suporte familiar, e com a

imposição de tratamento da sua problemática aditiva, permitem concluir pelo juízo de

prognose favorável na sua reinserção.

39. Perante o exposto pugnamos por uma condenação não superior a 5 anos de prisão

pela prática do crime de roubo. Dever-se-à condenar o recorrente numa pena de multa

pela prática do crime de detenção de arma proibida.

Violaram-se os artigos:

• Artigo 147º do CPP, porquanto não se procedeu a um reconhecimento pessoal aos

arguidos, sendo que o reconhecimento fotográfico efectuado carece de valor

probatório.

• Artigo 40º e 71º do CP, porquanto a medida da culpa excede a medida da pena.

Nestes termos deve o presente recurso obter provimento, por provado, declarando-se a

falta de valor probatório da identificação efectuada pela PJ ao recorrente, com todas

as consequências legais, nomeadamente a repetição do julgamento de 1ª instância

sem a referida prova. Se assim se não entender dever-se-á condenar o recorrente

numa pena de 5 anos de prisão pela prática do crime de roubo e numa pena de multa

pela prática do crime de detenção de arma proibida.

(…).

4. Também o arguido BB veio interpôr recurso do Acórdão do TRL para este STJ,

apresentando as seguintes conclusões que se transcrevem:

(…)

1. O recorrente confessou o crime de tráfico de estupefacientes e de detenção de arma

proibida.

2. Apesar da vigilância do OPC ter sido curta e fugaz na visualização dos suspeitos,

não realizaram a prova por reconhecimento.

3. Os inspectores da PJ identificaram os autos do crime primeiramente pela exibição

fotográfica dos clichés policiais.

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4. O artigo 147º do CPP, diz que a prova por reconhecimento fotográfica só vale como

meio de prova de houver lugar de seguida à prova por reconhecimento pessoal, o que

não sucedeu.

5. O reconhecimento fotográfico efectuado aos arguidos não tem assim valor

probatório.

6. As vigilâncias efectuadas pelo OPC forma efectuadas sem recurso a quaisquer

mecanismos ópticos para além do olho humano.

7. A defesa crê que houve erro sobre a identidade dos assaltantes, o que vem explicar a

ausência de actuação por parte da PJ, tanto no local dos factos como posteriormente.

8. Os inspectores da PJ foram incapazes de fazer uma descrição do rosto das pessoas,

tendo apenas apreendido, a estatura física e o tamanho do cabelo, para além da raça.

9. Em momento algum foram as testemunhas capazes de descrever o rosto, a sua forma,

os olhos, a sua forma e cor, o nariz, o seu tamanho, a boca, o seu tamanho, as orelhas.

10. Isto é, todos os traços característicos de um indivíduo e que os distiguem dos

demais em termos de estatura, raça e cabelo.

11. Indivíduos, como os descritos pelos Srs. Inspectores da PJ existem aos milhares.

12. Daqui se depreende a necessidade de se fazer descrições detalhadas de indivíduos

que se devam reconhecer para que não ocorram erros na sua identificação.

13. E por isso mesmo, a exigência legal constante do artigo 147º do CPP, cujas

formalidades servem para a afastar o convencimento subjectivo do indivíduo

reconhecedor.

14. Todo o procedimento efectuado pela PJ na procura da identificação dos autores do

ilícito foi em total arrepio do disposto no artigo 147º do CPP, uma vez, que resultava

da mais elementar prudência investigatória, alhear as pessoas que devessem

reconhecer de qualquer outra informação que pudesse influenciar a sua capacidade de

reconhecimento, tal como a observação de clichés fotográficos dos tomadores de

seguros dos veículos automóveis, ou de co-arguidos de anteriores processos.

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15. Pelo que, ao contrário do referido no acórdão recorrido, foram observadas

fotografias, que foram reconhecidas, pelo que não se poderá deixar de qualificar tal

acto investigatório como um reconhecimento fotográfico, ao arrepio, dizemos nós

novamente, da imposição legal do artigo 147º do CPP.

16. Realça-se que a identificação dos autores do ilícito dos autos não era cabal, logo,

IMPERAVA a necessidade de se efectuar a prova por reconhecimento.

17. Porque se assim não for dar-se-à toda a credibilidade a uma testemunha, apenas

porque é elemento de um OPC, o que não faz sentido, porque um polícia, não deve ter

maior credibilidade que uma vítima, e a esta impõe-se, quando a identificação não é

cabal, que se proceda aos formalismos legais do artigo 147º do CPP.

18. A prova por reconhecimento, por si só é já uns dos meios probatórios que erros

judiciários produz, independentemente do cumprimento das formalidades legais do

artigo 147º do CPP.

19. O que se dirá, então, quando o OPC acha que não tem necessidade de ele próprio

ser sujeito a tal meio probatório. Com todo o devido respeito pela autoridade policial,

não existem treinos especializados para reconhecimentos que os dotem de capacidades

acima das demais pessoas.

20. Pelo contrário, a observação de milhares de indivíduos no decurso de uma

vigilância, pode, porque compreensível que assim aconteça, levar à confusão com

outros indivíduos.

21. Neste sentido, não podemos deixar de fazer referência à associação

https://www.innocenceproject.org, sediada nos EUA, que se dedica em exclusivo ao

estudo de processos-crime que resultaram em condenações baseadas no

reconhecimento pessoal, e que comparados as análises recolhidas com os exames mais

modernos, como o ADN, que não existiam à altura, levaram a resultados

impressionantes da verificação da inocência dos indivíduos condenados, muitos a

penas perpétuas.

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22. O que vem provar que o reconhecimento de alguém é muito subjectivo e capaz de

criar os maiores erros judiciários, apenas porque a vitima/testemunha, convence-se de

que o indivíduo é aquele que viu noutro momento anterior, transmitindo uma confiança

tal ao julgador que não tem outra alternativa que não a condenação do indivíduo

alegadamente reconhecido.

23. Tal entendimento e verificação, não são exclusivos da jurisprudência internacional,

uma vez que o Sr. Juiz Desembargador Carlos Almeida, no acórdão proferido pela 3ª

secção criminal do Tribunal da Relação de Lisboa no processo nº 2691/2004 de 12-05-

2004, entende que o meio probatório de reconhecimento pessoal é capaz de levar aos

maiores erros de julgamento.

24. De qualquer forma, a medida da pena excede a medida da sua culpa, porquanto das

movimentações descritas estamos perante um mero condutor de uma viatura.

25. Sempre se dirá e ao contrário do afirmado no acórdão recorrido, que a actuação

dos assaltantes é tudo menos profissional e organizada, uma vez que usaram os seus

próprios veículos para cometer um assalto (o que é contrário à regra da normalidade e

às regras da experiência comum) e a dada altura, exibiram-se para os inspectores da

PJ que ali se encontravam em acção de vigilância, abrindo os vidros escurecidos das

suas viaturas e encetando perseguições aos mesmos inspectores.

26. Relativamente à arma apreendida sempre se dirá que da forma que estava

acondicionada e o local onde estava guardado não faz presumir que o recorrente a

usasse, antes pelo contrário, estaria guardada há já muito tempo, não se provando

assim, qualquer outra intenção para além da mera posse da arma de fogo.

27. No que concerne ao crime de tráfico de estupefacientes, a curta duração da

actividade ilícita (5 meses) e à qualidade da mesma (haxixe) que independentemente da

quantidade, é a droga que menos mal faz á saúde publica.

28. Aliás, o mundo tem vindo a assistir a cada ano que passa à liberalização do

consumo da cannabis, não só para fins medicinais como também para fins recreativos,

sendo que para além dos Estados Norte-Americanos, da California, Colorado,

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Washington, Alaska, os países do Uruguai e mais recentemente o Canadá,

liberalizaram também o consumo recreativo da cannabis.

29. Ainda que não seja possível exigir ao julgador uma decisão igual, tais evidências

no mundo carecem de uma profunda reflexão das orientações legislativas existentes,

sendo certo que está para discussão um projecto lei para a liberalização da cannabis

em Portugal.

30. Neste sentido, dever-se-à condenar o recorrente pelo limite minimo da moldura

penal.

31. Refere o artigo 40º do Código Penal no seu n º 1 que a aplicação de penas e de

medidas de segurança visa a proteção de bens jurídicos e a reintegração do agente na

sociedade.

32. Segundo a doutrina da prevenção especial positiva, a medida da necessidade de

socialização do agente é o critério decisivo das exigências de prevenção especial. Tudo

depende da forma como o agente se revelar, carente ou não de socialização. Se uma tal

carência se não verificar tudo se resumirá em termos de prevenção especial, em

conferir à pena uma função de suficiente advertência.

33. É uma pena justa aquela que responda adequadamente às exigências preventivas e

não exceda a medida da culpa.

34. O dever de compaixão, no fundo, é uma ideia de justiça que considera na sua

plenitude a pessoa que está a ser julgada, não apenas pelo que fez, mas também pelo

que é – Fernanda Palma

35. O Direito Penal não é moral e a pena não é uma descida às profundezas dos

infernos – Figueiredo Dias

36. E ter sempre presente que o penalista fica na mão com uma pessoa, o criminoso e,

por seu intermédio como toda a condição humana, a pessoa em todos os seus

condicionalismos – Figueiredo dias

37. Até porque as “personalidades psicopáticas” - para além de fazerem sofrer a

sociedade, também sofrem pela sua anormalidade – Schneider

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38. Daí que a pena de prisão para o comportamento global do recorrente apareça

desproporcionado.

39. A fixar-se um juízo de censura jurídico-legal haverá que ser ponderado o futuro do

agente numa perspetiva de contribuição para a sua recuperação como indivíduo dentro

dos cânones da sociedade.

40. Quanto às exigências de prevenção especial, sempre se dirá a experiência prisional

(do sofrimento que é uma privação de liberdade) aliado ao suporte familiar, e com a

imposição de tratamento da sua problemática aditiva, permitem concluir pelo juízo de

prognose favorável na sua reinserção.

41. Perante o risco que existe na fragilidade da prova apresentada e, reiterando apenas

por mero raciocínio académico, e como medida da mais elementar prudência não

deverá a pena, em cumulo jurídico ser superior a 6 anos no que respeita ao crime de

roubo, ao crime de detenção de arma proibida e ao crime de tráfico de estupefacientes,

sendo certo que a Defesa entende que o recorrente deverá apenas ser condenado pelos

crimes de tráfico de estupefaciente e de roubo e em cumulo na pena de 6 anos e 10

meses de prisão.

42. No que concerne ao crime de detenção de arma proibida dever-se-à condenar o

recorrente numa pena de multa.

Violaram-se os artigos:

• Artigo 147º do CPP, porquanto não se procedeu a um reconhecimento pessoal aos

arguidos, sendo que o reconhecimento fotográfico efectuado carece de valor

probatório.

• Artigo 40º e 71º do CP, porquanto a medida da culpa excede a medida da pena

Nestes termos deve o presente recurso obter provimento, por provado, declarando-se

sem valor probatório a identificação do recorrente pela PJ, por violação do artigo

147º do CPP, com todas as consequências legais, nomeadamente a repetição do

julgamento de 1ª instância sem a referida prova. Se assim se não entender, dever-se-à

condenar nos crimes de tráfico de droga e de Roubo, nas penas de 4 anos de prisão e

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5 anos e 6 meses de prisão, respectivamente e em cumulo jurídico, na pena única de 6

anos e 10 meses de prisão. Dever-se-à ainda condenar o recorrente na pena de multa

pela prática do crime de detenção de arma proibida.

(…).

5. E, o arguido AA veio interpôr recurso do Acórdão do TRL para este STJ,

apresentando as seguintes conclusões que se transcrevem:

(…)

A. Resulta expresso do acórdão proferido pelo TRL nos pontos, 6 e 7 do I-Relatório, o

seguinte: “6. Nesta Relação, a Exma. Procuradora-Geral adjunta emitiu parecer no

sentido da improcedência dos recursos interpostos. 7. Foi dado cumprimento ao

disposto no artigo 417, nº 2, do CPP, não tendo sido apresentada resposta.

B. Ora, tendo o arguido sido notificado do parecer do MP a 26 de Fevereiro do

corrente para, em 10 dias, responder, querendo, nos termos do 417º nº2., e tendo-o

feito a 11 de Março de 2019, o recorrente respondeu em prazo ao parecer do MP,

tendo-o feito via cítius, porém por lapso, para o processo principal.

C. O Tribunal de …, no dia 13 de Março do corrente, remeteu essa mesma resposta

para o TRL, pela mesma via, conforme expediente dessa mesma data, pelo que não se

entende como o TRL afirma que o ora recorrente não respondeu ao parecer do MP, no

sentido da improcedência dos recursos interpostos, razão pela qual aquele Tribunal

acaba por declarar, expressamente, que, não só não a analisou, como desconhece a sua

existência e, consequentemente, o seu conteúdo, o que com o devido respeito não pode

ocorrer.

D. Ao assumir esta posição andou mal o TRL, pois que violou vários preceitos legais,

não tendo sequer curado de analisar a resposta ao parecer do MP, que se dá aqui por

integralmente reproduzida por razões de economia processual.

E. Em suma, o TRL desconhece a existência da resposta do arguido ao parecer do MP

(417º nº 2 do CPP), não a podendo desconhecer pois que está no processo, sendo que

tal desconhecimento está expresso no próprio acórdão, como já supra referenciado, e,

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consequentemente, aquele Tribunal não analisou e, sequer, se pronunciou sobre essa

mesma resposta.

F. Ora, consequentemente ao não se ter analisado qualquer dos fundamentos

constantes da resposta ao Ministério Público apresentada pelo arguido AA, cometeu o

TRL a nulidade prevista no artigo 379º nº 1 c) do CPP, pois o TRL estava adstrito a

pronunciar-se sobre as questões constantes tanto do recurso quanto da resposta

elaborada nos termos do 417º nº 2 CPP.

G. São as conclusões da motivação do recurso que balizam o objecto do mesmo (artºs

410º e 412º CPP), porém também as respostas apresentadas que caibam no âmbito

daquelas conclusões são, também elas, objecto do recurso e da sua apreciação, fazendo

da mesma parte integrante (artº 413º, 412 nºs 3, 4 e 6 e 417 nº 2 CPP).

H. Se assim não fosse estar-se-ia a esvaziar por completo o sentido e utilidade da

resposta, atentos ainda os princípios do contraditório e do direito de defesa, pelo que

analisado o acórdão sob crise, dúvidas não restam que tais questões, enquanto baliza e

objecto de análise pelo TRL, teriam de ser abordadas e pesadas (quer na perspectiva

da motivação, quer na da resposta apresentada nos termos do 417º nº.2 do CPP), pelo

que ao não analisar os fundamentos apresentados pelo arguido na sua resposta ao

parecer do MP, o TRL cometeu a referida nulidade (379º nº 1 C) CPP), o que deve

declarar-se com as demais consequências legais.

I. Para além disso, analisada a decisão do TRL de que se recorre, o arguido AA é

forçado a concluir que mesmo as suas conclusões de recurso, não foram, com o devido

respeito, avaliadas com o cuidado que se exige., pois que no recurso por si

apresentado, nomeadamente nas suas conclusões, o recorrente alegou o seguinte:

“MMM. Compulsados os autos e analisada a Lei, forçoso é de concluir que tal forma

de reconhecimento não só é ilegal, porque violador das normas do CPP, como

inconstitucional, inconstitucionalidade que desde já se argui, tal como se pode retirar

do AC do Tribunal Constitucional nº 137/2001 de 14 de Março; DR, II Série de 26 de

Junho do mesmo ano) - in anotação ao artigo 147º do Código do Processo Penal

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Anotado, Manuel Lopes da Maia, Almedina, 17ª Edição - “é inconstitucional a

valoração em julgamento de um reconhecimento de um arguido realizado sem

observância das regras definidas no artigo 147º do CPP”.

J. Sobre tal ilegalidade e consequente inconstitucionalidade, o TRL, sequer se

pronunciou, pelo que tal omissão, uma vez mais, nos reporta para a nulidade vertida no

disposto no artigo 379º nº 1 c) do CPP, pois que estava, aquele Tribunal, adstrito a

pronunciar-se sobre todas as questões constantes no recurso e suscitadas pelo arguido.

K. Desta feita uma interpretação conjugada dos arts. 410º, 412º, 413º e 417º do CPP,

leva-nos a concluir que ao haver omissão de pronúncia sobre questões que o TRL

devesse pronunciar-se, estamos perante a nulidade prevista no artº 379º, no 1 al. c)

CPP, e qualquer interpretação das normas suprarreferidas, que não vá nesse sentido,

deve ser declarada inconstitucional, por violar os referidos princípios do contraditório

e de defesa (artº. 32º, nos 1, 5 e 7 da CRP), inconstitucionalidade que expressamente

se argui, e assim verificado o vício assacado deve o acórdão de que se recorre ser

considerado nulo por violação do 379º nº1 c) do CPP.

L. Lê-se no acórdão de que se recorre, que o ora recorrente tenta colocar em causa o

depoimento das testemunhas inspectores da PJ, o que com o devido respeito, não

corresponde à verdade pois o que o recorrente visou e sempre alertou o Tribunal foi

para o facto de o reconhecimento levado a cabo nos presentes autos ser ilegal

porquanto, aqueles inspectores estiveram, supostamente, a distâncias mínimas 30, 50 e

80 metros respectivamente dos autores do crime, fazendo uma descrição inicial do

autor do crime com recurso a características vagas comuns a grande parte da

comunidade africana que reside nas imediações do local dos factos (“individuo preto,

alto com casaco de capuz verde com pelo no rebordo”).

M. Por a descrição efectivamente ser parca, os inspectores recorreram a clichés

fotográficos e registos biográficos, e uma vez que haviam reconhecido dois arguidos

com recurso às matrículas dos veículos automóveis que utilizavam no dia dos factos,

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por aproximação, procuraram pessoas com passado comum àqueles, sendo, desta feita,

“reconhecido” o arguido AA, ora recorrente.

N. Perante este facto, o que o recorrente se bateu e bate para demonstrar é que tal

reconhecimento, única “prova” que o coloca no local dos factos, com recurso a clichés

fotográficos, é ilegal pois não cumpre os requisitos impostos pelo artigo 147º do CPP.

O. Mais, não pode o TRL confirmar a validade de tal reconhecimento, com o

argumento de que não pode ser confundido o reconhecimento de testemunhas que têm

que cumprir o disposto no 147º do CPP, com o reconhecimento feito por OPCs, pois se

a detenção dos arguidos fosse em flagrante delito, não se colocaria a ilegalidade que

ora se alega, porém tal não sucedeu e assim sendo, não resulta da Lei qualquer

excepção, especialidade e/ou especificidade no que tange ao reconhecimento feito por

OPC.

P. Não se pode, nem deve descurar, que a Lei estabelece para este meio de prova vários

requisitos que devem ser escrupulosamente observados e cumpridos em cada caso

concreto, por se tratar de um dos meios de prova mais problemáticos e com resultados

menos fiáveis, pois acarreta grandes riscos de erro consoante diversos factores: a

duração em que a pessoa que procede à identificação observou o sujeito, a luz do local,

a maior ou menor frequência de pessoas no momento, a distância entre eles, o tempo

que decorreu entre esse episódio e o acto de reconhecimento e a eventual discrepância

das características do sujeito no passado e no momento do reconhecimento.

Q. O recorrente não coloca em causa o testemunho dos inspectores, antes sim, debate-

se com a forma como os mesmos procederam ao reconhecimento, e sendo este um meio

de prova válido e permitido por Lei, não se conforma com a forma como o mesmo foi

levado a cabo nos presentes autos é que enferma de ilegalidade.

R. Nunca é demais referir que prova por reconhecimento e a prova testemunhal são

distintas, tanto na sua estrutura como na sua natureza, e neste sentido já João

Henrique Gomes de Sousa conclui que “a prova por reconhecimento não se trata de

uma prova com natureza testemunhal e acrescenta que não tem, também, natureza

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meramente indiciária pois que aceitar tal ideia esvaziaria de sentido a “Prova por

Reconhecimento”. - in Sousa, João Henrique de, ob.cit., p.155.

S. Sendo o reconhecimento um meio de prova autónomo, é na fase de inquérito ou

instrução que o mesmo deve ser efectuado sendo uma prova pré-constituída e

documentado através do denominado auto de reconhecimento, para ser,

posteriormente, examinado em audiência de julgamento de forma objectiva, não

devendo este ser complementar da prova testemunhal, essa sim, produzida em

audiência de julgamento. Ora, tal não foi o que sucedeu no processo sob crise.

T. Aliás a produção em julgamento de um reconhecimento que já foi realizado numa

fase anterior, não só não deverá ser necessária, como se revela mesmo inútil e, acima

de tudo, contra legem, pelo que, mais uma vez, andou mal o TRL ao considerar,

igualmente, válido o reconhecimento feito pelos inspectores em audiência de

julgamento.

U. Medina de Seiça frisa que o objectivo de serem estabelecidas regras à produção da

prova por reconhecimento é “garantir a neutralidade psíquica da pessoa que deva

proceder à identificação, evitando resultados influenciados, pré-constituídos, e

inviabilizando situações formais que façam convergir invariavelmente a escolha sobre

o suspeito indicado”. - in Seiça, Alberto Medina de, ob.cit., p.1413. Pelo que, no caso

concreto ao socorrerem-se de clichés fotográficos e ficheiros biográficos, os PJ, que

procederam ao reconhecimento, tenderam a identificar de entre o leque disponível de

suspeitos, a pessoa que consideraram mais parecida com aquela de que se recordavam,

tendo, inclusivamente, sido influenciados pelo passado comum com os restantes co-

arguidos.

V. Quanto a este tema, a lei processual penal é clara no sentido de impor os requisitos

para a admissão da prova por reconhecimento, que é um meio típico de prova, pelo que

caso estes não possam ser cumpridos por algum motivo, não pode esta ser realizada

contra a lei, devendo o Juiz avaliar a credibilidade do reconhecimento e o cumprimento

desses mesmos requisitos, o que não foi feito na primeira instância e sequer pelo TRL.

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W. A não observância dos formalismos impostos no que tange ao reconhecimento

representará um desvio ao legalmente imposto pelo art. 147º do CPP e não pode ser

integrado nos meios de prova atípicos admitidos ao abrigo do art. 127º do CPP- neste

sentido – Ac. Tribunal Constitucional nº137/2001 que julgou “inconstitucional, por

violação das garantias de defesa do arguido, consagradas no nº1 do art.32º CRP, a

norma constante do art. 127º CPP, quando interpretada no sentido de admitir que o

princípio da livre apreciação da prova permite a valoração, em julgamento, de um

reconhecimento do arguido realizado sem a observância de nenhuma das regras

definidas pelo art. 147º do CPP.” 76 Em 1.1.4. 37 princípio da livre apreciação para

que a prova assim produzida seja admitida é, a nosso ver, apenas uma forma de violar

a norma legal 147º CPP”.

X. Invocar o princípio da livre apreciação para admitir o reconhecimento do ora

recorrente como autor dos factos consiste, no nosso entender, numa efectiva confusão

entre os momentos da aquisição da prova e da apreciação da mesma, pelo que a

validação daquele meio de prova, nos termos em que foi feito, é prova proibida e,

consequentemente, ferida de nulidade insanável - neste sentido Germano Marques Silva

considera que “apesar de regimes diferentes, a utilização de uma prova proibida terá

os efeitos práticos de uma nulidade insanável, conhecida oficiosamente até ao trânsito

em julgado da decisão.”- in Silva, Germano Marques da, ob.cit., p. 105.

Y. Mais, apresentar como argumento à não observância destas formalidades o

princípio da livre apreciação para que a prova assim produzida seja admitida é, a

nosso ver, e salvo melhor opinião, apenas uma forma de violar a norma legal 147º

CPP, o que nos leva a concluir que ao considerar-se o reconhecimento feito ao ora

recorrente, nos moldes como o foi nos presentes autos, e com base nele proceder-se à

sua condenação, o Tribunal fê-lo tendo por base prova proibida, e, de igual modo, agiu

o TRL que tendo conhecimento dessa mesma prova proibida, com a mesma se

conformou, valorando-a e mantendo a decisão

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Z. Ora, a utilização de uma prova proibida acabará por ter os efeitos da nulidade

previstos no art. 122º do CPP, sendo que pelo facto de a prova ser nula, logo, inválida,

o primeiro efeito a retirar será a sua não utilização no processo, pelo que a proibição

de prova tem um efeito-à-distância que contamina e torna inaproveitáveis os actos dela

decorrentes, nomeadamente, a decisão judicial, logo a própria decisão de que se

recorre deverá também ela ser considerada nula.

AA. Como já referenciado, o Tribunal Constitucional, no Ac. nº137/2001, pronunciou-

se no sentido da inconstitucionalidade, da interpretação da norma constante no artigo

127º do CPP no sentido de que o princípio da livre apreciação permitiria a valoração

do reconhecimento realizado sem o cumprimento dos requisitos do artigo 147º CPP,

concluindo, aquele Tribunal que “o art. 147º/7 estabelece uma proibição de prova, ao

determinar que “o reconhecimento que não obedecer ao disposto neste art. Não tem

valor como meio de prova” (…) julgar inconstitucional, por violação das garantias de

defesa do arguido consagradas no nº1 do art. 32º CRP, a norma constante do art. 127º

CPP, quando interpretada no sentido de admitir que o princípio da livre apreciação da

prova permite a valoração, em julgamento, de um reconhecimento do arguido realizado

sem a observância de nenhuma das regras definidas pelo art. 147º CPP”.

BB. Também neste sentido veja-se o Ac. do Tribunal da Relação do Porto de 21 de

Março de 2012 onde consta que: “constituiria uma fraude à lei o aproveitamento de um

reconhecimento ilegal com base no princípio da livre apreciação da prova”.

CC. Assim, tem entendido a jurisprudência que, aqui, estamos perante uma proibição

de prova resultante da intromissão na vida privada, à luz dos arts. 32º nº8 da CRP e

126º nº3 do CPP.

DD. Pelo que tratando-se de uma nulidade sanável pelo consentimento do titular do

direito para obtenção da prova, conforme resulta da letra da Lei (art. 126º nº 3 do

CPP), considera-se que, quando não haja esse consentimento, pode esta nulidade ser

conhecida ou arguida em qualquer fase do processo.

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EE. Também os reconhecimentos realizados com violação pelos requisitos substanciais

deverão ter a mesma consequência, por estar afectada a credibilidade da prova por

reconhecimento, e, no caso em apreço, a utilização de clichés fotográficos do

recorrente, bem como ficheiro biográfico exerceu influência sobre quem os estava a

analisar, sugerindo a identificação de uma pessoa que afinal tinha um passado comum

com os demais co-arguidos, circunstâncias que tornam esse reconhecimento ilegal, nos

termos do art. 147º nº 7 do CPP e, consequentemente, uma proibição da prova.

FF. Sem conceder, sendo o reconhecimento nulo, mas, se as restantes testemunhas que

prestaram o seu depoimento em sede de audiência corroborassem o que os inspectores

testemunharam, o que não aconteceu, ainda poderíamos aceitar esse reconhecimento e

conformarmo-nos com ele, mas o inverso não se nunca poderemos aceitar por violação

da Lei e de princípios basilares de direito, como seja o princípio da presunção da

inocência.

GG. No caso em apreço, o reconhecimento efectuado nos moldes já explanados, e a

consequente valoração do mesmo, faz com que a decisão do Tribunal, com base nesse

meio de prova, esteja viciada por violação da Lei, neste sentido Silva, Germano

Marques da, ob.cit., p.106 - “Caso a proibição de prova seja conhecida antes da sua

admissão no processo, não poderá ser admitida; caso seja conhecida já depois da sua

admissão, não poderá ser valorada; e caso seja descoberta apenas já depois de

valorada, ficará a decisão viciada por violação da lei.”

HH. É facto que “o tribunal é livre de formar a sua convicção desde que essa

apreciação não contrarie as regras comuns da lógica, da razão, das máximas da

experiência e dos conhecimentos científicos”, mas, ainda que o Tribunal detenha essa

liberdade na formação da sua convicção, a mesma sempre será limitada, “obedecendo

a critérios de experiência comum e da lógica do homem médio suposto pela ordem

jurídica.

II. Ou seja, toda e qualquer decisão deverá ser imparcial, regida pela Lei e assente na

prova efectivamente produzida, não se podendo confundir, de modo algum, com a

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apreciação arbitrária da prova, nem tampouco com a mera impressão gerada no

espírito do julgador.

JJ. Analisado o acórdão do TRL, constata-se que, mais uma vez, o Tribunal não

fundamentou de forma coerente e cabal a razão de se apoiar num certo conjunto de

provas em preterição de outras, de modo a fundamentar uma decisão condenatória,

referindo-nos, obviamente, aos depoimentos das testemunhas DD e EE, que

descreveram o assaltante que empunhava a arma de forma distinta da feita pelos

inspectores.

KK. O TRL fundamenta a decisão do seguinte modo:” Analisados os aludidos

depoimentos, deles não resulta a exclusão do recorrente AA como sendo o individuo

que DD refere como - sendo sensivelmente da minha altura- e EE aponta como -

ligeiramente mais alto do que o outro”. Ora, considerando que estas testemunhas

descrevem um sujeito de estatura média e considerando que o recorrente tem cerca de

1,91m, ao decidir desta forma o TRL acaba por subverter os princípios

constitucionalmente consagrados como sendo o do In dubio pro reo e o da presunção

da inocência.

LL. Pelo que a seguir a linha de raciocínio daquele Tribunal, não tendo resultado do

depoimento daquelas testemunhas a exclusão do recorrente no local dos factos, também

das mesmas declarações não pode, a nosso ver, resultar a sua inclusão. Mas o TRL vai

mais longe e sem fundamentar conclui que “(…) a altura de alguém é medida

adoptando-se uma postura de tronco e cabeça erectos, sendo certo que esta não é a

postura natural de quem está em movimento acelerado (…) e muito menos com uma

arma de fogo curta empunhada, pois a tendência natural é curvar o tronco para a

frente e inclinar ligeiramente a cabeça para baixo (…)”.

MM. Este argumento, que se desconhece de onde foi retirado, pois ninguém em sede de

audiência de julgamento o referiu e/ou o discutiu, não merece sequer, com o devido

respeito, aqui credibilidade pois, contrariamente ao defendido, seria hipoteticamente

mais aceitável se o autor do crime estivesse a empunhar uma arma de grandes

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dimensões, o que não foi o caso. Mais uma vez, o TRL socorreu-se sempre da livre

apreciação da prova, das regras da experiência comum e da livre convicção do juiz,

sem mais, quando para tal também existem limites legais.

NN. Neste sentido Ac. do Tribunal da Relação de Coimbra, proc. nº 174/08.2GASPS.C1

– “A livre apreciação da prova não está sujeita a regras legais que pré-determinem o

valor das provas. II - Daí a relevância da fundamentação (neste caso de facto) que

obrigatoriamente deve constar da sentença e que em sede recursória permite ao

tribunal superior conhecer o modo e o processo de formulação do juízo lógico contido

em tais decisões (os fundamentos), elemento essencial para a avaliação que lhe cumpre

efetuar. III - A valoração da prova pela 1.ª instância é resultado da apontada livre

apreciação e só deverá ser objecto de censura pelo tribunal de recurso quando ficar

demonstrado que a opção tomada viola as regras da experiência comum consideradas

válidas e legítimas dentro de um determinado contexto histórico e jurídico e, portanto,

dotadas de razoabilidade”.

OO. Veja-se, ainda, o Ac. do Supremo Tribunal de Justiça proc. nº 07P21, Nº

convencional: JSTJ000, Relator: SANTOS CABRAL: “IV - Porém, como refere

Figueiredo Dias, o princípio da livre apreciação não pode de modo algum querer

apontar para uma apreciação imotivável e incontrolável – e, portanto, arbitrária – da

prova produzida. Se a apreciação da prova é, na verdade, discricionária, tem,

evidentemente, esta discricionariedade os seus limites, que não podem ser licitamente

ultrapassados.

VI - Ainda de acordo com o mesmo Professor, a “livre” ou “íntima” convicção do juiz

não pode ser uma convicção puramente subjectiva, emocional e, portanto, imotivável.

PP. O Tribunal ao analisar a prova produzida deu credibilidade a prova proibida e

ilegal, ferida de nulidade, e com base nela condenou o recorrente, socorrendo-se dos

princípios da livre apreciação da prova, da convicção do juiz e das regras da

experiência comum, não justificando ou, sequer, fundamentando qual a linha de

raciocínio que o levou a tal valoração.

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Termos em que, procedendo os vícios assacados, seja:

· O Acórdão recorrido ser considerado nulo, com as demais consequências daí

advenientes.

(…).

6. Os recursos foram devidamente admitidos, fixado o efeito legal e remetidos a este

Supremo Tribunal de Justiça.

7. O Ministério Público junto do TRL, na sua resposta aos recursos agora interpostos,

entende que os mesmos são improcedentes, não padecendo o acórdão recorrido de

qualquer nulidade de conhecimento oficioso, nem se apoiando em matéria de facto

claramente insuficiente ou fundada em erro ou em premissas contraditórias, pelo que

deve ser mantido.

8. Subiram os autos a este STJ, onde no Parecer a que corresponde o artigo 416.º, do

Código de Processo Penal (CPP), o Sr. Procurador-Geral Adjunto defendeu que os

recursos devem ser rejeitados na parcela referente às condenações a seguir

discriminadas, na medida em que nenhuma das penas parcelares correspondentes

excede os cinco anos de prisão, nenhuma foi decretada inovatoriamente pela Relação, e

nenhuma excede os 8 anos de prisão verificando-se, quanto a ambas, dupla conforme

condenatória, o que faz nos seguintes termos:

i. quanto ao recorrente BB, pela prática, em autoria material, de um crime de

tráfico de estupefacientes, p. e p. pelo artigo 21.°, n° 1, do Decreto-Lei n° 15/93, de

22/01, por referência às tabelas anexas I-B e I-C, na pena de 5 anos de prisão; e pela

prática, em autoria material, de um crime de detenção de arma proibida, p. e p. pelos

artigos 2.°, n.ºs 1, alíneas p), q) e x) e 3, alínea p), 3.°, n.ºs 1 e 2, alíneas g), 1) e q) e 4 e

86.°, n.° 1, alínea c), da Lei n.° 5/2006, de 23/02, na pena de 1 ano e 4 meses de

prisão; e,

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ii. Quanto ao recorrente CC, pela prática, em autoria material, de um crime

de detenção de arma proibida, p. e p. pelos artigos 2.°, n.° 3, alínea p) e 86.°, n.° 1,

alínea d), da Lei n° 5/2006, de 23/02, na pena de 4 meses de prisão;

Termina o seu Parecer no sentido de que os recursos devem ser rejeitados por

inadmissíveis, nos segmentos supra explanados, e no demais, julgados improcedentes.

9. Cumprido o n.º 2, do artigo 417.º, do CPP, veio o arguido AA responder ao Parecer

do Ministério Público, mantendo a posição que assumiu na sua peça recursiva.

10. Colhidos os vistos, foram os autos remetidos para conferência.

II.

11. Seguindo um critério de lógica e cronologia preclusivas (artigos 608.º, n.º 3 e 663.º

n.º 2, do Código de Processo Civil, ex vi artigo 4.º, do CPP), importa, antes do mais,

fazer presente a questão prévia suscitada pelo Ministério Público.

11.1. Vejamos.

Como resulta do acórdão em apreço, nele foram confirmadas todas as penas parcelares e

únicas, decretadas pelo Juízo Central Criminal de …-Tribunal Judicial da Comarca de

…, pelo que se está perante dupla conforme.

Daqui decorre, desde logo, que as penas únicas em que se mostram condenados os

arguidos CC (8 anos e 8 meses de prisão) e BB (10 anos e 6 meses de prisão), que se

mostram impugnadas, são recorríveis para este Supremo Tribunal de Justiça - cf. artigos

400.º, n. º 1, alínea f) e 432.º, n. º 1, alínea b), do CPP.

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Aliás, como se decidiu inter alia no acórdão do STJ, prolatado em 08.01.2014, no

processo n º 124 / 10. 6JBLSB.E1. S1, da 5ª Secção:

" I- Por aplicação do artº 400º, n º 1, alínea f), do CPP, nos casos de julgamento por

vários crimes em concurso em que, em 1ª instância, por algum ou alguns ou só em

cúmulo jurídico haja sido imposta pena superior a 8 anos de prisão e por outros a

pena aplicada não seja superior a essa medida, sendo a condenação confirmada pela

Relação, o recurso da decisão desta para o STJ só é admissível no que se refere aos

crimes pelos quais foi aplicada pena superior a 8 anos de prisão e à operação de

determinação da pena única.

II-Este entendimento já foi sancionado pelo TC que, em plenário, através do Ac. 186 /

2013, decidiu «não julgar inconstitucional a norma constante da alínea f) do n º 1, do

art. 400º do CP, na interpretação de que havendo uma pena única superior a 8 anos,

não pode ser objecto de recurso para o STJ a matéria decisória referente aos crimes e

penas parcelares inferiores a 8 anos de prisão".

E, mais recentemente, no acórdão prolatado em 5 de Fevereiro de 2020, no processo n.º

143/17.1JAFUN.L1. S1, da 5. ª secção:

(…) E assim, em vista do disposto nos artigos 399.º, 400.º n.º 1 alínea e) e 432.º alínea

b), do Código de Processo Penal (CPP), desde logo na medida em que nenhuma das

referidas penas (2 anos e 2 anos de prisão) excede os cinco anos de prisão (e nenhuma

foi inovatoriamente aplicada pelo tribunal de recurso).

Destarte, a pena parcelar de 4 anos de prisão, impugnada pelo recorrente CC, atinente

ao crime de detenção de arma proibida, não é recorrível para o STJ. Por sua vez, as

penas parcelares aplicadas ao recorrente BB, pela comissão dos crimes de tráfico de

estupefacientes (5 anos de prisão) e de detenção de arma proibida (1 ano e 4 meses de

prisão) encontram-se mutatis mutandis na mesma situação.

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5.ª Secção Criminal

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Neste sentido, o acórdão, do Supremo Tribunal de Justiça, de 14 de Março de 2018

(processo n.º 22/08.3JALRA.E1. S1):

“Nesta conformidade, como tem sido enfatizado na jurisprudência deste Supremo

Tribunal de Justiça, estando este, por razões de competência, impedido de conhecer do

recurso interposto de uma decisão, estará também impedido de conhecer de todas as

questões processuais ou de substância que digam respeito a essa decisão, tais como os

vícios da decisão indicados no artigo 410.º do CPP, respectivas nulidades (artigo 379.º

e 425.º, n.º 4) e aspectos relacionadas com o julgamento dos crimes que constituem o

seu objecto, aqui se incluindo as questões relacionadas com a apreciação da prova –

nomeadamente, de respeito pela regra da livre apreciação (artigo 127.º do CPP) e do

princípio in dubio pro reo ou de questões de proibições ou invalidade de prova –, com a

qualificação jurídica dos factos e com a determinação da pena correspondente ao tipo

de ilícito realizado pela prática desses factos ou de penas parcelares em caso de

concurso de medida não superior a 5 ou 8 anos de prisão, consoante os casos das

alíneas e) e f) do artigo 400.º do CPP, incluindo nesta determinação a aplicação do

regime de atenuação especial da pena previsto no artigo 72.º do Código Penal, bem

como questões de inconstitucionalidade suscitadas neste âmbito (cfr., por exemplo, os

acórdãos de 11.4.2012, no Proc. 3989/07.5TDLSB.L1.S1, de 25.6.2015, no Proc.

814/12.9JACBR.S1, de 3.6.2015, no Proc. 293/09.8PALGS.E3.S1, e de 6.10.2016, no

Proc. 535/13.5JACBR.C1.S1, bem como, quanto à atenuação especial da pena, os

acórdãos de 5.12.2012, no Proc. 1213/09.SPBOER.S1, e de 23.6.2016, no Proc.

162/11.1JAGRD.C1.S1). «Estando o STJ impedido de sindicar o acórdão recorrido no

que tange à condenação pelos crimes em concurso, obviamente que está impedido,

também, de exercer qualquer censura sobre a actividade decisória prévia que subjaz e

conduziu à condenação», lê-se no acórdão deste STJ de 2014.03.12, no

Proc.1699/12.0PSLSB.L1. S1.”.

Pelo que se rejeitam os mesmos, nos segmentos supra explanados, por inadmissíveis.

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11.2. Assim, apenas, é da competência deste STJ, o reexame das penas únicas e das

penas parcelares decretadas pela comissão do crime de roubo agravado, aplicadas aos

co-arguidos CC e BB.

Como adiante se explanará no ponto referente à apreciação da medida das penas,

regista-se, desde já, que vindo tais penas de ser examinadas pelo TRL, que de resto,

como se vem supra de consignar as confirmou (dupla conforme perfeita) a tarefa deste

Tribunal, deverá incidir sobre a aferição da correcção das operações de determinação da

pena única e da referida pena aplicada pelo crime de roubo, que foram confirmadas pelo

TRL e fixadas em medida superior a 8 anos de prisão.

12. O objeto dos recursos dos arguidos, tal como decorre das respectivas conclusões,

cinge-se às seguintes questões:

• O arguido CC vem, em síntese, colocar as seguintes questões:

1. Invalidade do reconhecimento dos arguidos, porquanto não se

procedeu a um reconhecimento pessoal de cada um deles, sendo que

o reconhecimento fotográfico efectuado carece de valor probatório,

violando o disposto no artigo 147.º do CPP (serão deste Diploma as

normas sem menção de origem);

2. A medida das penas aplicadas (apenas da pena nos termos decididos

em 11.1 4) é excessiva, por ultrapassar a medida da culpa, violando o

disposto nos artigos 40.º e 71.º do CP, devendo o recorrente ser

condenado numa pena de 5 anos de prisão pela prática do crime de

roubo.

• O arguido BB vem, em síntese, colocar as seguintes questões:

4 Refere ainda o recorrente que deve ser condenado em pena de multa pelo crime de detenção de arma

proibida, mas como disse em 11.1 deste acórdão a mesma não é passível de conhecimento por este STJ.

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1. Invalidade do reconhecimento dos arguidos, porquanto não se

procedeu a um reconhecimento pessoal de cada um deles, sendo que

o reconhecimento fotográfico efectuado carece de valor probatório,

violando o disposto no artigo 147.º;

2. A medida das penas aplicadas (apenas da pena nos termos decididos

em 11.1 5) é excessiva, por ultrapassarem a medida da culpa,

violando os artigos 40.º e 71.º do CP, devendo no seu entender ser

condenado pela prática do crime de roubo na pena de 5 anos e 6

meses de prisão.

• O arguido AA vem, em síntese, colocar as seguintes questões:

1. O acórdão do TRL não analisou os fundamentos constantes da

resposta ao Ministério Público que apresentou em sede de recurso

para aquele Tribunal, nos termos do disposto no n.º 2, do artigo

417.º, pelo que o mesmo está ferido de nulidade prevista no artigo

379.º, nº 1, c), pois o TRL estava adstrito a pronunciar-se sobre as

questões constantes tanto do recurso, quanto da resposta elaborada

nos termos do 417.º, nº 2;

2. Da interpretação conjugada dos arts. 410.º, 412.º, 413.º e 417.º,

existe omissão de pronúncia sobre questões que o TRL devia

pronunciar-se, nomeadamente das conclusões do recurso por si

interposto, nas quais arguiu:

i. a nulidade prevista no artigo 379.º, n.º 1. al. c), por violar

os princípios do contraditório e de defesa (artigo 32º, n.ºs 1, 5

5Refere ainda o recorrente que deve ser condenado pelos crimes de tráfico de droga e de roubo, nas penas

de 4 anos de prisão e 5 anos e 6 meses de prisão, respectivamente e em cúmulo jurídico, na pena única de

6 anos e 10 meses de prisão. Dever-se-à ainda condenar o recorrente na pena de multa pela prática do

crime de detenção de arma proibida. Como disse em 11.1 deste acórdão as penas referentes aos crimes de

tráfico de droga e de detenção de arma proibida não são passíveis de conhecimento por este STJ.

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e 7 da CRP) no tocante à ilegalidade do reconhecimento dos

arguidos, porquanto não se procedeu a um reconhecimento

pessoal de cada um deles, porquanto não se procedeu a um

reconhecimento pessoal de cada um deles, sendo que o

reconhecimento fotográfico efectuado carece de valor

probatório, violando o disposto no artigo 147.º;

ii. como à sua inconstitucionalidade a qual também argui;

3. O reconhecimento dos arguidos, tal qual foi efectuada nos autos é

prova proibida e, consequentemente, ferida de nulidade insanável

porquanto não se procedeu a um reconhecimento pessoal de cada um

deles, sendo que o reconhecimento fotográfico efectuado carece de

valor probatório, violando o disposto no artigo 147.º;

4. A utilização de uma prova proibida tem os efeitos da nulidade

previstos no artigo 122º, sendo que pelo facto de a prova ser nula,

logo, inválida, o primeiro efeito a retirar será a sua não utilização no

processo, pelo que a proibição de prova tem um efeito-à-distância

que contamina e torna inaproveitáveis os actos dela decorrentes,

nomeadamente, a decisão judicial, logo a própria decisão de que se

recorre deverá também ela ser considerada nula;

5. O Tribunal ao analisar a prova produzida deu credibilidade a prova

proibida e ilegal, ferida de nulidade, e com base nela condenou o

recorrente, socorrendo-se dos princípios da livre apreciação da

prova, da convicção do juiz e das regras da experiência comum, não

justificando ou, sequer, fundamentando qual a linha de raciocínio

que o levou a tal valoração, razão que conduz à nulidade do

acórdão recorrido.

13. Recorde-se o acórdão recorrido (transcrição):

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(…)

1) Em data não concretamente apurada, mas anterior a 25 de Novembro de 2016, os

arguidos AA, CC e BB e um outro elemento, que não se logrou identificar,

definiram, de comum acordo e em conjugação de esforços, um plano com vista a

conseguirem subtrair as quantias monetárias existentes nos dois cofres, que eram

transportados no interior da "Viatura de Transporte de Valores da empresa

ESEGUR,S.A.", que, no dia 25.11.2016, efectuava o carregamento da máquina

ATM, sita no interior do Centro Comercial das ..., localizado na Avenida …, no

…, …, com o intuito de as fazerem suas.

2) Assim, de acordo com o plano gizado, no dia 25 de Novembro de 2016, os

arguidos AA, BB e o outro indivíduo, que não se logrou identificar, deslocaram-se

para as imediações daquele Centro Comercial na viatura de marca BMW, modelo

320, de cor cinzenta prateada, com a matrícula 00-PE-00.

3) De igual modo, o arguido CC deslocou-se, para o mesmo local, na viatura de

marca BMW, modelo Série 1, de cor preta, com a matrícula 00-QG-00.

4) As duas viaturas chegaram pouco depois das 08h30 ao local mencionado, tendo

ficado estacionadas na Avenida ….

5) Assim que estacionou, o arguido CC saiu da sua viatura e entrou no outro veículo,

o de matrícula 00-PE-00, onde os restantes elementos se encontravam.

6) Instantes depois, o arguido BB saiu desse mesmo veículo, de matrícula 00-PE-00, e

percorreu, apeado, a Avenida … em direcção à Avenida …, subindo tal artéria,

fazendo percurso que se não apurou contornando os prédios aí existentes e

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regressando, ao mesmo veículo, mas não pelo mesmo caminho, sentando-se no

lugar do condutor.

7) Assim que o arguido BB entrou no veículo, os arguidos AA e CC e o outro

indivíduo saíram, do seu interior, e entraram no interior do veículo com matrícula

00-QG-00, onde o arguido CC assumiu a sua condução.

8) Imediatamente, as duas viaturas colocaram-se em marcha, seguindo em primeiro

lugar a de matrícula 00-QG-00, ambas em direcção à Avenida ….

9) Cerca de 10 minutos depois, o veículo com a matrícula 00-QG- 00 regressou à

Avenida ….

10) O arguido CC estacionou-o numa rua sem saída, por onde é possível aceder a

diversas garagens, com visibilidade directa para a entrada do Centro Comercial,

cerca das 08h50m.

11) De tal veículo, saíram o arguido AA e o outro individuo, que permaneceram

apeados nas imediações de tal rua, enquanto o arguido CC retomou a marcha do

veículo, para local desconhecido.

12) Passados alguns minutos, a Viatura de Transporte de Valores (VTV) da

ESEGUR, n.° 0000, de matrícula 00-Q0-00, tripulada por FF (condutor) e DD

(Porta-Valore.) estacionou em frente à entrada do Centro Comercial.

13) De imediato, DD iniciou as operações preliminares de carregamento da caixa

ATM, sita no interior do Centro Comercial das ..., localizado na Avenida …, no …,

….

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14) Nesse momento, o arguido AA, apeado, dirige-se para a Rua …, enquanto o outro

indivíduo, cuja identidade não se apurou, ficou a aguardar, escondido, junto às

garagens.

15) Entretanto DD, o Porta-Valores, quando se encontrava a iniciar a abertura da

ATM, teve de regressar à VTV para substituir a pilha de abertura.

16) Já com a nova pilha, deslocou-se novamente para junto da ATM, procedendo à sua

troca, e introduziu o respectivo "Digicode", permitindo a abertura da porta do

cofre.

17) Com a porta do cofre da ATM aberta, DD retirou os dois cacifos de notas, que

apenas continham os remanescentes notas sobradas ou rejeitadas nas transacções

- e regressou à VTV para proceder ao carregamento dos ditos cacifos, o que fez,

com notas com o valor facial de e10 (dez euros) e €20 (vinte euros), no valor

global de 666.000,00 (sessenta e seis mil euros), dirigindo-se depois à caixa ATM

com o intuito de os colocar no devido local, sem, contudo, efectuar, a denominada

"saída em falso", como era o procedimento estabelecido pela empresa de

segurança ESEGUR.

18) Já junto à ATM, quando se preparava para colocar os dois cacifos, sem que nada o

fizesse prever, acabou por voltar para trás, novamente em direcção à VTV, com os

cacifos carregados com as ditas notas.

19) Antes de chegar à saída do Centro Comercial, DD é abordado pelo tal indivíduo,

cuja identidade não se logrou apurar, que veio a correr das imediações das ditas

garagens, exigindo que lhe entregasse os cacifos.

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20) Surge, imediatamente, o arguido AA, empunhando um objecto com a configuração

de arma de fogo na direcção de DD, com o intuito de o constranger a entregar-lhes

os dois cacifos.

21) DD negou-lhes tal entrega, oferecendo-lhes resistência, pelo que o arguido AA e

o outro individuo agrediram-no em diversas partes do corpo.

22) No decurso das agressões, DD deixou cair um dos cacifos no chão, espalhando-se

diversas notas com o valor facial de €70,00 (dez euros), que o individuo, cuja

identidade não se logrou apurar, tentou apanhar.

23) O arguido AA e o outro indivíduo, cuja identidade se desconhece, acabaram por se

apoderar dos dois cacifos, sendo que, quando se encontravam a transpor a porta

do Centro Comercial, DD sai no seu encalço, com o intuito de os recuperar, o que

não conseguiu, em virtude de ter sido atingido na cabeça, por aqueles, com um

objecto, ao que tudo indica a coronha da arma de fogo ou um dos cacifos, que

provocou a sua queda no chão.

24) Nesse momento, o arguido AA e o outro indivíduo abandonaram o Centro

Comercial, a correr, na posse dos dois cacifos.

25) O arguido AA e esse outro indivíduo fugiram apeados pela Rua …, levando

consigo os dois cacifos, em direcção a um descampado, que dá acesso à praceta da

Rua …, onde se encontrava a viatura de matrícula 00- PE-00, conduzida pelo

arguido BB.

26) Entraram no interior de tal veículo e abandonaram o local, levando consigo a

quantia global de e 64.000,00 (sessenta e quatro mil euros), que fizeram sua.

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27) Em virtude das agressões perpetradas pelos arguidos, sofreu o ofendido DD ferida

inciso-contusa na região frontal esquerda e dor nos dedos da mão direita que

implicaram a sua imobilização com tal, e que determinaram um período de 10 dias

de doença, e ainda uma cicatriz com um centímetro de diâmetro e que não o

deformará de maneira grave.

28) No decurso do cumprimento das buscas domiciliárias, no dia 24.10.2017,

cerca das 07h12, aquando da entrada dos agentes policiais na residência do

arguido BB, sita na Rua …, n.° 00, 0.° ..., em …, este atirou pela janela do seu

quarto, para as traseiras do imóvel, um saco de cores laranja, amarelo e

preto, o qual continha um objecto em forma de paralelepípedo, envolvido em

fita-adesiva de cor verde escura, com as dimensões aproximadas de 22 x 12 x

9 cm, contendo no seu interior trinta placas de canábis (resina), envoltas em

papel celofane, com o peso líquido de 2.898,40 gramas (dois quilogramas,

oitocentos e noventa e oito gramas e quarenta centigramas).

29) No interior da residência do arguido BB foi encontrado, para além do mais:

- Duas embalagens plásticas, contendo cocaína, uma com o peso líquido de

9,29 gramas e outra com o peso líquido 7,507 gramas;

- e 2.855,00 (dois mil oitocentos e cinquenta e cinco euros) em numerário;

- Dezanove luvas de latex, de cor azul;

- Duas embalagens de sacos de plástico de tamanho 60x80, contendo

cada embalagem 50 sacos;

− Doze sacos avulsos de tamanho 60x80;

− Uma pistola semiautomática, de marca ME, modelo 8 Detective, originalmente

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de calibre nominal 8 mm e destinada a deflagrar munições de alarme e/ou gás

lacrimogéneo, posteriormente transformada de modo a disparar munições com

projéctil, de calibre 6,35 mm Browning, com o número de série rasurado;

− Três munições calibre 7, 65mm, marca Browning, no interior da bolsa na

qual se encontrava a pistola;

− Duas munições calibre 6,35 Browning, que se encontravam no interior;

− Um bastão, com 66 cm de comprimento, sem qualquer aplicação ou uso

definido, e não era titular de licença de uso e porte de arma.

30) No interior do veículo automóvel de matrícula 00-PE-00, utilizado pelo arguido

BB, foram encontrados, e apreendidos, seis telemóveis e seis cartões SIM (dois

deles ainda intactos no respectivo suporte), bem como onze suportes de cartão

SIM e um bloco de notas manuscritas.

31) Nesse mesmo dia, cerca das 09h00, realizada busca ao veículo automóvel de

matrícula 00-SI-00, utilizado pelo arguido CC, foram encontrados e apreendidos

no seu interior, para além do mais:

- Dezasseis munições de calibre 7.65 mm, das quais seis tinham a inscrição

"FN", outras seis de marca PR VI PARTIZAN e três de marca GECO 7.65" e

uma com a inscrição G.F.L. 7.65mm;

- Dois pedaços de canábis (folhas e sumidades), vulgarmente denominada

liamba, com o peso bruto de 3,85 gramas (peso líquido 1,428 gramas).

32) O arguido CC destinava o produto estupefaciente (Canábis) que lhe foi apreendido

ao seu consumo pessoal, e não era titular de licença de uso e porte de arma.

33) Ao actuarem da forma descrita, nos pontos 1 a 26, agiram os arguidos AA, CC e

BB e o outro elemento, que não se logrou identificar, deliberada, livre e

conscientemente, de comum acordo e em comunhão de esforços, na execução de um

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plano que haviam previamente delineado, no intuito que lograram alcançar, de através

de agressões físicas ao porta- valores e da ameaça velada com algo que se parecia

com uma arma de fogo, que detinham, fazerem sua a quantia monetária contida nos

dois cacifos da caixa ATM, que sabiam ser muito elevada, com perfeita consciência

que a mesma não lhes pertencia e que actuavam contra a vontade do seu legitimo

dono.

34) O arguido BB conhecia, igualmente, as características do produto designado

cannabis-resina, vulgarmente conhecido por "haxixe", bem como, da cocaína, que lhe

foi apreendida, tendo actuado deliberada, livre e conscientemente, no intuito, que

logrou alcançar, de deter tal produto, para o vender a quem quer que o contactasse

para o efeito, mediante contrapartida que recebia, em dinheiro, bem sabendo que não

estava autorizado a fazê-lo.

35) A verdade é que, pelo menos, desde Junho de 2017 até à data em que foi detido,

que o arguido se dedicava a tal actividade ilícita, não possuindo qualquer ocupação

profissional conhecida e remunerada nesse período temporal.

36) A quantia monetária que lhe foi apreendida [e 2.855,00 (dois mil oitocentos e

cinquenta e cinco euros) em numerário], constitui o resultado/produto das vendas de

produto estupefaciente que o arguido efectuou no período temporal acima referido.

37) O arguido BB sabia perfeitamente que lhe estava vedado comprar, transportar,

importar, guardar, oferecer, ceder ou por qualquer outro título receber, proporcionar

a outrem, consumir, embalar e vender as referidas substâncias que detinha, cuja

natureza e características conhecia.

38) Sabia também o arguido BB ser necessária licença de uso e porte de arma para

deter a pistola e as munições que, deliberada, livre e conscientemente, tinha na sua

posse, mesmo sabendo que não as podia deter por não estar autorizado a tal.

39) O arguido BB sabia ainda que o que bastão que tinha na sua posse não tinha

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qualquer outra aplicação definida que não a de ser utilizado como objecto de

agressão, querendo, ainda assim, detê-lo, o que fez, livre e conscientemente.

40) O arguido CC sabia ser necessária licença de uso e porte de arma para deter as

munições com as características daquelas que foram apreendidas no automóvel por si

utilizado, as quais conhecia.

41) O arguido CC agiu deliberada, livre e conscientemente, querendo ter em sua

posse as referidas munições, sabendo que não era titular de licença de uso e porte de

arma.

42) O arguido CC sabia perfeitamente que lhe estava vedado comprar, transportar,

importar, guardar, oferecer, ceder ou por qualquer outro título receber, proporcionar

a outrem, consumir, embalar e vender as referidas substâncias que detinha, cuja

natureza e características conhecia.

43) Conheciam os arguidos a proibição e punibilidade legal das suas condutas.

Mais se provou que..

44) Consta do relatório social do arguido BB que:

BB vive em união de facto com GG, fazendo também parte do agregado o filho do

casal, HH (0) e o enteado, II (00).

Oriundos de …, os progenitores de BB conheceram- se em Portugal, tendo-se

constituído o primeiro de três filhos do casal, tendo ainda mais dois irmãos uterinos e

três consanguíneos, sendo o terceiro elemento da fratria. Assume laços consistentes

com as figuras parentais e outros elementos da família alargada, tendo beneficiado da

supervisão possível por parte daqueles.

O seu processo de socialização decorreu então, no agregado de origem, num contexto

socioeconómico razoável.

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O agregado residia num bairro social caracterizado por várias problemáticas,

nomeadamente delinquência, pobreza e desemprego, no entanto o arguido transmitiu

sentimentos de pertença.

Segundo o próprio, o seu percurso escolar decorreu de forma irregular, tendo

evidenciado desinteresse pela aprendizagem, com retenções no 2° ciclo por falta de

assiduidade.

No 7° ano, por iniciativa da escola frequentou um curso de formação profissional em

…, que lhe deu equivalência ao 3° ciclo. Diz ainda ter frequentado o 10° ano mas não

o concluiu. Veio a completar o 12° ano já em adulto, durante o cumprimento de pena

efetiva de prisão no Estabelecimento Prisional do ….

BB revela que após a escola iniciou um trajeto laboral na … junto do progenitor,

mantendo esta ocupação com regularidade, até à sua prisão em Abril/2008. Desde a

sua libertação em Dezembro/2012 tem trabalhado nesta área como indiferenciado, e de

forma intermitente, porque tem a autorização de residência em Portugal caducada, o

que não lhe permite a obtenção de um contrato de trabalho. Também verbaliza que

vendia … para um … de um amigo, cobrando uma percentagem nas futuras vendas. Em

liberdade condicional comparecia às entrevistas agendadas pela DGRSP, colaborando

com o previsto na sentença judicial e diligenciando no sentido de obter autorização de

residência em Portugal.

Durante a adolescência o arguido privilegiou o convívio com grupo de pares com

caraterísticas comportamentais de cariz desviante, desenvolvendo comportamentos de

risco que resultaram em prática criminal.

Ao nível pessoal BB foi pai pela primeira vez com 00 anos de idade, fruto dum

relacionamenlo momentâneo. Tem quatro filhos com 00, 00, 00 e 0 anos de idade,

todos filhos de mães diferentes, no entanto o arguido destacou a relação afetiva com

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a atual companheira, GG, mãe do seu filho mais novo, como gratificante, tendo

iniciado este relacionamento amoroso em 2014.

O arguido beneficia de uma situação familiar relativamente equilibrada e afetiva,

considerando que o seu relacionamento é estável. Pelo que foi possível perceber junto

das fontes, a companheira exibe um discurso de influência e contenção nalguns

comportamentos do arguido, manifestando uma postura mais vocacionada para o

núcleo familiar. A companheira e os filhos parecem ser as figuras centrais do seu

quotidiano, sendo descrito como um pai muito presente, protetor e afetuoso. O

arguido procura manter-se em contacto com os outros filhos: JJ 00 anos e a residir

como os avós paternos em …; KK de 00 anos a residir com a progenitora em …; e LL

de 00 anos a residir com a progenitora em ….

A companheira trabalha como … de … no …, onde se encontra a trabalhar com

contrato efetivo. Assim, o contexto económico é percecionado como restritivo,

atendendo à instabilidade laboral vivenciada pelo arguido, no entanto não são

apontados constrangimentos significativos. Sem autorização de residência, BB não

pode inscrever-se no instituto de emprego e formação profissional, nem efetuar

contrato com eventual entidade patronal.

De acordo com os dados recolhidos as suas rotinas estão organizadas em torno da

família, a ocupação dos tempos livres é descrita com base no desenvolvimento das

tarefas domésticas, em ocupação de lazer com os filhos e na procura de trabalho.

Ainda assim, mantendo-se a viver na zona onde cresceu, continuam a fazer parte das

suas relações, amigos de infância e de escola com os quais confraterniza em jogos de

….

Nas entrevistas tidas com BB, este evidenciou possuir competências pessoais e sociais,

nomeadamente ao nível da comunicação interpessoal, com um estilo assertivo e

educado, da descentração, reconhecendo a existência de pontos de vista diferentes do

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seu, e do pensamento consequencial, percebendo que todas as ações conduzem a

resultados, uns positivos outros negativos, procurando antecipá-los. Perante a

existência de problemas, tenta lidar com os mesmos de forma apropriada, consistindo

a ausência de documentação pessoal um obstáculo de difícil superação.

Assume-se como uma pessoa sociável, amiga, companheiro, procurando sempre

ajudar os outros. Diz ser trabalhador, divertido mas também teimoso na defesa de

argumentos em que se sente com razão. A companheira e a irmã consideram-no muito

leal, sensível, calmo e super protetor dos filhos, "o BB é uma ótima pessoa, um bom

irmão" (sic).

Em meio prisional BB tem registada uma repreensão escrita no seu registo disciplinar

datada de 22.6.2018, encontrando-se suspenso das funções que desempenhava como …

do … desde 28.3.2018, nas quais era descrito como um indivíduo responsável.

45) O arguido BB foi condenado:

a) Por acórdão de 05/06/2007, no processo comum com intervenção de tribunal

de júri, que correu termos sob o n.° 793/05.9BBVFX do 2.° Juízo Criminal de …, que

transitou em julgado em 25/03/2008, na pena de 3 anos e 4 meses por cada um dos

oito crimes de roubo qualificado, na pena de 1 ano e 6 meses pela prática de um crime

de roubo, e na pena de 13 meses de prisão pela prática de cada um dos três crimes de

roubo qualificado, na forma tentada. Em cúmulo jurídico foi aplicada a pena única de

6 anos e 9 meses de prisão, por factos ocorridos em 13/10/2005.

b) Por sentença de 31/10/2007, no processo comum singular, que correu termos

sob o n.° 421/02.S7LSB, da 3." Secção do 4. ° Juízo Criminal de …, por decisão

transitada em julgado em 20/11/2007, na pena de 12 meses de prisão, cuja execução

ficou suspensa por 1 ano, com regime de prova, pela prática de um crime de roubo,

por factos ocorridos em 31/12/2002.

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c) Por sentença de 06/03/2008, no processo comum singular que correu termos

sob o n.° 787/04. 1GBVFX, do 1. ° Juízo Criminal de …, que transitou em julgado em

21/04/2008, na pena de 60 dias de multa, pela prática de um crime de condução sem

habilitação legal, por factos de 15/09/2004. A pena foi declarada extinta pelo

pagamento em 08/11/2012.

d) Foi proferido acórdão cumulatório no processo 267/08.6TCLSB da 4." Vara

Criminal de …, que cumulou as penas aplicadas nos processos 421/02.4S7LSB e

793/05.9GBVFX, sendo aplicada uma pena única de 7 anos e 3 meses de prisão.

e) Em 30/09/2015, no processo de liberdade condicional 3174/10.9TXLSB-A, foi

reconhecida a extinção, em 31/07/2015 da liberdade condicional que tinha sido

concedida no que respeita à pena aplicada no processo 267/08.6TCLSB.

f) Por sentença de 24/05/2018, no processo comum singular, que correu lermos

sob o n.° 157/17.1GHVFX, do Juízo Local Criminal de …, J3, por decisão transitada

em julgado em 25/06/2018, na pena de 100 dias de multa, pela prática de um crime de

desobediência, por factos ocorridos em 11/04/2017.

46) Consta do relatório social do arguido CC que:

Natural da …, o arguido é filho único de um casal que se separou após o seu

nascimento, tendo mais quatro irmãos consanguíneos e uma irmã mais nova, uterina.

Na … viveu com a mãe, …, e quando tinha um ano de idade passou a viver com uma

tia paterna, situação que durou até aos oito anos.

Nessa altura, integrou o agregado familiar do pai que, entretanto, tinha emigrado

para Portugal e residia na zona de …, o qual entretanto havia reconstituído família. O

pai trabalhou primeiro como … de … e, mais tarde, estabeleceu-se por conta própria

através da criação de uma empresa de …. A madrasta era … … num …, não sendo

assinaladas dificuldades económicas.

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O seu percurso escolar surge normativo tendo obtido o 9° ano de escolaridade e,

posteriormente, passado a trabalhar com o pai na empresa que o mesmo detinha.

Exerceu esta actividade dos 00 aos 00 anos de idade altura em que, após alguns meses

de desemprego, passou a trabalhar no café de um amigo na zona de … durante um

ano. Após novo período de inactividade laboral, iniciou funções numa fábrica de …

onde permaneceu durante dois anos. Retomou posteriormente a actividade como

empregado de balcão no café …, em …, onde trabalhava à data da reclusão.

No campo afectivo relacional, o arguido viveu em união de facto com uma

companheira de quem se veio a separar três anos depois. Desta relação nasceu um

filho, que conta actualmente 00 anos, que vive em … com a mãe.

À data das circunstâncias inerentes ao presente processo judicial, CC residia com a

companheira e dois filhos do casal, de … e … anos de idade. A dinâmica do casal

surge descrita como positiva mencionando a companheira que o mesmo é investido na

sua condição marital e parental.

Em termos laborais, e como referido anteriormente, o arguido trabalhava como

empregado de mesa no café …, na zona de … referindo que auferia mensalmente cerca

de 800,00 euros. Paralelamente, e de forma pontual trabalhava em … e aplicação de

….

A companheira, licenciada em …, trabalha como …. Em virtude de não deterem uma

renda habitacional, pelo facto da casa onde habitam, na zona da …, ser pertença de

família, o arguido mencionou que conseguiam suprir as despesas.

CC refere que apenas retomou o contacto com a progenitora aos 00 anos de idade, já

em Portugal, tendo residido com a mesma durante algum tempo, na zona de …. O pai

vive atualmente na ….

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O arguido refere que mantinha um estilo de vida centrado no convívio com a família e

grupos de pares com comportamentos pró-sociais. Refere que um dos coarguidos no

presente processo judicial, AA, é seu amigo há muitos anos e padrinho de um dos seus

filhos mantendo com o mesmo uma relação de proximidade que considera benéfica.

Em termos das suas características pessoais, CC evidencia uma postura cordial,

adequada e adaptada bem como capacidades cognitivas e autonomia pessoal para

fazer as opções de vida que entende como adequadas e vantajosas para si, recursos

pessoais que lhe permitem utilizar um discurso consonante com a adequação social.

Em contexto institucional, o arguido tem mantido uma postura correta e colaborante

em termos de relacionamento interpessoal. Não tem sanções averbadas no seu registo

disciplinar. Encontra-se a trabalhar no … de … desde 20/03/2018 revelando empenho

e responsabilidade.

47) O arguido CC foi condenado:

a) Por sentença de 21/05/2008, no processo comum singular que correu termos sob

o n.° 92/07.1SGLSB da 3. a Secção do 6. ° Juízo Criminal de …, que transitou em julgado

em 11/06/2008, na pena de 80 dias de multa, pela prática de um crime de ofensa à

integridade física qualificada, por factos de 17/12/2006. A pena de multa foi convertida em

53 dias de prisão subsidiária. A pena foi declarada extinta em 14/09/2011 pelo

cumprimento;

b) Por acórdão proferido em 23/07/2008, no processo comum colectivo que

correu termos sob o n.° 22/07.0JBLSB do 2. ° Juízo Criminal de …, transitado em

julgado em 30/03/2009, na pena de 8 anos e 6 meses de prisão, pela prática de dois

crimes de roubo, e um crime de detenção de arma proibida, por factos de 18/01/2007 e

23/04/ 2007.

c) Em 30/10/2012, no processo de liberdade condicional 3289/10.3TXLSB-A,

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foi concedida ao arguido liberdade condicional desde tal data a 15/12/2015, no que

respeita à pena aplicada no processo 22/07.0JBLSB, onde o arguido tinha sido

condenado pela prática de dois crimes de roubo e um crime de detenção de arma

proibida.

d) Em 06/07/2017, no processo de liberdade condicional 3289/10.3TXLSB-A,

foi reconhecida e extinção, em 15/12/2015 da liberdade condicional que tinha sido

concedida no que respeita à pena aplicada no processo 22/07.0JBLSB.

48) Consta do relatório social do arguido AA que:

AA é filho único do casamento dos progenitores que se separaram quando o arguido

tinha 0 anos de idade. Tem dois irmãos uterinos, um mais velho e um mais novo, e dois

irmãos consanguíneos mais novos. Não obstante a rutura marital, os progenitores

sempre promoveram os contactos entre todos os irmãos.

Dessa forma, o processo de socialização de AA decorreu no agregado da progenitora,

entretanto reconstituído tendo, contudo, a mesma se separado do padrasto do arguido,

quando este tinha 00 anos. O agregado residia num bairro social caracterizado por

várias problemáticas nomeadamente delinquência, pobreza e desemprego. Existem

referências a laços consistentes com a figura materna e irmãos ainda que com um

modelo educativo de baixa supervisão, decorrente da ausência da progenitora que se

encontrava a trabalhar.

A situação económica é descrita como tendo sido estável, junto dos progenitores e

mais tarde do padrasto. O pai era militar, a mãe trabalhou como …, … … e

empregada de … e o padrasto era ….

Regista um percurso escolar regular até ter ficado retido pela primeira vez no 8° ano

de escolaridade tendo desistido das atividades escolares durante a frequência do 10°

ano de forma a iniciar o seu percurso laborai.

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Aos 00 anos experimentou um período de emigração em … de cerca de três anos, junto

de uma tia, tendo trabalhado como operador de … e no atendimento em … de …. Em

termos de formação, concluiu um curso de … e, já em Portugal durante um período de

reclusão, terminou um curso de … de … que lhe deu equivalência ao 12° ano de

escolaridade.

AA deslocou-se a Portugal para comparecer em audiências de julgamento acabando

por regressar definitivamente mencionando dificuldades de adaptação nomeadamente

no estabelecimento de interações sociais naquele país.

De regresso a Portugal, permaneceu tendencialmente desocupado privilegiando o

convívio com o grupo de pares residentes no seu bairro, com características

comportamentais de cariz desviante. Neste contexto, desenvolveu comportamentos de

risco que resultaram em prática criminal.

Não é referida pelo arguido qualquer problemática de saúde ou historial de adição, o

que constitui um fator protetor na sua situação.

No início de 2005, o seu envolvimento em novos ilícitos culminou numa reclusão. Em

período prévio à reclusão, e tal como referido anteriormente, AA esteve em

acompanhamento por parte dos serviços da DGRSP no âmbito da medida de

liberdade condicional. De acordo com os dados constantes no dossiê da DGRSP, o

arguido cumpriu o estabelecido na decisão que lhe concedeu essa medida de

flexibilização da pena, destacando-se a área laboral e o investimento ao nível

formativo.

Nesse sentido, em termos laborais o arguido colaborava com o progenitor, que se

encontra na … e explora uma empresa de importação/exportação de … ….

Paralelamente, terminou um curso de … e outro de … (faltando apenas a …) e iniciou

a frequência do curso superior de …, de acordo com o referido, com a melhor nota de

admissão, na Faculdade de ….

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AA residia na morada constante no presente relatório, em habitação de renda social,

com a companheira e um irmão de 00 anos, …. A progenitora havia emigrado para a

…, onde o irmão mais velho do arguido fixou residência e sofreu um …, estando

imobilizado. Foi referido um relacionamento afetivo satisfatório e uma dinâmica

intrafamiliar assente em laços afetivos e de ajuda mútua, pelo que o arguido chegou a

estar também na … a ajudar a progenitora.

O contexto económico é percecionado como equilibrado, resultado do trabalho do

arguido descrito anteriormente e do trabalho da companheira como … em regime de

….

De acordo com o referido, o quotidiano do arguido era estruturado, centrado no

convívio com a família, no trabalho e nos estudos, sendo apontado um afastamento do

antigo grupo de pares com o estabelecimento de uma nova rede de interações sociais

positivas. Relativamente a um dos seus coarguidos no presente processo, CC, refere

ser seu amigo há muitos anos e ser … de … dos filhos do mesmo, interação sentida

pelo próprio como normal e adequada.

Em termos de projetos futuros, e de acordo com a fonte contactada, o casal pretende

afastar-se do meio sócio residencial onde viviam passando a residir em …, numa

habitação que haviam adquirido em período prévio à reclusão por meio de

empréstimo bancário.

No contacto mantido com AA, este evidenciou um temperamento calmo bem como

capacidades cognitivas e autonomia pessoal para fazer as opções de vida que entende

comd adequadas e vantajosas para si, recursos pessoais que lhe permitem utilizar um

discurso consonante com a adequação social.

Em termos de impacto decorrente da atual situação de reclusão, podemos salientar o

retrocesso na sua vida pessoal, nomeadamente em termos da sua formação

académica, bem como a necessária reorganização familiar já que a progenitora teve

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de regressar a Portugal para cuidar do filho mais velho tendo a companheira do

arguido retornado ao seu agregado familiar de origem. AA refere também o facto de

não poder acompanhar o crescimento e desenvolvimento da filha, de 0 meses, nascida

já durante a reclusão.

O arguido tem consciência da gravidade da situação processual em que se encontra

envolvido, perceciona os factos inscritos na presente acusação como crime não se

revendo, porém, no seu conteúdo.

A nível institucional mantém um comportamento adequado num quadro de

competências ao nível da comunicação interpessoal e adequação comportamental

evidenciando boa capacidade de integração e adaptação. Não tem sanções averbadas

no seu registo disciplinar. Não se encontra integrado em qualquer atividade escolar,

formativa ou laboral.

Da análise dos elementos recolhidos, destaca-se a postura proativa do arguido na

procura de enquadramento laboral e no investimento formativo e a forma responsável

como assumiu novos compromissos familiares.

49) O arguido AA foi condenado:

a) Por sentença proferida em 27/11/2001, no processo comum singular que correu

termos sob o n.° 70/99.2GCSTA do Tribunal de Comarca de …, transitada em julgado

em 20/12/2001, na pena de 80 dias de multa, pela prática de um crime de furto uso de

veículo, nos termos do artigo 208.° do Código Penal, por factos de 09/04/2002. A pena

de multa foi declarada extinta em 03/06/2003.

b) Por sentença proferida em 21/02/2002, no processo sumário que correu

termos sob o n.° 35/02.9GTALQ do 2. ° Juízo Criminal de …, transitada em julgado

em 11/03/2002, na pena de 35 dias de multa, pela prática de um crime de condução

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sem habilitação legal, por factos de 21/02/2002. A pena foi declarada extinta em

05/07/2002.

c) Por acórdão proferido em 25/02/2003, no processo comum colectivo que

correu termos sob o n.° 225/99.0TALRA do 3.° Juízo Criminal de …, transitado em

julgado em 25/02/2003, na pena de 2 anos e 4 meses de prisão, cuja execução ficou

suspensa por 3 anos, pela prática de um crime de furto qualificado, por factos de

26/02/1999. A pena foi declarada extinta pelo decurso do prazo em 05/06/2006.

d) Por sentença proferida em 07/06/2004, no processo comum singular que

correu termos sob o n.° 172/02.0GDLRS do 2.° Juízo Criminal de …, transitada em

julgado em 28/06/2004, na pena de 100 dias de multa, pela prática de um crime de

condução sem habilitação legal, por factos de 01/02/2002. A pena foi declarada

extinta em 28/10/2004.

e) Por acórdão proferido em 07/12/2005, no processo comum colectivo que

correu termos sob o n.° 227/05.9PTLSB da 2.0 Secção da 2.0 Vara Criminal de …,

transitado em julgado em 04/06/2007, na pena de 7 anos de prisão, pela prática de

um crime de homicídio qualificado, na forma tentada, um crime de detenção ou

tráfico de armas proibidas, por factos de 08 e 09 de Fevereiro de 2005.

j) Por sentença proferida em 10/10/2007, no processo sumaríssimo que correu

termos sob o n.° 217/04.9SILSB da 3.0 Secção do 2.° Juízo de Pequena Instância

Criminal de …, transitada em julgado em 10/10/2007, na pena de 80 dias de multa,

pela prática de um crime de condução sem habilitação legal, por factos de

08/05/2003. A pena foi declarada extinta em 31/03/2009.

g) Por acórdão proferido em 23/07/2008, no processo comum colectivo que

correu termos sob o n.° 22/07.0JBLSB do 2. ° Juízo Criminal de …, transitado em

julgado em 30/03/2009, na pena de 7 anos e 6 meses de prisão, pela prática de dois

crimes de roubo, na forma tentada, por factos de 15/03/2007 e 23/04/2007.

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h) No processo n.° 22/07.0JBLSB do 2.° Juízo Criminal de … foi proferido

um acórdão cumulatório, em 12/10/2009, transitado em julgado em 06/11/2009, em

que foram englobadas as penas únicas aplicadas no dito processo 22/07.0JBLSB e

ainda as aplicadas no processo 227/05.9PTLSB, e foi aplicada a pena única de 12

anos de prisão.

i) Em 17/04/2013, no processo de liberdade condicional 6179/10.6TXLSB-A, ao

arguido foi concedida a liberdade condicional pelo período de tempo entre a sua

libertação e 11/04/2017, no que respeita à pena aplicada no processo 22/07.

OJBLSB.

(…).

14. Apreciemos.

14.1. Vêm os 3 arguidos, ora recorrentes, arguir em cada uma das suas peças

recursivas, e diga-se para ambas as instâncias de recurso, a invalidade do

reconhecimento feito a cada um deles, porquanto não se procedeu a um

reconhecimento pessoal (de cada um deles), sendo que o reconhecimento fotográfico

efectuado carece de valor probatório, violando o disposto no artigo 147.º.

Diz-se a este propósito, no acórdão recorrido do TRL, (uma vez que também tinha sido

alegado o mesmo, em recurso para esse Tribunal), e transcreve-se:

No que ao recorrente AA concerne:

(…) Na verdade, nos autos não foram efectuados quaisquer reconhecimentos

(fotográficos ou pessoais) do recorrente, nem dos demais arguidos.

Confunde-se o reconhecimento pessoal a que alude o referido normativo legal - que

tem a natureza de um meio de prova - com as pesquisas efectuadas pelos inspectores

da PJ na base de dados desta polícia, nomeadamente com análise de fichas

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biográficas, em ordem a apurar da existência de alguém com características físicas

coincidentes com a do (então) suspeito para orientar a investigação num determinado

sentido.

Porque assim é, não foram as normas que estabelecem os requisitos de validade desse

meio de prova obliteradas.

E, da concatenação dos aludidos elementos probatórios (sendo que já se deixou

explicitado retro que não foi feita pelo tribunal a quo leitura de qualquer dos

depoimentos prestados pelas testemunhas MM, NN e OO nos termos do artigo 356°, do

CPP, aliás, nem sequer foi essa leitura requerida quanto aos dois últimos. Impetrada

se mostra quanto a MM, mas foi a mesma indeferida), conjugados com a visualização

e análise que fizemos da gravação vídeo e áudio da inspecção ao local efectuada pelo

tribunal recorrido, aliados à demonstração efectuada por este quanto ao percurso da

formação da sua convicção no que tange aos factos dados como provados nos pontos

1, 2 (estes, inferidos de toda a dinâmica das movimentações dos arguidos e do

indivíduo não identificado que os acompanhava, da distribuição individual de tarefas e

da utilização de dois veículos automóveis, também com utilizações diversificadas) 7,

11, 14, 20, 21, 23, 24 e 25, resulta que a prova produzida foi apreciada com

razoabilidade, sendo os componentes apontados no acórdão como relevantes para a

decisão de facto coerentemente explanados e valorados de acordo com um raciocínio

lógico, racional e convincente, que não fere as regras da experiência comum. (…).

E, mais adiante, no que ao recorrente BB concerne:

(…) Afirma ainda o arguido BB que não foi efectuada prova por reconhecimento

pessoal, ao contrário da imposição legal.

Na verdade, não se vê que essa exigência esteja imposta em norma legal alguma para

a situação em apreço, designadamente por força do estatuído no artigo 147°, do CPP.

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Estabelece-se no seu n° 1, que "quando houver necessidade de proceder ao

reconhecimento de qualquer pessoa, solicita-se à pessoa que deva fazer a

identificação que a descreva, com indicação de todos os pormenores de que se

recorda. Em seguida, é-lhe perguntado se já a tinha visto antes e em que condições.

Por último, é interrogada sobre outras circunstâncias que possam influir na

credibilidade da identificação.".

Tendo as testemunhas elementos da PJ observado as características físicas do

arguido no dia do assalto e constatado cabalmente por via das referidas diligências

externas realizadas que o visado era aquele indivíduo com cabelo penteado em …,

cuja identificação apuraram ser BB, mostrava-se em absoluto desnecessário e mesmo

inútil, proceder ao seu reconhecimento nos termos da dita norma legal.

Por outro lado, ao contrário do que pretende fazer crer o recorrente e valendo aqui o

que deixámos expresso quando da apreciação do recurso interposto por AA, também

se tem de dizer que não existiu o reconhecimento fotográfico plasmado no n° 5, do

artigo 147°, do CPP, não sendo, por isso, o nele disposto aqui aplicável.

Em conclusão, não merecem censura os factos dados como provados pela 1a

instância, com os quais o recorrente discorda, que se mostram sustentados na prova

produzida, não se vendo que tenha existido obliteração de regras da experiência

comum ou sido postergado o princípio in dubio pro reo, pelo que se consideram

definitivamente assentes nos seus exactos termos.(…).

E, por fim, quanto ao recorrente CC:

(…) Já vimos anteriormente não merecer acolhimento este entendimento, pelos

fundamentos aduzidos que são válidos também em relação a este arguido e que se não

repetem pela razão apontada.

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A testemunha NN visualizou, sem margem para qualquer erro, as suas feições e demais

características físicas e confirmou a identificação no decurso das diligências externas

em que participou e já se apontaram.

E, tal como no que concerne aos demais arguidos, não se verificou quanto a ele o

reconhecimento fotográfico a que se reporta o n° 5, do artigo 147°, do CPP, que ao

caso não é aplicável. (…).

14.2. Vejamos.

Questão comum aos três recursos, é, pois, a alegação de que não houve lugar, na fase

preliminar do processo, a realização da prova por reconhecimento pessoal dos

recorrentes.

O recurso à prova por reconhecimento de pessoas, regulada no artigo 147.º, é

expressamente condicionado nos termos do seu n º 1, pela necessidade de a tal meio de

prova se recorrer quando houver necessidade de proceder ao reconhecimento de

qualquer pessoa.

Da leitura da fundamentação de facto e do exame crítico das provas que serviram para

formar a sua convicção, em cumprimento do n.º 2 do artigo 374.º, o Tribunal explicitou

as razões pelas quais, ainda na fase do inquérito, a identidade dos co-arguidos se

mostrava determinada, o que exclui a necessidade de recorrer a tal prova.

E, importa sublinhar que tal matéria de facto foi devidamente tratada pelo acórdão aqui

em análise.

Senão vejamos:

(…)As testemunhas MM, OO e NN, inspectores da Polícia Judiciária,

descreveram estar numa operação de vigilância no âmbito de um outro processo

quando se aperceberam das movimentações de duas viaturas, descrevendo passo por

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passo o que viram, terminando com a fuga dos assaltantes e a forma como

posteriormente concluíram pela identidade dos assaltantes, já que no momento em que

ali se encontravam não conheciam qualquer dos arguidos nem os mesmos estavam

sinalizados no âmbito do outro processo.

As três testemunhas referem estar, cada um deles, numa viatura automóvel

posicionados próximo da entrada principal do Centro Comercial. A testemunha MM

refere que está posicionada numa posição que lhe permite ver a entrada do Centro

Comercial, a testemunha NN que estava na Avenida e próximo da entrada do Centro

Comercial e a testemunha OO refere que estava numa rua que lhe permitia ver a

chegada da carrinha de valores.

O tribunal foi ao local onde as testemunhas - inspectores da polícia Judiciária

OO e MM - indicaram o local concreto onde se encontravam, bem como o seu colega

NN, sendo que tendo em atenção que o olho humano é incomensuravelmente mais

completo do que uma fotografia, será retratado o local em que os inspectores se

colocaram no espaço.

A inspectora da Polícia Judiciária MM tinha a seguinte visão:

Segundo a senhora inspectora encontrava-se no lugar de condutora da viatura

estacionada e que tem o círculo, sendo que a entrada do centro Comercial está

igualmente indicado com um círculo.

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O inspector NN, que não acompanhou o exame ao local tinha a sua viatura ligeira

estacionada, segundo os restantes inspectores, com a seguinte linha de vista:

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Já o senhor inspector OO que se encontrava num veículo algo mais alto, mas

estava numa rua próxima, sem visão directa para a entrada do Centro Comercial tinha

a seguinte visão:

A senhora inspectora refere que se apercebeu da chegada de uma viatura BMW

prateada, que estacionou na zona de onde saiu um individuo, com castas muito

compridas. Tal indivíduo saiu do carro fez um percurso subindo a rua em direcção ao

local da entrada do centro comercial, sendo que a determinada altura o perde de vista,

apenas notando pouco depois que terá retornado ao local em que se encontrava a

viatura por um caminho que não conseguiu precisar. Apercebeu-se então que havia um

outro BMW preto - série 1 - onde entraram 3 indivíduos.

Ambas as viaturas estavam estacionadas do lado direito do local em que estava

estacionada, tendo por isso uma visão sobre os mesmos.

A sua visão seria próxima da que se retrata:

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Ambas as viaturas saem do local, sendo primeiro o BMW série 1 preto e depois

o BMW cinzento prata, ambas as viaturas a baixa velocidade passando no local em que

se encontrava o inspector NN.

Voltou a aperceber-se que o BMW série 1 preto retornou ao local por indicação

do colega, mas ficou parado em local que não conseguia ver, mas essa manobra fez que

o seu colega NN tivesse de sair do local. Chegou entretanto ao local a carrinha de

valores.

Apercebeu-se então que um rapaz muito alto, com umas calças cinzentas com

uma risca preta e um casaco verde com capuz de pêlo saiu da zona de uma pequena

rua que dá acesso a umas garagens e faz o percurso para uma rua ao lado do Centro

Comercial. Neste momento ainda de cara descoberta.

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Enquanto isso se passava apercebem-se de alguém a correr para o Centro

Comercial e o rapaz alto a correr também, mas agora já com o capuz colocado na

cabeça, momento em que é dado o alerta de que se encontrava algo a ocorrer.

A inspectora dá o alerta e arranca com a viatura sendo que antes de chegar ao

local à frente do centro comercial já os assaltantes conseguiram sair pelo que optou

por tentar ir abordá-los pela frente, pelo que passou pela frente do centro comercial e

virou à direita e seguiu aquela rua, pensando que conseguiria ir abordá-los pela frente,

mas como não tinha bom conhecimento do local não conseguiu vir a encontrar

nenhuma das viaturas.

A testemunha NN refere que estava na viatura na Rua … e era quem estava mais

próximo e com melhor visibilidade para a porta do centro comercial.

Apercebe-se de um indivíduo … e de … que saiu de uma viatura e vem a fazer

um percurso aproximando-se da sua viatura passando próximo dele e olhando

directamente para a testemunha, fez um percurso e voltou à viatura. Apercebeu-se

também que houve três indivíduos que saíram de uma carrinha BMW prateada e

entraram no BMW serie 1 preto. Saíram as duas viaturas do local, passando de forma

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muito lenta por si e olhando para si. Deu as matrículas das viaturas aos colegas. lgum

tempo depois a viatura prateada voltou ao local e por sentir que podia ter sido

descoberta a sua vigilância ao local teve de sair do local com a sua viatura, sendo que

foi seguido pelo dito BMW por um percurso relevante depois de sair do local. Saiu do

local e estacionou a uma distância que não permitia a sua intervenção.

Reconheceu que quem circulava a conduzir a viatura BMW prateada era a

pessoa de … - o BB - e a viatura BMW série 1 preto era conduzida pelo CC, sendo

que referiu que a viatura tinha os vidros fumados, mas viu-o quando estava a fazer

a mudança de carro e depois quando passou muito devagar ao lado do seu carro e

olhou para ele com o vidro aberto. Das outras duas pessoas que viu no local, a

mudar de uma viatura para outra apercebeu-se que uma delas era mais alta. Do

local onde estava não viu nada do assalto em si.

A testemunha OO refere que estava a alguma distância, pelo que apenas tinha

uma visão parcial do local.

Vê chegar a carrinha de valores, sendo que consegue apenas ver parte do

percurso que o porta valores faz entre a porta da carrinha e a porta do centro

comercial. Viu que saíram dois indivíduos de um BMW série 1 próximo da zona da

rua que dá acesso às garagens, viatura que já anteriormente tinha andado por ali e

que por isso estava atento quando chegou, sendo que um desses indivíduos que vê sair

tinha um blusão verde e se afastou para o interior da Avenida … (para a esquerda da

entrada do centro Comercial) tendo deixado de o ver, e o de roupa preta dirigiu-se

para a zona da carrinha de valores, fazendo ambos este percurso:

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Apercebendo-se de que algo se passava e perante o alerta da sua colega

também dá início à marcha e dirigiu-se à Avenida …, e com a sua viatura seguiu

os dois assaltantes que já iam a correr. No entanto e tendo feito o percurso de

carro, pelas manobras que teve de fazer e pelas pessoas que estavam na dita rua

não conseguiu abordá-los, tendo feito parte do percurso a correr atrás dos mesmos.

Apercebeu-se então que os dois indivíduos entraram na viatura automóvel BMW

prateado algumas ruas mais à frente. Em tal viatura encontrava-se um indivíduo negro

com … - que reconhece como o arguido BB - que estava ao volante da viatura com a

janela meio aberta.

Esta seria a visão do senhor inspector:

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Ao aproximarem-se da viatura os assaltantes entraram na mesma e todos

abandonaram o local.

Os depoimentos dos inspectores são coerentes e credíveis, sendo que no local

se percebe melhor a proximidade entre os locais e a possibilidade de se distinguir

alguns pormenores indicados pelos senhores inspectores.

Os inspectores foram claros ao referirem que os arguidos não eram os alvos da

acção que estavam a realizar pelo que não os conheciam, sendo claro também que não

conheciam o local circundante, tendo reagido a uma situação com que se depararam e

para o qual não estariam preparados. Depois tiveram de fazer a investigação para

conseguir chegar às pessoas que viram naquele dia, não tendo logrado identificar um

deles. Estiveram apenas duas pessoas junto do porta valores, e para além disso e como

intervenientes estiveram as outras duas pessoas que estavam nas viaturas

intervenientes, mais concretamente o BMW série 1 preto, que coloca os dois indivíduos

que abordam o porta valores no local e quem os vai buscar umas ruas mais à frente é

a carrinha BMW prateada. As matrículas foram recolhidas ainda antes de chegar ao

local a carrinha de valores, atentas as manobras consideradas estranhas pelos

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inspectores e que bem se podem dizer que são manobras de vigilância do local, sendo

que nos momentos seguintes são vistas várias vezes nas proximidades.

O inspector OO consegue identificar, sem dúvidas, o arguido BB como a

pessoa que estava a conduzir a viatura BMW prateada, que viu quando este esperava

pelos dois assaltantes, e consegue aperceber-se que a pessoa que estava com um

blusão verde era bastante alto, e pela forma de andar e de se comportar não tem

dúvidas ser o arguido AA, pessoa que viu mais tarde em algumas vigilâncias.

A inspectora MM reconhece como o condutor da carrinha BMW prateada o

arguido BB, que tinha saído da mesma feito um percurso a pé, e reconhece o arguido

AA, como o indivíduo que estava com o blusão verde, e que viu sem o capuz colocado

quando estava a fazer o percurso em diagonal entre a zona da rua das garagens e a

rua perpendicular à rua da entrada do centro comercial imediatamente antes do

início do assalto.

O inspector NN reconhece como condutor da carrinha BMW prateada o

arguido BB e como condutor do BMW série 1 preto o arguido CC. Também este

inspector reconhece como a pessoa mais alta que viu fazer o percurso de uma viatura

para a outra o arguido AA, pessoa que voltou a ver em ….

O arguido CC, negando a prática dos factos de 25 de Novembro, admite que

conduzia habitualmente a viatura BMW, série 1, preto, de matrícula 00-QG-00, o que

fez durante o ano de 2016. O arguido BB também reconhece que por vezes podia

conduzir a viatura BMW prateada de matrícula 00-PE-00, mas que a mesma não lhe

pertencia e que o fazia a pedido do dono da mesma, de nome PP, mas não se recorda

de o ter conduzido na …. Também este arguido nega a prática dos factos de 25 de

Novembro de 2016 de que é acusado.

No dia em questão foi realizada a reportagem fotográfica que consta a fls.

12/15. A fls. 16 consta uma imagem aérea do local.(…).

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14.3. Assim,

Vista a matéria factual assente e o acervo probatório produzido e examinado em

audiência de julgamento (com destaque para a prova testemunhal trazida por três

inspectores da UNCT da PJ, que se encontravam no local, a executar uma vigilância no

âmbito de outro processo) ressaltam, de forma clara, as razões pelas quais tais

testemunhas, que não conheciam, até então, nenhum dos três arguidos, lograram vir a

identifica-los e a estabelecer as suas identidades, com excepção de um quarto elemento.

Com efeito, e, em síntese, no âmbito da suprarreferida vigilância, aquelas testemunhas

encontravam-se nas proximidades do " Centro Comercial das ..." no interior de três

viaturas: o inspector-chefe da PJ- OO- que coordenava a operação e a quem eram

transmitidos, via rádio, aquilo que os demais inspectores iam visualizando. Daí que,

como minuciosamente se explicita no acórdão recorrido, o Tribunal Colectivo, em sede

de 1.ª Instância, realizou uma inspecção ao local do crime, com recolha de fotografias, o

que permitiu visualizar os concretos locais onde as três testemunhas, inspectores da PJ

se encontravam na altura dos factos estacionados, e como foi possível a cada um deles,

obter contacto visual com os comparticipantes nos factos em causa nos presentes autos.

E, não passou despercebido tanto à inspectora MM, assim como ao seu colega NN, a

chegada ao local, dos dois veículos utilizados pelos arguidos, uma carrinha cinza

prateada, da marca BMW, modelo 320, matrícula 00-PE-00, conduzida por um

indivíduo de raça …, com a “particularidade de ter o cabelo com … ” (testemunha

MM) que tendo, assim, tido a oportunidade de ver o recorrente BB, ao volante da

referida carrinha BMW, bem como, igualmente de cara destapada, viu e transcreve-se

“um rapaz de raça …, muito alto, com um …, com um casaco verde tropa, com um

carapuço em pelo revestido à volta, calças cinzentas, com umas tiras pretas, que

passou assim, como numa diagonal, ao sair das garagens para a esquina oposta, já na

Rua …”. Nas duas vezes em que o viu, esta testemunha disse que este último

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“encontrava-se de cara descoberta, sem ter o carapuço colocado na cabeça”, vindo

mais tarde a identificá-lo como sendo o co-arguido AA.

Por sua vez, a testemunha NN, (inspector da PJ), apercebeu-se que o BMW de cor cinza

prateada, modelo 320, matrícula 00-PE-00, estacionou na retaguarda da viatura onde

estava, à distância de um carro, viu o seu condutor sair da mesma, chamando-lhe a

atenção o facto de ter atravessado para o outro lado da rua, olhando para si, não tendo

fechado a viatura: “Vi-o muito bem (......) pois era de um lado para o outro da estrada.

Tinha cerca de 0,00 / 0,00m de altura, envergava um fato de treino todo cinzento e

tinha o cabelo com … ”. Era o condutor da carrinha BMW. Este, veio a ser por si

identificado, como sendo o co-arguido BB. Viu também o BMW de cor preta, Série 1,

matrícula 00-QG-00, e quando este estava a passar ao lado do veículo onde estava,

“parou uma fracção de segundo, donde conseguiu ver perfeitamente as feições do

condutor”, tendo comunicado ao piquete a matrícula do veículo, vindo aquele a ser

identificado por si, como sendo o co-arguido CC. Por seu turno, a testemunha OO, além

do mais, conseguiu ver a sair do BMW preto, dois indivíduos de raça …, um vestido

com roupa completamente preta, e outro com um casaco verde, tipo tropa, com um

capuz que não estava colocado na cabeça, com pelo à volta, que estavam a sair das

garagens, e que veio a identificar como sendo o arguido C. Tendo tentado perseguir os

dois indivíduos que fugiam correndo, ainda viu um indivíduo …, de … a conduzir um

BMW onde aqueles entraram, logrando fugir.

Sem querer aqui reproduzir o que se refere no acórdão recorrido quanto à forma como, a

partir deste primeiro momento, foi possível estabelecer a identidade de três, dos quatro

co-autores do roubo em apreço, dir-se-á simplesmente que, após este contacto inicial,

consultadas as bases de dados competentes, foi possível localizar e visualizar, de novo

os três co-arguidos, que já perfeitamente identificados, continuaram a ser alvo de

vigilâncias onde foram vistos, várias vezes. Assim, desde muito cedo, deixou de existir

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qualquer “indeterminação prévia dos agentes do crime”, pressuposto fundamental da

prova por reconhecimento e da sua necessidade.

Destarte, a confirmação “da identidade de alguém que se encontra presente, e

perfeitamente determinado, apenas poderá ser encarado como integrante do respectivo

depoimento testemunhal”6.

Vale isto, por dizer, que a valoração do declarado, em audiência, por cada uma das

testemunhas, inspectores da PJ, não ocorre, assim, num contexto de prova proibida,

antes segue as regras da prova testemunhal.

Compulsada a decisão recorrida que se transcreveu, resulta claramente que dali decorre

que no âmbito do inquérito não foi efectuado qualquer reconhecimento. Razão pela qual

entendemos que, por isso, não fará sentido falar-se na falta de observâncias das

formalidades legais relativamente a um meio de prova inexistente.

Aliás, esta questão foi bem ponderada pelo TRL quando decidiu pela não

obrigatoriedade deste meio de prova.

Não se verifica, deste modo, a arguida nulidade do acórdão recorrido por utilização de

um meio de prova proibido.

14.4. Vejamos ainda.

Resulta do disposto no artigo 147. °, que a prova por reconhecimento terá lugar quando

houver necessidade de proceder ao reconhecimento de qualquer pessoa. Tal leva-nos à

conclusão de que pressuposto da necessidade do reconhecimento, em inquérito, será a

necessidade da identificação do agente do crime, da sua determinação.

6 "Código de Processo Penal", Almedina, 2016- 2ª edição, nota 7- Acórdão do STJ, de 15 de Setembro de

2010 in fine a págs. 147.

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Tresle-se ainda da matéria de facto fixada (a qual não é objecto dos recursos em apreço)

que não se ofereceram dúvidas aos investigadores sobre a caracterização individualizada

dos autores do crime de roubo, pelo que mal se compreenderia o accionamento do artigo

147. °, que só opera quando haja necessidade de concretizar a identificação dos

reconhecidos, o que não ocorreu no presente caso. Com efeito, os elementos policiais

que acompanharam o desenrolar dos factos, vieram a observar e a identificar os ora

recorrentes nas fichas biográficas e digitais da PJ e nas vigilâncias em …, no próprio dia

da consumação dos factos relativos ao roubo.

Mas, não sendo obrigatório, no inquérito, a realização do reconhecimento pessoal, nos

termos disciplinados no artigo 147. °, como meio de obtenção de prova, haverá, no

entanto, que ponderar se a prova produzida em julgamento se mostra inquinada pela

falta de um reconhecimento, ainda que não obrigatório, e como a mesma deveria ter

sido valorada.

A questão reconduz-se em 1.º lugar à definição da prova produzida em julgamento que

identifica os arguidos como os agentes dos crimes imputados e pelos quais foram

condenados e, em 2.º lugar, ao alcance do princípio da livre apreciação da prova

consagrado no artigo 127. °, com reflexo na apreciação dos depoimentos produzidos,

nomeadamente, daqueles que sustentaram a imputação subjectiva dos crimes aos

recorrentes.

Relativamente à 1.ª questão, repete-se o que já se disse, que o depoimento prestado

pelas testemunhas em julgamento não consubstancia prova por reconhecimento não se

lhe aplicando as regras do artigo 147. º, mas sim, as regras da prova testemunhal.

A prova testemunhal e a prova por reconhecimento não são confundíveis. A 1.ª

pressupõe depoimentos prestados nos termos do disposto no artigo 348.º, os quais

digam-se, desde já, são livremente apreciados pelo tribunal; a 2.ª pressupõe a

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indeterminação do agente do crime e obedece aos requisitos impostos pelo já citado

artigo 147.º.

Relativamente à 2.ª questão, acresce que em sede de audiência do julgamento rege o

princípio da publicidade e do contraditório e os depoimentos prestados são livremente

apreciados pelo tribunal. Vale aqui o princípio consagrado no artigo 127. °- livre

apreciação da prova-, o qual enforma, na vertente probatória, o nosso direito processual

penal.

Na verdade, sabendo-se que as testemunhas inquiridas não realizaram antes do

julgamento qualquer reconhecimento (formalmente falando), a confirmação da

identificação dos arguidos, como os agentes dos crimes, que visualizaram na audiência

de discussão e julgamento, não constitui um "reconhecimento" em sentido próprio, mas

antes um reconhecimento atípico ou informal, uma mera identificação dos arguidos que

se insere no depoimento da testemunha e segue o regime estabelecido no Código de

Processo Penal, para esse depoimento, podendo, por isso, ser valorado de acordo com o

princípio da livre apreciação da prova, estabelecido no atrás referido artigo 127.°. Trata-

se, ao fim ao cabo, de prova por depoimento, ou seja, de prova testemunhal 7.

Resumindo, no que concerne à questão do reconhecimento, o Acórdão recorrido (do

TRL) interpretou e aplicou adequadamente a lei, não merecendo qualquer censura.

Improcedem, pois, as questões, a este propósito, suscitadas pelos recorrentes, ou sejam,

a invalidade do reconhecimento dos arguidos, tal qual foi efectuada nos autos, o que

acarreteria no entender dos arguidos, a nulidade do acórdão recorrido, o qual se

socorreu dos princípios da livre apreciação da prova, da convicção do juiz e das regras

da experiência comum, e deu credibilidade a prova proibida e ilegal, ferida de nulidade,

e com base nela condenou os recorrentes.

7 Acórdão do Tribunal da Relação de Évora, de 21.05.2013, relatado pela Desembargadora Ana Barata de

Brito, no processo 934/10.4PBSTR.E1, disponível em www.dgsi.pt

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14.5. Reage ainda o recorrente AA na sua resposta apresentada neste STJ, ao abrigo do

n.º 2, do artigo 417.º, claramente pondo em causa a matéria factual já assente em 2.ª

Instância quanto à forma como as testemunhas, inspectores da PJ, tiveram

conhecimento das identidades dos arguidos, não do recorrente, por aqueles terem as

viaturas registadas em seu nome, ou seja, através dos registos automóveis e este último

não, por não ter em seu nome qualquer viatura.

Recordemos o seguinte: como atrás se disse, a nulidade que invoca, confundindo prova

por reconhecimento com prova testemunhal, é por demais evidente que não se verifica.

Nos termos do artigo 434. °, os recursos para este STJ visam exclusivamente questões

de direito, sem prejuízo da detecção de vícios decisórios ao nível da matéria de facto

emergentes da simples leitura do texto da decisão recorrida, por si só, ou conjugada com

as regras da experiência comum, referidos no artigo 410. °, n.° 2, e/ou nulidade da

decisão, nos termos do artigo 379. °, n.°2 - cfr. artigo 410.º, n.°3.

Visando o recurso matéria de direito, como se disse, haverá lugar a conhecimento

oficioso dos vícios previstos na aludida disposição legal porquanto a decisão não deverá

apoiar-se em matéria de facto claramente insuficiente ou fundada em erro ou em

premissas contraditórias.

Por isso, quando por força da existência de qualquer dos vícios elencados no artigo 410.

°, n.°2, o STJ não "reaprecia" a matéria de facto, limitando-se a declarar a existência do

vício e a determinar o reenvio do processo para novo julgamento.

O que, como se viu, não se verifica.

Tal está sobejamente demonstrado no Acórdão e na sua fundamentação.

14.6. Também a invocação por parte deste arguido AA de que o TRL omitiu pronúncia

por não ter abordado a questão da legalidade e, até, sobre a questão da

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constitucionalidade do reconhecimento, improcede. Com efeito, tendo o tribunal a quo

considerado, e bem, que reconhecimento algum tinha sido levado a cabo nos autos e que

este era, pois, inexistente, prejudicadas ficaram, assim, as questões suscitadas pela

defesa, neste particular. Dito de outro modo, não poderia o tribunal ter decidido da

legalidade e da constitucionalidade suscitada relativamente a uma norma que

disciplina um meio de obtenção de prova que considerou inexistente.

Falece, assim, razão a este recorrente quanto à invocada nulidade do acórdão recorrido,

por omissão de pronúncia.

E posta a questão de nulidade do Acórdão pelo recorrente AA, já não quanto aquilo que

considera como prova proibida, mas quanto ao facto de o TRL não se ter pronunciado

pela insconstitucionalidade que invocou nas suas alegações de recurso para aquele

Tribunal, entendemos que independentemente de o TRL ao ter considerado que a prova

era testemunhal, e não prova por reconhecimento, certamente afastou qualquer

insconstitucionalidade da norma, ainda que implicitamente. Tal questão não se lhe

colocava.

O recorrente AA vem arguir, a este propósito, a nulidade do acórdão proferido pelo

TRL, invocando para tal, omissão de pronúncia, nos termos que melhor constam das

conclusões de recurso sob as letras A a K e convocando o disposto no artigo 379°, n°l,

alínea c), aplicável ex vi artigo 425°, n°4, por violar os princípios do contraditório e da

defesa impostos pelo artigo 32º, n.ºs 1, 5 e 7 da CRP, inconstitucionalidade esta que

arguiu.

Ora, dispõe o artigo 379°, n.° l, alínea c), que é nula a sentença e cita-se (...) quando o

tribunal deixe de pronunciar-se sobre questões que devesse apreciar ou conheça de

questões de que não poderia tomar conhecimento. (…).

Como é jurisprudência pacífica do STJ (cfr., por todos, Ac. do STJ de 03-07-2008,

processo 08P1312, disponível em www.dgsi.pt), a omissão de pronúncia só se verifica

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quando o juiz deixa de pronunciar-se sobre questões que lhe foram submetidas pelas

partes ou de que deve conhecer oficiosamente, entendendo-se por questões, os

problemas concretos a decidir e não os simples argumentos, opiniões ou doutrinas

expendidas pelas partes na defesa das teses em presença. Ou dito por outra forma,

quando o tribunal não se tiver pronunciado sobre uma questão de que devesse tratar no

percurso lógico que conduziu à solução adoptada.

Ora, a invocação de que o TRL omitiu pronúncia porque não se pronunciou sobre a

questão da legalidade e, até, sobre a questão da constitucionalidade do reconhecimento,

improcede. Com efeito, tendo o tribunal a quo considerado que reconhecimento algum

tinha sido levado a cabo nos autos e que este era, pois, inexistente, prejudicadas ficaram,

assim, as questões suscitadas pela defesa, neste particular. Dito de outro modo, não

poderia o tribunal ter decidido da legalidade e da constitucionalidade suscitada

relativamente a uma norma que disciplina um meio de obtenção de prova que

considerou inexistente.

Falece, assim, razão a este recorrente quanto à invocada nulidade do douto acórdão

recorrido, por omissão de pronúncia sobre a questão da inconstitucionalidade que

arguiu.

Mas, constituindo esta alegação matéria de direito e estando esta no âmbito dos poderes

de cognição deste STJ, é admissível o seu suprimento por este Tribunal, nos termos do

artigo 379.º, n.º 2.

Pelas razões já sobejamente descritas no ponto 14.4 deste acórdão, para onde se remete,

ao depoimento prestado pelas testemunhas em julgamento, aplicam-se as regras da

prova testemunhal, sendo aquele depoimento livremente apreciado pelo tribunal; em

sede de audiência de julgamento rege o princípio da publicidade e do contraditório,

valendo o princípio consagrado no artigo 127. °.

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Por todas estas razões, improcede a alegação de insconstitucionalidade arguida pelo

arguido AA.

14.7. Alega ainda o arguido AA que o acórdão do TRL não analisou qualquer dos

fundamentos constantes da resposta ao Ministério Público que apresentou, pelo que o

mesmo está ferido de nulidade prevista no artigo 379.º, nº 1, c), pois o TRL estava

adstrito a pronunciar-se sobre as questões constantes tanto do recurso, quanto da

resposta elaborada nos termos do 417.º, nº 2.

Compulsados os autos, destaca-se o seguinte:

• O acórdão proferido em sede de 1.ª instância foi proferido a 30.11.2018 (fls.

3857 a 3894 v);

• Dele vieram recorrer os três arguidos, nomeadamente o AA (fls. 3898v a 3928;

• Os recursos foram admitidos (fls. 3970);

• A magistrada do Ministério Público veio apresentar a sua resposta aos recursos

(fls. 3980 a 3991);

• Foi proferido despacho judicial a ordenar a notificação da defesa do teor destas

contra-alegações (fls. 3992);

• Foram os autos remetidos ao TRL (fls. 3993);

• Foi apresentado Parecer, nos termos do disposto no artigo 416.º (fls. 3995 a

4002);

• Foi o mandatário deste recorrente (e dos outros recorrentes) notificado nos

termos do disposto no n.º 2, do artigo 417.º (fls. 4003, remetido em 26.02.2019),

para responder, querendo, no prazo de 10 dias, contando-se o prazo nos termos

do disposto do artigo 113.º;

• Foram solicitadas, a 25/03/2019, peças processuais ao tribunal de 1. ª instância

(fls. 4007), que as remeteu, encontrando-se juntas de fls. 4009 a 4028;

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• Os autos foram remetidos para conferência que se realizou a 9.04.2019, tendo o

acórdão sido publicado nesse mesmo dia e notificado pela via legal aos

recorrentes;

• Foram interpostos os recursos agora em apreciação.

Feita uma consulta ao sistema citius, nada consta quanto ao registo de entrada de uma

resposta nos termos postos pelo recorrente.

Deste modo, a matéria constante das conclusões de recurso correspondentes as letras A)

a H) não procede, pois como atrás se disse, o Tribunal pronunciou-se sobre os

documentos que estavam no processo, e como se viu aqueles que o recorrente alega ter

juntado não estão, nem nunca estiveram juntos aos autos.

Falece, assim, razão a este recorrente quanto à invocada nulidade do acórdão recorrido,

por omissão de pronúncia.

15. Da medida das penas.

Como se disse no ponto 11. deste Acórdão, é da competência deste STJ, o reexame das

penas únicas e ainda das penas parcelares decretadas pela comissão do crime de roubo

agravado, aos co-arguidos CC e BB.

Tais penas foram examinadas pelo TRL que, de resto, como se vem supra de consignar

as confirmou (dupla conforme perfeita) pelo que este Tribunal, apenas decidirá sobre a

aferição da correcção das operações de determinação da pena única e da referida pena

aplicada pelo crime de roubo, que foram confirmadas pelo TRL e fixadas em medida

superior a 8 anos de prisão.

Vejamos.

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15.1.

A determinação da pena é realizada em função da culpa e das exigências de prevenção

geral de integração e da prevenção especial de socialização, de harmonia com o disposto

nos artigos 40.º e 71.º do CP, devendo, em cada caso concreto, corresponder às

necessidades de tutela do bem jurídico em causa e às exigências sociais decorrentes da

lesão praticada, sem esquecer que deve ser preservada a dignidade humana do

delinquente.

Para que se possa determinar o substrato da medida concreta da pena, dever-se-ão ter

em conta todas as circunstâncias que depuserem a favor ou contra o arguido,

nomeadamente, os factores de determinação da pena elencados no n.º 2, do artigo 71.º,

do CP. Nesta valoração, o julgador não poderá utilizar as circunstâncias que já tenham

sido utilizadas pelo legislador aquando da construção do tipo legal de crime, e que tenha

tido em consideração na construção da moldura abstrata da pena (assegurando o

cumprimento do princípio da proibição da dupla valoração).

Por seu turno, o artigo 40.º, n.º 1 estabelece que “a aplicação de penas visa a protecção

de bens jurídicos e a reintegração do agente na sociedade” e, no n.º 2, que “em caso

algum a pena pode ultrapassar a medida da culpa”.

Assim, a finalidade primária da pena é a de tutela de bens jurídicos e, na medida do

possível, de reinserção do agente na comunidade. À culpa cabe a função de estabelecer

um limite que não pode ser ultrapassado.

Na lição de Figueiredo Dias, a aplicação de uma pena visa acima de tudo o

“restabelecimento da paz jurídica abalada pelo crime”. Uma tal finalidade identifica-se

com a ideia da “prevenção geral positiva ou de integração” e dá “conteúdo ao princípio

da necessidade da pena que o artigo 18.º, nº 2, da CRP consagra de forma

paradigmática”.

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Há uma “medida óptima de tutela dos bens jurídicos e das expectativas comunitárias

que a pena se deve propor alcançar”, mas que não fornece ao juiz um quantum exacto

de pena, pois “abaixo desse ponto óptimo ideal outros existirão em que aquela tutela é

ainda efectiva e consistente e onde, portanto a pena concreta aplicada se pode ainda

situar sem perda da sua função primordial”.

Dentro desta moldura de prevenção geral, ou seja, “entre o ponto óptimo e o ponto

ainda comunitariamente suportável de medida da tutela dos bens jurídicos (ou de

defesa do ordenamento jurídico)” actuam considerações de prevenção especial, que, em

última instância, determinam a medida da pena. A medida da “necessidade de

socialização do agente é, em princípio, o critério decisivo das exigências de prevenção

especial”, mas, se o agente não se “revelar carente de socialização”, tudo se resumirá,

em termos de prevenção especial, em “conferir à pena uma função de suficiente

advertência” (Direito Penal, Parte Geral, Tomo I, 2007, páginas 79 a 82).

Após estas brevíssimas considerações, vejamos cada caso em concreto.

15.2.

O recorrente BB, foi condenado pela prática, como co- autor material, de um crime de

roubo, p. e p. pelo artigo 210.°, n.ºs 1 e 2, alínea b), por referência ao artigo 204.°, n° 2,

alínea a), do CP, na pena de 8 anos e 6 meses de prisão; pela prática, em autoria

material, de um crime de tráfico de estupefacientes, p. e p. pelo artigo 21.°, n° 1, do

Decreto-Lei n° 15/93, de 22/01, por referência às tabelas anexas I-B e I-C, na pena de 5

anos de prisão; pela prática, em autoria material, de um crime de detenção de arma

proibida, p. e p. pelos artigos 2.°, n.ºs 1, alíneas p), q) e x) e 3, alínea p), 3.°, n.ºs 1 e 2,

alíneas g), 1) e q) e 4 e 86.°, n.° 1, alínea c), da Lei n.° 5/2006, de 23/02, na pena de 1

ano e 4 meses de prisão.

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Após cúmulo jurídico, foi aplicada ao arguido BB a pena única de 10 anos e 6 meses

de prisão.

Entende o recorrente que foram violados os artigos 40.º e 71.º do CP, porquanto a

medida da culpa excede a medida da pena, devendo ser condenado nos seguintes

termos:

- pelos crimes de tráfico de droga e de roubo, nas penas de 4 anos de prisão e 5

anos e 6 meses de prisão, respectivamente e em cúmulo jurídico, na pena única de 6

anos e 10 meses de prisão;

-pela prática, em autoria material, de um crime de detenção de arma proibida, p. e

p. pelos artigos 2. °, n.ºs 1, alíneas p), q) e x) e 3, alínea p), 3.°, n.ºs 1 e 2, alíneas g), 1)

e q) e 4 e 86.°, n.° 1, alínea c), da Lei n.° 5/2006, de 23/02, na pena de multa.

Como sobejamente já se disse, apenas procederemos ao reexame das penas únicas e da

pena parcelar decretada pela comissão do crime de roubo agravado.

Recorde-se o que a respeito deste arguido diz o acórdão recorrido, sendo certo que neste

plano, ademais do passo em que se não vê materialmente contraditado, não pode senão

avocar-se, reiterando-o, sentido da decisão levada em 1.ª instância com o sufrágio do

Tribunal da Relação de Lisboa:

(…) - O grau de ilicitude dos factos e o modo de execução dos mesmos:

No que respeita ao crime de roubo (todos os arguidos) teremos que o mesmo teve na

sua execução um cuidado planeamento, com intervenção de quatro pessoas, e tendo

um deles na sua posse algo que parecia uma arma de fogo, não se tratando de um

crime de oportunidade, a acrescer a isso teremos que o porta valores foi fisicamente

agredido de forma a que lhe resultaram lesões que determinaram 10 dias de doença.

A ilicitude do comportamento é elevada e de intensidade também já elevada.

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- A gravidade e consequências da conduta dos arguidos:

No que respeita ao crime de roubo (todos os arguidos) não só o porta valores DD

ficará marcada psicologicamente com a experiência por que passou, como em termos

sociais houve uma maior insegurança na zona. O valor subtraído não foi recuperado.

- A intensidade do dolo:

Os arguidos actuaram em todas as circunstâncias com dolo, sabendo da ilicitude

da sua conduta e pretendendo fazer seus os bens e valores de terceiros, se

necessário com violência. Desta maneira quiseram, e conseguiram, fazer seus os

64.000,00 euros. Os sentimentos manifestados no cometimento dos crimes e os fins ou

motivos determinantes e as condições pessoais do arguido e a sua situação económica

- os arguidos à data não tinham modo de vida conhecido, pretendendo quanto ao

crime de roubo melhorar a sua situação económica .

As necessidades de prevenção geral são elevadas para todos os crimes, atenta a

quantidade de idênticos factos que são praticados desta forma.

E são igualmente elevadas as necessidades de prevenção especial, mais

concretamente:

O arguido BB tem três condenações anteriores, sendo as mais relevantes aquela a

que foi condenado em 2007, por factos de 2005, tendo-lhe sido aplicada uma pena

única de 6 anos e 9 meses de prisão pela prática de doze crimes de roubo, em 2007

foi-lhe aplicada uma pena de 12 meses de prisão, cuja execução ficou suspensa pela

prática de um crime de roubo. O arguido apenas teve a sua liberdade definitiva em

31/07/2015, sendo que pouco mais de um ano depois estava a reincidir no mesmo

tipo de comportamentos.

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O arguido residia com a companheira e … menores, … deles filho do casal, tendo

ainda o arguido mais 0 filhos fruto de outros relacionamentos.

O arguido possui competências pessoais e sociais, nomeadamente ao nível da

comunicação interpessoal, com um estilo assertivo e educado, da descentração,

reconhecendo a existência de pontos de vista diferentes do seu, e do pensamento

consequencial.

Todos os arguidos já estiveram reclusos pela prática do crime de roubo, em penas de

prisão longas, e tinham terminado o cumprimento de tais penas há menos de 3 anos

em qualquer dos casos. Há ainda que ter em atenção o alto valor subtraído, a

violência do comportamento e a organização do mesmo, bem como o perigo de

retorno ao mesmo tipo de comportamento por parte dos arguidos, pelo que se entende

proporcional e adequada aos factos referentes ao crime de roubo a aplicação da pena

de 8 anos e 6 meses de prisão a cada um dos mesmos.

Face ao que supra ficou transcrito, é patente que a decisão revidenda levou em linha

de conta e de forma correcta, os factores relevantes para a determinação concreta das

penas parcelares, nos termos estabelecidos no artigo 71°, n.ºs 1 e 2, do CP.

Diz-nos o recorrente que "a medida da pena excede a medida da sua culpa, porquanto

das movimentações descritas estamos perante um mero condutor de uma viatura".

Olvida, porém, que foi acusado e considerado foi também pela 1.ª instância que a sua

comparticipação no crime de roubo revestiu a forma de co-autoria, como plasmado se

encontra no acórdão recorrido, onde se pode ler: Assim, e atento o supra exposto

entende-se que se mostram preenchidos os elementos objectivos e subjectivos de um

crime de roubo, pelo que terão os arguidos de ser condenados pela prática, em co-

autoria material, de um crime de roubo, p. e p. pelo artigo 210.°, n.° 1, e 2, alínea b),

por referência ao artigo 204.°, n.° 2, alínea a), do Código Penal.

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Ora, o arguido BB foi o condutor do veículo que proporcionou a saída do local (a

fuga) aos agentes que interceptaram o porta-valores da "ESEGUR" (o arguido AA e

um outro indivíduo não identificado) e lhe retiraram, com utilização de violência

física, a quantia monetária que transportava. Essa era a tarefa que lhe estava

atribuída conforme o plano previamente estabelecido e, na economia da actuação,

apresenta-se tão relevante a sua actuação como a dos outros intervenientes.

Ao nível da prevenção geral, as exigências assumem fortíssima intensidade, tendo em

atenção a frequência com que é praticado o crime de roubo e o elevado alarme social

que cada vez mais este tipo de criminalidade suscita no seio da comunidade, criando

nos seus membros forte sentimento de insegurança, potenciando a perda de confiança

dos cidadãos no próprio Estado como principal regulador da paz social, impondo-se,

por isso, o reforço da validade da norma violada.

As exigências de prevenção especial assumem igualmente forte relevância,

considerando as condenações averbadas à data da prática dos factos (entre o mais,

pela prática de treze crimes de roubo, sendo onze deles qualificados), o benefício de

liberdade condicional, com extinção da pena em 30/09/2015 (que não cumpriu o

escopo de o determinar a enveredar pela abstenção do cometimento de crimes) e a

ausência de qualquer sentido crítico relativamente ao desvalor do seu comportamento

delituoso (da confissão relativa aos crimes de tráfico de estupefacientes e detenção de

arma proibida, só por si, não se extrai a conclusão pela interiorização do mal dos

comportamentos criminosos) não havendo dúvidas de que o arguido carece de

socialização, com necessidade de fidelização ao Direito, tendo-se em vista a prevenção

da prática de futuros crimes, mas importando também considerar a contribuição da

pena para a sua reinserção social.

Pelo exposto, efectuado juízo de ponderação sobre a culpa, como medida superior da

pena e considerando as exigências de prevenção e as demais circunstâncias previstas

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no artigo 71°, do Código Penal, não se mostra que as penas de 8 anos e 6 meses de

prisão, 5 anos de prisão e 1 ano e 4 meses de prisão em que foi condenado, extravasem

a medida da respectiva culpa e também não ultrapassam os limites dentro dos quais a

justiça relativa havia de ser encontrada, mostrando-se adequadas e

proporcionais.(…).

Apreciemos.

Da leitura do acórdão recorrido verifica-se que foram consideradas para a determinação

das penas concretas, todas as circunstâncias relevantes, quanto ao grau de ilicitude dos

factos e o modo de execução dos mesmos, quanto à gravidade e consequências da

conduta do arguido e a intensidade do dolo. Foram ainda ponderadas as necessidades

de prevenção geral e de prevenção especial.

De onde resulta que:

A ilicitude do comportamento do ora recorrente é elevada, sendo de intensidade

também elevada: a ilicitude da conduta do arguido é referenciada pelo modo e

circunstâncias da execução, tendo o arguido actuado (com os seus co-arguidos) em

todas as circunstâncias com dolo directo, sabendo da ilicitude da sua conduta e

pretendendo fazer seus os bens e valores de terceiros, se necessário com violência.

Desta maneira quis, e conseguiu fazer seus (em co-autoria) os 64.000,00 euros.

Ao nível da prevenção geral, as exigências assumem uma intensidade muito robusta,

tendo em atenção a frequência com que é praticado o crime de roubo8 e o elevado

alarme social que cada vez mais este tipo de criminalidade causa no seio da

8 Relembre-se que o crime de roubo é um delito pluriofensivo pois acautelam-se com a incriminação

valores tão díspares como o património, a integridade física, a vida humana e, até, a própria liberdade de

movimentos, sendo a agravação em relação ao furto determinada pela componente pessoal do crime, pois

quer a subtracção quer o constrangimento à entrega de coisa móvel devem ser praticados pela forma

taxativamente descrita no tipo legal do artigo 210.º, n.º 1, do CP : por meio de violência, ameaça à

integridade física ou colocação da vítima na impossibilidade de resistir.

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comunidade, contribuindo para os cidadãos um forte sentimento de insegurança,

impondo-se, por isso, o reforço da validade da norma violada.

As exigências de prevenção especial assumem igualmente forte relevância,

considerando quanto ao arguido as condenações averbadas à data da prática dos factos

(entre o mais, pela prática de treze crimes de roubo, sendo onze deles qualificados9), o

benefício de liberdade condicional, com extinção da pena em 30/09/2015 (que não

cumpriu o escopo de o determinar a enveredar pela abstenção do cometimento de

crimes) e a ausência de qualquer sentido crítico relativamente ao desvalor do seu

comportamento delituoso. Ou seja dizer que as penas de prisão que cumpriu não

serviram de suficiente factor dissuasor.

Assim, realçam-se os sentimentos manifestados no cometimento dos crimes e os fins

ou motivos determinantes e as condições pessoais do arguido e a sua situação

económica, não tendo modo de vida conhecido, pretendendo com a prática do crime de

roubo melhorar a sua situação económica .

Não se mostram,pois, preenchidas, neste momento,as condições necessárias para se crer

que o arguido evitará a prática de futuros crimes, sendo necessário, assim, considerar

que a aplicação de uma pena e o seu cumprimento só poderá contribuir para a sua

reinserção social.

Ao crime de roubo corresponde pena de prisão de 3 a 15 anos, nos termos previstos

pelos artigos 210.º, n.°s 1, e 2, alínea b) com referência ao artigo 204.º, n.°2, alínea f) e

n.°4 do CP

9 Eventualmente poderia estar aqui em causa um problema de reincidência que, todavia, não consta nem

da acusação, nem da condenação, pelo que, em respeito pelo princípio da proibição da reformatio in

pejus, não vamos de ele cuidar.

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Dado o contexto abundantemente supra descrito, entendemos que perante os factores

relativos à medida da pena parcelar se mostra adequada, proporcional e justa aplicar a

pena de 8 anos de prisão, situando-se assim ligeiramente acima do ponto

intermédio da moldura penal, não excedendo a medida permitida pela culpa, nem a

medida necessária à satisfação das finalidades da punição, respeitando, deste modo, o

limite inultrapassável da culpa e respondendo equilibradamente às assinaláveis

exigências de prevenção que se fazem sentir.

Procede, deste modo, ainda que parcialmente a pretensão do recorrente.

Em sequência e em vista da jurisprudência fixada no acórdão, do Supremo Tribunal de

Justiça (FJ), n.º 4/2016, cumpre operar novo cúmulo jurídico desta pena parcelar, de 8

anos de prisão com aquelas de 5 anos de prisão e de 1 ano e 4 meses de prisão.

Vejamos.

Nos termos do disposto no artigo 77.º n.º 2, do CP, a moldura abstracta da pena unitária

aplicável situa-se entre os 8 anos de prisão a 14 anos e 4 meses de prisão.

O artigo 77.º n.º 1, do CP, ao estabelecer as regras da punição do concurso, dispõe:

“Quando alguém tiver praticado vários crimes antes de transitar em julgado a

condenação por qualquer deles é condenado numa única pena. Na medida da pena são

considerados, em conjunto, os factos e a personalidade do agente.”

Não tendo o legislador nacional optado pelo sistema de acumulação material (soma das

penas com mera limitação do limite máximo) nem pelo da exasperação ou agravação da

pena mais grave (elevação da pena mais grave, através da avaliação conjunta da pessoa

do agente e dos singulares factos puníveis, elevação que não pode atingir a soma das

penas singulares nem o limite absoluto legalmente fixado), é forçoso concluir que, com

a fixação da pena conjunta, se pretende sancionar o agente, não só pelos factos

individualmente considerados, mas também e especialmente pelo respectivo conjunto, e

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não como mero somatório de factos criminosos, mas enquanto revelador da dimensão e

gravidade global do comportamento delituoso do agente, visto que a lei manda se

considere e pondere, em conjunto (e não unitariamente), os factos e a personalidade do

agente (para dizer com o Professor Jorge de Figueiredo Dias, in Direito Penal

Português – As Consequências Jurídicas do Crime, pp. 290-292), como se o

conjunto dos factos fornecesse a gravidade do ilícito global perpetrado.

O todo não equivale à mera soma das partes e, além disso, os mesmos tipos legais de

crime são passíveis de relações existenciais diversíssimas, a reclamar uma valoração

que não se repete, de caso para caso.

A este novo ilícito corresponderá uma nova culpa (que continuará a ser culpa pelo facto)

mas, agora, culpa pelos factos em relação.

Afinal, a valoração conjunta dos factos e da personalidade, a que se refere a 2.ª parte do

n.º 1 do artigo 77.º, do CP.

Será, assim, o conjunto dos factos que fornece a gravidade do ilícito global perpetrado,

sendo decisiva para a sua avaliação a conexão e o tipo de conexão que entre os factos

concorrentes se verifique.

Na avaliação da personalidade – unitária – do agente relevará, sobretudo, a questão de

saber se o conjunto dos factos é reconduzível a uma tendência (ou eventualmente

mesmo a uma carreira) criminosa, ou tão-só a uma pluriocasionalidade que não radica

na personalidade: só no primeiro caso, não já no segundo, será cabido atribuir à

pluralidade de crimes um efeito agravante dentro da moldura penal conjunta.

Releva também a análise do efeito previsível da pena sobre o comportamento futuro do

agente (exigências de prevenção especial de socialização).

Um dos critérios fundamentais em sede deste sentido de culpa, numa perspectiva global

dos factos, é o da determinação da intensidade da ofensa e dimensão do bem jurídico

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ofendido, sendo certo que assume significado profundamente diferente a violação

repetida de bens jurídicos ligados à dimensão pessoal, em relação a bens patrimoniais.

Por outro lado, importa determinar os motivos e objectivos do agente no denominador

comum dos actos ilícitos praticados e, eventualmente, dos estados de dependência, bem

como a tendência para a actividade criminosa expressa pelo número de infracções, pela

sua permanência no tempo, pela dependência de vida em relação àquela actividade.

Na avaliação da personalidade expressa nos factos é todo um processo de socialização e

de inserção, ou de repúdio pelas normas de identificação social e de vivência em

comunidade, que deve ser ponderado.

O concurso de crimes tanto pode decorrer de factos praticados na mesma ocasião, como

de factos perpetrados em momentos distintos, temporalmente próximos ou distantes.

Por outro lado, o concurso tanto pode ser constituído pela repetição do mesmo crime,

como pelo cometimento de crimes da mais diversa natureza. Por outro lado, ainda, o

concurso tanto pode ser formado por um número reduzido de crimes, como pode

englobar inúmeros crimes.

Cabe ainda salientar, o que se diz no acórdão revidendo:

“Quanto à ilicitude do conjunto dos factos, entendida como juízo de desvalor da ordem

jurídica sobre um comportamento, por este lesar e pôr em perigo bens jurídico-criminais,

estamos face a crimes de roubo (que tutela o direito de propriedade e de detenção de

coisas móveis, a liberdade de decisão e acção e a integridade física), tráfico de

estupefacientes (em que os bens jurídicos protegidos são a protecção da saúde

individual e a liberdade individual do consumidor, no plano do interesse particular da

sua prática. Já no aspecto público, o tráfico de estupefacientes repercute-se na

economia do Estado, na medida em que propicia economias paralelas, representando

um negócio temível e comunitariamente repugnante, fundamentalmente pela

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devastação física e psíquica do consumidor, e com particular afectação das camadas

mais jovens do tecido social e na maior parte dos casos, a desgraça total do seu

agregado familiar, censurável em alto grau no plano ético-jurídico, pelos custos

sociais a que conduz, relacionados com o absentismo laboral, contracção de doenças

transmissíveis e destruição progressiva da pessoa humana, como se salienta no Ac. do

STJ de 09/12/2010, Proc. n° 59/07.0PEBRG.S2, disponível no referenciado sítio) e

detenção de arma proibida (em que se protegem primacialmente a ordem, a

segurança e a tranquilidade públicas, mas também a vida, a integridade física e bens

patrimoniais dos membros da comunidade, face aos riscos sérios que derivam da livre

— quer dizer, sem controlo — circulação e detenção, porte e uso de armas) sendo

que, por se não verificar identidade dos bens jurídicos violados, se tem de considerar

como significativa.

O recorrente agiu sempre com dolo, na modalidade de directo (a mais grave) e de

grau intenso.

No que concerne à personalidade do recorrente, importa considerar a existência de

várias condenações penais anteriores, incluindo treze crimes de roubo qualificado, o

benefício de uma liberdade condicional, a postura acrítica face aos crimes cometidos,

assim como o que provado se mostra quanto às suas condições de vida, de onde resulta

ser o ilícito global agora em apreciação determinado já por alguma propensão ou

tendência criminosa.

As exigências de prevenção geral e especial são muito fortes, conforme já explicitado.

(…).

Ponderados aqueles factores e, afigura-se que, na ponderação conjunta dos factos e da

personalidade do arguido recorrente, a pena única de 10 anos de prisão se concretiza

em medida adequada e proporcionada às circunstâncias de facto apuradas.

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Tendo sido dado parcial provimento ao recurso do arguido, não é pelo mesmo, devida

taxa de justiça (artigo 513.º, n.º 1).

15.3. O arguido CC entende que foram violados os artigos 40.º e 71.º do CP, porquanto

a medida da sua culpa excede a medida da pena.

Recorde-se que este arguido foi condenado pela prática, como co- autor material, de um

crime de roubo, p. e p. pelo artigo 210. °, n.ºs 1 e 2, alínea b), por referência ao artigo

204.°, n° 2, alínea a), do CP, na pena de 8 anos e 6 meses de prisão; e pela prática, em

autoria material, de um crime de detenção de arma proibida, p. e p. pelos artigos 2.°, n.°

3, alínea p) e 86.°, n.° 1, alínea d), da Lei n° 5/2006, de 23/02, na pena de 4 meses de

prisão; após cúmulo jurídico, foi condenado na pena única de 8 anos e 8 meses de

prisão.

Entende o recorrente que a pena deve ser reduzida para 5 anos de prisão pela prática do

crime de roubo e numa pena de multa pela prática do crime de detenção de arma

proibida.

Vale para este recorrente tudo o que se afirmou relativamente ao seu co-arguido BB, no

tocante às finalidades da punição, nos termos do artigo 40°, n° 1, do CP.

Recordemos no que a este recorrente se diz no acórdão revidendo:

(…) “ No que diz respeito à determinação das penas concretas, ponderou o julgador

da 1.ª instância as circunstâncias já enunciadas também quanto ao arguido BB, que

nos dispensamos de repetir, por se mostrar acto inútil e, por isso, vedado e ainda que:

O arguido CC tem já duas condenações anteriores, ambas em 2008, sendo que a

primeira pela prática de um crime de ofensa à integridade física qualificada, punida

com pena de multa, e a segunda pela prática de dois crime de roubo e um crime de

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detenção de arma proibida, na pena única de 8 anos e 6 meses, sendo que foi libertado

em 30/12/2012 com liberdade condicional que terminou em 15/12/2015, tendo poucos

meses depois voltado a reincidir no mesmo tipo de comportamentos que determinaram

a sua reclusão.

O arguido residia com a companheira e … filhos comuns, sendo que tem um outro

filho que reside com a mãe. O arguido tem capacidades cognitivas e autonomia

pessoal para fazer as opções de vida que entende como adequadas e vantajosas para

si, recurso que lhe permitem utilizar um discurso consonante com a adequação social,

e tem mantido em contexto institucional uma postura correcta e colaborante.

Assim, também no que concerne a este recorrente a decisão recorrida teve em

consideração e de forma correcta, os factores relevantes para a determinação

concreta das penas parcelares, nos termos estabelecidos no artigo 71°, n°s 1 e 2, do

Código Penal.

À semelhança do arguido BB, também o recorrente CC vem aduzir que a sua

intervenção foi apenas o de "condutor de uma viatura", de onde resultaria uma

diminuição da sua culpa.

A verdade é que foi ele o condutor de um dos veículos intervenientes na acção que

culminou com o ataque ao porta-valores e subtracção da quantia de 64.000,00 euros

que transportava, o que fez porque foi essa a função que lhe foi atribuída no plano

previamente estabelecido, sendo que foi ele o condutor da viatura onde se fizeram

transportar AA e o indivíduo de identidade desconhecida nos momentos

imediatamente anteriores à intercepção do porta-valores, pelo que não se vê que

ocorra qualquer diminuição da respectiva culpa.” (…).

Quanto à ilicitude do conjunto dos factos, já vimos quais os bens jurídicos em causa,

que são essenciais para a vida em sociedade e, porque se não verifica a sua identidade,

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é ela significativa: a ilicitude do comportamento do ora recorrente é elevada, sendo de

intensidade também elevada: a ilicitude da conduta do arguido é referenciada pelo

modo e circunstâncias da execução, tendo o arguido actuado (com os seus co-

arguidos) em todas as circunstâncias com dolo directo, sabendo da ilicitude da sua

conduta e pretendendo fazer seus os bens e valores de terceiros, se necessário com

violência. Desta maneira quis, e conseguiu fazer seus (em co-autoria) os 64.000,00

euros.

O recorrente agiu sempre com dolo, na modalidade de directo e de grau intenso.

Ao nível da prevenção geral, as exigências assumem uma intensidade muito robusta,

tendo em atenção a frequência com que é praticado o crime de roubo e o elevado

alarme social que cada vez mais este tipo de criminalidade causa no seio da

comunidade, contribuindo para os cidadãos um forte sentimento de insegurança,

impondo-se, por isso, o reforço da validade da norma violada.O recorrente agiu sempre

com dolo, na modalidade de directo e de grau intenso.

Quanto à sua personalidade, cumpre atender a que foi já condenado anteriormente (por

decisões transitadas em julgado em 11/06/2008 e 30/03/2009) pela prática dois crimes

de roubo, um de detenção de arma proibida e outro de ofensa à integridade física

qualificada, tendo-lhe sido concedida liberdade condicional até 15/12/2015, o que não

evitou a prática dos factos destes autos em Novembro de 2016 e 24 de Outubro de

2017), à não demonstração de interiorização das condutas delituosas, assim como o que

provado se mostra quanto às suas condições de vida, de onde resulta ser o ilícito global

agora em apreciação determinado já por alguma propensão para a adopção de condutas

delituosas. Ou seja dizer que as penas de prisão que cumpriu não serviram de suficiente

factor dissuasor.

As exigências de prevenção geral e especial são muito fortes, como se vê.

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Assim, realçam-se os sentimentos manifestados no cometimento dos crimes e os fins

ou motivos determinantes e as condições pessoais do arguido e a sua situação

económica, não tendo modo de vida conhecido, pretendendo com a prática do crime de

roubo melhorar a sua situação económica .

Não se mostram,pois, preenchidas, neste momento,as condições necessárias para se crer

que o arguido evitará a prática de futuros crimes, sendo necessário, assim, considerar

que a aplicação de uma pena e o seu cumprimento só poderá contribuir para a sua

reinserção social.

Ao crime de roubo corresponde pena de prisão de 3 a 15 anos, nos termos previstos

pelos artigos 210.º, n.°s 1, e 2, alínea b) com referência ao artigo 204.º, n.°2, alínea f) e

n.°4 do CP

Dado o contexto abundantemente supra descrito, entendemos que perante os factores

relativos à medida da pena parcelar se mostra adequada, proporcional e justa aplicar a

pena de 8 anos de prisão, situando-se assim ligeiramente acima do ponto

intermédio da moldura penal, não excedendo a medida permitida pela culpa, nem a

medida necessária à satisfação das finalidades da punição, respeitando, deste modo, o

limite inultrapassável da culpa e respondendo equilibradamente às assinaláveis

exigências de prevenção que se fazem sentir.

Procede, deste modo, ainda que parcialmente a pretensão do recorrente.

Em sequência e em vista da jurisprudência fixada no acórdão, do Supremo Tribunal de

Justiça (FJ), n.º 4/2016, cumpre operar novo cúmulo jurídico desta pena parcelar, de 8

anos de prisão com aqueloutra de 4 meses de prisão.

Nos termos do disposto no artigo 77.º n.º 2, do CP, a moldura abstracta da pena unitária

aplicável situa-se entre os 8 anos de prisão a 8 anos e 4 meses de prisão.

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Valem também aqui as considerações tecidas quanto aos seu co-arguido BB que nos

escusamos de repetir.

Diz-se no acórdão recorrido:

(…) “Quanto à ilicitude do conjunto dos factos, já vimos quais os bens jurídicos em

causa, que são essenciais para a vida em sociedade e, porque se não verifica a sua

identidade, é ela significativa.

O recorrente agiu sempre com dolo, na modalidade de directo e de grau intenso.

Quanto à sua personalidade, cumpre atender a que foi já condenado anteriormente

(por decisões transitadas em julgado em 11/06/2008 e 30/03/2009) pela prática dois

crimes de roubo, um de detenção de arma proibida e outro de ofensa à integridade

física qualificada, tendo-lhe sido concedida liberdade condicional até 15/12/2015, o

que não evitou a prática dos factos destes autos em Novembro de 2016 e 24 de

Outubro de 2017), à não demonstração de interiorização das condutas delituosas,

assim como o que provado se mostra quanto às suas condições de vida, de onde resulta

ser o ilícito global agora em apreciação determinado já por alguma propensão para a

adopção de condutas delituosas.

As exigências de prevenção geral e especial são muito fortes, como se viu.(…)

Ponderados todos aqueles aqueles factores, afigura-se que, na ponderação conjunta dos

factos e da personalidade do arguido recorrente, a pena única de 8 (oito) anos e 2

(dois) meses de prisão se concretiza em medida adequada e proporcionada às

circunstâncias de facto apuradas.

Tendo sido dado parcial provimento ao recurso do arguido, não é pelo mesmo, devida

taxa de justiça (artigo 513.º, n.º 1).

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III.

16. Nestes termos e com tais fundamentos, decide-se:

a) rejeitar parcialmente o recurso interposto pelos arguidos BB e CC, nos segmentos

indicados em 11 deste acórdão, por inadmissíveis;

b) conceder parcial provimento ao recurso interposto pelo arguido BB, reduzindo-se a 8

(oito) anos de prisão a pena de 8 (oito) anos e 6 (seis) meses de prisão concretizada na

instância relativamente ao crime de roubo;

c) em cúmulo jurídico desta pena de 8 (oito) anos de prisão com as penas de 5 (cinco)

anos de prisão pela prática de um crime de tráfico de estupefacientes e de um (um) ano

e 4 (quatro) meses, pela prática de um crime de detenção de arma proibida, condenar o

arguido na pena única de 10 (dez) anos de prisão;

d) não é pelo mesmo, devida taxa de justiça (artigo 513.º, n.º 1);

e) conceder parcial provimento ao recurso interposto pelo arguido CC, reduzindo-se a 8

(oito) anos de prisão a pena de 8 (oito) anos e 6 (seis) meses de prisão concretizada na

instância relativamente ao crime de roubo;

f) em cúmulo jurídico desta pena de 8 (oito) anos de prisão com a pena de 4 (quatro)

meses de prisão pela prática de um crime de detenção de arma proibida, condenar o

arguido na pena única de 8 (oito) anos e 2 (dois) meses de prisão;

g) não é pelo mesmo, devida taxa de justiça (artigo 513.º, n.º 1);

h) negar provimento ao recurso interposto pelo arguido AA;

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i) condenar o arguido AA nas custas, fixando a taxa de justiça em 5 (cinco) unidades de

conta.

Lisboa, 13 de fevereiro de 2020

Processado e revisto pela relatora, nos termos do disposto no artigo 94.º, n.º 2 do CPP.

Margarida Blasco – Relatora

Helena Moniz