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1 SUSTENTABILIDADE E A CONCEPÇÃO ECONÔMICA EMPRESARIAL Rodrigo Foresta Wolffenbüttel 1 RESUMO: O presento estudo aborda as recentes transformações nas concepções empresariais de desenvolvimento sustentável a partir do crescente conjunto de pressões sociais que ampliaram os riscos de contestabilidade sobre as práticas e reputações das empresas. Logo, o estudo busca investigar o sentido atribuído pelos agentes empresariais ao desenvolvimento sustentável em face da ascensão global deste paradigma. Para tanto foram investigados os relatórios de sustentabilidade anuais de quatro empresas ligadas a rede produtiva do plástico verde, um produto desenvolvido pela Braskem S.A., por meio de pesquisas e tecnologia nacional, voltado para a sustentabilidade e marcado por um selo “verde”. Os resultados encontrados apontam para imprecisas, mas relevantes apropriações da noção em seu contexto. PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento Sustentável; Sustentabilidade; Empresas; Contestabilidade. INTRODUÇÃO A afamada crise climática e os relatórios publicados no fim do século passado pelo grupo de cientistas do Clube de Roma alteraram radicalmente a percepção da continuidade da vida humana na Terra 2 . Embora não haja consenso científico sobre as dimensões destes riscos, diferentes agentes econômicos vem alterando suas práticas e discursos em direção a novos valores ambientais. As modificações mais latentes podem ser vistas em diversos sistemas de gestões ambientais: desde índices de avaliações sustentáveis em carteiras financeiras, passando por práticas de responsabilidade social corporativa, até políticas de consumo e produção de inovações voltadas para a sustentabilidade. O estudo em questão versa sobre este processo de institucionalização de valores sustentáveis no interior de redes produtivas 1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, [email protected], mestrando em Sociologia. 2 Segundo as perspectivas apontadas pelo grupo de cientistas do Clube de Roma em seus relatórios “Os limites do crescimento” (Meadows et al., 1972) e “Além dos limites” (1992) a manutenção nos padrões de consumo e crescimento industrial levarão, num futuro próximo, ao esgotamento dos recursos naturais.

SUSTENTABILIDADE E A CONCEPÇÃO ECONÔMICA EMPRESARIAL · 2015. 1. 21. · 1 SUSTENTABILIDADE E A CONCEPÇÃO ECONÔMICA EMPRESARIAL Rodrigo Foresta Wolffenbüttel1 RESUMO: O presento

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    SUSTENTABILIDADE E A CONCEPÇÃO ECONÔMICA

    EMPRESARIAL

    Rodrigo Foresta Wolffenbüttel1

    RESUMO: O presento estudo aborda as recentes transformações nas concepções empresariais de desenvolvimento sustentável a partir do crescente conjunto de pressões sociais que ampliaram os riscos de contestabilidade sobre as práticas e reputações das empresas. Logo, o estudo busca investigar o sentido atribuído pelos agentes empresariais ao desenvolvimento sustentável em face da ascensão global deste paradigma. Para tanto foram investigados os relatórios de sustentabilidade anuais de quatro empresas ligadas a rede produtiva do plástico verde, um produto desenvolvido pela Braskem S.A., por meio de pesquisas e tecnologia nacional, voltado para a sustentabilidade e marcado por um selo “verde”. Os resultados encontrados apontam para imprecisas, mas relevantes apropriações da noção em seu contexto. PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento Sustentável; Sustentabilidade; Empresas; Contestabilidade. INTRODUÇÃO

    A afamada crise climática e os relatórios publicados no fim do século passado

    pelo grupo de cientistas do Clube de Roma alteraram radicalmente a percepção da

    continuidade da vida humana na Terra2. Embora não haja consenso científico sobre as

    dimensões destes riscos, diferentes agentes econômicos vem alterando suas práticas

    e discursos em direção a novos valores ambientais. As modificações mais latentes

    podem ser vistas em diversos sistemas de gestões ambientais: desde índices de

    avaliações sustentáveis em carteiras financeiras, passando por práticas de

    responsabilidade social corporativa, até políticas de consumo e produção de

    inovações voltadas para a sustentabilidade. O estudo em questão versa sobre este

    processo de institucionalização de valores sustentáveis no interior de redes produtivas

    1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, [email protected], mestrando em

    Sociologia. 2 Segundo as perspectivas apontadas pelo grupo de cientistas do Clube de Roma em seus

    relatórios “Os limites do crescimento” (Meadows et al., 1972) e “Além dos limites” (1992) a manutenção nos padrões de consumo e crescimento industrial levarão, num futuro próximo, ao esgotamento dos recursos naturais.

    mailto:[email protected]

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    empresariais, mais especificamente aborda as recentes transformações nas

    concepções empresariais de desenvolvimento sustentável a partir do crescente

    conjunto de pressões sociais que ampliaram os riscos de contestabilidade sobre as

    práticas e reputações das empresas.

    Tendo isto em vista, o objetivo geral do estudo visa compreender, com apoio

    nas teorias sociais do desenvolvimento e a partir das críticas formuladas pelas teorias

    pós-desenvolvimentistas, o conturbado processo de legitimação da sustentabilidade

    como um valor no interior de redes produtivas empresariais, entendidas como

    organizações predominantemente orientadas pelo valor econômico. Desde sua

    popularização a noção de sustentabilidade foi perpassada por disputas sobre seu

    sentido e definição, o mais próximo que se chegou de um consenso foi com a noção

    de desenvolvimento sustentável do Relatório Brundtland, publicado em 1987, que

    expressou a necessidade do uso dos recursos do presente sem comprometer o uso

    das futuras gerações. Contudo, esta ampla definição deixa abertura para

    interpretações divergentes, que vão desde a sustentabilidade como continuidade e

    durabilidade de intenções organizacionais (sustentabilidade do negócio, incluindo seus

    recursos), até a noção de sustentabilidade como um valor que prevalece aos

    interesses econômicos e, portanto, se oporia ao crescimento econômico desenfreado

    e a expansão do consumo.

    Logo, este estudo buscou conhecer o sentido atribuído pelos agentes

    empresariais ao valor sustentável que adjetiva o desenvolvimento sustentável, por

    meio da dinâmica reflexiva e discursiva da ação social econômica, em face da

    ascensão global deste paradigma. Para tanto foram investigados recentes relatórios

    de sustentabilidade anuais de empresas ligadas a rede produtiva do plástico verde, um

    produto desenvolvido pela Braskem S.A. em 2007, por meio de pesquisas e tecnologia

    nacional, voltado para a sustentabilidade e marcado por um selo “verde”. A análise de

    conteúdo dos relatórios investigados considerou a utilização dos termos, sua

    frequência, contexto e definição, apontando para diferentes apropriações de

    desenvolvimento sustentável. Os relatórios investigados, referentes ao ano de 2012,

    foram elaborados por quatro grandes empresas (Braskem, Natura, Kimberly-Clark e

    Tigre) ligadas pela utilização do plástico verde. Um produto inovador cujas

    propriedades materiais e fins de utilização são exatamente os mesmos de seu

    antecessor, porém tem como diferencial sustentável a matéria prima renovável de sua

    composição, ao invés de uma matéria prima fóssil. Ou seja, utiliza etanol como matéria

    prima ao invés de petróleo, caracterizando, assim, uma origem renovável.

  • 3

    Ademais, a adoção deste produto no lugar do plástico comum implicaria

    reduções de emissão de CO2 na atmosfera, o que sugere uma relevante preocupação

    destas empresas em relação à temática ambiental e à sua reputação diante da

    sociedade. Este critério encontra-se em concordância com as principais diretrizes da

    ONU e do IPCC3, no combate ao aquecimento global mediante efeito estufa. Porém,

    ao considerar outros aspectos da produção como a dependência da monocultura da

    cana de açúcar ou as condições do trabalho extrativista, a sustentabilidade do produto

    encontra-se questionada. Portanto, a noção de desenvolvimento sustentável adotada

    pelas empresas encontra-se permanentemente tensionada por críticas oriundas de

    diversas posições. Entre estas, a perspectiva teórica da contradição imanente entre os

    conceitos de desenvolvimento e sustentabilidade desponta como uma das mais

    contundentes. Por isso torna-se relevante investigar as noções de desenvolvimento e

    sustentabilidade mediante suas origens e desdobramentos.

    Longe da pretensão de esgotar este imenso tema, espera-se aqui contribuir

    para a compreensão do polêmico conceito de desenvolvimento sustentável, com

    auxílio das teorias pós-desenvolvimentistas, em relação às teorias divergentes e a luz

    dos dados investigados junto aos relatórios das empresas. O presente estudo é parte

    integrante do projeto de pesquisa de dissertação do autor, ainda em andamento e

    voltada para ação socioeconômica empresarial sustentável. Dito isto, o texto é

    organizado da seguinte forma: Na primeira secção são expostas as principais

    concepções de desenvolvimento e suas perspectivas pós-desenvolvimentistas. Na

    secção seguinte é trabalhada a noção de desenvolvimento sustentável, sua origem e

    as principais críticas à noção. A terceira secção destina-se a apresentação e análise

    dos dados coletados junto aos relatórios de sustentabilidade, por intermédio destes

    documentos foi realizado um inventário do emprego do desenvolvimento sustentável

    nas diferentes empresas. Por fim, na última parte do texto é realizado um balanço das

    perspectivas teóricas apresentadas, suas contribuições e limites diante do investigado.

    A CONTROVÉRSIA DO DESENVOLVIMENTO

    Intimamente ligado ao projeto Iluminista de modernidade e frequentemente

    associado à noção de evolução, o conceito de desenvolvimento, apesar da imprecisão

    semântica, possui um poder imenso sobre os teóricos sociais. Mais que mudança

    social, pois possui um sentido claro, mas menos que progresso, pois nem sempre

    3 Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas resultado da cooperação entre a

    Organização Meteorológica Mundial e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente das Nações Unidas.

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    pressupõe um valor normativo pré-definido a este sentido, o conceito foi amplamente

    utilizado por autores como Marx (desenvolvimento das forças produtivas), Durkheim

    (desenvolvimento das formas de divisão social do trabalho) e Weber (desenvolvimento

    das concepções de mundo). Não é gratuito que os principais autores clássicos da

    sociologia tenham utilizado o desenvolvimento como ferramenta analítica, afinal

    estavam todos voltados para as radicais transformações ocorridas na sociedade

    europeia ocidental nos últimos séculos, que teriam originado a modernidade.

    Entretanto, já nestas acepções o conceito apresentava diferenças

    fundamentais, variando em graus de linearidade, positividade e universalidade. Entre

    estes teóricos, talvez Weber tenha sido o autor menos otimista em relação ao

    desenvolvimento e as transformações envolvidas. Diferente de Durkheim e Marx,

    Weber não via o desenvolvimento como uma sequência necessária de etapas com

    base em um critério hierárquico normativo. Segundo Souza (1997) a concepção

    weberiana pode ser considerada neo-evolucionista, pois diferencia a lógica do

    desenvolvimento de sua dinâmica, considerando-o como uma retrospecção de

    processos históricos contingentes, onde as estruturas seriam universais e os

    conteúdos particulares. Neste sentido, as múltiplas concepções de mundo poderiam

    ser ordenadas retrospectivamente, em seus diferentes desdobramentos, através do

    desenvolvimento de suas respectivas estruturas de consciência sem uma necessidade

    teleológica ou funcional. Todavia, mesmo esta ideia de desenvolvimento prioriza

    alguns aspectos da realidade em detrimentos de outros, porém apresenta em sua

    elaboração um diferencial fundamental em relação às outras teorias, trata a

    modernidade ocidental, derivada de uma concepção de mundo particular, como um

    fenômeno contingente e paradoxal, perpassado por contradições e tensões. Por sua

    vez, esta potencial ambivalência do desenvolvimento moderno, tributária de outros

    grandes pensadores como Nietzsche, fomenta toda uma tradição teórica crítica ao

    desenvolvimento.

    Contudo, esta perspectiva paradoxal do desenvolvimento está longe de ser

    predominante. O conceito de desenvolvimento possui uma longa trajetória teórica

    vinculada à positividade e às mudanças orientadas a partir de metas definidas. Tal

    como durante o período Iluminista europeu, com os conceitos de civilização e

    progresso, por intermédio do avanço da razão sobre as tradições, da ciência sobre o

    mundo, do universal sobre o particular. Mas também após o advento das Revoluções

    Industriais, quando a melhoria das condições materiais de vida das sociedades

    ocidentais, através do desenvolvimento técnico-científico, eram associadas ao

    progresso da humanidade (DUPAS, 2007). Todavia, os trágicos desfechos da

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    Segunda Guerra Mundial tenderam a arrefecer esta crença inabalável no progresso

    por intermédio do avanço da razão, ciência e tecnologia.

    Não tardou, contudo, a surgir um novo critério, ou melhor, uma nova meta para

    o desenvolvimento. Durante o período de reconstrução do pós-guerra é inaugurado

    um período histórico em que o desenvolvimento, baseado nas políticas de Estado, é

    pautado pelo crescimento econômico e pela expansão da indústria nos moldes

    fordistas e taylorista. Neste período a noção de desenvolvimento associa o

    crescimento econômico, medido pelo produto interno bruto dos países, ao progresso

    tecnológico derivado do processo de urbanização e modernização industrial. Todavia,

    com a aproximação da Guerra Fria, este desenvolvimento intermediado pela

    industrialização passou a representar não apenas um processo no qual os países

    “centrais” estavam envolvidos e interessados, mas uma política de intervenção onde

    havia dois projetos de sociedade em disputa (socialista e capitalista), e em que todos

    os países deveriam alcançar o pretenso desenvolvimento. De dinâmica da

    transformação social o desenvolvimento transformou-se em uma meta necessária e

    alcançável a todos mediante auxílio externo.

    É com base neste contexto de desenvolvimento internacional que surgem as

    teorias pós-desenvolvimentistas, e é a partir da lógica discursiva do

    subdesenvolvimento, com base na teoria pós-estruturalista especialmente, que

    emergem as propostas teóricas de desenvolvimento como uma mudança induzida,

    geralmente por agentes externos. Segundo autores como Ferguson (1990) o conceito

    de desenvolvimento encerra uma problemática dominante, através da qual, os países

    pobres são interpretados, e essas interpretações discursivas possuiriam efeitos reais.

    No seu estudo sobre Lesotho, Ferguson (1990) debruça-se sobre as consequências

    não intencionais deste aparato desenvolvimentista, que tenderiam a resultados

    despolitizantes, voltados para a manutenção da própria estrutura do desenvolvimento,

    focadas na técnica e na ausência de algo que deveria existir. Entretanto, a questão

    não residiria sobre o descompasso entre o discurso e prática, capaz de ser corrigida

    por uma reforma esclarecida, mas sobre o próprio discurso de desenvolvimento, que

    envolveria necessariamente uma objetivação e uma definição externas sobre os

    países pobres. Um discurso que disciplinaria e dominaria conforme os termos

    propostos.

    Para Rist (2008), em sua análise histórica do desenvolvimento, é justamente o

    discurso de posse do presidente americano Henry Truman, em especial o quarto ponto

    do discurso, que marca o início da “era do desenvolvimento”. Pois sua proposta de

    beneficiar regiões subdesenvolvidas do globo insere a questão dicotômica dos países

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    desenvolvidos e subdesenvolvidos, possibilitando uma nova configuração da

    distribuição de poder, não mais entre impérios e suas colônias, mas entre nações em

    pé de “igualdade” na busca por este desenvolvimento medido pelo PIB. Não obstante,

    a única via possível para esta meta torna-se a intervenção econômica, política e

    científica dos mais desenvolvidos. Numa espécie de “teologia da salvação pela

    intervenção” que ignora diferenças históricas entre países e promove a ideologia

    liberal americana a este nível.

    Esta política de intervenção rumo à modernização teria como resultados não

    apenas a introdução de agências e especialistas oriundos dos países industrializados,

    mas também possibilitaria o acesso consentido e estimulado de grandes empresas de

    capital transnacional, interessadas na mão de obra barata ofertada, nos recursos

    naturais disponíveis e na legislação social e ambiental mais branda existente nos

    países periféricos. Culminando com o controverso processo de movimentação das

    grandes empresas extrativas e transformadoras para países do hemisfério sul.

    Entretanto, há algumas importantes ressalvas a estes argumentos a serem

    observadas. Segundo estas perspectivas a alternativa a este aparato do

    desenvolvimento seria uma mudança radical nas práticas de saber e fazer, através de

    novos discursos e representações da realidade, ou seja, abandonar o discurso do

    desenvolvimento e seus termos. Todavia, uma das críticas que se faz a este

    argumento pós-desenvolvimentista é que ele não indicaria soluções para a questão

    que suscita sobre o aparato do desenvolvimento. Segundo Nustad (2007), esta crítica

    de ausência de instrumentalidade não seria suficiente para deslegitimar o argumento

    pós-desenvolvimentista, pois a crítica ao aparato em si já seria válida para

    compreender a dinâmica em jogo nos projetos de desenvolvimento. Porém o autor não

    se isentaria da alternativa reformista, propondo, por intermédio da uma abordagem

    mais fundamentada nos argumentos pós-desenvolvimentistas, projetos menos focados

    nos discursos dos “desenvolvedores” e atentos às restrições impostas pelas

    concepções de intervenção.

    Há, contudo, críticas mais sérias à abordagem pós-desenvolvimentista, que

    dizem respeito a sua análise e a fé que depositam sobre os movimentos sociais como

    ponto de resistência aos discursos desenvolvimentistas. Storey (2000) elenca quatro

    importantes desafios a serem superados por esta perspectiva. O primeiro diz respeito

    à forma monolítica que os autores tratariam os projetos de desenvolvimento,

    traduzindo-se em algumas concepções exageradas e totalizantes do desenvolvimento.

    O segundo é a ausência de uma problematização adequada ao desejo de algumas

    comunidades em relação ao desenvolvimento, afirmar que todo desejo é uma

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    construção do discurso tolheria radicalmente a possibilidade de agência destas

    comunidades. Um terceiro ponto reside sobre o excesso de confiança que esta

    abordagem depositaria sobre os movimentos sociais, designados como agentes da

    mudança, e a ausência de garantias que estes mesmos grupos não reproduziriam

    lógicas autoritárias e discriminadoras. E por fim, o quarto ponto alega que movimentos

    sociais operam em torno de problemas pontuais e podem não ser páreos para o poder

    de grandes forças, como o crescente capital globalizado.

    Em geral, esta crítica questionaria um suposto romantismo negativo da

    abordagem pós-desenvolvimentista, incapaz de perceber as matizes e nuanças

    envolvidas nos diferentes projetos de desenvolvimento. Contudo, convém ressaltar

    que isto não anula a poderosa crítica de que projetos e políticas de desenvolvimento

    voltadas para a modernização podem, em última instância, legitimar estruturas de

    poder e dominação. Este argumento relembra que os projetos de desenvolvimento

    pressupõem um norte normativo, um modelo em que se deve basear e buscar,

    portanto envolve uma diferença de poder (de hierarquia no percurso) e, talvez, uma

    tutela. É neste preciso ponto que autores como Radomsky (2010) propõe uma

    conciliação entre as perspectivas pós-desenvolvimentistas e os estudos sobre

    modernidade/ colonialidade. Segundo o autor, o conjunto destas abordagens permite

    visualizar como este discurso da modernidade via desenvolvimento torna-se o único

    caminho possível, revelando, desta forma, a impossibilidade de pensar em termos

    externos, como modernidades alternativas, ou alternativas a modernidade. Os

    desdobramentos sugeridos desta afirmação apontam para uma crítica ao

    desenvolvimento “como um processo que naturalizou a versão modernizante para a

    qual o saber científico constitui o eixo de conhecimento válido” (RADOMSKY, 2010,

    p.158) em detrimento de outras formas de conhecimento não ocidentais.

    Consequentemente esta naturalização do paradigma moderno de ciência como

    única fonte legítima do saber, pautado por critérios de efetividade e eficiência,

    juntamente com os processos de valorização do capital, implica no predomínio de uma

    racionalidade instrumental sobre os homens e natureza (BAUMGARTEN, 2002). Neste

    paradigma a natureza é concebida exclusivamente como um objeto externo ao

    homem, passiva e passível de ser submetida por ele aos seus desígnios

    modernizantes. Reside justamente sobre este ponto o mais atual entrave ao projeto

    moderno de desenvolvimento: a finitude dos recursos naturais e o irreversível colapso

    de ecossistemas promovidos pela atividade humana.

    De qualquer forma, a anunciada morte do conceito desenvolvimento parece

    longe de ocorrer. Em parte devido às complexidades e diversidade envolvidas nos

  • 8

    processos sociais, mas também devido à centralidade que ocupa no debate político

    atual, expressa através do polêmico conceito de desenvolvimento sustentável e seus

    desdobramentos.

    A EMERGÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

    Embora a noção de sustentabilidade possua origens próprias e específicas,

    sua atual expansão e popularização estão intimamente ligadas à trajetória de um

    conceito fundamental para a teoria social. O conceito de desenvolvimento, na forma de

    substantivo, passou a contar, no fim do século passado, com o adjetivo sustentável

    para expressar um novo projeto político e modelo de desenvolvimento. Logo, é

    impossível falar de sustentabilidade sem considerar sua intrincada conexão com o

    desenvolvimento sustentável.

    As origens deste termo, contudo, remetem a desdobramentos anteriores ao

    seu surgimento. Origens são sempre arbitrárias e no caso do debate sobre o

    desenvolvimento sustentável alguns autores retornam a Thomas Malthus e a questão

    do crescimento demográfico exponencial para localizá-lo. Contudo, um marco mais

    representativo do debate, em nível internacional, é a mencionada publicação do livro

    “Os limites do crescimento” (MEADOWS et al, 1972), publicado no mesmo ano da

    primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em

    Estocolmo. Nesta publicação um grupo de cientistas do Clube de Roma, através de

    um modelo computacional, avaliou as consequências futuras da manutenção das

    taxas de crescimento econômico e populacional sobre a poluição e a exaustão dos

    recursos naturais. Embora os resultados tenham sido acusados de alarmistas e alvo

    de críticas por não considerarem transformações na base produtiva e social, sua

    publicação foi fundamental para introduzir a questão da finitude dos recursos no

    debate econômico e popularizou a questão ambiental.

    Outra crítica contundente aos resultados do livro partiu dos países do

    hemisfério sul, através da Declaração de Cocoyok (1974) e do Relatório Fundação

    Dag-Hammarskjold (1975), nestas publicações a principal crítica salientava a

    necessária diferenciação na contribuição dos países ricos e pobres para as previsões

    sobre a exaustão dos recursos naturais e reivindicava o direito dos países pobres de

    crescerem economicamente (BRÜSEKE, 2001). De sorte que as primeiras tentativas

    de elaborar políticas internacionais abrangentes sobre a questão ambiental

    esbarraram no impasse do crescimento econômico. Contudo, a partir de 1980, com a

    publicação do relatório World Conservation Strategy, liderado pela União Internacional

  • 9

    para Conservação da Natureza e Recursos Naturais (IUCN), inicia-se um processo de

    institucionalização da problemática ambiental ao largo da questão do crescimento

    econômico (NOBRE; AMAZONAS, 2002).

    Este movimento seria reforçado em três importantes eventos internacionais, a

    Sessão Especial do Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP) em 1982, a

    Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente de Estocolmo (1987), onde foi

    publicado o relatório Our Common Future, e a Cúpula da Terra no Rio de Janeiro

    (1992). Segundo Nobre (2002), estes encontros internacionais constituíram o projeto

    de institucionalização do modelo de Desenvolvimento Sustentável, um conceito

    deliberadamente vago e contraditório, mas capaz de instaurar uma arena de disputa

    política e mediar posições até então inconciliáveis. Em outras palavras, a instauração

    do conceito permitiu uma transição da questão do crescimento econômico sendo

    contraditório às preocupações ambientais, para a questão de como o desenvolvimento

    sustentável pode ser alcançado. Esta transição teria permitido um consenso mínimo

    para o diálogo entre a maioria das nações sobre a problemática ambiental.

    O surgimento do conceito de desenvolvimento sustentável ocorre em meio a

    um contexto de transformações políticas, econômicas e sociais que apontaram para as

    limitações e contradições do modelo de desenvolvimento anterior. Segundo Rist

    (2008) este seria uma característica inerente do conceito de desenvolvimento,

    permeado por contradições, a dinâmica do discurso envolveria uma constante

    reconfiguração de suas metas, reflexo de seus fracassos e tropeços. Por sua vez, a

    proposta do desenvolvimento sustentável assenta-se num projeto de desenvolvimento

    mais abrangente e includente (SACHS, 2000), marcado pela crise das bases

    desenvolvimentistas anteriores.

    No final do século passado, a partir das primeiras crises mundiais do petróleo,

    o modelo de produção industrialista hegemônico, assim como as políticas de governo

    keynesianas, começaram a ruir diante da crescente interdependência dos mercados

    internacionais e suas imprevisíveis transformações (CASTELLS, 2005). Após um

    turbulento período de retomada da ortodoxia econômica convencional (BRESSER-

    PEREIRA, 2006) e expansão de programas liberais, com abertura radical de mercados

    nacionais e privatizações em massa, um novo projeto de desenvolvimento começou a

    ganhar destaque. Este, porém, deveria dar conta de uma complexidade de novas

    dimensões até então ignoradas, ou não relacionadas ao desenvolvimento.

    Não se trata mais somente de crescimento econômico e progresso tecnológico,

    surgem novas demandas de novos atores sociais em novas relações, demandas por

    participação, autonomia, informação, equidade social, melhores condições de vida e

  • 10

    responsabilidade ambiental. Desse novo contexto surgem noções de Desenvolvimento

    como Liberdade4 (SEN, 2010), que embasariam índices de desenvolvimento

    complexos como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), e a noção de

    Desenvolvimento Sustentável (SACHS, 2000), voltada para oito diferentes dimensões

    do processo de desenvolvimento: social, cultural, ecológica, ambiental, territorial,

    econômica, política nacional e política internacional.

    Esta última noção possui o mérito de enfatizar, além das outras dimensões, o

    risco potencial envolvido na manutenção das formas de produção e consumo industrial

    atual, frente aos impactos e limites suportáveis pela natureza. Logo, trata-se de um

    conceito onde os recursos naturais são percebidos como finitos e, portanto, devem ser

    preservados a fim de possibilitar oportunidades de desenvolvimento às gerações

    futuras. Em tese, o conceito envolveria uma clara dissociação da noção de

    desenvolvimento da necessidade de crescimento econômico. Todavia, para autores

    mais críticos trata-se de um embuste, uma contradição em termos, em que o único

    elemento a ser sustentado nesta proposta é a política de intervenção dos países ricos

    sobre os países pobres, numa continuação da lógica tutelar desenvolvimentista (RIST,

    2008). Para o autor, o conceito paradoxal envolveria a inserção da realidade numa

    perspectiva diferente, transformando o problema do desenvolvimento, e todas suas

    consequências intervencionistas, em solução desejável.

    Na perspectiva de outros autores, como Nobre e Amazonas (2002), o conceito

    é político-normativo e faz parte de um processo de institucionalização da problemática

    ambiental na política internacional, sem contrariar a priori o crescimento econômico, o

    fato de o conceito ser deliberadamente ambíguo fazia parte de sua proposta de

    delimitação de uma disputa política, porém os desdobramentos posteriores não eram

    previstos, não como um jogo onde as cartas já estavam marcadas previamente. Já no

    entendimento de Veiga (2010) o adjetivo sustentável, ao ser adicionado ao lado do

    substantivo desenvolvimento, representa a emergência de um novo valor que, apesar

    de não ser unívoco, expressaria “esperança de que seja possível compatibilizar a

    expansão de suas liberdades [humanas] com a conservação dos ecossistemas que

    constituem sua base material” (VEIGA, p.39). Ou seja, um novo valor “cujo sentido

    essencial é de responsabilidade pelas oportunidades e limites que condicionarão as

    vidas das próximas gerações” (VEIGA, p.40).

    Entretanto, o surgimento deste valor estaria ligado a uma série de publicações

    e estudos voltados para os riscos envolvidos nos padrões de consumo e produção

    4 Expansão das liberdades individuais como principal fim e meio para o desenvolvimento,

    através da eliminação de tudo que limita as escolhas e as oportunidades elementares das pessoas, que reduziriam suas capacidades.

  • 11

    industriais5, assim como a ocorrência de catástrofes ambientais decorrentes de

    atividades industriais (Bhopal, 1984; Chernobyl, 1986, Exxon Valdez, 1989;

    Fukushima, 2011, etc.). Logo, trata-se de um entrave ao próprio projeto Iluminista de

    modernidade e consequentemente a noção de desenvolvimento como linearidade, ou

    progresso. Trata-se de um tropeço nas próprias pernas, como afirma Rist (2008).

    Porém, há uma diferença fundamental neste discurso em relação aos outros, de

    acordo com as previsões mais pessimistas destes pesquisadores, não haverá mais

    dentro ou fora, desenvolvido ou subdesenvolvido, sustentável ou não sustentável, no

    limite das consequências da ação produtiva industrial no planeta não há dicotomias

    que hierarquizem desenvolvedores e tutelados. E isto ocorreria, pois grande parte dos

    riscos envolvidos possuiriam dimensões globais e afetariam a humanidade como um

    todo, tais como desequilíbrios climáticos, contaminações em massa ou liberação de

    grandes quantidades de radiações, desastres que não respeitariam fronteiras ou

    acordos comerciais (BECK, 2010).

    Embora não haja um consenso científico sobre estas possibilidades, o princípio

    de precaução lega o ônus da prova àqueles interessados na ação que pode levar ao

    dano irreversível. Ainda assim este tipo de alarmismo catastrófico deve ser visto com

    cautela, atentando para as possíveis diferenças “coloniais” que poderiam ocorrer até a

    chegada desta situação de risco globalizado. De fato, como mencionado

    anteriormente, já ocorreram algumas exportações de empresas poluidoras para países

    do hemisfério sul com legislações ambientais mais brandas, tentativas de

    privatizações de recursos naturais, ou exploração sistemática destes recursos para

    países mais ricos. Fator que atenua a novidade desta perspectiva do risco para países

    que sempre estiveram ameaçados por outros riscos vinculados a geopolítica colonial.

    Portanto, torna-se imperativo superar as contradições inerentes a este discurso

    de desenvolvimento sustentável, e talvez a única forma possível para isto seja

    dissociando completamente a necessidade de expansão econômica quantitativa do

    desenvolvimento como mudança qualitativa significativa. Porém, para isso seria

    necessário contrariar pressupostos básicos da lógica capitalista de acumulação

    ilimitada por meio do aumento ininterrupto do consumo (VEIGA, 2010).

    A forma como o desenvolvimento sustentável lida com este impasse não é

    muito clara, sua proposta apresenta-se como um caminho do meio entre o otimismo

    convencional e o pessimismo ecológico, contudo a pretensa compatibilidade entre o

    crescimento econômico e a manutenção segura dos estoques de recursos naturais e

    5 “Os limites do crescimento” e “Além dos limites” (Meadows et al., 1972; 1992);

    “Prosperity without grow: Economics for a Finite Planet” (Jackson, 2009).

  • 12

    capacidade de absorção do ecossistema nunca é explicitada. As propostas mais

    concretas apresentam uma fé, quase inabalável, no progresso tecnológico, por meio

    do qual, em consonância com mecanismos de mercado, haveria a possibilidade de

    uma progressiva reconfiguração do processo produtivo, mais eficiente e menos

    intensivo em energia. Possibilitando, assim, a manutenção do crescimento econômico

    sem o necessário esgotamento dos recursos naturais.

    E mesmo esta possibilidade parece perder força diante de estudos com o de

    Jackson (2009), onde o autor apresenta dados, baseados em evidências históricas, de

    que ganhos de eficiência não necessariamente ocasionam reduções de escala. Pelo

    contrário, nestes casos estas tendem a aumentar, pois a redução da intensidade tende

    a elevar o consumo. Sob esta perspectiva, considerando uma relativa banalização do

    conceito de sustentabilidade e práticas de greenwashing empresariais, fica difícil não

    pensar em termos de discursos que dominam e disciplinam, porém uma alternativa

    menos pessimista tenderia a ver o desenvolvimento sustentável, assim como proposto

    por Furtado (1974) ou Veiga (2010), como um mito, um valor que orientaria a conduta

    do homem em uma direção desejada. Com base nos desdobramentos apresentados

    pelas perspectivas teóricas, torna-se relevante investigar o sentido que as empresas

    atribuem, em seus discursos, a este valor sustentabilidade e, ainda mais

    especificamente, ao desenvolvimento sustentável.

    A CONCEPÇÃO EMPRESARIAL

    De acordo com alguns estudos sobre a temática da Responsabilidade Social e

    Ambiental das Empresas (RSAE) o conceito de sustentabilidade para os empresários

    brasileiros vincula-se a primeiramente ao desenvolvimento econômico da empresa.

    Neste sentido a “preservação do meio ambiente só é sustentável se houver lucro

    econômico. Em outras palavras, uma prática ambiental que não se sustente

    economicamente, não é uma prática sustentável” (CAPPELLIN; GIULIANI, 2006,

    p.62). Ou seja, a concepção de sustentabilidade empresarial estaria intimamente

    ligada à noção de perenidade do negócio e da organização, à sua capacidade de se

    adaptar a novos mercados, melhorar sua imagem pública, ou incrementar a

    produtividade através de processos mais eficientes. Contudo, e apesar desta

    vinculação estreita por parte de alguns, há um relevante número de empresas

    nacionais que buscam certificações voltadas para a gestão ambiental como a ISO

  • 13

    140016 e outras mais recentes como a ISO 26000 (INMETRO, 2013). A adequação a

    estas certificações internacionais se relaciona, em parte, com a pressão dos mercados

    internacionais, porém a legislação nacional também tem evoluído em direção ao

    fortalecimento dos padrões de proteção ambiental (CAPPELLIN; GIULIANI, 2006),

    obrigando as empresas a adequarem-se e investirem em proteção ambiental.

    Todavia, este gradual processo de institucionalização dos valores sustentáveis

    e a progressiva ambientalização dos conflitos sociais (LEITE LOPES, 2004) tende a

    ampliar os riscos à legitimidade social de grandes empresas expansivas. Estas,

    temendo as implicações de uma contestação social de suas atividades econômicas,

    tenderiam a antecipar-se à contestação por intermédio de gestões que levem em

    consideração voluntária os riscos coletivos envolvidos (HOMMEL; GODARD, 2005).

    Um dos mais latentes reflexos desta gestão da contestabilidade pode ser verificado

    nos relatórios de sustentabilidade que algumas empresas têm produzido, juntamente

    com seus stakeholders7, e publicado anualmente.

    Os relatórios das empresas selecionadas para análise são guiados por um

    padrão de diretrizes elaborado por uma organização internacional, Global Reporting

    Initiative (GRI), e representa não apenas a formalização de princípios orientadores

    voltados para metas globais de sustentabilidade, mas uma importante mudança em

    relação aos antigos relatórios financeiros, voltados exclusivamente para os acionistas

    e gestores. Pois, além de apresentarem indicadores vinculados a outros aspectos não

    estritamente econômicos, tais como promoção de programas sociais, tratamento de

    resíduos e emissões de gases de efeito estufa, representariam uma concepção mais

    participativa e inclusiva das metas empresariais, uma vez que pressupõe uma série de

    consultas às diversas partes interessadas da atividade econômica (comunidade,

    ONG’s, trabalhadores, universidades, e governos).

    Porém, estes esforços empresariais em desenvolverem produtos, processos e

    gestões mais eco amigáveis, não necessariamente problematizam a possibilidade de

    apropriação deste discurso de modernização ecológica, em proveito da manutenção

    do paradigma de crescimento industrial anterior. Pelo contrário, segundo os autores

    pós-desenvolvimentistas, reconfigurações constantes no discurso sobre

    desenvolvimento fazem parte de sua lógica contraditória. Portanto, convém analisar de

    6 A série ISO 14001 consiste na certificação de um grupo de padrões e diretrizes relacionadas

    com a gestão ambiental. Já a ISO 26000 versa sobre a responsabilidade social, expressa pelo desejo e pelo propósito das organizações em incorporarem considerações socioambientais em seus processos decisórios e a responsabilizar-se pelos impactos de suas decisões e atividades na sociedade e no meio ambiente. Esta é uma norma de uso voluntário (cf. www.iso.org). 7 Em uma definição ampla Stakeholder pode ser “qualquer grupo ou indivíduo capaz de influir

    ou ser influenciado pela consecução dos objetivos da organização” (FREEMAN, 1984, p. 46).

  • 14

    que forma é utilizado o conceito de desenvolvimento sustentável nas concepções

    empresariais e de que maneira esta utilização lida com as contradições mencionadas.

    Nos relatórios de sustentabilidade das quatro empresas investigadas, foram

    encontrados resultados relativamente divergentes em relação à utilização do termo

    desenvolvimento sustentável. A partir dos dados apresentados na tabela abaixo,

    percebe-se uma grande diferença na frequência do emprego do termo entre as

    empresas. Enquanto empresas como a Braskem e a Natura utilizam amplamente a

    noção de desenvolvimento sustentável em seus relatórios, a Kimberly-Clark e a Tigre

    a utilizam com parcimônia, optando pelo uso do termo sustentabilidade desvinculado

    do desenvolvimento. Nestas duas últimas, apenas uma vez o conceito é utilizado para

    referir-se a metas das empresas, na única outra ocasião ele aparece como uma

    referência ao nome de programas externos. Indicando um baixo grau de adesão

    destas duas empresas ao termo. Isto talvez se deva às referidas controvérsias

    envolvendo a noção e suas insolúveis implicações em relação ao crescimento

    econômico. A opção pelo uso de termos como desempenho sustentável e gestão

    sustentável sinaliza uma tentativa de afastar-se discursivamente destas contradições,

    mantendo a relevância da sustentabilidade como um valor da empresa.

    Tabela 1 – Frequência e contexto de utilização do Desenvolvimento Sustentável

    Natura Braskem K-C Tigre

    Referência a Programas Externos Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável - RIO+20

    4 4 - -

    CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável)

    1 2 - -

    Outros 3 2 1 1 Referência a Cargos e Programas Internos 4 5 - - Desenvolvimento Sustentável como Meta ou Princípio Orientador

    10 12 1 1

    Definição de Desenvolvimento Sustentável 1 2 - - Resultados 3 2 - -

    Total 26 29 2 2 Fonte: Elaborado pelo autor com base nos relatórios de 2012.

    Por sua vez as empresas Braskem e Natura fazem um amplo uso do

    desenvolvimento sustentável, principalmente como meta ou princípio orientador de

    suas atividades. Em algumas destas passagens percebe-se o esforço em tratar a

    noção de uma forma mais ampla, não restrita à perenidade do negócio.

  • 15

    A empresa, organismo vivo, é um dinâmico conjunto de relações. Seu valor e sua longevidade estão ligados à sua capacidade de contribuir para a evolução da sociedade e seu desenvolvimento sustentável (NATURA, 2012, p.3).

    Segundo esta perspectiva, a meta de desenvolvimento sustentável estaria

    vinculada tanto à empresa, quanto à sociedade. Sugerindo assim uma íntima conexão

    e interdependência entre estas esferas. Na passagem seguinte a empresa ressalta o

    que considera serem aspectos importantes para o desenvolvimento sustentável,

    invocando princípios estranhos à lógica capitalista mais predadora, tais como preço

    justo, repartição dos benefícios e reconhecimento das culturas tradicionais.

    Procuramos promover um relacionamento pautado pelo preço justo, pela repartição dos benefícios adquiridos com o uso do patrimônio genético e do conhecimento tradicional associado e ajudamos assim a criar condições para que essas comunidades se estruturem, diversifiquem seu negócio e promovam o desenvolvimento sustentável na sua região (NATURA, 2012, p.91).

    Como princípio orientador, a noção de desenvolvimento sustentável aponta

    para uma agenda de trabalho “em termos de responsabilidade econômica, social e

    ambiental”. Ou seja, uma agenda em que pesem estes três aspectos do

    desenvolvimento de forma “sinérgica”. Porém, conforme apontado pelas criticas

    anteriores, esta abordagem permite uma leitura que perceba e submeta os outros dois

    aspectos ao predomínio do econômico. Neste sentido, o social e o ambiental seriam

    essenciais para a continuidade do desenvolvimento econômico da empresa, logo

    caberia preservá-los o máximo possível, conquanto não contrariem a expansão

    econômica do negócio.

    Todavia, pelo menos nos relatórios, há indícios de uma concepção de

    desenvolvimento sustentável que estende as responsabilidades empresariais para

    além de sua atividade fim, incluindo preocupações com as políticas dos fornecedores,

    pós-consumo de seus produtos e ciclos de consultas às partes interessadas.

    Assim, foram criados sete macro-objetivos de sustentabilidade, para definir como a Empresa atuaria em relação a esses temas, buscando melhorias contínuas e de ruptura, com intuito de aumentar a contribuição ao desenvolvimento sustentável. São eles: Segurança química; Gases de Efeito Estufa (GEEs); Eficiência hídrica; Eficiência energética; Matéria-prima renovável; Pós-consumo dos resíduos plásticos; Pessoas (desenvolvimento humano). Os sete macro-objetivos perpassam transversalmente os três pilares estratégicos para o alcance da Visão 2020 (fontes e operações cada vez mais sustentáveis; portfólio de produtos cada vez mais sustentável; e soluções para uma vida mais sustentável) (BRASKEM, 2012, p.13).

  • 16

    Esta perspectiva de contribuição ao desenvolvimento sustentável percebe-o

    como um projeto que envolve toda sociedade e não se restringe apenas ao domínio

    empresarial. Noção que extrapolaria a mera lógica de mercado estendida aos recursos

    naturais e ao ambiente, pois envolve a participação de diversos segmentos da

    sociedade na formação de valores e práticas mais “sustentáveis, justas e inclusivas”.

    Ao encarar o desenvolvimento sustentável desta forma, as empresas comprometem-

    se, em nível teórico, a trabalhar, gerir seus processos e produtos, pautadas por estes

    valores. Neste sentido, os relatórios de sustentabilidade seriam uma das principais

    maneiras de controlarem e apresentarem seus resultados e metas nesta direção.

    Embora os meios para o desenvolvimento sustentável tornem-se mais claros

    com o uso dos indicadores pautados pelo Global Reporting Initiative, divididos em

    quatro grupos (Perfil, Econômico, Ambiental e Social), a definição do termo ainda

    mereceria maiores informações. Aspectos relativos às estratégias de crescimento e

    liderança, ainda que mediada por soluções cada vez mais sustentáveis, permanecem

    inexplorados. Em geral restringem-se a solução do Relatório de Brundtland, invocando

    a “capacidade de suprir as necessidades da geração atual sem comprometer a

    capacidade de atender as necessidades das gerações futuras”, ou soluções como

    “gerir o curto prazo com o compromisso de construir o futuro”.

    Conforme mencionado na secção anterior, esta vaga definição do conceito,

    além implicar críticas relativas ao reducionismo envolvido na noção de necessidades

    das gerações futuras, pressupõe uma normatividade supostamente capaz de definir os

    parâmetros valorativos que interessariam as gerações futuras. Para além da

    problemática questão de incomensurabilidade valorativa entre gerações, outra

    importante crítica desta definição reside na possibilidade de estes parâmetros serem

    pautados predominantemente pela esfera econômica (ALMEIDA, 1997). Porém,

    convém ressaltar que tais críticas concentram-se em propostas voltadas para

    mecanismos de mercado como solução para os problemas ambientais, dispositivos

    construídos dentro de uma racionalidade econômica e aplicados à realidade

    socioambiental. Em outras palavras, soluções que propõe a lógica do mercado para

    problemas criados por esta mesma lógica, tais como os créditos de carbono. Estas

    críticas tornam-se ainda mais relevantes ao deparar-se com expressões encontradas

    nos relatórios como “empreendedorismo sustentável” e “economia verde”. Aspectos

    que indicam que, pelo menos no léxico, a tese da prevalência da esfera econômica

    sobre campo social parece apresentar alguma pertinência.

    Todavia, ainda que de forma imprecisa, as noções de desenvolvimento

    sustentável apresentadas nos relatórios das empresas sugerem modelos de

  • 17

    desenvolvimento mais abrangentes, pois envolveriam diferentes estratos da sociedade

    na concepção dos objetivos, através das consultas as partes interessadas; em suas

    metas, por intermédio de programas de educação ambiental e valorização de culturas

    tradicionais; e na divulgação dos seus resultados, uma vez que os relatórios seriam

    destinados a um público muito mais amplo que seus acionistas. Logo, um modelo que

    vise uma maior consonância com os diferentes valores sociais da atualidade, não

    restrito aos resultados e objetivos econômicos tradicionais.

    Por fim, cabe ressaltar as diversas vezes que o termo apareceu associado à

    Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável - RIO+20 e ao

    Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBEDS), fato

    que aponta para a relevância deste encontro internacional na política empresarial,

    onde foram ratificados e divulgados seus compromissos com as políticas globais para

    a sustentabilidade. Por sua vez, as referências aos CEBEDS8 são um indicativo do

    grau de organização destas empresas, pautadas por estes valores sustentáveis, em

    nível nacional.

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Mas onde levam as considerações apresentadas acima, o que se pode afirmar

    diante dos empregos e definições do desenvolvimento sustentável pelas empresas em

    seus relatórios? Uma meta para um mundo melhor ou um engodo bem formulado?

    Faz-se necessário, antes de sugerir uma resposta a estas perguntas, discernir entre

    as noções de desenvolvimento apresentadas no texto, como ferramenta analítica

    retrospectiva, conforme sugerido por perspectivas neo-evolucionistas, ou como um

    ideal, um norte para guiar e planejar as mudanças futuras. Como fruto das maiores

    discordâncias e disputas, é o ultimo caso que aqui mais interessa. Pois ao se

    estabelecer previamente uma meta para a mudança social, se lida com a expectativa

    de futuro e talvez este seja o grande atrativo deste conceito, sua capacidade de

    expressar a visão de mundo que prevalece em determinada época e o motor de sua

    transformação. Porém, convém lembrar as críticas pós-desenvolvimentistas, ao

    pretender universalizar uma meta e um percurso, os países centrais impuseram

    violentamente seus valores a outras realidades ignorando diferenças fundamentais,

    mais que isto, desconstruíram a noção de desenvolvimento como uma meta ao

    8 Fundado em 1997 o CEBEDS é uma associação civil sem fins lucrativos que promove o

    desenvolvimento sustentável, nas empresas que atuam no Brasil, por meio da articulação junto aos governos e a sociedade civil além de divulgar os conceitos e práticas mais atuais do tema.

  • 18

    estabelecerem dicotomicamente quem havia alcançado o e quem não havia. Deixando

    assim de sinalizar um percurso para adjetivar um estado.

    Portanto, para atingir um mínimo de coerência e evitar as críticas pós-

    estruturais, o conceito de Desenvolvimento Sustentável deveria expressar, conforme

    sugeriu Veiga, um norte para a mudança social, não um norte imposto a partir de

    valores externos centrais, mas um norte construído com base na percepção desta

    intrincada interdependência global em relação a eventos futuros complexos,

    potencialmente perigosos a todos envolvidos. Logo, a sustentabilidade do conceito

    não deveria ser fixada, adjetivada como foram os conceitos de desenvolvido e

    subdesenvolvido, mas compreendida como um valor, um ideal, a orientar a mudança

    social.

    Em conformidade com esta lógica, nenhuma empresa poderia denominar-se

    sustentavelmente desenvolvida, caberia a ela apenas expressar e comprovar seu

    compromisso com este ideal por meio de ações e objetivos voltados para este fim.

    Ademais, para manter a conformidade com esta meta, os critérios de seleção dos

    parâmetros e indicadores buscados necessitam de uma ampla discussão que envolva

    diferentes estratos da sociedade interessados na atividade econômica da empresa.

    Todavia, isto ainda parece pouco diante das imensas dificuldades que este projeto

    envolve, pois para ser considerada uma proposta sincera, o projeto de

    desenvolvimento sustentável supõe uma transformação nas principais bases do

    capitalismo: acumulação ilimitada e consumo ininterrupto.

    Logo, por mais que as tentativas modernizadoras voltadas para a eficiência

    material e energética tendam a adiar estas contradições, o caminho para este

    pretenso desenvolvimento sustentável obrigatoriamente passa por esta discussão.

    Desenvolver sem crescer, apenas com base em alterações qualitativas, é uma

    alternativa viável para as metas destas empresas? A resposta clara para esta

    pergunta seria de grande auxílio na compreensão da apropriação empresarial do

    desenvolvimento sustentável. Conquanto isto ainda não ocorra, torna-se interessante

    recuperar a noção proposta por Radomsky em conciliar as teorias pós-

    desenvolvimentistas e pós-coloniais, pois a mudança social pautada pela

    sustentabilidade não necessariamente deveria manter-se dentro dos critérios de

    transformação da modernidade, inclusive podendo ser pensada em termos de

    alternativas à modernidade, uma vez que a própria modernidade engendrou os

    elementos que compõe este impasse. E assim pensar modelos de desenvolvimento

    não restritos à racionalidade instrumental e à lógica de acumulação.

  • 19

    Entretanto, considerando a limitada relação que as empresas capitalistas

    mantinham com a sociedade (e grande parte ainda mantêm), pautadas

    exclusivamente pelo lucro e pela geração de empregos, justificando toda sua atuação,

    no interior dos limites legais, a partir destes dois aspectos, estes relatórios de

    sustentabilidade representam um grande avanço em direção a um novo patamar de

    interdependência entre a esfera econômica e estes novos valores socioambientais. O

    fato dos relatórios analisados terem utilizados um padrão de diretrizes elaborado por

    uma organização internacional representa a formalização destes princípios

    orientadores em um nível global. Porém as diferentes respostas empregadas pelas

    empresas apontam para uma maior complexidade nesta relação entre o mito do

    desenvolvimento sustentável que organizaria a sociedade e seus desdobramentos nas

    práticas econômicas, revelando diferentes graus de adequação aos modelos e

    diferentes apropriações do desenvolvimento sustentável em suas práticas discursivas,

    mais ou menos explícitas e detalhadas, mas em geral, pautadas por concepções

    empresariais de economia e empreendedorismo.

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