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+ + BRASIL SUSTENTÁVEL CORREIOS Impresso Especial 9912224192 3/8 - DR/RJ CEBDS JUNHO/JULHO EDIçãO 29 R$ 10 2010 UMA PUBLICAçãO DO CONSELHO EMPRESARIAL BRASILEIRO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTáVEL PEQUENAS HIDRELéTRICAS : SUSTENTáVEIS, MAS NEM TANTO EUROPA QUER IMPORTAR ENERGIA SOLAR DO SAARA IGNACY SACHS : é COMPLICADO DISTRIBUIR RENDA SEM CRESCER SLO W FOOD O MOVIMENTO PELA ALIMENTAçãO SUSTENTáVEL QUER REDUZIR A VELOCIDADE DO MUNDO

sustentável 2010

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BRASILSUSTENTÁVEL CORREIOS

Impresso Especial

9912224192 3/8 - DR/RJCEBDS

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2010

u m a p u b l i c a ç ã o d o c o n s e l h o e m p R e s a R i a l b R a s i l e i R o p a R a o d e s e n v o lv i m e n t o s u s t e n t á v e l

Pequenas hidrelétricas: sustentáveis, mas nem tanto

euRopa queR impoRtaR

energia solar do saaRa

ignacy sachs: é complicado

distRibuiR Renda sem cResceR

slow foodo movimento pela alimentação sustentável

queR ReduziR a velocidade do mundo

Page 2: sustentável 2010

C â m a r a s t e m á t i C a s

Carlos eduardo Garrocho de almeida

Holcim

Franklin FederAlcoa

Gilbert Landsberg Shell Brasil

João Batista Ferreira Dornellas

Nestlé

sidnei BasileAbril

marco simõesCoca-Cola

antonio Carlos manssour Lacerda

Basf

Hélio ribeiro Duarte HSBC

C O N s e L H O D e a D m i N i s t r a ç ã O

PRESIDENTE EXECUTIVA

Marina Grossi

CHAIRMAN

Marcos Bicudo

PRESIDENTE DE HONR A

Erling Sven Lorentzen

a s s O C i a D O s C e B D s

• 3m do Brasil Ltda.• abralatas• alcoa alumínio s.a.• amanco Brasil s.a.• amBev – Companhia de Bebidas das américas• arcelormittal Brasil• Bahia mineração• Banco do Brasil • Basf s.a.• Bayer s.a. • Bradesco s.a.

• BP Brasil Ltda.• Braskem s.a.• Caixa econômica Federal• Chemtech• Cia. Brasileira de Petróleo ipiranga• Cia. energética de minas Gerais – Cemig• Coca-Cola• Copel• DNV• eBX

• ecopart • eletronuclear – eletrobras termonuclear s.a.• energias do Brasil• Furnas – Centrais elétricas s.a.• Goodyear do Brasil • Gerdau açominas s.a.• Grupo abril• Grupo santander• HsBC• Holcim Brasil s.a.• itaú Unibanco

• Lorentzen empreendimentos s.a. • michelin • monsanto do Brasil Ltda.• Natura Cosméticos• Nestlé Brasil Ltda.• Organização Odebrecht• Organizações Globo• Petrobras – Petróleo Brasileiro s.a.• Philips• shell Brasil Ltda.

• souza Cruz s. a.• solvay do Brasil Ltda.• suzano Papel e Celulose• syngenta seeds Ltda.• tim• Usiminas – Usinas siderúrgicas de mG s.a.• Vale• Votorantim Participações s.a.• Walmart Brasil

D i r e t O r i a

Vânia somavillaVale

Jorge sotoBraskem

altair assumpçãoGrupo Santander Brasil

Wilson santarosa

Petrobras

v i n c u l a d o a o

Av. das Américas, 1.155 - grupo 208, 22631-000, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Tel.: 55 21 2483.2250, e-mail: [email protected], site: www.cebds.org

W O R L D B U S I N E S S C O U N C I L F O R S U S T A I N A B L E D E V E L O P M E N T ( W B C S D )

e Q U i P e C e B D s

erica Fernandes Fernanda Gimenes Fernanda resende

Juliana Queiroz Leandro Batista Lia Lombardi

mara Braile Pablo Vázquez

Phelipe Coutinho

silvana Nocito soia shellard sueli mendes

Verônica Oliveira

ÁGUA

PRESIDENTE: Yazmin trejos Amanco

VICE-PRESIDENTE: Josemar Picanço

Coca-Cola

BIODIVERSIDADE E BIOTECNOLOGIA

PRESIDENTE: Gloverson moro Syngenta Seeds

VICE-PRESIDENTE: maria Cláudia Grillo

Petrobras

COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE

PRESIDENTE: eraldo CarneiroPetrobras

CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS PRESIDENTE: Carlos eduardo

Garrocho de almeida Holcim

ENERGIA E MUDANÇA DO CLIMA

PRESIDENTE: Luís César stano Petrobras

VICE-PRESIDENTE: David Canassa

Votorantim Participações

FINANÇAS SUSTENTÁVEIS

PRESIDENTE: Wagner siqueira Banco do Brasil

LEGISLAÇÃO AMBIENTAL

PRESIDENTE: enio Viterbo Junior

Gerdau

GESTÃO SUSTENTÁVEL PRESIDENTE: ana Lúcia suzuki

Basf

VICE-PRESIDENTE: Luiz Fernando Nery

Petrobras

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REPORT COMUNICAÇÃO

Av. Brigadeiro Luís Antônio, 3.530 – 5.o andar – Jd. Paulista – São Paulo – SP – CEP 01402-001 telefone: 55 11 3051.8400e-mail: [email protected]

direçãoÁlvaro Almeida (MTB: 45384)Estevam Pereira (MTB: 21302)

conselho editorialAna Lúcia Suzuki (Basf)Carlos Eduardo Garrocho de Almeida (Holcim) Enio Viterbo Junior (Gerdau)Eraldo Carneiro (Petrobras) Luís César Stano (Petrobras)Luiz Fernando Nery (Petrobras) Yazmin Trejos (Amanco)Wagner Siqueira (Banco do Brasil)

coordenaçãoCEBDSMarina Grossi Lia LombardiFernanda Resende e Sueli Mendes (Assessoria) ediçãoRicardo Arnt (redator-chefe)Alessandra Pereira, Álvaro Penachioni, Beto Gomes, Daniela Vianna, Fernando Badô, Raquel Sabrina e Rita Nardy (editores) Conrado Loiola, Michele Silva, Paula Andregheto, Paulo César Pereira, Pedro Michepud e Silvia Wargaftig (repórteres)

fotografiaRicardo Corrêadireção de arte

MENTES DESIGN

Marcel VotreMarcio Penna

revisãoAssertiva Produções Editoriais

administrativoCristina Almeida (diretora)Cícero Gomes

financeiroCarlos Nascimento

PublicidadeSÓLIDA CONCEITUAL Telefone: 55 21 3154.9450, e-mail:[email protected] Alvaredo (diretora) Melissa Canero e Michel Santos (executivos de atendimento) Jefferson Eduardo (marketing)

Denise Barreto (gerente inanceira)

impressãoEdiouro

tiragem5 mil exemplares

assinaturas e números avulsos • Telefone: 55 21 2483.2250 • e-mail: [email protected] • www.cebds.org

nesta edição bRasil sustentável 29Jun/Jul 2010

foto de caPa: lysanne ooteman/sxc

A revista BRASIL SUSTENTÁVEL é uma publicação do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Os artigos não reletem necessariamente a opinião do CEBDS, sendo de responsabilidade dos articulistas e entrevistados.

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iMageM

Vazamento de petróleo

ameaça praias do alabama

notas

cidade ecológica, Índice de estados

Falidos, negócios da china

Vida noVa

designer transForma objetos

rejeitados em objetos desejados

ferraMenta

certiFicação liFe promoVe

a gestão da biodiVersidade

PanoraMa

al gore, o barômetro da

biodiVersidade e a direção econômica

sustentáVel 2010

primeiro eVento da série discute

o Futuro das cidades, no rio

agenda

prepare-se para os eVentos

de agosto a setembro

Pequenas hidrelétricas

Várias usinas em peQuenos rios

causam grandes problemas

rePortageM de caPa

carlo petrini, do sloW Food, prega a

boa alimentação para mudar o mundo

congresso gife

empresas aumentam

inVestimentos sociais

lideranÇa

ignacy sachs, um dos pais da ideia

do desenVolVimento sustentáVel

deserto solar

energia solar do saara

abastecerá europa

ano da BiodiVersidade

conserVar e proteger serViços

ambientais também dá lucro

Vision 2050

Wbcsd discute os cenários

do Futuro com empresários

gri: noVa geraÇão

congresso de amsterdã discute a

comunicação para a sustentabilidade

controVérsia

o cheFe deVe ser

temido ou estimado?

68121416182224

32363840424648

E X P E D I E N T EBRASILSUSTENTÁVEL

e m uma única edição, a BRASIL SUSTENTÁVEL aborda três temas de extrema relevância para o nosso futuro, colocando em xeque

verdades com as quais a sociedade tem convivido e apontando novas saídas.

Na reportagem de capa, a revista traz aos leitores uma nova visão sobre a cultura global de produzir e consumir alimentos. O Slow Food, movimento que defende a preservação da biodiversidade alimentar, pode contribuir em escala como instrumento de combate à fome e ao inaceitável desperdício. Nos Estados Unidos, por exemplo, jogam-se no lixo, todos os dias, 22 toneladas de alimentos.

Considerado um dos principais pensadores do desenvolvimento sustentável, o economista Ignacy Sachs faz uma interessante análise das três mais recentes etapas da humanidade. E vaticina: os países das regiões tropicais e semitropicais ganham um papel fundamental por deterem as maiores concentrações de

biomassa, invertendo o equilíbrio de poder global em termos de energia, insumo crucial do futuro.

Também está em destaque nesta edição uma ampla discussão sobre as chamadas pequenas centrais hidrelétricas, à primeira vista sempre bem-vindas. Produzem energia elétrica sem emitir gases de efeito estufa e atendem, com menor investimento, a demandas locais para gerar renda e emprego. Contudo, ouvindo os mais diferentes segmentos envolvidos no setor, a reportagem alerta que, sejam grandes ou pequenas, as hidrelétricas devem passar por um cuidadoso crivo socioambiental.

São três polêmicas com forte indução para refletirmos sobre a melhor maneira de produzir energia, combater a pobreza, preservar nossos ativos ambientais e, em última instância, traçar um caminho mais seguro para a construção do desenvolvimento sustentável.

c a R t a d a p R e s i d e n t e

Marina Grossi

polêmicas opoRtunas

diReto do conselho

inventário de gees fórum carioca empresas em Bonn

a divulgação dos inventários de emissões de gases de efeito estufa (gees) de 35 empresas, no im de junho, marca o primeiro resultado do programa brasileiro ghg protocol, iniciativa lançada pelo cebds em parceria com a Fundação getulio Vargas. a metodologia e as metas de sustentabilidade foram adaptadas ao país. a partir do inventário, as empresas estarão mais capacitadas para adotar medidas de redução de emissões. desenvolvido pelo World business council for sustainable development (Wbcsd) e pelo World resources institute (Wri), o ghg protocol é considerado a mais soisticada e precisa ferramenta para medir emissões.

o cebds representará o setor empresarial no Fórum carioca de mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável, criado recentemente pela prefeitura do rio de janeiro. o objetivo do fórum é conscientizar e mobilizar a sociedade para trabalhar junto com a administração municipal, abrindo espaço para a discussão sobre problemas decorrentes das mudanças do clima e sobre desenvolvimento sustentável em geral. o convite foi feito pela prefeitura durante o 1º encontro do sustentável-2010, realizado em maio, no rio.

a representação empresarial presente na reunião preparatória para a cop-16 apresentou os estudos preliminares de um amplo projeto, o setor privado e a unFccc. a apresentação do estudo foi feita em um evento paralelo realizado no dia 10 de junho durante o climate change talks, da convenção-Quadro das nações unidas sobre mudança do clima, em bonn, alemanha. parte do conteúdo foi extraído de cinco workshops internacionais promovidos pelo Wbcsd em cinco grandes cidades: pequim (26 de março), hong Kong (29 de março), são paulo (14 de abril), Washington dc (27 de abril) e bruxelas (6 de maio).

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imaGem

banhistas de dauphin island, alabama, tomam sol protegidos por uma barreira de feno instalada pela Guarda civil. milhares de defesas foram implantadas por voluntários, trabalhadores e militares para impedir que o óleo vazado de uma plataforma da british petroleum, no Golfo do méxico, em 20 de abril, atinja portos, praias, pesqueiros e reservas ecológicas, no pior vazamento de petróleo da história dos eua. o senado norte-americano quer aumentar de us$ 75 milhões para us$ 10 bilhões a multa às três empresas envolvidas no acidente: a bp, a halliburton e a transocean.

foto: Brian snyder/reuters

talVeZ fique ruiM Para nadar

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Já imaginou morar num lugar totalmente sustentável? O empresário norte-americano Stan Gale e sua empresa, a Gale Internacional, estão trabalhando em uma das obras mais ambiciosas do mundo: a construção de New Songdo, na Coreia do Sul, uma cidade totalmente racional. Os investimentos giram em torno de US$ 35 bilhões, e a meta é concluir o empreendimento até 2015. Todos os processos urbanos do local, construído para 65 mil habitantes, serão racionalizados, desde a transmissão de energia e o uso racional de água até a baixa emissão

de carbono. A cidade dos sonhos emitirá um terço dos gases de efeito estufa das metrópoles do mesmo tamanho. A água usada em lagos e parques virá do mar e do reaproveitamento da chuva. Consultas médicas e serviços municipais serão marcados em monitores de tela plana instalados nos apartamentos. A cidade terá 25 quilômetros de ciclovias e os espaços ao ar livre ocuparão 40% da área total. Mais de 75% do material utilizado na construção de New Songdo será reciclado. [Paula andregheto]

cidade ecológica

«edição beto Gomes»

notasu rban ism o • marKe ti n g • cam pan has O Conselho Nacional de Autorregulamentação

Publicitária (Conar) criou um grupo para debater a abordagem de sustentabilidade em anúncios publicitários. O objetivo é desenvolver propostas capazes de aperfeiçoar as recomendações do Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária e reduzir a prática do greenwashing. Para desenvolver normas, o grupo vai aproveitar o fato de o Conar ser membro correspondente da Ease, entidade que reúne os órgãos de regulamentação europeus, para reunir ideias e informações. “Hoje, há espaço para aprimorar e detalhar a regra ética”, diz o presidente do Conar, Gilberto Leifert.[Pedro Michepud]

Publicidade sem greenwashing

é o número de famílias atendidas pelos programas federais de proteção social – bolsa Família, aposentadoria Rural, benefício de prestação continuada – bpc-loas. com cerca de R$ 55 bilhões liberados em 2009 para o pagamento dos benefícios, os três programas atenderam 22,5% da população do país no período. de acordo com o instituto de pesquisa econômica aplicada, os atuais 32% de pobres e 12,6% de indigentes seriam 33% e 13,9%, respectivamente, se não existissem os programas. [conrado loyola]

23.200.000

obras serão concluídas em 2015

telhado Brancopintar o telhado de branco de pelo menos 40% das casas no mundo pode ser uma alternativa para reduzir o uso de ar-condicionado e contribuir com a redução da temperatura média do planeta em 1°c. de acordo com a ong green building council (gbc), cada 100 m2 pintados de branco compensam 10 toneladas de emissão de co

2 por

ano, pois as cores claras

não absorvem o calor e refletem até 90% dos raios solares. no interior da casa, a temperatura pode baixar até 6°c. a ideia faz parte da campanha de combate ao aquecimento global one degree less, trazida para o brasil pela gbc-brasil. a versão brasileira da campanha contou com a participação voluntária de famosos como cristiane torloni, raí, Fernanda paes leme e sergio marone. [cl]

new songdo à noite

Raí: tinta branca no telhado

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r e t r a n c a

Falsa

bandos armados vivem em guerra civil na somália desde 1991. não há governo central

negócio da china: estatais chinesas compram terras na bahia para plantar soja e exportar para pequim sem intermediários

Bancos: pouca açãoA ONG Bank Track, rede internacional de monitoramento do setor bancário, lançou o relatório Close the Gap, que avalia a qualidade das políticas de crédito e investimentos desenvolvidas por 49 bancos, de 17 países. O levantamento indica que os bancos anunciam cada vez mais compromissos com a sustentabilidade, mas, muitas vezes, não os colocam em prática. De acordo com o estudo, existem lacunas que precisam ser preenchidas: a falta de políticas de crédito e de investimento adequadas; o fato de as questões socioambientais estarem resumidas aos direitos das comunidades locais e à necessidade de preservar o meio ambiente; e a falta de apoio de várias instituições aos Princípios do Equador. Banco do Brasil, Itaú e Bradesco aparecem mais bem colocados na comparação com os mercados emergentes (Índia, Rússia e China). Segundo o coordenador do programa de Ecofinanças da ONG Amigos da Terra, Roland Widmer, as empresas brasileiras carecem de políticas capazes de orientar a atuação na área de sustentabilidade. [Pa]

notas guerra ciVil • mercado Financeiro • globalização

Tensões históricas e culturais, ingovernabilidade e corrupção generalizada são fatores que podem levar as nações a entrar em processo de falência, tornando-se incapazes de garantir os serviços básicos para o povo. Para mensurar tais condições, o Fundo da Paz e a revista norte-americana Foreign Policy publicam, anualmente, o Índice dos Estados

Falidos, avaliando os países que mais sofrem com a debilidade de governo. Em 2010, cinco nações africanas ficaram entre os dez primeiros da lista: Somália, Chade, Sudão, Zimbábue e República Democrática do Congo. Na outra ponta da tabela, a dos governos eficientes, estão Noruega, Finlândia, Suécia, Suíça e Irlanda. O Brasil ocupa a 119ª

posição. Para fazer a classificação, os organizadores utilizam 12 tipos de indicadores, atribuindo notas de 0 a 10 para cada um (sendo 10 o pior). Na primeira lista, publicada em 2004, apenas sete países superavam os 100 pontos. Hoje, a lista contém 15. O mundo piorou. Veja a tabela completa no link http://bit.ly/bm5pdr. [PM]

Índice de países falidos

st

R n

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1 somália2 zimbábue3 sudão4 chade5 rep. democrática do congo6 iraque7 afganistão8 rep. centro-africana9 guiné10 paquistão

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o quintal do vizinho

os dez piores em 2010

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países com poucas terras para a agricultura estão de olho no quintal do vizinho – que, em muitos casos, fica a milhares de quilômetros de distância. com pouco espaço para cultivar e abastecer o mercado interno, governos e corporações estrangeiras estão comprando terras em outras paragens. a arábia saudita e o catar fizeram acordos com países como camboja, sudão, Vietnã e indonésia. o grupo sul-coreano daewoo arrendou 1,3 milhão de hectares em madagáscar. no brasil, a estatal chinesa chongqing grain group anunciou investimentos de us$ 300 milhões na compra de 100 mil hectares de terra, para produzir soja na bahia e exportar para

pequim, sem intermediários. além dessa, as principais empreitadas no brasil, até o momento, são do grupo hyundai, da coreia do sul, que quer adquirir 10 mil hectares, e de um grupo japonês, que adquiriu 100 mil hectares de terras no maranhão, em minas gerais e na bahia. para limitar as aquisições, a comissão de constituição e justiça da câmara dos deputados aprovou um projeto que limita a 1.140 hectares o tamanho das propriedades rurais que podem ser compradas por estrangeiros na amazônia legal. o projeto ainda será votado no senado. em angola, além de adquirir terras, a china quer transferir 2 milhões de chineses para trabalhar nelas. [PM]

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o que, paRa muitos, é liXo, para Nido Campolongo, pode ser o componente estrutural de uma mesa. O designer visita indústrias, favelas, lojas e coo-perativas de reciclagem em busca de inspiração para novas peças, que podem ser funcionais ou meramente ornamen-tais. “O que me guia são as belezas dos materiais, a possibili-dade de unir pequenas peças idênticas e transformá-las em outras coisas. São pedacinhos iguais e não são nada, como um cone, que é só um cone, mas pode compor uma mesa”, explica. A mesa em questão fica bem na entrada de seu es-critório e é composta por 360 cones de linha. O componente, ele explica, é chamado de tubete e utilizado em bobinas de máquinas rotativas, para dar suporte a materiais como plás-tico, linha e papel em processos de produção.

Os tubetes, de diferentes tamanhos, são encontrados em várias obras de Campolongo, como a cama acomoda-da em outra sala do escritório. Um grande lustre esférico, feito de módulos de garrafas pet desenvolvidos por uma cooperativa de reciclagem, compõe o ambiente. “Com meu trabalho, acho que consigo mostrar para as pessoas que aquele material que elas veem como resíduo pode ser visto de outra forma. Ele tem uma virtude estética, de-pendendo da forma como é organizado”.

A trajetória recriadora do designer começou cedo. Quanto tinha 1 ano de idade, sua família montou uma tipografia ao lado de casa. “Cresci ajudando meu pai, e o barulho das má-quinas era meu despertador”, lembra-se. O negócio era vol-

tado para abastecer o comércio local, com cartões de visita e panfletos. Aos 17 anos, ele decidiu pesquisar novos suportes para desenvolver produtos diferenciados e prospectar mais clientes. Assim começou o hábito de visitar fábricas, conhecer os processos e, principalmente, observar os resíduos.

“Entrei na faculdade de engenharia civil no fim dos anos 1970 e, na época, já tinha uma preocupação ambien-tal. Fazia parte de um grupo que brigava pela não implan-tação das usinas atômicas Angra 1 e Angra 2. Ao mesmo tempo, eu vivia um conflito, porque trabalhava com papel

e achava os panfletos comerciais uma bobagem. Então, pensei se poderia transformar as sobras de papel em algo interessan-te. Foi assim que minha veia artística me fez perceber que, por meio do belo, é possível conscientizar e transformar. Desde en-tão, venho fazendo isso”, conta.

Depois de três anos, Campolongo deixou a faculdade, mas nunca parou de estudar. Consolidou-se como designer gráfico até que, aos 35 anos, criou uma obra que marcou sua transição do mundo bidimensional para o tridimensional: um manto fei-to com as sobras de papelão da tipografia, que guardara durante anos. Os pedaços foram costurados um a um com fio parafinado. A partir dessa obra, passou a ousar mais, com novos materiais, como plástico, metal e vidro, concebendo objetos voltados para casa. Mas a preocupação ambiental se manteve.

“Quando uso madeira, é de reflorestamento, que já tem uma ca-racterística sustentável”, destaca. E acrescenta: “A sustentabilida-de não é só a questão do material. Abrange também o modelo de produção, os licenciamentos, a remuneração dos funcionários. Po-rém não se fala muito de estética, e eu entro com isso, porque acho que se trata de um instrumento transformador e, também, sedu-tor. Se você acha um objeto bonito, começa a refletir sobre ele”.

Foi durante as visitas às fábricas que Campolongo aprendeu a observar todos esses aspectos. Certa vez, visitando uma indús-tria de papel, descobriu que a produção gera um resíduo seme-lhante a um lodo e decidiu procurar formas de aproveitá-lo tam-bém. Levou o material ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), na Universidade de São Paulo, e descobriu uma maneira de produzir tijolos com 15% de lodo na composição, reduzindo o uso do barro, e impermeabilizados com pet reciclado. Além dos benefícios ambientais, o produto se encaixa em outro projeto, de moradia de baixo custo. Resta, agora, captar recursos que finan-ciem os testes de qualidade do tijolo e a produção em larga escala.

A pesquisa de novos materiais também levou Campolongo a cooperativas de reciclagem e organizações não governamentais, onde, atualmente, mantém projetos de inclusão social por meio do design. Na favela do Jaguaré, em São Paulo, trabalha com uma coo-perativa que produz casas de cachorro a partir de caixas de madei-ra. “Mostrei a eles que podem fazer outros objetos, como móveis e até sua própria casa, e que esses produtos podem ser mais bem aca-bados. O objetivo é despertá-los para novas oportunidades de mer-cado, aumentando a geração de renda”. Isso, é claro, respeitando a cultura dos moradores. “É preciso trabalhar no contexto deles, preservando seus hábitos. Moradia é isso”, enfatiza. “A estética da favela é interessante, porque se baseia em colagem de diferentes materiais recolhidos nas ruas. Por sua condição social, essas pesso-as são naturalmente recicladoras, e, se as construções fossem orga-nizadas, a favela seria muito bonita”. [bs]

c a p a

eneRGia

« e d i ç ã o R i c a R d o a R n t »

vida nova RadaRnova madeirade uso milenar, o bambu nunca foi tão moderno. versátil, barato e mais resistente que o aço, conquista cada vez mais espaço na construção civil, como as casas resistentes a terremotos, construídas na colômbia e no equador. na informática, já foi transformado em revestimento de notebook pela asus, em 2007. no brasil, o material ainda é pouco explorado, mas entra no mercado por meio do design sustentável. marcas como etna e tok&stok apostam na matéria-prima para agregar valor aos produtos por meio dos benefícios em sustentabilidade. por crescer rapidamente, a planta sequestra muito gás carbônico da atmosfera e tem alta produtividade por hectare. sua leveza é outro importante atributo, que permite o transporte de grandes quantidades com redução do consumo de combustível. o bambu já está sendo considerado a “madeira do século 21”.

consumo consciente, agora, é assunto federal. o ministério do planejamento, orçamento e Gestão criou o programa contratações públicas sustentáveis, que leva em conta critérios sociais e ambientais nos processos de licitação. a iniciativa contempla, principalmente, computadores e equipamentos eletrônicos, materiais de escritório, alimentos orgânicos e energia gerada de fontes renováveis. ainda que os itens sejam mais caros, a iniciativa visa melhorar a qualidade dos gastos públicos e proporcionar compensação inanceira em longo prazo, redução de impactos no meio ambiente e desenvolvimento socioeconômico. o governo quer inluenciar o padrão de consumo do mercado, já que suas compras representam de 10 e 15% do pib nacional.

i n i c i at i Va s p e s s oa i s t r a n s F o r m a d o r a s

licitações sustentáveis

campolongo à vontade no seu quarto de dormir singular: a cama é feita de tubetes e a luminária de garrafas pet

BoM e

Bonitopor meio do design, nido campolongo propõe uma noVa Forma de Ver os resÍduos e de se relacionar com diFerentes públicos

RepoRtaGem silvia WaRGaFtiG

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i n d i c a d o r e s , s e l o s , n o r m a s , g u i a s , c e r t i F i c a d o s

e m é t o d o s d e F o m e n t o à i n o V a ç ã o n a s c o r p o r a ç õ e s

« R e p o R t a G e m c o n R a d o l o Y o l a »

c e R t i F i c a ç ã o l i F e

FeRRamenta

o que é? A Convenção da ONU Sobre Diversidade Biológica realiza-da na Alemanha, em 2008, colocou o engajamento empre-sarial no centro da discussão sobre conservação da biodi-versidade. Recentemente, o órgão internacional calculou que a perda anual de florestas custa entre US$ 2 trilhões e US$ 5 trilhões à economia mundial – ao passo que a última crise financeira global provocou prejuízos estimados entre US$ 1 trilhão e US$ 1,5 trilhão.

Em resposta a essa abordagem, que classifica a proteção aos serviços ambientais como parte dos negócios, a Certificação Life (Lasting Initiative For Earth, Iniciativa Duradoura Pela Terra, em português), lançada em julho de 2009, visa medir, qualificar e reconhecer as empresas que desenvolvem ações voluntárias em prol da biodiversidade.

A iniciativa foi elaborada por um grupo multidisciplinar de pesquisadores do Instituto Life, entidade criada a partir dos recursos e dos conhecimentos da Fundação Avina, da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, da Gráfica Po-sigraf e da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Edu-cação Ambiental (SPVS). O Instituto Tecnológico do Paraná (Tecpar) também apoia a elaboração da norma.

quais as vantagens? Segundo Clovis Borges, presidente do Conselho Dire-tor do Instituto Life, uma das vantagens da certifica-ção é sua flexibilidade, uma vez que o instituto par-te da premissa de que a perda de biodiversidade afeta todos. Investindo na manutenção dos serviços am-bientais, uma empresa de qualquer setor pode ser cer-tificada, mesmo que não seja responsável direta por impactos à natureza.

“A Certificação Life mede os impactos daquele negó-cio e gera índices. Então, ela possibilita a qualquer tipo de empresa, da padaria à montadora de veículos, reali-zar investimentos de acordo com seu porte e os impac-tos de sua operação”, afirma Borges.

como funciona? Entre as ações que asseguram a obtenção do certificado estão investimentos em implantação de Reservas Parti-culares do Patrimônio Natural (RPPN) e de Unidades de Conservação públicas, apoio a políticas públicas relacio-nadas ao tema e ações de combate a espécies invasoras ou de proteção de espécies ameaçadas.

gestão daBiodiVersidade

certiFicação liFe reconhece e recompensa ações

Voluntárias de conserVação de serViços ambientais

O processo de obtenção é semelhante ao de outras certificações: a empresa interessada é avaliada por uma auditoria independente credenciada pelo Insti-tuto Life. De acordo com Borges, a análise da auditoria leva em conta o atendimento à legislação, mas verifica também a gestão ambiental da companhia, o que re-sulta em “soluções” individuais, respeitando as especi-ficidades de cada empresa.

“Se duas empresas do mesmo setor e do mesmo porte possuírem processos de gestão ambiental diferentes, a que possui o melhor processo não precisa necessa-riamente investir em biodiversidade o mesmo que a outra, já que os impactos são menores”, exemplifica Borges. Em seguida, a auditoria avalia se há algum portfólio de ações de conservação da biodiversidade e, finalmente, define que medidas a empresa deve ado-tar para ser certificada.

Atualmente, O Boticário, MPX Mineração e Energia, Posigraf e a hidrelétrica de Itaipu estão em processo de obtenção do selo. Segundo Borges, o objetivo do Ins-tituto Life é ampliar o selo de mesmo nome com uma referência internacional. “Estamos prospectando ou-tras empresas, e nossa intenção a curto prazo é levar a

Certificação Life a elas, já na condição de protagonistas, apresentado-as em Nagoya, no Japão, onde ocorrerá, em outubro, a próxima Convenção da ONU Sobre Biodiver-sidade. As organizações que assumirem esse compro-misso estarão na vanguarda.” Segundo Borges, já exis-tem sondagens para levar a certificação a empresas do Paraguai, considerando a legislação e os biomas locais.

Borges acredita que a popularização da ferramenta contribuirá para dar mais foco aos investimentos das empresas. “Grande parte dos esforços de conservação da biodiversidade ainda é feita de forma aleatória. Em-bora o certificado tenha tido boa aceitação – respal-dado pela ONU e pelo Ministério do Meio Ambiente –, convencer o setor empresarial de que a queda de quali-dade dos serviços ambientais acarreta impactos sobre os negócios ainda é um desafio.

“A reação inicial, normalmente, é o famoso ‘o que eu tenho a ver com isso?’”, afirma o presidente do Ins-tituto Life. A gestão ambiental tem avançado, mas a conservação da biodiversidade ainda está em estágio inicial. É necessário que as empresas percebam que os serviços ambientais têm custo e que não podem ser tra-tados como uma coisa descartável. [bs]

a perda da biodiversidade afeta a sociedade toda

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panoRamac l i m a • b i o d i V e r s i d a d e • m o b i l i d a d e • c o m u n i c a ç ã o

“se quiser ir rápido, vá sozinho; se quiser ir longe, vá em grupo.” com esse provérbio africano, o ex-vice-presidente dos estados unidos e prêmio nobel da paz, al gore, introduz seu novo livro, cuja versão em português já está disponível no brasil. nossa escolha – um plano para solucionar a crise climática estabelece uma discussão sobre temas essenciais, como energia solar, biocombustíveis, crescimento populacional, poluição e, como não poderia deixar de ser, aquecimento global. “já está mais do que claro que temos ao nosso alcance todas as ferramentas necessárias para solucionar a crise climática. o único ingrediente que ainda falta é a determinação coletiva”, sentencia o autor.

determinação coletiva [ l i V r o ]

nossa escolha – um Plano para

solucionar a crise climática

autor: al gore editora: amarilys

páginas: 416preço: r$ 79,00

com o objetivo de ampliar a transparência, o jornal britânico the guardian transformou o seu tradicional relatório de responsabilidade socioambiental em uma plataforma interativa na web (www. guardian.co.uk). intitulado living our Values, o relatório do the guardian foi o primeiro de uma empresa de mídia publicado no mundo. a mudança para o novo formato começou a se conigurar há dois anos, quando jo conio, responsável pelos relatórios do grupo, passou a questionar o modelo até então utilizado. “como é possível fazer um relatório anual e dizer que existe interação, já que tudo muda o tempo todo?”, questiona conio. o jornalista apresentou o novo modelo durante a conferência global sobre sustentabilidade e transparência promovida pela global reporting initiative (gri), em maio, na holanda. a plataforma procura reproduzir a interação e a dinâmica do processo de construção da sustentabilidade nas empresas. por meio dela, o jornal criou um novo canal de comunicação com os leitores. “o diálogo permite absorver diversos pontos de vista e criar um luxo colaborativo de informações para curar a cegueira que as empresas têm em relação a si mesmas”, conclui. [rita nardy]

sustentabilidade em tempo real [ r e l a t o e m p r e s a r i a l ]

no ano internacional da biodiversidade, um grupo de pesquisadores, coordenado pelo banqueiro sênior do deutsche bank, pavan sukhdev, está na fase inal de elaboração do estudo the economics of ecosystems & biodiversity. o passo a passo do processo pode ser acompanhado no site www.teebweb.org. o resultado inal do trabalho, iniciado em 2007 e apoiado pelo G8, será apresentado na 10ª conferência de estados para a convenção da diversidade biológica, em outubro

próximo, em nagoya. liderado pelo programa das nações unidas para o meio ambiente, o estudo traça paralelos entre os custos da perda de biodiversidade – e a consequente piora dos serviços ambientais – e os gastos necessários para a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais. o objetivo é mostrar que a economia pode ser um poderoso instrumento de conservação da biodiversidade, a partir da integração dos saberes ecológicos e econômicos.

quanto custa a degradação? [ s i t e ]

em 2010, o brasil foi incluído,

pela primeira vez, na pesquisa

barômetro da biodiversidade,

que mede a percepção dos

consumidores, da mídia e das

empresas sobre a biodiversidade

mundial. a pesquisa, elaborada

pela uebt (union for ethical

biotrade) – união para o

biocomércio ético –, foi

apresentada no país durante um

encontro realizado na sede da

empresa de cosméticos natura,

em cajamar (sp), em maio deste

ano. a pesquisa apontou, por

exemplo, que os consumidores

brasileiros estão mais antenados

sobre as questões ligadas à

biodiversidade na comparação

com consumidores de outros

países, como a França, onde a

biodiversidade é confundida com

produtos orgânicos; e os estados

unidos, onde é relacionada com

questões energéticas, como a dos

biocombustíveis. apenas 60%

dos norte-americanos e europeus

“ouviram falar” de biodiversidade,

contra 94% dos brasileiros.

radar planetário [ p e s Q u i s a ]

Barômetro da Biodiversidade 2010organizadora: uebtsite: www.ethicalbiotrade.org

direção econômica [ j o g o ]

a Volkswagen lançou o game VW tem de tank?, um jogo de corrida com elementos em três dimensões, cujo principal objetivo não é chegar em primeiro lugar, mas sim conduzir um VW polo de maneira econômica, sem desperdiçar combustível. Quem tiver o melhor desempenho ganha um VW polo blue motion. para participar, basta se cadastrar no site www.volkswagen.nl/temdetank. a navegação é amigável e o prêmio é bom, mas as instruções estão todas em holandês.

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ridades e discutiu os principais desafios urbanos, como o lixo, a construção civil, a vulnerabilidade dos litorais e a renovação da infraestrutura necessária para a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.

Adaptar as cidades aos desafios climáticos não é ta-refa fácil. Para realizá-la, Carlos Alberto Vieira Muniz, vice-prefeito do Rio, aposta no poder mobilizador do Fórum Carioca de Mudanças Climáticas e Desenvolvi-mento Sustentável. Criado em 2009, o órgão se reúne mensalmente para tratar das questões associadas ao aquecimento global, que “são complexas, multidisci-

plinares e requerem a integração permanente de um conjunto de ações em vários setores da economia, envol-vendo a parceria e participação de todos os segmentos sociais, da iniciativa privada e pública”. Ao mesmo tem-po, o governo municipal propôs uma nova Lei de Mu-danças Climáticas, que está em tramitação na Câmara dos Vereadores, como parte do Planejamento Estratégi-co da Prefeitura.

Para Muniz, o licenciamento não é o maior desafio, e sim a gestão do planejamento de cada investimento. “É preciso que cada iniciativa esteja adequada à legisla-ção, de modo que venha a causar o menor impacto am-biental possível.” Uma das metas da Política Municipal de Mudanças Climáticas Rio Sustentável é reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 8%, até 2012. Para 2016, a meta é atingir 16% de redução, e, em 2020, 20%.

desaFio climáticoEm todas as cidades há urgente necessidade de adap-tação do setor de transportes para reduzir impactos ambientais e emissões de gases de efeito estufa. Suza-na Kahn, professora da Coppe-UFRJ e ex-secretária de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, ressaltou que, apesar dos avanços da tecnologia e dos combustíveis, o esforço de mitigação exige dos governos a elaboração de uma legislação fortemente restritiva, pois a quantidade de veículos em circulação só tende a aumentar. “É necessário unir três aspectos: governan-ça (comprometimento), cooperação (otimização, priori-zação e complementaridade nos programas) e liderança (coordenação comum), de forma a compartilhar respon-sabilidades”, disse a pesquisadora.

Para tanto, torna-se essencial a existência de um órgão que coordene as ações de mitigação e de adap-tação, capaz de otimizar o desenvolvimento urbano e planejar cidades mais previsíveis, salientou a arqui-teta Andrea Young, pesquisadora do Instituto Nacio-nal de Pesquisa Espacial. “Com o aumento das chu-vas, em consequência da elevação da temperatura no nível do mar registrada entre 1960 e 1990, o risco das cidades aumentou, pois o solo não consegue absorver toda essa água em tempo hábil, o que favorece desli-zamentos de terra como os que aconteceram no Rio”, afirmou Young. Outros agravantes são o aumento

o Fechamento ao tRáFeGo da Avenida Rio Branco e a revitalização do centro do Rio de Janeiro, algumas das metas do Projeto Rio Ver-de para transformar a metrópole carioca em cidade sustentável, foi um dos temas de destaque do primeiro

encontro Sustentável 2010, realizado em maio pelo Con-selho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Organizado em torno do tema Ci-dades e Mudanças Climáticas, o evento contou com a pre-sença de lideranças empresariais, pesquisadores e auto-

r e p o r t a g e m

sustentável 2010

a parceria entre o goVerno e as empresas abre o caminho mais curto para as cidades se adaptarem às mudanças climáticas

RepoRtaGem mauRette bRandt

cidades pRevisíveis da esquerda para a direita, bjorn sitgson

(Wbcsd), branca americano (ministério do meio ambiente), marina Grossi (cebds), claudio muniz (vice-prefeito do Rio de Janeiro) e sue Wolter (petrobras)

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da área impermeável, o esgotamento dos lixões e a ex-pansão do desmatamento. “O prolongamento das áreas periféricas, no Rio, já atinge os manguezais da Baía da Guanabara, que deveriam ser preservados”, ressaltou a pesquisadora. Em São Paulo a situação mais grave é a da bacia do Rio Tietê, que envolve 39 municípios e está se transformando numa ilha de calor em decorrência da impermeabilização crescente.

Na visão das companhias de seguro, as áreas de maior risco do planeta são as zonas costeiras. Cláudio Neves, doutor em Engenharia Oceanográfica e Costeira pela Universidade da Flórida, advertiu que as mudanças cli-máticas tendem a agravar o vazio urbano deixado pela tendência de desativação dos portos. “No Brasil, as cida-des portuárias detêm 14% das maiores rendas per capita”, disse. Soluções de engenharia, não mitigações, são ne-cessárias com urgência, pois a vulnerabilidade é enor-me, apesar de a situação brasileira ser menos arriscada do que a de muitos outros países.

O aquecimento global encurta o tempo do planeja-mento urbano. Sérgio Besserman Vianna, presidente da Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável e de Governança Metropolitana da Prefeitura do Rio de Ja-neiro alertou que “do jeito que o mundo caminha, são mínimas as chances de não ultrapassarmos o limite de aquecimento global de 2ºC até o fim do século 21. Qual-quer coisa além disso será um pesadelo”. O economista aposta na produção de conhecimento – dados, estatísti-cas, análises de risco – e na participação da sociedade para gerar uma análise mais realista da situação. É fun-damental apoiar a projeção de mudanças climáticas em territórios cada vez menores, através de políticas e pla-nos municipais. “O Brasil tem imensas vantagens com-petitivas, por ser autossuficiente em energia, pela logís-tica e pelo impacto dos biomas. Há muito a fazer ainda, mas as possibilidades são boas”, concluiu.

constRução sustentávelO segundo painel do encontro, Primeira Jornada de Constru-ção Sustentável, permitiu aprofundar os debates da parte da manhã, discutindo a sustentabilidade da construção civil. Carlos Eduardo Garrocho de Almeida, Diretor Comercial e de Assuntos Corporativos da Holcim Brasil e presidente da Câmara Temática de Construção Sustentável do CEBDS, destacou a publicação, pela instituição, do Guia da Construção Sustentável, destinado a promover uma mudança de cultu-

ra na construção civil. Já Marcelo Takaoka, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, mostrou os esforços da entidade para conscientizar os sindicatos e as construtoras para a transformação sustentável do setor.

Houve consenso entre os participantes do encontro que os próximos eventos globais programados para o Brasil e o Rio de Janeiro, a Copa do Mundo e a Olimpía-da, abrem oportunidades de renovação. Maria Salete de Carvalho Weber, coordenadora geral do Programa Bra-sileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H), da Secretaria Nacional de Habitação do Ministério das Cidades, informou que o governo investirá 7 bilhões na infraestrutura das cidades-sede da Copa e da Olim-píada, além de 11 bilhões repassados a estados e municí-pios. “Para o ministério, os investimentos em transpor-tes públicos devem ter caráter de perenidade. A questão da sustentabilidade vem sendo incorporada a todas as ações. Nossos parceiros privados têm a responsabilidade de cumpri-la”, afirmou.

O Rio de Janeiro está no foco dos investimentos. No caso do Projeto Rio Verde, apresentado por Altamirando Reis, subsecretário de Meio Ambiente do Rio, as ações incluem a reformulação do sistema de transportes metropolitano e a preservação do centro, com o fechamento da Avenida Rio Branco ao tráfego e a revitalização de áreas históricas, como a Praça Tiradentes e a Praça XV. Também será fecha-do o lixão de Gramacho, em Duque de Caxias (condenado há 20 anos), que ameaça ruir sobre a baía de Guanabara. “O projeto é amplo e segue o exemplo de várias capitais mundiais”, disse Reis. “A tendência é proteger as áreas centrais, muitas com significativos conjuntos arquitetô-nicos históricos, o que implica otimizar os transportes e implantar o bilhete único metropolitano.” A racionaliza-ção das linhas de ônibus é essencial para diminuir a con-centração em regiões e servir melhor a todas as áreas da cidade. Reis lembrou que 36% das emissões do Rio vêm de dióxido de carbono e outros 36% são provenientes do lixo. “Só a reformulação do sistema de transportes representa-rá uma redução de 8% já em 2012”, comemora.

Na conclusão dos debates, Marina Grossi, presidente-executiva do CEBDS, reafirmou a postura da institui-ção de fomentar o diálogo sobre os desafios prementes das cidades diante dos impactos previsíveis. “Indiví-duos, governo e empresas devem melhorar sua atuação no combate às mudanças climáticas; faremos tudo para dar suporte a esse processo”, afirmou. [bs]

goVerno Protagonistaa pesquisa desafios urbanos e mudanças climáticas, desenvolvida pela empresa market analysis em parceria com o cebds, entre 26 de março e 15 de abril, e apresentada no sustentável 2010, entrevistou 258 pessoas e 41 formadores de opinião, traçando um perfil das expectativas sobre os problemas e as necessidades do rio de janeiro. mais de 34% dos entrevistados apontaram a segurança como o maior problema da cidade daqui a cinco anos, enquanto 28% dos formadores de opinião identificaram os transportes. a violência foi apontada por ambos os grupos de entrevistados como o maior problema do rio hoje e no futuro.

o governo se destaca como o agente de maior competência e credibilidade para lidar com o aquecimento global, na opinião de 33% do público e de 17% dos formadores de opinião. o trabalho das lideranças empresariais no combate ao aquecimento global é considerado bom por 53% do público, mas apenas 39% dos formadores de opinião concordam.

dentre as soluções, 90% do público e 98% dos formadores de opinião acreditam que a primeira atitude a ser tomada, nas empresas, é encontrar formas menos poluidoras de gerar produtos e serviços. a segunda alternativa é uma mudança de atitude pessoal e social para diminuir a emissão de gases poluidores, escolhida por 88% do público e 90% dos formadores de opinião. a força da lei é a terceira ação mais importante. na opinião de 87% do público e de 96% dos formadores de opinião, o governo deve limitar severamente as emissões de gases das empresas. mais de 61% dos entrevistados acreditam que a preocupação com as mudanças climáticas vai crescer.

r e p o r t a g e m

sustentável 2010

suzana Khan, da coppe-uFRJ: legislação deve ser mais restritiva para automóveis

Garrocho, da holcim: é preciso capacitar os profissionais da construção civil

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r e t r a n c a

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21º congresso nacional apimecRealizado a cada dois anos, o congresso nacional apimec reúne profissionais e empresas relacionadas ao mercado de capitais para debater o desenvolvimento do setor e a economia global. neste ano, a programação tem como tema central o papel do mercado de capitais em um mundo sustentável e discute desde a adoção de mecanismos sustentáveis até a neutralização da emissão de carbono do próprio evento. estão previstos painéis para debates entre analistas de investimentos e profissionais das áreas de relações com investidores. uma feira também será montada, para que as empresas exponham seus produtos e serviços. as inscrições podem ser feitas com preços especiais até o dia 25 de junho.

m ercad o • ág ua • ed u cação • n eg ó ci os

« e d i ç ã o F e R n a n d o b a d ô | t e X t o p e d R o m i c h e p u d »

aGenda

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2º encontro sustentável 2010 realiZaÇão: conselho empresarial brasileiro para o desenvolvimento sustentável (cebds)local: hotel sheraton – porto alegre (Rs)Mais inforMaÇões: [site] www.sustentavel.org.br

o 2º encontro sustentável – ciclo de encontros sustentável 2010 – tem como tema comunicação e educação para a sustentabilidade e irá debater, entre outros assuntos, a inserção do tema na grade das universidades. a discussão também será aberta à participação de lideranças locais, para que exemplos aplicados regionalmente possam ser ampliados a outras comunidades. as inscrições, gratuitas, estão abertas para acadêmicos, ongs, e representantes dos governos estaduais e municipais e do setor privado. o terceiro e último encontro do sustentável 2010 ocorre em novembro, em salvador (ba).

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realiZaÇão: associação dos analistas profissionais de investimento do mercado de capitais (apimec)local: ouro minas palace hotel - belo horizonte (mG)Mais inforMaÇões: [tel] (31) 3213.0693[site] www.21congressoapimec.com.br[e-mail] [email protected]

é possível gerar negócios e, ao mesmo tempo, disseminar conceitos e práticas sustentáveis? para responder a essa pergunta, a eco business 2010 promove, desde 2008, uma feira para integrar empresas que desenvolvem projetos sustentáveis e ecoprodutos, estimulando a troca de informações para gerar conhecimento no tripé social, ambiental e econômico. além disso, é realizado o congresso negócios e cidades sustentáveis, que discute projetos adotados por governos, empresas, ongs e universidades para gerar riqueza e lucratividade com menos impacto no meio ambiente.

eco Business 2010 - feira e congresso internacional de econegócios e sustentabilidaderealiZaÇão: mes – eventos para o Futuro local: centro de exposições imigrantes, pavilhão de convenções – são paulo (sp)Mais inforMaÇões: [tel] (11) 3060.2270 [site] www.ecobusiness.net.br[e-mail] [email protected]

semana Mundial da águarealiZaÇão: stockholm international Water institute (siwi)local: stockholm international Fairs estocolmo (suécia)Mais inforMaÇões: [tel] +46 852 21 39 60 [site] www.worldwaterweek.org[e-mail] [email protected]

o desafio da Qualidade da água é o tema da semana mundial da água, que ocorre em estocolmo, na suécia. o evento proporciona um intercâmbio entre os setores civis, empresariais, políticos e acadêmicos de todo o mundo e procura soluções concretas com relação ao uso do recurso escasso. o evento, que debateu o acesso à água para o bem comum em 2009, debaterá o desafio urbano e a alimentação global, em 2011 e 2012, respectivamente. para acompanhar a programação, que conta com workshops, seminários, cerimônias de premiação e plenários, os internautas contarão com o watercube.tv, um podcast criado pela organização para veicular os debates.

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inFRaestRutuRa

apesaR de seRem uma alteRnativa limpa e de menoR impacto ambiental, as pequenas centRais hidRelétRicas estão deiXando um RastRo neGativo pela Falta de uma avaliação ambiental inteGRada de bacias hidRoGRáFicas e de RiGoR no licenciamento ambiental

rePortageM Julio santos

O subsídio governamental às PCHs – desconto de até 50% no pagamento da tarifa de transmissão e distri-buição de energia, isenção de royalties nos municípios, mais financiamento do BNDES e garantia de compra de energia por 20 anos – ajudou a ampliar enormemente a participação dessa fonte na matriz energética. Hoje há 368 usinas em operação, geradoras de 3.171 MW, quase 3% da capacidade do país. Para os próximos dez anos, o Plano Decenal de Energia projeta para as PCHs um sal-to de participação na matriz para a faixa de 7 mil MW. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Ane-el), há mais 64 usinas em construção e 149 em fase de outorga. Além disso, a Aneel tem cerca de 800 estudos de inventário e mais de mil projetos básicos de PCHs em análise. Se todos esses projetos se concretizarem, serão pelo menos 2.381 PCHs.

A corrida para a construção de usinas, em alguns casos, tem passado dos limites exatamente em um dos quesitos fundamentais do conceito das pequenas hi-drelétricas: o menor impacto ambiental. A ausência de Avaliação Ambiental Integrada (AAI) das bacias hidrográficas e a falta de rigor dos órgãos ambientais dos estados na hora de aprovar o licenciamento estão criando situações surrealistas. Na Bacia do Alto Para-guai, no Mato Grosso do Sul, está prevista a instalação de 116 PCHs. Desse total, 29 já estão em operação. A bi-óloga Débora Calheiros, da Embrapa Pantanal, é uma das pesquisadoras que alertam para os riscos de cons-trução em massa das pequenas usinas em rios de pe-queno porte: impactos nas comunidades, na pesca, na agricultura familiar, na criação de gado, no turismo pesqueiro e no assoreamento dos rios.

cascata de impactosOutro exemplo negativo acontece no Rio Palmeiras, no município de Dianópolis, no Tocantins. Nessa re-gião, um dos portões para o Parque Estadual do Jala-pão, vizinha da Estação Ecológica da Serra Geral e do Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba, já existem oito PCHs, das quais seis em funcionamento. Outras duas, as usinas Areia e Água Limpa, estão em construção – todas as oito situadas num trecho de apenas 150 quilômetros. A proliferação de constru-ções no rio interferiu na topografia das cachoeiras e corredeiras, eliminou cavernas e grutas e acabou com a prática do rafting turístico no Rio Palmeiras.

O problema acontece porque em quase 95% dos em-preendimentos é necessário fazer pequenas elevações de nível para que haja altura suficiente para garantir a geração de energia. Nas usinas com reservatórios para acumulação de água, é construído um canal ou uma adutora para que a água caia do ponto mais alto com força para passar pela turbina e produzir ener-gia. Nas PCHs a fio d’água, que não formam reservató-rios, esse tipo de intervenção não acontece.

Uma das alternativas para moderar o impacto am-biental e impedir que a construção de pequenas usi-nas sobrecarregue os rios é a elaboração da Avaliação Ambiental Integrada das bacias hidrográficas. O es-tudo avalia a situação socioambiental de toda a bacia do rio, considerando os empreendimentos hidrelétri-cos em operação e os planejados, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), responsável pelo pla-nejamento do setor de energia. Teoricamente, a ava-

a bucólica pch dianópolis, no rio manuel alvinho, em tocantins

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enquanto os olhares de governantes e ambientalistas se voltam para as grandes hidrelétricas da Amazônia, o país vira um autêntico canteiro de obras para

outro aproveitamento hídrico. A construção de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) – usinas com reservatórios de até 3 km2 e potência de até 30 MW –, toma conta dos rios, de norte a sul. Desde 2004, quando o governo lançou o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas (Proinfa), garantindo a compra da energia gerada pelo prazo de 20 anos, a preços de fazer o olho de qualquer investidor brilhar, as PCHs proliferam, algumas vezes sem controle e, não raro, com várias no mesmo rio.

PchS: Mas neM tanto sustentáVeis,

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liação deve levar em conta “os efeitos cumulativos e sinérgicos dos projetos sobre os recursos naturais, as populações residentes e as atividades econômi-cas, assim como os usos atuais e potenciais dos re-cursos hídricos no horizonte atual e futuro de pla-nejamento”.

No caso da Bacia do Alto Paraguai, no Mato Grosso do Sul, segundo Mauricio Tolmasquim, presidente da EPE, a licitação para contratar a empresa que fará os estudos amplos está em fase de elaboração. “A Avalia-ção Ambiental Integrada será feita para atender pre-cisamente a essa demanda”, garante Tolmasquim, sem precisar quando a licitação acontecerá. De 2006 para cá, a entidade ligada ao Ministério de Minas e Energia já desenvolveu estudos para sete bacias: dos rios Teles Pires (MT/PA), Tibagi (PR), Parnaíba (PI/MA/CE), Paraíba do Sul (SP/RJ), Doce (MG/ES), To-cantins (TO) e Uruguai (RS/SC).

bacias inteiRasCabe à Agência Nacional de Águas (ANA) a tarefa de regular o curso das águas dos rios para seus múlti-plos usos, como geração de energia, produção de ali-mentos, abastecimento da população, irrigação e la-zer. A agência responde pela emissão da Declaração de Reserva de Disponibilidade Hídrica, que determi-na se a vazão estabelecida para a geração de energia por uma determinada PCH vai limitar a quantidade

de água para outros usos. Posteriormente, cabe ao ór-gão ambiental verificar se aquela diminuição de va-zão da cachoeira vai criar algum dano ambiental ou vai alterar a biologia do ambiente.

Para Francisco Lopes Viana, superintendente de Outorga e Fiscalização da ANA, a avaliação integrada de bacia é a melhor solução para evitar ou minimi-

zar problemas em relação ao uso dos recursos hídri-cos. Cabe à AAI verificar quantas represas o rio pode ter. “Não há dúvida nenhuma de que a análise inte-grada da bacia é a melhor solução. É melhor do que o EIA/Rima (Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto no Meio Ambiente), embora não dispense tais estudos”, comenta Viana, frisando que é o setor de energia que propõe a divisão de quedas ou cascata a ser explorada do ponto de vista energético.

Além da Avaliação Ambiental Integrada, o consul-tor Daniel Araujo Carneiro defende maior atenção por parte dos órgãos ambientais na análise dos es-tudos de inventário e projetos básicos das pequenas centrais. Autor do livro PCH: Aspectos Jurídicos, Técnicos e Comerciais, o especialista também diz que é preciso mais robustez nos estudos de EIA/Rima. Ele aponta como fator determinante para evitar impactos am-bientais a necessidade de obtenção das Licenças Pré-

vias, tanto para fazer os estudos de inventário quan-to para iniciar a instalação do projeto.

“Acredito que os empreendimentos anteriores à ne-cessidade de apresentação de licença prévia podem, de certa forma, ter tido um desenvolvimento inadequado em relação às regras ambientais”, ressalta Carneiro. Sobre a construção de uma série de usinas num mesmo rio, o que na linguagem do setor de energia é chama-do de “cascata”, o consultor explica que no inventário se busca, dentro da legislação ambiental, encontrar o aproveitamento ótimo para geração de energia num determinado rio.

Segundo Fábio Dias, diretor-executivo da APMPE, associação que reúne os pequenos e médios produtores de energia elétrica, a construção de uma sequência de usinas num mesmo rio visa otimizar o seu potencial. “Com a cascata de usinas, o objetivo é buscar os efeitos sinérgicos para otimizar o potencial para geração de energia, sem gerar impactos para o meio ambiente”, comenta. Segundo Dias, o processo de aprovação de um projeto está ficando mais longo, o que tem afetado a atratividade das PCHs, em decorrência do aumento de custos provocado pelos estudos necessários e pela maior exigência ambiental.

bom neGócio Na definição da Aneel, o inventário é a etapa de en-genharia em que se avalia a capacidade de geração hidrelétrica de uma bacia ou de um rio, buscando-se compatibilizar o máximo de energia, ao menor custo, com o mínimo de impactos sobre o meio am-biente, em conformidade com os cenários de utili-zação múltipla dos recursos hídricos. Após a apro-vação, os estudos de inventário servem de base para o desenvolvimento posterior de projetos mais deta-lhados, com vistas à efetiva instalação dos aprovei-tamentos hidrelétricos identificados.

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pch areia, outra usina em construção no rio palmeiras

pch água limpa, em construção, também no rio palmeiras

tolmasquim: a avaliação ambiental integrada refinará o licenciamento ambiental

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Um fator novo no mercado das PCHs foi a aprovação, em janeiro de 2009, da resolução 343 da Aneel, que, para limitar a especulação com os projetos, impôs uma série de exigências à solicitação de registro de um empreendi-mento. Antes dela, muitos empreendedores registravam o projeto no Proinfa, mas não desenvolviam o licencia-mento prévio, esperando vendê-lo a terceiros. O consul-tor conta que a nova resolução adotou o critério de van-tagem competitiva para quem desenvolve os estudos de inventário. “Com isso, a qualidade dos inventários está, inclusive, ficando melhor”, avalia Daniel Carneiro. Após a publicação da resolução, o número de inventários cres-ceu vertiginosamente.

O relatório de atividades de 2009 da Aneel, elaborado pela Superintendência de Gestão e Estudos Hidroenergé-ticos, mostra uma significativa evolução. No caso dos es-tudos de inventário, que registravam uma média mensal de pouco mais de 30 novas solicitações, o número foi ele-vado para 60 em novembro e dezembro. Segundo o relató-rio, em 2009 foram publicados 1.935 despachos relativos à questão de registro e concedidos 1.156 registros ativos para desenvolvimento de estudos e projetos. Em contraste, no mesmo ano a Aneel analisou apenas 98 projetos básicos de PCHs, dos quais 63 foram aprovados e homologados, perfa-zendo um total de 778 MW de potência.

A evolução regulatória apertou a marcação sobre quem pretende investir em pequenas centrais hidrelé-tricas para especular. Hoje, o desenvolvimento do proje-to é acompanhado trimestralmente, tanto pelos órgãos ambientais como pela própria Aneel. Daniel Carneiro ressalta que, se não forem apresentados o licenciamento ambiental pertinente e o termo de referência na elabo-ração de impacto ambiental (EIA/Rima), por exemplo, não se tem como dar andamento aos estudos de projetos básicos. “A partir do momento em que o licenciamento prévio passou a ser exigido como condição para se obter a outorga, não tenho a menor dúvida de que os projetos

de PCHs ganharam um contorno ambiental sustentá-vel”, aponta o consultor.

Com acesso garantido ao financiamento do BNDES, uma PCH custa, em média, cerca de R$ 100 milhões, rende cerca de R$ 5 milhões por mês e tem garantia de compra de energia por 20 anos. Além do desconto na transmissão, não pagam royalties aos municípios onde se instalam, em-bora paguem impostos estaduais e federais. Um bom negó-cio. Por isso, o aperto da regulação e da legislação ambien-tal chega mais do que na hora para um país que tem nas fontes renováveis uma vantagem competitiva.

Muitos problemas ainda persistem no licenciamen-to ambiental, como a falta de pessoal qualificado para avaliar a qualidade dos estudos ambientais e fiscalizar a construção das usinas. Sem falar na falta de agilidade no desenvolvimento das avaliações ambientais integradas. Esses são fatores cruciais para que o país explore de ma-neira correta e racional o seu potencial hídrico, sem dei-xar um rastro de destruição ambiental rio abaixo. [bs]

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eM 2009, foraM concedidos 1.156 registros Para PchS, Mas aPenas 98 chegaraM a ser ProJetadas, das quais 63 foraM aProVadas e hoMologadas

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em pouco mais de 20 anos o símbolo do caracol se espalhou por 153 países, signi-ficando, mais do que uma antítese à velocidade da globalização, uma adaptação para a alimentação do conhecido slogan “Pense globalmente e atue local-mente”. A ideia de repensar o que cada país tem de único, junto com a percepção de que comer também é um ato agrícola, deu origem ao que hoje se chama de ecogastronomia.

Trata-se da tomada de consciência de que o ali-mento, do modo de produção ao consumo, incluindo o desperdício e o dejeto, é um elemento da sensibili-dade ambiental, sustenta o jornalista italiano Carlo Petrini, 61 anos, fundador e presidente do movimen-to. Graças ao seu empenho, o Slow Food nasceu em Bra, no Piemonte, terra de tradições culinárias que influenciaram o mundo, também ameaçadas pela globalização. Mais de 150 mil pessoas em cinco con-tinentes trabalham para a educação do gosto e a pre-servação da biodiversidade alimentar, organizando eventos e publicando livros e revistas.

Em abril, Brasília sediou a segunda edição do Terra Madre – Encontro Nacional de Ecogastro-nomia, uma das manifestações do movimento, que reuniu produtores, chefs de cozinha e pesqui-sadores brasileiros. Carlo Petrini esteve lá, expe-rimentou culinárias regionais, viu de perto como resistem as “fortalezas” – os núcleos Slow Food de defesa de produtos ameaçados – e conversou com a BRASIL SUSTENTÁVEL.

Brasil sustentáVel como o senhor avalia a presença do Brasil no movimento do slow food ? carlo Petrini O Brasil, país com uma grande biodiversidade agrícola, gastronômica, cultural e lin-guística, é um dos principais interlocutores do Slow Food. Um dos primeiros projetos internacionais de apoio aos pequenos produtores brasileiros foi realiza-do no país em 2002, quando nasceu a fortaleza do Gua-raná Nativo dos Sateré-Mawé, da Amazônia. Ao longo dos últimos anos, a mobilização da sociedade brasilei-

ra tem sido fundamental para o crescimento do mo-vimento. Atualmente, a Associação Slow Food conta com quase mil sócios no país, que promovem iniciati-vas locais, regionais e nacionais em prol da biodiversi-dade alimentar. O Slow Food conta ainda com o apoio da Secretaria de Desenvolvimento Territorial do Mi-nistério do Desenvolvimento Agrário e da Secretaria da Diversidade e Identidade Cultural do Ministério da Cultura para realizar a segunda edição do Terra Ma-dre, neste ano.

Bs qual a principal contribuição que os brasileiros podem dar? cP Conhecer e valorizar o próprio território é o pon-to de partida. Os chefs de cozinha que atuam no Brasil possuem um papel-chave na promoção dos produtos regionais. Já a universidade, quando próxima ao mun-do rural, pode contribuir para o reconhecimento e a valorização de técnicas de produção e produtos autóc-tones. Os consumidores brasileiros possuem o poder de motivar os pequenos produtores a prosseguirem com suas atividades realizando compras de maneira res-ponsável. Pequenas produções tradicionais somente continuarão a existir enquanto existirem consumido-res sensíveis e conscientes.

Bs algumas das técnicas culinárias mais importantes nasceram nas classes mais pobres. Mas a gastronomia sempre foi de elite. será sempre assim?cP Sempre existiram a cozinha popular e a aristocrá-tica, das cortes. Depois, a Revolução Francesa mudou as coisas, também nesse campo. Hoje, o que realmen-te conta é a tomada de consciência ecogastronômica. Trata-se de entender que o futuro da terra depende também e, sobretudo, do modo com que nos alimenta-mos todos os dias.

Bs o senhor costuma dizer que o slow food é uma revolução doce e tranquila. o que essa revolução tem de diferente?cP É uma revolução lenta e pacífica, que parte de GastRonomia

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“para comer bem não é necessário muito esforço”

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Valorizar a cultura e o próprio território é o ponto de partida do reQuinte gastrônomico

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baixo, da nossa atitude alimentar cotidiana. Todos nós comemos e podemos escolher algo melhor para comer, sempre de acordo com a dimensão do nos-so bolso. Para comer bem, produtos que satisfaçam o paladar e que respeitem o ambiente e o trabalho dos camponeses, não é necessário muito sacrifício. Basta comprar produtos locais, da estação, e conhe-cer quem os cultiva e os vende. É preciso conhecer o nosso alimento para lhe dar o justo valor. Se todos fizéssemos nossa parte, o sistema mundial de ali-mentos – que está destruindo o equilíbrio ambien-tal do planeta, o trabalho de milhões de agricultores e a saúde de tantos cidadãos – não seria tão invasivo e perigoso para o futuro. É uma coisa que se pode e se deve fazer, sobretudo porque é muito agradável e demanda pouco sacrifício: basta um pouco de educa-ção alimentar e empenho na hora de consumir.

Bs que consequências devemos esperar dessa revolução?cP Um renascimento da cozinha tradicional, mas não numa ótica de museu ou passadista. As tradi-ções vivas já contêm, em sua essência, uma adapta-ção às exigências modernas das pessoas. É preciso entender que, com produtos locais e de estação, de-fende-se a biodiversidade, se respeita o ambiente, se consegue gastar menos e se avança na direção do reconhecimento do bom e do belo como um direito democrático, ao alcance de todos. Isso tudo é parte do conceito de soberania alimentar. Uma coisa que devemos reconquistar neste planeta. Tanto aque-les que têm pouco para comer como os mais ricos, que podem se permitir qualquer alimento, mas que não sabem dizer de onde provém, o que con-tém e quem produziu o que estão comendo.

Bs o que é o melhor e o pior da gastronomia sem fronteiras?cP A comida não deve percorrer milhares de qui-lômetros sem que haja real necessidade. Muitas milhas alimentares inúteis e danosas, que redun-dam em produção de gás carbônico, poderiam ser evitadas privilegiando-se os alimentos frescos e locais, fruto de uma economia de pequena escala para o abastecimento. Dar aos produtores a possi-bilidade de vender diretamente, ajudá-los a orga-

nizar espaços de mercado nas cidades e estimular a criação de cooperativas são experiências que va-lorizam o alimento dentro dos limites regionais. Tratar todos os alimentos como commodities, pensar em aplicar o modo de produção da indústria numa atividade natural como a agricultura, que envolve um sistema ecológico complexo, é uma loucura. De-pois, existem alguns produtos, como café, vinho e especiarias, que desde tempos imemoriais percor-rem longas distâncias. Isso é normal, pois só po-dem se desenvolver em determinadas condições de ambiente e clima.

Bs que alimentos estão em sua lista negra?cP Tudo o que gera desperdício. Você sabe que na Itália se joga fora, todos os dias, 4 mil toneladas de comida boa para se comer? Nos Estados Unidos, esse número chega a 22 mil toneladas. um é real-mente um sinal inequívoco de um sistema que não funciona mais. Enquanto falamos de 1 bilhão de pessoas no mundo que passam fome, há uma quan-

um dos principais projetos da Fundação slow Food para a biodiversidade é difundir e viabilizar comercialmente alimentos artesanais ameaçados de extinção. para isso, foram identificadas em todos países “fortalezas do gosto”, que credenciam produtores de sabores em risco, muitas vezes esquecidos, ligados à identidade das comunidades. Veja alguns dos produtos brasileiros classificados como fortalezas.

aratu: o crustáceo saboroso é pescado por 50 famílias da comunidade de cajazeiras, no município de santa luzia do itanhy, em sergipe.

arroZ VerMelho: plantado em santana dos garrotes, Vale do piancó, na paraíba, foi introduzido no brasil pelos portugueses no início do século 16. é produzido por 63 rizicultores.

castanha de Baru (castanha do cerrado): coletada por 32 coletores das comunidades de caxambu, santo antônio e bom jesus, em pirenópolis, goiás.

guaraná sateré-Mawé: energético em forma de bastão, ralado na língua do pirarucu, produzido por 500 famílias da etnia sateré-mawé, na terra indígena andirá marau, no pará.

néctar de aBelhas natiVas: Quarenta famílias participam da produção desse mel menos doce, também na terra indígena andirá marau, no pará.

PalMito JuÇara: cinquenta famílias realizam o cultivo da palmeira em viveiro. também há plantações nas reservas silveira e boa Vista, dos índios guarani do litoral norte de são paulo.

biodiVersidade • globalizaçãoentRevista

tidade de comida muito superior à demanda mun-dial desperdiçada. A fome não é uma questão de escassez, mas de injustiça.

Bs o sr. acredita que o fast food está condenado, apesar do poder econômico das marcas globais?cP Cedo ou tarde, a insustentabilidade econô-mica, social e ecológica desse modelo de alimen-tação emergirá de maneira tão veemente que ele não será mais reproduzido nem mesmo por quem o pratica. Não sei quando isso acontecerá, mas es-pero que seja o mais rápido possível, porque o sis-tema não é sustentável. O poder econômico que as multinacionais acumularam é imenso, e elas, de fato, apropriaram-se da nossa soberania alimen-tar. Controlam as sementes, a terra, as transfor-mações e até a distribuição da nossa comida. O

problema é que em breve os custos sociais e am-bientais serão tão altos que precisarão modificar sua estratégia. Esperemos apenas que isso não ve-nha tarde demais.

Bs os ecologistas são pessimistas quanto ao futuro da humanidade. o senhor parece não ser. Por quê?cP Porque, no fim das contas, acredito na huma-nidade. As previsões, de fato, são muito pessimis-tas, mas só se concretizarão se continuarmos na mesma estrada que trilhamos até aqui. Mas po-demos mudar e podemos fazê-lo buscando nosso prazer, celebrando nossa cultura e nosso desejo de ampliar a vida comunitária e conviver com nossos irmãos. O fato inacreditável é que podemos fazer essa mudança a partir do sabor do alimento. Acre-dito nela porque não é difícil. [bs]

fortaleZas Brasileiras

“compre produtos locais, da estação, e conheça quem os cultiva e vende”

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até o fiM do ano, as empresas brasileiras empregarão R$ 2,012 bilhões em investimento social privado (ISP), a maior parte em projetos de educação, cultura e arte, formação para o trabalho, esportes e comunicação, o que representa um

crescimento de 6,23% sobre 2009. Os números foram revelados pelo secretário-geral do Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas), Fernando Rossetti, durante o sexto congresso da entidade, no Rio, e integram a quinta edição do Censo Gife, elaborado em parceria com o Ibope Inteligência, o Instituto Paulo Montenegro e o Instituto Itaú Cultural.

r e p o r t a g e m

Responsabilidade social

mais investimento social pRivadoos inVestimentos sociais das empresas Voltaram a crescer em 2010, Focando, sobretudo, projetos de educação, cultura e capacitação

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Fernando Rossetti: investimento social corporativo cresce em 2010

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do setor, uma vez que certas culturas não mudam de uma hora para a outra, a exemplo das leis.

“O Gife só tem 15 anos de vida, e, neste período, já ob-teve conquistas importantes para a sociedade. Pensar em mudanças estruturais requer esse tempo. Nossa meta é estabelecer um setor de investimento social privado re-levante e legítimo, que abranja diversos temas, regiões e públicos, formado por um conjunto sustentável e diversi-ficado de investidores”, afirma.

novidadesAlém das plenárias e mesas de debate, o 6º Congres-so Gife ofereceu aos participantes atividades paralelas realizadas pelas organizações parceiras da entidade, como Instituto Votorantim, Instituto Rogério Stein-berg, Instituto C&A, Instituto Desiderata e Fundação Vale. O objetivo das iniciativas foi proporcionar deba-tes qualificados e atuais que pudessem enriquecer e complementar as discussões promovidas pelo evento.

Outra novidade foi a realização de visitas guiadas a projetos, permitindo que os participantes conhecessem in loco algumas ações sociais no Rio de Janeiro. Foram disponibilizadas visitas às seguintes organizações: Nós do Morro, Espaço Criança Esperança do Cantagalo, Resi-dência Cultural – Teatro Escola Sesc e Instituto Tear.

Com a finalidade de neutralizar os gases do efeito es-tufa emitidos pelo congresso, o Gife fez uma parceria com O Boticário, que efetuará o levantamento e os cálcu-

los das emissões do evento e irá neutralizá-las por meio do Programa de Desmatamento Evitado, da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS). Para isso, todos os participantes receberam uma ficha para informar a cidade de origem e o meio de trans-porte utilizado. Outras medidas em prol da sustentabili-dade foram obtidas através da economia na impressão de papel e da redução dos descartáveis.

JulGamentoO encerramento do evento contou com uma atividade inusitada, o bem-humorado julgamento “Qual o im-pacto do ISP na realidade brasileira”. Simulando um tribunal, o consultor Francisco Tancredi assumiu o pa-pel de juiz. Fernando Rossetti foi o réu, representan-do o ISP, e os promotores foram encenados por Cenise Monte Vicente, coordenadora institucional da Oficina de Ideias e Marketing Cultural, e Wellington Moreira, coordenador-geral do Doutores da Alegria. Os advoga-dos de defesa foram o superintendente de Atividades Culturais do Itaú Cultural, Eduardo Saron, e a sociólo-ga e diretora do Instituto de Pesquisa Econômica Apli-cada (Ipea), Anna Peliano.

O julgamento terminou com a absolvição do ISP, que apesar de ser considerado culpado de vários delitos “não oferece riscos graves à sociedade”. Segundo o juiz, o réu deve se apresentar no próximo congresso do Gife, em 2012, para passar por uma nova avaliação. [bs]

Cerca de 800 lideranças nacionais e internacionais par-ticiparam do sexto congresso da instituição – cujo tema foi Visões para 2020 –, confirmando o baixo impacto da crise financeira mundial de 2008 sobre o ISP no país. Em 2009, os investimentos tiveram uma redução de 6% em relação ao ano anterior, mas em 2010 o ISP voltou a crescer. Segundo Fernando Rossetti, o país está viven-do uma época de reorganização de ambientes que favo-rece o crescimento da sociedade civil: “O terceiro setor triplicou de tamanho, e as empresas cada vez mais têm alinhado seus interesses corporativos com as ações so-ciais”, disse o secretário do Gife.

A maior concentração do investimento social privado, conforme demonstra o estudo, está nas regiões Sudeste e Sul. A Região Norte foi a que apresentou o menor volume de investimentos. Esse dado reforça, na opinião do secre-tário-geral, a importância de buscar estratégias para na-cionalizar os investimentos. “Um dos desafios do terceiro

setor é fazer com que o ISP não permaneça apenas nos lo-cais e regiões em que são geradas as riquezas.”

2020Durante o 6º Congresso Gife foi apresentada a Visão do Investimento Social Privado para 2020. O documento, apesar de ainda estar em fase de elaboração, já apon-ta quais são os principais desafios, as linhas de ação e os indicadores propostos para o aprimoramento e a expansão do setor no Brasil.

Com a participação dos associados da rede Gife e de organizações sociais convidadas, foram organizados quatro encontros para a elaboração do material. A vi-são para o setor foi montada a partir de três grandes eixos temáticos: relevância e legitimidade; abrangên-cia (temática e geográfica); e diversidade de inves-tidores. Segundo Rossetti, são necessários dez anos para se tentar estabelecer um panorama completo

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a usar fontes de energia fóssil. Agora, devemos rea-lizar uma saída ordenada da era do petróleo e cons-truir uma biocivilização baseada na transformação da biomassa.”

civilização da biomassaNesse contexto, os países das regiões tropicais e semi-tropicais ganham um papel fundamental por deterem as maiores concentrações de biomassa, invertendo o equilíbrio de poder global em termos de energia, in-sumo crucial do futuro. “Inverte-se a tese de inferio-ridade dos trópicos”, afirma. Sachs aponta também para uma “Revolução Azul”, com o uso sustentável dos recursos do mar e dos sistemas semiaquáticos. “Hoje, estamos caçando os peixes em vez de cultivá-los. Das águas, podemos tirar a proteína necessária para nos alimentar e avançar nas tecnologias, como a da utiliza-ção das algas como fonte de biocombustível.”

Sustentabilidade, para o professor franco-polonês- -brasileiro, não significa apenas responder à crise climática. “Criamos um mundo cheio de desigualda-des sociais”, resume Sachs. “O relatório do IPCC deixa uma mensagem central clara. Temos algumas déca-das para modificar nossas estratégias de desenvolvi-mento, pois do contrário teremos de conviver com o gigantesco impacto social das mudanças climáticas, que afetará, sobretudo, os mais fracos.”

Ao longo de sua trajetória acadêmica e diplomá-tica, Sachs construiu uma visão globalizada. Nasci-do em Varsóvia, na Polônia, veio para o Brasil com a família, aos 14 anos, como refugiado da Segunda Guerra Mundial. Formou-se em Economia no Rio de Janeiro. Voltou à Polônia em 1954, trabalhou como di-plomata na Índia e consolidou a carreira acadêmica na França, na Escola de Altos Estudos em Ciências So-ciais. Em Paris, criou o Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporâneo. Com essa bagagem incomum, que inclui um sólido conhecimento sobre o mundo

emergente e suas desigualdades, contraria os pensa-dores que pregam o fim do crescimento como saída para a atual crise da civilização. “Distribuir renda já é uma tarefa difícil, em termos políticos. Sem cresci-mento econômico, é muito mais.”

Sua proposta é de um desenvolvimento includente, sustentável e sustentado, que possibilite a distribui-ção de renda e a consequente redução das injustiças sociais. O economista confia também na ampliação de redes sociais universais que enfrentem os déficits de saúde, educação e moradia entre as populações desfavorecidas e na evolução de mecanismos de eco-nomia solidária que permitam a inclusão no mundo do trabalho.

pRaGmatismoSachs tem uma visão pragmática sobre temas polêmi-cos que despertam reações apaixonadas dos ativistas no Brasil. Ele considera, por exemplo, inevitável que o país aproveite o potencial hídrico das bacias da região amazônica para a geração de energia. “Acho difícil ig-norar o potencial hidrelétrico da Amazônia”, afirma com ironia. Acredita também que o Brasil deveria uti-lizar os recursos provenientes da exploração do Pré- -sal para justamente financiar a saída da era do petró-leo. “É muito difícil encobrir as riquezas que já foram descobertas”, justifica.

Embora alerte para os possíveis efeitos nas finan-ças brasileiras da atual crise econômica europeia no médio e longo prazos, Sachs é taxativo a respeito da mudança no peso político dos países emergentes, em especial do Brasil, no cenário internacional. “O país tem uma grande oportunidade de assumir efetiva-mente uma posição de liderança”, afirma. Esse pro-tagonismo não se dá apenas no atual âmbito do G20, mas do “G200”. “Não acredito no futuro do G20, e sim numa reconstrução séria do G200, ou seja, das Na-ções Unidas.” [bs]

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« R e p o R t a G e m á l v a R o a l m e i d a »

lideRança

iGnacY sachs contribui há 40 anos para a construção do pensamento sobre o desenvolvimento sustentável. Participou da organização da Conferência de Estocolmo, em 1972, reconhecida por conjugar, pela primeira vez, uma visão de desenvolvimento com preocupação econômica, social e ambiental. Foi conselheiro especial da Rio-92, que deu continuidade a essa evolução e lançou a Agenda 21. Agora, lança sua atenção para a Rio+20, que acontecerá em 2012.

“Neste momento, em que o mito dos mercados que se autorregulam está mal das pernas, esse encontro pode redesenhar o futuro da discussão sobre desen-volvimento”, afirma. “O Brasil, como país-sede, deve bombardear a conferência com propostas articuladas

com outros emergentes”, aconselha. Para o professor-pensador, autor de mais de 20 livros, os brasileiros estão atrasados. É necessário acelerar o debate nacio-nal nos próximos dois anos e articular um bloco com os países que têm as mesmas preocupações. “Aprendi que fóruns paralelos são animados, mas não impac-tam no que é discutido nas conferências da ONU. Para serem efetivos, devem acontecer antes, como eventos preparatórios”, ressalta.

Que futuro o sábio de 83 anos vislumbra? “Estamos no começo da terceira grande transição da coexistên-cia da espécie humana com o planeta. A primeira foi quando domesticamos os animais e nos estabelece-mos em comunidades. A segunda, quando passamos

iGnacY sachsquem? economista polonês, refugiado no brasil e naturalizado francês, autor de mais de 20 livros sobre desenvolvimento e meio ambiente.

o quê? ajudou a formular o conceito de ecodesenvolvimento na conferência de meio ambiente e desenvolvimento da onu de 1972, mais tarde transformado em desenvolvimento sustentável.

poR quê? conhece a realidade dos países emergentes, acumulou anos de trabalho no brasil e na Índia e é um dos raros economistas capazes de conjugar crescimento econômico com desenvolvimento social e conservação ambiental.

“distriBuir renda Já é uMa tarefa difÍcil, eM terMos PolÍticos. seM cresciMento econôMico, é Muito Mais”

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são as do plano político. “Cada país tem suas próprias leis e regulamentações, com diferentes formas de subsídios e diferentes regulações para a exportação e importação de energia elétrica”, acrescenta Gerhard Hofmann, vice-pre-sidente sênior da Desertec Industries, a empresa responsá-vel pela parte de desenvolvimento do programa. Paralela-mente, a Desertec Foundation atua para divulgar o projeto e encontrar parceiros e investidores.

Existem, ainda, outros obstáculos que podem esfriar os ânimos dos cientistas. A realidade de mercados tão distin-tos na Eumena fatalmente trará retornos diferentes de in-vestimentos, compondo um cenário de incertezas que não agradam aos financiadores. Outra questão é a tecnologia. O melhor mix de matrizes ainda não foi determinado, e to-das as possibilidades são consideradas pelos especialistas.

solaR com eólicas Alguns estudos já foram conduzidos, e o projeto mais co-tado, até o momento, é a utilização de energia solar con-tínua (CSP, na sigla em inglês) apoiada por usinas eólicas para conduzi-la ainda em terras africanas. Da costa norte da África, cabos especiais cruzariam o Mediterrâneo e le-variam a eletricidade para a Europa, atravessando o ocea-no em diferentes pontos. “Todas as tecnologias essenciais para o Desertec já existem. Temos projetos na China e na

Índia que demonstraram a viabilidade da transmissão de eletricidade em longas distâncias, com baixas perdas”, co-menta Bernd Utz, porta-voz para o Desertec na Siemens, uma das empresas que integram o programa.

Dessa forma, a meta é criar um ambiente político e re-gulatório favorável até 2012, enquanto os técnicos traba-lham em paralelo com análises concretas de projetos de referência. Acredita-se que as medidas necessárias para levantar toda a estrutura e colocá-la em funcionamento le-vem, pelo menos, duas décadas. “Ainda estamos em fase de desenvolvimento. Definimos os problemas que têm de ser resolvidos e estamos em fase de captação de shareholders e parceiros associados”, comenta Gerhard Hofmann.

Ele é cauteloso ao falar do futuro, mas está otimista com a possibilidade de o projeto sair do papel. “Quanto mais companhias aderirem ao programa e mais governos apoiá- -lo, maiores serão as chances de sucesso”, avalia o executivo da Desertec Industries. A chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, já manifestaram seu apoio. Gigantes do setor elétrico na Alemanha, como a RWE e a E.ON, além de seguradoras do porte da Münchner Rück, também aderiram. Resta ultra-passar a maior fronteira que separa a África da Europa: o abismo político e econômico que há séculos divide o mundo desenvolvido dos países mais pobres do planeta. [bs]

os deseRtos do norte da África e do Oriente Médio podem virar uma importante fonte de ener-gia para os países dessas regiões e de toda a Europa. Até 2050, a eletricidade de milhões de casas africanas e euro-peias pode ser gerada pelos raios de sol que incidem sobre as areias tórridas do Saara. Nessa faixa de nove milhões de quilômetros quadrados, o astro brilha durante cinco mil horas por ano. É uma quantidade formidável de calor, que alimenta a imaginação de um seleto grupo de especialistas. Eles são os mentores do Desertec, um ambicioso projeto, idealizado em 2003, que pretende pôr em prática o que já se sabe na teoria: a energia provida pelo Sol é dez mil vezes maior do que a necessária para abastecer toda a humanida-de. Usar o sol do deserto é o óbvio que ninguém percebera.

Aplicada à realidade local, a conta significa aproveitar apenas 0,3% da superfície dos desertos africanos para for-necer energia elétrica para toda a Eumena (sigla em inglês para a região que abrange a Europa, o Oriente Médio e o norte da África). Munidos dessa informação, os técnicos do Desertec imaginaram uma extensa rede para levar a ener-gia solar das areias do Saara a três mil quilômetros de dis-tância, no coração da Europa, já em forma de eletricidade.

A iniciativa atraiu gigantes corporativos do porte do Deutsche Bank e milionários ilustrados como o príncipe da Jordânia, Hassan bin Talal, que assinaram uma carta de in-

tenções em julho de 2009, em conjunto com 11 empresas de diferentes setores. Os gastos, estimados em 400 bilhões de euros, são tão superlativos quanto o tamanho do empreen-dimento: uma vez funcionando a pleno vapor, a expectati-va é de que o Desertec tenha 100 GW de capacidade instala-da – o suficiente para abastecer o Brasil inteiro durante seis meses. Uma das principais metas do projeto é atender a 15% da demanda da Europa no ano de 2050.

meGaestRutuRaPara atingir esse objetivo, uma enorme estrutura preci-sa ser erguida nos dois lados do Mar Mediterrâneo: usinas solares e uma complexa rede de transmissão, que prevê a colocação de cabos sob o oceano que separa a África da Euro-pa, instaladas em uma área de seis mil quilômetros quadra-dos. A primeira experiência deve acontecer no Marrocos. A ideia é que o país receba as primeiras usinas, equipadas com milhares de painéis solares e espelhos refletores, de-senvolvidos especialmente para captar o calor do Sol e ali-mentar um sistema que o transforma em eletricidade.

O maior desafio, no entanto, não é logístico. Embora os desertos do norte da África recebam uma quantidade ge-nerosa de radiação solar, eles não são tão fartos em superfí-cies planas – o que dificulta a construção das plantas e não ajuda na captação de energia. Outras questões complicadas

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megaprojeto de 400 bilhões de euros preVê a construção de usinas solares no norte da áFrica para abastecer paÍses da região e atender a 15% da demanda da europa

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o projeto desertec quer construir uma vasta estrutura de produção e captação de energia solar da áfrica e do oriente médio para a europa

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A falta de um marco legal e a carência de recursos finan-ceiros são as principais barreiras à ampliação dos projetos de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) no Brasil. Na contramão das dificuldades, no entanto, algumas expe-riências bem-sucedidas demonstram a viabilidade desse mecanismo inovador, que concilia geração de renda e mo-bilização pela conservação da biodiversidade e de outros recursos naturais. No Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho, são positivas as mensagens de quem assumiu a vanguarda dessas iniciativas neste Ano Internacional da Biodiversidade da Organização das Nações Unidas (ONU).

A Fundação O Boticário de Proteção à Natureza foi pio-neira no desenvolvimento de uma metodologia que tornou possível a aplicação prática do mecanismo de PSA no Bra-sil. Tudo começou em 2004, quando foi criado o Projeto Oá-sis, ajustado e lançado em 2006 com o objetivo de premiar proprietários que mantenham áreas florestais conserva-das na região da Bacia Guarapiranga, na Região Metropo-litana de São Paulo. A área apoiada é considerada estratégi-ca para a proteção de remanescentes de biodiversidade da Mata Atlântica e de importantes fontes de água, que abas-tecem cerca de 5 milhões de habitantes.

Segundo a gerente da fundação, Leide Takahashi, no ano em que a organização faz 20 anos e se comemora o Ano Internacional da Biodiversidade, o Projeto Oá-sis se firma como exemplo de iniciativa que tem tudo para dar certo em países detentores de megadiversi-dade, como o Brasil. “Ainda existem muitos desafios

a superar, mas temos de reconhecer as contribuições importantes dessa iniciativa, como a mobilização dos proprietários. Também temos buscado inspirar políti-cas públicas para a conservação dos recursos naturais”, afirma a executiva.

Partindo do conceito de serviço ambiental e dos be-nefícios derivados, tais como garantia de água doce, alimentos e matérias-primas diferenciadas, além de proteção da diversidade biológica, regulação do clima e controle de erosão, a fundação fez um cálculo e chegou a uma conclusão de valoração. Segundo a sua metodologia, um hectare de área florestal bem conservada na região da Bacia Guarapiranga pode valer até R$ 370, por ano, pela manutenção da qualidade da água, que garante a so-brevivência de inúmeras espécies e o abastecimento da Grande São Paulo. O dado é considerado essencial como referência de remuneração dos proprietários.

Atualmente, o projeto paulista beneficia 13 proprie-tários de terras, que compreenderam a importância de manter protegidas as matas nativas, ameaçadas por muita pressão urbana. A experiência está sendo repli-cada no Oásis Apucarana, no Paraná, pela organização ambientalista Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS). Pelo menos 63 proprietá-rios de terras do município, localizado na região norte do estado, começaram a ser remunerados, com valores que variam de R$ 850 a R$ 7 mil por ano. A Prefeitura de Apucarana é parceira da iniciativa.

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além de estocar carbono e conservar espécies, as florestas da mata atlântica absorvem a água da chuva que se infiltra no solo e abastece lençóis freáticos e nascentes

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Enquanto estados e municípios se articulam para criar legislação específica, o gerente do IAB destaca que está tramitando no Congresso, desde meados de 2009, um projeto de lei que propõe a criação da Política Nacional dos Serviços Ambientais, cujo relator é o deputado fede-ral Jorge Khoury (DEM-BA).

FloResta e áGua Partindo do princípio de que a proteção das florestas é fun-damental para assegurar a oferta de água, além da manu-tenção da biodiversidade e outros benefícios ecológicos, o projeto Produtor de Água, que já beneficia produtores rurais de Extrema (MG) e Rio Claro (RJ), foi estendido para Joa-nópolis e Nazaré Paulista (SP), como ação de remuneração por serviços ambientais no âmbito das bacias hidrográfi-cas dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. As atividades são lideradas pela organização ambientalista The Nature Conservancy (TNC), com apoio de uma rede de parceiros.

A solução é viável do ponto de vista econômico, assegu-ra Fernando Veiga, coordenador de Serviços Ambientais da TNC. “Na medida em que o PSA internaliza os benefí-cios da proteção ambiental, ele certamente gera um in-centivo econômico positivo que pode ser uma poderosa ferramenta para frear a degradação ambiental.”

No Rio de Janeiro, os produtores que recebem os pa-gamentos são responsáveis pela restauração florestal de aproximadamente 60 hectares e pela conservação flo-restal de 920 hectares. A remuneração anual varia de R$ 20 a R$ 60 por hectare. Em São Paulo, nove produtores assinaram contrato para a execução das atividades, que estão sendo iniciadas. Eles receberão aproximadamente R$ 28,9 mil, em valores que podem variar de R$ 75 a R$ 125 por hectare, ao ano. Em caráter pioneiro, os recursos

para remuneração dos participantes do projeto Produtor de Água vêm da cobrança pelo uso da água direcionados pelo Comitê das Bacias Hidrográficas dos rios Piracica-ba, Capivari e Jundiaí. A iniciativa também tem apoio da empresa Caterpillar.

A expectativa em São Paulo é de estimular técnicas de conservação de solo em 390 hectares, além de recuperar outros 208 hectares de Áreas de Preservação Permanente e de conservar 540 hectares de floresta. As ações vão con-tribuir para proteger a biodiversidade de espécies da Mata Atlântica na região, além de promover a melhoria da qua-lidade dos mananciais de recursos hídricos que contri-buem para o Sistema Cantareira, responsável pelo supri-mento de 50% da água da Grande São Paulo.

Em Minas Gerais, os projetos de restauração florestal es-tão sendo implementados integralmente em parceria com o Instituto Estadual de Florestas e com as ONGs Amanhá-gua, AMA Juiz de Fora e Quatro Cantos do Mundo. Esses parceiros estão se mobilizando para integrar o primeiro edital do Programa Bolsa Verde, iniciativa de Pagamento por Serviços Ambientais criada pelo governo do estado.

Para Fernando Veiga, o aumento da percepção da so-ciedade leva a crer que a conservação da biodiversidade passará a ser vista não apenas como uma preocupação de ambientalistas, mas como condição essencial à garan-tia da própria sobrevivência humana. “Assim, podemos passar da oposição meio ambiente versus desenvolvimen-to para uma situação em que o meio ambiente saudável seja condição para o desenvolvimento”, conclui. [bs]

Na Grande São Paulo, o Projeto Oásis ajuda a proteger 657 hectares de áreas florestais bem conservadas, onde estão localizadas 82 nascentes de rios e outros corpos d´água que alimentam a Bacia Guarapiranga. “Estamos estudando a possibilidade de ampliar essa área, e buscamos parcerias”, adianta Takahashi. A Fundação O Boticario já investiu US$ 450 mil nos últimos cinco anos nessa iniciativa.

O Projeto Oásis tem patrocínio da Mitsubishi Corpora-tion Foundation e é apoiado pelo escritório Losso, Toma-setti e Leonardo de advocacia, que, voluntariamente, tra-ta de toda as questões legais relacionadas às propriedades particulares participantes. Outros apoiadores institucio-nais da iniciativa são a Secretaria Estadual do Meio Am-biente de São Paulo e a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo, além da Fundação Agência da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê (Fabhat).

leGislação inovadoRa O Governo do Espírito Santo saiu na frente e criou a pri-meira lei estadual de pagamento por serviços ambien-tais no Brasil, em julho de 2008. Para tornar a legislação aplicável na prática, foi criado o Fundo de Recursos Hí-dricos (Fundágua), destinado à captação de recursos fi-nanceiros, que estão assegurando as ações de remunera-ção de 61 proprietários, em cinco municípios capixabas, participantes do projeto ProdutorES de Água. Eles ajudam a preservar 763 hectares de matas. Outros 35 processos estão em tramitação. Os investimentos nas ações de re-muneração somam R$ 121,1 mil.

Os primeiros pagamentos foram realizados em março de 2009, para proprietários do município de Alfredo Chaves, na bacia do rio Benevente. Gradativamente, outras regiões do estado estão sendo incorporadas ao projeto, que atua, também, nas cidades de Brejetuba e Afonso Cláudio, na ba-cia do rio Guandu, além de Mantenópolis e Alto Rio Novo, na bacia do rio São José. Os valores pagos podem chegar s R$ 930, por hectare, e dependem de critérios técnicos, tais como o estágio de conservação das florestas. Os contratos são de três anos.

“Temos alcançado bons resultados com o ProdutorES de Água porque conseguimos superar dois grandes gargalos que impedem a ampliação do uso de PSA no Brasil: a falta de um marco legal específico e a garantia de recursos fi-nanceiros para dar suporte às ações de remuneração dos proprietários de áreas florestais”, explica Robson Montei-ro, gerente de Recursos Hídricos do Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema).

O gerente destaca que os recursos disponibilizados são oriundos da parcela de 3% do total dos royalties do petró-leo e gás natural contabilizado no estado e da compensa-ção financeira do setor hidrelétrico, podendo ser comple-mentados com o orçamento do governo. “Temos uma fonte segura de recursos para manter o projeto.” Apesar disso, Monteiro ainda considera como desafio o envolvimento da iniciativa privada em ações desse tipo no Brasil.

Pela experiência no Espírito Santo, os gestores estaduais foram convidados a colaborar para a criação de leis seme-lhantes em Pernambuco, Santa Catarina e no sul da Bahia.

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sessenta e um proprietários de terra, em cinco municípios, estão sendo pagos para conservar as matas e as águas cristalinas da bacia do Rio benevente, no espírito santo

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ma. A Comunidade Europeia está na vanguarda, mas os EUA e a China estão avançando na transição para uma economia de baixo carbono, diz o executivo.

Stigson não poupa elogios ao Brasil. “Vocês estão en-tre os países que mais investem em infraestrutura ur-bana. Além disso, têm uma ótima situação energética e uma grande biocapacidade, ou seja, a capacidade terri-torial de satisfazer as necessidades de consumo e de as-similar os resíduos dos seus habitantes. Só isso já repre-senta um potencial substancial de liderança”, explicou.

Para o executivo, o empresariado tem um papel fun-damental na transição pela qual o planeta está pas-sando, dado que os governos não conseguirão realizar a tarefa sozinhos. “O mundo não será bem-sucedido se o empresariado não oferecer soluções para o planeta, e as empresas não serão bem-sucedidas em sociedades fracassadas”, afirma.

pessoas e planetaO Vision 2050 é dividido em cinco capítulos: Perspecti-vas de Negócios para 2050, Visão, Caminhos para 2050, Oportunidades e Conclusão. Neles, são sugeridos passos para que a sociedade consiga se sustentar até 2050. De acordo com o estudo, a população mundial vai se esta-bilizar nesse ano, em decorrência da expansão da edu-cação, da urbanização e da equalização da participação das mulheres no mercado de trabalho.

Dois terços da população viverão em cidades, o que exigirá adaptações e avanços em infraestrutura, qua-lidade de vida e mobilidade. Só na China, 600 milhões de pessoas vão se transferir do campo para a cidade nos próximos 30 anos, aumentando a demanda de infraes-trutura e de bens de consumo.

Apesar de a adaptação à urbanização ser imperativa para a sobrevivência das empresas, haverá, também, grandes oportunidades de crescimento. “A tempestade que vemos pela frente trará muitas possibilidades. O ca-minho para o mundo sustentável contém oportunida-des e riscos, e vai mudar radicalmente as formas pelas quais as empresas fazem negócio. Muitas empresas vão

mudar e se adaptar, enquanto outras serão desafiadas a fazer a transição”, diz o estudo.

A longo prazo, o mundo precisa duplicar a produção agrícola sem expandir as áreas agriculturáveis, elimi-nar o desmatamento, aumentar o número de florestas e reduzir em 50% o nível de emissão de carbono em rela-ção aos níveis de 2005. É preciso incorporar a sustenta-bilidade em todos os produtos, serviços e estilos de vida e, ao mesmo tempo, retirar 3 bilhões de pessoas da linha da pobreza.

coRRida veRdeDe acordo com Björn Stigson, os países que se tornarem sustentáveis serão os líderes da nova ordem mundial. No entanto, nenhum encontrou, ainda, o equilíbrio entre sua pegada ecológica e o nível de desenvolvimento huma-no (IDH) necessário para um mundo sustentável em 2050.

“Se o Brasil quiser ser um líder global, deve se apres-sar”, afirma o presidente do WBCSD. A participação brasi-leira é tímida diante do seu potencial, muito atrás do em-penho dos países da União Europeia, dos Estados Unidos e da China, nação empenhada em tornar-se a maior expor-tadora de tecnologia verde. A Índia também está adian-tada, preparando soluções locais para melhorar a vida de sua população. “Se o Brasil quiser ser líder, precisa come-çar a mudar a base produtiva”, afirmou Stigson.

“Este documento representa o primeiro passo de uma jornada de 40 anos”, afirma a conclusão do Vision 2050. “Trata-se de um chamado para o diálogo, um con-vite à ação. Colaboração, convicção e coragem serão ne-cessárias para visualizar e implementar as mudanças para a prosperidade a longo prazo. Os empresários irão querer e terão necessidade de liderar a busca pela sus-tentabilidade. Convidamos os líderes políticos e a socie-dade civil a se juntar a nós nessa jornada.” [bs]

nove bilhões de pessoas vivendo bem com os recursos disponíveis no planeta em 2050. Essa é a missão do estudo Vision 2050, publicado pelo World Business Council For Sustainable Development (WBCSD) e lançado, em fevereiro, na Índia, e em maio, no Brasil, destinado a mobilizar as empresas para repen-sar seu papel em busca de uma sociedade sustentável.

O relatório apresenta um panorama sobre os pro-gramas necessários para garantir que, nos próximos 40 anos, todas as pessoas tenham acesso a serviços básicos, como saúde, educação, alimentação, mora-

dia e energia, sem danos à biodiversidade e ao ecos-sistema. É, também, uma ferramenta para auxiliar as empresas a desenvolver estratégias para uma eco-nomia de baixo carbono.

“Precisamos de uma revolução verde”, resume Björn Stigson, presidente do WBCSD. Segundo ele, “o mundo está em transição para a sustentabilidade, a economia e a sociedade estão evoluindo e os desafios são enormes. Se não nos envolvermos, não será fácil realizar a mudança”. Segundo Stigson, há uma corri-da verde global pela liderança das iniciativas de refor-

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para ver o documento completo online, acesse o link (em inglês) http://tinyurl.com/38rlpme

björn stigson: brasil deve começar a mudar a sua base produtiva

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“Precisamos repensar nosso modelo de produção para adequá-lo à biocapacidade do planeta. Como relatórios de sustentabilidade vão nos ajudar a construir a nova economia sustentável que desejamos?”, perguntou Ernst Ligteringen, diretor-executivo do GRI, durante a aber-tura da conferência. Para responder à pergunta, a orga-nização lançou a publicação A Economia Transparente, ela-borada em parceria com a consultoria Volans, de John Elkington. O estudo apresenta seis tendências para os relatórios nos próximos dez anos (veja box) e integra um novo programa, que estuda os cenários futuros no cam-po da sustentabilidade.

Ligteringen apresentou duas metas da organização para a próxima década, que foram debatidas no evento. Em primeiro lugar, converter em prática obrigatória o relato público de desempenho em sustentabilidade para todas as grandes e médias empresas de países desenvol-vidos e emergentes, até 2015. As empresas que optarem por não relatar seu desempenho deveriam explicar seus motivos publicamente, sugere a proposta. Na França, a obrigatoriedade existe desde 2001.

O GRI também propôs integrar relatórios financeiros e de sustentabilidade em um único produto, testando o modelo até 2020. A ideia, segundo Teresa Fogelberg, dire-tora-executiva de Relações Externas do GRI, será desen-volvida por um Comitê Internacional com a participação de outras organizações relacionadas ao mercado finan-ceiro e a práticas de responsabilidade social corporativa. O GRI abriu ainda a discussão sobre a necessidade de ini-ciar o desenvolvimento de uma nova geração de indica-dores (G4) para suprir as demandas atuais.

A presença do Brasil foi marcante, e não apenas na plateia. Os vencedores do prêmio GRI Reader’s Choice Awards 2010, que registra a opinião dos leitores sobre os relatórios, foram todos brasileiros. Banco do Brasil, Vale, Natura e Bradesco arremataram prêmios em seis catego-rias (veja box), refletindo o intenso engajamento das em-presas e dos seus públicos internos na premiação. Para se ter uma ideia, dos 5.277 participantes de 40 países en-trevistados pela pesquisa The Readers Report Survey, 3.724 eram brasileiros (71%).

Mesmo assim, Nelmara Arbex, do GRI, considera que os relatórios de sustentabilidade no Brasil estão avançando. Segundo ela, não só aumentou o número de empresas que relatam utilizando as diretrizes GRI, como os processos de preparação estão mais estruturados. “Muita gente no Bra-sil se interessa pelos relatórios, e isso cria um ciclo de pro-dução e participação útil para a sociedade e para o futuro da sustentabilidade”, diz Nelmara.

Seguindo a mesma linha, Kumi Naidoo, diretor-execu-tivo do Greenpeace, fez um apelo aos participantes para que não desistam do trabalho em prol da construção de uma agenda de sustentabilidade. Para Naidoo, é funda-mental manter a confiança e encarar os desafios como o início de uma longa batalha. O ambientalista sul-africano disse que o Greenpeace continua firme em suas crenças, e que acredita na necessidade de ampliar o diálogo com as empresas para criar um modelo de desenvolvimento baseado na sustentabilidade. É preciso apostar em parce-rias e ideias novas para vencer os velhos desafios. [bs]

soB os ecos da recessão euroPeia, foi realizada, em maio, em Amsterdã, a terceira Conferência Global sobre Sustentabilidade e Transparência, promovida pela Global Reporting Initiative (GRI).

Lideranças empresariais, especialistas e diversas organizações da sociedade civil discutiram os rumos da gestão e dos relatos da sustentabilidade. Três dias de evento reuniram 200 palestrantes e 1.200 participantes de 73 países. Vários prêmios foram conquistados por empresas brasileiras – Banco do Brasil, Vale, Natura e Bradesco – pelo engajamento de stakeholders nos relatos.

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tereza Fogelberg anunciou uma nova geração de indicadores GRi para promover a sustentabilidade

econoMia Mais transParenteseis tendências para o futuro dos relatórios, nos próximos dez anos:

• traceabilidade – que representa a capacidade de ampliar o alcance da informação ao longo da cadeia de valor;• integração de dados econômicos, sociais e ambientais;• liderança em iniciativas de governo (regulação);• novas fronteiras ambientais;• ratings e rankings (filtros para a sustentabilidade);• economias obscuras (o enfrentamento das práticas e dos setores ilegais).

os Melhores Para os leitoresos vencedores do the gri readers choice awards 2010

Prêmio engajamento (engage award) banco do brasil

Prêmio sociedade civil (civil society award) Vale

Prêmio cadeia de Valor (Value chain award) natura cosméticos

Prêmio investidor (investor award) banco do brasil

Prêmio relatório Mais eficaz (Most effective report award) bradesco

Vencedor geral (gri readers’ choice award) banco do brasil

novas ideias, velhos dilemas

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Segundo pesquisas, em grande parte das organizações a estratégia de gestão de pessoas não está alinhada à es-tratégia de resultados. Como consequência, as empresas não promovem o aculturamento de seus funcionários no tocante a missões, visões e valores, e o público inter-no, por sua vez, não adquire consciência da importância de se ajustar aos processos e às necessidades de resulta-do do negócio. Disso resulta, frequentemente, uma pos-tura descomprometida e individualista, o que induz as empresas a valorizarem gestores e líderes com um perfil comportamental “linha dura”, capaz de garantir a pro-dutividade diária. Caso contrário, não se sustentam.

Na prática, o chefe linha dura é aquele que orienta constantemente o trabalho de cada funcionário, de acordo com o planejamento prévio e eventuais inter-venções estratégicas. Deve ter a visão macro do negócio e conhecer o papel de cada um para cobrar o desempe-nho, separando o emocional do profissional e deixan-do de lado aspectos sentimentais para exigir o cumpri-mento das metas. Isso significa ser direto e objetivo, com foco nos resultados.

Em organizações que ainda não realizaram nenhu-ma iniciativa de aculturamento, o chefe linha dura pode ser visto como alguém cruel, mais temido do que respeitado. Já em empresas que iniciam esse traba-lho, ele passa a ser visto como um estrategista que está cumprindo sua função para assegurar que todos os de-mais também façam sua parte. Para tanto, é importan-te que a política de Recursos Humanos torne as estraté-gias da empresa transparente para todos.

Por definição, a posição de chefia é dotada do poder ine-rente, instituído pela organização, de despedir ou de promover um funcionário, o que, por si só, é suficien-te como instrumento de pressão. Portanto, o chefe não precisa ser “linha dura”. Precisa ser ele mesmo, apostar no seu estilo pessoal e dar espaço para o subordinado contribuir com a organização. Todo ser humano gosta e precisa dar a sua contribuição, o que se consegue so-mente se houver liberdade para atuar, esforçar-se ao máximo e sentir-se gratificado pelo resultado, como pessoa e como trabalhador. A premissa vale para todos os empregados, dos menos aos mais qualificados.

Dentro do conceito de sustentabilidade, o que se discute é que os recursos humanos não devem ser vistos como recursos abundantes, mas sim escassos, para que cada indivíduo seja valorizado e se sinta confortável para se manifestar e discutir questões re-ferentes ao trabalho. Evidentemente, a própria orga-nização se beneficia com isso.

A missão do chefe como líder é, sobretudo, importar- -se com as pessoas e facilitar as condições para que seus coordenados ajudem uns ao outros. Esse é o sentido de construir uma equipe, que se caracteriza por um grupo em que os membros cooperam mutuamente. Enquanto a sociedade, em geral, estimula a competição e o indivi-dualismo, cabe ao líder motivar a cooperação, gerenciar eventuais conflitos e emancipar seus funcionários, ensinando-os a se responsabilizar por si mesmos. Para tanto, é fundamental que utilize seu poder de referên-cia, e não o de força.

o pi n i õ e s d iVerg ente s so b re temas p o lêm i cos

« R e p o R t a G e m s i l v i a W a R G a F t i G »

contRovéRsia

eduardo bastos, consultor de recursos humanos e

professor de psicologia do trabalho e saúde do trabalhador na

universidade metodista de são paulo

e l i s a n g e l a l i m a FaVa r o, consultora

e coach de recursos humanos

o cheFe deve seR temido ou estimado?

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