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Faculdade Boa Viagem DeVry Brasil Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração-CPPA Mestrado Profissional em Gestão Empresarial MPGE SYMONNE DE ALBUQUERQUE MEDEIROS O PAPEL DO BOLO DE NOIVA NA CENA DO CASAMENTO COMO ELEMENTO IDENTITÁRIO DA CULTURA PERNAMBUCANA: UMA PERCEPÇÃO DOS GRUPOS DO SABER, DO FAZER E DE NOIVAS Recife, 2017

SYMONNE DE ALBUQUERQUE MEDEIROS · é que ele não pode ser qualquer um; O bolo apreciado em terras pernambucanas tem massa escura, é encorpado, tem preparação especial e é chamado

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Faculdade Boa Viagem DeVry Brasil

Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração-CPPA

Mestrado Profissional em Gestão Empresarial – MPGE

SYMONNE DE ALBUQUERQUE MEDEIROS

O PAPEL DO BOLO DE NOIVA NA CENA DO CASAMENTO COMO ELEMENTO

IDENTITÁRIO DA CULTURA PERNAMBUCANA: UMA PERCEPÇÃO DOS

GRUPOS DO SABER, DO FAZER E DE NOIVAS

Recife, 2017

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SYMONNE DE ALBUQUERQUE MEDEIROS

O PAPEL DO BOLO DE NOIVA NA CENA DO CASAMENTO COMO ELEMENTO

IDENTITÁRIO DA CULTURA PERNAMBUCANA: UMA PERCEPÇÃO DOS

GRUPOS DO SABER, DO FAZER E DE NOIVAS

Dissertação apresentada ao Mestrado Profissional em

Gestão Empresarial do Centro de Pesquisa e Pós-

Graduação em Administração da Faculdade Boa

Viagem, como requisito para obtenção do grau de

Mestre em Gestão Empresarial, sob a orientação da

Prof.ª Dr.ª Maria Auxiliadora Diniz de Sá.

Recife, 2017

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Catalogação na fonte -

Biblioteca da Faculdade Boa Viagem - DeVry, Recife/PE

M488p Medeiros, Symonne de Albuquerque. O papel do bolo de noiva na cena do casamento como

elemento identitário de cultura pernambucana: uma percepção dos

grupos do saber, do fazer, e de noivas / Symonne de Albuquerque

Medeiros. – Recife: DeVry | FBV 2016.

141 f. : il.

Orientador(a): Maria Auxiliadora Diniz de Sá. Dissertação (Mestrado) Gestão Empresarial –Faculdade

Boa Viagem - DeVry.

1. Cultura. 2. Gastronomia. 3. Casamento. 4. Bolo de

noiva. 5. Pernambuco. I. Título. DISS 658[16.2]

Ficha catalográfica elaborada pelo setor de processamento técnico da Biblioteca da FBV | DeVry

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AGRADECIMENTOS

A Deus e a Virgem Maria pela presença constante em minha vida e em minha jornada.

A DeVry Brasil / FBV pela bolsa e oportunidade de crescimento. É um orgulho para mim fazer

parte desta instituição.

A minha querida orientadora professora Maria Auxiliadora Diniz de Sá, nossa querida Dorinha,

pela sua competência, gentileza, doçura, entusiasmo e “arrepios”, sempre incentivando e

achando inspiração, com toda a sua inteligência, elegância e alegria. Serás eterna para mim!

A minha Coordenadora Isabella Jarocki, minha grande incentivadora, exemplo de profissional

e mãe, sempre me desafiando com novas ideias e preocupada com o meu desenvolvimento

pessoal e profissional. És a melhor líder que alguém pode ter!

Ao professor Diogo Helal, por sua paciência, gentileza e palavras certas e pela condução com

maestria da disciplina de Seminários de Dissertação.

A professora Lourdes Barbosa por suas excelentes sugestões e por fazer parte deste momento

acadêmico de grande importância na minha vida.

Aos sujeitos da minha pesquisa: Dr. Luis Carvalheira de Mendonça por sua gentileza e

disponibilidade na entrevista; Walmiré Dimeron pela sua disponibilidade e carinho com o tema;

Lectícia Cavalcanti pela agilidade nas respostas; Bruno Albertim pelo foco no tema; Eliane

Asfora pela simpatia e cordialidade; Vitor Farias pela simpatia e disponibilidade; Cássia Pereira

e Silvaneide Alves pelo pronto atendimento a minha solicitação e as noivas que me concederam

as entrevistas.

Aos meus pais, Hugo Medeiros e Maria de Lourdes Medeiros pelo incentivo diário, pela

paciência nos momentos difíceis, pela garra e pela educação que me foi proporcionada e por

serem mais do que avós para a minha filha.

A minha filha Maria Isadora, minha pequena e eterna companheira, pela felicidade que me dá

todos os dias e por entender a minha ausência em alguns momentos.

A minha sobrinha e única afilhada Maria Isabella, guerreira desde que nasceu, que nos ensina

a cada dia a amar sem preconceitos.

As minhas irmãs Marcella Medeiros e Paulla Medeiros e a minha tia Maria do Carmo Lopes

por estarem sempre presentes em todos os momentos.

Aos meus alunos pela inspiração, incentivo diário, respeito e valorização.

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“Dize-me o que comes e te direi qual deus adoras,

sob qual latitude vives, de qual cultura nasceste e

em qual grupo social te incluis. A leitura da

cozinha é uma fabulosa viagem na consciência

que as sociedades têm delas mesmas, na visão que

elas têm de sua identidade. ”

(Sophie Bessis)

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RESUMO

A gastronomia como cultura é um tema sempre atual. Tal fato pode ser explicado porque

cozinhar é uma atividade humana por natureza. A comida está presente no cotidiano do ser

humano, em dias festivos, ciclos religiosos e nas mais diversas expressões populares. Observa-

se cada vez mais o uso da gastronomia como fonte de investigação da identidade de determinada

região, com o intuito de perpetuação de hábitos e costumes, atravessando a produção material

e dando sentido à cultura de um determinado lugar. A valorização desse conhecimento como

patrimônio cultural é uma realidade. Como um valor cultural, as cerimônias de casamento são

marcadas por símbolos, dentre os quais se destaca o bolo. Nas festas de casamento em

Pernambuco, o bolo ocupa um lugar de destaque. A diferença em relação à outras localidades,

é que ele não pode ser qualquer um; O bolo apreciado em terras pernambucanas tem massa

escura, é encorpado, tem preparação especial e é chamado Bolo de Noiva, revestido de tradição

e cultura. Este trabalho foi realizado com o objetivo de compreender o papel do Bolo de Noiva

na cena do casamento como elemento identitário da cultura pernambucana, sob a percepção dos

grupos do saber, do fazer e de noivas. Adotou-se uma abordagem qualitativa, utilizando-se o

método Delphi, para a reunião de especialistas, os quais foram denominados no presente

trabalho “especialistas do saber” e “especialistas do fazer”, ocorrendo a triangulação dos dados

dos especialistas com noivas em preparação para o casamento. Os dados foram coletados

através de entrevistas (por pauta e semiestruturada-online), documentos, observação não

participante, bem como imagens; para a análise dos dados utilizou-se a técnica de Análise de

Discurso. Os resultados sugerem que os especialistas reconhecem o Bolo de Noiva como

elemento de identidade cultural de Pernambuco, inclusive com o foco na gestão empresarial,

porém as noivas não partilham da mesma percepção. As noivas o reconhecem como símbolo

do casamento e da tradição, porém não na abrangência de identidade cultural do estado. Há o

risco de o Bolo de Noiva desaparecer. Faz-se necessário um projeto de salvaguarda desse bem

que ainda é tão importante para uma cadeia produtiva de Pernambuco, reforçando a história e

a tradição, como força de estimulo da economia local.

Palavras-chave: Cultura. Gastronomia. Casamento. Bolo de Noiva. Pernambuco.

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ABSTRACT

Gastronomy as culture is an ever-present theme. This fact can be explained because cooking is

a human activity by nature. Food is present in the daily life of the human being, on festive days,

religious cycles and in the most diverse popular expressions. One observes more and more the

use of gastronomy as source of investigation of the identity of a certain region, with the

intention of perpetuating habits and customs, crossing material production and giving meaning

to the culture of a certain place. The valuation of this knowledge as cultural heritage is a reality.

As a cultural value, wedding ceremonies are marked by symbols, among which the cake stands

out. In the wedding parties in Pernambuco, the cake occupies a prominent place. The difference

from other locations is that it can not be anyone; The cake appreciated in Pernambuco lands has

dark mass, is full bodied, has special preparation and is called Wedding Cake, clothed with

tradition and culture. This work was carried out with the purpose of understanding the role of

Wedding Cake in the wedding scene as an identity element of the Pernambuco culture, under

the perception of the groups of knowledge, of making and of brides. A qualitative approach was

adopted, using the Delphi method, for the meeting of specialists, who were denominated in the

present work "specialists of the knowledge" and "do specialists", occurring the triangulation of

the data of the experts with brides in preparation to the wedding. Data were collected through

interviews (by agenda and semi-structured online), documents, non-participant observation, as

well as images; For the analysis of the data was used the technique of Discourse Analysis. The

results suggest that the experts recognize the Wedding Cake as an element of cultural identity

of Pernambuco, including with the focus on business management, but the brides do not share

the same perception. Brides recognize it as a symbol of marriage and tradition, but not in the

comprehensiveness of the state's cultural identity. There is a risk that the Wedding Cake will

disappear. It is necessary a project to safeguard this good that is still so important for a

productive chain of Pernambuco, reinforcing history and tradition, as a force to stimulate the

local economy.

Keywords: Culture. Gastronomy. Marriage. Wedding Cake. Pernambuco.

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LISTA DAS SIGLAS

ABEOC Associação Brasileira das Empresas de Eventos

FUNDARPE Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INCR Inventário Nacional de Referências Culturais

IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

PNPI Programa Nacional do Patrimônio Imaterial

UNESCO Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura.

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LISTA DE IMAGENS

Imagem 1 - Alianças de casamento...........................................................................................33

Imagem 2 - Chuva de arroz.......................................................................................................34

Imagem 3 - Vestido de noiva da rainha Vitória.......................................................................35

Imagem 4 - Véu de noiva.........................................................................................................36

Imagem 5 - Buquê de rosas brancas.........................................................................................37

Imagem 6 - Bolo de casamento de três andares........................................................................38

Imagem 7 - Bolo de Noiva de Pernambuco..............................................................................39

Imagem 8 - Naked Cake de Bolo de Noiva...............................................................................42

Imagem 9 - Bolo de Rolo..........................................................................................................45

Imagem 10 - Bolo Souza Leão..................................................................................................46

Imagem 11 - Caranguejo...........................................................................................................47

Imagem 12 - Licor caseiro........................................................................................................48

Imagem 13 - Mungunzá............................................................................................................48

Imagem 14 - Carne de sol de bode............................................................................................49

Imagem 15 - Glacê mármore....................................................................................................51

Imagem 16 - Luis Carvalheira de Mendonça............................................................................55

Imagem 17 - Walmiré Dimeron................................................................................................56

Imagem 18 - Maria Lectícia Monteiro Cavalcanti....................................................................56

Imagem 19 - Bruno Albertim....................................................................................................57

Imagem 20 - Jane Asfora..........................................................................................................58

Imagem 21 - Cássia Pereira......................................................................................................59

Imagem 22 - Vitor Farias..........................................................................................................59

Imagem 23 - Silvaneide Alves..................................................................................................60

Imagem 24 - Facebook Leoni Asfora Bolos.............................................................................75

Imagem 25 - Instagram Leoni Bolos.........................................................................................75

Imagem 26 - Facebook Cassia Pereira Bolos Artísticos...........................................................81

Imagem 27 - Instagram Cassia Pereira Bolos Artísticos...........................................................82

Imagem 28 - Facebook Victor´s Farias Cake Designer ...........................................................84

Imagem 29 - Instagram Victor´s Farias Cake Designer ...........................................................85

Imagem 30 - Facebook Silvaneide Alves Bolos Artísticos.......................................................88

Imagem 31 - Instagram Silvaneide Alves Bolos Artísticos......................................................88

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Primeiras comidas salvaguardadas pela UNESCO........................................27

Quadro 2 Receita tradicional do Bolo de Noiva pernambucano....................................41

Quadro 3 Alimentos considerados comestíveis ou não, em alguns países.....................43

Quadro 4 Processo de coleta dos dados..........................................................................62

Quadro 5 Percepção dos especialistas do saber sobre o Bolo de Noiva como elemento

cultural............................................................................................................73

Quadro 6 Percepção da especialista do fazer tradicional sobre o Bolo de Noiva como

elemento cultural.............................................................................................91

Quadro 7 Percepção dos especialistas do fazer contemporâneos Cassia Pereira e Vitor

Farias sobre o Bolo de Noiva como elemento cultural....................................92

Quadro 8 Percepção da especialista do fazer contemporâneo Silvaneide Alves sobre

o Bolo de Noiva como elemento cultural.......................................................93

Quadro 9 Perfil das noivas entrevistadas........................................................................96

Quadro 10 Elementos culturais do Bolo de Noiva............................................................98

Quadro 11 Percepção de noivas sobre o Bolo de Noiva como elemento

Cultural............................................................................................................104

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................11

1.1 Objetivos da pesquisa........................................................................................13

1.1.1 Objetivo geral...................................................................................................13

1.1.2. Objetivos específicos.......................................................................................14

1.2 Justificativas da pesquisa..................................................................................14

1.2.1 Justificativas teóricas........................................................................................14

1.2.2 Justificativas práticas........................................................................................15

1.3 Estruturação do trabalho.................................................................................16

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA........................................................................18

2.1 Cultura, identidade e tradição.......................................................................18

2.1.1 Símbolo como elemento de cultura................................................................22

2.1.2 Patrimônio cultural.........................................................................................24

2.1.3 Patrimônio cultural imaterial..........................................................................26

2.2 Casamento........................................................................................................29

2.2.1 A tradição do ritual do casamento..................................................................32

2.2.2 O bolo de casamento......................................................................................37

2.2.3 O bolo de noiva de Pernambuco.....................................................................39

2.3 Gastronomia como cultura.............................................................................43

2.3.1 A gastronomia pernambucana........................................................................44

2.3.2 Do litoral ao sertão: os destaques da gastronomia pernambucana.................47

2.3.3 O açúcar na gastronomia de Pernambuco......................................................49

3 METODOLOGIA DA PESQUISA.......................................................................53

3.1 Caracterização da pesquisa.............................................................................53

3.2 Sujeitos da pesquisa.........................................................................................54

3.3 Técnicas de coleta dos dados...........................................................................60

3.4 Processo de coleta dos dados...........................................................................61

3.5 Técnica de análise dos dados...........................................................................63

3.6 Limites e limitações da pesquisa.....................................................................64

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS............................................................65

4.1 O Bolo de Noiva como elemento cultural: a percepção dos especialistas do

saber...................................................................................................................65

4.1.1 Luis Carvalheira de Mendonça....................................................................65

4.1.2 Walmiré Dimeron..........................................................................................68

4.1.3 Lectícia Cavalcanti........................................................................................70

4.1.4 Bruno Albertim..............................................................................................71

4.1.5 Conclusão parcial 1........................................................................................72

4.2 O Bolo de Noiva como elemento cultural: a percepção dos especialistas do

fazer....................................................................................................................74

4.2.1 As irmãs Asfora..............................................................................................74

4.2.2 Cássia Pereira.................................................................................................80

4.2.3 Vitor Farias.....................................................................................................83

4.2.4 Silvaneide Alves..............................................................................................87

4.2.5 Conclusão parcial 2........................................................................................90

4.3 O Bolo de Noiva como elemento cultural: a percepção das noivas...............94

4.3.1 Significado do bolo de casamento..................................................................97

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4.3.2 A escolha do Bolo de Noiva pernambucano.................................................99

4.3.3 A indicação do Bolo de Noiva......................................................................100

4.3.4 O Bolo de Noiva como elemento identitário da cultura pernambucana..101

4.3.5 Conclusão parcial 3.......................................................................................102

5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES............................................................105

5.1 Sugestões para futuros estudos.......................................................................107

REFERÊNCIAS..........................................................................................................108

APÊNDICES...............................................................................................................114

APÊNDICE A - Roteiro básico da entrevista por pauta com especialistas do saber...114

APÊNDICE B - Roteiro básico da entrevista por pauta com especialistas do fazer...115

APÊNDICE C – Roteiro da entrevista semiestruturada com noivas em preparação para

o casamento .................................................................................................................116

APÊNDICE D – Transcrição das entrevistas semiestruturada com noivas em preparação

para o casamento..........................................................................................................117

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1 INTRODUÇÃO

O interesse sobre a gastronomia como cultura é um tema presente em meios de comunicação,

mesmo antes de 2010, quando as primeiras comidas começaram a ser salvaguardadas pela

UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

Tal fato pode ser explicado porque cozinhar é uma atividade humana por natureza. A comida

está presente no cotidiano do ser humano, em dias festivos, ciclos religiosos e nas mais diversas

expressões populares. Ela é lugar das transformações, de encontros, de revelações e da cultura

herdada de geração em geração. Os saberes e fazeres das pessoas constroem a história,

formando a sociedade e a cultura. A comida e o comer formam um conjunto de práticas, crenças,

símbolos e hábitos que ajudam a compreender e distinguir identidades.

Montanari (2008) afirma que o significado da comida ultrapassa o ato de alimentar-se,

transformando-se em cultura; essa, de sua parte, assume diversos significados para vários

autores. Damatta (1987), por exemplo, afirma que a gastronomia é uma das formas de

conhecimento e valorização de um povo.

Montanari (2008), por sua vez, explica, sob três aspectos, que a comida é cultura; primeiro,

quando produzida, pois o homem não utiliza apenas o que encontra disponível na natureza, in

natura, como fazem todas as outras espécies animais, mas ambiciona criar a sua própria

comida, sobrepondo a atividade de produção à de predação. Segundo, quando preparada,

porque uma vez adquiridos os produtos-base da sua alimentação, o homem os transforma

mediante o uso do fogo e de uma elaborada tecnologia, que se exprime nas práticas da cozinha.

Finalmente, o terceiro aspecto, considera a comida como cultura, quando consumida, porque o

homem, embora podendo comer de tudo, faz a sua escolha, em função de critérios ligados tanto

às dimensões econômicas e nutricionais do gosto, quanto aos valores simbólicos com os quais

se reveste. Por meio de tais recursos, ela se apresenta como elemento da identidade humana e

como um dos mais eficazes instrumentos para comunicá-la.

Muller et al (2010) afirmam que a gastronomia acalanta o paladar e melhora o relacionamento

do ser humano na sociedade. Os ingredientes são de grande expressividade no patrimônio,

agregando os seus valores culturais, formando e desenvolvendo a sua identidade.

Fagliari (2005) observa que o termo gastronomia está intimamente ligado ao prazer de comer;

uma prova disso é que os cinco sentidos humanos são solicitados durante o consumo

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gastronômico. Numa perspectiva mais ampla, Araújo et al (2005) associam a gastronomia à

história cultural da alimentação, atestando que sua essência é a mudança, a temporalidade e a

visão de passado, como processo contínuo de perspectivas sobre: tendências, o constante e o

eventual.

Diante dessa importância, observa-se cada vez mais o uso da gastronomia como fonte de

investigação da identidade de determinada região, com o intuito de perpetuar os seus hábitos e

costumes, atravessando a produção material e dando sentido à cultura de um determinado lugar;

a valorização desse conhecimento como patrimônio cultural é uma realidade.

Como um valor cultural, as cerimônias de casamento, por exemplo, constituem-se, não

somente, por um ritual de passagem, independentemente de serem mais simples ou mais

requintadas (MACIEL; KLEIN, 2012) mas também, por símbolos, tais como: convites, flores

para decoração, buquê, fotógrafos, cinegrafistas, ternos do noivo e familiares, vestidos das

damas e da noiva, além do bolo (AREND, 2003) e até mesmo por sinais, gerando, assim, todos

esses elementos culturais, significados e tradição, que marcam socialmente uma transição e que

variam de importância, dependendo da localidades do planeta (ROOK, 1985).

Logo, as cerimônias de casamento caracterizam-se por ser um evento de significado social,

principalmente para as mulheres e permite uma interação civil, sobretudo entre os membros da

família, expressando um momento propício de amor, carinho e lembranças felizes. As famílias,

em geral, investem tempo, energia e dinheiro na sua celebração.

Nessas cerimônias, um dos destaques cabe ao bolo de casamento, dentre os vários símbolos. A

prática de celebrar datas importantes com essa iguaria vem, provavelmente, da Palestina,

datando de 700 a.C. (Continente Documento, 2004); retratada, inclusive nas pirâmides do Egito,

por pinturas, apreciadas pelos faraós.

O momento em que se serve o bolo também é ressaltado, como um dos principais momentos

dessas cerimônias; para Lody (2014), o fato dele ser o último doce a ser saboreado na festa,

demostra, como sinal, o afeto dos noivos pelos convidados. Para esse autor, essa etapa da festa,

torna-se a culminância e traduz alguns símbolos, tais como: a pureza e a virgindade. Para Maciel

e Klein (2012) o bolo branco clássico representa a eternidade, o casamento e o compromisso.

Normalmente, o primeiro pedaço é cortado pelos noivos com as mãos juntas e já de alianças

nos dedos.

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Nas festas de casamento em Pernambuco, o bolo também vem ocupando um lugar de destaque;

a diferença em relação à outras localidades, é que ele não pode ser qualquer um; aquele

apreciado, tem massa escura, encorpado, com preparação especial e vem sendo chamado Bolo

de Noiva, revestido de tradição e cultura.

Normalmente é confeccionado com vinho do Porto, ameixas, uvas passas e frutas cristalizadas;

é doce, tem a cor escura e consistência firme, diferentemente do bolo que é feito em outras

regiões do Brasil. Cavalcanti (2009) afirma que o Bolo de Noiva pernambucano é uma herança

viva dos ingleses, deixada no Brasil, embora, mais tarde, tenha sido modificado, passando a

constar como um bem da culinária, desse estado.

Ao refletir sobre o viés cultural que a gastronomia vem assumindo, no estado de Pernambuco,

especialmente, pensa-se interessante um estudo sobre o papel do Bolo de Noiva na cena do

casamento, como elemento identitário dessa cultura, a partir da percepção de dois grupos de

especialistas: estudiosos, aqui chamados de “Grupo do Saber” e produtores, profissionais aqui

denominados “Grupo do fazer”, além de noivas em preparação para o casamento.

Diante desse contexto e agrupando os construtos cultura e gastronomia, questiona-se: qual o

papel do Bolo de Noiva na cena do casamento como elemento identitário da cultura

pernambucana, sob a percepção dos grupos do saber, do fazer e de noivas? Para responder a

essa questão foram elaborados os objetivos desta pesquisa, a seguir.

1.1 Objetivos da pesquisa

Fundamentados na pergunta de pesquisa, são apresentados o objetivo geral e os específicos,

que vão conduzir este estudo.

1.1.1 Objetivo geral

Compreender o papel do Bolo de Noiva na cena do casamento como elemento identitário da

cultura pernambucana, sob a percepção dos grupos do saber, do fazer e de noivas.

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1.1.2 Objetivos específicos

I. Investigar sob o ponto de vista de especialistas do saber, o papel do Bolo de Noiva na

cena do casamento, como elemento identitário da cultura pernambucana.

II. Identificar sob a percepção de especialistas do fazer, o papel do Bolo de Noiva na cena

do casamento, como elemento identitário da cultura pernambucana.

III. Conhecer sob a percepção de noivas em preparação para o casamento, o papel do Bolo

de Noiva na cena do casamento, como elemento identitário da cultura pernambucana.

1.2 Justificativas da pesquisa

A seguir estão apresentadas as justificativas teóricas e práticas que sugerem a importância e

relevância deste trabalho.

1.2.1 Justificativas teóricas

O interesse pelo estudo da gastronomia como cultura vem aumentando ao longo dos anos. A

pesquisa sobre gastronomia ultrapassa a simples receita do prato apresentado em programas e

notícias de culinária. Atualmente, nota-se a preocupação com a origem das iguarias e todos os

costumes agregados a elas.

Percebe-se que a gastronomia está cada vez mais relacionada à cultura, pois é fator de

diferenciação de um povo. Montanari (2008) afirma isso e completa dizendo que ela faz parte

da identidade cultural, pois por meio das comidas típicas, cada lugar ganha uma expressão

própria; comunica sobre as pessoas, seus cotidianos, suas características e suas diferenças; em

outras palavras: promovem intercâmbios culturais.

Embora o Bolo de Noiva Pernambucano seja reflexo de um período de opulência desse estado,

pouco se tem escrito sobre ele; encontra-se alguma referência em Cavalcanti (2009). Em geral,

as publicações não são acadêmicas, tais como sites da internet, livros sobre festas, matérias

jornalísticas e manuais de etiquetas. Além do mais, tal material geralmente é direcionado à

receita do Bolo de Noiva, sem a devida correlação com a cultura pernambucana.

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É comum acontecer casamento em Pernambuco com o tradicional Bolo de Noiva. Observa-se

tal fato nos depoimentos dos especialistas e das noivas; mesmo na atualidade, quando diversos

sabores são agregados ao bolo de casamento, sempre há espaço para tal iguaria. Neste sentido,

Freyre (2007) destaca:

O bolo de noiva, por exemplo, continua uma instituição vivíssima. O seu raio

de ação vem até se ampliando nos últimos anos: de burguês tem passado a

outras áreas sociais. Há hoje um maior número de casamentos com bolo de

noiva. (p. 51)

Reconhecendo essa lacuna teórica, percebeu-se a relevância de um estudo, que viesse a mostrar,

de um lado, o valor dessa iguaria, a fim de salvaguardá-la como um bem gastronômico; de

outro, despertar a sociedade para a preservação de sua tradição e o reforço da memória local;

quiçá venha a ser considerado um patrimônio imaterial e cultural, deste estado.

1.2.2 Justificativas práticas

Considerando não somente o benefício para a sociedade pernambucana, de maneira em geral

há, ainda, que se pensar na classe dos sujeitos mais interessada: boleiras, consumidores e

comerciantes; portanto, pretende-se, com este trabalho, ressaltar a tradição do Bolo de Noiva

de Pernambuco, pensando em uma maneira para movimentar esses negócios.

Uma das formas de mobilizar o mercado de Bolo de Noiva é com o Turismo, já bastante

importante para o estado de Pernambuco; cada vez mais os turistas são adeptos ao segmento

gastronômico. Segundo Dias (2006), essa é uma subdivisão do turismo cultural e propõe a

visitação de localidades, tendo como foco o conhecimento das raízes e tradições culinárias da

região. Peccini (2013, p.207) acrescenta que, por diversas vezes, a gastronomia é posicionada

“no centro das discussões do turismo como um dos pontos de referência para festas, nas quais

se coloca como atrativo e como tema, ou como parte da arte de bem receber os visitantes”.

Observando esta tendência, o Bolo de Noiva pode constar como mais um elemento

representativo e de interesse turístico e gastronômico de Pernambuco. Algumas ações pontuais

já acontecem no Recife e no interior do Estado, com essa intenção. Locais tradicionais do Recife

como a Padaria Santa Cruz e a delicatessen Casa dos Frios e a Norte Bolos, em Bezerros, no

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agreste pernambucano, comercializam o Bolo de Noiva em tamanhos pequenos para que o

público em geral possa saborear a iguaria, em qualquer momento.

Torna-se relevante, também, salientar que a tradição do casamento é uma excelente

oportunidade para toda a cadeia produtiva de festas e eventos, inclusive para as boleiras. De

acordo com o IBGE (2016) são realizados mais de 1,1 milhão de casamentos no Brasil, com

projeção de aumento a cada ano.

Outro segmento que é relevante é o Turismo de Eventos, através das Feiras de noivas e afins,

movimentando a economia local o ano inteiro. Trata-se de outro segmento do turismo em que

a tradição do Bolo de Noiva poderá ter destaque.

Essas Feiras de noivas acontecem periodicamente em todo o Brasil. De acordo com a ABEOC

(Associação Brasileira das Empresas de Eventos) o mercado de casamentos movimentou cerca

de 16 milhões de reais em 2016. No Recife, acontecem anualmente algumas feiras voltadas a

esse segmento, das quais se pode citar as de maior representatividade, inclusive onde as boleiras

costumam estar presentes com os seus trabalhos: Expo Fashion Noivas, considerada a maior

Feira de noivas da América Latina; Salão Noivas Nordeste, Casar Recife e Love Wedding.

Ainda, este trabalho também espera apresentar a tradição do Bolo de Noiva de Pernambuco

junto à nova geração de boleiras, que continua a reproduzir a iguaria, muitas vezes, sem a

consciência do seu valor histórico e cultural.

Por fim, entende-se a necessidade de valorizar esse bem como patrimônio cultural imaterial,

assim como acontece com outros bens da culinária pernambucana, tais como: Bolo de Rolo, o

Bolo Souza Leão e a Cartola.

1.3 Estruturação do trabalho

Esta pesquisa está estruturada em cinco capítulos, conforme descritos a seguir:

Capítulo 1: Introdução – neste capítulo, após a contextualização do problema, estão

apresentados a pergunta de pesquisa e os objetivos geral e específicos, além das justificativas

teóricas e práticas;

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Capítulo 2: Fundamentação teórica – apresenta uma revisão bibliográfica com diferentes

abordagens sobre Cultura, Identidade, Tradição, Patrimônio, Casamento e seu ritual, Bolo de

Noiva de Pernambuco e Gastronomia como cultura, destacando-se o açúcar e a gastronomia

pernambucana;

Capítulo 3: Metodologia da pesquisa – apresenta a metodologia utilizada neste trabalho, ou seja,

as etapas desenvolvidas, conforme as propostas registradas nos objetivos desta pesquisa,

enfatizando os instrumentos adequados a fim de respondê-los;

Capítulo 4: Análise e discussão dos dados – analisa-se e discute-se, neste capítulo, os resultados

encontrados na pesquisa, visando responder os objetivos propostos;

Capítulo 5: Conclusões e sugestões – esse capítulo contém a conclusão do trabalho com base

na análise dos dados, bem como sugestões de futuros estudos e pesquisas.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo, são apresentadas as principais teorias e conceitos que dão suporte a

fundamentação teórica, apoiadas nos constructos cultura e gastronomia.

Inicialmente serão apresentados conceitos sobre cultura, identidade, tradição, símbolo e

patrimônio. Em seguida, referencia-se o casamento, palco do bolo de noiva. O último capítulo

aborda a gastronomia sob o ponto de vista cultural, com destaque para os aspectos da

gastronomia pernambucana.

2.1 Cultura, identidade e tradição

O ser humano e todas as suas manifestações são parte do mundo natural, incluindo a cultura

produzida e toda a sua complexidade.

A cultura como definição tem uma história longa e diversificada. O termo cultura deriva do

verbo latino colere, que significa cultivar, e era originariamente relacionado ao cultivo da terra,

possuindo um significado de lavoura, procedendo na natureza, das mudanças que o homem faz

na terra (DUARTE E MARTINS, 2012). Esses autores acrescentam ainda que nesse sentido

entende-se a relação do ser humano com a natureza, para que seja possível haver existência da

espécie.

Schein (2009) aponta que cultura tem sido usada pelo Direito como indicadora de sofisticação

e sabedoria; os antropólogos a utilizam para reportar-se aos costumes e rituais; já os

pesquisadores organizacionais e gerentes a veem como representação de clima e práticas

organizacionais ou valores, bem como doutrina de uma organização.

Kroeber (1948) vai além afirmando que a cultura é a maneira como as pessoas se relacionam

mutuamente estabelecendo relações com seus materiais culturais, sendo esses, os elementos

que contam a história de um povo e torna possível a compreensão da sua própria história, com

base nos seus valores, os quais Reale (2002) retrata como a substância da própria existência

humana.

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A UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (2016) –

interpreta a cultura como um recurso renovável, sendo vista numa importante dimensão do

desenvolvimento sustentável, que promove inclusão social e mobilização coletiva.

Bosi (1996) corrobora com essa afirmação e explica que a cultura é um aglomerado de técnicas,

práticas, valores e símbolos, que tem a obrigação de ser passado para as novas gerações, para

fortalecer o contato social. Antes de tudo é necessário que exista uma consciência coletiva, para

que no futuro todas as pessoas que fazem parte da comunidade possam elaborar planos. Sendo

assim, cultura pode ter um significado equivalente a educar, ou seja, tudo aquilo que os povos

ensinam aos seus sucessores, para que eles possam assegurar a sua sobrevivência.

O antropólogo Edward Tylor, em seu livro de caráter etnográfico Primitive Culture de 1871,

retrata a cultura como “todo um complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis,

costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de

uma sociedade” (LARAIA, 2008, p. 25).

Diante do conceito acima, faz-se necessário um melhor entendimento da relação cultura e

antropologia.

De acordo com Mello (1986), a antropologia pode ser definida como o estudo do ser humano e

de sua produção, incluindo algumas das ciências da natureza e todas as ciências sociais. Através

de uma condição secreta, os antropólogos definiram o estudo das origens humanas como

principal objeto de estudo dessa ciência.

Esse autor ainda acrescenta que a grande questão da antropologia está na adição de ideias

organizadas e condicionadas de modo a formar padrões de comportamentos habituais, que

passarão a ser seguidos pelos demais componentes do grupo. Trata-se de um campo bastante

abrangente e que na visão de Mello (1986), esmiuçá-lo seria impossível, pois ninguém viveria

o bastante para compreender e abranger ao máximo tal conhecimento.

Hoebel e Frost (2006) afirmam que a antropologia é muito maior do que apenas o estudo da

história natural do homem e sim é a ciência da humanidade e da cultura.

Sendo mais abrangente, Rangel (2002) acrescenta então que, no conceito antropológico, cultura

é um componente usado para identificar a sociedade, englobando o dialeto no qual os seres

humanos se comunicam, escrevem seus poemas e relatam suas histórias, como a maneira que

eles usam para elaborar seus diferentes pratos, suas religiões, crenças, os materiais usados em

seu local de trabalho, as canções.

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Da Matta (1981) explica que para um antropólogo social, a palavra cultura assume um conceito

chave para a interpretação da vida social. A forma como as pessoas de um determinado grupo

pensa, como tal grupo organiza-se e modifica o ambiente ao seu redor.

Em relação à comida, a antropologia sempre demostrou interesse pelo ato de comer, uma vez

que o comportamento alimentar do homem demonstra manifestações culturais e sociais que,

inclusive, causam estranhamento entre os diferentes povos e culturas (MINTZ, 2001). Maciel

e Casto (2013) corroboram com essa afirmação e reconhece que a antropologia tem colaborado

para a reflexão e a compreensão do fenômeno da alimentação, uma vez que representações,

crenças, conhecimentos e práticas alimentares são herdadas e/ou aprendidas e compartilhadas

pelos indivíduos de uma determinada cultura.

A identidade, de sua parte, refere-se ao homem como membro de um grupo social; ao agregar-

se aos seus semelhantes, ele estabelece critérios de convivência, de ritualização e de

significação. Exatamente essa identidade, que distingue as sociedades, por meio de suas

culturas.

Guedes (2010) afirma que uma identidade cultural é ressaltada através de características

relacionadas com o grupo étnico, racial, linguístico, religioso, regional e/ou nacional de um

indivíduo. Schluter (2003) complementa a afirmação acima, dizendo que a gastronomia

evidencia um dos mais importantes traços da identidade cultural de um povo ou região.

A identidade cultural de um grupo social somente existe e se estrutura na visão de uma outra

identidade cultural, conforme observa Woodward (2000):

A identidade sérvia depende, para existir, de algo fora dela a saber, de outra

identidade (croácia), de uma identidade que ela não é, que difere da identidade

sérvia, mas que, entretanto, fornece as condições para que ela exista. E

identidade sérvia se distingue por aquilo que ela não é. Ser sérvio é ser um

“não croata”. A identidade é assim mercada pela diferença” (p. 9).

Essa autora ainda acrescenta que a identidade de um povo também é marcada por símbolos

sendo esses, formas de percepção da existência de determinada cultura. Para Hall (2004), ela

não é algo adquirido ao nascer, mas formada ao longo do tempo, aceita e incorporada em

sociedade.

Hall (2004) afirma que a identidade cultural tem sofrido o impacto da globalização que a afeta

e a transforma. Segundo esse autor:

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“A globalização se refere àqueles processos, atuantes numa escala global, que

atravessam fronteiras nacionais, integrando e conectando comunidades e

organizações em novas combinações de espaço – tempo, tornando o mundo,

em realidade e em experiência, mais interconectado. A globalização implica

um movimento de distanciamento da ideia sociológica clássica da sociedade

como um sistema bem delimitado e sua substituição por uma perspectiva que

se concentra na forma como a vida social está ordenada ao longo do tempo e

do espaço” (p. 75).

Na visão de McGrew (1992), a globalização pode ser entendida como procedimentos que atuam

em uma escala global, com o poder de transpor os limites nacionais, integrando e conectando

grupos e organizações em novas combinações de espaço-tempo, transformando o planeta em

realidade e em experiências interconectadas.

É certo que a globalização é um processo irreversível do mundo e que afeta a todos os

indivíduos, na mesma medida e de várias maneiras. Diante de um planeta que busca ser tão

igual, há movimentos de retorno às origens, de apropriação cultural e valorização de

identidades.

Logo, Hall (2004) observa que a identidade está sempre em processo de transformação, de

movimento, pela multiplicidade dos sistemas de “significação e representação cultural”, que

cria identidades cambiantes e temporárias. No entanto, saber identificá-las e valorizá-las é um

passo importante na busca da preservação da memória individual e coletiva.

Em relação à comida, Santilli (2015) informa que os produtos alimentares, os objetos e

conhecimentos usados na produção, transformação e consumo de alimentos, têm sido

identificados como objetos culturais portadores da história e da identidade de um grupo social.

Nesse sentido, Mintz (2001) reflete:

Como as comidas são associadas a povos em particular, e muitas delas são

consideradas inequivocamente nacionais, lidamos frequentemente com

questões relativas à identidade. Todos sabemos que os franceses supostamente

comem rãs e caracóis; os chineses, arroz e soja; e os italianos, macarrão e

pizza. Mas a espantosa circulação global de comidas e a circulação paralela

de pessoas levantam novas questões sobre comida e etnicidade. (p.4)

Quanto à tradição, Siena e Menezes (2007) entendem-na como o conhecimento advindo do

saber-fazer de um povo; uma sabedoria tradicional, empírica, desenvolvida ao longo de anos,

por gerações, envolvendo o meio ambiente e a cultura de uma localidade, em um determinado

espaço e tempo.

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Hobsbawm e Ranger (1997) indicam que tradição não é algo já presente numa comunidade,

mas um processo, causado por necessidades materiais e imateriais, que se constrói no tempo,

que muda de acordo com o período histórico.

Santos (2005) afirma que mesmo com a globalização avançando sobre o mercado e as culturas,

convertendo qualidades em quantidades, há uma movimentação contrária que valoriza o único,

o singular e as tradições. Cada localidade continua a remeter ao mundo sua própria

interpretação, influenciada por suas múltiplas racionalidades, tradições e especificidades.

Para o estudo da cultura de um povo, torna-se necessário identificar alguns dos seus elementos,

que são: valores, crenças, mitos, tabus, rituais, símbolos, dentre outros.

Geertz (1989) interpreta que por meio da cultura o homem compreende o seu mundo,

estabelecendo um padrão de significados e incorporando símbolos, por meio dos quais a

sociedade se comunica, perpetua e desenvolve seu conhecimento.

Na gastronomia, Leal (1999) aponta que tanto quem cozinha quanto quem come deve saber

combinar tradição com criação. A primeira está no saber do povo, é ligada à terra e à exploração

dos produtos da região e das estações; a segunda, está relacionada à invenção, à renovação e às

experimentações. Assim entendido, mesmo se a gastronomia mundial tenda a ser globalizada,

a sua contrarreação vem a ser a regionalização. Esta constatação pode ser percebida, pela

preferência de vários cozinheiros: enquanto uns estão buscando inspiração na culinária de povos

diferentes; outros estão pesquisando e fortalecendo as cozinhas regionais de seus países.

Finalmente, pode-se completar que cultura, identidade e tradição de uma localidade, podem ser

percebidos por meio de artefatos, como os símbolos, por exemplo, os quais são ressaltados por

esta pesquisa, mais especificamente, visto que o Bolo de Noiva, aqui estudado, é observado

como símbolo do casamento.

2.1.1 Símbolo como elemento de cultura

O ser humano, desde os tempos mais remotos, procura sistematizar, classificar, ordenar e

nomear o mundo a sua volta. Dessa forma as árvores, as pedras, os animais, as ações, os

sentimentos, os gestos foram gradativamente tomados de sentidos e significados, passando,

assim, a simbolizar passagens, etapas ou acontecimentos importantes.

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Tamayo (2007) reconhece que os símbolos, assim como, os rituais, os valores, as normas e as

crenças, elementos da cultura, constituem os padrões para perceber, pensar, agir e se comunicar,

em uma sociedade ou empresa.

Eles são transmitidos de geração a geração; cada sociedade ou grupo social pode utilizar-se de

formas diferentes para exprimir o mesmo significado. Por exemplo, pedaços de tecido verde,

amarelo, azul e branco, separados podem não significar nada, mas se reunidos a partir de

determinado diagrama podem formar uma bandeira, assim passam a ser um símbolo, imbuído

de sentido e significado.

O comportamento simbólico faz parte da rotina das pessoas e pode ser observado, por exemplo,

ao cumprimentar-se alguém com um aperto de mão simbolizando cordialidade; ou quando os

noivos trocam alianças no altar simbolizando amor e comunhão, ou até mesmo quando uma

bandeira branca é hasteada (OLIVEIRA, 2011).

Esse mesmo autor (2011) ainda indica que o símbolo é algo cujo valor ou significado é atribuído

pelas pessoas que o utilizam; neste sentido, qualquer coisa pode se tornar um símbolo. O

homem atribui significado a um objeto, uma cor, um hino, um gesto, etc., eles então passam a

representar riqueza, prestígio ou posição social elevada, tudo vai depender da sociedade que lhe

dá representatividade.

A visão de um produto como símbolo é capaz de estabelecer a comunicação de uma pessoa

com as demais e está ligado ao seu uso para o desenvolvimento da identidade pessoal

(PIACENTINI e MAILER, 2004). Lewis Mumford (1895-1990), historiador norte-americano,

assim o determina:

A capacidade de criar símbolos e de reagir a símbolos constitui uma diferença

essencial entre o mundo dos racionais e o mundo dos homens. Sem símbolos

a vida humana seria uma vida de apetites imediatos, de sensações imediatas,

limitada a um passado mais breve do que o período da vida individual e à

mercê de um futuro para o qual o homem sem poder jamais prevê-lo; jamais

poderia preparar-se. (MUMFORD, 1958, p.15)

Um símbolo marca uma época, uma sociedade; no processo de construção de identidades

sociais, determinados símbolos culturais são escolhidos para representar o grupo, perpetuando-

se e podendo vir a ser considerado um patrimônio cultural, como observado a seguir.

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2.1.2 Patrimônio cultural

De acordo com Oliven (2003), o termo patrimônio - em inglês, heritage - alude a algo que se

herda e que, por consequência, deve ser protegido.

Durante muito tempo, conforme aponta Pellegrino (2003), esse termo fazia referência ao

coletivo das obras monumentais, às grandes propriedades de luxo, às edificações oficiais e

igrejas, o que contemplava apenas o patrimônio histórico. Há algumas décadas, verifica-se a

revisão desse conceito, quando da valorização dos aspectos culturais, das dimensões

testemunhais do cotidiano e dos feitos intangíveis, propiciando a transição da noção de

patrimônio histórico para patrimônio cultural.

Barreto (2000) logo afirma que o entendimento de patrimônio cultural é muito mais amplo,

incluindo não apenas os bens tangíveis como também aqueles intangíveis; não só as

manifestações artísticas, mas todo o fazer humano; não só aquilo que representa a cultura das

classes mais elevadas, mas também daquelas menos favorecidas, ou seja, do povo em sua

grande maioria.

Santos (2005) assegura que patrimônio cultural inclui o mundo cultural, ou seja, tudo que o

homem põe seus valores, definindo sua relação com a natureza e com os outros povos,

conhecendo as características dos diversos segmentos da sociedade.

A UNESCO (2016) estabelece que o patrimônio cultural é de fundamental importância para a

memória, a identidade e a criatividade dos povos e a riqueza das culturas. Ele é o legado que se

recebe do passado, vive-se no presente e transmite-se às futuras gerações; em outras palavras:

é natural de um povo, inspiração, ponto de referência, identidade, fonte inesgotável e

insubstituível de vida.

No Brasil, a Constituição Brasileira de 1988, em seu artigo 216, define o patrimônio cultural

como formas de expressão, modos de criar, fazer e viver. Também são assim reconhecidas as

criações científicas, artísticas e tecnológicas; as obras, objetos, documentos, edificações, além

dos demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; ainda, os conjuntos

urbanos, sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico,

ecológico e científico.

Gilberto Gil, referindo-se ao artigo de Luiz Fernando de Almeida: Educação e patrimônio

cultural - por uma nova atitude (2010), assim proferiu:

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Pensar em Patrimônio agora é pensar com transcendência, além das paredes,

além dos quintais, além das fronteiras. É incluir as gentes, os costumes, os

sabores, os saberes. Não mais somente as edificações históricas, os sítios de

pedra e cal. Patrimônio também é o suor, o sonho, o som, a dança, o jeito, a

ginga, a energia vital e todas as formas de espiritualidade da nossa gente. O

intangível, o imaterial. (GIL, 2010)

A conservação deste patrimônio em âmbito nacional é de responsabilidade do IPHAN - Instituto

do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - autarquia federal vinculada ao Ministério da

Cultura, que responde pela preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro. Cabe a esse Órgão

proteger e promover os bens culturais do País, assegurando sua permanência e usufruto para as

gerações presentes e futuras.

O IPHAN faz a avaliação e a reavaliação dos bens culturais registrados, pelo menos a cada dez

anos, a fim de decidir sobre a revalidação (ou não) do título de patrimônio cultural do Brasil.

Além do registro, o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial adota como instrumentos o

Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) e os Planos de Salvaguarda.

Já em âmbito local, em Pernambuco, a conservação e registro do patrimônio fica a cargo da

FUNDARPE - Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco, criada em 17 de

julho de 1973; Órgão executor da Política Cultural do Estado.

Tem como objetivo principal a promoção, apoio, incentivo, preservação, difusão das

identidades e produções culturais, de forma estruturadora e sistêmica, focada na inclusão social,

universalização do acesso, diversidade cultural, interiorização das ações, além desenvolvimento

regional integrado.

Essa Fundação, ainda, visa a preservação dos monumentos históricos e artísticos do Estado,

exalta a importância dos patrimônios culturais para a história, a memória, bem como a projeção

de futuro, por meio do desenvolvimento de ações e programas, dentre os quais merecem

destaque o Registro de Patrimônio Vivo de Pernambuco, as ações de Educação Patrimonial,

a Semana do Patrimônio, o incentivo ao registro de tradições populares como bens culturais

imateriais brasileiros.

O patrimônio pode ser material ou imaterial; esse primeiro, também chamado de tátil, envolve

a conjunção de riquezas culturais, que engloba, segundo as suas naturezas, arqueológica:

paisagística e etnográfica e histórica: belas artes e artes aplicadas (IPHAN, 2016).

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A seguir, vai-se discorrer, unicamente, sobre o patrimônio cultural imaterial, foco de interesse

deste trabalho.

2.1.3 Patrimônio cultural imaterial

O patrimônio cultural imaterial é revelado pela gastronomia, em danças folclóricas, hábitos,

tradições, crenças, modos de vida, ritos e celebrações; ele expõe aspectos que fazem parte do

legado histórico de um povo e são reconhecidos como comuns aos indivíduos, que

compartilham um sentimento de pertencimento, em uma dada sociedade (UNESCO, 2016).

O patrimônio cultural imaterial pode se revelar em práticas, representações, expressões,

conhecimentos e técnicas, como também em objetos, artefatos e lugares; ainda, pode ser

reconhecido por comunidades, grupos e, em alguns casos, por indivíduos.

Em relação à comida, Matta (2012) afirma que “o patrimônio alimentar é um conjunto de

elementos materiais e imateriais das culturas alimentares considerados como uma herança

compartilhada, ou como um bem comum, por uma coletividade” (p. 3).

O reconhecimento de sistemas alimentares como patrimônio cultural imaterial, tem como foco

a sua salvaguarda. O seu registro leva em consideração a tradição, representação e importância

da iguaria para o povo, ou seja, a herança cultural que é transmitida de geração para geração,

que não pode ser tocada, apalpada; por isso, também é chamado de patrimônio intangível

(UNESCO, 2016).

Em 2010, a comida começou a aparecer entre as expressões que deveriam ser salvaguardadas

pela UNESCO. As primeiras eleitas foram as cozinhas mexicana, mediterrânea (Grécia, Itália,

Espanha e Marrocos) e francesa, como observa-se no Quadro 1.

Outros patrimônios reconhecidos pela UNESCO são: a gastronomia tradicional mexicana, da

região de Michoacán (2010), a arte tradicional de fazer pão de gengibre, do norte da Croácia

(2010), Washoku, sistema alimentar e culinário, tradicional dos japoneses (2013) e a cultura e

tradição do café, da Turquia (2013).

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Quadro 1 – Primeiras comidas salvaguardadas pela UNESCO

Dieta mediterrânea

Reconhecida inicialmente após proposta da Itália, Espanha,

Marrocos e Grécia. Em 2013, foram incluídos Portugal, Croácia e

Chipre. A dieta mediterrânea está associada ao cultivo e consumo de

azeite de oliva, frutas e vegetais frescos, frutos do mar, alguns grãos

e vinho, bem como às habilidades, conhecimentos, práticas e

tradições associados à produção e ao consumo destes alimentos. É

considerada nutritiva e saudável. As práticas de comensalidade e sua

importância para o fortalecimento dos laços sociais foram também

motivos determinantes para seu reconhecimento.

Comida gastronômica dos franceses,

ou refeição “à moda francesa”

Enaltece não uma cozinha particular ou regional, ou mesmo

alimentos, pratos ou ingredientes típicos, mas o que é percebido

como uma forma tradicionalmente francesa de consumir alimentos.

É descrita como uma prática social ou costume francês para celebrar

momentos importantes como nascimentos, aniversários, casamentos,

etc., em que se enfatizam a comensalidade e a reunião de pessoas

para comer e beber com prazer e de forma estruturada e ritualizada,

incluindo a harmonização da comida com o vinho, a decoração da

mesa e a estruturação da refeição em sequência (com aperitivo,

entrada, prato principal, queijo e sobremesa), entre outros elementos.

Fonte: Adaptado da UNESCO (2016)

O reconhecimento pela UNESCO como patrimônio cultural imaterial implica a obrigação do

país de adotar medidas de salvaguarda, que visam garantir a viabilidade desse patrimônio, tais

como identificação, documentação, investigação, preservação, proteção, promoção,

valorização, transmissão e revitalização, além de dar o direito de ter acesso a fundos de

cooperação e assistência internacionais.

Em relação ao Brasil, a Constituição Brasileira (1988) aplica um novo parecer sobre patrimônio

cultural, mais abrangente e democrático, que envolve tanto os bens materiais, quanto aqueles

imateriais. Em 2000, a Presidência da República, através do Decreto nº 3.551, instituiu o

Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial, criou o Programa Nacional do Patrimônio

Imaterial (PNPI) e consolidou o Inventário Nacional de Referências Culturais (INCR), com

base no então conceito constitucional de patrimônio cultural. A Constituição é direta e

reconhece como patrimônio cultural brasileiro, os bens de natureza material e imaterial,

incluindo, entre eles, as formas de expressão, modos de criar, fazer e viver, bem como as

criações científicas, artísticas e tecnológicas, dos diferentes grupos sociais brasileiros.

Em relação aos bens de natureza imaterial brasileiros, eles são salvaguardados por meio de

quatro livros de registro, a saber:

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1. Livro de Registro dos Saberes - conhecimentos e modos de fazer, tradicionais,

enraizados no cotidiano das comunidades. São atividades desenvolvidas por atores

sociais reconhecidos como grandes conhecedores de técnicas, ofícios e matérias-primas

que identificam um grupo social ou uma localidade. Geralmente estão associados à

produção de objetos e/ou prestação de serviços que podem ter sentidos práticos ou

rituais. Trata-se da apreensão dos saberes e dos modos de fazer relacionados à cultura,

memória e identidade de grupos sociais.

2. Livro de Registro das Celebrações - rituais e festas que marcam a vivência coletiva do

trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social. Podem

estar relacionadas à religião, à civilidade, aos ciclos do calendário, etc.; são ocasiões

diferenciadas de sociabilidade.

3. Livro de Registro das Formas de Expressão - engloba manifestações artísticas: literárias,

musicais, plásticas, cênicas e lúdicas. Trata-se da apreensão das performances culturais

de grupos sociais que são por eles consideradas importantes para a sua cultura, memória

e identidade.

4. Livro de Registro dos Lugares - mercados, feiras, santuários, praças e demais espaços

onde se concentram e reproduzem práticas culturais coletivas. São aqueles que possuem

sentido cultural diferenciado para a população local, onde são realizadas práticas e

atividades de naturezas variadas, tanto cotidianas quanto excepcionais.

Cabe ao IPHAN fazer a reavaliação dos bens culturais registrados, pelo menos a cada dez anos,

a fim de decidir sobre a revalidação (ou não) do título de patrimônio cultural do Brasil. Diversos

bens culturais imateriais mundiais já estão salvaguardados; no Brasil, alguns se destacam: a

roda de capoeira (Salvador/BA), o Círio de Nazaré (Belém/PA) e o frevo do carnaval

(Pernambuco).

A FUNDARPE, em Pernambuco, mantém a Coordenadoria de Patrimônio Imaterial, tendo

como missão formular, coordenar e executar políticas, normas, programas, bem como

atividades que contribuam para uma melhor valorização desse patrimônio, viabilizando projetos

de identificação, reconhecimento, salvaguarda e promoção.

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Em relação à gastronomia, já são bens imateriais pernambucanos: o bolo Souza Leão (lei nº

13.428 de 16/04/08), o bolo de Rolo (lei nº 13.436 de 24/04/08), a Cachaça (lei nº 13.606 de

31/10/08) e a Cartola (lei nº 13.751 de 24/04/09).

2.2 Casamento

Conforme Brandão (1999) em sua origem, o verbo casar em latim apresentava dois significados.

Para o homem, remetia a “conduzir a mulher (para casa), comandar”; já para a mulher

significava “cobrir-se com um véu, velar-se, recolher-se, ocultar-se” (BRANDÃO, 1999, p.

222). O autor acrescenta que “o que para o masculino é agressão, vitória, violação, satisfação

dos desejos (...) é, para o feminino, destino, transformação e o mais profundo mistério da vida”.

É considerada a festa familiar mais antiga da história da humanidade. É um ato social celebrado

no mundo inteiro, materializado fundamentalmente por meio da cerimônia, entendida como um

ritual de passagem, inserindo o casal publicamente numa outra etapa da vida, a conjugal, o

vínculo entre o casal (TROTTA; MOREIRA, 2015).

Na Grécia antiga várias festas em homenagem à deusa Deméter, a mãe-terra, eram realizadas,

sendo que uma delas acontecia no final do mês de maio e denominava-se Tesmofórias. A festa

Tesmofórias era uma forma de agradecer à Deméter, a deusa legisladora, a qual, “(...) tendo

ensinado os homens a cultivar os campos, instituiu o casamento, fundando assim, a sociedade

civil. ” (Brandão, 1999)

Já em Roma, o casamento apresentava-se sob duas modalidades. O confarreatio, de cunho

solene e de natureza religiosa; e o coemptio, equivalente, ao casamento civil moderno. Cada

uma das modalidades era representada por um bolo que simbolizava cada tipo de casamento.

(Brandão, 1999).

Por tratar-se de uma instituição social antiga, o casamento nem sempre teve o mesmo

significado e regras. Kolatch (2001) informa que na sua forma primitiva, o casamento era uma

transação comercial, uma união entre famílias. Nele, o noivo “adquiria” a noiva pelo pagamento

de uma moeda de ouro ou de prata. Só a partir do século XVIII, no ocidente, o casamento passou

a ser uma aproximação por amor entre duas pessoas.

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Lins (2013) ressalta que o que determinava a união entre o casal nem sempre era o amor, na

verdade, não havia espaço para esses sentimentos, pois o estilo de casamento na antiguidade

era de forma arranjada. Muitas vezes os noivos chegavam ao altar sem ter a oportunidade de se

conhecerem, pois, nas sociedades arcaicas era de responsabilidade do pai da noiva escolher a

quem daria a sua filha em casamento. O que interessava para ambas as famílias era o que teriam

em troca com essa situação e o status que iriam ocupar após essa união.

A união arranjada pelos pais, tinha como objetivo a confluência das linhagens, sem a

interferência dos futuros noivos. Os vínculos eram meramente contratuais e não sentimentais

(Milfont, Gouveia & Costa, 2006). Assim, a boda não caracterizava um relacionamento

amoroso, o que imperava era o bem-estar das famílias de origem e, a sexualidade assumia um

papel meramente de reprodução.

Essa visão de casamento como negociação perdurou por muito tempo. Além da posição que

almejavam ocupar, os pais da noiva ainda davam um dote ao noivo como forma de indenização

por ter de sustentar a noiva pelo resto da vida (LINS, 2013).

Santos (2009) acrescenta que na sociedade ocidental, definida por preceitos patriarcais, o

casamento funcionava como uma autorização para a mulher exercer os seus dois papéis

principais, capaz de lhe dar identidade social: o de mãe e o de mulher espiritualizada, seguindo

o exemplo de Maria. Mauad (1998) corrobora com a afirmação de Santos, apontando que o

casamento é um dos ritos mais importantes e de maior prestígio da religião católica.

Na era pós-moderna, observa-se as diversas mutações que o casamento sofreu, de acordo com

as adaptações feitas pela sociedade.

Gomes e Paiva (2003) destacam que:

O casamento, na pós-modernidade deve ser visto como um veículo para o

desenvolvimento individual, desde que haja, por parte do homem e da mulher,

uma “desfantasmatização” das relações objetais oriundas da infância, uma

abertura para encarar o novo contido na rotina do dia-a-dia, crescimento

tendente à maturidade e criação de um “espaço potencial” entre os cônjuges,

onde as potências de cada um possam ser exercitadas, experimentadas e

integradas na vida a dois (p. 9)

Na atualidade, constata-se que as pessoas se casam por motivos de valores sociais e suas

atitudes frentes a relações afetivas estáveis. Em outras palavras, os valores sociais estão

diretamente relacionados com as pessoas que gostam de ser aceitas pela sociedade, buscam

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estabilidade, respeitam o padrão de símbolos culturais, desejam ter amizade e relação

verdadeira, vida social ativa entre outras coisas.

A instituição do casamento no Brasil colonial caracterizou-se pela influência portuguesa, que

aportou suas tradições culturais para esse âmbito.

Pedroni (2005) explica que os portugueses introduziram no Brasil as formalidades de casamento

romano-cristão. A cerimônia era eminentemente religiosa, sob o domínio da igreja católica. No

Brasil imperial, mesmo com a proclamação da república, o sacramento permaneceu sob a

influência da igreja, sobrepondo-se às normas estatais.

Com a proclamação da república, pode-se atribuir novo sentido ao instituto do casamento. Em

1891 estabeleceu-se a obrigatoriedade do casamento civil no Brasil, passando o casamento

religioso a ter um sentido apenas de interesse individual. O código civil de 1916 regulou a ideia

de se atribuir o efeito civil ao casamento religioso a fim de se evitar as duplas núpcias

(PEDRONI, 2005).

Atualmente, O IBGE (2016) define casamento como:

O ato, cerimônia ou processo pelo qual é constituída a relação entre o homem

e a mulher. A legalidade da união pode ser estabelecida no casamento civil ou

religioso com efeito civil e reconhecida pelas leis de cada país. No Brasil, um

indivíduo só poderá casar legalmente se o seu estado civil for solteiro, viúvo

ou divorciado. (IBGE, 2016)

Peirano (2003) reforça que o casamento é uma celebração solene onde duas pessoas se unem

com a promessa de fidelidade à relação e comunhão de vida, apresentando características como,

monogamia, indissolubilidade e objetivando a reprodução.

Numa visão mais romântica, Féres-Carneiro (1998) afirma que, pelo casamento, o casal encerra

suas individualidades e criam a conjugalidade, ou seja, nasce a história de vida a dois, o projeto

de vida dos noivos e a identidade do casal.

Dias (2006, pag. 129) acrescenta que:

O casamento tanto significa o ato da celebração do matrimônio como a relação

jurídica que dele se origina: a relação matrimonial. O sentido da relação

matrimonial melhor se expressa pela noção de comunhão de vidas, ou

comunhão de afetos. O ato do casamento cria um vínculo com os noivos que

passam a desfrutar do estado de casados. A plena comunhão de vida é o efeito

por excelência do casamento.

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O casamento sempre envolveu solenidades e festividades, objetivando publicidade, validade e

importância perante à sociedade, transformando-se também em grande negócio. O universo

desse evento envolve diversos personagens, inclusive profissionais como fotógrafos,

cerimonialistas, decoradores, doceiras e boleiras que cuidam dos numerosos detalhes que

compõem esse ritual.

Atualmente, os casais continuam reproduzindo essa tradição, o que torna-se excelente

oportunidade para toda a cadeia produtiva de festas e eventos, inclusive para as boleiras. As

estatísticas do Registro Civil apontaram em 2016, mais de um milhão de casamentos no Brasil,

significando um aumento de 5,1% em relação ao ano anterior. (IBGE, 2016)

2.2.1 A tradição do ritual do casamento

O casamento tem muita força como rito de passagem e permite o reconhecimento social da

mudança de status. Marca, dentre outros aspectos, a transferência do casal para uma nova

moradia, inaugurando formalmente os direitos à sexualidade e à procriação. A presença da

família e dos amigos na celebração funciona como autorização, aprovação social da passagem.

Sobre rituais, Peirano (2003) exalta:

São bons para pensar e bons para viver. A partir deles tomamos conhecimento

de nosso mundo ideal e de nossos projetos e ambições; a partir deles revelam-

se trilhas, encruzilhadas e dilemas e, no processo, consegue-se, muitas vezes,

encaminhar mudanças e transformações” (p.47).

Leite (2001) acrescenta que o casamento é um dos principais ritos de passagem, está presente

em quase todas as sociedades e simboliza a união proveniente de duas famílias para a formação

de uma terceira família e em muitos casos à passagem para a vida adulta da mulher.

Cascudo (2011) exalta que momentos de rituais, como o casamento, a comida é importante,

revela ser um elemento fixador de caráter psicológico e emocional e comer certos pratos é ligar-

se ao local e a quem o preparou.

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Símbolos do ritual de casamento

O casamento consiste numa cerimônia altamente simbólica. Possui elementos que são

acionados na encenação do ato. Diversos são os elementos simbólicos intrínsecos ao casamento,

não só no ritual da celebração. Esses símbolos se estendem à recepção oferecida pelos noivos.

Aspers (2009) afirma que tais símbolos têm o poder de posicionar o indivíduo frente à sociedade

em que está inserido. O consumo de determinados bens define sua identidade. Esses bens são

representações materiais de seu contexto individual e sociocultural comunicando a terceiros

uma imagem que será lida como a identidade do grupo, pois os bens são usados para demarcar

simbolicamente as posições sociais.

Os principais símbolos que representam o ritual do casamento são:

Aliança

Imagem 1 – Alianças de casamento

Fonte: Página Luxo de Festa1

A troca de alianças é uma das partes simbólicas mais importantes da cerimônia de casamento.

A aliança é o anel usado para simbolizar um compromisso e a união afetiva entre duas pessoas,

em noivados e cerimônias de casamento; mostra, de maneira tátil e visível que uma pessoa é

1 Disponível em: http://luxodefesta.com/wp-content/uploads/2013/03/alianca-casamento01-620x360.jpg. Acesso

em: 02 jun.2016.

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casada (c.f. Imagem 1). É um símbolo de beleza, status e principalmente de orgulho para a vida

do casal.

Historiadores apontam que os Faraós do Egito foram os primeiros a usarem esse símbolo que

na época significava eternidade. Era como uma promessa pública de honrar um compromisso

ou um contrato. O anel, aliança, era também muito usado entre os gregos e os romanos. No

início a aliança era tida como um certificado de propriedade da noiva, ou de compra da noiva,

indicando que a mesma não estava mais disponível para outros pretendentes.

A partir do século IX, a igreja cristã adaptou a aliança como um símbolo de união e fidelidade

entre casais cristãos. Assim, por meio de um anel de forma circular, ou seja, sem começo nem

fim representa-se a o amor contínuo entre o casal.

O costume de usar a aliança de casamento no dedo anelar esquerdo vem da crença que existia

uma veia que ia direto ao coração. Logo, tal costume tornou-se tradição em diversas culturas.

Arroz

Imagem 2 – Chuva de arroz

Fonte: Página Shine Bride2

Segundo a tradição chinesa, usados há mais de dois mil anos antes de Cristo, os grãos

simbolizam a vida, trazem fartura e fertilidade para a nova família; comer arroz também

garantia saúde, riqueza e felicidade ao jovem casal.

A tradição de atirar arroz aos noivos (c.f. Imagem 2) após a cerimônia nupcial é desejo de bem-

aventurança e prosperidade aos noivos.

2 Disponível em: http://luxodefesta.com/wp-content/uploads/2013/03/alianca-casamento01-620x360.jpg. Acesso

em: 02 jun.2016.

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Vestido de noiva

Imagem 3 – Vestido de noiva da rainha Vitória

Fonte: Página Miguel Alcade3

O ritual de casamento é um evento cuja figura privilegiada é a noiva, portanto, a explicação

para toda a valorização e exaltação ao vestido.

Ao longo da história, foram experimentadas diversas formas, cores e feitios; a tradição em ser

branco começou no século XIX quando a rainha Vitória da Inglaterra, para o seu casamento

com o príncipe Albert, escolheu um modelo de cetim, debruado de flores de laranjeira (c.f.

Imagem 3). Seu diferente traje branco ficou marcado como um símbolo de noiva na cultura

ocidental contemporânea. A tendência espalhou-se rapidamente pela nobreza e pelas mulheres

de classe alta. No entanto, a maioria ainda preferia vestidos coloridos, que poderiam ser usados

noutras ocasiões. Somente na década de 1920 o vestido de noiva passou a ter a conotação que

conhecemos hoje e o branco passou a ser a cor padrão.

A associação do vestido branco da noiva com a igreja católica vem da proclamação do Papa

Pio IX, como afirmam Mitidieri e Garbelotto (2010):

Outro acontecimento contribui para firmar o branco como cor tradicional para

noivas em seus casamentos: em 1854, na Bula Ineffabilis Deus, o Papa Pio IX

proclamou que essas moças deveriam fazer, através do traje branco, alusão à

Maria Imaculada, assim como à Imaculada Conceição. Esta fala papal

estabeleceu no Romantismo um padrão católico delegando à virgindade, um

papel primordial para a qualidade da noiva. Esta bula agregou à sua vestimenta

um adereço de mão que podia ser um terço ou um pequeno livro de orações,

porque além de casta, a noiva deveria ser também religiosa. (p. 7)

3 http://www.miguelalcade.com.br/wp-content/uploads/2014/08/rainha-vi.png. Acesso em: 02 jun.2016.

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Véu

Imagem 4 – Véu de noiva

Fonte: Página Momento Casamento4

As razões para o uso do véu têm diversas explicações, de acordo com a cultura de cada época:

como símbolo de castidade, para proteger do sol e dos insetos, para seduzir (GUIA DO

CASAMENTO, 2016).

Surgiu na Grécia Antiga como símbolo de nobreza e pureza. Diziam que o véu servia para

proteger a noiva contra o mau olhado além de proteger sua pele do sol. A riqueza da família era

cotada pelo tamanho do véu da noiva, quanto maior este fosse, mais rica a família (c.f. Imagem

4).

O hábito de usá-lo e também a cor branca, foi popularizado pela rainha inglesa Vitória.

Buquê

Simboliza a vida, levando em consideração a fertilidade, uma vez que as flores são as

reprodutoras das plantas. Acredita-se que surgiu na Grécia, feito de ervas para proteger as

noivas de mau olhado e até da inveja de possíveis convidadas ainda solteiras. Na Idade Média,

as noivas iam a pé até a igreja e no caminho recebiam como presentes flores e ervas, formando

um buquê que lhes daria sorte no casamento.

4 Disponível em https://momentocasamento.files.wordpress.com/2013/05/vc3a9u-longo.jpg. Acesso em: 02 jun.

2016.

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Imagem 5 – Buquê de rosas brancas

Fonte: Página Revista Donna5

Brandão (1999) explica ainda que quanto às flores no casamento, incluindo o buquê, a origem

simbólica parece ter várias explicações. Segundo o autor, não é por mero acaso que o símbolo

central da virgindade seja a flor e é extremamente significativo que a consumação do

matrimônio, a destruição da virgindade, se denomine defloração.

Atualmente, são utilizados diversos tipos de flores, sendo as rosas (c.f. Imagem 5) e as

orquídeas as preferidas pelas noivas

2.2.2 O bolo de casamento

As primeiras informações da confecção do bolo de casamento foram na Roma Antiga. Os

romanos produziam uma mistura de bolo e pão recheados com frutas secas, nozes, mel e

especiarias. Em determinado momento esse produto era fracionado sobre a cabeça do casal,

quanto mais farelos caíssem sobre eles, mais fertilidade e prosperidade iriam ter. A chuva de

arroz hoje é a representação desta tradição, realizada na saída da cerimônia religiosa (HAGAH,

2016).

Os primeiros bolos de casamento da história tinham formas de pássaros na sua maioria. Eram

flambados e deveriam flamejar enquanto durasse o álcool, afastando assim os maus espíritos.

Durante a cerimônia o noivo comia parte de uma fatia, esmagando o resto na cabeça da noiva,

simbolizando o domínio do homem sobre a mulher e o rompimento do hímen. As migalhas

5 Disponível em: http://cdn.revistadonna.clicrbs.com.br/wp-content/uploads/sites/5/2014/08/bouquet.jpg. Acesso

em: 02 jun. 2016.

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eram consideradas símbolos de sorte, sendo disputadas pelos convidados. (CONTINENTE

DOCUMENTO, 2004).

Durante a idade média, cria-se o hábito de empilhar vários bolos pequenos, que eram trazidos

pelos convidados, de modo a formar um único bolo de casamento. Surge então, por acaso, o

bolo em andares, que no avançar dos séculos, torna-se tradição, com o predomínio dos bolos de

casamento de três andares (cf. Imagem 06), representando as três alianças: noivado, casamento

e a eternidade. (CONTINENTE DOCUMENTO, 2004).

Imagem 6 – Bolo de casamento de três andares

Fonte: Página Meu Casamento6

Como na antiguidade as festas de casamento duravam dias, o bolo de casamento era a primeira

iguaria a ser servida, logo após o banquete. Existia na Inglaterra o chamado Groom`s Cake, o

bolo do noivo: tinha a textura muito pesada e era feito de frutas secas, vinho, trigo e amêndoas.

Era oferecido aos convidados na sua jornada de volta a seus lares, já que percorriam distancias,

em vários dias de viagem. O bolo devia servir como alimento durante a viagem, e com a adição

do vinho diminuía o risco de apodrecer no percurso. Esse bolo hoje é chamado de Fruitcake,

passando a ser o bolo de noiva tradicional na Inglaterra, depois de pronto e coberto com uma

pasta de amêndoas e por fim um belo glacê branco, consumido também durante o natal

(WILSON, 2011).

No início do século XX, os bolos decorados começaram a fazer parte dos hábitos da sociedade.

Quanto mais detalhes tivesse a iguaria, mais importante seria a festa. Alguns bolos de

casamento desta época chegavam a ter mais de dois metros de altura e a pesar 150 quilos.

(CONTINENTE DOCUMENTO, 2004).

6 Disponível em: https://meucasamento.org/cardapio-para-casamento/modelos-de-bolo-de-casamento/. Acesso

em: 02 jun. 2016.

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No século XIX surgiu a tradição de guardar a camada superior do bolo de casamento, que

segundo Bass (2016), ainda é um costume seguido por muitos casais, mesmo sem saberem a

origem desta tradição. A autora explica que antigamente, quando o propósito maior do

casamento era procriar, o hábito comum do casal era realizar o batizado do seu primogênito um

ano após o casamento e a camada superior do bolo era normalmente servida no batizado,

economizando a tarefa de cozinhar, decorar e planejar o bolo do batizado. Atualmente, como

os casais adiam por alguns anos o plano de ter filhos, comer do bolo no primeiro ano de

aniversário de casamento passou a simbolizar amor e felicidade, ato de compartilhar um grande

momento a dois, a lembrança do grande dia e a recordação do sentimento de recém-casados.

2.2.3 O Bolo de Noiva de Pernambuco

O Bolo de Noiva (c.f. Imagem 7) é considerado símbolo de tradição e cultura em Pernambuco;

feito com vinho do Porto ou rum, ameixa, uvas passas e anis, frutas secas, cristalizadas; tem cor

escura, consistência firme, tradicionalmente redondo, assado em fogo brando (PERRELLA,

1999).

Imagem 7 - Bolo de noiva de Pernambuco

Fonte: Facebook Leoni Asfora Bolos7

Cavalcanti (2009) afirma que ele é uma herança viva dos ingleses, deixada no Brasil.

Esses imigrantes chegaram em Pernambuco, no princípio do séc. XIX, com algumas

Companhias - Great Western, Western Telegraph Company, Pernambuco Tramways and Power

Company, Western of Brazil Railway Company.

7Disponível em: https://scontent.fgig1-3.fna.fbcdn.net/v/t1.0-

9/1170895_590429914346443_1660488226_n.jpg?oh=945937afd171fb0842fc2fd10690a3fa&oe=57D06970.

Acesso em: 12 jun.2016.

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Freyre (1977) destaca algumas transformações da vida doméstica e da sociedade

pernambucana, causadas pela influência dos ingleses: substituição de objetos do mobiliário, de

trajes, de artigos do dia-a-dia, de produtos medicinais e de higiene, entre outras coisas.

O autor destaca:

A invasão inglesa estendeu-se ao espaço cultural quase inteiro: aos baús, arcas

ou armários patriarcais que foram se esvaziando das sedas do Oriente, dos

calções de Nanquim, das togas orientais de que se revestiam os juízes, e se

enchendo de cazacas, sobrecazacas e calças inglesas (p. 60).

A influência inglesa foi expressa também em vários hábitos: o uso do tecido tropical inglês, do

linho diagonal branco, da casimira, a gravatinha borboleta, os sapatos com polainas, os chapéus

de palha, as bengalas, entre outros. Diversas casas comerciais do Recife sugeriam, em seus

nomes, a procedência inglesa - fossem ou não de propriedade de ingleses, visando maior

credibilidade e ideia de procedência (FREYRE, 1977).

Diante deste influxo, observa-se o surgimento do Bolo de Noiva pernambucano, diferente das

demais regiões do Brasil, que na sua maioria possui um bolo de massa branca e leve com

recheios variados, marcando a herança portuguesa (CONTINENTE DOCUMENTO, 2004);

assim, em Pernambuco, o bolo ganha destaque pelo seu aroma e gosto ímpar, bem como pela

sua elegância sem igual, em uma festa de casamento (CAVALCANTI, 2009).

Lody (2014) acrescenta a habilidade das pernambucanas em reinterpretar o bolo inglês natalino,

conhecido como Christmas Pudding, bolo de frutas cujo formato padrão é retangular e

confeccionado com uvas passas, ameixas, amêndoas, cerejas, manteiga, açúcar mascavo,

farinha de trigo, noz-moscada, gengibre, canela, cravo, melaço, ovos e cherry brandy. Logo, o

bolo ganha os pernambucanos no sabor e na estética, branco, com rendas e bordados,

remontando à nobreza e tendências de ordem barrocas. O autor acrescenta que outras

adaptações também incluíam frutas cristalizadas, fermento, pimenta-da-jamaica, casca de

laranja e amêndoas. As bebidas são muito importantes nessas receitas, como Harveys Bristol

Cream Sherry e os vinhos do Porto, Madeira e Xerez.

Cavalcanti (2009) vai além ao apontar que a adaptação do bolo britânico acabou ganhando vida

própria: a receita foi reinventada, transformando-se em um bem da culinária pernambucana.

Apreciado sobretudo no passado, principalmente no norte-nordeste do país, em festas

particulares, dos engenhos e fazendas.

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A autora acrescenta ainda que a confecção do Bolo de Noiva leva muito tempo; só para preparar

as frutas, é necessário deixá-las marinando no vinho por 48 horas. Possui uma receita única,

mas com algumas leves variações de promoções de ingredientes de boleira para boleira.

Caracteriza-se pela cobertura branca de açúcar de confeiteiro, a qual é reforçada por Freyre

(2007), quando afirma a riqueza de doces e bolos da região, citando que sem açúcar não se

entende o homem do Nordeste.

Uma tradição em Pernambuco é guardar uma porção do bolo do casamento, por no mínimo um

ano. Cavalcanti (2009) acrescenta, ainda, que é costume de as noivas congelarem o bolo e

voltarem a comê-lo no primeiro aniversário de casamento para dar sorte. Ele é conservado no

freezer, sendo descongelado apenas para o consumo, e pode durar vários anos. Essa

conservação é segura pois o Bolo de Noiva pernambucano não tem leite na sua composição,

diminuindo assim o teor de perecibilidade do produto.

De acordo com a chef de cozinha e professora de confeitaria Cleonice Ferraz (2016), a

tradicional receita do Bolo de Noiva é composta por (c.f. Quadro 2):

Quadro 2 – Receita tradicional do Bolo de Noiva pernambucano

Ingredientes:

500g de farinha de trigo

250g de manteiga

400h de açúcar refinado

6 ovos

500g de ameixa

250g de passas sem caroços (infusão no vinho 3 dias antes da preparação. Coar e usar o vinho no bolo)

250g de frutas cristalizadas

1 xícara de chocolate em pó

½ garrafa de vinho tinto do Porto

1 colher de sopa de fermento

1 colher de café de sal

Noz moscada

Essência de baunilha

Doce de ameixa: Deixe a ameixa amolecer coberta por uma xícara de água durante 24 horas. Em seguida

adicione 1 xícara de açúcar cristal e leve ao fogo até o ponto de geleia. Depois de frio, machuque bem, deixando

ainda poucos pedaços e pôr fim a noz moscada.

Modo de fazer: Bater a manteiga, margarina e açúcar por 10 minutos. Adicione os ovos um por vez. Em seguida

coloque os ingredientes secos. Acrescente o vinho e a essência. Depois coloque as passas (rapidamente

trituradas) e as frutas (totalmente trituradas). Por último o doce de ameixa.

Unte bem a forma, forre com papel manteiga. Assar no forno médio colocando uma forma retangular com água

embaixo das grades para evitar que queime.

Fonte: Cleonice Ferraz, 2016.

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Observa-se que a receita tradicionalmente pernambucana também ganhou adaptações ao longo do

tempo. No Agreste, por exemplo, é comum incorporar doce de goiaba à massa de frutas; há ainda

quem só utilize uma massa feita exclusivamente de ameixa, excluindo as frutas cristalizadas

(GLOBO NORDESTE, 2015).

A decoração também foi alterada e atualmente há bolos que não são totalmente cobertos pelo glacê

branco, apenas com camadas de glacê e com a massa escura aparente. Logo, ele começa a aparecer

sob a forma de Naked Cake (c.f. Imagem 8), ou seja, bolo sem cobertura ou, como diz a tradução

da língua inglesa, "pelado", apenas decorados com frutas e o recheio.

Trata-se de uma tendência da confeitaria moderna e que ganha cada vez mais adeptos.

Imagem 8 – Naked Cake de Bolo de Noiva

Fonte: Página Globo Nordeste8

Como a alimentação é um traço cultural muito forte em qualquer povo, momentos sociais como

este também estão por refletir a tradição.

Diante disso, observa-se como a relação do casamento com a gastronomia é forte e perceptível.

A comemoração torna-se um dos pontos altos desse encontro, onde diversos símbolos serão

observados, sobretudo o bolo de casamento. No ritual da festa, o ato de comer do bolo é uma

atitude de prazer, pois há uma ênfase de que o doce é um marco de celebração, um prêmio, um

trunfo. (Lody, 2014).

8 Disponível em:

http://s2.glbimg.com/nrXM6xiB5uYrz6zh2tDD4GB2ycw=/s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2015/05/22/dscn2999.jpg.

Acesso em: 12 jun. 2016.

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2.3 Gastronomia como cultura

Alimentar-se é uma prática imprescindível para os seres humanos; ao ingerir o alimento, o

homem cria práticas, atribuindo significados ao ato: a comida passa a ser um elemento decisivo

da identidade humana (MACIEL, 2001).

Mas nem todo alimento é comida; de acordo com Freixa e Chaves (2012), alimento é o

ingrediente in natura ou industrializado, que fornece fonte de nutrição para as pessoas. Está

ligado à pecuária, agricultura, indústrias de alimentos, mercados e feiras. Já a comida é o

alimento aceito culturalmente; segundo Maciel (2001) o que é considerado comida, em uma

cultura, pode ser rejeitado em outra. Pode-se citar, por exemplo, o cachorro, aceito como

comestível em culturas ocidentais; o caracol, consumido sem restrições na França e formigas,

consumidas em certas tribos da região amazônica.

Logo, a cultura gastronômica vai indicar o que é ou não comestível, reforçando prescrições,

proibições e distinções. Por ela, pode-se conhecer determinado grupo étnico, do qual a comida

não é apenas o alimento, mas revela um modo de viver e um estilo (MACIEL, 2001). Neste

sentido, pode-se entender que, por meio da comida, tem-se informação sobre preferências,

aversões, identificações e discriminações de um grupo específico.

Fischler (2001) apresenta um quadro com alguns alimentos considerados comestíveis ou não,

em determinados países do mundo, como observa-se no Quadro 3 abaixo:

Quadro 3 Alimentos considerados comestíveis ou não, em alguns países

ALIMENTOS COMESTÍVEL NÃO-COMESTÍVEL

INSETOS América Latina, Ásia, África Oeste Europeu, América do Norte.

CACHORRO Coréia, China, Oceania Europa, América do Norte

CAVALO França, Bélgica, Japão Grã-Bretanha, América do Norte

COELHO França, Itália Grã-Bretanha, América do Norte

RÃS França, Ásia Europa, América do Norte

Fonte: Adaptado de Fischler (2001, p. 28)

O comportamento à mesa, os hábitos alimentares, os utensílios utilizados, tudo isso revela a

cultura em que se está inserido; o modo como a comida é tratada pode formar os traços de um

povo. Para Moreira (2010), a alimentação revela a estrutura da vida cotidiana, do seu núcleo

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mais íntimo e mais compartilhado; a sociabilidade manifesta-se na comida compartilhada. Estes

são aspectos fundamentais e intrínsecos à formação do patrimônio cultural de uma sociedade.

Montanari (2008) reforça que a gastronomia faz parte da identidade cultural de um povo, pois

por meio das comidas típicas cada lugar ganha uma expressão própria: comunica sobre as

pessoas, seus cotidianos, suas características e suas diferenças, além de promover intercâmbios

culturais. Petrini (2009) acrescenta que a culinária de determinada região é tanto produto da

natureza como da cultura, é um poderoso meio de pensar quem somos. A valorização dos

saberes e práticas alimentares estão diretamente relacionadas à construção de uma identidade

cultural.

Lody (2008) corrobora que na culinária está o reconhecimento de identidades, a compreensão

dos direitos de um povo e de como tudo precisa ser salvaguardado, preservado e transmitido às

novas gerações. Segundo Flandrin e Montanari (1996), as cozinhas de comidas tradicionais são

elementos de valorização da cultura regional e de perpetuação da memória culinária das

famílias, podendo oferecer ganhos de recursos econômicos, tanto para a indústria como para o

comércio local.

Finalmente, o reconhecimento de que a alimentação humana é um ato social e cultural, muito

maior do que apenas um fator biológico, já é consolidado nos estudos antropológicos.

2.3.1 A gastronomia pernambucana

Assim como a gastronomia brasileira, a cozinha pernambucana iniciou com a miscigenação das

culturas indígenas, portuguesa e africana. A culinária simboliza a miscigenação; a influência

dessas etnias, moldando a comida pernambucana. Nessa linha de raciocínio, Freyre (2007)

destaca:

Não haveria aqui o predomínio da tradição africana, como na Bahia, nem da

tradição indígena, como no Pará e no Amazonas... o que se verificou em

Pernambuco foi antes a contemporização das três tradições, sem sacrifício dos

valores mais finos da minoria de origem europeias aos valores mais crus da

maioria indígena ou africana. O resultado foi uma cozinha menos opulenta

que a baiana, porém mais equilibrada. (p. 78)

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Das etnias mencionadas, os portugueses foram os que mais influenciaram a culinária

pernambucana; segundo Freyre (2007) tal fato tem explicação histórica, pois em Pernambuco

eram as senhoras portuguesas que dominavam a cozinha nos engenhos; as escravas africanas

eram suas colaboradoras.

As senhoras portuguesas, ao chegarem em terras pernambucanas, precisavam se adaptar às

novas condições, sobretudo climáticas. Devido ao calor, a cozinha passou a ocupar um

“puxadinho” fora de casa, que às vezes começava debaixo dos pés de cajus, indo até à sombra

dos coqueirais. Também precisaram aprender a utilizar uma série de utensílios até então

desconhecidos, como: panela de barro, colher de pau, pilões, urupemas, cabaças e ralador de

coco (FREYRE, 2007).

As sinhás, como eram conhecidas as senhoras portuguesas, ensinavam às mucamas as receitas

tradicionais, as quais precisavam se adaptar à disponibilidade de ingredientes, tais como:

mandioca, milho, batata-doce, coco, cará e amendoim, os quais eram utilizados, principalmente,

em substituição à farinha de trigo e amêndoa. Um exemplo dessa adaptação às condições

disponíveis, naquela época, é o Bolo de Rolo.

Esse (cf. Imagem 9) é uma derivação de um doce tradicional português, o colchão de noiva. Em

função da dificuldade em adquirir as matérias primas da Europa, as portuguesas substituíram o

original recheio de creme de amêndoas pelo de goiaba, fruta abundante no estado, sempre

dosada com muito açúcar (DAHER, 2008).

Imagem 9 - Bolo de Rolo

Fonte: Página Nordeste Brasileiro9

9 Disponível em: http://www.nordestebrasileiro.com.br/wp-content/uploads/2014/08/bolo-de-rolo-com-

goiaba.jpg. Acesso em: 06 jun. 2016.

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Esse bolo passou a ser enrolado em camadas, cada vez mais finas, como um rolo, daí a origem

do seu nome. Conforme citado anteriormente, ele é um patrimônio imaterial de Pernambuco

(Lei nº 13.436 de 24/04/08).

Foi nesse ambiente que também surgiram bolos homenageando as famílias tradicionais ou de

engenhos da época, alguns já reconhecidos como patrimônio imaterial de Pernambuco; a saber:

Dona Dondon, à moda de Dr. Gerôncio de Arruda Falcão, Luís Felipe, Quindim de Iaiá,

Cavalcanti, Assis Brasil e Souza Leão (cf. Imagem 10). Outra mudança foi a utilização da

diversidade de frutas brasileiras, tais como: caju, goiaba, mamão, maracujá e abacaxi, em forma

de doces em calda e recheios (FREIXA; CHAVES, 2012).

Imagem 10 – Bolo Souza Leão

Fonte: Página Cultura Jaboatão dos Guararapes10

Ressalta-se a tradição oral, a transmissão do saber e do fazer de mãe para filha, principalmente

por algumas não saberem escrever, mas também para manter os segredos da cozinha de cada

família da época (CAVALCANTI, 2009).

Silva (2014) ressalta a visão de Gilberto Freyre (2007), sobre a força dos hábitos alimentares,

em Pernambuco, quando esse destaca a relação entre a culinária e a classe social, expressa por

meio de panelas, utensílios, recipientes, rituais religiosos e cantos dos pregões de vendedores.

Por ser um estado historicamente baseado na cultura canavieira, o açúcar esteve presente na

mesa pernambucana, o que ratifica a força da culinária doce tão tradicional desde o período

colonial.

10 Disponível em http://cultura.jaboatao.pe.gov.br/wp-content/uploads/2014/12/bolo-souza-le%C3%A3o.jpg.

Acesso em: 06 jun. 2016.

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2.3.2 Do litoral ao sertão: os destaques da gastronomia pernambucana

A gastronomia é uma das manifestações culturais mais expressivas de Pernambuco; a variedade

de iguarias reflete a miscigenação luso-afro-nativa, sendo assim, do litoral ao sertão é possível

saborear uma culinária rica e diversificada, cheia de simbolismo e tradição.

No litoral pernambucano, bem como em todo o nordeste brasileiro, há uma variedade de receitas

com frutos do mar e das regiões de mangues, utilizando ingredientes como: peixe, camarão,

lagosta, marisco, polvo, ostra, caranguejo (cf. Imagem 11) e guaiamum. Todos preparados de

diversas maneiras: ora fritos, ora no escabeche, na fritada, na caldeirada ou simplesmente

ofertando caldo para os pirões; acrescido a tudo isso, um ingrediente quase obrigatório: o coco

(GASPAR. 2016).

Imagem 11 –Caranguejo

Fonte: Página Arte Blog11

Na zona da mata a culinária começa a ser diferenciada por conta da cana-de-açúcar, que merece

um subcapítulo neste trabalho. Pernambuco chegou a ser, nos séculos XVI e XVII, o maior

produtor mundial de açúcar de cana; nos engenhos surgiu a mais importante doçaria do mundo.

Algumas copiando tradicionais receitas portuguesas; outras vezes substituindo amêndoa,

pinhão, cravo, canela, noz-moscada ou gengibre, das receitas dos colonizadores, por

ingredientes da terra. Surgiram os doces de caju, goiaba, banana, manga, carambola, mamão,

jaca batata-doce e jerimum. Tudo feito em tacho de cobre pesado, herança portuguesa, em

fogões de lenha (CAVALCANTI, 2009).

Próximo ao litoral, foram aparecendo também os bolos: o quindim de Iaiá, o Dona Dondon, o

Luís Felipe, o Cavalcanti, o Assis Brasil, à moda de Dr. Gerôncio de Arruda Falcão e o Souza

11 Disponível em: http://www.arteblog.net/wp-content/uploads/2014/03/Caranguejada.jpg. Acesso em: 06 jun.

2016.

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Leão, todos com nomes das famílias que os criaram, por meio dos segredos passados

verbalmente de mãe para filha.

Outro hábito dos Engenhos era o de servir licores caseiros de todo tipo de fruta (c.f. Imagem

12).

Imagem 12 – Licor caseiro

Fonte: Página Viajante do Tempo12

Cavalcanti (2009) afirma que, no agreste pernambucano, o destaque fica por conta do farto

café da manhã, do almoço pesado e da ceia generosa. A carne de sol e de charque estão sempre

presentes, como também o milho, em suas modalidades: assado, cozido, no angu, no bolo, na

canjica, no cuscuz, na pamonha; todos como uma herança indígena. Um dos pratos típicos do

agreste é o mungunzá (cf. Imagem 13) – introduzido nessa cultura, pelos africanos – mu’kunzá

(milho cozido). Feito com milho branco, próprio para este prato, cozido em leite ou leite de

coco, com açúcar, sal e canela.

Imagem 13 - Mungunzá

Fonte: Página Entre Pratos e Copos13

12 Disponível em: www.viajantedotempo.com.br/licorcaseiro.jpg. Acesso em 06 jun. 2016.

13 http://entrepratosecopos.xpg.uol.com.br/storage/receitas/imagem1_6464.jpg. Acesso em: 06 jun. 2016

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No sertão encontra-se uma gastronomia simples, rústica, ancestral e, mais que tudo, elementar;

Cavalcanti (2009) aponta:

O café da manhã é a refeição mais forte, a que dá sustança para enfrentar o dia

- angu, cuscuz de milho ou de mandioca, grude, tapioca; banana comprida,

batata-doce, fruta-pão, inhame, coalhada, ovo, pão, papa (de aletria, araruta,

sagu), queijo assado de coalho ou queijo de manteiga (também conhecido

como queijo do sertão). E charque frito, cabrito ou bode guisado.

Acompanhando café, leite ferrado (com ferradura em brasa jogada dentro do

leite), leite queimado (com açúcar caramelizado) ou mesmo café com leite,

muitas vezes adoçado com rapadura. (p. 68)

O bode é considerado o “rei do sertão”; pode ser defumado, como carne de sol (cf. Imagem 14),

fresco, guisado, assado no forno ou na brasa, cozido em forma de caldeirada ou mesmo

grelhado.

Imagem 14 – Carne de sol de bode

Fonte: Página Turismo em Foco14

2.3.3 O açúcar na gastronomia de Pernambuco

A cana-de-açúcar supostamente tem origem na Indochina, sendo cultivada primitivamente em

todo o extremo oriente; entretanto, foram os mouros que a espalharam pelo Mediterrâneo; em

1404 passou a ser plantada no Algarve. Segundo Freyre (2007), nessa época, o açúcar era raro,

privilégio apenas dos nobres e de famílias abastadas, inclusive vendido em farmácias para cura

de doenças respiratórias e como tranquilizante.

14 Disponível em: http://www.turismoemfoco.com.br/noticias/13052013104217.jpg. Acesso em: 06 jun. 2016

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O cultivo da cana-de-açúcar foi a primeira atividade dos portugueses, em terras brasileiras; o

primeiro engenho do Brasil foi o Senhor Governador, na capitania de São Vicente. Logo o

Brasil nos séculos XVI e XVII tornou-se o centro do mundo, na arte e técnica de fazer açúcar,

dando, assim, início a chamada “civilização do açúcar” (LODY, 2014).

As terras férteis do Nordeste, sobretudo do litoral e zona da mata do estado de Pernambuco,

foram o cenário perfeito para a expansão dessa monocultura. Esse estado chegou a ser

considerado, nos séculos XVI e XVII o maior produtor mundial de açúcar de cana

(CAVALCANTI, 2009).

A cultura da cana-de-açúcar e a imediata construção dos engenhos para o seu processamento

corresponderam a mais antiga atividade rural brasileira (FRAZÃO, 2011). O Senhor de

engenho era o proprietário da fazenda de açúcar e lá morava com a família, agregados e

escravos.

Logo, o produto açúcar se misturou às frutas nativas e aos quitutes africanos e tornou-se uma

manifestação genuinamente brasileira. Quando, então, a cozinha descobriu esse produto, o

açúcar ganhou prestígio e tomou o lugar do mel. A culinária portuguesa passou a utilizá-lo em

suas receitas e, nas palavras de Freyre (2007, p. 14) “estava diante de uma fonte de riqueza

quase igual ao ouro”.

Para Freyre (2007), não se pode separar o açúcar da formação da sociedade brasileira; sem ele

não se entende o homem do nordeste. O açúcar foi o componente que revelou ao mundo uma

civilização especial, rica, universal, pródiga e criadora de valores, como nenhuma outra em

todo o Brasil, tornando-se símbolo de uma sociedade próspera. A relação de Pernambuco com

o açúcar passou, então, a ser mais do que comercial e sim afetiva.

Sobre o valor do açúcar, Lody (2014) poetiza:

O doce assume uma categoria de destaque, pois o açúcar remete à sensações

e prazeres imediatos à boca. Pois o que é doce é também especial, é episódico

e quase sempre traz um valor de celebração. Ao doce é dado pelo nosso olhar

ocidental cristão, um brilho gastronômico. (p.26)

Da união do açúcar com as frutas da região e com a mandioca, observa-se uma riqueza de doces

e bolos, cozinhados em tachos, tornando-se quitutes de uma nova espécie, meio português, meio

tropical, temperados com canela do oriente, cravo e noz-moscada (FREYRE, 2007). Com

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fartura de açúcar também eram preparados doces como quindins, beijinhos e bons-bocados

(FREIXA e CHAVES, 2012).

Além disso, a tradição de boleira em Portugal, reproduziu-se no Brasil; segundo Cascudo

(2011), o título de “boleira” ou “mão de ouro” para as donas de casa e suas filhas era um elogio,

o qual valia dote para as moças. As escravas que tinham fama de quituteiras eram emprestadas

para ocasiões festeiras, nas fazendas e engenhos. Esse mesmo autor, assim declara:

O bolo possuía uma função social indispensável na vida portuguesa,

representava a solidariedade humana. Os inumeráveis tipos figuravam no

noivado, casamento (o bolo de noiva), visita de parida, aniversários,

convalescença, enfermidades, condolências. (CASCUDO, p. 302)

Enfim, é nesse cenário que surgem várias receitas genuinamente brasileiras feitas com

ingredientes desse mesmo país, como o bolo de rolo, bolo Souza Leão, cocada, rapadura, mel

de engenho e o tradicional Bolo de Noiva pernambucano, objeto deste estudo, herança do

período inglês, em Pernambuco (FREYRE, 2007).

O Bolo de Noiva de Pernambuco recebeu cobertura branca de açúcar de confeiteiro, muito

conhecida como glacê branco ou glacê mármore (cf. Imagem 15), feita com base de claras, açúcar

de confeiteiro e suco de limão.

Imagem 15 - Glacê mármore

Fonte: Página Globo Nordeste15

15 Disponível em:

http://s2.glbimg.com/xWMTPi1kUcWHp32tjqSiZwI7y8g=/s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2015/05/22/dscn5438.

jpg. Acesso em: 11 jun. 2016

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Lody (2014) afirma que o glacê mármore é um exemplo notável de receita e técnica culinária

identitária. Em tempos de tantas massas e formas de confeitar à disposição dos consumidores

na indústria da doçaria e da confeitaria, nos bolos mais tradicionais tal modelo é preservado e

mantido, enaltecendo-se assim bolos autorais, familiares ou de boleiras notáveis, como é o caso

do Bolo de Noiva de Pernambuco.

O trabalho com o açúcar é muito minucioso e delicado, sendo utilizado também na confecção

o acabamento com rendas, bicos e flores, todas moldadas com açúcar. Lody (2014) informa que

tratam-se geralmente de flores modeladas em massa de açúcar ou cristalizadas no açúcar, com

cores e sabores especiais de águas perfumadas e de especiarias. Esse autor ainda acrescenta:

É comum nos bolos confeitados alguns elementos esculturais de açúcar serem

presenteados como objetos especiais, uma lembrança da festa e das pessoas,

um tema que quer ser, ora pelo sabor do doce, ora pela habilidade de confeitar,

ora pela assinatura de quem faz, “uma verdadeira obra de arte”. (p. 206).

Freyre (2007) explica que a confecção de flores, frutas e outros objetos de açúcar era um

trabalho muito delicado, considerado arte para as mãos das sinhás com alguma coisa de artista.

Um refinamento era juntar-se à massa a essência da flor que se projetasse recortar – em sua

maioria rosa, jasmim e violeta; outro primor era dar à flor, o seu colorido natural. O resultado

era uma flor de açúcar, com o gosto da flor e com a sua cor peculiar.

O capítulo subsequente trata da metodologia adotada para esta pesquisa.

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3 METODOLOGIA DA PESQUISA

Neste capítulo, são apresentados os procedimentos metodológicos norteadores deste estudo,

cujo objetivo é compreender o papel do Bolo de Noiva na cena do casamento como elemento

identitário da cultura pernambucana, sob a percepção dos grupos do saber, do fazer e de noivas.

3.1 Caracterização da pesquisa

Tendo em vista a natureza do problema apresentado e os objetivos deste trabalho, a abordagem

qualitativa é aquela que mais se adequada, pois, segundo Lakatos (2010), ela propõe uma

análise mais detalhada sobre as investigações, hábitos, atitudes e tendências de comportamento.

Ao contrário da representatividade numérica, ela se aprofunda na compreensão de um grupo

social ou de uma organização (GOLDENBERG, 1997). Minayo (2001) acrescenta que esse tipo

de pesquisa opera com um universo de significados, motivos, crenças, valores e atitudes,

aspectos profundos das relações em sociedade, aspectos de interesse, neste estudo.

De sua parte, Wolffenbüttel (2009) sugere que o método qualitativo deve ser empregado quando

o entendimento do contexto social e cultural é elemento importante para a pesquisa, sendo

fundamental observar, registrar e analisar interações reais entre pessoas e sistemas.

Esta pesquisa caracteriza-se, ainda, como exploratória, uma vez que, por meio dela, explorou-

se significados, a fim de construir um conhecimento com características específicas, até então

não conhecidas (RICHARDSON, 1999). De acordo com esse autor, a pesquisa exploratória se

aplica quando não se tem informação sobre determinado tema e se deseja conhecer o fenômeno.

Finalmente, ela também é uma pesquisa descritiva, pois se propôs, unicamente, a descrever as

características de um fenômeno, sem interferir no resultado (RICHARDSON, 1999). Para Gil

(2010), esse tipo de pesquisa tem como objetivo principal descrever características de uma

determinada população ou fenômeno e estabelecer a relação entre eles. Andrade (2002) destaca

que ela preocupa-se em observar fatos, registrá-los, analisá-los, classificá-los e interpretá-los,

sem que o pesquisador interfira neles. A pesquisa descritiva tenta responder tais questões:

quem, o quê, quando, onde e, algumas vezes, como (COOPER; SCHINDLER 2003).

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Quanto ao método desta pesquisa e considerando, ainda, os seus objetivos, entendeu-se que o

Delphi deve ser o mais adequado, visto que trata-se de uma técnica para coletar a opinião de

um grupo de especialistas sobre determinado assunto (DALKEY e HERLMER,1963).

O método Delphi foi aplicado para os especialistas em torno do Bolo de Noiva pernambucano,

divididos em dois grupos: do saber e do fazer.

Munaretto et al (2012) exaltam que esse método tende a ser mais formal e objetivo, o qual

permite que a abordagem do pesquisador seja direta, fazendo perguntas previamente elaboradas

aos especialistas, de modo a obter a sua opinião, individualmente; ao final, o pesquisador

analisa as respostas procurando o consenso de opiniões, sem que haja interação entre os

especialistas participantes do grupo.

Com o objetivo de triangulação dos dados entre o que os especialistas declaram e o que as

noivas em preparação para o casamento consideram, foram realizadas entrevistas em

profundidade com as mesmas.

3.2 Sujeitos da pesquisa

Os sujeitos são o lado humano da pesquisa ou os participantes, de maneira individual ou

coletiva, mas voluntariamente (KIPPER, 2006).

De acordo com os objetivos deste trabalho, os sujeitos foram especialistas em torno do Bolo de

Noiva pernambucano, divididos em dois grupos: do saber (estudiosos sobre antropologia,

tradição e história) e do fazer (englobando as boleiras tradicionais e contemporâneas) e também

noivas em preparação para o seu casamento.

A escolha dos especialistas e das noivas seguiu, evidentemente, o propósito desta pesquisa,

respeitando a disponibilidade de cada um deles e, eventualmente, aos fatores externos.

Para compor o grupo do saber, foram convidados o professor Dr. Luis Carvalheira de

Mendonça, estudioso das tradições pernambucanas; o historiador Walmiré Dimeron, presidente

do Instituto Histórico de Caruaru; a jornalista, pertencente à Academia Pernambucana de

Letras, Maria Lecticia Monteiro Cavalcanti; finalmente, o antropólogo, jornalista e escritor,

especializado em cultura e gastronomia, Bruno Albertim.

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A seguir, apresenta-se um resumo dos seus currículos, os quais devem justificar as escolhas,

como sujeitos desta pesquisa.

Luis Carvalheira de Mendonça (cf. Imagem 16) é Doutor em Gestão Industrial, pela

Universidade de Aveiro - Portugal (2010), Mestre em Administração, pela EBAPE- Fundação

Getúlio Vargas - RJ (1986), Diploma in Planning Studies for Developing Countries - University

of Edinburgh (1978) e graduado em Direito, pela Universidade Federal de Pernambuco (1972).

Professor adjunto III da Universidade Católica de Pernambuco (Recife-PE) e ministra aulas

sobre empreendedorismo, história de organizações brasileiras, cultura empresarial, gestão do

poder e gestão de pessoas. Autor e editor de livros e artigos em Revistas e Jornais, nos campos

de história de empresas e de empreendedores, além de ser um entusiasta sobre tradições

pernambucanas. Detentor dos Prêmios BRAHMA de Administração (1986) e literário,

categoria Ensaio, conferido pelo Conselho Municipal de Cultura da cidade do Recife (2009).

Também é consultor credenciado pelo SEBRAE-PE, atuando em gestão de pessoas e de

empreendedorismo.

Imagem 16: Luis Carvalheira de Mendonça

Fonte: Página Cultura.PE16

O Dr. Luís Carvalheira de Mendonça foi convidado a fazer parte deste trabalho por ser um

entusiasta da tradição, sobretudo no que diz respeito às tradições pernambucanas, sempre

alinhando tradição e empreendedorismo.

O segundo especialista do saber selecionado foi Walmiré Dimeron (cf. Imagem 17); historiador,

foi secretário de turismo de Caruaru e presidente do Instituto Histórico de Caruaru. Tem atuação

no meio cultural, há mais de duas décadas, por meio da divulgação de trabalhos que buscam a

16 Disponível em: http://www.cultura.pe.gov.br/canal/economiacriativa/pe-criativo-esta-com-inscricoes-abertas-

para-curso-de-empreendedorismo-cultural/. Acesso em 03 mar 2017.

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preservação da memória artística e cultural, do agreste pernambucano, sobretudo da cidade de

Caruaru.

Imagem 17 – Walmiré Dimeron

Fonte: Página Globo.com17

O historiador Walmiré Dimeron foi convidado a ser entrevistado nesse trabalho por sua vasta

experiência na área da cultura e da tradição.

A terceira especialista do saber é Maria Lectícia Monteiro Cavalcanti (cf. Imagem 18);

pesquisadora, escritora sobre a gastronomia pernambucana, inclusive uma das únicas a

referenciar historicamente o Bolo de Noiva pernambucano. Pertence à Academia

Pernambucana de Letras, ocupando a cadeira de número 23.

Imagem 18: Maria Lectícia Monteiro Cavalcanti

Fonte: Página Academia Pernambucana de Letras18

17 Disponível em: http://g1.globo.com/pe/caruaru-regiao/abtv-1edicao/videos/v/confira-o-depoimento-do-

historiador-walmire-dimeron-no-viver-com-arte/4181610/. Acesso em 03 mar 2017.

18 Disponível em: http://www.aplpe.com.br/homenagem-aos-90-anos-do-congresso-regionalista-do-nordeste/.

Acesso em 03 mar 2017.

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A imortal Maria Lectícia Monteiro Cavalcanti foi convidada a fazer parte desse trabalho pela

importância de seus estudos sobre a gastronomia pernambucana e inclusive por ser uma das

únicas a referenciar historicamente o Bolo de Noiva pernambucano. Como a mesma assina seus

trabalhos como Lectícia Cavalcanti, os nomes serão utilizados na análise dos dados quando nos

referirmos a autora.

O quarto convidado é Bruno Albertim (cf. Imagem 19); jornalista, antropólogo e pesquisador

sobre cultura e gastronomia pernambucana, tendo, inclusive livros publicados; escreve também

no Jornal do Commercio e na Revista Prazeres da mesa. Vencedor do Prêmio Esso de Jornalismo

2013 (o mais importante do País) na categoria Regional Norte/Nordeste, pelo trabalho: Identidade comestível.

Imagem 19: Bruno Albertim

Fonte: Página Programa Frigideira19

O jornalista e escrito Bruno Albertim foi convidado a fazer parte deste trabalho pelo destaque

que dá a tradição e cultura pernambucana na gastronomia, inclusive na mídia.

Em relação às boleiras pernambucanas, foram convidadas as irmãs Asfora, confeiteiras de

Pernambuco, que cultivam essa tradição, há mais de 50 anos. Jane e Eliane são filhas de Leonie

Asfora, boleira famosa que fazia bolos para a alta sociedade pernambucana. Ela começou a

fazer bolos para as festas da própria família, depois para os amigos; a partir de então, não parou

mais de receber encomendas.

Pioneira em adicionar ameixa, aos bolos, ela contribuiu diretamente para o enriquecimento da

cultura gastronômica de Pernambuco (MATTOSO, 2008). Foi educada na Escola Doméstica

Carolina Baltar, onde aprendeu a pintar, cozinhar, bordar e a tocar piano; além de decoração

com goma, o que, mais tarde iria servir para a ornamentação dos bolos.

19 Disponível em: http://jc.ne10.uol.com.br/blogs/frigideira/. Acesso em 03 mar 2017.

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Dona Leonie, como assim era chamada, passou a ser uma referência no Recife e no Estado de

Pernambuco, além de ser também conhecida na França, Itália, Portugal e Estados Unidos, para

onde havia enviado seus bolos; eles estavam presentes, ainda, em eventos de gente em destaque,

do mundo político e social.

Em quase todos os casamentos da sociedade pernambucana, podia-se encontrar o bolo da Dona

Leonie; foi, então, que essa arte passou da mãe para as suas filhas: Jane e Eliane. A primeira

era professora da Universidade Católica de Pernambuco e, a pedido da sua mãe, deixou esse

trabalho para se dedicar integralmente aos bolos. Elas começaram a ajudar a sua mãe, ainda

jovens e, aos poucos, foram aprendendo as técnicas, até estarem aptas a elaborar os seus

próprios bolos que, a essa altura, atendia aos eventos, os mais variados possíveis: casamentos,

primeira comunhão, quinze anos, além dos variados bolos temáticos de festas (MATTOSO,

2008 e ASFORA, 2017). Eliane Asfora (cf. Imagem 20) foi a entrevistada.

Imagem 20: Eliane Asfora

Fonte: Facebook Eliane Asfora 20

Sobre as boleiras contemporâneas de Pernambuco, foram convidadas para este estudo Cassia

Pereira, Vitor Farias e Silvaneide Alves, os quais foram selecionados após uma pesquisa junto

a uma assessoria de casamentos e visita a duas Feiras especializadas e noivas, levando em

consideração as indicações desse público.

A seguir, uma breve descrição sobre a relevância de cada um, em termos do Bolo de Noiva

pernambucano.

20 Disponível em:

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=918718108177773&set=ecnf.100001187774196&type=3&theater.

Acesso em 03 mar 2017.

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Cássia Pereira (cf. Imagem 21) é a proprietária da empresa Cássia Pereira Bolos Artísticos,

localizada na rua Silveira Lira, 114, Tamarineira, em Recife-PE e está há 23 anos nesse

mercado.

Imagem 21: Cássia Pereira

Fonte: Página Casar.com21

Vitor Farias (cf. Imagem 22) é proprietário do Atelier Vitor´s Farias Cake Designer, localizado

na rua Francisco Torres, 23, Nova Morada, em Recife-PE; ele está no mercado há 5 anos.

Imagem 22: Vitor Farias

Fonte: Facebook Vitor´s Farias Cake Designer22

21 Disponível em: https://fornecedores.casar.com/cassia-pereira-bolos-artisticos. Acesso em 03 mar 2017. 22 Disponível em:

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=983863904998523&set=t.100001247689387&type=3&theater.

Acesso em 03 mar 2017.

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Silvaneide Alves (cf. Imagem 23) é proprietária do Atelier Silvaneide Alves Bolos Artísticos,

localizado à rua José Tavares da Mota, 83, Iputinga, em Recife-PE; ela está no mercado há 20

anos.

Imagem 23: Silvaneide Alves

Fonte: Facebook Silvaneide Alves Bolos Artísticos23

Quanto às noivas em preparação para o casamento, foram entrevistadas 25, em 2 das principais

Feiras desse setor, em Recife, no ano de 2016, com o objetivo de entender os motivos que as

levam a decidir sobre a escolha do bolo de casamento e as suas percepções em relação ao Bolo

de Noiva de Pernambuco.

3.3 Técnicas de coleta dos dados

Foram utilizadas como técnicas de coleta dos dados: entrevistas (por pauta e semiestruturada -

online), documentos, observação não participante, bem como imagens.

Richardson (1999) aponta que a entrevista aproxima as pessoas e é uma técnica importante que

permite o desenvolvimento de uma estreita relação entre as pessoas. Lakatos (2010) por sua

vez, informa que se trata de uma conversa oral entre duas pessoas, que pode variar, de acordo

com o tipo de entrevista. O objetivo é a obtenção de informações importantes e a compreensão

das perspectivas e experiências das pessoas entrevistadas.

23 Disponível em:

https://www.facebook.com/439166499484469/photos/a.439643616103424.103615.439166499484469/11251959

94214846/?type=1&theater. Acesso em 03 mar 2017.

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Entrevistas por pauta foram feitas junto às boleiras tradicionais e contemporâneas. Tal

instrumento apresenta um certo grau de estruturação, fazendo poucas perguntas diretas,

deixando que o entrevistado fale livremente, tendo como guia uma relação de pontos de

interesse do pesquisador, que deve ser habilidoso ao conduzir a entrevista (GIL, 2011). Em

relação às noivas, as entrevistas foram em profundidade, do tipo semiestruturada.

Sobre os documentos como dados, foram utilizadas matérias de jornais sobre o Bolo de Noiva

pernambucano. De acordo com Gil (2011) essas fontes escritas são importantes. Finalmente,

utilizou-se a técnica da observação não participante. Sobre este instrumento, Lakatos (2010)

afirma que o pesquisador entra em contato com a comunidade, grupo ou realidade estudada,

sem fazer parte dela, agindo como expectador, porém em caráter sistemático. Flick (2009)

acrescenta que a observação envolve praticamente todos os sentidos – visão, audição,

percepção, olfato. A observação esteve presente durante as entrevistas e nos encontros com os

sujeitos desta pesquisa.

Em relação às imagens, Loizos (2002) afirma que elas são um registro poderoso das ações

temporais, além de ter influência nos acontecimentos do mundo. Por meio delas, pode-se

conhecer, visualmente, os entrevistados e os vários tipos de iguarias da gastronomia

pernambucana, sobretudo o Bolo de Noiva; todas elas foram adquiridas em sites da internet ou

em redes sociais, tal como o Facebook.

3.4 Processo de coleta dos dados

O processo de coleta dos dados está representado graficamente, no Quadro 4 abaixo:

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Quadro 4 – Processo de coleta dos dados

PASSO 1

Levantamento dos nomes dos especialistas do saber e do fazer.

Os especialistas do saber foram selecionados de acordo com a sua expertise, nas áreas de

cultura, tradição, gastronomia e Bolo de Noiva pernambucano.

Os especialistas do fazer foram selecionados de acordo com a visibilidade que ocupam no

mercado e pela indicação de noivas.

PASSO 2

Realização das entrevistas com os especialistas do saber, com base em um roteiro

composto por quatro questionamentos.

A entrevista com o Dr. Luís Carvalheira de Mendonça foi realizada no dia 20 de outubro

de 2016, em sua sala na Universidade Católica de Pernambuco. A pesquisadora chegou a

esse especialista, por indicação da professora orientadora deste trabalho, em virtude da sua

competência reconhecida e pela contribuição em trabalhos anteriores.

A entrevista com o historiador e presidente do Instituto Histórico de Caruaru, Sr. Walmiré

Dimeron aconteceu por meio de e-mail, após uma breve conversa por telefone, no dia 26

de outubro, uma vez que o mesmo estava em período de recuperação pós-cirurgia. A

pesquisadora conheceu o Sr. Walmiré Dimeron há aproximadamente dois anos, quando

admirou com o domínio e fascínio que o mesmo tem sobre a história da gastronomia,

sobretudo.

Após uma breve explicação por telefone a respeito do tema e dos objetivos do trabalho, a

jornalista Lectícia Cavalcanti concedeu a entrevista também por meio de e-mail, visto sua

indisponibilidade de agenda para a entrevista pessoalmente.

Desta mesma maneira, o jornalista Bruno Albertim também concedeu a entrevista por

meio de e-mail, visto sua indisponibilidade de agenda para fazê-lo pessoalmente.

PASSO 3

Realização das entrevistas com os especialistas do fazer, com base em um roteiro

composto por seis questionamentos.

Inicialmente a entrevista com as Irmãs Eliane e Jane Asfora aconteceria no dia 08 de

novembro de 2016, porém, devido a um pequeno acidente automobilístico com a Jane

Asfora, ela teve de ser remarcada. Entretanto, ainda não pôde acontecer no mês de

dezembro devido a excedente demanda de Bolos de Noiva. Finalmente ocorreu no dia 18

de janeiro de 2017, em seu atelier, localizado à Rua Carlos Porto Carreiro, 70 Derby

Recife-PE. A senhora Eliane Asfora foi a entrevistada e foi extremamente receptiva e

amável.

O mesmo fato ocorreu com os profissionais contemporâneos. As entrevistas precisaram

ser adiadas diversas vezes devido a problemas com a agenda dos mesmos.

A entrevista seguinte foi realizada com a boleira Cássia Pereira, no dia 14 de fevereiro de

2017, no seu atelier, localizado na Rua Silveira Lira, 114 Tamarineira, Recife-PE.

No mesmo dia, 14 de fevereiro de 2017 também foi realizada a entrevista com o Cake

Designer Vitor Farias em seu atelier, localizado na rua Francisco Torres, 23, Nova Morada

Recife-PE.

Após alguns desencontros, a entrevista com Silvaneide Alves aconteceu no dia 04 de

março de 2017, em seu atelier, localizado na rua José Tavares da Mota, 83 Iputinga

Recife/PE.

PASSO 4

Realização das entrevistas com noivas em preparação para o casamento, para a

triangulação dos dados (SABER – FAZER – NOIVAS)

As entrevistas com as noivas ocorreram durante duas grandes Feiras de noivas, que

aconteceram na cidade do Recife, nos períodos: 27 a 29 de maio de 2016 e 03 a 05 de

junho de 2016.

Fonte: Dados da pesquisa, 2016-2017.

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3.4 Técnica de análise dos dados

A técnica de análise dos dados utilizada neste trabalho foi a análise de discurso. Tal técnica

parte da concepção de que um enunciado nem sempre quer dizer a mesma coisa, mas é

dependente do contexto em que é dito, em que as condições do exercício da função enunciativa

são sempre determinadas no tempo e no espaço (FOUCAULT, 2002).

Vergara (2010, p.18) acrescenta que a análise de discurso é “um método que visa não só

apreender como a mensagem é transmitida, como também explorar o seu sentido. Analisar o

discurso implica considerar tanto o emissor quanto o destinatário da mensagem, bem como o

contexto no qual o discurso está inserido”.

Significa dizer que a compreensão da sintaxe e da semântica das orações não garante sua

compreensão e que nenhum pronunciamento é neutro ou isento de valor.

Para Pêcheux (2002), a análise de discurso tem inerentemente três características para o

analista: a primeira é a de que descrever se torna indiscernível de interpretar; a segunda, de que

todo enunciado é, de alguma maneira, mais do que um simples texto; e a terceira, a de que todo

discurso é, simultaneamente, um efeito das filiações socais e históricas de identificação e um

trabalho de deslocamento no seu espaço.

O sujeito para a análise de discurso ocupa um lugar social e a partir dele enuncia. Não decide

sobre os sentidos e as possibilidades enunciativas do seu próprio discurso. De acordo com

Mussalim (2006, pg. 110) “o sujeito não é livre para dizer o que quer, mas é levado, sem que

tenha consciência disso, a ocupar um lugar em determinada formação social e enunciar o que é

possível a partir do lugar que ocupa”.

O corpus de análise, nesta pesquisa, é composto por quatro especialistas do saber, quatro

especialistas do fazer e nove noivas em preparação para o casamento.

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3.6 Limites e limitações da pesquisa

A abrangência desta pesquisa delimita-se ao estudo do Bolo de Noiva de Pernambuco como

símbolo cultural da identidade gastronômica, sob a visão de cultura e tradição.

Quanto às limitações desta pesquisa, pode-se mencionar a dificuldade para o acesso aos

entrevistados. Inicialmente, houve a dificuldade de falta de disponibilidade de alguns dos

especialistas do saber, inclusive em responder a pesquisa por e-mail. O maior empecilho se deu

em relação às boleiras tradicionais e contemporâneas, por esse motivo, as entrevistas foram

remarcadas por diversas vezes. Outro fato percebido foi o receio de algumas boleiras

contemporâneas em expor suas considerações a respeito desse trabalho.

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4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Este trabalho partiu de uma questão de pesquisa, que buscou compreender o papel do Bolo de

Noiva na cena do casamento como elemento identitário da cultura pernambucana, sob a

percepção dos grupos do saber, do fazer e de noivas. Para responder a essa questão tomou-se

como guia os quatro objetivos específicos desse estudo. A ordem da apresentação dos dados,

seguiu a sequência das entrevistas.

4.1 O Bolo de Noiva como elemento cultural: a percepção dos especialistas do saber

O primeiro objetivo específico teve como propósito investigar sob o ponto de vista de

especialistas do saber, o papel do Bolo de Noiva na cena do casamento, como elemento

identitário da cultura pernambucana, logo, optou-se pela análise concentrada no especialista.

4.1.1 Luis Carvalheira de Mendonça

O primeiro entrevistado foi o Prof. Dr. Luis Carvalheira de Mendonça, o qual iniciou o seu

depoimento chamando a atenção para a “mandala da cultura” e afirmando que “não há dúvida

sobre o papel da gastronomia, para o entendimento das culturas”, o que é confirmado por Maciel

(2010) ao afirmar que a alimentação revela a estrutura da vida cotidiana, do seu núcleo mais

íntimo e mais compartilhado, tornando-se fundamental à formação do patrimônio cultural de

uma sociedade.

Em Pernambuco, ele relembrou a “tradição de comer e de receber bem”; ainda, relacionou a

gastronomia desse estado, com a música, a dança e as vestimentas. Citou a mesa farta da casa

dos Coelhos, em Petrolina, comandada pela matriarca, Dona Francisca, onde os bolos eram

sempre presentes e os eventos eram internos, nas próprias residências.

Sobre a tradição do Bolo de Noiva de Pernambuco, Luís Carvalheira reconheceu, já de partida,

que o casamento, por si só, “é uma representação da cultura e, como tal, é pleno de ritos e

rituais”, assim como afirma Leite (2001) ao acrescentar que o casamento é um dos principais

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ritos de passagem, está presente em quase todas as sociedades. Dentre esses está a celebração

com a comida e a importância dos “comes e bebes”, na comemoração do casamento. Para

exemplificar, inclusive para mostrar que essa é uma tradição antiga, citou o primeiro milagre

de Jesus Cristo, ocorrido nas bodas de Caná.

“...Eles foram convidados para uma festa de casamento em Caná. A mãe de

Jesus também está no casamento. Parece que Maria está ajudando na festa,

pois é amiga da família dos noivos. Assim, ela logo percebe que está faltando

alguma coisa para os convidados. Então diz a Jesus: Eles não têm vinho... Há

seis jarros grandes de pedra para água, cada um com a capacidade para cerca

de 40 litros. Jesus instrui os que estão servindo: Encham os jarros com água!

Então Jesus diz: Agora tirem um pouco e levem ao diretor da festa! O diretor

fica impressionado com a excelente qualidade do vinho, mas não percebe que

foi produzido milagrosamente. Ele chama o noivo e diz: Todos servem

primeiro o vinho bom e, quando as pessoas ficam embriagadas, o inferior.

Você guardou o vinho bom até agora (João 2:10).

Em seguida, citou o casamento de sua filha, ocorrido há alguns dias em São Paulo, quando

foram perceptíveis alguns rituais, como por exemplo, o jogar do buquê para as moças solteiras

que querem casar, mas não havia um lugar especial para o bolo, “símbolo que está bem presente

em terras pernambucanas”.

Ora, como estudioso da cultura pernambucana, esse especialista percebeu, de imediato, a

diferença estabelecida entre essas regiões, uma vez que, em terras pernambucanas, o bolo de

casamento teria o seu momento de destaque. Segundo ele, há, inclusive, os questionamentos

dos convidados sobre quem fez o bolo, indicando status, tradição e prestígio. Relembrou, ainda,

uma situação:

Outro dia eu estava na casa da minha filha e me ofereceram bolo do casamento

dela, congelado. Não aceitei. Fica para outro momento, mas observe como “a

tradição de se guardar do bolo ainda é presente”.

Por meio desse registro, pode-se perceber que Luis Carvalheira de Mendonça, de um lado,

reconheceu a diferença da cultura regional, quando da perda do ritual do momento do bolo, na

cena do casamento; por outro, ressaltou que permanece a tradição pernambucana de se congelar

o bolo do casamento, para se comer, posteriormente, como uma crença propícia à perpetuação

desse ato, conforme ratificam Cavalcanti (2009) e Bass (2016), pois comer do bolo após um

ano de casamento é um costume seguido por muitos casais, mesmo sem saberem a origem desta

tradição.

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Pode-se acreditar que, para esse especialista, verdadeiramente o Bolo de Noiva representa a

identidade gastronômica do estado de Pernambuco; essa afirmação é ainda comprovada por

mais um depoimento:

Ah mas eu não tenho dúvida! Acho que ele teria, o bolo de noiva, um papel

que não tem a universalidade que hoje tem o bolo de rolo, porque aplica-se

em qualquer contexto, mas ele, pelo contrário, é sofisticado porque ele é

“isolado”, valoriza-se até mais ele, pois ele é para um evento só, aplicado em

um contexto específico. “Ele é um bolo singular”. Sobretudo com o toque do

açúcar.

Nas palavras desse especialista, “a ideia de ser utilizado em momentos únicos, singulares, torna

o Bolo de Noiva especial”. Ele acrescenta, ainda, que enquanto existirem locais como a

tradicional Casa dos Frios, a Padaria Santa Cruz e outras padarias tradicionais do Recife e

região, que valorizam essa identidade, o Bolo de Noiva estará salvaguardado.

Entretanto, para ele, como forma de preservar essa cultura, por mais simples que seja o bolo,

mesmo assim, deve estar presente, nas cerimônias de casamento pernambucano, inclusive, nas

camadas populares. Sobre isso, alertou para certos comportamentos da elite e da moda:

A elite assimila e ela enfraquece, o povo cria e inova. A elite fica mecânica e

não orgânica... Além de conhecer o papel do bolo de casamento nas camadas

populares, tem de ser pensado e retratado como se dá o casamento nessas

camadas, “procurando o reforço da tradição”. O povo revigora e preserva uma

tradição.

Observa-se que a fala do especialista se alinha à proposta de Siena e Menezes (2007), ao

afirmarem que a tradição é o conhecimento advindo do saber-fazer de um povo; uma sabedoria

tradicional, empírica, desenvolvida ao longo de anos, por gerações, envolvendo o meio

ambiente e a cultura de uma localidade, em um determinado espaço e tempo.

Percebeu-se, nitidamente, durante todo o decorrer da entrevista, a sua preocupação com a

perpetuação da tradição do bolo, em cenas de casamento pernambucano; segundo ele, tudo

depende da assimilação e aceitação por parte do povo.

Com essa mesma inquietação, esse especialista acredita que o futuro da tradição do Bolo de

Noiva pernambucano, junto às gerações futuras, vai depender do povo e, assim, voltou a insistir

em seu pressuposto de que “as camadas populares é que reinventam a tradição”; logo, se esse

costume se restringir à elite, vai ser passageiro, isto é, vai se deteriorar, devido à moda.

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4.1.2 Walmiré Dimeron

O segundo entrevistado e participante do grupo do saber, foi o historiador Walmiré Dimeron, o

qual reconheceu que “o bolo é um artefato cultural”, que integra um dos rituais mais antigos da

humanidade, inteiramente constituída de símbolos, o que confirma o que é revisto por Piacentini

e Mailer (2004) ao declararem que a visão de um produto como símbolo é capaz de estabelecer

a comunicação de uma pessoa com as demais e está ligado ao seu uso para o desenvolvimento

da identidade pessoal.

Para o entrevistado, o bolo “sempre ocupou lugar de destaque na festa” e sua origem é relatada

na história das grandes civilizações, em que o alimento simbolizava o coroamento do evento.

Tal afirmação confirma ainda o que é proferido por Lody (2014) ao constatar que o ato de comer

do bolo é um marco de celebração, um prêmio, um trunfo. (Lody, 2014).

Ainda, segundo esse especialista, o bolo vai além do simples ato da fotografia, pois “o corte e

distribuição das fatias têm significados profundos”, frutos da mistura de culturas, costumes

cujas origens se perdem no tempo.

Quanto ao Bolo de Noiva Pernambucano, Walmiré Dimeron transpassou a sua emoção, ao

descrever sua experiência pessoal.

“Posso relatar a experiência pessoal de ter minha mãe exercido entre outros ofícios artísticos, a de boleira

e também confeiteira. Da nossa casa saiam, além de inúmeros bolos temáticos de aniversário, os

tradicionais bolos de casamento feitos à moda pernambucana, apenas com a substituição do vinho pelo

suco de uva. Para nós, crianças, a festa começava ainda com a massa crua, escura, que sobrava

generosamente no tacho, onde se sobressaia o gosto da ameixa e das frutas cristalizadas. O ritual era

intenso, a confeiteira nervosa, sabendo não poder cometer qualquer deslize no ponto da massa e da

cobertura, a espantar a meninada que, igual moscas, esperava a hora da distribuição da parte imperfeita

(o cascão) que era retirado para o nivelamento do bolo. Não satisfeitos, ainda dávamos um jeito de afanar

porções do glacê marmorizado, preparado tradicionalmente, de uma alvura “celestial”, que a competente

confeiteira ia espalhando com uma pá em miniatura. Terminada a cobertura básica, hora de decorar.

Havia um kit composto de uma bomba metálica onde se acoplavam os bicos com os mais variados

desenhos. Alguns adornos como rosas, eram feitos no fundo de cascas de ovo, colocados na geladeira e

depois aplicados ao bolo. Talvez não entendêssemos o porquê daquela tensão, inclusive, diante de algum

imprevisto ou acidente, o choro da confeiteira, que caso não cumprisse o prazo combinado, arruinaria

por completo a mais aguardada das festas na vida de uma mulher. E a entrega? Outra dose de tensão,

afastar móveis, escancarar portas para passagem do todo-poderoso bolo. Recomendações: - Não acelere!

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Cuidado para o glacê não rachar... ao final, normalmente o bolo saia são e salvo para alívio geral da

boleira/confeiteira e felicidade dos noivos e convidados. Vem daí minha verdadeira paixão por este bolo,

como quase todo o mundo. Nas festas de casamento, é comum se ouvir: - Já partiram o bolo? Ou – Só

vou depois que provar o bolo”.

Esse especialista faz um passeio na história, afirmando que “o nordeste inteiro tem uma tradição

doceira das mais fortes e Pernambuco merece um capítulo à parte e especial”. Ele aludiu ao

escritor Gilberto Freyre, o qual chama de “mestre”, que esmiuçou velhos cadernos esquecidos

nas gavetas das mesas dos engenhos, colheu depoimentos de amigas quituteiras pernambucanas

e dedicou ao assunto um livro, em sua opinião considerado espetacular: Açúcar.

O historiador então pergunta:

Quem nunca ouviu falar no tradicionalíssimo bolo Souza Leão, um quase

pudim que ganhou fama e notoriedade, sendo reconhecido por Lei como

Patrimônio Imaterial Pernambucano, cuja receita original data do século XIX?

Se não bastasse a fama do bolo com sobrenome fidalgo.

Acrescenta ainda que Pernambuco criou mais dois outros ícones da doceria nordestina: o Bolo

de Rolo e a Cartola; todos esses, assim como o Souza Leão, também reconhecidos por Lei

Patrimonial.

Sobre se o Bolo de Noiva representa a identidade gastronômica do estado de Pernambuco

Walmiré Dimeron responde entusiasmado:

Por se tratar de uma iguaria com características próprias, origem certificada e

receita preservada com o mínimo de adaptações, creio que seja mais um forte

candidato a figurar como elemento de identidade da nossa gastronomia. Vida

longa ao bolo de noiva pernambucano!

Observa-se a percepção do historiador ao referir-se à elemento de identidade, o que se alinha a

constatação de Santilli (2015), quando o mesmo informa que os produtos alimentares têm sido

identificados como objetos culturais portadores da história e da identidade de um grupo social.

Quanto à perpetuação da tradição do Bolo de Noiva pernambucano, Walmiré Dimeron crê que

ela vai seguir, por muitos anos, ao menos “enquanto a própria instituição do casamento

conseguir sobreviver, já que são indissociáveis”. Tanto é que, atualmente, o Bolo de Noiva

Pernambucano, confeitado possui uma fiel clientela e pode ser encontrado em padarias,

docerias, cafeterias e vendidos em fatias. Esse historiador ressaltou que é interessante lembrar

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que apesar da introdução de novas técnicas na cobertura, como é o caso da pasta americana,

isto é “indefectível” (em suas palavras): “o sabor e a textura da receita tradicional do Bolo de

Noiva Pernambucano são mantidos”.

4.1.3 Lectícia Cavalcanti

A terceira entrevistada foi a jornalista Lectícia Cavalcanti, segundo a qual a humanidade tem

celebrado os grandes acontecimentos, sempre em volta de bolos, “isso em todas as culturas”,

desde a mais remota antiguidade, quando qualquer massa adocicada era indistintamente

chamada de pão ou bolo; citou, então, essa passagem bíblica:

Abraão pediu a Sara: Depressa amasse três medidas de farinha e faça bolos

(Gênese 18: 6).

Quanto aos bolos de casamento, de acordo com essa especialista “eles foram evoluindo com o

tempo, sempre mantendo a nobreza e o simbolismo”. Para ela, há no bolo, todo o mistério que

marca o próprio ato de duas pessoas unirem seus destinos e o ritual que lhe cerca é parecido em

toda parte. “A primeira fatia deve ser cortada pelos noivos, de mãos juntas e já com alianças”;

todos têm cor branca na cobertura, simbolizando pureza e virgindade, aludindo a um trecho de

sua própria obra (CAVALCANTI, 2009).

Em todo Brasil, segundo ela, os bolos de casamento têm preparos diferentes: no Sul, por

exemplo, usa-se massa branca e recheios variados – ainda herança dos colonizadores

portugueses; já em Pernambuco, a massa é escura e preparada à base de vinho, ameixas, passas

e frutas cristalizadas, quase sempre, cobertos com pasta de amêndoa e recoberto com glacê

branco – herança inglesa da época da rainha Vitória, divulgada a bem poucos lugares do Brasil.

Como se pode notar, “essa especialista distingue os bolos de casamento feitos nas demais

regiões do Brasil, daqueles preparados em Pernambuco”; aliás, segundo ela, “o único estado

onde ele é feito em massa escura”. Essa característica lhe confere, pois, uma identidade cultural,

própria, conforme ela mesmo afirma:

Sim. Junto com muitas outras de nossas receitas, representa uma identidade

gastronômica de nosso Estado. E devem ser preservados e guardados como

um de nossos mais importantes tesouros.

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Para justificar a perpetuação do Bolo de Noiva Pernambucano, Lectícia Cavalcanti buscou

inspiração no mestre Gilberto Freyre; assim, então, comentou:

“O mestre Gilberto Freyre dizia que “numa velha receita de bolo ou de doce

há uma vida, uma constância, uma capacidade de vir vencendo o tempo sem

vir transigindo com a moda”. Nosso bolo de casamento é uma dessas receitas

tradicionais. Que têm história. Que têm passado. E que com certeza vão se

manter presentes em todos os nossos casamentos. Até o fim dos tempos. Se

Deus quiser”.

Assim como o historiador Walmiré Dimeron, a escritora Lectícia Cavalcanti busca a

certificação de suas afirmações em Gilberto Freyre. Pode-se ainda fazer um elo entre a

afirmação de Gilberto Freyre, citado pela entrevistada, e o que informa Santos (2005) ao

testemunhar que mesmo com a globalização avançando sobre o mercado e as culturas,

convertendo qualidades em quantidades, há uma movimentação contrária que valoriza o único,

o singular e as tradições.

4.1.4 Bruno Albertim

O quarto entrevistado foi o jornalista e escritor Bruno Albertim, que iniciou o seu depoimento

assegurando que “o homem, em sociedade, precisa de símbolos e rituais – cultura, para afirmar

a sua identidade, passagem e pertencimentos”; ainda, que “a gastronomia muito contribui para

esse processo, na medida em que é capaz de reunir pessoas, em torno da mesa, em um ritual de

festa, o que propõe um ritual de comensalidade”, o que é confirmado por Moreira (2010), ao

afirmar que a sociabilidade manifesta-se na comida compartilhada.

Em se referindo ao casamento e a preservação da sua tradição, o especialista reconhece que o

consumo coletivo é provido por uma força capaz de assegurá-la, por meio dos ritos, na

sociedade contemporânea.

Quanto ao Bolo de Noiva pernambucano, para esse especialista, ele é “algo extremamente

identitário para esse estado”. Por conta da presença inglesa no começo do século XX,

Pernambuco assimilou preparos como o corriqueiro bolo de bacia de padaria e o então chamado

bolo de massa escura, conforme afirma Cavalcanti (2009).

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Ressalta ainda que “Pernambuco é o único estado do Brasil que possui um bolo de casamento

de massa escura”. Em suas palavras, uma tradição recentíssima, com pouco mais de um século,

mas tão forte que “rapidamente se tornou traço distintivo da cultura local”. Para ele, o fato de

ser comercializado para consumo, além das festas de casamento, comprova que “tem respaldo

identitário em Pernambuco”, o que vem a colaborar com a constatação de Petrini (2009),

quando o autor acrescenta que a culinária de determinada região é tanto produto da natureza

como da cultura, e é um meio de valorização dos saberes e práticas alimentares estão

diretamente relacionadas à construção de uma identidade cultural.

Quanto à perpetuação da tradição do Bolo de Noiva pernambucano, Bruno Albertim é enfático

e direto, em sua afirmação:

Creio que não é uma tradição com qualquer risco de ameaça. Pelo contrário:

o fato de ser comercializado para consumo além das festas de casamento

comprova que tem respaldo no paladar identitário local.

Percebe-se, por meio dessa declaração, que esse especialista reconhece o Bolo de Noiva

pernambucano, não somente como valor cultural desse estado, mais ainda, que essa tradição

será mantida, sem risco de qualquer ameaça.

4.1.5 Conclusão parcial 1

O Quadro 5, a seguir, permite a visualização conjunta sobre o que pensam os especialistas do

saber, sobre o papel do Bolo de Noiva na cena do casamento, como elemento identitário da

cultura pernambucana, aquele que é o primeiro objetivo específico, deste trabalho.

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Quadro 5 - Percepção dos especialistas do saber sobre o Bolo de Noiva como elemento cultural

Especialistas do saber Percepções

Luís Carvalheira

...símbolo que está bem presente em terras pernambucanas.

...a tradição de se guardar do bolo ainda é presente.

Ele é um bolo singular.

...procurando o reforço da tradição.

Walmiré Dimeron

...o bolo é um artefato cultural...

...os tradicionais bolos de casamento feitos à moda pernambucana...

...tradição doceira das mais fortes e Pernambuco merece um capítulo à parte...

...mais um forte candidato a figurar como elemento de identidade da nossa

gastronomia.

...enquanto a própria instituição do casamento conseguir sobreviver, já que são

indissociáveis.

...o sabor e a textura da receita tradicional do Bolo de Noiva pernambucano são

mantidos.

Lectícia Cavalcanti

...o único estado onde ele é feito em massa escura.

...representa uma identidade gastronômica de nosso Estado.

...devem ser preservados e guardados como um de nossos mais importantes

tesouros.

Nosso bolo de casamento é uma dessas receitas tradicionais. Que têm história.

Que têm passado.

Bruno Albertini

...algo extremamente identitário para esse estado.

...Pernambuco é o único estado do Brasil que possui um bolo de casamento de

massa escura.

...rapidamente se tornou traço distintivo da cultura local.

...tem respaldo identitário em Pernambuco.

...respaldo no paladar identitário local.

Fonte: Dados da pesquisa, 2016-2017.

A análise do Quadro 5 indica a concordância entre todos os especialistas do saber, sobre o papel

do Bolo de Noiva na cena do casamento, como elemento identitário da cultura pernambucana.

Eles combinam, inclusive, nos termos referentes aos elementos culturais; a saber: artefato

cultural (símbolo), tradição, identidade, unicidade e traço distintivo.

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Ressalta-se, ainda, os depoimentos de Walmiré Dimeron e Bruno Albertim, quando se referem

à gestão empresarial e à comercialização do Bolo de Noiva pernambucano: ele não está

presente, exclusivamente, em estabelecimentos que sejam próprios para noivas, mas estão lá,

em padarias tradicionais, em restaurantes, shoppings, delicatessens e até mesmo em quiosque,

no Aeroporto Internacional do Recife.

4.2 O Bolo de Noiva como elemento cultural: a percepção dos especialistas do fazer

Nesta Seção, espera-se responder ao segundo objetivo desta pesquisa: identificar sob a

percepção de especialistas do fazer, o papel do Bolo de Noiva na cena do casamento, como

elemento identitário da cultura pernambucana.

O grupo de especialistas do saber foi composto por uma boleira tradicional, e três

contemporâneos; a ordem da descrição das entrevistas segue a data em que elas ocorreram.

4.2.1 As irmãs Asfora

As irmãs Asfora são conhecidas no Recife, como as principais referências do fazer o Bolo de

Noiva pernambucano; são as filhas e herdeiras da famosa boleira Leonie Asfora. Atualmente,

estão presentes em redes sociais (cf. Imagens 24 e 25) onde divulgam seus trabalhos, sobretudo

os Bolos de Noiva.

As imagens 24 e 25 abaixo, simbolizam que as irmãs Asfora, mesmo sendo consideradas

“tradicionais”, tentam estar presentes nos meios utilizados pela nova geração para a

comunicação, embora as mesmas contem com poucos seguidores, se forem comparadas aos

profissionais contemporâneos participantes deste estudo. Observa-se também “o simbolismo da

família”, sendo utilizada como foto de capa do Facebook das boleiras. Chamou a atenção da

pesquisadora o fato da própria Eliane Asfora alimentar as redes sociais, inclusive com várias

postagens por dia.

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Imagem 24 - Facebook Leoni Asfora Bolos

Fonte: Facebook Leoni Asfora Bolos24

Imagem 25 – Instagram Leoni Bolos

Fonte: Instagram Leoni Bolos25

24 Disponível em: https://www.facebook.com/leonibolos/?ref=ts&fref=ts. Acesso em: 27 fev. 2017.

25 Disponível em: https://www.instagram.com/leonibolosjane_eliane/. Acesso em 27 fev. 2017.

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Eliane Asfora foi a entrevistada; relatou que a história delas começou com o trabalho de Dona

Leonie, sua mãe, por volta da década de 1958, quando começou a fazer bolos para festas

familiares. Ela foi aluna da Escola Domestica Carolina Baltar, onde aprendeu diversos afazeres

domésticos, inclusive a parte de bolos e de confeitaria.

Sobre a origem do Bolo de Noiva pernambucano, a fama e a sobrecarga do trabalho de Dona

Leonie, bem como sobre a iniciação das irmãs, como boleiras, Eliane Asfora relembrou:

Mamãe começou a fazer bolo de ameixa para noivas. Bolo de noiva sempre

teve a receita, mas “bolo de ameixa foi mamãe quem desenvolveu” e pegou,

simplesmente pegou, ficou conhecida, ela não dava conta, eu e Jane entramos

ajudando e sem querer estávamos fazendo tudo. De repente papai do céu levou

mamãe, e aí a gente estava com um monte de coisa assumidas, continuamos,

muito inseguras, sem a presença dela, que era, como posso dizer, era a chefe,

mas aí a gente foi levando, no princípio temerosa com medo de não dar certo.

Aí a gente assumiu e com essa brincadeira já se vão vinte e quatro anos sem

ela.

Nesse relato, percebe-se o “orgulho pela sua mãe”, ao adaptar uma receita de bolo já existente,

a qual tornou-se conhecida no mercado pernambucano. Nota-se também o reconhecimento pelo

seu esforço e como ela conseguia atender a tantos pedidos, praticamente sozinha, quando, aos

poucos foi contando com a ajuda de suas filhas, para quem, naturalmente, foi “passando a arte

do seu saber”. Parece que a força da mãe lhes assegurou, mesmo estando ausente, após o seu

falecimento...

O número de bolos que mamãe fazia era fora de série, muito mais que a gente

atualmente, porque “naquela época não existia pasta americana” e não existia

quem confeitasse, então era tudo ela, entendeu, eram muitos pedidos, muita

coisa, e ela contava comigo e com Jane, se não fosse a gente ela não daria

conta.

Nesse depoimento, nota-se, ainda a disposição da Dona Leonie, diante da quantidade de

encomendas e o surgimento de uma inovação ao tradicional Bolo de Noiva pernambucano: a

pasta americana; além disso, percebe-se que as irmãs Asfora estavam dispostas a se adaptar às

solicitações de suas clientes, inclusive diante da diversidade dos bolos.

A gente não tem público alvo, toda vida a gente fez bolo para tudo, primeira

comunhão, batizado, criança, aniversário, noiva, formatura. Às vezes chega

aqui, “noivas querendo bolo, sem nada, todo liso” sem nada, que não é a

proposta da gente, mas aí a gente faz sem problemas.

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Aqui, dá para entender uma “tentativa de quebra da tradição do Bolo de Noiva pernambucano”,

talvez pela influência da moda. Entretanto, por meio da declaração, abaixo, descobre-se a

importância do bolo de casamento que, tudo indica, já não é, atualmente, tão exclusivo ao gosto

e encargo da noiva.

“As peças mais importantes em um casamento são a noiva em primeiro lugar

né e o bolo da noiva”, tanto é que “não chama nem bolo dos noivos, é bolo da

noiva”, muito embora hoje em dia quem vem encomendar aqui, vem casal, o

homem dá mais pitaco, porque hoje em dia eles dividem tudo, antigamente

quem fazia o casamento da menina eram os pais da noiva, hoje em dia é tudo

junto (risos) ...Eu peguei essa época em que o casamento é na igreja, bolo e

champanhe, “não pode ter um casamento sem ter bolo da noiva”, ainda existe

quem faça casamento hoje, e faz somente bolo e champanhe.

Quanto à tradição do Bolo de Noiva de Pernambuco, Eliane Asfora reconhece que o mesmo

veio de Portugal: era um bolo de frutas que “foi tomando vulto, sobretudo na época do açúcar”.

Tal afirmação é contrária ao que afirma a Cavalcanti (2009) e Lody (2014) ao afirmarem que a

origem do Bolo de Noiva de Pernambuco é inglesa.

Segundo a entrevistada, é um bolo especial, que “não pode faltar no casamento de uma família

pernambucana”. Ela relembra um caso especial:

Nós “fizemos agora há pouco um bolo para o Rio de Janeiro, família

pernambucana”, casamento grande, mas aí nós fomos levadas para lá, mas aí

só para quem tem muita condição, pagaram passagem, pagaram hotel, a gente

levou o bolo, levamos todas as flores, o glacê, levamos tudo prontinho, todo

embalado, e fizemos o bolo na casa da noiva...

Realmente, por essa declaração entende-se a importância e a tradição do Bolo de Noiva de

Pernambuco, capaz de “estimular um investimento financeiro considerável, para manter viva a

identidade do povo de uma região”. Talvez para essa família, um casamento sem o Bolo de

Noiva pernambucano não fosse possível, pois eles poderiam se sentir “estranhos e dissociados

de suas próprias origens”.

Para Eliane Asfora, o Bolo de Noiva pernambucano tem um longo futuro, sobretudo agora em

tempo de redes sociais e divulgação em massa. “As famílias pernambucanas aqui e fora do

Estado têm bastante peso nessa tradição”. A boleira conta que as encomendas para fora do

Estado eram diversas e que, há aproximadamente quatro anos, esse serviço foi suspenso, devido

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a logística e ao estresse, provocado pela ansiedade sobre o que poderia acontecer de errado;

sobre essa questão, ela comenta sobre a ida, recentemente, ao Rio de Janeiro:

“A tradição é tão presente” [...] foi uma experiência, de outra vez a gente não

faz mais isso, vou te contar outra, nós pegamos o bolo você sabe que a gente

senta numa bandeja, cola né, a gente já colou, já deixou ele todo branquinho,

pra chegar lá só bordar e terminar e chegar o mais rápido possível, porque para

a gente também é custo, eu deixo de fazer bolo aqui, aí aconteceu quando a

gente chegou no Galeão (aeroporto), eu disse pra minha irmã eu vou correndo

lá pra não botarem a caixa na esteira, lá vem o cara assim, nessa posição (a

caixa do lado) aí a nossa caixa era de compensado, parafusado na bandeja,

mas tinha um visor em cima, quando eu olhei me arrepiei toda, faltou chão,

aos pedaços, aos pedaços! Ai Cristo o que eu vou fazer, aí quando a gente viu

estava o motorista da moça com o nome Jane e Eliane, aí eu fui lá não disse

nada para ele, pega aqui, eu liguei para ela e disse aconteceu isso, mas não se

preocupe não, a gente vai fazer outro, fui para a casa dela no primeiro dia,

colamos o bolo todinho com o próprio açúcar, amoleceu o açúcar, colou,

passei uma “cinta”, eram dois bolos um sobre o outro, um grandão com outro

em cima, no outro dia tava sequinho, a gente cobriu e eu fiz, mas foi estresse

viu, foi estresse! Agora há pouco fomos para outro em Porto Seguro. O

casamento foi no Quadrado, um bairro importante que tem lá, de turismo, aí a

gente levou o bolo assado, sem nada, levamos o material todinho e

confeitamos lá no hotel, ficou muito lindo.

A boleira descreveu outra situação, quando transportou um bolo a outro estado. Percebe-se que

quando ela relembra esses acontecimentos e a expectativa dos seus clientes, “transpassa

emoção” em suas palavras, que até confunde o expectador: seria em virtude da tradição do Bolo

de Noiva pernambucano ou do respeito às suas clientes; ou até mesmo pelas duas situações:

Olha “tem gente que já conhecia a gente, mas tudo por intermédio de

pernambucanos,” mas nossa maior clientela está em Brasília, agora muita

gente leva na mão, bolinho pequeno, desse tamanho assim (mostra uma forma

pequena) a pessoa traz um prato de vidro, a gente confeita, arranja uma caixa

e vai em mãos, eu mesma levei para Teresina para a formatura da minha

sobrinha, mas foi sacrificado viu (mostra uma forma grande) a gente embalou,

eu entrei com um peso da bexiga, (risos) aí botei no chão sem o rapaz ver,

botei minha bolsa, botei os pés em cima, a caixa muito bem fechada e fui até

lá, mas não aconselho levar assim não.

Claro que, “como todos os negociantes, a boleira deseja preservar o segredo do seu produto, a

fim de conservar a integridade dessa tradição”, isto é, não deixá-lo cair na banalidade, até

mesmo em nome de uma dita modernidade, flexibilidade e adaptação aos interesses comerciais,

da atualidade; assim depõe:

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Tem, tem muita gente que fica atrás da gente, querendo o nosso bolo, a nossa

massa, em particular, para vender por aí, mas não é o interesse nosso, “o nosso

interesse é fazer o bolo, e confeitar e decorar”, embora a gente tem esses

bolinhos pequenos que a gente vende para lanche, sem açúcar e com açúcar

também, entendeu, quando a pessoa quer no Natal, a gente faz, se você olhar

no Instagram da gente, você vai ver um monte, são os famosos bolos glaçados.

Mais uma vez buscou-se entender o discurso dessa especialista, quando se referiu ao “interesse

em fazer o bolo, confeitá-lo e decorá-lo”; notou-se, por meio do seu entusiasmo e gentileza, a

dedicação e o respeito com os quais elas desenvolvem essa atividade, arte e tradição. Entende-

se que “o seu negócio empresarial, antes de ter um sentimento comercial, há valores que se

sobrepõem, os quais foram sendo sedimentados, ao longo da sua vida”, ao lado da sua irmã e

da sua mãe, Dona Leonie, aquela que desenvolveu a versão do Bolo de Noiva pernambucano.

Quanto à utilização de novas técnicas, como a pasta americana, por exemplo, para a confecção

do bolo de noiva, Eliane Asfora reconhece-a como uma arte qualquer, bonita e que tem suas

qualidades, tais como: facilidade de manuseio, menores custos e, consequentemente, maior

lucro; por isso muitas pessoas passaram a utilizá-la. Bem, pela observação presencial e pela

análise do seu discurso, pode-se perceber “uma certa ironia, da sua parte”:

Eu penso assim não sei, porque para eu alisar um bolo grande de noiva, é

pesado, as vezes eu termino fico com as costas que não aguento, ao passo

que você já deve ter feito o curso, “para abrir uma pasta americana abre no

rolo e joga em cima do bolo e acabou-se”, é tudo mais fácil, muita gente

chega aqui e pergunta “você trabalha com pasta? Eu digo que não e eles

dizem graças a Deus, porque detestam aquela pasta”...E o açúcar da gente é

bem legal, embora eu já tenha visto gente que vai partir o bolo e parece uma

pedra, eu não sei o que é aquilo, uma força para partir, o da gente não é,

sempre fofinho, é muito difícil, o açúcar que seca é aquele que a gente faz a

confeitaria, porque ele é molinho, num instante seca”.

Observa-se a importância atribuída ao açúcar pela entrevistada, o que é confirmado por Lody

(2014) ao afirmar que o glacê mármore é um exemplo notável de receita e técnica culinária

identitária e uma forma de enaltecer bolos autorais, familiares ou de boleiras notáveis.

Eliane Asfora também cita, “com reprovação”, a moda de utilizar o bolo de rolo em casamentos;

esse seu comportamento reafirma o zelo pela tradição do Bolo de Noiva pernambucano, como

alerta o Dr. Luis Carvalheira, especialista do saber: a tradição não pode ser interrompida, em

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função de uma moda; em outras palavras: aquilo que parece valor não deve ser confundido com

um entusiasmo, que pode ser passageiro.

Hoje em dia “estão confeitando o bolo de rolo, tem gente que faz ele

redondo, é horroroso, e bolo de rolo não combina com confeitaria”, eu adoro

bolo de rolo, foi o primeiro bolo que eu fiz na minha vida, eu tinha 11 anos

eu gostava muito de cozinha..., mas não é bolo para casamentos.

Finalmente, na opinião da própria Eliane Asfora o Bolo de Noiva é uma identidade

gastronômica de Pernambuco, que marca grandes momentos, não só casamentos, mas é

solicitado para eventos, em datas importantes. Neste sentido, ela depõe:

“Ele não é solicitado só para noivas não, ele é solicitado para grandes eventos”

entendeu, a gente fez um dia desses um bolo para a Casa da Cultura e eles só

quiseram “Bolo de Noiva, que é o bolo marca de grandes momentos”, por

exemplo a gente fez um bolo agora no fim de ano para o Hospital Esperança,

todo ano eles fazem o Natal de lá, eles só querem Bolo de Noiva, vez por outra

como o bolo de ameixa é menor, eles querem então o de ameixa, e “tem noivas

que as vezes chegam aqui, e “batem o pé” eu não gosto de frutas, eu não quero,

aí o bolo é de andares, a gente faz dois de frutas embaixo para os convidados,

o de cima para elas”.

Remarca-se, aqui, “a força da cultura, da tradição”: mesmo se algumas noivas recusam-se a

aceitar o seu bolo de casamento, com frutas, as irmãs Asfora, com a convicção que têm, de que

o Bolo de Noiva pernambucano vai ser o mais apropriado para essa cerimônia, convencem-nas,

inclusive, em aceitar a maior parte dele, sendo o Bolo de Noiva pernambucano: ‘dois bolos de

frutas embaixo, para os convidados e o de cima para elas’. Considera-se que se depender delas,

esse tradicional bolo vai se eternizar, em Pernambuco.

4.2.2 Cassia Pereira

A segunda especialista entrevistada foi Cassia Pereira, boleira no mercado, há vinte e três anos.

Graduada em gastronomia e também professora de confeitaria, possui perfil em redes sociais

(cf. Imagens 26 e 27), por onde o seu trabalho é divulgado.

Eu estou no mercado há 23 anos “inicialmente só fazendo bolo de frutas”, e

com o tempo você vai fazendo, vai se aprimorando, vai tomando mais

conhecimento, e você vai trabalhando em cima do bolo de noiva. Minha mãe

já fazia esse bolo, aí eu fui tomando gosto pelo bolo.

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Tudo indica que a sua proposta é apoiar o tradicional Bolo de Noiva pernambucano, embora

seja de acordo com a “criatividade e inovação”. Seu atelier está localizado em um bairro nobre

do Recife.

Na imagem 26, extraída do Facebook, observa-se o simbolismo presente no texto de divulgação,

com destaque para a frase “o tradicional sabor do bolo de noiva de Pernambuco aliado à

criatividade e inovação...”, o que propõe uma tentativa de aproximação com a nova geração de

noivas, sem a desvinculação da tradição presente.

Imagem 26 - Facebook Cassia Pereira Bolos Artísticos

Fonte: Facebook Cássia Pereira Bolos26

A imagem 27 abaixo, colhida da rede social Instagram, demonstra o número de seguidores da

profissional. Observa-se que a boleira conta com mais de 9.000 seguidores, o que vem a apontar

grande interesse em seguir suas postagens.

26 Disponível em:https://www.facebook.com/cassiapereira.bolosartisticos/. Acesso em: 27 fev. 2017.

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Imagem 27 - Instagram Cassia Pereira Bolos Artísticos

Fonte: Instagram Cássia Pereira Bolos Artísticos27

Sobre a importância do bolo de casamento, Cassia Pereira reconheceu, entretanto que, para ela,

ele vem após a noiva, conforme responde, a seguir:

Depois da noiva, é o bolo, né? “Depois da noiva sempre vem o bolo, então

imagina uma festa sem bolo? ” Não tem né, para mim ele é bem importante,

depois da noiva, da cerimonia, do noivo, o bolo, nem que faça assim cerimonia

e apenas um bolo, a cerimonia e um coquetel, mas tem o bolo, “a cerimonia é

um grande evento, mas tem que ter o bolo, não pode faltar”.

Por meio desse depoimento, ela também reconhece a tradição do bolo de noiva de Pernambuco;

concorda que a sua origem é portuguesa e que já está enraizada na cultura pernambucana. A

boleira acrescenta, ainda:

Olhe, “essa tradição é bem antiga, ela vem dos portugueses”, ela é “uma

tradição que já está assim bem dentro da cultura pernambucana”, interessante

que com o mesmo tempo vai passando, “o pessoal vai acrescentando outros

ingredientes”, uma coisa, outra, mas a essência do bolo de noiva, ela, acho que

quando falamos me dê um bolo de frutas, porque contém frutas secas,

cristalizadas, tudinho, mas a pessoa “nem fala mais bolo de frutas, já fala bolo

de noiva”... “Ele é oferecido justamente em ocasiões especiais como tipo:

casamento, batizado, algo muito importante” que aí ele vem com uma “grande

importância na hora da festa, do cortar”, porque aí “as pessoas já vão a festa

querendo comer o bolo de noiva”... “Só saem depois de comer o bolo de noiva.

27 Disponível em: https://www.instagram.com/cassiapereirabolosartisticos/. Acesso em: 27 fev. 2017.

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Observa-se que esta especialista também vai de encontro ao que afirmam Cavalcanti (2009) e

Lody (2014) sobre a origem do Bolo de Noiva de Pernambuco, ao afirmar que o mesmo é

herança portuguesa e não inglesa, conforme atesta a literatura formal.

Para Cássia Pereira, o Bolo de Noiva pernambucano tem “um futuro longo e promissor”, uma

vez que está sendo preparado e divulgado, não somente neste estado, mas em várias localidades,

no Brasil, especialmente na região nordeste.

Acho que cada dia “mais pessoas estão fazendo, está sendo bem divulgado

esse bolo, e hoje não só aqui em Pernambuco, mas pessoas que saíram de

Pernambuco e fazem bolos, estão fazendo ele em outros estados”, como no

Maranhão, que eu tenho conhecimento, em Brasília tem uma menina que faz,

em João pessoa tem uma menina que faz, em Natal tem uma menina que faz,

“se referem ao bolo pernambucano e não ao bolo de frutas”.

Para Cássia Pereira o Bolo de Noiva também é sim identidade gastronômica de Pernambuco:

“Só tem aqui no Brasil” inteiro, então muita gente, é o que eu falo muita gente

vem atrás do bolo pernambucano, que é o bolo de frutas, quando você fala eu

faço bolo, de onde é, de Recife, aí o pessoal fala: ah aquele bolo de frutas! As

pessoas já ligam a cidade ao bolo de frutas, só aqui ele é servido para

casamentos, mas também ele é servido na Inglaterra, em Portugal, na

Argentina, em algumas cidades que é muito conhecido também, mas “aqui em

Pernambuco, ele fixou mais forte até pela nossa cultura”, pela colonização

portuguesa que a gente tem uma forte tendência veio para cá com a gente

O depoimento da entrevistada é condizente com o que afirma Montanari (2008) ao reforçar que

a gastronomia faz parte da identidade cultural de um povo, pois por meio das comidas típicas

cada lugar ganha uma expressão própria: comunica sobre as pessoas, seus cotidianos, suas

características e suas diferenças, além de promover intercâmbios culturais.

4.2.3 Vitor Farias

O terceiro participante dos especialistas do fazer é Vitor Farias; ele está no mercado há cinco

anos - o Cake designer, como assim gosta de ser reconhecido, é o mais novo dentre eles e um

dos mais referenciados, pelas noivas durante as entrevistas realizadas nas duas grandes Feiras.

Tem ideias arrojadas e é bem presente nas redes sociais (cf. Imagens 28 e 29).

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Trabalho faz 5 anos já, comecei logo cedo quando tinha 18 anos, e estava

começando a ingressar na faculdade, aí surgiu a ideia de fazer bolos, comecei

a fazer bolos em casa, sempre gostei de fazer doces, brigadeiros, pudins, e

comecei a fazer bolo de casamento, comecei a divulgar meu trabalho e deu

certo, até hoje.

A imagem 28 abaixo, retirada do Facebook do especialista, além de informar todos os contatos

do profissional e imagens dos seus bolos, aponta mais de 2.000 curtidas. A rede social é a forma

mais utilizada por ele para contatos e fechamento de novos negócios.

Imagem 28 – Facebook Vitor´s Farias Cake Designer

Fonte: Facebook Vitor´s Farias Cake Designer28

Em relação ao Instagram do especialista (c.f. imagem 29) o mesmo não conta com um número

expressivo de seguidores (pouco mais de 2.500), porém também é uma das formas utilizadas

para a divulgação do seu trabalho e aproximação do seu público-alvo.

28 Disponível em: https://www.facebook.com/vitorfarias1993?fref=ts. Acesso em 27 fev. 2017.

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Imagem 29 – Instagram Vitor´s Farias Cake Designer

Fonte: Instagram Vitor´s Farias Cake Designer29

Sobre a importância do bolo de casamento, o especialista depõe:

“O bolo de casamento seria a coisa mais importante do casamento, depois do

vestido”, assim as pessoas chegam já vai ver o bolo de casamento, vê quem fez,

ver todo trabalho, e o bolo “A”, bonito, sem nenhum defeito, é maravilhoso, tem

algumas pessoas que às vezes trabalham, mas não têm muita experiência com

bolo de casamento, daí acontece algum desastre, o bolo estava feio, a decoração

belíssima, o bolo tava torto, rachado... Já aconteceu também de eu alugar muitos

bolos falsos, porque eu tinha alguns bolos falsos e já estavam alugados, de tipo

acontecer algum acidente e ligavam para mim urgente, para alugar algum bolo

falso, para colocar um bolo falso e o bolo quebrado, rachado deixam na cozinha

para servir.

Vitor Farias aponta que “o Bolo de Noiva de Pernambuco é muito gostoso, mas pondera que

muitas noivas, dessa nova geração, não gostam do sabor dele”. Diante disso, ele sempre

“oferece uma degustação para que as noivas o provem e verdadeiramente apontem o seu

preferido”. O boleiro acrescenta:

Infelizmente têm “muitas noivas que não gostam, preferem chocolate belga”,

que é um bolo que não é muito doce, meio amargo, leva café, pode conservar

bastante, um bolo que leva as passas, frutas e o vinho que deixa ele bem

encorpado, e pode conservar bastante... “A mãe geralmente gosta e a noiva

não”... A mãe geralmente vem aqui com a noiva, para degustar. “Muitas vezes

a escolha da mãe pesa, por causa da tradição da família”, né.

29 Disponível em: https://www.instagram.com/vtofarias/. Acesso em 27 fev. 2017.

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Parece que esse especialista, diferentemente dos demais, tanto do saber, quanto do fazer, “fica

indiferente” sobre a perpetuação da tradição do Bolo de Noiva de pernambucano. A sua postura

sugere, “muito mais uma visão comercial, de modernidade e apoio ao gosto de suas clientes”.

Da sua parte, “a tradição desse bolo fica ao cargo das mães das noivas” que valorizam a cultura

do seu povo. A afirmação do especialista sobre a valorização da cultura por parte das mães das

noivas requer atenção e vem constatar o que afirma Bosi (1996), ao referir-se que antes de tudo

é necessário que exista uma consciência coletiva, para que no futuro todas as pessoas que fazem

parte da comunidade possam elaborar planos e que a cultura pode ter um significado equivalente

a educar, ou seja, tudo aquilo que os povos ensinam aos seus sucessores, para que eles possam

assegurar a sua sobrevivência.

Apesar dessa visão desse especialista, mesmo assim ele reconhece o futuro do Bolo de Noiva

pernambucano e ainda se refere a ele como o “nosso bolo pernambucano”; isto indica que,

“apesar de emitir um discurso que levanta certa dúvida sobre a sua adesão a esse bolo, como

identidade cultural, deste estado, pensa-se que há, realmente, os valores dessa tradição, em seu

conhecimento que, talvez, esteja sendo revisto, em função das suas estratégias empresariais”.

Finalmente, parece, no entanto, que ele não tem informação sobre a confecção e divulgação

desse mesmo bolo, em outros estados do Brasil:

“Ele está no mercado há mais de vinte anos, começou com um bolo inglês”,

que era um bolo branco, aí acrescentou com algumas passas, cacau, vinho,

frutas e taí hoje no mercado, “casamento sempre vai ter bolo de noiva, nunca

vai faltar”, só “em outros estados que realmente não conhecem nosso bolo

pernambucano”, que colocam a massa branca ou redvelt (veludo vermelho).

Observa-se que o especialista tem conhecimento sobre a origem do Bolo de Noiva ao concordar

sobre a influência inglesa, porém não tem ideia que se trata de um bolo do século XIX, conforme

afirma Cavalcanti (2009).

De sua parte, Vitor Pereira não vê problema na utilização das novas técnicas, como a pasta

americana, por exemplo e até faz suas próprias receitas. Essa sua opção “leva a refletir, ainda,

sobre aquilo que é novo, que não tem fundamento em tradição ou cultura de um povo”. A sua

opinião tem “importância para um grupo que, aos poucos, vai apreciando a mudança, aliás, um

termo bem presente entre gestores da atualidade: foco nas tendências do mercado”; segundo

ele:

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A maioria das pastas americanas que estão no mercado ficam emborrachadas

e tem gosto de chiclete. Eu faço a minha própria receita, eu não compro ela

pronta, aí eu começo a alisar minha própria pasta aqui e faço as rendas

também. Daí eu passo uma ganache para poder nivelar o bolo, cobrir todas as

imperfeições, depois é coberto com a pasta, aí vou decorando conforme a

noiva, com renda, sem renda. Também em alguns bolos eu uso o glacé real, é

um açúcar mais mole, feito com clara de ovos, limão e açúcar de confeiteiro,

é mais usado para casamentos rústicos, geralmente faz bolo Naked Cake (que

é bolo “pelado”) aí passa uma camada bem fina dele.

Vitor Farias também reconhece que o Bolo de Noiva nasceu em Pernambuco, é sim símbolo de

identidade da cultura pernambucana e não vai desaparecer nunca; assim o Cake Designer

declara, embora “continue mostrando a sua tendência para a flexibilização dessa tradição”:

“Outros lugares não conhecem ainda”, infelizmente, estão conhecendo aos

poucos, como eu disse agora há pouco outras pessoas estão levando para

outros estados, para as pessoas conhecerem mais, noivas, sobrinhas, eu fiz um

para um casamento ano passado foi para Noronha, foi até de avião ele, foi de

quatro andares, sendo, “dois andares de Bolo de Noiva e dois andares de massa

branca”... mas ele é sim, símbolo da cultura pernambucana.

As afirmações do especialista nos levam a refletir sobre o que é validado por Oliveira (2011)

ao ratificar que o símbolo é algo cujo valor ou significado é atribuído pelas pessoas que o

utilizam e que então, o símbolo passa a representar riqueza, prestígio ou posição social elevada,

tudo vai depender da sociedade que lhe dá representatividade.

4.2.4 Silvaneide Alves

A quarta convidada às entrevistas foi Silvaneide Alves; está no mercado há vinte anos e sua

relação com bolos começou com o casamento do seu irmão. Envolvida com os preparativos da

cerimônia, preparou todas as iguarias da festa, o que agradou bastante aos convidados. Logo, a

boleira abandonou o seu trabalho na área de vendas de produtos veterinários, para se dedicar

exclusivamente aos bolos.

Está presente nas redes sociais (cf. imagens 30 e 31). No Facebook (c.f. imagem 30) a

especialista conta com mais de 9.000 curtidas. Ela o utiliza sobretudo para a promoção e

divulgação dos seus cursos de confeitaria.

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Imagem 30 – Facebook Silvaneide Alves Bolos Artísticos

Fonte: Facebook Silvaneide Alves Bolos Artísticos30

Imagem 31 – Instagram Silvaneide Alves Designer de Bolos

Fonte: Instagram Silvaneide Alves Designer de Bolos31

30 Disponível em: https://www.facebook.com/Silvaneide-Alves-Bolos-Art%C3%ADsticos-

439166499484469/?fref=ts. Aceso em 03 mar. 2017. 31 Disponível em: https://www.instagram.com/silvaneidealvesdesignerdebolos/. Acesso em 03 mar. 2017.

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Na rede social Instagram (c.f. imagem 31), a boleira conta com mais de 8.000 seguidores, o que

demostra também o interesse pela mesma. Em ambas as redes sociais, a entrevistada optou por

utilizar uma imagem sua do tipo caricatura, talvez como forma de aproximação do público

jovem.

A especialista reconhece a importância do bolo de casamento, a sua simbologia e tradição -

cultura:

“Sem bolo não há casamento! ” O bolo “simboliza prosperidade,

compartilhamento, felicidade, tradição”. Os convidados esperam a hora do

bolo e o “comer do bolo, junto com os noivos... é a forma do novo casal

compartilhar a felicidade que estão vivendo”.

O “comer do bolo junto com os noivos” expressa comensalidade, assim como é confirmado por

Moreira (2010), ao afirmar que a sociabilidade manifesta-se na comida compartilhada.

O testemunho de Silvaneide Alves, a seguir, sugere que “embora ela concorde com a tradição

do Bolo de Noiva pernambucano, não lhe parece fiel”, pois adapta a sua receita, quando

necessário, em busca de satisfazer os seus clientes:

“O Bolo de Noiva pernambucano é o meu carro-chefe. As noivas o procuram

pela tradição que ele representa”...é um bolo forte no sabor. “Às vezes preciso

fazer uma parte só de ameixa, sem as frutas, para agradar geralmente ao noivo”

que não gosta..., mas a maior parte é do tradicional, com frutas e vinho.

Referindo-se ao futuro do Bolo de Noiva pernambucano, Silvaneide Alves também acredita

que ele vai perdurar. Por meio também desse depoimento, ela revela a identidade cultural desse

bolo, ao se lhe referir como “o nosso bolo”; isso é importante para garantir a tradição e o seu

futuro, uma vez que pessoas como ela estão em contato permanente com a sociedade, seja

presencial ou virtualmente, por meio de redes sociais:

“Não existe o risco de o Bolo de Noiva desaparecer! Até nos casamentos mais

simples ele está presente... observe as famílias... Sempre existe uma tia, uma

avó que sabem fazer esse bolo. Os ingredientes são saborosos, dão charme e

distinção ao nosso bolo... inclusive já ouvi falar em pessoas que estão fazendo

deste bolo na Paraíba”.

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Observa-se a alusão que a especialista faz ao povo ao referir-se aos casamentos mais simples,

o que é validado por Siena e Menezes (2007) ao afirmarem que a tradição é o conhecimento

advindo do saber-fazer de um povo.

Quanto à utilização de novas técnicas, Silvaneide Alves também não vê problema, como assim

declara:

“A modernidade está para ajudar! Eu sou flex... Tanto faz o glacê tradicional

quanto a pasta americana”... Sou tranquila quanto a isso. Depende da escolha

da noiva. A pasta americana dá um melhor acabamento, é verdade... “Também

estão usando bastante bolo de rolo... Eu mesma deixei há algum tempo de

fazer bolo infantil para fazer bolos de casamento de bolo de rolo... A procura

é bem grande”.

Sobre se o Bolo de Noiva de Pernambuco representa uma identidade gastronômica desse estado,

Silvaneide Alves responde afirmativamente, com “entusiasmo e com orgulho por ser

pernambucana”, detentora de uma tradição rara, que lhes confere identidade cultural, em meio

a uma nação; essa é a interpretação que se faz, por meio dos seus depoimentos.

“A tradição de muitos anos, os ingredientes e o sabor forte são características

desse bolo que é nosso. Só quem é pernambucano entende isso”.... Você vai a

São Paulo e os bolos de lá são aguados, os temperos não tem gosto.... “Nós

pernambucanos gostamos de sabores fortes e muito açúcar”.

A afirmação da especialista sobre o pernambucano “gostar de muito açúcar” é atestada por

Freyre (2007), quando o autor afirma que não se pode separar o açúcar da formação da

sociedade brasileira; sem ele não se entende o homem do Nordeste e que a relação de

Pernambuco com o açúcar passou a ser mais do que comercial e sim afetiva.

4.2.5 Conclusão parcial 2

O Quadro 6, a seguir, permite a visualização sobre o que pensa a especialista do fazer

tradicional, sobre o papel do Bolo de Noiva na cena do casamento, como elemento identitário

da cultura pernambucana, de acordo com o segundo objetivo específico, deste trabalho.

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Quadro 6 - Percepção da especialista do fazer tradicional sobre o Bolo de Noiva como elemento cultural

Especialistas do fazer tradicional Percepções

As irmãs Asfora

...bolo de ameixa foi mamãe quem desenvolveu...

...naquela época não existia pasta americana...

...noivas querendo bolo, sem nada, todo liso...

As peças mais importantes em um casamento são a noiva em primeiro

lugar [...] e o bolo da noiva...

...não chama nem bolo dos noivos, é bolo da noiva...

...não pode ter um casamento sem ter bolo da noiva

...foi tomando vulto, sobretudo na época do açúcar.

...não pode faltar no casamento de uma família pernambucana.

A tradição é tão presente...

...fizemos agora há pouco um bolo para o Rio de Janeiro, família

pernambucana...

As famílias pernambucanas aqui e fora do Estado têm bastante peso

nessa tradição...

...tem gente que já conhecia a gente, mas tudo por intermédio de

pernambucanos...

...o nosso interesse é fazer o bolo, e confeitar e decorar...

...para abrir uma pasta americana abre no rolo e joga em cima do bolo

e acabou-se...

...você trabalha com pasta? [...] detestam aquela pasta...

...estão confeitando o bolo de rolo, tem gente que faz ele redondo, é

horroroso...

...bolo de rolo não combina com confeitaria...

...não é bolo para casamentos...

Ele não é solicitado só para noivas não, ele é solicitado para grandes

eventos...

...Bolo de Noiva, que é o bolo marca de grandes momentos...

...tem noivas que as vezes chegam aqui [...] não gosto de frutas [...] a

gente faz dois de frutas embaixo para os convidados, o de cima para

elas.

Fonte: Dados da pesquisa, 2016-2017.

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Os Quadros 7 e 8, logo abaixo, apresentam o pensamento dos especialistas do fazer

contemporâneos, a respeito do papel do Bolo de Noiva na cena do casamento, como elemento

identitário da cultura pernambucana, ainda de acordo com o segundo objetivo específico, deste

trabalho.

Quadro 7 - Percepção dos especialistas do fazer contemporâneos Cassia Pereira e Vitor Farias sobre o Bolo de

Noiva como elemento cultural

Especialistas do fazer contemporâneo Percepções

Cassia Pereira

...só fazendo bolo de frutas...

Depois da noiva sempre vem o bolo, então imagina uma festa

sem bolo?

...a cerimonia é um grande evento, mas tem que ter o bolo, não

pode faltar.

...essa tradição é bem antiga, ela vem dos portugueses...

...uma tradição que já está assim bem dentro da cultura

pernambucana...

...o pessoal vai acrescentando outros ingredientes...

... nem fala mais bolo de frutas, já fala bolo de noiva...

Ele é oferecido justamente em ocasiões especiais como tipo:

casamento, batizado, algo muito importante...

...grande importância na hora da festa, do cortar...

...as pessoas já vão a festa querendo comer o bolo de noiva...

Só saem depois de comer o bolo de noiva.

...mais pessoas estão fazendo [...] não só aqui em Pernambuco

[...] estão fazendo ele em outros estados...

...está sendo bem divulgado esse bolo (se referem ao bolo

pernambucano e não ao bolo de frutas)...

Só tem aqui no Brasil...

...aqui em Pernambuco, ele fixou mais forte até pela nossa

cultura...

Vitor Farias

O bolo de casamento seria a coisa mais importante do

casamento, depois do vestido...

...o Bolo de Noiva de Pernambuco é muito gostoso [...] muitas

noivas, dessa nova geração, não gostam do sabor dele.

...oferece uma degustação para que as noivas o provem e

verdadeiramente apontem o seu preferido.

...muitas noivas que não gostam, preferem chocolate belga...

A mãe geralmente gosta e a noiva não...

Muitas vezes a escolha da mãe pesa, por causa da tradição da

família...

Ele está no mercado há mais de vinte anos, começou com um

bolo inglês...

...casamento sempre vai ter bolo de noiva, nunca vai faltar...

...em outros estados que realmente não conhecem nosso bolo

pernambucano...

pastas americanas que estão no mercado ficam emborrachadas

e tem gosto de chiclete. Eu faço a minha própria receita...

Outros lugares não conhecem ainda...

...dois andares de Bolo de Noiva e dois andares de massa

branca.

Fonte: Dados da pesquisa, 2016-2017.

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Quadro 8 - Percepção da especialista do fazer contemporâneo sobre o Bolo de Noiva como elemento cultural

Especialista do fazer contemporâneo Percepções

Sem bolo não há casamento!

...simboliza prosperidade, compartilhamento, felicidade,

tradição.

...comer do bolo, junto com os noivos...

...é a forma do novo casal compartilhar a felicidade que estão

vivendo.

O Bolo de Noiva pernambucano é o meu carro-chefe...

As noivas o procuram pela tradição que ele representa...

Às vezes preciso fazer uma parte só de ameixa, sem as frutas,

para agradar geralmente ao noivo...

Não existe o risco de o Bolo de Noiva desaparecer!

Até nos casamentos mais simples ele está presente...

Observe as famílias... Sempre existe uma tia, uma avó que

sabem fazer esse bolo...

Os ingredientes são saborosos, dão charme e distinção ao nosso

bolo...

...Inclusive já ouvi falar em pessoas que estão fazendo deste

bolo na Paraíba.

Silvaneide Alves A modernidade está para ajudar!

Eu sou flex...

Tanto faz o glacê tradicional quanto a pasta americana...

Também estão usando bastante bolo de rolo...

Eu mesma deixei há algum tempo de fazer bolo infantil para

fazer bolos de casamento de bolo de rolo...

A procura é bem grande,

A tradição de muitos anos, os ingredientes e o sabor forte são

características desse bolo que é nosso.

Só quem é pernambucano entende isso...

Nós pernambucanos gostamos de sabores fortes e muito açúcar.

Fonte: Dados da pesquisa, 2016-2017.

Logo, ao final da investigação, chega-se à resposta do objetivo específico proposto. Na

percepção de especialistas do fazer, o Bolo de Noiva de Pernambuco assume papel importante

na cena do casamento e em ocasiões especiais e é elemento identitário da cultura pernambucana.

Observa-se que os profissionais são unânimes ao destacar a importância do bolo no casamento.

É uma tradição arraigada na sociedade e o negócio desses profissionais. Quanto mais a tradição

for mantida, melhor a projeção dos negócios.

No discurso dos especialistas constata-se a repetição da palavra tradição. Todos entendem o

que é tradição e o que o Bolo de Noiva representa. Há divergências entre o que aponta a

literatura e os especialistas do saber em relação a origem do Bolo de Noiva Pernambucano, e o

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que os especialistas do fazer entendem e sobretudo divulgam as clientes no que tange a história

do Bolo de Noiva.

Nota-se a importância que os especialistas atribuem a perpetuação do Bolo de Noiva de

Pernambuco. Inclusive observa-se no discurso da Eliane Asfora a importância da sua marca, do

nome da sua mãe, Leonie Asfora. Também verifica-se um certo enigma, uma preocupação em

manter em segredo a sua receita. Para todos é importante que o Bolo continue a ser pensado

como tradição e que garanta novos negócios.

Constata-se que a Eliane Asfora é tradicional. Por mais que a mesma diga que aceita a

modernidade, não concorda com novas técnicas. Os demais especialistas, numa visão bem

abrangente do mercado, estão seguindo as novas tendências inclusive, pode-se dizer, como

forma de se manter no mercado.

4.3 O Bolo de Noiva como elemento cultural: a percepção das noivas

Para responder o objetivo específico exposto acima, optou-se pela triangulação dos dados entre

os sujeitos dessa pesquisa.

De acordo com Decrop (2004), a triangulação significa olhar para o mesmo fenômeno, ou

questão de pesquisa, a partir de mais de uma fonte de dados. Informações advindas de diferentes

ângulos podem ser usadas para corroborar, elaborar ou iluminar o problema de pesquisa. Limita

os vieses pessoais e metodológicos e aumenta a generalização de um estudo.

A triangulação entre os especialistas do saber, do fazer e as noivas foi realizada conforme a

Figura 1, abaixo:

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Figura 1 - Triangulação entre os especialistas do saber, do fazer e as noivas

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

Foram entrevistadas vinte e cinco noivas em duas Feiras, até a percepção de saturação das

respostas, conforme já exposto na metodologia do presente trabalho.

Houve a preocupação de traçar o perfil das noivas entrevistadas, conforme observa-se no

Quadro 9, o qual foi elaborado levando em consideração a ordem de aproximação da data do

casamento das noivas.

Observa-se nesse Quadro, que a maioria dos casamentos ocorre nos meses entre setembro e

dezembro, o que sugere uma mudança da tradição, antes seguida: preferência pelo mês de maio,

considerado mês mariano.

A idade das noivas varia entre 19 a 35 anos, o que demostra que o casamento ainda é uma

realidade preterida pelas mulheres, independentemente da sua idade.

Chama atenção os bairros / cidades das entrevistadas: grande parte habita em bairros

considerados nobres, como Espinheiro e Boa Viagem.

Os locais das cerimônias e das festas também indicam a condição social das entrevistadas.

Quanto às igrejas, observa-se que a Matriz do Espinheiro é bem solicitada, assim como as

tradicionais igrejas da Madre de Deus e de Santa Tereza. A realização de uma cerimônia nas

referidas igrejas chega a custar cinco salários mínimos.

Sobre os locais das festas, a Villa Ponte D´Uchoa foi a mais citada. Trata-se de um local

considerado de alto requinte e de grande procura pela sociedade pernambucana.

Observa-se também a tendência de se realizar tanto a cerimônia quanto a festa, no mesmo local,

o que por vezes é bem mais cômodo para os noivos e convidados.

ESPECIALISTAS DO SABER ESPECIALISTAS DO FAZER

NOIVAS

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Quadro 9 – Perfil das noivas entrevistadas

DATA DO CASAMENTO IDADE RESIDÊNCIA ATUAL LOCAL DO CASAMENTO

17/09/2016 27 anos Campo Grande Igreja Madre de Deus

Villa D´Uchoa

24/09/2016 32 anos Cordeiro / Recife Akrópolis Recepções

(Cerimônia e festa juntas)

03/10/2016 33 anos Bairro Novo / Olinda Igreja do Carmo

Di Branco Recepções

14/10/2016 30 anos Imbiribeira / Recife D´Hartes Recepções & Eventos

(Cerimônia e festa juntas)

10/11/2016 25 anos Jardim Atlântico / Olinda Geovana Recepções

(Cerimônia e festa juntas)

11/12/2016 25 anos Boa Vista / Recife Aldeia - Chácara da família

(Cerimônia e festa juntas)

15/12/2016 26 anos Imbiribeira / Recife La Cuisine

(Cerimônia e festa juntas)

03/12/2016 32 anos Boa Viagem / Recife Igreja do Carmo

Di Branco Recepções

07/01/2017 33 anos Madalena / Recife Igreja de Santa Tereza

Villa D´Uchoa

07/01/2017 30 anos Caxangá / Recife Igreja Madre de Deus

Di Branco Recepções

14/01/2017 35 anos Espinheiro / Recife Matriz do Espinheiro

Villa D´Uchoa

18/03/2017

21 anos Ibura / Recife Dona Cora Recepções

(Cerimônia e festa juntas)

10/08/2017 28 anos Arruda / Recife Matriz do Espinheiro

Lisianthus Recepções

26/08/2017 27 anos Casa Caiada / Olinda Dayse Nogueira Recepções

Cerimônia e festa juntas)

02/09/2017 26 anos San Martin / Recife Indefinido

Indefinido

10/09/2017 31 anos Jardim Atlântico/ Olinda Andréa Guerra Recepções

(Cerimônia e festa juntas)

07/10/2017 30 anos Casa Amarela / Recife Matriz do Espinheiro

Villa D´Uchoa

08/10/2017 27 anos Madalena / Recife Igreja Presbiteriana do

Espinheiro

Porto Fino Recepções

04/11/2017 26 anos Casa Amarela / Recife Matriz do Espinheiro

Indefinido

12/11/2017 28 anos Piedade / Jaboatão dos

Guararapes.

Igreja de Nossa Senhora da

Piedade.

Cerimonialle Recepções

03/12/2017 21 anos Boa Viagem / Recife Igreja Nossa Senhora de Fátima

Gruta Azul Recepções

16/12/2017 33anos Madalena / Recife Igreja de Santa Tereza

Villa D´Uchoa

29/12/2017 26 anos Ilha de Itamaracá/PE Igreja de Itapissuma

Iate Clube Itamaracá

2017 (a definir) 28 anos Arruda / Recife Praia de Porto de Galinhas- casa

da família

(Cerimônia e festa juntas)

2018 (a definir) 19 anos Paulista / PE Igreja Matriz de Paulista

Armazém 10

Fonte: Dados da pesquisa, 2016-2017.

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Para a apresentação da transcrição das entrevistas realizadas, optou-se por nove, dentre todas,

por apresentarem mais conteúdo sobre as questões postas e, ainda, em virtude das demais

repetirem as percepções sobre os mesmos assuntos; elas podem ser encontradas, na íntegra, no

Apêndice D.

Com o objetivo de preservar a identidade das noivas, as mesmas estão aqui denominadas pelo

número da ordem da entrevista, ou seja, Noiva 1 a Noiva 9.

4.3.1 Significado do bolo de casamento

A seguir, estão relacionadas as percepções das noivas entrevistadas:

Não existe casamento sem bolo de noiva, é de fundamental importância e foi um dos primeiros itens nos

quais pensei! O outro foi o vestido (Noiva 1);

O bolo de uma forma geral é uma peça importante independentemente do tipo de festa (Noiva 2);

Inclusive em todo casamento existe um lugar de destaque para ele (Noiva 3);

Para mim não tem tanto significado assim. Aliás não sei porque tem tanta importância ter bolo, pois

quando o bolo é servido as pessoas raramente consomem. É mais por ser tradição mesmo (Noiva 4);

O bolo é a união desse momento. Toda família tem a tradicional foto com o bolo (Noiva 5);

Significa mais um momento que iremos celebrar a união na hora da festa (Noiva 6);

Não existe casamento sem o bolo! Até no casamento mais simples, ele está lá. É o encantamento da

festa (Noiva 7);

Todo casamento tem! Você já foi a algum casamento que não tenha bolo? Os convidados inclusive

esperam a hora do bolo (Noiva 8);

O bolo é muito importante em um casamento. Inclusive as pessoas perguntam quem fez o teu bolo. Isso

é bem importante para mim (Noiva 9).

Diante dessas declarações sobre o significado do bolo de casamento, pode-se atentar que, para

a maioria das entrevistadas (5) ele é considerado “importante e imprescindível,

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independentemente da religião e da classe social”. Duas delas, ainda, se referiram à sua tradição

e à união que ele representa para os noivos; uma dessas transmite a informação de que no seu

casamento só vai ter bolo, por uma questão de tradição, ou quem sabe, moda mesmo, pois não

o acha importante e que, normalmente, na sua opinião, as pessoas nem o consomem.

Por outro lado, “todas elas reconheceram que o bolo de casamento é uma representação

cultural”; isto aqui traduzido, por meio dos seus elementos (c.f. Quadro 10):

Quadro 10 – Elementos culturais do bolo de noiva

Elementos culturais Percepções

Símbolo

...foi um dos primeiros itens nos quais pensei! (Noiva 1).

...é uma peça importante (Noiva 2).

...existe um lugar de destaque para ele (Noiva 3).

Toda família tem a tradicional foto com o bolo (Noiva 5).

...no casamento mais simples, ele está lá (Noiva 7).

Todo casamento tem! (Noiva 8).

O bolo é muito importante em um casamento (Noiva 9).

Valor

...é de fundamental importância (Noiva 1).

...é uma peça importante (Noiva 2).

Não existe casamento sem o bolo! (Noiva 7).

...é bem importante para mim (Noiva 9).

Hábitos e costumes

Não existe casamento sem bolo de noiva (Noiva 1).

É mais por ser tradição mesmo (Noiva 4).

Não existe casamento sem o bolo! (Noiva 7).

Todo casamento tem! (Noiva 8).

Ritos e rituais

...existe um lugar de destaque para ele (Noiva 3).

...tradicional foto com o bolo (Noiva 5).

...celebrar a união na hora da festa (Noiva 6).

Os convidados inclusive esperam a hora do bolo (Noiva 8).

Sinal É o encantamento da festa (Noiva 7).

...as pessoas perguntam quem fez o teu bolo (Noiva 9).

Crença ...celebrar a união na hora da festa (Noiva 6).

Fonte: Dados da pesquisa, 2016-2017.

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4.3.2 A escolha do Bolo de Noiva pernambucano

A escolha do Bolo de Noiva pernambucano se deu, entre as noivas entrevistadas, sobretudo

pela sua tradição reconhecida, neste estado. “A decisão foi tomada ora por elas, ora pelas suas

mães”. A seguir, estão relacionadas as percepções das noivas entrevistadas:

Escolhi o bolo de ameixa com vinho, sem frutas cristalizadas, por dois motivos: primeiro porque sou

pernambucana, este bolo é tradição nossa, não existe em outros estados. Segundo, porque foi o mesmo

tipo do casamento dos meus pais e será elaborado pelas filhas da boleira que fez o bolo deles, incluindo

o mesmo formato e tamanho do bolo dos meus pais (Noiva 1- relato com emoção).

O escolhi porque é tão tradição que nem parei para pensar em outro tipo de bolo (Noiva 2).

O Bolo de Noiva é o mais comum e me agrada muito o visual encantador. Os convidados esperam ter

este bolo e também foi o mesmo servido no casamento dos meus pais (Noiva 3).

É o mais tradicionalmente escolhido, usado (Noiva 4).

Acho que por ser o mais normalmente utilizado. Minha mãe foi quem me ajudou a escolher (Noiva 5).

Simplesmente porque eu amoooooooooooooo! E minha mãe adora também (Noiva 6).

Eu gosto. Também representa a festa tradicional, já vêm da minha família. Minha avó e minha mãe

também não deixariam eu me casar sem ter esse bolo (Noiva 7 – relato com riso).

Porque é chique! O nome não é Bolo de Noiva? Para mim todo bolo de noiva tem de ser de ameixa e

frutas cristalizadas. Os outros que fazem não é bolo para ser usado em casamento (Noiva 8).

Meu bolo não será totalmente de noiva. Vou fazer um andar tradicional para servir aos convidados e

outro de bolo de rolo que eu gosto mais. Minha mãe é quem quer o andar tradicional pois diz que os

convidados irão falar se não tiver (Noiva 9).

Diante dessas declarações das noivas entrevistadas, sobre o motivo da escolha do Bolo de Noiva

pernambucano, para o seu casamento, desperta-se, mais uma vez, para a “relação com a

cultura”, sobretudo, aquela local; sobre isso a Noiva 1 se emocionou ao se referir a sua

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naturalidade: “Sou pernambucana”! Esta declaração revela o quanto ela se identifica com a sua

origem – tradição e com o Bolo de Noiva que lhe representa, também ao seu povo.

Outras seis noivas também se referiram à tradição (2, 3, 4, 5, 7 e 9). A Noiva 7, inclusive,

relatou a “condição indispensável de casar com esse Bolo”, pois assim tem acontecido com a

sua família; uma exigência da sua avó e também da sua mãe. Semelhantemente, a Noiva 9, alegou que

a sua mãe determinou que o seu bolo de casamento vai ter, pelo menos, um andar tradicional, para evitar

os comentários dos convidados.

As Noivas 3 e 8 se referiram à elegância que tem o Bolo de Noiva pernambucano: a primeira o

considera “encantador” e, a segunda, chamou-o de “chique!”. Finalmente, as Noivas 6 e 7 fizeram

alusão ao seu sabor.

4.3.3 A indicação do Bolo de Noiva

A fim de verificar se as noivas entrevistadas recomendariam o Bolo de Noiva pernambucano

às futuras noivas, pode-se constatar, por meio dos relatos, a seguir que a resposta é favorável,

quase que por unanimidade.

Com toda certeza, sem sombra de dúvidas. Casamento em Pernambuco tem que ter bolo de noiva de

frutas, ameixa e vinho (Noiva 1).

Sim, pois além de ser tradicional o sabor me agrada (Noiva 2).

Todos esperam o bolo tradicional no casamento. Tem de ter (Noiva 3).

Sim, mas a escolha final deve ser da noiva, pois às vezes a noiva não gosta do sabor (Noiva 4).

Indico sim, por ser mais comum de achar aqui e até mais fácil de fazer. Mas pode ser em forma de Naked

Cake. Acho que ficaria lindo! (Noiva 5).

Sim, pois eu amo bolo de noiva! O sabor é maravilhoso. Já estou influenciando as minhas amigas que

vão casar a escolherem também (risos) (Noiva 6 – relato com riso).

Claro! Mas a noiva tem de gostar do bolo. A noiva deve gostar do bolo (Noiva 7).

Sim! Sempre! Levanto a bandeira desse bolo (Noiva 8).

Eu não indico, mas se tiver uma mãe como a minha, com certeza irão escolher (Noiva 9).

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Por meio desses relatos, constata-se, mais uma vez, a “força da cultura que envolve a tradição

do Bolo de Noiva pernambucano”. Questionadas essas noivas sobre se indicariam esse bolo

para outras, três dentre elas (Noivas 1, 2 e 3) responderam afirmativamente, ainda, com

entusiasmo. A primeira referiu-se a este estado, alegando que “casamento em Pernambuco tem

que ter Bolo de Noiva de frutas, ameixa e vinho”; a segunda, indica o bolo, não somente pela sua

tradição, mas também pelo seu sabor; enfim a terceira, justifica-se em função de que os

convidados já “esperam o bolo tradicional no casamento”.

Outro motivo que as leva a indicar esse bolo para outras noivas, trata-se do seu sabor: para a Noiva

2, ele lhe “agrada”; para a 6, “é maravilhoso”. Sabe-se que o paladar e o gosto por uma determinada

comida estão associados à cultura de uma localidade; sendo assim, mais uma vez, parece que o Bolo de

Noiva pernambucano está imbuído de cultura e, portanto, deve ser mais divulgado, pois de um

lado, vai reforçar a tradição deste estado; por outro, estimular a sua economia, pela

oportunidade do desenvolvimento dos negócios já existentes e de outros que venham a surgir.

4.3.4 O Bolo de Noiva como elemento identitário da cultura pernambucana

De acordo com o objetivo geral do trabalho, foi questionado: Em sua opinião, o Bolo de Noiva

representa uma identidade cultural do Estado de Pernambuco? A seguir, estão relacionadas as

percepções das noivas entrevistadas:

Noiva 1: “Sim. Inclusive já está sendo levado para casamentos em outros estados por influência de

familiares pernambucanos”.

Para a Noiva 2: “Do estado não, para mim representa uma identidade do evento "casamento".

A Noiva 3 também não considera o Bolo de Noiva como uma identidade gastronômica de

Pernambuco. “Não acho. O bolo de Rolo é mais”

A Noiva 4 também não considera e é taxativa, sem maiores explicações: “Não”.

A Noiva 5 responde: “Não. Pensei que fosse de São Paulo, Rio”.

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A Noiva 6 questiona: “Não sabia que era uma identidade do estado de Pernambuco. É? ”.

Nas palavras da noiva 7: “Sim! Em todos os casamentos que eu vou tem esse bolo. Deve ser

importante, não é mesmo? ”.

A Noiva 8 exclama: “Claro que é! Está em todos os casamentos”.

Já a Noiva 9 não concorda: “Não acho. Não tem tanta representação como o bolo de rolo”.

Observou-se que há uma discordância entre as entrevistadas em considerar ou não o Bolo de

Noiva como elemento identitário da cultura pernambucana.

A maioria das noivas não o considera elemento de cultura pernambucana (5). A Noiva 6 chega

a questionar a pergunta. De outro lado, chama a atenção o discurso da Noiva 1 quando amplia

o alcance do Bolo de Noiva, uma vez que, em suas palavras, o mesmo já aparece fora do Estado.

As noivas que concordam que o Bolo de Noiva representa uma identidade cultural de

Pernambuco (3) citam situações importantes como tradição e presença em todos os casamentos.

Já as que não concordam não conseguem observar essa abrangência, como tem, por exemplo,

o também pernambucano Bolo de Rolo, citado pelas Noivas 3 e 9.

4.3.5 Conclusão parcial 3

Constata-se que as noivas consideram o bolo de casamento muito importante. A tradição se faz

presente. Conforme verificado no discurso da maioria, não existe casamento sem o bolo. É um

dos grandes símbolos da festa de casamento. Chama bastante atenção o discurso da Noiva 9,

sobre quem fez o bolo. Na sociedade pernambucana, “a boleira é de grande importância e pode-

se até dizer de status”.

Observa-se o poder da tradição que a Noiva 1 reconhece. Percebe-se que ela se refere às irmãs

Asfora e a sua mãe Leonie Asfora. É um momento de emoção para as Noivas 1 e 3 ao se

referirem aos pais, a ideia de ser o mesmo bolo servido no casamento dos pais exalta a escolha

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pelo Bolo de Noiva de Pernambuco, mais uma vez remetendo à tradição. Nota-se também o

peso da família no discurso das Noivas 6, 7 e 9. Ambas citam a mãe e até a avó como decisivas

para a escolha.

Chama bastante atenção o fato das entrevistadas “se referirem ao bolo feito em Pernambuco

como Bolo de Noiva”. Percebe-se tal fato no discurso da noiva 8. É como se os demais bolos,

de outros sabores, não pudessem ser chamados de Bolo de Noiva.

A maioria das entrevistadas indica o Bolo de Noiva de Pernambuco. Nota-se que apenas uma

das noivas, a Noiva 9 não recomenda, e mesmo assim a mesma faz a ressalva da imposição da

sua mãe na escolha. Percebe-se até certo “bairrismo” no discurso da Noiva 1 ao dizer que

casamento em Pernambuco tem de ter o Bolo de Noiva. Mais uma vez observa-se o peso da

tradição no estado. A Noiva 5 ainda mostra-se mais moderna, “sugerindo uma apresentação

mais arrojada” do Bolo de Noiva (em forma de Naked Cake), tendência que também foi

observada no referencial teórico deste estudo.

Nos discursos da maioria das noivas entrevistadas é que pode-se observar “a falta de

conhecimento” sobre a história do Bolo de Noiva de Pernambuco e quanto tal “conhecimento

está distante do público-alvo da iguaria”.

Para todos entrevistados, especialistas do saber e do fazer há um consenso de que o Bolo de

Noiva de Pernambuco é identidade cultural do Estado. Para a maioria das noivas entrevistadas,

não.

Tal fato talvez possa ser explicado pela falta de conhecimento das mesmas em relação ao

aspecto cultural da iguaria. Tal situação ressalta a importância da família, sobretudo da mãe, na

perpetuação da tradição.

O quadro 11, abaixo, apresenta em resumo o pensamento de noivas em preparação para o

casamento a respeito do papel do Bolo de Noiva na cena do casamento, como elemento

identitário da cultura pernambucana, ainda de acordo com o terceiro objetivo específico, desta

pesquisa.

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Quadro 11 - Percepção de noivas sobre o Bolo de Noiva como elemento cultural

Noivas Percepções

Noiva 1

...não existe casamento sem bolo de noiva.

...foi um dos primeiros itens nos quais pensei!

...sou pernambucana, este bolo é tradição nossa, não existe em outros

estados.

...foi o mesmo tipo do casamento dos meus pais

...será elaborado pelas filhas da boleira que fez o bolo deles

...casamento em Pernambuco tem que ter bolo de noiva de frutas, ameixa e

vinho

...em outros estados por influência de familiares pernambucanos

Noiva 2

...é tão tradição que nem parei para pensar em outro tipo de bolo

...uma peça importante

...além de ser tradicional o sabor me agrada

...representa uma identidade do evento "casamento".

Noiva 3

...em todo casamento existe um lugar de destaque para ele

...os convidados esperam ter este bolo

...todos esperam o bolo tradicional no casamento

...o bolo de Rolo é mais (identidade gastronômica do estado)

Noiva 4

...não tem tanto significado assim...

...mais tradicionalmente escolhido, usado...

...a escolha final deve ser da noiva

... às vezes a noiva não gosta do sabor

Não (identidade gastronômica do estado)

Noiva 5

...toda família tem a tradicional foto com o bolo

...minha mãe foi quem me ajudou a escolher

Indico sim

...mais comum de achar aqui e até mais fácil de fazer

...pensei que fosse de São Paulo, Rio

Noiva 6

...celebrar a união na hora da festa

...eu amoooooooooooooo!

...minha mãe adora também

...o sabor é maravilhoso

...influenciando as minhas amigas que vão casar a escolherem também

...não sabia...É?

Noiva 7

...até no casamento mais simples, ele está lá.

...é o encantamento da festa

...representa a festa tradicional

...já vêm da minha família

...minha avó e minha mãe também não deixariam eu me casar sem ter esse

bolo

...em todos os casamentos que eu vou tem esse bolo.

...deve ser importante, não é mesmo?

Noiva 8

...você já foi a algum casamento que não tenha bolo?

...é chique.

...todo bolo de noiva tem de ser de ameixa e frutas cristalizadas

...os outros que fazem não é bolo para ser usado em casamento

...levanto a bandeira desse bolo

...está em todos os casamentos

Noiva 9

...as pessoas perguntam quem fez o teu bolo

...meu bolo não será totalmente de noiva.

...minha mãe é quem quer...

...os convidados irão falar se não tiver

...eu não indico

...não tem tanta representação como o bolo de rolo

Fonte: Dados da pesquisa, 2016-2017.

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5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Este trabalho teve como objetivo geral compreender o papel do bolo de noiva na cena do

casamento enquanto elemento identitário da cultura pernambucana. Para chegar ao objetivo

proposto, três objetivos específicos foram elencados: Investigar sob o ponto de vista de

especialistas do saber o papel do bolo de noiva na cena do casamento enquanto elemento

identitário da cultura pernambucana; Identificar sob a percepção de especialistas do fazer o

papel do bolo de noiva na cena do casamento enquanto elemento identitário da cultura

pernambucana; Conhecer sob a percepção de noivas em preparação para o casamento, o papel

do bolo de noiva na cena do casamento enquanto elemento identitário da cultura pernambucana.

Levando-se em consideração o objetivo da pesquisa, optou-se pela metodologia qualitativa de

caráter descritivo e exploratório, por meio da utilização da técnica Delphi para a reunião de

especialistas, os quais foram denominados ao decorrer do trabalho de “especialistas do saber”

e “especialistas do fazer”, ocorrendo a triangulação dos dados dos especialistas com as noivas

em preparação para o casamento.

Para dar suporte às discussões deste trabalho, discorreu-se sobre três constructos ao longo do

referencial teórico, foram eles: Cultura, Casamento e Gastronomia.

Sobre o primeiro objetivo específico proposto: investigar sob o ponto de vista de especialistas

do saber, o papel do Bolo de Noiva na cena do casamento, como elemento identitário da cultura

pernambucana, observa-se a preocupação dos entrevistados com a perpetuação da tradição, a

importância do aporte teórico e literário, a importância da gestão empresarial na divulgação e

comercialização do Bolo de Noiva. Há consenso entre os especialistas sobre a representação do

Bolo de Noiva enquanto elemento identitário da cultura pernambucana.

Em relação ao segundo objetivo específico deste trabalho: identificar sob a percepção de

especialistas do fazer, o papel do Bolo de Noiva na cena do casamento, como elemento

identitário da cultura pernambucana, percebe-se o orgulho dos especialistas em fazer parte desta

pesquisa. Todos destacaram a importância do bolo no casamento e a projeção positiva para o

negócio dos especialistas na manutenção dessa tradição. É notória a divergência entre o

informado na literatura e a opinião dos especialistas quanto a origem e história do Bolo de

Noiva Pernambucano. Tal fato torna-se preocupante a medida que são esses profissionais que

dialogam com as noivas, consumidoras diretas do Bolo de Noiva. Verifica-se também uma certa

preocupação em manter em segredo a receita de cada profissional. Nota-se que os especialistas

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contemporâneos, numa visão mais ampla de mercado, seguem as novas tendências inclusive,

pode-se afirmar, como forma de se manter em destaque perante a concorrência. Na percepção

do grupo do saber, o Bolo de Noiva de Pernambuco assume papel importante na cena do

casamento e em ocasiões especiais e é elemento identitário da cultura pernambucana. A

perpetuação da iguaria garantirá novos negócios aos especialistas.

Já em relação ao terceiro e último objetivo: conhecer sob a percepção de noivas em preparação

para o casamento, o papel do Bolo de Noiva na cena do casamento, como elemento identitário

da cultura pernambucana, o resultado gera preocupação na pesquisadora. De acordo com a

análise dos dados, as noivas reconhecem o bolo de casamento como algo de grande importância,

porém não existe o reconhecimento do Bolo de Noiva como elemento identitário da cultura

pernambucana. As noivas desconhecem as raízes do Bolo de Noiva. Também é notório o

conflito de gerações. As noivas que fazem parte dessa nova geração, em grande medida, não

dão valor a tradição e sim a símbolos de status. O discurso das noivas se aproxima bastante da

fala do especialista mais novo (Vitor Farias). A tradição ainda se faz presente sobretudo ao

referirem-se à mães e avós. Atualmente a tradição da família pernambucana ainda é mais forte

do que o gostar ou não do bolo. Para a sociedade pernambucana, quem faz o bolo é de grande

importância e pode-se até dizer símbolo de status para o casamento.

Tendo em vista os aspectos observados, os resultados sugerem que os especialistas reconhecem

o Bolo de Noiva como identidade gastronômica de Pernambuco, inclusive com o foco na gestão

empresarial, porém as noivas não partilham da mesma percepção. As noivas o reconhecem

como símbolo do casamento e da tradição, porém não na abrangência de identidade

gastronômica do estado. Ressalta-se então a importância da família, sobretudo da mãe, na

perpetuação da tradição. A visão e o entendimento, por parte das consumidoras, sobretudo as

da nova geração, do Bolo de Noiva pernambucano como elemento de distinção e até mesmo de

status pode ser a resposta para a perpetuação desta tradição.

Há o risco de o Bolo de Noiva desaparecer. Faz-se necessário um projeto de salvaguarda desse

bem que ainda é tão importante para uma cadeia produtiva de Pernambuco, reforçando a história

e a tradição, como força de estimulo da economia local, gerando oportunidade do

desenvolvimento dos negócios já existentes e de outros que venham a surgir. A sociedade

pernambucana precisa estar mais consciente desse patrimônio cultural imaterial.

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5.1 Sugestões para futuros estudos

Este estudo não esgota a discussão sobre a temática. Sua finalidade é se tornar o ponto de partida

para novos debates.

Entende-se que futuros trabalhos envolvendo o Bolo de Noiva de Pernambuco devam abranger

outras regiões do Estado de Pernambuco, abrangendo boleiros e noivas dessas áreas.

Para uma maior abrangência e relevância sobre o assunto, aconselha-se também um estudo em

outros estados, com famílias pernambucanas, a fim de saber o alcance da iguaria fora da região.

Outra sugestão é ampliar o estudo, incluindo as casas de festas e buffets nas entrevistas.

Também sugere-se um projeto de salvaguarda desse bem gastronômico.

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APÊNDICES

APÊNDICE A - Roteiro básico da entrevista por pauta com especialistas do saber

1. EM SUA OPINIÃO, QUAL A IMPORTÂNCIA DE UM BOLO DE CASAMENTO?

2. SOBRE A TRADIÇÃO DO BOLO DE NOIVA DE PERNAMBUCO, O QUE VOCÊ

DIZ?

3. EM CASO AFIRMATIVO, QUAL A SUA OPINIÃO SOBRE O FUTURO DA

TRADIÇÃO DESSA IGUARIA?

4. FINALMENTE, EM SUA OPINIÃO, O BOLO DE NOIVA DE PERNAMBUCO

CHEGA A REPRESENTAR UMA IDENTIDADE CULTURAL DO ESTADO?

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APÊNDICE B - Roteiro básico da entrevista por pauta com especialistas do fazer

1. QUESTIONAMENTO ACERCA DO TEMPO QUE ATUA NO MERCADO

2. EM SUA OPINIÃO, QUAL A IMPORTÂNCIA DE UM BOLO DE CASAMENTO?

3. SOBRE A TRADIÇÃO DO BOLO DE NOIVA DE PERNAMBUCO, O QUE VOCÊ

DIZ?

4. EM CASO AFIRMATIVO, QUAL A SUA OPINIÃO SOBRE O FUTURO DA

TRADIÇÃO DESSA IGUARIA?

5. QUESTIONAMENTO SOBRE A UTLIZAÇÃO DE NOVAS TÉCNICAS /

MODERNIDADE / NOVOS ESTILOS.

6. FINALMENTE, EM SUA OPINIÃO, O BOLO DE NOIVA DE PERNAMBUCO

CHEGA A REPRESENTAR UMA IDENTIDADE CULTURAL DO ESTADO?

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APÊNDICE C- Roteiro da Entrevista semiestruturada com noivas em preparação para o

casamento.

ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

1. PARA VOCÊ, O QUE SIGNIFICA O BOLO DE NOIVA EM UMA CERIMÔNIA DE

CASAMENTO? (IMPORTÂNCIA)

2. QUAIS OS MOTIVOS QUE A LEVARAM A ESCOLHER O BOLO DE NOIVA

PERNAMBUCANO (TRADIÇÃO)?

3. VOCÊ RECOMENDARIA O BOLO DE NOIVA PERNAMBUCANO ÀS FUTURAS

NOIVAS? POR QUE?

4. NA SUA OPINIÃO, O BOLO DE NOIVA REPRESENTA UMA IDENTIDADE

CULTURAL DO ESTADO?

5. TEM ALGUMA BOLEIRA PREFERIDA? CASO SIM, QUAL?

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APÊNDICE D - Transcrição das entrevistas semiestruturada com noivas em preparação para

o casamento.

ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

IDADE: 32 anos

BAIRRO / CIDADE DE RESIDÊNCIA ATUAL: Cordeiro / Recife

DATA DO CASAMENTO: 24/09/2016

LOCAL DA CERIMÔNIA: Akrópolis Recepções

LOCAL DA FESTA: Akrópolis Recepções

1) PARA VOCÊ, O QUE SIGNIFICA O BOLO DE NOIVA EM UMA CERIMÔNIA DE

CASAMENTO? (IMPORTÂNCIA)

Para mim, não existe casamento sem bolo de noiva, É de fundamental importância e foi

um dos primeiros itens nos quais pensei. O outro foi o vestido.

2) QUAIS OS MOTIVOS QUE A LEVARAM A ESCOLHER O BOLO DE NOIVA

PERNAMBUCANO (TRADIÇÃO)?

Escolhi o bolo de ameixa com vinho, sem frutas cristalizadas, por 2 motivos: primeiro

porque sou pernambucana, este bolo é tradição nossa, não existe em outros estados.

Segundo, porque foi o mesmo tipo do casamento dos meus pais e foi elaborado pelas

filhas da boleira que fez o bolo deles, incluindo o mesmo formato e tamanho do bolo

dos meus pais.

3) VOCÊ RECOMENDARIA O BOLO DE NOIVA PERNAMBUCANO ÀS FUTURAS

NOIVAS? POR QUE?

Com toda certeza, sem sombra de dúvidas. Casamento em Pernambuco tem que ter bolo

de noiva de frutas, ameixa e vinho.

4) NA SUA OPINIÃO, O BOLO DE NOIVA REPRESENTA UMA IDENTIDADE

CULTURAL DO ESTADO?

Sim. Inclusive já está sendo levado para casamentos em outros estados por influência

de familiares pernambucanos.

5) TEM ALGUMA BOLEIRA PREFERIDA? CASO SIM, QUAL?

Sim. Jane e Eliane Asfora.

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ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

IDADE: 28 anos

BAIRRO / CIDADE DE RESIDÊNCIA ATUAL: Arruda / Recife.

DATA DO CASAMENTO: 10/08/2017

LOCAL DA CERIMÔNIA: Matriz do Espinheiro

LOCAL DA FESTA: Lisianthus Recepções

1) PARA VOCÊ, O QUE SIGNIFICA O BOLO DE NOIVA EM UMA CERIMÔNIA DE

CASAMENTO? (IMPORTÂNCIA)

O bolo de uma forma geral é uma peça importante independentemente do tipo de festa.

2) QUAIS OS MOTIVOS QUE A LEVARAM A ESCOLHER O BOLO DE NOIVA

PERNAMBUCANO (TRADIÇÃO)?

Por que é tão tradição que nem parei para pensar em outro tipo de bolo.

3) VOCÊ RECOMENDARIA O BOLO DE NOIVA PERNAMBUCANO ÀS FUTURAS

NOIVAS? POR QUE?

Sim, pois além de ser tradicional o sabor me agrada”.

6) NA SUA OPINIÃO, O BOLO DE NOIVA REPRESENTA UMA IDENTIDADE

CULTURAL DO ESTADO?

Do estado não, para mim representa uma identidade do evento "casamento".

4) TEM ALGUMA BOLEIRA PREFERIDA? CASO SIM, QUAL?

Sim. Uma prima minha que trabalha fazendo bolo, Michelle.

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ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

IDADE: 27 anos

BAIRRO / CIDADE DE RESIDÊNCIA ATUAL: Madalena / Recife.

DATA DO CASAMENTO: 08/10/2017

LOCAL DA CERIMÔNIA: Igreja Presbiteriana do Espinheiro

LOCAL DA FESTA: Porto Fino Recepções

1) PARA VOCÊ, O QUE SIGNIFICA O BOLO DE NOIVA EM UMA CERIMÔNIA DE

CASAMENTO? (IMPORTÂNCIA)

É o momento que a família dos noivos se reúnem para registrar a comemoração por seus

filhos terem se unido.

2) QUAIS OS MOTIVOS QUE A LEVARAM A ESCOLHER O BOLO DE NOIVA

PERNAMBUCANO (TRADIÇÃO)?

Não tenho motivo específico, acho que por ser o mais normalmente utilizado.

3) VOCÊ RECOMENDARIA O BOLO DE NOIVA PERNAMBUCANO ÀS FUTURAS

NOIVAS? POR QUE?

Sim, para seguir a tradição mesmo.

7) NA SUA OPINIÃO, O BOLO DE NOIVA REPRESENTA UMA IDENTIDADE

CULTURAL DO ESTADO?

Hum...não sei!

4) TEM ALGUMA BOLEIRA PREFERIDA? CASO SIM, QUAL?

Ainda não estou nessa fase, estou apenas escolhendo os modelos, mas já ouvi falar de

muitas boleiras.

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ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

IDADE: 35 anos

BAIRRO / CIDADE DE RESIDÊNCIA ATUAL: Espinheiro/Recife

DATA DO CASAMENTO: 14/01/2017

LOCAL DA CERIMÔNIA: Matriz do Espinheiro

LOCAL DA FESTA: Villa Ponte D´Uchoa

1) PARA VOCÊ, O QUE SIGNIFICA O BOLO DE NOIVA EM UMA CERIMÔNIA DE

CASAMENTO? (IMPORTÂNCIA)

É na hora do bolo que os noivos e as famílias se reúnem para tirar a foto. O bolo é a união

desse momento. Toda família tem a tradicional foto com o bolo.

2) QUAIS OS MOTIVOS QUE A LEVARAM A ESCOLHER O BOLO DE NOIVA

PERNAMBUCANO (TRADIÇÃO)?

Acho que por ser o mais normalmente utilizado. Minha mãe foi quem me ajudou a escolher

3) VOCÊ RECOMENDARIA O BOLO DE NOIVA PERNAMBUCANO ÀS FUTURAS

NOIVAS? POR QUE?

Indico sim, por ser mais comum de achar aqui e até mais fácil de fazer. Mas pode ser em

forma de Naked Cake. Acho que ficaria lindo

8) NA SUA OPINIÃO, O BOLO DE NOIVA REPRESENTA UMA IDENTIDADE

CULTURAL DO ESTADO?

Não. Pensei que fosse de São Paulo, Rio”.

4) TEM ALGUMA BOLEIRA PREFERIDA? CASO SIM, QUAL?

Eu fechei com Cássia Pereira.

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ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

IDADE: 26 anos

BAIRRO / CIDADE DE RESIDÊNCIA ATUAL: Casa Amarela /PE

DATA DO CASAMENTO: 04/11/2017

LOCAL DA CERIMÔNIA: Matriz do Espinheiro

LOCAL DA FESTA: Ainda não fechei

1) PARA VOCÊ, O QUE SIGNIFICA O BOLO DE NOIVA EM UMA CERIMÔNIA DE

CASAMENTO? (IMPORTÂNCIA)

Acho que todo casamento tradicional pede o bolo de noiva. É um item importante da festa.

2) QUAIS OS MOTIVOS QUE A LEVARAM A ESCOLHER O BOLO DE NOIVA

PERNAMBUCANO (TRADIÇÃO)?

Todo o casamento tem. Me agrada muito o visual.

3) VOCÊ RECOMENDARIA O BOLO DE NOIVA PERNAMBUCANO ÀS FUTURAS

NOIVAS? POR QUE?

Sim. Para seguir a tradição.

9) NA SUA OPINIÃO, O BOLO DE NOIVA REPRESENTA UMA IDENTIDADE

CULTURAL DO ESTADO?

Não. Tem outras comidas que são mais, como o bolo de rolo.

4) TEM ALGUMA BOLEIRA PREFERIDA? CASO SIM, QUAL?

Já ouvi falar muito bem de Vitor Farias. Vou lá no espaço dele conhecer.

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ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

IDADE: 26 anos

BAIRRO / CIDADE DE RESIDÊNCIA ATUAL: San Martin / Recife.

DATA DO CASAMENTO: 02/09/2017

LOCAL DA CERIMÔNIA: a definir

LOCAL DA FESTA: a definir

1) PARA VOCÊ, O QUE SIGNIFICA O BOLO DE NOIVA EM UMA CERIMÔNIA DE

CASAMENTO? (IMPORTÂNCIA)

Tem de ter. é chique.

2) QUAIS OS MOTIVOS QUE A LEVARAM A ESCOLHER O BOLO DE NOIVA

PERNAMBUCANO (TRADIÇÃO)?

Minha mãe adora esse bolo. Eu não gosto muito, mas já sei que tem gente que faz misturado,

andares com sabores diferentes.

3) VOCÊ RECOMENDARIA O BOLO DE NOIVA PERNAMBUCANO ÀS FUTURAS

NOIVAS? POR QUE?

Sim, é tradição.

1) NA SUA OPINIÃO, O BOLO DE NOIVA REPRESENTA UMA IDENTIDADE

CULTURAL DO ESTADO?

Acho que sim

4) TEM ALGUMA BOLEIRA PREFERIDA? CASO SIM, QUAL?

Silvaneide Alves. Ela fez o bolo da minha prima e estava uma delícia.

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ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

IDADE: 30 anos

BAIRRO / CIDADE DE RESIDÊNCIA ATUAL: Imbiribeira / Recife.

DATA DO CASAMENTO: 14/10/2016

LOCAL DA CERIMÔNIA: D´Hartes Recepções & Eventos

LOCAL DA FESTA: D´Hartes Recepções & Eventos

1) PARA VOCÊ, O QUE SIGNIFICA O BOLO DE NOIVA EM UMA CERIMÔNIA DE

CASAMENTO? (IMPORTÂNCIA)

É a coisa mais importante da festa, inclusive em todo casamento existe um lugar de destaque

para ele

2) QUAIS OS MOTIVOS QUE A LEVARAM A ESCOLHER O BOLO DE NOIVA

PERNAMBUCANO (TRADIÇÃO)?

O Bolo de Noiva é o mais comum e me agrada muito o visual encantador. Os convidados

esperam ter este bolo e também foi o mesmo servido no casamento dos meus pais".

3) VOCÊ RECOMENDARIA O BOLO DE NOIVA PERNAMBUCANO ÀS FUTURAS

NOIVAS? POR QUE?

Sim. A tradição em cima desse bolo é grande. Todos esperam o bolo tradicional no

casamento. Tem de ter”.

4) NA SUA OPINIÃO, O BOLO DE NOIVA REPRESENTA UMA IDENTIDADE

CULTURAL DO ESTADO?

Não acho. O bolo de Rolo é mais

5) TEM ALGUMA BOLEIRA PREFERIDA? CASO SIM, QUAL?

Sim, Cássia Pereira fará o meu bolo. Já fechei.

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ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

IDADE: 19 anos

BAIRRO / CIDADE DE RESIDÊNCIA ATUAL: Paulista /PE

DATA DO CASAMENTO: 2018 (a definir)

LOCAL DA CERIMÔNIA: Igreja Matriz de Paulista

LOCAL DA FESTA: Armazém 10

1) PARA VOCÊ, O QUE SIGNIFICA O BOLO DE NOIVA EM UMA CERIMÔNIA DE

CASAMENTO? (IMPORTÂNCIA)

Para mim não tem tanto significado assim. Aliás não sei porque tem tanta importância ter

bolo, pois quando o bolo é servido as pessoas raramente consomem. É mais por ser tradição

mesmo.

2) QUAIS OS MOTIVOS QUE A LEVARAM A ESCOLHER O BOLO DE NOIVA

PERNAMBUCANO (TRADIÇÃO)?

É o mais tradicionalmente escolhido, usado.

3) VOCÊ RECOMENDARIA O BOLO DE NOIVA PERNAMBUCANO ÀS FUTURAS

NOIVAS? POR QUE?

Sim, mas a escolha final deve ser da noiva, pois às vezes a noiva não gosta do sabor.

4) NA SUA OPINIÃO, O BOLO DE NOIVA REPRESENTA UMA IDENTIDADE

CULTURAL DO ESTADO?

Não.

5) TEM ALGUMA BOLEIRA PREFERIDA? CASO SIM, QUAL?

Sim, Vitor Farias.

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ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

IDADE: 25 anos

BAIRRO / CIDADE DE RESIDÊNCIA ATUAL: Jardim Atlântico / Olinda

DATA DO CASAMENTO: 10/11/2016

LOCAL DA CERIMÔNIA: Geovana Recepções

LOCAL DA FESTA: Geovana recepções

1) PARA VOCÊ, O QUE SIGNIFICA O BOLO DE NOIVA EM UMA CERIMÔNIA DE

CASAMENTO? (IMPORTÂNCIA)

Quero um casamento rústico. Mas tem de ter bolo sim! É importante, claro, todo querem

ver.

2) QUAIS OS MOTIVOS QUE A LEVARAM A ESCOLHER O BOLO DE NOIVA

PERNAMBUCANO (TRADIÇÃO)?

Meu bolo não será totalmente de noiva. Quero um pedaço de bolo de rolo. Acho que tem

de ter o de noiva também.

3) VOCÊ RECOMENDARIA O BOLO DE NOIVA PERNAMBUCANO ÀS FUTURAS

NOIVAS? POR QUE?

Sim, claro. Mas não totalmente ele. Acho importante ter outros sabores.

4) NA SUA OPINIÃO, O BOLO DE NOIVA REPRESENTA UMA IDENTIDADE

CULTURAL DO ESTADO?

Acho que identidade não. Mas é importante.

5) TEM ALGUMA BOLEIRA PREFERIDA? CASO SIM, QUAL?

Sim, Vitor Farias. Já falei com ele.

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ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

IDADE: 25 anos

BAIRRO / CIDADE DE RESIDÊNCIA ATUAL: Boa Vista / PE

DATA DO CASAMENTO: 11/12/2016

LOCAL DA CERIMÔNIA: Aldeia (Chácara da família)

LOCAL DA FESTA: Aldeia (Chácara da família)

1) PARA VOCÊ, O QUE SIGNIFICA O BOLO DE NOIVA EM UMA CERIMÔNIA DE

CASAMENTO? (IMPORTÂNCIA)

É importante. Meu casamento será tipo um chá da tarde, mas precisa do bolo, claro. Quero

um bolo de três andares.

2) QUAIS OS MOTIVOS QUE A LEVARAM A ESCOLHER O BOLO DE NOIVA

PERNAMBUCANO (TRADIÇÃO)?

Hum...deixa eu pensar... é bonito, é gostoso. Minha família gosta.

3) VOCÊ RECOMENDARIA O BOLO DE NOIVA PERNAMBUCANO ÀS FUTURAS

NOIVAS? POR QUE?

Sim, por que não? É bonito.

4) NA SUA OPINIÃO, O BOLO DE NOIVA REPRESENTA UMA IDENTIDADE

CULTURAL DO ESTADO?

Sim, tem em todo casamento.

5) TEM ALGUMA BOLEIRA PREFERIDA? CASO SIM, QUAL?

Sim. Minha mãe já encomendou com as irmãs Asfora.

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ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

IDADE: 30 anos

BAIRRO / CIDADE DE RESIDÊNCIA ATUAL: Casa Amarela / Recife

DATA DO CASAMENTO: 07/10/2017

LOCAL DA CERIMÔNIA: Igreja Matriz do Espinheiro

LOCAL DA FESTA: Villa Ponte D´Uchoa

1) PARA VOCÊ, O QUE SIGNIFICA O BOLO DE NOIVA EM UMA CERIMÔNIA DE

CASAMENTO? (IMPORTÂNCIA)

Significa mais um momento que iremos celebrar a união na hora da festa

2) QUAIS OS MOTIVOS QUE A LEVARAM A ESCOLHER O BOLO DE NOIVA

PERNAMBUCANO (TRADIÇÃO)?

Simplesmente porque eu porque eu amoooooooooooooo! E minha mãe adora também”.

3) VOCÊ RECOMENDARIA O BOLO DE NOIVA PERNAMBUCANO ÀS FUTURAS

NOIVAS? POR QUE?

“Sim, pois eu amo bolo de noiva! O sabor é maravilhoso. Já estou influenciando as minhas

amigas que vão casar a escolherem também (risos)

4) NA SUA OPINIÃO, O BOLO DE NOIVA REPRESENTA UMA IDENTIDADE

CULTURAL DO ESTADO?

Não sabia que era uma identidade do estado de Pernambuco. É? ”.

5) TEM ALGUMA BOLEIRA PREFERIDA? CASO SIM, QUAL?

As Asfora, claro... você conhece?

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ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

IDADE: 28 anos

BAIRRO / CIDADE DE RESIDÊNCIA ATUAL: Arruda /PE

DATA DO CASAMENTO: 2017 (a definir)

LOCAL DA CERIMÔNIA: Praia de Porto de Galinhas (casa da família)

LOCAL DA FESTA: Praia de Porto de Galinhas (casa da família)

1) PARA VOCÊ, O QUE SIGNIFICA O BOLO DE NOIVA EM UMA CERIMÔNIA DE

CASAMENTO? (IMPORTÂNCIA)

Sou bem moderna, mas acho que o bolo é necessário em todo o casamento. Significa um

momento especial.

2) QUAIS OS MOTIVOS QUE A LEVARAM A ESCOLHER O BOLO DE NOIVA

PERNAMBUCANO (TRADIÇÃO)?

Olha, inicialmente nem passou pela minha cabeça, prefiro o bolo de rolo. Mas vou colocar

um andar com o bolo de noiva, pois a minha família gosta.

3) VOCÊ RECOMENDARIA O BOLO DE NOIVA PERNAMBUCANO ÀS FUTURAS

NOIVAS? POR QUE?

Não sei... acho que os noivos devem escolher o que gostam.

4) NA SUA OPINIÃO, O BOLO DE NOIVA REPRESENTA UMA IDENTIDADE

CULTURAL DO ESTADO?

Não, claro que não. Só tem em casamento mesmo.

5) TEM ALGUMA BOLEIRA PREFERIDA? CASO SIM, QUAL?

Sim, Lucinha Cascão.

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ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

IDADE: 26 anos

BAIRRO / CIDADE DE RESIDÊNCIA ATUAL: Imbiribeira /Recife

DATA DO CASAMENTO: 15/12/2016

LOCAL DA CERIMÔNIA: La Cuisine

LOCAL DA FESTA: La Cuisine

1) PARA VOCÊ, O QUE SIGNIFICA O BOLO DE NOIVA EM UMA CERIMÔNIA DE

CASAMENTO? (IMPORTÂNCIA)

Meu casamento vai ser bem íntimo, para os mais chegados. Mas tem de ter o bolo. É

importante. Todos esperam por ele.

2) QUAIS OS MOTIVOS QUE A LEVARAM A ESCOLHER O BOLO DE NOIVA

PERNAMBUCANO (TRADIÇÃO)?

A tradição de encontrar em todos os casamentos. Minha mãe também influenciou.

3) VOCÊ RECOMENDARIA O BOLO DE NOIVA PERNAMBUCANO ÀS FUTURAS

NOIVAS? POR QUE?

Sim, claro. É gostoso.

4) NA SUA OPINIÃO, O BOLO DE NOIVA REPRESENTA UMA IDENTIDADE

CULTURAL DO ESTADO?

Sim, pode ser considerado.

5) TEM ALGUMA BOLEIRA PREFERIDA? CASO SIM, QUAL?

Tenho sim. Cássia Pereira faz bolos divinos.

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ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

IDADE: 33 anos

BAIRRO / CIDADE DE RESIDÊNCIA ATUAL: Madalena / PE

DATA DO CASAMENTO: 07/01/2017

LOCAL DA CERIMÔNIA: Igreja de Santa Tereza

LOCAL DA FESTA: Villa Ponte D´Uchoa

1) PARA VOCÊ, O QUE SIGNIFICA O BOLO DE NOIVA EM UMA CERIMÔNIA DE

CASAMENTO? (IMPORTÂNCIA)

Não existe casamento sem o bolo! Até no casamento mais simples, ele está lá. É o

encantamento da festa.

2) QUAIS OS MOTIVOS QUE A LEVARAM A ESCOLHER O BOLO DE NOIVA

PERNAMBUCANO (TRADIÇÃO)?

Eu gosto. Também representa a festa tradicional, já vêm da minha família. Minha avó e

minha mãe também não deixariam eu me casar sem ter esse bolo (risos) ”.

3) VOCÊ RECOMENDARIA O BOLO DE NOIVA PERNAMBUCANO ÀS FUTURAS

NOIVAS? POR QUE?

Claro! Mas a noiva tem de gostar do bolo. A noiva deve gostar do bolo”

4) NA SUA OPINIÃO, O BOLO DE NOIVA REPRESENTA UMA IDENTIDADE

CULTURAL DO ESTADO?

Sim! Em todos os casamentos que eu vou tem esse bolo. Deve ser importante, não é

mesmo?

5) TEM ALGUMA BOLEIRA PREFERIDA? CASO SIM, QUAL?

Sim. Suely Vieira.

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ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

IDADE: 33 anos

BAIRRO / CIDADE DE RESIDÊNCIA ATUAL: Bairro Novo / Olinda

DATA DO CASAMENTO: 03/10/2016

LOCAL DA CERIMÔNIA: Igreja do Carmo

LOCAL DA FESTA: Di Branco Recepções

1) PARA VOCÊ, O QUE SIGNIFICA O BOLO DE NOIVA EM UMA CERIMÔNIA DE

CASAMENTO? (IMPORTÂNCIA)

É importante. Ao mesmo tempo que é tradicional, é moderno.

2) QUAIS OS MOTIVOS QUE A LEVARAM A ESCOLHER O BOLO DE NOIVA

PERNAMBUCANO (TRADIÇÃO)?

Tem em todo casamento. Minha mãe também influenciou. Mas não quero todo de bolo de

noiva. Vai ter uma parte de Brownie. Adoro o açúcar do bolo.

3) VOCÊ RECOMENDARIA O BOLO DE NOIVA PERNAMBUCANO ÀS FUTURAS

NOIVAS? POR QUE?

Sim. É gostoso.

6) NA SUA OPINIÃO, O BOLO DE NOIVA REPRESENTA UMA IDENTIDADE

CULTURAL DO ESTADO?

Sim, considero.

4) TEM ALGUMA BOLEIRA PREFERIDA? CASO SIM, QUAL?

Cássia Pereira.

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ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

IDADE: 26 anos

BAIRRO / CIDADE DE RESIDÊNCIA ATUAL: Ilha de Itamaracá/PE

DATA DO CASAMENTO: 29/12/2017

LOCAL DA CERIMÔNIA: Igreja de Itapissuma

LOCAL DA FESTA: Iate Clube Itamaracá

1) PARA VOCÊ, O QUE SIGNIFICA O BOLO DE NOIVA EM UMA CERIMÔNIA DE

CASAMENTO? (IMPORTÂNCIA)

Muito importante. Tem em todo casamento. Claro que vai ter no meu! (risos)

2) QUAIS OS MOTIVOS QUE A LEVARAM A ESCOLHER O BOLO DE NOIVA

PERNAMBUCANO (TRADIÇÃO)?

É gostoso, é formoso, é tradição.

3) VOCÊ RECOMENDARIA O BOLO DE NOIVA PERNAMBUCANO ÀS FUTURAS

NOIVAS? POR QUE?

Sim, além de ser lindo é gostoso.

7) NA SUA OPINIÃO, O BOLO DE NOIVA REPRESENTA UMA IDENTIDADE

CULTURAL DO ESTADO?

Acho que não.

4) TEM ALGUMA BOLEIRA PREFERIDA? CASO SIM, QUAL?

Sim. Silvaneide Alves. Ela trabalha com pasta americana, os bolos ficam lindos.

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ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

IDADE: 21 anos

BAIRRO / CIDADE DE RESIDÊNCIA ATUAL: Ibura / Recife.

DATA DO CASAMENTO: 18/03/2017

LOCAL DA CERIMÔNIA: Dona Cora Recepções

LOCAL DA FESTA: Dona Cora Recepções

1) PARA VOCÊ, O QUE SIGNIFICA O BOLO DE NOIVA EM UMA CERIMÔNIA DE

CASAMENTO? (IMPORTÂNCIA)

Claro que é importante. Você já foi a algum casamento sem bolo? Impossível.

2) QUAIS OS MOTIVOS QUE A LEVARAM A ESCOLHER O BOLO DE NOIVA

PERNAMBUCANO (TRADIÇÃO)?

É o de ameixas e frutas né? Adoro esse bolo. Minha avó faz sempre.

3) VOCÊ RECOMENDARIA O BOLO DE NOIVA PERNAMBUCANO ÀS FUTURAS

NOIVAS? POR QUE?

Claro que sim. É tradição.

8) NA SUA OPINIÃO, O BOLO DE NOIVA REPRESENTA UMA IDENTIDADE

CULTURAL DO ESTADO?

Acho que é. Tem em todo casamento.

4) TEM ALGUMA BOLEIRA PREFERIDA? CASO SIM, QUAL?

Cassia Pereira.

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ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

IDADE: 28 anos

BAIRRO / CIDADE DE RESIDÊNCIA ATUAL: Piedade / Jaboatão dos Guararapes.

DATA DO CASAMENTO: 12/11/2017

LOCAL DA CERIMÔNIA: Igreja de Nossa Senhora da Piedade.

LOCAL DA FESTA: Cerimonialle Recepções.

1) PARA VOCÊ, O QUE SIGNIFICA O BOLO DE NOIVA EM UMA CERIMÔNIA DE

CASAMENTO? (IMPORTÂNCIA)

É muito importante. Faz parte do casamento. Nunca vi casamento sem o bolo.

2) QUAIS OS MOTIVOS QUE A LEVARAM A ESCOLHER O BOLO DE NOIVA

PERNAMBUCANO (TRADIÇÃO)?

A tradição, todos os casamentos têm. Eu gosto também.

3) VOCÊ RECOMENDARIA O BOLO DE NOIVA PERNAMBUCANO ÀS FUTURAS

NOIVAS? POR QUE?

Sim, claro. Todo casamento pernambucano tem.

4) NA SUA OPINIÃO, O BOLO DE NOIVA REPRESENTA UMA IDENTIDADE

CULTURAL DO ESTADO?

Isso é muito sério. Acho que não.

5) TEM ALGUMA BOLEIRA PREFERIDA? CASO SIM, QUAL?

Sim, Leonie Asfora. Ela já é falecida. Acho que as filhas é quem fazem o bolo. Minha

mãe vai ver isso comigo.

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ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

IDADE: 27 anos

BAIRRO / CIDADE DE RESIDÊNCIA ATUAL: Casa Caiada / Olinda.

DATA DO CASAMENTO: 26/08/17

LOCAL DA CERIMÔNIA: Dayse Nogueira Recepções

LOCAL DA FESTA: Dayse Nogueira Recepções

1) PARA VOCÊ, O QUE SIGNIFICA O BOLO DE NOIVA EM UMA CERIMÔNIA DE

CASAMENTO? (IMPORTÂNCIA)

É importante. Toda festa tem. O Decorador faz um espaço especial só para o bolo. Os

convidados apreciam.

2) QUAIS OS MOTIVOS QUE A LEVARAM A ESCOLHER O BOLO DE NOIVA

PERNAMBUCANO (TRADIÇÃO)?

Eu gosto muito. Meu noivo não gosta muito. Ele preferia o de rolo. Mas eu não abro mão.

3) VOCÊ RECOMENDARIA O BOLO DE NOIVA PERNAMBUCANO ÀS FUTURAS

NOIVAS? POR QUE?

Sim, claro. É gostoso e tradicional.

4) NA SUA OPINIÃO, O BOLO DE NOIVA REPRESENTA UMA IDENTIDADE

CULTURAL DO ESTADO?

Acho que sim.

5) TEM ALGUMA BOLEIRA PREFERIDA? CASO SIM, QUAL?

Tenho sim. Vitor Farias. Os bolos dele são lindos.

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ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

IDADE: 30 anos

BAIRRO / CIDADE DE RESIDÊNCIA ATUAL: Caxangá / Recife.

DATA DO CASAMENTO: 07/01/17

LOCAL DA CERIMÔNIA: Igreja Madre de Deus

LOCAL DA FESTA: Di Branco Recepções

1) PARA VOCÊ, O QUE SIGNIFICA O BOLO DE NOIVA EM UMA CERIMÔNIA DE

CASAMENTO? (IMPORTÂNCIA)

Todo casamento tem! Você já foi a algum casamento que não tenha bolo? Os convidados

inclusive esperam a hora do bolo”.

2) QUAIS OS MOTIVOS QUE A LEVARAM A ESCOLHER O BOLO DE NOIVA

PERNAMBUCANO (TRADIÇÃO)?

Porque é chique! O nome não é Bolo de Noiva? Para mim todo bolo de noiva tem de ser de

ameixa e frutas cristalizadas. Os outros que fazem não é bolo para ser usado em casamento.

3) VOCÊ RECOMENDARIA O BOLO DE NOIVA PERNAMBUCANO ÀS FUTURAS

NOIVAS? POR QUE?

Sim! Sempre! Levanto a bandeira desse bolo.

4) NA SUA OPINIÃO, O BOLO DE NOIVA REPRESENTA UMA IDENTIDADE

CULTURAL DO ESTADO?

Claro que é! Está em todos os casamentos”.

5) TEM ALGUMA BOLEIRA PREFERIDA? CASO SIM, QUAL?

Tenho tantas... indico Lucinha Cascão, Silvaneide Alves, Cássia Pereira.

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ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

IDADE: 31 anos

BAIRRO / CIDADE DE RESIDÊNCIA ATUAL: Jardim Atlântico/ Olinda.

DATA DO CASAMENTO: 10/09/17

LOCAL DA CERIMÔNIA: Andréa Guerra Recepções

LOCAL DA FESTA: Andréa Guerra Recepções

1) PARA VOCÊ, O QUE SIGNIFICA O BOLO DE NOIVA EM UMA CERIMÔNIA DE

CASAMENTO? (IMPORTÂNCIA)

É tradição. Todo casamento tem.

2) QUAIS OS MOTIVOS QUE A LEVARAM A ESCOLHER O BOLO DE NOIVA

PERNAMBUCANO (TRADIÇÃO)?

Também por ser tradicional. Eu gosto do açúcar do bolo.

3) VOCÊ RECOMENDARIA O BOLO DE NOIVA PERNAMBUCANO ÀS FUTURAS

NOIVAS? POR QUE?

Sim, claro. Porque é fácil de encontrar e é bom.

4) NA SUA OPINIÃO, O BOLO DE NOIVA REPRESENTA UMA IDENTIDADE

CULTURAL DO ESTADO?

Não. Tem outras comidas que são mais, como a carne de sol.

5) TEM ALGUMA BOLEIRA PREFERIDA? CASO SIM, QUAL?

Sim. Gosto de Silvaneide Alves.

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ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

IDADE: 27 anos

BAIRRO / CIDADE DE RESIDÊNCIA ATUAL: Campo Grande /Recife.

DATA DO CASAMENTO: 17/09/16

LOCAL DA CERIMÔNIA: Igreja Madre de Deus

LOCAL DA FESTA: Villa Ponte D´Uchoa.

1) PARA VOCÊ, O QUE SIGNIFICA O BOLO DE NOIVA EM UMA CERIMÔNIA DE

CASAMENTO? (IMPORTÂNCIA)

O bolo é muito importante em um casamento. Inclusive as pessoas perguntam quem fez o

teu bolo. Isso é bem importante para mim

2) QUAIS OS MOTIVOS QUE A LEVARAM A ESCOLHER O BOLO DE NOIVA

PERNAMBUCANO (TRADIÇÃO)?

Meu bolo não será totalmente de noiva. Vou fazer um andar tradicional para servir aos

convidados e outro de bolo de rolo que eu gosto mais. Minha mãe é quem quer o andar

tradicional pois diz que os convidados irão falar se não tiver.

3) VOCÊ RECOMENDARIA O BOLO DE NOIVA PERNAMBUCANO ÀS FUTURAS

NOIVAS? POR QUE?

Eu não indico, mas se tiver uma mãe como a minha, com certeza irão escolher.

4) NA SUA OPINIÃO, O BOLO DE NOIVA REPRESENTA UMA IDENTIDADE

CULTURAL DO ESTADO?

Não acho. Não tem tanta representação como o bolo de rolo.

5) TEM ALGUMA BOLEIRA PREFERIDA? CASO SIM, QUAL?

Sim, várias. Ainda não escolhi, mas algumas amigas já me indicaram Cássia Pereira,

Silvaneide Aves, Cecília Chaves. Vou ver ainda.

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ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

IDADE: 32 anos

BAIRRO / CIDADE DE RESIDÊNCIA ATUAL: Boa Viagem / Recife.

DATA DO CASAMENTO: 03/12/16

LOCAL DA CERIMÔNIA: Igreja do Carmo

LOCAL DA FESTA: Di Branco Recepções

1) PARA VOCÊ, O QUE SIGNIFICA O BOLO DE NOIVA EM UMA CERIMÔNIA DE

CASAMENTO? (IMPORTÂNCIA)

Ah, claro que é importante. Significa reunir os amigos, manter a tradição.

2) QUAIS OS MOTIVOS QUE A LEVARAM A ESCOLHER O BOLO DE NOIVA

PERNAMBUCANO (TRADIÇÃO)?

É tradicional. Minha família gosta. Eu também.

3) VOCÊ RECOMENDARIA O BOLO DE NOIVA PERNAMBUCANO ÀS FUTURAS

NOIVAS? POR QUE?

Sim. É saboroso, os convidados gostam.

4) NA SUA OPINIÃO, O BOLO DE NOIVA REPRESENTA UMA IDENTIDADE

CULTURAL DO ESTADO?

Acho que não. Mas é importante.

5) TEM ALGUMA BOLEIRA PREFERIDA? CASO SIM, QUAL?

Sim. As Asfora.

Page 144: SYMONNE DE ALBUQUERQUE MEDEIROS · é que ele não pode ser qualquer um; O bolo apreciado em terras pernambucanas tem massa escura, é encorpado, tem preparação especial e é chamado

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ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

IDADE: 33 anos

BAIRRO / CIDADE DE RESIDÊNCIA ATUAL: Madalena / Recife.

DATA DO CASAMENTO: 16/12/17

LOCAL DA CERIMÔNIA: Igreja de Santa Tereza

LOCAL DA FESTA: Villa Ponte D´Uchoa

1) PARA VOCÊ, O QUE SIGNIFICA O BOLO DE NOIVA EM UMA CERIMÔNIA DE

CASAMENTO? (IMPORTÂNCIA)

É clássico ter bolo no casamento. É um momento bonito.

2) QUAIS OS MOTIVOS QUE A LEVARAM A ESCOLHER O BOLO DE NOIVA

PERNAMBUCANO (TRADIÇÃO)?

A tradição, a ajuda da minha mãe. As minhas amigas também ajudaram na escolha. É um bolo

bonito, seguro, fino.

3) VOCÊ RECOMENDARIA O BOLO DE NOIVA PERNAMBUCANO ÀS FUTURAS

NOIVAS? POR QUE?

Sim. Por causa da tradição.

4) NA SUA OPINIÃO, O BOLO DE NOIVA REPRESENTA UMA IDENTIDADE

CULTURAL DO ESTADO?

Acho que identidade gastronômica não. Mas é bonito ter ele.

5) TEM ALGUMA BOLEIRA PREFERIDA? CASO SIM, QUAL?

Sim. Cássia Pereira. Vou fazer com ela, com certeza.

Page 145: SYMONNE DE ALBUQUERQUE MEDEIROS · é que ele não pode ser qualquer um; O bolo apreciado em terras pernambucanas tem massa escura, é encorpado, tem preparação especial e é chamado

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Faculdade Boa Viagem DeVry Brasil

Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração-CPPA

Mestrado Profissional em Gestão Empresarial – MPGE

ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

IDADE: 21 anos

BAIRRO / CIDADE DE RESIDÊNCIA ATUAL: Boa Viagem/Recife.

DATA DO CASAMENTO: 03/12/17

LOCAL DA CERIMÔNIA: Igreja Nossa Senhora de Fátima

LOCAL DA FESTA: Gruta Azul Recepções

1) PARA VOCÊ, O QUE SIGNIFICA O BOLO DE NOIVA EM UMA CERIMÔNIA DE

CASAMENTO? (IMPORTÂNCIA)

É bonito, tradicional. É importante ter. Quero um bolo lindo.

2) QUAIS OS MOTIVOS QUE A LEVARAM A ESCOLHER O BOLO DE NOIVA

PERNAMBUCANO (TRADIÇÃO)?

Minha mãe influenciou. Sempre encomendamos esse bolo.

3) VOCÊ RECOMENDARIA O BOLO DE NOIVA PERNAMBUCANO ÀS FUTURAS

NOIVAS? POR QUE?

Sim, claro. É tradição.

4) NA SUA OPINIÃO, O BOLO DE NOIVA REPRESENTA UMA IDENTIDADE

CULTURAL DO ESTADO?

Acho que não. Algumas pessoas não gostam.

5) TEM ALGUMA BOLEIRA PREFERIDA? CASO SIM, QUAL?

Sim. Vitor Farias. Ele é muito bom.