t. Adorno - Sobre Sujeito e Objeto

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    SOBRE SUJEITO E OBJETO

    Theodor W. Adorno

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    Em se tratando de consideraes sobre sujeito e objeto, a dificuldade consiste em indicar do que se deve propriamente falar. notrio que os termos so equ!vocos. Assim, sujeito pode referir"se tanto ao indiv!duo particular [einzelne Individuum] quanto adeterminaes #erais$ de acordo com os termos dos Prolegmenos %antianos, & conscincia em geral. A ambi#'idade no

    pode ser eliminada simplesmente mediante uma classificao terminol#ica. (ois ambas as si#nificaes necessitam"sereciprocamente$ mal podemos apreender uma sem a outra. )o * poss!vel e+cluir mentalmente o momento da individualidadehumana [Einzelmenschlichkeit] " chamada egoidade por chellin# " de qualquer conceito de sujeito$ se no fosse indicada deal#uma maneira, sujeito perderia todo o sentido. -nversamente, o indiv!duo humano sin#ular " to lo#o se reflete de al#umamaneira sobre ele numa forma conceitual universal enquanto indiv!duo, e no se tem em mente s o esse a qualquer de umhomem particular [besonderen enschen] " transforma"se j num universal, & semelhana do que fica e+plicitado no conceitoidealista de sujeito$ at* mesmo a e+presso homem particular necessita do conceito #en*rico$ se no fosse assim, careceria desentido. At* mesmo os nomes prprios tra/em impl!cita uma refer0ncia ao universal. 1alem para al#u*m que se chama assim eno de outra maneira$ e um [einer] * a forma el!ptica de um homem. (ois bem, por outro lado, para escapar desse tipo decomplicaes, se se quisesse definir ambos os termos, cair"se"ia em uma aporia que se junta & problemtica do definir,continuamente retomada pela filosofia moderna desde 2ant. que, de certa maneira, os conceitos de sujeito e de objeto " oumelhor, aquilo a que se referem " t0m prioridade sobre qualquer definio. 3efinir * o mesmo que capturar " objetividade,mediante o conceito fi+ado, al#o objetivo, no importa o que isto seja em si. 3a! a resist0ncia de sujeito e objeto a se dei+arem

    definir. (ara determin"los, requer"se refletir precisamente sobre a coisa mesma, a qual * recortada pela definio com vistas afacilitar seu manejo conceptual. (or isso, conv*m tomar, em princ!pio, as palavras sujeito e objeto como as fornece a lin#ua#empolida pela filosofia, como sedimento da histria$ claro que no para persistir em semelhante convencionalismo, seno paraavanar a anlise cr!tica. (oder"se"ia partir da id*ia, supostamente in#0nua, mas, na realidade, j mediada, de que um sujeito,seja qual for sua nature/a, um sujeito co#noscente, defronta"se com um objeto, seja qual for a sua nature/a, objeto doconhecimento. A refle+o denominada 4intentio obliqua4 na terminolo#ia filosfica consiste ento em voltar a referir esseconceito mult!voco de objeto ao no menos mult!voco de sujeito. 5ma se#unda refle+o reflete aquela e define melhor o queficou va#o, em prol dos conte6dos de sujeito e objeto.

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    A separao entre sujeito e objeto * real e aparente 7 verdadeira, porque no dom!nio do conhecimento da separao real

    conse#ue sempre e+pressar o cindido da condio humana, al#o que sur#iu pela fora$ falsa, porque a separao que veio aocorrer no pode ser hipostasiada nem transformada em invariante. Esta contradio na separao entre sujeito e objetocomunica"se & teoria do conhecimento. verdade que no se pode prescindir de pens"los como separados$ mas o !svdos 8afalsidade9 da separao manifesta"se em que ambos encontram"se mediados reciprocamente7 o objeto, mediante o sujeito, e,mais ainda e de outro modo, o sujeito, mediante o objeto. A separao torna"se ideolo#ia, e+atamente sua forma habitual,assim que * fi+ada sem mediao. : esp!rito usurpa ento o lu#ar do absolutamente subsistente em si, que ele no *7 napretenso de sua independ0ncia anuncia"se o senhoril. 5ma ve/ radicalmente separado do objeto, o sujeito j redu/ este a si$o sujeito devora o objeto ao esquecer o quanto ele mesmo * objeto. ;as, a ima#em de um estado ori#inrio, temporal oue+tratemporal, de feli/ identificao de sujeito e objeto, * rom9. -sto no * reali/vel a no ser atrav*s do sujeito. e ele fosse liquidado em ve/ de superado numa formamais elevada, isso operaria no somente a re#resso da consci0ncia, mas sim a recaida em uma real barbrie. 3estino, asubmisso & nature/a dos mitos procede de uma total menoridade social, de uma *poca em que a auto consci0ncia ainda notinha aberto os olhos, em que ainda no e+istia o sujeito. Ao inv*s de evocar o retorno daquela *poca, mediante a pr+iscoletiva, dever"se"ia e+tin#uir o feitio da anti#a indiferenciao. eu prolon#amento * a consci0ncia da identidade do esp!ritoque, repressivamente, se identifica ao que lhe * diverso. e fosse permitido especular sobre o estado de reconciliao, nocaberia ima#in"lo nem sob a forma de indiferenciada unidade de sujeito e objeto nem sob a de sua hostil ant!tese$ antes, acomunicao do diferenciado. omente ento o conceito de comunicao encontraria seu lu#ar de direito como al#o objetivo. :atual * to ver#onhoso porque trai o melhor, o potencial de um entendimento entre homens e coisas, para entre#"lo &comunicao entre sujeitos, conforme os requerimentos da ra/o subjetiva. Em seu lu#ar de direito estaria, tamb*m do pontode vista da teoria do conhecimento, a relao entre sujeito e objeto na pa/ reali/ada, tanto entre os homens como entre eles, e

    o outro que no eles. (a/ * um estado de diferenciao sem dominao, no qual o diferente * compartido.

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    )a teoria do conhecimento, entende"se #eralmente por sujeito o mesmo que sujeito transcendental. e#undo a doutrinaidealista, o sujeito transcendental, ou constri %antianamente o mundo objetivo partindo de um material no qualificado, ou,ento, desde ?ichte, en#endra"o pura e simplesmente. )o foi preciso esperar pela cr!tica ao idealismo para se descobrir que

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    este sujeito transcendental, constitutivo de toda e+peri0ncia de conte6do, *, por sua ve/, abstrao do homem vivo e individual. evidente que o conceito abstrato de sujeito transcendental " as formas do pensamento, a unidade destas e a produtividadeori#inria da consci0ncia " pressupe o que promete instituir7 indiv!duos viventes, indiv!duos de fato. As filosofias idealistastiveram isto presente. bem verdade que 2ant, no cap!tulo sobre os paralo#ismos psicol#icos, procurou desenvolver umadiferena fundamental entre o sujeito transcendental e o emp!rico, conforme uma hierarquia de constituio. eus sucessores,entretanto " sobretudo ?ichte e @e#el, mas tamb*m chopenhauer " pretenderam resolver a dificuldade inelud!vel do c!rculoilimitado atrav*s de sutis ar#umentaes. ecorreram com freq'0ncia ao motivo aristot*lico, de acordo com o qual o primeiropara a consci0ncia " aqui7 o sujeito emp!rico " no * o primeiro em si, e postula, como sua condio ou sua ori#em, o sujeitotranscendental. ;esmo a pol0mica husserliana contra o psicolo#ismo, junto com a distino que estabelece entre #0nese evalidade, no passa de uma prolon#ao dessa forma de ar#umentar. Ela * apolo#*tica. uma tentativa de justificar ocondicionado como se fosse incondicionado, o derivado como primrio. epete"se um 4topos4 da tradio ocidental inteira, de

    acordo com o qual somente o primeiro ou, se#undo a frmula de )iet/sche, somente aquele que no passou pelo devir B dasnicht #e$ordeneCpode ser verdadeiro. )o se pode desconhecer a funo ideol#ica dessa tese. Duanto mais os homensindividuais so redu/idos a funes da totalidade social por sua vinculao com o sistema, tanto mais o esp!rito,consoladoramente, eleva o homem, como princ!pio, a um ser dotado do atributo da criatividade e da dominao absoluta.

    )o obstante, a per#unta pela realidade do sujeito transcendental * muito mais #rave do que se apresenta na sublimao dosujeito em esp!rito puro e, mais ainda, na revo#ao cr!tica ao idealismo. Em certo sentido, como o reconheceria por fim oidealismo, o sujeito transcendental * mais real, a saber, mais determinante para a conduta real dos homens e para a sociedadeformada a partir disso, que esses indiv!duos psicol#icos dos quais foi abstra!do o transcendental e que pouco t0m a di/er nomundo$ que, por sua ve/, se tornaram ap0ndice da maquinaria social e, por fim, ideolo#ia. : homem sin#ular vivente %derlebendige Einzelmensch] " tal como * forado a atuar e para o que tamb*m foi cunhado em si " *, enquanto encarnao do4homo oeconomicus4 , antes o sujeito transcendental que o individuo vivente& pelo qual, contudo, deve se fa/er passar

    imediatamente. )este sentido, a teoria do idealismo foi realista e no necessitava enver#onhar"se frente a adversrios querechaavam seu idealismo. )a doutrina do sujeito transcendental, e+pressa"se fielmente a prima/ia das relaes abstratamenteracionais, desli#adas dos indiv!duos particulares e seus laos concretos, relaes que t0m seu modelo na troca. e a estruturadominante da sociedade reside na forma da troca, ento a racionalidade desta constitui os homens$ o que estes so para simesmos, o que pretendem ser, * secundrio. Eles so deformados de antemo por aquele mecanismo que * transfi#uradofilosoficamente em transcendental. Aquilo que se pretende mais evidente, o sujeito emp!rico, deveria propriamenteconsiderar"se como al#o ainda no e+istente$ nesse aspecto, o sujeito transcendental * constitutivo. (resumidamente ori#emde todos os objetos, ele est objetificado %'ergegenst(ndlicht] em sua r!#ida intemporalidade, perfeitamente de acordo com adoutrina %antiana das formas fi+as e imutveis da consci0ncia transcendental. ua fi+ide/ e invariabilidade que, se#undo afilosofia transcendental, produ/ os objetos " ou, ao menos, lhes prescreve as re#ras " * a forma refle+a da coisificao doshomens, consumada objetivamente nas relaes sociais. : carter fetichista, iluso socialmente necessria, converteu"sehistoricamente no 4prius4 daquilo que, de acordo com o seu conceito, ele seria o 4posterius4. : problema filosfico da constituioinverteu"se como refletido num espelho$ mas, em sua inverso, e+pressa a verdade sobre a situao histrica alcanada$ umaverdade que, todavia, teria que ser mais uma ve/ ne#ada teoricamente, num se#undo #iro copernicano. Em todo caso, ela temtamb*m seu momento positivo7 a sociedade, enquanto precedente, mant*m viva a si mesma e a seus membros. : indiv!duoparticular deve ao universal a possibilidade de sua e+ist0ncia$ o pensar d testemunho disso, ele que, por sua parte, * umacondio universal e, portanto, social. )o * s no sentido fetichista que o pensamento precede ao indiv!duo. que, noidealismo, se hipostasia um aspecto que no pode ser concebido seno numa relao com outros. ;as o dado, o esc

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    com ainda maior ra/o, um momento do objetivo. (ois o objeto torna"se al#o somente enquanto determinado. )asdeterminaes que aparentemente o sujeito apenas lhe a#re#a, impe"se a prpria objetividade do sujeito7 todas elas sotomadas de empr*stimo & objetividade da 4intentio recta4. Tampouco para a doutrina idealista, as determinaes subjetivas soal#o meramente a#re#ado$ sempre so e+i#idas tamb*m pelo que se deve determinar, e a! se afirma a prima/ia do objeto.-nversamente, o objeto supostamente puro, livre de qualquer acr*scimo de pensamento ou intuio, * e+atamente refle+o dasubjetividade abstrata7 somente esta torna o outro i#ual a si atrav*s da abstrao. : objeto da e+peri0ncia irrestrita, aocontrrio do substrato indeterminado do reducionismo, * mais objetivo que esse substrato. As qualidades que a tradicionalcr!tica do conhecimento elimina do objeto e credita ao sujeito devem"se, na e+peri0ncia subjetiva, & prima/ia do objeto$ sobreeste ponto, o predominio da 4intentio obliqua4 en#anava. ua herana coube a uma cr!tica da e+peri0ncia que alcana at* seuprprio condicionamento histrico e, em 6ltima anlise, social. (ois a sociedade * imanente & e+peri0ncia e no allo genos89.omente a tomada de consci0ncia do social proporciona ao conhecimento a objetividade que ele perde por descuido enquanto

    obedece &s foras sociais que o #overnam, sem refletir sobre elas. Fr!tica da sociedade * cr!tica do conhecimento, evice"versa.

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    * le#!timo falar a respeito da prima/ia do objeto quando essa prima/ia em relao ao sujeito, entendido este no sentido maislato, * determinvel de al#uma maneira$ quando * al#o mais, portanto, que a coisa em si %antiana, como causa desconhecidado fen=meno. Tamb*m esta, apesar de 2ant, cont*m j " pelo mero fato de contrapor"se ao que * suscet!vel de predicaocate#orial " certamente, um m!nimo de determinaes em si$ uma delas, de !ndole ne#ativa, seria a acausalidade. Elaconse#ue fundar uma ant!tese com relao & opinio convencional que est conforme com o subjetivismo. A prima/ia do objetocomprova"se pelo fato de que este altera qualitativamente as opinies da consci0ncia coisificada, que cultivam uma relaosem atritos com o subjetivismo. Este no tan#e o realismo in#0nuo enquanto conte6do, mas sim trata pura e simplesmente de

    proporcionar crit*rios formais de sua validade, assim como o confirma a frmula %antiana do realismo emp!rico. Em favor daprima/ia do objeto fala, sem d6vida, al#o que no se concilia com a doutrina %antiana da constituio7 que a 4ratio4, nasmodernas ci0ncias da nature/a, espia por cima do muro que ela mesma er#ueu$ vislumbra uma pontinha do que no est deacordo com as suas decantadas [eingeschli))enen] cate#orias. Tal e+panso da 4ratio4 abala o subjetivismo. ;as aquilo pelo qualo objeto se determina enquanto o precedente, em oposio ao seu aparato subjetivo, pode"se perceber no que, por sua ve/,determina o aparato cate#orial pelo qual " se#undo o esquema subjetivista " ele deve ser determinado7 aquilo que se capta nacondicionalidade do condicionante. As determinaes cate#oriais, de acordo com 2ant as 6nicas que proporcionam aobjetividade, so, se se quiser, na verdade meramente subjetivas& porquanto so por sua ve/ al#o posto. 3este modo, a4reductio ad hominem4 torna"se a ru!na do antropocentrismo. : fato de que mesmo como 4constituens4, o homem seja al#o feitopelos homens, desencanta a propriedade criadora do esp!rito. ;as como a prima/ia do objeto necessita da refle+o sobre osujeito e da refle+o subjetiva, a subjetividade, ao contrrio do que ocorre no materialismo primitivo " que no admitepropriamente dial*tica " converte"se aqui em um momento conservado.

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    Aquilo que se apresenta sob o nome de fenomenalismo, que nada se sabe seno atrav*s do sujeito co#noscente, aliou"sedesde o #iro copernicano ao culto do esp!rito. Ambos so fundamentalmente modificados pelo conhecimento da prima/ia doobjeto. : que @e#el buscava no interior do par0ntese subjetivo rompe os par0nteses com conseq'0ncia cr!tica. A asseverao#eral de que as inervaes, as inteleces, os conhecimentos so a!enas subjetivos&j no melindra tanto, to lo#o asubjetividade seja entendida como confi#urao do objeto. -luso * o encantamento do sujeito em seu prprio fundamento dedeterminao$ sua posio como verdadeiro ser. preciso tra/er de volta o prprio sujeito & sua subjetividade$ seus impulsosno devem ser banidos do conhecimento. A iluso do fenomenalismo *, no entanto, uma iluso necessria. Ela testemunha oquase irresist!vel conte+to #eral de ofuscamento que o sujeito, enquanto falsa consci0ncia, produ/ e da qual * ao mesmotempo parte inte#rante. Em tal irresistibilidade funda"se a ideolo#ia do sujeito. A consci0ncia de um defeito, o da limitao doconhecimento, * transformada, para se poder melhor suport"la, em uma vanta#em. : narcisismo coletivo esteve em ao.

    ;as no teria podido impor"se com tal estrin#0ncia, no teria podido produ/ir as filosofias mais imponentes, se no tivesse umabase verdadeira, embora distorcida. Aquilo que a filosofia transcendental e+altou na subjetividade criadora * o cativeiro dosujeito em si, oculto para ele mesmo. Em todo objetivo pensado por ele, permanece preso como um animal dentro de suacarapaa da qual quisesse, em vo, libertar"se$ s que a este no lhe ocorreria alardear como liberdade o seu cativeiro. Gemque se poderia per#untar por que o fi/eram os homens. : cativeiro do seu esp!rito * e+tremamente real. : fato de que,enquanto sujeitos co#noscentes, dependam de espao, tempo e formas de pensamento, marca sua depend0ncia em relao &esp*cie. Esta se sedimentou em tais constituintes$ no por isso estes valem menos. : Ha prioriI e a sociedade estoentrelaados. A universalidade e a necessidade dessas formas, sua #lria %antiana, no * outra coisa do que aquela queconstitui como unidade os homens. Estes necessitariam dela para sua 4survival4. eu cativeiro foi interiori/ado7 o indiv!duo noest menos cativo dentro de si que dentro da universalidade, da sociedade. 3a! o interesse em reinterpretar sua priso comoliberdade. : cativeiro cate#orial da consci0ncia individual reprodu/ o cativeiro real de cada indiv!duo. ;esmo o olhar daconsci0ncia que descobre aquele cativeiro * determinado pelas formas que ele lhe implantou. )o cativeiro em si, poderiam os

    homens perceber o cativeiro social7 impedir tal coisa constituiu e constitui um interesse, capital da conservao do 4status quo4.(or causa deste interesse a filosofia teria de perder seu rumo, com uma necessidade no menor que a daquelas mesmasformas. To ideol#ico j era o idealismo, antes mesmo de se ter disposto a #lorificar o mundo como id*ia absoluta. Acompensao primitiva implica que j a realidade, elevada & condio de produto de um sujeito presumidamente livre, *, porsua ve/, justificada como livre.

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    : pensamento da identidade, ima#em encobridora da dicotomia imperante, j no se d mais ares de absoluti/ao do sujeito,na *poca da impot0ncia subjetiva. Em seu lu#ar, forma"se um tipo de pensamento da identidade, aparentementeanti"subjetivista, cientificamente objetivo7 o reducionismo$ di/ia"se do jovem ussel que ele era neo"realista. Ele * a formacaracter!stica contempor

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    2ant codifica tal ambi#'idade objetiva do conceito de objeto, e nenhum teorema sobre o objeto tem o direito de saltar por cimadela. Em sentido estrito, a prima/ia do objeto si#nificaria que no h objeto que esteja abstratamente contraposto ao sujeito,mas que necessariamente aparece como tal$ seria preciso eliminar a necessidade dessa apar0ncia ilusria.

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    ;as tamb*m no h/ propriamente sujeito. ua hipstase no idealismo leva a absurdos. Eles poderiam ser resumidos nisto7 adeterminao do sujeito inclui dentro de si aquilo a que ele se contrape. E de nenhum modo s porque, como 4constituens4,pressupe o 4constitutum4. Ele j * objeto na medida em que esse h/ impl!cito na doutrina idealista da constituio " tem quehaver sujeito para que este possa constituir qualquer coisa que seja " , foi tomado, por sua ve/, da esfera da facticidade. :conceito daquilo que h/ no si#nifica outra coisa do que al#o e+istente [aseiendes] e, como al#o e+istente [aseiendes]& o

    sujeito cai Ha prioriI sob o objeto. ;as como apercepo pura, o sujeito quereria ser o pura e simplesmente outro de tudo o queest ai [aseiendes]. Tamb*m aqui aparece, ne#ativamente, um aspecto verdadeiro7 que a coisificao a que o sujeitosoberano submeteu tudo, inclu!do ele, * apar0ncia. (ara o abismo de si mesmo, ele transporta tudo quanto escaparia &coisificao7 claro que com a absurda conseq'0ncia de que, com isso, concede salvo"conduto a qualquer outra coisificao. :idealismo falsamente projeta para o interior a id*ia de uma vida correta. : sujeito, como ima#inao produtora, comoapercepo pura, como ao livre [)reie 0athandlung] enfim, cifra aquela atividade na qual realmente se reprodu/ a vida doshomens e antecipa nela, com fundamento, a liberdade. (or isso, nem o sujeito simplesmente desaparece no objeto ou em sejaquem for presumidamente superior no ser, nem pode ser hipostasiado. : sujeito, no seu p=r"se a si mesmo, * apar0nciailusria e, ao mesmo tempo, al#o sobremodo real do ponto de vista histrico. Ele cont*m o potencial da superao de suaprpria dominao.

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    A diferena entre sujeito e objeto perpassa tanto o sujeito quanto o objeto. Ela no deve ser absoluti/ada nem apa#ada dopensamento. )o sujeito propriamente tudo * imputvel ao objeto$ o que nele no * objeto, fa/ estalar semanticamente o JJ. Aforma subjetiva pura da teoria do conhecimento tradicional, de acordo com seu prprio conceito, pode ser pensada em cadacaso unicamente como forma do objetivo e no sem ele, e sem ele no pode sequer ser pensada. : que h de fi+o no Euepistemol#ico " a identidade da autoconsci0ncia " est evidentemente moldado se#undo a e+peri0ncia no"refletida do objetopersistente7 o prprio 2ant refere"o essencialmente a isso. Esse no teria podido reclamar como condies de objetividade asformas subjetivas se, tacitamente, no tivesse concedido a estas uma objetividade, que tomou emprestado &quelas &s quaiscontrap=s o sujeito. )o e+tremo a que a subjetividade no entanto se redu/, desde o ponto de sua unidade sint*tica, somente *reunido aquilo que j copertence. 3e outra maneira, a s!ntese seria mero arb!trio classificatrio. Flaro que tampouco estasolidariedade * representvel sem a reali/ao subjetiva da s!ntese. ;esmo a respeito do 4a priori4 subjetivo, a objetividade desua validade s pode ser afirmada na medida em que tem um lado objetivo$ sem este, o objeto constitu!do 4a priori4 seria umapura tautolo#ia para o sujeito. eu conte6do, enfim " a mat*ria do conhecimento para 2ant " *, em funo de seu carterindissol6vel, de seu ser dado e de sua e+terioridade em relao ao sujeito, tamb*m al#o objetivo neste. 3e acordo com isto, osujeito, por sua ve/, facilmente jul#ar"se"ia " o que no estava muito distante da concepo de @e#el " um nada, ficando oobjeto como absoluto. ;as isto * outra ve/ iluso transcendental. : sujeito torna"se um nada por sua hipstase, a coisificaodo no coisal. Ela protesta porque no pode satisfa/er o crit*rio, no fundo in#0nuo"realista, da e+ist0ncia. A construoidealista do sujeito fracassa em sua confuso com al#o objetivo como um ser"em"si, al#o que ele precisamente no *7 se#undoa medida do ente, o sujeito * condenado a no ser nada. : sujeito tanto mais * quanto menos *, e tanto menos quanto maiscr0 ser, quanto mais se ilude em ser al#o para si objetivo. Fomo momento, no entanto, ele * ine+tin#u!vel. Eliminado omomento subjetivo, o objeto se desfaria difusamente, da mesma forma que os impulsos e instantes fu#a/es da vida subjetiva.

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    :bjeto, embora debilitado, tamb*m no * BnadaC sem sujeito. e faltasse o sujeito como momento do objeto mesmo, a

    objetividade deste tornar"se"ia um 4nonsens4. )a fraque/a da teoria do conhecimento de @ume, isto se torna fla#rante. Elaestava subjetivamente orientada, enquanto acreditava poder prescindir do sujeito. A relao entre sujeito individual etranscendental deve ser considerada a partir disso. : individual, como tem sido repetido com in6meras variantes desde 2ant, *parte inte#rante do mundo emp!rico. ua funo, no entanto, sua capacidade de e+peri0ncia ausente no sujeito transcendental,pois al#o puramente l#ico no pode fa/er e+peri0ncia " *, na verdade, muito mais constitutiva que a atribu!da ao sujeitotranscendental pelo idealismo " por sua ve/, uma abstrao da consci0ncia individual " funo esta que foi muito profunda epr*"criticamente hipostasiada. : conceito de transcendental recorda, no obstante, que o pensamento, em virtude dosmomentos de universalidade que lhe so imanentes, ultrapassa a sua prpria irredut!vel individuao. Tamb*m a ant!tese entreuniversal e particular * to necessria quanto fala/. )enhum dos dois e+iste sem o outro$ o particular s e+iste comodeterminado e, nesta medida, * universal$ o universal s e+iste como determinao do particular e, nesta medida, * particular.Ambos so e no so. Este * um dos motivos mais fortes de uma dial*tica no"idealista.

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    A refle+o do sujeito sobre seu prprio formalismo * refle+o sobre a sociedade, com o parado+o de que, de acordo com ainteno do 6ltimo 3ur%heim, os formadores [,ormanten] constitutivos ori#inam"se socialmente, embora, por outro lado " pontoem que pode insistir a teoria do conhecimento corrente " sejam objetivamente vlidos$ as ar#umentaes de 3ur%heim osupem j em cada proposio que demonstra seu carter condicionado. Este parado+o talve/ seja e+presso do cativeiroobjetivo do sujeito dentro de si. A funo co#noscente, sem a qual no haveria diferena nem unidade do sujeito, evadiu"se por

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    sua ve/. Ela consiste essencialmente naqueles formadores$ na medida em que h conhecimento, este deve e+ercer"se deacordo com eles, mesmo ali onde se projeta para mais al*m deles. Eles definem o conceito de conhecimento. )o so noentanto absolutos, mas sim vieram a ser o que so da mesma forma que a funo co#noscente como tal. )o * de todoimposs!vel que poderiam perecer. (redicar seu carter absoluto poria como absoluta a funo co#noscitiva, absoluto o sujeito$relativi/"los revo#aria do#maticamente a funo co#noscitiva. Ale#a"se contra isso que este ar#umento implicaria no tolosociolo#ismo7 3eus criou a sociedade, e a sociedade criou o homem e 3eus & ima#em dele. ;as a tese da anteced0nciasomente * absurda enquanto * hipostasiado o indiv!duo ou sua forma anterior biol#ica. 3o ponto de vista da histria daevoluo, antes cabe presumir a prioridade temporal ou, pelo menos, a contemporaneidade da esp*cie. Due JoJ homem devater e+istido antes da esp*cie, ou * reminisc0ncia b!blica, ou puro platonismo. A nature/a, nos seus #raus inferiores, est cheiade or#anismos no individuados. e, com efeito, os homens, se#undo tese de al#uns bilo#os modernos, nascem muito menosaparelhados que outros seres vivos, no podem conservar sua e+ist0ncia seno por meio de um trabalho social rudimentar, isto

    *, associados$ o 4principium individuationis4 lhes * secundrio, hipoteticamente, uma esp*cie de diviso de trabalho biol#ica. inveross!mil que, no princ!pio, tenha sur#ido, primeiro, arquetipicamente um homem individual qualquer. A crena nisso projetamiticamente para o passado, ou para o mundo eterno das id*ias, o 4principium individuationis4 j plenamente constitu!do nahistria. A esp*cie talve/ se tenha individuado por mutao para, lo#o, atrav*s de individuao, reprodu/ir"se em indiv!duos,apoiando"se no biolo#icamente sin#ular. : homem * resultado, no Eidos1 o conhecimento de @e#el e de ;ar+ funda suasra!/es no mais !ntimo das chamadas questes da constituio. A ontolo#ia JdoJ homem " modelo da construo do sujeitotranscendental " orienta"se se#undo o indiv!duo desenvolvido, como o indica #ramaticalmente a equivocidade que encerra ae+presso JoJ, a qual desi#na tanto o ser #en*rico quanto o indiv!duo. )este sentido, o nominalismo, em oposio & ontolo#ia emuito mais do que essa, cont*m o primado da esp*cie, da sociedade. Essa, todavia, est de acordo com o nominalismo pelofato de que lo#o rene#a a esp*cie, talve/ porque esta lembra os animais7 a ontolo#ia, ao elevar o indiv!duo & forma da unidadee, perante a pluralidade, a um ser"em"si$ o nominalismo, ao qualificar irrefle+ivamente o indiv!duo, se#undo o modelo dohomem individual, como o verdadeiro ente. Ele rene#a a sociedade nos conceitos, na medida em que a redu/ a uma

    abreviatura do indiv!duo.

    Theodor W. Adorno, junho de >NPN

    8>9. Adorno alude aqui & frmula crist J)o temaisJ, sem a qual a interpretao da comple+a frase J... $elche der e!ikureischeaterialismus und das christliche ,2rchtet euch nicht von den enschen nehmen $ollten...3 fica equivocada, fato que ocorreucom a traduo castelhana que a verteu para7 J... que el materialismo epic6reo Q el temed vosotros del cristianismo no quisieronarrancar de entre los hombres...J 8J... que o materialismo epicurista e o temei do cristianismo noquiseram arrancar doshomens...J9 8).T.9.

    89.4llo genos+ e+presso utili/ada por Aristteles para si#nificar uma coisa de outro gnero& al#o pertencente a uma outraesfera e, eventualmente, misturado em outro assunto, de forma indevida 8).T.9.

    8L9. JR sich die *tirn eindenk53& e+presso idiomtica, cuja traduo literal seria, apro+imadamente, )undir a cuca& a qual, noentanto, evitamos por tra/er impl!cita uma certa aluso & confuso mental, no sentido psicol#ico da e+presso 8) .T.9.

    http://planeta.clix.pt/adorno/

    Adorno - SOBRE SUJEITO E OBJETO http://adorno.planetaclix.pt/tadorno2.htm