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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE SILVIA MARIA DAMASCENO RIBEIRO NATÁRIO TAIWANESES PROTESTANTES EM MOGI DAS CRUZES - A IGREJA PRESBITERIANA DE FORMOSA: UM ESTUDO DE CASO São Paulo, SP 2017

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

SILVIA MARIA DAMASCENO RIBEIRO NATÁRIO

TAIWANESES PROTESTANTES EM MOGI DAS CRUZES -

A IGREJA PRESBITERIANA DE FORMOSA: UM ESTUDO DE CASO

São Paulo, SP

2017

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Silvia Maria Damasceno Ribeiro Natário

Taiwaneses Protestantes em Mogi das Cruzes -

A Igreja Presbiteriana e Formosa: um estudo de caso

Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito à obtenção de Título de Mestre em Ciências da Religião.

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Bitun

São Paulo, SP

2017

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N273t Natário, Silvia Maria Damasceno Ribeiro. Taiwaneses protestantes em Mogi das Cruzes - A Igreja Presbiteriana de Formosa : um estudo de caso / Silvia Maria Damasceno Ribeiro Natário 133 f. : il. ; 30 cm Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2018. Orientador: Prof. Dr. Ricardo Bitun Bibliografia: f. 103-109 1. Taiwaneses. 2. Aculturaçăo. 3. Protestantes. 4. Igreja Presbiteriana de Formosa. I. Bitun, Ricardo, orient. LC: BL65.C8

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“A vida espiritual dos homens, os seus

impulsos profundos, o seu estímulo à ação

são as coisas mais difíceis de prever, mas é

justamente delas que depende a morte ou a

salvação da humanidade.”

(Andrei Sakarov)

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Dedico este trabalho a minha querida mãe

pelo constante incentivo em prol da minha

formação acadêmica. Aos meus

familiares, esposo e amigos pela

confiança na realização deste.

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AGRADECIMENTOS

À Deus, fonte de toda sabedoria e ciência, pela direção e coragem no

decorrer da caminhada, proporcionando a plena realização desta conquista por anos

aguardada.

Aos meus pais que estiveram sempre ao meu lado, em todas as

circunstâncias, ensinando os princípios a serem seguidos na vida. Aos meus irmãos,

pelo companheirismo e apoio.

À Igreja Presbiteriana de Formosa pela contribuição como campo de

pesquisa. Aos Professores e Doutores do programa de Pós-graduação em Ciências

da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie por compartilharem conosco

seus enriquecedores conhecimentos transmitidos ao longo do curso.

Ao Prof. Dr. João Baptista Borges Pereira pela orientação, transmissão de

seus conhecimentos, comentários e sugestões apontadas durante o decorrer do

curso e no desenvolvimento do trabalho de pesquisa.

Aos Professores Dr. Ricardo Mariano, Dr. Ricardo Bitun e Dr. Antônio Maspoli

de Araújo Gomes, componentes da banca, pelos apontamentos realizados e

sugestões que contribuíram para o aprofundamento da pesquisa.

À instituição Presbiteriana Mackenzie pela oportunidade na evolução

acadêmica e no desenvolvimento das habilidades e competências que norteiam a

prática docente.

À Igreja Presbiteriana do Brasil, da qual faço parte como membro, pela qual

tenho profunda estima e consideração.

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo analisar a composição da etnicidade e da

identidade religiosa, que desempenha papel unificador no grupo de imigrantes

taiwaneses protestantes, que ao longo de meio século de aculturação e interação

social vem compondo o cenário da diversidade cultural e religiosa na cidade de Mogi

das Cruzes no Estado de São Paulo.

Esta pesquisa tem como objeto de estudo a Igreja Presbiteriana de Formosa,

localizada em Mogi das Cruzes e composta em sua maioria por taiwaneses

imigrados para o Brasil, provindos da Ilha Formosa-Taiwan, que se estabeleceram

nessa cidade na segunda metade do século XX. A análise faz uma abordagem

histórica da formação da Igreja Presbiteriana de Formosa e seus desdobramentos,

com a dedicação e trabalho das seis primeiras famílias que chegaram ao município

em 1963, responsáveis pela construção do primeiro templo no bairro de Botujuru. A

preocupação coletiva e prioritária de preservação da fé protestante em solo

brasileiro norteava a forma de viver do grupo; motivado pela esperança de ser o

Brasil uma terra próspera, assim como foi a terra de Canaã para os israelitas.

Palavras-chave: taiwaneses, aculturação, protestantes, imigração, etnicidade, Igreja

Presbiteriana de Formosa, Mogi das Cruzes.

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ABSTRAT

This work aims to analyze the composition of ethnicity and religious identity, which

plays the unifying role of the group of Taiwanese protestant immigrants, who during

half a century of acculturation and social interaction has been composing the

scenario of cultural and religious diversity in City of Mogi of the Crosses in the State

of São Paulo.

This research has as object of study the Presbyterian Church of Formosa, composed

mostly of Taiwanese emigrants to Brazil from Taiwan Island, who settled in the city of

Mogi of the Crosses in the second half of the twentieth century. The analysis takes a

historical approach to the formation of the Presbyterian Church of Formosa and its

unfolding, with the dedication and work of the first six families who arrived in the

municipality in 1963, responsible for the construction of the first temple in the

neighborhood of Botujuru. The collective and priority concern for the preservation of

the Protestant faith in Brazilian soil, guided the way of living of the group; Motivated

by the hope of Brazil as a prosperous land, just as it was the land of Canaan for the

Israelites.

Key words: Taiwanese, acculturation, Protestants, immigration, ethnicity,

Presbyterian Church of Taiwan, Mogi of the Crosses.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: População Recenseada - Região Metropolitana de Sã o Paulo e

Municípios, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991, 2000, 2010. ........................ 110

Tabela 2: População residente, total, urbana total e urbana na sede municipal em

números absolutos e relativos, com indicação da área total e densidade

demográfica, segundo as Unidades da Federação e municípios/2010. . 110

Tabela 3: Religião de acordo com o Censo 2010, cidade de Mogi das Cruzes. ..... 110 Tabela 4: Distribuição dos trabalhadores por tipo de estabelecimento - Estado de

São Paulo – 1940, 1950, 1960, 1970 ..................................................... 111

Tabela 5: Informação sobre a membresia das Congregações da Igreja Presbiteriana

de Formosa nos Bairros de Mogi das Cruzes/SP ................................... 111

Tabela 6: Informação sobre a membresia da sede da Igreja Presbiteriana de

Formosa em Mogi das Cruzes – Bairro Mogilar ..................................... 111

Tabela 7: Calendário Anual de Programações da Igreja Presb. de Formosa ......... 112

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Mapa Político de Mogi das Cruzes ........................................................... 18 Figura 2: Mapa Político do Estado de São Paulo .................................................. 18

Figura 3: Vista parcial da cidade de Mogi das Cruzes, 2017 .................................. 19 Figura 4: Mogi das Cruzes, década de 1940 ........................................................... 20 Figura 5: Trem Alvorada, parado na antiga estação de Mogi das Cruzes, no dia

de sua primeira viagem.............................................................................24

Figura 6: Vista parcial de Mogi - Rua Senador Dantas, antiga Rua Oriente Mogi ... 25

Figura 7: Imigrantes taiwaneses na embarcação para o Brasil ............................... 34 Figura 8: Primeiros imigrantes taiwaneses e o primeiro templo da Igreja

Presbiteriana de Formosa no bairro de Botujuru - Mogi das Cruzes/SP .. 47

Figura 9: Interior do primeiro templo ....................................................................... 48

Figura 10: Interior do primeiro templo. Os quadros afixados na parede retrata a

trajetória da viagem migratória dos taiwaneses, desde sua saída de

Taiwan até a construção do templo em Botujuru. .................................. 49

Figura 11: Parte externa do primeiro templo da Igreja Presbiteriana de Formosa no

bairro do Botujuru em Mogi das Cruzes ................................................. 50

Figura 12: Parte externa do templo atual: representação de duas palmas de mãos

em sentido de oração ............................................................................. 56

Figura 13: Portal de entrada da Igreja Presbiteriana de Formosa .......................... 57

Figura 14: Templo da congregação no bairrp do Botujuru ...................................... 63 Figura 15: Logotipo: Presbyterian Church in Taiwan (PCT), o mesmo utilizado

pelos taiwaneses presbiterianos no Brasil. ............................................ 64

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Figura 16: Celebração dos 150 anos da Presbyterian Church in Taiwan ............. 68

Figura 17: Festa Caipira Naite, na quadra esportiva da Igreja em 2016. ................ 90

Figura 18: Igreja Presbiteriana em Taiwan. ............................................................. 97

Figura 19: Sala de aula da escola bíblica dominical, multirracial. ......................... 101

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ROC: .............................. República da China

RPC: ............................... República Popular da China

PCT: ............................... Presbyterian Church in Taiwan

IDHM: ............................. Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

PNB: ............................... Produto Nacional Bruto

IPF: ................................. Igreja Presbiteriana de Formosa em Mogi das Cruzes

ISP: ................................ Primeira Igreja Presbiteriana de Formosa em São Paulo

PIB: ................................ Produto Interno Bruto

IBGE: ............................. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14

CAPÍTULO I - A CIDADE DE MOGI DAS CRUZES NO CONTEXTO DA

IMIGRAÇÃO ............................................................................................................. 18

1.1. Localização e Aspectos Geográficos de Mogi das Cruzes ............................. 18

1.2. Retrato de Mogi das Cruzes: Breve Histórico ................................................. 20

1.3. Atividade Econômica de Mogi das Cruzes: O Cinturão Verde e Avicultura .... 26

1.4. Diversidade Étnica da População Mogiana ..................................................... 32

1.5. Os Primeiros Desafios na Nova Terra ............................................................. 34

1.6. As Primeiras Atividades Econômicas: Cultivo de Cogumelos e Avicultura ..... 37

CAPÍTULO II - ESTABELECIMENTO E FORMAÇAO DE UMA COMUNIDADE

ÉTNICA PROTESTANTE: A Igreja Presbiteriana de Formosa em Mogi das

Cruzes ...................................................................................................................... 40

2.1. O Cenário de Taiwan, após 1949: Fatores que impulsionaram a emigração .. 40

2.2. Brasil: Uma Terra Messiânica: O Altar de Abraão ........................................... 42

2.3. Breve Histórico da Primeira Igreja Presbiteriana de Formosa em São Paulo . 44

2.4. Motivação da migração para a cidade de Mogi das Cruzes ............................ 46

2.5. O Primeiro Templo .......................................................................................... 47

2.6. A Inauguração do Templo em Botujuru e o Primeiro Pastor ........................... 50

2.7. Mudança de Templo: Crescimento e Conquistas ............................................ 52

2.7.1. Simbolismo Arquitetônico do Templo ........................................................... 55

2.8. Governo e Liderança Eclesiástica ................................................................... 58

2.9. As Congregações: Ministério de Evangelização entre aos Brasileiros ........... 61

CAPÍTULO III – RELIGIÃO E ETNICIDADE ............................................................. 64

3.1. Identidade Religiosa: A Herança da Fé Protestante ....................................... 64

3.2. Confissão de fé da Igreja Presbiteriana de Formosa em Mogi das Cruzes .... 68

3.3. Religiosidade: Fatos e memórias .................................................................... 70

3.4. Identidade Étnica ............................................................................................ 78

3.4.1. Sociabilidade e Aculturação ......................................................................... 85

3.5. Vida de Privações e Ascensão Social: Cinquentenário no Brasil .................... 91

3.6. Rede de Contato Ministerial Nacional e Transnacional ................................... 95

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 98

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 103

ANEXOS ................................................................................................................. 110

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INTRODUÇÃO

Ao visitar pela primeira vez a Igreja Presbiteriana de Formosa em Mogi das

Cruzes, a sensação de imediato foi de estar em um outro país dentro do Brasil.

Deparei-me admirada com uma espantosa quantidade de cristãos taiwaneses e seus

descendentes congregando em um templo espaçoso, com uma ordem litúrgica e

ministração de sermão na língua materna, o taiwanês.

Missões transculturais sempre me chamaram a atenção e estar no ambiente do

templo da Igreja Presbiteriana de Formosa foi como se eu estivesse vivenciando uma

missão em outra etnia, sem sair do país. Participar pela primeira vez do culto em um

ambiente composto por um grupo étnico diferente do meu foi uma experiência

singular, que me levou a alguns questionamentos acerca dos fatores que estão

estreitamente relacionados à aglutinação dos taiwaneses na cidade de Mogi das

Cruzes: os aspectos étnicos, a identidade religiosa, ou ambas as possibilidades que

coexistem. Surge, então, a pesquisa: Taiwaneses Protestantes em Mogi das Cruzes:

A Igreja Presbiteriana de Formosa – um estudo de caso. Outras indagações

permeiam a questão, dentre elas: como se descreve a história desses imigrantes?

Que fatores impulsionaram a vinda das primeiras famílias de Taiwan para ao Brasil?

Quais foram os primeiros desafios na nova terra? Como se deu a busca pela

manutenção da identidade étnica ao longo do tempo? Como tem sido o processo de

aculturação? Qual é a história de formação da Igreja?

Ao analisar a estrutura do templo, que comporta aproximadamente

quatrocentas pessoas e conta ainda com um amplo refeitório, um prédio educacional

ao lado, reservado para as salas de aula e uma ampla quadra esportiva, considerei

que toda essa estrutura física fosse uma demonstração de que os taiwaneses, além

de se estabelecerem na região, expandiram-se em seus projetos de vida,

consolidaram sua identidade religiosa e reconstruíram sua etnicidade em um outro

país.

A imigração dos taiwaneses na segunda metade do século XX para a cidade

de Mogi das Cruzes marca o panorama da rica diversidade religiosa no perfil do Brasil

plural. A trajetória histórica da Igreja Presbiteriana de Formosa (IPF) no município de

Mogi contribui para a compreensão da complexidade da igreja étnica no Brasil. Neste

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trabalho há um esforço para descrever os fatores que contribuíram para a composição

desse grupo étnico e religioso, desempenhando a função de unificadores sociais para

esse grupo de imigrantes taiwaneses em processo de aculturação.

A experiência religiosa trazida pelos imigrantes da ilha de Taiwan completou 54

anos de história em solo brasileiro em outubro de 2017. Essa experiência carrega, em

mais de meio século, quatro gerações de transmissão cultural, social e religiosa que

compõem o cenário de pluralismo étnico na região metropolitana de São Paulo e por

que não dizer no Brasil.

Para o procedimento da pesquisa em questão, os instrumentos metodológicos

utilizados consistiram em análise bibliográfica e pesquisa de campo antropológica

através da etnografia, fazendo uso do método indutivo empírico de convivência

participante do pesquisador no processo de investigação nas programações sócio

religiosas do grupo. Foram registradas as informações orais realizadas através de

conversas formais e informais que abrangem o resgate das memórias, dos relatos da

história dos membros do grupo e das experiências pessoais, que fazem parte de

peças de um mosaico, que unidos, abrangem um todo, com a finalidade de se

observar as tradições étnicas, as práticas sociais, as crenças religiosas, os anseios,

as aspirações e o comportamento do grupo social. Através da pesquisa participante,

foi possível coletar informações por intermédio de questionários e entrevistas que

abrangeram diversas faixas etárias, entre elas, as pessoas mais idosas do grupo,

bem como a geração mais jovem da comunidade e os oficiais1 da Igreja. A pesquisa

documental foi realizada através da análise de depoimentos registrados no Álbum de

Aniversário da Igreja, que contém informações preciosas sobre a história da Igreja,

seus desdobramentos, a experiência religiosa individual e coletiva dos seus membros

e o significado da fé vivenciada e compartilhada pelos anseios do grupo, além de

recurso audiovisual e material jornalístico com informações contextualizadas do

grupo.

O primeiro contato com os taiwaneses ocorreu em uma reunião de culto num

domingo pela manhã no mês de março de 2016, no templo da Igreja Presbiteriana de

Formosa. A recepção foi acolhedora, o que possibilitou o acesso ao salão de culto.

Para minha surpresa, deparei-me com um considerável número de taiwaneses, bem

1 Os oficiais da igreja taiwanesa protestante são membros eleitos pela membresia da igreja a ocuparem cargos

de serviço na igreja de acordo com seus dons e talentos, tais como diáconos, presbíteros e pastores.

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trajados, uníssonos, entoando cânticos2 protestantes, em taiwanês. A experiência de

ver um grupo coeso de aspecto oriental compartilhando do mesmo espaço físico,

surpreendeu-me a ponto de sentir como se estivesse introduzida no interior de uma

outra cultura, transcultural. A língua dominante era o taiwanês, contudo, a

compreensão do conteúdo foi possível devido à tradução simultânea do sermão e dos

cânticos espirituais para a língua portuguesa. Até mesmo os avisos eram transmitidos

primeiramente na língua materna e posteriormente traduzidos. Após o encerramento

do culto, uma fila se formou para os tradicionais cumprimentos com o pastor,

momento oportuno em que me apresentei pedindo-lhe algumas informações e fui logo

convidada para descer as escadas e me dirigir ao espaçoso refeitório no andar térreo

a fim de participar do almoço comunitário com o grupo. A participação dos taiwaneses

no almoço comunitário é uma extensão da comunhão, compartilhada por todos. Outra

surpresa foi perceber que a grande maioria se comunicava em taiwanês, inclusive as

crianças, o que tornou inicialmente um grande desafio a minha comunicação com

eles. Por várias vezes tive a impressão de ser um peixe fora d’água - devido às

dificuldades linguísticas - o que criou, de início, um estranhamento cultural. Contudo,

com o passar do tempo, essas barreiras foram diminuindo e me aproximei daqueles

que permitiam o diálogo. No período de quase dois anos de pesquisa, os contatos

também se deram por meio de telefonemas e através das redes sociais, o que

contribuiu para dinamizar a pesquisa.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: Etnicidade e Aculturação

Com referência às teorias relacionadas à identidade, Roberto Cardoso de

Oliveira, em sua obra: Os Caminhos da Identidade, realiza uma abordagem que

permite elucidar a identidade como um objeto de investigação antropológica ou

sociológica, inerente ao estudo de caso do grupo pesquisado. A teoria que trata da

identidade étnica e de sua natureza contrastiva nos processos culturais, construída

pelo grupo de taiwaneses, é vista, também, sob as lentes da teoria da pesquisadora

Manoela Carneiro da Cunha organizadora do livro: Identidade Étnica. Com base na

teoria da identidade, João Baptista Borges Pereira escreve sobre: Identidade

2 Os hinos utilizados pelos presbiterianos taiwaneses são provindos do hinário de Taiwan e não fazem parte do

hinário Novo Cântico, informações obtidas em entrevista com a liderança da Igreja, pastor Jônatas Chen.

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Protestante no Brasil de Ontem e de Hoje, artigo do livro: Religare: Identidade,

Sociedade e Espiritualidade, baseado no esquema de Roberto Cardoso de Oliveira.

Para a compreensão dos fatores que contribuíram para o estabelecimento e

permanência do grupo em Mogi das Cruzes, na área rural da cidade, foi realizada a

contextualização da região em seus aspectos geográficos e socioeconômicos,

abordados no primeiro capítulo. O segundo capítulo discorre sobre a formação da

comunidade étnica protestante, com levantamento histórico dos fatores

impulsionadores da imigração de Taiwan, dos desafios enfrentados na nova terra e

seu estabelecimento. A abordagem realizada no terceiro capítulo nos remete a uma

compreensão da construção da identidade étnica religiosa e dos processos de

aculturação e ascensão social do grupo.

Considerada a maior Igreja que agrega a etnia taiwanesa e seus descendentes

na América Latina, a Igreja Presbiteriana de Formosa esforça-se em preservar a

língua materna – o taiwanês – como a primeira língua dentro do espaço religioso. A

conservação dos costumes, da língua, das crenças e dos casamentos endógenos,

tornam-se elos de identidade étnica contrastiva e de preservação cultural, no decorrer

de 54 anos de história em Mogi das Cruzes.

Esta dissertação apresenta investigações baseadas em fatos narrados que

revelam descobertas culturais de um grupo minoritário, originariamente oriental, em

processo de aculturação, cujo protagonista – o imigrante taiwanês – demonstra atos

de coragem e determinação, não relatada em livros. Observei inclusive uma

considerável escassez de estudos e raras pesquisas acadêmicas relacionadas à

imigração e à interação entre a cultura taiwanesa e a brasileira. Este trabalho

fornecerá dados para futuros pesquisadores ampliarem seus conhecimentos nas

múltiplas áreas das ciências humanas e das ciências da religião, porque ele se insere

no universo do campo religioso protestante, dotado de notório valor étnico-cultural, o

que enriquece o panorama histórico brasileiro.

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CAPÍTULO I - A CIDADE DE MOGI DAS CRUZES NO

CONTEXTO DA IMIGRAÇÃO

1.1. Localização e Aspectos Geográficos de Mogi das Cruzes

Figura 1: Mapa Político de Mogi das Cruzes3

Figura 2: Mapa Político do Estado de São Paulo, em destaque a cidade de Mogi das Cruzes4

3 Informações obtidas em:<https://viniciuscarvalhoblog.wordpress.com/2014/09/01/mogi-das-cruzes. Acesso

em: 24.Mar.2017. 4 Informações obtidas no site do Município de Mogi das Cruzes, disponível

em:<https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:SaoPaulo_MunicipMogdasCruzes.svg. Acesso em: 24.Mar.2017.

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Figura 3: Vista parcial da cidade de Mogi das Cruzes, 20175

Apontada como sétima na colocação entre as melhores cidades brasileiras

para se viver,6 o município de Mogi das Cruzes está localizado na parte leste do

Estado de São Paulo, que compreende a área do Alto do Tietê, na região

Metropolitana da cidade de São Paulo. Mogi das Cruzes faz divisa com os municípios

de Suzano, Itaquaquecetuba, Arujá, Santa Isabel, Guararema, Biritiba Mirim, Santos e

Santo André. A topografia é relativamente plana, com pequenas elevações, salvo a

Serra de Itapeti e Serra do Mar. A altitude é de 743.710 metros, em relação ao nível

do mar e sua superfície é de 731 quilômetros quadrados. O clima é temperado úmido

e a vegetação abrange o bioma da Mata Atlântica.

Devido à ocupação dos índios Tupi na região, a paisagem geográfica recebeu termos de origem indígena; raro é o nome cujo vocábulo não seja indígena. Em Mogi os índios nomearam Botujutu, Capetuba, Sabaúna, Cocuera, Capichinga, Itapety, Tayassupeba, Guararema, Mogy, Pindorama, e outros. (...). O rio Tietê é o principal curso d’água que corta o município, sendo seus tributários principais os rios Biritiba, Jundiaí e Taiaçupeba. (Grinberg, 1981, p.78).

Tendo em vista o vertiginoso desenvolvimento que atingiu a região, esta sofreu

uma média de crescimento da ordem de 5% ao ano, o que significa que em 1975 a

população do Município que era de 180.000 habitantes passou para

5 Informações obtidas em:<http://g1.globo.com/sp/mogi-das-cruzes-suzano/especial-publicitario-mogi-

agora/platb/2014/11/06/mogi-das-cruzes-e-eleita-a-7a-melhor-cidade-para-se-viver/. Acesso em: 18. Abr.2017.

6 O ranking foi produzido com exclusividade para a publicação “América Economia Brasil”, publicado em 2013 e levou em consideração dados do IBGE e da ONU, fatores como a qualidade de vida da população local, dados do Censo 2010, do Produto Interno Bruto (PIB) e do Índice de Desenvolvimento dos Municípios (IDHM).

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20

aproximadamente, 387.779 em 2010, de acordo com o levantamento de dados do

IBGE, 2010.

1.2. Retrato de Mogi das Cruzes: Breve Histórico

Figura 4: Mogi das Cruzes, década de 19407

Desde 1601, nos mais antigos primórdios, quando povoadores se

estabeleceram em Sant’Ana das Cruzes de Mogi Mirim, como era denominada, até os

dias atuais são 416 anos de registros da história da cidade de Mogi das Cruzes.

Taunay havia escrito, em 1935 que “a história de Mogi das Cruzes está por se

fazer”, (GRÍNBERG, 1961, p. 9). Ela foi interpretada e traduzida através de

documentos do Arquivo da Prefeitura Municipal e descrita por historiadores, entre

eles, Isaac Grínberg8, “que contribuiu para legitimar a identidade do povo mogiano”.

(MORAES, 2010, p. 17).9 Um levantamento dessa história revela um material rico em

7 Imagem extraída do livro "Memória Fotográfica de Mogi das Cruzes", de Isaac Grímberg,1986.

Disponível em> http://pauloaugustomkt.blogspot.com.br/2010/01/historia-de-mogi-das-cruzes.html. Acesso em 18.Mai.2017. Mogi Cruzes década de 1940, Rua Dr. Deodato Wertheimer - a ligação norte-sul e um dos principais corredores comerciais da cidade, no trecho hoje transformado em calçadão, traz à esquerda a Igreja do Rosário, que deu lugar a um hotel, e em frente a popular Praça João Pessoa (Gogelis, 1949).

8 Isaac Grínberg, historiador obstinado no empenho de consagrar a história de sua querida cidade de Mogi das Cruzes, escreve com dedicação um repositório de milhares de acontecimentos registrados no município desde seus primórdios. De todos os pesquisadores sobre temas mogianos, o que deixou maior produção foi sem dúvida, Isaac Grínberg. São dele os livros: História de Mogi das Cruzes (1961); Mogi das Cruzes de Antigamente (1964), Retrato de Mogi das Cruzes (1974), História da Justiça em Mogi das Cruzes (1977), Gaspar Vaz fundador de Mogi das Cruzes (1980), Mogi das Cruzes de 1601 a 1640 (1981); Folclore de Mogi das Cruzes (1983); Memória Fotográfica de Mogi das Cruzes (1986), e Viajantes Ilustres em Mogi das Cruzes (1992). Com formação jornalística e ligação afetiva com a cidade, sempre se dedicou a pesquisar a respeito dela, da qual colecionou grande acervo documental. (Dias, 2010, p. 30;31).

9 Mário Sérgio de Moraes é doutor pela Universidade de São Paulo (USP), professor universitário na

FAAP (Faculdade Armando Álvares Penteado) e na UMC (Universidade de Mogi das Cruzes). Publicou as seguintes obras: “O Ocaso da Ditadura” “Pedra da Vigia”, “Eros”; “História da Imigração Japonesa em Mogi das Cruzes” e “Nova História de Mogi das Cruzes”. Editora Mogi News. São Paulo, 2010.

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descobertas, envolvendo mitos e heróis com atos de bravura e desbravamento de

terras, como narra Moraes:

(...) envolvendo desde sua fundação, o povoado, os indígenas, a religião (catolicismo acentuado), o relevo, um rio de águas puras (Tietê), uma serra própria (Serra do Mar: Mogi-Bertioga), privilégio de poucas cidades do Brasil (Moraes, 2010, p.13).

Com mais de quatro séculos de fundação, muitos sítios arqueológicos foram

encobertos por construções. Estudos arqueológicos realizados pela doutora

Margarida Andreatta, revelaram restos de cerâmica e líticos polidos referentes ao

início do contato entre os brancos e os habitantes originais da terra, entre os séculos

XVI ao XVII. “Através do levantamento dessas fontes históricas é possível fazer uma

pré-história da região” (Moraes 2010, p.15).

Até a metade do século XIX, Mogi das Cruzes serviu de passagem para

viajantes e tropeiros que se dirigiam ao estado de Minas Gerais e ao litoral paulista.

No seu livro “Cultura e opulência do Brasil”, André João Antonil aponta Mogi como

passagem de tropeiros e entreposto comercial:

“Dahí vão à aldeia de Tacuaquisetuba, caminho de um dia. Gostarão da dita aldeia até a Villa de Mogi dois dias. De Mogi vão as laranjeiras, caminhando quatro ou cinco dias até as três horas...” (ANTONIL, 1711).

A história nos remete à memória de que na região onde é hoje a cidade de

Mogi não havia brancos. A região era habitada por índios ferozes que matavam

bandeirantes em expedições pela conquista da região. Em 1590 o bandeirante

Domingos Luís Grou morreu com quase todos os seus cinquenta homens em

combate com os índios. Os que restaram embrenharam-se nas matas e somente em

1593 conseguiram regressar a São Paulo, onde compareceram à Câmara Municipal

fazendo declarações que deixaram os vereadores apavorados com as ameaças dos

silvícolas de fazer um cerco em São Paulo. Em consequência, a Câmara paulista deu

ordens ao capitão Jorge Correia para que se organizasse uma guerra contra os

nativos de Mogi. Em 1594, o capitão Jorge Correia comandou uma entrada de guerra

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contra os índios “pés largos”, dizimando-os. Os poucos que se salvaram, fugiram para

o sertão (GRÍNBERG, 1992, p. 14).10

No entanto, os índios Tupi deram grande contribuição para o crescimento da

povoação e da vila nos primeiros anos de Sant’Ana de Mogi das Cruzes, formando

aldeamentos compostos por mamelucos, que eram filhos de portugueses com as

índias. A contribuição indígena também é notada nos nomes dos bairros, rios e

serras, além de alguns termos utilizados até hoje como carpir, cutucar, sapecar, e,

ainda, arapuca, pipocar, caipira, tapera, capoeira, canoa, jururu, caipora, cuia e outros

tantos de origem Tupi. Os bugres serviam como escravos aos seus senhores.

(GRÍNBERG,1981, p. 78, 79, 80). Os nativos não eram bem vistos pelos povoadores

da Vila de Mogi. O ofício do governador de São Vicente, Dom Luiz Antônio de Souza

Botelho Mourão, datado de 21 de dezembro de 1776, enviado ao Rei, declara essa

realidade:

“As aldeãs de índio que Sua Majestade que Does guarde…no território da vila de Mogi das Cruzes pela mistura das cores melhoria a civilização visto que os índios gozam de muito baixa reputação...”.

A partir da dizimação de parte dos indígenas e da domesticação dos que

restaram, criou-se condições para o início do povoamento de brancos. Com a

chegada de Dom Francisco de Souza, governador geral do Brasil, em 1599, os

brancos desejaram a todo custo pesquisar e descobrir as riquezas minerais que

acreditavam existir, e com razão, na região de Minas Gerais, onde efetivamente foram

encontradas. O caminho de acesso à região, no entanto, era muito penoso, em alguns

trechos era feito apenas pelo rio Tietê.

Em 1601, Dom Francisco decidiu abrir o primeiro trecho de estrada de acesso

à região e entregou a empreitada a Gaspar Vaz e seus homens, que construíram a

estrada e chegaram à região, hoje ocupada por Mogi das Cruzes.

Ao chegar, gostaram da região e decidiram morar no novo sítio. Tornaram-se

proprietários de uma gleba para plantar, o que era impossível em São Paulo, pois as

terras já eram bem povoadas. O sítio se tornaria, logo em seguida, o início do

povoamento em Mogi das Cruzes. A abertura da estrada possibilitou muitos

10 GRÍMBERG, Isaac. Viajantes Ilustres em Mogi das Cruzes. Editora São Paulo: São Paulo, 1992,

p.14.

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paulistanos transitarem por ela e alguns, com certeza decidiram residir no novo

povoado (GRÍNBERG, 1992, p. 16, 17, 24).

Através de um requerimento encaminhado ao Governador Dom Francisco,

Gaspar Vaz e seus companheiros pediram a elevação do lugarejo à vila, o que

despertou grande simpatia do governador pela sua povoação, pois ele tinha interesse

na criação da vila de Mogi. Sérgio Buarque de Hollanda apontou boa razão para

justificar essa suspeita sobre o interesse do governador na criação da vila de Mogi:

“embora o mínimo exigido fosse de trinta assinaturas, o requerimento de Gaspar foi

aceito com apenas vinte assinaturas”.

Gaspar Vaz assinou o requerimento que o identificava como primeiro morador

em Mogi Mirim e afirmava que seus subscritores iniciaram a povoação a mandado do

Governador que incentivava a povoação e declarava que “a terra é boa e que em São

Paulo não têm terras” (...). Com a justificativa de que se devia ter outra vila porque os

moradores de São Paulo – naquele ano de 1611 – “viviam muito juntos e apertados!”

Finalmente em 15 de Agosto de 1611 o Capitão Gaspar Coqueiro atestou, entre

outras razões, que a criação da nova vila não prejudicava a cidade de São Paulo “por

haver muita gente, e estarem apertados, e não terem donde lavrarem” (GRÍNBERG,

1992, p.18).

Com o falecimento do governador Dom Francisco, o seu filho e sucessor Dom

Luís e Souza, decretou o despacho criando a vila em 17 de Agosto de 1611, que até

então, pelos documentos, era conhecida por Boigi, Mogymirim, Boixi Miri, Boisi Mirim,

Boigi Mirim, povoação de Sant’Anna e Povoação Nova” (Sesmarias, vol. I, 1921, p.

28, 38). Criada a vila, era preciso proceder à sua solene instalação, marcada para o

dia 1º. de Setembro de 1611. Nesta data chegou à vila o primeiro viajante ilustre:

Gaspar Conqueiro, poderoso capitão da Capitania (GRÍNBERG, 1992, p.19). Em

1561, Brás Cubas tomou posse das terras que lhe são dadas por sesmaria, fundando

a fazenda Pequeri, que teria sido a semente de que nasceu Mogi das Cruzes, que na

época denominou Boigy11 (GRÍNBERG, 1961, p. 15).

11 Mogi é uma alteração de Boigy que, por sua vez, vem de M'Boigy, o que significa "Rio das Cobras",

denominação que os índios davam a um trecho do Tietê. Quando a Vila foi criada em 1611, devido ao costume de adotar o nome do padroeiro, passou a ser denominada "Sant'Anna de Mogy Mirim". Na língua indígena, Mirim quer dizer pequeno. Provavelmente, uma referência ao riacho Mogi Mirim. A linguagem popular tratou de acrescentar o termo "cruzes" ao nome oficial da Vila. Era costume dos povoadores sinalizar com cruzes os marcos que indicavam os limites da Vila, de acordo com tese de Dom Duarte Leopoldo e Silva, confirmada pelo historiador e professor Jurandyr Ferraz de Campos. Informações obtidas no site do COMPHAP (Conselho

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Há, no entanto divergências à cerca da data e do fundador de Mogi das Cruzes. Oficialmente a fundação remonta a 1560 e o fundador sendo Brás Cubas - o que vem sendo comemorado anualmente, porém estudos realizados com base na documentação do Prof. Emílio Ferreira em 1935, apontam Gaspar Vaz como principal fundador da cidade, que nasceu por volta de 1601 (GRÍNBERG, 1974, p.117).

Figura 5: Trem Alvorada, parado na antiga estação de Mogi das Cruzes, no dia de sua primeira viagem, 06/05/1960.12

Com as novas tendências econômicas e as mudanças no modo de vida da

população, os ares de cidade pacata e sossegada, passaram a ser “história do

passado de Mogi”. A agitação quebrou a harmonia da população.

Essa modernização registrada no final da II Guerra Mundial, com a exploração

da mineração no Brasil, e acelerada pelos anos 50, correspondeu em todo o país à

chamada era dos “Anos Dourados”. Nesse período, o crescimento foi de 9% a 11% do

PNB (Produto Nacional Bruto), bem acima dos países desenvolvidos. Esse período de

crescimento econômico no Brasil ocorreu no governo de Juscelino Kubitschek

(1956/1960). Um período de euforia da elite brasileira e de consumo de produtos

como os eletrodomésticos, entre outros (MORAES, 2010, p.205).

A transição entre o moderno e o tradicional se deu através de rupturas do

passado e suas permanências. A constatação do aspecto de mudança para a

modernidade pode ser exemplificada através do depoimento de Miled Cury Andere:

Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural, Artístico e Paisagístico de Mogi das Cruzes, disponível em:<http://www.comphap.pmmc.com.br/pages/mogi_das_cruzes.html. Acesso em 19.Jun.2017

12 Informações obtidas da Revista Ferroviária, disponível em: <http://www.estacoesferroviarias.com.br/trens_sp/alvorada.htm. Acesso em 31.Mai.2017.

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Figura 6: Vista parcial de Mogi - Rua Senador Dantas, antiga Rua Oriente Mogi13

A passagem de Mogi para o desenvolvimento começou com a Mineração. A cidade era muito pacata. Os padeiros deixavam o pão na janela e os leiteiros deixavam o leite. Ninguém pegava. Eu lembro também da demolição da Igreja do Rosário. Foi a coisa mais triste que eu vi na vida. Aquilo fazia parte da vida da gente. Na Igreja, ouvi a reza cantada e triste das freiras. Elas tinham um canto triste batido, e isto nunca me saiu da lembrança. A reação da população foi de ficar chateada (Moraes, 2010, p. 205).

Os influxos de desenvolvimento na cidade de Mogi das Cruzes são marcados

pela chegada da estação ferroviária em meados do século XIX; pela entrada de

imigrantes entre os séculos XIX e XX, direcionados à zona urbana e rural que

compreende o Cinturão Verde; pela fundação da Mineração do Brasil em 1942, a

primeira grande indústria que se instalou na cidade e pela criação das Universidades

Braz Cubas e a UMC (Universidade de Mogi das Cruzes), com destaque para o curso

de Medicina....”O curso de Medicina era famoso. E por quê? Eles eram considerados

os ricos. A sensação e o terror do país” (MORAES, 2010, p. 276).

Com as instalações das faculdades Braz Cubas, da UMC e em 1972, da

Faculdade de Educação Física do Clube Náutico, a cidade além de contribuir como

celeiro do “Cinturão Verde” dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, passou a

beneficiar os aspetos sócio-econômico-culturais, ao oferecer cursos universitários

para a população local e das cidades adjacentes.

Paralelamente a esse panorama de crescimento, devemos notar que o

desenvolvimento capitalista de grupos empresariais atuando no poder político

13 DIAS, Madalena Marques, 2010. Madalena Marques Dias é bacharel e licenciada em História pela

Universidade de São Paulo (1992-1996) e mestre em História Social (História de São Paulo Colonial) pela Universidade de São Paulo (2001). Autora do livro "História Colonial de Mogi das Cruzes. Elites e formação da vila."

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incentivou princípios econômicos individualistas que fragmentaram os alicerces

comunitários de pertencimento social que norteavam a vida dos mogianos. O

mercado consumidor passou a regulamentar a ordem social e o estilo de vida,

rompendo com as velhas formas de viver em nome do “progresso”. Com o progresso,

as desigualdades sociais se acentuaram, a desagregação social e a criminalidade

aumentaram. Entretanto, a configuração atual da cidade ainda evidencia

características importantes do seu passado: o predomínio da média e pequena

propriedade, calcada na mão-de-obra familiar (até os anos 70) para o abastecimento

do mercado interno incentivado pela aproximação da capital de São Paulo, tanto para

compra como para revenda; o conviver comunitário até o início do século XXI; a

produção do celeiro agrícola, a policultura (Cinturão Verde), com a chegada dos

imigrantes japoneses a partir de 1919 e a busca pela ascensão sócio-econômica da

classe média.

Após o século XX a cidade passou a ser gerida com ampla visão de

empreendedorismo, com investimentos na qualidade de vida dos seus munícipes, o

que tem elevado a classificação do ranking de sétima cidade melhor para se viver, de

acordo com o levantamento realizado com base nos dados do censo de 2010.

1.3. Atividade Econômica de Mogi das Cruzes: O Cinturão Verde e Avicultura

A vasta extensão territorial de Mogi das Cruzes propícia à agricultura e, com

isso, tornou-se um fator de atração para o imigrante taiwanês. Em 1974, a área

urbana de Mogi das Cruzes abrangia o centro da cidade e em volta os bairros

centralizados.

Quando terminavam os bairros, começava a Zona Rural. Esta também possuía bairros onde estavam localizadas as chácaras, as granjas, as plantações e as criações. Exemplos de bairros da zona rural: Cocuera, Botujuru, Caputera, Aroeiras, Barroso, Biritiba Uçu, Itapeti, Pindorama, Quatinga, Rio Acima, Varinha, Lambari, Taboão, Rio Baixo entre outros (GRÍNBERG, 1974, p. 33 e 34).

A zona rural do município de Mogi das Cruzes era caracterizada pela alta

subdivisão de suas terras em pequenas áreas de produção: Distribuídas entre as

culturas de: folhas (alface, escarola, acelga, repolho, agrião); raízes (cenoura,

beterraba, nabo, cebola, rabanete, mandioquinha, batata doce); frutas de clima

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temperado (pêssego, uva Itália, caqui, goiaba, ameixa, tangerina); cogumelos -

champignon e tubérculos (batata inglesa). O valor dessa produção representava em

1.975, 50% do total do valor bruto da produção agrícola do município.

A produção agrícola de Mogi das Cruzes tornou-se muito diversificada, quer

pelo volume significativo de produção com que concorrem as diversas espécies

agrícolas, quer no abastecimento das duas maiores capitais brasileiras: São Paulo e

Rio de Janeiro. Dados da história agrícola de Mogi das Cruzes apontam que o

município era produtor de café, algodão e fumo em 1852, como relata o historiador

local Isaac Grínberg (1995), em seu livro Mogi das Cruzes de Antigamente:

Em 19 de março de 1852 a Câmara Municipal comunicava ao Presidente da Província “que este Município exporta cento e cinquenta mil arrobas de café mais ou menos; quatrocentos mil varas de pano de algodão e oitocentas a mil arrobas de fumo” (...). Na mesma época, em 1857, as fazendas de café eram compostas de 875 trabalhadores escravos, trabalhadores livres e nenhum colono estrangeiro (GRÍNBERG, 1995, p.153,154).

Além da localização estratégica entre os dois maiores centros consumidores e

industriais brasileiros: São Paulo e Rio de Janeiro, Mogi das Cruzes, conta com

condições climáticas e de solo privilegiadas, como são as cidades do entorno da

capital paulista. O clima contribui favoravelmente para a produção de verduras,

legumes, raízes, frutas e tubérculos, que são produzidos durante todo o ano. Houve

um notável desenvolvimento da pequena agricultura de abastecimento voltada às

grandes populações urbanas.

Todo esse processo ocorreu no início do século XIX, quando os primeiros

agricultores espanhóis e posteriormente os japoneses realizaram um verdadeiro

trabalho de pioneirismo, revelando as ótimas condições de clima e solo. Como

resultado desse pioneirismo, o município ocupou a posição de sucesso como

vanguardeiro na produção chamada de “pequena agricultura”, conforme a

comprovação da arrecadação imobiliária rural de 1972, em que as terras constituíam

em grandes fazendas e grandes sítios a ponto de 90% (noventa por cento) do total de

3.200 (três mil e duzentas) propriedades agrícolas, terem menos de 30 (trinta)

hectares ou 10 alqueires paulistas. Toda essa produção de legumes, ovos e aves

advinda em sua maioria de pequenas propriedades distribuídas por toda a zona rural,

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evidenciam que em Mogi das Cruzes a reforma agrária há muito tempo é uma

realidade.14

A predominância de pequenas propriedades rurais é a característica do

município. A maioria das terras é cultivada por imigrantes japoneses, taiwaneses ou

descendentes dos mesmos, que conduziram a agricultura à modalidade de

exploração altamente intensiva, sempre no sentido de elevar o rendimento por

unidade de área, adotando técnicas cada vez mais modernas, em relação à

adubação, melhores variedades, tratamentos fitossanitários, chegando a uma

extraordinária produção de hortifrutigranjeiros.

Outro destaque na atividade econômica de Mogi das Cruzes era a produção de

ovos. O município se classificou em 1º. lugar como produtor de ovos do estado de

São Paulo e do país na década de 70. Somados os valores de produção agrícola,

avícola e pecuária, o município de Mogi ficou em 2º. lugar dentre os 575 municípios

do Estado de São Paulo em renda bruta agropecuária, suplantando até mesmo os

maiores municípios cafeicultores, canavieiros e algodoeiros do Estado. Essa

classificação honrosa é uma prova do poderio da terra, principal ponto de atração à

imigração oriental, iniciada no século XIX e se estendendo até o século XX.15

“Os 100 anos de imigração japonesa no Brasil (18/06/1908) em que chegaram

os primeiros imigrantes japoneses no porto de Santos” (MORAES, 2008, p.220),

marca a história do setor agrícola na região de Mogi das Cruzes e abre caminho aos

imigrantes taiwaneses, também de origem oriental, meio século mais tarde, na

região.16 Com o passar do tempo, cresceu o número de imigrantes japoneses

trabalhando na lavoura, o que favoreceu para a formação do Cinturão Verde na região

de Mogi das Cruzes:

No ano de 1919, o primeiro japonês a se estabelecer na região de Mogi das Cruzes, no bairro do Cocuera, foi Shiguetoshi Suzuki e sua esposa Feijie Suzuki e seus dois filhos. Aos 32 anos Shiguetoshi era formado no Japão pela Escola Superior de Agricultura, o que não era comum naquela época (MORAES, 2008, p.221).

14 Informações obtidas da Revista da Casa da Agricultura de Mogi das Cruzes. VII Festa do Pêssego e

II da Avicultura, Mogi das Cruzes, 1977, p. 133. 15 Informações obtidas da Revista da Casa da Agricultura de Mogi das Cruzes. VII Festa do Pêssego e II da

Avicultura, Mogi das Cruzes, 1977, p.125. 16 Um dos fatos sociais mais importantes para a cidade de Mogi das Cruzes foi a chegada de

imigrantes de várias nacionalidades, dentre eles os japoneses, na zona rural, que contribuíram para que a formação Cinturão Verde de São Paulo.

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Dentre os fatores que contribuíram para a entrada de imigrantes no Brasil estão

entre outros, o histórico agrícola da produção brasileira e a aceitação dessa

mercadoria no mercado internacional. Esse foi o caso da produção do café, que

passou por um período áureo, sendo considerado “Ouro Verde”. De fato a história da

região metropolitana de São Paulo em que está inserida a cidade de Mogi das Cruzes

confunde-se, nos primeiros tempos, com a história de sua sede. Alguns autores

afirmam que a metrópole paulista surgiu com a expansão da cidade de São Paulo, na

época do café e que o "ciclo do café" fundou a cidade de São Paulo pela segunda

vez.

De fato, quando aquele produto passou a ser exportado pelo porto de Santos, a cidade de São Paulo, pela sua posição geográfica, já assumia as feições de base comercial, centro do capital financeiro do Brasil e sede da burguesia agrário-comercial (VERÁS, 1991).

O fluxo migratório para o Brasil está relacionado ao acesso a grandes

extensões de terra; baixo custo na aquisição de propriedades; consumo no mercado

interno; baixo custo da mão-de-obra e a fama de país pacífico, longe dos rumores de

guerras. Esses fatores faziam com que o Brasil se tornasse um país atrativo para os

imigrantes orientais. No período de exportação do café para o mercado europeu, o

país era visto como um verdadeiro “eldorado agrícola”.

Afirmava-se no exterior que as pessoas que aqui chegassem ficariam ricas em

pouco tempo, porém a realidade era outra. O trabalho era árduo. Diuturnamente era

necessário muito esforço e dedicação para ver o fruto produzido. Mas, a favor dos

agricultores estavam o clima e o solo favoráveis de Mogi das Cruzes, que contribuíam

para evitar a proliferação de pragas nas lavouras, característica do clima ameno da

região. Todos esses fatores proporcionaram a fixação dos primeiros imigrantes

japoneses e posteriormente, taiwaneses na região. Na história da imigração de Mogi

das Cruzes, o imigrante assumiu a condição de arrendatário de pequenas

propriedades.

Na década de 80 alguns se tornaram proprietários e patrões na região da zona rural da cidade. O ideal destes, na sua primeira fase, era trabalhar na terra, ascendendo socialmente a fim de deixar sua condição rústica de vida (MORAES, 2010, p.222).

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Devido a aquisição da terra em Mogi ser de baixo custo, havia facilidade na

aquisição de uma propriedade legitimada pelo seu uso:

A grande maioria desses brasileiros não tinha a terra legalizada, isto é, não eram firmadas em cartório. Eram donos de suas posses mais por sua legitimidade de uso, amparada por um direito consuetudinário, pelos costumes e tempos (MORAES, 2010, p.222).

O imigrante japonês serviu como esteira para o imigrante taiwanês na condição

de pequeno agricultor como atividade econômica, com o cultivo de verduras e

legumes, compatíveis com o clima da região e de ciclos curtos entre a plantação e a

colheita. A principal característica da agricultura da região: minifúndios, baseados na

mão de obra familiar, voltados ao abastecimento interno. Diante deste contexto,

criava-se o “Cinturão Verde” (MORAES, 2010, p.223).

Apesar dos avanços da agricultura mecanizada e dos problemas enfrentados

na economia brasileira, a pequena propriedade continua resistindo na região “A

cidade de Mogi das Cruzes foi e é um verdadeiro laboratório de experiências

genéticas” (MORAES, 2008, p. 230).

Os taiwaneses seguem a estrutura agrícola de desenvolvimento econômico

baseada na pequena agricultura familiar e na produção voltada para o abastecimento

do mercado interno. A definição de agricultura familiar é apoiada em ABRAMOVAY

(apud STROPASOLAS, 2006, p. 115) que “concebe a agricultura familiar como aquela

em que a gestão, a propriedade e a maior parte do trabalho vêm de indivíduos que

mantêm entre si laços de sangue ou de casamento”.

Com o intuito de fortalecer o comércio, os taiwaneses associaram-se a

cooperativas locais, porém esse esforço não atingiu os resultados esperados pelo

grupo, o que os levou a assumir a venda dos seus produtos nas feiras e no comércio

em São Paulo. Carregavam as caixas de cogumelos nas costas e as transportavam

no caminho que faziam de trem e metrô, levando-as até a capital paulista para

comercializá-las.

A agricultura, porém, deixou de ser a principal atividade econômica dos

taiwaneses, nas últimas três décadas. A partir dessa época, ocorreram mudanças nas

atividades econômicas do grupo, que se entrelaçaram com as atividades econômicas

urbanas da sociedade brasileira. De acordo com Abramovay e Camarano (1998):

Houve nas últimas décadas um intenso esvaziamento do campo, principalmente de

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jovens em busca de novas oportunidades de trabalho. Além do êxodo rural da

população jovem, o envelhecimento é uma outra realidade do grupo taiwanês no

cultivo dos cogumelos em Mogi das Cruzes. Além de ser considerado um trabalho

pesado e de baixa remuneração, a possibilidade de se viver na cidade tornou-se mais

promissor do que simplesmente a aceitação de se assumir o estabelecimento

paterno, associado à possibilidade de renda regular na profissão urbana, através do

ensino superior. A perspectiva de melhores condições de vida pela ampliação do

capital através da inserção no mercado de trabalho descaracterizou os núcleos rurais

e reestruturou as famílias a partir de novos componentes econômicos, culturais,

sociais e percepção de mundo - o que atraiu os jovens a partir da segunda geração e

seus descendentes até os dias atuais (CARNEIRO, 1998, p. 58).

Os mais velhos - da primeira geração – não dispõem de forças físicas para

continuarem ativos na agricultura e seus filhos, ao longo dos 54 anos de inserção no

viver urbano, vêm se moldando aos diversos grupos que formam os profissionais

liberais, comerciantes, autônomos, funcionários públicos, que nas últimas décadas

contribuem com sua mão-de-obra e cultura para o avanço do progresso do país e da

região. As propriedades agrícolas continuam pertencendo aos proprietários

taiwaneses que as arrendam para os brasileiros trabalharem nelas.

O histórico agrícola de Mogi das Cruzes a privilegia, ainda hoje, como a

principal fornecedora de produtos hortifrúti aos mercados da região e ocupa a posição

especial no sistema Rio de Janeiro-São Paulo.

Atualmente, Mogi das Cruzes é responsável pelo abastecimento do CEASA

(Central de Abastecimento), feiras livres e mercados, não só da capital paulistana,

como também do Vale do Paraíba, Baixada Santista e Rio de Janeiro.

Segundo o engenheiro agrônomo Roberto Teruo, da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) de Mogi das Cruzes, na região, há um grande destaque para a produção de flores, folhosas e maçarias (produtos vendidos em maço), tais como salsinha, cebolinha e coentro, entre outros. Ainda segundo ele, o município de Mogi e região é um dos maiores produtores de hortaliças e frutas do Brasil. A região é considerada a maior produtora nacional de cogumelos comestíveis, além de ser a capital do caqui e da nêspera. O clima fresco e ameno, devido à alta altitude, favorece o desenvolvimento de verduras na região e garante uma maior qualidade dos produtos. Para a agricultura familiar a importância do cinturão verde é muito grande, pois a maioria dos produtores tem propriedades pequenas.

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Boa parte destas propriedades conduz a atividade em nível familiar ou com no mínimo dois empregados (TERUO, 2004).17

1.4. Diversidade Étnica da População Mogiana

Os séculos XIX e XX deixaram marcas no avanço para a modernidade na região com a introdução da primeira estrada de ferro Central do Brasil, em 1876 e a instalação do trem em setembro de 1911, apelidado pelos mogianos de “arranca sertão”. O trem saía de Mogi das Cruzes pela manhã e regressava de São Paulo à tarde (MORAES, 2010, p. 97).

Os avanços nos meios de transporte, com a instalação da estação ferroviária,

contribuíram para as transformações do cenário sócio-econômico-cultural de Mogi,

possibilitando a vinda de imigrantes espanhóis, italianos, sírios e libaneses, o que

fortaleceu o comércio local, com ganhos mais imediatos do que no meio rural.

A partir de 1919 houve avanços significativos na agricultura da região. Os

imigrantes orientais, principalmente os japoneses, trabalharam como arrendatários de

pequenas propriedades na zona rural dos bairros de Mogi, como Cocuera, Porteira

Preta e Pindorama, preparando o caminho para que posteriormente os imigrantes

taiwaneses cultivassem a terra. Progressivamente Mogi das Cruzes fortaleceu a área

urbana em detrimento da zona rural, deixando o aspecto de vila e se tornando cidade,

modificando o aspecto da fisionomia urbana. Mais tarde em 1963, os imigrantes

taiwaneses reforçaram a mão-de-obra nas pequenas propriedades da zona rural, no

bairro de Botujuru em Mogi das Cruzes. O imigrante taiwanês contribuiu para a

formação do mosaico étnico-cultural da cidade composto de várias etnias.

Mogi das Cruzes é uma confluência de diversas identidades ao longo de sua existência, como silvícolas, ancestrais indígenas, escravos negros e depois a vinda dos imigrantes europeus, árabes, voltados à atividade comercial, e com a chegada dos imigrantes japoneses, o impulso na agricultura” (MORAES, 2010, p. 25).

O imigrante em Mogi das Cruzes é descrito dentro de características

contraditórias à modernidade como sendo bom trabalhador, agricultor, ou comerciante

e de pouca cultura como, descreve Moraes, 2010:

17 Informações obtidas da Revista Rural: CINTURÃO - O VERDE MAR DE SÃO PAULO, rev. 82–novembro 2004,

disponível em <http://www.revistarural.com.br/Edicoes/2004/Artigos/Rev82_cinturao.htm. Acesso em 17.Jun.2017.

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O imigrante em Mogi das Cruzes não é um mero mercenário e sim um pequeno proprietário que moureja naquilo que é seu. Aqui nunca existiram as grandes lavouras presas em mãos de alguns proprietários abastados pelo natural da terra, pelo caipira, de alma cândida e nobre, mas de cultura intelectual completamente nula, analfabetos em quase sua totalidade dedicam-se ao trabalho, mas sem estímulo, sem ambição, sem alegria de viver... Entretanto, já se adaptaram às novas estradas de rodagem e, sem esforço, compreenderam argutamente quanto é oneroso e devastador o colonial carro de boi de eixo móvel, berrando nas divisas e nas várzeas com seu chiar monótono e irritante (MORAES, 2010, p. 119; 120).

O ideário capitalista levou esses imigrantes de Mogi a almejarem “subir na

vida”, o que os incentivou a serem donos de lojas ou de roças no campo. Enquanto se

fortalecia o comércio no núcleo urbano entre os séculos XIX e XX, no setor comercial

varejista; na área rural, a horticultura ganhava espaço com características de pequena

propriedade familiar, o que fortalecia o caráter social da cidade.

Além do setor agrícola, os imigrantes também deixaram suas contribuições no município, nos setores de serviços, comércio, indústria e na fundação de associações e escolas. (...) São Paulo continuou sendo o maior polo de recepção da imigração, bem como o “coração da economia nacional”. Portanto, no imaginário migratório – principalmente para os migrantes de áreas menos desenvolvidas – essa área continuará fazendo parte da geografia mental da população (VAINER, 1991).

O município de Mogi das Cruzes com seus milhares de habitantes, divide

atualmente seu espaço geográfico entre a zona urbana e o parque industrial ao lado

de uma moderna agricultura e pequenas propriedades rurais, cujos proprietários são

brasileiros e descendentes de imigrantes taiwaneses e japoneses.

Talvez a relação imigração/industrialização não seja tão nítida e direta como nos anos 60 e 70, mas para os movimentos interestaduais, permanece a forte e complexa relação migração/emprego e, certamente as redes sociais constituem elementos importantes para a manutenção de históricos fluxos migratórios para a metrópole (BAENINGER, p. 87, 2005).

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Retratar a história dos imigrantes protestantes taiwaneses na cidade de Mogi

das Cruzes desde sua chegada em 1963: seus desdobramentos até seu

estabelecimento; ascensão social e econômica; compreendendo os ideários do grupo

social; da individualização e determinação pessoal dos seus agentes, compartilhado

com o grupo étnico que compõe um todo histórico, revela a outra face de Mogi das

Cruzes, da diversidade cultural.

Compreender o contexto histórico, econômico e migratório da cidade,

possibilita o acesso às informações que levaram a permanência do grupo de minoria

taiwanês protestante e ao mesmo tempo a reconstrução da diversidade étnica e

religiosa da população mogiana. Os primeiros investimentos e atividades econômicas

desenvolvidas pelos taiwaneses - agricultura e avicultura - nas primeiras décadas da

imigração na cidade, convergiram com o forte potencial característico da região de

Mogi, colaborando para a consagração e a ascensão sócio-econômica do grupo

minoritário - o taiwanês protestante. Sem dúvida, as características do solo e do clima

favoráveis possibilitaram a permanência dos taiwaneses que há mais de cinco

décadas fazem parte do cenário da população mogiana. “A história das comunidades

é uma somatória de histórias de vida que se entrelaçam umas às outras e articulam-

se a um todo muito maior” (DIAS, 2010, p.121).

1.5. Os Primeiros Desafios na Nova Terra

Figura 7: Imigrantes taiwaneses na embarcação para o Brasil

Ao chegarem ao porto de Santos, em nove de outubro de 1963, os imigrantes

taiwaneses foram encaminhados à um pequeno sítio em Pindorama, na cidade de

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Mogi das Cruzes, do Dr. Yang – “o primeiro taiwanês presbiteriano de que se tem

notícia no estado de São Paulo, entre os anos de 1955 e 1956” (TOLLENTINO, 2016,

p. 53)18. No primeiro momento, logo que chegaram, os imigrantes ficaram estarrecidos

pelo ambiente de mata nativa ao redor do sítio, de acordo com os relatos do Sr. Ming,

imigrante taiwanês, que na época de sua chegada no Brasil tinha nove anos de idade.

Ele relembra a manhã do dia em que amanheceu em Pindorama19:

Pela manhã vi minha mãe chorar ao ver uma paisagem de densas matas ao redor do sítio, parecia que a situação era até pior comparada com Taiwan, o que provocou tristeza e saudades do país de origem (MING, 2017).

O alojamento que os abrigava era um galinheiro desativado. Era um ambiente

fedido e sujo das fezes das galinhas que ficaram por ali.

Pindorama nessa época não passava de um lugarejo recoberto de matas,

muito deserto e ao longo de uma picada profundamente sulcada pelos rastros de

carros de boi, avistavam-se alguns poucos casebres dos carvoeiros. Aos poucos o

lugarejo cresceu, adquirindo aspecto de uma colônia. Uma colônia japonesa se

estabeleceu na região.20

A topografia de Pindorama, recoberta por matas, muito deserta e com

declividade não agradou a grupo de imigrantes. No dia 13 de outubro, o primeiro

domingo desde que chegaram ao Brasil, os seis pais das famílias e cinco senhoras

18 TOLENTINO, Marcelo Cliffton. Protestantes Taiwaneses em São Paulo – a fundação da Primeira

Igreja Presbiteriana em São Paulo – um estudo de caso. Dissertação (mestrado em Ciências da Religião) Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2016, p. 53.

19 A topografia da região é constituída por uma área de declividade suave que faz divisa de um lado com a cidade de Suzano e do outro lado, com a Serra do Mar. Banhada por diversos afluentes do rio Tietê, com uma altitude de 150 metros, supõe-se que muitos anos atrás essa região era toda recoberta por coqueiros, uma vez que “Pindorama” em linguagem indígena significa “Terra de Coqueiros”.

20 Em 1947 durante o período áureo da Cooperativa Suburbana em Pindorama, a diretoria da Cooperativa planejou a instalação de um núcleo de produção hortícola através de seus associados e escolheu essa área como sendo a “Terra Prometida”. Nessa ocasião ocorreram muitas confusões no seio da colônia japonesa que se estabeleceu em Pindorama, situada a 14 Km no sentido sudeste a partir de uma pequena estação de Estrada de Ferro do Brasil que pertence ao município de Mogi das Cruzes. Nesse período, após a 2ª. Guerra Mundial, não querendo aceitar a derrota do Japão, alguns japoneses entraram em conflitos entre seus patrícios, o que trouxe divisão entre eles. Para a realização do levantamento de dados foram feitas visitas de pesquisas na Biblioteca Municipal de Mogi das Cruzes “Benedicto Sérvulo de Sant’Anna”, situada na Praça Monsenhor Roque Pinto de Barros, 360 - Centro de Mogi e ao acervo histórico da cidade de Mogi das Cruzes, com a supervisão do bibliotecário Auro Malaquias dos Santos, que exerce essa função desde 2006 e que contribuiu com importantes materiais históricos levantados para a pesquisa.

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foram à cidade de São Paulo para participarem do culto no templo da Primeira Igreja

Presbiteriana de Formosa em São Paulo (ISP)21.

O percurso era longo. Seria necessário pegar um ônibus até Jundiapeba e

depois se transferirem para um trem até São Paulo e ainda andar por vários

quilômetros. Como dependiam de transporte público, era preocupante o retorno para

Mogi das Cruzes depois do culto, pois teriam que voltar a tempo de pegar o último

ônibus até Jundiapeba. Com isso, o grupo teve que se retirar antes que o culto

terminasse. Mesmo assim, não conseguiram, naquela noite, pegar o último ônibus

que os levariam de volta à Pindorama. Com isso, tiveram que fazer uma longa

caminhada até o sítio. O grupo chegou depois das 10 horas da noite, cansados pelo

percurso realizado. Devido à distância e às dificuldades com os horários do transporte

público, decidiram, naquela noite, que os cultos de domingo seriam celebrados entre

eles, nas dependências do sítio em Pindorama e não iriam mais viajar até São Paulo.

No dia 14 de outubro, o grupo de taiwaneses visitou a casa do Sr. Wu Huan

Long, no bairro de Botujuru22. Após a visita, enquanto esperavam o ônibus,

perguntaram ao Sr. Wu, se haveria algum terreno à venda naquelas proximidades. Ao

saberem que o terreno ao lado do ponto de ônibus onde eles aguardavam, estava à

venda, demonstraram interesse em adquiri-lo, por ser plano e bem localizado. Após

dois dias de negociações e análise, fecharam o negócio. No dia 20 de outubro após

assinarem o contrato de compra e venda, todos concordaram em ofertar uma porção

do terreno da esquina, de 30x30m2 para a construção do templo da igreja. O restante

do terreno foi sorteado, em partes iguais, entre as famílias.

No mesmo dia, 20 de outubro de 1963, ocorreu pela primeira vez, a celebração

de culto dirigida pelo próprio grupo de imigrantes taiwaneses em terra brasileira, no

sítio em Pindorama. No dia 27 de outubro realizaram pela última vez o culto no sítio.

No dia seguinte, as seis famílias partiram do sítio, contudo, quatro se mudaram para o

terreno recém-adquirido em Botujuru e duas famílias foram para Iguape, no sítio do

21 A ISP foi fundada oficialmente em 22 de Setembro de 1962, de acordo a pesquisa de mestrado realizada por

TOLENTINO, 2016, p. 56. 22 O bairro do Botujuru registrou um crescimento demográfico de 64,57% entre os anos de 2000 e 2017. A

população passou de 6.611 para 10.880, respectivamente, segundo os dados do IBGE. Isso significa que este é o terceiro bairro mais populoso de Mogi das Cruzes, perdendo apenas para a região de Jundiapeba, com cerca de 36 mil, e o Mogi Moderno com aproximadamente 17 mil. Botujuru está deixando suas características rurais, embora ainda mantenha muito do seu verde.

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Sr. Wu Chia Ming. A passagem dos taiwaneses por Pindorama foi breve. As famílias

permaneceram no sítio em Pindorama por 18 dias23.

No dia 03 de novembro, primeiro domingo das primeiras famílias taiwanesas

morando no bairro de Botujuru, foi realizado o primeiro culto no bairro e iniciada a

escola dominical para as crianças, nas dependências do antigo proprietário do

terreno, bem como, a primeira reunião de planejamento para a construção do primeiro

templo. A fundação da Igreja Presbiteriana de Formosa em Mogi das Cruzes,

portanto, não foi um projeto missionário financiado pela Igreja Presbiteriana de

Taiwan, mas uma iniciativa dos pioneiros taiwaneses presbiterianos em Botujuru.

1.6. As Primeiras Atividades Econômicas: Cultivo de Cogumelos e Avicultura

No portal de entrada que dá acesso às dependências da Igreja, a arquitetura

nos remete a uma demonstração simbólica da importância das atividades econômicas

para o grupo protestante taiwanês - em cima das colunas do portal há duas esferas

brancas que simbolizam: um ovo de um lado da coluna e um cogumelo do outro lado

da coluna. Essas duas primeiras atividades econômicas que os imigrantes e seus

descendentes desenvolveram no país possibilitaram a edificação do atual templo e

suas dependências no bairro Mogilar, em Mogi das Cruzes.

O cultivo de cogumelos e a avicultura foram, de início, a marca registrada do

grupo taiwanês protestante na cidade de Mogi. Após investigações em documentos

históricos sobre a inserção dos imigrantes taiwaneses e de sua atividade econômica

na rotina da cidade, raras informações foram obtidas. Contudo, o registro do

historiador Isaac Grínberg, em 1974, contribuiu para legitimar a presença dos

taiwaneses no bairro de Botujuru, como “cultivadores de sucesso na produção de

cogumelos”, o que elevou a produção anual da cidade em relação a outros estados

brasileiros também produtores de cogumelos. Em seu livro Retrato de Mogi das

Cruzes (1974, p.42), o saudoso historiador da cidade de Mogi das Cruzes, Isaac

Grinberg24, descreve:

23 Informações obtidas do site da Igreja, disponível em>

http://www.ipfmogi.org.br/wb/pages/historico/pt.php. Acesso em 21/03/2017 24 Grinberg, Isaac.Colaborador dos Institutos Históricos de São Paulo, Santos e Minas Gerais - da

União Brasileira de Escritores. Escritor do livro Retrato de Mogi das Cruzes (Geografia – História - Zoologia - Botânica - Estatística - Assuntos Gerais - Civismo). São Paulo, 1974, p. 42.

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A cultura do cogumelo ou champignon desenvolveu-se de tal forma no município que é hoje um produto de grande expressão nas estatísticas locais. Vejamos. Em todo Estado de São Paulo, inclusive norte do Paraná, há 250 cultivadores de cogumelos que colhem 2.600.000 quilos por ano. Pois, só em Mogi das Cruzes estão 125 desses cultivadores, produzindo 1.200.000 quilos de cogumelos anuais! Outra curiosidade: a maioria das 125 famílias é constituída de chineses vindos de Formosa, que se estabeleceram em Mogi das Cruzes (...)

Em seu país de origem os imigrantes agricultores possuíam experiência no

cultivo de arroz, porém, no município de Mogi essa atividade não foi bem sucedida.

Outras tentativas foram sendo realizadas com sucesso, entre elas: atividades em

granja, plantação de verduras e o cultivo de cogumelos. Apesar de não possuírem

experiência no cultivo de cogumelos em Taiwan, as tentativas deram certo em

Botujuru e a colheita abundante animou os taiwaneses a continuarem produzindo.

A fungicultura pode ser desenvolvida em pequenas propriedades, ao redor das cidades, com as características fundamentais de preservar a fixação do homem no campo e viabilizar a modalidade de “agricultura

familiar” (ABE, 2015) 25.

A implementação da fungicultura pela comunidade dos taiwaneses em Mogi

das Cruzes contribuiu para o aumento da produção agrícola da região. Ao tratar da

importância dos produtores taiwaneses como ”pioneiros no cultivo de cogumelos

comestíveis no Brasil”, o líder rural Junji Abe26, afirmou que:

Na década de 1950, aproximadamente dez famílias de imigrantes chineses de Taiwan (China Nacionalista) iniciaram em Mogi das Cruzes, no bairro de Botujuru, na zona rural, o cultivo de cogumelo. Foram contemplados pelo microclima, similar ao do país de origem e, portanto, ideal para a proliferação do fungo conhecido como cogumelo comestível (2015).

25 Trabalho acadêmico de Daphne Pinheiro, da Universidade Federal de São Paulo – Unifesp do Curso

de Graduação em Ciências Sociais, “Implementação da fungicultura pelos chineses” na ocasião entrevistou o Deputado Federal Suplente Junji Abe, líder ruralista, em 09 de Setembro de 2015, São Paulo. Informações obtidas em http://junjiabe.com/galeria/?p=41401, acesso em 21/Mar/2017.

26 Junji Abe ativo líder rural, representante classista (Sindicato Rural de Mogi das Cruzes, Federação

da Agricultura do Estado de São Paulo e Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária), foi também gestor público e político e secretário municipal de Agricultura, Abastecimento, Indústria e Comércio de Mogi das Cruzes, deputado estadual, prefeito municipal e deputado federal suplente, São Paulo, 2015.

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Atualmente Mogi das Cruzes é responsável por 70% da produção nacional de

cogumelos27. Aproximadamente 20% dos membros da Igreja Presbiteriana de

Formosa, atualmente, continuam cultivando cogumelos. Através da dedicação e

empenho desses produtores, gradativamente, os cogumelos foram se popularizando

e conquistando o mercado consumidor.

Vale a pena lembrar que tanto as técnicas de cultivo como as inovações, foram sendo obtidas por seus esforços próprios, o que tornou possível introduzir no Brasil o pioneiro champignon, de 60 anos atrás, e também mais de dez variedades de cogumelos: shitake, shimeji, castanho, porto belo, ostra, porcini, nameko, salmão, entre outros (ABE, 2015).

27 Isto significa 6 mil toneladas por ano, cultivadas por aproximadamente 200 produtores - taiwaneses,

japoneses e seus descendentes e brasileiros, que geram cerca de 2,1 mil empregos diretos no setor produtivo e 12 mil indiretos através de pesquisa, assistência técnica, indústria, ... ...transporte, máquinas, equipamentos, insumos, varejo, atacado e outros serviços. No entanto, as importações de cogumelos in natura da China, desencadearam uma concorrência desleal com os produtores brasileiros.

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CAPÍTULO II - ESTABELECIMENTO E FORMAÇAO DE UMA

COMUNIDADE ÉTNICA PROTESTANTE: A Igreja Presbiteriana de

Formosa em Mogi das Cruzes

2.1. O Cenário de Taiwan, após 1949: Fatores que impulsionaram a emigração

No final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, as Forças Aliadas instruíram o

Governo Nacionalista Chinês, Kuo-ming-tang, a aceitar a rendição japonesa de

Taiwan e a empreender temporariamente a ocupação militar da ilha. Em 1949, o

governo da ROC28 mudou-se da China para Taiwan com muitos soldados e civis, com

o objetivo de continuar a luta contra o comunismo e unificar o país sob os ideais de

liberdade, democracia e prosperidade. A partir de então, o governo da ROC começou

a implementar reformas políticas e econômicas em Taiwan, apesar das sérias

ameaças que o continente chinês representava para a segurança nacional de Taiwan.

A Lei Marcial implantada incluía uma política de uma língua.

Se por um lado o rival governo da China não aceitava a independência de

Taiwan, por outro lado o sonho do governo nacionalista em Taiwan não considerava

ser de fato necessário nem desejável tentar unir-se à China.

A ROC elegeu pela primeira vez o seu presidente e vice-presidente pelo voto

popular em março de 1996. A comunidade internacional nesse período reconheceu as

reformas democráticas de Taiwan, mesmo diante de algumas restrições políticas e

sociais que o governo obrigou a população a aceitar. Com o passar do tempo, Taiwan

tornou-se um modelo para os países em desenvolvimento. O continente da China

aplica atualmente a política da reunificação pacífica e a solução da questão de

Taiwan segue o seguinte princípio “um país, dois sistemas”.29

28 ROC: República da China continental e comunista. 29 XI ERXIAO, História de Taiwan. Beijing: Editora Bianyi, 1994.https://books.google.com.br/books.

Enciclopédia de Guerras e Revoluções-Vol. III:1945-2014. Acesso em 23.Fev.2017.

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Tanto o ambiente externo como interno de Taiwan estavam marcados pela

insegurança nacional, diplomática e econômica. Com respeito à segurança nacional,

os comunistas chineses constituíam uma ameaça militar real e constante durante todo

esse período. A Batalha de Quemoy em Kuningtou em 1949, a Batalha das Ilhas

Tachen em 1954 a 1955, e a Batalha do Estreito de Taiwan em 2 de Agosto de 1958,

foram todas lutas ferozes entre a ROC e as forças comunistas.

Promovia-se por parte dos comunistas chineses políticas tais como “lavar

Taiwan em um mar de sangue” ou “libertar Taiwan pela força das armas”. Essa

gravíssima ameaça militar colocava tanto o governo da ROC quanto a população em

constante estado de alerta.

Com o apoio dos Estados Unidos, o governo de Taiwan desfrutava de estreitos

laços diplomáticos com a grande maioria dos países democráticos, sendo

reconhecida como legítima representante de toda a China até 1971. Porém, com a

saída de Taiwan da ONU (Organização das Nações Unidas) em 1971, seu status

internacional enfraqueceu e suas relações diplomáticas decresceram de forma

acentuada. De acordo com o ministério das relações exteriores, ficou estabelecido em

1974, que as relações diplomáticas entre Brasil e China seriam intensificadas,

assumindo crescente complexidade e a relação exterior com Taiwan se daria a nível

comercial: Nos termos do Comunicado Conjunto assinado quando do estabelecimento

das relações diplomáticas, o Brasil reconhece que "a República Popular da China é o

único Governo legal da China", e o Governo chinês reafirma que "Taiwan é parte

inalienável do território da República Popular da China". Com isso, o Brasil deixou de

reconhecer Taiwan como entidade de governo soberano e autônomo, rompendo

relações diplomáticas com a ilha. O Brasil apoia a política de "uma só China" e os

esforços pacíficos pela reunificação do território chinês, em conformidade com a

Resolução nº 2758 da Assembleia Geral das Nações Unidas (1971), pela qual

Pequim retomou seu assento na ONU – inclusive no Conselho de Segurança30.

Desde 1949 a situação sócio-econômica de Taiwan era desesperadora e a

população era extremamente pobre, uma história de miséria e sofrimento. O

desenvolvimento econômico tornou-se prioridade absoluta do governo da ROC. Entre

as décadas de 1950 e 1960, o objetivo fundamental do governo era melhorar o

30 Informações obtidas em:http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/ficha-pais/4926-republica-popular-da-

china. Acesso em 29.Ago.2017.

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padrão de vida dos habitantes, aprimorar o poder nacional e promover a estabilização

da economia no país.

O governo da ROC colocou em vigor o Decreto de Emergência em 1949, que

continha várias restrições e limitações acerca dos direitos dos cidadãos. Dentre os

direitos garantidos pela Constituição que foram temporariamente congelados,

estavam a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa, o direito a reuniões e a

liberdade de associação. Foram estabelecidos controles rigorosos sobre as defesas

costeiras e das montanhas, a fim de bloquear as tentativas de invasões e de

subversão dos comunistas chineses. O decreto também restringiu a formação de

novos partidos políticos para impedir políticas multipartidárias que pudessem dividir a

força da nação31.

O sistema de governo da ROC aplicado em Taiwan foi de início autoritário, nas

primeiras etapas de sua implantação, a fim de promover a ordem pública e um

ambiente político estável, com perspectiva de se alcançar a modernização do país. Ao

longo desse processo político, Taiwan testemunhou um grande afluxo de

trabalhadores emigrantes, “realizando cruzamentos culturais de fronteiras”.

Levando em conta as circunstâncias da época; a constante ameaça militar por

parte dos comunistas chineses na Ilha de Taiwan; o sistema de autoritarismo político

implantado pelo partido dominante (ROC), a situação de ordem econômica e social

em que se encontrava a maioria da população pobre do país - sem perspectiva de

aquisição de terra para cultivo. Em contrapartida, havia a expectativa de aquisição de

maiores extensões de terras para o cultivo no Brasil. Estes foram os fatores que

influenciaram decisivamente o fluxo migratório das seis primeiras famílias de

camponeses para o Brasil em 1963, que se estabeleceram na cidade de Mogi das

Cruzes, no Estado de São Paulo.

2.2. Brasil: Uma Terra Messiânica: O Altar de Abraão

No ano de 1963, na região central de Taiwan, no distrito de Chiong-Hòa, seis famílias de agricultores cristãos, quatro da Igreja Gôan-táu, e duas da Igreja Khe-chiu, no total de 32 pessoas, das quais 11

31 Yeong-Kuang, Ger. A História de Taiwan: Política. Gráfica Sargirard Ltda. 1ª. Edição, 1999. São

Paulo, pág. 2-5.

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adultos e 21 crianças, desejaram obter, com a bênção de Deus, a oportunidade para se desenvolverem como agricultores, assim como Abraão foi abençoado, indo à terra de Canaã. Apesar de estarem longe de suas terras e familiares, guardavam a expectativa de encontrarem no Brasil um país em que poderiam glorificar a Deus, trazer benefícios à humanidade e construírem igrejas a fim de expandirem seus princípios de fé (...). No caminho, todos gostavam de cantar o hino 65 do hinário: “Pela bela terra”. Com ele, louvavam e agradeciam a Deus32.

A emigração das primeiras famílias taiwanesas para o Brasil representava mais

que uma oportunidade de realização sócio-econômica em outro país; associava-se à

crença judaico-cristã de encontrarem no Brasil uma terra abençoada, uma analogia

com a terra prometida de Canaã. Há cerca de 4.000 anos atrás Deus fez uma

promessa a Abraão:

Deus chamou Abraão e disse: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu lhe mostrarei.... Assim partiu Abraão para a terra de Canaã.... E edificou ali um altar dedicado ao Senhor, e invocou o nome do Senhor (Gênesis 12:01;04;08).

Em 1620 um grupo de cristãos ingleses, em busca de liberdade religiosa,

motivados pela fé, embarcaram no navio Mayflower e chegaram ao Novo Mundo, à

América, e deram continuidade à fé protestante na nova terra, com o objetivo de

prosperá-la.

De acordo com esses exemplos, as seis primeiras famílias basearam sua fé na

esperança de uma terra prometida no ocidente. Com base na palavra profética

direcionada a Abraão, as primeiras famílias taiwanesas deixaram Taiwan e

embarcaram no porto Keelung em 20 de Agosto de 1963 e viajaram 49 dias à bordo

do navio. No segundo dia de viagem, após o navio ter partido de Taiwan houve o

primeiro culto, e desde esse dia em diante, todos os dias, com horário marcado, era

celebrado o culto pela manhã e à tarde. “Quando chegaram no solo brasileiro já

tinham o hábito de cultuarem a Deus todas as famílias juntas” (Hui, 2017).

A viagem para o Brasil representava, antes de tudo, uma atitude de fé

acompanhada de espírito desbravador, pois só conheciam como era o Brasil por

comunicação precária, através de cartas escritas de parentes e amigos que aqui

moravam; em rumo ao desconhecido, para eles seria uma viagem sem volta. As seis

32 Informações obtidas do site da Igreja, disponível em:> http://ipfmogi.org.br/v2/menu/historico.php. Acesso

em 21.Mar.2017

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famílias não tinham grau de escolaridade, eram desprovidos financeiramente e diante

deles haveria vários desafios novos a enfrentar. A fé na providência divina levava-os a

colocar “Deus em primeiro lugar em suas vidas”, por isso “oravam constantemente

para que Deus os conduzisse na direção certa”. A “fé era o fundamento espiritual e a

razão central de suas vidas” e se transformou em forte coluna que sustentava a

determinação para o recomeço na nova terra: “Este estilo de vida pode bem ser

considerado a germinação da nova Igreja dos imigrantes posteriormente constituída”

(Álbum do Cinquentenário, 2013).

No litoral brasileiro, chegaram primeiro ao porto do Rio de Janeiro, e no dia 9

de outubro atracaram no porto de Santos. No dia 10 de outubro de 1963,

desembarcaram.

Em um curto período em solo brasileiro, as famílias de imigrantes compraram

um terreno no bairro de Botujuru em Mogi das Cruzes e a primeira decisão tomada foi

a “escolha da melhor porção de terra de 30X30 metros que seria dedicada à

construção do templo, um local de adoração ao Senhor” (Álbum do Cinquentenário,

2013).

A construção do templo representava um ato simbólico de fé, um “altar de

adoração” que seria ali edificado, assim como ocorreu com Abraão na terra de Canaã,

ao construir um altar ao Senhor quando entrou na terra de sua possessão. As

primeiras famílias vieram para o Brasil motivadas pela esperança e fortalecidas pelos

laços afetivos e culturais que os uniam. Acreditavam que o “Brasil fosse uma terra

próspera, uma herança de Deus, destinada aos seus filhos e às futuras gerações”

(Álbum do Cinquentenário, 2013).

2.3. Breve Histórico da Primeira Igreja Presbiteriana de Formosa em São Paulo

Na história da primeira Igreja Presbiteriana de Formosa em São Paulo,

destacam-se como pioneiros o Dr. Yu-chi Yang e sua esposa Yang Hong Sui-len,

considerados os primeiros imigrantes taiwaneses presbiterianos em São Paulo, entre

os anos de 1955 e 1956. Este período, que ficou conhecido na história brasileira como

os “anos dourados”, ocorreu durante o governo de Juscelino Kubitschek e nos

posteriores. Caracterizou-se como um período de grande desenvolvimento

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econômico, industrial e de liberdade religiosa, vivenciada nos grandes centros do país

como em São Paulo.

Os taiwaneses tinham a esperança de prosperar em outro país, distante dos

conflitos políticos que ocorriam entre Taiwan e a China. Para eles, o Brasil era um

país referencial, no contexto migratório, pela liberdade religiosa, ao mesmo tempo,

pela experiência bem sucedida da migração japonesa no Brasil, desde 1908.

A disposição no serviço a Deus em solo brasileiro, possibilitou a implantação

da Igreja étnica em 1962, através de cultos domésticos no lar do “casal Sr. e Sra.

Yang, considerados os fundadores oficiais da ISP” (TOLENTINO, 2016, p. 56)33. Com

o passar do tempo, imigrantes taiwaneses recém-chegados em São Paulo

promoveram o crescimento do grupo. A Igreja possibilitava um espaço de

relacionamentos, ao mesmo tempo tornava-se a manutenção da identidade do grupo

pelo fator linguístico. Com a inauguração do templo em 1984, a Igreja Presbiteriana

de Formosa em São Paulo consolidou seu estabelecimento e demarcou seu espaço

na sociedade brasileira.

A participação do Dr. Yang como pioneiro presbiteriano taiwanês no Estado de

São Paulo, foi imprescindível no que diz respeito, tanto para a fundação da primeira

Igreja Presbiteriana de Formosa, “apontado como primeiro grupo taiwanês

presbiteriano em todo o Brasil” (TOLENTINO, 2016, p. 51), relevante no fator que

abrange o aspecto religioso, quanto no aspecto sócio-econômico, ao abrir caminho

para o fluxo migratório que se sucedeu após sua chegada ao Estado de São Paulo.

A organização da primeira Igreja Presbiteriana de Formosa no Estado de São

Paulo, somada ao contexto econômico desenvolvimentista pelo qual o Brasil estava

passando, propiciou a migração de outras famílias para este Estado, como relata

Tolentino, 2016, p.49:

O Dr. Yang também foi importante na fundação de mais uma igreja. Ele foi o elo para a vinda de seis famílias taiwanesas para a região de Mogi das Cruzes. Eram presbiterianos. E ali fundaram, em 1963, a Igreja Presbiteriana de Formosa de Mogi das Cruzes e construíram um templo que permanece até os dias de hoje.

33 TOLENTINO, Marcelo Cliffton. Protestantes Taiwaneses em São Paulo – a fundação da Primeira

Igreja Presbiteriana em São Paulo – um estudo de caso. Dissertação (mestrado em Ciências da Religião) Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2016.

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Como contato fundamental no Brasil, o Dr. Yang e sua família contribuíram,

inclusive, para a vinda das seis primeiras famílias taiwanesas que se estabeleceram

no bairro de Botujuru em 1963, que se tornaram os pioneiros e fundadores da Igreja

Presbiteriana de Formosa na cidade de Mogi das Cruzes. Possivelmente o Dr. Yang

não calculou à abrangência dos fatos que se desencadeariam após sua vinda ao

Brasil, na contribuição para o fluxo migratório dos taiwaneses e seu estabelecimento

em São Paulo e na construção da história que continua sendo escrita pelo grupo

étnico presbiteriano taiwanês e sua inserção social e religiosa na cidade de Mogi das

Cruzes.

2.4. Motivação da migração para a cidade de Mogi das Cruzes

A situação de ordem econômica e social das famílias taiwanesas que migraram

para a cidade de Mogi das Cruzes em 1963, era considerada de baixo poder

aquisitivo. “Eram roceiros em Taiwan, tinham que lutar e suar diariamente de sol a sol

para terem o que comer, aos olhos humanos não havia a possibilidade de terem

futuros brilhantes” (Álbum do Cinquentenário, 2013, p. 139). Camponeses, sem

formação escolar, pobres e sem prestígio e que em um amplo aspecto, esses fatores

de ordem econômica, social e cultural desencadearam a emigração.

Em Taiwan não havia perspectiva para a obtenção de terras para a produção

agrícola, por outro lado, a expectativa de aquisição de maiores extensões de terras

para o cultivo na lavoura a baixos custos e a possibilidade de se tornarem grandes

proprietários rurais e produtores agrícolas influenciaram decisivamente o fluxo

migratório das seis primeiras famílias taiwanesas para a cidade de Mogi das Cruzes,

“o Brasil que estavam indo era um lugar estranho (...), apenas sabiam

superficialmente que era um país em desenvolvimento e de oportunidades” (Álbum do

Cinquentenário, 2013, p. 140).

Através de cartas, que antecederam a viagem, trocadas com parentes e

amigos que moravam no Brasil, as famílias se informaram a respeito de uma cidade

inserida na região do Alto do Tietê, onde poderiam adquirir terras a baixo custo para

lavoura.

Mesmo diante do desconhecido e das futuras dificuldades a ser enfrentadas, a

“disposição para o trabalho não faltava ao grupo e um espírito desbravador tomava

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conta de seus membros, que incessantemente recorriam a fé para fortalecimento de

seus propósitos”.

O fator econômico decisivo para a entrada e permanência do imigrante

taiwanês na cidade de Mogi das Cruzes foi o incentivo ao agronegócio estabelecido

na região - pequena propriedade rural familiar - iniciada pelos japoneses no início do

século XIX, que deu origem ao Cinturão Verde de São Paulo. Esse incentivo, somado

às características do solo e do clima, foram os fatores favoráveis às atividades de

hortifrutigranjeiros, desenvolvidas pelos imigrantes desde sua chegada à cidade.

2.5. O Primeiro Templo

“Sei que naquela época cada um deu o que tinha para comprar o primeiro

terreno, não importava o valor, era um ajudando o outro” (Chen, 2017).

Figura 8: Primeiros imigrantes taiwaneses e o primeiro templo da Igreja Presbiteriana de Formosa no bairro de Botujuru - Mogi das Cruzes/SP

O primeiro templo da Igreja Presbiteriana de Formosa edificado no bairro de

Botujuru, na cidade de Mogi das Cruzes agrega elementos simbólicos relevantes para

o grupo étnico. Além da estrutura física representar um “altar de adoração a Deus” em

gratidão pela posse da nova terra, o espaço interno é um ambiente que conserva a

história do grupo - desde a despedida dos parentes e amigos, no porto de Taiwan; a

viagem na embarcação; a chegada ao Brasil; a compra do terreno e a construção do

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templo - que “contou com a participação de todos, até sua finalização”. Toda essa

trajetória e seus desbravamentos estão representados em quadros pintados a óleo,

em exposição no interior do primeiro templo. Além do templo ser um patrimônio

material de elementos simbólicos, o espaço interno utilizado para as reuniões,

conserva a manutenção da fé e das tradições étnico-culturais, no ambiente religioso.

Religião, pois, é uma categoria de análise histórica e social que pode ser definida como um conjunto de crenças, preceitos e valores que compõem artigo de fé de determinado grupo em um contexto histórico e cultural específico, lembrando que a religião é sempre coletiva (SILVA & SILVA, 2009, p. 354).

Figura 9: Interior do primeiro templo em Botujuru

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Figura 10: Interior do primeiro templo. Os quadros afixados na parede retratam a trajetória da viagem migratória dos taiwaneses, desde sua saída de Taiwan, até a construção do primeiro templo

em Botujuru.

“De início todas as decisões eram tomadas em conjunto. A construção do

templo exigiu muito esforço e dedicação tanto dos adultos como até mesmo das

crianças”. Tendo em vista que nenhum dos taiwaneses tinha a experiência em

construção civil, a edificação das suas próprias casas tornou-se uma “oportunidade

para desenvolverem as habilidades necessárias à construção do templo”.

Em dezembro de 1963, começou a construção do primeiro templo da Igreja em

Botujuru. Desmatar o terreno foi o primeiro passo. Como não possuíam maquinários,

como tratores, os troncos das árvores foram arrancados pela força física. O Natal

daquele ano marcou significativamente aquelas famílias, “pois todos estavam unidos

dando seu sangue e suor” em prol de um bem material unificador do grupo. Na

véspera do Natal, as duas famílias que moravam em Iguape, vieram para somar às

famílias em Botujuru. Unidas as famílias, a comemoração do Natal tornou-se ainda

mais significativo para eles. A construção exigia empenho para a consolidação dos

ideários do grupo:

Alguns homens realmente sangraram por causa do carregamento dos pesados troncos, mas ninguém reclamava, pelo contrário, todos sentiam alegria no coração. Desde a fundação até a colocação da viga principal, os corações eram um só. Observar a igreja sendo construída era uma satisfação que contagiava os corações repletos de alegria e gratidão, por isso, louvavam a Deus em retribuição (Álbum do Cinquentenário, 2013).

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Em março de 1964, finalizaram a construção do templo. O empenho dos

taiwaneses na construção do primeiro templo é um marco na história do grupo no

Brasil.

Apesar do cansaço atingir a todos, o espírito de alegria pelo fato do templo do Senhor ter sido erguido, em terreno próprio, era maior. O templo era simples, mas utilizou a energia e o suor ofertado de cada um para sua finalização (Álbum do Cinquentenário, 2013).

O templo recebe visitas de pessoas interessadas em ouvir o legado da saga

migratória do grupo. Uma rede de emissora taiwanesa realizou uma matéria

jornalística contando o sucesso da história migratória do grupo e sua importância, não

somente para a sociedade mogiana, como também para seus compatriotas que

ficaram em seu país de origem, Taiwan.

2.6. A Inauguração do Templo em Botujuru e o Primeiro Pastor

Figura 11: Parte externa do primeiro templo da IPF, no bairro do Botujuru em Mogi das Cruzes

O templo ainda estava em construção quando os pioneiros decidiram a

“contratação de um pastor, da mesma etnia, que falasse a língua taiwanesa, a fim de

ministrar à igreja e dar assistência ao grupo, no intuito de promover um crescimento

espiritual adequado”. No final de 1963, contratou-se o pastor Tseng Tien Lai (Daniel),

morador de Suzano, que na ocasião ministrava na Primeira Igreja Presbiteriana de

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Formosa em São Paulo (ISP). Desde janeiro de 1964, o culto era realizado, pela

manhã, na casa do diácono Chuang em Botujuru e à tarde o pastor Tseng retornava

para São Paulo ministrar na ISP.

A decisão de inaugurar o templo na Páscoa teve um significado ainda maior

para o grupo, uma analogia do simbolismo religioso para a fé cristã, “a libertação da

escravidão do povo hebreu no Egito para a terra de Canaã, terra que manava leite e

mel”. Agora no Brasil, longe dos rumores e dos conflitos políticos e militares que

envolviam China-Taiwan, os taiwaneses estavam livres para trabalharem e cultuarem

a Deus em uma terra próspera para o cultivo. No dia 05 de abril de 1964, foi realizado

dois significativos cerimoniais: a celebração da Páscoa e a inauguração do primeiro

templo. A consagração do templo representava “o centro organizador do mundo

religioso que ali se estruturava” (RIBEIRO, 2014, p.179).

Na ocasião da inauguração, a ISP presenteou o primeiro templo com um

instrumento musical, um órgão. A consagração do santuário foi acompanhada por um

cerimonial que introduziu a música na ordem litúrgica. “No Antigo Testamento, a

inauguração do Templo de Jerusalém, no reinado de Salomão se faz mediante a

presença de orações e cânticos” (RIBEIRO, 2014, p.178). O pastor Tseng dirigiu o

culto com 35 pessoas presentes.

Um momento único na vida de cada uma das famílias que presenciavam a realização de um sonho. A gratidão tomou conta de todos os presentes. Foi um momento de agradecerem a Deus pela viagem, por chegarem em paz ao Brasil, pela conquista do novo sítio e pelo término da construção do templo. Aproveitaram também o ensejo para pedirem a Deus que continuasse a conduzi-los na nova terra onde também estavam cercados de desafios. Na ocasião, a igreja foi denominada “Igreja Cristã de Motozul”, pela aproximação da pronúncia de “Botujuru”.34

As duas famílias que estavam em Iguape plantando arroz, fixaram moradia em

Botujuru, a fim de se juntarem às quatro famílias, agregando assim o total do grupo

que inicialmente vieram de Taiwan. “Alguns criaram galinhas, outros plantaram

verduras e alguns cultivaram cogumelos”. Com o passar do tempo e os “bons

resultados das colheitas, era unânime o reconhecimento das bênçãos e dos cuidados

34 Informações obtidas no site da Igreja Presbiteriana de Formosa em Mogi das Cruzes, disponível em:

http://www.ipfmogi.org.br/wb/pages/historico/pt.php, acesso em 21/03/2017.

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de Deus” sobre eles, e com isso a vida foi se estabilizando (Álbum do Cinquentenário,

2013).

Em meados de abril de 1965, o pastor Hsu Yu Tsai veio de Taiwan para o

Brasil morar com seu filho mais velho no sítio do Dr. Yang, que mantinha uma granja.

Em 18 de abril, ao participar pela primeira vez do culto no templo, houve o convite

para ministrar a primeira ceia. Desde então, o pastor Hsu passou a dirigir o culto

todos os domingos. Em razão da necessidade de obreiros, a igreja requisitou junto ao

presbitério de Taiwan uma autorização para que o pastor Hsu liderasse o conselho.

Em 26 de setembro estabeleceu-se o “primeiro conselho e a primeira junta

administrativa” composta pelos primeiros imigrantes que já exerciam cargos de

presbíteros e diáconos.

Os presbíteros eram: Wang Shou Pao, Chen Chen-Chang, Chi Ching-Cheng; e os diáconos: Chen Jung-Hoa e Chuang Yung-Te. Ao mesmo tempo Chen Jung Hoa foi designado diretor da escola dominical. Em 2 de dezembro de 1966, houve Assembleia Geral, que elegeu o Pastor Hsu como o primeiro pastor da igreja35.

2.7. Mudança de Templo: Crescimento e Conquistas

Devido o aumento do número de imigrantes que chegavam ao Brasil, a cada

ano, houve a necessidade de se planejar um templo maior. Isso se tornou prioridade

para o grupo, tendo em vista que o primeiro templo não comportava mais do que 50

pessoas.

No final de 1966, a Igreja enviou o Pr. Hsu para Taiwan e durante o culto de

despedida, ele compartilhou com o grupo sua opinião com relação à ampliação da

igreja, “aconselhando todos a colocarem como meta a construção do futuro templo no

centro da cidade de Mogi das Cruzes”, distante 7 km de Botujuru. Ele utilizou a Bíblia

como guia, afirmando que “a igreja primitiva utilizava as cidades grandes como pontos

de referência para evangelização”.

Na época 95% dos membros da igreja moravam em Botujuru, na zona rural e

nenhuma família morava no centro urbano de Mogi das Cruzes. Por essa razão, a

maioria do grupo não aceitou a mudança do templo, por não desejarem se deslocar

35 Informações obtidas no site da Igreja Presbiteriana de Formosa em Mogi das Cruzes, disponível em:

http://www.ipfmogi.org.br/wb/pages/historico/pt.php, acesso em 21/03/2017

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até o centro da cidade. Um ano depois o Pr. Hsu voltou ao Brasil e foi oficializado

como pastor da IPF, no dia 03 de janeiro do ano seguinte. Nesse contexto, modificou

a denominação para “Igreja Cristã em Botujuru”.

Com o passar do tempo, o número de membros aumentou gradativamente, e

conjuntamente, cresceu também a necessidade de deslocamento da zona rural para

zona urbana. Devido o envolvimento nas atividades de trabalho tipicamente urbana e

o prosseguimento nos estudos em nível superior nas universidades públicas - a partir

da segunda geração - os “taiwaneses passaram a concordar com a opinião do Pr.

Hsu, quanto à construção de um novo templo no centro da cidade”.

Do dia 12 de novembro de 1968 foi adquirida a quinta parte de um terreno no

centro de Mogi. No dia 22 de outubro de 1973, concluiu-se a compra da totalidade do

imóvel, como se configura atualmente.

Os taiwaneses realizaram tanto a compra do terreno como a construção do

templo, “com as ofertas doadas pelos membros da igreja”. Sempre que eram

desafiados a construírem novas instalações, “experimentavam Deus os abençoando

através de uma farta colheita” (Álbum do Cinquentenário, 2013, p. 9).

O Pr. Hsu Yu Tsai, após um ano ministrando em Botujuru, passou também a

atender às necessidades da ISP. Em 23 de dezembro de 1969, foi aprovado em

Assembleia Geral, a contratação do Pr. Hsu Hui Shih, oriundo de Taiwan. No dia 25

de dezembro ele tomou posse, tornando-se pastor adjunto. Em dezembro de 1970, o

Pr. Hsu Yu Tsai assumiu o pastoreio integral da ISP e o Pr. Hsu Hui Shih se tornou o

segundo pastor titular da história da Igreja em Botujuru.

Durante a construção do novo templo, os “taiwaneses continuaram colocando a

mão na massa e sendo os principais obreiros do templo, reforçando a mão de obra

dos pedreiros contratados”. Dessa forma, “faziam com que a obra progredisse

rapidamente” (Álbum do Cinquentenário, 2013). Em 05 de novembro foi celebrado o

culto de agradecimento no estabelecimento provisório. Nessa ocasião ocorreu a

mudança da denominação da Igreja que passou a ser chamada de “Igreja

Presbiteriana de Formosa de Mogi das Cruzes”, conservando a denominação do seu

país de origem. Todas as seis famílias eram presbiterianas em Taiwan. “Após essas

mudanças, o número de integrantes da Igreja aumentou consideravelmente”36.

36 Informações obtidas no site da Igreja Presbiteriana de Formosa em Mogi das Cruzes, disponível

em:>http://www.ipfmogi.org.br/wb/pages/historico/pt.php, acesso em 21/03/2017

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Em razão do número de imigrantes ter aumentado significativamente, o local de

culto, que acomodava aproximadamente cem pessoas, ficava sempre lotado. Para

atender a essa demanda, o templo teria que abranger um espaço físico ainda maior.

Após a aquisição de um novo terreno, agora no bairro do Mogilar, foram estabelecidas

algumas etapas para a construção do novo templo, a fim de atender às necessidades

do grupo, como a construção da casa pastoral, das salas de aula para a escola

dominical e a etapa final: a construção do templo com espaço para acomodar 400

pessoas.

Para a construção do novo templo foi constituída uma comissão, que visitou

outros templos a fim de realizar uma análise e pesquisa arquitetônica. Um fato que

provoca profunda admiração é a prosperidade vivenciada pelos membros do grupo

étnico, no período da construção do templo e suas dependências, independente de

qual fosse o ramo de trabalho desempenhado.

“Na realização de concretar o piso do templo, mais uma vez todos

participaram, os homens cimentaram e as mulheres ficaram na cozinha preparando uma iguaria chinesa para a refeição: arroz embrulhado na folha de bambu. Todos ajudaram e cooperaram para a construção do templo, e assim Deus abençoou a todos os que se dedicaram a Ele”.

No dia primeiro de janeiro de 1978, foi celebrado o culto de inauguração do

novo templo, com a participação do pastor convidado Huang Wu Tong. “As

comemorações da inauguração do templo duraram cinco dias de avivamento

espiritual”. A contratação de pastores vindos de Taiwan reforçava a manutenção da

identidade étnica do grupo, que crescia a cada ano em sua membresia. Em 20 de

maio de 1984, foi eleito o Pr. Chuang Chiu Wei como pastor adjunto. A família do Pr.

Chuang chegou ao Brasil no dia 7 de dezembro após os trâmites para imigração

terem sido bem sucedidos, no dia 23 de dezembro foi realizada a cerimônia de posse,

tornando-se o terceiro pastor da Igreja.

Os serviços ministeriais demandavam por mais obreiros, o que levou à

contratação do quarto pastor da história da Igreja, o Pr. Chi Tsung-Nan, emigrado de

Taiwan. Fizeram também parte do corpo de pastores da IPF, o Pr. Cheng Kwo King,

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como pastor adjunto e o Pr. Herman Wu (2000), que auxiliou também no ministério

pastoral37.

A IPF em Mogi das Cruzes, ao longo de sua história, manteve no ministério

pastoral quatro pastores, formados no seminário teológico em Taiwan e três pastores

formados no Seminário Teológico Servos de Cristo em São Paulo. Contabilizados,

foram sete pastores com dupla cidadania que lideraram a Igreja ao longo dos 54 anos

de existência, até o presente trabalho.

Atualmente a Igreja conta com o pastor titular, o Rev. Jônatas Chen, desde

agosto de 2013. Como pastor auxiliar, o Rev. Wu Chun Hsien, desde 2014 e o

Ministro Lin Ying Tsung, desde 2015.

2.7.1. Simbolismo Arquitetônico do Templo

A arquitetura externa do templo da IPF em Mogi das Cruzes agrega elementos

de valor simbólico para a confirmação da fé do grupo étnico protestante. A construção

arquitetônica externa simboliza “duas palmas de mãos que se unem em sentido de

oração e gratidão a Deus” (Chen, 2017). No topo, uma cruz, símbolo do cristianismo.

Para os colonizadores portugueses “a colocação da cruz equivalia à consagração da nova terra descoberta”. Era um marco, um sinal de que aquela terra não era mais profana, impura, mas havia sido purificada mediante a presença do simbolismo cristão (RIBEIRO, 2014, p.178).

A Igreja busca transmitir através da fachada do seu edifício uma mensagem a

todos os que passam em frente a ele - a importância da oração, tendo como

fundamento a fé cristã. O simbolismo no sonho de Jacó em Gênesis 28:12,16-17,

demonstra que o santuário desempenha um papel organizador na vida de Jacó, ele

ergue um altar ao qual denomina “Casa de Deus”. “E este lugar torna-se marco na

vida de Jacó, um ponto de mudança de direção na sua vida, um local onde se ouviu a

voz de Deus” (RIBEIRO, 2014, p.180,181). A primeira experiência da dimensão do

espaço temporal revela um local de sacralidade, de encontro com Deus “por algumas

37 Informações obtidas no site da Igreja Presbiteriana de Formosa em Mogi das Cruzes, disponível em:

http://www.ipfmogi.org.br/wb/pages/historico/pt.php, acesso em 21/03/2017

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horas, o templo parece parar ou retornar a uma época anterior, sagrada na presença

da divindade” (RIBEIRO, 2014, p.183).

Figura 12: Parte externa do templo atual: representação de duas palmas de mãos em sentido de oração

A segunda experiência da dimensão do espaço temporal revela um local de

construção e reorganização da vida social. O templo simboliza além de um espaço de

manifestação do sagrado, um ponto de encontro dos fiéis para renovarem seus laços

étnicos e afetivos.

A inauguração do tempo constituiu um marco e simbolizava a reconstrução do

mundo na nova terra, além de demonstrar poder, confirmava os projetos de vida de

um povo. Assim como o Templo de Salomão perpetua a fé judaica, a inauguração do

templo de Formosa dá sentido à vida da Igreja taiwanesa.

Construído no segundo piso, o templo comporta aproximadamente 400

pessoas somando com a galeria. No térreo um amplo refeitório é utilizado todos os

domingos para o almoço comunitário.

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O espaço consagrado da igreja torna-se assim o pilar central a partir do qual o homem reorganiza a sua vida secular e religiosa, comportando-se em unidade como se estivesse em um mutirão, só que com fins de benefício espiritual de toda a comunidade envolvida (RIBEIRO, 2014, p. 182).

O amplo refeitório tem capacidade para acomodar 400 pessoas. A Igreja

também conta com uma ampla cozinha, quadra esportiva e um prédio educacional

com cerca de 30 salas. Na escola dominical, as salas de aula são separadas em

ciclos de dois anos, desde as crianças até os jovens, de acordo com a idade. Já as

salas dos adultos são separadas pelos temas abordados nas revistas da escola

dominical. O número de salas ativas na escola dominial é de aproximadamente 20.38

Além da representação simbólica do templo, vale a pena resgatar os elementos

simbólicos identificados no portal de entrada da igreja. “A porta da igreja ou capela

passa a desempenhar a função de limiar entre dois modos de ser: o profano e o

sagrado” (RIBEIRO, 2014, p.179).

Figura 13: Portal de entrada da IPF no bairro Mogilar

A arquitetura do portal de entrada nos remete a uma demonstração simbólica

da importância das primeiras atividades econômicas exercidas pelo grupo protestante

38 Informações obtidas com a liderança da Igreja Presbiteriana de Formosa, realizada em 24.Mai.2017.

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taiwanês. Duas esferas brancas em cima das colunas representam: “um ovo de um

lado da coluna e um cogumelo do outro lado da coluna; uma demonstração das

atividades econômicas abençoadas por Deus”, que resultou na prosperidade do grupo

e na edificação do atual templo e suas dependências, no bairro Mogilar, em Mogi das

Cruzes (Chen, 2017). “O sagrado constitui para o homem religioso, o real por

excelência, ao mesmo tempo poder, eficiência, fonte de vida e fecundidade”

(RIBEIRO, 2014, p.178).

2.8. Governo e Liderança Eclesiástica

Ao tratar do governo e da liderança eclesiástica, aborda-se o campo teórico

dos tipos de representação da dominação. A dominação procura despertar e cultivar a

crença em sua “legitimidade”. De acordo com Max Weber, a dominação é

“probabilidade de encontrar obediência para ordens específicas (ou todas) dentro de

determinado grupo de pessoas” (Weber, 1921, p. 139).

A dominação requer, em vias gerais, um quadro de pessoas que está vinculado

à obediência ao senhor por costume ou de modo puramente afetivo, ou por interesses

materiais ou por motivos ideias racionais referentes a valores. Essa relação de

dominação “normalmente juntam-se a esses fatores outro elemento: a crença na

legitimidade” (Weber, 1921, p.139).

O tipo de dominação que se exerce influência às relações sociais e os

fenômenos culturais em um amplo espaço de atuação. Um exemplo disso está na

“dominação exercida pelos pais sobre a vida dos seus filhos, ainda quando crianças,

estende-se sobre os bens culturais formais até a formação do caráter” (Weber, 1921,

p.141), desempenhando o reflexo dessa dominação em seu comportamento social.

Nessa perspectiva, a dominação, iniciada pelos pais, dentro do contexto étnico

taiwanês, reproduz os bens culturais formais e de caráter oriental, visivelmente

refletida na vida social e percebida no comportamento disciplinado e reservado do

taiwanês.

O governo e a liderança da Igreja Presbiteriana de Formosa reforça seu

compromisso com a continuidade das tradições familiares étnicas no que se aplica à

boa formação de caráter virtuoso, dentro dos limites e das ordenanças cristãs, como

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base sustentadora da família, mantendo um equilíbrio entre os pilares: fé, família,

Igreja e trabalho.

Há três tipos puros de dominação legítima defendidos por Max Weber, que classifica o caráter da dominação em: racional, tradicional e carismática. Ele considera que o caráter racional de dominação é baseado na crença da legitimidade das ordens, daqueles nomeados para exercer a dominação legal, institucional. A dominação de caráter tradicional é baseada na crença das tradições que legitima a autoridade tradicional. A dominação de caráter carismático é baseada na crença do poder heroico ou exemplar de uma pessoa com dominação carismática (Weber, 1921, p.141).

Ao ser analisada a forma de governo e o tipo de dominação exercido na Igreja

Presbiteriana de Formosa em Mogi das Cruzes, percebe-se que tanto a dominação

burocrática quanto a dominação tradicional são praticadas no governo eclesiástico do

grupo de taiwaneses. A aplicação de regras e o cuidado racional de interesse previsto

pela ordem da associação estão diretamente vinculados à obediência às normas. Há

funções oficiais e competentes para aplicar meios coercivos disciplinadores pelo

superior ou autoridade institucional.

A dominação legal e burocrática é racionalmente vinculada aos valores

relevantes da instituição para a sua ordem, administração e manutenção bem como a

observância às normas e funções oficiais instituídas, baseada em estatutos e

obediência à ordem impessoal.

A dominação tradicional que também é exercida na IPF, sustenta a obediência

à pessoa nomeada pela tradição em virtude da devoção aos hábitos culturais do

grupo, principalmente na conservação da língua taiwanesa como identificador do

grupo, conservada na linhagem da liderança pastoral tradicionalmente vinculada à

etnia taiwanesa e preservada como elemento valorativo do grupo: a manutenção

cultural e o convívio étnico.

A instituição presbiteriana de Formosa prima pela competência requerida do

líder para a realização do serviço sacerdotal, com pleno grau de qualificação e

formação teológica, certificado por diploma, a fim de se manter a racionalidade na fé e

a postura ética cristã, ao exercer o cargo como profissão única ou principal, num

sistema rigoroso de disciplina e controle de serviço. Por outro lado, cumpre-se

também a tradição em se manter na liderança um representante do grupo étnico, que

ocupa a função oficial. A liderança está atrelada ao grau de qualificação profissional

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de administração burocrática que exige a instituição, objetivando concomitantemente

o racional e o tradicional. Ao descrever a representação da dominação burocrática,

Max Weber afirma:

O desenvolvimento de formas de associação “modernas” em todas as áreas (Estado, Igreja, exército, partido, empresa econômica, associação e interessados, união e fundação e o que mais seja) é pura e simplesmente o mesmo que o desenvolvimento e crescimento contínuos da administração burocrática: o desenvolvimento desta constitui, por exemplo, a célula germinativa do moderno Estado ocidental. (.....) Toda nossa vida cotidiana está encaixada nesse quadro. Pois uma vez que a administração burocrática é por toda parte – ceteris paribus – a mais racional do ponto de vista técnico-formal, ela é pura e simplesmente inevitável para as necessidades da administração de massas (de pessoas ou objetos) (Weber, 1921, p. 146).

Percebe-se uma profunda relação dos valores étnicos afetivos com a

identidade religiosa na qual estão inseridos, em virtude de interesse cultural, imaterial

e subjetivo. No que tange à legitimação da dominação na Igreja Presbiteriana de

Formosa, destaca-se em primeiro lugar, a posição tradicional do pastor, sustentada

em virtude à obediência aos fundamentos da fé cristã reformada.

O líder espiritual no caráter de dominação tradicional não é um dominador “superior” mas um senhor pessoal, uma pessoa indicada pela tradição. A Igreja torna-se um lugar de piedade, caracterizada por princípios comuns de educação transmitida de geração em geração. Por outro lado os seus membros são companheiros tradicionais, cooperadores que servem uns aos outros, não motivados pela obrigatoriedade, mas pela fidelidade pessoal e voluntária de servir coletivamente o grupo (Weber, p. 148, 1999).

Por outro lado, a transgressão a esses fundamentos cristãos poderia, sem

dúvida, colocar a posição do pastor em perigo, deixando de exercer o poder legítimo

de representação do grupo étnico cristão.

Denominamos uma dominação tradicional quando sua legitimidade repousa na crença na santidade de ordens e poderes senhoriais tradicionais (“existentes desde sempre”). Determina-se o senhor (ou os vários senhores) em virtude de regras tradicionais. A ele se obedece em virtude da dignidade pessoal que lhe atribui a tradição (Weber, 1999, p.148).

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Em segundo lugar, a dominação na IPF é legitimada pelo espírito voluntário do

líder/pastor em obedecer aos costumes tradicionais que determina, também, o

conteúdo das ordens e das regras em virtude do dever de piedade e de valores

afetivos. Na trajetória histórica do ministério pastoral da IPF, todos os seus pastores,

até a presente pesquisa, nasceram em Taiwan e falam fluentemente o taiwanês na

transmissão da mensagem bíblica no ambiente religioso.

Durante o tempo de existência da IPF, até a presente pesquisa, não havia sido

registrado nenhum caso de desvio de conduta que exigisse aplicação de correção

disciplinar por parte da liderança, segundo os relatos de oficiais da Igreja. Esta

constatação, apesar de provocar um estranhamento, pode ser explicada pelo fato da

membresia resolver as questões de correção disciplinar da Igreja em âmbito familiar.

A disciplina familiar bastaria para correção de valor moral, conforme os costumes

tradicionais da cultura taiwanesa. Levar o problema de indisciplina no âmbito da Igreja

poderia trazer desconforto e desonra para a família. Logo, o poder de influência

étnico-cultural exercido pela dominação dos pais e familiares nas relações sociais e

religiosas é muito maior do que parece à primeira vista.

2.9. As Congregações39: Ministério de Evangelização entre os Brasileiros

Desde sua chegada ao Brasil, os imigrantes da primeira geração encontraram

grandes dificuldades em se comunicar na língua portuguesa, por esse fato,

conservaram entre si a comunicação na língua materna. Mantinham através do

aspecto linguístico o instrumento de identidade que os unia. Os filhos que vieram

quando crianças para o Brasil foram os interlocutores entre seus pais e os brasileiros.

Com o passar dos anos, a língua portuguesa se tornou cada vez mais fluente entre as

novas gerações o que intensificou o processo de aculturação. A interação entre a

segunda geração de taiwaneses – do que cresceram no Brasil - com os brasileiros,

expandiu a visão do campo missionário no alcance dos brasileiros através da

evangelização nos bairros.

No ano de 1993, foram abertas salas de aula para a realização de escola

dominical em Botujuru com a parceria da Igreja Presbiteriana do Brasil. O Pr. Divino

39 Congregação é um grupo de pessoas reunidas para o determinado propósito de iniciar uma implantação da

igreja sede em bairro ou cidade adjacente.

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trabalhou na evangelização de brasileiros até o fim de 1994. Após esse período, o

trabalho passou a ser realizado pelos jovens da IPF, no formato de escola dominical,

com o mesmo objetivo de alcançar os brasileiros através de atividades de

evangelização. Em 16 de abril de 1995, a escola bíblica dominical de Botujuru

somava de 30 a 40 alunos matriculados.

No mesmo ano de 1995, foram criadas salas de aula para a realização de

escola dominical entre os brasileiros, no bairro de César de Souza, na cidade de Mogi

das Cruzes. Para auxiliar na escola bíblica foi contratada, por um período de um ano,

a evangelista Miriam. Uma outra atividade evangelística entre os brasileiros teve início

em 7 de abril de 1996, com o apoio do evangelista Éber Quaresma, que se dedicou à

evangelização de crianças carentes no bairro de Jundiapeba, em Mogi das Cruzes.

Em 16 de setembro de 1999, a IPF contratou o seminarista Walter de Oliveira

para auxiliar na escola dominical em Botujuru e em 2003, o evangelista Mauro Gomes

foi contratado para auxiliar nos serviços pastorais em César de Souza.

A partir do ano 2000, os trabalhos evangelísticos realizados no formato de

escola bíblica dominical, que eram realizados somente para alcançar as crianças,

passaram a ser realizados entre os adultos.

Os três bairros em que eram realizados os trabalhos evangelísticos da escola

bíblica dominical se tornaram três congregações evangelísticas da Igreja

Presbiteriana de Formosa entre os anos de 2001 e 2003. A inauguração e dedicação

do templo da congregação de Botujuru ocorreu em 5 de outubro de 2003. “Um

sentimento de realização e alegria contagiou a todos que desejavam retribuir todo o

bem que conquistaram em solo brasileiro através da evangelização dos brasileiros”

(Hui, 2017).

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Figura 14: Templo da congregação da IPF no bairro de Botujuru

Na fachada do templo da congregação de Botujuru - as palmas das mãos e as

escadarias - remetem às características arquitetônicas da sede da IPF, localizada na

região central de Mogi das Cruzes.

A visão da obra missionária dos taiwaneses entre os brasileiros resultou em

três congregações que recebem apoio financeiro, literaturas para as classes de

escola dominical e acompanhamento espiritual dos oficiais da IPF, através de

reuniões com as lideranças das congregações. Tanto a liderança das congregações

como a membresia é composta exclusivamente por brasileiros. As lideranças das

congregações possuem autonomia, contudo, devem manter a base doutrinária da fé

reformada, calvinista. A existência e permanência das congregações, é fruto da

diversidade étnico-religiosa e da interação social consolidada entre os taiwaneses e

os brasileiros.

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CAPÍTULO III – RELIGIÃO E ETNICIDADE

3.1. Identidade Religiosa: A Herança da Fé Protestante

As Igrejas Presbiterianas espalhadas pelo mundo, compartilham o símbolo do

arbusto ardente que "queima, mas não é consumido".

Figura 15: Logotipo: Presbyterian Church in Taiwan (PCT)40 , o mesmo utilizado pelos taiwaneses presbiterianos no Brasil.

A identidade religiosa dos taiwaneses protestantes em Mogi das Cruzes se

projetou nos sólidos alicerces fincados pela Presbyterian Church in Taiwan (PCT). Os

taiwaneses que emigraram para a América, principalmente entre os países dos

Estados Unidos, Canadá e Brasil, iniciaram igrejas na língua taiwanesa e mantém

40 Informações obtidas em:<https://en.wikipedia.org/wiki/Presbyterian_Church_in_Taiwan. Acesso em

09.Maio.2017. Desde 1865 a Igreja Presbiteriana em Taiwan têm sido um arbusto aceso pelo fogo do Espírito de Deus, que a mantém queimando fielmente como luz na escuridão e como um farol de esperança na sociedade de Taiwan, superando a repressão e o assédio nesses 152 anos de história na Ilha. The Presbyterian Church in Taiwan é fortemente envolvida na evangelização entre os aborígines, desde a década de 1930. Hoje cerca de 30% dos nativos taiwaneses pertencem à denominação presbiteriana de Taiwan, que tem sido defensora dos direitos dos aborígenes. (...) mais de 64%, dos aborígenes taiwaneses, se identificam como cristãos ... Durante décadas, a Igreja Presbiteriana em Taiwan usou seus pontos Fortes organizacionais para mobilizar seu povo para campanhas repetidas e forneceu uma sólida base institucional contínua para a maioria das iniciativas políticas aborígines ... organizações como a aliança de aborígines de Taiwan. (Stainton, 2002) Fonte: Stainton, Michael (2002). "Presbyterians and the Aboriginal Revitalization Movement in

Taiwan". Cultural Survival Quarterly.

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vínculos ministeriais e de amizade com a Presbyterian Church in Taiwan (PCT),

seguindo a tradição doutrinária, enraizada na fé reformada calvinista e suas

concepções, no que diz respeito à ordem litúrgica, governo e à interpretação

sistemática das Escrituras.

A PCT associa-se ao movimento de independência de Taiwan. Sob a

perspectiva da fé cristã; apoia os direitos soberanos da democracia e da dignidade

humana. Defende, também, o direito de liberdade para escolher o futuro do país, sem

interferência externa.

Em sua Confissão de Fé (1985), a PCT afirma claramente que "a Igreja é a

comunhão do povo de Deus, chamada a proclamar a salvação em Jesus Cristo e a

ser embaixadora da reconciliação. Baseia-se na crença de um único Deus verdadeiro,

o Criador e Governador dos seres humanos e de todas as coisas, Senhor da história

e do mundo”:

Crê em Jesus Cristo, o Salvador da humanidade que foi concebido pelo Espírito Santo no ventre da Virgem Maria. Através do seu sofrimento, crucificação, morte e ressurreição, Ele manifestou o amor, a justiça, e a reconciliação com Deus. Concedeu a todos que aceitassem a Cristo como Salvador, o poder do Espírito Santo para testemunhar entre todos os povos até a Sua volta. Crê que a Bíblia é revelada por Deus, o único livro sagrado de fé e conduta. Acredita que a salvação do pecador é por meio da graça de Deus a fim de que venham a glorificar a Deus por meio de suas vidas de devoção e amor através dos dons e talentos dispensados aos seus filhos. Portanto, eles devem depender da graça salvadora de Jesus Cristo. Ele livrará a humanidade do pecado, libertará os oprimidos e os tornará iguais, para que todos se tornem criaturas novas em Cristo, e o mundo Seu Reino, cheio de justiça, paz e alegria.41

A história do trabalho missionário protestante em Taiwan iniciou logo após a

chegada dos missionários católicos romanos. A consolidação da fé reformada em

Taiwan foi resultado do empenho evangelístico do médico e missionário Dr. James L.

Maxwell, em 1865, e do Rev. Dr. George L. Mackay, 1872. O Dr. James foi enviado

pela Igreja Presbiteriana da Inglaterra, atualmente Igreja Reformada Unida e o Rev.

Dr. Mackay pela Missão Presbiteriana Canadense, em Tamsui. O trabalho desses

missionários serviu de alicerce histórico para os taiwaneses de Mogi das Cruzes

sustentarem sua identidade religiosa, seguindo a tradição enraizada da Igreja

41 Esta tradução, baseada no texto originário taiwanês, autorizado pela 32ª. Assembleia Geral, foi

oficialmente adotada pelo Comitê de Fé e Ordem da Assembleia Geral em 10 de janeiro de 1986.

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Presbiteriana em Taiwan, na ordem litúrgica e nas práticas da Igreja. Como resultado

dos esforços dos missionários britânicos do sul e dos missionários canadenses no

norte, a Presbyterian Church in Taiwan foi implantada em 1865, data da sua

fundação.

Há uma curiosa coincidência na história das missões protestantes no Brasil e em Taiwan. O primeiro missionário a vir para o Brasil foi Robert Kalley, em 1855, e o primeiro missionário a ir para Taiwan foi James Maxwell, em 1865. Os dois eram médicos, presbiterianos e britânicos. Além disso, os dois países, quase no mesmo ano, por ocasião das invasões holandesas, tornaram-se campos missionários da Igreja Reformada dos Países Baixos: Taiwan, a partir de 1627, e o Brasil, a partir de 1630. Além de pastorear os invasores holandeses, esses missionários evangelizaram os indígenas do Nordeste brasileiro e os aborígenes da parte meridional de Taiwan. Outra triste coincidência é que todo esse trabalho com os naturais do Brasil e da ilha chinesa se perdeu com a expulsão dos holandeses do litoral brasileiro em 1654 e de Taiwan, 12 anos depois (CÉSAR, 1999, p. 17)42.

Antes de Taiwan experimentar um desenvolvimento econômico iniciado pelo

governo, muitas instituições modernas foram introduzidas na sociedade através da

Igreja Presbiteriana: a primeira escola que incluía o ensino para as meninas, cegos e

surdos, a instalação do primeiro hospital ocidental que tratava de pacientes com

hanseníase e a fundação da primeira imprensa no país.

Durante o período colonial japonês, embora sob forte pressão das autoridades

para falar a língua japonesa, a “PCT continuou a usar a língua taiwanesa em suas

atividades”. Devido ao crescente militarismo do Japão, no final da década de 1930,

todos os missionários estrangeiros foram expulsos de Taiwan, temporariamente.

“Esse fato levou a igreja a passar por uma experiência inicial de autonomia”. O

evangelismo entre os aborígenes começou nesse momento de oposição japonesa,

considerada impiedosa. A perseguição não impediu o avanço do evangelismo. No

final do período da guerra cerca de 4.000 a 5.000 pessoas entre os aborígenes

estavam preparadas para receberem o batismo43. Desde a Segunda Guerra Mundial,

Taiwan tem sido inundada por uma variedade de missões interdenominacionais

42 Informações obtidas da Revista Ultimato. CÉSAR, Èlben M. Lenz... O mineiro com cara de matuto ao redor do

mundo: Áustria, Cuba, Índia, Japão, Marrocos, Moçambique, Taiwan e Turquia. Editora Ultimato. Viçosa/MG, 1999.Disponível em: http://www.ultimato.com.br/file/capitulos/Mineiro-leia.pdf, acesso em 04.Set.2017.

43 Disponível em: http://www.globalministries.org/eap_partners_presbyterian_church_in_taiwan, acesso em 09.Mai.2017.

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cristãs e seitas. Entre as igrejas protestantes em Taiwan, a Igreja Presbiteriana

continua sendo a maior denominação.

Cerca de 70% dos aborígenes se declaram cristãos. Esses dados incluem os católicos romanos e outras igrejas protestantes. Cerca de 30% dos aborígenes são presbiterianos. O evangelismo tem sido mais lento entre o povo Han - cerca de 3,5% são cristãos, incluindo os presbiterianos que somam aproximadamente l%. A maioria da população adere à prática da religião popular, o budismo e o taoísmo. As crenças populares chinesas abrangem aproximadamente 48,5%, o budismo 43%, o cristianismo 7,4%, o islamismo 0,5%, outras 0,6%44.

O período de maior crescimento da PCT foi de 1955 a 1965, que culminou no

centenário da igreja, quando duplicou o número de igrejas e membros, inclusive entre

às comunidades aborígenes. Durante os anos autoritários de 70 e 80, a PCT

promoveu a mobilização do povo taiwanês para a causa da democracia e dos direitos

humanos, emitindo numerosas declarações; o que levou muitos líderes da igreja

serem presos pelo governo45.

Com uma história de mais de 150 anos de inserção na sociedade taiwanesa,

predominantemente budista, a PCT, manteve, desde a sua fundação, a preocupação

social e um testemunho honroso:

(...) tornando uma "voz para os taiwaneses sem voz”, compartilhando as aspirações de seu povo, comprometidos com a oração e o empenho pela justiça, paz, integridade e garantia dos direitos humanos plenos em Taiwan. Desde a sua fundação, a PCT entendeu que a proclamação do evangelho incluía a ação social; cuja prática é muito evidente nos esforços dos primeiros missionários, que não apenas implantaram igrejas, mas também estabeleceram hospitais e

escolas como ministérios da Igreja46.

44 Informações obtidas em:>https://www.portalbrasil.net/asia_formosa.htm. Acesso em 22.Ago.2017. 45 Informações obtidas em https://www.oikoumene.org/en/press-centre/news/wcc-general-secretary-highlights-

significance-of-presbyterian-church-in-taiwan-in-asian-church-history. Acesso em 09.Mai.2017. 46 Uma série de instituições médicas e educacionais foram iniciadas pelos missionários pioneiros e têm servido

Taiwan através de uma história longa e honrosa. A PCT tem três seminários teológicos, um Colégio Bíblico, duas universidades, três escolas secundárias, três hospitais e uma escola de enfermagem, além da imprensa As instituições relacionadas à PCT são: PCT Taiwan Igreja Imprensa, Faculdade Teológica de Taiwan e Seminário, Colégio Teológico e Seminário de Yushan, Faculdade Bíblica Presbiteriana, Escola secundária de meninas de Chang-Jung, Escola secundária de Chang Jung, Universidade de Chang-Jung, Aletheia University, Hospital Sin-Lo Christian, Hospital Cristão de Chang-Hua, Hospital Mackay Memorial, Escola de enfermagem Mackay, Faculdade de Medicina Mackay.

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Figura 16: Celebração dos 150 anos da Igreja Presbiteriana em Taiwan (PCT)47.

“Atualmente existem 1.205 igrejas presbiterianas espalhadas por todo o país,

organizadas em vinte e três presbitérios, com aproximadamente 238.372 membros”

(dados de 2009)48.

3.2. Confissão de fé da Igreja Presbiteriana de Formosa em Mogi das Cruzes

A Igreja Presbiteriana de Formosa é herdeira da reforma protestante, iniciada

na Alemanha, sob a liderança de Martinho Lutero no século XVI e do movimento

reformado que surgiu na Suíça, no século XVI, “tendo como líderes originais Ulrico

Zuínglio, em Zurique, e João Calvino, em Genebra” (NASCIMENTO; MATOS, 2007, p.

11). A IPF adota a confissão de fé das igrejas reformadas ou calvinistas:

As igrejas reformadas abrangem todas aquelas igrejas da Alemanha que subscrevem o Catecismo Heidelberg; as igrejas protestantes da Suíça, França, Holanda, Inglaterra e Escócia; os Independentes e Batistas da Inglaterra e América; e os vários ramos da Igreja Presbiteriana da Inglaterra e América (HODGE, 2008, p. 30).

47 Parte da história da igreja na Ásia foi chamada de "significativa e dramática", declaração do Rev. Dr. Olav

Fykse Tveit, secretário-geral do Conselho Mundial das Igrejas em Taiwan. Disponível em https://www.oikoumene.org/en/about-us, acesso em 09.Mai.2017 e [email protected]. tw www.pct.org.tw.

48 Informações obtidas do site da PCT, disponível em:> http://english.pct.org.tw/enWho_int_Sta.htm. Acesso em 25.Set.2017.

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“Protestantes seriam, portanto, aquelas igrejas que se originaram da Reforma”

(MENDONÇA, 2012, p. 73). O sistema teológico adotado pela IPF é o calvinismo. O

calvinismo foi “elaborado pelo mais articulado e profundo dentre os reformadores,

João Calvino (1509-1564)”. Um dos principais fundamentos do calvinismo baseia-se

“na noção da absoluta soberania de Deus como criador, preservador e redentor”.

Além de interpretar sistematicamente as principais doutrinas das Sagradas Escrituras e concepções específicas a respeito do culto, da liturgia, do ministério, da evangelização e do governo da igreja (NASCIMENTO; MATOS, 2007, p. 12).

“Para a maioria dos defensores de Calvino, a ênfase da sua teologia não

estava na doutrina da predestinação, mas na da soberania” (MENDONÇA, 2008,

p.57). “Deus suplanta todas as soberanias humanas e extrai os eleitos de qualquer

classe social, não levando em conta nem ricos nem pobres” (MENDONÇA, 2008,

p.61). A base doutrinária adotada pela IPF é baseada na Confissão de Fé da

Assembleia de Westminster e os Catecismos Maior e Breve “usados como meios de

instrução pública por todas as entidades congregacionais de rebanhos puritanos no

mundo inteiro” (HODGE, 2008, p. 45).

O nome “igreja presbiteriana” vem da maneira como a igreja é administrada, ou seja, através de “presbíteros” eleitos pelas comunidades locais. Essas comunidades são governadas por um “Conselho” de presbíteros e estes oficiais também integram os concílios superiores da igreja, que são os Presbitérios, os Sínodos e o Supremo Concílio. (...) O termo presbiteriano foi adotado pelos reformadores nas Ilhas Britânicas (Escócia, Inglaterra e Irlanda) (NASCIMENTO; MATOS, 2007, p. 10 e 12).

A Igreja Presbiteriana de Formosa sustenta que a Escritura é absoluta regra de

fé e pratica.

“A única e infalível regra de interpretação das Escrituras são as próprias Escrituras”. Há um só Deus vivo e verdadeiro. Esse Deus é um Espírito pessoal. Que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são cada um igualmente o único Deus e possuem em comum todas as divinas perfeições. Que eles são três pessoas distintas ainda que uma só substância. Cristo é o único mediador entre Deus e os homens. Cristo é o cabeça de sua Igreja, o Herdeiro de todas as coisas e o Juiz do mundo. A fé salvífica é obra do Espírito Santo por intermédio da Palavra (HODGE, 2008, p. 9, 12, 14).

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As igrejas reformadas ou presbiterianas utilizam a Confissão de Fé de

Westminster49 para doutrinar os crentes na verdade do evangelho, considerada a

mais perfeita organização doutrinária cristã, baseada na Escritura. “A igreja e a

literatura ou reflexão de edificação, constituíam os apoios que cada crente encontrava

para o exercício da sua condição de protestante” (PEREIRA, 2005, p.108).

3.3. Religiosidade: Fatos e memórias

A experiência da religiosidade dos taiwaneses é algo muito particular e

singular, para aquela minoria camponesa migrante em Botujuru, especialmente pelo

modo como se deu a saída em Taiwan até seus desdobramentos no Brasil. Com

pouca escolaridade e desprovidos de recursos financeiros, não era o sentimento de

pátria que os unia e sim a religião protestante, pela necessidade de dar continuidade

as suas práticas religiosas. Era ela que ordenava seu mundo e lhes permitia encontrar

significado na experiência pela qual estavam passando, mediante as perdas da

migração. Segundo Dantas:

A mudança de país impõe ao migrante múltiplas perdas, já que deixa para trás familiares, amigos, trabalho, ambiente físico, língua, normas sociais, locais conhecidos e a memória social (DANTAS, 2012, p.116).

Com o passar do tempo, cresceu o fluxo migratório de taiwaneses

predominantemente budistas para a região, engrossando o número de camponeses,

na produção agrícola em Botujuru. A maioria dos imigrantes, recém-chegados, não

possuíam grau de parentesco, com os pioneiros que aqui estavam, nem ao menos

tinham relações de amizade em seu país de origem. O Dr. Chen Jen Shan é

presbítero da IPF e fez parte das famílias pioneiras e fundadoras da Igreja em

Botujuru, declarou:

Quando os imigrantes taiwaneses recém-chegados, vinham até nós, dividíamos com eles uma parte do barracão para que eles pudessem

49 Desde julho de 1643 até fevereiro de 1648, reuniu-se em uma das salas da Abadia de Westminster,

na cidade de Londres, o Concílio, composto por teólogos e civis, conhecido na história pelo nome de Assembleia de Westminster. Esse Concílio foi convocado pelo Parlamento inglês, para preparar uma nova base de doutrina, uma forma de culto e um governo eclesiástico que devia servir para a igreja do Estado. (HODGE, 2008, p. 38)

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ter condições de plantar seus cogumelos e terem uma renda própria. Era dividido, até mesmo, o espaço onde morávamos com outras famílias e assim ficávamos juntos. No horário do culto e das reuniões de oração, eles eram convidados a adorarem a Deus conosco. Aos poucos foram concordando e após conhecerem o evangelho, foram se convertendo e aumentando o número da membresia da Igreja (Shan, 2016).

O acolhimento aos novos imigrantes, pelo fator étnico, foi fundamental para

aglutinação e aceitação no grupo religioso. O compromisso étnico social de

acomodação e inserção desses imigrantes na sociedade brasileira, promoveu

simultaneamente, a evangelização dos seus compatriotas.

A religião protestante tornou-se a base de segurança que pautava os

propósitos e ações desses imigrantes: o ponto de apoio que os sustentava, enquanto

passavam de sua cultura de origem para uma nova realidade.

A prática religiosa associada à assistência social étnica, norteava as relações

interpessoais, as atividades de trabalho e as aspirações de vida. Seja do ponto de

vista emocional, psicológico ou econômico, o elo étnico religioso foi vital no processo

de enraizamento daqueles migrantes em terras brasileiras. Diria, parafraseando

Durkheim (1996), “que a religião permitiu a continuidade de certa ordem de mundo, de

classificações, representações e hierarquias em que a Igreja, como instituição,

desempenhou papel fundamental”.

As primeiras famílias narram em suas memórias que ao decidirem partir de

Taiwan para o Brasil, “procuraram realizar seus rituais religiosos, ainda em viagem, no

barco em alto mar, a fim de preservarem a fé que seria praticada na nova terra”

(Álbum do Cinquentenário, 2013, p. 8). Nesse contexto, a “construção da memória

pessoal está ligada à memória grupal, e esta, por sua vez, à memória coletiva”

(OLIVEN, 2016, p.132).

No levantamento das memórias do grupo étnico, foram resgatadas histórias de

vida da migração taiwanesa para a cidade de Mogi das Cruzes. São histórias

verídicas que narram a vida de personagens originariamente da cultura oriental e

seus descendentes brasileiros, que revelam na fé e na etnicidade, o alicerce do

grupo. A memória coletiva é “composta por lembranças vividas pelo indivíduo ou que

lhe foram repassadas e são entendidas como propriedade de uma comunidade, um

grupo”. Segundo Jacques Le Goff:

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(...) a memória é a propriedade de conservar certas informações, propriedade que se refere a um conjunto de funções psíquicas que permite ao indivíduo atualizar impressões ou informações passadas, ou reinterpretadas como passadas (SILVA & SILVA, 2009, p. 275).

A história de um grupo humano é a sua memória coletiva e cumpre a respeito

dela a mesma função que a memória pessoal num indivíduo: a de dar-lhe um sentido

de identidade que o faz ser ele mesmo e não outro. A história de cada membro

taiwanês é uma forma particular de conservar a memória coletiva do grupo.

As nossas recordações não são os restos descoloridos de uma imagem fotográfica que reproduz fielmente a realidade, mas sim uma construção que fazemos a partir de fragmentos de conhecimento que já eram, na sua origem, interpretações da realidade e que, ao voltarmos a reuni-los, reinterpretamo-los à luz de novos pontos de vista. Os que estudam os processos de conhecimento mostram-nos a complexidade disso que é aparentemente tão simples, como a evocação de uma recordação, e insistem em dizer que não há relação com o ato de tirá-la por inteiro de lugar do cérebro em que está alojada, mas sim a compomos com os fragmentos de recordação tirados de registros distintos.50

Dos fundadores da IPF, o único dos patriarcas, da primeira geração, que

permanece vivo é o Sr. Chen Johg Hoa, nascido em 24 de setembro de 1927, hoje

com noventa anos. Chegou ao Brasil com trinta e sete anos de idade. A família do Sr.

Chen Johg Hoa, compõe o grupo dos pioneiros imigrantes taiwaneses que vieram

para a cidade de Mogi das Cruzes e participaram da construção do primeiro templo,

no bairro do Botujuru Km 7. Ao ser questionado a respeito dos motivos que o levaram

a sair do seu país, ele declarou:

Em Taiwan as condições eram precárias. Por influência da família do Dr. Chen Jen Shan, que estava no Brasil, recebi o convite, por meio de carta, para formar uma cooperativa de produtos agrícolas em um espaço de terra de 300 hectares, para o cultivo agrícola. Em Taiwan a área de cultivo era pequena, no Brasil a porção de terra a ser cultivada seria maior (Hoa, 2016).

Na embarcação vieram cinco pessoas da família, a esposa e três filhos, todos

nascidos em Taiwan. “Trouxemos em nossos corações a fé cristã como herança

50 FONTANA, Josep. "Reflexões sobre a história, do além do fim da história". In: História: análise do passado e

projeto social. Bauru: Edusc, 1998, p. 267.

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religiosa a ser cultivada na nova terra” disse o Sr. Hoa. Em Taiwan eram membros

congregantes da Igreja Presbiteriana.

O Sr. Chen Johg Hoa é diácono, fala fluentemente o taiwanês, porém pouco se

expressa na língua portuguesa, razão pela qual, precisei de um intérprete para a

realização da entrevista. O Sr. Chen Johg Hoa, tem visto a sua descendência se

multiplicar no Brasil, na condição de tataravô, têm contribuído com quatro gerações

de descendentes desde o início da migração até os dias atuais.

Na sequência dos registros das memórias, foi entrevistado o doutor e

presbítero Chen Jen Shan, que fez parte das famílias pioneiras, fundadoras da Igreja

Presbiteriana de Formosa em Botujuru. O Dr. Chen Jen Shan chegou ao Brasil, no

porto de Santos/SP, em 10 de outubro de 1963, com nove anos de idade,

acompanhado de sua família, formada de cinco membros, pai, mãe e três filhos.

A vinda da família foi incentivada por um primo médico aposentado que vivia no

Brasil, o Dr. Yu-Chi Yang, que se comunicava através de cartas, dizendo que a

situação sócio econômica no Brasil na época, era favorável à migração. Relatou:

A vida em Taiwan tornou-se precária no período pós-guerra, a família que possuísse três hectares de terra era considerada rica. No Brasil a proposta de possuir uma extensão maior de terra despertou interesse na imigração. Esperava-se um futuro melhor e uma boa qualidade de vida para os filhos (Shan, 2016).

Com nove anos de idade o Sr.Chen Jen Shan, tinha terminado o 3º. ano

escolar em Taiwan e quando chegou ao Brasil, retornou ao 1º. ano do ensino

fundamental. A sua maior dificuldade enfrentada no Brasil estava relacionada à

linguagem, pois a sua comunicação se restringia à língua chinesa. Ele desconhecia a

língua portuguesa, o que o levou a enfrentar muitas dificuldades na escola. Por não

entender o que a professora ensinava, somente sabia do dia da prova quando via a

professora distribuindo a folha de papel almaço para a turma de alunos. Contudo,

mesmo diante da grande barreira linguística, o Sr. Chen Jen Shan nunca foi

reprovado na escola.

A escola distanciava-se 1 Km e meio de casa e o percurso era feito a pé e ainda descalço. Na época enfrentávamos dificuldades econômicas, por isso não possuíamos sequer sapatos. O único sapato que havia era o tamanco de fabricação própria, feito de madeira e de

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couro ou de tecido, utilizado depois que se tomava banho para dirigir-se ao quarto para dormir (Shan, 2016).

O Sr. Chen Jen Shan relatou como foram os desafios ao conciliar as atividades

rurais com a dedicação aos estudos, nos primeiros anos de estabelecimento no

Brasil.

O tempo era escasso para se dedicar aos estudos. Pela manhã ele tinha que levantar cedo, dar ração para as galinhas na granja, regar as verduras e colher os cogumelos. Após o almoço, na parte da tarde, dirigia-se à escola. Quando retornava, tinha que voltar ao trabalho, ainda mais intenso: preparar a terra para o plantio de verduras, carpir o campo, e dar mais ração para as galinhas e recolher os ovos. Quando anoitecia no campo, dirigia-se ao barracão, por ser iluminado, continuava o trabalho preparando a estufa de cogumelos e sua colheita. O trabalho acabava por volta das dez horas da noite e às vezes se estendia até à meia noite (Shan, 2016).

Toda a produção agrícola era inicialmente comercializada na cooperativa

agrícola de Mogi das Cruzes. Porém, como a venda da produção não cobria os custos

de carreto, passou-se a vender diretamente na feira-livre e no Mercadão em São

Paulo. “A comercialização dos produtos no Mercadão de São Paulo contava com a

participação tanto dos jovens como das crianças. Eles levavam as mercadorias em

caixotes de 5kg nas costas”. O percurso era realizado de trem até a estação do Brás

e depois se seguia a pé até o mercado (Shan, 2016).

Esse cotidiano estendeu-se até a juventude. Quando completou dezoito anos

de idade, o Sr. Shan começou a se preparar para a prova do vestibular. Pela manhã

cursava o ensino médio e à tarde estudava no curso pré-vestibular. A dedicação aos

estudos rendeu ao Sr.Chen Jen Shan, a aprovação no vestibular no curso de

Medicina da Universidade de São Paulo (USP), “uma conquista para toda a família,

Igreja e sociedade brasileira”. O Sr. Chen Jen Shan é médico especialista em

urologia, formado há trinta e seis anos, é pesquisador no Hospital das Clínicas da

Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP) e presbítero na Igreja Presbiteriana de

Formosa em Mogi das Cruzes.

As histórias de vida se entrelaçam e formam um quadro de experiências

notáveis que revelam o espírito desbravador e a perseverança dos imigrantes.

Outro exemplo é o resgate das memórias do Dr. Wang Ming Hui, hoje com

sessenta e dois anos. Chegou ao Brasil aos nove anos de idade. Na embarcação

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vieram cinco pessoas da família, pai, mãe e três irmãos. A irmã mais velha veio ao

Brasil cinco anos depois. O Dr. Wang Ming Hui é presbítero da IPF e exerce a

medicina na especialidade de cirurgião geral há trinta e cinco anos. É formado pela

Universidade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e atende em consultório

particular e em hospital público.

Os pais das seis primeiras famílias taiwanesas sempre incentivaram seus filhos a estudarem nas escolas públicas, pois as condições financeiras não eram favoráveis para investir nos estudos em escolas particulares, o que levou os filhos a concorreram às vagas em universidades públicas como a USP (Hui, 2017).

Ao ser indagado sobre os motivos da emigração para o Brasil, o Dr. Wang Ming

Hui declarou:

Em 1962 a Ilha de Taiwan era pobre e não havia perspectiva de futuro para seus filhos. Os pais receberam notícias de que o Brasil era um país próspero e que esta seria uma oportunidade única para dar uma reviravolta financeira. A partir daí dez famílias interessadas se juntaram para discutirem sobre a oportunidade de emigração. Apenas seis famílias conseguiram sair do país (Hui, 2017).

Devido aos impedimentos e dificuldades impostas pelo governo taiwanês,

quanto à emigração, os trâmites se tornaram lentos e a espera durou longos meses

até a saída de Taiwan. “Algumas famílias haviam vendido todos os seus bens, e após

a compra das passagens do navio, havia sobrado pouquíssimo dinheiro” (Álbum

Comemorativo do 45º Aniversário, 2008, p.15).

Durante os dias de percurso da viagem no navio, as famílias se reuniam para oferecer culto de ações de graças a Deus, pela manhã e à tarde. Quando chegaram, em solo brasileiro, as famílias já haviam criado o hábito de cultuarem a Deus em grupo de famílias (Hui, 2017).

Ao chegarem ao Brasil, desembarcaram no porto de Santos. Não sabiam ao

certo para onde iriam. Foram encaminhados para um pequeno sítio em Pindorama, na

cidade de Mogi das Cruzes. O alojamento das famílias foi em um galinheiro

desativado, ainda sujo pelas galinhas que ali ficaram. Estarrecidos pelo ambiente de

mata nativa ao redor, as famílias não se adaptaram e logo foram encaminhadas para

o bairro de Botujuru na cidade de Mogi das Cruzes a fim de trabalharem em uma

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granja. O terreno que iriam trabalhar foi sorteado entre as famílias para plantarem

cogumelos em galpões.

Nos primeiros meses em Botujuru, a precariedade era tanta que não sobrava

tempo para se pensar em adaptação, mas em como sobreviver frente à dura

realidade do momento:

Faltava dinheiro, não entendíamos a língua portuguesa, nem tampouco éramos entendidos. As dificuldades eram extremas para nos manter sobrevivendo. O casebre de dois cômodos, emprestado, ainda era dividido entre duas famílias. As famílias que detinham melhores condições econômicas construíram casas simples, na porção do terreno comprado, porém, meu pai, no início, não dispunha de recursos, por isso morávamos em casebre. Nos faltava tudo, porém não faltava a fé em nossos corações (Hui, 2017).

Após o estabelecimento das seis famílias em terreno próprio, em Botujuru,

outros imigrantes recém-chegados buscaram acolhimento com os compatriotas.

As famílias taiwanesas recém-chegadas na região de Mogi das Cruzes não sabiam para onde ir, nem mesmo tinham um lugar para acomodarem suas famílias. Ao saberem que havia um grupo de agricultores taiwaneses em Botujuru, encontraram não somente acolhimento e moradia compartilhada, mas eram motivados a trabalharem na lavoura e alugarem sítios para plantação de cogumelos; receberam incentivo para abertura dos seus próprios negócios; assistência voltada às técnicas agrícolas para seu próprio sustento e manutenção das suas famílias em Mogi das Cruzes (Hui, 2017).

De acordo com os relatos do Dr. Wang Ming Hui, o "crescimento da membresia

da Igreja Presbiteriana de Formosa em Mogi das Cruzes se deu de uma forma natural

e espontânea”. A convivência entre as famílias e a assistência social dispensada aos

novos imigrantes recém-chegados, foi preponderante para a aproximação e

aglutinação dos taiwaneses à fé cristã compartilhada.

Uma das características da cultura taiwanesa, entre outras, que contribuíram

para a aproximação das famílias foi a preocupação no aspecto alimentar. Os

brasileiros ao se cumprimentarem perguntam: “- Como vai?” Os taiwaneses têm o

costume de perguntar: “- Está bem alimentado ou saciado?” O costume da cultura

promovia assistência básica alimentar aos novos imigrantes e a sua inserção no

grupo:

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Os visitantes não saem sem almoçar ou jantar da casa de um taiwanês. É inaceitável um visitante ser despedido sem fazer uma refeição junto com a família. A primeira preocupação era encher a barriga dos que estavam com fome. Essa atitude instigou-os a desejar conhecer os motivos que nos levavam a frequentar a Igreja. Em Atos dos Apóstolos aconteceu o mesmo. O evangelho deve ser pregado não somente em palavras, mas em ação e em verdade, proporcionando que outros sonhos se tornem possíveis e reais, especialmente para aqueles que viam no Brasil uma oportunidade de futuro para seus filhos e netos (Hui, 2017).

Ao ser questionado sobre a discriminação racial enfrentada no Brasil, Sr. Wang

Ming Hui declarou que: “- por incrível que pareça, não passei por discriminação racial

entre o povo brasileiro”, acrescentou:

O povo brasileiro por ser uma mistura de vários povos, possui uma tolerância étnica maior que em outros países. Esse fato possivelmente explique o motivo de eu não ter sofrido discriminação no Brasil” (Hui, 2017).

A maioria dos imigrantes e seus descendentes entrevistados, não

manifestaram intenção de regressar a Taiwan. Assim como o Dr. Wang Ming Hui, a

maioria da membresia possui uma vida estabilizada no Brasil e mantém vínculos de

relacionamentos no país de adoção, como relata o Dr. Hui: “- adotei o Brasil como

minha pátria”.

No Álbum Comemorativo do Cinquentenário, há várias citações sobre a

preponderância da vida religiosa para os taiwaneses e seus descendentes, com

registros referentes ao sentimento de gratidão pela conquista patrimonial do templo e

o crescimento da Igreja ao longo de meio século, o que revela na religião a grande

força que os guiou em seus propósitos e trajetórias de vida, constituindo fator basilar

da vida social e econômica, tanto na adaptação e acomodação como no seu

progresso na nova pátria de adoção.

As novas gerações do grupo se projetam para uma estabilidade de vida no

Brasil. Os jovens entrevistados, em sua maioria, declararam não possuir fluência no

mandarim o que dificultaria a vida em Taiwan, além disso, permanece a relevância do

ideário religioso dos pioneiros do grupo no Brasil, como declara o jovem S.( 2017):

Assim como Deus direcionou meus pais a virem para o Brasil, acredito que o propósito de Deus seja continuarmos aqui no Brasil, mesmo diante do elevado desenvolvimento econômico e da qualidade de vida

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que Taiwan alcançou nos últimos anos em comparação com a do Brasil.

As reuniões no templo, a língua materna, os costumes orientais, as crenças e

os ritos religiosos lembravam os taiwaneses de quem eles eram e dos seus

propósitos de vida. Pelo fato de extrair da fé cristã protestante a força para lidarem

com as adversidades cotidianas, considero que a religiosidade, naquele contexto,

fortaleceu ainda mais os laços que os uniam no Brasil, em comparação aos

sentimentos que os uniam à própria Taiwan.

Com a criação do Seminário Teológico Servos de Cristo, em 1990, que conta

com a colaboração de várias denominações chinesas na formação de pastores,

missionários e evangelistas, contribuiu para reforçar a identidade étnica religiosa dos

taiwaneses através do ensino teológico voltado ao atendimento de chineses,

taiwaneses, japoneses, coreanos e brasileiros. O seminário também contribuiu para a

divulgação de literaturas, folhetos e publicações em chinês a fim de atender as Igrejas

orientais no Brasil.

Na área rural, alguns permaneceram produtores de cogumelos, mantendo os

costumes religiosos e as atividades ligadas à terra. Apesar da mudança das

atividades econômicas, predominantemente urbanas, entre as novas gerações, as

propriedades rurais continuam pertencendo às famílias taiwanesas que as arrendam

para os brasileiros cultivarem nelas. Contudo, a maioria dos que migraram para as

zonas urbanas, mantiveram a religiosidade como importante sinal adscritivo, conforme

verificado nesta pesquisa etnográfica realizada de 2016 a 2017.

3.4. Identidade Étnica

A maioria das famílias taiwanesas que vieram para Mogi das Cruzes eram

camponeses vindos da região central de Taiwan, do distrito de Chiong-Hòa. De fato

eram famílias pobres, pouco instruídas, porém de boa conduta moral como resultado

da influência religiosa compartilhada pelo grupo étnico. O conceito de etnia51

elaborado por Vancher de Lapouge define:

51 O termo etnia surgiu no início do século XIX para designar as características culturais próprias de um grupo,

como a língua e os costumes. Foi criado por Vancher de Lapouge, antropólogo que acreditava que a raça era o fator determinante na história... Já Max Weber, por sua vez, fez uma distinção não apenas entre raça e

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(...) etnia para se referir às características não abarcadas pela raça, (...) como um agrupamento humano baseado em laços culturais compartilhados, de modo a diferenciar esse conceito do de raça (que estava associado a características físicas), (SILVA &SILVA, 2009, p.124).

Desde o início no Brasil, o grupo se manteve coeso; todas as decisões

contavam com a concordância e participação de todos os membros taiwaneses

vinculados à Igreja. A moradia, o trabalho e a fé compartilhada, foram elos que

fortaleceram a unidade entre as famílias. Os imigrantes recém-chegados que não

confessavam a mesma fé eram aos poucos, introduzidos no grupo religioso pela

necessidade social de pertença. As identidades religiosas (...) ajudam a constituir

comunidades de pessoas que podem apoiar-se umas às outras na busca de metas

que compartilham como membros daquela religião (APPIAH, 2016, p. 23)52.

A sociabilidade do grupo desenvolveu-se aos domingos, nos cultos, nas festas

religiosas e nas atividades esportivas na Igreja. Devido às ocupações com o trabalho

e os estudos, durante a semana, o dia de domingo ficou reservado, como sendo “o

dia do Senhor” para a realização das práticas religiosas e ao mesmo tempo um dia de

encontro entre as famílias para renovarem seus laços étnicos. Atualmente o culto

continua sendo realizado aos domingos pela manhã. Após o culto, o almoço coletivo é

servido aos membros e visitantes, no amplo refeitório da Igreja, tornando-se um

momento em que as famílias compartilham suas experiências da semana através de

diálogo informal. Após o almoço, inicia-se a Escola Bíblica Dominical. As atividades

de domingo encerram-se com jogos esportivos para os jovens, na quadra da Igreja. A

conversação que se estabelece entre eles é no idioma taiwanês, dando a impressão

de se estar nos lugarejos de Taiwan.

No que tange as coletividades (ou comunidades) étnicas e de nação, (Max Weber, 1991, p.270) parte de princípios semelhantes em relação “a crença na afinidade de origem (objetivamente fundada ou não) e os habitus, costumes etc, fazendo referências, inclusive, à imigração (SEYFERT, 2011, p.50).

etnia, mas também entre etnia e Nação. Para ele, pertencer a uma raça era ter a mesma origem (biológica ou cultural), ao passo que pertencer a uma etnia era acreditar em uma origem cultural comum. A Nação também possuía tal crença, mas acrescentava uma reivindicação de poder político. A etnia é um objeto de estudo da Antropologia. (SILVA &SILVA, 2009, p.124).

52 KWAME, Anthony Appiah é professor da Princeton University. Tradução de Lólio Lourenço de Oliveira e revisão

técnica de Ana Maria Sallum. Identidade Étnica. In: JÙNIOR, Brasílio Sallum; ...SCHWARCZ, Lilia Moritz; VIDAL, Diana; CATANI, Afrânio (orgs.). Identidades. São Paulo: Edusp, 2016.

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Os jovens se sociabilizam nas reuniões de mocidade aos sábados nas

dependências do templo, na escola dominical, em programações esportivas e em

acampamentos.

As mulheres atuam ativamente na sociabilidade e nas práticas religiosas da

IPF, ocupam cargos de liderança e são responsáveis em transmitir as tradições

culinárias dos pratos típicos que as avós confeccionavam em Taiwan.

As famílias tradicionais mantêm o costume de se alimentar com a comida típica do país de origem, conservando a forma tradicional de confeccionar os alimentos. O prato mais convencional da culinária doméstica taiwanesa é o Bah-chang, feito de arroz moti, uma mistura de temperos, ovos de codorna, carne de porco e embrulhado com folha de bambu. Outro prato tradicional preservado e ensinado às novas gerações, em curso de culinária, é a Tartaruga Vermelha, uma comida em formato de tartaruga, feito com massa de arroz moti, de coloração vermelha. O curso chama-se Ang-Ku-Kóee, é realizado pela Liga Feminina, ministrado nas dependências da Igreja Presbiteriana de Formosa a todos que desejam aprender as técnicas orientais utilizadas na confecção. A bebida tradicional é o chá oriental.

A identidade étnica do grupo de imigrantes taiwaneses que se estabeleceram

em Mogi das Cruzes, no século XX, foi construída na condição clássica de minoria,

num regime de trabalho familiar.

Banton elabora o conceito de minoria a partir da ideia de “limite” e tendo como base o fato de que, nas situações intergrupais, as minorias são definidas em dois sentidos: por si mesmas (limites inclusivos) e pela maioria (limites exclusivos), (Banton, 1977, cap.8).

O pequeno grupo de agricultores instalou-se em um núcleo etnicamente

homogêneo, a fim de manter os vínculos sociais de pertença e de comunicação,

tendo em vista apresentar, no início da migração, extrema dificuldade na

comunicação com os brasileiros. O Sr. Cheng declarou que “levou um período de três

a cinco anos para o início do processo de adaptação à cultura brasileira”.

A identidade étnica vista como expressão de etnicidade é manifesta através de

ideologias baseadas na afirmação do próprio grupo étnico. De acordo com essa

perspectiva a “etnicidade será abordada como um fenômeno de identidade étnica no

sentido em que se define limites grupais” (Cf. Epstein, 1978, Cap. I).

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Outro elemento que difere o taiwanês do brasileiro é a visível estética física das

pregas mongólicas nos olhos, características biológicas que nos dá a noção do “outro”

diferente.

A emergência da noção de identidade étnica, como é sabido, deu-se em contraposição à noção de raça. Raça, supostamente, era uma característica biológica, enquanto a identidade étnica seria uma característica cultural (CUNHA, 2016, p.44)53.

Elemento preponderante de identificação étnica, naquele momento, era o uso

cotidiano da língua materna, utilizada nas situações intergrupais, tanto no ambiente

doméstico como nas reuniões no templo, “a linguagem, que, nesse contexto social,

serve para expressar diferenças” (CUNHA, 2016 p.46). Atualmente, há um esforço

dos pais em manter a tradição no uso da língua materna na comunicação cotidiana -

“entendida como um conjunto de orientações valorativas consagradas pelo passado”

(OLIVEN, 2016, p.135)54.

Os filhos são ensinados a falar primeiro a língua materna, e somente na fase

escolar e de sociabilização com outras crianças, o português é introduzido como a

segunda língua. “A manutenção da língua materna tornou-se um elemento

identificador do grupo” (SEYFERTH, 1982) e ao mesmo tempo um diferenciador entre

os brasileiros, “toda identidade é necessariamente contrastiva, ou não seria

identidade” (CUNHA, 2016, p.44).

A transmissão do idioma taiwanês como primeira língua, para as novas

gerações, acontece, inclusive, pela preocupação de não se perder o contato com os

familiares que residem em Taiwan.

Outro diferenciador entre os brasileiros predominantemente católicos e os

taiwaneses é a fé cristã reformada protestante, comunicada durante as primeiras

décadas, exclusivamente na língua materna, “um constante exemplo de choque

cultural” (MENDONÇA, 2008, p.38), o que contribuiu para a coesão e fortalecimento

do grupo e, ao mesmo tempo, distanciamento e fechamento para o relacionamento

com outros grupos étnicos, tornando-se uma “ilha social”.

53 Manuela Carneiro da Cunha foi professora da University of Chicago e da USP (Universidade de São Paulo),

Identidade étnica. In: JÙNIOR, Brasílio Sallum; SCHWARCZ, Lilia Moritz; VIDAL, Diana; CATANI, Afrânio (orgs.). Identidades. São Paulo: Edusp, 2016.

54 Ruben George Oliven é professor titular do Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A Atualização da Nação Identidade Étnica. In: JÙNIOR, Brasílio Sallum; SCHWARCZ, Lilia Moritz; VIDAL, Diana; CATANI, Afrânio (orgs.). Identidades. São Paulo: Edusp, 2016.

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Fazer parte de uma comunidade étnica é uma declaração pública de que se compartilha com outros membros dessa comunidade, em maior ou menor grau, parcialmente ao menos, uma história comum. Pois é nisso que a identidade étnica difere de outros tipos de identidade: sua razão última é, pressupõe-se, de natureza histórica (CUNHA, 2016, p.46).

O protestantismo no Brasil se construiu como o “outro”, em oposição à matriz

do catolicismo, como ressalta Borges Pereira:

Como grupo minoritário, ou minorizado, o protestante se colocou estrategicamente numa situação de oposição entre nós/outros, que em última instância pode ser vista como pares dialéticos ou dicotômicos entre o bem e o mal, o puro e o impuro (PEREIRA, 2005, p. 107).

Os pastores incentivam a conservação da língua taiwanesa entre os

descendentes da membresia, nas dependências do templo e nas práticas religiosas

de culto: liturgia, pregação do sermão, cânticos entoados, avisos e nas literaturas, “fé

que é expressa na língua materna” (SEYFERTH, 1982).

O casamento endogâmico é incentivado tanto pela família, como pela liderança

da Igreja, o que reforça a preservação cultural-religiosa, aliado à conservação da

língua materna, que se transforma em símbolo de identificação e pertencimento. Para

Durkheim, a religião diz respeito a uma superioridade do coletivo sobre o individual,

sua autoridade moral e sua proteção. “Os indivíduos que compõem essa coletividade

sentem-se ligados uns aos outros pelo simples fato de terem uma fé comum”

(DURKHEIM, 2000, p. 28).

No que tange à criação de filhos, os pais taiwaneses seguem culturalmente a

educação oriental, contrapondo à cultura ocidental. Os adolescentes e os jovens

obedecem às regras e os limites cobrados pelos pais. Mesmo diante do processo de

aculturação, os descendentes taiwaneses não adotam o padrão de educação de filhos

das famílias brasileiras, “a cultura oriental de orientação e educação de filhos é como

uma raiz que trouxemos conosco, não podemos arrancar de nós, nem aceitar a forma

como é ensinada no Brasil” (Hui, 2017). “Ao falar dos outros, de alteridade, o sujeito

afirma algo sobre si mesmo, expressão de sua própria identidade” (VIERTLER, 2006,

p.48).

Os idosos taiwaneses, de acordo com a cultura oriental, representam uma

figura de respeito, devem ser sempre ouvidos e considerados, pois agregam valores e

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experiência de vida. Nas famílias tradicionais, os idosos centralizam a família ao redor

de si. Os mais velhos são detentores da cultura original, decorrente do seu

conhecimento acumulado, são considerados como referência grupal da tradição vivida

e acrescida em cada novo tempo pela contribuição de cada geração.

A respeito da tradição Hobsbawn55 considera que a invenção de tradições é essencialmente um processo de formalização e ritualização, caracterizado por referir-se ao passado, mesmo que apenas pela imposição da repetição (HOBSBAWM, 1984, p.13).

No caso dos taiwaneses há uma ligação estabelecida entre os valores étnicos

e religiosos particularmente para os membros da Igreja Presbiteriana de Formosa. A

taiwanicidade e o evangelho se unem para reafirmar a ética cristã e tradições culturais

entre os membros da comunidade protestante. Os elementos da fé e língua materna

são “identidades contrastivas que distinguem e contrastam na construção da

identidade étnica”, que tem função importante na preservação da cultura do grupo

(CUNHA, 2016, p.44).

O assistencialismo aos imigrantes taiwaneses recém-chegados, tornou-se um

marco fundamental que contribuiu para o aumento da membresia da Igreja

Presbiteriana de Formosa. Os imigrantes taiwaneses que se aproximaram do grupo

estabelecido em Mogi das Cruzes, buscavam receber ajuda mútua dos seus

compatriotas, apoio e solidariedade, na esperança de prosperarem no Brasil.

Independente da religião que professavam em Taiwan, as primeiras famílias

dispensavam apoio assistencial em vários aspectos da existência humana - moradia

compartilhada em barracões, técnicas agrícolas, terra para o cultivo e assistência

mútua profissional - que gerou em conversões e adesão de novos imigrantes à fé

protestante.

A identidade (étnica) permite associar o indivíduo, ou o grupo, a um passado, uma raça, uma cultura compartilhada, suscita sentimentos de pertença, mas o interesse comum também une, permitindo laços concretos de comunidade (SEYFERTH, 2011, p.55).

56 Informações obtidas no site:

http:http://lutasocialista.com.br/livros/V%C1RIOS/HOBSBAWM,%20E.%20Introdu%E7%E3o.%20In%20A%20inven%E7%E3o%20das%20Tradi%E7%F5es.pdfiado por Baden Powell. Eric Hobsbawm & Terence Ranger (orgs.). A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984. Acesso em 09.Out.2017.

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A agricultura familiar e de granja foram atividades econômicas que

desempenharam um papel de coesão ao grupo étnico a partir dos seus interesses

mais imediatos socioeconômicos, como acolhimento, moradia, trabalho e

desenvolvimento econômico. A comunidade étnica estimulava a afirmação de valores

culturais e sociais.

A etnicidade se refere à construção social da descendência e da cultura, marcada pelo comportamento do indivíduo dentro e fora do grupo étnico, um comportamento determinado por sua herança de valores e tradições. Cultura e etnicidade estão entrelaçados, o que põe em evidência a diferença (em relação aos “outros”) e o embasamento da identidade (SEYFERTH, 2011, p.51, 53).

Os hábitos alimentares são cultivados como marcadores étnicos entre o

taiwanês e o “outro” brasileiro. A culinária taiwanesa é conservada tanto no cotidiano,

nas casas das famílias, como no templo: no almoço coletivo realizado todos os

domingos, após o culto matutino ou em outros eventos. “As avós cozinham e ao

mesmo tempo, transferem as tradições culinárias às gerações mais novas” (Sr. S.).

“As práticas cotidianas, habitus, modo de vida, organização social e outros

aspectos da realidade cultural tem importância na contextualização da etnicidade”

(SEYFERTH, 2011, p.51, 53). O modo de comemorar as festas é cultivado com pratos

culinários, do tradicional hábito alimentar, próprio do grupo étnico.

A dedicação ao trabalho duro como produtores de alimentos; a valorização da

família unida no trabalho; a visão do trabalho como enobrecedor e vocação divina; o

espírito empreendedor e a cultura de não desperdiçar, são alguns dos sinais

adscritivos mais comuns entre os taiwaneses e seus descendentes.

O protestante deveria ser educado para ser o exemplo edificante de superioridade religiosa: exemplo nas atitudes morais, exemplo na escola, no trabalho, exemplo nas suas relações pessoais e sociais (BORGES PEREIRA, 2005, p. 108).

Por outro lado o estereótipo do brasileiro contrasta com o do taiwanês, pelo

fato do brasileiro ser visto como um indivíduo de “pouco esforço, avesso ao trabalho e

preguiçoso”; esse pensamento contribuiu para o reforço do casamento entre os

membros da própria comunidade étnica. O imigrante taiwanês revelou em seu perfil

extremamente reservado e altamente disciplinado no trabalho, características

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culturais orientais, que os diferem culturalmente a dos brasileiros. Segundo o

presidente da ONG JCI Brasil-China, Chang Kuo I, a interação entre brasileiros e

chineses é harmoniosa, relata: “brasileiros e chineses têm uma convivência pacífica e

respeitosa. Os brasileiros têm consideração com o povo, reconhecem que é um povo

trabalhador”.56

Apesar da estabilidade econômica e profissional no Brasil, os taiwaneses não

renunciam aos valores étnicos de sua identidade de origem, razão pela qual, alguns

conservam o desejo de retornar à pátria dos seus antepassados, a fim de visitar seus

parentes, mantendo harmoniosamente a dupla cidadania.

3.4.1. Sociabilidade e Aculturação

Por mais de quatro décadas os cultos eram realizados somente em taiwanês. A

fluência na língua era devido ao esforço dos pais em transmitir a cultura linguística

aos seus filhos. Apesar de multiplicado, o grupo se manteve coeso nas primeiras

décadas, portanto, não havia necessidade da tradução do culto para o português.

Contudo, nem todos os pais das novas gerações conservaram a preocupação de

seguirem os mesmos costumes de ensinar o taiwanês fluente para seus filhos. As

dificuldades linguísticas com o taiwanês começaram a aparecer entre as novas

gerações, pelo fato de não compreenderem o culto na íntegra. Houve com isso, a

necessidade de se traduzir o conteúdo do culto para a língua portuguesa. Segundo

Dantas:

(...) toda cultura é um processo permanente de construção, desconstrução e reconstrução que, em tempos de rápidos deslocamentos e constante contato intercultural, torna-se extremamente dinâmico (DANTAS, 2012, p.114).

56 A Comunidade chinesa em São Paulo é estimada em 200 mil pessoas, incluindo os nascidos na China e os

descendentes, a maior do Brasil, segundo o presidente da ONG JCI Brasil-China, Chang Kuo I. Essa estimativa considera os chineses continentais e também os nascidos em Taiwan e Hong Kong. “A comunidade chinesa no Brasil não é homogénea, há muitos grupos que se identificam mais pela região ou pelo idioma”, afirmou Chang Kuo I, que reside no Brasil há mais 25 anos. Uma das principais atividades da ONG JCI Brasil-China é a realização de eventos culturais de caráter educacional, com foco tanto na cultura chinesa como na brasileira, com o objetivo de promover a integração. Informações obtidas em>http://www.revistamacau.com/2015/05/18/comunidade-chinesa-em-sao-paulo-estimada-em-200-mil-pessoas/Acesso em 10.Out, 2017.

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Aproximadamente nos últimos sete anos, a Igreja Presbiteriana de Formosa

inseriu a tradução simultânea para o português.

Para explicar o termo aculturação Watchel considera que “aculturação é todo fenômeno de interação social que resulta do contato entre duas culturas, e não simplesmente a sujeição de um povo por outro” (SILVA & SILVA, 2009, p. 15)57.

Na proposta de Oliveira, a “fricção interétnica” propõe explicar as relações

sociais que acontecem dentro das sociedades que se interagem através de contatos e

conflitos em relação à difusão, transmissão e assimilação da cultura. De acordo com

Viertler, “no jogo das relações intergrupais, Interétnicas (...) estes vários “outros” são

apenas semelhantes enquanto seres humanos, mas de qualidades e valores

desiguais” (VIERTLER, 2006, p. 45).

Os taiwaneses não perderam sua identidade étnica, apesar da interação com a

sociedade brasileira, “as transformações sofridas pelas sociedades em contato

interétnico não são os resultados da influência da cultura de uma sobre a outra”, nem

mesmo “o produto de uma criação comum determinada pelos fatores postos em

interação pelos grupos étnicos” (OLIVEIRA, 1976). Os resultados da interação

reestruturam os interesses do grupo e se mantém como forma de sobrevivência, sem

perder a identidade étnica do grupo. OLIVEIRA segue “o princípio de Durkheim de

estudar o social pelo social, sendo, portanto, a identidade étnica uma forma de

identidade social” (VERAS & DE BRITO)58.

“Chamamos 'fricção Interétnica' o contato entre grupos tribais e segmentos da sociedade brasileira, caracterizados por seus aspectos competitivos e, na maioria das vezes, conflituais, assumindo esse contato muitas vezes proporções 'totais', i.e., envolvendo toda a conduta tribal e não tribal que passa a ser moldada pela situação de fricção Interétnica". A formulação do conceito significava, em primeiro lugar, uma atitude crítica frente a abordagens correntes à época no Brasil, como aquelas que focalizavam os processos de "aculturação"

57 O termo aculturação foi inicialmente cunhado por antropólogos norte-americanos, sendo o historiador francês

Nathan Watchel um dos principais responsáveis por sua adaptação para a História. De acordo com ele, o conceito de aculturação é útil para o desenvolvimento de reflexões sobre as mudanças que podem acontecer em uma sociedade a partir da inclusão de elementos externos, ou seja, do contato com outras culturas. (SILVA & SILVA, 2009, p.15).

58 Informações extraídas da Revista de Antropologia: ANTROPOS. VERAS, Marcos Flávio Portela. DE BRITO, Vanderlei Guimarães. Ano 4, Vol. 5 – Maio de 2012. Artigo 4: Identidade Étnica: A dimensão política de um processo de reconhecimento.

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ou de "mudança social", inspirados, respectivamente, nas teorias funcionalistas norte-americanas ou britânicas59.

Viertler (2006, p. 45, 46), declara que “esta dinâmica de relações intergrupais,

acaba cristalizando certas marcas ou atributos dos vários grupos envolvidos”, essas

“marcas” são construções culturais que visam classificar outros que se diferem de

acordo com as “novas conjunturas que assume”. “A identidade é, assim, marcada

pela diferença” (SILVA, 2000, p.9). “Assim como a identidade depende da diferença, a

diferença depende da identidade, sendo ambas inseparáveis” (SILVA, 2000).

Segundo Dantas, o imigrante deve ajustar-se ao novo local e aprender novos

códigos sociais, colocando em xeque o seu universo cultural.

Fica claro, portanto, que o contato contínuo com outra cultura supõe um conflito, crise e uma posterior “adaptação” ao novo ambiente cultural. Interessante lembrar que a palavra “crise” em chinês é formada por dois ideogramas, em que um significa perigo e o outro, oportunidade (DANTAS, 2012, p.116).

São poucos os casamentos mistos entre taiwaneses e brasileiros. O incentivo

maior é para uniões matrimoniais endogâmicas, a fim de se evitar conflitos culturais.

“Uma etnia pode manter sua identidade étnica mesmo quando o processo de

aculturação em que está inserida tenha alcançado graus altíssimos de mudança

cultural” (OLIVEIRA,1976)60.

A aculturação dos taiwaneses foi se solidificando com o passar do tempo,

identificada principalmente, nos hábitos alimentares adquiridos dos brasileiros, como

o costume de comer churrasco e a feijoada, pratos típicos da culinária brasileira, que

fazem parte do cardápio dos taiwaneses em eventos e nos almoços coletivos aos

domingos, hábito praticado até mesmo pelos anciãos do grupo.

(...) “A cultura não é algo dado, posto, algo dilapidável também, mas algo constantemente reinventado, recomposto investido de novos significados e é preciso perceber (...) a dinâmica, a produção cultural” (CUNHA, 1986, p.99, 101).

59 Informações extraídas da Revista de Antropologia. OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. O Movimento dos

Conceitos na Antropologia Universidade Estadual de Campinas São Paulo, USP, 1993, V. 36. Disponível em:<https://www.revistas.usp.br/ra/article/view/111381/109565. Acesso em 06.Out.2017.

60 Informações extraídas da Revista ANTHROPOLÓGICAS, ano 9, vol. 16(2), 2005, p.19. Disponível em:> http://www.revista.ufpe.br/revistaanthropologicas/index.php/revista/article/viewFile/56/53. Acesso em 06.Out.2017.

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A introdução da música brasileira no cotidiano taiwanês é percebida na liturgia

de culto, em que se alternam música de bandas evangélicas nacionais e hinos em

taiwanês. Hall (2004) defende que a identidade de um grupo é algo construído ao

longo do tempo por meio de “processos inconscientes”. A identidade é uma

construção social que “se forma através da comunicação com diferentes grupos (..)

sendo assim, dinâmica e em constante construção ou formulação” (VERÁS & DE

BRITO, 2012, p. 109, 110). A esse respeito Borges Pereira declara: “a identidade não

é um dado da natureza: ela é construída socialmente” (PEREIRA, 2005, p.104).

Segundo Dantas o migrante enfrenta uma crise psicológica e uma reorganização de

mundo, frente a uma outra cultura um complexo processo de negociação relativo à

própria identidade, a identidade grupal, os próprios valores, (...), vivência de

preconceito, educação dos filhos, relações familiares, questões Inter geracionais

(DANTAS, 2012, p.116).

Com isso tornam-se inevitáveis os conflitos geracionais, por se tratar de

imigrantes inseridos em uma sociedade marcada pela cultura multirracial, como a do

Brasil. “Ocorrem conflitos de mentalidade entre os anciãos e os jovens. A cultura

ocidental é diferente da cultura oriental, porém a maioria dos casos de conflitos são

resolvidos com diálogo” (Sr. S., 2017).

A transmissão da cultura acontece pela oralidade, tendo em vista a grande

barreira linguística enfrentada pelos taiwaneses da primeira geração. A oralidade

desempenha um papel central na preservação e difusão de saberes, como ocorre no

grupo étnico taiwanês. Concentra-se na comunicação oral a materialização ou

exteriorização cultural através da palavra que encerra um legado da própria coesão

do grupo. A oralidade torna-se assim importante fonte histórica e para reconstituição

do passado e a figura do ancião é primordial como guardião da memória e

responsável por ativar o passado às novas gerações.

O conhecimento é a própria palavra. É ela que transmite os conhecimentos de uma geração para outra. (...) daí que os mais novos são treinados anos afora na arte da memorização. A autenticidade da transmissão é assegurada pela existência de uma série de normas rigorosamente observadas na chamada cadeia de transmissão61.

61 BÁ, A. Hampaté. História Geral da África, vol. I. 2ª. Edição. Revisão - Brasília: UNESCO, 2010, capítulo 8, p.168,

169.

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No que tange a aculturação no ambiente religioso, destaca-se o evento que

ocorre todos os anos, chamado Caipira Naite, que tem promovido adaptação e

reelaboração de elementos que expressam a manifestação cultural brasileira, no

interior de uma festa taiwanesa.

Houve adaptação quando foi necessário conservar velhos costumes em condições novas ou usar velhos modelos para novos fins. Instituições antigas, com funções estabelecidas, referências ao passado e linguagens e práticas rituais podem sentir necessidade de fazer tal adaptação. Mais interessante, do nosso ponto de vista, é a utilização de elementos antigos na elaboração de novas tradições inventadas para fins bastante originais. Sempre se pode encontrar, no passado de qualquer sociedade, um amplo repertório destes elementos; e sempre há uma linguagem elaborada, composta de práticas e comunicações simbólicas. Às vezes, as novas tradições podiam ser prontamente enxertadas nas velhas; outras vezes, podiam ser inventadas com empréstimos fornecidos pelos depósitos bem supridos do ritual, simbolismo e princípios morais oficiais (HOBSBAWM, 1984, p. 13 e 14).

A festa Caipira Naite representa a ressignificação da cultura, com a tradição de

pratos típicos da culinária taiwanesa e, ao mesmo tempo, uma adaptação da festa

junina brasileira, representada através da decoração com bambus, bandeirinhas

coloridas e vestimentas em xadrez. Realizada próxima da data da festa junina

brasileira, tem atraído um número significativo de visitantes a cada ano, de valor

social plural, a festa recebe a cobertura da imprensa local: TV O Diário, filial da Rede

Globo, divulgadora do evento na região do Alto do Tietê62.

62 O Diário de Mogi, filial da Rede Globo, realizou a reportagem da Festa “Caipira Naite” no ano de 2017.

disponível em:> http://odiariodemogi.com.br/mogi-tem-festa-da-cultura-de-taiwan-neste-sabado/05/Ago/2017. Acesso em 11.Nov.2017. Reportagem de Natan Lira.

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Figura 17: Festa Caipira Naite, na quadra esportiva da IPF em 2016.

A festa possui significados relevantes para o grupo étnico - a integração dos

departamentos em prol do sucesso do evento; a transmissão da cultura às novas

gerações através da culinária; oportunidade de outras Igrejas, vizinhos e convidados

conhecerem a cultura taiwanesa. A arrecadação da festa é encaminhada às missões

evangelísticas.

No dia 05 de agosto de 2017, a Igreja Presbiteriana de Formosa comemorou a

18ª. edição da festa Caipira Naite, com a participação ativa dos seus membros,

colaboradores e voluntários externos. A festa contou com aproximadamente 1.400

pessoas que visitaram o evento, realizado nas dependências externas da Igreja.

Desde o início da sua realização, a Caipira Naite conta com a participação direta da

juventude da IPF, com o objetivo de levantar ofertas para os missionários da Igreja. A

brincadeira da prisão é um atrativo que faz sucesso entre os adolescentes e jovens,

uma adaptação das brincadeiras juninas brasileiras.

Hobsbawm considera que as rupturas são inevitáveis mesmo em movimentos

que se denominam “tradicionalistas”:

(...) Provavelmente, não há lugar nem tempo investigados pelos historiadores onde não haja ocorrido a “invenção” de tradições (...)

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mesmo os grupos considerados por unanimidade repositórios da continuidade histórica e da tradição, tais como os camponeses. Aliás, o próprio aparecimento de movimentos que defendem a restauração das tradições, sejam eles “tradicionalistas” ou não, já indica essa ruptura (HOBSBAWM, 1984, p. 12, 15, 16).

De acordo com Borges Pereira (2005, p.103 e 104), o crescente processo de

globalização, emerge como uma preocupação atual das identidades singulares: uma

“espécie de homogeneização da vida sociocultural de povos diferentes e assim

liquidaria com as especificidades desses povos ou grupos”. O que fortalece as

“reelaborações de identidades étnicas, a fim de reencontrar e recontar a sua história,

recuperar as suas tradições culturais e afirmar-se como grupo social nos espaços

sociais e políticos”. “A chamada “crise de identidade” pode ter origem nessas

identidades globalizadas, as quais massificam as culturas entrando em choque com

as identidades locais” (SILVA, 2000).

Nessa perspectiva, vêm se acentuando os sentimentos de que participamos de uma sociedade global com fronteiras geográficas mais tênues, em função, sobretudo da disseminação de novos modos de comunicação e sociabilidade63.

3.5. Vida de Privações e Ascensão Social: Cinquentenário no Brasil

“No imaginário do migrante, a América representava uma terra de

prosperidade” (GROSSELLI, 1987, p.78). Criou-se a expectativa de que a sonhada

terra do Brasil possibilitaria deixar para trás condições de limitações sociais adversas,

e ao mesmo tempo, alcançar um futuro promissor. Em busca de uma posição social

favorável e próspera, a migração taiwanesa em Mogi das Cruzes difere daquelas

vivenciadas pelos imigrantes taiwaneses na capital paulista. Enquanto os taiwaneses

em Mogi das Cruzes tornaram-se, de início, proprietários de terras e agricultores

rurais, os taiwaneses da capital, empreenderam atividades tipicamente urbanas e

tornaram-se, em sua grande maioria, comerciantes.

Reverter a condição social vivida pelas famílias de camponeses em Taiwan,

sem prestígio sócio-econômico e sem perspectivas, reservou para o chamado “Novo

63 JÚNIOR, Brasílio Sallum. Schwarcz, Lilia Moritz. Vidal Diana. Catani, Afrânio. (Orgs.) Identidades. Edusp, 2016,

p. 12.

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Mundo” a esperança da ascensão social e da satisfação espiritual, tendo em vista

serem eles, despenseiros da promessa de Deus, no tocante ao cumprimento da

missão de viver em novidade de vida e serem prósperos em outro país, fator

relevante que fez com que o migrante taiwanês continuasse no Brasil, mesmo diante

da posterior ascensão econômica e social alcançada por Taiwan, décadas depois da

sua saída.

De acordo com os relatos que recebiam do Brasil, por correspondências, no

imaginário dos candidatos à migração, acreditava-se que brotava ouro do solo

brasileiro, com isso, deslumbravam a possibilidade de serem proprietários de terras.

Os imigrantes eram camponeses em Taiwan e viviam num regime de privações e sem

perspectiva de adquirem maiores extensões de terras em seu país.

No bairro do Botujuru, as famílias poupavam o máximo que podiam para

conseguirem melhorar suas propriedades e adquirirem outras, a fim de ampliar o

cultivo de cogumelos, condição por meio da qual, conseguiriam ascender socialmente

nas primeiras décadas, atividade que até hoje é enaltecida pelo grupo. Afinal, no

Brasil tornaram-se proprietários, livres e abençoados por Deus, pelas colheitas fartas.

Entretanto, as privações, de início, enfrentadas pela condição social no Brasil,

obrigavam os membros da família, como um todo, a unirem esforços e lutarem pela

sobrevivência e pelo progresso. O fato dos homens terem consigo filhos e esposas,

suavizou os sofrimentos e proporcionou o conforto da família unida.

Os frutos colhidos durante estes 50 anos no Brasil são resultados de alicerces

fincados, que se soma a uma vida de dedicação à fé protestante, à família e suas

tradições e ao trabalho intenso e cooperativo. Historicamente, a prosperidade

econômica sustentou-se, de início, no trabalho agrícola e se consolidou quando da

formação profissional da segunda geração de taiwaneses. A conservação da família

unida e multiplicada é outro pilar de sustentação para o progresso da comunidade

religiosa presbiteriana de Formosa.

Os tempos de trabalho duro, na terra e na enxada, iniciados com as primeiras

famílias, são recordados com apreço, em forma de memorial, constantemente

relembrado pelos mais velhos do grupo, às novas gerações, a fim de se valorizar o

início da vida no bairro do Botujuru, em que foram lançadas as primeiras sementes

dos frutos que se colhem hoje.

De acordo com Max Weber “o protestante trabalha porque encontra no seu

ofício sua vocação divina”. Há uma casualidade histórica em que o judeu

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compreendia o trabalho como forma de servir a Deus e não visava somente ao capital

como resultado do seu trabalho. No caso do grupo étnico protestante, o sentido de

trabalho segue esse mesmo fim: o salário não é o fim principal do trabalho e sim a

vocação em servir a Deus. “O calvinismo é, precisamente, a primeira ética cristã que

deu ao trabalho um caráter religioso” (BIÉLER, 1970, p. 68)64.

Se formos definir a ação econômica capitalista, notaremos que ela se apoia na

expectativa do lucro por meio da utilização de oportunidades de troca, a fim de obter

mais lucro. O Ocidente desenvolveu a organização capitalista racional do trabalho

livre, um capitalismo tanto em uma extensão quantitativa quanto em tipos, formas e

dimensões que jamais existiram em outros lugares, o que tornou possível, dentro

dessa perspectiva capitalista, o desenvolvimento e a ascensão econômica dos

presbiterianos taiwaneses em Mogi das Cruzes (WEBER, 2013, p. 19).

A separação entre os negócios e a vida doméstica foi fundamental para a

expansão econômica dos filhos dos imigrantes que deixaram a ocupação rural

familiar, em lidar com a terra, e se inseriram no mercado de trabalho urbano,

tornando-se profissionais liberais, comerciantes e empresários.

A influência de certas ideias religiosas na formação de um espírito econômico,

ou de um ethos, no caso dos taiwaneses, associado ao espírito da moderna vida

econômica ocidental e da ética racional do protestantismo, resultou na ascensão

social do grupo étnico religioso.

O termo ethos na sociologia em geral é utilizado para designar um conjunto de costumes de determinado grupo, seus valores éticos, morais e culturais. Na perspectiva de Weber, o ethos estaria vinculado a esse conjunto de elementos que dariam base à ação prática dos sujeitos (WEBER, 2013, p.26).

A afirmação destacada por Weber a respeito de “tempo é dinheiro”, para o

espírito da sociedade capitalista, em que “as obrigações são realizadas antes do

divertimento e desperdiçar o tempo é gastar, ou melhor, jogar fora valores em

dinheiro” (WEBER, 1989, p.29). Isso nos remete a uma mentalidade que traduz as

práticas de vida dos taiwaneses, no que diz respeito à produtividade, ao incentivo

para economizar, ao não desperdiçar o tempo e as energias naquilo que não seja útil.

64 André Biéler, O humanismo social de Calvino. São Paulo: Edições Oikoumene, 1970, p 68. Disponível

em:>http://www.monergismo.com/textos/resenhas/weber_capitalismo.pdf. Acesso em 12.Set.2017

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O trabalho intenso na agricultura familiar e nas granjas gerou oportunidade de

ganhar a sua própria renda e aumentar sua eficiência. Para isso, todos se uniam

juntando forças para o trabalho. “A diferença entre os altos lucros e a grande perda

dependem da dedicação e presteza com que é realizado o serviço” (WEBER, 1989,

p.37).

“O trabalho deve, ao contrário, ser executado como um fim absoluto por si

mesmo - como uma vocação” (WEBER, 1989, p.39). Essa concepção de trabalho é

reproduzida no grupo étnico protestante taiwanês, demonstrada pelos depoimentos

obtidos por membros do grupo a respeito da finalidade do trabalho, como sendo uma

forma de serviço a Deus e à prosperidade, como sendo um resultado da bênção de

Deus sobre o serviço de devoção.

A transição do trabalho tipicamente rural para o urbano, conquistado pela

qualificação e formação universitária e acadêmica, da maioria do grupo, busca além

do prestígio e do status sócio-econômico, a justificação baseada no estilo de vida da

ética protestante, do fim virtuoso e mais elevado do serviço a Deus e ao próximo.

A posição social que ocupa a maioria da membresia da IPF é considerada de

classe social média a elevada, com profissionais atuantes em várias áreas do

conhecimento na sociedade. No aniversário que se celebrou o cinquentenário da IPF,

comemorou-se além da multiplicada membresia, a satisfação no seio do grupo étnico,

pelo fato de haver mais de 50 médicos formados, imigrantes e seus descendentes,

vinculados ao rol de membresia; profissão status, enaltecida por todos do grupo. O

número de médicos formados acompanha a idade de existência da Igreja, em mais de

cinquenta anos de estabelecimento em Mogi das Cruzes, o que torna possível dizer

que o sonho de uma terra próspera e farta foi alcançada no Brasil.

A medicina era vista como uma profissão que lhes abriria as portas para

alcançar pessoas, que em estado de vulnerabilidade pela doença, tornavam-se

propensas a escutar mensagens sobre o amor de Deus: “uma forma de servir aos

homens em nome de Deus, o que provavelmente influenciou a muitos a exercer essa

profissão. Amar a Deus é servir aos homens”. O status social foi uma consequência

das primeiras escolhas, “servir ao próximo com as habilidades profissionais, a fim de,

com isso, expressar amor a Deus” (Hui, 2017).

Além dos profissionais formados em medicina, que atuam dentro e fora do

país; a membresia também conta com profissionais liberais, advogados, pedagogos,

engenheiros, dentistas e outros: comerciantes, empresários e funcionários

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contratados. Os agricultores que eram a maioria, hoje são aproximadamente 20% da

parcela dos trabalhadores da Igreja.

Com a transição das atividades econômicas de tipicamente rural para urbana; a

modernização socioeconômica; o impacto dos meios de comunicação e transporte

associado ao constante processo de aculturação no Brasil, tornou-se inevitável,

rupturas quanto a continuidade da tradição religiosa, em alguns casos, entre as novas

gerações, evidenciando os efeitos da secularização.

Essa situação representa uma severa ruptura com a função tradicional da religião, que era precisamente estabelecer um conjunto integrado de definições de realidade que pudesse servir como um universo de significado comum aos membros de uma sociedade. Restringe-se assim o poder que a religião tinha de construir o mundo ou da construção de mundos parciais, universos fragmentários, cuja estrutura de plausibilidade, em alguns casos, pode não ir além do núcleo familiar (BERGER, 1985, p. 146).

Peter Berger considera que “a crise de credibilidade na religião é uma das

formas mais evidentes do efeito da secularização para o homem comum”. Nesse

caso, as “mudanças sociais empiricamente observáveis tiveram consequências a

nível de consciência religiosa e idealização”. Para alguns que se distanciaram do

grupo, a instituição religiosa deixou de acompanhar suas motivações pessoais, e “de

exercer o poder sobre o fiel”. “A religião não legitima mais o “mundo” nem seus

propósitos” (BERGER, 1985, p.140 e 163).

De todos os pressupostos, permanece, no entanto, a predominância do grupo

étnico presbiteriano taiwanês da IPF e sua relevância na missão em que foram

destinados a realizarem no Brasil, da experiência em “servir a Deus em outro país”,

cuja aprovação divina se tornou evidente por meio da prosperidade, sinal de bênçãos

alcançadas: no crescimento da membresia, na multiplicação da família e do bem-estar

social.

3.6. Rede de Contato Ministerial Nacional e Transnacional

Apesar de receber a nomenclatura de Igreja Presbiteriana, a Igreja

Presbiteriana de Formosa em Mogi das Cruzes não está vinculada à ordem

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institucional das Igrejas Presbiterianas do Brasil. A IPF está vinculada ao Presbitério

das Igrejas chinesas-taiwanesas no Brasil, que totalizam doze igrejas e que no Estado

de São Paulo formam sete igrejas65.

A IPF em Mogi das Cruzes mantém vínculo ministerial com a Igreja

Presbiteriana do Brasil, em âmbito de amizade, no que concerne à troca de

experiência ministerial-teológica e na preleção em eventos que ocorrem na IPF. Os

pastores da Igreja Presbiteriana do Brasil também integram parte do quadro docente

do Seminário Teológico Servos de Cristo66, criado para atender às demandas

ministeriais das Igrejas chinesas-taiwanesas no Brasil.

No atendimento às demandas de conferências e simpósios teológicos a nível

internacional de preleção, seja na Igreja taiwanesa ou no Seminário Servos de Cristo,

torna-se mais viável convidar preletores taiwaneses residentes nos Estados Unidos

da América, do que propriamente os que residem em Taiwan, devido minimizar o

custo com transporte aéreo.

Projetos missionários de evangelização dos imigrantes chineses da China

continental, que residem no estado de São Paulo, vem sendo realizados em parceria

com a Missão Evangélica Luca Sulamérica67, através de literaturas em chinês. As

revistas são oferecidas em dois conteúdos: artigos bíblicos para atender as Igrejas

chinesas e mensagens evangelísticas para alcançar a comunidade chinesa.

65 O presbitério das igrejas chinesas no Brasil são: 1- Igreja Presbiteriana de Formosa de São Paulo- Liberdade- São Paulo 2-Igreja Presbiteriana de Formosa de Mogi das cruzes- Mogilar-Mogi das Cruzes 3-Igreja Presbiteriana de Formosa Vida Nova -Vila Mariana -São Paulo 4-Igreja Presbiteriana de Formosa Poco Celestial -Liberdade -São Paulo 5-Igreja Presbiteriana de Formosa Tau An -Aclimação- São Paulo 6-Igreja Presbiteriana de Formosa Botujurú - Botujurú- Mogi das Cruzes 7-Igreja Presbiteriana de Formosa Santo Eterno- Ipiranga- São Paulo 8-Igreja Chinesa de Curitiba -Curitiba 9-Igreja Chinesa de Porto Alegre- Porto Alegre 10-Igreja Presbiteriana de Formosa de Manaus- Manaus 11-Igreja Presbiteriana de Formosa de Fortaleza -Fortaleza 12-Iglesia Presbiteriana Oriental - Ciudad Del Leste- Paraguay 66 Em 1990, o seminário foi fundado oficialmente com o nome de “Seminário Teológico Servos de Cristo da

América do Sul”; como uma escola filial do “Christian Witness Theological Seminary” de Berkeley, Califórnia (EUA), com a finalidade de atender às demandas teológicas das futuras gerações de chineses imigrantes protestantes no Brasil. O Seminário Teológico Servos de Cristo é interdenominacional, multicultural e independente (sem vínculo com presbitério da Igreja Presbiteriana de Formosa). Informações obtidas da Edição Comemorativa do 20º. Aniversário do STSC (1990-2010, p. 10).

67 A Missão Luca – Sul América Evangelismo (Centro de Comunicação Evangélica da América do Sul) tem como objetivo o alcance de chineses para o evangelho na América do Sul, através de materiais literários em mandarim, que atendam a comunidade chinesa. Informações obtidas através de Boletim Informativo Vol. 48 – no. 37/2017, fornecido pela IPF e pelo site:> http://sulamev.wunme.com/. Acesso em 25.Set.2017.

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Outra parceria de vínculo étnico religioso é estabelecido entre a Igreja

Presbiteriana de Taiwan, que possui alojamentos para acolher taiwaneses e seus

descendentes das diversas Igrejas Presbiterianas de Formosa do Brasil, quando

estão em viagem pelo país.

Em comemoração ao 55º aniversário do trabalho missionário da Igreja étnica

Presbiteriana de Formosa no Brasil, o presbitério realizou um culto de Ação de

Graças na Primeira Igreja Presbiteriana de Formosa em São Paulo (ISP)68, com

participação da visita do secretário geral e uma comitiva do Concílio da Igreja

Presbiteriana em Taiwan. Essa rede de contato ministerial transnacional tem

fortalecido os laços étnicos e religiosos que envolvem uma parceria de amizade e de

identidade étnico-cultural.

Figura 18: Igreja Presbiteriana em Taiwan

68 O culto de ação de graças aconteceu no dia 08 de outubro de 2017, na ISP, com a

participação do secretário geral e uma comitiva do Concílio da Igreja Presbiteriana em Taiwan.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conhecer a história e a experiência religiosa dos taiwaneses presbiterianos

estabelecidos em Mogi das Cruzes foi uma descoberta cultural enriquecedora e, ao

mesmo tempo empolgante. Uma história de bravuras que antecedeu desde a saída

em Taiwan até o seu desbravamento no Brasil. A história nos remete ao imaginário de

traços messiânicos da cultura judaico-cristã, ao fazer a analogia da história de Abraão

e sua saída de Ur, para a terra de Canãa (Gn 11:31 e 12:01), com a experiência da

saída do imigrante taiwanês para o Brasil. Considerado no imaginário, um país de

prosperidade, o Brasil representava a esperança de uma terra prometida pela fé,

como sendo a terra de Canãa. A esperança baseada na fé protestante tornou possível

a convicção do chamado ao Brasil, como sendo uma missão comissionada por Deus

de se desenvolverem como agricultores.

A história da imigração no Brasil foi marcada pela aceitação e a integração de

novas culturas, que teve início desde a chegada dos primeiros colonizadores

portugueses no século XVI e posteriormente, os negros africanos, e uma variada

mistura de povos europeus, até chegar aos orientais japoneses, chineses e

taiwaneses. Considerado até hoje, como um país de atrativos para as diversas etnias

estabelecidas e distribuídas pelo vasto território, compondo-se assim, o mosaico

étnico cultural da pluralidade brasileira.

A Segunda Guerra Mundial e a guerra civil na China contribuíram para

intensificar os movimentos migratórios de taiwaneses e chineses para o Brasil, nas

décadas de 1940 e 1950. Durante o século XIX, o Brasil era visto na Europa e na Ásia

como um país de muitas oportunidades e ao mesmo tempo um refúgio seguro para

aqueles que buscavam estar longe dos perigos provocados pelos conflitos e guerra.

A liberdade de vida e a esperança na aquisição de maior extensão de terras

atraiu o grupo de camponeses taiwaneses para o Brasil. Por outro lado, a cidade de

Mogi com seu potencial agrícola e áreas rurais a serem exploradas a baixo custo,

tornaram-se atrativos promissores para o grupo desenvolver suas primeiras atividades

econômicas. A herança espiritual de raiz cristã protestante trazida como bagagem

cultural e religiosa pelos taiwaneses foi demonstrada pelo temor e devoção,

preservada em suas práticas e confiada aos seus descendentes a fim de darem

continuidade a ela na nova terra.

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Na condição de grupo minoritário, conservaram a língua materna como

elemento identificador; a fé protestante como base norteadora dos seus projetos de

vida; a dedicação à família como um dos pilares fundamentais; o trabalho e os

estudos como instrumentos transformadores da vida social e econômica do grupo.

O acolhimento e assistência étnico-social nas diversas áreas da vida dos seus

compatriotas - imigrantes recém-chegados - e a multiplicação da família através dos

casamentos endogâmicos, contribuíram fundamentalmente para a aglutinação e

aumento da membresia da Igreja étnica.

ATUALIDADES E TENDÊNCIAS

No cenário político e econômico de Taiwan houve uma revolução pós-

migração. Nos últimos anos, com a redução das tensões no estreito de Taiwan, a

aproximação Taiwan-China tem se intensificado. Apesar da China não reconhecer

Taiwan como um país independente, mas “Uma só China”, os acordos de livre-

comércio promoveram o restabelecimento das comunicações e dos meios de

transporte entre os dois lados. De meados da década de 1970 em diante, o governo

de Kuomintang empenhou-se em um processo de melhoria e modernização da

indústria, sobretudo nos setores de alta tecnologia. Com uma economia baseada em

exportações, Taiwan cresceu no extraordinário ritmo anual de 8,6%, entre 1953 e

1985. Com a conquista de sua identidade e da estabilidade política e econômica,

Taiwan diminuiu consideravelmente o fluxo migratório para o Brasil69.

Com o declínio migratório de taiwaneses, nas últimas décadas, para a região

de Mogi das Cruzes, estabilizou-se o grupo étnico, constituído de imigrantes, da Igreja

Presbiteriana de Formosa. No que tange ao regresso ao país de origem de seus pais,

a grande maioria dos descendentes entrevistados não apresentaram expectativa de

fixarem moradia em Taiwan, apenas visitam o país com o objetivo de reverem seus

familiares, tendo como justificativa, o argumento da estabilidade de vida, dos vínculos

familiares no Brasil e a pouca fluência no idioma mandarim.

A Igreja Presbiteriana de Formosa, caracterizada como Igreja étnica, desde a

sua formação, priorizava o atendimento religioso à população de colonos taiwaneses

da cidade. O objetivo da IPF sempre foi a preservação cultural e a reconstrução da

69 Informações obtidas em>:https://oglobo.globo.com/boa-viagem/taiwan-formosa-terra-dos-cinco-mil-

templos-4856041#ixzz4tvz3D2yL. Acesso 27.Set.2017

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vida e dos laços afetivos e religiosos do grupo na nova pátria. Contudo, ao longo do

tempo, com a diminuição do fluxo migratório e com a construção das relações sociais

com os brasileiros, outras necessidades foram sendo consideradas.

Enquanto a migração taiwanesa diminuiu significativamente nas últimas três

décadas, a migração chinesa cresceu consideravelmente no estado de São Paulo,

como isso, o migrante chinês - da China continental - tem se tornado um campo de

atividade missionária, explorado pelos taiwaneses presbiterianos, resultando em

conversões e aumentando o quadro de membros. A identificação com a cultura

oriental e com o idioma, tornou-se um elemento cultural facilitador de acesso aos

chineses, ao mesmo tempo que abrange a internacionalização na rede de atuação da

Igreja. A parceria dos presbiterianos taiwaneses com a Missão Evangélica Luca:

Sulamérica Evangelismo, tem facilitado a divulgação do evangelho através de

materiais evangelísticos, impressos em chinês, distribuídos na comunidade chinesa,

na região metropolitana de São Paulo e cidades adjacentes, conforme os informes da

revista Sulamérica Evangelismo Vol. 48 – no. 37/2017, em anexo.

A ressignificação dos propósitos, no caráter de expansão da Igreja, abre a

visão para um horizonte ainda maior, desencadeado pelo processo de globalização

que atenua as fronteiras culturais, em função da disseminação de novos modos de

comunicação e de sociabilidade, dentro do universo religioso. O templo, que

inicialmente, simbolizava um espaço privilegiado de reprodução cultural e religiosa de

traços étnicos, atualmente abre espaço para o convívio e sociabilização com outras

etnias que se reproduzem no seu interior.

Atualmente o crescimento da membresia não se baseia no fator migratório,

mas na multiplicação das famílias através de casamentos endogâmicos e nos raros

casos de casamentos exógenos com brasileiros e outras etnias, além da inserção dos

chineses no rol de membresia da Igreja.

A fluência na língua materna se conserva até a 3ª. geração dos taiwaneses,

porém a quarta geração apresenta dificuldades em se comunicar com a língua dos

seus bisavôs. A continuidade e a descontinuidade permeiam as relações sociais

recentes, promovida pela atração religiosa protestante, que abrange não somente a

sociabilização de taiwaneses e seus descendentes, mas a interação da diversidade

étnica entre chineses, japoneses, bolivianos, paraguaios e brasileiros que compõe a

Igreja de Formosa. Paradoxalmente os indivíduos acentuam a coletividade de

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pertencimentos, ao mesmo tempo que sentem-se cada vez mais desenraizados de

suas culturas de origem.

Para atender à demanda de brasileiros e de outras etnias no seu espaço

religioso, a IPF criou uma sala de aula, na escola dominical, direcionado ao grupo

multirracial. A aculturação, resultante da interação social, é responsável pela

transposição de barreiras construídas pela cultura étnica de distanciamento do outro.

A tendência cultural do grupo prevê que após algumas décadas de aculturação

na sociedade brasileira, a língua portuguesa assumirá a posição de primeira língua no

ambiente religioso e os casamentos mistos serão mais frequentes entre a futuras

gerações, possibilitando um grupo mais plural, o que evidencia ser mais uma peça do

grande mosaico que compõe o pluralismo étnico religioso brasileiro.

Figura 19: Sala de aula da escola bíblica dominical, multirracial.

Apesar de manter a forte característica de traços étnicos, presente na

comunidade, o templo é aberto ao público em geral. A maioria dos taiwaneses

entrevistados declararam que o “templo deve ser um espaço aberto para outras

etnias”. Ainda que de maneira discreta, outras etnias contribuem para a tendência,

cada vez mais presente, da pluralidade étnica na comunidade presbiteriana

taiwanesa.

A convivência entre os brasileiros em mais de meio século de interação social,

promoveu a intensificação de trabalhos evangelísticos e a implantação de três

congregações, criadas há dezesseis anos, espalhadas pelos bairros da cidade de

Mogi das Cruzes. As congregações têm o objetivo de alcançar os brasileiros

estrategicamente, para a manutenção e crescimento da Igreja. “O reino de Deus não

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é restrito somente aos taiwaneses no Brasil, os brasileiros devem ser alcançados para

continuarmos a crescer” ( Ming Hui, 2017).

O TAIWANÊS PROTESTANTE SOB OLHAR DO OUTRO

Elementos da cultura oriental são visíveis no comportamento do migrante

taiwanês sob o olhar do brasileiro, no exercício de alteridade. O taiwanês é visto como

um indivíduo extremamente reservado, seleto nas amizades, de boa conduta,

disciplinado e dedicado ao trabalho. Brasileiros que mantém um relacionamento direto

com o taiwanês, seja por meio de vínculo religioso ou empregatício, declararam que

os taiwaneses presbiterianos deixam um legado singular de abnegação ao serviço a

Deus, de dedicação à família e de uma vida de esmero no trabalho como meio

enobrecedor do homem, ao mesmo tempo, um instrumento utilizado para honrar a

Deus e servir ao próximo.

Depoimentos obtidos por brasileiros, membros da IPF, declararam que, no

início, apesar de enfrentarem certo distanciamento causado pelas barreiras étnico-

culturais, o processo de adaptação foi consideravelmente rápido devido à aceitação e

acolhimento por parte da liderança que presidia a IPF na época. “No início, éramos

chamados de irmãos beijoqueiros e de fácil amizade e comunicação”. Os brasileiros

consideraram que ao longo dos anos de interação na comunidade presbiteriana

taiwanesa, o “jeito brasileiro de ser” trouxe mudanças no relacionamento interpessoal

do grupo. “Hoje, são os taiwaneses que adquiriram o hábito de se cumprimentarem

com ósculo santo como forma de saudação” (brasileiros entrevistados, 2017).

Os brasileiros envolvem-se em atividades evangelísticas no grupo familiar do

ministério em português. As experiências do convívio são enaltecidas sob o olhar do

brasileiro: “Tem sido enriquecedor para ambas as partes esse convívio,

reconhecemos a mão de Deus estreitando a nossa comunhão e nos tornando mais

próximos, nas diversas situações que convivemos, seja no ato de comer, chorar ou

sorrir juntos”, (brasileiros entrevistados, 2017)70.

70 Casal de brasileiros mais antigos, membros da IPF, sem vínculo de parentesco taiwanês. Oriundos

da capital paulista, buscaram encontrar, na época, uma Igreja Evangélica em que pudessem congregar, no bairro Mogilar. O primeiro contato com os taiwaneses se deu em uma programação de culto, sem convite prévio, movidos pela voluntariedade de congregar. Há onze anos os brasileiros congregam na Igreja Presbiteriana de Formosa em Mogi das Cruzes.

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Arquivo Histórico Municipal de Mogi das Cruzes

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Acesso em 24/03/2017

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<http://pauloaugustomkt.blogspot.com.br/2010/01/historia-de- mogi-das-

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31/05/2017.

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<http://glaucoricciele.blogspot.com.br/2011/05/cosim-companhia-siderurgica-

de-mogi-das.html. Acesso em 30/05/2017.

<https://www.vivareal.com.br/venda/sp/mogi-das-cruzes/bairros/pindorama/.

Acesso em 24/05/2017

<http://www.comphap.pmmc.com.br/pages/mogi_das_cruzes.html. Acesso em

19.Jun.2017

<http://www.ipfmogi.org.br/wb/pages/historico/pt.php, acesso em 21/03/2017

<https://oglobo.globo.com/boa-viagem/taiwan-formosa-terra-dos-cinco-mil-

templos-4856041#ixzz4tvz3D2yL. Acesso em 27.Set.2017

<http://lutasocialista.com.br/livros/V%C1RIOS/HOBSBAWM,%20E.%20Introdu

%E7%E3o.%20In%20A%20inven%E7%E3o%20das%20Tradi%E7%F5es.pdf. Acesso

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ANEXOS

Tabela 1: População Recenseada - Região Metropolitana de São Paulo e

Municípios, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991, 2000, 2010.

Município 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010

Mogi das Cruzes 51.829 93.937 138.751 197.946 273.175 330.241 387.779 Fonte: IBGE - Censos Demográficos: 1950, 1960, 1970, 1980, 2000, 201071

(adaptado)

Tabela 2: População residente, total, urbana total e urbana na sede municipal

em números absolutos e relativos, com indicação da área total e densidade

demográfica, segundo as Unidades da Federação e municípios/2010.

Município de Mogi das Cruzes

Pop. Total 2000

Pop. Total 2010

Pop. Estimada

2016

Pop. Urbana 2010

Pop. Urbana

Percentual 2010

Pop. Rural 2010

Dens. Demogr.

2010 Área

330.241 387.779 429.321 357.313 92,00% 30.456 544,1 712,54 Fonte: Censo IBGE 201072 (adaptado)

Tabela 3: Religião de acordo com o Censo 2010, no mun. de Mogi das Cruzes.

Católicos Romanos

Segmentos Evangélicos

Espíritas Sem

religião

51,47% 35% 11% 2,53% Fonte: Censo IBGE 201073. (Adaptado)

71 Informações obtidas em: Sinopses Preliminares dos Censos Demográficos de 1950 e 1960.

SMDU/Dipro - Retro estimativas e Recomposição dos Municípios da RMSP para os anos 1950,1960 e 1970. Elaboração: Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano/SMDU - Departamento de Estatística e Produção de informação/Dipro, disponível em:< http://infocidade.prefeitura.sp.gov.br/htmls/7_populacao_recenseada_1950_10552.html. Acesso em 08.Jun.2017.

72 Informações obtidas em:<http://censo2010.ibge.gov.br/sinopse/index.php?dados=1&uf=35. Acesso em 08.Jun.2017.

73 Informações obtidas em:<https://pt.wikipedia.org/wiki/Mogi_das_Cruzes#Clima, Acesso em:08.Jun.2017

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Tabela 4: Distribuição dos trabalhadores por tipo de estabelecimento - Estado

de São Paulo – 1940, 1950, 1960, 197074

Tipos de estabelecimento

Número de estabelecimentos

Total Produção e membros da

Família Contratados

Minifúndios 86.001 207.118 185.402 21.716

Tipo familiar 113.091 403.861 321.440 82.421

Tipo médio 101.284 611.767 286.247 325.520

Latifúndios 16.991 504.537 46.019 458.338

Total 317.367 1.727.283 839.108 887.995 Fonte: Censo Agrícola de São Paulo de 1940, 1950, 1960 e 1970. (Adaptado)

Tabela 5: Informação sobre a membresia das Congregações da Igreja

Presbiteriana de Formosa nos Bairros de Mogi das Cruzes/SP

Congregação Membros Adultos

Crianças Adolescentes

Brasileiros Taiwaneses Ano

Inauguração do templo

Botujuru 35 10 45 0 2003

Jundiapeba 30 15 45 0 2002

César de Souza 35 30 65 0 2003 Elaborado pela autora

Tabela 6: Informação sobre a membresia da sede da Igreja Presbiteriana de

Formosa em Mogi das Cruzes – Bairro Mogilar

Igreja Sede

Membros Adultos

Crianças Adolescentes

Brasileiros Taiwaneses Ano

Inauguração

Mogi das Cruzes

250 70 3 320 Out/1963

Elaborado pela autora

74 Informações obtidas da Revista da Casa da Agricultura de Mogi das Cruzes, Agropecuária de Mogi

das Cruzes. V Festa do Pêssego e Avicultura, Mogi das Cruzes, 1975. - GRÌNBERG, Isaac. Mogi das Cruzes de 1601 a 1640. São Paulo,1981.

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Tabela 7: Calendário Anual de Programações da Igreja Presb. de Formosa.

Abril Maio Julho

-14/04: Sexta feira Santa - 27/05: Blassing Kids.

Palestra de treinamento para evangelização de Crianças

- 17`a 21/07: Acampamento de Jovens em Ibiúna

- 16/04: Páscoa – Culto da Ressurreição

- 05/10/07: Caipira Naite. Evento para 1.200 visitantes

Setembro Outubro Dezembro

- 07/09: Olimpíada Chinesa de Atletismo. Reúne em torno de 2.000 a 3.000 pessoas.

- 07/10: Evangelismo de crianças na cidade de Suzano com meta para alcançar 1.500 crianças.

- 08/10; Comemoração dos 55 anos da Igreja Presbiteriana de Taiwan, na ISPE/SP. Com a visita do secretário geral do concílio da Igreja em Taiwan.

- 24/12: Comemoração de Natal

- 12/10: Congresso de Educação Cristã

-15/10: Aniversário da Igreja

Elaborado pela autora

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Placa de fundação da Igreja Presbiteriana de Formosa e sua expansão

Bíblia Bilíngue: Português - Mandarim

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Jornal Sulamérica Evangelismo, escrito em mandarim: Vol. 48 – no. 37/2017.

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Construção da Igreja Presbiteriana de Formosa em Mogi das Cruzes, bairro Mogilar

Pastor Jônatas Chen e Pastor Wu Chun

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Coral da IPF

Conjunto de Senhoras da IPF

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Banner de fotos que contam a história da Igreja. Comemoração dos 50 anos da IPF. Pastor Jônatas Chen ao lado.

Apresentação do coral de taiwaneses presbiterianos, no templo da Igreja Presbiteriana de Formosa em Mogi das Cruzes

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Momento de adoração com projeção em taiwanês e em português – IPF

Ministração do sermão dominical com tradução simultânea no templo da IPF

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Anciãos da membresia dos taiwaneses presbiterianos da IPF

Sala de aula infantil - Escola Bíblica Dominical

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Família representada por quatro gerações de taiwaneses. Refeitório da Igreja Presbiteriana de Formosa em Mogi das Cruzes.

Casal de brasileiros membros da IPF – refeitório da Igreja

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Troféus esportivos da IPF

Campeonato esportivo da comunidade chinesa em São Paulo – 2017

Campeonato esportivo da comunidade chinesa em São Paulo – membros da IPF

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Pastor Wu Chun ao lado do Sr. Chen Johg Hoa, nascido em 24 de setembro de 1927 (o único ancião vivo, remanescente das seis primeiras famílias).

Comemoração do aniversário dos 90 anos de idade do Sr. Chen Johg Hoa (24/09/2017).

Bazar comunitário

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Cozinha da IPF

Quadra esportiva e estacionamento da IPF

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Sequência de fotos da festa CAIPIRA NAITE – 2017

Cartaz de divulgação do evento

Portão de entrada da IPF - Festa Caipira Naite/2017

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Diácono e presbítero seguram as Bah-Chàm, uma espécie de pamonha de Taiwan.

(Foto: Eisner Soares)75

75 Informações extraídas do Jornal O Diário, filial da Rede Globo em Mogi das Cruzes, disponível em:>

http://odiariodemogi.com.br/mogi-tem-festa-da-cultura-de-taiwan-neste-sabado/05/Ago/2017. Acesso em 11.Nov.2017. Reportagem de Natan Lira: A ‘Caipira Naite’ chega à sua 18ª edição em Mogi e promete manter a tradição em reverenciar, num único espaço, as culturas taiwanesa e brasileira a partir das 16 horas deste sábado, na sede da Igreja Presbiteriana Formosa de Mogi, no Mogilar. A entrada é simbólica e custa R$ 1. O valor arrecadado será utilizado para manter as quatro comunidades da igreja na Cidade. No cardápio, pastel, pernil e comidas típicas das festas juninas e outras populares da cozinha asiática, como guioza, mas a evidência será a culinária de Taiwan. Os destaques são para uma espécie de pamonha, chamada Bah-Chàm, feita de arroz moti, com diversos temperos. Ela pode ser recheada com carne moída, camarão, ovo de codorna e é envolta na folha de bambu taiwanês e cozida no vapor. O doce é o Âng-Ku (tartaruga vermelha) que tem base do moti vermelho recheado de amendoim. A Igreja Formosa de Mogi das Cruzes foi fundada por seis famílias vindas de Taiwan para o Botujuru em outubro 1963. Logo que chegaram, fundaram uma pequena igrejinha do Distrito. “Eu vim com os mais pais e todos éramos agricultores. Aqui iniciamos o cultivo e comércio do cogumelo champignon no Brasil, tanto que não existia no mercado”, relembra o presbítero da Wang Ming Chaang.Com a vinda de mais imigrantes que já conheciam a doutrina Presbiteriana – disseminada pela Ásia e América do Sul, há 150 anos, pelos europeus, conta Chhang, em janeiro de 1978 foi fundado o templo no Mogilar, a fim de atender a colônia de toda a Mogi e cidades vizinhas. “Conforme foram chegando mais imigrantes, eles foram também para Suzano, São Paulo e as demais cidades. Eu acredito que hoje temos 300 famílias que congregam aqui”, diz Chaang. Segundo ele, hoje, boa parte dos fiéis é formada por chineses donos de lanchonetes e lojas de R$ 1,99 do Centro, que não conheciam o cristianismo.

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Recepção da festa Caipira Naite 2017

Recepção da festa Caipira Naite 2017

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Quadra esportiva – Festa Caipira Naite

Quadra esportiva

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Pátio

Barraca de comida típica taiwanesa

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Barraca de variedades

Brincadeira da pesca

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130

Barraca de comida típica brasileira

Barraca de comida típica brasileira

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Barraca de comida típica taiwanesa

Barraca de comida típica taiwanesa

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Barraca de comida típica taiwanesa

Barraca de suco e refrigerante

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Barraca de comida japonesa

A brincadeira da prisão é uma adaptação da festa junina brasileira

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Entrevistado: Ver. Cheng Kwo King Data 29/01/2018

Diretor da Missão Evangélica LUCA, desde 2014

Até os anos 1970 a Lei Marcial implantada pelo governo da ROC (República

Popular da China) fez restrições moderadas, brandas a fim de desenvolver Taiwan.

Após a segunda Guerra Mundial Taiwan que tinha o domínio do Japão volta para o

domínio do governo da China e não havia perspectivas de desenvolvimento

econômico. Quando as forças comunistas tomaram o poder, o governo da situação se

refugiou em Taiwan com o objetivo de retornar para o poder na China, o que não

aconteceu. Taiwan obteve grande desenvolvimento na década de 1990 quando se

tornou um dos membros do grupo dos tigres asiáticos juntamente com Hong Kong

Coréia do sul e Cingapura. Atualmente, porém, a efervecência econômica da década

de 90 diminuiu. Taiwan vive independente da China há 60 anos, sempre sofreu

pressão da China seja pela ameaça militar, hoje pela pressão econômica que

ameaça engolir com seu potencial industrial. Com o capitalismo entrando na China os

imigrantes atuais são influenciados pelo sistema capitalismo selvagem a ganharem

dinheiro no Brasil e por isso se submetem a trabalharem em sistema de escravião

sem descanso, dos 365 dias no ano só folgam dois dias. Na década de 1990 vieram

os chineses continental para o Brasil com visão diferente dos primeiros imigrantes

chineses das décadas anteriorres.

No caso dos taiwaneses a visão de vir para o Brasil era em busca de se

dessenvolverem como agricultores e servir a Deus em outro país, apesar de haver em

Taiwan liberdade religiosa, os agricultores não tinham, terras para o cultivo nem

mesmo perspectiva de conquistá-las, eram analfabetos e pobres. No Brasil a

esperança de aquisição de terra para se desenvolverem era muito maior. Se

depararam com as pressões no Brasil e incentivaram com maior veemência o

investimento na educaççao dos filhos a fim de serem melhor colocados

profissionalmente. Talvez em Taiwan esse não seria o caso, continuariam

campoeneses pois não havia perspectiva de futuro. Por volta das duas últimas

décadas o perfil dos imigrantes chineses é serem muito materialistas e não possuírem

religião e pelo fato de terem um maior número de compatriotas no Brasil a ajuda

mútua os torna independentes da ação da Igreja.

As Igrejas chinesas oferecem curso de língua portuguesa para os imigrantes

chineses e conservam dois cultos: Para chineses e brasileiros separadamente.

Page 136: TAIWANESES PROTESTANTES EM MOGI DAS CRUZES - A IGREJA ...tede.mackenzie.br/jspui/bitstream/tede/3602/2... · “A vida espiritual dos homens, os seus impulsos profundos, o seu estímulo

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O Rev. Cheng veio de Taiwan para o Brasil com 14 anos, em 1972, já foi pastor

da Igreja Presbiterian de Formosa em um período de 16 anos. A adaptação levou de

3 a 5 anos para poder sentir a outra cultura. Sentia-se cego, mudo e surdo, sem

entender a nova culltura..

Hoje ele é diretor da Missão LUCA. De início o objetivo era atender as Igrejas

da comunidade chinesa no Brasil, porém o alcance se expandiu para a América do

Sul e Central e outros continentes. Possui versão eletrônica com acesso no celular e

We Shat ( é para os chineses o what zap).

A revista possui dois conteúdos:

- Edificação para os crentes com seleção de artigos.

- Para não crente mensagem evangelística.

TENDENCIAS

A língua materna taiwanês é fluente até a 3ª. geração, a quarta geração possui

muitas dificuldades em se comunicar com a língua materna dos seus bisavôs.

A fluência do taiwanês vai diminuindo e a língua portuguesa passa a ser a

principal língua.

Mais casamentos mistos cam brasileiros.

Classificação

1ª. Geração. Taiwaneses que vieram adultos

1.5 Geração: vieram crianças e se criaram no Brasil: aprenderam o taiwanês e

o português se tornando os interlocutores dos seus pais.

2ª.Geração nasceu no Brasil