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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO A importância dos Controles Internos como instrumento de Governança Corporativa Nome do(s) Autor(es): Daniela Felix Matiuzzo Gildásio Antônio Fernandes Paulo Américo Freire Aguiar Rosana Madalena Pignaton Rosana Maria de Oliveira Alvim TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS - CCS DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO Pós-graduação lato sensu MBA Executivo em Negócios Financeiros Belo Horizonte, maio de 2011.

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO

A importância dos Controles Internos como instrumento de Governança Corporativa

Nome do(s) Autor(es):

Daniela Felix Matiuzzo Gildásio Antônio Fernandes Paulo Américo Freire Aguiar Rosana Madalena Pignaton Rosana Maria de Oliveira Alvim

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS - CCS

DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO

Pós-graduação lato sensu MBA Executivo em Negócios

Financeiros

Belo Horizonte, maio de 2011.

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Nome do(s) Autor(es):

Daniela Felix Matiuzzo Gildásio Antônio Fernandes Paulo Américo Freire Aguiar Rosana Madalena Pignaton Rosana Maria de Oliveira Alvim

A importância dos Controles Internos como instrumento de Governança Corporativa

Trabalho de Conclusão de Curso

Trabalho de Conclusão de Curso do programa de Pós-Graduação MBA Executivo em Negócios Financeiros, apresentada ao programa de pós-graduação lato sensu em Administração da PUC-Rio como requisito parcial para a obtenção do titulo de especialista.

Orientador: Nelson Mascarenhas Rezende

Belo Horizonte, Maio de 2011.

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Resumo

Autores: Daniela Felix Matiuzzo, Gildásio Antônio Fernandes, Paulo Américo Freire Aguiar, Rosana Madalena Pignaton e Rosana Maria de Oliveira Alvim Orientador: Nelson Mascarenhas Rezende Departamento de Administração. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Este trabalho apresenta os principais conceitos e modelos de Governança Corporativa e as metodologias que envolvem uma boa estrutura de controles internos. Destacou-se o ambiente regulatório que rege toda e qualquer instituição, apoiado por normas que devem ser observadas, bem como a importância do controle interno como instrumento de governança corporativa, sua definição e principais objetivos. O estudo aborda ainda, os principais componentes e a importância da adoção de controles internos eficazes para o processo de boa governança. Por fim, comentamos alguns casos recentes de instituições financeiras que tiverem problemas, por falharem na gestão dos controles internos para boas práticas Governança Corporativa.

Palavras Chave: Governança Corporativa, Controles Internos, Risco.

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Abstract

Daniela Felix Matiuzzo, Gildásio Antônio Fernandes, Paulo Américo Freire Aguiar, Rosana Madalena Pignaton e Rosana Maria de Oliveira Alvim Orientador: Nelson Mascarenhas Rezende Departamento de Administração. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

This paper presents the main concepts and models of corporate governance and the methodologies that involve a sound internal control structure. A highlight was the regulatory environment governing any institution, supported by standards that must be observed, and the importance of internal control as an instrument of corporate governance, its definition and main objectives. The study also discusses the main components and the importance of adopting effective internal controls for the process of good governance. Finally, we discuss some recent cases of financial institutions that have problems, fail in the management of internal controls to good corporate governance practices.

Key-words: Corporate Governance, Internal Controls, Risk.

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Sumário 1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 6 2. OBJETIVOS ................................................................................................................... 8

2.1. Objetivo Final .......................................................................................................... 8 2.2. Objetivos Intermediários .......................................................................................... 8

3. Delimitações do Estudo .................................................................................................. 9 4. Relevância do Estudo ...................................................................................................... 9 5. METODOLOGIA ......................................................................................................... 10

5.1. Quanto aos Tipos de Pesquisas ............................................................................... 10 5.1.1. Pesquisas Exploratórias ................................................................................... 10 5.1.2. Pesquisas Descritivas ....................................................................................... 10 5.1.3. Pesquisas Explicativas ..................................................................................... 10

5.2. Quanto aos Meios .................................................................................................. 11 5.3. Coleta de Dados ..................................................................................................... 11 5.4. Tratamento dos Dados ............................................................................................ 11 5.5. Limitações do Estudo ............................................................................................. 12

6. HISTÓRICO ................................................................................................................. 12 6.1. Histórico no Brasil ................................................................................................. 18 6.2. Conceito ................................................................................................................ 21 6.3. Princípios de Governança Corporativa .................................................................... 24

7. OS MODELOS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA ............................................... 26 7.1. Modelo Anglo-Saxão ............................................................................................. 28 7.2. Modelo Alemão ..................................................................................................... 29 7.3. Modelo Japonês ..................................................................................................... 31 7.4. Modelo Brasileiro .................................................................................................. 33

8. AMBIENTE REGULATÓRIO ..................................................................................... 36 8.1. Compliance no Brasil ............................................................................................. 37 8.2. Comitê de Basiléia ................................................................................................. 39 8.3. Lei Sarbanes-Oxley ................................................................................................ 41 8.4. COSO – The Committee of Sponsoring Organizations ............................................ 45

9. CONTROLES INTERNOS COMO INSTRUMENTO DE GOVERNANÇA

CORPORATIVA .................................................................................................................... 46 9.1 Definição de Controle ............................................................................................. 46 9.2. Objetivos ............................................................................................................... 48 9.3. Componentes de Controles Internos ....................................................................... 50

9.3.1. Ambiente de Controle ..................................................................................... 51 9.3.2. Avaliação e Gerenciamento de Riscos ............................................................. 52 9.3.3. Atividades de Controle .................................................................................... 56 9.3.4. Informação e Comunicação ............................................................................. 57 9.3.5. Monitoramento ............................................................................................... 58

10. O CASO DO BANCO PANAMERICANO ................................................................. 58 10.1. A Instituição......................................................................................................... 58 10.2. O Caso ................................................................................................................. 59

11. O CENÁRIO AMERICANO EM 2008 ....................................................................... 64 11.1. Banco Lehman Brothers ....................................................................................... 65

12. CONCLUSÕES .......................................................................................................... 69 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................... 72

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1. INTRODUÇÃO

O tema tem raízes muito antigas, entretanto a expressão Governança

Corporativa é relativamente recente, datando da virada dos anos 80 para a

década seguinte (Silveira, 2010).

Até meados da década de 1990, o tema era conhecido tão somente por

alguns profissionais, normalmente ligados ao meio acadêmico. Entretanto, a

partir do final da década citada, o termo despertou o interesse de vários

segmentos, tornando-se até “algo da moda”, ganhando espaço dentro da nossa

sociedade, não só nos meios acadêmicos, mas principalmente dentro do meio

empresarial e setores econômicos.

Iniciando-se nas duas últimas décadas do século XX, houve uma evolução

empresarial, caracterizado pela busca de um equilíbrio na tomada de decisões,

que possibilitasse às corporações sua sustentabilidade, com preservação de

seus objetivos tangíveis e intangíveis. Esta nova fase do desenvolvimento

empresarial tem sido conhecida como o “despertar da governança corporativa.

(Monforte, 2009).

A partir dessa época, o governo corporativo passou para o centro das

atenções das principais economias mundiais, em função de se constituir em um

modelo de gerenciamento que tem como pilares fundamentais a transparência

na condução dos negócios e a proteção aos interesses dos investidores e da

sociedade como um todo.

A governança corporativa ao se traduzir na busca por novas formas de

controles mais eficazes, confiáveis e transparentes, torna-se de extrema

importância, haja vista sua influência no acesso das organizações ao mercado

de capitais e na modificação da forma como passa a ser visto o relacionamento

entre os envolvidos (acionistas, executivos, empregados, credores, clientes e a

sociedade).

Ao preconizar a adoção de melhores praticas de Governança Corporativa,

estamos não só protegendo os agentes envolvidos como também e por

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conseqüência criando diferencial competitivo para as organizações no

mercado. Um bom sistema de Governança propicia o fortalecimento das

organizações, reforçando suas competências para enfrentar novos níveis de

complexidade dos desafios, amplia as bases estratégicas de criação de valor,

ajuda na harmonização dos interesses e na coesão societária, diminuindo a

volatilidade dos resultados. Desta forma aumenta, de forma considerável, a

confiança dos investidores, fortalece o mercado de capital e participa como

coadjuvante do crescimento econômico.

O estudo justifica-se pela relevância em ressaltar essas contribuições da

Governança Corporativa num cenário altamente competitivo, característico de

um mundo globalizado. As instituições financeiras, inseridas nesse contexto e

pelas repercussões de suas atividades em todos os segmentos, inclusive com

extrapolação de fronteiras, são as organizações que mais devem se ater aos

princípios das boas práticas de governança corporativa, destacando-se o papel

dos controles internos como auxiliares dessa nova forma de gestão.

O estudo está organizado em 11 capítulos. Inicia-se com a introdução que

nos apresenta de uma forma geral o tema do estudo, abordando o porquê da

pesquisa, seu objetivo e importância.

Em seqüência buscar-se-á as origens do termo Governança Corporativa, e

as razões de seu surgimento, através de um breve histórico. Entendendo suas

origens estaremos mais aptos a compreender e assimilar sua conceituação,

fundamental para o desenvolvimento e compreensão do estudo.

Compreenderemos então porque o tema se tornou tão importante em todo o

mundo nas últimas décadas.

A partir desse ponto o estudo apresentará uma descrição simplificada dos

principais modelos internacionais de Governança Corporativa hoje existentes,

apontando algumas de suas características e diferenças. Deve-se ressaltar a

impossibilidade de abordar de forma detalhada todos os modelos vigentes no

mundo, imposta pelas diversas particularidades nos ambientes empresariais

dos diferentes países. Assim, serão destacados apenas aqueles relacionados

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aos mercados mais desenvolvidos e que em verdade servem como referenciais

aos demais países.

Nos capítulos seguintes demonstraremos a importância de um adequado

sistema de controles como instrumento de governança, com o exame da

relação existente entre os termos gerenciamento de risco, controles internos e

governança corporativa. É neste contexto que se desenvolve a situação

problema objeto deste estudo e se levanta a seguinte questão:

De que forma os Controles Internos podem auxiliar na adoção das melhores

práticas, agregando valor às organizações que os implementam?

O capítulo em seqüência apontará, como forma de traduzir para a prática a

teoria, casos concretos ligados ao mercado financeiro, apontando se houve

falha ou não dos controles internos e de que forma isso influenciou a

Governança Corporativa da empresa analisada e quais os desdobramentos

dos casos.

2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo Final

Portanto, este trabalho pretende contribuir para identificar os impactos da

adoção de normas adequadas de controles internos, no contexto das melhores

práticas de Governança Corporativa das instituições financeiras.

2.2. Objetivos Intermediários

Para se atingir o objetivo final proposto esse estudo prevê, como objetivos

intermediários a serem alcançados:

Identificar medidas que reforcem o compromisso com a ética e a

transparência e com as práticas de boa governança corporativa;

Revisar os principais normativos que versem sobre sistemas de controles

internos aos quais as instituições financeiras estão submetidas, bem como os

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pontos fundamentais na abordagem dos conceitos de controles internos e

governança corporativa;

Examinar as condições para o estabelecimento de um sistema de controles

internos e sua relação com a gestão de risco;

3. DELIMITAÇÕES DO ESTUDO

O foco do presente estudo é o entendimento do que seja governança

corporativa, sua evolução, modelos existentes e a contribuição dos controles

internos para as boas práticas de gestão corporativa. A questão da

contribuição dos controles internos para as boas práticas de governança

corporativa se mostra interessante e importante, eis que as fraudes ocorridas

nos últimos anos sinalizam que, a despeito da existência de legislações sobre o

tema, elas por si só não foram suficientes para evitar desvios gerenciais,

sinalizando falhas de decisões em virtude de ausência ou insuficiência da

atuação dos controles internos.

O estudo não tem a pretensão de encerrar o tema, até porque se trata de

um assunto ainda em formação e que tem relações muito próximas com o

dinamismo da cultura e do desenvolvimento dos povos.

4. RELEVÂNCIA DO ESTUDO

O estudo interessa não apenas aos administradores como também á

sociedade em geral, haja vista que não há como se separar as boas práticas

de Governança Corporativa das contribuições da estrutura e atividades de

controles internos. Estes são auxiliares das administrações e agregam valor as

tomadas de decisão e por conseqüência conferem segurança aos negócios

realizados, criando valor para as organizações.

A percepção da segurança na tomada de decisão interessa não só aos

acionistas, mas a toda a sociedade em geral, face da importância social das

organizações no mundo globalizado, não só como geradores de emprego,

produtores de riquezas, e fortalecedores das economias mundiais.

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5. METODOLOGIA

Este capítulo apresenta o processo de coleta e tratamento dos dados

realizados ao longo deste trabalho.

5.1. Quanto aos Tipos de Pesquisas

De acordo com a classificação proposta por Gil (2002), podemos classificar

as pesquisas quanto aos seus objetivos em três grupos: exploratórias,

descritivas e explicativas.

5.1.1. Pesquisas Exploratórias

Têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema. Ainda

segundo Gil (2002) na maioria dos casos as pesquisas exploratórias assumem

a forma de pesquisa bibliográfica ou de estudo de casos.

5.1.2. Pesquisas Descritivas

Apresentam como objetivo primordial a descrição das características de

determinada população ou fenômeno, bem como estabelecimento de relações

entre variáveis.

5.1.3. Pesquisas Explicativas

São pesquisas que têm como preocupação central identificar os fatores que

determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos. É o tipo de

pesquisa que mais aprofunda o conhecimento da realidade, explicando a

razão, o porquê das coisas. É, portanto, o tipo mais complexo e delicado, uma

vez que o risco de cometer erros é aumentado consideravelmente.

Com base, então, na classificação de Gil (2002), o presente estudo se

caracteriza como pesquisa exploratória, pois objetiva uma maior familiaridade

com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito, buscando o

aprimoramento de idéias.

A presente pesquisa se volta a considerar o atual cenário econômico, e os

recentes acontecimentos que desencadearam na crise econômica de 2008 e a

falência de grandes instituições financeiras norte-americanas que trouxeram à

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tona a necessidade de adequação aos novos procedimentos de gestão,

enfatizando a necessidade de desenvolver-se a cultura de controle nas

empresas.

Ainda segundo Gil (2002) o trabalho apresenta, também, características de

uma pesquisa explicativa, uma vez que pretende expor a necessidade de se

efetivar as boas práticas de governança corporativa, sua evolução e a

relevância da adoção de normas elaboradas de controles internos.

5.2. Quanto aos Meios

Este estudo se configura como bibliográfico, visto que é um estudo

sistemático, com base em material acessível ao público em geral, como livros,

revistas, jornais etc., de acordo com Vergara (2010).

5.3. Coleta de Dados

A coleta de dados para a pesquisa obteve informações basicamente de

materiais produzidos por terceiros, sob forma de textos, jornais, revistas, sites

especializados, monografias ou teses pertinentes ao assunto e principalmente

de livros, onde será elaborado um panorama sobre a Governança Corporativa

e sua evolução, buscando identificar os fatores críticos de sua inobservância.

5.4. Tratamento dos Dados

A análise dos dados se dará a luz dos referenciais teóricos da

administração. A partir da fundamentação teórica, são traçados os objetivos do

estudo e as questões da pesquisa, de maneira a dar embasamento a hipótese

mencionada. Para tal, o conteúdo do projeto se desenvolve comparando os

padrões existentes nos principais modelos internacionais de Governança

corporativa, a importância da adoção dos controles internos, elaborando-se

então as considerações finais.

A partir das informações disponíveis em sites e revistas sobre duas

instituições financeiras que tiveram problemas de governança corporativa, o

presente trabalho analisara os fatos nelas ocorridos à luz do referencial

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teórico, em especial no que tange aos normativos e princípios de controles

internos e governança corporativa, de modo a evidenciar as conseqüências

danosas para a boa governança advindas de um sistema de controles internos

inexistente ou falhos. Tal analise evidenciará por contrario sensu que se

houvessem naquelas empresas um sistema de controles internos efetivos tais

eventos não teriam ocorrido ou teriam seus efeitos minimizados.

5.5. Limitações do Estudo

A metodologia escolhida para a presente pesquisa apresenta limitações

quanto ao tratamento (análise) dos dados, tendo em vista a impossibilidade de

ser analisado um maior número de instituições envolvidas com o assunto.

6. HISTÓRICO

A expressão governança corporativa é relativamente recente, datando do

início dos anos 80 (Silveira, 2010). Segundo este autor “a primeira matéria com

a expressão “corporate governance” publicada na prestigiada revista The

Economist data de abril de 1989.”

Entretanto, muito antes do surgimento da nomenclatura podemos perceber

que os problemas a ela relacionados já se encontravam presentes nos

ambientes societários.

O século XX é marcado pelo agigantamento das corporações,

acompanhado por um processo histórico de dispersão do capital de controle

através da constituição de grandes empresas sob a forma de SAs, abertas,

pela abertura do capital de empresas fechadas e pelo aumento do número de

investidores nos mercados de capitais. Andrade & Rossetti (2009) mencionam

a dispersão do número de acionistas e a despersonalização da propriedade

como causadores da transformação dos acionistas em proprietários passivos, e

separação com divórcio da propriedade e da à gestão.

Silveira (2010) aponta a própria ambição humana como elemento

desencadeador dos problemas que levaram a criação do tema, na medida em

que afirma:

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“A raiz dos problemas de governança é inclusive mais antiga do

que os textos de Smith, sendo relacionada fundamentalmente à

natureza humana. Precipuamente, assume-se que as pessoas

procuram maximizar seu bem-estar pessoal (...). Em organizações

empresariais, entretanto, a busca pela maximização da utilidade

pessoal pode levar um indivíduo a tomar decisões prejudiciais a

terceiros, principalmente a investidores que confiam a essa

pessoa poderes para tomada de decisões em seu interesse. Tem-

se então um problema de governo ou de direcionamento em tais

organizações.”

O referido autor aponta o trabalho de Berle e Means como marco inicial da

análise dos conflitos de interesses na alta gestão das empresas, eis que teve

como objetivo analisar a composição acionária das grandes empresas norte-

americanas, descrevendo como os inevitáveis conflitos de interesse advindos

de estruturas de propriedade pulverizadas influenciariam o desempenho e o

valor dessas organizações. O conflito de interesses e a estrutura de

propriedade sempre estiveram no centro das discussões sobre governança

corporativa, daí a importância e a contribuição do trabalho de Berle e Means.

Entretanto, a despeito da importância do trabalho de Berle e Means, o

marco inicial do tema governança corporativa reside num artigo de Jensen e

Meckling de 1976, e que nos dizeres de Silveira (2010) se constitui no “divisor

de águas” no estudo do tema, tendo contribuído para a própria definição do

termo, que passou a ser visto como “um conjunto de mecanismos internos e

externos, de incentivo e controle, que visam a minimizar os custos decorrentes

do problema de agencia.

A teoria do agente principal, base do trabalho de Jensen e Meckling (1976)

apresenta como ponto central a compreensão e separação dos papeis do

agente (executivos) e principal (acionistas) e as relações que surgem da

delegação de poderes destes para aqueles com a finalidade de gestão de seu

patrimônio. Referida teoria prevê que nem sempre o agente agirá no melhor

interesse do principal, gerando um conflito entre eles, conhecido como

problema do agente principal ou, problema de agência. Assim, os acionistas

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procuram limitar as divergências através de mecanismos e instrumentos que

monitorem as atividades dos executivos e do estabelecimento de incentivos

apropriados para eles.

A partir dos referidos conflitos e do paradigma de que não existe agente

perfeito e que a força do interesse próprio se sobrepõe aos interesses de

terceiros, portanto, executor estará propenso á tomada de decisões que

fortaleçam sua posição e beneficiem seus propósitos, a boa governança

empresarial significaria a adoção de mecanismos que forçassem os

administradores a proteger os interesses dos acionistas. (Andrade & Rossetti,

2009).

Silveira (2010) cita também dois outros conflitos inseridos dentro do conflito

de agência e que são o que se estabelece entre os acionistas majoritários e os

minoritários, e o existente entre acionistas e credores. No primeiro, os

acionistas minoritários necessitam da proteção contra o oportunismo dos

majoritários que solapam os direitos daqueles. No segundo, os acionistas

podem tomar decisões prejudiciais aos credores que alocaram seus recursos

sob a forma de empréstimos.

Acompanhando esse autor, Andrade & Rossetti (2009) apontam os conflitos

de agência como as razões fundamentais do “despertar da governança

corporativa.”

A partir da última metade da década de 80 e em especial na década de 90,

outros elementos vieram se somar ao conflito de agencia para exigir das

empresas a adoção de práticas de governança corporativa. Andrade &

Rossetti (2009) afirmam que referido período é mercado por novas condições

no mundo dos negócios e que exigiram mudanças nas práticas de alta gestão,

advindos de um ambiente externo em mudança e bastante complexo.

Os autores apontam os questionamentos quanto à inexistência de relações

formais e regulares dentro das organizações, a prevalência do acesso a

informações privilegiadas e as não conformidades estatutárias como situações

que conflitavam com as condições ideais de transparência, relacionamentos

formais e regulares, democracia acionária e justa retribuição aos investidores.

Page 15: TCC MBA IAG - PUC Rio

Os conselhos de administração até então pro forma, passaram a ser objeto

de mudanças, quer através da alternância de seus membros, quer pela busca

de critérios técnicos rigorosos para escolha de seus membros, ou também pela

cobrança e avaliação de seu comprometimento com os objetivos e resultados

organizacionais.

Outro elemento apontado pelos autores é a atuação de gestores focados

apenas em resultados de curto prazo, sem sustentabilidade de longo prazo,

mas que produziam uma imagem de sucesso, além de manipulações contáveis

forjadoras de resultados, apesar das exigências legais e estatutárias de

auditorias independentes.

Diante deste cenário, aumentaram as pressões por melhores práticas de

governança corporativa, geradas pela reação de grupos de interesse

organizados e investidores institucionais (fundos de pensão e fundos de

investimentos, etc.), objetivando corrigir esses desvios e deficiências. Tais

reações culminaram com as edições dos primeiros códigos de boa governança.

Esses grupos “se rebelaram contra as práticas viciosas que ao longo dos anos

cristalizaram-se nas corporações, com o divórcio da propriedade-gestão e com

supremacia questionável de majoritários. Em contrapartida aos vícios

corporativos estabeleceu-se então, gradualmente, um processo histórico de

empowerment dos acionistas – uma força que se posicionou favoravelmente às

mudanças que levaram ao despertar da governança corporativa.” (Andrade &

Rossetti, 2009)

Os autores afirmam ainda que a governança corporativa surgiu para cuidar

desses conflitos e de outros desalinhamentos nas companhias, e da reação

dos seus defensores surgiram institutos legais protecionistas dos direitos e

interesses dos acionistas, além de propiciarem mudanças internas nas

empresas, com ênfase na constituição e valorização de conselhos eficazes e

atuantes.

Entre os marcos mais importantes destacamos:

The Cadbury Report The financial Aspectos of Corporate Governance –

1992 – Reino Unido. Até o início dos anos 90, os conselhos de administração

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no Reino Unido eram constituídos por conselheiros com participação em várias

corporações, trocando interesses e favores e dificultando a participação dos

minoritários. O Banco da Inglaterra pressionado por grupos influentes

constituiu um comitê para a elaboração de um código contendo as melhores

práticas de governança corporativa, sob a coordenação de Adrian Cadbury. O

relatório colocou em foco a separação de responsabilidades conselho-direção,

a constituição de um conselho de administração que assegurasse o

direcionamento e controle da corporação em suas mãos de forma efetiva.

(Andrade & Rossetti, 2009).

A importância desse documento está sintetizada nas palavras de Andrade &

Rossetti:

“As práticas de governança corporativa recomendadas

influenciaram efetivamente a alta gestão das corporações no

Reino Unido e serviram de base para posições semelhantes em

outros países, como Canadá, Estados Unidos, França e Austrália,

os primeiros a editarem, depois do Relatório Cadbury, códigos de

boa governança.”

E mais adiante, se lê:

“O Relatório Cadbury encorajou o papel mais ativo nas

corporações por parte de investidores institucionais, o

fortalecimento dos canais de comunicação entre acionistas,

conselheiros e diretores executivos e o envolvimento maior do

governo no mercado, junto com uma nova era de auto-

regulamentação”.

Em 1999 a Organization for Economic Co-operation and Development –

OCDE, agrupando os trinta países mais industrializados e desenvolvidos do

mundo, lança seus Principles of Corporate Governance. A doutrina considera

este o marco de maior alcance no desenvolvimento da governança corporativa

pela da abrangência dos aspectos ali tratados, pela divulgação internacional

Page 17: TCC MBA IAG - PUC Rio

dos princípios de boa governança, e sua influência na definição de diversos

códigos. Dentre suas principais conclusões devemos destacar:

Inexistência de um único modelo de governança corporativa. Cada nação

deve adaptar sua aplicação ás suas características culturais, jurídicas e

econômicas;

As práticas devem ser sempre inovadas e adaptadas às mudanças

mercadológicas de forma a manterem as corporações competitivas;

Aos governos cabe a responsabilidade da criação de estruturas normativas

dotadas de flexibilidade capaz de permitir o funcionamento eficaz dos

mercados e ao mesmo tempo atendam aos interesses de acionistas e demais

interessados;

A decisão quanto às práticas a serem adotadas por cada país devem ser

definidas pelos órgãos reguladores do mercado de capitais, as corporações e

seus acionistas;

Os princípios de governança corporativa contribuem para a integridade do

mercado e o desempenho econômico dos países;

Os princípios de governança evoluem com o passar do tempo e necessitam

de revisão toda vez que houver mudanças significativas tanto no ambiente

organizacional quanto no mercado.

Além das conclusões retro mencionadas, Andrade & Rossetti sintetizam

assim os Princípios da OCDE: as empresas devem buscar o seu eficaz

enquadramento e contribuir na geração de condições institucionais para as

boas práticas de governança corporativa; a governança deve proteger os

direitos dos acionistas; a estrutura da governança deve assegurar tratamento

equânime a todos os acionistas, independente de sua participação; deve ser

assegurada a divulgação oportuna, transparente e precisa de todos os fatos

relevantes referentes à empresa e devem ser definidas as responsabilidades

dos conselhos, envolvendo orientação, fiscalização e prestação de contas das

empresas.

Page 18: TCC MBA IAG - PUC Rio

A propagação dos princípios relativos ás boas práticas de governança e a

difusão dos códigos nacionais tantos nos países de economias avançadas,

como também aos países emergentes, não conseguiram impedir que

escândalos e fraudes corporativas marcassem a primeira década do atual

século. Tais fatos exigiram a edição de normativos legais mais severos,

inclusive com punições aos envolvidos.

Neste cenário que surge a lei Sarbanes-Oxley de 2002 que eleva as

práticas de boa governança e práticas éticas a um patamar de ditame legal. A

partir desta legislação, os quatro pilares da boa governança, quais sejam,

compliance, accountability, disclosure e fairness, passam a integrar não só os

códigos de conduta das organizações, mas também disposições legais.

6.1. Histórico no Brasil

Em 1995 é fundado o IBCA – Instituto Brasileiro de Conselheiros de

Administração, entidade que posteriormente viria a se transformar no IBGC –

Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, em resposta ao movimento

pelas boas práticas de Governança Corporativa e a necessidade de

modernização da gestão empresarial que possibilitasse a atratividade e

competitividade das empresas nacionais. (site do Instituto Brasileiro de

Governança Corporativa, acessado em 29/03/2011).

Dois anos mais tarde ocorre a reforma da Lei das Sociedades por Ações

revogando o direito dos acionistas minoritários de receber sua parte quando

houvesse a venda da empresa (direito de tag along), com o objetivo de facilitar

as privatizações que marcaram a época. Tal medida acirrou o conflito

controladores-minoritários, propiciando o cenário para as discussões sobre

governança. (Revista Capital Aberto nr. 39, Nov/2006).

Surgem os primeiros fundos de investimento ativistas do país, como parte

de um programa de fomento do BNDESPar e direcionados a companhias com

perfil para crescer em governança. (Silveira, 2010).

O IBGC, em sua pagina da internet, assim se refere a esse movimento:

Page 19: TCC MBA IAG - PUC Rio

“Os investidores institucionais – seguradoras, fundos de pensão e fundos de

investimentos, entre outros – assumiram uma postura ativa, passando a

comparecer nas assembléias gerais, a exercer os direitos de voto de suas

ações e a fiscalizar de modo mais próximo a gestão das companhias

investidas”.

O Instituto - IBCA - passa a se denominar IBGC (Instituto Brasileiro de

Governança Corporativa) e lança o primeiro código brasileiro sobre governança

corporativa, o "Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa", de

autoria do IBGC. À época o Brasil ingressava no período de estabilidade

econômica, necessitando de atrair investidores internos e externos.

O propósito para o qual foi criado o IBGC é assim definido:

“Ser referência em governança corporativa, contribuindo para o

desempenho sustentável das organizações e influenciando os

agentes de nossa sociedade no sentido de maior transparência,

justiça e responsabilidade. (www.ibgc.org.br)”

Referido documento versava primeiramente sobre o conselho de

administração e o que se esperava de sua atuação. Posteriormente, em outras

versões e com a evolução do tema nos cenários nacional e internacional, foram

detalhados e aprofundados os quatro princípios básicos de boa governança.

O primeiro ano do século XXI é marcado por três eventos: o 1° Congresso

Brasileiro de Governança Corporativa, organizado pelo IBGC, para divulgar os

conceitos e práticas de governança; o lançamento pela BOVESPA dos

segmentos diferenciados de governança corporativa: Nível 1, 2 e Novo

Mercado, onde os investidores teriam acesso aos papéis de empresas

compromissadas com boas práticas de gestão, em especial a transparência,

equidade, prestação de contas e responsabilidade social; e a reformulação da

Lei das SAs, introduzindo diversos direitos aos acionistas não controladores,

com retorno, ainda que parcial do direito de tag along.

Também nesse ano, nos Estados Unidos, a Enron, considerada uma das

cinco maiores companhias americanas, depois de ver seus papeis

Page 20: TCC MBA IAG - PUC Rio

despencarem 98%, fruto de uma fraude contábil, pede falência. Segundo a

Revista Capital Aberto, no centro do escândalo, estava o “completo

desalinhamento de interesses entre acionistas e gestores, que havia permitido

descaradas fraudes no balanço, em nome de bônus mais generosos para os

executivos.” (Revista Capital Aberto, nr. 39, Nov. 2006). Tal evento gerou a

reação imediata e rápida do governo americano que culminou com a

publicação da Lei Sarbanes-Oxley.

No Brasil, o caso Enron serviu como incentivo para que as companhias

reavaliassem seus modelos de gestão e o papel dos sistemas de controles

internos.

Em 2002, a Comissão de Valores Mobiliários – CVM lança sua cartilha

sobre o tema, com foco nos administradores, conselheiros, acionistas

controladores e minoritários e auditores independentes, e as relações que se

formam entre eles e os conflitos que podem daí surgir.

Silveira 2010 acrescenta ainda dois marcos relacionados ao tema que

entende merecedores de destaque:

A resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN), através da Resolução

3.792/09 permitiu aos fundos de pensão alocar montantes maiores das suas

carteiras em empresas com melhor governança, em função do segmento de

listagem na BM&BOVESPA, e

A condicionante imposta no Código de Auto-regularão da Associação

Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais – ANBIMA -

para que seus associados participem apenas de ofertas públicas cujas

empresas emitentes tenham aderido aos segmentos diferenciados de

governança da BM&FBovespa.

Segundo o mesmo autor, no atual estágio da governança no Brasil existem

dois “gargalos” a serem resolvidos, quais sejam o motivo pelo qual, apesar do

consenso geral de que a adoção de boas práticas de governança corporativas

pode gerar benefícios substancias para as empresas, a maior parte delas não

Page 21: TCC MBA IAG - PUC Rio

procura aprimorar suas práticas a ponto de enquadrá-las no melhor segmento

da BM&FBOVESPA, e o que se poderia fazer para induzi-las a tal atitude.

Como resposta as perguntas acima, o autor sugere o aumento da

divulgação a cerca da importância e dos benefícios da governança corporativa,

o desenvolvimento de mecanismos de recompensa para aquelas que se

enquadrarem, bem como de punição para as organizações com praticas

deficientes, e fomento da eficiência e eficácia das empresas, com redução da

margem para decisões ruins pela alta gestão.

6.2. Conceito

Antes de adentrarmos em alguns conceitos de governança corporativa

existentes faz-se necessário entendermos o seu campo de atuação. O histórico

apresentado já nos indica as causas do surgimento do tema e o motivo de seu

desenvolvimento e disseminação por todo o mundo.

Silveira (2010) nos alerta para importância da delimitação desse alcance,

pois assim, nos ensina:

“(...) O tema não possui como foco questões relativas à gestão

diária das operações, incluindo, por exemplo, programas de

qualidade, procedimentos operacionais etc. Logo, apesar de, em

última instância toda a gestão da companhia ser supervisionada

pelo conselho de administração e, indiretamente, por seus

acionistas, tais atividades competem aos executivos, constituindo

aspectos exclusivos de gestão e não de governança das

companhias.”

O mesmo autor assim define o tema como sendo o conjunto de

mecanismos que tem como objetivo fazer com que as decisões corporativas

tenham como finalidade a maximização da geração de valor de longo prazo e

por conseqüência o retorno de todos os acionistas. Seu conceito engloba tanto

os mecanismos internos, como os externos, assim como também os de

incentivo ou controle.

Page 22: TCC MBA IAG - PUC Rio

São mecanismos internos:

O conselho de administração – principal mecanismo, devendo ser

ativo, independente, bem formado e que tenha incentivos

capazes de aumentar o comprometimento e dedicação dos seus

membros aos negócios da empresa,

O sistema de remuneração dos executivos pode propiciar em

menor ou maior grau o alinhamento dos interesses próprios com

os dos acionistas e a

Concentração acionária e atuação dos investidores institucionais.

Tanto a concentração de propriedade (acionista controlador forte)

quanto à estrutura dispersa apresentam custos e benefícios para

as empresas.

Os externos compreendem:

O ambiente regulador engloba a legislação existente e as formas

de pressão dos mercados onde inseridas as organizações;

A possibilidade de aquisição hostil e grau de competição no

mercado de produtos, Empresas inseridas em mercados de forte

concorrência propiciam cenários menos favoráveis à tomada de

decisões destruidoras de valor, e o receio dos diretores de perda

dos empregos são fatores disciplinadores de conduta desses

agentes.

Fiscalização dos agentes de mercado (analistas de ações,

empresas de classificação de risco e de rating) pressiona para

tomadas de decisões focadas em maximização do valor da

organização, e a

Própria estrutura de capital, onde o endividamento obrigaria os

executivos ao fornecimento regular dos fluxos de caixa aos

credores e acionistas, bem como o risco de uma quebra induziria

os executivos a políticas de beneficiamento pessoal.

Segundo O IBGC:

Page 23: TCC MBA IAG - PUC Rio

“Governança corporativa é o sistema que assegura aos sócios-

proprietários o governo estratégico da empresa e a efetiva

monitoração da diretoria executiva. A relação entre propriedade e

gestão se dá através do conselho de administração, a auditoria

independente e o conselho fiscal, instrumentos fundamentais para

o exercício do controle. A boa governança corporativa garante

equidade aos sócios, transparência e responsabilidade pelos

resultados (accountability)”.

A Comissão de Valores Mobiliários – CVM define em sua cartilha

governança corporativa como:

“O conjunto de práticas que tem por finalidade otimizar o

desempenho de uma companhia ao proteger todas as partes

interessadas, tais como investidores, empregados e credores,

facilitando o acesso ao capital. A análise das práticas de

governança corporativa aplicada ao mercado de capitais envolve,

principalmente: transparência, equidade de tratamento dos

acionistas e prestação de contas.”

OCDE:

“A governança corporativa é o sistema segundo o qual as

corporações de negocio são dirigidas e controladas. A estrutura

da governança corporativa especifica a distribuição dos direitos e

responsabilidades entre os diferentes participantes da corporação,

tais como o conselho de administração, os diretores executivos,

os acionistas e outros interessados, além de definir as regras e

procedimentos para a tomada de decisão em relação a questões

corporativas. E oferece também bases através das quais os

objetivos da empresa são estabelecidos, definindo os meios para

se alcançarem tais objetivos e os instrumentos para se

acompanhar o desempenho. (Andrade & Rossetti, 2009).”

Page 24: TCC MBA IAG - PUC Rio

CADBURY apresenta dois conceitos conforme o enfoque (Andrade &

Rossetti, 2009):

A governança corporativa é o sistema e a estrutura de poder que regem os

mecanismos através dos quais as companhias são dirigidas e controladas.

(Andrade & Rossetti, 2009).

A governança corporativa é expressa por um sistema de valores que rege

as organizações, em sua rede de relações internas e externas. Ela, então,

reflete os padrões da companhia, os quais por sua vez, refletem os padrões de

comportamento da sociedade. (Andrade & Rossetti, 2009).

Andrade & Rossetti citam ainda vários conceitos e expressões ligadas aos

princípios, modelos, práticas, mecanismos e propósitos da governança

corporativa e os separam em quatro critérios: os conceitos que põem em

evidencia a governança como guardiã de direitos (exemplo o conceito da

OCDE), como sistema de relações (definição do IBGC), como estrutura de

poder (conceito de Cadbury), e também como um sistema normativo.

Ao fazerem uma síntese dos conceitos acima e considerando as várias

expressões chaves associadas aos princípios, modelos, práticas, mecanismos

e propósitos da governança corporativa assim definem o tema:

“Um conjunto de princípios, propósitos, processos e práticas que

rege o sistema de poder e os mecanismos de gestão das

corporações, buscando a maximização da riqueza dos

proprietários e o atendimento dos direitos de outras partes

interessadas, minimizando oportunismos conflitantes com esse

fim.”

6.3. Princípios de Governança Corporativa

Segundo a doutrina, os princípios básicos de governança corporativa e que

se constituem nos valores contidos nos códigos de boas práticas de

governança, e que permeiam também os dispositivos legais são: compliance,

accountability, disclosure, fairness.

Page 25: TCC MBA IAG - PUC Rio

Nos dizeres de Andrade & Rossetti (2009):

“(...) os quatro princípios da boa governança (compliance,

accountability, disclosure e fairness) estão presentes tanto em

disposição legais quanto em códigos de conduta adotados pelas

empresas”

O exercício pela organização do compliance, isto é, a observância e

cumprimento das leis, regulamentos e determinações é conditio sine qua non

para se afirmar que uma empresa tem boas práticas de governança. Estar em

conformidade sinaliza para o mercado que ali não há violação a dispositivos

legais e que a atuação de todos os segmentos da organização se comportam

conforme o direcionamento estratégico e missão para ela traçados. A boa

governança precisa cuidar para que existam mecanismos que apontem o

status e nível de conformidade de suas atividades, processos, produtos e

serviços.

O princípio da accountability se traduz na exigência de um sistema de

informações precisas, relevantes e oportunas que propiciem a prestação de

contas. Segundo o IBGC os agentes de governança têm pelo princípio da

accountability a obrigação de prestar contas e assumir a responsabilidade

integral pelos efeitos produzidos por sua atuação, quer derivados de atos

praticados ou mesmo de sua omissão. Alguns estudiosos entendem que o

termo seria melhor traduzido como responsabilização, e representa o processo

continuo de demonstração por parte dos gestores do alinhamento da sua

gestão com as diretrizes estratégicas definidas pelos acionistas. (Revista do

BNDES, v.12, nr. 24 dez/009).

Através do princípio da disclosure, ou seja, maior transparência, a boa

governança exige que as organizações assumam sua real situação, quer do

ponto de vista patrimonial, econômica, financeira, social e ambiental, sem

qualquer tipo de subterfúgio. A importância deste princípio se traduz na

redução do grau de incerteza quanto às informações prestadas pelas entidades

ao mercado.

Page 26: TCC MBA IAG - PUC Rio

Do trabalho dos professores Antônio Augusto e Jesus Godoy e Surlene

Rosa Candido Costa, extraímos a seguinte afirmativa:

“Ao reduzir o grau de incerteza e a assimetria da informação

prestada pelas entidades, à evidenciação contribui tanto para

melhoria da eficiência do mercado de capitais no que tange à

gestão do risco quanto para a melhor compreensão da informação

contábil pelos diferentes grupos de usuários que dela se utilizem”.

(FCV Empresarial, v. 1, p. 151‐ 165, 2007)

O tratamento correto “fairness” ou equidade é outro princípio norteador da

boa governança e se traduz no tratamento justo e equânime a todos os

acionistas, tanto na geração de riquezas como nos resultados das operações, e

na sua proteção contra atitudes nocivas provocados por acionistas majoritários

e/ou gestores.

Assim é que o conselho de administração deve aprovar a remuneração do

executivo principal, ficam vedados empréstimos pessoais a diretores

executivos, torna-se obrigatória devolução de bônus caso haja retificação de

demonstrações financeiras por descumprimento das normas estabelecidas pela

SEC e sejam restringidas as negociações durante períodos de troca de

administrados de fundos de investimento. Todas estas limitações fazem parte

do texto da Lei Sarbanes-Oxley, que abordaremos mais adiante, a qual ainda

determina que sejam definidas penas para fraudes corporativas, que vão desde

multas elevadas, a prisão. Entende-se por fraudes corporativas a alteração,

destruição, mutilação, ocultação e falsificação de informações e/ou

documentos, objetivando impedir, obstruir ou mesmo influenciar o

conhecimento e a análise do desempenho e da situação dos negócios e da

gestão. (Andrade & Rossetti, 2009).

7. OS MODELOS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA

Antes de adentrarmos no estudo deste tópico faz-se mister entendermos

que todos os sistemas podem ser eficientes desde que respeitem os critérios

estabelecidos e também as características do país onde serão utilizados.

Page 27: TCC MBA IAG - PUC Rio

Além do mais como mencionado pela OCDE em seus Principles of

Corporate Governance, eles devem ser sempre atualizados de forma a dar

competitividade às organizações, acompanhando as mudanças dos cenários

onde inseridos.

Nos dizeres de Andrade & Rossetti “(2009): “Não há um modelo único e

universal de governança corporativa. As diferenças resultam da diversidade

cultural e institucional das nas nações.

Existem autores que dividem os modelos em modelo shareholders ou

financeiro, o qual tem como ponto central o interesse do acionista ou

stokholders, e o modelo stakeholders ou de públicos relevantes, com uma

visão mais abrangente do que o modelo financeiro, enfatizando outros fatores,

tal como a responsabilidade social da empresa. (Serafim, Quelhas & Alledi, VI

Congresso Nacional de Excelência em Gestão, 2010).

Estes autores esclarecem qual é o foco dos modelos stakeholders ao

definirem como partes interessadas o os grupos atingidos pelas atividades de

uma organização para com os quais tinha a responsabilidade de dar

satisfações.

Ressaltam ainda que:

(...) “não existe uma polaridade, mas sim características de

interdependência entre os mesmos, pois se por um lado os

stokholders são os donos do capital investido nas empresas e os

defensores desse modelo de gestão lhes dão uma maior

relevância em relação ao outro, por outro lado, a empresa para ter

uma gestão adequada nos dias de hoje, necessita cada vez mais

de estabelecer parcerias e ter respeito e ética nas relações com

as outras partes interessadas no negocio, surgindo daí a

necessidade de estabelecerem um sistema de governança

viável.”

Andrade & Rossetti apontam dez fatores diferenciadores dos modelos e que

são definidos ou pelo ambiente externo ou interno das organizações. Os

Page 28: TCC MBA IAG - PUC Rio

fatores internos constituem a minoria e são: a separação entre a propriedade e

a gestão; o conflito de agencia predominante; os tamanhos, a composição e as

formas de atuação dos conselhos de administração. Os fatores externos são: a

proteção legal dada aos acionistas; quais fontes de financiamento predominam

na empresa e em que estágio se encontram as práticas de governança

corporativa do país.

Os modelos mais comumente citados pela doutrina são:

Modelo anglo-saxão;

Modelo alemão; e

Modelo japonês.

Além destes, o presente estudo buscará entender o modelo brasileiro.

7.1. Modelo Anglo-Saxão

Modelo adotado nos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e Austrália.

Seguindo o critério shareholder ou stakeholder, o modelo de governança

adotado nos EUA e Reino Unido é voltado para o interesse do acionista, ou

seja, é shareholders embora já se perceba pressões externas voltadas para

responsabilidade social corporativa. A despeito da atuação destes ativistas o

foco ainda esta voltado para o retorno do capital investido pelos acionistas,

com maximização das riquezas se constitui no objetivo central da empresa.

Seguindo os critérios adotados por Andrade & Rossetti (2009), o modelo

caracteriza-se pela participação acionária relativamente pulverizada, mercado

de capitais ativos, com bolsas de valores desenvolvidas e alta liquidez das

ações. Há um grau de exigência elevado de transparência e divulgação

periódica de informações, com controle rígido sobre o uso de informações

privilegiadas (Revista do BNDES, v.12, nr. 25 dez/2005).

O modelo apresenta ainda características de predominância do

financiamento das organizações via mercado de capitais (equity) e a

dissociação da propriedade e da gestão.

Page 29: TCC MBA IAG - PUC Rio

Silveira (2010) menciona a predominância do conflito de agência acionistas-

executivos, ocasionado pela existência de executivos muito fortes e acionistas

relativamente fracos.

É grande preocupação legal com a proteção aos acionistas minoritários,

com Conselhos de Administração independentes se constituindo na principal

forma de controle. Outro mecanismo de controles internos neste modelo são as

auditorias e a remuneração dos executivos. Quanto aos mecanismos externos

merecem destaque a legislação (Lei Sarbanes-Oxley, nos EUA e Combined

Code, no Reino Unido), o ativismo de investidores institucionais, em especial,

os fundos de pensão e o próprio mercado.

Andrade & Rossetti (2009) relacionam alguns temas que vem ganhando

terreno dentro do modelo anglo-saxão de governança corporativa, quais sejam:

a ampliação das regras definidas pelos institutos legais, a formalização de

códigos de conduta, operações internacionais, evidencias empíricas da relação

boa governança-desempenho-valor de mercado, conciliação de interesses dos

shareholders e dos stakeholders, e princípios para o investimento responsável.

Silveira (2010) menciona a forte presença do Estado como acionista de

diversas companhias a partir dos recentes escândalos financeiros, afirmando,

no entanto tratar-se de uma fase transitória. Tal presença é considerada atípica

no modelo anglo-saxão e ocorreu como medida emergencial de salvaguarda de

seus mercados, principalmente com o socorro a instituições financeiras e

seguradoras. É esperado o retorno ao status quo ante depois da estabilização

das economias com o retorno da confiança dos investidores privados.

7.2. Modelo Alemão

Classificado como modelo orientado para os stakeholders, pois tem como

foco o equilíbrio entre os interesses dos acionistas, credores, empregados e

demais interessados, prevalecendo à gestão colegiada e presença conselhos

bicamerais. Nos dizeres de Silveira (2010):

Page 30: TCC MBA IAG - PUC Rio

“A função objetivo das companhias segue a abordagem de

equilíbrio dos interesses dos stakeholders, inclusive por

determinação legal (Lei da Codeterminacao de 1972)”

Na Alemanha merece destaque o papel desempenhado pelos bancos que

se utilizam de participação acionária em empresas de forma a fortalecer seus

relacionamentos negócios com clientes (Revista BNDES, nr 24, 2005).

Ademais, alem dessa forma de participação, o credito bancário, em especial

o de longo prazo, se constitui na principal fonte de financiamento das

organizações, e não o mercado de capitais.

A estrutura de capitais predominante na Alemanha é a concentração, com a

presença de grandes investidores e instituições financeiras, entretanto a gestão

é compartilhada/colegiada. Os empregados participam da gestão e do

direcionamento das organizações, havendo inclusive a exigência legal de sua

participação no Conselho Superior das companhias de capital aberto (Silveira,

2010).

Diante dessa estrutura patrimonial, não há uma preocupação centrada na

proteção dos acionistas minoritários, embora o crescimento e fortalecimento do

mercado de ações, que se mostra inevitável frente à globalização, exigirão

mecanismos de proteção aos investidores.

Uma característica marcante deste modelo é a alta gestão formada por

conselho bicameral, principalmente nas empresas de capital aberto. Há um

Conselho Superior e um Conselho Gestor. Naquele tem assento os bancos e é

responsável pelas orientações estratégicas, enquanto que o segundo cuida da

operação diária da empresa, sendo seus membros designados pelos

empregados, sindicatos e acionistas minoritários.

O conflito de agencia que predomina nesse modelo não é o acionista-

gestor, mas sim aquele que ocorre entre acionista majoritário e acionistas

minoritários, em função da estrutura patrimonial dominante. Não é

característica desse modelo a existência de conflitos haja vista a forma

Page 31: TCC MBA IAG - PUC Rio

colegiada de administração, bem como a exigência legal de participação dos

empregados.

As forcas de controle mais atuantes são as internas geradas pela

participação colegiada dos vários stakeholders, entretanto registra-se o

fortalecimento da forca externa de regulação diante do crescimento do

mercado prime.

A adoção das boas práticas de governança corporativa tem sido

incrementada pela integração no mercado europeu e a globalização. Existe um

rigor no que se refere à participação ampla e a compliance, sendo relegado a

um segundo plano o princípio da disclosure. Não existe previsão legal da

obrigatoriedade das organizações aderirem ao Código Alemão de Governança

Corporativa, e os índices de aplicação das práticas recomendadas é pequeno

principalmente nas empresas onde o controle é concentrado.

7.3. Modelo Japonês

O modelo japonês em alguns pontos se aproxima do modelo alemão, razão

pela qual alguns autores os apresentam como o modelo nipo-germânico.

Acompanhando Andrade & Rossetti optamos em tratá-los separadamente. Os

pontos de proximidade relacionam-se a participação dos bancos na estrutura

de capital das organizações; aos sistemas de monitoramento e controle; a

valorização do consenso na gestão e a consideração dos múltiplos interesses

(orientação stakeholders) Distanciam-se, no entanto, naquilo que se refere à

estrutura de propriedade, aos Conselhos de Administração e principalmente

nas questões centrais de governança.

Financiamento predominante é o bancário de longo prazo, onde as

instituições financeiras exercem também papel na monitoração das

organizações, participando inclusive como acionistas. A participação societária

dos bancos pode atingir até 40% do capital social, limitado, no entanto a 5%

por instituição financeira.

Uma característica marcante do modelo nipônico é a propriedade

concentrada com cruzamento entre as empresas onde a maior parte das ações

Page 32: TCC MBA IAG - PUC Rio

de uma empresa pertence a outras empresas e vice-versa, os chamados

keiretsu (conglomerados de negócios). Nos dizeres de Andrade & Rossetti “O

keiretsu é mais que um conglomerado econômico: as partes interessadas são

membros de uma corporação que ainda mobiliza a energia organizacional para

conquistar mentes e fortalecer o compromisso.”

Esta forma de propriedade e controle acionário deu rigidez ao ambiente de

negócios, gerando proteção para as empresas contra aquisições hostis e

vínculos fortes. Segundo Silveira(2010) esta forma de controle acionário

dificulta o maior ativismo dos investidores. Andrade & Rossetti, alertam sobre a

tendência de dissolução do sistema keiretsu em virtude das pressões do

mercado globalizado.

A gestão é baseada no consenso ocasionando um processo decisório lento,

mas seguro. A separação propriedade-gestão está em fase de implantação

com a introdução de conselheiros externos e auditores na Composição da

Comunidade Organizacional Comum.

Os conflitos de agência são raros e quando ocorre geralmente se dão entre

credores e acionistas em conseqüência do sistema keiretsu. Com a

globalização e a participação de empresas estrangeiras no mercado de capitais

japonês, tem propiciado a necessidade de um maior monitoramento e criação

de mecanismos de proteção aos investidores.

No modelo japonês não são aplicados os mecanismos clássicos de

proteção aos acionistas minoritários, o que não quer dizer que não exista.

Frente a cultura nipônica a gestão é voltada para múltiplos interesses e os

sócios minoritários se protegem mutuamente, através do sistema de relações

cruzadas.

As organizações japonesas contam com apenas um conselho de

administração, bastante numeroso, composto exclusivamente por acionistas,

indicados pelos serviços e historia de vida junto ao conglomerado, bem como

pelos valores pessoais valorizados na cultura local, como sabedoria, idade, etc.

Existe uma tendência de redução do numero de conselheiros objetivando dar

maior velocidade de decisão, que só ocorre pela via consensual e

Page 33: TCC MBA IAG - PUC Rio

compartilhada, aumentando a competitividade na forma de resposta a um

mercado que exige velocidade na tomada de decisões.

O mercado de capitais encontra-se em evolução, graças principalmente aos

baixos índices das agencias de avaliação de processos, e a maior segurança

quanto a perdas de longo prazo gerada pelo modelo keiretsu, o que tem levado

investidores estrangeiros a procurar os papeis das empresas japonesas.

Outra característica desse modelo é a prevalência das forças internas de

controle, entretanto com crescimento das forças externas, representada pelos

mercados em que competem as empresas japonesas.

A posição do tema governança corporativa no Japão encontra-se em fase

de modificações com sinais de crescente adoção de praticas recomendadas,

em especial em relação a resistência cultural a participação de outsiders nos

conselhos, redução do seu tamanho, dissolução das participações cruzadas e

maior transparência nas informações ao mercado. Silveira (2010) aponta como

tendências para o Japão, a redução da presença dos bancos como acionistas,

aumentando a participação societária de pessoas físicas e/ou investidores

institucionais, e também aumento da busca pela geração de valor para os

acionistas.

7.4. Modelo Brasileiro

Quanto à orientação do modelo brasileiro ele é predominantemente

financeiro ou shareholders, orientado pela concentração do capital acionário.

Embora nos últimos anos se veja um aumento do numero de empresas que

emitem balanços sociais e ambientais, a cultura nacional é resistente aos

modelos de múltiplos interesses.

O modelo brasileiro apresenta empresas com predominância de

financiamento de longo prazo e geração própria de caixa. O financiamento via

mercado de capitais ainda é inexpressivo frente às fontes retro mencionadas,

ainda mais se considerarmos que o mercado de capitais do Brasil ainda é

diminuto.

Page 34: TCC MBA IAG - PUC Rio

A propriedade apresenta características de alta concentração,

predominância o controle acionário centrado em grupos familiares. Há um alto

índice de emissão de ações preferenciais sem direito a voto.

O conflito de agência predominante no modelo brasileiro é o travado entre

acionistas majoritários e minoritários, ocasionados pela concentração

patrimonial e sobreposição com a gestão.

Não há uma preocupação sistemática com os interesses dos minoritários.

Há garantia da distribuição de pelos menos 25% do lucro liquido e igualdade

com os controladores na divisão do percentual restante do lucro. O mecanismo

de proteção tag along não se estende as ações preferenciais. As relações com

os minoritários muitas vezes é conflituosas, principalmente nos momentos de

transferência do controle acionário.

A forte concentração acionaria provoca de uma forma positiva, um alto grau

de envolvimento dos acionistas controladores na gestão da organização.

Embora haja clareza quanto à separação das funções do conselho de

administração e da direção, é ainda grande o numero de empresas em que há

unificação dessas funções.

Os conselhos de administração apresentam baixa eficácia, haja vista a

existência de poucos conselheiros independentes, seu pequeno envolvimento

nas questões primordiais, o número reduzido de conselheiros e o acumulo das

funções de presidente do conselho e direção. Silveira (2010) alerta para a

ausência de mecanismos que permitam avaliar o desempenho dos conselhos e

dos gestores e assim se manifesta quanto à atuação dos conselhos:

“Em muitos casos, conselhos estruturados apenas como forma de

satisfazer as exigências legais em vez de proporcionar os

necessários pesos e contrapesos para os executivos da

companhia”

Prevalecem ainda as forcas internas de controle, embora seja crescente a

pressão das forças externas de controle geradas principalmente pelo ativismo

dos fundos de pensão e de investimento. Registre-se também a importância do

Page 35: TCC MBA IAG - PUC Rio

Código de Boas Práticas de Governança Corporativa, do IBGC, bem como a

diferenciação feita pela Bolsa de Valores de São Paulo, conforme os padrões

de governança praticados.

O estágio da governança corporativa no Brasil encontra-se em evolução

ocasionadas pelas pressões internas e externas, em especial a criação das

listagens diferenciadas nas bolsas, o ativismo dos fundos de pensão e de

investimento e o interesse crescente dos investidores estrangeiros. Andrade &

Rossetti (2009) apontam algumas contradições no ambiente da governança

corporativa no Brasil, onde se destaca a crescente conscientização, interesse

pelo tema e incentivos para adoção de boas práticas de governança, mas lenta

a absorção pelas empresas dos conceitos e praticas em razão das barreiras

culturais e estruturais.

Nos dizeres dos autores:

“(...) as sinalizações claramente emitidas pelo mercado de capitais

e os prováveis benefícios de uma boa governança parecem ainda

não sensibilizar suficientemente as empresas para processos de

mudança. As pressões por melhor governança não se

estabeleceram ainda dentro das empresas: as forcas internas

atuam no sentido de manter os mecanismos de controle e a

estrutura de poder.”

Silveira (2010) afirma que, atualmente no Brasil, existem dois modelos de

governança e os denomina de modelo “tradicional” e “emergente”. O primeiro é

refere-se à maior parte das empresas, e o segundo é o que vem ganhando

terreno.

O chamado modelo tradicional de Silveira (2010) apresenta em síntese as

características anteriormente mencionadas e que foram retiradas da obra de

Andrade & Rossetti.

O modelo dito emergente apresenta as seguintes características:

Page 36: TCC MBA IAG - PUC Rio

Estrutura de propriedade: crescimento do numero de empresas com

controle compartilhado, em detrimento das empresas familiares; menor

concentração acionaria, com presença de companhias sob controle minoritário,

emissão exclusiva de ações com direito a voto, e concessão voluntária de tag

along alem da exigibilidade legal.

Conselho de Administração – definição mais clara dos papes de conselho,

diretoria e acionistas; maior número de conselheiros independentes, não

cumulação das funções de diretor presidente e presidente numa só pessoa;

mecanismos de avaliação do conselho e do executivo principal; aumento da

remuneração dos conselheiros e vinculação dessa remuneração ao

desempenho das empresas, e conselhos mais ativos, mas ainda sujeitos aos

controladores e/ou executivo principal.

8. AMBIENTE REGULATÓRIO

Com a abertura comercial incrementada nacionalmente a partir de 1992, o

Brasil buscou alinhar-se com o Mercado Mundial altamente competitivo e,

consequentemente, os Órgãos Reguladores se viram na incumbência de

implementar novas regras de segurança para as Instituições Financeiras e a

regulamentar o Mercado Interno de acordo com às Regras Internacionais.

Nos anos 70, com a criação do Comitê da Basiléia para Supervisão

Bancária, procurou-se fortalecer o Sistema Financeiro através da maior

conceituação sistemática de suas atividades, parametrizando-as pelas boas

práticas financeiras e munindo-as de procedimentos prudenciais na sua

atuação. Iniciava-se o processo de saneamento do Sistema Financeiro

Internacional.

Em paralelo o mercado interno estava em franco crescimento. Esta

competitividade contribuiu para a quebra de algumas instituições que, dentre

outros fatores, não adequaram seus Controles de acordo com o risco da

atividade da instituição financeira.

Recentemente outros fatos relevantes no cenário mundial, tais como o ato

terrorista nos EUA em 2001 e os escândalos financeiros em Wall Street em

Page 37: TCC MBA IAG - PUC Rio

2002, despertaram para a necessidade de regulamentações ainda mais

efetivas e rapidamente aplicáveis em todos os países, buscando gerir os riscos

aos quais as instituições estão sujeitas.

Com isso, as Instituições Financeiras foram obrigadas a iniciar um processo

de mudanças com reestruturações estratégicas, organizacionais e

tecnológicas, além de reciclagem constante, buscando uma otimização do

recurso humano, incrementando o treinamento e fortalecendo a “Política de

Controles Internos” e o “Código de Ética e Normas de Conduta”, entre outras.

A seguir abordaremos os principais conceitos e instrumentos que fazem

parte do ambiente regulatório das instituições financeiras.

8.1. Compliance no Brasil

Compliance não é exclusividade das atividades bancárias, ele existe em

todos os segmentos, uma vez que todas as organizações procuram estar em

conformidade com as regras estabelecidas interna e externamente.

A palavra, Compliance, expressão original, em inglês, que deriva do verbo

to comply. Nada mais é do que o ato de cumprir, de estar em conformidade e

executar regulamentos internos e externos, impostos às atividades das

Instituições, buscando mitigar o risco atrelado à reputação e ao fator

regulatório/legal (Manzi, 2008).

Baldwin e Cave (2001) descrevem três acepções para o termo regulação:

Conjunto específico de comandos normativos, em que a

regulação envolve um agrupamento de regras coercitivas,

editadas por órgãos criados para determinado fim;

Influência estatal deliberada, em que a regulação, num sentido

mais amplo, cobre toda a ação estatal destinada a influenciar o

comportamento social, econômico e político;

Forma de controle social, em que todos os mecanismos que

afetam o comportamento humano são determinados por regras

Page 38: TCC MBA IAG - PUC Rio

advindas do Estado ou, em alguns casos, por exemplo,

autorregulação.

Segundo a Febraban (2004), estar em compliance é estar em conformidade

com leis e regulamentos internos e externos; e acima de tudo, uma obrigação

de cada colaborador dentro da instituição.

Cabe a alta administração a responsabilidade de implantar a função

compliance dentro da organização, introduzindo os procedimentos necessários

para facilitar o cumprimento das normas e códigos de conduta. Por sua vez, a

maior parte dos procedimentos de compliance será executado pelos

departamentos operativos (front, middle e back office) e pelas unidades de

controle interno (Brito, 2007).

Ainda segundo a Febraban (2004) a missão de compliance nas instituições

financeiras, é “ assegurar em conjunto com as demais áreas, a adequação, o

fortalecimento e o funcionamento do sistema de controles internos da

instituição, procurando mitigar os riscos de acordo com a complexidade de

seus negócios, bem como disseminar a cultura de controles para assegurar o

cumprimento de leis e regulamentos existentes”.

Entre os órgãos responsáveis por regular o sistema financeiro, a autoridade

máxima é o Conselho Monetário Nacional – CMN. Cabe a ele traçar as

diretrizes da política econômica. Entre suas competências, está: adaptar o

volume dos meios de pagamento às reais necessidades da economia, regular o

valor interno e externo da moeda e o equilíbrio do balanço de pagamentos,

orientar a aplicação dos recursos das instituições financeiras, propiciar o

aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos financeiros, zelar pela

liquidez e solvência das instituições financeiras, e, por fim, coordenar as

políticas monetária, creditícia, orçamentária e da dívida pública interna e

externa.

O Banco Central do Brasil (BACEN) é a entidade supervisora, atuando

como principal executor das orientações do Conselho Monetário Nacional e

responsável por garantir o poder de compra da moeda nacional. Tem por

objetivos: zelar pela adequada liquidez da economia, manter as reservas

Page 39: TCC MBA IAG - PUC Rio

internacionais em nível adequado, estimular a formação de poupança, zelar

pela estabilidade e promover o permanente aperfeiçoamento do sistema

financeiro.

No que se refere ao mercado de valores mobiliários a entidade supervisora

é o Conselho de Valores Mobiliários (CVM), responsável por regulamentar,

desenvolver, controlar e fiscalizar. Da mesma forma, para as entidades abertas

de previdência privadas foi criada a Superintendência de Seguros Privados

(Susep), e para as entidades fechadas de previdência complementar, a

Secretaria de Previdência Complementar.

Como órgãos auxiliares à CVM, as bolsas de valores, mercadorias e futuros

atuam como entidades auto-reguladoras, tendo a incumbência de fiscalizar os

respectivos membros e operações nelas realizadas.

8.2. Comitê de Basiléia

Em 1975 os Presidentes dos Bancos Centrais do G10, composto pelo grupo

dos dez países mais desenvolvidos no Mundo, quais sejam, Bélgica, Canadá,

França, Alemanha, Itália, Japão, Luxemburgo, Países Baixos, Espanha,

Suécia, Suíça, Reino Unido e Estados Unidos, criaram o Comitê de Basiléia;

com o objetivo de fortalecer e proteger o sistema pela determinação de boas

práticas financeiras e procedimentos prudenciais de controle e atuação (Manzi,

2008).

O Comitê não possui qualquer autoridade supranacional, e sequer constitui-

se como uma Organização Internacional, e as suas recomendações não têm

caráter normativo, no entanto, as suas diretrizes têm alcançado um elevado

nível de eficácia, pois é utilizada por outras Organizações Internacionais nas

suas políticas de atuação.

As diretrizes de gestão de risco dadas pelo Comitê de Basiléia, apesar de

só terem obrigatoriedade nos países membros e nos bancos com atividades

internacionais, tornam-se regras de mercado e a maioria dos países aplicam

em seus mercados financeiros locais.

Page 40: TCC MBA IAG - PUC Rio

No Brasil, a autoridade supervisora, Banco Central do Brasil (BACEN), tem

endossado e regulamentado para uso interno as recomendações de Basiléia,

em alguns casos fazendo adaptações de conformidade com seu aparato legal

e riscos internos.

Ao longo desses anos, o Comitê de Basiléia emitiu uma série de

documentos com o objetivo de reduzir os riscos do sistema financeiro e,

consequentemente, à estabilidade da atividade bancária internacional.

Estes documentos são:

O Conjunto Abrangente de Princípios Essenciais para uma

Supervisão Bancária Eficaz conhecida como Princípios

Essenciais da Basiléia; e

Compêndio, a ser atualizado periodicamente, das

recomendações, orientações e normas do Comitê da Basiléia.

Os Princípios Essenciais da Basiléia compreendem um escopo de 25

princípios Básicos, indispensáveis para um sistema de supervisão eficaz, que

se dividem em:

Precondições para uma supervisão bancária eficaz - Princípio 1

Autorizações e estrutura - Princípios 2 a 5

Regulamentos e requisitos prudenciais - Princípios 6 a 15

Métodos de supervisão bancária contínua - Princípios 16 a 20

Requisitos de informação - Princípio 21

Poderes formais dos supervisores - Princípio 22, e

Atividades bancárias internacionais - Princípios 23 a 25.

Esses princípios apresentam como referência básica para órgãos

supervisores e outras autoridades públicas em todos os países e

internacionalmente. No caso Brasileiro, o Banco Central do Brasil, o Conselho

Page 41: TCC MBA IAG - PUC Rio

Monetário Nacional e o Conselho de Valores Mobiliários exercem a função de

regulamentar o Sistema Financeiro Nacional.

Foram criados para serem amplamente seguidos por supervisores locais,

por grupos regionais de supervisão e pelo mercado. O papel do Comitê da

Basiléia, juntamente com outras organizações interessadas, é de monitorar o

progresso dos países na implantação dos Princípios.

Em 1998 o Comitê publicou os 13 princípios com ênfase na necessidade de

controles internos efetivos e a promoção de estabilidade do Sistema Financeiro

e o CMN publicou a Resolução 2.554 de 24/09/1998, que dispõe sobre a

implantação do sistema de controles internos.

8.3. Lei Sarbanes-Oxley

O sistema de controles internos sempre foi considerado um dos pilares da

boa governança corporativa. Após a Lei Sarbanes-Oxley, ele se consolidou

como principal instrumento na adequação das práticas corporativas. Como cita

Conger e Finegold (2001):

“como órgão colegiado de supervisão de última instância, o

conselho de administração deve ter a certeza de que a

organização dispõe de sistemas de informações, de controle e de

auditoria adequados, capazes de transmitir a ele próprio e à

gerência sênior se a empresa está cumprindo seus objetivos de

negócios. Também é atribuição do conselho de administração

assegurar-se de que a empresa observa as normas e padrões

impostos pela legislação e pela própria declaração de valores da

empresa. Finalmente, o órgão colegiado é reponsável pela

prevenção e pelo gerenciamento de crises, ou seja, pela gestão

de riscos”.

Embora as práticas de controles internos sempre tenham sido enfatizadas

como instrumento de governança corporativa, o elo primordial para as boas

práticas de gestão ocorreram com as exigências significativas promovidas pela

Lei Sarbanes-Oxley.

Page 42: TCC MBA IAG - PUC Rio

De acordo com Silveira (2010), a Lei Sarbanes-Oxley, conhecida como

SOX, pode ser entendida como uma resposta legislativa a diversos problemas

de governança ocorridos em 2001-2002 com grandes companhias como Enron,

Wordom, Tyco etc. Esses escândalos causaram a falência gigantesca, enorme

destruição de valor e prejuízos a diversos stakeholders, aumentando a

insegurança do público em relação às empresas listadas.

Esses problemas envolveram, principalmente fraudes contábeis,

negociação de ações por pessoas de posse de informações privilegiadas e

empréstimos problemáticos para administradores, sendo este o foco principal

da SOX.

A referida lei enfoca duas perspectivas: ”proteger os investidores por meio

do aprimoramento da precisão e da confiabilidade das informações divulgadas

pelas companhias”, Silveira (2010).

A SOX, aplicável às grandes corporações norte-americanas e às

estrangeiras com acesso ao mercado de capitais norte-americano, é uma lei

composta por 11 títulos ou capítulos, dos quais podemos destacar 11

exigências principais para as companhias brasileiras sujeitas à Lei:

A seção 302 exige que, para cada relatório periódico, os executivos que

assinam os relatórios, geralmente o diretor-presidente (CEO) e o diretor

financeiro (CFO), certifiquem-se de que:

(a) quem assinou fez a revisão do relatório;

(b) o relatório não contém falsa declaração de evento material;

(c) eles são os responsáveis por estabelecer e manter os controles

internos;

(d) foram eles que projetaram tais controles internos para assegurar que

as informações lhes serão conhecidas;

(e) avaliaram a efetividade dos controles internos;

(f) apresentaram suas conclusões sobre a efetividade dos controles

internos;

Page 43: TCC MBA IAG - PUC Rio

(g) informaram o Comitê de Auditoria e a empresa de auditoria

independente: todas as deficiências significativas no projeto e

operação dos controles; toda a fraude, material ou não, que envolva

a gerência ou outros empregados que tenham papel significativo nos

controles internos; e

(h) apontaram no relatório a existência ou não de alterações

significantes nos controles internos ou de qualquer ação corretiva

relativa às deficiências significativas e fraquezas materiais.

A seção 401 prevê a divulgação, por relatórios periódicos, de informes

financeiros sobre transações fora-de-balanço, obrigações, acordos e outras

transações atípicas; de declaração que o relatório não contém inverdades ou

comissões de fato material; de declaração que o relatório está conciliado com

princípios contábeis geralmente aceitos (GAAP).

A seção 402 proíbe empréstimos pessoais para os executivos, tanto aos

presidentes quanto aos diretores. Este Título também estabelece um código de

ética para administradores encarregados das áreas financeiras e determina

que o comitê de auditoria seja composto por um especialista financeiro.

A seção 304, caso a empresa apresente erros nas demonstrações

contábeis e tenham que republicá-las gerando prejuízos para a empresa, o

diretor financeiro e o presidente terão que devolver qualquer bônus e até

mesmo participação nos lucros que eles tenham recebido.

A seção 201 proíbe o auditor de prestar serviços considerados fora do

âmbito da prática do auditor, como, por exemplo, serviços atuariais, funções de

administração ou de recursos humanos, serviços relativos aos registros

contábeis ou às demonstrações contábeis.

A seção 406 deverá adotar um código de ética para administradores

financeiros seniores.

A seção 301 determina a criação do comitê de auditoria constituído por

membros independentes, que deverão supervisionar os processos de

elaboração, divulgação e auditoria das demonstrações contábeis.

Page 44: TCC MBA IAG - PUC Rio

A seção 404 requer que a alta administração faça uma avaliação periódica

dos controles internos e, em cada relatório anual:

(a) faça constar que é responsabilidade da alta administração

estabelecer e manter uma adequada estrutura de controles internos

e de procedimentos de relato; e

(b) contenha uma validação da efetividade da estrutura de controles

internos e procedimentos para elaboração do relatório financeiro.

Essa mesma seção prevê que a empresa de auditoria independente

deverá atestar e relatar a avaliação dos controles internos elaborado

pela alta administração.

A seção 407 exige que faça parte do Comitê de Auditoria um perito em

finanças com formação e experiência como contador, auditor, principal

administrador financeiro, controlador ou função similar, incluindo experiência

com controles internos contábeis e entendimento das funções do Comitê de

Auditoria.

A Seção 802 também é digna de nota, por se referir à fraude na

contabilidade corporativa, revendo penalidades criminais por alteração de

documentos ao estabelecer multa e/ou prisão por alteração intencional,

destruição, mutilação, ocultação, dissimulação, disfarce, falsificação ou falsa

entrada de dados em qualquer relatório, documento ou objeto tangível de

mesmo intento. A referida seção prevê a guarda por cinco anos de relatórios de

auditoria, papéis de trabalho, memorandos, correspondências, comunicados e

outros, incluindo os eletrônicos, emitidos e recebidos em conexão com as

atividades da auditoria.

Enfim, embora imponha pesadas regras, a Sarbanex-Oxley se tornou uma

importante oportunidade para alcançar níveis superiores de excelência

corporativa. A participação no exigente mercado acionário americano após a

SOX se tonou uma espécie de certificação das melhores práticas corporativas,

conquistando a confiança de investidores e agregando valor aos acionistas.

Page 45: TCC MBA IAG - PUC Rio

8.4. COSO – The Committee of Sponsoring Organizations

O COSO (Committe of Sponsoring Organizations of the Treadway

Commission) é uma entidade sem fins lucrativos, dedicados à melhoria dos

relatórios financeiros através da ética, efetividade dos controles internos e

governança corporativa.

Conforme Peters (2007):

“O COSO é patrocinado por cinco prestigiadas associações de classe

relacionada direta ou indiretamente ao informe financeiro empresarial:

American Institute of Certified Public Accountants (ALCPA);

American Accounting Association (AAA);

Financial Executives Internacional (FEI);

Instituto of Internal Auditors (IIA) e Institute of Management

Accountants (IMA)”.

Apesar do COSO ter estas empresas como patrocinadoras, este órgão

executa suas atividades com independência.

Em decorrência da globalização e padronização internacional das técnicas

de auditoria, as recomendações da COSO, relativas ao controles internos, bem

como seu cumprimento e observância, são amplamente praticados e tidos

como modelo e referência no Brasil e na maioria dos países do mundo.

O ponto de partida do COSO é a definição de controle interno, entendendo-

o como um processo, desenvolvido para garantir, com razoável certeza, que

sejam atingidos os objetivos da empresa, conforme Peters (2007).

Page 46: TCC MBA IAG - PUC Rio

9. CONTROLES INTERNOS COMO INSTRUMENTO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA

9.1 Definição de Controle

Segundo Migliavacca (2002), a palavra “controle” apareceu por volta de

1600, como significado de “cópia de uma relação de contas”. Deriva do latim

contrarotulus, que significa “cópia do registro de dados”. Com o passar do

tempo, o conceito foi sendo modificado.

Controle não é algo novo na administração. Taylor definiu controle como um

dos quatro princípios da administração:

“Controlar o trabalho para se certificar de que o mesmo está

sendo executado de acordo com as normas estabelecidas e

segundo o plano previsto”.

Fayol, contemporâneo de Taylor, ampliou o conceito:

“O controle consiste em verificar se tudo corre de conformidade

com o plano adotado, as instruções emitidas e os princípios

estabelecidos. Tem por objetivo apontar as falhas e os erros para

retificá-los e evitar sua reincidência. Aplica-se a tudo: coisas,

pessoas, atos”.

O Comitê de Procedimentos de Auditoria do Instituto Americano de

Contadores Públicos Certificados, AICPA, define:

“O Controle Interno compreende o plano de organização e o

conjunto coordenado dos métodos e medidas, adotados pela

empresa, para proteger seu patrimônio, verificar a exatidão e a

fidedignidade de seus dados contábeis, promover a eficiência

operacional e encorajar a adesão à política traçada pela

administração”.

O aumento das atividades bancárias, juntamente com a globalização das

economias, trouxe dinamicidade ao setor financeiro, expandindo a sua

Page 47: TCC MBA IAG - PUC Rio

exposição aos eventos que podem interferir nos resultados esperados das

partes envolvidas.

A partir do momento da grandeza das empresas, sua descentralização e

diversificação das atividades, a existência de controles internos adequados

passa a se tornar fundamental para os negócios realizados, uma vez que as

empresas passam de uma estrutura familiar para uma estrutura complexa de

pessoas e atividades. No entanto, a ausência de controles adequados, para as

empresas de estrutura complexa, as expõe a riscos inúmeros e infindáveis de

toda espécie.

Seja qual for o tipo de entidade analisada, a cultura de controle é

imprescindível a qualquer ambiente de negócios. Contudo, uma estrutura de

controles internos deve estar necessariamente vinculada às características

específicas de cada entidade, tais como, porte, forma jurídica da sociedade,

natureza do negócio, diversidade e complexidade das operações, métodos de

processamento de dados e exigência legais e normativas aplicáveis.

Acontecimentos da última década como a recente crise financeira 2008 que

culminou na falência de grandes instituições financeiras, serviram de pano de

fundo para confirmar a relevância das atividades de controles internos, que

buscam contribuir para livrar as instituições dos efeitos de contaminação

desses eventos e promover um ambiente de gestão eficiente.

Cabe salientar que os Controles Internos permeiam todas as operações e

atividades de uma instituição financeira.

A função controle assume papel preponderante na administração das

instituições, sobretudo em um ambiente de negócios complexo e dinâmico.

Pela definição de controle interno exposta, pode-se observar a amplitude de

seu significado, que inclui uma série de procedimentos bem definidos que,

utilizados de forma eficiente, asseguram a organização necessária para

obtenção de um sistema controles internos eficaz e seguro.

Page 48: TCC MBA IAG - PUC Rio

9.2. Objetivos

A alta administração e os níveis gerenciais superiores são os responsáveis

pelo estabelecimento de uma cultura apropriada para facilitar um processo

eficaz de controle interno e para, continuamente, monitorar sua eficácia.

Porém, todos, dentro de uma organização devem participar do processo.

De modo geral, os objetivos principais do processo de controle interno,

fundamentais a qualquer negócio, foram categorizados pelo Comitê das

Organizações Patrocinadoras (COSO) da seguinte forma:

eficiência e efetividade operacional (objetivos de desempenho ou

estratégia) - esta categoria está relacionada com os objetivos

básicos da entidade, inclusive com os objetivos e metas de

desempenho e rentabilidade, bem como da segurança e

qualidade dos ativos.O processo de controles internos busca

assegurar que todo o quadro de pessoal da organização esteja

trabalhando de forma a atingir estes objetivos com eficiência e

integridade, sem custos excessivos ou inesperados ou colocando

outros interesses acima dos interesses do banco.

confiança nos registros contábeis e financeiros (objetivos de

informação) - todas as transações devem ser registradas, todos

os registros devem refletir transações reais, consignados pelos

valores e enquadramentos corretos. Diz respeito à preparação de

relatórios importantes para a tomada de decisões dentro da

organização bancária, que sejam confiáveis, precisos e

tempestivos. Incluem também os relatórios contábeis,

demonstrativos financeiros e outros, destinados a clientes,

acionistas e autoridades governamentais.

conformidade (objetivos de conformidade ou compliance) com leis

e normativos aplicáveis à entidade e sua área de atuação. Busca

assegurar que todas as atividades bancárias estejam em

conformidade com leis e regulamentos e com políticas e

procedimentos da própria organização. Os controles internos

Page 49: TCC MBA IAG - PUC Rio

devem assegurar que os procedimentos em curso na organização

acham-se em conformidade com as normas regulamentares.

É importante salientar os seguintes aspectos dos controles internos:

A eficiência do controle interno é fundamental para que uma

instituição financeira atinja seus objetivos e esses objetivos são

fixados para atender às exigências de seus stakeholders, isto é,

os que contribuem para que a instituição financeira seja uma

empresa rentável, de alta qualidade de serviços, de elevado nível

de responsabilidade social e que, a partir desses fundamentos,

venha a se desenvolver no longo prazo.

O controle interno é realizado para que todos os demais

processos, atividades, operações e transações permaneçam

sempre focalizados nos objetivos. Evita, dessa forma, que haja

desvios em relação a esse foco, os quais quando detectados

devem ser prontamente corrigidos.

O controle interno reduz os riscos de perdas e procura manter os

ativos de um banco num patamar apropriado de capacidade

produtiva e de liquidez. A experiência histórica dos bancos indica

que suas operações correm diversos riscos, tais como os riscos

de crédito, os riscos de mercado, os riscos operacionais e os de

liquidez. Alguns desses riscos podem ocorrer simultaneamente

numa operação, o que exige do controle interno análises

completas e bastante abrangentes.

O controle interno deve cuidar para que as demonstrações

financeiras sejam confiáveis e preparadas em conformidade com

as normas contábeis geralmente aceitas. Ou seja, todas as

transações bancárias devem ser registradas e todos os registros

contábeis das transações devem ser reais, adequadamente

valorizados e classificados, assim como corretamente

consolidados e publicados. É por intermédio das demonstrações

financeiras que os investidores, em particular os acionistas

Page 50: TCC MBA IAG - PUC Rio

minoritários, podem julgar a rentabilidade, a liquidez e o risco de

seus investimentos nos bancos.

Cumprir as leis e regulamentos externos e internos é obrigação de

qualquer empresa. Essa é a chamada função ou atribuição de

compliance externo dos gestores de um banco, já que os

executivos de todos os níveis devem acatar e cumprir as políticas,

normas e regulamentos emitidos pelas autoridades internas do

banco, em especial os que têm origem no conselho (o board) e

em sua alta administração (o presidente e sua equipe de diretores

executivos), que constituem as autoridades máximas dentro da

estrutura organizacional de uma sociedade anônima brasileira.

Os controles internos auxiliam a entidade na implementação de seus

objetivos, mas não garantem que eles serão atingidos. Suas limitações podem

ser assim resumidas:

custo/benefício – todo controle tem um custo, que deve ser

inferior à perda decorrente da consumação do risco controlado;

combinação entre empregados – da mesma maneira que as

pessoas são responsáveis pelos controles, essas pessoas podem

valer-se de seus conhecimentos e competências para burlar os

controles, com objetivos ilícitos;

eventos externos – eventos externos estão além do controle de

qualquer

organização.

9.3. Componentes de Controles Internos

O relatório produzido pelo Comitê das Organizações Patrocinadoras

(COSO), identifica no processo de controle interno, cinco componentes

interrelacionados. Para que o sistema de controles internos seja efetivo, é

primordial que cada um desses componentes estejam presentes e funcionando

adequadamente em relação aos objetivos.

Page 51: TCC MBA IAG - PUC Rio

Estes componentes são:

Ambiente de controle

Avaliação de risco

Informação e Comunicação

Atividades de controle

Monitoramento

9.3.1. Ambiente de Controle

O ambiente de controle é a base do controle interno, influenciando a

consciência de controle das pessoas que nela trabalham. O ambiente de

controle é um fator intangível, mas essencial para o funcionamento do sistema

de controles internos.

Não deve ser uma ação momentânea, mas algo que esteja internalizado no

comportamento das pessoas. Neste contexto, diversos fatores devem ser

considerados, tais como: integridade e valores éticos, comprometimento com

competência, conselho de administração e comitê de auditoria, estrutura

organizacional, filosofia e estilo operacional da administração, atribuição de

autoridade e responsabilidade e políticas e práticas de recursos humanos.

No tocante a padrões de conduta, a alta administração deve assegurar que

todos tenham consciência de suas responsabilidades e garantir a implantação

de mecanismos que visam reduzir, ou mesmo eliminar, incentivos que possam

colaborar para comportamentos impróprios e/ou fraudulentos. Como por

exemplo, a exigência de resultados em curto prazo, estabelecendo metas de

desempenho que não condizem com a realidade, baseada em planos de bônus

e participação de resultados, pois podem conduzir aos funcionários a empregar

mal os recursos, esconder fragilidades ou desempenhos ineficientes ou

produzir resultados irreais.

Page 52: TCC MBA IAG - PUC Rio

Portanto, cabe a alta administração promover a adoção de comportamentos

éticos e dar ampla divulgação de políticas e códigos de conduta a todos os

colaboradores da entidade.

9.3.2. Avaliação e Gerenciamento de Riscos

O estabelecimento de um sistema de controles internos efetivo numa

entidade requer que sejam identificados e continuamente avaliados os riscos

que são relevantes e que podem impedir ou afetar negativamente o

cumprimento dos objetivos da organização.

Em uma concepção primária, risco significa “perigo ou possibilidade de

perigo” (Ferreira, 1999), ou ainda “a chance de ocorrer um evento

desfavorável” (Brigham, 1999). Em ambas as definições a idéia de risco está

associada a certo grau de incerteza, ou seja, corre-se risco quando existe um

desconhecimento de resultados futuros de algum evento (acontecimento ou

ocorrência).

Neste contexto, o gerenciamento de riscos é um elemento central na gestão

da estratégia de qualquer organização, em especial das instituições

financeiras. Através dele, as organizações analisam metodicamente os riscos

inerentes às respectivas atividades, com o objetivo de identificação, estimativa

(probabilidade de ocorrência e impacto financeiro) e controle dos mesmos,

através de medidas para atingir os objetivos e elevar a capacidade de geração

de valor para os acionistas.

As instituições financeiras em particular, apresentam um elevado grau de

exposição aos riscos, uma vez que a relação risco-retorno encontra-se contida

em operações diárias, exigindo um posicionamento da entidade quanto ao

estabelecimento de padrões de riscos aceitáveis na busca pela maximização

de seus retornos.

Este gerenciamento deve ser um processo contínuo e em constante

desenvolvimento aplicado à estratégia da organização e à implementação

dessa mesma estratégia, devendo ser analisadas metodicamente todos os

riscos inerentes às atividades passadas, presentes e, em especial, futuras de

uma organização.

Page 53: TCC MBA IAG - PUC Rio

Visando a disseminação da cultura de gerenciamento de risco dentro de

uma organização, este conceito deve estar integrado na cultura da organização

com uma política eficaz e um programa conduzido pela alta adminstração. Que

deve traduzir a estratégia em objetivos tácticos e operacionais, atribuindo

responsabilidades na gestão dos riscos por toda a organização, como parte

integrante da respectiva descrição de funções. Esta prática sustenta a

responsabilização, a avaliação do desempenho e respectiva recompensa,

promovendo desta forma a eficiência operacional em todos os níveis da

organização.

A recente alteração no cenário financeiro mundial, tais como a integração

entre os mercados por meio do processo de globalização, o surgimento de

novas transações e produtos, o aumento da sofisticação tecnológica e as

novas regulamentações tornaram as atividades e os processos financeiros e

seus riscos cada vez mais complexos.

Adicionalmente, as lições originadas dos desastres financeiros, como o do

Grupo Metallgesellschatt e do Banco Barings, contribuíram para a

evidenciação da necessidade principal de gestão de riscos na indústria

bancária.

Esses fatores influenciaram para que os órgãos reguladores e as

instituições financeiras investissem na gestão dos riscos, visando o

fortalecimento da saúde financeira dos bancos e a prevenção contra os efeitos

prejudiciais ao sistema financeiro.

A atividade de concessão de crédito é função básica dos bancos,

portanto o risco de crédito toma papel relevante na composição dos riscos de

uma instituição e pode ser encontrado tanto em operações onde existe

liberação de dinheiro para os clientes como naqueles onde há apenas a

possibilidade de uso, os limites pré-aprovados. Os principais tipos de risco de

uma instituição financeira são:

Risco de Conjuntura: decorre da possibilidade de perdas decorrentes de

mudanças verificadas nas condições políticas, culturais, sociais, econômicas

ou financeiras do Brasil ou de outros países. Compreende os seguintes riscos:

Page 54: TCC MBA IAG - PUC Rio

a) Risco Estratégico – risco de perdas pelo insucesso das estratégias

adotadas, levando-se em conta a dinâmica dos negócios e da

concorrência, as alterações políticas no País e fora dele e as

alterações na economia nacional e mundial;

b) Risco-País – entendido como a possibilidade de perdas associadas

ao nãocumprimento de obrigações financeiras nos termos pactuados

por tomador ou contraparte localizada fora do País, em decorrência

de ações realizadas pelo governo do país onde localizado o tomador

ou contraparte, e o risco de transferência, entendido como a

possibilidade de ocorrência de entraves na conversão cambial dos

valores recebidos; e

c) Risco Sistêmico – Possibilidade de perdas em virtude de dificuldades

financeiras de uma ou mais instituições que provoquem danos

substanciais a outras, ou ruptura na condução operacional de

normalidade do Sistema Financeiro Nacional.

Risco de Crédito: definido como a possibilidade de ocorrência de perdas

associadas ao não cumprimento pelo tomador ou contraparte de suas

respectivas obrigações financeiras nos termos pactuados, à desvalorização de

contrato de crédito decorrente da deterioração na classificação de risco do

tomador, à redução de ganhos ou remunerações, às vantagens concedidas na

renegociação e aos custos de recuperação.

A definição de risco de crédito compreende, entre outros:

o risco de crédito da contraparte, entendido como a possibilidade

de não cumprimento, por determinada contraparte, de obrigações

relativas à liquidação de operações que envolvam a negociação

de ativos financeiros, incluindo aquelas relativas à liquidação de

instrumentos financeiros derivativos;

o risco país, entendido como a possibilidade de perdas

associadas ao não cumprimento de obrigações financeiras nos

termos pactuados por tomador ou contraparte localizada fora do

Page 55: TCC MBA IAG - PUC Rio

País, em decorrência de ações realizadas pelo governo do país

onde localizado o tomador ou contraparte, e o risco de

transferência, entendido como a possibilidade de ocorrência de

entraves na conversão cambial dos valores recebidos;

a possibilidade de ocorrência de desembolsos para honrar avais,

fianças, coobrigações, compromissos de crédito ou outras

operações de natureza semelhante; e

a possibilidade de perdas associadas ao não cumprimento de

obrigações financeiras nos termos pactuados por parte

intermediadora ou convenente de operações de crédito.

Risco de Imagem: possibilidade de perdas decorrentes de a instituição ter

seu nome desgastado junto ao mercado ou às autoridades, em razão de

publicidade negativa, verdadeira ou não.

Risco de Mercado: é a possibilidade de ocorrência de perdas resultantes

da flutuação nos valores de mercado de posições detidas por uma instituição

financeira.

Inclui os riscos das operações sujeitas à variação cambial, das taxas de

juros, dos preços de ações e dos preços de mercadorias (commodities).

Risco Legal: pode ser definido como a possibilidade de perdas decorrentes

de multas, penalidades ou indenizações, resultantes de ações de órgãos de

supervisão e controle, bem como perdas decorrentes de decisão desfavorável

em processos judiciais ou administrativos.

Risco de Liquidez: é a ocorrência de desequilíbrios entre ativos

negociáveis e passivos exigíveis - "descasamentos" entre pagamentos e

recebimentos – que possam afetar a capacidade de pagamento da instituição,

levando-se em consideração as diferentes moedas e prazos de liquidação de

seus direitos e obrigações.

Page 56: TCC MBA IAG - PUC Rio

Risco Operacional: possibilidade de perdas resultantes de falha,

deficiência ou inadequação de processos internos, pessoas e sistemas, ou de

eventos externos.

Esta definição inclui o risco legal associado à inadequação ou deficiência

em contratos firmados pela instituição, bem como às sanções em razão do

descumprimento de dispositivos legais e a indenizações por danos a terceiros

decorrentes das atividades desenvolvidas pela instituição.

9.3.3. Atividades de Controle

São aquelas atividades que, quando executadas tempestiva e

adequadamente, permitem a redução ou administração dos riscos.

Um sistema de controles internos efetivo deve apoiar-se numa estrutura

organizacional que favoreça o estabelecimento de atividades de controle para

cada processo de gestão ou operação do banco e para cada nível da

hierarquia.

As atividades de controle devem ser implementadas de maneira ponderada,

consciente e consistente. Nada adianta implementar um procedimento de

controle, se este for executado de maneira mecânica, sem foco nas condições

e problemas que motivaram a sua implantação. Também é essencial que as

situações adversas identificadas pelas atividades de controle sejam

investigadas, adotando-se tempestivamente as ações corretivas apropriadas.

A partir da estruturação de objetivos e responsabilidades efetuados pela

governança e pelos executivos do banco, cabe aos órgãos de controle:

verificar o cumprimento dos objetivos da gestão e as respectivas

atividades de controle para cada processo, departamento ou

divisão, bem como a aderência aos níveis de alçada para

aplicação de recursos e ao sistema de aprovações ou

autorizações estabelecido;

realizar controles físicos (inventário) sobre os ativos de

propriedade do banco, bem como a verificação do seu estado de

conservação e liquidez (no caso dos títulos e valores);

Page 57: TCC MBA IAG - PUC Rio

fazer o acompanhamento de compliance em relação às leis,

regulamentos e normas, internas e externas, bem como

procedimentos de verificação passo a passo dos casos de

noncompliance;

verificações e reconciliações em todo o sistema de pagamentos

e/ou recebimentos, incluindo os recursos de terceiros

administrados pelo banco.

Para o estabelecimento de um sistema formal de controles internos é

importante destacar o papel da normatização. As normas internas são

importantes porque fixam de forma explícita, objetiva e documental, as

políticas, procedimentos, atividades e controles que devem ser aplicados em

cada processo, transação ou contratação efetuada pela instituição.

9.3.4. Informação e Comunicação

Este componente do controle interno destaca a importância do processo de

identificação, captura e troca de informação de maneira tempestiva, a fim de

proporcionar condições favoráveis para que os colaboradores da entidade

cumpram suas responsabilidades.

A comunicação é o fluxo de informações dentro de uma organização,

entendendo superiores aos níveis hierárquicos inferiores, dos níveis inferiores

aos superiores, e comunicação horizontal, entre níveis hierárquicos

equivalentes.

O processo de comunicação pode ser formal ou informal. O processo formal

acontece por meio dos sistemas internos de comunicação – que podem variar

de complexos sistemas computacionais a simples reuniões de equipes de

trabalho – e são importantes para obtenção das informações necessárias ao

acompanhamento dos objetivos operacionais, de informação e de

conformidade.

Page 58: TCC MBA IAG - PUC Rio

O processo informal que ocorre em conversas e encontros com clientes,

fornecedores, autoridades e empregados é importante para obtenção das

informações necessárias à identificação de riscos e oportunidades.

Um sistema efetivo de administração e de controle interno de um banco

requer a coleta, o registro e a comunicação de um vasto conjunto de dados

financeiros, operacionais e de compliance, além de dados colhidos

externamente, a respeito do mercado, da legislação e das condições

econômicas. Tais dados são absolutamente necessários para a tomada interna

de decisões e também para proceder ao controle de qualidade dessas

decisões.

Por outro lado, o controle interno deve verificar, também, a qualidade da

comunicação interna do banco, já que, sem uma boa comunicação, se perde

grande parte do valor da informação. As comunicações sempre devem ser

confiáveis, tempestivas, acessíveis e consistentes, quer sejam internas, entre

as pessoas e os diferentes níveis da organização, quer sejam externas. Os

controles internos devem verificar especialmente a qualidade das

comunicações externas para os participantes mais relevantes do banco, os

acionistas, os clientes e as autoridades bancárias.

9.3.5. Monitoramento

Monitoramento é a contínua verificação da validade e da eficiência de cada

categoria do controle interno e também de todo o processo, em relação aos

objetivos da organização bancária. Como as atividades de controle são

diferentes, em função de cada objetivo, de cada área e de cada nível da

organização em que são praticadas, o monitoramento deve partir de uma

perfeita compreensão do significado de cada objetivo e das atribuições de cada

área em relação a tal objetivo.

10. O CASO DO BANCO PANAMERICANO

10.1. A Instituição

Inicialmente a instituição se chamava Real Sul S/A – Crédito,

Financiamento e Investimento. Atuava no mercado desde a década de 60, na

Page 59: TCC MBA IAG - PUC Rio

cidade de São Caetano do Sul. No final da referida década o controle acionário

da instituição foi adquirido pelo Grupo Silvio Santos, mudando sua razão social

para Baú Financeira S/A – Crédito, Financiamento e Investimento.

Em 1990, passa a atuar como banco múltiplo, iniciando operações nas

carteiras comerciais e crédito, financiamento e investimento. Nesse momento

passa a se chamar Banco Panamericano S/A, com foco no financiamento ao

consumo para pessoas físicas das classes B, C, D e E. Contava com mais de

203 agencias e 28.000 parceiros (concessionárias, revendedoras de veículos,

etc.).

Ainda segundo consta no seu site “o modelo de gestão é focado em

resultados e lucratividade” (www.panamericano.com.br, acessado em

11/04/2011).

10.2. O Caso

Em outubro de 2010, o Banco Central detectou um rombo expressivo. O

balanço não estaria refletindo as reais condições da instituição, que mantinha

como ativos carteiras de crédito que haviam sido vendidas a outros bancos. Os

executivos vendiam carteiras de crédito para outras instituições, mas

mantinham seus valores na contabilidade de forma a disfarçar resultados

operacionais negativos. Também houve duplicação de registros de venda de

carteiras, inflando o resultado do Panamericano.

Segundo o site www.folha.com.br, as fraudes envolviam basicamente três

tipos de operações:

Carteira de credito – não havia registro correto da venda de fatias

de sua carteira de crédito, cedidas a outros bancos;

Cartão – nos pagamentos parciais de faturas de cartão de credito,

os executivos aumentavam o valor financiado, sem conhecimento

do cliente. Após o pagamento aos lojistas, parte era desviada.

Page 60: TCC MBA IAG - PUC Rio

CDB – Banco Central identificou uma aplicação de pessoa física

com pagamento de remuneração muito superior ao praticado pelo

mercado para operações da espécie.

O Banco Central em nota a imprensa em 10/11/2010 assim se manifesta:

“Em sua rotina de supervisão do sistema financeiro, o Banco

Central detectou inconsistências nos registro contábeis do Banco

Panamericano” (www.bancocentral.gov.br, acessado em

11/04/2011).

As práticas detectadas inflaram o patrimônio da instituição e geraram o

pagamento de mais bônus para seus diretores.

Numa entrevista ao Jornal Estadão, o contador do Panamericano relata a

rotina do banco durante os últimos anos que antecederam o rombo. Dessa

entrevista extraímos as seguintes informações:

“Parecer que eles (diretores) tiveram comissões, bônus

altíssimos (...)”

“Em 2008, veio essa crise e o banco começou a dar prejuízo. O

Wilson, no desespero, falava: “Marco, o banco sem caixa não

funciona, sem resultado ainda anda, mas sem caixa não. Mas

para eu ter caixa eu preciso de resultados. Quem vai botar

dinheiro em um banco que não ta dando resultado? Então, você

vai fazer o seguinte, você antecipa algumas receitas de cessões

de crédito, que lá na frente eu faço e você amortiza depois”;

(www.estadao.com.br, matéria “Contador revela esquema do

rombo no Panamericano” de 09/04/2011, acessado em

11/04/2011)

A professora Simone Basile Alves, consultora e professora da Pós-

Graduação da Veris Faculdades, do Grupo Ibmec Educacional, em entrevista

sobre para a Info Online, diz que o caso Panamericano é um grande exemplo

Page 61: TCC MBA IAG - PUC Rio

de má governança corporativa. Segundo ela, as práticas de transparência,

equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa falharam em

algum momento na administração do banco

Segundo o presidente da BM&F Bovespa, Edemir Pinto o caso

Panamericano e conseqüência de uma falha de governança corporativa da

instituição financeira, afirmando inclusive que

'Como uma empresa listada na Bolsa, o Panamericano tem de

estar funcionando em linha com os princípios de governança

corporativa para que surpresas dessa natureza deixem de existir

no nosso país' (www.g1.globo.com, acessado em 11/04/2011).

Pela leitura dos diversos artigos sobre o caso, em especial, aqueles

publicados nas Revistas Você S/A (11/2010), e Carta Capital, nr. 88 (dez/2010)

podemos destacar como falhas no sistema de governança da instituição

financeira e que deram oportunidade as falhas detectadas:

Modelo de Governança Corporativa da empresa – Havia tão somente a

preocupação em satisfazer as exigências formais da CVM para uma empresa

de capital aberto, listada na BM&F Bovespa no Nível 1 de Governança. Assim

é que o Banco contava com apenas um órgão de controle – Conselho Fiscal –

além do Conselho de Administração. Aquele de caráter permanente era eleito a

pedido dos acionistas em assembléia geral, negando, inclusive, o fato de que

na maior parte das empresas essas assembléias contam apenas com a

participação dos acionistas controladores.

Conflito de Agência – Presença de forma clara do clássico conflito de

agência entre acionistas x gestores, onde os interesses dos gestores se

sobrepuseram ao dos acionistas, via pagamento de bonificações oriundas de

operações fraudadas. Detectados os fatos, haverá devolução dos bônus

recebidos? Os executivos privilegiaram medidas de curto prazo em detrimento

da perpetuidade operacional da instituição, que é interesse dos sócios.

Área de Gestão de Riscos – Nota-se ou uma incapacidade da área de

gestão de risco em identificar ou informar para a alta administração os riscos

Page 62: TCC MBA IAG - PUC Rio

em que incorriam na realização das operações e no registro contábil da forma

como era realizado. A empresa não tinha uma política de gestão de riscos

aprovada pelo conselho de administração e não havia um grupo ocupado

especificamente com o gerenciamento de riscos.

Incapacidade de enxergar os próprios erros – Existe a tentativa de

culpar a empresa de auditoria do Banco por não haver detectado e informado a

falha, em detrimento da responsabilização dos profissionais da própria

instituição financeira, violando o princípio da accountability, pelo qual segundo

o IBGC os agentes de governança têm a obrigação de prestar contas e assumir

a responsabilidade integral pelos efeitos produzidos por sua atuação, quer

derivados de atos praticados ou mesmo de sua omissão

Conselho de Administração – Constata-se a inexistência de um Conselho

de Administração atuante, com independência e profissionais capacitados que

possibilitasse a verificação da veracidade dos números contidos nos relatórios

financeiros e contábeis. Sequer existia uma avaliação periódica e formal da

atuação desse conselho.

Transparência – Não se pode afirmar que havia transparência na

condução dos negócios da empresa. Primeiramente, quanto à remuneração

dos executivos, a companhia declarava que os seus profissionais recebiam

apenas remuneração fixa, diferentemente dos demais bancos em que há

previsão de remuneração variável. Entretanto, após o ocorrido restou claro que

havia ainda bônus e gratificações.

Também no que tange as negociações de ações feitas pelos

administradores não havia uma política de divulgação, assim é que de posse

das informações privilegiadas e sabedores da situação financeira da instituição

a diretoria vendeu no final do mês de setembro e início de outubro 2010 um

montante equivalente a R$1. milhão em ações do Banco (Revista Capital, nr.

88) .

Os princípios básicos da governança corporativa, conforme mencionado

anteriormente, são a compliance, accountability, disclosure e fairness e tem

como objetivo primordial a proteção dos investidores, principalmente, os

Page 63: TCC MBA IAG - PUC Rio

minoritários, por meio da melhoria da exatidão e confiabilidade das informações

divulgadas pela organização. Um dos pilares para o alcance da boa

governança corporativa é a existência e eficácia dos controles internos.

Não há como se atingir a boa governança corporativa sem que exista um

sistema de controles internos efetivo (eficiente e eficaz), eis que se constitui em

um instrumental poderoso para a consecução dos princípios de compliance,

disclosure e accountability.

Os controles internos constituem um processo que envolve todos os

membros da organização, desde, diretores, gerentes e funcionários e tem

como escopo promover a efetividade e eficiência das operações, confiabilidade

no processo de comunicação e conformidade com as leis e regulamentos.

No caso Panamericano, a ausência desse sistema de controle propiciou os

enganos e comprometeu as práticas de governança. Se a instituição tivesse

observado os ditames da Sarbanes-Oxley, em especial quanto à avaliação da

efetividade dos controles internos e a criação de um comitê de auditoria, com

membros independentes, que também avaliasse esses controles, muitos dos

problemas que levaram a situação da empresa teriam sido evitadas.

Um ambiente de controle satisfatório tem em sua base a integridade e a

ética dos membros da organização, independentemente da posição ocupada

dentro dela. Se houvesse na instituição um ambiente de controle adequado,

com mecanismos que reduzissem ou eliminassem comportamentos impróprios

e/ou fraudulentos, a sobreposição dos interesses dos gestores aos dos

acionistas, via resultados de curto prazo, e maquiagem no balanço, gerando

pagamento de bonificações, não teriam se efetivado e o destino da instituição

poderia ser outro.

Ademais, a ausência de um grupo que identificasse e continuamente

avaliasse os riscos relevantes, e a não internalização da cultura de

gerenciamento de risco no Banco, criaram o cenário ideal para os problemas

que levaram ao desfecho conhecido.

Page 64: TCC MBA IAG - PUC Rio

Caso os objetivos do processo de controle internos de que todas as

transações sejam registradas de forma correta, espelhando a realidade, quer

quanto a enquadramentos, quer quanto a valores, e também que estejam em

conformidade com as leis e normativos contábeis, tivessem sido observados, a

empresa teria tido oportunidade de corrigir as falhas, manter sua credibilidade e

preservar seu patrimônio.

Com o advento do caso PANAMERICANO, exacerbou-se a necessidade de

controles internos capazes de levar a uma boa governança corporativa, se

destacando como uma poderosa ferramenta para grandes e pequenas

empresas.

O caso serve como exemplo do quanto é importante implantar e utilizar com

diligência os poderosos recursos da administração, para buscar a excelência e

os melhores resultados seja numa grande, média, pequena ou micro empresa

ou ainda até mesmo numa organização sem fins lucrativos.

Muitos podem pensar que a Governança serve apenas para grandes

grupos, mas, até mesmo em pequenas empresas familiares, o simples

entendimento dos princípios básicos da Governança Corporativa certamente

trará benefícios enormes para a consolidação e o sucesso perene dos

negócios, pois, a Governança permite a criação de um sistema eficiente de

gestão, assegurando que os interesses dos executivos responsáveis pela

empresa sejam os mesmos dos seus acionistas

11. O CENÁRIO AMERICANO EM 2008

Por se tratar de um acontecimento muito recente a compreensão dos fatos

advém da leitura de inúmeras reportagens da época.

Com a crise de 2001 provocada pelas empresas “pontocom”, o Federal

Reserve (FED) adotou uma política de juros baixos de modo a propiciar a

recuperação da economia americana. Com isto a demanda imobiliária cresceu

de forma acelerada, e as empresas financeiras especializadas passaram a

atender o segmento subprime, isto é, clientes de renda muito baixa,

eventualmente com histórico de inadimplência e com dificuldades de

Page 65: TCC MBA IAG - PUC Rio

comprovação de renda. Referidas operações apresentam um risco maior, mas

atrelado ao risco existe uma taxa de retorno mais alta, e esses contratos

podem ser revendidos a outras instituições de forma sucessiva, antes do

empréstimo imobiliário ser pago.

Em 2006, os preços dos imóveis atingiram o pico e começaram a cair, e os

juros do FED já haviam retomado o viés de alta desde 2004, encarecendo o

credito. Com isto a inadimplência aumentou e a economia desaqueceu,

gerando uma crise de liquidez no mercado, onde as operações com subprime

deixaram de ser atrativas.

Esse cenário, aliado a outras causas internas e externas levaram a uma

crise do mercado mundial, mas principalmente nos Estados Unidos, com

quebra de instituições seculares que operavam nesse mercado. Assim é que

empresas como Banco Lehman Brothers, Bear Stearns, Citigroup, Merrill Lynch

viram suas ações despencar no mercado, tiveram de ser socorridas pelo

governo americano, compradas por outras instituições ou deixaram de existir.

(bbcbrasil.com, 15/08/2008).

11.1. Banco Lehman Brothers

O Lehman Brothers foi fundado em 1850 por três judeus imigrantes da

Alemanha, era o quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos, e

veio a se tornar um dos maiores casos de falência da história americana.

Em seus negócios o Lehman realizava muitas transações com Hipotecas

subprime – crédito imobiliário para pessoas consideradas com alto risco de

inadimplência; investimentos estes atrelados a altos riscos. Além disso, em um

cenário de forte dependência de dívidas de curto prazo e crise financeira, as

renovações de empréstimos foram dificultadas gerando grande instabilidade e

comprometendo a saúde financeira do banco.

O alto endividamento gerado com a alta alavancagem do Lehman e as

dívidas de curto prazo, combinados com o cenário da crise de 2008 e perda

gradativa de credibilidade levaram o Lehman Brothers ao colapso financeiro.

Page 66: TCC MBA IAG - PUC Rio

Em entrevista ao jornalista Patrick Robinson, transformada no livro “A

Colossal Failure of Common Sense, Lawrence G Mcdonald retrata qual era o

ambiente dentro do Lehman Brothers. (http: www.administradores.com.br,

2011).

O entrevistado era parte da equipe do banco, sendo um ex-operador de

títulos da instituição. Ao se referir ao Presidente do Conselho - Richard Fuld - o

define como um “homem arrogante, distante e que para resguardar seu poder

dentro da empresa se cercava de bajuladores”.

No que tange ao presidente do Banco afirma ser “um presidente alienado,

que gostava de aparecer em público para falar de causas sociais em coquetéis

milionários patrocinados pelo banco e havia embolsado US$29 milhões em

bônus, meses antes de ser afastado”

Afirma que o operador-chefe de renda fixa alertou a alta diretoria do risco

com os derivativos de hipotecas, e que o diretor global de renda fixa defendeu

que os preços dos imóveis estavam inflados e os bancos alavancados demais.

Após referidos alertas estes profissionais começaram a ser hostilizados e

ridicularizados pelo grupo vinculado ao diretor da divisão de hipotecas e ativos

imobiliários. Com isso, esses profissionais optaram por se retirar da empresa.

Leal, em seu artigo de 09/2009, menciona ainda o relatório de um auditor do

banco revelando que o Lehman Brothers usou uma engenharia financeira para

remover US$ 50 bilhões de suas contas, meses antes do colapso de forma a

maquiar a sua dependência de empréstimos. Segundo este profissional, os

executivos e os auditores oficiais do banco – Ernst &Young, estavam cientes

da manobra e Richard Fuld Jr, certificou as contas enganosas.

Do artigo, extraímos:

“Sem que o público investidor, as agências de classificação de

crédito, as autoridades regulatórias do governo e o conselho do

Lehman soubessem, o banco praticou engenharia reversa em seu

nível de alavancagem, para fins de consumo público”.

Page 67: TCC MBA IAG - PUC Rio

E mais adiante

“Os executivos do banco recorreram ao que o relatório

caracterizou como “manipulação ilegal de balanços”, além de

“erros não dolosos de julgamento financeiro”. As manobras

contábeis mais comuns eram conhecidas no interior do Lehman

Brothers como operações “Repo 105”.

“De acordo com o relatório, Fuld ordenou que os executivos,

reduzissem os níveis de endividamento do banco, e dirigentes da

instituição tentaram repetidamente usar transações “repo 105”

como forma de mascarar os resultados da empresa.

Ao analisarmos o caso do Lehman pensamos em Governança corporativa e

como esta fornece mecanismos de proteção aos shareholders e stakeholders

através de informações confiáveis, compliance e monitoramento.

Dentro deste contexto de GC, um dos principais meios de garantir a

veracidade e confiabilidade das informações é a Auditoria Independente.

No cenário da quebra do Lehman a empresa responsável por auditar e

monitorar o Lehman era a Ernst & Young, uma das quatro maiores firmas de

auditoria do mundo. Neste período o Lehman utilizou o método de

“contabilidade criativa” para disfarçar sua real situação financeira. Através de

transações não registradas o Lehman subestimou sua alavancagem,

fornecendo informações erradas aos acionistas e colaboradores.

Com a ilusão de uma alavancagem menor, o Lehman intencionalmente

tentou mostrar ao mercado que tinha capacidade financeira para suportar a

crise, mas o que ocorreu foi que em setembro de 2008 o Lehman deu entrada

ao seu pedido de falência.

Com os problemas na contabilidade e os relatórios enganosos, a

desconfiança recaiu sobre a Ernst & Young, auditora do Lehman na época.

Page 68: TCC MBA IAG - PUC Rio

Como uma das maiores empresas do ramo de auditoria deixou passar

desapercebidamente as maquiagens e modificações fraudulentas feitas na

contabilidade do Banco? Como a auditoria não identificou o problema?

A Ernst & Young foi acusada de negligência e até mesmo de ter

participação no esquema. A falha na fiscalização e monitoramento do Lehman

e a negligência da auditoria externa culminaram em relatórios enganosos,

perda de credibilidade, danos à imagem, fraude e perdas financeiras aos

acionistas.

Assim como no caso do banco brasileiro, aqui também se apresentam

falhas nos controles internos e que comprometeram a governança corporativa

da instituição gerando a ineficiência operacional, a exposição demasiada a

riscos evitáveis, e via de conseqüência as perdas financeiras e patrimoniais

que levaram à sua quebra.

A instituição foi incapaz de gerenciar de forma adequada seus riscos, em

especial os riscos estratégicos e de crédito, os quais por sua vez

desencadearam outros. A fragilidade do ambiente de controle, decorrente do

baixo nível de comprometimento da organização com sua qualidade, não

permitiu que houvesse um gerenciamento correto dos riscos existentes.

Pela leitura do caso, resta claro que a comunicação dentro da organização

criou um ambiente propício para que não se mensurassem de forma adequada

os riscos a que estavam expostas as operações do Lehman. Um sistema

adequado de controle interno propiciaria a existência de um conjunto de dados

colhidos externamente a respeito do mercado e das condições econômicas

onde inseridas suas operações. Tais elementos após analisados e

processados teriam sinalizado o alto risco a que estava exposta a instituição

financeira.

A ausência de controles adequados prejudicou, inclusive, o trabalho de

monitoramento e acompanhamento que deveria ter sido levado a cabo pelos

conselhos (administração e fiscal) e pela auditoria.

Page 69: TCC MBA IAG - PUC Rio

Nos dois casos analisados, o que se constata é o fracasso dos controles

internos e o comprometimento da governança corporativa, pela fragilidade

desses controles. Se tivessem sido acatadas as orientações contidas no COSO

e na Sarbanes Oxley estes escândalos não teriam ocorrido e a governança

corporativa teria cumprido seu papel de guardiã dos direitos da partes

interessadas, em especial dos investidores minoritários.

12. CONCLUSÕES

O objetivo deste estudo é buscar compreender de que forma a adoção de

normas adequadas de controles internos podem contribuir para a governança

corporativa das organizações que os implementam.

A governança corporativa está associada a aspectos de eficiência. Aplicada

às instituições financeiras, espera-se que com a aplicação das regras de

governança não haja surpresas. O que a governança corporativa visa é a

previsibilidade.

Governança corporativa busca ética nos negócios, ética nas relações com

os stakeholders e shareholders. É mecanismo capaz de proteger os interesses

dos investidores e da sociedade em suas relações com as organizações.

Na medida em que fortalece o compromisso das organizações com a

transparência, equidade entre as partes, prestação de contas honesta e

atendimento às normas de controles internos, gera diferencial competitivo no

acirrado mercado.

Empresas que busquem alcançar altos padrões de GC devem buscar

resultados sustentáveis e não resultados de curto prazo para dar uma falsa

impressão de sucesso. As normas de delegação de poderes e

responsabilidades devem se muito bem definidas e sua aplicação

acompanhada com rigor visando evitar o favorecimento de indivíduos em

detrimento dos investidores e da sociedade.

Neste contexto o Compliance se destaca como principal pilar de uma boa

política de Governança Corporativa. Podemos dizer que somente através do

Page 70: TCC MBA IAG - PUC Rio

princípio Compliance uma organização pode atender aos outros três princípios

básicos da GC, quais sejam Accountability (prestação de contas de forma

confiável), Disclosure (transparência) e Fairness (equidade).

Dado a profundidade e importância do assunto, conceitos de GC estão

tomando maiores proporções e ganhando poder legal, vide lei Serbanes-Oxley.

Como a própria definição de Compliance diz, a GC busca garantir que todos

os segmentos de uma organização estejam cientes e direcionados em busca

dos objetivos estratégicos definidos, sem violação de normas, sem divulgação

de informações e relatórios enganosos e buscando sempre atender os

princípios éticos do negócio, respeitando os acionistas e colaboradores.

Com a evolução dos mecanismos de Governança Corporativa o mercado se

fortalece, as organizações ganham fôlego competitivo e a economia de um país

fica mais sólida com um mercado mais desenvolvido. Organizações que

atendam os requisitos em busca dos mais altos patamares de GC e se

enquadrem como Novo Mercado atrairão investidores em busca de relações

sólidas e confiáveis e se despontaram no mercado, se tornando mais

competitivas

Contrário senso e pelos casos vistos, constata-se que não é possível uma

boa governança sem um sistema de controles internos efetivo que propicie à

organização o respeito aos princípios de compliance, disclosure, accountability

e fairness. A ausência ou fragilidade desses controles compromete a eficiência

operacional, expõe a riscos desnecessários, gera perdas financeiras e

patrimoniais, inviabilizando o objetivo final da boa governança corporativa de

respeito aos direitos das partes envolvidas, maximização das riquezas dos

investidores e preservação da sustentabilidade do negócio.

Todo o conceito envolvido em GC funciona muito bem, porém, o que estaria

faltando é o respeito às regras. O respeito a essas regras pressupõe que os

acionistas de uma organização venham a recorrer às normas reguladoras para

ter seus direitos preservados. Pressupõe que para as políticas e diretrizes de

uma organização funcionarem efetivamente, existam pessoas com posição pró

ativa pela cobrança de seus direitos.

Page 71: TCC MBA IAG - PUC Rio

Todos os públicos de uma companhia precisam se engajar num processo

pró ativo, solicitando proteção aos seus direitos. Terem participação mais ativa

nas assembléias ou nas instituições reguladoras.

Não basta, apenas, investir em uma companhia onde haja boas práticas de

governança e transparência, e não acompanhar de perto a sua administração.

Os órgãos reguladores funcionarão melhor na medida em que são

demandados, e para demandar, precisa-se de uma cultura de proatividade, do

engajamento do investidor na vida da empresa.

As instituições financeiras, por sua vez, também necessitam de regras

claras e suficientes para protegerem os investidores, e os problemas

relacionados aos reguladores devem ser solucionados em tempo curto.

O presente trabalho pretende contribuir para as discussões sobre a

governança corporativa nas instituições financeiras, e a influência dos controles

internos sobre ela. O tema, apesar da sua importância e crescente discussão,

ainda possui literatura teórica escassa. O trabalho não pretende esgotar o

tema, mas sim, suscitar interesse por essa linha de pesquisa, principalmente

dentro das instituições financeiras.

Dada a amplitude da linha de pesquisa, outros estudos podem ser

desenvolvidos, procurando responder a questões, como:

- Que mecanismos de controles internos precisam ser criados ou

reforçados para tentar evitar oportunismos conflitantes com os

objetivos das organizações?

- Como é possível avaliar a independência do conselho de

administração em relação aos executivos e/ou acionistas

controladores?

Outra observação para aprimoramento dos estudos o tema governança

corporativa diz respeito à necessidade de que os órgãos reguladores exijam

das companhias abertas, a divulgação de informações adicionais sobre sua

estrutura de governança, tais como:

Page 72: TCC MBA IAG - PUC Rio

- A divulgação do percentual de ações em posse dos executivos e

conselheiros, bem como a forma de remuneração dos mesmos.

- O esclarecimento de todos os laços financeiros dos conselheiros com

a companhia.

A publicação dessas e outras informações pela empresa aumentaria o

entendimento sobre a estrutura de governança das companhias e possibilitaria

aos pesquisadores a realização de experiências com outras variáveis

importantes, facilitando o desenvolvimento de estudos sobre governança

corporativa no Brasil e no mundo.

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