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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS MURILO MARINS DA SILVA FUTEBOL: RAZÕES ECONÔMICAS PARA O DESEMPENHO DOS CLUBES. O CASO DO E.C. VITÓRIA E DO E.C. BAHIA SALVADOR 2007

TCC MURILO MARINS DA SILVA - repositorio.ufba.br MURILO... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 ... produtividade da firma, ... criação de jogadas

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS

MURILO MARINS DA SILVA

FUTEBOL: RAZÕES ECONÔMICAS PARA O DESEMPENHO DOS CL UBES.

O CASO DO E.C. VITÓRIA E DO E.C. BAHIA

SALVADOR

2007

MURILO MARINS DA SILVA

FUTEBOL: RAZÕES ECONÔMICAS PARA O DESEMPENHO DOS CL UBES. O CASO DO E.C. VITÓRIA E DO E.C. BAHIA

Trabalho de conclusão de curso apresentado no curso de Ciências Econômicas da

Universidade Federal da Bahia como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em

Ciências Econômicas. Orientador: Prof. Dr. Hamilton Ferreira Junior

SALVADOR

2007

Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Silva, Murilo Marins S586 Futebol: razões econômicas para o desempenho dos clubes. O caso do E.C. Vitória e do E. C. Bahia / Murilo Marins Silva. – Salvador, 2007. 91f. tab. il. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Economia) – Faculdade de Ciências Econômicas da UFBA, 2007. Orientador: Prof. Dr. Hamilton de Moura Ferreira Júnior. 1. Futebol. 2.Competitividade 3. Indicadores econômicos.4. Gestão – Futebol. 5. Modelo da cinco forças.7.Concorrência. I. Silva, Murilo Marins. II. Título. CDD – 796.334

AGRADECIMENTOS

Quero agradecer, primeiramente, à minha mãe, que me deu todo apoio na elaboração

deste trabalho, inclusive na indicação de artigos e sites nos quais informações

extremamente úteis foram extraídas por mim. Agradeço também à Hamilton Ferreira,

meu orientador, pelo grande auxílio na elaboração desta monografia e na organização

das idéias sobre o tema, e, principalmente, agradeço aos colegas de faculdade do ano de

2003, que em muito colaboraram com idéias e sugestões para o meu trabalho. Por fim,

agradeço a todos que de alguma forma, direta ou indiretamente, colaboraram na

execução deste trabalho monográfico.

RESUMO

Este trabalho mostra a importância do futebol para a sociedade como um todo, seja por

questões de inclusão social, por outras ligadas à sensação de alegria e felicidade que

desperta nos brasileiros, que muitas vezes vêem no futebol uma forma de ”esquecer” a

difícil realidade em que vivem, mas, principalmente, pela relação deste esporte com a

economia como um todo. Será mostrado, brevemente, a evolução do futebol de esporte

amador à esporte tratado de modo capitalista, com enorme crescimento dos valores

envolvidos e da relevância dada por grandes empresas para esta atividade esportiva.

Posteriormente, as ligações entre as técnicas para análise da concorrência de uma

indústria serão correlacionadas com o futebol e, especificamente, com o desempenho

das principais equipes baianas, quais sejam, o Esporte Clube Vitória e o Esporte Clube

Bahia. Em seguida, será feita uma ligação entre a economia baiana e soteropolitana com

a performance dessas agremiações, elencando-se as principais variáveis que interferem

nisso e de que maneira elas atuam. Além disso, será feita uma breve análise sobre a

gestão desses clubes e como ela influencia no resultado das equipes dentro de campo,

além de se tratar, também de maneira resumida, ligações histórico-culturais da Bahia

com o desempenho de suas duas principais instituições esportivas.

Palavras-chave: futebol. competitividade. indicadores econômicos. gestão. modelo das

cinco forças. concorrência.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................7

2 ANÁLISE DA CONCORRÊNCIA E INDICADORES ECON ÔMICOS .......9

2.1 CONCEITO DE COMPETITIVIDADE ................................................................9

2.2 CONCORRÊNCIA: BENEFÍCIOS E IMPLICAÇÕES PARA O FUTEBOL ....10

2.3 FATORES EMPRESARIAIS, ESTRUTURAIS E SISTÊMICOS ......................11

2.4 O MODELO DAS CINCO FORÇAS E SUA APLICAÇÃO AO ESPORTE .....13

2.5 BENEFÍCIOS GERADOS POR UM “BOM” CONCORRENTE .......................18

2.5.1 Tamanho da firma ..............................................................................................20

2.6 PADRÃO DE CONCORRÊNCIA E ESTRATÉGIA COMPETITIVA ..............21

2.7 RECEITAS E DESEMPENHO DOS CLUBES ..................................................23

2.8 INDICADORES ECONÔMICOS E DESEMPENHO ........................................24

3 FUTEBOL: SUA IMPORTÂNCIA ECONÔMICA ....... ................................27

3.1 EVOLUÇÃO E HISTÓRIA .................................................................................27

3.2 A ERA DO FUTEBOL NEGÓCIO ......................................................................29

3.2.1 Grandes empresas e o futebol ............................................................................32

3.3 ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DO ESPORTE NA EUROPA E NO

BRASIL ................................................................................................................33

3.4 FONTES DAS RECEITAS DOS CLUBES .........................................................35

3.4.1 O estádio como forma de otimizar e diversificar as receitas ..........................37

3.5 O FUTEBOL BAIANO E SUA INSERÇÃO NO CENÁRIO BRASILEIRO ....37

3.6 VANTAGENS COMPETITIVAS NO FUTEBOL ..............................................38

3.7 ADMINISTRAÇÃO DOS CLUBES ...................................................................39

4 ASPECTOS ECONÔMICOS E DESEMPENHO DOS CLUBES

BAIANOS ............................................................................................................41

4.1 RELACIONAMENTO COM TORCEDORES ....................................................41

4.1.1 Praças esportivas soteropolitanas e seleção dos compradores .......................42

4.1.2 Tamanho do mercado .........................................................................................43

4.2 RELACIONAMENTO COM FORNECEDORES ..............................................45

4.3 ESTRUTURA E RIVALIDADE DO MERCADO ..............................................46

4.4 CONCENTRAÇÃO DO FUTEBOL LOCAL EM DUAS EQUIPES .................48

4.5 VITÓRIA E BAHIA: BONS OU MAUS CONCORRENTES? ..........................50

4.5.1 Estratégias adotadas ...........................................................................................52

4.6 POSSIBILIDADES DE BENS SUBSTITUTOS AO FUTEBOL BAIANO ........53

4.7 INDICADORES ECONÔMICOS LOCAIS E DESEMPENHO ..........................54

4.8 GESTÃO DOS CLUBES ......................................................................................59

4.9 ASPECTOS HISTÓRICO-ECONÔMICOS .........................................................61

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................................................63

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..............................................................66

APÊNDICE ..........................................................................................................68

1 INTRODUÇÃO

O tema futebol ultimamente vem despertando a atenção do mundo acadêmico.

Basicamente, as razões para isto estão relacionadas: com as cifras movimentadas neste

esporte, que se tornam cada dia mais altas e se evidenciam sob várias formas; com os

investimentos e lucros obtidos pelas empresas que nele operam, por meio de

administrações crescentemente profissionalizadas e sob bases fortemente capitalistas; e

também pelo forte conteúdo de paixão e subjetividade que o tema suscita em bilhões de

pessoas no planeta.

Este trabalho tem como objeto de estudo o futebol baiano. O problema a ser analisado

são as razões do insucesso futebolístico dos dois grandes clubes do estado, o Esporte

Clube Vitória e o Esporte Clube Bahia, a partir do ano de 2003. Este processo iniciado

em 2003 culminou no rebaixamento destas equipes para a Série C do campeonato

brasileiro ao final de 2005, desempenho não condizente com o histórico dos dois

maiores clubes baianos.

A escolha deste tema é motivada pela grande paixão que sempre tive para com o futebol

em geral, tendo preferência clubística pelo Esporte Clube Vitória e desde a infância

freqüento estádios de futebol. Além disso, os ensinamentos sobre economia em

conjunto com o acompanhamento desse esporte me fizeram notar grandes correlações

entre os temas, motivando-me então a analisar de maneira científica quais seriam estas

ligações.

O referencial utilizado será baseado na corrente econômica Neo-Schumpeteriana,

procurando se estabelecer uma ligação entre suas idéias e conceitos com o desempenho

de uma equipe de futebol. Ademais, demonstrar-se-á que tal desempenho possui

explicações de ordem macroeconômica. Razões ligadas à administração do

clube/empresa e outras ligadas ao elemento cultural local também serão consideradas.

O objetivo deste trabalho é: a compreensão de como economia forte facilita a

competitividade de agremiações futebolísticas e a obtenção de bons resultados, o

entendimento do porque o fortalecimento do Vitória e do Bahia provoca um círculo

virtuoso no desenvolvimento destas agremiações, e a demonstração dos benefícios

criados pelo estímulo a concorrência.

As hipóteses para explicar o problema são que tanto a economia baiana como a

soteropolitana possuem relação com o desempenho dos clubes, assim como equívocos

na administração. Além disso, a análise da concorrência do mercado baiano indica que

ele é pouco competitivo e que existem erros nas estratégias adotadas.

No Capítulo 2 será abordado o referencial teórico do trabalho. Terão destaque temas

como competitividade, análise da concorrência, modelo das cinco forças, padrão de

concorrência, além de variáveis macroeconômicas ligadas à economia baiana e

soteropolitana julgadas relevantes para o entendimento do problema. No Capítulo 3

será demonstrada a ligação entre o futebol e o referencial teórico utilizado, além de

ser explicada a utilidade de se estudar o futebol sob a ótica econômica. No Capítulo 4

será feita uma correlação entre os aspectos econômicos baianos e soteropolitanos e o

desempenho do Vitória e do Bahia.

2 ANÁLISE DA CONCORRÊNCIA E INDICADORES ECONÔMICOS

2.1 CONCEITO DE COMPETITIVIDADE

O conceito de competitividade gera certa dissonância entre os economistas. A

Enciclopédia Larousse define ser competitivo desta maneira:

“Suscetível de suportar a concorrência de outros (...) ECONOMIA: Diz-se de um setor de atividade no qual as flutuações do proveito das empresas influenciam o aparecimento ou o desaparecimento destas: A concorrência só pode existir num setor determinado se este for competitivo” (ENCICLOPÉDIA LAROUSSE, 1998, p. 1525).

Ferraz (1995) entende competitividade como uma característica dinâmica e em

constante evolução, contrapondo-se ao conceito estático de competitividade e a

correlacionando com todos os participantes do mercado (produtores, consumidores,

fornecedores, firmas rivais). O autor relaciona tal característica com a capacidade da

firma em assimilar e ‘atender’ eficientemente o modo de concorrer naquele setor (preço

baixo, produto diferenciado, recursos humanos qualificados, fornecedores mais

eficientes, liderança tecnológica, etc.), estabelecendo assim estratégias competitivas em

função do processo concorrencial. Ser competitivo é uma virtude que a firma tem que

continuar aprimorando e investindo caso queira manter e ampliar a posição, pois os

concorrentes estarão sempre buscando superá-la e, assim, suas antes vantagens

competitivas acabariam se transformando em modos obsoletos de atuação.

(...) competitividade foi definida como a capacidade da empresa formular e implementar estratégias concorrenciais, que lhe permitam ampliar ou conservar, de forma duradoura, uma posição sustentável no mercado. (FERRAZ, 1995, p. 3)

Segundo Porter (1990), competitividade é definida como a capacidade das empresas

formularem estratégias que permitam o crescimento da sua fatia de mercado de maneira

sustentável. Baseando-se na tese de que a competitividade empresarial está atrelada à

produtividade da firma, no que tange a preços, eficiência e qualidade, Porter defende a

criação de vantagens competitivas como o modo mais eficaz de obter uma posição

duradoura e sustentável na indústria, ainda que ele avalie a concorrência como algo

dinâmico e em constante mudança.

A competição é uma paisagem que varia constantemente e onde surgem novos produtos, novas maneiras de comercializar, novos processos de produção e novos segmentos de mercado. (PORTER, 1990, p. 21)

2.2 CONCORRÊNCIA: BENEFÍCIOS E IMPLICAÇÕES PARA O FUTEBOL

O futebol é um dos poucos mercados em que um produtor individual possui interesse no

fortalecimento dos seus rivais, pois isto torna o campeonato mais competitivo e,

conseqüentemente, valoriza o produto do mercado em questão. De nada adianta um

clube possuir uma equipe forte se seus oponentes não estiverem à sua altura, tendo em

vista que o espetáculo produzido tende a ser menos interessante para o público em geral

e para os patrocinadores. A qualidade de uma partida de futebol está atrelada à

qualidade das duas equipes participantes, pois somente com equipes de bom nível

técnico é possível que ocorram variações durante o jogo, incerteza sobre quem sairá

vencedor, criação de jogadas bem trabalhadas e de lances de efeito, enfim, todos os

componentes de um jogo qualificado.

Se por vários anos o mesmo time for campeão sem disputa acirrada, o

torcedor perderá o interesse pelo futebol. Desta forma, a lógica da

concorrência no mercado do futebol é diferente da lógica dos outros

mercados. Os rivais são peça fundamental para o sucesso do clube. (AIDAR,

2002, p. 118)

Os clubes de futebol competem entre si de várias maneiras e não apenas sob a forma de

simples partidas de futebol. Estas refletem em muito o modo como se dá o processo de

concorrência entre as agremiações em vários aspectos, quais sejam: disponibilidade de

recursos financeiros; tamanho da torcida; contratações; estratégias de marketing

adotadas; política gerencial interna. Em todas as formas de concorrência o agente

econômico (clube) busca sempre possuir posição de liderança, isto é, ser mais eficiente

e produzir os melhores resultados possíveis, ainda que seja praticamente nula a

possibilidade de adquirir/comprar um rival por questões ligadas à paixão do torcedor.

Possuir liderança ou maior eficiência técnica em cada um desses aspectos da

concorrência cria vantagens competitivas para o clube em comparação aos seus rivais,

além de servir como base de comparação para o clube sobre como proceder, que

caminhos seguir e que objetivos devem ser perseguidos.

Um exemplo de competição global é a por jogadores. O alto valor dos salários e ‘passes’ dos jogadores faz o clube ter de lidar com alguma parte do valor daquele capital de torcedores e com a relação histórica que ele tem com eles. (AIDAR, 2002, p. 93)

Ao contrário da maior parte dos outros mercados, em que o sonho de um

produtor individual é ficar sozinho no mercado, no futebol o sucesso de um

clube está totalmente vinculado ao sucesso de seus concorrentes. Quanto

mais disputa, maiores as receitas. (AIDAR, 2002, p. 118)

Considerando que o espetáculo desenvolvido pelas equipes participantes de um

campeonato é o produto mais importante do futebol, a qualidade deste gera uma série de

efeitos de proporção direta na indústria e, tendo em vista que quanto maior for a

competitividade dos times maior será a qualidade do jogo, é possível inferir que ter

rivais qualificados gera externalidades positivas para uma equipe.

As leis econômicas que regem o produto futebol são muito especiais, desde a combinação baixa elasticidade de preço da demanda com elevada elasticidade de renda, até uma estrutura de mercado que precise da competição entre os principais agentes, até para produzir seu produto para o rei que é o

consumidor torcedor. (AIDAR, 2002, p. 119)

A idéia central considerada nesta análise é que possuir ao menos um rival forte e

competitivo é primordial para o clube, pois é a partir deste parâmetro que ele

analisará o seu desempenho e buscará maior eficiência. Os modos de comparação são

os mais diversos possíveis, como; se o rival possui ou não estádio próprio e qual a

qualidade deste; a qualidade dos jogadores adversários; os títulos conquistados pelo

rival; as estratégias de marketing adotadas; o modo de administrar/gerir o clube,

dentre outros elementos. Conviver num mercado com rivais fracos pode passar a

falsa idéia de que a agremiação é competitiva e eficiente. Dado que ela conquistou a

posição de firma líder e não possui problemas para manter tal posição, há uma

tendência natural à acomodação, algo maléfico para a indústria e que certamente

influenciará na produção de resultados insatisfatórios ao enfrentar ambientes com

rivais mais qualificados e eficientes.

2.3 FATORES EMPRESARIAIS, ESTRUTURAIS E SISTÊMICOS

A competitividade não depende pura e simplesmente das ações empresariais, visto que o

ambiente estrutural e o ambiente sistêmico também possuem enorme correlação com tal

aspecto. No ambiente estrutural a firma pode controlar a indústria em que atua apenas

parcialmente, pois neste ambiente a firma se relaciona com a estrutura de mercado,

sendo estes seus elementos básicos; consumidores, fornecedores, concorrentes e

distribuidores. A empresa tem como eleger um mercado consumidor ao qual seu

produto será direcionado, contudo não tem como controlar as oscilações de demanda,

mudanças nas preferências dos consumidores, ou o nível de renda dos mesmos, ou seja,

existem variáveis exógenas à firma no ambiente estrutural. O mesmo raciocínio feito

anteriormente é válido em relação aos fornecedores, concorrentes e distribuidores, tendo

em vista que a firma não pode escolher se seus concorrentes serão éticos ou não, se

serão fortes ou fracos, e tampouco pode controlar se existirá ou não um grande número

de fornecedores qualificados e eficientes à sua disposição1.

1 O relacionamento com os fornecedores é, obviamente, regido por contratos entre as partes. Porém, não existe contrato perfeito, havendo sempre a possibilidade de falha na realização deste e, desse modo, comprometer a produção da firma de alguma maneira. Ademais, por menores que sejam existem Custos de Transação na elaboração dos contratos, de maneira que é preferível (mas não elegível) possuir

Evidentemente que as ações empresariais, como a gestão de RH, o marketing ou a

gestão financeira são extremamente importantes para o desempenho de uma firma e

também das agremiações de futebol, mas por si só não são suficientes na obtenção de

êxito. Em um esporte cujo espetáculo produzido sempre possui no mínimo dois rivais é

necessário que haja adversários fortes para que o produto seja de elevado nível de

qualidade. Entretanto, por mais competente que seja a governança de uma instituição

isto não implica no surgimento de um concorrente do mesmo nível nem no

fortalecimento do mercado como um todo. Além disso, a conjuntura macroeconômica

local possui forte correlação com as possibilidades de o clube auferir receitas e com seu

desempenho, significando dizer que a boa administração é importante mas não é

suficiente, e pode esbarrar em outras dificuldades econômicas as quais as instituições

são incapazes de controlar.

A vantagem competitiva é criada e mantida através de um processo altamente localizado. Diferenças nas estruturas econômicas, valores culturais, e instituições histórias nacionais contribuem profundamente para o sucesso competitivo. (PORTER, 1990, p. 20)

O ambiente sistêmico relaciona-se com o país e como este interage com o resto do

mundo, sendo que o poder de ação da empresa neste ambiente é praticamente nenhum.

A eficiência das instituições que atuam no mercado, a eficiência da justiça, a carga

tributária, o valor da moeda local em relação às outras, o nível de riqueza do país, a

infra-estrutura local, a disponibilidade de mão-de-obra qualificada, o valor da taxa de

juros, dentre outros, são aspectos que as empresas não podem controlar, mas que

possuem grande interferência na indústria. Assim, os clubes não têm capacidade para

interferir nas condições macroeconômicas de sua região, caso estas sejam desfavoráveis,

e por melhor que seja a gestão da agremiação os resultados obtidos sempre serão

inferiores àqueles obtidos em localidades com indicadores econômicos favoráveis.

Certamente, ainda que um clube do Piauí, estado extremamente pobre, possua gestão fornecedores profissionais e eficientes dado que nem sempre é possível solucionar falhas de eficiência ou falta de profissionalismo mediante simples contratos.

altamente eficiente e profissional, dificilmente terá condições de competir com Grêmio,

São Paulo ou Vasco da Gama, pertencentes a estados ricos e com nível de renda bem

mais elevado.

2.4 O MODELO DAS CINCO FORÇAS E SUA APLICAÇÃO AO ESPORTE

O Modelo das cinco forças, desenvolvido pelo economista estadunidense Michael

Porter, possui grande utilidade ao buscarmos compreender as variáveis econômicas que

influenciam no desempenho de um clube de futebol, considerando-se este como sendo

um agente econômico que compete num mercado com outros rivais. As ‘cinco forças’ a

que se refere são as forças competitivas que em conjunto determinarão a atuação de um

produtor individual inserido dentro de certa indústria sem, contudo possuírem caráter

determinístico. Isto significa que as forças determinam a ação da firma, mas em

contrapartida são influenciadas pela ação dela, ou seja, não é uma ‘mão única’ e sim

uma ‘mão dupla’ porque a firma pode alterar a composição das forças. As forças estão

listadas abaixo, sejam elas:

1. Relacionamento com compradores

2. Existência de produtos substitutos

3. Concorrentes efetivos (rivalidade entre empresas existentes)

4. Relacionamento com fornecedores

5. Entrantes potenciais

As empresas, através de suas estratégias, podem influenciar as cinco forças. Se uma empresa pode modelar a estrutura, ela pode modificar fundamentalmente a atratividade de uma indústria para melhor ou para pior. Muitas estratégias de sucesso modificaram as regras da concorrência desta forma. (PORTER, 1989, p. 6)

Dos elementos listados acima apenas a existência de entrantes potenciais possui pouca

correlação com o futebol. Para Porter (1990), a lucratividade da indústria é uma função

direta das cinco forças competitivas, visto que fixam os preços que podem ser cobrados,

os custos que os participantes têm que suportar, e o investimento requerido para

competir. Além disso, ele considera cada indústria como sendo um objeto de estudo

diferente, possuindo singularidades somente pertencentes a ela. Dessa maneira, é

imperioso aliar o modelo desenvolvido com as peculiaridades e particularidades da

indústria do futebol.

A ameaça de novas firmas entrarem no mercado é extremamente incomum e pouco

provável no futebol. A maioria dos grandes clubes mundiais foi criada até meados da

década de 30 do século XX, e desde os anos 70 não surgiu nenhuma agremiação com

representatividade internacional. Nesse esporte existe um forte componente de tradição

e história envolvidas na atividade, tornando complicado o surgimento de um novo

concorrente hoje em dia. Para um novo clube entrar na indústria deste esporte, ter uma

postura agressiva para com os concorrentes e atingir uma posição sustentável no longo

prazo, este enfrentaria problemas como a inexistência de torcedores fiéis (falta de

mercado consumidor), o reduzido espaço na mídia para equipes sem tradição, e,

principalmente, a inexistência de infra-estrutura física, como estádio, centro de

treinamento, clube social2, dentre outros. Talvez o futebol seja a indústria em que o peso

das barreiras é maior, pois a fidelização de um torcedor para com um clube muito

provavelmente é maior que a fidelidade de um consumidor com outro produto qualquer:

clubes e torcedores têm uma relação emocional, e não mercantil.

Os torcedores não mudam: podem trocar de esposa, de cidade, mas jamais de time. Por isso, o futebol não tem nada a ver com satisfação do produto. É uma relação emocional, na maioria das vezes de sofrimento, que pode ser convertida ou até explorada como uma relação comercial. (AIDAR, 2002, p. 91)

O relacionamento com os fornecedores engloba todos os profissionais envolvidos na

atividade fim dos clubes que é a produção do time de futebol, além dos patrocinadores.

Dessa forma, os fornecedores dos clubes são os recursos humanos envolvidos na

atividade fim, ou seja, os atletas e comissão técnica, além dos patrocinadores e da

empresa provedora de material esportivo3. A elaboração de contratos com cláusulas

claras e com multa rescisória compatível com o valor do atleta e/ou da comissão técnica

2 Clube social é toda a infra-estrutura física dos clubes de futebol que é voltada para o lazer dos sócios do clube, como piscinas, quadras de tênis, saunas, campos de futebol, enfim, elementos disponibilizados pelos clubes convencionalmente. O São Paulo - SP, o Flamengo - RJ, o Palmeiras – SP, o Cruzeiro – MG, dentre outros, possuem clube social para os associados à instituição. 3 Patrocinadores esportivos são as empresas que fornecem material esportivo para os clubes. Estas empresas têm o direito de fornecer equipamentos para serem utilizados nos jogos e nos treinos da equipe profissional e das divisões de base, além de explorarem comercialmente a venda de tais produtos para os torcedores. Dentre os fornecedores mais destacados estão: Nike, Adidas, Puma, Umbro, Diadora, Reebok.

pode constituir-se em um instrumento eficiente para a redução do poder destes

fornecedores. A valorização do clube é essencial para reduzir o poder tanto das

empresas que fornecem material esportivo, quanto das empresas patrocinadoras,

considerando-se que somente dessa forma o clube poderá ter maior poder de barganha

na elaboração dos contratos. Isto pode ser alcançado sob várias formas:

a) através da freqüente disputa por títulos importantes.

b) mediante administração séria e profissional.

c) possuindo um grande número de torcedores

d) pela contratação de atletas e comissão técnica respeitados pelo mercado.

e) pela tradição e história da agremiação.

Segundo Porter (1989), os determinantes do poder do comprador em relação à

sensibilidade ao preço dependem da existência de produtos substitutos, da identidade da

marca e das diferenças dos produtos. É possível destacar os produtos substitutos como a

principal ameaça para o produto futebol. A evolução da tecnologia da informação, dos

meios de transmissão e da mídia elevou sensivelmente a possibilidade do torcedor de

futebol eleger outros esportes e atrações para acompanhar pela televisão, principalmente

pela televisão fechada, sem enumerar as diversas outras opções de lazer e

entretenimento nas grandes cidades. O quesito sensibilidade ao preço relaciona-se com

identidade da marca e diferenças dos produtos, pois produtos heterogêneos e/ou sem

uma marca estabelecida no mercado conferem poder ao comprador, segundo Porter.

Contudo, no futebol isto não sucede, visto que a marca do clube é completamente

identificada com seus torcedores e o produto do clube é homogêneo, tendo em vista que

cada clube oferece ao torcedor apenas uma alternativa clubística, isto é, uma mesma

agremiação não possui dois ou mais times concorrendo entre si.4 Sobre a elasticidade-

preço, de forma geral, estudos apresentados por Aidar (2002) demonstram que em geral

o futebol tem baixa elasticidade-preço, pois quando o jogo é entre duas equipes de

qualidade e se insere numa competição relevante, os torcedores se interessam em

acompanhar a partida ao vivo pouco importando o preço do ingresso, evidenciando que

a disposição a pagar dos consumidores é maior nas partidas com tais características. “Os

4 Seria como se o torcedor do Clube de Regatas do Flamengo, por exemplo, pudesse escolher entre torcer para o Flamengo A, o Flamengo B ou o Flamengo C, algo inimaginável no futebol pelo fato de cada equipe não poder ter outro concorrente exatamente com as mesmas identificações. Assim, só há um Flamengo-RJ no mundo, e nunca haverá outro, podendo sim existir agremiações de outras localidades que busquem imitá-lo, mas sem nunca poderem ser exatamente igual ao Flamengo-RJ.

torcedores não mudam: podem trocar de esposa, de cidade, mas jamais de time. Por

isso, o futebol não tem nada a ver com satisfação do produto.” (AIDAR, 2002, p. 91)

O ideal para qualquer produtor é ter um produto que não sofre alterações de demanda quando o seu preço se altera e que, ao mesmo tempo, tem sua demanda incrementada quando a renda cresce. Na linguagem econômica dizemos que o produto deve ter elasticidade muito baixa com relação ao preço e alta elasticidade quanto à renda. (...) o futebol pode, se bem gerido, ter as duas condições desejadas: baixa elasticidade-preço e alta elasticidade-renda. (AIDAR, 2002, p. 115-116).

Sobre a ameaça de produtos substitutos Porter (1989) afirma serem três fatores os

determinantes: custos de mudança, desempenho do preço relativo dos substitutos e

propensão do comprador a substituir. Neste trabalho entende-se que os custos de

mudança são elevados pela razão do futebol ser um esporte único, nenhum outro se

assemelha a ele na forma de ser praticado, e é aquele que possui maior popularidade no

planeta. O desempenho do preço relativo dos substitutos requer uma análise mais

profunda, pois os substitutos são muitos, com variados preços, além do que, as classes

de renda dos consumidores de futebol são extremamente variadas, assim como suas

respectivas disposições a pagar. Sobre a propensão do comprador a substituir isto é

difícil de ser analisado a priori, porém partindo do suposto que o torcedor de futebol é

um indivíduo naturalmente conquistado sem a necessidade de campanhas de marketing

para que ele goste ou se identifique com determinado clube, considerar-se-ia tal

propensão como baixa. Entretanto, considerando-se que a infra-estrutura dos estádios

brasileiros, na maioria dos casos, é precária e pouco confortável, que muitos jogos

realizados são considerados de baixo nível técnico e com pequena atratividade, e que

também existem outras formas de entretenimento, é necessário considerar-se a

propensão dos torcedores a substituir o produto.

As emissoras de televisão são grandes compradores do produto futebol. O valor pago

para transmitir os campeonatos atualmente é bastante superior ao se comparar com o

preço pago nas primeiras transmissões via televisão5, e a participação da receita de

5 A TABELA 1, contida no Capítulo 2, trará informações sobre os valores dos direitos de transmissão de modo mais preciso.

televisão no orçamento dos clubes, principalmente os brasileiros, é bastante

significativa. A transmissão dos jogos e a cobertura esportiva via televisão valoriza os

campeonatos e gera mais receitas para as agremiações esportivas, pois os patrocinadores

se dispões a pagar mais e o espaço para publicidade estática6 nos estádios torna-se mais

caro.

Os concorrentes efetivos e sua ação sobre o produtor individual também possuem

enorme correlação com o esporte e, assim como nas outras indústrias, a criação de

vantagem competitiva é o modo mais eficaz na meta de superar o rival. A rivalidade

entre os participantes de uma indústria implica no quão eficiente eles devem ser para

superar os rivais, nas estratégias adotadas, na busca maior ou menor por inovações, e na

qualidade do produto/serviço ofertado. Quanto mais competitivo for o setor certamente

maior deverá ser o esforço dos participantes para vencer os rivais, ocasionando

inclusive em benefício para a sociedade advindo da competição entre os agentes e sua

constante busca por eficiência.

Uma empresa jamais pode ser complacente com seus concorrentes ou parar de obter formas de vantagem competitiva. A vantagem competitiva sustentável é a única forma de se alcançar um desempenho superior. (PORTER, 1989, p. 188).

Porter (1989) apresenta os determinantes da rivalidade e dentre estes vários se

enquadram no estudo futebolístico, quais sejam: interesses empresariais, crescimento da

indústria, identidade de marca, concentração e equilíbrio, e diversidade de concorrentes.

Interesse empresarial e rivalidade são diretamente proporcionais, haja vista que quanto

maior a possibilidade de lucro do mercado mais indivíduos estarão dispostos em

participar deste, movidos pelo desejo de acumular riqueza. O crescimento da indústria

incorre num acirramento da competição entre os agentes, dado que isto provoca maiores

rendimentos e conseqüentemente as firmas buscam maior eficiência com o intuito de

apoderar-se destes ganhos; novas empresas que entram para uma indústria trazem o

desejo de ganhar uma parcela do mercado e auferir grandes lucros. A concentração do

mercado nas mãos de poucas firmas que não sejam díspares em tecnologia, assim como

em fatia de mercado e capital, implica numa maior rivalidade devido a pouca

6 Esta publicidade localiza-se ao redor do gramado dos estádios nos dias de jogos.

diferenciação entre os produtos, de modo que somente buscando maior eficiência e

inovação constante seria possível auferir lucros maiores.

2.5 BENEFÍCIOS GERADOS POR UM “BOM” CONCORRENTE

Possuir os concorrentes certos é benéfico para a empresa. Isto pode parecer um

equívoco, à primeira vista, mas pelo contrário, muitas vezes possuir bons concorrentes é

um elemento auxiliador na manutenção da posição competitiva da firma no longo prazo.

De acordo com as idéias de Joseph Schumpeter, a competição é o motor da

concorrência, de modo que quanto mais fortes e eficientes forem os rivais maior será o

incentivo para a firma aperfeiçoar-se e vencê-la, considerando a ambição em vencer e

acumular capital como fator fundamental neste processo. Porter (1989) elenca algumas

características de um agente considerado como ‘bom concorrente’:

a) compreende as regras e os sinais do mercado.

b) formula hipóteses realistas, ou seja; não possui análises distorcidas sobre a

indústria.

c) é de confiança e viável. Possui recursos suficientes para realizar suas políticas e

mantê-las no longo prazo.

d) tem conhecimento dos custos: fixa os preços em função destes.

e) deseja geração de caixa. Não perturbaria o equilíbrio da indústria com grandes

investimentos, pois perderia recursos para distribuir aos acionistas.

f) é adverso ao risco. Não faz investimentos distantes da sua realidade financeira

para mudar sua posição

A maioria dos concorrentes possui características que o enquadram como ‘bons’ e

‘maus’, sendo pertinente que a firma faça uma seleção de tais características antes de

tomar suas decisões.

Os concorrentes não são todos igualmente atrativos ou desinteressantes. Um bom concorrente é aquele que desafia a empresa a não ser complacente, mas é um concorrente com o qual a empresa pode atingir um equilíbrio industrial estável e rentável sem uma guerra prolongada. Maus concorrentes, de um modo geral, têm as características opostas. (PORTER, 1989, p. 196) A característica mais destacada deste enfoque (neo-schumpeteriano) é que, em contraste com o enfoque estático tradicional, a concorrência na economia capitalista passa a ser vista como um processo evolutivo e, portanto,

dinâmico, gerado por fatores endógenos ao sistema econômico (...) (KUPFER & HASENCLEVER, 2000, p. 415)

Sem a constante e potencial “ameaça” do oponente os agentes econômicos tenderiam a

se acomodar com a situação de momento e assim deixariam de buscar vantagens

competitivas, elemento fundamental para que a firma consiga superar os rivais. A

rivalidade ocorre porque um ou mais concorrentes sentem-se pressionados ou percebem

a oportunidade de melhorar sua posição, havendo então uma forte competição por

mercado dentro da indústria na qual as firmas tornam-se mutuamente dependentes.

Porter (1989) cita três benefícios advindos da presença dos concorrentes certos, quais

sejam: ampliar a vantagem competitiva, melhorar a atual estrutura industrial, ajudar no

desenvolvimento do mercado.

Sobre a ampliação da vantagem competitiva, o autor entende que a existência de

concorrentes qualificados impele a firma a aprimorar a habilidade de diferenciar-se,

tomando como parâmetro a qualificação do rival naquela mesma habilidade e, além

disso, corrobora em um possível incremento de motivação por parte dos funcionários da

firma, constituindo-se a superação do oponente um fator motivador. Esta passagem

ajuda a compreender a idéia: “O produto de um concorrente passa a ser um marco para

medir o desempenho relativo, o que permite que uma empresa demonstre sua

superioridade de um modo mais persuasivo” (PORTER, 1989, p. 189).

A melhoria na estrutura industrial se dá sob duas maneiras: aumento na demanda da

indústria e no reforço de elementos convenientes da estrutura industrial. Concorrentes

com marca forte e respeitada, ou que investem bastante em propaganda, por exemplo,

podem implicar na criação de imagem positiva, e incremento nas vendas daquela

indústria, situações estas que acarretariam em benefícios e externalidades para a

empresa. A outra maneira é a ênfase dada pelo rival a determinado aspecto, como a

publicidade, que pode ocasionar o estabelecimento de marcas fortes, identificadas e

conhecidas pelo público, ou mesmo ao enfatizar-se a qualidade do produto, podendo

implicar numa redução da elasticidade-preço dos consumidores.

Embora os concorrentes certamente possam representar ameaças, os concorrentes certos podem fortalecer ao invés de enfraquecer a posição competitiva de uma empresa em muitas indústrias. ‘Bons’ concorrentes podem atender vários propósitos estratégicos que ampliam a vantagem competitiva sustentável de uma empresa e melhoram a estrutura de sua indústria. Assim, normalmente é aconselhável uma empresa ter um ou mais ‘bons’ concorrentes (...). (PORTER, 1989, p. 187)

A ajuda no desenvolvimento do mercado decorrente de um concorrente qualificado

emerge sob três fontes, dentre elas estão: promoção da imagem da indústria e ajuda na

padronização ou legitimação de uma tecnologia. O primeiro item se aplica

perfeitamente ao caso do futebol. A presença de um rival forte e com credibilidade entre

a sociedade ajuda a criar uma imagem positiva em torno daquele mercado, algo que

conseqüentemente estimula a sociedade a consumir aquele produto (freqüentar os

estádios, comprar produtos licenciados, etc.), garante aos investidores que as regras e

contratos serão cumpridos, e assegura aos torcedores/consumidores profissionalismo e

coerência por parte dos agentes envolvidos na organização daquele mercado.

Certamente não é interesse de uma firma possuir um competidor que polui o meio-

ambiente, sonega impostos ou utiliza-se de mão-de-obra infantil, pois isso prejudicaria a

imagem da indústria como um todo ainda que esta firma não possua nenhuma relação

com tais situações. No que tange à padronização e legitimação de uma tecnologia, um

concorrente forte pode conseguir melhores resultados com determinada tecnologia e,

por conseguinte, induzir as outras firmas a adotarem a técnica mais eficiente, criando-se

um padrão tecnológico para a indústria. “Os concorrentes podem ajudar no

desenvolvimento do mercado em indústrias emergentes, ou em indústrias onde a

tecnologia do produto ou do processo está evoluindo.” (PORTER, 1989, p. 193).

Os concorrentes certos podem promover a imagem de uma indústria. Companhias estabelecidas com reputações em outros ramos do negócio podem conferir credibilidade a uma indústria, assinalando que ela é legítima e que as promessas feitas serão cumpridas. (PORTER, 1989, p. 194)

2.5.1 Tamanho da firma

A estrutura de mercado de determinada indústria por si só não é capaz de determinar o

padrão de concorrência nem as estratégias adotadas pelas firmas, pois os agentes

econômicos que participam desta (tanto os consumidores quanto os produtores)

possuem papel extremamente relevante. Ao contrário do que expõe a Teoria

Neoclássica da Firma, um mercado oligopolizado ou de concorrência monopolística

pode ser eficiente sob várias formas, e uma delas seria considerar os ganhos de escala

proveniente da existência de uma empresa grande, em oposição à idéia de firma

pequena e de mercado com vários ofertantes. No futebol se torna imprescindível que os

clubes sejam grandes porque esta é a melhor maneira de concorrerem de modo eficiente

e superarem seus adversários, considerando que as características dos pequenos fazem

os mesmos terem grande dificuldade em competir com os clubes maiores. Possuir

considerável patrimônio físico, grande e complexa estrutura, mercado consumidor

(torcedores) amplo, maior exposição na mídia, bom número de torcedores com bom

nível de renda (torcedores situados nas classes A e B de acordo com as regras do

IBGE), marca mais valorizada pelo mercado, etc., são itens que normalmente são

comuns às grandes agremiações futebolísticas e que propiciam maior arrecadação de

recursos por parte destas.

(...) As estruturas de mercado são relevantes, mas não são algo único nem imutável. Tanto podem condicionar, com maior ou menor intensidade, as condutas competitivas e as estratégias empresariais, como podem ser por estas modificadas (...) (KUPFER & HASENCLEVER, 2000, p. 420) Embora o conjunto de formas possíveis de competição seja amplo, englobando preço, habilidade de servir ao mercado, qualidade, esforço de venda, diferenciação de produto e outras, em cada mercado predomina uma ou um subconjunto dessas formas como fatores críticos de sucesso competitivo. As regularidades nas formas dominantes de competição constituem o padrão de concorrência setorial. (FERRAZ, 1995, p. 6)

2.6 PADRÃO DE CONCORRÊNCIA E ESTRATÉGIA COMPETITIVA

O padrão de concorrência e a intensidade desta numa indústria dependem de uma série

de fatores. As cinco forças competitivas influenciam decisivamente neste padrão e nas

taxas de retorno auferidas pelos participantes. Para Porter (1989), as empresas almejam

maior competitividade por se sentirem ameaçadas e pressionadas pelas rivais ou então

por buscarem aumentar lucros e sua fatia de mercado, ou seja; a ambição possui papel

central no processo. O tipo de indústria, o modo como os concorrentes atuam, o tipo de

vantagem competitiva que as empresas possuem, a gestão, o perfil do mercado

consumidor, dentre outros, determinam a maneira como sucede a dinâmica

concorrencial, além é claro das características do próprio sistema econômico, como as

leis, as políticas de fomento, dentre outros. Assim, em mercados caracterizados por

produção e venda em escala, alta elasticidade-preço, e consumidores pouco sensíveis à

diferenciação, por exemplo, as firmas devem adotar estratégias competitivas

condizentes com este cenário, como obtenção de vantagem competitiva nos custos e

marketing realizado por meio de canais de informação com grande alcance popular.

Assim Porter conceitua ‘Estratégia Competitiva’: “Estratégia competitiva é uma

combinação dos fins (metas) que a empresa busca e dos meios (políticas) pelos quais ela

está buscando chegar lá.” (PORTER, 1986, p.16).

A intensidade da concorrência em uma indústria não é uma questão de coincidência ou de má sorte. Ao contrário, a concorrência em uma indústria tem raízes em sua estrutura econômica básica e vai bem além do comportamento dos atuais concorrentes. (PORTER, 1986, p. 22)

A estratégia competitiva adotada é função direta do padrão de concorrência vigente no

mercado, e as três estratégias genéricas são: liderança em custo, diferenciação do

produto e enfoque, que procura combinar os dois aspectos anteriores em função do

produto vendido e que tipo de demanda se busca atingir. Para Porter (1990), produto

diferenciado é aquele que propicia ao consumidor um valor excepcional e superior em

termos de qualidade do produto, serviços de assistência ou características especiais. Já o

menor custo é a capacidade de desenvolver, produzir e comercializar um bem

comparável com o dos seus rivais e com eficiência similar. Qualquer uma das duas

vantagens competitivas acima citadas incorrerá em maior produtividade para a firma. A

estratégia a ser utilizada será em função das especificações e peculiaridades da indústria

em análise, contudo a firma não deve cometer um erro crucial na adoção da estratégia:

ficar encravada no meio de duas estratégias ou usar todas simultaneamente. Esta idéia

relaciona-se com o que Michael Porter chama de âmbito competitivo ou a extensão do

alvo da empresa dentro da indústria, que essencialmente refere-se ao tipo de público que

a empresa pretende vender seu produto e com quais concorrentes quer competir.

Os segmentos são importantes porque têm, freqüentemente, necessidades diversas; uma camisa comum e uma de griffe são ambas as camisas, mas vendidas a compradores com critérios de compra muito diferenciados. (PORTER, 1990, p. 49)

A essência da formulação de uma estratégia competitiva é relacionar uma companhia ao seu meio ambiente. Embora o meio ambiente relevante seja muito amplo, abrangendo tanto forças sociais quanto econômicas, o aspecto principal do meio ambiente da empresa é a indústria ou as indústrias em que ela compete. (PORTER, 1986, p. 22)

O padrão de concorrência no futebol está baseado nos elementos que influenciam no

desempenho e no próprio resultado obtido. Assim, para concorrer de modo superior é

necessário:

a) ter um estádio que otimize receitas e que estas estejam aliadas ao custo fixo e de

manutenção do equipamento;

b) ter planejamento financeiro feito de modo eficiente e profissional;

c) ter infra-estrutura moderna e ampla

d) ter boa política de incentivos para com atletas, comissão técnica e equipe de

apoio, sempre cobrando desempenho mas sempre motivando a superação de

desafios;

e) ter torcida grande, fiel e com bom poder aquisitivo;

f) expandir mercados nacionalmente e, a depender do tamanho do clube,

internacionalmente;

g) realizar planejamento financeiro e estratégico pensando no longo prazo.

“Um padrão de concorrência, por sua vez, corresponde ao conjunto de fatores críticos

de sucesso em um mercado específico.” (FERRAZ, 1995, p. 3).

Equívoco na identificação do concorrente implica numa situação em que o clube

tentaria competir com agremiações superiores e mais competitivas, e muito certamente

não teria o sucesso esperado. No caso oposto (concorrentes inferiores), o clube estaria

subestimando o seu potencial e entrando numa arriscada situação de acomodação,

corroborando negativamente na evolução da agremiação em busca de horizontes

maiores. Como exemplo disto, Vitória e Bahia não tem condições de concorrer com o

Manchester United ou com o Real Madrid, e caso buscassem ter o mesmo desempenho

certamente produziriam dívidas praticamente impagáveis já que não dispõem das

mesmas fontes de receitas nem dos recursos que tais equipes.

2.7 RECEITAS E DESEMPENHO DOS CLUBES

Os recursos financeiros possuem papel decisivo em praticamente todos os setores da

sociedade regida pelas regras capitalistas, e isto não seria diferente no setor

futebolístico. Isto significa dizer que um clube de futebol dificilmente pode ter êxito se

não possuir capital suficiente para realizar seus investimentos e cobrir suas despesas,

algo que se acentua a partir da inserção do futebol em bases mercantis7. As agremiações

que possuem maior volume de recursos apresentam, não por acaso, uma maior

tendência a terem bons resultados8, pois dispor de capital é condição necessária para que

uma série de eventos que influenciarão no resultado jogo aconteça. Após a criação da

Lei Pelé9 e com a cada vez maior internacionalização do futebol, clubes de outros

mercados como Europa, Oriente Médio, Japão, Coréia do Sul, e Rússia, vêm vencendo

a concorrência com os clubes brasileiros no aspecto contratação de jogadores com

elevados salários. As agremiações de tais regiões possuem capital suficiente para retirar

as novas revelações brasileiras do país oferecendo salários superiores aos oferecidos no

Brasil, assim como possuem capital para contratar jovens atletas em ascensão que

estejam atuando no Brasil. Além do aspecto citado, os recursos financeiros são

extremamente relevantes por influenciarem substancialmente em outras questões, tais

como: estrutura física qualificada; construção de um estádio moderno; avançado centro

de recuperação de atletas; salas de musculação; confortável concentração para jogos;

fornecimento de boa alimentação aos atletas; equipe de apoio qualificada10. Enfim, os

recursos financeiros podem proporcionar boa estrutura de trabalho para os atletas.

2.8 INDICADORES ECONÔMICOS E DESEMPENHO

7 A profissionalização do futebol, que se inicia nos anos 80 nos principais clubes europeus e, como se demonstrou no capítulo 1, eleva consideravelmente os valores envolvidos no esporte assim como as barreiras à entrada na indústria futebolística. 8 Como foi dito no capítulo 1, a variável econômica é de grande importância no desempenho de uma equipe, mas deve ser analisada em conjunto com a maneira com a qual o clube é gerido e com a cultura da sociedade em que a agremiação se insere. 9 A popularmente chamada “Lei Pelé”, em homenagem ao seu idealizador, corresponde à Lei Nº 9.615, de 24 de março de 1998. No seu conteúdo está, basicamente, o fim da antiga “Lei do Passe”, de modo que os atletas não são mais “propriedades” dos clubes como um ativo fixo e permanente, e sim, apenas possuem um vínculo contratual com multa de rescisão estipulada em função do salário principalmente. 10 Equipes de apoio são constituídas por profissionais que não se ligam diretamente com a parte técnica dos clubes, quais sejam: médicos, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, dentre outros.

Considerando-se que os recursos financeiros existem em maior ou menor proporção em

determinados locais em função de variáveis ligadas à economia, torna-se primordial

elencar quais são os indicadores que uma economia sinaliza como positivos e relevantes

no que tange à geração de recursos para os clubes de futebol. Estas são as variáveis

julgadas relevantes para a performance de um clube: PIB estadual; renda per capita

(cidade e estado); nível de atividade industrial; taxa de desemprego; concentração de

renda; porcentagem do trabalho informal na economia.

Como se sabe, PIB (Produto Interno Bruto) é a soma de toda riqueza produzida numa

determinada região num determinado período de tempo, e é uma boa maneira de se

mensurar a riqueza produzida. A existência de riqueza é benéfica para os clubes à

medida que cria um círculo virtuoso no futebol da região, pois com maior riqueza há

maior chance de vários fatores positivos envolvidos na aglutinação de recursos

existirem, como por exemplo, a presença de empresas fortes dispostas a associarem sua

marca a alguma agremiação local, ou mesmo um maior número de torcedores e sócios

com poder aquisitivo elevado. O nível de atividade industrial é relevante porque a

indústria é uma grande geradora de recursos para o estado em que está localizada, além

de produzir uma série de externalidades positivas. Isto se evidencia em: maior

arrecadação fiscal, ampliando os recursos do governo estadual e facilitando o

desenvolvimento de parcerias com os clubes11; geração de empregos e serviços diretos e

indiretos para a população local; geração de renda; possibilidade da empresa fazer

parcerias com as equipes locais visando a associar sua marca com as tradições do

estado, e assim criar uma imagem positiva com os habitantes. Todas estas

externalidades e benefícios produzirão, direta ou indiretamente, alguma vantagem para a

agremiação.

A renda per capita também se relaciona com o desempenho clubístico. Com elevada

renda dos habitantes de uma região, a venda de produtos licenciados tende a ser maior, é

possível que ingressos mais caros sejam cobrados, a receita gerada no estádio em dias

11 Existem alguns estados que desenvolvem parcerias e projetos com os clubes de futebol, como por exemplo: o Governo do Rio de Janeiro patrocina os clubes cariocas da 1ª divisão do Campeonato Brasileiro; o Governo de Pernambuco desenvolve um programa em que cada R$100,00 em notas fiscais podem ser trocados por um ingresso de uma partida da Série A, e em contrapartida os clubes recebem compensação financeira do Estado; o Governo do Rio Grande do Sul patrocina desde 2004 o Grêmio e o Internacional através do Banrisul, banco de propriedade deste estado.

de jogos tende a ser maior, empresas dispostas a realizarem parcerias são mais

facilmente atraídas, enfim, um mercado consumidor forte alavanca a arrecadação de

recursos para as agremiações. Esta lógica é válida tanto para a renda per capita da

cidade quanto do estado, sendo que neste caso estar numa cidade rica é mais importante.

Situar-se num estado com alta renda per capita significa estar num estado com bom

potencial de riquezas, incorrendo em maior facilidade de obtenção de firmas para

parcerias, além do que os habitantes não residentes na cidade do clube são potenciais

torcedores pelo sentimento de pertencerem a uma mesma região, entendendo o clube do

estado como um elemento da cultura local. Isso gera um círculo virtuoso, pois uma

cidade forte economicamente propicia a existência de um clube competitivo,

aumentando a base de torcedores devido ao bom desempenho em campo do time de

futebol, e assim captando mais e mais torcedores pelo interior do estado.

Taxa de desemprego e nível de atividade informal na economia relaciona-se

inversamente com desempenho dos clubes. Desemprego elevado e informalidade

acentuada numa região implicam em mercado consumidor reduzido e/ou com pouca

renda, ocasionando maior dificuldade para o clube vender ingressos mais caros, oferecer

serviços de melhor qualidade, possuir uma demanda mais uniforme durante o ano e

menos elástica, vender produtos licenciados, carnês para sócios, etc. O mesmo

raciocínio se aplica às localidades em que há elevada concentração de renda, tendo em

vista que isto significa redução das possibilidades de consumo da maioria da população

e, como no caso do futebol ter poucos torcedores/consumidores é desinteressante, todas

as dificuldades enfrentadas pelos clubes no caso de desemprego elevado repetem-se

num cenário de renda concentrada. Portanto, não basta que os torcedores sejam

fanáticos e apaixonados pela sua agremiação, pois caso estes não possuam razoável

nível de renda para o consumo de sua paixão esta se torna puramente emocional e pouco

aproveitável sob a lógica comercial.

3 FUTEBOL: SUA IMPORTÃNCIA ECONÔMICA E SOCIAL

3.1 EVOLUÇÃO E HISTÓRIA

O futebol é considerado o esporte mais popular do mundo, tendo grande número de

praticantes em todos os continentes do planeta. Para se ter idéia desta popularidade,

existe mais nações filiadas à FIFA (Federação Internacional de Futebol Association),

entidade máxima do futebol, do que a ONU (Organização das Nações Unidas),

evidenciando o quão disseminado entre os países é a prática do futebol. Segundo Proni

(2000), a origem desse esporte é difusa, mas é possível afirmar que na Itália do século

XVI, mais especificamente em Florença, surgiu a versão mais incipiente do que se

chama de “Futebol moderno”; o Calccio. Este jogo caracterizava-se pela violência com

que era praticado, pela falta de regras claras e universais, pela limitação da prática aos

nobres, e por ter objetivo semelhante com o futebol atual: fazer a bola passar por uma

trave, que poderia ser até mesmo o portão da cidade12. Contudo, foram os britânicos,

em meados do século XIX, que deram um caráter “racional” ao futebol, criando regras e

estabelecendo campeonatos com freqüência definida. Com grande representatividade

político-econômica naquela época, o jogo criado pelos ingleses tendia naturalmente a se

espalhar para outras partes do planeta, à medida que estudantes de várias regiões do

mundo iam estudar na “Terra da Rainha” além de haverem muitos países de colonização

britânica no século XIX. (PRONI, 2000)

Inicialmente, o jogo de futebol era algo restrito às classes mais abastadas, pelo menos

no Brasil e na Inglaterra, pois conferia “status social”, ajudaria a “modelar” o caráter,

estimularia a vontade de vencer e o cavalheirismo, isto é: este esporte se distinguiria de

um jogo qualquer em que as trapaças e a busca desmedida pela vitória seriam a tônica.

Assim, passou a ter forte ligação com a moral e com valores éticos, surgindo a

expressão fair play, que em português significa jogo limpo. (PRONI, 2000). Com o

decorrer dos anos, esse esporte veio ganhando adeptos, mas somente nos anos 20 e 30

12 Na época medieval as cidades possuíam portões enormes com o intuito de prevenir-se contra ataques bárbaros ou de povos inimigos.

do século XX foi se tornando, no Brasil, “o jogo das massas”, incluindo assim negros,

pobres e mestiços na prática do jogo. A simplicidade das suas regras, a inexistência de

biótipos específicos para praticá-lo, e o baixo custo na compra do material provocaram

rápida aceitação dos indivíduos em relação ao jogo (AIDAR, 2002). No caso da

Inglaterra, tal popularização se verificou anteriormente, até mesmo pelo fato do jogo ter

sido criado na Grã-Bretanha.

(...) precisamos ponderar que, se no século XIX o futebol era visto como uma manifestação cultural ‘civilizada’, portadora dos valores de uma elite social, no século XX passa a ser entendido como uma modalidade esportiva propícia ao lazer popular e ao entretenimento das massas urbanas. (PRONI, 2000, p. 37)

O futebol no Brasil tem surgimento mais tardio que na Grã-Bretanha, havendo registro

da criação de alguns clubes já na última década do século XIX, com um número muito

mais significativo de clubes sendo fundados no início do século XX13. Os primeiros

clubes brasileiros possuem origem elitista ou foram formados por descendentes de

algum povo, como a colônia portuguesa sediada no Rio de Janeiro, fundadora do Vasco

da Gama. Por último, vale ressaltar que a maioria desses clubes foram fundados para

praticar-se não somente o futebol, e sim outros esportes de preferência das elites, como

o remo e o cricket.

Pereira (2003) diferencia a origem dos clubes no Brasil e na Inglaterra, atribuindo

relação com o modo como foram formados e como estes foram (e muitos ainda são)

geridos:

Os clubes de futebol no Brasil, diferentemente da Inglaterra, não nasceram com uma proximidade a instituições que tivessem um mínimo de preocupação com a gestão. Enquanto na Inglaterra o futebol, e conseqüentemente os clubes de futebol, foram fundados a partir de

13 Dentre estes clubes, encontram-se o Flamengo – RJ (1895), o Vasco da Gama – RJ (1898), o Vitória – BA (1899), a Ponte Preta – SP (1900).

empresas/indústrias, como uma atividade de lazer para os operários, no Brasil os clubes foram fundados como associações esportivas sem nenhuma ligação com organizações empresariais. (PEREIRA, 2003, p. 220)

Na Bahia, o primeiro clube a ser criado foi o Esporte Clube Vitória, no dia 13 de maio

de 1899. A sua origem liga-se à aristocracia baiana, que se inseria numa cidade ainda

com traços coloniais embora já possuísse alguns sinais de urbanização e

desenvolvimento nos bairros mais nobres (linhas de bonde, luz elétrica, serviço de água

nas casas, etc.). O financiamento dos gastos com o clube era feito pelos sócios, pessoas

ricas e pertencentes à elite local, situação esta que se verificava em muitos clubes do

Brasil e não apenas no Vitória. Este clube foi criado para a prática de esportes que

atendiam ao gosto das classes mais altas, como o cricket e o remo, sendo que o futebol

foi mais um dos esportes em que o clube competia e não a “razão social” da criação do

clube. O Esporte Clube Bahia foi fundado no ano de 1931 e, juntamente com o Vitória,

maior rival na atualidade, possui a preferência da maioria dos torcedores baianos.

(...) o Vitória foi fundado por jovens de famílias aristocratas de Salvador (...) e a escolha do nome se deveu justamente ao local onde aconteceu a reunião de fundação do clube, no Corredor da Vitória, uma avenida tradicional da capital baiana, na época formada basicamente por casarões, onde residiam os soteropolitanos de maiores posses. (PEREIRA, 2003, p. 208-209)

3.2 A ERA DO FUTEBOL NEGÓCIO

A grande popularização do jogo foi, gradativamente, metamorfoseando o “modelo” de

futebol, que foi se inserindo sob a lógica de consumo mercantil e o tornando numa fonte

de negócios e de produção de fortunas. O futebol foi, dessa forma, se transformando de

um esporte amador para chegar ao que hoje se convencionou chamar de “futebol-

negócio”. O papel da mídia foi fundamental na disseminação do jogo, mediante a

propaganda, produção de informações e a transmissão desse esporte via rádio, jornal e,

mais tarde, televisão e internet contribuíram marcantemente neste fenômeno. Segundo

Aidar (2002), esta fase se inicia na Europa, nos anos 80, período em que o esporte

torna-se um negócio institucionalizado, se caracterizando pelo profissionalismo que

permeia suas relações e pelos elevados valores transacionados neste mercado.

O fenômeno do futebol como business, negócio institucionalizado, é, (...) muito mais recente. A transformação dos clubes, de associações sem fins lucrativos em empresas comerciais, notadamente na Europa, ocorreu nos anos de 1980 e 1990, culminando com o fenômeno eminentemente financeiro de colocação de ações de clubes de futebol em bolsas de valores. (AIDAR, 2002, p. 136-137)

Os interesses empresariais cresceram exponencialmente no esporte em análise,

evidenciados pelos cada vez mais vultosos valores envolvidos em direitos de

transmissão, patrocínio, salários, passes de atletas, estádios modernos com preços de

ingressos elevados, e uma enorme evolução no marketing esportivo, que permite aos

clubes auferirem altas quantias das mais variadas formas. Como exemplo dessa nova

fase denominada de “futebol-negócio”, o lucro da FIFA na organização da Copa do

Mundo vem crescendo significativamente, assim como os resultados financeiros desta

entidade. Ao se analisar os valores dos direitos de transmissão desse campeonato

percebe-se que estes assumem quantias cada vez mais estratosféricas, como mostra a

TABELA 1.

TABELA 1

Ano Sede Valor dos direitos de

transmissão (Em US$ milhões)

1982 Espanha 30

1986 México 40

1990 Itália 76

1994 Estados Unidos 88

1998 França 184

2002 Japão e Coréia do Sul 1.040

2006 Alemanha 1.200

Fonte: PRONI, 2000, p. 78

Esta citação demonstra a grandiosidade dos números movimentados pela FIFA:

A FIFA deixou de ser simplesmente uma federação esportiva internacional. Hoje ela detém o monopólio de um negócio cujos valores vêm se multiplicando. O Mundial de 1998 teve um faturamento de US$ 500 milhões e um lucro bruto de US$ 100 milhões. Só os direitos de transmissão das Copas de 2002 e 2006 deverão render aos comitês organizadores mais de US$ 2,3 bilhões. Somando-se aos contratos de patrocínios e licenciamento, as receitas previstas para a FIFA até 2006 giram em torno de US$ 4 bilhões. (PRONI, 2000, p. 77)

Os clubes mais rentáveis do mundo e que possuem maiores receitas são os europeus.

Conforme Pereira (2003), na temporada 1997/1998, o Manchester United, da Inglaterra,

obteve um faturamento de US$ 136,5 milhões; o Barcelona, da Espanha, de US$ 91,5

milhões; o Real Madrid, também espanhol, de US$ 86,5 milhões; e o Juventus, da Itália,

faturou US$ 82,5 milhões. Os clubes latino-americanos estão em um patamar financeiro

inferior aos clubes europeus, e essa diferença cresceu significativamente após a entrada

do esporte em definitivo na era do “futebol-negócio”.

Os fatores econômicos, preponderantemente, favorecem a posição privilegiada do

futebol europeu. Existem motivações de outra ordem, como o pioneirismo desses clubes

em tratar o futebol não mais de modo amador, e sim da maneira mais profissional

possível. Há também a maior facilidade de obter significativo espaço na mídia

internacional, tendo em vista que o maior desenvolvimento econômico da Europa em

relação à América Latina incorre numa maior exposição mundial dos fatos ocorridos

naquele continente. Há também causas de natureza administrativa, existindo maior

profissionalização do futebol neste continente inclusive com alguns clubes negociando

aços em bolsas de valores a partir da década de 90.

As vendas de jogadores assumem valores cada vez mais vultosos, os salários dos atletas

crescem exponencialmente, as rendas de publicidade auferidas pelos clubes crescem

anualmente, e os direitos de transmissão das partidas equivalem a cifras nunca vistas

anteriormente. Segundo Proni (2000), no ano de 1999 as dez maiores contratações feitas

por equipes européias, somadas, foram equivalentes a US$ 300 milhões, ao passo que

na temporada 1998/99 os clubes italianos da Série A despenderam, conjuntamente, US$

495 milhões com salários e premiações.

O futebol, que é o esporte mais popular no Brasil e no mundo, tem uma presença considerável na Economia, pois em seu ciclo circulam milhares de reais (...). O merchandising envolvido neste esporte pode ajudar as empresas a divulgarem seus negócios. (SERRA, 1996, p. 14)

Ainda segundo Proni (2000), os direitos de transmissão da temporada 1996/1997 da

Premier League, a primeira divisão do campeonato inglês de futebol, foram vendidos

por US$ 270 milhões, enquanto que a receita bruta dos times ingleses daquele período

foi de US$ 766 milhões.

TABELA 2

Faturamento dos clubes europeus relativos a direitos de transmissão na temporada 96/97

Países Valor (em milhões) Nº de

clubes Média por clube

Inglaterra (Premiership) £ 464.000,00 20 £ 23.200,00

Itália (Série A) £ 377.000,00 18 £ 20.944,44

Espanha (PrimeIra Liga) £ 232.000,00 20 £ 11.600,00

França (Division One) £ 209.000,00 20 £ 10.450,00

TOTAL £ 320.500,00

Fonte: Delloitte & Touche Annual Review of Football Finance/1998 (dados relativos à 1996/1997)

3.2.1 Grandes empresas e o futebol

A relação de grandes empresas internacionais com o futebol é cada vez mais expressiva

e estreita. A exposição da marca de uma multinacional na camisa dos clubes é um

exemplo disso, embora hoje em dia esta prática seja uma estratégia de marketing que é

muito mais ampla do que apenas expor a marca numa mídia valorizada. As empresas

pagam aos clubes para terem exclusividade na venda de produtos no estádio, para que

seu nome seja visualizado no banner 14 e nos sites das equipes, ou mesmo para adquirir

os direitos para poder associar a marca do clube a algum produto vendido pela empresa.

O valor pago pela colocação de placas de publicidade nos estádios em torneios como a

Copa do Mundo, a Copa dos Campeões da Europa, e a Taça Libertadores da América,

atingem valores crescentes a cada contrato que é firmado. Para se ter uma idéia disto, na

Copa do Mundo de 2006, as receitas da FIFA com placas publicitárias foram

equivalentes a US$ 174.268.629,00, distribuídos entre 15 patrocinadores oficiais. 15

Os custos fixos e variáveis para a manutenção de clubes de futebol cresciam exponencialmente. Liderados por salários, prêmios e passes, atingiram uma espiral inflacionária sem precedentes, enquanto as receitas se mantinham mais ou menos fixas. O marketing entrou, então, como uma forma reativa de o futebol fazer frente aos custos que ele mesmo inflou. (AIDAR, 2002, p. 137)

O campeonato de futebol de 1996 dos Estados Unidos foi transmitido ao vivo pela

ESPN e pela ABC16, e teve como empresas patrocinadoras a Kelloggs, a AT&T e a

Budweiser, dentre outras, além de ter recebido investimentos de fortes patrocinadores

esportivos como Nike, Puma, Reebok, Adidas e Umbro (PRONI, 2000). A dimensão

14 ‘Banner’ é um painel localizado na sala de imprensa com o nome do clube e das empresas patrocinadoras. O banner situa-se, não por acaso, atrás dos jogadores, diretores e comissão técnica das equipes, de modo que quando os mesmos concedem entrevistas à imprensa aparecem as marcas do clube e dos patrocinadores na televisão. 15 Fonte: Site oficial da FIFA – Relatório Financeiro (Acessado em 03/12/2006). 16 ESPN e ABC são duas das principais redes de televisão dos Estados Unidos. A ESPN é especializada na transmissão de esportes ao vivo, tendo o seu sinal obtido apenas em TV paga. A ABC (American Broadcasting Company) está entre as três emissoras de TV mais importantes dos EUA, exibindo programas de diversos conteúdos e possuindo enorme audiência neste país.

atual deste esporte para grandes empresas é enorme, pois elas vêem nesta atividade uma

boa forma de dar visibilidade à marca e associá-la a algo com grande aceitação social.

Grandes organizações como Coca-Cola, Adidas, Gillette, Toshiba, Philips, e

Continental, todas elas grandes multinacionais, investiram elevados recursos para serem

patrocinadoras oficiais do Mundial de 2006 realizado pela FIFA.

Sendo o futebol o esporte mais popular do mundo, esse naturalmente foi se

metamorfoseando em acordo com as forças do mercado e se transformando em produto,

visto que a enorme demanda existente por esse produto é um grande atrativo para o

modo de consumo capitalista. Obviamente que o futebol possui enorme conteúdo de

paixão e desperta os mais diversos sentimentos nos indivíduos, tanto aqueles ligados à

tristeza e outros relacionados à felicidade. Assim, embora esteja organizado a partir de

uma estrutura mercantil em que os profissionais envolvidos na atividade são

remunerados, o futebol tem como essência ser um jogo que mexe com o lado emocional

dos seres humanos, e é isso que engendra o funcionamento desta indústria.

A disputa de um jogo de futebol é apaixonante. Espectadores de qualquer origem cultural ou social comportam-se das formas mais esdrúxulas durante um jogo. A interação entre os atores dentro do campo e os espectadores é enorme, seja na geral, seja nas tribunas de honra. (AIDAR, 2002, p. 115-116)

3.3 ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DO ESPORTE NA EUROPA E NO BRASIL

A estrutura do futebol europeu é extremamente propícia para a obtenção de elevadas

receitas e lucros por uma série de fatores, primordialmente pelo estágio superior de

desenvolvimento econômico das nações européias. Dentre os outros fatores estão: os

campeonatos nacionais ocorrem sempre num mesmo período há vários anos e com o

mesmo sistema de disputa; as regras de acesso e descenso funcionam efetivamente; a

forma de disputa do campeonato é clara, de fácil entendimento pelo público, e funciona

sem alterações de caráter promíscuo; há profissionalismo na organização e promoção do

espetáculo; os estádios onde os jogos são realizados são modernos e, assim, há maior

interesse dos torcedores em freqüentá-los. Tanto os campeonatos europeus interclubes

como os torneios nacionais possuem estas mesmas características.

A organização da Premier League inglesa é, de longe, muito mais eficiente e eficaz que a do campeonato Brasileiro. O mesmo vale para a Copa dos Campeões da Uefa quando comparada com o seu correspondente sul-americano, a Copa Libertadores. (AIDAR, 2002, p. 139)

Na América do Sul, a estrutura obsoleta e pouco transparente da entidade responsável

por organizar o esporte na região, a Confederação Sul-americana de Futebol (CSF),

também prejudica os clubes, assim como a não integração do calendário futebolístico na

América Latina ao contrário do que ocorre na Europa. A Taça Libertadores da

América17, torneio de maior importância no continente, dura apenas cinco meses,

enquanto que a Copa dos Campeões da UEFA18 é disputada entre oito e nove meses do

ano, gerando assim maior receita em função da maior duração. A pouca integração entre

os clubes sul-americanos favorece este quadro, de modo que há pouco intercâmbio de

jogadores entre os clubes deste continente e os campeonatos nacionais não são

transmitidos e divulgados para os países desta região.

O futebol brasileiro possui extremas dificuldades em competir com o futebol europeu,

sendo que coexistem questões ligadas ao subdesenvolvimento econômico local e outras

ligadas à má gestão dos clubes, da CBF19 e das federações, o que resulta em

campeonatos mal organizados e pouco rentáveis. No Brasil o calendário futebolístico

começa em janeiro, sendo que antes do campeonato nacional ter início são disputados os

campeonatos estaduais. Tais campeonatos, inexistentes na Europa, em geral são

extremamente deficitários, com jogos fracos, pouco público nos estádios, parcas

receitas, e pouca ou nenhuma visibilidade internacional. Assim, os clubes grandes do

17 A Taça Libertadores da América é um torneio disputado pelos clubes sul-americanos segundo a colocação nos campeonatos nacionais e, desde 1997, equipes mexicanas também a disputam. Este campeonato é o mais rentável e importante do continente. 18 Copa dos Campeões é o principal torneio entre clubes da Europa e do mundo. Somente clubes europeus o disputam, sendo classificados segundo o desempenho nos campeonatos nacionais. A UEFA (União Européia de Futebol Association) é a entidade responsável por organizar todos os campeonatos entre clubes e nações do continente europeu. 19 CBF é a sigla para Confederação Brasileira de Futebol, entidade presidida pelo Sr. Ricardo Teixeira desde 1989.

Brasil20 carecem de maiores receitas durante, aproximadamente, os quatro primeiros

meses do ano, e enfrentam, por conseguinte, problemas ligados à oscilação da receita,

algo que se acentua nas equipes que não são dos estados mais ricos do Brasil. O espaço

na mídia nesse período é indubitavelmente menor para as agremiações não pertencentes

ao eixo Rio - São Paulo. Como as competições são regionais e as principais emissoras

de televisão do país situam-se nesses estados, há uma tendência da mídia em dar maior

espaço para os torneios do Rio de Janeiro e de São Paulo.

O espetáculo esportivo moderno necessita de estádios e arenas esportivas que possam receber o público com todo o conforto e segurança. Isso inclui horário dos jogos, venda antecipada de ingressos, estacionamento no local, boas condições de transporte e de trânsito e calendário bem organizado. Os estádios esportivos modernos são praticamente inexistentes. Será necessário aumentar o investimento nessa área, construir novos estádios e arenas multiuso e reformar os existentes para que o Brasil possa melhorar as condições de geração de receitas para os clubes. (MELO, 2006)

O modo de organização do Campeonato Brasileiro e a estrutura interna do futebol no

Brasil historicamente sempre possuíram uma série de falhas que contribuem para a

inferioridade dos clubes locais em comparação com os europeus, como:

a) Mudanças no regulamento21 para beneficiar certos times,

desmoralizando o campeonato e as regras, além de retirar a credibilidade

do esporte perante os torcedores e patrocinadores;

b) Modificações anuais nos sistemas de disputa22;

c) Estádios desconfortáveis e inseguros;

d) Alterações nas datas dos torneios e dos jogos;

20 Entende-se por clubes grandes aqueles que possuem maior torcida, tradição, atenção da mídia e recursos, como Cruzeiro - MG, Atlético – MG, Atlético – PR, Flamengo-RJ, São Paulo – SP, Corinthians – SP, Grêmio – RS, Internacional – RS, Vitória – BA, Bahia – BA, dentre outros clubes também grandes e que habitualmente disputam a primeira divisão do Campeonato Brasileiro. 21 Tais mudanças ocorreram, por exemplo, em 2000, quando Bahia e Fluminense-RJ disputaram a Série A do Campeonato Brasileiro sem ter conseguido o índice técnico necessário no ano anterior para ascender da Série B para a Série A. 22 Somente em 2004 o campeonato passou a ter a mesma fórmula do ano anterior, algo que continua até o ano de 2007. Entre 2003 e 2007 o sistema de disputa do campeonato foi o de “pontos corridos”, como é na Europa, e em 2008 esta fórmula será mantida.

e) Campeonatos são criados e desfeitos aleatoriamente, impedindo

que os mesmos se tornem importantes e entrem nas preferências dos

torcedores;

f) Horários inconvenientes das partidas, como 21h45min no meio de

semana, ou 15:00h nos finais de semana na vigência do horário de verão,

isto é, sob altas temperaturas, demonstrando total falta de respeito como

os atletas e torcedores e produzindo um jogo de menor qualidade técnica.

3.4 FONTES DAS RECEITAS DOS CLUBES

A origem das receitas dos clubes é muito diversa em função da especificidade de cada

entidade, dos torneios que este disputa, e da localização geográfica deste (regiões mais

ou menos favorecidas economicamente). Basicamente, é possível dividir as origens

desses recursos em oito categorias, quais sejam: direitos de transmissão dos jogos;

patrocinadores; bilheteria e merchandising; loterias; licenciamento de produtos e placas

de publicidade no estádio; sócios; venda de atletas; cotas pagas pelas federações quando

da conquista de títulos. (AIDAR, 2002). Os que possuem maiores recursos são os clubes

pertencentes ao G-14, grupo que congrega os catorze maiores clubes europeus.

É fato aceito e já justificado que o esporte é hoje um negócio e como tal deve ser encarado e tratado: o esporte é um bom negócio porque movimenta no Brasil R$31 bilhões por ano, representando 3,3% do PIB; isto é, três vezes maior que o mercado publicitário; o esporte ocupa o quarto lugar na indústria nacional. (CARVALHO, 2002)

Segundo Aidar (2002), antigamente as maiores fontes de receitas provinham quase que

exclusivamente das rendas de bilheterias. Essa situação vem se modificando devido à

tendência dos clubes diversificarem as fontes de receitas e, assim, as rendas de

bilheterias ficam com menor participação, ainda que possam ser majoritárias a depender

do clube. Na Europa, as receitas de bilheterias possuem grande participação no total em

caso de clubes grandes, como o Manchester United, da Inglaterra, em que 34% das

receitas eram provenientes desta fonte na temporada 1997/98, o que equivale à maior

parcela. (AIDAR, 2002). De acordo com Pereira (2003), nos grandes clubes europeus a

receita com bilheteria equivale à maior parcela dos recursos, ou pelo menos possui fatia

considerável, enquanto que, em média, a receita originária dos direitos de transmissão é

maior.

No caso brasileiro, os clubes possuem uma grande dependência das receitas das

emissoras de televisão, isto é, do valor pago pelos direitos de transmissão das partidas,

pois diversos fatores contribuem para que as receitas de outras fontes não sejam

significativas. A TABELA 3 deixa claro que a média de público no Brasil é inferior aos

maiores centros do futebol europeu.

TABELA 3 - Média de público por país

TEMPORADA Alemanha Espanha França Inglaterra Itália Brasil

2000/2001 30.755 24.408 22.913 32.907 31.000 11546

1999/2000 28.476 26.814 19.728 27.915 29.800 17.018

1998/1999 31.098 29.236 25.803 30.331 31.500 13.487

1997/1998 27.247 28.871 24.009 29.020 30.000 10.441

1996/1997 28.501 31.000 23.489 28.434 29.400 10.913

Média 29.215 28.066 23.188 29.721 30.340 12.681

Fonte: PEREIRA, 2003, p. 147

3.4.1 O estádio como forma de otimizar e diversificar as receitas

Os parques parados no tempo estão paulatinamente se afastando do público consumidor disposto a pagar mais por uma emoção diferenciada. Quem se dispõe a gastar mais, quer um lazer compatível com este acréscimo marginal de consumo. (PEREIRA, 2003, p. 187)

Atualmente os grandes clubes valorizam cada vez mais possuir um estádio próprio e

moderno. Quanto mais diversificado e melhor for o serviço oferecido ao torcedor, tanto

dentro do estádio quanto no acesso ao mesmo, maiores serão as receitas geradas, as

quais podem se originar das seguintes fontes: ingressos mais caros (somente são

possíveis caso seja oferecido conforto ao torcedor e este tenha renda disponível);

existência de uma loja do clube que comercialize produtos licenciados; camarotes caros

e extremamente confortáveis; comercialização de bebidas e alimentos; oferta de tour

pelo estádio nos dias em que não houver jogos; museu do clube dentro do estádio com

cobrança pelo acesso; exploração do estacionamento de modo comercial; aluguel do

estádio para a realização de grandes shows e festivais. Há uma tendência no futebol

moderno de associar o nome do estádio do clube ao nome de uma grande empresa, que

teria inclusive participação na cessão dos recursos na construção da praça esportiva23.

Como exemplos disto, há o Phillips Arena, do PSV Eindhoven - HOL, o Emirates

Stadium, de propriedade do Arsenal – ING, e no Brasil há a Kyocera Arena, do Atlético

Paranaense.

O estádio do Atlético Paranaense, a Kyocera Arena, segue a tendência internacional de aliar marketing e serviços ao esporte. Os ingressos custam de 30 a 100 reais, e a ocupação média anual é de 50%. (ATHAYDE, 2007, p. 51)

3.5 O FUTEBOL BAIANO E SUA INSERÇÃO NO CENÁRIO BRASILEIRO

A estrutura do futebol baiano compõe-se de dois clubes considerados “grandes”, quais

sejam Vitória e Bahia. A posição das duas agremiações é explicada pelo maior número

de participações destas equipes nas decisões de campeonatos baianos, pelo maior

número de torcedores que possuem, por terem estrutura física em muito superior ao ser

comparada com outros clubes baianos, e por historicamente terem obtido melhor

desempenho em campeonatos nacionais do que os outros times da Bahia.

23 Tal participação pode ser total, parcial ou, como no caso do Atlético-PR, nenhuma, inclusive porque à época da construção da Arena a Kyocera não era patrocinadora da agremiação.

O cenário macroeconômico do estado da Bahia contribui para o insucesso dos clubes

situados na Bahia. Problemas como renda concentrada e altos índices de desemprego

implicam numa diminuição do mercado consumidor, isto é, dos torcedores-

consumidores. Dessa forma, o número pouco expressivo de pessoas com renda

disponível para consumo é desfavorável para as equipes baianas. Logo, os clubes

baianos dispõem de menor receita oriunda dos torcedores que os clubes de outras

localidades brasileiras, sem mencionar os clubes de outras cidades ricas da Europa, em

que a renda dos torcedores é extremamente superior ao comparar-se com a dos

torcedores baianos e brasileiros.

O resultado deste processo é o surgimento de um círculo vicioso, em que a totalidade

dos problemas econômicos locais resulta numa escassez de recursos para as equipes. O

valor econômico dos clubes se deprecia, tornando menos atrativo para as empresas

investirem nestes clubes, que por sua vez terão sempre dificuldades em competir com as

equipes dos centros mais ricos do Brasil. Por sua vez, as possibilidades de explorar a

marca do clube tornam-se menores em função deste cenário macroeconômico adverso,

tendo em vista que as estratégias de marketing utilizadas pelas agremiações objetivam

estreitar a relação do torcedor com o clube e gerar um fluxo de renda deste para a

instituição; no entanto, caso esse torcedor não disponha de renda para consumir,

independente de que produto seja, certamente tal fluxo de renda fica muito mais difícil

de ocorrer. Além disso, torcida pequena e/ou com baixo poder aquisitivo é um fator

desestimulante para as empresas ao decidirem investir em certo clube, pois equipes com

estas características têm uma imagem menos valorizada pelo mercado e são

consumidores com menor potencial.

3.6 VANTAGENS COMPETITIVAS NO FUTEBOL

As vantagens competitivas, sua aplicabilidade e correlação com o futebol, residem em

fatores que potencializam um clube a se tornar mais ou menos competitivo que os

outros. Tais vantagens expressam-se sob diversas formas, como: a existência de um

moderno centro de recuperação de jogadores, como possui o São Paulo Futebol Clube24;

ter os mais competentes profissionais especializados na preparação física (preparadores

físicos), recuperação física dos atletas (fisiologistas), psicólogos especializados no

esporte; possuir estádio gerador de lucros elevados, tanto através de receitas de

bilheterias, como venda de bebidas, alimentos, produtos licenciados e estacionamento

para os torcedores25; possuir gerentes de futebol, atribuindo um caráter técnico-

profissional às decisões ligadas ao futebol, antes tomadas pelo presidente do clube, e

agora tomadas por um profissional especializado na atividade; a existência de um

departamento de marketing criativo, inovador e que saiba explorar ao máximo a marca

do clube, obtendo o máximo possível de receita e divulgando-a em vários países;

possuir uma torcida fiel, apaixonada, grande e, principalmente, com bom poder

aquisitivo.

3.7 ADMINISTRAÇÃO DOS CLUBES

É primordial ressaltar que, de modo geral, problemas administrativos também possuem

grande relação com o insucesso de clubes de futebol. Uma boa administração é

fundamental, ainda mais na Era do futebol-negócio, para um bom desempenho da

equipe em campo. A gestão moderna dos clubes de futebol significa a delegação de

poderes para gestores especializados, em vez de centralizar o poder nas mãos de um

dirigente responsável por tomar as mais variadas decisões, algo historicamente comum

no Brasil, mas que vem mudando gradativamente em algumas equipes que, não por

acaso, possuem melhor desempenho. A citação abaixo critica o modelo gerencial do

futebol brasileiro e dos seus afiliados:

A responsabilidade pela precária situação financeira é, em grande medida, atribuída pela forma de gestão dos clubes, que ao contrário do que acontece em alguns países da Europa, é totalmente amadorística, e à conjuntura econômica e social do país. (PRONI, 2000, p. 155) Mesmo tendo vencido cinco campeonatos mundiais e considerado o melhor futebol do mundo, a sua organização profissional ainda patina com vários

24 Em 2005 foi inaugurado o REFIS, centro de recuperação de atletas situado entre os mais modernos e avançados de todo o mundo. 25 O clube pode licenciar tais atividades para que uma empresa privada as realize. Como exemplo, No Morumbi, estádio do São Paulo Futebol Clube, a rede de fast food Habib’s explora o setor de venda de alimentos nos dias de jogos.

problemas estruturais e não consegue estabelecer uma base gerencial que possa se igualar ao enorme talento de seus jogadores. (MELO, 2006)

Elementos simples como o pagamento de salários e prêmios por vitórias em dia, a

contratação de gerente para as áreas de: futebol, marketing, financeira, dentre outras, e a

existência de um ambiente tranqüilo e estável para os profissionais trabalharem,

certamente são componentes de uma administração eficaz. Tais práticas são básicas para

clubes que pretendem serem vencedores, ainda que no Brasil os grandes clubes somente

há poucos anos passaram a adotar esses procedimentos. Isso se verifica ao se

acompanhar as notícias sobre futebol nos meios de comunicação, pois não raras vezes

nos clubes brasileiros ocorrem situações como; atraso de salários; contratação de atletas

e o não pagamento ao clube de origem do valor previamente acordado; profissionais que

não respeitam a hierarquia administrativa e tomam decisões que não seriam de sua

competência; presidentes de clubes que adotam práticas amadoras e comportamentos

não condizentes com sua posição. Enfim, uma série de atitudes e práticas que

certamente explicam a má situação financeira de muitos clubes brasileiros.

Na década de 30 do século XX, a solução encontrada para resolver a crise do futebol brasileiro foi a profissionalização dos jogadores. No início do século XXI é a profissionalização dos dirigentes e a adoção de um modelo empresarial que resguarde a história dos clubes e permita a sua modernização gerencial. (MELO, 2006)

4 ASPECTOS ECONÔMICOS E DESEMPENHO DOS CLUBES BAIANOS

4.1 RELACIONAMENTO COM TORCEDORES

O relacionamento com os compradores pode, muitas vezes, ser decisivo para o

desempenho da firma. Segundo Porter (1986), os compradores não necessariamente

terão um perfil homogêneo, podendo diferir em aspectos como volume de compras,

fidelidade à marca, renda, nível de educação, nível de exigência quanto à qualidade, e

potencial de crescimento. Escolher compradores-alvo se torna estratégico para o sucesso

da empresa, mas no caso dos clubes de futebol isto não é tão simples porque um mesmo

clube possui torcedores dos mais variados níveis sociais e com padrões de exigências

distintos. É imprescindível tratar o torcedor com cordialidade e respeito, buscando

oferecer conforto e comodidade para que o torcedor se mantenha fiel e satisfeito com o

clube. Ademais, criar mecanismos que mantenham e aumentem a paixão do torcedor

pelo clube é importante porque a motivação emocional e subjetiva dos torcedores é o

que os faz demandar os produtos e serviços do clube, e não uma motivação de caráter

mercantil entre ofertantes e consumidores. “Quando se deixa de considerar essa ligação

primária entre torcedor e clube, o poder da torcida pode perder a intensidade,

acarretando uma perda do valor global do mercado futebolístico.” (AIDAR, 2002, p. 92)

Realizar a ‘Seleção de compradores’ entre os torcedores do Vitória e do Bahia é difícil,

pois cada segmento tem vantagens . Em geral, a parcela da torcida que possui menor

renda apresenta menor disposição a pagar por conforto, serviços especiais, e produtos

diferenciados dentro do estádio, além de disporem de menos renda para aquisição de

produtos licenciados e pacotes de Pay-Per-View26. No entanto, esta parcela da torcida é,

em geral, mais fiel ao clube, é fundamental no crescimento da torcida no longo prazo, e

freqüenta jogos mesmo quando o clube está mal ou quando o jogo é ruim. A solução

seria promover uma seleção dos produtos e serviços oferecidos aos torcedores em

função da sua renda e da sua disposição a pagar, principalmente nos estádios em que os

clubes mandam suas partidas.

26 Pay-Per-View é uma expressão do inglês e significa ‘Pague para ver’. Neste sistema os canais pagos oferecem a possibilidade de o consumidor assistir determinado evento esportivo que não está sendo transmitido pelo canal por assinatura desde que se pague um adicional. Os clubes com maior torcida e maior compra de pacotes PPV pelos seus torcedores possuem maior poder de barganha ao negociar os direitos de transmissão.

Os compradores de uma indústria podem diferenciar-se também em suas necessidades de compras. Compradores diferentes podem requerer níveis diferentes de atendimento, qualidade ou durabilidade desejadas para o produto, necessidade de informações nas apresentações de venda, etc. Estas necessidades diferentes de compra são uma das razões pelas quais os compradores têm poder de negociação estrutural diferente. (PORTER, 1986, p. 115)

4.1.1 Praças esportivas soteropolitanas e seleção dos compradores

No estádio Manoel Barradas, de propriedade do Esporte Clube Vitória, existe apenas

duas segmentações de acomodações para os torcedores, sendo que nenhuma das duas

possui grande área coberta, praça de alimentação, serviços de alta qualidade,

estacionamento fácil27, dentre outras comodidades. O sistema de acesso ao estádio do

Vitória é pouco eficiente devido à sua localização, afastada do centro, assim como pelas

escassas linhas de transporte público para o local e pela inexistência do transporte via

metrô em Salvador. A Fonte Nova, estádio do Governo da Bahia construído na década

de 1950 e que no ano de 2006 foi interditado pelo Ministério Público por oferecer

perigo à vida dos torcedores, é onde o Esporte Clube Bahia manda seus jogos. Nele

existem apenas três segmentações de espaço para a torcida, a falta de manutenção e

investimentos é evidente, e as características quanto ao atendimento e ao conforto dos

demandantes não são boas.

Com as atuais condições físicas das arenas esportivas de Vitória e Bahia é impossível

cobrar um preço maior pelo ingresso, além de ser complicado segmentar o estádio em

mais setores e, dessa forma, cobrar preços diferenciados. A estrutura física do Manoel

Barradas impede, ou pelo menos dificulta bastante, que muitos serviços sejam ofertados

no estádio, como restaurantes, lanchonetes, museu com a história do clube, camarotes

de alto nível, boutique com produtos licenciados da agremiação, utilização do espaço

para a realização de grandes shows e eventos, dentre outros. As más condições dos

estádios soteropolitanos contribuem negativamente para os clubes porque dificultam a

geração de maiores receitas originárias das fontes já existentes, como bilheteria e bares,

e impossibilitam que novas sejam criadas. Ademais, não colaboram com o incremento

27 No Manoel Barradas há a possibilidade de estacionar o carro dentro do estádio, ainda que isto seja restrito a alguns, basicamente os sócios do clube, e seja feito de modo improvisado.

de valor da marca da agremiação detentora de uma arena moderna e confortável. A

citação abaixo indica como um grande clube europeu seleciona seus demandantes:

Visitar a sede do Manchester United possibilita entender o que pode ser uma arena multiuso. O estádio de Old Trafford gera receita 365 dias por ano, apesar de ser utilizado para o futebol apenas entre 20 e 30 dias. Camarotes ‘prestige’, alugados por empresas, restaurantes das mais variadas categorias, que acomodam até 4 mil pessoas sentadas e uma loja de produtos excepcional são apenas alguns exemplos deste potencial de geração de recursos. Vale notar que o estádio, apesar de ter passado por várias reformas, é antigo. Fica fácil imaginar o que pode acontecer com uma arena construída para ser multiuso. (AIDAR, 2002, p. 148)

Os clubes baianos não têm em mente que tipo de demanda eles estão buscando atingir e,

por conseguinte, desconhecem quais são os produtos e serviços que devem ser

disponibilizados diante da expectativa de atendimento que cada parcela desta demanda

possui. Vitória e Bahia não atendem os diversos nichos de mercados dentro do universo

de torcedores de modo diferenciado, de maneira que ofertam os mesmos serviços e

produtos independentemente do perfil do consumidor. Um torcedor com alto poder

aquisitivo, por exemplo, acostumado a freqüentar restaurantes caros e ambientes

confortáveis, provavelmente não se sentirá bem se estiver acomodado em um local

pouco confortável e sem os serviços e produtos que está habituado a consumir. No

Brasil, o Palmeiras – SP está compreendendo esta nova tendência e criou um espaço

exclusivo dentro de sua praça esportiva, como fica demonstrado na citação logo abaixo:

Chegando ao estádio, o torcedor dirige-se à entrada exclusiva, passa na catraca o cartão de crédito utilizado na compra (não precisa levar comprovante algum) e encontra banheiros limpos, serviços de qualidade, um lounge de descanso e até televisores de plasma para acompanhar o replay dos lances decisivos. Utopia? Não para os torcedores do Palmeiras, que acabam de ganhar um espaço VIP na área central das arquibancadas do Estádio Palestra Itália. (KADOW, 2007, p. 18)

4.1.2 Tamanho do mercado

O mercado formado pelas duas maiores torcidas da capital baiana é considerável, pois

Salvador (e região metropolitana) é a terceira maior capital do Brasil em população,

com 3,5 milhões de pessoas em toda a RMS28, o estado da Bahia possui

aproximadamente 13,5 milhões de habitantes29, e a torcida destes clubes em outras

28 Fonte: SEI (Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia). Dados de 01/07/03. 29 Fonte: SEI (Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia). Dados de 01/07/03.

cidades do Brasil, apesar de pequena se medida por cidade, quando somada possui

tamanho razoável. Batalhas de publicidade, introdução de produtos novos, aumento dos

serviços oferecidos ao torcedor, além da criação de um ambiente agradável,

descontraído e confortável na praça esportiva, podem ser boas maneiras de se conseguir

novos torcedores (ampliar a fatia de mercado) e tornar os já existentes mais próximos e

fiéis ao clube (fidelização do mercado consumidor). Aidar (2002) afirma que o

relacionamento entre o torcedor e o clube é um patrimônio valorizado em função dos

seguintes aspectos, quais sejam:

a) Número de torcedores do clube

b) Qual o retorno econômico de uma partida

c) Quantas pessoas adoram o clube e qual a intensidade de tal devoção, isto é; se os

torcedores são muito, pouco ou medianamente apaixonados

d) Expansão demográfica da torcida

Vitória e Bahia possuem grandes torcidas nacionalmente, segundo as pesquisas

realizadas pelo IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística), estando

situadas entre as quinze maiores do Brasil. O retorno econômico dos jogos destas

equipes é bom e os torcedores são apaixonados, tendo em vista que levam grandes

públicos aos estádios mesmo quando as partidas não são decisivas ou de qualidade

técnica elevada. Contudo, a expansão demográfica é apenas razoável, pois os clubes não

possuem torcidas em todo o território nacional.30 Tais características evidenciam que

ambos os clubes possuem um bom potencial de demanda, demonstrando que um melhor

desempenho no cenário nacional31 é factível e viável sob este aspecto. “O consumidor

ou cliente final representa o princípio de tudo no mercado do futebol, pois foi a partir

dele que todos os outros agentes se transformaram em consumidores intermediários.”

(AIDAR, 2002, p. 83)

Se os times que ganham mais jogos nos gramados faturam mais que os vitoriosos do passado, a explicação está na multiplicação das fontes de faturamento. Décadas atrás, se um elenco era imbatível, ganhava, no máximo, mais dinheiro com mais ingressos porque mais gente estava interessada em ver os esquadrões em ação. Hoje, quem faz mais gols e fatura

30 Agremiações como Vasco da Gama, Flamengo, Corinthians, São Paulo e Grêmio possuem torcida em todo o território brasileiro. Estas são as cinco maiores torcidas do Brasil segundo as pesquisas realizadas pelos principais institutos de pesquisa nos últimos anos. 31 Entre 2005 e 2007 a Bahia esteve sem representantes na Série A, sendo que o Bahia esteve na 3ª divisão por 2 anos consecutivos (2006 e 2007).

mais partidas aparece mais na TV, que gera melhores contratos de patrocínio e merchandising. E mesmo a tradicional bilheteria dos estádios passou a valer mais, pois o torcedor que vê seu time ganhando não se contenta em pagar para ver os jogos ao vivo: ele quer, e pode, comprar centenas de produtos licenciados criados pelos departamentos de marketing dos novos clubes-empresas. (AIDAR, 2002, p. 108)

4.2 RELACIONAMENTO COM FORNECEDORES

Valorizar a marca do clube e oferecer um bom ambiente de trabalho faz o atleta ter uma

boa imagem da instituição e compreendê-la como uma boa vitrine para mostrar o seu

desempenho. Da mesma maneira pensam os investidores que buscam estabelecer

parcerias com instituições organizadas, profissionais e vencedoras, e não com clubes

que tenham uma imagem corrupta, perdedora, manchada por algum escândalo, ou que

tenha pouca repercussão na mídia e na sociedade. Considerando que os atletas, a

comissão técnica e as empresas patrocinadoras constituem os principais fornecedores

dos clubes, as equipes necessariamente devem almejar o melhor relacionamento

possível com tais elementos. No caso do Bahia, os constantes atrasos de salários (desde

2003 o clube atrasa salários com certa freqüência), o amadorismo e a incompetência dos

dirigentes são fatores que afastam os grandes patrocinadores do clube assim como

muitos jogadores, que têm receio de trabalhar e não receber o pagamento no final do

mês. Além disso, cria-se uma imagem negativa da instituição, que passa a ser vista com

desconfiança pelos fornecedores.

A antiga diretoria do Vitória, que governou o clube desde o início dos anos 90 até o ano

de 2005, não raras vezes atrasou salários dos funcionários. Tanto esta equipe quanto o

seu rival já tentaram, ou mesmo impediram, a entrada no clube de profissionais da

imprensa simplesmente por não ‘aprovar’ as críticas feitas ao clube. Além de amadora e

antiética, tal atitude impede que a marca dos patrocinadores dos clubes apareça na

mídia, dado que o Banner32 do clube não foi mostrado quando atletas e comissão

técnica concederam entrevistas. Tais comportamentos das diretorias das agremiações

baianas conferem menor valor à marca dos clubes, afasta possíveis investidores, e

também prejudica a imagem da instituição perante atletas, mídia e patrocinadores, que

32 Ver conceito de Banner no Capítulo 1.

certamente não gostariam de associar seu nome a uma empresa que pratica estes

métodos de gestão.

4.3 ESTRUTURA E RIVALIDADE DO MERCADO

A intensidade da concorrência numa indústria depende fundamentalmente da

estrutura desta e do comportamento particular dos concorrentes. No caso do futebol

baiano, em que há um duopólio, a percepção de um agente sobre qualquer decisão ou

ação de grande alcance tomada pelo rival é imediata, dado ser mais fácil notá-la quando

há apenas um concorrente direto com quem preocupar-se. Assim que um dos clubes

lança um novo projeto de marketing, estabelece alguma parceria, obtém bom

desempenho em competição nacional/internacional, ou contrata um jogador famoso, a

reação é bastante rápida, porém nem sempre eficiente. Não existe a chamada

possibilidade de ‘retaliação via preços’, dado que agremiações futebolísticas não

competem de tal maneira, mas há um ‘espelho’ natural no comportamento do rival ao se

tomar decisões dependendo de quais ações o concorrente execute. A TABELA 4 mostra

que o rendimento, ano após ano dos clubes, é bastante similar, denotando que o

desempenho rival possui relação com o desempenho da equipe que, não por acaso,

adota como meta superá-la no ano seguinte. A motivação para tal possui não somente

caráter capitalista, mercantil ou econômica, ainda que tais motivações sejam bastante

relevantes, mas o incentivo para suplantar o adversário é fundamentalmente emocional,

pois a grande rivalidade existente entre estas agremiações e seus torcedores as motivam

a buscarem sempre um desempenho superior.

Na maioria das indústrias, uma característica central da concorrência é que as empresas são mutuamente dependentes: elas sentem os efeitos dos movimentos das outras e tendem a reagir a eles. Nesta situação, que os economistas chamam de oligopólio, o resultado de um movimento competitivo de uma empresa depende, ao menos até certo ponto, das reações dos seus rivais. (PORTER, 1986, p. 97)

TABELA 4

Série A Colocação final no Campeonato Brasileiro X ANO Equipe 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Vitória 9º 13º 4º 22º 16º 10º 16º 23º NP NP

Bahia 23º NP NP 14º 8º 19º 24º NP NP NP

Série B Colocação final no Campeonato Brasileiro X ANO Equipe 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Vitória NP NP NP NP NP NP NP NP 17º NP

Bahia NP 27º 3º NP NP NP NP 4º 18º NP NP = Não Participou

Entendendo a concorrência como o ‘motor’ básico da dinâmica capitalista e que induz

os agentes a investirem e buscarem se desenvolver, se torna fundamental o

fortalecimento tanto do Vitória quanto do Bahia para que ocorra um melhor resultado

no mercado local. Em 2003, como mostra a TABELA 4, o Bahia foi rebaixado para a 2ª

divisão do futebol nacional e em 2004 o mesmo ocorreu com o Vitória. O que ocorreu

no ano de 2003 foi bastante prejudicial para a competitividade entre os clubes porque

um deles perdeu o referencial de rival forte e competitivo no estado, foi criada uma forte

diferença de receitas entre os clubes, e ocorreu uma tendência de nivelar em patamar

inferior as exigências de desempenho dos torcedores, isto é: os torcedores do Vitória

ficariam satisfeitos em apenas permanecer na Série A mesmo que fora da disputa do

título, visto que seu rival estava numa situação muito pior. O rebaixamento do Bahia

contribuiu para o pífio desempenho do Vitória em 200433 devido à criação de uma

tendência à acomodação e da falsa idéia de superioridade por parte do Vitória, que por

estar numa divisão superior à do rival entendeu que ganhos de eficiência e

produtividade não seriam mais imprescindíveis para sustentar sua posição. No ano de

2006 ambas as agremiações disputaram a terceira divisão do futebol brasileiro,

considerada no jargão popular como ‘porão do futebol nacional’ pelo fato de não existir

divisão inferior. Naquele ano, ocorreu o ponto crítico do mau desempenho dessas

agremiações, motivado pelo efeito espiral descendente criado no ano de 2003 com a

queda de desempenho do Bahia. “A rivalidade também depende das situações

particulares dos concorrentes individuais.” (PORTER, 1986, p. 99).

Ambientes de elevada rivalidade inter-empresarial favorecem a competitividade, pois submetem as empresas a esforços contínuos de melhoria da eficiência produtiva e de inovação nos produtos e métodos de produção. (FERRAZ, 1995, p. 23)

4.4 CONCENTRAÇÃO DO FUTEBOL LOCAL EM DUAS EQUIPES

33 O Vitória foi penúltimo colocado no campeonato daquele ano.

Vitória e Bahia nem sempre foram as únicas e mais destacadas forças do futebol

baiano. Durante as décadas de 30, 40, 50 e 60, outros clubes coexistiam com estes em

equivalência de força. No entanto, com o passar dos anos alguns clubes foram sendo

eliminados e a bipolarização do futebol baiano provocou os mais diversos resultados,

como a quase extinção de clubes outrora tradicionais como Galícia, Botafogo e

Ypiranga (hoje em dia nem sequer disputam a 1ª divisão do campeonato baiano), e a

concentração da preferência clubística dos torcedores soteropolitanos entre Vitória ou

Bahia. A aglutinação das forças do futebol baiano nestes dois grandes clubes mudou a

estrutura de mercado do futebol local, passando para uma situação de concentração

absoluta, isto é, uma situação na qual apenas dois agentes praticamente controlam todo

o mercado. A TABELA 5 informa que entre 1970 e 2005 todos os campeões baianos

foram ou Vitória ou Bahia, denotando não existir um terceiro clube para competir com

estes. Em 2006 a equipe do Colo-Colo foi campeã, ano em que Vitória e Bahia

disputaram a Série C do campeonato brasileiro no segundo semestre.

Sob a ótica Evolucionista34 o referido processo simplesmente fez uma seleção

dos agentes mais qualificados e aqueles que restaram são os melhores por terem

sobrevivido à evolução deste mercado. Contudo, a existência de um terceiro clube forte

no futebol baiano geraria uma externalidade positiva para o Vitória e para o Bahia. Com

mais uma agremiação forte no estado a dupla teria mais um rival a suplantar e a tomar

como parâmetro, e também seria mais uma opção local para se contratar bons atletas

(desenvolvimento do mercado de jogadores entre estes clubes). As duas grandes

agremiações não aceitariam facilmente um terceiro clube baiano que estivesse com um

melhor desempenho, em uma divisão superior, e ganhando fatia de mercado, algo que as

motivariam a buscar ganhos em eficiência e produtividade. Os jogos que envolvessem

Vitória ou Bahia e a suposta terceira força baiana se tornariam mais atrativos, criando

um círculo virtuoso em função disso (maior receita de bilheteria, maior espaço na mídia,

maior valor pago pelos patrocinadores, etc.).

TABELA 5

Campeonato Baiano - Todos os campeões e vices desde 1951

34 Os Evolucionistas entendem a concorrência como um processo dinâmico e necessário para o capitalismo, de modo que a eliminação de firmas é uma forma de selecionar as mais eficientes.

Ano Campeão Vice Ano Campeão Vice 1951 Ypiranga Indisponível 1981 Bahia Vitória 1952 Bahia Indisponível 1982 Bahia Galícia 1953 Vitória Bahia 1983 Bahia Indisponível 1954 Bahia Indisponível 1984 Bahia Leônico 1955 Vitória Bahia 1985 Vitória Bahia 1956 Bahia Fluminense 1986 Bahia Catuense 1957 Vitória Bahia 1987 Bahia Catuense 1958 Bahia Indisponível 1988 Bahia Vitória 1959 Bahia Indisponível 1989 Vitória Bahia 1960 Bahia Indisponível 1990 Vitória Fluminense 1961 Bahia Indisponível 1991 Bahia Fluminense 1962 Bahia Indisponível 1992 Vitória Bahia 1963 Fluminense Bahia 1993 Bahia Vitória 1964 Vitória Indisponível 1994 Bahia Vitória 1965 Vitória Indisponível 1995 Vitória Galícia 1966 Leônico Indisponível 1996 Vitória Poções 1967 Bahia Galícia 1997 Vitória Bahia 1968 Galícia Fluminense 1998 Bahia Vitória 1969 Fluminense Bahia 1999 Vitória e Bahia Poções 1970 Bahia Itabuna 2000 Vitória Bahia 1971 Bahia Fluminense 2001 Bahia Juazeiro 1972 Vitória Bahia 2002 Vitória Fluminense 1973 Bahia Atlético 2003 Vitória Catuense 1974 Bahia Vitória 2004 Vitória Bahia 1975 Bahia Vitória 2005 Vitória Bahia 1976 Bahia Vitória 2006 Colo-Colo Vitória 1977 Bahia Vitória 2007 Vitória Bahia 1978 Bahia Leônico 1979 Bahia Vitória 1980 Vitória Galícia

Fonte:http://www.comentarios.com.br/historico/historicoestbaiano.htm

Acessado em 14/07/06

A primeira vez que um clube do interior levou o título de Campeão Baiano foi em 1963, com a equipe do Fluminense de Feira. Os tricolores de Feira de Santana repetiriam o feito em 1969, sagrando-se bicampeões. De lá para cá, o futebol foi se tornando cada vez mais profissional e os clubes ‘pequenos’ foram ficando para trás, não conseguindo acompanhar as transformações. Aos poucos, o futebol baiano ficou bipolarizado com dois clubes bem mais fortes que os demais, que aparecem apenas como figurantes. (LEAL, 2006).

4.5 VITÓRIA E BAHIA: BONS OU MAUS CONCORRENTES?

Certamente nem o Vitória nem o Bahia comportaram-se como bons

concorrentes, em algumas ocasiões, por exemplo, quando não compreenderam a

sinalização do mercado futebolístico a partir dos anos de 2002, 2003 e 2004, em que

existiam sinais do surgimento de uma nova fase do futebol brasileiro. Nem o Vitória

nem o Bahia perceberam a mudança na dinâmica concorrencial entre os clubes

brasileiros sucedida no começo do século XXI, que passou a ser mais agressiva,

competitiva e difícil. Nesta fase não haveria mais espaço para descumprimento

unilateral das regras de funcionamento do mercado, pois a regra do acesso e descenso à

elite do futebol brasileiro mediante critérios técnicos (e não políticos como

historicamente sucedeu) passou a valer e ser aceita por todos35, exigindo assim maior

eficiência daqueles que quisessem se manter na Série A. Outra sinalização do mercado

ocorrida nessa fase foi a definitiva profissionalização do futebol e necessidade dos

clubes brasileiros serem mais competentes em virtude do surgimento do campeonato de

pontos corridos36, no qual o grande número de partidas exige dos clubes ter um elenco

grande e qualificado para poder resistir às eventuais contusões, expulsões e desgaste

físico dos atletas, além da necessidade de uma grande infra-estrutura que proporcione

suporte aos jogadores.

A disposição das firmas competirem nos mercados pode ser

fortalecida se o regime de incentivos e regulação a que estão sujeitas for eficaz. Os incentivos visam aumentar a capacidade de resposta das empresas diante dos desafios impostos pela economia (...). (FERRAZ, 1995, p. 23)

O surgimento de novos mercados compradores de atletas brasileiros que

atuavam no país, como Rússia, Ucrânia, Japão, Coréia do Sul e clubes pequenos de

países como Espanha, Alemanha e Itália, que passaram a demandar atletas brasileiros,

tornou cada vez mais complicado montar equipes fortes e mantê-las por todo o ano. A

extinção da antiga ‘Lei do passe’37 alterou a forma de contratar e vender atletas, que

agora ocorre mediante a formulação de contratos de trabalho por tempo determinado e,

em função do salário acordado é estipulada a multa de rescisão contratual. Muitos

clubes demoraram a entender como funcionava a lei e terminaram perdendo atletas para

outras equipes sem qualquer remuneração, pois como não mais existia o ‘passe’ ao

término do contrato o jogador estava livre. As agremiações que mais rapidamente

35 Em 2002 Botafogo-RJ e Palmeiras-SP foram rebaixados à segunda divisão do Campeonato Brasileiro, assim como o Grêmio-RS em 2004 e o Atlético-MG em 2005, todos estes, clubes extremamente tradicionais no cenário nacional. Em pleno ano 2000 critérios políticos ainda prevaleciam sobre critérios técnicos para definir quais times disputaram a Série A, pois Bahia-BA e Fluminense-RJ disputaram a primeira divisão deste ano por critérios meramente políticos. 36 Campeonato de “pontos corridos” é aquele em que todos os times jogam contra si duas vezes no campeonato, uma como mandante e outra como visitante. A equipe que obtiver maior número de pontos é considerada campeã. 37 Em 1998 foi criada a Lei nº 9.615/98, mais conhecida como Lei Pelé. Esta lei foi reformulada várias vezes e algumas leis e Medidas Provisórias foram sancionadas impedindo que alguns artigos entrassem em vigor. A Lei Pelé, dentre outros assuntos, acaba com o vínculo do jogador com os clubes, tornando o atleta um profissional livre para fechar contratos com o clube que lhe for mais conveniente.

entenderam a mudança institucional conseguiram realizar bons negócios, como o São

Paulo-SP e o Internacional-RS. A criação da Lei Pelé exigiu maior competência dos

clubes que quisessem evitar a saída de atletas sem retorno algum ou então vendidos por

valores irrisórios, tendo em vista ter se tornado essencial estar atento ao prazo de

vencimento dos respectivos contratos e sobre o valor das multas rescisórias. Logo,

ficava evidente o ingresso do futebol brasileiro numa fase que demandava maior grau de

organização interna e profissionalização, mas como Vitória e Bahia não estiveram

atentos para isto foram, conseqüentemente, tendo sucessivas quedas de desempenho a

partir do ano de 2003.

Sobre tomar decisões não condizentes com sua capacidade financeira e não

poder sustentá-las no longo prazo toma-se o Vitória como exemplo, que contratou dois

atletas pentacampeões mundiais38 no ano de 2004 ainda que não dispusesse do capital

necessário para arcar com o ônus desta decisão, quais sejam, os jogadores Edilson e

Vampeta. Dessa forma, o Vitória se propôs a pagar salários bem acima da sua realidade

financeira39, pecando por não ter recursos suficientes para honrar os compromissos

assumidos com aqueles profissionais e com os demais atletas e funcionários do clube.

Ocorreram atrasos salariais em diversos setores da instituição, desde aqueles que

respondiam por simples tarefas e auferiam salário mínimo, até mesmo os médicos,

comportamento inadmissível na época do futebol profissional.

4.5.1 Estratégias adotadas

As firmas que operam na indústria do futebol devem comportar-se como em todos os

outros setores da economia de bens de consumo final: quanto maior o nível de renda dos

consumidores e maior o número destes, maior tende a ser a diversificação dos serviços

oferecidos e dos produtos disponibilizados. Sobre a correta identificação dos

concorrentes, as agremiações de futebol devem ter em mente com quais equipes buscam

concorrer e a partir disto formular sua estratégia. “(...) embora presos a uma demanda

38 Estes dois atletas participaram da campanha do Brasil na Copa do Mundo de 2002, realizada na Coréia do Sul e Japão, onde o Brasil sagrou-se pela quinta vez campeão mundial. 39 Cogita-se que tanto Edilson quanto Vampeta ganhavam cerca de R$120.000,00 por mês fora os prêmios e outros benefícios.

local, os grandes clubes competem com outros de envergadura semelhante em mercados

regionais e nacionais.” (AIDAR, 2002, p. 93)

A estratégia adotada por um clube deve ser um plano de ação visando resultados no

longo prazo, ao invés de resultados imediatos. No futebol baiano, entretanto, isto não

parece ser óbvio porque as agremiações não possuem metas compatíveis com os

métodos que utilizam para auferi-las. Um exemplo disto são as constantes trocas de

treinadores que ocorrem em ambos os clubes, além da ida e vinda de jogadores no meio

da temporada, enfim, alterações na equipe técnica. O Vitória, que em 2007 disputou a

Série B do futebol nacional, trocou de treinador quatro vezes no mesmo ano e contratou

e dispensou vários jogadores no meio da temporada, além de ter realizado outras

mudanças na comissão técnica, demonstrando a baixa eficiência dos critérios de

contratação de funcionários. Já o Milan – ITA, campeão da UEFA Champions League

nas temporadas de 2002/2003 e 2006-2007, mantêm o mesmo treinador desde 2001.

4.6 POSSIBILIDADES DE BENS SUBSTITUTOS AO FUTEBOL BAIANO

Há uma série de opções de entretenimento em Salvador que podem levar os torcedores a

substituírem o futebol, os fazendo deixar de freqüentar o estádio. Sendo a terceira

capital do Brasil em termos de população e com uma forte vocação para o turismo, esta

cidade possui uma infinidade de opções de lazer, como shows40, praias, locais

históricos, alguns parques, orla marítima com diversas opções de bares e churrascarias,

dentre outros eventos. O recente desenvolvimento da indústria e conseqüente

incremento de pessoas com poder aquisitivo diversificou as opções de lazer,

propiciando o surgimento de novos bares e restaurantes de alto nível, voltados

obviamente para um público seleto, além de novos centros comerciais e novas salas de

cinema.

40 Durante os meses de Outubro até o final de Fevereiro existe uma forte programação de shows e ensaios de bandas de Axé Music, atividade esta direcionada principalmente para os turistas e os jovens de classe média residentes em Salvador.

A propensão dos torcedores baianos em substituir o futebol por outro lazer é, em geral,

baixa. Isto pode ser comprovado pela grande presença de público nos jogos dos grandes

clubes da capital, inclusive quando os adversários são fracos e sem tradição e mesmo

quando estas equipes estavam disputando a Série C, divisão em que o espetáculo é

naturalmente menos interessante e de reduzida qualidade técnica. O torcedor baiano

sempre dá demonstrações da sua fidelidade aos clubes, comparecendo em grande

número aos estádios e denotando não substituir o futebol por outras opções de lazer

facilmente.

Nas partidas de Vitória e Bahia o preço do ingresso é, em média, de R$10,00, fora os

outros custos envolvidos na ida de um indivíduo ao estádio de futebol como transporte,

alimentação, bebidas e, a depender, estacionamento. Não obstante, há o custo de

oportunidade do consumidor, dado existir inúmeras opções de lazer e, evidentemente,

outras atribuições da vida cotidiana que poderiam estar sendo feitas naquele período de

tempo. Há também o custo de transação do acesso aos estádios, que nos grandes jogos é

de péssima qualidade, com trânsito engarrafado e lento, não existindo grandes ‘bolsões’

de estacionamento nem na Fonte Nova nem no Manoel Barradas, sem contar que

Salvador não possui sistema de metrô ou transporte via trens41. O outro elemento é o

custo de transação para adquirir o ingresso, pois em ambas as praças esportivas as filas

das bilheterias são desorganizadas e sem indicação, as formas de pagamento não são

diversificadas, e a compra pela internet ou em outros pontos de venda que não o estádio

inexiste. Assim, ir a qualquer uma destas praças esportivas se transforma numa decisão

que envolve uma série de variáveis além do simples preço do ingresso, pois o preço de

R$10,00 mais todos os outros custos (financeiros ou não) relacionados à tomada desta

decisão pode afastar muitos torcedores das arenas tanto do Vitória quanto do Bahia.

4.7 INDICADORES ECONÔMICOS LOCAIS E DESEMPENHO

41 Existe uma linha de trens ligando a Estação da Calçada, na cidade Baixa, ao Subúrbio Ferroviário. Contudo, tal linha funciona precariamente e liga apenas uma pequena parte da cidade.

Quanto ao comportamento das variáveis macroeconômicas consideradas relevantes para

o desempenho dos clubes baianos, tanto o Vitória quanto o Bahia enfrentam sérias

dificuldades, mesmo que no século XXI o cenário econômico baiano venha se tornando

menos desfavorável e apresentando um melhor desempenho. Os indicadores

econômicos da Bahia e de sua capital, evidenciam o subdesenvolvimento baiano em

relação a outros estados brasileiros.

TABELA 6

Períodos RMS Salvador Demais municípios

baianos 1º semestre 2003 28,6 27,6 33,0 2º semestre 2003 27,6 26,6 32,4 1º semestre 2004 26,2 25,3 30,0 2º semestre 2004 25,1 24,7 26,8 1º semestre 2005 25,3 24,6 28,4

Fonte: PED RMS-SEI/DIEESE

A Região Metropolitana de Salvador possui taxa de desemprego acima de 25% em

praticamente todos os meses no período compreendido entre janeiro de 2003 até junho

de 2005, como fica evidenciado na TABELA 6. É evidente que numa cidade na qual a

taxa de desemprego é elevada o mercado consumidor se torna reduzido para uma série

de atividades, apresentando uma tendência a não ser diversificado. Assim, como Vitória

e Bahia podem obter maiores receitas de bilheterias, por exemplo, cobrando ingressos

mais caros, se a taxa de desemprego da cidade é extremamente elevada? Disso decorre

que uma série de serviços e produtos que poderiam ser oferecidos pelos clubes deixa de

ser ofertado porque a demanda local é fraca, tornando mais difícil a venda de possíveis

produtos criados pelo departamento de marketing. O futebol se encaixa na categoria

lazer e entretenimento. Em uma sociedade em que a cada quatro pessoas uma está sem

emprego é complicado esperar que lazer seja um item largamente consumido pelos

habitantes, tendo em vista que necessidades básicas como saúde, alimentação e

educação ainda não foram atendidas. A TABELA 7 demonstra o baixo rendimento

médio real dos soteropolitanos ao ser comparado com de outras cidades. À exceção de

Recife, Salvador apresenta o pior rendimento médio em todos os meses de 2006.

TABELA 7

Rendimento médio real do trabalho principal efetivamente recebido, no mês de referência, pelas pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência

Regiões metropolitanas Meses Recife Salvador Belo Horizonte Porto Alegre Rio de Janeiro São Paulo Janeiro 714,6 832,1 945,2 1.015,2 1.027,3 1.234,8 Fevereiro 754,6 833,9 946,9 1.000,2 992,1 1.209,2 Março 761,9 810,9 963,8 997,7 989,0 1.224,2 Abril 782,7 814,9 983,9 1.019,5 996,3 1.244,9 Maio 804,0 807,1 976,1 990,3 1.013,8 1.235,8 Junho 774,7 854,5 1.000,8 1.029,3 1.013,7 1.227,0 Julho 771,6 885,0 990,9 1.036,5 1.037,0 1.221,0 Agosto 743,1 898,4 978,2 1.042,8 1.042,1 1.196,2 Setembro 788,6 906,8 977,3 1.049,6 1.077,2 1.218,9 Outubro 810,2 909,4 981,6 1.058,7 1.043,4 1.248,7 Novembro 791,5 980,2 1.004,5 1.091,6 1.123,0 1.406,9 Dezembro 1.066,7 1.039,2 1.272,6 1.272,1 1.312,7 1.511,6

Fonte: IBGE

O nível de atividade industrial na Bahia, mesmo tendo crescido a partir do ano 2000,

ainda é baixo ao ser comparado com outros estados do Brasil como Rio de Janeiro, São

Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul. A industrialização de uma região gera,

indiscutivelmente, maior riqueza para a sociedade local e produz uma série de efeitos e

externalidades positivas na economia, como aumento do número de pessoas com maior

poder aquisitivo, incremento na disponibilidade de serviços e produtos em função do

crescimento econômico, surgimento de outras indústrias em torno da indústria matriz

para fornecer insumos indispensáveis à produção, dentre outros. Todos estes aspectos

criados pela indústria são ainda incipientes na Bahia, estado de industrialização tardia, e

contribuem negativamente para o desempenho do Vitória e do Bahia por diversos

motivos, como: menor disponibilidade de obter empresas locais fortes dispostas a

estabelecer parcerias com os clubes; menor geração de renda para população local

(torcedores), implicando em menor renda disponível para consumir itens como

ingressos mais caros, carnês para sócios, produtos licenciados, etc. A TABELA 8

refere-se à Taxa de Crescimento da Produção Física Industrial, e nela fica evidente a

inferioridade da Bahia em relação ao crescimento do Nordeste, do Brasil, e de outros

estados como São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Goiás, dentre outros. Todos os estados

com melhor desempenho industrial que a Bahia possuía pelo menos dois clubes na

primeira divisão no ano de 2007, à exceção de Santa Catarina e Goiás que tinham

somente uma equipe.

TABELA 8

Taxa de crescimento da produção física industrial até setembro de 2007

(em %)

Mensal Acumulado no ano Acumulado 12 meses

Brasil, NE e unidades da federação

Geral De

transformação Geral

De transformação

Geral De

transformação

Brasil 5,6 5,7 5,4 5,3 4,8 4,7 Amazonas 2,1 2,1 1,8 1,9 0,5 0,6 Pará -0,4 -4,7 2,6 -2,7 4,8 1,2 Nordeste 0,7 0,7 2,3 2,7 2,4 2,8 Bahia -1,6 -1,7 1,0 1,1 0,8 1,0 Ceará -0,2 -0,2 -0,4 -0,4 1,7 1,7 Pernambuco -1,8 -1,8 4,9 4,9 5,1 5,1 Minas Gerais 6,5 6,1 8,4 8,2 7,7 7,4 Espírito Santo -2,1 -8,3 5,8 1,8 6,8 2,7 Rio de Janeiro -2,4 -1,9 1,4 2,0 1,1 1,3 São Paulo 8,5 8,5 5,2 5,2 4,5 4,5 Paraná 3,1 3,1 6,8 6,8 6,2 6,2 Santa Catarina 4,1 4,1 5,1 5,1 3,8 3,8 Rio Grande do Sul 1,0 1,0 7,3 7,3 5,8 5,8 Goiás 4,9 5,1 1,5 0,7 2,2 1,3 Fonte: IBGE/DPE/Departamento de Indústria Elaboração: SEI/CAC

O índice de desenvolvimento humano (IDH) da Região Metropolitana de Salvador

(RMS) está entre os piores do país. Este fator é prejudicial ao desenvolvimento

econômico do estado, das empresas locais, e também dos clubes de futebol que, assim

como as firmas, possuem seu desempenho atrelado tanto à pujança da economia e aos

fatores sistêmicos de modo geral. Indivíduos com baixa instrução, habitando localidades

sem condições mínimas de saneamento, sem expectativas positivas quanto às melhorias

futuras na sua qualidade de vida e nos seus rendimentos, e sem renda suficiente para

atender necessidades básicas, apresentam baixo nível de exigência quanto aos produtos

consumidos. Disso decorre não haver uma “pressão” natural dos consumidores para que

os clubes se empenhem ao máximo visando a atender aos anseios de uma demanda

exigente e qualificada, oferecendo assim serviços de qualidade e formando equipes

vencedoras. Torcedores que ainda não possuem as necessidades básicas já preenchidas

certamente não irão se incomodar com condições ruins no estádio e provavelmente terão

menor disposição a pagar por conforto e comodidade. A TABELA 9 mostra que no ano

2000 o IDH da RMS estava na 26ª posição dentre as regiões pesquisadas42:

42 Para fins de praticidade algumas regiões menos significantes foram excluídas da TABELA 8.

TABELA 9

Índice de Desenvolvimento Humano das Regiões Metropolitanas do Brasil

Região Metropolitana Colocação em 1991

IDHM ano 2000

Colocação em 2000

Florianópolis 2 0,859 1 Campinas 4 0,835 4 Porto Alegre 5 0,833 6 São Paulo 3 0,828 7 Curitiba 10 0,824 10 Baixada Santista 8 0,817 13 Rio de Janeiro 9 0,816 15 Goiânia 14 0,812 18 Belo Horizonte 12 0,811 20 Vale do Aço 22 0,803 22 Grande Vitória 23 0,798 24 Belém 13 0,797 25 Salvador 21 0,794 26 Recife 28 0,780 28 Fortaleza 31 0,767 29 Grande São Luís 29 0,766 30 Natal 30 0,762 31 Maceió 32 0,724 32 Fonte: PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento)

O PIB da Bahia43 é o sexto maior do Brasil, porém, a renda do estado é extremamente

concentrada, sendo que nesse índice a Bahia está atrás de todos os estados do Sul e

Sudeste brasileiros. Renda concentrada implica em mercado consumidor diminuto,

prejudicando o Vitória e o Bahia. A cidade de Salvador também possui elevada

concentração de renda, sendo que, nas pesquisas divulgadas por órgãos oficiais, a

capital baiana sempre aparece entre aquelas com maior concentração. Dessa forma,

Vitória e Bahia se deparam com um mercado consumidor apaixonado, mas em sua

maioria sem renda para consumir o produto futebol. A TABELA 10 mostra que a Bahia

está na 17ª posição em relação ao estado com melhor distribuição de renda,

evidenciando tal problema.

TABELA 10 Índice de Gini da distribuição do rendimento mensal das pessoas de 10 anos ou mais de idade com rendimento

Brasil e Unidade da Federação Valor Posição Amapá 0,448 1 Amazonas 0,472 2 Santa Catarina 0,486 3 Pará 0,504 4 Rio Grande do Sul 0,510 5 Goiás 0,511 6

43 Ver TABELA 11 no Apêndice deste trabalho.

São Paulo 0,518 7 Mato Grosso 0,520 8 Paraná 0,524 9 Minas Gerais 0,525 10 Espírito Santo 0,525 11 Tocantins 0,527 12 Mato Grosso do Sul 0,531 13 Rio de Janeiro 0,535 14 Rondônia 0,536 15 Ceará 0,536 16 Bahia 0,536 17 Sergipe 0,542 18 Brasil 0,547 XXXX Rio Grande do Norte 0,549 19 Paraíba 0,559 20 Pernambuco 0,559 21 Acre 0,560 22 Roraima 0,560 23 Maranhão 0,587 24 Distrito Federal 0,589 25 Alagoas 0,592 26 Piauí 0,607 27

Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - Censo 2003.

4.8 GESTÃO DOS CLUBES

A forma que Vitória e Bahia são geridos e os reais interesses dos dirigentes destas

instituições possuem grande relação com a recente queda de desempenho destas. Muitos

equívocos administrativos ao longo de vários anos se refletem num desempenho pífio

das equipes baianas dentro de campo. Ao divulgar o resultado de auditoria realizada

para o período 2001/2005 no Vitória S/A, o então presidente da entidade proferiu o

seguinte parecer: “Os números são assustadores. O Vitória deve mais de R$50 milhões,

incluindo débitos fiscais e ações trabalhistas” (PORTELA, 2006).

Em abril deste ano, após reunião do Conselho Deliberativo, realizada no Fiesta Convention Center, o então presidente Alexi Portela Júnior apresentou o resultado da auditoria da gestão de Paulo Carneiro - que renunciou ao cargo após a queda do clube para a Série C -, para o período 2001/2005 no Vitória S/A. As irregularidades apresentadas na auditoria revelaram que o ex-cartola rubro-negro utilizou indevidamente os recursos do clube. As dívidas do rubro-negro ficaram estimadas em cerca de R$ 52 milhões, incluindo débitos fiscais e ações trabalhistas. (BC MULTA Vitória, 2006, p. 4)

O modelo de gestão das entidades possui equívocos que comprometem o

desenvolvimento do potencial das mesmas, tendo em vista que a inserção cada vez

maior do futebol brasileiro num cenário profissional exige gestores profissionais e

competentes. Atitudes amadoras dos dirigentes baianos não são raras. Exemplos de

amadorismo, indicadores de má administração, assim como a utilização de métodos de

governança arcaicos, mostram que tais agremiações não se adaptaram ao modelo de

futebol-negócio, um imperativo atualmente. Isto se verifica sob várias formas, como:

a) misturar os bens do clube com os do presidente, descumprindo assim o princípio

contábil da entidade44;

b) atrasar salários dos atletas e funcionários;

c) não realizar planejamento estratégico;

d) centralizar as decisões; esperar que pessoas ligadas ao clube emprestem seus

recursos próprios para financiá-lo motivadas apenas pela paixão clubística;

e) contratar e dispensar muitos profissionais durante a temporada sem critérios

técnicos, o que além de criar um ambiente de incerteza entre os profissionais,

impede que a equipe ganhe entrosamento e prejudica o trabalho da comissão

técnica, que nas equipes vencedoras raramente é trocada45. (FERREIRA, 2006);

f) eternização de pessoas na direção das agremiações;

g) invasões de campo durante partidas;

h) contratações de profissionais em função de interesses de empresários de

jogadores de modo que muitos atletas em fim de carreira ou com baixa

produtividade no momento são contratados;

i) falta de transparência nas contas dos clubes, elemento fundamental numa

empresa ainda mais se for uma Sociedade Anônima, caso de Vitória46 e Bahia;

j) ausência de planejamento estratégico, com predominância do pensamento de

curto prazo e sem visão estratégica de longo prazo, contrariando a tendência das

empresas modernas atualmente: “(...) o pensamento no curto prazo, além de já estar

ultrapassado nas empresas modernas, se mostra inadequado para a gestão dos clubes de futebol.”

(AIDAR, 2002, p. 92).

“Em um mercado de estreita relação entre receitas e performance e entre gasto com

salários e performance, mas com frágil ligação entre lucros e performance, a diferença

está na eficácia da administração.” (AIDAR, 2002, p. 109).

44 Segundo a Contabilidade, as empresas devem seguir o princípio da entidade, no qual fica explícito que o patrimônio dos sócios não se confunde com o da empresa. 45 No Manchester United (ING), Alex Ferguson se mantém no cargo de treinador da equipe desde o ano de 1986. No Milan (ITA), Carlo Ancelotti está no cargo desde 2001. Já o Vitória possuiu 4 treinadores diferentes no ano de 2004, quando foi rebaixado para a 2ª divisão do campeonato brasileiro. 46 Vitória e Bahia adotaram o modelo de S.A. e venderam a maioria das ações ordinárias para o Exxel Group da Argentina e para o Banco Opportunity, respectivamente. Atualmente o Bahia detém 30% das ações e o Opportunity 70%. O Vitória recomprou as ações do sócio majoritário em 2004 e atualmente o Esporte Clube Vitória é proprietário de 100% dos papéis.

O Esporte Clube Vitória, que há alguns anos atrás era modelo de administração, se

tornou uma empresa com déficit anual previsto de R$ 4 milhões no ano de 2006.

(SANTOS, 2006). Segundo Jorge Goldenstein, porta-voz do Banco Oportunitty, sócio

majoritário do Bahia/SA, o clube precisa profissionalizar o departamento de futebol,

pois este, segundo ele, é gerido de modo amador e por pessoas despreparadas. Além

disso, ele entende que o Bahia não apresentou os resultados financeiros esperados,

como esta passagem comprova: “O negócio se mostrou muito menos atraente do que foi

avaliado no primeiro momento.” (GOLDENSTEIN, 2003, p. 27). Demonstrando

desconfianças graves quanto ao futuro do clube, Goldenstein afirma ser necessário

profissionalizar o departamento de futebol, já que o banco é responsável pelos

departamentos financeiros e de marketing e controla o conselho de administração do

clube, mas deixa o departamento de futebol e a presidência a cargo do sócio minoritário,

o Esporte Clube Bahia. O não entendimento dos dirigentes baianos de que Vitória e

Bahia devem ser rivais dentro de campo e fora devem ser parceiros também é outro

elemento prejudicial ao futebol local.

Em resumo: vale o profissionalismo na gestão. Mesmo assumindo a tese de que esporte morre sem a paixão, deve-se admitir que a paixão fica para a torcida, não para a gestão. Uma gestão que deve ser remunerada, em tempo integral, focada na maximização das receitas e redução dos custos, e na obtenção de títulos. A estrutura gerencial tem de ser semelhante à de uma empresa normal, sem nenhum traço de amadorismo. (AIDAR, 2002, p. 112) No nível das condutas, as estratégias devem ser aderentes ao padrão de concorrência relevante para a empresa. É necessário investir nas capacitações correspondentes e assegurar que o desempenho seja coerente com os fatores críticos de sucesso. Essas são as tarefas centrais da gestão empresarial competitiva. (FERRAZ, 1995, p. 14)

Concorrentes nacionais como São Paulo-SP, Internacional-RS, Santos-SP e Atlético-

PR, por exemplo, estão numa fase mais evoluída em relação à Vitória e Bahia no que se

refere ao modo como são administrados, e não é por acaso que nos últimos cinco anos

todos foram campeões ou vice-campeões da Taça Libertadores da América, competição

sul-americana extremamente concorrida. As palavras do presidente do Atlético-PR,

expostas na citação abaixo, ilustram a idéia exposta acima:

Temos tudo informatizado; orçamento, fluxo de caixa, sistemas. A mudança de paradigma começou em 1995. Desde então, melhorou o nível de

informação entre todos os diretores e o comprometimento geral. Somos administrados como uma empresa, mas a satisfação do nosso sócio é a vitória e não o lucro. (PETRAGLIA, 2007, pág. 51)

4.9 ASPECTOS HISTÓRICO-ECONÔMICOS

Como a história da sociedade em muito se relaciona com a sua formação

contemporânea, é indubitável que a atual cultura da sociedade baiana possui traços

originados na época colonial e escravista. A lentidão dos dirigentes baianos em

adaptarem-se à época do futebol-negócio pode ser correlacionada com a formação

histórica local. Os dirigentes de Vitória e Bahia estão, obviamente, inseridos na cultura

local, foram formados nela, e por ela são influenciados. Alguns traços da época em que

as regras capitalistas ainda não eram predominantes na sociedade baiana, podem ser

verificados nas atitudes dos dirigentes locais, como:

a) informalidade nas relações que deveriam ser estritamente profissionais;

b) mistura dos bens da instituição com os bens particulares;

c) relaxamento da cobrança de profissionalismo e seriedade dos atletas;

d) sinais de coronelismo na forma de governar as equipes, com dirigentes buscando

se perpetuar no poder;

e) aceitação de resultados medíocres como normais;

f) falta de visão empresarial em conjunto com a inexistência de mentalidade

gerencial e inovadora voltada para a superação dos limites.

A cultura e a evolução histórica da Bahia possuem características desfavoráveis ao

desenvolvimento do estado sob bases capitalistas e, conseqüentemente, desfavorecem o

desenvolvimento de Vitória e de Bahia. A Bahia situa-se numa região historicamente

inserida em uma economia com as seguintes características: produtora de bens agrícolas

para exportação, com baixa produtividade, sem incentivos à concorrência, com forte

presença de preconceito, patriarcalismo e paternalismo; formada sob bases escravistas, e

sem a existência de um regime de incentivos baseado na ideologia capitalista. Não se

pode exigir (e nem esperar) que indivíduos formados e aculturados sob essas bases

passem a ter uma mentalidade capitalista de modo espontâneo, e muito menos ter o

acúmulo de capital como meta.

As formas que assumem os dois sistemas da economia nordestina – o açucareiro e o criatório - no lento processo de decadência que se inicia na segunda metade do século XVII, constituem elementos fundamentais na formação do que no século XX viria a ser a economia brasileira. (FURTADO, 1977, p. 61) (...) No longo período, que se estende do último quartel do século XVII aos começos do século XIX, a economia nordestina sofreu um lento processo de atrofiamento, no sentido de que a renda real per capita de sua população declinou secularmente. É interessante observar, entretanto, que esse atrofiamento constituiu o processo mesmo de formação do que no século XIX viria a ser o sistema econômico do Nordeste brasileiro, cujas características persistem até hoje. (FURTADO, 1977,

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da década de 90 o futebol entrou num processo de internacionalização, em que

os mercados de atletas e treinadores passaram a ser mundialmente integrados. Disso

resulta que os valores dos salários e das contratações dos melhores jogadores, tendem a

ser determinados pelos principais clubes europeus, situados em países como Espanha,

Alemanha, Inglaterra e Itália, localidades onde se pagam os melhores rendimentos.

Novos mercados surgiram recentemente, como Coréia do Sul, Japão, Rússia, França,

Ucrânia e Portugal, e nesses países os salários pagos para os melhores atletas também

são superiores àqueles pagos no Brasil. Neste processo, os grandes clubes,

fundamentalmente os europeus, contratam profissionais de todas as nacionalidades e

disputam por mercados não apenas em seu país ou continente, mas em todo o mundo.

O resultado disto é que a inserção dos clubes brasileiros, dentre estes, Vitória e Bahia,

passa a ser periférica em relação aos grandes clubes europeus, principalmente, devido

ao abismo financeiro que separa as duas realidades. Assim, as equipes brasileiras têm

dificuldades enormes para competir com clubes mais ricos, como Barcelona, Milan e

Bayern de Munique, por exemplo, de forma que os melhores jogadores brasileiros

permanecem cada vez menos tempo no país porque as agremiações nacionais não

dispõem de recursos suficientes para cobrir propostas de contratos milionários feitas por

tais equipes. As agremiações brasileiras encontram-se diante de um mercado aberto,

extremamente concorrencial, profissional, e que requer volume de recursos cada vez

maiores para superar os concorrentes.

As recentes mudanças ocorridas no futebol brasileiro, como a criação do campeonato de

pontos corridos, a moralização do sistema de acesso e descenso, e a criação da Lei Pelé,

tornaram o futebol nacional mais competitivo e as barreiras à entrada neste mercado

estão cada vez maiores. Assim, crescem as necessidades de profissionalização, de

melhorias nas praças esportivas, de melhoria no tratamento aos torcedores-

consumidores, de evolução dos métodos de gestão, e de formulação de estratégias de

crescimento sustentáveis. O Vitória e o Bahia sempre foram equipes tradicionais do

futebol baiano e brasileiro. A atual inserção de ambos os clubes no cenário esportivo

nacional é secundária, pois os dois clubes estão fora da primeira divisão desde 2005, e

muito menos tem disputados torneios nacionais importantes com chances reais de ser

campeão no século XXI.

A eliminação dos laços com administrações arcaicas e mentalidades pouco profissionais

se faz necessário para o sucesso do Vitória e do Bahia. Sem uma estrutura interna séria,

transparente e profissional, torna-se complicada a obtenção de investidores e parceiros,

visto que as empresas temem aplicar seus recursos em negócios mal geridos, arriscados,

ou naqueles no qual o profissionalismo não seja característica básica. As duas principais

instituições esportivas baianas já começam a demonstrar sinais de distanciamento frente

a alguns clubes brasileiros, como Santos, São Paulo, Internacional, Atlético Paranaense.

Estes clubes possuem modernos centros de treinamento, estádios consideravelmente

melhores que os soteropolitanos, gestão profissional, e maior facilidade em atrair

investimentos por questões de localização geográfica, que os beneficiam pela pujança

econômica, possuem maior número de torcedores e maior espaço na mídia.

Há um grande potencial econômico e empresarial a ser explorado no futebol brasileiro,

facilitado pela grande paixão suscitada por este esporte. Por conseguinte, há maior

facilidade em se vender o produto futebol tendo em vista que o torcedor-consumidor já

é uma demanda naturalmente “conquistada”, ou seja, os esforços para impelir as pessoas

a demandarem o produto são menores que em outros tipos de mercados. O que deve ser

objetivado é canalizar as emoções dos torcedores para algo organizado racionalmente e

com continuidade, porém sem eliminar o fator “paixão” na mente dos torcedores, pois

isto é o “combustível” do futebol.

O mesmo potencial se verifica no Vitória e no Bahia. Tais clubes possuem uma torcida

grande e apaixonada, situam-se na terceira maior cidade do Brasil em termos

populacionais e se localizam em um estado que vem obtendo maior crescimento

econômico e maior geração de renda após o século XXI, além de investidores fortes

estarem sendo atraídos para a Bahia. As equipes locais deveriam aproveitar as melhorias

ocorridas na economia local e a vinda da Copa do Mundo para o Brasil, tendo Salvador

como provável cidade-sede, para incrementar seu crescimento de forma sustentável e

visando o longo prazo. Para tal, a construção de um estádio moderno deveria ser um dos

objetivos da dupla, assim como a contratação de profissionais para gerir e administrar

os clubes, em vez de delegar tal função a conselheiros que tomam decisões baseados em

critérios emocionais e que por muitas vezes não tomam a melhor decisão possível.

Ademais, tais instituições deveriam preocupar-se fortemente com o crescimento da

torcida, buscando expandi-la por outros estados da região Nordeste em função de

similaridades culturais e da carência de bons clubes nesta região. Com a crescente

profissionalização e busca por mercados dos grandes clubes do eixo Sul-Sudeste, é

primordial uma política agressiva para atrair novos torcedores e expandir o mercado

com o intuito de não perder uma boa oportunidade de expansão do mercado

consumidor.

Ainda há tempo para melhorias no futebol baiano, mas estas têm que ser rápidas e

eficazes. Caso o distanciamento do futebol local em relação aos maiores clubes

brasileiros persista, dificilmente Vitória e Bahia conseguirão recuperar o espaço perdido

no mercado do futebol brasileiro e disputar títulos importantes com reais condições de

saírem vencedores. A manutenção da atual estrutura do futebol baiano resultará numa

tendência à persistência na produção de resultados pífios e conseqüente redução do

número de torcedores destes clubes.

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APÊNDICE

Produto Interno Bruto do Brasil a preços correntes e por unidades da federação (1996 a 2004)

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Grandes Regiões e Unidades da Federação R$

Milhão R$ Milhão R$ Milhão R$ Milhão R$ Milhão R$ Milhão R $ Milhão R$ Milhão R$ Milhão BRASIL 778.886 870.743 914.187 973.845 1.101.255 1.198.736 1.346.028 1.556.182 1.766.621

São Paulo 272.035 308.893 324.152 340.281 370.819 400.629 438.148 494.814 546.607 Rio de Janeiro 86.758 97.674 100.651 114.419 137.877 148.033 170.114 190.384 222.564 Minas Gerais 78.604 87.197 89.490 93.748 106.169 113.530 125.389 144.545 166.586 Rio Grande do Sul 63.263 69.221 70.542 75.450 85.138 94.084 104.451 128.040 142.874 Paraná 47.720 52.849 56.798 61.724 65.969 72.770 81.449 99.000 108.699 Bahia 32.990 37.021 38.759 42.040 48.197 52.249 62.103 73.166 86.882 Santa Catarina 29.454 31.875 32.434 35.682 42.428 46.535 51.828 62.214 70.208 Pernambuco 21.391 23.439 24.810 26.021 29.127 31.725 36.510 42.261 47.697 Distrito Federal 16.539 19.916 25.119 22.256 29.587 33.051 35.672 37.753 43.522 Goiás 14.592 16.025 17.428 17.920 21.665 25.048 31.299 36.835 41.316 Amazonas 14.090 14.411 15.107 15.555 18.873 20.736 25.030 28.063 35.889 Espírito Santo 14.909 16.198 17.369 18.772 21.530 22.538 24.723 28.980 34.488 Pará 13.855 14.717 15.572 16.674 18.914 21.748 25.530 29.215 34.196 Ceará 15.641 17.589 18.836 19.511 20.800 21.581 24.204 28.425 33.261 Mato Grosso 7.946 9.155 9.901 11.701 13.428 14.453 17.888 22.615 27.935 Mato Grosso do Sul 8.317 9.292 10.050 10.901 11.861 13.736 15.343 18.970 19.954 Maranhão 6.873 7.410 7.224 7.918 9.207 10.293 11.420 13.984 16.547 Rio Grande do Norte 5.876 6.669 6.844 7.648 9.293 9.834 11.633 13.696 15.906 Paraíba 6.549 6.989 7.262 7.937 9.238 10.272 11.634 13.711 14.863 Sergipe 4.304 4.843 5.031 5.434 5.921 8.204 9.496 11.704 13.121 Alagoas 5.072 5.756 6.141 6.429 7.023 7.569 8.767 10.326 11.556 Rondônia 3.639 4.198 4.611 5.023 5.625 6.083 7.284 8.492 9.744 Piauí 3.902 4.225 4.413 4.734 5.330 5.575 6.166 7.325 8.611 Tocantins 1.534 1.720 1.941 2.106 2.450 3.067 3.545 4.190 4.768 Amapá 1.340 1.526 1.501 1.584 1.968 2.253 2.652 3.083 3.720 Acre 1.148 1.314 1.454 1.557 1.703 1.921 2.259 2.716 3.242

Roraima 547 621 746 817 1.117 1.219 1.488 1.677 1.864 Fonte: IBGE - Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais.