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TCC O Desafio da Reciclagem do Lixo Eletrônico

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Trabalho de Conclusão de Curso do Jornalismo UFSC "O Desafio da Reciclagem do Lixo Eletrônico" da acadêmica Ana Paula Flores.

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TERÇA-FEIRA, 25 DE NOVEMBRO DE 2008

Documento Documento O desafio da

Trabalho de Conclusão de CursoAna Paula Flores

reciclagemdo lixo eletrônico

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DIÁRIO CATARINENSE > TERÇA-FEIRA | 25 | NOVEMBRO | 200802 < Apresentação DC Documento DC Documento

ÍndiceCarta ao Leitor

Expediente

Em abril deste ano eu estava em busca de um tema para desenvolver meu projeto de trabalho de conclusão de curso. Ao folhear uma edição do DC, uma pequena matéria que divulgava um debate sobre lixo tecnológico na Assem-bléia Legislativa de SC me chamou a atenção. Desde então, meu interesse por tudo que dissesse respeito à tecnologia, reciclagem e meio ambiente se multipli-cou. O resultado da apu-ração jornalística que você encontra nesse caderno mostra uma realidade mar-cada pela ausência de reg-ulamentação e informação, e por esparsas iniciativas de reaproveitamento. O te-ma compreende questões que vão desde interesses do setor produtivo até a consciência ambiental do consumidor. É exatamente aí, no conhecido dilema entre avanço tecnológico e preservação ambiental, que o tema desse trabalho se insere. Através de uma série de reportagens pre-tendo esclarecer aspectos pouco divulgados, como as conseqüências ambientais do descarte inadequado desses resíduos, suas pos-sibilidades de reciclagem e a discussão em torno da responsabilidade pós-con-sumo dos equipamentos eletrônicos.

Tenha uma boa leitura!

Trabalho de Conclusão de Curso - Jornalismo

Universidade Federal de Santa Catarina

Reportagem, edição e fotografiaAna Paula Flores

OrientaçãoProfª Tattiana Gonçalves Teixeira

DiagramaçãoDirceu Getúlio Cunha Neto

InfografiaAlunos da disciplina de

Infografia, orientados pelo professor Lucio Baggio

Página centrais:Páginas centrais: Diego Car-doso, Isabela Rosa, Laryssa

D’Alama, Lygia Esper, Marcelo Mendes, Nayara D’Alama e

Rosielle Machado.Páginas 10 e 11:

Andréia Lubini, Jéssica Lipinski, Mariana Della Justina, Mayara

Rinaldi, Rafaella Paschoal, Thiago Victorino e Yara Kuszka.

Novembro - 2008

WW

W.JKLO

SS

NER

.CO

M

Alto consumo de eletrônicos impulsiona mercado de sucatasOs avanços tecnológicos aumentam descarte e movimentam mercado de reaproveitamento de aparelhos fora de usoPáginas 4 e 5

Apenas Paraná possui lei exclusiva para lixo eletrônicoPor que a falta de clareza nos projetos de lei dificulta o emprego da legislaçãoPágina 6

Variedade de componentes dos eletrônicos dificulta reciclagemReciclagem geralmente ocorre com as partes facilmente desmontáveis, o restante é enviado para aterrosPágina 7

Do berço ao túmuloOs impactos que a produção, o uso e o descarte causam ao meio ambientePáginas 8 e 9

Reciclagem de sucata eletrônica obtém cobre com alto valor agregadoMétodo para reciclar cobre de lixo eletrônico ganhou prêmio do CNPqPáginas 10 e 11

Duas alternativas para minimizar o lixotecnológico se destacam no SulInclusão digital é a meta de projetos que re-condicionam computadores e máquinas caça-níqueisPáginas 12 e 13

Lei federal amplia recolhimento de pilhas e bateriasNova regulamentação pretende facilitar o des-carte dos itens pelos consumidores obrigando varejo a instalar caixas coletorasPáginas 14 e 15

ContracapaO desmanche de um notebook passo-a-passoPágina 16

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DIÁRIO CATARINENSE > TERÇA-FEIRA | 25 | NOVEMBRO | 2008 Apresentação > 03DC Documento DC Documento AN

A PAULA FLO

RES

s custos reduzidos e as facilidades de compra est imu-lam a proliferação de novos produtos tecnológicos, como

computadores pessoais, notebooks e celulares, que se tornam obsoletos de forma acelerada. O esgotamento da vida útil de um eletrônico pode acontecer por vários fatores: quan-do há necessidade de substituição por outro com mais funções, por modismos, estimulados pelos cons-tantes lançamentos de produtos, relegando aspectos como durabili-dade e utilidade, ou ainda quando o equipamento estraga e a compra de um produto novo custa mais barato do que o conserto.

O ciclo de vida de um celular é de cerca de três anos e de um compu-tador está entre três e cinco anos, mas a tendência atual é que a subs-tituição seja cada vez mais rápida. A expectativa é que sejam vendidos 13 milhões de desktops e notebooks até o final do ano, 23% a mais que em 2007. A Anatel prevê que o pa-ís vai encerrar o ano de 2008 com mais de 150 milhões de usuários de celulares, um aumento de quase 30 milhões sobre o número registrado em 2007. Esse crescimento no con-sumo amplia também o descarte de

equipamentos usados, contribuindo para a produção do lixo tecnológico ou eletrônico, que aumenta a uma taxa três vezes maior do que o lixo comum.

Os produtos tecnológicos não são planejados pensando no seu descarte: eles possuem uma gran-de variedade de componentes di-ferentes (ligas de metais e diversos plást icos) que dificultam a des-montagem para o reaproveitamento dos componentes. Apesar disso, ini-ciativas que usam o e- l ixo como matér ia-pr ima para confecção de acessórios e para a indústria dão mostras do que é possível fazer pa-ra evitar o lançamento desses resí-duos em aterros.

Na medida em que o consumo aumenta, um ramo de atividade ganha espaço: o setor de recicla-gem de resíduos de aparelhos ele-trônicos é um nicho do mercado com potencial e que já começou a ser ocupado. Desmontar, triturar e transformar diversos equipamentos é o que as empresas de remanufatu-ra fazem. São empresas especializa-

das na separação e reaproveitamen-to de materiais usados em celulares, computadores, televisores.

A discussão do tema no âmbito acadêmico ainda é escassa. Exis-tem alguns trabalhos sobre a reci-clagem dos componentes na área de engenharia de materiais. Já no campo jurídico, a abordagem vem sendo feita tomando como base os

resíduos sólidos de maneira geral. A reciclagem do lixo tecnológico foi tema de um se-minário na Ponti-fícia Universidade Católica do Para-ná, em Curitiba, no dia 31 de outu-bro. O evento teve a participação de

sete palestrantes, entre professores pesquisadores de universidades e representantes do setor produtivo tecnológico e de reciclagem.

Na opinião do professor de Enge-nharia Ambiental da PUC/PR Car-los Mello Garcias, um dos maiores desafios para a implantação de um mecanismo eficiente de coleta do e-lixo é a falta de consciência am-biental da sociedade: “Eu diria que é um problema de cultura e de edu-cação. Tecnicamente nós não temos

dificuldade nenhuma. O nosso co-nhecimento tecnológico é suficiente para resolver o problema. Então, o problema está na formação do cida-dão. As pessoas não cuidam nem da bituca do cigarro, do papel de bala, como vão se preocupar com esse ti-po de lixo?”. Outro ponto destacado pelo professor foi a necessidade de pensar a questão do lixo de manei-ra mais abrangente: “Pensa-se num sistema de coleta especial isolado. Não se resolve o problema do lixo só pensando no lixo. Não há como fazer uma coleta especial, dar desti-no adequado para esses resíduos se apenas uma área do conhecimento achar que tem a solução na mão”.

O papel do cidadão também foi destacado por representantes do setor produtivo. Para o gerente de sustentabilidade da Itautec, João Carlos Redondo o consumidor deve pressionar o as empresas de tecno-logia por alternativas de recicla-gem: “Tanto a decisão da compra, quanto a do destino a ser dado é do usuário. O poder está nas mãos do consumidor. É ele quem deci-de se o mercado vai adotar ou não iniciativas de recolhimento para os computadores obsoletos”. Ele expli-ca que, desde 2006, a empresa tem feito alterações nos componentes de informática que desenvolve, retiran-

do, por exemplo, o chumbo e o mer-cúrio e substituindo elementos tóxi-cos por outros com menor impacto. Essas mudanças estão de acordo com as diretivas em vigor desde 2003 na Europa. O plano ambiental da empresa inclui o recebimento de computadores Itautec dos usuários para a reciclagem das partes.

No estado de São Paulo, aconte-ceu no dia 30 de outubro o Mutirão do Lixo Eletrônico, que instalou cerca de duas mil caixas de coleta nos municípios paulistas para re-colher celulares, pilhas, baterias e carregadores dos cidadãos paulis-tas. Foi uma iniciativa válida, mas insuficiente, porque durou apenas um dia e em apenas um estado. No sul do país existem outras ações sociais de ONGs e instituições que recolhem esses equipamentos, mas são dificultadas pela burocracia e pela falta de continuidade.

É possível perceber que duas questões chave cercam esse tema: como instaurar um mecanismo constante de recolhimento desses resíduos e fazer com que o consu-midor se preocupe com a desti-nação adequada? Como você verá após a leitura desse caderno, as mudanças vão muito além da am-pliação da consciência ambiental do cidadão.

O

Vida útil curta e destino final incerto

Essa é a realidade atual dos indispensáveis equipamentos eletrônicos

As pessoas não cuidam da bituca do cigarro nem do papel de bala, como vão se preocupar com o

lixo tecnológico?Carlos Garcias

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ANA PAU

LA FLOR

ES

DIÁRIO CATARINENSE > TERÇA-FEIRA | 25 | NOVEMBRO | 200804 < Sucata DC Documento DC Documento

Lixo tecnológico é fonte de renda para empresas e associações de catadoress vendas de com-putadores batem recordes no Brasil - a expectativa é que sejam vendidos 13 milhões de desktops

e notebooks até o final do ano, 23% a mais que em 2007 -, mas também contribuem para a produção de um resíduo que aumenta a uma taxa três vezes maior do que o lixo co-mum. O descarte dos equipamentos usados ainda é uma incógnita para muitos consumidores, mas empre-sas do setor e ONGs começam a atu-ar no ramo de reaproveitamento do lixo tecnológico.

A Recicla Mais comercializa equi-pamentos eletrônicos usados há 10 anos em Florianópolis. A empresa compra eletrônicos de empresas e pessoas físicas, mas a maior parte do depósito possui materiais pro-venientes de compras em leilões. O último arremate resultou na aquisi-ção de 300 gabinetes de computador (carcaça sem as placas, somente com a fonte), carga que será desmontada

e revendida para uma empresa de reciclagem de ferro. Os cinco fun-cionários da empresa – dois deles técnicos em informática – testam os equipamentos, que vão desde telefo-nes a computadores e seus periféri-cos. Aqueles que ainda funcionam vão para a loja, que vende produtos usados, já os que não têm conserto são desmontados e separados para posterior venda aos recicladores de metais e plásticos. (veja tabela na pá-gina ao lado)

Outra empresa que trabalha com resíduo eletrôni-co é a Sucainfo, que atua há um ano em São José. Os equipamentos também são arre-matados em leilões de equipamen-tos eletrônicos. Mas, de acordo com a sócia da firma, Miriã Nascimento, nem tudo que se compra é resíduo eletrônico: “num lote vem de tudo que tu imagina, ferro podre, mesa

quebrada. Mas como tu pagou o lo-te, tem que trazer tudo”. Os poucos equipamentos que ainda funcionam são vendidos para a Recicla Mais, já os restantes são desmontados pelo único funcionário da empresa e os componentes são repassados para outros sucateiros e ferros-velhos. O lixo que não tem valor comercial é depositado numa caixa coletora da Brooks Ambiental, empresa de ge-

renciamento de re-síduos sólidos, onde a empresária diz que pode “colocar tudo, sem restrição”. Esses resíduos são encaminhados para o aterro sanitário da ProActiva, em Biguaçu. No dia da visita feita pela re-

portagem, enquanto o funcionário desmontava uma máquina de escre-ver, o conteúdo do último lote arre-matado aguardava pelo desmonte no chão de brita da empresa. São dezenas de monitores e CRT’s depo-

sitados a céu aberto, expostos à chu-va e às enchentes que são comuns no bairro.

Clóvis Caires é proprietário de uma empresa que atua com sucata eletrônica há um ano no Campe-che, sul de Florianópolis. Ele compra a sucata de ferros velhos, depósi-tos e empresas de manutenção de computadores. Quando o material chega dois funcionários fazem a descaracterização: componentes co-mo placas-mãe, placas de circuito impresso, discos rígidos, cabos, fios, processadores, fontes de alimenta-ção são separados e revendidos para empresas que aproveitam o cobre, o aço e outros metais nobres que pos-sam ser fundidos. Uma prática mui-to comum é queimar os cabos e fios de cobre, para separar o plástico do metal, já que o preço sem o plástico isolante é cerca de três vezes maior (o quilo do cobre não revestido é vendido pelos catadores por cerca de R$ 10 o quilo). Caires, no en-tanto, garante que vende o fio para uma empresa que separa por meio

de moagem, já que a queima libera gases prejudiciais ao homem e à at-mosfera. Os equipamentos levados pelos consumidores e empresas são comprados por peso, com preços que variam de R$ 0,30 a R$ 3,5. Na opinião do empresário, o retorno que o consumidor tem ao levar seu equipamento estragado ou velho para empresas especializadas na re-ciclagem de lixo tecnológico “não é financeiro, mas está no fato de não sermos responsável pelo passivo ambiental que esse lixo acarreta”.

Destino do monitor

Um dos problemas relatados pelos empresários é o acúmulo de monitores. De acordo com o geren-te da Recicla Mais, os monitores guardados no depósito – cerca de 200 – prejudicam a logística da fir-ma. Já o proprietário da Campeche Recicláveis envia esses equipamen-tos para a única empresa no Brasil que faz a descontaminação, pro-cesso que separa os resíduos tóxi-

AEmpresas apenas

desmontam equipamentos e

revendem componentes para outros sucateiros

Descarte de eletrônicosimpulsiona mercado de sucatas

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DIÁRIO CATARINENSE > TERÇA-FEIRA | 25 | NOVEMBRO | 2008 Sucata > 05DC Documento DC Documento

cos do vidro. O empresário aceita recolher esses equipamentos, mas não reembolsa o consumidor. Já os tubos de imagem da Sucainfo vão para o aterro da ProActiva. Como o aterro é sanitário, e, portanto, só pode receber resíduos urbanos do-mésticos, a empresa encaminha os resíduos eletrônicos para aterros industriais existentes em Blume-nau e Joinville.

Monitores, placas de circuito im-presso, pilhas e baterias contêm metais pesados em sua composi-ção e, por isso, são considerados resíduos perigosos, devendo ser encaminhados, depois de sua vida útil, para aterros industriais. Nesses locais eles são depositados, junta-mente com outros resíduos classe I, nas chamadas células de estocagem, que são escavadas no solo a uma profundidade de cerca de cinco me-tros e impermeabilizadas com argi-

la e uma camada dupla de manta de polietileno (plástico isolante).

Alternativa para coletores

A Companhia de Melhoramentos da Capital (Comcap/Florianópo-lis) recolhe equipamentos eletrôni-cos por meio da coleta seletiva, que atende 87% da população, cerca de 300 mil habitantes. Os materiais recicláveis recolhidos, entre eles os eletrônicos, são distribuídos para os galpões de triagem de três asso-ciações de coletores: a Associação de Coletores de Materiais Reciclá-veis (ACMR), localizada na sede da Comcap, no Itacorubi, a Associação de Recicladores Esperança (AREsp), situada no bairro Chico Mendes, e a Associação Aparecida, em São José. São recolhidas 1800 toneladas por ano de materiais recicláveis, prove-nientes da coleta seletiva da Com-cap, de associações de catadores e de catadores que atuam isoladamente nos bairros. Nilson de Souza traba-lha há seis anos na AREsp, onde se divide entre a esteira de separação manual e o controle de vendas. Ele explica que cada componente é ven-dido a um preço específico aos atra-vessadores, que compram separada-mente o plástico, as placas e o ferro resultantes do desmonte.

Volmir dos Santos é o presidente da ACMR e diz que os associados costumavam quebrar os equipa-mentos para tirar “só o que é bom”. O que eles consideram como “bom” são os fios de cobre, ferro, plástico e alumínio; o restante se junta ao lixo comum e era enviado em caminhões para o aterro sanitário. Desde junho, a associação se comprometeu a con-servar os computadores inteiros para vender para a Compuciclado Recicla-gem de computadores e periféricos, situada no bairro João Paulo. Steve Rae, dono da empresa, paga R$ 0,90 pelo quilo dos equipamentos. No galpão, ele desmonta os computado-res que compra de diversos coleto-

res e sucateiros da capital. De acordo com ele, as peças que ainda funcio-nam são utiliza-das para remontar computadores que podem ser vendi-dos a preços mais acessíveis à po-pulação de baixa renda. Outros ma-teriais como ferro, plástico e alumínio são vendidos para sucateiros especia-lizados. O objeti-vo de Steve não é “ser sucateiro, mas sim, prestar um serviço ambien-tal”. Ele considera inadequada a ati-tude dos catadores de “arrebentar” os equipamentos e acha que deve-ria existir uma lei que proibisse a utilização desse tipo de resíduo por quem não sabe tratá-lo. Assim como outras empresas, Steve enfrenta di-ficuldades com o acúmulo de tubos de imagem de monitores. Ele man-tém cerca de 30 deles guardados no depósito “esperando surgir uma uti-lidade ambientalmente correta”.

Dentre as quatro empresas loca-lizadas pela reportagem, nenhuma delas atua, efetivamente, na reci-clagem dos resíduos eletrônicos. O que elas fazem é o desmanche dos equipamentos para revender mate-riais como metais e plásticos para outras empresas de sucatas. A reci-clagem seria o reaproveitamento de materiais que constituem os resí-duos como matéria-prima para um novo produto.

Reuso pode ser opção

Enquanto para alguns as sucatas eletrônicas servem como fonte de renda, para outros elas se tornam

peça de museu. A Comcap possui um programa de educação am-biental que inclui visitas de estu-dantes ao chamado Museu do Lixo. O responsável pelas visitas é Valdi-nei Marques, monitor de Educação Ambiental da companhia. O Museu foi montado e organizado por ele há seis anos. O local abriga televisores, microondas, tocadores de LPs, rá-dios, máquinas de costura, máqui-nas de escrever, telefones fixos, fer-ros de passar roupa, celulares, além de bonecos e esculturas feitos de aço e restos de embalagens. Alguns apa-relhos eletrônicos ainda funcionam. É possível assistir TV, ouvir rádio, tocar LPs e ligar o ventilador. Duran-te a visita, os estudantes, de acordo com Valdinei, são levados para “um túnel do tempo” onde ele ensina que “a modernidade tem um preço”. Ele costuma alertar as crianças para te-nham um consumo responsável e para que levem uma vida mais zen: “Zen poluição, zen barulho”.

O descarte adequado do lixo tec-nológico também é uma preocupa-

ção da ONG Comitê para Democra-tização da Informática (CDI – SC). A Semana da Inclusão Digital, pro-movida simultaneamente em 24 sedes da organização no Brasil em março desse ano, teve como tema Lixo Tecnológico: o que fazer com ele? O CDI recebe doações de equi-pamentos em boas condições de empresas privadas e pessoas físi-cas. Dois técnicos voluntários fazem revisão e manutenção e os equipa-mentos são distribuídos para 21 Escolas de Educação e Informática mantidas pela ONG em comunida-des de baixa renda na Grande Flo-rianópolis e em Tubarão, onde são oferecidos cursos de capacitação para crianças, jovens e adultos. Mas, como nem todos os equipamentos que recebem têm condições de ser reaproveitados, de acordo com An-tônio Póvoas, presidente da organi-zação em SC, a idéia é formar um centro de triagem de equipamentos, onde seria possível a utilização das componentes que não funcionam em obras de artesanato.

Apenas uma empresa no Brasil faz descontaminação de CRT

A substituição da tecnologia antiga de televisores e monitores por telas de cristal líquido (LCD, liquid crystal display, em inglês) e de plasma pode causar grande im-pacto ambiental se não houver um descarte apropriado. Os monitores comuns possuem os chamados tu-bos de raios catódicos (CRT, sigla para cathode ray tube, tubo de ima-gem ou cinescópio). No interior do tubo existem fósforo aluminizado e óxido de chumbo – o primeiro é um pó que, em suspensão no ar, pode causar intoxicação se for ina-lado, ou contaminar o solo quando jogado no aterro; o segundo é um metal tóxico, classificado como re-síduo Classe I (perigoso), de acor-do com a ABNT. Os tubos de ima-gem possuem de 18 a 24% do seu peso em chumbo.

Por isso, a reciclagem de moni-tores e TVs exige a realização de um processo chamado desconta-minação. A Ativa Reciclagem de Materiais, situada em Guarulhos - SP começou a atuar no ramo em janeiro desse ano, e é a única em-presa do Brasil que realiza esse pro-cedimento. O processo inclui a des-montagem manual do monitor ou televisor, a separação entre o tubo e a tela por um equipamento para corte térmico e a aspiração dos re-síduos tóxicos (chumbo do funil e pó de fósforo do painel). O chumbo e o fósforo recolhidos servem como coloríficos para a indústria cerâ-mica. O vidro limpo que é obtido do painel é moído e encaminhado para reciclagem. De acordo com Edgar Garcia, gerente comercial de projetos, a empresa recebe de qua-

tro a cinco mil monitores por mês, menos de 40% da capacidade produtiva. O va-lor cobrado para realizar o procedimento varia de R$ 650 a 990 por tonelada de tubos, dependendo do tipo de carga. Já o preço por uni-dade do monitor completo varia entre R$ 4,5 e 7,5. A empresa também atua na reciclagem e descontami-nação de lâmpadas e rea-tores, pois segundo Garcia “trabalhar só com monitor ainda não compensa, por conta da baixa demanda, devido à falta de consciência ambiental dos geradores do resíduo”. Ele critica as empresas pequenas que retiram apenas o plástico e o cobre presen-tes nos monitores: “Essas empresas

canibais recolhem e vendem só as partes lucrativas, não têm licencia-mento, nem têm a preocupação de dar o destino o certo para o tubo”. Por isso ele considera importante que os municípios se organizem

para criar centrais de resíduos: “Mas isso é diferente de coopera-tivas de catadores, que não têm capacidade pra lidar com resíduos perigosos, não recebem instrução dos governos”.

PREÇO DE COMPRA

EQUIPAMENTOCPU completaGabinete (carcaça)Impressoras, faz, scannerPlacas em geral (rede, vídeo, som)Placa mãeMonitores CRTCabos diversos

Caixa de som/mousePlástico de informática/tecladosCelular com bateriaCelular sem bateriaAparelho telefônico fixo

CAMPECHE RECICLÁVEISR$ 0,60R$ 0,15R$ 0,30R$ 3,75 a 4,50 (depende se tiver ou não conectores)R$4,00Coleta, mas não pagaR$2,80 a 4,50 (depende se for cabo da rede, de força ou lógico)R$0,20R$0,20R$1,75R$3,30R$0,15

RECICLA MAISR$ 0,50R$ 0,10R$ 0,20R$ 2,00

R$2,50R$0,05R$1,00

R$0,10R$0,05R$0,50R$0,80R$0,05

ONDE ENTREGAR SEU EQUIPAMENTO USADO

Comitê para Democra-tização da Informática (CDI) – Aceita doações de computadores e perifé-ricos para programas de inclusão digital. A ONG cria Escolas de Informática e Cidadania em parceria com organizações comunitárias e disponibiliza os equipa-mentos em comodato.

A confi guração mínima deve ser igual ou superior a Pentium III com 256 Mb de memória e HD de 10 Gb.

Fone: (48) 3322-2020www.cdisc.org.br

ANA PAU

LA FLOR

ES

Tubo de imagem de monitor foi quebrado por catadores para retirar o cobre

Descarte de eletrônicosimpulsiona mercado de sucatas

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DIÁRIO CATARINENSE > TERÇA-FEIRA | 25 | NOVEMBRO | 200806 < Legislação DC Documento DC Documento

PROJETO DE LEI PREVÊ LOGÍSTICA REVERSA

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PL nº 1991/07) des-creve a logística reversa como “procedimentos destinados a facilitar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos aos seus geradores, para que sejam tratados ou reaproveitados em no-vos produtos, na forma de novos insumos, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, visando a não geração de rejeitos”.De acordo com o PL, o responsável pelos serviços públicos de limpeza urbana deve priorizar a contratação de organi-zações de catadores de materiais recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa renda. O professor de Engenharia Ambiental da PUC/PR, Carlos Garcias, critica o modelo de reciclagem adotado no país, sempre associado à marginalida-de e à precariedade de condições de trabalho: “Nós adoramos reciclagem, mas quem tem que fazer é o pobre coitado do cavalo de dois pés. Nós estamos condenando uma parte da sociedade a uma degradação a tal nível que eles são a nossa sustentação!”.

Apenas Paraná possui legislação exclusiva para lixo tecnológicoAusência de menção específica ao e-lixo dificulta aplicação de normas

única regulamen-tação brasileira que trata do lixo eletrô-nico é uma resolução do Conselho Nacio-nal do Meio Ambien-

te (Conama), que estabelece limites para o uso de substâncias tóxicas em pilhas e baterias e responsabi-liza os fabricantes pela coleta e re-ciclagem desses materiais. Tramita desde 1998, no Congresso Nacional um projeto de lei que regulamenta a coleta, o tratamento e a destina-ção final do lixo tecnológico. Outro projeto semelhante foi proposto em 2007 e anexado ao primeiro. A re-gulamentação existente nos estados do Sul do país se refere apenas ao descarte de pilhas e baterias e para resíduos sólidos em geral.

Uma legislação mais específica para o lixo tecnológico foi apro-vada no Paraná em junho deste ano. A lei nº 15.851 obri-ga as empresas de produtos de infor-mática instaladas no estado a criarem programas de reco-lhimento, reciclagem ou destruição de equipamentos. A Positivo Informática, sediada no Paraná, é a maior fabricante de computadores do Brasil - registrou uma produção de 225 mil compu-tadores por mês - e é responsável por 25% dos computadores vendi-dos nos mercado oficial em 2007. A empresa não possui uma estru-tura exclusiva para o recolhimen-to e reciclagem de computadores porque, de acordo com o assessor de comunicação da empresa Duda

Salvato, ainda não existe necessi-dade de planejamento para isso, já que a empresa atua no mercado de varejo há apenas quatro anos. Para ele, a abertura de um programa de recolhimento dos computadores vai acontecer mais tarde, quando houver um volume maior de ven-das e os computadores vendidos começarem a ficar obsoletos.

Em Santa Catarina, o descarte do lixo eletrônico está sujeito à Política Estadual de Resíduos Sólidos (Lei nº 13.557), em vigor desde 2005, que estabelece, entre outras medi-das, a criação de um Sistema de In-formações sobre resíduos sólidos. A Secretaria de Desenvolvimento Eco-nômico Sustentável, órgão respon-sável pela implantação do sistema, no entanto, não possui previsão pa-ra o lançamento desse mecanismo. A aplicação efetiva da lei estadual

é prejudicada por dois motivos: além de de-pender da aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que tramita no Congresso Nacional há mais de um ano, ela foi anexada ao Código Ambiental

do estado, projeto do executivo que tramita na Assembléia desde julho desse ano. Por isso, a PERS não está completamente regulamentada, jus-tifica Cláudio Cameschi, gerente de resíduos sólidos da secretaria.

Outra questão que prejudica a eficácia da PERS é a classificação dos tipos de resíduos presentes nessa lei. Eles são classificados em urbanos, industriais, de serviço de saúde, de atividades rurais, de ser-viços de transporte, radioativos e

especiais. A ausência de uma men-ção explícita ao lixo tecnológico pode dificultar o cumprimento da norma pelos responsáveis. Uma alteração feita na PERS em janeiro desse ano estabeleceu “a responsa-bilização do fabricante e de empre-sas que comercializem produtos ofertados ao consumidor final”. A lei, nesse caso, dá margem a mui-tas interpretações, porque não dei-xa claro nem a que tipo de produto se refere nem de que maneira se dará essa responsabilização.

Para o presidente da ONG CDI, Antônio Póvoas, na prática a lei não é cumprida por falta de regu-lamentação: “Ainda não se sabe se o consumidor deve levar o produto obsoleto ao ponto de venda ou se as empresas precisam criar depósitos específicos para receber esse mate-rial”. Por isso ele acredita que a lei é

apenas o primeiro passo: “É preciso ainda estimular os fornecedores a participarem de projetos locais onde as pessoas poderiam descartar esse material. O comerciante, o fabrican-te e o vendedor que se tornarem responsáveis pelo destino do lixo tecnológico vão ter que criar uma estrutura para dar destino a isso”.

Na opinião de José Rubens Mora-to, coordenador do Grupo de Pesqui-sa em Direito Ambiental da UFSC, é preciso uma lei específica de respon-sabilidade pós-consumo que clas-sifique esse resíduo especial e que determine um procedimento de fis-calização que garanta a efetividade da norma. “Para isso, o órgão públi-co precisa criar uma infra-estrutura geral: estabelecer o local onde vai ser feito o depósito, determinar qual a responsabilidade da empresa, quan-do ela vai ser acionada, como ela vai

gerenciar o custo da poluição e, prin-cipalmente criar instrumentos pra fiscalizar o cumprimento da lei”. Há, no entanto, dificuldades em definir o responsável, porque a cadeia de pro-dução de produtos eletrônicos envol-ve fabricantes, distribuidores, vare-jistas, e muitas vezes, importadores. O professor defende a existência de uma responsabilidade comparti-lhada entre os envolvidos na cadeia. “Todos têm que responder pela sua parte no processo produtivo”.

A legislação no Rio Grande do Sul demonstra o mesmo ponto fraco da de SC: a falta de clareza na classifica-ção dos resíduos. Os tipos de resídu-os previstos na PERS do estado são os provenientes de: atividades indus-triais, urbanas (doméstica e de lim-peza urbana), comerciais, de servi-ços de saúde, rurais, de prestação de serviços e de extração de minerais.

A

Políticas de resíduos sólidos

não fazem referência ao e-lixo

em seus artigosSete anos se passaram desde

a criação da primeira Comissão Especial da Política Nacional dos Resíduos na Câmara dos Deputa-dos. Em 2007, finalmente um pro-jeto de lei (PL 1991/07), proposto pelo poder executivo (Ministério do Meio Ambiente) institui a Po-lítica Nacional de Resíduos Sóli-dos (PNRS). O projeto tramita em regime de urgência no Congresso há um ano e dois meses. A ques-tão central que impede a aprova-ção de uma Política Nacional de Resíduos Sólidos é a falta de con-senso entre o governo e o setor empresarial quanto ao modelo de responsabilização pós-consumo a ser adotado no país.

O PL que cria a Política estabele-ce que os resíduos sólidos reversos coletados pelos serviços de limpe-za urbana deverão ser dispostos em instalações ambientalmente adequadas, “para que seus gera-dores providenciem o retorno para seu ciclo ou outro ciclo produtivo”, o que, em outras palavras significa a adoção da Responsabilidade Am-pliada do Produtor (RAP), modelo em vigência na União Européia. A atribuição do gerenciamento dos resíduos aos fabricantes força-os a repensar a concepção dos novos produtos, a ampliação do tempo de vida útil e a facilidade de reci-clagem dos equipamentos. Para o professor de Engenharia Ambien-tal da PUC/PR Carlos Mello Gar-cias a responsabilidade comparti-lhada é fundamental. “Não adianta responsabilizar só uma parte da sociedade”, acredita.

A Gestão Compartilhada nor-teia o modelo de responsabilidade pós-consumo dos Estados Unidos. Esse padrão divide a responsabi-lidade pelos resíduos entre produ-tores, revendedores, consumidores e governos. A adoção da gestão compartilhada atende aos interes-ses econômicos dos produtores, já que, ao responsabilizar todos os envolvidos, acaba causando a ausência de definição quanto às competências de cada uma das partes nessa co-responsabilidade. Além disso, a cadeia de pós-con-sumo de um eletrônico é comple-xa, pois envolve desde fabricantes, redes varejistas, empresas de ma-nutenção, de coleta de resíduos, catadores, comerciantes de su-catas, recicladores, até o próprio consumidor final. Eventualmente, a maior parte da responsabilida-de acaba recaindo sobre o poder público municipal, que já é res-ponsável pela gestão de resíduos municipais urbanos.

Para Ângela Cássia Rodrigues, autora de uma dissertação de mes-trado sobre os resíduos eletrônicos, “A ausência de regulamentação quanto à responsabilidade por esse tipo de resíduo faz com que o fluxo desses produtos ocorra de forma caótica, difusa e sem controle”. Na opinião de José Rubens Morato, coordenador do Grupo de Pesqui-sa em Direito Ambiental da UFSC, a falta de regulamentação gera in-certezas, “tanto por parte do fabri-cante, quanto por parte do próprio órgão público, que deveria agir e não age. Então, fica um jogando a

responsabilidade para outro e aca-ba ninguém fazendo”.

Na União Européia, duas dire-tivas sobre o uso e descarte desse lixo estão em vigor desde 2003. A WEEE (Waste Electrical and Electronic Equipment) disciplina a gestão de resíduos eletroeletrô-nicos, responsabiliza financeira e fisicamente os fabricantes e im-portadores por essas atividades e estabelece metas de coleta e pra-zos para a instalação de sistemas de tratamento e recuperação dos equipamentos descartados. A ou-tra diretiva é a RoHS (Restriction of Certain Hazardous Substances), que restringe o uso de determina-das substâncias tóxicas e perigosas na fabricação dos produtos. Am-bas integram a Política Integrada de Produtos, que se baseia em nos princípios da precaução, da ação preventiva, do poluidor-pagador e da RAP. De acordo com a política, os produtos devem conter infor-mações sobre os materiais que os compõem e a localização interna das substâncias perigosas.

No Brasil, produtores e distri-buidores envolvidos na questão dos resíduos eletrônicos não con-cordam com a adoção de modelos do exterior. Para eles as particula-ridades do país devem ser con-sideradas. A Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica) defende a implan-tação da gestão compartilhada, onde as empresas poderiam as-sumir a responsabilidade exclusi-vamente sobre o produto que elas próprias fabricam.

Responsabilidade gera dilema

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As carcaças de monitores, te-clados, mouses e caixas de som podem ser feitas de dois tipos de plásticos: o ABS (acrilonitri-la butadieno estireno) e o HIPS (poliestireno de alto impacto). Quando descartados, esses ma-teriais demoram cerca de 400 anos para se decompor. Esses materiais são considerados po-límeros termoplásticos, aqueles, que, quando sujeitos à ação de calor, facilmente se deformam podendo ser remodelados e no-vamente solidificados. Por isso, esses tipos de plásticos podem

ser reciclados. Ou seja, essas carcaças podem voltar para a indústria e servir de matéria-prima para produção de novas resinas plásticas.

É nesse tipo de atividade que cinco detentos da Colônia Penal Agrícola, em Palhoça estão envol-vidos há cinco meses. Eles fazem o desmonte dos equipamentos, provenientes, em sua maioria, da Recicla Mais, que recebe de vol-ta os tubos de imagem, cabos e placas. Além disso, mais de uma dezena de sucateiros, como a Associação de Recicladores Es-

perança, ven-dem o plástico separado a R$ 0,35 o quilo. O trabalho dos p re s o s c o n -siste na des-montagem dos equipamentos, e n a re t i r a -d a d e t o d a s as impurezas como adesi -vos, parafusos e b or rachas, p a r a q u e o plástico fique

completamente limpo. A Colônia possui uma parceria com a Re-sume Reciciclagem, que paga aos detentos um salário mínimo por mês dividido por dia trabalhado, o que significa em média R$ 13 por dia, descontando-se 25% do total que vai para o fundo rotati-vo, previsto na Lei de Execuções Penais, para custear despesas dos detentos no presídio.

Depois que o plástico é lim-po, ele é enviado para a sede da empresa, em São José, na Grande Florianópolis, onde é triturado e lavado. O proprietá-rio da Resume, Carlos Eduardo Sarkis, é engenheiro químico e mestrando em Engenharia de Materiais e desenvolveu uma mistura de plástico de compu-tador e EPS (poliestireno ex-pandido, o conhecido Isopor®) que é utilizado por uma empre-sa como matéria-prima para a fabricação de molduras para quadros e porta-retratos e ro-dapés decorativos.

O processo executado na em-presa consiste em adicionar o plástico e o isopor moídos em uma máquina que aquece e aglutina os dois componentes.

Depois disso o composto é fun-dido na extrusora e passa atra-vés de vários orifícios, onde a mistura adquire a forma de fios finos acinzentados. Por meio de uma esteira os fios são mergu-lhados em água fria, para que se solidifiquem. Em seguida são moídos novamente. A partir daí, o material está pronto para ser reutilizado na fabricação de ou-tros produtos.

Ao contrário do plástico, que é

comprado de sucateiros, a maior parte do EPS coletado pela Re-sume é proveniente de doação de empresas que tem este ma-terial como resíduo de suas ati-vidades, por exemplo, sobras de produção e corte de blocos, re-barbas de recortadoras de EPS para construção civil, empresas de embalagens e câmaras frias. Sarkis também compra de su-cateiros e cooperativas, mas em volume menor.

DIÁRIO CATARINENSE > TERÇA-FEIRA | 25 | NOVEMBRO | 2008 Setor Produtivo > 07DC Documento DC Documento

Variedade de componentes dos eletrônicos dificulta reciclagemReaproveitamento de metais e plásticos lidera mercado secundário

ciclo de vida dos produtos eletrô-nicos não termi-na qu a n do e l e s são descartados. A re c i c l a g e m e

o reaproveitamento dos ma-teriais utilizados na fabrica-ção desses itens são formas de diminuir o impacto trazido pelo alto nível de consumo de tecnologia. A logística reversa é um mecanismo que prevê o retorno dos produtos – depois de extinta a vida útil – ao ciclo produtivo ou de negócios. Des-sa forma, eles readquirem va-lor em mercados secundários por meio do reuso de compo-nentes e a reciclagem dos ma-teriais constituintes.

Um dos f atores que l i m i -tam o retorno dos resíduos de equipamentos eletrônicos é a complexidade desses produtos, tanto pela forma como são fa-bricados como pelo número de materiais componentes, o que dificulta a separação. Isso faz

com que a reciclagem ocorra somente com as partes facil-mente desmontáveis, cujos ma-teriais tenham valor no merca-do secundário de materiais; o restante é considerado rejeito e enviado para destinação final, geralmente em aterros desti-nados a resíduos domiciliares. A lém disso, a fac i l idade de transporte, a conservação das propriedades originais e o nú-mero de reutilizações possíveis são outros fatores que deter-minam a capacidade de reci-clagem de um produto.

Os metais são os materiais cujo mercado de reciclagem é mais desenvolvido, pois, de acordo com Hugo Veit, profes-sor de engenharia de materiais, esses elementos não perdem as propriedades físico-químicas originais. O ferro e o aço são os mater iais com maior ín-dice de reciclabilidade, cerca de 70% da sucata disponível é reciclada. A ABNT estabelece normas ao comércio desse tipo

de sucata quanto à procedên-cia, à origem e ao conteúdo. Já a reintegração ao ciclo produ-tivo de outros materiais, como plásticos, é diferenciada. Exis-tem restrições técnicas ao pro-cessamento e ao desempenho final dos produtos fabricados

com plásticos reciclados. Isso faz com que a matéria-prima secundária seja utilizada em proporções diferentes, varian-do em função do tipo de apli-cação do produto final.

Pau l o Ro b e r t o L e i t e , au -tor do livro Logística Reversa,

dest a c a a lg u m a s cond i ç õ es essenciais para que estab e-lecimento do fluxo reverso: o preço de venda dos reciclados deve ser inferior ou compatí-vel com as matér ias-pr imas virgens que vão substituir ; a qual idade dos mater iais re-cicláveis e as quantidades de recicláveis devem ser cons-tantes, garantindo atividades em esca la econômica e em-presarial. De acordo com ele, a freqüência de fornecimento do pós-consumo e em quanti-dades satisfatórias é uma das maiores dificuldades nas ca-deias reversas. A substituição de matér ias-pr imas v irgens por recicladas permite obter economia em dois campos: na quantidade de energia elétrica ou térmica, pelo fato de essas energias já terem sido gastas na primeira fabricação do ma-terial e na diferença entre os investimentos em fábricas de matérias-primas primárias e de matérias-primas recicladas.

O

ENTENDA OS CONCEITOS

Reuso: Extensão do uso de um produto com a mesma função para a qual foi originalmente fabricado, ou seja, sem nenhum tipo de remanufaturaReciclagem: Reaproveitamento de materiais como matéria-pri-ma para um novo produto.Desmanche: Os componentes em condições de uso ou de remanufatura são enviados ao mercado de peças usadas, en-quanto as partes que não têm condições de revalorização são destinadas a aterros sanitários ou são incineradas.

A reciclagem agrega valor econômico, ecológico e logístico aos bens de pós-consumo, criando condições para que o material seja reintegrado ao ciclo produtivo substituindo as matérias-primas novas; o reuso agrega valor de reutilização ao bem de pós-consumo; e a incineração agrega valor econômico, pela transformação dos resíduos em energia elétrica.

Fonte: Logística reversa, Meio Ambiente e Competitividade, obra de Paulo Roberto Leite

Reciclagem de computador emprega detentos

ANA PAU

LA FLOR

ES

Desmonte de equipamentos é oportunidade de renda para presosAN

A PAULA FLO

RES

Máquina extrusora: aplica temperatura e pressão na mistura

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DIÁRIO CATARINENSE > TERÇA-FEIRA | 25 | NOVEMBRO | 2008DC Documento DC Documento

Do berço ao túmulo

ARTE: TURMA DE INFOGRAFIA 2008/2

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DIÁRIO CATARINENSE > TERÇA-FEIRA | 25 | NOVEMBRO | 2008 Meio-Ambiente > 08-09

ocê já se deu con-ta da variedade de materiais que são utilizados na pro-dução dos equipa-mentos tecnológi-

cos que nos rodeiam? Cerca de 30 elementos químicos da tabela periódica podem ser encontrados nesses aparelhos. Mas, de todos esses compostos, os metais e os plásticos são os que mais causam danos ao meio ambiente. Metais pesados como cádmio, mercú-rio e chumbo são empregados na produção de placas de circuitos impressos e de pilhas e baterias. Os plásticos são utilizados nos revestimentos de quase todos os equipamentos tecnológicos.

O chumbo é um elemento tóxico, que pode ser encontrado de várias formas nos aparelhos tecnológicos: como metal, nas soldas das pla-cas de circuito impresso (liga de chumbo e estanho), como óxido, no vidro dos tubos de imagem de monitores e televisores e ainda é incluído no PVC (cloreto de polivi-nila), que reveste os fios e cabos de energia dos eletrônicos em geral, para estabilizar o calor.

A falta de descarte adequado para esses resíduos pode causar danos ambientais e fisiológicos. Os

metais não se degradam com facilidade no am-biente, e, mesmo que se-jam descartados em ater-ros sanitários, podem ser arrastados pelo chorume – líquido ácido prove-niente da decomposição dos compostos orgânicos – e atingir as águas sub-terrâneas, córregos e rios e assim chegar à cadeia alimentar do homem.

A professora do curso de Engenharia Ambien-tal da PUC/PR, Patrícia Sottoriva explica que o pH ácido do chorume é um dos mais importan-tes fatores que afetam a mobilidade dos metais. Esses elementos não são digeridos pelos organis-mos animais e, por isso, vão se acumulando. O processo, chamado de bioacumulação, pode se dar de forma direta atra-vés do ambiente que os envolve, seja solo, ar ou

água (bioconcentração) ou indi-retamente a partir da alimentação (biomagnificação). Como a recicla-gem de eletrônicos ainda é um me-canismo pouco utilizado no país, esses resíduos, depois de sua vida útil, devem ser encaminhados pa-ra aterros industriais. Nesses ater-ros que recebem resíduos classe I, não há produção de chorume, por-que esses locais não recebem ma-téria orgânica, proveniente do lixo doméstico, como os aterros classe II ou sanitários. De acordo com a professora, a intoxicação por essas substâncias não é aguda, mas sim crônica: “Eles não são letais, não costumam causar morte, mas são nocivos à saúde, já que sua acu-mulação pode causar problemas no sistema nervoso central, fígado, pâncreas e rins”.

Grande parte dos cabos de força utilizados nos equipamentos eletrô-nicos é recoberta pelo plástico PVC e sua remoção pela queima para a recuperação do cobre libera gases tóxicos, como ácido cianídrico e dioxinas. O ABS (resina de acriloni-trila) e o HIPS (poliestireno de alto impacto) são outros exemplos de plásticos utilizados na fabricação de equipamentos como monitor de computador e televisor, impressora, teclado, caixa de som, mouse e CD’s. De acordo com o professor Gui-lherme de Oliveira, pesquisador do Grupo de Estudos de Materiais Po-liméricos (Engenharia de Materiais - UFSC), é difícil estimar o tempo de decomposição desses materiais na natureza, mas a grande varieda-de de plásticos existentes no merca-do pode fazer o processo demorar entre 100 e 500 anos.

Desde 2006 em vigência na União Européia, a Diretiva RoHs (Restrição de certas substâncias perigosas, tradução do inglês) proibiu a presença no mercado europeu de equipamentos eletrô-nicos que contenham chumbo, cádmio, mercúrio, cromo hexava-lente, retardantes de chamas, en-tre outras substâncias. A diretiva exigiu ainda que os fabricantes substituam os metais pesados e os retardantes de chamas nos dis-positivos eletro-eletrônicos fabri-cados depois da aprovação da lei. Dessa maneira, a liga de chumbo presente nesses equipamentos foi substituída por uma solda a base de estanho, cobre e prata; o cádmio foi substituído por subs-

tâncias permitidas, como o lítio; já o cromo he-

xavalente, utilizado como anti-corrro-

sivo e na blindagem elétrica, foi trocado por

cromo trivalente, que deixa de ser tóxico após sofrer redução.

V

Metais podem atingir a cadeia alimentar humana

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DIÁRIO CATARINENSE > TERÇA-FEIRA | 25 | NOVEMBRO | 200810 < Pesquisa DC Documento DC Documento

Reciclagem de placas obtém cobre com alto valor agregado

quipamentos utili-zados na indústria de processamento de dados ou de entrete-nimento, como com-putadores e celulares,

podem conter mais de 30% de placas de circuito impresso (PCI). Essas placas são formadas por unidades isoladas e integradas e cerca de 40 % do peso total des-ses componentes é composto de metais como o cobre, ferro, esta-nho, níquel, chumbo, entre outros. Além disso, as placas de circuito impresso contêm polímeros (plás-ticos) e cerâmicos.

O desenvolvimento de um mé-todo inédito para reciclar PCI rendeu ao engenheiro Hugo Mar-celo Veit o terceiro lugar no Prê-mio Jovem Cientista do CNPq em 2006. A técnica desenvolvida pelo pesquisador permite a recupera-ção dos metais separadamente, o que viabiliza seu reaproveita-mento por indústrias. O objetivo da pesquisa foi recuperar o cobre, metal presente em maior quanti-dade nas PCI.

O trabalho, intitulado Recicla-gem de Cobre de Sucatas de Placas de Circuito Impresso, foi realiza-do no Programa de pós-gradua-ção em Engenharia de Materiais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O mé-todo de reciclagem proposto pelo pesquisador envolve dois proces-samentos: o mecânico (magnético e eletrostático) e o eletroquímico (ver infográfico).

Um dos diferenciais do pro-cesso é a economia de energia: o consumo necessário para a extra-ção direta do minério (produção primária) é de 116 GJ/ton de me-tal, enquanto a reciclagem de su-cata (produção secundária) gasta 19 GJ/ton de metal. A diferença de consumo de energia se expli-ca, de acordo com Veit, pelo fato de a produção secundária não incluir nenhum processo térmico

(queima), ao contrário da primá-ria. Nos europeus é comum a re-ciclagem das sucatas eletrônicas por meio de processo térmico, a chamada pirometalurgia. A técni-ca consiste em derreter o material em fornos de altas temperaturas. Nesse procedimento, no entanto, é mais difícil controlar a emissão de gases provenientes da queima dos polímeros, que segundo Veit é “extremamente complexa e ca-ra”, o que dificulta sua realização no Brasil. “Os equipamentos de controle de gases não garantem 100% de eficiência e o alto custo de operação energética (queima nos fornos) são fatores que tor-nam a pirometalugia de difícil utilização no Brasil”.

A única diferença entre o co-bre oriundo de minérios para o reciclado é que o primeiro, cha-

mado cobre eletrolítico, alcança 99,9% de pureza e é utilizado em fiações elétricas por ser um exce-lente condutor de eletricidade. O cobre recuperado alcança 99% de pureza e por isso não é conside-rado eletrolítico. De acordo com o pesquisador, o cobre reciclado pode retornar para as indústrias de manufatura: “É uma matéria-prima que tem um valor agregado alto, por que já está extremamen-te puro, muito melhor do que ex-trair cobre que vem do minério”. O conteúdo de cobre existente nas minas oscila entre 0,7% e 2,5% e sua extração normalmente requer processos pirometalúrgicos. Para a utilização industrial do cobre reciclado basta fazer um proces-samento de refino (eletrorefino) que aumenta a pureza do material de 99% para 99,9%.

Como o trabalho foi feito em nível laboratorial, o pesquisa-dor conseguiu obter aproxima-damente 530 gramas de cobre, provenientes de 10 quilos de PCI. Mas ele explica que o processo é economicamente viável para as indústrias: “Se há um fluxo de matéria-prima, ou seja, cerca de uma tonelada por mês de placas, é possível uma quantidade sufi-ciente de produto final que pa-gue o processo e dê lucro”.

As placas utilizadas na pesqui-sa foram conseguidas gratuita-mente de empresas de assistên-cia técnica. Como não se sabe o que fazer com as PCI irrecupe-ráveis, a maioria é posta no lixo comum: “Não há orientação ne-nhuma, não tem legislação nem sistema de coleta”. De acordo com o engenheiro, o desenvolvi-

mento de iniciativas de recicla-gem e reaproveitamento de ele-trônicos no Brasil ainda é lento por que a responsabilidade não recai sobre nenhuma entidade: “Nem o fabricante, nem o im-portador, nem o revendedor são responsáveis pelo produto de-pois do tempo de vida útil. Co-mo não há legislação, ninguém é obrigado a fazer nada”.

O pesquisador busca agora de-finir processos de reciclagem pa-ra aparelhos celulares. A pesqui-sa Caracterização e Reciclagem de Aparelhos Celulares, financia-da pela Fapergs, procura iden-tificar os materiais que podem ser reciclados ou reaproveitados e definir a disposição final mais adequada para eles. Trabalhando com celulares de marcas e mo-delos variados, o grupo de pes-quisa coordenado pelo professor Veit descobriu que quanto mais novo o celular, mais chumbo existe nas soldas das placas. A solda é o que cola os componen-tes eletrônicos na placa e tradi-cionalmente é composta de 60% de estanho e 40% de chumbo. Na contramão da tendência atual de reduzir ou extinguir o uso de metais perigosos, as empresas brasileiras mantém e até aumen-tam a utilização do chumbo nos aparelhos. Na Europa entrou em vigor em 2006 a chamada RoHS (Restriction of Certain Hazar-dous Substances) ou simples-mente Lead-free (sem chumbo), que proíbe o uso de chumbo, en-tre outras substâncias perigosas, em processos de fabricação de produtos eletrônicos. Os países que se adaptaram à regra utili-zam a prata, o cobre e o bismu-to como substitutos do chumbo. O grupo de pesquisa também já realizou testes de dureza, impac-to e tração nos polímeros reci-clados dos celulares. A próxima etapa é pensar na aplicação prá-tica do plástico obtido.

EAN

A PAULA FLO

RES

O processo foi desenvolvido durante o doutorado do engenheiro Hugo Marcelo Veit

Economia de energia é o diferencial do método desenvolvido por pesquisadorciclo de vida dos produtos ele-trônicos não termina quando eles são descartados. A recicla-gem e o reaproveitamento dos materiais utilizados na fabri-cação desses itens são formas de diminuir o impacto trazido pelo alto nível de consumo de tecnologia. A logística reversa é um mecanismo que prevê o retorno dos produtos – depois de extinta a vida útil – ao ciclo produtivo ou de negócios. Des-sa forma, eles readquirem va-lor em mercados secundários por meio do reuso de compo-nentes e a reciclagem dos ma-teriais constituintes.

Um dos f atores que l i m i -tam o retorno dos resíduos de equipamentos eletrônicos é a complexidade desses produtos, tanto pela forma como são fa-bricados como pelo número de materiais componentes, o que dificulta a separação. Isso faz com que a reciclagem ocorra somente com as partes facil-mente desmontáveis, cujos ma-

teriais tenham valor no merca-do secundário de materiais; o restante é considerado rejeito e enviado para destinação final, geralmente em aterros desti-nados a resíduos domiciliares. A lém disso, a fac i l idade de transporte, a conservação das propriedades originais e o nú-mero de reutilizações possíveis são outros fatores que deter-minam a capacidade de reci-clagem de um produto.

Os metais são os materiais cujo mercado de reciclagem é mais desenvolvido, pois, de acordo com Hugo Veit, profes-sor de engenharia de materiais, esses elementos não perdem as propriedades físico-químicas originais. O ferro e o aço são os mater iais com maior ín-dice de reciclabilidade, cerca de 70% da sucata disponível é reciclada. A ABNT estabelece normas ao comércio desse tipo de sucata quanto à procedên-cia, à origem e ao conteúdo. Já a reintegração ao ciclo produ-

tivo de outros materiais, como plásticos, é diferenciada. Exis-tem restrições técnicas ao pro-cessamento e ao desempenho final dos produtos fabricados com plásticos reciclados. Isso faz com que a matéria-prima secundária seja utilizada em proporções diferentes, varian-do em função do tipo de apli-cação do produto final.

Pau l o Ro b e r t o L e i t e , au -tor do livro Logística Reversa, dest a c a a lg u m a s cond i ç õ es essenciais para que estab e-lecimento do fluxo reverso: o preço de venda dos reciclados deve ser inferior ou compatí-vel com as matér ias-pr imas virgens que vão substituir ; a qual idade dos mater iais re-cicláveis e as quantidades de recicláveis devem ser cons-tantes, garantindo atividades em esca la econômica e em-presarial. De acordo com ele, a freqüência de fornecimento do pós-consumo e em quanti-dades satisfatórias é uma das

maiores dificuldades nas ca-deias reversas. A substituição de matér ias-pr imas v irgens por recicladas permite obter economia em dois campos: na quantidade de energia elétrica ou térmica, pelo fato de essas energias já terem sido gastas na primeira fabricação do ma-terial e na diferença entre os investimentos em fábricas de matérias-primas primárias e de matérias-primas recicladas.

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DIÁRIO CATARINENSE > TERÇA-FEIRA | 25 | NOVEMBRO | 2008 Pesquisa > 11DC Documento DC Documento

ARTE: TURMA DE INFOGRAFIA 2008/2

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DIÁRIO CATARINENSE > TERÇA-FEIRA | 25 | NOVEMBRO | 200812 < Inclusão Digital DC Documento DC Documento

Duas alternativas para minimizar o lixo tecnológico se destacam no SulProjetos envolvem o recondicionamento de computadores e a conversão de máquinas caça-níqueis para doação

depósito do Centro de Recondicionamen-to de Computadores (CRC/RS) de Porto Alegre chama a aten-ção pela quantidade

de equipamentos que ocupam o piso superior do galpão: centenas de mo-nitores, gabinetes, estantes com fontes e drivers de CDs usados. O centro faz parte do programa Computadores para Inclusão, que recupera equipa-mentos usados de órgãos públicos e empresas para posterior doação. Ali quase tudo é reaproveitado: na oficina de robótica os componentes que não têm condições de serem recondicio-nados dão origem a sensores, robôs e carros de controle remoto. No setor de serralheria os gabinetes são reutiliza-dos por jovens, que, por meio da meta-reciclagem, cortam, moldam e pintam as chapas para fazer troféus, quadros e porta-retratos com o metal.

O programa Computadores para Inclusão, do Governo Federal, forma parcerias com instituições locais que se responsabilizam pela manutenção das unidades. A sede do CRC no Rio Grande do Sul, primeira inaugurada no Brasil, funciona no Centro Social Marista (Cesmar), localizado no bair-ro Mário Quintana, subúrbio de Porto Alegre. Desde a sua implantação, em abril de 2006, a unidade já recondicio-nou cerca de 1100 máquinas, que fo-ram entregues a projetos de inclusão digital do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Ceará e Ser-

gipe. O espaço do galpão – de 720 m² – já está limitado pelo acúmulo de máquinas à espera de recondicio-namento e de computadores comple-tos empacotados à espera do frete. As obras de ampliação do galpão come-çaram em julho.

O centro recondiciona aproxi-madamente 200 computadores por mês, dependendo do estado de con-servação das doações, recebidas de órgãos da Administração Pública Federal e de parceiros da iniciativa privada. Um exemplo da parceria do CRC com a iniciativa privada ocorre há dois anos com o hipermercado Big. A filial da empresa em Porto Alegre realizou em agosto deste ano uma promoção para a venda de computa-dores: o consumidor que trouxesse seu computador usado teria R$ 300 de des-conto na compra de um novo. O equipamento, no valor de R$ 998, sairia por R$ 698. Só esse ano, por meio da promoção, o CRC conse-guiu arrecadar 51 computadores.

O Centro é dividido em oficinas de hardware, imagem, sistemas, pe-riféricos, robótica e de pintura. Ali, 70 jovens da comunidade recebem qualificação através de cursos de hardware e software livre e aprendem a fazer desmanche, triagem, recondi-cionamento, montagem, instalação

programas, limpeza e embalagem. O CRC de Porto Alegre atende 35 jovens no período matutino e 35 no vespertino, que permanecem cer-ca de dois meses em cada oficina através de um sistema de rodízio de setores. Esses alunos participam do Programa Jovem Aprendiz, por meio do qual trabalham quatro horas por dia e ganham meio salário mínimo por mês. Além de estarem estudan-do, os jovens selecionados precisam ter acima de 15 anos e possuir co-nhecimentos básicos de informática.

Cristiane de Aguiar Silva, de 19 anos, fez parte da pri-meira turma de jovens aprendizes do CRC e agora atua no progra-ma como educadora na oficina de sistemas. Para ela a atividade oferecida pelo CRC se destaca porque não se preocupa só com a produção, mas tam-

bém com a formação profissional dos jovens. Na opinião de Edson Luiz Pellenz, coordenador administrativo do CRC, um dos méritos do projeto é o estímulo à destinação adequada dos computadores.

O Projeto Computadores para In-clusão possui outros quatro centros de recondicionamento nas cidades de Brasília (DF), Guarulhos (SP), Belo Horizonte (MG) e Niterói (RJ). Os equipamentos recondicionados são doados a telecentros, bibliotecas,

escolas e outros projetos de inclusão digital. O programa federal é coorde-nado pela Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação do Minis-tério do Planejamento. A Comissão Nacional avalia os pedidos de doa-ção encaminhados por entidades de todo o país e decide se atendem aos requisitos exigidos pelo projeto. As solicitações de equipamentos são fei-tas por formulário padrão disponível no endereço: www.governoeletroni-co.gov.br/projetoci

Revitalização de máquinas

O destino dado às máquinas ca-ça-níqueis apreendidas em opera-ções da PF e do MP aos poucos vem mudando. As máquinas, que cos-tumavam ser destruídas por rolos compressores, estão sendo converti-das em computadores e doadas para escolas de cidades de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.

Em Santa Catarina o projeto Rede Piá (Reciclagem Digital Educativa Pró Infância e Adolescência) foi criado há um ano com o objetivo de promover a inclusão digital de alunos de escolas públicas de SC. Além disso, a inicia-tiva pretendia resolver a dificuldade de armazenamento das máquinas e os freqüentes saques aos depósitos da polícia. A idéia surgiu a partir de uma parceria entre o Laboratório de Experimentação Remota (RExLab) da Unisul em Araranguá que, des-de 2002 já desenvolvia um projeto

de reciclagem de computadores e a Associação Beneficente da Indústria Carbonífera de SC (SATC). Após a abertura da carcaça de madeira que reveste as máquinas, a equipe se deu conta que a grande maioria delas eram computadores convencionais, modernos e possuíam monitores de tela plana de 17 e 19 polegadas que, de acordo com o coordenador do la-boratório, Juarez Bento da Silva, che-gavam a custar cerca de R$ 1500.

Atualmente no Laboratório da Unisul, dois professores e dois bolsis-tas trabalham no projeto, retirando alguns componentes e instalando softwares nas máquinas. O procedi-mento de reconversão dos equipa-mentos é simples. Os jogos da maio-ria das máquinas ficam armazena-dos num cartão de memória de 512 Megabytes, e para fazer a conversão, explica o professor, o cartão é forma-tado e nele são gravados softwares li-vres e educativos, que de acordo com ele, têm a vantagem de se ajustarem às características das máquinas: “Te-mos diversas máquinas com confi-gurações diferentes e o fato de poder alterar o software ajuda bastante”. O passo seguinte consiste na retirada dos itens que caracterizam os jogos, como o display eletrônico e o conta-dor de cédulas. Em seguida são in-cluídos um teclado e um mouse. A carcaça de madeira das máquinas, mantida para evitar custos extras com mesa de computador, ganha um novo aspecto com os adesivos desen-

ODesde a

implantação em 2006, a unidade já recondicionou

cerca de 1100 máquinas

ANA PAU

LA FLOR

ES

Monitores usados aguardam recondicionamento. Depois de prontos, os kits com monitor, CPU, caixa de som, mouse e teclado são enviados para projetos de inclusão digital

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DIÁRIO CATARINENSE > TERÇA-FEIRA | 25 | NOVEMBRO | 2008 Inclusão Digital > 13DC Documento DC Documento

volvidos para o projeto. Depois de prontos, os computadores voltam pa-ra a cidade onde foram inicialmente apreendidos, para serem doados a escolas públicas, servindo como ter-minal de consulta em bibliotecas.

Outra aplicação que está sendo de-senvolvida pela equipe são softwares diferenciados para educação infantil e especial. As Apae’s de Araranguá e Criciúma receberam cinco desses equipamentos, que mantêm as oi-to teclas convencionais da máquina caça-níquel para facilitar sua utiliza-ção por crianças e pessoas com ne-cessidades especiais. Para aproveitar os computadores que são mais an-tigos a equipe está montando CPU’s com fonte, placas e memória, com o objetivo de formar um laboratório com cluster, um conjunto de compu-tadores com menor capacidade de processamento, ligados em rede, que trabalham como se fossem uma úni-ca máquina de grande porte. Com os displays eletrônicos que são retirados das máquinas caça-níqueis, o pro-fessor pretende também desenvolver placas luminosas que indiquem a temperatura e a hora.

O programa em Araranguá já entregou 200 máquinas para 26 escolas da comarca de Criciúma e para outras comarcas que não desenvolvem o programa, como Palhoça (10 máquinas). Das oito comarcas do estado que já assina-ram o termo de adesão com o Mi-

nistério Público, até o mês de no-vembro apenas as cidades de Itajaí, Joinville e Araranguá haviam efe-tivamente realizado o processo de reconversão por meio da Rede Piá. Como as máquinas constituem prova para o crime de exploração de jogos de azar, elas só podem ser entregues à conversão depois que o juiz autoriza sua destruição.

De acordo com Marcelo Gomes Silva, promotor de Justiça e coor-denador do Projeto em SC, o MP não dispõe de dados estatísticos como o número de máquinas con-vertidas “porque as Promotorias de Justiça das diferentes comarcas do Estado possuem autonomia na ar-ticulação com os demais parceiros envolvidos”. O projeto Rede Piá é uma iniciativa do Ministério Públi-co de Santa Catarina (MP/SC), jun-tamente com o Governo do Estado de Santa Catarina, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Associação Catarinense das Fun-dações Educacionais (ACAFE) e a Associação das Mantenedoras Par-ticulares de Educação Superior de Santa Catarina (AMPESC).

Trabalho similar no RS

No Rio Grande do Sul, uma ini-ciativa semelhante vem sendo de-senvolvida desde julho desse ano. A diferença é que o Projeto Alquimia retira os computadores da carcaça

de madeira para distribuir para es-colas da rede estadual. Até o mês de outubro 300 máquinas foram mon-tadas e distribuídas pelo projeto. O reaproveitamento dos caça-níqueis é feito por jovens de baixa renda, que receberam qualificação por meio de cursos oferecidos pelo Centro de Re-condicionamento de Computadores

(CRC/RS) de Porto Alegre.De acordo com informações da

Receita Federal até 2006 já haviam sido apreendidas cerca de 40.000 máquinas caça-níqueis em todo o Brasil, 2.500 no estado de Santa Catarina. Depois desse ano, a Re-ceita constatou que maioria des-sas máquinas de jogos não eram

mais importadas, já estavam sen-do montadas no país, por isso, a responsabilidade de apreensão das máquinas passou para a Polícia Ci-vil, que não possui dados comple-tos sobre a apreensão depois des-se período. No Rio Grande do Sul até o mês de julho desse ano 2.230 máquinas foram recolhidas.

A atividade de recondiciona-mento de PC’s nem sempre con-segue aproveitar todos os com-ponentes. Algumas iniciativas de resignificação do lixo eletrônico começaram a trabalhar com es-ses resíduos, mas enfrentam di-ficuldades para continuar as ati-vidades. A Rede Casa Brasil é um projeto federal que disponibiliza às comunidades computadores e diversos cursos, entre eles a ofici-na de metareciclagem, que traba-lha com criação de jóias, lixeiras, porta-lápis e ímãs de geladeira utilizando peças de computadores que não podem ser mais usadas. Em Santa Catarina todas as cinco unidades da Casa Brasil tiveram

iniciativas de meta-reciclagem, mas, de acordo com a técnica da coordenação nacional do projeto, Marlei Grossi, não houve conti-nuidade em virtude de troca de pessoas na gestão do espaço. De acordo com a coordenadora da unidade Casa Brasil Vidal Ramos, em Florianópolis, Emmanuela Ferreira, há dificuldade de encon-trar interessados em ocupar a va-ga de instrutor da oficina, função que exige formação técnica em informática e oferece bolsa no va-lor de R$ 300.

A escola de Educação e Infor-mática dos Ingleses (EIC), vincu-lada a ONG CDI também oferece oficinas de metareciclagem para

as crianças atendidas na sede, situada no Centro Comunitário Madre Tereza de Calcutá. Neste ano, cerca de 70 alunos partici-param da oficina e confecciona-ram peças de artesanato, como brincos, anéis, colares, tiaras, capas para agenda, utilizando peças de aparelhos eletrônicos. A EIC implantou nesse ano um posto de coleta de lixo eletrônico nos Ingleses, onde duas pessoas trabalham na desmontagem dos componentes, separando placas, chips, processadores e fusíveis, que são aproveitados na ofici-na; o restante é repassado para a Campeche Recicláveis, empresa parceira do projeto.

Ações isoladas em Florianópolis

ANA PAU

LA FLOR

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Depósito está l imitado pelo número de máquinas à espera de reparo

ANA PAU

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Bolsistas do projeto testam as computadores recondicionados, que já foram máquinas caça-níqueis Escola municipal de Criciúma recebeu um equipamento recondicionado

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ANA PAU

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Jovens aprendizes participam de oficinas de aprendizagem de hardware e instalação de softwares

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DIÁRIO CATARINENSE > TERÇA-FEIRA | 25 | NOVEMBRO | 200814 < Consumo DC Documento DC Documento

Lei federal amplia recolhimento de pilhas e bateriasNorma do Conama determina recebimento dos itens por todo comércio varejista

mercado brasileiro comercializa 1,2 bilhão de unidades de pilhas e 400 mi-lhões de baterias por ano, de acordo

com a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). Menos de 1% da quan-tidade dos itens consumidos é processada e tem um destino am-bientalmente correto. A maioria acaba misturada ao lixo comum, já que uma resolução do Conse-lho Nacional do Meio Ambiente (Conama) de 1999 permitia o descarte no lixo doméstico de pi-lhas e baterias que atendiam aos limites previstos de mercúrio, cá-dmio e chumbo. (ver tabela com-parativa abaixo)

Uma mudança na determinação do Conama, no entanto, pretende melhorar esse índice. De acor-do com a Resolução 401/08, que revoga a anterior, todos os esta-

belecimentos que comercializam pilhas e baterias do país deverão ter, dentro de dois anos, postos de coleta para receber os produtos descartados pelos consumidores. Os resíduos recebidos devem ser repassados aos fabricantes ou im-portadores, que serão responsá-veis pela reciclagem, ou, quando não for possível, pelo descarte de-finitivo em aterros sanitários. O des-carte previsto, no entanto, seria váli-do se houvesse um gerenciamento ade-quado dos aterros sanitários nos mu-nicípios, realidade existente em ape-nas 13% dos aterros brasileiros, de acordo com a última Pesquisa Nacional de Saneamento Básico divulgada pelo IBGE em 2000.

A decisão, publicada no Diário Oficial em 05 de novembro, tam-

bém diminuiu o teor de metais pesados permitido tanto para as pilhas e baterias fabricadas no país quanto para as importadas. Comparado à Resolução 257/99, o novo texto reduziu o índice de mercúrio, cádmio e chumbo em 95%, 87% e 50% respectiva-mente. Mesmo acentuada, essa redução nos índices de produtos

tóxicos não deve ter grande impac-to na indúst r ia , pois a maioria dos fabricantes já pro-duz dentro desses limites. Em agosto desse ano a Asso-ciação Brasileira da Indústria Eletro-

Eletrônica (Abinee) enviou um documento ao Conama com ta-belas comparativas que demons-tram a redução da presença dos metais no volume anual de pilhas comercializadas no país.

As baterias de níquel-cádmio estão presentes em modelos de celulares e notebooks antigos. Já os de chumbo ácido e de óxi-do de mercúrio têm aplicações mais específicas: em veículos e em instrumentos de navegação, respectivamente. Essas três cate-gorias devem conter identificação na embalagem e indicar o desti-no correto a ser dado ao produto após o fim da vida útil.

As pilhas e baterias de lítio (íon-lítio, usadas em celulares e notebooks; e lítio-manganês, usa-das em câmaras digitais; e as de formato botão, em alarmes e ba-terias de circuito interno de com-putadores) não são mencionadas diretamente na Resolução. Para

esses itens a norma federal tam-bém estabelece a implantação de programas de coleta seletiva com-partilhados pelo Estado e pelos fabricantes, importadores, distri-buidores e comerciantes. Trata-se de uma forma genérica de lidar com o problema, uma vez que não especifica quem tem a responsa-bilidade sobre o quê. O Conselho criou um grupo de trabalho para estudar qual o descarte adequado para esses dispositivos, que não eram usados na época da primei-ra edição da resolução 257/99, mas hoje são comuns.

O problema está nas pilhas e ba-terias falsificadas, ou importadas ilegalmente que, correspondem a cerca de 40% do mercado nacio-nal. Ou seja, cerca de 400 milhões

de pilhas e baterias vêm de contrabando ilegal, sem nenhuma garantia de que elas seguem as especifi-cações oficiais. De acordo com a Abinee, as pilhas vendidas no mercado pa-ralelo, em geral produzidas na China, contêm até dez vezes mais cádmio e mer-cúrio que o permitido pela resolução 257 do Conama. Nesse sentido, a nova re-solução do Conselho soli-cita aos órgãos do governo federal maior controle e fiscalização da importação e a repressão do comércio ilegal de pilhas e baterias. Para reduzir a geração des-ses resíduos, a norma reco-

menda ainda que o Ministério da Fazenda adote medidas de incen-tivos para o consumo de pilhas e baterias recarregáveis, por meio da redução dos impostos que in-cidem sobre a fabricação desses itens. Estima-se que as pilhas re-carregáveis têm vida útil equiva-lente a mil pilhas descartáveis.

Para ampliar o descarte ade-quado de pilhas e baterias, ob-jetivo da resolução 401, um dos desafios é convencer e acostumar os consumidores a deixarem a pi-lha ou bateria velha na caixa de coleta no momento da compra de uma nova. Por isso, o novo texto do Conama estabelece o incenti-vo, por parte poder público e do setor privado, a campanhas de educação ambiental e veiculação de informações sobre a respon-sabilidade pós-consumo. Outro desafio é fiscalizar a instalação de caixas de coleta nos estabeleci-mentos. Uma solução seria que o fabricante fosse o responsável por disponibilizar os coletores para o comércio varejista.

A nova lei não estabelece pe-na para os estabelecimentos que não cumprem a norma. Mas, as empresas que não derem desti-nação correta a produtos tóxicos em geral estão sujeitas à Lei de Crimes Ambientais (decreto nº 6514/2008) que prevê o paga-mento de multa para empresas que lançarem resíduos sólidos em desacordo com as leis. O va-lor da multa varia de R$ 5 mil a R$ 50 milhões.

OPilhas e baterias

ilegais correspondem a 40% do mercado

- cerca de 400 milhões de unidades

TABELA COMPARATIVA

Resolução do Conama nº 257/99Resolução do Conama nº 401/08Situação atual dasempresas filiadas a Abinee

MERCÚRIO (Hg)2.263 (100%)

113 (redução de 95%)

0,8 (redução de 99,96%)

CÁDMIO (Cd)3.395 (100%)

452 (redução de 87%)

4,1 (redução de 99,98%)

CHUMBO (Pb)45.263 (100%)

22.631,5 (redução de 50%)4.601 (redução de 90%)

EMPRESAS FILIADASImportadas: Gillette (fabricante da marca Duracell) e Everyread (marcas Energizer e Everyread);Brasileiras: Microlit (fabricante das marcas Rayovac e Varta) e Panasonic (marca Panasonic).

Fonte: Abinee

Total de resíduos presentes nas 800.000 pilhas comercializadas em 2007 (em quilos):

ANA PAU

LA FLOR

ES

Redução de elementos tóxicos das pilhas e baterias chegou a 95%

ANA PAU

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ES

Conteúdo de uma caixa coletora na biblioteca da UFSC

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DIÁRIO CATARINENSE > TERÇA-FEIRA | 25 | NOVEMBRO | 2008 Consumo > 15DC Documento DC Documento

Operadoras informam sobre descarte de celulares apenas na internet

D a d o s d i v u l g a d o s pela Anatel (Agência Na c i o n a l d e Te l e c o -municações) indicam q u e o B r a s i l t e r m i -nou o mês de setem-b r o d e s s e a n o c o m 1 4 0 . 7 8 8 . 5 6 2 m i l h õ es de celulares. Isso cor-responde a 76 celula-res para 100 habitan-te s . A a g ê n c i a pre v ê que o país vai encer-rar o ano de 2008 com mais de 150 mi l hões de u su á r ios de ce lu -l a re s , u m a a u m e n t o de qu a s e 3 0 m i l h õ es sobre os 121 milhões reg ist rados em 2007. E sse número é ref le-xo d a e s t r at é g i a d a s operadoras de celular, q u e , n a c o m p e t i ç ã o p e l a p r e f e r ê n c i a d e novos c l ientes e m a-nuten ç ã o dos at u ais , ofere -cem novos planos de serviços e pro g r a m a s d e f i d e l i d a d e , qu e e st i mu l a m a const a nte t ro c a p or ap a re l h o s n ovo s , através de ofer tas de apare-lhos a preços reduzidos e até mesmo sem custo.

As operadoras e fabricantes de aparelhos informam sobre como realizar o descarte ape-nas em seus sites. Em geral,

é pre c is o le var at é u m a lo -ja própria da marca e não há remuneração pela devolução. O recolhimento e o desmon-te dos ap are l hos s ã o fe i tos por empresas especializadas, que separam os componen-tes plásticos, circuitos eletrô-nicos e metais. Ainda não há obrigatoriedade de coleta de aparelhos.

Dentre as quatro operadoras

de telefonia móvel que atuam no Sul do país, apenas a Vivo possui dados corresponden-tes ao descarte e à reciclagem desse t ipo de l ixo e let rôni-co. De acordo com o relatório anual da empresa, disponível no site, foram recebidos em 2007, nos 20 estados em que atua no Brasil, 131,1 mil ce-lulares: destes 114,1mil foram destinados à reciclagem e 17 mil recuperados para reutili-zação. A assessoria de impren-sa da operadora Tim disse que não tem disponível o número de e qu ip amentos re cebidos e m s eu pro g r a m a p orque a empresa faz a coleta das bate-rias e aparelhos usados e en-caminha para os respectivos fabricantes para reciclagem. A Brasil Telecom também infor-mou que não tem como men-surar esses dados. A Claro não respondeu aos contatos reali-zados pela reportagem.

LEGISLAÇÃO SOBRE O DESCARTE DE PILHAS E BATERIAS

RIO GRANDE DO SUL

Lei nº 11.187/1998Altera a lei 11.019/97, que legislava apenas sobre pilhas, acrescentando normas sobre o descarte de lâmpadas fl uorescentes, baterias de celular e outros artefatos que contenham metais pesados. Os pro-dutos descartados deverão ser separados e acondi-cionados em recipientes adequados para destinação específi ca, fi cando proibida a disposição em lixo doméstico, comercial, depósitos públicos de resíduos sólidos e a sua incineração. Os estabelecimentos que comercializam esses produtos são obrigados a exigir dos consumidores a pilha ou bateria usadas.

SANTA CATARINA

Lei nº 11.347/00 Obriga os comerciantes de pilhas e baterias e a rede de assistência técnica autorizada a aceitar esses produtos e devendo repassá-los aos fabricantes ou importadores, para que estes adotem, diretamen-

te ou por meio de terceiros, os procedimentos de reutilização,

reciclagem, tratamento ou dis-posição fi nal. Esses itens não poderão ser dispostos em aterros sanitários destinados a resíduos domiciliares.

ONDE DEPOSITAR PILHAS E BATERIAS EMFLORIANÓPOLIS

• Floripa Shopping• Unimed;• UFSC (Possui nove locais de coleta: Biblioteca, Hospital, Centro de Cultura e Eventos, Hall do CTC, Prédio da Mecânica, CFH, NDI, Neti, Colégio de Aplicação);• Hippo Supermercados;• Supermercados Imperatriz;• Banco Real.

ANA PAU

LA FLOR

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Habituar o usuário a deixar pilhas na caixa coletora é um desafio

No Brasil a reciclagem das pi-lhas e baterias é realizada apenas na Suzaquim, empresa sediada em São Paulo que tem capaci-dade para reaproveitar 750 to-neladas por mês, mas só recebe 250 toneladas, de acordo com a gerente técnica Fátima Santos. O custo do reprocessamento é de R$ 990 por tonelada. “Quando tivermos uma quantidade razo-ável que dê pra manter um pro-cesso contínuo, aí sim esse custo seria outro”, explica Fátima.

O processo começa com a se-paração dos plásticos que re-vestem as baterias, que nada mais são que um conjunto de pilhas em série. As pilhas são

guilhotinadas, para que dimi-nuam de tamanho. Em seguida elas são trituradas e peneiradas para que o plástico remanescen-te possa ser retirado. O material moído, basicamente metais , passa por um reator químico e é enviado para um forno, cuja temperatura (1300 graus), faz com que os metais percam a so-lubilidade, ou seja, a capacida-de de se dissolverem em meio ácido. Após o reprocessamento desses resíduos, são obtidos de 150 a 300 quilos de sais e óxi-dos metálicos. O material serve como corante e é vendido para indústrias cerâmicas e de fabri-cação de vidros e tintas.

Reaproveitamento de pilhas e baterias

Lei nº 12.863/04Todo estabelecimento que comercializar esses produtos deverá dispor de local adequa-do contendo recipiente apropriado, devidamente iden-tifi cado e sinalizado, para depósito dos mesmos. Determina ainda a instalação de coletores de pilhas e baterias em todas as unidades educacionais das redes públicas municipal, estadual, federal e particu-lar do estado.

ANA PAU

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Celulares encontrados pela Comcap são mantidos no Museu do Lixo

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DIÁRIO CATARINENSE > TERÇA-FEIRA | 25 | NOVEMBRO | 200816 < Contracapa DC Documento DC Documento

NOTEBOOK ANTIGO VALE R$ 4,54

Esse é o valor que os componentes de um notebook desmontado valeriam no mercado de sucatas. O equipamento, fabricado pela Toshiba no fi m da década de 90, estava guar-dado há anos, pois o antigo dono não sabia que destino dar. O plástico estava tão seco que nem foi preciso fazer força para quebrá-lo. Confi ra os (ínfi mos) valores que a empresa embolsou com a venda das partes:

Peso do HD: 100 gramas. Rende 0,30 centa-vos (R$ 3 o quilo);Driver de CD: 350 gramas. Rende 0,525 cen-tavos (R$ 1,5 o quilo);Placas: 450 gramas. Rende R$ 2,70 (R$ 6 o quilo);Alumínio: 250 gramas. Rende 0,70 centavos (R$ 2,8 o quilo);Plástico: 900 gramas de plástico. Rende 0,315 centavos (R$ 0,35 o quilo).

ANA PAU

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