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Tchê Química Volume 01 - Número 02 - 2004 ISSN 1806-0374

Tchê Química - kelman.com.br · e-mai: [email protected]. PUCRS: Faculdade de Química. Avenida Ipiranga 6681, prédio 12-A, 90619-900-Porto Alegre-RS. Página 36 Artigo / Article

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Tchê QuímicaVolume 01 - Número 02 - 2004 ISSN 1806-0374

Periódico Tchê Química, Porto Alegre: Grupo Tchê Química v. 1, n.2, Ago. 2004 1

PERIÓDICO

Tchê QuímicaVolume 01 – Número 02 – 2004 ISSN 1806 – 0374

Órgão de divulgação científica e informativa.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Periódico tchê química: órgão de divulgação científica e informativa [recursoeletrônico] / Grupo Tchê Química – Vol. 1, n. 2 (ago. 2004)- . – Porto Alegre:Grupo Tchê Química, 2004 - Semestral.Sistema requerido: Adobe Acrobat Reader.Modo de acesso: World Wide Web:<http://www.tchequimica.tk>Descrição baseada em: Vol. 1, n. 1 (jan. 2004).ISSN 1806-0374

1. Química. I. Grupo Tchê Química.

CDD 540

Bibliotecário ResponsávelEdnei de Freitas Silveira

CRB 10/1262

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PERIÓDICO

Tchê QuímicaVolume 01 – Número 02 – 2004 ISSN 1806 – 0374

Órgão de divulgação científica e informativa.

Comissão EditorialEduardo GoldaniGabriel RübensamLuis Alcides Brandini De BoniRodrigo Brambilla

Periódico Tchê QuímicaISSN 1806-0374ISSN 1806-9827 (CD-ROM)Divulgação on-line em www.tchequimica.tk

MissãoPublicar artigos de pesquisa científica que versem sobre a Química e ciências afins.A responsabilidade sobre os artigos é de exclusividade dos autores.Solicitam-se alterações, quando necessário.

Correspondências e assinaturaswww.tchequimica.tk

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Índice

Entrevista / InterveiwJerson KelmanDiretor-presidente daAgência Nacional deÁguas (ANA).Conheça um pouco maissobre um dos homens queajudam a projetar o futuroda nação brasileira.

Página 6

Entrevista / InterveiwPierre Lehmann – FísicoSuiçoO professor Lehmann éum grande exemplo aosmembros da T.Q., e, paranós, é uma grandesatisfação apresentar esteprofessor para você.

Página 10

Artigo / ArticleProfessor Dr. Frank WilczekFeshbach Professor ofPhysics (MIT –Massachusetts Institute ofTechnology)Promessa é dívida, e nóspagamos nossas dívidas.Finalmente apresentamos atão aguardada tradução doartigo A Origem da Massa,do professor Wilczek que,

sem dúvida, é um dos cientistas mais interessantesno mundo da Física contemporânea.Página 12

Artigo / ArticleA SHORT HISTORY OFMALAYSIA, PART 1 ByDr Ng Swee ChingPágina 23

Artigo / ArticleTHE EDUCATIONSYSTEM IN MALAYSIA,PART II By Dr Ng SweeChingPágina 34

Artigo / ArticleSÍNTESE, CARACTERIZAÇÃO E ESTUDOSTÉRMICOS, VIBRACIONAIS ECONDUTIMÉTRICOS DOS CLORETOS DEPRASEODÍMIO E NEODÍMIO COM A 1,10 –FENANTROLINA, Débora de Carvalho Lira,Francisco José Santos Lima e Ademir Oliveirada Silva. Departamento de Química –CCET/UFRN - Natal – RN – Brasil.Página 24

Artigo / ArticleSABÕES E DETERGENTES, Eduardo GoldaniPágina 29

Artigo / ArticleAVALIAÇÃO DA ATIVIDADE DE SISTEMASCATALÍTICOS NÃO-METALOCÊNICOS NAPOLIMERIZAÇÃO DE ETILENO, Nara R. S. Basso,Cíntia Sauer, Fabiana Fim, Alexander Stello e-mai: [email protected]. PUCRS: Faculdade deQuímica. Avenida Ipiranga 6681, prédio 12-A,90619-900-Porto Alegre-RS.Página 36

Artigo / ArticleCOMPUTER IMAGE ANALYSIS OF MALARIALPLASMODIUM VIVAX IN HUMAN RED BLOODCELLSAndré von Mühlen, MS - California Polytechnic StateUniversity, San Luis Obispo, Contact:[email protected]ágina 42

Artigo / ArticleCatalytic converter: a great allied atpolluting gases, Eduardo GoldaniPágina 52

INSTRUÇÕES PARAPUBLICAÇÃOINSTRUCTIONS FOR PUBLICATIONSPágina 53

AGRADECIMENTOS / THANKS.Página 54

DIVERSOS / MISCELÂNEAPágina 54

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Conheça melhor um dos mais importantes pesquisadores brasileirosJERSON KELMAN

Jerson Kelman nasceu em 1948 na cidade do Rio de Janeiro.Em 1971, formou-se em Engenharia Civil pela UniversidadeFederal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em 1976 obteve o título dePh.D em Hidrologia e Recursos Hídricos pela Colorado StateUniversity. Jerson Kelman é professor do curso de Pós-Graduação em Engenharia da UFRJ desde 1973, sendo autor demais de 100 artigos técnicos e de alguns livros, tendo tambémorientado dezenas de teses de mestrado e doutorado.

O prof. Dr Jerson Kelman assumiu a presidência da AgênciaNacional de Águas (ANA) simultaneamente com a sua instalação

em janeiro de 2001, desde então, vem desenvolvendo e implantando os principaisinstrumentos de gestão em bacias hidrográficas consideradas críticas e estruturando aANA para o exercício adequado de suas atribuições. Leia atentamente esta ótima entrevista do Prof. Dr Jerson Kelman àTchê Química e descubra o porquê de o país enfrentar problemas de falta d' água emalgumas regiões mesmo tendo o maior potencial hídrico do mundo.

O que mudou na ANA e no Brasil durantea sua gestão como presidente?

A ANA é responsável pela implantação daPolítica Nacional de Recursos Hídricos e pelogerenciamento das águas no Brasil, conforme osprincípios estabelecidos na Lei das Águas (Lei Nº9.433, de 08 de janeiro de 1997).

Para o cumprimento de suas atribuições, osdesafios têm sido expressivos. Envolveminstrumentos gerenciais complexos e mudanças decomportamento da sociedade, que deve serconscientizada sobre o uso parcimonioso da água. Atarefa exige a construção de pactos entre diferentesatores sociais envolvidos no uso dos recursoshídricos, para garantir o acesso à água, emqualidade e quantidade adequada a todos osbrasileiros.

O empenho da Agência face aos desafiosse revela nas ações que vêm sendo desenvolvidas.As prioridades eleitas nos três primeiros anos defuncionamento da ANA se concentraram nodesenvolvimento e implantação dos principaisinstrumentos de gestão em bacias hidrográficasconsideradas críticas e na estruturação da Agênciapara o exercício adequado de suas atribuições.

Alguns êxitos merecem destaque,principalmente no que se refere à descentralizaçãoda gestão, com o fortalecimento e o apoio aoscomitês de bacia. Houve avanços na implementaçãoda outorga e da cobrança pelo uso dos recursoshídricos.

Tais ações, simbólicas para as dimensõesdo País, representam mudanças noequacionamento dos problemas hídricos brasileiros.A experiência adquirida será valiosa para iniciarprocessos semelhantes em bacias onde o uso daágua é competitivo.

Na sua opinião, se a população brasileiracomeçar, desde já, a poupar água em suascasas isso seria significativo no futuro,considerando que o Brasil é um país agrícola e éna agricultura que realmente se consome muitaágua (70% da água consumida é usada naagricultura, 22% é usada nas indústrias esomente 8% é para uso doméstico)?

O Brasil é o país com o maior potencialhídrico do mundo, com 13,7% da água doce.Embora cada brasileiro disponha, em média, de48.314 metros cúbicos de água por ano, esse valoré bem menor em determinadas regiões, já que oproblema está na má distribuição, por exemplo,regiões como Rio de Janeiro e São Paulo estãosituadas em trechos de bacias incapazes de suprirsequer a demanda de água para uso doméstico eque, para isso, têm que importar água de locaisdistantes.

Além disso, mesmo em trechos dessasregiões onde a escassez de água não é tão crítica,não pode ser desconsiderado o fato de que quantomais água se utiliza para uso doméstico maioressão os volumes gerados de esgotos, o que resultana necessidade de construção de mais estações detratamento ou, na falta dessas, na diminuição dedisponibilidade pela deterioração da qualidade daágua.,

Justifica-se, portanto, instituir programas deuso doméstico racional de água já nos dias de hoje,principalmente nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul.

O que mudou no Brasil depois da criaçãoda ANA? Quais os poderes da ANA?

Com a criação da ANA, o Brasil passou a teruma Agência de Estado responsável por disciplinara utilização de rios, de forma a evitar a poluição e o

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desperdício, para garantir água de boa qualidade àsgerações futuras. Sua missão é ser a guardiã dosrios brasileiros.

Do ponto de vista institucional, a criação daANA trouxe mais segurança aos empreendimentosque têm na água um insumo do processo produtivoe precisam, portanto, de regras estáveis deabastecimento. Em parceria com os comitês debacia, que são uma espécie de unidades básicaspara decisões sobre os recursos hídricos, comrepresentantes de todos os setores usuários,poderes públicos e entidades civis, a Agência vaiaplicar dois mecanismos para melhorar oaproveitamento dos rios: a autorização para o usoda água ou para lançar efluentes e a cobrança dequem suja ou polui os rios.

Qual a real situação do Brasil noproblema da falta de água? Quais as regiões quepossuem esse problema?

Quanto ao problema de falta de água, demodo geral, há duas situações no Brasil. A primeirarefere-se à poluição dos cursos de água,especialmente nas áreas mais urbanizadas doBrasil. Neste caso, a falta de água é causadasobretudo pelas deficiências no tratamento deesgotos urbanos e diz respeito à qualidade de água.Essa situação é a que ocorre, por exemplo, naRegião Sudeste do País. A segunda refere-se à faltade água causada pela escassez propriamente dita.Não há quantidade suficiente e a ação da ANA édirigida para o aumento da oferta de água, egerenciamento da demanda. Esse segundo caso éo que ocorre, por exemplo, na região Semi-Árida doNordeste brasileiro.

O que está sendo feito para resolver oproblema da poluição nos mananciais? Em março de 2001, com apenas três meses defuncionamento, a ANA lançou um programainovador que incentiva os Municípios a implantareme operarem sistemas de tratamento de esgotos quepossibilitem reduzir as cargas de poluição lançadasnos rios e córregos nacionais. O Programa de Despoluição de BaciasHidrográficas – PRODES é inovador, não financiaobras, mas sim resultados. Consiste na concessãode estímulo financeiro, na forma de pagamento peloesgoto tratado, concedido a prestadores de serviçosde saneamento que investirem na implantação eoperação de Estações de Tratamento de Esgotos-ETEs. É um programa de compra de esgotostratados, no qual recursos do Orçamento Geral daUnião-OGU são repassados ao prestador deserviços de saneamento que cumprir as metas dedespoluição (carga abatida e volume de esgotostratado) constantes do contrato. É importante esclarecer que o Comitê de BaciaHidrográfica participa deste processo, pois énecessário que o Comitê dê o aval no quadro demetas proposto pelo prestador/concessionário doserviço. O PRODES não é uma operação decrédito e os prestadores de serviços somente têm

acesso a parcelas do mesmo após cada certificaçãotrimestral e após a emissão pela ANA da Notificaçãode Atendimento às Condições Contratuais (NACC) àCaixa Econômica Federal-CEF. No momento, oPRODES carece de recursos orçamentários efinanceiros para operacionalização em escalasatisfatória.

O que é mais importante para evitar oproblema da falta de água em futuro próximo:poupar água ou despoluir os rios?

Penso que as duas ações juntas poderãominimizar o problema de falta de água em um futuropróximo.

Existem previsões que dizem que a datacrítica para o problema da falta de água é o anode 2025. Qual a sua opinião?

Esses dados são baseados em projeçõesde crescimento da população, da demanda, do nívelde crescimento do País, entre outras. Não pensoque seja possível colocar datas críticas , mas simtrabalhar com planejamento para que o tomador dedecisão possa antecipar o problema na sua região eviabilizar uma solução eficaz.

Existe alguma solução a curto prazo parao problema da seca no agreste brasileiro? Seexiste, por que não se faz? O problema é deordem técnica ou financeira?

A ANA, em parceria com as entidadesintegrantes da Articulação no Semi-Árido-ASA,iniciou, em agosto de 2001, o Projeto Demonstrativo- P1MCT - Segurança Alimentar -Cisternas Ruraispara Famílias do Semi-Árido, que foi concluído emjulho de 2003. O projeto viabilizou a construção de12.743 cisternas rurais, uma das alternativas para asolução dos problemas da seca na Região do Semi-Árido. A técnica, simples e eficaz, possibilita oarmazenamento de água potável por meio darecuperação das águas das chuvas, captadas apartir dos telhados das casas. Além de seu baixocusto, a técnica tem a vantagem de permitir oaproveitamento de águas existentes em seu local deuso, diminuindo as perdas decorrentes dotransporte, evitando sua contaminação por manejoinadequado.

Há anos existem no Brasil leis ambientaisque regulamentam o tratamento de água eefluentes lançados nos rios. É obrigação dequalquer indústria ou órgão trataradequadamente seus efluentes e devolvê-losaos mananciais, no mínimo, nas mesmascondições em que ela foi retirada do manancial.Isso está sendo cumprido? Quem fiscaliza? Qualo motivo da poluição dos rios se existe umalegislação?

A Lei Nº 6.938, de 1981, sobre a PolíticaNacional de Meio Ambiente, criou o SistemaNacional de Meio Ambiente. Durante esses mais de20 anos de existência, vem sendo realizado pelos

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órgãos do SISNAMA, um trabalho tendo comoinstrumentos principais a fiscalização e olicenciamento ambiental. Muitas indústriasimplantaram estações e filtros de tratamento deseus efluentes a partir dessa ação fiscalizadora eoutras mudaram suas atitudes e comportamentospara adotarem práticas mais responsáveis. Hoje, ogrande fator de poluição das águas é o esgotosanitário e doméstico, já que poucos municípiosinvestiram em saneamento ambiental,especialmente no tratamento de esgotos e nagestão integrada de resíduos sólidos, e esse é umdéficit que precisa ser resolvido. O IBAMA,os órgãos estaduais e municipais de meio ambientesão os responsáveis por tal fiscalização. Aexistência de uma legislação é condição necessária,mas não suficiente para garantir a despoluição dosrios. Também é necessário o investimento dosgovernos e das empresas privadas em saneamentoambiental e em tratamento de esgotos e disposiçãofinal de resíduos sólidos. O que pode serimpulsionado por maior consciência da população,pela comunicação social e pela pressão para quetais investimentos sejam priorizados.

O Brasil está se tornando o maiorprodutor de camarões do mundo. Nos tanquesonde os camarões são criados, além dademanda natural de oxigênio usado narespiração dos camarões existem os dejetos eos restos de alimento que não são consumidos eque demandam oxigênio para se decompor.Empregam-se aeradores para renovar o oxigênioda água. Por que não é utilizado um filtrobiológico como um sistema hidropônico, porexemplo? Não seria esta uma forma de reduzir aDBO¹ e DQO² dos tanques e diversificar aprodução das fazendas?

Para implementar a utilização da tecnologiados filtros biológicos, ou qualquer outra modalidadede tratamento baseada na digestão anaeróbia, nasfazendas de camarões, seria necessário remover ossedimentos, através de bombeamento, para tratá-los nos filtros, o que seria além de mais trabalhoso,mais caro. A digestão anaeróbia “in situ” nas lagoaspoderia levar à redução excessiva ou até mesmo àeliminação do oxigênio dissolvido da água,resultando em prejuízos para a produção decamarões. Por este motivo não é indicado o usodesta modalidade de tratamento neste casoespecífico. Na hidroponia os aditivos utilizados naágua não provocam demanda de oxigênio, tendo emvista que são micronutrientes inorgânicos, nãoservindo de parâmetro de comparação com asituação encontrada nas fazendas de camarões.Sendo assim, essas alternativas não são adequadaspara diversificação da produção nas fazendas.

Na Califórnia se usa uma irrigação porgotejamento e subterrânea para poupar água.Por que no Brasil ainda é permitido a irrigação

por aspersão?A escolha do método e do sistema de

irrigação não depende apenas da vontade doagricultor, mas também da cultura, do tipo de solo,da topografia do terreno e das condiçõessocioeconômicas, entre outros fatores. Não temsentido a proibição de um ou outro método.Sistemas de irrigação supostamente mais eficientesquanto ao uso da água, se mal manejados, podemter fraco desempenho. Pelo fato de, na irrigação porgotejamento, ser molhada apenas a parcela doterreno próximo das raízes, se bem aplicado, poderesultar em economia de água. Entretanto,trata-se de um sistema que não é adequado paratodas as culturas. Por exemplo, é inviável, do pontode vista econômico, a irrigação por gotejamento deculturas de pequeno porte, como o feijão. Nessecaso, são usados outros sistemas de irrigação.

Um outro ponto, é que o gotejamento,quando comparado aos outros sistemas, é de maiorcusto inicial de implantação e exige alto níveltecnológico dos irrigantes, condições que nemsempre são possíveis.

O que tem que ser estimulado, seja qual foro sistema de irrigação empregado, é que o uso daágua seja o mais eficiente possível. Nesse sentido,os instrumentos de outorga e cobrança podem terum papel fundamental. Por exemplo, nas outorgasemitidas pela ANA nos últimos dois anos, emdecorrência de análises técnicas que levam emconta a eficiência da irrigação, conseguiu-se umaredução de aproximadamente 38% no volume anualoutorgado por hectare, quando comparado com asoutorgas emitidas anteriormente. As outorgasapenas são emitidas se forem considerada bom oíndice de eficiências de uso de água. Casocontrário, o requerente é obrigado a reconsiderar oseu pedido.

O lodo residual das plantas detratamento de esgotos pode ser usado comofertilizante?

Pode sim, desde que haja ummonitoramento adequado. Alguns compostos comonitrogênio e metais pesados em excesso podem serprejudiciais ao solo. É claro que, a utilização debiossólidos na agricultura pode ser positivaambientalmente na maioria dos casos, devido àpresença de nutrientes e à redução na demanda deáreas de aterros para disposição final do lodo. Também, por razões sanitárias, deve ser observadaa presença de patogênicos. Mesmo com umtratamento adequado no que se refere a essesmicrorganismos, o lodo deve ser utilizadoprioritariamente em culturas arbóreas como alaranja, banana, cana-de-açúcar, pupunha ereflorestamento e também em parques e jardins.

São Paulo, a maior metrópole brasileira,assim como outras grandes cidades, sofre como crescente aumento da poluição dos manaciaisque abastecem a cidade. Os rios, principalmente

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Tietê e Pinheiros, já se encontram saturados emrelação à carga de detritos despejados e, comisso, estão ficando assoreados. Qual aestimativa para o assoreamento total destesrios? Existe alguma perspectiva de solução?

Hoje em dia há uma preocupação muitogrande com a Região Metropolitana de São Paulono que se refere à poluição de seus cursos de água.O foco principal é o rio Tietê, seguido de perto pelorio Pinheiros. Já existem algumas ações paramelhorar a condição atual, como por exemplo aconstrução dos interceptores do rio Pinheiros, queestão levando os esgotos para a estação detratamento de Barueri, o rebaixamento da calha doTietê, entre outras. O grande problema com relaçãoao assoreamento, no entanto, recai sobre osresíduos sólidos e a poluição difusa provenientes daurbanização e dos sistemas de drenagem. Nestecaso, ações não-estruturais, como fiscalização econscientização da população, podem ser tãoimportantes quanto algumas estruturais.

São Paulo e outras grandes cidadespodem vir a sucumbir aos seus própriosdetritos?

A situação atual é realmente preocupante. Oque acontece é que as administrações estãotentando solucionar seus problemas, como aconteceem Porto Alegre, que tem um bom programa dedrenagem, e Belo Horizonte, que está inaugurandoestações de tratamento de esgotos paradespoluição dos rios. Essas soluções têm mérito edevem ser perseguidas por todas as administraçõespara que as grandes cidades não sucumbam àsujeira.

Poderia se utilizar o esgoto doméstico narecuperação de áreas desertificadas, para reporo solo que foi perdido devido à má gestão daagropecuária, como no caso de algumas regiõesdo Rio Grande do Sul?

Esta solução pode ser adotada em algunscasos, mas há de se ter monitoramento, como nocaso de aplicação na agricultura. Para o caso dereposição do solo, o lodo de esgoto pode sereficiente, desde que haja um tratamento adequadopara controle dos patogênicos e metais pesadosprincipalmente. No que se refere ao esgotodoméstico propriamente dito, já existem algunslocais como Israel, por exemplo, que utilizam esteresíduo como insumo para fertirrigação apóstratamento preliminar com grades e peneiras edesinfecção. No caso do Brasil, há a necessidadede pesquisas na área, o que seria muito bem-vindo.

Por que o Brasil não faz um uso maisintenso das fazendas marinhas?

A ANA não tem a competência expressapara gestão em ambiente marinho, mas sim aMarinha, a Secretaria de Patrimônio da União -SPU,a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da

Presidência da República - SEAP e os ÓrgãosAmbientais. No momento, a normatização para ouso das fazendas marinhas está em fase deelaboração, sendo que a SEAP está providenciandoo fomento e o ordenamento das mesmas.

Seria possível fazer uma espécie deCanal do Panamá ou algum sistema parecidocom o que esta sendo construído no Egito parairrigação de lavouras aqui no Brasil? Um canalque não fosse necessariamente navegável, masque fosse usado para levar água doce ousalgada para regiões áridas como o Nordeste?

A questão a se colocar não seria somentesobre a possibilidade, mas também sobre aviabilidade e adequabilidade do empreendimento,entre outros aspectos, nas condições hidrológicas,econômicas e ambientais existentes. No caso daágua doce, está se fazendo, por exemplo, umestudo de transferência de água a partir da calha dorio São Francisco para trechos mais secos da baciae para outras bacias adjacentes no qual parte dacondução se fará por meio de canais.

Por outro lado, embora se careçam deestudos mais abrangentes, sob as condições atuaisde nosso país não se justifica captar, recalcar edistribuir grandes quantidades de água salgada pararegiões mais secas do interior do Nordeste para usoem irrigação, pois isso implicaria gastos energéticosenormes e exigiria a implantação de grandesestações de dessalinização. Além disso, deveria serantes avaliado o aproveitamento da águasubterrânea disponível na região, cujas reservas sãosabidamente expressivas em aqüíferos como oSerra Grande, Cabeças etc.

A solução poderia, no entanto, ser adotadapara algumas grandes cidades da faixa costeiranordestina, onde a água dessalinizada serviria paraatender parte da demanda de uso doméstico nasépocas mais críticas.

O potencial hidroelétrico do Brasil émuito alto, porém a demanda de energia elétricaestá colocando a nossa matriz energética emteste. Por que não é utilizada a energia dasmarés no Brasil?

A energia das marés é uma alternativatecnológica nova, que ainda está em estudo. NoBrasil, já se verificou que o Estado do Maranhãoapresenta a variação de nível necessária parautilizar essa forma de energia e pode ser um doslocais para se instalar um projeto piloto no nossoPaís.

O senhor acredita que a produção deenergia elétrica a partir de fontes hídricas noBrasil acabe sendo substituída por outras fontescomo nuclear, térmica, eólica etc., para permitiro uso da água na agricultura ou no consumoresidencial?

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A alternativa hidrelétrica constitui vocaçãonatural do País, dado o imenso potencial hidráulicoainda a ser explorado. Além disso, continuam aexistir aproveitamentos hidrelétricos de custoimbatível por qualquer outra forma de energia

renovável. Por estes motivos, a hidreletricidadecontinuará a ter participação relevante noplanejamento do Governo Federal. Contudo, aolongo dos últimos anos vem–se diversificando amatriz energética brasileira.

Um homem que vale a pena conhecer Pierre Lehmann

O Grupo Tchê Química obteve uma ótima entrevista com ofísico e ecólogo Suíço Pierre Lehmann. Os conceitos e as pesquisas feitas por este professor são degrande aplicabilidade à nação Brasileira, sendo que, dentre elas,podemos citar as pesquisas com biodigestores, captação de águada chuva e preservação de rios.

Por incrível que pareça, os estudos deste Suíço demonstramque é possível fazer pesquisas que causem grandes impactospositivos ao meio ambiente e com o mínimo de recursosdispendidos.

1- How old are you? Where did youstudy? What is your academic formation? Wheredid you work as a professor?

To start with, I am a physicist. I was born in1933 and I am now retired. I studied nuclear physcisat the Institute of technology of Luasanne.Switzerland and worked for a few years in this field.Than I joined a company named Schlumbergerwhich provides wire line services to oil companies allover the world. This enabled me to work in manycountries and with many different people. I alsocame to realize how polluting the oil business is andstarted to question the profit gospel of the bigcompanies. In 1971 I returned to Switzerland andstarted a small engineering office specialising onenvironmental impact studies, particularly in the fieldof air pollution. This office still exists and is now runby a female engineer whom I have helped to form inthe mathematical modelling of transport anddispersion processes. We also worked on solarenergy and water pollution problems.

I realized that it was nonsense to developnon-renewable energies like oil or nuclear and sobecame active in the anti-nuclear movement inSwitzerland. With other people we created “TheAssociation for the Development of RenewableEnergies (ADER)”. It produced a book in 1997 “L’Energie au futur” (energy in the future) of which Iwrote a few chapters.

Concerning the big problem of waterpollution, I tried to convince people that it isimportant first to save water rather than to pollute itand to try hopelessly to clean it afterwards. Thismade me also a specialist of composting toilets. So,if I want to summarize my career: from nuclearpower plants to composting toilets.

Finally I think it is very important to questionthe way we practice science. The big science of

today (nuclear power, fusion power, biotechnologyetc.) are in my view mistaken endeavours. They willonly lead to big problems and may well cause theend of humanity. In 1984 with 3 other people I wrotea book questioning the utility of CERN “LaQuadrature du CERN”. CERN is a big europeanlaboratory in Geneva concerned with high energyparticle physics.

It is important to realize that the science ofthe western world in unable to understand life. Life isinfinitely complex. And science confuses complexitywith complication. There is no interface betweencomplexity and complication, so differentapproaches are needed. It is in particular senselessto exclude finality when discussing nature. But this isexactly what science does (postulate of theobjectivity of nature).

2- You have done several experimentswith the recycling of organic materials in yourhouse. Which were the experiments that youconsidered the most occurred? Why?

In my house we recycle kitchen wastes andhuman body wastes into compost which can than beused in the garden. In my view it is very importantthat everybody learns how to compost organicmaterials. It is as important as to know how to readand write.

3- You used to catch the water of rain touse it for ends less noble than the humanconsumption, as to wash clothes, to water plantsamong others things. Was difficult for youProfessor, living in Switzerland, a country thathas one of the best systems of water treatmentin the world, to convince people that yourprinciples were correct? That they can in factreduce the damages to the ambient?

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