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Departamento de Engenharia Civil
Técnicas de Reabilitação de Condutas Dissertação apresentada para a obtenção do grau de Mestre em
Construção Urbana
Autor
Erik Maciel Moreira Santos
Orientador
Prof. Doutor Joaquim José de Oliveira Sousa
Coimbra, Setembro de 2011
Técnicas de Reabilitação de Condutas AGRADECIMENTOS
Erik Maciel Moreira Santos i
AGRADECIMENTOS
A realização da presente dissertação foi favorecida pela ajuda imprescindível de várias
pessoas e entidades, às quais não poderia deixar de manifestar os meus agradecimentos.
Ao Prof. Doutor Joaquim José de Oliveira Sousa, Professor do Departamento de Engenharia
Civil (DEC) do Instituto Superior de Engenharia Civil de Coimbra (ISEC), pela sua
orientação científica, apoio, incentivo, dedicação, paciência, amizade e motivação que me
soube dar ao longo da realização deste trabalho.
Agradeço de igual forma às três entidades gestoras, Águas de Coimbra, Águas da Figueira e
Águas do Mondego, bem como à empresa MARSILOP, Lda, que facultaram elementos sem
os quais este trabalho não teria sido possível, pelo menos não por este caminho.
Aos meus pais, Fernando e Otília, pois sem a vossa amizade, compreensão, incentivo e apoio
esta fase da minha vida não teria sido possível.
À minha irmã e cunhado, Mayra e Ricardo, que sem a vossa ajuda, hospitalidade e palavras de
incentivo este caminho tornar-se-ia muito mais difícil.
Não posso deixar de agradecer a ti Nélia, por toda a paciência que tiveste de ter comigo, pela
amizade, amor e carinho nos momentos mais difíceis, mas principalmente pelas palavras de
incentivo que me levavam a trabalhar mais e por tudo o resto que tu sabes...
Aos meus colegas e amigos, pelos momentos de descontracção e desconcentração que me
proporcionaram.
A todos, um sincero muito obrigado...
Erik Maciel Moreira Santos
Coimbra, Setembro de 2011
Técnicas de Reabilitação de Condutas RESUMO
Erik Maciel Moreira Santos iii
RESUMO
De acordo com o Programa Nacional para o Uso Eficiente da Água, cerca de 3,1 biliões de
litros de água são desperdiçados em cada ano, o que corresponde a cerca de 40% de toda a
água captada em Portugal.
Nas últimas décadas, os investimentos passavam pela implantação de novas infra-estruturas
para tornar cada vez mais elevada a taxa de cobertura do serviço de abastecimento de água.
Face aos elevados investimentos efectuados, Portugal contava no ano de 2007 com uma taxa
de cobertura próxima dos 92% para os sistemas de abastecimento de água.
Porém, uma boa parte destas infra-estruturas já atingiu, ou está em vias de atingir, os seus
limites de vida útil, pelo que é imperativo tomar as devidas medidas no sentido de promover a
sua reabilitação, de modo a conferir-lhes as condições necessárias para que possam continuar
a desempenhar adequadamente as suas funções por mais algum tempo.
Foi neste cenário que se teve a necessidade de uma mudança de paradigma: são cada vez
menos as necessidades em termos de infra-estruturas novas e urge, agora, cuidar de manter
em bom estado de funcionamento as infra-estruturas existentes.
Perante o exposto, o objectivo da presente dissertação consiste na apresentação de técnicas de
reabilitação, substituição e implantação de condutas de água, executando-se um levantamento
das mais variadas técnicas existentes no mercado.
Para que as técnicas mais utilizadas a nível nacional fossem mais compreensíveis ao leitor
desta dissertação, houve a necessidade de realizar, através de estudos de caso, um estudo mais
aprofundado e pormenorizado dessas técnicas e também um estudo económico que confronta
a técnica que mais vantagens apresenta quando confrontada com a técnica convencional de
abertura e fecho de vala – o pipe bursting.
PALAVRAS CHAVE: Reabilitação de condutas; Substituição de condutas; Implantação de
condutas; Reparação de condutas.
Técnicas de Reabilitação de Condutas ABSTRACT
Erik Maciel Moreira Santos v
ABSTRACT
According to the Portuguese “National Program for a Watter Efficient Usage”, about 3.1
billion liters of water are wasted each year, which is about 40% of all the water produced in
Portugal.
In the last decades, the investments were focused on the creation of new infrastructures in a
way to keep growing the coverage area of the water supply service. Due to the high
investments, Portugal had in 2007 a water supply service with a coverage area around 92%.
However, most of these infrastructures already reached, or are close to reach, their lifetime
limit, so it’s mandatory to promote their rehabilitation, in order to give them the ability to
keep performing their duties properly.
Facing this reality it is necessary a paradigm change: there is a decreasing need for new
infrastructures and the focus now shall be to maintain in good working conditions the existing
infrastructures.
Given this, the purpose of this dissertation is to present techniques of pipe rehabilitation,
replacement and deployment, making an inventory of the several techniques available on the
market.
In order to allow an easier understanding of the most common techniques here presented, it
was necessary to make, through case-studies, a longer and more detailed study of those
techniques, and also an economic study that compares the best technique with the most
commonly used to open and close a trench – pipe bursting.
KEYWORDS: Pipe rehabilitation; Pipe replacement; Pipe deployment; Pipe repair.
Técnicas de Reabilitação de Condutas ÍNDICE
Erik Maciel Moreira Santos vii
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS .............................................................................................................. I
RESUMO ................................................................................................................................. III
ABSTRACT ............................................................................................................................. V
ÍNDICE .................................................................................................................................. VII
ÍNDICE DE FIGURAS .......................................................................................................... IX
ÍNDICE DE QUADROS ..................................................................................................... XIII
ACRÓNIMOS ....................................................................................................................... XV
1. INTRODUÇÃO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
1.1. Enquadramento ................................................................................................................................................. 1
1.2. Objectivos e Metodologias de Apoio ............................................................................................................... 4
1.3. Estrutura da Dissertação ................................................................................................................................... 5
2. TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO
2.1. Nota Introdutória .............................................................................................................................................. 7
2.2. Técnicas Com Abertura de Vala ....................................................................................................................... 7
2.3. Técnicas Sem Abertura de Vala ....................................................................................................................... 9
2.3.1. Limpeza de condutas .............................................................................................................................. 10
2.3.1.1. Limpeza não agressiva .................................................................................................................... 11
2.3.1.1.1. Flushing .................................................................................................................................. 11
2.3.1.1.2. Air scouring ............................................................................................................................. 11
2.3.1.2. Limpeza agressiva ........................................................................................................................... 12
2.3.1.2.1. Hydraulic jetting ..................................................................................................................... 12
2.3.1.2.2. Pigging .................................................................................................................................... 12
2.3.1.2.3. Drag scraping ......................................................................................................................... 12
2.3.1.2.4. Pressure scraping .................................................................................................................... 13
2.3.1.3. Polimento ........................................................................................................................................ 13
2.3.2. Revestimento interior das condutas ........................................................................................................ 14
2.3.2.1. Reparação de juntas ou fissuras com borracha sintética ................................................................. 14
2.3.2.2. Reparação de juntas ou fissuras com resinas epoxi e fibras ............................................................ 14
2.3.2.3. Cement mortar lining ...................................................................................................................... 15
2.3.2.4. Epoxi resin lining ............................................................................................................................ 16
2.3.2.5. Introdução de manga adesiva por reversão ..................................................................................... 18
2.3.3. Introdução de conduta nova sem remoção da existente .......................................................................... 19
2.3.3.1. Slip-lining ........................................................................................................................................ 19
2.3.3.2. Close-fit lining ................................................................................................................................ 21
2.3.3.2.1. Swagelining ............................................................................................................................. 22
2.3.3.2.2. Compact pipe .......................................................................................................................... 22
2.3.3.3. Introdução de conduta curada in-situ .............................................................................................. 24
2.3.3.3.1. Inserção por reversão .............................................................................................................. 24
2.3.3.3.2. Inserção com guincho .............................................................................................................. 24
ÍNDICE Técnicas de Reabilitação de Condutas
viii
2.3.4. Introdução de conduta nova com remoção da existente .......................................................................... 26
2.3.4.1. Pipe pulling ..................................................................................................................................... 26
2.3.5. Introdução de conduta nova com destruição da existente ....................................................................... 27
2.3.5.1. Pipe bursting ................................................................................................................................... 27
2.3.6. Microtunelagem ...................................................................................................................................... 28
2.3.7. Horizontal directional drilling ................................................................................................................ 33
2.4. CCTV.............................................................................................................................................................. 37
2.5. Considerações Finais ...................................................................................................................................... 38
3. APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM VALA ABERTA
3.1. Nota Introdutória ............................................................................................................................................ 39
3.2. Microtunelagem – Caso 1 ............................................................................................................................... 40
3.2.1. Descrição geral ........................................................................................................................................ 40
3.2.2. Pormenorização de aspectos construtivos ............................................................................................... 41
3.2.3. Microtunelagem ...................................................................................................................................... 43
3.3. Perfuração horizontal dirigida – Caso 2 .......................................................................................................... 49
3.3.1. Descrição geral ........................................................................................................................................ 49
3.3.2. Pormenorização de aspectos construtivos ............................................................................................... 50
3.3.3. Perfuração Horizontal Dirigida ............................................................................................................... 53
3.4. Pipe bursting e vala aberta – caso 3 ................................................................................................................ 60
3.4.1. Descrição geral ........................................................................................................................................ 60
3.4.2. Pormenorização de aspectos construtivos ............................................................................................... 60
3.4.3. Acompanhamento da obra ...................................................................................................................... 61
3.4.4. Estudo económico ................................................................................................................................... 69
3.5. Considerações Finais ...................................................................................................................................... 76
4. CONCLUSÕES GERAIS E TRABALHOS FUTUROS
4.1. Síntese do Trabalho e Conclusões Gerais ....................................................................................................... 79
4.2. Trabalhos Futuros ........................................................................................................................................... 80
4.3. Considerações Finais ...................................................................................................................................... 81
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 83
ÍNDICE DE FIGURAS Técnicas de Reabilitação de Condutas
Erik Maciel Moreira Santos ix
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1.1. Nível económico de perdas ...................................................................................... 4
Figura 2.1. Esquemas de vala-tipo convencional (esquerda) e estreita (direita) ........................ 8
Figura 2.2. Intervenções com vala aberta ................................................................................... 8
Figura 2.3. Hidrantes ................................................................................................................ 12
Figura 2.4. Diferentes tipos de raspadores (pigs) ..................................................................... 12
Figura 2.5. Pás metálicas .......................................................................................................... 13
Figura 2.6. Esquema de funcionamento do drag scraping ....................................................... 13
Figura 2.7. Raspador metálico .................................................................................................. 13
Figura 2.8. Conduta antes (esquerda) e depois (direita) de limpa e revestida .......................... 16
Figura 2.9. Dispositivo de projecção (esquerda) e compactação e alisamento (direita) .......... 16
Figura 2.10. Dispositivos de projecção .................................................................................... 17
Figura 2.11. Ilustração da aplicação da manga (esquerda) e manga já introduzida (direita) ... 18
Figura 2.12. Aplicação da técnica slip-lining ........................................................................... 19
Figura 2.13. Matriz de redução diametral................................................................................. 22
Figura 2.14. Aplicação da técnica Swagelining ........................................................................ 22
Figura 2.15. Compact pipe ....................................................................................................... 23
Figura 2.16. Introdução da manga por reversão ....................................................................... 24
Figura 2.17. Introdução de manga flexível ............................................................................... 24
Figura 2.18. Manga flexível ..................................................................................................... 25
Figura 2.19. Cabeça fragmentadora - condutas de betão (esquerda) e metálicas (direita) ....... 27
Figura 2.20. Aplicação da técnica Pipe bursting ...................................................................... 27
Figura 2.21. Microtunelagem – primeira etapa ........................................................................ 29
Figura 2.22. Microtunelagem – segunda etapa ......................................................................... 29
Figura 2.23. Microtunelagem – terceira etapa .......................................................................... 30
Figura 2.24. Microtuneladora ................................................................................................... 31
Figura 2.25. Casing definitivo em betão................................................................................... 31
Figura 2.26. Microtuneladora adaptada para uso de trado contínuo ........................................ 32
Figura 2.27. Microtuneladora adaptada para uso de lamas bentoníticas .................................. 32
Figura 2.28. Caixa de recolha de solo escavado através de trado contínuo ............................. 32
Figura 2.29. Furo piloto ............................................................................................................ 34
Figura 2.30. Alargamento do furo piloto .................................................................................. 34
Figura 2.31. Introdução da conduta .......................................................................................... 34
Figura 2.32. Sistema de detecção (esquerda) e emissão (direita) ............................................. 36
Figura 2.33. Cabeça perfuradora de solo e rocha ..................................................................... 36
Figura 2.34. Robots dotados de CCTV ..................................................................................... 37
ÍNDICE Técnicas de Reabilitação de Condutas
x
Figura 3.1. Localização do caso 1 ............................................................................................ 40
Figura 3.2. Perfil da microtunelagem....................................................................................... 41
Figura 3.3. Planta do Poço de Ataque ...................................................................................... 42
Figura 3.4. Planta do Poço de Chegada ................................................................................... 42
Figura 3.5. Reciclagem das lamas bentoníticas na microtunelagem ........................................ 43
Figura 3.6. Exemplo de estaleiro para a microtunelação ......................................................... 44
Figura 3.7. Inserção de uma secção de casing ......................................................................... 45
Figura 3.8. Interior do casing ................................................................................................... 45
Figura 3.9. Pormenor das juntas entre casings......................................................................... 46
Figura 3.10. Câmaras pré-fabricadas de chegada (esquerda) e descarga (direita) ................... 47
Figura 3.11. Pormenor de vedação das câmaras pré-fabricadas .............................................. 47
Figura 3.12. Câmara de descarga (poço de ataque) concluída ................................................. 47
Figura 3.13. Localização do caso 2 .......................................................................................... 49
Figura 3.14. Perfil das perfurações .......................................................................................... 50
Figura 3.15. Esquema de tratamento das lamas bentoníticas ................................................... 51
Figura 3.16. Perfil tipo da perfuração ...................................................................................... 51
Figura 3.17. Colapso e deformação da perfuração ................................................................... 52
Figura 3.18. Equipamento para soldadura topo a topo ............................................................ 53
Figura 3.19. Máquina de perfuração horizontal dirigida ......................................................... 54
Figura 3.20. Cabeça de perfuração utilizada ............................................................................ 54
Figura 3.21. Varas metálicas .................................................................................................... 55
Figura 3.22. Sistemas de detecção por radar ............................................................................ 55
Figura 3.23. Conjugação de compressão e rotação .................................................................. 56
Figura 3.24. Reamer de alargamento ....................................................................................... 56
Figura 3.25. Adaptador da conduta .......................................................................................... 57
Figura 3.26. Condutas no ponto de chegada ............................................................................ 57
Figura 3.27. Condutas no ponto de partida .............................................................................. 58
Figura 3.28. Ligação das condutas dentro da caixa de derivação ............................................ 58
Figura 3.29. Localização do caso 3 .......................................................................................... 60
Figura 3.30. Conduta a substituir (verde) e a manter (laranja) ................................................ 61
Figura 3.31. Localização dos poços das extremidades do troço .............................................. 62
Figura 3.32. Esquema de ligação do by-pass ........................................................................... 62
Figura 3.33. Ligações do by-pass............................................................................................. 62
Figura 3.34. Máquina de pipe bursting .................................................................................... 63
Figura 3.35. Varas de aço maciço e ponta arredondada........................................................... 64
Figura 3.36. Rabo-de-bacalhau (em cima) e cabeça fragmentadora (em baixo) ..................... 64
Figura 3.37. Mecanismo de adaptação ao tubo ........................................................................ 65
Figura 3.38. Início da introdução do rabo-de-bacalhau + cabeça fragmentadora + tubo
PEAD ........................................................................................................................................ 65
Figura 3.39. Equipamento para soldadura topo a topo ............................................................. 66
Figura 3.40. Processo de soldadura topo a topo ....................................................................... 67
Figura 3.41. Vinco em tubo de PEAD ..................................................................................... 67
Figura 3.42. Fim da introdução do primeiro troço ................................................................... 68
Técnicas de Reabilitação de Condutas: Estudo Técnico-Económico RESUMO
Erik Maciel Moreira Santos xi
Figura 3.43. Poços de acesso nas extremidades e intermédio .................................................. 68
Figura 3.44. Ligação a um ramal predial (esquerda) e marco de incêndio (direita) ................. 69
Figura 3.45. Representação gráfica do custo da técnica de vala aberta consoante o diâmetro 74
Figura 3.46. Representação gráfica das percentagens das componentes da técnica de vala
aberta consoante o diâmetro ..................................................................................................... 74
Figura 3.47. Representação gráfica do custo da técnica de pipe bursting consoante o
diâmetro .................................................................................................................................... 75
Figura 3.48. Representação gráfica do custo das técnicas de vala aberta e pipe bursting
consoante o diâmetro ................................................................................................................ 76
Técnicas de Reabilitação de Condutas ÍNDICE DE QUADROS
Erik Maciel Moreira Santos xiii
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1.1 Balanço hídrico do município de Coimbra (2010) .................................................. 2
Quadro 2.1. Técnicas com abertura de vala................................................................................ 7
Quadro 2.2. Características – com abertura de vala ................................................................... 9
Quadro 2.3. Técnicas sem abertura de vala .............................................................................. 10
Quadro 2.4. Características – sem abertura de vala – reparação localizada ............................. 15
Quadro 2.5. Características – sem abertura de vala – revestimento longitudinal ..................... 17
Quadro 2.6. Características – sem abertura de vala – manga adesiva por reversão ................. 18
Quadro 2.7. Métodos da técnica Slip-lining ............................................................................. 20
Quadro 2.8. Características – sem abertura de vala – sem remoção – slip-lining .................... 21
Quadro 2.9. Características – sem abertura de vala – sem remoção – close-fit lining ............. 23
Quadro 2.10. Características – sem abertura de vala – sem remoção – curada in-situ............. 25
Quadro 2.11. Características – sem abertura de vala – com remoção ...................................... 26
Quadro 2.12. Características – sem abertura de vala – com destruição ................................... 28
Quadro 2.13. Características – sem abertura de vala – microtunelagem .................................. 33
Quadro 2.14. Características – sem abertura de vala – horizontal directional drilling ............ 35
Quadro 3.1. Indicação das características da microtunelagem ................................................. 41
Quadro 3.2. Indicação das características da perfuração horizontal dirigida ........................... 50
Quadro 3.3. Especificações de soldadura ................................................................................. 52
Quadro 3.4. Características da soldadura ................................................................................. 66
Quadro 3.5. Valores de comparação de execução das técnicas – Ø90mm ............................... 70
Quadro 3.6. Valores de comparação de execução das técnicas – Ø110mm ............................. 71
Quadro 3.7. Valores de comparação de execução das técnicas – Ø125mm ............................. 71
Quadro 3.8. Valores de comparação de execução das técnicas – Ø160mm ............................. 72
Quadro 3.9. Valores de comparação de execução das técnicas – Ø200mm ............................. 72
Quadro 3.10. Valores de comparação de execução das técnicas – Ø250mm ........................... 73
Quadro 3.11. Valores de comparação de execução das técnicas – resumo .............................. 73
Técnicas de Reabilitação de Condutas ACRÓNIMOS
Erik Maciel Moreira Santos xv
ACRÓNIMOS
CCTV – Circuito Fechado Televisivo (close circuit television)
DN – Diâmetro nominal
EP – Epoxi
ETA – Estação de Tratamento de Água
FFC – Ferro fundido cinzento
FFD – Ferro fundido dúctil
GRP – Plástico reforçado com fibra de vidro (Glass Reinforced Plastic)
HDD – Perfuração horizontal dirigida (Horizontal Directional Drilling)
PE – Polietileno
PEAASAR II – Plano E Estratégico de Abastecimento de Água e de Saneamento de Águas
Residuais (2007 - 2013)
PEAD – Polietileno de alta densidade
PE-X – Polietileno reticulado
PP – Polipropileno
PRFV – Poliéster reforçado com fibra de vidro
PRP – Poliéster reforçado com polietileno
PU – Poliuretano
PUG – Peterborought Utilities Group
PVC – Policloreto de vinilo
PVC-U – Policloreto de vinilo não plastificado
CAPÍTULO 1
Erik Maciel Moreira Santos 1
1. INTRODUÇÃO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
1.1. Enquadramento
Os sistemas de abastecimento de água são infra-estruturas situadas no subsolo que servem
para transportar água em quantidade e qualidade adequadas ao consumo dos utilizadores do
serviço.
Desde a sua captação, a água é conduzida para os seus diferentes destinos por condutas que
podem ser de variados materiais, desde metálicas a plásticas. Independentemente do material,
com o passar dos anos a conduta aproxima-se do final da sua vida útil, podendo colocar em
risco o nível de serviço prestado.
Nas últimas décadas, os investimentos passavam pela implantação de novas infra-estruturas
para tornar cada vez mais elevada a taxa de cobertura do serviço de abastecimento de água.
Face aos elevados investimentos efectuados, Portugal contava no ano de 2007 com uma taxa
de cobertura próxima dos 92% para os sistemas de abastecimento de água. Para dar um
exemplo, só no município de Coimbra, os serviços “em baixa” contam com cerca de 1200 km
de condutas de água, sendo a taxa de cobertura muito próxima dos 100%.
Este cenário está a dar origem à necessidade de uma mudança de paradigma: são cada vez
menos as necessidades em termos de infra-estruturas novas e urge, agora, cuidar de manter
em bom estado de funcionamento as infra-estruturas existentes.
De acordo com o Programa Nacional para o Uso Eficiente da Água, cerca de 3,1 biliões de
litros de água são desperdiçados em cada ano, o que corresponde a cerca de 40% de toda a
água captada em Portugal.
Torna-se então imprescindível corrigir todos os factores que levam às perdas de água de cada
entidade gestora. As perdas de água, que se dividem em dois grupos - as perdas reais e as
aparentes, traduzem-se em prejuízos para as entidades gestoras.
Inseridas nas perdas de água aparentes, estão contabilizadas as parcelas derivadas do consumo
não autorizado e dos erros de medição dos contadores. Relativamente às perdas reais, estas
resultam das fugas nas condutas de adução e/ou distribuição, das fugas e extravasamentos nos
reservatórios de adução e/ou distribuição e também das fugas nos ramais a montante do ponto
de medição.
No quadro seguinte encontra-se o balanço hídrico do município de Coimbra (ano de 2010),
onde estão inseridas todas as percentagens relativamente a cada tópico.
INTRODUÇÃO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
2
Quadro 1.1 Balanço hídrico do município de Coimbra (2010)
Água
que
dá
entr
ada
no s
iste
ma
100%
Consu
mo
auto
riza
do
77,5
9%
Consumo
autorizado
facturado
76,07%
Consumo facturado
medido
6,07% Consumo
facturado
76,07% Consumo facturado
não medido
0%
Consumo
autorizado não
facturado
1,52%
Consumo não
facturado medido
0,10%
Água não
facturada
(perdas
comerciais)
23,93%
Consumo não
facturado não medido
1,42%
Per
das
de
águ
a
22,4
1%
Perdas aparentes
3,99%
Consumo não
autorizado
0,19%
Perdas de água por
erros de medição
3,80%
Perdas reais
18,42%
Fugas nas condutas de
adução e/ou
distribuição
4,60%
Fugas e
extravasamentos nos
reservatórios de
adução e/ou
distribuição
0%
Fugas nos ramais
(a montante do ponto
de medição)
13,82%
Como se pode observar no quadro anterior, 22,41% da água que dá entrada na rede é perdida.
Neste pressuposto, a água que se perde devido a fugas nas condutas representa 18,42% da
INTRODUÇÃO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO CAPÍTULO 1
Erik Maciel Moreira Santos 3
água entrada no sistema, o que é bastante significativo. Daí haver a necessidade de cuidar e
manter as condutas em funcionamento, mas também corrigir o que está a provocar esta
elevada quantidade de água perdida. Torna-se portanto importante haver um controlo das
perdas de água por parte das entidades gestoras, permitindo melhorar a eficiência na gestão
dos sistemas de abastecimento de água. Melhorando a eficiência, está-se a reduzir a factura de
água aos utilizadores, pois possibilita uma melhor adaptação das tarifas aos volumes
efectivamente consumidos, para não falar na poupança de um recurso que é escasso.
A maior percentagem de perdas ocorre nos ramais, já que estes últimos possuem
características mais desvantajosas (diâmetro, material, etc.) e são, geralmente, executados por
profissionais menos qualificados.
Para combater as perdas de água tem de se investir, aumentando a procura de fugas para
posterior reparação e substituindo as condutas em estado de rotura iminente, devido à sua falta
de qualidade ou porque a sua vida útil já foi ultrapassada. Exemplo disto são as condutas em
fibrocimento, actualmente em desuso mas com uma extensão considerável ainda instalada e
em funcionamento. Devido à ocorrência de um elevado número de roturas neste tipo de
material, tem vindo a dar-se prioridade à sua substituição.
Quando apenas se utilizava a técnica de abertura de vala, a substituição de condutas tornava-
se por vezes economicamente inviável, devido principalmente aos custos avultados do
levantamento e reposição de pavimentos e aos movimentos de terras. Com as novas técnicas,
tanto de reabilitação como de substituição, que não necessitam da abertura de vala ao longo
de todo o traçado, esses custos podem ser reduzidos e, assim, tornar viáveis projectos que até
à data não o eram. Além disso, quando comparadas com a tradicional abertura de vala, estas
técnicas implicam impactos sociais incomparavelmente reduzidos.
Além da substituição ou reabilitação de condutas, para diminuir mais as perdas têm de se
desenvolver esforços no sentido de localizar fugas não reportadas com auxílio de outras
técnicas, que são extremamente importantes mas não fazem parte dos objectivos desta
dissertação.
Do ponto de vista meramente económico, não é interessante localizar e reparar todas as fugas.
Interessa, sim, realizar uma análise custo/benefício para definir até que ponto é
economicamente viável procurar mais fugas, pois chega-se a um nível a partir do qual já não
há interesse económico em efectuar mais esforços na redução das perdas de água.
Para explicar melhor o que foi referido no parágrafo anterior, tem de se analisar a figura
seguinte, onde se ilustra graficamente o conceito de nível económico de perdas.
INTRODUÇÃO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
4
Figura 1.1. Nível económico de perdas
Com o aumento das perdas, naturalmente o custo total da água perdida aumenta. Por outro
lado, os custos do controlo activo de perdas diminuem com o aumento dos níveis permitidos
(deve notar-se o crescimento exponencial desses custos quando se reduz os níveis de perdas).
A curva do custo total, obtida pela soma das duas (custo da água e custo do controlo activo de
perdas), tem um mínimo que corresponderá ao nível económico de perdas.
Esta análise de custo/benefício define o nível económico de perdas, a partir do qual não há
interesse, do ponto de vista económico, em efectuar mais esforços na redução das perdas de
água.
1.2. Objectivos e Metodologias de Apoio
Em 2007, o Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento
Regional elaborou um documento, ao qual chamou PEAASAR II – Plano Estratégico de
Abastecimento de Água e de Saneamento de Águas Residuais (2007 - 2013), onde fixa uma
estratégia para o sector das águas, definindo objectivos e propondo medidas de optimização
de gestão e de optimização do desempenho ambiental do sector.
Este documento aponta alguns problemas de natureza operacional com que os sistemas se
debatem actualmente, de entre os quais se destacam aqui os seguintes:
- Elevado nível de água não facturada nos sistemas de abastecimento de água, seja por
consumo não medido, seja por perdas físicas devidas, normalmente, a roturas resultantes de
ausência de estratégia de reabilitação;
- Elevado nível de envelhecimento precoce e de degradação de muitos sistemas, com grande
número de avarias, implicando a necessidade de reparações e de interrupções de
funcionamento, em consequência de ausência de estratégia de gestão patrimonial das infra-
estruturas.
INTRODUÇÃO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO CAPÍTULO 1
Erik Maciel Moreira Santos 5
Perante o referido, achou-se ser importante e oportuno direccionar esta dissertação para as
técnicas de substituição e reabilitação de condutas, atendendo ao papel que estas poderão vir a
desempenhar no futuro próximo no sector do abastecimento de água.
Sendo assim, este trabalho foi realizado com o objectivo de se compreender melhor quais as
técnicas existentes para reabilitar, substituir e implantar novas condutas, e ainda tentar
contribuir para uma criteriosa selecção da técnica mais adequada a cada situação concreta.
Relativamente à metodologia de trabalho, procedeu-se à descrição das mais variadas técnicas
de reabilitação, substituição e implantação de condutas, explicando o seu funcionamento e
construindo um quadro individual com as características mais relevantes, passando pelos
materiais usualmente utilizados, a sua geometria (gama de diâmetros, extensão máxima e a
possibilidade de execução de curvas), a eficácia da técnica, bem como as respectivas
vantagens e desvantagens.
Procedeu-se também à realização de três estudos de caso com a finalidade de pormenorizar os
procedimentos e algumas características das técnicas envolvidas. Concretizou-se também um
pequeno estudo económico relacionando duas das técnicas mais comuns no nosso País, não só
a nível económico mas também em termos da redução dos impactos sociais.
1.3. Estrutura da Dissertação
A dissertação é constituída por quatro capítulos, cuja estrutura e conteúdos se descrevem de
seguida.
No Capítulo 1, denominado de introdução, faz-se um enquadramento relativamente ao tema
tratado na dissertação, apresentam-se quais os objectivos e metodologia de trabalho para
atingir esses objectivos e desenvolve-se ainda um resumo da organização do trabalho.
No Capítulo 2 procede-se a uma descrição das técnicas de reabilitação, substituição e
implantação de condutas, abordando os seus procedimentos e características mais relevantes.
No Capítulo 3, apresentam-se três estudos de caso de três técnicas sem abertura de vala, que
se consideram as mais utilizadas a nível nacional, quer seja por falta de soluções alternativas
ou pelo facto de os custos económicos e impactos sociais serem mais reduzidos
comparativamente com a técnica tradicional de abertura e fecho de valas ao longo dos
traçados. No terceiro estudo de caso realizou-se um estudo económico que confrontou a
técnica de pipe bursting com a técnica tradicional de abertura de vala. Foram analisados
vários orçamentos, disponibilizados tanto por empresas particulares como por entidades
gestoras, sem os quais este estudo económico não teria sido possível realizar.
Finalmente, no Capítulo 4 faz-se uma síntese do trabalho elaborado, bem como das
conclusões obtidas e apresentam-se ainda indicações para o desenvolvimento de trabalhos
futuros, pois este deve ser um processo contínuo de aperfeiçoamento.
CAPÍTULO 2
Erik Maciel Moreira Santos 7
2. TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO
2.1. Nota Introdutória
Existem vários factores que influenciam a tomada de decisão de recuperar uma conduta. Estes
factores passam pela descoberta de possíveis anomalias (estrutural, hidráulica, qualidade da
água), por possíveis acções de manutenção, mas também ao nível da prevenção de problemas
(níveis de deterioração, capacidade hidráulica). Mais concretamente na decisão da técnica de
“recuperação”, há outros factores também importantes, como a extensão de conduta a
recuperar, traçado existente e disponibilidade financeira, pois qualquer técnica tem a sua
capacidade e limitação de utilização. Como cada caso é um caso, existe sempre uma
dificuldade acrescida para que a escolha da técnica a utilizar seja a mais satisfatória.
Neste capítulo refere-se uma variedade de técnicas de reabilitação, substituição e implantação
de condutas, com a descrição da metodologia utilizada e algumas das vantagens e
desvantagens que podem ajudar na escolha prévia de uma solução. No final, existe um
subcapítulo referenciando um dos equipamentos mais importantes para inspecção que recorre
ao CCTV (circuito fechado televisivo) para a realização de relatórios do estado da conduta.
As técnicas de reabilitação, substituição e implantação dividem-se em duas categorias,
conforme utilizem ou não a abertura de vala, sendo que a reabilitação apenas se refere a
técnicas sem abertura de vala. Segue-se então a explicação e pormenorização dessas técnicas.
2.2. Técnicas Com Abertura de Vala
No que toca ao tipo de intervenção, as técnicas que recorrem à abertura de vala incidem na
substituição da conduta existente, ou, no caso de a conduta existente ainda ser reaproveitada,
na implantação de uma conduta nova paralelamente à conduta existente. Essas duas variantes
fazem parte de outras duas, podendo ser em vala convencional ou estreita, conforme se
apresenta no quadro seguinte.
Quadro 2.1. Técnicas com abertura de vala
Abertura de vala
Convencional Substituição da conduta existente
Implantação de uma conduta nova
Estreita Substituição da conduta existente
Implantação de uma conduta nova
A técnica de abertura de vala convencional consiste, como o próprio nome indica, na abertura
de uma vala longitudinal a uma determinada profundidade para a substituição ou implantação
da conduta nova. A técnica de abertura de vala estreita é em tudo idêntica à técnica anterior,
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO
8
apenas diferindo na dimensão da largura da vala que é reduzida ao mínimo indispensável para
a execução dos trabalhos. Apesar de estas técnicas serem as mais antigas e as mais utilizadas,
acarretam alguns inconvenientes associados à sua construção, desde a área necessária para a
execução dos trabalhos, que poderá levar à interrupção de circulação, tanto de veículos como
de peões, a interrupção do fornecimento de água ou implantação de um by-pass para evitar o
corte de água, a dificuldade inerente à profundidade de algumas condutas e também aos
impactos sociais e ambientais que são difíceis de contabilizar e muitas vezes são esquecidos.
Em relação às condicionantes da geometria e constituição das valas, estas deverão estar de
acordo com o Decreto Regulamentar n.º 23/95, de 23 de Agosto, mais especificamente os
artigos 25.º a 28.º.
Na Figura 2.1 representam-se os diferentes esquemas de vala-tipo e na Figura 2.2 alguns
exemplos de intervenções com vala aberta.
Figura 2.1. Esquemas de vala-tipo convencional (esquerda) e estreita (direita) (adaptado de
Alegre, H.; Covas, D., 2010)
Figura 2.2. Intervenções com vala aberta
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO CAPÍTULO 2
Erik Maciel Moreira Santos 9
Apresentam-se no quadro seguinte as principais características desta técnica de reabilitação.
Quadro 2.2. Características – com abertura de vala
Aspectos Características
Materiais Qualquer material desde que respeite os requisitos de projecto.
Geometria
Gama de diâmetro Sem limitações específicas.
Extensão máxima Sem limitações específicas.
Execução de curvas Sem limitações específicas.
Eficácia - Possibilidade de aumento da capacidade hidráulica;
- Assegura a integridade estrutural total da conduta.
Vantagens - Não necessita de mão-de-obra especializada.
Desvantagens
- Área necessária para a execução dos trabalhos elevada.
- Impactos sociais e ambientais negativos associados à intervenção e
ocupação do espaço público elevados: aumento do ruído e vibração,
interrupção da circulação pedestre e viária, e necessidade de reposição de
pavimentos, etc.
- Custo aumenta com a profundidade da instalação.
- Necessidade de suspensão do abastecimento e de execução de by-pass
provisório.
2.3. Técnicas Sem Abertura de Vala
Para a reabilitação sem abertura de vala, existe uma grande variedade de técnicas, as quais se
dividem em três grupos. O primeiro, nas que aproveitam a conduta existente tanto para
exercer funções hidráulicas como para funções estruturais. As técnicas que utilizam as
condutas existentes mas sem o seu aproveitamento são as que compõem o segundo grupo. Por
fim, no terceiro grupo é onde se inserem as técnicas de implantação de condutas novas sem a
necessidade de existir qualquer conduta existente.
As técnicas que aproveitam a conduta existente dividem-se, por sua vez, em quatro
subgrupos, entre os quais se encontram a limpeza, a reparação localizada, o revestimento
interior e a inserção de uma conduta nova sem a remoção da conduta existente. O segundo
grupo, onde se insere a utilização das condutas existentes apenas para a condução da conduta
nova, subdivide-se em duas técnicas, o Pipe pulling (com a remoção da conduta existente) e o
Pipe bursting (com destruição da conduta existente). A microtunelagem e a perfuração
horizontal dirigida (horizontal directional drilling) são as técnicas que se encontram no
terceiro grupo, sendo caracterizadas por não necessitarem de uma conduta existente.
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO
10
Para uma melhor compreensão da variedade de técnicas sem abertura de vala, no Quadro 2.3.
apresenta-se a listagem de todas as técnicas sem abertura de vala que serão referidas na
presente dissertação, seguindo-se a discriminação e pormenorização.
Quadro 2.3. Técnicas sem abertura de vala
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DE
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Grupo 1
Lim
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a de
conduta
s Limpeza não agressiva
Flushing
Air scouring
Limpeza agressiva
Hydraulic jetting
Pigging
Drag scraping
Pressure scraping
Polimento Polishing brushes
Scraping sheet
Reparação localizada
Revestimento interior de condutas
Cement mortar lining
Epoxi resin lining
Manga adesiva
Intr
oduçã
o d
e co
nduta
no
va
sem remoção da existente
Slip-lining
Close-fit
Lining
Swagelining
Compact pipe
Curada
in-situ
introduzida
Por reversão
Com guincho
Grupo 2
com remoção da existente Pipe pulling
com destruição da existente Pipe bursting
Grupo 3
Microtunelagem
Horizontal directional drilling
2.3.1. Limpeza de condutas
A limpeza das condutas é realizada para a remoção de depósitos de materiais soltos e de
incrustações nas paredes interiores das condutas, dividindo-se em limpeza agressiva
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO CAPÍTULO 2
Erik Maciel Moreira Santos 11
(hydraulic jetting, pigging, drag scraping e pressure scraping), não agressiva (flushing e air
scouring) e polimento (polishing brushes e scraping sheet). Estas técnicas são utilizadas tanto
no âmbito da manutenção de condutas como também para a reabilitação das mesmas,
podendo na prática adoptar-se apenas uma ou mais técnicas usando uma combinação destas.
No caso de se optar por uma combinação de várias técnicas, o seu procedimento mais correcto
será o uso de técnicas agressivas inicialmente, passando pelo polimento e por fim o uso de
técnicas não agressivas.
Quando se adoptam técnicas de limpeza para operações de reabilitação, estas podem ser
utilizadas tanto na fase dos trabalhos preparatórios (preparação da conduta existente para a
aplicação da técnica de reabilitação), como também na fase de acabamento final (limpeza da
conduta reabilitada para a ligação ao abastecimento).
Todas as intervenções de reabilitação necessitam de preparação prévia da parede interna da
conduta existente, seja porque a eficácia da técnica de reabilitação depende da aderência dos
materiais à parede interna da conduta existente, ou então para possibilitar a introdução da
conduta nova sem que haja danos na parede externa da mesma.
2.3.1.1. Limpeza não agressiva
2.3.1.1.1. Flushing
Realiza-se através de uma descarga controlada de água, recorrendo à abertura de hidrantes,
que provoca um aumento da velocidade de escoamento que arrasta em suspensão os materiais
soltos que se encontram na conduta, sendo posteriormente expelidos nos hidrantes a jusante.
2.3.1.1.2. Air scouring
Consiste no mesmo procedimento que o flushing, mas neste caso é necessário utilizar um
hidrante a montante para a injecção de ar comprimido. A mistura de ar comprimido e água,
escoada a alta velocidade, provoca uma turbulência que arrasta os materiais soltos e arranca
algumas partículas que se encontrem no interior da conduta, levando-as em suspensão até ao
hidrante aberto mais próximo.
Pode observar-se na Figura 2.3 um hidrante em utilização para as referidas limpezas.
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO
12
Figura 2.3. Flushing através de hidrantes
2.3.1.2. Limpeza agressiva
2.3.1.2.1. Hydraulic jetting
Obtém-se através de jactos de água a alta pressão direccionados directamente às paredes
interiores da conduta. Esses jactos são obtidos por uma cabeça ligada a um tubo que percorre
toda a conduta.
2.3.1.2.2. Pigging
Esta limpeza consegue-se com a utilização de raspadores em forma de bala, normalmente em
poliuretano mas revestidos por um material abrasivo, como se pode observar na Figura 2.4.
Os raspadores percorrem a conduta pela acção do escoamento da água ou accionados por
guinchos mecânicos.
Figura 2.4. Diferentes tipos de raspadores (pigs)
2.3.1.2.3. Drag scraping
O princípio de funcionamento é o mesmo que na técnica pigging. A diferença está na
substituição dos raspadores por pás metálicas com rodos de borracha que raspam a parede
interior da conduta, como se pode observar na Figura 2.5. Estas pás percorrem a conduta
apenas com o auxílio de guinchos mecânicos, como demonstrado na Figura 2.6.
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO CAPÍTULO 2
Erik Maciel Moreira Santos 13
Figura 2.5. Pás metálicas
Figura 2.6. Esquema de funcionamento do drag scraping (adaptado de J. & F. Tools, s.d.)
2.3.1.2.4. Pressure scraping
Consiste numa mistura das duas técnicas anteriormente referidas. A limpeza é realizada
através de um conjunto de raspadores metálicos, do género de escovas metálicas, que são
arrastadas dentro da conduta por acção do escoamento da água. Um dos exemplos deste tipo
de raspador pode observar-se na figura seguinte.
Figura 2.7. Raspador metálico
2.3.1.3. Polimento
Para além das limpezas agressivas e não agressivas, existe também o polimento que se utiliza
quando as técnicas de reabilitação necessitam de uma parede interna da conduta existente
mais lisa, para melhorar a aderência a esta. O polimento pode ser mais ou menos profundo,
conforme a técnica de reabilitação envolva mais ou menos riscos de ferir a conduta a inserir.
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO
14
As técnicas de polimento também se podem utilizar em simultâneo com as outras técnicas de
limpeza. Quando se recorrem a escovas mais finas, específicas para polimento, a técnica
denomina-se de polishing brushes, se forem utilizadas lixas de polimento denomina-se de
scraping sheet.
2.3.2. Revestimento interior das condutas
As técnicas que recorrem à reparação localizada de juntas ou fissuras consistem na colocação
de um “adesivo” na zona a reparar. Esta reparação pode ser realizada também de duas
maneiras, com juntas de borracha sintética pré-fabricadas, ou com resina epoxi e fibras de
vidro ou carbono.
Relativamente às técnicas de revestimento longitudinal, estas consistem, como o próprio
nome indica, no revestimento interior da conduta existente, através de um dispositivo próprio
accionado por um guincho, que projecta o material de revestimento contra as paredes
interiores da conduta a reabilitar.
Como já referido anteriormente, estas técnicas são normalmente antecedidas pelas técnicas de
limpeza para que a aderência do material a projectar seja satisfatória. Há dois tipos de
revestimentos longitudinais, o revestimento com argamassa de cimento (cement mortar
lining) e com resina epoxi (epoxi resin lining).
O procedimento inicial em qualquer das técnicas apresentadas, e na falta de pontos
estratégicos já existentes, consiste na abertura de poços de acesso nas extremidades da
conduta a reabilitar, tipicamente em zonas de mudança de direcção ou de existência de
acessórios. Dependendo da técnica, há também uma limitação de comprimento máximo, ou
seja, em condutas de grande desenvolvimento sem nenhuma zona típica anteriormente
referida, essa reabilitação tem de se realizar por troços. Relativamente aos ramais prediais,
estes devem ser refeitos apenas necessitando de acesso pontual.
2.3.2.1. Reparação de juntas ou fissuras com borracha sintética
Consiste na introdução de um balão insuflável através de um robot que transporta o “adesivo”
até ao local a reparar. Quando está colocado na posição correcta, o balão é insuflado para
comprimir o “adesivo” contra as paredes da conduta, esperando o tempo necessário à cura do
material, esvaziando-se depois o balão para a retirada do robot.
2.3.2.2. Reparação de juntas ou fissuras com resinas epoxi e fibras
Após a limpeza da superfície a reparar, procede-se ao preenchimento da junta ou fissura com
material esponjoso (poliestireno), seguido de uma camada de mastique flexível de selagem.
De seguida, pinta-se a junta com resina epoxi para garantir a aderência do tecido de fibras de
vidro ou carbono. Após a aplicação do tecido, a zona reparada é pintada com várias demãos
de resina epoxi.
Apresentam-se no quadro seguinte as principais características desta técnica de reabilitação.
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO CAPÍTULO 2
Erik Maciel Moreira Santos 15
Quadro 2.4. Características – sem abertura de vala – reparação localizada
Aspectos Características
Materiais
2.3.2.1. Argamassa de cimento e borracha de etileno‑propileno‑dieno
2.3.2.2. Poliestireno, mastique flexível, resina epoxi, tecido à base de
fibra de vidro ou de carbono
Geometria
Gama de diâmetros 250‑500 mm (meio mecânico e CCTV)
500‑6000 mm (manual)
Extensão máxima Variável
Execução de curvas -
Eficácia - Não altera a capacidade hidráulica da conduta.
- Não assegura integridade estrutural à conduta.
Vantagens
- Área necessária para a execução dos trabalhos é mínima.
- Solução de baixo custo (2.3.2.1.).
- Não interfere com a ligação a outras condutas.
Desvantagens
- Acesso à conduta existente exige escavação numa das extremidades.
- Requer a limpeza prévia da superfície interna da conduta na zona da
reparação.
- Requer inspecção simultânea com CCTV para diâmetros pequenos.
- A técnica depende da adesão do material à superfície da junta.
- Necessidade de suspensão do abastecimento e de execução de by-pass
provisório.
- Solução de alto custo (2.3.2.2.).
Esta reparação, devido à cura dos materiais, pode demorar 2 a 3 dias, mas se a sua aplicação
for em quantidade torna-se vantajoso.
Nos dois casos de reparação de juntas e fissuras, estas podem sem efectuadas recorrendo a um
robot para o caso de condutas não acessíveis, ou por aplicação manual se a conduta for
visitável. Para o caso de a reparação ser efectuada através de um robot, esta deverá ser
inspeccionada por circuito fechado televisivo, conhecido por CCTV e que será abordado no
fim deste capítulo.
2.3.2.3. Cement mortar lining
O revestimento das condutas com argamassa de cimento apenas é utilizado em condutas
metálicas e tem duas funções importantes, o melhoramento da superfície interna da conduta
para o favorecimento da capacidade hidráulica e, visto ser um revestimento composto por
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO
16
cimento, torna-se um meio fortemente alcalino (devido à presença do hidróxido de cálcio
libertado durante a hidratação do cimento), neste ambiente a corrosão do aço torna-se muito
mais difícil. Para o revestimento funcionar de forma correcta é importante a aplicação de uma
camada adequada de revestimento (dependendo do diâmetro da conduta), salientando-se que
este não serve para corrigir qualquer anomalia na função estrutural da conduta.
Em relação ao seu funcionamento, este é bastante simples. Consiste num dispositivo que
projecta a argamassa de cimento contra as paredes interiores da conduta, sendo accionado por
um guincho mecânico (condutas de pequeno diâmetro) que faz percorrer o dispositivo a uma
velocidade constante para manter a espessura da camada de revestimento sempre uniforme. A
esse dispositivo é acoplado um outro, que tem como função compactar e alisar a argamassa de
cimento para que o resultado final seja uma camada lisa e uniforme. Na Figura 2.8 pode
observar-se uma conduta antes e depois de ser revestida. O dispositivo de projecção e o de
compactação e alisamento da argamassa podem ver-se na Figura 2.9. No caso de a conduta ter
diâmetro suficiente para a trabalhabilidade de pessoas no seu interior, então, a realização da
operação de reabilitação será manual.
Figura 2.8. Conduta antes (esquerda) e depois (direita) de limpa e revestida (PUG, 2010)
Figura 2.9. Dispositivo de projecção (esquerda) e compactação e alisamento (direita)
2.3.2.4. Epoxi resin lining
Tanto em aplicação como em objectivo, esta técnica é em tudo semelhante à técnica de
cement mortar lining, sendo diferente apenas no material de revestimento, que passa a ser
uma resina epoxi. O dispositivo de projecção da resina, que se pode ver na Figura 2.10, é
controlado, quanto ao caudal escoado como também à velocidade de arrasto, pelo guincho
mecânico para regular a projecção adequada de resina para a parede interior da conduta e a
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO CAPÍTULO 2
Erik Maciel Moreira Santos 17
espessura da camada de resina, respectivamente. A espessura da camada de resina é mínima,
não condicionando a secção de escoamento, é um material durável e resistente à corrosão do
metal. No caso de existirem fissuras mínimas ou furos pequenos, este revestimento de resina
epoxi poderá ter a capacidade de reparar as avarias, por ser um material impermeável.
Figura 2.10. Dispositivos de projecção
Apresentam-se no quadro seguinte as principais características desta técnica de reabilitação.
Quadro 2.5. Características – sem abertura de vala – revestimento longitudinal
Aspectos Características
Materiais Argamassa de cimento, betão, resina epoxi.
Geometria
Gama de diâmetros 200 – 1600 mm (instalação por meios mecânicos)
1600 mm – sem limite (instalação manual)
Extensão máxima 100 m (instalação por meios mecânicos).
Sem limite (instalação manual).
Execução de curvas Permite efectuar curvas até 45º.
Eficácia - Aumento da capacidade hidráulica.
- Não assegura integridade estrutural à conduta.
Vantagens - Área necessária para a execução dos trabalhos é mínima.
- Não interfere com a ligação a outras condutas.
Desvantagens
- Acesso à conduta existente exige escavação numa das extremidades.
- Requer a limpeza prévia da superfície interna da conduta na zona da
reparação.
- A técnica depende da adesão do revestimento à superfície da conduta.
- Necessidade de suspensão do abastecimento e de execução de by-pass
provisório.
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO
18
2.3.2.5. Introdução de manga adesiva por reversão
Para esta técnica também é importante a execução da limpeza e polimento da tubagem
existente para garantir a aderência. Esta técnica consiste na introdução de uma manga que tem
uma camada adesiva (inicialmente no seu interior) e, com a injecção de ar, esta reverte o seu
sentido, passando o interior a ser exterior e vice-versa. Com esta inversão, a manga introduz-
se “automaticamente” dentro da conduta a revestir, conseguindo realizar curvas até 90º. O
processo de cura é conseguido pelo aquecimento do adesivo utilizando vapor de água. A
Figura 2.11 ilustra a aplicação desta técnica e mostra a manga já introduzida.
Figura 2.11. Ilustração da aplicação da manga (esquerda) e manga já introduzida (direita)
(Alegre, H.; Covas, D., 2010)
No quadro seguinte apresentam-se as principais características desta técnica de reabilitação.
Quadro 2.6. Características – sem abertura de vala – manga adesiva por reversão
Aspectos Características
Materiais
Manga circular constituída por fibras acrílicas ou de poliéster, revestida
num dos lados com um termoplástico e do outro lado com uma resina
termorrígida.
Geometria
Gama de diâmetros 50 – 1500 mm
Extensão máxima 150 m
Execução de curvas Permite a execução de curvas (até 90º).
Eficácia - Redução mínima da capacidade hidráulica.
- Não assegura a integridade estrutural total da conduta.
Vantagens - Área necessária para a execução dos trabalhos é mínima.
Desvantagens
- Acesso à conduta existente exige escavação.
- A técnica depende da adesão da tubagem inserida à existente.
- Necessidade de suspensão do abastecimento.
- A ligação aos ramais prediais requer escavação local ou utilização de
robot.
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO CAPÍTULO 2
Erik Maciel Moreira Santos 19
A eficácia deste processo depende única e exclusivamente da adesão conseguida pela manga à
conduta existente. Para além da capacidade hidráulica que é melhorada, esta manga contribui
para o aumento da resistência mecânica da conduta.
2.3.3. Introdução de conduta nova sem remoção da existente
Quando se pretende introduzir uma conduta nova dentro de uma conduta existente, para além
da limpeza da conduta existente, que é de elevada importância para não provocar danos na
conduta nova, é necessário ter conhecimento da possibilidade de diminuição de diâmetro ou
não. No caso de o diâmetro da conduta nova poder ser diminuído, então adopta-se a técnica
slip-lining. Se não houver a possibilidade de diminuição da conduta, tem de se recorrer então
à técnica close-fit lining, que se subdivide em dois procedimentos: a introdução de uma
conduta nova com redução diametral provisória e a introdução de uma conduta nova com
secção deformada.
O procedimento inicial, em qualquer das técnicas seguintes, consiste na abertura de poços de
acesso nas extremidades da conduta a reabilitar, normalmente em zonas de mudança de
direcção ou de existência de acessórios. Há também uma limitação de comprimento máximo,
ou seja, em condutas de grande desenvolvimento sem nenhuma zona anteriormente referida,
essa reabilitação tem de ser realizada por troços.
2.3.3.1. Slip-lining
A conduta nova é flexível e tem diâmetro exterior inferior ao diâmetro interior da existente.
Em termos de execução é bastante simples mas apenas é utilizada quando há a possibilidade
de diminuir o diâmetro do troço em causa, como se pode observar na Figura 2.12.
Figura 2.12. Aplicação da técnica slip-lining
Há a possibilidade de realizar esta técnica de três métodos diferentes como demonstrado no
quadro seguinte.
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO
20
Quadro 2.7. Métodos da técnica Slip-lining
Introdução
Com tubagem contínua
Por troços através de Tracção
Compressão
A conduta a inserir pelo método de tubagem contínua é fornecida em rolo, para diâmetros
pequenos, ou fornecida em tubos que são previamente soldados, para diâmetros maiores. A
introdução é auxiliada por um guincho mecânico, normalmente de menor potência do que
para outras técnicas.
Quando se opta pela introdução por troços, seja por tracção ou por compressão, a soldadura
ou junta é efectuada troço a troço, sendo que cada avanço da conduta nova é do mesmo
comprimento dos troços. A diferença de introdução por tracção ou compressão está apenas no
mecanismo que, na extremidade a jusante da inserção, exerce forças de tracção ou, na mesma
extremidade da inserção da conduta, exerce compressão à conduta nova.
Normalmente, o espaço existente entre a conduta nova e a existente é preenchido com
material de enchimento, como por exemplo argamassa. Com esse espaço preenchido, evita-se
a entrada de água e melhora-se a resistência às forças externas. Se a conduta velha possuir
ramais prediais, estes devem ser tamponados antes do preenchimento do espaço vazio e
posteriormente realizadas as ligações à nova conduta através de acessos pontuais.
Apresentam-se no quadro seguinte as principais características desta técnica de reabilitação.
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO CAPÍTULO 2
Erik Maciel Moreira Santos 21
Quadro 2.8. Características – sem abertura de vala – sem remoção – slip-lining
Aspectos Características
Materiais Tubos metálicos (aço e FFD) e plásticos (PE, PEAD, PE-X, PP, PVC,
PRFV)
Geometria
Gama de diâmetros 100 – 2000 mm (contínua)
100 – 600 mm (por troços)
Extensão máxima 300 m (contínua)
150 m (por troços)
Execução de curvas
É possível com elevados raios de curvatura
(contínua)
Não é possível (por troços)
Eficácia
- Assegura integridade estrutural à conduta.
- Redução significativa da capacidade hidráulica devido à redução da
secção, apesar da redução da rugosidade.
Vantagens
- Pode ser aplicada a qualquer tipo de conduta.
- Instalação rápida.
- A técnica não depende da adesão da tubagem inserida à existente.
- Área necessária é mínima para condutas de pequeno diâmetro em rolo.
Desvantagens
- Área necessária para condutas de maior diâmetro para o armazenamento
das tubagens e execução dos trabalhos é elevada.
- Acesso à conduta existente exige escavação.
- Necessidade de suspensão do abastecimento.
- Requer o preenchimento do espaço entre condutas.
- A ligação aos ramais prediais requer escavação local.
2.3.3.2. Close-fit lining
Esta técnica é realizada com tubo contínuo flexível, de secção transversal reduzida
provisoriamente relativamente à conduta existente para facilitar a instalação. Após a
instalação, a conduta inserida tenta recuperar ao máximo a sua dimensão inicial (diâmetro
exterior ligeiramente superior ao diâmetro interior da existente) ajustando-se o mais possível à
conduta a reabilitar. Para isto há dois métodos completamente diferentes. O swagelining, que
consiste na redução diametral temporária mesmo antes de ser introduzida na conduta nova, e o
compact pipe, que se resume a um tubo de secção deformada em forma de “U” que facilita
bastante a introdução desta.
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO
22
2.3.3.2.1. Swagelining
É a técnica que recorre ao uso de uma matriz de redução de diâmetro (Figura 2.13.) e a um
guincho. O guincho, ao exercer tracção na conduta nova, força-a a passar pela matriz de
redução diametral, reduzindo temporariamente o diâmetro da conduta. Quando a conduta
acaba de ser inserida, o guincho, que ainda exerce bastante força de tracção, começa a ser
aliviado para que a conduta nova comece a recuperar a sua forma inicial, ajustando-se à
conduta existente. A Figura 2.14 ilustra a aplicação desta técnica.
Figura 2.13. Matriz de redução diametral
Poço de entrada Poço de saída
conduta nova
conduta existente
guincho
macaco hidráulico
matriz redutora
Figura 2.14. Aplicação da técnica Swagelining (Marques, J., Sousa, J., 2009)
2.3.3.2.2. Compact pipe
Recorre ao uso de um tubo de secção deformada, que tanto pode ser adquirido com essa
deformação de fábrica, como também, recorrendo a equipamento próprio, ser deformado in-
situ (Figura 2.15(a)). Para que o tubo possa aguentar essa deformação, normalmente são
adicionadas cintas (ou já vêm de fábrica) para evitar o processo de reversão da deformação,
como mostra a Figura 2.15(b). Ao ser introduzido com o auxílio de um guincho mecânico, as
cintas vão sendo retiradas. Uma vez instalada a conduta deformada, as extremidades são
seladas para que, através da introdução de vapor de água, esta perca a sua deformação e
recupere a sua forma circular (Figura 2.15(c)) e, posteriormente, com a introdução de ar
comprimido, a conduta se ajuste perfeitamente às paredes da conduta existente.
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO CAPÍTULO 2
Erik Maciel Moreira Santos 23
Figura 2.15. Compact pipe (Alegre, H.; Covas, D., 2010)
Apresentam-se no quadro seguinte as principais características desta técnica de reabilitação.
Quadro 2.9. Características – sem abertura de vala – sem remoção – close-fit lining
Aspectos Características
Materiais Tubos plásticos (PE, PEAD, PE‑X, PP, PRP, PVC‑U).
Geometria
Gama de diâmetros 100 – 500 mm (2.3.3.2.1.)
200 – 1500 mm (2.3.3.2.2.)
Extensão máxima 500 m
Execução de curvas Permite a execução de curvas (até 45º).
Eficácia
- Pequena redução da capacidade hidráulica, apesar da redução da
rugosidade.
- Assegura integridade estrutural à conduta.
Vantagens
- Pode ser aplicado a qualquer tipo de conduta.
- Instalação rápida.
- Área necessária para a execução dos trabalhos é mínima (2.3.3.2.1).
- A técnica não depende da adesão da tubagem inserida à existente.
- Não requer preenchimento do espaço entre condutas.
Desvantagens
- Energia necessária para a redução do diâmetro (2.3.3.2.2.) aumenta
significativamente com o diâmetro e a espessura da conduta.
- Área necessária para a execução dos trabalhos é elevada (2.3.3.2.2.).
- Acesso à conduta existente requer a escavação de poço de entrada e de
saída.
- Necessidade de suspensão do abastecimento.
- A ligação aos ramais prediais requer escavação local.
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO
24
2.3.3.3. Introdução de conduta curada in-situ
Este tipo de conduta curada in-situ consiste na introdução de uma tubagem flexível (manga)
impregnada com resina, que depois do processo de cura vai formar a nova conduta. Nesta
técnica existe a possibilidade de utilizar diversas mangas segundo a resistência estrutural que
se deseje, como por exemplo manga termorrígida para obter resistência estrutural, manga
têxtil revestida com elastómero para conferir resistência estrutural ou semi-estrutural e a
membrana de elastómero embebida em resina que não dá qualquer resistência estrutural. De
acordo com a técnica de introdução, a cura in-situ pode ser classificada de duas maneiras
distintas, a inserção por reversão ou a inserção com guincho.
2.3.3.3.1. Inserção por reversão
Esta metodologia é em tudo idêntica à técnica de introdução de manga adesiva por reversão.
A diferença está no tipo de manga que varia consoante a resistência estrutural que se desejar.
Na Figura 2.16 pode observar-se o processo de introdução da manga.
Figura 2.16. Introdução da manga por reversão
2.3.3.3.2. Inserção com guincho
Neste método a manga é introduzida por acção de um guincho e um cabo de aço que a vão
puxando para o interior da conduta existente. Após a introdução da manga, esta é insuflada
com ar ou água quente para que se adapte às paredes da conduta existente, seguindo-se o
início do processo de cura com a injecção de pressão ou de calor através da água ou do ar.
Nas Figuras 2.17 e 2.18 apresenta-se a manga flexível a ser introduzida e antes de ser
utilizada.
Figura 2.17. Introdução de manga flexível (Alegre, H.; Covas, D., 2010)
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO CAPÍTULO 2
Erik Maciel Moreira Santos 25
Figura 2.18. Manga flexível
Apresentam-se no quadro seguinte as principais características desta técnica de reabilitação.
Quadro 2.10. Características – sem abertura de vala – sem remoção – curada in-situ
Aspectos Características
Materiais Manga ou tubo flexível (com ou sem reforço da sua capacidade
resistente) impregnado com resina (PU, EP).
Geometria
Gama de diâmetros 100 – 2800 mm
Extensão máxima 600 m (2.3.3.3.1.)
150 m (2.3.3.3.2.)
Execução de curvas Permite a execução de curvas (até 90º).
Eficácia
- Pequeno aumento da capacidade hidráulica apesar da redução da
secção transversal.
- Possibilidade de assegurar integridade estrutural à conduta (solução
estrutural, semi‑estrutural ou não estrutural).
Vantagens
- Instalação rápida.
- Área necessária para a execução dos trabalhos é mínima.
- A ligação aos ramais prediais pode ser efectuada através de um robot
pelo interior da conduta.
Desvantagens
- No caso de não ser possível a realização da ligação predial por
intermédio de um robot, esta tem de se realizar com escavação pontual.
- Acesso à conduta existente através de pontos de acesso ou através de
pequenas escavações.
- A técnica depende da adesão da tubagem inserida à existente.
- Não é possível reverter o processo de instalação.
- Necessidade de suspensão do abastecimento.
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO
26
2.3.4. Introdução de conduta nova com remoção da existente
Esta técnica é conhecida por pipe pulling. Não é uma técnica muito utilizada, pois apesar de
ter um funcionamento simples, só pode ser efectuada em troços curtos e rectilíneos e tanto a
conduta nova como a existente têm de possuir resistência estrutural para a extracção e
introdução. Como já referido em subcapítulos anteriores, há a necessidade de abertura de
poços de acesso nas extremidades, como procedimento inicial, mas já não necessita de
limpeza prévia, visto a conduta existente ser totalmente removida.
2.3.4.1. Pipe pulling
No poço de entrada é colocado um troço de tubagem e no poço de saída é instalado um
macaco hidráulico que, através de um cabo de aço que atravessa a conduta a substituir, é
ligado ao troço de tubagem novo. É então accionado o macaco hidráulico que exerce força de
tracção no cabo, puxando o troço de tubagem nova para dentro do solo, à medida que a
tubagem velha é extraída no poço de saída onde se encontra o macaco. Esta operação é
efectuada sucessivas vezes até que a tubagem nova apareça na outra extremidade.
Apresentam-se no quadro seguinte as principais características desta técnica de reabilitação.
Quadro 2.11. Características – sem abertura de vala – com remoção
Aspectos Características
Materiais Qualquer material desde que tenha resistência estrutural suficiente que
permita a extracção da conduta existente.
Geometria
Gama de diâmetros Variável (com a potência do equipamento).
Extensão máxima Variável (com a potência do equipamento).
Execução de curvas Não permite executar curvas.
Eficácia - Permite o aumento da capacidade hidráulica.
- Assegura integridade estrutural.
Vantagens - Não requer trabalhos preparatórios de limpeza.
- A técnica não depende da adesão da tubagem inserida à existente.
Desvantagens
- Área necessária para a execução dos trabalhos é elevada para armazenar
as tubagens e execução dos trabalhos.
- Acesso à conduta existente exige escavação nas extremidades.
- A ligação aos ramais prediais requer escavação local.
- Necessidade de suspensão do abastecimento.
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO CAPÍTULO 2
Erik Maciel Moreira Santos 27
2.3.5. Introdução de conduta nova com destruição da existente
Como se recorre à destruição da conduta existente, pode inserir-se uma conduta nova com
diâmetro igual ou superior ao da mesma. Para tal, é comum abrirem-se dois poços de acesso
nas extremidades do troço a substituir, para colocar o equipamento necessário à substituição.
2.3.5.1. Pipe bursting
Para a destruição da conduta existente é usada uma cabeça fragmentadora metálica (Figura
2.19), dotada de um mecanismo de expansão para o caso de se introduzir uma conduta com
diâmetro superior à existente. No poço de saída é colocado um guincho mecânico, que é
ligado por um cabo de aço ou varas metálicas à cabeça fragmentadora que está no poço de
entrada. À medida que o guincho é accionado, a cabeça fragmentadora começa a percorrer a
conduta existente fracturando-a e comprimindo os seus fragmentos contra o solo envolvente,
abrindo caminho à nova conduta que está ligada à cabeça.
Figura 2.19. Cabeça fragmentadora - condutas de betão (esquerda) e metálicas (direita)
Para introduzir uma conduta de diâmetro superior é acoplado um mecanismo de expansão
que, atrás da cabeça fragmentadora, irá comprimir ainda mais os fragmentos da conduta
existente contra o solo em seu redor, como mostra a Figura 2.20.
Figura 2.20. Aplicação da técnica Pipe bursting (adaptado de Marques, J.; Sousa, J., 2009)
Por vezes, em vez de se acoplar a conduta definitiva ao mecanismo de expansão, é acoplada
uma conduta de paredes mais finas que servirá apenas de capa protectora para posteriormente
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO
28
se introduzir a conduta definitiva no negativo deixado. Esta técnica não necessita de ser
antecedida de limpeza da conduta existente, uma vez que esta será completamente destruída.
Apresentam-se no quadro seguinte as principais características desta técnica de reabilitação.
Quadro 2.12. Características – sem abertura de vala – com destruição
Aspectos Características
Materiais Tubos plásticos (PE, PEAD, PVC, PP e GRP) e metálicos (aço, FFC e
FFD).
Geometria
Gama de diâmetros Variável (com a potência do equipamento).
Extensão máxima Variável (com a potência do equipamento).
Execução de curvas Não permite executar curvas.
Eficácia - Permite o aumento da capacidade hidráulica.
- Assegura integridade estrutural.
Vantagens - Não requer trabalhos preparatórios de limpeza.
- A técnica não depende da adesão da tubagem inserida à existente.
Desvantagens
- Área necessária para a execução dos trabalhos é elevada para o
armazenamento das tubagens e execução dos trabalhos.
- Acesso à conduta existente exige escavação nas extremidades.
- A ligação aos ramais prediais requer escavação local.
- Necessidade de suspensão do abastecimento.
- Pode afectar a integridade estrutural de outras infra‑estruturas
adjacentes.
2.3.6. Microtunelagem
A microtunelagem, desenvolvida no Japão nos anos 70, pode considerar-se uma das técnicas
mais complexas e dispendiosas devido ao elevado custo de mobilização do equipamento e ao
reduzido número de trabalhadores, mas qualificados, o que a torna numa técnica das menos
utilizadas. Apesar disso, é também um método comprovado devido à sua experiência e
qualificação onde, dependendo das condições encontradas no local, poderá tornar-se na única
solução possível para o problema.
Pode realizar-se a microtunelagem de duas maneiras, sendo que a primeira é através de um
tubo piloto e posterior escavação para o diâmetro desejado, e a segunda, utilizando
microtuneladoras de dimensões mais elevadas que se podem visualizar em imagens que se
irão mostrar mais à frente.
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO CAPÍTULO 2
Erik Maciel Moreira Santos 29
Assim sendo, passam a descrever-se os dois métodos de perfuração através da técnica de
microtunelagem.
A microtunelagem através de um tubo piloto consiste na abertura de dois poços de acesso, na
instalação do equipamento necessário e em três etapas de perfuração para instalar a conduta
final. A primeira etapa (Figura 2.21) consiste na perfuração entre os dois poços com um tubo
piloto oco, por troços, guiado por uma cabeça orientadora controlada remotamente pelo
equipamento que utiliza um teodolito (sistema laser) apontado ao centro do tubo.
cabeça orientadora
tubo piloto oco
Monitor da
cabeça orientadora
teodolito
apontado
ao centro
do tubo
piloto
Figura 2.21. Microtunelagem – primeira etapa (Marques, J, Sousa, J., 2009)
Quando a cabeça orientadora chega ao poço de saída dá-se início à segunda etapa (Figura
2.22), utilizando agora uma broca com diâmetro definido em função da conduta a introduzir.
A cabeça da broca, ao iniciar a perfuração no mesmo sentido que a anterior, vai empurrando o
tubo piloto para o exterior do poço de saída. Com o avançar da cabeça da broca vão sendo
acoplados troços de broca para garantir a estabilidade do solo.
tubo piloto a ser
empurrado para o
poço de saída cabeça da broca
broca
Figura 2.22. Microtunelagem – segunda etapa (Marques, J., Sousa, J., 2009)
Da mesma maneira que se inicia a segunda etapa, inicia-se também a terceira (Figura 2.23),
quando a cabeça da broca atinge o fim da perfuração ao chegar ao poço de saída. Para
finalizar, começa-se a introduzir a conduta final no poço de entrada e, à medida que esta
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO
30
progride, vão-se extraindo, no poço de saída, os troços de broca que foram acoplados
anteriormente.
invólucro da broca
a ser empurrado
para o poço de saída conduta final
Figura 2.23. Microtunelagem – terceira etapa (Marques, J., Sousa, J., 2009)
A outra forma de realizar a perfuração por microtunelagem é, como já referido anteriormente,
recorrendo a microtuneladoras de dimensões superiores que possibilitam a realização do furo
de uma só vez.
Para a aplicação deste método, é necessário realizar a abertura dos poços de acesso (entrada e
saída), instalar o mecanismo de perfuração no poço de entrada e começar a perfuração com a
microtuneladora, acrescentando novas secções, denominadas de casing ou camisas
protectoras, que servem para suportar o terreno envolvente enquanto não é colocada a conduta
definitiva, que se introduz também por troços à medida que se retira o casing. Em certos casos
é aplicado um casing definitivo, pelo que a ordem de trabalhos será iniciada com a
microtuneladora, seguida do casing definitivo e é dentro deste que se implanta a conduta
definitiva, que poderá não preencher totalmente o casing, deixando espaço para novas
condutas e/ou reparações necessárias. Pode observar-se na Figura 2.24 a microtuneladora e na
Figura 2.25 um exemplo de casing definitivo.
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO CAPÍTULO 2
Erik Maciel Moreira Santos 31
Figura 2.24. Microtuneladora
Figura 2.25. Casing definitivo em betão
Os dois casos mais comuns de remoção do solo escavado são através de um trado contínuo,
ou então recorrendo a lamas bentoníticas. De seguida são representados os dois tipos de
microtuneladoras, sendo que na Figura 2.26 se encontra a microtuneladora com remoção de
solo através de trado contínuo, e na Figura 2.27 a microtuneladora com remoção do solo
através de lamas bentoníticas.
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO
32
Figura 2.26. Microtuneladora adaptada para uso de trado contínuo
Figura 2.27. Microtuneladora adaptada para uso de lamas bentoníticas
Para além dos dois métodos mais utilizados para a remoção do solo escavado, também se
pode recorrer ao sistema de remoção por vácuo.
Se se recorrer ao trado contínuo, o solo escavado é retirado a partir do poço de entrada. Para
isso é necessário haver uma caixa ligada à superfície (Figura 2.28) através de um guincho
onde o solo é depositado por trabalhadores no fundo do poço e retirado até à superfície.
Figura 2.28. Caixa de recolha de solo escavado através de trado contínuo
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO CAPÍTULO 2
Erik Maciel Moreira Santos 33
No caso de se recorrer a lamas bentoníticas é necessário ter à superfície uma estação de
tratamento e purificação das lamas para a filtração e remoção das impurezas, tornando assim
as lamas reutilizáveis.
Ao utilizar o vácuo, é importante conhecer o tipo de solo a escavar, visto este método de
remoção ser para solos firmes não sendo adequado para solos macios e/ou solos abaixo do
nível freático.
Como já referido anteriormente, esta técnica não necessita de uma conduta existente. Porém,
no caso de esta existir, os processos de perfuração explicados anteriormente são idênticos. A
cabeça da broca é adaptada consoante o diâmetro da conduta nova e também em relação ao
material da conduta existente, pois a broca terá de destruir totalmente a conduta existente para
que esta seja removida juntamente com o solo escavado.
Apresentam-se no quadro seguinte as principais características desta técnica de reabilitação.
Quadro 2.13. Características – sem abertura de vala – microtunelagem
Aspectos Características
Materiais Tubos metálicos (aço, FFD), plásticos (PVC, PRFV) e betão armado.
Geometria
Gama de diâmetros 100 – 2500 mm
Extensão máxima 200 m
Execução de curvas Permite pequenos graus de curvatura.
Eficácia - Aumento da capacidade hidráulica.
- Assegura integridade estrutural à conduta
Vantagens - A técnica não depende da adesão da tubagem inserida à existente.
Desvantagens
- Área necessária para a execução dos trabalhos é elevada para armazenar
as tubagens e execução dos trabalhos.
- Acesso à conduta existente exige escavação nas extremidades.
- Necessidade de suspensão do abastecimento.
- A ligação aos ramais prediais requer escavação local.
- Pode afectar a integridade estrutural de infra-estruturas adjacentes.
2.3.7. Horizontal directional drilling
Esta técnica, também conhecida por HDD, executa a perfuração do solo a partir da superfície.
É uma técnica dirigível que controla o alinhamento exacto da conduta a instalar, podendo
desviar-se de qualquer serviço enterrado que possa intersectar e que tenha sido detectado
anteriormente.
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO
34
O equipamento consiste numa máquina perfuradora munida de tubos flexíveis (varas) que
impulsionam a cabeça de corte dirigível e puxam várias brocas (reamers) que dimensionam o
furo consoante a conduta a instalar. Esta técnica divide-se em três fases, nomeadamente, a
perfuração do tubo piloto (Figura 2.29), o alargamento do tubo piloto (Figura 2.30) e a
introdução da conduta nova (Figura 2.31). Inicia-se, então, com a realização do furo piloto
com a cabeça dirigível através de compressão exercida pela máquina de perfuração que segue
o traçado de projecto (aproximadamente) até ao ponto de acesso final. Na segunda fase é
acoplada uma broca de maior dimensão para o alargamento do furo. Pode ser possível realizar
a segunda fase juntamente com a terceira no caso de o alargamento do furo se realizar apenas
de uma vez e o equipamento tenha a capacidade de realizar a força de tracção necessária (para
isso é ligada à broca à conduta a instalar). Tanto neste caso como na situação de se realizar
primeiro apenas o alargamento, a máquina de perfuração inverte o sentido da força,
começando a exercer tracção nas varas e puxando a broca e a conduta no sentido inverso ao
do furo piloto, até que esta chegue ao ponto de perfuração inicial.
Figura 2.29. Furo piloto (Hidrossolo, 2006)
Figura 2.30. Alargamento do furo piloto (Hidrossolo, 2006)
Figura 2.31. Introdução da conduta (Hidrossolo, 2006)
Se houver a necessidade de realizar primeiro o alargamento do furo piloto, após a colocação
da broca são acopladas também varas para que, a partir desse ponto, a máquina de perfuração
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO CAPÍTULO 2
Erik Maciel Moreira Santos 35
exerça apenas forças de tracção. Quando a broca de alargamento chega ao ponto inicial, é
ligada a conduta a inserir às varas no ponto de saída para que a máquina comece a puxar a
conduta. Sendo este o processo mais simples desta técnica, apresentam-se de seguida algumas
variantes.
Dependendo do tipo de solo, que pode variar desde areia a rocha, pode haver a necessidade
(areias) de se recorrer a lamas bentoníticas ou polímeros orgânicos para estabilização dos
furos, visto estes serem de diâmetro superior à conduta a ser instalada.
No caso de haver a necessidade de alargar o furo antes da introdução da conduta, por
consequência do solo ou do diâmetro da conduta, pode acontecer que a broca acoplada às
varas que realizam a perfuração no sentido inverso, não consiga alargar o furo de uma só vez
para a introdução da conduta. Há então a necessidade de recorrer à adição de mais brocas,
provocando assim um aumento progressivo do diâmetro do furo.
Para além de novas perfurações, esta técnica também pode ser utilizada para a substituição de
uma conduta existente. As alterações ao processo de realização são poucas, passando apenas
pela adaptação das brocas para a destruição total da conduta existente, seja no processo do
furo piloto (diâmetro do furo piloto superior à conduta existente), seja no alargamento do
furo, mesmo que a conduta final já venha acoplada (diâmetro do furo piloto inferior à conduta
existente).
Apresentam-se no quadro seguinte as principais características desta técnica de reabilitação.
Quadro 2.14. Características – sem abertura de vala – horizontal directional drilling
Aspectos Características
Materiais Tubos plásticos (PE, PVC) e metálicos (aço, FFD).
Geometria
Gama de diâmetros 100 – 1200 mm
Extensão máxima 2000 m (dependendo do diâmetro da conduta)
Execução de curvas Sim, mas não com raios curtos.
Eficácia - Aumento da capacidade hidráulica.
- Assegura integridade estrutural à conduta.
Vantagens - A técnica não depende da adesão da tubagem inserida à existente.
- Ideal para atravessamento de rios, estradas, caminhos-de-ferro.
Desvantagens
- Área necessária para a execução dos trabalhos é elevada para armazenar
as tubagens e execução dos trabalhos.
- Pode afectar a integridade estrutural de infra-estruturas adjacentes.
Como já referido anteriormente, na perfuração do furo piloto é utilizada uma cabeça dirigível
controlada remotamente com ajuda a um equipamento de detecção, que recebe os dados do
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO
36
emissor de rádio que se encontra ao pé da cabeça dirigível, como se pode observar na Figura
2.32.
Figura 2.32. Sistema de detecção (esquerda) e emissão (direita)
Apenas com este tipo de detecção se consegue controlar a profundidade, desvios e
inclinações, para se cumprir ao máximo o traçado de projecto. Para isso, a máquina
perfuradora tem dois modos de acção, um para a perfuração a direito e o outro para efectuar
as curvas necessárias. Quando a máquina de perfuração exerce compressão e gira
simultaneamente, então a perfuração seguirá sempre na mesma direcção. No caso de apenas
exercer compressão nas varas, então haverá mudanças de direcção e/ou inclinação. A cabeça
dirigível pode ter duas configurações diferentes, caso esta seja utilizada em perfurações em
solo ou em rocha (Figura 2.33).
Figura 2.33. Cabeça perfuradora de solo e rocha (Guilhem, D., 2006 e Prime Drilling, s.d.)
Uma das limitações do equipamento de perfuração é a sua força de pull-back, ou seja a sua
limitação de força de tracção. Na totalidade do método, a máquina de perfuração exerce
forças de compressão e de tracção. Ao perfurar a máquina exerce força de compressão
suficiente para a execução do furo piloto. No caso da força de tracção, esta tem de ter
capacidade para puxar a totalidade da conduta e ainda ser capaz de vencer as forças de atrito
que surgem entre a conduta e o furo. As forças de atrito podem ser bastante elevadas, e para
as reduzir é aconselhável manter a curvatura do furo o mais suave possível.
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO CAPÍTULO 2
Erik Maciel Moreira Santos 37
2.4. CCTV
Como já referido anteriormente, CCTV significa circuito fechado televisivo, trabalhando este
através de um robot comandado na origem (superfície) que percorre as condutas (novas ou
velhas) para mostrar imagens do seu interior, sendo posteriormente analisadas facilitando
assim a avaliação do estado da rede.
Quando se solicita uma análise a uma conduta velha, as imagens provenientes do
equipamento mostram o estado de degradação em que a conduta se encontra. O equipamento
informático regista todas as anomalias detectadas (deformações, fugas, condutas danificadas),
fazendo também o registo de inclinações em casos necessários. Ao ter acesso a uma espécie
de visita guiada dentro de uma conduta, pode concluir-se acerca da necessidade ou não de
reabilitação/substituição da mesma.
Muitas vezes também há a necessidade de solicitar uma análise por CCTV a condutas novas.
Esta pode ser originada para a inspecção da obra após a sua execução, obtendo assim a
confirmação dos resultados obtidos.
Na Figura 2.34 podem-se ver alguns tipos de robots que possuem CCTV para a visualização
do interior de condutas.
Figura 2.34. Robots dotados de CCTV
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO
38
2.5. Considerações Finais
Neste capítulo foram descritas as mais variadas técnicas, tanto a nível de reabilitação e
substituição, como também de implantação de condutas. Foi também elaborado um quadro
resumido individual de cada técnica reunindo alguns aspectos (material, geometria, eficácia,
vantagens e desvantagens), que poderão ajudar na escolha de uma técnica para um
determinado fim. Mesmo com os aspectos aqui definidos, uma entidade gestora terá sempre
dificuldade na escolha da técnica, pois dependendo do tipo de obra (reabilitação, substituição
ou implantação) e condições que se impõem no terreno, a mesma pode ser considerada
apropriada ou não. No que se refere à decisão, a dificuldade não fica por aqui, visto que ainda
não se considerou uma das variáveis mais importantes, o custo de cada técnica.
Através do custo de algumas técnicas, uma entidade gestora, que desejará sempre a melhor
qualidade mas também preços mais reduzidos, poderá descartar logo alguma técnica
analisando os diferentes orçamentos que terão solicitado.
No próximo capítulo serão ilustradas três das técnicas descritas anteriormente para uma
melhor compreensão do que cada uma delas envolve. Será também apresentado um pequeno
estudo económico que confrontará duas das técnicas mais utilizadas no nosso país.
CAPÍTULO 3
Erik Maciel Moreira Santos 39
3. APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM VALA ABERTA
3.1. Nota Introdutória
Seja qual for o motivo para a realização de uma reabilitação, substituição e implantação de
uma conduta, o resultado esperado será sempre o alargamento da rede de abastecimento de
água a um determinado local (implantação) ou então o melhoramento da capacidade
hidráulica de condutas, devido à necessidade de aumento de diâmetro (substituição), ou
devido ao elevado nível de deterioração das condutas (reabilitação).
Neste capítulo irão abordar-se três das técnicas sem abertura de vala mais utilizadas a nível
nacional - microtunelagem, perfuração horizontal dirigida e pipe bursting - a três obras
distintas e de diferentes entidades gestoras.
As obras onde se utilizaram a microtunelagem e a perfuração horizontal dirigida foram
pensadas, projectadas e executadas com estas técnicas, pois não haveria nenhuma outra
solução de implantação de condutas que fosse económica e estruturalmente possível, visto
serem realizadas para travessias do rio Mondego em diferentes localizações. Quanto à técnica
de pipe bursting, foi utilizada numa obra onde havia troços de condutas existentes que
necessitavam de reabilitação ou substituição, e também outros troços onde houve a
necessidade de abertura de vala para implantação de condutas novas.
Quanto ao nível orçamental, as primeiras duas técnicas (microtunelagem e perfuração
horizontal dirigida) são de custo elevado, tendo em conta o comprimento de condutas
instaladas. Na obra onde se utilizaram as técnicas de pipe bursting e de vala aberta, os custos
por metro linear de conduta instalada são muito mais competitivos, pelo que se decidiu
apresentar um pequeno estudo económico de comparação entre estas duas técnicas.
Para que houvesse a possibilidade de realização deste capítulo, foram realizados contactos
com várias entidades gestoras e empresas que aplicam este tipo de técnicas, as quais
gentilmente facultaram os mais variados dados necessários, desde projectos a orçamentos e
também visitas a obras, o que contribuiu em muito para enriquecer este trabalho.
Sendo assim, passa-se à apresentação dos três estudos de caso de técnicas sem abertura de
vala, localizados no distrito de Coimbra:
Caso 1 – microtunelagem a cargo da Águas do Mondego;
Caso 2 – perfuração horizontal dirigida a cargo da Águas da Figueira;
Caso 3 – pipe bursting e vala aberta a cargo da Águas de Coimbra.
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM ABERTURA DE VALA
40
3.2. Microtunelagem – Caso 1
3.2.1. Descrição geral
Este estudo de caso é referente a uma travessia do rio Mondego em Coimbra, efectuada
através da técnica de microtunelagem, com um comprimento aproximado de 205 metros,
realizada em frente à ETA (Estação de Tratamento de Águas) da Boavista, como se pode
observar na Figura 3.1, para ligação da ETA à margem esquerda do rio, inserida num
conjunto de obras que constituem a empreitada de execução do “Sistema Multimunicipal de
Abastecimento de Água e de Saneamento do Baixo Mondego-Bairrada. Sistema Adutor da
Boavista - Sector Central I - Traçado Comum com o Saneamento”.
Figura 3.1. Localização do caso 1 (adaptado de Google Earth)
Para uma melhor localização, pode observar-se no topo da figura anterior a ponte Rainha
Santa Isabel. A verde está marcada a localização dos poços de ataque (direita) e de chegada
(esquerda) e o percurso sob o rio Mondego. Já a cor de laranja está marcada a localização da
ETA da Boavista, em construção à data da fotografia aérea.
Este trabalho foi mais do que uma microtunelagem normal devido aos seus condicionalismos,
nomeadamente ao processo de construção civil dos poços de ataque e de chegada que tiveram
de ser executados com técnicas não muito usuais em obras hidráulicas, devido à sua grande
profundidade e também ao elevado nível freático por se localizar junto ao rio. No Quadro 31.1
indicam-se as características mais relevantes desta microtunelagem, acompanhado da Figura
3.2 onde se visualiza o perfil da perfuração.
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM VALA ABERTA CAPÍTULO 3
Erik Maciel Moreira Santos 41
Quadro 3.1. Indicação das características da microtunelagem
Características da microtunelagem
Extensão 204,14 m
Inclinação da perfuração 1,00%
Profundidade do poço de ataque 13,60 m
Profundidade do poço de chegada 8,70 m
Material do casing betão
Diâmetro interno/externo do casing 1200/1500 mm
Material da conduta FFD
Diâmetro da conduta a instalar 600 mm
Recobrimento mínimo da perfuração 3,00 m
Figura 3.2. Perfil da microtunelagem
3.2.2. Pormenorização de aspectos construtivos
Como já referido anteriormente, esta não foi uma microtunelagem normal, começando pelos
poços de ataque e de chegada que chegaram a atingir os 13,60 e 8,70 metros de profundidade,
respectivamente. Os poços foram executados com uma geometria cilíndrica, recorrendo a
contenção provisória necessária para a realização dos trabalhos. Tanto as paredes da
contenção provisória como o fundo dos poços foram constituídos por colunas de jet-grouting
com 800 milímetros de diâmetro.
Após a execução das colunas de jet-grouting e posterior escavação dos poços, foram
executadas as lajes e anéis de fundo, os escudos de ataque e chegada e os maciços de reacção,
como se pode observar nas Figuras 3.3 e 3.4 que mostram as plantas dos poços de ataque e de
chegada antes de se iniciar a perfuração.
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM ABERTURA DE VALA
42
Figura 3.3. Planta do Poço de Ataque
Figura 3.4. Planta do Poço de Chegada
As dimensões dos poços de ataque e de chegada podem não ser iguais, sendo que o poço de
ataque terá de ter no mínimo uma dimensão superior à soma do comprimento da
microtuneladora ou do casing (o que for maior) mais o conjunto de macacos hidráulicos e
maciço de reacção. O poço de chegada terá de ter no mínimo a dimensão da microtuneladora
ou do casing (o que for maior) apenas para a sua remoção através de uma grua ou algo
similar. Neste caso, os poços de ataque e de chegada foram construídos com um diâmetro
interno aproximado de 10 e 6 metros, respectivamente, entre colunas de jet-grouting.
Após os trabalhos de perfuração, foram colocadas dentro dos poços as câmaras de descarga de
fundo (poço de ataque) e de chegada (poço de chegada) que foram constituídas por vários
elementos de betão pré-fabricado. Os vazios sobrantes entre as câmaras e a contenção
provisória foram preenchidos com material de aterro proveniente da escavação efectuada,
tendo-se procedido à selecção dos solos para obter uma adequada compactação.
Para a remoção dos solos escavados, a microtunelagem pode recorrer a vários processos,
desde o trado contínuo, as lamas bentoníticas e o vácuo. Nesta microtunelagem o processo
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM VALA ABERTA CAPÍTULO 3
Erik Maciel Moreira Santos 43
utilizado foi com o recurso às lamas bentoníticas. Dependendo das características do solo a
perfurar, a densidade das lamas tem de ser ajustada. A densidade é importante tanto para a
remoção dos resíduos como também para a contenção do furo imediatamente à frente da
microtuneladora. Para que as lamas sejam reutilizáveis, têm de passar por um processo de
reciclagem para a separação dos resíduos provenientes da escavação e das lamas que serão
novamente injectadas na perfuração. Na Figura 3.5 pode ver-se um esquema de utilização das
lamas bentoníticas no processo de microtunelagem e, também, o esquema do processo de
reciclagem.
Figura 3.5. Reciclagem das lamas bentoníticas na microtunelagem
Para além da remoção de resíduos da perfuração e da contenção do furo, a utilização das
lamas bentoníticas tem outra finalidade, a lubrificação da parede exterior dos casings que será
abordada de seguida.
3.2.3. Microtunelagem
Com a escavação e execução de todas as partes inerentes para o início da perfuração
concluídas, é altura da montagem de todos os equipamentos necessários e que se representam
esquematicamente na Figura 3.6.
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM ABERTURA DE VALA
44
Figura 3.6. Exemplo de estaleiro para a microtunelagem (adaptado de www.mts-p.de)
Como já referido, o processo utilizado nesta microtunelagem foi com recurso a lamas
bentoníticas para remoção dos solos escavados e lubrificação das paredes do casing. A
perfuração inicia-se então com a microtuneladora seguida do bloco de energia hidráulica. À
medida que este conjunto avança, por acção dos macacos hidráulicos que estão no poço de
ataque, são também introduzidos os troços de casing em betão (Figura 3.7) que, por sua vez,
comprimem a cabeça da microtuneladora até esta sair no poço de chegada.
As lamas bentoníticas têm três finalidades no processo de perfuração. A pressão hidrostática é
medida directamente na frente de escavação e contrabalançada com as lamas estabilizadoras
que são injectadas sobre pressão, facilitando assim a progressão da microtuneladora. Outra
função é o transporte do material escavado para o exterior, onde se situa o decantador que
realiza a separação das lamas e o material escavado, tornando-as assim num material
reutilizável. A terceira função consiste na lubrificação do casing através da injecção destas
por orifícios que se encontram em algumas secções que estão preparadas com estações de
injecção.
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM VALA ABERTA CAPÍTULO 3
Erik Maciel Moreira Santos 45
Figura 3.7. Inserção de uma secção de casing
Para a ligação de um novo troço de casing é necessário desligar todas as ligações que existam
no interior do túnel, tais como tubagens de carga e descarga de lamas bentoníticas, cabos
eléctricos ou outras ligações que existam à cabeça da microtuneladora, instalar então o casing
e refazer as ligações anteriormente desligadas.
As várias ligações referidas anteriormente e os pontos de injecção das lamas bentoníticas para
lubrificação estão visíveis na Figura 3.8, onde estão assinalados a verde a estação de injecção
e a cor de laranja os orifícios de injecção.
Figura 3.8. Interior do casing
As extremidades do casing possuem encaixe tipo macho/fêmea e são dotadas de um anel de
borracha. Ao encaixar duas peças, o anel é esmagado através das forças dos macacos
hidráulicos, garantindo assim a estanqueidade do casing. Na Figura 3.9 pode entender-se
melhor o mecanismo de vedação através do anel de borracha onde estão ilustrados alguns
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM ABERTURA DE VALA
46
exemplos de juntas. Por vezes também se podem selar os encaixes interiormente com uma
calda de cimento.
Figura 3.9. Pormenor das juntas entre casings
A duração dos trabalhos de ligação de um troço de casing, juntamente com o tempo
despendido com a perfuração em si, fez com que o total da perfuração dos 205 metros
demorasse aproximadamente um mês, fazendo com que o rendimento da perfuração fizesse
uma média de 10 metros por dia (8 horas de trabalho).
Após a perfuração totalmente realizada, passou-se à fase de introdução da conduta definitiva
em FFD. Assim sendo, os vários troços foram descidos até à base do poço de ataque (com
comprimento igual à largura do poço), e ligados entre si com kits de travamento. Para fazer
deslizar a conduta dentro do casing foram utilizados cintos com roletes (aplicados de dois em
dois metros), facilitando assim o deslize dentro do casing com o auxílio de um guincho
colocado no poço de chegada.
Na Figura 3.7 pôde observar-se o muro de betão que rodeia os macacos hidráulicos. Esse
muro é o conjunto de todos os blocos que formam o maciço de reacção. Depois de concluída a
perfuração e introdução da conduta definitiva, esse maciço é totalmente destruído, deixando
lugar para as câmaras definitivas que foram executadas em betão pré-fabricado. Podemos
observar a geometria e o pormenor do encaixe que irão constituir as câmaras de descarga
(poço de ataque) e de chegada (poço de chegada). Estas secções pré-fabricadas podem ser
visualizadas na Figura 3.10, onde se tentou representar as mesmas em imagem virtual, e na
Figura 3.11, está representado o pormenor de vedação das mesmas.
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM VALA ABERTA CAPÍTULO 3
Erik Maciel Moreira Santos 47
Figura 3.10. Câmaras pré-fabricadas de chegada (esquerda) e descarga (direita)
Figura 3.11. Pormenor de vedação das câmaras pré-fabricadas
Com a conclusão da aplicação de todas as secções das câmaras, procede-se então às ligações
da conduta à superfície. Pode visualizar-se na Figura 3.12 uma fotografia tirada da superfície
à câmara de descarga (poço de ataque).
Figura 3.12. Câmara de descarga (poço de ataque) concluída
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM ABERTURA DE VALA
48
Antes de colocar a conduta em funcionamento realizou-se uma pequena limpeza das
impurezas que se acumularam no interior da conduta, através de uma descarga controlada de
água à qual se adicionou cloro em quantidade superior ao normalmente utilizado.
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM VALA ABERTA CAPÍTULO 3
Erik Maciel Moreira Santos 49
3.3. Perfuração horizontal dirigida – Caso 2
3.3.1. Descrição geral
Este estudo de caso é referente a uma travessia do rio Mondego, situada em Figueira da Foz,
efectuada através da técnica de perfuração horizontal dirigida para duas condutas em PEAD
DN400mm, com um desenvolvimento aproximado de 2x440 metros. As perfurações foram
realizadas perto da estação de caminhos-de-ferro e da ponte Edgar Cardoso, como mostra a
Figura 3.13, para a ligação da margem Norte à margem Sul inserindo-se na empreitada de
“Reformulação do Abastecimento de Água ao Sul do Concelho da Figueira da Foz –
Travessia do Mondego – Condutas Adutoras/Distribuidoras – Adenda 2”.
Figura 3.13. Localização do caso 2 (adaptado de Google Earth)
Na figura podemos ver identificados a cor de laranja a estação de caminhos-de-ferro e a
ponte, como referido no parágrafo anterior. A verde está marcada a localização dos pontos de
ataque (em cima) e de chegada (em baixo) assim como o percurso das duas perfurações sob o
rio Mondego.
No Quadro 3.2 indicam-se as características mais relevantes desta perfuração, acompanhadas
da Figura 3.14 onde se visualiza o seu perfil.
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM ABERTURA DE VALA
50
Quadro 3.2. Indicação das características da perfuração horizontal dirigida
Características das perfurações
Extensão 2 x 440,00 m
Inclinação da perfuração Variada
Profundidade do ponto de ataque ≈ 0,50 m
Profundidade do ponto de chegada 0,00 m
Material da conduta PEAD
Diâmetro da conduta a instalar 400 mm
Diâmetro do furo 600 mm
Figura 3.14. Perfil das perfurações
3.3.2. Pormenorização de aspectos construtivos
A perfuração horizontal dirigida é uma técnica conhecida por conseguir instalar novas
condutas sem abertura de vala e a partir da superfície. Não há a necessidade de executar poços
de ataque ou de chegada para a instalação do equipamento, mas é aconselhável realizar um
pequeno poço no ponto de ataque apenas para a restrição das lamas bentoníticas que são
utilizadas para o processo de perfuração e contenção do furo enquanto não é introduzida a
conduta. O poço retém as lamas para a aspiração e encaminhamento para o equipamento de
tratamento de lamas, para estas poderem voltar a ser reutilizadas, como se pode visualizar no
esquema de tratamento das lamas bentoníticas, na imagem seguinte.
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM VALA ABERTA CAPÍTULO 3
Erik Maciel Moreira Santos 51
Figura 3.15. Esquema de tratamento das lamas bentoníticas
Existem vários aspectos a considerar para o procedimento desta perfuração, desde o diâmetro
do alargamento, a velocidade de execução do alargamento e introdução da conduta, a
adaptação da densidade das lamas bentoníticas para o tipo de solo a escavar e o traçado do
furo em perfil.
Começando pelo traçado do furo em perfil, este é dividido em três secções. Na Figura 3.16
podemos ver o esquema representativo destas fases, sendo que o troço [AB] é denominado de
fase de aproximação, [BC] de curvatura constante e, finalmente, [CD] o traçado de saída.
Figura 3.16. Perfil tipo da perfuração
Dependendo das características do solo a perfurar, a densidade das lamas é ajustada. A
densidade é importante tanto para a remoção dos resíduos como também para a contenção do
furo, mantendo-o livre até a instalação da conduta. As lamas e a sua densidade estão
interligadas com a velocidade de execução do furo, do seu alargamento e da introdução da
conduta. Se a velocidade for muito elevada, pode não haver injecção de lamas suficientes para
suportar o solo envolvente e o túnel colapsar, e se a densidade não for a correcta o túnel pode
deformar dificultando assim a perfuração ou a introdução. Na Figura 3.17 pode ver-se a
exemplificação destes problemas.
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM ABERTURA DE VALA
52
Figura 3.17. Colapso e deformação da perfuração
Quanto ao diâmetro do alargamento do furo, é recomendado que o diâmetro seja 1,5 vezes o
da conduta, para facilitar a circulação das lamas e dos resíduos, e diminuir o atrito devido à
curvatura existente. A diminuição do atrito é importante para a diminuição da força exercida
pela máquina perfuradora. Para contribuir para essa diminuição do atrito, é normal colocar a
conduta previamente soldada sobre roletes e, quando a conduta é de material plástico, pode
preencher-se com água para criar peso adicional, fazendo assim com que a conduta no interior
do furo não flutue nas lamas bentoníticas exercendo atrito com a parte superior do furo.
Neste tipo de obras é comum introduzirem-se condutas de grande diâmetro e, consoante o
aumento de diâmetro, a parede do tubo aumenta para conseguir resistir às forças de tracção
exercidas pela máquina. Para que as soldaduras também resistam, é essencial que sejam
executadas com o maior profissionalismo e seguindo as especificações dadas pelo fabricante,
sendo aproximadamente as indicadas no quadro seguinte.
Quadro 3.3. Especificações de soldadura (ISTT, (2004))
Esp
essu
ra d
o t
ubo
(mm
)
Pré
-aquec
imen
to
Esp
essu
ra d
o b
ord
o
no t
opo d
o t
ubo
(mm
)
Dura
ção d
o
aquec
imen
to
(s)
Dura
ção m
áxim
a da
rem
oçã
o d
o p
rato
de
aquec
imen
to
(s)
Dura
ção d
a
apli
caçã
o d
a
pre
ssão
de
jun
ção
(s)
Tem
po d
e
arre
feci
men
to s
em
pre
ssão
do t
ubo
(min
)
4-5 0,5 30-70 3-5 3-6 3-6
5-7 1 70-120 4-6 4-8 6-10
7-12 1,5 120-190 5-8 8-12 10-16
12-19 2 190-250 6-10 10-15 16-24
19-26 2,5 250-330 7-14 15-20 24-32
26-37 3,0 330-460 8-17 20-25 32-40
37-50 3,5 460-600 7-12 26-35 40-45
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM VALA ABERTA CAPÍTULO 3
Erik Maciel Moreira Santos 53
O conjunto necessário para efectuar uma soldadura é composto por várias partes, desde uma
máquina de estabilização das duas pontas do tubo a soldar, comandada por uma central que
regula o movimento de aproximação e afastamento das extremidades do tubo e também a
pressão de contacto necessária, por fim, uma caixa que contém o ferro de aquecimento e um
disco de aperfeiçoamento das arestas do tubo, para que o contacto das duas superfícies a
soldar seja perfeito. Este equipamento pode visualizar-se na Figura 3.18, onde se vê a central
(de cor vermelha) no lado esquerdo da fotografia, seguida da caixa onde se encontra o ferro de
aquecimento e o disco de aperfeiçoamento, e no centro da fotografia a máquina estabilizadora.
Nesta figura pode também ver-se uma série de soldaduras já realizadas e a conduta a ser
formada em cima de roletes, que servem tanto para facilitar posteriormente o seu arrastamento
como também para não ficar danificada no caso de ser arrastada sobre o pavimento.
Figura 3.18. Equipamento para soldadura topo a topo
O primeiro passo para realizar a soldadura é a ligação das pontas de dois tubos, seguida do
aperfeiçoamento das superfícies, para que o contacto seja o mais perfeito possível, e
respectiva limpeza. É então introduzido o ferro de aquecimento, que foi previamente ligado e
se encontra à temperatura desejada. Após o aquecimento, o ferro é retirado e, com a pressão
regulada na central, as duas superfícies encostam-se durante o período de arrefecimento
indicado, ficando a soldadura concluída.
Após uma breve explicação de alguns aspectos construtivos mais importantes, segue-se a
apresentação deste estudo de caso.
3.3.3. Perfuração Horizontal Dirigida
Para a adaptação de vários aspectos construtivos, iniciou-se a obra com uma campanha de
prospecção composta por 8 sondagens espaçadas entre si aproximadamente 30 metros. Estas
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM ABERTURA DE VALA
54
sondagens são essenciais para a escolha da cabeça de perfuração e calibração da densidade
das lamas bentoníticas.
Depois de todos os pormenores ajustados, inicia-se então a escavação do poço de ataque para
posteriormente posicionar a máquina de perfuração (Figura 3.19), que está munida com uma
cabeça de perfuração que se pode visualizar na Figura 3.20.
Figura 3.19. Máquina de perfuração horizontal dirigida (Prime Drilling)
Figura 3.20. Cabeça de perfuração utilizada
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM VALA ABERTA CAPÍTULO 3
Erik Maciel Moreira Santos 55
Para que se inicie a perfuração com a inclinação de projecto, a máquina começa a exercer
força de compressão e rotação, para que o seu traçado seja rectilíneo, e apenas de compressão
na orientação correcta da cabeça perfuradora, quando houver necessidade de realizar curvas.
À medida que a perfuração avança, com a adição de varas metálicas (Figura 3.21), a cabeça é
seguida por um receptor móvel, como se apresenta na Figura 3.22.
Figura 3.21. Varas metálicas
Figura 3.22. Sistemas de detecção por radar
Com este tipo de detecção, o emissor colocado na cabeça perfuradora transmite as
informações necessárias ao receptor para que a perfuração seja correctamente realizada.
Assim, o operador da máquina de perfuração sabe qual a profundidade da cabeça e qual a
posição horária da cabeça de perfuração. Apenas sabendo a posição horária da cabeça é que o
operador consegue realizar as curvas necessárias para aproximar o mais possível o traçado do
furo ao traçado de projecto. Na Figura 3.23 consegue perceber-se o funcionamento da
realização de curvas através da técnica de perfuração horizontal dirigida.
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM ABERTURA DE VALA
56
Figura 3.23. Conjugação de compressão e rotação
Ao finalizar o furo piloto, a cabeça perfuradora alcança o ponto de saída, sendo substituída
pelo reamer de alargamento, como se pode ver na Figura 3.24.
Figura 3.24. Reamer de alargamento
Para não exercer demasiada força na máquina, a conduta ainda não é introduzida neste passo.
Para isso, a seguir ao reamer de alargamento são adicionadas varas que servirão de guia para
a introdução da conduta.
Estando o alargamento finalizado, é acoplada então a conduta, com o auxílio de um segmento
que é encaixado nas varas metálicas, como se pode ver na Figura 3.25.
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM VALA ABERTA CAPÍTULO 3
Erik Maciel Moreira Santos 57
Figura 3.25. Adaptador da conduta
Com o adaptador ligado à conduta (formada pelos segmentos de tubo soldados) e ligado a um
reamer de limpeza, é então iniciado o processo de introdução da conduta dentro do furo.
Concluída a introdução da conduta, repetiu-se todo o processo para a implantação da segunda
conduta.
Após a introdução das duas condutas, seguiu-se a execução de todos os trabalhos inerentes à
ligação de ambas numa caixa de derivação, como se mostra nas seguintes figuras.
Figura 3.26. Condutas no ponto de chegada
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM ABERTURA DE VALA
58
Figura 3.27. Condutas no ponto de partida
Figura 3.28. Ligação das condutas dentro da caixa de derivação
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM VALA ABERTA CAPÍTULO 3
Erik Maciel Moreira Santos 59
Antes de efectuar as ligações, há que realizar a limpeza da conduta. Esta limpeza serve apenas
para retirar as pequenas impurezas que se acumulam enquanto a conduta não está ligada. Para
a sua realização, é necessário utilizar a técnica de limpeza flushing (descarga controlada de
água à qual se adiciona cloro em quantidade superior ao normalmente utilizado, mediante a
abertura controlada da ligação).
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM ABERTURA DE VALA
60
3.4. Pipe bursting e vala aberta – caso 3
3.4.1. Descrição geral
Os trabalhos abrangidos neste terceiro caso consistem na aplicação da técnica de pipe
bursting, onde se irá manter o traçado das condutas existentes e também a aplicação de
condutas com vala aberta, onde o traçado das condutas existentes se irá alterar ou em novos
traçados necessários.
O estudo de caso refere-se apenas à substituição de um troço de conduta de fibrocimento por
uma conduta nova em PEAD com um desenvolvimento de aproximadamente 150 metros.
Esta intervenção foi efectuada na zona de Celas em Coimbra, mais propriamente na Rua
Virgílio Correia, como mostra a Figura 3.29, apenas na margem direita da mesma.
Figura 3.29. Localização do caso 3 (adaptado de Google Earth)
Os motivos principais que levaram ao avanço da empreitada, para além da garantia da
qualidade do serviço, foram a diminuição do número de roturas e consequentes interrupções
do fornecimento de água para reparação, como também a redução das perdas de água que
tipicamente são elevadas nas redes de fibrocimento.
3.4.2. Pormenorização de aspectos construtivos
Como já explicado anteriormente, optou-se por manter o traçado das condutas existentes de
modo a poder utilizar a técnica de pipe bursting para minimizar a abertura de valas, com
excepção das zonas onde foi efectuada uma correcção do traçado da rede, anulando uma
travessia existente.
Em toda a rua foram feitas várias sondagens para determinar o comprimento de conduta nova
a instalar. Foi então constatado que no comprimento total da rua (cerca de 240 metros) apenas
era necessário instalar conduta nos primeiros 150 metros, já que os restantes estavam em tubo
PVC e não haveria necessidade de os substituir. Tal representação é ilustrada na Figura 3.30.
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM VALA ABERTA CAPÍTULO 3
Erik Maciel Moreira Santos 61
Figura 3.30. Conduta a substituir (verde) e a manter (laranja) (adaptado de Google Earth)
A tubagem utilizada na substituição da conduta de fibrocimento foi o PEAD Ø90 da classe
1.0 MPa. A tubagem foi fornecida em rolos de 50 metros, o que diminuiu a necessidade de
realizar soldaduras.
Era então necessário substituir cerca de 150 metros de conduta de fibrocimento por PEAD,
decidindo-se para isso evitar a abertura de vala recorrendo à técnica de pipe bursting, o que
levaria a crer que seria um tipo de obra de abertura de dois poços de acesso nas extremidades
do troço e, posteriormente, introdução, mas não foi bem isso que aconteceu. Não por falta de
capacidade dos macacos hidráulicos que compunham a máquina de puxar, mas sim pela falta
de varas (a empresa que efectuou a obra possuía apenas 100 metros de varas, pelo que teve de
se executar os 150 metros em dois troços, sendo o primeiro de cerca de 95 metros e o segundo
na restante extensão).
Numa obra deste tipo é importante manter o abastecimento de água para os moradores da rua,
para isso foi necessário executar um by-pass para ligação de todos os ramais sempre que as
condutas existentes não o permitissem.
3.4.3. Acompanhamento da obra
Todo o trabalho começou após as sondagens com a abertura dos poços de acesso das
extremidades do troço, podendo ver-se a sua localização na Figura 3.31, também se realizou a
abertura de pequenos poços de acesso aos ramais dos prédios e outro para ligação de uma
travessia que abastecia o outro lado da rua. Todas estas escavações foram inevitáveis à
execução do by-pass necessário para que a rede de abastecimento de água continuasse em
funcionamento. O esquema de ligação do by-pass pode ser visto na Figura 3.32, assim como
um conjunto de fotografias do mesmo na Figura 3.33.
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM ABERTURA DE VALA
62
Figura 3.31. Localização dos poços das extremidades do troço (adaptado de Google Earth)
Figura 3.32. Esquema de ligação do by-pass
Figura 3.33. Ligações do by-pass
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM VALA ABERTA CAPÍTULO 3
Erik Maciel Moreira Santos 63
Analisando o esquema do by-pass junto com a Figura 3.33(a) pode ver-se o início da ligação
do by-pass através de três tubos em PEAD de menor diâmetro, que também se podem
visualizar na Figura 3.33(b) no poço da travessia da rua. Na Figura 3.33(c) apresenta-se um
exemplo de ligação a um ramal de um prédio e, finalmente, na Figura 3.33(d) vê-se o fim do
by-pass com a ligação deste à conduta que já não necessita de substituição.
Note-se que durante os trabalhos de ligação do by-pass o abastecimento de água foi cortado,
mas, para que os habitantes da rua não fossem apanhados de surpresa, foi afixado em todas as
entradas dos prédios um comunicado a avisar que haveria um corte do abastecimento durante
um determinado período de tempo no dia designado para a sua realização.
Após isto, o trabalho de substituição da conduta de fibrocimento foi iniciado com a colocação
da máquina que auxilia a técnica de pipe bursting. Esta máquina, que pode ser observada na
Figura 3.34, é composta por macacos hidráulicos que funcionam através de um grupo
hidráulico que também é visível na mesma figura.
Figura 3.34. Máquina de pipe bursting
Para iniciar o processo, são introduzidas na conduta de fibrocimento varas em aço maciço
roscadas entre si que percorrem a conduta velha com uma ponta arredondada (Figura 3.35).
Como o peso destas varas é elevado, a máquina que no fim as vai puxar auxilia o processo
empurrando as varas todas. Pode observar-se, em figuras anteriores, como por exemplo na
Figura 3.31, a capacidade de curvatura destas varas maciças. Uma vez introduzidos os 100
metros de varas que a empresa possui, fez-se uma medição com auxílio de uma roda de
medição, para calcular onde é que a ponta se encontrava. Para precaver algum tipo de erro de
medição, foi aberto um poço de acesso intermédio a 95 metros de distância. Depois de
encontrarem a conduta existente, esta foi partida para se verificar se as varas se encontravam
dentro desta e, estando confirmado, abriu-se o poço por completo para haver comprimento
suficiente para que o tubo pudesse executar o raio de curvatura e, posteriormente, fosse ali
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM ABERTURA DE VALA
64
colocada a máquina para efectuar o mesmo processo para o resto do troço (aproximadamente
55 metros).
Figura 3.35. Varas de aço maciço e ponta arredondada
Na Figura 3.36 observam-se os mecanismos que são acoplados às varas para a destruição da
conduta existente, nomeadamente o chamado rabo-de-bacalhau, que serve para cortar a
conduta e todas as braçadeiras que se encontrem nela instaladas, e a cabeça fragmentadora
que destrói a conduta e comprime os destroços contra o solo envolvente, deixando assim
espaço para que a conduta nova seja inserida.
Figura 3.36. Rabo-de-bacalhau (em cima) e cabeça fragmentadora (em baixo)
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM VALA ABERTA CAPÍTULO 3
Erik Maciel Moreira Santos 65
Para que se possa adaptar a conduta a todos os mecanismos atrás referidos, existe uma peça
metálica que possui um mecanismo de expansão que, ao ser enroscado, expande a ponta e
adapta-se ao tubo fazendo com que este exerça força de tracção para se “agarrar” à referida
peça. Pode ver-se este mecanismo já adaptado ao tubo na Figura 3.37.
Figura 3.37. Mecanismo de adaptação ao tubo
Pode observar-se na Figura 3.38 uma sequência de fotografias que ilustra o início da
introdução de todos os mecanismos, incluindo o tubo em PEAD.
Figura 3.38. Início da introdução do rabo-de-bacalhau + cabeça fragmentadora + tubo PEAD
Como já referido anteriormente, o tubo foi fornecido em rolos de 50 metros. Uma vez
concluída a introdução do primeiro rolo houve a necessidade de efectuar uma soldadura topo
a topo com outro rolo, processo que vai ser ilustrado de seguida, começando com a descrição
das características da soldadura utilizada neste tipo de material que se encontra no quadro
seguinte.
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM ABERTURA DE VALA
66
Quadro 3.4. Características da soldadura
Tipo de material PEAD classe 1.0 MPa
Diâmetro 90mm
Espessura 6,6mm
Temperatura de aquecimento 215ºC
Tempo de aquecimento 1 minuto e 20 segundos
Tempo de arrefecimento 14 minutos
Pressão de contacto 460 psi ou 31,7 bar
O conjunto necessário para efectuar a soldadura é composto por várias partes, desde uma
máquina de estabilização das duas pontas do tubo a soldar (Figura 3.39 (a)), comandada por
uma pequena central (Figura 3.39(b)) que regula o movimento de aproximação e afastamento
das extremidades do tubo e também a pressão de contacto necessária, e por fim uma caixa que
continha o ferro de aquecimento e um disco de aperfeiçoamento das arestas do tubo (Figura
3.39(c)) para que o contacto das duas superfícies a soldar seja perfeito.
Figura 3.39. Equipamento para soldadura topo a topo
O primeiro passo para realizar a soldadura é a ligação da ponta do tubo que está introduzido,
fazendo-se o mesmo com a outra ponta, como mostra a Figura 3.40(a). De seguida a
superfície a soldar tem de ser aperfeiçoada, mediante a utilização de um disco de corte (Figura
3.40(b)) que regulariza as superfícies para que o contacto seja o mais perfeito possível. Antes
de se proceder à soldadura é necessário limpar bem as superfícies a soldar com auxílio de
papel e acetona (Figura 3.40(c)). É então introduzido o ferro de aquecimento, que foi
previamente ligado e se encontra a cerca de 215ºC (Figura 3.40(d)), durante 1 minuto e 20
segundos, a uma pressão de cerca de 31,7 bar. Após o aquecimento, o ferro é retirado e com a
mesma pressão regulada na central as duas superfícies encostam-se (Figura 3.40(e)) durante
um período de arrefecimento de cerca de 14 minutos. Passado o tempo de arrefecimento, a
soldadura está completa (Figura 3.40(f)) e pode continuar-se com a introdução do novo troço
de conduta.
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM VALA ABERTA CAPÍTULO 3
Erik Maciel Moreira Santos 67
Figura 3.40. Processo de soldadura topo a topo
Estando o processo de soldadura concluído, a introdução do novo troço de conduta pode ser
continuada sem qualquer outro obstáculo, a não ser que exista a necessidade de outra
soldadura. Neste caso, houve essa necessidade, não para ligação de outro rolo mas sim por ter
existido um descuido associado aos trabalhos de “ajuda” no desenrolar do rolo. Para que não
houvesse problemas deste tipo, era necessário a empresa ter destacado para esta frente de obra
um desenrolador para o rolo de tubo. Como não existia um desenrolador, o desenrolar do rolo
de tubo teve de ser auxiliado através de trabalho manual, o que causou um vinco como se
pode ver na figura seguinte.
Figura 3.41. Vinco em tubo de PEAD
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM ABERTURA DE VALA
68
Para este tipo de acontecimento, a única solução é o corte do troço vincado e a realização de
uma nova soldadura. Assim sendo, realizou-se todo o processo já atrás descrito.
Com o aproximar da conclusão do troço, é de referir o cuidado que existe com este tipo de
maquinaria, desde o controlo da pressão dos macacos hidráulicos à limpeza das varas que se
iam retirando do tubo de fibrocimento. Na Figura 3.42, pode observar-se a chegada do rabo-
de-bacalhau e da cabeça fragmentadora ao poço de acesso. Como a máquina de puxar fica
muito próximo da ponta do tubo de fibrocimento, tem de se puxar o tubo de PEAD
recorrendo, neste caso, a uma corrente e uma retroescavadora que puxa o necessário para
fazer as ligações à conduta já existente.
Figura 3.42. Fim da introdução do primeiro troço
Após a realização deste troço, foi altura de passar para o troço final, como é representado na
Figura 3.43, onde se mostram os poços de acesso das extremidades e o intermédio que serviu
apenas de ponto de união.
Figura 3.43. Poços de acesso nas extremidades e intermédio
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM VALA ABERTA CAPÍTULO 3
Erik Maciel Moreira Santos 69
O procedimento repete-se e conclui-se a introdução da tubagem nova. A partir daqui os
trabalhos seguem com a ligação do tubo novo com o existente e ligações pontuais aos ramais
de cada prédio, sendo que para isso era necessário efectuar escavações pontuais como se pode
ver na Figura 3.44, onde também se vê uma ligação para um marco de incêndio.
Figura 3.44. Ligação a um ramal predial (esquerda) e marco de incêndio (direita)
Antes de efectuar as ligações, há que realizar a limpeza da conduta nova. Esta limpeza serve
apenas para retirar as pequenas impurezas que se acumulam enquanto o tubo não está ligado.
Para a sua realização, é necessário fazer a ligação ao ponto de água inicial e utilizar a técnica
de limpeza flushing (descarga de água com cloro mediante a abertura controlada da ligação).
Depois de realizada a limpeza é necessário finalizar as ligações e aterrar os poços e valas
abertas, usando para isso uma primeira camada de areia com 0,30 metros de espessura,
seguida da colocação de uma fita sinalizadora plástica, de cor azul, com uma largura mínima
de 0,20 metros, com a inscrição “atenção rede de água” e logótipo da entidade gestora. Por
fim aterra-se a parte restante da vala ou poço com areia, pó de pedra ou tout-venant regado e
compactado em camadas de 0,20 metros de espessura, até cerca de 0,30 metros do topo da
vala, sendo estes últimos 0,30 metros aterrados obrigatoriamente com tout-venant. Quando
acabado o aterro, vem a parte da repavimentação, seja em material betuminoso (estrada) ou
calçada (passeios).
3.4.4. Estudo económico
Neste subcapítulo irá apresentar-se um pequeno estudo económico de comparação entre a
técnica de pipe bursting e o método convencional de abertura de vala.
Antes de apresentar os valores comparativos das duas técnicas, salientam-se as vantagens e
desvantagens adjacentes a cada técnica. Como já referido no capítulo anterior, as grandes
vantagens da técnica de abertura de vala é a de não haver a necessidade de mão-de-obra muito
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM ABERTURA DE VALA
70
especializada e a possibilidade de se realizar qualquer tipo de obra em relação a diâmetro,
comprimento e material que se quiser utilizar. Em contrapartida, existe o custo adjacente à
movimentação de terras, que aumenta significativamente com a profundidade, e também os
custos de repavimentação, sendo que a combinação destes dois custos representam uma parte
considerável do orçamento total. O impacto ambiental é consideravelmente negativo,
associando-o às intervenções e ocupações do espaço público, níveis elevados de ruído e
vibração e interrupção da circulação pedestre e viária. Deve ser também referido o impacto
social que muitas vezes não é equacionado na tomada de decisão da técnica a utilizar.
Em relação à técnica de pipe bursting, a mão-de-obra, apesar de ter de ser mais especializada
que a de abertura de vala (para controlo dos macacos hidráulicos e das soldaduras), não fará
grandes diferenças no custo final e apresenta a grande vantagem de não ter de abrir e fechar
grandes comprimentos de valas, poupando nas parcelas de pavimentos, escavação e transporte
dos produtos sobrantes para aterro próprio.
Passando concretamente para o estudo económico, é de destacar a quantidade de orçamentos
que foram analisados e que englobam as duas técnicas, dessa análise retiraram-se os valores
descritos nos quadros seguintes, referentes a vários diâmetros e em tubo de PEAD.
Quadro 3.5. Valores de comparação de execução das técnicas – Ø90mm
PEAD
Ø90
Custo (€/m) Condutas
(%)
Repavimentação
(%)
Movimentação
Terras (%)
Repavimentação
+Movimentação
de Terras (%)
Individual Média Média Média Média Média
VA
LA
AB
ER
TA
38,03
40,57 9,70 34,60 55,70 90,30 35,69
46,47
42,07
PIP
E B
UR
ST
ING
20,30
31,53
52,55
20,75
70,00
39,50
8,88
8,70
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM VALA ABERTA CAPÍTULO 3
Erik Maciel Moreira Santos 71
Quadro 3.6. Valores de comparação de execução das técnicas – Ø110mm
PEAD
Ø110
Custo (€/m) Condutas
(%)
Repavimentação
(%)
Movimentação
Terras (%)
Repavimentação
+Movimentação
de Terras (%)
Individual Média Média Média Média Média
VA
LA
AB
ER
TA
40,35
42,58 13,03 33,77 53,19 86,97 38,11
48,17
43,67
PIP
E B
UR
ST
ING
22,21
23,24
49,26
22,25
9,71
12,78
Quadro 3.7. Valores de comparação de execução das técnicas – Ø125mm
PEAD
Ø125
Custo (€/m) Condutas
(%)
Repavimentação
(%)
Movimentação
Terras
(%)
Repavimentação
+Movimentação
de Terras (%)
Individual Média Média Média Média Média
VA
LA
AB
ER
TA
43,63
44,30 16,30 29,01 54,68 83,70
44,96
PIP
E
BU
RS
TIN
G 24,95
30,87
27,25
55,00
16,29
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM ABERTURA DE VALA
72
Quadro 3.8. Valores de comparação de execução das técnicas – Ø160mm
PEAD
Ø160
Custo (€/m) Condutas
(%)
Repavimentação
(%)
Movimentação
Terras
(%)
Repavimentação
+Movimentação
de Terras (%)
Individual Média Média Média Média Média
VA
LA
AB
ER
TA
48,32
48,32 28,17 28,46 43,38 71,83
48,66
PIP
E
BU
RS
TIN
G
29,34
26,83
31,80
19,35
Quadro 3.9. Valores de comparação de execução das técnicas – Ø200mm
PEAD
Ø200
Custo (€/m) Condutas
(%)
Repavimentação
(%)
Movimentação
Terras (%)
Repavimentação
+Movimentação
de Terras (%)
Individual Média Média Média Média Média
VA
LA
AB
ER
TA
55,50
54,65 29,68 25,81 44,51 70,32
53,80
PIP
E
BU
RST
ING
36,06
32,84
38,80
23,66
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM VALA ABERTA CAPÍTULO 3
Erik Maciel Moreira Santos 73
Quadro 3.10. Valores de comparação de execução das técnicas – Ø250mm
PEAD
Ø250
Custo (€/m) Condutas
(%)
Repavimentação
(%)
Movimentação
Terras (%)
Repavimentação
+Movimentação
de Terras (%)
Individual Média Média Média Média Média
VA
LA
AB
ER
TA
61,53 31,43 23,76 44,81 68,57
PIP
E
BU
RS
TIN
G
46,02
34,84
23,66
Quadro 3.11. Valores de comparação de execução das técnicas – resumo
Valores médios
PE
AD
Ø90m
m
PE
AD
Ø110m
m
PE
AD
Ø125m
m
PE
AD
Ø160m
m
PE
AD
Ø200m
m
PE
AD
Ø250m
m
VA
LA
AB
ER
TA
Custo (€/m) 40,57 42,58 44,30 48,32 54,65 61,53
Condutas (%) 9,70 13,03 16,30 28,17 29,68 31,43
Repavimentação (%) 34,60 33,77 29,01 28,46 25,81 23,76
Movimentação de Terras (%) 55,70 53,19 54,68 43,38 44,51 44,81
Repavimentação +
Movimentação de Terras (%) 90,30 86,97 83,70 71,83 70,32 68,57
PIPE BURSTING (€/m) 31,53 23,24 30,87 26,83 32,84 34,84
Diferença de custos (%) 22,28 45,42 30,32 44,47 39,91 43,38
Nas figuras seguintes podemos observar melhor pela representação gráfica as tendências e
oscilações contidas nos valores médios dos quadros anteriores. Assim sendo, na Figura 3.45
podemos ver a representação gráfica dos valores do custo (€/m) da realização de uma obra
com a técnica de vala aberta para os diferentes diâmetros. Na Figura 3.46 vemos a
representação gráfica dos vários componentes referentes à técnica de vala aberta, tais como a
percentagem correspondente ao custo da conduta em si, à repavimentação e à movimentação
de terras. Na Figura 3.47 podemos observar a representação gráfica dos valores do custo
(€/m) da realização de uma obra com a técnica de pipe bursting.
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM ABERTURA DE VALA
74
Figura 3.45. Representação gráfica do custo da técnica de vala aberta consoante o diâmetro
Figura 3.46. Representação gráfica das percentagens das componentes da técnica de vala
aberta consoante o diâmetro
0
10
20
30
40
50
60
70
Ø90 Ø110 Ø125 Ø160 Ø200 Ø250
€/m
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Ø90 Ø110 Ø125 Ø160 Ø200 Ø250
% do custo da conduta
% do custo da
repavimentação
% do custo da
movimentação de
terras
% do custo da
repavimentação +
movimentação de
terras
%
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM VALA ABERTA CAPÍTULO 3
Erik Maciel Moreira Santos 75
Figura 3.47. Representação gráfica do custo da técnica de pipe bursting consoante o diâmetro
Analisando então os valores médios, tanto pelas tabelas como pelos gráficos, podemos
observar que a técnica de vala aberta apresenta um custo crescente conforme o aumento do
diâmetro, o que seria de esperar. No entanto, o peso do custo dos pavimentos decresce com o
aumento do diâmetro da conduta instalada. Apesar de a área de pavimentos afectados
aumentar com o diâmetro, a própria conduta fica mais dispendiosa e, consequentemente, o
peso do custo dos pavimentos decresce. Em relação aos valores da movimentação de terras,
fazendo a mesma análise, nota-se uma pequena diminuição das percentagens, apesar de ter
oscilações. Também é importante salientar o que atrás já foi referido em relação aos valores
da movimentação de terras, visto que estes aumentam significativamente com o aumento da
profundidade, o que também pode influenciar e justificar estas oscilações.
Somando os custos de pavimentos com os da movimentação de terras, pode verificar-se uma
diminuição percentual à medida que aumenta o diâmetro da conduta, de acordo com o mesmo
sentido critico que foi utilizado para ambos os aspectos em separado. Verifica-se também uma
grande influência destes dois aspectos no peso final do custo, visto as percentagens atingirem
valores muito elevados, concluindo-se que o custo da conduta não é muito significativo.
Relativamente aos custos relacionados com a técnica de pipe bursting, seria de esperar que
fossem crescentes consoante o aumento do diâmetro da conduta a instalar, coisa que não se
observa, notando-se então algumas oscilações. Estas oscilações devem-se ao elevado número
de orçamentos que foram analisados e a uma enorme variabilidade de preços. Podemos
concluir isso analisando, por exemplo, os vários preços individuais no Quadro 3.5 referentes a
conduta de PEAD de 90 milímetros, onde o valor mais económico é de 8,70€ e o mais
dispendioso é de 70€, um aumento de cerca de 800%. Daí a análise ser realizada com o
máximo de valores possíveis para que o valor médio se aproxime o mais possível dos valores
reais.
Independentemente destas grandes oscilações, pode afirmar-se que, sempre que seja possível,
a utilização da técnica de pipe bursting é sem dúvida a mais económica, como podemos
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Ø90 Ø110 Ø125 Ø160 Ø200 Ø250
€/m
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM ABERTURA DE VALA
76
observar na Figura 3.48 através da representação gráfica dos custos da técnica de vala aberta e
dos custos da técnica de pipe bursting.
Figura 3.48. Representação gráfica do custo das técnicas de vala aberta e pipe bursting
consoante o diâmetro
Assim sendo, pode concluir-se que a técnica de pipe bursting está a tornar-se uma mais-valia
para as entidades gestoras. Trata-se de uma técnica mais económica, de mais rápida execução
e cria menos impactos aos utentes da via, reduzindo os problemas inerentes à abertura de vala
em pavimentos.
3.5. Considerações Finais
Neste capítulo foram desenvolvidos três estudos de caso envolvendo três técnicas diferentes.
Apesar de apenas um deles (caso 3 – pipe bursting) ter sido presencial, os outros dois foram
desenvolvidos através de fotografias, orçamentos, projectos de execução e desenhos
facultados pelas entidades gestoras bem como através da comunicação com os responsáveis
das obras já realizadas e em funcionamento.
Tentou-se ilustrar os mais variados passos e processos para a realização de cada técnica, o
mais pormenorizadamente possível, permitindo ao leitor desta dissertação ficar com uma
visão abrangente do que são estas obras. Apesar de se tentar dar uma ideia de tudo o que
engloba cada técnica, nem tudo foi referido em cada estudo de caso, visto que cada técnica
tem uma infinidade de pormenores e características que não seriam possíveis de descrever
neste capítulo.
Os dois primeiros estudos de caso (microtunelagem e perfuração horizontal dirigida),
referentes a obras que não foi possível acompanhar por já estarem realizadas quando se
iniciou esta dissertação, foram mais exigentes no que respeita à compreensão de todos os
processos envolvidos, mas a consulta dos elementos fornecidos e a troca de impressões com
os técnicos envolvidos na realização das obras acabou por produzir os resultados pretendidos.
0
10
20
30
40
50
60
70
Ø90 Ø110 Ø125 Ø160 Ø200 Ø250
Custo da técnica
de vala aberta
Custo da técnica
de pipe bursting
€/m
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM VALA ABERTA CAPÍTULO 3
Erik Maciel Moreira Santos 77
No terceiro estudo de caso (pipe bursting), como foi uma obra cuja execução pôde ser
acompanhada pessoalmente, acabou por ser mais fácil e entusiasmante transpor para o papel
aquilo que foi observado no terreno, de maneira a ser simples o entendimento dos passos e
processos mais relevantes para esta técnica. Por ser uma técnica mais comum que as outras
duas, conseguiu-se um razoável número de orçamentos, tornando possível a realização de um
pequeno estudo económico para dar aos leitores desta dissertação uma ideia dos custos da
técnica de pipe bursting comparados com a técnica tradicional de abertura de vala.
Em suma, verifica-se que a técnica de pipe bursting está a tornar-se cada vez mais
competitiva, não só a nível económico mas também pelo facto de reduzir significativamente
os impactos sociais inerentes à abertura de vala.
CONCLUSÕES GERAIS E TRABALHOS FUTUROS
Erik Maciel Moreira Santos 79
4. CONCLUSÕES GERAIS E TRABALHOS FUTUROS
4.1. Síntese do Trabalho e Conclusões Gerais
A presente dissertação realizou-se com o objectivo primário de reunir técnicas de
implantação, substituição e reabilitação de condutas de água, embora muitas delas sirvam
também para condutas de outro tipo de serviços enterrados, passando por breves descrições
das mesmas. O segundo objectivo era identificar as técnicas mais utilizadas em Portugal e
fazer um estudo mais pormenorizado com a apresentação de estudos de caso.
Inicialmente ambicionava-se, também, realizar um estudo técnico-económico reunindo custos
das técnicas apresentadas, ideia que acabou por se abandonar devido à dificuldade em aceder
à informação necessária a esse estudo. Assim, acabou por se realizar apenas um pequeno
estudo económico da técnica que mais tem feito frente à técnica de abertura de vala que é a
técnica que utiliza o rebentamento da conduta a substituir, denominada de pipe bursting.
Para que os objectivos desta dissertação fossem alcançados, iniciou-se por uma fase de
pesquisa e conhecimento aprofundado sobre as técnicas de implantação, substituição e
reabilitação conhecidas, passando também pela compreensão do funcionamento e
pormenorização das mesmas.
Foram descritas as mais variadas técnicas de implantação, substituição e reabilitação de
condutas de água, elaborando-se, para cada uma delas, um quadro síntese onde se indicaram
vários aspectos, desde material, geometria, eficácia, vantagens e desvantagens. A ideia passou
pela reunião dos aspectos mais importantes para uma possível decisão da técnica mais
apropriada para implementar em determinada obra. Claro está que o aspecto económico (não
menos importante) não se encontra nestes quadros, mas o objectivo passa pela eliminação de
hipóteses das técnicas que não poderão ser utilizadas mediante algumas características
próprias da obra, ou por desvantagens que não interessarão à empresa ou entidade que
realizará determinada obra.
Para minimizar a interrupção de estradas, o que por vezes se torna muito incómodo, é
necessário aplicar, sempre que possível, técnicas que não causem tantas interrupções e, por
vezes, a redução dos níveis de qualidade de um pavimento, pois ninguém gosta de conduzir o
seu veículo por estradas danificadas, com buracos e remendos, por isso tentou-se que todas as
técnicas descritas tivessem um método característico passando pela não abertura de vala ao
longo do traçado correspondente, à excepção da própria técnica de abertura de vala.
Assim sendo, para além da técnica que recorre à abertura de vala, todas as outras tentam
diminuir esse efeito, passando apenas pela abertura de pequenos poços, para a instalação dos
equipamentos necessários ou para realizar as ligações provisórias aos utilizadores da rede (by-
pass).
No grupo de técnicas sem abertura de vala, encontramos os mais variados procedimentos.
Para o caso de se querer reabilitar uma conduta, existem técnicas que vão desde a simples
limpeza, à reparação localizada e também ao revestimento integral do interior. No caso da
substituição de condutas, existe um pequeno grupo de técnicas que trata da introdução de
condutas novas, com ou sem remoção da conduta existente. Também neste grupo se insere a
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM ABERTURA DE VALA
80
técnica que destrói a conduta existente utilizada apenas para servir de guia para a conduta
nova, que pode até ser de diâmetro superior ao da existente.
Se se quiser implantar uma conduta nova onde não existe nenhuma outra, existem também
técnicas especiais que conseguem perfurar a partir da superfície, ou recorrendo apenas à
abertura de poços de acesso.
Nesta dissertação apresentam-se, também, três estudos de caso identificando e
pormenorizando as técnicas mais utilizadas em Portugal.
Tanto a microtunelagem como a perfuração horizontal dirigida, como já referido
anteriormente, são técnicas de perfuração que conseguem realizar a implantação de condutas
novas onde não existe qualquer outra conduta. São técnicas normalmente utilizadas para
travessias de rios, de auto-estradas e de caminhos-de-ferro, por se tratar de passagens onde é
tecnicamente inviável proceder à abertura de vala. Para além de muitas diferenças ao nível de
funcionamento, aquilo que mais distingue as duas técnicas é a limitação de perfuração em
troços rectos e a necessidade de abertura de poços de ataque e de chegada, no caso da
microtunelagem, ou a possibilidade de perfuração a partir da superfície com traçados que
podem incluir curvas, no caso da perfuração horizontal dirigida.
O terceiro estudo de caso incidiu na técnica de introdução de conduta nova com a destruição
da existente, denominada de pipe bursting. Neste estudo de caso conseguiu-se realizar um
pequeno estudo-económico onde se concluiu que a técnica de pipe bursting se está a tornar
cada vez mais atractiva, face à técnica de abertura de vala, não só pela redução dos impactos
sociais inerentes à movimentação de terras devido à abertura e fecho de valas, mas também
pelo facto de ser mais vantajosa a nível económico.
4.2. Trabalhos Futuros
No decorrer desta dissertação procurou-se reunir as técnicas conhecidas de reabilitação,
substituição e implantação de condutas. Procurou-se, também, realizar estudos de caso para
maior pormenorização das técnicas mais utilizadas em Portugal, para tal efectuou-se um
estudo económico que apenas confrontou duas técnicas: a abertura de vala e o pipe bursting.
Neste contexto, sugere-se como trabalho futuro a adição de mais técnicas, com possíveis
actualizações e melhorias nos quadros realizados para cada técnica, que não deixam de ser
motivos de eliminação de variáveis para a escolha de uma técnica a utilizar.
Não poderá deixar de se sugerir, também, a realização de mais estudos de caso, para um maior
detalhe das outras técnicas, e, fundamentalmente, a realização de um estudo económico que
actualize os preços indicados nesta dissertação, mas também que englobe as outras técnicas.
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SEM VALA ABERTA CAPÍTULO 3
Erik Maciel Moreira Santos 81
4.3. Considerações Finais
Para finalizar, pode afirmar-se que os objectivos estabelecidos foram atingidos. Para além de
um estudo e descrição das técnicas de reabilitação, substituição e implantação de condutas,
apresentaram-se, ainda, descrições pormenorizadas das técnicas mais utilizadas no nosso País,
ilustrando os procedimentos envolvidos na realização e alguns pormenores adjacentes às
técnicas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Erik Maciel Moreira Santos 83
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Público – Avaliação e Controle. Tese de Mestrado em Tecnologia, Centro Estadual de
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Engenharia Civil, IST – Instituto Superior Técnico, Lisboa. ISBN: 978-989-8360-04-5.
Almeida, M., Cardoso, M. (2010). Gestão Patrimonial de Infra-estruturas de Águas
Residuais e Pluviais: Uma abordagem centrada na Reabilitação. Série de Guias Técnicos
nº17, ERSAR – Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos, LNEC – Laboratório
Nacional de Engenharia Civil, Lisboa. ISBN:978-989-8360-05-2.
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