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INEDI – Cursos Profissionalizantes BRASÍLIA – 2005 Técnico em Transações Imobiliárias Noções de Língua Portuguesa MÓDULO 01

Tecnico Transacoes Imobiliarias Apostila

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Tecnico Transacoes Imobiliarias

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INEDI Cursos Profissionalizantes

Tcnico em Transaes Imobilirias

Noes de

Lngua PortuguesaMDULO 01

BRASLIA 2005

Os textos do presente Mdulo no podem ser reproduzidos sem autorizao do INEDI Instituto Nacional de Ensino a Distncia SDS Ed. Boulevard Center, Salas 405/410 Braslia - DF Center, Telefax: (0XX61) 3321-6614

CURSO DE FORMAO DE TCNICOS EM TRANSAES IMOBILIRIAS TTICOORDENAO NACIONAL Andr Luiz Bravim Diretor Administrativo Antnio Armando Cavalcante Soares Diretor Secretrio COORDENAO PEDAGGICA Maria Alzira Dallla Bernardina Corassa Pedagoga COORDENAO DIDTICA COM ADAPTAO PARA EAD Neuma Melo da Cruz Santos Bacharel em Cincias da Educao COORDENAO DE CONTEDO Jos de Oliveira Rodrigues Extenso em Didtica Joslio Lopes da Silva Bacharel em Letras EQUIPE DE APOIO TCNICO: INEDI/DF Andr Luiz Bravim Rogrio Ferreira Colho Robson dos Santos Souza Francisco de Assis de Souza Martins PRODUO EDITORIAL Luiz Ges EDITORAO ELETRNICA E CAPA Vicente Jnior IMPRESSO GRFICA Grfica e Editora Equipe Ltda

________________, Lngua Portuguesa, mdulo I, INEDI, Curso de Formao de Tcnicos em Transaes Imobilirias, 3 Unidades. Braslia. Disponvel em: www.inedidf.com.br. 2005. Contedo: Unidade I: Funes da linguagem; leitura e produo de textos Unidade II: Textos tcnicos Unidade III: Reviso gramatical Exerccios. 347.46:145 C560m

Caro Aluno O incio de qualquer curso uma oportunidade repleta de expectativas. Mas um curso a distncia, alm disso, impe ao aluno um comoprtamento diferente, ensejando mudanas no seu hbito de estudo e na sua rotina diria, porque estar envolvido com uma metodologia de ensino moderna e diferenciada, proporcionando absoro de conhecimentos e preparao para um mercado de trabalho competitivo e dinmico O curso Tcnico em Transaes Imobilirias ora iniciado est dividido em nove mdulos. Este mdulo 01 traz para voc a bsica disciplina Lngua Portuguesa que, dividida em trs grandes unidades de estudo, apresenta, dentre outros itens essenciais, um amplo estudo da linguagem, noes de textos tcnicos, e uma completa reviso gramatical, alm de exerccio de fixao, testes para avaliar seus aprendizado e lista de vocabulrio tcnico que, com certeza, ser indispensvel no seu desempenho profissional.Trata-se, como voc pode perceber, de uma completa, embora sinttica, habilitao no mbito desse conhecimento to decisivo para o futuro profissional do mercado imobilirio. Se o ensino a distncia garante maior flexibilidade na rotina de estudos tambm verdade que exige do aluno mais responsabilidade. Ns, do INEDI, proporcionamos as condies didticas necessrias para que voc obtenha xito em seus estudos, mas o sucesso completo e definitivo depende do seu esforo pessoal. Colocamos sua disposio, alm dos mdulos impressos, um completo site (www.inedidf.com.br) com salas de aula virtuais, frum com alunos, tutores e professores, biblioteca virtual e salas para debates especficos e orientao de estudos. Em sntese, caro aluno, o estudo dedicado do contedo deste mdulo lhe permitir no s o domnio dos conceitos mais elementares da Lngua Portuguesa, alm do conhecimento dos instrumentos bsicos para que o futuro profissional possa atingir os seus objetivos no mercado de imveis. Alm desse mdulo, leia outros textos com maior ateno. Voc vai gostar e aprender muito. Boa sorte!

SUMRIOINTRODUO.......................................................................................................................... 07 UNIDADE I 1. COMUNICAO.................................................................................................................. 11 1.1 O processo de comunicao e as variantes lingsticas ......................................... 11 1.2 Funes da linguagem .............................................................................................. 13 1.3 Problemas de comunicao na empresa................................................................. 14 1.3.1. Algumas expresses a evitar ........................................................................... 18 2. TEXTOS: LEITURA E PRODUO................................................................................ 20 2.1 Noo de texto .......................................................................................................... 20 2.2 As vrias possibilidades de leitura de um texto ..................................................... 21 2.3 Adequao vocabular ............................................................................................... 24 2.3.1. Dvidas quanto ao significado do vocbulo ................................................ 24 2.3.2. Outras recomendaes na escolha dos vocbulos ....................................... 28 2.4 Os textos e sua tipologia .......................................................................................... 30 2.5 Textos publicitrios................................................................................................... 33 UNIDADE II 3. TEXTO TCNICO ................................................................................................................ 39 3.1 A organizao do texto tcnico............................................................................... 39 3.2 A unidade do pargrafo ........................................................................................... 42 3.3 A produo do texto tcnico .................................................................................. 44 3.3.1. O texto da carta empresarial .......................................................................... 47 3.3.1. O planejamento do texto da carta ................................................................. 47 4. ASPECTOS DO TEXTO TCNICO ................................................................................. 50 4.1 Ofcio ......................................................................................................................... 50 4.2 Requerimento ............................................................................................................ 51 4.2.1. Modelos de requerimento ............................................................................... 53 4.3 Circular....................................................................................................................... 54 4.4 Relatrio .................................................................................................................... 55 4.4.1. Elementos do relatrio ................................................................................... 56 4.4.2. Tcnicas para a elaborao de relatrios....................................................... 57 4.4.3. Relatrio administrativo ................................................................................. 58 4.4.4. Apresentao de soluo de problemas ........................................................ 59 4.4.5. Enumerao dos fatos ..................................................................................... 59 4.4.6. Exposio temporial: cronologia dos fatos .................................................. 60 4.5 Carta.... ....................................................................................................................... 61 4.5.1. Introdues comuns na correspondncia ..................................................... 62 4.5.2. Fechos de cortesia ............................................................................................ 62 4.5.3. A elaborao do texto..................................................................................... 62

4.5.4. Simplificando o texto ...................................................................................... 63 4.5.5. Esttica das cartas comerciais ........................................................................ 63 UNIDADE III 5. REVISO GRAMATICAL................................................................................................... 67 5.1 Ortografia .................................................................................................................. 67 5.1.1. Fonemas e letras ............................................................................................... 67 5.2 Acentuao ................................................................................................................ 70 5.2.1. Emprego do Hfen .......................................................................................... 70 5.2.2. Uso da vrgula .................................................................................................. 71 5.2.3. Uso da crase ..................................................................................................... 73 5.3 Plural das palavras compostas ................................................................................. 74 5.4 Flexo dos adjetivos compostos ............................................................................. 74 5.5 Concordncia verbal e nominal ............................................................................... 75 5.6 Frase orao perodo......................................................................................... 77 5.6.1. Termos essenciais da orao........................................................................... 78 5.6.2. Tipos de sujeito ................................................................................................ 78 5.6.3. Orao sem sujeito .......................................................................................... 79 5.6.2. Tipos de predicado.......................................................................................... 79 5.7 Correlaes frasais .................................................................................................... 80 TESTE SEU CONHECIMENTO ........................................................................................... 83 BIBLIOGRAFIA......................................................................................................................... 89 GABARITO........... ..................................................................................................................... 90

INTRODUOA lngua portuguesa uma preocupao de vrios setores empresariais, que desejam ter em sua equipe profissionais experientes e comunicativos. O contedo desta apostila coletado de vrios tpicos presentes no ensino mdio e que fazem parte tambm de outros cursos, como base de um aperfeioamento no estudo da matria. Seria uma meta inalcanvel pretender abarcar as mincias de nossa lngua, mas procuramos esclarecer as dvidas mais freqentes e colocar os pontos que consideramos sempre presentes no dia-a-dia do profissional do mercado imobilirio. Comeamos por pontuar sobre noes de texto e as vrias formas de entend-los por achar que saber ler o primeiro passo para uma comunicao eficiente e livre de equvocos. Assim, esperamos que essa primeira leitura sirva de incentivo para futuras leituras e conseqente sucesso profissional. Parafraseando Paulo Freire: A leitura de mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele. Sucesso!

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LNGUA PORTUGUESA

Unidade

IConceituar Emissor, Receptor, Texto; Reconhecer as funes da linguagem; Reconhecer os requisitos de uma comunicao adequada; Identificar os vrios tipos de texto; Reconhecer as caractersticas de um texto bem elaborado; Selecionar vocabulrio adequado ao desempenho da profisso de Corretor, identificando expresses a evitar e expresses de uso recomendvel; Refletir sobre a importncia de uma comunicao clara e correta, em todas as reas do relacionamento humano.

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LNGUA PORTUGUESA Unidade I

1. COMUNICAO1.1 O PROCESSO DE COMUNICAO E AS VARIANTES LINGSTICAS Para entender o processo de comunicao, preciso entender, primeiramente, que a origem de toda a atividade comunicativa do ser humano est na linguagem, ou seja, a capacidade humana de se comunicar por meio de uma lngua, que representa um sistema de signos convencionais usados pelos membros de uma mesma comunidade. Ao utilizar os signos que formam a nossa lngua, obedecemos a certas regras de organizao fornecidas pela prpria lngua. Exemplificando: perfeitamente possvel antepor ao signo casa o signo uma, formando a seqncia uma casa; se antes do signo casa colocarmos o signo um, no estaremos obedecendo s regras de organizao da lngua portuguesa. A linguagem um processo de comunicao de uma mensagem entre dois falantes pelo menos: O destinador ou emissor, que emite a mensagem, e aquele a quem a mensagem destinada, ou seja, o receptor ou destinatrio. A lngua falada e a lngua escrita so dois meios de comunicao diferentes; a primeira mais espontnea; a segunda obedece a um sistema mais disciplinado e rgido, uma vez que no conta com a significao paralela da mmica e da dico, presentes na lngua falada. Variantes lingsticas so as variaes que ocorrem na lngua, motivadas por vrios fatores: a) grficos do origem ao regionalismo, que so expresses ou construes tpicas de algumas regies do pas; quando essas construes ou expresses so muito marcantes, deixa-se de falar em regionalismo e fala-se em dialetos. Ex: O guia turstico do Rio Grande do Sul um baita guia, tch;INEDI - Cursos Profissionalizantes

b) sociais o portugus das pessoas escolarizadas difere daquele empregado pelas pessoas que no tm acesso escola; assim, algumas classes sociais dominam uma modalidade da lngua a lngua culta que goza de prestgio e representa uma forma de ascenso profissional e social; j o portugus utilizado diariamente pelo povo, sem qualquer preocupao gramatical denominado lngua popular, e objetiva somente comunicar informaes e exprimir informaes de forma eficaz. Ele falado principalmente por pessoas de baixa escolaridade, ou mesmo analfabeto. Trocas como probrema, galfo, malmita , e expresses como pra nis fazer, ele chamou eu so ocorrncias freqentes neste tipo de linguagem. Ainda socialmente condicionadas, existem certas formas de lngua desenvolvidas por alguns grupos, sujeitas a transformaes contnuas, e compreendidas facilmente por integrantes de uma comunidade restrita: as grias. Ex: Hoje paguei o maior mico, mico significando vexame, vergonha, constrangimento; c) profissionais o exerccio de algumas atividades requer o domnio das chamadas lnguas tcnicas, abundantes em termos especficos, e restrito ao intercmbio de certas categorias profissionais, como cientistas, economistas, mdicos etc. Entre os economistas, por exemplo, usam-se as expresses vis de baixa ou vis de alta, para a alta ou a queda dos juros no mercado; d) situacionais um mesmo indivduo emprega diferentes formas da lngua em diferentes situaes comunicativas. Se estivermos numa situao de intimidade (por exemplo, uma conversa com amigos ou parentes), usamos uma lin 11

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guagem mais informal, sem grandes preocupaes com a correo gramatical; esse tipo de linguagem chamado de linguagem coloquial ou familiar. Em situaes mais formais (por exemplo, o discurso numa solenidade de formatura ou em uma missa de stimo dia) usamos uma linguagem mais cuidada, procurando obedecer as normas gramaticais; esse tipo de linguagem chamada lngua culta ou norma padro, e utilizado nos livros didticos, no ensino escolar, nos manuais etc. Quando o uso da lngua no se restringe s necessidades prticas do cotidiano comunicativo, incorporando preocupaes estticas surge a lngua literria, que procura produzir um sentimento esttico no leitor, submetendo a escolha e a combinao dos elementos lingsticos a atividades criadoras e imaginativas. Exemplo: E a cidade morre. Daqui por diante apenas um bonde, um txi ou uma conversa de noctvagos sacudir por instantes o ar de morte que baixou sobre a cidadeFernando Sabino, O homem nu, 8 ed. Rio de Janeiro: Sabi, 1969, p.13

c) Faa um resumo do que vem a ser linguagem literria. _____________________________________ _____________________________________ d) Com suas prprias palavras defina o que vem a ser linguagem culta. _____________________________________ _____________________________________ e) Faa um resumo do voc que entende por linguagem familiar. _____________________________________ _____________________________________

a) Volte ao texto e transcreva a melhor definio de linguagem. _____________________________________ _____________________________________ b) Pesquise e relacione quais os fatores que influem na variao lingstica. _____________________________________ _____________________________________12 INEDI - Cursos Profissionalizantes

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1.2 FUNES DA LINGUAGEM Quando nos comunicamos, essa ao envolve seis elementos: emissor ou remetente; a mensagem; o cdigo utilizado; o canal (meio utilizado para veicular a mensagem), o referente (objeto ou situao de que a mensagem trata); e, por fim; o receptor ou destinatrio. Cada um desses elementos est estreitamente ligado s seis funes desempenhadas pela linguagem. As seis funes so: A - FUNO REFERENCIAL - Esta funo privilegia justamente o objeto ou situao de que a mensagem trata, ou seja, o referente, busca transmitir informaes objetivas sobre ele, abstm-se de manifestaes pessoais ou persuasivas. uma funo predominante nos textos de carter cientfico, nos manuais de instruo e nas notcias veiculadas pelos jornais (textos jornalsticos), nos mapas, enfim, em textos que se propem informar o leitor, transmitindo-lhe dados e conhecimentos precisos. Ex: O batiscafo composto de duas partes principais: um flutuador, que geralmente tem a forma de casco de navio, cheio de gasolina distribuda em vrios compartimentos, e uma cabina esfrica de ao. B - FUNO EXPRESSIVA OU EMOTIVA Esta funo centraliza-se no emissor, que imprime no texto as marcas de sua atitude pessoal: emoes, opinies, anlises, avaliaes. visvel, no texto, a presena (clara ou sutil) do emissor, mesmo em textos aparentemente impessoais, como relatrios, textos de imprensa, ou artigos crticos. Observe-se que os textos que utilizam a funo expressiva obedecem a um projeto, no qual o emissor expe suas opinies, fornece argumentos para sustent-las, procurando persuadir o receptor da mensagem; as manifestaes expressivas terminam por tocar as manifestaes conativas (que veremos adiINEDI - Cursos Profissionalizantes

ante), mas tm cunho marcadamente pessoal. Essa funo predominante nas cartas pessoais, nos dirios, nas canes sentimentais, na poesia confessional, nas resenhas crticas. Ex: Quando sinto o perfume de lavanda, imediatamente me lembro da minha infncia, dos lenis limpos, da sensao de conforto e proteo que eu tinha ao lado de meus irmos. C - FUNO CONATIVA Esta funo privilegia o receptor, utilizando elementos consistentes para persuadi-lo, seduzi-lo, convenc-lo, envolvendo o receptor com os contedos transmitidos, tornando-se evidente em textos marcados por pronomes de tratamento ou da segunda pessoa (voc, vocs, Vossa Senhoria; tu, vs), ou pelo uso de certas formas gramaticais, como o imperativo e o vocativo. Essa persuaso pode ser construda de forma sutil ou agressiva. a funo utilizada nos textos publicitrios, nos discursos polticos, nos sermes religiosos etc. Ex: Faa um 21, Revista. Todo mundo l at durante o expediente. Quem pode comprar revista, pode comprar seu produto, Seja m. Se voc no se contenta com os 5 minutos (se tanto!) regulamentares que ele dedica de ateno s mulheres em geral, faa o que elas no fazem. (Nova, ago. 1996) D - FUNO FTICA - A funo ftica se orienta sobre o canal de comunicao ou contato, buscando verificar e fortalecer a eficincia da comunicao, garantindo que o contato foi estabelecido; inicialmente ela foi utilizada para chamar a ateno por meio de rudos (como psiu, ahn, ei). No caso dos textos escritos, o canal (suporte fsico atravs do qual a mensagem enviada pelo emissor chega ao destinatrio) a prpria pgina, com os sinais grficos dispostos sobre ela; assim, a funo ftica, para fortalecer sua eficincia, utiliza, nos textos escritos, desde a seleo vocabular, at a disposio grfica das letras, o tamanho e as cores das mesmas, 13

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a repetio sem exageros de certas palavras e expresses, e outros recursos sutis. Ex: MITO A mulher no pode ficar grvida enquanto estiver amamentando. VERDADE Quando a mulher est amamentando tem a fertilidade diminuda. Mas isso varia muito de pessoa para pessoa. Sem anticoncepcional pode ser p-pum. A mulher que amamenta deve se prevenir com camisinha ou miniplulas. E - FUNO METALINGSTICA A funo metalingstica se volta para os elementos do cdigo, explicando-os, analisando-os, definindo-os. Verificamos o uso desta funo nos dicionrios, nos poemas que falam da prpria poesia, nas canes que falam de outras canes, nos textos didticos, nas anlises literrias, e at mesmo em numerosas situaes cotidianas. Ex: O que voc quer dizer com isso?, Aspirar tambm significa desejar, Lngua um sistema de signos convencionais usados pelos membros de uma mesma comunidade. F - FUNO POTICA A funo potica est voltada para a mensagem, utilizando recursos de forma e contedo que chamam a ateno para a prpria mensagem, causando, nos leitores, surpresa, estranhamento e prazer esttico, num arranjo original de formas e significado. O texto possui ritmo e sonoridade, desenvolvendo o sentido figurado das palavras (sentido conotativo), passvel de diversas interpretaes. Nas mensagens poticas, a organizao do cdigo coloca as palavras em primeiro lugar, tornando-as quase um fim em si mesmas, e no um meio de significar outras coisas. As palavras valem pelo que elas so, e no pelo que elas representam (significam). Os lugares privilegiados desta funo so os textos literrios, mas podemos encontr-la tambm em slogans publicitrios, canes populares, textos de propaganda, provrbios e outras produes verbais.14

Ex: Meses e meses recolhida e murcha, Sai de casa, liberta-se da estufa, a flor guardada (o guarda-chuva). Agora, cresce na mo pluvial, cresce. Na rua, sustento o caule de uma grande rosa negra, que se abre sobre mim na chuva.MOTA, Mauro, Itinerrio, 2 ed. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1983, p. 24.

Considerando as funes discriminadas, at ento, importante procurar, nos textos, a funo predominante, j que os enunciados apresentam vrias funes ao mesmo tempo, inexistindo a exclusividade, ou seja, no encontramos um texto que apresenta somente uma funo. 1.3 PROBLEMAS DE COMUNICAO NA EMPRESA Pelo estudo das variantes lingsticas e das funes da linguagem, voc j pde observar que existem vrias formas de linguagem empregadas no ato comunicativo. Na comunicao empresarial escrita, deve prevalecer o uso da norma culta, a objetividade, a clareza e a conciso, numa preocupao primordial com a eficcia e a exatido da comunicao. O tipo de redao que passaremos a tratar no se pauta pelas normas do estilo literrio e da expressividade artstica, mas pelos indicadores da boa redao administrativa, institucional, jornalstica ou didtica, de carter prtico e utilitrio, tendo como nico objetivo produzir uma comunicao eficaz. Na produo de uma comunicao eficaz fundamental a simplicidade dos textos comunicativos, tornando a linguagem menos complexa e mais direta. Na esfera empresarial, ponto pacfico que as comunicaes inadequadas, pretensiosas e prolixas trabalham contra o conceito de organizao e contra a finalidade ltima de suas atividades, seja a de prestar servios, oferecer produtos, seja a deINEDI - Cursos Profissionalizantes

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disciplinar procedimento ou assegurar direitos e instruir pessoas. A redao empresarial eficaz obedece aos seguintes requisitos: clareza conciso correo preciso coerncia concatenao consistncia propriedade no uso das palavras

Alm dos requisitos mencionados acima, objetividade, naturalidade, adequao ao leitor e informalidade so pilares da redao eficaz.

Clareza Consiste na expresso lmpida do pensamento, tornando o texto inteligvel. Como a clareza requisito bsico de todo texto tcnico, deve-se evitar a ambigidade, ou seja, construes que possam gerar equvocos de compreenso. A ambigidade decorre geralmente da dificuldade em identificar a que palavra se refere um pronome que possui mais de um antecedente na terceira pessoa. Ambguo Consiste na expresso que tem (ou pode ter) diferentes sentidos; que desperta dvida. O desembargador comunicou a seu assessor que ele seria exonerado. Claro O desembargador comunicou a seu assessor a exonerao deste. H, ainda, outro tipo de ambigidade, decorrente da dvida sobre a que se est se referindo a orao reduzida. Ambguo Sendo indisciplinado, o chefe da seo repreendeu o funcionrio. Claro O chefe da seo repreendeu o funcionrio por ser este indisciplinado.Outro exemplo de duplicidade de sentido:

Ambguo Atriburam mrito superior ao nosso trabalho.INEDI - Cursos Profissionalizantes

Claro Atriburam ao nosso trabalho mrito superior. Nesta orao, a ambigidade decorre do entendimento de que o mrito atribudo foi superior ao trabalho executado (1 caso). Conciso O redator conciso mostra sobriedade na linguagem, obtendo o mximo efeito comunicativo, com um mnimo de palavras, dispensando o suprfluo, as redundncias, as repeties desnecessrias, as frases longas, as adjetivaes inteis. Clareza e conciso devem estar juntas, concorrendo, prioritariamente, para a eficincia na redao, reservando-se primeiro lugar clareza. Por outro lado, no convm, certamente, exagerarmos na conciso, sob pena de prejudicar a clareza, a inteligibilidade da construo. Prolixo o tipo de construo que usa palavras em demasia ao falar ou escrever; que no sabe sintetizar o pensamento. Cadastros que estejam voltados para o aperfeioamento da tcnica de registros so tudo que precisamos. Conciso Precisamos de cadastros voltados para o aperfeioamento da tcnica de registros. Redundante o tipo de construo que insiste nas mesmas idias, que tem excesso de palavras, de expresses. Para evitar que o episdio se repita, a diretoria baixou medidas que punem a reincidncia do fato, no permitindo que o mesmo ocorra de novo. Conciso A diretoria baixou medidas punitivas para evitar a reincidncia do fato. Correo As incorrees na linguagem comprometem o redator e, de conseqncia, a empresa ou instituio que o emprega, denunciando a falta de conhecimento gramatical e desrespeito aos padres da lngua culta. A correo, somada clareza e conciso resulta numa redao satisfatria, talvez impecvel. A desobedincia aos preceitos gramaticais est contida em dois grupos: erros de sintaxe e erros nas palavras. Erro de sintaxe (erros na estrutura da frase solecismo). 15

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Ex: Fizemos tudo por si na reunio; contamos consigo hoje, na conveno. Correto: Fizemos tudo por ti na reunio; contamos contigo hoje, na conveno. Erro nas palavras (erro na estrutura ou no emprego da palavra). Ex: Ele aspira um cargo de chefia. Correto: Ele aspira a um cargo de chefia. Preciso Para um texto ser preciso, ele precisa conter todos os elementos necessrios comunicao, respondendo s indagaes e interesses eventuais. Ex: Convido Vossa Senhoria a participar da abertura do Primeiro Seminrio Regional sobre o uso eficiente de energia no Setor Pblico, a ser realizado em 5 de junho prximo, s 9 horas, no auditrio da Escola Nacional de Administrao Pblica, localizada no Setor de reas Isoladas, nesta capital.

esses elementos de coeso podemos citar as preposies (a, de, para, com, por, etc.), as conjunes (que, para que, quando, embora, mas, e, ou, etc.), os pronomes (ele, ela, seu, sua, este, esta, esse, essa, aquele, o qual, que, etc.), os advrbios (aqui, a, l, assim, etc.). Ex: sabido que a violncia nas escolas cresce assustadoramente. sabido, ainda, que no se achou ainda uma soluo para o problema. Em vista disso, a sociedade est se unindo para tentar modificar esse quadro. Para tanto, convoca uma reunio com todos os diretores de escolas da rede municipal. Como voc viu, no exemplo acima, os segmentos do texto esto ligados entre si, por meio de palavras que servem para dar continuidade ao que foi dito anteriormente e acrescentar novos dados. Consistncia Um texto consistente quando d informaes confiveis e corretas, demonstrando conhecimento do assunto e tratando apenas do que significativo para quem o l. Ex: Comunicamos que, a 7 do corrente, foi instalado o Instituto de Ciberntica Jurdica, rgo integrante desta Instituio. So objetivos do novo Instituto estudar as implicaes sociais da ciberntica no campo do Direito e divulgar conhecimentos sobre os sistemas utilizveis no setor jurdico. Para isso, o novo rgo entrar em contato com o Poder Pblico, a Universidade, a indstria especializada e promover cursos, conferncias e seminrios.

Coerncia A coerncia deve ser entendida como unidade do texto. Num texto coerente todas as partes se encaixam de maneira complementar, de modo que no haja nada destoante, nada ilgico, nada contraditrio. Existe uma solidariedade entre as partes do texto, possibilitando um bom entendimento do mesmo. Texto incoerente: Embora seu livro seja fundamental para nossos alunos, vamos adot-lo imediatamente em nossa escola. Texto coerente: Considerando que seu livro fundamental para nossos alunos, vamos adot-lo imediatamente em nossa escola. Concatenao A concatenao de idias est inserida em um elemento textual chamado coeso. A concatenao a conexo que deve existir entre os enunciados de um texto, quando organicamente articulados entre si. As relaes de sentido de um texto so manifestadas por uma categoria de palavras denominadas conectivos ou elementos de coeso. Dentre16

Propriedade no uso da palavra Essa propriedade se refere ao uso apropriado da linguagem, o cuidado no emprego das palavras, evitando cacoetes lingsticos e termos surrados. Na escolha das palavras, devemos preferir a que traduz, com mais preciso, o que queremos dizer.INEDI - Cursos Profissionalizantes

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Ex: Seu depoimento tem relao com o nosso parecer. Seria mais apropriado dizer: Seu depoimento confirma nosso parecer. Ex: Os maiores de sessenta anos esto infensos do pagamento daquele imposto. A construo correta : Os maiores de sessenta anos esto isentos do pagamento daquele imposto.

a) Pesquise e relacione quais os seis elementos envolvidos na comunicao. __________________________________________ __________________________________________ __________________________________________ __________________________________________ b) Existem seis funes da linguagem. Quais so elas? __________________________________________ __________________________________________ __________________________________________ __________________________________________ __________________________________________ __________________________________________ c) Se existem seis funes da linguagem, pesquise e informe qual delas deve prevalecer na comunicao empresarial. __________________________________________ __________________________________________ d) Voc usar muito a redao empresarial. Para que ela seja eficaz dever obedecer a quais princpios? __________________________________________ __________________________________________ __________________________________________INEDI - Cursos Profissionalizantes

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1.3.1. Algumas expresses a evitar e expresses de uso recomendvel O sentido das palavras liga-se intimamente tradio e ao contexto de seu uso. Assim, alguns vocbulos e expresses (locues), por seu emprego continuado com determinado sentido, passam a ser usadas sempre em tal contexto e com tal forma, que se tornam expresses de uso consagrado. No obstante, a linguagem dos textos tcnicos deve pautar-se, sempre, pelo padro culto formal da lngua, no devendo constar desses textos coloquialismos ou expresses de uso restrito a determinados grupos, o que acabaria por comprometer a compreenso por parte dos leitores. A seguir, apresentamos uma pequena lista de expresses cujo uso ou repetio deve ser evitado, indicando com que sentido devem ser empregadas, e sugerindo alternativas para palavras que so costumeiramente usadas em excesso: A partir de/ na medida em que medida que (locuo proporcional) proporo que, ao passo que, conforme: Os preos deveriam diminuir medida que diminui a procura. Na medida em que (locuo causal) uma vez que, pelo fato de que: Na medida em que se esgotaram todas as possibilidades de acordo, o processo foi litigioso. Evite: medida que/na medida que... Ambos/ todos os dois Ambos significa os dois ou um e outro. Evite as expresses pleonsticas como ambos dois, ambos os dois, ambos a dois. Quando quiser enfatizar a dualidade, empregue todos os dois: Todos os dois assessores entregaram os relatrios exigidos. Anexo/ em anexo O adjetivo anexo concorda em gnero e nmero com o substantivo a que se refere: Encaminho as atas anexas./Dirigimos os anexos projetos ao diretor de arte. A locuo18

adverbial em anexo invarivel: Encaminho as minutas em anexo. Empregue tambm conjuntamente, juntamente com. Assim Use aps a apresentao de uma proposta ou situao, fazendo uma ligao com a idia seguinte. Use os substitutos: dessa forma, desse modo, ante o exposto, diante disso, conseqentemente, por conseguinte, assim sendo, em face disso, face ao exposto, em vista disso. Bem como Evite a repetio, alternando com e, como (tambm), igualmente, da mesma forma. Ao nvel de/em nvel de A locuo ao nvel significa a mesma altura de: Fortaleza localiza-se ao nvel do mar. Evite seu uso com o sentido de em nvel, com relao a, no que se refere a. Em nvel significa nessa instncia: Em nvel poltico, ser difcil chegar-se a um acordo entre os parlamentares. A nvel de constitui modismo, devendo ser evitado. Devido a Evite a repetio; pode ser substitudo por em virtude de, graas a, por causa de, em razo de, provocado por. Desse ponto de vista Evite repetir, e empregue tambm sob este ngulo, sob este aspecto/ por este prisma, desse modo, destarte, assim. Dirigir Quando empregado com o sentido de encaminhar, alterne com transmitir, enderear, mandar, encaminhar, remeter, enviar. No sentido de Utilize tambm com vistas a, a fim de, com o fito (finalidade, objetivo, intuito, fim) de, com a finalidade de, tendo em vista ou tendo em mira, tendo por fim.INEDI - Cursos Profissionalizantes

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Informar Use as variaes comunicar, avisar, noticiar, participar, levar ao conhecimento, dar conhecimento, instruir. Em face de Sempre que a expresso em face de equivaler a diante de prefervel a regncia com a preposio de; evite, assim, face a, frente a. Relativo a Empregue tambm referente a, concernente a, tocante a, atinente a, pertencente a, que diz respeito a, que trata de, que respeita. Onde Como pronome relativo significa em que (lugar): A cidade onde nasceu./ O pas onde viveu. Evite, ento, construes como a lei onde fixada a penalidade ou a reunio onde o assunto foi discutido. Nesses casos, faa a substituio, empregando em que, na qual, no qual, nas quais, nos quais. O correto : A reunio na qual o assunto foi discutido./ A lei na qual fixada a penalidade. Ressaltar Varie com destacar, sublinhar, frisar, salientar, relevar, distinguir, sobressair. Nem Conjuno aditiva que significa e no e tampouco, dispensando, portanto, a conjuno e: No foram feitos reparos proposta de comercializao da soja, nem nova proposta de pagamento. Evite, ainda, a dupla negao no nem, nem tampouco. Ex: No pde encaminhar os relatrios no prazo, nem no teve tempo para revis-los. Enquanto Conjuno proporcional equivalente a ao passo que, medida que. Evite empregar a construo enquanto que, usada coloquialmente.INEDI - Cursos Profissionalizantes

a) Caro aluno. A pesquisa enriquece o seu vocabulrio. Procure no dicionrio a diferenas entre as expresses a par de a ao par de ____________________________________ ____________________________________

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2. TEXTOS: LEITURA E PRODUO2.1 NOO DE TEXTO Sem nenhuma dvida, a palavra texto familiar a qualquer estudante de primeiro e segundo graus, aparecendo freqentemente no linguajar cotidiano, tanto dentro da escola quanto fora dela. Embora escutemos com freqncia as expresses texto bem elaborado, o texto daquela pea ruim, o texto no est suficientemente claro, necessrio que se faam duas consideraes fundamentais sobre a natureza do texto, partindo da questo: o que um texto, afinal? A primeira considerao feita a de que um texto no se resume a amontoado de frases, mas a um bloco significativo, constitudo por vrias unidades lingsticas menores que s so entendidas dentro do contexto no qual esto inseridas. O termo contexto se refere a uma unidade lingstica maior onde se encaixa uma unidade lingstica menor. Ex: A nossa cozinheira est sem paladar. Para entender o sentido exato deste texto minsculo, preciso considerar o contexto, ou situao concreta, em que ele foi produzido. Dito durante o jantar, aps experimentar um bife, esse texto pode significar que o bife est sem sal; dito em um consultrio mdico pode significar que a empregada est acometida de alguma doena. Se eu digo ou escrevo a seguinte frase: A esttua que desabou ao vivo, ela ser incompreensvel, desprovida de sentido. Considere, agora o seguinte pargrafo: Smbolo da queda de Sadam Hussein na manh do dia 9 de maro, a esttua que desabou ao vivo, via satlite, de Bagd para o mundo, pode ser de um ssia do ditador. Inserida no pargrafo, a frase adquire sentido, por estar dentro de um contexto. Como peas de um quebra-cabea, constatamos que a frase encaixa-se no contexto do pargrafo, o pargrafo encaixa-se no contexto do captulo, o captulo encaixa-se no contexto da obra toda.20

A segunda considerao a de que todo texto contm um pronunciamento dentro de um debate de escala mais ampla. Assim, ao construir um texto, o autor quer, atravs dele, marcar uma posio ou participar de um debate de escala mais ampla, mesmo que aparente total neutralidade. ...um jovem de 25 anos chamado John Hinckley Jr. entrou numa loja de armas de Dallas, no Texas, preencheu um formulrio do governo com endereo falso e, poucos minutos depois, saiu com um Saturday Nigth Special nome criado na dcada de sessenta para designar um revlver pequeno, barato e de baixa qualidade. Foi com essa arma que Hinckley, no dia 30 de maro de 1981, acertou uma bala no pulmo do presidente Ronald Reagan e outra na cabea de seu porta-voz, James Brady. Reagan recuperou-se totalmente, mas Brady desde ento est preso a uma cadeira de rodas... Embora o autor de um texto jornalstico se preocupe apenas em transmitir os fatos de maneira neutra, impessoal (lembra-se da funo referencial?), existe, seguramente, por trs do exemplo escolhido, um pronunciamento contra o risco da venda indiscriminada de armas. Qualquer texto, por mais neutro que parea, manifesta sempre um posicionamento frente a uma questo qualquer posta em debate (no caso em questo, a venda indiscriminada de armas).

a) Volte ao texto e relacione quais as duas principais observaes que se pode fazer a respeito de um texto. __________________________________ __________________________________ __________________________________ __________________________________INEDI - Cursos Profissionalizantes

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b) Qual o significado da palavra ssia? D sinnimos. __________________________________ __________________________________

2.2 AS VRIAS POSSIBILIDADES DE LEITURA DE UM TEXTO Um texto, quando lido de maneira fragmentria, pode parecer um aglomerado de noes desconexas, ao qual o leitor pode atribuir o sentido que quiser. As interpretaes de textos, entretanto, so limitadas pela conexo, pela coerncia entre seus vrios elementos. A coerncia garantida, sobretudo pela reiterao, a repetio ao longo do discurso. Para perceber a reiterao (repetio, renovao), devemos percorrer os textos inteiros, tentando localizar todas as recorrncias, ou seja, todas as figuras e temas (assuntos) que conduzem a um mesmo significado. Alguns textos permitem mais de uma leitura, e as mesmas figuras podem ser interpretadas segundo mais de um plano de leitura. Para exemplificar, analisaremos o seguinte poema: 1 Retrato Eu no tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos to vazios, nem o lbio amargo. Eu no tinha estas mos sem fora, to paradas e frias e mortas; eu no tinha este corao que nem se mostra. Eu no dei por esta mudana, to simples, to certa, to fcil: Em que espelho ficou perdida minha face?Ceclia Meireles: poesia. Por Darcy Damasceno, Rio de Janeiro, Agir, 1974., p. 19 20

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O autor, nos versos 1 e 9, ao dizer que no tinha este rosto e estas mos com as caractersticas do momento presente, faz pressupor que ele os tinha com caractersticas opostas, no passado. No verso 9, quando ele diz: Eu no dei por esta mudana, define dois planos distinINEDI - Cursos Profissionalizantes

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tos: um do passado, outro, do presente, ambos com caractersticas opostas entre si. Significados que remetem passado ao presente (explicitamente) Eu no tinha este rosto de hoje assim calmo, assim triste assim magro nem estes olhos to vazios nem o lbio amargo Eu no tinha estas mos sem fora, to paradas, e frias, e mortas eu no tinha este corao que nem se mostra Significados que remetem presente ao passado (implicitamente) Eu tinha aquele rosto de outrora to irrequieto, to alegre to cheio e olhos to expressivos e o lbio doce eu tinha aquelas mos enrgicas vivas, e clidas, e dinmicas, eu tinha outro corao que se manifestava As figuras do eixo 1 agrupam-se em funo do significado das coisas estticas, enquanto que as figuras do eixo 2, em contraponto, expressam dinamismo e posse da vitalidade plena. Ao dizer Eu no dei por esta mudana, o poeta expressa sua perplexidade diante dela, diante do contraste entre o que ele era e no que se tornou. Agrupando as figuras a partir de um elemento significativo, estamos perto de depreender o tema do texto. No poema em questo, podemos dizer que o tema (o assunto do poema) a decepo da conscincia sbita e inevitvel da passagem do tempo, do envelhecimento. Paralelamente aos indicadores do envelhecimento fsico, indicado por palavras como magro, frias, mortas, outras figuras como triste,22

amargo, que nem se mostra, nos levam a entender que o envelhecimento fsico foi acompanhado pela perda da energia, do entusiasmo, da alegria de viver. O poema permite, ento, duas leituras: o desgaste material das coisas com o passar dos anos, e o desgaste psquico, a perda de iluses do ser humano com o passar do tempo. No podemos, entretanto, dizer que um texto, ao implicar vrias leituras, possa admitir que qualquer interpretao seja correta nem que o leitor possa dar ao texto o sentido que lhe aprouver. Para impedir que a interpretao seja pura inveno do leitor, contamos com os indicadores das vrias possibilidades de leitura que o texto admite; podemos observar, ento, que no interior do texto aparecem figuras ou temas que tm mais de um significado, e que apontam para mais de um plano de leitura, como no caso do poema examinado, em que os estados da alma (triste, amargo) possibilitaram concluir que o tema poderia ser tambm o envelhecimento psquico (a desiluso, a amargura) do autor. Esses temas e figuras que apontam para mais de uma possibilidade de leitura so chamados relacionadores. Quando existem, no texto, outros termos que no direcionam para um certo plano de leitura h o que chamamos de desencadeadores de outro plano de leitura, como se comprova pela leitura desta fbula: O til e o belo Parou um veado beira do rio, mirando-se no espelho das guas. E refletiu: Bem malfeito de corpo que sou! A cabea linda, como estes formosos chifres que todos os animais invejam. Mas as pernas... Muito finas, muito compridas. A natureza foi injusta comigo. Antes me desse menos pernas e mais galharada na cabea. Que lindo diadema seria. Com que orgulho eu passearia pelos bosques ostentando um enfeite nico em toda animalidade!...INEDI - Cursos Profissionalizantes

EIXO 2

EIXO 1

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Neste ponto interrompe-se o latido dos veadeiros, valentes ces de caa que lhe vinham na pista, como relmpagos. O veado dispara, foge a toda e embrenha-se na floresta. E enquanto corria pde verificar quo sbia fora a natureza, dando-lhe mais pernas do que chifres, porque estes, com toda a sua formosura, s serviam para enroscar-se nos cips e atrapalhar-lhe a fuga; e aquelas, apesar de toda feira, constituam a sua nica segurana. E mudou de idia, convencido de que antes mil pernas finas, mas velocssimas, do que formosa, mas intil galhaa. Com a leitura desta fbula, o leitor responderia sem hesitar que se trata de uma histria de homens, e no de animais. Como o leitor chegou a essa concluso? Pelos elementos desencadeadores dessa possibilidade de leitura. E quais so esses elementos desencadeadores? Ora, so os sentimentos, prprios do ser humano, que aparecem no texto, como a insatisfao e a vaidade. A reiterao do trao semntico (de significado) humano nos obriga a ler a fbula como uma histria de gente. No plano humano, o veado no o veado, mas sim, homem insatisfeito, para quem a grama do vizinho sempre mais verde, e que, sempre desejando o que no tem, quer possuir algo que o diferencie dos demais, como o diadema de galhos. No incio da leitura, o termo veado prope a leitura do texto como uma histria de bichos. medida que vamos lendo o texto, identificamos elementos que contm traos humanos, que no permitem que se leia o texto como uma histria de animais, pois desencadeiam um novo plano de leitura, passando a fbula a ser lida como uma histria de homens. Os textos publicitrios tambm podem usar elementos desencadeadores de outro plano de leitura, como neste anncio: OS TUBARES DO ORAMENTO, OS ELEFANTES DAS ESTATAIS, AS COBRAS DA INFORMTICA, AS ZEBRAS DO FUTEBOL,INEDI - Cursos Profissionalizantes

AS GATAS DA MODA E OS DINOSSAUROS DO ROCK. PARA LIDAR COM TODOS ESTES BICHOS, S COMEANDO COMO FOCA. Ao fazer uma homenagem aos jornalistas, que muitas vezes iniciam suas carreiras como focas (jornalista novato) o Grupo Po de Acar utilizou categorias profissionais para desencadear o plano de leitura como um texto que fala de seres humanos. Conquanto tenhamos usado textos literrios e publicitrios para ilustrar este tpico, importante salientar que um mesmo texto pode ser lido de vrias formas, por vrias leituras, pois o significado que cada um atribui quilo que l depende de um conhecimento prvio que o leitor tenha sobre aquele assunto. O conhecimento prvio do leitor sobre o assunto far com que ele estabelea uma relao com outros textos, perceba outros significados ocultos nas entrelinhas. Por exemplo, se eu leio um texto de um autor que j conheo, isso me permite estabelecer uma relao entre aquele texto e outros j lidos, o que me permitir uma compreenso plena do texto. Se eu leio um texto sobre qumica e no tenho nenhum conhecimento prvio sobre aquele assunto, minha leitura do texto no ser idntica a de um professor de qumica, que possui um vasto conhecimento anterior sobre o assunto. Mesmo um simples classificado de jornal pode ser lido de diferentes maneiras, conforme o leitor que o l, pois os desejos, intenes, possibilidades de cada um, influem na forma como ele far a leitura do texto.

a) Depois de estudar estes itens, escreva resumidamente a forma como voc l um texto, normalmente. ___________________________________ 23

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b) Vamos outra vez ao dicionrio para sabermos a definio de retrica. ___________________________________ ___________________________________ c) Pense um pouco e registre porque Jesus falava por parbolas, sem usar o significado direto das palavras? ___________________________________ ___________________________________

2.3 ADEQUAO VOCABULAR Na comunicao cotidiana, quando empregamos os vocbulos que constituem o nosso repertrio, estamos refletindo nossa viso de mundo, nossas experincias diversas. O domnio do vocabulrio varia de pessoa para pessoa, e atravs dessa troca que adquirimos novas experincias e novos vocbulos, redefinindo nosso vocabulrio. Quando contamos com um vocabulrio vasto, compreendemos melhor o que se passa a nossa volta, melhorando nosso desempenho e adequao no processo comunicativo. O conhecimento do significado dos vocbulos garante uma parte essencial do entendimento entre as pessoas. No entanto, para haver comunicao, necessrio que o repertrio vocabular seja comum entre os falantes. As dificuldades no processo comunicativo acontecem devido ao fato de que o sentido dos vocbulos est relacionado a inmeros fatores sociais, profissionais, de regio, de escolaridade, de idade culturais, enfim. Desse modo, cada grupo de pessoas apresenta um vocabulrio prprio, que pode coincidir, ou no, com o de outro grupo. O vocabulrio usado no mbito profissional, nos grupos desportivos, religiosos e polticos permite uma especificidade muitas vezes desejada ou necessria. Esse vocabulrio entendido por vezes somente por aqueles que fazem parte do grupo (lembra-se das lnguas tcnicas?). Mas, medida que vamos aprendendo o que esses termos especficos significam, eles passam a fazer parte do nosso vocabulrio, incorporando-se ao nosso cotidiano. Neste tpico, procuraremos demonstrar que a adequao vocabular de grande importncia para a compreenso de qualquer texto, caracterizando o vocabulrio de uso genrico e de uso especfico. 2.3.1. Dvidas quanto ao significado do vocbulo Muitas vezes temos dvidas ao nos depararmos com vocbulos distintos, mas com

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grafia e pronncia semelhantes ou iguais. caso dos fenmenos denominados honomnia ou paronmia. A honomnia a designao geral para os casos em que palavras de sentidos diferentes tm a mesma grafia. Manga, por exemplo. A paromnia designa o fenmeno que ocorre com palavras semelhantes (no idnticas) quanto grafia ou pronncia. fonte de muitas, como entre descrio (ato de descrever) e discrio (qualidade do que discreto), ratificar (confirmar) e retificar (corrigir). Como o nosso objetivo trabalhar principalmente com a redao tcnica, a lista abaixo vai ajud-lo a esclarecer suas dvidas quanto grafia e ao sentido das palavras, para que voc passe a us-las com propriedade. Absolver - relevar da culpa imputada, inocentar: O ru foi absolvido. Absorver - esgotar, embeber em si: A gua da chuva foi absorvida pelo solo. Ascender - elevar-se, subir: Aquele homem ascendeu socialmente. Acender - atear (fogo), inflamar. Acento - sinal grfico; inflexo vocal: Esta palavra no tem acento. Assento - banco, lugar: Ele tomou assento ao meu lado. Acerca de - sobre, a respeito de: No discurso, o deputado falou acerca de seu projeto habitacional. A cerca de - a uma distncia aproximada de: A creche fica a cerca de vinte metros do prdio principal. H cerca de - faz aproximadamente (tanto tempo): H cerca de dois anos, nos deparamos com um caso semelhante; existem aproximadamente: H cerca de mil ttulos na biblioteca do colgio. Acidente - acontecimento casual, desastre: A demisso foi um acidente na sua vida profissional. A tempestade provocou vrios acidentes. Incidente - episdio; que incide, que ocorre: O incidente da demisso j foi superado.INEDI - Cursos Profissionalizantes

Adotar - escolher, preferir; assumir; pr em prtica. Dotar - dar em doao, beneficiar: Ele o dotou com aplicaes em ttulos do governo. Afim - que apresenta afinidade, semelhana, relao (de parentesco): Se o assunto era afim, por que no foi colocado no mesmo captulo? A fim de - para, com a finalidade de: O projeto foi encaminhado com muita antecedncia a fim de permitir um exame minucioso. Aleatrio - casual, fortuito, acidental. Alheatrio - alienante, que desvia ou perturba. Ante - (preposio): diante de, perante: Ante tal fato, devemos repensar nossa metodologia de ensino. Ante - (prefixo): expressa anterioridade: antepor, antever, anteprojeto, antediluviano. Anti - (prefixo): expressa contrariedade, oposio: Aquele rapaz anticomunista. Ao encontro de - para junto de; favorvel a : Ele foi ao encontro de seus amigos./ O plano de carreira foi ao encontro das necessidades dos funcionrios. De encontro a - contra; em prejuzo de: O veculo foi de encontro ao muro./ O governo no apoiou a medida, pois vinha de encontro aos interesses dos partidos. Ao invs de - ao contrrio de: Ao invs de demitir dez funcionrios, a empresa contratou mais trinta. ( inaceitvel o cruzamento ao invs de) Em vez de - em lugar de: Em vez de demitir dez funcionrios, a empresa demitiu quarenta. Evocar - lembrar, invocar: Evocou na palestra o incio de sua carreira. Invocar - pedir (a ajuda de); chamar, proferir: Para alcanar seus objetivos, ele invocou a ajuda de Deus. Cassar - tornar nulo ou sem efeito, suspender, invalidar: O mandato do deputado foi cassado. Caar - procurar, perseguir, procurar, apanhar (geralmente animais): Ele participou da caa raposa. 25

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Casual - aleatrio, fortuito, ocasional: O encontro dos dois foi casual. Causal - relativo causa, causativo. Cavaleiro - que anda a cavalo. Cavalheiro - indivduo distinto, gentil, nobre. Censo - alistamento, recenseamento, contagem. Senso - entendimento, juzo, tino: Ele possui bom senso para solucionar os problemas que surgem. Cerrar - fechar, encerrar, unir, juntar: As janelas estavam cerradas. Serrar - cortar com a serra, separar, dividir. Cesso - ato de ceder: A documento de cesso de terras foi lavrado em cartrio Seo - subdiviso de um todo, setor, repartio, diviso: Em qual seo do tribunal ele trabalha? Sesso - espao de tempo que dura uma reunio, um congresso, reunio, espao de tempo durante o qual se realiza uma tarefa: A prxima sesso de cinema ser s 14 horas. Ch - infuso. X - antigo soberano persa. Comprimento - medida, tamanho, extenso. Cumprimento - saudao. Concerto - acerto, composio, harmonizao: O concerto de Guarnieri foi muito aplaudido. Conserto - reparo, remendo, restaurao: Alguns defeitos fsicos no tm conserto. Cozer - cozinhar, preparar. Coser - costurar, ligar, unir. Descrio - ato de descrever, representao, definio. Discrio - discernimento, reserva, prudncia, recato.26

Despensa - local em que guardam mantimentos, depsito de provises. Dispensa - licena ou permisso para deixar de fazer algo a que se estava obrigado; demisso. Despercebido - que no foi notado, para o que no se atentou: Apesar de sua importncia, a fala do ministro passou despercebida. Desapercebido - desprevenido, desacautelado: Ele embarcou totalmente desapercebido dos desafios que lhe aguardavam. Emergir - vir tona, manifestar-se. Imergir - mergulhar, entrar, afundar (submergir) Emigrar - deixar o pas para residir em outro. Imigrar - entrar em um pas estrangeiro para nele viver. Eminente (eminncia) - alto, elevado, sublime. Iminente (iminncia) - que est prestes a acontecer, pendente, prximo. Emitir (emisso) - produzir, expedir, publicar. Imitir (imisso) - fazer entrar, introduzir, investir. Empoar - reter em poo ou poa, formar poa. Empossar - dar posse , tomar posse, apoderar-se: O ministro ser empossado no cargo, na prxima segunda-feira. Espiar - espreitar, observar secretamente, olhar. Expiar - cumprir pena, pagar, purgar. Flagrante - diz-se do ato que a pessoa surpreendida a praticar: O bandido foi preso em flagrante quando furtava. Fragrante - que tem fragrncia ou perfume; cheiroso. Induzir - causar, sugerir, aconselhar, levar a: O ru declarou que havia sido induzido a praticar o crime. Aduzir - expor, apresentar: A defesa, ento, aduziu novas provas em contrrio.INEDI - Cursos Profissionalizantes

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Inflao - ato ou efeito de inflar, emisso exagerada de moeda, aumento persistente de preos. Infrao - ato ou efeito de infringir ou violar uma norma. Infligir - cominar, aplicar (pena, repreenso, castigo): O juiz infligiu uma pena leve ao ru, que era primrio. Infringir - transgredir, violar, desrespeitar (lei, regulamento etc.): O motorista infringiu as leis de trnsito. Mandado - ato de mandar, ordem escrita expedida por autoridade judicial ou administrativa: mandado de segurana, mandado de priso etc. Mandato - autorizao que algum confere a outrem para praticar atos em seu nome; delegao, procurao: A durao do mandato do deputado de dois anos. Ps (prefixo) - posterior a, que sucede, aps: ps-moderno, ps-operatrio. Pr (prefixo) - anterior a, que precede, frente de, antes de: pr-primrio, pr-modernista. Pr (advrbio) - em favor de, em defesa de: Meu parecer foi pr-eleies diretas. Recrear - proporcionar recreio, divertir, alegrar, Recriar - criar de novo. Represso - ato de reprimir, conteno, proibio. Repreenso - ato de repreender, admoestao enrgica, advertncia: O aluno foi repreendido pelo professor. Subentender - perceber o que no estava exposto claramente. Subtender - estender por baixo. Sustar - parar, interromper, suspender: O cheque foi sustado. Suster - sustentar, manter; fazer parar, deter. Taxa - imposto, multa, tributo. Tacha - prego pequeno; mancha; defeito.INEDI - Cursos Profissionalizantes

Tachar - censurar, qualificar: O rapaz foi tachado de subversivo. Taxar - fixar a taxa de, regular, regrar: O imposto sobre mercadorias foi taxado em 2%. Trfego - trnsito de veculos, percurso, transporte. Trfico - ne gcio ilcito, comrcio, negociao. Trs - atrs, detrs, em seguida, aps (cf. em locues: detrs, por trs) Traz - 3 pessoa do singular do presente do indicativo do verbo trazer. Vestirio - guarda-roupa; local em que se trocam roupas. Vesturio - as roupas que se vestem; traje. Vultoso - de grande vulto, volumoso: Ele pediu uma quantia vultosa para fazer a percia tcnica. Vultuoso - atacado de vultuosidade (congesto da face)

a) Veja quantas palavras parecem ter o mesmo significado. Para ficar gravado na memria, pesquise e escreva abaixo o que significa honomnia. ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ b) Repita o trabalho para gravar o que paromnia. ____________________________________ ____________________________________ 27

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2.3.2. Outras recomendaes na escolha dos vocbulos Na elaborao de um texto tcnico, prevalecem alguns cuidados no uso dos vocbulos. No se devem utilizar palavras de difcil compreenso, mas tambm no se pode permitir que a lngua falada interfira na lngua escrita, que so dois meios de comunicao diferentes. A lngua falada mais solta, acompanhada de mmica e de entonao, elementos que, naturalmente, no aparecem na lngua escrita. Justamente por isso devemos utilizar termos claros, evitando cacoetes de linguagem, chaves e cacfatos, sob pena de empobrecer a redao. O uso da lngua culta obrigatrio nos textos de que tratamos. Alm desses cuidados, devemos atentar, tambm, para o significado correto dos vocbulos, de modo a no ocorrer em deturpao de sentido do que queremos dizer. A seguir, apresentamos alguns vocbulos que podem ser utilizados livremente, e outros, cujo uso convm ser evitado em algumas situaes: Admitir - no utilize como sinnimo de dizer, declarar ou afirmar. Admitir significa aceitar ou reconhecer fato em geral negativo: O ministro admitiu que a inflao pode voltar. Advrbio - evite comear perodos com advrbios formados com o sufixo mente: Curiosamente, o PT venceu as eleies. melhor escrever: Ao contrrio do que previam as pesquisas, o PT venceu as eleies. Alegar - Significa aceitar como prova, explicar e desculpar-se. O aluno alegou que no fez a tarefa porque estava doente. Alm disso, alm do que - melhor evitar. Geralmente pode ser substitudo por e ou por um ponto. O artista fez exigncias descabidas, pedindo diariamente dois litros de usque importado. Alm disso, exigiu que todas as toalhas28

fossem de linho egpcio. melhor escrever: O artista fez exigncias descabidas, pedindo diariamente dois litros de usque importado e toalhas de linho egpcio. Ambiente/meio ambiente - Prefira ambiente ao pleonasmo meio-ambiente. Ano - sempre escreva sem ponto de milhar. Ex: 1998 Bimensal - para qualificar algo que acontece duas vezes por ms, empregue quinzenal. No confunda com bimestral, que significa uma vez a cada dois meses. Cacfato - Mesmo que os textos no sejam lidos em voz alta, evite a ocorrncia de sons desagradveis formados pela unio das slabas finais de uma palavra com as iniciais de outra. Ex: conforme j, marca gol, confisca gado, uma herdeira etc. Cacoete de linguagem - Evite expresses pobres, repetidas exausto, perfeitamente dispensveis em textos tcnicos. Ex: via de regra, at porque, sal da terra, rota de coliso, trocar figurinhas, a toque de caixa, visivelmente emocionado, bater de frente com, causar espcie, elevada estima e distinta considerao, avanada tecnologia, carreira meterica, longo e tenebroso inverno, a nvel de, aparar arestas, em nvel de, luz no fim do tnel, erro gritante, conseqncias imprevisveis, duras crticas, quebrar o protocolo, pergunta que no quer calar, inflao galopante, lanar farpas, ataque fulminante etc. Cargo - escreva sempre com minscula. Ex: presidente, secretrio, papa, deputado, desembargador, juiz, promotor etc. Clera - quando significa raiva palavra feminina: Ela chegou ao limite da clera. Quando designa a doena, pode ser masculino ou feminino. Ex: O amor nos tempos do clera (livro de Gabriel Garca Marques).INEDI - Cursos Profissionalizantes

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Chefe da nao - use apenas quando se referir s sociedades tribais. Quando se trata de sociedades no tribais, como a nossa, emprega-se chefe de Estado ou chefe de governo. Culminar - evite essa expresso como sinnimo de terminar. Use-a apenas no sentido literal, de chegar ao ponto mais alto: A participao do Brasil nas Olimpadas culminou na conquista de um ttulo importante para a natao. Disciplina - escreva sempre com minscula: direito, cincias sociais, geografia, filosofia, portugus, matemtica. E - evite comear frase com essa conjuno. Ex: O ministro da economia anunciou o aumento da contribuio do INSS. E, alm disso, informou que a idade requerida para aposentadoria tambm ser modificada. Estado/estado - Utilize maiscula para designar conceito poltico ou unidade da Federao: o Estado de Gois, golpe de Estado. Quando significar situao ou disposio, empregue minscula: O meu estado de esprito est pssimo. Falecer - Falecer um eufemismo que significa haver falta ou carncia. Use a palavra morrer. Garantir - No utilize como sinnimo de dizer; garantir significa asseverar, responsabilizarse, afianar. Lembrar - No deve ser utilizado como sinnimo de dizer. Linguagem coloquial - Utilize uma linguagem prxima da coloquial, respeitando a norma culta, escolhendo a expresso mais clara possvel. O encarregado do almoxarifado no sabe quanto gastou na compra melhor que O encarregado do almoxarifado no sabe precisar com exatido o montante gasto na transao comercial.INEDI - Cursos Profissionalizantes

Meia-noite - Significa o horrio que marca o fim de um dia, no o comeo de outro dia. O correto escrever/dizer: A manifestao comea meia-noite de hoje. Norte/Sul - Use maiscula somente quando se referir aos hemisfrios, ou s regies Norte e Sul do Brasil. Ex: As chuvas tm castigado a regio Sul do pas. ONG - Sigla de organizao no-governamental. Deve ser grafada em caixa alta (maisculas). Pas - deve ser escrito com minscula, mesmo quando se referir ao Brasil. Ph.D - Abreviatura da expresso philosophiae doctor (doutor em filosofia). Com o uso generalizado para outras reas, traduz-se por doutor. Que - Evite em excesso, para tornar o texto mais elegante e conciso. Ressaltar - significa destacar, tornar saliente. No empregue como sinnimo de dizer. Revelar - no utilize como sinnimo de dizer. Significa tirar o vu, desvelar. Salientar - no use como sinnimo de dizer. Significa ressaltar, tornar saliente, distinto ou visvel. Vlido - S use no sentido restrito de ter validade, vigncia: Essa promoo vlida somente at sexta-feira. Viatura - o termo um jargo policial; substitua por carro de polcia. Essas consideraes a respeito da adequao vocabular sero complementadas sob o ttulo Produo do texto tcnico. 29

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2.4 OS TEXTOS E SUA TIPOLOGIA Voc, como leitor, j deve ter tomado contato com diversos tipos de textos, e suas classificaes. Temos textos poticos e textos cientficos, textos em verso e textos em prosa, textos religiosos e textos polticos, textos verbais e textos no-verbais, textos publicitrios, e muitas outras formas de classificao. Na tradio escolar j se implantou uma classificao bastante til para a leitura e a produo de textos. Trata-se da classificao dos textos em narrativos, dissertativos e descritivos. Ainda que, na maioria das vezes, no encontremos um texto puro, pois podemos encontrar num nico texto elementos da narrativa, da dissertao e da descrio, passaremos a estudlos, separadamente, de acordo com suas caractersticas, ocupando-nos inicialmente da narrao. TEXTO NARRATIVO O texto narrativo relata as mudanas progressivas de estado que ocorrem com as pessoas e coisas atravs do tempo, existindo sempre uma relao de anterioridade e posterioridade. Na narrao sempre se relata um fato, um acontecimento, do qual participam personagens. Aquele que conta, que narra o acontecido denominado narrador. Percebe-se o predomnio das frases verbais, indicadoras de um processo ou ao. Alm da presena do narrador, do fato relatado e dos personagens, a narrao pode apresentar outros elementos, como: Enredo: o enredo a estrutura da narrativa, o desenrolar dos acontecimentos, a tessitura dos fatos. Observe que o enredo se faz normalmente de incidentes, de intriga, ou seja, todo enredo est centrado em um conflito. Narrador: quem narra os acontecimentos. Quando ele participa das aes como personagem, a narrativa na primeira pessoa (eu); nesse caso, tudo o que ficamos sabendo passa pelo olhar e interpretao do personagemnarrador.Caso o narrador no participe dos30

acontecimentos como personagem, temos uma narrativa em terceira pessoa, na qual o narrador onisciente (aquele que tem cincia de tudo), l os pensamentos e sentimentos do personagem, expressando seu ponto de vista a respeito dos personagens e dos fatos relatados. Personagens: So os seres que vivem os acontecimentos, participando ativamente deles. O personagem principal chamado protagonista (voc pode observar isso nas novelas, em que sempre h um personagem principal, o protagonista); aquele que se ope ao protagonista o antagonista (popularmente denominado vilo). Ambiente: o espao, os cenrios onde transitam os personagens e onde os acontecimentos se desenrolam. Tempo: a poca, o momento em que se passam os acontecimentos. Para que fique mais clara a definio do texto narrativo, exemplificaremos com este pequeno texto: Era uma vez dois irmos. Um era otimista, o outro, pessimista. Certa vez, no Natal, ao abrirem seus presentes, os meninos encontraram o seguinte: o pessimista tinha ganhado uma bicicleta linda, de dez marchas, moderna e sofisticada. O otimista, ao abrir a linda caixa que recebera, deparou-se com um monte de fezes de cavalo. Disse ento o pessimista: Viu? Ningum gosta de mim. Agora, com certeza, mais cedo ou mais tarde, eu vou cair e quebrar a cabea com essa bicicleta que corre tanto... Enquanto isso, o otimista j sara correndo para a rua, disparado, gritando: Cad meu cavalinho? Cad meu cavalinho que ganhei no Natal?Tnia Zagury, O adolescente por ele mesmo. 5 ed. Rio de Janeiro: Record, 1996, p. 93.

importante que voc perceba que comum encontrarmos, no corpo da narrativa, passagens descritivas, como ocorre no textoINEDI - Cursos Profissionalizantes

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acima, no qual o narrador descreve (mesmo que de forma sucinta) a personalidade dos personagens (os meninos). TEXTO DESCRITIVO A descrio o que chamamos de retrato verbal de objetos, pessoas, cenas ou ambientes. Ela trabalha com imagens, permitindo que o leitor visualize o que est sendo descrito. No entanto, a descrio no se resume a uma simples enumerao de detalhes. essencial que o autor, ao fazer uma descrio, saiba captar o trao particular que diferencie o objeto ou ser descrito de todos os demais objetos ou seres semelhantes. No caso de pessoas, fundamental um retrato que valorize no somente a descrio fsica, mas tambm a descrio psicolgica. A descrio possui, muitas vezes, um carter subjetivo, pois ao fazer o retrato do personagem, ele insere a sua viso pessoal, o que no deve ser considerado um defeito, j que sem essa subjetividade a descrio seria apenas um retrato frio e sem vida, uma fotografia. Assim, em maior ou menor grau, o autor revela a impresso que ele tem daquilo que descreve, exceto nas chamadas descries tcnicas ou cientficas. Quando o autor, ao descrever, procura mostrar uma imagem bastante prxima da realidade, ele faz uma descrio objetiva. Mas, como j mencionamos anteriormente, excetuando as descries tcnicas ou cientficas, dificilmente voc encontrar uma descrio em que a subjetividade esteja ausente. O que distingue uma descrio objetiva de uma descrio subjetiva o grau de interferncia do sujeito (autor) na descrio. Voc deve observar, ainda, que o texto descritivo relata as caractersticas de um objeto ou de uma situao qualquer num certo momento esttico do tempo, no existindo, obviamente, a anterioridade e posterioridade presentes no texto narrativo, ou seja, no existe nada que indique progresso de um estado anINEDI - Cursos Profissionalizantes

terior para outro posterior. Se por acaso ocorrer essa progresso, o texto passa a ser um texto narrativo. Veja um exemplo de texto descritivo: Eis Braslia s seis da tarde. O trnsito flui lentamente. As lojas comerciais baixam suas portas. Pessoas lotam os pontos de nibus. Os bares colocam suas mesas nas caladas, esperando os fregueses habituais. Pedestres atravessam as ruas, apressados. Luzes plidas incidem sobre os prdios e casas. Anoitece. Encontramos no texto caractersticas de um texto descritivo, pois: So relatados vrios aspectos de um lugar (Braslia), num determinado tempo, que esttico (seis da tarde); Tudo simultneo, no existindo progresso temporal entre os enunciados. Uma observao final e importante a de que dificilmente voc encontrar um texto que seja exclusivamente descritivo. freqente encontrarmos trechos descritivos inseridos numa narrao ou numa dissertao. Num romance, por exemplo, que essencialmente um texto narrativo, voc perceber vrias passagens descritivas, de pessoas, objetos, personagens ou ambientes. TEXTO DISSERTATIVO O texto dissertativo se caracteriza pela defesa de um ponto de vista, de uma idia, ou pelo questionamento acerca de um assunto determinado. Na dissertao, o autor trabalha com argumentos (o texto dissertativo um texto argumentativo), com dados, com fatos, utilizando-os para justificar seu ponto de vista. A dissertao organizada em trs partes distintas. So elas: Introduo - Na introduo voc vai explicar o assunto a ser discutido, apresentando uma idia, de um ponto de vista que voc ir defender com argumentos. 31

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Desenvolvimento ou argumentao Nessa parte, voc desenvolver seu raciocnio inicial, defendendo seu ponto de vista com argumentos pertinentes, fornecendo dados, citando exemplos, fazendo referncias a pontos de vista semelhantes etc. Concluso - Voc dar um fecho que comprove a idia inicial e que seja coerente com os argumentos apresentados, retomando a idia inicial. A dissertao, tal como a descrio, pode ser objetiva ou subjetiva. Nas dissertaes objetivas, os argumentos so expostos de forma objetiva e impessoal, com o texto escrito na terceira pessoa, e o autor no se inclui na explanao (desenvolvimento), facilitando, por parte do leitor, a aceitao das idias expostas. o que acontece, por exemplo, nos textos de carter cientfico, que requerem objetividade. J nas dissertaes de carter subjetivo, o autor se inclui na explanao, colocando seu ponto de vista e usando verbos na primeira pessoa, conferindo um cunho pessoal ao texto. Voc j deve ter tido oportunidade de constatar que a maioria dos concursos, inclusive o vestibular, prope a produo de textos dissertativos. Assim, voc dever produzir, preferencialmente, uma redao objetiva, imparcial, escrita em terceira pessoa. importante considerar que, na dissertao, predominam os conceitos abstratos, ou seja, as referncias ao mundo real se do por conceitos amplos, de modelos genricos. Nos discursos dissertativos da filosofia ou da cincia, por exemplo, as referncias ao mundo concreto ocorrem somente como recursos de argumentao, para ilustrar teorias gerais ou leis. O texto dissertativo basicamente constitudo de enunciados de carter abstrato que, de maneira ampla e genrica, buscam organizar vrios fatos singulares e concretos. Na dissertao no existe, em princpio, uma progresso temporal entre os enunciados (como ocorre na narrao). No entanto, existe entre os enunciados relao de natureza lgica, ou seja, relaes de implicao (o fato e sua32

condio, causa e efeito, uma premissa e uma concluso etc.). Para um melhor entendimento, observe os exemplos abaixo, de dissertao objetiva e dissertao subjetiva.

a) Em poucas palavras descreva o que um texto narrativo. _____________________________________ _____________________________________ b) Repita a operao e registre o que um texto dissertativo. _____________________________________ _____________________________________ c) Voc ir necessitar deste conhecimento durante toda sua vida. Portanto, defina abaixo o que vem a ser um texto descritivo. _____________________________________ _____________________________________

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DISSERTAO SUBJETIVA Ns, brasileiros, nos encontramos cada vez mais descrentes com as instituies polticas do Brasil. A cada ano que passa os problemas se avolumam. Dentre os fatores que contribuem para esse sentimento de desesperana, est o descaso do governo com a educao, os baixos salrios pagos aos professores, a incapacidade do governo em brecar o processo inflacionrio, a impunidade dos corruptos que tm saqueado os cofres pblicos, e o descaso com a sade pblica. Apesar de tudo, continuo defendendo a idia de que o Brasil um pas que pode dar certo. Para isso, fundamental a participao da sociedade. Preste ateno no carter subjetivo, pessoal do texto, sobretudo no segundo pargrafo, quando o autor manifesta de forma inconteste o seu ponto de vista introduzido pela passagem continuo defendendo... No entanto, mesmo quando a dissertao subjetiva, melhor evitar construes do tipo: Eu acho que, na minha opinio, no meu ponto de vista, evitando redundncias. Quem estiver escrevendo o texto (lgico!), no precisa marc-lo o tempo todo com pronomes de primeira pessoa. DISSERTAO OBJETIVA Mais do que diverso, os desenhos animados podem ser um eficiente instrumento pedaggico para transmitir valores ticos, morais e modelos de comportamento para as crianas. Por isso, eles deveriam ser incorporados por professores dinmica da sala de aula, de modo a suscitar discusses e estimular reflexes. o que defende um grupo de 12 pesquisadores do Lapic (Laboratrio de Pesquisa sobre a Infncia, Imaginrio e Comunicao), um grupo multidisciplinar ligado Escola de Comunicao e Artes da USP, coordenado pela professora Elza Dias Pacheco, e que acaba de concluir a pesquisa Desenho Animado na TV: Mitos, Smbolos e Metforas.Desenhos podem ajudar a aprender, por Marta AvanciniINEDI - Cursos Profissionalizantes

Neste texto dissertativo, o autor no aparece para o leitor como uma pessoa definida, embora seja visvel que ele esteja nos transmitindo sua viso pessoal sobre o assunto (lembra-se da funo expressiva?); ele simplesmente expe o fato de forma objetiva e impessoal, conferindo ao texto um carter imparcial, com a utilizao de verbos na terceira pessoa. 2.5 TEXTOS PUBLICITRIOS necessrio estudar em separado o texto publicitrio, pela especificidade de sua redao, criatividade e originalidade. Nas funes da linguagem, voc viu que a funo conativa (aquela que procura seduzir, convencer, envolver) bastante utilizada nos textos publicitrios. No entanto, o texto publicitrio no utiliza somente essa funo, mas tambm a funo ftica, a funo potica e a funo expressiva, jogando com as emoes, anseios, necessidades, preconceitos e todo tipo de sentimentos do receptor de suas mensagens. Com o passar dos anos, a propaganda tornou-se um meio poderoso de difuso dos hbitos de consumo, no s de produtos, como tambm de conceitos e idias. A redao publicitria diferente das outras, pois o redator vai utilizar a linguagem (e tambm a imagem) de forma criativa, com os vrios nveis de linguagem para atingir um determinado pblico, obedecendo basicamente quatro regras: ateno, informao, desejo e apelo. O texto procura chamar ateno, fazerse notar (bvio!), mas tambm informa o leitor/espectador/ouvinte sobre as qualidades do produto anunciado, despertando a motivao/desejo para a compra do produto anunciado e, finalmente, faz um apelo para que o comprador em potencial adquira aquele produto. Ex: Se fosse seu carro, voc j teria trocado (texto publicitrio de uma campanha da Brastemp, na qual aparece uma antiqssima mquina de lavar roupas, um texto relatando as vantagens da nova Brastemp e ainda 33

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um bilhete sobre esse texto: Brastemp Mondial, vai dizer que voc ainda no tem?). A publicidade ainda explora o uso de expresses da lngua falada, objetivando criar uma atmosfera de intimidade com o leitor. Em um anncio da Kibon, aparece o seguinte texto: Vai morango a, freguesa?. Em outro, o anncio utiliza dois termos caractersticos da impreciso do cdigo oral (treco e coiso) para valorizar o produto anunciado: Esse treco serve pra voc nunca mais esquecer o nome daquele coiso. (o produto anunciado era um dicionrio visual). Outra caracterstica facilmente comprovada nos anncios publicitrios o uso de frases curtas, de adjetivos, o uso do verbo no imperativo, o uso da segunda pessoa, advrbios. Exemplos: Se algum bater em voc, chame a gente (campanha do Bamerindus Seguros, referindo-se batida de carros) No faa lipo. Faa aspirao (campanha de Diet Shake, decompondo a palavra lipoaspirao, para incentivar o consumo do produto) Uma programao para quem tarado por futebol Se voc do tipo que fica todo assanhado quando o assunto futebol, ento no pode perder a programao da TVA (anncio de emissora de TV, mostrando a foto de duas bolas de futebol dentro de um suti de renda). Veja. Sinta. Tenha. Uma pele perfeita. Lisa Renovada Uniforme Equilibrada Suave (anncio do creme Idealist, de Este Lauder) Nos textos publicitrios comum o uso da ambigidade, da dubiedade de sentido nas frases, que na publicidade passa a ser uma qualidade, o que no ocorreria, naturalmente, num texto tcnico. Quando utiliza palavras que oferecem dupla possibilidade de leitura, a publi34

cidade procura chamar a ateno pelo lado humorstico da situao. Exemplos: A gente nem tem roupa para receber o prmio (mensagem da revista Playboy, conhecida, sobretudo pelas fotos de mulheres nuas) Foi bombom para voc tambm? (anncio do bombom Sonho de Valsa, da Lacta)

Tem coisa melhor que ficar falada no bairro? (anncio do jeans Di Paolucci, mostrando os corpos de duas jovens vestidas com o jeans da marca)Todas as caractersticas do texto publicitrio obedecem a uma lgica pr-determinada: o uso de adjetivos e advrbios procura criar uma caracterizao exagerada do produto anunciado; a funo apelativa (mais usada) se destina a convencer o receptor; e, finalmente utiliza frases curtas, pois geralmente a mensagem apresentada num espao pequeno (pgina de revista ou jornal), ou em um tempo curto (intervalos comerciais de rdio e TV). Quando se trata de um texto radiofnico, as repeties, principalmente do nome do anunciante, so propositais. Quem elabora o anncio radiofnico sabe que os ouvintes esto sempre trocando de estao, ento a repetio permite que a mensagem sempre seja captada, mesmo que pela metade. Segundo o pesquisador Jsus Martn Ribeiro, nossa sociedade constri dia-a-dia a imagem que cada um tem de si. Para ele, a publicidade um espelho, apesar de bem deformado, pois a imagem do lado de l muito mais bela que a imagem do lado real. O poder da publicidade, atualmente, no se restringe a convencer o consumidor a adquirir determinado produto, mas tambm a idealizar modelos estticos, sexuais e comportamentais. O receptor da mensagem quer ter aINEDI - Cursos Profissionalizantes

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beleza, a ousadia, a sensualidade dos modelos que v nas telas ou nos outdoors.

a) Pense, pesquise e escreva abaixo quais as principais caractersticas de um texto publicitrio. ______________________________________ ______________________________________ ______________________________________ b) Continue o estudo e diga qual a lgica prdeterminada dos textos publicitrios. ______________________________________ ______________________________________ ______________________________________

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Unidade

IIIdentificar os tipos de texto tcnico; Reconhecer as caractersticas bsicas de um texto tcnico; Produzir textos Tcnicos comuns na rea de transao imobiliria carta comercial, ofcio, requerimento, relatrio.

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3. TEXTO TCNICO3.1 A ORGANIZAO DO TEXTO TCNICO Entende-se como redao tcnica textos que se destinam a informaes sobre o uso de alguma norma ou instruo. A redao tcnica se divide em oficial, comercial e cientfica. A redao oficial se refere s comunicaes oficiais emanadas do Poder Pblico (ofcio, exposio de motivos, o aviso, o memorando oficial etc.); a redao comercial a utilizada no comrcio e na indstria (cartas comerciais, memorandos, circulares); e, na redao cientfica, se incluem as dissertaes, os ensaios, as monografias, relatrios, manuais de instruo, descries e narraes tcnicas propriamente ditas, as teses etc. J o termo redao empresarial utilizado para designar a reunio de duas reas, comercial e bancria. No que se refere linguagem, os documentos tcnicos apresentam caractersticas bsicas: ela dever ser clara, harmnica e objetiva, procurando oferecer comodidade ao destinatrio, elemento fundamental da comunicao tcnica. Essa modalidade de redao deve possuir o que chamamos qualidade de estilo, constitudo pelos seguintes elementos. Harmonia - A harmonia responsvel pela sonoridade do texto; ele deve ser organizado de modo a no ferir os ouvidos do leitor. Para isso, necessrio que se evitem elementos que, embora sejam consideradas qualidades na linguagem literria, prejudicam a linguagem tcnica. Dentre esses elementos nocivos linguagem tcnica, podemos citar: A repetio - que apresenta um todo gradativo, iniciando-se pela gradao, seguida das rimas, de cognatismo e de pleonasmos. A rima a repetio da slaba no interior ou final de vocbulos, sendo mais comum a rima na slaba final. Ex: O diretor chamou, com horror, o coordenador e o professor que me falaram ontem sobre o amor.INEDI - Cursos Profissionalizantes

Cognatismo a repetio da raiz, enfeixando palavras da mesma famlia.Ex: Infelizmente, o rapaz se aborreceu com a felicidade dos irmos, que foram felicitados pelos felizes amigos.

Pleonasmo a repetio de idias que tornam a frase redundante.Ex: Ns vamos voltar para trs. /Vi com estes olhos que a terra h de comer./ Existe um elo de ligao entre eles./ Ela teve uma hemorragia de sangue. Repetio de palavras: muito comum o excesso do que, do se e dos pronomes pessoais no interior do discurso. Para corrigir essa falha, devem-se reorganizar os perodos ou substituir as palavras. Ex: Solicito que me remeta o relatrio de produo, que so necessrios para que eu possa estabelecer as novas metas que me foram propostas. Simplificando: Solicito a remessa dos relatrios de produo, necessrios para o estabelecimento das novas metas que me foram propostas. Ex: Eu necessito de uma resposta urgente, para que eu possa implantar novas medidas de segurana, que eu acho imprescindveis. Ex: Necessito de uma resposta urgente, para implantar as novas medidas de segurana, que so imprescindveis.

Cacofonia a juno de palavras, produzindo um som desagradvel.Ex: Mande-me j a encomenda. Nunca ganhei tantos presentes.

Eco Consiste na repetio de um som numa seqncia de palavras.Ex: O resultado da votao no causou comoo na populao. 39

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Para facilitar a compreenso da organizao de um texto tcnico, colocaremos, aqui, algumas normas da ABNT para elaborao de documentos tcnicos. TIMBRE Quanto aos ofcios, dever constar sempre na parte superior dos documentos de comunicao, visando a identificao do rgo emissor, Dever estar em posio horizontal, no meio da folha, a 1,5 cm da borda e, existindo braso ou logotipo, este poder ficar em posio vertical rente margem direita ou esquerda. Na elaborao de carta, considera-se o mesmo princpio e dever ter as mesmas caractersticas do ofcio. Nos memorandos no h necessidade, em funo de ser um documento interno no qual todos que o emitem ou recebem esto inseridos no mesmo contexto de trabalho ou rgo. NDICE E NMERO No ofcio so colocados a 2,5 cm da margem esquerda; normal que se separe o ndice do nmero por um trao diagonal (/), sendo que o nmero e o ano so separados por um hfen (-).Ex: Ofcio n ABNT/408-01, isto , ofcio nmero 408 do ano de 2001, expedido pela ABNT. Quanto ao ndice e nmero de uma carta, devese colocar as iniciais do rgo ou setor a ele vinculado da mesma forma que no ofcio, tambm do lado esquerdo alinhado data. Alguns preferem que estes dados se posicionem no lado superior direito, visando facilitar a procura da mesma quando arquivada. LOCAL E DATA Tanto no ofcio, quanto na carta, deve estar alinhado ao ndice e nmero, do lado direito, devendo conter local, dia, ms e ano da sua expedio. importante que se escreva por extenso o nome do ms; e, quanto ao ano, no conveniente que se separe por ponto o milhar da centena nem abrevi-lo. REFERNCIA OU EMENTA No ofcio deve ser alinhado a 2,5 cm da margem40

esquerda e dois espaos abaixo do ndice e nmero, ou localizar-se do lado direito abaixo da data, desde que no ultrapassem a metade da folha. Na carta sua utilizao segue os mesmos critrios do ofcio. Lembrando que o texto dever ser breve e objetivo, fazendo com que o destinatrio identifique logo o assunto a ser tratado. VOCATIVO No ofcio dever localizar-se a 5 cm da margem esquerda e a trs espaos duplos da referncia ou da ementa. O tratamento recomendado dever ser de acordo com o cargo ou funo do receptor, seguido por dois pontos. Na carta, o vocativo segue o mesmo esquema do ofcio, sendo que se existir um relacionamento maior entre o remetente e o destinatrio, o vocativo pode vir precedido da palavra prezado. Ex: Prezado Senhor. TEXTO Tanto no oficio quanto na carta, inicia-se com pargrafo a 5cm do vocativo, sendo o objeto do documento, e apresenta abertura, desenvolvimento e fecho. O primeiro pargrafo e o fecho no so enumerados. Os demais se enumeram para facilitar a localizao do assunto por parte do destinatrio eventual pesquisa. FECHO Em caso de oficio ou carta o fecho no numerado. alinhado ao pargrafo, ficando a dois espaos duplos deste ltimo, ou sob frmula de cortesia. Ex: Atenciosamente. ASSINATURA Nos trs casos (ofcio, memorando e carta) fica a 4 cm abaixo do fecho, contendo o nome e o cargo do signatrio sem sublinhar o local da assinatura. ANEXOS Tambm nos trs casos ficam a dois espaos da assinatura e a 2,5cm do lado esquerdo da margem do papel. ENDEREAMENTO Na carta tambm chamado de endereo interno, e postoINEDI - Cursos Profissionalizantes

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junto margem esquerda do papel a 2,5 cm, localiza-se abaixo do ndice e do nmero da carta a um espao e meio, e dever ser idntico o constante no envelope. Ocupa geralmente de trs a cinco linhas sempre dispostas em blocos; observe a grafia correta do nome ou razo sociais, a fim de evitar constrangimentos. No ofcio, localiza-se na parte inferior esquerda a 2,5cm da margem esquerda do papel, seguindo-se o mesmo critrio da carta quanto sua disposio em efeito de blocos e ocupa de duas a trs linhas. INICIAIS DO REDATOR E DO DIGITADOR Nos trs casos (carta, ofcio, memorando) a 2,5cm da margem inferior, sendo que no memorando no so necessrias as iniciais do redator. TRANSPORTE DA MENSAGEM No oficio devem-se transportar pelo menos duas linhas, deixando o endereamento na primeira folha e transporta-se o restante dos elementos, no sendo necessrio o transporte do timbre e indica-se com o nmero da folha. Repete-se o ndice e o nmero; sua localizao fica a 2,5cm da margem esquerda, a 2,5 cm do todo da folha ou 2,5cm abaixo do timbre se esse o tiver. Na carta tambm com duas linhas, sendo que todos os elementos que lhe sucedem so transportados.

c) Para aumentar seu nvel de conhecimentos, responda como deve ser o fecho de um ofcio, memorando ou de uma carta. ___________________________________________ ___________________________________________ d) E no ofcio, que cuidado deve-se ter em relao ao transporte da mensagem para uma eventual segunda pgina? __________________________________